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OCUPACIONAL
GESTÃO DO RISCO
OCUPACIONAL
Bibliografia.
ISBN 85-7647-
05-3243 CDU-34:331.823
IOB Thomson
Rua Antonio Nagib Ibrahim, 350 — Água Branca — CEP 05036-060 — São Paulo — SP
Fone: (11) 3613-3700 / Fax: (11) 3613-3760
Índice
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Duas palavras ...
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neráveis a oportunistas e a “armadilhas”. Prevenir ainda é o melhor
remédio, pois uma vez ocorrido a infortúnio, só resta à empresa as-
sumir o ônus. A organização que segue um rígido ritual de caute-
las e medidas até poderá ser vítima de circunstâncias inusitadas;
todavia, estará a postos para contestar oportunamente e assumir so-
mente o encargo que realmente lhe couber.
O ligeiro ritmo de crescimento das grandes cidades, alimentado
na maior parte pelo êxodo rural, inviabilizou o preparo adequado des-
ses novos industriários que ainda não se libertaram dos hábitos da
vida rural e que, por isso mesmo, são presas fáceis dos acidentes de
trabalho. O tema segurança do trabalho é abrangente; a lei é contro-
vertida, embora alguns países achem nossa legislação de muito bom
nível (realmente a legislação é completa, só falta ser cumprida), mas,
ainda assim, não conseguimos desenvolver um trabalho de qualidade.
O Brasil já esteve entre os campeões de acidentes laborais, tudo
em virtude do desprestígio que caracterizou a segurança do trabalho
por vários longos anos, onde os profissionais existiam apenas por
disposição da lei e não por opção da empresa. Em repetidas oportu-
nidades constatamos que o engenheiro de segurança pouco cuidava
da segurança do trabalho, mas por determinação da empresa, dedica-
va-se à segurança patrimonial e outras atividades indigestas.
O discurso de que a segurança dá retorno ao empresário era
propalado aos quatro ventos; no entanto, não se investia em seguran-
ça. Entretanto, não parece ser (e não deveria ser) esta a única razão
pela qual o empregador incentiva o empregado a ter sua saúde ou
sua vida perfeitamente protegidas.
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Saúde do trabalhador
versus
ideologia política
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dito popular que vai contra qualquer forma de fanatismo. O julga-
mento técnico tem de estar acima da ideologia política, sob pena de
estarmos fazendo julgamentos extremamente tendenciosos e ge-
neralizando situações. Juízes, promotores, fiscais e peritos envolvi-
dos com saúde do trabalhador não devem baralhar suas ideologias
com o conceito técnico, tampouco distorcê-lo para simplesmente sa-
tisfazer seus anseios pessoais.
Uma situação peculiar foi a que ocorreu, em todo o mundo, rela-
tivo ao fenômeno LER/DORT, onde vários países experimentaram ver-
dadeiras epidemias, enfrentando um forte movimento de iatrogenia
social, influenciado principalmente pela abordagem actancial.
Por que os especialistas discordam? É a pergunta que fazem
Martin e Bammer (2000), com relação aos problemas osteomusculares
crônicos. Os autores mencionam duas razões: a primeira diz respeito
ao difícil diagnóstico; a segunda atrela-se à existência de fortes inte-
resses sociais envolvidos, denominados de interesses adquiridos pelos
autores, citando textualmente que: “trabalhadores, médicos, empre-
gadores e outros têm algo a ganhar ao preferir uma explicação à ou-
tra. Isto não significa necessariamente que alguém seja consciente-
mente tendencioso; significa simplesmente que terá benefícios acre-
ditando sinceramente em certos pontos de vista”.
Extrapolando o conceito para a perícia judicial, especialmente a
trabalhista, é nítido que o Expert sempre buscará um resultado desfa-
vorável à empresa, pois somente assim garantirá seus honorários, já
que o trabalhador sucumbente é agraciado pela justiça gratuita. Por
outro lado, há que se reconhecer que tal situação não foi criada, de
modo algum pelos Peritos, mas tão-somente, pela própria Justiça
do Trabalho.
Continuamente presenciamos trabalhadores oportunistas, gozan-
do de bom estado de saúde física, pleiteando aposentadoria por in-
validez ou mesmo utilizando-se do instituto da aposentadoria espe-
cial com o fito único de “levar vantagem”. Não devemos nos esque-
cer que este trabalhador sempre está assessorado por um profissio-
nal que conhece muito bem as fragilidades da legislação e sabe como
tirar vantagem disto. Nosso país é característico por sua solidarieda-
de, mas é reconhecido por sua falta de comunidade.
Cabe, finalmente, aos profissionais de segurança e saúde no tra-
balho eximirem-se de agir como fiscais, juízes, promotores ou peri-
tos, especialmente quando não estiverem empossados de tais cargos,
isentando-se de “praticar justiça com as próprias mãos”...
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Dez pontos nevrálgicos
em segurança e saúde
no trabalho e suas
implicações legais
1 — INSALUBRIDADE
O Brasil, caracteristicamente, ainda é um dos poucos países a
manter um adicional — insalubridade — cuja intenção é remunerar
a probabilidade ou perspectiva de dano à saúde do trabalhador. Diga-
se de passagem, que se houver efetivamente o dano — acidente ou
doença — é invocada a indenização civil. A legislação internacional
não contempla a figura dos adicionais de risco, prevalecendo a opi-
nião de que as empresas têm por compromisso extinguir os riscos
ou, alternativamente, proteger regularmente o trabalhador contra as
intempéries de seu ambiente laboral. Em nosso país, preferiu-se a
monetização do risco, comprando a vida do trabalhador por alguns
tostões, ao invés de incentivar o investimento na prevenção. E o pior,
é que o trabalhador prefere esta barganha, pois é a única forma de
engordar um pouco mais seu mirrado salário.
A insalubridade é reconhecida pela doença, cujo efeito é lento,
paulatino e irreversível; como regra geral é oriunda de agente físico,
químico ou biológico. É preciso ressaltar que no caso da avaliação da
insalubridade, não cabe o exame do paciente, mas tão-somente a ava-
liação ambiental para a constatação da existência do agente insalubre,
isto é, ainda que um trabalhador apresente perda auditiva, tal fato
por si só, não é ensejador da caracterização da insalubridade, há neces-
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sidade de avaliar se o ambiente de trabalho realmente possui nível de
pressão sonora acima do limite de tolerância, pois caso contrário, não
é devido o adicional.
O conceito legal de insalubridade encontra-se emanado pelo ar-
tigo 189 da CLT:
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A insalubridade é classificada, de acordo com o tipo de agente, em:
• avaliação quantitativa;
• avaliação qualitativa.
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Os limites de tolerância da atual legislação brasileira foram baseados nos limites fixados pela
ACGIH (American Conference of Governamental Industrial Hygienists), em 1977, corrigidos para
uma jornada de 48 horas semanais.
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• Anexo nº 6, ar comprimido;
• Anexo nº 7, radiações não-ionizantes;
• Anexo nº 9, frio;
• Anexo nº 10, umidade;
• Anexo nº 13, agentes químicos;
• Anexo nº 14, agentes biológicos.
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Se for regra o trabalhador receber um adicional para cada situa-
ção, então, de forma análoga seria racional que o trabalhador rece-
besse, também um adicional insalubridade para cada risco a que se
submeter, já que a exposição simultânea a vários riscos pode agravar
ainda mais a sua situação.
É manifesto, então, que somente as atividades e agentes
elencados na legislação poderão ser legalmente enquadrados como
insalubres, nos termos do art. 190 da CLT:
2 — PERICULOSIDADE
INTRODUÇÃO
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sempre preconizamos que ninguém morre aos pedaços, então por
que remunerar o adicional em partes? A ocorrência do acidente não
está condicionada ao tempo de exposição, ou seja, independente da
exposição ser eventual ou permanente, o perigo continua existindo.
No entanto, a periculosidade pode ser minimizada ou até mesmo neu-
tralizada pelos equipamentos de proteção individual ou coletivos.
A primeira legislação a instituir a periculosidade em nosso or-
denamento jurídico foi o Decreto nº 40.119, de 15.10.1956, com as al-
terações do Decreto nº 40.267, de 26.06.1959 e, mais tarde, e pela Lei
nº 5.431, de 03.05.1968, onde o artigo 1º prescreve:
• explosivos;
• inflamáveis;
• eletricidade;
• radiações ionizantes.
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não por caracterização técnico-legal, mas sim, por liberalidade da em-
presa, ou mesmo, por dissídio ou acordo coletivo, como é o caso dos
policiais militares.
Avaliações tendenciosas têm caracterizado situações, que ao nos-
so ver, jamais estariam inseridas no contexto legal da periculosidade,
a exemplo do trabalho em siderurgia ou operação de caldeiras pelo
risco de explosão.
Os adicionais de periculosidade, historicamente, têm sido utili-
zados, como forma de concessão de aumento salarial disfarçado. Foi
o caso típico da periculosidade por inflamáveis, destinados aos fun-
cionários da Petrobrás (aqueles que não laboravam em condições de
perigo), e o caso da periculosidade por eletricidade, criado exclusiva-
mente para os empregados do setor de energia elétrica (concessioná-
rias). A experiência foi malsucedida, pois em pouquíssimo tempo, os
adicionais deixaram de ser privilégio exclusivo daquelas categorias,
estendendo-se para os trabalhadores de uma forma geral.
O conceito de periculosidade à luz do artigo 193 da CLT2 é:
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Na época, somente se caracterizava a periculosidade por inflamáveis e explosivos; posterior-
mente, a legislação incluiu a eletricidade e a radiação ionizante como agentes perigosos.
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neamente, pois, na falta de qualquer uma delas, não existe a pericu-
losidade. Na ausência do primeiro pressuposto — o agente perigoso
— a exposição não é perigosa ou de periculosidade; um bom exem-
plo seria a exposição aos cianetos, que é fatal, mas por falta de previ-
são legal, não é perigosa. Da mesma forma, se não preenchido o se-
gundo requisito — o contato permanente — também não se caracte-
riza a periculosidade; por exemplo, o porteiro que abastece um único
veículo aos finais de semana. E, finalmente, a condição de risco acen-
tuado, pois sem esta, o acidente não materializar-se-ia, sendo então,
um risco sob controle.
