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Segundo dados do IBGE, a cada ano, cerca de 1,2 milhão de mulheres sofrem
agressões no Brasil. Pelas estimativas do Ipea, destas, 500 mil são estupradas,
sendo que somente 52 mil ocorrências chegam ao conhecimento da polícia.
Cerqueira lembrou que até 1995, mesmo depois da Constituição Cidadã, a
mulher não poderia prestar queixa na delegacia contra o companheiro, e até
2009 o estupro era um crime contra os costumes – não contra a dignidade e
liberdade sexual. Esta, segundo ele, é uma história trágica, que começou a ser
superada com a Lei Maria da Penha.
A recorrência, porém, não pode ser confundida com regra geral: a relação
íntima de afeto prevista na Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) não se
restringe a relações amorosas e pode haver violência doméstica e familiar
independentemente de parentesco – o agressor pode ser o padrasto/madrasta,
sogro/a, cunhado/a ou agregados – desde que a vítima seja uma mulher, em
qualquer idade ou classe social. (saiba mais em ‘responsabilização do
agressor’)
Dados nacionais
Denuncie!
Com a Lei Maria da Penha cada vez mais conhecida pela população
brasileira (99% declaram conhecer a Lei, ao menos de ouvir falar; Pesquisa
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (DataSenado, 2013), essa
mensagem tem sido cada vez mais dirigida não só às mulheres que sofrem
agressões físicas e psicológicas, mas a toda a sociedade. A proposta é mostrar
definitivamente que esta violência não é um assunto da esfera privada, mas
sim uma violação de direitos humanos que demanda respostas do Poder
Público e um pacto de não tolerância de toda a população.
A mulher não é somente ela nessa relação. Ela é uma unidade familiar, pois
nunca avalia a situação só a partir dela, inclui sempre os filhos. Ela pensa onde
irá morar com os filhos, onde os filhos irão estudar em caso de separação. A
violência de gênero é um fenômeno muito complexo. Não depende apenas de
medidas punitivas. Demanda medidas mais amplas de mudança de
comportamento e mentalidades, embora a Lei Maria da Penha seja
fundamental.”
Jacira Vieira de Melo, diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão
Esse ciclo costuma se repetir, com episódios de violência cada vez mais
graves e intervalo menor entre as fases. Por isso, permanecer em uma
situação violenta sem procurar ajuda, seja de familiares, amigos ou da rede de
atenção, pode representar riscos com consequências graves. A mulher que
está nessa situação em geral precisa de apoio para quebrar o silêncio e romper
esse ciclo.
Especialistas observam que, nesse contexto, não se deve julgar a mulher que
permanece em uma relação violenta, mas procurar entendê-la e ajudá-la a sair
dessa situação, tendo em mente que o rompimento também coloca sua vida
em risco. Sem segurança e sem apoio, isso é muito difícil.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ipea (Pesquisa Tolerância social à
violência contra as mulheres, Ipea, março-abril/2014), embora 91% concordem
que “homem que bate na esposa tem que ir para a cadeia”, 63% concordam
que “casos de violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre os
membros da família”. Além disso, 89% dos entrevistados pensam que “a roupa
suja deve ser lavada em casa” e 82%, que “em briga de marido e mulher não
se mete a colher”.
Esse contexto de tolerância social à violência pode fazer com que a mulher
acredite que não vai ser levada a sério se buscar proteção, ou então que ela se
sinta isolada e sozinha.
Quando ainda não existia a Lei Maria da Penha, a abordagem jurídica dos
casos de violência doméstica era baseada na Lei nº 9.099/1995, que
minimizava o problema, segundo especialistas, propondo punições alternativas
para os agressores, como a doação de cestas básicas