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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP,Brasil)


Keesing, Roger M.
Antropologia Cultural: uma perspectiva
contemporânea / Roger M. Keesing, Andrew J.
Strathern ; tradução de Vera Joscelyne. -
Petrópolis, RJ : Vozes, 2014.

Título original inglês: Cultural anthropology : a


contemporary perspective
ISBN 978-85-326-4633-0

1. Antropologia 2. Etnologia I. Strathern,


Andrew J. lI. Título.

13-07476 CDD-306

Índices para catálogo sistemático:


1. Antropologia Cultural 306
Cultura e pessoas: alguns conceitos básicos

Chegamos a uma situação agora em que é concordam com essa visão. Outras abordagens
necessária maior precisão para que a compreen- teóricas serão tratadas brevemente nos capítulo
são possa ser aprofundada. Precisamos conhe- que se seguem. Mas dar a todas a mesma ênfase
cer mais claramente aquilo que cientistas sociais deixaria as questões confusas e vagas. Precisamo
querem dizer com cultura e sociedade e como de instrumentos conceituais bastante apurados.
as duas estão relacionadas. Neste capítulo e nos
quatro capítulos seguintes, uma maneira de pen-
3 O conceito antropológico de cultura
sar sobre indivíduos e grupos, ideias e significa-
dos, e estabilidade e mudança será desenvolvida.
Visões antropológicas de cultura
Essa maneira de pensar pode então ser utilizada
na perspectiva comparativa mais ampla, com a O conceito antropológico de cultura foi
esperança de obter alguma visão clara sobre o uma das ideias mais importantes e de maior in-
que são os humanos e o que podem ser. fluência no pensamento do século XX. O uso
do termo cultura adotado pelos antropólogos
Antropólogos, como outros cientistas sociais,
do século XIX espalhou-se para outras áreas de
estão longe de chegar a um consenso sobre a me-
pensamento com um profundo impacto; hoje é
lhor maneira de conceitualizar as facetas comple-
um lugar-comum para os humanistas e outros
xas da vida social. A maneira de pensar sobre cul-
cientistas sociais falarem, por exemplo, de "cul-
rura, sociedade e o indivíduo que iremos esboçar
tura japonesa".
aqui tem como base um consenso substancial sobre
princípios gerais entre teóricos tais como Geertz, No entanto, paradoxalmente, a noção de cul-
Lévi-Strauss, Victor Turner e Goodenough. Dare- tura implícita nesses usos mostrou ser muito am-
mo também uma olhada rápida em várias ques- pla e muito rudimentar para ser capaz de captar
rõe , algumas mais filosóficas que substantivas, os elementos essenciais no comportamento huma-
que dividem esses estudiosos. Essa abordagem no. A reação de alguns estudiosos foi abandonar
teórica considera o domínio das ideias, a força dos o termo como um instrumento conceitual básico;
ímbolo , como centralmente importantes para a resposta de outros foi aprimorar e limitar o ins-
moldar o comportamento humano - não simples- trumento para torná-Io mais preciso.
eme como reflexões secundárias das condições No uso da antropologia, é claro, cultura não
eriai da vida social. O leitor deve ser avisado significa cultivo nas artes e dotes sociais. Refere-
iarnenre de que nem todos os antropólogos -se, ao contrário, à experiência aprendida e acu-

34
§3 O CONCEITO ANTROPOLÓGICO DE CULTURA 35

Homem segurando um amontoado de conchas de pérolas com cabos tecidos para fazer
um pagamento aos parentes de sua mãe, perto de Lalibu, Papua-Nova Guiné.

ulada. Uma cultura - digamos a cultura japone- A soma total de conhecimento, atitudes e
- refere-se àqueles padrões de comportamento padrões habituais de comportamento par-
.aracterísticos de um grupo social e pecífico que tilhados e transmitidos pelos membros de
ram socialmente transmitidos. uma sociedade específica (LINTO ,1940).

Os antropólogos não foram totalmente pre- [Todos os] planos historicamente criado
ci os, ou totalmente consistentes, em seus usos para viver, explícitos e implícito, racionai
esse conceito essencial. Algumas primeiras ten- irracionais e não racionai que e i tem em
rativas representativas de chegar a uma definição algum momento determinado como guias
revelam facetas diferentes de cultura: potenciais para o comportamento do ho-
mem (KLUCKHOHN & KELLY 1945).
Aquele todo complexo que inclui conhe-
cimento, crença, arte, moralidade, lei, A massa de reaçõe motoras aprendidas
costume e quaisquer outras habilidades e e transmitidas, hábito técnicas, ideias e
hábitos adquiridos pelo homem como um valores - e o comportamento que eles in-
membro da sociedade (TYLOR, 1871). duzem (KROEBER, 1948).
C E PESSOAS: ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS

