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Currículo, poder e lutas educacionais: com a palavra,

os subalternos
Curriculum, power and educational struggles: in the
words of the subordinates
Simone de Figueiredo Cruz*
Pedagoga, Psicopedagoga, Mestre em Educação pela
UCDB – linha Diversidade Cultural e Educação Indígena.
Atua com formação pedagógica no CEESPI/MS. Docente
na pós-graduação, na UCDB, Libera Limes e instituição
no interior de MS. Pesquisadora colaboradora externa do
NEPPI – Núcleo de Estudos e Pesquisa das Populações
Indígenas / UCDB e Psicopedagoga Clínica.
e-mail: simonefc66@hotmail.com

APPLE, Michael W. ; BURAS, Kristen L. Currículo, poder e lutas educacionais: com a


palavra, os subalternos. Porto Alegre: Artmed, 2008. 296 p. ISBN 978-85-363-1054-1
Palavras-chave: Culturas e Identidades. Subalternos. Relação de Poder.

Obra organizada em três grandes Essas relações políticas sociais aden-


partes com subdivisões, as quais apresen- tram o campo da educação aumentando a
tam diferenciadas disputas entre grupos complexidade da realidade. A questão que
dominantes e subalternos para definir o os autores levantam é imperativa a educa-
que conta como conhecimento, em contex- dores críticos, indagando afinal – “tem mais
tos nacionais e internacionais. Os autores valor o conhecimento de quem?” Levanta
e colaboradores provocam a reflexão sobre o debate sobre a perspectiva, a experiência
as tensas histórias de lutas dos grupos e a história privilegiada no currículo e
oprimidos, em relação à dominação e im- nas instituições de modo geral. O cenário
posição etnocêntrica cultural no contexto deste debate é iluminado pela distribuição
do colonialismo da América do Norte e desigual do poder político, econômico e
em outros contextos internacionais. Estas cultural que caracteriza os Estados Unidos
tensões e exclusões perduram até hoje, transcendendo outras nações.
exaltando os brancos em detrimento a A intenção é ilustrar a complexidade
descendentes nativos. Os autores trazem das lutas entre grupos com diferentes níveis
inquietações de pesquisadores sobre a de poder, influenciando a construção do
ausência das vozes dos excluídos, se eles conhecimento e a apropriação de recursos
podem falar? E se são ouvidos? na área da educação, enfatizando quais as

Série-Estudos - Periódico do Mestrado em Educação da UCDB.


Campo Grande-MS, n. 27, p. 283-287, jul./dez. 2008.
possibilidades e limitações da ação dentro de um nexo de relações e contextos
subalterna. inconstantes. A linha que separa opressor
O termo “subalterno” empregado na e oprimido nem sempre é clara, sinalizando
obra é baseado na concepção de Gramsci, a vida em fronteiras. Mostra também, na
por considerá-lo um entendedor do poder educação, que a dominação e a subalter-
das lutas culturais e pela profunda influên- nidade se misturam e se confundem, crian-
cia na pesquisa e na ação crítica educacio- do teias de interrelações baseadas nas
nal. Partindo da história, subalterno se refe- questões de classe, raça, gênero...
re a pessoas de classes mais baixas, e, nas O foco da obra é trazer à tona o es-
anotações de Gramsci – “cadernos do cár- forço dos atores subalternos para falar e
cere”, era um código para grupos oprimidos as questões relacionadas sobre o que con-
por conta da censura. tam e como falam. Falar aqui não só pela
Segundo os autores, esta conceitua- palavra, mas de várias formas: corpos para
ção de subalterno anunciou um futuro nos esculpir e produzir um visual de opressão,
estudos culturais, trazendo novas histórias assim como o agir ou não agir.
na visão de quem vem de baixo, fundamen- Os textos possibilitam a reflexão
tal às teorias críticas educacionais. Subal- sobre como os grupos dominantes e subal-
ternos são aqueles submetidos a relações ternos “falam” no teatro da educação, lem-
de poderes desiguais, “poder” este mais pelo brando que as lutas educacionais estão in-
consentimento do que pela força. Os subal- trinsecamente vinculadas aos conflitos eco-
ternos são mobilizados com base em for- nômicos, políticos e culturais mais amplos.
mas coletivas de consciência crítica. Estas influências constituem o palco em que
A obra é uma excelente reflexão so- se encena o teatro político da educação.
bre a luta educacional, discutem-se as dinâ- Ao perguntar – “o conhecimento de
micas da identidade e poder. Levanta-se a quem tem mais valor?” evoca uma política
complexidade do ato dos subalternos fala- de identidade que considera os avanços
rem e o que se considera como fala e como nos trabalhos de identidade e os debates
os grupos dominantes reagem. É neste que esse conhecimento produziu. Esses
campo do falar e do silenciar, das inter e debates favoreceram melhor compreensão
intrarrelações dos grupos com poder desi- sobre o que envolve o subalterno e traz de
gual que se situam as tensões e negocia- volta a questão de Spivak – “os subalter-
ções de poder. nos podem falar?” Isso levanta questões re-
Apresenta a compreensão de Boal, levantes para o trabalho com a subalterni-
ativista teatral brasileiro, que cada um de dade em estudos educacionais críticos.
nós pode usar muitas “máscaras” e partici- Apoiados em Hall, sobre as relações
par de muitos “rituais”, isto é, nossas identi- entre identidade, voz e poder, reconceitua
dades e ações são múltiplas e complica- o sujeito (subalterno) em uma nova posição,
das. Enfatiza que assumimos diversos posi- deslocada ou descentralizada. Reformula e
cionamentos em eixos variados de poder e reorganiza os conceitos de identidade e de

