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Resumo
Abstract
This paper is a result of a bibliographic research about the possibility of the occurrence of feminine
homosexualism in the hysterics system based in psychoanalysis´ principles pointed in lacan´s theory.
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Graduada em Administração de Empresas pela SOCIGRAN – Dourados/MS; graduada em Psicologia pela
UNIGRAN – Dourados/MS; atualmente em programa de Pós-graduação em Metodologia do Ensino Superior
pela UNIGRAN-MS. Telefone para contato: 67 3422-3436 / 67 9971-8113; Endereço eletrônico:
luciana@skoldourados.com.br; lucianamariano_psic@hotmail.com.
problema a mais que o menino na passagem (opção), e por outro, com o termo
pelo Édipo, pois em ambos os casos a mãe é identificação, a intervenção do significante.
o objeto original. Isso quer dizer que a De forma bastante resumida a sexuação
primeira relação de prazer de uma menina é depende de uma lógica em três tempos: da
homossexual. diferença anatômica que é assinalada no
Inicialmente o clitóris na menina é momento do nascimento, mas que será
capaz de exercer a função de pênis, porém, definida realmente a posteriori; do discurso
quando ela efetua uma comparação com sexual onde o que vale é o discurso do
outra criança de sexo oposto, percebe que Outro, ou seja, é o médico, o pai, ou a
foi injustiçada e sente-se inferior. Por algum enfermeira que irão definir através da sua
tempo a criança acredita que quando for palavra “se” será menino ou menina; da
mais velha poderá ter um pênis. Porém, é escolha do sexo ou da sexuação
importante salientar que a criança não propriamente dita. (LACAN, 1972-73
entende a falta do pênis como sendo uma [1995]).
diferença de caráter sexual, explica-a Com certeza, essas últimas
presumindo que, em alguma época anterior, formulações são aproximadas, mas elas dão
já tivera um órgão como aquele e o perdera. a idéia da maneira, que não é única, ou do
O mais interessante é que ela parece modo de gozar com relação a essa função.
não estender essa inferência de si própria Sabe-se que Freud resolvia a aporia pela
para outras mulheres adultas e sim encará- inversão temporal, no desenvolvimento dos
las como possuindo grandes e completos dois complexos de castração e de Édipo. Por
órgãos genitais, isto é, todas as Outras que Lacan recorre a uma escritura lógica?
devem ter um pênis. Porque sua definição do real do sexo é o
Porém, já sabemos que a realidade do impossível de escrever a relação sexual. Ele
sexo está para além do real anatômico do supõe, então, que as lógicas existentes
sexo. Segundo Morel em seu artigo testemunham uma formalização do
“Anatomia Analítica” (2004), o percurso impossível, que inventa uma escritura da
que vai do complexo de Édipo ao complexo não-relação sexual, haja vista a
de castração, para o menino, e o inverso impossibilidade de dois seres diferentes
para a menina, a anatomia permanece fazerem “um”. (LACAN, 1972-73 [1995], p.
essencial, embora ela não seja fator de 17)
definição. De início, para aquele que tem Lacan (LACAN, 1975-76 [1995], p.
um pênis, a percepção de sua ausência na 20) afirma que um homem, para uma
menina dará seu peso de real à ameaça de mulher, é uma devastação8 – mesmo termo
castração do adulto; para aquela que não que utiliza para caracterizar a relação da
tem pênis, é diante de sua visão que ela mãe com sua filha. Em relatos de casos de
sucumbirá ao Penisneid5. Sem contar a homossexualidade feminina, se reconhecem
importância decisiva da anatomia materna, mães que, por estrutura de personalidade,
de uma parte, para a estrutura – neurótica, acentuam sua posição devastadora, que é
perversa ou psicótica6 – de outra parte, para aquela de ser o primeiro objeto de demanda
o processo de diferenciação sexual. É de uma criança. Como essa demanda, é
necessário frisar que Lacan aborda o sexo impossível de ser plenamente satisfeita, essa
pelo viés do gozo e da linguagem, e não em mãe devastadora ao extremo, inconformada
termos de desenvolvimento. (MOREL, em ver seu filho falo se desprender apelará
2004). para o seguinte discurso: “é assim que eu
Jacques Lacan radicalizou a tensão quero que você seja para que eu te ame”.
