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(1 Pedro 1.13-25)
Introdução
O esboço homilético desta seção pode ser dividido em três pontos, ou seja, o
propósito da salvação consiste em: 1 Uma vida em santidade (1.13-16). 2 Uma
vida com reverência (1.17-21). 3 Uma vida em amor (1.22-25).
Aplicação prática
Aplicação prática
John MacArhtur acentua que o cristão sóbrio é responsável de modo correto
por suas prioridades e não se deixa embriagar pelas distrações do mundo.6
Não obstante, é bem verdade que o falso evangelho mundano que corrobora o
materialismo e a preocupação exacerbada pela estabilidade e satisfação
pessoal e todas as suas outras “falsas doutrinas” são um tipo de "droga" que
tem entorpecido muitos cristãos verdadeiros, os quais são cristãos incautos e
sem discernimento espiritual.
O cristão verdadeiro que está entorpecido pelo falso evangelho pode ter o seu
entendimento elucidado pelo Espírito Santo para o conhecimento do verdadeiro
evangelho e ser liberto da "droga" chamada falso evangelho. O cristão
desviado e entorpecido pelos prazeres mundanos pode, também, ser
resgatado e restaurado por Deus à sobriedade sendo introduzido novamente à
comunhão da igreja. Certamente o Senhor não abandona os seus! Ele cuida de
nós!
Logo, vemos que esta esperança descrita não consiste em uma pessoa, mas
em um objeto, ou seja, “na graça”. Esta graça que nos versículos 2 e 10 está
no tempo presente, não obstante aqui, é sinônimo da salvação futura (vs.4, 9).
Deus, portanto, está “trazendo a graça para os cristãos na revelação de Jesus
Cristo”.
Não obstante, a seguir, nos versos 14-16, observamos que Pedro amplia o
tema da santidade na vida cristã começando uma nova série de imperativos
(exortações) baseados em três pontos. Senão vejamos:
1.14 Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis
anteriormente na vossa ignorância.
Pedro, aqui, tece uma advertência aos seus leitores históricos e a todos os
cristãos. O apóstolo assevera que, uma vez que foram eleitos para a salvação
em Cristo Jesus por Deus Pai (vs.2), regenerados pelo Espírito Santo para a
esperança da salvação futura e uma vida em santidade (vs.3, 13), os cristãos,
todavia, não devem retornar ao estilo de vida que tinham no passado quando
não conheciam o evangelho, o qual era caracterizado pela prática do pecado.
Sendo assim, Pedro diz o que estes cristãos “devem fazer” (imperativo
positivo). Vejamos então:
i. Os cristãos devem ser obedientes. A expressão filhos da obediência “é um
linguajar semita (hebraico). Significa algo como: pessoas que são cunhadas
integralmente pela obediência”8 (veja os exemplos similares em Lc 10.6; Ef
5.8; 2Ts 2.3).
Após delinear o que os cristãos devem fazer, Pedro, agora, diz o que eles “não
devem fazer” (imperativo negativo). Senão vejamos:
ii. Os cristãos não devem se amoldar novamente aos desejos que tinham no
passado. Embora os primeiros destinatários históricos de Pedro fossem uma
mescla de Judeus e gentios (1.3, 12, 14, 18, 22-23, 25; 2.9-10; 4.3), todavia, o
apóstolo relembra aqui especificamente o estilo de vida dos cristãos gentios no
passado antes da conversão, a fim de avisá-los do perigo de retornar a este
velho estilo de vida que Deus não se agrada. Diferente dos judeus, que
conheciam a lei moral, estes gentios eram pagãos e ignorantes quanto ao
conhecimento da vontade de Deus revelada nas Escrituras. Por essa razão,
tinham o seu modus vivendi (modo de viver) conduzido pelas mais variadas
paixões9 ou “desejos pecaminosos”.
Aplicação prática
Os cristãos foram salvos para a obediência, por isso os salvos são filhos
obedientes. Como os filhos herdam a natureza dos pais, precisamos viver em
santidade, pois nosso Pai é santo.
