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FAUUSP • Pós-graduação • Paisagem e Ambiente

AUP 5886 | O DIREITO À CIDADE E O DIREITO URBANÍSTICO E AMBIENTAL

SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES PÚBLICOS DE FORTALEZA (CE): UM DESAFIO PARA


AS QUESTÕES URBANAS E AMBIENTAIS

aluno | Newton Célio Becker de Moura


Arquiteto e Urbanista. Servidor Público da Universidade Federal do Ceará como Arquiteto e
Urbanista da Coordenadoria de Obras e Projetos. Mestrando em Paisagem e Ambiente da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAUUSP.
e-mail: arqnewton@yahoo.com

RESUMO
O presente trabalho problematiza os espaços livres públicos da cidade de Fortaleza a partir da
compreensão de seus elementos definidores, do seu processo de planejamento urbano, da gestão
destes espaços e da tensão entre a legislação ambiental e a urbana. Esse entendimento é pautado
em uma perspectiva integrada de seus componentes, com especial ênfase nos recursos hídricos ali
disponíveis e na sua potencialidade como elemento estruturador de um sistema de espaços livres,
referenciando-se em conceitos e experiências anteriores, em busca de alternativas viáveis e
fundamentadas nas configurações e interfaces sócio-urbanas locais.

INTRODUÇÃO
A vida urbana ocorre em duas instâncias: uma pública e social, extrovertida e inter-relacionada. É a
vida nas ruas e praças, parques e espaços cívicos e em áreas de compras. E outra privada,
introvertida, pessoal e individual, que procura reclusão e privacidade (Halprin, 1972). Essa vida
privada precisa de espaços abertos de diferentes formas, mas precisa também de um invólucro, de
distância das multidões, calma e relaxamento. Para ter um ambiente urbano adequado, a cidade
deve responder a essas duas necessidades e às atividades realizadas em cada situação. Os espaços
livres são diferentes entre si e exercem funções distintas. Podem ter a função de passagem, de
espaço para eventos e encontros ou simplesmente para o descanso e contato com a natureza. São
nos espaços públicos que encontramos estímulos para uma vida criativa. Para Halprin (op. cit), esses
espaços não são apenas integrantes da configuração espacial da cidade, mas uma necessidade
biológica essencial para a vida. Gomes, citado em Alex (2008, p. 21,22), define que o espaço público
é [...] qualquer tipo de espaço onde não haja obstáculos à possibilidade de acesso e participação de
qualquer tipo de pessoa, dentro de regras de convívio e debate. Assim, paradoxalmente, embora o espaço
público possa ser também o lugar das indiferenças, ele caracteriza-se, na verdade, pela submissão às
regras da civilidade. O que define um espaço como público, portanto, é exatamente a sua condição
de livre acesso a todos os grupos sociais de uma determinada comunidade. É essa a categoria de
espaços livres considerada nessa discussão.
Os espaços livres da cidade conformam um sistema. Entenda-se por esse sistema o conjunto de
todas as áreas não ocupadas por edificações, aos quais as pessoas têm acesso (Magnoli, 2006).
Quanto à sua morfologia, Macedo (2003, p. 53) afirma que os espaços livres urbanos, em sua maioria,

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não são configurados por vegetação e sim pela massa construída e pelo suporte físico em suas diversas
formas de modelagem, sempre condicionadas pelas formas de propriedade e os parcelamentos
decorrentes, que direcionam sua estruturação formal. Esses espaços, públicos ou privados, são
destinados à circulação, lazer, recreação, acesso, conservação, preservação e produção, assumindo
atributos funcionais, ambientais e estéticos (Macedo, 2003).
O sistema consubstanciado
pelos espaços livres é
resultado da ordenação do
espaço urbano através de
procedimentos de controle
urbanístico, que, introduzidos
no Brasil durante o século
XX, encontram no plano
diretor de desenvolvimento
urbano uma ferramenta para
disciplinar o crescimento da
cidade e a ocupação do solo
visando o bem-estar comum
dos seus habitantes e o
cumprimento da função social
da cidade1. Verifica-se,
contudo, uma discrepância
entre a lei e a prática.
Segundo Martins (2006), a Fig. 1 – A cidade informal que ocupa as dunas do litoral leste e a cidade
legislação, tanto urbanística formal que se verticaliza na orla e bairros adjacentes.
como ambiental, estabelece
como padrão um patamar inacessível à renda da maioria. Na prática, diante da ausência de
subsídios, a conseqüência é que a população se instala em loteamentos irregulares, ocupações
informais e favelas, justamente nos lugares ambientalmente mais frágeis, protegidos por lei,
portanto desconsiderados pelo mercado formal (Fig. I). Além disso, a vinculação da habitação ao
solo e à propriedade privada dificulta a sua produção em larga escala e encarece o seu custo,
obrigando os mais pobres a ocupar as periferias e áreas de proteção (Villaça, 1986).
No caso de Fortaleza (CE), a sobreposição de leis, o caráter restritivo da legislação ambiental
baseado em critérios aleatórios e pouco realistas, e a ausência de interseção entre os espaços
constitucionais dos assentamentos urbanos e do meio ambiente2 agravam os conflitos entre
1
Segundo Saule (2007), apesar do Estatuto da Cidade ter definido instrumentos para garantir o cumprimento
do direito à cidade, as funções sociais da cidade como forma de assegurar o ambiente urbano sustentável, já
haviam sido introduzidas na Constituição Brasileira de 1888 pelo artigo 182, garantindo, no âmbito jurídico, o
bem-estar dos habitantes da cidade independente de sua origem social, condição econômica, raça, cor, sexo
ou idade. O desenvolvimento dessas funções, por afetar todos os habitantes da cidade, se enquadra na
categoria de interesses difusos. De acordo com Santos (2009), o direito difuso é um direito transindividual
(transcende o indivíduo, ultrapassa o limite de direito e dever individuais), tem um objeto indivisível (de
natureza indivisível, a todos pertence, mas ninguém em específico o possui) e pluralidade de titulares
indeterminados e interligados por circunstâncias de fato.
2
Para Martins (2007), os percursos, origens e protagonistas que levaram o assentamento urbano e o meio
ambiente à Constituição de 1988 foram bastante distintos, resultando em artigos autônomos e separados, até
o momento em que entram em conflito. Essa tensão surge justamente no momento em que se tenta
equacionar o assentamento da população mais pobre.

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políticas públicas e urbanização, materializados nas 102 áreas de risco3 consolidadas nas várzeas,
dunas e praias dessa cidade. Essas ocupações demandam um diálogo entre o direito urbanístico e o
direito ambiental no planejamento de um sistema de espaços livres públicos, cuja ordenação
deveria se dar, em razão de suas características geomorfológicas, a partir dos recursos naturais da
cidade, adotando a hidrografia urbana como referência para a sua estruturação. Busca-se aqui
estabelecer as premissas para possibilitar esse diálogo e essa ordenação, compreendendo a situação
atual de Fortaleza quanto às suas áreas livres.

