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Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais

PROJETO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

É o CRMV-MG participando do processo de atualização


técnica dos profissionais e levando informações da
melhor qualidade a todos os colegas.

VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL
compromisso com você

www.crmvmg.org.br
Editorial
A Escola de Veterinária da UFMG e o Conselho
Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais têm
a satisfação de encaminhar à comunidade veterinária e
zootécnica mineira um volume temático de Cadernos
Técnicos de Veterinária e Zootecnia dedicado ao uso
da ureia como aditivo à dieta de ruminantes. A ureia é
amplamente utilizada em dietas de ruminantes, com o
objetivo de se reduzirem os custos com a suplementa-
ção proteica e de se adequarem os níveis de proteína
degradável no rúmen. Entretanto, somente animais com
o rúmen funcional podem utilizar a ureia, não sendo
utilizável para jovens em aleitamento (bezerros lacten-
tes) ou animais monogástricos. As recomendações no
fornecimento de ureia estão também limitadas a 1/3 da
proteína bruta total da dieta, até 3% do concentrado. É
necessária a adaptação dos ruminantes às dietas suple-
mentadas com ureia, em que, durante o processo de
adaptação, ocorre a retenção crescente de nitrogênio, até
que se atinja o equilíbrio, em duas semanas, nos limites
máximos recomendados. A dieta baseada em alimentos
volumosos, conservados ou verdes, apresenta tipica-
mente baixos teores de proteína bruta. Para possibilitar a
utilização de volumosos, sem que haja perda no desem-
penho, tratamentos biológicos, físicos e químicos têm
sido testados, destacando-se a amonização, com utiliza-
ção de amônia anidra ou ureia. A amonização solubiliza
Universidade Federal as hemiceluloses e aumenta os teores de nitrogênio total,
de Minas Gerais resultando em elevação de digestibilidade in vitro, in vivo
Escola de Veterinária e in situ da matéria seca. A adição de ureia aos alimentos
Fundação de Estudo e Pesquisa em
Medicina Veterinária e Zootecnia
volumosos proporciona aumento dos teores proteicos,
- FEPMVZ Editora melhora a digestibilidade dos volumosos, através de alte-
Conselho Regional de rações nas frações fibrosas, e reduz as perdas associadas
Medicina Veterinária do ao processo fermentativo nas silagens. A adição da ureia
Estado de Minas Gerais pode resultar principalmente em aumento do conteúdo
- CRMV-MG
www.vet.ufmg.br/editora
proteico e do valor nutricional dos volumosos.
Correspondência: Prof. Nelson Rodrigo da Silva Martins - CRMV-MG 4809
FEPMVZ Editora Editor dos Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia
Caixa Postal 567 Prof. Renato de Lima Santos - CRMV-MG 4577
30161-970 - Belo Horizonte - MG Diretor da Escola de Veterinária da UFMG
Telefone: (31) 3409-2042 Prof. Antonio de Pinho Marques Junior - CRMV-MG 0918
E-mail: Editor-Chefe do Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia (ABMVZ)
editora.vet.ufmg@gmail.com Prof. Nivaldo da Silva - CRMV-MG 0747
Presidente do CRMV-MG
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais
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Prof. Nivaldo da Silva
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CADERNOS TÉCNICOS DE
VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
Edição da FEPMVZ Editora em convênio com o CRMV-MG
Fundação de Estudo e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia - FEPMVZ
Editor da FEPMVZ Editora:
Prof. Antônio de Pinho Marques Junior
Editor do Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia:
Prof. Nelson Rodrigo da Silva Martins
Editores convidados para esta edição:
Diogo Gonzaga Jayme
Lúcio Carlos Gonçalves
Revisora autônoma:
Giovanna Spotorno
Tiragem desta edição:
1.000 exemplares
Layout e editoração:
Soluções Criativas em Comunicação Ldta.
Impressão:
Imprensa Universitária da UFMG

Permite-se a reprodução total ou parcial,


sem consulta prévia, desde que seja citada a fonte.

Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia. (Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da


UFMG)
N.1- 1986 - Belo Horizonte, Centro de Extensão da Escola deVeterinária da UFMG, 1986-1998.
N.24-28 1998-1999 - Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia, FEP MVZ Editora, 1998-1999
v. ilustr. 23cm
N.29- 1999- Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia, FEP MVZ Editora, 1999¬Periodicidade irregular.
1. Medicina Veterinária - Periódicos. 2. Produção Animal - Periódicos. 3. Produtos de Origem
Animal, Tecnologia e Inspeção - Periódicos. 4. Extensão Rural - Periódicos.
I. FEP MVZ Editora, ed.
Prefácio
A produção brasileira de carne e
leite é feita predominantemente com o
uso de animais a pasto. Devido à esta-
cionalidade climática que ocorre em boa
parte do Brasil Central, no período seco
do ano há menor oferta de volumosos,
que apresentam baixa digestibilidade e
são deficientes, sobretudo, em proteína.
Grande quantidade do nitrogênio protei-
co pode estar associada à parede celular,
tornando-se indisponível para o animal.
Os microrganismos ruminais são capazes
de sintetizar aminoácidos a partir de es-
queletos de carbono e de fontes de nitro-
gênio não proteico, como a ureia. A ureia
é um aditivo que reduz custos com a su-
plementação proteica e possibilita a ade-
quação dos níveis de proteína degradável
no rúmen. Apesar de ser uma tecnologia
conhecida há mais de 100 anos, o uso da
ureia como suplemento na alimentação
de ruminantes ainda é pouco comum
no Brasil. Em virtude disso, objetivou-se
com o presente Caderno Técnico abordar
os principais aspectos da correta utiliza-
ção de ureia na alimentação de bovinos.
No país, há uma tradição no cultivo
e na utilização da cana-de-açúcar como
alimento volumoso para bovinos, par-
ticularmente no período seco do ano. É
uma cultura que apresenta uma série de
características desejáveis, como alta
produção de matéria verde por hectare e
baixo custo por unidade de matéria seca
produzida. A cana possui alto teor de nu-
trientes digestíveis totais (NDT) devido
a seu elevado teor de açúcares solúveis.
Contudo, apresenta baixo conteúdo
proteico. A suplementação da cana com
ureia tem sido preconizada como tecno-
logia simples e aplicável em várias fazen-
das brasileiras.
O risco de intoxicação faz com que
muitos produtores resistam ao uso da
ureia na formulação de dietas para rumi-
nantes. Entretanto, medidas simples de
manejo podem impedir que ocorra into-
xicação. O uso da cana-de-açúcar asso-
ciada à ureia possibilita aumentar a capa-
cidade de suporte de fazendas leiteiras a
um baixo custo. A ureia também otimiza
a degradação ruminal de dietas com alto
teor de amido, e seu uso em até 1,5% da
MS não altera a produção, a composição
e as características físico-químicas do lei-
te. Quando utilizada na formulação de
misturas múltiplas para bovinos de cor-
te, possibilita o ganho de peso mesmo na
época seca do ano.
Sumário

1. Informações gerais.........................................................................................9
Roberto Guimarães Júnior, Luiz Gustavo Ribeiro Pereira, Thierry Ribeiro Tomich, Fernanda Samarini
Machado, Lúcio Carlos Gonçalves³

A ureia é uma fonte de nitrogênio 100% solúvel e totalmente degradável. No


rúmen a degradação da ureia ocorre por utilização das bactérias aderidas ao
seu epitélio, que hidrolisam em amônia e CO2.

2. Utilização de ureia em alimentos volumosos...............................................26


Alex de Matos Teixeira, Lúcio Carlos Gonçalves, Diogo Gonzaga Jayme, João Pedro Costa Alves de Oli-
veira, Dalvana dos Santos, Thiago Henrique Fagundes Diniz, Frederico Patrus Ananias de Assis Pires

A utilização de alimentos volumosos requer a inclusão de alguma fonte


proteica com objetivo de compensar tal deficiência. O uso de fontes de
nitrogênio não proteico (NNP) se torna viável ao explorar a capacidade dos
ruminantes de sintetizar proteína microbiana de alto valor biológico para
suprir a alta demanda por aminoácidos metabolizáveis.

3. O uso da cana-de-açúcar com ureia na alimentação de bovinos..................39


Ana Luiza Costa Cruz Borges, Ricardo Reis e Silva, Lúcio Carlos Gonçalves, Patrícia Caires Molina,
André Santos de Souza

A suplementação da cana com ureia tem sido preconizada como tecnologia


simples e aplicável a boa parte das fazendas brasileiras.

4. Utilização de ureia em concentrados para vacas leiteiras................................


Ronaldo Braga Reis, Rafael Gomes Silveira, Victor Marco Rocha Malacco

Na dieta de vacas, a ureia pode ser administrada misturada ao concentrado,


ao alimento volumoso ou na dieta completa.

5. Uso de ureia em suplementos múltiplos e rações para bovinos de corte.....69


Fabiano Alvim Barbosa, Isabella Cristina de Faria Maciel

Devido ao desequilíbrio entre os ganhos na época das águas e da seca, é


necessária a suplementação alimentar em certos períodos, para que se possa
abater animais com idades inferiores a 30 meses.
1. Informações gerais

bigstockphoto.com

Roberto Guimarães Júnior¹ - CRMV - DF 01950 VP,


Luiz Gustavo Ribeiro Pereira² - CRMV-MG 5930,
Thierry Ribeiro Tomich² - CRMV-MG 5624, Fernanda Samarini Machado² - CRMV-MG 11138,
Lúcio Carlos Gonçalves³
¹Médico Veterinário, Doutor Pesquisador, Embrapa Cerrados, e-mail: roberto.guimaraes-junior@embrapa.br;
²Médico Veterinário, Doutor Pesquisador, Embrapa Gado de Leite;
³Engenheiro Agrônomo, Professor Titular, Estudante de Pós-Graduação - Escola de Veterinária - UFMG - Belo
Horizonte - MG

O que é ureia
(características químicas)
A ureia é um composto orgânico
cristalino, de cor branca, sabor amargo,
solúvel em água e álcool (Fig.1). É um
composto quaternário, constituído por
nitrogênio, oxigênio, carbono e hidrogê-
nio. Quimicamente é classificada como
amida e, por isso, considerada um com-
posto nitrogenado não proteico (NNP),
cuja fórmula química é CO(NH2)2. Não
pode ser considerada proteína, porque Figura 1. Aspecto físico da ureia.

1. Informações gerais 9
não apresenta em sua estrutura amino- ureia, sob diversas formas, na alimenta-
ácidos reunidos por ligações peptídicas. ção de ruminantes. O seu início se deu
Possui características específicas, uma quando a escassez de alimentos, oca-
vez que é deficiente em todos os mine- sionada pela primeira guerra mundial
rais, não possui valor energético próprio (1914), levou a Alemanha a intensificar
e é rapidamente convertida em amônia a sua produção para reduzir os custos
no rúmen (Maynard et al., 1984). com a suplementação proteica e, por
A ureia foi descoberta no século consequência, baratear a produção de
XVIII e só foi sintetizada artificialmente leite e de carne. Atualmente, além des-
em 1828, pelo médico alemão Friedrich se propósito, a ureia também tem sido
Wohler (Loosli e McDonald, 1968). Tal bastante utilizada no balanceamento de
fato foi considerado um marco na histó- dietas para adequar os níveis de proteína
ria da química orgânca, porque derruba- degradável no rúmen (PDR) (Santos,
va a teoria de que compostos orgânicos 2006).
só poderiam ser sintetizados pelos orga- Em escala industrial, a ureia é for-
nismos vivos (“Teoria da Força Vital”). mada pela decomposição inicial do gás
A sua produção em escala industrial metano (CH4) em altas temperaturas.
iniciou-se em 1870, quando Bassarow Esse processo disponibiliza o hidrogê-
conseguiu sintetizá-la a partir do gás nio que, em reação com o nitrogênio do
carbônico e da amônia, e os primeiros ar, forma a amônia (NH3). Em sequên-
estudos sobre sua utilização em die- cia, ocorre a síntese da amônia com o
tas de ruminantes foram iniciados por gás carbônico, em um reator, sob condi-
Zuntz, em 1891. Outro marco na his- ções de elevada temperatura e pressão.
tória da ureia ocorreu a partir dos resul- A amônia em presença de CO2 do ar
tados dos trabalhos de Krebs, no início origina o carbamato de amônio, e esse
da década de 1930, quando os conceitos produto, sob determinada pressão e
sobre produção e metabolismo da ureia temperatura, é decomposto em ureia e
foram estabelecidos (Huntington eAr- água(Fig.2). A partir daí, ocorre o pro-
chibeque, 1999). cesso de purificação, pois permanecem
Já se vão mais de cem anos de uso da no reator a ureia, o carbamato de amô-

NH2
Co2 + 2 NH3 NH2COONH₄ O=C + H2 O

NH2
Figura 2. Reação química de síntese da ureia em escala industrial.

10 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016


nio, água e excesso de amônia. A mistu- equivalente proteico, a ureia pode apre-
ra passa através de torres separadoras de sentar um teor de proteína bruta (PB)
alta e baixa pressão, a vácuo, onde se ob- variando de 262,5 a 287,5%, para con-
tém uma solução água-ureia. Os gases centrações de N variando de 42 a 46%.
NH3, CO2 e a água que saem da seção Assim, pode-se inferir que, para cada 1
de purificação são absorvidos na seção ponto percentual de adição de ureia, au-
de recuperação, retornando para o rea- mentam-se, em média, 2,6 a 2,8% pon-
tor como solução de reciclo (Pentreath, tos percentuais no teor de PB da dieta.
2005, Salman, 2008).
Na Tabela 1, é apresentada a com- Metabolismo da ureia
posição química da ureia brasileira. A O metabolismo da ureia está estri-
pequena quantidade de ferro e chumbo tamente relacionado ao de compostos
encontrada em sua composição não é nitrogenados em ruminantes. Os estu-
considerada tóxica para os animais. dos iniciais sobre esse tema se concen-
Tabela1. Composição química da ureia traram na década de 1940 e 1950, em
encontrada no Brasil que foram estabelecidas as bases de sua
utilização, principalmente em dietas de
Compostos Concentração (%) vacas leiteiras. Reid (1953), a partir de
Nitrogênio 46,4 extensa revisão de literatura, sumarizou
Biureto 0,55 grande parte dos achados desses estu-
Água 0,25 dos e, dentre as várias conclusões sobre
Amônio livre 0,008 uso e metabolismo da ureia em dietas de
Cinzas 0,003 ruminantes, destacou-se que: a conver-
Ferro e chumbo 0,003 são de ureia para proteína é mediada pe-
Fonte: Santos et al. (2001). los microrganismos do rúmen-retículo
Diferentemente da maioria das pro- que, subsequentemente, disponibilizam
teínas, que apresenta, em média, 16% ao animal hospedeiro (ruminante) seu
de nitrogênio (N) em sua composição, conteúdo proteico, ou seja, a proteína
a ureia, que é um composto nitrogenado de origem microbiana; um nível baixo
não proteico, possui 46% N. Portanto, de proteína e um nível alto de amido na
teoricamente, cada quilo de ureia equi- dieta favorecem a utilização da ureia; a
vale a 2,87kg de proteína adição de metionina ou
bruta (0,46kg N x 6,25 ...um nível baixo de enxofre (S) melhora a
– fator de conversão de proteína e um nível retenção de nitrogênio
N em proteína bruta). alto de amido na dieta em dietas de cordeiros
Seguindo o mesmo ra- favorecem a utilização contendo ureia; tornar
ciocínio, em termos de da ureia... a hidrólise da ureia mais

1. Informações gerais 11
lenta para minimizar a perda de amônia concentrações dependem do pH e da
pode ser uma abordagem promissora. temperatura (Visek, 1968). Tendo em
O metabolismo da ureia em rumi- vista que o pH fisiológico no rúmen é,
nantes se inicia com a degradação no em geral, 2 unidades menor que a cons-
rúmen e vai até a sua síntese de novo no tante de dissociação da amônia (pKa
fígado. De acordo com Sniffen (1974), = 9,02), essencialmente, quase toda a
a ureia é uma fonte de nitrogênio 100% amônia presente nesse compartimento
solúvel e, consequentemente, degra- apresenta-se na forma ionizada. Logo,
dável totalmente. No nível ruminal, pequenos aumentos de pH acima de 7
a degradação da ureia é realizada por provocam grandes aumentos na pro-
bactérias aderidas ao seu epitélio, que porção de amônia (NH3) na forma não
rapidamente hidrolisam esse composto ionizada, cuja absorção ocorre da forma
em amônia e CO2 pela ação da enzima passiva, através de membranas celula-
urease. Os protozoários não são capa- res, no sentido de uma concentração
zes de utilizar a amônia para a síntese fisiológica menor. O pH parece ser o
proteica; entretanto, contribuem para fator mais importante na determinação
o suprimento de amônia ruminal pela da quantidade de amônia absorvida.
deaminação de aminoácidos e também Portanto, quanto maior for o pH, maior
pela ingestão de bactérias (Owens e será a absorção de amônia para a cor-
Zinn, 1988; Russel et al., 1991). Tendo rente sanguínea. Embora a concentra-
isso em vista, somente animais com o ção de amônia no rúmen seja pequena
rúmen funcional podem utilizar a ureia. (0,38 a 1,56% para valores de pH de
Portanto, esse produto não deve ser for- 6,62 a 7,22), ela é rapidamente reposta
necido a animais em aleitamento (be- quando sai do meio, pois o equilíbrio
zerros muito jovens) ou animais mono- NH3 + H+↔NH4+ é estabelecido com
gástricos (Tadele e Amha, 2015). rapidez (Visek, 1968, 1984). Assim, a
A amônia é o principal componente concentração de amônia é dependen-
do metabolismo de ni- te do equilíbrio entre
trogênio em ruminantes. A síntese de proteínas as taxas de produção e
Ela pertence à classe de a partir de fontes de absorção, que depende
substâncias denomina- NNP ocorre quando da concentração da sua
das eletrólitos fracos e, bactérias presentes no forma não ionizada no
em solução, suas formas rúmen combinam a fluido ruminal, determi-
i o n i z ada / p ro to nada amônia (proveniente da nada pelo pH do meio
(NH4 ) e não ionizada
+ hidrólise da ureia pela (Nolan, 1993).
(NH3) estão em equilí- enzima urease) com A síntese de proteí-
brio. As suas respectivas esqueletos carbônicos nas a partir de fontes de
12 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
NNP ocorre quando bactérias presentes GDH não varia em sua concentração.
no rúmen combinam a amônia (prove- Quando a concentração de amônia está
niente da hidrólise da ureia pela enzima alta, a captação de N é feita principal-
urease) com esqueletos carbônicos (re- mente via GDH, mas, quando os níveis
sultantes da degradação de carboidra- de amônia estão baixos, a principal en-
tos), para dar origem a aminoácidos e zima utilizada é a GS, uma vez que esta
formar a proteína de origem microbia- possui maior afinidade pelo nitrogênio
na. As bactérias ruminais que utilizam amoniacal. Em contrapartida, a fixação
nitrogênio são divididas em dois gru- de N por essa via metabólica envolve o
pos: aquelas que fermentam a celulose e gasto de um mol de ATP para cada mol
hemicelulose, apresentam crescimento de íon amônio fixado, enquanto ne-
lento e utilizam a amônia como fonte nhum ATP é gasto pela ação da GDH.
exclusiva de N para síntese de proteína Portanto, quando a concentração rumi-
microbiana; e os microrganismos que nal de nitrogênio amoniacal está baixa,
fermentam amido, pectina e açúcares, a eficiência de crescimento microbiano
crescem mais rapidamente que os an- é reduzida, porque o ATP utilizado para
teriores e são capazes de utilizar tan- crescimento é desviado para captação
to amônia quanto aminoácidos como de nitrogênio (Owens e Zinn, 1988).
fonte de nitrogênio, numa proporção A amônia fixada é transferida para os
média de 66% de aminoácidos e 34% precursores de outros aminoácidos por
de nitrogênio amoniacal (Russel et al., meio de reações de transaminação. Os
1992). Assim, para assegurar uma maior aminoácidos formados são então conju-
produção de proteína microbiana, reco- gados para formar a proteína microbia-
menda-se que fontes de proteína verda- na (bactérias). Essa proteína posterior-
deira (farelos proteicos, por exemplo) mente será degradada a aminoácidos no
também façam parte de dietas com abomaso e absorvida no intestino del-
ureia, para que as exigências quanto às gado, compondo o pool de nitrogênio
diferentes fontes de nitrogênio para to- que chega ao duodeno. A proteína de
dos os microrganismos sejam atendidas. origem microbiana apresenta elevado
Uma vez disponibilizada no con- valor biológico para o animal, tanto em
teúdo ruminal, a amônia é fixada aos função da sua composição de aminoá-
aminoácidos pelas bactérias mediante a cidos quanto pelo seu teor de proteína
ação de enzimas específicas, a glutamina metabolizável (62,5 a 65%). Cerca de
sintetase (GS) e a glutamato desidroge- 80% de todo o N microbiano é consti-
nase (GDH). A concentração de GS é tuído por proteína verdadeira, que em
maior quando o nitrogênio amoniacal média apresenta 80% de digestibilidade,
extracelular está baixo, ao passo que a justificando, assim, seu elevado valor de
1. Informações gerais 13
proteína metabolizável (NRC, 2001). através da parede do rúmen. Parte dessa
Segundo Broderick (2006), a síntese ureia também pode ser eliminada do or-
microbiana fornece a maior parte da ganismo do animal pela urina. A produ-
proteína utilizada pelo ruminante; por- ção, excreção e reciclagem da ureia para
tanto, o maior objetivo da nutrição pro- o trato digestivo estão ligadas à compo-
teica deve ser maximizar a produção da sição da dieta, consumo e produção do
proteína microbiana. animal. Dependendo desses fatores, 19
Quando a produção de amônia no a 96% da produção endógena de ureia
rúmen, seja tanto pela degradação da pode ser reciclada para o trato digestivo,
ureia quanto de outros compostos ni- 15 a 94% pode ser transferida via saliva e
trogenados, excede a capacidade de uti- 25 a 60%, excretada na urina (Kennedy
lização pelos microrganismos, ocorre e Milligan, 1980; Huntington, 1986).
um acúmulo dessa fonte N no rúmen. A Teoricamente, a reciclagem de nitro-
amônia em excesso é removida, princi- gênio fornece uma fonte contínua de
palmente por difusão passiva através do amônia para manter a fermentação mi-
epitélio ruminal e imediatamente trans- crobiana no rúmen, assim como em
portada pelo sistema porta ao fígado, outras regiões do trato digestivo. De
onde é metabolizada, pois a sua forma acordo com o modelo proposto pelo
livre é tóxica para o animal. As molécu- NRC (1985), quanto menor a concen-
las de amônia são então utilizadas para tração de PB, maior será a proporção
formação de ureia, na via metabólica do N reciclado, principalmente quando
conhecida como ciclo da ureia. Para a ocorre deficiência em proteína degra-
formação de uma molécula de ureia, dável no rúmen (PDR) na dieta total.
são necessárias três moléculas de ATP, Como exemplo, cerca de 70% de todo o
implicando gasto energético pelo ani- N pode ser reciclado em dietas de rumi-
mal (Santos et al., 2001). Durante esse nantes com 5% de PB (Fig.3).
ciclo, há formação de uma molécula de Tendo em vista que a concentra-
fumarato, que pode ser incorporada ao ção de amônia na circulação periférica
ciclo do ácido cítrico e gerar duas molé- é mantida em baixos níveis devido à
culas de ATP. Sendo assim, a reciclagem conversão da amônia em ureia no fíga-
da amônia tem um custo energético de do, existe um gradiente de concentração
um ATP por molécula de ureia formada. permanente que permite a absorção da
Uma vez reciclada e liberada na corren- amônia ruminal que excede a capacida-
te sanguínea, a ureia pode novamente de de utilização pelos microrganismos.
servir como fonte de N para produção Esse mecanismo torna-se fundamen-
de proteína microbiana ao retornar ao tal quando os animais são alimentados
trato digestivo via saliva ou por difusão com dietas de baixo valor nutricional,
14 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
% N reciclado em percentagem do 100
90 88 Y = 121,7 - 12,01x + 0,3235X2; R2 = 0,97
80
70 69
60
N ingerido