Como filhos obedientes, não podemos retroceder nem cair nas mesmas
práticas indecentes que marcavam nossa conduta quando vivíamos
prisioneiros do pecado. Naquele tempo, os desejos e as paixões constituíam o
esquema determinante da nossa vida e a nossa norma de conduta. É
incoerente, incompatível e inconcebível um salvo amoldar-se às paixões de sua
velha vida12 (veja Ef 4.22-25, 28-29, 31). Que não sigamos o mau exemplo de
homens ímpios e desobedientes. Antes, sejamos corajosos o bastante para
rejeitar o padrão de vida que eles gostariam de impor-nos por seu exemplo e
influência.13
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Notas:
1. A ARC traduziu literalmente a expressão no grego.
2. Ênio Mueller. 1 Pedro – Introdução e Comentário, pág 98.
3. O imperativo “sede sóbrio” não é um chamado à sobriedade, mas uma
metáfora para manter a mente alerta e serena (Bob Utley. Comentário Bíblico
de Marcus e 1, 2 Pedro, pág 222).
4. A palavra grega νήφοντες (nephontes) era comumente usada no âmbito
religioso na época de Pedro, especificamente para as religiões de mistério para
descrever as pessoas que se mantinham voltados para a salvação eterna
enquanto que as outras pessoas que eram apegadas as prazeres deste mundo
eram consideradas “embriagadas”.
5. Warren Wiersbe. Comentário Bíblico Expositivo. Novo Testamento 2, pág
511.
6. Bíblia de Estudo MacArthur. Notas de Rodapé, pág 1730.
7. Warren Wiersbe. Comentário Bíblico Expositivo. Novo Testamento 2, pág
511.
8. Uwe Holmer. Comentário Esperança. 1 Pedro, pág 21
9. σνσχηματιςόμενοι (me syschematizomenoi) é um particípio presente passivo
que, influenciado pelo verbo principal “sede” γενήθητε, no versículo 15, no qual
é um imperativo aoristo ativo, é traduzido como um imperativo.
10. Ênio Mueller. 1 Pedro – Introdução e Comentário, pág 101.
11. A palavra grega traduzida pela ARA por “paixões” é έπθυμία (epthymia),
que é comumente descrita como “um anseio por algo que é proibido”. Denota
um “forte desejo pela lúxúria”, podendo ser traduzida como “concupisciências”
ARC ou, literalmente do grego como “desejos”, conforme a NVI e a Almeida
Século 21 traduziram. Pessoalmente, para melhor entendimento, prefiro a
tradução da BJC em virtude do acréscimo do adjetivo “mau”, ficando, assim,
traduzido como “maus desejos”.
12. Hernandes Dias Lopes. 1 Pedro, pág 48-49.
13. Russel Norman Champlin. O Novo Testamento Interpretado – Vol 6. 1
Pedro, pág 104.
1.15 ... pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos
santos também a vós mesmos em todo o vosso procedimento.
A conjunção “mas”, no grego αλλα (alla), traduzido pela a ARA como pelo
contrário, estabelece um contraste com o versículo 14b. Portanto, o versículo
15 é a continuação do versículo 14b, o qual amplia o tema da santidade na vida
cristã. Era como se Pedro dissesse: “Não façam aquilo de novo” – vos amoldar
às paixões que tínheis anteriormente, “mas façam isso” – sejam santos
também em tudo o que fizerem. (NVI) Não obstante duas proposições são
destacadas aqui:
ii. A santidade deve abarcar todas as áreas da vida dos cristãos. Pedro
sublinha que, assim como Deus, o nosso pai espiritual (2Cor 6.18; Hb 12.9; Gl
3.26) é santo, nós, cristãos, como filhos obedientes (vs.14; Rm 8.13-16)
também devemos ser santos em toda a nossa conduta moral15 (2.12; 3.1, 3,
13; 2Pe 2.7; 3.11). O Deus que exige santidade é, sobretudo, o modelo para
que o imitemos em santidade (Ef 5.1). “Nenhum aspecto da nossa vida está
excluído desse imperativo divino. Todo o nosso procedimento deve
resplandecer o caráter de Deus, a santidade daquele que nos chamou do
pecado para a salvação”.16
O apóstolo extrai como base para o seu ensino aos cristãos uma exortação
proferida diretamente da boca de Deus a Moisés e a Arão, para que estes
instruíssem o povo de Israel a serem santos em toda a sua conduta moral
assim como Deus é santo (uma vez que a santidade é um dos temas que
permeia Levíticos, veja também 19.2; 20.7, 26; 21.8, 15; 22.9, 16, 32).18
Parafraseando, era como se Pedro dissesse: Deus é santo, logo, ele exige que
nós, também, sejamos santos, porque ele próprio corrobora em Levítico 11.44-
45 e 19.2 para que sejamos santos assim como ele é santo! A conjunção
porque διότι (dióti) remonta a expressão está escrito, a qual alega que o
imperativo à santidade foi extraído das Escrituras.
