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III ENECS - ENCONTRO NACIONAL SOBRE EDIFICAÇÕES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS

TIJOLOS PRENSADOS DE SOLO-CIMENTO EM ALVENARIA APARENTE


AUTO-PORTANTE NO “CONJUNTO NOSSA MORADA”, GOIÂNIA-GO

Regis de Castro Ferreira (rcastro@agro.ufg.br; rcastro@agr.unicamp.br) Prof. Auxiliar do Setor


de Engenharia Rural/ Escola de Agronomia/ Universidade Federal de Goiás/ Doutorando do Programa de Pós
Graduação em Engenharia Agrícola/ Área de Construções Rurais e Ambiência/ Faculdade de Engenharia
Agrícola/ UNICAMP.
Elias Magalhães da Silva. Técnico em Estradas/ Laboratório de Mecânica dos Solos/ Escola de
Engenharia Civil/ Universidade Federal de Goiás.
Wesley Jorge Freire (wesley@agr.unicamp.br) Prof. Titular do Departamento de Construções Rurais /
Faculdade de Engenharia Agrícola/ UNICAMP.

RESUMO

Já há algum tempo se faz presente em inúmeros setores produtivos a preocupação com a sustentabilidade, que
deve envolver uma visão ecológica, social e econômica. O processo de construção com solo-cimento pode,
devido suas características, ser enquadrado como um processo de tecnologia apropriada e sustentável com um
amplo campo de aplicações, seja no meio rural ou urbano. A sustentabilidade desse processo é ecológica: pois,
por não ser queimado, o tijolo de solo-cimento contribui para a preservação de recursos naturais e diminuição do
uso de energia; social: nota-se um resgate da auto-estima e da cidadania das famílias envolvidas em regimes de
auto-construção e de ajuda mútua; e econômica: a terra crua, por ser um material de grande disponibilidade e
baixo custo apresenta-se como excelente alternativa técnico-econômica para construções rurais, principalmente
na forma de tijolos prensados não queimados. O Programa de Melhoria da Moradia dos Funcionários de Baixa
Renda da Universidade Federal de Goiás (Conjunto Nossa Morada, Goiânia-GO) é um exemplo dessa aplicação.
Estudou-se tijolos prensados de solo-cimento, em paredes de alvenaria auto-portante, empregados no referido
programa habitacional, comparando-os com tijolos maciços comuns e tijolos furados, com o intuito de definir
critérios de aplicação prática, controle de patologias e comparação de custos.

Palavras-chave: tijolos de terra crua, solo-cimento, habitações de baixo custo.

THE UTILIZATION OF STABILIZED SOIL-CEMENT BRICK IN LOAD-


SUPPORTING MASONRY AT THE “CONJUNTO NOSSA MORADA”, GOIÂNIA-
GO, BRAZIL

ABSTRACT

Long since there is a current concern on sustainability involving ecological, social and economical patterns as
well. The soil-cement constructing system may be understood as an appropriate building technology with a large
range of application in both rural and civil engineering field of activities. Under this point of view, the
sustainability is related to ecological concepts because soil-cement brick manufacture doesn’t cause wastage and
pollution and requires negligible energy consumption since soil-cement brick is not burnt in kiln; so it
contributes for environmental improvement and natural resources conservation. The social aspect related to
sustainability refers to the self-esteem and citizenship ransom by the families straightly involved in self-
constructing programs. On the other hand the economical aspect considers the earth a low cost material available
in large quantities in most regions and suitable as construction material for most parts of the building. The
Program for Low-Income People Housing supported by the Federal University of Goias is a good example for
the “appropriateness” of soil-cement brick. For this purpose, soil-cement brick masonry was compared with both
solid and hollow burnt clay brick masonry aiming to establish practical and simple criterions for building
pathology control and cost comparison.

Keywords: stabilized soil brick, soil cement, low cost house


1. INTRODUÇÃO

As razões de se construir no meio rural, dentre outras, nascem da necessidade de melhoria das
condições de vida do produtor rural. Grosso modo, as construções rurais podem ser divididas
em dois tipos: moradias e instalações voltadas à exploração agrícola e seus correlatos
(instalações para animais, unidades armazenadoras, agroindústrias, etc.).

Independente da finalidade e complexidade da obra, os custos gerados em sua execução são


geralmente elevados e de retorno quase sempre de médio a longo prazos. Tal situação, se não
inviabiliza num primeiro momento quaisquer benfeitorias, torna-as altamente dispendiosas,
principalmente para os produtores de menor renda.