53
50
40 40
29
30
20
20 14 12
11 10
10
0
3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

% PB ingerida na MS da dieta
Figura 3. Relação entre teor de PB na MS da dieta e percentual de N reciclado na forma de ureia.
Fonte: Adaptado de NRC (1985).

favorecendo uma melhor utilização da odor amoniacal proveniente da ureia


proteína (Van Soest, 1994). causava uma rejeição inicial de rações
que a continham. Diante disso, rações
Eficiência de utilização de contendo ureia com níveis crescentes
ureia de concentrações de amônia, de 40, 181
e 462mg/kg, e rações sem ureia foram
Sabor e odor oferecidas, durante 30 minutos, duas ve-
Na década de 1970, estudos foram zes ao dia, a vacas em lactação. Embora
realizados para decifrar se a redução de os animais tenham exibido reações cres-
consumo verificada em algumas die- centes de sintomas nasais a exposição
tas contendo ureia era devido ao seu inicial a grandes concentrações de amô-
sabor, odor ou metabolismo. Embora nia, eles não alteraram seu consumo de
naquela época fosse consenso que vacas rações sem ureia tanto com, quanto sem
não gostavam do sabor desse produto, a presença do odor amoniacal (Kertzet
tal fato não conseguia explicar como al., 1977). Consequentemente, o odor
vacas que não haviam sido expostas à amonical per se parece não ser a causa
ureia anteriormente conseguiam con- inicial de rejeição por vacas a dietas con-
sumir, até a morte, rações contendo al- tendo ureia. Com relação à palatabilida-
tas concentrações dessa fonte de NNP. de, Kertset al. (1982) forneceram ureia
Da mesma forma, reconhecia-se que o protegida em péletes ou misturadas à
1. Informações gerais 15
dieta, para avaliar se vacas não gostavam de NNP. Concluiu-se que, uma ou mais
do seu sabor ou odor. Nesse ensaio, todas exposições a altos níveis dietéticos de
as dietas que apresentavam altas concen- ureia são necessárias para produzir a to-
trações de ureia (2,5%) variaram apenas xicidade subclínica à amônia, a qual va-
a forma de fornecimento. Observou-se cas aprendem a associar com dietas com
que os animais consumiram maiores ureia. Diante disso, como mecanismo
quantidades da dieta onde a ureia era de defesa, reduzem a ingestão de maté-
mais exposta. Diante disso, concluiu-se ria seca para prevenir a ocorrência dessa
que tanto o sabor quanto o odor não são toxicidade subclínica. Trata-se de um
problemas para o consumo, por vacas, de clássico caso de aversão negativa condi-
dietas contendo ureia. Entretanto, ainda cionada. Assim, parece que 1% de ureia
intrigava o fato de que algumas vacas pre- na dieta total não ocasiona a toxicidade
teriam dietas contendo níveis acima de subclínica e 2,5%, sim. Em todos esses es-
1% de ureia. Segundo Kertz (2010), a to- tudos, um consumo diário de até 135gde
xicidade subclínica à amônia elucida esse ureia por vaca nunca ocasionou redução
fenômeno. Nesse caso, dois eventos têm no consumo de matéria seca. Tal valor
que ocorrer: a própria toxicidade subclí- corresponde à recomendação de Van
nica e um mecanismo pelo qual o animal Horn et al. (1967) de consumo médio de
possa identificar aquele evento com o ali- ureia por vaca da ordem de 136g por dia,
mento, resultando na redução de sua in- sumarizado a partir de 22 comparações.
gestão. Com a hidrólise da ureia, ocorre
a elevação nos níveis de amônia. Como a
Balanceamento da dieta
amônia é ionizada a amônio (NH4+) com Os principais modificadores químicos
a adição de um íon H por molécula, o pH e fisiológicos da fermentação ruminal são
ruminal se eleva ou não diminui signifi- o pH e o turnover, sendo que ambos são
cativamente, dependendo da quantidade afetados pela dieta e outras característi-
de ureia hidrolisada, de outros fatores cas relacionadas, como nível de ingestão,
dietéticos e da atividade microbiana. estratégias de alimentação, qualidade e
Conforme já demonstrado anteriormen- tamanho de partícula da forragem e as re-
te, o aumento do pH favorece a absorção lações entre volumosos e concentrados.
de amônia, de forma passiva, aumentan- De modo geral, o crescimento microbia-
do seus níveis na corrente sanguínea do no ocorre até que as exigências de N dos
animal. Após a realização de vários es- microrganismos sejam atingidas, o que é
tudos, Kertz et al. (1982) descobriram determinado pela presença de carboidra-
que vacas que previamente consumiram tos fermentáveis no rúmen, produção de
altos níveis de ureia podiam rapidamen- ATP e eficiência de conversão para células
te identificar dietas contendo essa fonte microbianas. Durante o processo de pro-
16 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
dução de proteína microbiana, ocorre a dratos totais está diretamente relacionada
fixação do N amoniacal a uma molécula às concentrações de amido, pectinas e
que possui carbono em sua composição, açúcares (Hoovere Stokes, 1991).
envolvendo gasto energético. Portanto, Em animais suplementados com fa-
fica evidente a dependência de fontes relados proteicos, as maiores concentra-
energéticas no rúmen para que a produ- ções de amônia ocorrem normalmente
ção de proteína microbiana seja realizada. de 3a5 horas após a alimentação. Já em
Levando-se em consideração a elevada dietas com ureia, o pico na concentração
taxa de degradação da ureia, fontes de de amônia é observado cerca de 1a2 ho-
energia com alta degradabilidade rumi- ras após o fornecimento da dieta. Logo, a
nal favorecem a utilização da amônia e, maior eficiência de produção de proteí-
consequentemente, diminuem as perdas na microbiana em dietas suplementadas
de energia decorrentes da reciclagem do com ureia é alcançada quando as eleva-
nitrogênio em excesso. Baseado em resul- ções na concentração de amônia estão
tados de estudos in vitro e in vivo, pode-se sincronizadas com uma alta disponibili-
inferir que a taxa de digestão dos carboi- dade de energia ruminal (Fig.4).
dratos é o principal fator controlador da Uma vez que toda a ureia é rapi-
energia disponível para o crescimento mi- damente degradada no rúmen, con-
crobiano e a taxa de digestão dos carboi- centrações adequadas de carboidratos

Fermentação de CHO (AGV’s)

Degradação da Proteína
Intensidade da resposta

Concentração de Amônia no RR

0 6 12 24
Horas de pós-alimentação
Figura 4.Sincronização da fermentação no retículo-rúmen (RR) dos diferentes tipos de carboidratos e
de proteínas dietéticas, e concentração de NH3.Fonte: Adaptado de Van Soest (1994).

1. Informações gerais 17
devem estar corretamente balanceadas (amido e pectina) façam parte da dieta.
na dieta. Um ambiente que favorece o Por outro lado, dietas com baixos te-
desenvolvimento da microbiota, por ores de carboidratos solúveis e altas con-
sua vez, aumenta a digestibilidade da centrações de parede celular de plantas
fibra da dieta, em função do aumento maduras (fermentação lenta) limitam a
da população de microrganismos ru- utilização do NNP em função da baixa
minais. Consequentemente, ocorre disponibilidade de energia e da baixa taxa
um aumento na taxa de passagem dos de digestão dos carboidratos disponíveis.
alimentos, favorecendo o consumo de Nesses casos, a eficiência de utilização da
matéria seca, porque o rúmen se esva- ureia é baixa, porque o pico na produção
zia mais rapidamente. Assim, em dietas de nitrogênio amoniacal acontece antes
contendo ureia, é fundamental que car- da fermentação máxima desses carboi-
boidratos com taxas de fermentação rá- dratos de baixa qualidade (Van Soest,
pida (açúcares solúveis) e intermediária 1994), como demonstrado na Figura 5.
25

Sangue
20
Nitrogênio, mEq/L

15 Reculo-rúmen

10

5 Fermentação de CHO

0
1 2 3 4 5 6
Horas pós-alimentação
Figura 5. Concentração de compostos nitrogenados (NH3) em mEq/L no retículo-rúmen e no sangue,
em função da inexistência de sincronização da fermentação de carboidrato e proteína.Fonte: Adaptado
de Van Soest (1994).

18 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016


Em resumo, se a taxa de leite por dia e realizan-
...se a taxa de
de degradação das fontes do deslocamento diário
degradação das fontes
de nitrogênio excede a de 1km, temos as seguin-
de nitrogênio excede a
taxa de fermentação dos
taxa de fermentação dos tes exigências, segundo o
carboidratos, há perda de carboidratos, há perda NRC (2001):
N, gasto de energia para de N, gasto de energia • Ingestão de matéria seca
síntese de ureia no fígado para síntese de ureia diária = 3,3% PV (16,5kg
e, em casos extremos, in- no fígado e, em casos de MS);
toxicação por amônia. Se extremos, intoxicação • PB = 15,2% (2,5kg de
a taxa de fermentação dos por amônia. MS);
carboidratos excede a de- • NDT = 59% (9,7kg de
gradação dos compostos MS);
nitrogenados, ocorre diminuição na produ- • Logo, PDR = 1,18 x (0,13 x 9,7) = 1,49kg
ção de proteína microbiana. Nesse sentido, • 1,49kg PDR/2,5kg PB x 100 = 60% PDR
valores entre 10 e 13% de PDR na MS total Nesse caso, 60% da proteína bruta da
da dieta são requeridos para se maximizar dieta deverão ser compostos por proteína
a síntese microbiana, dependendo do teor degradável no rúmen. Esse valor será um
de carboidratos fermentáveis no rúmen. balizador da quantidade de ureia a ser uti-
Mesmo que ainda não haja consenso sobre lizada na dieta total. Sendo assim, é impor-
os benefícios na sincronização da degrada- tante se conhecer os percentuais das degra-
ção de N e carboidratos no rúmen (Kertz, dabilidades de diferentes fontes de proteína
2010), é seguro utilizar as recomendações bruta para que as exigências de PDR sejam
do NRC (2001) para se adequar os níveis atendidas por um balanceamento adequa-
de proteína degradável no rúmen e energia do da dieta.Rodriguez et al. (2003) avalia-
na dieta de gado de leite. O NRC (2001) ram, para uma taxa de passagem de 5%/h,
adotou uma exigência de PDR igual a 1,18 a qualidade de diferentes fontes de proteí-
multiplicada pela quantidade de proteína na dietéticas, conforme demonstrado na
microbiana sintetizada no rúmen, a qual Figura 6.
é calculada como 13% As recomendações tra-
dos nutrientes digestíveis ...a ureia não pode dicionais de fornecimento
totais (NDT) ou 130g contribuir com mais do de ureia têm se baseado
de PDR por kg de NDT. que 1/3 da proteína nas seguintes premissas:
Assim, tomando-se como bruta total da dieta, não a ureia não pode contri-
exemplo uma vaca holan- pode constituir mais do buir com mais do que
desa pesando 500kg, não que 3% do concentrado 1/3 da proteína bruta
gestante, com 120 dias de e não mais do que 1% total da dieta, não pode
lactação, produzindo 20L na dieta total. constituir mais do que
1. Informações gerais 19
Degradação

o
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II
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F.

Indigest. Dig. intest. Deg. rúm. Tratamento

Figura 6. Degradação da proteína bruta no rúmen (Deg. rúm.), digestibilidade no intestino (Dig. intest.)
e fração indigestível (Indigest.) para taxa de passagem ruminal de 5% por hora de diferentes fontes de
proteína bruta dietéticas. Fonte: Rodriguez et al. (2003).

3% do concentrado e não mais do que segundo o NRC (2001). Isso exposto,


1% na dieta total. Para uma vaca consu- uma recomendação mais razoável para
mindo 22,7kg em uma dieta completa alimentação de vacas leiteiras com
(TMR) com 16% de PB e 50% de for- ureia seria: fornecer ureia até 1% do
ragem, as recomendações acima cor- concentrado, até 135g por vaca por dia
responderiam a um consumo de 427, e não mais do que 20% da PB da dieta,
341 e 227g de ureia por dia, respecti- considerando outras fontes de NNP.
vamente. Em muitos casos, essas quan- Tais recomendações seriam adequadas
tidades serão excessivas, especialmente mesmo sob as condições mais adversas
quando o tempo disponível para con- (Kertz, 2010).
sumo é restrito ou os alimentos não são A ureia não possui nenhum mineral
fornecidos na forma de dieta completa. em sua composição. Dietas com ureia
Nesses casos o problema mais provável devem ser suplementadas com mistu-
de ocorrer será a redução de consumo ra mineral de qualidade e atenção es-
via resposta de aversão negativamente pecial deve ser dada ao enxofre, uma
condicionada, conforme detalhado an- vez que esse mineral é utilizado para
teriormente. Tais recomendações tam- síntese microbiana de aminoácidos
bém excederiam os critérios já men- sulfurados (metionina, cisteína e cis-
cionados de balanceamento de dietas tina). Normalmente, o teor de enxofre
20 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
é baixo em rações com níveis elevados Toxicidade
de nitrogênio não proteico, especial-
O pH ruminal é o principal fator re-
mente nas dietas com altas proporções
lacionado à toxicidade por amônia em
de grãos, ou baseadas em silagens de
dietas com ureia. Isso ocorre porque a
plantas produtoras de grãos. Por isso, a
rápida degradação de grandes quantida-
suplementação com enxofre em dietas
des de NNP por si só ocasiona a eleva-
com altos níveis de nitrogênio não pro-
ção do pH ruminal, o que, consequen-
teico é necessária. A relação ótima entre
temente, aumenta a absorção de amônia
nitrogênio/enxofre para bovinos é de para o sangue. Essa reação em cadeia é
10 a 15 partes de nitrogênio para uma verificada, principalmente, quando ani-
parte de enxofre. São indicados como mais não adaptados consomem grandes
fonte suplementar de enxofre o sulfato quantidades de ureia durante um perí-
de amônio (24% S) e o sulfato de cálcio odo curto. A ingestão de quantidades
(17% S) (Petrobras/Embrapa, 1997). superiores a 45 - 50g de ureia para cada
Uma ferramenta útil para avalia- 100kg de peso vivo animal (aproxima-
ção do metabolismo dos compostos damente 250g de ureia para uma vaca de
nitrogenados no rúmen são as dosa- 500kg), em um curto período de tempo,
gens de ureia no leite ou no sangue. As pode ser fatal para animais não adapta-
concentrações de ureia no leite repre- dos (Huber e Kung, 1981).
sentam, em média, 85% das encontra- A amônia em excesso na corrente
das no sangue (Harris Jr., 1997). Em sanguínea é convertida no fígado em
rebanhos pequenos, aconselha-se a ureia; no entanto, quando a capaci-
amostragem de todos os animais; mas, dade de conversão do fígado chega a
quando o número de vacas é maior, seu limite, as concentrações de amô-
uma amostragem ao acaso de 10 a 15% nia no sangue aumentam (Essiget al.,
dos animais de cada lote de produção 1988). A neurotoxicidade da amônia é
é suficiente. Os valores de ureia no lei- o principal responsável pelos sinais de
te devem se situar entre 12 a 20mg/ intoxicação. A hiperamonemia altera
dl. Concentrações acima desse limite as propriedades fisiológicas da barreira
podem representar níveis excessivos hematoencefálica, ocasionando um de-
de proteína na dieta, uma baixa quan- sequilíbrio dos aminoácidos no cére-
tidade ou qualidade de carboidratos bro. Os aminoácidos ramificados dimi-
fermentáveis no rúmen ou uma falha nuem no soro e no cérebro, enquanto
na sincronização na degradação dessas os aromáticos se elevam. Como estes
fontes, indicando que existe uma ine- últimos são os precursores da maioria
ficiência na suplementação proteica do dos neurotransmissores, ocorre um
rebanho. excesso dessas substâncias no cérebro,
1. Informações gerais 21
advindo distúrbios na condução neu- litros de água fria, para dificultar a ab-
ral (Cooper e Plum, 1987). BARTLEY sorção, reduzir a atividade microbiana
et al. (1976) observaram quadro de (menor quando a temperatura ruminal
tetania muscular, em média, 53 mi- está baixa), bem como diluir a amônia
nutos após a administração de 50g de presente no rúmen. Animais em casos
ureia/100kg de peso vivo diretamente mais graves de intoxicação apresentam-
no rúmen, via fístula. Dessa forma, a -se prostrados, com quadros de tetania
adaptação de ruminantes a dietas su- ou convulsão e raramente respondem
plementadas com ureia é fundamental. ao tratamento. Nesses casos a morte
Durante o processo de adaptação, a pode ocorrer rapidamente. Word et al.
retenção de nitrogênio tende a crescer (1969) recomendam fornecer aos ani-
após o início do fornecimento de NNP mais solução de ácido acético a 5-10%
até que se atinja o equilíbrio. A adapta- tão logo a toxidez se manifeste, seguin-
ção à ureia correspondente aos limites do-se uma segunda ingestão 2 a 3 ho-
máximos recomendados pode ocorrer ras mais tarde. O tratamento com ácido
no prazo de duas semanas, mas esse acético em concentrações superiores a
processo deve ser reiniciado, caso haja 10% não é recomendado, porque causa
uma interrupção no fornecimento de lesões no esôfago do animal. Esses au-
NNP por período superior a dois dias. tores observaram também que o rápido
O estímulo do ciclo de síntese de ureia
esvaziamento do conteúdo ruminal foi
no fígado (ciclo da ureia) aumenta a
eficiente em evitar a morte dos animais
conversão de amônia em ureia e parece
por intoxicação.
ter papel importante durante a adapta-
ção dos animais. Conclusões
O tratamento nos casos de into-
xicação pela ureia tem como objetivo A ureia é um aditivo amplamente
reduzir o pH no ambiente ruminal e utilizado em dietas de ruminantes para
impedir a absorção excessiva da amô- se reduzirem os custos com a suplemen-
nia liberada. Para tal finalidade, utiliza- tação proteica e se adequar os níveis de
-se o fornecimento, via oral, de 4 a 6 PDR no rúmen.
litros de solução de ácido acético ou O sucesso na sua utilização depende
de vinagre a 5%. Dependendo da sin- do balanceamento adequado na dieta,
tomatologia apresentada, esse procedi- da homogeneidade desse composto no
mento deve ser repetido 6 horas após veículo de fornecimento (concentrado,
a primeira administração. Em situações dieta total, etc.), período de adaptação e
em que esses produtos não estejam dis- respeito aos limites máximos diários de
poníveis, deve-se fornecer de 20 a 30 consumo por animal.
22 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
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1. Informações gerais 25
2. Utilização de
ureia em alimentos
volumosos

Alex de Matos Teixeira1 - CRMV-MG 9612,


Lúcio Carlos Gonçalves2,
Diogo Gonzaga Jayme3 - CRMV-MG 6737,
João Pedro Costa Alves de Oliveira4,
Dalvana dos Santos4,
Thiago Henrique Fagundes Diniz4,
Frederico Patrus Ananias de Assis Pires5

bigstockphoto.com
1
Médico Veterinário, Professor Adjunto II, Faculdade de Medicina Veterinária/UFU, e-mail: alexmteixeira@yahoo.com.br;
2
Engenheiro Agrônomo, Professor Titular, Escola de Veterinária/UFMG;
3
Médico Veterinário, Professor Adjunto III, Escola de Veterinária/UFMG;
4
Médico Veterinário, Mestrando em Nutrição de Ruminantes, Escola de Veterinária/UFMG, Estudante de Pós-Graduação - Escola de
Veterinária - UFMG - Belo Horizonte - MG;
5
Graduando em Medicina Veterinária, Escola de Veterinária/UFMG, Estudante de Pós-Graduação - Escola de Veterinária - UFMG - Belo
Horizonte - MG

