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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE


SEARA

“Assegurar o direito de acesso de toda pessoa ou


instituição ao Serviço Telefônico Fixo Comutado -
STFC, independente de sua localização ou condição
socioeconômica, é um dever do Poder Público. Uma
responsabilidade constitucional e legal que a União
deve assegurar, por intermédio da Anatel, sempre
levando em conta a necessidade de atendimento de
pessoas com deficiência, instituições de caráter
público ou social, áreas rurais, áreas de urbanização
precária e regiões remotas. [...] Todos os custos
relacionados com o cumprimento das Metas de
Universalização serão suportados, exclusivamente,
pelas concessionárias”1.

“Eles desligam torres TDMA e dizem que é


manutenção... que obviamente nunca termina, o
celular fica com sinal ruim e ficam mandando
torpedos convidando a comprar um aparelho GSM a
partir de R$ 79... trocar eles só falam que é possível
se reclamar, mas mesmo assim só oferecem aqueles
basicões... ora, um TDMA como o meu custava uns R$
400 há 8 anos, hoje dá p/ comprar um V3 e ainda
sobra troco!”2.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA


CATARINA, pelo titular da Promotoria de Justiça de Seara, com base nos
documentos que seguem e nos artigos 5º, XXXII; 127, caput, e 129, III e
IX, da Constituição Federal; 1º, II, e 5º, caput, da Lei nº 7.347/85, e 1º;
81, parágrafo único, I e III, e 82, I, da Lei nº 8.078/90, propõe AÇÃO
CIVIL PÚBLICA (com pedido de antecipação de tutela) em face de:

OI BRASIL TELECOM S/A, pessoa jurídica de direito privado,


inscrita no CNPJ sob o nº 76.535.764/0322-66, que deverá ser citada por
1
Apresentação do Relatório sobre a universalização da telefonia fixa em Santa Catarina,
acessado em 4.4.2010, em:
http://www.anatel.gov.br/Portal/verificaDocumentos/documento.asp?numeroPubli
cacao=231156&assuntoPublicacao=Relat%F3rio%20de%20Universaliza%E7%E3o
%202008/2009%20(Santa%20Catarina)&caminhoRel=Cidadao-Telefonia%20Fixa-
Universaliza%E7%E3o&filtro=1&do cumentoPath=231156.pdf.
2
Reclamação de consumidor no site Reclame Aqui, em
http://www.reclameaqui.com.br/105160/tim-celular/migracao-tdma-para-gsm, acesso
em 1º.4.2010.
1
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intermédio de seu representante legal na Avenida Madre Benvenuta,


2080, Itacorubi, Florianópolis, SC, CEP 88035-090.

1. Objetivo desta ação

Esta ação civil pública tem por objetivo obter provimento


jurisdicional que determine à requerida o restabelecimento do sinal de
telefonia rural para todos os habitantes da comarca identificados pelo
Procon de Seara.

Busca também ordem que determine a gratuita migração dos


usuários/consumidores do serviço de telefonia rural TDMA para sistema
de telefonia fixa, no prazo de 20 dias.

Objetiva, por fim, a condenação da requerida ao pagamento


de indenização por danos extrapatrimoniais aos consumidores lesados,
no valor mínimo de R$ 50.000,00 para cada consumidor, e pelos danos
extrapatrimoniais difusos, no valor de R$ 500.000,00.

2. Explicações preliminares

Em telefonia móvel existem basicamente três tecnologias


disponíveis no mercado: TDMA, GSM e CDMA.

A primeira delas, TDMA (Time Division Multiple Access) é


considerada a mais simples dentre os sistemas digitais. Toma uma parte
do espectro das radiofrequências e a divide em canais distintos (tempos).
Para impedir interferências, é atribuída uma faixa para cada usuário. Esta
tecnologia já foi a mais utilizada nas Américas, mas vem sendo
paulatinamente substituída por ter frágil segurança e permitir clonagens.

