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GESTÃO DO RISCO

OCUPACIONAL

O que as empresas precisam saber sobre insalubridade;


periculosidade; PPRA; PPP; LTCAT,
entre outros documentos legais.
ANTONIO CARLOS VENDRAME

GESTÃO DO RISCO
OCUPACIONAL

O que as empresas precisam saber sobre insalubridade;


periculosidade; PPRA; PPP; LTCAT,
entre outros documentos legais.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Vendrame, Antonio Carlos


Gestão do risco ocupacional : o que as empresas precisam
saber sobre insalubridade, periculosidade, PPRA, PPP, LTCAT,
entre outros documentos legais / Antonio Carlos Vendrame. —
1. ed. — São Paulo : IOB-Thomson, 2005.

Bibliografia.
ISBN 85-7647-

1. Acidentes do trabalho 2. Higiente do trabalho 3. Risco


— Administração 4. Segurança do trabalho 5. Trabalhadores —
Saúde I. Título.

05-3243 CDU-34:331.823

Índice para catálogo sistemático:


1. Riscos ocupacionais : Gestão : Direito do trabalho 34:331.823

IOB Thomson

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Índice

DUAS PALAVRAS ................................................................................. 7

SAÚDE DO TRABALHADOR VERSUS IDEOLOGIA POLÍTICA 9

DEZ PONTOS NEVRÁLGICOS EM SEGURANÇA E SAÚDE NO


TRABALHO E SUAS IMPLICAÇÕES LEGAIS ...................... 11
1 — Insalubridade ...................................................................... 11
2 — Periculosidade ..................................................................... 15
3 — A responsabilidade civil ................................................... 59
4 — Dano moral .......................................................................... 69
5 — Fiscalização trabalhista ..................................................... 70
6 — Fiscalização previdenciária .............................................. 90
7 — SAT — Seguro de Acidente do Trabalho ...................... 94
8 — Ação regressiva da Previdência Social .......................... 101
9 — Ação civil pública trabalhista .......................................... 103
10 — Responsabilidade penal .................................................... 105

DOCUMENTOS LEGAIS — VOCÊ NÃO DEVE PRODUZIR PRO-


VAS CONTRA SI MESMO........................................................... 111

GERENCIANDO O PASSIVO EM SEGURANÇA E SAÚDE NO


TRABALHO .................................................................................... 155

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 189

5
Duas palavras ...

Todo empresário que se preze possui um sócio governamental,


que não comparece um dia sequer para trabalhar, mas, rigorosamen-
te a cada mês, faz sua retirada com base no faturamento e folha de
pagamento. Possivelmente, ninguém reclamaria da carga tributária,
se o poder público administrasse esse patrimônio de forma justa e
honesta, revertendo benefícios para a comunidade. E o pior de tudo,
é que não podemos nos livrar deste indesejável sócio.
Diz o adágio popular “dias piores virão” e você pode acabar ad-
mitindo um outro sócio, com características semelhantes às citadas
anteriormente. Este sócio chama-se passivo em segurança e saúde do
trabalhador. Medidas precisam ser tomadas antes que esta persona
non grata bata à sua porta. Você pode implementar uma política de
prevenção, que não resolve os problemas pretéritos; contudo, traz a
certeza de futuro tranqüilo.
A empresa deve, a fim de se proteger contra percalços futuros
nas diversas esferas (judicial, fiscalização, promotoria, sindicatos etc.),
produzir provas (documentos) com prestabilidade à sua defesa. Infe-
lizmente, a empresa ainda é vista por alguns como o voraz dinossauro
que espolia o trabalhador. Exceções, obviamente existem, motivadas
por uma Justiça paternalista, que dá igual tratamento ao trabalhador
vítima e ao trabalhador oportunista.
Com grande margem de acerto, o que torna as empresas vulne-
ráveis é a falta de documentação legal, que comprove a condição físi-
ca em que o empregado foi admitido e as condições de trabalho que a
empresa proporciona aos seus empregados e em que estado de saú-
de o trabalhador foi demitido.
A rapidez com que as transformações acontecem em segurança
do trabalho impede as empresas de se atualizarem, tornando-as vul-

7
neráveis a oportunistas e a “armadilhas”. Prevenir ainda é o melhor
remédio, pois uma vez ocorrido a infortúnio, só resta à empresa as-
sumir o ônus. A organização que segue um rígido ritual de caute-
las e medidas até poderá ser vítima de circunstâncias inusitadas;
todavia, estará a postos para contestar oportunamente e assumir so-
mente o encargo que realmente lhe couber.
O ligeiro ritmo de crescimento das grandes cidades, alimentado
na maior parte pelo êxodo rural, inviabilizou o preparo adequado des-
ses novos industriários que ainda não se libertaram dos hábitos da
vida rural e que, por isso mesmo, são presas fáceis dos acidentes de
trabalho. O tema segurança do trabalho é abrangente; a lei é contro-
vertida, embora alguns países achem nossa legislação de muito bom
nível (realmente a legislação é completa, só falta ser cumprida), mas,
ainda assim, não conseguimos desenvolver um trabalho de qualidade.
O Brasil já esteve entre os campeões de acidentes laborais, tudo
em virtude do desprestígio que caracterizou a segurança do trabalho
por vários longos anos, onde os profissionais existiam apenas por
disposição da lei e não por opção da empresa. Em repetidas oportu-
nidades constatamos que o engenheiro de segurança pouco cuidava
da segurança do trabalho, mas por determinação da empresa, dedica-
va-se à segurança patrimonial e outras atividades indigestas.
O discurso de que a segurança dá retorno ao empresário era
propalado aos quatro ventos; no entanto, não se investia em seguran-
ça. Entretanto, não parece ser (e não deveria ser) esta a única razão
pela qual o empregador incentiva o empregado a ter sua saúde ou
sua vida perfeitamente protegidas.

8
Saúde do trabalhador
versus
ideologia política

Os problemas nacionais serão eliminados quando conseguirmos


“despachar” todas as empresas estrangeiras. Na mesma linha de ra-
ciocínio, conseguiremos preservar a saúde de nossos trabalhadores
fechando as indústrias, pois estas dizimam a vida de inúmeros
laboristas ... Por mais absurdo que pareça, esta é a opinião de grupos
extremados de nosso País. E depois, o que fazemos? Vamos todos
retornar ao campo e plantar para comer? Infelizmente a história não
tem servido como experiência, por isso, sempre estamos a cometer
os mesmos erros e achar que tudo deve começar de novo ...
Nossos trabalhadores, após mais de 60 anos de promulgação
da CLT, continuam a ser tratados como verdadeiros silvícolas, que
não conhecem seus direitos e não possuem poder de decisão. O traba-
lhador é visto como um incapaz que continuamente necessita ser
tutelado, inclusive pelo próprio paternalismo da Justiça Trabalhis-
ta. A flexibilização da CLT infelizmente é vista como afronta aos
direitos do trabalhador.
Conseguimos ultrapassar o ano 2000, estamos na era da inteli-
gência artificial, da biotecnologia, da clonagem, do seqüenciamento
do DNA; contraditoriamente, em nome da ética, fanáticos querem
impedir que a ciência avance. Por conta de tais conceitos ocorrem
verdadeiras incongruências em nossa sociedade, como o crime inafian-
çável de cortar uma árvore. Ao invés de salvarmos a classe média da
extinção, estamos preocupados com o mico-leão-dourado ...
Política e religião não se discutem, é um ditado oportuno em
nossos dias. A devoção vem depois da obrigação é outro sapientíssimo

9
dito popular que vai contra qualquer forma de fanatismo. O julga-
mento técnico tem de estar acima da ideologia política, sob pena de
estarmos fazendo julgamentos extremamente tendenciosos e ge-
neralizando situações. Juízes, promotores, fiscais e peritos envolvi-
dos com saúde do trabalhador não devem baralhar suas ideologias
com o conceito técnico, tampouco distorcê-lo para simplesmente sa-
tisfazer seus anseios pessoais.
Uma situação peculiar foi a que ocorreu, em todo o mundo, rela-
tivo ao fenômeno LER/DORT, onde vários países experimentaram ver-
dadeiras epidemias, enfrentando um forte movimento de iatrogenia
social, influenciado principalmente pela abordagem actancial.
Por que os especialistas discordam? É a pergunta que fazem
Martin e Bammer (2000), com relação aos problemas osteomusculares
crônicos. Os autores mencionam duas razões: a primeira diz respeito
ao difícil diagnóstico; a segunda atrela-se à existência de fortes inte-
resses sociais envolvidos, denominados de interesses adquiridos pelos
autores, citando textualmente que: “trabalhadores, médicos, empre-
gadores e outros têm algo a ganhar ao preferir uma explicação à ou-
tra. Isto não significa necessariamente que alguém seja consciente-
mente tendencioso; significa simplesmente que terá benefícios acre-
ditando sinceramente em certos pontos de vista”.
Extrapolando o conceito para a perícia judicial, especialmente a
trabalhista, é nítido que o Expert sempre buscará um resultado desfa-
vorável à empresa, pois somente assim garantirá seus honorários, já
que o trabalhador sucumbente é agraciado pela justiça gratuita. Por
outro lado, há que se reconhecer que tal situação não foi criada, de
modo algum pelos Peritos, mas tão-somente, pela própria Justiça
do Trabalho.
Continuamente presenciamos trabalhadores oportunistas, gozan-
do de bom estado de saúde física, pleiteando aposentadoria por in-
validez ou mesmo utilizando-se do instituto da aposentadoria espe-
cial com o fito único de “levar vantagem”. Não devemos nos esque-
cer que este trabalhador sempre está assessorado por um profissio-
nal que conhece muito bem as fragilidades da legislação e sabe como
tirar vantagem disto. Nosso país é característico por sua solidarieda-
de, mas é reconhecido por sua falta de comunidade.
Cabe, finalmente, aos profissionais de segurança e saúde no tra-
balho eximirem-se de agir como fiscais, juízes, promotores ou peri-
tos, especialmente quando não estiverem empossados de tais cargos,
isentando-se de “praticar justiça com as próprias mãos”...

10
Dez pontos nevrálgicos
em segurança e saúde
no trabalho e suas
implicações legais

1 — INSALUBRIDADE
O Brasil, caracteristicamente, ainda é um dos poucos países a
manter um adicional — insalubridade — cuja intenção é remunerar
a probabilidade ou perspectiva de dano à saúde do trabalhador. Diga-
se de passagem, que se houver efetivamente o dano — acidente ou
doença — é invocada a indenização civil. A legislação internacional
não contempla a figura dos adicionais de risco, prevalecendo a opi-
nião de que as empresas têm por compromisso extinguir os riscos
ou, alternativamente, proteger regularmente o trabalhador contra as
intempéries de seu ambiente laboral. Em nosso país, preferiu-se a
monetização do risco, comprando a vida do trabalhador por alguns
tostões, ao invés de incentivar o investimento na prevenção. E o pior,
é que o trabalhador prefere esta barganha, pois é a única forma de
engordar um pouco mais seu mirrado salário.
A insalubridade é reconhecida pela doença, cujo efeito é lento,
paulatino e irreversível; como regra geral é oriunda de agente físico,
químico ou biológico. É preciso ressaltar que no caso da avaliação da
insalubridade, não cabe o exame do paciente, mas tão-somente a ava-
liação ambiental para a constatação da existência do agente insalubre,
isto é, ainda que um trabalhador apresente perda auditiva, tal fato
por si só, não é ensejador da caracterização da insalubridade, há neces-

11
sidade de avaliar se o ambiente de trabalho realmente possui nível de
pressão sonora acima do limite de tolerância, pois caso contrário, não
é devido o adicional.
O conceito legal de insalubridade encontra-se emanado pelo ar-
tigo 189 da CLT:

Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que,


por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os em-
pregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância
fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de
exposição aos seus efeitos.

Este conceito pressupõe o equilí-


brio dinâmico entre duas variáveis:
concentração (para agentes químicos)
ou intensidade (para agentes físicos)
do agente versus tempo de exposição,
as quais são grandezas: inversamen-
te proporcionais. Num gráfico car-
tesiano, como o da figura ao lado, po-
demos melhor entender como variam
as duas grandezas: tempo de exposição
e concentração do agente.
Visualizamos, abaixo da curva, representada por uma hipérbole,
uma região onde não se verifica a insalubridade, já que sempre uma
das grandezas tenderá a zero e a outra ao infinito, não satisfazendo o
equilíbrio das variáveis. Acima da curva teremos situações em que
existe a concentração e ao mesmo tempo o período de exposição, fi-
cando assim, assegurado o equilíbrio das variáveis. A linha da curva
é o chamado limite de tolerância. Desta forma, para que a análise
reconheça a insalubridade é mister que haja uma vistoria, seguida de
avaliação ambiental, onde ficará caracterizada a existência do agente
insalubre em concentração acima dos limites de tolerância para os
agentes cuja avaliação é quantitativa. No caso dos qualitativos, ape-
sar de formalmente dispensada sua mensuração, a avaliação deve
quantificar o tempo de exposição, sob pena de caracterizar como in-
salubre um agente com concentração abaixo do limite de tolerância e
ainda com pequeno período de exposição.

12
A insalubridade é classificada, de acordo com o tipo de agente, em:

• insalubridade por agentes físicos (ruído, vibrações, calor, frio,


umidade etc.);
• insalubridade por agentes químicos (poeira, gases, vapores,
névoas e fumos);
• insalubridade por agentes biológicos.

A Norma Regulamentadora nº 15, da Portaria nº 3.214/78 do Mi-


nistério do Trabalho e Emprego possui 14 anexos, específicos para cada
agente, cuja caracterização, segue duas tipologias de avaliação:

• avaliação quantitativa;
• avaliação qualitativa.

A legislação prevê, na avaliação quantitativa, os limites de tole-


rância1, os quais, se ultrapassados, caracterizam a insalubridade. Tal
situação aplica-se aos:

• Anexo nº 1, ruído contínuo ou intermitente;


• Anexo nº 2, ruído de impacto;
• Anexo nº 3, calor;
• Anexo nº 5, radiações ionizantes;
• Anexo nº 8, vibrações;
• Anexo nº 11, agentes químicos;
• Anexo nº 12, poeiras minerais.

A avaliação qualitativa, a mais controversa, não estabelece valo-


res; ela é realizada pela inspeção no local de trabalho. Nesta forma de
avaliação não é a simples presença do agente que caracteriza a insa-
lubridade, mas, sobretudo a consideração do tempo de exposição, eis
que a mensuração da concentração foi dispensada pela legislação.
Esta situação aplica-se aos:

1
Os limites de tolerância da atual legislação brasileira foram baseados nos limites fixados pela
ACGIH (American Conference of Governamental Industrial Hygienists), em 1977, corrigidos para
uma jornada de 48 horas semanais.

13
• Anexo nº 6, ar comprimido;
• Anexo nº 7, radiações não-ionizantes;
• Anexo nº 9, frio;
• Anexo nº 10, umidade;
• Anexo nº 13, agentes químicos;
• Anexo nº 14, agentes biológicos.

Segundo a NR-15 são consideradas como atividades ou opera-


ções insalubres as que se desenvolvem:

• acima dos limites de tolerância previstos nos anexos nos 1, 2, 3,


5, 11 e 12;
• nas atividades mencionadas nos anexos nos 6, 13 e 14;
• comprovadas através de laudo de inspeção no local de traba-
lho, constantes dos anexos nos 7, 8, 9 e 10.

Os valores que o adicional de insalubridade assume são:

• 10% do salário mínimo para grau mínimo;


• 20% do salário mínimo para grau médio;
• 40% do salário mínimo para grau máximo.

Os agentes ruídos, calor, radiações não-ionizantes, vibrações e


umidade se enquadram no grau médio; radiações ionizantes, ar com-
primido e poeiras minerais se enquadram no grau máximo. Os agen-
tes químicos, conforme o caso, ensejarão insalubridade de grau míni-
mo, médio ou máximo. Os agentes biológicos somente propiciarão
insalubridade de grau médio e máximo.
É vedada a percepção cumulativa do adicional de insalubridade
e adicional de periculosidade, devendo o empregado optar por aque-
le que lhe for mais vantajoso. Além do que, havendo a exposição a
dois ou mais agentes insalubres, prevalecerá o maior deles, por exem-
plo: estando um trabalhador exposto ao ruído (20%) e poeiras mine-
rais (40%), prevalecerá somente o adicional de insalubridade em grau
máximo. No entanto, Buck (2001) e Oliveira (2002) defendem que o
item 15.3 da NR-15 não poderia restringir a cumulatividade de adi-
cionais, pois se a Lei não vedou, por que a Portaria o fez?

14
Se for regra o trabalhador receber um adicional para cada situa-
ção, então, de forma análoga seria racional que o trabalhador rece-
besse, também um adicional insalubridade para cada risco a que se
submeter, já que a exposição simultânea a vários riscos pode agravar
ainda mais a sua situação.
É manifesto, então, que somente as atividades e agentes
elencados na legislação poderão ser legalmente enquadrados como
insalubres, nos termos do art. 190 da CLT:

O Ministério do Trabalho aprovará o quadro das atividades e opera-


ções insalubres e adotará normas sobre os critérios de caracterização da
insalubridade, os limites de tolerância aos agentes agressivos, meios
de proteção e o tempo máximo de exposição do empregado a esses agentes.

O Judiciário, no entanto, não pode deixar de apreciar situação


não prevista legalmente, sob pena de violação do art. 5º, inciso XXXV,
da Constituição Federal.

2 — PERICULOSIDADE
INTRODUÇÃO

A periculosidade, diferentemente da insalubridade, é a exposi-


ção ao perigo (e não risco, como dizem alguns), representado por
acidente-tipo, inclusive envolvendo perigo de morte (é importante
esclarecer que quem possui risco de vida é o nascituro). É indispen-
sável termos em mente que o adicional de periculosidade, assim como
o de insalubridade, não foram concebidos para proporcionar ao tra-
balhador mero acréscimo de salário, mas, tão-somente, indenizá-lo
pelo risco ou perigo oriundo de sua atividade, no caso específico da
periculosidade, o perigo à integridade física, ou seja, à vida.
Segundo a Lei de Prevenção de Riscos Laborais espanhola, para
classificar um risco do ponto de vista de sua gravidade, deve-se pon-
derar dois aspectos conjuntamente: a probabilidade e a severidade
do dano. Assim, risco é a combinação da freqüência ou probabilida-
de e das conseqüências que possam levar à materialização do perigo.
A figura da periculosidade proporcional, criada pelo Decreto nº
93.412/86, que regulamentou a periculosidade por eletricidade, fe-
lizmente encontra-se vencida pelo Enunciado nº 361 do TST. Aliás,

15
sempre preconizamos que ninguém morre aos pedaços, então por
que remunerar o adicional em partes? A ocorrência do acidente não
está condicionada ao tempo de exposição, ou seja, independente da
exposição ser eventual ou permanente, o perigo continua existindo.
No entanto, a periculosidade pode ser minimizada ou até mesmo neu-
tralizada pelos equipamentos de proteção individual ou coletivos.
A primeira legislação a instituir a periculosidade em nosso or-
denamento jurídico foi o Decreto nº 40.119, de 15.10.1956, com as al-
terações do Decreto nº 40.267, de 26.06.1959 e, mais tarde, e pela Lei
nº 5.431, de 03.05.1968, onde o artigo 1º prescreve:

Os trabalhadores que exercem suas atividades com contato per-


manente com inflamáveis, em condições de periculosidade têm direito,
desde Outubro de 1955, data de vigência da Lei nº 2.573, de 15.08.1955,
a uma remuneração adicional de 30% (trinta por cento) sobre seus
salários.

A insalubridade, como já visto anteriormente, pressupõe dano à


saúde do trabalhador, pela exposição contínua ao agente que, lenta e
paulatinamente, produz doença ocupacional. A periculosidade, ao con-
trário, é o agente que se manifesta numa fração de segundo, ceifando a
vida do trabalhador; é o acidente fatal ou com grande seqüela, que
incapacita, em geral, de forma permanente, o exercício da função.
Em nosso ordenamento legal existem quatro condições restriti-
vas e distintas de previsão para a periculosidade:

• explosivos;
• inflamáveis;
• eletricidade;
• radiações ionizantes.

Qualquer situação diversa das quatro elencadas não se consti-


tui, ao menos legalmente, em situações de periculosidade. Parece-
nos bastante óbvio que o vigilante de banco, o motorista de carro-
forte, o domador de ferras, o bombeiro, além de tantos outros, estão
sujeitos ao perigo, porém, tais condições não se classificam, ao me-
nos sob o ponto de vista legal, como perigosas. Exceção à regra ocorre,
com algumas categorias que recebem o adicional de periculosidade,

16
não por caracterização técnico-legal, mas sim, por liberalidade da em-
presa, ou mesmo, por dissídio ou acordo coletivo, como é o caso dos
policiais militares.
Avaliações tendenciosas têm caracterizado situações, que ao nos-
so ver, jamais estariam inseridas no contexto legal da periculosidade,
a exemplo do trabalho em siderurgia ou operação de caldeiras pelo
risco de explosão.
Os adicionais de periculosidade, historicamente, têm sido utili-
zados, como forma de concessão de aumento salarial disfarçado. Foi
o caso típico da periculosidade por inflamáveis, destinados aos fun-
cionários da Petrobrás (aqueles que não laboravam em condições de
perigo), e o caso da periculosidade por eletricidade, criado exclusiva-
mente para os empregados do setor de energia elétrica (concessioná-
rias). A experiência foi malsucedida, pois em pouquíssimo tempo, os
adicionais deixaram de ser privilégio exclusivo daquelas categorias,
estendendo-se para os trabalhadores de uma forma geral.
O conceito de periculosidade à luz do artigo 193 da CLT2 é:

São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da


regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho, aquelas que, por
sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem o contato permanente
com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado.

O diploma legal nos traz três pressupostos para a caracterização


da periculosidade:

• a existência do agente perigoso — explosivo, inflamável, ele-


tricidade ou radiação ionizante;
• o contato permanente com o agente perigoso; e
• a condição de risco acentuado.

Estes preceitos devem ser satisfeitos, cumulativamente, para a


caracterização técnico-legal da periculosidade, sob pena de nulidade
do enquadramento; as três condições têm de estar presentes simulta-

2
Na época, somente se caracterizava a periculosidade por inflamáveis e explosivos; posterior-
mente, a legislação incluiu a eletricidade e a radiação ionizante como agentes perigosos.

17
neamente, pois, na falta de qualquer uma delas, não existe a pericu-
losidade. Na ausência do primeiro pressuposto — o agente perigoso
— a exposição não é perigosa ou de periculosidade; um bom exem-
plo seria a exposição aos cianetos, que é fatal, mas por falta de previ-
são legal, não é perigosa. Da mesma forma, se não preenchido o se-
gundo requisito — o contato permanente — também não se caracte-
riza a periculosidade; por exemplo, o porteiro que abastece um único
veículo aos finais de semana. E, finalmente, a condição de risco acen-
tuado, pois sem esta, o acidente não materializar-se-ia, sendo então,
um risco sob controle.
A pedra de toque da legislação de periculosidade está exatamen-
te na definição do que é permanente ou eventual, já que a legislação
é omissa, ou pelo menos era, até a edição da Portaria nº 3.311/89 do
Ministério do Trabalho e Emprego, onde na sua instrução para elabo-
ração de laudos de insalubridade e periculosidade, item 4.4, nos traz:

Assim, se o trabalhador ficar exposto durante 5 minutos, por exem-


plo, a vapores de amônia e esta exposição se repete por 5 ou 6 vezes
durante a jornada de trabalho, então seu tempo de exposição é de 25 a
30 min/dia, o que traduz a eventualidade do fenômeno. Se entretanto,
ele se expõe ao mesmo agente durante 20 minutos e o ciclo se repete por
15 ou 20 vezes, passa a exposição total a contar com 300 a 400 min/dia
de trabalho, o que caracteriza uma situação de intermitência. Se, ainda,
a exposição se processa durante quase todo ou todo o dia de trabalho,
sem interrupção, diz-se que a exposição é de natureza contínua.

A exposição eventual, ademais, não dá direito ao adicional de


periculosidade, conforme preceitua o § 1º, do artigo 2º do Decreto nº
93.412, de 14.10.1986, in verbis:

O ingresso ou a permanência eventual em área de risco não ge-


ram direito ao adicional de periculosidade.

No mesmo sentido é o disposto no item 5 da mesma instrução


citada anteriormente:

... A eventualidade não ampara a concessão do adicional, resguar-


dados os limites de tolerância estipulados para o risco grave e iminente.

18
Finalmente, na mesma esteira de raciocínio é a Orientação Juris-
prudencial do Tribunal Superior do Trabalho — OJ nº 280, in verbis:

280. Adicional de periculosidade. Exposição eventual. Indevido.


DJ 11.08.2003 — Parágrafo único do artigo 168 do Regimento
Interno do TST. O contato eventual com o agente perigoso, assim con-
siderado o fortuito, ou o que, sendo habitual, se dá por tempo extrema-
mente reduzido, não dá direito ao empregado a perceber o adicional
respectivo.

No mesmo diapasão asseveram os engenheiros de Segurança do


Trabalho e professores Tuffi Messias Saliba e Márcia Angelim Chaves
Corrêa (1994):

O adicional de periculosidade foi instituído pela primeira vez, no


Brasil, através da Lei nº 2.573, de 15.08.1955. Essa lei previa o adicio-
nal para os trabalhadores que prestavam serviços em contato permanen-
te com inflamáveis. O Decreto nº 40.119, de 15.10.1955, ao regulamen-
tar essa lei, conceituou de forma clara o “contato permanente” como o
resultante da prestação de serviços, não eventuais com inflamáveis.
Atualmente, a jurisprudência sobre o assunto, na maioria dos ca-
sos, tem entendido o conceito de contato permanente de forma idêntica
aos dispositivos legais mencionados anteriormente.
Segundo Aurélio Buarque de Holanda a palavra “eventual” sig-
nifica acontecimento fortuito, ao acaso, incerto. Assim, por exemplo, o
contato do empregado diariamente com inflamável, mesmo por tempo
inferior à jornada, é considerado permanente. Também um empregado
que abasteça veículos toda sexta-feira, durante 1 hora por dia, na inter-
pretação literal do termo “eventual”, mantém contato permanente com
o inflamável. Ora, a probabilidade de risco desse empregado sofrer da-
nos à sua integridade física é bem menor do que um frentista que abas-
tece todos os dias, ocupado exclusivamente dessa atividade. Por essa
razão, embora a lei não estabeleça a probabilidade de risco, em muitos
casos, o perito deverá usar o bom-senso e os conhecimentos técnicos de
prevenção de acidentes no sentido de fornecer elementos ao juiz para
definição do contato permanente.

19
O RISCO ACENTUADO

Há que se fazer distinção, no que se refere à conceituação de


risco acentuado, quanto a outros termos utilizados e adotados como
sinônimos. Devemos observar que a legislação prescreve o risco acen-
tuado, e não simplesmente risco — que é inerente a qualquer ativida-
de — além do que, também é impróprio o termo risco iminente. A
legislação é lacunosa, não precisando em exatos termos o que seja
risco acentuado; compartilhando do mesmo raciocínio, Saliba e Corrêa
(1994) argumentam:

O risco acentuado também não é conceituado pela NR-16 da Por-


taria nº 3.214/78.
O Decreto nº 93.412, que regulamenta a periculosidade para a
energia elétrica, conceitua como equipamentos elétricos em situação de
risco aqueles cujo contato físico ou exposição aos efeitos da eletricidade
possam resultar em incapacidade, invalidez permanente ou morte. To-
davia, na questão dos explosivos, especialmente os inflamáveis, a defi-
nição de risco acentuado é bastante subjetiva, para que o perito possa
avaliar se o risco existente é ou não capaz de produzir incapacitação,
invalidez ou morte.
Portanto, na interpretação das atividades e operações perigosas,
bem como das áreas de risco constantes na NR-16, o perito deverá le-
var em conta os princípios da Segurança do Trabalho na avaliação do
risco potencial. Assim, por exemplo, o armazenamento de 50 litros de
óleo diesel dentro de um galpão bem ventilado, com área de 300 m2,
sem materiais combustíveis, resulta em risco acentuado? Obviamente
que não. Um incêndio, neste caso, poderia ser facilmente controlado,
além do que o tempo de propagação do fogo permitiria ao empregado
afastar-se do local.

Segundo Hammer (1985), risco é:

Uma ou mais condições de uma variável, com o potencial neces-


sário para causar danos. Esses danos podem ser entendidos como lesões
a pessoas, danos a equipamentos ou estruturas, perda de material em
processo, ou redução da capacidade de desempenho de uma função pré-
determinada. Havendo um risco, persistem as possibilidades de efeitos
adversos. (sic)

20
Por outro lado:

Perigo expressa uma exposição relativa a um risco, que favorece a


sua materialização em danos.

De Cicco e Fantazzini (1985) asseveram que:

Um risco pode estar presente, mas pode haver baixo nível de peri-
go, devido às precauções tomadas. Assim, um banco de transformadores
de alta voltagem possui um risco inerente de eletrocução [sic eletrocussão],
uma vez que esteja energizado. Há um alto nível de perigo se o banco
estiver desprotegido, no meio de uma área com pessoas. O mesmo risco
estará presente quando os transformadores estiverem trancados num
cubículo sob o piso. Entretanto, o perigo agora será mínimo para o pesso-
al. Vários outros exemplos podem ser criados, mostrando como os níveis
de perigo diferem, ainda que o risco se mantenha o mesmo

Conceitualmente, perigo é o risco fora de controle.

A PERICULOSIDADE POR INFLAMÁVEIS

A periculosidade por inflamáveis é disciplinada pela NR-16 e


seu anexo nº 2, onde são estabelecidas as atividades consideradas
perigosas, bem como são delimitadas as áreas de risco passíveis de
percepção do adicional de periculosidade.
A NR-16, contraditoriamente, não define o que seja inflamável;
por isso, socorremo-nos à NR-20, que traz as exatas definições de
combustíveis e inflamáveis. Notar que o conceito de inflamável não é
uniforme nas diversas legislações existentes, principalmente NB-98 e
legislação de transporte de cargas.

A CLASSIFICAÇÃO DOS INFLAMÁVEIS

A NR-20 — Líquidos Combustíveis e Inflamáveis, apresenta a


exata distinção entre combustível e inflamável:

20.1.1. Para efeito desta Norma Regulamentadora fica definido


“líquido combustível” como sendo todo aquele que possua ponto de

21
fulgor igual ou superior a 70 oC (setenta graus centígrados) e inferior
a 93,3 oC (noventa e três graus e três décimos de graus centígrados).
20.1.1.1. O líquido combustível definido no item 20.1.1 é conside-
rado líquido combustível da classe III.
20.2.1. Para efeito desta Norma Regulamentadora, fica definido
“líquido inflamável” como todo aquele que possua ponto de fulgor in-
ferior a 70 oC (setenta graus centígrados) e pressão de vapor que não
exceda 2,8 kg/cm2 absoluta a 37,7 oC.
20.2.1.1. Quando o líquido inflamável tem o ponto de fulgor abaixo
de 37,7 oC, ele se classifica como líquido combustível de classe I.
20.2.1.2. Quando o líquido inflamável tem o ponto de fulgor su-
perior a 37,7 oC e inferior a 70 oC, ele se classifica como líquido com-
bustível da classe II.

Inferimos, assim, que todo inflamável é combustível. Entre-


tanto, a recíproca não é verdadeira, pois nem todo combustível é infla-
mável.

inflamável

combustível combustível combustível


classe I classe II classe III

37,7 ºC 70 ºC 93,3 ºC

O ponto de fulgor é que, na prática, caracteriza um inflamável


líquido, já que a pressão de vapor de 2,8 kg/cm2 apenas atesta que o
inflamável será líquido. Aliás, no item 16.7 da NR-16 não é feita qual-
quer menção à variável pressão de vapor.

22
A análise da periculosidade deve ser realizada com observância
aos preceitos da NR-16. A NR-20 serve como parâmetro auxiliar, espe-
cialmente para a definição de combustíveis e inflamáveis. No entanto,
a análise de periculosidade não pode ater-se aos preceitos da NR-20,
tampouco se utilizar do não cumprimento dos requisitos daquela le-
gislação para a caracterização do risco acentuado. O Perito Judicial não
pode arrogar-se de AFT — Auditor Fiscal do Trabalho — realizando
uma fiscalização do trabalho, cotejando os requisitos da NR-20, tam-
pouco justificar o enquadramento da periculosidade pelo descumpri-
mento dos itens daquela norma. A inobservância da NR-20 acarreta
penalidade de multa, ou mesmo embargo ou interdição nos casos de
grave e iminente risco à saúde e/ou integridade física do trabalhador;
mas não justifica o enquadramento em periculosidade.
A exposição está condicionada ao ingresso em área de risco. Para
que o trabalhador faça jus ao adicional de periculosidade por infla-
máveis tem de haver, obrigatoriamente, sua entrada nas áreas de ris-
co descritas no anexo da NR-16. A freqüência — eventual, intermi-
tente ou permanente — com que o trabalhador permanece em área
de risco é uma discussão pacífica do ponto de vista técnico, mas con-
troversa do ponto de vista jurídico.
A condição de risco acentuado, ou mais propriamente perigo (os
termos são sinônimos), representa condição do risco fora de controle.
Como o próprio nome diz, o adicional é de periculosidade (perigo),
não de risco.

O RISCO ACENTUADO

É importante esclarecer: o que incendeia não é o combustível líqui-


do, mas sim os vapores emanados pelo mesmo devido ao aumento da tem-
peratura ambiental, pois para que haja fogo é necessário que coexis-
tam o combustível, o comburente e a fonte de ignição. Normalmente
o comburente é representado pelo oxigênio contido no ar.
Como ilustra Jorge Santos Reis (1987), Engenheiro de Segurança
do Trabalho da FUNDACENTRO — Fundação Jorge Duprat Figueiredo
de Segurança e Medicina do Trabalho:

Somente quando o combustível se apresentar sob a forma de va-


por (ou gás), ele poderá, normalmente, entrar em ignição. Se esse com-

23
bustível estiver no estado sólido ou líquido, haverá necessidade de que
seja aquecido, para que comece a liberar vapores ou gases.

De acordo com o que argumenta Aleksander Grievs (sd):

São considerados ambientes de alto risco, aqueles nos quais existe


a possibilidade de termos vazamento de gases inflamáveis em situação
de funcionamento normal devido a razões diversas, como por exemplo:
desgaste ou deterioração de equipamentos. Tais áreas, também chama-
das de ambientes explosivos, são classificadas conforme normas inter-
nacionais e, de acordo com a classificação, exigem a instalação de equi-
pamentos e/ou interfaces que atendam às exigências prescritas nas
mesmas. As áreas classificadas normalmente cobrem uma zona cuja
fronteira é onde o gás ou gases inflamáveis estarão diluídos ou dispersos
que não poderão apresentar perigo de explosão ou combustão.

Entendemos como situação de risco, no caso de inflamáveis, o


vazamento de líquidos ou o armazenamento em vasilhames abertos,
com a conseqüente vaporização do produto para a atmosfera, po-
dendo vir a se constituir mistura perfeita entre combustível e combu-
rente, sujeita à explosão e ao incêndio.
Uma atmosfera explosiva somente ocorre quando um inflamá-
vel está presente no estado gasoso e mistura-se com o ar em propor-
ções adequadas.
A periculosidade por inflamáveis deve ser avaliada consideran-
do-se (Jordão, 1998):
• o tipo de inflamável (gás ou vapor);
• características físicas do inflamável (ponto de fulgor, ponto de
ignição, limites de inflamabilidade etc.);
• condições ambientais (ventilação e temperatura);
• equipamentos de processo onde se encontram os inflamáveis
(tanques, reatores, compressores, vasos etc.).

A análise deve avaliar também a possibilidade de ocorrência de


mistura explosiva. Esta probabilidade será baixa se os inflamáveis es-
tiverem contidos em recipientes fechados (vasos, compressores, bom-
bas etc.) nos quais o contato com o meio externo somente dar-se-á
por falha ou anormalidade do sistema. Por outro lado, será alta a

24
probabilidade de ocorrência de mistura explosiva se o inflamável es-
tiver em contato diretamente com a atmosfera externa em condições
de operação, por exemplo: respiro dos tanques, separadores etc.
Uma outra forma de se avaliar as condições de risco acentuado é
pela mensuração dos limites de explosividade do ambiente, conheci-
dos por limite superior e inferior de explosividade, ou ainda, limites
de inflamabilidade. Todos os inflamáveis possuem limites de concen-
tração máxima e mínima, onde existe efetivamente o risco de explosão.
Os limites de explosividade não são parâmetros constantes, po-
dendo sofrer alterações a temperaturas elevadas.
Define-se como LSE (Limite Superior de Explosividade) a con-
centração mais alta de gás inflamável em comburente, capaz de se
inflamar na presença de fontes de ignição; e como LIE (Limite Inferi-
or de Explosividade) a concentração mais baixa de gás inflamável em
comburente; contudo, ainda capaz de se inflamar na presença de fon-
tes de ignição.

Curva de Explosividade
% volume

mistura rica
L.S.E.
mistura explosiva
Faixa de leitura dos
explosímetros
100

mistura pobre L.I.E.


0
temperatura

São consideradas misturas inflamáveis aquelas cujas concentra-


ções estejam entre o limite inferior e o superior de explosividade. O
equipamento utilizado para mensurar o limite inferior de explosivi-
dade, explosímetro, possui acurada detecção, especialmente para os
destilados leves, segundo Kletz (1993):

Note também que enquanto os óleos leves (como gasolina) podem


ser acusados por detector de gases combustíveis, os óleos pesados não o

25
são. Mesmo se o óleo pesado for aquecido além do seu ponto de fulgor,
os seus vapores resfriarão no detector antes de alcançarem o elemento
sensor.

O triângulo do fogo é um modelo que tem se ajustado, ao menos


sob o ponto de vista didático, ao entendimento da dinâmica do in-
cêndio. Classicamente, os três vértices do triângulo são representa-
dos pelo combustível, comburente e energia de ativação que, em tese,
deveriam coexistir para que houvesse fogo. No entanto, há alguns
processos de combustão cujo princípio ocorre sem chama. O calor é
promovido por reações químicas exotérmicas ou reações biológicas
que geram calor internamente, até que a substância alcance o ponto
de combustão espontânea e incendeie-se.
Quando um combustível e oxigênio estão em contato, produz-
se uma reação de oxidação que desprende calor. Em temperaturas
normais, a reação é tão lenta que pode ser considerada desprezível.
Segundo a Lei de Arrhenius, ao elevar-se a temperatura, a velocida-
de de reação cresce de forma exponencial. Assim, um aumento de
calor desencadeará o aumento da velocidade de reação até a ignição.
Nas ignições espontâneas, o calor gerado no interior do material não
é dissipado com suficiente velocidade para o meio externo.
A análise da periculosidade deve primar pela avaliação da pos-
sibilidade de ocorrência de mistura explosiva. Uma atmosfera explo-
siva somente ocorre quando um inflamável está presente no estado
gasoso e mistura-se com o ar em proporções adequadas. Para que
haja uma combustão, não basta que coexistam combustível, combu-
rente e fonte de calor; mas também que exista a devida proporção
entre o material combustível e o oxigênio. Baixas ou altas concentra-
ções de oxigênio inibem o processo de combustão. Além do que, a
fonte de calor deve ser suficiente para que o material atinja a tempe-
ratura de ignição.
Compartilhamos, dessa forma, da corrente que afirma que um
inflamável somente representará risco acentuado se estiver em condi-
ções propícias de se vaporizar ou volatilizar para a atmosfera, isto é, se
estiver em recipiente aberto para o ambiente ou sujeito a vazamento
por meio de tubulações ou registros. A partir daí, inferimos que um
vasilhame fechado ou lacrado não representa condições de risco acen-
tuado, pois não emana vapores para o ambiente, inexistindo, desta
forma, o risco de incêndios e, conseqüentemente, explosões.

26
A norma classifica como áreas de risco, especialmente aquelas
em torno de tanques elevados, abastecimento, enchimento, armaze-
namento, carga e descarga de inflamáveis. Interessante notar que os
tanques subterrâneos, por sua própria condição, não se encontram
elencados na Norma. Os tanques subterrâneos representam situação
idêntica aos vasilhames fechados e lacrados.
Um vasilhame vazio, não desgaseificado, oferece mais perigo
que um vasilhame totalmente cheio de inflamável, já que este, estan-
do cheio, impede a formação de vapores em seu interior, enquanto
aquele, estando vazio, tem todo o espaço disponível para que peque-
nas quantidades de líquido inflamável remanescente se vaporizem,
criando atmosferas explosivas.
O incêndio é uma combustão fora de controle. É de se esperar
que irrompa um incêndio e este termine quando todo o material com-
bustível for consumido, embora as estatísticas demonstrem que em
nem todos os casos os incêndio desenvolvem seu potencial máximo
de destruição. A compartimentação assume importante papel na li-
mitação do incêndio, pois se espera que, por exemplo, num incêndio
em um prédio de apartamentos, este fique confinado ao apartamento
de origem. Interessante ressaltar que a compartimentação, eventual-
mente, pode ser substituída pelo sistema de chuveiros automáticos,
demonstrando a equivalência entre ambos.
Especular sobre as condições estruturais de um edifício, após um
incêndio, somente para justificar um temerário enquadramento em pe-
riculosidade por inflamáveis, é um exercício que envolve a avaliação
de diversas propriedades dos elementos de sua construção. De todos
os grandes incêndios ocorridos no Brasil — Andraus, Joelma e Grande
Avenida — somente no caso da CESP, em 1987, parte de uma das tor-
res incendiadas desabou, em função da ausência de compartimenta-
ção. Assim, elucubrações mentais do tipo: se houver um incêndio no
térreo fatalmente a torre inteira desmoronará, não passa de pretensa
opinião pessoal, desprovida de qualquer investigação técnica.
Considerando-se, finalmente, que o perigo, no caso do incên-
dio, pode ser atenuado por diversas medidas, especialmente existên-
cia de extintores, hidrantes, sprinklers, portas corta-fogo, aterramento
de vasilhames, brigada treinada, simulações de abandono, alarmes,

27
detectores de fogo e fumaça e tantos outros aparatos destinados à
prevenção e controle de incêndio, tais medidas devem ser observa-
das numa eventual análise de periculosidade por inflamáveis.
No item 16.6 da NR-16 são feitas exclusões legais da periculosida-
de por inflamáveis:

As operações de transporte de inflamáveis líquidos ou gasosos li-


quefeitos, em quaisquer vasilhames ou a granel, são considerados em
condições de periculosidade, com exclusão para o transporte em peque-
nas quantidades, até o limite de 200 (duzentos) litros para os inflamá-
veis líquidos e 135 (cento e trinta e cinco) quilos para os inflamáveis
gasosos liquefeitos.

E, ainda, o item 16.6.1, ressalva:

As quantidades de inflamáveis, contidas nos tanques de consumo


próprio dos veículos não serão consideradas para efeito desta Norma.

Desta forma, no caso de transporte, e somente nesta circunstân-


cia, existe a delimitação de 200 litros/135 quilos para inflamáveis lí-
quidos/gasosos. Erroneamente, perícias estão sendo realizadas com
a observância de tais valores para armazenamento de inflamáveis, o
que se constitui em ledo engano. Deve-se avaliar as condições de ris-
co acentuado, já que quantidades menores que 200 litros também po-
derão oferecer perigo.
Grande parte dos prédios comerciais possui um conjunto de
motogeradores alimentados por óleo diesel, destinado a suprir o con-
sumo de energia elétrica em eventuais panes ou queda da rede. O
combustível que supre tais geradores normalmente é oriundo de pe-
quenos tanques aéreos instalados conjuntamente com estes gerado-
res ou em sala própria no interior da edificação.
Está se tornando um modismo na Justiça do Trabalho os pedi-
dos de periculosidade por empregados que laboraram em tais edifí-
cios, ainda que estes jamais tenham ingressado nestas áreas de risco.
O julgamento técnico distorcido de alguns profissionais tem caracte-
rizado a periculosidade por inflamáveis a todos os trabalhadores de
um prédio, independentemente do pavimento onde laborem, pelo
simples fato da existência de geradores ou tanques em seu pavimen-
to térreo ou subsolo.

