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& Construções

CONTROLE TECNOLÓGICO

ENSAIOS PARA O CONTROLE Instituto Brasileiro do Concreto

DE QUALIDADE DO CONCRETO Ano XLV

E DE SUAS ESTRUTURAS 86
ABR-JUN
2017
ISSN 1809-7197
www.ibracon.org.br

PERSONALIDADE ENTREVISTADA PESQUISA E DESENVOLVIMENTO NORMALIZAÇÃO TÉCNICA

ROBERTO BAUER: PAPEL DOS ADITIVOS PARA NORMAS BRASILEIRAS


LABORATÓRIOS NA QUALIDADE CONCRETO DE PAREDES RECÉM-PUBLICADAS SOBRE
CONSTRUTIVA CONCRETO PRÉ-FABRICADO
Esta edição é um oferecimento das
seguintes Entidades e Empresas

IBRACON

Adote concretamente
a revista
CONCRETO & Construções
u sumário

seções
6 Editorial
7 Coluna Institucional REVISTA OFICIAL DO IBRACON PRESIDENTE DO COMITÊ
Revista de caráter científico, tecnoló- EDITORIAL
(Contour Crafting - http://www.contourcrafting.org/)
8 Converse com o IBRACON
(Contour Crafting - http://www.contourcrafting.org/) gico e informativo para o setor produ- à Guilherme Parsekian

tivo da construção civil, para o ensino (alvenaria estrutural)


10 Encontros e Notícias
e para a pesquisa em concreto.
COMITÊ EDITORIAL – MEMBROS
13 Personalidade Entrevistada: à Arnaldo Forti Battagin
ISSN 1809-7197 (cimento e sustentabilidade)
Roberto Bauer Tiragem desta edição: à Bernardo Tutikian

35 Entidades da Cadeia 5.000 exemplares (tecnologia)


Publicação trimestral distribuida à Eduardo Millen
63 Mantenedor gratuitamente aos associados (pré-moldado)
CRÉDITOS à Enio Pazini de Figueiredo
CAPA 72 Seção Especial: Ensino e (durabilidade)
JORNALISTA RESPONSÁVEL
Ensaio de determinação da à Ercio Thomaz
Aprendizado na Engenharia Civil à Fábio Luís Pedroso - MTB 41.728
(sistemas construtivos)
tenacidade em concreto com
fabio@ibracon.org.br à Evandro Duarte
fibra. Grupo Falcão Bauer 96 Acontece nas Regionais (protendido)
PUBLICIDADE E PROMOÇÃO à Frederico Falconi

à Arlene Regnier de Lima Ferreira (projetista de fundações)


à Guilherme Parsekian
arlene@ibracon.org.br
ESTRUTURAS EM DETALHES (alvenaria estrutural)
à Helena Carasek
PROJETO GRÁFICO E DTP

24
(argamassas)
Controle tecnológico de concreto em obras à Gill Pereira à Hugo Rodrigues
gill@ellementto-arte.com (cimento e comunicação)
à Inês L. da Silva Battagin

ASSINATURA E ATENDIMENTO (normalização)

30
à Íria Lícia Oliva Doniak
TIP – um novo método para verificação office@ibracon.org.br
(pré-fabricados)
de integridade de fundações de concreto GRÁFICA
à José Martins Laginha Neto
(projeto estrutural)
Ipsis Gráfica e Editora à José Tadeu Balbo
Preço: R$ 12,00 (pavimentação)
à Nelson Covas

NORMALIZAÇÃO TÉCNICA As ideias emitidas pelos entre-


vistados ou em artigos assinados
(informática no projeto
estrutural)

37
à Paulo E. Fonseca de Campos
ABNT NBR 9062:2017 – Projeto e execução são de responsabilidade de seus
autores e não expressam, neces-
(arquitetura)
de estruturas de concreto pré-moldado sariamente, a opinião do Instituto.
à Paulo Helene
(concreto, reabilitação)

45
à Selmo Chapira Kuperman
ABNT NBR 16475:2017 – Painéis de parede © Copyright 2017 IBRACON (barragens)
de concreto pré-moldado Todos os direitos de reprodução COORDENADOR DA
reservados. Esta revista e suas SEÇÃO ESPECIAL
à César Daher (ensino)
partes não podem ser reproduzidas
nem copiadas, em nenhuma forma
INSPEÇÃO E MANUTENÇÃO de impressão mecânica, eletrônica,
IBRACON
Rua Julieta Espírito Santo
ou qualquer outra, sem o consen- Pinheiro, 68 – CEP 05542-120

51
timento por escrito dos autores
ENDs para identificação de armaduras e editores.
Jardim Olímpia – São Paulo – SP
Tel. (11) 3735-0202
em elementos de concreto armado

57 Avaliação dos reparos e reforços estruturais


em cobertura abobadada

Instituto Brasileiro do Concreto

ENTENDENDO O CONCRETO INSTITUTO BRASILEIRO Iria Licia Oliva Doniak


DO CONCRETO DIRETOR DE EVENTOS

66
Fundado em 1972 Bernardo Tutikian
Muito além do controle tecnológico convencional Declarado de Utilidade Pública
do concreto Estadual | Lei 2538 de 11/11/1980
Declarado de Utilidade Pública
DIRETORA TÉCNICA
Inês Laranjeira
Federal | Decreto 86871 de da Silva Battagin
25/01/1982
DIRETOR DE RELAÇÕES
DIRETOR PRESIDENTE INSTITUCIONAIS
Julio Timerman Paulo Helene
DIRETOR 1º VICE-PRESIDENTE DIRETOR DE PUBLICAÇÕES
Túlio Nogueira Bittencourt
E DIVULGAÇÃO TÉCNICA
PESQUISA E DESENVOLVIMENTO DIRETOR 2º VICE-PRESIDENTE
Eduardo Barros Millen

76
Luiz Prado Vieira Junior
ENDs para caracterização de lajes alveolares DIRETOR DE PESQUISA
E DESENVOLVIMENTO
pré-fabricadas DIRETOR 1º SECRETÁRIO
Leandro Mouta Trautwein
Antonio D. de Figueiredo

81 Caracterização e passivação dos aços CA24


e CA50
DIRETOR 2º SECRETÁRIO
Carlos José Massucato

DIRETOR 1º TESOUREIRO
DIRETOR DE CURSOS
Enio José Pazini Figueiredo

DIRETOR DE CERTIFICAÇÃO

90
DE MÃO DE OBRA
Aditivos especiais para concretos de parede Claudio Sbrighi Neto
Gilberto Antônio Giuzio
DIRETOR 2º TESOUREIRO
Nelson Covas DIRETORA DE ATIVIDADES
ESTUDANTIS
DIRETORA DE MARKETING Jéssika Pacheco

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 5


u editorial

O futuro do concreto:
investindo nos estudantes
Caro leitor,

F
rente às atuais circunstâncias que estamos 59° Congresso Brasi-
enfrentando em nossa atividade profissional leiro do Concreto.
e à instabilidade do mercado brasileiro em Completando o desa-
geral, sinto-me honrada em principiar esta fio dos concursos, este
edição da Revista Concreto & Construções, ano teremos a primeira
visto que em minhas mãos está a nobre responsabilida- edição do “Concreto:
de de incentivar de maneira positiva e otimista aqueles quem sabe faz ao vivo”, competição que envolverá a do-
que poderão nos conduzir a um cenário mais favorável: sagem in loco de concretos autoadensáveis coesos, com
os nossos futuros engenheiros. o menor consumo de cimento possível, que apresentem
São eles que hoje vibram nas Arenas dos Congressos a maior resistência à compressão em 24h.
Brasileiros do Concreto, de onde estão extraindo parte
Este incentivo pela busca por soluções mais eficientes e
da experiência necessária para fortalecer o patamar de
inovadoras contagia os alunos participantes que, mesmo
qualidade e referência tecnológica da engenharia bra-
quando finalizam a graduação, continuam participando
sileira. E este ano, como não poderia ser diferente, o
através da orientação de novos alunos de sua institui-
IBRACON traz a esses alunos desafios atraentes e in-
ção para as próximas competições. É comum termos
teressantes em mais uma edição de seus consagrados
conhecimento de depoimentos desses ex-alunos de que
Concursos Estudantis.
a participação nos concursos estudantis lhes proporcio-
No tradicional concurso Aparato de Proteção ao Ovo
nou um aprendizado essencial na área da tecnologia do
(APO), foi adicionada a avaliação da perda de massa após
concreto e de seu adequado controle, tanto no mundo
a realização dos ensaios dinâmicos, dando maior impor-
acadêmico como no mundo profissional, auxiliando numa
tância à resiliência dos pórticos de concreto armado.
formação sólida, com conhecimento amplo em diversos
Por sua vez, o CONCREBOL, o mais brasileiro de todos
tipos de concretos especiais.
os concursos, traz o desafio da análise da melhor relação
Nota-se que a ideia dos nossos concursos está direta-
entre massa específica e a resistência à compressão da
mente relacionada com um apropriado controle tecnoló-
esfera de concreto, que demandará uma escolha refinada
gico do concreto, tema principal desta edição, que conta
do traço a ser empregado.
Trazendo cor e beleza ao congresso, o concurso Con- com artigos redigidos por profissionais de referência nes-

creto Colorido de Alta Resistência (COCAR) visa testar ta área e a entrevista do renomado Eng. Roberto Bauer,

neste ano a habilidade dos competidores na preparação além de outros artigos que corroboram a multidisciplina-

de concretos translúcidos com cores vibrantes e de ele- ridade de nossa revista.

vada resistência. Finalizo aqui minha contribuição, com a certeza de que,

Estimulando as atividades interdisciplinares, a atual investindo nas atividades estudantis, estamos num dos
edição do Concurso OUSADIA propõe a concepção caminhos certos para mudarmos a dura conjuntura de
de um projeto básico de uma obra de arte especial nosso país. Boa Leitura!
em concreto, que garanta a acessibilidade da Rua
Santo Antônio à Rua Francisco Luiz Bertolini, localiza- JÉSSIKA PACHECO
das na cidade de Bento Gonçalves/RS, que sediará o Diretora de Atividades Estudantis

6 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 CONCRETO & Construções | 6
u coluna institucional

Atividades voltadas à garantia da


qualidade das estruturas de concreto

E
sta edição da Revista está concreto. O Programa MasterPec é um
dedicada à qualidade e ao curso de educação continuada em Pro-
controle da qualidade das dução de Estruturas de Concreto, que
estruturas de concreto, objetiva o desenvolvimento e a difusão
tema que sempre suscita do conhecimento atual em projeto, ma-
muito interesse e preocupação por par- teriais, controle, produção, inspeção,
te de todos os agentes envolvidos com diagnóstico, aplicações, proteção e
a construção civil, uma vez que o con- reabilitação de estruturas de concreto.
creto é o material estrutural mais em- Neste ano o Instituto oferecerá mais de
pregado no Brasil e no mundo. 160 horas de cursos vinculados ao Pro-
Em uma visão atual e holística, a qua- grama MasterPec, quase todos com o
lidade das estruturas de concreto é protagonismo do Instituto e outros em
obtida quando almejada desde o plane- conjunto com Instituições parceiras, os
jamento da edificação, passando pelas quais podem ser vistos no site do IBRA-
especificações das fases de projeto, CON (www.ibracon.org.br).
seleção dos insumos e fabricação do Outra importante ação do IBRACON ini-
concreto, execução das estruturas de ciada neste ano e com forte aderência à
concreto e, finalmente, a fase mais ex- última e mais extensa fase do processo
tensa que está relacionada ao seu uso e manutenção. Também construtivo, a fase de uso e manutenção, foi o lançamento do
nessa visão, é importante salientar para a sociedade, clientes e Curso de Inspetor I de Estruturas de Concreto, realizado em São
usuários que o custo das estruturas de concreto não é igual ao Paulo, nos dias 31 de março e 1, 7 e 8 de abril. O curso teve o
valor aplicado para erguê-la, mas sim o custo para erguê-la mais objetivo de apresentar e discutir conteúdos relativos à formação
o custo para mantê-la ao longo da sua vida útil. Pela conhecida de Inspetores I de Estruturas de Concreto, segundo a recen-
Lei dos Cinco ou Lei de Sitter, também sabemos que o custo temente publicada norma ABNT NBR 16230:2013. Além dos
para recuperar ou reforçar estruturas de concreto que apresen- temas teóricos apresentados em sala, o curso incluiu uma visita
tam problemas oriundos de falhas de projeto pode ser até 125 técnica a duas pontes na cidade de São Paulo. Ministraram esse
vezes maior que o custo para produzir uma melhor especifica- curso os engenheiros Julio Timerman, Paulo Helene, Alexandre
ção e detalhamentos das estruturas, na fase de projeto, evitando Beltrame, Gilberto Giuzio e Enio Pazini Figueiredo. O curso foi
o aparecimento de futuras manifestações patológicas. Portanto, um sucesso e muito bem avaliado pelos profissionais participan-
fica evidente a importância da fase de projeto para diminuir o tes, todos oriundos de importantes escritórios e empresas de
custo das estruturas de concreto ao longo da sua vida útil, mas engenharia nacionais. O Instituto está planejando a realização de
também mostra que a fase de manutenção, por ser onerosa e outros cursos de Inspetor I e o lançamento do Curso de Inspetor II,
complexa, deve ser revista com muito zelo técnico. inclusive em outras regiões do país, uma vez que é crescente a
O Estatuto do IBRACON deixa evidente no seu Capítulo II, Art. 3º demanda por profissionais qualificados para inspecionar estrutu-
e parágrafo único, que o Instituto tem como objetivo proporcio- ras de concreto, principalmente as obras de arte.
nar aos estudantes, profissionais e demais intervenientes da ca- Esta edição, dedicada ao controle e garantia da qualidade das
deia produtiva do concreto, nas áreas de planejamento, projeto, estruturas de concreto, evidencia a constante preocupação do
materiais, execução e manutenção, maiores conhecimentos por IBRACON com o desenvolvimento científico e tecnológico e com
meio de cursos, eventos, publicações, certificações de pessoal, a disseminação das boas práticas para projetar, executar e man-
reuniões tecno-científicas, bem como pela valorização e incenti- ter as estruturas de concreto, tão importantes para a qualidade
vos às investigações e pesquisas científicas e tecnológicas e sua de vida da sociedade.
respectiva divulgação.
Com esse propósito o IBRACON realiza uma série de atividades ENIO JOSÉ PAZINI FIGUEIREDO
que contribuem para o desenvolvimento da cadeia produtiva do Diretor de Cursos do IBRACON

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 7


u converse com o ibracon

ENVIE SUA PERGUNTA PARA O E-MAIL: fabio@ibracon.org.br

PERGUNTAS TÉCNICAS A resistividade pode ser medida por resultados individuais. Na sequên-
meio de quatro técnicas: Método cia, o Item diz que o valor da média

Qual seria a forma de calcular os do eletrodo externo, Método dos deve estar associado à temperatura

resultados no ensaio de resistividade dois eletrodos, Método dos quatro e à “umidade relativa média do am-

elétrica volumétrica (NBR 9204)? Na eletrodos ou Método de Wenner, biente nas imediações do corpo de

norma é solicitado que sejam feitos dois e o Método da resistividade elétri- prova”. No caso, tem-se duas umi-

grupos de corpos de prova , um fica em ca volumétrica. Os três primeiros dades nas imediações dos corpos de

cura ambiente e outro em cura úmi - métodos dizem respeito a resistivi- prova avaliados, sendo uma relativa

da . Calculamos a média dos 6 corpos dade superficial do concreto e es- às condições da câmara úmida e a

de prova , independentemente da cura , tão relacionados com a qualidade e outra relativa à umidade do laborató-

ou tiramos a média dos 3 corpos de umidade superficial do concreto de rio (mais seca). Portanto, o relatório

prova em cura úmida e cura ambiente cobrimento da armadura. Os resul- final deve conter para a idade de 28

separadamente ? tados destes métodos contribuem dias duas médias aritméticas, sendo
para avaliação do risco de corrosão uma relativa aos três corpos de pro-

A pergunta da técnica tem rela- que a armadura pode estar sujeita, va estocados em câmara úmida e a

ção com a qualidade e o controle caso o concreto se carbonate ou outra média relativa aos três corpos

da qualidade do concreto, temas caso os cloretos atinjam a armadura de prova estocados em ambiente de

abordados na presente edição da na forma livre. O Método de Wenner laboratório. Como o Item 6.1.3 da

revista CONCRETO & Construção. é o mais empregado par avaliar a norma reforça dizendo que as deter-

A resistividade do concreto é uma resistividade superficial do concre- minações da resistividade volumé-

propriedade que vem ganhando to. O quarto método, que trata da trica devem ser feitas nas idades de

importância na área da durabilida- resistividade volumétrica, alvo da 28 e 90 dias, o mesmo procedimen-

de das estruturas de concreto, de pergunta, é o único que possui nor- to deve ser adotado na idade de 90

tal forma que algumas obras im- ma brasileira relativa ao concreto. A dias, ou seja, determinar mais duas

portantes incluíram a resistividade ABNT NBR 9204 (2012) – Concreto médias para as duas condições de

como requisito de desempenho endurecido: determinação da resis- estocagem. Cabe ressaltar que, no

e como parâmetro de controle da tividade elétrico-volumétrica – Méto- cálculo de cada uma das quatro mé-

qualidade de recepção do concre- do de ensaio, preconiza o método dias, os valores individuais que se

to. Existem duas regiões caracte- que diz respeito a resistividade das afastarem em mais de 10% da mé-

rísticas num elemento de concreto, camadas internas do concreto, re- dia devem ser desprezados e não in-

as quais possuem valores de re- presentando, portanto, uma carac- cluídos no cálculo da nova média de

sistividade elétrica distintos. Uma terística da massa do concreto. cada grupo.

região mais superficial, sujeita a A resposta específica à pergunta en- Mas por que obter a resistividade

ciclos de molhagem e secagem, contra-se no Item 8.3, que trata da em condições tão distintas de umi-

onde se mede a resistividade elétri- expressão dos resultados. O referido dade? A norma técnica da SABESP

ca superficial do concreto, e outra Item diz que a resistividade elétrica- NTS 162, por exemplo, diz que “a

região mais interna, onde a umida- -volumétrica do concreto é expres- critério da fiscalização pode ser exi-

de é mais estável, na qual se mede sa, nas respectivas idades (28 dias gida a determinação da resistividade

a resistividade elétrica volumétrica. e 90 dias), pela média aritmética dos elétrica-volumétrica potencial, para

8 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


um concreto na condição saturado tivas a esta importante característica de alvenaria estrutural, ou de concreto
com superfície seca (SSS), cujo limite do concreto. armado, ou de estrutural metálicas.
mínimo é de 15.000 ohm.cm.” Já o Normas indicam modelos para projeto,
documento técnico do Metrô de São ENIO PAZINI FIGUEIREDO, PROF. TITULAR DA UFG, características e especificações dos
Paulo (ET-5.00.00.00/3J4-001) apre- DIRETOR DE CURSOS DO IBRACON E PRESIDENTE materiais. O limite será definido pela
senta dois requisitos de desempenho, DA ALCONPAT BRASIL possibilidade dos materiais em resistir
sendo um para a condição úmida, aos esforços calculados. Por isso, é im-
cujo limite mínimo é de 15.000 ohm. Qual é o limite de pavimentos para alve- portante o uso de materiais de qualida-
cm, coincidente com o critério da SA- naria estrutural? Conheço edifícios com de e fazer um bom controle de obras.
BESP, e o outro para a condição seca, até 12 pavimentos. Existe alguma norma Considerando os blocos de alta re-
cujo limite mínimo é de 60.000 ohm. ou material técnico que define isso? sistência hoje disponíveis no mercado
cm. Portanto, o critério de aceitação e BRUNO ROCHA brasileiro, em diferentes regiões, têm
rejeição do concreto, baseado na re- KS Empreiteira sido construídos edifícios de cerca de
sistividade elétrica-volumétrica, está 20 andares em alvenaria estrutural,
associado à condição de serviço da Hoje é usual a construção de edifí- ainda sendo economicamente viáveis.
estrutura de concreto. cios de mais do que 12 pavimentos
Espero ter respondido a pergunta e em alvenaria estrutural. GUILHERME PARSEKIAN, PRESIDENTE DO

ter esclarecido outras questões rela- Não há limite de pavimentos em normas COMITÊ EDITORIAL

Revista CONCRETO & Construções


A revista CONCRETO & Construções é o veículo impresso oficial do IBRACON.

De caráter científico, tecnológico e informativo, a publicação traz artigos, entrevistas,


reportagens e notícias de interesse para o setor construtivo e para a rede de ensino e pesquisa
em arquitetura, engenharia civil e tecnologia.

Distribuída em todo território nacional aos profissionais em cargos de decisão, a revista é a


plataforma ideal para a divulgação dos produtos e serviços que sua empresa tem a oferecer ao
mercado construtivo.

PARA ANUNCIAR Formatos e investimentos


Tel. 11- 3735-0202 Formato Dimensões R$
arlene@ibracon.org.br 2ª Capa + Página 3
42,0 x 28,0 cm 10.285,00
Página Dupla 42,0 x 28,0 cm 9.100,00
4ª Capa 21,0 x 28,0 cm 6.960,00
2ª, 3ª Capa ou Página 3
21,0 x 28,0 cm 6.800,00
Periodicidade Trimestral
1 Página 21,0 x 28,0 cm
Número de páginas 100 6.250,00
Formato 21 x 28 cm 2/3 de Página Vertical
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Papel Couché 115 g 1/2 Página Horizontal
21,0 x 14,0 cm 3.550,00
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Acabamento Lombada quadrada colada
1/3 Página Horizontal
Tiragem 5.000 exemplares 21,0 x 9,0 cm 2.940,00
Distribuição Circulação controlada 1/3 Página Vertical
7,0 x 28,0 cm 2 940,00
1/4 Página Vertical
10,5 x 14,0 cm 2.550,00
fissionais e o ramo
Consulte o perfil dos pro Encarte Sob consulta
de atu açã o das em pre sas do mailing: Sob consulta
org .br (link “Publicações”)
www.ibracon.
CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 9
u encontros e notícias | LIVROS

Desconstruindo o projeto
estrutural de edifícios
E mbora o projeto estrutural con-
tenha centenas de imagens,
muitas vezes a informação contida
com o mínimo possível de falhas.
Com mais de 100 ilustrações, o
livro apresenta de forma prática e
nas plantas, nos cortes e nos de- didática o projeto de concreto ar-
talhes não é perfeitamente assimi- mado e protendido, seguindo, nos
lada pelos profissionais responsá- capítulos, a sequência em que a
veis pela execução da estrutura de obra é executada, iniciando pela
concreto armado ou protendido. locação dos pilares e passando
Desconstruindo o projeto estrutu- pelo detalhamento de fundações,
ral de edifícios, de autoria do en- pilares, cintamento, escada, forma,
genheiro José Sérgio dos Santos, armadura de lajes, armadura de vi-
tem por objetivo ajudar esses pro- gas e protensão.
fissionais a fazer a leitura correta
dos projetos que têm em mãos, Mais informações:
à
de modo que a execução seja feita www.ofitexto.com.br

10 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


u encontros e notícias | CURSOS

IBRACON capacita inspetores de estruturas de concreto


N os dias 31 de março, 01, 07 e 08 de
abril, foi realizado pelo IBRACON o
Curso Inspetor I – Inspeção em estruturas
de concreto segundo a ABNT NBR 16230,
voltado à capacitação de profissionais para
a inspeção, diagnóstico e prognóstico de
estruturas de concreto.
Com a participação de 14 alunos, no pri-
meiro dia os participantes foram apresenta-
dos às atribuições do Inspetor I segundo a
ABNT NBR 16230, aos problemas e mani-
festações patológicas mais frequentes nas
obras de arte especiais e às expectativas
Presidente do IBRACON, Eng. Julio Timerman, em momento de sua aula
dos contratantes do serviço de inspeção
pelo presidente do Instituto Brasileiro do Prof. Paulo Helene, que enfatizou a impor- os alunos receberam do instrutor Eng.
Concreto (IBRACON), Eng. Julio Timerman. tância do diagnóstico e apresentou alguns Alexandre Beltrame, da Beltrame En-
Em seguida, os alunos foram introduzidos casos interessantes de inspeção e de aci- genharia, noções e dicas importantes
nas noções básicas de patologia e tera- dentes, como os casos da Ponte dos Re- para o planejamento dos trabalhos de
pia de estruturas de concreto, com a aula médios, da concessão da Ponte Rio Niterói inspeção, como o controle do crono-
ministrada pelo diretor da PhD Engenharia e do colapso da Ponte do Socorro. grama, a logística de execução das ati-
e conselheiro permanente do IBRACON, No dia seguinte, na parte da manhã, vidades, a especificação de tarefas e a

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 11


u encontros e notícias | CURSOS

distribuição dos equipamentos, instru- NBR 9452 – Inspeção de Pontes, Viadutos


mentos e materiais, com destaque para as e Passarelas de Concreto – Procedimen-
precauções a serem tomadas pela equipe to e NBR 16230 – Inspeção de estruturas
para a minimização de riscos na execução de concreto – Qualificação e Certificação
dessas atividades. Na parte da tarde, os de Pessoal – Requisitos. Os participantes
alunos aprenderam a ler e interpretar pro- tiveram acesso a essas normas para po-
1ª turma assiste à aula do
jetos e a cadastrar elementos estruturais, derem realizar as tarefas nas salas de aula. Eng. Alexandre Beltrame
com a orientação do Eng. Julio Timer- Esses dois dias do curso foram realizados
man, que foi o coordenador das Comis- no auditório da Associação Brasileira de inspeções, balanceando sua aula teórica
sões de Estudos da Associação Brasileira Cimento Portland (ABCP). Na sexta e sá- com uma aula prática no Viaduto General
de Normas Técnicas (ABNT) das normas bado seguintes, o curso prosseguiu na EPT Olímpio da Silveira, na qual os participantes
Engenharia e Pesquisas Tecnológicas, com foram apresentados aos equipamentos de
aulas sobre a maneira de documentar as ensaio e puderam fazer o levantamento das
manifestações patológicas, como aferir sua manifestações patológicas no viaduto.
gravidade, como coletar amostras e como Com carga horária de 28 horas, o curso
fazer o relatório de inspeção, ministrada Inspetor I é uma realização do IBRACON,
pelo Eng. Gilberto Giuzio, diretor de certifi- com a parceria com o IDD, e conta com
cação do IBRACON e da EPT. Para subsi- apoio da ABCP, ALCONPAT Brasil, EPT e
diar o diagnóstico no relatório de inspeção, Sinaenco. Ele faz parte do Programa Mas-
o professor da Universidade Federal de Goi- ter PEC, programa de educação continua-
ás e diretor de cursos do IBRACON, Prof. da do IBRACON.
Enio Pazini, apresentou aos participantes Para informações sobre as próximas tur-
Prof. Paulo Helene, diretor institucional
do IBRACON, durante sua aula os ensaios mais comumente realizados nas mas, acesse: www.ibracon.org.br

uuencontros e notícias | CURSOS


Programação de Cursos Master PEC

Carga
Curso Instrutores Data Local Realizador
horária
Intensivo de Tecnologia Básica Rubens Curti e
18 a 20 de julho 18 horas Sede da ABCP ABCP
do Concreto Flávio André da Cunha Munhoz
Esclarecendo Reparos e Reabilitações em Paulo Helene, Carlos Britez e Av. Paulista, 509, PhD, IDD,
25 de julho 15 horas
Estruturas de Concreto Jéssika Pacheco 13° andar IBRACON
Reforço de Estruturas de Concreto Paulo Helene, Carlos Britez e Av. Paulista, 509, PhD, IDD,
22 de agosto 15 horas
– Soluções Inovadoras Douglas Couto 13° andar IBRACON
Auditório da
Faculdade de
Diagnóstico e Reabilitação de Estruturas Eliana Monteiro, Enio Pazini IBRACON
31 de agosto 4 horas Ciências da
de Concreto Figueiredo e Paulo Helene Regional
Administração de
Pernambuco/ UPE
Execução de Estruturas de Concreto – Paulo Helene, Carlos Britez e Av. Paulista, 509, PhD, IDD,
3 de outubro 15 horas
Engenhosidades e Soluções Jéssika Pacheco 13° andar IBRACON
Curso RILEM/IBRACON sobre
Marco di Prisco, Thomaz Buttig- 31 de outubro e Fundaparque,
Especificações de Projeto em Concreto 12 horas IBRACON
nol, Barzin Mobasher 1º de novembro Bento Gonçalves, RS
Reforçado com Fibras
Fundaparque, Bento
Curso sobre Pré-fabricados Iria Doniak 1º de novembro 4 horas IBRACON
Gonçalves, RS
Dimensionamento de Vigas Isostáticas Fundaparque,
Fábio Albino 2 de novembro 8 horas IBRACON
protendidas Bento Gonçalves, RS
Fundaparque, Bento
Artefatos de Concreto Vibroprensado Idário Fernandes 3 de novembro 4 horas IBRACON
Gonçalves, RS
12 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017
u personalidade entrevistada

Roberto José
Falcão Bauer
F
ilho do engenheiro Luiz Alfredo
Falcão Bauer, fundador do centro
tecnológico de controle da
qualidade homônimo, Roberto
José Falcão Bauer, engenheiro
civil formado em 1975 pela Escola
de Engenharia de Taubaté, foi ser residente das
várias obras nas quais o laboratório prestava
serviços de controle tecnológico do concreto.
O motivo, segundo ele nos informa nesta
entrevista, era adquirir conhecimento técnico e
aprender a trabalhar em equipe.

Em 1979, já como responsável pela equipe


técnica do laboratório de concreto, Roberto foi
fazer especialização em patologia de materiais,
estruturas e habitabilidade no Instituto Eduardo
Torroja da Construção e do Cimento, em Madri,
na Espanha.
Roberto Bauer em Seminário da ABCIC
Seu apetite por aprender e se relacionar não cessou desde
então. Desde 1987, Roberto Bauer é professor no curso sobre tecnologia de concreto e aço para mestres e fiscais de obra,
ministrado nas dependências do Laboratório L.A. Falcão Bauer, em convênio com o Senai e o Ministério do Trabalho. Ele é também
professor da disciplina de materiais de construção civil no curso de Engenharia Civil da Universidade Taubaté (Unitau), desde 1997.

Foi membro da Diretoria do Comitê Brasileiro de Construção Civil (Cobracon) e do Comitê Brasileiro da Construção da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (CB-02/ABNT), sendo atualmente membro do Conselho Deliberativo do Serviço
Social da Construção Civil de São Paulo (Seconci-SP) e do Conselho Consultivo do Sindicato da Indústria da Construção Civil
de São Paulo (Sinduscon-SP), entre outras entidades.

Diretor técnico do Grupo Falcão Bauer até 2016, Roberto, hoje sócio do Grupo, foi agraciado com o Prêmio Luiz Alfredo Falcão
Bauer de 2005, concedido ao destaque do ano em engenharia no campo de pesquisas do concreto e materiais constituintes.

IBRACON – Não poderíamos começar devido às suas iniciativas com relação das obras e ter o primeiro laboratório

esta entrevista sem lhe perguntar sobre ao controle tecnológico do concreto, do país com ensaios acreditados pelo

a influência e os ensinamentos de seu ao montar laboratórios em veículos Inmetro, em 1983?


pai em sua vida e carreira profissional, que prestavam atendimento no local Roberto José Falcão Bauer – Um dos

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 13


de arte da Ferrovia e Augusto Carlos Vasconcelos,
Grupo Falcão Bauer

do Aço, trecho contando com o auxílio, experiência,


correspondente amizade e entusiasmo.
ao sul de Minas No início da década de 60, iniciou
Gerais. com um laboratório de materiais
Mais tarde percebi constituintes e instrumentos para
o motivo para concreto, equipando uma “perua”
que não ficasse Kombi que ia às obras com finalidade
inicialmente no de auxiliar o engenheiro responsável
laboratório central: pela construção, na escolha dos
era para adquirir materiais e na elaboração das
conhecimento dosagens do concreto.
técnico, aprender Encontrou apoio nos primeiros
Ensaio de início e fim de pega de cimento
a trabalhar em clientes, que foram a Construtora
equipe e como Adolfo Lindenberg (CAL), e o Escritório
ensinamentos passados por meu pai, se relacionar com pessoas, além de de Arquitetura Botti-Rubin.
que considero de suma importância, participar e ser cobrado praticamente Entre o final da década de 60 até
foi que, independentemente da todos os dias por profissionais de a de 80, a empresa teve grande
profissão que venha a exercer, seja altíssimo conhecimento e qualidade. crescimento, mudando, em 1973,
qual for, realmente goste do que faça, Concluindo, o Dr. Bauer não para a atual sede na rua Aquinos,
seja responsável e dedicado. permitiu que, após a conclusão do dispondo de laboratórios de ensaios
Após a conclusão do curso superior, curso superior, eu ficasse na “zona de concreto, agregados, cimento, aço,
meu pai quis que fizesse parte de conforto”, mas que participasse, solos e componentes da construção,
das equipes técnicas de controle fosse cobrado, estudasse, adquirisse e bem como de serviços de inspeção
tecnológico do concreto, em várias recebesse conhecimento, e convivesse e laudos técnicos em estruturas de
obras durante o período de 1976 a com pessoas especiais, para criar meu concreto. Posteriormente, foi incluído
1978, residente em obras, tais como, próprio espaço na carreira profissional. o laboratório químico, para realização
das estações da Praça da Sé, do de ensaios químicos nas áreas de
Parque D. Pedro, da conclusão da São IBRACON – Em linhas gerais, como, concreto e argamassas, e na indústria.
Bento, das obras iniciais do terminal quando e por que surgiu a Falcão Em 1983 fomos o primeiro laboratório
Jabaquara, do Metrô de São Paulo; do Bauer? De que forma a empresa evoluiu no Brasil a ter ensaios acreditados
vertedouro de concreto da barragem da e cresceu para ter a projeção que pelo Inmetro, recebendo o número de
represa de Guarapiranga; do calçadão tem hoje? O que fez a Falcão Bauer acreditação CRL 0003.
e galerias de águas pluviais das ruas do diversificar suas atividades? Na década de 90 iniciamos as atividades
centro velho de São Paulo, inúmeras Roberto José Falcão Bauer – Para do IFBQ – Instituto Falcão Bauer
obras da Sabesp e de obras viárias da a viabilidade do empreendimento, da Qualidade, na área de bens de
cidade de São Paulo. Posteriormente, o Dr. Bauer procurou a opinião de consumo, construção civil e indústria,
como responsável pela equipe técnica alguns amigos, dentre eles Sigmundo sistemas de gestão, dentre outros.
do laboratório de concreto das obras Golombek, Roberto Rossi Zuccolo Atualmente contamos com inúmeros


O DR. BAUER NÃO PERMITIU QUE, APÓS A CONCLUSÃO DO CURSO


SUPERIOR, EU FICASSE NA ‘ZONA DE CONFORTO’, MAS QUE ADQUIRISSE
CONHECIMENTO E CONVIVESSE COM PESSOAS ESPECIAIS, PARA CRIAR
MEU PRÓPRIO ESPAÇO NA CARREIRA PROFISSIONAL

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O CONTROLE TECNOLÓGICO TRATA-SE DE UM PROCESSO


QUE VISA O REGISTRO E A GARANTIA DA CONFORMIDADE
OU FATOS NÃO CONFORMES E AÇÕES CORRETIVAS DOS
CONCRETOS PRODUZIDOS E APLICADOS NAS OBRAS

colaboradores em várias áreas de especificações técnicas de projeto, MATERIAIS


atuação, seja na construção civil, seja com relação às propriedades, Materiais disponíveis na região da obra
na indústria em geral. características e respectivas idades e suas características; definição dos
O crescimento e diversificação de do concreto fresco ou endurecido, materiais componentes do concreto
atividades foram decorrentes das visando atender aos parâmetros de com base nos requisitos de projeto;
necessidades do mercado, das desempenho, uso, manutenção e estipulação da armazenagem, planos de
exigências do Inmetro, que contribui durabilidade; amostragem, periodicidade e ensaios
desde 1983 na expertise em ter u Análise conjunta com o construtor químicos e físicos para caracterização
e manter o foco na qualidade, e dos elementos estruturais a serem dos componentes, de acordo com as
principalmente da dedicação de todos concretados com relação a: normas da ABNT;
nossos colaboradores em manter e dimensão máxima do agregado em
preservar os valores e princípios do função da densidade de armadura EQUIPAMENTOS
fundador da empresa. passiva e de protensão, bem como Equipamentos disponíveis para
dimensões das fôrmas, transporte mistura, transporte, lançamento e
IBRACON – O que é o controle e lançamento do concreto, e adensamento do concreto;
tecnológico do concreto? Quais características peculiares impostas
os ensaios típicos mais comumente pelo projeto arquitetônico; CURA
realizados, seu lugar e importância no Processos de cura a serem empregados
processo construtivo como um todo? DURABILIDADE e período mínimo especificado;
Roberto José Falcão Bauer – Trata-se Conhecimento das condições de
de um processo que visa o registro e exposição e ação de agentes externos MÃO DE OBRA
a garantia da conformidade ou fatos e classe de agressividade ambiental Mão de obra disponível, devidamente
não conformes e ações corretivas dos (micro e macroambiente); pressão qualificada e treinada;
concretos produzidos e aplicados nas hidrostática; ambientes quimicamente
obras de concreto armado, protendido agressivos; B. Fornecimento e verificação
ou pré-fabricado, com
base nas especificações
técnicas do projeto
estrutural ou de outros
documentos técnicos.
O controle tecnológico do
concreto compreende os
serviços relacionados a:

A. Tomada de
conhecimento quanto ao:

PROJETO
u Verificação e análise das Ensaio de abatimento do concreto

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 15


de dosagens que atendam às e as condições de temperatura na eventualidade de se verificar
condições anteriores ambiente; falhas nos elementos estruturais
u Caso necessário, deverão concretados;
C. Acompanhamento da obra ser elaborados projetos u Fornecimento de relatório técnico
complementares de escoramento sobre os serviços realizados,
u Análise da metodologia de e fôrmas; resultados obtidos e eventuais
execução (plano de concretagem) recomendações.
em conjunto com o engenheiro D. Realização dos ensaios
responsável pelo projeto estrutural, IBRACON – Porque, na sua opinião,
o arquiteto e o construtor; u Ensaios do concreto fresco e o ensaio do módulo de elasticidade

u Verificação periódica dos endurecido, conforme plano de é pouco realizado, já que é uma

materiais empregados, do estado amostragem previamente definido, característica fundamental nas

de manutenção e operação de acordo com a NBR 12655 estruturas? Por ser pouco solicitado,
dos equipamentos de mistura, e especificações de projeto; seria essa uma razão de em várias

transporte, lançamento e interpretação dos resultados regiões do país não haver nenhum

adensamento, bem como dos obtidos nos ensaios; eventual laboratório que faça esse tipo de

métodos de cura quanto à sua correção ou modificação das ensaio? O que fazer para tornar esse
eficiência; recomendações iniciais, em face ensaio mais comum?

u Cuidados requeridos pelo processo da constatação de variações Roberto José Falcão Bauer – Minha
construtivo e pela retirada do das características dos materiais primeira experiência com especificações
escoramento, levando em empregados, dos equipamentos de módulo de elasticidade foi em
consideração as peculiaridades dos e da eventual necessidade de 1977, no Metrô de São Paulo, no
materiais (em particular do cimento) correção da avaliação inicial estudo de dosagem do concreto a ser
feita sobre o aplicado nas vigas pré-moldadas do
comportamento elevado entre as estações da Praça da
da obra; Sé e do Parque Dom Pedro.
u Fornecimento O projeto estrutural especificava
de consulta aos valores de resistência característica à
interessados no compressão e módulo de elasticidade
que diz respeito do concreto, sendo este último com
aos métodos base na equação teórica (modelo de
construtivos; previsão), constante da norma ABNT
u Fornecimento NBR 6118 em vigor na época
de instruções e (E = 21.000 x
2
fck em kgf/cm²).
acompanhamento Os parâmetros eram fck ≥ 230 kgf/
dos serviços cm², relação a/c ≤ 0,56 e módulo de

Ensaio de resistência à compressão diametral de reparo elasticidade de 318.500 kgf/cm².


em concreto do concreto, O valor especificado do módulo


O VALOR ESPECIFICADO DO MÓDULO DE ELASTICIDADE


ERA SUPERESTIMADO. PROVAVELMENTE A EQUAÇÃO
FORA OBTIDA COM BASE EM RESULTADOS DE ENSAIOS
DE CONCRETO MASSA, USUAIS EM BARRAGENS

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O PROFISSIONAL [ENVOLVIDO COM O CONTROLE TECNOLÓGICO]


RECEBE, ALÉM DE TREINAMENTOS EM CURSOS, AVALIAÇÃO
DAS RESPECTIVAS ATIVIDADES, TREINAMENTO EM RELAÇÃO À
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO, AO USO DE EPIs, ETC.

de elasticidade era superestimado.


u Quadro 1 – Profissionais de controle tecnológico do concreto
Provavelmente a equação fora obtida
com base em resultados de ensaios
Áreas de trabalho
de concreto massa, usuais em
Coordenação Engenheiro Civil
barragens (concretos com elevado teor
Laboratório Campo Central de concreto
de agregado graúdo).
Laboratorista Tecnologista Tecnologista
Durante o estudo da dosagem em
Auxiliar de laboratorista Auxiliar de tecnologista Auxiliar de tecnologista
laboratório, com emprego de agregado
Moldador Moldador –
graúdo (brita 1 e 2) de origem
granítica, lançamento convencional
e abatimento de 80 ± 20 mm, pelo construtor. Após a escolha da nas áreas específicas, com atribuições
constatamos que, para atender os empresa de serviços de concretagem de programar, distribuir, coordenar e
parâmetros especificados, o concreto que fornecerá o concreto à obra, as fiscalizar os trabalhos executados no
não apresentaria trabalhabilidade dosagens devem ser previamente campo e no laboratório.
adequada aos elementos estruturais, verificadas com relação ao Os colaboradores recebem instruções
que possuíam armadura passiva e atendimento às especificações a respeito de:
de protensão, para lançamento e técnicas, inclusive determinação u Quem vai fazer (responsáveis pelas
adensamento do concreto (devido ao do módulo de elasticidade e demais atividades);
teor elevado de agregado graúdo). características, antes do início u O que deve ser feito (atividades a
Após inúmeras reuniões técnicas, a da obra. serem executadas);
dosagem do concreto foi elaborada u Quando deve ser feito (cronograma
com teor de argamassa mínimo IBRACON – Quais são os profissionais das atividades);
e necessário para o adequado responsáveis por realizar esses ensaios u Onde deve ser feito (locais das
lançamento e adensamento. em cada etapa do processo construtivo? atividades);
Após a realização de ensaios de Como é a hierarquia dos profissionais u Por que deve ser feito (finalidade
resistência à compressão e módulo que trabalham num laboratório de das atividades);
de elasticidade, em 100 amostras de controle tecnológico? Como se dá u Como deve ser feito (método,
concreto, a relação obtida foi a relação entre os laboratórios e materiais, máquinas, mão de
E = 17.000 x
2
fck em kgf/cm². seus clientes em termos de divisão de obra, metrologia, meio ambiente e
Com relação à pouca realização dos responsabilidades? recursos);
ensaios de módulo de elasticidade Roberto José Falcão Bauer – As u Itens de verificação e controle
devemos ter consciência de que equipes que atuam em um laboratório (listas de verificação, indicadores e
concretos de qualidade devem de controle tecnológico são monitoramento);
atender às especificações técnicas constituídas por pessoas de vários O profissional recebe, além de
de projeto. níveis de formação e qualificação, treinamento em cursos formais,
É de vital importância que seja sempre supervisionadas por internos e externos, avaliação das
valorizado o projeto estrutural e que engenheiro civil (Quadro 1). respectivas atividades, treinamento
as especificações técnicas sejam O engenheiro civil deverá ter em relação à saúde e segurança no
devidamente analisadas e atendidas experiência em tecnologia do concreto trabalho, ao uso de equipamentos

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 17


preservada no documentação referente ao processo
uso, operação e de acreditação através do Sistema
manutenção. Orquestra do Inmetro, tais como:
u Documentação legal;
IBRACON – Quais u Documentação do sistema de
requisitos devem gestão da qualidade implementado;
ser considerados u Relatório de análise crítica pela alta
na contratação direção dos resultados
de um laboratório do laboratório;
para o controle u Relatório da última auditoria interna
tecnológico para o escopo solicitado;
do concreto? u Documentação referente à
Por quê? participação em ensaios de
Ensaio de determinação da Tenacidade em concreto
com Fibra Roberto José proficiência;
Falcão Bauer – u Documentação referente aos
de proteção individual, às condições Com relação aos laboratórios, que requisitos técnicos (procedimentos,
básicas preestabelecidas de acordo sejam acreditados pelo Inmetro, metodologias, formulários, incerteza
com o cargo e às responsabilidades ou pré-qualificados e devidamente de medição, calibração de
com relação às respectivas funções, avaliados por critérios objetivos equipamentos).
atividades principais, documentações e preestabelecidos no manual Os documentos necessários estão
e formulários de registros. da qualidade do contratante e descritos em documento específico do
Sempre é avaliado o desempenho formalizados pelo departamento da Inmetro (documento FOR-CGCRE-017).
dos colaboradores. Também são qualidade das construtoras. A DICLA avalia a completeza da
previstos treinamentos específicos, Então, mediante documentação documentação e posteriormente
visando à reciclagem, ao aumento de técnica contendo as especificações realiza o agendamento da avaliação do
conhecimento técnico e às eventuais dos trabalhos e atividades a serem laboratório. Após a avaliação inicial, o
revisões de normas e procedimentos, realizados, os mesmos possam laboratório tem um prazo de 45 dias
seja de normas técnicas nacionais ou apresentar sua proposta técnico para envio das evidências das não
internacionais, seja de regulamentos comercial. conformidades, caso haja. Depois do
internos da empresa. fechamento das ações, é emitido um
A qualidade é obtida por quem faz IBRACON – Como é o procedimento parecer técnico final pelo avaliador líder
o trabalho e não por quem controla; para a acreditação de um laboratório ao GA (Gestor de Avaliação). Após o
quem controla monitora, documenta pelo Inmetro? Quais parâmetros são parecer final, o escopo da acreditação
e registra a qualidade ou falta de avaliados? Qual é a periocidade dessa é emitido pela CGCRE (Coordenação
qualidade das atividades. É de vital avaliação? Geral de Acreditação do Inmetro).
importância nos conscientizarmos Roberto José Falcão Bauer – O Os parâmetros avaliados são
de que a qualidade das construções laboratório interessado na acreditação todos os requisitos que são de
nasce com o projeto e especificações, deve disponibilizar à DICLA (Divisão responsabilidade da alta direção do
se consolida na execução e é de Acreditação de Laboratórios) a laboratório (requisitos gerenciais) e os


A QUALIDADE É OBTIDA POR QUEM FAZ O TRABALHO


E NÃO POR QUEM CONTROLA; QUEM CONTROLA
MONITORA, DOCUMENTA E REGISTRA A QUALIDADE
OU FALTA DE QUALIDADE DAS ATIVIDADES

18 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017



SÃO 48 LABORATÓRIOS NO BRASIL, DOS


QUAIS APENAS 9 TÊM ACREDITAÇÃO DE
ENSAIOS RELACIONADOS A CONTROLE
TECNOLÓGICO DO CONCRETO

requisitos técnicos da ISO 17025 – (RBLE) no setor


Requisitos Gerais para Competência da construção
de Laboratórios de Ensaios e civil, acreditados
Calibração, além de diversas normas pela Coordenação
complementares da CGCRE. Geral de
Após a acreditação/avaliação inicial, Acreditação do
é realizada uma nova avaliação/ Inmetro (CGCRE).
auditoria no período de um ano. As São 48
novas avaliações de manutenção são laboratórios
realizadas a cada dois anos, sendo no Brasil, dos
que essa periodicidade pode ser quais apenas 9
reduzida com base no resultado da têm acreditação
auditoria, caso seja satisfatória. de ensaios
Ensaio de compressão axial de corpo de prova de concreto
relacionados extraído de estrutura
IBRACON – No universo dos a controle
laboratórios de controle tecnológico tecnológico do concreto, de constituintes do concreto, conforme as
do concreto, qual porcentagem deles é acordo com a Norma NBR 12655 normas brasileiras (Quadros 2 e 3).
acreditado pelo Inmetro? Concreto de Cimento Portland – No Brasil existem apenas 9
Roberto José Falcão Bauer – Consta Preparo, Controle e Recebimento laboratórios de materiais de
no site do Inmetro, a relação de – Procedimento, bem como ensaios construção (oito na cidade de São
laboratórios de ensaios acreditados físicos e químicos dos materiais Paulo e um em Goiás), com ensaios

u Quadro 2 – Quantidade de laboratórios de materiais de construção civil acreditados

Laboratórios de construção civil


Estados Total
Terceira parte Senai Outros
São Paulo 25 3 5 33
Paraná 1 2 – 3
Goiás 1 – 1 2
Minas Gerais 2 – – 2
Pernambuco 1 1 – 2
Rio Grande do Sul 1 1 – 2
Santa Catarina – 2 – 2
Mato Grosso do Sul – 1 – 1
Rio de Janeiro – 1 – 1
N° de laboratórios de materiais de construção civil com
31 11 6 48
ensaios acreditados pelo Inmetro desde 1983 (34 anos)

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 19


Após a realização dos ensaios, os
u Quadro 3 – Quantidade de laboratórios de controle tecnológico
laboratórios inscritos enviam os
do concreto acreditados
resultados obtidos ao coordenador do

Controle tecnológico do concreto programa.


Estados É realizado um estudo estatístico
Observação (1) Observação (2) Observação (3)
dos resultados e apresentado um
São Paulo 10 3 8
relatório com o desempenho individual,
Paraná 1 – –
de cada laboratório participante,
Goiás 1 – 1
onde é avaliado, para cada ensaio, o
Minas Gerais 1 – –
procedimento, os equipamentos e a
Pernambuco 1 – –
mão de obra.
Rio Grande do Sul – – –
Alguns ensaios interlaboratoriais
Santa Catarina – – –
possuem rodada única e anual, outros
Rio de Janeiro – – – bianual e, em alguns casos, os ensaios
Mato Grosso do Sul – – – são realizados em diversas rodadas
N° de laboratórios com ensaios de CT do durante o ano.
concreto acreditados pelo inmetro desde 14 3 9
1983 (34 anos) O laboratório acreditado deve
1) Ensaio do concreto fresco e de resistência à compressão. participar de, pelo menos, uma
2) Ensaio do concreto fresco e endurecido. atividade relacionada a cada parte
3) Ensaio do concreto fresco, endurecido e materiais constituintes.
Somente o estado de São Paulo e de Goiás tem laboratórios na RBLE, acreditados pela coordenação Geral de Acreditação do significativa do seu escopo, a cada
Inmetro (CGCRE) para realização de controle tecnológico do concreto.
quatro anos.
Em alguns casos não há programas
de controle tecnológico do concreto das atividades da garantia da qualidade, disponíveis para um determinado
acreditados pelo Inmetro, conforme onde são realizados estudos estatísticos escopo. Dessa forma cabe ao
pesquisa realizada em 24 de abril de diversos dados relativos a um mesmo laboratório buscar por provedores que
de 2017 no site do Inmetro, com tipo de ensaio. São comparações de atendam aos ensaios desejados e, caso
relação aos laboratórios da RBLE – resultados entre laboratórios, sejam de não exista, devem ser realizados outros
Rede Brasileira de Laboratórios de ensaio, de calibração, seja de análise métodos de garantia da qualidade.
Ensaios Acreditados. clínica, com a finalidade de garantir a
qualidade dos mesmos, através da IBRACON – Como você avalia o
IBRACON – O que são os ensaios análise da dispersão dos resultados de Sistema Nacional de Avaliações
interlaboratoriais? Quais laboratórios amostras ensaiadas. Técnicas (SINAT)?
podem participar desses ensaios? Como Qualquer laboratório pode participar, Como tem sido a participação do
são feitos? Qual sua periodicidade? independentemente se os ensaios Instituto Falcão Bauer como Instituição
Esses ensaios são feitos para todos os sejam acreditados na ABNT/ISO Técnica Avaliadora (ITA)? De quantas
ensaios realizados pelos laboratórios IEC 17025. avaliações o Instituto já participou?
participantes? O coordenador do interlaboratorial Quais foram os maiores desafios nessas
Roberto José Falcão Bauer – Os desenvolve uma amostra padrão e avaliações e resultados mais marcantes?
ensaios interlaboratoriais fazem parte envia aos laboratórios participantes. Roberto José Falcão Bauer – O


OS ENSAIOS INTERLABORATORIAIS SÃO COMPARAÇÕES DE


RESULTADOS ENTRE LABORATÓRIOS COM A FINALIDADE DE
GARANTIR SUA QUALIDADE, PELA ANÁLISE DA DISPERSÃO
DOS RESULTADOS DE AMOSTRAS ENSAIADAS

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O PROGRAMA (SINAT) TRABALHA COM A


HARMONIZAÇÃO DE PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
TÉCNICA DOS PRODUTOS, CONSIDERANDO ASPECTOS
IMPORTANTES DO USO PROPRIAMENTE DITO

SINAT é, sem dúvida, um programa pelo Instituto

necessário à mobilização da Falcão Bauer de


comunidade técnica brasileira, o qual Qualidade? O que
tem como objetivo avaliar produtos se avalia nesses

que são utilizados nos processos processos? Que


construtivos desenvolvidos no país. tipos de produtos

Permite operacionalizar procedimentos e sistemas? Que


reconhecidos pela cadeia produtiva garantias são

do setor e ampliar a utilização de dadas aos clientes

alternativas tecnológicas inovadoras por e consumidores?

meio de diretrizes técnicas regulatórias. Roberto José


O programa trabalha com a Falcão Bauer –
harmonização de procedimentos A certificação
Moldagem de corpos de prova para ensaio de resistência
de avaliação técnica dos produtos, de produtos à compressão
considerando aspectos importantes visa verificar o
do uso propriamente dito, ou seja, atendimento às normas técnicas dos como componentes automotivos,
promove avaliações considerando produtos, visando a a segurança, pneus e rodas, brinquedos, artigos para
o desempenho dos produtos, com o desempenho e, em alguns festas, eletrodomésticos, equipamentos
foco nas exigências do usuário, casos, a eficiência energética e a eletromédicos, preservativos, implantes
evidenciadas na ABNT NBR compatibilidade eletromagnética. mamários, produtos da construção civil,
15575:2013. Nesse processo são verificados desde filtros e bebedouros, equipamentos de
A ITA IFBQ, por meio de seu Polo de o projeto do produto, passando por proteção individual, equipamentos para
Negócios “Inovação na Construção”, avaliação de fábrica, acompanhado postos de combustível, colchões,
atua ativamente no SINAT, tanto de ensaios de rotina na fábrica e entre outros.
na avaliação de produtos como no ensaios de tipo completos no produto, Os clientes se sentem seguros
processo de revisão e de proposição realizados em laboratórios creditados. por colocar no mercado produtos
de diretrizes técnicas. Já produziu um Já a certificação de sistemas de produzidos com qualidade,
total de doze documentos de avaliação gestão visa verificar a repetibilidade atendendo às normas técnicas e
técnica (DATEc). dos processos. Estes processos certificados, e os consumidores que
O principal desafio é promover podem ser referentes à Qualidade (ISO utilizam um produto certificado tem
a orientação e disseminação do 9000), Ambiental (ISO 14000), Saúde a confiança que os mesmos terão
conhecimento da avaliação por e Segurança Ocupacional (OHSAS o desempenho esperado e não irão
desempenho junto à cadeia produtiva, 18000), Responsabilidade Social (SA colocar em risco a integridade física
viabilizando produtos com padrões 8000), entre outros. São auditados e dos usuários.
mínimos de qualidade para a verificados “in loco” a implementação Há também inúmeros programas de
construção civil do país. dos procedimentos referentes às qualidade específicos e setoriais, como
Normas de Sistema em questão. é o caso do PBQP- H (Programa
IBRACON – O que são os processos A certificação compulsória de produtos Brasileiro de Qualidade e Produtividade
de certificação de produtos e sistemas no Brasil abrange vários produtos, do Habitat), do selo Excelência ABCIC,

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 21


do concreto, nos
u Quadro 4 – Resultado de estudo
ensaios dos corpos
sobre porcentagens de exemplares
de prova ou na
com fcj ˂ fck
moldagem e cura

desses corpos de
Período de janeiro até 15 de junho
prova? de 2015
Roberto José N° de % de
Falcão Bauer – fck corpos de exemplares
(MPa) prova com
Nos controles
ensaios fcj ˂ fck
efetuados pela
20/25/30
L.A. Falcão 59.206 1,5% a 4,0%
35/40
Bauer, durante 45 1.900 5,0%
vários meses nos 50 1.084 6,0%
Ensaio de compressão de prisma de bloco de concreto
últimos anos,
constatamos, com
específico da indústria de estruturas relação aos resultados de resistência que em 70% dos casos os resultados
pré-fabricadas de concreto. à compressão de corpos de prova obtidos confirmaram os resultados
ensaiados, que as porcentagens de obtidos nos corpos de prova moldados
IBRACON – Considerando a expertise exemplares com fcj < fck variaram (7 em cada 10 amostras).
dos laboratórios da Falcão Bauer, qual entre 1,5% e 6,0% (Quadro 4). A distribuição normal ou de Gauss é
é sua posição sobre os concretos não Mediante rastreabilidade (pelo um modelo estatístico que representa
conformes? Suas causas estão na falta mapeamento quando do lançamento de maneira satisfatória a distribuição
de controle de qualidade na produção do concreto ou por ensaios não das resistências à compressão do
destrutivos) concreto (fenômeno físico e real).
das betonadas O valor de resistência à compressão
Curva de Gauss de concreto que apresenta uma probabilidade
correspondentes de 5% de não ser alcançado é
aos exemplares denominado resistência característica
Densidade de Frequência ou
Densidade de Probabilidade

que apresentaram do concreto à compressão (fck),


resistência à ou seja, uma em cada vinte
Sc Sc compressão betonadas pode estatisticamente
inferior ao fck, ser inferior ao fck, parâmetro
95% foram procedidas adotado no projeto estrutural.
extrações e ruptura Analisando o Quadro 4 podemos
5% de corpos de considerar que os concretos com
prova da estrutura, resistência característica à compressão
fc
fck fsm conforme ABNT de 20 a 45 MPa não apresentaram
NBR 7680. desconformidades. Entretanto, com
Resistência à compressão (MPa)
Constatamos relação aos concretos com resistência


O VALOR DE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO QUE APRESENTA


UMA PROBABILIDADE DE 5% DE NÃO SER ALCANÇADO
É DENOMINADO RESISTÊNCIA CARACTERÍSTICA DO
CONCRETO À COMPRESSÃO (FCK)

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SEMPRE HÁ A PROBABILIDADE


DE RECEBERMOS DE CADA
20 BETONADAS UMA COM
RESULTADO INFERIOR AO FCK

característica à compressão de 50 IBRACON – Qual é sua avaliação do com seus ensaios ou parte deles
MPa, ocorreu a aceitação de uma Programa de Certificação de Pessoal submetidos à avaliação e acreditados
betonada com fcj inferior ao fck em do IBRACON, voltado para qualificação pela coordenação Geral de Acreditação
cada dezoito betonadas. dos profissionais dos laboratórios de do Inmetro (CGCRE), e participando da
Provavelmente, alguns fatores controle tecnológico do concreto? Os RBLE( Rede Brasileira de Laboratórios
contribuíram para a não conformidade laboratórios da Falcão Bauer têm seus de Ensaios), do Inmetro.
do concreto, tais como: profissionais certificados? Os laboratórios da L.A. Falcão Bauer
u Deficiência de controle de qualidade Roberto José Falcão Bauer – Todo atendem aos requisitos da ABNT/ISO
na produção do concreto (pesagem programa de certificação, seja de IEC 17025 e têm inúmeros ensaios
dos materiais constituintes, qualificação de pessoal, seja de acreditados, que constam do escopo
variação considerável da laboratório, é importante. da acreditação emitido pela CGCRE.
granulometria do agregado miúdo, Há décadas sabemos que a qualidade
teor de material pulverulento nos é obtida levando-se em consideração IBRACON – Quais seus hobbies?
agregados); os seis “M’s”: material, mão de obra, Roberto José Falcão Bauer – As
u Deficiência de homogeneidade do medição, máquina (equipamentos), atividades que pratico com muito
concreto no caminhão betoneira; método (especificações, prazer são dar aulas no curso de
u Deficiência nos ensaios dos corpos procedimentos), meio ambiente, e não Tecnologia do Concreto para mestres
de prova (decorrente da moldagem, somente um dos “M’s”. de obras e encarregados, em convênio
cura, desforma e transporte até Porém a qualidade só pode ser com o SENAI, em nosso laboratório, e
o laboratório, ou da realização do implantada na organização por decisão na Universidade de Taubaté – UNITAU,
ensaio de compressão dos corpos do presidente da empresa no curso de engenharia civil, na
de prova). (e eventuais sócios) e com o seu total cadeira de materiais de construção
Concluindo, sempre há a probabilidade comprometimento e apoio sincero para desde 1977. E sempre que possível,
de recebermos de cada 20 betonadas envolver toda sua organização nessa passar o fim de semana no sítio.
01 com resultado inferior ao fck. forma de gestão.
Portanto, devemos estar sempre A filosofia dos
atentos, pois existe a probabilidade de seis M’s e o total
que aquela betonada não conforme comprometimento
corresponda a 100% do volume e apoio do
de concreto aplicado nos pilares presidente são
do edifício em execução ou outro fatores vitais para
elemento estrutural. que os laboratórios
Daí a necessidade, quando da tomada atendam aos
de conhecimento do projeto estrutural requisitos da
e das especificações técnicas, de ABNT/ISO IEC
estabelecer os critérios de formação 17025, e sejam
de lotes e amostragem, conforme devidamente
Norma NBR 12655, e proceder a acreditados
análise dos ensaios realizados. pelo mercado, Ensaio de penetração de água em concreto

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 23


u estruturas
encontros eem
notícias
detalhes
| CURSOS

Controle tecnológico do
concreto em obras
PAULO FERNANDO A. SILVA – Diretor Técnico-Comercial
Concremat Engenharia
Empresa do Grupo China Communications Construction

1. INTRODUÇÃO técnico, o que implicou uma desvalo- lhoria na qualidade da obra. É sabido

O
presente artigo tem por fi- rização de uma das mais importantes da importância da equipe de produção,
nalidade detalhar a ativida- atividades da construção. Essa postura mas a equipe da qualidade contribui
de de Controle Tecnológico tem trazido muitos prejuízos às empre- muito para o bom desempenho do em-
de Materiais, seus benefícios para o sas construtoras, pela necessidade de preendimento, apesar de nem sempre
empreendimento em construção (edifi- retrabalho, e aos usuários, pois, às ve- ser valorizada. Eu diria que a qualidade
cações, pontes, viadutos, metrô, obras zes, recebem empreendimentos sem a da obra depende mais do Gerente da
de saneamento, etc.) e, por fim, apre- qualidade que esperavam ou que com- Obra do que da empresa executante,
sentar casos reais de problemas ocor- praram. Muitas vezes, o que tem sido pois é este profissional que dá as dire-
ridos em controle de obra. Os serviços observado em obra é a elaboração de trizes da obra.
de Controle Tecnológico ao longo dos bonitos gráficos de pizza e relatórios A norma brasileira que atualmente
anos têm sido tratados como apenas sem qualquer fundamentação teórica, trata do Preparo, Controle, Recebimen-
moldagem e ruptura de corpos de pro- aliado a um “excessivo volume de pa- to e Aceitação do Concreto de Cimento
va, por total desconhecimento do meio pel”, mas que não trazem qualquer me- Portland é a ABNT NBR 12655:2015,
que substituiu a versão de 2006 desse
mesmo documento e também a ABNT
NBR 12654:1992 (Controle tecnológico
de materiais componentes do concreto).
A ABNT NBR 12655: 2015 estabelece
que o Controle Tecnológico dos mate-
riais componentes do concreto deve ser
realizado de acordo com as respectivas
Normas Brasileiras específicas.
Segundo a ABNT NBR 12655 o
proprietário da obra e o responsável
técnico por ele designado devem ga-
rantir o cumprimento desta norma, e
manter a documentação que compro-
ve a qualidade do concreto, conforme
estabelecido no subitem 4.4. O profis-
sional responsável pela execução da
obra, bem como o proprietário da obra
e o responsável técnico pela obra têm
u Figura 1
como uma de suas responsabilidades
Concentração de carga em uma pequena área do cp
o recebimento e aceitação do concreto.

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Segundo a ABNT NBR 7212:2012 concreto. Pela própria definição pode-
o recebimento do concreto endurecido -se constatar que o Controle é muito
é o ato pelo qual se constata, mediante mais do que simplesmente determinar
ensaios ou outras verificações, o atendi- a consistência (determinar o “slump”),
mento às especificações e às exigências moldar e romper corpos de prova (cp).
do pedido (“de compra”). A avaliação do A equipe de Controle Tecnológico tem
concreto fresco compreende a verifica- que ter conhecimento técnico e experi-
ção da consistência pelo abatimento do ência prática para realização desta ati-
tronco de cone, ou espalhamento, em vidade, como veremos adiante. Como
função do tipo de concreto previamente exemplo, pode-se citar um caso de
especificado no pedido (“de compra”), obra onde o Engenheiro do Controle
e a comprovação da dimensão máxi-
u Figura 2
Tecnológico foi substituído quatro ve-
Corpo de prova rompido em
ma característica do agregado graúdo zes, e isto ocorreu porque foram co- uma pequena parte
solicitada. Os subitens 6 e 7 da ABNT locados na função profissionais com-
NBR 7212 tratam, respectivamente, do petentes em fiscalização de obra, mas
Controle do processo de dosagem da não aptos para coordenar a equipe subitem 5.3 que o aumento da tensão
central e da Análise do processo. No de Controle Tecnológico naquele mo- deverá estar compreendido no interva-
Controle do processo é definida a amos- mento. É comum, mesmo em grandes lo de 0,9 MPa/min a 1,2 MPa/min). Os
tragem a ser seguida pela empresa se obras, deixar a cargo de Engenheiros resultados atenderam à especificação,
serviço de concretagem, a formação de Júniores o Controle Tecnológico, sem mas, na realidade, isto ocorria por um
amostragem, os documentos de entre- que os mesmos estejam preparados erro no ensaio, não porque o concreto
ga, o que deve constar em uma carta de para isto, e o pior sem qualquer orien- era bom. Nesse caso o traço de con-
traço, critério de descarte de resultados tação técnica. creto foi corrigido.
espúrios e, por fim, o cálculo do des- Há um desconhecimento por parte Outro exemplo interessante é o do
vio padrão da central (Sn). A Análise do dos envolvidos de que os parâmetros ensaio de Durabilidade do Agregado ao
processo, através do Desvio Padrão da especificados em Projeto têm que ser ataque por sulfato de Sódio e Magné-
Central (Sn), permite avaliar o Controle atendidos, segundo as normas brasilei- sio (“Soundness Test: ASTM C 88”, ou
do processo e classificá-lo em níveis (Ní- ras ou internacionais de cada material DNER ME 089/94 – Agregados – Ava-
vel 1, Nível 2, Nível 3 e Nível 4). A ABNT (seguindo métodos de ensaio padroni- liação da durabilidade pelo emprego
NBR 7212 permite utilizar outros méto- zados). Esses limites somente são váli- de sulfato de sódio ou de magnésio).
dos de controle da qualidade, como ACI dos se a metodologia de ensaio defini- Conforme poderá ser observado a se-
214 (o qual o autor deste artigo utiliza) ou da na norma for rigorosamente seguida. guir há vários fatores citados, que po-
EN 2016-1. Um exemplo básico é a velocidade de derão interferir no resultado do ensaio.
Uma conceituação básica para ruptura dos corpos de prova, que é li- Os fatores que afetam a precisão deste
Controle Tecnológico é a que o define mitada por norma e interfere no resul- ensaio são:
como a atividade que tem por finalida- tado. Houve um caso bastante interes- u Temperatura da solução;
de verificar se os materiais empregados sante de um pavimento de concreto, u Variação da Temperatura da solução
na elaboração do concreto atendem as onde a Resistência à Tração na Flexão durante o ensaio;
suas respectivas normas, bem como a de Projeto não estava sendo obtida. O u Idade da solução;
ABNT NBR 12655. Um conceito mais ensaio foi realizado corretamente; por u Concentração da solução;
amplo para Controle Tecnológico se- isso, foi sugerido rever o traço. Antes u Pureza da água usada para fazer a
ria a análise e verificação do concreto da mudança do traço um novo ensaio solução;
e seus materiais constituintes, além em outro laboratório foi realizado, que u Recipiente usado para imersão das
do acompanhamento dos serviços usava uma velocidade bem superior à amostras, etc.
de concretagem, recebimento, lança- máxima permitida pela norma ABNT No caso do ataque por sulfato, por
mento, vibração, desforma e cura do NBR 12142:2010 (a qual cita em seu exemplo, é importante ressaltar que a

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 25


concentração da solução de sulfato de NBR 12655 e ABNT NBR 6118, da Es- dito, em particular para os Engenheiros
Magnésio é maior do que a da solução pecificação da obra e de Projeto. Este que não têm especialização nesta área.
de sulfato de Sódio. Logo, os limites Plano deverá conter no mínimo: Um Controle Tecnológico eficaz, além
máximos a serem atendidos são dife- u Tipos de Ensaio a serem realizados, de garantir o uso de materiais conformes
rentes, para cada tipo de solução. e suas respectivas normas; (que atendam suas respectivas normas),
No caso da Resistência do Concreto u Frequência de realização; pode gerar os seguintes benefícios:
pode-se destacar, dentre inúmeros pon- u Local da execução do ensaio (labo- u Redução do custo da obra;
tos, os seguintes fatores que interferem ratório de obra ou externo). u Redução do consumo de aglomerante;
no resultado de cada corpo de prova: Mensalmente deverá ser elabora- u Redução do retrabalho;
u Instante da Moldagem do cp; do um Relatório Técnico conclusivo, u Minimização da fissuração.
u Cura inicial do cp; acerca dos ensaios realizados, e se os Com os materiais constituintes
u Transporte do cp; mesmos atenderam ou não às Normas mantendo-se uniformes e os ensaios
u Temperatura da água de cura; Brasileiras, e quais as medidas adota- sendo realizados corretamente o grau
u Preparo do cp; das em caso de não conformidade. A de dispersão é baixo, e é possível re-
u Planicidade do cp; solução das não conformidades deverá duzir o Desvio Padrão de Dosagem, e,
u Velocidade de ruptura do cp; etc. ser imediata, pois é inadmissível que, para uma mesma resistência caracte-
Os ensaios de Controle Tecnológico por exemplo, após 2 anos ou mais do rística à compressão do concreto (fck),
têm que seguir o procedimento (Méto- início da obra, ainda exista não confor- reduzir o consumo de cimento neces-
do de Ensaio) que está escrito nas nor- midade não solucionada. sário, para atendê-lo. Uma redução no
mas brasileiras e internacionais (se for consumo de cimento, para grandes
o caso). Isto é obrigatório. Em síntese, 2. BENEFÍCIOS DO CONTROLE blocos de fundação, lajes espessas e
não basta fazer os ensaios sem que se CENTROLÓGICO pilares robustos, implica em redução
sigam os Métodos de Ensaio prescritos Dentre os diversos benefícios do do Gradiente Térmico, e do risco de
nas Normas Brasileiras. Para se definir Controle Tecnológico o de mais fácil fissuração por origem térmica, ou por
um procedimento de ensaio muitos es- compreensão é saber se os materiais formação de Etringita Retardada (“De-
tudos são realizados e são observadas constituintes do concreto atendem ou layed Ettringite Formation”).
as influências de cada variável no resul- não as Normas Brasileiras, o que, por si A fissuração de origem hidráulica é
tado final do ensaio. só, já é muito importante. Isto é neces- função, principalmente, do consumo de
Antes do início de cada obra deve ser sário, mas não suficiente. Como exem- água. Logo, mantendo-se a mesma re-
preparado um Plano de Controle Tecno- plo, imagine a insegurança e o custo que lação água/cimento e reduzindo o con-
lógico, o qual será elaborado em função poderá ser acrescido ao custo inicial da sumo de cimento, temos redução do
do tipo de obra, da classe de agressivi- obra, pelo uso de um agregado potencial- consumo de água. Logo, menor será a
dade ambiental (CAA), prevista na ABNT mente reativo, que não foi ensaiado antes tensão de tração induzida pela retração e
do início dos serviços de concretagem. O menor risco de fissuração.
desgaste para a imagem do Construtor O retrabalho também é reduzido. Um
em ter que quebrar um elemento estrutu- exemplo claro de retrabalho é quando
ral recém-construído, ou reforçá-lo é mui- se usa um agregado reativo em ambien-
to elevado, e tudo isto poderia ser evitado te de elevada umidade relativa (superior
através do uso inteligente e eficaz de um a 85%), o que certamente leva ao apa-
Plano de Controle Tecnológico. Contu- recimento de patologia. Caso o ensaio
do, é importante salientar que há Espe- seja realizado somente após a confec-
cificações Técnicas de obra e Planos de ção do elemento estrutural, e este seja
Controle Tecnológico, que exigem uma de pequena dimensão a sua demolição
u Figura 3 quantidade excessiva e absurda de en- é uma hipótese bastante provável, como
Discos de desbaste: cinza (bom)
saios, o que pode inviabilizá-lo, ou fazer ocorreu recentemente em uma obra no
e vermelho (ruim)
com que os mesmos caiam em descré- Centro-Oeste do Brasil.

