Vous êtes sur la page 1sur 31

O propósito da salvação

(1 Pedro 1.13-25)

Introdução

Após tecer um louvor de agradecimento a Deus, e, ao mesmo tempo, discorrer


com virtude sobre a obra da salvação em Cristo Jesus através de uma série de
afirmações indicativas (vs.3-12), Pedro, dessa vez, relaciona a santidade na
vida cristã como evidência e finalidade da salvação. Se outrora o apóstolo
afirmou a nossa salvação expondo algumas das principais doutrinas da graça,
tais como: eleição, expiação, regeneração, santificação (vs.2-3), agora ele nos
chama através de uma série de imperativos (exortações) para viver esta
salvação na vida prática (1.13-25). Além de explicar para quê o cristão foi
salvo, estas doutrinas da graça são, também, a base do chamado a um estilo
de vida em obediência.

O esboço homilético desta seção pode ser dividido em três pontos, ou seja, o
propósito da salvação consiste em: 1 Uma vida em santidade (1.13-16). 2 Uma
vida com reverência (1.17-21). 3 Uma vida em amor (1.22-25).

1. Uma vida em santidade (1.13-16)

Tendo recebido o dom da salvação em Cristo Jesus (vs.9), os destinatários de


Pedro bem como os cristãos em geral não devem desprezar este inefável
presente sendo negligentes na salvação. Como filhos de Deus, devemos viver
em conformidade com a sua vontade, que consiste numa vida em obediência a
sua Palavra (veja Mc 3.35; Jo 9.31; 1Pe 2.15). A realidade da salvação deve se
expressar em santidade vivida.

1.13 Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai


inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo.

Pedro, através de uma série de imperativos (exortações), instrui os seus


leitores e a todos os cristãos em como viver uma vida que glorifica a Deus.
Para vivermos em santidade é necessário:
a) Dispormos a mente. A preposição por isso é uma conclusão afirmativa que
antecede o tema da obra da salvação tratado nos versículos 3-12. Pedro,
agora, liga a salvação com a santidade (vs.13), e, desse modo, tomando por
base esta salvação que é recebida pela fé em Jesus Cristo (vs.5), exorta-nos a
cingir o nosso entendimento. A expressão cingindo o vosso entendimento, ou
como é na tradução literal do grego – “cingindo os lombos do vosso
entendimento”1 é uma metáfora que, na época de Pedro, no século 1, era
facilmente compreendida por todas as pessoas. Porém, hoje, no mundo
moderno, é necessária uma explicação mais acurada do seu significado.

Cingir os lombos, na antiguidade, era um hábito dos orientais. A túnica, uma


roupa comum e usada na época, era uma peça larga e comprida, semelhante a
um vestido longo que cobre todo o corpo. Era colocada sob o manto ou a capa
e usada com um cinto sob a cintura. Esse tipo de roupa, sem o cinto,
atrapalhava a pessoa a exercer algum tipo de trabalho que exigisse
movimentos longos e intensos em alguma atividade física que era preciso certa
agilidade. Sendo assim, para ter uma boa mobilidade e evitar empecilhos, a
pessoa cingia os lombos (ou quadris), isto é, colocava o cinto sobre a túnica.
Em outras palavras, a expressão moderna e equivalente para nós, hoje, seria
dizer: Vamos “arregaçar as mangas ou tirar o casaco”, que indica algum
trabalho ou atividade física que fôssemos exercer.

A palavra entendimento, no grego διάνοία (dianoia), se refere à mente;


“significa pensar em algo e tirar as conclusões apropriadas”.2 Portanto, Pedro
utiliza e aplica esta metáfora do cingir os lombos dizendo aos seus leitores e a
todos os cristãos que eles devem estar com a sua mente preparada e disposta
para agir colocando em prática aquilo que ouviram, ou seja, tudo o que foi dito
anteriormente sobre a salvação (vs.3-12).

Aplicação prática

O entendimento, aqui, se refere ao modo pelo qual nos relacionamos com


Deus através da mente que irá convergir na nossa conduta. Em vista disso, a
nossa mente deve estar disciplinada e livre de qualquer coisa que possa servir
de obstáculo para, assim, vivermos uma vida cristã pautada nas Escrituras e
que glorifique ao Senhor. A nossa mente precisa estar subjugada aos preceitos
de Deus para que possamos compreender a sua vontade para a nossa vida,
discernindo entre o certo e errado, entre a verdade e a heresia, e não aos
preceitos que norteiam o mundo e a vida de muitos “ditos” cristãos, como, por
exemplo, o evangelho caracterizado pelo materialismo e a preocupação
exacerbada com a estabilidade e a satisfação pessoal na vida.
O materialismo é uma avidez desenfreada pelo consumismo, e a preocupação
exacerbada com a estabilidade e a satisfação pessoal na vida, além de serem
o lema da sociedade secular, tem sido também o lema da igreja evangélica em
sua maioria. O “evangelho” mundano que tais “cristãos” creem apresenta o
seguinte slogan: Eu tenho que ter isso e aquilo de qualquer maneira! Portanto,
vou lutar e trabalhar sobremaneira para conquistar tudo o que eu desejo ter
neste mundo profetizando e barganhando com Deus! Ou: Eu só serei feliz se
tiver dinheiro, uma namorada (o), uma esposa (o) e saúde!

Todavia, o materialismo é pecado, mas a motivação pela estabilidade e


satisfação pessoal não são pecado em si. No entanto, esta motivação se torna
pecado quando depositamos toda a nossa esperança e as colocamos como
prioridade em nossa vida em detrimento de Deus, que é a nossa prioridade
(1Cor 15.19; Cl 3.1-3). O evangelho mundano caracterizado pelo materialismo
e a preocupação exacerbada pela estabilidade e satisfação pessoal têm
corrompido e desvirtuado a mente de muitos cristãos. Portanto, conforme a
ideia no grego, era como se Pedro dissesse: Não permita que qualquer coisa
tire o foco da sua mente em relação a compreender e obedecer a Palavra de
Deus!

Para vivermos em santidade é necessário:

b) Sermos sóbrios. Se os cristãos devem cingir o entendimento no sentido de


estar com a mente preparada, disciplinada e disposta para viver a salvação que
ouviram na vida prática, Pedro prossegue exortando-os que, agora, eles devem
ser sóbrios3 (4.7; 5.8).

No grego, a expressão sede sóbrios νήφοντες (nephontes), literalmente “sendo


sóbrios”, é um particípio presente ativo que, traduzido como um imperativo,
seria como se eu dissesse que “estou sóbrio ou tenho autocontrole”. Esta
palavra descreve uma pessoa que tem domínio próprio tanto em relação à
bebida alcoólica, evitando, assim, a embriaguez e, de modo geral, a qualquer
tipo de êxtase frenético que extraia a pessoa da racionalidade. Entretanto, aqui,
de forma mais ampla, se refere à pessoa que não está “embriagada” por coisa
alguma estando com a mente lúcida.4 Ser sóbrio, portanto, além de ser
constante, firme e perseverante no pensamento acerca da esperança da
salvação em Cristo Jesus, significa, também, “ser calmo, estável e controlado”
5 (veja a mesma ideia em 2Tm 4.5; 1Ts 5.6, 8).

Aplicação prática
John MacArhtur acentua que o cristão sóbrio é responsável de modo correto
por suas prioridades e não se deixa embriagar pelas distrações do mundo.6
Não obstante, é bem verdade que o falso evangelho mundano que corrobora o
materialismo e a preocupação exacerbada pela estabilidade e satisfação
pessoal e todas as suas outras “falsas doutrinas” são um tipo de "droga" que
tem entorpecido muitos cristãos verdadeiros, os quais são cristãos incautos e
sem discernimento espiritual.

Os prazeres mundanos como a bebida alcoólica, a pornografia, a fornicação (o


sexo fora do casamento), o adultério, a desonestidade, a mentira, as baladas e
as orgias são, também, "drogas" que tem entorpecido muitas pessoas nas
quais, algumas, são até cristãos verdadeiros que, enfraquecidos pelas
negligencias e omissões, se desviaram do evangelho.

O cristão verdadeiro que está entorpecido pelo falso evangelho pode ter o seu
entendimento elucidado pelo Espírito Santo para o conhecimento do verdadeiro
evangelho e ser liberto da "droga" chamada falso evangelho. O cristão
desviado e entorpecido pelos prazeres mundanos pode, também, ser
resgatado e restaurado por Deus à sobriedade sendo introduzido novamente à
comunhão da igreja. Certamente o Senhor não abandona os seus! Ele cuida de
nós!

Para vivermos em santidade é necessário:

c) Esperarmos na graça. Depois de instar os cristãos acerca da necessidade


de serem vigilantes e equilibrados, estando com a mente livre de qualquer
perturbação e inclinada para a salvação em Cristo Jesus, Pedro, dessa vez,
acentua que eles devem também depositar toda a esperança que possuem na
graça que será entregue quando Jesus Cristo se revelar.

O verbo esperar, no grego έλπίσατε (elpisate), significa, basicamente “colocar a


esperança”. É uma forma verbal de esperança έλπίδα (elpis) que, no versículo
3, declara que os cristãos, a partir da regeneração, já recebem a salvação,
porém, de modo parcial. Esta salvação parcial, contudo, é apenas o prelúdio
daquilo que ainda é esperado, ou seja, a salvação na sua plenitude no qual o
versículo 5 aborda. Todavia, o verbo esperar, aqui, é seguido pelo advérbio
τελειος (teleios), que pode ser interpretado de duas maneiras:

1. Enfatizando o verbo esperar conforme traduziu a ARA por esperai


inteiramente. 2. Como uma indicação ao modo pelo qual os cristãos devem
viver esta esperança, isto é, com maturidade e integridade (veja o uso do
advérbio τελειος (teleios) também em Tg 1.2-4). Embora estas duas
interpretações sejam possíveis, contudo, seria melhor entendermos o advérbio
τελειος (teleios) como uma ênfase no verbo esperar, no qual se harmoniza
perfeitamente com o contexto geral da carta (3.5). Desse modo, Pedro exorta
os cristãos a esperar inteiramente, que significa “depositar a esperança”.

