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Os rios também são fundamentais para a culinária da O programa apresenta algumas estratégias de proteção > DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
região. A pesca é abundante, mas a pesca predatória já é um ambiental, desenvolvidas pelo Brasil, como a Lei das Águas,
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A BACIA HIDROGRÁFICA AMAZÔNICA
MERGULHANDO NO TEMA Há controvérsias sobre as nascentes do rio Amazonas: alguns autores apontam um pequeno
ribeirão, o Apurimac, localizado a 5.000 m acima do nível do mar, enquanto outros afirmam que
seria o riacho Huarco, perto do Cerro Huagra, nos Andes peruanos.
De qualquer forma, é difícil imaginar que um pequeno ribeirão irá se transformar, depois do
encontro com vários afluentes, no imenso rio Amazonas. O rio Amazonas possui uma vazão apro- Vazão
3
ximada de 210.000 m por segundo, valor superior à soma das vazões dos nove maiores rios do Quantidade de água que
planeta, correspondendo a 15% da água doce que deságua no oceano. passa em um determinado
período de tempo, geral-
São singulares suas características hidrológicas. A densa vegetação e o volume de água que cir-
mente medido em m 3 /seg,
cula ao longo de sua extensa rede de drenagem, composta por mais de 1.100 afluentes, produzem
sendo 1m 3 = 1.000L.
uma constante nebulosidade sobre a bacia, com alta precipitação e liberação de calor, influencian-
do o clima regional e global.
Apesar das discordâncias, o valor mais aceito para a área de drenagem da bacia hidrográfica ama-
zônica é de 6 milhões de km2, situada entre as coordenadas 5º de latitude Norte até 20º de latitude Sul.
As condições hidrográficas são ligadas ao relevo da região. Na região central, predominam as
coberturas sedimentares que formam as planícies interioranas e a depressão da Amazônia central.
Ao sul, a bacia é limitada pelos escudos do Brasil Central, com a bacia hidrográfica percorrendo as
depressões da Amazônia meridional, do Araguaia-Tocantins, os planaltos do Tapajós-Xingu, dos
Parecis e os planaltos residuais da Amazônia oriental e Amazônia meridional. Ao norte, o escudo
das Guianas dá origem à depressão da Amazônia setentrional, planaltos Amazonas-Orenoco,
Negro-Jari e os planaltos residuais da Amazônia setentrional.
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AS CHUVAS NA AMAZÔNIA Os igapós são florestas inundáveis localizadas ao longo dos rios de água preta ou água clara, que
contêm pouco sedimento. São florestas com pouca biomassa e alta diversidade de comunidades
A bacia hidrográfica amazônica é tão grande que possui regimes de chuvas diferenciados entre as áreas dos vegetais. Há diferenças entre os igapós dos rios de água preta e dos rios de água clara, no que
rios dos hemisférios Norte e Sul. tange à sua composição florística. Outro tipo de formação vegetal florestal inundável é a várzea,
que ocorre ao longo dos rios de águas brancas, em solos mais férteis que os igapós.
O regime de precipitação é essencialmente de origem atlântica e recebe em média 2.460 mm/ano
para os rios da margem esquerda, enquanto para os rios vinculados ao regime andino a variação
pode ser de 300 mm/ano, dentro de alguns vales, e de até 8 000 mm/ano na base dos Andes (Peru DE QUE COR SÃO AS ÁGUAS DA BACIA AMAZÔNICA?
e Equador), o que gera uma média de 3.500-4.000 mm/ano no baixo curso.
No Brasil, os maiores índices estão na região da “Cabeça do Cachorro” e na costa do Amapá. São
chuvas fortes, torrenciais, com grande potencial de erosão dos solos. O período de concentração
pluviométrica é diferenciado, concorrendo para a vazão do rio Amazonas durante todo o ano: os rios
da margem esquerda, ao norte, têm o seu máximo de precipitação entre maio e julho e os rios da
margem direita, ao sul, de dezembro a março.
Atribui-se a existência de três tipos de sistemas de águas: águas brancas (barrentas), pretas e claras (verde-azuladas). As águas brancas são
encontradas em regiões de formações geológicas mais recentes, como os Andes. As escuras são decorrentes de formações mais antigas.
