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A ARTE AFRICANA COMO FONTE: A importância de uma análise profunda dos

objetos da cultura material para a construção da história do continente africano.


Lucas Ribeiro Garro Lourenço1
Graduando em História pela UFMG e em Direito pela PUC Minas

Resumo: O presente trabalho busca discutir a importância da cultura material para a produção
do conhecimento histórico. Nesse sentido, procura-se evidenciar a importância da aplicação
de um método correto que busque a contextualização histórica e cultural destes objetos
obtendo. Para tanto será feita a análise de dois objetos que compõem a cultura material
africana, a fim de se evidenciar a importância destas fontes e do bom método.

O processo de colonização em África se deu em finais do século XIX por meio de


grande violência, custando a vida de muitos e gerando sofrimento a outros tantos. Dentre as
práticas comuns realizadas pelo os colonizadores estava a apropriação e roubo dos mais
diversos tipos de peças de arte, esculturas, máscaras, painéis dentre outros, que eram vendidas
aos mais diversos museus do mundo. Essas obras, faziam parte do cotidiano destes povos e
expressão nelas toda uma cultura e uma história, são elas parte importante da memória
material dos povos africanos.
Nesse sentido, por fazerem parte desta cultura material tais peças são importantes
fontes que se bem analisadas pelos olhares de historiadores, iluminados pelo uso de uma boa
metodologia e pelo cruzamento de fontes permite a construção da história da cultura material
das mais diversas comunidades que existiam e ainda existem no continente africano, em um
período anterior à chegada dos europeus.
Essa metodologia própria para estudo da cultura material a partir de uma perspectiva
histórica, está localizada na tênue linha que divide a história e a antropologia, ela é resultado
do diálogo profundo entre estas duas ciências. Assim, a dimensão da história da cultura
material se debruça sobre os objetos matérias de um certo povo, e extrai deles não apenas
aquilo que se relaciona com sua condição material (formato, cor, tamanho, matéria prima),
mas também o seu papel e seu significado naquele meio em que foi produzido, ou seja,

1
Trabalho apresentado à disciplina de Arte Africana: introdução aos conceitos, usos e colecionismos,
ofertada pela profa. Vanicléia Silva Santos, 2018/01.
entender o lugar do objeto aquela cultura e assim, poder entender aspectos daquela cultura em
uma perspectiva mais ampla.2
Diante disso, o autor que busca trabalhar com estes objetos e a partir deles produzir
um conhecimento histórico deve vê-los “como fonte de compreensão do mundo dos homens
(...)que apresentam interpretações do mundo”3. Logo, os homens traduzem em seus objetos
suas crenças, religiões, práticas, modas, hierarquias, papéis sociais, dentre outros vários
aspectos a vida cotidiana.
Por permitirem a observação destes vários aspectos da vida cotidiana de um povo os
objetos devem ser tratados com bastante cuidado, e analisados com a mais minuciosa crítica
documental, assim como, deve-se confrontá-los com a maior quantidade e diversidade de
fontes possíveis. Assim é fundamental se debruçar, em um primeiro momento sobre a estética
da obra em si, que deve ser feito se desprendendo de elementos e conceitos próprios da arte
europeia se estamos estudando a arte africana, já que a mesma possui uma estética própria,
moldada e desenvolvida na vivência dessas comunidades que se diferenciavam entre si. A
própria aplicação do termo estética à arte africana é questionável, uma vez que foi criado e
desenvolvido pensando a arte ocidental, e não outras formas de se ver e de se produzir o belo.
4

Assim como os aspectos da forma é fundamental pensar o significado e o lugar desse


objeto na cultura, no rito, ou na sua função. Sendo seu papel religioso a ele se atribui todo um
conjunto de significados e funções, mas se seu papel for decorativo ou de utilidade individual,
seus significados e funções irão se alterar e ele revelará aspectos importantes de outro âmbito
daquela cultura.
Nesse sentido, para se utilizar o objeto como uma fonte histórica é preciso
historicizá-lo ao máximo, é fundamental entender o contexto em que ele foi feito, para quem
foi feito, com qual finalidade, em que contexto era usado, de que forma era entendido.