A segunda delas, a GSM (Global Standard Mobile) é


considerada a evolução do sistema TDMA, porque permite, entre outros
benefícios, a troca de dados entre usuário e operadora através de seu
cartão (chip). Permite também a conexão à internet. Tem maior
confiabilidade e segurança, já que exige para estabelecimento da
conexão a conferência entre os dados fornecidos pelo aparelho celular do
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usuário e os constantes nos cadastros da operadora. É a tecnologia


padrão na Europa desde 1992 e vem sendo adotada pela maioria das
operadoras brasileiras pela segurança que apresenta.

A terceira, a CDMA (Code Division Multiple Access), é um


sistema que transforma a voz e os dados transmitidos pelo usuário do
telefone celular em um sinal codificado, que é recebido pelas antenas e
então decodificado para o receptor. Foi escolhida pela União
Internacional de Telecomunicações como a tecnologia-base para a
terceira geração de celulares (ainda estamos na segunda), já que
permite maior velocidade e grande confiabilidade do sistema.

A telefonia rural utiliza-se de um dos sistemas de telefonia


celular para fazer chegar ao consumidor final a comunicação telefônica.
Os aparelhos telefônicos são fisicamente fixos, porque não se pode
transportá-los. Pode-se dizer que são também juridicamente fixos,
porque a tarifação segue as regras da telefonia fixa. Apesar disso, o sinal
chega às residências dos agricultores através de antenas receptoras, tais
quais a telefonia celular. O esquema abaixo demonstra como o sistema
funciona:

3
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3. Fatos

A Brasil Telecom fornecia o serviço telefônico fixo comutado


(STFC) na área rural da Comarca de Seara através do sistema TDMA. Na
região de Seara o sistema é conhecido por “3491”, que era justamente o
prefixo dos telefones dos agricultores. Veja-se, por exemplo, que o
agricultor Airton Wermeier é titular do telefone 3491-3837 (fl. 22).

No entanto, para sua própria proteção e melhoria de seu


sinal nas cidades – portanto, em seu próprio benefício – a requerida
passou a migrar para a tecnologia GSM, o que implica mudança de
estrutura de rede e dos aparelhos, que são incompatíveis. Tal tecnologia,
ainda que mais segura, não atinge com a mesma eficiência as
localidades distantes, como é o caso dos agricultores da Comarca. Além
disso, as antenas receptoras dos agricultores teriam de ser também
substituídas pela concessionária.

Assim, viu-se a empresa com duas opções: a) manter


estrutura TDMA para manter os serviços de telefonia rural; b) fornecer
“sem ônus para o usuário” (Resolução nº 477/07, da Anatel), a substituição
dos aparelhos e das antenas.

A manutenção da estrutura TDMA foi rejeitada. Significava


custos extras à empresa. Tais custos não são revelados, mas certamente
não são nada perto do poderio econômico da empresa, que lucrou R$
782 milhões em 2008, 16% a mais que em 2007. Nas redes urbanas o
investimento de 2009 foi de R$ 1,1 bilhão3.

O fornecimento de equipamentos GSM aos agricultores não


se mostrou viável em muitos lugares. O sinal é instável devido às
distâncias e sua substituição acaba equivalendo a retirar o serviço de
telefonia rural do ar. Há também custo extra com antenas.
3
http://epocanegocios.globo.com/Revista/Epocanegocios/0,,EDG86480-16628,00-
LUCRO+LIQUIDO+ DA+BRASIL+TELECOM+CAI+NO+TRIMESTRE.html
4
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Uma terceira opção, mais viável e confiável, seria a utilização


da boa e velha telefonia fixa, tal qual faz a requerida nas áreas urbanas.
Com a instalação de postes e fiação, a concessionária liga o
consumidor/agricultor até o ponto físico mais próximo, o que a empresa
chama de “atendimento via par metálico”, ou seja, a criação de uma
extensão de fios metálicos até a residência do consumidor.

Esta, como se pode ver na reclamação de Ivonir Pinsetta, foi


a opção da requerida para algumas das localidades de Seara: “há mais
ou menos 18 meses a Brasil Telecom fez a instalação física de postes e
fiação para mudar o sistema de telefonia do reclamante, mas até o
presente momento, somente alteraram de alguns vizinhos e o
reclamante continua com a modalidade 3491, convivendo
constantemente com a falta de sinal” (fl. 10).

