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am __fACULDADE TEOLOGICA — w=” Sul AMERICAN, Hermenéutic mi HANS AEspiral Hermenéutica uma nova abordagem a interpretagdo biblica Grant R. Osborne Tradugaio Daniel de Oliveira Robinson N. Malkomes Sueli da Silva Saraiva oe VIDA NOVA Dados Internacionais de Catalogacao na Publicagao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Osborne, Grant R. A cspital hermenéutica: uma nova abordagem a interpretagio biblica / Grant R, Osbome; tradugao Daniel de Oliveira, Robinson N. Malkomes, Sueli da Silva Saraiva. So Paulo: Vida Nova, 2009. “Tieulo original: The hermeneutical spiral : a comprehensive introduction to biblical incerpreration, Bibliogralia. ISBN 978-85-275-0422-5, 1, Biblia ~ Hermenéutica 1. Titulo, 09-07299 CDD-220.601 Indices para catélogo sistematico: 1, Hermenéutica biblica 220.601 INTRODUGAO ara 0 verdadeiro cristo, ha pouguissimas coisas tio importantes quanto estu- dar com seriedade a Palavra de Deus. Pego licenga para usar uma ilustracaio. Suponha que alguém entre correndo na sala de sua igreja onde voc ¢ outros estejam estudando a Biblia e diga que descobriu moedas de ouro na parte dos fundos da igreja, sendo que 0 barulho denuneia que 0 niimero de moedas parece maior medida que se aprofimda a escavagiio, chegando a uma profundidade de setenta metros. A sala se esvaziaria numa fragdo de segundo, e yor’ nao se contentaria em pegar apenas as moe- das que estivessem na superficie. Voe® comegaria a cavar e logo estaria comprando ferramentas e aprendendo a usé-las (enxaddes, etc.) para cavar cada vez mais fundo. Isso é real quando se trata de estudar a Biblia: quanto mais fundo vocé chega, maiores as recompensas. [i claro que é possivel ser abengoado no nivel mais superficial, mas por que ficar ali, se vocé pode cavar mais fundo e achar tesouros ainda maiores? O propdsito deste livro é fornecer-Ihe as ferramentas necessérias para cavar mais fndo na Palavra e ensiné-lo a usi-las. O alvo € 0 tesouro supremo da verdade divina! A palavra “hermen€utica” deriva do vocébulo grego que significa “interpretar” A definigo tradicional da palavra é “ciéncia que define os principios ou métodos para a interpretagdo do significado dado por um autor especifico”., Essa definigao, todavia, tem sido desafiada, ¢ a tendéncia hoje em muitos circulos ¢ restringir 0 termo a elu- cidagdo do significado atual de um texto e n&o a intengSo original, Esse 6 0 assunto dos dois apéndices, nos quais argumento que procurar o significado original & algo legitimo e até necessario, e a hermenéutica admite ambos: o que 0 texto significava © 0 que significa. Eu me oporia até mesmo a pratica atual de usar a “exegese” para o estudo do significado do texto ¢ a “hermenéutica” para a sua significagaio para o presente, De preferéncia, hermenéutica é o termo geral, ao passo que exegese e “con- textual \¢40” (a comunicagao transcultural do_ significado de um texto para hoje) sio dois aspectos.de uma tarefa mais ampla. 26 | AESPIRAL HERMENEUTICA, Ha trés nerspectivasyssenciais para 0 adequado entendimento da (arefa interpre~ tativa. Primeira, a hermenéutica ¢ uma ciéncia, uma vez que faz uma classificagao logica e ordenada das leis da interpretagdo, Na primeira parte, que constitui a base estrutural deste livro, procurarei reformular as “leis” da interpretagfio sob a luz. da enorme quantidade de dados de disciplinas correlatas, tais como a linguistica ou a critica literéria, A segunda perspectiva é a de que a hermenéutica é uma arte, uma ver que é um conhecimento que se adquite e exige tanto imaginagdio quanto competéneia para aplicar as “leis” As passagens selecionadas ou aos livros. 6 uma arte gue nfo pode ser simplesmente aprendida numa sala de aula. mas é consequéncia de uma pritiea constante em sua fea de atuaeiq, Meus alunos levam em geral vinte ¢ cinco horas para coneluir um sermao em meu curso de hermenéutica, Costumo thes dizer que, depois de pregarem por tr8s anos, terdo condigdes de preparar mensagens até melhores em metade do tempo. £ tudo uma questtio de dominar a fina arte de preparar mensagens. Procurarei demonstrat a “arte” da hermenéutica com diversos exemplos extrafdos da propria Biblia, A terceira ¢ mais importante perspectiva é a de que a hermenéutica, quando utilizada para mterpretagao das Escrituras, é um ato de cariter espiritual realizado na dependéncia da diregio do Espirito Santo, Os académicos de hoje muitas vezes desprezam a dimensio sagrada e abordam a Biblia s6 como litera- tura, considerando o aspecto sagrado quase um género literério. No entanto, nenhum esforgo humano jamais poderia chegar a uma percepgiio propriamente divina da verdadeira mensagem da Palavra de Deus. Apesar de Karl Barth estar errado quando afirma que as Escrituras possuem autoridade apenes instru- mental, ele estd certo quando diz que elas falam A humanidade através de “lampejos de compreensio” divinamente controlados, Ao estudar a Biblia, precisamos depender de Deus e no apenas de principios hermenéuticos de origem humana. A doutrina da “iluminagaio” sera examinada mais adiante, no capitulo dezoito. A tarefa hermenéutica tem ainda trés niveis. Eles serio discutidos segundo