entre a diferença dita natural dos sexos e Isso quer dizer que na maioria dos
suas conseqüências no sujeito. A isso, anos casos de homossexualidade feminina
70, ele chamou de sexuação7, para marcar, expostos, se observa figuras maternas
por um lado, uma escolha do sujeito marcadas pela tirania9. Como conseqüência
Dora
Pai
Permanece o Outro
por excelência
Ilustração 1: Esquema L
prevalece a escolha de um papel a ser ______. Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de
exercido. Segundo Freud, sob o império do Janeiro: Imago, 1976. 18 v.
falo somos todos iguais, ou seja, menina ou ______. Algumas conseqüências psíquicas da
menino, homem ou mulher, macho ou distinção anatômica entre os sexos. (1923). In:
fêmea; tais categorias não existem até a ______. Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de
superação da fase fálica. Existem os que têm Janeiro: Imago, 1976. 19 v.
o falo e os que não o têm.
______. A organização genital infantil. (1923). In:
No entanto, a percepção, no seu amplo ______. Obras Completas de Sigmund Freud.
sentido, da diferença entre os sexos, é uma Volume XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1976. 19 v.
aquisição tardia que não obedece a um
período cronológico, mas antes um período ______. A dissolução do complexo de Édipo.
lógico, acontecendo de maneira muito (1924). In: ______. Obras Completas de Sigmund
Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. 19 v.
imperfeita em alguns casos, e nunca de
forma completa na mulher. Em especial na ______. Feminilidade. (1933). In: ______. Obras
mulher histérica que, por estar muito presa a Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago,
uma lógica fálica totalizadora – ou se tem o 1976. 22 v.
falo ou se é castrada, – permanece em uma
KAUFMANN, Pierre. Dicionário enciclopédico de
vacilação que é inerente à sua estrutura. Na psicanálise: o legado de Freud e Lacan. Rio de
falta de um significante que a represente a Janeiro: Zahar, 1996.
questão da mulher histérica é: “Sou homem
ou sou mulher?”. LACAN, J. O seminário livro 4: A relação de
Quanto à questão inicial que resultou objeto (1956/57). Rio de Janeiro: Zahar, 1995.
neste estudo – “A histérica e a Outra: ______. O seminário 20: Mais, ainda. (1972-73).
homossexualismo?” – a conclusão a que se Rio de Janeiro: Zahar, 1995.
chegou é de que essa não é uma relação
homossexual, haja vista que, segundo a ______. O seminário livro 23: O sinthoma.
bibliografia pesquisada, diante da (1975/76). Rio de Janeiro: Zahar, 1995.
impossibilidade de responder à questão “o ______. Diretrizes para um congresso sobre a
que é uma mulher?”, a histérica acaba sexualidade feminina. (1951). In: ______. Escritos.
fazendo desvios de identificação, na Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
tentativa de chegar a uma resposta. Na
histeria o ponto principal da relação com o MOREL, G. Anatomia Analítica (2004). Disponível
em: <http://www.
Outro, é um “fazer-se desejar”, mesmo que bccclub.com.br/artigosteses/anatomiaanalitica.htm>.
eventualmente, para isso, ela percorra
caminhos homossexuais em busca de NASIO, J. D. A Histeria: teoria e clínica
responder sua questão. psicanalítica. Rio de Janeiro: Zahar, 1991.
Psicologia pela PUC-SP, pós-doutora na PUC-RJ. exemplo disso é Medeia, a mulher que mata os filhos
Psicanalista, membro da Escola de Psicanálise do em função do amor de um homem.
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Campo Lacaniano (AME), membro do colegiado de Tirania no sentido de domínio.
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Formações Clínica do Campo Lacaniano (RJ), Primeiro grande tratamento psicanalítico realizado
coordenadora da Rede de Pesquisa sobre psicanálise por Freud, anterior ao do Homem dos Ratos e do
com crianças, editora chefe da Revista Marraio e Homem dos Lobos. A história de Dora foi redigida
orientadora desse trabalho de pesquisa. Seminário: em dezembro de 1900 e janeiro de 1901 e publicada
“Rascunho K”, 16/04/2005. quatro anos depois. (ROUDINESCO, 1998, p. 50).