A pedra de toque da legislação de periculosidade está exatamen-
te na definição do que é permanente ou eventual, já que a legislação
é omissa, ou pelo menos era, até a edição da Portaria nº 3.311/89 do
Ministério do Trabalho e Emprego, onde na sua instrução para elabo-
ração de laudos de insalubridade e periculosidade, item 4.4, nos traz:
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Finalmente, na mesma esteira de raciocínio é a Orientação Juris-
prudencial do Tribunal Superior do Trabalho — OJ nº 280, in verbis:
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O RISCO ACENTUADO
20
Por outro lado:
Um risco pode estar presente, mas pode haver baixo nível de peri-
go, devido às precauções tomadas. Assim, um banco de transformadores
de alta voltagem possui um risco inerente de eletrocução [sic eletrocussão],
uma vez que esteja energizado. Há um alto nível de perigo se o banco
estiver desprotegido, no meio de uma área com pessoas. O mesmo risco
estará presente quando os transformadores estiverem trancados num
cubículo sob o piso. Entretanto, o perigo agora será mínimo para o pesso-
al. Vários outros exemplos podem ser criados, mostrando como os níveis
de perigo diferem, ainda que o risco se mantenha o mesmo
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fulgor igual ou superior a 70 oC (setenta graus centígrados) e inferior
a 93,3 oC (noventa e três graus e três décimos de graus centígrados).
20.1.1.1. O líquido combustível definido no item 20.1.1 é conside-
rado líquido combustível da classe III.
20.2.1. Para efeito desta Norma Regulamentadora, fica definido
“líquido inflamável” como todo aquele que possua ponto de fulgor in-
ferior a 70 oC (setenta graus centígrados) e pressão de vapor que não
exceda 2,8 kg/cm2 absoluta a 37,7 oC.
20.2.1.1. Quando o líquido inflamável tem o ponto de fulgor abaixo
de 37,7 oC, ele se classifica como líquido combustível de classe I.
20.2.1.2. Quando o líquido inflamável tem o ponto de fulgor su-
perior a 37,7 oC e inferior a 70 oC, ele se classifica como líquido com-
bustível da classe II.
inflamável
37,7 ºC 70 ºC 93,3 ºC
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A análise da periculosidade deve ser realizada com observância
aos preceitos da NR-16. A NR-20 serve como parâmetro auxiliar, espe-
cialmente para a definição de combustíveis e inflamáveis. No entanto,
a análise de periculosidade não pode ater-se aos preceitos da NR-20,
tampouco se utilizar do não cumprimento dos requisitos daquela le-
gislação para a caracterização do risco acentuado. O Perito Judicial não
pode arrogar-se de AFT — Auditor Fiscal do Trabalho — realizando
uma fiscalização do trabalho, cotejando os requisitos da NR-20, tam-
pouco justificar o enquadramento da periculosidade pelo descumpri-
mento dos itens daquela norma. A inobservância da NR-20 acarreta
penalidade de multa, ou mesmo embargo ou interdição nos casos de
grave e iminente risco à saúde e/ou integridade física do trabalhador;
mas não justifica o enquadramento em periculosidade.
A exposição está condicionada ao ingresso em área de risco. Para
que o trabalhador faça jus ao adicional de periculosidade por infla-
máveis tem de haver, obrigatoriamente, sua entrada nas áreas de ris-
co descritas no anexo da NR-16. A freqüência — eventual, intermi-
tente ou permanente — com que o trabalhador permanece em área
de risco é uma discussão pacífica do ponto de vista técnico, mas con-
troversa do ponto de vista jurídico.
A condição de risco acentuado, ou mais propriamente perigo (os
termos são sinônimos), representa condição do risco fora de controle.
Como o próprio nome diz, o adicional é de periculosidade (perigo),
não de risco.
O RISCO ACENTUADO
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bustível estiver no estado sólido ou líquido, haverá necessidade de que
seja aquecido, para que comece a liberar vapores ou gases.
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probabilidade de ocorrência de mistura explosiva se o inflamável es-
tiver em contato diretamente com a atmosfera externa em condições
de operação, por exemplo: respiro dos tanques, separadores etc.
Uma outra forma de se avaliar as condições de risco acentuado é
pela mensuração dos limites de explosividade do ambiente, conheci-
dos por limite superior e inferior de explosividade, ou ainda, limites
de inflamabilidade. Todos os inflamáveis possuem limites de concen-
tração máxima e mínima, onde existe efetivamente o risco de explosão.
Os limites de explosividade não são parâmetros constantes, po-
dendo sofrer alterações a temperaturas elevadas.
Define-se como LSE (Limite Superior de Explosividade) a con-
centração mais alta de gás inflamável em comburente, capaz de se
inflamar na presença de fontes de ignição; e como LIE (Limite Inferi-
or de Explosividade) a concentração mais baixa de gás inflamável em
comburente; contudo, ainda capaz de se inflamar na presença de fon-
tes de ignição.
Curva de Explosividade
% volume
mistura rica
L.S.E.
mistura explosiva
Faixa de leitura dos
explosímetros
100
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são. Mesmo se o óleo pesado for aquecido além do seu ponto de fulgor,
os seus vapores resfriarão no detector antes de alcançarem o elemento
sensor.
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A norma classifica como áreas de risco, especialmente aquelas
em torno de tanques elevados, abastecimento, enchimento, armaze-
namento, carga e descarga de inflamáveis. Interessante notar que os
tanques subterrâneos, por sua própria condição, não se encontram
elencados na Norma. Os tanques subterrâneos representam situação
idêntica aos vasilhames fechados e lacrados.
Um vasilhame vazio, não desgaseificado, oferece mais perigo
que um vasilhame totalmente cheio de inflamável, já que este, estan-
do cheio, impede a formação de vapores em seu interior, enquanto
aquele, estando vazio, tem todo o espaço disponível para que peque-
nas quantidades de líquido inflamável remanescente se vaporizem,
criando atmosferas explosivas.
O incêndio é uma combustão fora de controle. É de se esperar
que irrompa um incêndio e este termine quando todo o material com-
bustível for consumido, embora as estatísticas demonstrem que em
nem todos os casos os incêndio desenvolvem seu potencial máximo
de destruição. A compartimentação assume importante papel na li-
mitação do incêndio, pois se espera que, por exemplo, num incêndio
em um prédio de apartamentos, este fique confinado ao apartamento
de origem. Interessante ressaltar que a compartimentação, eventual-
mente, pode ser substituída pelo sistema de chuveiros automáticos,
demonstrando a equivalência entre ambos.
Especular sobre as condições estruturais de um edifício, após um
incêndio, somente para justificar um temerário enquadramento em pe-
riculosidade por inflamáveis, é um exercício que envolve a avaliação
de diversas propriedades dos elementos de sua construção. De todos
os grandes incêndios ocorridos no Brasil — Andraus, Joelma e Grande
Avenida — somente no caso da CESP, em 1987, parte de uma das tor-
res incendiadas desabou, em função da ausência de compartimenta-
ção. Assim, elucubrações mentais do tipo: se houver um incêndio no
térreo fatalmente a torre inteira desmoronará, não passa de pretensa
opinião pessoal, desprovida de qualquer investigação técnica.
Considerando-se, finalmente, que o perigo, no caso do incên-
dio, pode ser atenuado por diversas medidas, especialmente existên-
cia de extintores, hidrantes, sprinklers, portas corta-fogo, aterramento
de vasilhames, brigada treinada, simulações de abandono, alarmes,
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detectores de fogo e fumaça e tantos outros aparatos destinados à
prevenção e controle de incêndio, tais medidas devem ser observa-
das numa eventual análise de periculosidade por inflamáveis.
No item 16.6 da NR-16 são feitas exclusões legais da periculosida-
de por inflamáveis:
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Seria até razoável caracterizar a periculosidade por inflamáveis
para aqueles trabalhadores que ingressaram no recinto onde se encon-
tram os ditos tanques, ainda que a legislação estabeleça como área de
risco somente a bacia de segurança do tanque. Ocorre que os profis-
sionais têm justificado seu pretenso enquadramento com base na letra
“s” do item 3 do anexo 2 da NR-16, que trata especificamente de vasi-
lhames e, não tanques. Tanques são equipamentos estacionários, ao
contrário de vasilhames que podem ser movimentados, daí por que a
legislação estabelecer enquadramentos distintos para ambos. Uma vez
que o tanque é estacionário, a área de risco está restrita à bacia de se-
gurança; no caso dos vasilhames, como são movimentáveis, a área de
risco propaga-se por todo o recinto interno. Aliás, compreenda-se como
recinto interno o espaço delimitado por paredes, piso e teto.
Os enquadramentos realizados consideram os edifícios como um
único recinto, de forma a validar a periculosidade em todos os seus
andares, independente dos tanques estarem no térreo ou subsolo e o
trabalhador prestar seu labor, por exemplo, no 20º andar! Na realidade
é um desatino considerar um edifício, em sua totalidade como único
recinto fechado, pior ainda é utilizar a justificativa de que o edifício
está interligado internamente através de escadas, elevadores, corredo-
res e portas. Ora, será que existe algum prédio cujos andares não se-
jam interligados por escadas, elevadores, corredores e portas? Tal mo-
delo de prédio é surreal, pois todos os andares seriam totalmente fe-
chados (uma vez que não possuiria escadas, elevadores, corredores ou
portas), impedindo, inclusive, o acesso de pessoas ...
Pior ainda é utilizar-se de critérios não previstos na legislação
aplicável, a exemplo da NR-20, para justificar a periculosidade. É fato
que a NR-20, através do item 20.2.7, veda a disposição de tanques de
inflamáveis aéreos no interior de edifícios, exceto se estiverem enter-
rados; bem como o item 20.2.13, que estabelece que somente podem
ser armazenados, dentro de um edifício, vasilhames com capacidade
máxima com 250 litros; porém, tais proibições já são apenadas por
multas específicas, inexistindo qualquer menção legal de que tais
descumprimentos, por si sós, também sejam requisitos para a caracte-
rização da periculosidade por inflamáveis.