parte do meio ambiente feita pelo ho- eles estão usando o conceito em seu primeiro
mem (HERSKOVITS, 1955). significado. É o modo-de-vida-no-ecossistema
Padrões, explícitos e implícitos de compor- característico de um povo específico: "Cultura é
tamento e para o comportamento adquiri- todos aqueles meios cujas formas não estão sob
dos e transmitidos por símbolos, que cons- controle genético que servem para regular indiví-
tituem a realização característica dos grupos duos e grupos em suas comunidades ecológicas"
humanos, inclusive sua incorporação em (BINFORD, 1968: 323). Iremos, quando a ne-
artefatos (KROEBER & KLUCKHOHN, cessidade surgir, usar o termo um tanto canhes-
1952). tro sistema sociocultural para nos referirmos ao
padrão de residência, de exploração de recursos,
e daí por diante, característico daquelas pessoas.
Um conceito ideacional de cultura (Há, no final das contas, um estranho tipo de
vantagem em ter um termo desajeitado e com-
Goodenough (1957, 1961) mostrou que a
posto para um fenômeno complexo e compos-
maioria dessas definições e usos encobriu uma
to: rótulos curtos e fáceis muitas vezes levam a
distinção crucial entre padrões para o comporta-
um descuido conceitual, ou à falácia lógica de
mento e padrões de comportamento. Na verda-
"concretude malcolocada" ou "reificação" com
de, diz Goodenough, os antropólogos vêm falan-
a qual fala-se de uma abstração como se fosse
do de duas ordens de coisas bastante diferentes
uma "coisa".)
quando usaram o termo cultura - e com muita
frequência eles passam de um para o outro entre Restringiremos o termo cultura a um sistema
os dois tipos de significados. Primeiro, a cultura ideacional. Culturas nesse sentido compreendem
foi usada para se referir ao "padrão de vida em sistemas de ideias compartilhadas, sistemas de
uma comunidade - as atividades e os procedi- conceitos e regras e significados que subjazem às
mentos materiais e sociais que se repetem regu- maneiras como as pessoas vivem e são expressas
larmente" - característico de um grupo huma- por elas. Assim definida, a cultura se refere àquilo
no específico (GOODENOUGH, 1961: 521). que os seres humanos aprendem, não àquilo que
esse sentido a cultura referia-se ao domínio de eles fazem ou constroem. Como Goodenough
fenômenos observáveis, de coisas e eventos "lá (1961: 522) se expressou, esse conhecimento
fora" no mundo. Segundo, a cultura foi usada fornece "padrões para decidir o que é, [...] para
para se referir ao sistema organizado de conheci- decidir o que pode ser [...] para decidir como nos
mento e crença pelos quais as pessoas estruturam sentimos com relação àquilo, [...] para decidir o
ua experiência e suas percepções, formulam que fazer sobre aquilo, e [...] para decidir de que
atos e escolhem entre alternativas. Esse sentido maneira iremos fazê-lo".
de cultura se refere ao domínio de ideias (cf. tb. Essa noção ideacional de cultura não é ra-
GOODE OUGH, 1990). dicalmente nova. Por exemplo, a definição de
Quando arqueólogos falam sobre a cultura Kluckhohn e Kelly de cultura em termos de "pla-
de uma da primeiras comunidades agrícolas do nos para viver" segue um curso semelhante. Mas
O iente Próximo como um sistema adaptativo, isso não é dizer que ela não tenha problemas, já
§3 O CONCEITO ANTROPOLOGICO DE CUl 37

ideias não são simplesmente compartilha- mesas congeladas, e assim por diante. ~' pra e-
almente, e sim distribuídas e controladas leiras, em algum lugar, estarão os tempero : e em
eio da estrutura da sociedade. algum lugar entre as frutas e legume enlatado
rcebendo códigos culturais provavelmente encontraremos os sucos enlata-
dos. Portanto, um primeiro desafio em um super-
'ma dificuldade inicial no estudo da cultura
mercado desconhecido é nos orientarmos, talvez
e não estamos habituados a analisar padrões
simplesmente passando por todos os corredore
rais; raramente estamos sequer conscientes
com nosso carrinho de compras, pegando os itens
. É como se nós - ou as pessoas de qualquer
que estamos procurando à medida que passamos
a sociedade - crescêssemos percebendo o
por eles. Em todo esse processo você está com-
ndo através de óculos com lentes que distor-
parando seu conjunto de categorias mentais, seu
a realidade. As coisas, eventos e relaciona-
manual mental generalizado, com aquele que
mos que presumimos estar "lá fora" são na
realmente foi usado na organização desse super-
•.dade filtradas por essa tela perceptual. A pri-
mercado.
Ira reação, inevitavelmente, ao encontrar pes-
que usam um tipo diferente de óculos é des- Mas depois de terminar e sa primeira volta
-ezar seu comportamento, con iderando-o es- é provável que ainda tenhamos alguns itens pen-
c-anho ou errôneo. Essa forma de ver outros mo- dentes em nossa lista: talvez o iogurte, que não
de vida em termos de nossos próprios óculos estava ao lado do leite, onde esperávamos encon-
lrurais é chamada de etnocentrismo. E tornar-se trá-Io, e o molho inglês, que não estava ao lado
n ciente de nossos próprios óculos culturais e do ketchup onde o procuramo . Examinamos a
ali á-Ios é um processo doloroso. Fazemos isso lista de categorias ao longo das paredes ou dos
elhor quando aprendemos a respeito dos ócu- corredore , comparando o esquema deles com o
das outras pessoas. Embora nunca possamos nosso e nos perguntando como é que eles classifi-
rar nossos óculos para descobrir como o mundo caram os itens que estamos procurando. E então
. exatamente, ou tentar olhar através dos óculos há ainda o chop suey ou o molho mexicano, que
de alguma outra pessoa sem estar também usando deve estar em alguma seção de comida étnica que
nosso, podemos pelo menos aprender bastante não descobrimos.
obre nossas próprias limitações. Em todo esse processo estamos dependen-
Com algum esforço mental podemos começar do de um sistema extremamente complicado de
a nos tornar conscientes dos códigos que normal- conhecimentos que está armazenado em nosso
mente se escondem sob nosso comportamento co- cérebro, mas que é apenas parcialmente acessível
tidiano. Considere as operações mentais que rea- a nosso consciente. O conhecimento em nosso
lizamos quando entramos em um supermercado manual mental não é exatamente igual ao ma-
desconhecido com uma lista de compras. Temos nual de qualquer outro consumidor. Mas nosso
uma orientação mental generalizada com relação conhecimento e o deles são suficientemente se-
às seções que um supermercado terá: uma com melhantes para que passemos grande parte do
frutas e legumes frescos, outra com pão, outra tempo colidindo uns com os outro e evitamo
com carnes frescas, outra com sorvetes e sobre- os códigos implícitos de intimidade fí ica con-
E PESSO.6S: AcGU S CONCEITOS BÁSICOS

