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Análise de fadiga das almas de vigas em caixão em tabuleiros de pontes


ferroviárias

Conference Paper · June 2011

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Carlos Sousa João Francisco Rocha


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ASCP’2011 – 2º Congresso Nacional sobre Segurança e Conservação de Pontes
Coimbra, 29 de Junho a 1 de Julho de 2011

Análise de fadiga das almas de vigas em caixão em


tabuleiros de pontes ferroviárias

Carlos Sousa, João Rocha, Rui Calçada, Afonso Serra Neves


Universidade do Porto, Faculdade de Engenharia, Departamento de Engenharia Civil, Porto

RESUMO: Os tabuleiros de pontes ferroviárias são submetidos a cargas cíclicas


importantes, o que implica que o fenómeno de fadiga seja considerado na sua análise
e dimensionamento. A quantificação da resistência à fadiga das almas dos tabuleiros
em caixão constitui um problema complexo por diversos motivos. Primeiro, a
determinação da resistência à fadiga em elementos sujeitos a esforços transversos é
mais complexa do que o caso dos elementos sujeitos predominantemente a esforços
normais ou de flexão. Depois, as almas dos tabuleiros com secção em caixão
encontram-se submetidas a momentos flectores transversais que podem ter um efeito
relevante, especialmente quando essas almas têm espessura reduzida (por exemplo
no caso dos tabuleiros construídos com vigas pré-fabricadas tipo “U”, que é uma das
soluções construtivas empregues na construção de pontes em linhas ferroviárias de
alta velocidade). Além disso, a actual regulamentação não trata explicitamente este
assunto. Neste trabalho propõe-se uma metodologia para quantificação da resistência
à fadiga destes elementos. O método tem sido validado através da comparação com
resultados experimentais obtidos por outros autores. As implicações práticas da
utilização dessa metodologia são ilustradas nesta apresentação através da sua
aplicação a uma estrutura real.

1 INTRODUÇÃO

A função principal das almas das vigas em caixão consiste em garantir resistência
adequada aos esforços transversos referentes ao comportamento longitudinal da obra.
No entanto, estes elementos estão também sujeitos a outros esforços secundários,
entre os quais se destaca a flexão resultante do comportamento transversal do
tabuleiro. A análise do efeito combinado do esforço transverso longitudinal e da flexão
transversal foi efectuada inicialmente de um modo simplista. Robinson [1964] propôs
que a armadura de esforço transverso requerida correspondesse ao máximo dos
valores necessários para resistir aos efeitos isolados do esforço transverso longitudinal
e da flexão transversal. Por outro lado, a AFGC [1999] propôs uma abordagem mais
conservativa, que consiste na análise isolada dos dois efeitos e na soma das
armaduras requeridas para resistir a cada um deles. Claramente, nenhuma destas
abordagens é coerente com o real funcionamento estrutural. A primeira pode conduzir
a dimensionamentos não conservativos, enquanto que a segunda conduz a:
 quantidades excessivas de armaduras nos casos em que o betão se encontra
sujeito a tensões moderadas de compressão;
 sobreposição incoerente das tensões de compressão no betão, que pode
resultar em dimensionamentos não conservativos nos casos em que as almas
estão submetidas a tensões de compressão elevadas.