A NATUREZA COMO SISTEMA


Vivemos um momento em que a cidade e a natureza são indissociáveis. Segundo Santos & Elias
(1997)4, se um lugar não é fisicamente tocado pela força do homem, ele, todavia, é objeto de
preocupações e de intenções econômicas ou políticas. Spirn (1995) reforça essa impossibilidade de
separação ao afirmar que a cidade é parte integrante da natureza ao ser percebida como uma
adaptação do ambiente natural às atividades e relações humanas. Harvey (1982), por sua vez,
afirma que a busca pelo contado com a natureza na cidade seria uma compensação por aquilo que
nunca poderia ser realmente ressarcido no local de trabalho. Em poucas palavras, o capital procura
atrair o trabalho para um acordo: aceitar o pacote das relações com a natureza no local de vida
como uma compensação justa e adequada por uma alienada e degradante relação com a natureza
no local de trabalho.
As implicações desse momento em termos projetuais têm resultado em planos e intervenções que
se empenham em modelar e remodelar a cidade em harmonia com os ciclos da natureza,
assumindo um caráter globalizante e multidisciplinar. Para Laurie (1986), essas intervenções devem
desempenhar funções ambientais, como reciclagem de dejetos, reflorestamento urbano e controle
de microclima, sendo também jardins comunitários, além de contemplar as atividades cotidianas e
recreativas de uma sociedade pluralista. Um sistema de parques, segundo Laurie (op. cit.), seria a
ferramenta eficaz para se alcançar esses objetivos através de uma redistribuição criteriosa dos
espaços livres por toda a cidade, que não seriam mais os parques pastoris, e sim a profusão de
praças, jardins e ruas arborizadas integradas e próximas da população.
Esse sistema tem suas origens teóricas na obra de J. C. Loudon (1783-1843), Hints for Breathing
Places for Metropolis, de 1829, na qual descreve a possibilidade de planificar a criação de espaços
verdes em Londres e estabelece diretrizes para organizar um circuito de parques e trazer a

3
De acordo com Pequeno & Moreira (2007), data de 1997, um primeiro levantamento de áreas de risco em
Fortaleza, realizado pelo Centro de Defesa e Proteção dos Direitos Humanos, quando foram contabilizadas
mais de 4.500 famílias em 54 áreas de risco. Em 2001, estudos realizados pela Comissão de Habitação da
Prefeitura de Fortaleza indicavam que mais de 9.300 famílias viviam em situação de risco, localizadas em 79
áreas. No início de 2007, dados da Defesa Civil apontam que mais de 22.000 famílias vivem em 102 áreas de
ocupação em situação de risco ambiental, as quais, com exceção daquelas situadas nas proximidades de lixões
e aterros sanitários, ou lindeiras ao sistema rodo-ferroviário principal, estariam sobrepostas ou adjacentes às
áreas de preservação urbana.
4
Para Santos & Elias (1997), conceitualmente, existem duas categorias de paisagem: a artificial e a natural. A
paisagem artificial é a transformada pelo homem, enquanto, grosseiramente, a paisagem natural é aquela
ainda não mudada pelo esforço humano. Se no passado havia a paisagem natural, hoje essa modalidade de
paisagem praticamente não existe mais. Por isso, torna-se difícil distinguir o que é natural do que é artificial.
Para ele, a percepção da diferença é cada vez mais árdua e temerária.

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paisagem natural para o ambiente urbano, tendo o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos
habitantes londrinos5. Como caso prático pioneiro, está o Sistema de Parques de Boston, de
Frederick Law Olmsted (1822-1903), implementado gradualmente de 1876 a 1890. Dal Co (1975)
considera a proposta como uma expressão inovadora da exigência de formular um plano
urbanístico de conjunto e de uma cultura que já havia superado a fase de denúncia das mazelas da
cidade. Para ele, o plano se propõe a oferecer propostas realistas para a reestruturação urbana e
contém ainda a primeira identificação de uma nova escala de projeto urbanístico, ao prever o
controle global do desenvolvimento urbano e a relação entre cidade e território, cidade e região.
Nesse projeto, que, segundo Olmstead, não é propriamente um parque, mas uma intervenção
urbana, o principal objetivo não é a ordenação interna dos parques, mas sim a busca de sua
continuidade urbanística e a transformação das intervenções isoladas em um sistema urbano
contínuo. Mesmo não obtendo êxito esperado em todas as suas propostas, a intervenção em
Boston definiu princípios revolucionários de planejamento e projeto de paisagismo que são
referenciais até a atualidade. Charles Eliot (1834–1926), formado arquiteto paisagista no ambiente
da Harvard, continua o trabalho de Olmsted em Boston. Eliot promove uma ampliação do sistema
de parques de Olmsted, ao passar da escala urbana para a territorial e propor parques em duas
escalas: urbana e metropolitana. Além disso, propõe instrumentos urbanísticos e legislativos
bastante avançados para consolidar o seu plano. Posteriormente, surgem novas discussões sobre a
ordenação sistemática dos espaços livres na estrutura urbana, como: a Cidade Linear de Arturo
Soria y Mota (1882), a Garden-City de Ebenezer Howard (1902), as Cidades e Sistema de Parques
de J. C. Forestier (1908), as Unidades de Vizinhaça de Clarence A. Perry (1929), o CIAM (1933), a
Carta de Atenas (1943) e o Desenho com a Natureza de Ian McHarg (1969).
Ao longo da história, o planejamento urbano tem procurado aprimorar suas técnicas para
reintroduzir o verde no espaço do homem. O movimento de implantação dos parques mudou de
forma substancial as perspectivas do reformismo urbano; o interesse romântico e literário pela
natureza transformou-se numa ideologia complexa e mais capaz de se expressar com propostas
baseadas cientificamente, dirigidas a planificar completamente o desenvolvimento urbano. O
projeto e as reformas urbanísticas passaram a ser confiadas a técnicos qualificados, e o
planejamento a ter instrumentos precisos de conhecimento e bases científicas de análise. Contudo,
embora a questão ambiental seja vista como uma das mais importantes dimensões de análise por
partes dos múltiploes segmentos, grupos e classes sociais que compõem a sociedade
contemporânea (Loureiro, 2003), a maioria das novas cidades e subúrbios incorpora simplesmente
os ornamentos da natureza, como árvores, gramados, jardins e lagos, e via de regra, são
construídos com muito pouco cuidado na observação dos processos da natureza, como foram as
velhas cidades. Persiste, contudo, o esforço do planejamento urbano, aliado à arquitetura da
paisagem, em diminuir os impactos negativos do homem sobre o seu ambiente.
No Brasil, a questão ambiental encontra um grande entrave na segregação espacial6. Apesar de
todo sujeito individual e coletivo reconhecer o meio ambiente como dimensão indissociável da vida
humana (Loureiro, 2003), a universalidade dos interesses à proteção ambiental, principalmente nas
grandes cidades brasileiras, inexiste devido à impossibilidade de acesso aos direitos sociais7 pela