Dessa forma, o uso de tecnologias apropriadas em construções rurais que levem à


racionalização dos recursos disponíveis, à diminuição dos custos dos processos construtivos e
ao melhor aproveitamento da mão-de-obra local deve ser considerado.

A operacionalização dessas tecnologias pode ser feita através do uso isolado ou combinado de
materiais e técnicas construtivas, convencionais ou não, tais como: terra crua, solo-cimento,
argamassa armada, paredes monolíticas, elementos pré-fabricados, bambu, compósitos
biomassa vegetal-cimento, etc. Entretanto, a escolha do material ou técnica mais apropriados
vai depender, dentre outros aspectos, dos recursos disponíveis no local, da mão-de-obra a ser
empregada e da finalidade e durabilidade preconizadas para a construção.

A terra crua, por ser um material de grande disponibilidade e baixo custo, vem se mostrando
como uma excelente alternativa técnica e econômica para uso em construções rurais,
principalmente sob a forma de tijolos ou blocos prensados e não queimados. Seu uso isolado
ou associado a aditivos químicos, tais como cimento, cal, silicato de sódio, cinzas volantes,
escória de alto forno, dentre outros, vem sendo objeto de inúmeras pesquisas com a finalidade
de melhorar sua resistência à compressão simples, seu comportamento sob a ação da água e
sua durabilidade em longo prazo (WALKER, 1995; ERELL e FREIDIN, 1995; REN e KAGI,
1995; GORDON et al., 1996; BARONIO e BINDA, 1997; NGOWI, 1997; ROLIM, et al.,
1999).

Por outro lado, nos países em vias de desenvolvimento, como é o caso do Brasil, é ainda mais
crítica a situação do déficit habitacional. Alimentadas pela acentuada contradição entre o
poder aquisitivo da maioria da população e o alto preço das habitações, têm surgido várias
soluções, algumas institucionais, outras alternativas ou “marginais”, promovidas por órgãos
públicos ou pela própria população.

Um exemplo “in loco” dessas iniciativas é o Programa de Melhoria da Moradia dos


Funcionários da Universidade Federal de Goiás (UFG) – “Conjunto Nossa Morada”. De
natureza social e caráter educativo, o programa visa, através da participação de seus usuários
e familiares, num processo de ajuda mútua, a construção de casas para 200 famílias de baixa-
renda, em uma área de aproximadamente 124.000 m2, próxima ao Campus II da UFG, no
município de Goiânia, Estado de Goiás, Brasil. O programa é assessorado pela Pró-Reitoria
de Assuntos Comunitários (PROCOM) e pelo Centro Gestor do Espaço Físico (CEGEF),
ambos da UFG.

Nesse programa são construídas habitações em três diferentes sistemas de alvenaria: de tijolos
prensados de solo-cimento (23x11x5 cm³), de tijolos maciços comuns (15x10x5 cm³), e de
tijolos furados (30x20x10 cm³). De acordo com os próprios usuários do programa, por falta de
maiores esclarecimentos houve, no início, uma certa restrição ao uso do solo-cimento. Mas,
aos poucos isso mudou e atualmente há uma boa aceitação desse sistema, principalmente pela
redução de custos por ele proporcionado.

Diante de tal contexto, procurou-se neste trabalho estudar o emprego do tijolo prensado de
solo-cimento em paredes de alvenaria aparente auto-portante no “Conjunto Nossa Morada”
(Goiânia-GO, Brasil) com o intuito de buscar critérios de aplicação prática, controle de
patologias e comparação entre os custos e a qualidade em relação aos tijolos maciço comum e
furado.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. Materiais

Foi empregado, na fabricação dos tijolos de solo-cimento, um solo A6(1) coletado no próprio
Conjunto Nossa Morada, Goiânia-GO. Foram usados cimento Portland (CP II-E 32) e cal
hidratada (CH-I). As características físico-químicas do cimento e da cal seguem a norma NBR
11578 (ABNT, 1991) e a norma NBR 7175 (1992a), respectivamente. Os tijolos maciços
comuns e os tijolos furados foram adquiridos no comércio local.

Foi utilizada uma betoneira com capacidade de 350 litros para a mistura mecânica do solo, do
cimento e da água. Na fabricação dos tijolos foi empregada uma máquina de fabricação de
tijolos de acionamento mecânico (Figura 1). Esta máquina produz tijolos do tipo II (23x11x5
cm³) em conformidade com a norma NBR 08491 (ABNT, 1984a).