ro vi ual. e orientação no espaço - além de tra fora do campus deve ser tratado formal ou
enrualmente encontrarmos os produtos que informalmente, como professor ou como um co-
e ramo procurando. nhecido? E as pessoas que em um determinado
Quando chega a hora de entrar na fila do cai- momento foram amantes, como devem se rela-
xa ourro conjunto de códigos implícitos entra em cionar? De uma maneira quando estão sozinhas,
jogo. E, finalmente, nossa transação com o caixa de outra maneira quando estão com outras pes-
envolve um conjunto complexo de entendimentos soas? E quando estão com os parceiros atuais?
compartilhados. (É possível perceber essas regras As pistas e deixas e entendimentos são ao mesmo
implícitas mais claramente se propositalmente as tempo questões culturais e individuais de con-
desobedecemos e observamos as reações: tente venção e estilo pessoal (ainda que inconsciente-
colocar seixos na esteira do caixa em vez de di- mente) compartilhadas.
nheiro ou barganhar com o caixa oferecendo 5O
centavos para pagar um tubo de pasta de dentes
Culturas como sistemas de significados com-
de 79 centavos.)
partilhados
Projetemos agora a partir do supermercado
A cultura não consiste em coisas e eventos
para o imenso corpo de outros entendimentos
que podemos observar, contar e medir. Ela con-
compartilhados de que precisamos a fim de co-
siste em ideias e significados compartilhados.
mer em um restaurante, dirigir no tráfego, ves-
Clifford Geertz, inspirando-se no filósofo Gil-
tir-nos para transmitir a impressão desejada,
bert Ryle, nos dá um exemplo interessante. Con-
ou jogar uma partida de tênis - e aquilo que o
sidere uma piscadela e um espasmo involuntário
antropólogo quer dizer com a palavra cultura
no olho. Como eventos físicos, eles podem ser
começa a ficar visível. Não estamos, em nossas
idênticos - rnedi-Ios não estabeleceria a diferen-
vidas cotidianas, simplesmente escolhendo alter-
ça entre os dois. Um é um sinal, em um código
nativas apropriadas para agir; estamos nos inter-
de significados que os americanos compartilham
pretando mutuamente, colocando construções
(mas que presumivelmente seriam ininteligíveis
nas ações e nos significados mútuos. Descontar
para os inuítes ou para os aborígenes australia-
um cheque no banco ou ir ao consultório de seu
nos); o ourro não. Apenas em um universo de
médico não é simplesmente pôr em prática roti-
significados compartilhados é que sons e eventos
nas culturalmente "programadas", mas também
físicos tornam-se inteligíveis e transmitem infor-
um processo social no qual o caixa do banco e o
mação.
cliente, ou o médico e o paciente, se comunicam
de maneiras que exigem entendimentos compar- Uma parábola antropológica - que, aliás, é
tilhados. Em muitos ambientes as posições nas verdadeira - irá ilustrar eficazmente a natureza
quais nos relacionamos uns com os outros estão de significados culturais. Uma mulher búlgara
menos claras, de tal forma que a interação social estava servindo o jantar para um grupo de ami-
implica negociar e definir relacionamentos uns gos de seu marido americano, inclusive um es-
om os outros (e não simplesmente atuar papéis tudante asiático. Quando os convidados tinham
a ropriados). Um professor que o aluno encon- esvaziado seus pratos, ela perguntou se algum
§3 O CONCEITO ANTROPOLOGICO DE CUl 39