Logo, vemos que esta esperança descrita não consiste em uma pessoa, mas
em um objeto, ou seja, “na graça”. Esta graça que nos versículos 2 e 10 está
no tempo presente, não obstante aqui, é sinônimo da salvação futura (vs.4, 9).
Deus, portanto, está “trazendo a graça para os cristãos na revelação de Jesus
Cristo”.

A expressão revelação de Jesus Cristo ARA é uma repetição da última parte do


versículo ,e tem o mesmo sentido aqui como uma referencia não a primeira
vinda de Cristo, mas a sua segunda vinda em glória (1Cor 1.7-8). A obra da
redenção dos pecadores eleitos será concluída quando Jesus voltar. A
plenitude da salvação chegará através do livramento da presença do pecado
pela glorificação do corpo e da alma. Portanto, “olhar para a volta de Cristo
fortalece a fé e a esperança em tempos difíceis e concede mais da graça de
Deus (Tt 2.10-13)”7

Não obstante, a seguir, nos versos 14-16, observamos que Pedro amplia o
tema da santidade na vida cristã começando uma nova série de imperativos
(exortações) baseados em três pontos. Senão vejamos:

a) Um solene aviso acerca do perigo à santidade.

1.14 Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis
anteriormente na vossa ignorância.

Pedro, aqui, tece uma advertência aos seus leitores históricos e a todos os
cristãos. O apóstolo assevera que, uma vez que foram eleitos para a salvação
em Cristo Jesus por Deus Pai (vs.2), regenerados pelo Espírito Santo para a
esperança da salvação futura e uma vida em santidade (vs.3, 13), os cristãos,
todavia, não devem retornar ao estilo de vida que tinham no passado quando
não conheciam o evangelho, o qual era caracterizado pela prática do pecado.
Sendo assim, Pedro diz o que estes cristãos “devem fazer” (imperativo
positivo). Vejamos então:
i. Os cristãos devem ser obedientes. A expressão filhos da obediência “é um
linguajar semita (hebraico). Significa algo como: pessoas que são cunhadas
integralmente pela obediência”8 (veja os exemplos similares em Lc 10.6; Ef
5.8; 2Ts 2.3).

Geralmente, os filhos obedientes “são os filhos de uma pessoa que faleceu e


deixou um testamento para que recebam a herança. Os cristãos são chamados
de filhos, não por nascimento, mas por adoção. Entre os gregos e romanos do
século 1, a prática da adoção era bem comum. Um filho adotivo desfrutava dos
mesmos privilégios que o filho natural, até mesmo a ponto de dividir a
herança”. Em vista disso, Pedro chama os seus destinatários e todos os
cristãos de filhos da obediência, ou, em outra tradução, de “filhos obedientes” a
fim de esboçar o conceito de santidade a eles. Portanto, ser filho da obediência
é viver uma vida que desemboque em obediência, que pode ser definida
simplesmente como fazer a vontade de Deus (1.2).

Após delinear o que os cristãos devem fazer, Pedro, agora, diz o que eles “não
devem fazer” (imperativo negativo). Senão vejamos:

ii. Os cristãos não devem se amoldar novamente aos desejos que tinham no
passado. Embora os primeiros destinatários históricos de Pedro fossem uma
mescla de Judeus e gentios (1.3, 12, 14, 18, 22-23, 25; 2.9-10; 4.3), todavia, o
apóstolo relembra aqui especificamente o estilo de vida dos cristãos gentios no
passado antes da conversão, a fim de avisá-los do perigo de retornar a este
velho estilo de vida que Deus não se agrada. Diferente dos judeus, que
conheciam a lei moral, estes gentios eram pagãos e ignorantes quanto ao
conhecimento da vontade de Deus revelada nas Escrituras. Por essa razão,
tinham o seu modus vivendi (modo de viver) conduzido pelas mais variadas
paixões9 ou “desejos pecaminosos”.

No grego, a expressão não vos amoldeis σνσχηματιςόμενοι


(syschematizomenoi) é, literalmente, “não vos amoldando”, podendo ser
traduzida como “não se deixem conformar” 10 ou, trivialmente, como uma
exortação a “não entrar no esquema”. Esta expressão “significava assumir a
forma de alguma coisa, a partir de um molde no qual se era encaixado”.11
Contudo, uma vez que foram libertos da escravidão do pecado (Ef 2.1-3),
Pedro adverte estes cristãos gentios a não entrarem novamente no antigo
esquema do mundo caracterizado por uma vida regida pelos prazeres carnais
(veja com exemplo Êx 20.13-17).

Aplicação prática
Os cristãos foram salvos para a obediência, por isso os salvos são filhos
obedientes. Como os filhos herdam a natureza dos pais, precisamos viver em
santidade, pois nosso Pai é santo.

Como filhos obedientes, não podemos retroceder nem cair nas mesmas
práticas indecentes que marcavam nossa conduta quando vivíamos
prisioneiros do pecado. Naquele tempo, os desejos e as paixões constituíam o
esquema determinante da nossa vida e a nossa norma de conduta. É
incoerente, incompatível e inconcebível um salvo amoldar-se às paixões de sua
velha vida12 (veja Ef 4.22-25, 28-29, 31). Que não sigamos o mau exemplo de
homens ímpios e desobedientes. Antes, sejamos corajosos o bastante para
rejeitar o padrão de vida que eles gostariam de impor-nos por seu exemplo e
influência.13

____________
Notas:
1. A ARC traduziu literalmente a expressão no grego.
2. Ênio Mueller. 1 Pedro – Introdução e Comentário, pág 98.
3. O imperativo “sede sóbrio” não é um chamado à sobriedade, mas uma
metáfora para manter a mente alerta e serena (Bob Utley. Comentário Bíblico
de Marcus e 1, 2 Pedro, pág 222).
4. A palavra grega νήφοντες (nephontes) era comumente usada no âmbito
religioso na época de Pedro, especificamente para as religiões de mistério para
descrever as pessoas que se mantinham voltados para a salvação eterna
enquanto que as outras pessoas que eram apegadas as prazeres deste mundo
eram consideradas “embriagadas”.
5. Warren Wiersbe. Comentário Bíblico Expositivo. Novo Testamento 2, pág
511.
6. Bíblia de Estudo MacArthur. Notas de Rodapé, pág 1730.
7. Warren Wiersbe. Comentário Bíblico Expositivo. Novo Testamento 2, pág
511.
8. Uwe Holmer. Comentário Esperança. 1 Pedro, pág 21
9. σνσχηματιςόμενοι (me syschematizomenoi) é um particípio presente passivo
que, influenciado pelo verbo principal “sede” γενήθητε, no versículo 15, no qual
é um imperativo aoristo ativo, é traduzido como um imperativo.
10. Ênio Mueller. 1 Pedro – Introdução e Comentário, pág 101.
11. A palavra grega traduzida pela ARA por “paixões” é έπθυμία (epthymia),
que é comumente descrita como “um anseio por algo que é proibido”. Denota
um “forte desejo pela lúxúria”, podendo ser traduzida como “concupisciências”
ARC ou, literalmente do grego como “desejos”, conforme a NVI e a Almeida
Século 21 traduziram. Pessoalmente, para melhor entendimento, prefiro a
tradução da BJC em virtude do acréscimo do adjetivo “mau”, ficando, assim,
traduzido como “maus desejos”.
12. Hernandes Dias Lopes. 1 Pedro, pág 48-49.
13. Russel Norman Champlin. O Novo Testamento Interpretado – Vol 6. 1
Pedro, pág 104.

b) A razão do imperativo à santidade.

1.15 ... pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos
santos também a vós mesmos em todo o vosso procedimento.

Após instar os cristãos a sempre se manterem como filhos obedientes e não se


amoldarem ao antigo esquema de vida norteado pelo pecado que outrora eles
faziam parte antes da conversão, Pedro, dessa vez, salienta por qual motivo os
cristãos devem viver em santidade. O apóstolo realça que assim como Deus,
que é santo, chamou os cristãos de uma vida outrora em trevas para a sua
maravilhosa luz (2.9), os cristãos, em vista disso, também devem ser santos
em tudo o que fizerem na vida. Se no versículo 14 Pedro exortou o que os
cristãos “não devem fazer” (imperativo negativo), isto é, “não se amoldar” ao
esquema de uma vida pecaminosa, aqui, mais uma vez, há outro imperativo –
tornai-vos santos.

A conjunção “mas”, no grego αλλα (alla), traduzido pela a ARA como pelo
contrário, estabelece um contraste com o versículo 14b. Portanto, o versículo
15 é a continuação do versículo 14b, o qual amplia o tema da santidade na vida
cristã. Era como se Pedro dissesse: “Não façam aquilo de novo” – vos amoldar
às paixões que tínheis anteriormente, “mas façam isso” – sejam santos
também em tudo o que fizerem. (NVI) Não obstante duas proposições são
destacadas aqui:

i. O caráter daquele que chama os cristãos à santidade.14 A palavra “santo”


possui diferentes conotações de significado no Antigo e no Novo Testamento.
Santo, no hebraico ‫( קדוש‬qadosh), significa “ser separado do uso comum para o
uso exclusivo de Deus”. No Antigo Testamento, todos os objetos que eram
utilizados para Deus eram santos. As vestes sacerdotais eram santas (Êx
28.2), o lugar específico para a preparação das ofertas de sacrifício era santo
(Êx 29.31), os vasos usados no templo eram santos (1Rs 8.4).