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Assim, os métodos atrás referidos não são satisfatórios. Pelo contrário, o método
proposto por Menn [1986] trata de modo consistente o efeito combinado do esforço
transverso de membrana e da flexão transversal, em estado limite último (ELU).
Lefaucher [2002] desenvolveu também um procedimento simplificado para análise em
ELU, baseado na metodologia apresentada por Menn [1986].
No que diz respeito a análises de fadiga, apenas Gaspar [2003] e Gaspar & Stucchi
[2009] publicaram trabalhos dedicados à análise de almas de vigas em caixão
considerando a combinação dos referidos efeitos. Estes autores realizaram ensaios
em laboratório e propuseram um método para análises de fadiga.
A análise de fadiga das almas de vigas em caixão é particularmente importante no
caso dos tabuleiros de pontes ferroviárias construídos com vigas pré-fabricadas tipo
“U”. Por um lado, neste caso existem importantes carregamentos cíclicos que tornam
relevante o fenómeno de fadiga. Por outro lado, as vigas pré-fabricadas possuem
usualmente secções esbeltas que as tornam sensíveis aos efeitos transversais
referidos acima. Assim, foi desenvolvida uma metodologia para a análise de fadiga
destes elementos, baseada no trabalho de Gaspar [2003]. Esta metodologia envolve:
 a determinação da história temporal de esforços usando modelos de
carregamento que traduzem a degradação lateral das forças transmitidas
pelos eixos dos comboios;
 a realização de análises dinâmicas para quantificação da amplificação
dinâmica de esforços;
 a implementação de modelos para determinação das tensões actuantes no
betão e no aço atendendo ao efeito combinado do esforço transverso
longitudinal e da flexão transversal;
 a escolha de curvas S-N apropriadas para traduzir a resistência à fadiga dos
materiais;
 o uso de um modelo linear de acumulação de dano para quantificar a vida
útil por fadiga.
Esta metodologia foi implementada num programa de cálculo automático e foi
validada por comparação com os resultados experimentais de Gaspar [2003]. Além
disso, os resultados deste método de análise têm sido confrontados com os resultados
de ensaios cíclicos de vigas sujeitas ao efeito isolado do esforço transverso, i.e., sem
flexão transversal. Este trabalho apresenta sumariamente a metodologia numérica
desenvolvida e ilustra a sua aplicação prática a uma obra real.

2 METODOLOGIA DE ANÁLISE

A análise detalhada de fadiga, em estruturas de betão armado sujeitas a um


carregamento variável, pode ser realizada com recurso ao método da acumulação de
dano. Este método é empregue no presente trabalho, implicando assim os seguintes
passos:
 estabelecimento de um cenário de tráfego ferroviário;
 cálculo da história temporal de esforços transversos longitudinais e momentos
flectores transversais (incluindo a respectiva amplificação dinâmica), em cada
secção crítica;
 determinação da história temporal de tensões nas escoras comprimidas e nos
estribos;
 avaliação do dano por fadiga e da correspondente vida útil.
O cenário de tráfego define as características geométricas e cargas para os
diversos tipos de comboios, as suas velocidades de circulação, e o respectivo volume
anual de tráfego. Esse cenário pode ser estabelecido com base nas indicações dadas

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na EN 1991-2 [2003], estando a discussão deste assunto fora do âmbito do presente


trabalho.
A determinação da história temporal de esforços deve ser realizada recorrendo a
um modelo de elementos finitos de casca. A degradação transversal de carregamento
por efeito dos diversos elementos que compõe a via deve ser considerada. A
distribuição da carga de um eixo de um comboio por várias travessas pode ser
modelada de acordo com o ERRI [1997], podendo a degradação transversal através
das travessas e balastro ser baseada na EN 1991-2. No que diz respeito a tabuleiros
de médio vão, a amplificação dinâmica de esforços é especialmente relevante no caso
da avaliação de efeitos locais, associados ao funcionamento transversal do tabuleiro.
Neste trabalho, recorre-se ao método da sobreposição modal, considerando-se o
coeficiente de amortecimento modal sugerido pela EN 1991-2. Esta é uma abordagem
conservativa, uma vez que resultados experimentais mostram que os valores reais do
coeficiente de amortecimento associado a modos de vibração locais podem ser
significativamente superiores aos valores indicados nesta norma.
A especificidade principal da análise de fadiga das almas dos tabuleiros em estudo,
reside no cálculo da história temporal das tensões actuantes nos estribos e no betão.
Relativamente às tensões de compressão no betão, a existência de momentos
flectores transversais dá origem a diferentes histórias de tensão ao longo da
espessura da alma. Assim, esta espessura é dividida em camadas, sendo
determinada a história de tensões actuante em cada uma delas, seguindo-se deste
modo a recomendação do novo Model Code [2010]. De acordo com este documento,
quando diversos pontos da peça de betão estão sujeitos a diferentes níveis de
tensões, deve ser quantificado o dano por fadiga em cada ponto usando por exemplo
a regra de Palmgren-Miner. As secções seguintes descrevem o procedimento
implementado para o cálculo de tensões, apresentando-se inicialmente o caso em que
existe apenas esforço transverso e depois o tratamento do efeito combinado do
esforço transverso longitudinal e da flexão transversal.