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Através dos ensaios de Controle Tec- a resistência de Projeto era atendida.
nológico pode-se comparar e escolher Análise e solução: Foi observado
materiais de melhor qualidade, os quais que a Temperatura da Água de Cura
reduzirão os custos globais da obra. do cp não atendia ao especificado na
No caso de obras prediais o Con- ABNT NBR 5738:2015 (Temperatu-
trole Tecnológico deverá ser contratado ra compreendida entre 21 e 25o C), e
pela empresa responsável pela Cons- o preparo da superfície das bases do
trução. Já nas demais obras, tais como concreto não deixava a mesma parale-
METRÔ, ESTAÇÃO DE TRATAMENTO la a outra superfície. Segundo a ABNT
DE ÁGUA E ESGOTO, PISCINÕES, RO- NBR 5738:2015 antes de ensaiar os cp
DOVIAS, FERROVIAS, PORTOS, etc, o é imprescindível preparar suas faces, de
contratante deverá ser o PROPRIETÁ- modo que se tornem superfícies planas
RIO da mesma. A empresa construto- e perpendiculares ao eixo longitudinal do
ra poderá realizar o seu Controle Tec- cp. Esta preparação pode ser feita por
nológico, mas isto não elimina e nem retificação ou capeamento. Logo, quan-
minimiza o Controle do Proprietário da do da ruptura do cp havia concentração
obra. Os laboratórios de ensaio, obri- de carga em determinada área (foto 1 e
gatoriamente, deverão ser acreditados 2), o que reduzia o valor da resistência
pelo INMETRO. Isto é o mínimo a ser do concreto na idade considerada (fcj).
exigido, pois o que tem sido observado Após a correção desses dois proble- u Figura 4
em obra é que há laboratório de ensaio, mas, a resistência, fcj, aumentou e mui- Retificadora que gerou melhor
mas sem que se siga rigorosamente os to, às vezes resultando no dobro do fck, planicidade
métodos de ensaio definidos em norma. e foi possível reduzir os consumos de
Por exemplo, se uma norma define uma cimento, em função do traço, de 40 kg até que a causa fosse descoberta, que
faixa de temperatura de cura do corpo / m e 100 kg / m . Cumpre ressaltar
3 3
fosse revisto o traço, o que implicou em
de prova é obrigatório que se cumpra, que a ABNT NBR 5738:2015 permite, aumento do consumo de cimento.
a fim de que os resultados de ensaio te- para a temperatura do ar da câmara Análise e solução: Foram molda-
nham validade. úmida ou da água do tanque de cura, das diversas séries de corpos de prova,
Enfim, o Controle Tecnológico, aliado mais três intervalos, além do já citado pelo mesmo moldador, os quais foram
a um bom Projeto e uma boa Execução anteriormente, os quais são 21+ - 2oC, curados à Temperatura especificada na
podem gerar vários benefícios à socieda- 25+ - 2 C, e 27+ - 2 C, o que o au-
o o
ABNT NBR 5738 (Temperatura de cura
de, com uma redução de custo para o tor deste artigo não concorda, devido compreendida entre 21 e 25 oC), prepa-
construtor e a entrega de uma obra durá- aos valores de Maturidade serem di- rados e rompidos em diversas idades
vel, com o mínimo de manutenção. ferentes, para um mesmo concreto e em uma única prensa. A única diferen-
mesma idade, e por consequência dife- ça entre as séries de cps foram as re-
3. CASOS REAIS rentes resistências à compressão axial tificadoras (fotos 3 e 4). A ABNT NBR
A fim de ilustrar a importância do serão obtidas. 5738 cita que a preparação pode ser
Controle Tecnológico serão apresenta- feita por retificação ou por capeamen-
dos alguns casos reais de obra no Brasil. 3.2 CASO 2: Retificação do cp to. Os resultados obtidos de resistên-
cia foram analisados estatisticamente,
3.1. CASO 1: Cura e preparo A fc28 de um mesmo concreto entre- e empregou-se o teste estatístico t, e
das bases do cp gue em uma dada obra não atendia ao se obteve uma diferença de 24% entre
fck, pelos ensaios de um Laboratório de os valores de fcj, em função do disco
O concreto não atendia ao fck. Logo, Ensaio, mas, pelos ensaios de outro La- utilizado. Em função disso, os discos
a Construtora aumentou o consumo de boratório, atendia. Logo, foi solicitada à abrasivos foram trocados e não houve
cimento e mesmo assim nem sempre empresa de serviços de concretagem, mais problemas.

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 27


3.3 CASO 3: Amostra tado quando da análise dos materiais. 3.6 CASO 6: Uso de Neoprene
para moldagem Após a execução do concreto foram
observadas manchas brancas, simi- Tem sido comum o uso de Neo-
É muito comum a coleta de amos- lares ao processo de lixiviação da cal prene na ruptura de cp, ao invés dos
tra para moldagem logo no início da hidratada do concreto, mas não havia processos normalizados de retificação
descarga, principalmente para concre- fluxo de água. e capeamento das bases. Também
tos fluidos (aqueles com abatimento Análise e solução: Foram extraídos têm sido observadas rupturas com
superior a 190mm). O concreto entre- testemunhos da estrutura e realizado o Fratura no topo do cp, tipo F (figura
gue em uma dada obra não atendia ao ensaio de Difração de Raio X. Detectou- A.6) e tipo G (figura A.7) do Anexo A
fck. O valor do fc28 em média era de 22,0 -se a presença de Thenardita (Na2SO4), (Tipos de Ruptura de cp) da ABNT NBR
MPa e o fck = 30 MPa. como composto mais presente (Qua- 5739:2007. Em vários casos, o fck não
Análise e solução: Foi solicita- dro 1 – Compostos Mineralógicos). A tem sido obtido, não pela qualidade do
do ao Laboratório que a amostra- obra ficou em observação, em função concreto, mas sim pelo erro de ensaio.
gem fosse realizada de acordo com do risco de um ataque por sulfato. O uso de Neoprene para pre-
o estabelecido na ABNT NBR 5738, a paração das bases de cp não está
qual determina que devem ser segui- 3.5 CASO 5: Agregado normalizado no Brasil. A ABNT
das as exigências da ABNT NBR NM graúdo reativo NBR 5738:2015 cita em seu subi-
33:1998. Esta norma cita que a coleta tem 9.3.2.4 que outros processos
de amostras deve ser realizada du- O agregado graúdo (brita) emprega- de preparo podem ser adotados,
rante a operação de descarga, após do na confecção do concreto de alguns desde que estes sejam submetidos
a retirada dos primeiros 15% e antes blocos de uma obra de arte especial à avaliação prévia por comparação
de completar a descarga de 85% do era reativo. Essas britas foram usadas estatística, com resultados obtidos
volume total da betonada. Após a cor- porque o ensaio de expansão devido à de cp retificados por processo tra-
reta amostragem do concreto, o fc28 possível reação dos álcalis do cimen- dicional, e os resultados obtidos
superou 38 MPa. to com o agregado não foi realizado apresentem-se compatíveis.
(ABNT NBR 15577:2008). A ASTM C 1231/C 1231 M-00 de-
3.4 CASO 4: Agregado graúdo Análise e solução: Foram realiza- fine na tabela 1 as exigências que as
contendo sulfato dos ensaios, conforme estabelece a “bolachas” ou discos de Neoprene
ABNT NBR 15577, e se confirmou que deverão atender. Por exemplo, para
O agregado graúdo (brita) emprega- os agregados eram reativos. Então, Resistência à Compressão Axial com-
do na confecção do concreto continha como os blocos eram pequenos, foi preendida entre 28MPa e 50 MPa, o
sulfatos, mas este fato não foi detec- decidido por sua demolição. número máximo de reuso do disco de
Neoprene é de 100 vezes (desde que
ele não esteja fissurado, desgastado,
u Quadro 1 – Compostos mineralógicos
etc), e a sua Dureza Shore A seja igual
a 70 (com tolerância de + - 5). A es-
Frequência relativa
Minerais Quimismo aproximado pessura do disco deverá estar com-
65523 65525 preendida entre11mm e 15mm.
Quartzo Sio2 * *** Análise e solução: Foram verifi-
Feldispato (K,Na)[AlSi3O8] – CaAl2Si2O8 nd tr cadas as espessuras, dureza Shore
Calcita CaCO3 tr * A, e número de reuso dos discos de
Thenardita Na2SO4 **** *** Neoprene. A espessura variava mui-
Gipsita CaSO4.2H2O tr tr to de um lote, para o outro, ou até
Simbologia: nd = não detectado; tr = traços; * = presente; ** = pouco frequente; *** = frequente ; **** muito frequente. mesmo dentro de um mesmo lote.
Nota: a avaliação semiquantitativa (expressa em número de asteriscos) das fases está fundamentada na latura dos picos de
difração, cuja intensidade é função do teor, da simetria e do grau de cristalinidade do constituinte. O número de reuso sempre supera-
va 100 vezes, além da presença de

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fissuras e do desgaste do mesmo. u Teor de material pulverulento; E, por fim, é importante ressaltar
A dureza Shore A não era atendida. A u Retração do Concreto (principal- que a Empresa de Controle Tecnológi-
solução foi pelo impedimento do uso mente no caso de pavimento); co tem que, no mínimo, ser acreditada
de Neoprene. u Avaliação do Produto de Cura. pelo INMETRO (condição necessária,
Outros ensaios deverão ser especi- mas não suficiente), com profissionais
4. RECOMENDAÇÕES ficados, e são muitos, mas dependem treinados constantemente e com a co-
E CONCLUSÃO do tipo de obra. Por exemplo, no caso ordenação de Engenheiros especiali-
Os ensaios dos materiais e do de túneis é muito importante o ensaio de zados na área de ensaios. No caso de
concreto devem seguir o recomenda- aderência entre o concreto e a rocha. No obras prediais o Controle Tecnológico
do em norma, mas vale a pena desta- caso de obras hidráulicas, o ensaio de ab- deverá ser contratado pela empresa
car alguns ensaios importantíssimos sorção de água por imersão e fervura, etc. responsável pela Construção da obra.
de serem realizados, e que são os Em função do exposto nos itens 1, Já, nas demais obras, como METRÔ,
seguintes: 2 e 3, pode-se concluir que um Con- ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE
u Estudo de Dosagem Racional; trole Tecnológico bem executado traz ÁGUA E ESGOTO, PISCINÕES, RO-
u Exsudação; benefícios aos executores e proprietá- DOVIAS, FERROVIAS, PORTOS etc.,
u Teor de Ar aprisionado; rios da obra, tanto em qualidade quan- o contratante deverá ser o PROPRIE-
u Reatividade dos agregados com os to em redução de prazo e custo. TÁRIO da mesma. A empresa cons-
álcalis do cimento (RAA); O custo dos serviços de Contro- trutora poderá realizar o seu Controle
u Teor de sulfatos e cloretos dos le Tecnológico bem realizado é mui- Tecnológico, mas isto não elimina e
agregados; to baixo em relação ao custo total nem minimiza o Controle do Proprietá-
u Módulo de Elasticidade; do empreendimento. rio da obra.

DURABILIDADE
DO CONCRETO
à Editores Jean-Pierre Ollivier e Angélique Vichot

à Editora francesa Presses de l'École Nationale des Ponts


et Chaussées – França
à Coordenadores da Oswaldo Cascudo e Helena Carasek (UFG)
edição em português

à Editora brasileira IBRACON

Esforço conjunto de 30 autores franceses, coordenados pelos DADOS TÉCNICOS


professores Jean-Pierre Ollivier e Angélique Vichot, o livro
ISBN / ISSN: 978-85-98576-22-0
"Durabilidade do Concreto: bases científicas para a formulação de
Edição: 1ª edição
concretos duráveis de acordo com o ambiente" condensa um vasto
Formato: 18,6 x 23,3cm
conteúdo que reúne, de forma atualizada, o conhecimento e a
Páginas: 615
experiência de parte importante de membros da comunidade científica
Acabamento: Capa dura
europeia que trabalha com o tema da durabilidade do concreto.
Ano da publicação: 2014
A edição brasileira da obra foi enriquecida com o trabalho de
tradução para a língua portuguesa e sua adaptação à realidade
técnica e profissional nacional.
à Informações: www.ibracon.org.br

Patrocínio

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TIP – um novo método para


verificação de integridade de
fundações de concreto
JORGE W. BEIM – Engenheiro Consultor
GEORGE PISCSALKO, PE – Vice-presidente
Pile Dynamics, Inc.

INTRODUÇÃO outros métodos tradicionais de en- Em geral, durante a cura, a falta

A
Perfilagem Térmica de In- saio de integridade de estacas têm de concreto competente (ex. estrei-
tegridade, conhecida pela limites na avaliação de toda a seção tamentos, inclusões ou baixo con-
sigla de seu nome em in- transversal ou comprimento (por teúdo de cimento) é registrada por
glês – TIP (Thermal Integrity Profiler exemplo, o cross-hole só é capaz de regiões relativamente frias. Já a pre-
– Mullins, 2010), usa a temperatura avaliar a parte interna da armadura, sença de concreto extra (ex. alar-
gerada pela cura do cimento (energia o PIT tem limitações de comprimen- gamentos por excesso de derrama-
de hidratação) para avaliar a qualida- to, etc.), as medições do TIP avaliam mento de concreto em camadas de
de de fundações de concreto mol- a qualidade de todas as porções da solo mole) é registrada por regiões
dadas in loco (estacas escavadas, seção transversal ao longo de todo relativamente quentes.
hélice contínua ou raiz). Enquanto o comprimento. Portanto, anomalias tanto dentro
como fora da armadura de reforço
perturbam o registro de temperatu-
ra na região da anomalia, com efeito
progressivamente menor com o au-
mento da distância.
A temperatura do fuste depende
do diâmetro do elemento de funda-
ção, do traço do concreto e do tem-
po decorrido entre a concretagem e
a medição.
Como a distribuição de tempera-
tura em relação à distância do centro
do fuste é em forma de sino, como
mostra a Figura 1, as medições de
temperatura são sensíveis à excen-
tricidade da armadura, assim como
ao seu recobrimento. Uma armadura
ligeiramente mais perto do solo em
um lado da escavação exibe tem-
u Figura 1
peraturas mais baixas que a média,
Distribuição de temperatura em uma seção da estaca
ao passo que uma armadura mais

30 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


próxima do centro da estaca exibe
temperaturas mais altas que a média
(ver Figura 2).
Como a relação entre diâmetro
da estaca e temperatura é bastante
linear na região próxima à armadu-
ra, um gráfico da temperatura média
de todos os locais de medição em
relação à profundidade reproduz a
forma real do fuste, comparável, por
exemplo, com a determinada a par-
tir de diagramas de concretagem de Obs.: O sistema trabalha tanto com
unidades métricas (como mostrado nesta
campo (ver Figura 3). Os diagramas figura) como com unidades inglesas.
de construção e concretagem po-
dem ser usados juntamente com os u Figura 2
dados do TIP para melhor avaliar a Diagrama de temperatura vs. profundidade para uma estaca com a
armadura deslocada para a direita.
qualidade global e o raio efetivo do
Depth = Profundidade; Average = Média das temperaturas
fuste em qualquer ponto ao longo de
todo seu comprimento.

AQUISIÇÃO DOS DADOS Temperatura em graus Fahreheit Sem correção para


(°C = (°F – 32) x 5/9) derramamento de concreto
Nos EUA, o ensaio encontra-
-se normatizado por meio da norma
ASTM D7949-14, “Standard Test
Methods for Thermal Integrity Profi-
ling of Concrete Deep Foundations”,
que estabelece os procedimentos
para medir o perfil de temperatu-
ra no interior de elementos de fun-
Profundidade em pés

dação profunda moldados in loco,


tais como, estacas escavadas, héli-
ce contínua, estacas escavadas de
deslocamento (estacas ômega ou
“screw piles”), microestacas e colu-
nas de “jet grout”.
Os dados do TIP podem ser obti-
dos através de cabos térmicos (Ther-
mal Wire® – Cotton et.al., 2010) ou
através de sondas térmicas que se
Sem correção para o
deslocam no interior de tubos de volume de preenchimento
Diâmetro do fuste em pés (1 pé = 0,3048 m) do “tremie”
aço ou PVC (Mullins, Kranc, 2004). A
instalação, tanto dos cabos térmicos
como dos tubos, tem que ser feita u Figura 3
previamente à concretagem. Comparação entre as temperaturas ao longo do fuste (linha preta), com
os diâmetros efetivos calculados a partir da altura de subida do concreto
Os cabos com sensores térmicos
para cada caminhão (linha rosa).
são presos à armadura de reforço.

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 31


Recomenda-se que seja usado um simplificar a análise, exceto em esta- Os dados dos cabos térmicos
cabo térmico para cada 300 mm de cas hélice contínua ou raiz, nas quais são automaticamente amostrados,
diâmetro da fundação. Sugere-se o usa-se um único cabo térmico preso tipicamente a cada 15 minutos para
uso de um número par de cabos para a uma barra de reforço central. cada um dos cabos, através de uma
unidade de aquisição alimentada por
baterias, permitindo, assim, que a
temperatura seja monitorada durante
toda a duração do processo de cura.
Os dados podem ser recuperados
em campo a qualquer tempo após a
concretagem, para avaliação.
A Figura 4 mostra uma sonda tér-
mica, inserida em tubo metálico preso
à parte interior da armadura, seme-
lhante ao usado em ensaios Cross-
-hole (consulte artigo na edição 85).
Diferentemente deste último, porém,
u Figura 4 no caso do uso de sondas térmicas
Sonda térmica (à esquerda) e seu uso no interior de tubo de aço com o TIP, os tubos devem estar se-
cos e não é necessário um perfeito
contato entre os tubos e o concreto.
A recomendação quanto ao nú-
mero de tubos a usar é a mesma que
para os cabos térmicos. No caso da
sonda térmica, o ensaio tem que ser
feito dentro de um determinado in-
tervalo de tempo após a concreta-
Linha preta contínua:
média das temperaturas gem e consiste em baixar lentamente
Linha preta tracejada: a sonda no interior de cada tubo, en-
raio médio calculado
quanto a unidade eletrônica registra
Linha vermelha tracejada:
diâmetro da armadura
as profundidades e as temperaturas.

Linha tracejada verde:


raio nominal da estaca ANÁLISE DOS DADOS
1 polegada (in) = 25,4 mm Se nenhuma região local relati-
1 pé (ft) = 0,3048 m vamente fria for detectada durante
o ensaio, significa que o fuste não
tem defeitos localizados e nenhuma
análise adicional é necessária para
aprovação do elemento de fundação,
acelerando, assim, o restante do pro-
cesso de construção.
Na grande maioria dos casos as
u Figura 5 medições de campo por si só são
Gráfico mostrando o raio (em polegadas) versus profundidade (em pés), suficientes para detectar irregulari-
estimado a partir das medições de temperatura - obra de ponte na
dades flagrantes, já que o perfil de
autoestrada I-90 em Cleveland, Ohio
temperatura média mostra a forma

32 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


geral do fuste. Esse nível de inves- cabos térmicos que estão mais pró- temperaturas mais altas do que os
tigação revela irregularidades no ali- ximos do centro da estaca mostram cabos opostos, que estão localizados
nhamento da armadura, localização
da camisa, localização de alarga-
mentos, regiões com conteúdo de-
ficiente de cimento (concreto fraco)
ou estreitamento, e pode facilmente
alertar o usuário ou proprietário so-
Profundidade:
bre áreas de preocupação. 4,57 m

O raio em qualquer local ao longo do Temperatura média:


48,7 °C
fuste pode ser estimado, comparando-
Temperatura mínima:
-se a temperatura média (usualmente 42,25 °C (local 3)
perto do instante de temperatura má- Temperatura máxima:
57,88 °C (local 6)
xima) com o raio médio computado a
partir do volume total de concreto ins-
talado e comprimento total da estaca.
O exemplo mostrado na Figura 5 cor-
responde a uma estaca de 1,68 m de
diâmetro e cerca de 50 m (165 pés na
figura) de comprimento total, com ca- u Figura 6
Fatia 2-D de seção na parte superior com camisa de 2,13 m de diâmetro,
misa de aço nos 8,53 m superiores (28
mostrando deslocamento da camisa
pés na figura). O gráfico do raio versus
profundidade mostra que a camisa de
aço está deslocada em relação ao ali-
nhamento da estaca, porém mostra
também que o raio efetivo excede o
raio nominal (mostrado pela linha ver-
tical verde tracejada – “Shaft”), o que
garante recobrimento adequado da ar-
madura ao longo de todo o fuste. A palheta de cores mostra
o diâmetro da armadura
É possível gerar tanto avaliações em polegadas, e as
profundidades estão
3-D como 2-D (“fatias” a qualquer em pés
profundidade), como mostrado na 1 polegada (in):
Figura 6 e Figura 7. 25,4 mm

No caso mostrado na Figura 8, 1 pé (ft):


0,3048 m
foram deixados defeitos representan-
do aproximadamente 5% da seção
transversal do fuste, nas profundida-
des de aproximadamente 6 e 14 m
(20 e 46 pés na figura), perto do cabo
térmico número 6. Uma inspeção da
temperatura inicial versus tempo cla-
ramente revela esses defeitos (setas
vermelhas). A seta azul mostra uma u Figura 7
Representação 3-D da estaca de 1,68 m de diâmetro com camisa de
seção da armadura de reforço que 2,13 m até 8,53 m – ponte na autoestrada I-90, Cleveland, Ohio
não está bem centralizada; alguns

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 33


dos do TIP é capaz de prever. O “roll-
-off” de temperatura na parte inferior
neste caso foi alongado em relação
à curva teórica, devido à inclusão de
um macaco bidirecional na ponta.

CONCLUSÕES
O TIP avalia a integridade de esta-
cas de concreto moldadas in loco, a
partir da medição da temperatura de
cura do concreto ao longo do fuste. O
método já é rotineiramente usado em
estacas escavadas e hélice contínua, e
também já foi utilizado em estacas raiz.
Ao contrário do ensaio de integri-
dade de baixa deformação (PIT), o
TIP não é afetado por formatos não
uniformes, consegue detectar danos
perto do topo e da ponta da estaca,
e não tem limitação de comprimento.
Ao contrário do ensaio Cross-
-hole (CSL), o TIP é capaz de ava-
liar a totalidade da área de seção, e
não só a parte interior da armadura.
Além disso, o TIP consegue detectar
excentricidade da armadura e medir
o recobrimento de concreto, o que
u Figura 8 nenhum outro método é capaz.
Gráfico de Temperatura (em °Fahrenheit ) vs. Profundidade (Depth – em O ensaio TIP pode ser feito atra-
pés) de um fuste com defeitos deixados de propósito (setas vermelhas) vés de cabo térmico ou de sonda
e armadura descentralizada (seta azul). A linha preta é a média das
térmica. Em ambos os casos, o en-
temperaturas dos cabos térmicos individuais
saio é completado e consegue for-
necer dados preliminares entre 8 e
mais próximos da interface estaca- devido ao calor irradiando também do 24 horas após a concretagem.
-solo, e apresentam temperaturas topo e da ponta da estaca. O “roll-off” O ensaio TIP exige a instalação
mais baixas que a média. A tempera- em estacas uniformes segue uma de tubos ou cabos térmicos antes da
tura perto do topo e da ponta mostra curva de tangente hiperbólica, que o concretagem, ou seja, exige planeja-
a redução (chamada “roll-off”) normal programa de processamento dos da- mento prévio.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] Mullins, A. G., (2010), “Thermal Integrity Profiling of Drilled Shafts”, DFI Journal Vol 4, No.2, dezembro.
[02] Mullins, A. G. and Kranc, S. C., (2004), “Method for Testing the Integrity of Concrete Shafts,” (Método para ensaio de integridade em fustes de concreto), Patente
norte-americana 6.783.273.
[03] Cotton, D., Ference, M., Piscsalko, G., and Rausche, F., (2010) “Pile Sensing Device and Method of Making and Using the Same” (Dispositivo de detecção de
estacas e método de fabricação e uso do mesmo), Patente norte-americana 8.382.369.

34 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


u entidades
encontrosda
e notícias
cadeia | CURSOS

Poli-USP cria Centro de


Inovação em Construção
Sustentável
O
Centro de
DIVULGAÇÃO | AFLALO GASPERINI ARQUITETOS

Inovação em
Construção
Sustentável (CICS) é uma
iniciativa pioneira do De-
partamento de Engenha-
ria de Construção Civil
da Escola Politécnica
da Universidade de São
Paulo (Poli-USP), que
tem o objetivo de congre-
gar grupos de pesquisa-
dores, representantes da
sociedade e agentes da
cadeia produtiva da cons-
trução civil em torno da
temática “tecnologia, ino-
vação e sustentabilidade”. CICS - Centro de Inovação em Construção Sustentável
Segundo a arquiteta e
urbanista Diana Csillag, coordenadora do CICS pretende atrair talentos e apoiar gramas PITE e PIPE, e pelo SEBRAE.
projeto, “o CICS é uma rede de integração novas ideias, seja de pesquisadores de “Pretendemos ser um hub de pesquisa
entre academia, empresas e sociedade, universidades, seja de empreendedores básica e inovação”, esclarece Csillag.
concebida tal como um grande projeto de de empresas privadas. Sua Comissão
pesquisa que visa acelerar a inovação no Coordenadora, composta pelos profes- LIVING LAB
setor de construção civil”. Essa rede nas- sores do Departamento de Construção O primeiro projeto que está sendo
ce para estimular a interlocução qualifica- Civil da Poli-USP, Francisco Cardoso, realizado pelo CICS é a construção de
da entre as partes envolvidas, reunindo Orestes Gonçalves, Vahan Agopyan e um “living lab” – laboratório vivo – que
progressivamente parceiros compromis- Vanderley John, está aberta para anali- irá abrigar a sede da rede. Localizada
sados com a realização de experimentos, sar propostas de adesão e deverá fazer no campus da USP no Butantã, em
o desenvolvimento e a validação de novas convites. Como esse grupo opera uma São Paulo, com arquitetura do escritó-
tecnologias construtivas. unidade Embrapii – Poli-USP Materiais rio Aflalo/Gasperini Arquitetos e Vivá Ar-
Ao valorizar a perspectiva multidisci- para Construção Ecoeficientes – existe quitetura, projeto estrutural da Leonardi
plinar e sistêmica para a compreensão a facilidade de acesso a recursos para Construção Industrializada (Eng. Marce-
dos desafios, de suas possíveis solu- projetos inovadores em parceria com lo Cuadrado Marin) e apoio da Funda-
ções e da complexidade no desenvol- empresas, como os recursos disponibi- ção para Desenvolvimento Tecnológico
vimento e uso atual das tecnologias, o lizados pela Fapesp, por meio dos pro- da Engenharia (FDTE), a nova edificação

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 35


irá receber grupos de profissionais, em- sede. Foram exploradas soluções para cotamento granular, baixo consumo de
presas e pesquisadores envolvidos com temas como água e esgoto, construtibili- água e substituição de cimento por fíleres
trabalhos de experimentação e inovação dade, domótica, energia e envelope para selecionados. “Estamos discutindo con-
tecnológica. Suas estruturas e espaços edifício, entre outras. sumos possivelmente abaixo de 150kg/
estão sendo projetados para permitir Entre as empresas que já aderiram ao m3 de ligantes para concretos de 50Mpa.
flexibilidade, mudanças e substituições projeto estão: a Intercement, a Leonardi, É uma tecnologia com potencial para
de sistemas, soluções e materiais. Fa- a Tecnum Construtora, a Tarjab Constru- reduzir em, pelo menos, 30% as emis-
chadas, coberturas, revestimentos, tora, a Infibra, a Tigre Ferramentas para sões de CO2 dos materiais cimentícios a
iluminação, entre outros componentes Pintura, a Infometer, a Trox, a Somfy, a serem usados no edifício”, informa John.
e elementos construtivos, estarão em ICZ – Instituto de Metais não Ferrosos, a Este balanço na redução da pegada am-
constante mutação e serão testados e PAM Saint Gobain, a Matec Engenharia, biental vem tanto por parte da produção
monitorados sistematicamente, confe- a Bettoni, a Dow Brasil, a Caleffi Hydro- dos materiais empregados na constru-
rindo ao edifício a condição de ser em si nic Solutions e a Parks Comunicações ção quanto por parte do uso da edifica-
mesmo o objeto da pesquisa. Digitais. Em breve serão anunciadas as ção. Foi realizada uma Avaliação do Ciclo
“O edifício, suas fachadas, insta- empresas que estão ainda em processo de Vida simplificado para os três projetos
lações hidráulicas, iluminação, vidros, de formalização das parcerias. executivos analisados, considerando o
sistemas de geração de energia, con- Os critérios para a seleção de empre- uso do concreto convencional e o uso do
dicionamento ambiental etc. poderão sas participantes no projeto do edifício do concreto com baixo consumo de ligan-
ser reconfigurados a qualquer momento CICS incluem: impacto ambiental, con- te. De acordo com John, o concreto de-
para testar novas soluções. Por isso, ele forto para o usuário, inovação e escalabi- senvolvido pelo grupo de pesquisa car-
será monitorado de forma contínua e de- lidade. Devido à natureza do edifício, está bonata rapidamente, absorvendo o CO2
talhada”, explica o professor integrante sendo assumido um risco tecnológico da atmosfera, contribuindo, assim, para
da Comissão Coordenadora do Projeto maior do que o da construção conven- reduzir a pegada ambiental do edifício.
CICS, Vanderley John. cional. John exemplifica que as facha- Com o edifício em uso, testando so-
A edificação está atualmente em fase das devem ser de estruturas leves, com luções construtivas inovadoras, num am-
de sua aprovação junto aos órgãos da materiais inovadores de baixo impacto e biente bastante controlado, a expectativa
USP e de desenvolvimento de seu pro- vidros autolimpantes de alta eficiência. A dos coordenadores do CICS é que as
jeto executivo. Orçada em 9,5 milhões edificação deverá operar com, pelo me- tecnologias comprovadamente validadas
de reais, a previsão é que a obra seja ini- nos, três fontes alternativas de energia tenham facilitado seu acesso ao merca-
ciada no segundo semestre deste ano e – solar fotovoltaica, solar (água quente) do. “Temos a expectativa que um teste
finalizada em 2019. e geotérmica. “Esperamos também con- no CICS poderá ser utilizado no proces-
A expectativa é que seja financiada tar com hidrogênio, pois estamos traba- so de validação da tecnologia junto ao
quase totalmente por meio de adesões lhando com o Research Centre for Gas SINAT, que, no futuro, poderá ampliar
de empresas e cidadãos. A Superinten- Innovation, com o objetivo de viabilizar a seu escopo para além dos edifícios de
dência jurídica da USP criou recente- captação de recursos para integrar uma programas habitacionais”, avalia John.
mente um modelo para a viabilização de célula a combustível”, adiciona John. Além disso, o edifício-sede do CICS vai
parcerias com empresas, que podem ser Os concretos a serem usados na ser usado para abrigar laboratórios diver-
feitas por meio de doações de materiais estrutura do edifício foram desenvolvi- sos segundo a natureza das pesquisas a
e equipamentos, doações de serviços e dos pelo Laboratório de Microestrutura serem realizadas, como o Laboratório de
doações de recursos. e Ecoeficiência de Materiais da Poli-USP, Microestrutura e Ecoeficiência de Mate-
No ano passado, o CICS realizou em conjunto com a Intercement. Se- riais (LME) e o Laboratório de Sistemas
cinco workshops temáticos, dos quais gundo John, a tecnologia desenvolvida Prediais (LSP), gerando conhecimento,
participaram 52 empresas, com o obje- vai permitir uma significativa redução da pesquisas e prestação de serviços, bem
tivo de apresentar as oportunidades de pegada ambiental do concreto, obtida como capacitando recursos humanos e
participação na rede e de levantar infor- pela acentuada redução do consumo de servindo de local de visitação para alunos
mações para subsidiar o projeto de sua ligantes, resultado de técnicas de empa- das universidades e escolas.

36 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


u normalização
encontros e notícias
técnica| CURSOS

ABNT NBR 9062:2017


Projeto e Execução de
Estruturas de Concreto
Pré-moldado
MARCELO CUADRADO MARIN
Diretor de Engenharia da Leonardi Construção Industrializada
Diretor Técnico da ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto)
Secretário da Comissão de Estudos de revisão da ABNT NBR 9062

1. INTRODUÇÃO ABNT, garantindo a representativi- às melhores práticas e ao estado da

A
edição revisada da ABNT dade da indústria, da academia, dos arte em relação aos assuntos a se-
NBR 9062 Projeto e Exe- consumidores e dos fornecedores, rem abordados.
cução de Estruturas de incluindo as empresas, os proje- A tecnologia dos produtos e pro-
Concreto Pré-Moldado foi publica- tistas de estruturas e consultores, cessos de um sistema construtivo
da no dia 17 de março de 2017, totalizando 79 profissionais. Des- se desenvolvem ao longo do tempo
no âmbito do ABNT/CB-02 (Comi- tacam-se as participações e apoio e as normas técnicas que estabele-
tê Brasileiro da Construção Civil da da ABCIC (Associação Brasileira da cem os respectivos requisitos devem
Associação Brasileira de Normas Construção Industrializada de Con- acompanhar essa evolução. Avalian-
Técnicas), passando a substituir a creto), da ABECE (Associação Bra- do o histórico da ABNT NBR 9062,
versão anterior, que havia sido pu- sileira de Engenharia e Consultoria através da expansão e aprofunda-
blicada em 2006. Estrutural), do IBRACON (Instituto mento de seu conteúdo, é nítida sua
Os trabalhos foram iniciados no Brasileiro do Concreto), da EESC/ evolução ao longo do tempo. Na
dia 21 de novembro de 2012, ten- USP (Escola de Engenharia de São versão publicada em 1985, o texto
do como coordenador o engenheiro Carlos da Universidade de São Pau- apresentava 36 páginas; já na ver-
Carlos Eduardo Emrich Melo, e en- lo) e do NETPre/UFSCar (Núcleo de são de 2006 constavam 59 páginas
cerrados no dia 25 de fevereiro de Estudo e Tecnologia em Pré-Molda- e, na versão de 2017, o conteúdo foi
2015, totalizando 25 reuniões. O dos de Concreto da Universidade distribuído em 86 páginas. Além dos
texto base foi disponibilizado para Federal de São Carlos). temas terem sido abordados com
consulta nacional pela ABNT no dia A revisão da ABNT NBR 9062 foi mais profundidade e didática, novos
12 de abril de 2016 e recebeu votos bastante extensa. Além do acrés- itens foram acrescidos em confor-
até o dia 12 de junho de 2016. Após cimo de conteúdo em muitos itens midade com a evolução tecnológica
a consulta nacional foram realizadas já abordados, foram introduzidos do sistema construtivo, bem como a
duas reuniões para análise dos vo- novos itens. O processo de revisão ampliação da utilização deste siste-
tos, nos dias 29 de agosto e 14 de de uma norma exige a releitura de ma construtivo nos últimos anos, nos
setembro de 2016. todo o texto já existente e a análi- mais diversos segmentos em edifica-
A composição da comissão de se de sua aderência à realidade do ção e infraestrutura. As formas de di-
estudos atendeu as premissas da mercado nos dias atuais, bem como mensionamento, produção, controle

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 37


de qualidade e execução da monta-
gem passaram a ser abordados de u Tabela 1 – Estrutura da norma
forma mais abrangente. Além disso,
ABNT NBR 9062:2017 Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado
foi realizada uma melhor adequação
e referência a outras normas já exis- Seção 1 Escopo
tentes, como, por exemplo, as nor- Seção 2 Referências normativas
mas que abordam temas como resis- Seção 3 Termos e definições
tência ao fogo, controle tecnológico Seção 4 Símbolos gráficos
do concreto, concreto autoadensá- Seção 5 Projeto de estruturas pré-moldadas
vel, entre outras. Uma das primeiras Seção 6 Projeto de elementos pré-moldados
decisões da comissão de estudos foi Seção 7 Ligações
a de manter a abordagem das eta- Seção 8 Materiais
pas de projeto, produção e monta- Seção 9 Produção de elementos pré-moldados
gem em uma única norma, possibili- Seção 10 Manuseio, armazenamento e transporte de elementos pré-moldados
tando compreender todas as etapas Seção 11 Montagem de elementos pré-moldados
do sistema construtivo. Além disso,
Seção 12 Controle de execução e inspeção
a integração e interdependência en-
Anexo A Consideração aproximada da não linearidade física na análise global de 2ª ordem
tre as etapas de projeto, produção
Consideração aproximada para o dimensionamento de pilares pré-moldados
e montagem são características das Anexo B
em situação de incêndio
estruturas em concreto pré-moldado
e entendeu-se que sua separação
poderia significar importantes per- nas reuniões plenárias, a fim de que centes do comportamento das liga-
das para o processo, especialmente se imprimisse maior velocidade no ções viga-pilar semirrígidas e análise
no que tange à industrialização pela processo de revisão. Essa metodo- da estabilidade da estrutura.
pré-fabricação em concreto, que logia também permite que muitos Resultado de muitos trabalhos
conceitualmente se difere da produ- itens possam ser desenvolvidos ao experimentais que foram elaborados
ção das estruturas executadas “in mesmo tempo, explorando o conhe- em diferentes dissertações e teses,
loco”, não sendo objeto do presente cimento específico dos membros da uma formulação foi criada para de-
trabalho abordá-las. comissão. A supervisão dos grupos terminar a rigidez secante à flexão
de trabalho foi realizada pelo co- negativa em ligações viga-pilar com
2. ESTRUTURA DA NORMA ordenador em conjunto com o se- armadura de continuidade local,
A estrutura da norma atual é cretário da comissão de estudos. conforme expressão 1.
apresentada na Tabela 1. Cabe res- Alguns dos principais pontos revisa-
As Es d 2
saltar que, na versão de 2006, o dos ou introduzidos serão explora- Rsec = k × [1]
Led
tema “aparelhos de apoio elastomé- dos nos próximos parágrafos.
ricos” era tratado no anexo A (Infor- A aplicabilidade da expressão e
mativo) e, na atual versão, o tema é 3.1 Análise da estabilidade dos parâmetros de entrada foram
tratado no corpo do texto. estrutural e comportamento aferidos para as tipologias mais em-
das ligações viga-pilar pregadas de ligações viga-pilar no
3. DESENVOLVIMENTO mercado brasileiro de estruturas em
Por se tratar de uma norma mul- Para as questões ligadas à esta- concreto pré-moldado. A Figura 1
tidisciplinar que aborda projeto, bilidade, foi criado um grupo de tra- ilustra algumas destas tipologias.
produção e montagem, foram or- balho, cuja liderança ficou a cargo do Além de apresentar uma expres-
ganizados grupos de trabalho (GT) professor Marcelo de Araujo Ferreira, são universal para avaliar diferentes
para que os assuntos fossem estu- do NETPre/UFSCar. Nesse grupo fo- tipologias de ligações viga-pilar,
dados e posteriormente debatidos ram explorados os estudos mais re- foram estabelecidos critérios para

