Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
O DESENVOLVIMENTO
DA CRIATIVIDADE
Tema
Tema
03
GESTÃO DE
EQUIPES PARA A
CRIATIVIDADE E
INOVAÇÃO
Caro estudante, para iniciarmos o tema
03, devemos considerar que quando se trata de
criatividade e inovação em ambientes coorpora-
tivos estamos nos referindo a criatividade apli-
cada para a resolução de problemas. O resultado
do processo criativo neste caso deverá permitir
o encontro de uma solução inédita para um de-
terminado problema, com isso a inovação será
confirmada através da implementação da ideia/
produto/serviço.
As inovações dentro das empresas são
fatores importantíssimos, pois são determinan-
tes da competitividade no mercado globalizado.
Dentro desse contexto, ao cuidarmos da resolu-
ção de problemas, devemos tratar das questões
como unidades projetuais, ou seja, para resolvê-
-las iniciamos o desenvolvimento de um projeto.
Portanto, neste bloco de estudos, vamos conhe-
cer algumas noções de gerenciamento de pro-
jetos que vai nos ajudar a planejar, organizar e
gerenciar as atividades principais de um projeto.
Apresentaremos os princípios e técnicas do PMI
- Project Management Institute, de modo a pro-
mover uma maior integração do departamento
de Gerenciamento de Projetos e as demais áreas
da empresa.
Na sequência, veremos alguns apontamentos sobre a importância do
papel dos gestores de projetos e quais são as principais características para um
desempenho apropriado no gerenciamento das equipes. Ainda entenderemos
como a criatividade e a inovação são vistas através dos seus aspectos éticos e
legais, com um número crescente de pessoas e empresas exigindo seus direitos
sobre ideias/produtos/serviços condutas éticas se tornam cada vez mais indis-
pensáveis.
Para exemplificar, no último item, mostraremos como ocorre a criati-
vidade e a inovação em duas empresas: um exemplo positivo e outro negativo,
ambos valorosos para nosso processo de aprendizagem.
Contudo, pretendemos oferecer conhecimentos básicos sobre geren-
ciamento de projetos àqueles profissionais que, de alguma forma, poderão estar
diretamente envolvidos no desenvolvimento de projetos criativos e inovadores,
como também, demonstrar o contexto de atuação do gerente de equipes criati-
vas.
Tema | 03
o chamado Sistema Nacional de Inovação e Pesquisa que atua de forma coo-
perada para o surgimento de inovações que irão alavancar o desenvolvimento
econômico, social, cultural e político da sociedade.
Ocorre, então, que a aquisição de novos conhecimentos é de vital im-
101
A inovação tecnológica está inteiramente ligada à linha de produção de
uma empresa, isso valoriza a esfera do gerenciamento de projetos no processo
de inovação dentro do ambiente coorporativo. Os projetos são frequentemente
utilizados como meio de atingir metas e objetivos organizacionais, geralmente
no contexto de um planejamento estratégico.
Conforme PMBOK (2009) os projetos são utilizados como forma de
abordar o planejamento estratégico da organização e, frequentemente, autori-
zados como resultado de uma ou mais das seguintes considerações: Solicitação
do próprio cliente; Demanda de mercado; Oportunidade de negócio; Estratégi-
ca de negócios; Avanço tecnológico e Requisito legal.
O gerenciamento de projetos é uma ferramenta eficaz para a observa-
ção e monitoramento de desvios, sejam eles involuntários ou provocados por
práticas diárias que podem prejudicar o andamento dos projetos na empresa.
Com isso, o gerenciamento, através de um método ágil e preciso, pode ser utili-
zado como um indicativo para obter melhores resultados de um projeto. A ideia
é que quanto maior for o controle dos componentes do projeto, maior são as
chances de sucesso e melhores serão os resultados.
Os órgãos de fomento27, que concedem financiamento para pesquisas
científicas e tecnológicas, vinculam aos projetos exigências que estabelecem
quais áreas receberão mais aporte financeiro, como devem ser os documentos
de planejamento, assim como os principais padrões de qualidade; exigindo que
os resultados obtidos sejam reportados em períodos de no máximo um ano.
Por sua vez, as organizações em busca de crescimento e inovação, di-
recionam diversas atividades baseadas em projetos. Com a crescente deman-
da, os gestores precisam estar atentos às técnicas e ferramentas apropriadas
que proporcionem seu bom desempenho no gerenciamento de projetos.
Tema | 03
O PMI fundado em 1969 nos EUA é uma associação para profissionais
de gerenciamento de projetos que atua mundialmente oferecendo certificações,
promovendo a ciência, a prática e a profissão de gerenciamento de projetos,
estabelecendo os padrões e indicando modelos de gerenciamento de projetos
em empresas e governos. Duas das principais iniciativas do PMI na difusão do
103
Pode acontecer de o projeto possuir característica de elaboração pro-
gressiva, isso significa que durante o percurso podem ser realizadas etapas in-
crementais para atender aos objetivos do projeto, isto é, as atividades são cons-
tantemente verificadas monitoradas e atualizadas conforme haja necessidade.