Por outro lado, a mesma ideia de “separado” que a palavra ‫( קדוש‬qadosh)


transmite no Antigo Testamento é aplicada no Novo Testamento com a palavra
grega άγιον (hagios). Contudo, é importante frisar, para melhor compreensão,
que a santidade de Deus possui uma dupla conotação. Assim, destacamos a
santidade “singular” e a santidade “moral” de Deus. Senão vejamos:

1. A santidade singular de Deus. De modo restrito, por ser completamente


distinto, separado e adorado pela sua igreja em virtude da sua magnífica
grandeza inacessível e ao mesmo tempo acessível mediante Cristo Jesus (Jo
1.14), somente Deus possui esta santidade peculiar. Mesmo quando estiverem
com os corpos glorificados vivendo eternamente na terra restaurada, os
cristãos não serão santos nesse aspecto como Deus é, pois ainda continuarão
sendo seres finitos. Desse prisma, a santidade de Deus é única, sendo um
atributo incomunicável aos homens (veja Êx 15.11; Is 57.15; Ap 4.8).

2. A santidade moral de Deus. Proveniente de sua santidade singular, Deus


também possui uma santidade moral. As leis estabelecidas por Deus nas
Escrituras revelam o seu caráter santo e demonstram que ele é absolutamente
livre de qualquer deformidade ética. Deus é separado do pecado e do mal
moral (veja Jó 34.10; Hc 1.13). Portanto, diferente da santidade singular, que é
exclusiva em Deus, a santidade moral é comunicável aos homens, o que
veremos a seguir.

ii. A santidade deve abarcar todas as áreas da vida dos cristãos. Pedro
sublinha que, assim como Deus, o nosso pai espiritual (2Cor 6.18; Hb 12.9; Gl
3.26) é santo, nós, cristãos, como filhos obedientes (vs.14; Rm 8.13-16)
também devemos ser santos em toda a nossa conduta moral15 (2.12; 3.1, 3,
13; 2Pe 2.7; 3.11). O Deus que exige santidade é, sobretudo, o modelo para
que o imitemos em santidade (Ef 5.1). “Nenhum aspecto da nossa vida está
excluído desse imperativo divino. Todo o nosso procedimento deve
resplandecer o caráter de Deus, a santidade daquele que nos chamou do
pecado para a salvação”.16

c) A santidade é um imperativo porque é confirmada nas Escrituras.

1.16 Porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo.


Pedro, agora, ratifica sua exortação aos cristãos sobre a necessidade de
conduzirem suas vidas em santidade recorrendo às Escrituras, afirmando que
está escrito que eles devem ser santos.

A expressão está escrito γέγραπται (gegraptai), no grego, “era usada em


relação a documentos legais cuja validade ainda permanecia”.17 Sendo assim,
Pedro não baseia a sua exortação em suas convicções particulares em como
os cristãos devem se portar, mas, sobretudo, lança mão da autoridade das
Escrituras do Antigo Testamento citando Levítico 11.44-45 para confirmar o seu
argumento.

O apóstolo extrai como base para o seu ensino aos cristãos uma exortação
proferida diretamente da boca de Deus a Moisés e a Arão, para que estes
instruíssem o povo de Israel a serem santos em toda a sua conduta moral
assim como Deus é santo (uma vez que a santidade é um dos temas que
permeia Levíticos, veja também 19.2; 20.7, 26; 21.8, 15; 22.9, 16, 32).18
Parafraseando, era como se Pedro dissesse: Deus é santo, logo, ele exige que
nós, também, sejamos santos, porque ele próprio corrobora em Levítico 11.44-
45 e 19.2 para que sejamos santos assim como ele é santo! A conjunção
porque διότι (dióti) remonta a expressão está escrito, a qual alega que o
imperativo à santidade foi extraído das Escrituras.

Aplicação prática

Não somos santificados pela obediência aos preceitos de Deus estabelecidos


nas Escrituras; obedecemos aos preceitos de Deus porque fomos santificados
[aspecto posicional dos cristãos] na união com Cristo Jesus pela regeneração.
Por outro lado, como pessoas que foram (Hb 10.10; 1Cor 6.9-11), são (Hb
2.11) e estão sendo santificadas pelo Espírito Santo (Hb 10.14), os cristãos,
todavia, são chamados a manifestar santidade [aspecto colaborativo na
santificação], isto é, o caráter do Deus santo em suas vidas “interiormente”
quando estão sozinhos e ninguém os vê, somente Deus, e “externamente” na
maneira de viver (ARC) com os outros pelos relacionamentos sociais (para
mais detalhes sobre a santificação, veja o meu comentário do versículo 2b).

William Barclay escreve:

O cristão é um homem de Deus por eleição de Deus. É eleito para uma tarefa
no mundo e para um destino na eternidade. É eleito para viver para Deus no
tempo e para viver com Deus na eternidade. No mundo tem que obedecer a lei
de Deus e reproduzir a vida de Deus. O cristão foi eleito por Deus, e, portanto,
em sua vida tem que haver algo da pureza de Deus e em sua ação tem que
manifestar-se algo do amor de Deus. O cristão recebeu a tarefa de ser
diferente.19

_________
Notas:
[14] A expressão “segundo é santo aquele que vos chamou”, traduzida
literalmente do grego κατά τόν καλέσαντα υμας άγιον – “assim como o santo
que vos chamou” é incompleta, embora esteja correta. Porém, quando
acrescentamos na tradução o verbo auxiliar (tempo presente do modo
indicativo) εστιν (estin) “é”, o sentido da expressão fica mais claro – “assim
como “é” santo aquele que vos chamou”. (Almeida Século 21) No entanto,
prefiro a tradução desse trecho da seguinte forma: “Conforme o exemplo do
Santo que vos chamou” (veja um exemplo similar em 2Pe 2.1).
[15] No grego, o substantivo αναστροφη (anastrophe), literalmente “conduta”,
traduzido pela a ARA por “procedimento”, e pela a ARC por “maneira de viver”,
enfatiza o estilo de vida moral que uma pessoa tem no seu relacionamento com
outras pessoas. Desse modo, prefiro a tradução literal do grego ou a tradução
da ARC.
[16] Hernandes Dias Lopes. 1 Pedro, pág 50.
[17] Fritz Rienecker e Cleon Rogers. Chave Linguística do Novo Testamento
Grego, pág 554-555
[18] a religião judaica promovida e distorcida pelos fariseus e líderes religiosos
ensinava que os homens poderiam alcançar a santificação pelos seus próprios
atos simplesmente se cumprissem os preceitos descritos na “lei”. Tais preceitos
de santidade tinham conotações legalistas porque eram baseados numa
interpretação equivocada das Escrituras (Mc 7.1-13; Hb 13.9). Contudo, tanto a
lei no Antigo Testamento quanto o evangelho enfatiza o contrário. Assim como
a salvação é e sempre foi pela graça mediante a fé, a santificação
(progressiva), por sua vez, também é desfrutada pela fé (At 26.18).
[19] William Barclay. 1 Pedro, pág 64-65.

2. Uma vida com reverência (1.17-21)

Depois de esboçar uma sequência de imperativos (exortações) sobre a


maneira que os cristãos devem viver, ou seja, em santidade (vs.13-16), Pedro,
agora, faz uma transição através do versículo 17 que introduz, assim, outra
sequência, porém, de afirmações indicativas (vs.18-21). O apóstolo constata
que a reverência deve nortear o relacionamento dos cristãos com Deus.
1.17 Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga
segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo da vossa
peregrinação.

Sendo assim, devemos prestar reverência a Deus por quatro razões:

a) Deus, além de Pai, é juiz. O mesmo Deus que nós, cristãos, chamamos de
Pai (vs.2-3), afirma Pedro, é, também, o nosso juiz. As palavras gregas Kαι ει,
traduzidas pela ARA por ora, se, expressam uma condição argumentativa. A
tradução literal do grego é e se. A condição desta frase num todo – Ora, se
invocais como Pai, denota uma prática na qual estamos acostumados a realizar
efetivamente, ou seja, recorrermos a Deus como Pai. Desse modo, podemos
retirar a palavra e, ficando apenas a palavra se. Parafraseando, era como se
Pedro dissesse: Como pessoas que solicitam a Deus Pai!

O substantivo Pai, no grego πατερα (pater), não tem artigo definido e localiza-
se antes do verbo invocar para enfatizar Deus como Pai espiritual dos cristãos,
sendo traduzido literalmente como – E se como Pai invocais.

Em contrapartida, não somente os crentes no Antigo Testamento chamavam


Deus de Pai (veja Sl 89.26; 103.13; Is 63.16; 64.8; Jr 3.19; Ml 1.6), mas
também Jesus (veja Mt 7.21; 10.32; 12.50; Mc 14.36; Jo 4.23; 6.37; 15.23;
16.32) e todos os cristãos, os quais foram ensinados por ele a “orar a Deus de
forma íntima com as palavras do Pai Nosso (Mt 6.9; Lc 11.2)”.20 Da mesma
forma, Paulo ensina em Romanos 8.15 e Gálatas 4.6 que, mediante o privilégio
da adoção, nós, como filhos e irmãos mais novos de Cristo clamamos a Deus
por (Aba) Pai.