As águas brancas têm visibilidade de 0,1 m a 0,5 m e pH é próximo do neutro (de 6,5 a 7,0). Seu aspecto barrento é decorrência da quantidade de
Buritizal
matérias orgânicas erodidas e de nutrientes, o que contribui para a fertilidade das várzeas. Nestes rios a pesca normalmente é abundante. A maioria
Formação vegetal que ocorre
nasce nos sopés dos Andes com direção de percursos oeste-leste, desaguando no oceano Atlântico. Destacam-se o rio Amazonas e seus formadores
em áreas perpetuamente
(Marañon, Huallagao e Ucaialy), alguns rios na margem esquerda como o Japurá, o Napo (Equador), o Içá ou Putumayo (Equador e Colômbia) e na
alagadas, caracterizada por
apresentar grande quantida- margem direita, o Juruá, o Purus, o Madeira e o Acre. A velocidade média de correnteza do Amazonas é de 5 km/h, podendo chegar a 6 km/h no perío-
de de buritis (Mauritia flexuosa), do das cheias, ou reduzir para 2,5 km/h, na seca.
palmeira de grande porte. As águas pretas têm maior visibilidade, com mais de 4 m; o pH é acido, variando entre 4,0 a 7,0 e a quantidade de matéria orgânica é bastante reduzi-
da. A coloração de “coca-cola” é resultado da decomposição incompleta de folhas, galhos e frutos. O rio Negro, o Trombetas, o Urubu e o Uatumã são
os principais rios de águas pretas. Nascem no planalto das Guianas, correm de norte a sul, a partir da fronteira do Brasil com a Colômbia e a Venezuela.
Estas regiões de planalto são menos propícias à erosão que os Andes, por isso a quantidade de matéria orgânica a transportar é menor. São rios de
A vegetação também é muito influenciada pelo processo de subida e descida das águas, o
pouca pesca. A temperatura média do rio Negro é de 30ºC, cerca de 1ºC maior que a do rio Amazonas.
chamado pulso hidrológico. As florestas inundáveis representam 5 a 10% da área da Amazônia. São
As águas claras, ou verde-azuladas, têm visibilidade é de 1,50 a 2,50 m e o pH é muito ácido, de 3,5 a 4,0. Apresentam pouca matéria orgânica em
definidas por estarem alagadas durante parte do tempo, diariamente, no caso dos manguezais, ou
suspensão. Os tons esverdeados se devem à presença de algas, que proliferam devido à grande entrada de luz. Os azulados – é a física quem explica,
alguns meses por ano, no caso das várzeas e igapós, ou mesmo durante todo o ano, como nos pân-
não a biologia – são tonalidades comuns em grandes quantidades de água ou de ar. Alguns trechos podem apresentar boa pesca, mas geralmente não
tanos. Os manguezais estão ao longo da costa, inundados por água salgada, e possuem poucas tanto quanto os de águas brancas. Boa parte destes rios origina-se no planalto Central brasileiro, tendo eixo de direção Sul-Norte. Os principais rios
espécies. As várzeas de maré, localizadas no estuário dos rios, sofrem influência da maré de águas são o alto Guaporé, o Tapajós, o Curuá-Una e o Xingu. Suas nascentes estão em terrenos que produzem menor quantidade de erosão que os rios nasci-
doces, e apresentam vegetação composta por palmeiras. Os pântanos estão inundados o ano dos nos Andes. No entanto, o desmatamento nas nascentes e altos cursos promovem alterações no fluxo natural dos rios, aumentando a quantidade de
inteiro, ou com água próxima da superfície do solo, que tem baixa drenagem. Os pântanos podem matéria orgânica e inorgânica transportada, reduzindo a profundidade em alguns trechos.
assumir a forma de buritizais (aguajal, no Peru) ou de matas de bambu, os tabocais.
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FLORESTA DE VÁRZEA inundada,
A INFLUÊNCIA DAS ÁGUAS NA VIDA DAS POPULAÇÕES FIQUE POR DENTRO
ecossistema típico da região Esta dinâmica do ciclo hidrológico, associada à quantidade de água das chuvas, promove variação A variação do volume de
amazônica. 3 3
no volume de água na foz do Amazonas, de 100 mil m /s a 300 mil m /s, com o nível dos rios poden- água dos rios Purus e Juruá
é de até 20 m em sua foz; o
do variar de 4 a 20 metros.
Madeira, de até 16 m; o Ma-
As casas na região de várzeas podem ser palafitas, construídas em cima de toras, para que não rañon em Iquitos, de até 9 m; o
inundem na estação da cheia. A casa na várzea possui a vantagem da proximidade da água para uso Negro, de até 10 m; o Tapajós, de
doméstico, e para deixar a canoa perto de casa, já que é praticamente o único meio de transporte. até 7m e o Xingu, até 4 metros.
O pulso hidrológico governa a vida das populações que vivem na região. Várias atividades
econômicas são desenvolvidas nas várzeas, de acordo com a época do ano. A pesca é mais prati-
cada durante a seca, que isola os lagos, concentrando assim os peixes. A agricultura nas várzeas
também é praticada na seca, com culturas de rotação rápida, como abóbora, milho, melancia e
banana. A extração de madeira também é feita durante a seca, e a extração de látex das
seringueiras. Porém, se há atraso nas chuvas do Sul e estas ocorrem no mesmo momento das chu-
vas do Norte, o nível médio do rio pode oscilar de 1 a 2 m acima do nível usual, prejudicando as
populações ribeirinhas e inundando severamente as várzeas.