É temerário também se falar nas conseqüências de um incêndio
ou explosão originada no subsolo com relação aos demais andares de
um prédio. O opinamento técnico toma rumo de palpite quando sem
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qualquer base técnico-científica argumenta-se sobre as conseqüências
de eventual incêndio ou explosão para ratificar um enquadramento.
Há estudos específicos, na área de gerência de riscos, que estimam
quais os impactos de um incêndio ou explosão.
A análise do perigo ou a demonstração da cadeia de relação cau-
sa e efeito entre o exercício do trabalho e o acidente é requisito exigi-
do na análise da periculosidade por força da Portaria nº 3.311, de
29.11.1989, do Ministério do Trabalho e Emprego, em sua Instrução para
elaboração de laudo de insalubridade e periculosidade, subitem 6.1.
Os laudos periciais apresentados, normalmente, restringem-se à
simples inspeção visual no local de trabalho, somente para consta-
tar a existência do inflamável, que passou a ser o único requisito para
enquadramento da periculosidade.
Os trabalhos periciais, adicionalmente, têm se distanciado do art.
193 da CLT. Remontando aos primórdios da instituição do adicional
de periculosidade por inflamáveis, a intenção do legislador ao criá-lo
foi de remunerar os empregados da Petrobrás pelo perigo a que se
expunham nas plataformas, refinarias e outros correlatos. Atualmente,
presenciamos o enquadramento da periculosidade para instalações
de comércio, bancos e até mesmo prestação de serviços.
Têm sido desprezados, por outro lado, os diversos equipamen-
tos de proteção coletiva, a exemplo das luminárias à prova de explo-
são, sistemas de ventilação forçada, detectores de fumaça, alarmes
de incêndio, portas corta-fogo, bacias de segurança, sinalização visual,
iluminação de emergência, extintores, sprinklers, hidrantes, brigada
treinada e bombeiros profissionais etc.
Infelizmente não se distingue risco de perigo, entendendo ambos
os conceitos como sinônimos, o que se constitui em erro crasso. Riscos
são inerentes ao nosso cotidiano, todos estamos sujeitos a diversos ris-
cos; no entanto, estes podem ser tecnicamente administrados de for-
ma a não se constituir perigo. Perigo é o risco fora de controle, para o
qual não há medidas capazes de reduzir seu potencial catastrófico.
É razoável acreditar que na eventualidade de um princípio de
incêndio, existirão vários fatores agindo simultaneamente na preven-
ção e controle do risco, quais sejam:
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• imediata atuação dos bombeiros profissionais existentes no
quadro de empregados;
• alarme sonoro indicativo de princípio de incêndio, interligado
à central de segurança;
• abandono do prédio pelos empregados, que periodicamente
são treinados em exercícios simulados;
• detector de fumaça indicativo de princípio de incêndio, inter-
ligado à central de segurança;
• utilização de extintores portáteis para combate ao incêndio;
• utilização de hidrantes no combate ao incêndio;
• acionamento automático dos sprinklers que também atuam no
combate ao incêndio;
• finalmente, acionamento do Corpo de Bombeiros.
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ciador. Os explosivos de ruptura, normalmente chamados de altos
explosivos, são representados por: RDX, gelatinas explosivas, PeTN,
nitropenta nitroglicerina e TNT. Os reforçadores são explosivos que
servem como intermediários entre o iniciador e a carga explosiva. Os
iniciadores são explosivos sensíveis ao atrito, calor e choque e sob
efeito de calor explodem sem se incendiar, temos por exemplo, as
espoletas.
As pólvoras são explosivos utilizados para a propulsão ou pro-
jeção, por exemplo, a pólvora negra que é constituída por carvão, sali-
tre do Chile e enxofre. A pólvora branca é composta por clorato de
potássio (ou perclorato), pó de alumínio e enxofre; uma peculiarida-
de da pólvora branca é que esta explode de uma só vez.
Interessante ressalva que deve ser feita, de início, na caracteri-
zação da periculosidade por explosivos, é que o anexo 1 da NR-16 —
Atividades e operações perigosas com explosivos — é destinado, única
e exclusivamente, a atividades com exposição a explosivos químicos e
mecânicos. Desta forma, riscos de explosões oriundas de situações
diversas não cabem neste anexo.
O anexo contempla, basicamente, a exemplo da periculosidade
por inflamáveis, três áreas de risco:
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O primeiro aspecto discutido tanto na Lei, quanto no Decreto,
foi o alcance do adicional, pois não se pode negar que, inicialmente, o
Decreto somente beneficiava os empregados das empresas conces-
sionárias de energia elétrica. No entanto, robustecida jurisprudência
nos endossa a afirmar que hoje não pairam quaisquer dúvidas de que
o adicional periculosidade por eletricidade é devido a todo e qual-
quer trabalhador que tenha atividades em sistema elétrico de potên-
cia. A opinião também é compartilhada pelo Engenheiro Eletricista e
Advogado Jair José de Almeida (1993):
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Entendemos que o sistema de distribuição vai até o relógio de
consumo e é exatamente até este ponto que a atividade se classifica
como perigosa. Perícias equivocadas têm caracterizado a periculosi-
dade para trabalhadores que se ativam em unidade de consumo, fa-
zendo reparos em eletricidade predial, substituindo lâmpadas, tro-
cando fusíveis, instalando tomadas e mesmo em trabalhos em eletrô-
nica, o que destoa totalmente dos critérios estabelecidos no legisla-
ção. Temos presenciado casos de caracterização de periculosidade por
exposição à área de risco por gerador de eletricidade, utilizado para
eventuais quedas de energia, com a alegação de que tal gerador é
componente do sistema elétrico de potência-geração, o que, no nosso
entender, é puro invencionismo.
Em parecer (nº 173/86) do festejado mestre Amauri Mascaro Nas-
cimento (1986), é analisada profundamente a questão da destinação
do adicional de periculosidade por eletricidade:
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em contato com aparelhos elétricos, como a engomadeira com o ferro de
passar roupas, a cozinheira com o liquidificador, a arrumadeira com a
enceradeira, o barbeiro com o secador de cabelo, o consertador de apare-
lho de rádio e televisão, o ascensorista de elevador de prédio residencial
ou comercial, o trocador de lâmpadas etc.
35
4. atividades de construção, operação e manutenção nas usinas,
unidades geradoras, subestações e cabinas de distribuição em
operações, integrantes de sistemas de potência;
5. atividades de treinamento em equipamentos ou instalações.
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Em sentido restrito, é um conjunto definido de linhas e subestações
que assegura a transmissão e/ou a distribuição de energia elétrica, cujos
limites são definidos por meio de critérios apropriados, tais como, loca-
lização geográfica, concessionário, tensão, etc.
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Nada impede que em um mesmo local existam instalações inte-
grantes de um SEP e, simultaneamente, seja a energia elétrica consu-
mida para finalidade de iluminação, acionamento de motores de bom-
bas, compressores, máquinas operatrizes etc. Tal circunstância ocorre,
por exemplo, em usinas, subestações, oficinas de manutenção dos equi-
pamentos e, onde são perfeitamente identificáveis, os circuitos inte-
grantes do sistema e os que não o são. Ocorre, ainda, que na grande
maioria dos casos estas oficinas e locais de testes de equipamentos fun-
cionam fisicamente instaladas juntos aos outros equipamentos inte-
grantes de SEP.
38
Na segunda coluna do Anexo ao Decreto nº 93.412/86 temos as
delimitações de área de risco. Araújo e colaboradores (2003/2004) tra-
zem a definição de área de risco:
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e não o risco. Perigo e risco são conceitos bem distintos. Perigo é o
risco fora de controle. Infelizmente, tais conceitos ainda não estão ao
alcance de alguns profissionais.
A legislação avança a passos de tartaruga; entretanto, o Enuncia-
do nº 361 vem confirmar a opinião, compartilhada por vários Peritos,
de que não existe periculosidade proporcional. Ninguém morre ape-
nas um braço, uma perna ou qualquer parte do corpo. Morre-se por
inteiro; logo, não há justificativa para o adicional proporcional ao tem-
po de exposição. O perigo independe da exposição. O Decreto nº
93.412/86 ampliou de forma repreensível a previsão legal, inclusive,
inconstitucionalmente.
Quanto ao tempo de exposição à área de risco, é fato que o § 1º,
do artigo 2º do Decreto nº 93.412, prescreve:
40
atuar longos anos com eletricidade sem sofrer qualquer acidente.
Entretanto, pode no primeiro minuto de trabalho vir a ser vítima de
acidente fatal.
Usualmente, algumas empresas, em especial o poder público,
têm se utilizado de tal expediente, sobretudo em acordos coletivos,
para estabelecer percentuais de adicional em função da exposição,
criando adicionais diferenciados para cada função. O acordo coletivo
deveria valer como lei entre as partes. No entanto, presenciamos ca-
sos de ações individuais, em que o reclamante pleiteia a complemen-
tação do adicional de periculosidade até o limite de 30%, ocorrendo
na primeira e segunda instâncias procedimentos divergentes. Em al-
guns casos, o mérito da ação não é apreciado em virtude de existên-
cia de acordo coletivo; noutros, existe a condenação da reclamada ao
pagamento integral do adicional. O TST, por meio do Enunciado nº
361, manifestou-se pela inexistência da periculosidade proporcional,
conforme transcrição a seguir:
41
ção coletiva que elimina o perigo. A implantação de Programa de
Controle de Energias Perigosas (lockout/tagout) com o uso de disposi-
tivos utilizados no bloqueio e na etiquetagem de fontes de energias
tem sido uma forma segura de se evitar acidentes provocados pela
energização acidental, nos termos dos procedimentos preconizados
na norma OSHA 1910.147. Ainda é discutível a eficácia dos equipa-
mentos de proteção individual, particularmente luvas de alta-tensão,
na neutralização do perigo por eletricidade.
