Vous êtes sur la page 1sur 40

Introdução à

Teologia
Bíblica
Faculdade Batista do Cariri
Especialização em Teologia Bíblica
Almir Marcolino Tavares
17-18 de Março de 2017

1
Aula 1 - Definindo a Teologia Bíblica

A disciplina de Introdução à Teologia Bíblica

Objetivo: Que você possa ganhar uma compreensão da disciplina Teologia Bíblica,
mostrando-se capaz de defini-la; indicar seus pressupostos, seu relacionamento com
outras disciplinas, sua necessidade e valores1.

A - Definindo Teologia e Teologias

1. Teologia é o estudo ou ciência de Deus. Como o Deus do cristianismo é um Ser


ativo, um ser que age, então o estudo deste Deus também vai envolver Suas obras, Sua
atividade em se relacionar com o homem. Sendo assim poderemos definir a Teologia como
: o estudo da Pessoa e obra de Deus em seus relacionamentos com o homem.

2. Teologia Sistemática (Também chamada de DOGMÁTICA) é a disciplina
"... que procura dar um relato coerente às doutrinas da fé cristã, baseando-se
principalmente nas Escrituras, situando-as no contexto da cultura em geral,
expressando-as num idioma contemporâneo, e relacionando-as às questões da
vida. "2
3. Teologia Histórica (Também conhecida como História de Dogma) é a disciplina
que estuda as doutrinas através da história da Igreja.

4. Teologia Prática estuda as disciplinas que indicam como os cristãos praticam e
proclamam sua fé.

B - Que sentidos a expressão Teologia Bíblica pode ter?

1. Uso adjetival. Pode adjetivar a teologia ou crença de alguém. Ex. “A teologia de


Fulano de Tal é bíblica”. Ou “Ele tem uma teologia bíblica”. Neste caso, estamos nos
referindo ao fato de as doutrinas de alguém serem fundamentadas na Bíblia e refletirem os
ensinos dela. Neste sentido toda teologia para ser verdadeira tem que ser Teologia Bíblica.

2. Uso substantival. Mas, em séculos mais recentes a expressão ganhou a conotação
de uma disciplina distinta dentro dos estudos bíblicos e teológicos. É com este sentido que
a usaremos neste curso.

C - A Definição dada por alguns livros textos:

“É aquela teologia que se descreve e se contém na Bíblia e


conscientemente vinculada de era em era enquanto todo o contexto antecedente e
mais antigo se torna a base para a teologia que se seguia em cada era”.3

“Teologia Bíblica é a disciplina que estrutura a mensagem dos livros da
Bíblia em seu ambiente histórico. É uma disciplina primariamente descritiva. Ela
não está inicialmente preocupada com o significado último dos ensinos da Bíblia
ou com sua relevância para os dias atuais. Esta é a tarefa da Teologia Sistemática.

1
Observar as diretrizes do curso
2
Erickson, Millard J. CHRISTIAN THEOLOGY, pg 21. Baker Boook House, Grand Rapids, 1985.
3
Kaiser, Walter C. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO ( Trad. Dordon Chown) SP: Vida Nova, 1980. Pg. 10

2
A tarefa da Teologia Bíblica é expor a teologia encontrada na Bíblia em seu próprio
contexto histórico, em seus próprios termos, categorias e formas de pensamento.”
4

“A Teologia bíblica é a tentativa de estudar a contribuição individual de


um dado escritor ou de um determinado período ao cânon da mensagem. Ela
combina análise e síntese.”5

Eugene H. Merrill diz que

“teologia bíblica é a integração coesa de tudo que a Bíblia tem a ensinar sobre a
revelação de si mesmo de Deus e sua vontade tanto quanto a narrativa do contexto
histórico, social e religioso em que essa revelação ocorreu.” 6

D - Definindo-a como disciplina

É a busca por se entender o significado da revelação bíblica dentro do seu contexto


histórico. Procura estudar as doutrinas na forma como aparecem nos escritos do Antigo
Testamento e Novo Testamento. Procurando “traçar de forma cuidadosa o desenvolvimento
da doutrina no período da produção bíblica.”7

"A Teologia Bíblica define-se basicamente a partir de sua distinção em relação à
Teologia Sistemática e à História das Religiões. A proposta fundamental da
Teologia Bíblica é construir uma teologia a partir das Escrituras, de modo indutivo,
sem depender das categorias definidas pelas Sistemática ou Dogmática "8

Ela é normalmente tratada pelos Testamentos. Tem a do Antigo Testamento e a do
Novo Testamento. Do Antigo Testamento

“é a disciplina da teologia exegética que procura os rudimentos do plano
de Deus nas mais primitivas revelações de Deus ao homem e então coleta e
organiza as adições subsequentes e responde estritamente de acordo com o
processo histórico da auto-revelação de Deus no Antigo Testamento.”9

Do Novo Testamento. É a disciplina que procura estudar o que os crentes do Novo
Testamento criam, qual a essência de sua crença e prática.

E - Os pressupostos da Teologia Bíblica

1. Unidade da Bíblia. Apesar de ser uma coleção de livros, com vários tipos de
literatura, escrita por autores diferentes, em situações bem diversas, num período de mais
ou menos 1500 anos, a Bíblia apresenta uma unidade singular. Sendo este fato um dos
argumentos que indicam sua sobrenaturalidade.

4
Ladd, George E. A THEOLOGY OF THE NEW TESTAMENT. Grand Rapids: Eerdmans. Pg 25.
5
Bock, Darrell, em Zuck, Roy Teologia do Novo Testamento. RJ:CPAD, 2008. Pg. 14
6
Merrill, Eugene H. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO, (Trad. Helena Aranha e Regina Aranha) SP:Shedd Publicações,
2009. Pg. 575
7
Bock, em Zuck, pg 11
8
Sayão, Luis, no prefácio do livro TEOLOGIA BÍBLICA OU SISTEMÁTICA - Unidade e Diversidade no NT, de Donald A.
Carson, pg. 7
9
Kaiser, Walter C. THE THEOLOGY OF THE OLD TESTAMENT In THE EXPOSITOR’S BIBLE COMMENTARY , Ed. Frank
E. Gaebelein; Grand Rapids:ZOndervan, 1979. Pg. 286

3
2. A crença de que a revelação de Deus foi dada em circunstâncias históricas
definidas, e através de atos históricos. Deus agiu na história para revelar-se aos homens e
realizar seu projeto redentor. Esta revelação foi escriturada. Podemos marcar quatro
períodos da revelação escrita no A.T.: Moisés, antes do exílio, exílio e pós-exílio. No N.T.,
temos o período apostólico. É importante diferenciar os tempos: da manifestação redentora
de Deus, da revelação não escrita e do registro da revelação escrita10.

3. Crença que estes atos revelatórios de Deus têm significado ético e prático, i.e.
conteúdo teológico. A palavra interpretativa acompanhou o evento, ou antes ou depois do
mesmo. Ela estuda não apenas os acontecimentos e mensagens da Bíblia, mas também o seu
significado.

4. Crença que a revelação foi cumulativa. Deus não revelou todo seu plano no início.
Mas, como um rio, que ao iniciar-se é apenas um riacho e vai crescendo “ aos poucos
tornado-se em um caudal enorme até desaguar nos umbrais da eternidade.”11 Deus falou o
seu propósito por etapas, Cl. 2.17; Hb. 1.1s; 10.1; 11.13,39s; 1 Pd. 1. 10ss. Por isso a teologia
bíblica

“traça passo a passo, ao longo da Bíblia, a história da salvação, permitindo que a
história assuma qualquer forma apropriada a cada estágio da revelação,
reconhecendo como a doutrina se desenvolve à medida que a revelação
progride.”12

Este acréscimo foi feito seguindo certos critérios de conteúdo que cooperavam com
a revelação já dada13.
5. Crença na inspiração divina da Bíblia. Deus não apenas revelou-se através de atos
e palavras no passado, mas foi da Sua vontade que aquela revelação fosse mantida intacta,
por isto garantiu o seu registro através da inspiração. De modo que temos na Bíblia hoje a
autêntica Revelação de Deus.

F - O que a Teologia Bíblica leva em consideração

1. O texto
2. O contexto histórico
3. A mensagem geral da Bíblia.

G - Como ela é distinguida das outras disciplinas

1. A Teologia Histórica (História de Dogma) trata de como os ensinos da Teologia


Bíblica foram entendidos através da História da Igreja. Considerar a Teologia Bíblica como
Teologia Histórica, é desconsiderar a doutrina da inspiração. Pois, apesar do estudo do
pensamento dos diversos mestres da História da Igreja ser importante, não consideramos
estes pensamentos como Palavra de Deus. Eles estão num nível inferior.

2. A Teologia Sistemática já existia antes da Teologia Bíblica. Seu papel é
sistematizar e aplicar todo o ensino descoberto pela Teologia Bíblica, colocar dentro de uma
estrutura compreensível ao homem em seu tempo. Nesta sistematização e aplicação ela se

10
Ver quadro comparativo cronológico da Revelação e da Inspiração
11
Ferreira, Wilson C. ESBOÇO DE TEOLOGIA BÍBLICA DO NOVO E VELHO TESTAMENTOS. Campinas, SP:Luz Para o
Caminho, 1985. Pg. 14.
12
Merrill, Eugene H. citado em Zuck, pg. 11
13
Ver quadro da revelação cumulativa

4
vale de recursos de outras disciplinas: filosofia, revelação natural, etc. A Teologia Bíblica lhe
serve de fonte.

3. Introdução ao Antigo Testamento e ao Novo Testamento. Estas disciplinas devem
preceder a Teologia Bíblica, pois esta depende daquelas. Já que a TEOLOGIA BÍBLICA estuda
os livros da Bíblia em seu ambiente histórico, ela deve ter os dados para conhecer este
ambiente.

4. História de Israel. Alguns estudiosos acreditam que a TEOLOGIA BÍBLICA nada
mais é do que a História de Israel. Os que agem assim desprezam a ação sobrenatural de
Deus e a doutrina da inspiração. O estudo da história de Israel é importante, pode até ajudar
a TEOLOGIA BÍBLICA, mas a TEOLOGIA BÍBLICA estuda a revelação de Deus em e através
daquela história.

5. Exegese. Esta serve de fonte e ferramenta para a TEOLOGIA BÍBLICA. Para
descobrir o significado do texto bíblico a TEOLOGIA BÍBLICA deve fazer boa exegese.

6. Teologia Prática. Esta aplica os ensinos nas diversas áreas da nossa vida, tanto
como indivíduos, como quanto comunidade.

H - Os passos que formam a Teologia Bíblica

1. Investigação do texto - exegese filológica e histórica, buscando o sentido exato das


palavras e das ideias no seu próprio contexto. As perguntas que devem ser feitas:
a. Qual o melhor texto?
b. Qual o significado das palavras?
Depois fazer sua tradução do texto.

2. Estudo hermenêutico - Estuda a estrutura e contexto do livro. Procura ver os
temas, propósitos e razões do autor, etc. À luz disto, interpretar a passagem. Uma
hermenêutica que considere: Literatura, Contexto Histórico, Cânon e Teologia.

3. Estudo histórico - analisa o significado da revelação dentro do contexto histórico
e da época. Pergunta: O que isto significava naquela época?

4. Organização do ensino. O alvo é determinar como o crente dos tempos bíblicos
pensava, cria e adorava.

I - A Necessidade da TEOLOGIA BÍBLICA

A Bíblia é a nossa regra de fé e prática, portanto precisamos aplicá-la corretamente


em nossas vidas. Para fazer isto precisamos considerar que a revelação na forma como
aparece na Bíblia não é supra-histórica nem supra-cultural. Ela foi dada em formas culturais
e históricas, sendo assim ela não pode ser aplicada diretamente, sem uma adequação ao
nosso contexto.
Esta tarefa é difícil e perigosa. Para que ela seja bem feita é necessário entendermos
bem o significado do ensino na época em que ele foi dado. Só assim poderemos aplicá-lo
corretamente.
Outra razão para se estudar a Teologia Bíblica é a de evitar o erro da fragmentação.
Nosso alvo deve ser o de ensinar tudo o que Jesus ensinou (Mt. 28.18-20), todo o desígnio
de Deus (At. 20.20,27)

5
J - Valores da TEOLOGIA BÍBLICA

1. O valor para a exegese. Kaiser argumenta que a TEOLOGIA BÍBLICA tem um valor
para o exegeta na área hermenêutica. Sem a TEOLOGIA BÍBLICA o exegeta não poderia dizer
o agora (o que significa para nós hoje) do que havia descoberto do então, (O que significou
para os primeiros leitores). Depois de fazer a análise do texto (palavras, termos, etc.)

“o texto pede para ser entendido e colocado num contexto de eventos e
significados. Estudos históricos colocarão o exegeta em contato com o fluxo de
eventos no tempo e no espaço, e as análises gramaticais e sintáticas identificarão
a coleção de ideias na seção imediata do período sob investigação. Em cada exegese
bem sucedida, deve haver alguns meios de identificar o centro ou cerne do
cânon.14.
O estudioso faz a exegese gramatical-histórico-sintático-cultural. Depois, ele dá o
passo teológico. Emprega a Analogia das Escrituras Precedentes, isto é,

“coleciona apenas aqueles contextos antecedentes que existiam na mente do
escritor das Escrituras enquanto escrevia a nova passagem, conforme se indica
pela mesma terminologia, fórmulas ou eventos aos quais este contexto acrescenta
outros em série.”15

O teólogo bíblico deve:

“prover o exegeta com um conjunto de termos técnicos e teológicos que se
acumulam, identificações de momentos chaves interpretativos na história do
plano divino para o homem, e uma apreciação pela gama de conceitos agrupados
em derredor de um núcleo unificador - todos estes de acordo com sua progressão
histórica no tempo.”16

Um teólogo do Novo Testamento que concorda com Kaiser, é Leonard Goppelt, veja
como ele se expressa sobre este ponto.

"A teologia do Novo Testamento é o cume do monte ao qual conduzem os difíceis
caminhos da exegese neotestamentária e do qual, olhando-se para trás, a vista os
pode abranger. Essa comparação evidencia que entre a exegese e a teologia do
Novo Testamento existe uma reciprocidade. A teologia neotestamentária não
somente coleta os dados da exegese, mas desenvolve um panorama, ou melhor,
uma visão global que, por seu turno, enriquece a exegese e, no fundo, a torna
possível. O estudo do Novo Testamento ocorre, tanto teológica como
historicamente, sempre a partir do detalhe em direção ao todo e do todo em
direção ao detalhe."17

2. O valor para a Teologia Sistemática. Impede que esta venha usar a Bíblia apenas
como texto-prova sem considerar o caráter progressivo da revelação.

3. O valor para missões. David Hesselgrave18, tem mostrado o valor da TEOLOGIA
BÍBLICA para missões, especialmente ao se evangelizar em outras cosmovisões.