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cultura, para iluminar os debates sobre o Apple retoma idéias de Paulo Freire,
que conta como conhecimento nas escolas. de quando esteve no Brasil, sobre a impor-
Esta obra favorece a compreensão dos li- tância da educação começar no diálogo
mites e possibilidades dos grupos subalter- crítico. Este diálogo se faz importante tanto
nos falarem e agirem dentro da educação. em relação às experiências internas como
Os autores articulam uma análise das às externas à nação, para aprender com
maneiras como as diferentes formas de do- outras realidades.
minação atuam, com um foco específico nos Esta obra tem o propósito de articular
espaços criados, como os grupos subalternos as respostas, a voz, a identidade e o conhe-
podem reafirmar suas identidades, culturas cimento de quem tem mais valor diante das
e histórias. Assim, esperam participar da cons- condições políticas, econômicas e culturais.
trução de escolas que conduzam a uma Analisa as lutas dos grupos subalternos por
“nova ordem” radicalmente democrática. reconhecimento cultural e redistribuição eco-
Apresenta exemplos de projetos de- nômica nos diversos contextos educacionais
senvolvidos em meio a “guerras culturais” e explora como essas relações intervêm na
nas escolas. Revela como um currículo rela- produção e distribuição do currículo.
cionado com as vidas dos estudantes pode Na primeira parte – “Os subalternos
abrir espaços para um aprendizado que falam: na voz de quem? Os colaboradores
reconheça como valiosas as culturas dos articulam as seguintes ideias: Buras iden-
grupos subalternos. Essa pedagogia é rele- tifica e analisa iniciativas curriculares e mo-
vante para discutir sobre o poder das for- vimentos educacionais no cenário dos Es-
mas culturais dominantes que divide as tados Unidos. Apple avalia os papéis de
pessoas entre as aceitos e intrusos nas ins- gênero tradicionais para as mulheres, as in-
tituições educacionais. fluências do acesso às novas tecnologias e
Desta forma, de que modo grupos o crescimento da escolarização em casa.
dominantes e subalternos intervêm nos cir- Esclarece as contradições nos movimentos
cuitos de produção, distribuição e recepção conservadores que posicionam a mulher
curriculares? As coletividades influenciam a como subserviente e, ao mesmo tempo, as
produção e circulação do conhecimento e identidades de atores poderosos. Pedroni
reinterpretam as representações que per- examina a formação de identidade e a
meiam a vida escolar. Os colaboradores ação de países afroamericanos de baixa
apresentam as contestações, concessões e renda envolvidos no programa de vale-edu-
reconstruções relacionadas às políticas curri- cação. Os cuidadores influenciam os sujei-
culares e educacionais. Os avanços dos estu- tos de maneira complexa, contraditória e
dos sobre os subalternos e pós-coloniais re- criativa. Nesta primeira parte, instiga-se o
velam a importância de entender as relações leitor à compreensão das políticas da
interconectadas e inconstantes entre a “peri- subalternidade em relação às forças agres-
feria” e o “centro”, especialmente em termos sivas da modernização conservadora, apon-
de disputas sobre o conhecimento. tando o risco de se esquecer as disputas

