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PODER JUDICIÁRIO

SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE PERNAMBUCO


PLANTÃO JUDICIÁRIO

CLASSE: AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE E INTERDITO PROIBITÓRIO


PROCESSO: A DISTRIBUIR NO PJE
AUTOR(A): UNIÃO
RÉ(U): PESSOAS INCERTAS E NÃO SABIDAS

DECISÃO

A UNIÃO, por seus advogados, ajuíza ação possessória de


reintegração de posse com interdito proibitório e pedido liminar, em
face de pessoas incertas e não sabidas que se encontram bloqueando
as rodovias federais e adjacências.

Argumenta que de segunda-feira, 21/5/2018, a quinta,


24/5/2018, tem aumentado consideravelmente o número de bloqueios
nas estradas federais que cortam o Estado de Pernambuco, conforme
mapa detalhado pela Polícia Rodoviária Federal que acosta, passando
de 4 para 22 pontos de obstrução. Noticia a suspensão do expediente
forense determinada tanto pelo TRF da 5ª Região, quanto pela Justiça
Federal em Pernambuco.

A despeito do acordo encetado entre o Governo Federal, ontem


à noite, e os sindicatos de diversas entidades de transportes
rodoviários, os manifestantes permanecem irredutíveis e impedem o
livre trânsito de caminhões aos usuários do trânsito local e
interestadual, sobretudo para quem transporta cargas perigosas e
perecíveis, havendo risco de acidentes de trânsito.

Em consequência, entende ilícita a atitude por haver o


movimento excedido seu direito de protesto, o que exsurge para a
União o direito de proteção ao bem público (art. 20 do Decreto-Lei
9.760/46), quais sejam as rodovias federais. Por outro lado, giza, se é
livre o exercício da reunião pacífica, esta há de se fazer em locais
públicos, não sendo as rodovias local dessa natureza, sendo inclusive
defeso ao pedestre a permanência em estradas ou o uso das vias de
modo a perturbar o trânsito (art. 254, I e IV, do Código Brasileiro de
Trânsito). Para tanto, invoca a necessidade de zelo pelo patrimônio
público, assim como integridade física das pessoas mediante pedido de
reintegração de posse e fixação de interdito proibitório.

Pede o auxílio da força policial a ser exercido pela Polícia Militar,


considerando a possibilidade de serem acirrados os ânimos.
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Finalmente, a título de liminar, pede:

a) que seja determinada a reintegração de posse de todos os trechos de


rodovias federais irregularmente ocupados situados no âmbito do Estado
de Pernambuco (seja a própria rodovia, seja suas áreas adjacentes -
margens e acostamentos), conforme apontados no Relatório da PRF, ou
outros eventualmente ocupados em razão do caráter dinâmico do
movimento, tudo com o auxílio da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia
Militar do Estado de Pernambuco;

b) que seja determinada também obrigação de não fazer aos réus, no


sentido de impedir a expansão das ações de turbação e esbulho e a
interdição de outros trechos ainda não obstruídos;

c) seja fixada multa de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) por pessoa física ou
jurídica participante, devendo-se anotar as placas dos veículos que
estejam a impedir ou dificultar a livre circulação nas rodovias federais do
Estado de Pernambuco, ou que, de qualquer modo, cause prejuízo à
segurança e à fluidez do trânsito nas aludidas rodovias federais, até
segunda ordem desse DD. Juízo Federal, quando comprovadamente
cessado o risco decorrente de outras manifestações decorrentes dos
pleitos dos trabalhadores de transporte de cargas nos próximos meses;

d) sejam expressamente autorizadas as forças de segurança


competentes - Polícia Rodoviária Federal e a Polícia Militar de
Pernambuco, em auxílio à Polícia Rodoviária Federal - a solicitar dados
relativos à própria identidade (incluídos número de documentos de
identidade, CNH e documentos dos veículos que estejam participando do
movimento), a fim de identificar manifestantes que tenham descumprido
o preceito cominatório (item b), bem como aviar a imposição da sanção
pecuniária, sob pena de prática, pelos manifestantes que se recusarem,
da infração penal, em tese, prevista na Lei de Contravenções Penais,
devendo ser levados à presença da autoridade policial competente
(Polícia Civil do Estado de Pernambuco) para as providências de polícia
judiciária;

e) seja autorizada a documentação, por qualquer meio hábil e legítimo, a


cargo das forças de segurança competentes - Polícia Rodoviária Federal
e Polícia Militar de Pernambuco, em auxílio à Polícia Rodoviária Federal
- de ocupação coletiva das rodovias federais, ocorrida durante
manifestação, que impeça ou dificulte a livre circulação de veículos
automotores ou que, de qualquer modo, cause prejuízo à segurança e à
fluidez do trânsito nas aludidas rodovias federais, a fim de possibilitar a
identificação precisa dos ocupantes; e
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f) seja enviada cópia da esperada decisão favorável à


Superintendência Regional do Departamento da Polícia Rodoviária
Federal em Pernambuco - Sr. VALCIR CORREIA ORTINS -
Superintendente - Avenida Antônio de Goes, 820, Pina, Recife/PE, CEP:
51.010-000, telefone: (81) 3201-0784, para conhecimento e providências
destinadas a seu cumprimento.