14
Kaiser, Teologia do Antigo Testamento. Pg.19
15
Kaiser, op.cit. pg. 20
16
Kaiser. Op.cit. pg. 20
17
Goppelt, Leonhard TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO , Vol. I – Jesus e a Comunidade Primitiva ( Trad. Martin Dreher ) ,
a
2 Edição, 1983, São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis:Vozes. Pg. 15.
18
HESSELGRAVE , David J. A COMUNICAÇÃO TRANSCULTURAL DO EVANGELHO- Vol 2 – Comunicação, Cosmovisões
e Comportamento. ( Trad. Robinson Malkomes) SP: Vida Nova, 1995. Pg. 229

6
O missionário está envolvido em três cosmovisões: a dele, a do povo onde trabalha,
e a Bíblica. Sua tendência é de impor sua cosmovisão ao povo ao qual está evangelizando,
ou de contextualizar o evangelho na cosmovisão do povo que está sendo evangelizado. Isto
tanto pode dificultar a aceitação do evangelho, como pode prejudicar o conteúdo do
evangelho. A função do missionário é a de comunicar uma terceira cosmovisão: a bíblica.
A melhor maneira de fazer isto é apresentando a forma literária e a sequência
progressiva da revelação histórica apresentada nas Escrituras. Outros métodos de ensino
só devem ser apresentados quando a pessoa já tem visão do quadro completo. Com base
naquilo que Espírito Santo ensinou e destacou no NT, pode-se saber o que deve ser
destacado no Antigo. Temos que admitir que a Teologia Sistemática apresenta o evangelho
de uma certa cosmovisão, já a Teologia Bíblica nos ajudaria neste ponto.
A razão desta tese é que a TEOLOGIA BÍBLICA é a teologia que preserva a estrutura
histórica da Bíblia. Ela apresenta o quadro completo ao invés de se concentrar nas pequenas
histórias. Ao se contar a história completa da redenção, coloca-se Jesus dentro do quadro
total, isto tanto facilita o entendimento como, diminui os riscos de se comunicar o evangelho
de forma distorcida.
O Pressuposto por trás deste pensamento é que: Deus não apenas inspirou as
palavras e as verdades da Bíblia, mas também supervisionou todo o processo de revelação
escrita, de forma que pudéssemos receber um modelo para discipular as nações – modelo
que nos leve a uma compreensão daquilo que pode ser chamado cosmovisão cristã. Jesus
começou sua exposição com Moisés (Lc 24.27).

4. Para pregação. Quando se entende o quadro geral da revelação de Deus nas
Escrituras a facilidade de se acertar e explicar o ensino de um determinado texto é maior.

Aulas 2 e 3 - A História da Teologia Bíblica

Objetivo: Que você possa obter uma compreensão da razão do surgimento desta disciplina
entre os estudos bíblicos, do seu desenvolvimento e principais expoentes.

Introdução

Como disciplina, a Teologia bíblica foi impulsionada por três grandes movimentos:
Reforma, Pietismo e Iluminismo. Vamos observar este desenvolvimento.

A - Os primeiros séculos da história da Igreja 19

Podemos falar da Teologia Bíblica no sentido de disciplina apenas após o último


livro da Bíblia ter sido escrito.
Alguns intérpretes do início da Igreja não entenderam o conceito de revelação
progressiva. Diante do problema de como interpretar o Antigo Testamento, alguns
apelaram para o método alegórico, um exemplo foi a Escola de Alexandria com Clemente e
Orígenes. Já outros, como Marcião, preferiram repudiar o Antigo Testamento. Orígenes
baseia-se na crença de que há um sentido espiritual por trás de cada sentido literal das
Escrituras, da mesma forma que há um espírito no corpo de cada homem. Todos os
pormenores da escritura são símbolos de grandes realidades espirituais. Há um sentido
literal, que está relacionado ao corpo. Um sentido moral, relacionado à alma. E um sentido
espiritual, relacionado ao espírito, que é o mais importante. Esta foi uma forma de enfrentar
a acusação quanto a alguns textos do AT, especialmente os que falavam da ira de Deus.

19
Algumas notas de rodapé reportando-se ao livro de LADD são da versão mais antiga, da JUERP, outras da versão nova da Editora
Êxodus.

7

Que as Escrituras foram escritas pelo Espírito de Deus, e têm um significado, não
apenas o que está aparente à primeira vista, mas também outro, o qual escapa do
entendimento da maioria. Pois aquelas (palavras) que são escritas são as formas de
certos mistérios e imagens das divinas coisas. A respeito disto existe uma opinião
através de toda a Igreja, que toda a lei é realmente espiritual, mas que o significado
espiritual que a lei transmite não é conhecido de todos, mas apenas por aqueles que
a graça do Espírito Santo capacitou em palavras de sabedoria e conhecimento. 20

A escola de Antioquia seguia a interpretação literal das Escrituras, mas não tenho
conhecimento de como ela lidou com a relação entre Antigo e Novo Testamento. Alguns
entendem que Agostinho, com o livro Cidade de Deus, foi o que mais se aproximou da ideia
de revelação progressiva.21
Para fazer frente ao gnosticismo, que usava os mesmos textos da Igreja Cristã, mas
lhe dava outra interpretação, a Igreja adotou o seguinte princípio:

“ o conteúdo dos escritos canônicos, se corretamente entendido, era idêntico ao
dogma da Igreja e tido como de validade universal.” 22

Mais tarde esta regra foi declarada assim por Vicente de Lerins: “aquilo que em toda
parte, sempre, e por todos tem sido crido.” Sendo assim não foi desenvolvida nenhuma TB.
Irineu de Lion pode ter sido o primeiro escritor pós neo-testamentário a falar de uma
História da salvação.

O tempo, em sua opinião, era época limitada; principiou com a criação e terminará
com o cumprimento. Em ambas as extremidades, circunda-o a eternidade. É dentro
do contexto do tempo que a salvação ocorre. Dentro deste contexto Deus realizou
as ações testemunhadas pela Escritura, e das quais depende a salvação dos
homens.23

Ele desenvolve uma espécie de História da redenção, mostrando como o propósito
de Deus sempre foi dirigir a humanidade para uma comunhão mais íntima com ele. 24O AT
é o relato de parte desta história, que se realiza em Cristo e culminará na consumação final.

A Igreja se estende pelo mundo inteiro, às regiões mais remotas da terra. Recebeu
sua fé dos apóstolos e seus seguidores. Essa, é fé em um só Deus, Pai todo-poderoso,
que fez os céus e a terra e os mares e tudo o que há dentro deles; e em Cristo Jesus,
o Filho de Deus, o qual, para nos redimir, assumiu forma humana; e no Espírito
Santo, o qual, através dos profetas, proclamou o plano de salvação de Deus, o duplo
advento do Senhor, seu nascimento de virgem, sua paixão, sua ressurreição dos
mortos, sua ascensão física ao céu, e seu retorno do céu na glória do Pai. Cristo
retornará a fim de ‘restaurar todas as coisas’ e ressuscitar toda carne em toda raça
humana, de modo que todos os joelhos se prostrarão perante Jesus Cristo e todas as
línguas louvarão, a ele, que segundo o invisível beneplácito do Pai, é nosso Salvador
e Rei. 25

20
The Ante-Nicene Fathers,vol IV, pg. 457-459,Orígenes em De princípio, prefácio.
21
FERREIRA, Wilson C. ESBOÇO DE TEOLOGIA BÍBLICA DO NOVO E VELHO TESTAMENTOS, Campinas:Luz Para o
Caminho, 1985. Pg. 26.
22
HASEL, Gerhard F., TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO, Questões Fundamentais no Debate Atual, ( Trad. Jussara Marindir
Pinto Simões Arias ), RJ, JUERP, 1988. Pg. 13
23
Hagglund, 37.
24
Gonzales, 114
25
Irineu, Contra as Heresias,l ivro I, cap. 10. Verso 1.

8
Alvo da salvação é o mesmo da criação: o homem ser semelhante a Deus. Restauração
ao estado original. A redenção realizada por Cristo é para libertar o homem do diabo. Com
a ressurreição o conflito entrou em sua fase final, sendo que a batalha decisiva já foi travada
e vencida. Os homens são atraídos para a vitória de Cristo e recebem o que perderam em
Adão.

Tomando nossa carne e fazendo-se homem, recapitulou em si a longa jornada da
extirpe humana, obtendo para nós salvação de modo tão sumário, para que em Jesus
Cristo recuperássemos aquilo que tínhamos perdido em Adão, ou seja, o sermos a
imagem e semelhança de Deus.26

Acreditava em um reino do Filho: com a derrota do Anticristo, natureza renovada, fiéis
reinando com Cristo, e uma Jerusalém terrestre. Tudo isto precedendo a segunda
ressurreição e o Dia do juízo. A eternidade se dará após o julgamento final, quando Jesus
entregar o Reino ao Pai e será “tudo em todos”. Até a ressurreição do corpo chegar, as almas
dos santos estão em um estado intermediário de expectação.

Mas quando esta [presente] forma [de coisas] passar, e o homem tiver sido
renovado, e florescer num estado incorruptível, e assim prevenido da possibilidade
de tornar-se velho, [então] existirá novo céu e nova terra, na qual o novo homem
permanecerá [continuamente], sempre mantendo conversas recentes com Deus.27

B - Na Idade Média

O dogma eclesiástico regia o estudo bíblico. As doutrinas eram fundamentadas não


só na Bíblia, mas também na tradição da Igreja. A Bíblia era usada para reforçar as doutrinas
da Igreja. Tanto o Antigo como o Novo Testamento eram considerados como parte da
tradição eclesiástica, e não poderiam ser interpretados fora ou contra ela.

“Não a Bíblia somente, historicamente entendida, mas a Bíblia como interpretada
pela tradição da Igreja era a fonte da teologia dogmática.” 28.

Podemos citar como exemplo a defesa que o Papa Bonifácio VIII (1235-1303) fez da
supremacia da Igreja Católica com seu poder espiritual sobre o temporal e da aceitação do
pontífice romano como doutrina necessária à salvação:

"Bonifácio, bispo, servo dos servos de Deus. - Impelido pela nossa fé, somos
obrigados a crer e sustentar que há uma Santa Igreja Católica e Apostólica.
Firmemente cremos e professamos que fora dela não há salvação nem remissão de
pecados, como declara o noivo do Cantares: “ Minha amada, minha imaculada não
é senão uma; é a única de sua mãe; é a escolhida daquela que lhe deu o ser...”
Porque, no tempo do dilúvio, só havia a arca de Noé, que prefigurava a única Igreja,
e fora feita segundo a medida de um cúbito e tinha somente Noé por piloto e
capitão, e fora dela toda criatura vivente que havia sobre a Terra foi, como lemos,
destruída. A esta Igreja reverenciamos como a única pura, como o Senhor disse ao
profeta: “Livra minha alma da espada, minha amada do poder do cão.” ... Ela é
aquela túnica inconsútil do Senhor, que não foi dividida, mas sorteada ao lançar
dos dados. ...
Que nela se acha a possessão das duas espadas, no-lo ensinam os evangelhos, a
saber, a espada espiritual e a espada temporal. Pois quando o Apóstolo disse: “Eis
aqui - isto é, na igreja - duas espadas”, o Senhor não replicou aos Apóstolos: “É
26
Irineu, Contra as Heresias, cap. III, 23. Bettenson, 69
27
Irineu, Contra as Heresias, Livro 5, cap 35. The Ante-Nicenes Fathers, vol I pg. 1137
28
LADD, George Eldon, A THEOLOGY OF THE NEW TESTAMENT, Grand Rapids, Eerdmans, Edição Revisada, pg. 1

9
demasiado”, mas: “Basta” ... Consequentemente, estão ambas em poder da Igreja,
isto é, a espada espiritual e a espada temporal - uma para ser usada pela Igreja e a
outra para a Igreja; a primeira pela mão do sacerdote, e a segunda pela mão de
príncipe e reis, mas com o assentimento e a instância do sacerdote. Uma espada
deve necessariamente estar subordinada à outra, e o poder temporal ao poder
espiritual. ...Sendo patente a verdade, o poder espiritual tem a função de
estabelecer o poder temporal e julgar do que seja ou não seja bom. E quanto à
Igreja, e ao poder da Igreja, aplica-se a profecia de Jeremias: “Vê que te constituí
hoje sobre as nações e sobre os reinos, para arrancares e demolires, para
destruíres e derrubares, para edificares e plantares.” 29
Se esse poder terreno se desvia do reto caminho, ele é julgado pelo poder
espiritual, mas se um poder espiritual inferior se desvia do caminho justo, o
inferior é julgado pelo superior; entretanto, se a suprema autoridade (o papado),
se desviar, ele não pode ser julgado por homem algum, mas somente por Deus. E
assim testifica o apóstolo: “O que é espiritual julga todas as coisas, mas ele próprio
não é julgado por nenhum homem.” 30

C - A Reforma

Houve uma reação ao ponto de vista anterior. “Dogmática deveria ser a formulação
dos ensinos bíblicos.” O princípio Sola Scriptura, que era um protesto contra a teologia
escolástica e a tradição eclesiástica, prepara o terreno para a TB.
Como resultado desta reação tivemos: estudo das línguas originais, consciência da
importância da história na teologia bíblica, interpretação literal. Tudo isto deu origem a uma
verdadeira teologia bíblica.
No entanto esta época tinha uma insuficiência na interpretação da Bíblia: o Antigo
Testamento não era interpretado no seu contexto histórico, mas no contexto do Novo
Testamento. Lutero elaborou uma nova hermenêutica: contraste entre letra e espírito;
distinção entre lei e evangelho; princípio cristológico (verdadeira escritura é a que
manifesta Cristo) e analogia da fé. Com isto ele criou um cânon dentro do cânon.31
Os precursores do termo Teologia Bíblica pertenciam à reforma radical, os
anabatistas. O termo só vai aparecer pela primeira vez cem anos após a Reforma na obra
Deutsche Biblische Theologie (1629) de Wolfgang Jacob Christmann. A obra Theologia
Biblica (1643) de Henricus A . Diest – “é o primeiro documento a propiciar vislumbres da
natureza de uma disciplina, que então nascia.”32
Várias outras obras são publicadas. A princípio a Teologia Bíblica constituía-se de
textos-prova para manter a teologia, chamada também teologia exegética, era subsidiária
da dogmática.

“Compreendia-se que a teologia bíblica consistia de ‘textos de prova’ das
Escrituras, extraídos indiscriminadamente dos dois Testamentos, de modo a
apoiar os tradicionais sistemas de doutrinas da ortodoxia protestante primitiva.”33

A expressão Teologia Bíblica no sentido de “designar a teologia que a Bíblia em si
contém”34 é uma disciplina que tem pouco mais de 200 anos, e que na virada dos secs. XVIII
e XIX se dividiu em duas (Antigo Testamento e Novo Testamento).

29
Está citando Jeremias 1.10
30
SCHAFF, David S. NOSSA CRENÇA E A DE NOSSOS PAIS, Confronto entre o Protestantismo e o Romanismo ( Trad.
Nicodemos Nunes) SP, Imprensa Metodista, 1964. Pg. 613s
31
Ver Institutas II. vi, 4.
32
HASEL, Gerhard F. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO- Questões fundamentais no debate atual (Trad. Cesar Bueno
Vieira) RJ:Juerp1987. Pg. 14
33
HASEL, Gerhard F. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO, pg 14.
34
HASEL, HASEL, Gerhard F., TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO. pg. 15

10
D - Escolasticismo ortodoxo

A Bíblia voltou a ser usada como texto-prova de doutrinas, a revelação progressiva


não foi considerada 35 “ A Bíblia, no seu todo, foi estudada como possuindo um nível único
de valor teológico.”36 O Pietismo fez uma oposição entre o escolaticismo protestante e a
teologia bíblica. A Teologia Bíblica se separa da dogmática, e passa a ser considerada como
fundamento desta.

E - A Reação Racionalista

“A teologia bíblica como uma disciplina distinta é um produto do impacto do


Iluminismo sobre os estudos bíblicos.” 37 Nesta época houve uma busca da completa
objetividade, uma descrença no sobrenatural (surgimento do racionalismo); surge o
método histórico crítico, que é uma nova hermenêutica, vê a Bíblia como qualquer outro
livro antigo, a doutrina da Inspiração é abandonada. A Bíblia contava a história de uma
religião semítica, e era o que certos homens pensaram sobre religião, e não uma revelação
divina.