deles gostaria de repetir - uma anfitriã búlgara de os indivíduos que o conhecem, o executam, ou
que deixasse um convidado ficar com fome es- imprimem a partitura.
taria perdida. O estudante asiático aceitou uma
egunda porção, depois uma terceira, enquanto
Algumas diretrizes a partir do idioma
a anfitriã ansiosamente preparava mais comida
na cozinha. Finalmente, no meio de sua quarta As questões se tornam mais claras, talvez, se
porção, o estudante asiático caiu para trás; mas nos voltarmos para um subsistema do conheci-
i o era melhor, em seu país, do que insultar sua mento cultural - o idioma. Pense sobre "o idioma
anfitriã recusando a comida que estava sendo inglês". Será que "o idioma inglês" consiste em
oferecida. Uma anfitriã búlgara servindo uma se- todas as versões e dialetos parcialmente diferen-
gunda ou terceira porção não é parte da cultura tes que indivíduos conhecem, ou ele existe, de al-
búlgara; mas os princípios conceituais que estão guma forma, como um sistema, acima e além do
por trás de seus atos, os padrões de significado conhecimento de indivíduos?
que os tornam inteligíveis, sim, são. A cultura Vamos listar alguns argumentos para a posi-
úlgara é algo aprendido, algo nas mentes dos ção "acima e além". Primeiro, o inglês existe an-
úlgaros, e isso não pode ser estudado e obser- tes de (e independentemente de) qualquer indi-
:ado diretamente. Tampouco nossa mulher búl- víduo que nasce em uma comunidade que fala o
ara poderia nos dizer as premissas e os princí- inglês e que aprende o idioma. O inglês está, por
ios nos quais seu comportamento está baseado. assim dizer, entre os indivíduos e não neles. Se-
. 1uitos são tão obscuros para sua própria per- gundo, nenhum indivíduo sabe todas as palavras
cepção quanto o são para a nossa. do inglês ou seus usos. Terceiro, o inglês como
Quando dizemos que a cultura búlgara é um um sistema transcende, de algumas maneiras, as
i tema ideacional, que ele é manifesto nas men- versões individuais que as pessoas têm, que po-
"e dos búlgaros, estamos suscitando uma ques- dem incorporar pronúncias, usos gramaticais e
tão filosófica delicada. Será que isso significa que assim por diante que são peculiarmente pessoais
ma cultura é em última instância um sistema e não parte do idioma. Quarto, a maneira como
icológico que existe nas mentes individuais? A um idioma muda parece ser em grande parte
cultura búlgara estará "nas mentes" dos búlgaros independente daquilo que indivíduos sabem e
individuais? como eles o usam. Finalmente, o inglês como um
Goodenough diria que sim - e muitos de seus código poderia, por meio de livros e gravaçõe
colegas concordariam. Mas isso nos coloca em sobreviver à morte de todos aqueles que o falam.
questões filosóficas complicadas. A posição de Mas a escrita é uma invenção humana b -
Geertz é que significados culturais são públicos tante recente e a gravação de sons muito re en e.
e transcendem sua percepção nas mentes indivi- Muitos idiomas dos índios americano e a tra-
duais. Um código para comunicar existe no sen- lianos desapareceram completamente: obrevi :e-
rido em que ele vai mais além do conhecimento ram apenas como sistemas de conhe imenro nas
que qualquer indivíduo tem dele. Um quarteto de mentes de indivíduos e morreram quando últi-
Beethoven existe no sentido em que ele transcen- mas pessoas que os falavam morreram. E muitos
CUlTURA E PESSOAS: ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS

lingui tas modernos agora acreditam que para en- ceitual, a cultura búlgara é estruturada (e muda)
render como os idiomas (inclusive o inglês) mu- de maneiras que não podem ser captadas se nó
dam, precisamos realmente examinar as versões a considerarmos como um composto daquilo que
ariantes naquilo que os indivíduos "conhecem" búlgaros individuais sabem.
(inconscientemente) sobre seus idiomas. Assim,
Os contra-argumentos a favor daquilo que
em alguns sentidos importantes, o idioma está si-
Schwartz (1978) chama de "um modelo distribu-
tuado nas mentes dos indivíduos e não pairando
tivo de cultura" são igualmente irresistíveis. Uma
sobre a comunidade.
visão assim considera como fundamental a distri-
Um último ponto importante, ao qual volta- buição de versões parciais de uma tradição cultu-
remos nos dois próximos capítulos, é que todos ral entre membros da sociedade:
os idiomas aparentemente têm o mesmo design
A distribuição de uma cultura entre os
organizacional subjacente; e há fortes motivos
membros de uma sociedade transcende as
para inferir que esse design está baseado em um
limitações do indivíduo na armazenagem,
grau bastante substancial na organização e progra- criação e uso da massa cultural. Um mo-
mação lógica de nossos cérebros. Se supusermos delo distributivo de cultura deve levar em
que os idiomas estão situados nas comunidades e conta tanto a diversidade quanto a comu-
não nas mentes individuais estaríamos inclinados nhão. É a diversidade que aumenta o in-
a acreditar que qualquer idioma imaginável é pos- ventário cultural, mas é a comunhão que
sível. Na verdade, apenas um pequeno segmento é responsável por um grau de comunica-
dos idiomas que poderiam concebivelmente ter bilidade e coordenação (SCHWARTZ,
sido inventados nas comunidades humanas po- 1978: 423).
deriam ser aprendidos e usados por animais com
cérebros humanos. Tal visão distributiva da cultura pode levar
em conta as várias perspectivas sobre um modo
de vida de mulheres e homens, jovens e velhos,
Cultura como pública, cultura como privada
especialistas e não especialistas. "Uma cultura"
Para ir mais além, precisamos aprender mais é vista como um pool de conhecimento para o
obre a linguagem no próximo capítulo. Mas es- qual os indivíduos contribuem de várias maneiras
as são precisamente as questões que são discu- e graus:
tidas com relação à cultura pelos antropólogos.
O conhecimento de um especialista ge-
queles que, como Geertz, argumentam que cul- nealógico, em Manus [uma ilha na Papua-
turas são sistemas de significados públicos, e não -Nova Guiné] [...] estava disponível para
ódigos privados nas mentes dos membros indivi- a estruturação de eventos e quando ele
uai apontam para a maneira como a "cultura morreu, sem transmitir seu conhecimen-
úlgara" existe antes de (e independentemente to para um protegé, a cultura foi altera-
e o na cimento de qualquer indivíduo búlgaro. da de forma importante (SCHWARTZ,
inalam a maneira como - como o idioma 1978: 429).
, .:;>aro- a cultura búlgara consiste em regras e
significado que transcendem as mentes indivi- Antropólogos que defendem essa visão distri-
.. gumemam que, como um sistema con- butiva de cultura argumentariam que ela nos dá
§3 O CONCEITO ANTROPOLOGICO DE OJ.:

instrumentos melhores para conceitualizar a mu- sua vida social de maneiras tai que tent
dança do que quando se retrata "uma cultura" ("a a população em um ecossistema, ou ela não
cultura Manus", "a cultura búlgara") como um breviverá como uma tradição cultural. • 1 a
istema que é externo aos membros individuais tradição cultural, como um compo to de oncei-
da sociedade e os transcende. tualizações que indivíduos têm de eu mun o.
deve também (como o idioma) ser pa Ivel
Aqui chegamos ao âmago do problema. as
aprendizagem e de uso. Se descrevermo uma
comunidades reais de Manus e da Bulgária, o
cultura como acima e além dos indivíduo que
conhecimento do mundo organizado nas men-
participam dela, corremos o risco de inventar
tes dos indivíduos varia de pessoa a pessoa, de
um sistema espúrio que não possa ser aprendido
subgrupo a subgrupo, de região a região, e va-
e usado por indivíduos humanos.
ria segundo a idade, o gênero e a experiência e
perspectiva de vida. No entanto indivíduos com-
partilham um código comum, principalmente Os perigos da reificação
ubmerso sob a consciência, que lhes permite se
"Uma cultura" é sempre um composto, uma
comunicar, viver e trabalhar em grupos, anteci-
abstração criada como uma implificação analí-
par e interpretar o comportamento um do outro.
tica. (Para outros objetivos, nós, como linguistas,
Compartilham, portanto, um mundo de signifi-
podemos querer descrever como uma "subcul-
ados comuns, embora os pontos de vista que
tura" alguma variação regional, local ou de um
têm a respeito desses significados sejam diferen-
subgrupo; e isso, também, é uma abstração da
te . Ao descrever "uma cultura" os antropólogos
várias versões do conhecimento individual.) Fa-
e tão tentando captar o que é compartilhado, o
zemos essa simplificação a fim de captar e des-
código de "regras" compartilhadas e de signifi-
crever como um sistema os elementos comparti-
cados comuns. Descrevemos um sistema cultural
lhados do conhecimento distribuído socialmen-
ou uma cultura quando nosso foco está nos ele-
te. Mas há um perigo em achar que essa abstra-
mentos comuns do código na comunidade (assim
ção que criamos tem uma concretude, uma exi -
como os linguistas falam do "idioma inglês", e
tência como entidade e uma agência causal que
não de um dialeto local ou variações individuais).
"ela" não pode ter. Tanto especialistas quanto
o mundo real, o conhecimento que descreve-
não especialistas tendem a falar sobre "a cultura'"
mos como cultural está sempre distribuído entre
como se ela pudesse ser um agente causativo ( a
indivíduos em comunidades.
cultura deles os leva a ir em busca de visõe ) ou
Além disso, a organização do conhecimento um ser consciente ("A cultura X valoriza a indi-
do mundo dos indivíduos, como a organização vidualidade"). Eles tendem também a falar orno
do idioma, está limitada e moldada pelas es- se "uma cultura" pudesse fazer coisa (" ua
truturas da mente e do cérebro. Um legado de tura se adaptou a um meio ambiente evero - o
onhecimento cultural de uma comunidade está a falar como se "uma cultura" fo e orno
ujeito a muitas restrições do "mundo real": ele grupo, algo a que poderíamo "perten er
deve levar as pessoas a reproduzirem, criarem os membro de outra cultura"). Preci amo- no e-
ilhos, proverem a alimentação e organizarem guardar dessa tentação de reificar e on re izar a
2 c JURA E PESSOAS: ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS

ulrura fal amente como uma "coisa" e lembrar No entanto, juntos criamos um sistema de signi-
ue "ela" é uma abstração estrategicamente útil ficados que compartilhamos no qual o graveto e
do conhecimento distribuído dos indivíduos em a bola passaram a ser imbuídos com uma magia
omunidades. que nós dois juntos lhes atribuímos. (Poderíamos
argumentar que meu cachorro e eu, com o pas-
sar do tempo, desenvolvemos algo assim como
Significados culturais como processos sociais
uma cultura comum própria; mas o cachorro de
Embora a cultura se refira ao conhecimento um estranho já deixou cair uma bola ou um gra-
distribuído entre indivíduos em comunidades, o veto a meus pés, para me incorporar tempora-
compartilhamento de significados nas vidas coti- riamente em seu sistema de significados.) Dizer
dianas das pessoas é um processo social, não um que os significados estão "na minha mente" e "na
processo privado. Aqui uma vez mais temos de mente do cachorro" pode ser neurologicamente
nos obrigar a pensar sobre experiências familia-
correto, mas ignora ou deturpa a maneira como
res de maneiras pouco familiares. Se imaginarmos
os significados são criados entre nós, como um
uma comunidade de indivíduos, cada um com sua
processo social.
conceitualização do mundo social e cada um pon-
O desafio nos anos vindouros será, creio eu,
do em prática rotinas e interpretando significados
captar o compartilhamento de significados e a
com base nessa conceitualização privada da reali-
construção social de mundos simbólicos - que
dade, deixamos de captar o processo social pelo
são iluminados pelas teorias "acima e além" de
qual os significados compartilhados são criados e
cultura - e, ao mesmo tempo, perceber a distri-
mantidos - um processo que ocorre, por assim
buição do conhecimento cultural nas comunida-
dizer, entre as pessoas e não simplesmente nos
mundos privados de seus pensamentos. (É essa des, para nos permitir conceitualizar o processo