É o relatório, passo a decidir.

A fim de viabilizar a abertura do diálogo com as lideranças do


movimento, até para permitir a compreensão real da pauta de
negociações, foram tentados diversos contatos, conforme declaração
do Diretor Plantonista, todas, no entanto, sem qualquer êxito.

Ressalto que desde a liminar por mim deferida na última quarta-


feira, relativamente ao acesso dos caminhões-tanque de combustível
de aviação do porto ao aeroporto, pode-se constatar a dificuldade de
comunicação. Aliás, foi visto igualmente que a exequibilidade da
medida também fora frustrada devido aos próprios motoristas das
empresas transportadoras, porquanto o caminhão alcançava o Porto
de Suape, mas não era carregado, ficando ali estacionado sem
qualquer cumprimento ou preocupação de atendimento à ordem
judicial.

Nesse cenário, se de um lado exsurge o diálogo frustrado, por


outro, as decisões judiciais têm sido infrutíferas para restabelecer a
regularidade dos serviços. Tenho notícias não somente da decisão por
mim proferida, como também da que foi objeto de complementação
pelo juízo natural da 35ª Vara para onde o processo foi distribuído. E
mais, na noite de ontem, a Juíza da Vara da Fazenda Pública de Ipojuca
determinou a regularização dos serviços de gás, combustível e oxigênio
para atender a presídios, viaturas e hospitais. No meio está a
população, que assiste atônita a toda quebra de braços entre governo
e caminhoneiros autônomos. São filas quilométricas nos postos de
gasolina, abuso de preço vendido ao consumidor seja pelos donos de
postos seja por particulares, armazenagem e estoque de combustível
e alimentação, falta de oxigênio em hospitais e gás no sistema prisional
entre outros problemas visualizados.

Na presente ação, o objeto é a reintegração de posse do bem


público federal, rodovias e estradas adjacentes, por meio das quais
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está sendo impedido o livre trânsito de caminhões/carretas de carga.


Não adianta qualquer indicação do trecho à medida que o bloqueio tem
sido dinâmico e, demais disso, não se trata de aposição de objetos na
pista, senão a própria presença física dos manifestantes.

Se assim é cumpre analisar a presença dos requisitos previstos


no art. 561 do CPC, quais sejam a posse, a turbação ou esbulho
praticado pelo réu, a data da turbação ou esbulho, a continuação da
posse, no caso de turbação, ou a perda da posse, no caso de esbulho.

No entanto, há uma discussão subjacente a toda essa


problemática. Trata-se da análise do direito de protestar. Não se nega
àqueles diretamente afetados por alguma decisão administrativa o
direito de ter sua voz ouvida, de poder apontar alternativas e soluções
para se chegar a um consenso, influindo propriamente. Isso é o
exercício da cidadania, direito muito caro e necessário a esse país tão
pacífico que, usualmente, assiste inerte a qualquer deliberação
governamental.

Sem dúvidas, o aumento dos combustíveis é medida que impacta


diretamente a vida cotidiana dos brasileiros que, de certo modo,
sentem-se vitimados pelo caos acontecido nas instâncias superiores da
Petrobrás, sobretudo após as revelações estarrecedoras e diárias da
Operação Lava-Jato. Em se tratando de sindicato que lida com os
transportes rodoviários, a medida impacta diretamente a atividade e,
pois, não se nega legitimidade ao movimento.

No entanto, o governo federal acabou de celebrar acordo com a


classe, o qual consta de documento a seguir juntado e do qual se
evidencia efetiva melhoria do preço dos combustíveis com exonerações
fiscais, subsídios à petroleira, dentre outros benefícios que vão
impactar direta e imediatamente a classe que hoje reivindica. Note-se
que, a despeito de um só representante que diz falar por mais de 650
mil caminhoneiros, ter deixado sala de negociações, quem firmou o
pacto tem legitimidade para defender o interesse das categorias
envolvidas. Confiram-se: Confederação Nacional dos Transportadores
Autônomos – CNTA, Confederação Nacional do Transporte – CNT,
Federação dos caminhoneiros autônomos de vários estados da
federação e de regiões do país.
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Quer isso dizer que o direito de protestar foi sim efetivamente


desempenhado e a sociedade apoiou definitivamente a categoria, como
se viu das múltiplas postagens nas redes sociais. Ocorre que, após a
celebração de pacto, que minora os efeitos danosos da medida
anunciada pelo Governo Federal, a manutenção do estado paredista é
matéria que excede o direito pacífico de contestação, incorrendo em
verdadeiro abuso, a teor do art. 187 do Código Civil.