a perspective do pronome pessoal que define essa operagdio. Comegamos com uma abordagem baseada na terceira pessoa, fazendo a seguinte pergunta a respeito do texto: “o que ele significa?” (exegese). Em seguida, passamos para uma abordagem na primeira pessoa e indagamos: “o que ele significa para mim” (devocional). Por fim, vamos ao texto para abordé-lo na segunda pessoa e procuramos descobrir “como compartilhar com vocé o que ele significa para mim” (homilética). Se tentarmos ape- nas uma abordagem e desprezarmos as outras, acabaremos ficando com uma falsa mensagem. Os que fazem uma abordagem apenas na terceira pessoa sito profissionais de seminarios que tém a cabega nas nuvens ¢ nflo conseguem se comunicar com nin- guém, a nao ser com seus colegas de profissa0. Os que optam apenas pela abordagem INTRODUCAO | 27 de primeira pessoa sto subjetivos ¢ vivem em um mosteiro onde a Palavra de Deus tem relago apenas com eles mesmos, Os que adotam apenas a abordagem de segun- da pessoa sfio igualmente subjetivos, mas usam a Biblia como instrumento de ataque ¢ sempre esto desafiando a vida de todo mundo, menos « deles. Precisanios estudar 1 Biblia por meio das trés abordagens na ordem apresentada, sempre procurando co- nhecer o significado da passagem, para depois aplicé-lo primeiro a nds e em seguida compartilhé-lo com os outros. A principal premissa deste livro & a de que a interpretagiio bibliea gera uma “espiral” que vai do texto ao contexto, do significado original contextualizagio ou significagaio para a igreja de hoje. Desde a Nova Hermenéutica, os estudiosos do assunto sempre gostaram de descrever um “efrculo hermenéutieo” dentro do qual nossa interpretagio do texto faz, com que ele também nos interprete, Todavia, um efr- culo fechado ¢ algo perigoso, pois a prioridade do texto se perde na gestalt comparti- Ihada do “evento linguistico” (ef, Packer 1983:325-327). Uma espiral é uma metifora mais adequada, pois nfo ¢ um cfreulo fechado, mes um movimento irrestrito que vai do horizonte do texto a0 horizonte do leitor. Nao se trata de andar por um eirculo fechado que nunea poder’ detectar o verdadeiro significado, mas de movimentar-se por uma espiral, aproximando-se cada vez. mais clo significado pretendido de um texto, ‘4 medida que aprimoro minhas hipéteses e permito ao texto que continue a desafiar ce corrigit as interpretagées alternativas, para entio orientar minha formulagiio de sua significagdo para minha situagio atual, Nesse sentido, ¢ importantissimo observar que a espiral é um cone, nfo algo que sobe espiralando indefinidamente, sem que se veja um fim, mas uma espiral que vai se fechando em torno do. significado do texto e de sua importaneia para hoje. O. significado pretendido pelo autor sagrado é 0 ponto de partida fundamental, mas ndo um alvo em si mesmo, O exercicio da hermenéutica deve iniciar com a exegese, mas nio termina antes que se chegue a contextuali- zag do significado para hoje. Sio esses os dois aspectos vinculados a0 que E, D. Hirsch chama de “significado” e “significagtio”, ou o significado original pretendido pelo autor ¢ seus leitores (chamado “critica da audiéneia”) como também sua signifi- cagiio para o leitor moderno (1967:103-126). A hermenéutica é importante porque capacita a pessoa a se movimentar do texto para 0 contexto, para que o significado inspirado por Deus na Biblia fale hoje com uma relevaneia to nova e dinimica quanto em seu ambiente original. Além disso, pregadores ou professores devem anuneiar a Palavra de Deus em vex de suas opi- niGes religiosas repletas de subjetividade, S6 uma hermenéutica bem definida pode manter alguém atrelado ao texto, A falécia basica de nossa geragfo evangélica é a do “texto-prova”, proceso pelo qual uma pessoa “prova” uma doutrina ou pritica 28 | AESPIRAL HERMENGUTICA, simplesmente se referindo a um texto sem observar seu significado original inspi- rado, Muitos programas de memorizagio de versiculos, apesar do valor intrinseco, praticamente incentivam as pessoas a desprezarem 0 contexto ¢ 0 significado de uma passagem, aplicando-a superficialmente as necessidades imediatas. Transpor 0 abismo entre esses dois aspectos — significado fndacional e relevaincia para hoje — requer uma tarefa sofisticada, . “~~ Adoiei para este livro a perspeotiva ao} como base a distingilo de Hirsch entre o significado pretendido pelo autor de um texto; um micleo que é invaridvel; a significagao ou implicagées nultiformes de um texto para cada leitor; ¢ a aplicagio do significado original que varia de acordo com, circunstincias diversas (1976:1-13)/ Hoje, 0 tema é amplamenie debatido e desafia pressupostos bastante difundidos. Walter Brueggemann observa: “A distingo entre “o que o texto significava’ e ‘o que 0 texto significa’ [...] € cada vez mais desconsi- derada, negligenciada ou negada”, pois a pré-compreensfo, ou “auloconsciéneia her mentutica” do intérprete, torna muito dificil (€ para varios outros, muito irrelevante) recuperar o significado original (1984:1). Assim mesmo, os argumentos nos dois apéndices e ao longo de todo 0 desenvolvimento deste livro, acredito eu, justificam a perspectiva adotada como a que melhor expressa a tarefa