O gado pasta na várzea durante a estação seca, e, na cheia, vai para um pasto na terra firme, se
o criador tiver acesso a um. Se não, o gado é colocado em cercados flutuantes, chamados “marom-
bas”, e o dono corta o capim de áreas secas e o leva até elas de barco, para alimentar o gado.
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Na Amazônia opera uma frota de 120 mil embarcações, das quais aproximadamente 70 mil estão de acordo com
o que estabelece a lei. São cinco sistemas diferentes de acordo com as necessidades de carga e navegabilidade: EXEMPLOS dos tipos de embarcações
UTILIZAÇÃO da canoa como meio
ÁGUA COMO MEIO DE TRANSPORTE
de transporte para uma família 1) embarcações rústicas, operadas por seus proprietários e que fazem o transporte de pessoas e de pequenas presentes na Amazônia.
Os rios são os caminhos naturais da Amazônia. Servida por 14 mil quilômetros de rodovias pavimen-
ribeirinha.
cargas. São canoas a remo ou pequenas embarcações (voadeiras) com motor de popa próximo da superfície da
tadas (muitas delas intransitáveis na época das chuvas) e apenas 450 km de ferrovias, a região possui
água, para que não ocorram acidentes por conta de bancos de areia. São os únicos meios de acesso a comu-
metade do total de 48 mil quilômetros de rios navegáveis do país. O transporte fluvial é praticamente
nidades ou casas isoladas localizadas na beira de igapós ou rios pequenos.
o único meio de atender aos deslocamentos de carga e da população na região. A própria ocupação
2) embarcações de linha, que transportam passageiros e distribuem cargas ao longo de toda a malha hi-
territorial da Amazônia está ligada ao curso dos rios, que serviram para escoar a produção extrativista
droviária da região, como é o caso dos barcos conhecidos por ‘batelão’ ou ‘recreio’. São barcos maiores, com
desde o início da ocupação do território, e continuam a fazê-lo. A região possui características que
cerca de 8 m de calado, embora variem muito em tamanho.
favorecem a navegação, como rios de grande porte com pouca ou nenhuma queda d’água.
3) comboios de balsas de diferentes tamanhos, que possuem potência e calado apropriados para atender às mais
Ao contrário dos oceanos, os rios apresentam dificuldades para a sua utilização como hidrovia,
diversas condições de navegabilidade dos rios. As balsas são rebocadas por barcos empurradores ou puxadores.
principalmente quando se deseja operar com embarcações de grande porte. Os rios apresentam
4) comboios com tecnologia mais avançada são embarcações construídas especificamente para o transporte
condições de navegabilidade diferentes ao longo do ano, enquanto o oceano proporciona condições
de cargas e veículos, o chamado ‘ro-ro caboclo’, que dispensam o uso de guinchos, empilhadeiras e equipamen-
operacionais praticamente permanentes. Nos rios, geralmente há restrições de profundidade, tre-
tos de apoio nas operações de carga e descarga. Esses comboios atendem, quase exclusivamente ao distrito
chos estreitos, curvas fechadas, correnteza, possibilidade de ocorrência de ventos fortes e até de
industrial da Zona Franca de Manaus.
ondas, presença de troncos flutuando ou submersos, etc. Essas características influenciam o
5) navios, por vezes de porte oceânico, com 27 a 65 mil toneladas. São especializados no transporte de
desempenho e a segurança de qualquer embarcação que trafegue por um rio.
minérios, mas fazem também o transporte de contêineres. Esses navios estão limitados aos maiores rios da
Se a embarcação for adequadamente projetada, construída e operada levando em conta todas as
região, como o próprio Amazonas, e são encontrados com freqüência no Tapajós, que banha uma região com
características importantes da via, estarão contempladas tanto a segurança como a eficiência do mineração abundante.
transporte hidroviário.
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Na relação entre navegação fluvial, tráfego rodoviário e transporte aéreo, vários fatores pesam a
favor da navegação na Amazônia. Viagens de avião entre pequenas localidades requerem várias
escalas, aumentando os custos. A precariedade das poucas estradas como a rodovia Transamazônica
(hoje engolida pela selva) transforma as hidrovias em uma das melhores opções para locomoção. D E S A F I O S PA R A O D E S E N V O LV I M E N T O S U S T E N TÁV E L
Durante muito tempo, o grande rio Amazonas serviu como eixo de entrada para o interior. Neste
sentido, a dimensão espaço-tempo para a vida ribeirinha amazônica media-se em tempos de
POLUIÇÃO DAS ÁGUAS NA AMAZÔNIA
viagem e não em distâncias. Ainda hoje é assim para a grande maioria dos povoados e pequenas
Quando os esgotos são lançados sem tratamento nos corpos d’água, alguns efeitos são rapida-
cidades, aos quais o rio é o único meio de acesso.