Introdução Sendo assim, a utilização desses ali-


mentos volumosos requer a inclusão de
Apesar de ser influenciado por fato-
alguma fonte proteica com objetivo de
res relacionados a estádio de maturação,
compensar tal deficiência. Em virtude
nível de adubação, espécie ou cultivar,
em geral, o conteúdo de nitrogênio do elevado conteúdo de proteína bruta, a
nos alimentos volumosos utilizados ureia tem se mostrado como um alimen-
rotineiramente em dietas para rumi- to economicamente atrativo na formula-
nantes apresenta-se reduzido. Exceção ção de dietas para ruminantes. Contudo,
refere-se às pastagens manejadas inten- por se tratar de uma fonte de nitrogênio
sivamente, leguminosas e forrageiras de não proteico e ser totalmente degradável
inverno, as quais apresentam elevados no rúmen, existem limitações quanto à
valores de proteína bruta. inclusão de ureia nas dietas.
26 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
Outra maneira de utilização da ureia dos (AA) para os ruminantes é a fração
em volumosos refere-se à sua adição proteica digestível que chega ao intes-
durante o processo de ensilagem, com tino delgado. Essa fração, também cha-
intuito de modular o processo fermen- mada de proteína metabolizável (PM),
tativo e reduzir as perdas, assim como pode ter componentes oriundos de três
em fenos na tentativa de modificar as frações: proteína microbiana (Pmic),
frações fibrosas. produzida no rúmen, proteína não de-
Objetivou-se com este trabalho gradável de origem alimentar e proteína
apresentar os potenciais e as limitações endógena, devido ao processo de des-
da adição de ureia em alimentos volu- camação do epitélio do trato digestivo.
mosos em dietas de bovinos leiteiros. A Pmic, geralmente a principal fonte de
AA para o ruminante, representa de 45
Utilização de ureia em a 55% da PM de vacas de alta produção,
alimentos volumosos 55 a 65% de bovinos de corte confina-
A proteína é um nutriente que tem dos com rações ricas em energia e mais
impacto direto no desempenho produ- de 65% em bovinos mantidos exclu-
tivo de ruminantes bem como sobre sivamente em pastagens. Dessa Pmic
a rentabilidade do sistema de produ- que chega ao duodeno, mais de 90% é
ção, devido ao fato de ser o ingrediente de origem bacteriana. Os protozoários
que mais onera o custo da alimentação. contribuem pouco para a proteína me-
Dietas deficientes em proteína compro- tabolizável, já que apresentam baixa taxa
metem funções vitais do animal e resul- de passagem (Santos e Pedroso, 2011).
tam em queda da produção de leite, per- Apesar de algumas espécies de mi-
da de peso e ineficiência reprodutiva. crorganismos ruminais terem requeri-
Em contrapartida, exces- mentos de determinados
so de proteína aumenta De maneira geral, aminoácidos, como po-
o custo da alimentação, bactérias fermentadoras pulação, eles não apre-
reduz a eficiência de uso de carboidratos fibrosos sentam requerimento de
do nitrogênio dietético, utilizam amônia como um aminoácido especí-
aumenta o impacto ne- fonte de nitrogênio, fico (Atasoglue Wallace,
gativo ao meio ambiente enquanto bactérias 2003). De maneira geral,
decorrente da excreção fermentadoras de bactérias fermentadoras
de nitrogênio e prejudica carboidratos não de carboidratos fibrosos
o desempenho reprodu- fibrosos têm um utilizam amônia como
tivo dos animais (Reis e requerimento maior por fonte de nitrogênio, en-
Danés, 2011). AA e peptídeos do que
quanto bactérias fermen-
A fonte de aminoáci- por amônia.
tadoras de carboidratos
2. Utilização de ureia em alimentos volumosos 27
não fibrosos têm um re- lo seriam prejudiciais
Os alimentos
querimento maior por
volumosos, conservados (Van Soest, 1994).
AA e peptídeos do que Os alimentos vo-
ou verdes, fornecidos
por amônia. Segundo lumosos, conservados
no cocho para
Bryant e Robinson bovinos, apresentam ou verdes, fornecidos
(1962, 1963), mais normalmente baixos no cocho para bovinos,
de 90% das bactérias teores de proteína bruta apresentam normal-
isoladas do rúmen são (PB), sendo necessária mente baixos teores de
capazes de utilizarem a correção desse proteína bruta (PB),
amônia como princi- nutriente à medida sendo necessária a cor-
pal fonte de N, ao pas- que se busca melhorar reção desse nutriente
so que ela é essencial o desempenho dos à medida que se busca
para o crescimento de animais. melhorar o desempenho
25% dessas mesmas dos animais. Para de-
bactérias. Estudos in monstrar tal deficiência,
vitro com cultivo de culturas puras foram compilados resultados de pesqui-
demonstraram que 80% do nitrogê- sas conduzidas pelo Departamento de
nio celular de bactérias celulolíticas Zootecnia da Escola de Veterinária da
eram oriundos de nitrogênio amonia- Universidade Federal de Minas Gerias
cal (Atasoglu et al., 2001). Contudo, nos últimos anos. Os teores médios de
apesar de utilizarem preferencialmen- PB variaram de 2,2 a 11,8% e 2,8 a 9,4%
te amônia como fonte de nitrogênio, para volumosos verdes ou ensilados,
bactérias fermentadoras de carboidra- respectivamente (Tab.1).
tos fibrosos aumentam a eficiência e Tomando por base o valor de PB
a produção quando dispõem de AA e da silagem de capim-elefante descrito
peptídeos. na Tabela 1, a adição de 0,3 ou 0,5% de
Sendo assim, a deficiência de ni- ureia na matéria natural resultaria em
trogênio no ambiente ruminal seria um volumoso com teores de PB varian-
prejudicial devido à redução do cres- do de 8,8 a 11,4%, corrigindo assim,
cimento microbiano, com consequen- ainda que parcialmente, a deficiência
te redução da proteína metabolizável proteica.
e comprometimento da degradação Além de o conteúdo proteico nor-
ruminal dos nutrientes. Na literatu- malmente ser baixo, é importante ressal-
ra, há certo consenso de que o valor tar que, no caso das forrageiras tropicais,
mínimo de proteína bruta na dieta de parte desse nitrogênio ainda pode estar
ruminantes estaria entre6e 8%, sendo associado à parede celular, reduzindo
que valores inferiores a esse interva- assim a disponibilidade do nitrogênio
28 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
Tabela 1. Teores de proteína bruta de forrageiras
tropicais verdes e na forma de silagem

Verde Silagem
Forrageira
n Média n Média
Andropogon 2 5,9 1 5,5

Brachiaria brizantha 17 7,8 7 6,5

Brachiaria decumbens 5 6,3 5 5,3

Cana-de-açúcar 1 2,2 2 2,8

Capim-elefante 4 7,8 1 4,7

Coast-Cross 1 8,2

Girassol 5 9,6 10 9,4

Milheto 1 11,0 2 9,0

Milho 2 7,9 9 8,0

Panicum maximum 1 11,0 2 9,4

Sorgo 14 7,2 18 7,3

Sorgo x Capim-Sudão 3 11,8 2 8,4


Fonte: Adaptado de Gonçalves et al. (2012).

para o metabolismo animal. aumento do PIDA. Dessa maneira, po-


Para melhor compreender a relação de-se inferir que volumosos com baixo
entre o teor de proteína insolúvel em teor de PB deverão apresentar também
detergente ácido (PIDA), o conteúdo baixa disponibilidade desta e reduzido
de fibra em detergente ácido (FDA) e o valor nutricional.
valor nutritivo das forrageiras tropicais, Considerando-se que a fração PIDA
Santos et al. (2013) realizaram uma me- não é degradada pelas bactérias rumi-
ta-análise a partir de 22 trabalhos con- nais, bem como não fornece aminoáci-
duzidos no país. Com base nos resulta- dos pós-ruminalmente (Sniffen et al.,
dos, os autores observaram três relações 1992), tal situação pode resultar em
de importância nutricional: redução deficiência de nitrogênio e aminoácidos
do teor de PIDA em função do teor de aos microrganismos ruminais e, conse-
PB; aumento do teor de PIDA em fun- quentemente, ao animal.Nesse sentido,
ção do teor de FDA e redução do valor a adição de ureia a volumosos de baixa
nutricional (expresso em termos de nu- qualidade e/ou baixo teor de PB pode
trientes digestíveis totais) em função do ser uma alternativa viável no intuito
2. Utilização de ureia em alimentos volumosos 29
de reduzir o deficit proteico. Segundo Como forma de possibilitar a utili-
Guimarães Júnior et al. (2009), a utiliza- zação desses alimentos volumosos nas
ção da ureia pecuária com esses alimen- dietas de bovinos sem que haja compro-
tos volumosos de qualidade deve seguir metimento do desempenho, alguns tra-
as seguintes recomendações: tamentos biológicos, físicos e químicos
• Picar totalmente o volumoso; têm sido testados. Dentre eles pode-se
• Realizar um período de adaptação; destacar amonização com utilização de
• Reduzir pela metade a inclusão da amônia anidra ou ureia.
ureia em volumosos com mais de 30% Basicamente,esse tratamento bus-
de umidade; ca promover alterações acentuadas na
• Distribuir a solução contendo ureia composição química das frações nitro-
no volumoso de maneira homogênea; genada e fibrosa das forrageiras, sendo
• Evitar o acúmulo da mistura ureia pe- que tais alterações podem aumentar a
cuária + fonte de enxofre no fundo do digestibilidade e o consumo desses ali-
cocho; mentos e, assim, o desempenho dos ani-
• Não utilizar as sobras; mais. De acordo com Reis et al. (1993),
• Reiniciar o processo de adaptação os efeitos da amonização estão relacio-
caso o animal deixe de receber por nados com a solubilização de hemice-
dois dias; luloses e com o aumento nos teores de
• Não fornecer a mistura de volumosos nitrogênio total, resultando em elevação
com ureia a animais fracos, em jejum de digestibilidade in vitro (DIVMS), in
ou famintos. vivo e in situ da matéria seca.
Para melhor compreender os efei-
Ureia como aditivo para tos da amonização com ureia sobre o
feno valor nutricional do feno de diferentes
Há no país considerável disponibili- gramíneas, foram compilados resulta-
dade de resíduos de culturas anuais de ve- dos de 16 trabalhos publicados na lite-
rão e de inverno, assim como de fenos de ratura (Zanine et al., 2007; Fernandes
baixo valor nutricional, oriundos de falhas et al., 2002; Tonucci, 2006; Rodrigues,
no processo de fenação ou no armazena- 2010; Mazzochin, 2013; Reis Júnior,
mento (Fernandes et al., 2002). Contudo, 2009; Bezerra et al., 2014; Reis et al.,
a utilização desses alimentos como base 2003; Alfaya et al., 2002; Rosa et al.,
volumosa da dieta de bovinos pode com- 1998; Gobbi et al., 2005; Bertipaglia et
prometer o desempenho dos mesmos e/ al., 2005; Reis et al., 2001a; Grossi et
ou onerar o custo da deita devido à maior al., 1993; Reis et al., 2001b; Reis et al.,
demanda de inclusão de alimentos con- 2001c). Os resultados estão sumariza-
centrados para balancear a dieta. dos na Tabela 2.
30 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
Tabela 2. Resumo dos resultados de trabalhos que avaliaram o efeito da
amonização com ureia sobre o valor nutricional do feno de diferentes gramíneas
Forrageira Níveis de ureia MS PB FDN FDA HEM CEL LIG DIVMS
Tanzânia1 0; 1; 2 e 3% MS - + - - - +
B. decumbens2 0 e 5% MS + = = - + - +
0; 2; 4; 6;
Tifton3 + - - = - = +
8 e 10% MS
Tifton4 0 e 1% MN = = = =
0; 2,5 e
Vaqueiro5 - + - - - - = +
5,0% MS
0; 1,0; 1,5
Coast-cross6 + = = -
e 2,0% MS
0; 0,5; 1,0; 2,0
Capim-buffel7 - + =
e 4,0% MS
Coast-cross8 0; 6,0% MS + = = = = = +

Capim-Annoni9 0; 4% MS + + - + - =

B. decumbens10 0; 3,6 e 5,4% MS - + - -/= - = - +


0; 2; 4; 6;
B. decumbens11 + - - = - = +
8 e 10% MS
B. brizantha12 0; 5% MS + - -/= -/= = = +

B. decumbens13 0; 5,4% MS + - = - = = +

B. brizantha13 0; 5,4% MS + - - - = = +

Jaraguá13 0; 5,4% MS + - - - = = +

Coast-cross14 0; 5,4% MS + = = = = = =

B. decumbens15 0; 5,4% MS - = - = - +

Jaraguá15 0; 5,4% MS - = - = = +

B. decumbens16 0; 5,4% MS +

Jaraguá16 0; 5,4% MS +

MS = matéria seca; MN = matéria natural; PB = proteína bruta; FDN = fibra em detergente neutro; FDA
= fibra em detergente ácido; HEM = hemicelulose; CEL = celulose; LIG = lignina; DIVMS = digestibilidade
in vitro da matéria seca; + → aumento em função da dose de ureia; = → sem alteração em função da
dose de ureia; - → redução em função da dose de ureia. 1Zanineet al. (2007); 2Fernandes et al. (2002);
3
Tonucci (2006); 4Rodrigues (2010); 5Mazzochin (2013); 6Reis Júnior (2009); 7Bezerra et al. (2014); 8Reis
et al. (2003); 9Alfaya et al. (2002); 10Rosa et al. (1998); 11Gobbi et al. (2005); 12Bertipaglia et al. (2005);
13
Reis et al. (2001a); 14Grossi et al. (1993); 15Reis et al. (2001b); 16Reis et al. (2001c).

2. Utilização de ureia em alimentos volumosos 31


De maneira geral, nos estudos re- até mesmo incremento dos níveis em
visados, o processo de amonização foi alguns estudos. A partir dos estudos
realizado distribuindo a ureia diluída compilados, observou-se que, predo-
em água e distribuída por aspersão com minantemente, a amonização com ureia
auxílio de um regador. O feno era então proporcionou redução nos teores de
acondicionado em sacos plásticos ou, FDN e hemiceluloses, enquanto não in-
quando em fardos, armazenados sob fluenciou os teores de FDA, celulose e
lona plástica vedada hermeticamente lignina.
em galpão coberto. O período de arma- A ação da ureia sobre os componen-
zenamento mais utilizado foi de 60 dias, tes da parede celular das forragens pode
sendo que, quando da abertura do ma- ser compreendida basicamente a partir
terial, esperava-se em média 2 a 3 dias de duas teorias. A primeira baseia-se
para eliminação da amônia que não ha- no rompimento das ligações entre he-
via reagido com o material. miceluloses e lignina, com posterior
Em sua grande maioria, os resulta- formação de amida a partir da reação
dos desses estudos demonstraram que entre amônia e um éster (Tarkove Feist,
a amonização com ureia proporcionou 1969). Por outro lado, a segunda teoria
aumento dos teores de PB do volumoso. propõe que, em função da alta afinida-
Em apenas um dos trabalhos revisados de da amônia com a água, há formação
não foi observado efeito da amonização de uma base fraca (hidróxido de amô-
sobre o teor de PB (Rodrigues, 2010). nia) durante o tratamento dos materiais
Entretanto, nesse trabalho, avaliou-se com a solução, que é capaz de provocar
apenas uma dose de ureia, que foi infe- uma hidrólise alcalina das ligações és-
rior aos intervalos de doses testados nos teres entre os carboidratos estruturais
demais estudos. Os incrementos nos (Buettner, 1978).
teores de PB foram variados, em função O incremento nos teores de PB
da diversidade de doses, umidade do observados nos estudos está associado
material, tempo de amonização, entre ao fato de a ureia adicionada aos volu-
outros fatores. mosos apresentar conteúdo elevado de
Apesar de nem todos os estudos nitrogênio (aproximadamente 46%).
terem avaliado a DIVMS, observou-se Contudo, nem todo nitrogênio adicio-
que, de maneira geral, foram relatados nado ao material fica retido, ou seja,
aumentos dos valores em função da parte significativa pode ser perdida du-
amonização dos fenos. Por outro lado, rante o armazenamento do material. A
os efeitos sobre as frações fibrosas dos retenção do nitrogênio aplicado pode
alimentos têm sido variados, sendo re- variar tanto em função da dose aplica-
latados ausência de efeito, redução e da, sendo registrados maiores valores
32 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
com o uso de doses menores (Gobbi et aproximadamente 2 vezes maior que no
al., 2005), quanto em função do conte- capim-jaraguá.
údo de umidade da forragem (Dolberg, O nitrogênio adicionado a esses
1992). Quando na presença de umidade volumosos pode estar retido sob forma
e sob a ação da enzima urease presente de nitrogênio solúvel em água, N amo-
na planta e nos microrganismos, a ureia niacal, N retido na fração insolúvel em
sofre hidrólise, liberando duas molécu- detergente neutro e detergente ácido
las de amônia e uma molécula de CO2. (Sniffen et al., 1992; Van Soest e Fox,
Sendo assim, em volumosos com teor 1992), sendo que a principal forma é a
de umidade muito baixo haveria com- de nitrogênio não proteico (Berger et
prometimento da atividade da urease, al., 1994). Nos experimentos analisa-
ao passo que a umidade excessiva di- dos, observou-se de maneira geral que
ficultaria a difusão da amônia no ma- não houve efeito da amonização sobre
terial (Cañeque et al., 1998). Segundo as frações nitrogênio insolúvel em de-
Sundstol e Coxworth (1984), a ativida- tergente neutro (NIDN) e nitrogênio
de da urease presente nos volumosos é insolúvel em detergente ácido (NIDA)
máxima quando o conteúdo de água da quando expressas em porcentagem da
forragem varia de 25 a 30%. MS (Fernandes et al., 2002; Tonucci,
Na literatura, os valores de nitro- 2006; Reis et al., 2003). Por outro
gênio têm sido bastante variados. Para lado, quando expressas em porcenta-
aplicação de 6% de ureia sobre o feno de gem do nitrogênio total ou da proteína
coast-cross, Reis et al. (2003) encontra- bruta,observaram-se reduções dos valo-
ram 26,25% de retenção do nitrogênio, res (Tonucci, 2006; Gobbi et al., 2005;
enquanto Rosa et al. (1998) relataram Reis et al., 2001a; Reis et al., 2001c, Reis
valores de 57,8 e 53,6% para doses de Júnior et al., 2011).
3,6 e 5,4% de ureia aplicada no feno de Em relação ao desempenho de ani-
Brachiaria decumbens, respectivamente. mais alimentados com feno de gramí-
Resultado semelhante a esses foi obtido neas amonizado com ureia, poucos re-
por Fernandes et al. (2002) para o feno sultados estão publicados na literatura.
de Brachiaria decumbens amonizado Em um estudo encontrado, Fernandes
com 5% de ureia (65,33% de retenção). et al. (2002) avaliaram o desempenho
Uma informação relevante para res- de novilhos da raça Nelore e Brahman
saltar seria o fato de haver evidências alimentados com feno do capim bra-
de diferenças na atividade da urease quiária amonizado com ureia na dose
entre as espécies forrageiras. Segundo de 5% da MS. Segundo os autores,
Reis et al. (2001b), a atividade da ure- houve comprometimento do consu-
ase no capim Brachiaria decumbens foi mo de matéria seca (1,90 x 1,97% do
2. Utilização de ureia em alimentos volumosos 33
peso vivo) e redução do vos utilizados com maior
Além da cana, a ureia
ganho de peso (370 x frequência no Brasil, na
tem sido adicionada
600g/dia) dos animais qual existem aditivos
a outras forrageiras
alimentados com feno químicos, microbianos e
durante o processo de
amonizado e suplemen- sequestrantes da umida-
ensilagem.
tados com milho grão de. Diante disso, pode-se
moído em comparação dizer que a ureia se en-
aos animais alimentados com feno não quadraria na classe dos aditivos quími-
tratado e suplementados com farelo cos. Em função de seu elevado conteú-
de soja. Resultado diferente foi obtido do de nitrogênio e, consequentemente,
por Nogueira (2012) trabalhando com proteína bruta, a adição de ureia pode
cordeiros mestiços Santa Inês x Dorper ter como objetivo o incremento dos te-
com peso inicial de 17kg. Nesse estudo ores proteicos da silagem.
não houve diferenças no desempenho, Contudo, além do possível efeito
conversão alimentar e características sobre as frações fibrosas dos alimentos
da carcaça quando os animais foram volumosos e contribuição para o con-
alimentados com feno de capim-tifton teúdo proteico, a adição de ureia pro-
85 adicionado de 1% na matéria natu- vocaria aumento do pH do material,
ral. Contudo, vale ressaltar que houve o que,combinado à amônia, reduziria
elevado nível de suplementação, sendo as populações de leveduras e mofos
fornecida uma dieta composta por 30% (Bolsen et al., 2000). Em função dessas
de volumosos e 70% de concentrado. características, a ureia tem sido um dos
aditivos químicos mais estudados na en-
Ureia como aditivo de silagem da cana-de-açúcar (Schmidt et
silagens al., 2014). Em revisão da literatura,esses
Segundo Schmidt et al. (2014), o autores relataram haver efeitos positivos
uso de aditivos na produção de silagens sobre o teor de PB quando da adição
tem sido o assunto mais pesquisado de ureia na ensilagem da cana. Ainda
no que se refere à conservação de for- segundo os mesmos autores, doses de
ragens. Há diferentes propostas para 0,7 a 1,0% da massa verde parecem ser
classificação dos aditivos, que levam em efetivas em reduzir a população de leve-
consideração a finalidade e característi- duras, em decorrência da liberação de
cas do produto. Existem classificações amônia.
tradicionais, como de McDonald et al. Além da cana, a ureia tem sido
(1991), assim como novas propostas adicionada a outras forrageiras du-
de classificação, podendo-se citar a de rante o processo de ensilagem. De
Nussio e Schmidt (2004) para os aditi- maneira geral, a adição de ureia tem
34 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
proporcionado elevação dos teores gem de cana aditivada com ureia apre-
de PB nas silagens de capim-elefante sentou os melhores resultados econô-
(Andradee Melotti, 2004; Rocha et micos quando comparada aos demais
al., 2006), capim-tanzânia (Oliveira et aditivos testados (0,5% de ureia + 0,5%
al., 2009), girassol (Goes et al., 2013), de cal virgem e com 1% de cal virgem),
sorgo forrageiro (Fernandes et al., contudo tem que se ressaltar o fato de
2009) e estilosantes (Silva et al., 2014). que houve uma perda de peso significa-
Paralelamente a esse efeito, a adição de tiva das vacas alimentadas com essa die-
ureia também tem resultado em eleva- ta, o que pode comprometer o desem-
ção do pH (Andrade e Melotti, 2004; penho produtivo e reprodutivo desses
Fernandes et al., 2009; Goes et al., animais com o decorrer do tempo.
2013; Rocha et al., 2006). Considerações finais
Além dos resultados sobre o valor A adição de ureia a alimentos volu-
nutricional, é indispensável a necessi- mosos tem sido praticada com intuito
dade de informações sobre o consumo de proporcionar incremento dos teores
e desempenho de ruminantes alimenta- proteicos, melhorar a digestibilidade
dos com silagens adicionadas de ureia. através de alterações nas frações fibrosas
Nesse sentido, Martins et al. (2014) e reduzir perdas associadas ao processo
avaliaram a viabilidade econômica do fermentativo nas silagens.
leite produzido por vacas mestiças ali- De maneira geral, a adição da ureia
mentadas com dietas contendo silagens resulta principalmente em incremen-
de cana-de-açúcar tratadas com dife- to do conteúdo proteico e melhoria
rentes aditivos.Foram utilizadas dietas do valor nutricional dos volumosos.
em que a fonte de volumoso foi silagem Contudo, os resultados de experimen-
de cana-de-açúcar sem aditivo ou com tos avaliando o desempenho animal não
1% de ureia, entre outros aditivos. As corroboram esses achados.
proporções de volumoso e concentrado
das dietas foram de aproximadamente Recomendações
55:45 em porcentagem da matéria seca.
Não houve efeito da adição de ureia na 1. Adição de ureia em fenos
silagem sobre o consumo de matéria • Aplicara ureia diluída em água e dis-
seca (9,76 x 11,95kg/dia), produção de tribuída por aspersão;
leite (13,16 x 13,61kg/dia) e eficiência • Dose sugerida → 2,5 a 5,0% da matéria
alimentar (1,53 x 1,29kg MS/kg leite). seca (dependendo do volumoso);
Houve, entretanto, elevação dos teores • Acondicionar os fardos de feno sob
de nitrogênio ureico no leite (30,19 x lona plástica vedada hermeticamente
22,73mg/dl). A dieta contendo a sila- em galpão coberto;
2. Utilização de ureia em alimentos volumosos 35
• Armazenar por um período de 60 com dois teores de umidade. Revista Brasileira de
Zootecnia, v.34, n.2, p.378-386, 2005.
dias;
Após a abertura, aguardar de 2 a 3 6. BEZERRA, H. F. C.; SANTOS, E. M.;
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during growth of selected species of ruminal bac-
• Aplicara ureia diluída em água e dis-
teria. Journal of Dairy Science, v. 46, p. 150–154,
tribuída por aspersão com auxílio de 1963.
um regador;
• Dose sugerida → 0,5 a 1,0% da matéria 8. BRYANT, M.P.; ROBINSON, I.M. Some nutri-
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38 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016


3. O uso da cana-de-
açúcar com ureia
na alimentação de
bovinos

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Ana Luiza Costa Cruz Borges1 - CRMV-MG nº 4735,