construção social de significados compartilhados de transmissão e mudança cultural e relacioná-Io

que levou Geertz a criticar visões mentalistas da com as realidades políticas e econômicas. En-

cultura.) quanto isso não ocorre, o debate sobre o que a


cultura "é realmente" provavelmente não será
Um exemplo familiar dessa construção social
muito produtivo. Para alguns objetivos é útil
de ignificados compartilhados ilustrará o que
considerar o conhecimento cultural de um povo
foi dito. Se eu apanhar um grave to e o atirar para
como se ele fosse um único sistema coerente;
que meu cachorro o pegue, defini um pequeno
para outros objetivos precisamos levar em consi-
mundo de significados que o cachorro e eu (pelo
deração sua distribuição dentro da comunidade.
meno temporariamente) compartilhamos - no
A importância de adotar uma visão distributiva
ual o grave to é um símbolo de um relaciona-
ao interpretar a dinâmica da cultura, a maneira
enro ocial, não apenas um objeto físico. Meu
como o conhecimento cultural está socialmente
horro pode até iniciar o jogo colocando um
situado, será um tema recorrente nos capítulos
a 'e o ou uma bola de tênis a meus pés. O mun-
que se seguem.
~icológico privado do cachorro é separado
or milhõe de anos de evolução. ão Embora o comportamento real, o que as pes-
ompartilhar uma "cultura comum". soas dizem e fazem, possa ser observado, o mes-
§4 A RELAÇÃO ENTRE CULTURA E SOCIEl:W)E 3

mo não se aplica a suas ideias. Por que preocupar- munidade - digamos, uma cidade na Bulgária
-nos com a cultura se isso nos leva a uma terra do ou uma aldeia em Manus. Encontramo pe o
nunca de formulações mentalistas inobserváveis e organizadas em famílias e em outras coletivida-
imprecisas? Alguns estudiosos acreditam que os des - um clube de futebol na Bulgária, grupo
antropólogos deveriam se concentrar no compor- de pessoas compartilhando uma descendência
tamento, nas coisas observáveis e mensuráveis, comum em Manus. Encontramos pessoas atuan-
e deixar "a mente" para os filósofos. Há fortes do em várias capacidades umas com as outras;
razões pelas quais não podemos compreender o como médico, ou dono de loja ou líder político
comportamento humano sem postular um código na Bulgária, como curandeiro ou artesão ou ven-
ideacional sob ele. Podemos medir à vontade sem dedor de peixe em Manus. A partir dessas ca-
conseguir captar os significados de uma piscade- pacidades em que as pessoas atuam e os grupos
la e distingui-Ia de um espasmo. As razões mais que formam, podemos extrair outro conjunto de
imperativas para interpretar a ação social em ter- abstrações (complementares àquelas que extraí-
mos de códigos ideacionais, e não simplesmente mos dos códigos ideacionais que permitem aos
analisar a sucessão de comportamentos, vêm do búlgaros ou aos ilhéus de Manus se comunica-
e tudo do idioma. Veremos no próximo capítu- rem e viverem juntos). O segundo conjunto de
lo que grande parte daquilo que percebemos no abstrações focaliza os relacionamentos sociais e
mundo e investimos com significado não está de as coletividades.
orma alguma no mundo físico. ÓS o coloca-
mos lá no "olho de nossa mente." Apesar disso,
Papéis, identidades e grupos
é uma síntese das experiências de indivíduos e
opulações que foram codificadas com o passar Primeiro, podemos considerar que os búlga-
o tempo (SCHWARTZ, 1992: 324). ros ou os ilhéus de Manus interagem em um sis-
tema de capacidades ou de identidades sociais,
Antes de refinarmos e aprofundarmos nossa
desempenhando papéis. Os relacionamentos en-
compreensão de cultura nos cinco capítulos que
tre um médico e o paciente, e entre o médico e
se seguem precisamos adicionar outros instru-
a enfermeira compreendem relacionamentos de
mentos a nosso inventário conceitual; precisamos
identidade. (A identidade focaliza as capacida-
ver como a cultura se relaciona com a sociedade
des; o papel descreve o comportamento apro-
e como a estrutura cultural e a estrutura social
priado a um ator em uma capacidade e pecífi a.
e tão entrelaçadas.
Observe que, como no caso da cultura, e tamo
abstraindo aquilo que é comum ao médi o e
4 A relação entre cultura pacientes e passando por cima da aria õe en-
e sociedade tre indivíduos. Um grupo social é uma ole - -i-
dade de indivíduos que interagem re endamen e
Precisamos agora examinar um segundo e em um conjunto de relacionamen o de identi-
omplementar conjunto de abstrações que cien- dade conectados. Podemo re rringir no o foco
tas sociais fazem a partir das realidades com- a uma única família em uma aldeia de • 1anus e
lexas da vida social. Comecemos com uma co- descrevê-Ia como um grupo ou podemo gene-
E PESSOAS: ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS

ralizar obre "a família" como um tipo de grupo damente e sem ambiguidades. Nos últimos anos
o ial em Manus. nossa compreensão do mundo se aprofundou e
e examinarmos uma comunidade, em algum as margens agora parecem menos nítidas do que
egmento dela (um hospital, uma família) ou um foram em um determinado momento. Aqui as
reflexões de Schwartz sobre Manus, dentro do
conjunto de comunidades como um sistema de
sistema regional das Ilhas do Almirantado, são
relacionamentos de identidade e grupos, a des-
uma boa ilustração:
crevemos como um sistema social. Até que nível
iremos escavar depende daquilo que estamos exa- Delimitar uma cultura espacial e demo-
graficamente é [...] problemático [...]. A
minando. Podemos querer falar sobre "a fábrica
população de Manus é com alguma facili-
de tratores búlgaros" e nesse caso um retrato
dade unida ecológica, linguisticamente e
bastante abstrato e idealizado de um sistema so-
em outros aspectos culturais [...]. [Mas] a
cial seria suficiente. Ou poderíamos querer falar
sua é uma cultura especializada na pesca
sobre uma fábrica de tratores específica, e nesse e no comércio entrelaçada em relações
caso as características especiais daquela fábrica de intercâmbio com todos os outros po-
tornam-se visíveis. A organização de um sistema vos do Arquipélago [...]. A cultura Manus
social em grupos e relacionamentos de identidade [tem] [...] de ser considerada como parte
compreende sua estrutura social. de uma cultura areal simples e interativa
abarcando a totalidade das Ilhas do Almi-
rantado (SCHWARTZ, 1978: 422).
A ligação de sociedade e cultura
Voltaremos a esses problemas de ligação de
Todas as comunidades que estão conectadas
sociedades no Capítulo 5.
política e economicamente (e, portanto, com-
preendem uma espécie de sistema social total)
podem ser consideradas como compreendendo O cultural e o social
uma sociedade. Caracteristicamente, uma socie- Qual é o relacionamento entre o conjunto de
dade abrange um sistema social total cujos mem- abstrações construído a partir de relacionamentos
bros compartilham um idioma e uma tradição sociais e o conjunto de abstrações construído a
cultural comuns. Mas em um sistema social com- partir das concepções e significados que um povo
plexo, tal como o da Bulgária, encontramos mi- compartilha de um modo geral? Elas são manei-
norias étnicas e forasteiros, portanto precisamos ras complementares de examinar a mesma reali-
falar sobre uma tradição cultural e linguística dade, cada uma delas iluminando um lado distin-
dominante. Tradicionalmente, os antropólogos to. Como escreveu Geertz:
eixaram que os sociólogos se encarregassem A cultura é o tecido de significado em
o e rudo das sociedades complexas; e eles pró- termos do qual os seres humanos inter-
ia examinavam ambientes de escala bem pe- pretam sua experiência e orientam sua
ena tal orno Manus, onde podia ser presumi- ação; a estrutura social é a forma que a
o e odo compartilhavam a mesma cultura e ação ad~ta, [...] a rede de relações sociais.
ben "da ociedade eram definidas niti- Cultura e estrutura social são [...] abstra-
§4 A RELAÇÃO ENTRE CULTURA E SOCIEDADE 4S