2.1 Efeito isolado do esforço transverso


As tensões devidas ao efeito isolado do esforço transverso longitudinal são
determinadas através do modelo de treliça, abordagem esta que é justificada pela
comparação com resultados experimentais obtidos em vigas submetidas a
carregamentos cíclicos. De acordo com a EN 1992-1-1 [2004], a inclinação das bielas
comprimidas a considerar nas análises de fadiga, θfat, é dada por:

tan  fat  tan  ELU  1 (1)

sendo θELU a inclinação assumida nas verificações em ELU. Deste modo, as tensões
actuantes nas bielas comprimidas, σcw, e nos estribos, σsw, são dadas pelas Equações
(2) e (3) respectivamente.

V
 cw  (2)
bw  z  cos  fat  sin  fat

V
 sw  (3)
Asw
 z  cot  fat
s

onde V representa o esforço transverso actuante, bw é a espessura da alma, z é o


braço de flexão e Asw/s é a secção transversal dos estribos. A tensão normal actuante

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nas escoras comprimidas segundo a direcção vertical,  cw


vert
, e a correspondente força
resultante por metro de comprimento da viga, C, são dadas pelas equações (4) e (5).
O cálculo destas grandezas é aqui referido uma vez que elas intervêm no cálculo dos
efeitos da flexão transversal, tratado em seguida.

 cw
vert
  cw  sin 2  fat (4)

V
C (5)
z  cot  fat

2.2 Efeito combinado do esforço transverso longitudinal e da flexão transversal


A resistência aos momentos flectores transversais é assegurada por uma translação
lateral da força actuante sobre as escoras comprimidas e por uma variação das
tensões actuantes nos estribos. Os resultados experimentais de Gaspar [2003]
mostraram que, para valores reduzidos dos momentos flectores actuantes, pode
assumir-se que ocorre apenas uma translação lateral da força actuante nas escoras
comprimidas (Figura 1). Seja então mmax,1 o valor máximo do momento flector
transversal que pode ser suportado por translação lateral das escoras comprimidas.
Para o cálculo de mmax,1, e dada a indeterminação do problema, é necessária a
introdução de um parâmetro adimensional cw que determina o valor máximo da
tensão normal actuante nas escoras comprimidas, σcw,max, em função da resistência à
fadiga, fcd,fat:

 cw ,max   cwV max

 cw  (6)
f cd ,fat   cw
V max

f ck  f 
f cd ,fat    k 1   cc t 0    1  ck  (7)
1.5  250 

onde  cwV max


representa a tensão actuante nas escoras em resultado do efeito isolado
do esforço transverso máximo registado ao longo do tempo, k1 é um factor redutor que
atende à frequência do carregamento tomando geralmente o valor 0.85 e cc(t0) é um
factor que caracteriza a resistência do betão no início do carregamento cíclico. O
parâmetro  traduz a redução de resistência das escoras comprimidas em resultado da
tracção transversal. Neste trabalho,  toma o valor 0.7, que é sugerido pelo Model
Code [1993, 2010]. Apesar de não estar no âmbito desta apresentação a discussão
detalhada deste parâmetro, é importante referir que este valor é significativamente
menos conservativo do que o sugerido pela EN 1992-1-1. No entanto, o Model Code
trata a redução da resistência das escoras comprimidas de um modo coerente, o que
parece não acontecer no caso da verificação de fadiga indicada na EN 1992-1-1.
O parâmetro cw toma valores entre 0 e 1 e tem que ser assumido pelo utilizador,
devido à indeterminação associada à quantificação das tensões actuantes, sendo esta
a principal limitação do método agora proposto. No exemplo de aplicação apresentado
a seguir é ilustrada a influência deste parâmetro.
O valor máximo da excentricidade das escoras comprimidas é, em cada instante de
tempo, dado por:

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 cw ,max  bw2
emax  (8)
12   cw
V
 y1

 V
 cw ,max  min  cw ,maxV cw (9)
  cw

sendo  cw
V
a tensão actuante nas escoras em resultado do efeito isolado do esforço
transverso actuante no instante de tempo em questão e y1 a distância representada na
Figura 1. Conforme se pode ver na mesma figura, a tensão normal actuante no betão
é calculada ao centro da camada mais comprimida. Não é controlado o valor de pico,
admitindo-se deste modo uma ligeira redistribuição de tensões de compressão durante
o carregamento cíclico, tal como está previsto no Model Code [1993, 2010]. O
parâmetro mmax,1 é então dado por:

mmax,1  C  emax (10)

Figura 1. Representação esquemática das Figura 2. Representação esquemática das


tensões actuantes sob efeito de mmax,1 tensões actuantes sob efeito de um
(momento flector máximo que pode ser momento flector transversal superior a
resistido através da excentricidade das mmax,1.
escoras comprimidas apenas).