28
Seria até razoável caracterizar a periculosidade por inflamáveis
para aqueles trabalhadores que ingressaram no recinto onde se encon-
tram os ditos tanques, ainda que a legislação estabeleça como área de
risco somente a bacia de segurança do tanque. Ocorre que os profis-
sionais têm justificado seu pretenso enquadramento com base na letra
“s” do item 3 do anexo 2 da NR-16, que trata especificamente de vasi-
lhames e, não tanques. Tanques são equipamentos estacionários, ao
contrário de vasilhames que podem ser movimentados, daí por que a
legislação estabelecer enquadramentos distintos para ambos. Uma vez
que o tanque é estacionário, a área de risco está restrita à bacia de se-
gurança; no caso dos vasilhames, como são movimentáveis, a área de
risco propaga-se por todo o recinto interno. Aliás, compreenda-se como
recinto interno o espaço delimitado por paredes, piso e teto.
Os enquadramentos realizados consideram os edifícios como um
único recinto, de forma a validar a periculosidade em todos os seus
andares, independente dos tanques estarem no térreo ou subsolo e o
trabalhador prestar seu labor, por exemplo, no 20º andar! Na realidade
é um desatino considerar um edifício, em sua totalidade como único
recinto fechado, pior ainda é utilizar a justificativa de que o edifício
está interligado internamente através de escadas, elevadores, corredo-
res e portas. Ora, será que existe algum prédio cujos andares não se-
jam interligados por escadas, elevadores, corredores e portas? Tal mo-
delo de prédio é surreal, pois todos os andares seriam totalmente fe-
chados (uma vez que não possuiria escadas, elevadores, corredores ou
portas), impedindo, inclusive, o acesso de pessoas ...
Pior ainda é utilizar-se de critérios não previstos na legislação
aplicável, a exemplo da NR-20, para justificar a periculosidade. É fato
que a NR-20, através do item 20.2.7, veda a disposição de tanques de
inflamáveis aéreos no interior de edifícios, exceto se estiverem enter-
rados; bem como o item 20.2.13, que estabelece que somente podem
ser armazenados, dentro de um edifício, vasilhames com capacidade
máxima com 250 litros; porém, tais proibições já são apenadas por
multas específicas, inexistindo qualquer menção legal de que tais
descumprimentos, por si sós, também sejam requisitos para a caracte-
rização da periculosidade por inflamáveis.
É temerário também se falar nas conseqüências de um incêndio
ou explosão originada no subsolo com relação aos demais andares de
um prédio. O opinamento técnico toma rumo de palpite quando sem

29
qualquer base técnico-científica argumenta-se sobre as conseqüências
de eventual incêndio ou explosão para ratificar um enquadramento.
Há estudos específicos, na área de gerência de riscos, que estimam
quais os impactos de um incêndio ou explosão.
A análise do perigo ou a demonstração da cadeia de relação cau-
sa e efeito entre o exercício do trabalho e o acidente é requisito exigi-
do na análise da periculosidade por força da Portaria nº 3.311, de
29.11.1989, do Ministério do Trabalho e Emprego, em sua Instrução para
elaboração de laudo de insalubridade e periculosidade, subitem 6.1.
Os laudos periciais apresentados, normalmente, restringem-se à
simples inspeção visual no local de trabalho, somente para consta-
tar a existência do inflamável, que passou a ser o único requisito para
enquadramento da periculosidade.
Os trabalhos periciais, adicionalmente, têm se distanciado do art.
193 da CLT. Remontando aos primórdios da instituição do adicional
de periculosidade por inflamáveis, a intenção do legislador ao criá-lo
foi de remunerar os empregados da Petrobrás pelo perigo a que se
expunham nas plataformas, refinarias e outros correlatos. Atualmente,
presenciamos o enquadramento da periculosidade para instalações
de comércio, bancos e até mesmo prestação de serviços.
Têm sido desprezados, por outro lado, os diversos equipamen-
tos de proteção coletiva, a exemplo das luminárias à prova de explo-
são, sistemas de ventilação forçada, detectores de fumaça, alarmes
de incêndio, portas corta-fogo, bacias de segurança, sinalização visual,
iluminação de emergência, extintores, sprinklers, hidrantes, brigada
treinada e bombeiros profissionais etc.
Infelizmente não se distingue risco de perigo, entendendo ambos
os conceitos como sinônimos, o que se constitui em erro crasso. Riscos
são inerentes ao nosso cotidiano, todos estamos sujeitos a diversos ris-
cos; no entanto, estes podem ser tecnicamente administrados de for-
ma a não se constituir perigo. Perigo é o risco fora de controle, para o
qual não há medidas capazes de reduzir seu potencial catastrófico.
É razoável acreditar que na eventualidade de um princípio de
incêndio, existirão vários fatores agindo simultaneamente na preven-
ção e controle do risco, quais sejam:

• imediata atuação da Brigada de Incêndios, composta por em-


pregados treinados;

30
• imediata atuação dos bombeiros profissionais existentes no
quadro de empregados;
• alarme sonoro indicativo de princípio de incêndio, interligado
à central de segurança;
• abandono do prédio pelos empregados, que periodicamente
são treinados em exercícios simulados;
• detector de fumaça indicativo de princípio de incêndio, inter-
ligado à central de segurança;
• utilização de extintores portáteis para combate ao incêndio;
• utilização de hidrantes no combate ao incêndio;
• acionamento automático dos sprinklers que também atuam no
combate ao incêndio;
• finalmente, acionamento do Corpo de Bombeiros.

Analogias como as que têm sido realizadas, fatalmente levariam


à enganosa conclusão de que qualquer prédio constituir-se-ia em área
de risco, uma vez que todo prédio comercial possui sistema de gera-
dores auxiliares, para suprir eventuais panes de energia elétrica, e
tais geradores fatalmente são alimentados por algum combustível.
No mundo moderno, o homem constantemente ingressa em áreas
de risco, seja quando abastece seu veículo ou viaja de avião, seja quan-
do se encontra em sua residência, onde sempre há uma despensa com
vários litros de inflamáveis, tais como álcool, querosene, cera etc.
Estes enquadramentos distorcidos pelas reiteradas ocorrências
têm inclinado a própria justiça a reconhecer como legal uma condi-
ção temerária sob o ponto de vista técnico. Em várias situações ante-
riores já vimos a justiça transformando aberrações técnicas em juris-
prudência pelo uso continuado de opiniões tecnicamente discutíveis.

A PERICULOSIDADE POR EXPLOSIVOS

É necessário diferenciar o material explosivo do material instá-


vel, eis que ambos conceitos são distintos. O material explosivo deve
explodir apenas sob determinadas condições, tendo instabilidade re-
lativa, o suficiente para não oferecer perigo. A instabilidade do ex-
plosivo é promovida por energia, normalmente oferecida por um ini-

31
ciador. Os explosivos de ruptura, normalmente chamados de altos
explosivos, são representados por: RDX, gelatinas explosivas, PeTN,
nitropenta nitroglicerina e TNT. Os reforçadores são explosivos que
servem como intermediários entre o iniciador e a carga explosiva. Os
iniciadores são explosivos sensíveis ao atrito, calor e choque e sob
efeito de calor explodem sem se incendiar, temos por exemplo, as
espoletas.
As pólvoras são explosivos utilizados para a propulsão ou pro-
jeção, por exemplo, a pólvora negra que é constituída por carvão, sali-
tre do Chile e enxofre. A pólvora branca é composta por clorato de
potássio (ou perclorato), pó de alumínio e enxofre; uma peculiarida-
de da pólvora branca é que esta explode de uma só vez.
Interessante ressalva que deve ser feita, de início, na caracteri-
zação da periculosidade por explosivos, é que o anexo 1 da NR-16 —
Atividades e operações perigosas com explosivos — é destinado, única
e exclusivamente, a atividades com exposição a explosivos químicos e
mecânicos. Desta forma, riscos de explosões oriundas de situações
diversas não cabem neste anexo.
O anexo contempla, basicamente, a exemplo da periculosidade
por inflamáveis, três áreas de risco:

• locais de armazenagem de pólvoras químicas, artifícios


pirotécnicos e produtos químicos usados na fabricação de mis-
turas explosivas ou de fogos de artifício;
• locais de armazenagem de explosivos iniciadores;
• locais de armazenagem de explosivos de ruptura e pólvoras
mecânicas (pólvora negra e pólvora chocolate ou parda).

A PERICULOSIDADE POR ELETRICIDADE


O adicional de periculosidade por eletricidade foi instituído em
1.985 pela Lei nº 7.369, a qual criou o adicional não como forma de
indenizar o risco, mas, sim, como maneira de aumentar o nível sala-
rial dos empregados das concessionárias de energia elétrica. Naque-
le mesmo ano, a dita lei foi regulamentada pelo Decreto nº 92.212, e
quase um ano após, este foi revogado pelo Decreto nº 93.412, de
14.10.1986.

32
O primeiro aspecto discutido tanto na Lei, quanto no Decreto,
foi o alcance do adicional, pois não se pode negar que, inicialmente, o
Decreto somente beneficiava os empregados das empresas conces-
sionárias de energia elétrica. No entanto, robustecida jurisprudência
nos endossa a afirmar que hoje não pairam quaisquer dúvidas de que
o adicional periculosidade por eletricidade é devido a todo e qual-
quer trabalhador que tenha atividades em sistema elétrico de potên-
cia. A opinião também é compartilhada pelo Engenheiro Eletricista e
Advogado Jair José de Almeida (1993):

... verificamos que o Adicional de Periculosidade é devido a todos


aqueles que trabalham no setor de energia elétrica de qualquer empre-
sa, desde que trabalhem com eletricidade, em condições de risco, inde-
pendente se a mesma é geradora, transmissora ou distribuidora de ener-
gia elétrica.

As áreas de risco, conforme o Decreto nº 93.412, estão adstritas


ao sistema elétrico de potência. O sistema elétrico de potência, se-
gundo a definição dada pela NBR 5.460, é:

Em sentido amplo, é o conjunto de todas as instalações e equipa-


mentos destinados à geração, a transmissão e a distribuição de energia
elétrica.

Segundo Williams Stevenson Jr. (1981):

“Um sistema elétrico de potência consiste em três componentes


principais: as estações geradoras, as linhas de transmissão e os sistemas
de distribuição; as linhas de transmissão ligam as estações geradoras
aos sistemas de distribuição; um sistema de distribuição liga todas as
cargas individuais de uma determinada área às linhas de transmissão.”

Geração é a conversão de uma forma qualquer de energia em


energia elétrica. Transmissão é o transporte de energia elétrica carac-
terizado pelo valor nominal da tensão entre a subestação elevadora e
a subestação abaixadora ou entre subestações que fazem a interliga-
ção de sistemas elétricos. Distribuição é a transferência de energia
elétrica para os consumidores a partir dos pontos onde se considera
terminada a transmissão, até a medição de energia, inclusive.

33
Entendemos que o sistema de distribuição vai até o relógio de
consumo e é exatamente até este ponto que a atividade se classifica
como perigosa. Perícias equivocadas têm caracterizado a periculosi-
dade para trabalhadores que se ativam em unidade de consumo, fa-
zendo reparos em eletricidade predial, substituindo lâmpadas, tro-
cando fusíveis, instalando tomadas e mesmo em trabalhos em eletrô-
nica, o que destoa totalmente dos critérios estabelecidos no legisla-
ção. Temos presenciado casos de caracterização de periculosidade por
exposição à área de risco por gerador de eletricidade, utilizado para
eventuais quedas de energia, com a alegação de que tal gerador é
componente do sistema elétrico de potência-geração, o que, no nosso
entender, é puro invencionismo.
Em parecer (nº 173/86) do festejado mestre Amauri Mascaro Nas-
cimento (1986), é analisada profundamente a questão da destinação
do adicional de periculosidade por eletricidade:

De acordo com a Lei nº 7.369/85 o adicional é devido ao emprega-


do que exerce atividade no setor de energia elétrica, em condições de
periculosidade. A expressão utilizada não esclarece se setor de energia
elétrica é a categoria profissional de eletricitários, se quer dizer atividade
de qualquer empresa voltada para esse fim ou, ainda, se significa traba-
lho exercido por empregado de empresa geradora ou transmissora.
No entanto, a regulamentação de Decreto fixa alguns marcos que
se mostram de certo modo limitativos, ao estabelecer uma classificação
básica de algumas atividades que uma vez presentes nas áreas de risco
indicadas, autorizam o direito do trabalhador.
Essas atividades classificadas, como é fácil ver, não são abrangentes
a ponto de sugerir a conclusão, que seria equivocada, de que todo em-
pregado que trabalha em contato com eletricidade está amparado.
Isso não ocorre, sendo perfeitamente possível, desde logo, afirmar
que seria incorreto supor que a lei criou um adicional para eletricistas,
ou ainda, para eletricitários, como enganadamente poderia ser afirmado.
Também não se vislumbra elasticidade suficiente a ponto de garantir
todo empregado que, por alguma razão, exerça a sua função utilizando-
se de equipamentos elétricos; hipótese tão absurda como seria pretender
eu, por escrever este parecer em máquina elétrica de datilografia, o acrés-
cimo salarial. Inúmeros são os trabalhadores que de algum modo estão

34
em contato com aparelhos elétricos, como a engomadeira com o ferro de
passar roupas, a cozinheira com o liquidificador, a arrumadeira com a
enceradeira, o barbeiro com o secador de cabelo, o consertador de apare-
lho de rádio e televisão, o ascensorista de elevador de prédio residencial
ou comercial, o trocador de lâmpadas etc.

Invocando, novamente, o magistério do mestre Amauri Mascaro


Nascimento (1986), no mesmo parecer supramencionado:

Outra exigência, concomitante com as até aqui referidas, resulta


da regulamentação ao dispor que são equipamentos ou instalações elé-
tricas em situação de risco aqueles de cujo contato físico ou exposição
aos efeitos da eletricidade possa resultar incapacitação, invalidez per-
manente ou morte. É óbvio que diante disso, a questão técnica pressu-
põe perícia em caso concreto, através da qual será possível verificar se
os efeitos a que se refere a norma estão presentes. Esta questão não pode
ser resolvida eficazmente com uma apreciação em tese.
Aliás, saber se um empregado está ou não exposto em área de ris-
co é o mesmo, em qualquer caso, uma questão que pela sua natureza
pressupõe juízo técnico. É insegura uma conclusão sem base em crité-
rios que não prescindem do conhecimento de conceitos científicos de
engenharia especializada.

O Anexo do Decreto nº 93.412/86 relaciona as atividades de ris-


co, em correspondência com as áreas de risco, elencando as seguin-
tes tarefas:

1. atividades de construção, operação e manutenção de redes de


linhas aéreas de alta e baixa tensão integrantes de sistemas
elétricos de potência;
2. atividades de construção, operação e manutenção de redes e
linhas subterrâneas de alta e baixa tensão integrantes de sis-
temas elétricos de potência;
3. atividades de inspeção, testes, ensaios, calibração, medição e
reparos em equipamentos e materiais elétricos, eletrônicos,
eletromecânicos e de segurança individual e coletiva em sis-
temas elétricos de potência de alta e baixa tensão;

35
4. atividades de construção, operação e manutenção nas usinas,
unidades geradoras, subestações e cabinas de distribuição em
operações, integrantes de sistemas de potência;
5. atividades de treinamento em equipamentos ou instalações.

Notamos, da atenta leitura, que em todos os itens, com exceção


do 5º, é feita menção ao Sistema Elétrico de Potência. A exceção apa-
rente no item 5 não se trata de restrição, mas deve-se tão-somente à
redação contida na delimitação da área de risco, representando todos
os locais descritos nos itens precedentes, isto é, as atividades de trei-
namento somente serão passíveis do adicional de periculosidade des-
de que executadas nas mesmas áreas dos itens precedentes.
A NBR 5460, sob o título Sistemas Elétricos de Potência é especí-
fica ao definir o objetivo no item 1.1:

Esta Norma define termos relacionados com sistemas elétricos de


potência, explorados por concessionários de serviços públicos de ener-
gia elétrica, sob os pontos de vista de:
a) geração de energia elétrica, especialmente em usinas hidrelétri-
cas e usinas termelétricas a vapor;
b) transmissão e distribuição de energia elétrica;
c) operação e manutenção dos sistemas;
d) proteção elétrica dos sistemas. (grifo nosso)

Sistema Elétrico de Potência diz respeito às instalações sob juris-


dição de uma concessionária de serviço de eletricidade; logo, o cam-
po de abrangência do Decreto nº 93.412 vai desde a instalação gera-
dora até o ponto de entrega de energia elétrica na instalação de con-
sumo, considerado como sendo o relógio de medição, nos termos das
definições da NBR 5460; não que tal relógio seja um equipamento de
proteção coletiva, mas, legal e tecnicamente, é um divisor de águas
entre o Sistema Elétrico de Potência e a Unidade de Consumo. Con-
forme definição constante no item 3.613 da citada norma:

Sistema Elétrico de Potência em sentido amplo, é o conjunto de


todas as instalações e equipamentos destinados à geração, transmissão
e distribuição de energia elétrica.

36
Em sentido restrito, é um conjunto definido de linhas e subestações
que assegura a transmissão e/ou a distribuição de energia elétrica, cujos
limites são definidos por meio de critérios apropriados, tais como, loca-
lização geográfica, concessionário, tensão, etc.

A análise do texto do anexo do Decreto nº 93.412/86, ou de qual-


quer outro texto legal, não deve ser feita utilizando-se meias frases
ou frases cortadas, mas como um todo. Interpretações tendenciosas e
pessoais têm sido realizadas, deferindo-se o adicional de periculosi-
dade para Unidade de Consumo, associando-o com o termo baixa
tensão. Na realidade, o Anexo trata de Sistema Elétrico de Potência
de alta e baixa tensão. No Sistema Elétrico de Potência, via de regra,
temos altas tensões desde 13.800 volts até 440.000; entretanto, há ne-
cessidade, dentro do Sistema Elétrico de Potência, por exemplo, de
iluminação, acionamento de motores, compressores etc., que são rea-
lizados em 110 ou 220 volts; daí a existência do Sistema Elétrico de
Potência de baixa tensão.
A frágil justificativa de que o relógio de consumo não é equipa-
mento de proteção coletiva, e que a mesma energia que trafega no
Sistema Elétrico de Potência circula na Unidade de Consumo, não
contém argumentos técnicos para se caracterizar a periculosidade em
atividades fora do Sistema Elétrico de Potência.
Em consulta formulada à ABPA — Associação Brasileira para
Prevenção de Acidentes, responde o Eng. João José Barrico de Souza
(1987) a respeito da inclusão da unidade de consumo no SEP:

Totalmente desprovida de razão é a extensão proposta que leva à


conclusão de que os equipamentos de consumo fazem parte do Sistema
Elétrico de Potência. Nunca. Apenas o medidor é considerado inte-
grante do SEP, por ser a interface entre o mesmo e as instalações de
consumo.
Qualquer exercício mental que levasse à errônea conclusão de que
quadros de distribuição, centros de comando de motores, chaves de par-
tida de máquinas, pontes rolantes e outros equipamentos de consumo
fizessem parte do SEP deveria admitir que também as luminárias, o tele-
visor, o liquidificador, o rádio-relógio (sic) e o abajur de cabeceira tam-
bém desse sistema fizessem parte.
...

37
Nada impede que em um mesmo local existam instalações inte-
grantes de um SEP e, simultaneamente, seja a energia elétrica consu-
mida para finalidade de iluminação, acionamento de motores de bom-
bas, compressores, máquinas operatrizes etc. Tal circunstância ocorre,
por exemplo, em usinas, subestações, oficinas de manutenção dos equi-
pamentos e, onde são perfeitamente identificáveis, os circuitos inte-
grantes do sistema e os que não o são. Ocorre, ainda, que na grande
maioria dos casos estas oficinas e locais de testes de equipamentos fun-
cionam fisicamente instaladas juntos aos outros equipamentos inte-
grantes de SEP.

Logo, o item 3 do quadro refere-se a atividades relacionadas a equi-


pamentos integrantes de Sistemas Elétricos de Potência, realizados em
locais onde, por necessidade, também existe o consumo e a utilização
de energia elétrica, e não podemos, de nenhuma forma, afirmar que o
item 3 do quadro se refere a atividades em sistemas de consumo.

O fato de a NBR-5110 mencionar que os termos nela definidos


são aplicáveis, no que couber, às instalações de autoprodutores e con-
sumidores não permite, absolutamente, que se contrarie a própria defi-
nição dos termos nele definidos para, tendenciosamente, forçar a gene-
ralização e a inclusão das instalações de consumo em instalações de
produção. Nem mesmo ao leigo no assunto pode ser dado o direito de
assim pensar.

Na mesma esteira de raciocínio são as colocações de Eduardo


Gabriel Saad (1986):

... é de se compreender o interesse do legislador em oferecer o adi-


cional de periculosidade apenas aos exercentes de certas atividades na
área de geração, transmissão e distribuição da energia elétrica.

Por certo não ignoramos a existência de graves riscos de eletrici-


dade em umas poucas empresas e isto em virtude do seu tamanho e da
natureza da sua atividade (siderúrgica, fábrica de alumínio — por exem-
plo) que podem ser objeto de medidas legislativas especiais. Contudo,
repetimos, a lei sob comentário só se ocupa das atividades nas áreas de
geração, transmissão e distribuição da energia elétrica.

38
Na segunda coluna do Anexo ao Decreto nº 93.412/86 temos as
delimitações de área de risco. Araújo e colaboradores (2003/2004) tra-
zem a definição de área de risco:

Limitada aos pontos de geração, transmissão e distribuição, sen-


do definida, tecnicamente, como transporte de energia elétrica, a partir
dos pontos onde se considera terminada a transmissão (ou subtrans-
missão), até a medição de energia, inclusive. O sistema de distribuição
vai até o relógio de consumo e é exatamente até este ponto que a ativi-
dade se classifica como periculosa (sic).

Estando definidas as atividades e as áreas de risco que conce-


dem ao trabalhador o direito ao adicional de periculosidade, resta-
nos, ainda, um último requisito: a exposição. Ademais, não basta a
simples exposição à área de risco para fazer jus ao adicional; é neces-
sária a existência do risco à integridade física, pois se não houver tal
circunstância, não há o que indenizar. No caso concreto da eletricida-
de, a intenção do legislador não foi contemplar qualquer exposição à
eletricidade como perigosa, mas tão-somente aquelas em que, pelo
contato físico ou exposição aos seus efeitos, venham a resultar em
incapacitação, invalidez permanente ou morte do trabalhador, conforme
o § 3º, II, do artigo 2º do Decreto nº 93.412/86. Eduardo Gabriel Saad
(1986), com muita oportunidade, acrescenta:

Na espécie, portanto, não é suficiente para a percepção do adicional


que o empregado prove estar no exercício de atividade por lei reputada
como perigosa; é imprescindível a prova da existência real do risco em
virtude da omissão ou negligência do empregador.

Em nosso conceito, exposição ao risco por eletricidade é a condi-


ção pela qual o trabalhador encontra-se com possibilidade, mesmo
que acidental, de contato com eletricidade viva, isto é, o trabalhador
está sujeito ao toque em condutor ou qualquer outro equipamento
não isolado. A exposição é o componente que fecha o triângulo da
periculosidade por eletricidade: atividade, área de risco e exposição;
na falta de qualquer uma delas, não existe a periculosidade.
Conjecturas em perícia judicial sempre acabam em pena de nulidade
jurídica. Ademais, como o próprio nome diz, o adicional é de pericu-
losidade, e não de risco; assim, o que está sendo avaliado é o perigo

39
e não o risco. Perigo e risco são conceitos bem distintos. Perigo é o
risco fora de controle. Infelizmente, tais conceitos ainda não estão ao
alcance de alguns profissionais.
A legislação avança a passos de tartaruga; entretanto, o Enuncia-
do nº 361 vem confirmar a opinião, compartilhada por vários Peritos,
de que não existe periculosidade proporcional. Ninguém morre ape-
nas um braço, uma perna ou qualquer parte do corpo. Morre-se por
inteiro; logo, não há justificativa para o adicional proporcional ao tem-
po de exposição. O perigo independe da exposição. O Decreto nº
93.412/86 ampliou de forma repreensível a previsão legal, inclusive,
inconstitucionalmente.
Quanto ao tempo de exposição à área de risco, é fato que o § 1º,
do artigo 2º do Decreto nº 93.412, prescreve:

O ingresso ou a permanência eventual em área de risco não ge-


ram direito ao adicional de periculosidade.

O que culminou por criar a figura da periculosidade proporcio-


nal ao tempo de exposição, que se traduz numa incoerência, tanto
jurídica, como técnica. Juridicamente, o Decreto cometeu improprie-
dade ao regulamentar a Lei nº 7.369, pois o Decreto Executivo não cria,
não modifica, e nem extingue direitos e obrigações. Ele não amplia e nem
reduz o que dispôs a lei, ou seja, não inova a ordem jurídica (Almeida, 1993).
Tecnicamente, a falha do Decreto foi em estabelecer a proporcio-
nalidade à exposição ao risco, já que ao contrário da insalubridade
que vai insidiosa e paulatinamente lesando a saúde do trabalhador, a
periculosidade não se instala no organismo do trabalhador aos pou-
cos, mas sim ceifa a vida do trabalhador em fração de segundo, dado
que a fatalidade não escolhe hora e ainda os acidentes com eletricida-
de em sua maioria sempre são fatais daí, tanto a permanência contí-
nua como eventual seriam passíveis de pôr em risco a vida do tra-
balhador. Ademais, por que se falar em proporcionalidade se o traba-
lhador não morre proporcionalmente?
Não existe, desta forma, relação entre o tempo de exposição e a
concretização do risco em acidente, até porque não concebemos a pe-
riculosidade proporcional ao tempo de exposição. O trabalhador pode

40
atuar longos anos com eletricidade sem sofrer qualquer acidente.
Entretanto, pode no primeiro minuto de trabalho vir a ser vítima de
acidente fatal.
Usualmente, algumas empresas, em especial o poder público,
têm se utilizado de tal expediente, sobretudo em acordos coletivos,
para estabelecer percentuais de adicional em função da exposição,
criando adicionais diferenciados para cada função. O acordo coletivo
deveria valer como lei entre as partes. No entanto, presenciamos ca-
sos de ações individuais, em que o reclamante pleiteia a complemen-
tação do adicional de periculosidade até o limite de 30%, ocorrendo
na primeira e segunda instâncias procedimentos divergentes. Em al-
guns casos, o mérito da ação não é apreciado em virtude de existên-
cia de acordo coletivo; noutros, existe a condenação da reclamada ao
pagamento integral do adicional. O TST, por meio do Enunciado nº
361, manifestou-se pela inexistência da periculosidade proporcional,
conforme transcrição a seguir:

Súmula nº 361 (Enunciado) do TST — Adicional de periculosi-


dade. Eletricitários. Exposição intermitente “O trabalho exercido em
condições perigosas, embora de forma intermitente, dá direito ao em-
pregado a receber o adicional de periculosidade de forma integral, ten-
do em vista que a Lei nº 7.369/85 não estabeleceu qualquer proporcio-
nalidade em relação ao seu pagamento”. (Res. nº 83/1998, DJ
20.8.1998)
É fundamental que na análise da periculosidade, apesar da ava-
liação qualitativa prevista legalmente, o Perito estabeleça alguns pa-
drões de conduta para os diversos agentes. Quando se tratar de ava-
liação de periculosidade por eletricidade devem ser satisfeitos três
preceitos básicos, cumulativamente:

• que a atividade do trabalhador esteja prevista no quadro ane-


xo ao Decreto nº 93.412/86;
• que o local de trabalho seja na área de risco elencada pelo mes-
mo Decreto;
• que o trabalhador esteja exposto à eletricidade.
Os dois primeiros itens são conseqüência da própria legislação,
dispensando mais comentários. No cotejo do terceiro item, a exposi-
ção à eletricidade, deve ser ponderada a possibilidade de contato do
trabalhador com eletricidade viva, já que o isolamento é uma prote-

41
ção coletiva que elimina o perigo. A implantação de Programa de
Controle de Energias Perigosas (lockout/tagout) com o uso de disposi-
tivos utilizados no bloqueio e na etiquetagem de fontes de energias
tem sido uma forma segura de se evitar acidentes provocados pela
energização acidental, nos termos dos procedimentos preconizados
na norma OSHA 1910.147. Ainda é discutível a eficácia dos equipa-
mentos de proteção individual, particularmente luvas de alta-tensão,
na neutralização do perigo por eletricidade.

A PERICULOSIDADE POR RADIAÇÕES IONIZANTES

É necessário, preliminarmente, que se faça distinção entre as ra-


diações ionizantes produzidas por fontes naturais e por fontes artificiais.
As radiações geradas por fontes naturais são largamente utilizadas
em radiodiagnósticos e tratamento, por meio de equipamentos que
no seu interior possuem efetivamente uma fonte de radioisótopo. Ao
contrário, as radiações produzidas por fontes artificiais são os equi-
pamentos que produzem raios X por meio de eletricidade e que po-
dem ser controlados para emitir maior ou menor quantidade de radia-
ção, podendo ser ativados ou desativados a qualquer momento.
É preciso, então, que fique bem nítida a diferença entre uma e
outra forma de produção de radiação. O equipamento com fonte na-
tural dispõe de um radioisótopo em seu interior, que apesar de con-
trolado, pode oferecer perigo à vida se este equipamento for
devassado e a fonte exposta ao exterior, caso idêntico ao ocorrido em
Goiânia com o Césio-137; o mesmo não acontece com o equipamento de
raios-X, que não possui qualquer fonte, pois sua radiação é induzida
por eletricidade, e, uma vez desconectado da energia, está extinta a
possibilidade de existência de radiação, mesmo que o equipamento
for devassado.
Existem, naturalmente, exceções, como alguns hospitais que uti-
lizam equipamentos de raios-X com mais de 50 anos, totalmente obso-
letos e defasados em relação à tecnologia, e que apresentam vazamen-
to de radiações, expondo a risco tanto o paciente quanto o operador.
Compartilhamos da corrente que preconiza a não utilização do
tempo de exposição como parâmetro para a caracterização da pericu-
losidade, mas diferentemente do que acontece com os agentes eletri-
cidade, explosivos e inflamáveis — cujos acidentes via de regra são

42
fatais — o mesmo não ocorre com a radiação, uma vez que seu me-
canismo de exposição segue basicamente o de qualquer outro agente
insalubre. Além do que, exceto em casos de exposição aguda, o tem-
po de latência pode ser da ordem de dezenas de anos e os seus efei-
tos vão se revelando lenta e paulatinamente no organismo.
Desta forma, por que se considerar todos os casos de exposição
à radiação como perigosos, se nem todas as situações apresentam
risco imediato à vida? Inclusive, em alguns casos, os efeitos são re-
versíveis, comportando-se mais como um agente insalubre do que
propriamente perigoso.
De acordo com o magistério dos Professores Glasstone e Sesonske
(1975):

Se entende por exposição crônica a exposição freqüente — diária,


por exemplo — a intensidades de radiação relativamente baixas, tais
como as que podem encontrar-se em operações relacionadas com os rea-
tores nucleares. Em geral, para a mesma dose total de radiação, a expo-
sição crônica tem conseqüências menos graves que a exposição aguda.
Quer dizer, certa dose de radiação recebida por um indivíduo em al-
guns segundos pode causar dano, ainda que a mesma dose repartida
por vários anos pode ser de efeitos inapreciáveis. Dito de outro modo,
no que diz respeito à extensão da lesão biológica, é tão importante a dose
total de radiação como a dose por unidade de tempo, isto é, a dose rece-
bida em um intervalo de tempo determinado. Quanto menor a dose
total e a dose por unidade de tempo, menor será a lesão. Para alguns
tipos de lesões por irradiação, o organismo parece ter certa capacidade
de recuperação, o que significa que os efeitos não são cumulativos ao
longo do tempo. Há, todavia, exceções muito importantes, entre as quais
se encontram os efeitos genéticos, que são provavelmente de tipo cumu-
lativo.

A periculosidade por radiações ionizantes foi instituída pela Por-


taria nº 3.393, de 17.12.1987. Reconhecendo a ilegalidade do acréscimo
de agente perigoso por Portaria e não Lei, o Ministério do Trabalho e
Emprego, por meio da Portaria nº 496, de 11.12.2002 revogou a Porta-
ria nº 3.393. Posteriormente, cometendo o mesmo erro inicial, através
da Portaria nº 518, de 04.04.2003, o Ministério do Trabalho e Emprego
revigorou o adicional de periculosidade por radiações ionizantes.

43
De acordo com anexo da Portaria nº 518, de 04.04.2003, atividades
e operações perigosas com radiações ionizantes ou substâncias radio-
ativas — atividades/área de risco, envolvem as seguintes tarefas:

• Produção, utilização, processamento, transporte, guarda,


estocagem e manuseio de materiais radioativos, selados e não
selados, de estado físico e forma química quaisquer, naturais
ou artificiais;
• Atividades de operação e manutenção de reatores nucleares;
• Atividades de operação e manutenção de aceleradores de par-
tículas;
• Atividades de operação com aparelhos de raios X, com
irradiadores de radiação gama, radiação beta ou radiação de
nêutrons;
• Atividades de medicina nuclear;
• Descomissionamento de instalações nucleares e radioativas;
• Descomissionamento de minas, moinhos e usinas de tratamento
de minerais radioativos.

São atividades, via de regra, em que especificamente se manuseiam


fontes e amostras radioativas, amostras e corpos irradiados, ou mes-
mo seus rejeitos e manutenção dos equipamentos, tais como
calibração, ensaios, testes e inspeções.
Os acidentes nucleares com vítimas fatais reportados na histó-
ria, sem exceção, são acidentes envolvendo usinas nucleares com fon-
tes naturais de radioisótopo. Atualmente, existem mais de 400 usi-
nas nucleares em operação no planeta, a maioria nos Estados Uni-
dos, França, Inglaterra e países do leste europeu.
As lesões variam desde pequenas queimaduras na pele até
sarcoma ósseo e morte prematura. Não existem sensações corpóreas
que indiquem a presença de radiações, exceto quando se trata de in-
tensidades muito altas, em cujo caso se experimenta a sensação de
queimadura ou sintomas como queda de cabelo, avermelhamento da
pele, mal-estar etc., denominados também como efeitos somáticos, que
só acontecem se a dose absorvida for extremamente alta, sempre aci-
ma de 200 ou 300 rad, num pequeno espaço de tempo (por exemplo,
um dia).

44
Os efeitos genéticos são aqueles que ocorrem nas células germi-
nativas, não provocando sintomas no indivíduo. Entretanto, envol-
vem os genes que transmitem a hereditariedade, podendo provocar
alterações ou mutações, descontroladas e indesejáveis nos descen-
dentes e seu efeito pode se estender por várias gerações. Pesquisas
mostram que alguns danos somáticos são reversíveis. Todavia, os
danos genéticos parecem ser cumulativos e irreversíveis.

ERGONOMIA E A DOENÇA OCUPACIONAL


O termo ergonomia tem suas origens nos vocábulos gregos: ergon
(trabalho) e nomos (lei), traduzindo-se como as leis do trabalho. Ergo-
nomia é ciência que adapta o trabalho ao homem (nunca o inverso),
visando conforto e produtividade, abrangendo o conhecimento do
corpo humano relativo às habilidades físicas e limitações, bem como
outras características humanas que são relevantes ao planejamento
do trabalho.
Algumas características psicofisiológicas do ser humano:

• elege livremente sua postura, dependendo das exigências da


tarefa e do estado de seu meio interno;
• prefere utilizar alternadamente toda a musculatura corporal e
não apenas determinados segmentos corporais;
• tolera mal tarefas fragmentadas com tempo exíguo para exe-
cução e, pior ainda, quando esse tempo é imposto por uma
máquina, pela gerência, pelos clientes ou colegas de trabalho,
ou seja, prefere impor sua própria cadência ao trabalho;
• é compelido a acelerar sua cadência quando estimulado
pecuniariamente ou por outros meios, não levando em conta
os limites de resistência de seu sistema musculoesquelético;
• sente-se bem quando solicitado a resolver problemas ligados à
execução das tarefas; logo, não pode ser encarado como uma
mera máquina, mas sim como um ser que pensa e age;
• tem capacidades sensitivas e motoras que funcionam dentro
de certos limites, que variam de um indivíduo a outro e ao
longo do tempo para um mesmo indivíduo;

45
• suas capacidades sensório-motoras modificam-se com o processo
de envelhecimento, mas perdas eventuais são amplamente com-
pensadas por melhores estratégias de percepção e resolução de
problemas desde que possa acumular e trocar experiência;
• organiza-se coletivamente para gerenciar a carga de trabalho,
ou seja, nas atividades humanas a cooperação tem um papel
importante, muito mais que a competitividade (Ministério do
Trabalho e Emprego, 2002).

A análise ergonômica do trabalho é a aplicação do conhecimento


do corpo humano para um planejamento do local de trabalho (tarefas,
equipamentos e meio ambiente) para utilização eficiente e seguro pelos
trabalhadores, fazendo uso mais eficiente das capacidades do traba-
lhador, ao mesmo tempo em que assegura a exigência do trabalho sem
exceder sua capacidade. Aos poucos o trabalho deixa sua conotação
de castigo, para assumir posição de satisfação e realização pessoal.
A ergonomia proporciona o adequado dimensionamento do tra-
balho, otimizando sua eficácia e permitindo ao trabalhador desen-
volver suas atividades em condições propícias à sua saúde e bem-
estar, especialmente nos dias atuais em que a globalização tem como
conseqüência acirradas competições no mercado.
A ergonomia estuda, também, o ambiente de trabalho, especial-
mente as características físicas (posições inadequadas, posturas ocio-
sas, atos viciosos e outros fatores), psicológicas (estresse e fatores liga-
dos à competição, pressão das chefias, medo do desemprego, baixos
salários, responsabilidade etc.) dos trabalhadores, procurando propor-
cionar o máximo de conforto, segurança e um desempenho adequado
nos locais de trabalho. O estudo ergonômico do posto de trabalho tem
como finalidade reduzir as exigências biomecânicas e cognitivas.
O binômio conforto-produtividade, em ergonomia, andam de
mãos dadas. A ergonomia não só é capaz de dar adequado suporte às
formas modernas de se administrar a produção, como também de
prevenir a incidência das lesões por esforços repetitivos.
Um dos pontos mais importantes da Ergonomia são os distúrbios
musculoesqueléticos, que são lesões que atingem os músculos, nervos,
tendões, ligamentos, juntas, cartilagens e disco intervertebral. Tais le-
sões geralmente se desenvolvem gradualmente após um período de tem-
po, que não resultam tipicamente de um único evento instantâneo.

46
Os distúrbios musculoesqueléticos não incluem lesões causadas
por escorregões, tropeções, quedas ou outros acidentes similares, po-
dendo diferenciar em gravidade de sintomas periódicos suaves a se-
veros e crônicos e condições debilitantes.
Os sinais e sintomas mais freqüentes são: dor, queimação, cãi-
bra, palidez, dificuldade locomotora, sofrimento físico, inchaço, en-
torses, formigamento e fraqueza.
Outra questão igualmente importante da ergonomia são as
lombalgias. A coluna vertebral em bom estado é essencial para o de-
senvolvimento de qualquer atividade que envolva trabalho pesado,
como levantamento e transporte de carga, com extensões, inclina-
ções laterais e flexões do tronco, e atividades de puxar ou empurrar.
A coluna vertebral tem por função proteger o sistema nervoso
central (medula espinhal). Com o auxílio de músculos e ligamentos,
a coluna vertebral oferece firme sustentação para o corpo humano.
A evolução dos processos laborais está levando o trabalhador a
passar mais tempo em posição sentada, que pode ser um fator adver-
so para a coluna vertebral. A rigidez em postura sentada é um fator
de risco para vários segmentos da coluna.
A postura mais adequada ao trabalhador é aquela que ele escolhe
livremente e que pode ser variada ao longo do tempo. O tempo de
manutenção de uma postura deve ser o mais breve possível, pois seus
efeitos, eventualmente nocivos, dependem do tempo durante o qual
ela será mantida. A apreciação do tempo de manutenção de uma pos-
tura deve levar em conta, por um lado, o tempo unitário de manuten-
ção (sem possibilidades de modificações posturais) e, por outro, o tempo
total de manutenção registrado durante a jornada de trabalho. Os es-
forços estáticos devem ser reduzidos ao máximo. Todo esforço de ma-
nutenção postural implica uma contração muscular estática que pode
ser nociva à saúde e, portanto, toda e qualquer postura rígida e fixa
deve ser evitada. A redação do subitem teve por intenção reduzir a
posição de trabalho em pé, muito comum no meio industrial. Na mai-
oria das vezes, a realização da tarefa não é incompatível com a postura
sentada (Ministério do Trabalho e Emprego, 2002).
As condições do meio ambiente de trabalho compreendem os
agentes físicos, químicos e biológicos, cujo efeito principal é expor o
trabalhador a circunstâncias que eventualmente podem trazer male-

47
fícios à sua saúde e, também, causar desconforto, mal-estar e outros
efeitos que não necessariamente a doença. O ruído, o calor e os agen-
tes químicos são os agentes mais comuns encontrados no meio in-
dustrial que, além de produzirem doença ou efeitos nocivos à saúde,
são responsáveis por baixa produtividade, precária qualidade (de vida
e do produto final) e propensão à ocorrência de acidentes.
A ergonomia não se preocupa, como a higiene do trabalho, em
estabelecer limites visando à inocorrência da doença, mas sim, com
padrões que promovam o conforto e bem-estar do trabalhador.
Um dos ramos da ergonomia é a antropometria que tem como
objeto o dimensionamento do posto de trabalho, utilizando as medi-
das do corpo humano como parâmetro de projeto. Considerando que
os indivíduos não são iguais, encontraremos uma faixa de medidas
do corpo humano, o que é acentuado, inclusive, por questões de di-
ferença de gênero e raça. Generalizações podem conduzir a verda-
deiros desastres de dimensionamento. O dimensionamento da altura
de uma passagem deverá levar em consideração o indivíduo mais
alto; ao contrário, em se tratando da altura de um botão qualquer
num painel, deve ser contemplada a altura do menor indivíduo.
A Antropometria estuda as proporções e medidas das diversas
partes do corpo, e é um instrumento fundamental na concepção de
um posto de trabalho, de uma ferramenta ou de um sistema de pro-
dução. Considerando que posturas e movimentos naturais do corpo
são condições básicas e necessárias para se obter um trabalho eficien-
te, é imprescindível a adaptação do local de trabalho ao homem às
medidas do corpo humano, buscando sempre um mínimo de sobre-
carga física. (Grandjean, 1998)
Como não é possível projetar postos de trabalho que atendam
às pessoas extremas, mais altas ou mais baixas, o projeto atende as
necessidades da maioria da população tomando como base as medi-
das que são representativas de um universo de pessoas, utilizando-
se de limites de confiança.
Entre a população trabalhadora há indivíduos muito pequenos
e muito grandes. É difícil conceber um mobiliário que satisfaça a es-
ses extremos. O recomendável é que o mobiliário permita uma
regulagem que atenda a pelo menos 95% da população em geral. Não
é recomendável que as dimensões dos postos de trabalho sejam adap-

48
tadas somente à população que esteja empregada, pois quando se
pretende modificar os postos de trabalho visando a uma melhor adap-
tação, não se deve basear apenas nas medidas antropométricas da
população que já esteja ocupando os postos, mas sim fundamentar-
se em dados de toda a população brasileira. Isso por que os trabalha-
dores atuais podem já ter sofrido uma seleção, formal ou informal, e
terem permanecido apenas aqueles que melhor se adaptaram e, por-
tanto, não serem representativos de todos que poderão, no futuro,
ocupar esses postos (Ministério do Trabalho e Emprego, 2002).
A avaliação antropométrica é parte integrante de toda interven-
ção ergonômica e deve considerar a variabilidade humana mediante
limites de confiança de 90-95% obtido pela média da população e o
desvio-padrão.
Relacionamos, abaixo, algumas regras básicas para o posiciona-
mento de ferramentas e dispositivos no posto de trabalho:

• determine local fixo para as ferramentas e materiais que o tra-


balhador mais usa. Isto faz com que ele memorize onde está
cada objeto e economize tempo ao trabalhar, bem como evita a
fadiga na procura deles;
• coloque os instrumentos e componentes de uso freqüente den-
tro da área de ótimo alcance; os de uso ocasional devem estar
dentro da área de máximo alcance;
• o trabalhador deve alcançar a peça no seu campo de trabalho
sem afastar o tronco da cadeira ou sem incliná-lo para os lados;
• utilize a gravidade para aproximar as peças ao local de sua
utilização;
• situe as ferramentas e materiais na ordem de seu uso;
• a mesa deve ter iluminação adequada à exigência visual da
tarefa;
• oriente quanto ao emprego de dispositivos para o trabalho de
segurar, fixar e sustentar as peças;
• esclareça quanto o uso de ferramentas que sejam as mais ade-
quadas à natureza da tarefa;
• distribua a carga de trabalho de acordo com a capacidade das
pernas, mãos e dedos; as pernas são para fazer força;

49
• as mãos são utilizadas para a movimentação precisa de objetos e
também para fazer força, desde que sob a forma de pressão (nes-
ses casos os punhos sempre devem estar trabalhando retos);
• os dedos são indicados quando se necessita de precisão;
• adapte a empunhadura das ferramentas, de forma a fazer con-
tato com toda a superfície da palma da mão;
• posicione alavancas e controles ao alcance normal dos braços,
evitando mudança de postura;
• dobre o cabo da ferramenta, para que não tenha que dobrar o
punho;
• evite esforços manuais com as pinças (somente admiti-los para
atividades de precisão);
• procure esquivar-se de trabalhos na parte de trás de uma peça.
Esse movimento costuma ocasionar a dobra do punho.