Ricardo Reis e Silva1 - CRMV-MG nº 1398/Z,
Lúcio Carlos Gonçalves1,
Patrícia Caires Molina3,
André Santos de Souza4
1 Médica Veterinária, Professora Associada, Escola de Veterinária/ UFMG, Estudante de Pós-Graduação - Escola de Veterinária - UFMG -
Belo Horizonte - MG, e-mail: analuizavetufmg@gmail.com;
2 Médico Veterinário, Professor Adjunto, Escola de Veterinária/ UFMG;
³Médica Veterinária, Doutoranda em Zootecnia, Escola de Veterinária/ UFMG, Estudante de Pós-Graduação - Escola de Veterinária -
UFMG - Belo Horizonte - MG;
4
Zootecnista, Doutorando em Zootecnia, Escola de Veterinária/ UFMG, Estudante de Pós-Graduação - Escola de Veterinária - UFMG -
Belo Horizonte - MG

Introdução nação alimentar de baixo custo e alto


potencial produtivo. A ureia, caracte-
A cana-de-açúcar adicionada de rizada por alta concentração de nitro-
ureia vem sendo tradicionalmente uti- gênio a baixo custo, associa-se com a
lizada na alimentação animal há bas- cana-de-açúcar, resultando numa op-
tante tempo. A adição de ureia à cana ção volumosa econômica e acessível a
corrige o baixo teor de proteína desse todas as propriedades rurais. No país
volumoso, resultando numa combi- há uma tradição no cultivo e na utiliza-
3. O uso da cana-de-açúcar com ureia na alimentação de bovinos 39
ção da cana como alimento volumoso Cana-de-açúcar e ureia na
para bovinos, particularmente no pe- alimentação de bovinos
ríodo seco do ano. É uma cultura que
apresenta uma série de características A suplementação da cana com ureia
bastante desejáveis, como uma alta tem sido preconizada como tecnolo-
produção de matéria verde por hectare gia simples e aplicável a boa parte das
e baixo custo por unidade de matéria fazendas brasileiras. Entretanto, para
seca produzida. O período de colheita melhor utilização desses alimentos, a
compreensão de conceitos nutricio-
coincide com a época da seca, quando
nais implícitos a uma dieta exclusiva de
há escassez de forragens nos pastos e,
cana com ureia é fundamental. Nesse
consequentemente, maior necessidade
tipo de dieta, a ureia, uma fonte de ni-
de suplementação dos animais.
trogênio não proteico 100% degradável
Do ponto de vista nutricional,
no rúmen, suplementa uma forragem
dentre suas principais vantagens, des-
pobre em nitrogênio, em lipídeos e em
tacam-se o alto teor de sacarose e o
minerais, com teor de FDN em torno
moderado teor de fibra insolúvel em
de 50% e alto teor de carboidratos não
detergente neutro (FDN). Do ponto
fibrosos (CNF) de alta digestibilidade
de vista agronômico, deve-se ressaltar a no rúmen. Apesar de o teor de FDN da
alta produção de matéria seca por uni- cana-de-açúcar ser considerado baixo
dade de área mesmo com baixa frequ- para forrageiras tropicais, possui baixa
ência de cortes, a simplicidade do cul- digestibilidade.
tivo agronômico, a relativa resistência a Preston (1982) comentou que
pragas e doenças, a facilidade de com- uma das grandes vantagens da cana-de-
pra e venda, além de seu caráter semi -açúcar em relação a outras forrageiras
perene. O fato de atingir o máximo va- consistia no seu alto valor de nutrientes
lor nutritivo durante o período seco do digestíveis totais (NDT), em função do
ano, quando a disponibilidade de for- seu alto teor de açúcares solúveis. Essa
ragem é baixa, tem impulsionado sua característica surgiu como elemento-
divulgação como forrageira adequada -chave na possibilidade de utilização
para cultivo em fazendas que utilizam de fontes de nitrogênio não proteico,
pastagens e que visam minimizar o como, por exemplo, a ureia. A associa-
uso de tempo e capital em práticas de ção da cana-de-açúcar com ureia é larga-
ensilagem. mente aplicada na bovinocultura de lei-
Objetivou-se nesta revisão abordar te, já há alguns anos, com sucesso. Essa
os principais aspectos associados à die- estratégia nutricional alia a rápida dis-
ta de bovinos alimentados com cana- ponibilidade de energia (pela alta solu-
-de-açúcar adicionada de ureia. bilidade da sacarose) com a de nitrogê-
40 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
nio (pela elevada solubilidade da ureia (28,7% de PB) em quantidades iguais.
e sua rápida transformação em amônia Não se observou diferença no consumo
pela microflora rumenal). Entretanto, à de matéria seca e de FDN, nemno ganho
medida que as pesquisas foram realiza- de peso de novilhas mestiças Holandês
das, verificou-se que a suplementação x Zebu. Os autores atribuíram os resul-
de dietas de cana e ureia com outros tados à possível presença de amido re-
alimentos poderia proporcionar maior sidual e resistente à degradação rume-
eficiência alimentar. nal no farelo de soja em função de seu
Preston e Leng (1986) relataram processamento (Rodrigues e Barbosa,
que, em função de suas características, 1999).
alimentos utilizados na formulação de De maneira contrária ao que ocor-
dietas à base de cana-de-açúcar deve- re com o valor nutritivo das gramíneas
riam ser ricos em proteína não degradá- tropicais, que diminui com o avançar do
vel no rúmen e apresentar amido com estádio de maturação, a cana-de-açúcar
baixa degradabilidade rumenal. Preston apresenta melhora na sua qualidade nu-
(1982) citou que, além de maior aporte tricional com o avanço da maturidade.
de nutrientes possibilitando melhor de- Isso ocorre devido ao acúmulo de açú-
sempenho, o fornecimento de fontes de cares no caule, particularmente de saca-
proteína não degradável no rúmen esta- rose. A maior concentração de açúcares
ria também associado ao maior turnover é observada na seca, o que viabiliza sua
rumenal e, assim, a um maior consumo colheita numa época de escassez de for-
de matéria seca (CMS). ragem. À medida que a cana envelhece,
O fornecimento de ureia visa aten- ocorrem decréscimos nos teores de PB
der diretamente à necessidade da micro- e aumento nos teores de matéria seca
flora rumenal por nitrogênio, enquanto (MS) e de CNF, sendo este último re-
fontes de proteína não degradável têm sultado do acúmulo de sacarose. Como
a função de atender às necessidades de nas demais gramíneas tropicais, ocorre
proteína do animal. Como suplemen- queda na digestibilidade da FDN com o
tação proteica, é comum a utilização de avançar da idade; entretanto, há um au-
farelos cujo teor de proteína bruta (PB) mento concomitante de CNF, que su-
pode variar de 13%, como, por exemplo, pera essa queda, fazendo com que haja
o farelo de arroz, a 50%, como no caso aumento na digestibilidade da matéria
do farelo de soja. orgânica (MO) com o avanço da idade
Avaliou-se a suplementação de die- da planta. Na Tabela 1, pode-se com-
ta à base de cana-de-açúcar e ureia com parar a composição da cana-de-açúcar
farelo de soja (50,2% de PB) e concen- com a de outros volumosos, evidencian-
trado à base de milho e farelo de soja do-se os baixos teores de PB da cana em
3. O uso da cana-de-açúcar com ureia na alimentação de bovinos 41
Tabela 1. Composição e valor nutricional da cana-de-açúcar in natura, da silagem
de milho e do capim-elefante

Nutriente Cana-de-açúcar Capim-Elefante Silagem deMilho


MS 25,27 21,43 31,59

MO 97,40 90,89 93,36

PB 3,75 7,28 7,27

FDN 55,87 76,93 55,26

CNF 41,10 10,93 33,02

NDT 63,62 50,0 63,13

DMS 60,2 48,1 57,66

Ca 0,22 0,34 0,3

P 0,06 0,23 0,19


Fonte: Valadares Filho et al.(2010).

relação aos demais. A complementação mo de matéria seca e, consequentemen-


da cana com uma fonte de nitrogênio te, o desempenho de animais mantidos
não proteico, como a ureia, mantém as em dietas contendo cana. Além da baixa
características de uma dieta de baixo digestibilidade da fibra, outras defici-
custo e possibilita a melhora acentuada ências nutricionais da cana-de-açúcar
nos teores de proteína dessa gramínea. são o baixo conteúdo de proteína e mi-
Observando-se os percentuais de nerais. No entanto, esses nutrientes são
FDN da cana-de-açúcar na tabela, veri- de fácil suplementação e não inviabi-
fica-se que os valores são relativamente lizam a utilização dessa forrageira. Um
baixos quando compa- exemplo é a utilização
rados aos de outros vo- A complementação da da cana suplementada
lumosos. Entretanto, os cana com uma fonte de com ureia, uma fonte
coeficientes de digesti- nitrogênio não proteico, indireta de proteína para
bilidade da fração fibrosa como a ureia, mantém o ruminante, que é de
da cana são baixos, o que as características de conhecimento amplo
corrobora o fato de ser uma dieta de baixo por nossos produtores
colhida na época seca do custo e possibilita a rurais. A seguir enume-
ano. A baixa qualidade melhora acentuada nos ram-se alguns resultados
ou digestibilidade da fi- teores de proteína dessa de pesquisas que avalia-
bra pode limitar o consu- gramínea. ram a suplementação da
42 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
cana-de-açúcar com ureia. relação volumoso: concentrado 45:55, a
Souza et al. (2015) avaliaram o efei- ureia pode ser adicionada em até 1,75%
to da adição de teores crescentes de da matéria seca total, sem prejudicar o
ureia (0,0; 0,5 e 1,0%) na matéria natu- consumo.
ral da cana-de-açúcar sobre a produção Santiago et al. (2013) avaliaram o
e composição do leite e eficiência ali- efeito da adição de 0, 4, 8 e 12g/kg de
mentar em 18 vacas em lactação, com cana de uma mistura de ureia e sulfato
produção média inicial de 21,3±0,8kg/ de amônio (9:1), em dietas com pro-
dia de leite e com 83±7 dias em lactação. porção volumoso:concentrado 70:30.
As dietas eram fornecidas na proporção A concentração de ureia não afetou o
50:50 de volumoso: concentrado, iso- consumo e a digestibilidade da MS,
proteicas (15,4%PB) e isoenergéticas MO, PB, FDN e NDT das dietas. Os
(68,9%NDT), sendo a cana o único autores concluíram que, em dietas com
volumoso. Os autores não observaram cana-de-açúcar para vacas leiteiras com
efeito da suplementação dos teores de produção abaixo de 15kg leite/dia, as
ureia sobre a produção e composição concentrações de ureia podem ser au-
do leite, mas a eficiência alimentar foi mentadas de 0 a 12g/kg de matéria na-
melhor nas dietas em que se utilizou tural sem prejudicar o desempenho.
ureia, sendo 1,14; 1,17 e 1,17, respec- Naves et al. (2015), por sua vez, verifi-
tivamente, para as dietas com 0,0; 0,5 e caram que a substituição da proteína do
1,0% de ureia. Da mesma forma, Aguiar farelo de soja por ureia, esta última em
et al. (2013) avaliaram o consumo em concentrações de até 17,1g/kg de MS,
vacas Holandês X Gir alimentadas com não alterou a produção de leite de vacas
dietas contendo níveis crescentes de leiteiras alimentadas com cana-de-açú-
ureia em substituição ao farelo de soja car como única fonte de volumoso.
(0; 0,58; 1,17, 1,75% na MS total da A título de comparação, alguns au-
dieta). As dietas foram formuladas para tores já estudaram o consumo de MS
serem isoproteicas, tendo como volu- em dietas contendo cana ou outros vo-
moso único a silagem de cana-de-açú- lumosos com ureia. Desses, o mais pes-
car. Os consumos de MS e FDN não fo- quisado é a silagem, principalmente de
ram afetados pelos níveis crescentes de milho e sorgo, devido à utilização mais
ureia. Entretanto, os consumos de PB e frequente. Costa et al. (2005), compa-
extrato etéreo (EE) reduziram-se line- rando tratamentos com a mesma relação
armente com o aumento dos níveis de volumoso:concentrado (V:C de 60:40)
ureia. Segundo os autores, concluiu-se entre cana-de-açúcar e silagem de milho,
que,para vacas em lactação, com dietas à encontraram consumo 22,51% superior
base de silagem de cana-de açúcar, com para a dieta contendo silagem de milho.
3. O uso da cana-de-açúcar com ureia na alimentação de bovinos 43
Resultados semelhantes foram encon- único e encontrou produção diária de
trados por Souza (2003) e Magalhães leite 2,5kg inferior no tratamento com
et al. (2004), que observaram aumento cana-de-açúcar, independentemente
de 15% no consumo em dietas à base do nível de ureia. Costa et al. (2005),
de silagem de milho quando compara- por sua vez, encontraram redução de
das com aquelas baseadas em cana-de- 2,79kg. Mendonça et al. (2004a) tam-
-açúcar. Corrêa et al. (2003), da mesma bém observaram que a produção de
forma, verificaram aumento de 6,52%. leite para as dietas à base de cana-de-
Magalhães et al. (2006), trabalhando -açúcar como volumoso, independen-
com cana-de-açúcar em substituição temente do nível de ureia ou da relação
à silagem de milho em dietas para va- V:C, foi 2,77kg menor que para a dieta
cas em lactação, verificaram que a cana à base de silagem de milho. A menor
apresentou elevada proporção de fibra produção de leite para as dietas com
indigestível em comparação à silagem maior participação de cana-de-açúcar
de milho, uma vez que o coeficiente pode ser explicada pelo menor CMS,
de digestibilidade da FDN para a dieta o que resulta em menor consumo de
com 100% de cana-de-açúcar corres- nutrientes.
pondeu a apenas 45,35% do valor ob- Diante do conhecimento do fato
tido para a dieta com 100% de silagem de a fibra de baixa degradabilidade ser
de milho. A baixa digestão da FDN da o principal limitante do consumo de
cana-de-açúcar pode ter apresentado dietas à base de cana-de-açúcar, oca-
efeito de repleção rumenal e, conse- sionando longo tempo de permanência
quentemente, ter limitado a ingestão do alimento no rúmen e efeitos deleté-
de MS. Os autores também observaram rios sobre o consumo, vários trabalhos
que a taxa de passagem rumenal (TPR) têm sido realizados com o objetivo de
decresceu enquanto o tempo médio se avaliarem processamentos ou uso de
de retenção total da digesta (TMRT) aditivos que possam atuar sobre essa
aumentou linearmente, estimando-se fração, melhorando as taxas de degra-
redução de 0,0057 unidades na TPR e dação e, consequentemente, o consu-
aumento de 0,00375 unidades para o mo. Nesse sentido, várias pesquisas
TMRT, respectivamente, por unidade foram realizadas recentemente avalian-
percentual de cana-de-açúcar acrescen- do o uso do óxido de cálcio com ureia
tada às dietas. como aditivo da cana-de-açúcar. O óxi-
Corrêa (2001), trabalhando com do de cálcio, ou simplesmente cal, teria
vacas holandesas de alta produção, como grande vantagem o baixo custo
comparou dietas com silagem de mi- e a facilidade de manuseio e aplicação,
lho ou cana-de-açúcar como volumoso uma vez que essa substância não im-
44 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
plica riscos para a saúde sobre o desempenho
A mistura de cal
humana. A mistura de produtivo, composição
e ureia foi muito
cal e ureia foi muito es- do leite e digestibilida-
estudada nos últimos
tudada nos últimos anos, de dos alimentos em
anos, estimulada pela
estimulada pela busca de busca de um aditivo vacas leiteiras da raça
um aditivo que contribu- que contribuísse para Girolando. Os animais
ísse para conservação da conservação da cana in receberam cana in natura
cana in natura. Dentre os natura. (Ca), cana in natura com
fatores limitantes do uso ureia (CaUr), cana hi-
da cana-de-açúcar na ali- drolisada com cal virgem
mentação animal, a demanda por mão (CaCal) e cana hidrolisada com cal vir-
de obra, principalmente em empresas gem mais ureia (CaUrCal). Observou-
pecuárias de maior porte, é a principal se que o consumo não foi influenciado
dificuldade do uso em grande escala. A pelas dietas, e a melhor eficiência ali-
necessidade de corte e moagem diários mentar foi observada nos animais que
eleva muito os custos e a demanda por consumiram CaUrCal. Houve diferença
mão de obra, o que pode inviabilizar o entre os tratamentos para a digestibili-
uso desse recurso forrageiro como base dade de CNF, em que a dieta à base de
para o sistema de produção. Algumas CaCal foi superior à CaUr, e o uso de
opções, como a ensilagem da cana ou a dietas à base de cana com os aditivos
conservação aeróbia desta, após a moa- ureia e cal virgem não influenciaram a
gem e a adição de algum aditivo (óxido composição e a produção de leite.
de cálcio e ureia, por exemplo), têm sido Com o objetivo de avaliar a estabili-
apontadas, resultando em concentração dade aeróbia da cana-de-açúcar adicio-
das atividades de corte e moagem em nada de óxido de cálcio e ureia, Pancoti
alguns dias da semana, de forma a dis- (2009) avaliou os valores de tempera-
ponibilizar recursos humanos para a tura e pH da cana-de-açúcar adiciona-
realização de outras atividades nos dias da de 1% de óxido de cálcio na base da
em que não há o manuseio da cana na matéria natural (MN), nos tempos de
lavoura. Dessa forma, o uso do óxido 0, 24, 48 e 72 horas. O autor concluiu
de cálcio surgiu como a possibilidade que a adição de cal virgem em concen-
de ser uma importante ferramenta para trações de 1% na MN foi eficiente em
potencializar estratégias em sistemas de manter a estabilidade da cana-de-açúcar
produção de maior porte. em até 12 horas (pH 11,7 e temperatura
Silva Júnior et al. (2015) avaliaram 27,6°C), sendo que ocorreram modifi-
dietas contendo cana-de-açúcar in natu- cações moderadas na temperatura e no
ra associada com ureia e/ou cal virgem pH. Porém, a partir de 12 horas, obser-
3. O uso da cana-de-açúcar com ureia na alimentação de bovinos 45
vou-se aumento brusco de temperatura, interações sobre a dinâmica de desen-
acompanhado de grande queda no pH: volvimento de leveduras e medidas de
com 72h de hidrólise, atingiu-se pH 5,2 pH (P<0,05). Observação importante
e temperatura de 49,8°C. Possivelmente foi o fato de que a cana hidrolisada com
houve intensificação dos processos fer- cal virgem atingiu o padrão de neutrali-
mentativos, pois, segundo o autor, hou- dade nas doses 0,5; 1,0; 1,5% nos tem-
ve queda no pH e diminuição nos teores pos 24, 48 e 72 horas, respectivamente,
de carboidratos solúveis. sendo que, na dose 2,0%, a neutralidade
Domingues et al. (2011) avaliaram foi alcançada 72 horas após a aplicação
os efeitos da adição de cal virgem e dos desta. Os autores afirmaram que as do-
tempos após a aplicação sobre a estabi- ses de cal foram eficientes em controlar
lidade aeróbia e o crescimento de mi- o desenvolvimento das leveduras até as
crorganismos (leveduras e fungos) na 48 horas iniciais, e que, a partir de 72
cana-de-açúcar in natura. Foram avalia- horas de exposição ao ar, a população
das cinco doses de cal (0; 0,5; 1,0; 1,5 de leveduras nos tratamentos que conti-
e 2,0% de cal na base da MN) e cinco nham a cal foram semelhantes à da cana
tempos após a aplicação (0, 24, 48, 72 e sem tratamento alcalino.
96 horas). Os autores observaram efeito Pina (2008) avaliou os efeitos da
das doses de cal para todos os parâme- adição de óxido de cálcio à cana-de-
tros avaliados. A cana in natura apresen- -açúcar em níveis de inclusão de 0; 0,5
tou quebra da estabilidade no menor ou 1% na MN da cana e com tempos de
intervalo de tempo (16 horas) quando hidrólise de zero ou três dias, na alimen-
comparada à cana tratada com as doses tação de novilhas zebuínas. O autor ve-
de 1,0; 1,5 e 2,0%, cujo material apre- rificou que não houve efeito do tempo
sentou estabilidade até os tempos de de exposição da cana-de-açúcar ao óxi-
34,7; 37,3 e 32 horas, respectivamente. do de cálcio quanto aos consumos de
Os valores de pH inicial aumentaram MS, MO, PB e NDT e quanto ao ganho
de acordo com a dose de cal aplicada e de peso. Entretanto, o nível de adição do
diminuíram com o tempo após a aplica- óxido de cálcio influenciou de forma li-
ção. Os autores afirmaram ainda que a near decrescente os consumos de MO,
cal foi capaz de controlar o aumento de FDN corrigida para cinzas e proteína
temperatura da cana e que, a partir da (FDNcp), CNF, NDT e o ganho médio
dose de 1,0%, houve tendência de esta- diário (GMD). O autor observou inte-
bilização nas respostas de todas as vari- ração significativa entre tempo de expo-
áveis estudadas. Verificou-se também sição e nível de inclusão de cal para a di-
efeito significativo das doses de cal e do gestibilidade aparente da MS, MO, PB,
tempo de tratamento e suas respectivas FDN e o teor de NDT dentro dos níveis
46 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
de inclusão de 0,5 e 1% de cal. O melhor na digestibilidade aparente de PB, e au-
nível de inclusão de cal à cana-de-açúcar mento do tempo despendido em rumi-
foi 0,5%, com três dias de hidrólise. Por nação (minutos/kg MS ingerida).
outro lado, apesar da melhoria na diges- Magalhães (2010) avaliou o efeito
tibilidade de alguns nutrientes, com a da adição de óxido de cálcio (0,5% na
hidrólise por três dias ocorreu redução MN) a canas com diferentes graus Brix
no consumo de NDT e no GMD, e por (10,8 a 20,9) no momento da ensilagem
isso o autor concluiu que não é reco- sobre a qualidade da silagem e o desem-
mendável fornecer a cana-de-açúcar tra- penho de bovinos de corte alimentados.
tada com cal. O autor verificou que, à medida que o
Em outro trabalho avaliando o efei- grau Brix do material ensilado aumen-
to da adição de óxido de cálcio (0 ou tou, ocorreu elevação dos teores de MS
1% na base da MN) à cana-de-açúcar e e redução nos teores de cinzas, PB e de
os tempos de hidrólise zero, 24, 48 e 72 frações de fibrosas (FDNcp e FDA cor-
horas (Pancoti, 2009) na alimentação rigida para cinzas e proteína - FDAcp).
de novilhas de diferentes graus de san- O autor afirmou que as silagens tratadas
gue Holandês x Zebu (de 1/4 a 7/8 de apresentaram maiores teores de cinzas e
grau de sangue holandês), verificou-se EE, enquanto a adição de cal reduziu as
que não houve efeito do tempo de hi- concentrações de FDNcp e PB. O autor
drólise sobre consumo e digestibilidade verificou também que houve redução
aparente da MS, MO, FDNcp, fibra em nos teores de etanol nas silagens trata-
detergente ácido (FDA), e consumo de das com óxido de cálcio (3,92% na si-
NDT. Nesse trabalho, entretanto, o au- lagem da cana pura e 0,69% na silagem
tor verificou que a adição de óxido de da cana com adição de cal), além de me-
cálcio à cana-de-açúcar resultou em re- nor perda de MS nas silagens tratadas.
dução nos valores de digestibilidade da Concluiu-se que a adição de cal durante
MO, dos carboidratos totais (CHOT), a ensilagem da cana-de-açúcar com 15
dos carboidratos solúveis em detergente ou 20 graus Brix não altera o consumo,
neutro(CSDN), da FDNcp e no consu- a digestibilidade e o desempenho de bo-
mo de NDT. O momento de adição da vinos de corte.
mistura de ureia e sulfato de amônio à Júnior et al. (2015) avaliaram dietas
cana também foi avaliado (no momento contendo Cana in natura (Ca); Cana
do fornecimento aos animais e 24 horas in natura com Ureia (CaUr); Cana hi-
antes). O autor verificou que a adição de drolisada com Cal Virgem (CaCal) e
ureia à cana 24 horas antes do forneci- Cana hidrolisada com Cal Virgem mais
mento aos animais resultou em redução Ureia (CaUrCal) sobre o desempenho
no consumo de MO, consumo de PB e produtivo, composição do leite e diges-
3. O uso da cana-de-açúcar com ureia na alimentação de bovinos 47
tibilidade dos alimen-
...os animais submetidos da de forma quadrática
tos em vacas leiteiras
a dietas contendo silagem pela adição de cal, en-
da raça Girolando 21 quanto houve um efeito
de cana-de-açúcar
dias após o parto. O
podem apresentar baixo quadrático no aumento
consumo apresentado consumo voluntário, da FDN, da FDN indi-
pelos animais não foi comprometendo o gestível (FDNi) e da
influenciado pelas die- desempenho animal lignina. A adição de cal
tas, e a melhor eficiên- em função da baixa na cana não afetou o
cia alimentar foi obser- degradabilidade rumenal consumo de MS nem a
vada nos animais que da fração fibrosa desse digestibilidade da fibra.
consumiram CaUrCal volumoso, ... Os autores concluíram
(1,25kg leite/kg MS). não ser recomendada a
Houve diferença entre adição da mistura cal e
os tratamentos para a digestibilidade de ureia à cana.
CNF, em que a dieta à base de CaCal O uso da técnica de ensilar a cana-
foi superior à CaUr. Os níveis séricos -de-açúcar possibilita a conservação da
de glicose e ureia foram semelhantes mesma para utilização posterior, além
entre os tratamentos, porém a excreção de ser uma prática que facilita seu ma-
de ureia e nitrogênio urinário foram su- nejo em sistemas de produção, por per-
periores nos animais que receberam a mitir o aproveitamento de talhões em
dieta CaCal em relação aos alimentados declínio, melhorando a eficiência de co-
com Ca e CaUr. O uso de dietas à base lheita (Fortaleza et al., 2012). Durante
de cana com os aditivos ureia e cal vir- o processo de ensilagem, a ureia é adi-
gem não influenciaram a composição e cionada, o que facilitaria o manejo ainda
a produção de leite. mais. Contudo, os animais submetidos
Em uma avaliação estatística de a dietas contendo silagem de cana-de-
55 trabalhos científicos, Daniel et al. -açúcar podem apresentar baixo con-
(2013) estudaram os resultados obti- sumo voluntário, comprometendo o
dos com adição decal à cana fresca para desempenho animal em função da baixa
bovinos sobre a composição química, degradabilidade rumenal da fração fi-
digestibilidade e desempenho animal. brosa desse volumoso, com significativo
Observou-se que a adição de cal aumen- efeito sobre a repleção animal (Pinto et
tou diretamente a MS, cinzas e teores de al., 2007).
cálcio (Ca), bem como razão Ca:P (fós- Durante o processo de ensilagem,
foro). A natureza alcalina da cal elevou o elevado teor de açúcares solúveis da
linearmente o pH da cana. Por outro cana-de-açúcar leva à rápida prolife-
lado, a concentração de CNF foi reduzi- ração de leveduras, com produção de
48 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
etanol e gás carbônico, representando com abertura dos silos aos 60 dias da
perda de aproximadamente 49% de MS ensilagem. O maior volume de gases da
(McDonald, 1991). Uma maneira de fração não fibrosa foi na variedade IAC
minimizar as perdas de matéria seca e 86 2480, com o aditivo NaOH. Já na
melhorar a degradabilidade da fração fi- fração fibrosa houve diferença apenas
brosa da cana-de-açúcar após o proces- entre variedades com o aditivo ureia,
so de ensilagem seria a utilização de adi- sendo a IAC 86 2480 a que apresentou
tivos na silagem. (Fortaleza et al., 2012). o maior volume. A silagem da cana IAC
Evangelista et al. (2009), avaliando a en- 86 2480 apresentou os melhores valores
silagem da cana-de-açúcar, observaram para a maioria dos parâmetros cinéticos
redução do pH a valores inferiores a 4,0 avaliados. Os melhores resultados para
aos três dias de fermentação, o que seria os parâmetros de degradabilidade rumi-
desejável a qualquer silagem (Dias et al., nal foram nas silagens aditivadas com
2014). NaOH e CaO.
A ureia, quando em contato com a Os efeitos associativos entre alimen-
forragem ensilada, é hidrolisada a amô- tos, positivos ou negativos, também
nia, que tem efeito inibidor sobre a po- já foram alvo de pesquisas com cana-
pulação de leveduras e mofos, o que fa- -de-açúcar e ureia. Vilela et al. (2003)
vorece a redução da produção de etanol avaliaram diferentes suplementos para
e perdas de MS em silagens de cana-de- vacas mestiças em lactação alimen-
-açúcar (Alliet al., 1983). Ribeiro et al. tadas com cana-de-açúcar. As dietas
(2010), estudando os efeitos da ureia eram isoproteicas e os tratamentos com
e hidróxido de sódio como aditivos na maior inclusão de ureia, que foram o
ensilagem da cana-de-açúcar, verifica- de cana-de-açúcar mais ureia (CAU) e
ram que ambos diminuem as perdas o de cana-de-açúcar, milho grão e ureia
e reduzem os constituintes da parede (CMM), apresentaram maiores coefi-
celular das silagens. Entretanto, Castro cientes de digestibilidade da FDN e dos
Neto et al. (2008) não observaram efei- carboidratos. Segundo os autores, o me-
to benéfico da ureia sobre a qualidade nor consumo nas dietas CAU e CMM,
da silagem. provavelmente provocado pelo maior
Rocha et al. (2015) avaliaram a ci- tempo de retenção no rúmen, pode ter
nética de fermentação rumenal da MS aumentado a digestão dos nutrientes
e dos carboidratos de duas variedades nesse compartimento. As rações CAU
de cana-de-açúcar (RB 86 7515 e IAC e CMM foram as que apresentaram
86 2480) ensiladas com diferentes adi- as quantidades de ureia mais elevadas
tivos (ureia, NaOH, CaO, milho e L. bu- (3,52 e 3,22% na MS, respectivamen-
chneri), além dos tratamentos controle, te). Concluiu-se que a baixa palatabili-
3. O uso da cana-de-açúcar com ureia na alimentação de bovinos 49
dade da ureia pode ter contribuído para perdas de peso nos tratamentos CAU e
obtenção de menores ingestões de MS CMM. Segundo os autores, para vacas
nesses tratamentos. mestiças de baixo potencial de produ-
Rangel et al. (2005) avaliaram o de- ção, a suplementação que apresentou os
sempenho produtivo de vacas leiteiras melhores resultados, baseados na pro-
alimentadas com quatro tratamentos dução e composição do leite, CMS, di-
isoproteicos que utilizaram como volu- gestibilidade dos nutrientes e eficiência
moso cana-de-açúcar adicionada de fa- alimentar, foi com farelo de trigo.
relo de soja ou 0,4; 0,8; 1,2% de mistura Dias et al. (2014) avaliaram o efei-
ureia e sulfato de amônio (9:1). Não to da inclusão de ureia (0, 10, 20 e
houve diferença para a produção de lei- 30g por kg de cana-de-açúcar) e glice-
te, que foi em torno de 20kg por animal, rina bruta (0, 10, 20, 30 e 40g por kg
quando se comparou farelo de soja com de cana-de-açúcar) como aditivos na
ureia nos diferentes níveis. No entanto, ensilagem da cana-de-açúcar, na com-
ocorreu efeito linear crescente na pro- posição químico-bromatológica, pH,
dução de leite para o aumento dos ní- N-amoniacal (N-NH ) e digestibilidade
3
veis de ureia. Os autores recomendaram in vitro (DIV). O tratamento com ureia
o nível de 1,2% da mistura ureia mais afetou a maioria das variáveis relaciona-
sulfato de amônio (9:1) para a correção das ao valor nutritivo, aumentando os
nitrogenada da cana-de-açúcar. teores de MS e PB (2,58; 7,76; 18,70 e
Vilela et al. (2003) avaliaram dife- 19,31%), reduzindo os teores de FDN e
rentes suplementos, ureia (CAU), mi- melhorando a digestibilidade in vitro da
lho moído (CMM), farelo de algodão MS (42,61; 48,53; 50,69 e 51,18%) e da
(CFA) e farelo de trigo (CFT), para FDN (38,81; 39,23; 41,06 e 43,46%),
vacas mestiças em lactação, com produ- e as características fermentativas da si-
ção de leite média de 7kg por animal/ lagem, apresentando valores de pH de
dia, alimentadas com cana-de-açúcar. A 3,49; 3,86; 4,18 e 3,93 e de N-NH de
3
produção de leite do tratamento CFT 1,72; 3,80; 7,88 e 9,00, para as doses
foi maior que do CAU, não havendo de 0, 10, 20 e 30g, respectivamente. De
diferença entre os demais tratamen- acordo com os autores, a ureia e a glice-
tos. Nesse estudo foi verificada perda rina bruta podem ser utilizadas como
de peso de 0,8; 0,2 e 0,6 e ganho de aditivos na ensilagem da cana-de-açúcar.
0,1kg/dia, respectivamente, para os tra- Martins et al. (2014) avaliaram o
tamentos CAU, CFA, CMM e CFT. A consumo, a digestibilidade e a produ-
eficiência alimentar foi superior para os ção de leite de vacas mestiças Holandês
tratamentos CAU e CMM em relação X Gir, com produção média de 15kg/
ao CFA. Isso ocorreu devido às maiores leite/dia aos 100 dias de lactação, ali-
50 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
mentadas com dietas em que a fonte de rigido para 4% de gordura (LCG 4%),
volumoso foi silagem de cana sem adi- apesar do menor consumo de MS pro-
tivo, silagem de cana com 1% de ureia, porcionado pela dieta contendo silagem
silagem de cana com 0,5% de ureia + de cana-de-açúcar com 1% de ureia. O
0,5% de cal virgem (CaO) e silagem de forte odor de amônia presente na sila-
cana com 1% de CaO nas proporções gem de cana-de-açúcar com 1% de ureia
V:C de 55:45, em todas as dietas. Com provavelmente reduziu a aceitabilidade
base nos resultados de consumo e diges- pelos animais, o que resultou em menor
tibilidade dos nutrientes da dieta con- CMS; entretanto, os animais mantive-
tendo silagem de cana-de-açúcar com ram a produção de leite, possivelmen-
1% de ureia, pode-se afirmar que a ureia te às custas da mobilização de reservas
foi fonte de proteína rapidamente solú- corporais.
vel, o que pode ter acarretado falta de Revisando diversos trabalhos,
sincronização entre nitrogênio e energia Pereira (1996) concluiu que o uso mais
das dietas para melhor utilização destes coerente da cana para vacas especializa-
pelos microrganismos ruminais, visto das para leite seria em grupos de animais
que foram as dietas que com menor produção, normalmente va-
apresentaram menor cas em meio e final de
O uso estratégico dessa lactação, ou em inclu-
consumo de MS e me- forrageira associada à
nor digestibilidade dos sões dietéticas mais bai-
ureia na recria, em vacas xas, associada a outro
CNF, que são uma fonte não lactantes, em vacas
de energia prontamen- volumoso. Sendo assim,
em lactação com menor a utilização da cana-de-
te disponível. Desse demanda nutricional e
modo, a dieta com sila- -açúcar em fazendas
em baixas inclusões na que trabalham com
gem de cana-de-açúcar dieta de vacas de maior
com 1% de ureia pro- bovinos leiteiros espe-
produção, parece ser o cializados é viável, ape-
porcionou baixa efici- mais interessante se a sar da possibilidade de
ência no aproveitamen- meta é a expressão total depressão do consumo
to dos nutrientes no do potencial produtivo e da produção de leite
rúmen, principalmente ditado geneticamente. de animais com alta de-
de proteína, o que pode
manda nutricional.
ser constatado na maior
O uso estratégico dessa forrageira
concentração do nitrogênio ureico no
associada à ureia na recria, em vacas não
leite (NUL) para animais alimentados
lactantes, em vacas em lactação com me-
com essas dietas. Não houve diferença
nor demanda nutricional e em baixas in-
(P>0,05) entre as dietas quanto à pro-
clusões na dieta de vacas de maior pro-
dução de leite (kg/dia) e de leite cor-
3. O uso da cana-de-açúcar com ureia na alimentação de bovinos 51
dução, parece ser o mais interessante 2. ALLI, I.; FAIRBAIRN, R.; BAKER, B.E. The ef-
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54 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016


