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São comuns várias explicações sobre o assunto, uma delas que diz que
correu um boato entre os soldados romanos de que havia ouro
escondido entre as pedras, e, desta forma, no meio da agitação da
guerra o Templo foi literalmente desmontado. É interessante e
facilmente credível a estória, mas não é verdade. Parece que alguém
quis fazer um gol de mão para dar consistência à profecia de Jesus,
coisa absolutamente desnecessária, uma vez que a história real é por
si mesma muito mais impressionante que isto.
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Jesus foi crucificado durante o império de Tibério. Tibério foi sucedido
por Caio Calígula, que reinou sobre Roma entre 37 DC a 41 DC. Não
fosse detido pela morte, teria ele mesmo destruído Jerusalém muito
antes do ano 70, isto porque este imperador ordenou que fossem
colocadas estátuas no Templo, e que fossem mortos ou escravizados
todos os judeus que se opusessem à idéia. De fato o povo se opôs à
ideia e a sua destruição foi detida pelo assassinato de Calígula.
Foi Nero quem nomeou Félix governador da Judeia. É a este Félix que
Paulo foi enviado, na cidade de Cesareia, quando os judeus conjuraram
sua morte em Jerusalém, conforme o registro dos capítulos 23 e 24 de
Atos.
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tremia-se à aproximação de qualquer pessoa; não se confiava nem
mesmo nos amigos e embora se vivesse sempre alerta, todas essas
desconfianças e sus-peitas não eram capazes de garantir a vida
àqueles aos quais tais celerados ti-nham decretado a morte, tão
astutos e espertos eles eram num ofício tão execrável.”
Félix foi substituído por Pórcio Festo, a quem se refere Atos 24:27 e
capítulos subsequentes. Festo, por sua vez, já na altura que Paulo fora
transferido para Roma, morreu, e Nero o substituiu no governo da
Judeia por Albino, a quem Josefo classifica de um homem de maus
princípios.
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tirou-lhe o sumo sacerdócio, que exercera somente durante quatro
meses, e a deu a Jesus, filho de Daneu.” (Antiguidades Judaicas § 856)
Se este Albino era mau e corrupto, foi substituído por Gessio Floro, a
quem comparado, segundo Josefo, Albino poderia ser até chamado de
bom homem: ” Seus roubos não tinham limites, bem como outras
violências; ele era cruel para com os aflitos e não se envergonhava das
ações mais vis e infames; nenhum outro jamais traiu mais
atrevidamente a verdade, nem usou de meios mais sutis para fazer o
mal.” (Ibib § 185)
Foi durante o governo deste Gessio Floro que começou a revolta que
culminaria, no ano 70 DC, na destruição do Templo.
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A revolta começou com uma banalidade, em Cesareia, onde um grego
possuía um terreno perto de uma sinagoga, terreno este que os judeus
desejam comprar e se dispunham a pagar por ele bom preço. Josefo
conta que o grego não somente não se contentou em não vendê-lo,
“mas também resolveu, para aborrecê-los ainda mais, mandar
construir neste ter-reno uns armazéns e deixar assim uma passagem
muito estreita para se ir à sinagoga”.
Para piorar a situação, conta Josefo, que o grego, num dia de sábado,
enquanto os judeus estavam na sinagoga, começou a sacrificar aves
com o claro propósito de irritá-los, e foi assim que tudo começou, com
enfrentamento de ambas partes, gregos e judeus, de maneira que em
pouco tempo a escalada de violência tomou toda a cidade, e como um
rastilho de pólvora, uma simples ocorrência local, se espalhou por todo
o país
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destes grupos, por exemplo, atacou e tomou a fortaleza de Massada,
degolando toda a guarnição romana que cuidava do local.
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Conforme dissemos, a fortaleza de Massada foi conquistada pelos
judeus, que liderados por um tal Manahem, mataram toda a guarnição
romana encarregada da segurança, e tomaram posse do arsenal que
Herodes guardava naquele lugar. Manahem armou um grande número
de homens e marchou contra Jerusalém, fazendo-se assim rei, e
tornando-se chefe da revolta. Uma vez em Jerusalém matou Ananias,
o sumo sacerdote, vindo, depois disto, ser ele próprio morto por uma
gente liderada por Eleazar, filho do sumo sacerdote. (Ibid § 204)
Eleazar contava com o apoio popular, uma vez que todos desejavam o
fim da revolta, e imaginavam que a morte de Manahem faria cessá-la.