Todavia, Pedro realça aos cristãos outra faceta peculiar de Deus. O apóstolo
descreve que, além de Pai, Deus também é um severo juiz. Por conseguinte,
três características do julgamento de Deus são destacadas aqui. Senão
vejamos:

i. O julgamento é imparcial. Deus é justo e, portanto, não faz acepção de


pessoas no seu julgamento. Ele não mostra favoritismo por ninguém, quer seja
rico ou pobre (Tg 2.1-9), patrão ou empregado (Ef 6. 5-9; Cl 3.22-25). Deus já
está julgando por meio de juízos parciais (Sl 58.11) e julgará no último dia por
meio de Cristo Jesus a todos com equidade (2.23; Sl 67.4; At 17.31).
ii. O julgamento é baseado em critérios. Além de Deus ser imparcial no seu
julgamento, não obstante ele é pautado nas obras de cada um. O padrão do
julgamento dos ímpios e dos cristãos está vinculado à responsabilidade
pessoal de cada um por suas atitudes.21 Entretanto, apesar dos cristãos não
serem julgados [como os ímpios] para a condenação por conta dos seus
pecados, haja vista que foram justificados pela fé mediante a obra redentora de
Cristo Jesus (2.24; Rm 5.1-2, 6-11), todavia, ainda assim, eles serão julgados,
porém, de acordo com o modo que procederem na vida, isto é, o que fizerem
de bom ou mal para o recebimento dos vários níveis de recompensa que
haverá no tribunal de Cristo (veja Gl 6.7-8; Rm 14.10-12; 1Cor 3.12-15; 2Cor
5.10). Uwe Holmer observa que Deus sem dúvida tem filhos, mas não favoritos.
Ele não é condescendente com o pecado nem mesmo em seus filhos, mas os
julga.22

iii. A responsabilidade dos cristãos perante o julgamento. Tendo em vista que o


julgamento de Deus é baseado nas obras de cada um, devemos, portanto,
conduzir nossas vidas em temor como peregrinos que somos nessa terra.
Temor não significa viver a vida com “medo de ser castigado pelo Deus que é
um implacável e austero juiz” (1Jo 4.18). Pedro, contudo, está dizendo que os
cristãos devem temer a Deus no sentido de “viver a vida com reverencia e
respeito para com o Deus que não é somente um terrível juiz, mas que também
é um Pai amoroso e misericordioso.” Temer a Deus é simplesmente viver a
vida de maneira submissa aos preceitos santos de Deus estabelecidos nas
Escrituras (veja, como exemplo, 1Ts 4.3-8). William Barclay corrobora que
temor (reverência) é a atitude mental de quem sempre está consciente de
achar-se na presença de Deus. É a atitude de quem fala cada palavra, cumpre
cada ação e vive cada momento consciente de Deus.23

No grego, a palavra peregrinação παροικιας (paroikia) significa, basicamente –


“permanecer em um lugar temporariamente”. Traz a ideia de “estar fora de
casa”,24 indicando aqueles que vivem num lugar do qual não são cidadãos,
realçando a condição de peregrinos dos cristãos neste mundo.25 Peregrinação
também descreve a condição social precária que os cristãos [historicamente,
os destinatários de Pedro] se encontravam como “peregrinos ou estrangeiros”
que residiam fora de suas cidades naturais (vs.1b). Estes cristãos do passado,
além de terem sido discriminados pela fé que professavam em Cristo Jesus
foram, também, desprovidos pela sociedade ímpia dos plenos direitos de
cidadão que possuíam.

Aplicação prática
O cristão é um peregrino neste mundo. Vive à sombra da eternidade. A todo o
tempo pensa não só em onde está, mas também para onde vai. Seus juízos
são formulados não só à luz do momento, mas também à luz da eternidade.26
Simon Kistemaker diz que o cristão é um peregrino que procura agradar a
Deus em sua conduta diária, que tem profunda reverência por Deus e sua
Palavra e que sabe que foi comprado pelo preço do sangue de Jesus (vs.18-
19).27 John MacArthur, por sua vez, salienta que o cristão que conhece a Deus
e sabe que ele julga com justiça as obras de todos os seus filhos, respeitará a
Deus e a avaliação que ele faz de sua vida, e desejará honrar o seu Pai
celestial.28

Não obstante, nos quatro versículos subsequentes (vs.18-21), Pedro apresenta


uma breve síntese de três doutrinas centrais da fé cristã. O apóstolo vai
discorrer um pouco sobre a redenção, revelação e ressurreição de Jesus
Cristo, as quais são a base de uma vida reverente. Este trecho que se inicia
corrobora os imperativos (exortações) precedentes descritos nos (vs.13-17).

b) Jesus Cristo executou a nossa redenção.

1.18 ... sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro,
que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos
legaram, 19 mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem
mácula, o sangue de Cristo.

Tendo em mente que Deus é tanto Pai como um justo juiz que julga
imparcialmente a todos conforme as obras de cada um, e que os cristãos
devem temer [reverenciar e respeitar] a Deus por isso (vs.17), Pedro, todavia,
lembra não somente os seus leitores históricos, mas os cristãos em geral que
eles e nós éramos escravos no passado antes de sermos libertos pelo sangue
de Jesus Cristo, o qual remonta ao sacrifício redentor. Nos versículos 18-19, o
apóstolo elucida o aspecto negativo e positivo do resgate efetuado por Cristo
Jesus. Vejamos então:

i. A condição dos resgatados antes do resgate. A expressão sabendo que


aponta para uma lembrança na qual é trazida à tona. Denota o que Pedro irá
dizer já é conhecido dos seus leitores históricos, porém é necessário e
relevante enfatizar novamente. O apóstolo faz questão de lembrar os seus
leitores a salvação que obtiveram e que tanto os alegravam (vs.8), afirmando
que Deus, por meio de Jesus Cristo, os resgatou por um alto preço da
escravidão do pecado, da lei e da morte eterna (veja Ef 2.1-10; Gl 4.4-5; Rm
6.23).
Pedro descreve o lado negativo do resgate utilizando como exemplo dois
metais – a prata e o ouro que, embora sejam preciosos, todavia, são
perecíveis, isto é, desgastam-se e corrompem-se com o tempo, ainda que em
menor grau em relação a outros metais. “Primeiro ele especifica a prata. Mas
esta, quando exposta a qualquer tipo de componente sulfuroso do ar, escurece,
é corroída e perde seu valor. Em seguida, Pedro cita o ouro, que é mais
durável do que a prata. Até mesmo esse, que é o mais precioso dos metais,
está sujeito à deterioração”.29 Desse modo, negativamente, a prata e o ouro
não podem pagar o resgate espiritual dos pecadores eleitos.

A palavra resgatados possui um amplo significado no Novo Testamento.


Derivada do verbo “resgatar ou redimir” λυτρόω (lytroo),30 esta palavra salienta
o “resgate” λύτρον (lytron),31 que é a compra de uma pessoa [escrava]
mediante o pagamento de “resgate” que, no mundo antigo era feita com prata
ou ouro para livrá-la da escravidão.

Ênio Mueller acrescenta que, no mundo helênico, a ideia de resgatar uma


pessoa era muito usada em referência à alforria de escravos, havendo todo um
processo institucional de resgate sacramental, pelo qual o escravo podia
adquirir sua liberdade. Na septuaginta, que é o Antigo Testamento em grego, o
verbo [resgatar] e seus derivados “tinham estreita associação com a ideia de
libertar escravos e resgatar pessoas ou coisas”, sendo usados, assim, como os
termos mais apropria dos para descrever a libertação da escravidão, daqueles
que tinham sido conquistados pelo Egito e depois pela Babilônia, e a
recuperação por Deus, para ser Sua propriedade legal, do [que assim ficou
designado] “povo da Sua possessão”.32 O verbo “resgatar”, portanto, enfatiza
a redenção dos pecadores eleitos planejada por Deus Pai, executada por
Jesus Cristo e aplicada pelo Espírito Santo.

Gálatas 3.13 – Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio
maldição em nosso lugar... (ARA)

Tito 2.14 – O qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda
iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de
boas obras. (ARA)

Em seguida, Pedro afirma que os cristãos foram resgatados da maneira fútil de


viver recebida por tradição dos pais. (Almeida Século 21) A expressão fútil
procedimento ressalta o estilo de vida frívolo, sem sentido e desprovido de
propósito que outrora eles viviam antes da conversão (vs.14) que haviam
recebido por tradição dos pais. A palavra grega traduzida por vossos pais vos
legaram πατροπαραδότος (patroparadotos), pode ser e é melhor traduzida por
“herança recebida dos pais”. Implica “numa tradição que os filhos receberam
dos pais”, que foi a maneira vazia de viver. (NVI)

Pedro não menciona quem são as pessoas que viveram baseadas na tradição
recebida dos pais no passado, contudo, existem três interpretações acerca da
possível identidade delas.