A finalização de um projeto se dá quando atinge o objetivo para o qual
foi criado ou quando fica evidente que os objetivos do projeto não poderão mais
ser atingidos. Todo projeto possui metas e objetivos pré-definidos e estabeleci-
dos dentro de determinados parâmetros de qualidade.
O guia PMBOK (PMI, 2009) define qualidade como o grau até o qual
um conjunto de características inerentes satisfaz as necessidades e, portanto,
um projeto com qualidade é aquele concluído em conformidade com os requisi-
tos, especificações e adequação ao uso.
A qualidade deve ser mensurável e pode ser entendida como obrigação
contratual. Durante o percurso do projeto, podem ser definidas medições que
fornecem informações sobre a qualidade do andamento do processo, produto,
atividade ou recurso. Essas métricas podem ser objetivas (metros, quantidade,
volume etc.) e/ou subjetivas (bom, médio, agradável, satisfatório etc.) e aplica-
das quanto à abrangência (por fases do projeto ou na sua totalidade). De qual-
quer forma, a qualidade sempre se refere ao atendimento das expectativas do
cliente assim como os requisitos e as especificações do produto.
O gerente de projeto coloca em execução o sistema de gestão da qua-
lidade por meio das atividades de melhoria contínua de processos. É papel do
gerente de projeto oferecer as condições necessárias para que a equipe alcance
os objetivos e, também, conscientizá-los sobre a importância de buscar a quali-
dade em todas as etapas e entregas durante a execução projeto.
O Guia PMBOK (PMI, 2009, p. 41) formaliza os processos e as ativida-
des que integram o gerenciamento de projetos, que são coordenados em cinco
grupos de processos denominados:
105
O PMBOK (PMI, 2009) também preconiza os conhecimentos e práti-
cas em gerenciamento de projetos que estão propostos e organizados em pro-
cessos e divididos em nove áreas de conhecimento:
ESCOPO: resumo das informações e dos processos utilizados para identi-
ficar o trabalho requerido para a construção do produto do projeto e sua conclusão
com sucesso. Envolve a iniciação, planejamento do escopo, detalhamento do escopo.
TEMPO: Processos requeridos para assegurar que o projeto será con-
cluído no prazo planejado. Envolve definição de atividades, sequenciamento
das atividades, estimativas de duração das atividades, desenvolvimento e con-
trole de cronograma.
CUSTO: Processos requeridos para assegurar que o projeto será con-
cluído dentro da estimativa de custos aprovada. Envolve planejamento dos re-
cursos, estimativa dos custos, orçamento e controle de custos.
QUALIDADE: Processos necessários para assegurar que o projeto irá
satisfazer os requisitos dos clientes. Envolve o desenvolvimento do planejamen-
to da qualidade, normas e procedimentos para a garantia dos produtos e contro-
le da qualidade do projeto.
RECURSOS HUMANOS: Processos requeridos para tornar mais efetivo o
uso das pessoas envolvidas com o projeto. Envolve escolha e capacitação da equipe.
COMUNICAÇÕES: Processos necessários para garantir o desenvolvimen-
to, a coleta, a disseminação, o registro e o descarte das informações do projeto.
RISCOS: Processos necessários para, efetivamente, identificar, anali-
sar e responder aos riscos do projeto.
AQUISIÇÕES: Processos requeridos para orientar a contratação de
produtos e serviços externos à organização. Envolve a seleção de fornecedores,
administração dos contratos e encerramento dos contratos.
INTEGRAÇÃO: Processos requeridos para certificar que os vários ele-
mentos do projeto sejam adequadamente ordenados. Composto do plano do
projeto, visão da execução do plano e dos controles de modificação.
O Gerenciamento de Projetos abrange o balanceamento entre as variá-
veis: Escopo, Tempo, Custo e Qualidade:
Gerenciamento do Escopo ou Contexto: descrição e análise de todos os
requisitos do projeto, incluindo detalhamentos, formalização e gerenciamento de mu-
danças. O gerente e a equipe de projeto acompanham e gerenciam as mudanças para
garantir que o que foi requerido será entregue para encerrar o projeto com sucesso.
Tema | 03
formidade com as necessidades que originaram a sua criação; assegurar o aten-
dimento dos requisitos identificados (necessidades) e das expectativas.