Os ensaios de resistência à compressão simples foram executados em uma prensa VERSA


TESTER com capacidade máxima de 150.000 kN. Esta prensa dispunha de dispositivo de
controle de velocidade de carregamento.

Figura 1. Prensa mecânica de fabricação de tijolos (Foto: Regis de Castro Ferreira).


2.2. Métodos

Procedimentos aplicados ao solo

O solo utilizado na fabricação dos tijolos foi submetido aos ensaios de caracterização para
determinar seus principais índices físicos, a saber: distribuição granulométrica (%) (ABNT,
1984b); densidade dos sólidos (g.cm-3) (ABNT, 1982); limites de liquidez e de plasticidade
(%) (ABNT, 1984c e ABNT, 1984d); massa específica aparente seca máxima (g.cm-3) e
umidade ótima de compactação (%) (ABNT, 1986).

Fabricação dos tijolos

Antes da moldagem dos tijolos, procedeu-se à limpeza e lubrificação dos equipamentos a


serem utilizados (betoneira e prensas de moldagem). Após a análise dos dados referentes à
caracterização do solo, determinou-se a dosagem da mistura do solo com o cimento de acordo
com a Norma Simplificada de Dosagem de Solo-cimento (ABCP, 1986). Dessa forma, a
dosagem indicada foi de 10% de cimento. Corrigiu-se a granulometria do solo com a adição
de 10% de areia média.

A mistura solo-cimento foi colocada nos moldes e prensada, e em seguida retirada


cuidadosamente, evitando-se as quebras das arestas, de acordo com recomendações da norma
NBR 10832 (ABNT, 1992b). Posteriormente os tijolos foram transportados para a uma área
sombreada, ao ar livre, e empilhados até uma altura de 1,50 m para então serem curados.

Cura dos tijolos

Nesse caso, a cura consistiu em um processo de umidificação dos tijolos de forma a evitar a
perda de água por secagem durante o processo inicial de hidratação do cimento. Foi efetuada,
após 6 horas de moldagem e durante os sete primeiros dias, uma aspersão de água através de
regador munido de chuveiro em um galpão de modo a evitar os efeitos do vento e a incidência
dos raios solares. A cura é fundamental no processo de fabricação dos tijolos de solo-cimento,
motivo pelo qual todo esforço foi direcionado para que a mesma ocorresse da forma mais
adequada possível.

Controle tecnológico

De todos os lotes de tijolos de solo-cimento foram retirados três tijolos os quais foram
submetidos aos ensaios de compressão simples e capacidade de absorção de água, de acordo
com a NBR 08492 (ABNT, 1992c).

Utilização dos tijolos

Observou-se um período de 28 dias entre a fabricação e o uso dos tijolos a fim de se garantir
que os efeitos da retração volumétrica devido à secagem fossem minimizados. Evitou-se
molhar o tijolo antes de sua utilização, mas, quando inevitável, o umedecimento dos
elementos foi superficial, sem, contudo saturá-los.

Os tijolos com um valor de IRA (Initial Rate of Absorption) superior a 30 g.min-1 foram
umedecidos antes do assentamento, para que os mesmos não absorvessem água em excesso da
argamassa, conforme recomendações da American Standards for Testing Materials (ASTM,
1967).

Argamassas de assentamento

Deve-se procurar sempre utilizar argamassa com resistência compatível com a dos tijolos, e
nunca superior à resistência dos tijolos. Desta maneira, as trincas que surgirem tenderão a
seguir as juntas e terão menores espessuras de abertura e profundidade.

Na casa de tijolo de solo-cimento foi usada uma argamassa de traço 1:2:9 (cimento, cal e areia
média) em volume. Procurou-se manter uma relação água/aglomerante em torno de 0,50,
entretanto, a água de amassamento foi adicionada de acordo com a prática, conforme o tijolo
(mais poroso ou não) e a temperatura no local da obra, prevendo-se as perdas por evaporação.