38 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


La

La é a distância da face do pilar até o centro de rotação no consolo.

u Figura 1
Parâmetros de cálculo para ligações viga-pilar típicas

que uma ligação seja classificada ção do fator de restrição à rotação ções semirrígidas, M Sd,rig/M y,lim ≤ 1,0.
como semirrígida ou rígida. O fator (a R) ficou mais explícita, pois o tex- A relação estabelecida para ligações
de restrição à rotação (a R), conforme to apresenta uma expressão para o rígidas estabelece que o dispositivo
expressão 2, continua sendo um pa- cálculo da rigidez secante (R sec) da de continuidade na ligação deve
râmetro para classificar as ligações. ligação. Foi também estabelecido permanecer em regime elástico de
-1 outro parâmetro para classificar as tensões para qualquer combinação
q é 3(EI )sec ù
a R = 1 = ê1 + ú [2] ligações: a relação M Sd,rig/M y,lim, de- de ações no ELU (Estado-limite úl-
q2 ë R sec Lef û
finida pela relação entre o momento timo). Os critérios de especificação
As ligações são clas- elástico de projeto (M Sd,rig) e o mo- das ligações viga-pilar foram com-
sificadas como: articula- mento no início do escoamento da plementados com recomendações
das, quando aR < 0,15; em armadura tracionada (M y,lim = 0,9. para o projeto, estabelecendo mo-
semirrígidas, quando pertencerem A s.f yk.d). Para ligações rígidas deve mentos atuantes limites e dispo-
ao intervalo 0,15 ≤ a R < 0,85; e rígi- ser respeitada a relação M Sd,rig/M y,lim sições construtivas. Com o novo
das, quando a R ≥ 0,85. A determina- ≤ 0,85, enquanto que, para liga- texto base, foi possível abordar

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 39


três aspectos importantes de uma
ligação viga-pilar: resistência, rigidez u Tabela 2 – Relação da redução de cortante
e ductilidade.
Espessura das lajes (com ou sem capa)
A consideração da não lineari- mm
dade física de forma simplificada
TRRF VRd incêndio / (VRd)
em vigas, pilares e lajes também %
foi abordada no texto por meio de ≤ 210 220 - 350 > 350
coeficientes redutores de rigidez 30 100 100 100
sugeridos, conforme o Anexo A 60 80 75 70
(Informativo). 90 75 70 65
Foi proposta uma classificação
120 70 60 55
das estruturas pré-moldadas, que
180 50 45 45
correlaciona a deslocabilidade da
estrutura com a consideração do
efeito de 2ª ordem. A utilização do avaliação baseada nos Eurocódi- u Condição de contorno;
coeficiente g z foi ampliada para edi- gos e normas europeias específicas, u M sd incêndio
: Esforço solicitante
ficações com menos de quatro pavi- como a espanhola. Além de debater de projeto para combinação de
mentos, desde que a geometria da o tema com especialistas no âmbi- ações na situação de incêndio;
estrutura apresente regularidade, to da fib (International federation for u TRRF: Tempo requerido de resis-
não ocorrendo discrepâncias signifi- structural concrete), foi promovida tência ao fogo.
cativas entre os pés-direitos nos pa- uma validação dos critérios propos- Para avaliação da capacidade
vimentos sucessivos, não ocorrendo tos junto ao coordenador da ABNT à força cortante foram estabeleci-
variações bruscas acentuadas entre NBR 15200, o professor Valdir Pig- das relações de redução, confor-
os momentos de inércia dos pilares natta, da POLI/USP. me Tabela 2. Uma das referências
nos pavimentos sucessivos. Para as lajes alveolares foram para elaboração da Tabela foi a EN
consideradas três condições de 1168:2011[2].
3.2 Projeto da estrutura contorno para dimensionamento à Os critérios estabelecidos para ava-
em situação de incêndio flexão: lajes biapoiadas, lajes bia- liação dos painéis maciços em situação
poiadas confinadas e lajes contínuas de incêndio tiveram como principal refe-
De extrema relevância, o tema confinadas. A definição da distância rência o manual do PCI [3], que correla-
de projeto de estrutura em situação da face do elemento estrutural ao ciona a espessura do painel com o tipo
de incêndio foi, na versão de 2006, eixo da armadura (c 1) depende de de agregado empregado na sua produ-
abordado em apenas 4 linhas e refe- três fatores: ção e o TRRF (Conforme Tabela 3).
renciava a norma ABNT NBR 15200.
No entanto, existia uma lacuna na
u Tabela 3 – Espessura mínima do painel maciço em função do TRRF e tipo
abordagem de alguns elementos em de agregado
concreto pré-moldado, para lajes al-
veolares e painéis maciços de con- Espessura efetiva em função da resistência ao fogo
creto. A revisão da norma permitiu mm
Tipo de agregado
estabelecer critérios e parâmetros 1h 1,5 h 2h 3h 4h
(60 min) (90 min) (120 min) (180 min) (240 min)
de dimensionamento para os ele-
mentos citados. Esse grupo de tra- Argila expandida, vermiculita
65 80 90 115 130
ou ardósia expandida
balho teve a colaboração do profes-
Pedras calcárias 75 90 110 135 160
sor Fernando Stucchi, da POLI/USP
Pedras silicosas (quartzos,
(Escola Politécnica da Universidade 80 100 120 150 175
granitos ou basaltos)
de São Paulo), que conduziu uma

40 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


a Interfaces lisas ou rugosas b Interfaces com chaves c Chaves de cisalhamento
de cisalhamento

u Figura 2
Detalhes dos cálices de acordo com cada interface

3.3 Estado-limite to da medição: na fabricação do tema de avaliação de conformidade


de deformação elemento, montagem do elemento, de projeto para estruturas em con-
após a estrutura ser solidarizada e creto pré-moldado. Foi acrescentada
Foi alterado o limite de desloca- diferido no tempo. uma lista com algumas das ativida-
mento horizontal de galpões para des desempenhadas pelo verificador.
H/400 e de edificações térreas com 3.4 Avaliação de conformidade
laje para H/500, onde H represen- de projeto 3.5 Fixação de vergalhões
ta a altura total da edificação. Para com adesivos químicos
deslocamentos verticais foram defi- Em consonância com a ABNT injetáveis
nidos limites em função do momen- NBR 6118:2014, foi introduzido o
Esse item da norma teve a co-
laboração de fornecedores de ade-
sivos químicos injetáveis, que, em
alguns manuais, indicam as refe-
rências de utilização dos seus pro-
dutos. No entanto, este importante
tema não tinha o espaço necessário
na versão anterior da norma. Fo-
ram apresentadas diretrizes para o
dimensionamento à tração de ver-
galhões, entre os quais, profundi-
dade mínima e máxima dos furos,
diâmetro dos furos, distância crítica
do vergalhão à borda e entre ver-
galhões. A penalização ocorrida na
resistência dos vergalhões fixados
u Figura 3 com adesivos químicos perturba-
Transferência de esforços no cálice para interfaces lisas ou rugosas
dos pelas condições de contorno
com grande excentricidade
foi proposta por meio de fatores de

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 41


redução. Esses fatores de redução
se superpõem quantas vezes ocor-
u Tabela 4 – Parâmetros de entrada para análise de cálices de interface lisa
ou rugosa
rer à simultaneidade das condições
de contorno. Também foi evidencia-
m m
da a importância da supervisão e enb a
(Interface lisa) (Interface rugosa)
inspeção na fase de execução. Grandes excentricidades
h/4 Lemb/10 ≤ 0,3 ≤ 0,6
((Md/(Ndh )) ≥ 2
3.6 Ligações de pilar com a Pequenas excentricidades
0 Lemb/6 0 ≤ 0,3
fundação por meio de cálice ((Md/(Ndh )) ≤ 0,15

O item destinado a ligações de pi- deve ser considerado no mínimo


N - m × Vd
lar com fundação por meio de cálice N bd = d [4] 20% do carregamento normal atu-
1 + μ²
coube ao grupo conduzido pelo pro- ando na parte da fundação abaixo
fessor Mounir Khalil El Debs, da EESC/ da base do pilar. A área de transfe-
Os parâmetros de entrada uti-
USP. Foi realizada uma grande revisão rência é formada pela seção do pilar
lizados nas expressões podem ser
das expressões apresentadas para o somada ao concreto de preenchi-
vistos na Tabela 4 para situações de
dimensionamento do colarinho. As ex- mento e colarinho.
grande e pequenas excentricidades.
pressões propostas são resultado de
Para situações de excentricidade in- [M d +V dLemb + N d (0,5.d c )]
trabalhos de modelagem numérica e H sfd = [5]
termediárias os valores podem ser 2,60.d c
experimentais em estudos de mestra-
obtidos por interpolação linear. Para
do e doutorado. A norma apresentou
análise de punção deve ser consi- [ M d + Vd Lemb - N d (0,4.d c )]
a possibilidade de dimensionamento H spd = ³0 [6]
derado no mínimo 50% do carrega- 0 ,63.d c
segundo três tipos de interface: lisa,
mento normal atuando na parte da
rugosa ou com chaves de cisalhamen- Na Figura 4 é apresentada a
fundação abaixo da base do pilar.
to. Na interface rugosa, a rugosidade transferência dos esforços nos cá-
Para cálices de interfaces com
deve apresentar dimensões mínimas lices de interfaces com chaves de
chave de cisalhamento, foram pro-
de 3 mm a cada 3 cm. Na interface cisalhamento.
postas as expressões 5 e 6 para
com chave de cisalhamento, a pro- As disposições construtivas tam-
análise da transferência de esforços
fundidade mínima deve ser de 1 cm a bém sofreram mudanças. A espessura
no cálice. Para análise de punção
cada 5 cm. Na Figura 2 são apresen-
tados os detalhes dos cálices de inter-
faces lisas ou rugosas e de interfaces
com chaves de cisalhamento.
A Figura 3 ilustra esquema sobre
a transferência de esforços no cáli-
ce para interfaces lisas ou rugosas
com grande excentricidade.
Para cálices de interfaces lisas ou
rugosas, foram propostas as expres-
sões 3 e 4 para determinação dos es-
forços no topo e no fundo do cálice.

{ é
M d -N d ê0,25h + μçç
ë
æ 0,1Lemb - 0,75μ × h öù
è 1 + μ²
÷÷ú +
øû

H sfd =
é
ë
æ 0,1Lemb - 0,75μ × h öù
V d êLemb - çç
è 1 + μ² ÷÷ú
øû{ [3] u Figura 4
Transferência de esforços no cálice para interfaces com chaves
0,8Lemb + μ × h de cisalhamento

42 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


da parede do colarinho passou a 3.7 Montagem de Excelência ABCIC, programa
ser de no mínimo 15 cm e a espes- introduzido no setor desde 2003,
sura da fundação abaixo da base A seção destinada à monta- através do qual as empresas são
do pilar de no mínimo 20 cm. No gem de elementos pré-moldados, avaliadas periodicamente em audi-
caso de interfaces lisas ou rugosas, antes abordada em poucas li- torias de terceira parte pelo IFBQ
a ancoragem da armadura longitu- nhas, foi reformulada e ampliada (Instituto Falcão Bauer da Qualida-
dinal do pilar deve ser determinada com o acréscimo de conteúdo. de), que disponibilizaram as infor-
considerando seu início a uma dis- A ABCIC liderou um grupo que mações para debate. Neste contex-
tância de metade do comprimento trabalhou com fabricantes, ava- to é importante destacar o lema da
de embutimento do pilar do topo liando as melhores práticas de entidade de que a padronização é a
do cálice. No caso de interfaces produção, montagem e controle de base do desenvolvimento sustentá-
com chaves de cisalhamento, as qualidade. Esse grupo foi coordena- vel do setor. A evolução das empre-
ancoragens da armadura longitudi- do por Íria Doniak, presidente exe- sas é nítida pós implementação do
nal do pilar e vertical do cálice de- cutiva da ABCIC. Foram utilizados programa em 2003, proporcionan-
vem atender à condição de emenda como referência procedimentos do importante grau de maturidade
por transpasse. de empresas certificadas no Selo para o debate e “feedback” para a
normalização. O manual do PCI[4],
dedicado a montagem, também foi
u Tabela 5 – Pontos abordados na seção de montagem uma importante referência na ela-
boração do texto.
Montagem de elementos pré-moldados Nessa seção ficou estabelecida
Subseções Pontos abordados a importância e responsabilidade
n Avaliação das possíveis interferências no terreno, dos acessos externos técnica do engenheiro de monta-
e internos; gem, que deve orientar e supervi-
Planejamento de n Estabelecimento da sequência de montagem contemplando as condições
montagem sionar os itens relacionados à mon-
de acesso, equipamento utilizado, requisitos do cliente, avaliação das
ligações entre os elementos, estabilidade estrutural e cronograma da obra. tagem dos elementos. A Seção foi
n Instruções de montagem contemplando a sequência de montagem dos dividida em seis subseções, con-
elementos e execução de ligações provisórias e permanentes, tipo de forme Tabela 5, que contempla um
elemento, resistência do concreto para cada etapa;
n Memórias de cálculo evidenciando a adequação dos equipamentos de
resumo dos pontos abordados.
montagem e dispositivos auxiliares para a realização da obra, bem como
Procedimentos de laudos da condição de uso e manutenção; 3.8 Materiais
montagem n Plano de Rigging;

n Aprovação do plano de montagem pelo projetista da obra em todas as

situações. Limitação do número de pavimentos montados sem solidarização Esse grupo de trabalho contou
ou capeamento; com a contribuição do professor
n Atendimento as tolerâncias de montagem, desaprumo e instalação de

aparelho de apoio. Paulo Helene, da POLI/USP, que


n Análise das fases transitórias de desforma, manuseio interno, estocagem, avaliou de forma amostral as práticas
Carregamento
transporte, içamento e montagem; atuais e procedimentos de Controle
crítico n Carregamentos adicionais durante a etapa de montagem.
Tecnológico de Concreto adotadas
n Verificação dos apoios quanto à integridade e correto funcionamento; pelo setor, em laboratórios instala-
Contraventamento n Verificação dos contraventamentos, principalmente quando estas ligações
e apoios dos em unidades fabris, certificadas
devem ser executadas antes do equipamento de montagem ser desmobilizado.
no Selo de Excelência ABCIC e revi-
Calços para n Composição dos materiais de nivelamento;
nivelamento n Condições de utilização dos calços. sou o texto pertinente relacionado à
n Importância do projeto de escoramento; amostragem, critérios de aceitação e
n Situações transitórias de carregamento; desvio padrão do concreto. Foi abor-
Escoramento n Duração e sequência do escoramento;
n Montagem dos elementos do escoramento.
dada também a utilização do concre-
to autoadensável, que é utilizado em

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 43


66,7 % das indústrias de concreto pré-fabricação no mundo, a norma Eduardo Emrich Melo, que coor-
pré-fabricado, segundo sondagem revisada irá permitir que estruturas dena a comissão desde a versão
do setor realizada anualmente pela especificadas total ou parcialmente de 2006. Ao engenheiro Eduardo
Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pu- em concreto pré-moldado ganhem Millen, representante da ABECE,
blicada nos anuários da ABCIC[5]. novas aplicações, com segurança, que acompanhou a totalidade das
Além das principais alterações em obras de variadas dimensões. reuniões, sempre promovendo im-
abordadas na revisão atual, cabe Como, por exemplo, em edifícios portantes debates. A engenharia,
também destacar neste artigo um com mais de 50 pavimentos, com a Inês Laranjeiras da Silva Battagin,
conceito introduzido em 2006 que possibilidade de muitas aplicações Superintendente do ABNT/CB-18 e
permaneceu na versão atual, o Pro- em sistemas mistos ou híbridos. Diretora Técnica do IBRACON, ao
jeto acompanhado por verificação O trabalho de revisão da ABNT engenheiro Salvador Benevides,
experimental. Este conceito está NBR 9062 envolveu uma grande Superintendente do ABNT/CB-02 e
presente nas normas internacio- quantidade de temas, com muitas à engenheira Iria Doniak, Presidente
nais e é de vital importância para alterações e por um longo perío- Executiva da ABCIC, pelas contri-
o desenvolvimento tecnológico do do, onde novos assuntos foram in- buições e apoio. À fib (International
setor, devido aos contínuos traba- troduzidos. Uma vez que a norma federation for structural concrete),
lhos e pesquisas visando o aprimo- foi publicada, o próximo desafio é na pessoa do coordenador da co-
ramento. Em especial destacam-se a divulgação do seu conteúdo na missão 6 de pré-fabricados, Stef
temas de fundamental importância, sociedade. A norma é um impor- Mass (Bélgica), que tem sido desde
como tecnologia de concreto, estu- tante instrumento de regulação e 2008 importante fórum no desen-
dos de ligações, processos de lo- orientação entre consumidores e volvimento do sistema no contexto
gística rápida, que constantemente produtores. Espaços de divulgação mundial e apoio fundamental no es-
evoluem e são objetos de estudos e debate, como os proporcionados clarecimento e aprofundamento de
e pesquisa permanente no âmbito pelo IBRACON por meio de suas vários temas. Ao engenheiro José
internacional e no país. revistas, congressos e manuais, e Zamarion Ferreira Diniz (in memo-
proporcionados pelas demais as- riam), que na versão anterior se
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS sociações e entidades envolvidas, dedicou exaustivamente ao tema,
A publicação da ABNT NBR como a ABCIC e ABECE, possibi- possibilitando a abertura de requi-
9062:2017 irá contribuir para o litam essa divulgação e aprimora- sitos importantes para o contínuo
aumento da utilização e compre- mento do seu conteúdo para próxi- desenvolvimento dos trabalhos, e
ensão do sistema construtivo em mas revisões. à engenheira Daniela Gutstein, que
concreto pré-moldado pela socie- secretariou a versão de 2006 e ini-
dade. Importantes lacunas foram 5. AGRADECIMENTOS ciou a secretaria da atual versão,
preenchidas com a revisão, como O autor, em nome da ABCIC, tendo se desligado por motivos
a complementação das especifi- agradece a dedicação e contri- de ordem profissional, mas que se
cações para projeto, produção e buição do coordenador da comis- dedicou em especial ao processo
montagem. Em consonância com a são de estudos, engenheiro Carlos de transição.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 9062: Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado. Rio de Janeiro, 2017
[2] EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION. EN 1168:2005+A3: Precast concrete products – Hollow core slabs. Brussels: CEN-European Committee for
Standardization, 2011
[03] PRECAST/PRESTRESSED CONCRETE INSTITUTE. Design for fire resistance of precast/prestressed concrete. Chicago, 2011
[04] PRECAST/PRESTRESSED CONCRETE INSTITUTE. Erector’s manual: Standards and guidelines for the erection of precast concrete products. Chicago, 1999
[05] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA CONSTRUÇÃO INDUSTRIALIZADA DE CONCRETO. Anuário ABCIC. São Paulo, 2016.

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u normalização técnica

ABNT NBR 16475:2017 –


painéis de parede
de concreto pré-moldado
AUGUSTO GUIMARÃES PEDREIRA DE FREITAS – Engenheiro Civil
Pedreira Engenharia Ltda

R
ecentemente, mais preci- tos a serem atendidos no projeto, na também revisada e atualizada em 2017,
samente, em 15 de março produção e na montagem de painéis produtos com maior complexidade de
deste ano, foi publicada a de parede pré-moldados que se en- fabricação ou com diferentes tipolo-
norma ABNT NBR 16475:2017: Painéis quadram nos critérios de classificação gias, caso das lajes alveolares, estacas
de parede de concreto pré-moldado – estabelecidos na Seção 5. e painéis, tivessem normas específicas
Requisitos e procedimentos. Com 61 Com a publicação, conclui-se um que respaldassem a especificação por
páginas, a norma tem o objetivo de es- trabalho iniciado em 27 de setembro de parte dos projetistas. Demanda que foi
tabelecer os requisitos e procedimen- 2012, ou seja, com 4 anos e meio de acolhida na ABNT (Associação Brasi-
trabalho, por uma comissão não remu- leira d e Normas Técnicas) e direciona-
nerada (como todas as comissões da da para o CB-18 (Comitê Brasileiro de
ABNT), que se debruçou sobre o co- Cimento, Concreto e Agregados). Ha-
nhecimento técnico disponível no Bra- via também uma preocupação com o
sil e no mundo para desenvolver uma crescimento desordenado da utilização
norma que representa o estado da arte em distintas aplicações desses produ-
do tema. tos, o que poderia comprometer a lon-
Na verdade, essa norma começou go prazo o uso do sistema construtivo,
a ser concebida em reuniões da Abcic por falta de padronização . O desen-
(Associação Brasileira da Construção volvimento dessas normas específicas
Industrializada de Concreto), coorde- teve início com a publicação da ABNT
nadas por sua presidente-executiva, NBR 14861:2011 Lajes Alveolares
Iria Doniak, quando se vislumbrou a ne- pré-moldadas de Concreto Protendido,
cessidade da normalização desse tipo e posteriormente, em 2014, a publi-
de pré-moldado, já com muito uso no cação da ABNT NBR 16258 Estacas
Brasil e no mundo.Tal ação estava em Pré-fabricadas de concreto. Etapa que
pauta desde 2008, quando, após a re- agora se conclui com a publicação da
alização da 1ª Missão Técnica da Abcic ABNT NBR 14675. Contribuiu também
(2008), que abrangeu Bélgica e Inglater- para essa visão a atuação das entidades
ra, momento em que o setor entendeu ABCIC e ABECE (Associação Brasileira
como necessário, para que houvesse o de consultoria e Engenharia Estrutural)
avanço tecnológico das estruturas pré- junto a fib (international federation for
-moldadas de concreto, que, além da structural concrete).
Brascan Century Plaza norma vigente a NBR 9062 Projeto e Tendo participado desde o início
R. Joaquim Floriano, 466 – Itaim Bibi,
São Paulo, SP Execução de Estruturas Pré-Moldadas, dessas reuniões, aceitei o convite da

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 45


revista CONCRETO & Construções
para compartilhar a experiência sobre
o desenvolvimento desta norma. Posso
adiantar que foi uma experiência riquíssi-
ma, por gerar o entendimento de como
funciona a normalização, o quão sério é
o processo e a necessidade da negocia-
ção em busca da unanimidade dentro
da comissão para definição de concei-
tos. A convivência com profissionais de
primeira linha e o grande aprendizado
em cada reunião e discussão foram o
maior legado que esse trabalho me dei-
xou, que posso resumir desta forma:
“Participar de uma comissão de
norma te enriquece como profissional, Central Park Prime
Rua Antônio de Lucena, 66 – Tatuapé – São Paulo, SP
e sua participação ajuda a Engenha-
ria Nacional a se enriquecer, mesmo Outro objetivo era buscar, através do nas obras com a utilização desses pro-
que sua contribuição não seja a maior, alinhamento do conhecimento técnico dutos tornaram-se expressivos. A nor-
afinal como aprendi há muito tempo, disponível no Brasil e nas referências in- malização permitiria o nivelamento de
ninguém é tão grande que não possa ternacionais, conceitos técnicos, requisi- conceitos, além de estabelecer critérios
aprender e ninguém é tão pequeno que tos e diretrizes que possibilitem o desen- de detalhamento, produção e monta-
não possa ensinar!” volvimento de projetos e produtos com gem, minimizando os riscos de insuces-
a segurança necessária. Por sua vez, a sos que poderiam comprometer o de-
OS MOTIVOS PARA SE normalização permite que mais profis- senvolvimento de novos sistemas.
DESENVOLVER A NORMA sionais tenham acesso às informações
DE PAINÉIS DE PAREDE DE técnicas, possibilitando uma expansão A FORMAÇÃO DA COMISSÃO
CONCRETO PRÉ-MOLDADO da utilização dos produtos. Observando No final de 2012, com esses objeti-
Sempre me questionei por que exis- o impulso que a normalização das Pa- vos, um grupo de profissionais se reuniu
tiam normas de diversos componentes, redes de Concreto moldadas no local para discutir e propor o desenvolvimen-
alguns que julgava não tão relevantes, e tinha dado àquele sistema, vislumbrava- to de uma Norma Brasileira para painéis
não existiam de outros, alguns muito re- -se que o mesmo poderia ocorrer com de parede. Por se tratar de um produto
levantes. Trabalho com sistemas cons- os Painéis, possibilitando um avanço da pré-moldado, o trabalho foi realizado na
trutivos que usam Painéis pré-moldados engenharia nacional neste sistema. Comissão de Estudo de Lajes Alveola-
desde os anos 80, seguindo a história Mesmo sem a normalização e em res e Painéis Pré-Moldados de Concre-
de meu pai, Antônio C L Pedreira de função de grandes obras de segmento to, no âmbito do ABNT/CB-18 – Co-
Freitas, que já trabalhava com isso des- econômico (no caso de painéis estru- mitê Brasileiro de Cimento, Concreto e
de os anos 70. Vale comentar que, fora turais) e no de fechamento de galpões, Agregados da Associação Brasileira de
do Brasil, se tem notícia do uso de pai- edifícios comerciais e shoppings (no Normas Técnicas, com participação ati-
néis desde a reconstrução da Alemanha caso de painéis não estruturais) durante va do ABNT/CB-02 Comitê Brasileiro da
pós-guerra, a partir de 1945. Ao longo a grande expansão da construção civil Construção Civil.
desses mais de 30 anos de trabalho, (2003-2011), diversos fornecedores e A Comissão de Estudo contou com
“sofremos” muito com a questão de projetistas se “aventuraram” em novos a participação de mais de 90 profissio-
projetarmos algo sem ter o respaldo de sistemas. Ainda que tomassem todos nais, representando 59 entidades/em-
uma norma, sendo este um dos objeti- os cuidados, a falta de alinhamento de presas, reunindo fabricantes, projetistas,
vos para sua proposição. conceitos e o risco de se ter problemas construtores, laboratórios de controle

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tecnológico e demais profissionais inte- oriundos do Selo de Excelência Abcic, mos contemplar. Foram feitos convites
ressados no tema e esteve sob minha programa que atesta qualidade, segu- a fornecedores e projetistas ligados a
coordenação para este trabalho, se- rança e meio ambiente das empresas painéis pré-moldados de concreto para
cretariado pela colega Daniela Gutstein integrantes, bem como os Datecs (Do- que apresentassem suas tipologias e
,no primeiro ano de discussões, e pelo cumentação de Avaliação Técnica) das participassem da Comissão, agregan-
colega Fabrício da Cruz Tomo, de 2014 empresas que, para o caso da aplicação do conhecimento e contribuindo para o
até a publicação. em edificações habitacionais, já haviam desenvolvimento da norma. Nem todos
Ao se iniciar uma norma, o ideal é sido aprovadas pelo SINAT (Sistema se disponibilizaram a participar e como
que se tenha um texto-base (a partir de Nacional de Avaliação Técnica) no âm- na Comissão não existiam profissionais
uma norma internacional ou criado por bito do PBQP-h, Programa Brasileiro de com expertise em determinados tipos
um grupo de profissionais qualificados) Qualidade e Produtividade do Habitat de painéis, optamos por não contemplá-
para o início das discussões e que di- - Ministério das Cidades, especialmen- -los nesta primeira edição da norma.
recione o texto da norma. Infelizmente, te os que envolviam a comprovação do No futuro, em uma próxima revisão,
neste caso, não se tinha e foi neces- atendimento à Diretriz Sinat 002- Siste- possivelmente novas tipologias serão in-
sário desenvolver a norma “a partir do mas de paredes integrados por painéis troduzidas.
zero”, o que dificultou muito os traba- pré-moldados de concreto ou mistos Os painéis que estão contemplados
lhos, mas, em contrapartida, possibilitou para emprego em edifícios habitacio- na norma são os seguintes:
uma investigação mais ampla, com par- nais, que teve início anterior a publica- u Painel de parede maciço;
ticipação de um número maior de pro- ção da ABNT NBR 15575. u Painel de parede alveolar;
fissionais. Agregou valor ao processo u Painel de parede nervurado;
as informações oriundas de empresas O ESCOPO DA NORMA u Painel de parede sanduíche;
fabricantes no âmbito da Abcic, espe- Uma vez instalada a Comissão, era u Painel de parede dupla;
cialmente por terem seus procedimen- preciso decidir o escopo da norma, de- u Painel de parede reticulado misto.
tos de execução e controle descritos, finindo quais painéis seriam abordados Esses painéis (nem todos) podem
e propondo a divisão dos itens e as- ser estruturais ou não estruturais, bruto
suntos a desenvolver. A discussão do (sem acabamento) ou com acabamento
escopo não foi pequena. Inicialmente, arquitetônico.
imaginávamos que o escopo poderia
ser o mais amplo possível; o que se PREMISSAS DE
mostrou impraticável em função do DESENVOLVIMENTO E
prazo proposto para a conclusão do ESTRUTURA TEMÁTICA DA NORMA
trabalho e da disponibilidade dos mem- O desenvolvimento da norma seguiu
bros da Comissão. sob algumas premissas acordadas pela
Após as discussões para se chegar Comissão no início dos trabalhos. Pode-
ao necessário consenso, a Comissão -se citar que as decisões foram tomadas
decidiu restringir as dimensões dos pai- por unanimidade, por ser a primeira ver-
néis (menores que 12m de comprimento são da norma e porque novos profissio-
e 25cm de espessura), não contemplar nais passariam a desenvolver o sistema
painéis curvos, painéis submetidos a es- a partir da sua publicação, que precisa-
forços predominantemente horizontais ríamos ser conservadores e abranger
ou usados como elemento de fundação, todos os processos (desde projeto até
além de estabelecer que o escopo de- produção e montagem). Desta forma,
veria contemplar apenas painéis com seriam dadas as condições necessárias
armação mínima. para o desenvolvimento do sistema e,
Definido o escopo, a questão pas- ao mesmo tempo, os riscos de insuces-
Prédio em painel de parede de concreto
pré-moldado sou a ser que tipos de painéis devería- sos seriam menores.

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 47


Buscando abranger todas as etapas,
do projeto à produção e montagem, de-
finimos que a norma abrangeria, além
dos capítulos básicos de uma norma, os
seguintes pontos:
u Durabilidade;
u Propriedade dos materiais;
u Comportamento conjunto
dos materiais;
u Segurança e estados limites;
u Limites para dimensões, desloca-
mentos e aberturas de fissuras;
u Instalações;
u Análise estrutural;
u Instabilidade e efeitos de segunda
ordem;
u Ligações em estruturas de painéis
Estoque de painel de parede de concreto pré-moldado
de parede pré-moldados;
u Dimensionamento; jetista sobre o processo produtivo e a temperatura entre faces) e à montagem
u Integridade estrutural; especificação clara em projeto das con- (devida às tolerâncias no assentamento
u Métodos de produção de painéis de dições de dimensionamento e limites. do painel). Dessa forma, define-se a ex-
paredes pré-moldados; Na produção do painel, a armação centricidade total e o esforço de flexo-
u Manuseio, armazenamento necessária exigida para a desforma di- -compressão que esta produz.
e transporte; fere conforme a direção da produção, Dito isso, ressalta-se a importância
u Montagem dos painéis de parede ou seja, se o painel é moldado na hori- do conhecimento de todo o processo
pré-moldados; zontal ou na vertical. Além disso, existe de produção e montagem para o dimen-
u Controle de execução e inspeção; a possibilidade do painel ser produzido sionamento correto da peça, que preci-
u Documentação técnica. horizontalmente numa fôrma basculan- sa ainda resistir aos esforços verticais
Não é objetivo deste artigo descre- te, que se inclina para o içamento e a (carregamento permanente e acidental)
ver item a item da norma, mas alguns desforma acontecer quase na vertical. e horizontais (devido ao vento), usando
pontos merecem destaque para o en- Da mesma forma, se no estoque o nestas considerações as contribuições
tendimento dos conceitos estabelecidos painel for armazenado de forma inclina- da norma ABNT NBR 16055:2012 - Pa-
e das possibilidades de uso. da em cavaletes, ocorrerão ações e de- rede de concreto moldada no local para
formações diferentes das que ocorrem a construção de edificações.
AÇÕES, EXCENTRICIDADES se o estoque for na posição vertical.
E DIMENSIONAMENTO Além de contemplar essas situações, AS LIGAÇÕES
O painel de parede de concreto é a norma trata com muito critério a ques- As ligações, como em qualquer
uma peça com rigidez elevada em duas tão de excentricidades, fundamental para sistema com uso de peças pré-mol-
direções e extremamente esbelto na o dimensionamento do painel, que atua dadas, mereceram um destaque espe-
terceira dimensão (correspondente à na dimensão crítica da peça. Devem ser cial. Conceitos introduzidos na revisão
espessura, de 10 a 25 cm).Por isso, é analisadas as possíveis excentricidades da ABNT NBR 9062:2017 – Projeto e
muito importante analisar as condições partindo-se de um valor mínimo, acres- execução de estruturas de concreto
impostas, considerando especialmente centando a parcela devida à fabricação pré-moldado estão presentes no ca-
a dimensão onde a peça é muito esbel- (imprecisão da fôrma), ao armazena- pítulo que trata deste tema na norma
ta (desde a produção até a montagem mento (deformação no estoque e em- de Painéis de parede de concreto. São
final), exigindo o conhecimento do pro- penamento em função da diferença de tratadas questões importantes, como

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INTEGRIDADE ESTRUTURAL:
UM TEMA IMPORTANTE COM UMA
ABORDAGEM BEM COMPLETA
Os painéis de parede de concreto
pré-moldados sempre foram motivo de
preocupação do meio técnico em fun-
ção de um desastre ocorrido em um
edifício na Inglaterra em 1968, o Ronan
Point, quando uma explosão de gás
provocou a ruptura de um painel e este
provocou o colapso progressivo de um
setor do prédio.
Desde o episódio muitos estudos e
testes foram feitos, sendo possível es-
tabelecer critérios de dimensionamen-
to capazes de garantir a integridade
Khobar Towers após a explosão de bomba
estrutural, mesmo no caso de falhas
os coeficientes de minoração da resis- nais da Netpré/Ufscar. não previstas em algum dos elementos
tência e os coeficientes de majoração Ainda com relação às ligações, vale estruturais. A questão do colapso pro-
e de ajustamento para as ações, ana- o registro da importância de se compa- gressivo é uma preocupação que tem
lisando o modo da falha, suas conse- tibilizar as deformações previstas e os se mostrado cada vez mais relevante
quências, incertezas, durabilidade e critérios de contorno com a estrutura, e pode ser definido como a ocorrência
manutenção, além do processo cons- sobretudo nas restrições de movimen- de um dano na estrutura desproporcio-
trutivo. Essas questões baseiam-se tação que precisam ser bem definidas nal a sua causa. Exemplificando com o
num trabalho amplo e muito bem de- pelo projetista, evitando que o painel caso citado, a ruptura de uma parede,
senvolvido pelo colega Marcelo Ferrei- seja exigido por ações às quais não foi mesmo que por uma explosão, não
ra, coordenando os grandes profissio- dimensionado. pode gerar a ruptura do edifício ou de
parte dele. É um dano muito grande,
desproporcional à causa.
A definição do que seria um dano
desproporcional à sua causa é extre-
mamente subjetiva e isto tem sido uma
dificuldade para a normalização. Na
norma mãe, ABNT NBR 6118:2014
– Projeto de Estrutura de Concreto, o
único ponto que trata deste tema é no
detalhamento de laje lisa sem vigas,
onde o risco de colapso progressivo é
muito alto quando não se prevê arma-
ções específicas para isto.
Nessa norma, aproveitando-se de
uma ampla bibliografia internacional,
a Comissão de Estudo responsável
pelo trabalho de revisão estabeleceu
critérios bem completos que definem
Montagem de painel de parede de concreto pré-moldado armações de amarração para garantir

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 49


a integridade estrutural no caso de di-
ferentes falhas e funcionamentos após
falhas. Esse procedimento, felizmente
ou infelizmente, já foi testado em mode-
lo real em um hotel na Arábia Saudita,
o Khobar Towers, em 1996. Dimensio-
nado com esses critérios, o hotel so-
freu um atentado com explosões pesa-
das que destruiu a fachada do edifício,
mas a estrutura principal, com painéis Win Work Chácara Santo Antonio
pré-moldados, permaneceu íntegra, Rua Luiz Seráphico Júnior, 511 – Jardim Heliomar – São Paulo, SP
evitando um desastre maior com dano
desproporcional. Também são tratados na norma troduzindo novas premissas e referên-
Acreditamos que este capítulo da os critérios de durabilidade, garantin- cias que possibilitem o seu avanço com
ABNT NBR 16475 representa um gran- do a vida útil necessária e os aspectos relação ao desempenho exigido para
de avanço para a nossa engenharia e com relação ao incêndio. Nesse que- as edificações. Espera-se também que,
que pode ajudar na evolução de outras sito, remeteu-se mais uma vez à ABNT com mais colegas usando a norma e
normas nas quais este tema é tratado NBR 9062, com a qual tivemos uma desenvolvendo novas tecnologias, pos-
muito mais como uma recomenda- interação muito grande e facilitada samos evoluir com revisões contínuas
ção, sem critérios específicos como os pela excelente coordenação do colega que reflitam novos estados da arte da
apresentados nesta norma. Carlos Eduardo E. Melo. engenharia de painéis de parede de
Quanto ao desempenho acústico concreto pré-moldado no Brasil.
COMO FICA A QUESTÃO e térmico, por exemplo, em que ou- A aplicação dos painéis pré-molda-
DE DESEMPENHO? tros sistemas complementares podem dos de concreto é um importante merca-
Finalmente, a outra questão que me- melhorar ou não o desempenho da do, com grande potencial de desenvol-
rece comentários é o atendimento aos edificação. Além desses, as ligações vimento no contexto da industrialização,
requisitos da ABNT NBR15575:2013 podem necessitar de testes para com- especialmente pelas necessidades de
– Edificações Habitacionais – Desem- provação de desempenho, sobretudo agregar maior eficiência, qualidade e
penho. Desde a publicação da norma, quanto às questões de estanqueidade produtividade aos processos produti-
muitos questionamentos têm sido feitos e durabilidade das juntas entre painéis, vos na Construção Civil. Especialmen-
com relação às necessidades de com- entendeu-se que o coreto seria reme- te na questão habitacional, os painéis
provação dos sistemas com testes. ter a própria ABNT NBR 15575. pré-moldados demonstram novamente
Na nossa análise, a norma contem- ser solução eficaz na Europa para aten-
pla todos os critérios de dimensiona- O FUTURO der elevadas demandas de qualidade
mento e detalhamento da estrutura, No futuro, com o compartilhamento e produtividade, como a necessidade
permitindo-se projetar e executar os de resultados de ensaios (acreditamos de construções habitacionais em lar-
painéis sem dúvidas quanto ao seu que esta será a prática entre os forne- ga escala para moradias decorrentes
desempenho estrutural. cedores), espera-se revisar a norma, in- da imigração.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] ABNT NBR 6118:2014 – Projeto de estruturas de concreto - Procedimentos.


