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CONTEÚDO

PROF. ASSAID
12 CONJURAÇÃO MINEIRA
A Certeza de Vencer GE290808
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A INCONFIDÊNCIA MINEIRA habitante da capitania. Recebeu ainda instruções no sentido de
investigar os devedores da Coroa e os contratos realizados entre
A Inconfidência Mineira teve relação direta com as característi- a administração pública e os particulares. As instruções faziam
cas da sociedade regional e com o agravamento de seus proble- pairar uma ameaça geral sobre a capitania e mais diretamente so-
mas, nos dois últimos decênios do século XVIII. Isso não signifi- bre o grupo de elite, onde se encontravam os maiores devedores
ca que seus integrantes não fossem influenciados pelas novas i- da Coroa.
déias que surgiam na Europa e na América do Norte. Muitos
membros da elite mineira circulavam pelo' mundo e estudavam
na Europa. Em 1787, dentre os dezenove estudantes brasileiros
matriculados na Universidade de Coimbra, dez eram de Minas.
Coimbra era um centro conservador, mas ficava na Europa, o que
facilitava o conhecimento das novas idéias e a aproximação com
as personalidades da época.
Por exemplo, um ex-estudante de Coimbra, José Joaquim da
Maia, ingressou na Faculdade de Medicina de Montpellier na
França, em 1786. Naquele ano e no ano seguinte teve contatos
com Thomas Jefferson, então embaixador dos Estados Unidos na
França, solicitando apoio para uma revolução que, segundo ele,
estava sendo tramada no Brasil. Um participante da Inconfidên-
cia, José Álvares Maciel, formou-se em Coimbra e viveu na In-
glaterra por um ano e meio. Aí aprendeu técnicas fabris e discu-
tiu com negociantes ingleses as possibilidades de apoio a um
movimento pela independência do Brasil. Imagem de Tiradentes associada à figura feminina da República.
Ao lado disso, nas últimas décadas do século XVIII, a sociedade Revista Illustrada, 1892
mineira entrara em uma fase de declínio, marcada pela queda Aqui, abrindo um parênteses, é preciso explicar a origem dessas
contínua da produção de ouro e pelas medidas da Coroa no sen- dívidas. Elas se originavam, muitas vezes, de contratos feitos
tido de garantir a arrecadação do quinto. Se examinarmos um com o governo português para arrecadar impostos. Na época co-
pouco a história pessoal dos inconfidentes, veremos que tinham lonial, era comum conceder essa função pública a particulares
também razões específicas de descontentamento. Em sua grande com boas relações na administração. Eles pagavam uma quantia
maioria, eles constituíam um grupo da elite colonial, formado à Coroa pelo direito.de cobrar os impostos, ganhando a diferença
por mineradores, fazendeiros, padres envolvidos em negócios, entre esse pagamento e o que conseguiam arrecadar. Mas, fre-
funcionários, advogados de prestígio e uma alta patente militar, o qüentemente, os contratadores nem sequer chegavam a completar
comandante dos Dragões, Francisco de Paula Freire de Andrade. o pagamento à Coroa, daí resultando dívidas que iam se acumu-
Todos eles tinham vínculos com as autoridades coloniais na capi- lando.
tania e, em alguns casos (Alvarenga Peixoto, Tomás Antônio Os inconfidentes começaram a preparar o movimento de rebeldia
Gonzaga), ocupavam cargos na magistratura. nos últimos meses de 1788, incentivados pela expectativa do lan-
José Joaquim da Silva Xavier constituía, em parte, uma exceção. çamento da derrama. Não chegaram, porém, a pôr em prática
Desfavorecido pela morte prematura dos pais, que deixaram sete seus planos. Em março de 1789, Barbacena decretou a suspensão
filhos, perdera suas propriedades por dívidas e tentara sem êxito da derrama, enquanto os conspiradores eram denunciados por
o comércio. Em 1775, entrou na carreira militar, no posto de al- Silvério dos Reis. Devedor da Coroa como vários dos inconfi-
feres, o grau inicial do quadro de oficiais. Nas horas vagas, exer- dentes, Silvério dos Reis estivera próximo destes, mas optara por
cia o ofício de dentista, de onde veio o apelido algo depreciativo livrar-se de seus problemas denunciando o movimento. Segui-
de Tiradentes. ram-se as prisões em Minas e a de Tiradentes no Rio de Janeiro.
O entrosamento entre a elite local e a administração da capitania O longo processo realizado na capital da Colônia só terminou a
sofreu um abalo com a chegada a Minas do governador Luís da 18 de abril de 1792.
Cunha Meneses, em 1782. Cunha Meneses marginalizou os A partir daí, começou uma grande encenação da Coroa, buscan-
membros mais significativos da elite, favorecendo seu grupo de do mostrar sua força e desencorajar futuras rebeldias. Só a leitura
amigos. Embora não pertencesse à elite, o próprio Tiradentes se da sentença durou dezoito horas! Tiradentes e vários outros réus
viu prejudicado, ao perder o comando do destacamento dos Dra- foram condenados à forca. Algumas horas depois, uma carta de
gões que patrulhava a estratégica estrada da Serra da Mantiquei- clemência da Rainha Dona Maria transformava todas as penas
ra. em banimento, ou seja, expulsão do Brasil, com exceção do caso
A situação agravou-se em toda a região mineira com a nomeação de Tiradentes. Na manhã de 21 de abril de 1792, Tiradentes foi
do Visconde de Barbacena para substituir Cunha Meneses. Bar- enforcado num cenário típico das execuções no Antigo Regime.
bacena recebeu do ministro português MeIo e Castro instruções Entre os ingredientes desse cenário se incluíam a presença da
no sentido de garantir o recebimento do tributo anual de cem ar- tropa, discursos e aclamações à rainha. Seguiram-se a retalhação
robas de ouro. Para completar essa quota, o governador poderia do corpo e a exibição de sua cabeça, na praça principal de Ouro
se apropriar de todo o ouro existente e, se isso não fosse suficien- Preto.
te, poderia decretar a derrama, um imposto a ser pago por cada Que pretendiam os inconfidentes?