da hermenéutica, Entretan- to, a teoria de Hirsch precisa ser ajustada com a técnica filosoficamente mais robusta da “ieoria dos atos de fala”, movimento que passou por Wittegenstein, Searle, Thiselton ¢ Vanhoozer, a qual reconhece o fato de que tanto um enunciado oral quanto escrito contém trés atos (cf. Apéndice 2): a dimensdo locuciondria (0 que o enuneiado diz), a ilocuciondria (0 ato correspondente ao enunciado) ¢ a perlocuciondria (0 efeito que © enuneiado causa sobre o ouvinte). O intérprete estuda os movimentos de um texto ¢ procura desvendar tanto o significado quando a significagdio nessas trés climensdes. Biblia nfio foi revelada por “lingua dos anjos”. Apesat de inspirada por Deus, foi escrita em linguagem humana e dentro dos limites impostos por culturas igual- mente humanagaPela prépria natureza da linguagem, as verdades univoces da Biblia silo redigidas em linguagem analégica, isto ¢, as verdades absolutas das Bscrituras "Bisse par de palayras corresponde a tradugio dos termos meaning-significance, Séo termos que possucm diversas conotagées. Como se trata de um contexto teérico, em algumas veres, eles passam a ter um sentido mais téenico e por isso se distanciam do uso mais comum ¢“sentido-importincia”). Diamte disso, 95 tradutores adotaram 0 eritério de tracuzir meaning-significance por “significado-signifieagiio™. Isso ‘ovorrerd em todas as situnges que for requerida a acepgio téenica das palavras, Assim, todas as vezes ‘que-meaning tiver 0 sentido de significado original (significado para o atitor e seus leitores originais), 0 {ermo serétraduzido por significado”. O mesmo aconteceré com o termo significance, que ser tradwzido ‘pot “significagao” quando a explicagio estiver relacionada ao sentido que o texto tem para 05 leitores modernos (N. do E.). INTRODUCAO | 29 esto encapsuladas dentro das linguagens e culluras humanas dos antigos hebreus ¢ _B1eg0s, ¢, por isso, devemos entender essas culturas para interpre iblis cos de maneira adequaday Portanto, a Biblia nio ultrapassa barreiras culturais para comunigar seu signifiade/ Acima de tudo, pelo prépri fato de que os estudiosos di- Vergem tanto quando interpretam a mesma passagem, sabemos que Deus nfo revela por milagre o significado das passagens quando sto lidas. As verdades do evangello soo simples, mas a tarefa de desvendar 0. significado original de textos especificos Emenme echstgieus tee] ERA GN rine renal ‘apenas quando desenvolvemos e aplicamos uma hermengutica consistente. Antes de Iniciar nossa tarefa, devemos destacar varias questOes, A HERMENEUTICA E O SIGNIFICADO PRETENDIDO ‘© objetivo da hermenéutica evangélica é bem simples: descobrir a intengao do Autor/ _aulor (autor = agente humano inspirado; Autor = Deus, que inspira o texto). Criticos modemos negam cada vez mais a verdadeira possibilidade de descobrir 0 significado original ou pretendido de um texto. O problema ¢ que os autores originais tinham em mente um significado definido quando escreveram, significado que se perdeu para nés, pois os autores nfio esto mais aqui para esclarecer ¢ explicar o que escreveram, leitor modemo nao pode estudar o texto partir da perspectiva do passado, mas sempre Ié a passagem a partir de perspectivas modermas. Por esse motivo, afirmam os criticos, ¢ impossivel fazer uma interpretagtio objetiva, pois o significado pretendido pelo autor est perdido para sempre. \Gada ‘comunidade) fornece suas tradigdes que, por sua vez, orientam o leitor na compreensiio de um texto. Sao elas que produzem 0 _Significadg, Esse “significado” nfo é 0 mesmo para todas as comunidades, de mode que, na realidade, qualquer passagem pode ter miltiplos significados, ¢ cada um.de- les € valido para uma determinada perspectiva de leitura ou comunidade (de acordo com Stanley Fish). Esses problemas existem mesmo ¢ siio complexos. Em vista das dificeis ques- tdes filoséficas envolvidas, nfo os discutirei com detalhes a néo ser nos apéndices. Entretanto, em certo sentido, cada capitulo neste livro é uma resposta a essa questo, pois 0 proprio processo interpretative fandamenta a descoberta do significado origi- nal pretendido pelo texto biblico, Os apéndices discutem a resposta teériea, wo passo que 0 livro, como um todo, procura apresentar a solugtio pritica para o dilema, AINTERPRETACAO E O PROBLEMA Se jé 6 dificil entender uma conversa, que diré entender um texto escrito? ui criado na cidade, mas minha mulher cresceu numa fazenda que ficava a apenas urna hora da 30 | A ESPIRAL HERMENEUTICA minha casa. Mesmo nio sendo dois lugares tio distantes assim, muitas vezes temos dificuldade de compreender um ao outro por causa das diferengas em nossa educagzio (urbana/tural). Isso se torna mais complicado quando duas pessoas sto de regides di- ferentes do pais. E mais complicado ainda quando pertencem a culturas distintes. No seminério cm que Ieciono, ha alunos que vieram de mais ou menos quarenta paises. Para a maior parte doles, o inglés ¢ a segunda ow até-a terceira lingua. A distincia entre nnossas culturas constitui uma enorme barreita & clareza na comunicag&o. Agora mul- Liplique isso por dois mil anos e aerescente uma cultura que deixou de em 70 4.C., quando