42
fatais — o mesmo não ocorre com a radiação, uma vez que seu me-
canismo de exposição segue basicamente o de qualquer outro agente
insalubre. Além do que, exceto em casos de exposição aguda, o tem-
po de latência pode ser da ordem de dezenas de anos e os seus efei-
tos vão se revelando lenta e paulatinamente no organismo.
Desta forma, por que se considerar todos os casos de exposição
à radiação como perigosos, se nem todas as situações apresentam
risco imediato à vida? Inclusive, em alguns casos, os efeitos são re-
versíveis, comportando-se mais como um agente insalubre do que
propriamente perigoso.
De acordo com o magistério dos Professores Glasstone e Sesonske
(1975):
43
De acordo com anexo da Portaria nº 518, de 04.04.2003, atividades
e operações perigosas com radiações ionizantes ou substâncias radio-
ativas — atividades/área de risco, envolvem as seguintes tarefas:
44
Os efeitos genéticos são aqueles que ocorrem nas células germi-
nativas, não provocando sintomas no indivíduo. Entretanto, envol-
vem os genes que transmitem a hereditariedade, podendo provocar
alterações ou mutações, descontroladas e indesejáveis nos descen-
dentes e seu efeito pode se estender por várias gerações. Pesquisas
mostram que alguns danos somáticos são reversíveis. Todavia, os
danos genéticos parecem ser cumulativos e irreversíveis.
45
• suas capacidades sensório-motoras modificam-se com o processo
de envelhecimento, mas perdas eventuais são amplamente com-
pensadas por melhores estratégias de percepção e resolução de
problemas desde que possa acumular e trocar experiência;
• organiza-se coletivamente para gerenciar a carga de trabalho,
ou seja, nas atividades humanas a cooperação tem um papel
importante, muito mais que a competitividade (Ministério do
Trabalho e Emprego, 2002).
46
Os distúrbios musculoesqueléticos não incluem lesões causadas
por escorregões, tropeções, quedas ou outros acidentes similares, po-
dendo diferenciar em gravidade de sintomas periódicos suaves a se-
veros e crônicos e condições debilitantes.
Os sinais e sintomas mais freqüentes são: dor, queimação, cãi-
bra, palidez, dificuldade locomotora, sofrimento físico, inchaço, en-
torses, formigamento e fraqueza.
Outra questão igualmente importante da ergonomia são as
lombalgias. A coluna vertebral em bom estado é essencial para o de-
senvolvimento de qualquer atividade que envolva trabalho pesado,
como levantamento e transporte de carga, com extensões, inclina-
ções laterais e flexões do tronco, e atividades de puxar ou empurrar.
A coluna vertebral tem por função proteger o sistema nervoso
central (medula espinhal). Com o auxílio de músculos e ligamentos,
a coluna vertebral oferece firme sustentação para o corpo humano.
A evolução dos processos laborais está levando o trabalhador a
passar mais tempo em posição sentada, que pode ser um fator adver-
so para a coluna vertebral. A rigidez em postura sentada é um fator
de risco para vários segmentos da coluna.
A postura mais adequada ao trabalhador é aquela que ele escolhe
livremente e que pode ser variada ao longo do tempo. O tempo de
manutenção de uma postura deve ser o mais breve possível, pois seus
efeitos, eventualmente nocivos, dependem do tempo durante o qual
ela será mantida. A apreciação do tempo de manutenção de uma pos-
tura deve levar em conta, por um lado, o tempo unitário de manuten-
ção (sem possibilidades de modificações posturais) e, por outro, o tempo
total de manutenção registrado durante a jornada de trabalho. Os es-
forços estáticos devem ser reduzidos ao máximo. Todo esforço de ma-
nutenção postural implica uma contração muscular estática que pode
ser nociva à saúde e, portanto, toda e qualquer postura rígida e fixa
deve ser evitada. A redação do subitem teve por intenção reduzir a
posição de trabalho em pé, muito comum no meio industrial. Na mai-
oria das vezes, a realização da tarefa não é incompatível com a postura
sentada (Ministério do Trabalho e Emprego, 2002).
As condições do meio ambiente de trabalho compreendem os
agentes físicos, químicos e biológicos, cujo efeito principal é expor o
trabalhador a circunstâncias que eventualmente podem trazer male-
47
fícios à sua saúde e, também, causar desconforto, mal-estar e outros
efeitos que não necessariamente a doença. O ruído, o calor e os agen-
tes químicos são os agentes mais comuns encontrados no meio in-
dustrial que, além de produzirem doença ou efeitos nocivos à saúde,
são responsáveis por baixa produtividade, precária qualidade (de vida
e do produto final) e propensão à ocorrência de acidentes.
A ergonomia não se preocupa, como a higiene do trabalho, em
estabelecer limites visando à inocorrência da doença, mas sim, com
padrões que promovam o conforto e bem-estar do trabalhador.
Um dos ramos da ergonomia é a antropometria que tem como
objeto o dimensionamento do posto de trabalho, utilizando as medi-
das do corpo humano como parâmetro de projeto. Considerando que
os indivíduos não são iguais, encontraremos uma faixa de medidas
do corpo humano, o que é acentuado, inclusive, por questões de di-
ferença de gênero e raça. Generalizações podem conduzir a verda-
deiros desastres de dimensionamento. O dimensionamento da altura
de uma passagem deverá levar em consideração o indivíduo mais
alto; ao contrário, em se tratando da altura de um botão qualquer
num painel, deve ser contemplada a altura do menor indivíduo.
A Antropometria estuda as proporções e medidas das diversas
partes do corpo, e é um instrumento fundamental na concepção de
um posto de trabalho, de uma ferramenta ou de um sistema de pro-
dução. Considerando que posturas e movimentos naturais do corpo
são condições básicas e necessárias para se obter um trabalho eficien-
te, é imprescindível a adaptação do local de trabalho ao homem às
medidas do corpo humano, buscando sempre um mínimo de sobre-
carga física. (Grandjean, 1998)
Como não é possível projetar postos de trabalho que atendam
às pessoas extremas, mais altas ou mais baixas, o projeto atende as
necessidades da maioria da população tomando como base as medi-
das que são representativas de um universo de pessoas, utilizando-
se de limites de confiança.
Entre a população trabalhadora há indivíduos muito pequenos
e muito grandes. É difícil conceber um mobiliário que satisfaça a es-
ses extremos. O recomendável é que o mobiliário permita uma
regulagem que atenda a pelo menos 95% da população em geral. Não
é recomendável que as dimensões dos postos de trabalho sejam adap-
48
tadas somente à população que esteja empregada, pois quando se
pretende modificar os postos de trabalho visando a uma melhor adap-
tação, não se deve basear apenas nas medidas antropométricas da
população que já esteja ocupando os postos, mas sim fundamentar-
se em dados de toda a população brasileira. Isso por que os trabalha-
dores atuais podem já ter sofrido uma seleção, formal ou informal, e
terem permanecido apenas aqueles que melhor se adaptaram e, por-
tanto, não serem representativos de todos que poderão, no futuro,
ocupar esses postos (Ministério do Trabalho e Emprego, 2002).
A avaliação antropométrica é parte integrante de toda interven-
ção ergonômica e deve considerar a variabilidade humana mediante
limites de confiança de 90-95% obtido pela média da população e o
desvio-padrão.
Relacionamos, abaixo, algumas regras básicas para o posiciona-
mento de ferramentas e dispositivos no posto de trabalho:
49
• as mãos são utilizadas para a movimentação precisa de objetos e
também para fazer força, desde que sob a forma de pressão (nes-
ses casos os punhos sempre devem estar trabalhando retos);
• os dedos são indicados quando se necessita de precisão;
• adapte a empunhadura das ferramentas, de forma a fazer con-
tato com toda a superfície da palma da mão;
• posicione alavancas e controles ao alcance normal dos braços,
evitando mudança de postura;
• dobre o cabo da ferramenta, para que não tenha que dobrar o
punho;
• evite esforços manuais com as pinças (somente admiti-los para
atividades de precisão);
• procure esquivar-se de trabalhos na parte de trás de uma peça.
Esse movimento costuma ocasionar a dobra do punho.
50
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
51
Com exceção do uso da força, aos escravos era imposto um regi-
me de trabalho semelhante ao utilizado atualmente, de forma explo-
radora e predatória; o escravo era utilizado indiscriminadamente, ape-
sar de seu alto preço, como artigo facilmente substituível.
Na antigüidade, já existia o trabalho contratado, não escravo e
não compulsório, com salário estipulado e controlado por uma buro-
cracia, a exemplo dos soldados romanos; no entanto, em todas as
épocas, nas sociedades marcadas pelo escravagismo ou pela sujeição
aristocrática, o conceito de trabalho estava ligado à servidão, e tinha,
portanto, conotação negativa, e porque não dizer, pejorativa.
Assim como é prematuro falar-se em fim da escravidão, com o
trabalho infantil ou a semi-escravidão de mulheres e trabalhadores
rurais, ou mesmo com o subemprego em condições subumanas, a
concentração do emprego nos extremos do espectro do mercado de
trabalho leva à necessidade da revalorização de profissões de cunho
notadamente social.
Alguns países já estão mensurando o tempo de vida em cada
profissão, chegando a valores discrepantes para as diversas ativida-
des, o que nos leva a concluir que o fator trabalho é uma das peças do
quebra-cabeça da vida. Estudos revelam que existe diferença de 16
anos nas expectativas de vida, por exemplo, de um mineiro e do en-
genheiro ou de 12 anos entre um operário e o mestre-de-obras.