A argamassa foi misturada mecanicamente (em betoneira), resultando em mistura mais


homogênea que a obtida por processo manual. A utilização da cal resulta em várias vantagens,
tais como economia, plasticidade à massa, melhor incorporação de areia, aderência, retenção
de água, resistência à penetração de água, resistência à tração, alto módulo de elasticidade e
poder bactericida. De acordo com NASCIMENTO e HELENE (1993), o uso da cal nas
argamassas de assentamento melhora todas as suas propriedades. A cal confere
trabalhabilidade e retenção de água, portanto, argamassas mistas de cal e cimento são as mais
recomendáveis, pois atendem a todos os requisitos solicitados. Mesmo pequenas quantidades
de cal em argamassas de cimento têm um efeito positivo, melhorando as propriedades físicas
e aumentando a capacidade de absorver deformações.

Nas casas de tijolo maciço comum convencional e tijolo furado (15 x 30 cm) empregou-se
argamassa na proporção de 1:3:5 (cimento, saibro e areia média), em volume.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Caracterização do solo

A Tabela 1 sumariza os resultados dos ensaios de caracterização do solo utilizado. A Figura 2


apresenta as curvas de compactação do solo natural e da mistura solo-cimento,
respectivamente.

Pela observação da Figura 2 percebe-se que houve um decréscimo na umidade ótima de


compactação e um aumento na massa específica aparente seca máxima do solo com a adição
do cimento; tal comportamento já era esperado, conforme resultados de trabalhos correlatos
(MENDONÇA e LIMA, 1998; FERREIRA e FREIRE, 2002). De acordo com GUTIERREZ
et al. (1998), a redução da umidade ótima está associada ao consumo de parte da água
adicionada pelo processo de hidratação do cimento.

3.2. Controle tecnológico

A Tabela 2 sumariza os resultados dos ensaios de compressão simples e de absorção de água.


Os valores médios de resistência à compressão simples e absorção de água aos 7 dias foram
de 2,11 MPa e 14,70%, respectivamente. Estes valores estão de acordo com o disposto pela
norma NBR 08492 (ABNT, 1992), que estabelece, como valores mínimos de resistência à
compressão simples e absorção de água aos 7 dias de idade, 2,0 MPa (sendo nenhum valor
individual inferior a 1,7 MPa) e 20% (sendo nenhum valor individual inferior a 22%),
respectivamente.

Tabela 1 – Caracterização do solo usado na fabricação dos tijolos.


Índices físicos
Massa específica dos sólidos 2,807 g.cm-3
Limite de Liquidez (LL) 33,50 %
Limite de Plasticidade (LP) 13,70 %
Índice de Plasticidade (IP) 19,80 %
Distribuição granulométrica
Pedregulho (>2mm) 1%
Areia grossa (2 – 0,6 mm) 4%
Areia média (0,6 – 0,2 mm) 8%
Areia fina (0,2 – 0,06 mm) 51 %
Silte (0,06 – 0,002 mm) 4%
Argila (< 0,002 mm) 32 %
Porcentagem que passa na peneira 200 51,4 %
Compactação Proctor Normal
1,66 g.cm-3
Massa específica aparente seca máxima Solo natural
10% de cimento 1,73 g.cm-3
Solo natural 19,5%
Umidade ótima de compactação
10% de cimento 18,0%
Descrição visual do solo Areia fina argilosa
Classificação (H.R.B.) A6(1)

1,75
1,73
Massa específica aparente seca

1,71
1,69
1,67
1,65
1,63
1,61
(g/cm3)

1,59
1,57
1,55
1,53
1,51
1,49
1,47
1,45
12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
Teor de umidade (%)
0% de cimento 10% de cimento

Figura 2. Curvas de compactação do solo.

Houve um ganho significativo de resistência à compressão simples ao longo do tempo


comparando-se com o valor médio obtido aos 7 dias (Figura 3). Verificou-se um incremento
da ordem de 24,64% e 64,93% para os valores de resistência obtidos aos 28 e 56 dias,
respectivamente.
4
3,5

Resistência à compressão
3

simples (MPa)
2,5
2
1,5 Limite NBR 8492
1
0,5
0
7 28 56
Idade (dias)

Figura 3. Evolução da resistência à compressão simples dos tijolos de solo-cimento.

Tabela 2. Resistência à compressão simples e capacidade de absorção de água dos tijolos.