Mas a troca de Manehem por Eleazar só fez piorar as coisas, pois este
desejava ardentemente lutar contra os romanos e se libertar da
dominação estrangeira. Toda esta espécie de insensatez nos força a
pensar que Eleazar, bem como outros que se destacaram nesta guerra,
teriam possivelmente vivas em suas mentes a memória dos feitos
heroicos de Judas Macabeu, e desta forma, sonhavam também se
tornar heróis, reeditando contra os romanos a vitória de Judas
Macabeu contra os “gregos”.
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É interessante notar, que no meio do caos, quando a guerra contra os
romanos passara de possibilidade para realidade, coube naturalmente
aos religiosos, liderados pelo sumo sacerdote, a responsabilidade de
organizar o povo na resistência, e neste sentido, são os fariseus que
tomam a dianteira deste negócio.
Pelo lado romano, Vespasiano foi escolhido a dedo por Nero: “Sua vida,
desde a juventude até à velhice, tinha-se passado na guerra. O império
devia ao seu valor a paz de que gozava no Ocidente, que se vira
abalado pela revolta dos alemães, e seus trabalhos tinham dado ao
imperador Cláudio, pai de Nero, sem esforço algum, sem ter
derramado uma gota sequer de sangue, a glória de triunfar contra a
Inglaterra, que não se podia dizer, até então, ter sido verdadeiramente
dominada. Dessa forma, Nero, considerando a idade, a experiência e a
coragem deste grande general e que ele tinha filhos que eram como
reféns de sua fidelidade, os quais no vigor da juventude podiam servir
como de braços à prudência de seu pai, além de que talvez, Deus assim
o permitia para o bem do império, resolveu dar-lhe o comando dos
exércitos da Síria”. (Guerra dos Judeus Contra os Romanos, Capítulo
3, § 234)
Em Jotape Vespasiano foi ferido por uma flecha na planta do pé, o que
causou, segundo Josefo, grande comoção entre seus comandados, e
particularmente em Tito, seu filho, que por causa disto lutavam com
muito maior ardor como que para vingar a afronta sofrida por seu
general. A cidade resistiu por apenas 47 dias, e ao fim deste tempo,
foi totalmente destruída, havendo os romanos matado sem piedade
todos os homens, independentemente de suas idades, poupando
apenas as mulheres e crianças. Quarenta mil judeus perderam a vida
nesta empreitada, muitos dos quais se suicidaram. Conforme Josefo,
“a tomada dessa praça cuja extrema resistência tornou-se tão célebre,
deu-se a primeiro de julho do décimo terceiro ano do reinado de Nero”.
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nas mãos dos romanos, e assim, lançando sorte, entregaram-se à
morte um a um até que restaram apenas Josefo e um companheiro, e
assim, “Josefo, vendo que se lançasse a sorte, ela, ou lhe custaria a
vida ou ele teria que manchar suas mãos no sangue de um amigo,
aconselhou-o a viver, dando-lhe garantia de salvá-lo. Assim, Josefo
conseguiu escapar daquele tremendo perigo que correra, quer do lado
dos romanos, quer dos de sua própria nação, e entregou-se a Nicanor”.
(Ibid, 270-271)
Jope foi o alvo seguinte de Vespasiano, uma vez que esta cidade se
tornara um ponto de troca de bens que eram saqueados nos mares por
judeus que percorriam as costas da Fenícia, da Síria e mesmo do Egito.
Tomaram a cidade sem luta, fortificaram sua parte mais alta e
deixaram ali uma guarnição de soldados de infantaria e muita
cavalaria, para fazerem incursões às regiões vizinhas e incendiarem as
aldeias e as vilas.