Como é óbvio, tal opção é mais cara, porque demanda


investimentos em cabos e postes, além de constante manutenção. E, no
vil cálculo realizado pela requerida, não lhe traz lucros, porque são
poucos os agricultores a consumir o serviço, diante dos custos de
investimento.

Na prática, verifica-se na Comarca de Seara o seguinte:

a) a requerida está migrando a tecnologia TDMA para GSM;

b) nesta migração deveria garantir aos consumidores a


qualidade do sinal, a eficiência do serviço e o preço justo;

c) a migração para GSM traz custos à empresa, custos que


deveriam ser por ela incorporados, de acordo com os
planos de universalização da Anatel, com os quais
concordou nos contratos de concessão;

d) para minorar os custos, e maximizar os lucros, a empresa


tenta coagir os consumidores a abandonar o serviço;

5
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e) para tanto, torna dolosamente instável o sinal, quer pela


ação de seus agentes, quer pela falta de investimentos, o
que prejudica imensamente os agricultores;

f) além disso, deixa de fornecer sinal GSM de qualidade aos


consumidores e, quando opta pela instalação de telefonia
fixa, demora até um ano e meio para concluir a instalação,
tudo novamente como forma de coagir o
consumidor/agricultor a abandonar o serviço
voluntariamente.

Note-se que a estratégia gerencial da empresa é bastante


clara. Se o consumidor, depois do cansaço, depois de ver-se coagido pela
empresa, vir a cancelar o serviço, não terá mais direito à migração sem
custos. Como será, para efeitos formais, considerado um “novo”
consumidor, terá obrigatoriamente de se satisfazer com a tecnologia
atual (GSM), que evidentemente não será suficiente.

Enfim...

Recebida representação do Procon, dando conta da


gravidade da situação, a Promotoria de Justiça de Seara imediatamente
instaurou inquérito civil público e notificou Brasil Telecom e Anatel para
explicações. O Procon fez juntar à representação documentos contendo
reclamações de 41 agricultores da Comarca de Seara. Informa que há
ainda aproximadamente 80 outros agricultores em situação
semelhante.

A Brasil Telecom S.A. limitou-se a fazer referência


especificamente a dois consumidores, dizendo, em relação a um deles, o
seguinte: “já é objeto de estudo pela Companhia a migração de
tecnologia desta estação móvel, que vai melhorar a qualidade do sinal
para o usuário” (fl. 128).

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Quarenta dias depois de receber o ofício do Ministério


Público, a Anatel informou que “esta Agência está obetendo [sic] os
esclarecimentos pertinentes junto à Prestadora” e pediu prazo adicional
de 20 dias para resposta do ofício. Até o momento não houve resposta
da Anatel.

4. Direito

4.1. Regras da Anatel

A Resolução nº 477/2007 da Anatel, que regula o Serviço


Móvel Pessoal (nome técnico do serviço de telefonia celular), é expressa
em determinar que “a mudança de padrões de tecnologia promovida por
prestadora não pode onerar o usuário”. O parágrafo único ainda
esclarece: “Havendo incompatibilidade entre a Estação Móvel e os novos
padrões tecnológicos a prestadora deve providenciar a substituição da
Estação Móvel sem ônus para o usuário”.

O Plano Geral de Metas de Universalização, aprovado pelo


Decreto nº 4.769/2003, determina que toda localidade que contiver pelo
menos 300 habitantes deverá ser provida de telefonia fixa4.

Não há dúvidas na interpretação das regras.

Em primeiro lugar, a concessionária é obrigada a fornecer


telefonia fixa nas localidades dos consumidores que reclamaram ao
Procon, por conta do Plano de Universalização. Aliás, tanto isso é verdade
que os consumidores sempre tiveram acesso à telefonia fixa em suas
residências.

Por outro lado, se a operadora, por quaisquer motivos, sejam


eles econômicos, tecnológicos, ou mesmo por ordem da agência
reguladora, mudar da tecnologia TDMA para GSM, como ocorre na
Comarca de Seara, o direito de comunicação do consumidor (usuário)

4
Vide cartilha anexa, fls. 130-131.
7
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deverá ser garantido. A mudança do sistema não pode gerar qualquer


ônus.