“ A razão humana tornou-se o padrão definitivo e a fonte principal de
conhecimento, isto é, a autoridade da Bíblia como registro infalível da revelação
divina foi rejeitada.”38

A TB se torna rival da dogmática. Palavra de Deus e Escritura Sagrada não são
idênticas, nem todas as partes da Bíblia foram inspiradas e portanto ela deve ser investigada
com uma metodologia histórico-crítica.
O método histórico-crítico se desenvolveu. Com a revolução científica de Copérnico,
Galileu e Kepler, as ciências não eram mais interpretadas pela Bíblia. Esta separação
transferiu-se para outras disciplinas. Todas ficaram separadas da teologia, e esta passou a
ser explicadas por aquelas (história, filosofia, ciências), houve uma inversão, e onde
houvesse uma contradição as outras disciplinas deveriam ser aceitas no lugar da Bíblia.
Houve pessoas que tentaram manter a TB numa linha ortodoxa. Gotthild Traugott
Zachariã (1729-1777) foi um deles. Entendeu que cada livro da Bíblia possui época,
importância e finalidade própria, e assegurou a inspiração da Bíblia e uma relação de
reciprocidade entre os testamentos.
Em 1787 com Johann Phillipp Gabler (1753-1826) a Teologia Bíblica se tornou uma
disciplina puramente histórica. Numa palestra de abertura da Universidade de Altdorf, 30
de março de 1787, ele faz a seguinte distinção:

“A teologia bíblica possui um caráter histórico, que transmite o que os escritores
sagrados pensavam a respeito das questões divinas; a teologia dogmática, pelo
contrário, possui um caráter didático, ensinando o que determinado teólogo
filosofa sobre as questões divinas, de acordo com sua capacidade, época, idade,
lugar, doutrina ou escola, e outras coisas do gênero.”39

A TB deve ser um estudo histórico das ideias religiosas de Israel. Isso deveria ser
feito em três passos: primeiro reunir os dados sobre cada um dos períodos da Bíblia, cada

35
A revelação é progressiva - mistério no Novo Testamento (Ef e Cl); sombras, Hebreus, etc.
36
LADD, op. cit. Pg. 14
37
LADD, op.cit. pg. 14
38
HASEL, Gerhard F. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO, pg.15
39
HASEL, Gerhard F., TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO pg. 20

11
um dos autores, e das maneiras de falar deles; depois comparar as várias partes da Bíblia; e
por último anotar e analisar os pontos de concordância e discordância40. Já a dogmática
deveria usar a teologia bíblica “extraindo dela o que é de relevância universal através da
utilização de conceitos filosóficos.” 41 Uma seria o que os homens pensaram naquela época,
outra veria se isto tem valor para hoje, e como deveria ser considerado.
Três teses de Gabler vão dar o rumo que a TB seguiria: descrença na inspiração;
aplicação do método histórico-crítico; distinção entre as diversas fases da religião para se
investigar quais os conceitos que são ainda relevantes e quais não.
Durante 50 anos este foi o método seguido pelas teologias escritas: Philipp Christian
Kaiser (1813) dá enfoque a “história das religiões”. Wilhelm Martin Leberechte de Wette
(1813) segue o mesmo conceito encontrando um desenvolvimento na religião bíblica:
hebraísmo, judaísmo, cristianismo. A doutrina de Jesus é tida como o centro e unidade do
Novo Testamento.42
A teologia bíblica tornou-se uma disciplina descritiva e uma ciência histórica.
Dizendo como as coisas eram, e não como deveriam ser.

F - O Surgimento da Filosofia da Religião

O racionalismo cede lugar ao idealismo de Hegel (Tese-Antítese-Síntese). Há uma


evolução religiosa: o Espírito - religiões da natureza > individualidade e espiritual >
religião absoluta, cristianismo.
Ferdinand Christian Baur (1792-1860), fundador da escola de Tübigen (que teve
grande influência no pensamento protestante), aplica o conceito de Hegel ao Novo
Testamento. A história do cristianismo é uma luta entre o cristianismo judaico: tese (Pd, Mt,
Ap) e o cristianismo gentio: antítese (Paulo, Lc), isto resultou na síntese do catolicismo
primitivo ( Mc, Jo e At). Sua contribuição foi o “... o princípio de que a teologia bíblica está
inseparavelmente relacionada à história...” 43 Seu aluno, David Friedrich Strauss ( 1808-
1874) deu uma interpretação mítica aos relatos de Jesus.
George Lorenz Bauer (1755-1806) foi o primeiro acadêmico a publicar uma teologia
do Antigo 44 e do Novo Testamento 45 . Para ele a TB deveria ser purificada de todos os
conceitos estranhos e refletir apenas a teoria religiosa de cada escritor. Usou o método
racionalista-histórico-crítico. Acreditava numa multiplicidade de testemunhos bíblicos, isto
criou o problema do relacionamento entre os testamentos.

G - A Reação Conservadora

Deu-se através de duas correntes: os que negaram qualquer validade duma


perspectiva histórica, e dos que procuraram combinar o método histórico com a revelação.
E W. Hengstenberg escreveu Cristologia no Antigo Testamento (1829-1835);
História do Reino de Deus no Antigo Testamento (1869-1871). Viu pouco progresso e pouca
distinção entre os dois testamentos. Teve uma interpretação espiritual, com pouca
referência à história. Mas viu o tema das profecias messiânicas como um elo entre os
testamentos, assumindo o esquema promessa-cumprimento46.
G.F. Oehler em Theology of the OT reagiu à depreciação do Antigo Testamento (F.
Schleiermacher), e à uniformidade de ambos os testamentos (Hengstenberg), acreditando
que havia unidade na diversidade. Aceitou a separação entre a teologia do Antigo

40
House, Paul R. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO (Trad. Marcio Redondo e Sueli Saraviva). Ed Vida: SP, 2005. Pg. 17
41
LADD, pg. 15
42
Outros que seguiram o método foram: Baumgarten-Crusius (1828), von Cölln (1836). Este método ainda é seguido hoje.
43
LADD, pg. 15
44
(Theologie des Alten Testaments 1796)
45
(Biblische Theologie des Neuen Testaments, 1796)
46
House, Paul TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO, (Trad. Marcio Redondo e Sueli Saraiva). SP:Ed. Vida. 2009, pg. 26

12
Testamento e do Novo Testamento, mas “insistia que a primeira só ganhava sentido quando
no contexto mais amplo do cânon.”47 Definiu a Teologia do Antigo Testamento como:

“ciência histórica apoiada na exegese histórico-gramatical, que tem por tarefa
reproduzir o conteúdo dos escritos bíblicos levando em conta as regras da língua
da época em questão, bem como um exame dos escritores sacros e de sua condição
individual.”48

Só que ele mantinha um ponto de vista histórico-genético, i.e., a religião do Antigo
Testamento passou por um processo orgânico de evolução, demonstrando assim estar
influenciado pela filosofia hegeliana.49
Outra ala da reação conservadora se deu com a escola da história da salvação
(Heilsgeschichte). Mantinha três princípios: a história do povo de Deus relatada na Palavra;
o conceito de inspiração da Bíblia; o resultado da relação entre Deus e o homem
personificado em Jesus Cristo.
A abordagem da história da salvação teve como representantes: Gottfried Menken
(1768-1831), Johan T. Beck (1804-1878), e J.Ch. Konrad von Hofmann ( 1810-1877) que
escreveu Profecia e Cumprimento (1841). Este último disse que na Bíblia temos:

“o relato contínuo de uma história de salvação na qual o Senhor ativo da História
é o Deus Triúno, cujo intento é redimir a humanidade. Como Jesus Cristo é o tema
principal da história da salvação e também aquele que a provê de sentido, o Antigo
Testamento não pode deixar de conter enunciações histórico-salvíficas. Cabe à
teologia do Antigo Testamento dar essa explicação. Cada livro da Bíblia possui
lugar próprio e lógico na história da salvação. A Bíblia não deve ser considerada
meramente uma coleção de textos de prova ou um repositório de doutrinas, mas
sim, um testemunho do papel de Deus na História, que só terminará na
consumação escatológica.”50

Heilsgeschichte, é reconhecida como a melhor chave para compreender a unidade
da Bíblia. Há uma história redentiva, e a revelação ocorreu nela. Baseia-se na história do
povo de Deus como expressa na Palavra. Mantém a ideia da inspiração da Bíblia. A
Heilsgeschichte é resultado preliminar da história entre Deus e o homem em Jesus Cristo.
Um Deus Trino ativo na história, cuja meta é a redenção da humanidade, esta é a
proclamação dos testamentos. Cada livro tem seu lugar no esquema lógico desta história.
Foi conhecida como a Escola de Erlangen e considerava a Bíblia “...o testemunho ao que
Deus tinha feito na história salvífica.”51
Hofmann influenciou Theodor Zahn, que inicia sua teologia do NT com João Batista,

“que é a personificação da predição profética e ao mesmo tempo o cumprimento
da promessa que aponta a revelação divina final e o iniciador da época final da
história da salvação.”52

Adolf Schlatter (1909), está nesta escola, e considera ateu qualquer método que
queira estudar a TB sem levar em conta a ação de Deus. Afirma não ser possível neutralidade
histórica no estudo do NT, pois colocar-se como neutro é ficar contra ele. Deus agiu na
história, portanto história e revelação podem se unir.

47
HASEL, Gerhard F. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO, pg.21
48
HASEL, Gerhard F. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO, pg.21, citanto Oehler, Theologie des Alten Testaments, 2 vols.
Tuebingen , 1873,1874) p.66.
49
Esta ideia tinha sido iniciada por Gottlob Kaiser, 1813 e defendida WML de Wette na obra Biblische Dogmatik, 1813.
50
HASEL, Gerhard F. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO, pg.22
51
Ladd, pg. 16
52
Hasel, Gerhard F., TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO pg. 32

13
Um erudito conservador que impediu o avanço do modernismo durante toda uma
geração foi Henrich Ewald. Ele defendia a abordagem sistemática da matéria.

H - A Perspectiva Histórica Liberal na Teologia do Novo


Testamento.

O centro da teologia é ético, o Reino de Deus é uma vida sob a paternidade de Deus.
Escatologia é algo da periferia do pensamento do Novo Testamento. Busca-se o Jesus
histórico, reconstruindo a história de Jesus sob a premissa do liberalismo, por se acreditar
que há interpretação teológica nos evangelhos, e que esta mudou a história real.53 Acredita-
se neste ponto de vista que houve sistemas de doutrinas diferentes nos escritores bíblicos.
B. Weiss, conservador (reconheceu a realidade da revelação e a validade do cânon),
viu a tarefa da Teologia Bíblica como a de descrever a multiplicidade das formas de doutrina
dos diferentes autores do Novo Testamento. Ela tem que se ater aos escritos canônicos,
interpretar cada escritor a partir dele mesmo, o enfoque era o conceito-de-doutrina.

I - A Vitória da Religião sobre a Teologia

No campo do Antigo Testamento a história das religiões consegue sua grande vitória
com Julius Wellhausen (1844-1918) e sua obra Prolegomena to the History of Israel (1878).
Sua teoria de reconstrução do Antigo Testamento influenciou toda a teologia do Antigo
Testamento54. O Antigo Testamento

“passou a ser encarado como uma coletânea de elementos de diversas épocas,
consistindo apenas nas reflexões dos israelitas acerca de religiões pagãs
diversas.”55

Isto praticamente acabou como vínculo entre os testamentos.
No Novo Testamento a Escola do desenvolvimento da religião viu a essência do
cristianismo como os elementos éticos do ensino de Jesus. O cristianismo foi o
desenvolvimento de outra religião, ou mesmo de outras religiões.
Oto Pfleiderer 56“...interpretou muitos elementos da Teologia do Novo Testamento
em termos de seu próprio ambiente religioso.”57
William Wrede ( 1859-1906)58afirmou que:

“A Teologia do Novo Testamento tem como tarefa ... a formulação de expressões
das experiências religiosas vivas do cristianismo primitivo compreendido à luz do
seu ambiente religioso.” “Como consequência a Teologia do Novo Testamento tem
que ser deslocada pela história da religião na cristandade primitiva.”59

Dois centros de interesse surgem:

- “... a interpretação das ideias contidas no Novo Testamento em termos de
expressões de experiência religiosa...”

53
H.J. Holtsmann, Paul Wernle, Adolf von Harnack, representam este ponto de vista.
54
Esta teoria defende a datação mais recente do documento P, sacerdotal e a evolução da religião
55
HASEL, Gerhard F. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO, pg.24
56
Primitive Christianity , 1902
57
Ladd, pg. 17
58
Concerning the Task and Method of the So-called NT Theology (1897)
59
Ladd, pg. 17

14
- “...explicação do surgimento dessas experiências e ideias religiosas em
termos do ambiente religioso.”60

H. Weinel utilizou o programa de Wrede e compara o cristianismo com outras
religiões e a interpreta como um religião ética de redenção.
Wilhelm Bousset ( 1825-1920) afirmou que houve uma transferência das crenças
dos cultos de mistérios para Jesus de Nazaré, isto ocorreu de modo incontrolável nas
profundezas da psique total da comunidade.
J.Weiss 61 interpretou a pregação de Jesus em termos do contexto da apocalíptica
judaica.
Albert Schweitzer62 mostrou o conceito da Escatologia Consistente. A escatologia é
vista como o centro da mensagem de Jesus63.
Já Paulo é interpretado em termos do contexto do Helenismo Judaico e das religiões
de mistério. Um contraste é feito entre a consciência religiosa de Jesus e o que o Cristianismo
Primitivo pregou.

J - O Retorno Contemporâneo à Teologia Bíblica

Três fatores contribuíram para o renascimento da TB: perda da confiança no


naturalismo evolucionista; reação contra o método puramente histórico (questionamento
da objetividade completa); redescoberta da ideia da revelação.
Na área do Antigo Testamento um dos debates que se seguiu foi o do relacionamento
entre a teologia bíblica do Antigo Testamento e a história da religião em Israel. O. Eissfeldt
afirmou que a primeira era subjetiva, não uma disciplina histórica, pois dependia da fé do
teólogo, já a segunda não. Notamos aqui uma dicotomia entre conhecimento e fé. Walther E.
Eichrodt (1933) atacou esta ideia. A TB do AT era histórica, afirmou que:

“não existia uma história de Israel inteiramente livre de pressuposições. A
subjetividade está presente em toda a ciência, porque não é possível que o
processo de seleção e organização seja exclusivamente objetivo.”64

Propõe o método dissecativo com base num princípio unificador. Com ele tem início
o que Kaiser chama de a Idade de Ouro da Teologia do Antigo Testamento.65
Um escritor que causou grande impacto nesta área foi G. Von Rad, só que com ele a
Teologia do Antigo Testamento volta para a abordagem da história da religião.
Já no campo do Novo Testamento:
Surge a Formgeschichte que é estudo do estágio oral da tradição:

”... tentativa de descobrir as leis controladoras da tradição que poderiam explicar
a transformação do Jesus “histórico” no Cristo kerygmático (divino).”66

Um resultado positivo: não há qualquer registro de um Jesus puramente humano
(portanto histórico no conceito anti-sobrenaturalista). Isto trouxe dois resultados
diferentes: o agnosticismo quanto a possibilidade de se conseguir qualquer informação
“histórica” de Jesus; e que em Jesus, Deus se revelou para a salvação do homem.67
Os principais nomes desta época são:

60
Ladd, pg. 17
61
The Preching of Jesus about the Kingdom of God (1892)
62
The Quest of the Historical Jesus (1906)
63
Você pode verificar o que é este conceito em Erickson
64
HASEL, Gerhard F. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO, pg.25
65
Kaiser, op.cit. pg 3
66
Ladd pg. 19
67
Ladd, pg 20, na 1a edição em inglês.

