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Resumo:
Este trabalho tem por objetivo identificar e analisar a percepção de formadores sobre as
motivações e limitações que os professores de Ciências têm para frequentar as ações de
formação continuada e sobre os aspectos que influenciaram suas motivações ou preferências na
escolha das ações de formação continuada. A abordagem de pesquisa utilizada é qualitativa
utilizando-se a análise de conteúdo para a análise dos dados. Utilizaram-se questionários e
entrevistas com sete formadores de professores. Embora houvessem professores motivados em
participar das atividades formativas, muitos se apresentavam desmotivados por serem
obrigados a frequentar a formação tendo limitações e dificuldades diversas.
Palavras chave: Formação Continuada, Professores de Ciências, Formadores de Professores,
Motivações e limitações.
INTRODUÇÃO
Muitas são as dificuldades enfrentadas pelos professores na docência frente à
disciplina escolar Ciências e frente aos processos formativos na formação permanente.
Adotamos aqui a terminologia utilizada por Imbernón (2009) e Demo (2006), por que
entendemos a formação como um processo que permanece; contínuo; ininterrupto; constante
e duradouro.
Ao analisar alguns dos problemas constatados no ensino de Ciências no Brasil
(MARINHO; SIMÕES, 1993), a partir de uma perspectiva histórica, utilizam uma abordagem
que serve de base para a sugestão de algumas estratégias que podem contribuir para a sua
melhoria. Há mais de dez anos que este artigo foi publicado, parece que os principais
problemas elencados são recorrentes nos dias atuais. São eles: resistência dos professores às
mudanças; grande influência do livro didático sobre o professor e em seu trabalho docente;
pobreza quantitativa e qualitativa no ensino experimental; a questão vocacional e a
inadequação da formação do professor, também apontada por Carvalho (1991); Megid Neto;
Outro problema diz respeito ao fato de perceber-se muitas vezes que ideias do senso-
comum em relação ao ato de ensinar e aprender perpetua-se fortemente no exercício da
docência entre professores e para que mudanças venham a acontecer, depende, sobretudo, da
formação teórico-epistemológica desses sujeitos. “É justamente esta formação que permite ao
professor refletir criticamente e perceber relações mais complexas da prática” (FIORENTINI;
SOUZA JR.; MELO, 2008).
Então, algumas questões constituem o foco desse trabalho: Qual a percepção que
formadores de professores de Ciências têm sobre as motivações e limitações desses
professores para frequentar atividades de formação continuada ou permanente? Como os
formadores reagem a tal situação? Quais os aspectos que influenciaram as
motivações/preferências dos formadores na escolha das ações de Formação Continuada?
Esse trabalho trata-se de um recorte da dissertação de mestrado do primeiro autor, e
tem como objetivo identificar e analisar a percepção e reação de formadores sobre as
motivações e limitações que os professores de Ciências têm para frequentar as ações de
formação continuada (FC) e sobre os aspectos que influenciaram as suas
motivações/preferências na escolha das ações de Formação Continuada para serem
trabalhadas com os professores de Ciências Naturais.
METODOLOGIA
A abordagem de pesquisa utilizada é qualitativa utilizando-se a análise de conteúdo
para a análise dos dados (BARDIN, 2008).
A pesquisa foi realizada com sete formadores de professores de Ciências atuando junto
a Secretaria Municipal de Educação – João Pessoa-PB, (SEDEC), vinculados ao Programa
Municipal de Formação Continuada (PMFC) de professores de Ciências Naturais (CN). Os
sujeitos foram identificados por números (F1, F2, F3, F4, F5, F6, F7) de modo a garantir o
anonimato e a privacidade dos sujeitos. A coleta dos dados ocorreu através de questionário e
entrevistas, onde sete formadores responderam aos questionários e, desses, apenas seis foram
entrevistados.
Os dados dos questionários e entrevistas foram tabulados e transcritos,
respectivamente, e submetidos à análise de conteúdo (BARDIN, 2008) tomando como
orientação a organização das unidades de registro para a análise temática com a constituição
de um banco de dados para submetê-lo a um processamento através do software MODALISA
6,0, de forma a auxiliar no tratamento dos dados e agilizar o processamento das informações.
Os resultados são apresentados e analisados por questões.
RESULTADOS
Motivações dos professores em participar da FC na visão dos formadores
Quando os formadores foram questionados sobre a ideia que têm em relação às
principais motivações que levam os professores de CN a frequentar atividades de FC, todos
colocaram a busca por conhecimentos e a vontade de capacitar-se cada vez mais. Mas o (F4)
fez um ressalva afirmando que muitos vão por obrigação.