107
O gerenciamento competente de todas as variáveis aumenta significati-
vamente a possibilidade do projeto atingir os objetivos para o qual ele foi criado,
dentro do prazo estipulado e dentro do orçamento. Outra razão importante para
se utilizar a gestão de projetos são stakeholders. O projeto para ser aprovado
precisa ser apresentado aos investidores para que eles possam ter a convicção
de que o projeto será bem sucedido, bem gerenciado e que o empreendimento
trará a satisfação de todos os interessados. Dessa forma, o principal objetivo
do Gerenciamento de Projetos é a satisfação, a realização das necessidades dos
stakeholders que são classificados entre outros como:
Tema | 03
diversidade das organizações e complexidade do ambiente em que operam, so-
fisticaram o panorama onde atuam os gestores de projetos.
De acordo com Drucker (1976) o mundo em que vivemos é mutável
e turbulento, a descontinuidade representa o momento atual onde a mudança
109
Reafirmando o que já foi dito anteriormente, inovar significa assumir
riscos por isso uma inovação para se tornar bem sucedida requer bom gerencia-
mento, auditorias, finanças ajustadas e, acima de tudo, um clima organizacional
estimulante para a produtividade. Podemos afirmar que o clima organizacional
está ligado à maneira como as pessoas da organização percebem a empresa em
seus aspectos culturais, seus procedimentos internos, sua maneira de fazer ne-
gócios, suas ações sociais e seus valores.
Nesse momento, vale ressaltar a importância do gestor de projetos para
a formação de um ambiente propício para o desenvolvimento da criatividade e
da inovação. O gestor, que também pode ser considerado um líder, deve ser ca-
paz de compreender o ambiente e suas distorções, muitas vezes representadas
por manifestações de satisfação ou insatisfação dos seus liderados.
O conceito de liderança também está associado à capacidade de in-
fluenciar um grupo em direção ao alcance de objetivos. Segundo Robbins (2007,
p. 258) seis traços identificam os líderes de seus liderados: “ambição e energia,
o desejo de liderar e influenciar, honestidade e integridade, autoconfiança, inte-
ligência e conhecimentos relevantes da área sob sua responsabilidade.”
É competência do gestor de projetos gerenciar o conhecimento dos
membros da equipe, identificando nos colaboradores as características pesso-
ais, os conhecimentos desejáveis e os que levam a atividade criativa ao nível de
inovação competitiva, o que irá conduzir a organização à série de mudanças
desejadas.
Na teoria econômica contemporânea o tema capital humano vem ga-
nhando maior destaque:
Tema | 03
trabalho no sentido da qualidade do ambiente, passam também a investir na
capacitação do grupo, procuram elevar o clima organizacional para um patamar
mais positivo e qualitativo, com vistas a atingir uma diferenciação produtiva e
mercadológica da empresa em relação à concorrência.
Podemos então medir o clima organizacional através da verificação das
111
Tabela adaptada de Bennis (1989 apud Bergamini, 1994).
O GERENTE O LÍDER
administra inova
tem uma visão a curto prazo tem uma perspectiva a longo prazo
tem os olhos sempre nos limites tem seus olhos sempre no horizonte
Fonte: BERGAMINI, Cecília W. Liderança, Administração do Sentido. São Paulo: Atlas, 1994.
Tema | 03
Uma gerência que trabalha com foco exclusivo na tarefa e com exigên-
cias autoritárias sem a preocupação com as boas relações interpessoais, as boas
experiências estão fadadas ao estancamento da criatividade e à falta de inovação.
Tidd et al. (2008, p. 503) reconhecem que, enquanto a inovação se ade-
re na esfera de “especialistas em P&D, marketing, design ou TI [Tecnologia da
28 O termo sociointeracionista tem relação com o termo socioconstrutivista das correntes teóricas de
Vigotsky e Piaget.
Ambos em suas teorias concordavam que a inteligência é uma construção das relação recíprocas
entre o homem e o meio em que vive.
113
importante para induzir a inovação permanente nas instituições. Inclusive, a
inovação como resultado de trabalho coletivo entre organizações é mais comum
do que imaginamos. Muitas vezes para a inovação ser possível teve de haver um
esforço multidisciplinar, baseado no trabalho coletivo das pessoas em diversas
instituições e nos centros de pesquisas.
Esses casos são chamados de inovação aberta - open innovation – é
uma estratégia que reconhece que o conhecimento útil para a inovação está dis-
tribuído nas várias instituições e instâncias da sociedade e pode ser recuperado
pela dinâmica das novas tecnologias. Os gestores favoráveis a open innovation
defendem que é no compartilhamento das informações e na superação das fron-
teiras organizacionais e das equipes interorganizacionais que acontecem o efeti-
vo uso de conhecimento para a inovação.