2
BARROS, Jose da. História da cultura material: Notas sobre um campo histórico em suas relações
intradisciplinares e interdisciplinares. p. 1-17, 2010
3
​MENESES, José Newton Coelho. Introdução - Cultura material no universo dos Impérios europeus modernos.
An. mus. paul. [online]. 2017, vol.25, n.1 [cited 2018-04-16], p.1 . Available from:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-47142017000100009&lng=en&nrm=iso>.
ISSN 0101-4714. http://dx.doi.org/10.1590/1982-02672017v25n01do.
4
MUNANGA, Kabengele. ¿A Dimensão Estética na Arte Negro-Africana Tradicional. In: AJZENBERG, Elza
(org.). Arteconhecimento. São Paulo: PGEHA, 2004, p.p. 29-44 ou FASO, Roger Somé de Burkina, Art Africain
Et Esthétique Occidentale – La Statuaire Lobi et Dagara Paris: L ́ Harmattan, 1998
Quando estes elementos são colocados encaixados as conclusões obtidas apresentaram
cenários, práticas e
aspectos da cultura e da vida cotidiana de um povo, servirão para a construção de todo um
conhecimento sobre a cultura e a história dos povos africanos que foi por séculos escondida
ou interpretada à luz de uma cultura externa, que via a arte desses povos como exemplo de
primitivo e rústico, mas que revela uma riqueza cultural inimaginável.
Assim, tentaremos brevemente analisar duas obras artísticas africanas de diferentes
povos que viviam próximos, levando em consideração a discussão que fizemos. A primeira
delas será uma escultura representando o rei Ewuake do reino do Benin e a outro duas
estátuas Ibejis produzidas pelo povo Iourubá.
A imagem ao lado é a representação de um
importante rei do Benin, conhecido como Ewuake. Ela foi
produzida em meados do século XVIII, na atual região da
Nigéria, que na época era o Reino do Benin.
Essa imagem é interessante pois revela informações
sobre a hierarquia social e também sobre a religiosidade
deste povo, dentre outras coisas. Primeiramente deve ser dito
que estatueta foi encontrada em um altar, ela é feita em
bronze, mede cerca de 58 cm de altura. Além destas
informações técnicas é importante elucidar também as suas
características artísticas, está presente nela um modo próprio
de se fazer arte, revelado pelo tamanho do tronco em relação
às pernas, assim como os olhos em relevo e com um formato
bem peculiar.
(Estátua do Rei Ewuake, bronze,séc.
XVII 58 cm, Reino do Benin (atual
Nigéria), Museu de Volkerkunde,
Hamburgo Alemanha)
Vemos ao centro, uma figura destacada não só pela sua posição, mas também por seu
tamanho, e vestimentas. Outras fontes já revelaram que as contas de corais representadas em
seu pescoço e tornozelos eram um luxo direcionado apenas à realeza. Seu tamanho maior e
posição mais vigorosa demonstra poder em relação às figuras menores, evidenciando sua
superioridade em relação à hierarquia social.
Suas vestimentas e adereços indicam que não era uma cena da vida cotidiana que
vemos, provavelmente estamos lidando com algum ritual religioso, na interpretação de Blier,
ele carrega um machado de pedra para impelir sofrimento e justiça em seus inimigos,
conhecido como machado de “Ogiwu”5.
O local onde essa obra foi encontrada revela sua função e seu papel naquela
sociedade. Ela era uma peça de um altar, logo, compunha parte importante no ritual religioso
daquele povo. No reino do Benin o culto aos ancestrais era das principais formas de culto,
havendo vários altares dedicados aos entes falecidos, que deveriam ser cultuados para que
assim descansassem e protegessem aqueles que permaneceram vivos.
A imagem abaixo representa um Ibeji feito em madeira que compõe o acervo do
museu britânico sendo produzido, provavelmente no início do século XX, segundo
informações do Museu.
Essa escultura faz parte de uma antiga tradição e revela não
só aspectos religiosos, mas sociais acerca do modo que se
tratavam os gêmeos naquela sociedade. A obra e bem simétrica e
embora siga a tradição de construir um tronco maior que as
pernas, a diferença não é tão grande, outro aspecto importante são
os olhos, também em relevo e com formato típico da arte desse
povo, por fim as marcas na bochecha, que serviam para identificar
a qual grupo familiar esse indivíduo pertencia.
Além destes aspectos artísticos, a arte revela a tradição de
se criar estatuetas para os gêmeos mortos, uma vez que, devido a
sua ligação com o outro irmão era essencial que se continuasse a
agradar o espírito do falecido, que traria assim fortuna e sorte para
a
sua família e conseguiria descanso.6