De acordo com a opinião dos formadores, os seguintes temas/conteúdos são os mais
motivadores para os professores: meio ambiente, sexualidade, drogas, prostituição, doenças
sexualmente transmissíveis. E os temas/conteúdos menos motivadores são: violência, saúde
humana, os conteúdos de física e química, e temas que são bastante abstratos.
“É, porque eu vejo assim, [...] de um modo geral [...] todos nós queremos
ampliar os conhecimentos e eu ainda acredito, né, que isso é que motiva, né,
no fundo, no fundo motiva todos os professores [...] um reajuste salarial,
[...] uma diminuição da carga horária, pode ser um momento de, sei lá, de
vivenciar outro ambiente, sair daquele ambiente pesado que está, que de
repente pra ele pode ser um ambiente pesado daquele dia-a-dia, daquela
rotina e fazer uma aula diferente (SUJEITO F2)”.
“A priori nenhuma motivação, eu vejo que eles são obrigados a ir, mas
como eu falei anteriormente tem uns que vão espontaneamente porque quer
aprender mais, nesses eu vejo motivação, mais no total, assim porque na
verdade são os mesmos professores todos os anos [fazendo referência aos
professores que tem participado da formação continuada] (SUJEITO F4)”.
“falavam [...] que estavam ali pra aprender, dialogar, pra debater, pra
levar novas, trocar novas ideias, inclusive tinha alguns professores que
eram contrários. [...] buscar soluções pra resolver aquela situação
(SUJEITO F5)”.
De acordo com o discurso dos formadores, constatam-se motivações que vão desde a
vontade de aprender mais e ampliar os conhecimentos ao sentimento de amor e de identidade
com o ato de ensinar, passando pela necessidade de dialogar e trocar ideias com os colegas e
com os formadores. Tem alguns professores que vão a FC buscar formas de como aplicar o
conteúdo de ensino e também tem muitos que são desmotivados e que vão a FC porque são
obrigados.
LIMITAÇÕES E DIFICULDADES
Se exprimir seja oralmente seja por escrita
Se atualizar em temas atuais na área lecionada
Grande diversidade entre os alunos – heterogeneidade das turmas
Falta de conhecimentos básicos de disciplinas e até na hora de escrever
Falta de aprofundamento teórico na própria área e em áreas interligadas
Com relação à alimentação o formador que citou disse que “não existiu incentivo na
alimentação para que [os professores] ficassem em dois turnos”. Esse mesmo ainda citou a
dificuldade dos professores no deslocamento para a formação continuada alegando a falta do
vale transporte.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados analisados podemos concluir que:
Como limitações e dificuldades sentidas pelos professores de ciências em participar da
FC, os formadores citaram que eles enfrentavam dificuldades em se exprimir tanto oralmente
quanto por escrita; em se atualizar em temas atuais na área lecionada; enfrentam grande
diversidade entre os alunos – heterogeneidade das turmas; apresentam um déficit de
conhecimentos básicos; falta de aprofundamento teórico na própria área e em áreas
interligadas; falta de tempo para frequentar a formação continuada; desânimo e baixa
autoestima; desmotivação; falta de compromisso de alguns com a profissão e com a educação;
conformação com a situação posta; dificuldade em acreditar que vale a pena frequentar a
formação continuada; carga horária grande em sala de aula; falta de apoio na alimentação para
que os professores permanecessem na FC em dois turnos e dificuldade no deslocamento para
a formação continuada.
De modo a reagir às limitações e dificuldades dos professores em participar da
formação continuada os formadores selecionam as atividades de formação pautados em
algumas motivações ou preferências, como: trabalham com temas relacionados à área de
formação acadêmica dos mesmos, usam métodos e recursos variados, a exemplo de oficinas
pedagógicas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARDIN, L. Análise de conteúdo. 19ª Ed. Lisboa/Portugal: Edições 70, 2008.
CUNHA, A. M. O.; KRASILCHIK, M. A Formação Continuada de Professores de Ciências:
percepções a partir de uma experiência. In: XXIII REUNIÃO ANUAL DA ANPED.
Caxambú, 2000.
DEMO, P. Formação permanente e tecnologias educacionais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.
FIORENTINI, D.; SOUZA JR., A. J. S.; MELO, G. F. A. Saberes docentes: Um desafio para
acadêmicos e práticos In: GERALDI, C. M. G.; FIORENTINI, D.; F.; PEREIRA, E. M. A.
(Orgs.). Cartografias do trabalho docente: professor (a)-pesquisador (a). Campinas-SP:
Mercado das Letras, 2008. p.105-143.