5
Notas de aula da disciplina A Paisagem no Desenho do Cotidiano, ministrada pelo Prof. Vladmir Bartalini, pelo
curso de pós-graduação da FAUUSP, no primeiro semestre de 2009.
6
Para Lefebvre (2008), a segregação é um dos novos valores assumidos pelo espaço enquanto criação
humana e propriedade: torna-se excludente, distanciando os menos favorecidos dos centros urbanos. O
Direito à Cidade, surge, então, como ferramenta de combate à organização segregadora do espaço.
7
Segundo Santos (2009), os direitos sociais, além dos trabalhistas e previdenciários, incluem outros direitos
considerados instrumentais para o exercício da plena cidadania, como são os casos dos direitos à saúde, à
educação e à moradia.

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maioria da população. Numa realidade em que os aspectos das relações sócio-espaciais são
dominados pela estrutura econômica (Gottdiener, 1993), as desigualdades são reforçadas e a
tensão entre a reforma urbana e a ambiental torna-se mais evidente, exigindo um diálogo entre
suas agendas para que o Direito à Cidade possa ser cumprido.

FORTALEZA, SEUS ESPAÇOS LIVRES PÚBLICOS E BACIAS HIDROGRÁFICAS


Fortaleza, capital do Estado do Ceará, desponta como a quarta capital do país, com uma população
estimada, no ano de 2007, em mais de 2,4 milhões de habitantes (IBGE–Contagem da População
2007), tendo seu desenvolvimento atrelado, principalmente, ao setor terciário - comércio, serviços
e, mais recentemente, ao turismo. A Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), retrato do
persistente processo de macrocefalia urbana, configura-se como uma das maiores do Brasil com
uma população estimada de 3,3 milhões de habitantes, o que representa cerca de 44% da
população total do estado (IBGE–Censo Demográfico 2000) (Fig. 2).
O município de Fortaleza cobre
uma área aproximada de 330km² e
sua densidade populacional é cerca
de 7.000 hab/km² (Prefeitura
Municipal de Fortaleza, 2003). Pelos
números mencionados, Fortaleza,
considerada totalmente urbana, é
uma cidade grande, populosa,
densamente ocupada e desigual (Fig.
3).
Pequeno (2001, p. 125,126) esboça
um quadro geral da cidade:
Assim como em outras
grandes cidades brasileiras,
verifica-se em nosso
município um processo de
urbanização extremamente Fig. 2 – Aerofoto de Fortaleza destacando seus limites municipais.
desordenado. Este processo,
consubstanciado na justaposição de espaços verticalizados, loteamentos irregulares, conjuntos
habitacionais, áreas de ocupação espontânea em condições precárias e espaços vazios de
dimensões diversas, denuncia um sistema de desenvolvimento urbano excessivamente desigual.
As conseqüências socioeconômicas, urbanísticas e ambientais deste fenômeno têm sido muito
graves, pois não afetam somente os habitantes que vivem em condições deficientes, mas produz
um grande impacto negativo sobre a cidade e sobre a população urbana como um todo.
Quanto aos espaços livres
públicos, considerando praças,
parques, pólos de lazer e áreas
verdes, percebe-se, claramente,
que Fortaleza apresenta espaços
fragmentados, reduzidos e
implementados de forma
desordenada e residual no
tecido urbano da cidade e em
Fig. 3 – Morro Santa Terezinha e orla do Mucuripe. desacordo com seus recursos

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naturais (Fig. 4).Alia-se a isso a precariedade do estado de conservação que contribui para os baixos
índices de usufruto dessas áreas pela população, obrigada a utilizar lugares privados e de consumo
para as suas atividades coletivas e de lazer8. Mesmo as praias, espaços públicos por excelência,
encontram-se ocupadas por barracas, que induzem a privatização do uso recreativo da orla
fortalezense. Essas características são conseqüências de um quadro histórico de crescimento
populacional rápido e expansão desordenada, resultante da falta de planejamento urbano, do
descumprimento das legislações estabelecidas pelos planos diretores propostos e da valorização
dos interesses privados e do mercado imobiliário em detrimento da coletividade.

Fig. 4 – Espaços livres públicos de lazer em Fortaleza.

A partir do período pós-guerra, observa-se um grande crescimento das principais cidades


brasileiras. Essa expansão rápida e desordenada resulta em um ambiente urbano caótico, que por
sua vez, demanda a criação de parques públicos como uma forma de garantir o contato do homem
da cidade com a natureza. No final dos anos 1970 e 1980, essa demanda se intensifica e o número
de parques implantados nos principais centros urbanos do país aumenta consideravelmente. Nas
cidades litorâneas, os calçadões de praia, consolidam-se como espaço de lazer preferido pela
população local e pelos turistas ao aglutinar as atividades, equipamentos e as possibilidades de um

8
Santos (1987, p. 36) afirma que o lazer na cidade se tornou igual ao lazer pago, inserindo a população no
mundo do consumo. Quem não pode pagar pelo estádio, pela piscina, pela montanha e o ar puro, pela água, fica
excluído do gozo desses bens, que deveriam ser públicos, porque essenciais .

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parque urbano. Em Fortaleza, merecem destaque os seguintes parques e pólos de lazer que foram
implantados nesse período:
Parque Adahil Barreto,
Primeira etapa do calçadão da Avenida Beira-Mar (Fig. 5)
Parque da Lagoa do Opaia,
Parque da Lagoa da Parangaba
Zoológico Sargento Prata
Pólo de Lazer da Barra do Ceará
Parque Alagadiço e Parque Pajeú

Fig. 5 – Calçadão da Avenida Beira-mar.