A primeira interpretação sugere que Pedro está dizendo que foram os cristãos
judeus que viveram pela tradição dos líderes religiosos e não de acordo com as
Escrituras (veja Mc 7.5-13). A segunda interpretação, por sua vez, alega que o
apóstolo está se referindo a geração anterior dos seus leitores gentios, uma
vez que Paulo também menciona sobre a vida fútil que eles viveram antes de
serem resgatados por Cristo Jesus do pecado, da lei e da morte eterna (veja
Rm 1.21; Ef 4.17; Gl 4.4-5). Finalmente, a terceira interpretação afirma que
Pedro está falando da geração anterior tanto dos cristãos judeus quanto dos
cristãos gentios. Em minha opinião, seria melhor adotarmos a segunda
interpretação, entendendo que o apóstolo está aludindo à geração passada dos
cristãos gentios que haviam recebido deles como tradição a idolatria, dentre
outras coisas (vs.14; 4.3).33 Albert Barnes sublinha que Pedro, aqui, refere-se
à forma que eles [os gentios] tinham de adoração aos ídolos, e todas as
abominações conectadas com este serviço, como sendo vã e inútil.34

ii. O preço do resgate. Pedro, agora, destaca o lado positivo do resgate. Uma
vez que a prata e o ouro são objetos de valor monetário no mundo, porém
voláteis, não puderam pagar pelo resgate dos pecadores eleitos. Contudo, foi
somente o precioso sangue de Jesus Cristo que sobrepuja em valor a prata e o
ouro que pôde pagá-lo.

Salmo 49.6-8 – ... dos que confiam nos seus bens e na sua muita riqueza se
gloriam? Ao irmão, verdadeiramente, ninguém o pode remir nem pagar por ele
a Deus o seu resgate (Pois a redenção da alma deles é caríssima, e cessará a
tentativa para sempre.). (ARA)

A expressão precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula –


além de resumir a morte de Jesus Cristo na cruz como preço de resgate (Mc
10.45), tem como pano de fundo o êxodo do povo de Israel do Egito e o
sistema de lei sacrificial do Antigo Testamento, que é o que Pedro, aqui,
deveria ter em mente. O apóstolo evoca a libertação do povo de Israel do
cativeiro do Egito. Naquela fatídica e memorável noite, quando o povo de Israel
estava para ser liberto da escravidão do Egito, Deus ordenou para que todas
as famílias providenciassem um cordeiro, o sacrificassem e o comessem com
ervas amargas. Depois, o sangue do animal morto deveria ser aspergido nos
batentes e nas vigas das portas de cada casa como um sinal para que, quando
o anjo fosse executar o juízo de morte sobre todo o Egito, matando todos os
seus primogênitos, e visse nas vigas e nas portas das casas do povo de Israel
o sangue aspergido não executasse o juízo sobre eles (Êx 12.1-13; para mais
detalhes, veja também os versículos 29-51). Após o êxodo do povo de Israel
do Egito, tal evento [isto é, a páscoa] deveria ser lembrado e celebrado pelos
judeus para sempre, uma vez por ano como gratidão a Deus por tudo o que ele
havia feito pelo seu povo no passado (Êx 12.14). A páscoa dos judeus era
celebrada no mês de Nisã, entre março/abril.

Por conseguinte, para que os pecados de um judeu fossem expiados, era


necessário o sacrifício de um animal que não houvesse defeito algum (Lv 4-5;
22.17-25). Com referência a páscoa (Êx 12.5) e ao dia da expiação (Lv 16), o
cordeiro era o animal comumente sacrificado para tais rituais, o qual também
deveria ser perfeito como os outros tipos de animais que eram sacrificados
para os outros tipos de pecado, tais como – o novilho [que é um boi novo], o
bode, a cabra e o carneiro (veja Lv 4-6).

Os termos gregos sem defeito αμώμον (amomom) e sem mácula ασπίλου


(aspilou) são virtualmente sinônimos, os quais, unidos, enfatizam que somente
Cristo Jesus, o antítipo do cordeiro perfeito podia ser aceito para o sacrifício
vicário e definitivo, e com o seu sangue vertido na cruz pagar pelo resgate dos
pecadores eleitos (Hb 9.11-15; Jo 1.29; 1Jo 2.2; Ap 5.9). Uwe Holmer atesta
que o Cordeiro de Deus não podia ter nem uma mancha sequer, nenhum
pecado, ao pretender colocar-se no lugar das pessoas, sacrificar-se por elas e
redimi-las. Unicamente Jesus atende a essa condição. Unicamente ele podia
redimir a humanidade, o único puro e sem pecados. Ele entregou por nós seu
precioso sangue. Fez tudo isso para nos resgatar para a nova vida.35

Aplicação prática

A prata e o ouro são objetos de valor transitório que, embora tenham utilidade e
valor no comércio, não têm, contudo, utilidade e valor para o resgate espiritual.
Por mais que tenham valor neste mundo, a prata e o ouro [dinheiro] não tem
poder de libertar alguém da escravidão do pecado e da morte eterna. Nessa
linha de pensamento, Matthew Henry assegura que as riquezas são, por muitas
vezes, armadilhas, tentações e empecilhos para a salvação do homem.36
Somente o precioso sangue do sacrifício de Jesus Cristo pôde pagar pela
nossa libertação da escravidão do pecado, da lei, da morte eterna, da
religiosidade morta e do antigo estilo de vida falso, vazio, sem propósito e
norteado pelo pecado que recebemos como tradição de nossos antepassados
para uma nova vida. Este sangue “conseguiu o que a prata e o ouro não podia
fazer. O universo não tinha nada mais valioso para oferecer, de que podemos
conceber, senão o sangue do Filho de Deus”.37

____________
Notas:
20 Simon Kistemaker. Epístolas de Pedro e Judas, pág 89.
21 Este fato é comumente abordado tanto no Antigo quanto no Novo
Testamento, especialmente nas cartas de Paulo (veja 1Cr 16.33; Sl 50.6; 7.8;
9.8; 96.13; Ec 3.17; Ez 18.30; Rm 2.6; 2Cor 11.13-15; 2Tm 4.14; Ap 2.23;
20.12-13; 22.12).
22 Uwe Holmer. Comentário Esperança. 1 Pedro, pág 23.
23 William Barclay. 1 Pedro, pág 65.
24 Ênio Mueller. 1 Pedro – Introdução e Comentário, pág 106.
25 Bíblia de Estudo Genebra. Notas de Rodapé, pág 1681.
26 William Barclay. 1 Pedro, pág 65.
27 Simon Kistemaker. Epístolas de Pedro e Judas, pág 90.
28 Bíblia de Estudo MacArthur. Notas de Rodapé, pág 1730.
29 Simon Kistemaker. Epístolas de Pedro e Judas, pág 91.
30 O substantivo “redenção” λύτρωσις (lytorsis) aparece em Lucas 2.38 e
Hebreus 9.12. O termo básico “resgate” λύτρον (lytron) aparece em Mateus
20.28 e Marcus 10.45.
31 O verbo resgatar ou redimir λυτρόω (lytroo) é usado por Lucas no seu
evangelho 24.21 e por Paulo em Tito 2.14.
32 Ênio Mueller. 1 Pedro – Introdução e Comentário, pág 108.
33 Havia também tradições judaicas forâneas às Escrituras que os cristãos
judeus receberam dos seus antepassados (veja Mc 7.7-11; Fp 3.3-7).
34 Albert Barnes. Comentário Expositivo online de 1 Pedro, disponível em:
http://www.sacred-texts.com/bib/cmt/barnes/pe1.htm. Acessado em
05/12/2013.
35 Uwe Holmer. Comentário Esperança. 1 Pedro, pág 24.
36 Matthew Henry. Comentário Bíblico do Novo Testamento – Atos a
Apocalipse, pág 864.
37Albert Barnes. Comentário Expositivo online de 1 Pedro, disponível em:
http://www.sacred-texts.com/bib/cmt/barnes/pe1.htm. Acessado em
11/12/2013.

c) A revelação do plano de resgate.

1.20 ... conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém


manifestado no fim dos tempos, por amor de vós.

Vimos anteriormente sobre a primeira doutrina central da fé cristã, ou seja – “a


redenção dos pecadores eleitos”. Pedro, contudo, encetou, dizendo que os
cristãos não foram resgatados pela prata ou pelo o ouro do estilo de vida fútil
que viveram recebidos como tradição de seus antepassados, mas pelo sangue
precioso de Jesus Cristo derramado na cruz em sacrifício por eles (vs.18-19).
Prosseguindo, o apóstolo enfatiza a segunda doutrina central da fé cristã, a
saber – a revelação do plano da redenção que aconteceu na eternidade, antes
da criação dos céus e da terra e que foi executada na história com a
encarnação de Jesus Cristo na sua primeira vinda. Em vista disso, acerca do
plano da redenção, três aspectos estão patentes aqui. Senão vejamos:

i. O resgate foi planejado na eternidade. A última palavra do versículo 19 –


Cristo – está ligada ao trecho seguinte composto pelos versículos 20-21 na
qual o complementa e o esclarece. Assim, Pedro está dando continuidade ao
assunto que ele começou a tratar no versículo 17 sobre o motivo de vivermos a
vida cristã em reverência a Deus.

A expressão conhecido, com efeito, traduzida literalmente do grego


προεγνωσμένου (proegnosmenou) – “conhecido previamente [ou de antemão]”,
equivale não somente a presciência de Deus, que é a sua capacidade em
conhecer um evento antes que ele aconteça na história,38 mas abrange algo
bem maior. Todavia, o contexto revela que o propósito de Deus Pai está
relacionado primariamente à eleição que, em seguida, resulta na presciência
ou no conhecimento antecipado da mesma (vs.2; Ef 1.4). Desse modo, o
significado da expressão em voga implica que Cristo Jesus foi “predestinado”
na eternidade para ser o redentor dos pecadores eleitos.

Não obstante, a expressão antes da fundação do mundo se refere ao período


anterior à criação dos céus e da terra. “É uma maneira poética de falar da
criação, ressaltando o aspecto da ação criadora (ordenada e pensada) de
Deus”.39 Logo, Jesus não assumiu o papel de redentor após o mundo ter sido
criado sendo o plano B de Deus Pai para o “acidente” do pecado; antes, ele foi
“escolhido” já na eternidade para esta magna função (veja Ap 13.8; At 4.27-28;
2Tm 1.9).