15
- Martin Kähler68, para ele os evangelhos não são relatos biográficos de Jesus, mas
testemunhos, não podemos encontrar o Jesus Histórico, temos apenas o Cristo pregado pela
IP.
- W. Wrede69, disse que o Jesus de Marcos é um ser messiânico divino, só que o Jesus
histórico não era assim.
- Rudolf Bultmann que viu uma completa descontinuidade entre o Jesus histórico e
o Cristo da fé, e afirmou que a tarefa da Igreja era se preocupar apenas com o último.
- E.H.Hoskyns, Noel Davey The Ridle (O enigma) of the N T , 1931- “... toda evidência
do Novo Testamento converge para um único ponto: que, na pessoa de Jesus, Deus revelou-
se a si mesmo, objetivando a salvação do homem.”70
Tem a escola Kerigmática que afirma haver uma continuidade entre o Jesus histórico
e o Cristo da fé. Os abaixo seguem esta escola. “O fator kerygmático é o elemento
interpretativo que necessariamente acompanha o evento.”71
- C.H. Dodd 72 The Apostolic Preaching and Its Developmentes - reivindica a unidade
na mensagem do Novo Testamento, seu centro é a

“...proclamação de que a Nova Era tem vindo na pessoa e missão de Jesus. Nesta
obra, pela primeira vez, um conceito bíblico isolado foi utilizado para relacionar
todos os materiais encontrados no Novo Testamento num desenvolvimento
unificado ” 73

O problema foi a interpretação do que consistia a era vindoura: o eterno irrompendo
no temporal (interpretou em termos da filosofia platônica).
- F. V. Filson One Lord, One Faith (1943), Jesus Christ the Risen Lord (1956)

“...a Teologia do Novo Testamento deve ser compreendida sob um ponto de vista
teológico, i.e., o Deus vivente que age na história, cujo evento mais notável se acha
na ressurreição de Cristo.”74

- A M Hunter - Teve como centro: Um Senhor, Uma Igreja, Uma salvação.
- Oscar Cullmann75 - seguiu a Heilsgeschichte como centro da Teologia bíblica, só
que diz que o Novo Testamento não se preocupa com ideias de essência, e sim com
“cristologia funcional” “...Teologia é o significado do histórico no tempo.”76
- Alan Richardson77 disse que os conceitos vieram do próprio Jesus e não da fé da
Igreja Primitiva.
- W. G. Kümmel78 acredita que mensagem central do Novo Testamento é “...o ato
salvífico de Deus na pessoa de Jesus Cristo.”79

• A Escola Bultimaniana
Bultmann aceita a crítica de forma e demitização. Ele sofreu várias influências:
história das religiões, escatologia consistente, tradição histórico-crítica; o existencialismo
de Heidegger.
Rejeita a Escola Kerygmática,

68
The So-called Historoical Jesus and the Historic Biblical Christ
69
The Messianic Secrt in the Gospels, 1901
70
Ladd pg. 19
71
Ladd pg. 21
72
The Parables of the Kingdom 1935, A Interpretação do Quarto Evangelho 1953 ( em port 1980).
73
Ladd pg. 8s
74
Ladd pg. 9
75
Christ and Time, 1946 - Salvation in History 1967
76
Ladd pg. 9
77
Teologia do Novo Testamento (ASTE, 1967)
78
The Theology of the New Testament According to Its Major Witnesses (1969 - Há em português - Síntese Teológica do Novo
Testamento de acordo com suas principais testemunhas, 1974, Sinodal)
79
Ladd pg. 21

16
“Jesus foi apenas um profeta que proclamou o fim iminente do mundo e advertiu
as pessoas a estarem preparadas para isto. Ele não se imaginava nem Messias nem
como Filho do homem.”80

Houve uma reinterpretação da Igreja Primitiva em termos da apocalíptica judaica
do Filho do homem e do ser celestial gnóstico.
A continuidade entre Jesus e o Cristo, é o fato de que existiu um Jesus, se ele não
tivesse existido não haveria a pregação sobre o Cristo. Só que o Cristo é mitológico, não
histórico.

“O Kerigma é a expressão do significado que Cristo teve para os cristãos primitivos,
formulado em termos mitológicos.”81

Três fatos controlam esta interpretação:
1. Causalidade histórica 82 . Uma relação de causa e efeito num universo
fechado83.

“Se Deus é compreendido como tendo a possibilidade de agir na história, a ação
deve estar sempre oculta nos eventos históricos, sendo evidentes apenas aos olhos
da fé.” 84

O sobrenatural é interpretado como não histórico.
2. Os sinóticos nos fornecem uma descrição teológica e não histórica de
Jesus.
3. Isto não é perda para a fé, pois ela não deve fundamentar-se em fatos
históricos, mas “ na presença da Palavra de Deus no Kerygma”85

• A Nova busca do Jesus histórico


Esta posição perturbou os seguidores de Bultmann, que iniciaram uma nova busca
pela historicidade procurando estabelecer uma continuidade entre Jesus e o Kerygma.86
Outro que reagiu a este agnosticismo foi Joaquim Jeremias87. Ele busca descobrir nos
evangelhos a revelação, i.e., a voz de Jesus, retirando aquilo que poderia ter sido
acrescentado pela interpretação da Igreja Primitiva. As epístolas seriam resposta de fé, e
não revelação.

“ Jesus possui autoridade única, como Filho de Deus, para revelar
o Pai. No Jesus histórico vemo-nos confrontados pelo próprio Deus. Jesus
proclamou o reino de Deus iminente e antecipou sua própria exaltação como o
celestial Filho do homem. Ele viu a si mesmo como o Servo Sofredor dando sua
vida pelos pecados da humanidade. Na ressurreição, seus discípulos
experimentaram sua parousia, que significava seu entronamento nos céus e a
vinda do eschaton.”88

• O Cenário Americano

80
Ladd, pg. 21
81
Ladd pg. 22
82
Houve um erro na 1a versão portuguesa, que traduziu casualidade
83
Ladd, pg 28
84
Ladd pg. 22
85
Ladd pg. 22
86
Ernest Käsemann, aluno de Bultmann, 1954, num artigo, The Problem of the Historical Jesus. ( Não na versão antiga); James
Robinson A New Quest os the Historical Jesus, 1959;G. Bornkamm, 1960, Jesus of Nazareth; Hans Conzelmann, An Outline of
Theology of the NT
87
The Problems of the Historical Jesus, 1964, Teologia do Novo Testamento¸ 1971 ( em Port, Paulinas, 1977)
88
Ladd pg. 22s

17
Há a abordagem Histórico-crítico que acredita que as considerações de fé pertencem
à Teologia Sistemática. A Teologia do Novo Testamento deve se preocupar com os aspectos
históricos.
Abordagem teológica que indica que a revelação ocorreu na história e é visível
apenas pelos olhos da fé. Tem muitos artigos produzidos, mas poucos livros. Sendo que a
maioria dos livros tem uma aproximação mais tópica e sintética do que histórica e analítica.

Brevard Childs89 diz que o movimento da Teologia Bíblica está em crise

“ A crise, segundo ele, é devido ao fato de que o movimento de teologia bíblica
tentou combinar uma metodologia liberal-crítica com uma teologia bíblica
normativa. O movimento falhou em fechar a brecha entre exegese e teologia. Isto
pode ser feito, de acordo com Childs, somente por considerar a Bíblia no seu
próprio contexto, o da literatura canônica. A Bíblia deve ser reconhecida como
veículo normativo de revelação, e consequentemente inspirado.”90

Gerhard Hasel 91 diz que “A Teologia bíblica deve ser elaborada de um ponto de
partida cuja orientação seja bíblico-histórica.” 92 É a metodologia de Ladd. O Novo
Testamento não é a história da Igreja Primitiva apenas, mas o registro inspirado dos atos
redentores de Deus na história. Ele escreve do ponto de vista “evangelicalista” (Neste
contexto, fundamentalistas que viram a aceitabilidade e indispensabilidade do método
histórico-crítico, sendo mais abertos em aceitar suas conclusões: datas, e desenvolvimento).
Seu alvo, levar à fé e obediência.
O dispensacionalismo tem dado uma contribuição maior que outros evangélicos.
Geerhardus Vos93 tem produzido a única obra abrangente, apesar de parar no meio
do ministério de Jesus.

K - Teologia Bíblica nos últimos 20 anos94

Os livros de destaque sugeridos que estão em português:


Leon Morris – Teologia do NT - trata dos escritores em ordem cronológica,
começando com Paulo.
Donald Guthrie Teologia do Novo Testamento - é temática pois “...é a
revelação de Deus antes que uma exploração do homem.” 95O contra-argumento de Hagner,
é que Deus falou em situações humanas concretas, e que estes humanos não foram
recipientes passivos. Está sendo publicado pela Cultura Cristã.
Leonhard Goppelt Teologia do Novo Testamento ( Ed. Vozes 2 volumes,
1983) Muito parecida com a de Ladd, o ponto de partida é o da História da Salvação.

A Teologia do Novo Testamento tem estado em confusão metodológica:
Novas disciplinas lingüísticas têm surgido; semântica, semiologia (estudo de
símbolos e sinais em comunicação) Semiótica;
disciplinas hermenêuticas: estruturalismo, novos criticismos
(narrativas, retóricas). Modos de interpretar vindos da sociologia, antropologia e
psicologia.
“Agendas especiais” - feminista, negra, 3o mundo, etc.
O autor focaliza duas, (muito parecidas)

89
Biblical Theology in Crisis, 1970
90
Ladd pg. 13, a parte grifada não está na ed. port.
91
Teologia do Antigo Testamento: Questões Básicas no Debate Contemporâneo (JUERP)
92
Ladd pg. 13
93
Biblical Theology 1946
94
HAGNER D.A. ele faz um acréscimo na nova edição em inglês da obra de Ladd, foi aluno de Ladd.
95
73 Citado em Ladd pg. 18

18
- não referencial - i.e., os escritos do Novo Testamento foram
estórias contadas sem qualquer referência ao mundo real (romances, fábulas)
- resposta do leitor - o significado válido é aquele que o leitor
dá, não importa qual.
Apesar disto, ele conclui que a obra de Ladd continua atual.

No Antigo Testamento temos as seguintes obras:
E. Sellin (1933) e L. Köhler (1936) seguem a orientação dogmática Deus- homem-salvação
que outros já havia seguido. Outras obras publicadas foram: W. e H. Moeller (1938); G.E.
Wrigth (1952); Th. C. Vriezen (1949); Edmond Jacob (1955) G. Von Rad (1957, 1960); G.
Fohrer (1972); W. Zimmerli (1972); G. Vos (1948); C.R. Lehman (1971); E.J. Young
(1959); B.S. Childs; Walter C. Kaiser, 1978.

Obras que eu conheço publicadas em português:
Teologia do Antigo Testamento

Crabtree, A.R. TEOLOGIA DO VELHO TESTAMENTO, RJ:JUERP, 1980
Eichrodt, Walther TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO, (Trad. Claudio J.A. Rodrigues)
SP:Hagnos, 2004
Foher, Georg ESTRUTURAS TEOLÓGICAS FUNDAMENTAIS DO ANTIGO TESTAMENTOS, (
Trad. Álvaro Cunha), SP: Paulinas, 1982
Foher, Georg HISTÓRIA DA RELIGIÃO DE ISRAEL, (Trad. José Xavier), SP: Paulinas, 1982
Groningen, Gerard van REVELAÇÃO MESSIÂNICA NO AT (Claudio Wagner) SP:Cultura Cristã, 2003
Groningen, Gerard van CRIAÇÃO E CONSUMAÇÃO, Vo I,lI,III – O Reino, a Aliança e o Mediador.
(Trad. Denise Meister). SP:Cultura Cristã, 2002
Gunneweg, Antonius H.J. TEOLOGIA BÍBLICA DO ANTIGO TESTAMENTO (Werner Funchs). São
Paulo: Teológica-Loyola, 2005
Hasel, Gerhard F. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO - Questões Fundamentais no Debate Atual
(trad. Jussara Marindir Pinto Simões Arias) RJ: JUERP, 1988
House, Paul R. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO (Trad. Marcio Redondo e Sueli Saraiva).
SP:Ed Vida. 2005
Kaiser , Walter C. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO, (Trad. Gordon Chown) SP:Vida Nova,
1980
Langston , A.B. TEOLOGIA BÍBLICA DO VELHO TESTAMENTO, , RJ:Casa Publicadora Batista,
1938
Merrill, Eugene TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO (Trad. Helena Aranha e Regina Aranha)
SP:SHedd Publicações, 2009
Shreiner, J. PALAVRA E MENSAGEM DO ANTIGO TESTAMENTO (Trad. Benôni Lemos) SP: Ed
Teológica, 2004.
Smith, Ralph L. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO, (Trad. Hans Udo Funcnhs e Lucy
Yamakami), SP: Vida Nova, 2001
Von Rad, Gerhard TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO, (Trad. Francisco Catão) SP: ASTE,
1973
Westermann, Claus TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO, (Trad. Frederico Datter), SP: Paulinas,
1987


Teologia do Novo Testamento – Veja bibliografia publicada na ementa.
Bulttmann, Rudolf TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO (Trad. Ilson Kayser) SP: Teológica, 2004
Cerfaux, L. CRISTO NA TEOLOGIA DE PAULO (Trad. Monjas Beneditinas da Abadia de Santa
Maria); SP: Editora Teológica, 2003
Cerfaux, L. O CRISTÃO NA TEOLOGIA DE PAULO (Trad. José Raimundo Vidego). SP:Editora
Teológica, 2003
Cullmann Oscar CRISTOLOGIA DO NOVO TESTAMETO, ( Trad. Daniel de Oliveira e Daniel Costa )
SP:Custom, 2002
Cullmann Oscar CRISTO E O TEMPO Tempo e História no Cristianismo Primitivo (Trad. Daniel
Costa), SP:Custom, 2003

19
Dodd, C.H. SEGUNDO AS ESCRITURAS - Estrutura Fundamental do Novo Testamento ( Trad. José
Raimundo Vidigal) SP:Edições Paulinas, 1979.
Ferreira, W.C. ESBOÇO DE TEOLOGIA BÍBLICA DO NOVO E VELHO TESTAMENTOS,
Campinas:Luz Para o Caminho, 1985.
Goppelt. L. TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO (Trad. Martin Dreher), São Leopodo:Sinodal e
Petrópolis: Vozes, 1983, 2a Edição.
Groningen, Gerard van. CRIAÇÃO E CONSUMAÇÃO. SP:Cultura Cristã, Vol I e II
Groningen, Gerard van. REVELAÇÃO MESSIÂNICA NO AT. SP:Cultura Cristã, Vol I e II
Gundry, Stanley (Editor) LEI E EVANGELHO, 5 PONTOS DE VISTA. (Trad. Waldemar
Kroker).SP:Editora Vida, 2003.
Guthrie ,Donald Teologia do Novo Testamento (Trad. Vagner Barbosa))SP:Cultura Cristã, 2011
Hasel, Gerhard F. TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO - Questões Fundamentais no Debate Atual . (
trad. Jussara Marindir Pinto Simões Arias ) RJ: JUERP, 1988
Jeremias Joaquim MENSAGEM CENTRAL DO NOVO TESTAMENTO, ( Trad. João Resende Costa)
SP:Paulinas, 1977.
Jeremias Joaquim TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO, A pregação de Jesus. ( Trad. João Resende
Costa) SP:Paulinas, 1977.
Kaiser, W.C. THE THEOLOGY OF THE OLD TESTAMENTE in THE EXPOSITR`S BIBLE
COMMENTARY, Ed. Frank E. Gaebelein. Grand Rapids:Zondervan 1979. Vol I.
Kummel, SÍNTESE TEOLÓGICA DO Novo Testamento ( Trad. Silvioi Schneider e Werner Funchs) São
Leopoldo:SInodal, 1974.
Manson, T.W. O ENSINO DE JESUS (Trad. Jorge Cesar Mota), SP:ASTE, 1965
Marshal, I.Howard TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO – Diversos Testemunhos, um só evangelho
(Trad. Sueli da Silva Saraiva, Mariza K.A. de Siqueira Lopes) SP: Vida Nova, 2007
Morris, Leon TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO (Trad. Hans Udo Funchs) SP: Ed Vida Nova, 2003
Motyer, J.A. OLD TESTAMENT HISTORY, in THE EXPOSITOR`S BIBLE COMMENTARY, Ed.
Frank E. Gaebelein. Grand Rapids:Zondervan 1979. Vol I
Pinto, Júlio INTRODUÇÃO À TEOLOGIA DO Novo Testamento, apostila para o curso no Seminário
Batista do Cariri , Juazeiro do Norte CE, 1991
Richardson, Alan INTRODUÇÃO À TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO (Jaci Correia Maraschin)
SP:ASTE, 1966
Ridderbos, Herman. A TEOLOGIA DO APÓSTOLO PAULO. SP:Cultura Cristã
Ryrie, C.C. BIBLICAL THEOLOGY OF THE NEW TESTAMENT, Chicago:moody Press, 1959.
Thielman, Frank TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO, Uma Abordagem Canônica e Sintética
(Trad. Rogério Portela, Helena Aranha) SP:Shedd Publicações, 2007
Zuck, Roy B. TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO (Trad. Lena Aranha) RJ:CPAD, 2008.