4. Utilização de ureia
em concentrados para
vacas leiteiras

bigstockphoto.com
Ronaldo Braga Reis1- CRMV-MG Nº 1584,
Rafael Gomes Silveira2,
Victor Marco Rocha Malacco3

1 Médico Veterinário, Professor Titular, Escola de Veterinária/ UFMG, e-mail: rbreis@vet.ufmg.br;


2 Zootecnista, Mestrando em Nutrição de Ruminantes, Escola de Veterinária/ UFMG, Estudante de Pós-Graduação - Escola de Veterinária -
UFMG - Belo Horizonte - MG;
3 Médico Veterinário, Mestrando em Nutrição de Ruminantes, Escola de Veterinária/ UFMG, Estudante de Pós-Graduação - Escola de
Veterinária - UFMG - Belo Horizonte - MG

Introdução o maior responsável pelo processo de


produção.
A manutenção de qualquer ativi- A suplementação proteica é a parte
dade produtiva depende basicamente mais onerosa dentre os itens que com-
da eficiência do sistema de produção, põem as dietas de bovinos leiteiros.
que pode ser traduzida pela maior Dessa maneira, a utilização de alimen-
produtividade com o menor custo. tos alternativos que substituem as fon-
Na atividade leiteira, a nutrição é o tes de proteína comumente empregadas
principal fator que influencia a efici- na alimentação dos ruminantes é de
ência do sistema de produção, pois é grande interesse para a pecuária leiteira.
4. Utilização de ureia em concentrados para vacas leiteiras 55
Portanto, o uso de gestíveis totais é o fator
A maior parte da
fontes de nitrogênio não
proteína utilizada pela mais importante para
proteico (NNP) se tor-
vaca em lactação para determinar a quantida-
na viável, pois explora de de ureia que pode ser
mantença e produção
a capacidade única de utilizada na alimentação
de leite vem a partir
ruminantes de sintetizar
da síntese microbiana, do ruminante. Quanto
proteína microbiana de maior for a energia di-
portanto o objetivo da
alto valor biológico para nutrição com fontes gestível da ração, mais
suprir a alta demanda proteicas deve ser eficientemente a ureia
por aminoácidos me- maximizar a produção será utilizada. A frequ-
tabolizáveis do animal da proteína microbiana. ência de fornecimento
(NRC, 2001). A ureia se e a quantidade de ureia
destaca como a principal também influenciam em
fonte de NNP na dieta de ruminantes; sua utilização. Os autores relatam que
se comparada a outras fontes de nitro- a suplementação de fósforo, enxofre e
gênio, é economicamente mais barata microminerais deve ser adequada, pois
e, se utilizada de forma adequada, tem o nitrogênio não proteico é utilizado
condições de manter bons níveis de pro- pelos microrganismos ruminais que de-
dução de leite. pendem desses elementos, mesmo em
pequenas quantidades, para a síntese de
Inclusão de ureia no aminoácidos e a estruturação da proteí-
concentrado na microbiana. Por fim, os autores rela-
A maior parte da proteína utilizada taram que a solubilidade da proteína é
pela vaca em lactação para mantença e um dos fatores importantes para a taxa
produção de leite vem a partir da sínte- de utilização da ureia; assim, quanto
se microbiana, portanto o objetivo da mais solúvel for a fonte de proteína na-
nutrição com fontes proteicas deve ser tural, maior será a “competição” com a
maximizar a produção da proteína mi- ureia pelo fornecimento de amônia e
crobiana (Broderick, 2006). Na dieta pior será o aproveitamento da fonte de
de vacas, a ureia pode ser administrada nitrogênio não proteico.
misturada ao concentrado, volumosos No entanto, segundo Russell
ou na dieta completa. (2002), os melhores resultados da su-
Em 2006, Stanton et al. relaciona- plementação de NNP ocorrem sobre as
ram os fatores mais importantes para bactérias degradadoras de carboidratos
a utilização de ureia na alimentação fibrosos (CF), pois possuem alta exigên-
animal. A fonte de carboidratos “pron- cia por amônia (NH3). Assim sua inclu-
tamente” disponíveis ou nutrientes di- são na dieta representa potencialização
56 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
da degradação da fibra. Diferentemente, ressaltar que uma quantidade mínima
as bactérias que utilizam carboidratos de ureia de 0,5g/dia precisa chegar ao
não fibrosos (CNF) têm preferencia por rúmen de uma vaca para que haja algum
aminoácidos pré-formulados e menor resultado.
atração por NNP.
Quando fornecida via concentrado,
Consumo de matéria
a quantidade de ureia incluída é facil-
seca e digestibilidade
mente controlada, o que, ligado ao fato
dos nutrientes para vacas
utilizando fontes de
de as concentrações energética e mine-
nitrogênio não proteico
ral serem conhecidas, torna esse méto-
em substituição à proteína
do de fornecimento seguro e prático, verdadeira
criando condições adequadas para utili-
zação do NNP (Haddad, 1984). Kertz (2010) revisou a utilização
Faria (1984) demonstrou de modo de ureia na alimentação de vacas leitei-
prático o efeito da inclusão de diferen- ras e comentou que as recomendações
tes teores de ureia em um concentrado de inclusão de ureia na alimentação de
à base de milho e farelo de soja (Tab.1). vacas leiteiras têm sido excessivas. Para
Por exemplo, em uma mistura compos- o autor, as recomendações mais razoá-
ta por 70% de milho e 30% de farelo de veis seriam de aproximadamente 135g/
soja, caso se optasse por incluir 1% de vaca/dia, ou 1% do total de concentra-
ureia, a formulação passaria a ter 77% de do, e não mais do que 20% do total da
milho e 22% de farelo de soja. proteína da dieta deveria vir de fontes
Em geral, para vacas leiteiras, as de NNP.
concentrações de ureia nos concentra- Em um dos primeiros trabalhos re-
dos não ultrapassam 2%. É importante alizados em bovinos com o intuito de
Tabela 1. Efeito da adição de ureia sobre as proporções
de milho e farelo de soja no concentrado
Unidades % de milho a Unidades % de soja a se-
% ureia serem adicionadas rem retiradas
0,8 5,6 6,4
1,0 7,0 8,0
1,2 8,4 9,6
1,4 9,8 11,2
1,6 11,2 12,8
1,8 12,6 14,4
2,0 14 16,0
Fonte: Adaptado de Faria (1984).