Além da implementação dos parques mencionados, outro fator merece destaque por sua relevância
quanto aos espaços livres de nossa cidade: a aprovação do Plano Diretor Físico do Município de
Fortaleza pela Lei 4486 de 12 de março de 1975. Quanto às áreas verdes remanescentes e
recursos hídricos, esse plano estabelece zonas especiais de proteção de verde, preservando em
seus limites, os recursos hídricos e a
vegetação em seu entorno. Contudo, a
maioria dessas áreas apresenta ocupações
consolidadas e foram decretadas como de
utilidade pública para fins de
desapropriação, o que consiste em um
processo complicado e que demanda muito
tempo em nosso país. Em 1982, é aprovado
o decreto de lei estadual Nº 15.274, que
estabelece faixas de proteção de 1ª e 2ª
categorias para os recursos hídricos de
Fortaleza. Mesmo sendo de suma
importância para a proteção legal desses
recursos, verifica-se que as faixas definidas
desconsideram as particularidades de cada Fig. 6 – Foz do Riacho Maceió.
bacia e que as faixas de segunda categoria
estabelecem poucas restrições de uso e ocupação, sujeitas a alterações pelo zoneamento do plano
diretor. Além disso, projetos de leis municipais subseqüentes, atreladas a interesses particulares,
têm tentado diminuir indiscriminadamente essas faixas especiais de proteção, como é o caso do
Riacho Maceió, em cuja foz foi proposta a alteração de zona de proteção para zona de praia, mais

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permissiva a construções e empreendimentos imobiliários. Apesar de inconstitucional, por


ultrapassar leis ambientais mais restritivas, decretos como este geram conflitos demorados que
atrasam tomadas de decisões cada vez mais urgentes na preservação dos recursos naturais ainda
remanescentes em nossa cidade (Fig. 6).

A situação presente
Hoje, indiscutivelmente, Fortaleza é uma cidade carente de áreas livres públicas em quantidade e
qualidade. São muitos os bairros que não dispõem de um espaço de convivência com dimensões,
equipamentos e desenho adequados aos seus usuários. Na atualidade, segundo dados da Síntese
Diagnóstica da Revisão Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Fortaleza de 2003
(Prefeitura Municipal de Fortaleza, 2003), o patrimônio municipal de espaços livres é de 786
hectares, o que representa, somente, 2,35% da área total da cidade. A maioria desses espaços é
oriundo de 15% da área total das glebas objeto de parcelamento do solo 9. Apesar dessa exigência,
um levantamento realizado em 1981 comprovou o seu não cumprimento. Dos 11.267,37 hectares
de área loteada, correspondentes a 647 loteamentos cadastrados no município, apenas 576,88
hectares, ou seja, 5,12% constituíam-se em praças e áreas livres.
Como agravante, ao longo do tempo, o patrimônio municipal de espaços livres públicos está sob
um processo de dilapidação e degradação, que se traduz no uso inadequado quanto à sua finalidade
de uso e ocupação como área verde e bem de uso comum do povo. Através da figura de
desafetação, esta finalidade é alterada e inúmeras áreas foram doadas a terceiros para implantação

Fig. 7 – Praça na periferia de Fortaleza.


de equipamentos institucionais, sedes de clubes e entidades associativas e conjuntos habitacionais
populares, entre outros. A ocupação de outras áreas ocorreu com autorização do poder público
para implantação de postos de gasolina, bancas de revistas, lanchonetes e outras atividades. Há
ainda o caso das ocupações das áreas verdes com habitações, principalmente pela população de
baixa renda, configurando as chamadas áreas de risco. Mais da metade das áreas livres da cidade
(63,89%) encontra-se invadida, não-implantada ou cedida para outros usos. Apenas 30,55% dessas
áreas encontram-se implantadas e urbanizadas, correspondendo apenas a 240 hectares, ou seja,

9
O Plano Diretor Físico do Município de Fortaleza, aprovado pela Lei 4486 de 12 de março de 1975,
determinou que os projetos de parcelamento do solo deveriam destinar pelo menos 15% da gleba original a
áreas verdes de domínio público reconhecido e a Lei Municipal de Parcelamento do Solo de número 5.122 A
de 1979, regulamenta os percentuais de 15% de áreas verdes, 5% de área institucional, 5% de fundo de
terra e 20% de sistema viário, totalizando 45% de áreas públicas. Poucos anos depois, em 1977, é aprovada
a Lei federal 6766, que, dentre outras providências, também legisla sobre o parcelamento do solo urbano.
Essa lei define que uma porcentagem mínima de 35% dos loteamentos propostos devem ser de domínio
público, servindo a implementação da circulação, equipamentos institucionais e áreas verdes.

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0,71% da área total da cidade10. Além disso, boa parte dos espaços públicos considerados
urbanizados encontra-se em péssimo estado de conservação (Fig. 7).
A paisagem contemporânea de Fortaleza, assim como das grandes cidades brasileiras, continua
como sempre expressando os grandes contrastes sociais. Ao lado dos subúrbios e dos bairros
elegantes, dotados de infra-estrutura e bem cuidados, tem-se uma malha urbana extensa, composta
por habitações bem mais modestas, térreas ou assobradadas, situadas em lotes pequenos, com
pouco ou nenhum recuo, que aproveitam ao máximo o terreno disponível. Favelas, subhabitações,
cortiços, autoconstruções são formas de moradia comuns no contexto da cidade brasileira e, para
seus moradores, o acesso aos espaços livres adequados a uma vida urbana saudável fica restrito a
espaços públicos como praias, parques e praças, muitas vezes distantes, ou ainda campos de
várzea. Por sinal, esses campos de futebol espontâneos, muito comuns em Fortaleza,
principalmente nos bairros periféricos, constituem um indicador confiável da carência de espaços
livres públicos.

As macrobacias urbanas e seus processos de ocupação


A ocupação indiscriminada ao longo da rede de
drenagem vem se tornando cada vez mais
intensa, principalmente pela proliferação de
favelas nas margens dos cursos e mananciais
d’água que banham a área urbana. Esse
processo de ocupação, que se mostra
crescente a cada período de seca
principalmente em virtude do êxodo rural, tem
contribuído significativamente para exacerbar a
incidência das enchentes, através do
assoreamento dos cursos d’água causado pela
remoção da cobertura vegetal ribeirinha e pelo
lançamento de lixo e outros dejetos nesses
ambientes.
Em Fortaleza, o Plano Diretor de Drenagem Fig. 8 – As divisões do município em macrobacias.
da Região Metropolitana de Fortaleza,
apresentado no PDDU-FOR, em 1992, e atualizado em 2003, agrupa todos os recursos hídricos da
cidade em macro e microbacias (Fig. 8). No município de Fortaleza, estão definidas quatro
macrobacias hidrográficas11, que são as seguintes:

10
Dados da Comissão de Atualização de Bens Imóveis da Prefeitura Municipal de Fortaleza (Prefeitura
Municipal de Fortaleza, 2003)

11
O Plano Diretor de Drenagem da Região Metropolitana de Fortaleza de 1992 considerava a existência de
apenas 03 (três) macrobacias hidrográficas no município fortalezense. A revisão e retificação do plano em
2003 passou a considerar a distribuição dos recursos hídricos da cidade em 04 macrobacias, identificando um
pequeno trecho da bacia do Rio Pacoti no interior dos limites municipais. Cada macrobacia, por sua vez, está
subdividida em microbacias ou sub-bacias, que correspondem aos afluentes, reservatórios de água (lagoas e
lagos), sangradouros, galerias e canais que funcionam como elementos drenantes e têm como destino final o
leito principal dos rios ou o mar.