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justificáveis desses grupos que estão entre as lentes da detração, do medo e da assi-
os mais oprimidos cultural, econômica e milação. Segundo o autor, elas nos convi-
politicamente, nos Estados Unidos e em ou- dam a ler os problemas de diferentes ma-
tros países. O foco é prestar atenção às neiras, especialmente, questionadoras.
vozes e às disputas dos grupos que sofrem Aronowitz apresenta como o interesse
opressões. militar e empresarial contaminam a produ-
Na segunda parte – “Os subalternos ção, a distribuição e a recepção do conhe-
falam: contexto americano”, os colaborado- cimento no ensino superior em detrimento
res concentram-se no posicionamento e na de meios mais esclarecidos do ensino e da
participação de grupos subalternos. pesquisa. Neste segundo momento, os tex-
Martinez mostra a complicada relação tos revelam possibilidades e contradições
entre o conhecimento “branco” obrigatório envolvidas na maneira como esses grupos
e o conhecimento “vermelho” (indígena) resistiram ou se organizaram com base em
opcional, revelando como a dominação, as determinadas identificações e espaços
concessões e as resistências ocorrem. Jovens disponibilizados por forças progressivas e
indígenas que estudam em escolas públi- conservadoras.
cas enfrentam conflitos e tensões na sua Na terceira parte – “Os subalternos
existência individual e coletiva como povos falam: contextos internacionais” –, os cola-
indígenas, desafiando as decisões curricula- boradores analisam a importância da
res que o estado colonizador determina subalternidade para produção, distribuição
como conhecimento. Bernal apresenta um e reconstrução do conhecimento escolar
protesto de chicanos e a política de identi- fora do contexto americano. Favorece a
dade contra um currículo racista, de desi- compreensão dos elementos específicos de
gualdade de recursos e de qualidade infe- como as disputas ocorrem em outros con-
rior de educação em determinadas escolas. textos internacionais. Os autores lembram
Discute-se o que significa “falar” no nível que grande parte dos que reivindicam o
popular, através da luta dos chicanos pelo centro para si mesmo, o faz fora de suas
direito de incluir sua cultura, sua história e fronteiras. Chen documenta conflitos de
sua língua no currículo. Por meio da lideran- países que lutaram pelo reconhecimento da
ça cooperativa, reconhece a dimensão da história, da língua e da cultura nativa nos
liderança popular e a importante presença currículos escolares. Essa análise discute a
da mulher chicana na liderança dos levan- força dos movimentos oposicionistas para
tes. Kumashiro faz uma reflexão sobre a reconstruir o currículo e a identidade influen-
dinâmica racial e sexual do contexto pós ciando a ação do Estado. Essa luta pela
11 de setembro. As reformas engendram incorporação cultural e pela reconstituição
assimilação que estimula a conversão, a da identidade marca disputa por novas
omissão e o disfarce, sobrecarregando as políticas educacionais, quanto à produção
identidades dos subalternos. A educação e e mudança do conhecimento legítimo, nes-
seus problemas devem ser analisados com te caso, nacionalizando a cultura chinesa.

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Gandin analisa iniciativas subalternas em reconhecimento cultural e como elas podem
Porto Alegre, Brasil. Enfatiza como comuni- nos ajudar a entender melhor as comple-
dades oprimidas rearticularam discursos xidades, as contradições, os limites, os peri-
neoliberais sobre concorrência internacional gos e as possibilidades das lutas educacio-
e devolução de responsabilidades, num nais. Não fecham com conclusões, mas
projeto da Escola Cidadã. Aponta o quão deixam espaço para os debates que são
difícil é ouvir as vozes subalternas em con- fundamentais para ações mais reflexivas,
textos neoliberais, tornando-as muitas ve- produtivas, efetivas e bem-sucedidas no
zes ruídos. Mas, aqui, um grupo de vozes enfrentamento das complicadas relações de
subalternas conquista espaço na política dominação e subordinação existentes nas
pública e o grande ensinamento é que “não sociedades. Sobre a questão inicial – “os
existe um modelo que possa ser reproduzi- subalternos podem falar?” Os autores es-
do em qualquer lugar”. É sempre necessá- clarecem que não é um simples sim ou não.
rio traduzir a proposta à realidade cultural, Apontam que, nas relações de poder desi-
democratizando a gestão, a escola e o co- guais e em lutas educacionais díspares, há
nhecimento. A qualidade está pautada na uma variedade de limites e possibilidades.
capacidade de gerar um currículo inserido A iniciativa foi avaliar os espaços encon-
na cultura local, envolvendo o pensamen- trados sem romantismos e os mais táticos,
to crítico e a transformação social. Buras e estratégicos e democráticos possível, pen-
Motter trazem ao leitor o desafio de ima- sando sempre dentro e através das frontei-
ginar e desenvolver um currículo que esti- ras para a reconstrução crítica e democráti-
mule uma variedade de solidariedades, que ca do currículo, da escolarização e do teatro
promova os interesses dos subalternos em da educação, em sentido amplo.
âmbito local, nacional e global. A possibili- Trata-se de uma publicação que re-
dade que o multiculturalismo cosmopolita vela estudos críticos em educação e, por
subalterno pode fazer é ajudar os estudan- isso, muito oportuna para que se tenha
tes a desenvolver a capacidade de pensar uma visão menos romântica das questões
e agir de formas contra-hegemônicas, den- envolvidas na política da subalternidade,
tro e através das fronteiras, algo desafiador tornando possíveis compreensões e inter-
e nada fácil. Nesta parte, os autores indi- venções estratégicas mais efetivas. Consi-
cam pontos de partida para a reflexão, diá- dero uma leitura indispensável para os
logo e ações. atuais e futuros professores e pesquisado-
No capítulo que fecha a obra, Apple res da temática e, por que não, como fonte
e Buras colocam várias questões sobre o para trabalhos de conclusão de cursos.

Recebido em 20 de maio de 2009.


Aprovado para publicação em 10 de junho de 2009.

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