A organização do trabalho está intimamente relacionada à psi-


cologia, preocupando-se com aspectos não mensuráveis e não
observáveis pelos sentidos, ligados ao stress, à saúde mental, ao tra-
balho noturno e em turnos e à maneira como o trabalho é realizado.
O relacionamento chefia/subordinado e insatisfação no trabalho tam-
bém são alvo de avaliação na organização do trabalho.
Realizando uma correlação da ergonomia com a economia, te-
mos que uma medida econômica pode ser implementada mediante
intervenções na política monetária, cambial ou fiscal. Qualquer al-
teração numa das políticas promove mudança nas demais, não há
como fixar uma política e fazer variar outras, tudo funciona como
um conjunto harmônico. Em ergonomia ocorre o mesmo. Melhorias
no posto de trabalho (antropometria), nem sempre resolvem os pro-
blemas de LER, por exemplo. A pressão da chefia, as disputas por
produtividade e a exigência para o cumprimento de quotas podem
estar interferindo de forma sinérgica, potencializando o efeito de
outra variável. Assim, a ergonomia não é vista de forma unicausal,
mas sim multicausal, com várias condições interferindo numa ques-
tão que parece isolada. Não basta proporcionar um ambiente salu-
bre, sob o ponto de vista da higiene do trabalho, ou ainda, um pos-
to de trabalho antropometricamente correto. Se a organização do
trabalho é preterida, o trabalhador em breve apresentará patologias
como se estivesse num ambiente insalubre.

50
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

O trabalho consome um terço, ou mais, do tempo de nossa exis-


tência, passando a determinar um estilo de vida e influir diretamente
em nossa personalidade. Possivelmente a primeira manifestação em
favor da organização do trabalho tenha sido a Administração Cientí-
fica utilizada por Taylor, tentando ampliar a eficiência do trabalha-
dor. Taylor imaginava como conciliáveis os interesses do empregado
e do empregador, contanto que fosse dado a ambos o que pretendiam,
ou seja, para este, baixo custo de produção, para aquele, salários mais
altos.
A teoria de Taylor, porém, estava fadada ao insucesso, pois fo-
ram desprezados alguns aspectos relativos ao trabalho, tais como a
manutenção da atividade intelectual, satisfação e o poder de concep-
ção como elemento fundamental do aparelho psíquico. Assim, a or-
ganização científica acaba com a liberdade de organização e de reorga-
nização, ou seja, de adaptação espontânea do trabalho ao homem,
exigindo uma atividade intelectual e cognitiva que será proibida pelo
trabalho taylorizado, onde prevalece o “cumpram-se as ordens”, vio-
lentando o corpo e a mente do trabalhador.
A Administração Científica peca na conceituação de seu princi-
pal objetivo: O principal objetivo da administração deve ser o de assegurar
o máximo de prosperidade ao patrão e, ao mesmo tempo, o máximo de pros-
peridade ao empregado. O grande equívoco foi considerar como neces-
sidade do trabalhador unicamente o salário e nada mais. Segundo
Maslow (1970), as necessidades vão se refinando e, uma vez que o
trabalhador encontra suas necessidades básicas satisfeitas, serão cria-
das novas necessidades, tais como auto-realização e estima não con-
templadas pela Teoria da Administração Científica.
As organizações arcaicas, onde o trabalhador não experimenta a
satisfação na realização de sua tarefa, em muito se assemelham ao sis-
tema escravagista. O escravo hodierno, ou escravo de vanguarda, sim-
plesmente executa ordens, sem contestar qualquer comando; sua preo-
cupação é apenas obter seu sustento e moradia, não figurando nos
seus planos a realização pessoal. A realidade em nosso país chega a tal
ponto que, o trabalhador se preocupa em manter seu emprego, tendo
pouca relevância a remuneração, bastando, continuar trabalhando.

51
Com exceção do uso da força, aos escravos era imposto um regi-
me de trabalho semelhante ao utilizado atualmente, de forma explo-
radora e predatória; o escravo era utilizado indiscriminadamente, ape-
sar de seu alto preço, como artigo facilmente substituível.
Na antigüidade, já existia o trabalho contratado, não escravo e
não compulsório, com salário estipulado e controlado por uma buro-
cracia, a exemplo dos soldados romanos; no entanto, em todas as
épocas, nas sociedades marcadas pelo escravagismo ou pela sujeição
aristocrática, o conceito de trabalho estava ligado à servidão, e tinha,
portanto, conotação negativa, e porque não dizer, pejorativa.
Assim como é prematuro falar-se em fim da escravidão, com o
trabalho infantil ou a semi-escravidão de mulheres e trabalhadores
rurais, ou mesmo com o subemprego em condições subumanas, a
concentração do emprego nos extremos do espectro do mercado de
trabalho leva à necessidade da revalorização de profissões de cunho
notadamente social.
Alguns países já estão mensurando o tempo de vida em cada
profissão, chegando a valores discrepantes para as diversas ativida-
des, o que nos leva a concluir que o fator trabalho é uma das peças do
quebra-cabeça da vida. Estudos revelam que existe diferença de 16
anos nas expectativas de vida, por exemplo, de um mineiro e do en-
genheiro ou de 12 anos entre um operário e o mestre-de-obras.
Algumas patologias do trabalho têm evoluído no sentido de que
sua origem não mais está associada aos fatores clássicos, como por
exemplo, à exposição a uma substância, ou mesmo, às más condições
de trabalho. Nos idos tempos, o trabalhador estava exposto a uma
substância; hoje, ele está exposto a diversos agentes, e mesmo que
esta dose seja menor, a combinação das exposições acaba por ser mais
lesiva, com direta repercussão no envelhecimento precoce; assim, as
patologias do trabalho tendem a se produzir não só por razões afetas
ao local físico de trabalho, como também fora do ambiente laboral,
passando a ser consideradas multifatoriais.
Hoje, convivemos com um agente nefasto e invisível, que ataca
o trabalhador de forma traiçoeira, produzindo os distúrbios mentais.
Ao contrário de outras patologias, a doença mental não é seletiva,
atinge desde o operário até o mais alto executivo, atinge a dona-de-
casa, e até mesmo o desempregado; não existe trabalhador que esteja
imune aos problemas mentais, que começam como uma simples an-
siedade, depressão, fadiga ou outros pequenos males.

52
A globalização, sem dúvida nenhuma, é um grande impulsiona-
dor da ansiedade no trabalho, pois a cada dia as empresas estão pre-
ocupadas em minimizar os custos e maximizar a qualidade, percebe-
se uma enorme preocupação em reduzir os tempos mortos no traba-
lho, redundando em exigências cada vez maiores aos trabalhadores,
especialmente o “chão de fábrica”, que presencia a sua substituição
por robôs, computadores e máquinas automatizadas. Cada vez mais,
o trabalho manual cede espaço ao trabalho intelectual, e o trabalha-
dor que não se preparar para os novos tempos, corre o risco do ostra-
cismo pelo mercado de trabalho. Após vários anos de empresa, exer-
cendo a mesma tarefa, o trabalhador é, sutilmente, convidado a
retornar aos estudos e se preparar para os novos tempos, ou então ...
Existem diversas pesquisas indicando as relações entre o traba-
lho e as novas tecnologias, direcionando para a substituição do tra-
balho e sua requalificação; porém, as expectativas do mercado se in-
clinam com maior intensidade para a substituição do trabalho, dedu-
zindo-se, assim, que o processo de requalificação tem atingido uma
pequena minoria da força laboral, enquanto que o restante está sendo
deslocado para funções cada vez menos qualificadas, ou para fora do
mercado de trabalho.
A competição comercial aguçada pela aceleração do processo de
globalização exigiu um movimento de sintonia entre os padrões
de qualidade e os custos industriais, incluindo, neste contexto, des-
de a indústria primária e a agroindústria, até a produção intelectual e
artística. Um ponto fundamental é que, se o processo de reestrutura-
ção produtiva da indústria, com a racionalização de processos e do
controle sobre o trabalho, foi possibilitado pelas novas tecnologias
baseadas no uso da informática, esta tendência estendeu-se ao setor
terciário, com reflexos talvez mais críticos do que na indústria.
A demanda de trabalhadores sofre visível retração, especialmente
nos setores receptivos a inovações tecnológicas; no passado, este
problema foi compensado pela redução da jornada de trabalho ou
aceleração do crescimento econômico; hoje, tais medidas não redunda-
riam em solução. A globalização é responsável pelo deslocamento
dos capitais para regiões onde o custo da mão-de-obra é menor, punin-
do assim, os países nos quais os direitos trabalhistas são respeitados.
Se o setor terciário foi, durante algum tempo, a válvula de esca-
pe no início do processo de retração em termos de mão-de-obra do

53
setor industrial, este movimento também alcançou o setor terciário,
de maneira mais rápida e violenta. Boa parte do crescimento notado
no setor terciário tem por fonte a terceirização de funções que antes
estavam sob a hierarquia das empresas industriais, que procuram
agora se centrar na sua atividade principal, o que, em princípio, é
razoável. Outra parte viria da diversificação do espectro dos serviços
causada pela concentração urbana e também dos salários, na nova
elite gerada pelo enriquecimento de funções.
Algumas profissões exigem demais dos trabalhadores, criando o
que se denomina de “excesso de demanda”, provocando estados de
ansiedade; aliada a esta questão estão a competitividade, o medo
de perder o emprego, a monotonia de determinadas tarefas, a falta de
perspectivas e, finalmente, a insatisfação no trabalho. Sob o falso emble-
ma do enriquecimento da tarefa, as empresas estão acumulando os tra-
balhadores com diversas atividades, em parte, devido ao enxugamento
do número de empregados para redução de custos; utilizando-se da fal-
sa afirmativa de que o aumento de trabalho dará uma satisfação maior
aos trabalhadores; na verdade, a combinação dos dois fatores, enrique-
cimento da tarefa e aumento da carga de trabalho podem proporcionar
satisfação do empregado, desde que dosada convenientemente.
O trabalhador, com finalidade de manutenção de seu emprego,
acaba assumindo um número de tarefas inadequado à sua capacida-
de, e, com o tempo, começa a sentir os efeitos do trabalho sob pres-
são. Um típico exemplo é a categoria dos bancários, onde, comprova-
damente, os bancos reduziram maciçamente sua mão-de-obra; até o
momento não conseguimos avaliar quais foram mais prejudicados:
os que foram demitidos, ou os que permaneceram e estão expostos à
excessiva carga de trabalho, sob a ameaça de também perderem o
emprego; prova disto são as estatísticas, que demonstram uma forte
tendência ao suicídio pelo bancário.
Outro aspecto comumente desprezado na realização do trabalho
são as pausas, tão necessárias ao trabalhador, particularmente, aque-
les envolvidos em atividades de monitoramento/controle e trabalho
físico contínuo; para estes, a pausa visa evitar a fadiga excessiva; para
aqueles, porque o desempenho tende a diminuir após 20 a 30 minu-
tos de trabalho contínuo. Intervalos breves e freqüentes são mais efica-
zes para a recuperação do que um período de descanso igual, toma-
do de uma só vez.

54
Um estudo realizado ao longo de sete anos na Dinamarca, de-
monstrou que os motoristas de ônibus encarregados de circular pelas
ruas mais saturadas, tinham o dobro de possibilidade de sofrer um
infarto que aqueles que não freqüentavam tráfego intenso. A qualidade
de vida nas grandes cidades foi fortemente afetada pelo excesso de
habitantes, que conseqüentemente contribui para o colapso do trânsi-
to, da deficiência dos serviços públicos e até mesmo da qualidade do
ar que respiramos. O êxodo rural traz uma legião de esperançosos,
motivados pelos pseudo-atrativos e vantagens de morar nos grandes
centros urbanos, que em pouco tempo se desmotivam, pois, não tendo
meios de retornar ao campo, tornam-se escravos do trabalho.
Hoje, os fatores de stress estão substituindo as más condições de
trabalho, que eram tão freqüentes em outros tempos. E com um agra-
vante: para os agentes nocivos, a tecnologia conseguiu desenvolver for-
mas para sua mensuração objetiva, tornando, relativamente fácil, o mo-
nitoramento das condições de trabalho num dado momento; ao contrá-
rio, os fatores de stress não possuem mensuração; além do que, as
suscetibilidades individuais influenciam com maior intensidade tais fa-
tores. Da mesma forma que as doenças mentais, o stress não possui um
grupo preferido de trabalhadores, atacando indistintamente a todos.
Dados publicados pela Fundação Européia para o Desenvolvi-
mento das Condições de Trabalho, denotam que as profissões mais
sensíveis ao stress são: os professores de ensino primário e secundá-
rio, onde 64,2% reconhecem viver estressados; a seguir, encontramos
os caminhoneiros (50,8%), os trabalhadores manuais (46,9%) e os
médicos e as enfermeiras (44,1%).
Os DORT — distúrbios osteomusculares relacionadas ao trabalho
— se encontram na crista da onda, pois, em todo o mundo, possuem
elevadas taxas de incidência; apesar de ser, relativamente, uma nova
patologia do trabalho, não faz distinção entre os trabalhadores, aco-
metendo desde o trabalho sedentário até o trabalho sob carga. Anun-
ciada, erroneamente, como uma nova doença, os DORT sempre exis-
tiram; porém, faltava-lhes um nome específico e o reconhecimento
devido como patologia associada ao trabalho. Acreditamos que pro-
blemas como tendinite, tenossinovite, lombalgias e outras síndromes,
sempre estiveram presentes entre os trabalhadores; porém, a falta de
conhecimento induzia o paciente a acreditar que era somente mais
uma dor muscular passageira.

55
A postura e os movimentos repetitivos são os dois fatores que
mais predispõem o aparecimento dos DORT; entretanto, mais uma
vez a organização do trabalho está por trás desta síndrome. Os ritmos
excessivos, a postura rígida, a ausência de pausas, a pouca liberdade
do trabalhador, além da pressão pelos superiores, são contribuições
para o surgimento dos DORT. Em nosso país, um segmento de traba-
lhadores seriamente acometidos pelos DORT são os bancários, de uma
forma geral, principalmente aqueles em funções de execução, reali-
zam, em sua maioria, tarefas de exigência contínua e repetitiva dos
membros superiores, contribuindo para o aparecimento, precoce, dos
primeiros sintomas dos DORT.
Finalmente, mais do que nunca, os efeitos da organização do
trabalho estão presentes na vida do trabalhador moderno, que alia-
dos ao stress da vida na cidade, produzem uma insidiosa e alarmante
situação de risco ao trabalhador, seja agindo independentemente, seja
pelo sinergismo que proporciona a outros agentes. As causas, muitas
vezes, estão bastante ocultas; o diagnóstico é difícil, mas a correção
só depende da boa vontade, tanto dos empregados, como do empre-
gador, que, antes de qualquer coisa, precisam estar com o espírito
desarmado e receptivos para promover mudanças, que logo serão
inevitáveis, pois o trabalhador é forte e resiste às mudanças, mesmo
se prejudicando; a empresa, ao contrário, não resiste muito tempo,
acabando por sucumbir à concorrência que inovou.
As mudanças no mundo laboral são de profunda importância,
quando há a perspectiva não só da globalização das trocas econômi-
cas, mas também do trabalho, o que pode criar, em determinadas
áreas, uma nova forma de “escravagismo a distância”, com o mo-
mentâneo recrudescimento da exportação do trabalho mal remune-
rado para países periféricos; é um movimento que tende a refluir. A
fonte desta perspectiva está nos países centrais, que não podem se
eximir da responsabilidade sobre seus atos.

O FENÔMENO LER/DORT
Quem já não ouviu falar nas LER — lesões por esforços repetiti-
vos — ou nos DORT — distúrbios osteomusculares relacionados ao
trabalho? As LER/DORT são conceituadas como um conjunto de sín-
dromes que atacam os nervos, músculos e tendões, especialmente
dos membros superiores e pescoço. São síndromes degenerativas e
cumulativas e sempre acompanhadas de dor ou incômodo.

56
Mais conhecida como a doença dos digitadores, uma vez que
esta categoria foi a primeira a manifestar intensamente seus efeitos,
as LER/DORT possuem como fator de risco os movimentos repetiti-
vos, as posturas inadequadas, o uso de força muscular excessiva, a
ausência de pausas e a organização do trabalho.
As posturas inadequadas, que advêm de um posto de trabalho mal
dimensionado, ou que não se ajustem às variações antropométricas de
cada indivíduo, e os movimentos repetitivos são alguns dos fatores que
mais predispõem o aparecimento das LER/DORT; no entanto, não de-
vemos nos esquecer da organização do trabalho, que eventualmente pode
estar por trás desta patologia. Os ritmos excessivos, a postura rígida, a
ausência de pausas, a pouca liberdade do trabalhador, além da pressão
pelos superiores, são contribuições para o surgimento das LER/DORT.
O mobiliário deve primar não só pelo conforto, mas também, observar
os alcances visuais e dos membros. É criada carga estática quando um
membro é retirado de sua posição de neutralidade, com pouco ou ne-
nhum movimento. Numa postura rígida que exija contração estática do
membro, não há irrigação sangüínea nos músculos envolvidos, uma vez
que estes somente se nutrem quando relaxados.
As LER/DORT são passíveis de prevenção por meio de adapta-
ção de postos de trabalho não ergonômicos. A engenharia tem pres-
tado grande contribuição na elaboração de projetos que contemplem
as prescrições da ergonomia. Paliativamente, os controles adminis-
trativos também são uma forma de reduzir a exposição do trabalha-
dor à condição não ergonômica, mediante rodízio dos trabalhadores
ou redução da jornada laboral. Dentre as formas de prevenção mais
usuais, podemos citar:
• realizar micropausas (pequenas pausas rápidas) em qualquer
atividade que se exerça repetitividade excessiva ou postura
inadequada por tempo prolongado. Intervalos breves e fre-
qüentes são mais eficazes para a recuperação do que um perío-
do de descanso igual, tomado de uma só vez. Durante essas
pausas faça alguns alongamentos para as áreas de seu corpo
que estiverem executando a tarefa;
• cuidar para sempre permanecer com uma boa postura, incluin-
do a adequação do seu posto de trabalho de acordo com as
características físicas e com sua atividade;
• não realizar força nem pressão exageradas, repetitivas ou fre-
qüentes em sua atividade.

57
Aceita-se, atualmente, que as LER/DORT sejam curáveis, sobretu-
do nos primeiros estágios. A título de exemplo, num posto de traba-
lho com computador, devem ser observados os seguintes aspectos:
(colocar desenho)

cadeira:
• a altura ideal deve ser de 48 a 58 cm;
• o encosto deve estar a 110o do assento;
• possuir apoio para a região lombar e dorsal;
• os pés do trabalhador devem ter contato completo com o chão
ou apoiados em suporte específico;
• as coxas do trabalhador permaneçam paralelas ao piso;
• o trabalhador deve estar próximo da superfície de trabalho;
• os braços do trabalhador devem ficar apoiados.

58
monitor:
• a altura ideal da 1ª linha escrita deve ser de 155 cm;
• a tela deve estar ao nível do horizonte ou levemente abaixo;
• o trabalhador deve localizar-se frontalmente;
• a iluminação deve ser adequada;
• usar filtro no caso de brilho excessivo;
• o trabalhador deve estar a 60 cm.
teclado e mouse:
• a altura ideal deve ser de 110 cm;
• devem localizar-se próximos e na frente do trabalhador;
• os cotovelos do trabalhador devem permanecer em ângulo de 90o;
• os punhos do trabalhador devem ficar retos.
Não podemos nos esquecer de um agente invisível e insidioso,
presente com freqüência nos casos de LER/DORT, a organização do
trabalho. Daí por que o fenômeno LER/DORT apresenta dificuldade
adicional em seu diagnóstico, eis que se apresenta como uma síndro-
me de concepção multifatorial, ao contrário de outros agentes, que se
manifestam de forma monocausal. A doença não apenas está relacio-
nada às condições do ambiente de trabalho, como também à organi-
zação do trabalho. As condições do ambiente laboral estão relaciona-
das ao nível de pressão sonora, temperatura, vibrações, iluminação e
existência de agentes químicos, bem como mobiliário inadequado,
posturas inconvenientes e movimentos repetitivos. A organização do
trabalho representa um complexo de condições de natureza organi-
zacional e psicossocial relacionadas ao ritmo acelerado, estresse, au-
sência de pausas, exigência de produção mínima, pouca liberdade do
trabalhador, pressão pelos superiores, trabalho em turnos e noturno.

3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL
O ACIDENTE DO TRABALHO

O acidente é a lesão corporal resultante de ação fortuita, súbita e


violenta. Genericamente, o acidente do trabalho é aquele que ocorre
pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou ainda pelo exercí-

59
cio do trabalho dos segurados, provocando lesão corporal ou pertur-
bação funcional que cause a morte, a perda ou redução, permanente
ou temporária, da capacidade para o trabalho.
São caracterizados como acidente do trabalho as seguintes en-
fermidades:
• doença profissional, assim entendida a produzida ou desenca-
deada pelo exercício de trabalho peculiar a determinada ativi-
dade e constante do Anexo do Regulamento da Previdência
Social;
• doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desenca-
deada, em função de condições especiais em que o trabalho é
realização e com ele se relacione diretamente, desde que cons-
tante da relação do Anexo mencionado no item anterior.
Também são equiparadas ao acidente do trabalho as seguintes
situações:
• o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a
causa única, haja contribuído diretamente para a morte do se-
gurado, para a perda ou redução da sua capacidade para o
trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a
sua recuperação;
• o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do tra-
balho, em conseqüência de:
• ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por tercei-
ro ou companheiro de trabalho;
• ofensa física intencional, inclusive de terceiros, por motivo de
disputa relacionada com o trabalho;
• ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de tercei-
ros, ou de companheiro de trabalho;
• ato de pessoa privada do uso da razão;
• desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos de-
correntes de força maior;
• a doença proveniente de contaminação acidental do emprega-
do no exercício de sua atividade;
• o acidente sofrido ainda que fora do local e horário de trabalho:
• na execução de ordem ou na realização de serviços sob a auto-
ridade da empresa;

60
• na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para
lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito;
• em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo, quando
financiada por esta, dentro de seus planos para melhor capaci-
tação da mão-de-obra, independentemente do meio de locomo-
ção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado;
• no percurso da residência para o local de trabalho ou deste
para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive
veículo de propriedade do segurado. Isto não se aplica ao aci-
dente sofrido pelo segurado que, por interesse pessoal, tiver
interrompido ou alterado o percurso.

Entende-se como percurso o trajeto usual da residência ou do local


de refeição para o trabalho ou deste para aquele. Esclareça-se que o fato
do trabalhador desviar-se do trajeto usual da residência para, por exem-
plo, ir à escola, não fica descaracterizado o acidente de trabalho, valendo
o mesmo raciocínio no trajeto da escola até a residência do trabalhador.
A legislação não especifica qual o tempo que deve durar o trans-
porte para que seja caracterizado o acidente, pois isto depende da dis-
tância percorrida e das condições do trânsito na localidade. O tempo
deve ser sempre o necessário para as condições normais do transporte.
O empregado, para fins de caracterização do acidente laboral, é
considerado no exercício do trabalho nos períodos destinados à refei-
ção ou ao descanso, ou por ocasião da satisfação de outras necessida-
des fisiológicas, no local do trabalho ou durante este.
Nos termos do artigo 4º da Portaria DGP nº 31, de 24.11.1997,
serão objeto de apuração as causas que ensejarem, criminalmente:

• doença do trabalho;
• doença profissional ou ocupacional;
• acidente de trabalho tipo.

Segundo o que preceitua o Informe aos Delegados de Polícia,


contido na cartilha Polícia e Acidentes de Trabalho (1998), ocorrendo
acidente do trabalho, quando da oitiva da vítima e de outros funcio-
nários do estabelecimento questioná-los sobre:

• se estão sendo submetidos a exame médico periódico;


• se estão sendo devidamente treinados;

61
• se é comum na empresa o desvio de função;
• turno e horário de trabalho;
• se a vítima do acidente era qualificada para exercer aquelas
funções;
• se o pagador prestou à vítima do acidente a devida assistência
médica;
• qual o tempo de experiência da vítima na função;
• se anteriormente a vítima sofreu acidente semelhante, quais as
medidas tomadas pela empresa para prevenir a reincidência;
• se existiam medidas ou equipamentos de segurança que não
foram utilizadas, e que poderiam evitar o acidente.

Acerca do empregador é importante saber:

• se cumpre e faz cumprir as disposições legais e regulamenta-


res sobre Segurança e Medicina do Trabalho;
• se elabora Ordens de Serviço sobre o tema, dando ciência aos
empregados, visando prevenir acidentes de trabalho;
• se divulga as obrigações e proibições que os empregados de-
vam conhecer e cumprir;
• se dá conhecimento aos empregados que serão passíveis de
punição pelo descumprimento das Ordens de Serviço;
• se determina procedimentos que deverão ser adotados em caso
de acidente do trabalho;
• se adota medidas determinadas pelo Ministério do Trabalho e
Emprego;
• se aceita medidas para eliminar ou neutralizar a insalubridade
e as condições inseguras do trabalho.

Em situações convencionais envolvendo acidentes do trabalho,


a emissão da CAT é de responsabilidade da empresa. Nos primeiros
15 dias é obrigação da empresa o pagamento do salário do acidenta-
do; a partir do 16º dia, o segurado passa a receber o auxílio-doença
acidentário. Restando seqüela definitiva com substrato anatomofun-
cional é devido o auxílio-acidente de qualquer natureza ou causa, nos
termos do artigo 86 da Lei nº 8.213/91 e no artigo 104 do Decreto nº
3.048/99.

62
Havendo a incapacidade para o trabalho e impossibilidade de
reabilitação para o exercício que garanta a subsistência do segurado,
nos termos do artigo 42 da Lei nº 8.213/91, é devida a aposentadoria
por invalidez acidentária, inclusive com a majoração do benefício em
25% se o acidentado necessitar de assistência permanente de outra
pessoa, nos termos do artigo 45 do Decreto nº 3.048/99.

A DOENÇA OCUPACIONAL

Preliminarmente há que se fazer distinção entre doença profis-


sional e doença do trabalho. A atual Lei da Previdência, Lei nº 8.213/91,
conceitua desta forma:

I — doença profissional, assim entendida a produzida ou desenca-


deada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e cons-
tante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da
Previdência Social;
II — doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadea-
da em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele
se relacione diretamente, constante da relação mencionada no item I.

Assim, compreendemos ser doença profissional apenas aquela


constante do Anexo II do Regulamento de Benefícios da Previdência
Social, tais como os trabalhos em contato com os agentes patogênicos
químicos, físicos e biológicos, citando como exemplos o trabalho com
amianto, benzeno e sílica; o trabalho exposto a ruídos, vibrações ou
radiações e atividades em contato com microorganismos etc.
A doença do trabalho está ligada às condições do trabalho, inde-
pendente de constar ou não da relação citada acima, tendo ainda as
seguintes exclusões não consideradas como doenças do trabalho:

• a doença degenerativa (artrites, doença de Parkinson, distrofia


muscular, escleroses, diabetes e outras);
• a inerente a grupo etário (presbiacusia, reumatismo e outras);
• a que não produz incapacidade laborativa (gastrite, asma e outras);
• a doença endêmica adquirida por segurados habitantes de re-
gião em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que re-
sultou de exposição ou contrato direito determinado pela natu-
reza do trabalho (sarampo, meningite, leptospirose e outras).

63
A Medicina do Trabalho teve sua primeira manifestação em 1700,
com a publicação na Itália do livro De Morbis Artificum Diartriba, es-
crito por Bernardino Ramazzini, o Pai da Medicina do Trabalho, no
qual são descritas 50 doenças ligadas à profissão.
O local de trabalho, além de ser construído seguindo-se a boa
técnica de engenharia, deve zelar pelo ambiente físico, uma boa ilu-
minação, o conforto térmico, o isolamento acústico, posto que são
fatores que contribuem enormemente para a saúde física e psíquica
do trabalhador.

ESTABILIDADE DO ACIDENTADO

O empregado que sofrer acidente do trabalho tem garantia da


manutenção do seu contrato na empresa, pelo prazo mínimo de 12
meses, após a cessação do auxílio-doença acidentário. Assim, ao
retornar de benefício previdenciário, o empregado não poderá ser
despedido sem justa causa.
A estabilidade não alcança os empregados que se acidentaram,
mas que não entraram em gozo de benefício, vindo a se recuperar no
período em que perceberam remuneração da empresa.

A RESPONSABILIDADE CIVIL
A responsabilidade civil do empregador está legalmente previs-
ta na Constituição de 1988, artigo 7º, XXVIII — seguro contra acidentes
do trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que está
obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.
O Novo Código Civil Brasileiro, em vigor a partir de 11 de janeiro
de 2003, não deixou de incluir a responsabilidade a que estão sujeitos
todos aqueles que por ação e/ou omissão causem danos a outrem e,
em razão dessa responsabilidade assumem o ônus de indenizar pelo
dano causado.
Destaque-se que a indenização por acidente ou doença do traba-
lho não possui condão de enriquecimento, mas tão-somente compen-
sar financeiramente o acidentado pela perda da capacidade laborati-
va resultante do acidente ou doença. A avaliação da capacidade labo-
rativa é atividade médica especializada.
As implicações decorrentes do acidente do trabalho e doença
ocupacional (que se equipara ao acidente), afetam tanto os empre-

64
gadores como tomadores de serviços, principalmente pelo descum-
primento das Normas Regulamentadoras — NR’s, do qual podem
derivar ações de responsabilidade civil por ato ilícito, nos termos dos
artigos 186 e 187 do CC:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligên-


cia ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim eco-
nômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

O conceito de culpa, nas modalidades negligência, imprudência


ou imperícia está previsto no CC:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, indepen-
dentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a ativi-
dade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, risco para os direitos de outrem.

O ato ilícito pode ocorrer por ação ou por omissão; em ambos os


casos, se a ação for voluntária e/ou intencional, tem-se o ato ilícito
doloso. Ao contrário, se a ação for involuntária, inobstante ocorrendo
o dano dada sua imprevisibilidade, tem-se o ato ilícito culposo.
Ato culposo é o praticado por negligência, imperícia ou impru-
dência.

• negligência é a omissão voluntária de diligência ou cuidado,


falta ou demora no prevenir;
• imprudência é a forma de culpa que consiste na falta involun-
tária de observância de medidas de precaução e segurança, de
conseqüências previsíveis, que se faziam necessárias no mo-
mento para se evitar um mal ou a infração da lei;
• imperícia é a falta de aptidão, habilidade, ou experiência, ou de
previsão, no exercício de determinada função, profissão, arte ou
ofício.

65
Acrescente-se ainda o artigo 157 da CLT (cumprir e fazer cum-
prir as normas de segurança), o qual vincula a empresa e seus
prepostos na responsabilidade pelo ressarcimento do dano.
O artigo 932 do CC preceitua:

São também responsáveis pela reparação civil: ...


III — O empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e
prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;

Uma vez ocorrido o acidente do trabalho, ou mesmo a doença —


equiparável ao acidente — constatados os requisitos probatórios, cabe à
empresa indenizar, seja por dano material, seja por dano moral com base
no artigo 927 do CC. No entanto, o autor de uma ação civil, necessita
provar a ocorrência das quatro requisitos probatórios cumulativamente:

• a existência do acidente (ou doença);


• o prejuízo do acidentado;
• o nexo causal (relação entre o acidente e a atividade laboral);
• a culpa da empresa (nas modalidades de negligência, impru-
dência ou imperícia).

Provando, assim, a empresa que inexiste pelo menos um dos


requisitos, prejudicada fica a ação. Ressaltamos que a indenização
civil é cumulativa com o pagamento da Seguridade Social, além do
que, havendo culpa da empresa, cabe ação regressiva do INSS para
ressarcimento dos valores pagos ao segurado.
Notemos que ao nos referirmos à responsabilidade civil, a única
contraprestação existente é a pecuniária, isto é, todos os danos são
cobertos por parcelas monetárias. Estão incluídas nos danos materiais
as indenizações por despesas médicas e hospitalares, bem como o
pagamento de pensão vitalícia até os 65 anos de idade da vítima e,
ainda, o ressarcimento dos lucros cessantes, equivalente aos salários
que o acidentado deixou de perceber em função do acidente.
No caso da empresa ser acionada civilmente por ato ilícito, re-
sultante de acidente ou doença do trabalho, e ficando provado que os
gestores e/ou administradores não adotaram medidas cabíveis em
razão de seu cargo ou função, a empresa poderá ingressar com ação
regressiva contra aqueles profissionais, cobrando judicialmente a in-
denização imposta pela justiça à empresa.

66
As ações de responsabilidade civil por ato ilícito passam a ter
prescrição em 3 (três) anos (§ 3º artigo 206 do CC). No CC anterior as
ações prescreviam em 20 anos. Tal mudança constituiu-se em enorme
vantagem para a empresa, que passou a responder por um intervalo
de tempo bem menor.
A ação acidentária, requerendo benefício previdenciário, deve ser
ajuizada contra o INSS. Nesta ação não cabe a apreciação da culpa do
empregador, já que a responsabilidade do Estado é objetiva. Na ação
indenizatória, ajuizada contra o empregador, cujo foro competente, ainda
se discute se é o trabalhista ou civil, deve o acidentado demonstrar a
culpa do empregador, cuja responsabilidade é subjetiva. A responsabili-
dade civil da empresa não exclui a prestação assistencial do INSS.
Os documentos em segurança e saúde do trabalhador, tais como
PPRA, PCMSO, PPP, LTCAT serviram e continuarão servindo como com-
provação, pelo empregado, da exposição aos agentes nocivos, ainda que
para os documentos com finalidade previdenciária haja expressa decla-
ração de que o seu conteúdo visava apenas a concessão do benefício,
não se prestando para outros fins.

AÇÃO ACIDENTÁRIA
A reparação acidentária está a cargo da seguridade social, banca-
da por uma autarquia federal, o INSS, com recursos das contribuições
que lhes são devidas pelos empregadores, pelos trabalhadores, além
das receitas derivadas dos chamados concursos de prognósticos, nos
termos dos planos de custeio e benefícios da previdência social.
O trabalhador, ao vincular-se ao sistema de seguridade oficial, via
INSS, tem assegurada por uma relação derivada de um vínculo contra-
tual a partir de um autêntico seguro, a reparação do acidente. Além do
que, não se deve olvidar que, ainda que a Previdência Social se responsa-
bilize pela satisfação do benefício devido ao segurado acidentado, não
ficará o empregador isento do pagamento da indenização eventualmente
cabível a título de dolo ou culpa pelo acidente. Sendo assim, inobstante o
acidentado ter sido contemplado com qualquer benefício acidentário
previsto no âmbito da Previdência Social, poderá ainda postular, con-
tra o seu empregador faltoso, indenização por dano material e até mes-
mo dano moral, uma vez que são derivados de obrigações diversas, ou
seja, o primeiro decorre de um direito contratualmente estipulado e a
segunda deflui de um liame extracontratual.

67
ACIDENTE DE TRAJETO
Nos casos de acidente do trabalho de trajeto, a responsabilidade
pela emissão da CAT é do sindicato da categoria, uma vez que a em-
presa não tem elementos para emiti-la, nos termos da Ordem de Ser-
viço INSS/DISES nº 78, de 09.03.1992, item 3.4.1:

Quando se tratar de acidente de trajeto, compete ao sindicato pre-


encher a CAT, registrando nos campos “Empresa” e “CGC” os dados
referentes ao sindicato e no campo “Código de Atividade” aquele que
corresponder à categoria profissional do trabalhador.

A Previdência Social, nesta circunstância, deve notificar a empre-


sa, uma vez que poderão advir responsabilidades legais a exemplo da
estabilidade no emprego por 12 meses por força do artigo 118 da Lei nº
8.213/91, cujo expediente é utilizado por empregados que ao tomarem
ciência de sua demissão, simulam junto ao sindicato um acidente do
trabalho no mesmo dia do desligamento, o que, em última instância
acaba num processo judicial de reintegração no emprego. Assim, é pru-
dente que a empresa se cerque de cuidados especiais ao comunicar a
demissão do empregado, coletando testemunhas do exato horário do
desligamento, com vistas a evitar CAT antes deste horário.
O trabalhador demitido, por meio de tutela antecipada, pode ser
reintegrado ao emprego e, no caso de confirmar-se a inocorrência do
acidente do trabalho, o empregado por já ter gasto os valores recebi-
dos e, sendo hipossuficiente, acabará por não devolver os valores re-
cebidos indevidamente, prejudicando a empresa.
A CAT de retorno é a CAT emitida quando o segurado, que per-
maneceu em auxílio-doença acidentário, retorna ao trabalho, tendo,
posteriormente, novo afastamento pela mesma doença/acidente, com
agravamento.
Nos primeiros 15 dias é obrigação da empresa o pagamento do
salário do acidentado. A partir do 16º dia, o segurado passa a receber
o auxílio-doença acidentário. Restando seqüela definitiva com
substrato anatomofuncional é devido o auxílio-acidente de qualquer
natureza ou causa, nos termos do artigo 86 da Lei nº 8.213/91 e no
artigo 104 do Decreto nº 3.048/99.
Havendo a incapacidade para o trabalho e impossibilidade de
reabilitação para o exercício que garanta a subsistência do segurado,

68
nos termo do artigo 42 da Lei nº 8.213/91, é devida a aposentadoria
por invalidez acidentária, inclusive o benefício pode ser majorado
em 25% se o acidentado necessitar de assistência permanente de ou-
tra pessoa, nos termos do artigo 45 do Decreto nº 3.048/99.

4 — DANO MORAL
A prática do realizar ato ilícito deve ser desestimulada além de pu-
nida. Toda lesão a qualquer direito traz como conseqüência a obrigação
da indenização. A responsabilidade civil enfatiza o dever de indenizar
sempre que presentes os elementos caracterizadores do ato ilícito.
O dano moral advém da dor, do sofrimento, da humilhação, da
vergonha e do constrangimento; tais sentimentos não podem ser ava-
liados monetariamente. Dano moral é a dor em função de conduta
contrária ao direito, ou ainda, a lesão aos interesses não patrimoniais
da vítima ou acidentado. O reconhecimento do direito à indenização
por dano moral surgiu com o advento da CF de 1988, onde no art. 5º,
V, ficou assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
além da indenização por dano material, moral ou à imagem, combi-
nado com o inciso X do mesmo artigo, onde prevê que são invioláveis
a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, asse-
gurado o direito à indenização por dano material ou moral decorren-
te de sua violação; tais indenizações são cumulativas nos termos da
Súmula nº 37 do STJ.
É necessário, para que se amenize a dor, que se procure meios
para a recuperação da vítima. Tais meios devem compreender formas
de minimizar o sofrimento da vítima. Por outro lado, a ofensa por
dano moral não pode ser reparada senão pecuniariamente.
Cumpre esclarecer que a responsabilidade civil não possui qual-
quer relação com a responsabilidade moral. No entanto, a CF esclare-
ce que a reparação do dano moral ocorre pela indenização. Por óbvio
que a dor sofrida pelo acidentado não pode ser quantificada ou
valorada, porém a indenização tem a intenção de proporcionar con-
forto material que ajude a vítima a esquecer as dolorosas recordações
bem como reduzir a dor. A indenização por dano moral não é solu-
ção, mas sim paliativo.
O conceito de moral é mais abrangente que o conceito do direito.
Do conceito do direito escapam muitas questões do conceito de mo-

69
ral. Considerando-se que a regra jurídica somente é atingida quando
ocorre a violação traduzida em prejuízo; não se cogita a responsabili-
dade jurídica enquanto não houver prejuízo.
O que define o dano moral é o efeito da lesão na pessoa do ofendi-
do, sendo que uma lesão a direito da personalidade pode gerar tanto
dano moral como dano material ou patrimonial, como, por exemplo,
um acidente que resulte na perda de membro superior do trabalhador,
produzirá tanto dano patrimonial (perdas e danos e lucros cessantes),
como dano moral (a dor, o trauma e o sofrimento suportado pela vítima).
A lesão estética não é tipo dano moral. É lesão à integridade físi-
ca e à imagem, podendo gerar dano patrimonial e extrapatrimonial na
esfera de interesses da vítima. Outro detalhe importante é que não se
mostra imprescindível que a lesão perdure no tempo, mesmo que
provisório, o dano estético enseja reparação como dano moral.
A condenação por dano moral certamente se adequa nas condi-
ções de acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais, na concor-
rência de dolo ou culpa do empregador.
Os parâmetros de arbitramento para o juiz estabelecer o quantum
indenizatório, segundo o Código Brasileiro de Telecomunicações é a
posição social ou a política do ofendido; a situação econômica do
ofensor; a intensidade do animus de ofender; a gravidade e repercus-
são da ofensa. Também a Lei de Imprensa aponta iguais parâmetros. A
determinação do prejuízo de afeição cumpre ter em vista o limite do
razoável, a fim de que não se enverede pelo rumo das pretensões ab-
surdas ao indicar dois pólos extremos.
Alguns critérios básicos devem orientar a fixação do quantum inde-
nizatório por dano moral, como a intensidade e a repercussão da ofensa
relativamente à vítima e o grau de culpa ou intensidade de dolo do
agressor. No entanto, o cálculo do valor deve ter somente caráter com-
pensatório à vítima e não punitivo ao infrator.

5 — FISCALIZAÇÃO TRABALHISTA
A legislação de Segurança e Medicina do Trabalho conta, atual-
mente, com 31 Normas Regulamentadoras urbanas (NR) e 5 rurais
(NRR), que são:
NR-1 — Disposições Gerais
NR-2 — Inspeção Prévia
NR-3 — Embargo ou Interdição

70
NR-4 — Serviço Especializado em Engenharia de Segurança
e em Medicina do Trabalho — SESMT
NR-5 — Comissão Interna de Prevenção de Acidentes — CIPA
NR-6 — Equipamentos de Proteção Individual — EPI
NR-7 — Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
NR-8 — Edificações
NR-9 — Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
NR-10 — Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade
NR-11 — Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manu-
seio de Materiais
NR-12 — Máquinas e Equipamentos
NR-13 — Caldeiras e Vasos sob Pressão
NR-14 — Fornos
NR-15 — Atividades e Operações Insalubres
NR-16 — Atividades e Operações Perigosas
NR-17 — Ergonomia
NR-18 — Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indús-
tria da Construção
NR-19 — Explosivos
NR-20 — Líquidos Combustíveis e Inflamáveis
NR-21 — Trabalhos a Céu Aberto
NR-22 — Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração
NR-23 — Proteção contra Incêndios
NR-24 — Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Tra-
balho
NR-25 — Resíduos Industriais
NR-26 — Sinalização de Segurança
NR-27 — Registro de Profissionais do Técnico de Segurança
do Trabalho no Ministério do Trabalho e Emprego
NR-28 — Fiscalização e Penalidades

71
NR-29 — Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no
Trabalho Portuário
NR-30 — Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no
Trabalho Aquaviário
NR-31 — Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no
Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Explo-
ração Florestal e Aqüicultura
NRR-1 — Disposições Gerais
NRR-2 — Serviço Especializado em Prevenção de Acidentes do
Trabalho Rural — SEPATR
NRR-3 — Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Tra-
balho Rural — CIPATR
NRR-4 — Equipamentos de Proteção Individual — EPI
NRR-5 — Produtos Químicos
Cada Norma Regulamentadora trata de assunto distinto, em cor-
respondência com a CLT, conforme a seguir:
NR-1 — Disposições Gerais: Estabelece o campo de aplicação
de todas as Normas Regulamentadoras de Seguran-
ça e Medicina do Trabalho do Trabalho Urbano, bem
como os direitos e obrigações do Governo, dos em-
pregadores e dos trabalhadores no tocante a este tema
específico. A fundamentação legal, ordinária e espe-
cífica, que dá embasamento jurídico à existência desta
NR, são os artigos 154 a 159 da Consolidação das Leis
do Trabalho — CLT.
NR-2 — Inspeção Prévia: Estabelece as situações em que as
empresas deverão solicitar ao MTE a realização de
inspeção prévia em seus estabelecimentos, bem como
a forma de sua realização. A fundamentação legal,
ordinária e específica, que dá embasamento jurídico
à existência desta NR, é o artigo 160 da CLT.
NR-3 — Embargo ou Interdição: Estabelece as situações em
que as empresas se sujeitam a sofrer paralisação de
seus serviços, máquinas ou equipamentos, bem como
os procedimentos a serem observados, pela fiscali-
zação trabalhista, na adoção de tais medidas punitivas
no tocante à Segurança e a Medicina do Trabalho. A

72
fundamentação legal, ordinária e específica, que dá
embasamento jurídico à existência desta NR, é o ar-
tigo 161 da CLT.
NR-4 — Serviços Especializados em Engenharia de Seguran-
ça e em Medicina do Trabalho: Estabelece a obriga-
toriedade das empresas públicas e privadas, que pos-
suam empregados regidos pela CLT, de organizarem
e manterem em funcionamento, Serviços Especiali-
zados em Engenharia de Segurança e em Medicina
do Trabalho — SESMT, com a finalidade de promo-
ver a saúde e proteger a integridade do trabalhador
no local de trabalho. A fundamentação legal, ordi-
nária e específica, que dá embasamento jurídico à
existência desta NR, é o artigo 162 da CLT.
NR-5 — Comissão Interna de Prevenção de Acidentes — CIPA:
Estabelece a obrigatoriedade das empresas públicas e
privadas organizarem e manterem em funcionamento,
por estabelecimento, uma comissão constituída exclu-
sivamente por empregados com o objetivo de preve-
nir infortúnios laborais, através da apresentação de
sugestões e recomendações ao empregador para que
melhore as condições de trabalho, eliminando as pos-
síveis causas de acidentes do trabalho e doenças ocu-
pacionais. A fundamentação legal, ordinária e especí-
fica, que dá embasamento jurídico à existência desta
NR, são os artigos 163 a 165 da CLT.
NR-6 — Equipamentos de Proteção Individual — EPI: Esta-
belece e define os tipos de EPI’s a que as empresas
estão obrigadas a fornecer a seus empregados, sem-
pre que as condições de trabalho o exigirem, a fim
de resguardar a saúde e a integridade física dos
trabalhadores. A fundamentação legal, ordinária e
específica, que dá embasamento jurídico à existên-
cia desta NR, são os artigos 166 e 167 da CLT.
NR-7 — Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacio-
nal: Estabelece a obrigatoriedade de elaboração e im-
plementação, por parte de todos os empregadores e

73
instituições que admitam trabalhadores como empre-
gados, do Programa de Controle Médico de Saúde
Ocupacional — PCMSO, com o objetivo de promo-
ção e preservação da saúde do conjunto dos seus tra-
balhadores. A fundamentação legal, ordinária e es-
pecífica, que dá embasamento jurídico à existência
desta NR, são os artigos 168 e 169 da CLT.