o judaismo do segundo templo foi destrufdo e teve de se reerguer sozinho Paul Ricocur fala sobre a distincia abismal que existe entre as pessoas da Biblia © n6s (ef, Apéndice 1). Como transpor esse abismo para descobrir o que Zacarias ou Lucas estava tentando dizer? Muita gente vé nisso um obstaculo intransponivel in- terpretagao. Assim, o propésito deste livro nao se limita apenas a afirmar que é posst- vel, mas sim dar ao leitor as ferramentas para transpor esse abismo, a saber: por meio da gramitica © seméntica, ¢ também pelo uso apropriado dos contextos historicos da Biblia William Klein, Craig Blomberg ¢ Robert Hubbard (1993:12-16) propéem quatro areas de distfncia: o tempo (tanto no registro das histérias [os escritores dos evangelhos tiveram de usar muitas fontes, Le 1.1-4] quanto das palavras e expressées utilizadas); a cultura (usos € costumes enigmiticos para nds), a geografia (nagdes € cidades sobre as quais temos pouco ou nenhum conhecimento); e, finalmente, a lin= gua (@ lingua hebraica passou por transformag6es no periodo do Antigo Testamento, ¢ tanto Esdras como Daniel usaram 0 aramaico em partes de seus livros; 0 grego do Novo Testamento deu origem a diferentes tradugSes para as mesmas passagens), Mas esses obsticulos nito sto insuperiveis, © problema ¢ que nfo temos condigdes de descobrir as respostas de forma indutiva, mas temos de usar as melhores fontes que temos para explicar esses aspectos. E esse é outro propésito deste livro: sugerir as melhores fontes para trazer & tona esses detalhes enigmaticos. Hoje, 0 grande problema do estudo da Biblia é que achamos que isso deve ser mais simples do que outras coisas que fazemos. Estudamos receitas para preparar refeigbes de boa qualidade, manuais para todo tipo de trabatho —marcenaria, hidrau- lica, manutengao de automéveis ¢ assim por diante — e devoramos livros em nossas horas de lazer, Por que achamos que a Biblia é 0 tinico material que nao precisamos estudar?! Lango aqui um desafio: faga da Biblia seu passatempo preferido, Por um lado, nfo gosto dessa analogia, pois a Biblia ¢ muito mais do que um passatempo! Mas, por outro lado, ¢ se gastéssemos com o estudo da Biblia todo o tempo e dinheiro que gastamos em nosso passalempo preferido? E se toméssemos a mesma quantia que gastamos em clubes, campos de futebol e viagens para a praia e investissemos INTRODUGAO | 31 no estudo da Biblia? Enciclopédias, comentérios e outros materiais de referencia nio so baratos. Mas as outras coisas que fazemos também nao séo. A questio gira em torno de quais sito as nossas prioridades: que importancia as coisas devem ter para que sejam dignas de merecer nosso tempo e dinheiro? Quero incentivé-lo a obter ¢ usar as ferramentas que nos cio a competéncia necessaria para transpor 0 abismo que nos separa dos tempos biblicos e da inteng&o dos autores. INSPIRAGAO E AUTORIDADE DAS ESCRITURAS ‘A Biblia tem um inerente senso de autoridade que se vé no constante uso da expres- silo “diz 0 SENHOR”, no Antigo Testamento, ¢ na aura de uma autoridade apostdlica divinamente conferida no Novo Testamento (cf. Grudem 1983:19-59). E claro que ha um amplo debate em torno dos parémetros exatos, mas eu argumentaria a favor de uma forma de inerrdncia com nuangas cuidadosamente definidas (cf. Feinberg 1979), em vez do modelo mais dinémico de Paul Achtemeier, que defende a ideia de que nao apenas 0s eventos originais sao inspirados, mas também os significados que algumas comunidades acrescentaram mais tarde (1980), E ele vai mais além, quando afirma ‘que nés mesmos somos inspirados na leitura que fazemos hoje. O diagrama a seguir apresenta implicagdes importantes para a hermenéutica, pois demonstra que, quanto mais nos afastamos do significado pretendido da Palavra, mais aumenta 0 descom- passo com a autoridade, Como se vé no diagrama da figura 0.1, 0 nivel de autoridade diminui & medida que passamos do texto para a interpretagtio ¢ depois para a contextualizagéio; por- tanto, precisamos fazer 0 caminho inverso e garantir que nossa contextualizagao se aproxime o tanto quanto possivel de nossa interpretagao, ¢ que esta, por sua vez, pos- sa ser coerente com 0 significado original pretendido pelo texto/autor. O tnico meio de conferir genuina autoridade & nossa pregag&o e a vida crista didria ¢ langar mio da hermenéutica, para assim unit 0 méximo possivel nossa aplicagaio & nossa interpre- tagiio ¢ garantir que a interpretago, por sua vez, esteja em harmonia com a esséneia do texto. A alegago feita por Achtemeier de que a tradigao histérica da igreja ¢ as interpretagdes de hoje também sdo inspiradas néo faz. justiga a prioridade do texto, pois s6 ele contém a Palavra de Deus. Nivel 1 Texto autoridade implicita Nivel 2 Interpretacio autoridade derivada Nivel 3 Contextualizagao autoridade a plicada Figura 0.1. 