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OS LUSÍADAS
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Didipr D. C. Dias Je Moíae^
- Cf ie ls t e rtv ííío
Miriam Cíe C*rvalho
2005
Cim&a, Lut dE 15M M H »
ISBN ÔS -2 62* 4 103- 1- A L
ífcUiLíAesiijmc,deCard«;adagiatitia?
ISBNB5-262-47940(~fH íuMimPifjí í LtwnRodilBrjÿi.-isoPiLío;
icfiruv, 139:.- (6tnrRwKOnrrvlilM
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[& impressaci) VütsratJBinfíHito-jtre^l I. Er^g». iubenx
I91Ï-19SO.I. BràÇn, Édr-Li'i P«t:í »f TiulIc. IV
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Üi^rtt Editora o Cti-nertiai de Livrpí
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Repressoti a Portugal dais anos mais tarde, com Os Lucindas pron^
to para publicac&o, que se dará em 1572 por c o n ce ssi co Rei O. Sebas
tian, a quem Carnees dedicara sua obra-prima.
Os Lusiadas, aquí adaptado em prosa, é um poema ¿pico dividido
em dei cantos, que tem por lemas a víagem de Vasco da Gama em busca
do caminño maríiimo para a Ìndia e a historia portuguesa, desde a luta
contra os mauros invasores até a con solid alo do Estado luso e as gran
des navegadoes. Sua estrutura narrativa traz influencias da Odlsséfat do
poeta grtgo Homero„e da Eneida, do poeta latino Virgilio: em ambas as
obras o assunto é a vìagem de uni heròi, simbolo de um povo glorioso, a
mercé do$ deuses do Olimpo, que estío divididos sobre apoiá-lo ou n£o
em sua destemída jomada, Em OsLusíaéas, no entanto, os deuses greco*
romanos fundón am como "causa; segundas**, que cumprem, por meio
de fenómenos naturais, as determinarías de um destino superior, regido
pelo L>eus cristào. Essa u tiliz a lo de elementos mitológicos confere ao
poema urna atmosfera de sonbO* que alivia a ejtaltac&o retòrica dos leitos
portugueses,
Etnbora Os Lusiadas tenha alcanzado a fama de poema nacional
portugués, CamScs inorrtu na misèria, em 1580, deixando também urna
extraordinaria obra lirica, que foi publicada postumamente,
Deste homcm que confundiu sua aventura com a aventura de seu
país, vale a pena rranscrever as últimas palavras: "E nfin j, acabarei fi vi
da e verAo lodos que fui tao a fe ita d o A minha pàtria, que nflo me con
tentai em morrer nela, mas com elaT', O Rei D. Sebasiiao morrera em
1^76 e, deis anos dcpoLs, Portugal passou ao dominio da E&panha. O
poeta nào suportou tañía tristeza.
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Apóft es^as paJavras de Júpiter, os delires, respondendo
por ordem de híerarquia, divergíam entre si. Baco nSo con
cordava com o que Júpiter dissero subendo que seus feitos
no Oriente seriam «queridos caso a gente lusitana chetasse
até iá. Ao deus do vinho muito doia perder todas as glorias
amigas, aínda entào celebradas em Nisat cid ade fundada por
de na India.
A opinilo de Baco era contestada pela bela Venus, mul
to afeigoada à gente lusitana por ver nela quididades táo se
m ejantes ás da geme romana, que tanto amava. Fram po~
vos parecidos nos fortes torafòes e ho idioma, Et como já es
lava escrito pelo Destino, Venus sabia que seria glorificada
era todas as partes onde chegassem os bravos guerre iros por
tugueses.
Àssim, Baco e Vénus insistiam em suas opinioes antagó
nicas — ele por temor do descrédito e eia pelas honras que
pretendía aleangar. Com os demais deuses lomando o partid
do de um e de outro* o tumulto que se levanten no consagra
do Olimpo foí semelhanvc ao causado pelos vemos Austro
ou Bóreas, quando rompan os ramos das florestas espejas
com impeto e furia desmedida. Foi cntáo que Marte se ]evan-
tou para defender a causa de Vénus — falvez obrigado pelo
seu amigo amor pela deusa, Zangado, ergueu a visara do ca
pacele de diamantes e coloeou-se* resoluto, diante de Júpi
ter. Com o basteo, deu urna pancada táo forte no trono cris
talino que fez todo o céu tremer e o sol empalidecer de ruedo,
para depois dizer:
— O senhor, meu Pai, já ordenou que esta gente que
agora busca o Oriente náo sofra mais privapóes. Se quer que
a determinatilo do Destino soja cumprida, nao ouga mais as
razoes de quem parece suspdio. Pois se Baco nào deìxasse o
receio vencer a razáo, estaría agora defendendo essa gente
que descende de Luso, seu amigo, Esquejamos sua intransi
gencia, movida pelo òdio, pois a inveja nunca sobrepujará o
bem merecido. O senhor* Pal, nao eleve voltar atrás na dcci-
sao tomada, pois é fraqueza desistir de coisa com bada.