4. Utilização de ureia em concentrados para vacas leiteiras 57


avaliar o efeito da utili- 1981).
A diminuição da
zação de ureia sobre a Colovos et al.
ingestão de alimentos
ingestão de MS, Loosli (1967), utilizando dife-
devido a quantidades
e Warner (1958) obser- rentes níveis de ureia no
elevadas de ureia na
varam que a inclusão de dieta (acima de 1,5 concentrado para vacas
3% de ureia no concen- a 2%) tem ocorrido em lactação (0,0; 1,2;
trado diminui o con- mesmo em animais 2,0 e 2,5%), não obser-
sumo. Huber e Sandy aparentemente varam diferença signifi-
(1965) observaram que, adaptados cativa (P>0,05) quanto
em animais alimentados fisiologicamente ao consumo de MS, em
com silagem de milho para tolerar grandes que a ureia representa-
ad libitum e concentra- quantidades de ureia va 0,0; 17,86; 30,87 e
dos em que se substitu- (Huber e Cook, 1972; 37,93% da PB da dieta,
íram20 ou 40% do teor Huber e Kung, 1981). correspondendo aos va-
de proteína bruta por lores de 0,0; 0,46; 0,78
fonte de ureia, a IMS di- e 0,99% de ureia na MS
minuiu. Da mesma maneira, Van Horn total consumida, ou seja, consumo de
et al. (1967) relataram que a adição de ureia variando de 88 a 199g/dia.
2,2 e 2,7% de ureia no concentrado di- Mugerwa e Conrad (1971) sugeri-
minuiu a IMS (P<0,05). ram que a diminuição da IMS quando
A redução do consumo de MS de se inclui ureia na dieta estaria relaciona-
dietas com alta inclusão de ureia é discu- da à concentração de ureia e amônia no
tida. Chalupa et al. (1979) associaram a plasma. Já Huber e Cook (1972) sugeri-
diminuição do consumo de MS em die- ram que a depressão da IMS em dietas
tas que possuem ureia no concentrado à com alto nível de ureia estaria relaciona-
sua palatabilidade; ruminantes parecem da à diminuição da palatabilidade e não
recusar alimentos com altos teores de aos efeitos ruminais e pós-ruminais. Ao
ureia não pelo seu sabor ou odor, mas elevarem os níveis de NNP nas rações
por associá-los ao mal-estar causado por (1 a 3%), Huber e Cook (1972) obser-
essas dietas. varam que o consumo de MS, expressos
A diminuição da ingestão de alimen- em kg/dia e % de PV, diminuíram line-
tos devido a quantidades elevadas de armente (P<0,05).
ureia na dieta (acima de 1,5 a 2%) tem Porém, vários ensaios realizados
ocorrido mesmo em animais aparente- com teores acima dos recomendados
mente adaptados fisiologicamente para não demonstraram prejuízo aos ani-
tolerar grandes quantidades de ureia mais (Magalhães et al., 2003). Em ex-
(Huber e Cook, 1972; Huber e Kung, perimento realizado por Plummer et al.
58 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
(1971), em que foi utilizada ureia no maiores que 1% de ureia na MS dimi-
concentrado correspondendo à varia- nuiu o consumo. Considerando o mé-
ção de 0 a 30% do nitrogênio total da todo de fornecimento, a introdução ou
dieta para vacas em lactação, não se ve- infusão de ureia no rúmen deprimiu o
rificou influência dos tratamentos sobre consumo em comparação com o forne-
consumo de MS, expresso em % de PV. cimento na dieta. O aumento dos teores
Huber e Cook (1972), estudando o de ureia, sem considerar o método de
efeito da concentração de ureia no con- fornecimento, aumentou a concentra-
centrado (1 e 3%) e do local de adminis- ção ruminal de amônia e ureia na saliva.
tração (oral, rúmen e abomaso) sobre a Os autores sugeriram que depressão da
ingestão de MS, concluíram que o efeito IMS quando vacas leiteiras receberam
depressivo do maior teor de ureia foi dieta com mais de 1% de ureia não es-
devido ao sabor indesejável, e não aos taria relacionada à palatabilidade, mas,
efeitos no rúmen e pós-rúmen. sim, aos parâmetros fisiológicos, como
Kertz e Everett (1975) verificaram concentração de amônia ruminal.
que a umidade alta (14,4%) causou Nessa mesma linha de pensamento,
decréscimo no consumo de concentra- Kertz et al. (1977) estudaram o efeito
do com 2,5% de ureia comparada com de concentrações crescentes de amô-
umidade normal (11,2%) sem ureia. nia (40, 181 e 462ppm) no ambiente
Em outro teste, vacas discriminaram o durante o período em que as vacas em
concentrado com alta umidade (15%) lactação recebiam o concentrado. Este
e com ureia (1,5%) em relação ao con- era fornecido durante 30 minutos, duas
centrado com umidade normal (11%) e vezes ao dia (período da manhã e da tar-
com ureia (1,5%). de), sendo os testes realizados somente
Wilson et al. (1975) estudaram no período da manhã. Os autores con-
o efeito de níveis crescentes de ureia cluíram que o cheiro da amônia não
(1,0; 1,65; 2,30 e 3,0%) em misturas seria responsável pela rejeição inicial
completas. A ureia foi fornecida por de concentrados contendo ureia. Em
via oral ou diretamente no rúmen, três trabalho posterior, Kertz et al. (1982)
vezes ao dia, em um dos experimentos. relataram que solução de ureia absor-
Em outro experimento, o efeito do teor vida em algodão (mesma técnica usada
da ureia (1 e 3%) e o método de admi- no experimento com amônia), colocada
nistração da ureia no rúmen (colocada no cocho, não afetou (P>0,05) a inges-
duas vezes ao dia ou continuamente tão de concentrado. A concentração de
durante todo o dia) foram avaliados. amônia no ar, acima do cocho em que
Independentemente do método de for- foi colocado o algodão com solução de
necimento, a inclusão de quantidades ureia, foi inferior a 100ppm. Dessa for-
4. Utilização de ureia em concentrados para vacas leiteiras 59
ma, os autores concluíram que os re- nos três primeiros dias de fornecimen-
sultados desse experimento com ureia to (dias 8 a 10 do experimento). Do 4º
foram semelhantes aos obtidos com ao 7º dia de fornecimento da dieta com
amônia. Foi sugerido por esses autores ureia (11º ao 14º dia do experimento),
que o odor (cheiro) da amônia e/ou da a ingestão total, o tamanho do bocado
ureia parece não ser responsável pela de- e a velocidade do consumo diminuíram
pressão inicial do consumo de concen- (P<0,05) em relação à dieta sem ureia.
trados contendo ureia fornecida em pe- O tempo de alimentação e o número de
ríodos restritos de tempo (30 minutos). bocados não foram afetados. Os autores
O efeito da introdução de ureia observaram que, mesmo após 4 dias de
(2,5% em misturas completas) sobre o interrupção do fornecimento de dieta
comportamento alimentar foi estuda- com ureia, os animais continuaram re-
do por Chalupa et al.(1979). Para isso, fratários à dieta com ureia. A concen-
foram utilizadas 12 novilhas Holandês, tração de amônia no sangue continuou
com peso vivo de 156 ± 24kg, nunca alta mesmo após 4 dias de interrupção
antes expostas a dietas com ureia. Nos do fornecimento da dieta com ureia.
sete dias iniciais do experimento, todos Segundo os autores, o efeito depressi-
os animais receberam a dieta controle vo da ureia na ingestão não é devido ao
contendo farelo de soja. A partir do 8º sabor e/ou cheiro da ureia em si, mas a
até o 14º dia, metade dos animais con- uma resposta aprendida, que provavel-
tinuaram recebendo a mesma dieta e a mente é desenvolvida pela associação
outra metade passou a receber a dieta entre uma indisposição sentida pelo
com 2,5% de ureia durante 6h/dia e a animal e o aroma de dietas contendo
dieta controle durante as 18 horas res- ureia. A amônia, pela sua toxidez em
tantes. Do 15º ao 18º dia, foi fornecida nível celular, seria o mais provável me-
novamente a dieta controle sem ureia a tabólito responsável pela indisposição.
todos os animais. No 18º dia, os animais Uma série de experimentos refe-
do tratamento com ureia continuaram rentes ao efeito da ureia no consumo
recebendo ureia; entretanto, durante 2 e sobre os possíveis fatores envolvidos
horas e a dieta sem ureia durante outro foram realizados por Ketz et al.(1982).
período de 2 horas. Os outros animais Em um primeiro estudo, o efeito da in-
(controle) receberam a ração sem ureia clusão de três teores de ureia (0,0; 1,0
durante o período total de 4 horas. O e 2,5%) no concentrado sobre a IMS
fornecimento de ureia não exerceu efei- foi avaliado. Os autores verificaram que
to sobre consumo, número de bocados, a ingestão total e a velocidade de con-
tempo de alimentação, tamanho do sumo de concentrados no intervalo de
bocado e velocidade de alimentação, cinco minutos durante dois períodos
60 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
de 30 minutos cada um (um de manhã e concentrações de amônia ruminais
e outro à tarde) foram iguais para os medidos antes da introdução da ureia
concentrados sem e com 1% de ureia. não foram alterados (Kertz et al., 1982).
Porém, foram menores para o concen- Porém, em outro experimento, no qual
trado com 2,5% de ureia, embora a dife- a ureia foi colocada na forma de solução
rença no consumo total de concentrado na parte mediana do retículo-rúmen,
não tenha sido significativa (P>0,05). O área onde o alimento é inicialmente de-
consumo de concentrado no primeiro positado quando a vaca consome, Kertz
intervalo de 5 minutos do período de 30 et al. (1982) verificaram depressão na
minutos de fornecimento, no período ingestão de concentrado e alterações
da manhã, do tratamento com 2,5% de significativas no valor de pH e na con-
ureia, foi de, aproximadamente, 60% do centração de amônia no rúmen. Esse
consumo verificado para os tratamentos decréscimo no consumo do concentra-
sem e com 1% de ureia. Antes do forne- do após a introdução da ureia foi acom-
cimento de concentrado no período da panhado do aumento no pH no período
manhã, os valores de pH e amônia no da manhã e na concentração de amô-
rúmen foram iguais para as três concen- nia nos dois períodos (manhã e tarde).
trações de ureia no concentrado. Após o Quando a ureia introduzida estava pro-
fornecimento do concentrado, o pH ru- tegida com parafina, o consumo de con-
minal (6,82) do tratamento com 2,5% centrado e os valores de pH não foram
de ureia foi maior do que o dos outros afetados (P>0,05), e a concentração de
dois tratamentos (6,27 e 6,44, respec- amônia se manteve em níveis interme-
tivamente, para os concentrados sem e diários entre os tratamentos sem ureia
com 1% de ureia). As concentrações de e com ureia sem proteção. Segundo os
amônia, após o consumo de concentra- autores, os dados sustentam a hipótese
do no período da manhã, foram maio- de que a rápida hidrólise da ureia causa
res (P<0,05) para os concentrados com toxidez pelo acúmulo de amônia, que
ureia do que para o concentrado sem resulta em redução da ingestão de ma-
ureia. téria seca.
A introdução da ureia na forma de Oliveira et al. (2001) avaliaram a
péletes colocados na parte mediana do utilização de níveis crescentes de ureia
rúmen (80 gramas, duas vezes ao dia, na matéria seca total das dietas (0; 0,7;
10 minutos antes do fornecimento do 1,4 e 2,1%, respectivamente, 0,0; 116,0;
concentrado) não afetou o consumo de 221,0 e 302,6g de ureia) sobre o con-
concentrado durante os dois períodos sumo e as digestibilidades aparentes
de alimentação de 30 minutos cada um da matéria seca (MS), matéria orgâni-
(de manhã e à tarde). Os valores de pH ca (MO), fibra em detergente neutro
4. Utilização de ureia em concentrados para vacas leiteiras 61
(FDN), extrato etéreo (EE), proteína cas lactantes Holandês X Gir, alimenta-
bruta (PB) e de nutrientes digestíveis das à vontade com dietas isoproteicas,
totais (NDT). Foram utilizadas va- constituídas na base da MS de 60% de
cas Holandês com, aproximadamente, silagem de milho e 40% de concentra-
20kg de produção de leite. A relação do, contendo 0; 0,7; 1,4 e 2,1% de ureia
volumoso:concentrado utilizada foi na dieta total. A elevação dos teores de
60% de silagem de milho e 40% de con- NNP nas dietas reduziu linearmente
centrado. Os teores crescentes de NNP (P<0,05) os consumos de nutrientes.
no concentrado resultaram em consu- A relação entre o consumo de MS e
mo reduzido de MS, MO, PB e NDT, e os teores de NNP na dieta indicou que,
aumento linear do EE. As digestibilida- a cada unidade percentual de NNP na
des aparentes totais de MS, MO, FDN, dieta, ocorreu decréscimo de 390,59g
EE e PB não foram influenciadas pelos na ingestão de MS. Não foram obser-
teores crescentes de NNP na dieta. vados efeitos dos teores de NNP sobre
Segundo o autor, a diminuição do as digestibilidades aparentes (Tab.2).
consumo foi explicada em função da Segundo esses autores, o menor consu-
baixa palatabilidade e/ou dos efeitos fi- mo de MS foi realmente causado pelos
siológicos da ureia, pois o aumento do efeitos associados dos metabólicos pro-
teor de NNP da dieta geralmente eleva a duzidos, assim como a pouca palatabili-
concentração de amônia no rúmen. dade da ureia.
Na revisão de literatura conduzida Utilizando os mesmos teores de
por Santos et al. (1998), foram compi- inclusão de ureia na MS total da die-
lados 24 trabalhos que estudaram a su- ta (0,0; 0,7, 1,4 e 2,1%) para vacas
plementação de ureia para vacas com Holandês X Gir, alimentadas indivi-
produção entre 30 a 40kg/d de leite. Os dualmente com dietas constituídas de
efeitos da ureia sobre o consumo de ma- volumoso (silagem de milho) e concen-
téria seca foram inconsistentes, em al- trado, na proporção 60:40, Torres et al.
guns casos aumentando (2), em outros (2002) observaram que a ingestão de
não afetando (17), e em outros reduzin- MS dos 70 aos 110 dias de lactação re-
do o consumo (5). Santos et al. (2005), duziu (P<0,01) a partir do teor de 0,7%
utilizando vacas no terço médio da lac- de ureia na dieta, sendo que a máxima
tação, produzindo de 30 a 32kg/dia de ingestão de MS foi obtida com ausência
leite, ao avaliarem o efeito da inclusão de ureia na dieta. De forma semelhante,
de 1% de ureia na dieta em substituição Silva et al. (2001) relataram que a dimi-
parcial ao farelo de soja, também obser- nuição do consumo de MS estava asso-
varam redução no consumo. ciada aos efeitos metabólicos e à baixa
Silva et al. (2001) utilizaram 15 va- palatabilidade da ureia, caracterizada
62 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
pelo seu sabor amargo. vacas lactantes e avaliaram o efeito des-
Porém, uma nova teoria contrá- sas infusões sobre o consumo de MS,
ria ao efeito depressor da ureia sobre frequência e tempo de alimentação. A
o consumo foi hipotetizada por Oba e infusão de propionato de amônia dimi-
Allen (2003). Segundo esses autores, o nuiu a IMS e a frequência de alimenta-
metabolismo oxidativo do propionato ção (P<0,04) quando comparada às in-
poderia causar sensação de saciedade fusões feitas com propionato de sódio e
em vacas devido ao aumento da concen- potássio. Entretanto, nenhum efeito foi
tração hepática de ATP. Todavia, esse observado sobre o tempo gasto por ali-
efeito inibitório do propionato sobre o mentação, indicando, assim, que a amô-
consumo de MS poderia ser reduzido nia diminuiu a sensação de fome.
com a utilização de amônia e potássio. A Melo et al. (2003) avaliaram a subs-
utilização de amônia diminuiria a con- tituição parcial do farelo de soja por
centração de ATP hepático, já que este ureia e palma forrageira no desempe-
seria utilizado para a síntese de ureia e nho de vacas Holandês em lactação.
o potássio agiria sobre o ramo hepático Oito animais com 90 dias de lactação
do nervo vago, diminuindo a taxa de e 600kg de peso vivo foram distribuí-
descarga. Com o intuito de avaliar essa dos em dois quadrados latinos (4x4). A
hipótese, Oba e Allen (2003) realizaram ureia representou 0,0; 0,8; 1,54 e 2,40%
infusão intrarruminal de ácido propiô- da MS da dieta, correspondente a 2,32;
nico, propionato de amônia, propionato 4,65; 6,66 e 8,02% de PB na forma de
de sódio e propionato de potássio em compostos nitrogenados não proteicos,

Tabela 2. Coeficientes de digestibilidade aparente de matéria seca (MS), matéria


orgânica (MO), fibra em detergente neutro (FDN), extrato etéreo (EE), proteína
bruta (PB) e carboidratos totais (CHO), em função dos teores de compostos
nitrogenados não proteicos (NNP) das rações
Teores de NNP (%) na MS total da dieta Valor de P2
Item CV%1
0 0,7 1,4 2,1 L Q
Coeficiente de digestibilidade (%)
CDMS 74,22 74,22 85,23 78,38 5,25 NS NS
CDMO 76,01 75,77 86,54 79,95 4,97 NS NS
CDFDN 72,74 69,36 80,54 75,65 6,18 NS NS
CDEE 81,88 86,71 90,20 76,28 8,39 NS 0,0130
CDPB 72,95 74,19 85,95 78,00 5,92 NS NS
CDCHO 76,66 75,87 86,48 80,19 4,93 NS NS
1
CV= coeficientes de variação; probabilidades (P) referentes aos efeitos linear (L) e quadrático (Q); NS= não significativo em nível
2

de 5%. Adaptado de Silva et al. (2001).

4. Utilização de ureia em concentrados para vacas leiteiras 63


que representaram os tratamentos ex- teor de ureia utilizado na dieta. Os me-
perimentais. Ao elevar as porcentagens canismos pelo qual a ureia interfere no
de ureia nas dietas, os consumos de MS, consumo de MS não estão bem defini-
nas três formas em que foram expres- dos. O gosto amargo da ureia afetando
sos, diminuíram linearmente (P<0,05). a palatabilidade total da dieta tem sido
Novamente, esses autores sugeriram o fator mais relacionado. Entretanto,
que essa redução foi provocada pelos a concentração de amônia e os efeitos
efeitos metabólicos e/ou a palatabili- pós-ruminais também têm sido associa-
dade da ureia, devido ao sabor amargo, dos ao efeito negativo da utilização de
uma vez que a quantidade de FDN con- ureia em dietas de vacas leiteiras sobre
sumida em g/kg/PV foi semelhante en- o consumo.
tre os tratamentos.
Entretanto, vale ressaltar que a in- Produção e composição
clusão de NNP ocorreu concomitan- do leite de vacas leiteiras
temente ao aumento na proporção de suplementadas com ureia
palma forrageira na dieta, alimento com De acordo com dados da literatura
elevado teor de umidade, resultando em relação à produção e composição do
em grande volume de matéria natural, o leite, o teor de inclusão de ureia ideal na
que, também, pode ter contribuído para dieta ainda não está bem definido, e os
a redução na ingestão de matéria seca. dados são variados.
Os consumos de MO, expressos em kg/ Carmo et al. (2005) avaliaram o
dia, também diminuíram linearmente efeito da substituição parcial de farelo
(P<0,05) com o aumento dos teores de de soja por ureia, na forma extrusada
NNP nas dietas, o que pode ser explica- com milho (amireia) ou convencional
do pela diminuição do consumo de MS. em dietas à base de silagem de capim.
O consumo de PB apresentou compor- Os teores de ureia e amireia (A150S)
tamento quadrático (P<0,05), com va- utilizados foram de 2% e 3,86% na MS
lor máximo estimado em 3,3kg/dia para total da dieta, respectivamente. A subs-
o nível de 4,71% de NNP, o que pode tituição não afetou a produção de leite,
ser explicado pelo aumento da porcen- leite corrigido para 3,5% de gordura,
tagem de PB nas dietas e o tratamento produção de gordura e a de sólidos to-
contendo 6,66% de NNP ter proporcio- tais. Entretanto, os teores de gordura e
nado maior consumo de MS em relação sólidos totais foram maiores (P<0,05)
aos tratamentos com 4,65 e 8,02% de na dieta com ureia. Segundo esses auto-
NNP. res, tal fato pode ser explicado pelo pos-
Vários fatores interferem no con- sível beneficio da ureia no pH ruminal.
sumo de matéria seca. Dentre esses, o O poder alcalinizante da ureia poderia
64 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
auxiliar na manutenção o fornecimento de ureia
Aquino et al. (2007)
do pH ruminal mais ele-
sugeriram que o uso de resultou em maior excre-
vado e favorecer a diges- ção urinária de N, o que
até 1,5% de ureia na
tão da fibra no rúmen, aumentou o potencial
MS da dieta de vacas
como também minimi- em lactação com dietas risco de contaminação
zar a produção de ácidos à base de cana-de- ambiental.
graxoscis10 trans12. A açúcar não alteraria a Aquino et al. (2007)
maior disponibilidade produção, a composição estudaram o efeito de ní-
de precursores (acetato), e as características veis crescentes de ureia
assim como menor con- físico-químicas do leite. na dieta de vacas em
centração de fatores ini- lactação sobre a produ-
bidores (ácidos graxos ção e composição físico-
cis 10 trans 12) da síntese de gordura -química do leite. As dietas eram com-
poderiam explicar o maior teor de gor- postas de farelo de soja como principal
dura no leite de vacas recebendo dieta fonte proteica e cana-de-açúcar como
com 2% de ureia. volumoso. As dietas eram semelhantes
Polán et al. (1976) utilizaram de- à controle, ocorrendo apenas substitui-
lineamento multifatorial com rações ção de parte do farelo de soja por0,75
que continham 9,4; 11,1;12,8; 14,5 ou ou 1,5% de ureia. Não houve efeito das
16,2% de PB, com inclusão de ureia de dietas sobre as produções de leite e de
0; 10; 20; 30 ou 40% da PB da dieta. leite corrigida para 3,5% de gordura. Os
Os autores demonstraram que, quanto teores de proteína, gordura, lactose, ni-
maiores os teores de ureia em relação à trogênio ureico, extrato seco total e ex-
PB da dieta, menor são a IMS e a produ- trato seco desengordurado não foram
ção de leite. afetados pelas dietas.
Brito e Broderick (2007) compa- De acordo com esses resultados,
raram os efeitos da suplementação de Aquino et al. (2007) sugeriram que o
ureia (1,9%MS) ao farelo de algodão, fa- uso de até 1,5% de ureia na MS da dieta
relo de soja e farelo de canola em dietas de vacas em lactação com dietas à base
com 16,5% de PB na MS, para vacas de de cana-de-açúcar não alteraria a pro-
alta produção. Concluíram que a utiliza- dução, a composição e as características
ção de ureia reduziu o CMS, a produção físico-químicas do leite.
de leite, eficiência alimentar (PL/CMS) De forma semelhante, Santiago et al.
e eficiência do uso de nitrogênio. No (2008) avaliaram o efeito da utilização
entanto, aumentaram a digestibilidade de diferentes teores de ureia na cana-
aparente da MS e MO e ainda a produ- -de-açúcar (0; 0,4; 0;8 e 1,2% na base
ção de amônia no rúmen. Além disso, da matéria natural) sobre a produção
4. Utilização de ureia em concentrados para vacas leiteiras 65
e composição de leite de vacas lactan- tratamentos. Segundo o autor, a substi-
tes com produção abaixo de 15kg/dia. tuição parcial do farelo de soja pela ureia
A produção de leite e de leite corrigida convencional ou de liberação controla-
para 3,5% de gordura, bem como os teo- da não afetou o desempenho animal
res de gordura, proteína, lactose, extrato para as variáveis pesquisadas.
seco desengordurado e extrato seco total Souza (2011) avaliou três teores de
do leite não foram afetados pelos dife- ureia em % da matéria natural da cana-
rentes teores de ureia na cana-de-açúcar. -de-açúcar (0,0; 0,5 e 1,0) incluídos no
Resultados semelhantes tam- concentrado e verificou que a inclusão
bém foram obtidos por Cabrita et al. de 1,0% de ureia diminuiu o consumo
(2003), que não encontraram diferen- de matéria seca (MS) e de matéria or-
ças (P>0,05) ao utilizarem até 1,0% de gânica (MO) da dieta.Contudo, a efi-
ureia na MS total da dieta em substi- ciência alimentar (produção de leite/
tuição ao farelo de soja nos concentra- consumo de matéria seca) foi melhor
dos, nos quais a silagem de milho foi o nas dietas em que se utilizou ureia; no
principal volumoso. Dunlap (2000) e entanto, não houve diferença entre as
Davidson et al. (2003) também não re- dietas para parâmetros produtivos.
lataram diferenças na produção de leite
ao utilizarem dietas com diferentes teo- Implicações
res de ureia na MS do concentrado (0; A eficiência da utilização da ureia
0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%). no concentrado pelos animas depende
Oliveira et al. (2004) comprovaram do balanceamento adequado da dieta,
efeito linear negativo de teores crescen- de modo a permitir uma sincronização
tes de ureia sobre a produção do leite de entre a disponibilidade de carboidratos
vacas alimentadas com dietas à base de fermentáveis e nitrogênio no rúmen.
cana-de-açúcar, que, nesse caso, foi ex- Essa eficiência também é influencia-
plicado pela diminuição do consumo de da pela categoria animal, nível de pro-
MS. dução, tipo de volumoso e a relação
Filgueiras Neto (2011) avaliou o volumoso:concentrado da dieta.
efeito da substituição parcial de farelo Dietas com inclusão de NNP são
de soja por ureia de liberação controla- utilizadas com o objetivo de aumentar
da ou por ureia convencional em dietas a eficiência da utilização de nitrogênio
com cana-de-açúcar como volumoso pela vaca e a rentabilidade do sistema,
exclusivo. Não houve diferença para o já que alimentos proteicos são os que
consumo de MS, produção de leite, pro- mais oneram os custos alimentares na
dução de leite corrigida para 3,5% de fazenda produtora de leite. Aumentar
gordura ou para sólidos totais entre os a eficiência de utilização do nitrogênio
66 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
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4. Utilização de ureia em concentrados para vacas leiteiras 67


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68 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016


5. Uso de ureia em
suplementos múltiplos
e rações para bovinos
de corte

bigstockphoto.com
Fabiano Alvim Barbosa1 - CRMV-MG 5318,
Isabella Cristina de Faria Maciel2

1 Médico Veterinário, Professor Adjunto IV, Departamento de Zootecnia, Escola de Veterinária/UFMG, e-mail: fabianoalvimvet@hotmail.
com;
2 Médica Veterinária, Mestranda em Produção animal, Escola de Veterinária/UFMG, Estudante de Pós-Graduação - Escola de Veterinária -
UFMG - Belo Horizonte - MG
*Parte integrante do livro “Nutrição de Bovinos a Pasto” – Fernando A. N. Carvalho, Fabiano Alvim Barbosa, Lee Russell McDowell, 2003.