[02] ABNT NBR 9062:2017 – Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado – Procedimentos .
[03] ABNT NBR15575:2013 – Edificações habitacionais – Desempenho.
[04] ABNT NBR 16055:2012 – Parede de concreto moldada no local para a construção de edificações – Requisitos e procedimentos.
[05] ABNT NBR 16475:2017 – Painéis de Parede de concreto pré-moldado – Requisitos e procedimentos.
[06] Diretriz Sinat 002- Sistemas de paredes integrados por painéis pré-moldados de concreto ou mistos para emprego em edifícios habitacionais.

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u inspeção
encontrose emanutenção
notícias | CURSOS

Ensaios não destrutivos para


identificação de armaduras em
elementos de concreto armado
CLAUDIUS S. BARBOSA – Professor e consultor PETRUS GORGÔNIO B. DA NÓBREGA – Professor Associado
Escola Politécnica da USP Universidade Federal do Rio Grande do Norte

1. INTRODUÇÃO em arquivos digitais, a equipe técnica e vencedor de prêmio pela execução

C
om o desenvolvimento da pode ter dados suficientes para a rea- do retrofit no ano de 2012. O edifício foi
economia e o crescimento lização de uma nova análise estrutural. modernizado e hoje abriga escritórios
das cidades, aumentando Em edifícios mais antigos, muitas vezes de empresas nacionais e estrangeiras.
vertiginosamente o valor do metro qua- o projeto estrutural não está dispo- Outros exemplos desse tipo de reade-
drado nos grandes centros, cada vez nibilizado no todo ou em parte, e até quação podem ser encontrados em
mais se observa na construção civil a existe a possibilidade de alguns dese- grandes cidades brasileiras, como o
utilização de edificações existentes– e nhos estarem ilegíveis, dificultando o Edifício 740 Anastácio e a Subestação
que foram projetadas para uma utiliza- conhecimento de informações neces- Riachuelo – Red Bull Station, ambos
ção específica– adaptadas a uma nova sárias a esta fase de procedimentos. em São Paulo.
função. Essa alteração muitas vezes vai Por outro lado, caso as informações
além da simples alteração da disposi- sobre o detalhamento das armaduras 2. TÉCNICAS E EQUIPAMENTOS
ção do ambiente e, comumente, ocorre estejam facilmente disponíveis, pode COMUMENTE EMPREGADOS
a adoção de ações acima dos valores haver o interesse (ou dúvida) de algu- Intuitivamente, a maneira mais di-
previstos em projeto em alguma área mas das partes envolvidas no processo reta de se obter informação sobre as
ou, quando se torna mais relevante, em para ratificar a qualidade da execução barras da armadura de um elemento
toda a edificação. da estrutura e, dessa maneira, invaria- estrutural qualquer é por meio da retira-
Em edifícios recém-construídos, velmente, mostra-se necessária a con- da da camada superficial do concreto,
principalmente aqueles em que os de- ferência da posição, diâmetro e cobri- deixando-as à mostra.
senhos de forma e de armação estão mento das barras de aço. Ainda, para Essa tarefa, embora simples, de-
a extração de testemunhos de concre- manda muita energia dos executo-
to, técnica essencial para determinar a res, cuidados para não causar danos
resistência à compressão do concreto à estrutura e, por fim, a necessida-
em uma estrutura já construída, faz-se de posterior de recuperação para
necessário o conhecimento da posição garantir o desempenho estrutural e
e arranjo das barras de aço a fim de sua durabilidade.
evitar conflito com a armadura durante Tal técnica, bastante utilizada ao
essa extração. longo dos anos – e ainda hoje, em ca-
Um exemplo importante que pode sos específicos – é conhecida como
u Figura 1 ser citado é o do edifício que abrigava “escarificação”. Na Figura 1 está ilus-
Pilar com a camada de a Companhia Sul América de Seguros, trado um pilar de concreto armado que
cobrimento removida para
projetado em 1922, localizado na Rua sofreu a remoção do seu cobrimento
identificação das barras de aço
Quitanda, na cidade do Rio de Janeiro para identificação das barras.

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 51


Com a evolução da tecnologia nas obtido no momento do teste. Por outro
últimas décadas, ficou cada vez mais lado, a atividade de reconhecimento das
acessível à comunidade técnica os barras não é tão ágil quanto possa pa-
aparelhos denominados “detectores de recer, já que o detector apresenta alta
armadura”, chamados comumente de sensibilidade e limitações de alcance: a
pacômetros (do inglês pachometer ou espessura da camada de cobrimento,
covermeter). por exemplo, não pode ser muito alta,
No Brasil, ainda não existe uma nor- tendo como limite máximo a faixa entre
ma reguladora para esses ensaios, mas 7 e 10 cm. Outra limitação da técnica
u Figura 2
a metodologia é prescrita, por exemplo, é quando as barras de aço estão muito
Princípio indutivo gerado nos
pelos seguintes códigos internacionais: próximas umas das outras, fazendo o ensaios de pacometria
u ACI 228 2R-13: Report on Nondes- equipamento “confundi-las” como uma
tructive Test Methods for Evaluation única barra de diâmetro maior (Figura 3).
of Concrete in Structures. American A Figura 3(a) ilustra a situação “ideal”, Um aparelho comercial para a de-
Concrete Institute; quando o aparelho detecta uma única tecção das características das barras
u BS 1881-204:1988: Testing concre- barra, e as demais são situações que po- exige, em primeiro lugar, a identificação
te. Recommendations on the use of dem ser aferidas de forma equivocada, de sua posição (direção e espaçamen-
electromagnetic covermeters. British quando o aparelho confunde uma barra to), demarcando-se uma “grade” na su-
Standards. com uma outra transversal (b); ou com perfície do elemento de concreto (Figu-
O princípio ativo mais conhecido duas muito próximas (c); ou ainda quan- ra 4), para, em seguida, posicionar com
dos pacômetros funciona com a emis- do essas estão agrupadas em feixe (d). exatidão o sensor e detectar as demais
são de um campo eletromagnético e
a obtenção, por meio da intensidade
e frequência, da estimativa das carac-
terísticas das barras de aço, conforme
ilustra a Figura 2.
Um campo eletromagnético é emiti-
do por uma sonda e detectado por uma
bobina, acoplados em equipamentos
portáteis. As bobinas do transdutor
são periodicamente carregadas com
pulsos de corrente e, assim, geram um
a b
campo magnético. Correntes parasitas
são produzidas sobre a superfície de
qualquer material eletricamente condu-
tor que estiver no campo magnético e
induzem um campo magnético na di-
reção oposta. A partir da mudança na
tensão são inferidas as características
das barras: cobrimento e diâmetro.
A grande vantagem desta técnica,
sem dúvida, é o caráter não destrutivo,
c d
evitando a quebra e recomposição da
camada de concreto. É de baixo custo
u Figura 3
quando comparada com outras técni-
Interferência gerada por barras próximas
cas, descritas a seguir, e o resultado é

52 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


Outra técnica que vem sendo
difundida é o ensaio GPR (Ground
Penetrating Radar), que tem como
princípio ativo a emissão de ondas de
rádio para detectar “objetos” no con-
creto. As ondas são energia eletromag-
nética emitida e captada pelas antenas
do GPR, em frequências superiores a
2000 MHz, que passam pela cama-
a b da superficial do concreto detectando
barras ou outros materiais. Além da
u Figura 4 posição, diâmetro e cobrimento das
Marcação, com auxílio do equipamento, do posicionamento das barras barras, é possível identificar vazios no
na superfície e verificação de suas características elemento estrutural. Essa técnica tam-
bém é utilizada para detecção de dutos
características com precisão: diâmetro nível de confiabilidade elevado. A expe- no solo, por exemplo. A capacidade de
e cobrimento. A identificação da posi- riência e conhecimento técnico da mão detecção das barras é superior a 30 cm
ção das barras por parte do executor de obra executora são muito importan- de profundidade, maior que os pacô-
se dá por meio de alerta sonoro ou, tes para interpretação dos resultados e metros convencionais.
para os aparelhos mais modernos, pela para a maior agilidade do processo. Hamasakiet et al. (2003) detalham
interface gráfica na tela do equipamen- Ainda na Figura 4 pode ser observa- esse procedimento, destacando que
to. Assim, fica evidente que, apesar da do que a marcação inicial indicou barras as ondas eletromagnéticas curtas são
maior facilidade que esse procedimen- com diâmetro de 40 mm, não usuais, emitidas por uma antena em direção ao
to gera para identificação das barras, especialmente no caso de edifícios. Este elemento estrutural em concreto, mas a
os dados devem ser analisados com fato indicou e, em seguida, foi confirma- reflexão dessa onda, devido à presen-
bastante critério a fim de se garantir um da a existência de um feixe de barras. ça das barras, possui características

a b

u Figura 5
Mapeamento de um tabuleiro de ponte com equipamento do tipo GPR, juntamente com “mapa de profundidade
de cobrimento” gerado após tratamento dos dados, adaptada de Hasan e Yazdani (2014)

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 53


diferentes da emitida. A antena recep- 3. METODOLOGIAS EM que permite identificar detalhes e mate-
tora é a responsável pela determina- DESENVOLVIMENTO riais internos no elemento de concreto.
ção do tempo de percurso da onda Ainda com o custo mais elevado que O fluxo de radiação, nesses casos, que
e pela análise dos dados de retorno. as técnicas descritas anteriormente, ou- passa por um objeto seria atenuado de
Dependendo do aparelho utilizado e tras duas metodologias se notabilizam acordo com o tipo de material e o di-
dos softwares de análise de dados, pela promissora maior agilidade no le- ferencial registrado, revelando detalhes
podem-se gerar superfícies tridimen- vantamento das armaduras, apesar de da composição do elemento estrutural.
sionais oriundas da movimentação das ainda serem pouco utilizadas comercial- Atualmente, estão ocorrendo reu-
antenas sobre o elemento de concreto. mente: a termografia e a radiografia. niões da Comissão Técnica Setorial de
A visualização em tempo real é possível O conceito da termografia é induzir o Construção Civil da Associação Brasi-
dependendo do tipo de aparelho utiliza- elemento estrutural a um aquecimento, leira de Normas Técnicas (ABNT) para
do. Além das limitações atribuídas à téc- pois o aço das barras altera o fluxo de discussão de documentos de norma-
nica anteriormente descrita, a utilização calor na região. Para isso, a metodologia lização, inclusive com a elaboração de
de concretos com idades baixas podem pode utilizar ar quente, radiação infraver- um projeto de norma de radiografia de
afetar os resultados em função de suas melha ou outras fontes, mas que geram estruturas em concreto.
características de condução e, mais alguma dificuldade em função das maio-
uma vez, alerta-se para a importância res ou menores dimensões das peças ou 4. EXEMPLO DE APLICAÇÃO:
da interpretação dos resultados obtidos áreas a serem analisadas. Após o aque- ACERTOS E LIMITAÇÕES
e da experiência do executor do ensaio. cimento da superfície, uma câmera de Um caso de sucesso foi obtido em
Na Figura 5 está apresentado um termovisão é utilizada para inspeção da uma estrutura de concreto pré-fabricado
mapa resultante do tratamento de da- superfície, que são separadas em zonas em que as vigas se apoiavam nos con-
dos após a execução de um ensaio com temperaturas diferentes. Szymanik soles dos pilares. Durante a instalação
com GPR, desenvolvido por Hasan e et al. (2016) apresentaram um estudo em das vigas, observou-se a formação de
Yazdani (2014). que foi utilizada a termografia infraver- fissuras na interface consolo-pilar, o que
As técnicas descritas anteriormen- melha para detecção de barras, com a levou a equipe de montagem a suspeitar
te tornam-se pouco ágeis para levan- utilização de micro-ondas. Essa técnica de anomalias no processo de fabricação
tamentos de grandes superfícies, pois tem uma restrição relativa à profundidade dos elementos. A armação especificada
ainda são muito dependentes da mão da locação das barras (além de 20 mm), em projeto deveria ser constituída por
de obra e da análise dos resultados. limitando sua aplicação àquelas locali- um tirante e estribos verticais e horizon-
Comparando-se a pacometria e o GPR, zadas superficialmente no elemento de tais, sendo ela responsável por transmitir
Hamasaki et al. (2003) concluem que: concreto. Mostra-se uma técnica mais toda essa reação da viga ao pilar. Nessa
a) A localização da posição das barras eficiente para a determinação da posição obra existiam 4 tipos de consoles, de-
por ambos os métodos é satisfató- e direção das barras, mas ainda alta- pendendo da interação com os pórticos.
ria, com uma precisão de ±10 mm; mente dependente da interpretação dos Quando da existência de um console
b) O diâmetro das barras é identificado resultados, que poderia ser facilitada por apenas, num dos lados do pilar, a ar-
com uma variação de aproximada- meio de uma metodologia complementar madura do tirante seria ancorada com
mente ±3 mm; como, por exemplo, a pacometria. gancho, como indica a Figura 6.
c) A camada de cobrimento também foi Já a radiografia seria um método A verificação da posição e diâmetro
obtida com uma precisão de ±10 mm, muito eficiente, mas complicado de se das barras de aço do tirante por meio
mas, neste caso, o manuseio dos equi- aplicar em função do perigo causado ao da pacometria se mostrou complica-
pamentos por mão de obra treinada há operador. Novas técnicas estão sendo da, tanto pela elevada concentração
mais tempo levou a menores erros; desenvolvidas e testadas para melhorar de barras de aço, devida ao pequeno
d) O estudo intensivo de técnicos a eficiência do processo de detecção espaçamento entre elas, como pela
especializados durante 1 semana, de barras, seu diâmetro e cobrimento, profundidade em que se encontravam
na maioria dos casos, garante um como os sistemas com raios-x ou raio- os tirantes em relação à superfície da
bom resultado. -gama, ou ainda a radiografia nêutron, estrutura. Além disso, como indicado

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ARMADURA DO TIRANTE

ESTRIBOS VERTICAIS

na Figura 7, os tirantes foram posicio- ESTRIBOS HORIZONTAIS

nados dentro de bainhas para que,


em seguida, fossem grauteados. Essa
situação, portanto, quase que invia-
bilizou o trabalho de identificação do
detalhe da armação por meio de en-
saio não destrutivo, mas, como um a b
dos consoles já estava escarificado,
foi possível constatar, previamente, a u Figura 6
ausência de grauteamento das bai- Detalhe do elemento analisado (a) e croqui esquemático de sua
armação (b)
nhas juntamente com a falta de pro-
longamento dos estribos horizontais
dos consoles nos pilares.
A pacometria buscou identificar os
estribos horizontais do console e ava-
liar se existia ancoragem/conexão com
o pilar. Em alguns casos eles estavam
presentes no console, conforme identi-
ficado no elemento na Figura 8(a). Com
isso, foram detectados dois resultados:
u Os estribos horizontais dos consoles,
e seu prolongamento na seção do pi-
lar, são claramente identificados, com
cobrimento entre 25 e 30 mm;
u Os estribos horizontais dos conso- a b
les são totalmente ou parcialmente
identificados, porém não é consta-
u Figura 7
tado o seu prolongamento na seção Detalhe das armaduras do console
do pilar. Nessa região, identificou-se
apenas o estribo do próprio pilar,
com espaçamento conforme indi-
ESTRIBOS DO PILAR
cado por projeto (Figura 8(b)); outro
indício observado preliminarmente
era que os consoles em desacordo
ESTRIBOS HORIZONTAIS
apresentavam o cobrimento eleva- DO CONSOLE

do, variando entre 60 a 70 mm.


O primeiro resultado foi o indício de ESTRIBOS HORIZONTAIS DO CONSOLE

que a armação do console ensaiado


foi executada da maneira como previs-
ta em projeto e, portanto, não haveria a b
problema de capacidade portante; já o
segundo resultado é um indício de que u Figura 8
a armação do console ensaiado foi Console com armadura conforme (a) e não conforme (b)
executada em desacordo com o pro-
jeto, provavelmente semelhante à ar-
mação apresentada na Figura 7, sem, foi associado ao erro do detalhamento/ ção dos ensaios em 55 consoles de um
inclusive, o grauteamento das bainhas, armação dos estribos. total de 156:
que, apesar de não poder ser identifi- Adicionalmente, destacam-se as a) Nos consoles em que a armadura
cado por esse ensaio não destrutivo, seguintes constatações, após a realiza- foi executada conforme projeto, o

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 55


cobrimento do estribo horizontal é ser densa de armadura inviabilizou a mentos de concreto armado, mostram-
de 25 mm, seguindo especificação identificação e determinação da bito- -se eficientes e são de grande interesse
de projeto; já nos consoles com erro la da armadura tirante. para a construção civil. É importante
de armação, o cobrimento verificado Conclui-se que a identificação das ressaltar que sua utilização apresenta
foi de aproximadamente 55 mm; anomalias por meio da pacometria foi limitações em função do cobrimento ou
a) A partir da análise visual dos conso- precisa, já que as 20 indicações de proximidade das barras e os resultados
les demolidos, após a escarificação consoles com anomalias foram con- dependem da qualidade e experiência
e demolição do concreto do console, firmadas na demolição, com posterior do executor dos ensaios e da análise
verificou-se que a armadura do tirante reforço do elemento estrutural. criteriosa dos resultados. Outras me-
tem cobrimento de aproximadamen- todologias, como a termografia e a ra-
te 70 mm em ambas as situações 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS diografia da estrutura, ainda estão em
(armação em acordo ou desacordo A técnica GPR e a pacometria são desenvolvimento e vêm sendo testadas
com o projeto) – essa constatação metodologias amplamente utilizadas pa­ em laboratórios; contudo, sua utilização
somada ao fato da região do console ra identificação de armaduras em ele- ainda é de uso comercial restrito.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] Hamasaki, H.; Uomoto, T.; Ohtsu, M.; Ikenaga, H.; Tanano, H.; Kishi, K.; Yoshimura, A. (2003). Identification of Reinforced in Concrete by Electro-Magnetic Methods.
In: International Symposium (NDT-CE 2003) Non-Destructive Testing in Civil Engineering 2003, v.8, n.10.
[02] Hasan, I.; Yazdani, N. (2014).Ground penetrating radar utilization in exploring inadequate concrete covers in a new bridge deck. Case Studies in Construction
Materials, v.1, pp. 104-114.
[03] Szymanik, B.;Frankowski, P. K.; Chady, T.; Chelliah, C. R. A. J. (2016).Detection and Inspection of Steel Bars in Reinforced Concrete Structures Using Active Infrared
Thermography with Microwave Excitation and Eddy Current Sensors. Sensors 2016, v.16, n. 234. doi:10.3390/s16020234.

COMENTÁRIOS E EXEMPLOS DE
APLICAÇÃO DA ABNT NBR 6118:2014
A publicação traz comentários e exemplos de aplicação da nova
norma brasileira para projetos de estruturas de concreto - ABNT
NBR 6118:2014, objetivando esclarecer os conceitos e exigências
normativas e, assim, facilitar seu uso pelos escritórios de projeto.

Fruto do trabalho do Comitê Técnico CT 301, comitê formado por


especialistas do Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON) e da
Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural
(ABECE), para normalizar o Concreto Estrutural, a obra é voltada
para engenheiros civis, arquitetos e tecnologistas.

DADOS TÉCNICOS
ISBN 9788598576244
Formato: 18,6 cm x 23,3 cm
Páginas: 484
AQUISIÇÃO:
Acabamento: Capa dura
www.ibracon.org.br
Ano da publicação: 2015
(Loja Virtual)

Patrocínio

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u inspeção e manutenção

Avaliação dos reparos e


reforços estruturais em
cobertura abobadada
MANUEL FERNANDO SOUSA FERREIRA DOS SANTOS • FLÁVIA LAMIM • ORLANDO CELSO LONGO
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil Universidade Federal Fluminense

1. INTRODUÇÃO

E
ste artigo descreve os ser-
viços de reparo e reforço
estrutural executados com
concreto projetado e resinas polimé-
ricas na cobertura em abóboda de
cerâmica armada nas oficinas de ma-
nutenção do Metrô\RJ dos anos de
1990. Executada em forma de cascas
múltiplas, seu projeto original seguiu
a cartilha construtiva do engenheiro
uruguaio Eládio Dieste, sendo o pro- u Figura 1
Área com destaque para a Oficina de Pequenos Reparos (OPR)
jeto e execução realizados por seu
Fonte: Google Maps.
escritório. Na busca da leveza em
conformidade com grande área útil
de vãos livres avantajados, a concep- cálculo do reforço foi empregada a 2. LEVANTAMENTO DOS DANOS
ção se adequa em harmonia à neces- teoria de membrana clássica. OCORRIDOS
sidade de conforto térmico e grande A execução dos serviços seguiu
espaço necessário à manutenção o prescrito em projeto, sendo de res- 2.1 Notas Iniciais
das composições. Destaca-se ainda ponsabilidade da empresa especiali-
a excelente incidência de luminosida- zada nesse tipo de reforço. O Complexo foi inaugurado em
de, que reduz consideravelmente a
necessidade de energia elétrica para
iluminação. Uma analise recente foi
realizada por meio de imagens térmi-
cas no intuito de verificar o compor-
tamento atual da estrutura, e cola-
borar na manutenção e preservação
das abóbodas.
A metodologia de reforço e re-
cuperação das cascas seguiu o di-
u Figuras 2 e 3
mensionamento da normatização
Área interna das oficinas com visualização das aberturas zenitais
brasileira de concreto à época de sua
Fonte: Autores (2017).
execução (ABNT – NB1\78). Para o

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 57


trutura da cobertura é composta por a corrosão danifica os fios tracio-
peças de cerâmica vazadas, recober- nados localizados nas vigas-calha,
tas com argamassa e armaduras de desequilibrando as forças atuantes
tração intercaladas nos interstícios en- e inserindo tensões não previstas
tre as peças cerâmicas. As abóbodas inicialmente. As cascas, por pre-
são múltiplas e formam vigas-calha missa de projeto, são em forma de
entre suas ligações. Uma armadura catenária e transmitem os esforços
pré-tracionada associada a uma ma- de compressão;
u Figura 4 lha de aço é inserida sobre as peças 2) deterioração da pintura acrílica pro-
Corte da colocação das cerâmicas para introduzir esforços de tetora das abóbodas, que permite a
armaduras em conjunto com os pré-compressão ao sistema e permitir infiltração de água e umidade, oxi-
blocos cerâmicos
a criação dos vãos, sem introdução de dando as armaduras e degradando
Fonte: DIESTE -1987.
pilares intermediários. a argamassa que, por imposição do
sistema, é de pequena espessura,
1979, com aproximadamente 60.000
2.3 Análise do Laudo inicial e com aproximadamente 3,0 cm;
m2 de área útil dividida em estaciona-
levantamento das patologias 3) excessiva fissuração próxima à re-
mento das composições, e duas ofici-
gião dos apoios, que advém da defi-
nas, a de grande reparos (OFR) e a de
O laudo inicial elaborado por uma ciência de armadura nos cantos, ne-
pequenos reparos (OPR).
empresa de consultoria técnica levan- cessária para a absorção das forças
Utilizando o tipo de abóbodas Gaus-
tou diversas manifestações patológi- de tração existentes. Essa fissuração
sianas, o Centro de Manutenção repre-
cas nas abóbodas. Após a realização acarreta no rompimento da homoge-
senta até a presente data o maior centro
de uma vistoria minuciosa, foi consta- neidade da argamassa, permitindo a
de reparos das composições do Metrô.
tada a necessidade de intervenções entrada de águas pluviais, lixiviando
Com a atual expansão, atingiu seu limi-
de grande monta para prolongamento a argamassa e oxidando as armadu-
te, e uma ampliação ou um novo centro
da vida útil das estruturas. Foram ve- ras existentes;
deverá ser construído em breve.
rificadas as seguintes manifestações 4) exposição de armaduras ao longo
patológicas: do dorso e calhas, com sua conse-
2.2 Estrutura da cobertura
1) infiltração e empoçamento de águas quente deterioração da argamassa,
pluviais, principalmente nas regiões criando um ciclo repetitivo de corro-
Em uma descrição sumaria do pro-
das calhas, com percolação de água são e degradação;
cesso construtivo empregado, a es-
e formação de estalactites. A conti- 5) desagregação da argamassa nos in-
nuação dessa degradação poderia terstícios entre as peças cerâmicas,
levar a estrutura ao colapso, já que pela infiltração excessiva de umidade;

u Figura 5
Montagem de cabos e malha u Figuras 6 e 7
na abóboda autoportante Degradação da viga-calha e sua percolação na parte inferior
Fonte: DIESTE -1987. Fonte: Autores (2017).

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tológicas existentes à época, foram
empregadas as técnicas clássicas de
reforço e recuperação. Os serviços
visaram restabelecer a integralidade
da argamassa e armaduras, além de
evitar futuras infiltrações.
Inicialmente foram identificadas
e marcadas as fissuras com abertu-
ra superior a 0,5 mm, sendo essas
u Figuras 8 e 9 preenchidas com resina epóxica de
Exposição de armaduras no dorso da abóboda
baixa viscosidade, após a instalação
Fonte: Autores (2017).
de purgadores nos domos, de modo
a proceder a injeção de modo manu-
al e gradativo.
Foi dimensionada a colocação
de uma armadura diagonal, em CA
50, de φ 6,3mm, a cada 7,5 cm de
modo a resistir às tensões de tração
existentes nos cantos fissurados das
cascas e limitar a abertura de novas
trincas, a valores condizentes com a
u Figuras 10 e 11 ABNT NB1-78, vigente à época da
Máquina de projeção de concreto e bico de saída execução do reforço.
Fonte: Engelok Equipamentos. Para o restabelecimento da argamas-
sa, duas sugestões foram consideradas:
6) existência de tijolos partidos e par- As manifestações patológicas apre- 1) aplicação de traço em concreto
cialmente expelidos de suas cavida- sentam-se ao longo de diversos pontos projetado com consumo mínimo
des, pela ação do gradiente térmico do extradorso das cascas, conforme de 400 kg de cimento por m3.
existente entre as área do dorso e apresentado nas Figura 8 e 9. 2) utilização de argamassa em traço
intradorso nas abóbodas. de 1:3, com emprego de sílica ati-
3. REFORÇO DAS CASCAS va e um superplastificante, para o
COM CONCRETO PROJETADO emprego do menor consumo de
Identificadas as manifestações pa- água possível.

u Figura 12
Malha no aguardo da aplicação u Figuras 13 e 14
do concreto Substituição dos domos originais por policarbonato translúcido
Fonte: Autores (2017). Fonte: Autores (2017).

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 59


A opção foi pela primeira alternati- área pelo município. Nas áreas inter- e distribuição dos serviços. Algu-
va, tendo em vista a maior desenvol- nas, um novo “layout” foi elaborado, mas adequações funcionais foram
tura de aplicação, limitada a 2,0 cm visando à melhor ocupação da área executadas visando à preservação do
de acréscimo nas superfícies após a
realização dos reparos necessários.
Cuidado similar foi dispensado à
abertura de sulcos para substituição
ou implementação de armaduras. O
disco cortante não poderia exceder a
1,5 cm de profundidade, para garan-
tir a integridade das armaduras origi-
nais. As armaduras danificadas pela
corrosão foram substituídas. Houve
o acréscimo de uma malha soldada
ao longo de toda casca, com tras-
passe mínimo de 20 cm nas seções.
Antes da aplicação do concreto,
as superfícies foram limpas com jato u Figura 15
Área livre otimizada para melhor aproveitamento dos vãos
de alta intensidade de água e areia,
Fonte: Autores (2017).
para remoção de impurezas e auxiliar
na aderência do novo material.
Especial atenção foi aplicada à
região das calhas, pelo fato já des-
crito da proteção da armadura de
protensão existente na região.
A aplicação de concreto proje-
tado ocorreu por equipamento de
câmera dupla, por via seca com im-
pulsão pneumática via compressor
diesel de 365 pcm, e hidratação dos
u Figuras 16 e 17
grãos no bico do mangote. Deterioração da armadura proveniente do acúmulo de umidade
As figuras 10 e 11 ilustram um mo- Fonte: Autores (2017).
delo de máquina pneumática para pro-
jeção de concreto por via seca, com
seu bico aplicador de saída do material.
Ao término, uma camada de im-
permeabilizante de base acrílica foi
aplicado em toda estrutura no intuito
de aumentar a durabilidade do refor-
ço executado.

4.. ESTÁGIO ATUAL


Com a privatização da Compa-
u Figuras 18 e 19
nhia uma nova etapa de conserva-
Acúmulo de umidade junto à região da calha
ção se inicia, fato este reforçado
Fonte: Autores (2017).
pela avaliação do tombamento da

60 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


patrimônio, como a substituição das gráficas, obtidas pelo equipamento A presença da umidade próxima as
claraboias em fibra de vidro por outras FLIP SC 640, por ocasião da visita às descidas pluviais e notada pela pelo
similares em policarbonato translúcido. oficinas. A absorção d’água em al- tom azulado mais intenso. A setoriza-
Mesmo com plano de manuten- guns pontos das calhas e nas desci- ção da região próxima as entradas de
ção constante, o acúmulo de água das pluviais é facilmente observada iluminação zenital das abóbodas apre-
nas calhas continua a causar proble- nas imagens das figuras 18 a 31. sentam os gradientes termicos mos-
mas localizados.O excesso de umida- Cada imagem termográfica é trados nas figuras 25 a 27.
de acumulada deteriora a alvenaria na acompanhada de sua fotografia do No balanço externo da abóboda
parte interna do intradorso, fragilizando mesmo local para facilitar a visuali- não foi detectada presença de umida-
o ponto, que muitas vezes se desa- zação. As temperaturas nos cantos de, o que indica que a impermeabili-
grega do conjunto. As Figuras 16 e 17 superiores determinam as máximas e zação da casca encontra-se em pleno
mostram esse fenômeno, com a expo- mínimas do ambiente. desempenho de sua função. O extre-
sição da armadura da calha e console. Em uma área mais setorizada da mo do balanço apresenta uma maior
Esse fenômeno pode ser verifi- região, tem-se os gradientes térmicos absorção de calor pela incidência direta
cado pela série de imagens termo- mostrados nas figuras 20 a 24. do vento e ação direta do sol, obser-
vando-se uma variação de mais de 10o
C, se comparado com as figuras 19 e
24 na região interna das abóbodas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
u Figura 22
Na primeira grande intervenção
Escala térmica do ambiente,
com variação de suas desde sua construção, foi constatada
temperaturas a existência de anomalias oriundas de
Fonte: Autores (2017). uma ausência de acompanhamen-
to e inspeção frequente das cascas.
Verificou-se o inicio da existência de
problemas estruturais, oriundos de
ação das intempéries e ausência de
manutenção constante. Essas mani-
festações patológicas foram corrigidas
através da intervenção nas áreas inter-
nas e externas das abóbodas.
As soluções adotadas mostraram-
-se de fácil execução e efetivas, o que
possibilitou à Companhia dar início à
execução dos serviços de reforço ne-
cessários para garantia da integridade
estrutural do conjunto, servindo de
modelo para ser empregado em estru-
turas similares.
A atual gestora da área introduziu
um programa de manutenção periódi-
u Figuras 20 e 21 u Figuras 23 e 24
ca e rotineira eficaz, de modo a man-
Gradiente de temperatura em Presença de umidade na região
pontos notáveis da abóboda da descida pluvial ter as características originais das

Fonte: Autores (2017).


cascas e preservar suas condições
Fonte: Autores (2017).
de estabilidade.

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 61


38.9 53.2
33.3 59.6
35.6 42.6 56.1

u Figura 27
Escala térmica do ambiente,
com variação de 33,3 ºC
a 59,6 ºC
Fonte: Autores (2017).

u Figuras 25 e 26
Temperatura em pontos próximos as aberturas zenitais
Fonte: Autores (2017).

u Figuras 30 e 31
Gradiente térmico no balanço
Fonte: Autores (2017).

22.4 47.3
4.5 51.2
u Figuras 28 e 29 15.8 32.2
Cobertura em balanço, sem
presença detecção de umidade u Figura 32
Fonte: Autores (2017). Balanço exposto a incidência
solar direta
Fonte: Autores (2017).

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] ASSOCIAÇÃO BRASILIERA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NB-1 Cálculo e execução de obras de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 1978.
[02] DIESTE, ELADIO – La Estructura Ceramica. Colección Somosur, 1987.