0 fluxo da autoridade 32 | A ESPIRAL HERMENEUTICA 0 SIGNIFICADO DEPENDE DO GENERO DO TEXTO Conforme meu argumento no Apéndice 2 ¢ na segiio sobre hermenéutica especial (cf. parte 2),.0 género ou tipo de literatura em que se encontra determinada passagem fomece “as regras dos jogos de linguagem” (Wittgenstein), ou seja, os prineipios hermenéuticos pelos quais se interpreta o texto. E Gbvio que nao interpretamos ficgtio da mesma forma que interpretamos poesia, E ninguém procuraria nos textos de sabedoria da Biblia a mesma estrutura dos twechos proféticos. Mas isso também dé espago para muitos debates, uma vez que existe importantesustaposigdes entre 0s 2énerog. Por exemplo, ha longos trechos de livros proféticos que contém pocsia, ‘enquanto outros trechos contém linguagem apocalfptica. Hé elementos epistolares na literatura apocaliptica (tais como os de Ap 2—3) ¢ linguagem apocaliptica nos evangelhos (e.g,, 0 serm&o do monte das Oliveitas, Mc 13 e paralelos) ¢ nas epistolas (como em 27s 2). ff por isso que alguns estudiosos poem em diivida a validade do género como recurso intetpretativo, afirmando que a mistura de géneros torna impossivel que eles seiam detectados com clareza suficiente para screm usados como ferramentas hermenéuticas Todavia, 0 proprio fato de que ¢ possivel detectar trechos apocalipticos ou poeticos dentro de outros géneros prova a viabilidade do método (cf. mais argumentos em Osborne 1984). A questo do género ¢ um importante elemento no debate sobre a possibilida- de de recuperar o significado pretendido pelo autor (Hirsch chama isso de “género intrinseco”). Todos os escritores expressam sua mensagem dentro de um determinado género, para que os leitores tenham regras suficientes pelas quais possam decodi- ficé-la, Essas indicagdes orientam o leitor (ou ouvinte) ¢ fornecem pistas para a interpretagzo. Quando Marcos registrou a pardbola do semeador contada por Jesus (Mc 4.1-20),,cle inseriu num contexto e num meio que facilitariam uma comunicaciio adequada com seus leitores. Podemos recuperar aquele significado se entendermos 9 funcionamento das parébolas (cf. Capitulo 12) e dos simbolos dentro do contexto de Marcos. SIMPLICIDADE E CLAREZA DAS ESCRITURAS Desde os iiltimos anos do perfodo patristico com sua reguia fidei (“regra de fé"), a igreja tem lutado com a “perspicuidade (ou elareza) das Escrituras”, ou seja, se clas estiio realmente ao alcance da compreensito humana, Niio & 8 toa que os estudiosos da Biblia silo sempre acusados de tirar do Ieitor comum o acesso as Escrituras. Depois ? Tenho acompanhado os debates a respeito de Marcos 13 ou 2Tessalonicenses 2 serem de fato apoca- lipticos, mas estou usando o consenso tradicional pare fins ilustraivos. InTRODUCAD | 33 que um texto € dissecado ¢ submetido a uma legido de teorias académicas, 0 nio- cespecialista exclama com tristeza: “Tudo bem, mas 0 que isso tem a ver comigo? Bu consigo estudar esse texto?”. Com toda certeza, a prdpria consciéncia da multidao de ‘opgGes de interpretagiio de passagens biblicas ¢ 0 grande choque que atinge os calou- ros de seminarios e faculdades Fica até dificil culpar uma pessoa se, depois de olhar para a profusio de possiveis interpretagdes sobre praticamente todas as declaragoes biblieas, ela deixar de afirmar o principio de que € ficil compreender as Escrituras! Isso, porém, € confundir os principios da hermenéutica com a mensagem do evan- gelho em si, O que é complexo 0 exercicio de transpor o abismo entre a situagao original e os nossos dias, nfo o significado que resulta disso. Lutero (em 4 eseravidlo da vontade) proclamou aclareza basica das Eseritu- ras ennuas areas: clareza externa, que ele chamou de aspecto gramatical, obtida pela aplicagao das leis da gramética (principios hermenéuticos) ao texto; e a cla- reza interna, que ele chamou de aspecto espiritual, obtida quando o Espirito Santo ilumina 0 leitor no ato da interpretagao. Ao falar de clareza, € dbyio que Lutero se referia ao produto final (a mensagem do evangelho) e nfo ao processo (a recupera- iio do significado de textos especificos). Porém, no séeulo passado, a aplieagao da teoria do realismo do senso comum da Escola Escocesa as Eserituras levou muitos a admitir que qualquer um poderia entender sozinho a Biblia, e que a superficie do texto por si s0 ¢ sutciente para produzir significado, Portanto, a necessidade de prineipios hermenéuticos para transpor 0 abismo cultural foi desprezada, ¢ as interpretagdes individuais se multiplicaram, Por alguma razdo, ninguém percebeu que isso dava margens a significados miltiplos e, de vez em quando, em heresias. O principio da perspicuidade foi estendido também ao proceso hermenéutico, 0 que causou equivocos na interpretagéo popular das Escrituras ¢ uma situagao que ainda hoje é bem complicada, Como diseiplina, a hermenéutica exige um proceso de interpretag%o complexe, para que se traga a tona a clareza original da Biblia. Assim, mais uma vez, 0 resultado fica claro, mas © proceso, néio; isso também de- veria orientar os sermées! Assim, todas essas coisas silo muito confuses, e a pessoa comum tem todo 0 dircito de perguntar se a compreensto da Biblia é algo que cada vez mais esta ficanco reservado para a elite académica, Eu ditia que nao. Em primeiro lugar, hd diferentes niveis de compreensfo: devocional, estudo biblico bisico, homilético, dissertagies e teses, Cada nivel tem seu valor e seu processo. Além disso, qualquer pessoa tem 0 direito de aprender os prineipios hermenéuticos que se aplicam a esses vatios niveis. Basta querer. Eles