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Macrobacia da Vertente Marítima - A: a única


totalmente inserida no município, compreende a faixa
de terra localizada entre as desembocaduras dos rios
Cocó e Ceará, com topografia favorável ao
escoamento das águas para o mar. Os locais analisados
no Inventário Ambiental de Fortaleza (Prefeitura
Municipal de Fortaleza, 2003) apresentaram-se, de
maneira geral, com taxas altas de coliformes fecais,
caracterizando-os como intensamente poluídos. Seus
recursos hídricos encontram-se bastante degradados.
O processo acelerado de ocupação do meio natural
Fig. 9 – Lagoa do Papicu.
dessa área resultou na canalização excessiva da vários
trechos dos principais cursos d´água e o
desmatamento da vegetação ribeirinha (Fig. 9).
Macrobacia do Rio Cocó - B: maior bacia de
Fortaleza, drenando as porções leste, sul e central da
cidade. Também compreende áreas dos municípios de
Aquiraz, Maranguape e Pacatuba, onde se encontra
sua nascente. Está passando por um processo
acelerado de ocupação, mas ainda guarda grande parte
do nosso patrimônio ambiental, incluindo trechos e
hidrografia não poluída, fazendo-se necessário o
controle da expansão da cidade sobre os seus recursos Fig. 10 – Ponte sobre o Rio Cocó.
naturais (Fig. 10).
Macrobacia do Rio Maranguapinho - C: localizada
na porção oeste de Fortaleza, é a segunda bacia
hidrográfica em extensão do município. Possui
desembocadura em comum com o Rio Ceará, nos
limites administrativos entre Fortaleza e Caucaia. Sua
nascente localiza-se no município de Maranguape. Os
seus recursos hídricos, dentre os inventariados em
2003, foram os que apresentaram os piores índices de
qualidade ambiental, principalmente na análise
bacteriológica, das quatro bacias municipais. Ainda de Fig. 11 – Rio Maranguapinho.
acordo com os dados desse inventário, das 79 áreas
de risco reconhecidas pela administração municipal, 30
encontram-se às margens do Rio Maranguapinho (Fig.
11).
Macrobacia do Rio Pacoti - D: nasce fora da RMF,
em Pacoti, na serra de Baturité, possuindo um
pequeno trecho de estuário no município de
Fortaleza. Por estar em local de difícil acesso para
urbanização e em sua grande parte ser de área de
preservação, possui o ambiente considerado com alto
grau de conservação da flora e fauna (Fig. 12). Fig. 12 – Estuário do Rio Pacoti.
De acordo o Inventário Ambiental de Fortaleza (PMF,
2003), todos os ambientes ao longo dos recursos hídricos estão comprometidos em maior ou

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menor escala tanto no tocante a fauna como na flora, com exceção do ambiente de manguezal que,
por força de Lei, ainda pode ser considerado preservado em um grau médio de conservação. Os
recursos hídricos do município apresentaram, em geral, uma baixa qualidade em relação aos
parâmetros analisados - qualidade da água, mapeamento e inventário florestal, levantamento e
zoneamento da fauna, diagnóstico das ocupações, levantamento batimétrico. Como conclusão do
inventário, diagnosticou-se que o processo de degradação do meio ambiente natural no município
de Fortaleza encontra-se em um estágio bastante avançado, não só dos sistemas hídricos (avaliando
no contexto das bacias hidrográficas), como de todo o meio ambiente no qual estão inseridos.
A oficina realizada em Fortaleza pelo QUAPÁ-SEL12 em abril deste ano, confirmou esse quadro de
degradação dos espaços livres públicos e dos recursos naturais da cidade, através de visitas e
sobrevôo realizados pelos pesquisadores, apresentações de técnicos de diferentes órgãos públicos
estaduais e municipais e profissionais diversos, e da produção de mapas síntese pelos participantes
da oficina. Segundo o relatório produzido na oficina, verifica-se ainda a total ausência de atuação do
poder público municipal no que se refere ao projeto, implantação e gestão de suas áreas livres
públicas, que se encontram, em sua grande maioria, degradadas, sem equipamentos e mobiliário
urbano, arborização adequada e ambientação propícia às práticas recreativas, esportivas e de lazer.
Nesse sentido, as ações do poder público, tanto no âmbito municipal como estadual, caracterizam-
se por iniciativas pontuais, desvinculadas de qualquer idéia de planejamento setorial e, muito
menos, intersecretarial, sendo dependentes, invariavelmente, de vontade política normalmente
motivada por interesses eleitoreiros. Como ocorre em diversas cidades brasileiras, a desarticulação
entre as diferentes secretarias, a sobreposição de funções, a limitação de recursos e a pouca
capacitação dos quadros técnicos municipais são problemas persistentes na gestão da cidade e
contribuem para agravar a situação de Fortaleza.
Por outro lado, as inúmeras lagoas que existem na cidade, embora vinculadas a um programa de
recuperação e conservação onde o enfoque conservacionista sobrepõe-se ao funcional distribuídas
pelo tecido urbano, configuram-se espaços livres com grandes possibilidades de aproveitamento
para uso da população. Ainda como fator positivo, o município apresenta grande potencial de
aproveitamento das faixas destinadas à preservação permanente (APPs), o que permitiria a criação
de um sistema de espaços livres, constituído por tipologias variadas, ao longo dos córregos e rios
que cortam a cidade e que possuem forte conexão entre si. Soma-se à hidrografia, a orla marítima e
as áreas de dunas, que devem ser incorporadas a esse sistema. Para que esse circuito possa ser
concretizado, é urgente que a cidade se planeje em tempo, norteando-se por seus valores
ambientais13.

12
Esta oficina fez parte do projeto temático de pesquisa desenvolvido pelo Laboratório da Paisagem da
FAUUSP, que se debruça sobre o estudo dos “Sistemas de espaços livres e a constituição da esfera pública
contemporânea no Brasil”. A equipe responsável por sua realização contou com os pesquisadores de São
Paulo: Prof. Dr. Jonathas Magalhães (PUC Campinas), Arq. Fany Galender (FAUUSP), Arq. Denis Cossia
(FAUUSP) e Arq. Daniela Valente (FAUUSP) e com a coordenação local em Fortaleza da Profa. Arq.
Fernanda Rocha (UNIFOR). Em Fortaleza a experiência integrou a programação mensal desenvolvida pelo
Grupo de Pesquisa Laboratório da Paisagem, denominada Colóquios sobre a Paisagem, no ano de 2009.