4.2. Obrigatoriedade da adequação e eficiência dos serviços públicos

O art. 22 do Código de Defesa do Consumidor determina que


o serviço público deve ser prestado de forma adequada, eficiente, segura
e, quanto aos essenciais, contínua.

Não há dúvidas de que o serviço de telefonia é essencial à


vida moderna. Mesmo para quem viva no campo, a utilização de
telefones é imprescindível à compra e insumos, à negociação dos
produtos, e mesmo para atendimentos de emergência. Vale a pena
acessar o Youtube e verificar o drama dos consumidores de Pelotas, que
sofreram do mesmo problema5.

Além disso, a conduta da requerida infringe os direitos do


consumidor do serviço de telefonia, previstos expressamente no art. 6º
do Código de Defesa do Consumidor: “a proteção contra métodos
comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas
abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços” (art. 6º, IV);
“a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral” (art. 6º,
X).

E se se quiser ir mais adiante, a conduta vilipendia a um só


tempo os princípios da confiança e da boa-fé objetiva, este último norma
de caráter cogente que obriga às partes nas relações contratuais a
atuação conforme a lei e o contrato: “os contratantes são obrigados a
guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os
princípios de probidade e boa-fé” (art. 422).

5
Com as palavras chave “tim problemas celulares zona rural pelotas” ou com o código
http://www.youtube.com/watch?v=PCAezYqLDpM é possível acessar o conteúdo da
matéria.
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4.3. Danos extrapatrimoniais e a necessidade de sua reparação

Uma vez configurada a prática lesiva praticada pela


demandada e sua absoluta ilegalidade, não pode o Judiciário contentar-
se com a simples adequação da conduta. Seria um verdadeiro estímulo à
operadora a certeza de que vale a pena aguardar condenações judiciais,
muitas vezes em ações de longa tramitação, para ao final apenas passar
a fazer o que sempre deveria ter feito: cumprir a lei e respeitar o
consumidor.

Entram em cena então as funções dissuasora e sancionatória


da responsabilização civil, que, na sociedade típica da “‘era tecnológica’
desempenha funções que se desenvolvem em dois âmbitos: como
instrumento de regulação social e como mecanismo para a indenização
da vítima”, conforme Annelise Monteiro Steigleder.

E, ainda segundo a autora, “no âmbito de ser instrumento de


regulação social, a responsabilidade exerce a função de prevenir
comportamentos anti-sociais, dentre os quais aqueles que implicam
geração de riscos; de distribuir a carga dos riscos, pelo que se torna
otimizadora de justiça social; e de garantia dos direitos do cidadão”6.

4.3.1. Danos extrapatrimoniais individuais homogêneos

De fato, é fácil imaginar – e isso será comprovado nos autos –


a aflição da quase centena de agricultores da comarca que
experimentam constantemente suspensões no sinal de telefonia de suas
residência, sabendo ainda tratar-se de suspensão dolosa da empresa
concessionária. A jurisprudência amplamente reconhece o dever de
indenizar os danos morais em caso de suspensão do serviço de telefonia
por falta da operadora7.
6
Responsabilidade civil ambiental: as dimensões do dano ambiental no direito
brasileiro. Porto Alegre : Livraria do Advogado, 2004. p. 178, grifou-se.
7
A SUSPENSÃO da prestação dos serviços de TELEFONIA, sem prévia comunicação ao
cliente, ainda que estivesse inadimplente, caracteriza DANO MORAL passível de
indenização" (Ap. Cív. n. 2004.037036-3, de São José, rel. Des. Wilson Augusto do
Nascimento, j. 7-10-2005).
9
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O valor a ser arbitrado, a título de danos morais em favor de


cada um dos consumidores já identificados ou a serem identificados (art.
94 do CDC), deve situar-se em patamar que represente inibição à pratica
de outros atos antijurídicos e imorais por parte da empresa demandada.
É imperioso que a Justiça dê ao infrator resposta eficaz ao ilícito
praticado, sob pena de se chancelar e se estimular o comportamento
infringente.

A nosso sentir, a indenização por danos morais,


considerando-se o patrimônio da requerida e o dano moral sofrido pelos
agricultores, além do evidente dolo na conduta, não pode ser inferior a
R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) em favor de cada consumidor
identificado.