NR-8 — Edificações: Dispõe sobre os requisitos técnicos mí-


nimos que devem ser observados nas edificações para
garantir segurança e conforto aos que nelas traba-
lham. A fundamentação legal, ordinária e específica,
que dá embasamento jurídico à existência desta NR,
são os artigos 170 a 174 da CLT.

NR-9 — Programas de Prevenção de Riscos Ambientais: Es-


tabelece a obrigatoriedade de elaboração e implemen-
tação, por parte de todos os empregadores e institui-
ções que admitam trabalhadores como empregados,
do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais —
PPRA, visando à preservação da saúde e da integri-
dade física dos trabalhadores, através da antecipa-
ção, reconhecimento, avaliação e conseqüente con-
trole da ocorrência de riscos ambientais existentes ou
que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo
em consideração a proteção do meio ambiente e dos
recursos naturais. A fundamentação legal, ordinária
e específica, que dá embasamento jurídico à existên-
cia desta NR, são os artigos 175 a 178 da CLT.

NR-10 — Instalações e Serviços em Eletricidade: Estabelece as


condições mínimas exigíveis para garantir a seguran-
ça dos empregados que trabalham em instalações elé-
tricas, em suas diversas etapas, incluindo elaboração
de projetos, execução, operação, manutenção, refor-
ma e ampliação, assim como a segurança de usuários
e de terceiros, em quaisquer das fases de geração,
transmissão, distribuição e consumo de energia elé-
trica, observando-se, para tanto, as normas técnicas

74
oficiais vigentes e, na falta destas, as normas técnicas
internacionais. A fundamentação legal, ordinária e es-
pecífica, que dá embasamento jurídico à existência des-
ta NR, são os artigos 179 a 181 da CLT.
NR-11 — Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manu-
seio de Materiais: Estabelece os requisitos de segu-
rança a serem observados nos locais de trabalho, no
que se refere ao transporte, à movimentação, à arma-
zenagem e ao manuseio de materiais, tanto de forma
mecânica quanto manual, objetivando a prevenção de
infortúnios laborais. A fundamentação legal, ordiná-
ria e específica, que dá embasamento jurídico à exis-
tência desta NR, são os artigos 182 e 183 da CLT.
NR-12 — Máquinas e Equipamentos: Estabelece as medidas
prevencionistas de segurança e higiene do trabalho
a serem adotadas pelas empresas em relação à insta-
lação, operação e manutenção de máquinas e equi-
pamentos, visando à prevenção de acidentes do tra-
balho. A fundamentação legal, ordinária e específi-
ca, que dá embasamento jurídico à existência desta
NR, são os artigos 184 e 186 da CLT.
NR-13 — Caldeiras e Vasos sob Pressão: Estabelece todos os
requisitos técnico-legais relativos à instalação, ope-
ração e manutenção de caldeiras e vasos sob pres-
são, de modo a se prevenir a ocorrência de acidentes
do trabalho. A fundamentação legal, ordinária e es-
pecífica, que dá embasamento jurídico à existência
desta NR, são os artigos 187 e 188 da CLT.
NR-14 — Fornos: Estabelece as recomendações técnico-legais
pertinentes à construção, operação e manutenção de
fornos industriais nos ambientes de trabalho. A fun-
damentação legal, ordinária e específica, que dá em-
basamento jurídico à existência desta NR, é o artigo
187 da CLT.
NR-15 — Atividades e Operações Insalubres: Descreve as ati-
vidades, operações e agentes insalubres, inclusive
seus limites de tolerância, definindo, assim, as situa-
ções que, quando vivenciadas nos ambientes de tra-

75
balho pelos trabalhadores, ensejam a caracterização
do exercício insalubre, e também os meios de prote-
ger os trabalhadores de tais exposições nocivas à sua
saúde. A fundamentação legal, ordinária e específi-
ca, que dá embasamento jurídico à existência desta
NR, são os artigos 189 e 192 da CLT.
NR-16 — Atividades e Operações Perigosas: Regulamenta as
atividades e as operações legalmente consideradas
perigosas. Especificamente no que diz respeito ao
Anexo nº 01: Atividades e Operações Perigosas com
Explosivos, e ao Anexo nº 02: Atividades e Opera-
ções Perigosas com Inflamáveis tem a sua existência
jurídica assegurada através dos artigos 193 a 197 da
CLT. A fundamentação legal, ordinária e específica,
que dá embasamento jurídico à caracterização da
energia elétrica como sendo o terceiro agente peri-
goso é a Lei nº 7.369, de 22 de setembro de 1985, que
institui o adicional de periculosidade para os profis-
sionais da área de eletricidade. O quarto agente pe-
rigoso, radiações ionizantes, foi introduzido pela Por-
taria MTb nº 3.393, de 17 de dezembro de 1987; tal
portaria foi revogada pela nº 496/02 e, posteriormen-
te a Portaria nº 518/03 revigorou totalmente os ter-
mos da Portaria nº 3.393/87.
NR-17 — Ergonomia: Visa estabelecer parâmetros que permi-
tam a adaptação das condições de trabalho às condi-
ções psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a
proporcionar um máximo de conforto, segurança e
desempenho eficiente. A fundamentação legal, ordi-
nária e específica, que dá embasamento jurídico à
existência desta NR, são os artigos 198 e 199 da CLT.
NR-18 — Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indús-
tria da Construção: Estabelece diretrizes de ordem
administrativa, de planejamento de organização, que
objetivem a implementação de medidas de controle
e sistemas preventivos de segurança nos processos,
nas condições e no meio ambiente de trabalho na in-
dústria da construção civil. A fundamentação legal,

76
ordinária e específica, que dá embasamento jurídico
à existência desta NR, é o artigo 200, inciso I da CLT.
NR-19 — Explosivos: Estabelece as disposições regulamenta-
doras acerca do depósito, manuseio e transporte de
explosivos, objetivando a proteção da saúde e inte-
gridade física dos trabalhadores em seus ambientes
de trabalho. A fundamentação legal, ordinária e es-
pecífica, que dá embasamento jurídico à existência
desta NR, é o artigo 200, inciso II da CLT.
NR-20 — Líquidos Combustíveis e Inflamáveis: Estabelece as
disposições regulamentares acerca do armazenamen-
to, manuseio e transporte de líquidos combustíveis
e inflamáveis, objetivando a proteção da saúde e a
integridade física dos trabalhadores em seus ambien-
tes de trabalho. A fundamentação legal, ordinária e
específica, que dá embasamento jurídico à existência
desta NR, é o artigo 200, inciso II da CLT.
NR-21 — Trabalho a Céu Aberto: Tipifica as medidas preven-
cionistas relacionadas com a prevenção de acidentes
nas atividades desenvolvidas a céu aberto, tais como,
em minas ao ar livre e em pedreiras. A fundamenta-
ção legal, ordinária e específica, que dá embasamen-
to jurídico à existência desta NR, é o artigo 200,
incisos III e V da CLT.
NR-22 — Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração: Esta-
belece métodos de segurança a serem observados
pelas empresas que desenvolvam trabalhos subter-
râneos de modo a proporcionar a seus empregados
satisfatórias condições de Segurança e Medicina do
Trabalho. A fundamentação legal, ordinária e espe-
cífica, que dá embasamento jurídico à existência desta
NR, são os artigos 293 a 301 e o artigo 200, inciso III,
todos da CLT.
NR-23 — Proteção contra Incêndios: Estabelece as medidas
de proteção contra incêndios que devem dispor os lo-
cais de trabalho, visando à prevenção da saúde e da
integridade física dos trabalhadores. A fundamen-

77
tação legal, ordinária e específica, que dá embasa-
mento jurídico à existência desta NR, é o artigo 200,
inciso IV da CLT.
NR-24 — Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Tra-
balho: Disciplina os preceitos de higiene e de confor-
to a serem observados nos locais de trabalho, especial-
mente no que se refere a: banheiros, vestiários, refei-
tórios, cozinhas, alojamentos e água potável, visando
a higiene dos locais de trabalho e a proteção à saúde
dos trabalhadores. A fundamentação legal, ordinária
e específica, que dá embasamento jurídico à existên-
cia desta NR, é o artigo 200, inciso VII da CLT.
NR-25 — Resíduos Industriais: Estabelece as medidas preven-
tivas a serem observadas, pelas empresas, no desti-
no final a ser dado aos resíduos industriais resultan-
tes dos ambientes de trabalho de modo a proteger a
saúde e a integridade física dos trabalhadores. A fun-
damentação legal, ordinária e específica, que dá em-
basamento jurídico à existência desta NR, é o artigo
200, inciso VII da CLT.
NR-26 — Sinalização de Segurança: Estabelece a padronização
das cores a serem utilizadas como sinalização de se-
gurança nos ambientes de trabalho, de modo a pro-
teger a saúde e a integridade física dos trabalhado-
res. A fundamentação legal, ordinária e específica,
que dá embasamento jurídico à existência desta NR,
é o artigo 200, inciso VIII da CLT.
NR-27 — Registro Profissional do Técnico de Segurança do Tra-
balho no Ministério do Trabalho e Emprego: Estabe-
lece os requisitos a serem satisfeitos pelo profissional
que desejar exercer as funções de técnico de seguran-
ça do trabalho, em especial no que diz respeito ao seu
registro profissional como tal, junto ao Ministério do
Trabalho e Emprego. A fundamentação legal, ordiná-
ria e específica, tem seu embasamento jurídico asse-
gurado através do artigo 3º da Lei nº 7.410, de 27 de

78
novembro de 1985, regulamentado pelo artigo 7º do
Decreto nº 92.530, de 9 de abril de 1986.
NR-28 — Fiscalização e Penalidades: Estabelece os procedi-
mentos a serem adotados pela fiscalização trabalhis-
ta de Segurança e Medicina do Trabalho, tanto no
que diz respeito à concessão de prazos às empresas,
como no que se refere à concessão de prazos às em-
presas para a correção das irregularidades técnicas,
como também, no que concerne ao procedimento de
autuação por infração às Normas Regulamentado-
ras de Segurança e Medicina do Trabalho.
A fundamentação legal, ordinária e específica,
tem a sua existência jurídica assegurada, a nível de
legislação ordinária, através do artigo 201 da CLT,
com as alterações que lhe foram introduzidas pelo
artigo 2º da Lei nº 7.855, de 24 de outubro de 1989,
que institui o Bônus do Tesouro Nacional — BTN,
como valor monetário a ser utilizado na cobrança de
multas, e posteriormente, pelo artigo 1º da Lei nº
8.383, de 30 de dezembro de 1991, especificamente
no tocante à instituição da Unidade Fiscal de Refe-
rência — UFIR, como valor monetário a ser utiliza-
do na cobrança de multas em substituição ao BTN.
Com a extinção da UFIR (em decorrência do § 3º
do art. 29 da Medida Provisória nº 2.095, posterior-
mente convertida na Lei nº 10.522, de 19.07.2002) os
valores das multas foram congelados no último valor
vigente (1 UFIR = R$ 1,0641).
NR-29 — Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no
Trabalho Portuário: Tem por objetivo regular a pro-
teção obrigatória contra acidentes e doenças profis-
sionais, facilitar os primeiros socorros a acidentados
e alcançar as melhores condições possíveis de segu-
rança e saúde aos trabalhadores portuários. As dis-
posições contidas nesta NR aplicam-se aos trabalha-
dores portuários em operações tanto a bordo como
em terra, assim como aos demais trabalhadores que
exerçam atividades nos portos organizados e insta-
lações portuárias de uso privativo e retroportuárias,

79
situadas dentro ou fora da área do porto organiza-
do. A sua existência jurídica está assegurada a nível
de legislação ordinária, através do artigo 200 da CLT
e do Decreto nº 99.534, de 19.09.1990 que promul-
gou a Convenção nº 152 da OIT.
NR-30 — Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no
Trabalho Aquaviário: Tem por objetivo a proteção e a
regulamentação das condições de segurança e saúde
dos trabalhadores aquaviários. Esta norma aplica-se
aos trabalhadores das embarcações comerciais, de
bandeira nacional, bem como às de bandeiras estran-
geiras, no limite do disposto na Convenção da OIT nº
147 — Normas Mínimas para Marinha Mercante, uti-
lizadas no transporte de mercadorias ou de passagei-
ros, inclusive naquelas utilizadas na prestação de ser-
viços, seja na navegação marítima de longo curso, na
de cabotagem, na navegação interior, de apoio marí-
timo e portuário, bem como em plataformas maríti-
mas e fluviais, quando em deslocamento.
NR-31 — Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no
Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Ex-
ploração Florestal e Aqüicultura — estabelece os pre-
ceitos a serem observados na organização e no ambi-
ente de trabalho, de forma a tornar compatível o pla-
nejamento e o desenvolvimento das atividades da
agricultura, pecuária, silvicultura, exploração flores-
tal e aqüicultura com a segurança e saúde e meio
ambiente do trabalho. Esta Norma Regulamentado-
ra se aplica a quaisquer atividades da agricultura,
pecuária, silvicultura, exploração florestal e aqüicul-
tura, verificadas as formas de relações de trabalho e
emprego e o local das atividades. Esta Norma Regu-
lamentadora também se aplica às atividades de ex-
ploração industrial desenvolvidas em estabelecimen-
tos agrários.
NRR-1 — Disposições Gerais: Estabelece os deveres dos em-
pregados e empregadores rurais no tocante à pre-
venção de acidentes do trabalho e doenças ocupacio-

80
nais. A sua existência jurídica é assegurada por meio
do artigo 13 da Lei nº 5.889, de 8 de junho de 1973.
NRR-2 — Serviço Especializado em Prevenção de Acidentes do
Trabalho Rural — SEPATR: Estabelece a obrigato-
riedade para que as empresas rurais, em função do
número de empregados que possuam, organizem e
mantenham em funcionamento serviços especializa-
dos em Segurança e Medicina do Trabalho, visando
à prevenção de acidentes do trabalho e doenças ocupa-
cionais no meio rural. A sua existência jurídica é as-
segurada por meio do artigo 13 da Lei nº 5.889, de 8
de junho de 1973.
NRR-3 — Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Tra-
balho Rural — CIPATR: Estabelece para o emprega-
dor rural, a obrigatoriedade de organizar e manter
em funcionamento uma Comissão Interna de Preven-
ção de Acidentes. A sua existência jurídica é assegu-
rada por meio do artigo 13 da Lei nº 5.889, de 8 de
junho de 1973.
NRR-4 — Equipamento de Proteção Individual — EPI: Estabe-
lece a obrigatoriedade para que os empregadores
rurais forneçam, gratuitamente, a seus empregados
Equipamentos de Proteção Individual adequados ao
risco e em perfeito estado de conservação, a fim de
protegê-los dos infortúnios laborais. A sua existên-
cia jurídica é assegurada por meio do artigo 13 da
Lei nº 5.889, de 8 de junho de 1973.
NRR-5 — Produtos Químicos: Estabelece os preceitos de Se-
gurança e Medicina do Trabalho Rural a serem ob-
servados no manuseio de produtos químicos, visan-
do à prevenção de acidentes do trabalho e doenças
ocupacionais. A sua existência jurídica é assegurada
por meio do artigo 13 da Lei nº 5.889, de 8 de junho
de 1973.

A INSPEÇÃO DO TRABALHO
A inspeção do trabalho desenvolveu-se com a evolução do Di-
reito do Trabalho, primeiramente visando a proteção do trabalho das
mulheres e dos menores, e mais tarde, ganharam destaque os riscos

81
gerados pelos acidentes do trabalho, e finalmente o enfoque na higie-
ne, a proteção da saúde, do bem-estar físico e social do trabalhador.
A empresa deve, para o fiel cumprimento das Normas Regula-
mentadoras (NR’s) implementar diversos programas (PPRA, PCMSO,
PCMAT e outros), bem como elaborar ordens de serviço, adaptar o
lay out e mobiliário, proporcionar um ambiente de trabalho hígido e
tantas outras exigências legais, que a organização acaba descumprin-
do por não conhecer integralmente os requisitos da lei.
A inspeção do trabalho conjuga regras provenientes da Admi-
nistração Pública, com os preceitos de legislação trabalhista e com
legislação técnica de segurança e medicina do trabalho.
A Constituição Federal referiu-se ao tema no artigo 21, XXIV,
atribuindo à União a competência para organizar, manter e executar
a inspeção do trabalho. A CLT trata nos artigos 154 a 201 sobre as
normas e medicina do trabalho. A fiscalização e inspeção de multas
são tratadas nos artigos 626 a 642.
O Delegado Regional do Trabalho pode interditar o estabelecimen-
to, como medida extrema de proteção da segurança e saúde dos traba-
lhadores. Ocorre a interdição quando o ato da inspeção do trabalho im-
porta na paralisação total ou parcial do estabelecimento. Este ato só po-
derá ser efetivado nos casos em que ficar demonstrado, mediante laudo
técnico elaborado por engenheiro de segurança ou médico do trabalho
integrantes da inspeção do Trabalho. Segundo Gabriel Saad (2000):

perigo iminente tem estreita sinonímia com risco iminente a que alude o
caput do artigo 161, ambas as expressões designam situação de fato, que
gera temor, faz nascer ameaça à vida ou à saúde do trabalhador que, com
certeza, se consumará se providências não forem tomadas, a tempo e a
hora, para que as condições ambientais do local de trabalho se modifi-
quem, durante o período da paralisação dos serviços, por interdição ou
embargos, o contrato de trabalho fica interrompido, tendo os trabalhado-
res direito aos salários como se estivessem em efetivo serviço.
De acordo com o disposto no artigo 3º da Convenção nº 81 da
OIT, ratificada pelo Brasil, são três as funções atribuídas à Inspeção
do Trabalho:

• fiscalização;
• orientação;
• assessoramento dos parceiros sociais mediante informação.

82
A Inspeção do Trabalho está dotada de alguns poderes, dentre eles
o poder de visita, previsto no artigo 12 da Convenção nº 81 da OIT:

Art. 12. Os Inspetores do Trabalho munidos de credenciais serão


autorizados:
a) a penetrar livremente e sem aviso prévio, a qualquer hora do
dia ou da noite, em qualquer estabelecimento submetido à inspeção;
b) a penetrar durante o dia em todos os locais que eles possam ter
motivo razoável para supor estarem sujeitos ao controle de inspeção.

O artigo 14 do RIT também dispõe no mesmo sentido:

Art. 14. O Agente da Inspeção do Trabalho, munido de credencial


a que se refere o artigo anterior, tem o direito de ingressar, livremente,
e sem aviso prévio e em qualquer hora, em todos os locais de trabalho
sujeitos à sua fiscalização, na ocorrência da prestação de serviços regu-
lados pela legislação do trabalho.

A recusa do empregador em permitir que o AFT ingresse nas ins-


talações da empresa, ou mesmo seu retardamento, submete a lavratura
de auto de infração nos termos do artigo 630, § 6º da CLT, bem como
requisição de força policial, se for o caso (§ 8º do artigo 630 da CLT e
item j do artigo 8º do RIT). A única exceção é quanto ao local de traba-
lho do empregado doméstico, protegido por força do item XI do artigo
5º da CF, eis que o domicílio é asilo inviolável do indivíduo.
O AFT, via de regra, deve apresentar sua identificação, pela exi-
bição da CIF — Carteira de Identidade Fiscal, exceto nos casos em
que a identificação possa prejudicar a eficiência da fiscalização. Po-
rém, a exibição de documentos pela empresa somente deverá ser re-
alizada após a identificação do fiscal.
O poder de investigação dos fiscais compõe-se de:

• visitar os locais de trabalho (artigo 8º do RIT, d, g e h e artigo 12


da Convenção nº 81 da OIT, item 1, a e b);
• examinar livros e outros documentos, copiando ou extraindo
dados (artigo 8º do RIT, a e artigo 12 da Convenção da OIT, c, II);
• interrogar o empregador e empregados, seja só ou na presença
de testemunhas (artigo 8º do RIT, b e artigo 12 da Convenção
da OIT, c, I);

83
• apreender, para fins de análise, amostras de materiais ou
substâncias utilizadas, mediante termo de apreensão (artigo
8º do RIT, c e art. 12 da Convenção da OIT, c, IV);
• proceder a inspeções nos locais de trabalho e ao controle de
máquinas e da utilização de equipamentos (artigo 8º do RIT, d);
• Verificar registros em carteira, bem como recolhimento do FGTS
(artigo 11, II e III, da Lei nº 10.593, de 06.12.2002).

Qualquer ameaça à saúde ou segurança dos trabalhadores deve-


rá ser coibida pelos Inspetores do Trabalho, nos termos do artigo
13 da Convenção nº 81 da OIT, mediante notificação para regulari-
zação da situação. Em sendo constatada situação de risco grave e
iminente à saúde e/ou integridade física dos trabalhadores, o AFT
deverá propor ao Delegado Regional do Trabalho a interdição do es-
tabelecimento, do local de trabalho, de máquina ou equipamento, ou
o embargo parcial ou total da obra, nos termos do artigo 161 da CLT.
Ressalte-se que durante o embargo ou interdição, os salários dos em-
pregados deverão ser pagos, como se estes estivessem efetivamente
trabalhando (artigo 161, § 6º, da CLT).
As autoridades municipais, estaduais ou federais deverão pres-
tar apoio ao Delegado Regional do Trabalho, nos casos de embargo
ou interdição. A desobediência ao embargo ou interdição submete o
responsável às penas do artigo 330 do Código Penal.
O poder de autuação do fiscal fica limitado quando ocorrer publi-
cação ou expedição de leis novas, sendo que no prazo de 90 dias, não
poderá haver autuação da empresa fiscalizada em sua primeira visita,
devendo o fiscal apenas instruir, advertir, orientar e aconselhar em re-
lação aos novos dispositivos legais (artigo 627, a da CLT e artigo 18, I,
parágrafo único do RIT). O critério da dupla visita deverá ser observa-
do, de forma obrigatória, quando se tratar da primeira ação fiscal em
empresa recém-inaugurada (90 dias do efetivo funcionamento). Deve-
rá também ser observado o número de empregados do estabelecimen-
to, eis que, para empresas com até 10 empregados (registrados e infor-
mais), o fiscal não poderá autuar na primeira visita, exceto por falta de
registro em carteira (artigo 6º, § 3º da Lei nº 7.855, de 24.10.1989).
A microempresa e empresas de pequeno porte, por força da Lei
nº 9.841/99, também deverão observar o critério da dupla visita para
lavratura de auto de infração trabalhista, exceto por falta de registro
em carteira, reincidência, fraude, resistência ou embaraço à fiscaliza-

84
ção. Ainda, de acordo com a mesma Lei retrocitada, as microempre-
sas e empresas de pequeno porte estão desobrigadas ao cumprimen-
to de algumas obrigações acessórias:

• manter quadro de horário de trabalho ou sistema de anotação


de ponto (artigo 74 da CLT);
• anotar concessão de férias no livro ou ficha de registro de em-
pregados (artigo 135, § 2º da CLT);
• entregar anualmente a RAIS (artigo 360 da CLT);
• manter em seu quadro aprendizes (artigo 429 da CLT);
• possuir Livro de Inspeção do Trabalho (artigo 628, § 1º da CLT).

A dispensa do Livro de Inspeção do Trabalho traz inconveniente


na fiscalização, eis que o agente tem de iniciar o processo desde a
instalação da empresa, já que não está anotado até que período foi
fiscalizado pelo último agente. Assim, recomenda-se que, mesmo as
empresas dispensadas do Livro de Inspeção do Trabalho, adotem-no
como medida de prevenção.
Dentre os deveres da fiscalização está o dever de desinteresse,
representado pela imparcialidade do fiscal, sendo vedada a fiscaliza-
ção de empresa na qual o agente tenha interesse direto ou indireto.
O sigilo profissional é outro aspecto de que deve cuidar o fiscal,
a fim de não prejudicar o segredo de fabricação ou informações de
processo que tenha obtido em função de seu cargo. Nos itens de roti-
na da fiscalização do trabalho está a entrevista dos trabalhadores,
que via de regra, o fiscal quer realizar sem a intervenção do empre-
gador; porém, tal atuação não tem amparo legal.
A fiscalização tem concedido, especialmente, para as empresas
de pequeno e médio porte, em virtude dos documentos não se encon-
trarem em suas sedes, o prazo de 2 a 8 dias, anotado em Livro de
Inspeção do Trabalho. Os documentos sujeitos à fiscalização deverão
permanecer nos locais de trabalho nos termos do artigo 630, § 4º, da
CLT. No entanto, a Portaria nº 3.626, de 13.11.1991, permite que a
empresa utilize controle único e centralizado dos documentos sujei-
tos à inspeção do trabalho, fora do local de trabalho, com exceção
daqueles relativos ao registro dos empregados, registro de horário
de trabalho e Livro de Inspeção do Trabalho.

85
Os fiscais são distribuídos por zona, dentro do território de atua-
ção da Delegacia, em sistema de rodízio, onde a distribuição é feita por
sorteio público para período não superior a três meses, sendo vedado
ao fiscal permanecer na mesma zona por dois períodos consecutivos.
O processo de multas trabalhistas, até a promulgação da Lei nº
9.784/99, era regulado somente pelos artigos 626 a 642 da CLT. No
artigo 2º da Lei nº 9.784/99 são enumerados os princípios que devem
ser obedecidos pela Administração Pública para com os administra-
dos, tais como os princípios:

• legalidade;
• finalidade;
• motivação;
• razoabilidade;
• proporcionalidade;
• moralidade;
• ampla defesa;
• contraditório;
• segurança jurídica;
• interesse público;
• eficiência.

O administrando, nos termos do artigo 3º da Lei nº 9.784/99, pos-


sui direitos perante a administração pública, dentre eles o tratamento
respeitoso, a ciência da tramitação dos processos administrativos quan-
do interessados, a vista aos autos, bem como cópia dos documentos.
Dentre os direitos dos administrados está inclusa a argüição de sus-
peição de autoridade ou servidor (artigo 20 da Lei nº 9.784/99).
O processo administrativo de imposição de multas trabalhistas é
regulado pelos artigos 626 a 642 da CLT, pela Portaria nº 148, de
25.01.1996, do Ministério do Trabalho e Emprego e pela Lei nº 9.784,
de 29.01.1999.
O processo administrativo tem início mediante a lavratura do auto
de infração pelo AFT. O auto de infração deverá ser preenchido à tinta,
em letra de fôrma, ou datilograficamente, sem entrelinhas, emendas,
rasuras nem vícios que possam acarretar sua nulidade; preenchido em
3 vias, contendo: nome, endereço, CEP do autuado, CNAE, número de
empregados e CNPJ, ementa da autuação e código, descrição do fato

86
caracterizador da autuação, capitulação do fato com menção do disposi-
tivo legal infringido, elementos de convicção, ciência do prazo para
apresentação de defesa, bem como local para protocolo, local, data e
hora da lavratura, carimbo e assinatura do AFT.
As multas trabalhistas são divididas em dois grupos:

• o que não considera o número de empregados em situação


irregular, por exemplo, duração do trabalho, devendo o AFT
citar pelo menos um empregado;
• o que julga que as multas são fixadas em razão do número de
empregados em situação irregular, por exemplo, a falta do
registro de empregados, devendo o AFT citar todos os empre-
gados arrolados.

Se houver omissão ou incorreção no auto de infração, este será


declarado insubsistente. Quando se tratar de erro ou omissão na ca-
pitulação da infração, o Delegado do Trabalho deverá corrigir a falha,
reabrindo prazo para defesa do autuado.
O auto de infração não tem seu valor probante condicionado à
assinatura do autuado ou testemunha, devendo ser lavrado no pró-
prio local da inspeção, exceto quando houver resistência, desacato
ou outra forma de constrangimento do AFT, quando a lavratura per-
turbar o funcionamento do local fiscalizado ou quando se tratar de
notificação para a apresentação de documentos.
O auto de infração, após sua lavratura, não poderá ser inutiliza-
do, tampouco sustado o processo por ele desencadeado, devendo o
AFT apresentá-lo, mesmo quando incorreto (artigo 629, § 2º da CLT).
Considera-se como reincidente o infrator que for autuado pela
mesma violação em 2 anos consecutivos.
O prazo para apresentação de defesa é de 10 dias, contados do
recebimento do auto de infração (artigo 629, § 3º da CLT e artigo 23 da
Portaria nº 148/96), sendo que ele é contínuo e se conta com a exclusão
do dia da notificação e inclusão do dia de vencimento, além do que, os
prazos somente se iniciam ou vencem em dia de expediente normal
(artigo 17, caput e parágrafo único, da Portaria nº 148/96).
A defesa, nos termos do artigo 24 da Portaria nº 148/96, deverá
conter os seguintes requisitos:

• a autoridade a quem é dirigida (Delegado Regional do Trabalho);


• a qualificação do autuado;

87
• os motivos de fato e de direito em que se fundamentar;
• as diligências que requer o autuado;
• o instrumento de procuração, quando for o caso;
• a autenticação das provas documentais.

A defesa deve ser apresentada pelo autuado ou qualquer repre-


sentante com procuração, não necessariamente advogado. Poderão
ser requeridas pelo autuado a oitiva de testemunhas ou diligências;
porém, a autoridade competente julgará a necessidade da produção
de tais provas (artigo 632 da CLT), e diga-se de passagem, que tal facul-
dade não é utilizada pelas empresas.
Para cada auto de infração deve ser elaborada uma defesa de
forma individualizada, que dará origem ao processo administrativo.
Assim, apresentar uma única defesa para vários autos de infração,
trará como conseqüência a juntada de apenas um processo, remeten-
do os demais para julgamento sem defesa.
A gradação das multas, até a vigência da Portaria nº 290, de
11.04.1997, do Ministério do Trabalho e Emprego, era realizada ao
livre arbítrio do fiscal. A partir de então, quando a lei não determina
o apenamento pelo valor máximo, as multas são graduadas segun-
dos os seguintes critérios:

• natureza da infração (artigos 75 e 351 da CLT);


• intenção do infrator (artigos 75 e 351 da CLT);
• meios ao alcance do infrator para cumprir a lei (artigo 5º da Lei
nº 7.855/89);
• extensão da infração (artigos 75 e 351 da CLT);
• situação econômico-financeira do infrator (artigos 75 e 351 da CLT).

O valor final da multa será calculado aplicando-se o percentual


de 20% do valor máximo previsto em lei, acrescidos dos percentuais
de 8 a 40% conforme o porte econômico do infrator e, de 40%, conso-
ante a extensão da infração, cumulativamente. Além do que, a reinci-
dência implica na dobra do valor da multa ou sua imposição pelo
valor máximo.
O autuado será notificado a recolher o valor da multa ou apre-
sentar recurso no prazo de 10 dias. Renunciando ao direito de recur-
so e recolhendo a multa no prazo, esta será reduzida em 50% (artigo
636, § 6º da CLT e artigo 32 da Portaria nº 148/96).

88
Nos casos de recurso imposto, este deverá ser interposto peran-
te a autoridade que houver aplicado a multa (Delegado Regional do
Trabalho), porém, endereçado à autoridade competente de instância
superior (Secretário de Inspeção do Trabalho). O recurso deverá ser
interposto em até 10 dias contados do recebimento da notificação,
observando os mesmos requisitos formais da defesa. A apreciação do
recurso dependerá de prova do depósito integral da multa imposta,
nos termos do artigo 636, § 1º da CLT e artigo 34, parágrafo único, da
Portaria nº 148/96; no entanto, tal exigência tem sido questionada
nas esferas administrativa e judicial.
Os recursos administrativos, via de regra, contudo, não logram
êxito, eis que aquele que julga é colega de trabalho de quem autuou
... Não resta outra saída senão a via judicial para anular um débito
resultante de multa com vício ou ilegalidade.
E, não é excesso advertir mais uma vez: a empresa não é obriga-
da a produzir provas contra si mesma ... Ressalte-se que a legislação
trabalhista prescreve a autuação da empresa com base em seus pró-
prios documentos, nos termos do item 28.1.5 da NR-28, in verbis:

Poderão, ainda, os Agentes de Inspeção do Trabalho lavrar auto


de infração pelo descumprimento dos preceitos legais e/ou regulamen-
tares sobre segurança e saúde do trabalhador, à vista de laudo técnico
emitido por engenheiro de segurança do trabalho ou médico do traba-
lho, devidamente habilitado.

COMO BEM ATENDER A FISCALIZAÇÃO


Diga-se de passagem, que uma empresa não é fiscalizada por
obra do acaso, mas porque foi triada nos computadores, normalmen-
te por erro no preenchimento de guias ou prestação de informações.
O fiscal, especialmente no âmbito federal, sempre estará muni-
do de MPF — Mandado de Procedimento Fiscal — cuja veracidade
pode ser checada pela internet; tal documento é emitido pelo órgão e
não pelo fiscal, especificando quais impostos serão fiscalizados, bem
como o período de duração dos trabalhos. O fiscal não pode forçar a
entrada; caso a empresa sinta-se ameaçada deve imediatamente re-
quisitar a presença de autoridade policial, preferencialmente Polícia
Federal. Abusos de autoridade devem ser denunciados à Corregedoria.

89
No entanto, lembre-se de que o fiscal apenas cumpre ordens de um
superior e está fiscalizando a empresa porque este é seu trabalho, não
trate a questão como pessoal, acreditando que o fiscal é inimigo da
empresa. Os trabalhos da fiscalização devem ser realizados no horá-
rio comercial e em sala segregada dos demais funcionários, com vis-
tas a evitar-se o vínculo de amizade.
A fiscalização propriamente dita inicia-se com o Termo de Início
de Fiscalização. O fiscal deve ser “bem recebido” pela empresa a fim
de que não se crie um clima de inamistosidade, pois, o fiscal como
ser humano que é, é passível de subjetividades. Somente devem ser
apresentados documentos pertinentes ao objeto da fiscalização; para
os demais documentos, a empresa deve avaliar a conveniência, ou
não de apresentá-los.
O fiscal não tem autonomia para coletar pessoalmente os docu-
mentos, tão pouco acessar a rede de computadores da empresa; ele
deve solicitar à empresa, que avaliando a pertinência, entregará ou
não tais papéis. A fiscalização deve preservar o sigilo bancário e de
correspondência. Para revistar o escritório e abrir gavetas ou cofres,
em busca de documentos, o fiscal necessita de mandado de busca e
apreensão. Na recusa de apresentação dos documentos, o fiscal pode
lacrar gavetas e cofres, na presença de testemunhas.
Os documentos, para facilitar o processo de fiscalização, neces-
sitam ser catalogados de forma a que sejam prontamente localizados.
Os expurgos de documentos devem ser rigorosos e preservar aqueles
com prazo de guarda. A fiscalização é concluída com o Termo de En-
cerramento de Fiscalização. No caso de autuação, se esta for injusta,
há duas instâncias de recursos. A primeira instância, a administrati-
va, via de regra ratifica a autuação, pois o recurso é julgado interna-
mente, às vezes pelo próprio superior do fiscal. Todavia, em segunda
instância, no Conselho de Contribuintes, a possibilidade de sucesso
aumenta, uma vez que a composição paritária é de representantes
dos contribuintes e agentes fiscais.

6 — FISCALIZAÇÃO PREVIDENCIÁRIA
A fiscalização previdenciária, com o advento do PPP — Perfil
Profissiográfico Previdenciário, passou também a fiscalizar o segmento
de segurança e saúde do trabalhador na empresa. Importante ressaltar

90
que por força da legislação vigente, além dos documentos previden-
ciários, o AFPS — Auditor Fiscal da Previdência Social — também po-
derá exigir documentos trabalhistas, tais como PPRA — Programa de
Prevenção de Riscos Ambientais, comprovantes de entrega dos equi-
pamentos de proteção individual, notas fiscais de aquisição dos EPI´s,
comprovante de treinamento e fiscalização do uso dos EPI’s e outros.
A falta de manutenção do PPP atualizado ou o não fornecimento
deste ao segurado, por ocasião do encerramento do contrato de tra-
balho, ensejará aplicação de multa prevista no art. 283, I, h do Decre-
to nº 4.862/2003, que atualmente importa em R$ 1.035,92 (valor cor-
rigido pela Portaria MPS nº 479, de 10.05.2004). A mesma multa é
aplicada no caso da empresa não manter LTCAT — Laudo Técnico das
Condições Ambientais de Trabalho — atualizado, ou seu documento
substituto, com referência aos agentes nocivos existentes no ambiente
de trabalho de seus trabalhadores.
A atualização do LTCAT e PPP deve ocorrer, quando houver mu-
danças significativas nos métodos e processos do trabalho, que alte-
rem a exposição do segurado. Da mesma forma, a empresa não pode
emitir o PPP em desacordo com o DIRBEN-8030 ou LTCAT, princi-
palmente com relação aos aspectos técnicos.
No caso das características no ambiente de trabalho da empresa
divergirem do Laudo Técnico, o AFPS deverá oficiar o fato ao setor
de Segurança e Saúde do Trabalho da Delegacia Regional do Traba-
lho, e solicitar assessoramento técnico da perícia médica do INSS,
com a emissão de parecer. No ofício, deverá ser solicitada a ciência ao
INSS do parecer conclusivo da inspeção efetuada.

PONTOS VULNERÁVEIS NA FISCALIZAÇÃO PREVIDENCIÁRIA

Um dos pontos mais vulneráveis das empresas tem sido a emis-


são de CAT — Comunicação de Acidente do Trabalho. Para todos os
acidentes tipo (ou típicos como dizem alguns), bem como para a do-
ença (que está legalmente equiparada ao acidente) ou agravamento
de doença deve ser emitida CAT dentro do prazo legal. Algumas em-
presas ainda insistem em ocultar o acidente, enviando o segurado
para uma farmácia ou ambulatório, sem a emissão de CAT, esque-
cendo-se de que se houver alguma seqüela posterior ao acidente, a
CAT terá de ser emitida fora do prazo.

91
Eventualmente quando em fiscalização, a Previdência poderá ou-
vir trabalhadores para apurar se houve acidentes sem a emissão de
CAT, ou ainda, as atas do Livro da CIPA poderão denunciar tal cir-
cunstância, inclusive pela análise do acidente. O PCMSO também
servirá como poderoso instrumento para denunciar quais as doenças
não foram devidamente notificadas pela CAT. Desta forma, de pouca
valia será a sonegação da notificação do acidente, vez que há formas
indiretas da Previdência checar estes dados.
A Previdência poderá solicitar o PPP ou DIRBEN-8030 dos segura-
dos já desligados, bem como o protocolo de entrega de tais documentos.
Cabe à empresa diligenciar no sentido de não só manter o PPP ou
DIRBEN-8030 de segurados desligados, como também obter a assinatu-
ra do trabalhador, no encerramento do contrato de trabalho, pela entre-
ga do documento. Indispensável acrescentar que a Previdência analisa-
rá o conteúdo formal do PPP, especialmente se contém informações ad-
ministrativas, registros ambientais e monitoração biológica.
As informações contidas no PPP também serão checadas com os
registros de folha de pagamento e LRE — Livro de Registro de Empre-
gados. Deverá haver coerência entre PPP e LTCAT, ou seja, as informa-
ções lançadas no PPP devem obrigatoriamente ser retiradas do LTCAT.
Não devemos nos esquecer de que o PPP é transcrição do LTCAT.
Pior ainda é a eventual contradição entre PPP e GFIP. Os escritó-
rios de contabilidade, de uma forma geral, estão escriturando GFIP
com isenção da alíquota adicional do SAT, indistintamente, para to-
dos os seus clientes, sem prévia consulta se há ou não segurados
expostos aos agentes nocivos. Ao ser implantado o PPP e LTCAT na
empresa, deve-se proceder a uma análise para constatar se há segu-
rados em exposição aos agentes nocivos e que, por conseqüência fa-
rão jus à aposentadoria especial, quando então deverão ser alterados
os códigos de enquadramento.
Numa eventual fiscalização da Previdência, deverão ser dispo-
nibilizados os LTCAT’s de todos os segurados. Devemos recordar que
o LTCAT é individual para cada trabalhador e para ser considerado
atualizado deve corresponder às condições ambientais do período a
que se refere. A rigor, o LTCAT deveria ser atualizado com periodici-
dade mínima anual, juntamente com o PPRA e PCMSO ou quando
houver qualquer alteração que implique em alteração na exposição
do segurado. Assim, o LTCAT, em hipótese alguma poderá ter sido
elaborado há mais de um ano.

92
Anexos ao LTCAT, se for o caso, deverão estar os relatórios de
dosimetria, laudos de análise do laboratório químico, ficha toxicológica
dos produtos químicos, recibos de fornecimento dos equipamentos de
proteção individual, CA — Certificado de Aprovação — dos EPI’s etc.
Os profissionais que assinam o LTCAT (Engenheiro de Seguran-
ça do Trabalho ou Médico do Trabalho) devem estar habilitados pelo
respectivo órgão de registro profissional (CREA e CRM, respectiva-
mente).
Também, deve se ressaltar que o reconhecimento da aposenta-
doria especial para determinado segurado implica na remuneração
do adicional de insalubridade para este mesmo trabalhador.
A empresa deve comprovar a realização dos exames admissional,
periódico, de retorno ao trabalho, de mudança de função e demissio-
nal, com emissão de ASO — Atestado de Saúde Ocupacional — em
duas vias, com protocolo do segurado numa das vias.
Considerando-se que a Previdência fiscalizará documentos da
alçada trabalhista é indispensável que tais documentos sejam elabo-
rados de forma coerente entre si, especialmente a compatibilidade
entre o PPRA e PCMSO. Todos os riscos identificados no PPRA de-
vem estar contemplados no PCMSO. Foi-se o tempo em que o PPRA
e PCMSO eram elaborados por profissionais distintos, que sequer se
conversavam e guardados em gavetas diferentes a fim de que nunca
se encontrassem, pois fatalmente continham incoerências.
Jamais devemos subestimar a capacidade de informação da Pre-
vidência. Toda e qualquer ocorrência existente na empresa, princi-
palmente CAT, é alimentada no sistema de dados para posterior es-
tatística. A empresa pode ser triada para fiscalização quando possuir
elevado índice de benefícios acidentários, de benefícios com tempo es-
pecial ou de benefícios previdenciários.
Aquelas empresas que no passado utilizaram o benefício da apo-
sentadoria especial para presentear graciosamente segurados que não
faziam jus a tal benefício, podem ter diversos dissabores. Por óbvio
que se tal situação ocorreu anteriormente à instituição da Lei nº 9.732/
98; não há qualquer recolhimento quanto ao SAT adicional. No en-
tanto, a emissão daqueles documentos será confrontada com a emis-
são atual e, vai ser difícil explicar à Previdência porque determinado
trabalhador teve direito à aposentadoria especial e outro que, ocupan-
do a mesma função, atualmente não terá o mesmo direito.

93
O enquadramento em aposentadoria especial deve ser realizado
com todo o rigor, uma vez que no futuro o setor de concessões de
benefícios da Previdência poderá conceder a aposentadoria especial,
mesmo que não tenha sido recolhido o SAT adicional, quando então
a empresa terá de recolher tal contribuição com juros, correção mone-
tária e multa. Ao contrário, se a empresa recolher a contribuição e, o
setor de benefícios negar a aposentadoria, ainda não há previsão para
devolução dos valores pagos.
Ademais, os enquadramentos realizados pela empresa devem
estar coerentes com as atividades nela desenvolvidas, inclusive com
o CNAE — Código Nacional de Atividade Econômica. Finalmente,
em hipótese alguma, a empresa deve permitir que o segurado apo-
sentado de forma especial retorne às mesmas atividades, podendo,
contudo laborar em atividades que não estejam sujeitas a quaisquer
agentes nocivos.