13
Segundo Macedo (1999), entende-se por valor ambiental o potencial que tem qualquer ecossistema como
estrutura ecológica, permitindo a existência e a manutenção de uma série de seres vivos e de seu inter-
relacionamento. Esse valor é sempre considerado dentro de um referencial humano, isto é, quando traz
benefícios e insumos para a sociedade humana.

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SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES – CONECTANDO O VERDE

A realidade fortalezense
Segundo a Síntese Diagnóstica do PDDU-FOR de 1992 (Prefeitura Municipal de Fortaleza, 2003, p.
74,75), Fortaleza não possui, a rigor, um Sistema Público de Áreas Verdes, estruturado e hierarquizado.
As praças, parques e pólos de lazer, implantados por sucessivas administrações, não chegam a compor
uma estrutura organizada que abranja desde a menor unidade (praça de bairro ou unidade de
vizinhança) até o equipamento de grande porte (parque urbano ou metropolitano). Passada mais de
uma década, na Síntese Diagnóstica da revisão do Plano Diretor municipal de 2003, o mesmo texto
se repete com as mesmas palavras. A reprodução dessa frase comprova, portanto, que, no
intervalo de mais de dez anos entre a divulgação desses dois textos idênticos, a situação da cidade,
quanto aos seus espaços livres, à sua estruturação e organização, permanece inalterada. Repetir
essas mesmas palavras denuncia o descaso da municipalidade com as suas áreas livres e a
inexistência de uma política urbana que estabeleça diretrizes para mudar essa situação. Ao longo
dos anos, suas ações nesse sentido, limitaram-se a intervenções pontuais, superficiais e
oportunistas, especialmente em períodos eleitorais.

Recomendações do Plano Diretor Participativo


No Plano Diretor Participativo de Fortaleza, recém aprovado em março deste ano, o texto de lei
sancionado não mais assume a inexistência de um sistema municipal de áreas verdes, mas
estabelece que a municipalidade deva realizar a sua implementação. Para tanto, define algumas
ações estratégicas de caráter generalizante que se restringem a sugerir o uso disciplinado das
praças e parques e a recuperação de áreas ambientalmente degradadas. Como estratégia
inovadora, o plano determina que as vias públicas devam ser arborizadas, criando faixas verdes que
servirão de conexão entre parques, praças e áreas verdes. Contudo, novamente não se estabelece
nenhuma diretriz para definir e planejar esse sistema. Diante da ausência de critério único ou de um
plano em escala municipal para a implementação de áreas livres públicas, é compreensível que
esses espaços estejam distribuídos de forma residual pela cidade. Visando integrar essas áreas entre
si, requalificá-las e direcionar a inserção e a urbanização de novos espaços livres públicos, é preciso
identificar primeiramente uma estrutura que funcione como base do sistema de espaços livres
públicos de Fortaleza para espacializá-lo no tecido urbano.

Recomendações básicas para a criação de um sistema de espaços livres públicos de


Fortaleza
Em verdade, os espaços livres públicos de uma cidade não existem de forma separada. Há uma
rede de vias e quadras que conformam um sistema. Contudo, nesse circuito, as interligações,
seguindo uma praxe contemporânea, privilegiam a circulação de veículos, e não a de pedestres. E,
geralmente, as iniciativas quanto aos espaços livres públicos enfocam apenas a sua reconstrução
isolada. Faz-se necessário, portanto, que as políticas públicas municipais de gestão do espaço livre
público, do ecossistema urbano e dos seus recursos naturais, estabeleçam ações integradas para
esses elementos.
Considerando as características físico-ambientais da cidade, os recursos hídricos, suas planícies
alagáveis, áreas de vegetação preservada, áreas de preservação delimitadas por lei correspondem à
maior porção de espaços livres públicos do município de Fortaleza. Sob a ótica da Ecologia da

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Paisagem (EP)14, os rios, riachos, lagos e lagoas, várzeas, áreas verdes, dunas e faixas de praia,
podem ser percebidos como um sistema natural de corredores e fragmentos de espaços livres, que
permeia a matriz do ambiente urbano (Fig. 13).

Fig. 13 – Estrutura,matriz, fragmentos e corredores de acordo com a Ecologia da Paisagem.


De acordo com Dramstad et al. (1996) a metodologia de análise da EP baseia-se na conectividade
entre os diversos elementos da paisagem, possibilitando mecanismos de avaliação da sua estrutura
geral, da integridade funcional dos seus componentes e o seu grau de saúde ecológica. Ainda
segundo esses autores, alguns elementos da paisagem podem formar redes e circuitos que seriam
básicos para o funcionamento da paisagem. Esses circuitos consubstanciam, então, uma Infra-
Estrutura Verde (IEV), que pode ser definida como uma rede interconectada de áreas naturais e
outros espaços abertos que conservam os valores e funções do ecossistema natural, mantem o ar e a
água limpos e promovem uma vasta gama de benefícios para as pessoas e para a vida selvagem.
(Benedict & Mcmahon, 2006, p. 1).
As IEVs consistem numa estratégia de criação de paisagens urbanas que mimetizam funções
ecológicas e hidrológicas dos ambientes naturais. Por ser baseada na paisagem, na função e
estrutura do ecossistema, a IEV, potencialmente, pode prover múltiplos serviços ecológicos 15. A sua
função primária envolve a qualidade e a quantidade da água, mas benefícios adicionais são
alcançados quando a água é vista por uma perspectiva da paisagem, como: recreação, amenização
do ambiente urbano, preservação e criação de habitat para vida selvagem, educação ambiental e
circulação alternativa. De acordo com Cormier et al. (2008), no planejamento urbano e regional,
essa rede de espaços é composta por parques, corredores verdes e espaços naturais preservados;
e, se for enraizada nos princípios sólidos da Ecologia da Paisagem e do planejamento de bacias,
esses espaços livres tradicionais podem ser a base para um sistema de infra-estrutura verde. Essa
rede pode ser expandida e incluir a infra-estrutura já implantada e readequá-la com as tipologias de

14
A Ecologia da Paisagem (EP), enquanto metodologia de análise, tem, segundo Pellegrino (1996), o papel de
mediadora entre as ciências ambientais e os interventores na paisagem, criando uma ferramenta para
interpretação da paisagem através de um modelo estrutural analítico similar que identifica morfologias,
funções e transformações espaciais em qualquer ecossistema, independente de sua condição antrópica. Para
a EP, todas as paisagens, das matas às áreas centrais das cidades, compartilham de um modelo estrutural
similar, dividida em estrutura, função e mudança. A estrutura corresponde à configuração espacial ou ao
arranjo de elementos da paisagem e a forma como esses elementos estão distribuídos. Sua estrutura é
composta por três tipos de elementos universais, que variam basicamente quanto à forma e a freqüência com
que ocorrem. São os fragmentos, os corredores e as matrizes.
15
Segundo Cormier et al. (2008), alguns dos serviços ecológicos providos pelas IEVs são abastecimento de
água, manejo e tratamento de águas pluviais, melhoria do microclima e seqüestro de carbono.