Algumas patologias do trabalho têm evoluído no sentido de que
sua origem não mais está associada aos fatores clássicos, como por
exemplo, à exposição a uma substância, ou mesmo, às más condições
de trabalho. Nos idos tempos, o trabalhador estava exposto a uma
substância; hoje, ele está exposto a diversos agentes, e mesmo que
esta dose seja menor, a combinação das exposições acaba por ser mais
lesiva, com direta repercussão no envelhecimento precoce; assim, as
patologias do trabalho tendem a se produzir não só por razões afetas
ao local físico de trabalho, como também fora do ambiente laboral,
passando a ser consideradas multifatoriais.
Hoje, convivemos com um agente nefasto e invisível, que ataca
o trabalhador de forma traiçoeira, produzindo os distúrbios mentais.
Ao contrário de outras patologias, a doença mental não é seletiva,
atinge desde o operário até o mais alto executivo, atinge a dona-de-
casa, e até mesmo o desempregado; não existe trabalhador que esteja
imune aos problemas mentais, que começam como uma simples an-
siedade, depressão, fadiga ou outros pequenos males.
52
A globalização, sem dúvida nenhuma, é um grande impulsiona-
dor da ansiedade no trabalho, pois a cada dia as empresas estão pre-
ocupadas em minimizar os custos e maximizar a qualidade, percebe-
se uma enorme preocupação em reduzir os tempos mortos no traba-
lho, redundando em exigências cada vez maiores aos trabalhadores,
especialmente o “chão de fábrica”, que presencia a sua substituição
por robôs, computadores e máquinas automatizadas. Cada vez mais,
o trabalho manual cede espaço ao trabalho intelectual, e o trabalha-
dor que não se preparar para os novos tempos, corre o risco do ostra-
cismo pelo mercado de trabalho. Após vários anos de empresa, exer-
cendo a mesma tarefa, o trabalhador é, sutilmente, convidado a
retornar aos estudos e se preparar para os novos tempos, ou então ...
Existem diversas pesquisas indicando as relações entre o traba-
lho e as novas tecnologias, direcionando para a substituição do tra-
balho e sua requalificação; porém, as expectativas do mercado se in-
clinam com maior intensidade para a substituição do trabalho, dedu-
zindo-se, assim, que o processo de requalificação tem atingido uma
pequena minoria da força laboral, enquanto que o restante está sendo
deslocado para funções cada vez menos qualificadas, ou para fora do
mercado de trabalho.
A competição comercial aguçada pela aceleração do processo de
globalização exigiu um movimento de sintonia entre os padrões
de qualidade e os custos industriais, incluindo, neste contexto, des-
de a indústria primária e a agroindústria, até a produção intelectual e
artística. Um ponto fundamental é que, se o processo de reestrutura-
ção produtiva da indústria, com a racionalização de processos e do
controle sobre o trabalho, foi possibilitado pelas novas tecnologias
baseadas no uso da informática, esta tendência estendeu-se ao setor
terciário, com reflexos talvez mais críticos do que na indústria.
A demanda de trabalhadores sofre visível retração, especialmente
nos setores receptivos a inovações tecnológicas; no passado, este
problema foi compensado pela redução da jornada de trabalho ou
aceleração do crescimento econômico; hoje, tais medidas não redunda-
riam em solução. A globalização é responsável pelo deslocamento
dos capitais para regiões onde o custo da mão-de-obra é menor, punin-
do assim, os países nos quais os direitos trabalhistas são respeitados.
Se o setor terciário foi, durante algum tempo, a válvula de esca-
pe no início do processo de retração em termos de mão-de-obra do
53
setor industrial, este movimento também alcançou o setor terciário,
de maneira mais rápida e violenta. Boa parte do crescimento notado
no setor terciário tem por fonte a terceirização de funções que antes
estavam sob a hierarquia das empresas industriais, que procuram
agora se centrar na sua atividade principal, o que, em princípio, é
razoável. Outra parte viria da diversificação do espectro dos serviços
causada pela concentração urbana e também dos salários, na nova
elite gerada pelo enriquecimento de funções.
Algumas profissões exigem demais dos trabalhadores, criando o
que se denomina de “excesso de demanda”, provocando estados de
ansiedade; aliada a esta questão estão a competitividade, o medo
de perder o emprego, a monotonia de determinadas tarefas, a falta de
perspectivas e, finalmente, a insatisfação no trabalho. Sob o falso emble-
ma do enriquecimento da tarefa, as empresas estão acumulando os tra-
balhadores com diversas atividades, em parte, devido ao enxugamento
do número de empregados para redução de custos; utilizando-se da fal-
sa afirmativa de que o aumento de trabalho dará uma satisfação maior
aos trabalhadores; na verdade, a combinação dos dois fatores, enrique-
cimento da tarefa e aumento da carga de trabalho podem proporcionar
satisfação do empregado, desde que dosada convenientemente.
O trabalhador, com finalidade de manutenção de seu emprego,
acaba assumindo um número de tarefas inadequado à sua capacida-
de, e, com o tempo, começa a sentir os efeitos do trabalho sob pres-
são. Um típico exemplo é a categoria dos bancários, onde, comprova-
damente, os bancos reduziram maciçamente sua mão-de-obra; até o
momento não conseguimos avaliar quais foram mais prejudicados:
os que foram demitidos, ou os que permaneceram e estão expostos à
excessiva carga de trabalho, sob a ameaça de também perderem o
emprego; prova disto são as estatísticas, que demonstram uma forte
tendência ao suicídio pelo bancário.
Outro aspecto comumente desprezado na realização do trabalho
são as pausas, tão necessárias ao trabalhador, particularmente, aque-
les envolvidos em atividades de monitoramento/controle e trabalho
físico contínuo; para estes, a pausa visa evitar a fadiga excessiva; para
aqueles, porque o desempenho tende a diminuir após 20 a 30 minu-
tos de trabalho contínuo. Intervalos breves e freqüentes são mais efica-
zes para a recuperação do que um período de descanso igual, toma-
do de uma só vez.
54
Um estudo realizado ao longo de sete anos na Dinamarca, de-
monstrou que os motoristas de ônibus encarregados de circular pelas
ruas mais saturadas, tinham o dobro de possibilidade de sofrer um
infarto que aqueles que não freqüentavam tráfego intenso. A qualidade
de vida nas grandes cidades foi fortemente afetada pelo excesso de
habitantes, que conseqüentemente contribui para o colapso do trânsi-
to, da deficiência dos serviços públicos e até mesmo da qualidade do
ar que respiramos. O êxodo rural traz uma legião de esperançosos,
motivados pelos pseudo-atrativos e vantagens de morar nos grandes
centros urbanos, que em pouco tempo se desmotivam, pois, não tendo
meios de retornar ao campo, tornam-se escravos do trabalho.
Hoje, os fatores de stress estão substituindo as más condições de
trabalho, que eram tão freqüentes em outros tempos. E com um agra-
vante: para os agentes nocivos, a tecnologia conseguiu desenvolver for-
mas para sua mensuração objetiva, tornando, relativamente fácil, o mo-
nitoramento das condições de trabalho num dado momento; ao contrá-
rio, os fatores de stress não possuem mensuração; além do que, as
suscetibilidades individuais influenciam com maior intensidade tais fa-
tores. Da mesma forma que as doenças mentais, o stress não possui um
grupo preferido de trabalhadores, atacando indistintamente a todos.
Dados publicados pela Fundação Européia para o Desenvolvi-
mento das Condições de Trabalho, denotam que as profissões mais
sensíveis ao stress são: os professores de ensino primário e secundá-
rio, onde 64,2% reconhecem viver estressados; a seguir, encontramos
os caminhoneiros (50,8%), os trabalhadores manuais (46,9%) e os
médicos e as enfermeiras (44,1%).
Os DORT — distúrbios osteomusculares relacionadas ao trabalho
— se encontram na crista da onda, pois, em todo o mundo, possuem
elevadas taxas de incidência; apesar de ser, relativamente, uma nova
patologia do trabalho, não faz distinção entre os trabalhadores, aco-
metendo desde o trabalho sedentário até o trabalho sob carga. Anun-
ciada, erroneamente, como uma nova doença, os DORT sempre exis-
tiram; porém, faltava-lhes um nome específico e o reconhecimento
devido como patologia associada ao trabalho. Acreditamos que pro-
blemas como tendinite, tenossinovite, lombalgias e outras síndromes,
sempre estiveram presentes entre os trabalhadores; porém, a falta de
conhecimento induzia o paciente a acreditar que era somente mais
uma dor muscular passageira.
55
A postura e os movimentos repetitivos são os dois fatores que
mais predispõem o aparecimento dos DORT; entretanto, mais uma
vez a organização do trabalho está por trás desta síndrome. Os ritmos
excessivos, a postura rígida, a ausência de pausas, a pouca liberdade
do trabalhador, além da pressão pelos superiores, são contribuições
para o surgimento dos DORT. Em nosso país, um segmento de traba-
lhadores seriamente acometidos pelos DORT são os bancários, de uma
forma geral, principalmente aqueles em funções de execução, reali-
zam, em sua maioria, tarefas de exigência contínua e repetitiva dos
membros superiores, contribuindo para o aparecimento, precoce, dos
primeiros sintomas dos DORT.
Finalmente, mais do que nunca, os efeitos da organização do
trabalho estão presentes na vida do trabalhador moderno, que alia-
dos ao stress da vida na cidade, produzem uma insidiosa e alarmante
situação de risco ao trabalhador, seja agindo independentemente, seja
pelo sinergismo que proporciona a outros agentes. As causas, muitas
vezes, estão bastante ocultas; o diagnóstico é difícil, mas a correção
só depende da boa vontade, tanto dos empregados, como do empre-
gador, que, antes de qualquer coisa, precisam estar com o espírito
desarmado e receptivos para promover mudanças, que logo serão
inevitáveis, pois o trabalhador é forte e resiste às mudanças, mesmo
se prejudicando; a empresa, ao contrário, não resiste muito tempo,
acabando por sucumbir à concorrência que inovou.
As mudanças no mundo laboral são de profunda importância,
quando há a perspectiva não só da globalização das trocas econômi-
cas, mas também do trabalho, o que pode criar, em determinadas
áreas, uma nova forma de “escravagismo a distância”, com o mo-
mentâneo recrudescimento da exportação do trabalho mal remune-
rado para países periféricos; é um movimento que tende a refluir. A
fonte desta perspectiva está nos países centrais, que não podem se
eximir da responsabilidade sobre seus atos.