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A resposta não é simples, pois a maioria das fontes à nossa dis- radentes foi cada vez mais retratado com traços semelhantes às
posição é constituída do que disseram os réus e as testemunhas imagens mais divulgadas de Cristo. Assim se tornou um dos
no processo aberto pela Coroa, no qual se decidia, literalmente, poucos heróis nacionais, cultuado como mártir não só pela direita
uma questão de vida ou morte. Aparentemente, a intenção da e pela esquerda como pelo povo da rua.
maioria era a de proclamar uma República, tomando como mo- (Texto de Boris Fausto)
delo a Constituição dos Estados Unidos. O poeta e ex-
ouvidorTomás Antônio Gonzaga governaria durante os primeiros
três anos e depois disso haveria eleições anuais. O Distrito Dia-
mantino seria liberado das restrições que pesavam sobre ele; os
devedores da Coroa, perdoados; a instalação de manufaturas, in-
centivada. Não haveria exército permanente. Em vez disso, os
cidadãos deveriam usar armas e servir, quando necessário, na mi-
lícia nacional.
O ponto mais interessante das muitas medidas propostas é o da
libertação dos escravos, que só excepcionalmente aparece em vá-
rios movimentos de rebeldia não só do Brasil Colônia como do
Brasil independente. De um lado, no plano ideológico, é incom-
preensível que um movimento pela liberdade mantivesse a escra-
vidão; de outro, no plano dos interesses, como é que membros da
elite colonial, dependentes do trabalho escravo, iriam libertá-los?
Essa contradição surge no processo dos inconfidentes, mas é
bom ressalvar que nem sempre depoimentos derivados de inte-
resses pessoais predominaram nas declarações. Alvarenga Peixo- Bandeira do movimento. O triângulo era verde
to, um dos maiores senhores de escravos entre os conjurados, de-
fendeu a liberdade dos cativos, na esperança de que eles assim se
tornassem os maiores defensores da República. Outros, como
Álvares Maciel, achavam, pelo contrário, que sem escravos não
haveria quem trabalhasse nas terras e nas minas. Segundo parece,
chegou-se a uma solução de compromisso, pela qual seriam li-
bertados somente os escravos nascidos no Brasil.
A Inconfidência Mineira é um exemplo de como acontecimentos
históricos de alcance aparentemente limitado podem ter impacto
na história de um país. Como fato material, o movimento de re-
beldia não chegou a se concretizar, e suas possibilidades de êxi-
to, apesar do envolvimento de militares e contatos no Rio de Ja-
neiro, eram remotas. Sob esse aspecto, a Revolução de 1817, que
a partir de Pernambuco se espraiou por uma grande área do Nor-
deste, teve maior importância.
Mas a relevância da Inconfidência deriva de sua força simbólica:
Tiradentes transformou-se em herói nacional, e as cenas de sua
morte, o esquartejamento de seu corpo, a exibição de sua cabeça
passaram a ser evocadas com muita emoção e horror nos bancos
escolares. Isso não aconteceu da noite para o dia e sim através de
um longo processo de formação de um mito que tem sua própria
história. Em um primeiro momento, enquanto o Brasil não se
tornou independente, prevaleceu a versão dos colonizadores. A Construção da imagem de Tiradentes. Aqui ele é visto com um
própria expressão "Inconfidência Mineira", utilizada na época e mártir, associando-se sua imagem à de Jesus.
que a tradição curiosamente manteve até hoje, mostra isso. "In-
confidência" é uma palavra com sentido negativo que significa
falta de fidelidade, não-observância de um dever, especialmente
com relação ao soberano ou ao Estado. Durante o Império, o epi-
sódio incomodava, pois os conspiradores tinham pouca simpatia
pela forma monárquica de governo. Além disso, os dois impera-
dores do Brasil eram descendentes em linha direta da Rainha
Dona Maria, responsável pela condenação dos revolucionários.
A proclamação da República favoreceu a projeção do movimento
e a transformação da figura de Tiradentes em mártir republicano.
Existia uma base real para isso. Há indícios de que o grande es-
petáculo, montado pela Coroa portuguesa para intimidar a popu-
lação da Colônia, causou efeito oposto, mantendo viva a memó-
ria do acontecimento e a simpatia pelos inconfidentes.
A atitude de Tiradentes, assumindo toda a responsabilidade pela Aqui, na concepção do artista Elifas Andreato, Tiradentes aparece
conspiração, a partir de certo momento do processo, e o sacrifí- estrábico, com nariz achatado, cara de boêmio e meio porra-louca,
cio final facilitaram a mitificação de sua figura, logo após a pro- conforme sua fama. A imagem oficial de Tiradentes foi uma cria-
clamação da República. O 21 de abril passou a ser feriado, e Ti- ção da República
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