Aplicação prática
O cristão é um homem de Deus por eleição de Deus. É eleito para uma tarefa
no mundo e para um destino na eternidade. É eleito para viver para Deus no
tempo e para viver com Deus na eternidade. No mundo tem que obedecer a lei
de Deus e reproduzir a vida de Deus. O cristão foi eleito por Deus, e, portanto,
em sua vida tem que haver algo da pureza de Deus e em sua ação tem que
manifestar-se algo do amor de Deus. O cristão recebeu a tarefa de ser
diferente.19
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Notas:
[14] A expressão “segundo é santo aquele que vos chamou”, traduzida
literalmente do grego κατά τόν καλέσαντα υμας άγιον – “assim como o santo
que vos chamou” é incompleta, embora esteja correta. Porém, quando
acrescentamos na tradução o verbo auxiliar (tempo presente do modo
indicativo) εστιν (estin) “é”, o sentido da expressão fica mais claro – “assim
como “é” santo aquele que vos chamou”. (Almeida Século 21) No entanto,
prefiro a tradução desse trecho da seguinte forma: “Conforme o exemplo do
Santo que vos chamou” (veja um exemplo similar em 2Pe 2.1).
[15] No grego, o substantivo αναστροφη (anastrophe), literalmente “conduta”,
traduzido pela a ARA por “procedimento”, e pela a ARC por “maneira de viver”,
enfatiza o estilo de vida moral que uma pessoa tem no seu relacionamento com
outras pessoas. Desse modo, prefiro a tradução literal do grego ou a tradução
da ARC.
[16] Hernandes Dias Lopes. 1 Pedro, pág 50.
[17] Fritz Rienecker e Cleon Rogers. Chave Linguística do Novo Testamento
Grego, pág 554-555
[18] a religião judaica promovida e distorcida pelos fariseus e líderes religiosos
ensinava que os homens poderiam alcançar a santificação pelos seus próprios
atos simplesmente se cumprissem os preceitos descritos na “lei”. Tais preceitos
de santidade tinham conotações legalistas porque eram baseados numa
interpretação equivocada das Escrituras (Mc 7.1-13; Hb 13.9). Contudo, tanto a
lei no Antigo Testamento quanto o evangelho enfatiza o contrário. Assim como
a salvação é e sempre foi pela graça mediante a fé, a santificação
(progressiva), por sua vez, também é desfrutada pela fé (At 26.18).
[19] William Barclay. 1 Pedro, pág 64-65.
a) Deus, além de Pai, é juiz. O mesmo Deus que nós, cristãos, chamamos de
Pai (vs.2-3), afirma Pedro, é, também, o nosso juiz. As palavras gregas Kαι ει,
traduzidas pela ARA por ora, se, expressam uma condição argumentativa. A
tradução literal do grego é e se. A condição desta frase num todo – Ora, se
invocais como Pai, denota uma prática na qual estamos acostumados a realizar
efetivamente, ou seja, recorrermos a Deus como Pai. Desse modo, podemos
retirar a palavra e, ficando apenas a palavra se. Parafraseando, era como se
Pedro dissesse: Como pessoas que solicitam a Deus Pai!