Resistência à compressão simples (MPa) Absorção de água
Repetições
7 dias 28 dias 56 dias (%)
Amostra 1 2,21 2,72 3,86 14,40
Amostra 2 1,98 2,58 3,20 14,70
Amostra 3 2,15 2,60 3,37 15,00
Média 2,11 2,63 3,48 14,70

3.3. Etapas construtivas

A técnica construtiva com tijolos prensados de solo-cimento é de simples execução e não


demanda mão-de-obra especializada. BARBOSA et al. (1997) sugerem que as fundações
podem ser em pedras assentadas com argamassa de cimento. Na parte superior da fundação é
usada uma cinta de concreto de 20 cm de largura e 7 a 8 cm de espessura, armada com um
ferro de φ 6,3 mm. A face superior da cinta deve estar ao nível do piso.

Sobre a cinta de concreto, coloca-se a primeira camada que, ao invés de tijolo, sugere-se que
seja de concreto simples. Em seguida, coloca-se a primeira fiada de tijolos usando-se
argamassa de cimento e areia, cal e areia ou cimento, cal e areia. A quantidade de aglomerante
não precisa ser superior a 10%. No topo da parede, passa-se uma cinta de concreto armado
com apenas um ferro de φ 6,3 mm (caso de construções de pequeno porte). A cinta passa por
todas as paredes para “amarrar” a construção. Por sobre a cinta é apoiado o madeiramento e a
cobertura (BARBOSA et al., 1997).

A seguir, são resumidamente descritas as etapas construtivas executadas na construção da


casa de tijolo de solo-cimento no Conjunto Nossa Morada.

Fundações

Após a limpeza e demarcação das paredes externas e internas, foi escavado o leito de
fundação, com 30 cm tanto na largura quanto na profundidade. A fundação empregada foi a
do tipo direta e contínua, em forma de canaleta, através do assentamento de dois tijolos em
espelho e posterior preenchimento com concreto de traço de 1:3:5. Foi empregada uma
armação horizontal a fim de permitir melhor capacidade de absorção das tensões de tração
produzidas pelas retrações, distribuindo possíveis tensões na alvenaria.

Piso

Após a confecção das fundações, foram executados o aterramento e nivelamento até o topo do
baldrame. Em seguida procedeu-se à compactação do solo e confecção do contra-piso.

Aberturas e lajes

Nas aberturas de portas e janelas foram empregadas vergas e contra-vergas. Nos três sistemas
de alvenaria utilizados no Conjunto Nossa Morada foi adotada a mesma técnica para
confecção das lajes. As lajes foram confeccionadas através da combinação de vigotas pré-
moldadas de perfil triangular (10x10x10 cm³) e lajotas (20x20x10 cm³). As vigotas foram
moldadas em uma mesa vibratória, armadas com 3 ferros dispostos longitudinalmente e com
bitola variando de acordo com o vão da laje.

Ferragens

A Tabela 3 discrimina as ferragens utilizadas nas diferentes etapas construtivas das casas
estudadas.

Tabela 3. Sumário das ferragens e respectivas bitolas.


Bitolas
1.1. Aplicação
Em milímetros Em polegadas
Vigotas (vãos menores que 5 metros) 4,2 1/16
Vigotas (vãos maiores que 5 metros) 5,0 5/16
Estribos 4,2 e 6,5 1/6 e 1,4
Cintas de amarração 5,0 3/16
Baldrames 8,0 5/16
Pilares 9,5 3/8

Aspecto da casa de solo-cimento

A Figura 4 mostra a casa de solo-cimento construída no Conjunto Nossa Morada. Devido ao


ótimo acabamento final, a alvenaria de tijolos de solo-cimento é concebida para ser entregue
com tijolo sem revestimento, ou seja, em alvenaria aparente. A Figura 5 mostra detalhes do
acabamento das paredes externas após a impermeabilização.

Patologias verificadas nas alvenarias de solo-cimento

O surgimento de pequenas fissuras em paredes com tijolos de solo-cimento é uma realidade já


constatada, mas ainda não estudada exaustivamente. Os mesmos fenômenos que originam
fissuras em paredes de alvenaria convencional podem ser responsáveis pelo surgimento destas
em paredes de alvenaria de solo-cimento.
Como os critérios desta classificação são muito variáveis, é empregado aqui o termo fissura
(superficial e de pequena dimensão) para denominar o fenômeno patológico em construções
caracterizado pela ruptura entre partes de um mesmo elemento ou entre dois elementos
acoplados. Existem vários fenômenos que podem provocar o surgimento de fissuras em
alvenaria, dentre eles cita-se: movimentos da fundação, deformações na estrutura, variações
de umidade nos elementos construtivos, variações de temperatura, reações químicas, etc.