O FENÔMENO LER/DORT
Quem já não ouviu falar nas LER — lesões por esforços repetiti-
vos — ou nos DORT — distúrbios osteomusculares relacionados ao
trabalho? As LER/DORT são conceituadas como um conjunto de sín-
dromes que atacam os nervos, músculos e tendões, especialmente
dos membros superiores e pescoço. São síndromes degenerativas e
cumulativas e sempre acompanhadas de dor ou incômodo.
56
Mais conhecida como a doença dos digitadores, uma vez que
esta categoria foi a primeira a manifestar intensamente seus efeitos,
as LER/DORT possuem como fator de risco os movimentos repetiti-
vos, as posturas inadequadas, o uso de força muscular excessiva, a
ausência de pausas e a organização do trabalho.
As posturas inadequadas, que advêm de um posto de trabalho mal
dimensionado, ou que não se ajustem às variações antropométricas de
cada indivíduo, e os movimentos repetitivos são alguns dos fatores que
mais predispõem o aparecimento das LER/DORT; no entanto, não de-
vemos nos esquecer da organização do trabalho, que eventualmente pode
estar por trás desta patologia. Os ritmos excessivos, a postura rígida, a
ausência de pausas, a pouca liberdade do trabalhador, além da pressão
pelos superiores, são contribuições para o surgimento das LER/DORT.
O mobiliário deve primar não só pelo conforto, mas também, observar
os alcances visuais e dos membros. É criada carga estática quando um
membro é retirado de sua posição de neutralidade, com pouco ou ne-
nhum movimento. Numa postura rígida que exija contração estática do
membro, não há irrigação sangüínea nos músculos envolvidos, uma vez
que estes somente se nutrem quando relaxados.
As LER/DORT são passíveis de prevenção por meio de adapta-
ção de postos de trabalho não ergonômicos. A engenharia tem pres-
tado grande contribuição na elaboração de projetos que contemplem
as prescrições da ergonomia. Paliativamente, os controles adminis-
trativos também são uma forma de reduzir a exposição do trabalha-
dor à condição não ergonômica, mediante rodízio dos trabalhadores
ou redução da jornada laboral. Dentre as formas de prevenção mais
usuais, podemos citar:
• realizar micropausas (pequenas pausas rápidas) em qualquer
atividade que se exerça repetitividade excessiva ou postura
inadequada por tempo prolongado. Intervalos breves e fre-
qüentes são mais eficazes para a recuperação do que um perío-
do de descanso igual, tomado de uma só vez. Durante essas
pausas faça alguns alongamentos para as áreas de seu corpo
que estiverem executando a tarefa;
• cuidar para sempre permanecer com uma boa postura, incluin-
do a adequação do seu posto de trabalho de acordo com as
características físicas e com sua atividade;
• não realizar força nem pressão exageradas, repetitivas ou fre-
qüentes em sua atividade.
57
Aceita-se, atualmente, que as LER/DORT sejam curáveis, sobretu-
do nos primeiros estágios. A título de exemplo, num posto de traba-
lho com computador, devem ser observados os seguintes aspectos:
(colocar desenho)
cadeira:
• a altura ideal deve ser de 48 a 58 cm;
• o encosto deve estar a 110o do assento;
• possuir apoio para a região lombar e dorsal;
• os pés do trabalhador devem ter contato completo com o chão
ou apoiados em suporte específico;
• as coxas do trabalhador permaneçam paralelas ao piso;
• o trabalhador deve estar próximo da superfície de trabalho;
• os braços do trabalhador devem ficar apoiados.
58
monitor:
• a altura ideal da 1ª linha escrita deve ser de 155 cm;
• a tela deve estar ao nível do horizonte ou levemente abaixo;
• o trabalhador deve localizar-se frontalmente;
• a iluminação deve ser adequada;
• usar filtro no caso de brilho excessivo;
• o trabalhador deve estar a 60 cm.
teclado e mouse:
• a altura ideal deve ser de 110 cm;
• devem localizar-se próximos e na frente do trabalhador;
• os cotovelos do trabalhador devem permanecer em ângulo de 90o;
• os punhos do trabalhador devem ficar retos.
Não podemos nos esquecer de um agente invisível e insidioso,
presente com freqüência nos casos de LER/DORT, a organização do
trabalho. Daí por que o fenômeno LER/DORT apresenta dificuldade
adicional em seu diagnóstico, eis que se apresenta como uma síndro-
me de concepção multifatorial, ao contrário de outros agentes, que se
manifestam de forma monocausal. A doença não apenas está relacio-
nada às condições do ambiente de trabalho, como também à organi-
zação do trabalho. As condições do ambiente laboral estão relaciona-
das ao nível de pressão sonora, temperatura, vibrações, iluminação e
existência de agentes químicos, bem como mobiliário inadequado,
posturas inconvenientes e movimentos repetitivos. A organização do
trabalho representa um complexo de condições de natureza organi-
zacional e psicossocial relacionadas ao ritmo acelerado, estresse, au-
sência de pausas, exigência de produção mínima, pouca liberdade do
trabalhador, pressão pelos superiores, trabalho em turnos e noturno.
3 — A RESPONSABILIDADE CIVIL
O ACIDENTE DO TRABALHO
59
cio do trabalho dos segurados, provocando lesão corporal ou pertur-
bação funcional que cause a morte, a perda ou redução, permanente
ou temporária, da capacidade para o trabalho.
São caracterizados como acidente do trabalho as seguintes en-
fermidades:
• doença profissional, assim entendida a produzida ou desenca-
deada pelo exercício de trabalho peculiar a determinada ativi-
dade e constante do Anexo do Regulamento da Previdência
Social;
• doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desenca-
deada, em função de condições especiais em que o trabalho é
realização e com ele se relacione diretamente, desde que cons-
tante da relação do Anexo mencionado no item anterior.
Também são equiparadas ao acidente do trabalho as seguintes
situações:
• o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a
causa única, haja contribuído diretamente para a morte do se-
gurado, para a perda ou redução da sua capacidade para o
trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a
sua recuperação;
• o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do tra-
balho, em conseqüência de:
• ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por tercei-
ro ou companheiro de trabalho;
• ofensa física intencional, inclusive de terceiros, por motivo de
disputa relacionada com o trabalho;
• ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de tercei-
ros, ou de companheiro de trabalho;
• ato de pessoa privada do uso da razão;
• desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos de-
correntes de força maior;
• a doença proveniente de contaminação acidental do emprega-
do no exercício de sua atividade;
• o acidente sofrido ainda que fora do local e horário de trabalho:
• na execução de ordem ou na realização de serviços sob a auto-
ridade da empresa;
60
• na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para
lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito;
• em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo, quando
financiada por esta, dentro de seus planos para melhor capaci-
tação da mão-de-obra, independentemente do meio de locomo-
ção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado;
• no percurso da residência para o local de trabalho ou deste
para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive
veículo de propriedade do segurado. Isto não se aplica ao aci-
dente sofrido pelo segurado que, por interesse pessoal, tiver
interrompido ou alterado o percurso.
• doença do trabalho;
• doença profissional ou ocupacional;
• acidente de trabalho tipo.
61
• se é comum na empresa o desvio de função;
• turno e horário de trabalho;
• se a vítima do acidente era qualificada para exercer aquelas
funções;
• se o pagador prestou à vítima do acidente a devida assistência
médica;
• qual o tempo de experiência da vítima na função;
• se anteriormente a vítima sofreu acidente semelhante, quais as
medidas tomadas pela empresa para prevenir a reincidência;
• se existiam medidas ou equipamentos de segurança que não
foram utilizadas, e que poderiam evitar o acidente.
62
Havendo a incapacidade para o trabalho e impossibilidade de
reabilitação para o exercício que garanta a subsistência do segurado,
nos termos do artigo 42 da Lei nº 8.213/91, é devida a aposentadoria
por invalidez acidentária, inclusive com a majoração do benefício em
25% se o acidentado necessitar de assistência permanente de outra
pessoa, nos termos do artigo 45 do Decreto nº 3.048/99.
A DOENÇA OCUPACIONAL
63
A Medicina do Trabalho teve sua primeira manifestação em 1700,
com a publicação na Itália do livro De Morbis Artificum Diartriba, es-
crito por Bernardino Ramazzini, o Pai da Medicina do Trabalho, no
qual são descritas 50 doenças ligadas à profissão.
O local de trabalho, além de ser construído seguindo-se a boa
técnica de engenharia, deve zelar pelo ambiente físico, uma boa ilu-
minação, o conforto térmico, o isolamento acústico, posto que são
fatores que contribuem enormemente para a saúde física e psíquica
do trabalhador.
ESTABILIDADE DO ACIDENTADO
A RESPONSABILIDADE CIVIL
A responsabilidade civil do empregador está legalmente previs-
ta na Constituição de 1988, artigo 7º, XXVIII — seguro contra acidentes
do trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que está
obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.
O Novo Código Civil Brasileiro, em vigor a partir de 11 de janeiro
de 2003, não deixou de incluir a responsabilidade a que estão sujeitos
todos aqueles que por ação e/ou omissão causem danos a outrem e,
em razão dessa responsabilidade assumem o ônus de indenizar pelo
dano causado.
Destaque-se que a indenização por acidente ou doença do traba-
lho não possui condão de enriquecimento, mas tão-somente compen-
sar financeiramente o acidentado pela perda da capacidade laborati-
va resultante do acidente ou doença. A avaliação da capacidade labo-
rativa é atividade médica especializada.
As implicações decorrentes do acidente do trabalho e doença
ocupacional (que se equipara ao acidente), afetam tanto os empre-
64
gadores como tomadores de serviços, principalmente pelo descum-
primento das Normas Regulamentadoras — NR’s, do qual podem
derivar ações de responsabilidade civil por ato ilícito, nos termos dos
artigos 186 e 187 do CC:
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, indepen-
dentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a ativi-
dade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, risco para os direitos de outrem.