Pensando bem, nem a mais sofisticada área de pesquisa e desenvol-
vimento seria capaz de reproduzir todo o conhecimento, daí o surgimento da
noção de inovação aberta que visa inverter a lógica do P&D – close innovation
- para a identificação e a exploração de fontes de conhecimento internas e ex-
ternas à instituição. Por ser muito recente, estão sendo feitos estudos sobre os
aspectos da inovação aberta e ainda suas práticas não estão totalmente esclare-
cidas na literatura da área, sem dúvida, a relevância da consolidação das redes
de atuação para a inovação interativa para a busca de soluções.
Pesquisas ainda avaliam a viabilidade econômica da inovação, a partir
das propriedades tecnológicas, dos custos de design e arquitetura e requisitos
de comunicação, quanto às vantagens e desvantagens de se produzir como uni-
dades de inovação individuais e nos moldes da inovação aberta e colaborativa.
Um projeto de inovação aberta e colaborativa envolve compartilha-
mento do trabalho, em que os custos são compartilhados e incidem nas fra-
ções do trabalho e, por sua vez, obtêm valor em uma arquitetura de projeto que
suporta a tecnologia distribuída. Nesse processo, a inovação envolve múltiplos
grupos sociais dentro das instituições e, também fora delas, de forma mais di-
nâmica se desenvolve como um processo interativo, de respostas do mercado,
de informações advindas do conhecimento de clientes, interagindo com criação
de conhecimento e iniciativas empreendedoras.
Na gestão da inovação, o tema inovação aberta tem se apresentado
como um dos tópicos mais relevantes, pois representa um grande desafio para
os gestores na condução da coordenação para a abertura, na co criação de valor,
Tema | 03
mercado limitarão as opções e a cultura da companhia e considerações estratégi-
cas determinarão o que é possível e o que é desejável”. (TIDD et al, 2008, p. 311)
Istso quer dizer que são os operários, passando pelos gerentes de pro-
jetos chegando aos gestores do topo da organização que determinam o grau
para a inovação aberta com determinações claras de seus líderes para o acesso
115
e com os objetivos organizacionais. Nesse sentido, existem alguns pontos de
convergência propostos para o trabalho criativo que precisam ser amplamente
discutido na relação de trabalho, pela inerente condição de transformação que
promove no meio empresarial:
Clima Organizacional – se traduz nas condições ambientais oferecidas
e nas inter-relações entre colaboradores e gestores, sendo considerado um com-
ponente básico para o encorajamento da expressão da criatividade que deve se
manifestar através da segurança e da confiança mútua.
Auto realização – processo de imersão e sentimento de descoberta que
deflagra em liberdade de expressão.
Tema | 03
Por sua ve, as instituições que inovam internamente - close innovation
- também alcançam resultados exponenciais. Vimos que há várias maneiras de
um gestor buscar a inovação, mas existem cinco procedimentos de como inovar,
ou pelo menos, despertar esta prática nas instituições:
Análise de concorrentes – observando o concorrente, tanto os defeitos
117
Podemos concluir que as influências sociais, políticas e administrati-
vas, assim como, as pressões internas e externas estão relacionadas às mudanças
nas instituições; podendo ser usadas como empecilho, ou ao contrário, servindo
de apoio para o gestor de equipes de projetos sensibilizar para a participação
e o engajamento dos colaboradores, com o intuito de favorecer as relações de
confiança recíprocas e trabalhar em prol da inovação.
Tema | 03
significa que nem todas as mudanças são corretas ou boas, sempre se corre o
risco do efêmero, da superficialidade ou da tendência de modismos.
O desejo da mudança e do novo tem dois lados: um da pressa ou an-
siedade pela descoberta e o outro da insegurança pela forma como as novidades
119
a influenciar a produção e os seus valores simbólicos. Sabemos que uma insti-
tuição é como um organismo vivo formados por indivíduos, executando proce-
dimentos e manipulando tecnologias para atingir estratégias organizacionais.
Com a demanda das instituições, em relação à busca da criatividade e
inovação, fica evidente que ser criativo é uma habilidade indispensável para ser
cultivada do ponto de vista dos indivíduos e das empresas, especialmente nesse
momento caracterizado por mudanças e alta competitividade.
Na sociedade contemporânea, mesmo com todos os avanços tecnológi-
cos e todo o conhecimento acumulado pela humanidade, apenas parte da popu-
lação mundial desfruta dos direitos de saúde, justiça, educação e lazer.
O aumento do conhecimento e da tecnologia traz ganhos, mas também
deixa a sociedade mais complexa, com um número maior de pessoas exigindo
seus direitos. Os indivíduos são diferentes em biotipos e possuem valores dife-
rentes e até mesmo antagônicos com isto a pluralidade deve ser respeitada.
Antigamente, as sociedades gozavam de certo isolamento e conviviam
sob um grande acordo religioso, de costumes comuns, rituais e comidas típicas
e até as roupas seguiam determinado padrão. Atualmente, com o grande tráfego
de indivíduos e informações, pessoas convivem com outras, cujo comportamen-
to ou convicções desaprovam ou até condenam.