Introdução a conquistar. Para se obter o animal de


qualidade e precoce, novas tecnologias
Com a crescente demanda do mer-
devem ser adotadas para a viabilização
cado por carne bovina de qualidade,
proveniente de animais criados a pasto, dessa pecuária moderna e de ciclo curto.
aliada à exigência da erradicação e con- Devido à sazonalidade das gramíne-
firmação de área livre de febre aftosa, as forrageiras nos trópicos, que é carac-
o Brasil passa a ter um amplo mercado terizada pela diminuição da produção e
5. Uso de ureia em suplementos múltiplos e rações para bovinos de corte 69
do valor nutritivo nos períodos secos do Esse objetivo pode ser atingido atra-
ano, ocorre a desnutrição nos animais vés do fornecimento de todos ou de
criados a pasto e, consequentemente, alguns nutrientes específicos, os quais
baixo ganho de peso nessa época. O permitirão ao animal consumir maior
desenvolvimento dos bovinos pode quantidade de matéria seca disponível
também ser comprometido com a e digerir ou metabolizar a forragem in-
ocorrência de veranicos prolongados. gerida de maneira mais eficiente.
Essas fases negativas no desempenho O uso de suplementos múltiplos –
do animal devem ser consideradas em proteína, energia, minerais, vitaminas
um programa de produção de carne. e aditivos – no período da seca evita a
O ideal seria o crescimento ocorrer perda de peso característica para ani-
uniformemente durante a vida do bo- mais não suplementados nessa época
vino. Devido ao desequilíbrio entre os crítica do ano. Vários são os trabalhos
ganhos na época das águas e da seca, é que comprovam o ganho de peso de
necessária a suplementação alimentar bovinos, entre 0,059 a 0,740kg/cabe-
em certos períodos, para que se possa ça/dia, com consumo diário de suple-
abater animais com idades inferiores a mentos variando de 0,05 a 0,6% do
30 meses. peso vivo (PV).
Sob condições tropicais, o consu- A suplementação múltipla na
mo de pasto é com frequência afeta- época das águas tem sido usada com
do adversamente por baixas concen- maior ênfase após o sucesso de seu
trações de sódio, nitrogênio, fósforo, uso na época seca. Também tem sido
enxofre, cobalto, iodo e outros nu- usado o argumento de que, no período
trientes, dependendo da área sob pas- chuvoso, em função do aumento das
tejo. A suplementação dos nutrientes concentrações proteicas das gramíne-
deficientes, até o ponto de atender as e da alta taxa de degradabilidade
plenamente às exigências, frequente- ruminal dessa fração, haveria um ex-
mente resulta em dramática resposta cesso de nitrogênio em relação à dis-
no consumo de alimentos e produção ponibilidade de energia. Desse modo,
animal. parte do nitrogênio, além de não estar
A suplementação a pasto com nu- sendo utilizado, estaria consumindo
trientes específicos é necessária para energia para excreção urinária, na for-
obtenção de desempenho animal ma de ureia. A suplementação passaria
satisfatório. Uma estratégia de su- a ter menor teor de ureia, devido à mu-
plementação adequada é aquela des- dança sazonal das forrageiras na época
tinada a maximizar o consumo e a di- das águas em relação à época da seca, e
gestibilidade da forragem disponível. maior teor de energia e minerais.
70 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
Suplementação e do total anual, em decorrência da falta
consumo de pastagem de umidade, baixa temperatura e dias
curtos (fotoperíodo), fazendo com que
A forragem, como o único alimento a planta entre em repouso vegetativo.
disponível para os animais em pastejo, Com o avanço da estação seca, além
deve fornecer energia, proteína, vitami- da menor oferta de alimento nesse perí-
nas e minerais exigidos para mantença odo, o animal dispõe de uma forragem
e produção. Se os teores dos nutrientes com menor teor de proteína e menor
forem adequados, a produção animal digestibilidade. Como consequência
será em função do consumo de energia desse fato, os animais consomem menos
digestível (ED), uma vez que é alta a matéria seca do que em épocas mais fa-
correlação entre consumo de forragem voráveis, e o que ingerem é de qualidade
e ganho de peso. Assim, a quantidade insatisfatória, resultando invariavelmen-
de alimento que um bovino consome te em perda de peso e, às vezes, até em
é o fator mais importante a controlar morte, devido ao deficit energético, pro-
a produção de animais mantidos em teico, mineral e vitamínico.
pastagens. Como mostrado na Tabela 1, para
No Brasil Central, ocorre uma que- cinco espécies forrageiras, os consumos
da acentuada na disponibilidade de das pastagens são maiores nas épocas
forragem no período de seca invernal, das águas, e o bovino gasta menos tem-
que se caracteriza por uma produção po no pastejo. Já na época da seca, os
extremamente baixa, em torno de 10% consumos são menores e o tempo de

Tabela 1. Médias dos consumos voluntários de matéria seca (kg MS/100kg PV)
e tempos de pastejo (minutos/dia) de novilhos pastejando cinco gramíneas
durante os períodos seco e das águas

Período Seco Período Águas


CVMS1 TP2 CVMS1 TP2
Colonião 2.16 610 2.88 520

Tobiatã 1,92 580 2,77 490

Tanzânia 2,10 590 2,83 525

Decumbens 1,98 595 2,65 565

Brizanta 2,01 605 2,76 465

1
CVMS = Consumo voluntário de matéria seca (kg MS/100kg PV); 2TP = Tempo de pastejo (minutos/dia).
Fonte: Euclides et al., 1996.

5. Uso de ureia em suplementos múltiplos e rações para bovinos de corte 71


pastejo aumenta, acarretando em maior Suplementação na época
tempo para consumir as quantidades sa- da seca
tisfatórias de pasto, e maior gasto ener-
gético pelo animal. Durante o período da seca, ocorrem
O suplemento deve ser considera- reduções das concentrações de ener-
do como um complemento da dieta, gia, proteína, fósforo e outros minerais
para suprir os nutrientes deficientes na e vitaminas. Por décadas, foi aceita a
forragem disponível. Na maioria das si- hipótese de que o principal nutriente
limitante na época da seca seria o fós-
tuações, a forragem não contém todos
foro. Apesar de que, na década de 1940,
os nutrientes essenciais na quantidade
já existiam evidências da ocorrência de
adequada para atender às exigências
deficiência de proteína no período seco
dos animais em pastejo.
do ano, com as vacas apresentando bai-
A suplementação a pasto tem por
xo desenvolvimento corporal e baixís-
objetivos corrigir a deficiência dos
simos índices de fertilidade. Somente
nutrientes da forragem, aumentar a
com os trabalhos conduzidos no Reino
capacidade de suporte das pastagens,
Unido e na África do Sul, a partir de
fornecer aditivos ou 1960, criaram-se condi-
promotores de cresci- Somente com os ções para que fosse acei-
mento e auxiliar no ma- trabalhos conduzidos ta a possibilidade de que
nejo de pastagens. no Reino Unido e na o limitante nutricional
A necessidade de África do Sul, a partir primário, para animais
suplementar os animais de 1960, criaram-se mantidos exclusivamen-
e as quantidades são condições para que fosse te a pasto, seria o deficit
dependentes das metas aceita a possibilidade proteico. De grande im-
a serem conseguidas de que o limitante portância prática foi a
de acordo com o pla- nutricional primário, demonstração de que a
nejamento proposto na para animais mantidos deficiência proteica po-
propriedade. A suple- exclusivamente a pasto, deria ser corrigida, tanto
mentação depende da seria o deficit proteico. com o fornecimento de
qualidade da pastagem, nitrogênio não protei-
da massa disponível co quanto com proteína
e do tamanho da área de pastagem;e verdadeira.
também de recurso financeiro disponí- O fósforo não é o principal nutrien-
vel, dos animais (sexo, idade, raça, está- te limitante, mas sim a proteína. Daí, o
gio fisiológico), da infra estrutura ade- fato de o nitrogênio não proteico (prin-
quada de cochos e bebedouros, mão de cipalmente a ureia) e os suplementos
obra, entre outros fatores. proteicos melhorarem grandemente o
72 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
consumo de pasto e induzirem os ani- bovinos jovens (18 meses de idade)
mais à ingestão de gramíneas pouco não podiam sobreviver em forragens de
apetecidas. baixa qualidade (3,5% de PB na MS).
Uma compilação de trabalhos de Entretanto, com a adição de ureia e me-
pesquisas sobre o uso de nitrogênio laço, estes puderam manter o peso cor-
não proteico (NNP), realizada por poral durante 7 meses.
Loosli e McDonald (1969), mostrou Pesquisas realizadas por Van
que a deficiência proteica em bovinos Nierkerk e Jacobs (1985), na África do
a pasto é conhecida desde a década de Sul, em condições tropicais, avaliaram
1940. Entretanto, em pleno século XXI, o efeito de suplementos de proteína,
encontramos situações de campo que energia e fósforo, isolados e em combi-
mostram o atraso tecnológico em que nações em dietas de bovinos, usando,
permanecem certas regiões, contri- como fonte volumosa de baixa proteí-
buindo para a diminuição dos índices na, a cana-de-açúcar, simulando a épo-
zootécnicos brasileiros. Esses trabalhos ca da seca. A suplementação proteica,
de pesquisas mostravam que a admi- em todos os tratamentos, aumentou a
nistração de ureia (4%), melaço (12%) ingestão em 34,5%, em relação ao gru-
e nitrato de sódio (4%), juntamente a po controle, e induziu menor perda de
fenos de baixa qualidade, aumentavam peso em relação aos outros tratamentos.
a ingestão e diminuíam a perda de peso. A resposta para a proteína é aumentada
Um dos primeiros trabalhos com a quando usada em conjunto com fósforo
utilização de NNP foi conduzido por e energia, mostrando que a deficiência
Morris, na década de 1950, alimentan- proteica é a mais importante causa de
do vacas com ureia junto com silagem perda de peso em bovinos mantidos em
de sorgo (5% de PB na MS), e mostrou pastagens de baixa qualidade.
melhora na ingestão dos alimentos e do A suplementação proteica com
peso corporal. NNP ou proteína verdadeira aumenta
Pesquisa realizada por Briggs et al. a eficiência de utilização de forragens
(1947) mostrou que novilhas Hereford, de baixo valor nutritivo. Com forragens
desmamadas, mantidas em pastagens pobres em PB e resíduos de cultura
secas durante o inverno, em Oklahoma (<7,0% de PB), a principal resposta à
(EUA), aumentaram o peso, consumin- suplementação proteica tem sido devi-
do 1kg/cabeça/dia de uma mistura com do ao atendimento da exigência micro-
4% de ureia, 75% de farelo de algodão, biana ruminal por nitrogênio (N) e for-
11% de milho e 10% de melaço. necimento de aminoácidos específicos
Outro trabalho de pesquisa, condu- e/ou energia contida nesse suplemento.
zido por Beames (1963), verificou que Pequenas quantidades de energia
5. Uso de ureia em suplementos múltiplos e rações para bovinos de corte 73
e N prontamente solúveis podem au- rar que o conteúdo de N fermentável,
mentar a digestão da forragem de baixa abaixo do ótimo na dieta, pode decres-
qualidade e o seu consumo. A produção cer a digestibilidade da fibra e também
de N microbiano no rúmen pode ser resultar em baixa relação entre amino-
limitada pelo suprimento de substratos ácidos/energia nos nutrientes absorvi-
facilmente degradáveis, no caso de for- dos. Ademais, aumentando-se a dispo-
ragens tropicais. Assim, pequenas quan- nibilidade de N fermentável, eleva-se a
tidades de grãos fornecidos a animais digestibilidade e a relação nos produ-
em crescimento elevam a quantidade tos absorvidos, devido ao aumento na
de N microbiano que chega ao intestino eficiência da fermentação no rúmen, e
delgado, podendo melhorar o ganho de ambos os efeitos elevam o consumo de
peso. A resposta na produção de animais forragem.
em pastejo ao uso de suplemento é, pro-
vavelmente, influenciada pelas caracte- As misturas múltiplas
rísticas do pasto e do suplemento, bem No período seco, há deficiências de
como pela maneira de seu fornecimento proteína, fósforo e outros minerais, sem
e pelo potencial de produção do animal. excluir a ocorrência direta ou indireta de
No Brasil, esse tipo de suplementa- deficit energético, daí o emprego de “su-
ção começou na década de 1960 com plemento múltiplo”, em vez de apenas
o uso combinado de melaço, ureia e mistura mineral. A suplementação com
enxofre, em cochos especiais com gra- uma “Mistura Farelada de NNP”, com-
des flutuantes, para evitar que os ani- posta de 10 a 25% de ureia, 25 a 35%
mais consumissem altas quantidades e de fubá, 25% de fosfato bicálcico, 20 a
se intoxicassem. Essas grades evitavam 30% de sal e 5 a 15% de melaço, permite
que os animais bebes- controlar a ingestão de
sem a mistura líquida, só Somente com os mistura, variando a con-
permitindo que estes a trabalhos conduzidos centração de sal comum.
lambessem. no Reino Unido e na O consumo varia
As misturas múlti- África do Sul, a partir de acordo com a dispo-
plas têm o objetivo de de 1960, criaram-se nibilidade de matéria
estimular o consumo de condições para que fosse seca da pastagem, em
forragem de baixa qua- aceita a possibilidade que, quanto menor a
lidade e melhorar a sua de que o limitante disponibilidade de mas-
digestibilidade, e não o nutricional primário, sa na pastagem, maior o
de suplementação dire- para animais mantidos consumo da mistura e,
ta (efeito substitutivo). exclusivamente a pasto, quanto maior o ganho
É importante conside- seria o deficit proteico. preconizado, maior a ne-
74 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
cessidade de acrescentar pastagens e suplementar
As misturas múltiplas
farelos na mistura. Além
devem complementar os proteína e energia. Para
disso, o uso crescente de
macro e microminerais isso, elas devem conter
sal comum e ureia fun- de 5 a 15% de ureia, 15
das pastagens e
ciona como regulador de suplementar proteína e a 40% de farelo proteico,
consumo das misturas. energia. Para isso, elas 20 a 30% de grãos ou fa-
O consumo pode variar, devem conter de 5 a relo energético, 10 a 30%
dependendo da formu- 15% de ureia, 15 a 40% de sal branco e 5 a 10%
lação e dos fatores men- de farelo proteico, 20 a de suplemento mineral.
cionados acima de 0,05 a 30% de grãos ou farelo Os teores de prote-
0,5% do peso vivo, pois, energético, 10 a 30% de ína e de energia depen-
a partir daí, pode-se con- sal branco e 5 a 10% de dem do desempenho
siderar a suplementação suplemento mineral. desejado e do valor nu-
como uma ração con- tritivo da forragem dis-
centrada (semi confina- ponível. Na revisão de
mento), devido ao alto teor de farelos, e Haddad e Castro (2000), em pesquisas
não como uma mistura múltipla. americanas sobre suplementação de bo-
A estratégia de suplementação deve vinos a pasto, os seguintes aspectos, so-
ser dependente do objetivo que se dese- bre o fundamento dessa técnica, foram
ja alcançar, além de ser fundamentada, levantados:
também, em uma análise econômica. • Forragem deficiente em PB: pode-se
Para a manutenção de peso, durante o esperar 180g de ganho de peso adi-
período seco, normalmente é indicado cional para os primeiros 450g con-
o uso de suplemento mineral com ureia sumidos de suplemento proteico (>
e enxofre. Para atender à demanda de N 30%PB).
dos microrganismos ruminais, é neces- • Quando a proteína da dieta estiver
sário que um animal adulto consuma adequada, espera-se 40g de ganho
cerca de 30g de ureia por dia. adicional para 450g de suplemento
Para ganhos diários de 100 a 300 consumido.
gramas, há necessidade de se incluir • Deve-se fornecer de 70 a 140g de
energia no sal mineral com ureia, além PB quando a forragem tem uma re-
de proteína verdadeira. Nesse caso, a lação NDT:PB superior a sete, pro-
mistura tem sido comumente denomi- piciando aumento de consumo e
nada de “Mistura Múltipla”. O consumo digestibilidade.
diário deve ser de 0,1 a 0,2% do PV. • Para suplementos com teores maio-
As misturas múltiplas devem com- res que 30% de PB (50 a 60% PDR)
plementar os macro e microminerais das e consumo de 0,1 a 0,3% do PV, a efi-
5. Uso de ureia em suplementos múltiplos e rações para bovinos de corte 75
ciência alimentar esperada é de 150 a misturas múltiplas. Tem sido sugeri-
300g de suplemento por 100g de ga- da a disponibilidade de pelo menos
nho de peso adicionado. 2.500kg de matéria seca total/hecta-
• Para consumo de 0,3 a 0,5% do PV, re, no início da estação seca, para se
sem reduzir consumo de forragem, de obterem ganhos de peso satisfató-
um suplemento com teor médio de rios. De acordo com Bergamaschine
20 a 30% de PB, a eficiência alimen- et al. (1998), as misturas múltiplas
tar esperada é de 0,5 a 1,0kg de su- fornecidas durante a época da seca,
plemento por 100g de ganho de peso com menor taxa de lotação (0,5UA/
adicionado. ha), proporcionaram maior ganho de
Outro procedimento que pode ser peso, em comparação à maior taxa de
utilizado para otimizar o uso das pas- lotação (1,2UA/ha). Já os resultados
tagens e manter a produção mais ele- compilados por Silva et al. (2009) so-
vada é a suplementação alimentar com bre suplementação a pasto no Brasil,
mistura balanceada de concentrados, mostraram que, para garantir os be-
também denominado de semi confi- nefícios da seletividade e ganhos por
namento. As taxas médias de ganho animal satisfatórios sem comprometer
durante o período de suplementação o ganho por área, é necessário manter
variam entre 0,5 e 1,2kg/dia, depen- disponibilidade de forragem acima de
dendo principalmente da quantidade 4,5 toneladas de matéria seca (MS)
de suplemento oferecido (0,6 a 1% do total/ha e 1,2 tonelada de MS verde/
peso vivo). Outros fatores, como tipo ha, oferta de 10 a 12% do PV/dia de
de animal, condição corporal, tempo MS total e 6% do PV/dia de MS po-
de permanência no trato, forragem tencialmente digestível.
disponível e sua qualidade, tamanho Diversos são os trabalhos de pes-
dos pastos, distância das aguadas e de- quisas mostrando a utilização de mis-
clividade do terreno, também podem turas múltiplas na suplementação de
interferir na taxa de ganho de peso. bovinos de corte no Brasil, com con-
De acordo com Paulino et al. sumo variando de 0,630 a 2,620kg/
(2000a), quando se pretende terminar cabeça/dia e o ganho médio diário de
animais no período da seca, é neces- 0,132 a 0,429kg/cabeça/dia, durante
sário promover ganhos superiores a a época da seca. Os ganhos são depen-
0,8kg/dia, por meio do fornecimento dentes da disponibilidade de matéria
de 0,8 a 1,0% do PV de suplementos. seca e qualidade da pastagem, do ani-
A quantidade de matéria seca mal (raça, sexo, peso, idade e sanida-
disponível na pastagem é primordial de), do clima (temperatura, umidade
para o sucesso na suplementação com relativa), entre outros (Tab.2).
76 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
Tabela 2. Ganho de peso diários (gpd) de bovinos, em fase de recria, recebendo diferentes suplementos, com
diferentes ingestões, em diferentes pastagens.

FONTE ANIMAIS PASTAGEM SUPLEMENTO INGESTÃO/DIA GPD (kg/dia)

Paziani et al., Novilhos Nelore B. brizantha SM - 0,226


39% PB 0,36% do PV
1998. Inteiro 277 Kg 1,8 Ton Ms/Ha 39% PB - 0,390

0,5 UA/HA
- 0,655A
Bergamaschine Novilhos Guzerá B. decumbens
45% PB 0,3% DO PV 0,8 UA/ha
et al., 1998. 17m, 246 Kg 4,9 Ton Ms/Ha
- 0,561ab
1,2 UA/ha - 0,503 b
Novilhos
20 A 91% PB SM - 56 G SM - (-0,096)c
Castrados E
Zanetti et al., B. decumbens com e sem adi- SM + U - 135 g SM + U - 0,207b
Fêmeas Nelore X
2000. 4 Ton Ms/Ha ção de ureia SP - 320 g SP - 0,086b
Caracu
SP + U - 650 g SP + U - 0,357a
207 Kg
SM - 0,090B
MFG - 0,500 a
Gomes Júnior Novilhos Hz B. decumbens
36 A 47% PB 0,6% DO PV MFS - 0,390 a
et al., 2001. 10m, 248 Kg 6,4 Ton Ms/Ha
MFA - 0,590 a
MFT - 0,430 a
10% - 358 G 10% - 0,308a
B. brizantha 38 A 47% de PB
Lopes et al., Novilhos Nelore, 12,5% - 349 g 12,5% - 0,313a
B. ruzizinesis com diferentes
2002. 15 M 15% - 300 g 15% - 0,283a
> 4,5 Ton Ms /Ha teores de ureia
0% - 81 g 0% - 0,175 b
Novilhos
Barbosa et al., Cruzados B. brizantha 30%PB- 0,6%PV 30% - 0,254
30 E 40% de PB
2002. Sobreano 17 Ton Ms/Ha 40%PB-0,07%PV 40% - 0,103
253 Kg
Novilhos Nelore
X Cyonodon
Moreira et al., SM - 0,170
Girolando plectostachyus 40% PB 0,07% DO PV
2003. 40% PB - 0,160
266 Kg 3,64 Ton Ms/Ha
0,67 Ua/Ha
Novilhos
Cyonodon
Moreira et al., Cruzados, SM - 0,010
plectostachyus 40% PB 0,07% DO PV
2003. 377 Kg 40% PB - 0,020
3,64 Ton Ms/Ha
0,78 Ua/Ha
Proteinado com SM - 0,050b
Novilhos Nelore, Cynodon
Moreira et al., consumo de SP 0,29 – 0,060b
390 Kg plectostachyus 40% PB
2004. 0,290 ou 0,400 SP 0,40 - 0,150a
0,95 Ua/Ha 4,36 Ton Ms/Ha
kg/animal/dia
SM - 0,280d
0,125% - 0,510c
Goes et al., Novilhos B. brizantha, 0,125 a 1% do
24% PB 0,25% - 0,580bc
2005. 10m, 226 Kg > 6,9 Ton Ms/Ha PV
0,5% - 0,680ab
1% - 0,720A

Continua

5. Uso de ureia em suplementos múltiplos e rações para bovinos de corte 77


Continuação da Tabela 2

FONTE ANIMAIS PASTAGEM SUPLEMENTO INGESTÃO/DIA GPD (kg/dia)

Bezerros Nelore 76,3% MILHO


Vieira et al.,
8m, 189 Kg B. brizantha 19,07% FS 0,8% PV 0,337 KG
2005
1,29 Ua/Ha 2,01% UREIA,
Novilhos Hz 69 E 39% PB
B. brizantha Cv. SM - 0,540B
Barbosa et al., Inteiros para ingestão de
Marandu 0,17 E 0,37% PV 0,17% - 0,660a
2007. 12m, 211 Kg 0,17 E 0,37% PV,
6,38 Ton Ms/Ha 0,37% - 0,750a
1,2 Ua/Ha respectivamente
Novilhos
B. brizantha Cv.
De Paula et al., Anelorados 1kg/ FS - 0,630
Marandu 32% PB
2010. Inteiros animal/dia FA - 0,540
5,68 Ton Ms/Ha
10m, 208 Kg
MM - 0,071b
10U+10MM
MM - 0,04 KG/D - 0,294a
32 A 72% PB
Novilhas 10U+10MM-0,62 10U+25MM -
Mendonça et B. decumbens níveis ureia (10
Cruzadas (Gir) 10U+25MM-0,18 0,324 a
al., 2010. e 25%), níveis de
25U+10MM-0,26 25U+10MM -
MM (10 E 25%)
25U+25MM-0,20 0,316 a
25U+25MM -
0,212 a
MM - 0,101
44 a 80% PB
Sal N2 - 0,160
MM, sal MM - 0,040 kg/d
Novilhas Nelore Baixo - 0,076
nitrogenado Sal N2 - 0,115
Valente et al., E Cruzadas Nel. B. decumbens Médio - 0,217
(MM + ureia), Baixo - 0,173
2011. Xholandês 4,28 Ton Ms/Ha Alto - 0,307
suplementos Médio - 0,572
7m, 203 Kg Efeito linear Y =
baixo, médio e Alto - 1,214
0,061 + 0,211X (R2
alto consumo
= 0,98)
MM - 0,380
0,33% - 0,750
0,66% - 0,840
Novilhos Nelore MM OU INGES- 1% - 0,99
Machado et al.,
Inteiros 18m, B. decumbens 31% PB TÃO DE 0,33; Efeito quadrá-
2012.
320 Kg 0,66 OU 1% PV tico Y = 0,3975
+ 0,3833X –
0,0711X2 (R2 =
0,9773)
SM+U SM+U - 0,686
Novilhos Nelore B. brizanthacv. SM+U- 93% PB
Lima et al., SP 0,2% PV SP 0,2% - 0,761
Inteiros Piatã SP - 45% PB
2012. SPE 0,3 e 0,5% SPE 0,3% - 0,719
260 Kg 8,9 Ton Ms/Ha SPE - 25% PB
PV SPE 0,5% - 0,850

Médias de ganho de peso diário com letras diferentes entre si diferem estatisticamente (P<0,05). PB
– Proteína Bruta; PV – Peso Vivo; SM – Sal Mineral; MM – Mistura Mineral; SP – Sal Proteinado; SPE
– Suplemento Proteico-Energético; MFG – Milho e Farelo de Glúten; MFS – Milho e Farelo de Soja;
MFT – Milho e Farelo de Trigo; MFA – Milho e Farelo de Algodão; FS – Farelo de Soja; FA – Farelo de
Algodão; U – Ureia.