.Figura 4. Aspecto da casa de solo cimento (Foto: Elias Magalhães da Silva).

Figura 5. Detalhe da casa de solo-cimento (Foto: Regis de Castro Ferreira).

Na casa de tijolo de solo-cimento houve pequena fissura na alvenaria, mais de ordem estética
e não estrutural, devido sua construção em período chuvoso (Figura 6). A ação das águas de
chuva provocou um aumento de volume dos tijolos com posterior retração, justificando-se,
portanto, o aparecimento da fissura na face da alvenaria submetida à incidência de radiação
solar direta.

Em função das características higroscópicas do solo-cimento, recomenda-se proteger as


paredes externas da penetração de umidade, pois estas variações são sempre seguidas de
variações dimensionais que induzem tensões na alvenaria. Assim, as paredes diretamente
expostas à chuva devem ser protegidas por pintura hidrófoba ou outro revestimento similar.
Na impermeabilização das paredes externas de tijolo de solo-cimento foi utilizado o produto
RHODOPÁS 012-DC (à base de acetato de polivinila), destinado à impermeabilização de
superfícies de concreto.

fissura
fissura

Figura 6. Detalhe da fissura na casa de solo-cimento (Foto: Regis de Castro Ferreira).

Para que haja uma minimização do aparecimento de fissuras devem ser levados em
consideração cuidados desde na etapa de projeto, como nas etapas de seleção dos materiais,
construção, uso e manutenção. O solo-cimento, como material poroso e suscetível à retração
cíclica, retrai e expande em função principalmente das variações de umidade. Para tanto é
recomendável projetar juntas de construção a cada 4 metros ou estudar muito bem a
argamassa a ser utilizada no assentamento, de maneira, que possua capacidade de se deformar
sem apresentar ruptura quando sujeita a solicitações diversas e de retornar à dimensão original
quando cessarem as solicitações. O termo “argamassa fraca” refere-se a uma argamassa de
baixo módulo de deformação e que permite movimentos sem fissuras prejudiciais
(NASCIMENTO e HELENE, 1993).

Comparação de custos e qualidade das alvenarias

De acordo com LIMA e CASTRO (1998), a vantagem econômica do sistema construtivo


usando solo-cimento pode ser demonstrada a partir da análise comparativa em relação aos
sistemas convencionais. Com dois sacos de 50 kg de cimento se produz, em média, 1000
tijolos a um custo de mão-de-obra em torno de 2,5 sacos de cimento. Portanto, tem-se um
custo de 4,5 sacos de cimento para cada 1000 tijolos, ou seja, 2 sacos para fabricar os 1000
tijolos mais 2,5 sacos referentes ao custo de mão-de-obra. O custo de 1000 tijolos comuns
obtidos em olaria é próximo a 21 sacos de cimento. Acrescentando-se a economia com o frete,
as obras construídas com solo-cimento em comparação com o tijolo convencional apresentam
uma redução de cerca de 35% no custo final da obra.
A Tabela 4 discrimina os materiais de construção e seus respectivos custos nos três tipos de
alvenaria empregados no Conjunto Nossa Morada. De sua análise percebe-se que a casa
construída com tijolo de solo-cimento teve uma redução de custo de 14,0% e 46,0% em
relação aos custos das casas de tijolo maciço comum e furado, respectivamente.
Os custos das casas de tijolo maciço comum e de tijolo furado são apresentados considerando
a alvenaria sem revestimento.

O custo da argamassa de assentamento usada na casa de tijolo maciço comum (cimento,


saibro e areia média) foi 35,7% menor que o da argamassa com cal hidratada usada na casa de
tijolo de solo-cimento.

O custo da casa construída com tijolo furado (15x30 cm²) foi 63,5% superior ao da casa de
tijolo maciço comum. Os gastos com ferragens, cimento, areia, brita, arame e fôrmas para a
confecção de 10 pilares de concreto armado (2,65x0,16x0,11m) contribuíram para o aumento
do custo desta casa. Entretanto, o custo da mão-de-obra neste tipo de alvenaria ficou 50%
menor que a do tijolo maciço comum.

5. CONCLUSÕES

O desenvolvimento de tecnologias apropriadas com vistas à racionalização e otimização do


uso da terra como material de construção, muito contribui para soluções alternativas em obras
de diversas naturezas, reduzindo o custo das mesmas. Acrescente-se a isso a possibilidade de
aplicação em programas de habitação, em regime de autoconstrução, seja no meio urbano ou
rural.