O pai poderoso, sarisfeit.o, concordou com as palavras
do valornso Mane e espaígiu néctar sobre todos os deuses,
aben<?oando-os. ím seguida* cada um Ihe fez urna reverencia
e partiuoelo luminoso caminho lácteo em direqáo á sua mo
rada,
Os m ottros de
&
com tanto ardor como se a viagem esdvesse acabando. Por
fim, as velas foram arriadas e o mar, fendo pelas ancoras.
Nao demorou muilo e a gente estranila já subía pelas
cordas. JEsravam alegres e o capitáo os receben com cortesia,
mandando que lhes fossero servidas comida e bebida. Curio
sos, des perguntavam erti árabe;
— De onde vém voces? Que buscam?
Vasco da Gama respondcu:
— Viemos de muíto longe, Somos súditos de um rei po
tente, táo amado que por ele navegaríamos alé o inferno. E a
seu mando estamos buscando, através do mar remolo, a ier
ra oriental, regada pelo Río Indo. Mas já está na hora de in
dagadnos lambém: quem sao voces? Que ierra é esta? Sa-
bem alguma coisa sobre o cammho para a indía?
Um deles falou;
— Somos estrangeiros nesta terra, pela religiáo e pela
ra^a. Os nativos sao selvagens, sem religiáo. Nos temos a re
ligiáo verdadeira, ensinada por Maomé, descendente de
Abraao. Essas ilhas onde vivemos funcionam como escala
paraos quenavegam por esta costa. Por isso estamos aquí. E
voces, que vSm de láo longe á procura da ìndia, encontrarlo
entre nos um piloto que os guiará sabiamente pelas ondas.
Também teráo mantimentos, e o governante desta terra, que
amanhá lhes visitará, providenciará tudo o mais que for ne
cessàrio.
Após tais palavras, o mouro despediu-se dos portugue
ses e retornen com sua gente aos batáis, Nesse momento, o
sol merguihava ñas aguas, encerrando o dia e dando vez a
sua írma, a lúa, para que iluminaste o grande mundo en-
quanto ele dormia.
A noite passou-sc com rara alegria na frota cansada,
por surgirem enfim noticias da ierra distante e hátamo tem
po desejada. Cada um dos portugueses pensava consigo nos
?
momos, sem entender como aqueles adeptos da fé errada pu-
deram espalhar-se tanto pelo mundo.
Os claros raios da lúa brílhavam pelas ondas pratcadas
de Netuno. O ccu esti ciado parecía um campo de flores. Os
furiosos ventos repousavam em su as covas escuras c distan'
tes. Mas os marujos, como de cosLumet nao relaxaram a vigi
lancia das naus.
A visita r egedar
o
d
10
O Gama respon de udhe:
— Ilustre senhor, náo sou da terra ncm da gei açào dos
povos da Turquía, e sim da valante e guerreira Europa. Voti
em buscadas famosas térras da india. Sigo a rcíigiao Daque-
le a eujo imperio obedecem o visivcl to invisível. Aquefeque
eriou o Universo, tildo o que sente e tudo o que è insensíveh
Aquele que padeccu afrontas e viíupérios, ¿ofrendo morte
injusta e horriveU que deseen do Céu á Terra para que todos
os moríais pudessem subir da Terra ao Céu. Nao trago os li-
vros que o senhor pede, pois nâo preciso trazer escrito em
pape) o que deve estar sempre na alma. Mas se quer ver as ar
mas, seu desejo será atendido. Veja-as como amigo, e desejo
que jamais as queira ver como inmugo.
