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CACHÉ

Análise da iluminação
como componente de
interpretação da narrativa

LTCAV I ILUMINAÇÃO I
PROF. I JOÃO LEAL

7050012 I ANA CRISTINA TEIXEIRA ALVES


9170443 I DULCE SOFIA DO CARMO BARROS
RESUMO:

Este exercício apresenta uma Interpretação sobre a luz do filme Caché de Michael Haneke,
a partir da fotografia de Christian Berger . Propõe ao mesmo tempo uma interpretação da narrativa
face à forma como a luz contribui para o enaltecimento da componente conceptual da obra.

PALAVRAS-CHAVE:

Cinema / Natureza da Luz / Modelação da Luz / Direção da Luz

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ÍNDICE

1. A LUZ NO CINEMA ....................................................................................................................... 4

2. SINÓPSE DO FILME ...................................................................................................................... 5

3. INTERPRETAÇÃO DA LUZ ............................................................................................................. 5

a) Gravações de Cassetes que chegam aos personagens (exterior) ............................ 6


b) A casa dos personagens principais (interiores) ....................................................... 8
c) A casa de infância de George (exterior)................................................................. 11

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................12

5. CONCLUSÃO ..............................................................................................................................13

6. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................14

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1. A LUZ NO CINEMA:

Normalmente, quando conhecemos o público-alvo ao qual se dirige o filme que nos dispomos a
ver, assim como o género e a sinopse da história, conseguimos facilmente ter uma perceção da
atmosfera que nos envolverá nos minutos seguintes. À primeira vista, um filme obedece a
determinados preceitos no que concerne à atmosfera criada na primeira cena que prepara o
espectador para o conteúdo da mensagem do próprio filme. Essa atmosfera é composta pelo
cruzamento de saberes no domínio da realização no que toca à mise en scène: iluminação,
caracterização, efeitos sonoros, entre outros.

Existem elementos gráficos e sonoros característicos para cada género de filme. Sabemos, por
exemplo, que ao selecionarmos um filme de terror, e para nosso entusiasmo, estaremos envoltos
de um ambiente caracterizado pelas sombras, com efeitos sonoros sincronizados com takes de
figuras pouco amistosas em contacto visual direto e em planos demasiado próximos para o nosso
gosto, capazes de nos colar ao sofá de tão petrificados que ficamos, tal é a sensação que
desencadeia desconforto.

Haneke, pelo contrário, decide com o seu filme Caché , desobedecer a estas premissas. Dada
essa relação de suspense e intriga, decidimos fazer a análise da iluminação deste filme, com
fotografia de Christian Berger , e interpretar as escolhas de iluminação face ao enredo da história. E
para uma boa interpretação da luz, propomo-nos a responder, sempre que possível, às seguintes
questões:

- De que cor são as luzes?

- Qual a distância delas sobre os objetos?

- Quantas luzes estão presentes nas cenas e como se relacionam entre si?

- Quais os seus ângulos (Key, Fill e Back Light)?

- Em termos gerais, o filme é composto por luzes suaves ou desconfortáveis?

- Como é feito a alteração de luzes entre cenas? (Sikov, 2010)

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2. SINÓPSE DO FILME

Georges (Daniel Auteuil) e a sua esposa Anne (Juliette Binoche) recebem uma fita de vídeo com
imagens da sua casa, filmada por uma câmara instalada na rua. Depois disso, começam a receber
desenhos sinistros. Assustado, o casal tenta descobrir o autor misterioso e acabar com as ameaças
que perturbam a paz da sua família. Mais tarde, percebem que quem os persegue conhece mais
sobre o seu passado do que eles poderiam esperar. (Adoro Cinema, 2018)

3. INTERPRETAÇÃO DA LUZ:

Caché começa por isso mesmo, esconder aquilo que o realizador se propõe a contar. A primeira
cena pressupõe algo daquilo que não é, sendo que a história começa in medias res. Assim que o
espetador se compromete com o enredo da história, não estando preparado para um novo estilo de
trama, é obrigado a tomar como princípio a gravação de cassetes alheias ao resultado da narrativa.
A mesma, não tendo um seguimento que informe o espetador daquilo que vai ver, como fazem
normalmente os efeitos sonoros e os jogos de luzes, que conferem uma certa dramatização, deixa
em aberto várias interpretações.

Este filme pode ser alvo de diferentes apreciações, mas, no que concerne a esta disciplina,
falaremos da iluminação.

Começamos por distinguir alguns cenários para procedermos às suas análises:

a) As gravações de cassete que chegam aos personagens (exterior);

b) Os interiores da casa dos personagens principais;

c) A casa de infância de Georges (exterior).