65
Acrescente-se ainda o artigo 157 da CLT (cumprir e fazer cum-
prir as normas de segurança), o qual vincula a empresa e seus
prepostos na responsabilidade pelo ressarcimento do dano.
O artigo 932 do CC preceitua:
66
As ações de responsabilidade civil por ato ilícito passam a ter
prescrição em 3 (três) anos (§ 3º artigo 206 do CC). No CC anterior as
ações prescreviam em 20 anos. Tal mudança constituiu-se em enorme
vantagem para a empresa, que passou a responder por um intervalo
de tempo bem menor.
A ação acidentária, requerendo benefício previdenciário, deve ser
ajuizada contra o INSS. Nesta ação não cabe a apreciação da culpa do
empregador, já que a responsabilidade do Estado é objetiva. Na ação
indenizatória, ajuizada contra o empregador, cujo foro competente, ainda
se discute se é o trabalhista ou civil, deve o acidentado demonstrar a
culpa do empregador, cuja responsabilidade é subjetiva. A responsabili-
dade civil da empresa não exclui a prestação assistencial do INSS.
Os documentos em segurança e saúde do trabalhador, tais como
PPRA, PCMSO, PPP, LTCAT serviram e continuarão servindo como com-
provação, pelo empregado, da exposição aos agentes nocivos, ainda que
para os documentos com finalidade previdenciária haja expressa decla-
ração de que o seu conteúdo visava apenas a concessão do benefício,
não se prestando para outros fins.
AÇÃO ACIDENTÁRIA
A reparação acidentária está a cargo da seguridade social, banca-
da por uma autarquia federal, o INSS, com recursos das contribuições
que lhes são devidas pelos empregadores, pelos trabalhadores, além
das receitas derivadas dos chamados concursos de prognósticos, nos
termos dos planos de custeio e benefícios da previdência social.
O trabalhador, ao vincular-se ao sistema de seguridade oficial, via
INSS, tem assegurada por uma relação derivada de um vínculo contra-
tual a partir de um autêntico seguro, a reparação do acidente. Além do
que, não se deve olvidar que, ainda que a Previdência Social se responsa-
bilize pela satisfação do benefício devido ao segurado acidentado, não
ficará o empregador isento do pagamento da indenização eventualmente
cabível a título de dolo ou culpa pelo acidente. Sendo assim, inobstante o
acidentado ter sido contemplado com qualquer benefício acidentário
previsto no âmbito da Previdência Social, poderá ainda postular, con-
tra o seu empregador faltoso, indenização por dano material e até mes-
mo dano moral, uma vez que são derivados de obrigações diversas, ou
seja, o primeiro decorre de um direito contratualmente estipulado e a
segunda deflui de um liame extracontratual.
67
ACIDENTE DE TRAJETO
Nos casos de acidente do trabalho de trajeto, a responsabilidade
pela emissão da CAT é do sindicato da categoria, uma vez que a em-
presa não tem elementos para emiti-la, nos termos da Ordem de Ser-
viço INSS/DISES nº 78, de 09.03.1992, item 3.4.1:
68
nos termo do artigo 42 da Lei nº 8.213/91, é devida a aposentadoria
por invalidez acidentária, inclusive o benefício pode ser majorado
em 25% se o acidentado necessitar de assistência permanente de ou-
tra pessoa, nos termos do artigo 45 do Decreto nº 3.048/99.
4 — DANO MORAL
A prática do realizar ato ilícito deve ser desestimulada além de pu-
nida. Toda lesão a qualquer direito traz como conseqüência a obrigação
da indenização. A responsabilidade civil enfatiza o dever de indenizar
sempre que presentes os elementos caracterizadores do ato ilícito.
O dano moral advém da dor, do sofrimento, da humilhação, da
vergonha e do constrangimento; tais sentimentos não podem ser ava-
liados monetariamente. Dano moral é a dor em função de conduta
contrária ao direito, ou ainda, a lesão aos interesses não patrimoniais
da vítima ou acidentado. O reconhecimento do direito à indenização
por dano moral surgiu com o advento da CF de 1988, onde no art. 5º,
V, ficou assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
além da indenização por dano material, moral ou à imagem, combi-
nado com o inciso X do mesmo artigo, onde prevê que são invioláveis
a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, asse-
gurado o direito à indenização por dano material ou moral decorren-
te de sua violação; tais indenizações são cumulativas nos termos da
Súmula nº 37 do STJ.
É necessário, para que se amenize a dor, que se procure meios
para a recuperação da vítima. Tais meios devem compreender formas
de minimizar o sofrimento da vítima. Por outro lado, a ofensa por
dano moral não pode ser reparada senão pecuniariamente.
Cumpre esclarecer que a responsabilidade civil não possui qual-
quer relação com a responsabilidade moral. No entanto, a CF esclare-
ce que a reparação do dano moral ocorre pela indenização. Por óbvio
que a dor sofrida pelo acidentado não pode ser quantificada ou
valorada, porém a indenização tem a intenção de proporcionar con-
forto material que ajude a vítima a esquecer as dolorosas recordações
bem como reduzir a dor. A indenização por dano moral não é solu-
ção, mas sim paliativo.
O conceito de moral é mais abrangente que o conceito do direito.
Do conceito do direito escapam muitas questões do conceito de mo-
69
ral. Considerando-se que a regra jurídica somente é atingida quando
ocorre a violação traduzida em prejuízo; não se cogita a responsabili-
dade jurídica enquanto não houver prejuízo.
O que define o dano moral é o efeito da lesão na pessoa do ofendi-
do, sendo que uma lesão a direito da personalidade pode gerar tanto
dano moral como dano material ou patrimonial, como, por exemplo,
um acidente que resulte na perda de membro superior do trabalhador,
produzirá tanto dano patrimonial (perdas e danos e lucros cessantes),
como dano moral (a dor, o trauma e o sofrimento suportado pela vítima).
A lesão estética não é tipo dano moral. É lesão à integridade físi-
ca e à imagem, podendo gerar dano patrimonial e extrapatrimonial na
esfera de interesses da vítima. Outro detalhe importante é que não se
mostra imprescindível que a lesão perdure no tempo, mesmo que
provisório, o dano estético enseja reparação como dano moral.
A condenação por dano moral certamente se adequa nas condi-
ções de acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais, na concor-
rência de dolo ou culpa do empregador.
Os parâmetros de arbitramento para o juiz estabelecer o quantum
indenizatório, segundo o Código Brasileiro de Telecomunicações é a
posição social ou a política do ofendido; a situação econômica do
ofensor; a intensidade do animus de ofender; a gravidade e repercus-
são da ofensa. Também a Lei de Imprensa aponta iguais parâmetros. A
determinação do prejuízo de afeição cumpre ter em vista o limite do
razoável, a fim de que não se enverede pelo rumo das pretensões ab-
surdas ao indicar dois pólos extremos.
Alguns critérios básicos devem orientar a fixação do quantum inde-
nizatório por dano moral, como a intensidade e a repercussão da ofensa
relativamente à vítima e o grau de culpa ou intensidade de dolo do
agressor. No entanto, o cálculo do valor deve ter somente caráter com-
pensatório à vítima e não punitivo ao infrator.
5 — FISCALIZAÇÃO TRABALHISTA
A legislação de Segurança e Medicina do Trabalho conta, atual-
mente, com 31 Normas Regulamentadoras urbanas (NR) e 5 rurais
(NRR), que são:
NR-1 — Disposições Gerais
NR-2 — Inspeção Prévia
NR-3 — Embargo ou Interdição
70
NR-4 — Serviço Especializado em Engenharia de Segurança
e em Medicina do Trabalho — SESMT
NR-5 — Comissão Interna de Prevenção de Acidentes — CIPA
NR-6 — Equipamentos de Proteção Individual — EPI
NR-7 — Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
NR-8 — Edificações
NR-9 — Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
NR-10 — Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade
NR-11 — Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manu-
seio de Materiais
NR-12 — Máquinas e Equipamentos
NR-13 — Caldeiras e Vasos sob Pressão
NR-14 — Fornos
NR-15 — Atividades e Operações Insalubres
NR-16 — Atividades e Operações Perigosas
NR-17 — Ergonomia
NR-18 — Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indús-
tria da Construção
NR-19 — Explosivos
NR-20 — Líquidos Combustíveis e Inflamáveis
NR-21 — Trabalhos a Céu Aberto
NR-22 — Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração
NR-23 — Proteção contra Incêndios
NR-24 — Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Tra-
balho
NR-25 — Resíduos Industriais
NR-26 — Sinalização de Segurança
NR-27 — Registro de Profissionais do Técnico de Segurança
do Trabalho no Ministério do Trabalho e Emprego
NR-28 — Fiscalização e Penalidades
71
NR-29 — Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no
Trabalho Portuário
NR-30 — Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no
Trabalho Aquaviário
NR-31 — Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no
Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Explo-
ração Florestal e Aqüicultura
NRR-1 — Disposições Gerais
NRR-2 — Serviço Especializado em Prevenção de Acidentes do
Trabalho Rural — SEPATR
NRR-3 — Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Tra-
balho Rural — CIPATR
NRR-4 — Equipamentos de Proteção Individual — EPI
NRR-5 — Produtos Químicos
Cada Norma Regulamentadora trata de assunto distinto, em cor-
respondência com a CLT, conforme a seguir:
NR-1 — Disposições Gerais: Estabelece o campo de aplicação
de todas as Normas Regulamentadoras de Seguran-
ça e Medicina do Trabalho do Trabalho Urbano, bem
como os direitos e obrigações do Governo, dos em-
pregadores e dos trabalhadores no tocante a este tema
específico. A fundamentação legal, ordinária e espe-
cífica, que dá embasamento jurídico à existência desta
NR, são os artigos 154 a 159 da Consolidação das Leis
do Trabalho — CLT.