Dizendo ísso, o capillo mandou que sens subordinados
mostrassem as armas e armaduras: couraças de aço rduzen-
te* malhas finas de ferro, espadas afiadas, escudos com pin
turas diversas, balas, espingardas, ateos e aljavas cheías de
setas, partasanas afiadas e lanças de punías agudas. Trouxe-
ram tamben1, as balas dos canhdes e panelas usadas para der
rama i enxofre derretido sobre os ínimigos, O capillo, po-
rém, nao pertnitiu que os aniJheiros atirassem com as bom
bardas, porque o animo generoso e valenle nunca deve mos
trar todo o seu poder à gente fraca — e com muita razio,
pois é covardia ser lelo entre ovelbas,
O mouro observava tudo atentamente, enquanto o Odio
crescía em su a alma, por saber que os estrangeiros eram cris-
tíos. Entretanto, nao deixou tTansparecer na fisionomía ou
nos gestos o que senti a, continuando a tratar os portugueses
com sorrisos e falsa am&büidade até que pudesse mostrar o
que realmente pensava.
Vasco da Gama pediu-lhe, cntáo, um piloto que pudesse
levá-los á India, dizendo que esse trabalho seria muito bem
pago. O momo prometen atcndé-lo, mas com internos táo
12
dañosos que, se pudesse, naqueie m «m o dia lhe daría a rnor
le em vez do piloto.
A armadilha de Baco
13
O reí niouro abra^ou lüaco, agradecen d o-Ihe o consc-
Ihú. b logo providencien! para que a agua que os portugueses
busca vatn fosse transformada em sangue. Para completar o
ardil, procurou um mouro astuto, a ser mandado aos portu
gueses como piloto, recomen dan do-Jhe que, caso os lusita
nos escapassem da rilada armada em térra, ele os deveria
conduzir até outra armadilha, da quaí nao sairiam.
14
Nào contenías, os portugueses seguiram bombardean
do, incendiando c dcstmíndo a povoaçào sem muros e sem
defesa. Enguanto fugiam, os mouros atiravafii suas setas,
mas sem força. Desorientados, arremessavam paus e pedias
gue encontravam pelo caminho e procuravam refugiar-se no
continente, abandonando na üha tudo o que tinham. Uns
íam em barcos lotados, outi os a nado, porém os sucessivos
tiros de bombarda arrombavam us fràgeis embarcaçôes* e as-
sim os portugueses casrigavam a vilania e perfidia dos ini-
mígos.
A batal ha de Aljubarrota
O inicio de tudo
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J a n o porto de Lisboa, onde o Rio Tejo mistura suas
are] as e aguas com as do océano, estavam a pq^ps as naus,
esperando pelos homens- cheios de entusiasmó 'Juvenil, dis-:
postos a seguir Vasco da Gama a qualquer parte do mundo.
Os soldados vinham pelas praías, vestidos com uniformes de
varias cores, Os ventos calmos ondulavam os estandartes das
cara velas, E, estando prontos para a viagerrp os marinheiros
preparaxani a alma para a morte* implorando "ao Sumo Po
der que os protegesse e guiasse.
— E assím — ccntijuiou Vasco da Gama ^ partim os do
sagrado templo de Belém, na Praia do ResteloLQuando me
letnbro, ó reí, daquele dia, lenho vontade de chorar.
O velho do Restelo -
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nao iém esses mouros ddades mil e térra infínda? Pois voces
defxam o inimigo crcscer as portas de seu reino para irern em
busca de ouíro inimigo, táo distante. Procuram o perigo des-
conhecido para serem exaltados pela fama, para serení cha
mados scnhores da India, da Pérsia, da Arabia e da Etiopia,
Maldito seja o primeiro homcm do mundo que p5s velas cm
lenho seco, e construí u o primeiro barco. Ele é digno do eter
no castigo do Inferno,
E enquanto o velho vociferava cssas sentengas, os argo
nautas abriram as vela^ao vento trampillo e partiram do
porto amado
üesem bare ara m pouco depois mima vasta baia, por on
de os portugueses se espalharam, desejosos de coniiecer
aquela terra que até entào nenbum outro povo cristao pisara,
4Q
I- .
Na praia, Vasco da Gama e seus pilotos se reuniram em tor
no do astrotábio, para medir a altura do sol e marca la em
seu mapa, determinando a posiçào em que se encoutravam.
Veríficaram que ja h&viam ultrapassado o Trópico de Capri
cornio.