mente sentidos pela fauna e pela flora. O esgoto doméstico possui grande quantidade de bactérias
Um dos grandes incômodos das viagens de barco é o tempo de viagem, mesmo para distâncias
que consomem rapidamente o oxigênio dissolvido nas águas onde é lançado, prejudicando a vida
consideradas pequenas. Veja alguns exemplos de distância em dias de viagem:
aquática. Outra conseqüência da poluição das águas de origem urbana é o aumento de doenças
transmitidas pela água, como cólera, verminoses, amebíase, entre outras, prejudicando a popu-
PERCURSO DIAS DE VIAGEM
lação, principalmente a que mora nas favelas de palafitas, comuns nas cidades amazônicas. Os
Manaus > Belém 3 e meio a 4 moradores dessas favelas, com freqüência, não possuem acesso a água tratada.
Belém > Manaus 5a6
Manaus > Porto Velho 6a7 Belém e Manaus, as duas maiores cidades da região, tem cerca 1,4 e 2 milhões de habitantes, respectivamente. Estima-
se que apenas 4,5% dos domicílios de Belém possuam ligação com o sistema de tratamento de esgoto. Essa proporção é
Porto Velho > Manaus 4 a 5 na estação cheia e 7 a 8 na seca
ainda mais baixa em Manaus, 3%. O restante da água usada é lançado, sem tratamento algum, nos rios e igarapés da
Porto Velho > Belém 9 a 11 na estação cheia e 12 a 14 na seca
região. As cidades menores possuem redes de tratamento igualmente pequenas ou inexistentes.
Porto Velho > Santarém 5a6
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SERRA PELADA, um exemplo de uma
Os maiores índices de contaminação por mercúrio são encontrados nos organismos de pes- AT E N Ç Ã O
exploração desordenada causando cadores que vivem nos cursos dos rios abaixo dos garimpos. Como o mercúrio é bioacumulável, o A abundância de água na
problemas para a saúde humana. consumo de peixes – que não conseguem eliminar esse metal de seus corpos – acaba ocasionando região Amazônica e a per-
cepção da mesma como um
problemas para quem os consome. Os impactos só não são maiores porque a forma metilada do
vazio demográfico levam à
mercúrio se decompõe rapidamente no pH das águas amazônicas.
concepção errônea de que a
Outros efeitos gerados por atividades de mineração são o lançamento de arsênico, produto tóxi- diluição da poluição nas águas
co derivado da exploração de manganês, e o assoreamento de rios e lagoas devido aos grandes dos grandes rios a tornam in-
deslocamentos de terra que essa atividade provoca. significante.
Outras fontes de poluição das águas na Amazônia são dejetos industriais, curtimento de couro
(que lança cromo, um metal pesado, nas águas) e derramamento de óleo, principalmente nos portos.
H I D R E L É T R I C A S : A F U N Ç Ã O E N E R G É T I C A D A Á G U A E S E U S I M PA C T O S
A importância da eletricidade para as sociedades atuais é indiscutível. No Brasil, terceiro produtor mundial
de hidreletricidade, a energia elétrica responde por 42% da energia consumida, sendo que, desse percentual,
90% são obtidos através de hidrelétricas. O resto vem através de termoelétricas, energia eólica e mais rara-
mente solar (fotovoltaica), sendo que as duas últimas correspondem a menos de 1% do total gerado.
Apesar de a hidreletricidade ser considerada uma energia “limpa” e ambientalmente correta, por usar um
recurso natural renovável, as hidrelétricas não estão isentas de produzir impactos ambientais.
Um empecilho ao aproveitamento dos rios amazônicos é o fato de os mesmos serem rios de planície, com
desnível pequeno ao longo do seu curso, e poucas cachoeiras. Essa característica dos rios amazônicos acarreta
queimadas, libera o mercúrio contido naturalmente nos solos da Amazônia. Este metal, em altas
a construção de barragens com uma área inundada muito grande, agravando os impactos desse tipo de cons-
concentrações, é altamente tóxico.
trução, e com baixo rendimento de geração de energia por quilômetro quadrado inundado.