O substantivo Pai, no grego πατερα (pater), não tem artigo definido e localiza-
se antes do verbo invocar para enfatizar Deus como Pai espiritual dos cristãos,
sendo traduzido literalmente como – E se como Pai invocais.
Todavia, Pedro realça aos cristãos outra faceta peculiar de Deus. O apóstolo
descreve que, além de Pai, Deus também é um severo juiz. Por conseguinte,
três características do julgamento de Deus são destacadas aqui. Senão
vejamos:
Aplicação prática
O cristão é um peregrino neste mundo. Vive à sombra da eternidade. A todo o
tempo pensa não só em onde está, mas também para onde vai. Seus juízos
são formulados não só à luz do momento, mas também à luz da eternidade.26
Simon Kistemaker diz que o cristão é um peregrino que procura agradar a
Deus em sua conduta diária, que tem profunda reverência por Deus e sua
Palavra e que sabe que foi comprado pelo preço do sangue de Jesus (vs.18-
19).27 John MacArthur, por sua vez, salienta que o cristão que conhece a Deus
e sabe que ele julga com justiça as obras de todos os seus filhos, respeitará a
Deus e a avaliação que ele faz de sua vida, e desejará honrar o seu Pai
celestial.28
1.18 ... sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro,
que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos
legaram, 19 mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem
mácula, o sangue de Cristo.
Tendo em mente que Deus é tanto Pai como um justo juiz que julga
imparcialmente a todos conforme as obras de cada um, e que os cristãos
devem temer [reverenciar e respeitar] a Deus por isso (vs.17), Pedro, todavia,
lembra não somente os seus leitores históricos, mas os cristãos em geral que
eles e nós éramos escravos no passado antes de sermos libertos pelo sangue
de Jesus Cristo, o qual remonta ao sacrifício redentor. Nos versículos 18-19, o
apóstolo elucida o aspecto negativo e positivo do resgate efetuado por Cristo
Jesus. Vejamos então:
Gálatas 3.13 – Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio
maldição em nosso lugar... (ARA)
Tito 2.14 – O qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda
iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de
boas obras. (ARA)
Pedro não menciona quem são as pessoas que viveram baseadas na tradição
recebida dos pais no passado, contudo, existem três interpretações acerca da
possível identidade delas.
A primeira interpretação sugere que Pedro está dizendo que foram os cristãos
judeus que viveram pela tradição dos líderes religiosos e não de acordo com as
Escrituras (veja Mc 7.5-13). A segunda interpretação, por sua vez, alega que o
apóstolo está se referindo a geração anterior dos seus leitores gentios, uma
vez que Paulo também menciona sobre a vida fútil que eles viveram antes de
serem resgatados por Cristo Jesus do pecado, da lei e da morte eterna (veja
Rm 1.21; Ef 4.17; Gl 4.4-5). Finalmente, a terceira interpretação afirma que
Pedro está falando da geração anterior tanto dos cristãos judeus quanto dos
cristãos gentios. Em minha opinião, seria melhor adotarmos a segunda
interpretação, entendendo que o apóstolo está aludindo à geração passada dos
cristãos gentios que haviam recebido deles como tradição a idolatria, dentre
outras coisas (vs.14; 4.3).33 Albert Barnes sublinha que Pedro, aqui, refere-se
à forma que eles [os gentios] tinham de adoração aos ídolos, e todas as
abominações conectadas com este serviço, como sendo vã e inútil.34
ii. O preço do resgate. Pedro, agora, destaca o lado positivo do resgate. Uma
vez que a prata e o ouro são objetos de valor monetário no mundo, porém
voláteis, não puderam pagar pelo resgate dos pecadores eleitos. Contudo, foi
somente o precioso sangue de Jesus Cristo que sobrepuja em valor a prata e o
ouro que pôde pagá-lo.