Nisso, o capkao viu aproximar se um homem de pe]e
negra, capturado à força pelos portugueses quando colhia
favos de mel. Fíe eslava apavorado, núo entendía os portu
gueses e nem estes a ele.
Para comunicar se jom o nativo* tentando fazedo en
tender o que os portugueses procuravam* Vasco da Gama
mostroudhe unía pequeña quantidade de ouro, prata e espe
ciarlas, [Vías o liomcm nao esboçou nenhuma reaçao. Trou-
xeram à sua presença peças de escasso valor: contas de vidro,
pequeños e sonoros guizos c um barrete vermelho. Àtravés
de gestos, de demonstran que tudo aquilo o agradava muilo.
Vasco da Gama o presemeou com esses objetos e mandón
que o soLtassem.
No outro dia, scus com pan he iros, todos nus e escuros,
dcsceram pelos morros escarpados, para buscar peças íguais
as que o outro levara. Eram táo pacíficos que o forte c arro
gante Fernào Vcloso tomou a decisao precipitada de acom-
panhá-los mato adentro a Fim de cordiecer a sua aldeia.
Passado um bom tempo, o$ portugueses começuram a
fícar inquietos, pois o marinheiro náo da va siria J de vicia. Já
discutiam o que fazer, quando ele aparecen correntio morro
abaixo, ern direçâo à praia, perseguido por um grupo de ho
rneas ferozes*
O batel de Nicolau Codho seguiu depressa para buseá-
lo. Mas antes que chegasse, varios nativos atiraram-se sobre
Vcloso. O marujo viu-se em apuros, sem ninguem por ali que
o pudesse socorrer. Os portugueses que foram salvar o com-
panheiro, ao ebegarem a terra, logo se viram asacados por
setas e pedradas, Mesmo feridos, porém* deraro o troco, e
com tal intensidade de fogo que o sangue dos nativos mos-
trou-se mais vermdho que os bárreles que haviam ganho,
Tendo resbalado Veloso, voltaram para a armada, co
mentando a malicia e a ferocidade daquela gente bruta c
malvada, da qual nao puderam obier netihuma noticia sobre
a desejada India.
Um dos marujos perguntou a Vcloso* zombando de sua
valentía:
— Ola, Velóse amigo* aquele outeiro £ mdhor de descer
que de subir, hein?
— Vocc brinca — responder! o ousado aventuraría —
Mas quando vi tantos daqudes selvagens vindo para cá, a-
pressei-me um pouco por lembrar que voces estavam aqui
sem a ni inha ajuda.
As risadas eeoarain pelo tombadilbo.
O gigante Adamastor
O rei de Melinde, vivamente impresionado, seguía com
grande atengáo o relato de Vasco da Gama.
— Cinco dias depois de deixannos aquela térra, seguía
mos com ventos favoráveis por mares descooheddos quan
do, numa noite, suFgíu urna nuvem que tomou coma do ccu.
Era urna nuvem táo carregada e amcaladora qucenchcu nos
sos coraqdes de medo. Entáo, de repente, surgiu no ar urna
figura robusta, com o rosto zangado, cor de ierra, Tinha
urna barba enorme* olhos encovados, cábelos desgrenhados
e eheios de térra, a boca negra, os dentes amarelos, Era tao
grande que* ao védo, comparei-o ao Colosso de Rodes —
urna das sete maraviíhas do mundo amigo, Num tom de voz
que parecía sair do mar profundo* arrepiando a todos nos,
ele nos falou:
42
Ó geme ousada, mais que todas as que no mundo
realizaran grandes facanhas, gente que nunca repousa de
tantos trabalhos e tantas guerras, e que ousa navegar mcus
longos mares, jamais saleados por navios desta ou de outras
partes. VocSs* que vém desvendar os segredos co oceano,
otlíam agora de mirn os casLigos que os aguardam. Saibam
que quanta* naus se atreverem a fazer esta viagem que agora
real iza m terso esta paragem como ini miga, enfrentando
grandes ventos e tormentas,”
E o gigante passou te fazer previs Oes sobre as terríveis
desgranas que os portugueses solreriam naq líela regiáo. Dis
se* entre outras coisas* que aplicarla um grande castigo eni
seu descubridor, Bartolomeu Días, quando de por ali pas
sasse outra vez, e que a morte seria o menor mal para quem
ousasse se aproximar dele.