A obstrução da rodovia com a consectária limitação de passagem


e risco de desabastecimento, seja de combustíveis como de bens de
consumo, pior ainda os perecíveis, representam abuso do direito, há
de ser rechaçado. A teor do que prescreve a Constituição, art. 5º, VI,
é livre o direito de locomoção, mas em situações como a atual esse
direito é veementemente solapado. Por outro lado, se é garantido o
direito à reunião pacífica (art. 5º, XVI, da CF), o exercício
indiscriminado do bloqueio da rodovia, sem excepcionar as situações
extraordinárias como a presente de crise de abastecimento em todos
os gêneros de mercancia, importa em ferimento ao preceito
constitucional, por deixar de ser pacífica a associação. Demais disso, é
princípio cogente a supremacia do interesse público sobre o privado, o
que não é obedecido numa situação em que os transportadores não
permitem o acesso dos caminhões não participantes do movimento aos
destinos que se quer chegar. Finalmente, se em relação ao direito de
greve, a Constituição estabelece a necessidade de manutenção mínima
dos serviços essenciais (arts. 9º e 37, VII, da CF e sua regulamentação
por meio da Lei 7.783/89), o mesmo tratamento há de se esperar
dessa parcela da iniciativa da atividade privada que, por isso mesmo
explora autonomamente o transporte rodoviário de mercadorias. E
aqui o registro de que o movimento, como dito, já alcançou êxito, não
justificando mais a manutenção da resistência, que agora passa a ser
ilegal.

Feita a análise, é evidente a subsistência dos pressupostos para


o mandado liminar de reintegração de posse. E mais, ciente de que há
justo receio de que haja novas invasões, mesmo porque como já
referido ordens judiciais anteriores acabaram por ser descumpridas, há
causa para a concessão ainda de mandado proibitório nos termos do
art. 567 do CPC, inclusive com a fixação de pena pecuniária para o
caso de transgressão ao preceito.
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A posse das estradas e rodovias federais é inerente aos bens


públicos dessa natureza que são, daí a responsabilidade da União ora
autora a zelar pelo livre trânsito, bem como o efetivo esbulho/turbação
e mesmo a ameaça. Como se trata de eventos acontecidos a partir de
domingo 20/5/2018, é posse nova a justificar a presente medida.

Considerando a resistência ao cumprimento às ordens judiciais,


inclusive a multiplicação de decisões de igual teor por todo o país,
assim mostrado pela parte autora com a presente inicial, hei por bem
determinar, além da pena pecuniária, outras medidas para alcançar o
pleno atendimento à ordem judicial, o que faço munindo-me da
previsão legal inserta no art. 519 c/c art. 536, §§ 1º e 3º, do CPC.
Afinal,

No caso em análise, portanto, encontram-se presentes os


pressupostos autorizadores da medida de urgência.

Em face do que se expôs, DEFIRO O PEDIDO LIMINAR, em


ordem a determinar que a Polícia Rodoviária Federal, com apoio
institucional da Polícia Militar, sem prejuízo da participação da Polícia
Federal e até mesmo das Forças Armadas, o que já foi autorizado pelo
Excelentíssimo Presidente da República, cumpra mandado proibitório e
de reintegração de posse mediante mera apresentação de cópia da
presente decisão a qualquer uma pessoa que esteja obstando o curso
livre e desimpedido das rodovias, servindo esta, portanto, como
mandado.

A comunicação desta tutela será efetivada mediante intimação


por meio da oficiala de justiça plantonista à Polícia Rodoviária Federal
e ao Comando da Polícia Militar de Pernambuco.

Acaso haja resistência de cumprimento, o policial que efetivar a


ordem haverá de advertir o manifestante quanto aos riscos de sua
atitude, inclusive em relação à multa pecuniária de R$1.000,00, sem
prejuízo da remoção da pessoa para se proceder à sua identificação e
consequente suspensão do direito de dirigir, na forma do art. 256, III,
do CTN, pelo prazo de 6 meses, o que será cumprido por ofício ao
DETRAN.
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Acaso haja recidiva da conduta que se quer obstar, tanto a multa


quanto a restrição serão dobradas, sem prejuízo de eventual
majoração, caso haja necessidade e venha a ser oportunamente
identificada.

Ainda a título de astreints, incidirão as pessoas que obstem a


livre circulação de caminhões e carretas nas rodovias nas penas de
litigância de má-fé e responsabilização por crime de desobediência.

Haja vista a dificuldade de mobilização das forças policiais na


data de hoje, a execução da presente ordem se fará a contar das 7h
da manhã de sábado, 26/5/2018.

Intimem-se, com a urgência que o caso requer.

Cumpra-se.

Recife, 25 de maio de 2018.

Daniela Zarzar Pereira de Melo Queiroz

Juíza Federal, em plantão.

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