Foi desta forma que veio sobre Jerusalém o maior dos castigos. Josefo
assim nos reporta: “Em tal miséria, as guarnições das cidades,
pensando somente em viver, segundo sua vontade, sem se incomodar
com a pátria, não cuidavam em defender os oprimidos; os chefes dos
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ladrões depois de se terem unido e organizado, dirigiram-se para
Jerusalém. Não encontraram obstáculo, quer porque ninguém tinha
autoridade, quer porque a entrada estava sempre aberta para todos os
judeus segundo o costume dos nossos antepassados, e naquele tempo,
mais que nunca, porque se pensava que para lá se ia, levado apenas
pelo afeto e pelo desejo de servir à cidade, naquela guerra. Daí nasceu
um grande mal, que, mesmo que não tivesse havido divisão, naquela
grande cidade, teria sozinho causado sua ruína, porque uma parte dos
víveres que seria suficiente para alimentar os que eram capazes de a
defender foi consumida inutilmente por aquela grande multidão de
homens inúteis, mas também foi causa de revoltas que vieram depois
da carestia. Outros ladrões deixaram os campos para lançar-se sobre
Jerusalém, unindo-se aos primeiros, que eram ainda piores do que
eles. Não se contentavam de roubar e de assaltar; sua crueldade
chegava ao assassínio; sua ousadia era tal que o cometiam à luz do
dia, sem poupar nem mesmo às pessoas de condição. Começaram por
prender Antipas, que era de família real e ao qual estava confiada a
guarda do tesouro público, como o primeiro de todos, em dignidade.
Trataram do mesmo modo Levias e Sophas, filho de Raguel, que
também eram de família real e outras pessoas muito importantes. Essa
horrível insolência, lançou tal terror no espírito do povo, que como se
a cidade já tivesse sido tomada, todos só pensavam em fugir”. (Ibid
300-301)
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sobre Fanias, filho de Samuel, da aldeia de Hafrasi, que não somente
era indigno de tal cargo, mas ainda tão rústico e tão ignorante, que
nem sabia o que era o sacerdócio. Contra sua vontade tiraram-no de
suas ocupações do campo e o revestiram dos hábitos sacerdotais, que
lhe assentavam muito mal, quase como se estivessem vestindo um
ator de teatro; ensinaram-lhe depois o que devia fazer; tão grande
impiedade passava em seu espírito apenas por um gracejo. Os
verdadeiros sacerdotes, olhando de longe essa comédia e de que modo
se calcava aos pés a honra devida às coisas santas, não puderam reter
as lágrimas, nem o povo suportou por mais tempo tão horrível
insolência; todos sentiram-se inflamados pelo mesmo ardor, para se
libertarem de tal tirania. (Ibid 301-303)
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da cidade e no confronto desta guerra civil milhares morreram, entre
os quais Anano, bem como muitos outros sacerdotes.
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Josefo vê, ao retratar este instante da história de Jerusalém, o
cumprimento de uma profecia. Vejamos suas palavras: “Aqueles
homens animados pelos demônios não se contentavam de calcar aos
pés tudo o que é mais digno de respeito; eles zombavam do mesmo
Deus e tomavam como loucura e ilusão as predições dos profetas. Mas
as consequências os fizeram ver que eram bastante verdadeiras.
Aqueles celerados foram os executores da predição feita há muito
tempo, de que, depois de uma grande divisão, Jerusalém seria tomada
e depois que os que mais deviam respeitar o Templo de Deus, o
tivessem profanado com sua impiedade, ele seria queimado e reduzido
a cinzas, por aqueles aos quais as leis da guerra permitiam usar como
lhes aprouvesse de sua vitória.” (Ibid 326)
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Se dentro da cidade as coisas estavam ruins, com dois grupos se
digladiando até morte, piorou a situação quando houve a cisão do
grupo dos zelotes em dois partidos distintos, e desta forma, três grupos
disputavam controlar a cidade. Com o país sendo pouco a pouco
retomado pelos romanos, na visão de Vespasiano eram estes três
grupos os inimigos de Roma. Mas a eles juntou-se um quarto, para
ruína de Israel: os sicários, que tomaram a fortaleza de Massada
construída por Herodes, o Grande, onde os reis guardavam seus
tesouros, muitas armas e que também serviam para segurança de suas
pessoas. Diz Josefo: “Estes sicários, ou assassinos, não eram em
número tal que os levasse a cometer seus crimes abertamente, por
isso matavam à traição; apoderaram-se dessa fortaleza e vendo que o
exército romano estava em descanso, e que os judeus se digladiavam
em Jerusalém, imaginaram empreender coisas em que jamais haviam
pensado, nem ousado fazer. Assim, na noite da festa de Páscoa, tão
solene entre os judeus, porque se celebra em memória da sua
libertação da escravidão do Egito, para ir tomar posse da terra que
Deus havia prometido aos nossos antepassados, esses assassinos
atacaram de improviso a pequena cidade de Engedi antes que os
habitantes tivessem tido tempo de tomar as armas, mataram mais de
setecentos deles, dos quais a maior parte eram mulheres e crianças,
saquearam todas as casas e levaram todos os despojos para Massada.