— Mas quem é voceTafina!? ” - perguntd,
No reino de Netuna
Os Doze da Inglaterra
52
no corre sem o cávalo. Os ingleses perdcm sua soberba, por
que dois deles já c&táo fura do campo. E os que caíram da
montaría, ao íernarcm lutat com as espadas, encontram mul
to mais do que a simples armadura dos adversários. Kesu-
mindo: ao final, a palma da vitória fícou com os portugueses
e as damas foram assim gloriosamente desagravadas,
O duque recebeu os doze vencedores em seu palacio,
com festas e alegría. E as formosas damas nao se cansaram
de oferecer banquetes sos bravos lusitanos ate seu regresso a
Portugal.
*
Pizem, porcm, que o Magrigo, semprc desejoso de co-
nhecer outras térras, nao voltou, permanecendo ern Flan
dres, once prestou um grande servigo a unía condensa e ma
tón um cavaleiro francés em duelo, Outro dos áoze cavaleí-
ros foi para a Alemanha, onde teve um duro duelo com um
alemáo que tentara matado a traigao.
Nessa altura da narrativa, os marojos pediram a Veloso
que voltasse á historia do Magrigo, para depois contar a do
cavaleiro na Aíemanha. Veloso coneordou, mas nao teve
tempo de aren dé-los: foi interrompido pelo apiro do contra-
mestre, que ja estava há algum tempo a examinar o céu*
U
amada gente corría, a deusa foi tomada ao mesmo tempo pe
lo medo e pela ira,
— Por corto estas sao obras de Baco — disse ela. —
Másele náo conseguirá atingir seu objetivo, porque sempreo
impedírd. — b deseen ao mar com as ninfas pelas quais os
ventos rvutriam grande paíxáo. Ola pretendía, desie modo,
acalmâ-los. Assim foi: à visào das formosas ninfas os ventos
perderam a força e passaram a obedeeÉ-las, vencidos. Nao
demorou milito, todos se entregaram à linda Vénus, que pro
meten favorécelos em sens amores, recebando em troca a
promessa de que cíes Ihe serian* leáis durante a viagem dos
portugueses.
56
io s o mcnsageiro airaiu a aten eo de todos pela cor de sua
pele, as fd?5es estranhas e as roupas diferentes, c logo foi
cercado por urna multidSo*
No entanto, entre aquela geme havia alguém que já co-
nheciaos lusitanos: era um mufulmano, nascido no Norte da
Africa. Para surpresa de Joüo Manins, ele lhe perguntou em
castellano:
— O que os trouxe a este lugar, tao longe da sua patria?
— Viemos pelo fijar profundo, por onde nunca nin-
guém passara, para aqui espaJhannos a fé de Cristo — res
ponder] o mcnsageiro.
Espantado com a proeza, o mouro* que se chamava
Moneaide, inldrmou que o reí, intitulada samorim, eslava
fora da ddade, mas nao muito distante. E sugeriu que, em
quanlo a noLícia da chegada dos portugueses nao chegasse ao
rciT Joáo iMartins ñcasse em sua casa, onde pedería provar
as comidas da regido. Depois, disse, quería ir com ele até a
frota, pois eslava muito contente em encontrar gente vizinba
em tao longincua térra.
Martins accitou de boa vontade a oferta de Mongaide.
Após comer c beber* como se fossem velhos amigos, os dois
seguiram para os navios.
Subiram á ñau capitanía, na qual Moncaide foi muito
hem recebido, Vasco da Gama abra? ou-o, satisfeito, a o ou-
vi-to falar a lingua castefhana. Sentou-se ao seu lado e pediu
lhe que falasse daquele lugar.
Monqaíde corne^ou por demonstrar sua adm irado pe,
longa viagem dos portugueses e dísse que certameme Deufi oe
guiara até ali e os protegerá de tantos perigos por algum mo
tivo misterioso. Entáo, passou a falar sobre a India, onde v¡
víam diversos povos* ricos e prósperos.