7 — SAT — SEGURO DE ACIDENTE DO TRABALHO


O objetivo da Segurança e Saúde no Trabalho, segundo a Orga-
nização Internacional do Trabalho — OIT, deve ser o de “promover e
manter um elevado grau de bem-estar físico, mental e social dos trabalhado-
res em todas as suas atividades, impedir qualquer dano causado pelas condi-
ções de trabalho e proteger contra os riscos resultantes da presença de agen-
tes prejudiciais à saúde ...” e é necessário que cada país desenvolva
uma política de estado de proteção da saúde dos trabalhadores me-
diante a prevenção dos riscos derivados de seu trabalho. A prática
dessa política deve contemplar uma intervenção integral por meio
de ações combinadas e inseparáveis de promoção, proteção, preven-
ção e recuperação da saúde do trabalhador. Para isto é necessário que
se tenha uma visão unitária de prevenção de riscos do trabalho e
uma política coerente, coordenada e eficaz na área de segurança e
saúde, garantindo a participação dos atores sociais envolvidos na sua
elaboração e implantação.
O SAT tem sua base constitucional estampada no inciso XXVIII
do artigo 7º, inciso I do artigo 195 e inciso I do artigo 201, todos da
Constituição de 1988, garantindo ao empregado um seguro contra
acidente do trabalho, às expensas do empregador, mediante paga-
mento de um adicional sobre a folha de salários, com administração
atribuída à Previdência Social.

94
A Lei nº 8.212/91 define as alíquotas do SAT, conforme uma pre-
determinada graduação de riscos. A legislação em referência estabe-
leceu o recolhimento com base em alíquotas fixadas em razão do grau
de risco da atividade preponderante do contribuinte. De 1%, para
risco leve, de 2%, para risco médio, e de 3% de risco grave. No entan-
to, não definiu o que seria risco leve, médio ou grave.
Tais lacunas foram preenchidas pelo Decreto nº 612/92 que deter-
minou o grau de risco de cada atividade e considerou preponderante a
atividade econômica que ocupa o maior número de empregados da
empresa. Aquele Decreto, que regulamentou a Lei nº 8.212/91 pres-
crevia como responsabilidade da empresa, o enquadramento de seus
estabelecimentos nos correspondentes graus de risco, segundo a ativi-
dade preponderante de cada um deles, ficando o Instituto Nacional do
Seguro Social — INSS com a faculdade de rever essa classificação.
Assim, de acordo com o Decreto nº 612/92, o contribuinte, com
vários estabelecimentos matriz e filiais, deveria buscar o enquadra-
mento, para efeito de recolhimento ao SAT. Cada estabelecimento da
mesma empresa poderia ser considerado de forma individualizada
e, portanto, classificado de forma diferenciada para efeitos de Seguro
Acidente do Trabalho — SAT, observada a natureza das atividades e
peculiaridades.
Ocorre que, a Lei nº 8.212/91 recebeu nova redação por força da
Medida Provisória nº 1.523-9/1997. A MP manteve as alíquotas ante-
riores e determinou que o recolhimento da Contribuição ao SAT seria
feito “... em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decor-
rente dos riscos de trabalho, conforme dispuser o regulamento ...”
O § 1º do artigo 26, com a entrada em vigor do Decreto nº 2.193/
97, foi alterado. Tal dispositivo, com a modificação, passou a consi-
derar como atividade preponderante aquela que, na empresa, ocupa
o maior número de segurados empregados, trabalhadores avulsos
ou médicos residentes. O SAT deveria ser recolhido pela graduação
de risco da empresa como um todo, não obstante a mesma possuir
diversos estabelecimentos, com diferentes atividades e, portanto, com
efetiva e real graduação de riscos não uniformes.
O Decreto nº 2.173/97, que aprovou o Regulamento de Custeio
da Seguridade Social, obriga as empresas pagarem a alíquota de 3%
(risco grave) sem que se leve em consideração o percentual de em-

95
pregados que realmente exercem funções de risco. É o caso, por exem-
plo, de empresas que têm escritórios onde está lotado o pessoal de
função eminentemente administrativa. Mesmo assim, pagam a alíquota
máxima. Fica instaurado o nivelamento por cima, elevando os custos
das empresas.
Assim, a partir desse último Decreto, deixou de existir a possibi-
lidade de enquadramento de cada estabelecimento com grau de risco
e taxa do Seguro Acidente do Trabalho compatíveis. Os estabeleci-
mentos ficaram obrigados a enquadrar-se de acordo com a atividade
preponderante da empresa como um todo. Logo, o enquadramento
passou a ser por empresa e não mais por estabelecimento. Além de
alterar a forma de enquadramento do Seguro Acidente do Trabalho,
o Decreto nº 2.173/97 trouxe, anexo, uma nova relação de atividades
preponderantes e correspondentes graus de risco, conforme a Classi-
ficação Nacional de Atividades Econômicas — CNAE. Essa nova re-
lação aumentou ou reduziu alguns graus de risco de determinadas
atividades econômicas, sendo certo afirmar que a aplicação desses
novos graus de risco vigoram a partir de julho de 1997.
Sucede que, como o dispositivo instituidor do SAT não estabele-
ceu o conceito de atividade preponderante, nem de risco de acidente
do trabalho leve, médio ou grave, elementos essenciais e necessários
para a cobrança da contribuição. Dessa forma, enquanto não houver
lei determinando a abrangência de aludidas expressões, em tese, não
é possível a exigência da Contribuição Social para o SAT.
A Contribuição Previdenciária para o Seguro Acidente Trabalho
— SAT, teve sua sistemática de recolhimento modificada pelo art. 22
da Lei nº 8.212/91, alterado posteriormente pela Lei nº 9.732/98, que
assim dispõe:

A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social,


além do disposto no artigo 23, é de:
I — ...
II — para o financiamento do benefício previsto nos artigos 57 e
58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em
razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos
riscos ambientais do trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou
creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalha-
dores avulsos:

96
a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade prepon-
derante o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve;

b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade pre-


ponderante esse risco seja considerado médio;

c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade prepon-


derante esse risco seja considerado grave.

§ 3º O Ministério do Trabalho e da Previdência Social poderá


alterar, com base nas estatísticas de acidente do trabalho, apuradas em
inspeção, o enquadramento de empresas para efeito da contribuição a
que se refere o inciso II deste artigo, a fim de estimular investimentos
em prevenção de acidentes.

Foi editado, posteriormente, o Decreto nº 2.173, de 5 de março


de 1997, regulamentando a Lei nº 8.212/91 e alterando o conceito de
atividade preponderante, ao determinar que:

A contribuição da empresa, destinada ao financiamento dos bene-


fícios concedidos em razão de maior incidência de incapacidade labora-
tiva decorrentes de riscos ambientais do trabalho corresponde à aplica-
ção dos seguintes percentuais, incidentes sobre o total da remuneração
paga ou creditada a qualquer título, no decorrer do mês, aos segurados
empregados, trabalhadores avulsos e médicos residentes:

I — um por cento para a empresa em cuja atividade preponderan-


te o risco de acidente do trabalho seja considerado leve;

II — dois por cento para a empresa em cuja atividade preponderan-


te o risco de acidente do trabalho seja considerado médio;

III — três por cento para a empresa em cuja atividade preponde-


rante o risco de acidente de trabalho seja considerado grave.

§ 1º Considera-se preponderante a atividade que ocupa na empre-


sa, o maior número de segurados empregados, trabalhadores avulsos e
médicos residentes.

...

97
§ 3º O enquadramento no correspondente grau de risco é de res-
ponsabilidade da empresa, observada a sua atividade econômica preponde-
rante e será feito mensalmente, cabendo ao Instituto Nacional do Seguro
Social — INSS rever o auto-enquadramento em qualquer tempo.
§ 4º Verificado erro no auto-enquadramento, o Instituto Nacional
do Seguro Social — INSS adotará as medidas necessárias à sua corre-
ção, orientando o responsável pela empresa em caso de recolhimento
indevido e procedendo à notificação de valores devidos.

Desta forma, as empresas estão buscando na Justiça a suspen-


são da exigibilidade do Seguro de Acidente de Trabalho — SAT, pois
alegam ser a cobrança do SAT inconstitucional, à medida que afronta
o princípio da legalidade, pois a Lei que cuidou de instituir a referida
contribuição, não delimitou a sua hipótese de incidência.
A Constituição Federal ao instituir a contribuição não conceituou
como seriam os critérios para seu cálculo e incidência, ou seja, o que
é atividade preponderante e os graus de risco leve, médio e grave.
Tais conceitos foram regulamentados por ato do Poder Executivo. No
entanto, por determinação expressa da Constituição Federal somente
o Congresso Nacional tem competência para legislar sobre sistema
tributário, arrecadação e distribuição de rendas.
A Constituição Federal de 1988 revogou expressamente todos os
dispositivos legais que atribuíam ou delegavam a órgão do Poder
Executivo competência atribuída pela Constituição exclusivamente
ao Congresso Nacional. Assim, o Executivo não tinha competência
para regulamentar a contribuição relativa ao SAT, em conseqüência,
sua exigência não possui amparo legal, sendo cabível o pedido de
restituição ou compensação em processo judicial.
Insatisfeito o governo com a carga tributária imposta às empre-
sas, a partir da Lei nº 9.732/98, as que mantiverem trabalhadores em
condições de exposição a agentes nocivos, futuros candidatos à apo-
sentadoria especial, passarão a contribuir com esta aposentadoria,
mediante majoração do SAT, em até 12% conforme a atividade.
A majoração na alíquota da contribuição foi escalonada em au-
mento de 12, 9 ou 6%, conforme a atividade exercida pelo segurado
permita a concessão da aposentadoria especial após 15, 20 ou 25 anos

98
de contribuição, respectivamente. Na prática, as empresas terão um
impacto de 6% a mais em suas folhas de pagamento, o que, supõe-se,
fará com que estas invistam na melhoria de suas condições ambien-
tais, eliminando ou reduzindo fatores que conduzam à aposentado-
ria especial.
A fiscalização do recolhimento de tais contribuições será feita atra-
vés da GFIP — Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previ-
dência Social, assinalando-se no campo 33 — Ocorrências, os seguintes
códigos, para os trabalhadores com apenas um vínculo empregatício:
(em branco) — sem exposição a agente nocivo. Trabalhador nunca
esteve exposto.

01 — Não exposição a agente nocivo. Trabalhador já esteve exposto.


02 — exposição a agente nocivo que ensejará aposentadoria aos 15
anos de trabalho;
03 — exposição a agente nocivo que ensejará aposentadoria aos 20
anos de trabalho;
04 — exposição a agente nocivo que ensejará aposentadoria aos 25
anos de trabalho.
Para trabalhador com mais de um vínculo empregatício, os
códigos são:
05 — não exposição a agente nocivo;
06 — exposição a agente nocivo que ensejará aposentadoria aos
15 anos de trabalho;
07 — exposição a agente nocivo que ensejará aposentadoria aos 20
anos de trabalho;
08 — exposição a agente nocivo que ensejará aposentadoria aos 25
anos de trabalho.

A GFIP passa, assim, a ter caráter jurídico declaratório e “natu-


reza de confissão de dívida” e deve estar em conformidade com o
LTCAT ou DIRBEN-8030, a serem fornecidos aos empregados para
que possam requerer a Aposentadoria Especial. A guia mensal GFIP
apresentada com dados incorretos acarreta multa conforme previsto
no Decreto nº 2.803/98 e a informação falsa, ou diversa da que deve-
ria ser escrita, tipifica crime de falsidade ideológica (artigo 299 do
Código Penal — Pena de Reclusão de 1 a 5 anos).

99
É interessante ressaltar que não consta na legislação qualquer
forma de reembolso para aquelas empresas que tenham contribuído
com alíquota majorada e, posteriormente, implementem as medidas
de controle.

REDUÇÃO DO SAT PELA RESOLUÇÃO Nº 1.236


DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

É um tanto paradoxal argumentar a respeito da redução da car-


ga tributária no Brasil, principalmente quando a tendência, infeliz-
mente, é a criação de impostos, um após outro.
A notável questão é que a tributação do SAT com base na ativi-
dade é injusta, pois nivela todas as empresas segundo suas ativida-
des preponderantes e correspondentes graus de risco, conforme a
Classificação Nacional de Atividades Econômicas — CNAE (notar
que essa classificação não tem qualquer relação com aquela utilizada
pela legislação de segurança e saúde no trabalho — NR’s 4 e 5 do
Ministério do Trabalho e Emprego).
O SAT, além de injusto em virtude deste nivelamento, não esti-
mula as empresas a investirem em segurança, pois a alíquota depen-
de apenas do setor de atividade e não da sinistralidade. Na prática,
algumas empresas já vinham obtendo a redução do SAT de forma
judicial, ingressando na Justiça Federal contra a autarquia, quando,
então, seria deferida perícia técnica para avaliar se a empresa faria
jus, ou não, à redução da alíquota.
Nos termos do artigo 10 da Lei nº 10.666, de 08.05.2003 (antiga MP
nº 83, de 12.12.2002), a alíquota de contribuição de um, dois ou três por
cento, destinada ao financiamento do benefício de aposentadoria espe-
cial ou daqueles concedidos em razão do grau de incidência de incapa-
cidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, poderá
ser reduzida, em até cinqüenta por cento, ou aumentada, em até cem
por cento, conforme dispuser o regulamento, em razão do desempe-
nho da empresa em relação à respectiva atividade econômica, apurado
em conformidade com os resultados obtidos a partir dos índices de
freqüência, gravidade e custo, calculados segundo metodologia apro-
vada pelo Conselho Nacional de Previdência Social.

100
Através da Resolução nº 1.236, de 28.04.2004, o Conselho Nacional
de Previdência Social aprovou a Metodologia para Avaliação e Controle
dos Acidentes de Trabalho. Foram definidos três indicadores:

• Índice de freqüência: dimensão probabilística do acidente, equi-


valente ao números de eventos previdenciários, em determi-
nado tempo.
• Índice de gravidade: dimensão social do acidente, equivalente
à idade do benefício.
• Índice de custo: dimensão monetária do acidente, equivalente
ao desembolso previdenciário, expresso em R$ (reais), pago ao
trabalhador ou dependente pelo INSS.

Foi instituído o FAP — Fator Acidentário Previdenciário, que va-


ria de 0,5 a 2,0. A CAT foi descartada como base de dados; o Código
Internacional de Doença — CID foi instituído como novo parâmetro,
eis que é:

• imune à sonegação;
• não declaratório;
• independe do desejo/poder do empregador;
• intrinsecamente relacionado à incapacidade laboral.

O FAP é determinado utilizando-se das seguintes fontes de dados:

• Cadastro Nacional de Informações Sociais — CNIS das empresas;


• Sistema Único de Benefício — SUB;
• Cadastro Nacional de Informações Sociais — CNIS do trabalhador.

Foram utilizados como referência, para o cálculo do primeiro FAP,


os dados no período de 1998 a 2002.

8 — AÇÃO REGRESSIVA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL


O descumprimento das normas de segurança e higiene do trabalho
pelas empresas constitui contravenção penal, punível com multa. Nos
casos de negligência na aplicação das normas-padrão de segurança e
higiene do trabalho indicadas para a proteção individual e coletiva, a
Previdência Social proporá ação regressiva contra os responsáveis.

101
As Leis nos 8.212 e 8.213, de 24.07.1991 que estabelecem a res-
ponsabilidade civil do empregador pelo acidente do trabalho e a co-
responsabilidade dos diretores, sócios, gerentes e administradores por
crimes contra a Previdência Social, também autoriza esta promover
ação regressiva contra a empresa ou terceiros causadores do acidente
do trabalho, garantindo a estabilidade de emprego ao acidentado por
12 meses após a cessação do auxílio-doença da Previdência Social.
As Ações Regressivas do INSS contra o empregador estão ampa-
radas legalmente pelos artigos 120 e 121 da Lei de Benefícios da Pre-
vidência Social (Lei nº 8.213/91) permitindo ao INSS ser ressarcido,
caso o dano ocorra pela omissão ao cumprimento dos dispositivos
legais de segurança e higiene ocupacional.

Art. 120. Nos casos de negligência quanto às normas padrão de


segurança e higiene do trabalho indicadas para proteção individual e
coletiva, a Previdência Social proporá ação regressiva contra os res-
ponsáveis.
Art. 121. O pagamento, pela Previdência Social, das prestações
por acidente de trabalho não exclui a responsabilidade civil da empresa
ou de outrem.

No entanto, ainda que a Lei tenha previsto a ação regressiva para


cobrar dos empregadores os benefícios pagos ao segurado ao devido
infortúnio por culpa daquele, a Previdência sempre mostrou-se muito
tímida a respeito, suportando isoladamente tal ônus, prejudicando todo
o universo de segurados, bem como as finanças da autarquia.
Um aspecto relevante e ainda pouco exercitado é a viabilidade
do INSS, em ação regressiva, voltar-se contra o empregador para o
ressarcimento das verbas despendidas em favor do acidentado (salá-
rios, assistência médica e reabilitação profissional), quando presente
o dolo ou a culpa da empresa no acidente.
Reparo deve ser feito quanto à menção única da negligência,
quanto à modalidade de culpa, tendo sido omitidas a imperícia e im-
prudência, bem como o dolo.
Ademais, ainda que se admita inexistência, até a vigência da Lei
nº 8.213/91, de dispositivo legal específico, a via regressiva, para que
a Previdência cobre dos empregadores a indenização paga ao empre-
gado por infortúnio devido por culpa daquela, devemos inolvidar as
regras do direito civil — artigos 927 e 932 do Código Civil.

102
Também enseja ação regressiva da Previdência Social contra as
empresas que, mesmo sendo notificadas para não recolocar o segura-
do em função incompatível, agravam a situação de saúde do traba-
lhador, nos termos do artigo 341 do Decreto nº 3.048/99.
Adicionalmente, o descumprimento das normas de segurança e
higiene do trabalho, nos termos do artigo 186 da IN nº 99 obriga o
médico perito a oficiar ao Ministério Público do Trabalho, enviando
cópia do PPP e LTCAT; isto posto, fica claro que o descumprimento
das normas de segurança e medicina do trabalho não geram reflexos
somente a nível previdenciário, mas também trabalhista.

9 — AÇÃO CIVIL PÚBLICA TRABALHISTA


A ação civil pública trabalhista, devido à falta de previsão legal
na CLT, é regida pela Lei nº 7.347/85, pelo CDC e pelo CPC, nos
termos do artigo 769 da CLT. O inquérito civil é conseqüência da Lei
nº 7.347/85, inspirado no inquérito policial, é mecanismo investiga-
tório a fim de obter informações para iniciativa de atuação do Minis-
tério Público.
A CF através do artigo 129, III consagra que são funções do Mi-
nistério Público promover o inquérito civil e a ação civil pública, para
a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de
outros interesses difusos e coletivos.
A Lei Complementar nº 75/93, através do artigo 84, II atribui ao
Ministério Público a função de instaurar inquérito e outros procedi-
mentos administrativos, sempre que cabíveis para assegurar a obser-
vância dos direitos sociais dos trabalhadores.
O inquérito civil é procedimento administrativo (e não processo
administrativo ou judicial), informal, privativo do Ministério Público,
provocado por denúncia, destinado a coletar provas para ajuizar a ação
civil pública ou outra qualquer ação. Não cabe no inquérito civil o de-
vido processo legal, inclusive a observância ao contraditório, eis que
tal condição aplica-se tão-somente ao processo judicial ou administra-
tivo. No entanto, visando-se coibir abusos do Ministério Público, o in-
quérito civil submete-se ao controle de legalidade do Judiciário. Este
controle dá-se por meio do habeas corpus ou mandado de segurança.
Como já dito, no inquérito civil buscam-se elementos para ajui-
zar a ação civil pública ou outra ação coletiva qualquer, que inclusive

103
não são privativas do Ministério Público. Eventualmente, o inquérito
civil pode desencadear o ajustamento de conduta do inquirido. O
Termo de Ajustamento de Conduta, sem dúvida alguma, é o ventu-
roso resultado do inquérito civil, eis que imediatamente é obtida a
tutela jurisdicional que seria oferecida pelo Judiciário.
É comum a apresentação de denúncias ao Ministério Público por
juízes do trabalho e auditores fiscais do trabalho de atos que lesem
os direitos trabalhistas por empresas que estão sendo processadas ou
fiscalizadas. A instauração do inquérito é feita por representação de
qualquer pessoa, que indicará os elementos de convicção, tendo o
Ministério Público o dever de agir.
O Ministério Público possui, na fase de instrução do inquérito
civil, uma poderosa arma: o artigo 10 da Lei nº 7.347/85 que prescre-
ve como crime, com pena de 1 a 3 anos, além de multa de 10 a 1.000
ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados indispensá-
veis à propositura da ação civil. Adicionalmente, o Ministério Públi-
co pode requerer a condução coercitiva de depoentes, mediante força
policial.
A conclusão do inquérito civil pode ser de três formas:

• ajustamento de conduta, quando o inquirido se compromete a


cumprir a lei infringida;
• ajuizamento da ação civil, se o inquirido não assinar o termo
de ajustamento de conduta e o Ministério Público está convic-
to do descumprimento da lei;
• arquivamento, por ausência de provas, legalidade do ato ou
por perda de objeto.

O Ministério Público, no inquérito civil ou em qualquer outro


procedimento investigatório prévio, pode tomar do inquirido com-
promisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, median-
te cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.
O compromisso de ajustamento de conduta é regulado pelo § 6º do
artigo 5º da Lei nº 7.347/85. Este instrumento confere maior agili-
dade e efetividade nas relações jurídicas, particularmente aos direitos
e interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos.

104
No Termo de Ajustamento de Conduta, o inquirido comprome-
te-se a dar, fazer ou deixar de fazer alguma coisa com respeito à or-
dem jurídica vigente, mediante cominação de multa estipulada pelo
Ministério Público ou outros legitimados.
A ação civil pública tem por objetivo proteger os direitos e inte-
resses metaindividuais — difusos, coletivos e individuais homogêne-
os — de ameaças e lesões, tendo por objeto a condenação em dinheiro
ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.
Assim, o Ministério Público, na defesa dos direitos difusos e co-
letivos, com vistas a evitar o dano, antecipa-se ao Judiciário, adequan-
do a conduta dos infratores à lei, evitando, dessa forma, o litígio. A
força de título executivo extrajudicial atribuído ao TAC, reduz sensi-
velmente a duração e o ônus da demanda.
O alto valor da cominação fixada no TAC visa desencorajar o
descumprimento da legislação; no entanto, não substitui a obrigação
principal que é adequação de conduta. Os legitimados não podem
dispor ou aceitar redução, em qualquer hipótese, dos valores fixados
no TAC, visto que são indisponíveis. O valor das astreintes são rever-
tidos ao FAT.
Eventualmente, por meio de liminar, pode-se obter a interdição
de obras, local de trabalho ou mesmo da empresa, quando ausentes
requisitos mínimos de segurança do trabalho.

10 — RESPONSABILIDADE PENAL
Ao contrário da responsabilidade civil que é satisfeita por inde-
nização financeira, na responsabilidade penal está implícita a pena,
inclusive restritiva de liberdade. A responsabilidade civil é restrita à
pessoa jurídica; a responsabilidade penal alcança a pessoa física dos
sócios, diretores e seus prepostos, cuja pena encontra-se no artigo
132 do Código Penal, in verbis:

Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto ou iminente —


Pena: detenção de três meses a um ano se o fato não constitui crime
mais grave.

Cogita-se, nos dias de hoje, também, na responsabilidade penal


da pessoa jurídica, particularmente dos crimes contra o meio ambiente,

105
cuja pena, obviamente, não é de restrição de liberdade, mas sim de
natureza pecuniária. Desnecessário complementar que, a condena-
ção criminal gera o reconhecimento da responsabilidade civil, já que
a sentença penal condenatória é título executivo no civil.

CRIMES CONTRA A PREVIDÊNCIA SOCIAL

Da apropriação indébita previdenciária

Em 14 de julho de 2000 foi publicada a Lei nº 9.983 que, revogan-


do expressamente o artigo 95 da Lei nº 8.212/91, altera o Código Pe-
nal ao acrescentar no capítulo que trata da apropriação indébita, dis-
posição relativa ao não recolhimento das contribuições previdenciá-
rias ou apropriação indébita previdenciária.
Apropriação Indébita Previdenciária — Lei nº 9.983/00 que alte-
ra o Decreto-Lei nº 2.848/40

Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas


dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:
Pena — reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Ao contrário do furto ou do estelionato, na apropriação indébita


inexiste subtração ou fraude. O agente tem a anterior posse da coisa
alheia, que foi confiada pelo ofendido, mas inverte a posse, isto é,
passa a agir como se fosse ele dono da coisa.

Sonegação de Contribuição à Previdência

O Código Penal, desde sua origem, disciplina a subtração ou a


inutilização de livro ou documento. Nos termos do Decreto-Lei nº
65/37, o empregador que retiver as contribuições recolhidas de seus
empregados e não as recolher na época própria incorrerá nas penas
do artigo 331, nº 2 da Consolidação das Leis Penais, sem prejuízo das
demais sanções estabelecidas neste decreto-lei.
O artigo 337, que tipifica a sonegação de contribuição previden-
ciária, além do caput, é completado por três incisos:

Subtrair ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer


acessório, mediante as seguintes condutas:

106
I — omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de
informações previsto pela legislação previdenciária segurados empre-
gado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo, ou a
este equiparado que lhe prestem serviços;
II — deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da conta-
bilidade da empresa as quantias descontadas dos segurados ou as devi-
das pelo empregador ou pelo tomador de serviços;
III — omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos,
remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contri-
buições sociais previdenciárias:
Pena — reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa.

CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE

A Lei nº 9.605/98, que dispõe sobre as sanções penais e adminis-


trativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente,
incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade,
bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de
órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pes-
soa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar
de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.
As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, ci-
vil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a
infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou con-
tratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de sua
entidade. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das
pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.
As penas restritivas de direito da pessoa jurídica são:
I — suspensão parcial ou total de atividades;
II — interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade;
III — proibição de contratar com o Poder Público, bem como
dele obter subsídios, subvenções ou doações.
No caso de pessoa jurídica, o crime comumente encontrado é o
da Poluição, previsto nos artigos 54, 55 e 56 da citada lei:

107
Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que
resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provo-
quem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora:
Pena — reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º — Se o crime é culposo:
Pena — detenção, de seis meses a um ano, e multa.
§ 2º — Se o crime:
I — tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação
humana;
II — causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda
que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause da-
nos diretos à saúde da população.
III — causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção
do abastecimento público de água de uma comunidade;
IV — dificultar ou impedir o uso público das praias;
V — ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou ga-
sosos. ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as
exigências estabelecidas em leis ou regulamentos:
Pena — reclusão, de um a cinco anos.
§ 3º — Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior
quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competen-
te, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou
irreversível.
Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos mine-
rais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou
em desacordo com a obtida:
Pena — detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem deixa de recu-
perar a área pesquisada ou explorada, nos termos da autorização, per-
missão, licença, concessão ou determinação do órgão competente.
Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar,
comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depó-

108
sito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde
humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabele-
cidas em leis ou nos seus regulamentos:
Pena — reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º — Nas mesmas penas incorre quem abandona os produtos ou
substâncias referidos no caput, ou os utiliza em desacordo com as nor-
mas de segurança.
§ 2º — Se o produto ou a substância for nuclear ou radioativa, a
pena é aumentada de um sexto a um terço.
§ 3º — Se o crime é culposo:
Pena — detenção, de seis meses a um ano, e multa.

109
Documentos legais
— você não deve produzir
provas contra si mesmo

PRINCIPAIS DOCUMENTOS EM
SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO
Tratando-se de documentos em segurança e medicina do traba-
lho, é o excesso e não a falta de informações que pode custar caro à
empresa. As informações devem ser corretas, verdadeiras e na medi-
da exata da necessidade para o fim a que se destina (Pereira, s/d.).
A maioria dos documentos em segurança e saúde do trabalha-
dor começou a ser emitida na década de 90, particularmente com a
instituição do PPRA e PCMSO pelo Ministério do Trabalho e Empre-
go. Anteriormente, sobretudo as grandes empresas já possuíam pro-
gramas similares, implantados por conservadorismo ou por imposi-
ção de suas matrizes no exterior.
Infelizmente ainda são recentes em nosso país os registros de segu-
rança e saúde do trabalhador das empresas, impossibilitando montar-se
um panorama estatístico, inclusive para a tomada de decisão no futuro.
Manter tal registro é imperativo também sob o ponto de vista legal nas
demandas de indenização por acidente ou doença do trabalho. No entan-
to, pior que não ter uma prova, é possuir uma prova contrária aos
próprios interesses. É o que de fato vem ocorrendo na área de segu-
rança e saúde do trabalhador. A formação acadêmica dos profissionais
não contempla outro enfoque senão a intransigente condenação da
empresa, por conta de uma falsa proteção da saúde do trabalhador.

111
Esta postura equivocada tem encontrado vários adversários den-
tro da empresa, mesmo porque, todas as outras áreas preocupam-se
em proteger o patrimônio da corporação, passando então a existir
um conflito de interesses inconciliável.
Os setores de uma organização, via de regra, primam por prote-
ger os interesses próprios, em detrimento dos interesses de terceiros.
A principal área incumbida de proteger a empresa é a jurídica, cujo
enfoque é defender seu cliente sem qualquer constrangimento, atitu-
de que nasce nos profissionais já nos bancos da graduação. O mesmo
acontece, invariavelmente, com outros setores, tais como Comercial,
Marketing, Suprimentos, Logística etc.
Mesmo sabendo que para cada agente insalubre ou nocivo há
uma forma de neutralização, seja pelos equipamentos de proteção
individual, seja por medidas administrativas (no caso do calor), a maio-
ria dos documentos em segurança e saúde do trabalhador somente
contempla a existência do agente, fatalmente com intensidade ou con-
centração acima dos limites de tolerância, constituindo-se em prova
contra a empresa, sem a correspondente neutralização, quando en-
tão a prova seria desfavorável.
Ocorre que na maioria dos casos, como acontece em outros ra-
mos do conhecimento, a orientação política acaba por interferir na
ciência, distorcendo seu resultado, tornando suas opiniões extrema-
mente tendenciosas, fazendo imperar o maniqueísmo, que acredita
serem inconciliáveis os interesses do trabalhador e do empregador.
Como se já não bastasse que tal postura reine no governo, atra-
vés da fiscalização, da Justiça, do Ministério Público e sindicatos, não
pode a empresa tolerar a síndrome do “dormindo com o inimigo”,
permitindo que seus próprios colaboradores assumam esta mesma
posição.
Ao elaborar documentos deve ser seguida à risca uma regra: in-
serir somente os dados necessários e nem uma palavra a mais! Diz o
adágio popular: quem fala demais, dá bom-dia a cavalo. Assim, os
dados devem ser colocados na medida certa. Um bom exemplo é a
elaboração do PPRA onde os profissionais ainda insistem em fazer
menção aos riscos ergonômicos e mecânicos, ainda que a legislação
somente contemple os riscos físicos, químicos e biológicos. Ocorre
que, ao lançar no PPRA os riscos ergonômicos, a profissional está

112
abrindo a guarda para a fiscalização em determinado momento re-
querer a análise ergonômica, ainda que a falta de tal documento não
seja apenada por multa em nossa legislação.
A elaboração ou preenchimento de qualquer documento em se-
gurança e saúde do trabalhador deve sofrer o crivo jurídico, com fi-
nalidade de analisar o conteúdo do papel, sob pena deste tornar-se
uma prova contra a própria empresa que o emitiu.
Diz o adágio: o papel aceita tudo o que nele se escreve. Assim, um
documento deve ser elaborado tendo por princípio escrever somente
o necessário e, nem uma palavra a mais. O português deve ser per-
feito, a fim de que o que foi escrito, reflita exatamente aquilo que foi
pensado. Infelizmente, é vício entre os profissionais que redigem,
não lerem seus próprios escritos, deixando para que outros apreciem
seus erros. Só escreve bem, quem lê o que os outros escrevem; só
escreve muito bem, quem lê aquilo que escreve.
Não se faz necessário escrever inverdades para sonegar uma pro-
va desfavorável, aprenda apenas a escrever informações que são con-
venientes, ou seja, ressalte apenas os pontos que são interessantes. A
semântica é uma forte aliada para produzir documentos eficazes.
A elaboração dos documentos em segurança e saúde no trabalho
deve seguir metodologia prevista na legislação, primando para que,
mesmo sendo uma peça técnica, não deixe de ser clara. O tecnicismo
não deve ser excessivo a ponto de impedir que o seu destinatário
compreenda seu conteúdo, nem tampouco, carregado no juridiquês,
empobrecendo o conteúdo técnico.
O conteúdo deve ser preciso, devendo-se, por todos os meios,
evitar expressões dúbias ou que possam originar ambigüidade, que
se tornam presa fácil para os questionamentos. Devem ser evitadas
expressões do tipo: mais ou menos, eu acho, creio que ... as quais
devem ser substituídas por: aproximadamente, temos convicção, acre-
dito que ... O documento deve possuir coerência e clareza entre os
parágrafos; o primeiro parágrafo e os seguintes devem seguir a se-
qüência lógica do raciocínio, isto é, um parágrafo deve continuar ri-
gorosamente a idéia do outro. Se a redação do documento for leve,
exata e direta, superará qualquer recurso virtual; porém, é importan-
te lembrar que parágrafos bem definidos, letra/fonte legíveis e a di-
visão em tópicos favorecem bastante.

113
Dispensável enfatizar que os documentos não devem trazer opi-
niões subjetivas, mas somente fatos verificáveis e com consistência téc-
nica, não ferindo, assim, a imparcialidade do seu executante. A reda-
ção dos documentos deve ser sempre em tom de impessoalidade.

CAT — COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE DO TRABALHO


Sempre que ocorrer acidente do trabalho ou doença ocupacio-
nal, havendo ou não afastamento do empregado, a empresa é obriga-
da a comunicá-la à Previdência Social, emitindo a Comunicação do
Acidente do Trabalho (CAT), até o primeiro dia útil seguinte ao da
ocorrência e, em caso de morte, de imediato, à autoridade competen-
te, sob pena de multa.
De posse da CAT, o segurado deverá se dirigir ao serviço de
saúde mais próximo do local de trabalho ou do acidente ou da resi-
dência, que prestará o primeiro atendimento, fará o diagnóstico e
preencherá o Laudo do Exame Médico (LEM) no verso da CAT.
A obrigatoriedade de emissão de CAT, uma vez constatada doen-
ça, é oriunda do artigo 336 do Decreto nº 3.048/99. A responsabilidade
de emissão da CAT é da empresa empregadora, nos termos do artigo
22 da Lei nº 8.213/91. Geralmente a emissão da CAT é feita pela em-
presa, porém, lembramos que, na falta de comunicação por parte do
empregador, qualquer pessoa pode emiti-la: o próprio acidentado, seus
dependentes, seu sindicato, seu médico assistente etc., não prevale-
cendo, nesses casos, os prazos legais (isto é, podendo a CAT ser emiti-
da em qualquer tempo sem nenhum prejuízo para o acidentado).
Recomendamos, todavia, que não se deve emitir CAT quando
constatada doença em empregado que está sendo admitido, vez que
a CAT deve estar vinculada ao acidente ou doença que tenha aconte-
cido na empresa. Assim, para qualquer acidente ou doença que te-
nha ocorrido em outra empresa descabe a emissão da CAT pela em-
presa que está admitindo o trabalhador. Ademais a CAT necessita
ser justificada pela comprovação de nexo causal. Uma vez que o aci-
dente ou doença não ocorreu na empresa que está contratando, não
há como se estabelecer nexo causal.
Nos termos do artigo 19 da Lei nº 8.213/91:

Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a


serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados ...

114
O que vem ratificar nosso entendimento de que a empresa que
está admitindo o empregado não é responsável pelo acidente ou do-
ença ocorrida anteriormente, tampouco pela emissão da correspon-
dente CAT.
Interessante ressaltar que, nos casos de perda auditiva, o
audiograma somente constata tal perda; no entanto, a classificação
como ocupacional ou não, implica no estabelecimento de nexo causal
entre a doença e o agente causador.
A legislação aplicável somente determina a emissão de CAT para
doenças ocupacionais, a exemplo da alínea a do item 7.4.8 da NR-7, a
alínea IV do artigo 3º da Resolução nº 1.488 do CFM e a Ordem de
Serviço nº 621 do INSS.
Quanto ao acidente de trajeto, nos termos do item 3.41 da OS nº
154 do INSS, de 1º.09.1992, havendo tal acidente, a responsabilidade
pela emissão da CAT é do sindicato da categoria, vez que o emprega-
dor não possui elementos para emiti-la. A empresa será notificada
pelo INSS sobre a emissão daquela CAT, inclusive para efeitos de
estabilidade no emprego por 12 meses oriunda do artigo 118 da Lei nº
8.213/91.
É oportuno alertar o médico assistente quanto ao preenchimen-
to da CAT: atenção à declaração do paciente quanto ao fato de haver
sofrido um acidente de trabalho típico, pois é necessário que o médi-
co esteja convencido de que houve realmente um acidente de traba-
lho, sob pena de subscritar documento que não corresponda à verda-
de, podendo ser enquadrado em crime de falsidade ideológica.
As empresas devem estar atentas à simulação de acidente de
trajeto pelo empregado, especialmente quando da demissão do tra-
balhador, criando provas do exato momento da comunicação do des-
ligamento. Desnecessário informar que o empregado demitido, ao
ser vítima de acidente de trabalho, pode requerer judicialmente tute-
la antecipada para sua reintegração no emprego.
A CAT de reabertura é aquela emitida quando o segurado goza-
va do benefício Auxílio-Doença Acidentário, retornou ao trabalho e,
novamente foi afastado pela mesma causa, com agravamento.
No caso das doenças ocupacionais é impossível precisar a data
de início da doença, para fins de emissão de CAT. Nos termos do
artigo 23 da Lei nº 8.213/91 considera-se como dia do acidente a data

115
de início da incapacidade laborativa, ou o dia da segregação compul-
sória, ou o dia em que for diagnosticada a doença, valendo a data que
ocorrer primeiro. Ressalte-se que, inexistindo diagnóstico formal ou
incapacidade laborativa, a CAT não necessita ser emitida, eis que au-
sentes os pressupostos básicos exigidos pela lei para emiti-la.
A empresa não deve intimidar-se por pressões dos trabalhado-
res, sindicatos ou fiscais do trabalho para a emissão da CAT quando
não se dispuser de diagnóstico firmado ou inexistir incapacidade la-
borativa. A CAT é documento previdenciário, não cabendo sua fisca-
lização pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Segundo o artigo 22 da Lei nº 8.213/91, todo acidente do traba-
lho ou doença profissional deverá ser comunicado pela empresa ao
INSS, sob pena de multa em caso de omissão. Da mesma forma, nos
termos do item 1.9 do Manual de Instruções para Preenchimento da
Comunicação de Acidente do Trabalho — CAT, contida na Ordem de
Serviço INSS/DSS nº 621/99, também é obrigatória a emissão de CAT
relativa ao acidente ou doença profissional ou do trabalho ocorrido
com aposentado por tempo de serviço ou idade, que esteja traba-
lhando, ainda que não tenha direito a benefícios pelo INSS em razão
do acidente, exceto a reabilitação profissional.
Na falta de comunicação pela empresa, poderão formalizá-la o
próprio acidentado, seus dependentes, o sindicato da categoria,
o médico que o assistiu ou qualquer autoridade pública, quais se-
jam, os magistrados em geral, os membros do Ministério Público e
dos Serviços Jurídicos da União e dos Estados, os comandantes de
unidades militares do Exército, Marinha, Aeronáutica e Forças Auxi-
liares (Corpo de Bombeiros e Polícia Militar).
Todos os casos com diagnóstico firmado de doença profissional
ou do trabalho deverão ser objeto de emissão de CAT, que deve ser
emitida após a conclusão do diagnóstico.
É importante ressaltar, finalmente, que a CAT deve ser emitida
ainda que não haja afastamento ou incapacidade.

ORDEM DE SERVIÇO

A Ordem de Serviço é o instrumento através do qual o emprega-


dor passa ao empregado conhecimento sobre segurança relativo aos

116
possíveis riscos que possam existir na realização de determinadas
tarefas. Traduz-se numa poderosa ferramenta para a empresa, ser-
vindo como prova documental das ações em segurança e saúde no
trabalho.
Diga-se de passagem, que a OS deve estar acompanhada de trei-
namento, ainda que de pequena duração.
De uma forma geral a OS é dividida em duas seções. A primeira
parte cuida de enunciar os riscos comuns a qualquer atividade e a
segunda dedica-se aos riscos específicos da função. Não existe um
modelo de OS, que deve ser elaborada de forma personalizada e in-
dividualizada para cada empresa.
A necessidade de ministrar corretamente as instruções relativas
ao trabalho a todos os empregados, como prova documental, visando
a prevenção dos acidentes do trabalho, está contida na Lei nº 6.514/
77, que alterou o Capítulo V Título II da CLT, relativo à Segurança e
Medicina do Trabalho. Tal dispositivo prevê em seu artigo 157, inciso
II que:

Cabe às empresas:
II — instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto
às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes de trabalho ou
doenças profissionais.

A Portaria nº 3.214/78, através da NR-1, letra “b”, do subitem


1.7, estabelece que:

Cabe ao empregador:
Elaborar ordens de serviço sobre segurança e medicina do trabalho,
dando ciência aos empregados, com os seguintes objetivos:
1 — Prevenir atos inseguros no desempenho do trabalho;
2 — Divulgar as obrigações e proibições que os empregados devam
conhecer e cumprir;
3 — Dar conhecimento aos empregados de que serão passíveis de
punição, pelo descumprimento das ordens de serviço expedidas;
4 — Determinar os procedimentos que deverão ser adotados em
caso de acidentes do trabalho e doenças profissionais ou de trabalho;

117
5 — Adotar medidas determinadas pelo Ministério do Trabalho;
6 — Adotar medidas para eliminar ou neutralizar a insalubrida-
de, e as condições inseguras de trabalho.

Isto posto, sugerimos a elaboração de ordens de serviços, com


base no texto das seguintes NR’s, em virtude de suas peculiaridades,
cuja lista, não exaustiva, é dada abaixo:
NR-6 — Equipamento de Proteção Individual
a) Critério para se selecionar o EPI adequado;
b) Itens de uma campanha de segurança para introdução de EPI
novo;
NR-8 — Edificações:
a) Características mínimas dos pisos destinados a oficinas mecâ-
nicas;
b) Especificações mínimas para guarda-corpos e corrimãos.
NR-11 — Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio
de Materiais.
a) Norma para abrigo de cilindros de gases inflamáveis;
b) Credenciamento para operadores de empilhadeiras;
c) Armazenamento de tambores de inflamáveis.
NR-12 — Máquinas e Equipamentos:
a) Norma para operação com rebolos de esmeril;
b) Medidas de segurança para proteção de lâminas de serras de
fita;
c) Critérios para localização de máquinas e motores com objetivo
de minimização do ruído.
NR-23 — Proteção contra Incêndios:
a) Norma para formação de brigada de combate a incêndio;
b) Norma para realização de testes em chuveiros automáticos;
c) Norma para treinamento de abandono de local de trabalho.
NR-25 — Resíduos Industriais:
a) Norma para coleta e destinação de resíduos sólidos;
b) Norma para coleta e destinação de resíduos líquidos e gasosos.

118
MAPA DE RISCOS

O Mapa de Riscos é um importante instrumento elaborado anual-


mente pela CIPA. Apesar de se constituir em documento elaborado
por pessoas sem formação em segurança e higiene do trabalho, pois,
são somente submetidos a curso de curta duração, é mister que este
documento não traduza uma situação irreal na empresa. Por óbvio
que após 20 horas freqüentando o curso de membros da CIPA, os
participantes sintam-se muito à vontade para detectar riscos existen-
tes no ambiente do trabalho; porém, via de regra, acabam por ser
extremamente rigorosos em seus conceitos, além de opinar em as-
suntos não afetos ao Mapa de Riscos.
A elaboração do documento não é tão simples como parece. Ela-
borado de forma errônea pode servir de falso indicativo da existência
de risco, especialmente àqueles profissionais principiantes que não
são treinados em reconhecimento de risco, sendo assim, utilizado de
forma incorreta, como indicador e presunção da existência de riscos
no trabalho. A rigor, a elaboração deveria ser supervisionada por pro-
fissional com instrução formal na área, com vistas a se evitar excessos
dos cipeiros.
É bem verdade que em muitas circunstâncias a inabilidade dos
cipeiros acaba por prejudicar as ações em saúde e segurança no tra-
balho; no entanto, já dizia o ditado: a segurança deve ser feita com a
CIPA e apesar da CIPA ...

PPR — PROGRAMA DE PROTEÇÃO RESPIRATÓRIA

Faz-se necessário, quando no local de trabalho constata-se a exis-


tência de um ambiente com deficiência de oxigênio ou contaminado
com poeiras, fumos, gases e vapores tóxicos a aplicação de medidas
de proteção coletivas ou individuais para manter a integridade da saúde
do trabalhador.
A primeira providência é a implementação de medida de prote-
ção coletiva, especificamente no caso dos agentes químicos, a venti-
lação (ventilação local exaustora ou ventilação geral diluidora).
Na impossibilidade de implementação da proteção coletiva, de-
verá ser adotada a proteção individual, através da proteção respira-
tória. Porém, não se trata somente de distribuir os equipamentos de
proteção respiratória — EPR.