Salmo 49.6-8 – ... dos que confiam nos seus bens e na sua muita riqueza se
gloriam? Ao irmão, verdadeiramente, ninguém o pode remir nem pagar por ele
a Deus o seu resgate (Pois a redenção da alma deles é caríssima, e cessará a
tentativa para sempre.). (ARA)
Aplicação prática
A prata e o ouro são objetos de valor transitório que, embora tenham utilidade e
valor no comércio, não têm, contudo, utilidade e valor para o resgate espiritual.
Por mais que tenham valor neste mundo, a prata e o ouro [dinheiro] não tem
poder de libertar alguém da escravidão do pecado e da morte eterna. Nessa
linha de pensamento, Matthew Henry assegura que as riquezas são, por muitas
vezes, armadilhas, tentações e empecilhos para a salvação do homem.36
Somente o precioso sangue do sacrifício de Jesus Cristo pôde pagar pela
nossa libertação da escravidão do pecado, da lei, da morte eterna, da
religiosidade morta e do antigo estilo de vida falso, vazio, sem propósito e
norteado pelo pecado que recebemos como tradição de nossos antepassados
para uma nova vida. Este sangue “conseguiu o que a prata e o ouro não podia
fazer. O universo não tinha nada mais valioso para oferecer, de que podemos
conceber, senão o sangue do Filho de Deus”.37
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Notas:
20 Simon Kistemaker. Epístolas de Pedro e Judas, pág 89.
21 Este fato é comumente abordado tanto no Antigo quanto no Novo
Testamento, especialmente nas cartas de Paulo (veja 1Cr 16.33; Sl 50.6; 7.8;
9.8; 96.13; Ec 3.17; Ez 18.30; Rm 2.6; 2Cor 11.13-15; 2Tm 4.14; Ap 2.23;
20.12-13; 22.12).
22 Uwe Holmer. Comentário Esperança. 1 Pedro, pág 23.
23 William Barclay. 1 Pedro, pág 65.
24 Ênio Mueller. 1 Pedro – Introdução e Comentário, pág 106.
25 Bíblia de Estudo Genebra. Notas de Rodapé, pág 1681.
26 William Barclay. 1 Pedro, pág 65.
27 Simon Kistemaker. Epístolas de Pedro e Judas, pág 90.
28 Bíblia de Estudo MacArthur. Notas de Rodapé, pág 1730.
29 Simon Kistemaker. Epístolas de Pedro e Judas, pág 91.
30 O substantivo “redenção” λύτρωσις (lytorsis) aparece em Lucas 2.38 e
Hebreus 9.12. O termo básico “resgate” λύτρον (lytron) aparece em Mateus
20.28 e Marcus 10.45.
31 O verbo resgatar ou redimir λυτρόω (lytroo) é usado por Lucas no seu
evangelho 24.21 e por Paulo em Tito 2.14.
32 Ênio Mueller. 1 Pedro – Introdução e Comentário, pág 108.
33 Havia também tradições judaicas forâneas às Escrituras que os cristãos
judeus receberam dos seus antepassados (veja Mc 7.7-11; Fp 3.3-7).
34 Albert Barnes. Comentário Expositivo online de 1 Pedro, disponível em:
http://www.sacred-texts.com/bib/cmt/barnes/pe1.htm. Acessado em
05/12/2013.
35 Uwe Holmer. Comentário Esperança. 1 Pedro, pág 24.
36 Matthew Henry. Comentário Bíblico do Novo Testamento – Atos a
Apocalipse, pág 864.
37Albert Barnes. Comentário Expositivo online de 1 Pedro, disponível em:
http://www.sacred-texts.com/bib/cmt/barnes/pe1.htm. Acessado em
11/12/2013.