De modo oportuno, William Barclay observa que:

Às vezes temos a tendência de pensar em primeiro Deus como Criador e


depois como Redentor. Pensamos que Deus criou o mundo e, depois, quando
as coisas saíram mal, buscou algum modo de resgatar o mundo mediante
Jesus Cristo. Mas aqui temos a majestosa visão de um Deus que foi Redentor
antes de ser Criador. O poder e o propósito redentores de Deus, o amor
redentor de Deus não são medidas de emergência às quais Ele se viu
compelido quando as coisas foram mal. O divino propósito redentor se remonta
a tempos anteriores à criação. Deus é Redentor tão eternamente como é
Criador. Seu amor, assim como o seu poder, vai além do tempo.40

ii. O resgate foi executado na história com a vinda do redentor. O Cristo


predestinado e que já existia antes da criação foi revelado, agora, no tempo
estabelecido por Deus Pai na história para cumprir o seu propósito de resgatar
homens e mulheres que procedem de todo o mundo (Ap 5.9). No grego, o
verbo manifestado é um particípio passivo aoristo que expressa de modo
implícito Deus Pai como aquele que revelou Jesus ao mundo como redentor,
mas, especificamente aponta para o seu nascimento (para detalhes sobre o
nascimento de Jesus, veja Mt 1.18-25; Lc 2.1-7).

João 1.14 – E o verbo se fez carne e habitou entre nós... (Almeida Século 21)

Com a expressão fim dos tempos, Pedro não se refere apenas ao período da
vida de Jesus Cristo quando esteve neste mundo, entretanto abarca todo o
período desde o seu nascimento até a sua segunda vinda em glória (veja At
2.17; 1Tm 4.1-2; 2Tm 3.1; Hb 1.2). Enquanto que no versículo 5 o apóstolo
escreve sobre a conclusão da salvação que se dará no futuro, aqui, a
revelação de Cristo Jesus como o redentor dos pecado res eleitos é um fato
passado. A expressão fim dos tempos, portanto, constitui a totalidade do tempo
do fim inaugurado pela aparição do Senhor Jesus, uma vez que Pedro entendia
e realçou que estamos vivendo neste período correspondente da história (veja
também Rm 16.25-26; 2Tm 1.9-10).
iii. O motivo do resgate. Pedro escreve aos seus destinatários históricos que a
escolha de Jesus Cristo como redentor desde a eternidade e a sua
manifestação no tempo consiste no amor incondicional de Deus Pai por eles
(Jo 3.16). Todos os cristãos – judeus e gentios são privilegiados pelo fato de
Cristo tê-los resgatado sem que merecessem tal libertação do pecado, da lei e
da morte eterna.

Romanos 5.8 – Mas Deus prova o seu amor para conosco ao ter Cristo morrido
por nós quando ainda éramos pecadores. (Almeida Século 21)

d) A ressurreição do redentor. Após elencar que Cristo Jesus foi predestinado


por Deus Pai na eternidade para ser o redentor dos pecadores eleitos, e que o
plano de resgate já havia sido traçado também na eternidade (vs.20), antes da
criação e do pecado, finalmente, Pedro encerra esta síntese deveras
importante acerca das principais doutrinas da fé cristã discorrendo sobre a
ressurreição do Senhor Jesus.41

1.21 ... que, por meio dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os
mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus.

i. Os cristãos têm fé em Deus mediante a ressurreição de Cristo Jesus dos


mortos. O pronome vós, que conclui o versículo 20, é explicado aqui. São
aqueles que, através de Jesus Cristo (vs.19) tem fé em Deus e são guardados
pelo seu poder para a conclusão da salvação que se dará no último dia (vs.5).
Estes, contudo, são os leitores históricos de Pedro e os cristãos em geral. É
somente pelo Deus filho encarnado que pagou o nosso resgate com o seu
precioso sangue derramado na cruz em sacrifício pelos nossos pecados,
ressuscitou dos mortos (At 2.24, 32, 3.15; 13.30-31, 33, 34, 37; Rm 4.24; 10.9;
2Cor 4.14; 1Cor 15.3-8, 20-23; Hb 13.20) e foi glorificado42 é que temos a fé
salvadora e conhecemos a Deus Pai (Jo 1.18; 14.6).

ii. A fé e a esperança dos cristãos devem estar no Deus que também os


ressuscitará e os glorificará. Assim como Deus Pai mediante o Espírito Santo
ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos43 e lhe devolveu a glória que ele
tinha outrora antes da criação do mundo pela sua ascenção (Lc 24.51-53; Jo
17.4-5; At 1.9-11; Hb 1.1-3; 2.9), os cristãos, por meio dele, além de
ressuscitarem dos mortos também receberão glória e honra similares. Nessa
mesma linha de pensamento, Uwe Holmer corrobora que a ressurreição de
Jesus constitui a razão para que os que lhe pertencem também sejam
ressuscitados, assim a glorificação de Jesus é a razão para que os seus
também recebam glória.44 A expressão – de sorte que a vossa fé e esperança
estejam em Deus seria melhor traduzida como – “de modo que a vossa fé e
esperança possam estar (fixadas) em Deus”.45

Aplicação prática

Tendo em vista a perseguição que os seus primeiros destinatários estavam


sofrendo como peregrinos que eram nas regiões do Ponto, Galácia, Capadócia,
Ásia e Bitínia (1.1c), Pedro os encoraja, dizendo que a fé e a esperança deles
deviam estar centradas em Deus porque a ressurreição e a glorificação de
Cristo Jesus é a garantia da ressurreição e glorificação deles e de todos os
cristãos! Simon Kistemaker acentua que a glória que Jesus tem agora será a
nossa glória no momento da ressurreição. Esta é a esperança que sustenta a
nossa fé no Deus triúno.46

_________
Notas:

38 A presciência de Deus é mais que um simples conhecimento prévio de


eventos futuros; antes, envolve os seus decretos soberanos que foram
estabelecidos na história para que todos os eventos aconteçam nos momentos
determinados.
39 Ênio Mueller. 1 Pedro – Introdução e Comentário, pág 111.
40 William barclay. 1 Pedro, pág 61.
41 É provável que Pedro, aqui, tenha feito alusão de um hino ou confissão
doutrinária acerca das “quatro fases do Cristo redentor”, as quais são: 1) A pré
-existência de Cristo antes da criação. 2) A encarnação de Cristo no tempo. 3)
A ressurreição e glorificação de Cristo dos mortos. 4) A ascenção de Cristo aos
céus.
42 A palavra glória, no grego δόξαν (doksa), aparece treze vezes nesta
primeira carta de Pedro (vs.7, 8, 11, 21, 24; 2.20; 4.11, 13-14; 5.1, 4, 10-11) e
traz a ideia de “honra e majestade”.
43 As três pessoas da Trindade estavam ativas no processo da ressurreição de
Cristo Jesus – Deus Pai (At 2.24; 3.15; 4.10; 4.10; 5.30; 10.40; 13.30, 33, 34;
17.31), o próprio Cristo (Jo 2.19-22; 10.17-18) e o Espírito Santo (Rm 8.11).
44 Uwe Holmer. Comentário Esperança. 1 Pedro, pág 25.
45 O termo ώστε “que” é uma conjunção que introduz a frase e resulta na
expressão “de modo que”. O artigo definido “a” geri os dois substantivos “fé”
πίστιν (pistis) e “esperança” έλπίς (elpis). Apesar da tradução da ARA neste
trecho ser incerta, haja vista que o sentido aqui está mais inclinado para uma
afirmação indicativa, todavia, existe a possibilidade de entendê-lo também
como um imperativo (exortação). Em virtude de algumas possibilidades de
tradução para este trecho, prefiro interpretar “fé” πίστιν (pistis) e “esperança”
έλπίς (elpis) como sujeito, de modo que “a fé e a esperança dos cristãos
estejam (direcionadas) a Deus”.
46 Simon Kistemaker. Epístolas de Pedro e Judas, pág 95.

3. Uma vida em amor (1.22-25)

Se os cristãos devem viver em santidade (vs.13-16) e em reverência (vs.17-


21), finalmente, eles também devem viver em amor (vs.22-25). Pedro deseja
que os seus leitores históricos e os cristãos em geral demonstrem uma
característica que é imprescindível nos salvos em Cristo Jesus – a saber – o
amor pelo seu próximo (vs.22-25). Assim como as duas seções anteriores, esta
terceira seção que também faz parte do trecho maior (1.13-2.10) é alternada
por imperativos (exortações) e afirmações indicativas, onde o apóstolo tece os
imperativos e, em seguida, fundamenta-os. Enquanto que no versículo 22
Pedro exorta, nos versículos 23-25 ele explica o porquê da exortação.

1.22 Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade, tendo
em vista o amor fraternal não fingindo, amai-vos, de coração, uns aos outros
ardentemente.