5
BLIER, Suzanne Preston. The Royal Arts of Africa: the Majesty of Form. republication. London: Lawrence
King, 2012 p.72
6
SILVA, Renato Araujo da.;BEVILACQUA, J. R. S.; SALUM, M. H. L.. África em Artes. São Paulo: Museu
Afro Brasileiro.
Ibeji;Madeira;Nigéria,Povo
Iorubá; 23cm; 1950; Museu
Britânico.
De maneira extremamente breve procurei apresentar aqui não só a importância que
essas produções da cultura material possui, mas também o seu papel frutífero como fonte
histórica. Embora as interpretações que aqui apresento não tenha um caráter inovador e se
apoiam na elaborada por outros autores, busquei evidenciar como ela se dá de maneira mais
profunda quando tentamos nos depreendemos de conceitos e preconceitos da cultura
ocidental.
Esse desprendimento só se dará quando pararmos a interpretar essas obras pelo seu
caráter estético ou funcional, mas sim por todo o conjunto de fatores que a envolvem como o
lugar em que foi encontrada, o contexto histórico e cultural, quem a possuía, para quem foi
feita e como chegou aonde ela está hoje, esse conjunto de informações são essenciais para
uma interpretação profunda e embasada destas fontes.

REFERÊNCIAS
BARROS, Jose DA. História da cultura material: Notas sobre um campo histórico em suas
relações intradisciplinares e interdisciplinares. p. 1-17, 2010b.
BLIER, Suzanne Preston. The Royal Arts of Africa: the Majesty of Form. republication.
London: Lawrence King, 2012.
BLIER, Suzanne Preston. ¿Assemblage: Dahomey Art and the Politics of Dynasty¿. Res:
Anthropology and Art. Vol. 45. (2003): , Vol. 45. , 186 ff. Print.
JUNGE, Peter. ¿Arte da África¿. In. Obras Primas do Museu Etnológico de Berlim. Catálogo
acompanhando a exposição do Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, 2004).
MELLO E SOUZA, Marina de. Catolicismo negro no Brasil: santos e minkisi, uma reflexão
sobre miscigenação cultural. Afro-Ásia, núm. 28, 2002, pp. 25-146.
MENESES, José Newton Coelho. Introdução - Cultura material no universo dos Impérios
europeus modernos. An. mus. paul. [online]. 2017, vol.25, n.1 [cited 2018-04-16], p.1 .
Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
47142017000100009&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0101-4714. http://dx.doi.org/10.1590/1982-
02672017v25n01do
MUNANGA, Kabengele. ¿A Dimensão Estética na Arte Negro-Africana Tradicional¿. In:
AJZENBERG, Elza (org.). Arteconhecimento. São Paulo: PGEHA, 2004, p.p. 29-44.
SANTOS, V. S. ; ZUBERI, T. . O ìróké Ifá de marfim no candomblé da Bahia e nas coleções
de arte africanas. A transversalidade dos direitos das Minorias e a diálogo intercultural Brasil-
África. Instituto Memória,2017, v. 1, p. 240- 290.
SILVA, Renato Araújo da; BEVILACQUA, J. R. S.; SALUM, M. H. L.. África em Artes.
Paulo: Museu Afro Brasileiro.
SALUM, Marta Heloísa Leuba (Lisy). África: culturas e sociedades. Texto do guia temático
para professores África: culturas e sociedades, da série Formas de Humanidade, do Museu de
Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo.
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