62 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


u mantenedor
encontros e notícias | CURSOS

Seminário sobre normalização,


eficiência e desempenho
das estruturas e painéis
pré-moldados de concreto
P
ara apresentar as normas qual foi formada no âmbito da ABNT tipo de sistema em todas as edifica-
brasileiras ABNT NBR comissões de estudos para nor- ções, não apenas as habitacionais”,
9062 – Projeto e execução mas de produtos específicos. Como avaliou Doniak, destacando que “a
de estruturas de concreto pré-mol- consequência dessa ação, foram padronização é a base para o desen-
dado e ABNT NBR 16475 – Painéis publicadas as normas ABNT NBR volvimento sustentável do setor da
de parede de concreto pré-molda- 14861:2011 – Lajes alveolares pré- construção civil”.
do – Requisitos e procedimentos, -moldadas de concreto protendido A apresentação das altera-
recém-publicadas pela Associação – Requisitos e procedimentos, ABNT ções e atualizações da ABNT NBR
Brasileira de Normas Técnicas, e NBR 16258 – Estacas pré-fabricadas 9062:2017 ficou a cargo do enge-
debater seus impactos no mercado, de concreto – Requisitos e, agora, nheiro Carlos Melo, coordenador da
a Associação Brasileira da Constru- a ABNT NBR 16475. “A solicitação Comissão de Estudos da ABNT NBR
ção Industrializada de Concreto (Ab- para a norma de painéis é resultado 9062, e do engenheiro Marcelo Cua-
cic) promoveu o “Seminário ABCIC do crescimento da aplicação desse drado Marin, diretor técnico da Abcic
– Normalização, efi-
ciência e desempe-
nho das estruturas
e painéis pré-mol-
dados: o impacto
e a entrada em vi-
gência das novas
normas aplicáveis”
no último dia 25 de
abril, no Instituto
de Engenharia de
São Paulo.
Em sua palestra,
a presidente-execu-
tiva da ABCIC, Engª
Íria Doniak, enfati-
zou que a norma-
lização é uma das
prioridades da en-
tidade, razão pela Público presente no Seminário ABCIC

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 63


Mesa de debates no encerramento do Seminário

e Secretário da Comissão de Estudos cargas com guindaste móvel, visando cussões para a produção do texto-
da ABNT NBR 9062. Com conteúdo à otimização dos recursos aplicados -base da norma, a comissão de es-
abrangente, englobando aspectos na operação (equipamentos, acessó- tudos se baseou em experiências
de projeto, produção e montagem, rios e outros) para se evitar acidentes nacionais e internacionais de uso
a norma tem hoje 86 páginas, mais e perdas de tempo. de painéis pré-moldados e procurou
do que o dobro da versão de 2006, A análise da estabilidade de es- tomar o cuidado para que a norma
quando foi publicada com 42 pági- truturas pré-moldadas, com foco nas não engessasse o sistema, lançan-
nas. Segundo os palestrantes, um ligações semirrígidas, foi o tema da do mão de requisitos que favoreces-
dos pontos centrais da revisão foi palestra do professor do Núcleo de sem novos desenvolvimentos. Ainda
a definição do conceito de rigidez Estudos e Tecnologia em Pré-Mol- segundo ele, em relação à Norma de
secante das ligações para a perfei- dados de Concreto da Universida- Desempenho (ABNT NBR 15575), a
ta estabilidade global da estrutura. de Federal de São Carlos (NETPRE/ norma de painéis assegura o de-
“A definição do fator de restrição da UFSCar), Marcelo de Araújo Ferreira. sempenho estrutural, mas remete
ligação viga-pilar, de onde são deri- Os conceitos e perspectivas de diretamente àquela quando se trata
vados os coeficientes de mola e de desenvolvimento da ABNT NBR de desempenho à estanqueidade,
rotação da viga em relação ao pilar, 16475:2017 foram apresentados conforto térmico e acústico.
permite um melhoramento da mode- pelo engenheiro Augusto Pedrei- Sua apresentação foi complemen-
lagem espacial do edifício como um ra de Freitas, coordenador da Co- tada pelas palestras dos engenheiros
todo”, apontou Melo. missão de Estudos da ABNT NBR Luciana Alves de Oliveira, do Instituto
Outro ponto importante da norma 16475. Ele contou que o principal de Pesquisas Tecnológicas de São
revisada foi a significativa ampliação objetivo na busca por uma norma Paulo (IPT), e Marcelo Luis Mitidieri,
do capítulo de montagem e a defini- específica foi o de difundir o uso do Instituto Falcão Bauer, que falaram
ção do plano de Rigging, que segun- do sistema construtivo de painéis. sobre o desempenho de sistemas ha-
do Marin, “irá contribuir para o desen- “Um sistema que não tem normali- bitacionais produzidos com painéis
volvimento do setor ao agregar mais zação, não tem garantia, afetando pré-fabricados de concreto.
segurança nas operações em campo sua confiabilidade, o que acarreta O Seminário foi encerrado com
com elementos pré-moldados”. O insegurança a alguns construtores um painel de debates, mediado por
plano de Rigging é o planejamento e agentes financiadores de obras”, Íria Doniak, que contou com a partici-
formalizado de uma movimentação de explicou. Segundo Freitas, nas dis- pação dos palestrantes, da arquiteta

64 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


das da ABNT NBR
9062, comentando
seus itens mais im-
portantes. “O lança-
mento desse novo
Comitê Técnico,
bem como a elabo-
ração de práticas
recomendadas por
seus membros, ob-
jetiva que mercado
tenha instrumentos
de trabalho para
desenvolver suas
obras com bastan-
te eficiência e cui-
dado, e que pos-
samos avançar na
área de normas téc-
Presidente do IBRACON, Julio Timerman, ladeado à esquerda por Íria Doniak e Jefferson Dias de
Souza (presidente da ABECE) e à direita por Suely Bueno (diretora de Normalização da ABECE) nicas com maior ce-
leridade”, afirmou.
Maria Salette de Carvalho Weber, co- retora técnica, Enga. Inês Battagin, e “Esta primeira ação do CT 304
ordenadora geral do Programa Bra- seu diretor de publicações técnicas, será conjunta das entidades ABCIC,
sileiro da Qualidade e Produtividade Eng. Eduardo Barros Millen. ABECE e IBRACON”, complementou
do Habitat (PBQP-h), no âmbito do Íria, para enfatizar que “além desta
Ministério das Cidades, e dos supe- COMITÊ TÉCNICO ação, a ABCIC possui outros traba-
rintendentes do ABNT/CB-02 e do IBRACON/ABCIC lhos a serem desenvolvidos posterior-
ABNT/CB-18, Salvador de Sá Bene- Na abertura do Seminário AB- mente no âmbito deste comitê, como,
vides e Inês Laranjeiras da Silva Bat- CIC foi anunciada a criação do Co- por exemplo, os manuais de proce-
tagin, respectivamente. mitê Técnico 304 IBRACON/ABCIC dimentos dos laboratórios instalados
Em sua intervenção, Maria Salette de Pré-Moldados de Concreto. O nas indústrias, entre outras”.O Presi-
destacou que as novas normas dão objetivo do CT 304 é contribuir dente do IBRACON, Júlio Timerman ,
celeridade ao processo de avaliação para o desenvolvimento técnico e que comentou que tem sido nítido o
dos sistemas construtivos pelo SI- tecnológico do pré-fabricado de esforço da Abcic em promover a inte-
NAT (Sistema Nacional de Avaliações concreto e para a difusão do co- gração das entidades representativas
Técnicas), uma vez que oferecem se- nhecimento acerca de seus benefí- das estruturas de concreto, parabe-
gurança ao agente financeiro de que cios e aplicações. nizando a entidade “por nos tempos
tudo está testado e analisado. Na ocasião, Inês Laranjeira da atuais estar com o evento lotado e
O Seminário da Abcic contou Silva Battagin, diretora técnica do uma seleta plateia”.
com a participação de 200 pessoas, IBRACON e superintendentes do Co- A reunião de instalação do
entre lideranças setoriais, empresá- mitê Brasileiro de Cimento, Concreto CT 304 será realizada no 59º Con-
rios, engenheiros, arquitetos, técni- e Agregados da Associação Brasilei- gresso Brasileiro do Concreto, even-
cos, professores e pesquisadores. ra de Normas Técnicas (ABNT/CB- to técnico-científico promovido pelo
Dele participaram o presidente do 18), informou que o primeiro trabalho IBRACON, que vai acontecer de 31
IBRACON, Eng. Julio Timerman, que a ser desenvolvido pelo CT 304 será de outubro a 3 de novembro, em
compôs a mesa de abertura, sua di- a elaboração de práticas recomenda- Bento Gonçalves.

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 65


u entendendo
encontros e notícias
o concreto
| CURSOS

Muito além do controle


tecnológico convencional
do concreto
ARNALDO FORTI BATTAGIN • ANA LÍVIA ZEITUNE DE P. SILVEIRA
Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP)

A
o se estudar a microestru- São várias as técnicas aplicadas propriedades do concreto no esta-
tura do concreto endureci- no Laboratório de Microestrutura da do fresco, como o abatimento do
do a partir de um testemu- ABCP para estudo da microestrutura concreto, por exemplo. A resposta
nho extraído de uma estrutura ou peça do concreto, destacando as análi- é sim e não, pois embora não seja
estrutural, muitas informações podem ses petrográficas por microscopias possível fornecer o valor quantitativo
ser conhecidas, como, por exemplo, a ótica e estereoscópica, a microsco- do abatimento, indiretamente pode
presença de fissuras e microfissuras, a pia eletrônica de varredura, sempre se chegar a características que dele
identificação de compostos correntes em conjunto com outras técnicas, decorrem. Constitui exemplo clássi-
de hidratação da pasta de cimento, como a difratometria de raios X, aná- co o fato da pasta de cimento ficar
neocompostos formados originados lises químicas por espectrometria mais clara com relação a/c mais alta,
de reações deletérias, cujos principais de raios X, análises termodiferencial em oposição a uma pasta mais escu-
são os ligados à reação álcali-agre- e termogravimétrica, etc. Todas es- ra, típica de relação a/c mais baixa.
gado, ao ataque por sulfatos, dentre sas técnicas analíticas se comple- A própria morfologia dos agregados
outros. Portanto, pode-se fazer diag- mentam e fornecem subsídios para também constitui indicação, pois
nósticos quanto à qualidade ou com- que um profissional experiente pos- agregados mais arredondados re-
portamento do concreto de determi- sa fazer a correta interpretação das querem menor quantidade de água
nada estrutura e sua interação com o implicações ligadas à microestrutura do que agregados alongados e la-
ambiente, e avaliar se a relação a/c foi do concreto. Muito se questiona se melares. Ao contrário, a segregação
elevada, a compacidade do concreto, um estudo da microestrutura pode- pode indicar uma consistência mais
a presença de vazios, etc. ria fornecer informações ligadas às fluida, assim como certa orientação
dos agregados no concreto endure-
cido pode indicar exsudação, com
superfície enriquecida em pasta
de cimento.
Neste artigo dá-se ênfase à micros-
copia eletrônica de varredura (MEV) com
uso do EDS, da sigla em inglês para
Energy Dispersive Spectroscopy (Es-
pectroscopia por dispersão em energia).
Em linhas gerais, a análise por MEV
conduz ao reconhecimento das feições
u Figura 1
microestruturais e especialmente a
Esquema simplificado de microscópio eletrônico de varredura
distribuição e morfologia das fases, ao

66 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


passo que o EDS permite identificar a
composição química, apontando ele- C
mentos químicos na área na qual se
encontra o composto mineralógico,
C
tornando possível seu diagnóstico.
C

ENTENDENDO A TÉCNICA DA
MICROSCOPIA ELETRÔNICA
DE VARREDURA
O microscópio eletrônico de var-
redura utiliza um feixe de elétrons, FOTO 1 FOTO 2
diferentemente dos fótons, isto é, Aspecto ao microscópio eletrônico dos Aspecto ao microscópio eletrônico
cristais de carbonato de cálcio (C), da baixa coesão da argamassa (C)
radiação de luz, utilizados no micros- oriundos da carbonatação do concreto – aumento de 1.000x – Elétrons
cópio óptico convencional, o que – aumento de 10.000x – Elétrons Secundários. Esse aspecto da
Secundários. Os cristais de carbonato microestrutura do concreto resultando
permite solucionar o problema de de cálcio são romboédricos, muito bem em argamassa menos coesa indica
resolução ligado à profundidade de formados e disseminados pelo concreto. traço pobre em cimento (pouca pasta).
campo nas altas ampliações. A ima-
gem, por sua vez, não é colorida por Pelas análises no MEV podem ser que o microscópio ótico) e imagens
ser uma imagem eletrônica, ao con- obtidas as seguintes informações: tridimensionais.
trário do microscópico óptico que u Topografia: superfície da amostra Os principais detectores para
permite observar imagens de distin- e sua textura, isto é, os aspectos análise no MEV são: os de elétrons
tas colorações e tonalidades. ligados às propriedades do mate- secundários (SE), os de elétrons re-
O MEV convencional apresen- rial (dureza, refletância, etc); troespalhados (BSE) e os de Raios X.
ta uma coluna óptico-eletrônica u Morfologia: a forma e o tamanho
adaptada a uma câmara com porta- das fases que formam a amostra, Elétrons secundários (SE)
-amostra aterrado, sistema eletrôni- isto é, a estrutura e as proprieda-
co, detectores e sistema de vácuo des do material (ductibilidade, re- São os responsáveis pela forma-
(Figura 1). sistência, reatividade); ção da imagem tridimensional e in-
Os princípios e passos básicos u Composição: os elementos e formações topológicas da superfície
que envolvem o MEV são: compostos da amostra e as quan- da amostra. Nesse tipo de análise
u Uma corrente de elétrons é formada tidades relativas deles, relaciona- a amostra ideal é de superfície de
por uma fonte de elétrons e acele- das diretamente com a composi- fratura, principalmente para a identi-
rada em direção à amostra, usando ção e propriedades dos materiais ficação da morfologia dos produtos
um potencial elétrico positivo; (ponto de fusão, reatividade, dure- investigados (Fotos 1 e 2).
u Essa corrente é confinada e focali- za, etc); e
zada, usando aberturas de metal e u Informação cristalográfica: a ma- Elétrons retroespalhados (BSE)
lentes magnéticas, a um feixe mo- neira como os átomos estão or-
nocromático fino e condensado; denados na amostra – existe uma A análise é feita principalmente
u Esse feixe é focalizado em cima da relação direta entre essa ordenação em superfícies polidas, para assim
amostra usando uma lente mag- e as propriedades do material (con- facilitar as identificações de fases
nética; ductibilidade, propriedades elétri- da amostra. Essa forma de análise
u Interações ocorrem dentro da cas, resistência, etc). permite investigar as diferentes fases
amostra irradiada, afetando o fei- A técnica de MEV permite traba- presentes nas amostras, através de
xe de elétrons – essas interações lhar com amostras espessas, de alta seus tons de cinza, conforme o nú-
e efeitos são detectados e trans- resolução (30Å), grande profundi- mero atômico médio dessas fases.
formados em uma imagem. dade de foco (300 vezes melhor do Quanto maior for o número atômico

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 67


médio, mais branco aparece o pro- de espectrometria e difratometria consiste de um sistema de evapora-
duto na imagem. de raios X e em MEV. No MEV, os ção que remove o ouro de um ele-
raios X são detectados por sistemas trodo maciço por bombardeamento
Raios X (EDS) acoplados de EDS e/ou WDS, que com íons pesados de argônio e o
são acessórios do MEV, que além deposita sobre todas as reentrân-
Os Raios X são utilizados para da imagem, permitem diagnosticar o cias e proeminências da superfície
identificar e quantificar elementos elemento químico presente na partí- da amostra. Embora seja possível
químicos presentes em determinada cula investigada. Nas pesquisas re- usar evaporação térmica em alto
amostra. São utilizados nas técnicas alizadas na ABCP, utiliza-se o EDS,
que detecta Raios X através da me-
dição da energia característica de
cada elemento químico, permitindo G
sua identificação nos produtos ob-
M
C servados. Essa técnica é conhecida
como microanálise.
Atualmente alguns centros de
C G
pesquisas brasileiros já utilizam
MEVs de última geração, com o
chamado Field Emission Gun (FEG).
Sua principal vantagem é a me- FOTO 5
FOTO 3 Aspecto ao microscópio eletrônico
lhor resolução. A ABCP também
Aspecto ao microscópio eletrônico dos do produto da RAA em forma maciça
produtos cristalizados (C) a partir do utiliza esses microscópios FEGs (G) na argamassa – Gel típico da
gel maciço (M) no poro – aumento de RAA - aumento de 800x - Elétrons
quando uma melhor resolução
2.000x - Elétrons Retroespalhados. Secundários. O gel decorrente da RAA,
Trata-se de gel maciço, típico da reação é necessária. que preferencialmente se deposita
álcali-agregado, a partir do qual se nos poros e vazios, neste caso
Uma etapa importante diz respeito
desenvolveram produtos cristalizados. retratado, está disseminado por toda
Essa é uma indicação da reação dos à preparação da amostra. Essa preci- a argamassa, indicando uma situação
álcalis solubilizados contidos nos poros generalizada de RAA, favorecida pela
sa ser montada de modo adequado
com os agregados, sendo responsável presença de umidade, agregado reativo
pelas manifestações patológicas. no suporte do porta-amostra do MEV, e disponibilidade de álcalis.
ajustando-se a melhor orientação em
relação ao feixe de elétrons e ao cole-
tor. Para fixação da amostra no porta-
C
C -amostra vários tipos de cola podem
ser usados, como, por exemplo, cola
de prata coloidal, fitas adesivas, co- C
las poliméricas, mas na ABCP se opta
por utilizar cola à base de carbono.
C Feita a montagem o próximo pas-
so é a metalização da amostra, com
o objetivo de aumentar a condutivi-
FOTO 4 dade elétrica da sua superfície pela FOTO 6
Detalhe ao microscópio eletrônico dos Aspecto ao microscópio eletrônico
deposição de fina camada de ouro
produtos cristalizados da RAA (C) – do concreto, onde se observam
aumento de 3.000x – MEV - Elétrons ou carbono, pois o concreto apre- microfissuras – aumento de 130x –
Retroespalhados. Muitas vezes o MEV – Elétrons Retroespalhados.
senta baixa condutividade elétrica.
gel expansivo da RAA se cristaliza, Essas microfissuras do concreto
resultando em fases cristalizadas, O processo mais eficiente de de- que foram parcialmente preenchidas
como essas rosáceas que são vistas por produtos de corrosão (C) das
posição é a utilização de um equipa-
nessa foto, apresentando a mesma armaduras, constituídos por hidróxidos
composição do gel. mento chamado de metalizador, que e óxidos hidratados de ferro.

68 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


vácuo, esse sistema de sputtering é amostra está pronta para ser exami- resulta numa desejável diminuição.
mais eficiente. Além de ouro, alguns nada no MEV. Por essa razão, novas tecnologias de
materiais podem necessitar de uma desenvolvimento do concreto ado-
cobertura adicional com carbono, ENTENDENDO A tam o estudo de sua microestrutura
obtida no evaporador convencional MICROESTRUTURA como uma das suas ferramentas,
de alto vácuo. Após a metalização, a DO CONCRETO pois esse permite uma caracteriza-
O concreto endurecido é um ção detalhada de cada constituin-
material relativamente heterogêneo, te, sua distribuição e sua inter-re-
formado pela pasta e os agregados lação com os demais constituintes.
graúdos e miúdos, com presença de Mecanismos responsáveis pela re-
C
vazios e poros. sistência mecânica, estabilidade
Os agregados geralmente são
constituídos por vários minerais ou
M
componentes mineralógicos, impri-
mindo sua característica polifásica. P
Esses são geralmente inertes, mas P
pode ocorrer que alguns tipos litoló-
FOTO 7 gicos sejam reativos com álcalis, ge-
Aspecto ao microscópio eletrônico do
concreto, em se observam pequenos rando expansão pela formação de gel
cristais cúbicos (C) sobre material e causando fissuração do concreto
cristalizado (M) na argamassa. Esses
produtos foram identificados como: (Fotos 3 a 5). Os agregados podem
cloreto de cálcio, de carbonato de também conter componentes deleté-
cálcio e sulfato de cálcio – aumento
de 10.000x – MEV – Elétrons rios, como sulfetos, sulfatos e clore- FOTO 9
Secundários. Caso de concreto no qual tos (Fotos 6 e 7), que podem ser iden- Aspecto ao microscópio eletrônico dos
foi utilizado indevidamente como adição produtos de hidratação do cimento
material particulado do processo de tificados numa análise por MEV, com (P) – aumento de 4000x – Elétrons
dessulfuração de gases FGD, contendo adoção da técnica BSE ou ainda por Secundários. Foto que mostra o concreto
sulfitos e cloretos. A cristalização de apresentando os produtos correntes
cloretos de cálcio hidratado, carbonato técnicas complementares, como mi- da hidratação da pasta de cimento,
de cálcio e sulfatos de cálcio levou croscopia ótica, por exemplo. A foto como a portlandita e C-S-H. A presença
a microfissuração do concreto e há expressiva de portlandita é uma indicação
potencial para corrosão das armaduras. 8 exemplifica um caso de concreto de que o tipo de cimento utilizado
no qual foi utilizado agregado miúdo apresenta ausência ou baixa frequência
de escória e materiais pozolânicos.
contendo sulfatos e proveniente de
região litorânea no Nordeste, onde a
aplicação do MEV mostrou-se eficaz P
E
no reconhecimento da etringita tardia.
A pasta de cimento hidratada é o
E elemento que une um agregado ao
V
outro e apresenta uma diferenciação
E quando se aproxima da região do
agregado graúdo, região denomina-
da de zona de transição, um ponto FOTO 10
Aspecto ao microscópio eletrônico dos
FOTO 8 natural de vulnerabilidade e consti- produtos de hidratação do cimento
Aspecto ao microscópio eletrônico tuído por cristais orientados de por- – aumento de 4000x – Elétrons
da etringita compactada (E) na Secundários. Foto que mostra produto
argamassa – aumento de 700x – MEV tlandita. Essa zona de transição varia da hidratação bem cristalizado
- Elétrons Retroespalhados. A feição é de 10 a 50 nm e o uso de adições, (tobermorita), em concreto celular
generalizada no concreto com formação autoclavado, com alta porosidade entre
de etringita tardia, mostrando ataque como materiais pozolânicos, escó- os cristais (V) e responsável pela baixa
interno do concreto por sulfatos. rias de alto forno, sílica ativa, etc., massa específica do material.

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 69


dimensional e resistência química que cristaliza em placas hexagonais, de transporte das fases líquidas e ga-
podem ser identificados, permitindo e calcita, o carbonato de cálcio, re- sosas, com impacto direto na perme-
que se atue de maneira a melhorar o sultante da carbonatação da por- abilidade do concreto, migração de
desempenho dos concretos. tlandita. Em concreto celular auto- íons agressivos e, portanto, na dura-
Com relação à pasta verifica-se clavado as condições ambientais de bilidade. A porosidade de gel sempre
que é constituída pelos compostos temperatura e pressão favorecem a aumenta com o passar do tempo até
resultantes da hidratação do cimento formação de C-SH, bem cristalizado, determinado valor, ao passo que a po-
Portland com a água, gerando com- correspondente à tobermorita (Fotos rosidade capilar tende a diminuir.
postos hidratados, como os silicatos 9 a 11). Outros compostos típicos
hidratados C-S-H, geralmente fibro- são os aluminatos e ferroaluminatos
sos, hidróxido de cálcio (portlandita), cálcicos hidratados e etringita (tris-
sulfoaluminato cálcico), na forma de
E
acículas, que depois migram para a
forma mais estável (monossulfoalu-
minato cálcico), resultante da reação
E
dos aluminatos com o regulador de
pega. Essas fases, por não terem
proporção estequiométrica definida,
E
E são conhecidas na química do ci-
mento como AFt e AFm. Qualquer ou-
FOTO 13
tra fase pode ser considerada anô- Aspecto ao microscópio eletrônico da
mala ao processo de hidratação do etringita compactada (E), preenchendo
fratura na argamassa – aumento de
cimento e pode indicar um potencial 1.000x – Elétrons Secundários. A
FOTO 11 microfissura com abertura aproximada
para o aparecimento de manifesta-
Aspecto ao microscópio eletrônico de 40 µm foi totalmente preenchida
de cristais aciculares (E) em vazios ções patológicas, como o composto por etringita compactada (DEF). A
no concreto – aumento de 4.000x – microfissura foi um local preferencial
etringita tardia, mostrado nas fotos
Elétrons Secundários. As acículas são de deposição e pode aumentar com a
constituídas de etringita, de origem 12 a 14, que indica um ataque inter- progressão do tempo por continuidade
primária, em oposição à etringita da cristalização e expansão da etringita.
no por sulfatos.
compactada (DEF), mostrada na foto 8.
A porosidade é outra feição impor-
tante da microestrutura do concreto.
Ela é constituída pelos poros capila-
ARG res, resultantes da migração da água
E E de amassamento, e pelos poros dos
E
produtos de hidratação, dos quais o
C-S-H é o predominante, esses últi-

AG
mos chamados poros de gel.
Além disso, existem os vazios li-
gados ao adensamento do concreto,
os chamados macroporos, de forma
irregular, e eventualmente poros não FOTO 14
FOTO 12 Aspecto ao microscópio eletrônico da
Aspecto ao microscópio eletrônico do interligados, de formato esférico, re- etringita compactada (E) – aumento
concreto, em que se observa o contato sultantes da incorporação de ar, in- de 300x - Elétrons Secundários. O
agregado graúdo com a argamassa poro está preenchido por etringita
– aumento de 2.000x – MEV – tencional ou não (Foto 15). compactada, feição indicativa de que se
Elétrons Secundários. Observa-se a Os poros capilares são interligados, trata provavelmente de DEF (delayed
presença de etringita tardia (E) no ettrigite formation), que se diferencia
contato do agregado graúdo (AG) com se situam entre as fases hidratadas e da etringita primária ou secundária pela
argamassa (ARG). são responsáveis pelos mecanismos ausência de acículas típicas.

70 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


FEIÇÕES MICROESTRUTURAIS analista deve ser experiente e com- apontando as causas de manifesta-
DO CONCRETO E SUA petente o suficiente para proceder ções patológicas, bem como a iden-
INTERPRETAÇÃO a uma amostragem representativa tificação de características ligadas à
Embora a interpretação das fei- para detectar determinadas feições durabilidade do concreto.
ções microestruturais tenha sido in- que são decorrentes das caracte- Finalmente, o estudo da microes-
troduzida já no item anterior, é ne- rísticas do concreto e associá-las a trutura vem sendo aplicado de manei-
cessário enfatizar que a técnica da condições de preparação do concre- ra crescente no desenvolvimento de
microscopia eletrônica de varredura to, a manifestações patológicas, a inovações tecnológicas no campo do
é uma extensão dos olhos do ob- propriedades especiais, etc. concreto, de maneira abrangente, das
servador, que lhe permite observar Numa fase anterior à análise por MEV quais são exemplos o concreto trans-
detalhes por meio de ampliação de propriamente dita, é importante que, no lúcido, o concreto com nanotubos de
até 300.000 vezes, impossíveis de momento da separação dos fragmentos carbono, o concreto autolimpante, o
serem vistos a olho nu. Por isso, o que serão submetidos ao microscópio concreto autocicatrizante, o concreto
eletrônico de varredura, a estereosco- têxtil, entre outros.
pia e a análise óptica (Fotos 16 a 18)
possam subsidiar a adoção de bons
critérios de seleção desses fragmentos, F
P
P além do conhecimento preliminar de
eventual problema ou característica do
concreto em condições de campo, pois, F
as análises no MEV são pontuais. As-
P
sim, uma manifestação patológica por
ataque químico ou problemas ligados à
má execução ou ao traço do concreto,
FOTO 17
por exemplo, podem ser diagnosticados Aspecto geral do concreto. Observa-se
FOTO 15
Aspecto ao microscópio eletrônico com maior precisão. Por outro lado, são agregado graúdo fissurado (F) pela
da grande porosidade do concreto RAA. Lupa estereoscópica, aumento 14x.
vários os casos estudados na ABCP Caso de concreto onde a estereoscopia
(P) – aumento de 100x – Elétrons
Secundários. Presença expressiva nos quais os problemas de fissuração mostra melhor resolução para evidenciar
de vazios decorrentes de problemas bordas de reação e fissuração do
tinham sido atribuídos a outras causas, agregado graúdo, ocasionado pela
de adensamento, por vibração
insuficiente, por exemplo, e que pode como, por exemplo, recalque de funda- expansão do gel da RAA
resultar em resistência do concreto ções, mas cujos diagnósticos em labo-
abaixo da projetada.
ratório mostraram ser devidos à reação
álcali-agregado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
E O estudo da microestrutura do
concreto, em particular o uso da
G
microscopia eletrônica de varredu-
ra, constitui importante ferramenta
para entender o comportamento do FOTO 18
Aspecto geral do concreto. Observa-
concreto frente ao seu processo de
FOTO 16 se o gel (G) da RAA envolvendo o
Aspecto geral do concreto. Observa- preparação, composição e intera- agregado graúdo fissurado. Lupa
se vazio preenchido por etringita estereoscópica, aumento 16x. Outro
ção com as condições ambientais
(E). Lupa estereoscópica, aumento caso de concreto onde a estereoscopia
16x. As acículas de etringita estão de exposição da estrutura. Permite mostra melhor resolução que o MEV
bem cristalizadas e desenvolvidas, para um aspecto mais geral do gel da
prevenir ou diagnosticar ou, ainda,
permitindo quase a sua visualização a RAA sobre o agregado e disseminado
olho nu. confirmar diagnósticos de campo, na argamassa.

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 71


u especial:
encontrosensino
e notícias
e aprendizado
| CURSOS na engenharia civil

Ensino de Engenharia Civil


no Canadá: da formação
à atuação profissional
GUILHERME PARSEKIAN ALEXANDRE DE BARROS
UFSCar Universidade de Calgary

E
ste artigo procura relatar um A universidade não é gratuita - os 2. FORMA DE INGRESSO NO
pouco da experiência em ensino alunos devem pagar uma anuidade em CURSO DE ENGENHARIA CIVIL
de engenharia civil no Canadá, torno de 7.000 dólares canadenses. O ingresso é realizado inicialmen-
em especial na Universidade de Calgary, a Quanto à gestão, existe um Con- te no primeiro ano de engenharia, que é
partir da vivência do primeiro autor como selho Diretor da universidade, cujos comum a todos os programas. Somente
professor visitante e do segundo autor membros são nomeados pelo governo após a conclusão do primeiro ano é que o
como professor da universidade canaden- de Alberta. Esse conselho é formado aluno opta por uma das áreas de estudo
se há mais de uma década. Contempla o por pessoas de fora da universidade. O (“major”), entre as quais a Engenharia Civil.
processo de entrada na universidade, que presidente da universidade é escolhido A principal forma de ingresso é atra-
pode ocorrer tanto a partir da graduação por esse conselho, podendo ou não vés de processo seletivo de alunos pro-
no ensino médio quanto a partir da gra- ser um professor da universidade. Esse venientes do ensino médio. São levados
duação em ensino tecnológico, com apro- presidente escolhe o reitor, que esco- em conta as notas dos alunos obtidas
veitamento de parte dos créditos. Discute lhe os diretores das faculdades, que nas disciplinas de Inglês, Química, Física,
inserção do aluno na graduação, mos- escolhem os chefes de departamento. Matemática Pura e Cálculo. O valor mé-
trando suas possibilidades de estudo em Em cada um desses níveis, o processo dio da nota de corte para aprovação varia
diferentes áreas, subáreas e disciplinas. de escolha leva em conta a experiên- de acordo com a demanda. Na Univer-
Apresenta o processo de credenciamento cia dos docentes, sendo que o profes- sidade de Calgary, a média recente está
na associação de classe, primeiramente sor interessado deve se candidatar ao em torno de 89% de aproveitamento em
como engenheiro em treinamento para, cargo, usualmente após vários anos relação à nota máxima das disciplinas.
em seguida obter o título de engenheiro de experiência. Existem, porém, outras duas formas de
profissional, mediante o cumprimento de A universidade tem autonomia total, admissão: para alunos internacionais e para
diversos requisitos de educação continua- tanto acadêmica quanto financeira. transferência de outra instituição de terceiro
da e de renovação de atribuições. Os cursos de Engenharia passam, a grau, incluindo cursos tecnológicos.
cada cinco anos, por um processo de A presença de estudantes estran-
1. ORGANIZAÇÃO acreditação realizado por um conselho geiros é incentivada, sendo meta da
DA UNIVERSIDADE externo. Os membros desse conselho universidade ter até 10% desses alunos
A Universidade de Calgary é pública, são docentes de outras universidades e nos cursos na Escola de Engenharia.
não visa lucro ou possui um dono. É man- profissionais das associações de enge- A admissão é feita através de análise de
tida parcialmente com recursos do Gover- nharia, que verificam o curso, currículo, currículo e histórico escolar.
no da Província de Alberta e conta com ementas, etc. Essa não é uma obriga- Existem também acordos de inter-
muitas doações do setor privado, além de ção legal, mas usual e necessária para câmbio com universidades de outros
possuir várias parcerias em projetos de que potenciais alunos tenham interesse países, permitindo tanto que alunos de
pesquisa com recursos de empresas. nos cursos oferecidos. outros países realizem um período letivo

72 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


na universidade como que alunos de Cal-
u Tabela 1 – Disciplinas do 1º ano de Engenharia
gary o façam em outras universidades.
No que diz respeito à transferência
MATH 275 - Calculus for Engineers MATH 277 - Multivariable Calculus for
de outra instituição, é possível, por exem- and Scientists (formerly AMAT 217) Engineers (formerly AMAT 219)
plo, ingressar no curso de engenharia da ENGG 225 - Fundamentals of
ENGG 200 - Design and Communication
Universidade de Calgary após ter se for- Electrical Circuits and Machines
mado no curso de Tecnologia em Enge- MATH 211 - Linear Methods I ENGG 202 - Engineering Statics
nharia Civil, ministrado em dois anos no ENGG 233 - Computing for Engineers PHYS 259 - Electricity and Magnetism
“Southern Alberta Institute of Technology”, ENGG 201 - Behaviour of Liquids,
CHEM 209 - General Chemistry for Engineers
que fica na mesma cidade, aproveitando Gases and Solids
uma parte dos créditos. O critério para ad- Complementary Studies course (optional)
missão no curso de engenharia é a média Fonte: University of Calgary (2017)

das notas obtidas no curso de tecnologia.

3. CURRÍCULO E OPÇÕES DO CURSO tos, e Gestão e Sociedade. Pode ainda trutural, sistemas estruturais e conceitos
A Escola de Engenharia da Uni- escolher especializações interdiscipli- de projeto de estruturas, e também prin-
versidade de Calgary tem o nome nares, como Especialização em Enge- cípios básicos de projeto de elementos
“Schulich School of Engineering” desde nharia Biomédica ou Especialização em em aço, concreto e alvenaria armados
2005, em homenagem ao filantropo Sey- Energia e Ambiente. e não armados, e madeira. Em todas as
mour Schulich, que doou 25 milhões de As disciplinas têm caráter teórico, ofertas são realizados ensaios de elemen-
dólares canadenses à instituição. porém procuram mostrar aplicações prá- tos em aço, concreto, alvenaria e madei-
Todos os alunos do 1º ano de en- ticas e permitir aos alunos uma experiên- ra, como forma de mostrar na prática
genharia têm um currículo comum con- cia aplicada e integrada. Por exemplo, na aos alunos os conceitos teóricos. Como
templando disciplinas de cálculo, es- disciplina de Engenharia de Estruturas I exemplo, no caso de concreto armado,
tática, computação, circuitos elétricos são contemplados tópicos de análise es- são ensaiadas vigas biapoiadas em duas
e máquinas, química e mecânica dos
fluidos, conforme Tabela 1.
Após o primeiro ano o aluno esco-
lhe uma grande área de estudo (“major”)
dentro da engenharia, entre elas Enge-
nharia Civil. O critério para seleção é a
maior média obtida nas disciplinas.
Dentro do curso de engenharia civil,
os alunos estudam disciplinas gerais so-
bre propriedades dos materiais, gestão
de projeto e engenharia ambiental. O
curso é completado usualmente em qua-
tro anos e o aluno deve fazer um projeto
aplicado no último ano. Também é incen-
tivado a estudar um ou dois semestres
fora, em uma das instituições parceiras
na Europa, Hong Kong ou Austrália.
O aluno pode escolher ainda uma
área de especialização (“minor”) entre
as áreas de Transporte, Estruturas, u Figura 1
Ensaio de viga de concreto armado para disciplina de graduação
Empreendedorismo e Empreendimen-

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 73


busca por alternativas quando é verifica-
do um índice grande de reprovação em
determinada disciplina. Os professores
são avaliados e ranqueados pela Asso-
ciação dos Estudantes da escola.
O lema do Departamento de Enge-
nharia Civil é atingir excelência no Ensino
e na Pesquisa, havendo grande dedica-
ção para atingir ambos objetivos.
O aluno se forma após cursar todas
as matérias exigidas para conclusão do
curso – em torno de 42 matérias no total.
A grande maioria das matérias é prescrita
pelo Departamento de Engenharia Civil,
u Figura 2
com um pequeno número de matérias
Viga ensaiada na disciplina: sem estribo, ruptura por cisalhamento
opcionais no quarto ano. A nota mínima
para aprovação em cada matéria é D,
configurações de armadura, com e sem conhecimento prático aos alunos. As Fi- mas a “Schulich School of Engineering”
estribo, de maneira a mostrar as formas guras 1 a 3 mostram alguns dos ensaios exige que a média anual de todas as ma-
de ruptura, deformações e comporta- em laboratório da disciplina. térias cursadas seja o equivalente a C.
mento desses elementos. A turma é di- As outras disciplinas também têm Essa média é calculada usando-se o sis-
vidida em grupos menores e os ensaios esse caráter e contemplam atividades de tema de grade point average, que con-
realizados repetitivamente para cada laboratório ou campo. Reprovações de verte a nota final para um número entre 0
grupo, não havendo economia de esfor- alunos na graduação ocorrem, mas não e 4 – como exemplos, F corresponde a 0,
ço na tentativa de fornecer experiência e são frequentes, havendo uma grande C corresponde a 2 e A corresponde a 4.
Um fato interessante é que todo aluno
que se forma em engenharia no Canadá
recebe um anel de ferro ou aço. É uma
tradição que ocorre há quase cem anos,
sendo a explicação de sua origem alega-
da ao colapso de uma ponte em Quebec
em 1907. Nesse acidente, vários operá-
rios morreram e a causa mais provável foi
por conta de um erro do projeto de enge-
nharia. Esse é, portanto, um símbolo que
representa ao mesmo tempo o orgulho
de ser engenheiro e um lembrete das
responsabilidades e obrigações éticas
da profissão, e da necessária humildade
que se deve ter nas tomadas de decisão
durante o exercício profissional.