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a) Gravações de Cassete:

Aparentemente, a luz nesta cena parece, ou deverá parecer, feita apenas com o auxilio da
iluminação natural do sol, uma vez que toda a rua está iluminada e a luz provém de todas as direções.
Esta mesma leitura faz-se por haver uma incidência de luz a cima da área iluminada, incidência esta
que simula o pico de hora em que esta se sente mais forte, ou seja, em que o sol está mais próximo
da terra. No entanto, se assim fosse, a luz do sol causaria uma luz dura. Sabemos que com uma luz
dura, as sombras aparecem mais demarcadas e, não sendo o caso, parece-nos que por entre a
parede da casa branca da Rue des Iris e a rua da casa dos personagens, possa estar uma fonte de
luz muito próxima, capaz de iluminar a cena de tal modo que incida na casa do lado esquerdo,
causando a sua sobre-exposição. No entanto, como é que é possível que esta luz não cause
sombras? Para haver uma luz que se aproxime à luz solar, a luz terá que ser colocada a cima dos
objetos em cena. Neste caso, os automóveis estacionados são os únicos elementos em que se
consegue identificar alguma sombra, uma vez que, a partir do chão, não existe qualquer outro lugar
para onde a luz possa divergir. Em qualquer caso, se a cena fosse iluminada pelo sol, não haveria

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hipótese de a Rue des Iris não ter sombra, sendo que a luz incidente nas casas haveria de se
pronunciar no outro extremo da rua. Assim sendo, pensamos que a luz que provém por de trás da
câmara seja a própria luz do sol que tanto funciona como Fill Light, dando um ar mais flat à cena,
como elimina as sombras da Rue des Iris.

A contar que a nossa leitura está correta, podemos prever o uso de luzes com temperatura
de cor de aproximadamente de 5500K, no caso de luzes daylight, tipo HMI. Este tipo de luzes, em
conjunto com as definições da câmara, ao contrário do que deveria parecer, e com o decorrer da
história, causam algum desconforto porque, tanto a falta de contraste e o excesso de luminância,
como ainda a ausência de efeitos sonoros, causam no espectador um sentimento de desconfiança
e suspense. No entanto, a luz branca não tem sempre a mesma leitura. Passamos a explicar a partir
da imagem seguinte.

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b) Interiores da Casa dos Personagens Principais:

Nesta cena, as luzes estão colocadas a cima das cabeças das personagens. Pensamos que todo
o cenário branco tem um propósito. Em vez da iluminação nos provocar uma sensação de
desconforto, ela cria uma sensação de desconforto no próprio personagem, George, que é
confrontado com o revelar da verdade perante a sua mulher. Sabemos de antemão que a cor branca
no ocidente é pronúncio de verdade, paz, pureza e limpeza. No entanto, o personagem não está a
par com o ambiente em volta porque acaba de ser desmascarado perante uma mentira de vários
anos. Assim, todo o cenário é escolhido ao pormenor para que a luz incida nas paredes e no sofá
brancos e reflita em todas as direções. Estamos perante luzes com mais gamas de tons azuis de
modo a que se pronuncie uma luz crua.

Quanto à direção da luz, achamos que a key light se posiciona do lado esquerdo uma vez que,
estando a personagem da mulher ao centro, podemos observar que o sofá tem os brancos
estourados no lado esquerdo, ao contrário do que acontece no lado direito, pelo que a luz está mais
perto do lado descrito em primeiro. A fill light, por sua vez, posiciona-se do lado direito. É visível na
franja de Anne uma sombra pouco pronunciada, dando, uma vez mais, um ar flat, sem grande
contraste. Dado que nem no decote da blusa se verificam sombras, existe a possibilidade do recurso

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ao refletor, não só para eliminar as sombras, mas também para evidenciar o ar dramático da cara
da personagem.

A imagem seguinte, apesar de se tratar de uma cena de interior, contrasta com a cena
descrita anteriormente. Isto porque George limita-se a esconder-se e a não resolver as suas
inquietações. A imagem traduz uma iluminação com carácter mais dramático, sendo que a luz
provém do exterior. Todo o interior está em contexto de penumbra. Assim é o sentimento do
personagem em relação à verdade e ao sentido de culpa. O quarto é por isso uma metáfora para o
seu eu interior. Daquilo que percebemos nesta imagem, a luz que provém da janela é uma luz forte
e recortada, no entanto, todo o quarto está às escuras. As cortinas brancas funcionam como difusor.
Do mesmo lado da câmara, existe um refletor que define e cria textura na cara do personagem. A
sua expressão facial demonstra a dificuldade de George em encarar a realidade, sem deixar-se
iluminar e por isso, sem se submeter à luz. A luz, ao incidir no refletor, além de divergir para a cara do
personagem, reflete também na parede branca em frente à câmara, o que traduz num fino recorte
na silhouette do ator. No geral, esta cena pode ter duas leituras. Se formos defensores da verdade,
a luz branca e crua não nos incomodará, estaremos até dispostos a ver mais e melhor o
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personagem, à espera que este se exponha e tome uma atitude. Pelo contrário, se passamos por
alguma experiência semelhante, identificar-nos-emos com George. A luz se encandeará e,
preferiremos a penumbra. Neste caso, a luz branca, metaforicamente, reflete a verdade e fere-nos
os olhos.