78 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016


Trabalhos de pesquisas trada) durante 185 dias. O uso do semi
com semi confinamento confinamento permitiu abater os ani-
mais com 27 meses de idade com taxa
na época da seca interna de retorno acima de 1,16% ao
Para ganhos diários mais elevados mês, demonstrando a viabilidade eco-
que 0,5kg/bovino, na seca, e 1,0kg/ nômica da estratégia.
bovino, nas águas, e obter elevado grau
de gordura na carcaça (>3mm de co- Suplementação na época
bertura) com rendimentos acima de das águas
54%, faz-se necessária a estratégia do
As flutuações no valor nutritivo das
semi confinamento, ração concentrada pastagens também ocorrem na época
e pastagens (Tab. 3). Essa suplementa- das chuvas e são capazes de influenciar
ção promove maior ingestão de energia, a produção animal. A suplementação
proteína e minerais, ou seja, deverão passa a ter níveis nutricionais diferen-
proporcionar ingestão acima de 1% do tes, principalmente com menor teor de
peso vivo, podendo chegar até mesmo ureia, devido à mudança sazonal das for-
a2% do peso vivo. rageiras na época das águas em relação
Trabalho realizado por Bicalho et al. à época da seca, com maiores teores de
(2014), avaliando diferentes estratégias energia, proteína, minerais, vitaminas
de suplementação proteica-energética- e digestibilidade. Entretanto, à medida
-mineral durante a recria e engorda de que a estação das chuvas vai avançando,
bovinos Nelore inteiros, mostrou que é principalmente no seu terço final, o teor
possível abater animais com idades infe- de proteína bruta das pastagens vai de-
riores a 27 meses usando o confinamen- crescendo, justificando, assim, a inclu-
to ou o semi confinamento. Nesse es- são da ureia em pequenas proporções
tudo, os animais foram nesse tipo de mistura.
mantidos em pastagem ...à medida que a Os animais podem
de Brachiaria brizantha estação das chuvas responder à suplementa-
cv. Marandu com dispo- vai avançando, ção de proteína durante a
nibilidade de 5,85ton de principalmente época das águas, período
MS/ha e taxa de lotação no seu terço final, quando a qualidade da
de 2UA/ha na fase de o teor de proteína pastagem, em termos de
terminação, recebendo bruta das pastagens digestibilidade e prote-
suplementação de 1,4% vai decrescendo, ína, é alta. Suplementos
do PV com concentrado justificando, assim, a energéticos em nível
de 18,5% de PB (1% de inclusão da ureia em ruminal e suplementos
ureia na ração concen- pequenas proporções... com alto teor de prote-
5. Uso de ureia em suplementos múltiplos e rações para bovinos de corte 79
Tabela 3. Ganhos de peso diários (gpd) de bovinos, em semiconfinamento,
recebendo diferentes suplementos, com diferentes ingestões, em diferentes
pastagens, na época da seca

FONTE ANIMAIS PASTAGEM SUPLEMENTO INGESTÃO/DIA GPD (G/dia)


20% PB
B. brizantha CV. AMI - 0,457b
Concentrado
Novilhos Nelore MARANDU, OLE - 0,437b
EL-MENARI rico em amido
castrados, 20m, 5,12 KG MS 0,7% PV A+O - 0,572a
NETO et al., (AMI), em óleo
370 kg de lâmina ver- 1,4% PV AMI - 0,575b
2003. (OLE) e com
2,1 UA/há de/100 KG OLE - 0,611b
amido + óleo
DE PV A+O - 0,716a
(A+O)
MM - 0,277
12% - 0,684
16% - 0,811
Novilhos HZ 12, 16, 20 e 20% - 0,983
DETMANN et B. decumbens 1% PV
inteiros 24% PB 24% - 0,800
al., 2004. 7,08 ton MS/ha 4 kg/animal/dia
24m, 367 kg (1% ureia) Efeito qua-
drático - GMD
máximo em
19,53% PB
24% PB MM - 0,104b
Tourinhos
B. decumbens Diferentes T1 - 0,917a
SANTOS et al., Limousin x
7,90 TON MS/ proporções de 1% PV T2 - 0,926a
2004. Nelore
HA milho quebra- T3 - 0,934A
17m, 367 kg
do, FS e FT T4 - 0,882a
> CONCEN-
TRADO: > GMD
(ENTRE 0 E
Novilhos mesti- B. brizantha CV. 0,87% PV)
BAIÃO et al., 0; 0,4; 0,8 E
ços inteiros MARANDU 15% PB 0,87% PV
2005. 1,2% PV
30m, 295 kg 5,56 ton MS/ha - 0,462KG
Y = 0,5373X +
0,008
(R2 = 0,9869)
Novilhos cruza- 0% - 0,485C
EUCLIDES et dos, 19m, 365 a B. brizantha CV. 0,6% - 0,775b
0,6% E 1% PV
al., 2009. 410 kg MARANDU 1% - 1,13a
1,5 UA/há
MM - 0,570
Bezerros Concentrado
Cynodon
desmamados - 0,940
CRUZ et al., dactylon CV. 3 kg/animal/dia
diferentes 18,8% PB *Médias
2009 COASTCROSS 1% PV
cruzamentos, de todos os
3 ton MS/ha
8m, 224 kg grupamentos
genéticos

Continua

80 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016


Continuação da Tabela 3

FONTE ANIMAIS PASTAGEM SUPLEMENTO INGESTÃO/DIA GPD (G/dia)


0 kg - 0,287
0,25 kg - 0,195
NOVILHOS 0,5 kg - 0,099
B. brizantha CV. 111 a 32% PB 0; 0,25; 0,5; 1,0;
BARONI et al., NELORE 1,0 kg - 0,274
MARANDU 25 a 2,5 % de 2,0 e 4,0 kg/
2010. CASTRADOS 2,0 kg - 0,372
7,4 ton MS/ha ureia animal/dia
30m, 415 kg 4,0 kg - 0,588
Efeito linear Y =
0,174 + 0,0994X

Médias de ganho de peso diário com letras diferentes entre si diferem estatisticamente (P<0,05).PB
– Proteína Bruta; PV – Peso Vivo; GMD – Ganho de Peso Médio Diário; MM – Mistura Mineral; AMI –
Concentrado Rico em Amido; OLE – Concentrado Rico em Óleo; A + O – Concentrado Rico em Amido
e Óleo.

ína não degradada no rúmen (PNDR) teína exigida pelos bovinos. O tipo de
podem ter efeitos benéficos similares. energia suplementar é importante, uma
Outra estratégia é a suplementação com vez que esta deve estar disponível para
frações proteicas com altos níveis de a microbiota ruminal ao mesmo tempo
aminoácidos essenciais, mas de baixa em que a amônia (NH3). Em pastagens
degradabilidade ruminal. temperadas, especialmente na primave-
O consumo de energia e proteína do ra, com algumas leguminosas tropicais e
bovino deve ser balanceado para otimi- com gramíneas tropicais, imediatamen-
zar a fermentação e maximizar a produ- te após o período chuvoso, e aquelas
ção de proteína microbiana. Consumo adubadas, que possuem elevado teor de
excessivo de proteína, sem quantidade NH3, o uso de suplementos energéticos
adequada de energia, resulta em perda ajuda a minimizar a perda ruminal de
de N na urina. Perdas de proteína po- N e contribui para maior eficiência da
dem ocorrer com gramíneas e legumi- fermentação.
nosas quando a quantidade de proteína A relação energia e proteína no rú-
excede a 210 gramas de PB/kg de ma- men varia de acordo com o sistema de
téria orgânica digestível. As gramíneas produção, categoria animal, nível de
tropicais com degradabilidade entre 55 produção, tipo de alimentação. Os tipos
e 65% dificilmente ultrapassarão esse li- de suplementos energéticos para forra-
mite crítico, com exceção de pastagens gens são divididos em três categorias:
adubadas com N. amido (p. ex., milho, sorgo e cevada),
Cerca de 75% do carboidrato di- açúcares (p.ex., melaço) e fibras (p.ex.,
gerido pelos ruminantes é fermentado polpa cítrica e de abacaxi), sendo que
pelos microrganismos no rúmen, su- este último é eficiente em captação de
prindo aproximadamente 50% da pro- amônia, além de apresentar fibra de alta
5. Uso de ureia em suplementos múltiplos e rações para bovinos de corte 81
digestibilidade e baixa proteína. O me- bovino de corte. Durante esse período,
laço apresenta alta taxa de fermentação também são encontradas deficiências
e não contribui para efeito de distensão de macro e micronutrientes nas forra-
ruminal, podendo ser usado em dietas geiras. Assim, a utilização de uma mis-
altamente fibrosas. A suplementação de tura mineral múltipla irá corrigir essas
grão e amido é que possui maior quan- deficiências.
tidade de trabalhos de pesquisas, sen- Animais frequentemente respon-
do seu efeito de substituição bastante dem à proteína extra, durante a esta-
documentado. Entretanto, a distinção ção de águas, um período em que a
entre amido rapidamente fermentado qualidade da pastagem, em termos de
(trigo e cevada) e lentamente fermenta- digestibilidade e conteúdo de proteí-
do (sorgo e milho) contribui para maior na, é alta, ensejando ganhos adicionais
quantidade de amido que escapa à fer- diários de 0,200 a 0,300kg/animal. A
mentação ruminal, apresentando, então, suplementação no período das águas,
diferenças de quantidade de matéria or- além de suportar ganhos adicionais,
gânica fermentada no rúmen, captação permite aumentar a capacidade de su-
de amônia, síntese microbiana e, con- porte das pastagens (Reis et al., 2009).
sequentemente, proteína, que chega ao Os trabalhos de pesquisas mostram
intestino. ganhos de pesos médios diários de bo-
Nas pastagens bem manejadas, vinos, na fase de recria, variando de
durante a época das águas, nas suas 0,543 a 1,380kg/cabeça/dia, para con-
capacidades de suporte, as gramíneas sumos de suplementos de 0,2 a 0,5%
tropicais são capazes de promover ga- do peso vivo (Tab.4).
nhos de peso entre 0,600 e 0,800kg/ As formulações de suplementos
dia. Por outro lado, ganhos acima de múltiplos (proteinados) e rações con-
1,0kg/cabeça/dia podem ser obtidos centradas para bovinos de corte devem
quando as pastagens são utilizadas com ser formuladas de acordo com a meta
baixa pressão de pastejo, onde o bovi- de ganho médio diário e a época do ano
no seleciona uma dieta de melhor valor (Tab.5).
nutritivo.
Mesmo no início do período das Considerações finais
águas, as pastagens de B. decumbens e B. Para otimizar a produção animal
brizantha, sob pastejo contínuo, apre- em pastagens, tem-se que potenciali-
sentam conteúdos de PB inferiores ao zar a produção de forrageiras, além de
necessário para produção máxima que, promover ao máximo o aproveitamen-
segundo Ulyatt (1973), é de 12% para to das mesmas, seja em qualidade ou
todos os propósitos em um rebanho de quantidade. E quando se usa a suple-
82 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016
Tabela 4. Ganhos de peso diários (gpd) de bovinos recebendo diferentes
suplementos, com diferentes ingestões, em diferentes pastagens
FONTE ANIMAIS PASTAGEM SUPLEMENTO Ingestão GPD (kg/dia)
NOVILHAS HZ B. BRIZANTHA SM - 0,708B
ZERVOUDAKIS
14M, 245 KG 14,2 TON MS/ 40% PB 0,2% PV MFG - 0,883a
et al., 2000.
1,5 UA/ha HA MFS - 0,920a
NOVILHOS HZ
B. DECUMBENS SM - 1,220A
PAULINO et al., INTEIROS365 12,5% E 5,8%
9,95 TON MS/ 0,09 E 0,05% PV M - 1,190a
2000B. KG; PB
HA MFA - 1,240a
1,27 AN/HA
NOVILHOS HZ
ANDROPOGON SM - 1,150a
PAULINO et al., INTEIROS 367 16,7% e 5,8%
9,95 TON MS/ 0,20 e 0,17% PV M - 1,040a
2000C. KG PB
HA MFS - 0,980a
2,57 AN/HA
SM - 0,500C
NOVILHO (AS) DIFEREN- M - 0,621bc
B. DECUMBENS
MARCONDES GUZERÁ, TES FONTES PDR - 0,731ab
2,6 TON MS/ 0,5% PV
et al.., 2001. 12 A 15M,237 PROTEICAS E PNDR - 0,765ab
HA
KG ENERGÉTICAS -PNDR - 0,658abc
+ PNDR - 0,787a
SM - 0,080A
NOVILHOS
PÁDUA et al., P. MAXIMUM 0,8% - 0,671b
INTEIROS 20% PB 0,8 A 1,2% PV
2001. > 2 ton MS/ha 1,0% - 0,720b
22M, 400 KG
1,2% - 0,748b
NOVILHOS SM - 0,859
PROHMANN et CRUZADOS, 0,2% - 0,853
COAST CROSS CASCA DE SOJA 0,2 A 0,6% PV
al., 2001. 13M, 363 KG 0,4% - 0,949
6,3 UA/HA 0,6% - 0,988
SM - 1,160A
PAULINO et al., M - 1,290a
267 KG BRAQUIÁRIA 41% PB 0,5% PV
2002. MDPS - 1,380a
SG - 1,160a
NOVILHAS269 BRACHIARIA
CAVAGUTI et SM - 0,410B
KG DECUMBENS 25% PB 0,13% PV
al., 2002. FA - 0,480A
2,8 UA/HA 4,91% PB
SM - 0,751B
BRACHIARIA 78% PB
NOVILHOS232 78% - 0,747b
MARIN et al., DECUMBENS, 34% PB 0,1; 0,3; 0,5 E
KG 34% - 0,882ab
2002. 4,2 TON MS/ 24% PB 0,75% PV
0,88 UA/HA 24% - 0,863ab
HA 6,1% PB 18% PB
18% - 0,953A

NOVILHOS 357 SM - 0,725B


ALCALDE et al., B. BRIZANTHA,
KG 41% PB 0,2% PV 0,2% - 1,064A
2002. 1,97 T MS/HA,
1,8 AN/HA

Continua

5. Uso de ureia em suplementos múltiplos e rações para bovinos de corte 83


Continuação da Tabela 4

FONTE ANIMAIS PASTAGEM SUPLEMENTO Ingestão GPD (kg/dia)


SM - 0,708B
NOVILHAS B. BRIZAN-
ZERVOUDAKIS MFGM
14M, 245 KG THA, 14,2 T 35 E 43% PB 0,2% PV
et al., 2002. - 0,883A
1,5 UA/HA MS/HA
MFS - 0,920A

SM - 0,600b
B. radicans
Novilhos 48% PB
GOES et al., ecapim gor- 48% e 14,5%
Nelore inteiros 0,06% PV - 0,880a
2003. dura, 6,7 ton PB
335 kg 14,5% PB
MS/ha
- 0,760ab

Bezerros Panicum
VIEIRA et al.,
Nelore maximum cv. SM 0,534 KG
2005.
13m, 242 kg Tanzânia

MM - 1,065
PANICUM
8% - 0,992
MÁXI-
NOVILHOS 16% - 1,142
MORAES et MUM CV. 8, 16 e 24% PB
HZ INTEIROS, 1 kg/dia 24% - 1,261
al., 2006B. MOMBAÇA
19M, 339 KG Efeito linear
6,45 ton MS/
Y= 0,08733 +
ha
0,0163NP

BRACHIARIA MM - 0,820
NOVILHOS HZ
Zervoudakis et DECUMBENS, 0,4% PV MFS - 0,950
INTEIROS 53,6% PB
al., 2008. 10,8 ton MS/ 0,680 KG/DIA FGFS - 1,020
12M, 172 KG
ha FTFS - 0,970

MM - 0,371
0,18% - 0,526
0,36% - 0,563
NOVILHOS B. MM OU
0,54% - 0,617
SALES et al., ZEBU INTEI- DECUMBENS INGESTÃO DE
37% PB 0,72% - 0,694
2011 ROS 11M, 270 4,6 TON MS/ 0,18; 0,36; 0,54
Efeito linear
KG HA E 0,72% PV
Y = 0,4019 +
0,1507X (r2 =
0.9645)

Médias de ganho de peso diário com letras diferentes entre si diferem estatisticamente (P<0,05). SM –
Sal Mineral; MFG – Milho e Farelo de Glúten; MFS – Milho e Farelo Soja; M – Milho; SG – Sorgo Moído;
MDPS – Milho Desintegrado, Palha E Sabugo; PDR – Suplemento Com Proteína Degradada no Rúmen;
PNDR – Supl. Com Proteína não Degradada no Rúmen; - PNDR – Supl. Com 20% Menos de Prot. não
Degrada no Rúmen; + PNDR – Sup. Com 20% Mais Prot. não Deg. Rúmen; FGFS – Farelo Soja e Farelo
de Glúten; FTFS – Farelo de Trigo e de Soja; Fa – Farelo de Algodão.

84 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016


Tabela 5. Exemplos de formulações de suplementos múltiplos e rações
concentradas para bovinos de corte
Seca Águas
Ração
Componentes Ração Ração
Proteinado Proteinado Proteinado Alto
(kg) Semi confi- Semi confi-
26% PB 45%PB 25%PB Consumo
namento namento

Milho moído 887 800 420 680 922 908


Farelo de Soja 66 80 70 200 26 50
Ureia 22 56 140 40 22 17
Sal branco - 14 250 30 -
Núcleo Mineral
25 50 50 30 25
com aditivos
Mineral (13%
- - 120 - -
de fósforo)
TOTAL (kg) 1.000 1.000 1.000 1.000 1.000 1.000
Consumo
estimado % do 1% 0,3-0,4% 0,1-0,15% 0,3-0,4% 1% 1,5%
Peso Vivo
Ingestão
Máxima - % do 1,30% 0,50% 0,20% 0,50% 1,30% 2,00%
Peso Vivo

mentação alimentar como estratégia, ramenta imprescindível para verificar


aumentam-se consideravelmente os a viabilidade operacional e econômica
resultados zootécnicos no sistema de das estratégias nutricionais assumi-
produção. das dentro do sistema e fornecer com
Para a obtenção de bovino de qua- maior precisão as informações necessá-
lidade e precoce é necessário adotar rias para a tomada de decisão.
medidas tecnológicas para a viabiliza-
ção dessa pecuária moderna e de ciclo Referências
curto durante o ciclo de vida dos bo- 1. ALCALDE, C. R.; GARCIA, J.; ANDRADE, P.;
ROSSI, J. Suplementação protéica em pastagens
vinos. Os suplementos devem ser ofe- de “Brachiaria brizantha“ no período das águas.
recidos para permitir ganhos elevados In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 39, Recife,
(acima de 0,600kg/dia) e assim viabili- 2002. Anais... Recife: SBZ 2002.
zar o abate precoce dos animais (abai- 2. BAIÃO, A. A. F.; ANDRADE, I. F.; BAIÃO, E. A.
xo de 26 meses de idade) e com carcaça M.; BAIÃO, L. A.; PÉREZ, J. R. O.; REZENDE,
C. A. P.; MUNIZ, J. A.; VIEIRA, C. A. J.;
acima de 270kg. BUENO, G. D. Desempenho de novilhos mes-
tiços Nelore suplementados em pastagem com
O planejamento e monitoramento diferentes níveis de concentrado no período seco
técnico aliado ao financeiro é uma fer- do ano.  Ciência e Agrotecnologia,  v. 29, n. 6, p.

5. Uso de ureia em suplementos múltiplos e rações para bovinos de corte 85


1258-1264, 2005. 11. CRUZ, G. M.; RODRIGUES, A. A.; TULLIO,
R. R.; ALENCAR, M. M.; ALLEONI, G. F.;
3. BARBOSA, F. A; SOUZA, B. P.; VILELA, H. OLIVEIRA, G. P. Desempenho de bezerros da
Efeito de suplementos protéicos no ganho de raça Nelore e cruzados desmamados recebendo
peso de bovinos na época da seca. In: REUNIÃO concentrado em pastagem adubada de Cynodon
ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE dactylon cv. Coast cross. Revista Brasileira de
ZOOTECNIA, 39, Recife, 2002. Anais... Recife: Zootecnia, v. 38, n. 1, p. 139-148, 2009.
SBZ 2002.
12. DE PAULA, N. F.; ZERVOUDAKIS, J. T.;
4. BARBOSA, F. A.; GRAÇA, D. S.; MAFFEI, CABRAL, L. C.; CARVALHO, D. M. G.;
W. E.; SILVA JÚNIOR, F. V.; SOUZA, G. M. HATAMOTOZERVOUDAKIS, L. K.;
Desempenho e consumo de matéria seca de bo- MORAES, E. H. K.; OLIVEIRA, A. A. Frequência
vinos sob suplementação proteico-energética de suplementação e fontes de proteína para recria
durante a época de transição água-seca.  Arquivo de bovinos em pastejo no período seco: desempe-
Brasileiro Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 59, p. nho produtivo e econômico. Revista Brasileira de
160-167, 2007. Zootecnia, v. 39, n. 4, p. 873-882, 2010.
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86 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 80 - abril de 2016


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