Vejamos então os quatro motivos para os cristãos amarem uns aos outros:

a) Os cristãos devem amar uns aos outros porque foram purificados. A


expressão tendo purificado a vossa alma faz referência a um fato ocorrido no
passado cujo valor tem importância e continuidade no presente; ou seja, Pedro
ressalta que os seus primeiros destinatários haviam se purificado. No grego, o
verbo “purificar” άγνίζω (hagnidzo) é um particípio ativo perfeito que denota
uma ação completada no passado cujo efeito continua no presente.
Juntamente com os seus derivados, este verbo tinha, originalmente, no Antigo
Testamento, um sentido cerimonial que envolvia rituais de purificação para as
festas sagradas mediante as “visitas ao templo, pelo oferecimento de orações,
pela abstenção de certos tipos de alimentos, pela lavagem das roupas e por
banhos físicos”.47

Todavia, esta purificação descrita aqui por Pedro não significa ter o corpo
lavado ou “purificar-se através das implicações cerimônias” que descrevemos
anteriormente, tal como – purificar-se para a festa da páscoa (Jo 11.55) e, no
caso de Paulo, para a cerimônia de conclusão dos votos de nazireu feitos por
ele e por quatro homens sobre a sua responsabilidade, quando retornou para
Jerusalém após estar fora já algum tempo evangelizando as cidades gentílicas
(veja At 21.26). Porém, o sentido cerimonial que a “purificação” tinha no Antigo
Testamento primariamente foi substituído no Novo Testamento por um aspecto
de conotação moral (veja Tg 4.8; 1Jo 3.3).

O termo alma corrobora esta substituição como sendo o lugar que acontece a
purificação, isto é, na parte imaterial do homem chamada de “espírito”, que,
posteriormente desemboca na purificação completa do homem como uma
unidade [alma e corpo] (para mais detalhes sobre alma, veja o meu comentário
no vs.8). Desse modo, Pedro escreve que os seus leitores se purificaram
moralmente do velho estilo de vida campeado pelo pecado que outrora viveram
(vs.14). No entanto, como esta purificação moral é obtida? Senão vejamos a
resposta:

i. O modo da purificação moral. A obediência à verdade é que purifica os


cristãos (Jo 17.17). A expressão obediência à verdade, traduzida literalmente
do grego ύπακοη της άληθείας – “pela obediência da verdade”, é um genitivo
objetivo que se refere à obediência ao evangelho que os cristãos o recebem
pela fé através de sua exposição. Pedro, aqui, tange que, ao aderirem à
verdade da Palavra de Deus ou do evangelho, reconhecendo o estado e a
ignorância em que se encontravam antes do conhecimento dele (vs.14), tendo
se arrependido e aceitado pela fé o resgate proporcionado pelo sacrifício
vicário do Senhor Jesus Cristo passando a obedecer as suas implicações, é
que os seus destinatários históricos foram e todos os cristãos são purificados.
Essa obediência, contudo, só é possível através do novo nascimento (vs.2).

Em vista disso, qual o propósito da nova vida que os cristãos possuem em


Cristo Jesus? Pedro responde a seguir.

ii. Para que demonstrem amor fraternal pelos outros. Os cristãos foram
purificados obedecendo à verdade mediante o novo nascimento para que
expressem o amor pelo próximo. A palavra grega traduzida por amor fraternal é
φιλαδελφίαν (philadelpheia), a qual reluz o “amor entre os irmãos”; “o amor dos
cristãos uns pelos outros”. O amor é um dos pilares do fruto do Espírito (Gl
5.22). Ao passo que vai sendo transformado paulatinamente segundo a
imagem de Jesus Cristo (Rm 8.29; 1Cor 15.49; Cl 3.10; 1Jo 3.2), o exemplo
singular de amor (1Jo 3.16), o cristão se torna menos indiferente e mais
propenso a amar o seu próximo. Quando obedecemos aos preceitos
estabelecidos nas Escrituras, amamos a Deus e uns aos outros com
sinceridade (Mt 22.37-39). Amamos Jesus quando amamos os nossos irmãos
(Mt 25.35-40; 1Jo 3.18; 4.11, 20-21). O amor é o apanágio do cristão!

Uma vez que o amor fraternal é um mandamento divino (Jo 13.34-35), Pedro,
agora, esboça o lado prático, dizendo o que este amor “não deve ser”
(imperativo negativo) e, em seguida, o que este amor “deve ser” (imperativo
positivo).

1. O amor fraternal pelos outros não deve ser fingido. Pedro admoesta os seus
primeiros leitores e os cristãos em geral para que o amor deles pelos irmãos
não seja falso e superficial. O termo não fingido,48 no grego, é άνυπόκριτος
(anypokritos). A partícula negativa α “não”, e o adjetivo ύποκριτής (hupokrites)
– “hipócrita”, origina-se do verbo υποκρίνομαι (hupokrinomai) – “simular ou
fingir”, e traz a ideia de “atuar no palco; um ator que interpreta um
personagem”. Significa “alguém que é falso e que não é aquilo que aparenta
ser externamente para os outros”. Um hipócrita, portanto, assevera Champlin,
“é um tipo de ator que desempenha um papel, mas não tem sinceridade quanto
àquilo que faz e diz”.49

Além disso, Uwe Holmer tenciona que:

O adjetivo não fingido (Rm 12.9; 2Co 6.6) aponta para o risco que o amor
fraternal corre. Quando falta amor aos irmãos podemos nos esquivar para
dentro de formas cristãs de relacionamento que têm aparência de amor, mas a
vida se transforma em devota auto ilusão. Trato amigável, cortesia solícita –
assim, muitas vezes, o amor é apenas simulado na igreja. Então será amor
hipócrita. Hipocrisia, porém, é tão perigosa porque encobre a ausência de amor
fraternal e envenena nosso relacionamento com Deus e com o irmão. Quantas
igrejas estão paralisadas pela falta de amor não fingido! Com quanta gravidade
Jesus advertiu contra o fingimento religioso (Mt 6.5,16; 7.5; Lc 12.1)!50

2. O amor fraternal pelos outros deve ser de coração.51 A expressão amar de


coração é um advérbio que classifica a seriedade do mandamento de amar, e
implica que os cristãos devem amar uns aos outros profundamente. É bem
provável que Pedro, aqui, tivesse em mente a possibilidade de que os seus
destinatários históricos pudessem não amar verdadeiramente uns aos outros,
demonstrando, apenas, uma mera “simpatia superficial” em seus
relacionamentos. Assim, o apóstolo reitera o mandamento de amar uns aos
outros (2.17; 3.8; 4.8) outorgado primeiramente por Jesus na sua última noite
antes de ir para a cruz (Jo 13.34) e, posteriormente ratificado também por
Paulo (Rm 12.10; 1Ts 3.12; 4.9; 2Ts 1.3) e por João (1Jo 3.23). O amor pelos
irmãos deve emanar do interior de cada um de nós. “Quando o amor aos
irmãos flui do coração ele descontrai o relacionamento e liberta”.52 O amor de
coração dissipa qualquer eventual tensão que possa haver entre os irmãos
porque ele sobrepuja sobre as diferenças, o ódio e a inimizade.

3. O amor fraternal pelos outros deve ser intenso. Os cristãos não devem amar
uns aos outros de coração, apenas, mas, também de maneira ardente. No
grego, a palavra ardentemente53 εκτενως (ektenos) denota um “fervor
constante”. Este termo é derivado do verbo τείνω (teino), que traz a ideia de
“esticar para fora”; enfatiza um “sentimento intenso” (veja a similaridade em
4.8). Este é o segundo advérbio pintado por Pedro que classifica, dessa vez, a
extensão do mandamento de amar, porquanto amar ardentemente significa
“amar sem limites”. Somente aquele que nasceu do Espírito tem a capacidade
de manifestar este amor pelos irmãos na fé, especialmente nos momentos de
necessidade.

Aplicação prática

Amar da maneira que a Escritura demanda não é tão fácil em virtude do


pecado que habita em nossa carne ainda não redimida. Contudo, que
estejamos sempre orando ao nosso Deus em nome do Senhor Jesus Cristo
pedindo que o nosso amor pelos irmãos, que ainda é ínfimo e falho, possa
crescer a cada dia pelo nosso progresso na santificação. Mas chegará o dia,
quando estivermos glorificados na eternidade na terra restaurada, que o nosso
amor pelos irmãos será profundo, intenso e livre de todo o pecado que o
macula.

b) Os cristãos devem amar uns aos outros porque foram regenerados.

1.23 ... pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de


incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente.

Tendo exortado os seus primeiros destinatários acerca do dever de amar uns


aos outros com sinceridade de coração e intensamente, pois eles foram
purificados pela verdade do evangelho, Pedro, todavia, continua explanando o
assunto. Vemos aqui o motivo do imperativo (exortação) precedente descrito
no versículo 22. Sendo assim, dois pontos assaz importantes estão em voga no
texto. Senão vejamos:
i. O processo da regeneração. Pedro endossa que os cristãos devem e podem
amar uns aos outros porque foram regenerados (vs.22-23). A expressão grega
pois fostes regenerados αναγεγεννημένοι (anagegennimenoi), literalmente –
“tendo sido regenerados”, denota, na forma ativa, que os cristãos “foram
gerados novamente”, e na forma passiva quer dizer que eles “nasceram de
novo” (para mais detalhes sobre a regeneração, veja o meu comentário do
vs.3). Bob Utley diz que esta é uma metáfora familiar usada para descrever os
cristãos como novos membros da família de Deus através de sua fé em Cristo
(veja Jo 1.12-13; 3.3).54 Embora o novo nascimento tenha ocorrido no
passado, sendo um fato consumado, todavia, o seu efeito continua em vigor na
vida do cristão. Em seguida, Pedro descreve a regeneração em dois aspectos
– negativo [não] e positivo [mas].