nao esitio reservados a “elite” alguma, mas a disposigéio de quem tiver interesse e vontade de aprendé-los. Os fundamentos da hermenéutica podem ¢ 34 | AESPIRAL HERMENEUTICA devem ser ensinados no contexto da igreja local. Ao longo deste livro, espero poder tratar dos vérios niveis de compreensiio. UNIDADE E DIVERSIDADE DAS ESCRITURAS A incapacidade de chegar a um equilibrio entre esses dois aspectos interdependentes tem levado tanto os evangélicos (que destacam a unidade) quanto os no-evangélicos (que destacam a diversidade) a interpretar mal as Escrituras. A diversidade ¢ exigida pola organizagaio analégica da linguagem biblica, Como poucos livros na Biblia se dirigem a situagdes semelhantes, hé uma grande variedade de vocabulérios ¢ énfases. ‘Ademais, a propria doutrina da inspiragao nos obriga a reconhecer por trés dos textos a personalidade de cada autor sagrado. Cada escritor se expressa de formas distintas, com diferentes énfases ¢ diversas figuras de linguagem. Por exemplo, Jofio usa a Tinguagem do “novo nascimento” para expressar 0 conceito da conversio, enquanto Paulo prefere a imagem da dogo, Paulo também da destaque & f que, sozinha, pode levar a converséio, mas Tiago enfatiza as obras que, sozinhas, so indicadoras de uma {6 verdadeira, Essas @nfases nfio so contraditérias, mas apontam para uma phuralida- de decorrente de diversos escritores. A questio é se as diferengas sto irreconcilidveis ou se uma unidade mais profian- da esta por tris das diversas faces das varias tradigdes de Israel e da igreja primitiva, Por isso nfo devemos nos atrever a'sobrevalorizara unidade das Escrituras, a ponto de climinar as Enfases individuais, quer de-Pauio, quer de Tiago. 18s0 pode acarretar um uso errado de paralelos, de forma que um autor (digamos, Paulo) é interpreta- do com base em outro (Tiago), resultando num entendimento errineo, Seja como for. existe uma unidade fundamental por tris das diferentes expressdes. O conceito de diversidade ¢ a espinha dorsal da teotogia biblica, a qual, penso eu, € 0 vinculo indispensavel entre a exegese ¢ a teologia sistemitica (centrada na unidade). Mes- mo sendo fato que 0 finito ser humano jamais produziré um “sistema” absoluto da verdade biblica, nto se pode dizer que a verdade das Escrituras jamais podertio ser “sistematizadas”, O segredo est em permitir que o sistema venna do texto pela via da teologia biblica e cm buscar categorias biblicas que possam resumir a unidade que std por trds das diversas expresses das Escrituras ANALOGIA DAS ESCRITURAS Em contraposigfo & regula fidei (“regra de (%”) da Igreja Catélica Romana, Lutero propds @ analogia fidei (“analogia da fé") Ele se opunha a supremacia da tradi¢ao celesidstica e oria que somente a Biblia deveria denmr os dogmas, Com base na unidade e clareza das Escrituras, cle propds que as doutrinas bisicas precisavam ser inTRODUCAO | 35 coerentes com 0 ensino integral das Fscrituras ¢ néo contradizé-lo. Todavia, para Lutero, o sistema ainda mantinha certo predominio. E Calvino deu o passo definiti- vo, apresentando como alternativa o principio da analogia scriptura (“analogia das Escrituras”). As palavras de Milton Terry continuam vélidas: “Nenhuma. declaragaio isolada ou passagem obscura de um livro pode revogar uma doutrina que é clara- mente estabelecida por muitas passagens” (1890:579). Eu reforgaria essas palavras acrescentando que as doutrinas néo devem ser formuladas em cima de uma Gnica _passagem, mas, ao contrario, devem resumir tudo 0 que as Escrituras afirmam sobre © tema em questio.Se nfo houver passagens esclarecedoras (¢.g., sobre o batismo em favor dos mortos, em 1Cc [5.29. ou um Hades dividido em compartimentos, em Le 16.22-26), devemos tex.cautela uo fazer uma declarago dogmatica. Além disso, todas as deciaragées doutrindrias (por exempto, sobre o senhorio, de Cristo ow sobre a seguranga eterna) devem ser feitas com base em todos os textos que falam do assunto e no com base em textos-prova ou passagens “favoritas”, 3sse tipo de abordagem leva 4 criagdo de um “canon dentro do cfinon’”, fenémeno pelo qual certas passagens sto subjetivamente favorecidas, em detrimento de outras, por se encaixar num'gistema ,mposto as Escrituras ¢ nfio extraido delas) E uma sitnagaio perigosa, pois se supde que as ideias preconcebidas de determinada pessoa sio mais importantes do que o proprio texto, E uma abordagem aue também interpreta mal as Escrituras Poucas dectaragoes biblicas sé descrigées teéricas - ou seja, sistémi- cas — de dogmas, Ao contrério, as declaragoes de um autor da Biblia aplicam uma doutrina mais ampla a uma questo particular, num contexto especifico de uma igreja, e destaca aqueles aspectos do ensino mais amolo que sirvam para essa situagao parti cular, Analogia scriptura 6 0 método pelo qua isso ¢ feito, PAPEL DO LEITOR NA INTERPRETACAO Até pouco tempo atrés, a hermenéutica nfo tinha dado muita atenggio ao poder que o Ieitor exerce na construgiio do entendimento. Com muita frequéncia se diz que ler é entender, principalmente depois que a teoria da Escola Escocesa deixou a impressio de que todos temos competéncia para interpretar automaticamente o que lemos. Mas isso ntio é verdade. Todo