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O Outro, grafado em maiúscula, foi adotado para Esse esquema mostra que nas neuroses o sujeito só
mostrar que a relação entre o sujeito e o grande Outro tem acesso ao Outro através do seu pequeno outro, ao
é diferente da relação com o outro recíproco e contrário da psicose em que o Outro fala diretamente
simétrico ao eu imaginário. O outro é o grande Outro ao sujeito através das vozes, por exemplo.
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da linguagem, é o outro do discurso universal, de Informações e conceitos obtidos através de
tudo o que foi dito, na medida em que é pensável. É seminários de Psicanálise, promovidos pelo Agora
também o Outro da verdade, esse Outro que é um Instituto Lacaniano, com sede em Campo Grande-
terceiro em relação a todo diálogo, porque no diálogo MS, nos anos de 2005 e 2006. Os seminários são
de um com outro sempre está o que funciona como ministrados por Maria Anita Carneiro Ribeiro.
referência tanto do acordo quanto do desacordo, o Seminário: “No início... a Histeria”, 03/06/2006.
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Outro do pacto quanto o Outro da controvérsia. Na psicanálise encontramos uma diferenciação
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Quando se diz feminino está-se referindo à questão entre prazer e gozo. De uma forma bastante simplista
de gênero, pois neste trabalho de pesquisa não será pode-se dizer que o prazer está ligado às repetições
abordado a questão do homossexualismo masculino. de experiências primeiras de satisfação que ocorrem
Além do que, é imprescindível distinguir na infância. Segundo Lacan no Seminário Livro 20:
feminilidade de histeria. Na histeria há a necessidade Mais, Ainda (1972-73[1975]) o gozo está para além
de tamponar a falta com objetos fálicos. Já a mulher é do princípio do prazer e sempre indica processos de
aquela que trai todos os objetos que visam encobrir a transgressão de limites, que tocam o sofrimento e a
falta em prol do abismo, do absoluto, pois seu morte: “O caminho em direção à morte não é outra
objetivo é aniquilar a falta e não tamponá-la. coisa que aquilo que chamamos de gozo”.
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Freud denominou complexo de castração o Outro gozo ou gozo do Outro corresponderia a um
sentimento inconsciente de ameaça experimentado estado hipotético em que a tensão seria totalmente
pela criança quando ela constata a diferença descarregada, ou seja, não haveria qualquer limite. O
anatômica entre os sexos. O complexo de castração gozo feminino é caracteristicamente sem limite, uma
deve também “ser referido à ordem cultural”, com o vez que a ‘mulher’ está algo fora do simbólico, não
que isso implica em termos da proibição e da lei toda submetida à castração.
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constitutiva da ordem humana. (ROUDINESCO, Informações e conceitos obtidos através de
1998, p. 105-106). seminário de Psicanálise, promovidos pelo Agora
5
Inveja do pênis Instituto Lacaniano, com sede em Campo Grande-
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De maneira bastante resumida a Neurose tem como MS, no 1º semestre do ano de 2006, tendo como tema
mecanismo o sintoma e tem como base a angústia da “Homossexualismo”. O seminário foi ministrado na
castração, sendo que esta permanece recalcada; Na cidade de Dourados por Andréa Carla D. Brunetto.
Psicose o mecanismo é a recusa à castração, ou Seminário: “Homossexualismo”, 03/06/2006.
foraclusão para Lacan; Na Perversão o mecanismo é
o fetiche e tem como base o horror da castração que é
desmentida pelo perverso.
7
“Sexuação” é o termo criado por Lacan para
assinalar essa complexa trama a partir da qual o
sujeito opta por uma identificação sexuada. Nessa
escolha entram em jogo, tanto as vertentes imaginária
e simbólica das identificações, como o real do gozo.
Precisamente, a partir de sua teoria dos gozos, Lacan
fará a distinção do gozo fálico e do Outro gozo para
assinalar dois lados da sexuação.
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O uso do termo “devastação”, em Lacan, deve ser
entendido no sentido forte do termo, como sendo a
destruição de um lugar, destruição do lugar onde um
sujeito pode fazer seu desejo como único, sua marca
pessoal. Isso ocorre quando a mulher está totalmente
presa ao gozo Outro, desprendida do gozo fálico. Um