Outra fonte geradora de mercúrio advém de seu uso nos garimpos para separar ouro em pó da Um triste exemplo desse quadro é a central hidrelétrica de Balbina, célebre pelo enorme impacto ambiental sobre
Bateia areia. Em contato com o ouro, este composto se deposita no fundo da bateia, ficando a areia por o rio Uatumã e pela baixa geração de energia por quilômetro quadrado de área alagada. A área de alagamento foi de
Gamela de madeira usada na cima. A mistura de ouro e mercúrio é então aquecida, fazendo com que o mercúrio evapore. A con- 2.360 km 2 (incluindo parte da terra indígena dos Waimiri-Atroari) e Balbina gera ínfimos 25 mil kw de energia.
lavagem de sedimentos para taminação por mercúrio pode vir dos gases, ou da fase de separação do ouro da areia. O mercúrio Para se ter uma idéia deste impacto, duas outras hidrelétricas construídas na região amazônica, a de Tucuruí I,
mineração de ouro. no rio Tocantins, no Pará, e a de Samuel, no rio Jamari, em Roraima, tiveram áreas alagadas de 2430 km 2 e 560 km 2
em forma metálica é pouco tóxico e pouco absorvível e somente os garimpeiros que aspiram o
mercúrio vaporizado apresentam envenenamento. O mercúrio passa a ter maior potencial tóxico e geram 400 mil kw e 216 mil kw, respectivamente.
Essas três hidrelétricas respondem por quase cem por cento da área total inundada na Amazônia, embora haja
quando é lançado nas águas. Através de processos biológicos, as bactérias transformam o mer-
outras represas menores, como a Curuá-Una, no rio de mesmo nome, que abastece Macapá, além de pequenas
cúrio metálico em metilmercúrio, ou mercúrio orgânico, que é mais absorvível, altamente vene-
centrais hidrelétricas com baixa geração de energia.
noso e cumulativo nos seres vivos.
Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a geração de energia elétrica brasileira precisará ser
O envenenamento por mercúrio orgânico causa a chamada ‘doença de Minamata’, que ataca o expandida em 50% nos próximos dez anos. Devido ao esgotamento do potencial hidrelétrico das regiões Sul e
sistema nervoso e o cérebro causando dormência nos membros, fraqueza muscular, deficiência Sudeste, 63% do potencial de expansão encontram-se localizados na região amazônica, principalmente nos rios
visual, dificuldades de fala, paralisia, deformidades e até morte. O metilmercúrio ataca da mesma Tocantins, Araguaia, Xingu, Madeira e Tapajós.
forma os fetos durante a gestação.
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I M PA C T O S S O B R E A V I D A A Q U ÁT I C A outras localidades. Sem meios de sustento e local de habitação, os ribeirinhos muitas vezes
A origem dos impactos sobre a vida aquática está na transformação de ambientes de águas mudam-se para as cidades da região, aumentando o inchaço das periferias.
correntes em ambientes de águas paradas. Alterações como o aumento da profundidade, Grupos indígenas também podem ser deslocados. A construção da central hidrelétrica de Tu-
redução das concentrações de oxigênio dissolvido na água, por conta da redução da veloci- curuí, por exemplo, deslocou cerca de quarenta mil pessoas, dentre as quais os índios Gavião. A si-
dade da correnteza e a decomposição da matéria orgânica da área inundada, podem levar à tuação de descaso para com as populações deslocadas levou à criação do Movimento de Atingidos
extinção de espécies locais. Esses efeitos podem se estender a até cem quilômetros rio por Barragens.
abaixo da barragem e quanto maior for o tempo de residência da água na represa, mais A construção de barragens inunda grandes extensões de várzea, prejudicando os ecossistemas
acentuados são os efeitos. e a agricultura de subsistência praticada nas margens dos rios. Grandes barragens inundam
Piracema As represas também causam impactos negativos sobre os peixes que fazem a piracema. As áreas férteis significativas, além de perturbar o ciclo da água nos trechos rio abaixo.
Movimento migratório de espécies migratórias chegam até a represa e na maioria das vezes não conseguem ultrapassar As barragens alteram o fluxo de água dos rios, minimizando a variação natural dos ciclos de
peixes no sentido das nas- o dique para atingir o local de desova rio acima. A construção de eclusas, escadas de peixes e cheias e secas. No caso dos ecossistemas de várzea, definidos em função dessa variação sazonal do
centes dos rios, com fins de
elevadores visam atenuar este impacto, porém é freqüente o relato de populações ribeirinhas nível das águas, esse é um efeito desastroso.
reprodução.
localizadas rio acima sobre a redução do pescado após a construção de barragens. Uma hidrelétrica é um empreendimento de grande porte, que requer muita mão-de-obra.
Durante a fase de enchimento da barragem, muitas espécies animais sofrem com a mudança Atraídos pela possibilidade de emprego, a tendência é de aumento da densidade demográfica das
do ambiente. Somente animais de grande porte são resgatados. Muitas espécies vegetais são regiões onde elas são construídas, o que com freqüência ocorre sem o devido planejamento.
perdidas por não haver programas de resgate de plantas de interesse científico, industrial,
medicinal e alimentar. Essa matéria orgânica em decomposição torna a água da barragem muito
ácida, matando peixes e diminuindo a vida útil das turbinas.
