Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
net/publication/281411722
CITATIONS READS
0 43
4 authors:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
International Symposium on Fatigue Crack Growth – Experimental, Theoretical and Numerical Approach (ISFCG2017) View project
International Symposium on Structural Integrity of Old Steel Bridges (ISSI-Bridges 2017) View project
All content following this page was uploaded by Carlos Sousa on 01 September 2015.
1 INTRODUÇÃO
A função principal das almas das vigas em caixão consiste em garantir resistência
adequada aos esforços transversos referentes ao comportamento longitudinal da obra.
No entanto, estes elementos estão também sujeitos a outros esforços secundários,
entre os quais se destaca a flexão resultante do comportamento transversal do
tabuleiro. A análise do efeito combinado do esforço transverso longitudinal e da flexão
transversal foi efectuada inicialmente de um modo simplista. Robinson [1964] propôs
que a armadura de esforço transverso requerida correspondesse ao máximo dos
valores necessários para resistir aos efeitos isolados do esforço transverso longitudinal
e da flexão transversal. Por outro lado, a AFGC [1999] propôs uma abordagem mais
conservativa, que consiste na análise isolada dos dois efeitos e na soma das
armaduras requeridas para resistir a cada um deles. Claramente, nenhuma destas
abordagens é coerente com o real funcionamento estrutural. A primeira pode conduzir
a dimensionamentos não conservativos, enquanto que a segunda conduz a:
quantidades excessivas de armaduras nos casos em que o betão se encontra
sujeito a tensões moderadas de compressão;
sobreposição incoerente das tensões de compressão no betão, que pode
resultar em dimensionamentos não conservativos nos casos em que as almas
estão submetidas a tensões de compressão elevadas.
369
ASCP’2011 – 2º Congresso Nacional sobre Segurança e Conservação de Pontes
Coimbra, 29 de Junho a 1 de Julho de 2011
Assim, os métodos atrás referidos não são satisfatórios. Pelo contrário, o método
proposto por Menn [1986] trata de modo consistente o efeito combinado do esforço
transverso de membrana e da flexão transversal, em estado limite último (ELU).
Lefaucher [2002] desenvolveu também um procedimento simplificado para análise em
ELU, baseado na metodologia apresentada por Menn [1986].
No que diz respeito a análises de fadiga, apenas Gaspar [2003] e Gaspar & Stucchi
[2009] publicaram trabalhos dedicados à análise de almas de vigas em caixão
considerando a combinação dos referidos efeitos. Estes autores realizaram ensaios
em laboratório e propuseram um método para análises de fadiga.
A análise de fadiga das almas de vigas em caixão é particularmente importante no
caso dos tabuleiros de pontes ferroviárias construídos com vigas pré-fabricadas tipo
“U”. Por um lado, neste caso existem importantes carregamentos cíclicos que tornam
relevante o fenómeno de fadiga. Por outro lado, as vigas pré-fabricadas possuem
usualmente secções esbeltas que as tornam sensíveis aos efeitos transversais
referidos acima. Assim, foi desenvolvida uma metodologia para a análise de fadiga
destes elementos, baseada no trabalho de Gaspar [2003]. Esta metodologia envolve:
a determinação da história temporal de esforços usando modelos de
carregamento que traduzem a degradação lateral das forças transmitidas
pelos eixos dos comboios;
a realização de análises dinâmicas para quantificação da amplificação
dinâmica de esforços;
a implementação de modelos para determinação das tensões actuantes no
betão e no aço atendendo ao efeito combinado do esforço transverso
longitudinal e da flexão transversal;
a escolha de curvas S-N apropriadas para traduzir a resistência à fadiga dos
materiais;
o uso de um modelo linear de acumulação de dano para quantificar a vida
útil por fadiga.
Esta metodologia foi implementada num programa de cálculo automático e foi
validada por comparação com os resultados experimentais de Gaspar [2003]. Além
disso, os resultados deste método de análise têm sido confrontados com os resultados
de ensaios cíclicos de vigas sujeitas ao efeito isolado do esforço transverso, i.e., sem
flexão transversal. Este trabalho apresenta sumariamente a metodologia numérica
desenvolvida e ilustra a sua aplicação prática a uma obra real.