119
O processo é bem mais complexo e deve ser suportado por um
Programa de Proteção Respiratória — PPR, nos termos da Instrução
Normativa nº 1 de 11.04.1994 do Ministério do Trabalho e Emprego.
O PPR é peça indispensável àquelas empresas que utilizam pro-
teção respiratória como neutralizadora dos agentes químicos exis-
tentes no ambiente de trabalho. Para que seja feita a seleção do respi-
rador e filtro é necessário que se avalie quantitativamente o ambien-
te, para se obter a concentração do agente.
Somente após a avaliação ambiental é possível a seleção do respi-
rador e filtro de forma apropriada. Depois de tomadas tais providências
os trabalhadores devem ser formalmente treinados sobre o correto uso
dos respiradores, bem como a implantação do programa deve ser forma-
lizada em documento, constituindo em comprovação escrita.
Pouco, ou quase nenhum valor possuem ações de simples for-
necimento da proteção respiratória não atreladas ao PPR.

PCA — PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA


O PCA — Programa de Conservação Auditiva — tem o objetivo
fornecer subsídio para a adoção de uma sistemática que vise a pre-
venção da perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora ele-
vados e a conservação da saúde dos trabalhadores. A PAIRO — per-
da auditiva induzida pelo ruído ocupacional — pode ser prevenida
desde que os requisitos mínimos de um PCA sejam cumpridos; po-
rém, simplesmente cumprir tais requisitos não garante que o PCA
será eficaz na prevenção da perda auditiva ocupacional.
A primeira etapa é identificar os trabalhadores que estão expos-
tos ao ruído de uma forma geral na empresa. Os níveis de pressão
sonora devem ser avaliados, preferencialmente por meio de técnica
dosimétrica, para apuração do nível médio de ruído que os trabalha-
dores estão expostos durante a execução de suas atividades.
Os exames audiométricos atuam como feedback das ações reali-
zadas para o controle do ruído, indicando se o programa está, ou
não, tendo eficácia. A especificação do tipo, bem como o treinamento
dos trabalhadores para o correto uso dos protetores auriculares tam-
bém é item indispensável do programa.

120
Há vários fatores que conduzem à perda na audição. As PAIR
nem sempre são oriundas da exposição ao ruído ocupacional, além
do que, não somente o ruído é agente causador da perda auditiva. A
perda auditiva pode ser resultado da:

• Socioacusia — representada pela exposição ao ruído na vida


social ou lazer, como, por exemplo, viajar de ônibus, metrô ou
avião, ir ao estádio de futebol ou show etc.
• Presbiacusia — envelhecimento natural do sistema auditivo.
• Doenças congênitas — surdez hereditária.
• Causas patológicas — representada por doenças tais como ru-
béola, meningite, infecções do aparelho auditivo.
• Traumas acústicos — prática de tiro ao alvo, uso de fogos de
artifício etc.
• Substâncias ototóxicas — uso de medicamentos que induzem
à perda auditiva, tais como antibióticos, antidepressivos etc.

Não somente ao ruído pode ser atribuída a perda auditiva, mas


também aos agentes químicos. Há agentes químicos que também po-
dem resultar em perda auditiva, a exemplo do n-butanol, monóxido
de carbono, chumbo, manganês, estireno, tolueno ou xileno, arsênico,
dissulfeto de carbono, mercúrio e tricloroetileno.
As PAIR — perdas auditivas induzidas pelo ruído possuem al-
gumas características comuns:

• são sempre do tipo neurossensorial;


• são geralmente bilaterais e simétricas;
• iniciam-se nas freqüências de 4000, 6000 ou 3000 Hz, com per-
da mais acentuada nessas freqüências do que nas freqüências
de 500, 1000 ou 2000 Hz;
• geralmente a maior perda é na faixa de 4000 Hz;
• as freqüências mais altas e mais baixas que 4000 e 6000 levam
mais tempo para serem afetadas;
• iniciam-se nos primeiros anos de exposição e atingem um li-
miar máximo de 10 a 15 anos de exposição;
• geralmente não progridem significativamente depois de ces-
sada a exposição.

121
LAUDOS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE

Os laudos para caracterização da insalubridade e/ou periculosi-


dade são instrumentos gerenciais para a decisão do pagamento do
adicional de insalubridade ou periculosidade. Isto é feito a partir
de sondagem preliminar do ambiente laboral; do levantamento quali-
tativo e mensurações quantitativas dos agentes porventura existen-
tes. São avaliadas as proteções coletivas e individuais que eliminam
ou neutralizam a insalubridade.
O pagamento dos adicionais de insalubridade ou periculosida-
de, por mera liberalidade da empresa ou como aumento disfarçado de
salário, trazem como conseqüência a impossibilidade de supressão
destes valores dos trabalhadores após transformarem-se em direito
adquirido. Os adicionais concedidos de forma técnico-legal podem
ser retirados a qualquer momento, desde que cessado o risco, nos
termos do art. 194 da CLT.
Periodicamente os laudos de insalubridade e periculosidade de-
vem ser elaborados com intenção de checar se os adicionais que estão
sendo remunerados condizem com a realidade de exposição do local
de trabalho.

LAUDO DE PÁRA-RAIOS

O laudo de pára-raios é elaborado mediante inspeção visual de


todas as instalações servidas por pára-raios, bem como com a medi-
ção ôhmica do aterramento.
O perfeito funcionamento do aterramento é condição atenuante
da periculosidade por eletricidade, especialmente quando há falha
nos circuitos elétricos, descarregando a tensão para a terra.
Os pára-raios radioativos não devem mais ser utilizados nos ter-
mos da Resolução nº 4, de 19.04.1989 da CNEN e NBR-54/9 da ABNT.

ANÁLISE ERGONÔMICA

A análise ergonômica, apesar de sua falta não se constituir em item


apenado com multa pelas Normas Regulamentadoras, é documento
no qual são avaliados vários itens, dentre eles: posto de trabalho, ativida-
de física geral, levantamento de fatores físicos e psicossociais, posturas de

122
trabalho e movimento, risco de acidente, conteúdo do trabalho,
restritividade do trabalho; comunicação do trabalhador e contatos pes-
soais; nível de complexidade do processo decisório; repetitividade do
trabalho e grau de atenção.
A análise em questão deve propor medidas de prevenção contra
os riscos ergonômicos, especialmente das LER/DORT.
Interessante ressaltar que desde 1990, com base na Portaria nº
3.751 do MTE, o agente iluminação foi retirado da lista dos agentes
insalubres, passando a integrar o rol da ergonomia.
Uma questão que sempre surge é sobre um certo modelo de re-
latório que contenha as exigências requeridas pela fiscalização. Um
tal modelo não existe pronto para todas as situações. O que se deve
ter em mente são alguns passos que devem ser seguidos para melhor
exposição dos resultados da análise (Ministério do Trabalho e Em-
prego, 2002).

LAUDO DE CALDEIRAS E VASOS SOB PRESSÃO

O laudo de caldeiras e vasos sob pressão é feito individualmente


para cada equipamento e tem por função avaliar as condições de ope-
ração segura de tais equipamentos, mediante a realização de testes
específicos. A falta dos itens de segurança previstos na NR-13, que
trata das caldeiras e vasos sob pressão, constitui risco grave e imi-
nente. Todos os equipamentos devem possuir prontuário ou registro
de segurança, onde são lançadas todas as ocorrências relativas ao equi-
pamento. Os operadores de caldeiras deverão ser profissionais com
treinamento de segurança na operação de unidades de processo. A
inspeção de caldeiras deve ser conduzida por profissionais legalmen-
te habilitados.
A inspeção é executada, em geral com o auxílio de normas técni-
cas reconhecidas internacionalmente, com auxílio de equipamentos/
instrumentos e ferramentas de vários tipos. O item 13.5, da NR-13,
aduz que “As caldeiras devem ser submetidas a inspeções de segu-
rança inicial, periódica e extraordinária, sendo considerado condição
de risco grave e iminente o não atendimento aos prazos estabelecidos
nesta NR”.
A ABNT possui uma Norma Técnica — NBR-12.177 para Inspe-
ção de Segurança de Caldeiras estacionárias Aquotubular e Flamotu-
bular a Vapor.

123
LAUDO ELÉTRICO

O laudo elétrico consiste em inspeção dos circuitos principais,


divisionários e terminais, com o cotejo de não-conformidades.
Os projetos de instalações elétricas devem especificar dispositi-
vos de segurança, recursos fixos de equipotencialização e aterramento
do circuito seccionado, bem como iluminação adequada e uma posi-
ção de trabalho segura, de acordo com a NR-17 — Ergonomia.
As instalações elétricas devem ser construídas, montadas, ope-
radas, reformadas, ampliadas, reparadas e inspecionadas de forma a
garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores. Devem ser adotadas
medidas preventivas destinadas ao controle dos riscos adicionais, es-
pecialmente quanto à altura, confinamento, campos elétricos e mag-
néticos, explosividade, umidade, poeira, fauna e flora e outros agra-
vantes, adotando-se a sinalização de segurança.

PPP — PERFIL PROFISSIOGRÁFICO PREVIDENCIÁRIO

O perfil profissiográfico previdenciário (anteriormente a legisla-


ção somente fazia menção ao perfil profissiográfico) traduz-se em
exigência da legislação, não tão recente quanto parece, mas por força
da IN nº 78, de 16.07.2002, revigorou-se, tornando-se o documento de
maior relevância das informações profissionais do trabalhador.
O PPP, consoante o artigo 146 da IN nº 99, é o documento histó-
rico-laboral, individual do trabalhador que presta serviço à empresa,
destinado a prestar informações ao INSS relativas à efetiva exposição
a agentes nocivos que, entre outras informações, registra dados ad-
ministrativos, atividades desenvolvidas, registros ambientais com
base no LTCAT e resultados de monitorização biológica com base no
PCMSO (NR-7).
Um dos grandes méritos do PPP é ser um documento histórico.
Todos os programas em saúde do trabalhador têm por característica
evidenciar uma situação estática anual, sem preocupar-se com o que
acontece entre um e outro ano. É a diferença entre a fotografia e a
filmagem, a fotografia é estática, a filmagem é dinâmica. O PPP tem
como proposta ser um documento dinâmico que mostra todas as al-
terações ocorridas na vida funcional do segurado, sob o aspecto ex-
posição, saúde e mesmo administrativo.

124
Com a instituição do PPP extingue-se a triplicidade de documen-
tos (PPP, LTCAT e DIRBEN-8030) em favor da duplicidade (somente
PPP e LTCAT) e, atualmente em favor da unicidade, através do PPP.
Assim, a rigor desde 14.10.1996, todas as empresas estão obriga-
das a manter, bem como fornecer, uma cópia do perfil profissiográfi-
co a cada empregado, no ato de seu desligamento. A partir de 1º de
janeiro de 2004, a Previdência Social passará a exigir das empresas o
Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), que embora já estivesse
previsto na legislação, somente através da Instrução Normativa nº 78
teve sua instituição regulamentada.
As empresas que ainda não mantinham implantado o PPP, alter-
nativamente, até 31.12.2003, podem emitir o LTCAT e formulário
DIRBEN-8030, uma vez que a Lei não pode criar obrigação pretérita,
mas tão-somente a partir de sua promulgação.
Devemos observar que a legislação usa o termo alternativamen-
te, exatamente porque não é vedado realizar o PPP anterior a
31.12.2003; aliás, é até preferível, caso a empresa possua todos os da-
dos do PPP disponíveis anteriores àquele data.
Interessante esclarecer que nos termos do artigo 153 da IN nº 96,
o LTCAT é exigido somente a partir de 14.10.1996 (anteriormente o
prazo era 29.04.1995), exceto para o ruído ou qualquer outro agente
não previsto legalmente. Isto posto, a Previdência abre o precedente
para o enquadramento em outros agentes não previstos na legisla-
ção; no entanto, exige o LTCAT para tais situações.
O PPP deve ser elaborado, num primeiro momento somente para
os segurados expostos aos agentes nocivos. Neste aspecto a Previ-
dência cometeu um deslize de redação, eis que o correto seria expos-
tos aos agentes nocivos acima dos limites de tolerância. Expostos ao
ruído todos estamos (exceto se alguém laborar no interior de uma
câmara anecóica); porém, estamos expostos a níveis abaixo ou bem
abaixo do limite de tolerância. Além do que, o PPP não se presta
unicamente à requisição da aposentadoria especial, mas também de-
verá ser entregue ao trabalhador quando da rescisão contratual, bem
como para a perícia médica nos casos de solicitação de benefício por
incapacidade. Será que o atendente do sindicato que estiver realizan-
do a homologação dar-se-á por satisfeito pela falta de entrega do PPP
ao empregado com a simples alegação de que este não estaria expos-
to aos riscos?

125
O PPP alcançará, posteriormente, quando já disponível em meio
eletrônico, todo e qualquer segurado de qualquer empresa.
O PPP nasceu, primariamente, da necessidade do segurado com-
provar seu trabalho sob condições que ensejassem a aposentadoria
especial, uma vez que, ao longo do tempo, fatalmente tais condições
seriam descaracterizadas ou alteradas, inclusive devido ao encerra-
mento de atividades da empresa.
O PPP substitui o formulário DIRBEN-8030, com preenchimen-
to mais complexo em função das detalhadas informações que possui,
tais como a conclusão do laudo técnico e a descrição minuciosa das
atividades desenvolvidas pelo segurado, bem como a existência de
agentes prejudiciais à sua saúde ou integridade física e o caráter per-
manente ou não da exposição aos riscos, inclusive com informações
extraídas do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais do Traba-
lho (PPRA), do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) e do
Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO). As
empresas são responsáveis por manter atualizado o PPP, seja em pa-
pel ou meio magnético.
Tal documento reveste-se de declaração histórica, que contem-
pla as diversas atividades do segurado dentro da empresa, desde sua
admissão até a demissão. Cada alteração de posto de trabalho ou car-
go ocorrida ao longo do contrato de trabalho deverá ser alvo de lan-
çamento no perfil profissiográfico, de maneira analítica e seqüencial.
Além do que, consiste em mapeamento atualizado das circunstâncias
laborais frente aos agentes nocivos, com relato da presença, identifi-
cação e intensidade dos riscos, referência à periodicidade da execu-
ção do trabalho, compondo o cenário de trabalho.
Considerando-se que a falta de manutenção do perfil profissio-
gráfico enseja multa, é recomendável que as empresas promovam a
implantação do documento, bem como sua revisão periódica ou a cada
alteração das condições ambientais de trabalho.

GERENCIANDO A EMISSÃO DO PERFIL PROFISSIOGRÁFICO


PREVIDENCIÁRIO

O PPP constitui-se, sem qualquer sombra de dúvida, em avanço


na área da saúde do trabalhador, revestindo-se em mais um documento
que este possui para realizar a comprovação das condições ambientais

126
a que foi exposto, durante seu contrato de trabalho, especialmente
nas situações em que houver descaracterização do ambiente laboral,
por encerramento de atividades, falência ou transferência de local.
A nosso ver a Previdência Social criou um poderoso instrumento
de fiscalização pontual a distância, cujo interesse é unicamente tribu-
tário. Ao contrário do que se tem divulgado, o PPP não representa
instrumento de prevenção da saúde do trabalhador, eis que não con-
templa obrigatoriedade de ações para a eliminação ou neutralização
dos agentes nocivos, como por exemplo, o PPRA — Programa de Pre-
venção de Riscos Ambientais — do Ministério do Trabalho e Emprego.
No âmbito previdenciário, a única sanção pelo labor em condições de
exposição aos agentes nocivos é o pagamento da alíquota suplementar
do SAT. Se o empregador recolher corretamente os tributos, ao menos
sob o plano previdenciário, estará quites, inexistindo qualquer obriga-
ção legal de prevenir doenças ocupacionais. Porém, a empresa não deve
olvidar que ao deixar de prevenir as doenças, estará sujeita a diversos
outros reflexos no campo trabalhista, civil e criminal, bem como de se
tornar visada pelo Ministério Público e Sindicato.
É bem verdade que o PPP não traz qualquer novidade em termos
de conteúdo de informação em segurança e saúde do trabalhador, eis
que, simplesmente, consolida informações contidas em outros progra-
mas já existentes, como o PPRA, PGR (no caso de mineração), PCMAT
(no caso das empresas da construção civil), e PCMSO — Programa de
Controle Médico da Saúde Ocupacional. Porém, tais informações sem-
pre foram tratadas individualmente em seus programas, cujos documen-
tos eram guardados em gavetas distintas a fim de que nunca se encon-
trassem e, na maioria das vezes, inexistindo coerência entre os dados;
com o advento do PPP, tais informações estarão juntas, numa mesma
página, revelando imediatamente tais incongruências.
Como já acontecia com os formulários SB-40, DSS-8030 e
DIRBEN-8030, o PPP servirá como prova documental contra a em-
presa que o emitiu, particularmente nos pedidos de indenização por
doença e adicionais de risco. E mesmo constituindo-se em documen-
to previdenciário jamais será recusado pelos Juízes. Ademais, o arti-
go 189 da IN nº 84 traz que a presunção da efetiva exposição do tra-
balhador aos agentes nocivos será baseada, em princípio, no PPRA,
no PGR, na GFIP ou na GRFP, no PPP e no LTCAT.

127
O PPP poderia também ser utilizado, de forma, análoga, em pre-
juízo do empregado, especialmente se adquirir conotação de documento
pessoal do trabalhador, quando então as empresas eventualmente po-
deriam solicitá-lo, por exemplo, no exame admissional, “descartan-
do” candidatos com qualquer indício de doença ocupacional, ainda
que vedado em lei tal solicitação. Assim, é necessário que se tenha
em mente não só os benefícios que a nova sistemática trará, mas tam-
bém, os riscos que o uso indevido do PPP poderá trazer tanto ao
empregador, quanto ao empregado.
As empresas, cuja responsabilidade recairá o preenchimento do
PPP, devem estar atentas às conseqüências da manutenção de em-
pregados em condições de fazer jus à aposentadoria especial, espe-
cialmente os reflexos criados em outros campos. Considerando-se que
o enquadramento da aposentadoria especial é feito com base nos ane-
xos da NR-15 da Portaria nº 3.214/78, admitir que o trabalhador faz
jus à aposentadoria especial é aceitar que este também tem direito de
percepção ao adicional de insalubridade, bem como criar condições
satisfatórias para a ação trabalhista de reintegração, ação civil inde-
nizatória por acidente do trabalho, ação civil pública promovida pelo
Ministério Público, fiscalizações trabalhistas e previdenciárias etc.
Há, no PPP, uma série de armadilhas nas informações de preen-
chimento, que podem ser sintetizadas em quatro itens:

• cargo, função e descrição das atividades;


• exposição aos agentes nocivos e codificação da GFIP;
• informações médicas e CAT’s emitidas;
• informações médicas e dados ambientais.

A primeira armadilha está na consignação do cargo, função e des-


crição das atividades do segurado. Contradições entre cargos e atividades
ficarão evidentes. A empresa ficará vulnerável a um pedido judicial de
equiparação salarial. O torneiro mecânico que opera torno CNC terá um
documento em mãos para provar suas alegações. A solução é corrigir
todos os desvios de funções, para prevenir ações trabalhistas.
O lançamento do código da GFIP em razão da exposição dos
segurados aos agentes nocivos constitui-se na segunda armadilha do PPP.
Este código define as bases da tributação da empresa. Se não houver

128
exposição dos segurados a quaisquer agentes, a empresa estará isen-
ta da alíquota suplementar do SAT. Caso contrário, sujeitar-se-á a
custear a aposentadoria especial dos segurados que estiverem sub-
metidos aos agentes nocivos. Nos termos da legislação aplicável, os
agentes nocivos podem ser neutralizados mediante implementação
do uso dos equipamentos de proteção coletiva ou individual ou me-
didas administrativas (rodízio, particularmente no caso de calor). No
entanto, é preciso que se assegure de forma técnica e, não somente
legal, que tais EPI’s ou medidas estão realmente neutralizando os
agentes nocivos.
A terceira cilada do PPP refere-se ao confronto entre as informa-
ções médicas e as CAT´s emitidas. Todo acidente, ou mesmo doença
relacionada ao trabalho, deve ser notificado por CAT. Se o campo
informações médicas detectar desencadeamento ou agravamento de
moléstia relacionada ao trabalho, deverá haver a correspondente no-
tificação no campo CAT’s emitidas.
Finalmente, o campo informações médicas denunciará os dados
ambientais como inverdadeiros, à medida que existe a exposição a
determinado agente; tal exposição é neutralizada pelo uso dos equipa-
mentos de proteção individual; conseqüentemente, a empresa está isen-
ta do pagamento do SAT adicional; no entanto, as informações médi-
cas evidenciam que há agravamento ou desencadeamento de doença.
Diga-se, de passagem, que o PPP poderia ser elaborado com os
programas preexistentes; porém, estes documentos deveriam ser ela-
borados com o mínimo de rigor técnico, o que nem sempre acontece,
transformando os programas em meros papéis sem qualquer outra
ação posterior. Além do que, as exigências contidas na legislação pre-
videnciária para a elaboração do PPP são muito mais rigorosas do
que aquelas da legislação trabalhista.
O PPP será uma poderosa fonte de informações da Previdência,
inclusive para efeito de políticas públicas, conseguindo visualizar, a
distância, as condições a que estão expostos os trabalhadores. A GFIP,
que anteriormente já continha informações do empregado, tais como
o nome do segurado, sua remuneração e a contribuição devida, ago-
ra possui um código indicador de quantas fontes empregatícias tem
o segurado, bem como se ele está exposto a quaisquer agentes noci-
vos, constituindo-se em lançamento da contabilidade ambiental.

129
Caso seja bem elaborado, sob o ponto de vista da defesa empre-
sarial, outra finalidade do PPP é servir como um meio de prova favo-
rável para a empresa. Certamente, o PPP não pode ser visto simples-
mente como uma burocracia, mas inteligentemente utilizado como
instrumento de gestão do ambiente de trabalho.
Em algumas situações, o trabalhador, inclusive movido por seu
advogado, requer a documentação para efeitos de comprovação da
aposentadoria especial, mesmo quando não laborou em condições de
exposição aos agentes nocivos. Diante da insistência do trabalhador
em obter a declaração aparentemente inócua, a empresa deverá emitir
documento declarando as reais condições de trabalho, tanto para evi-
tar multa pela não entrega do papel, quanto para não permitir que o
trabalhador busque via transversa para obter tal comprovação, por
exemplo, o ingresso de ação pleiteando insalubridade para comprovar
à autarquia a exposição aos agentes nocivos. Assim, a empresa deve
tirar de sua responsabilidade o não atendimento do pleito do trabalha-
dor referente à aposentadoria, emitindo documento que não dará di-
reito ao benefício, o qual será negado pela Previdência Social.

LTCAT — LAUDO TÉCNICO DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS


DE TRABALHO

Conforme artigo 155, § 2º, V da IN nº 99 o PPRA, PGR, PCMAT


e PCMSO poderão ser aceitos em substituição ao LTCAT — Laudo
Técnico das Condições Ambientais de Trabalho. Assim, somente as
empresas desobrigadas da elaboração de tais programas, em tese,
estarão sujeitas à elaboração do LTCAT.
Já preconizávamos, mesmo antes que a Previdência Social en-
tendesse que os programas em saúde do trabalhador pudessem subs-
tituir o LTCAT, que tanto o laudo ambiental para efeitos do PPRA,
quanto o LTCAT poderiam ser elaborados utilizando-se uma mesma
base de dados, desde que aquele documento trabalhista apresentas-
se todos os requisitos da legislação previdenciária.
Isto posto, este capítulo destina-se às empresas que terão de ela-
borar o LTCAT. O PPP é elaborado a partir do LTCAT. O laudo em
questão é um documento técnico elaborado por engenheiro de segu-
rança do trabalho ou médico do trabalho, consubstanciando as ativi-
dades, local de trabalho e exposição a que o segurado estaria sujeito,
representando um panorama da exposição ambiental do segurado.

130
Tanto o PPP como o LTCAT devem ser elaborados de forma indi-
vidual, para cada segurado e, devem ser atualizados permanentemen-
te, juntamente com o PPRA e PCMSO, ou nas situações em que ocor-
rerem alterações na exposição do segurado. Temos advertido as em-
presas de que a dificuldade não está em elaborar o primeiro PPP, mas
sim, em mantê-lo atualizado, especialmente nas empresas onde os
trabalhadores freqüentemente rodiziam atividades.
No tocante aos rodízios, temos duas formas: o rodízio intrajor-
nada e o rodízio interjornada. No rodízio intrajornada, todas as ativi-
dades são rodiziadas durante a mesma jornada; por exemplo, por
questões ergonômicas, um segurado realiza várias atividades para
que não incida em movimentos repetitivos por um longo período.
Por seu turno, no rodízio interjornada, o segurado tem atividades
diferentes ao longo dos dias. No caso do rodízio intrajornada é muito
fácil elaborar o LTCAT e PPP, pois todas as atividades já estariam
sendo consideradas durante a avaliação ambiental, principalmente
porque a dosimetria de ruído é feita durante toda a jornada. No en-
tanto, para o rodízio interjornada é necessário que se estabeleça, se-
gundo o julgamento técnico, uma exposição média, já que a cada dia
o segurado estará submetido a uma exposição distinta.
Anteriormente, a fiscalização considerava como atualizados os
documentos que refletirem as condições no momento presente da ação
fiscal. Nos termos da legislação vigente, considera-se o LTCAT atua-
lizado aquele que corresponde às condições ambientais do período a
que se refere, nos termos do artigo 179 da IN nº 99. O que temos
recomendado às empresas é que antes de trocar o segurado de posto
de trabalho, preparem a alteração do LTCAT e PPP, com vistas a evi-
tar futuras aplicações de penalidades.
De acordo com o artigo 178 da IN nº 99, o LTCAT deve conter os
seguintes elementos:
I — reconhecimento dos fatores de riscos ambientais;
II — estabelecimento de prioridades e metas de avaliação e con-
trole;
III — avaliação dos riscos e da exposição dos trabalhadores;
IV — especificação e implantação de medidas de controle e ava-
liação de sua eficácia;

131
V — monitoramento da exposição aos riscos;
VI — registro e divulgação dos dados;
VII — avaliação global do seu desenvolvimento, pelo menos uma
vez ao ano ou sempre que ocorrer qualquer alteração no ambiente de
trabalho ou em sua organização, contemplando a realização dos ajus-
tes necessários e estabelecimento de novas metas e prioridades.
Para o cumprimento do inciso I, deve-se contemplar:
a) a identificação do fator de risco;
b) a determinação e localização das possíveis fontes geradoras;
c) a identificação das possíveis trajetórias e dos meios de propa-
gação dos agentes no ambiente de trabalho;
d) a identificação das funções e determinação do número de tra-
balhadores expostos;
e) a caracterização das atividades e do tipo da exposição;
f) a obtenção de dados existentes na empresa, indicativos de pos-
sível comprometimento da saúde decorrente do trabalho;
g) os possíveis danos à saúde, relacionados aos riscos identifica-
dos, disponíveis na literatura técnica;
h) a descrição das medidas de controle já existentes.
O LTCAT, quando não forem identificados fatores de riscos do
inciso I, poderá resumir-se aos incisos I, VI e VII, declarando a au-
sência desses.
Poderão ser aceitos, em substituição ao LTCAT, ou ainda de for-
ma complementar a este, os seguintes documentos (§ 2º, artigo 155
da IN nº 99):
I — laudos técnico-periciais emitidos por determinação da Justi-
ça do Trabalho, em ações trabalhistas, acordos ou dissídios coletivos;
II — laudos emitidos pela Fundação Jorge Duprat Figueiredo de
Segurança e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO);
III — laudos emitidos pelo MTE ou, ainda, pelas DRT;
IV — laudos individuais;
V — os programas PPRA, PGR, PCMAT e PCMSO.

132
Não será aceito (§ 3º, artigo 155 da IN nº 99):
I — laudo elaborado por solicitação do próprio segurado;
II — laudo relativo à atividade diversa, salvo quando efetuada
no mesmo setor;
III — laudo relativo a equipamento ou setor similar;
IV — laudo realizado em localidade diversa daquela em que hou-
ve o exercício da atividade;
V — laudo de empresa diversa.

AS ATAS DAS REUNIÕES ORDINÁRIAS E EXTRAORDINÁRIAS


DA CIPA
Uma empresa bem estruturada em matéria de segurança do tra-
balho é conhecida pela sua CIPA — Comissão Interna de Prevenção
de Acidentes. Uma representação atuante, com envolvimento dos em-
pregados e com total incentivo dos dirigentes, caracterizam uma CIPA
responsável, ao contrário de algumas outras, cujas reuniões são fictí-
cias, existindo somente um livro de atas para cumprir a legislação.
Naquelas empresas, onde é obrigatória a constituição do SESMT, os
profissionais desenvolvem projetos de melhoria, fazem o monitora-
mento da saúde do trabalhador, atuando integrados engenharia e
medicina do trabalho.
Nas empresas dotadas de uma política séria em segurança do
trabalho, notamos que o exemplo parte de cima. Todos os emprega-
dos usam os EPI’s porque a chefia imediata também usa e porque a
alta administração, cada vez que ingressa na fábrica, também se uti-
liza de tais equipamentos. Nestas empresas, raramente os empregados
têm de ser punidos pela recusa ao uso do EPI, pois o empregado
compreende que o seu emprego preserva sua própria integridade fí-
sica e porque recebeu treinamento para tanto.
A CIPA deve reunir-se ordinariamente a cada mês. Reuniões ex-
traordinárias ocorrerão nos termos das alíneas “a”, “b” e “c” do item
5.27 da NR-5, descritas a seguir:

• quando houver denúncia de situação de risco grave e iminente


que determine aplicação de medidas corretivas de emergência;
• quando ocorrer acidente do trabalho grave ou fatal;
• quando houver solicitação expressa de uma das representações.

133
A CIPA, nos casos de acidente do trabalho grave ou fatal deve
reunir-se o mais rápido possível, uma vez que, com o passar do tempo
os fatos naturalmente vão se apagando da memória, principalmente
daqueles que eventualmente presenciaram a ocorrência do acidente.
Incumbe à Delegacia de Polícia de Investigações sobre Infrações
contra a Organização Sindical e Acidentes do Trabalho, dentre ou-
tras, exercer atenta vigilância aos inquéritos policiais que versarem a
respeito de acidentes de trabalho.

OS RECIBOS DE FORNECIMENTO DOS EQUIPAMENTOS


DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL

Segundo o entendimento do leigo, o simples fornecimento do


EPI — equipamento de proteção individual — ao trabalhador isenta
ampla, total e irrestritamente o empregador de qualquer responsabi-
lidade advinda de acidente ou doença ocupacional. No entanto, a re-
alidade não é exatamente esta.
Os EPI’s foram concebidos para uso em situações tipificadas na
lei — NR-6, item 6.2 — e unicamente como paliativo para uma condi-
ção de emergência, momentâneo descontrole ou quando medidas téc-
nicas sejam inviáveis. O empregador interpreta a palavra inviável
apenas na acepção econômica, descartando as medidas de proteção
coletiva — cuja implementação envolve custos — em detrimento do
uso indiscriminado do EPI, que até certo ponto é módico.

A VISÃO DISTORCIDA DOS PERITOS

Criou-se uma corrente jurídica que defende a remuneração do


adicional mesmo com o fornecimento do EPI, já que mesmo com o
uso dos equipamentos, o ambiente ainda continua maculado pela in-
salubridade; no entanto, o artigo 191 da CLT é bastante incisivo quanto
à neutralização da insalubridade pelos EPI’s, fazendo com que esta
corrente não lograsse êxito em sua teoria.
E mais, no ímpeto de caracterizar a insalubridade, alguns peritos
argumentam que o simples fornecimento do EPI é confissão de que a
empresa possui agentes insalubres acima dos limites de tolerância, o
que é, absolutamente, um contra-senso, já que é legalmente previsto, na
NR-9, que a empresa inicie o processo de prevenção no nível de ação,
que representa 50% da dose de ruído ou metade do limite de tolerância

134
para agentes químicos. Desta forma, a empresa pode estar fornecendo
protetores auriculares, para prevenção, atendendo requisito da NR-9,
ou mesmo, indicação do PCA — Programa de Conservação Auditiva.

O CERTIFICADO DE APROVAÇÃO — CA
Estamos experimentando uma nova fase na segurança do traba-
lho, com a crescente disseminação dos EPI’s, atualmente encontrando
alguns deles até mesmo em supermercados. Por outro lado, o consumi-
dor ou usuário desconhece os requisitos que um EPI deve possuir, espe-
cialmente o CA — Certificado de Aprovação. A expansão da indústria
do EPI não é um fenômeno que se restringe ao Brasil. Temos notado em
todos os congressos internacionais o demasiado número de expositores
de EPI’s, com representantes espalhados por todo o planeta.
A aquisição do EPI deve estar condicionada à apresentação do
CA — Certificado de Aprovação e CRF — Certificado de Registro de
Fabricante ou CRI — Certificado de Registro de Importador, ambos
documentos emitidos pelo DNSST — Departamento Nacional de Se-
gurança e Saúde no Trabalho.
Entendemos que o governo não deve ceder à pressão de alguns
fabricantes de EPI’s pelo protecionismo do equipamento nacional. Por
outro lado, permitir que o importado ingresse no País ilegalmente e
sem preencher os requisitos da legislação, além de promover concor-
rência desleal, é expor os trabalhadores brasileiros a sério risco. Ainda
existe no País uma demanda reprimida de EPI’s, e temos plena convic-
ção de que se todas as empresas resolvessem adotar o equipamento
conforme preceitua a lei, nem mesmo as importações, no nível em que
se encontram, seriam suficientes para suprir o mercado.

A NR-6
A NR-6 — Norma Regulamentadora nº 6 — que trata dos usos e
aplicações dos EPI´s, elenca as hipóteses em que um EPI é considera-
do como instrumento neutralizador da insalubridade e o primeiro
destes é o fator adequabilidade ao risco. O equipamento deve ser
especificado por profissional com os devidos conhecimentos3, não se
permitindo que o mero “achismo” faça a escolha. Na prática, quem
acaba especificando os EPI’s é o comprador, cujo único critério de
seleção é o menor preço.

3
Segundo a NR-6 o EPI tem de ser recomendado pelo SESMT ou pela CIPA, na falta daquele.

135
Não é recomendável o superdimensionamento, pois no caso das
máscaras, quanto maior a eficiência do filtro, maior é seu tamanho,
causando desconforto ao trabalhador. Quanto aos protetores auricula-
res, estes não devem interferir na comunicação, sob pena de risco de
acidentes por não se ouvir aviso sonoro.
Quanto às luvas, existe no Brasil grande oferta de tais produtos,
havendo inclusive bom nível de desenvolvimento, comparado aos paí-
ses de primeiro mundo. As luvas prestam-se às mais diversas situações:

• luvas de couro são utilizadas para trabalhos pesados, como


por exemplo manuseio de ferro, aço e produtos abrasivos;
• luvas de pvc e equivalentes são utilizadas para trabalhos com
produtos químicos;
• luvas de malha de aço são utilizadas para atividades com instru-
mentos perfurocortantes, por exemplo em desossa de carnes;
• luvas de borracha são utilizadas para trabalhos em alta-tensão.

As luvas, no entanto, perderam parcela de mercado para os cre-


mes protetores, que apresentam a vantagem de não prejudicarem a
sensibilidade manual do trabalhador. Os cremes protetores foram de-
vidamente reconhecidos como EPI somente a partir de 20.02.1992,
com a edição da Portaria nº 3 do DNSST, passando então a substituir
as luvas. Tais cremes são oferecidos no mercado em três versões:
• água resistente: utilizado para trabalhos com água e soluções
aquosas, óleos minerais, lubrificantes, solventes e outros;
• óleo resistente: querosene, tintas, vernizes, colas;
• creme especial: usado para proteção em condições especiais.
O empregador só deve fornecer os EPI’s, preventivamente, median-
te recibo firmado pelo trabalhador, constituindo-se basicamente em
única prova a ser produzida em juízo, num eventual pedido de insa-
lubridade. Todos os equipamentos têm de estar relacionados analiti-
camente em tal ficha, mesmo aqueles cujo fornecimento seja diário, e
que por bom senso, os registros podem ser feitos semanal ou quinze-
nalmente, ou, ainda, por lote.

136
De acordo com os preceitos da NR-6, item 6.6.1., são obrigações
do empregador:

a) adquirir o adequado ao risco de cada atividade;


b) exigir seu uso;
c) fornecer ao trabalhador somente o aprovado pelo órgão nacional
competente em matéria de segurança e saúde no trabalho;
d) orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado, guarda e
conservação;
e) substituir imediatamente, quando danificado ou extraviado;
f) responsabilizar-se pela higienização e manutenção periódica; e,
g) comunicar ao MTE qualquer irregularidade observada.

Por seu turno, segundo o item 6.7.1., são obrigações do empre-


gado:

a) usar, utilizando-o apenas para a finalidade a que se destina;


b) responsabilizar-se pela guarda e conservação;
c) comunicar ao empregador qualquer alteração que o torne im-
próprio para uso; e,
d) cumprir as determinações do empregador sobre o uso adequado.

O EPI, legalmente, tem de ser fornecido gratuitamente, e na prá-


tica, algumas empresas repassam o ônus para os empregados, con-
trapondo-se frontalmente aos princípios da legislação. Estão também
no rol das responsabilidades do empregador a manutenção e
higienização do EPI. Alternativamente, o próprio empregado pode
ser treinado para higienizar seu EPI. Determinados EPI’s são passí-
veis de conserto e terem partes substituídas, prolongando sua vida
útil. No entanto, tais substituições devem ser lançadas nas fichas de
fornecimento, para se evitar a errônea conclusão de que um EPI du-
rou anos! Uma vez que o EPI foi extraviado ou encontra-se sem con-
dições de uso — situação em que cabe ao empregado comunicar o

137
empregador — é obrigação da empresa promover imediatamente a
sua substituição. Legalmente, o empregado está sujeito a responsabi-
lizar-se por sua guarda, não agindo dessa forma, estará sujeito a in-
denizar a empresa o valor do EPI perdido.
As empresas ainda não estão atentas ao fornecimento de EPI,
que deve estar cercado de cuidados, havendo a necessidade de trei-
nar o trabalhador; a eficiência dos equipamentos também depende
de sua correta utilização. Desnecessário alertar que a empresa deve
documentar o treinamento do trabalhador, para o correto uso do EPI,
seja por meio de termo na própria ficha de entrega, seja por meio de
emissão de certificado de treinamento.
Finalmente, de nada adiantaria o rigoroso cumprimento de todos
os requisitos da legislação, se for esquecida a principal exigência: a
obrigatoriedade do uso do EPI. A empresa tem, legalmente, que obri-
gar o uso do equipamento, e nos casos de recusa injustificada, recorrer
à rescisão do contrato de trabalho por justa causa pelo empregado (ar-
tigo 482 da CLT e itens 1.8.b e 1.8.1 da NR-1). A adoção de comporta-
mento paternalista, deixando o empregado à vontade no uso do EPI,
traz sérias conseqüências à empresa, inclusive descaracterizando o for-
necimento por força do Enunciado nº 289. Assim, deve a empresa ini-
ciar um trabalho de conscientização de todos os trabalhadores, por meio
de palestras, cursos e vídeos, além da SIPAT, para o uso do equipa-
mento, ao invés de criar um clima policialesco, em que o departamen-
to de segurança gasta grande parte de seu tempo monitorando o uso
do equipamento pelos trabalhadores. A resistência do empregado ao
uso do equipamento é motivada, em grande parte, pelo desconforto
proporcionado e pela falta de conscientização.

A ABSTENÇÃO AO USO DO EPI

Estudos evidenciam que a atenuação total promovida pelo equi-


pamento é função direta do tempo que este é usado. No entanto, a
atenuação não é proporcional ao tempo de abstenção de uso do equi-
pamento, por exemplo:

• um respirador com nível de proteção 100, quando não usado


por apenas 10 minutos, faz seu nível de proteção cair abaixo
de 40; e quando não usado por 20 minutos, o nível cai para 20;

138
• um protetor auricular com atenuação de 25 dB, se não usado
por apenas 10 minutos, tem sua atenuação oferecida reduzida
para 18 dB; e se o tempo de não uso for de 50%, passa a ofere-
cer atenuação de somente 5 dB.

A tabela a seguir mostra o impacto sobre o NRR do tempo de


abstenção ao uso do protetor auricular:

. . . .

139
Os exemplos apresentados são para jornadas de 8 horas, mas o
importante é a constatação de que o tempo de não uso não é propor-
cional ao decréscimo da atenuação.

OS PROTETORES AURICULARES

Constatamos situações abusivas de trabalhadores que usam pro-


tetores auriculares descartáveis por várias semanas, opondo-se à fi-
nalidade para a qual foram concebidos. Nas empresas européias e
norte-americanas os EPI’s ficam disponíveis ao trabalhador para que
sejam trocados diariamente. A vida útil do EPI é função direta do
tipo de atividade e condições ambientais a que este está sendo sub-
metido, existindo alguns métodos empíricos para se determinar se o
EPI está imprestável. No caso de máscaras, é bem nítido o instante
em que o equipamento perde sua ação, pois o trabalhador passa a
sentir o odor do contaminante ou dificuldade de respirar, pela obstru-
ção dos poros do filtro. Para o protetor tipo concha existe uma máxi-
ma que diz: o conforto é inversamente proporcional à proteção. Assim, a
partir do momento em que o protetor tipo concha estiver confortá-
vel, é porque não está exercendo a pressão adequada, permitindo
vazamento e descumprindo sua função de atenuar ruídos.

Fato que vem ocorrendo com freqüência, e que chega a preocu-


par, são as divergências de propriedades encontradas entre o produ-
to enviado para ensaio e o equipamento encontrado no mercado, o
que já foi motivo de cassação de vários CA’s pelo Ministério do Tra-
balho e Emprego. A NR-6 não faz qualquer alusão à qualidade dos
equipamentos, e tampouco quanto ao controle desta qualidade. Ain-
da, corre-se o risco de estar fornecendo um EPI cujo desempenho foi
avaliado em laboratório, mas quando colocado em condições reais de
trabalho, não reproduza o desempenho obtido nos ensaios.

Em matéria de perícia judicial, ainda é um tabu a utilização de


legislação estrangeira, mesmo nos casos omissos na legislação vigen-
te. No entanto, nada impede a utilização de metodologias contidas em
recomendações internacionais ou similares, desde que não sejam con-
trárias à legislação brasileira. É o caso típico da atenuação promovida
pelos protetores auriculares, que se trata de recomendação técnica.

140
A ÓTICA DO PERITO

Nos termos do artigo 191 da CLT e item 15.4.1 da NR-15 e desde


que cumpridos os preceitos exigidos no item 6.6.1 da NR-6, os equi-
pamentos de proteção individual e coletiva eliminam ou neutralizam
a insalubridade.
Numa perícia judicial, o Expert estará atento não somente ao cum-
primento de todos os requisitos da NR-6, mas também nos itens a
seguir:

• através da oitiva de testemunhas, constatar se o empregador


torna obrigatório o uso dos equipamentos nas áreas demarca-
das como insalubres, além da aplicação de penalidades aos
trabalhadores resistentes;
• se a ficha de entrega dos EPI’s está firmada pelo trabalhador e
se este reconhece a assinatura e data do fornecimento como
legítimas;
• se os trabalhadores receberam ou recebem treinamento acerca
do uso dos equipamentos, usando inclusive testes práticos para
tal aferição;
• surpreender o empregador, mediante perícia sem prévio aviso
(nas praças onde tal procedimento não seja vedado), para cons-
tatar se todos os trabalhadores estão portando e usando corre-
tamente os EPI’s;
• se os CA’s apresentados pela empresa correspondem aos mo-
delos que os trabalhadores estão utilizando. E se o documento
encontra-se no seu prazo de validade;
• aferição do estado de conservação dos EPI’s, tanto no aspecto
limpeza, como manutenção.

Algumas empresas, com a finalidade de promover uma política


mais arrojada quanto ao uso dos EPI’s, permitem que o trabalhador
leve o equipamento e o use fora do local de trabalho, por exemplo,
permitindo que o usuário utilize sua máscara quando este for execu-
tar atividades de pintura em sua residência.