4. CREDENCIAMENTO NA
ASSOCIAÇÃO DE CLASSE E
u Figura 3
ATUAÇÃO APÓS FORMATURA
Viga ensaiada na disciplina: com estribo, ruptura por flexão
Logo após a formatura, o engenheiro

74 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


pode registrar-se como membro de candidato acertar pelo menos 65 ques- em entidades de classe, atividades
uma associação de classe e se intitular tões. Não é um exame sobre conheci- para a comunidade; apresentações
Engenheiro. Na província de Alberta, a mentos específicos de engenharia e sim em congressos, seminários e outros;
associação é a APEGA – “Association de atuação e postura profissional. contribuição ao conhecimento, como
of Professional Engineers and Geos- Existem ainda categorias específicas participação em comitês de norma,
cientists of Alberta”. Informações sobre como de Licença Profissional, para aque- publicação de artigos, livros e outros,
o processo estão disponíveis em “The les que têm formação em determinado obtenção de patente, graduação em
Association of Professional Engineers escopo e não em engenharia completa, e mestrado ou doutorado, revisão e
and Geoscientists of Alberta” (2017), uma licença profissional para profissionais edição de artigos e outros.
referência na qual este texto se baseia. não canadenses, com regras específicas. Os detalhes completos sobre o Pro-
O processo de credenciamento ocorre Tanto o Engenheiro Profissional grama de Desenvolvimento Profissional
ao longo dos anos. Inicialmente o recém- quanto o portador de Licença devem Continuado podem ser encontrados
-formado é definido na categoria Enge- participar do Programa de Educação em “The Association of Professional
nheiro em Treinamento, bastando para tal Continuada. A cada três anos, o profis- Engineers and Geoscientists of Alberta”
o diploma de graduação e uma declara- sional deve realizar 240 horas de desen- (2014).
ção de bom caráter e reputação (pessoas volvimento profissional, sob o risco de
com antecedentes criminais, histórico de cancelamento de sua titulação caso não 5. COMENTÁRIOS FINAIS
má conduta profissional ou que tenham o faça. Essas horas podem ser divididas Em comparação à formação em en-
cometido alguma falta frente ao código entre seis categorias: genharia no Brasil, percebe-se que o cur-
de ética da associação precisam expli- u prática profissional, limitada a 50 ho- so de graduação canadense contempla
car as circunstâncias). Nessa categoria, o ras de desenvolvimento profissional/ uma menor quantidade de disciplinas,
engenheiro deve sempre trabalhar sob a ano, sendo cada 15 horas de trabalho que tendem a ser mais aplicadas. O alu-
supervisão de um Engenheiro Profissional. equivalente a uma hora de desenvolvi- no pode ainda escolher pela sua área de
A atribuição inicial é válida por seis anos, mento profissional; atuação de uma maneira ampla, inclusive
podendo ser estendida até oito anos. u atividade formal, como cursos, semi- podendo atuar em campos multidiscipli-
Apenas após quatro anos de atua- nários oferecidos por universidades, nares. Após a formatura, existe um ca-
ção como engenheiro é possível se apli- fornecedores, empregadores ou as- minho de, no mínimo, quatro anos para
car para mudar para classe Engenheiro sociações, sendo uma hora de curso esse ser considerado um profissional in-
Profissional. Nesse caso é necessário ter equivalente a uma hora de desenvolvi- dependente, sendo necessária contínua
quatro anos de experiência profissional, mento profissional, limitada ao máxi- participação em atividades de desenvol-
atestada por pelo menos três cartas de mo de 30 horas de desenvolvimento vimento profissional para manter esse
referência, boa reputação e caráter e profissional por ano; título. Ou seja, para exercer a profissão
passar no Exame Nacional de Exercício u as outras quatro categorias incluem de engenheiro, além do diploma universi-
Profissional. O exame versa sobre práti- indicações semelhantes, contem- tário, o profissional passa ainda por uma
cas profissionais, leis e ética, consistindo plando atividades informais, como fase de treinamento até poder ser consi-
de 110 questões de múltipla escolha, a participação em feiras e reuniões; derado engenheiro pleno, e mesmo de-
serem respondidas dentro de 2,5 horas, atividades de mentor de um enge- pois precisa estar sempre comprovando
em sete áreas específicas, devendo o nheiro em treinamento, participação sua atuação de forma ativa.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] The Association of Professional Engineers and Geoscientists of Alberta. Continuing Professional Development Program. Abril, 2014. Disponível em
https://www.apega.ca/assets/PDFs/cpd.pdf (acesso em 03/04/2017).
[02] The Association of Professional Engineers and Geoscientists of Alberta. Right to Practise & Title . Disponível em https://www.apega.ca/rights (acesso em
03/04/2017).
[03] University of Calgary (2017). Schulich School of Engineering: First-Year Common Core. http://schulich.ucalgary.ca/education/future-students/undergraduate/
degree-programs-minors-and-specializations/first-year-common. Disponível em https://www.apega.ca/assets/PDFs/cpd.pdf (acesso em 03/04/2017).

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 75


u pesquisa
encontrose edesenvolvimento
notícias | CURSOS

Aplicação de ensaios não


destrutivos na caracterização
de lajes alveolares
pré-fabricadas
LUCAS MARRARA JULIANI – Mestre em Engenharia de Estruturas
VLADIMIR GUILHERME HAACH – Professor Doutor
Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo

1. INTRODUÇÃO do tempo. Nos ENDs as propriedades do to na ordem de 0,30 a 0,40, garantindo

T
radicionalmente, a caracteri- concreto, como módulo de elasticidade um concreto com elevada resistência
zação do concreto utilizado e resistência à compressão, podem ser à compressão e menor porosidade. De
em elementos pré-fabricados relacionadas com frequências de resso- acordo com Mizumoto, Marin e Silva
é realizada por meio de ensaios padroni- nância, propagação de ondas ultrassô- (2013), essas características muitas ve-
zados no concreto fresco e endurecido, nicas, emissão de ondas eletromagnéti- zes dificultam a moldagem dos cilindros
como o de abatimento do tronco de cone cas e acústicas, dispersão de nêutrons, para o ensaio de compressão. Por ou-
(ABNT NBR NM67:1998) e o de com- radiografias, entre outros. É possível, tro lado, o concreto produzido utilizando
pressão em corpos de provas cilíndricos ainda, realizar esses ensaios em diversas fôrmas deslizantes possui fator água/ci-
de concreto (ABNT NBR 5739:2007). regiões da estrutura, resultando em uma mento mais elevado, aumentando a tra-
Essa abordagem pode não ser a mais melhor determinação da sua condição e balhabilidade do concreto, o que facilita
completa, pois esses ensaios são realiza- caracterização global. no deslizamento da fôrma.
dos em um pequeno número de exem- Dentre os elementos pré-fabricados, Dentro desse contexto, este trabalho
plares do concreto aplicado nos elemen- os painéis alveolares se destacam por apresenta a aplicação de dois tipos de
tos pré-fabricados e, em geral, os corpos sua versatilidade na construção civil, ENDs, ultrassom e o método de excita-
de prova são submetidos a condições de podendo ser apoiados em elementos ção por impulso, no controle tecnológico
adensamento e cura ligeiramente diferen- de concreto pré-fabricado ou moldado do concreto aplicado na construção de
tes daquelas a que o elemento construído no local, alvenaria estrutural e estruturas lajes alveolares. Em ambos os métodos
está submetido. No caso dos elementos metálicas. São muito empregados como obtém-se o módulo de elasticidade dinâ-
pré-fabricados protendidos, a precisa ca- elementos de laje e também de vedação mico e correlaciona-se este com a resis-
racterização da resistência à compressão lateral em edifícios residenciais, comer- tência à compressão do concreto.
do concreto tem um importante impacto ciais e industriais, além de tabuleiros de
dentro dos procedimentos de desfôrma e pontes. A produção dos painéis alveo- 2. ENSAIO DO ULTRASSOM
liberação da protensão. lares é normalmente feita pela técnica O método do ultrassom é baseado
Uma das principais vantagens dos de vibro-compactação, utilizando equi- na propagação de ondas mecânicas de
ensaios não destrutivos (ENDs) é que pamento de extrusão ou fôrmas desli- tensão com frequência superior a 20 kHz.
não causam danos à amostra e, portan- zantes. De acordo com Catóia (2011), o Essas ondas originam-se quando ocorre
to, podem ser aplicados ao próprio ele- concreto utilizado na máquina extrusora uma pressão ou deformação na super-
mento pré-fabricado e repetidos ao longo deve ser seco, com relação água/cimen- fície do sólido. O distúrbio gera ondas

76 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


que se propagam pelo sólido com velo- de contato acoplado (caso do acelerô-
cidades que dependem dos módulos de metro, por exemplo) ou um transdutor
elasticidade longitudinal (E) e transversal sem contato, como, por exemplo, um
(G), coeficiente de Poisson (µ), densida- microfone. Esse transdutor transforma
de (ρ) e geometria do elemento analisa- as ondas mecânicas em sinais elétricos.
do (ACI 228.2R-2013). A equação (1) Para qualquer um dos casos, deve-se
apresenta a relação entre a velocidade utilizar um equipamento que detecte e
de propagação de ondas longitudinais analise as frequências de ressonância u Figura 1
Seção transversal das lajes
(V) com as propriedades elásticas de um fundamental ou período da vibração
alveolares ensaiadas em
material isotrópico. com precisão. laboratório
As normas ASTM C215 (2014) e
æ E öæ 1- m ö
V 2 = ç ÷ çç ÷
÷ [1] ASTM E1876 (2015) apresentam os pro-
r
è øè (1 + m )(1 - 2 m ) ø
cedimentos para realização deste tipo de massa de 1: 1,48: 2,02; 0,43 (cimento
O equipamento de ultrassom, basi- ensaio em cilindros e prismas, bem como CPV-ARI: areia média : pedrisco : água),
camente, produz e introduz, através de as equações que relacionam as frequên- com 1% de superplastificante.
um transdutor emissor, pulsos de ondas cias de vibração com o módulo de elas- Para a realização dos ENDs demar-
de compressão e/ou cisalhamento den- ticidade dinâmico para estas geometrias. caram-se cinco seções na superfície su-
tro do concreto. Um transdutor receptor perior das lajes e foram efetuadas de 5 a
recebe o pulso e mede o tempo que a 4. PROGRAMA EXPERIMENTAL 6 medições dentro das primeiras 24 ho-
onda levou para atravessar o elemento Neste programa experimental, duas ras. Os CPs cilíndricos foram ensaiados
de concreto. O equipamento deve pos- lajes alveolares com seção transversal nas mesmas idades das lajes e alguns
suir um osciloscópio para registrar o pul- conforme Figura 1 e com dimensões de desses CPs foram rompidos para a de-
so recebido. 200 cm x 50 cm x 10 cm foram constru- terminação da resistência à compressão.
O método de ensaio para a obten- ídas no Laboratório de Estruturas da Es- Para o ensaio do ultrassom foi utilizado
ção da velocidade de propagação de cola de Engenharia de São Carlos e en- o equipamento PUNDIT LAB+, da marca
ondas ultrassônicas é normalizado pela saiadas por meio do ensaio de ultrassom Proceq®, com transdutores de frequên-
ABNT NBR 8802:2013, que apresenta e do método de excitação por impulso. cia de 54 kHz. Para o ensaio de excitação
como principais aplicações a verificação Juntamente com as lajes, corpos de pro- por impulso utilizou-se o equipamento
da homogeneidade do concreto, detec- vas cilíndricos de concreto de 100 mm x Sonelastic® da ATCP Engenharia Física.
ção de eventuais falhas internas e moni- 200 mm foram moldados com o mesmo No ensaio dos CPs cilíndricos com o
toramento de variações no concreto ao concreto utilizado nas lajes e ensaiados à Sonelastic®, o apoio das amostras foi fei-
longo do tempo. compressão, além dos ENDs. O concre- to por meio de 2 fios de nylon conforme a
to utilizado nos ensaios tinha o traço em Figura 2a. Já na laje alveolar, a excitação foi
3. MÉTODO DE EXCITAÇÃO
POR IMPULSO
As propriedades elásticas dinâmi-
cas de um material qualquer podem ser
obtidas, se conhecidas sua geometria,
massa e frequências de ressonância. O
módulo de elasticidade dinâmico está re-
lacionado com os modos de vibração de
uma determinada estrutura.
a Cilindros b Lajes
Para determinação da frequência de
ressonância pode-se utilizar a técnica de
u Figura 2
excitação por impulso mecânico. Essa
Ensaio de excitação por impulso utilizando o Sonelastic®
técnica de medição utiliza um transdutor

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 77


de elasticidade dinâmico através do mé- A Figura 4 apresenta a malha de elemen-
todo de excitação por impulso, é preciso tos finitos da laje alveolar.
levar em consideração algumas análi- Cada modo de vibração de uma es-
ses teóricas, já que o módulo dinâmico trutura pode ser descrito de maneira sim-
é obtido indiretamente, ou seja, o dado plificada pela equação (3), onde a frequ-
registrado no ensaio é a frequência de ência de vibração (f) do respectivo modo
ressonância do elemento estudado. Para é definida pelo módulo de elasticidade
os corpos de prova de seção retangular e do material (Ep), a massa da estrutura (M)
u Figura 3
Ensaio de ultrassom na circular, o cálculo já é consagrado e está e um coeficiente λ que é um parâmetro
laje alveolar descrito nas normas ASTM C215 (2014) geométrico relativo a um determinado
e ASTM E1876 (2015). O cálculo do mó- modo de vibração. Este parâmetro pode
feita de maneira a captar o primeiro modo dulo de elasticidade dinâmico (E) para ser obtido numericamente a partir de uma
transversal da laje alveolar. O microfone foi seções circulares a partir da 1ª frequência análise paramétrica, variando-se a massa
posicionado próximo à capa superior, em de vibração do modo longitudinal (fl) é fei- da estrutura e o módulo de elasticidade do
um dos lados da laje, e a excitação efe- to pela equação (2), onde m é a massa material, conforme realizado na Figura 5.
tuada, do outro lado, também próximo à do corpo de prova, L o comprimento e d
l Ep
capa superior, conforme a Figura 2b. o diâmetro. f = [3]
2p r
O ensaio de ultrassom foi realizado
æ Lö
nos corpos de provas cilíndricos por E = 5.093ç 2 ÷ mfl 2 [2] Por meio de uma regressão linear
èd ø
meio de transmissão direta ao longo de aplicada à superfície da Figura 5, obteve-
seu comprimento. No caso das lajes, Ao contrário dos corpos de prova -se o coeficiente λ igual a 6,20 m½, para
os transdutores foram posicionados cilíndricos e prismáticos, não há uma a geometria da laje alveolar utilizada neste
com o objetivo de captar as velocida- fórmula normalizada para o cálculo do trabalho e para a frequência do 1º modo
des das ondas ultrassônicas longitudi- módulo de elasticidade dinâmico para de vibração.
nais passando pela capa superior da lajes alveolares. Sendo assim, é necessá-
laje alveolar (Figura 3). Essa escolha foi rio um estudo paramétrico para correla- 5.2 Resultados dos
tomada de maneira a não se ter a in- cionar módulo de elasticidade dinâmico ensaios experimentais
terferência dos alvéolos na propagação com a frequência de ressonância e geo-
das ondas, já que diminuiria a velocida- metria do elemento. Para isso, um mode- As concretagens das lajes foram
de do pulso ultrassônico. lo numérico pelo método dos elementos efetuadas em dias diferentes e serão
finitos foi elaborado para a verificação chamadas de L2 e L3. Com a obtenção
5. ANÁLISE DOS RESULTADOS dos modos de vibração e para estimar as
frequências naturais que seriam obtidas
5.1 Análise teórica nos ensaios experimentais. O programa
utilizado foi o SAP 2000.
Para a análise e obtenção do módulo No modelo numérico, as lajes alve-
olares foram simplesmente apoiadas,
restringindo o deslocamento no eixo
Z (vertical) e X (transversal), simulan-
do a condição de contorno do ensaio.
O elemento utilizado no modelo foi o
sólido constituído de 4 nós. Para uma u Figura 5
análise preliminar, definiu-se o coeficien- Gráfico de contorno
u Figura 4 te de Poisson igual a 0,2, a densidade representando a variação da
Malha de elementos finitos frequência do 1º modo de
do concreto em 2500 kg/m³ e diferen-
da laje alveolar vibração da laje alveolar
tes módulos de elasticidade, em GPa.

78 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


dos módulos dinâmicos por ambos os
métodos, foram elaborados os gráficos
dos módulos dinâmicos ao longo do
tempo, bem como a equação da cur-
va calculada, conforme apresentado na
Figura 6. Primeiramente, são apresenta-
dos os gráficos obtidos dos ensaios nos
CPs cilíndricos.
A equação que melhor representou a
curva do gráfico módulo dinâmico ao lon-
a Laje nº 2 b Laje nº 3
go do tempo foi a curva logarítmica, lem-
brando que a equação é válida somente
u Figura 6
para estes intervalos de dados e Ed ≠ 0.
Curva Módulo de elasticidade ao longo do tempo dos CPs cilíndricos
Para que seja possível correlacionar os
módulos de elasticidade dinâmicos de
ambos os métodos com a resistência à
compressão dos respectivos traços, fo-
ram rompidos 3 CPs a cada idade, to-
talizando 15 amostras rompidas. Com a
obtenção da resistência à compressão
dos CPs, elaboraram-se os gráficos cor-
relacionando os módulos de elasticidade
dinâmicos, obtido em ambos os méto-
dos, com a resistência à compressão,
conforme apresentado na Figura 7. a Laje nº 2 b Laje nº 3
Observando os gráficos anteriores,
nota-se que o coeficiente de determina-
u Figura 7
ção apresentou valores similares em am- Gráfico de correlação da resistência à compressão vs módulo dinâmico
bos os métodos de ensaio, tanto para dos métodos do Sonelastic® e ultrassom dos CPs cilíndricos
os CPs da L2, quanto para os da L3.
Portanto, a curva de potência, utilizada
em ambos os gráficos, representou bem
os dados obtidos nos ensaios.
Com os módulos de elasticidade
dinâmicos obtidos dos ensaios nas la-
jes alveolares, calculados por ambos os
métodos, e a obtenção da resistência à
compressão dos CPs na mesma idade
dos ensaios nas lajes, elaboraram-se
os gráficos e equações correlacionando
o módulo dinâmico com a resistência à a Sonelastic® b Ultrassom

compressão para a laje alveolar L2 e L3.


Para efeito de comparação, apresentam- u Figura 8
-se na Figura 8 e Figura 9 as correla- Comparação do gráfico de correlação da resistência à
compressão vs módulo dinâmico para a laje e CPs cilíndricos da L2
ções dos módulos dinâmicos com as utilizando Sonelastic® e Ultrassom
resistências à compressão das lajes e

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 79


nados os transdutores. Já o Sonelastic®,
o módulo dinâmico é global, registrando
toda a vibração do elemento em estudo.
Outro fator a considerar é que, apesar
de se ter realizado os ensaios com o mes-
mo método nos CPs e nas lajes alveolares,
cada elemento terá uma curva de correla-
ção do módulo dinâmico pela resistência
à compressão diferente. O motivo é que
cada elemento estrutural possui um cres-
a Sonelastic® b Ultrassom
cimento diferente do módulo dinâmico ao
longo do tempo, conforme apresentado
u Figura 9 nas análises, devido ao processo de cura
Comparação do gráfico de correlação da resistência à
compressão vs módulo dinâmico para a laje e CPs cilíndricos da L3 ligeiramente diferente. Ressalta-se, porém,
utilizando Sonelastic® e Ultrassom que, neste estudo específico, poderia se
utilizar as curvas de correlação obtidas dos
CPs cilíndricos para estimar a resistência à
CPs no mesmo gráfico, utilizando o So- dos CPs são distintos, comprovando que compressão das lajes a partir do módulo
nelastic® e o ultrassom. cada elemento possui um crescimento de elasticidade obtido nos ensaios das la-
Os gráficos da Figura 8 demonstram do módulo diferente ao longo do tempo. jes, pois, neste caso, esta resistência esti-
que os ensaios na laje alveolar nº 2, tanto mada seria menor do que a resistência real,
para o Sonelastic® quanto para o ultras- 6. CONCLUSÃO o que estaria a favor da segurança.
som, não apresentaram comportamento Apesar de ambos os métodos apre- Finalmente, os resultados mostram
similar aos seus respectivos CPs. Para a sentarem boa correlação, tanto nos CPs que a aplicação de ensaios não des-
laje alveolar nº 3, os ensaios do ultrassom quanto nas lajes alveolares, cada tipo de trutivos na caracterização do concreto
na laje e nos CPs apresentaram curvas ensaio possui diferentes equações e cur- utilizado na construção de elementos
de correlação similares, demonstrando vas na correlação. Isso porque o módulo pré-fabricados pode ser uma alterna-
que ambos os elementos possuem com- dinâmico do ultrassom é sempre maior do tiva viável. Talvez, não seja o caso de
portamentos semelhantes quanto ao que no Sonelastic®. Esse fator já era es- se substituir os ensaios destrutivos por
crescimento do módulo. A diferença está perado, e ressalta-se que a obtenção do ensaios não destrutivos, mas utilizar am-
nos valores desses módulos, já que, para módulo dinâmico pelo ultrassom é locali- bos em conjunto de maneira a se poder
uma mesma resistência à compressão, zado, obtendo as ondas ultrassônicas so- ter uma caracterização mais confiável,
os valores do módulo dinâmico da laje e mente nos pontos em que estão posicio- com mais dados para análise.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 67. Concreto - Determinação da consistência pelo abatimento do tronco de cone. Rio de Janeiro, 1998.
[02] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5739. Concreto - Ensaios de compressão de corpos-de-prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2007.
[03] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 8802: Concreto endurecido – Determinação da velocidade de propagação de onda ultra-sônica. Rio
de Janeiro, 2013.
[04] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. ACI 228.2R. Nondestructive Test Methods for Evaluation of Concrete in Structures. Farmington Hills, 2013.
[05] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. C597-09: Standard method for pulse velocity through concrete. Philadelphia, 2016.
[06] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. E1876-09: Standard Test Method for Dynamic Young’s Modulus, Shear Modulus, and Poisson’s Ratio by
Impulse Excitation of Vibration. Philadelphia, 2015.
[07] CARINO, N.J. Nondestructive Test Methods. In: NAWY, E. G. Concrete construction engineering handbook, Boca Raton: CRC Press, 1997. Cap. 19, p.19-68
[08] CATOIA, B. Lajes alveolares protendidas: cisalhamento em região fissurada por flexão. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.
[09] MIZUMOTO, C.; MARIN, M. C., SILVA, M.C. Aspectos técnicos referente a sistemática de controle e produção da laje alveolar de concreto pré-fabricado.
In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA-PROJETO-PRODUÇÃO EM CONCRETO PRÉ-MOLDADO, 3, 2013, São Carlos, Anais. São Carlos: 3º PPP, 2013.

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u pesquisa e desenvolvimento

Caracterização e passivação
dos aços CA24 e CA50
LEONARDO GOMES DE SÁ E CARVALHO – Mestre
ENIO PAZINI FIGUEIREDO – Professor Titular, Doutor
Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás

1. INTRODUÇÃO prevenir, controlar e reabilitar estru- Embora as características e


O concreto armado é uma asso- turas de concreto que apresentam condições do meio (concreto) que
ciação inteligente de materiais, que ou estão suscetíveis a esse fenôme- envolve a armadura sejam muito
fornece um material construtivo re- no tão danoso e que tanto prejuízo importantes para o estabelecimen-
lativamente barato se comparado econômico traz para a sociedade. to e manutenção da passivação da
aos demais, com boa resistência à A corrosão das armaduras é um armadura ao longo do tempo, está
água, grande estabilidade dimensio- processo eletroquímico que ocorre provado, pelos casos práticos, que
nal, possuindo inúmeras possibilida- naturalmente, conduzindo a forma- o concreto é falível, e, em condições
des de tamanhos e formas e, princi- ção de óxidos e hidróxidos de ferro, de uso, frequentemente, torna as ar-
palmente, com alta capacidade de com volume muito superior ao volu- maduras vulneráveis aos processos
suportar esforços, tanto de tração me do metal original. Esse aumento corrosivos, permitindo sua despas-
quanto de compressão. Por esses de volume cria tensões internas no sivação. A partir desse momento, a
motivos, o concreto armado foi con- concreto, que levam ao surgimento variável aço passa a ter uma influ-
siderado um material definitivo na de fissuras, manchas superficiais, ência no desenvolvimento dos pro-
construção civil, aliando durabilida- destacamento do cobrimento, per- cessos corrosivos, uma vez que os
de e resistência. da de aderência entre o concreto diferentes tratamentos térmicos e
Porém, com o passar dos anos, e a armadura, e perda de seção da mecânicos pela qual passam as ar-
a durabilidade do concreto armado, armadura, podendo levar à instabili- maduras, bem como a composição
que antes era considerada ilimita- dade e ao colapso da edificação ou química variada e os diversos níveis
da, começou a ser questionada, em de suas partes. de inclusão apresentados pelos tipos
razão do surgimento de manifesta- Existem muitos trabalhos reali- de aço, alteram a microestrutura do
ções patológicas que começaram a zados, nacional e internacionalmen- material, tornando-o mais ou me-
deteriorar as estruturas de concreto, te, que avaliam o desempenho do nos suscetível à corrosão. Por essta
algumas vezes de forma prematura, concreto armado frente à corrosão, razão não são incomuns os casos
sendo a principal delas a corrosão levando em consideração apenas práticos em que se observam aços
das armaduras. características do concreto, tais menos processados industrialmente
No contexto da Patologia das como a composição do concreto, a (em obras antigas) praticamente sem
Construções, a corrosão de arma- espessura do cobrimento, a porosi- apresentar corrosão, enquanto que
duras em estruturas de concreto é dade do concreto e a presença de aços mais novos, com elevada ener-
um dos problemas de grande des- contaminantes no concreto, entre gia de produção, de alta dureza e re-
taque, sendo complexa, séria e outros aspectos. Porém, ainda são sistência mecânica, mostram sinais
onerosa para ser resolvida na cons- poucos os trabalhos que contem- visíveis e acentuados de corrosão,
trução civil. Atualmente, vários pro- plam a participação da variável “tipo mesmo em estruturas de concreto
fissionais e setores da construção de aço” no desempenho da corro- relativamente novas e, muitas vezes,
civil estão mobilizados no sentido de são de peças de concreto. inseridos em concretos mais nobres.

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O aço 37-CA, aqui denominado de samento e cura, o concreto representa químicas na camada de concreto que
CA24 para igualar a nomenclatura atual uma barreira física ao ingresso e avan- a envolve. A denominada película pas-
que identifica, na simbologia, a tensão ço dos agentes iniciadores do proces- sivadora pode ser entendida como um
de escoamento mínima, a qual para o so de corrosão das armaduras, princi- filme transparente, com nanômetros de
aço 37-CA é de 240 MPa, segundo a palmente os cloretos e a carbonatação. espessura, fortemente aderida sobre
ABNT EB-3:1939, foi amplamente em- Contudo, o concreto não se limita ape- o aço, estável e composta por duas
pregado nas construções até a déca- nas a fornecer uma proteção de nature- camadas de óxidos de ferros mais ou
da de 60 e o aço CA50 é o aço atual za física contra os elementos nocivos à menos hidratados com vários níveis de
mais empregado como armadura de armadura, ele também estabelece uma Fe2+ e Fe3+, sendo uma interna, onde
elementos em concreto. Em muitas si- proteção de natureza química. predomina o Fe3O4, e outra externa de
tuações, durante a realização de recu- Durante o processo de hidratação g-Fe2O3 (BERTOLINI et al (2004), HELE-
perações e reforços em estruturas de do cimento, gera-se um sólido consti- NE (1993)). Segundo Hausmann (1998),
concreto antigas, que foram feitas com tuído pelas fases hidratadas do cimento a utilização excessiva de adições mine-
aço CA24, é comum o uso de arma- e pela fase aquosa que ocupa a rede rais no cimento tende a diminuir este
duras de aço CA50 para repor seções de poros intersticiais e capilares do pH da solução intersticial, porém não o
de armaduras perdidas pela corrosão concreto. Com o decorrer do proces- suficiente para comprometer a película
ou para a realização de reforços. Quan- so, a pasta de cimento torna-se muito passivadora.
do juntas em um mesmo elemento, o alcalina devido à presença de íons OH ,
-
Conforme pode ser observado
comportamento dessas armaduras Ca++, Na+, K+ e SO4-- no líquido aquoso na Figura 1, enquanto o concreto se
pode ser diferente dependendo do su- da rede de poros. A alcalinidade gera- mantiver com alta alcalinidade, valor
cesso na etapa de remoção do concre- da apresenta um potencial de hidrogê- de pH superior a 9,0 e sem cloretos
to contaminado com cloretos. Neste nio (pH) entre 12,7 e 13,8 (LONGUET livres, a armadura estará protegida da
artigo apresenta-se o comportamento et al., 1973), ocasionando a formação corrosão. Entre as duas retas trace-
dos aços CA24 (antigo) e CA50 (atu- da película de passivação da armadu- jadas paralelas e oblíquas do diagra-
al) durante o processo de passivação, ra, protegendo-a da corrosão enquan- ma forma-se uma região onde exis-
simulando a situação em que os dois to não ocorrer alterações físicas ou tem condições para a formação da
tipos de aços estarão imersos em con-
creto não contaminado por cloretos e
não carbonatado, após a realização de
recuperação ou de reforço.

2. PASSIVAÇÃO
DAS ARMADURAS
Desde que bem projetado, empre-
gando as recomendações da ABNT
NBR 6118:2014, ou seja, com relação
água/cimento, resistência, espessura
do cobrimento, consumo de cimento
e abertura máxima de fissuras compa-
tíveis com a agressividade ambiental,
e bem controlado e executado, em-
pregando os procedimentos da ABNT
NBR 12655:2015 e da ABNT NBR
14931:2004, ou seja, cuidando do u Figura 1
Diagrama de equilíbrio termodinâmico de Pourbaix.
controle de recebimento e das ativida-
Potencial versus pH para o sistema Fe-H 2O a 25°C (POURBAIX, 1976)
des de transporte, lançamento, aden-

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(antigo) e CA50 (atual) durante o
processo de passivação, simulando
a situação em que os dois tipos de
aços estarão imersos em concreto
não contaminado por cloretos e não
carbonatado, após a realização de
recuperação ou de reforço.
Nos experimentos foram em-
u Figura 2 pregadas barras de aço carbono
Esquema da distribuição dos corpos de prova
de classificação CA 24 e CA 50 de
diâmetro nominal de 5mm e 25mm.
película de passivação. As referidas -0,6 V em relação ao eletrodo pa- Para a caracterização das armadu-
retas representam a região de esta- drão de hidrogênio. Quando a arma- ras, foram feitos ensaios de meta-
bilidade da água, sendo que acima dura permanece nessas condições, lografia e composição química, en-
delas é o domínio do oxigênio e abai- ela não reagirá com o meio, qual- saios de caracterização da dureza
xo, o do hidrogênio. As armaduras quer que seja sua natureza (ácida, Vickers e ensaios mecânicos para
com produtos de corrosão sobre sua neutra ou alcalina). caracterização da tensão de esco-
superfície, antes de serem concre- As duas regiões da extrema es- amento e de ruptura, alongamento
tadas, ao entrarem em contato com querda e direita do Diagrama de e dobramento, obtidos segundo os
a matriz cimentícia altamente alca- Pourbaix, principalmente a da es- preceitos das Normas ABNT NBR
lina, podem dar origem à formação querda, representam as situações 7480:2007, ABNT NBR 6892:2013,
de uma película passivante espessa onde pode ocorrer corrosão do fer- ABNT NBR 6153:1998, para o aço
de ferrita de cálcio (óxido duplo de ro. Para as estruturas de concreto CA50, e EB-3:1939 (precursora
cálcio e ferro), resultante da combi- convencionais, a película passivado- da ABNT NBR 7480), para o aço
nação da ferrugem superficial da ar- ra é desestabilizada pela diminuição CA24. O ensaio de dureza Vickers
madura com o hidróxido de cálcio da do pH do concreto a valores infe- consiste na aplicação de uma de-
pasta de cimento (BASÍLIO, 1972). riores a 9,0, devido ao processo de terminada carga (P) em um penetra-
Esta reação é representada pela carbonatação, ou devido à presença dor bastante duro, o qual está em
Equação 1. de cloretos livres no concreto na po- contato com a superfície do material
sição da armadura. a ser testado. No caso da dureza
Vickers, utiliza-se um penetrador
2 Fe(OH)3 + Ca(OH)2 → Ca(FeO2)2 + 4H2O [1]
3. METODOLOGIA de diamante com a forma de uma
EXPERIMENTAL pirâmide quadrangular. As dimen-
O diagrama também mostra a re- A metodologia aplicada neste sões da marca de penetração (in-
gião de imunidade do ferro, onde o trabalho teve como objetivo avaliar dentação) deixadas na superfície do
potencial de eletrodo é menor que o comportamento dos aços CA24 material são aferidas com o uso de
microscópio. A partir dessas dimen-
sões é calculada a área superficial
da indentação. O cálculo da dure-
za Vickers (VHN) é definido como a
carga aplicada (P) dividida pela área
superficial da indentação (A), con-
forme Equação 2.
u Figura 3
Critérios de avaliação da probabilidade de corrosão por meio de medidas 1,854.P
VHN = [2]
de potencial de corrosão (Ecorr), segundo a ASTM C-876 (1991) A

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Onde:
– VHN é o número da dureza Vickers;
– P é a carga aplicada em Kgf; e
– A é a área superficial da indenta-
ção em mm 2.
Foram confeccionados um total de
u Figura 4
12 corpos de prova prismáticos de ta-
Nível de corrosão em função da corrente icorr (DURAR, 1997)
manhos iguais, sendo 3 com CA24 e
diâmetro 5mm, 3 com CA24 e diâmetro
25mm, 3 com CA50 e diâmetro 3mm e : areia : brita : água), para um consumo Durante 90 dias o comportamento
3 com CA50 e 25mm de diâmetro, utili- de 400 kg de cimento por m3. Em cada dos aços CA24 e CA50 foi monitora-
zando-se o concreto de referência, cujo corpo de prova há apenas uma barra do por meio de medidas eletroquími-
traço é 1 : 1,434 : 2,683 : 0,55 (cimento de aço em seu interior (Figura 2). cas de potencial de corrosão (Ecorr) e

Superfície 1 Núcleo Superfície 2

u Figura 5
Metalografia do aço CA24 com diâmetro de 5mm (escala 25µm)

Superfície 1 Núcleo Superfície 2

u Figura 6
Metalografia do aço CA24 com bitola de 25mm (escala 25µm)

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Superfície 1 Núcleo Superfície 2

u Figura 7
Metalografia do aço CA50 com diâmetro de 5mm (escala 25µm)

Superfície 1 Núcleo Superfície 2

u Figura 8
Metalografia do aço CA50 com diâmetro de 25mm (escala 25µm)

resistência de polarização (icorr), que in- de ocorrência de corrosão (Figura 3). metalografias típicas dos aços CA24
formam sobre o processo de passiva- Os valores da velocidade de cor- e CA50 com diâmetros de 5mm e
ção/corrosão das armaduras. rosão (i corr) podem ser relacionados 25mm. Em todas as amostras foram
A medida do potencial de corrosão qualitativamente ao grau de corrosão realizadas microfotografias do nú-
da armadura (Ecorr) consiste no regis- da armadura, empregando-se os cri- cleo da barra de aço e de dois pon-
tro da diferença de voltagem entre a térios da Figura 4. tos próximos da superfície externa.
armadura e um eletrodo de referência, Os ensaios de metalografia do
que é colocado em contato com a su- 4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE aço CA24 em ambos os diâme-
perfície do concreto. A ASTM C-876 DOS RESULTADOS tros revelaram uma microestrutura
(1991) apresenta uma correlação entre composta de ferrita e perlita, tanto
intervalos de diferença de potencial, 4.1 Metalografia próxima da superfície da barra (su-
em relação a um eletrodo de referên- perfícies 1 e 2) quanto na sua es-
cia de Cu/SO4Cu, e a probabilidade As Figuras 5, 6, 7 e 8 mostram trutura central (núcleo), mostrando a

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u Tabela 1 – Composição química dos aços CA24 e CA50

CA24 CA24 CA50 CA50


Classificação e diâmetro do aço
(5mm) (25mm) (5mm) (25mm)
Amostra 1 2 1 2 1 2 1 2
Ferro (%) 99,1 99,3 98,9 99,4 98,1 97,9 98,5 98,4
Elementos químicos

Carbono (%) 0,079 0,094 0,171 0,077 0,264 0,248 0,281 0,295
Silício (%) 0,073 0,080 0,150 0,080 0,248 0,184 0,137 0,148
Manganês (%) 0,322 0,288 0,440 0,305 0,950 0,815 0,620 0,751
Fósforo (%) 0,037 0,069 0,018 0,028 0,018 0,025 0,074 0,025

existência de homogeneidade no e resistente que a ferrita, porém mais martensita. A transformação da mi-
aço CA24. No entanto, a microes- branda e maleável que a cementita. croestrutura em martensita ocorre
trutura de ferrita e perlita no aço Esse resultado é compatível ao en- continuamente com o decréscimo da
CA24 de 5mm possui tamanho de contrado na Tabela 2, onde o grau temperatura durante o resfriamento
grãos férricos no 8 (Figura 5), en- de dureza no núcleo do aço CA50 ininterrupto. A martensita tem eleva-
quanto que, no aço CA24 de 25mm, de diâmetro de 25mm é superior aos do índice de dureza, o que explica a
o tamanho de grãos foi de no 11 (Fi- dos aços CA24 de diâmetro de 5mm elevada dureza superficial encontrada
gura 6). Essa diferença de dimensão e 25mm, e ao do aço CA50 de 5mm, na borda do aço CA50 de 25mm de
do grão confere ao aço CA24 de que possuem uma estrutura de ferri- diâmetro (Tabela 2).
maior diâmetro uma quantidade su- ta-perlita. A segunda microestrutura,
perior de ferrita, em relação ao aço localizada próxima à borda do aço 4.2 Composição química
de menor diâmetro. Segundo Co- CA50 de diâmetro 25mm, é do tipo e dureza Vickers
paert (2008), a ferrita é a estrutura martensítica, que possui elevado índi-
mais mole e torna o aço mais dúctil ce de dureza. Krauss (1990) explica A Tabela 1 mostra a composição
quando apresenta-se como o seu que o aparecimento de uma micro- química dos aços CA24 e CA25 com
principal constituinte. Isto explica os estrutura martensítica é usualmente diâmetros de 5 e 25mm.
baixos resultados de dureza encon- decorrente do efeito do resfriamento A análise da composição química dos
trados na Tabela 2 para o aço CA24 rápido empregado no metal, sendo aços revelou mais que o dobro do índice
de 25mm em relação ao mesmo tipo que os átomos de carbono ficam pre- de carbono na estrutura do aço CA50
de aço com diâmetro inferior. sos em octaédricos de uma estrutu- em relação ao aço CA24, sendo que a
O resultado da metalografia do ra CCC (cúbica de corpo centrado), amostra de aço CA50 de 25mm obteve
aço CA50 com diâmetro de 5mm produzindo assim uma nova fase, a o maior percentual de carbono em sua
mostrou-se semelhante ao do aço
CA24 de 5mm, ou seja, uma micro- u Tabela 2 – Resultado do ensaio de dureza Vickers
estrutura de ferrita e perlita com ta-
manho de grão nº 11. O mesmo não Dureza Vickers (HV1)
ocorreu no aço CA50 com diâmetro Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3
de 25mm, que apresentou dois tipos CA24 – 5mm (centro) 173,5 173,8 174,0
de microestruturas. A primeira, loca- CA24 – 25mm (centro) 137,1 138,2 137,4
lizada em seu núcleo, é constituída CA24 – 25mm (borda) 144,2 144,3 144,0
de uma matriz perlítica com redes de CA50 – 5mm (centro) 260,1 260,4 261,0
ferrita. A perlita é formada a partir de CA50 – 25mm (centro) 184,5 184,5 184,3
uma mistura eutetóide de duas fases,
CA50 – 25mm (borda) 308,1 308,2 308,0
ferrita e cementita, sendo mais dura

86 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


u Tabela 3 – Propriedades mecânicas dos aços CA24 e CA50

Limite de Limite de Alongamento


Classe Diâmetro Comprimento Dobramento
escoamento resistência em 10Φ
do aço (mm) (mm) a 180º
(MPa) (MPa) (%)
CA24 5 500 373 544 24 Ok
CA24 25 500 385 423 20 Ok
CA50 5 500 815 848 10 Ok
CA50 25 500 700 750 10 Ok

composição, o que pode explicar a maior A Tabela 2 mostra os resultados CA50 com diâmetros de 5 e 25mm.
dureza Vickers encontrada na superfície obtidos no ensaio de dureza super- Os aços CA50 obtiveram resulta-
deste aço e neste diâmetro (Tabela 2). ficial Vickers para os aços CA24 e dos de dureza superiores aos dos aços
CA24, sendo que os maiores valores de
dureza observados estão localizados
na borda do aço CA50 com bitola de
25mm. Os maiores teores de carbono
nestes aços explicam suas maiores du-
rezas (COPAERT (2008)). Além da com-
posição química, conforme discutido no
Item 2.1, a análise metalográfica tam-
bém pode explicar a dureza dos aços.