2 METODOLOGIA DE ANÁLISE
370
ASCP’2011 – 2º Congresso Nacional sobre Segurança e Conservação de Pontes
Coimbra, 29 de Junho a 1 de Julho de 2011
sendo θELU a inclinação assumida nas verificações em ELU. Deste modo, as tensões
actuantes nas bielas comprimidas, σcw, e nos estribos, σsw, são dadas pelas Equações
(2) e (3) respectivamente.
V
cw (2)
bw z cos fat sin fat
V
sw (3)
Asw
z cot fat
s
371
ASCP’2011 – 2º Congresso Nacional sobre Segurança e Conservação de Pontes
Coimbra, 29 de Junho a 1 de Julho de 2011
cw
vert
cw sin 2 fat (4)
V
C (5)
z cot fat
cw (6)
f cd ,fat cw
V max
f ck f
f cd ,fat k 1 cc t 0 1 ck (7)
1.5 250
372
ASCP’2011 – 2º Congresso Nacional sobre Segurança e Conservação de Pontes
Coimbra, 29 de Junho a 1 de Julho de 2011
cw ,max bw2
emax (8)
12 cw
V
y1
V
cw ,max min cw ,maxV cw (9)
cw
sendo cw
V
a tensão actuante nas escoras em resultado do efeito isolado do esforço
transverso actuante no instante de tempo em questão e y1 a distância representada na
Figura 1. Conforme se pode ver na mesma figura, a tensão normal actuante no betão
é calculada ao centro da camada mais comprimida. Não é controlado o valor de pico,
admitindo-se deste modo uma ligeira redistribuição de tensões de compressão durante
o carregamento cíclico, tal como está previsto no Model Code [1993, 2010]. O
parâmetro mmax,1 é então dado por:
373
ASCP’2011 – 2º Congresso Nacional sobre Segurança e Conservação de Pontes
Coimbra, 29 de Junho a 1 de Julho de 2011
compressão nas bielas devida ao efeito isolado do esforço transverso não ultrapasse o
limite estabelecido, σcw,max. Deste modo, a profundidade desta zona comprimida será
maior quando o nível de tensões que o esforço transverso induz nas almas é maior
tendo, consequentemente, que ser menor o braço das forças resistentes à flexão
transversal. Uma vez mais, a indeterminação do problema impõe a introdução de um
parâmetro adimensional dc que estabeleça a relação entre o acréscimo de
compressão no betão, C, e a variação de força no estribo do lado comprimido, B
(ver Figura 2):
C
dc (11)
B
A escolha do valor a atribuir ao parâmetro dc poderá ser baseada nos resultados
experimentais de Gaspar [2003]. Note-se que, o acréscimo de tensão de compressão
no betão segundo a direcção vertical, C, conduz a uma rotação da direcção principal
de tensão de compressão (que deixa deste modo de ter a direcção θfat) e a uma
variação da própria tensão principal de compressão. No caso das secções mais
esforçadas em tabuleiros de pontes ferroviárias construídas com vigas pré-fabricadas
tipo “U”, verifica-se que esta rotação de tensões principais é pouco significativa.
O caso de estudo consiste num tabuleiro de uma ponte ferroviária com via única,
construída com vigas pré-fabricadas tipo “U”, com a secção transversal representada
na Figura 3. A obra é composta por 4 tramos, com vãos extremos de 26.5 m e vãos
interiores de 33.5 m. Os tramos são contínuos sendo a ligação de continuidade
estabelecida sem recurso a armaduras pré-esforçadas, i.e., a resistência a momentos
negativos é assegurada por armaduras ordinárias apenas. O processo construtivo
envolve as seguintes fases principais: execução das vigas pré-fabricadas pré-
tensionadas; montagem de vigas e pré-lajes; betonagem dos diafragmas de
continuidade; betonagem de uma faixa central de laje, com 5 m de largura,
estendendo-se 6.70 m para cada lado dos apoios de continuidade; betonagem de
uma faixa central de laje, com 5 m de largura, ao longo do restante comprimento da
obra; betonagem da restante laje (faixas laterais).