Trataram do mesmo modo todas as aldeias e todas as vilas dos
arredores; seu número crescia cada vez mais e não havia um lugar
sequer na Judéia que não estivesse naquele tempo exposto a toda
sorte de depredação. Como acontece no corpo humano, quando a parte
mais nobre é atacada por uma grave enfermidade, todas as outras
também se ressentem, assim essa horrível divisão que tinha reduzido
a tal extremo a capital, abrindo as portas à licença, havia feito que o
mal se espalhasse por toda a parte; nada havia que aqueles celerados
não julgassem poder fazer, impunemente. Após terem devastado tudo
o que estava perto deles, retiraram-se para o deserto, onde, depois de
se terem reunido em grande número para formar, se não um pequeno
exército, pelo menos um bando considerável de ladrões, atacaram as
cidades e os Templos. Aqueles aos quais faziam tanto mal não os
poupavam quando podiam agarrá-los, mas lhes era muito difícil,
porque eles fugiam imediatamente, com os despojos conquistados.
Assim, podia-se dizer que não havia um lugar sequer na Judéia que
não participasse dos males que faziam Jerusalém perecer.” (Ibid 340)
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A Guerra dos Judeus Contra os Romanos – Parte 2 – Galba,
Otom e Vitélio
Mandou para esse fim, Tito, seu filho, procurá-lo e prestar-lhe em seu
nome suas primeiras homenagens. O rei Agripa quis fazer também a
mesma viagem, para saudar o novo imperador, mas como era inverno
e eles tinham embarcado em grandes navios, não tinham ainda
passado a Acaia quando souberam que Galba tinha sido morto, depois
de ter reinado somente sete meses e sete dias e que Otom o havia
substituído. Essa mudança não impediu que Agripa continuasse com a
mesma resolução de ir a Roma. Mas Tito, como inspirado divinamente,
voltou logo para junto de seu pai, e com ele foi a Cesaréia. Tão grandes
e extraordinários movimentos, capazes de causar a ruína do império,
mantinham todos os espíritos em suspensão e não se podia mais
pensar na guerra da judéia, porque não se podia pensar em dominar
os estrangeiros, quando se tinha tanto motivo de temer pela salvação
da mesma pátria. ” (Ibid 344)
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Roma, naquele mesmo tempo, estava em plena guerra civil: como
Vitélio houvesse entrado na cidade com inúmeras tropas, e ainda pelo
fato destes soldados estarem desacostumados ao luxo e riqueza,
puseram-se a saquear as casas matando quem quer que se colocasse
em seus caminhos.
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império. Acrescente-se a isto a adesão das legiões que estavam na
Hungria e Moésia que pouco antes haviam se revoltado contra Vitélio,
além do fato de ter na própria cidade de Roma, Tito Flávio Sabino ,
irmão de Vespasiano, como prefeito da cidade (56 a 59).
Contra eles Vitélio enviou todas as suas forças, de maneira que Sabino
foi morto juntamente com quase todos que o ajudaram nesta
empreitada. Domiciano, que viria no futuro a reinar sobre Roma,
escapou como que por milagre. No dia seguinte Primo chegou com seu
exército derrotando Vitélio de forma definitiva, depois deste reinar
apenas oito meses. Somente no dia seguinte Múcio entrou em Roma
com seu exército. O poder foi colocado então nas mãos de Domiciano
até que seu pai chegasse a Roma.