I M PA C T O S S O B R E O C L I M A
Um reservatório pode trazer mudanças no clima do local onde é construído. As alterações mais
visíveis são: variações na temperatura, aumento da umidade relativa, pequenas mudanças na inso-
A L E RTA
lação, maior formação de neblinas, maior evaporação. E a velocidade do vento também aumenta.
A água é essencial como
fonte de energia para o Quanto maior a extensão do reservatório, mais acentuadas as alterações.
Brasil. Há necessidade de
construção de mais hidre- ASSOREAMENTO
létricas, inclusive na região
As águas dos rios transportam sedimentos, constituídos de matéria orgânica e solo em suspen-
amazônica, para evitar proble-
são. Com a redução da velocidade das águas, há a deposição dos sedimentos no fundo. Este acú-
mas como o “apagão” vivido em
2002. No entanto, não repetir mulo de partículas, chamado ‘assoreamento’, pode reduzir o volume de água retida nos reser-
os erros passados, abandonar a vatórios, reduzindo a eficiência do empreendimento.
mentalidade de energia a qual-
quer custo e tentar minimizar
I M PA C T O S S O C I A I S E E C O N Ô M I C O S ÁREA ASSOREADA do rio Solimões,
os impactos socioambientais é
A construção de hidrelétricas inunda uma grande área, forçando o deslocamento das pessoas exemplo de impacto ambiental
o principal desafio para o
presente na Amazônia.
desenvolvimento sustentável. que ali vivem. Muitas vezes, a compensação financeira é inferior à necessidade para instalação em
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A Ç Õ E S PA R A U M F U T U R O S U S T E N TÁV E L
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TRABALHANDO COM O TEMA
Alguns comitês já foram instituídos no país, mas nenhum ainda em áreas de bacias fede- As atividades sugeridas a se- S U G E S TÃ O PA S S O A PA S S O
rais da Amazônia Legal brasileira, incluindo a do Araguaia-Tocantins. guir estão relacionadas à pro- > ANTES DE ASSISTIR AO PROGRAMA | SENSIBILIZAÇÃO PARA O TEMA
posta metodológica de edu-
E X P E R I Ê N C I A S N Ã O G O V E R N A M E N TA I S : O C O N S Ó R C I O M A P cação ambiental apresentada PRIMEIRO MOMENTO
Na região da fronteira tríplice entre Brasil, Bolívia e Peru, envolvendo os estados do Acre (Brasil), no caderno 1 do kit. A leitura > Pergunte se alguém sabe quem é Thiago de Mello e qual a
Pando (Bolívia) e Madre de Díos (Peru), um fórum de discussão, vem conquistando espaço. As desse caderno ajudará no sua naturalidade.
ações de mobilização acabaram por cunhar um “selo”, o Consórcio MAP. A coordenação da orga- desenvolvimento de um projeto de educação ambiental que > Proponha uma leitura do texto “Amazônia, pátria da água”,
nização do fórum anualmente é transferida para um dos países componentes. procura considerar, trabalhar e avaliar as particularidades de de autoria deste poeta. O professor pode xerocar o texto e dis-
Três grandes projetos de melhoria na infra-estrutura da região estão previstos: a construção de cada contexto. Questionando o porquê e para que implementar tribuí-lo entre os aluno ou, caso isto não seja possível, ler em
usinas hidrelétricas em Santo Antonio, em Jirau e de uma binacional; construção das estradas uma proposta dessa natureza. voz alta o que esta abaixo reproduzido.
Guayaramerin – Yucumo e Iñapari – Ponte Inambari, além de investimentos nos quatro mil É importante lembrar que as atividades que se seguem são
quilômetros de rios navegáveis. Nesta região, em 2001 a atividade madeireira atingiu aproximada- apenas algumas sugestões possíveis de estruturar o modo AMAZÔNIA, PÁTRIA DA ÁGUA
3
mente 500.000 m /ano e mais de 2 milhões de cabeças de gado em 2002. como trabalhar no cotidiano da sala de aula com esses temas, Da altura extrema das cordilheiras, onde as neves são eter-
O WWF-Brasil estabeleceu parceria com suas homólogas do Peru e Bolívia e vem apoiando ações aliados a uma prática educacional que valoriza a interdiscipli- nas, a água se desprende e traça um risco trêmulo na pele
de capacitação, troca de experiências, planejamento e diagnóstico em conservação e manejo de naridade, a transdisciplinaridade e a expressão dos conteúdos antiga da pedra; o Amazonas acaba de nascer. A cada instante
recursos naturais em áreas contínuas de floresta e na gestão da bacia trinacional do rio Alto Acre, através de diferentes linguagens artísticas. ele nasce. Descende devagar, sinuosa luz, para crescer no
bacia que já apresenta áreas com processo de erosão e assoreamento. O projeto, iniciado em 1999, Esperamos que essas sugestões de atividades se somem chão. Varando verdes, inventa o seu caminho e se acrescenta.