De ambos os testamentos
TEOLOGIA BÍBLICA DO NOVO E DO VELHO TESTAMENTOS, Wilson C. FERREIRA,
Campinas:Luz Para o Caminho, 1985.

Aulas 4 e 5 - Questões Relacionadas à Teologia Bíblica

Objetivo: Que você tome conhecimento de algumas questões que a disciplina Teologia Bíblica enfrenta, e
de como alguns estudiosos têm procurado resolver estes problemas.

A - Teologia Bíblica, História e Revelação

1. Algumas posições:
a. Os que seguem o método histórico-crítico acreditam que a história
narrada na Bíblia deve ser analisada e tudo que não puder ser explicado em termos
naturais deve ser desconsiderado. Nossa fé deve se basear apenas no que for
considerado verdadeiro, entenda-se tudo que puder ser explicado naturalmente. Ex.
Franz Hesse.

20
b. Há o querigma que está misturado com a história. Esta nem sempre é
verdadeira. Mas não podemos separá-los, nossa fé deve se basear em ambos, do jeito que
aparece na Bíblia. Ex. Von Rad . 96
c. A fé está fundamentada na realidade histórica. Só se a história for
verdadeira é que serve de base para a fé. Na Bíblia temos interpretação de fatos reais,
que captam o significado destes fatos. Ex. Eichrodt
d. A história do AT não é relevante para a Igreja. Ex. Friedrich Baumgärtel
e. Toda a história é história da salvação. Deus se revela redentivamente em
toda a história. Ex. W. Pannenberg.

2. Verificando as questões:
a. A 1a questão: Qual o propósito da Bíblia?
É o de nos contar o que Deus tem feito, e isto afeta a existência humana, e
não descrever a situação existencial do homem, como Bultmann afirma.
b. No entanto, há uma 2a questão: a fidelidade da história bíblica: Esta
história de fato ocorreu?
- Entra a questão das pressuposições: anti-sobrenaturalistas ou
sobrenaturalistas.

“A pressuposição da História como um círculo fechado de causas e efeitos
horizontais não pode tratar com a realidade expressa na Bíblia. Logo, qualquer
abordagem, para que seja adequada ao conteúdo da Bíblia, tem que estar em
harmonia com as pressuposições dela tiradas e com a realidade total expressa
nela.”97

- Por causa de sua natureza, e de tratar da revelação e redenção, a Bíblia
envolve certas pressuposições: Deus, homem e pecado. A realidade de Deus é assumida; o
homem foi criado por Ele; o pecado do homem afetou tanto sua existência individual como
o curso da história e o reino da natureza.

“ A redenção é a atividade divina cujo objetivo é a libertação dos homens, como
indivíduos e como sociedade, de seu dilema pecaminoso e sua restauração a uma
posição de comunhão e favor com Deus.”98

- A Bíblia demonstra estar cônscia de que Deus atuou redentivamente na
História de um modo particular, esta atuação transcende a experiência histórica ordinária.
Ex. A ressurreição de Cristo.

“Eventos revelatórios não são produzidos pela História, mas através do Senhor
da História, que está acima da História e age dentro da História, para a redenção
das criaturas históricas.“99

- Esta série de eventos na quais Deus se revelou é a história da salvação.
Hasel, após analisar a questão com respeito ao Antigo Testamento conclui que a história do
Antigo Testamento é real, e toda ela é palco da ação de Deus. Há uma unidade de ato e

96
Ele indica que através do método histórico-crítico descobre-se a história real de Israel, e nesta história está a história da salvação.
O que forma a nossa fé não é o kerigma, mas a história que realmente aconteceu. Veja TAT de Hasel .
97
HASEL, Gerhard F., TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO, Questões Fundamentais no Debate Atual, ( Trad. Jussara
Marindir Pinto Simões Arias ), RJ, JUERP, 1988. Pg. 94, referindo-se à Ladd.
98
Ladd, pg. 25
99
HASEL, Gerhard F., TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO, pg. 95, citando Ladd, pg. 29 1a edição em português.

21
palavra, de fato e interpretação. 100 Podemos ampliar esta conclusão para toda a história
bíblica.

3. Teologia Bíblica, Revelação e História

O elo entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento é o senso da atividade divina
na história, i.e., a revelação do próprio Deus numa série de eventos históricos.

“...A revelação especial envolve eventos históricos únicos do livramento
divino, que encontra seu clímax na encarnação, expiação e ressurreição de Jesus
Cristo.”101

No Antigo Testamento o supremo ato de revelação foi o êxodo (Ex 19.4). Através
deste ato Deus se fez conhecido e trouxe Israel para um relacionamento com Ele (Ex 6.6s).
É desta forma que o evento é recordado (Os 11.1,4).
Deus se revelou também em juízo, Deus julga seu povo através de eventos históricos.
Ex. o Dia do Senhor (Am 5.18; 4.12).
Deus é o Senhor de toda a história, mas Ele tem se revelado através da história de
Israel, esta é a Heilsgeschite = história da salvação (da redenção ou sagrada). Deus está
supervisionando toda a história, mas só através da história de Israel é que Ele se revela.
No NT o supremo ato de revelação é a ação de Deus através de Cristo (1 Co 15.33ss).
Neste ato Deus demonstra seu amor (Jo 3.16; Rm 5.8). É a mais alta revelação (Hb 1.1s). A
natureza do Novo Testamento é de um recital, um testemunho da ação de Deus em Cristo.
Este ato redentivo é o ato supremo de uma série que veem se manifestando em Israel. Os
profetas colocam a ênfase numa esperança: o que Deus fará. O Novo Testamento mostra o
que Deus tem feito (Mc 1.15; Lc 4.21); ex. Mateus faz várias citações de cumprimento.
Os evangelhos recordam os atos e palavras de Jesus, Atos relata o estabelecimento
e extensão do movimento iniciado por Jesus, as epístolas explicam o significado da missão
redentiva de Jesus, Apocalipse mostra a consumação desta obra redentiva.

B - Teologia Bíblica e a Natureza da História

É possível a história servir como meio de revelação divina já que ela é relativa e a
revelação absoluta? Como pode o Infinito ser conhecido no finito, o eterno no temporal?
Este é o grande milagre da fé cristã, o Imutável revelando-se através da
mutabilidade. Foi o próprio Deus quem tomou a iniciativa da comunicação. Bultmann rejeita
isto, “ O problema fundamental em consideração não é a natureza da história, mas a
natureza de Deus.” 102.
Outro ponto a ressaltar é que Deus, em dados momentos, agiu na história de forma
que transcende a experiência.
Definindo história: a reconstrução moderna dos eventos passados pelo uso crítico
de documentos antigos.
História fala do passado, só que não temos acesso direto ao passado, apenas ao que
está registrado sobre o passado. Estes registros devem ser relacionados com critério. Ex. os
relatos dos deuses na mitologia grega são tidos como mitologia.
Agora, por que aceitamos a Bíblia?
Deus age tanto através de meios ordinários (Ex. Babilônia, é visto como castigo de
Deus sobre Israel, Ciro como Seu instrumento - os olhos da fé veem Deus agindo para

100
HASEL, Gerhard F., TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO,
101
CFH Henry in Inspiration and Interpretation, ed J. Walvoord (1957), 254s. Cit pg. 21 nov ed.
102
Ladd, pg. 25

22
cumprir Seu propósito redentivo), como por meios extraordinários, através de eventos não
causados por outros eventos históricos.
Ele pode agir assim por ser o Deus que transcende a história. Aceitamos isto
por testemunho dos relatos, eles são fidedignos, e pela coerência demonstrada nestes
relatos com o propósito deles. A vida é melhor explicada à luz destes eventos.
Se pressupormos Universo fechado, não há lugar para a Bíblia ser vista como
história, mas se deixarmos lugar para intervenção sobrenatural, então sim.

C - História e Revelação

Quando os eventos históricos são veículos de revelação?
Quando acompanhados da Palavra Interpretativa. Ex. Só sabemos que a morte de
Cristo, foi por nossos pecados por causa da palavra interpretativa. Atos + Palavra =
revelação. Os eventos não falam de seu próprio significado. O mesmo se pode dizer dos
sonhos e visões, que são considerados revelação apenas a partir da interpretação
autorizada.
Esta palavra tanto pode vir antes como/e depois (Dt 18.22; Nm 14.35; Jr 34.5).
Ela pode ser tanto falada como escrita (Jr 36.4,6; Jo 10.35). A Bíblia é tanto o relato da
revelação de Deus na história, como é revelação também.103

D - Teologia Bíblica e o Cânon



Qual deve ser a fonte da Teologia Bíblica? Esta questão envolve outras duas:

1. Deve incluir só os livros do Cânon? Se a resposta for sim, por quê?
Por que não incluir outros livros da tradição judaica?

“O Novo Testamento é produto da Igreja ou a Igreja é produto do Novo Testamento
... a inclusão de documentos no cânon investe particular autoridade a estes documentos da
Igreja ou se a Igreja incluía documentos particulares no cânon, por causa de seu
reconhecimento da autoridade inerente a estes documentos ?“104

A resposta de Kaiser é baseada no Senhor Jesus: deve se ater aos livros canônicos
pois Jesus aprovou este cânon (Mt 23.35; Lc 24.27, 44; Jo 5.39,40).
A resposta de Ladd é:

“Os escritores canônicos são conscientes de participar na história
redentiva, enquanto os escritos não canônicos não têm esta percepção. Os livros
canônicos partilham da unidade da história redentiva que é intrínseca em si mesmo
dentro deles, ao invés de sobreposta sobre eles a partir do nada.”105

Seu revisor argumenta que somente um julgamento na base do conteúdo não é
argumento suficiente para não aceitarmos os não canônicos, por isso apela à fonte,
origem e autoria. “Parece melhor aceitar o cânon como o resultado de decisões
concernentes a fonte antes que ao conteúdo.” 106 O Antigo Testamento dependeu das
decisões judaicas com base no ofício profético, e o Novo Testamento da Igreja Primitiva
com base no ofício apostólico. Tudo isto debaixo da soberania de Deus.

103
Há um problema na versão portuguesa, uma frase ficou incompleta na pg. 30, 5o #, A Bíblia é ao mesmo tempo o registro desta
história redentiva e o produto final da palavra interpretativa.
104
Hasel, Teologia do Novo Testamento pg. 106
105
Ladd, pg. 26s
106
Ladd. Pg. 27

23

2. Todo o cânon deve ser incluído no mesmo pé de igualdade?

A resposta de Kaiser:
O texto canônico deve ser julgado em pé de igualdade, i.e., todo texto é
importante, só que não pela mesma razão. Por causa disto a Teologia Bíblica não deve incluir
cada pedaço. Uma cobertura representativa é razoável.
Mas deve mostrar como estas partes cooperaram para o todo e cada
contribuição distintiva.
Pode-se até escolher uma seção e escrever uma teologia bíblica a partir dela,
mas esta tem que depender da totalidade maior.

“O acúmulo da mensagem total nunca ficava longe das mentes da maioria dos
autores enquanto escolhiam as palavras ou vinculavam suas experiências àquilo
que até então tinha sido sua herança religiosa e revelacional até àquele ponto no
tempo.” 107

E - A Metodologia

Como abordar à Teologia Bíblica?



1. Métodos usados no Antigo Testamento

a. Descritivo – é o método daqueles que sustentam que o caráter da TAT é
rigorosamente histórico.108 Ela deve se preocupar com o que denotava, e não com o que
denota. Sendo considerada esta a grande diferença entre ela e a Teologia Sistemática. Para
alguns, esse método nada mais consegue do que descrever a história da religião de Israel.

b. Confessional - Faz uma distinção entre o estudo da história da religião em
Israel e da TAT, esta última deve ser estudada sob o prisma da fé.109 O AT é aceito como
Palavra de Deus e a TAT deve seguir padrões teológicos. A crença do teólogo é que o guia no
estudo da TAT.

c. Dissecativo - Acredita que toda ciência inclui certa subjetividade. O
trabalho do historiador será sempre regido por um princípio de seleção – subjetivo, sem
dúvida – e por uma meta – igualmente subjetiva – que confere perspectiva ao seu trabalho.
Através do processo histórico deve-se fazer uma dissecação e assim desnudar o esqueleto
da religião. Compreender a unidade estrutural e seu mais profundo significado. O
significado é a irrupção do reino de Deus neste mundo, o princípio de seleção é o conceito
de aliança. Ex. W. Eichrodt. 110

d. Diacrônico – procurar o que Israel testemunhou de Javé, a palavra e feitos
d’Ele na história. O AT é a confissão de Israel sobre a atividade contínua de Deus na história.
A TAT deve recontar a narrativa do Antigo Testamento. É a teologia dos sucessivos períodos
da história de Israel. Segundo Kaiser torna-se estéril por ser meramente descritiva, não diz
nada para hoje. Ex. Von Rad .