Ouviam-se dia e noite os gritos dos que lutavam, uns contra os outros;
por maior impressão que causasse o medo nos espíritos, os lamentos
dos feridos feriam-nos ainda mais; tantas desgraças davam sem cessar
novos motivos de aflição, mas o temor sufocava as palavras e por uma
cruel imposição retinha os suspiros no coração; os servidores haviam
perdido todo o respeito por seus senhores; os mortos eram privados
da sepultura, todos se descuidavam de seus deveres porque não havia
mais esperança de salvação; a horrível crueldade daqueles facciosos
chegou a incríveis excessos: eles faziam montes de corpos dos que
haviam matado, espezinhavam-nos e deles se serviam como de um
campo de batalha onde combatiam, com tanto furor, que a vista de tão
espantoso espetáculo, obra de suas mãos, aumentava ainda o fogo da
ira que lhes incendiava o coração.” (Ibid 380)
Para além das forças que já tinha a seu dispor na Judeia, contou com
grandes reforços enviados pelos reis do entorno, além de sírios, e dois
mil homens escolhidos no exército de Alexandria, que juntos com três
mil outros que vinham do Eufrates, eram comandados por Tibério
Alexandre, governador do Egito e o primeiro que havia aderido a
Vespasiano. Não bastassem tais credenciais, diz Josefo que Tibério era
um homem de grande experiência em assuntos de guerra.
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A formação dos exércitos que marcharam contra Jerusalém era mesmo
digna da mais épica das conquistas, e nada se parecia com a tomada
de uma pequena cidade: “Primeiro vinham as tropas auxiliares;
seguiam-nas os operários para preparar as estradas. Depois vinham
os que estavam encarregados de demarcar os limites do
acampamento. Atrás destes, as bagagens dos chefes, com sua escolta.
Logo depois vinha Tito, acompanhado por seus guardas e outros
soldados escolhidos; atrás dele, um corpo de cavalaria, que estava à
frente das máquinas. Os tribunos e os chefes das coortes seguiam
também acompanhados por soldados escolhidos. Logo depois vinha a
águia rodeada pelas insígnias das legiões, precedida por trombetas. Os
corpos de batalha como marchavam os soldados seis a seis, vinham
em seguida. Os servos das legiões estavam atrás, com a bagagem; os
que traziam os víveres e os operários com tropas especiais para sua
guarda fechavam a marcha.” (Ibid 383)
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Para tomar a cidade Tito teria que controlar seus muros bem como as
fortalezas que os protegiam. Imaginando-se Jerusalém como uma
estrutura quadrada, a cidade era, naquele tempo, cercada por um
muro tríplice em três de seus lados. No quarto lado, o muro era de
uma estrutura única, pelo fato deste lado dar de frente para um vale
praticamente inexpugnável. Diz Josefo que havia muitas casas neste
vale.
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Estas três torres formavam um único conjunto arquitetônico, que
conforme Josefo, possuíam uma beleza e força tão extraordinárias que
não havia outras comparáveis no mundo.
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no pior dos mundos, cercados pelos romanos e por bandidos dentro da
cidade.
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Nesta altura já havia muita fome na cidade, de maneira que os que
tinham algum dinheiro vendiam secretamente os seus bens por uma
medida de trigo. A comida era escondida nos lugares mais ocultos das
casas, onde as refeições eram tomadas cruas. Os revoltosos
procuravam alimentos por todas as casas, e quando encontravam, não
só o tomavam como também matavam quem os possuía. As pessoas
eram espancadas para confessar onde escondiam alguma comida,
crianças eram violentadas em frente aos pais para causar intimidação.
Josefo relata que “os homens eram pendurados pelas partes mais
sensíveis, fincavam-lhes na carne pedaços de pau pontiagudos e os
faziam sofrer outros indizíveis tormentos, para fazê-los declarar onde
tinham escondido um pão ou um punhado de farinha. Esses carrascos
achavam que, em tal conjuntura, podia-se, sem crueldade, praticar tão
horríveis ações e eles ajuntaram, por esse meio, o necessário para
viver seis dias. Tiravam dos pobres as ervas que de noite eles iam
colher fora da cidade, com perigo de vida; nem escutavam os rogos
que lhes faziam, em nome de Deus, para lhes deixar uma pequena
porção e julgavam fazer-lhes grande favor, não os matando depois de
os ter roubado.”