141
PPRA

Foi instituído, através da NR-9, o PPRA — Programa de Preven-


ção de Riscos Ambientais, adotado pelo Ministério do Trabalho e Em-
prego, pela discussão tripartite (governo, trabalhadores e emprega-
dores), que determina às empresas, de uma forma acelerada, buscar
maiores e melhores soluções consensuais de seus problemas ligados
às questões prevencionistas.
A condição ambiental em que labora o empregado deve estar
minuciosamente documentada. A obrigatoriedade de implantação do
PPRA data de 1994. Porém, muitas empresas previdentes já vinham
adotando tal postura anteriormente. O PPRA consta de dois documen-
tos: laudo de avaliação ambiental e documento base.
O laudo de avaliação ambiental contempla todas as medições dos
agentes físicos, químicos e biológicos existentes na atividade do trabalha-
dor, constituindo-se em verdadeiro histórico acerca do ambiente laboral.
O documento base do PPRA é a formalização da implantação do progra-
ma, inclusive com cronograma das medidas corretivas aplicáveis.
Contrariamente ao que acreditam alguns, o PPRA não é forma
de expor a empresa, mas sim, de documentar uma situação que even-
tualmente pode ser questionada, inclusive judicialmente. Conside-
rando-se a impossibilidade de avaliar um ambiente no passado, a
única prova disponível será o laudo de avaliações ambientais que
apresenta um panorama daquela época.
O PPRA é aplicável a toda e qualquer empresa, cujo regime de
contratação de empregados é o celetista, independente de seu grau de risco
ou número de trabalhadores. No entanto, a ausência de risco nos locais
de trabalho, isentará a empresa de adotar todos os itens previstos no
programa. O programa deve ser implementado para cada estabeleci-
mento da empresa, seja matriz ou filial.
O programa, por ser um conjunto de ações que irá necessitar da
integração globalizada da empresa, representantes dos empregados,
sindicatos de classe e Ministério do Trabalho e Emprego, vai exigir
um aperfeiçoamento constante, com vistas a atender às exigências
normativas, promovendo a disposição harmoniosa entre os vários seg-
mentos envolvidos.

142
O programa visa a preservação da saúde e da integridade dos
trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e
conseqüente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes
ou que venham a existir no ambiente de trabalho.
São considerados como riscos ambientais os físicos, químicos e
biológicos. Consideram-se como riscos físicos: ruídos, vibrações, pres-
sões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radia-
ções não-ionizantes, bem como o infra-som e o ultra-som.
Consideram-se como riscos químicos: substâncias, compostos ou
produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória,
nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases e vapores, ou
que, pela natureza da atividade ou exposição, possam ter contato ou ser
absorvidos pelo organismo através da pele ou por ingestão.
Consideram-se como agentes biológicos: bactérias, fungos,
bacilos, parasitas, protozoários, vírus etc.
A estrutura do PPRA deverá contemplar, no mínimo, os seguin-
tes aspectos:

• planejamento anual com estabelecimentos das metas, priori-


dades e cronograma;
• estratégia e metodologia de ação;
• forma de registro, manutenção e divulgação dos dados;
• periodicidade e forma de avaliação do desenvolvimento do
PPRA.
O desenvolvimento do PPRA deverá incluir as seguintes etapas:
• antecipação e reconhecimento dos riscos;
• estabelecimento de prioridades e metas de avaliação e controle;
• avaliação dos riscos e da exposição dos trabalhadores;
• implantação das medidas de controle e avaliação de sua eficácia;
• monitoramento da exposição aos riscos;
• registro e divulgação dos dados.

A antecipação deverá envolver a análise de projetos de novas


instalações, métodos ou processos de trabalho, ou de modificação dos
já existentes, visando identificar os riscos potenciais e introduzir me-
didas de proteção para sua redução ou eliminação.

143
O reconhecimento dos riscos deverá contemplar os seguintes itens:

• a sua identificação;
• a determinação e a localização das possíveis fontes geradoras;
• a identificação das possíveis trajetórias e dos meios de propa-
gação dos agentes no ambiente de trabalho;
• a identificação das funções e determinação do número de tra-
balhadores expostos;
• a caracterização das atividades e dos tipos de exposição;
• a obtenção de dados existentes na empresa, indicativos de pos-
sível comprometimento da saúde decorrente do trabalho;
• os possíveis danos à saúde relacionados aos riscos identificados,
disponíveis na literatura técnica;
• a descrição das medidas de controle já existentes.

A implementação do PPRA estará registrada em dois documentos


distintos:

• o laudo de medições ambientais;


• o documento base.

No laudo de medições ambientais estarão contemplados os resul-


tados das mensurações realizadas no local de trabalho. Óbvio que esta
fase deverá ser precedida pela fase de reconhecimento. No documento
base, estará relatada a estrutura do PPRA, conforme descrito acima.
O planejamento deve estabelecer as metas previstas ao final da
implementação do programa. Na verdade, a meta básica do progra-
ma é a eliminação do agente nocivo ou a minimização da concentra-
ção do agente a fim de não ultrapassar os limites de tolerância. No
estabelecimento de prioridades o técnico estará fixando-as quanto ao
controle dos agentes, isto é, na existência de ruídos e benzeno no
local de trabalho, a primazia é controlar o benzeno, já que é um agen-
te reconhecidamente cancerígeno. O cronograma é a assunção pela
empresa da data em que implementará as medidas de controle.
No item estratégia e metodologia de ação serão lançadas as for-
mas ou técnicas que serão utilizadas para alcançar o fim do progra-
ma, dentro do prazo estipulado no cronograma.

144
Como o programa não estabelece qualquer forma de registro, a
empresa pode eleger aquela da sua conveniência, desde o documento
impresso até o sistema informatizado, desde que sejam preservados
por um período de 20 anos. O programa deve ser reavaliado sempre
que houver algum fato que modifique as condições iniciais, sob as quais
o programa foi realizado. Deve haver um monitoramento constante
para se detectar o eventual momento em que se alcança o nível de
ação. Quanto à divulgação, inicialmente o programa deve ser apresen-
tado um uma reunião ordinária da CIPA, posteriormente, ficará à dis-
posição do trabalhador, seu representante legal (sindicato) e autorida-
des competentes (AFT’s — Auditores Fiscais do Trabalho).
A periodicidade mínima prevista legalmente, para a reavaliação
do PPRA, é de um ano, podendo a empresa, se entender necessário,
realizá-la em períodos menores. Com relação à forma de avaliação, a
interação com outros programas, a exemplo do PCMSO, é de fun-
damental importância para ter um feedback a respeito da eficácia do
programa, pois de nada adianta um programa muito bem colocado no
papel, com os trabalhadores continuando a apresentar doenças ocupa-
cionais, por exemplo.
A análise global do PPRA deveria elencar as ações que foram
cumpridas, as não cumpridas bem como aquelas que foram altera-
das. O não cumprimento do cronograma implica em autuação pelo
Ministério do Trabalho, eis que a própria empresa estabelece as prio-
ridades, comprometendo-se formalmente a implementar ações de
controle.
Muitas empresas têm contratado consultorias para elaborar o
PPRA. O empregador deve tomar cuidado com o cronograma e ativi-
dades proposto. Ao aceitar o planejamento anual, o empregador as-
sume um “passivo fiscal”, isto é, para fins de fiscalização, o Auditor
Fiscal do Trabalho cobrará do empregador o cumprimento das ativida-
des dentro dos prazos estabelecidos no referido cronograma (Araújo
et al, 2003/2004).

PCMSO
O PCMSO — Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacio-
nal está afeto às questões de saúde individual e coletiva dos traba-
lhadores, priorizando o instrumental clínico-epidemiológico na abor-
dagem da relação entre a saúde e o trabalho, tendo ainda, caráter de
prevenção das doenças profissionais.

145
A NR-7 estipula a elaboração e implementação do PCMSO a to-
das as empresas que possuírem empregados com finalidade de pro-
moção e preservação da saúde dos trabalhadores, de acordo com os
riscos a que estão expostos.
O PCMSO deve estar articulado com outras Normas Regulamen-
tadoras, especialmente a NR-9, que deveria conter a identificação dos
riscos à saúde dos trabalhadores. No entanto, o responsável pelo
PCMSO não poderia furtar-se de visitar os locais de trabalho com
vista ao reconhecimento dos riscos. Por meio deste reconhecimento,
deve ser selecionado conjunto de exames clínicos e complementares
específicos para prevenção ou detecção precoce dos agravos à saúde
dos trabalhadores.
É de responsabilidade do empregador garantir a elaboração e efe-
tiva implementação do PCMSO, arcar com os custos do programa, in-
dicar o médico coordenador responsável pela execução do PCMSO, o
qual deve possuir, obrigatoriamente especialização em medicina do
trabalho, exceto se inexistir médico do trabalho na localidade, quando
o empregador poderá contratar médico de outra especialidade.
Estão desobrigadas de indicar médico coordenador as empresas
de grau de riscos 1 e 2, segundo o Quadro I da NR-4, com até 25
(vinte e cinco) empregados e aquelas de grau de riscos 3 e 4 segundo
o Quadro I da NR-4, com até 10 (dez) empregados.
Ao médico coordenador cabe realizar os exames médicos (podendo
delegar a outro médico), bem como requisitar exames complementares, po-
dendo elaborar e ser responsável pelo PCMSO de várias empresas, filiais,
unidades, frentes de trabalho, inclusive em várias unidades da federação.
No entanto, o médico encarregado de realizar os exames médi-
cos, bem como assinar o ASO, deve estar registrado no CRM do Esta-
do em que atua.
Recomenda-se, embora o PCMSO não possua um modelo previs-
to, que contemple informações, tais como:

• identificação da empresa, razão social, endereço, CNPJ;


• ramo de atividade e grau de risco, número de trabalhadores e
sua distribuição por sexo, horários de trabalho e turnos;
• definição de critérios e procedimentos a serem adotados nos
exames médicos;

146
• programação anual dos exames clínicos e complementares es-
pecíficos aos riscos detectados;
• relatório anual após decorrido um ano da implantação do pro-
grama.

O PCMSO deverá incluir obrigatoriamente a realização dos se-


guintes exames médicos:

• admissional, que deverá ser realizado antes que o empregado


assuma suas funções;
• periódico, a cada ano ou intervalos menores, para os expostos
a riscos, ou a cada dois anos, para trabalhadores entre 18 e 45
anos;
• de retorno ao trabalho, no primeiro dia de retorno do trabalha-
dor ausente por 30 dias ou mais;
• de mudança de função, antes da data da mudança;
• demissional, realizado dentro dos 15 dias que antecederem o
desligamento definitivo.
O exame médico periódico deverá ser realizado de acordo com
os intervalos mínimos de tempo:
a) para trabalhadores expostos a riscos ou situações de trabalho
que impliquem no desencadeamento ou agravamento de doença ocupa-
cional, ou, ainda, para aqueles que sejam portadores de doenças crô-
nicas, os exames deverão ser repetidos a cada ano, exceto no caso do
Anexo nº 6 da NR-15, para os trabalhadores expostos a condições
hiperbáricas;
b) para os demais trabalhadores, com periodicidade anual, quan-
do menores de dezoito e maiores de quarenta e cinco anos de idade,
ou a cada dois anos, para os trabalhadores entre dezoito e quarenta e
cinco anos de idade.
O exame médico de retorno ao trabalho deverá ser realizado obri-
gatoriamente no primeiro dia da volta ao trabalho, quando ausente
por período igual ou superior a 30 dias por motivo de doença ou
acidente, de natureza ocupacional ou não, ou parto.
O exame médico de mudança de função será obrigatoriamente
realizado antes da data da mudança, somente se ocorrer alteração de
risco. Pode ocorrer troca de função na empresa sem mudança de ris-
co, e assim não há necessidade do referido exame.

147
O exame médico demissional será obrigatoriamente realizado
até a data da homologação, desde que o último exame médico ocupa-
cional tenha sido feito há mais de 135 dias para as empresas de grau
de riscos 1 e 2 e 90 dias para as empresas de grau de riscos 3 e 4.
Os exames deverão incluir:

• avaliação clínica, abrangendo anamnese ocupacional e exame


físico e mental;
• exames complementares, realizados de acordo com os termos
especificados na NR-7 e seus anexos.

Será emitido, para cada exame médico realizado, Atestado de


Saúde Ocupacional — ASO, em duas vias, uma para o trabalhador e
a outra para arquivo no local de trabalho. O ASO deverá conter no
mínimo:

• nome completo do trabalhador, o número de registro de sua


identidade, e sua função;
• os riscos exclusivamente ocupacionais específicos (físicos, quí-
micos, biológicos e ergonômicos, excluindo-se os riscos mecâ-
nicos), ou a ausência deles;
• indicação dos procedimentos médicos a que foi submetido o
trabalhador, incluindo os exames complementares e a data em
que foram realizados;
• o nome do médico coordenador, quando houver, com respectivo
CRM;
• definição de apto ou inapto para a função específica que o tra-
balhador vai exercer, exerce ou exerceu;
• nome do médico encarregado do exame e endereço ou forma
de contato;
• data e assinatura do médico encarregado do exame e carimbo
contendo seu número de inscrição no Conselho Regional de
Medicina.

O exame médico admissional tem por função detectar qualquer


patologia preexistente no trabalhador. O examinador, através de
anamnese deve explorar a vida pregressa do laborista, dando ênfase
aos empregos anteriores, bem como possíveis agentes nocivos a que

148
este trabalhador esteve exposto. Qualquer suspeita de doença ocupa-
cional deve ser confirmada por meio de exames, por exemplo,
audiometria, radiografias ou exames de sangue e urina.
Jamais o empregado deve ser discriminado por apresentar doen-
ça ocupacional. No entanto, o novo patrão não pode agravar sua
condição, sob pena de ser responsabilizado solidariamente. É óbvio
que um portador de perda auditiva não pode ser conduzido a traba-
lhar numa caldeiraria, mas não há qualquer impedimento se este
trabalhador for admitido como vigia. É prudente que o portador de
doença saiba de sua condição, bem como assine termo de responsabi-
lidade, quando de sua admissão.
Outro detalhe que deve ser trazido à baila é que o médico res-
ponsável pelo exame admissional deve ser médico do trabalho, pois
somente este profissional tem habilidade para caracterizar uma doen-
ça ocupacional. Temos presenciado muitos médicos clínicos, aventu-
rando-se em realizar exame admissional, unicamente medindo a pres-
são arterial e auscultando o coração do examinado, sem fazer qualquer
indagação quanto aos empregos anteriores.
Será emitido, para cada exame médico, o ASO — Atestado de
Saúde Ocupacional, em duas vias, uma para arquivo e outra para o
empregado, sendo que tal arquivo será mantido por 20 anos, após
o desligamento do empregado.
A avaliação dos índices biológicos deverá ser implementada a
cada 6 meses.
É responsabilidade do coordenador do PCMSO ao constatar a
ocorrência ou agravamento de doença profissional, solicitar à empresa
a emissão de CAT — Comunicação de Acidente do Trabalho.
Todo estabelecimento deverá, também, estar munido de material
de primeiros socorros.
Os documentos deverão ser mantidos por período mínimo de 20
anos após o desligamento do trabalhador, ainda que as ações de inde-
nização por acidente ou doença do trabalho prescrevam em 3 anos. A
guarda dos prontuários médicos é da responsabilidade do médico co-
ordenador, devendo este zelar pelo sigilo das informações ali contidas.
Verificando-se através da avaliação clínica ou dos exames a ex-
posição excessiva ao risco, o trabalhador deverá ser afastado do local
de trabalho, ou do risco, até que seja normalizado o indicador bioló-
gico de exposição.

149
Sendo constatada a ocorrência ou agravamento de doenças pro-
fissionais, caberá ao médico coordenador ou encarregado:

• solicitar à empresa a emissão da Comunicação de Acidente


do Trabalho — CAT;
• indicar, quando necessário, o afastamento do trabalhador da
exposição ao risco, ou do trabalho;
• encaminhar o trabalhador à Previdência Social para estabele-
cimento de nexo causal, avaliação de incapacidade e definição
da conduta previdenciária em relação ao trabalho;
• orientar o empregador quanto à necessidade da adoção de me-
didas de controle no ambiente de trabalho.

O PCMSO estará a cargo de médico do trabalho, empregado ou


não, e na impossibilidade, poderá haver a contratação de médico de
outra especialidade.

OS EXAMES MÉDICOS
Nos termos da NR-7 — Programa de Controle Médico de Saúde
Ocupacional — é obrigatória a realização dos seguintes exames mé-
dicos: admissional, periódico, de retorno ao trabalho, de mudança de
função e demissional. Realizar o exame médico no trabalhador, mais
que prevenir a doença ocupacional, é produzir documentos que com-
provem o seu estado de saúde.
O exame médico admissional é o principal instrumento de que
dispõe a empresa para comprovar e/ou verificar se o trabalhador pos-
sui, ou não, qualquer moléstia, anteriormente à sua entrada na empresa.
Em conseqüência, deve ser muitíssimo bem conduzido por especia-
lista em medicina do trabalho, eis que não se trata de exame médico
comum (como por exemplo, medir a temperatura e pressão do pacien-
te com a tradicional pergunta: você tem algum problema?). Numa
oportunidade, presenciamos um clínico geral apontar no ASO — Ates-
tado de Saúde Ocupacional — que uma recepcionista estaria sujeita
aos agentes físicos; questionado sobre quais agentes físicos estaria se
referindo, o profissional foi categórico: a recepcionista possui contato
físico com o público!
O médico do trabalho deve estar preparado para realizar uma
anamnese no trabalhador, particularmente com enfoque em seus em-
pregos anteriores, realizando a questão básica que Ramazzini, em 1700,

150
já havia proposto: qual a sua ocupação? Por óbvio que o médico do
trabalho deverá requisitar um exame audiométrico para um caldei-
reiro, ou exame de urina para medir o ácido hipúrico de um trabalha-
dor que teve exposição ao tolueno, ou mesmo um hemograma com-
pleto e contagem de plaquetas se o trabalhador esteve exposto às ra-
diações ionizantes ou ao benzeno.
O exame médico, entretanto, não deveria possuir caráter discrimi-
natório em relação aos trabalhadores com exames alterados, sob pena
de estarmos criando um exército de “doentes” desempregados, que fa-
talmente buscarão a via judicial para receber indenizações de seus ex-
patrões. A empresa pode admitir trabalhadores com exames alterados,
desde que não agrave sua condição. Não há qualquer problema em se
admitir um ex-caldeireiro, com perda auditiva, para colocá-lo na porta-
ria, no escritório ou em qualquer outro local silencioso. Da mesma for-
ma, não há qualquer risco em se admitir um silicótico para trabalhar
numa linha de montagem, sem exposição aos agentes químicos.
Se a empresa, contudo, não deseja admitir trabalhadores com
exames médicos alterados, deve ser cuidadosa quanto à forma com que
conduz seu processo de seleção. Alguns candidatos aprovados nos tes-
tes e reprovados nos exames médicos, têm recorrido à justiça para ga-
rantir sua admissão. Uma forma inteligente é inverter a ordem do pro-
cesso seletivo, realizando o exame médico antes; desta forma, o candi-
dato não terá certeza se foi reprovado no exame médico ou nos testes.
É desnecessário lembrar, quanto ao exame médico demissional,
que é a última oportunidade em que a empresa poderá produzir uma
prova de que o trabalhador deixou seu emprego em condições nor-
mais, isto é, isento de doença. Para tanto, é preciso que sejam realiza-
dos todos os exames laboratoriais ou outros para retratar este pano-
rama. Cuidado com profissionais que, sendo mais realistas que o rei,
acabam por admitir, na ASO, condição que deixa a empresa vulnerá-
vel contra ações trabalhistas ou civis.

CUIDADOS NA CONTRATAÇÃO DE
SERVIÇOS TERCEIRIZADOS
Com o advento da terceirização, tinha-se em mente a transferên-
cia da responsabilidade trabalhista e cível para uma outra empresa, a
qual estaria sendo devidamente remunerada para tal finalidade. En-
tretanto, não foi o que aconteceu. Para nossa surpresa, deparamos

151
com vários processos onde figuram como rés tanto a terceirizada como
a terceirizadora, solidariamente; aliás, de acordo com a Súmula nº
341 do STF.
A contratante que escolhe mal ocorre em culpa in eligendo, po-
dendo, contudo, exercer o direito regressivo. Entretanto, segundo o
item 1.7.a, da NR-1, cabe ao empregador, cumprir e fazer cumprir as
disposições legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho.
A seguir exemplo de cláusula a ser inserida nos contratos de terceiri-
zação:

Fornecer aos seus empregados, gratuitamente, EPI — equipamento


de proteção individual sempre que houver necessidade de proteção da saúde
e integridade física do trabalhador contra riscos de acidentes do trabalho
e/ou doenças profissionais e do trabalho, em observância aos preceitos da
Norma Regulamentadora nº 6, da Portaria nº 3.214/78, quais sejam:
a) adquirir o tipo de EPI adequado à atividade do empregado;
b) fornecer ao empregado somente EPI portador de CA — Certificado
de Aprovação, aprovado pelo MTE — Ministério do Trabalho e Emprego
de empresas cadastradas no DNSST — Departamento Nacional de Segu-
rança e Saúde do Trabalhador/MTE;
c) treinar o trabalhador sobre o uso adequado do correspondente EPI;
d) tornar obrigatório o seu uso;
e) substituí-lo, imediatamente, quando danificado ou extraviado;
f) responsabilizar-se pela sua higienização e manutenção periódica;
g) comunicar ao MTE qualquer irregularidade observada no EPI.
O fornecimento deverá ser realizado contra recibo firmado pelo tra-
balhador, o qual se comporá de ficha individual de fornecimento de EPI’s,
onde constarão, discriminada e analiticamente, todos os equipamentos
entregues. No caso de EPI’s com fornecimento contínuo, admite-se o re-
gistro de forma sintética, semanal ou mensal. Da mesma forma, o treina-
mento sobre o uso adequado deverá ser dado sob recibo individualizado
firmado pelo trabalhador, ou, alternativamente, com emissão de certifica-
do de participação de curso de treinamento.
O EPI é de uso individual, não se admitindo EPI’s para uso coletivo.

152
Considera-se estabelecimento, nos termos da NR-5, em se tratan-
do de empreiteiras ou empresas prestadoras de serviços, o local em
que seus empregados exercem suas atividades. O dimensionamento
da CIPA nestas circunstâncias é calculado com base no número de
seus empregados em cada estabelecimento, separadamente, não po-
dendo ser somados com os empregados do estabelecimento onde pres-
tam seus serviços, ou dos demais estabelecimentos, ou da sede da
empresa, sendo que estabelecimento é o local onde os empregados
desenvolvem suas atividades.
Sempre que duas ou mais empresas atuarem em um mesmo es-
tabelecimento, a CIPA ou designado da empresa contratante deverá,
em conjunto com as das contratadas ou com os designados, definir
mecanismos de integração e de participação de todos os trabalhado-
res em relação às decisões das CIPA existentes no estabelecimento.
A contratante e as contratadas, que atuem num mesmo estabele-
cimento, deverão implementar, de forma integrada, medidas de pre-
venção de acidentes e doenças do trabalho de forma a garantir o mes-
mo nível de proteção em matéria de segurança e saúde a todos os
trabalhadores do estabelecimento.
A empresa contratante adotará medidas necessárias para que as
empresas contratadas, suas CIPA, os designados e os demais traba-
lhadores lotados naquele estabelecimento recebam as informações
sobre os riscos presentes nos ambientes de trabalho, bem como sobre
as medidas de proteção adequadas.

153
Gerenciando o passivo em
segurança e saúde
no trabalho

A RELEVÂNCIA DA PRODUÇÃO DA PROVA PERICIAL


Teremos a falsa impressão, ao analisarmos microscopicamente,
comparando os adicionais de risco (insalubridade e periculosidade)
com a totalidade do passivo trabalhista de uma empresa, de que só
porque constituem diminuta parcela, estes adicionais não represen-
tam qualquer intranqüilidade para o orçamento da empresa. Em ter-
mos econômicos não impactam nem de longe as verbas das empre-
sas, se comparados, por exemplo, com as indenizações por acidente
do trabalho e o novo imposto previdenciário.
Uma inocente derrota na Justiça Trabalhista, condenando a em-
presa ao pagamento do adicional de insalubridade ou periculosida-
de, desencadeia um processo, conhecido singularmente por “rádio-
peão”, onde o empregado vitorioso noticia seu sucesso a todos seus
pares de trabalho, criando uma expectativa para todos os demais. A
condenação trabalhista abre um precedente aos outros trabalhado-
res, particularmente àqueles com igual função do trabalhador, para
que num futuro próximo, sintam-se seguros em pleitear o mesmo
adicional. Dessa forma, aquele inofensivo adicional pago por conde-
nação, que se acreditava ser caso único, e que pela sua insignificante
monta, não merecia maior atenção, transforma-se numa avalanche
de processos, inclusive utilizando-se daquele primeiro processo vito-
rioso como prova emprestada. Numa situação limite, em que o Juiz

155
se sentir à vontade para julgar com base na prova emprestada (artigo
427 do CPC), sequer haverá a obrigatoriedade de perícia para a carac-
terização ou não da insalubridade e/ou periculosidade, como deter-
mina o artigo 195 da CLT.
Por outro lado, a única possibilidade real de extinção do proces-
so sem o julgamento do feito é por meio da celebração de acordo en-
tre as partes (estamos excluindo as possibilidades de arquivamento
do processo por ausência do reclamante ou por qualquer incorreção
de seu patrono na condução do processo). No entanto, tais acordos
são mais danosos do que parecem. Ao contrário do que pensam as
empresas, os acordos judiciais não são “cala boca” para o reclamante;
mas sim anúncio para outros empregados de que a empresa é “frou-
xa” e faz acordo muito rápido. Os reflexos são piores, pois os candi-
datos a reclamantes movidos pela celeridade do processo trabalhista
sabem que receberão em breve com o acordo, e não precisarão perse-
verar os longos anos que dura uma demanda trabalhista.
Deixar o assunto ser resolvido pela via judicial não é prudente,
pior ainda é resolvê-lo de forma caseira, por meio de acordo. Inicial-
mente, porque os acordos não homologados pela justiça não possuem
nenhum crédito legal, inclusive sendo imprestáveis para abster um
processo. Ao contrário, um acordo celebrado sob os auspícios da jus-
tiça dá a garantia da extinção do litígio. O acordo entabulado na em-
presa, pela sua ligeireza e pouco constrangimento que rende ao tra-
balhador, é o pior precedente que se pode abrir a outros empregados
oportunistas, que justificarão sua reivindicação com o exemplo da
transação antecedente.
Temos presenciado uma forma efetiva e alternativa de acordo,
realizada sob os auspícios da Lei nº 9.307/96 — Lei de Arbitragem. A
sentença proferida pelo árbitro não fica sujeita a recurso, logo é irre-
corrível. Se é irrecorrível, faz coisa julgada, ou seja, impede a discus-
são do mérito, da matéria em si, conforme o art. 18 da citada Lei:

O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não


fica sujeita a recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário.

Fica bem claro, de todo o exposto anteriormente, que, ao sofrer


um processo trabalhista — especialmente se este for o primeiro — a
empresa deve triunfar a qualquer custo; claro que estamos falando

156
de formas legais, o que se consegue com a contratação de um bom
advogado e, para o caso dos adicionais de insalubridade e periculosi-
dade, a indicação de um assistente técnico, além de providências ine-
rentes à própria administração da empresa.
Um hábil advogado não deve ser ávido por acordos já em pri-
meira audiência. Ele saberá conduzir o processo de forma a otimizar
os resultados da procrastinação. Ponderar a viabilidade do recurso é
uma decisão que, de forma alguma, pode estar atrelada ao depósito
recursal. A convicção deve ser um parâmetro que, numa eventuali-
dade, decretará a subida ao TRT.
O assistente técnico, como especialista no assunto insalubridade
e periculosidade, deverá ser selecionado entre profissionais de notá-
vel saber, que seja habilidoso com todos os peritos e, principalmente,
seja respeitado entre os profissionais de seu meio. Profissionais tec-
nicamente consagrados, sem o respaldo e apreciação dos colegas de
sua categoria, fatalmente esbarrarão em questões de relacionamento.
Outro detalhe importante é que o assistente técnico não é aquele
profissional que somente acompanha a vistoria do perito. Este profis-
sional começa seu trabalho desde a inicial, quando subsidia o advoga-
do na elaboração da contestação. Posteriormente, quando da nomea-
ção do perito, prepara os quesitos mais oportunos à situação, bem como
faz os contatos prévios para agendamento conjunto da vistoria.
Na data da vistoria, o assistente técnico se incumbe de selecio-
nar as testemunhas que melhor lhe aprouver, sem, obviamente, distorcer
a verdade dos fatos, nem mascarar o ambiente. Na verdade, o assis-
tente faz a ponte entre o representante da empresa e o perito, evitan-
do-se situações embaraçosas e constrangedoras. Finalmente, caso a
conclusão pericial seja desfavorável, o assistente entrará novamente
em ação, gerando subsídios para o advogado elaborar a impugnação
ao laudo, bem como quesitos suplementares. É óbvio que a discussão
deve restringir-se ao plano técnico. Advogados excessivamente
combativos, que fazem ataques pessoais ao perito, somente cultivam
a indignação e antipatia daquele profissional.
A empresa, principal interessada, também tem seu papel no pro-
cesso. É dela que virão as indispensáveis informações para subvencio-
nar as petições. O preposto da reclamada deve possuir um mínimo de
conhecimento, inclusive quanto às suas prerrogativas. Alguns peritos

157
bradam mais prerrogativas do que obrigações. Dessa maneira, a em-
presa deve estar atenta, falando exatamente o indispensável e ressal-
tando somente o que lhe interessa, porque, afinal de contas, não é reco-
mendável a ninguém produzir provas contra si mesmo!

O CPC E AS PECULIARIDADES DO
PROCESSO TRABALHISTA
INTRODUÇÃO

Quem ingressa em juízo deve provar suas alegações, pois alegar


e não provar é o mesmo que não alegar. Todos os meios de prova são
válidos, desde que não sejam ilícitos ou imorais.
Prova ilícita é aquela produzida com violação às regras do direito
material e outras fontes do direito. Nos termos do artigo 5º, LVI da CF,
“são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”.
A prova, como garantia de ampla defesa, jamais poderia ser obti-
da de qualquer forma, senão por maneiras que não firam outros direitos.
Existem dois tipos de provas ilícitas: a primeira é quanto à for-
ma de geração da prova e a segunda é quando atenta-se contra um
direito individual.
Neste podemos citar como exemplo uma interceptação telefôni-
ca sem consentimento da outra parte e naquele ocorre vício na forma
de geração da prova, tais como utilização de meios não autorizados
por lei processual.
As provas ilícitas não podem ser admitidas, sob pena de estar, o
próprio direito, adotando postura contraditória a seus princípios.
Como provas ilícitas podemos citar:

• violação de correspondência (artigo 5º, inciso XII da CF) como


furto de cartas ou sua obtenção de forma criminosa;
• gravações clandestinas;
• diário íntimo furtado ou obtido ilicitamente;
• testemunha introduzida em domicílio para provar o adultério,
com violação do domicílio (artigo 153, § 10 da CF).

158
A prova ilícita não pode ser apreciada pelo Juiz, devendo ser
desentranhada dos autos. No entanto, a prova se torna lícita, se o
interessado abrir mão de seus direitos assegurados.
As provas no Direito dividem-se, classicamente, em:

• confissão das partes;


• oitiva de testemunhas;
• documental;
• vistorias e perícias;
• inspeção judicial.

A perícia, então, está inclusa no rol das provas possíveis em Direi-


to. Cabe neste momento a distinção entre perícia e inspeção judicial;
enquanto aquela é realizada pelo Perito, esta é levada a cabo pelo
próprio Juiz, que deixa seu gabinete e sai a campo para apurar deter-
minado fato, acompanhado ou não do Perito.
É necessário, para entendimento do processo, elencar as fases
do processo judicial:

• Postulatória — O autor apresenta e fundamenta seu pedido e


o réu apresenta sua defesa;
• Conciliatória — É realizada uma tentativa de acordo entre as
partes, antes mesmo de serem esclarecidos os fatos alegados;
• Saneamento — O Juiz declara o processo em ordem e apto
para prosseguir e toma determinadas decisões com relação ao
seu desenvolvimento;
• Instrutória — São produzidas provas necessárias para elucidar
os fatos;
• Decisória — O Juiz julga o mérito do processo e outras ques-
tões que lhe foram submetidas;
• Recursos — A parte vencida requer a apreciação da ação por
instância superior (tribunais).

A perícia judicial encontra-se normatizada no Código de Proces-


so Civil, Seção VII do Capítulo VI — Das provas, modificado pela Lei

159
nº 8.455, de 24.08.1992, que comentamos a seguir. O Código de Pro-
cesso Civil é aplicável, no que couber, às perícias trabalhistas, nos
termos do artigo 769 da CLT:

Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidi-


ária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incom-
patível com as normas deste Título.
Seção VII — Da prova pericial
Art. 420. A prova pericial consistirá em exame, vistoria ou avali-
ação.
Parágrafo único. O juiz indeferirá a perícia quando:
I — a prova do fato não depender do conhecimento especial do
técnico;
II — for desnecessária em vistas de outras provas produzidas;
III — a verificação for impraticável.

A prova pericial será indeferida pelo Juiz quando a matéria não


exigir conhecimento especializado ou quando for matéria de direito
e, não fática. Também, havendo outras provas que substituam a perí-
cia, por exemplo, a prova emprestada, o Juiz pode entender desne-
cessário, até mesmo por economia processual, a realização da perícia.
Finalmente, sendo impraticável a realização da perícia, por perda ou
descaracterização do objeto, por si só está prejudicada a consecução
do trabalho pericial.
Há também os fatos que independem de prova, quais sejam:

• fatos axiomáticos ou intuitivos: são os fatos evidentes, sobre


os quais se possui certo grau de certeza, por exemplo, haven-
do poeira de sílica no local de trabalho, presume-se que a
silicose é de origem ocupacional;
• fatos notórios: são os fatos de cujo conhecimento faz parte da
cultura da sociedade, por exemplo, a gasolina, o álcool e o óleo
diesel são produtos inflamáveis;
• presunções legais: são conclusões advindas da lei ou são o co-
nhecimento decorrente da ordem natural das coisas, por exem-
plo, constatando-se que o trabalhador possui perda auditiva

160
e, que esta perda não é oriunda da presbiacusia, doença con-
gênita, trauma acústico, uso de substâncias ototóxicas ou
socioacusia, presume-se que a perda auditiva é ocupacional;
• fatos inúteis: são os fatos irrelevantes e que não influenciam
na apuração da verdade, por exemplo, numa perícia de insa-
lubridade não tem qualquer relevância o fato dos paradigmas
serem remunerados com o adicional.
Art. 421. O juiz nomeará o perito, fixando de imediato o prazo
para a entrega do laudo.
§ 1º Incumbe às partes, dentro de 5 (cinco) dias, contados da in-
timação do despacho de nomeação do perito:
I — indicar o Assistente Técnico;
II — apresentar quesitos.
§ 2º Quando a natureza do fato o permitir, a perícia poderá con-
sistir apenas na inquirição do perito e dos assistentes, por ocasião da
audiência de instrução e julgamento a respeito das coisas que houve-
rem informalmente examinado ou avaliado.

Diante da nomeação do Perito, as partes possuem duas prerro-


gativas: indicar Assistente Técnico e apresentar rol de quesitos. O
Assistente Técnico é de confiança da parte que o indicou e funciona
como um advogado técnico, não privilegiando a inverdade, mas evi-
denciando os pontos que lhe são favoráveis. Quanto aos quesitos, se
tratam de questões formuladas ao Perito com a intenção de guiar os
trabalhos para determinado enfoque.
O prazo fixado pelo juiz para entrega do laudo pericial pode ser
postergado mediante requerimento do Perito ao Juiz, nos termos do
artigo 432 do CPC. Este prazo oscila de vara para vara, sendo em
geral 30 dias.

Art. 422. O Perito cumprirá escrupulosamente o encargo que


lhe foi cometido, independentemente de termo de compromisso. Os assis-
tentes técnicos são de confiança da parte, não sujeitos a impedimentos
ou suspeição.

O termo de compromisso, anteriormente exigido, deixou de vigir.


Naquele termo o Perito, em outras palavras, se comprometia a atuar

161
de boa-fé e com fidelidade à Justiça. Atualmente, está implícito que o
Perito deve agir com todos os requisitos previstos no termo de com-
promisso. Quanto aos impedimentos de suspeição, estes são aplicá-
veis somente ao Perito, não ao Assistente Técnico, já que este é de
confiança da parte que o indicou.

Art. 423. O Perito pode escusar-se (art. 146), ou ser recusado por
impedimento ou suspeição (art. 138, III); ao aceitar a escusa ou julgar
procedente a impugnação, o juiz nomeará novo perito.

O Perito pode não aceitar realizar o trabalho por vários motivos,


inclusive por foro íntimo ou excesso de trabalho. As partes também
podem impugnar sua nomeação quando houver qualquer impedi-
mento ou suspeição.

Art. 424. O Perito pode ser substituído quando:

I — carecer de conhecimento técnico ou científico;

II — sem motivo legítimo, deixar de cumprir o encargo no prazo


que lhe foi assinado.

Parágrafo único. No caso previsto no inciso II, o juiz comunicará


a ocorrência à corporação profissional respectiva, podendo, ainda, im-
por multa ao perito, fixada em vista o valor da causa e o possível prejuízo
decorrente do atraso no processo.

Adicionalmente, o Perito pode ser substituído quando não pos-


suir conhecimentos técnicos específicos suficientes, ou quando for
negligente e descumprir os prazos concedidos pelo Juiz.

Art. 425. Poderão as partes apresentar, durante a diligência, que-


sitos suplementares. Da juntada dos quesitos aos autos dará o escrivão
ciência à parte contrária.

Este artigo é pouco exercitado, eis que os trabalhos periciais ocor-


rem em clima de informalidade, especialmente entre o Perito e os
Assistentes Técnicos, não havendo necessidade de apresentação de
quesitos, mas tão-somente de colocações verbais durante os trabalhos.

162
Art. 426. Compete ao juiz:
I — indeferir quesitos impertinentes;
II — formular os que entender necessários ao esclarecimento da
causa.

Os quesitos inoportunos e sem relação com o objeto da perícia,


além daqueles que versarem sobre matéria de direito poderão ser
indeferidos pelo Juiz. É muito comum a ocorrência de quesitos sobre
horas extras, equiparação salarial e outros assuntos não pertinentes,
por exemplo, às perícias de insalubridade e periculosidade, cujo ob-
jetivo é simplesmente produzir prova nos autos. Não é procedimen-
to comum, principalmente na Justiça Trabalhista, a formulação de
quesitos pelo Juiz.

Art. 427. O Juiz poderá dispensar prova pericial quando as


partes, na inicial e na contestação, apresentarem sobre as questões de
fato pareceres técnicos ou documentos elucidativos que considerarem
suficientes.

Em se tratando de processo trabalhista, este artigo conflita com


o artigo 195 da CLT que determina que o Juiz deve nomear Perito nos
pedidos de adicional de insalubridade e/ou periculosidade. No en-
tanto, algumas Varas do Trabalho, de forma pontual, têm dispensado
a perícia quando há juntada de prova emprestada, representada por
laudos similares.

Art. 428. Quando a prova tiver de realizar-se por carta, poderá


proceder-se a nomeação de Perito e indicação de assistentes técnicos no
juízo, ao que se requisitar a perícia.

Se a perícia tiver de ser realizada em comarca distinta, será expe-


dida carta precatória onde serão realizados os trabalhos periciais, quan-
do então, o Juiz daquela comarca estará nomeando Perito de sua confi-
ança para a elaboração do laudo que será enviado para o requisitante.

Art. 429. Para o desempenho de sua função, podem o Perito e os


Assistentes Técnicos utilizar-se de todos os meios necessários, ouvindo

163
testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos que este-
jam em poder da parte ou em repartições públicas, bem como instruir o
laudo com plantas, desenhos, fotografias e outras quaisquer peças.

Praticamente todas as prerrogativas da perícia judicial estão inseridas


neste artigo. Na prática tem sido difícil exercitar tais direitos e, muitas
vezes, tais direitos somente são assegurados por meio de mandado judi-
cial, acompanhado de Oficial de Justiça e reforço policial.
Outro detalhe interessante é que o artigo coloca em condições de
igualdade Perito e Assistente Técnico; porém, é extremamente difícil
garantir ao Assistente Técnico do reclamante tais direitos, de forma
isolada, quando a perícia é realizada nas instalações da reclamada,
por exemplo.
Acrescente-se ainda que o artigo prevê a produção de prova fo-
tográfica, não fazendo menção a filmagens. Além do que, a prova
fotográfica deve preservar o segredo industrial da reclamada, na me-
dida do possível.

Art. 431-A. As partes terão ciência da data e local designados


pelo Juiz ou indicados pelo perito para ter início a produção da prova.

Durante um longo tempo, Peritos realizavam vistorias de surpre-


sa, inclusive por determinação da própria Vara, sob a alegação de que
as partes sabedoras da data dos trabalhos periciais “mascaravam” o
ambiente. Com a instituição do presente artigo, o perito é obrigado a
dar publicidade a respeito do início dos trabalhos periciais, inclusive
para que o Assistente Técnico possa acompanhar a vistoria.
O artigo 431 do CPC foi reintroduzido pela Lei nº 10.358, de
27.12.2001. Tal artigo vem satisfazer os anseios, particularmente dos as-
sistentes técnicos, no tocante à divulgação prévia de data e local dos
trabalhos periciais. Infelizmente, alguns Peritos que constituem exceção
dentro da categoria, ainda insistem em realizar perícias sem prévio avi-
so, o que prejudica a atuação do Assistente Técnico e contraria frontal-
mente o Princípio Constitucional do Contraditório e Ampla Defesa.

Art. 431-B. Tratando-se de perícia complexa, que abranja mais de


uma área de conhecimento especializado, o Juiz poderá nomear mais
de um Perito e a parte indicar mais de um Assistente Técnico.

164
Em determinadas situações o objeto da perícia pode ultrapassar
os limites de conhecimento de um único profissional, quando então,
faz-se necessário o consórcio de outros profissionais que opinarão
conjuntamente. Ademais, antes mesmo da reintrodução do artigo 431
pela Lei nº 10.358, de 27.12.2001, nas perícias complexas, a nomeação
de mais de um perito já vinha ocorrendo na prática.

Art. 432. Se o Perito, por motivo justificado, não puder apresentar


o laudo dentro do prazo, o juiz conceder-lhe-á, por uma vez, prorro-
gação, segundo o seu prudente arbítrio.

Há perícias mais complexas, que envolvem avaliação de agentes


químicos, cujo prazo de entrega pelo laboratório analítico, muitas ve-
zes excede o prazo determinado pelo Juiz, quando então caberia um
pedido de postergação para protocolo do laudo. No entanto, não se
justifica, para os casos triviais, inclusive por excesso de trabalho, o
reiterado atraso na devolução dos autos e protocolo do laudo.

Art. 433. O Perito apresentará o laudo em cartório, no prazo fixado


pelo Juiz, pelo menos 20 (vinte) dias antes da audiência de instrução e
julgamento.
Parágrafo único. Os Assistentes Técnicos oferecerão seus parece-
res no prazo comum de 10 (dez) dias, após intimadas as partes da apre-
sentação do laudo.

Os critérios do artigo 433 não são seguidos pela Justiça Traba-


lhista, eis que o laudo pericial deve ser apresentado no prazo deter-
minado pelo Juiz (30, 45, 60 ou até 90 dias). Quanto ao protocolo do
parecer do Assistente Técnico, este deve ser realizado antes ou no
máximo juntamente com o laudo pericial, sob pena de desentranha-
mento, por força do parágrafo único do artigo 3º da Lei nº 5.584/70.
A Lei nº 10.358, de 27.12.2001 trouxe algumas alterações ao Có-
digo de Processo Civil, com implicações diretas à perícia judicial, as
quais passaram a vigir desde 28.03.2002. A primeira modificação é
encontrada no parágrafo único do artigo 433 do CPC. Assim, fica
claro que o prazo para apresentação do parecer do assistente técnico será
de 10 dias após as partes tomarem ciência a respeito do protocolo do

165
laudo pericial. Não há mais a preocupação das partes em saber quan-
do o perito apresentou seu laudo em cartório, em consonância com o
raciocínio de Eduardo Gabriel Saad (CLT Comentada, 32ª ed., LTr):

Dessarte, a parte interessada terá de vigiar o desenrolar do pro-


cesso, dia-a-dia, a fim de apurar a data da apresentação do laudo.
Reconheçamos que o legislador não se houve com felicidade na redação
do referido dispositivo legal. Deveria a parte ser intimada da anexação do
laudo aos autos.

Ao assistente é permitido protocolar laudo após o Perito, exata-


mente para discordar ou concordar, de forma circunstanciada, apre-
sentando laudo discordante ou concordante, que obviamente se limi-
tará à apreciação sob o plano técnico.

A CLT encontra-se já alterada por força do disposto da Lei nº


5.584, de 26.06.1970, que dispõe sobre normas de direito processual
do trabalho. Desta forma, o artigo 433 do CPC é incompatível com o
artigo 3º da Lei nº 5.584, de 26.06.1970, que dispõe:

Os exames periciais serão realizados por Perito único designado


pelo Juiz, que fixará o prazo para entrega do laudo.

Parágrafo único: Permitir-se-á a cada parte a indicação de um as-


sistente, cujo laudo terá que ser apresentado no mesmo prazo assinado
para o Perito, sob pena de ser desentranhado dos autos.