leitor traz consigo um conjunto de “pré-conhecimentos”. isto & crengas e ideias que compOem a heranga de seus antecedemtes ¢ aa comuni- dade que the serve de paradigma Raramente lemos a Biblia em busca da verdade: ‘© que mais acontece é querermos harmonizi-la com nosso sistema de erencas e ver seu signintcado sob a perspectiva de nosso sistema tealégico preconcebida (cf. 0 Cap. 16, “Teologia Sistematica”). Mas isso no é de todo ruim. Nossos pré-conhecimentos so nossos amigos, n&o inimigos, Eles fornecem um conjunto de dados com os quais 36 | A ESPIRAL HERMENEUTICA podemos construir sentido do que lemos, Por esse Angulo, somos todos intérpretes do tipo “resposta do leitor” [reader response). © problema é que nosso pré-conheci- mento facilmente se transforma em preconceito. um conjunto de daclos “a priori” que colocam uma forma sobre a Biblia ¢ obrigam-na a se moldar a nogdes preconcebidas, Assim, até certo grau, precisamos colocar essas ideias “entre paréntesis” e permitir que 0 texto aprofunde ou, as vezes, desafie ¢ até mude essas ideias previamente estabelecidas, Na condigtio de leitores, precisamos nos colocar diante do texto (e permitir que ele se dirija a nés), em vez de ficar por tris dele (forgando-o a ir aonde queremos). As ideias ¢ o repertério do leitor sto importantes no estudo das verdades da Biblia, o que deve, porém, ser usado para estudar 0 significado e no para criar algum significado que nfo esteja no texto. PREGACAO EXPOSITIVA. Defendo com unas ¢ dentes a idera de que'p alyo da hermenéutica nfo ¢ a teologia sistematica, mas 0 sermfio, O verdadeiro propésito das Escrituras no ¢ explicacéo. mas exposigio, no & descrigao, mas proclamagio, A Palavra de Deus fala a cada geragéo, © a relagao entre significado e significagto resume a tarefa da hermenéutica, Nao basta recriar o significado original pretendido de determinada passagem. Preci- samos elucidar sua significagdo para os nossos dias, Exposig&o significa uma mensa- gem baseada na Biblia, em geral uma série que conduz a igreja através de um livro como Isaias ou Romanos. Um sermio temético pode ser expositivo, contanto que cle faga a pergunta “o que a Biblia diz sobre este assunto?”, ¢ em seguida conduza a congregagiio através do que a Palavra de Deus revela sobre 0 assunto em questo. Walter Liefeld afirma que uma mensagem exposmva tem integridade herme- néutica (reproduz 0 texto com fidelidade), coesto (sentido do todo), movimento ¢ direg%o (observa 0 propésito ou objetivo de uma passagem) e aplicagéio (observa a velevincia da passagem para hojé) (1984:6-7). Sem cada uma dessas qualidades, um serméio nao € verdadeiramente expositivo. Algumas pessoas revelam um falso conceito de exposigtio como se fosse uma simples explicagao do significado de uma passagem. Tais serm@es se destacam pela presenga de retroprojetores com transpa- réncias dificeis de entender e detalhes sobre grego e hebraico. Infelizmente, embora as pessoas saiam impressionadas com a erudigio demonstrada, suas vidas n&o sto transformadas, ¢ elas se convencem de que jamais poderto estudar sozinhas a Biblia, ‘mas precisam sempre voltar a cada domi estamos de volta a Idade Média! Na verdadeira pregagdio expositiva, 0 “horizonte” dos ouvintes deve se fundir com o “horizonte” do texto (cf. a argumentagto de Gadamer no Apéndice 1, p. 602-606). O pregador deve se perguntar como o escritor 120 para ouvir 0 “especialista”. E com isso InTRODUGAO | 37 biblico aplicaria as verdades teolbgicas da passagem, se estivesse se dirigindo a uma congregagiio de hoje. Haddon Robinson define a pregagio expositiva como “a comunicagao de um conceito biblico derivado ¢ transmitido através de um estudo histérico, gramatical e literivio de uma passagem em seu contexto, a qual o Espirito Santo aplica primeira- mente a pessoa do pregador para entéo aplica-la, por meio dele, aos seus ouvintes” (1980:30). 8 uma excelente definig’io ¢ toca em varias questOes que ja di Pregadores de nossos dias precisa primeiro ter um encontro com o texto em sua situagiio original e depois com a significagZo do significado original para si mesmos. Em seguida, devem transmi ignificagio aos ouvintes, que antes devem ser conduzidos ao contexto biblico ¢ depois 4 relevaneia que ele tem para suas necessi- dades pessoais. Muitas vezes, os pregadores enfatizam demais um lado ou outro, de modo que 0 sermao se transforma numa exposig&o arida ou num passatempo dindmico. Ambas as esferas, o significado original do texto e a significagao para nosso contexto, sio essenciais nia pregago expositiva, que ¢ o verdadeiro objetivo doempreendimento hermenéutico. sutimos. CONCLUSAO Opprocesso de interpretagio consiste de dez:estigios, que sero considerados uma um neste livro (cf. figura 0.2). A pesquisa exegética pode se subdividir em estudo indutivo (pelo qual interagimos diretamente com 0 texto para tirar nossas conclusdes) ¢ estudo dedutivo (pelo qual interagimos com as conclusdes de outros estudiosos e reformula- ‘mos nossos dados). O estudo indutivo da Biblia acontece basicamente na organizagao do livto ¢ dos parigrafos para determinar o desenvolvimento estrutural da mensagem do escritor tanto no nivel macro (livro) quanto