Não faz isto nos lembrar as palavras do povo diante de Pilatos? ” O seu
sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.” (Mateus 27 : 25)
A Fortaleza Antônia veio por fim a cair nas mãos dos romanos, e desta
forma, muitos dos que lá se refugiavam fugiram para o Templo, em
cujas portas travou-se uma intensa batalha, com tanta gente, e por
causa disto, num espaço tão apertado, que só era possível combater
usando a espada, porque dardos e flechas eram inúteis por causa da
proximidade de uns e outros. Josefo conta que combatiam pisando em
cadáveres, e que esta batalha foi travada no escuro, desde as nove
horas da noite até o amanhecer.
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Nesta altura da situação, os judeus que conseguiam fugir da cidade e
se entregar aos romanos eram bem tratados por estes, e como já fosse
grande o seu número, Tito mandou que fossem mostrados a seus
compatriotas, para que vissem que estavam em condições dignas e
assim pudessem também proceder da mesma forma. Mas não havia
hipótese disto acontecer, pois os sediciosos matavam a quem quer que
ousasse tentá-lo.
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depois, vinte e quatro de julho, os romanos incendiaram a mesma
galeria. Depois de terem arruinado uns catorze côvados, os judeus
derrubaram o restante e continuaram assim trabalhando na destruição
de tudo o que podia ter comunicação com a Fortaleza Antônia embora
tivessem podido, se quisessem, impedir aquele incêndio. Eles
consideravam sem se inquietar o curso que o fogo tomava para dele
servir-se em seu proveito, e as escaramuças se faziam todas em redor
do Templo. (Ibid 452-453)
Aqueles homens que até então não haviam sabido o que era a
compaixão, retiraram-se trêmulos, e por maior que fosse a sua avidez
em procurar alimento, deixaram o restante daquela detestável iguaria
à infeliz mãe.
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A notícia de fato tão funesto espalhou-se incontinenti por toda a cidade.
O horror que todos sentiram foi o mesmo, como se cada qual tivesse
cometido aquele horrível crime; os mais torturados pela fome só
desejavam morrer, quanto antes, e julgavam felizes os que já haviam
morrido, antes de ter tido ciência deste fato ou ouvido narrar coisa tão
execrável.
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Como a realidade das palavras do Senhor poderiam ser mais amargas
e reais que isto? Quem, naqueles dias de Jesus poderia crer que
Jerusalém chegaria a este ponto?
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estavam atrás exortavam os mais adiantados a pôr fogo e não restava
então aos revoltosos nem uma esperança de poderem impedi-lo.
Tito, vendo que lhe era impossível deter o furor dos soldados e o fogo
começava a incendiar tudo em toda parte, entrou com os seus
principais chefes no Santuário e achou, depois de tê-lo observado, que
sua magnificência e riqueza sobrepujavam ainda de muito o que a fama
havia espalhado entre as nações estrangeiras e que tudo o que os
judeus diziam a esse respeito, ainda que parecesse incrível, nada
acrescentava à verdade.
Quando viu que o fogo não tinha ainda chegado ali, mas consumia
então somente o que estava nas vizinhanças do Templo, julgou, como
era verdade, que ainda poderia ser conservado; rogou, ele mesmo, aos
soldados que apagassem o fogo e mandou um oficial de nome Liberal,
um de seus guardas, que desse mesmo pauladas, nos que se
recusassem a obedecer. Mas nem o temor do castigo nem o respeito
pelo general puderam impedir-lhes o efeito do furor, da cólera e do
ódio pelos judeus; alguns mesmos eram impelidos pela esperança de
encontrar aqueles lugares santos cheios de riquezas, porque viam que
as portas estavam recobertas de lâminas de ouro e quando Tito
avançava para impedir o incêndio, um dos soldados que havia entrado,
já tinha posto fogo na porta. Dentro acendeu-se então uma grande
labareda que obrigou Tito e os que o acompanhavam a se retirar sem
que nenhum dos que estavam fora procurasse apagá-la. Assim, esse
santo e soberbo Templo foi incendiado, não obstante todos os esforços
de Tito para impedi-lo.” (Ibid 468-469)
Josefo afirma que o Templo foi incendiado “no mesmo mês e no mesmo
dia em que os babilônios outrora o haviam também incendiado. Esse
segundo incêndio aconteceu no segundo ano do reinado de Vespasiano,
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mil cento e trinta anos, sete meses e quinze dias depois que o rei
Salomão o havia construído pela primeira vez; seiscentos e trinta e
nove anos, quarenta e cinco dias depois que Zorobabel o tinha feito
restaurar, no segundo ano do reinado de Ciro.