4.3 Características mecânicas

A Tabela 3 apresenta as tensões


u Figura 9 de escoamento e de ruptura, o alonga-
Densidade de corrente de corrosão (i corr) versus tempo para os aços mento e o resultado do ensaio de do-
CA24 e CA50 com 5mm de diâmetro bramento dos Aços CA24 e CA50 com
diâmetros 5 e 25mm.
Todas as armaduras estudadas
atenderam aos requisitos de escoamen-
to, resistência à tração, alongamento e
dobramento, estabelecidos pela ABNT
NBR 7480:2007, para o aço CA50, e
EB-3:1939, para o aço CA24. A única
exceção está no alongamento do aço
CA24 de diâmetro 25mm que, segundo
a EB-3, deveria ser maior que 22,4%,
mas o resultado obtido foi de 20%. O
aço que obteve maior porcentagem de
alongamento foi o aço CA24 de diâme-
u Figura 10 tro de 5mm, que, por sua vez, foi o que
Densidade de corrente de corrosão (i corr) versus tempo para os aços
possuía o menor teor de carbono em
CA24 e CA50 com 25mm de diâmetro
sua composição.

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 87


4.4 Análise da passivação
por meio dos parâmetros
eletroquímicos

As Figuras 9 e 10 mostram a
evolução da densidade de corrente
de corrosão (icorr) das armaduras de
aço CA24 e CA50 com diâmetros de
5mm e 25mm, respectivamente, em-
bebidas no concreto de referência.
As Figuras 11 e 12 mostram a
evolução do potencial de corrosão
(E corr) das armaduras de aço CA24
u Figura 11
e CA50 com diâmetros de 5mm e Potencial de corrosão (E corr ) da armadura em função do tempo para
25mm, respectivamente, embebidas o aço CA24 e CA50 com 5mm de diâmetro
no concreto de referência.
Os resultados das Figuras 9, 10,
11 e 12 mostram que inicialmente
a densidade de corrente de corro-
são (i corr) e o potencial de corrosão
(E corr) indicam certa atividade, o que
é explicado pela rápida oxidação
ocorrida no processo de formação
da camada passiva (FIGUEIREDO,
1994). Após alguns poucos dias,
os registros da i corr passam a ser
todos inferiores a 0,1µA/cm 2, indi-
cando corrosão desprezível (Figura
4), e os registros de E corr vão em
direção e se mantem em valores u Figura 12
superiores a –200 mV em relação Potencial de corrosão da armadura (E corr) em função do tempo para o
aço CA24 e CA50 com 25mm de diâmetro
ao eletrodo de cobre-sulfato de co-
bre, o que significa baixa atividade
e baixa probabilidade de corrosão na composição química e metalo- trabalhos de recuperação e refor-
(Figura 3). Portanto, os parâme- gráfica, na dureza superficial, nas ço de estruturas antigas, com aço
tros eletroquímicos mostram que propriedades mecânicas e na duc- CA24, desde que o concreto com
os aços CA24 e CA50, tanto com tibilidade dos aços CA24 e CA50, o cloretos e carbonatado tenha sido
diâmetros menores como maiores, monitoramento eletroquímico da i corr totalmente removido do entorno
não possuem diferenças no que se e do E corr ao longo dos 90 dias de dessas armaduras.
refere ao processo de passivação, ensaio mostrou que ambos os aços, Diferentemente da conclusão re-
podendo ser associados em con- com os dois diâmetros estudados, lativa ao período de passivação, es-
cretos isentos de cloretos e não mostraram semelhantes capacida- tudo realizado por Carvalho (2014)
carbonatados. des de se passivarem quando en- mostrou que, após a despassiva-
volvidos por concreto sem cloretos ção, o tipo de aço e o diâmetro das
5. CONCLUSÕES e não carbonatado. Portanto, o aço armaduras influenciam na velocida-
Apesar das diferenças existentes CA50 poderia ser empregado em de de propagação da corrosão.

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u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6118. Projeto de estruturas de concreto. Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
[02] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 12655. Concreto de cimento Portland — Preparo, controle, recebimento e aceitação —
Procedimento. Rio de Janeiro, 2015.
[03] LONGUET, P.; BURGOEN, L.; ZELWER, A.. La phase liquid du ciment hydraté. Rev. Materiales de Construcción, n. 676, 1973, p.35-42.
[04] BERTOLINI, L.; ELSENER, B.; PEDEFERRI, P.; POLDER, R.. Corrosion of Steel in Concrete – Prevention, Diagnosis, Repairs. Weinheim: WILEY-VCH, 2004. 392 p.
ISBN: 3-527-30800-8.
[05] HELENE, P. R. L. Contribuição ao estudo da corrosão em armaduras de concreto armado. 1993, 231p. Tese (Livre-Docência) – Departamento de Engenharia de
Construção Civil, Escola Politécnica de São Paulo – USP, São Paulo.
[06] HAUSMANN, D. A. Steel corrosion in concrete: how does it occur? Materials Protection, p. 19-23, 1967. ____. A probability model of steel corrosion in concrete.
Materials Performance, Houston, v. 37, n. 10, p. 64-68. 1998.
[07] BASILIO, F. A. Durabilidade dos Concretos. Permeabilidade e Corrosão Eletrolítica. São Paulo, ABCP, 1972.
[08] POURBAIX, M. Atlas of electrochemical equilibria inaqueous solutions. NACE, Cebelcor, 1976.
[09] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7480. Aço destinado a armaduras para estruturas de concreto armado – Especificação. Rio de Janeiro, 2007.
[10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6892. Materiais metálicos — Ensaio de Tração - Parte 1: Método de ensaio à temperatura ambiente.
Procedimento. Rio de Janeiro, 2013.
[11] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6153. Produtos metálicos - Ensaio de dobramento semi-guiado. Procedimento. Rio de Janeiro, 1988.
[12] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. EB-3. Barras laminadas de aço comum para concreto armado. Rio de Janeiro, 1939.
[13] AMERICAN SOCIETY for TESTING and MATERIALS. Standard Test Methods for Half Cell Potential of Uncoated Reinforcing Steel in Concrete. ASTM C 876. In: Annual
Book of ASTM Standars. Philadelphia, EUA, 1991.
[14] COLPAERT, H. Metalografia dos produtos siderúrgicos comuns. 4. Ed. São Paulo, SP, Ed. Edgard McGraw-Hill, 2008.
[15] KRAUSS, G. Steels: heat treatment and processing principles. 2 ed. Ohio: ASM International, 1990. 497p.
[16] DURAR (Red Temática XV.B – Durabilidad de la Armadura – del Programa Iberoamericano de Ciencia y Tecnología para el Desarrollo). Manual de inspección,
evaluación y diagnostico de corrosión en estructuras de hormigón armado. Rio de Janeiro: CYTED, 1997. 208 p.
[17] FIGUEIREDO, E. J. P.. Avaliação do desempenho de Revestimento para proteção da armadura contra a corrosão através de técnicas eletroquímicas – contribuição
ao estudo de reparo de estruturas de concreto armado. EPUSP. Tese (Doutorado). São Paulo, 1994. 423p.
[18] CARVALHO, L. G. S.. Resistência à corrosão dos aços CA24 e CA50 frente à corrosão. UFG/EEC/CMEC. Dissertação (Mestrado). Goiânia, 2014, 158p.
[19] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 14931. Execução de estruturas de concreto. Procedimentos. Rio de Janeiro, 2004.

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 89


u pesquisa
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Aditivos especiais para


concretos de parede
DANILA FABIANE FERRAZ • RENAN LUCAS LAPA LOBO • MATEUS DE SOUZA GUERRA
GCP Applied Technologies

1. INTRODUÇÃO ou seja, com classe de espalhamento amento pequena, porém, mensurável,

O
s benefícios do concreto entre SF1 ou SF 2, onde é exigido um usando dosagens típicas da concretei-
autoadensável, como a teor de material fino alto para estabili- ra, apenas ajustando o teor de finos,
boa capacidade de bom- zar e dar coesão e conseguir atingir a sendo possível obter um concreto para
beamento e a eliminação da necessi- fluidez necessária, sem haver segrega- paredes com boa fluidez e sem segre-
dade de compactação, são reduzidos​​ ção dos materiais. Porém, em paredes gação e exsudação. Dois aditivos flui-
pela necessidade de incremento de de concreto, os valores de resistência dificantes foram estudados sendo um
materiais finos na mistura, o que pode- podem variar dependendo do projeto, deles base policarboxilato convencional
rá elevar o custo e demanda de água, podemos citar alguns casos onde a es- (identificado como PCE) e o outro adi-
aumentar a sensibilidade a pequenas pecificação varia de 25-30Mpa em 28 tivo, igualmente de um policarboxilato,
variações na relação água/cimento e dias. Um dos parâmetros que merece porém com características de modifica-
necessidade de dosagens especiais. destaque é a necessidade do desen- dor de viscosidade (identificado como
As principais características do con- volvimento de pelo menos 3,0 MPa PCMV). Os estudos foram feitos com
creto para a produção de paredes é com apenas 12 horas após a molda- ambos aditivos e cimento CP V ARI RS,
boa fluidez, sem haver segregação e gem, para acelerar a desforma, critério primeiramente em pasta depois em ar-
exsudação, altas resistências inicias, que define rapidez do sistema em rela- gamassa e finalmente em concreto. Os
bom controle reológico para auxiliar no ção a outros. Neste estudo, foi identifi- ensaios em concreto convencional fo-
bombeamento e controle do teor de cado que o aditivo base policarboxilato ram realizados para o desenvolvimento
ar. Isso é um grande desafio, por se modificador de viscosidade proporcio- de uma dosagem ideal para paredes de
tratar de um concreto autoadensável, na uma mistura com tensão de esco- concreto e sem apresentar exsudação

u Figura 1
Distribuição do tamanho médio de partículas do cimento CP V ARI RS

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e segregação, sendo o aditivo PCMV o saios de fluorescência de Raios X foram
que apresentou menor tendência à se- realizados seguindo as diretrizes gerais
gregação e exsudação, possibilitando o da ISO 29581:2010 “Cement – Test
uso de uma maior dosagem em mistu- Methods – Part 2: Chemical analysis by
ras com menor teor de finos, permitindo X-ray fluorescence”.
uma redução de custo do concreto e Na Tabela 1 são apresentados os
menor consumo de cimento, atenden- resultados das avaliações da composi-
do aos requisitos de especificação de ção química e mineralógica do cimento
resistências para concretos de parede. CP V ARI RS.

2. CARACTERIZAÇÃO 3. ESTADO FRESCO DA PASTA


DO CIMENTO A pasta foi misturada em um dis-
O cimento foi caracterizado para persor de alta energia, mantendo-se
avaliar as suas propriedades físico-quí- constante a mistura com energia de
micas e mineralógicas. A avaliação da 10.000rpm por 60 segundos e relação u Figura 2
Reômetro Anton Paar
distribuição do tamanho médio de par- água/cimento de 0,4. Cerca de 100 g
Modelo MCR302
tículas foi feita no equipamento Malvern de pasta foi adicionada no minicone
Mastersizer e os resultados mostrados de Kantro e o espalhamento foi reali-
na Figura 1. zado sobre uma base metálica úmida, foram realizados somente com a pasta
Os cimentos também foram carac- quantificado após a retirada do molde. do aditivo PCE versus PCMV[1]. Os es-
terizados por difração de raios X e Fluo- Além disso foi ensaiado em calorime- tudos de otimização do teor de aditivo
rescência de raios X, sendo que os en- tria isotérmica. Neste caso, os ensaios na pasta foram realizados por reometria

u Tabela 1 – Resultados da caracterização química e mineralógica do cimento FRX e DRX

FRX DRX
Determinações – % CP V ARI RS Determinações – % CP V ARI RS
Anidrido silícico (SiO2) 19,32 Alita 55,8
Óxido de alumínio (Al2O3) 5,36 Belita 8,3
Óxido férrico (Fe2O3) 2,36 Brownmilerita 5,2
Óxido de cálcio (CaO) 59,86 C3A cúbico 2,4
Óxido de magnésio (MgO) 3,45 C3A ortorrômbico 5,4
Anidrido sulfúrico (SO3) 4,17 Periclásio 2,4
Óxido de sódio (Na2O) 0,43 Portlandita 1,1
Óxido de potássio (K2O) 0,88 Gesso –
Óxido de titânio (TiO2) 0,25 Calcita 9,9
Óxido de fosfóro (P2O5) 0,14 Gipsita 0,6
Óxido de manganês (Mn2O3) 0,18 Hemidrato 5,3
Óxido de estrôncio (SrO) 0,13 Anidrita 0,3
Óxido de cromo (Cr2O3) ˂0,01 Arcanita 0,7
Óxido de zinco (ZnO) 0,03 Quartzo 0
Óxido de bário (BaO) 0,07 Aftitalita 0,8
Perda ao fogo (PF) 3,91 Albita –
TOTAL 99,55 Singenita 1,7

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 91


a determinação dos parâmetros reoló-
gicos e do tipo de comportamento sob
solicitação de fluxo. A taxa de cisalha-
mento foi mantida constante por 10s
em cada patamar e a quantificação da
tensão de cisalhamento e viscosidade
em função da taxa foi realizada a partir
de uma média dos últimos 5 segundos
(Figura 3)[2].

4. TRAÇOS DO CONCRETO
PARA PAREDES
u Figura 3
Normalmente os traços para con-
Esquema do ensaio de reometria
creto autoadensável necessitam de
maior quantidade de materiais finos,
u Tabela 2 – Traços para testes com policarboxilato convencional e como filler, areia bem fina, sílica ativa,
policarboxilato modificador de viscosidade para paredes de concreto cinza da casca de arroz, entre outros,
ou, em alguns casos, o cimento (po-
Policarboxilato Policarboxilato modificador
Materiais rém, com este último o custo da mistu-
convencional de viscosidade
ra será elevado), para evitar exsudação
Cimento (Kg/m3) 348 295
e segregação, e garantir que se consi-
Areia natural fina (Kg/m3) 479 423
ga atingir o espalhamento necessário.
Areia artificial (Kg/m3) 479 423
Neste estudo foram reduzidas as fra-
Brita 0 (Kg/m3) 871 1013
ções finas da mistura intencionalmente
Água (Kg/m3) 175 183
para aumentar o nível de segregação
Relação água/cimento 0,50 0,62
e avaliar o efeito do aditivo PCMV. A
Teor de argamassa (%) 60 53
composição do concreto para paredes
é definida com as mesmas técnicas
rotacional. Após a mistura das pastas hatched, com diâmetro de 25mm de concreto autoadensável. Antes de
cimentícias, essas foram adicionadas (PP25/P2). Variou-se a quantidade de definir a proporção de cada elemento
em um reômetro da marca Anton-Paar, aditivo para avaliação comparativa da da mistura, foram avaliadas as carac-
modelo MCR302, ilustrado na Figura 2. viscosidade e tensão de escoamento. terísticas do cimento, agregados e da
Utilizou-se geometria de placas pa- Os ensaios foram realizados a partir da água, primeiramente antes de definir
ralelas de aço inoxidável do tipo cross programação de stepped flow test para o tipo de aditivo e dose utilizados. As
características da mistura foram avalia-
das e definidas de acordo com as es-
pecificações de aplicação, resistência e
fluidez necessárias, principalmente na
seleção da relação água/cimento para
atingir a durabilidade necessária. Após
a seleção do traço, os ensaios foram
realizados com foco na avaliação da
estabilidade do concreto principalmen-
te na resistência à segregação e exsu-
u Figura 4
dação. Para a determinação do traço
Efeito do aumento do teor de aditivo pelo ensaio de cone de Kantro
utilizou-se como referência o manual

92 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


PCA-Portland Cement Association[3]. ometria rotacional com ambos aditivos dos de tensão de escoamento, viscosi-
No primeiro traço para uso do po- PCE e PCMV, utilizando-se os resulta- dade aparente para cada dosagem dos
licarboxilato convencional[4], utilizou-
-se uma quantidade maior de cimento,
enquanto que, para o uso de policar-
boxilato modificador de viscosidade,
reduziu-se a quantidade de cimento,
mas mesmo assim os resultados de re-
sistência atenderam às especificações
para concretos de parede e com menor
custo (Tabela 2), como o traço de con-
creto autoadensável ensaiado com o
PCMV permitiu a redução da quantida-
de de pasta e aumento da quantidade
de brita 0, há uma contribuição indireta u Gráfico 1
para o aumento de módulo de elasti- Avaliação do espalhamento de ambos aditivos pelo ensaio de cone
cidade, embora parâmetro não tenha
de Kantro
sido avaliado neste estudo.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram realizados os ensaios de flui-
dez em cone de Kantro para determinar
a dosagem ótima de cada aditivo. Com
as mesmas doses foram ensaiadas
em reometria rotacional as pastas para
avaliação da viscosidade e tensão de
escoamento, e calorimetria. No Gráfico
1, estão apresentados os valores de
espalhamento comparativos do PCE
versus PCMV. É possível verificar que, u Gráfico 2
para uma mesma fluidez, é necessária Avaliação da viscosidade aparente para PCE versus PCMV
uma dosagem levemente mais alta de
PCMV quando comparado ao PCE nas
dosagens acima de 0,3%. Essa diferen-
ça de dosagem foi considerada para os
ensaios em concreto. Dosagens mais
altas de aditivo policarboxilato tendem
a aumentar a segregação e exsudação,
fato que pode ser avaliado na Figura 4
é possível verificar que o aditivo PCMV,
em nenhum dos casos, apresentou ex-
sudação; já o aditivo PCE, após a do-
sagem de 0,35%, apresenta exsuda-
ção, porém os valores de fluidez estão
u Gráfico 3
muito próximos.
Avaliação da tensão de escoamento do PCE versus PCMV
Foram realizados os ensaios de re-

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 93


u Gráfico 4
a: Curva de fluxo de calor; b: Curva de calor acumulado para ambos aditivos

aditivos. Para os resultados de viscosi- bos aditivos apresentam tensão de esco- te, a mistura foi realizada colocando-se
dade neste estudo foram utilizados os amento iguais, porém com o aumento da em betoneira de laboratório os agrega-
parâmetros da máxima taxa de cisa- dosagem, essa tensão é diminuída para o dos graúdos com 50% da quantidade
lhamento aplicada no ensaio, enquan- aditivo PCE. Isso indica que, para os en- da água definida no desenho da mis-
to que a tensão de escoamento foi saios em concreto, a dosagem do PCMV tura. Posteriormente, foi adicionado o
quantificada como o valor da tensão deverá ser maior, fato que realmente cimento e, na sequência, as areias e o
de cisalhamento na menor taxa utiliza- foi comprovado em concreto com a restante da água. A dosagem do adi-
da no ensaio da etapa de desacelera- elevação da dose do aditivo PCMV tivo PCE foi de 0,65%, enquanto que,
ção. No Gráfico 2, estão apresentados para o mesmo espalhamento de 700 para o aditivo PCMV, foi de 0,70%
os resultados de viscosidade aparen- mm. Mesmo assim nos ensaios em para atingir o espalhamento de 700
te, onde o aditivo PCMV apresenta um concreto não houve exsudação com o mm, procedeu-se a mistura por 8 mi-
perfil de viscosidade mais alto quando aditivo PCMV. nutos, visto que a adição do aditivo foi
comparado ao aditivo PCE. Os resultados de calorimetria iso- feita em modo atrasado, ou seja, um
Esse é um parâmetro importante que térmica demonstram que não houve minuto após ter sido adicionada a se-
contribui com a diminuição da exsudação diferenças entre os aditivos estudados gunda metade da água. Após decor-
e segregação do concreto. Já no Gráfico nas doses de 0,2 e 0,4% (Gráfico 4). rido o tempo estabelecido foram ava-
3 é possível verificar que, nas doses mais Os ensaios em concreto foram rea- liadas as propriedades do concreto no
baixas de 0,1 e 0,2%, concretos com am- lizados conforme Tabela 2. Inicialmen- estado fresco e moldados os cilindros
10x20cm para o ensaio de resistência
à compressão axial nas idades de 1, 7
e 28 dias.
O ensaio de espalhamento pelo
tronco de cone foi realizado com o
cone invertido e ambos os testes
apresentaram espalhamento de 700
mm. Porém, a amostra PCE apresen-
tou segregação e exsudação em va-
lores consideráveis, de acordo com a
normativa C1712-14 “Visual Segrega-
tion Index” e “Prática Recomendada
u Figura 5 de CAA-Ibracon”, o valor apresentado
a) Ensaio em concreto com aditivo PCE;
para a amostra PCE foi de VSI = 3, ou
b) Ensaio em concreto com aditivo PCMV
seja, níveis mais altos de segregação.

94 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017


Enquanto que o aditivo PCMV apre-
sentou VSI=0, ou seja, pouca segrega-
ção/exsudação, como apresentados
na Figura 5 a e b.
Os ensaios de compressão axial
foram realizados nas idades iniciais e
finais (Gráfico 5). É possível verificar
que os valores de resistência inicial e
final da amostra PCE estão mais altos u Gráfico 5
Resultados de resistência à compressão axial
quando comparados com a amostra
PCMV. Porém, mesmo com a diminui-
ção do teor de finos da mistura, o en- mesmas dosagens que o PCE apre- aos requisitos usuais para concretos de
saio realizado com o PCMV apresen- sentou maior viscosidade aparente, parede. Os valores apresentados nos
tou valores de resistência aceitáveis enquanto que, no ensaio de tensão de estudos de calorimetria isotérmica indi-
de acordo com os estabelecidos para escoamento, o aditivo PCMV apresen- cam que ambos aditivos apresentaram
paredes de concreto, podendo-se tou valores de tensão de escoamento o mesmo perfil de fluxo de calor e calor
apresentar menores custos e melhor iguais na dosagem mais baixa e esses acumulado, o que indica, na prática,
acabamento (Figura 6 a e b), conforme valores foram aumentando com o au- que nenhum dos aditivos apresentam
o comparativo dos cilindros moldados mento da dosagem do aditivo. Esses retardo de pega, sendo o PCMV o aditi-
para ensaio de resistência à compres- resultados servem de parâmetros para vo que melhor é aplicável para paredes
são axial, onde a mistura feita com o o desenvolvimento da mistura de con- de concreto para o apresentar menor
aditivo PCMV apresenta melhor aca- creto para paredes. Esses dados com- tendência de exsudação.
bamento e melhor coesão. parativos indicam que o aditivo PCE,
embora necessite de uma dosagem
6. CONCLUSÃO menor para mesma tensão de escoa-
Através dos resultados apresen- mento nas dosagens altas, não permite
tados a partir do ensaio de cone de o uso na prática de tais dosagens por
Kantro, foi possivel verificar que o adi- apresentar exsudação e segregação,
tivo base policarboxilato convencional enquanto que o aditivo PCMV, mesmo
(PCE) apresenta uma maior tendencia em dosagens mais altas, reduz signifi-
á exsudação nas maiores dosagens cativamente a exsudação. Esse fato foi
estudadas. Já o aditivo base policar- evidenciado nos ensaios em concreto,
boxilato modificador de viscosidade onde mesmo reduzindo a quantidade
(PCMV), mesmo nas dosagens mais de finos na mistura, não houve exsu- u Figura 6
dação nem segregação e os desen- Aspecto do cilindro moldado em
altas, não apresentou tendência à ex-
concreto com: a) aditivo PCE e
sudação. Os resultados de viscosidade volvimentos de resistências, tanto nas
b) aditivo PCMV
também indicaram que o PCMV nas idades finais como iniciais, atendem

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] LANGE, A., PLANK, J. Optimization of comb-shaped polycarboxylate cement dispersants to achieve fast-abatimentoing mortar and concrete. Technische Universitdad
Munchen, Chair for Construction Chemistry, Garching, Lichtenbergstraße 4, Germany, 2015.
[02] LYRA, J.S., ROMANO R.C.O., PILEGGI, R.G., GOLVEA, D. Consolidação de pastas cimentícias contendo policarboxilatos um estudo calorimétrico e reológico.
Associação Brasileira de Cerâmica, ANO LVIII - VOL. 58, 346 - ABR/MAI/JUN 2012.
[03] KOSMATKA, S.H and WILSON, M.L – Design and Control of Concrete Mixtures –The Guide to applications, method and materials – Fifteenth Edition.-2012.
[04] RAMACHADRAN, V.S. Concrete. Admixtures Handbook, Properties, Science and Technology.Institure of Research in Construction National Research Council Canadá,
Ottawa. 2nd edition. 1995.

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 95


u acontece nas regionais

Regional da Bahia realiza Seminário


sobre desempenho, manutenção e durabilidade
das estruturas de concreto
N os últimos dias 29 e 30 de mar-
ço a Regional IBRACON na
Bahia realizou o I Seminário sobre
o minicurso sobre
técnicas não des-
trutivas para ava-
desempenho, manutenção e dura- liação do concreto
bilidade das estruturas de concreto, teve duas turmas.
em parceria com o Departamento Nele os participan-
de Construção e Estruturas da Es- tes tiveram a opor-
cola Politécnica da Universidade Fe- tunidade de assistir
deral da Bahia, local de realização a aulas práticas
do evento. numa edificação
Com participação de 151 profissio- em construção no
nais e estudantes, o Seminário dis- próprio campus da
cutiu aspectos de desempenho e UFBA, paralisada Momento da palestra do Prof. Paulo Helene no Seminário
durabilidade das estruturas de con- há três anos. “A
creto, com a finalidade de contribuir estrutura prestou-se perfeitamente CREA-BA, Odebrecht, Ademi-BA e
com a formação profissional e a ca- à realização de ensaios especiais Proceq e com o apoio da UFBA, Ins-
pacitação técnica dos participantes. de carbonatação, cloretos, escle- tituto Politécnico da Bahia, Sindus-
Na ocasião foi apresentada a nova rometria, potencial de corrosão, ul- con-BA, Ceta e Núcleo de Inovação
diretoria regional do IBRACON. trassom, extração de testemunhos, da Construção.
O presidente do IBRACON, Eng. Julio e outros ensaios apropriados para Nos dois dias do evento foram ar-
Timerman, proferiu palestra no Semi- estruturas existentes, nas quais se recadados cerca de 200 kg de ali-
nário sobre as normas brasileiras de deseja um correto diagnóstico de mentos não perecíveis, doados ao
inspeção das estruturas de concreto. segurança e vida útil”, avaliou o Prof. Hospital Aristides Maltez, que vem
Já o diretor de relações institucionais Paulo Helene. passando por uma grave crise fi-
do Instituto, Prof. Paulo Helene, abor- Os participantes foram ainda agra- nanceira e que tem como uma de
dou as lições aprendidas dos erros e ciados com o sorteio de algumas suas missões cuidar de crianças
acidentes com estruturas de concre- publicações técnicas do IBRACON. com câncer.
to. Por sua vez, o diretor regional do Foi feita uma sin-
IBRACON e coordenador do Semi- gela homenagem
nário, Prof. Francisco Gabriel Santos à equipe da UFBA
Silva tratou da manutenção das es- ganhadora dos
truturas de concreto. concursos Apara-
Além de sete palestras, o Seminário to de Proteção ao
contou com dois minicursos: Alvena- Ovo e Concreto
ria Estrutural – projeto, execução e Colorido de Alta
desempenho, ministrado pelo instru- Resistência no últi-
tor Hélio Aragão (STR Construções); mo Congresso Bra-
e Técnicas não destrutivas para ava- sileiro do Concreto.
liação do concreto, ministrado pe- O Seminário con-
los professores Paulo Helene (PhD tou com o patro-
Uma das turmas do curso assiste ao ensaio de
Engenharia) e Francisco Gabriel cínio da STR Con-
esclerometria feito pelo Prof. Paulo Helene em edifício em
(UFBA). Devido à grande demanda, sultoria e Projeto, construção no campus da UFBA

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Jornada de Engenharia Civil na Regional Tocantins

Público assiste palestra durante a Jornada de Engenharia e Presidente do IBRACON, Julio Timerman, posa para foto com as
ganhadoras de prêmios sorteados pelo IBRACON

F oi realizada de 24 a 28 de abril a VII


Jornada de Engenharia Civil no Centro
Universitário Luterano de Palmas (Ceulp/
assistir a seis palestras proferidas por pro-
fessores e profissionais renomados, entre
eles o presidente do IBRACON, Eng. Julio
cionais no auxílio em projetos de estru-
turas de concreto armado e dimensiona-
mento geotécnico de fundações em radier
Ulbra),em Tocantins, com o objetivo de Timerman (Projeto Estrutural do Museu estanqueado. Além disso, os participantes
reunir acadêmicos e profissionais da área do Amanhã) e o professor da Escola Po- assistiram, envolveram-se ou competiram
para atualização de conhecimento técnico litécnica da Universidade de São Paulo, nos concursos “Pontes de Macarão”,
e científico e para a troca de experiências. Eng. Nelson Aoki (Risco Geotécnico na Concrebol e Concreto de alta resistência,
O evento teve como bandeira a Tecnolo- Engenharia Civil). Tiveram a oportunidade estes dois últimos baseados nos concur-
gia e a Sustentabilidade – os novos desa- de escolher entre 16 minicursos, com os sos nacionais promovidos pelo IBRACON,
fios da engenharia civil. mais variados temas, como segurança de preparando os estudantes da Regional
Os mais de 500 participantes puderam barragem, uso de ferramentas computa- para as competições em nível nacional.

Semanas acadêmicas na Regional de Santa Catarina


N o dia 8 de maio, em Joinville, o
diretor técnico do IBRACON em
Santa Catarina, Prof. Denis Fernan-
tarina sobre os concretos emprega-
dos na Ponte Anita Garibaldi (Ponte
da Laguna).
Joelcio Stocco, ministrou palestra
sobre os concretos para a execu-
ção de grandes blocos de fundações
des Weidmann, ministrou a palestra Já, no dia 9 de maio, o Prof. Luiz Ro- para os edifícios altos de Balneário
de abertura da Semana Acadêmi- berto Prudêncio, da Universidade Fe- Camboriú, na Semana Criativa do
ca do Curso de Engenharia Civil da deral de Santa Catarina, a convite do curso de Arquitetura e Urbanismo
Universidade Católica de Santa Ca- diretor Regional do IBRACON, Prof. da Unisul.

Regional do Ceará participa da Semana


de Engenharia do Instituto Federal
A III Semana de Engenharia Civil do
Instituto Federal do Ceará aconte-
ce de 19 a 24 de junho, em Fortaleza,
com o mercado e com as demandas
da sociedade.
Durante a Semana serão realizadas
promovidas pelo Instituto Brasileiro do
Concreto: o Aparato de Proteção ao
Ovo e o Quem sabe faz ao vivo.
com o objetivo de contribuir para a duas competições em nível regional Mais informações:
formação de profissionais atualizados das competições em nível nacional https://www.facebook.com/SEMECIFCE

CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 97


Palestras na Regional do Rio de Janeiro
A concepção da estrutura de uma
torre e sua fundação, destinada a
testes de elevadores de grande velo-
Já no último dia 17 de maio, o presiden-
te do IBRACON, Eng. Julio Timerman,
esteve no Clube de Engenharia, no Rio
armado e das falhas de execução das
vedações verticais e acabamentos, a
Regional convidou o pesquisador do
cidade para prédios altos, foi tema de de Janeiro, para uma palestra sobre o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de
palestra na Regional IBRACON do Rio projeto das estruturas de concreto do São Paulo (IPT), Eng. Ercio Thomaz, que
de Janeiro, no dia 3 de maio, no Clube Museu do Amanhã. também é professor da Ycon Formação
de Engenharia. Em sua apresentação, Julio Timer- Continuada e da Academia de Engenha-
Além dos aspectos de projeto e cons- man, consultor em estruturas, diretor ria e Arquitetura (AEA), além de membro
trução, foi apresentada análise está- da Engeti Consultoria e Engenharia e do Conselho da Revista Téchne e da
tica, dinâmica e aerodinâmica do sis- vice-presidente da Internacional As- Revista CONCRETO & Construções.
tema estrutural sob ação do vento e sociation for Bridges and Structural Em sua palestra, Thomaz abordou a flu-
avaliação de seu desempenho e esta- Engineering (IABSE), abordou as ca- ência e a deformabilidade das estruturas
bilidade aerodinâmica. racterísticas principais da estrutura, as de concreto armado e sua relação com
Com participação de 100 profissionais, premissas de cálculo, a compatibiliza- as patologias das alvenarias e dos aca-
a palestra foi ministrada pelo diretor da ção da estrutura com a cobertura me- bamentos nas edificações, bem como
Controllato Projeto, Monitoração e Con- tálica e os detalhes executivos dessa as patologias decorrentes de falhas na
trole de Estruturas e professor da Uni- obra emblemática no Rio de Janeiro, execução de alvenarias e revestimentos.
versidade Federal do Rio de Janeiro, assinado pelo arquiteto Calatrava. As palestras foram uma realização do
Eng. Ronaldo Battista, que é também Para tratar das patologias de alvenarias IBRACON, do Clube de Engenharia e da
presidente da Associação Sul-America- e acabamentos decorrentes da defor- Associação Brasileira de Engenharia e
na de Engenharia Estrutural (ASAEE). mabilidade das estruturas de concreto Consultoria Estrutural (Abece).

SISTEMAS DE FÔRMAS PARA


EDIFÍCIOS: RECOMENDAÇÕES
PARA A MELHORIA DA QUALIDADE
E DA PRODUTIVIDADE COM
REDUÇÃO DE CUSTOS

Autor: Antonio Carlos Zorzi

O livro propõe diretrizes para a racionalização de


sistemas de fôrmas empregados na execução de
estruturas de concreto armado e que utilizam o molde
em madeira

As propostas foram embasadas na vasta experiência


do autor, diretor de engenharia da Cyrela, sendo
retiradas de sua dissertação de mestrado sobre o tema.

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Formato: 18,6 cm x 23,3 cm
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98 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017
Instituto Brasileiro do Concreto
Organização técnico-científica nacional de defesa
e valorização da engenharia civil

Fundado em 1972, seu objetivo é promover e divulgar conhecimento sobre a tecnologia do concreto e de
seus sistemas construtivos para a cadeia produtiva do concreto, por meio de publicações técnicas, eventos
técnico-científicos, cursos de atualização profissional, certificação de pessoal, reuniões técnicas e premiações.

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59ª EDIÇÃO
C ONGRESSO
B RASILEIR O DO B E N TO G O NÇA LVE S • R S
31 de outubro a 3 de novembro

C ONCRETO 2017

Ponto de encontro dos profissionais


e das empresas brasileiras da
cadeia produtiva do concreto

C O T A S D E PA T R O C Í N I O E E X P O S I Ç Ã O
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„ Gestão e Normalização „ Materiais e Produtos Específicos promoção e relacionamento
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