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projeto a serem mostradas para melhorar a drenagem das águas pluviais e a qualidade da água (Fig.
14).

Fig. 14 – Esquema teórico para estruturação de um Sistema de Espaços Livres Públicos em Fortaleza.
Mota (2000) reforça a importância da água como base estrutural e gestora para uma rede urbana
de áreas livres. Para ele, os modelos de gestão dos recursos hídricos mais adequados adotam a bacia
hidrográfica como unidade territorial a ser gerida, abordando todos os recursos nela contidos (Mota,
2000, p. 93). McHarg (1969, p. 62), reitera essa importância ao afirmar que os processos naturais
terrestres são indissociáveis dos processos naturais da água e vice-versa. Existe, portanto, um
consenso, que a bacia hidrográfica ou sub-bacia pode ser considerada como a unidade ideal de
planejamento e gestão ambiental, pois ao se gerenciar a água, se está gerenciando também, direta ou
indiretamente, toda uma cadeia de recursos ambientais e atividades humanas (Mota, 2000, p. 93).
Seguindo princípio acima, as microbacias hidrográficas, definidas pelo plano de drenagem
metropolitano, podem ser identificadas como unidades de planejamento territorial para traçar esse
sistema. Contudo, cada unidade deve ser estruturada levando-se em consideração sua relação com
as demais sub-bacias, sejam elas da mesma macrobacia ou de macrobacias distintas.
Apesar das ocupações indevidas (temporárias ou duradouras) e da degradação ambiental sofridas
pelos recursos hídricos no município, os mananciais, suas margens, várzeas e vegetação ciliar
permanecerão, de qualquer forma, como áreas livres públicas, mesmo com o adensamento
máximo da cidade. Essa impossibilidade de apropriação deve-se tanto a fatores naturais como a
restrições determinadas por leis no âmbito federal, estadual e municipal que visam à preservação
dos mesmos (Fig. 15).

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Fig. 15 - Zoneamento Ambiental de Fortaleza pelo Plano Diretor)


Portanto, os recursos hídricos e os ecossistemas a eles interligados poderão ser identificados como
elementos estruturantes definidores básicos de um possível sistema de espaços livres públicos,
tanto pelo seu caráter de área livre permanente como por sua importância ecológica para o
ambiente urbano.

ENTRAVES E DESAFIOS
Até o início do século passado, diante de um crescimento urbano lento e uma população não muito
numerosa, as praças, concentradas principalmente na zona central de Fortaleza, eram abundantes e
sempre freqüentadas. O riachos e lagoas mesmo em áreas mais densas, como o Pajeú, ainda faziam
parte da paisagem urbana. A partir de meados do mesmo século, verifica-se um aumento
populacional e uma conseqüente expansão urbana acelerada em Fortaleza. A cada década, a
população da cidade praticamente dobrava. Nesse período de crescimento urbano, apesar da
existência de leis reguladoras, verifica-se uma expansão desordenada da cidade, seguindo interesses
particulares que geralmente prejudicavam a coletividade e desrespeitavam a legislação vigente.
Dessa forma, a cidade cresceu rapidamente com loteamentos que destinavam menos do que o
mínimo exigido por lei para as áreas livres públicas e ainda ocupavam várzeas de riachos e lagoas.
Diante desse quadro, a cidade vê seus espaços livres ficarem relegados às piores localizações, que
correspondem geralmente às porções da gleba não loteáveis, de formato irregular, cercadas por
vias movimentadas. Ou ainda assiste os seus recursos hídricos serem reduzidos a espaços
ecologicamente insuficientes, quando não excluídos totalmente da paisagem urbana em
canalizações subterrâneas. Face à possibilidade de crescer harmoniosamente com a natureza e

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como parte de seu ecossistema, Fortaleza seguiu um caminho oposto, muitas vezes sem volta, de
priorizar os empreendimentos imobiliários e os interesses particulares sem questionar as
conseqüências para o meio-ambiente urbano. Infelizmente, essa decisão, mesmo interferindo
pontualmente na cidade, compromete o bem-estar e a qualidade de vida de toda população. Além
de por em xeque os ecossistemas, a paisagem e a drenagem urbana, o crescimento da cidade em
desacordo com a natureza ameaça a possibilidade de uso recreativo dos seus recursos naturais ou
subutiliza esse potencial, além de poder acarretar sérios desastres de natureza ambiental,
principalmente as enchentes causadas pela crescente e incontrolável impermeabilização do solo.
Apesar do estágio avançado da degradação do
ambiente natural de Fortaleza, o quadro atual
ainda se mostra reversível. O aproveitamento
dos grandes rios que cortam a cidade gerou
alguns projetos de grande significação e
relevância se implantados efetivamente (Fig. 16).
O projeto do Rio Maranguapinho, que prevê,
além da requalificação das áreas lindeiras, o
reassentamento de expressiva parcela da
população de baixa renda do entorno, está em
processo de implantação. Se realmente
concluída a obra, proporcionará um precedente
de grande impacto nas práticas projetuais
voltadas para os espaços livres e sua organização Fig. 16 - Áreas verdes de mangue ao longo do Rio Cocó.
como sistema a partir da hidrografia. A área do
Rio Maranguapinho caracteriza-se pela alta densidade demográfica, sendo a região mais pobre da
cidade, com o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Urbano). Possui uma grande faixa de
alagamento, onde está consolidada a maioria das áreas de risco de Fortaleza. Diante das
dificuldades encontradas, o projeto trata a recuperação do rio juntamente com a melhoria das
condições de habitabilidade das famílias que ocupam as suas margens, visando o remanejamento
dessa população com o reassentamento de mais de 9.000 famílias em áreas próximas. Esse número
poderia ser ainda maior caso o projeto não houvesse se utilizado de um Termo de Ajustamento de
Conduta (TAC)16, que propõe um lago entre as cidades de Maranguape e Maracanaú para controle
de cheias, de modo a não remover tantas famílias que ocupam a várzea original do rio. Além desse
artifício legal, os projetos e as obras do parque, da urbanização e das habitações foram assumidos
pelo Estado, já que o rio atravessa três municípios da RMF. Como tudo que se refere à água se
comporta segundo limites geográficos e não segundo limites político-administrativos, delegar as
responsabilidades de projeto e de sua execução para a administração estadual permite uma maior
abrangência do plano sobre o território da bacia e elimina obstáculos que certamente existiriam no
diálogo entre os municípios cortados pelo rio. O projeto prevê a urbanização dos conjuntos
habitacionais, uma via paisagística com passeios, ciclovias e pista de rolamento, calçadão, a
manutenção da vegetação abundante remanescentes dos quintais, a instalação de equipamentos,
como quadras, campos e praças, provendo de espaços de lazer a população que reside na zona
oeste do município. Após a sua conclusão, será o maior parque urbano de Fortaleza, tendo
aproximadamente 7 vezes a extensão do calçadão da Av. Beira-mar.