107
Kaiser, op.cit. pg 17.
108
Ele cita como exemplos: Gabler, Wrede, E Jacob, Wright que publicou O DEUS QUE AGE, (foi traduzido para o português pela
ASTE) e ele define a TB como "teologia narrativa na qual o homem confessa sua fé narrando os acontecimentos que moldaram sua
história e atribuindo-os à obra redentora de Deus" pg. 28 de Hasel, TNT .
109
Cita como exemplos na pg. 31 O Eissfeldt, Th.C. Vriezen
110
Hasel, TAT pgs. 32,33

24
e. Nova Teologia Bíblica - A TB deve tratar os dois testamentos, interpretar
um à luz do outro. Também chamada de método canônico, pois procura tratar com
seriedade o contexto de todo o cânon. A TAT continua sendo descritiva, mas a dos dois
testamentos não. Parte da utilização de citações do AT pelo Novo. Reconhece o caráter
normativo da Bíblia. O AT revela Jesus Cristo por testemunhar que a salvação e a fé da velha
aliança eram idênticas às revelações em Jesus Cristo. Ex. BS Childs111

f. Estrutural - empresta unidades da Teologia Sistemática, ou filosofia,
sociologia, etc., e procura ver o que o Antigo Testamento diz sobre estes temas. Não tem
uma contribuição específica a fazer. Ex. Vriezen

g. Lexicográfico. O que um grupo de homens manifesta crer com seu
vocabulário especial (sabedoria, sacerdote, profeta, etc.). Ex. G.W.Bromiley

h. Temas bíblicos. “Vai além do vocabulário de um único termo chave para
abranger toda uma constelação de palavras ao derredor de um tema chave.”112 Ex. John
Bright.

i. Kaiser procura uma abordagem que seja diacrônica, normativa e orgânica
(tem um centro). Parte da crença de que “Há um centro ou plano interior ao qual cada
escritor conscientemente contribuía”. 113 A seletividade dos eventos narrados demonstra
isto. A revelação foi dada com esta seletividade. Portanto deve ser respeitada. Este centro

“é suprido textualmente e confirmado textualmente como esperança central do
cânon, preocupação sempre presente, e medida daquilo que era teologicamente
significativo ou normativo”.114


2. Métodos usados no Novo Testamento

Hasel alista as seguintes abordagens.

a. A Abordagem Temática

(1) Alan Richardson - parte da hipótese que “ o próprio Jesus é o
autor da brilhante reinterpretação do esquema salvífico do Antigo Testamento encontrado
no Novo Testamento.” 115 Seu livro é estruturado em 16 caps. Começando com a fé,
procurando estudar um conceito fundamental de fé. Ele acredita que uma Teologia do Novo
Testamento só pode ser significante se feita por um crente, fora disto ela é ininteligível.
Diante disto seu método pode ser chamado de confessional-descritivo.
Hasel questiona qual fé tem determinado a estrutura de Richardson,
se a fé apostólica ou a cristã/anglicana. Além disto ele aponta outros problemas nesta
abordagem:

“(1) a falta de relacionamento entre os capítulos; (2) a omissão dos temas de maior
importância, como a criação, o homem, a lei, a ética e (3) particularmente a
justificativa metodológica para a abordagem temática.” 116 ( 61)

O autor conclui que ele impõe a estrutura de fora.
111
Hasel, TAT, pg. 39
112
Kaiser, pg. 11
113
Kaiser, pg. 12
114
Kaiser pg. 13
115
Hasel Teologia do Novo Testamento pg.59, cit pg. Richardson da pg. 12
116
Hasel Teologia do Novo Testamento, pg. 61

25

(2) Karl H. Schelkle é um católico que procura uma teologia
unificada. Apesar de afirmar que a Teologia do Novo Testamento se encontra no cânon diz
que o Novo Testamento deve ser estudado junto com os Pais da Igreja. Além de ser
descritiva a Teologia do Novo Testamento deve ser interpretativa. Hasel julga sua estrutura
imposta também, mas aponta como positivo o fato dele investigar as ideias e temas
abordando um desenvolvimento cronológico até o Antigo Testamento, o que contribui para
estabelecer conexões entre os dois testamentos.

b. A Abordagem Existencialista

(1) Rudolf Bultmann. Utiliza o método de pesquisa histórico-crítico;
a teologia dialética e o existencialismo de Heidegger:

“...o princípio hermenêutico que subjaz minha interpretação do Novo Testamento
brota da análise existencial do ser do homem, dada por Martin Heidegger em sua
obra Being and Time.”117

Tem um programa de demitização. Segundo ele isto é necessário pois
a estrutura do Novo Testamento é mítica e obsoleta ao homem moderno, a tarefa da teologia
é interpretar o mito de modo existencial. Esta reconstrução busca dizer o significado dos
pensamentos teológicos para a existência do homem moderno.
Para ele “ A mensagem de Jesus é mais uma pressuposição para a
teologia do Novo Testamento do que uma parte da teologia em si”.118 Tem recebido críticas,
de uns (entre eles alguns de seus discípulos chamados pós-bultinianos) que afirmam que
com sua divisão do Jesus histórico e Cristo da fé, ele não deixou continuidade entre eles, e
esta é necessária. Já outros o criticam por deixar de lado a objetividade da fé cristã, entre
eles, Barth. Os “críticos de esquerda” acham que ele não demitizou o suficiente (Karl Jaspers,
Fritz Buri, Schubert M. Ogden).
Coloca a teologia de Paulo como centro, só que faz de Paulo um
existencialista.
119


(2) Hans Cozelmann. Foi aluno de Bultmann. Omite completamente
a mensagem de Jesus, não a considera nem como pressuposição. Para ele a teologia não fala
objetivamente sobre Deus, mas é antropologia. Usa crítica de redação. Acredita que a
Teologia do Novo Testamento deve ter uma orientação mais histórica que interpretativa.

A abordagem existencialista deixa de fora os textos que não se encaixam em
sua filosofia, é mais um método imposto, do que uma estrutura que surge do Novo
Testamento.

c. A Abordagem Histórica

(1) Werner G. Kümmel. Limita-se ao testemunho de Jesus, João e
Paulo. Mas acredita haver uma unidade: “...de que em Jesus, Deus, o Senhor do mundo, chega
a nós.”120

(2) Joaquim Jeremias. Preocupado numa reconstrução aramaica do
ensino de Jesus para que o homem de hoje ouça ipssima vox Jesu ( mesmíssima voz de

117
Hasel, Teologia do Novo Testamento pg. 66
118
Hasel TNT 69, cit Theology of New Testament, I, p.3
119
Hasel alista alguns seguidores de Bultmann. Entre eles Norman Perrin, que abordou a partir de uma interrpetação da linguagem
simbólica.
120
Hasel, Teologia do Novo Testamento, pg. 82

26
Jesus). Faz isto com o método comparativo usando o critério da desigualdade, e o exame da
linguagem e estilo 121 . Acredita que a Teologia do Novo Testamento é descritiva, não
interpretativa 122 . Chega à conclusão que “o tema central da proclamação de Jesus era o
majestoso reino de Deus." 123. Vê continuidade entre a pregação de Jesus e a da Igreja, ela
não criou nada. Seu livro é tido como a maior obra sobre a Teologia do Novo Testamento
nos últimos 50 anos.

d. A Abordagem da História da Salvação

(1) Oscar Cullmann. Professor emérito da Universidade de Basiléia e
Sorbone. Não escreveu nenhum livro com o título de Teologia do Novo Testamento. “É o
primeiro representante da abordagem histórico salvífica neste século.” 124. Sua obras:
Cristo e o Tempo: o tempo é entendido numa concepção linear, Cristo
é o centro do tempo (ponto central); a época de Cristo está cheia da tensão entre o já e o
ainda não.
Cristologia do Novo Testamento, onde analisa a cristologia do NT,
partindo de títulos usados para Jesus pelos autores do NT. 125
Salvation in History: onde Ele

procura a história da salvação como a estrutura fundamental dos testemunhos do
Novo Testamento e propõe um desafio à abordagem existencialista do Novo
Testamento, conforme manifestada por Bultmann e seus seguidores.126

Das Origens do evangelho à Formação da Teologia Cristã, aqui ele
apresenta a evolução que vai das fontes do evangelho, desde as suas raízes mais distantes
e anteriores à vinda de Jesus Cristo, até a fixação de uma teologia cristã. 127

Ele entende a história da salvação não “como uma história ao longo


da história...; ela se revela na história e neste sentido pertence a ela.”128. Há certos eventos
da história secular, que mantém uma conexão que a história não descobre. Estes eventos
recebem uma interpretação histórico-salvífica. Há evento e interpretação, o ato da
interpretação já pertence à história da salvação; e à luz de novos eventos as interpretações
de eventos passados são corrigidas. Há três etapas neste processo:
O evento em si - que todos veem. O profeta também deve ser testemunha
ocular.

A revelação do plano divino que se descortina ao profeta no evento com
o qual ele se alinha na fé.
A criação de uma associação às revelações histórico-salvíficas mais
antigas, dadas a conhecimento de outros profetas na reinterpretação destas
revelações.
“O processo pelo qual se originou a perspectiva da história da salvação não é mais
totalmente compreensível em todo o Novo Testamento. Em primeiro lugar, as
ocasiões históricas para as origens e futuro desenvolvimento das mais antigas
tradições não podem ser sempre relatadas com certeza, especialmente quando

121
Não seria uma nova busca do Jesus histórico? Não pressupõe uma certa infidelidade da Igreja Primitiva?
122
Mas, se considerarmos a aplicação do método crítico para descobrir a voz de Jesus como não pode haver interpretação?
123
Hasel Teologia do Novo Testamento, pg 85, cit p.96
124
Hasel, Teologia do Novo Testamento pg88
125
Cullmann Oscar CRISTOLOGIA DO NOVO TESTAMETO, (Trad. Daniel de Oliveira e Daniel Costa) SP:Custom, 2002
126
Hasel, Teologia do Novo Testamento pg89
127
Cullman, Oscar Das Origens do Evangelho à Formação da Teologia Cristã (Trad. Daniel Costa) SP:: Ed Novo Século, pg.7
128
Hasel, Teologia do Novo Testamento pg. 89, cit. pg.153

27
tradições orais e kerygmata orais estão envolvidos, os quais são então publicados
em fórmulas confessionais litúrgicas...”129

O problema é o relacionamento entre História e História da Salvação. Para
Cullmann o que distingue a segunda da primeira

“é o papel que a revelação representa nesta (HS) tanto na experiência dos eventos
e fatos como na apropriação dos relatos e sua interpretação (querigma) por
intermédio da fé. Aqui os eventos são interpretados com revelação divina, e desse
modo os relatos e interpretação são atribuídos à revelação divina.”130

Hasel afirma que Culmann depende de Von Rad, este entende que Israel

“ só poderia compreender sua história como uma estrada ao longo da qual viajava
guiada por Javé. Para Israel, a História só existia onde Javé se revelara através de
atos e palavras.”131

Ele acredita que a pregação (interpretação da história - quadro
querigmático) se fundamenta na história, não é inventada. Só que o relato histórico contém
erros. É o método da história das tradições. A experiência da fé é histórica, mesmo que o
núcleo histórico esteja encoberto por ficção.
O homem hoje vive um período intermediário entre o já e o ainda não, entre
os tempos bíblicos e o final dos tempos.

(2) George E. Ladd. Considerado o erudito mais famoso no cenário
evangélico norte-americano e faz uma teologia bíblica conceitual: “estudo dos conceitos
bíblicos distintos expressos por intermédio de extensos estudos de palavras, que são
incorporadas e expressam a história da salvação.”132
Hasel indica que ele não tratou como devia a questão da metodologia da
Teologia do Novo Testamento. Diz que sua obra tem os seguintes pontos fracos: falta um
cap. sobre a pessoa de Jesus; sobre a teologia dos evangelhos (corrigido nesta última
edição); não oferece uma estrutura lógica em algumas partes, exemplo epístolas de João
tratadas separadas do evangelho, cartas de Pedro tratadas sem incluir discursos em Atos e
as outras cartas gerais poderiam estar em Igreja Primitiva. Mas indica pontos fortes: uma
boa análise do evangelho de João e dos escritos de Paulo entendendo que o centro da
teologia de Paulo é:

“a realização da nova era de redenção, através da obra de Cristo... O centro
unificador é.. a obra redentora de Cristo como o centro da história da redenção.”133


(3) L. Goppelt foi Professor em Munique (morreu subitamente em 1973),
sua Teologia do Novo Testamento foi publicada postumamente, trabalhou 10 anos nela
incessantemente. O conceito de história da salvação é limitado ao esquema de
promessa/cumprimento.

“ A história da salvação não é uma história separada da história comum ‘ nem por
sua natureza milagrosa nem pela continuidade demonstrável. A história da
salvação é muito mais uma sequência de processos históricos que são finalmente

129
Hasel, Teologia do Novo Testamento pg. 91, cit. 89
130
Hasel, Teologia do Novo Testamento pg. 92 cit. 151
131
Hasel, Teologia do Novo Testamento pg. 91
132
Hasel Teologia do Novo Testamento, Pg. 99
133
Hasel Teologia do Novo Testamento, Pg. 98, cit. Ladd 1a Edição portugês Pgs. 351-2

28
caracterizados entre si, e por intermédio dela é preparada a demonstração final de
Deus em Jesus, quando então Jesus assume seu lugar entre eles”.134

Seu método é um diálogo crítico, sem colocar a salvação acima do método
histórico-crítico. Levando a sério as conexões histórico-tradicional; histórico-religiosa; e
histórico-salvífica. A meta da Teologia do Novo Testamento é

“extrair, dos escritos ou grupos de escritos do NT, quadros materialmente
ordenados e relacionados da obra de Jesus ou da proclamação e doutrina da Igreja
Primitiva”135

Deve haver um diálogo crítico entre o homem de hoje e o NT, sendo assim
não entende que a TNT deve ser apenas descritiva.

O ponto de partida da TNT é o querigma da Páscoa que, segundo a tradição cristã
primitiva, foi responsável pela formação das igrejas cristãs e da contínua influência
de Jesus.136

Tem que buscar o Jesus terreno, não conforme a busca do Jesus histórico,
mas como Jesus se apresentou a seus seguidores, em seu período terreno, e é este o Jesus
que teve influência histórica.

Hasel conclui que “Não há concordância entre os principais praticantes da
TNT no tocante à questão da metodologia “137

G - O Centro e Estrutura da Teologia Bíblica

1. O Centro no Antigo Testamento

Questões?
Será que há um conceito que englobe todo o conteúdo do AT? Existe uma chave
para o arranjo metódico e progressivo dos assunto, temas e ensinos do Antigo
Testamento?

Respostas sugeridas:

a) Aliança é o conceito unificador, iniciada em determinada época da


história do AT e tem a finalidade de revelar e realidade divina em toda a história da
religião. O fundamento da religião do AT é a aliança por meio da qual Deus recebeu a
tribo escolhida, a fim de realizar seu plano de salvação.
b) A santidade de Deus. A religião ética e universal dos profetas aponta
para o futuro, para a vinda do Justo, trazendo juízo e salvação, ambos decorrentes da
santidade de Deus.
c) Deus e o Seu Reino. Deus é o Senhor. Seu reino é corolário disto.
Eleição de Israel; governo de Deus; Reino de Deus; comunhão.
d) Outros propõe conceitos duplos: governo de Deus e comunhão entre
Deus e o homem; Javé, Deus de Israel; Israel, povo de Javé.
e)Há aqueles que consideram um livro como o centro, no caso:

134
Hasel, Teologia do Novo Testamento, Pg.100
135
Hasel, Teologia do Novo Testamento, Pg.101, cit17
136
Hasel, Teologia do Novo Testamento, Pg.101, cit. pg. 56
137
Hasel, Teologia do Novo Testamento, Pg. 104

29
Deuteronômio.
f) Uns têm tomado um centro da sistemática: Deus-Homem-Salvação.
g) Von Rad acredita que não há centro no AT, no Novo sim. G. Ernest
Wright afirma que não há um centro capaz de ser suficientemente compreensivo para
incluir toda a variedade do AT.
h) Hasel acredita que esta busca por um centro é uma pressuposição da
escolástica medieval que se arraigou em nosso pensamento. Todas as propostas têm Deus
como fator comum, logo Ele é o centro. Ele se ligou ao homem na criação, Ele é o Deus
que salva e se revela, procurando curar a brecha entre Ele e o homem, e entre homem e
homem. O Deus que promete uma salvação final, com uma revelação final de Deus. Ele
acredita que este ponto de vista resolve a questão da unidade entre os testamentos, além
de ser abrangente a todo Antigo Testamento.
i) Um centro imposto de fora carrega os seguintes problemas: “Nega a
prioridade dos resultado de exegese cuidadosa.... Deixa de reproduzir ou participar de
qualquer autoridade que poderia derivar do texto.”