Todavia, para que os benefícios advindos dessa tecnologia possam ser integralmente
aproveitados, é imprescindível o conhecimento de alguns fatores técnicos, como a seleção dos
solos mais adequados, as definições dos teores de umidade e aglomerante, cuidados na
fabricação do tijolo (mistura dos componentes, prensagem, e cura úmida). Ademais, faz-se
necessário o controle tecnológico da qualidade dos tijolos durante todo o processo, através de
ensaios laboratoriais, tais como a resistência à compressão e a capacidade de absorção de
água, fatores restritivos à viabilidade técnica de seu uso.

A ocorrência de fissuras na casa de solo-cimento foi mais de ordem estética que estrutural.
Entretanto, os aspectos relacionados ao aparecimento de fissuras deverão ser levados em
consideração em etapas futuras Conjunto Nossa Morada.

Em relação à parte econômica, dentro das mesmas condições de comparação, o custo da casa
de tijolo de solo-cimento foi 17,5% menor que o da casa de tijolo maciço comum, e 85%
menor que o da casa de tijolo furado.

Através das informações apresentadas neste trabalho, percebe-se o grande potencial da terra
como material de construção no meio urbano ou rural, principalmente na forma de tijolos
prensados.
Tabela 4. Comparação dos custos de 3 tipos de alvenaria executadas no “Conjunto Nossa Morada”, Goiânia-GO (A Construção em Goiás, 2002).
CUSTOS DE ALVENARIA – CONJUNTO NOSSA MORADA
Casa I* – Área: 70 m2 Casa II* – Área: 70 m2 Casa III* – Área: 70 m2
End.: Rua 6 Quadra G Lote 04 End.: Rua 5 Quadra E Lote 07 End.: Rua 5 Quadra E Lote 02
Sócio: Oscar de Campos Lima Sócio: José de Sousa Neto Sócio: Elenita Batista Veloso
Alvenaria: Tijolo maciço comum Alvenaria: Tijolo solo-cimento Alvenaria: Tijolo furado 15x30cm
Argamassa: cimento, saibro e areia Argamassa: cimento, cal e areia Argamassa: cimento, saibro e areia
Traço: 1:3:5 em volume Traço: 1:2:9 em volume Traço: 1:3:5 em volume
MATERIAIS Qtd R$ unid. R$ total MATERIAIS Qtd R$ unid. R$ total MATERIAIS Qtd R$ unid. R$ total

Tijolo maciço comum 9.000 90,00/mil 810,00 Tijolo solo-cimento 8.400 72,40/mil 608,16 Tijolo furado 15x30cm 9.000 170,00/mil 1530,00
Lajota 20x20cm 500 110,00/mil 55,00 Lajota 20x20cm 250 110,00/mil 27,50 Lajota 20x20cm 500 110,00/mil 55,00
Cimento: saco de 50kg 16 12,50 200,00 Cimento: saco de 50kg 16 12,50 200,00 Cimento: saco de 50kg 16 12,50 200,00
3 3
Saibro m 3 20,00 60,00 Cal hidratada Sc 20kg 20 3,80 76,00 Saibro m 1,4 20,00 28,00
3 3 3
Areia média m 6,5 20,00 130,00 Areia média m 6,5 20,00 130,00 Brita “0” m 0,6 32,00 19,20
3
Ferro 5,0 mm BR 10 2,60 26,00 Areia média m 2,9 20,00 58,00
Ferro 5,0 mm BR 13 3,50 45,50
Ferro 4,2 mm BR 4 1,30 5,20
Arame galvanizado kg 2 2,50 5,00
Arame recozido kg 1 2,00 2,00
Tijolo maciço comum 320 90,00 28,80

TOTAL 1255,00 TOTAL 1067,66 TOTAL 1976,70


*Obs.: fabricação do tijolo em 10 dias *Obs.: alvenaria: 4 dias trabalhando
Saco de cimento 50kg a R$ 10,00 Alvenaria: 12,5 sacos de cimento
Traço: 1:1:9 (cimento, areia, solo) Pilar: traço 1:2:4 (cimento, areia, brita), 4 sacos de brita.
*Obs.: tijolo sem acabamento (para ser aparente) Custo do milheiro do tijolo de solo-cimento: R$72,40 Tijolo sem acabamento (para ser aparente)
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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