Relativamente ao cenário de tráfego, considerou-se que este é formado pelo
comboio de fadiga tipo 5 definido no Anexo D da EN 1991-2 (aquele com maior peso
por metro de desenvolvimento), circulando a uma velocidade de 80 km/h, com um
volume de tráfego de 106 t/ano (valor de referência sugerido pela EN 1991-2).
O cálculo da história temporal de esforços foi realizado através de um modelo de
elementos finitos de casca. A análise dinâmica recorreu ao método da sobreposição
modal, tendo sido considerado um coeficiente de amortecimento modal de 1%,
conforme sugerido pela EN 1991-2. Foram considerados 475 modos de vibração,
tendo o modo mais elevado uma frequência própria de 119.9 Hz.
O esforço transverso foi obtido por integração do esforço de membrana respectivo,
nos elementos finitos que compõe a alma do tabuleiro. Esta abordagem tem a
vantagem de permitir contabilizar os efeitos do momento torsor actuante na viga
caixão. Este efeito não é relevante neste caso, uma vez que existe uma única via
centrada no tabuleiro, mas assume relevância no caso dos tabuleiros construídos com
duas ou mais vigas pré-fabricadas.
374
ASCP’2011 – 2º Congresso Nacional sobre Segurança e Conservação de Pontes
Coimbra, 29 de Junho a 1 de Julho de 2011
375
ASCP’2011 – 2º Congresso Nacional sobre Segurança e Conservação de Pontes
Coimbra, 29 de Junho a 1 de Julho de 2011
causam qualquer dano por fadiga relevante. Se a frequência de corte fosse ainda
superior, as conclusões mantinham-se.
Figura 4. História temporal de esforços na secção em análise (após aplicação de filtro passa-
baixo com frequência de corte de 30 Hz).
Figura 5. História temporal (parcial) de esforços na secção em análise: resultados filtrados com
frequências de corte de 30 Hz e 60 Hz.
376
ASCP’2011 – 2º Congresso Nacional sobre Segurança e Conservação de Pontes
Coimbra, 29 de Junho a 1 de Julho de 2011
a) b)
Figura 6. Vida útil por fadiga, sem consideração do efeito da flexão transversal:
a) influência da secção transversal dos estribos sobre a sua resistência à fadiga;
b) influência da espessura da alma sobre a sua resistência à fadiga.
Figura 7. Vida útil por fadiga, considerando o efeito da flexão transversal, tendo em conta os
valores reais da secção transversal dos estribos e da espessura da alma: influência do
parâmetro cw.
377
ASCP’2011 – 2º Congresso Nacional sobre Segurança e Conservação de Pontes
Coimbra, 29 de Junho a 1 de Julho de 2011
inferior a 100 anos. Valores mais elevados de cw significam que se considera que
podem ser atingidas tensões de compressão mais elevadas no lado mais comprimido
das almas, resultando consequentemente uma menor resistência à fadiga.
3 CONCLUSÕES
AGRADECIMENTOS
4 REFERÊNCIAS
AFGC 1999. Guide des ponts poussés. Presses de l'Ecole Nationale des Ponts et Chaussées.
CEB. 1993. CEB-FIP Model Code 1990. London. Thomas Telford.
CEN. 2003. EN 1991-2 - Eurocode 1: Actions on structures - Part 2: Traffic loads on bridges.
CEN. 2004. EN 1992-1-1 - Eurocode 2: Design of concrete structures - Part 1-1: General rules
and rules for buildings.
ERRI. 1997. Fatigue design of concrete railway bridges - Loading, resistance, verification
formulae for ENV 1992-2 (ERRI D183/DT346). Ultrecht. European Rail Research Institute.
fib 2010. fib Bulletin 55 - Model Code 2010 - First complete draft - Volume 1.
Gaspar, R. 2003. Dimensionamento das almas de pontes celulares. Tese de Doutoramento.
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
Gaspar, R. & Stucchi, F. R. 2009. Dimensionamento das almas de pontes celulares. Revista
Portuguesa de Engenharia de Estruturas. Série II(6). p. 39-46.
Lefaucher, D. 2002. Cumul des aciers de cisaillement et des aciers de flexion. Ouvrages d'Art.
41. p. 18-29.
Menn, C. 1986. Prestressed concrete bridges. Springer-Verlag.
Robinson, J.R. 1964. Cours de béton précontraint. Paris.
378