Para valores do momento flector actuante superiores a mmax,1, acontecerá um


aumento da tracção actuante no estribo do lado traccionado e uma diminuição da
tracção aplicada ao estribo oposto. Simultaneamente, haverá um aumento da tensão
de compressão actuante no betão, segundo a direcção vertical, do lado mais
comprimido pela flexão transversal. Simplificadamente, assume-se que as tensões
referidas seguem uma distribuição uniforme ao longo da distância bw,req, que é a
largura da alma requerida para que, no instante de tempo em questão, a tensão de

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compressão nas bielas devida ao efeito isolado do esforço transverso não ultrapasse o
limite estabelecido, σcw,max. Deste modo, a profundidade desta zona comprimida será
maior quando o nível de tensões que o esforço transverso induz nas almas é maior
tendo, consequentemente, que ser menor o braço das forças resistentes à flexão
transversal. Uma vez mais, a indeterminação do problema impõe a introdução de um
parâmetro adimensional dc que estabeleça a relação entre o acréscimo de
compressão no betão, C, e a variação de força no estribo do lado comprimido, B
(ver Figura 2):

C
 dc  (11)
B

A escolha do valor a atribuir ao parâmetro dc poderá ser baseada nos resultados
experimentais de Gaspar [2003]. Note-se que, o acréscimo de tensão de compressão
no betão segundo a direcção vertical, C, conduz a uma rotação da direcção principal
de tensão de compressão (que deixa deste modo de ter a direcção θfat) e a uma
variação da própria tensão principal de compressão. No caso das secções mais
esforçadas em tabuleiros de pontes ferroviárias construídas com vigas pré-fabricadas
tipo “U”, verifica-se que esta rotação de tensões principais é pouco significativa.

2 APLICAÇÃO A UM CASO PRÁTICO

O caso de estudo consiste num tabuleiro de uma ponte ferroviária com via única,
construída com vigas pré-fabricadas tipo “U”, com a secção transversal representada
na Figura 3. A obra é composta por 4 tramos, com vãos extremos de 26.5 m e vãos
interiores de 33.5 m. Os tramos são contínuos sendo a ligação de continuidade
estabelecida sem recurso a armaduras pré-esforçadas, i.e., a resistência a momentos
negativos é assegurada por armaduras ordinárias apenas. O processo construtivo
envolve as seguintes fases principais: execução das vigas pré-fabricadas pré-
tensionadas; montagem de vigas e pré-lajes; betonagem dos diafragmas de
continuidade; betonagem de uma faixa central de laje, com 5 m de largura,
estendendo-se  6.70 m para cada lado dos apoios de continuidade; betonagem de
uma faixa central de laje, com 5 m de largura, ao longo do restante comprimento da
obra; betonagem da restante laje (faixas laterais).
Relativamente ao cenário de tráfego, considerou-se que este é formado pelo
comboio de fadiga tipo 5 definido no Anexo D da EN 1991-2 (aquele com maior peso
por metro de desenvolvimento), circulando a uma velocidade de 80 km/h, com um
volume de tráfego de 106 t/ano (valor de referência sugerido pela EN 1991-2).
O cálculo da história temporal de esforços foi realizado através de um modelo de
elementos finitos de casca. A análise dinâmica recorreu ao método da sobreposição
modal, tendo sido considerado um coeficiente de amortecimento modal de 1%,
conforme sugerido pela EN 1991-2. Foram considerados 475 modos de vibração,
tendo o modo mais elevado uma frequência própria de 119.9 Hz.
O esforço transverso foi obtido por integração do esforço de membrana respectivo,
nos elementos finitos que compõe a alma do tabuleiro. Esta abordagem tem a
vantagem de permitir contabilizar os efeitos do momento torsor actuante na viga
caixão. Este efeito não é relevante neste caso, uma vez que existe uma única via
centrada no tabuleiro, mas assume relevância no caso dos tabuleiros construídos com
duas ou mais vigas pré-fabricadas.