4.3.2. Danos extrapatrimoniais coletivos

Mas não foi só a esfera individual de cada consumidor que


acabou sendo lesada com a ação da requerida. Todas as pessoas
determináveis ou não expostas à prática desleal aqui narrada8,
considerada “prática abusiva” pelo art. 39 do Código de Defesa do
Consumidor, são vítimas e, portanto, ainda que difuso o dano e, portanto,
impossível identificar as vítimas, é necessária a fixação de indenização
pelos danos extrapatrimoniais difusos.

Sim, porque evidentemente não apenas os consumidores


titulares das linhas dolosamente suspensas sofreram com a conduta
narrada. Também todos aqueles que procuraram pelos agricultores, ou

REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS. SUSPENSÃO DE LINHA TELEFÔNICA CELULAR, POR


ERRO IMPUTÁVEL À FORNECEDORA. DIREITO AO RESTABELECIMENTO DO SERVÇO.
DANO MORAL CONFIGURADO IN RE IPSA. REDUÇÃO QUANTUM INDENIZATÓRIO. O dano
moral, na hipótese concreta, prescinde de prova, ante a dificuldade de produzi-la e,
ademais, por estar evidente o prejuízo, inerente ao próprio fato do bloqueio indevido de
importante ferramenta da comunicação. Situação que ultrapassa o mero dissabor
cotidiano. RECURSO PROVIDO, EM PARTE. (Recurso Cível Nº 71002389393, Terceira
Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Eugênio Facchini Neto, Julgado em
28/01/2010).
8
Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores
todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.
10
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seja, tentaram contato telefônico com eles, deixaram que obter o


resultado que legitimamente se esperava de um sistema de telefonia
eficiente, adequado e justo. Estas pessoas, que são parentes,
fornecedores, consumidores, amigos, serviços públicos, enfim, pessoas
não determináveis, certamente acabaram lesados de uma forma ou de
outra pela conduta da requerida.

E, como se sabe, os interesses difusos foram definidos pelo


legislador consumerista, no art. 81, inc. I, do CDC, como os
transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato9.

A prática abusiva adotada pela ré abala o patrimônio moral


da coletividade, pois todos acabam se sentindo ofendidos e
desprestigiados como cidadãos com a prática lesiva a que se expuseram.
A sensação, como se percebe claramente, atingiu a todos, no caso
vertente, e foi justamente a de que o sistema é injusto, pois não se
poderia conceber o mais forte submetendo o mais fraco à tamanha
situação de indignidade. Daí a inquestionável ofensa coletiva passível de
reparação.

Não se pode conceber que numa sociedade democrática,


onde se espera e se luta pelo aperfeiçoamento dos mecanismos que

9
Para Kazuo Watanabe, “nos interesses ou direitos difusos, a sua natureza indivisível e
a inexistência de relação jurídica-base não possibilitam, como já ficou visto, a
determinação dos titulares. É claro que, num plano mais geral do fenômeno jurídico
ou análise, é sempre possível encontrar-se um vínculo que une as pessoas, como a
nacionalidade. Mas, a relação jurídica-base que nos interessa, na fixação dos conceitos
em estudo, é aquela da qual é derivado o interesse tutelando, portanto interesse que
guarda relação mais imediata e próxima com a lesão ou ameaça de lesão. [...] No
campo da relação de consumo, podem ser figurados os seguintes exemplos de
interesses direitos difusos: [...] b) colocação no mercado de produtos com alto grau de
nocividade ou periculosidade à saúde, ou segurança dos consumidores, o que é vedado
pelo art. 10 do Código. O ato do fornecedor atinge a todos os consumidores potenciais
do produto, que são em número incalculável e não vinculados entre si por qualquer
relação-base. Da mesma forma que no exemplo anterior, o bem jurídico tutelado é
indivisível, pois uma única ofensa é suficiente para a lesão de todos os consumidores, e
igualmente a satisfação de um deles, pela retirada do produto no mercado, beneficia ao
mesmo tempo a todos eles” (Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado
Pelos Autores do Anteprojeto. São Paulo: Forense Universitária, 1997. p. 625/627).
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venham a garantir ao cidadão o pleno exercício dos atributos da


cidadania, inclusive com a efetiva implementação da legislação
consumerista, tenha lugar a busca insana do enriquecimento fácil que
submete o consumidor a práticas inaceitáveis, como a que foi narrada
nesta inicial.