Um dos grandes desafios da humanidade é não permitir que divisões
sociais em termos de princípios e valores resultem em conflitos, mas ao contra-
rio possam se reverter em liberdade de expressão, transformando a diversidade
em uma experiência enriquecedora de aprendizado.
Quanto mais complexa a sociedade, mais difícil estabelecer Leis ou
mandamentos que possam satisfazer, sem exclusão, a todos os cidadãos da ter-
ra. A Moral é a prática e está relacionada aos valores, costumes e crenças de
uma sociedade. Podemos dizer que Moral é um conjunto de regras que são assu-
midas pelos indivíduos independentemente de fronteiras geográficas. A Moral
transmite uma identidade entre indivíduos que mesmo sem se conhecerem ou
conviverem juntos utilizam um mesmo referencial moral comum.
O Direito se conforma nas regras e normas de uma determinada socie-
dade que está delimitada por fronteiras territoriais do Estado. As leis têm efeito
legal apenas para aquela área geográfica onde reside sua população. O Direito
pode ser considerado um derivado da Moral; nesta perspectiva significa dizer
que toda Lei foi legitimamente e moralmente aceita por aquela comunidade. Na
Tema | 03
psicológicas estabelecidas como normais, é autônomo e responsável por seus
atos e suas escolhas.
Então vejam que a moral é um conjunto de normas ou regras constituí-
das socialmente e a ética está no caráter de cada ser humano e por isso é individu-
al. A ética e a autonomia constroem um caminho próprio de virtudes. Sendo que
29 Pode ocorrer da Moral e do Direito se conflitarem como quando um cidadão desobedece a Lei
justificando que argumentos morais o impedem de fazê-lo. Desta maneira a Moral e o Direito, apesar
de se referirem a uma mesma sociedade, podem ter perspectivas divergentes.
121
forma, estamos propondo aqui uma reflexão sobre a importância da ética no
campo da criatividade e inovação dentro do ambiente coorporativo e como a
ética pode impactar no sucesso profissional individual, bem como na imagem
coorporativa e no desempenho do negócio.
É importante compreendermos que todo profissional, em especial
os envolvidos com processos decisórios da criação e inovação, estão expostos
diariamente a um dilema ético quando submetido à pressão por resultados na
empresa. Ao mesmo tempo, que é preciso observar as normas este mesmo pro-
fissional precisa entender que a criatividade consiste em mudar a perspectiva
para ver as coisas de um novo ponto de vista. Com isto, os limites da ética irão
influenciar no desempenho e profissional no processo criativo.
Dentro das instituições, as equipes criativas não podem apenas incor-
porar as inovações, é preciso questionar os benefícios e as consequências da im-
plementação de um novo procedimento, produto ou serviço. Questões de ordem
social, cultural e de sustentabilidade ambiental geram impasse ético.
Por isso, quando falamos de empresa ética, estamos falando de pessoas
éticas que obedecem a um conjunto de princípios morais que devem, observa-
dos no exercício da inovação, de modo a fazer com que a novidade traga inclu-
são, melhore as condições de vida dos indivíduos, torne o sustentável em termos
econômicos, sociais e ambientais.
Empresas inovadoras se preocupam com sua imagem pública de em-
presa ética. Na empresa, a ética se reflete quando há respeito e confiança entre
os seus colaboradores, quando eles se sentem protegidos, incentivados e recom-
pensados. São empresas que sabem que a inovação precisa ter o apoio de uma
administração flexível e capaz de assumir riscos, mas não a qualquer custo.
Uma empresa que congrega seus profissionais como parte integrante
de uma cultura organizacional com ética e simultaneamente promove a ino-
vação, provoca a formação de novas opiniões e ideias. As equipes criativas são
consideradas uma parte fundamental no desenvolvimento das instituições, nes-
sa situação a confiança e o respeito são valores que nascem e se fortalecem pelo
exercício da livre expressão, seja por parte dos colaboradores ou dos gestores,
sendo um importante um fator motivacional.
A consolidação do respeito nas instituições acontece quando os gesto-
res reconhecem que nem sempre têm a resposta correta e buscam as aprecia-
ções alternativas de seus pares sempre através de um diálogo aberto.
Tema | 03
ou conhecer. Aristóteles (384-322 A.C), no primeiro livro, capítulo I31 da obra
Metafísica afirma que “todos os homens tem por natureza conhecer: uma prova
disso é o prazer das sensações, pois fora até da sua utilidade, ela nos agradam
por si mesma [...].” (ARISTÓTELES, 1984)
Embora a Ética seja o assunto da filosofia mais próximo do dia-a-dia32,
123
É uma tarefa difícil conduzir de forma consciente o dilema entre cria-
tividade e ética. Nem sempre fica muito claro a distinção entre Lei e Ética para
o profissional ou grupos criativos que enfrentam decisões diárias num contexto
operacional. Até onde a criatividade pode ser estimulada sem romper os limites
da ética? Como gerir a inteligência e a criatividade na investigação da inovação
e das vantagens competitivas das instituições sem romper as barreiras do mo-
ralmente correto e do eticamente justo?