também presta apoio à articulação entre os governos locais e representantes da sociedade civil ao trabalho já desenvolvido por cada instituição e educador... Águas subterrâneas afloram para abraçar-se com a água que
organizada, como o Consórcio dos Municípios do Alto Acre e Capixaba, visando fortalecer a inte- que sirva como inspiração para que cada um crie e recrie da desceu dos Andes. Do bojo das nuvens alvíssimas, tangidas
gração regional na busca de um modelo participativo de desenvolvimento sustentável. sua forma. pelo vento, desce a água celeste. Reunidas elas avançam, mul-
Organizamos as sugestões de duas formas diferentes. A pri- tiplicadas em infinitos caminhos, banhando a imensa planície
meira segue passo a passo um processo de trabalho com uma cortada pela linha do equador.
proposta determinada, na qual as etapas são cuidadosamente Planície que ocupa a vigésima parte da superfície deste
descritas exemplificando um desencadeamento de idéias. A se- lugar chamado Terra, onde moramos.
gunda sugestão indica outras possibilidades de trabalho com o Verde universo equatorial, que abrange nove países da
tema que podem complementar a proposta principal, substi- América Latina e ocupa quase a metade do chão brasileiro.
tui-la ou somente provocar novas idéias nos professores. Aqui está a maior reserva mundial de água doce, ramificada
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em milhares de caminhos de água, mágico labirinto que de si QUARTO MOMENTO > Os grupos deverão ler a pergunta, debater internamente as QUINTO MOMENTO
mesmo recria incessantemente, atravessando milhões de > Dinâmica de divisão de grupos: escreva em quatro primeiras opiniões a respeito do tema, e depois se organizarem > Após as pesquisas realizadas fora do horário escolar, os
quilômetros quadrados de território verde. pedaços de papel, algumas características de diferentes tipos para pesquisar outras opiniões em fontes diversas. Ex: livros, grupos devem avaliar os resultados, sintetizá-los e produzir os
É a Amazônia, a pátria da água. de rios. Ex.: rio de águas cristalinas, de águas brancas, de revistas, jornais, entrevistas com especialistas etc. diferentes produtos solicitados.
Thiago de Mello, 1987. águas negras e igarapés.
> Provoque uma conversa sobre as idéias e imagens utilizadas > Peça para que fechem os olhos e lembrem das imagens dos Sugestões para as perguntas/tarefas: SEXTO MOMENTO
no texto. rios da bacia amazônica mostrados no programa, que lembrem > Vocês acham que o homem interrompe o fluxo das águas de > Cada grupo irá apresentar para a turma o seu produto, ler
dos rios ou igarapés que costumam freqüentar e que escolham um rio, em todo ou em parte, para suprir algumas de suas a sua questão e explicar como chegou àquele resultado.
SEGUNDO MOMENTO um desses rios, tentando se aproximar dele. Pensem na sua necessidades básicas? Se a resposta for sim: como, quais são > Após as apresentações, abra uma roda de conversa e pro-
> Assista o programa com a turma. cor, no seu tamanho, no que há em suas margens. essas necessidades e que impacto esta interferência do homem voque reflexões a partir do que foi apresentado. Leve-os a
> Enquanto a turma estiver de olhos fechados coloque um causa no ambiente local. Expresse os resultados da sua perceber os diferentes tipos de relações que se estabelecem:
TERCEIRO MOMENTO papel, confeccionado anteriormente, em cada canto da sala ou pesquisa através de maquetes. Lembrem-se de que a sucata é os elementos da natureza entre si, formando o ciclo da água;
> Reflexões sobre as imagens e conteúdos do programa. pátio etc. um ótimo material para ser reutilizado. o homem interferindo neste ciclo; a relação de dependência
> Peça para que abram os olhos e olhem os papéis nos > Como a floresta influencia no ciclo da água? Explique do homem com o elemento água; e o tipo (qualidade) de re-
LEITURA DE IMAGEM cantos e as suas diferentes indicações. Solicite que cada um como e o que modificará neste ciclo se a floresta amazônica lação que o homem estabelece com este elemento.