— Nesía regiao exislem hoje — disse — varios reís, mas
antes havia um só govemante. O último que manteve este
5;
reino unido foi Sarama Perimal, ate que aqui chegaram ou
tros pov os, seguidores do culto maometano, no qual lam
ben eu fui educado por meus país. Pregaran con tal do-
qiiénda $ua fe, que Perimal se coiivcrteu e resolveu morrer
como santo, em Meca, aterra do profeta Maomé. Antes de
ir etríbora, repartiu entre os scus o poderoso reino, premian
do aqueles que mais o haviam servido e contentado < A um
rapaz de quem gostava multo deu a ciclado de Calieute, ja
en nao rica pelo comercio. Feito isto, partiu. Apesar da divi-
sáo, o samorim é o governantc maís poderoso da India,
Após urna breve pausa, o nouro continuou:
— Aquí h¿ duas castas de gente: a dos nobres, os naires,
e a dos menos dignos, os poleas, A religiao nao permite que
cíes se misturen. Entre os poleas, só sao permitidos casa-
memos de pessoas que tenham o mesmo oficio, e os fllhos so
podem ejercer a mesma profissao dos pais. Para os naíres, b
uin grande pecado serem tocados pelos poleas: quando isto
por acaso acontece, eles se Jimpam c purifican em grandes
cerimónias. S6 os naires podem exercer o oficio das armas.
Seus sacerdotes tem o nomc de brámanes; eles observam os
preceptos do sabio que inventou a palavra Filosofía. Nílo ma-
lain nem mesmo um inseto e abstem-se de carne. Somente
ñas rela^oes sexuais sao maís livres e menos comidos. As mu-
lhercs sao corrí unsa mas somente para os da rapa do marido.
O gente feliz, que nao sol re de ciúmeí
No palacio do sarnor/m
58
Gama. Scm demora, o comandante luso emharcou com ai-
guns bomens para o porto,
Em ierra, um catuai, como eram chamados os ministros
do reino, rodeado de naires, aguardava o capítáo portugués.
Ao velo, o catuai abragou-o e oftsreceu-lhe urna liteiia, para
que seguisse carregado nos ombrns de homens, de acordo
com o costume local. Coni o catuai também em um palare
quim, foram para onde os aguardava o samorim. Os outros
portugueses iam a pé. ü povof alvoro^ado, aglomerava-se
para observar aquel a gente tao diferente,
Atraindo cada vez mais gente á sua passagem, o cortejo
deteve-se diame de um tempio grandioso, no qual entraram
os portugueses e a comitiva do catuai.
Depararam-se, aüTcom imagens de divindadcs esculpi
das em madeira c pedra. Urna tínha di ifres, outra, duas ca-
beyas; urna possuía mudos bracos, outra, unía cabera de
cào. Os cj istmos, acostumados a ver Deus representado ein
forma humana, ficaram boquíabertos. Os indianos fizeram,
entilo, urna cerimonia religiosa. Depois, todos seguiram para
o palacio.
Nos portáis da moradía real viam-se entalhes que retra-
tavam a historia da india, desde a mais remota antiguídade.
Entre cías, havia urna que representava o exército de Tíaco,
que tantas Vitorias alcangou no Oriente, A comitiva atraves-
sou muitas salas luxuosas, antes de entramo safSo ondeesta-
va o monarca indiano. Ao seu lado estava um velho ajoelha-
do, que de quando em quando lhe servia urna foiba de betel,
que ele mascava, segundo costume da terra. Um bramane di'
rigiu-se em passos lentos até Vasco da Gama c fez-lhe sinal
para que se sèntasse diante do samorim.
Com urna voz respeitosa e respeitávd, o capitán disse:
— Um grande reí, là das térras onde è noíte quando
aqui é dia, tendo noticia do seu poder em toda a India, quer
estabelecer vínculos de amizade com Vossa Majestadc. Ele
envíou- me para comunícar-lhe que possuí em sen reino mul
tas riquezas, e que, se Vossa Majestade consentir no cornea
ció entre a<¿ duss na^óes, isso írará multo proveilo para um e
gloria para o entro, Caso isso acóntela, meu rei estará pron
to a ajudá-lo ñas guerras com soldados, armas e navios,
O samorim respondeu que muito se honrava cm receber
esta proposta, mas que so darla sus resposta após urna reu
nido com o Conselbo de Estado, Até iá Vasco da Gañía po
derla descansar da trabalhosa viagem.