Diferentemente do que no passado, a Ética atualmente é mais exigente
e contraditória. É um campo de conflito e discussão sobre qual caminho trilhar
nossos passos. Em geral, os debates que acontecem nas instituições apresentam
a ética firmada em questões relevantes que fazem parte da administração e às
vezes ultrapassam o próprio campo de atuação.
Questões inerentes à organização empresarial: marketing enganoso;
negócios inescrupulosos; discurso sem prática, velocidade dos mercados e in-
tegridade na tomada de decisão; vencer a concorrência sem ferir os direitos do
concorrente; estabelecer um clima de confiança com os colaboradores quando
a empresa é orientada para manipular clientes, o papel social e a estratégia da
instituição etc. Todas essas questões necessitam ser respondidas pelos gestores,
levando em consideração que o desenvolvimento da instituição deve ser susten-
tável do ponto de vista ambiental, econômico e promovido através da responsa-
bilidade social.
Questões que ultrapassam a organização empresarial: eutanásia, vio-
lência, corrupção, riqueza sem trabalho, informação desprovida de sabedoria,
religião como mercadoria, vida sem qualidade psicoemocional, intelectual e fí-
sica, problemas éticos que solicitam uma reflexão profunda. Quando um pro-
fissional se debruça sobre as questões apresentadas, faz como um pensador,
um filósofo da profissão que exerce. Dessa forma, sua reflexão ética entra na
moralidade da sua atividade.
Poderíamos resumir o que alguns especialistas chamam de crise da éti-
ca, comportamentos que exaltam uma moral do oportunismo como base em
procedimentos cínicos, como o calote e o jeitinho33 consagram a esperteza, a
valorização do enriquecimento rápido e o egoísmo pessoal que move o mundo.
33 Popularmente o jeitinho é conhecido como uma maneira utilizada para burlar a burocracia ou o
excesso de regras, um mecanismo de adaptação às situações complicadas da sociedade.
Tema | 03
quisitos legais da sua categoria para funcionamento, há novas vozes e novos po-
deres fora do poder tradicionalmente reconhecido como governo, que são: orga-
nizações, clientes, população, fornecedores, concorrentes e os rápidos avanços
tecnológicos e transformações no mercado devido à entrada de entidades como
a EU - União Européia (1993), o NAFTA - Acordo de Livre Comércio da América
125
social não é fazer filantropia, mas a mudança do modelo estratégico tradicional
– que antes se resumia na busca exclusiva do lucro - para um pensamento que
investiga as oportunidades de crescimento voltado para atender as novas neces-
sidades dos seus públicos e da sociedade em geral.
A ética está por trás de todas as decisões e atitudes, sejam de ordem
pessoal ou profissional. Agora, as escolhas dos indivíduos, ou seja, suas atitudes
serão julgadas segundo as Leis que prevalecerem sobre aquele espaço geográfi-
co. Para exemplificar, vamos distinguir o fazer e o agir na ação humana. O fazer
diz respeito à eficiência e à competência que todo profissional deve possuir para
exercer com excelência a sua profissão; o agir se refere ao comportamento do
profissional, como um conjunto de atitudes que se resume no desempenho de
sua atividade.
De acordo com Motta (1984, p. 69) o agir “da pessoa humana está con-
dicionado a duas premissas consideradas básicas pela Ética: o que é o homem
e para que vive”. Assim toda capacitação científica ou técnica precisa estar em
conexão com os princípios essenciais da Ética. Quando profissionais precisam
tomar decisões, a ética indica os caminhos mais adequados, é preciso questio-
nar se os fins justificam os meios.
A Ética Profissional34 está definida, por alguns autores, como um con-
junto de normas de conduta que um profissional precisa possuir e aplicar na sua
atuação. Geralmente, os códigos de ética apresentam um conjunto de preceitos
mínimos que podem ser sintetizados em quatro elementos: competência, sigilo,
integridade e objetividade.
34 A relação do profissional com sua clientela, visando o bem-estar no contexto sociocultural onde
exerce sua profissão; tem caráter normativo e jurídico para regulamentar as profissão. Cada profissão,
a partir de estatutos específicos estabelece seu Código de Ética.
Tema | 03
O filósofo preconizou que o objetivo geral da ética: “Na ordem natural, o Estado
antepõe-se à família e a cada indivíduo, visto que o todo deve, obrigatoriamente,
ser posto antes da parte”.