Nada se poderia ouvir de mais horrível, do que o ruído que ecoava pelo
ar, em todas as direções.
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quem se estenderia mais. O número dos mortos era muito maior que
o daqueles que os sacrificavam à sua cólera e vingança; toda a terra
estava coberta de cadáveres; os soldados pisavam-nos, para poder
continuar a perseguir os que ainda tentavam fugir. Por fim os
revoltosos organizaram tão violento ataque que repeliram os romanos,
chegaram ao Templo exterior e de lá retiraram-se para a cidade.
Fora do Templo só restava uma galeria, onde seis mil pessoas do povo,
homens, mulheres e crianças se tinham reunido para se salvar; mas
os soldados, levados pela cólera, incendiaram-na também, sem
esperar a ordem de Tito, uns morreram queimados, outros atirando-se
para baixo, para não sofrer morte semelhante, se suicidaram, de sorte
que nem um só se salvou. (Ibid 472-474)
Josefo diz que “foi a oito de setembro que Jerusalém, depois de ter
sofrido tantos males, por fim, desapareceu sob o violento incêndio.
Durante o assédio, mil sofrimentos a atormentaram, fazendo que sua
felicidade e seu esplendor, que desde a fundação haviam sido enormes,
se eclipsassem, depois de a terem tornado digna de inveja. Mas em tal
conjuntura, depois de tantos males, essa infeliz cidade não é digna de
lástima, a não ser por ter agasalhado em seu seio aquela multidão de
víboras, que a devoraram e foram a causa de sua ruína.” (Ibid 495)
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Mesmo com a cidade entregue à superioridade dos romanos, ainda
assim continuou a mortandade de pessoas, mesmo havendo ordens de
Tito para que fossem poupados os que desejassem a paz.
Josefo conta que “dentre os que foram poupados, os que tinham mais
de dezessete anos foram enviados para trabalhar nas obras públicas e
Tito distribuiu um grande número deles pelas províncias para servirem
de espetáculo de gladiadores e combater contra as feras. Os que
tinham menos de dezessete anos foram vendidos.
Pois esse governador, querendo dar a conhecer a Nero, que tinha tanto
desprezo pelos judeus, a força de Jerusalém, rogou aos sacerdotes que
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contassem o povo. Eles escolheram para isso o tempo da festa da
Páscoa no qual desde as nove horas até às onze, sem cessar,
imolaram-se vítimas, cuja carne era consumida pelas famílias, que não
tinham menos de dez pessoas, algumas até vinte. Concluiu-se que
haviam sido imolados duzentos e cinqüenta e cinco mil e seiscentos
animais, de onde, contando-se apenas dez pessoas para cada animal,
teríamos dois milhões, quinhentos e cinqüenta e seis mil pessoas,
purificadas e santificadas. Não eram admitidos a oferecer sacrifícios
nem os leprosos, nem os que sofriam de gonorréia, nem as mulheres
que estavam no tempo do incômodo que lhes é ordinário, nem os
estrangeiros que, não sendo judeus de raça, não deixavam de sê-lo,
por devoção a essa solenidade. Assim, aquela grande multidão que se
tinha dirigido a Jerusalém, de tantos e tão diversos lugares, antes do
cerco, lá se encontrou encerrada como numa prisão, quando a guerra
começou.
Parece, pelo que acabo de dizer, que nenhum acidente humano, nem
flagelo algum mandado por Deus, jamais causaram a ruína de um tão
grande número de pessoas, como o dos que pereceram pela peste,
pela fome, pelas armas e pelo fogo, durante esse cerco, ou que foram
levados como escravos pelos romanos. Os soldados rebuscaram até
nos esgotos e nos sepulcros, onde mataram a todos os que ainda
estavam vivos e desses encontraram mais de dois mil que se haviam
matado uns aos outros ou a si mesmos, ou que tinham sido mortos
pela fome. O mau cheiro que saía desses lugares infectados era tão
grande, que vários, não podendo suportá-lo, abandonavam-no.
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sorte só se pode atribuir à raiva daqueles revoltosos que atearam o
fogo na guerra. (Ibid 498 – 500).
https://cronologiadabiblia.wordpress.com/
03.09.2017.
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