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Figura 3. Caso de estudo: geometria da secção transversal.

Para ilustrar as implicações da aplicação da metodologia desenvolvida,


apresentam-se a seguir os resultados obtidos para uma secção localizada a ~ 3 m de
um dos apoios de continuidade. O Quadro 1 mostra algumas das características
relevantes para a análise. Verifica-se que a quantidade de armadura que realmente
existe nesta secção é significativamente superior àquela que seria estritamente
necessária para resistir ao efeito isolado do esforço transverso, em ELU (a armadura
requerida é 59.8% da existente). Além disso, o valor requerido para a espessura da
alma em ELU é 94.1% do valor existente. Deste modo, a secção em estudo tem
capacidade para resistir a momentos flectores transversais, sendo o momento flector
resistente em ELU (em combinação com o esforço transverso longitudinal) igual a
50 kNm/m, valor este que é superior ao esforço actuante em ELU (38.6 kNm/m, de
acordo com um cálculo simplificado).

Quadro 1. Características geométricas relevantes, esforços actuantes e armaduras requeridas


em ELU, numa secção a 3 m de um dos apoios de continuidade.
Espessura da alma, bw 0.206 m
Estribos em cada alma 16//0.20 + 12//0.20 (2 ramos)
Braço de flexão, z 2.17 m
θELU 26.56º (cotθELU = 2.0)
Esforço transverso actuante em ELU 3548 kN/alma
Armadura requerida para resistir ao efeito isolado 18.78 cm2/m/alma
do esforço transverso em ELU (59.8% da armadura existente)

Em seguida apresentam-se os resultados da verificação de fadiga nesta secção. A


Figura 4 representa a história temporal de esforços, após aplicação de um filtro passa-
baixo com frequência de corte de 30 Hz. A utilização do filtro permite reduzir o nº de
ciclos de carregamento, conduzindo deste modo a uma redução do tempo de cálculo
na análise de fadiga (o cálculo de tensões e a análise de fadiga não são realizados
para todos os instantes de tempo, mas apenas para aqueles que correspondem a
máximos ou mínimos locais de uma das histórias temporais de esforços). Na Figura 5
pode ver-se que a consideração de uma frequência de corte superior (60 Hz neste
caso) leva a uma aumento significativo do nº de ciclos, mas os ciclos adicionais têm
uma amplitude muito reduzida, tendo-se verificado que esses ciclos adicionais não

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causam qualquer dano por fadiga relevante. Se a frequência de corte fosse ainda
superior, as conclusões mantinham-se.

Figura 4. História temporal de esforços na secção em análise (após aplicação de filtro passa-
baixo com frequência de corte de 30 Hz).

Figura 5. História temporal (parcial) de esforços na secção em análise: resultados filtrados com
frequências de corte de 30 Hz e 60 Hz.

A Figura 6 apresenta os resultados do cálculo da vida útil por fadiga, para um


cenário em que se ignora a influência da flexão transversal. Atendendo às margens
existentes na verificação de segurança em ELU considerando o efeito isolado do
esforço transverso, não é de admirar que o valor calculado para a vida útil por fadiga
seja elevado. A Figura 6 ilustra a influência da variação da secção transversal dos
estribos e da espessura da alma em termos de resistência à fadiga. Verifica-se que a
relação entre essa redução (em escala linear) e a vida útil por fadiga (em escala
logarítmica) é sensivelmente linear, o que mostra que a resistência à fadiga é muito
sensível a pequenas variações geométricas.

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a) b)
Figura 6. Vida útil por fadiga, sem consideração do efeito da flexão transversal:
a) influência da secção transversal dos estribos sobre a sua resistência à fadiga;
b) influência da espessura da alma sobre a sua resistência à fadiga.

A Figura 7 apresenta os resultados da verificação de fadiga considerando o efeito


combinado do esforço transverso longitudinal e da flexão transversal. Esta figura
ilustra a influência do parâmetro cw sobre a vida útil por fadiga, tendo o parâmetro dc
tomado o valor 0.1. Na verificação de fadiga, os esforços cíclicos representados na
Figura 4 são adicionados aos respectivos esforços com carácter de permanência
(combinação base de acções não-cíclicas definida na EN 1992-1-1), que tomam os
valores 1442 kN/alma e -17 kNm/m, em termos de esforço transverso e flexão
respectivamente.