Kaiser acredita que é inerente ao próprio nome Teologia do Antigo Testamento a


pressuposição de que se pode encontrar uma unidade interior que vinculará juntamente
os vários temas, conceito e livros.” Só que este conceito parece “estar enterrado sob a
variedade e diversidade do AT.” Ele afirma que se as respostas às questões acima forem
negativas, então a disciplina não poderá ser chamada de Teologia, por dois motivos:
teremos várias Teologias do Antigo Testamento, e sua função seria meramente descritiva.
Isto afetaria também o estudo do Novo Testamento, pois não haveria relação entre os
testamentos.
Conforme colocada por outro estudioso a questão parece muito difícil: “Nenhuma
questão atormenta mais aqueles que escrevem sobre teologia do AT, do que a questão do
centro unificador”.
Kaiser afirma que “Há um centro ou plano interior ao qual cada escritor
conscientemente contribuía.” Isto é demonstrado no fato de haver uma seleção dos
eventos narrados. “Os escritores reivindicavam para si a possessão da intencionalidade
divina na sua seletividade e interpretação daquilo que foi registrado.”
Além disto eles reivindicaram que falavam sob imperativo divino, tinham a
obrigação de falar o que Deus queria, não o que eles quisessem (Ex. Jeremias). Também
faziam referências à temas que antecediam, alegando estar numa sucessão direta.
Ele procura demonstrar que o próprio AT testifica que tem um centro.

(1). Há termos que indicam isto:


(esah) “conselho”, que também tem o significado de
“propósito”, “desígnio” ou “plano “. Ela aparece 10 xs. - Sl 33.10,11; 106.13; Pv 19.21;
Is 5.19; 14.24-27; 19.17; 25.1; 46.10; Jr 49.20; 50.45; Mq 4.12.
(mahasabah) “pensamento”; “propósito” Jr 29.11; 51.29
(mezimmâh) “plano”; “intento” ; “desígnios” Jó 42.2; Jr
23.20; 30.24; 51.11
(derek) “caminho”Sl 103.7; Ex 33.13; Dt 32.4; Sl 18.30; Is
5.8s; 58.2

(2). A predição indica isto. A ideia aparece no argumento de Deus


em prol de sua Incomparabilidade por ter feito predições de acontecimentos desde o
princípio. (Is 40.25; 41.26ss; 42.9; 44.7s, 26,28; 45.21; 46.10s; 48.3-6).

30
(3). Há uma passagem onde o conceito de predição e conselho são
unidos, Is 46.9-11

(4). A manifestação de seu plano a e em Abrão - Gn 12.1-3 “a


fim de que em” Abrão “todas as famílias sejam abençoadas”. Uma promessa é feita,
indicando um plano.

Este conceito tem que ser dinâmico, contendo a ideia de desenvolvimento,


e ser um ponto de referência unificador. Diante da pergunta: como estabelecer este
centro? Ele responde com as seguintes pistas:

1. Colocação crítica de declarações interpretativas na sequência


textual
2. Frequência da repetição de ideias
3. Recorrência de frases ou termos que começam assumir uma
qualidade técnica;
4. Retornar a temas que um precursor já levantara, muitas vezes com
uma área de referência mais extensiva
5. O emprego de uma categoria de asserções previamente empregadas
que facilmente se prestam a uma descrição de um novo estágio no
programa da história
6. O padrão organizacional por meio do qual as pessoas, lugares e
ideias eram marcados para aprovação, contraste, inclusão, e
significado futuro e presente.

Este centro não é imposto sobre o texto, mas

“é suprido textualmente e confirmado textualmente como esperança central do


cânon, preocupação sempre presente, e medida daquilo que era teologicamente
significativo ou normativo.”

Qual é este centro?

A promessa de Deus de uma bênção, a esta promessa Ele acrescentou Seu


juramento, assumindo um compromisso. “plano divino na história que prometia trazer
uma bênção universal pela agência de uma escolha divina, não por merecimentos de uma
descendência humana”.
Há palavras e fórmulas que “ressaltam uma continuidade entre o passado, o
presente e o futuro” O Novo Testamento fala deste ponto focal como promessa. No
Antigo Testamento ele têm outros nomes: promessa, juramento, bênção, descanso e
semente. Há também certas fórmulas que indicam esta promessa: “Eu serei vosso Deus
vós sereis o meu povo.” ainda acrescentada pela frase “habitarei no meio de vós”; “Eu
sou o SENHOR que te tirei de UR dos caldeus”, “Eu sou o SENHOR que te trouxe do
Egito ” que aparece 125 vezes, “Eu Sou o Deus de Abrão, de Isaque e de Jacó.”
O conteúdo do plano é a palavra de bênção ou promessa. Deus prometia que seria
ou faria algo para as pessoas escolhidas na época, e para os descendentes de Israel no
futuro, com a finalidade de que Ele pudesse ser ou fazer algo para todos os homens. A
pessoa recebia a promessa [antecipação] e aguardava a promessa [cumprimento].
O que estava incluído nesta promessa:

31
1. Prosperidade material
2. Descendência
3. Terra
4. Bênçãos espirituais para todas as nações.
5. Libertação nacional da escravidão e descanso.
6. Dinastia e reino de duração eterna e amplitude universal.
7. Perdão dos pecados.
8. Messias
9. Novos céus e nova terra.

Quais os textos chaves deste centro:

Gen 3.15- O ser intitulado de A serpente (com o artigo indica um título),


seria amaldiçoado mais do que todos os animais. Ele rastejaria, que indica humilhação e
subjugação, seria considerado desprezível. Uma hostilidade divina é implantada. O
descendente esmagaria a cabeça da serpente conquistaria a vitória. Kaiser argumenta que
o ele aqui é “uma noção coletiva que incluía uma unidade pessoal numa pessoa única
que estava para ganhar a vitória para o grupo inteiro representado por ele..”
Gen. 9.25ss. Quando fala de Sem, Noé está louvando a Deus, por Ele ter
assumido ser o Deus de Sem. E Deus vai habitar na tenda de Sem.

“Aqui, pela primeira vez, conforme Lutero nota, achamos a


combinação genitiva que depois se tornou comum, Deus de um
homem, de uma nação, Isto porque, quando a humanidade se separa
em ramificações diferentes, a divindade universal também é
especializada. Para uma porção da humanidade o Deus vivo e
verdadeiro fica num relacionamento de possessão mútua”

Gen. 12.1-3. Deus vincula Sua bênção à pessoa de Abraão. Ele e seu
descendente seriam canal de bênção para toda as nações. “Ele seria o mediador
sacerdotal da salvação, entre Deus e o mundo, sendo que a bênção de Abraão traria às
pessoas mais distantes o conhecimento do verdadeiro Deus.”
c) O Centro do Novo Testamento

Mesmo havendo fontes comuns, será que o centro teológico difere de autor para autor? Ou existe
um centro e uma estrutura que são comuns na Teologia do Novo Testamento?

Porque a questão é importante?


1. Identificar um centro e uma estrutura coerente ajuda-nos a entender as diferentes partes
da obra de um autor. Ex. O ensino de Jesus sobre o divórcio deve ser entendido no contexto de sua
proclamação sobre o Reino de Deus.
2. Se não houver uma forma compreensiva e um centro comum, apesar de temas iguais
não haverá unidade no Novo Testamento.
Além de importante, a questão é difícil, tanto por causa da riqueza do Novo Testamento como por
causa da ideia limitada que temos de alguns conceitos dos autores do Novo Testamento, exemplo: a ideia
de Tiago sobre a cruz, não sabemos, pois ele não estava tratando desta questão.
Algumas sugestões de centro para a Teologia do Novo Testamento foram resumidas por Hasel em
TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO - Questões Fundamentais no Debate Atual 138. São elas:

138
Gerhard F. Hasel ( trad. Jussara Marindir Pinto Simões Arias ) RJ: JUERP, 1988

32
1. Antropologia - Proposta por Bultmann e seu aluno H. Braun. Com uma interpretação existencial,
Bultmann diz que as afirmações sobre Deus feitas pelos escritores do Novo Testamento são na verdade
afirmações sobre o homem. Ele encontra este centro nos escritos de Paulo e João. No entanto, certos temas
como: Espírito Santo, ressurreição, 2o Adão, pecado original, e certas passagens como Rm 9-11 não se
enquadraram neste centro. E ainda certos escritos como Sinóticos, Atos, epístolas gerais e Apocalipse,
ficaram fora deste tema. Ele então criou um cânon dentro do cânon139.

2. História da Salvação. Defendidos por S. Stauffer, Oscar Cullmann; L. Goppelt e outros. A


história da redenção é o centro não apenas do Novo Testamento, mas de toda a Bíblia.

“ Se levarmos a sério a ideia de um cânon que compreende ambos os testamentos, então temos
que dizer que só pode ser a história da salvação que constitui a unidade da Bíblia... pois ela
pode conter todos estes livros.” 140

Mesmo sem crer que a história da salvação é um centro unificador, E Kasemann diz

“Eu diria que é impossível entender a Bíblia em geral ou Paulo em particular sem a perspectiva
da história da salvação. “ 141

3. Pacto, Amor e outras propostas. W. Eichrodt fez esta proposta para o Antigo Testamento. O.
Loretz, FC Fenscham a transportaram para o Novo Testamento. O pacto (aliança) de Deus com o homem
é considerado como o tema central do Novo Testamento. O problema é que nem todas as partes do NT
falam do pacto. Hasel acredita que temas como Reino de Deus, promessa, etc. compreendem todo Novo
Testamento.

4. Cristologia. B.Reicke; FC Grant, P. Robertson , Lohse, Ladd, e vários outros, veem na pessoa e
obra de Jesus o centro do Novo Testamento142. Ligado a Cristologia outros temas são propostos: justificação
dos ímpios (Kasemann); teologia da cruz (U. Luz), etc.
Hasel, após descrever estas quatro tentativas diz

“O Novo Testamento é cristocêntrico. Esta cristocentralização tem uma variedade de aspectos


interligados. A ênfase exclusiva sobre um ou outro aspecto corre o risco de minimizar ou
maximizar um em detrimento do outro.”143

“Não se chegou a nenhum consenso a respeito da questão do centro do Novo Testamento. ...
Tem-se observado incessantemente que um dos propósitos da busca de um centro do Novo
Testamento é proporcionar uma base para a sua unidade, por um lado, e para a exposição
sistemática ou estrutura de uma teologia do Novo Testamento, por outro. Parece que a erudição
do Novo Testamento está, neste ponto, no controle de uma pressuposição especulativa teológica
e filosófica, que declara que o material multiforme e múltiplo do Novo Testamento, em toda sua
rica multiplicidade, se adaptará e poderá ser sistematicamente ordenado e organizado por
intermédio de um centro.”144

E continua:

“estamos também convencidos de que nenhum centro do Novo Testamento (ou da Bíblia) é
suficientemente amplo, profundo e vasto para fazer justiça ao todo do Novo Testamento
canônico quanto à sua capacidade de servir como princípio organizador.” 145

Só que na mesma página ele diz:


139
Este conceito de um cânon dentro do cânon refere-se ao fato de alguns estudiosos acharem que certas partes da Bíblia são mais
inspiradas que outras, ou mesmo que algumas são inspiradas e outras não. Normalmente eles criam um centro, depois diminui-se os
escritos que não levam em conta este centro. Lutero já tinha o critério Cristo para um cânon. Por isto ele chegou a considerar a carta
de Tiago como de menos calor.
140
Pg. 117 citando O.Cullmann, Salvation in History ( New York, 1967), p.298.
141
Pg. 120, Citando E. Kasemann, Perspectives on Paul ( Filadélfia, 1971), p. 63.
142
Parece-me que este centro chega até a se confundir com o da História da Salvação. Hasel cita Ladd e Kummel em ambos. A
razão para isto, acredito, é o fato de que a História da Salvação atingiu seu clímax no evento Cristo.
143
Pg. 127.
144
Hasel, Teologia do Novo Testamento, pg. 127
145
Hasel, Teologia do Novo Testamento, pg. 128

33
“Parece-nos inegável que o Novo Testamento seja cristocêntrico do início ao fim. Jesus Cristo
é o centro dinâmico unificador do Novo Testamento. ... A cristocentralização do Novo
Testamento não pode se transformar numa estrutura com base em que uma teologia do Novo
Testamento possa ser escrita.”146

Ele também adverte contra o perigo de se usar um centro unificador para se criar um cânon dentro
do cânon. Quando o centro é usado “como uma fita métrica para se distinguir o que é e o que não é
verdadeiro no evangelho”147 temos problemas: “Qualquer seleção de critério de unidade destina-se a ser
subjetiva e arbitrária”148e um reducionismo inevitável.

Apesar da dificuldade e das várias propostas podemos identificar algumas coisas que são centrais
na teologia dos autores, e mesmo que não possamos ter a teologia de Tg, podemos verificar se e como sua
teologia se enquadra na teologia de Paulo, Lc e Mt.
Ao procurar um centro temos que considerar que:
- há diferentes motivos nos diferentes escritos (Jo, o amor tem proeminência; Hb o
sacerdócio e o sacrifício).

“Até que ponto isto reflete as circunstâncias particulares do autor e seus leitores ou até que
ponto refletem as ênfases teológicas características dos autores é algo impossível de dizer”149

James Dunn, em Unity and Diversity in the New Testament (1977, Londres) identifica a pessoa e
obra de Jesus como o centro da Teologia do Novo Testamento, e ele está certo em fazer isto,

“Seja nos evangelhos (Mc 1.10) ou em Paulo ( Rm 1.3s; 1 Co 15.1ss), a vida de Jesus, ensino, e
especialmente sua morte e ressurreição são centrais. Salvação, presente e futura, é através de
Jesus; ética é viver em relacionamento com Jesus, seguindo Seu exemplo e atentar aos seus
mandamentos ( ex. Cl 2.10; 3.17 )” 150

A Teologia do Novo Testamento trata da missão divina para o mundo, ela inclui os seguintes
elementos:

“ 1. O contexto: O único Deus criador, o Deus de Israel, em seu amor e em


cumprimento das Escrituras, fez uma intervenção através de Jesus para completar sua salvação
proposta através de seu povo Israel e então trazer um mundo arruinado e hostil para debaixo
do Seu governo e restaurá-lo ao amor e perfeição que Ele pretendera.
2. O centro: Jesus era o Messias de Israel, cheio do Espírito, e o Filho de Deus.
Através de sua vida, ensino, e supremamente através de sua morte e ressurreição, anunciou e
inaugurou o governo salvífico de Deus, convidando outros a receber o presente divino.
3. A comunidade: Aqueles que recebem Jesus e sua salvação pela fé - batismo e
eucaristia são expressões de tal fé - formam através e com Ele o verdadeiro Israel, filhos de
Deus , tendo o Espírito Santo da filiação. Eles são chamados para viver como uma comunidade
restaurada em comunhão amorosa com Deus e uns com os outros e para proclamar e viver as
boas novas da restauração do mundo.
4. O clímax: A missão da restauração será completada no retorno do Senhor para
julgar o mundo, quando o mal será finalmente vencido, o povo de Deus será levantado e
aperfeiçoado e toda a criação será restaurada para a glória pretendida.”151

Veja diagrama.