1. A regeneração não é efetuada pelo homem. Pedro afirma que os seus


leitores históricos e todos os cristãos não foram regenerados por semente
corruptível. No grego, o termo semente σπορας (spora) é “semeadura”; é uma
metáfora que salienta a descendência humana, a qual remonta ao processo de
semear, e se refere a “semente que foi semeada”. O adjetivo corruptível
expressa algo meramente terreno e efêmero, e destaca a semente humana
que produz a vida humana. Em outras palavras, Pedro está dizendo que, no
processo de regeneração, os cristãos são passivos, isto é, Deus,
soberanamente, é quem age gerando-os para uma nova vida completamente
diferente da vida anterior (vs.14).

2. A regeneração é efetuada exclusivamente por Deus. Se o novo nascimento


não é realizado por meios humanos, contudo, ele é uma obra exclusiva de
Deus. Pedro declara que os cristãos não foram gerados novamente de uma
semente humana que produz vida humana, mas de uma semente incorruptível,
ou seja, uma semente divina que produz vida eterna. Esta semente é a
“natureza” de Deus que habita no espírito de seus filhos que resulta em um
novo estilo de vida em santidade é imperecível, pois está vinculada ao Deus
que é eterno (1Jo 3.9). “Deus nos deu uma nova vida espiritual. Sem essa vida,
não podemos entrar no reino de Deus (Jo 3.3, 5). Demonstramos que temos
essa nova vida pela fé no Filho de Deus, Jesus Cristo (Jo 3.36; 1Jo 5.11)”.55

ii. O modo da regeneração. Visto que os cristãos foram e são gerados de novo
pela semente divina, Pedro, não obstante, continua sua argumentação dizendo
que a maneira pela qual Deus realiza o milagre do novo nascimento é por
intermédio da sua palavra, que é viva e permanente. A palavra grega ζωντος
(zontos), literalmente “viva”, traduzida pela ARA por vive, e a palavra
permanente μένοντος (memontos), são dois particípios que funcionam como
adjetivos para aludir o poder ativo, vigoroso e duradouro das Escrituras na
execução da regeneração (Tg 1.18). Dessa forma, Pedro associa a semente
imperecível à Palavra de Deus. Quando explicou a parábola do semeador aos
discípulos, uma vez que eles não haviam compreendido o seu significado,
Jesus disse que a semente que o semeador semeou é a Palavra de Deus (Lc
8.9-11).

Aplicação prática

Matthew Henry escreve:

A Palavra de Deus é o grande meio de regeneração. A graça da regeneração é


transmitida pelo Evangelho. [...] A comparação da Palavra de Deus com uma
semente nos ensina que embora ela seja pequena em aparência, ainda assim
é maravilhosa na operação; embora esteja escondida por um tempo, ainda
assim cresce e produz furto excelente no final. 56

A Palavra de Deus é indestrutível, eterna, poderosa e eficaz (Is 55.10-11)! Ela


regenera dando vida ao morto espiritual, sustenta, fortalece e direciona a nossa
vida quando nos esmeramos em sua observância frequentemente (Sl 1.2).
Bendita seja a Palavra de Deus!

c) Os cristãos devem amar uns aos outros porque a vida é passageira.

1.24 Pois toda carne é como erva, e toda a sua glória, como a flor da erva;
seca-se a erva, e cai a sua flor;

Os cristãos não devem amar uns aos outros em Cristo Jesus somente porque
foram purificados (vs.22) e nasceram de novo (vs.23), mas também porque a
vida é transitória. A fim de fortalecer os imperativos a priori (antecedentes),
Pedro apela para o Antigo Testamento citando Isaías 40.6-8, “uma profecia que
compara a vida humana comum e passageira com a promessa de restauração
após o exílio”.57 “Ele, de fato, não introduz a citação da profecia de Isaías com
a frase escrito está (vs.16) ou está nas Escrituras (2.6). Ainda assim, a
conjunção pois é suficiente para demonstrar que a citação é das Escrituras do
Antigo Testamento”.58

Por outro lado, estas palavras extraídas por Pedro diferem do texto original de
Isaías. Se compararmos, veremos que o apóstolo não inclui neste trecho de
sua carta parte das frases – soprando nelas o hálito do Senhor. Na verdade, o
povo é erva (Is 40.7); e, por conseguinte – mas a palavra de nosso Deus
permanece eternamente (Is 40.8), antes, ele modifica as palavras de nosso
Deus para do senhor. (ARA)

Não obstante, a expressão toda carne faz referência a toda a humanidade, isto
é, a todas as pessoas. No grego, erva χόρτος (chortos) é um termo genérico
que faz alusão a todas as plantas que se estendem pelo solo. Era um tipo de
cercado ou pasto repleto de grama que servia para a alimentação do gado. A
palavra significa grama. Na palestina existe cerca de 90 gêneros e 243
espécies de grama.

A expressão toda carne é como erva, e toda a sua glória, como a flor da erva;
seca-se a erva, e cai a sua flor, por sua vez, é uma ilustração que Pedro utiliza
para focalizar o contraste entre a condição efêmera do homem e a estabilidade
da Palavra de Deus (vs.25). Como a beleza da flor do campo é passageira no
clima tropical, assim é a glória que as pessoas irradiam pela beleza física,
pelos talentos, pelo trabalho, pelo status social, pelas conquistas e riquezas (Tg
1.11); é uma glória fugaz que logo desaparece. Desse modo, Pedro, aqui,
compara a vida humana com a erva e a sua beleza, que é frágil, temporária e
que agora existe, mas que amanhã, no futuro, não existirá mais (Sl 103.15; Mt
6.30).

d) Os cristãos devem amar uns aos outros porque a Palavra de Deus é eterna.

1.25a ... a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente.

Continuando a discorrer sobre o tema da finitude humana, Pedro cita, agora,


Isaías 40.8. Conforme vimos anteriormente, o apóstolo altera a parte final da
frase do texto original de Isaías – de nosso Deus para Senhor. (ARA) Aqui, o
substantivo palavra ρημα (rhema), no grego, difere da forma como foi usado no
versículo 23 por λόγος (logos), que também é traduzido por palavra. Contudo, é
bem provável que a intenção de Pedro para ambos os termos é senão usar
sinônimos, haja vista que o contexto determina o mesmo significado para
palavra como uma “mensagem, ensinamento ou doutrina” com ênfase no seu
conteúdo.

A modificação que Pedro faz da expressão – “a palavra de nosso Deus” para a


“palavra do Senhor” é, portanto, intencional. O termo Senhor, no Antigo
Testamento, enfatiza Deus Pai, o Deus de Israel. No Novo Testamento, porém,
é uma indicação geral para Jesus Cristo. Esta substituição revela Jesus Cristo
como Deus. Sendo assim, “com o termo Senhor, Pedro realça a divindade de
Jesus, mostrando que a palavra de Deus é semelhante à palavra do Senhor
Jesus”.59

1.25b Ora, esta é a palavra que vos foi evangelizada.

Pedro conclui o seu epítome acerca da importância de amarmos uns aos


outros adicionando uma nota pessoal aos seus primeiros destinatários, cujo
intuito era fortalecê-los na palavra de Deus e na fé em Jesus Cristo. O apóstolo
declara que esta palavra que foi pregada a eles por missionários que
evangelizaram as regiões do Ponto, Galácia, Capadócia, na Ásia e Bitínia
(vs.1c) é simplesmente o evangelho.

A mensagem que os apóstolos anunciavam era o evangelho eterno do Senhor


Jesus. “Essa palavra permanente da revelação de Deus em seu Filho também
foi levada aos leitores da carta de Pedro, pois eles próprios tinham ouvido a
mensagem peremptória desse evangelho (vs.12)”.60

___________
Notas:
47 Dicionário Grego do Novo Testamento James Strong, pág 2031.
48 A Almeida Século 21 também traduziu como a ARA άνυπόκριτος
(anypokritos) por “não fingido”. Já a ARC e a Bíblia de Jerusalém traduziram
literalmente o termo grego como – “sem hipocrisia”. Logo, ambas as traduções
estão corretas.
49 Russel Norman Champlin. O Novo Testamento Interpretado – Vol 6. 1
Pedro, pág 110.
50 Uwe Holmer. Comentário Esperança. 1 Pedro, pág 26.
51 É incerto quanto a inclusão ou exclusão do adjetivo καθαρας (katharos)
“puro” com a palavra καρδίας (kardia) “coração” nessa passagem. A ARC e a
Bíblia de Jerusalém optaram pela inclusão, enquanto a Almeida Século 21, a
NVI e a ARA [com excessão de “todo”] preferiram a exclusão do adjetivo. Não
obstante, os estudiosos preferem a inclusão de καθαρας (katharos) “puro”,
tendo como base as evidências dos manuscritos mais confiáveis.
52 Uwe Holmer. Comentário Esperança. 1 Pedro, pág 27.
53 Embora a ARA e ARC traduziram εκτενως (ektenos) por “ardentemente”,
que está correto, por sinal, todavia, prefiro a tradução literal do grego como
“fervorosamente”. Em contrapartida, lamentavelmente a NVI traduziu εκτενως
(ektenos) por “sinceramente”, que, indubitavelmente dificulta, confundi e
compromete o entendimento da passagem e o que a palavra, de fato,
expressa.
54 Bob Utley. Comentário Bíblico de Marcus, 1 e 2 Pedro, pág 226.
55 Simon Kistemaker. Epístolas de Pedro e Judas, pág 100.
56 Matthew Henry. Comentário Bíblico do Novo Testamento – Atos a
Apocalipse, pág 865.
57 Bíblia de Estudo Genebra. Notas de Rodapé, pág 1682.
58 Simon Kistemaker. Epístolas de Pedro e Judas, pág 101.
59 Ibid, pág 102.
60 Ibid, pág 102-103.

Vous aimerez peut-être aussi