Figura 7. Vida útil por fadiga, considerando o efeito da flexão transversal, tendo em conta os
valores reais da secção transversal dos estribos e da espessura da alma: influência do
parâmetro cw.

Verifica-se que a resistência à fadiga das armaduras é pouco sensível ao valor do


parâmetro cw, sendo assim possível obter uma boa estimativa para a vida útil por
fadiga deste elemento. Os resultados obtidos mostram também que a resistência à
fadiga do aço é superior ao mínimo requerido, admitindo um tempo de vida de 100
anos. Relativamente ao betão comprimido, a Figura 7 mostra que o parâmetro cw
influencia de modo relevante o resultado da análise de fadiga, verificando-se que
quando este parâmetros toma valores superiores a ~ 0.5, a resistência à fadiga é

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inferior a 100 anos. Valores mais elevados de cw significam que se considera que
podem ser atingidas tensões de compressão mais elevadas no lado mais comprimido
das almas, resultando consequentemente uma menor resistência à fadiga.

3 CONCLUSÕES

Neste trabalho foi apresentada a metodologia desenvolvida para a análise de fadiga


das almas das vigas em caixão de pontes ferroviárias sob efeito do esforço transverso
longitudinal e da flexão transversal. É importante referir que a complexidade do
fenómeno de fadiga, associada à complexidade adicional introduzida pelas
especificidades do comportamento das almas das vigas em caixão considerando a
interacção com a flexão transversal, não permitem a obtenção de um cálculo preciso
para a vida útil por fadiga. De facto, o procedimento utilizado no cálculo das tensões
envolve simplificações e pressupõe a adopção de dois parâmetros adimensionais que
influenciam a distribuição de tensões nos materiais (as análises efectuadas mostraram
que as implicações são mais importantes no caso da verificação de fadiga do betão
comprimido). Além disso, a estimativa da vida útil por fadiga através da regra de
acumulação linear de dano de Palmgren-Miner não é um resultado preciso, devido à
complexidade do fenómeno de fadiga. Apesar destas limitações, a metodologia
apresentada fornece uma estimativa que as comparações com resultados
experimentais têm mostrado que é conservativa, sendo deste modo possível aferir a
relevância dos momentos flectores transversais em termos de fadiga. Por fim, salienta-
se que a metodologia de cálculo apresentada pressupõe a existência de fendilhação.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi realizado no âmbito da Bolsa de Investigação com a referência


SFRH/BD/29125/2006 financiada pelo POPH - QREN - Tipologia 4.1 - Formação
Avançada, comparticipado pelo Fundo Social Europeu e por fundos nacionais do
MCTES. O trabalho é também financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento
Regional (FEDER) através do COMPETE – Programa Operacional Factores de
Competitividade (POFC) e por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a
Ciência e a Tecnologia, no âmbito do projecto FCOMP-01-0124-FEDER-007193, e
AdI – Agência de Inovação S.A., no âmbito do projecto SI-IDT-3440/2008.

4 REFERÊNCIAS

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CEB. 1993. CEB-FIP Model Code 1990. London. Thomas Telford.
CEN. 2003. EN 1991-2 - Eurocode 1: Actions on structures - Part 2: Traffic loads on bridges.
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ERRI. 1997. Fatigue design of concrete railway bridges - Loading, resistance, verification
formulae for ENV 1992-2 (ERRI D183/DT346). Ultrecht. European Rail Research Institute.
fib 2010. fib Bulletin 55 - Model Code 2010 - First complete draft - Volume 1.
Gaspar, R. 2003. Dimensionamento das almas de pontes celulares. Tese de Doutoramento.
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
Gaspar, R. & Stucchi, F. R. 2009. Dimensionamento das almas de pontes celulares. Revista
Portuguesa de Engenharia de Estruturas. Série II(6). p. 39-46.
Lefaucher, D. 2002. Cumul des aciers de cisaillement et des aciers de flexion. Ouvrages d'Art.
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Menn, C. 1986. Prestressed concrete bridges. Springer-Verlag.
Robinson, J.R. 1964. Cours de béton précontraint. Paris.

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