Então, no processo trabalhista o prazo para protocolo do parecer


(ou laudo) do assistente técnico será o mesmo que do perito. Daí, por
que condenarmos a figura do parecer discordante no âmbito da Justi-
ça do Trabalho, onde o assistente técnico deve se restringir a produzir
um parecer simplesmente relatando suas observações, sem qualquer
alusão ao laudo pericial, mesmo porque ainda não teve acesso àquele
documento. A impugnação é documento subscrito pelo advogado,
obviamente com os subsídios gerados pelo assistente e, presta-se a
mencionar as eventuais críticas ao laudo pelas partes. Desta forma,
soa bastante deselegante e antiético a inserção de laudo discordante
pelo assistente técnico numa ação trabalhista.

166
Art. 435. A parte, que desejar esclarecimento do Perito e do As-
sistente Técnico requererá ao juiz que mande intimá-lo a comparecer
em audiência, formulando desde logo as perguntas, sob forma de quesitos.
Parágrafo único. O Perito e o Assistente Técnico só estarão obriga-
dos a prestar os esclarecimentos a que se refere este artigo, quando inti-
mados 5 (cinco) dias antes da audiência.

A intimação do Perito em audiência está, cada vez mais, se tor-


nando rara. Normalmente, o Perito presta informações por escrito
nos autos. No entanto, não podemos negar que a acareação do Perito
seria um fortíssimo instrumento para rebater eventuais equívocos ou
lapsos contidos no laudo pericial.

Art. 436. O Juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar
a sua convicção com outros elementos ou fatos provados nos autos.

Fica claro que o laudo pericial não vincula o Juiz, que pode for-
mar sua opinião a contrario sensu do conteúdo do laudo; porém, con-
siderando-se que o Perito é de confiança do Juiz, julgar contrariando
o laudo equivale à quebra de confiança entre Juiz e Perito. Ressalte-
se também que, em não tendo conhecimentos específicos, o Juiz terá
de manifestar-se de forma circunstanciada sobre a conclusão pericial
para decidir contrariamente àquela.

Art. 437. O Juiz poderá determinar, de ofício ou a requerimento


da parte, a realização de nova perícia, quando a matéria não lhe parecer
suficientemente esclarecida.

Apesar de não estar explicitamente determinado no artigo, pres-


supõe-se que uma nova perícia deverá ser realizada por Perito distin-
to, eis que o profissional anterior, até mesmo por questões de vaida-
de, manteria a mesma conclusão pericial, em nada acrescentando ao
novo trabalho. Alternativamente, o Juiz pode determinar que o Peri-
to manifeste-se sobre sua conclusão, elencando os pontos que consi-
dera não suficientemente claros no laudo pericial.

Art. 438. A segunda perícia tem por objeto os mesmos fatos sobre
que recaiu a primeira e destina-se a corrigir eventual omissão ou ine-
xatidão dos resultados a que esta conduziu.

167
A segunda perícia não pode possuir objeto distinto da primeira,
além do que, a segunda perícia somente destina-se a aclarar eventuais
pontos obscuros da primeira.

Art. 439. A segunda perícia rege-se pelas disposições estabelecidas


para a primeira.

Parágrafo único. A segunda perícia não substitui a primeira, ca-


bendo ao Juiz apreciar livremente o valor de uma e outra.

Além de objeto idêntico à primeira, a segunda perícia deve ser


realizada sob as mesmas disposições estabelecidas na primeira perí-
cia. Ainda com base no artigo 436 o Juiz tem a liberdade de apreciar a
primeira e a segunda perícias sem estar vinculado ao resultado de
qualquer uma delas.

Quanto à pessoa do perito, o Código de Processo Civil, no Títu-


lo IV — Dos Órgãos Judiciários e dos Auxiliares da Justiça, Capítulo
V — Dos Auxiliares da Justiça prescrevem o seguinte:

Seção II — Do Perito
Art. 145. Quando a prova do fato depender de conhecimento téc-
nico ou científico, o Juiz será assistido por Perito, segundo o disposto
no artigo 421.
§ 1º Os Peritos serão escolhidos entre profissionais de nível uni-
versitário, devidamente inscritos no órgão de classe competente, res-
peitado o disposto no Cap. VI, Seção VII, deste Código.
§ 2º Os peritos comprovarão sua especialidade na matéria sobre
que deverão opinar, mediante certidão do órgão profissional em que
estiverem inscritos.
§ 3º Nas localidades onde não houver profissionais qualificados
que preencham os requisitos dos parágrafos anteriores, a indicação dos
Peritos será de livre escolha do Juiz.

No caso da perícia trabalhista, segundo o artigo 195 da CLT, o


Expert deve ser engenheiro de segurança do trabalho ou médico do
trabalho. Inexistindo tais profissionais na comarca, o juiz pode esco-
lher livremente entre outros profissionais.

168
Art. 146. O Perito tem o dever de cumprir o ofício, no prazo que
lhe assina a lei, empregando toda a sua diligência; pode, todavia, escu-
sar-se do encargo alegando motivo íntimo.
Parágrafo único. A escusa será apresentada, dentro de cinco
(5) dias contados da intimação, ou do impedimento superveniente
ao compromisso, sob pena de reputar renunciado o direito de alegá-lo
(art. 423).

Caso a perícia não possua condições de realizar o trabalho, seja


por excesso de trabalho, doença, ou qualquer outra razão particular,
no período de 5 dias da intimação pode requerer destituição, alegan-
do motivo íntimo.

Art. 147. O Perito que, por dolo ou culpa, prestar informações


inverídicas, responderá pelo prejuízos que causar à parte, ficará inabi-
litado, por dois (2) anos, a funcionar em outras perícias e incorrerá na
sanção que a lei penal estabelecer.

Esclareça-se que tal inabilitação não está restrita à comarca que


atua o Perito, mas sim, a todo o território nacional.

OS QUESITOS

Os quesitos elaborados pelas partes, quando bem formulados,


possuem o condão de direcionar o perito em seu trabalho, fornecen-
do subsídios importantes, funcionando também como forma de cer-
cear o trabalho pericial exatamente no ponto objeto da demanda.
A experiência tem demonstrado que a maioria dos juristas, seja
por falta de conhecimento na matéria, seja por desconhecimento do
fato em si, acabam criando quesitos que se constituem em verdadei-
ras provas para a parte contrária, onde, muitas vezes, culminam por
prejudicar a própria situação da sua parte.
O que temos observado nos processos é a incessante busca numa
padronização de rol de quesitos que sirvam para todo e qualquer
processo, seja ele de insalubridade ou periculosidade. Assim, encon-
tramos processos e mais processos, cujos quesitos são cópias idênti-
cas um dos outros, sem o mínimo de cuidado na sua elaboração e
muitas vezes não se prestando ao caso em julgamento.

169
Pode o Juiz, teoricamente, indeferir quesitos imprestáveis, julgan-
do-os como impertinentes, tais como os quesitos que são perguntas con-
dicionais sobre meras hipóteses, além das perguntas sugestivas; entre-
tanto, o acúmulo de processos impede o magistrado de examinar quesi-
to por quesito, passando-os diretamente ao perito para respostas.

Cabe ao perito, em casos extremos, não responder os quesitos


como impertinentes, pois tal tarefa é atribuição do Juiz; pode respon-
der o quesito como prejudicado, explicando seus motivos e razões.
Comumente as partes, com interesse em fazer prova em matéria
de direito, elaboram quesitos fazendo menção a horas extras, equi-
paração salarial, horário de trabalho etc.; porém, a perícia deve se
restringir a responder somente os quesitos relativos à insalubridade
e/ou periculosidade.
Ressalte-se que ao responder um quesito, o Perito está fazendo
diretamente ao Juiz e não à parte que o formulou, daí por que a cau-
tela ao responder as questões com excesso de ânimo.

A MANIFESTAÇÃO DAS PARTES SOBRE O LAUDO

É de praxe o juiz submeter o laudo pericial à apreciação das par-


tes, fixando desde logo prazo para manifestação, que normalmente é
de 10 dias, iniciando-se pelo reclamante e depois pela reclamada em
igual período.
Infelizmente, o laudo pericial não conseguirá agradar a gregos e
troianos, eis que em matéria pericial não há empate. Assim, é comum
o pronunciamento da parte sucumbente no sentido de impugnar o lau-
do e até na substituição do perito e refazimento da peça documental.

Assim, existem três providências pelas partes, ao tomar conhe-


cimento do laudo:

• concordar com o conteúdo do laudo, ou simplesmente silenciar


dando sua concordância tácita;
• apresentar quesitos suplementares para resposta pelo perito;
• impugnar o laudo totalmente, por erro, vício ou qualquer outro
problema.

170
Pode o Juiz intimar o Perito a prestar esclarecimentos em juízo,
encaminhando-lhe os quesitos para responder em audiência 5 dias
antes do feito; porém, tal procedimento é raro.
Preconizamos ainda que as partes, em suas impugnações ou pe-
didos de esclarecimentos devem se abster de tecer observações à pes-
soa do Perito, já que procedimentos assim, além de constrangedores,
de forma alguma convencerão o Perito a mudar de opinião.

O LAUDO PERICIAL EMPRESTADO

A perícia, ao contrário, tem por objeto — justamente — a aferição


técnica de fatos, relações ou pessoas no momento presente da perícia
(Prunes, 1995).

É comum na fase de instrução do processo, as partes apresenta-


rem laudos favoráveis, acostando-os aos autos. Fica ao livre arbítrio
do Juiz a apreciação ou não da prova emprestada, e até mesmo dis-
pensar a prova pericial.
Por óbvio que numa perícia de insalubridade e/ou periculosida-
de, as funções e locais de trabalho dos reclamantes e paradigmas deve-
rão ser idênticos, sob pena de imprestabilidade da prova emprestada.

A JURISDIÇÃO

É de praxe, no caso em que o local a ser periciado encontrar-se


fora da Comarca da Vara, que o feito se realize por meio de carta
precatória, onde o Juízo deprecante solicita a execução da perícia no
local do Juízo deprecado. Tal situação é decorrente da impossibilida-
de ou inconveniência do deslocamento do Perito.
Outra corrente, todavia, afirma que o Perito pode se deslocar até
o local da perícia, não incidindo em invasão de jurisdição, pois o pe-
rito não é julgador.
A nomeação do perito compete ao Juiz deprecado; porém, os
quesitos e assistentes técnicos deverão seguir juntamente com a car-
ta precatória do Juiz deprecante.
Os quesitos suplementares também deverão ser apresentados
ao Juiz deprecado, por economia processual.

171
OS CRIMES CONTRA A PERÍCIA

Art. 147 do CPC:


O Perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas,
responderá pelos prejuízos que causar à parte, ficará inabilitado, por
dois (2) anos, a funcionar em outras perícias e incorrerá na sanção que
a lei penal estabelecer.
Art. 342 do CP — Falso testemunho ou falsa perícia:
Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade, como testemu-
nha, perito, tradutor ou intérprete em processo judicial, policial ou
administrativo, ou em juízo arbitral:
Pena — reclusão, de um a três anos, e multa, de dois mil cruzei-
ros a seis mil cruzeiros.
§ 1º Se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a
produzir efeito em processo penal:
Pena — reclusão, de dois a seis anos, e multa, de quatro mil cru-
zeiros a doze mil cruzeiros.
§ 2º As penas aumentam-se de um terço, se o crime é praticado
mediante suborno.
§ 3º O fato deixa de ser punível, se, antes da sentença, o agente se
retrata ou declara a verdade.

DOS CRIMES CONTRA O PERITO

Artigos do Código Penal:

Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra


vantagem à testemunha, perito, tradutor ou intérprete, para fazer afir-
mação falsa, negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, tradu-
ção ou interpretação, ainda que a oferta ou promessa não seja aceita:
Pena — reclusão, de um a três anos, e multa de dois a seis mil
cruzeiros.
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter prova
destinada a produzir efeito em processo penal, aplica-se a pena em dobro.

172
Art. 344. Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favore-
cer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte ou qualquer
outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir no processo judicial,
policial ou administrativo, ou em juízo arbitral:

Pena — reclusão, de um a quatro anos, e multa de dois a dez mil


cruzeiros, além de pena correspondente à violência.

Art. 347. Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil


ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim
de induzir em erro o Juiz ou o Perito:

Pena — detenção, de três meses a dois anos, e multa de dois mil a


vinte mil cruzeiros.

Parágrafo único. Se a inovação se destina a produzir efeito em


processo penal, ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em dobro.

Art. 357. Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilida-


de, a pretexto de influir em Juiz, jurado, órgão do Ministério Público,
funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha:

Pena — reclusão, de um a cinco anos, e multa de dez mil a qua-


renta mil cruzeiros.

Parágrafo único. As penas aumentam de um terço, se o agente


alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade também se destina a qual-
quer das pessoas referidas neste artigo.

O PAPEL DO ASSISTENTE TÉCNICO

A primeira providência das partes envolvidas numa demanda


judicial, que desejam salvaguardar seus direitos, especialmente quan-
to aos pedidos judiciais de insalubridade e periculosidade, é a indi-
cação de Assistente Técnico. Este profissional desenvolverá um tra-
balho paralelo e conjunto ao Perito Judicial, não obstando os traba-
lhos deste, mas, assegurando que não sejam lançadas, durante o in-
quérito preliminar, informações distorcidas das partes.
Relativo ao trabalho realizado pelo Assistente Técnico, deixamos
as seguintes sugestões às partes:

173
• Contratar o trabalho do Assistente Técnico desde o início do
processo e não somente na fase da perícia. Este profissional
poderá ser útil na elaboração da contestação, quesitos etc., sen-
do consultor em todas as fases do processo.
• Antes do deferimento da prova pericial, ponderar com o As-
sistente Técnico sobre a possibilidade de sucesso na demanda,
ou da conveniência em se propor acordo ou desistência da ação.
• Comunicar ao Assistente Técnico a nomeação do perito judicial,
indicando nome, endereço e telefone, para futuro contato.
• A eventual impugnação ao laudo pericial deve ser discutida
com o assistente, já que o assunto é técnico e possui nuanças
peculiares à formação deste profissional.
• Dar ciência ao Assistente Técnico de qualquer despacho relati-
vo à perícia.

Figura legalmente prevista, o Assistente Técnico é indicado pela


parte, não estando sujeito ao impedimento ou suspeição. Com atri-
buições distorcidas por alguns, que acreditam que o Assistente Téc-
nico é o profissional que, a qualquer custo, defenderá a parte que o
indicou. Este profissional não tem necessidade de faltar com a verda-
de, tampouco falsear em seu parecer. Somente o Perito tem por obri-
gação apresentar o Laudo. Na eventual contingência de uma situa-
ção desfavorável para seu cliente, o Assistente Técnico pode escusar-
se de protocolar seu parecer, sem qualquer constrangimento, não sen-
do assim, obrigado a subscrever inverdades. No entanto, é óbvio que
o parecer do Assistente Técnico irá realçar os pontos que interessam
ao seu cliente, pois, afinal de contas, ninguém irá patrocinar um tra-
balho para ser condenado ao final.

Como diz a própria denominação, o Assistente Técnico deve as-


sistir o Perito em seu trabalho, não apenas ser um fiscal explícito do
trabalho pericial. Não deve o Assistente Técnico, arrogar para si, con-
dição de centro das atenções, especialmente para evidenciar seu tra-
balho junto ao cliente; sua inteligência emocional deve permitir que o
Perito fique em condição privilegiada, principalmente para aqueles
dotados de aguçado senso de vaidade pessoal. Lembre-se, hoje você
é pavão; amanhã, espanador.

174
Uma opinião externa e despretensiosa, afirmaria que o Perito,
dado sua posição de árbitro, tem muito mais isenção na condução de
seu trabalho do que o Assistente Técnico, mero consultor da parte
que o contratou, e que por isso deve fidelidade a esta. É fato que se
comenta que o Assistente distorce situações, preparando pareceres
por encomenda.
Esta não é necessariamente a realidade, senão vejamos: o Perito,
na maioria das vezes, não tem honorários garantidos, ficando à mercê
do resultado da perícia para garantir o recebimento de seu trabalho.
Muitos Peritos na contingência de trabalharem sem remuneração, aca-
bam por adotar uma postura extremamente rigorosa e legalista.
O Assistente, por seu turno, tem seus honorários garantidos, e
com recebimento imediato, o que lhe proporciona uma situação cô-
moda em relação ao seu trabalho. É óbvio que existem Assistentes
venais, que acabam vendendo seus pareceres por uns tostões. No
entanto, aqueles cuja postura é profissional acabam realizando tra-
balhos de excelente qualidade. O mesmo se diga com relação ao Peri-
to, aqueles que são profissionais sérios e despreocupados com seus
honorários, servem muito bem à função a que se prestam.
Cumprimento de horário deve ser uma característica marcante
do Assistente Técnico. Nada pior que chegar depois que o Perito.
Ocorrendo atraso do Assistente Técnico, este jamais deve propor o
reinício do inquérito preliminar, a menos que tenha havido má-fé na
colheita de informações. O Assistente Técnico previamente deve in-
teirar-se do panorama da perícia, não para maquiar o ambiente (lem-
bre-se de que Peritos experientes não são enganados), mas para coi-
bir situações que não sejam a realidade de fato. Ouvir testemunhas
antes da perícia também é uma saudável opção, principalmente para
excluir testemunhos inapropriados. Um detalhe: nunca prepare tes-
temunhas, é um desastre!
Seu julgamento técnico será respeitado pelos demais profissio-
nais, desde que você mantenha uniformidade em sua opinião. Peri-
tos que trocam de entendimento quando são Assistentes tendem a
cair no descrédito, tanto pelos colegas, como pelo Judiciário. Para
aqueles que têm o dom de escrever livros ou artigos (escrever é 99%
de transpiração e 1% de inspiração), usem de muito critério, pois suas
convicções estarão para sempre registradas em meio público. Maior

175
cuidado deve ter o assistente na elaboração de artigos, pois suas
convicções estariam sendo divulgadas em meio público, ficando difí-
cil voltar atrás. Em certa oportunidade, em que figurávamos como
Perito e um colega de profissão, Assistente Técnico, apresentou pa-
recer totalmente divergente ao da perícia; bastou que apresentásse-
mos cópia de seu recém-editado livro, para comprovar que o parecer
divergia frontalmente do que lecionava em seu manual.

Alterações de agendamentos de perícia não têm sido algo


estressante, desde que o Assistente saiba se relacionar com o Perito.
Lembre-se, o Assistente está solicitando um favor e quem solicita não
ameaça! Nada mais desagradável que o Assistente ao ver seu pedido
negado parta para o confronto com o Expert. Os interesses pessoais
nunca devem estar acima dos interesses de seu cliente. Lembre-se de
que a perícia nem começou e o Assistente já está “batendo de frente”
com o Perito. Isto é pouco inteligente.

A atuação do Assistente Técnico pode se restringir simplesmente


a acompanhar os trabalhos periciais, cotejando eventuais falhas do
Perito para posterior impugnação. Que fique bem claro que na Justi-
ça Trabalhista não existe o laudo discordante, a exemplo do Cível.
Desta forma, o assistente deve, em seu parecer, única e exclusiva-
mente consubstanciar suas conclusões, sem contudo fazer qualquer
crítica ao laudo pericial, mesmo porque, os prazos de protocolo em
cartório são os mesmos, seja para o laudo do Perito, seja para o pare-
cer do Assistente Técnico.

Outro ponto bastante controvertido é a confecção da impugnação


ao laudo pericial. Esta é procedimento privativo do advogado e não do
Assistente Técnico. É claro que o advogado elabora sua impugnação
com base nas instruções do Assistente; no entanto, este não pode se
arvorar de advogado redigindo e assinando a impugnação.
Peritos e os Assistentes Técnicos precisam se conscientizar que
numa demanda judicial a contenda deve se restringir às partes, e não
aos Experts, que não raras vezes, acabam tendo acaloradas discus-
sões, dada a combatividade e veemência com que as palavras são
colocadas nos autos. Quão bom seria se pudéssemos agir como nos-
sos colegas advogados que degladiam durante a audiência, e se con-
fraternizam ao sair da porta para fora!

176
Durante nossa peregrinação pelo ramo das perícias judiciais, te-
mos notado que não é amplamente utilizada a prática de indicação
de assistente técnico pelas partes, particularmente quando se trata
do reclamante. No entanto, em várias oportunidades, o reclamante
contrata os serviços deste profissional após o resultado desfavorável
da perícia, quando já seria inoportuna a sua intervenção.
Os serviços de assistência técnica não visam, como muitos asse-
guram, cercear o trabalho do perito, mas tão-somente, assistir, acom-
panhar e esclarecer os trabalhos periciais, evitando incorreções, às
vezes involuntárias, especialmente na etapa do inquérito preliminar.
É visível que, na condição em que se encontra o Judiciário, com
acúmulo de processos, os juízes não conseguem sequer ler integral-
mente o laudo pericial, quanto mais apreciar o parecer do Assistente.
No entanto, o Juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo julgar
contrariamente, ou então, alternativamente, se utilizar do parecer do
assistente, desde que este não seja imprestável.
Infelizmente, a posição do Perito, na melhor das situações, desa-
grada em 50% dos envolvidos na contenda, já que não existe empate
quando se trata de perícia judicial. Além do que, em nossa Justiça do
Trabalho existe um excessivo número de recursos, que contribui para
a morosidade do desfecho da ação. Adicione-se a isto a punição que
sofre o Expert com quesitos suplementares, refazimento de perícias,
prestação de esclarecimentos, impugnações, comparecimento em au-
diência e tantos outros artifícios de que as partes se utilizam quando
este não faz exatamente aquilo que desejavam. Aliás, colocamos que
não somos contrários ao duplo grau de jurisdição, que é uma forma
sadia de se evitar erros; o que condenamos é o excessivo uso de sub-
terfúgios para se alongar uma ação, que nos casos trabalhistas che-
gam até a uma década.
Finalmente, já é uma realidade a parceria de advogados com os
Assistentes Técnicos, o que chega a ser animador; e exatamente para
estes colegas, passamos um roteiro simplificado de sugestões, que
pode auxiliar o relacionamento advogado x assistente técnico:

• Contatar o Assistente Técnico logo após o protocolo da inicial,


pois mesmo nas fases que antecedem os trabalhos periciais,
este poderá servir de seu consultor técnico;

177
• Facultar ao assistente técnico, antes da nomeação do Perito
oficial, conhecimento do processo, e, principalmente, elaborar
quesitos;
• Cientificar o assistente da nomeação do Perito oficial, forne-
cendo seu nome e localização, a fim de que ele possa contatá-
lo com rapidez, para agendamento dos trabalhos periciais;
• Não se manifestar com relação ao laudo pericial sem previa-
mente discutir o assunto com o Assistente Técnico, pois, mui-
tas vezes, o que parece óbvio para o leigo, não é tecnicamente
aceitável;
• Informar o assistente técnico de qualquer publicação sobre des-
pacho atinente à perícia, direta ou indiretamente;
• Nos casos em que o Assistente Técnico possui prazo de 10
dias a partir da entrega do laudo pericial, para protocolar seu
parecer, informá-lo, imediatamente, da publicação relativa à
entrega do laudo pericial por parte do perito oficial;
• Discutir com o Assistente Técnico o conteúdo de seu parecer,
com a finalidade de concatenar as ações já empreendidas nos
autos, compatibilizando com a estratégia adotada pelo advo-
gado na construção da lide;
• Eventual impugnação ou pedido de esclarecimentos do laudo
pericial devem ser feitos com a prévia aquiescência do Assis-
tente.

OUTRAS RECOMENDAÇÕES NA PERÍCIA JUDICIAL

No caso da nomeação do Perito ocorrer em audiência e a escolha


recair sobre profissional cuja conduta não tem sido ética, alguns
patronos têm conseguido sensibilizar o Magistrado no sentido de
substituição do Expert nomeado;
Caso o pedido de substituição resulte negativo, as partes podem
requerer que o Expert comprove sua habilitação para a realização do
trabalho pericial para as perícias de insalubridade e periculosidade,
pois, segundo os ditames do artigo 195 da CLT, o profissional deve
possuir o título de engenheiro de segurança do trabalho ou médico
do trabalho, o qual deve estar averbado na carteira profissional do
respectivo conselho, bem como anuidade do CREA ou CRM quitada;

178
As partes, através de seus Assistentes Técnicos, devem diligenciar
juntamente ao Perito, com finalidade de agendamento dos trabalhos pe-
riciais, para que aqueles possam acompanhar o Expert em sua vistoria;
O Perito que chega na empresa de surpresa ou fora de hora cor-
re o risco de ter sua vistoria frustrada, já que não pode ingressar nas
instalações da reclamada coercitivamente, por não possuir prerroga-
tivas de Oficial de Justiça, o qual portando mandado judicial, pode-
ria requisitar reforço policial;
Quando da chegada do Perito à reclamada, se este não for co-
nhecido, deve, como procedimento de identificação, ser solicitado do-
cumento, para confrontar se o nomeado é o mesmo que estará reali-
zando a vistoria, já que alguns Peritos, indevidamente, têm delegado
o trabalho pericial a terceiros;
O trabalho pericial é indelegável, desta forma não pode o Perito
ser substituído por qualquer outro profissional, a não ser que seja
nomeado pelo Juiz. A empresa também não é obrigada a permitir a
entrada de acompanhantes do Expert, sob o pretexto de serem assis-
tentes, já que, os únicos assistentes contemplados no Código Civil,
devem ser indicados pelas partes e aceitos pelo Juiz;
Em caso de acompanhamento da perícia pelo reclamante, este,
imediatamente à sua chegada na empresa, deve ser conduzido ao
local onde serão realizados os trabalhos periciais, com vistas a se coi-
bir que este fique aguardando o Perito na portaria, proporcionando
um diálogo pré-perícia, que pode ser prejudicial à reclamada;
Durante o inquérito preliminar, caso o Perito conduza os traba-
lhos somente com base no testemunho do reclamante, o Assistente
Técnico deve fazer sua parte ser ouvida, a partir de questões às teste-
munhas, como por exemplo, se o reclamante utilizava os equipamen-
tos de proteção individual;
O Assistente Técnico pode e deve acompanhar as medições fei-
tas pelo Expert, anotando todos os valores obtidos, bem como, even-
tualmente, contestar o instrumental utilizado pelo Perito, além de
exigir que seja feita a calibração do instrumental;
Apesar da faculdade prevista no artigo 429 do CPC, a empresa
deve ter reserva ao apresentar determinados documentos ao Perito,
especialmente o PPRA e PCMSO. Diga-se de passagem que o PCMSO,
por se tratar de documento restrito à área médica, somente deve ser

179
apresentado ao Perito que seja médico do trabalho. Quanto ao PPRA,
alguns Experts estão caracterizando a insalubridade por intermédio
deste documento, sem ao menos, qualquer medição do local de tra-
balho do reclamante, o que destoa dos critérios técnicos do trabalho
pericial, posto que este é personalíssimo, e a propósito, para a reali-
zação de uma perícia com base no PPRA, não haveria necessidade de
nomeação de Perito, pois o próprio Magistrado poderia realizar, uti-
lizando-se desta prova.

O INQUÉRITO PRELIMINAR E A CONDUÇÃO DA VISTORIA

Os trabalhos periciais dividem-se basicamente em dois momen-


tos distintos: no primeiro momento, o Perito deverá realizar o inqué-
rito preliminar com vistas a apurar dados que subsidiarão a segunda
fase — que é a vistoria propriamente dita — onde fará suas constata-
ções in loco.
Quando em trabalho pericial, o Expert é o preposto do Juiz, pos-
suindo inclusive algumas prerrogativas deste, a exemplo do artigo 429
do CPC, pode inquirir testemunhas sem transformar a perícia em
audiência, como argumentam alguns.
O inquérito preliminar, como o próprio nome diz, antecede e
prepara o Perito para uma eficiente vistoria, devendo ser cercado de
cuidados e obedecer um ritual, de modo que o trabalho não seja eiva-
do de vícios que podem comprometê-lo.
O testemunho traduz-se na mais poderosa ferramenta do inqué-
rito preliminar, sendo em alguns casos decisivo para o deslinde da
questão. Tem de ser realizado com a mesma cautela da oitiva de tes-
temunhas em audiência e para tanto se faz necessário que o Perito
advirta e compromisse a testemunha sobre sua responsabilidade,
inclusive quanto ao crime de perjúrio. A tomada de testemunho é si-
tuação que por si só constrange o indivíduo, devendo o Perito usar
de artifícios para descontraí-lo. Uma boa forma é não ir direto ao
ponto da questão, mas sim fazer rodeios, com questões pouco impor-
tantes, e gradativamente ir atacando os pontos desejados. Por exem-
plo, ao invés de perguntar diretamente à testemunha se o reclamante
ingressava na cabina primária, que tal iniciar o interrogatório per-
guntando se a testemunha conhece o reclamante, se já trabalhou jun-
to com ele, se era seu chefe, subordinado, paradigma etc.?

180
É importante que durante o inquérito o Perito não permita que
quaisquer dos participantes da perícia interrompam o testemunho,
sob qualquer alegação, pois é muito comum que a parte prejudicada,
com determinadas revelações, atravesse as afirmativas das testemu-
nhas e com isso iniba a pessoa a continuar seu relato. Portanto, ao
menor indício de tentativa de interrupção de um testemunho, o Peri-
to deve imediatamente tomar as rédeas da situação, vetando qual-
quer corte ao depoimento. Tal providência em absoluto se constitui
em cerceamento à defesa, mas sim, em preservação da verdade, mes-
mo porque, todos terão o direito de se manifestar durante o inquérito
na sua hora oportuna.
O reclamante, normalmente, indica empregados da reclamada
que devem ser chamados a testemunhar, pois durante o seu pacto
laboral, tiveram relacionamento profissional mais próximo, e com isso
conhecem de sobejo as atividades do reclamante; ou ainda, porque
conhecem determinadas ocorrências ou situações que podem aclarar
as dúvidas do Perito. É comum a reclamada, para evitar que o empre-
gado venha a testemunhar, alegar que o mesmo não pertence mais ao
quadro da empresa, ou que está em férias, ou foi transferido. Vale a
pena verificar se tal situação é verdadeira, pois em muitas oportuni-
dades o empregado é encontrado trabalhando normalmente.
O Perito deve tomar cuidado, especialmente quando o emprega-
do é relutante a prestar testemunho. Foram flagradas oportunidades
em que a reclamada, ao chamar o empregado a testemunhar, cons-
trange-o ou o alerta para determinados detalhes. Assim, é importan-
te que o Perito tenha sensibilidade o suficiente para intuir se a teste-
munha está ou não preparada; aliás, o ideal seria que as pessoas que
estão participando da perícia não deixassem o recinto para buscar
novas testemunhas, mas sim, que tal atividade fosse feita por tercei-
ros, ou mesmo por telefone ou outro meio de comunicação que não
permita privacidade.
Todas as alegações das partes deverão ser checadas, ou se hou-
ver condição, comprovadas. No caso da reclamada, é um tanto fácil,
pois suas alegações quanto à segurança serão acompanhadas de do-
cumentação, já que se a reclamada alega que implantou PPRA deve
apresentar o documento; se entregou EPI ao reclamante deve apre-
sentar a ficha de entrega dos equipamentos; e assim por diante. Quanto
ao reclamante, por sua própria condição, na maioria das vezes, alega
sem poder comprovar, exceto por testemunho.

181
Muita sutileza deve ter também o Perito, quando os trabalhos são
acompanhados por Assistente Técnico. Em algumas oportunidades o
Assistente possui vasta experiência como Perito, conhecendo todas as
técnicas utilizadas. Mas, como consultor da parte que o contratou, o
Assistente vai realçar os pontos que mais lhe interessam na perícia, e
nunca, “entregar o ouro ao bandido”, como diz o jargão popular. No en-
tanto, o acompanhamento do Assistente não pode, de forma alguma,
cercear os trabalhos periciais, e muito menos o Perito deve permitir
que o Assistente direcione os rumos da perícia. Assim, se necessário
for, e com toda a ética, deve o Perito deixar claro ao Assistente que
quem coordena a perícia é o Perito, e que o Assistente, como o próprio
nome diz, lá está para auxiliar o Perito em seu trabalho.

O LAUDO PERICIAL

É feita a vistoria in loco, no caso da perícia de insalubridade e


periculosidade, basicamente, o rito pericial constitui-se de diligência
ao local a ser vistoriado, no qual, além de instaurado o inquérito pre-
liminar, do ambiente laboral, observando as atividades desenvolvidas,
bem como as avaliações qualitativa e quantitativa dos agentes quí-
micos, físicos e biológicos, ou somente coleta de amostras para serem
enviadas a laboratório.
Findada a fase exploratória, o perito parte à compilação dos da-
dos coletados e ao estudo, principalmente bibliográfico, que subsidia-
rá a conclusão do trabalho, o qual será consubstanciado em laudo peri-
cial, para o caso do Perito, ou parecer, no caso de Assistente Técnico.
O laudo pericial constitui-se em documento escrito, no qual o
perito dá como cumprida a tarefa incumbida pelo Magistrado. Sua
apresentação deve seguir metodologia própria, além de primar por
ser uma peça técnica, sem, no entanto, deixar de ser clara. O tecnicismo
não deve ser excessivo ao ponto de impedir que o seu destinatário, o
Magistrado, compreenda seu conteúdo, nem tampouco, carregado no
juridiquês, empobrecendo o conteúdo técnico.
Rangel (1999) define o laudo como:

Laudo, portanto, é a exposição da perícia realizada e seu resulta-


do. Nele devem vir as conclusões do Perito sobre a perícia levada a
efeito, precedidas, como é óbvio, da respectiva fundamentação, ou seja,

182
no laudo pericial o profissional que o elaborou dá o seu pronunciamen-
to técnico sobre determinado fato ou ocorrência, manifestando suas con-
clusões a respeito do assunto controvertido que foi submetido à apreci-
ação.

Segundo Corrêa (1999):

Não existe, ainda, normalização para a estrutura de elaboração dos


laudos periciais de insalubridade e/ou periculosidade, nos processos da
Justiça do Trabalho, como ocorre na Justiça Comum ...

O conteúdo há que ser preciso, devendo-se, por todos os meios,


evitar expressões dúbias ou que possam originar ambigüidade, que
se tornam presa fácil para impugnações das partes. Devem ser evita-
das expressões do tipo mais ou menos, eu acho, creio que, substituindo
por aproximadamente, temos convicção, acredito que.
É imprescindível cuidar do texto, observando algumas dicas para
a sua montagem. O título deve ser claro, objetivo e curto, demons-
trando evidências de seu conteúdo.
A introdução deve mostrar a apresentação do assunto, motivan-
do a comunicação. No desenvolvimento do texto, quando o assunto
é detalhado, cada idéia deve ser colocada em parágrafos distintos. A
conclusão deve acentuar a posição a respeito do assunto.
Deve ser dada atenção especial ao ritmo da narrativa, que deve
possuir uma seqüência lógica. Deve-se também evitar a tautologia,
que é um vício de linguagem que consiste em dizer ou escrever a
mesma coisa, por formas diversas, bastante parecida com o pleonasmo
ou a redundância.
E, por falar em pleonasmo, abaixo fornecemos uma lista, não
exaustiva:

• Elo de ligação.
• Acabamento final.
• Certeza absoluta.
• Juntamente com.
• Em duas metades iguais.
• Destaque excepcional.

183
• Há anos atrás.
• Relações bilaterais entre dois países.
• Anexar junto.
• Superávit positivo.
• Todos foram unânimes.
• Fato real.
• Multidão de pessoas.
• Amanhecer o dia.
• Compartilhar conosco.
• Surpresa inesperada.
• Repetir outra vez / de novo.
• Comparecer pessoalmente.

O laudo deve possuir coerência e clareza entre os parágrafos. O


primeiro parágrafo e os seguintes devem seguir a seqüência lógica
do raciocínio, isto é, um parágrafo deve continuar rigorosamente a
idéia do outro. Se a redação do laudo for leve, exata e direta, supera-
rá qualquer recurso virtual. Porém, é importante lembrar que pará-
grafos bem definidos, letra/fonte legíveis e a divisão em tópicos fa-
vorecem bastante.
Brandimiller (1996), com propriedade de mestre, traz mais alguns
elementos úteis:

Pela própria natureza dos fins a que se propõe, a linguagem utili-


zada na redação oficial deve atender às características relacionadas com
a eficácia da comunicação:
• clareza e inteligibilidade;
• precisão: de modo a não comportar diferentes interpretações nem
originar ambigüidade;
• objetividade: atendo-se exclusivamente ao objeto da comunica-
ção, ou do ato normativo, e ao que necessita ser exposto.
A redação oficial deve pautar-se ainda:
• pelo padrão culto de linguagem, de tipo denotativo;
• pela impessoalidade;
• pela formalidade e padronização.

184
Quanto à patologia do laudo em si, este não deve trazer informa-
ções confidenciais prestadas durante a perícia, já que, sendo o processo
público, pessoas com interesses difusos podem ter informações privile-
giadas. O laudo, também, não deve conter informações que não forem
prestadas durante os trabalhos periciais, ou mesmo obtidas informal-
mente, a exemplo de informes trazidos pelas partes antes de iniciados
ou depois de findados os trabalhos. E, finalmente, o laudo não deve
trazer opiniões subjetivas, mas somente fatos verificáveis e com consis-
tência técnica, não ferindo, assim, a imparcialidade do Perito.
A redação do laudo pericial deve ser sempre em tom de impes-
soalidade. Ao referir-se a si mesmo, utilize a terceira pessoa do sin-
gular. Ao se referir à pessoa do Juiz deve-se utilizar o pronome de
tratamento adequado e corretamente grafado, por exemplo: Exmo.
Sr. Dr. Juiz da 1ª Vara do Trabalho de São Paulo (SP). As partes do
processo são identificados por autor e réu, e na Justiça do Trabalho,
comumente por reclamante e reclamada. Os advogados são tratados
por causídicos, patronos e outros equivalentes.
Ao responder os quesitos, o Perito deve estar ciente de que está
fazendo-o diretamente ao Juiz, apesar de terem sido formulados pe-
las partes. Assim, muita cautela ao respondê-los, especialmente aque-
les tendenciosos, onde o vigor das palavras na resposta pode ferir o
magistrado. Outra recomendação, nas respostas aos quesitos, é a de
que, o Perito não deve, simplesmente, fazer referência ao local da
resposta, como por exemplo: “vide item 2 do laudo pericial”; é mais
razoável transcrever (hoje temos um poderoso instrumento para co-
piar textos quantas vezes forem necessárias, o computador) a parte
do texto para a resposta do quesito, inclusive facilitando o exame
pelo Juiz e pelas partes. Esta é também a sugestão de Maia Neto (1999):

... ele tem necessariamente que responder os quesitos formulados,


inclusive transcrevendo as perguntas.

Quanto aos assistentes técnicos, usar o subterfúgio de que não


teve acesso aos quesitos, para não respondê-los, é uma velha descul-
pa, inclusive já fora de moda.
O perito deve restringir-se a responder apenas aos quesitos rela-
cionados ao objeto da perícia, e estritamente sob a ótica técnica. As-
sim, por exemplo, se a perícia versar sobre insalubridade e periculosi-

185
dade, não há por que responder a quesitos sobre equiparação salarial,
horas extras, ou mesmo acidente de trabalho; tampouco o Perito
deverá entrar no mérito do assunto sob o ponto de vista jurídico.
Nada impede, entretanto, que o perito cite e faça uso da legislação, já
que a técnica tem que estar aliada ao Direito. Desta forma, de nada
adianta uma excelente caracterização técnica sem a previsão legal.

Os anexos ao laudo, tais como fotografias, croqui, plantas e ou-


tros, devem estar apartados em item próprio e numerados. No caso
das fotografias, é indispensável anexar os negativos corresponden-
tes; quanto às fotografias digitais, não recomendamos seu uso, eis
que, além de não possuírem negativo, podem, com grande facilida-
de, ser fraudadas pelo usuário, perdendo seu valor de prova, como
bem argumenta Maia Neto (1999):

Além disto é importante que o perito, não só numere as fotos, mas


também coloque legendas explicativas sobre o objeto que foi retratado,
ilustrando a fotografia com setas, colorações, ou outro qualquer artifí-
cio que permita realçar os aspectos relevantes que queira destacar.

A Portaria nº 3.311, de 29.11.1989, de uma forma geral, através


de sua instrução para elaboração de laudo de insalubridade e pericu-
losidade, dá alguns subsídios interessantes para a construção do lau-
do pericial. No item 4 é apresentado roteiro da análise qualitativa,
onde são contemplados os itens função do trabalhador, etapas do
processo operacional, possíveis riscos ocupacionais e tempo de ex-
posição ao risco.

4 — ANÁLISE QUALITATIVA
4.1 — da função do trabalhador — esclarecer, com os verbos
no infinitivo, todos os tipos de tarefa que compõem a função.
P. Ex.: Auxiliar Administrativo — a) datilografar textos — b) ano-
tar recados — c) atender telefone etc. ...;
4.2 — das etapas do processo operacional — observando o de-
senrolar das atividades e/ou do movimento do maquinário, espe-
cificar as fases do método de trabalho, inclusive questionando o
supervisor de turma e, sempre, um ou mais empregados;

186
4.3 — dos possíveis riscos ocupacionais — o técnico especializa-
do deve ser capaz de perceber e avaliar a intensidade dos elemen-
tos de risco presentes no ambiente de trabalho ou nas etapas do
processo laborativo, ou, ainda, como decorrentes deste processo.
Este item pressupõe o levantamento, em qualidade, dos riscos a
que se submete o trabalhador durante a jornada de trabalho.
4.4 — do tempo de exposição ao risco — a análise do tempo de
exposição traduz a quantidade de exposições em tempo (horas, mi-
nutos e segundos) a determinado risco operacional sem proteção,
multiplicado pelo número de vezes que esta exposição ocorre ao longo
da jornada de trabalho. Assim, se o trabalhador ficar exposto duran-
te 5 minutos, por exemplo, a vapores de amônia, e esta exposição se
repetir-se por 5 ou 6 vezes durante a jornada de trabalho, então seu
tempo de exposição é de 25 a 30 min./dia, o que traduz a eventuali-
dade do fenômeno. Se, entretanto, ele se expõe ao mesmo agente
durante 20 minutos e o ciclo se repete por 15 ou 20 vezes, a exposi-
ção total passa a contar com 300 a 400 min./dia de trabalho, o que
caracteriza uma situação de intermitência. Se, ainda, a exposição se
processa durante todo ou quase todo o dia de trabalho, sem inter-
rupção, diz-se que a exposição é de natureza contínua.

No item 5, a Instrução apresenta os requisitos para a análise quan-


titativa, conforme transcrito a seguir:

5 — ANÁLISE QUANTITATIVA
É a fase que compreende a medição do risco imediatamente
após as considerações qualitativas, guardando atenção especial à
essência do risco e ao tempo de exposição. Esta etapa ou fase peri-
cial só pode ser realizada quando o técnico tem convicção firmada
de que os tempos de exposição, se somados, configuram uma situa-
ção intermitente ou contínua. A eventualidade não ampara a con-
cessão do adicional, resguardados os limites de tolerância estipu-
lados para o risco grave e iminente.
Tanto o instrumental quanto a técnica adotados, e até mesmo
o método de amostragem, devem constar por extenso, de forma
clara e definida no corpo do laudo. Idêntica atenção deve ser em-
pregada na declaração dos valores, especificando-se, inclusive, os

187
tempos horários inicial e final de cada aferição. Já a interpretação e
a conseqüente análise dos resultados necessitam estar de acordo
com o prescrito no texto legal, no caso, a Norma Regulamentado-
ra. Caso o contrarie, será nula de pleno direito.

E, finalmente, no item 6, é apresentado o item conclusão, onde


são previstos os dois mecanismos utilizados para a caracterização do
adicional, o fundamento científico e o fundamento legal, a seguir trans-
critos:

6 — CONCLUSÃO
6.1 — Fundamento científico — se os institutos de insalubri-
dade e da periculosidade pressupõem o risco de adquirir doença
ou de sofrer um acidente a partir da exposição a elementos
agressores oriundos do processo operacional ou dele resultantes, o
técnico tem que demonstrar, obrigatoriamente, toda a cadeia de
relação causa e efeito existente entre o exercício do trabalho
periciado com a doença ou o acidente. O fundamento científico
compreende, então, as vias de absorção e excreção do agente insa-
lubre, o processo orgânico de metabolização, o mecanismo de
patogenia do agente no organismo humano e as possíveis lesões.
6.2 — Fundamento legal — é tudo aquilo estritamente previsto
nas Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Traba-
lho, Portaria MTE nº 3.214/78 e Lei nº 6.514/77. As “Atividades e
operações insalubres” — acham-se listadas na NR-15 e Anexos, ao
passo que as “Atividades e operações perigosas” são aquelas en-
quadradas nas delimitações impostas pela NR-16 e Anexos, sem
contar com os textos da Lei nº 6.514/77, artigos 189 e 196, e do De-
creto nº 93.412/86, este último específico para os riscos com energia
elétrica.
As situações laborativas não previstas na legislação, e, por-
tanto, omissas, não podem ser objeto de conclusão pericial, quer
em juízo, quer a serviço da fiscalização do MTE, sob pena de nuli-
dade jurídica.

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