João 1.14 – E o verbo se fez carne e habitou entre nós... (Almeida Século 21)
Com a expressão fim dos tempos, Pedro não se refere apenas ao período da
vida de Jesus Cristo quando esteve neste mundo, entretanto abarca todo o
período desde o seu nascimento até a sua segunda vinda em glória (veja At
2.17; 1Tm 4.1-2; 2Tm 3.1; Hb 1.2). Enquanto que no versículo 5 o apóstolo
escreve sobre a conclusão da salvação que se dará no futuro, aqui, a
revelação de Cristo Jesus como o redentor dos pecado res eleitos é um fato
passado. A expressão fim dos tempos, portanto, constitui a totalidade do tempo
do fim inaugurado pela aparição do Senhor Jesus, uma vez que Pedro entendia
e realçou que estamos vivendo neste período correspondente da história (veja
também Rm 16.25-26; 2Tm 1.9-10).
iii. O motivo do resgate. Pedro escreve aos seus destinatários históricos que a
escolha de Jesus Cristo como redentor desde a eternidade e a sua
manifestação no tempo consiste no amor incondicional de Deus Pai por eles
(Jo 3.16). Todos os cristãos – judeus e gentios são privilegiados pelo fato de
Cristo tê-los resgatado sem que merecessem tal libertação do pecado, da lei e
da morte eterna.
Romanos 5.8 – Mas Deus prova o seu amor para conosco ao ter Cristo morrido
por nós quando ainda éramos pecadores. (Almeida Século 21)
1.21 ... que, por meio dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os
mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus.
Aplicação prática
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Notas:
1.22 Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade, tendo
em vista o amor fraternal não fingindo, amai-vos, de coração, uns aos outros
ardentemente.
Vejamos então os quatro motivos para os cristãos amarem uns aos outros:
Todavia, esta purificação descrita aqui por Pedro não significa ter o corpo
lavado ou “purificar-se através das implicações cerimônias” que descrevemos
anteriormente, tal como – purificar-se para a festa da páscoa (Jo 11.55) e, no
caso de Paulo, para a cerimônia de conclusão dos votos de nazireu feitos por
ele e por quatro homens sobre a sua responsabilidade, quando retornou para
Jerusalém após estar fora já algum tempo evangelizando as cidades gentílicas
(veja At 21.26). Porém, o sentido cerimonial que a “purificação” tinha no Antigo
Testamento primariamente foi substituído no Novo Testamento por um aspecto
de conotação moral (veja Tg 4.8; 1Jo 3.3).
O termo alma corrobora esta substituição como sendo o lugar que acontece a
purificação, isto é, na parte imaterial do homem chamada de “espírito”, que,
posteriormente desemboca na purificação completa do homem como uma
unidade [alma e corpo] (para mais detalhes sobre alma, veja o meu comentário
no vs.8). Desse modo, Pedro escreve que os seus leitores se purificaram
moralmente do velho estilo de vida campeado pelo pecado que outrora viveram
(vs.14). No entanto, como esta purificação moral é obtida? Senão vejamos a
resposta:
ii. Para que demonstrem amor fraternal pelos outros. Os cristãos foram
purificados obedecendo à verdade mediante o novo nascimento para que
expressem o amor pelo próximo. A palavra grega traduzida por amor fraternal é
φιλαδελφίαν (philadelpheia), a qual reluz o “amor entre os irmãos”; “o amor dos
cristãos uns pelos outros”. O amor é um dos pilares do fruto do Espírito (Gl
5.22). Ao passo que vai sendo transformado paulatinamente segundo a
imagem de Jesus Cristo (Rm 8.29; 1Cor 15.49; Cl 3.10; 1Jo 3.2), o exemplo
singular de amor (1Jo 3.16), o cristão se torna menos indiferente e mais
propenso a amar o seu próximo. Quando obedecemos aos preceitos
estabelecidos nas Escrituras, amamos a Deus e uns aos outros com
sinceridade (Mt 22.37-39). Amamos Jesus quando amamos os nossos irmãos
(Mt 25.35-40; 1Jo 3.18; 4.11, 20-21). O amor é o apanágio do cristão!
Uma vez que o amor fraternal é um mandamento divino (Jo 13.34-35), Pedro,
agora, esboça o lado prático, dizendo o que este amor “não deve ser”
(imperativo negativo) e, em seguida, o que este amor “deve ser” (imperativo
positivo).