G - Conclusões: Unidade em Diversidade

146
Hasel, Teologia do Novo Testamento, pg. 128
147
Hasel, Teologia do Novo Testamento, pg129
148
Hasel pg. 130 cit. Cullmamm, Salvation in History, pg.298
149
Denhan pg. 711
150
Wenham, op.cit. pg 712
151
Wenham, op.cit. pg. 712s

34
Diversidade tem que ser reconhecida

Existe tanto uma rica diversidade, como até certas tensões entre grupos (os cristãos
de Jerusalém vendo Jesus como o cumprimento do Antigo Testamento e os cristão gentios
que viam Jesus como aquele que trouxe o Espírito e a liberdade).
“Existe um desenvolvimento de ideias nos diferentes contextos, com a transição da
Palestina rural para o mundo urbano greco-romano ...” 152Os problemas eram diferentes, os
gêneros literários eram diferentes, os escritores eram pessoas diferentes com interesses
diferentes. Temos 4 evangelhos, e não um.

A unidade do Novo Testamento

As diferenças eram apenas de ênfases. Paulo não queria fundar sua própria religião,
em Gl ele demonstra que o seu evangelho era o mesmo dos outros apóstolos. O centro e
autoridade era Jesus, todo ensino tinha que ter sua base nele. Havia uma ortodoxia, que
estava centralizada na tradição que vinha de Jesus, havia defesa do evangelho, as heresias
eram combatidas. H. Ridderbos, diz que:

“O tema dominante da pregação de Paulo é a atividade salvadora de Deus
e o advento e a obra, particularmente na morte e ressurreição de Cristo. Esta
atividade é, por um lado, o cumprimento da obra de Deus na história da nação de
Israel, logo o cumprimento da Escritura; por outro lado, alcança a consumação na
parousia de Cristo e a vinda do reino de Deus. É a grande estrutura histórico-
redentora [heilsgeschichte) dentro da qual... todas as suas partes subordinadas
recebem seus lugares e se combinam organicamente.”153


Textos-provas, harmonização e Ortodoxia

Uma leitura da Bíblia que “...pinça textos-prova sem atentar ao contexto histórico e
literário é ilegítima e contrária a natureza da revelação bíblica.”154 Os textos particulares
devem ser interpretados à luz da estrutura e do todo do Novo Testamento.
Outro cuidado a ser tomado é a argumentação a partir do silêncio dos escritores
bíblicos, se eles não trataram de assuntos que outros trataram não é que eles desconheciam,
mas que a necessidade não pedia isto. Por isto o texto destes escritores deve ser
harmonizado com o restante das Escrituras.
Apesar da riqueza da diversidade, há uma unidade, que foi a ortodoxia da Igreja
Primitiva. A revelação foi progressiva, já que Deus revelou-se dentro de situações e
ambientes históricos distintos, por causa disto devemos esperar diversidade dentro da
unidade.155

H - A Questão do Relacionamento entre os Testamentos

Há duas questões envolvidas


A primeira é: Há um relacionamento entre o Antigo e Novo Testamentos?

As Respostas dadas foram:
152
Wenham, op.cit. pg. 714
153
Hasel, Teologia do Novo Testamento, pg (98) cit. Paul: An Outline of His Theology ( Grand Rapids, Mich.,1975) pg. 39 ,
154
Wenham, op.cit. pg. 717
155
Dois problemas na versão, pg. 31, penúltimo # início da 4a última linha ‘Era inaceitável...” deve ser “ Era inevitável...” , pg.
32, encontradiça, deve ser encontrada.

35

1. Desprezo ao Antigo Testamento. Marcião é o exemplo maior. Ele rejeitou completamente
o Antigo Testamento, e tudo que no Novo se aproximasse dele.

2. Supervalorização do Novo Testamento e Desvalorização do Antigo .
Adolf von Harnack afirmou que manter o Antigo Testamento “dentro do cânon ainda
no sec. XIX é uma paralisia religiosa e eclesiástica.” 156 Outros de posição semelhante:
Friedrich Deliztch (1850-1922), Emanuel Hirsh.
R. Bultmann diz que não há relacionamento relevante. "O Antigo Testamento não é
mais revelação, como o fora e ainda é para os judeus.”157
A concepção luterana com a antítese Lei/Evangelho. Vendo o Antigo Testamento
como relato do fracasso e o Novo Testamento da realização.
Friedrich Baumgärtel: a única relevância do Antigo Testamento é por conta da
promessa básica, "Eu sou o Senhor teu Deus."

3. Desvalorização do Novo e Supervalorização do Antigo.
A.A. Vam Ruler. O Antigo Testamento é e permanece a verdadeira Bíblia, o Novo
Testamento é o seu glossário interpretativo . 158 A base que ele invoca para isto é que o
interesse central de toda a Bíblia não é a redenção, mas o Reino de Deus.

4. Há uma continuidade. Isto é notado:
- O fato do NT citar o Antigo pressupõe isto.
- Palavras-chaves e conceitos de importância que se repetem em ambos. Tornando-
se termos técnicos, conforme Kaiser aponta. 159
Sendo assim, “ambos os testamentos iluminam um ao outro em suas relações
mútuas.”160 A interpretação do AT é determinada por sua conexão com o NT, pois eles são o
livro da Igreja.

A segunda questão é: qual a natureza deste relacionamento?

As respostas surgidas na história do Cristianismo foram as seguintes:

1. Alegorização. O método de Orígenes.

“Ora, a razão para a apreensão errônea de todos estes pontos... não é outra senão a
seguinte: que as Sagradas Escrituras não são entendidas por eles conforme o significado
espiritual, e, sim, conforme o significado literal... Todas as partes narrativas, referindo-se a
casamentos, ou à geração de filhos, ou a batalhas de vários tipos, ou a quaisquer outras
histórias, não se pode supor que sejam outra coisa senão a forma externa de coisas
escondidas e sagradas.”161

2. Abordagem Cristólogica, que inclui o Relacionamento em termos de método de prova e
resultado, o AT só pode ser compreendido partindo-se de Cristo, e o Relacionamento
Messias/ cumprimento, o AT é visto como um testemunho do Messias.

Um expoente é W. Vischer. Ele afirma que o verdadeiro tema da Bíblia é Cristo. Logo
tudo deve ser interpretado a partir dele.


156
Hasel, Teologia do Novo Testamento, pg 135
157
Hasel, Teologia do Novo Testamento, pg 136
158
Hasel, Teologia do Novo Testamento, pg. 138
159
Pg. 275
160
Hasel, Teologia do Novo Testamento, pg 143.
161
Kaiser, citando Origines em De Principius,4:9

36
“Em cada mínimo detalhe o olho do crente pode reconhecer Cristo. Não
entendemos uma única palavra em toda a Bíblia se não encontrarmos Jesus nesta
palavra. As palavras “ Haja luz” (Gn. 1.3) se referem à “glória de Deus na face de
Cristo”. O sinal de Caim, em Gn 4.15, é a cruz. O patriarca Enoque e sua ascensão
apontam para a ascensão de Jesus e anterior ressurreição. A profecia de que Jafé
“habitaria nas tendas de Sem” é cumprida na igreja dos gentios e dos judeus.
Falando da presença noturna com quem Jacó lutou no Jaboque (Gn 32), ...esta
pessoa era Cristo.” 162

Hasel afirma que Vischer é reconhecido como um erudito extremamente
competente, e que devemos agradecer por nos chamar a atenção para o significado cristão
do Antigo Testamento, no entanto ele extrapolou em sua abordagem.

3. Conexão histórica. O fator comum entre os testamentos

“é a história do povo de Deus. O Antigo Testamento é visto como uma preparação
histórica para o Novo Testamento. ... É o propósito e a vontade de Deus que
unificam o processo histórico. A carreira histórica de Israel é conduzida pela
vontade de Deus para cumprir seus desígnios. Estes desígnios são cada vez mais
descobertos durante os tempos do Antigo Testamento e Novo Testamento. “163

4. Dependência Escritural. A ligação é formada pelas citações que o Novo faz do Antigo. O
número considerado de citações explícitas varia entre estudiosos, mas é numeroso.164 Um
problema é levantado aqui: algumas vezes estas citações não estão de acordo com o
significado aparentemente recolhido do Antigo Testamento. 165 Ex. Mt 2.15. As soluções
propostas para isto são de que as citações são dadas como ilustrações; eram projeções das
convicções dos escritores do Novo Testamento; eles seguiam métodos de exegese rabínica.
Kaiser argumenta que eram raras as ocasiões em que o Antigo Testamento era citado como
ilustração, na grande parte das vezes era citado como fonte de doutrina, visando convencer
os judeus da continuidade desta nova religião, portanto

“Não poderiam estar longe da intenção de transmitir a verdade estabelecida pelos
escritores do Antigo Testamento, e, em nossa opinião não falharam neste
sentido.”166

5. Conexão de vocabulário. Jesus e os apóstolos usaram termos que estavam dentro de uma
tradição teológica que vinha do Antigo Testamento. Quase toda palavra chave do Novo
provém de alguma palavra hebraica.

6. Conexão temática. “Cada um dos mais importantes temas do Antigo Testamento tem seu
correspondente no Novo Testamento, e é de algum modo retomado ali.”167

7. Tipologia. Os tipos

“são pessoas, instituições e eventos do Antigo Testamento, que são vistos como
modelos divinamente estabelecidos ou pré-representações das realidades
correspondentes na história da salvação do Novo Testamento.” 168

162
Hasel, Teologia do Novo Testamento, pg 140.
163
Hasel, Teologia do Novo Testamento pg 144
164
Nestle-Aland marca 257 passagens, R. Nicole, 295; K. Grobel, 150 explicitamente e 1100 tacitamente. Hasel, Teologia do Novo
Testamento, pg. 145.
165
Hasel, Teologia do Novo Testamento, pg 145
166
Kaiser, pg. 276.
167
Hasel, Teologia do Novo Testamento pg. 146, cit. Brigth, pg 211.
168
Hasel, Teologia do Novo Testamento, cit. Eichrodt,, pg 225

37

A tipologia segue o cristianismo primitivo. Para Von Rad: é a história do povo de
Deus e as instituições e profecias nela contidas que fornecem os modelos para os antítipos
do NT em todo o âmbito da história e da escatologia.
Hasel considera de valor a apreciação tipológica, desde que

“comece com uma relação que ocorre na História . Por exemplo, a analogia
tipológica entre Moisés e Cristo em II Coríntios 3.7ss e Hebreus 3.1-6 começa com
uma relação que ocorre na História; mas o interesse não está em todos os detalhes
da vida e do ofício de Moisés, e, sim, primariamente em seu “ministério “ e "glória”,
na primeira passagem, e em sua “fidelidade” na segunda passagem.” 169

E ainda: seja controlada com base na relação direta entre vários elementos do AT e
seus elementos correspondentes no NT.170 ; esteja fundada em indicações claras do Novo
Testamento; considere que o antítipo do NT excede o tipo do Antigo Testamento; esteja
completamente separada da alegoria; não se torne um método hermenêutico aplicado a
todo o texto, nem a única abordagem pois não é abrangente.

8. Conexão com base na Promessa/Cumprimento. C. Westerman diz que “Promessa e
cumprimento constituem uma ocorrência integral relatada tanto no AT quanto no NT da
Bíblia.” 171 W. Zimmerli diz que o AT contém “história de promessa que frutifica no Novo
Testamento” e mesmo já havendo cumprimento no AT, quando a promessa ganha caráter
de cumprimento na História, através da orientação e palavra de Javé, volta a ganhar um
novo caráter de promessa. De modo que o cumprimento fica sempre aberto para o futuro.
172

Kaiser pode ser situado aqui. Ele cita Willis Beecher:



“ Deus deu uma promessa a Abrão, e, através dele, à humanidade inteira; uma
promessa eternamente cumprida e se cumprindo na história de Israel; e
principalmente cumprida em Jesus Cristo, sendo Ele aquilo que é principal na
história de Israel.” 173

Esta promessa é única, i.e., só há uma promessa (At. 2.6s; Rm 4.13,16; Hb 6.13ss,17;
11.9, 39s). Os crentes do Antigo Testamento receberam amostras parciais da promessa, mas
não seu cumprimento culminante. Só que ela consiste de muitas especificações, por isto que
algumas vezes é citada no plural (Rm 15.8s; Hb 6.12; 7.6)

“ Para os escritores do Novo Testamento, esta única promessa de Deus
epitomizava tudo quanto Deus começara a fazer e a dizer no Antigo Testamento, e
que continuava fazendo na própria nova era deles.” 174

Nesta promessa estava incluso: bênção aos gentios (Gl 3.8); ressurreição dos mortos
(At 26.6ss); Espírito Santo numa nova plenitude (Lc. 24.49); redenção dos pecados e suas
consequências (Rm. 4.2-5); e a maior de todas, O Messias (Lc 1.69s).
A Nova Aliança é iniciada. Ela é um desenvolvimento da abraâmica. Na mosaica e
davídica haviam muitas disposições transitórias, só que nada delas foi cortado, apenas

169
Hasel, Teologia do Novo Testamento, pg. 148
170
Hasel TAT, pg. (82)
171
Hasel, TAT, ( Pg. 84 Cit. Westermann,
172
Hasel, TAT, (Cit. Pg. 84) cit. Zimmerli , pg 78.
173
Kaiser, pg 271. cit. Beecher, The Prophets an the Promise, pg. 178.
174
Kaiser, pg. 273

38
"aquilo que era assim claramente limitado desde a sua primeira aparência. A
superioridade veio do progresso da revelação e não de erros ou deliberada falsa
informação das alianças anteriores.” 175

As promessas espirituais feitas a Abrão foram cumpridas, mas as promessas para
Israel ainda aguardam o cumprimento.

9. História da salvação. Ambos os testamentos revelam a história redentiva de Deus se
desenvolvendo em fases. Creio que esta inclui muitos elementos das outras.

10. Unidade de Perspectiva. Em ambos os testamentos há uma perspectiva apontando para
o futuro. “O verdadeiro centro de ambos os Testamentos é, portanto, a perspectiva
escatológica.” 176 O Antigo Testamento é um livro incompleto que termina numa postura de
espera. “O Deus que atuou na criação, no êxodo, na conquista guiando o seu povo, atuará
novamente um dia." 177 Já o Novo Testamento se preocupa em mostrar como esta atuação
se deu na Pessoa de Jesus Cristo . Só que ele ainda mantém a tensão entre o já e o ainda não.
O plano final já foi revelado, a última parcela já foi demonstrada, mas não totalmente
cumprida.

“Toda a história do Apocalipse constitui uma peregrinação, que espera a cidade
cujo arquiteto e edificador é Deus (Heb. 11.10)” Nesta peregrinação há muitas
paradas, muitas realizações iniciais, mas cada uma delas se transforma num ponto
de partida novamente, até que todas as promessa sejam finalmente cumpridas no
fim dos tempos." 178

Conclusão
Hasel acredita que “A natureza complexa do inter-relacionamento entre os
Testamentos requer uma abordagem múltipla. " 179


DIAGRAMA
Humanidade e Restauração Restauração Restauração
criação em Prometida cumprida sem consumada
comunhão com consumação
Deus
Fiéis vivem na O Reino chegou e já Desfrute completo
promessa, pode ser desfrutado do Reino de Deus.
confiando na aliança em suas primícias.
e olhando para o
futuro.
1º tempo da era de Últimos dias da
Pecado, Satanás, ira, Velha Era.
doença, fraqueza e
carne.




175
Kaiser, pg. 276
176
Hasel, Teologia do Novo Testamento, pg. 151cit ThC. Vrieze, pg 123.
177
Hasel Teologia do Novo Testamento, pg. 151
178
Hasel, Teologia do Novo Testamento, pg. 152
179
Hasel, Teologia do Novo Testamento, pg. 155

39

















40

Vous aimerez peut-être aussi