É dentro desse mesmo contexto que não se pode esconder a


grande extensão do dano causado, pois, além de agredir interesses
garantidos por lei ao consumidor, o procedimento denunciado gerou
sentimento de descrença e desprestígio da sociedade com relação aos
poderes constituídos e ao sistema de um modo geral.

Importa declinar, de outra parte, que a demandada é


empresa de grande porte, sendo desnecessária qualquer referência a sua
capacidade econômica, por ser de conhecimento público.

O valor a ser arbitrado, a título de danos extrapatrimoniais,


deve situar-se em patamar que represente inibição à pratica de outros
atos antijurídicos e imorais por parte da empresa demandada. É
imperioso que a justiça dê ao infrator resposta eficaz ao ilícito praticado,
sob pena de se chancelar e se estimular o comportamento infringente.

A nosso sentir, a indenização por danos morais não pode ser


inferior a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), revertendo-se para o
fundo de que trata o artigo 13 da Lei n° 7.347/85.

5. Antecipação da tutela

Dispõe o Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 84,


§ 3º:
Art. 84 – Na ação que tenha por objeto o cumprimento da
obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela
específica da obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao adimplemento.
[...]
§ 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo
justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado
o Réu.

No caso dos autos, não podem os consumidores aguardar até


o trânsito em julgado desta ação civil pública para verem seu direito
tutelado pelo Judiciário. Ainda que nesta Comarca de Seara a tramitação
dos feitos seja célere, sabe-se que a Brasil Telecom, experiente ré em
ações deste tipo, fatalmente fará subir aos tribunais superiores recursos
procrastinatórios.

Depois do trânsito em julgado, de nada adiantará o


provimento final. Os consumidores terão passado anos sem telefonia de
qualidade, sem este serviço público essencial da modernidade,
experimentando toda a sorte de prejuízos, inclusive econômicos. Basta
imaginar, Excelência, uma pessoa nos dias de hoje sem telefone para
mensurar a gravidade da situação.

Por este motivo é que se faz imperiosa a antecipação da


tutela para o fim de determinar à Brasil Telecom que, em 30 dias migre
todos os sistemas de telefonia TDMA da Comarca para GSM ou para
telefonia fixa, sob pena de multa, e que, no mesmo prazo, restabeleça o
sinal de telefonia para todos os consumidores da Comarca de Seara.

Note-se que o prazo de 30 dias não é exíguo. Para quem já


vem sendo alertado pelo Procon e pelos consumidores há pelo menos
seis meses, o prazo é na verdade muito largo. Aliás, tivesse mesmo a
responsabilidade necessária à obtenção de concessão pública tão
importante, a requerida jamais permitiria chegar ao Judiciário a questão
neste ponto.

6. Conclusões

Diante de tudo o que foi exposto, dos precedentes


jurisprudenciais e da extensa documentação existente nos autos, o
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA requer:

13
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a) o recebimento e autuação da inicial;

b) a publicação de edital nos termos do art. 94 do Código de


Defesa do Consumidor;

c) a concessão de liminar para o fim de determinar à Brasil


Telecom S.A. que, em 30 dias;

c1) restabeleça o sinal de telefonia para todos os


consumidores rurais da Comarca de Seara (Arvoredo, Xavantina e Seara),
notadamente para os indicados na nota de rodapé nº 10, sob pena de
multa de R$ 10.000,00 por mês, para cada consumidor identificado;

c2) migre todos os sistemas de telefonia TDMA da Comarca


para GSM ou para telefonia fixa, garantindo a qualidade (sem chiassos,
interrupções, ecos, etc.) e a continuidade, sem qualquer custo para os
consumidores, sob pena de multa de R$ 10.000,00 por mês, para cada
consumidor identificado;

d) a citação da requerida, para que apresente a defesa que


quiser;