Vasco da Gama e os outros portugueses ficaram hospe
dados no palacio do catual, que recebera do samorim a mís-
sáo de informar-se melhor sobre os estrangeiros. Assim que
o día ralou, eJe mandón chamar Moncaidc. Pediu-lhe que
eontasse tudo o que sabia sobre os portugueses*
— Sei que e gente lá da Iberia, urna península próxima á
minha térra, £les seguem a rdigiáo de um profeta, nascido
no ventre de urna virgetn e gerado por um espirito divino*
Sao bravos na guerra; expulsaran!-nos dos feriéis campos
dos ríos Tejo e Guadiana em batalhas memoráveís, Nao con
tentes, cortando os mares tempestuosos, nao nos dcixaram
tranquilos ñas térras africanas, tomando-nos dríades e forta
lezas, O mesmo valor eles tcm demonstrado cm nutras guer
ras com os beligerantes povos da Espanha. Poucas vezes fo-
ram batidos por armas irdmigas, Mas se aínda ríeseja saber
rnais, é melhor que se informe através deles próprios, pois
sao gente verdadera, a quem a falsidade ofende inais que tu-
do* E deceno o senhor gestará de ver de perto suas naves e
armas poderosas.
O catual acatou a sugestáo com muito prazer, pois era
grande o desejo de examinar os navios* Mandou equipar ba
léis e partiu com Mon^aide e inúmeros naires em directo ás
car avelas portuguesas.
Na nau capitáma, foram recebidos por Paulo da Gama
e Nicolao Coelho.
Él
Havia no navio bandeiras de seda que traziam pintadas
as façanhas guerreivas dos portugueses. As pinturas atraírám
a atençâo dos naires e do cantal >que perguntou a Paulo da
Gama o que significa vatru Diante desse intéressé* o irmSo do
comandante pa.ssou a narrar aos visitâmes um pouco da his
toria portuguesa, chamando a atençâo para as cenas mais
importantes. Começou peta que retralava o glorioso Luso,
que deu nome à terra e à gente portuguesa, e terminou na
que trazia flagrantes das batalhas tra vacias pelos lusitanos
contra os monros, no Norte da África.
O camal examinent atentamente as bandeiras, e ali fica
ria mais tempo se o sol j à nâo ti ves se cornea acto a esconder-se
no horizon te, obrigando os indianos a deUar a poderosa na
ve, em busca do repuuso da noire.
O falso profeta
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Ü sacerdote acordou sobressallado. Ao perceber que se
tratara apenas de uní sonho* voltou a dormir* tranquilo. Po
roto Baco voltou a falár-lhe, aínda disfamado em Maomé:
— Nao me rcconhece? Fui eo quem dei aos seus ante-
passados os preceitos da sua religiáo. Saiba que os navegan
tes recém-chegados causarán muitos danos a Calicute e a seu
comercio com Meca. É preciso resistir aos piratas invasores,
enguanto c tempo, Kembre-se: quando o sol nasce, podemos
olítar para ele, mas depois que sobe no ccu fica tao brílhante
que cega quem se atreve a fitá-lo. Da mesma forma, voces se-
rao cegados se nao impbdirem que esses invasores criem raí
ces aquí. -
Dito istoa Baco desapareceu c o sacerdote voltou a des
pertar, atónito e trémulo, Saltou da cama e comecou a medi
tar sobre as palavras do deus invejoso, que envenenavam seu
espirito.
Quando amanheceu» o sacerdote convocou urna reuniao
com os principáis sacerdotes musulmán os, aos quais contou
seu sonho. Houve uma grande discus&áo, em que cada um
sugeriu as mais astutas traiyóes e perfidias contra os portu
gueses. Por fím, decidiram comprar os gobernantes de Cali-
cute, para jogá-los contra os portugueses. Assim, com jólas c
ouro ganharam a simpatía dos ministros, e os convence]am
de que os visitantes eram invasores perigosos.
Influenciado pelos seus consdheiros e assustaclo com o
que os adivinhos Ibe disseram., o samorim passou a hesitar
em dar urna res posta aos portugueses.
B ceito que o comandante lusitano sabia que, no rno
mentó cm que recefcesse urna prova segura da existencia do
mundo que acabara de descubrir, D. Manuel :iao cumpriria
o acorde com o rd de Malabar e enviaria muitos navios de
guerra para conquistado. A Vasco da Gama, porém, so inte
ressava o succsso de sua ínissño; as implicares políticas da
descoberta do caminho marítimo para a india nao eram de
sua aleada. Por isso, ao sci avisado por Moneaide das intri
gai dos mouros e das dùvidas do regedor, sua impaciencia
au mentou; o perigo de sua missao fracassar era grande.
A hora da verdade
A traifáo do
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O exército de Cupido
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A m á q u in a do mundo