O humanismo é um forte conteúdo ético presente no exercício profis-
sional. O ser humano é ou deve ser o beneficiário de nossas ações. É muito mais
127
3.4 Estudo de Caso
Tema | 03
vidade, pois requer procedimentos e ferramentas especializadas, treinamento e,
principalmente, perseverança, não havendo lugar para o amadorismo ou ações
intempestivas.
Os casos a seguir foram montados com dados colhidos durante os úl-
timos dois anos na coleta de informações com empresas de pequeno e médio
129
Para compreender a citação, vamos utilizar o exemplo da empresa:
toda estrutura física adequada ao desenvolvimento da atividade empresarial,
sua marca, embalagem de seus produtos e os uniformes são alguns dos elemen-
tos que se referem à cultura material. Em contrapartida, a missão (finalidade
da sua existência) a visão (onde pretende chegar) e os valores (princípios mo-
rais), a habilidade, a competência de fazer negócios e sua imagem no merca-
do constituem a cultura não material. Dessa forma, podemos afirmar que a
cultura material será sempre uma consequência da cultura não material e não
tem significado sem ela. Na inovação é imprescindível que as equipes criativas
compartilhem da cultura material e não material além dos objetivos comuns
relacionados à inovação.
A Cultura Organizacional: conjunto de práticas de comportamentos de
seus colaboradores:
• A maneira adequada de, pensar, agir e se vestir; formada por prá-
ticas estabelecidas a partir da história de sucessos e insucessos vi-
venciados pela empresa e que por isso vão sendo transmitidos às
futuras gerações.
• Autoridade e influência do líder fundador: perfaz a personalidade
da empresa e se perpetua com o tempo
• Os aspectos das culturas regional e nacional acabam por impactar
a cultura das organizações: a partir delas surgem os primeiros va-
lores e, consequentemente, as experiências que poderão ser ou não
ser mantidos pela empresa.
Tema | 03
empresa: o ambiente físico de trabalho, a estrutura hierárquica;
como as pessoas vestem e falam entre outros.
Funcionam como normas e regras de comportamento que os co-
laboradores da empresa se utilizam como um meio de demonstrar
Fonte: SCHEIN, Edgar H. Cultura organizacional e liderança. São Paulo: Editora Atlas, 2009.
131
ciência quanto a cultura organizacional, planejamento e estratégicas de forma
coerente e direcionam decisões gerenciais.
É importante que as equipes criativas sejam éticas e conscientes do
seu poder de influência em relação à cultura da instituição em que atuam e que
saibam direcionar o desenvolvimento de estratégias para um aumento da pro-
babilidade de sucesso da inovação no ambiente corporativo.
Tema | 03
Ficha técnica: Malharia Brasil Ltda.; Localização: São Paulo (SP);
Fundação: 1985; Colaboradores: 512; Porte: grande; Atividade: fa-
bricação de produtos têxteis (tecidos para exportação)
Nos últimos tempos, uma ameaça vinda do oriente provoca uma de-
sestabilização econômica devido ao despreparo das economias concorrentes em
vários setores industriais no mundo todo, inclusive no Brasil. O crescimento
acelerado da qualidade e da disposição de preços atrativos dos produtos chi-
neses obrigam as empresas brasileiras a repensarem sua atuação no mercado.
Diante desta situação, o diretor geral da Malharia Brasil se deu con-
ta da necessidade de buscar a inovação de seus produtos como uma maneira de
se diferenciar e conseguir melhores margens.
Desde a sua fundação, a inovação começava a partir das sugestões do
diretor geral que eram atendidas e desenvolvidas pelo Departamento de Pesqui-
sa e Desenvolvimento - P&D da empresa e, consequentemente sua implementa-
ção era acatada por todos os setores.
Mas a imaginação do diretor geral já não alcançava mais os resultados
esperados e a empresa precisava aumentar o grau de inovação, isto é, seriam
36 Caso fictício
133
necessárias mais cabeças criativas para pensar a inovação na Malharia Brasil.
Embora a empresa mantivesse um canal aberto para que todos os cola-
boradores fizessem sugestões de melhorias, nada de interessante chegava ao de-
partamento de pesquisa e desenvolvimento ou se chegava não surtia os efeitos
desejados. As ideias que chegavam significavam apenas pequenas mudanças em
produtos ou procedimentos que não representavam uma inovação nem aumen-
to significativo de valor para a empresa.
Desta forma, o diretor geral decidiu que seria necessário trocar a equi-
pe criativa (do departamento de pesquisa e desenvolvimento) e contratou pes-
quisadores, engenheiros e especialista trabalhavam com nano tecnologia aplica-
da ao setor têxtil. Depois do investimento frustrado em dois projetos maiores, a
maioria dos profissionais que foram contratados pediu demissão.