16
Segundo Martins (2006), o TAC vem se apresentando como uma alternativa de diálogo entre a
recuperação ambiental e a regularização fundiária, compatibilizando os conflitos entre o Direito Urbanístico e
o Direito Ambiental ao buscar na Filosofia do Direito os fundamentos do dever de adotar a melhor solução.

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O exemplo do Rio Maranguapinho evidencia os desafios e entraves das grandes cidades brasileiras,
e por que não, dos países em desenvolvimento, na recuperação dos seus mananciais e na
estruturação de um sistema de espaços livres públicos a partir da hidrografia. Considerando que as
bacias não coincidem com os limites municipais, a compartimentação geográfica e a
compartimentação político-administrativa não se sobrepõem, criando alguns impasses de
competência e dificultando a ação regulatória e de fiscalização. Nessas condições, se a articulação
de políticas públicas nos três níveis de governo é normalmente complexa devido a competências
concorrentes, a gestão de bacias hidrográficas se torna ainda mais complexa, já que os limites de
bacias não coincidem com os limites municipais ou, em alguns casos, estaduais. Nesse caso, exige-
se um diálogo ainda mais difícil para que os diferentes níveis de governo exerçam suas atribuições
de forma eficiente e harmônica (cf. Martins, 2006).
Quanto às ocupações irregulares, numa metrópole como Fortaleza, em que suas áreas de proteção
de mananciais, faixa de praia e complexos dunares coincidem com a concentração dos piores
indicadores sócio-espaciais, fica claro que a questão ambiental é também um problema de carência
de uma política consistente de acesso à habitação de interesse social (cf. Martins, op. cit.) (Fig. 17).

Fig. 17 - Indicadores sócio-espaciais de acordo com os dados do Censo IBGE de 2000)


Para as classes sociais que ainda não tem asseguradas as condições básicas de sobrevivência, como a
habitação, o meio ambiente não se apresenta como questão relevante. Ainda que o meio ambiente
possa ser considerado um bem de uso comum, cuja proteção interessa ao conjunto da sociedade,
os custos e benefícios de sua proteção são desigualmente distribuídos, variando de acordo com os
recursos disponíveis dos diversos grupos para atuar no contexto da política local (Fuks, 2001).
Confirma-se, então, a tensão entre o Direito Urbanístico e o Direito Ambiental e a necessidade
iminente de diálogo entre essas duas esferas do Direito à Cidade ao discutir a questão do modelo

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de desenvolvimento e de desenvolvimento urbano. Nesse debate, é fundamental assumir que, sem


forte investimento nas melhorias sociais, será improvável atingir um desenvolvimento econômico
que assegure condições ambientais básicas. Diante da superação da cidade formal pela informal, é
necessário refletir sobre padrões de uso e ocupação do solo, em contraponto com estratégias
realistas de conservação do meio ambiente (Diegues, 2000), considerando os custos e impactos das
opções adotadas para a realidade urbana, de forma a evitar que as políticas públicas permanecem
apenas nos discursos, nos textos de lei e nas intenções, ou ainda pior: que aconteça exatamente o
oposto do que se propõe, como as 102 áreas de risco em Fortaleza.

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Referências das ilustrações


FIGURA 1. Sobrevôo sobre a orla de Fortaleza. Autor: Nícia Paes Bormann; Ano: 2005
FIGURA 2. Aerofoto de Fortaleza. Fonte: Secretaria de Infra-Estrutura de Fortaleza – Prefeitura
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FIGURA 3. Morro Santa Terezinha e orla do Mucuripe. Autor: Newton Becker. Ano: 2005.
FIGURA 4. Mapa de Fortaleza com seus espaços livres públicos de lazer: praças, parques e pólos
recreativos. Fonte: Plano Diretor Participativo de Fortaleza – Prefeitura Municipal de Fortaleza. Ano:
2009
FIGURA 5. Calçadão da Avenida Beira-mar. Autor: Newton Becker. Ano: 2005.
FIGURA 6. Foz do Riacho Maceió, o último mananacial da macrobacia litorânea ainda não totalmente
canalizado, sobrevive às ocupações por favelas e grandes empreendimentos imobiliários. Autor: Fernanda
Rocha. Ano: 2009.
FIGURA 7. Praça Coronel Carvalho localizada na Barra do Ceará: retrato do abandono. Autor: Newton
Becker. Ano: 2005.
FIGURA 8. Mapa de Fortaleza com suas divisões em macrobacias. Fonte: Plano Diretor Participativo de
Fortaleza – Prefeitura Municipal de Fortaleza. Ano: 2009.
FIGURA 9. Lagoa do Papicu: eutrofização e ocupação de suas margens por favels. Autor: Newton
Becker. Ano: 2005.
FIGURA 10. Ponte em construção sobre o estuário do Rio Cocó. Autor: Fernanda Rocha. Ano: 2009.
FIGURA 11. Ocupações ao longo do Rio Maranguapinho. Autor: Fernanda Rocha. Ano: 2009.
FIGURA 12. Estuário do Rio Pacoti.Autor: Fernanda Rocha. Ano: 2009.
FIGURA 13. Estrutura, matriz, fragmentos e corredores espacializados em aerofoto de Fortaleza de
acordo com os princípios da Ecologia da Paisagem. Autor: Newton Becker. Ano: 2009.
FIGURA 14. Esquema teórico para estruturação de um Sistema de Espaços Livres Públicos em Fortaleza
a partir de sua hidrografia. Autor: Newton Becker. Ano: 2009.
FIGURA 15. Mapa de Zoneamento Ambiental de Fortaleza. Fonte: Plano Diretor Participativo de
Fortaleza – Prefeitura Municipal de Fortaleza. Ano: 2009
FIGURA 16. Área de mangue preservada ao longo do Rio Cocó. Autor: Fernanda Rocha. Ano: 2009.
FIGURA 17. Mapas com indicadores sócio-econômicos de Fortaleza espacializados por setor censitário,
de acordo com os dados do Censo do IBGE de 2000. Autor: Newton Becker. Ano: 2009.

SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES PÚBLICOS DE FORTALEZA (CE): UM DESAFIO PARA AS QUESTÕES URBANAS E AMBIENTAIS 21

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