1. O amor fraternal pelos outros não deve ser fingido. Pedro admoesta os seus
primeiros leitores e os cristãos em geral para que o amor deles pelos irmãos
não seja falso e superficial. O termo não fingido,48 no grego, é άνυπόκριτος
(anypokritos). A partícula negativa α “não”, e o adjetivo ύποκριτής (hupokrites)
– “hipócrita”, origina-se do verbo υποκρίνομαι (hupokrinomai) – “simular ou
fingir”, e traz a ideia de “atuar no palco; um ator que interpreta um
personagem”. Significa “alguém que é falso e que não é aquilo que aparenta
ser externamente para os outros”. Um hipócrita, portanto, assevera Champlin,
“é um tipo de ator que desempenha um papel, mas não tem sinceridade quanto
àquilo que faz e diz”.49
O adjetivo não fingido (Rm 12.9; 2Co 6.6) aponta para o risco que o amor
fraternal corre. Quando falta amor aos irmãos podemos nos esquivar para
dentro de formas cristãs de relacionamento que têm aparência de amor, mas a
vida se transforma em devota auto ilusão. Trato amigável, cortesia solícita –
assim, muitas vezes, o amor é apenas simulado na igreja. Então será amor
hipócrita. Hipocrisia, porém, é tão perigosa porque encobre a ausência de amor
fraternal e envenena nosso relacionamento com Deus e com o irmão. Quantas
igrejas estão paralisadas pela falta de amor não fingido! Com quanta gravidade
Jesus advertiu contra o fingimento religioso (Mt 6.5,16; 7.5; Lc 12.1)!50
3. O amor fraternal pelos outros deve ser intenso. Os cristãos não devem amar
uns aos outros de coração, apenas, mas, também de maneira ardente. No
grego, a palavra ardentemente53 εκτενως (ektenos) denota um “fervor
constante”. Este termo é derivado do verbo τείνω (teino), que traz a ideia de
“esticar para fora”; enfatiza um “sentimento intenso” (veja a similaridade em
4.8). Este é o segundo advérbio pintado por Pedro que classifica, dessa vez, a
extensão do mandamento de amar, porquanto amar ardentemente significa
“amar sem limites”. Somente aquele que nasceu do Espírito tem a capacidade
de manifestar este amor pelos irmãos na fé, especialmente nos momentos de
necessidade.
Aplicação prática
ii. O modo da regeneração. Visto que os cristãos foram e são gerados de novo
pela semente divina, Pedro, não obstante, continua sua argumentação dizendo
que a maneira pela qual Deus realiza o milagre do novo nascimento é por
intermédio da sua palavra, que é viva e permanente. A palavra grega ζωντος
(zontos), literalmente “viva”, traduzida pela ARA por vive, e a palavra
permanente μένοντος (memontos), são dois particípios que funcionam como
adjetivos para aludir o poder ativo, vigoroso e duradouro das Escrituras na
execução da regeneração (Tg 1.18). Dessa forma, Pedro associa a semente
imperecível à Palavra de Deus. Quando explicou a parábola do semeador aos
discípulos, uma vez que eles não haviam compreendido o seu significado,
Jesus disse que a semente que o semeador semeou é a Palavra de Deus (Lc
8.9-11).