Decorridos quase quatro anos, a ameaça chinesa se torna cada vez mais
agressiva e a Malharia Brasil vem perdendo o seu mercado. O diretor geral
lamenta e não consegue entender porquê, apesar do investimento em pessoal e
tecnologia, não obtém os resultados esperados.
Análise do Caso 01
Tema | 03
Caso 02 - CERÂMICA SALEMA
135
Escopo do projeto
O grande desafio do Núcleo Regional do IEL da Paraíba foi levar a Sa-
lema a ter um alto desempenho em seus negócios a partir do estímulo para de-
senvolver e implantar projetos inovadores. Assim, o trabalho de estruturação
dos processos de inovação demandou mudanças e aperfeiçoamentos no setor
administrativo para ajustá-lo às práticas de inovação.
A gestão baseada em métodos estruturados, com o apoio de informa-
ções quantitativas que alimentam o sistema, vem apoiando as lideranças e au-
xiliando a empresa a ampliar o crescimento. Esse procedimento desdobra a im-
plantação de processos de qualidade iniciada em 2006 e permite que a Salema
tenha hoje uma posição de destaque em termos de inovação e de resultados.
Após adesão das empresas ao Sadi (Sistema de Alto Desempenho para
Inovação), um levantamento de informações sobre os projetos de inovação da
empresa. Assim, foi necessário indicar os pontos de atenção para reorganizar o
funcionamento da empresa, usando os conhecimentos adquiridos nos cursos de
capacitação.
Posteriormente, foram criados núcleos de inovação em diferentes se-
tores, cada um com um líder escolhido pelos administradores em conjunto com
os consultores. Os grupos receberam a tarefa de buscar diferentes soluções para
os problemas apresentados, para serem transformadas em ações reais de inova-
ção. A Salema também criou uma metodologia de documentação e comunica-
ção com as equipes, por meio de um sistema intranet. A equipe de consultoria
acompanhou e orientou os executivos da Salema por cerca de três meses para
apoiar a nova organização da empresa e o seu processo de inovação.
Com o modelo de gestão da inovação criado pelo IEL/PB, a Cerâmica
Salema promoveu importantes mudanças para reorganizar sua administração e
criar novas possibilidades para inovar em seus produtos.
Resultados obtidos pela empresa com a solução do IEL, A metodologia
do IEL proporcionou à Salema reestruturar o seu modelo de inovação de manei-
ra significativa, tornando os processos administrativos mais ágeis e sustentá-
veis, com reflexos positivos nos mecanismos de produção da empresa como um
todo. A empresa conseguiu economizar cerca de R$ 5 mil por mês, por meio da
organização de seu departamento de Compras e com operações feitas de forma
organizada, garantindo melhores preços por volume.
Tema | 03
ser aplicadas em todos os setores. Os vencedores dessa primeira edição apre-
sentaram uma ideia simples, porém sustentável e aplicável a todos os setores,
propondo a redução de custos por meio do uso consciente e racional de mate-
riais de escritório.
Ambos os casos, à sua maneira, demonstram que se a ideia é fazer ino-
137
CARVALHO, José Eduardo et al. Inovação, decisão e ética: trilogia
para a gestão das organizações. São Paulo: Edições Sílabo, 2011
Leia: Inovação, decisão e ética: trilogia para a gestão das organizações.
Capítulo 06: A ética na empresa.
O livro apresenta elementos conceituais e instrumentais sobre ino-
vação, decisão e ética para que os gestores das organizações possam
integrá-los nas suas estratégias de desenvolvimento e competitividade.
Traz uma reflexão sobre o desenvolvimento da ciência e das tecnolo-
gias com o objetivo de contribuir para aumentar o bem-estar individu-
al e coletivo das pessoas
Tema | 03
e ilustra bons resultados e o engajamento do setor empresarial brasilei-
ro. Os casos demonstram estratégias de inovação distintas e compro-
vam a necessidade do estabelecimento de parcerias entre fornecedo-
res, clientes, centros de pesquisa/universidades.
Ficou claro que as pessoas que compõem a equipe são, sem dúvida, o
principal vetor da criatividade e escolher a equipe é o primeiro passo
para alcançar resultados inovadores. Nesse contexto, o gestor tem a
responsabilidade de garantir as condições necessárias para a equipe
desenvolver ideias e executar o projeto.
139
primeiro sobre a responsabilidade das técnicas utilizadas e segundo
sobre o resultado gerado pela inovação. Lembrando que a ética faz par-
te da filosofia e tem como objetivo de estudo a moral, o dever-fazer, a
qualificação do bem e do mal, a melhor forma de agir coletivamente.
E, ao final, expusemos dois casos que nos ajudaram a compreender
quais são os desafios das instituições que pretendem aprender a pensar
em longo prazo e investir em criatividade e inovação.
141