no nivel micro (pardigrafo). Disso resulta uma ideia preliminar acerca do significado ¢ do desenvolvimento do pensamento do texto, Isso é importante para que venhamos a interagir com as ferramentas exegéticas (Comentirios ¢ outras) numa abordagem critica em vez de passiva, simplesmente repe- tindo a opinidio de terceiros (algo muito comum nos trabalhos académicos). O estudo dedutivo lida com os estigios 3-6 como aspectos separados, mas interdependentes, da pesquisa exegética, Nessa fase todas as fertamentas devem ser consultadas — gramiticas, Iéxicos, diciondrios, estudos vocabulares, atlas, estudos de contexto histérico, artigos em periédicos, comentérios — a fim de aumentar nosso conhecimento basico sobre a passagem e possibilitar 0 acesso & mensagemn mais pro- funda, além da superficie do texto. A compreensio preliminar derivada do estudo indutivo e a compreensto mais profunda obtida pela pesquisa interagem e se ajustam 20 tomarmos as decisbes finais sobre a mensagem original pretendida no texto. 38 | A ESPIRAL HERMENEUTICA sopSereidieqy) ep soy5—3s0 zp sc 79 eunbr4y, oxanpep opmss ‘onampuy oprase ‘oaneiuis opnise s ‘oaquewies opnase + jeoewe6 oprase ¢ capnu-eiap! vViI90104L 1 eaz[UOY 0} <—eangUIaYSIS G ~<— eouOISIY g —— e>11qq 2 <—I opuny ap oued ¢ ! ] a aBessed ep seoul) nny op <— eweibep 7 <—edew | VIILJOIXI VIN0O103L INTRODUGAO | 39 ‘Um dos principais propdsitos do estuclo dedutivo é nos levat para longe do signi- ficado contemporaneo que vemos nas palavras simbolos do texto, significado que, por causa de nossa pré-compreenstio e de nossas experiéneias pessoais, no consegui- mos evitar de impor em nossa leitura, Nossa luta, entio, é retomar para o significado que o autor pretendia transmitir, Nao conseguimos fazer isso sem ferramentas cxegé- ticas, pois, sem essa ajuda, pouco saberemos acerca daquele perfodo antigo. Portanto, precisamos usar os recursos indutivos ¢ dedutivos em conjunto, para que possamos compreender 0 “significado” do texto. Por fim,ja pesquisa teolégica ou contextual completa a tarefa interpretativa, levan- do-nos do significado textual (0 que a Biblia quis dizer) para o significado contextual (0 que a Biblia significa para nés hoje}. A “espiral hermenéutiea” acontece nao apenas no nivel do significado original pretendido, mas na medida em que nossa compreensto se movimenta numa espiral escendente (por meio da interaglio das pesquisas indutiva € dedutiva) em diregto ao significado pretendido da passagem, Bla também acontece no nivel da contextualizagéo, conforme nossa aplicagio se movimenta numa espiral ascendente (por meio do movimento que parte da teologia biblica, passa pela teologia sistemdtica ¢ chega a teologia homilética) em diregao a uma compreensto adequada da significagio da passagem para a vida crist® hoje, A teologia biblica reiine as teologias pareiais de passagens ¢ livros especificos numa “teologia” arquetipica de Israel ¢ da igreja primitiva (integrando assim os dois Testamentos). A teologia histérica estuda a forma como, ao longo da histéria, a igreja tem contextualizado a teologia biblica para tender seus desafios ¢ necessidades nos varios estigios da histéria de seu desenvolvi- mento. A teologia sistemética recontextualiza a teologia biblica a fim de se ditigir aos problemas atuais e resumir a verdade teoldgica para a geragdio de hoje, Por ditimo, a teologia homilética (assim chamada para destacar o fato de que a preparagdo de um sermio faz parte da tarefa hermenéutica) aplica os resultados de cada um desses passos as necessidades priticas das cristios de hoje. A figura 0.2 é uma adaptacdo constituida a partir do estudo do processo da tradu- ‘0 feito por Eugene Nida ¢ Charles Taber (1974). A teoria tem por base o pensamen- {fo de que a comunicago transcultural de ideias nunca é um continua era linha reta, pois néo existem duas linguas ou culturas que esiejam tio vinculadas assim, Uma abordagem “iteral” ou unitéria sempre leva a uma comunicagdio equivocada, Em vez disso, cada unidade de comunicagio precisa se dividir em “ideias centrais”, ou decla- rages bisicas, e depois ser reforroulada segundo as linhas das expressdes idiomaticas correspondentes ¢ dos modelos de pensamento da cultura receptora. E uma necessi- dade no apenas no nivel basic da tradugo, mas também no nfyel mais amplo da interpretagéo como um todo. E 0 aspecto exegético (gramitica, semantica, sintaxe) 40 | AESPIRAL HERMENEUTICA que traza tona as ideias centrais, ¢ é 0 processo de contextualizagaio que as reformula, de modo que elas possam falar com a mesma forga na cultura de hoje. Os leitores notario que nao inseri a discussao sobre géneros da Biblia no final do livro (muitos textos de hermendutica procedem assim, como “hermenéutiea espe- cial”), mas depois da apresentagao dos prinefpios gerais da hermenéutica. Uma vez que os géneros se ocupam principalmente com “o que isso significa” (0 significado original pretendido pelo texto), a discussito pertence logicamente aquele ponto. Aci- ma de tudo, cada género nos proporciona um “estudo de caso”, reaplicando os prin- cipios exegéticos a cada tipo isolado de literatura biblica,

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