e) a produção da prova que for necessária, indicando desde


já como testemunha o senhor Clodoaldo Weber, Chefe do Procon de
Seara, e dos 41 consumidores listados no inquérito civil, com a inversão
do ônus da prova, a teor do art. 6º, VIII, do Código de Defesa do
Consumidor;

f) ao final, a confirmação dos pedidos deduzidos em sede de


tutela antecipada, para que migre definitivamente os sistemas TDMA
para GSM ou telefonia fixa;

g) a condenação da requerida ao pagamento de R$


50.000,00 (cinquenta mil reais) para cada consumidor lesado por sua
conduta, identificados no inquérito civil10;
10
Para que não se tenha dúvidas, seguem os nomes dos consumidores já identificados:
Pedro Breier, Ivonir Carlos Pinssetta, Darci Wildner, Eliseu Arend, Airton Wermeier,
Ivonir Pilger, Érico Krutzmann, Wilson Inácio Rambo, Irio Casarotto, Armindo Begnini,
14
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h) a condenação da requerida ao pagamento de indenização


genérica, no valor mínimo de R$ 50.000,00, aos consumidores que
vierem a ser identificados posteriormente e aos consumidores que se
habilitarem nesta ação (art. 94, 95 e seguintes do CDC);

i) a condenação da requerida ao pagamento de indenização


pelos danos extrapatrimoniais difusos, em favor do Fundo de
Reconstituição de Bens Lesados, no valor mínimo de R$ 500.000,00.

j) a condenação das requeridas em custas, despesas


processuais e honorários advocatícios (estes conforme art. 4º do Decreto
Estadual nº 2.666/04, em favor do Fundo de Recuperação de Bens
Lesados do Estado de Santa Catarina).

Dá-se à causa o valor de R$ 2.550.000,00 (dois milhões


quinhentos e cinquenta mil reais).

Seara, 1º de abril de 2010

Eduardo Sens dos Santos


Promotor de Justiça

Arlindo Bedin, Ernesto Aluísio Theobal, Luiz Lorenzetti, Seara Prefeitura (Linha Santa
Cruz), Lauri Poletto, Jadir Antônio Martini, Seara Prefeitura (Linha São Marcos), Vilson
José Vani, Clair Decezare, Geraldo Fedrizzi, Selvino Deitos, Benjamin Nava, Genir
Paludo, Levis Luiz Bordignon, Ademir Marafon, Ademar Antônio Dagostine, Moacyr
Antoninho Tedesco, Luiz Bassani, Vanderlei Arend, Amarildo Mior, Vilmar Berno, Leocir
Biondo, Claudemir Fávero, Itá Prefeitura (Linha Cruzeiro), Clair Carlesso, Vergínio
Simoni, Hilário Doerzbacher, Laurindo Tofolo, Gilmar José Mocellini e Abrelino Trevisan.
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HABILITAÇÃO PARA VÍTIMAS

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE


SEARA

JOÃO DA SILVA, brasileiro, casado, agricultor, CPF nº XXXX,


RG nº XXX, telefone nº XXX, e-mail XXXX@yyy.com.br, residente em
Linha Santa Cruz, interior de Seara, nos termos do art. 94 e 98 do Código
de Defesa do Consumidor, requer sua HABILITAÇÃO na Ação Civil
Pública nº 068.10.XXXX, que trata da telefonia rural.

Para tanto, informo que:

a) sou titular da linha telefônica rural nº 3491-XXXX;

b) há aproximadamente XXX meses o sinal vem se tornando


instável, de modo que não consigo mais fazer ligações
nem receber chamadas;

c) já mantive contato com a Brasil Telecom por diversas


vezes, mas nada foi resolvido;

d) tal situação gera prejuízos de toda a ordem, notadamente


para contatos com familiares, amigos, prefeitura, órgãos
públicos, fornecedores de insumos agrícolas e
compradores da produção agropecuária de minha
propriedade;

e) requeiro seja a Brasil Telecom condenada a me pagar,


como indenização, o valor postulado pelo Ministério
Público.

f) segue anexa cópia da fatura telefônica e de reclamação


no Procon.

Seara, 5 de abril de 2010


17
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

João da Silva
Agricultor

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