Neste programa vimos um pouco da influência do pulso hidrológico sobre se direcione para o canto que mais se aproxima do que diminuir a sua extensão. Expresse os resultados da sua pes- > Para encerrar a roda de conversa, pode pedir para que um
a fauna, a flora e as populações ribeirinhas na Amazônia. Aprendemos
imaginou ou lembrou. Caso a distribuição dos alunos em quise através de desenhos em cartazes. aluno releia o texto de Thiago de Mello.
também sobre a riqueza e os problemas enfrentados pelo grande rio.
cada canto seja muito desigual, pergunte quem gostaria de > Como a água chega na maioria das casas do bairro da
Uma forma interessante de fazer a “leitura de imagem” é escrever
conhecer ou nadar em outro tipo de rio. Instigue as trocas nossa escola e como ela volta para os rios? Pense no camin- SÉTIMO MOMENTO
palavras-chave no quadro e pedir que os alunos lembrem os conteúdos
do vídeo referentes a este tema. Por exemplo, o professor pode escrever até que estejam formados quatro grupos relativamente equi- ho desse percurso e na qualidade da água ao entrar e ao sair. > Proponha, como forma de socialização do trabalho, que a
“rio Amazonas” no quadro e pedir que os alunos lembrem dos peixes librado numericamente. Expresse o resultado da sua pesquisa através de dramatiza- turma realize em outras turmas a apresentação do trabalho
mencionados no vídeo, dos problemas relacionados às nascentes, do > Distribuição de tarefas para o grupo: em um saquinho ou ção (cenas de teatro). deles. Pode também ser organizada uma apresentação para os
manejo da pesca, etc. Quando os alunos não lembrarem mais, o profes- caixinhas, deposite quatro perguntas dobradas em tiras de > Vocês sabem como e onde o rio Amazonas se forma e pais, seguida de um debate, mediado pelo professor ou por um
sor pode escrever novas palavras-chave, como por exemplo, “pulso
papel. As perguntas deverão vir seguidas de uma orientação onde ele acaba (deságua)? Por onde ele passa e quem por especialista convidado.
hidrológico”, até terminarem os conteúdos do programa.
para que os resultados da pesquisa realizada sejam expres- ele passa? Expresse os resultados da sua pesquise através
Esta é uma forma dinâmica e que estimula os alunos a entender os
sos através de diferentes linguagens artísticas. Deixe que de um poema.
conteúdos e a construí-los coletivamente.
cada grupo sorteie o seu papel/ tarefa.
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BIBLIOGRAFIA
OUTRAS SUGESTÕES DE ATIVIDADES: ARAGON, Luis E. e CLUSENER-GODT, Miguel (orgs.). Problemática do uso local e global da água da Amazônica,
I M P O R T A N T E > As atividades práticas/teóricas e a proposta
> Realize uma experiência com diferentes tipos de sedimen- Belém: Naea, 2003.
pedagógica sugeridas nesse capítulo mesclam conteúdos de difere-
tos (folhas, terra, areia, cascas de legumes e frutas) em copos CARVALHO, Thereza Christina Santos e DRUMMOND, João Batista Câmara. GEO Brasil 2002. Perspectivas do
ntes disciplinas. Elas podem fazer parte de um projeto integrado,
de água. Peça que observem o tempo que cada elemento levou meio ambiente no Brasil, Brasília: Edições Ibama, 2002.
quando cada educador desenvolve suas especificidades ou ser desen-
para chegar ao fundo; qual deles tornou a água mais imprópria CIÊNCIA E CULTURA. Gestão das águas. Revista da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Ano 55,
volvidas por um único educador.
n. 4, out/nov/dez 2003.
para uso doméstico... Converse sobre: como podemos tornar a
É importante elaborar um projeto de trabalho que estabeleça metas e
LEONARDI, Victor. Os historiadores e os rios. Natureza e ruína na Amazônia brasileira, Brasília: Paralelo 15 e
água própria novamente, e quais os diferentes processos de fil- objetivos, criando um encadeamento das atividades, passo a passo,
EdUnB, 1999.
tragem. Reflita sobre a importância das plantas nesse proces- mesmo que durante o trabalho ele seja alterado. A intenção e o profun-
MEIRELLES FILHO, João. O livro de ouro da Amazônia. Mitos e verdades sobre a região mais cobiçada do planeta,
so e a necessidade de cuidarmos do solo. damento do trabalho dependerá das prioridades e necessidades do grupo.
Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
> Desenvolva um miniprojeto sobre ‘usos da água no cotidi- Esteja aberto para as propostas e demandas dos alunos, todo
ano’: para que se usa, como medimos a quantidade de água uti- planejamento pode e deve ser revisto e avaliado.
lizada por cada um, os cuidados necessários para garantirmos
a qualidade e a sobrevivência desse bem tão importante para a
vida do planeta.
> Explore o tema a ‘água como veículo de transporte’. Realize
uma exposição com diferentes tipos de embarcações confec-
cionadas pelos alunos.
> Pesquisem a forma como são denominados os rios de porte
menor e suas características nas diferentes regiões do Brasil.
Ex.: igarapés, riachos, córregos, arroios e outros.
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