ções diferentes dos mesmos fenômenos titura musical e seus atores a uma orques-
(GEERTZ, 1957: 33-34). tra. Eu queria encontrar alguma maneira
de expressar e analisar a interdependência
Os dois modos de abstração a partir de eventos dinâmica da partitura e da orquestra mani-
a comunidades servem propósitos complemen- festada em uma única apresentação. Além
zares. No entanto, é possível dar ênfase primordial disso, queria encontrar um arcabouço teó-
à cultura de uma comunidade ou à sua estrutura rico que teria me permitido compreender
por que certas pessoas e seções da orques-
ial. A antropologia americana, trabalhando por
tra estavam obviamente sem empatia com
.' adas nas pegadas de Franz Boas e comandadas
o maestro ou uns com os outro embora
- r seus alunos, Kroeber, Linton, Sapir, Benedict,
todos fossem obviamente mú ico talen-
ead, Lowie, Herskovits e Kluckhohn, há muito
tosos, e tivessem praticado bem o deta-
. -o ênfase primordial às culturas, como legados lhes da partitura. Nem as propriedades
acionais de comunidades. da orquestra como grupo social nem as
Em contraste, a antropologia britânica, con- propriedades da partitura, con ideradas
erando sua tarefa como uma forma de so- separadamente uma da outra pare iam
capazes de explicar plenamente o om-
logia comparativa, deu ênfase primordial à
portamento observado, as he ira õe em
utura social como um arcabouço organiza-
certas passagens, as lacuna de omu-
r para a teoria. Mais recentemente, o isola-
nicação entre o maestro e as cord ou
nto intelectual parcial das duas comunidades
as caretas e sorrisos de comi era -o en-
- dêmicas foi em grande parte superado, em tre os membros da orquestra ~:ER
efício de ambas; e cada uma delas foi pro- 1968a: 135-136).
damente influenciada pelas tendências na
- opologia francesa que consideram como um A busca por uma forma de compreender a
blema central o relacionamento entre as es- interação entre a orquestra e a partitura - entre
ruras da mente e as estruturas da sociedade, o sistema social e a cultura - a fim de obter uma
rricularrnente na obra de Claude Lévi-Strau s. compreensão mais ampla dos proce o o iai foi
rura e estrutura social vêm ocupando seu um tema importante na antropologia re ente (cf,
:.-.li de direito como abstrações da complexa tb. TURNER, 1992).
idade que são complementares e se reforçam Tanto a concepção de cultura de envolvida
ruamente. aqui e as concepções de sociedade e e trutura
Uma analogia usada por Victor Turner ao social têm limitações como instrumento para a
. ar Mukanda, um ritual de iniciação dos compreensão da organização interna de sistemas
mbus da Zâmbia, irá esclarecer melhor o re- sociais - especialmente sistemas complexos - e os
onamento entre cultural e social como abs- processos de mudança. Mas eles ão elementos es-
ções complementares e o desafio de analisar a senciais de que precisaremos para desenvolver um
- ração entre elas. sistema conceitual apropriado para nossa tarefa.
Uma símile que me ocorreu comparou a Nos capítulos da Parte 3, quando examinarmos a
estrutura cultural dos Mukanda a uma par- organização interna de sociedades e suas culturas,
E PESSOAS: ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS

emo on truir um sistema conceitual mais con- liarizados em virtude de nossa própria experiên-
-in ente passo a passo. No final da seção faremos cia vital ou de nossa formação ou se assemelha
uma pausa para reunir e sumarizar esse inventário a eles.
de in trumentos teóricos. Depois, como na Parte 4 Devemos lembrar que "uma cultura" é dinâmi-
examinaremos a vasta complexidade das socieda-
ca e está sempre mudando à medida que pressões
de contemporâneas, estaremos testando esse sis-
novas ou recorrentes são colocadas sobre ela. Em-
tema teórico e acrescentaremos outras dimensões
bora a cultura se refira ao conhecimento diferen-
de entendimento.
cialmente distribuído entre indivíduos em comuni-
Mas agora, no Capítulo 3, precisamos au- dades, o compartilhamento de significados na vida
mentar nosso conhecimento da natureza e da or- diária das pessoas é um processo social, não um
ganização dos sistemas ideacionais examinando processo privado. As pessoas em uma sociedade
o setor da cultura que é mais bem-mapeado - o desempenham certos papéis e adquirem identida-
idioma. A seguir, no Capítulo 4, examinaremos des sociais como parte de um grupo social.
o relacionamento entre culturas como legados
ideacionais de sociedades e a psicologia de in-
SUGESTÕES PARA LEITURAS ADICIONAIS
divíduos.
Seção 3
sUMÁRIO FREILICH,M. (org.) (1972). TheMeaningafCul-
ture. Lexington, Mass: Rand Xerox Publishing.
Este capítulo discutiu o conceito antropoló-
gico de cultura como um acúmulo aprendido de GEERTZ, C. (1973). The lnterpretation o] Cu/-
experiências vitais e apresentou várias definições tures. Nova York: Basic Books.
de como diversos antropólogos descreveram cul- GOODENOUGH, W.H. (1971). Cu/ture, Lan-
tura. As culturas são sistemas de ideias compar- guage and Saciety - McCaleb Module in Anthro-
tilhadas. Assim, podemos nos referir à cultura pology. Reading, Mass: Addison-Wesley Publishing
como um sistema ideacianal; em contraste, um Company.
sistema sociocultural pode referir-se aos padrões
(1961). "Comment on Cultural Evolu-
de residência, exploração de recursos e modos
tion". Daedalus, 90, p. 521-528.
de vida cotidianos característicos de um grupo
específico de pessoas. Uma dificuldade que surge LANGNESS, L.L. (1974). The Study af Culture.
ao estudar uma cultura ocorre na análise adequa- Novato, Calif.: Chandler and Sharp.
da dos padrões culturais da sociedade. Examinar
SPRADLEY,].P. (1972). "Foundations of Cultural
outros modos de vida em termos de nossas pró-
Knowledge". ln: SPRADLEY, ].P. (org.). Culture
rias perspectivas culturais é chamado de etno-
and Cagnitian: Rules, Maps and Plans. São Fran-
enrri mo e produz resultados tendenciosos que
cisco: Chandler Publishing Company.
em er parcialmente evitados se examinarmos
cuidado amente os códigos culturais - os indícios WAGNER, R. (1975). The Inventian o] Culture.
eLX de como uma cultura específica difere Englewood Cliffs, N.].: Prentice-Hall.
: adrõe culturais com os quais estamos fami-
§4 A RELAÇÃO ENTRE CULTURA E scx::JEIW)E 7

Seção 4
DLE, B.]. (1979). Role Theory: Expectations,
iries and Behaviors. Nova York. Academic

DE OUGH, WH. 1971. Culture, Langua-


d ociety - McCaleb Module in Anthropo-
_ Reading, Mass.: Addison-Wesley Publishing
any.

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