Aplicação prática
1.24 Pois toda carne é como erva, e toda a sua glória, como a flor da erva;
seca-se a erva, e cai a sua flor;
Os cristãos não devem amar uns aos outros em Cristo Jesus somente porque
foram purificados (vs.22) e nasceram de novo (vs.23), mas também porque a
vida é transitória. A fim de fortalecer os imperativos a priori (antecedentes),
Pedro apela para o Antigo Testamento citando Isaías 40.6-8, “uma profecia que
compara a vida humana comum e passageira com a promessa de restauração
após o exílio”.57 “Ele, de fato, não introduz a citação da profecia de Isaías com
a frase escrito está (vs.16) ou está nas Escrituras (2.6). Ainda assim, a
conjunção pois é suficiente para demonstrar que a citação é das Escrituras do
Antigo Testamento”.58
Por outro lado, estas palavras extraídas por Pedro diferem do texto original de
Isaías. Se compararmos, veremos que o apóstolo não inclui neste trecho de
sua carta parte das frases – soprando nelas o hálito do Senhor. Na verdade, o
povo é erva (Is 40.7); e, por conseguinte – mas a palavra de nosso Deus
permanece eternamente (Is 40.8), antes, ele modifica as palavras de nosso
Deus para do senhor. (ARA)
Não obstante, a expressão toda carne faz referência a toda a humanidade, isto
é, a todas as pessoas. No grego, erva χόρτος (chortos) é um termo genérico
que faz alusão a todas as plantas que se estendem pelo solo. Era um tipo de
cercado ou pasto repleto de grama que servia para a alimentação do gado. A
palavra significa grama. Na palestina existe cerca de 90 gêneros e 243
espécies de grama.
A expressão toda carne é como erva, e toda a sua glória, como a flor da erva;
seca-se a erva, e cai a sua flor, por sua vez, é uma ilustração que Pedro utiliza
para focalizar o contraste entre a condição efêmera do homem e a estabilidade
da Palavra de Deus (vs.25). Como a beleza da flor do campo é passageira no
clima tropical, assim é a glória que as pessoas irradiam pela beleza física,
pelos talentos, pelo trabalho, pelo status social, pelas conquistas e riquezas (Tg
1.11); é uma glória fugaz que logo desaparece. Desse modo, Pedro, aqui,
compara a vida humana com a erva e a sua beleza, que é frágil, temporária e
que agora existe, mas que amanhã, no futuro, não existirá mais (Sl 103.15; Mt
6.30).
d) Os cristãos devem amar uns aos outros porque a Palavra de Deus é eterna.
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Notas:
47 Dicionário Grego do Novo Testamento James Strong, pág 2031.
48 A Almeida Século 21 também traduziu como a ARA άνυπόκριτος
(anypokritos) por “não fingido”. Já a ARC e a Bíblia de Jerusalém traduziram
literalmente o termo grego como – “sem hipocrisia”. Logo, ambas as traduções
estão corretas.
49 Russel Norman Champlin. O Novo Testamento Interpretado – Vol 6. 1
Pedro, pág 110.
50 Uwe Holmer. Comentário Esperança. 1 Pedro, pág 26.
51 É incerto quanto a inclusão ou exclusão do adjetivo καθαρας (katharos)
“puro” com a palavra καρδίας (kardia) “coração” nessa passagem. A ARC e a
Bíblia de Jerusalém optaram pela inclusão, enquanto a Almeida Século 21, a
NVI e a ARA [com excessão de “todo”] preferiram a exclusão do adjetivo. Não
obstante, os estudiosos preferem a inclusão de καθαρας (katharos) “puro”,
tendo como base as evidências dos manuscritos mais confiáveis.
52 Uwe Holmer. Comentário Esperança. 1 Pedro, pág 27.
53 Embora a ARA e ARC traduziram εκτενως (ektenos) por “ardentemente”,
que está correto, por sinal, todavia, prefiro a tradução literal do grego como
“fervorosamente”. Em contrapartida, lamentavelmente a NVI traduziu εκτενως
(ektenos) por “sinceramente”, que, indubitavelmente dificulta, confundi e
compromete o entendimento da passagem e o que a palavra, de fato,
expressa.
54 Bob Utley. Comentário Bíblico de Marcus, 1 e 2 Pedro, pág 226.
55 Simon Kistemaker. Epístolas de Pedro e Judas, pág 100.
56 Matthew Henry. Comentário Bíblico do Novo Testamento – Atos a
Apocalipse, pág 865.
57 Bíblia de Estudo Genebra. Notas de Rodapé, pág 1682.
58 Simon Kistemaker. Epístolas de Pedro e Judas, pág 101.
59 Ibid, pág 102.
60 Ibid, pág 102-103.