Como complemento à nossa leitura, observamos que George, mesmo em transição de uma cena
para a outra, aparece quase sempre pouco iluminado, como se o peso da culpa e da mentira pairasse
sobre ele.

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c) Casa de Infância de George (exterior):

Por último, temos como elemento de análise a última cena do filme com uma captação de
imagem que se centra na casa e na época em que se dão os factos que levam ao sentimento de
culpa de George. Tanto pode ser visto como uma imagem proveniente da mesma fonte de onde
originam as cassetes, como pode ser vista como uma memória. À primeira vista, a imagem está
bem exposta. Conseguimos identificar as sombras e as altas luzes. Já não existe a necessidade de
criar uma dimensão dramática com segundas interpretações. As luzes provêm por de trás da
câmara a pender para o lado direito. A câmara parece estar colocada dentro de um edificio com
apenas uma das extremidades abertas, de frente para a cena. O céu é azul pelo que pressupõe a
utilização de filtros ND na câmara. Existem sombras, não só no interior do edificio onde está
colocada a câmara, mas também nas calhas e beiras da casa principal, assim como na parede
exterior direita. Prevemos que a posição das luzes estará ligeiramente afastada, criando assim uma
função de Fill Light, enquanto que a luz solar é direcionada diretamente por de trás da câmara, sendo
por isso considerada como Key Light. A temperatura de cor da luz, assim como o contraste, não

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tornam a cena dramática nem ameaçadora. Talvez porque a casa ganha aqui o papel de
personagem conferindo conforto. Ao finalizar a trama com esta cena, presume-se que os próprios
pais de George sentem remorços face à sua decisão sobre o futuro de Majid e por isso refugiam-se
na casa e evitam a luz. Por isso, apenas a paisagem e os animais permanecem expostos.

“A luz não ilumina só o objeto, ela ilumina o significado”


Gustavo Avilés, Lighting Designer

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Nas nossas pesquisas ficamos a par de que Berger, professor na Academia de Viena e um dos funda-
dores da Bartenbach Light Academy , em colaboração com Bartenbach Lichtlabor , desenvolveu um novo
sistema de iluminação para cinema, denominado Cine Reflect Light System . Esse sistema permite novas
possibilidades estéticas à câmara e dá mais flexibilidade e liberdade de movimentos aos atores e diretores.
Foi esta técnica que Berger utilizou em Caché assim como nos filmes A Professora de Piano, Memórias
de um Homem Morto , e A Fita Branca .

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5. CONCLUSÃO:

A realização deste exercício foi para nós desafiador, primeiro porque nos levou a questionar
várioas interpretações face às estratégias de luz apresentadas, segundo porque nos motivou a
pesquisar bibliografia extra que nos ajudou inclusivé a rever a matéria estudada no semestre
anterior.

Consideramos que a intrepretação apresentada para a análise da luz possa não ser a correcta,
no sentido que possa não corresponder à executada por Christian Berger, mas ao menos ficamos
com uma idéia, ou seja, com soluções mais estruturadas de como iluminar, em termos de
praticalbilidade, em cinema.

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6. BIBLIOGRAFIA:

Adoro Cinema. (30 de 03 de 2018). Obtido de www.adorocinema.com:


http://www.adorocinema.com/filmes/filme-43921/

alexclow. (30 de 03 de 2018). Obtido de alexclow.wordpress.com:


https://alexclow.wordpress.com/2012/02/20/lighting-analysis/

filmcameracourse. (30 de 03 de 2018). Obtido de filmcameracourse.wordpress.com/:


https://filmcameracourse.wordpress.com/2012/01/11/filming-without-lights/

Haneke, M. (Realizador). (2005). Caché [Filme].

Jackman, J. (2004). Lightning for Digital Video and Television. California, USA: CMP Books.

Martins, A. R. (2004). A Luz no Cinema. Brasil: Universidade Federal de Minas Gerais.

Sikov, E. (2010). Film Studies. An Introdution. Columbia University Press.

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