NR-2 — Inspeção Prévia: Estabelece as situações em que as
empresas deverão solicitar ao MTE a realização de
inspeção prévia em seus estabelecimentos, bem como
a forma de sua realização. A fundamentação legal,
ordinária e específica, que dá embasamento jurídico
à existência desta NR, é o artigo 160 da CLT.
NR-3 — Embargo ou Interdição: Estabelece as situações em
que as empresas se sujeitam a sofrer paralisação de
seus serviços, máquinas ou equipamentos, bem como
os procedimentos a serem observados, pela fiscali-
zação trabalhista, na adoção de tais medidas punitivas
no tocante à Segurança e a Medicina do Trabalho. A
72
fundamentação legal, ordinária e específica, que dá
embasamento jurídico à existência desta NR, é o ar-
tigo 161 da CLT.
NR-4 — Serviços Especializados em Engenharia de Seguran-
ça e em Medicina do Trabalho: Estabelece a obriga-
toriedade das empresas públicas e privadas, que pos-
suam empregados regidos pela CLT, de organizarem
e manterem em funcionamento, Serviços Especiali-
zados em Engenharia de Segurança e em Medicina
do Trabalho — SESMT, com a finalidade de promo-
ver a saúde e proteger a integridade do trabalhador
no local de trabalho. A fundamentação legal, ordi-
nária e específica, que dá embasamento jurídico à
existência desta NR, é o artigo 162 da CLT.
NR-5 — Comissão Interna de Prevenção de Acidentes — CIPA:
Estabelece a obrigatoriedade das empresas públicas e
privadas organizarem e manterem em funcionamento,
por estabelecimento, uma comissão constituída exclu-
sivamente por empregados com o objetivo de preve-
nir infortúnios laborais, através da apresentação de
sugestões e recomendações ao empregador para que
melhore as condições de trabalho, eliminando as pos-
síveis causas de acidentes do trabalho e doenças ocu-
pacionais. A fundamentação legal, ordinária e especí-
fica, que dá embasamento jurídico à existência desta
NR, são os artigos 163 a 165 da CLT.
NR-6 — Equipamentos de Proteção Individual — EPI: Esta-
belece e define os tipos de EPI’s a que as empresas
estão obrigadas a fornecer a seus empregados, sem-
pre que as condições de trabalho o exigirem, a fim
de resguardar a saúde e a integridade física dos
trabalhadores. A fundamentação legal, ordinária e
específica, que dá embasamento jurídico à existên-
cia desta NR, são os artigos 166 e 167 da CLT.
NR-7 — Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacio-
nal: Estabelece a obrigatoriedade de elaboração e im-
plementação, por parte de todos os empregadores e
73
instituições que admitam trabalhadores como empre-
gados, do Programa de Controle Médico de Saúde
Ocupacional — PCMSO, com o objetivo de promo-
ção e preservação da saúde do conjunto dos seus tra-
balhadores. A fundamentação legal, ordinária e es-
pecífica, que dá embasamento jurídico à existência
desta NR, são os artigos 168 e 169 da CLT.
74
oficiais vigentes e, na falta destas, as normas técnicas
internacionais. A fundamentação legal, ordinária e es-
pecífica, que dá embasamento jurídico à existência des-
ta NR, são os artigos 179 a 181 da CLT.
NR-11 — Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manu-
seio de Materiais: Estabelece os requisitos de segu-
rança a serem observados nos locais de trabalho, no
que se refere ao transporte, à movimentação, à arma-
zenagem e ao manuseio de materiais, tanto de forma
mecânica quanto manual, objetivando a prevenção de
infortúnios laborais. A fundamentação legal, ordiná-
ria e específica, que dá embasamento jurídico à exis-
tência desta NR, são os artigos 182 e 183 da CLT.
NR-12 — Máquinas e Equipamentos: Estabelece as medidas
prevencionistas de segurança e higiene do trabalho
a serem adotadas pelas empresas em relação à insta-
lação, operação e manutenção de máquinas e equi-
pamentos, visando à prevenção de acidentes do tra-
balho. A fundamentação legal, ordinária e específi-
ca, que dá embasamento jurídico à existência desta
NR, são os artigos 184 e 186 da CLT.
NR-13 — Caldeiras e Vasos sob Pressão: Estabelece todos os
requisitos técnico-legais relativos à instalação, ope-
ração e manutenção de caldeiras e vasos sob pres-
são, de modo a se prevenir a ocorrência de acidentes
do trabalho. A fundamentação legal, ordinária e es-
pecífica, que dá embasamento jurídico à existência
desta NR, são os artigos 187 e 188 da CLT.
NR-14 — Fornos: Estabelece as recomendações técnico-legais
pertinentes à construção, operação e manutenção de
fornos industriais nos ambientes de trabalho. A fun-
damentação legal, ordinária e específica, que dá em-
basamento jurídico à existência desta NR, é o artigo
187 da CLT.
NR-15 — Atividades e Operações Insalubres: Descreve as ati-
vidades, operações e agentes insalubres, inclusive
seus limites de tolerância, definindo, assim, as situa-
ções que, quando vivenciadas nos ambientes de tra-
75
balho pelos trabalhadores, ensejam a caracterização
do exercício insalubre, e também os meios de prote-
ger os trabalhadores de tais exposições nocivas à sua
saúde. A fundamentação legal, ordinária e específi-
ca, que dá embasamento jurídico à existência desta
NR, são os artigos 189 e 192 da CLT.
NR-16 — Atividades e Operações Perigosas: Regulamenta as
atividades e as operações legalmente consideradas
perigosas. Especificamente no que diz respeito ao
Anexo nº 01: Atividades e Operações Perigosas com
Explosivos, e ao Anexo nº 02: Atividades e Opera-
ções Perigosas com Inflamáveis tem a sua existência
jurídica assegurada através dos artigos 193 a 197 da
CLT. A fundamentação legal, ordinária e específica,
que dá embasamento jurídico à caracterização da
energia elétrica como sendo o terceiro agente peri-
goso é a Lei nº 7.369, de 22 de setembro de 1985, que
institui o adicional de periculosidade para os profis-
sionais da área de eletricidade. O quarto agente pe-
rigoso, radiações ionizantes, foi introduzido pela Por-
taria MTb nº 3.393, de 17 de dezembro de 1987; tal
portaria foi revogada pela nº 496/02 e, posteriormen-
te a Portaria nº 518/03 revigorou totalmente os ter-
mos da Portaria nº 3.393/87.
NR-17 — Ergonomia: Visa estabelecer parâmetros que permi-
tam a adaptação das condições de trabalho às condi-
ções psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a
proporcionar um máximo de conforto, segurança e
desempenho eficiente. A fundamentação legal, ordi-
nária e específica, que dá embasamento jurídico à
existência desta NR, são os artigos 198 e 199 da CLT.
NR-18 — Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indús-
tria da Construção: Estabelece diretrizes de ordem
administrativa, de planejamento de organização, que
objetivem a implementação de medidas de controle
e sistemas preventivos de segurança nos processos,
nas condições e no meio ambiente de trabalho na in-
dústria da construção civil. A fundamentação legal,
76
ordinária e específica, que dá embasamento jurídico
à existência desta NR, é o artigo 200, inciso I da CLT.
NR-19 — Explosivos: Estabelece as disposições regulamenta-
doras acerca do depósito, manuseio e transporte de
explosivos, objetivando a proteção da saúde e inte-
gridade física dos trabalhadores em seus ambientes
de trabalho. A fundamentação legal, ordinária e es-
pecífica, que dá embasamento jurídico à existência
desta NR, é o artigo 200, inciso II da CLT.
NR-20 — Líquidos Combustíveis e Inflamáveis: Estabelece as
disposições regulamentares acerca do armazenamen-
to, manuseio e transporte de líquidos combustíveis
e inflamáveis, objetivando a proteção da saúde e a
integridade física dos trabalhadores em seus ambien-
tes de trabalho. A fundamentação legal, ordinária e
específica, que dá embasamento jurídico à existência
desta NR, é o artigo 200, inciso II da CLT.
NR-21 — Trabalho a Céu Aberto: Tipifica as medidas preven-
cionistas relacionadas com a prevenção de acidentes
nas atividades desenvolvidas a céu aberto, tais como,
em minas ao ar livre e em pedreiras. A fundamenta-
ção legal, ordinária e específica, que dá embasamen-
to jurídico à existência desta NR, é o artigo 200,
incisos III e V da CLT.
NR-22 — Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração: Esta-
belece métodos de segurança a serem observados
pelas empresas que desenvolvam trabalhos subter-
râneos de modo a proporcionar a seus empregados
satisfatórias condições de Segurança e Medicina do
Trabalho. A fundamentação legal, ordinária e espe-
cífica, que dá embasamento jurídico à existência desta
NR, são os artigos 293 a 301 e o artigo 200, inciso III,
todos da CLT.
NR-23 — Proteção contra Incêndios: Estabelece as medidas
de proteção contra incêndios que devem dispor os lo-
cais de trabalho, visando à prevenção da saúde e da
integridade física dos trabalhadores. A fundamen-
77
tação legal, ordinária e específica, que dá embasa-
mento jurídico à existência desta NR, é o artigo 200,
inciso IV da CLT.
NR-24 — Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Tra-
balho: Disciplina os preceitos de higiene e de confor-
to a serem observados nos locais de trabalho, especial-
mente no que se refere a: banheiros, vestiários, refei-
tórios, cozinhas, alojamentos e água potável, visando
a higiene dos locais de trabalho e a proteção à saúde
dos trabalhadores. A fundamentação legal, ordinária
e específica, que dá embasamento jurídico à existên-
cia desta NR, é o artigo 200, inciso VII da CLT.
NR-25 — Resíduos Industriais: Estabelece as medidas preven-
tivas a serem observadas, pelas empresas, no desti-
no final a ser dado aos resíduos industriais resultan-
tes dos ambientes de trabalho de modo a proteger a
saúde e a integridade física dos trabalhadores. A fun-
damentação legal, ordinária e específica, que dá em-
basamento jurídico à existência desta NR, é o artigo
200, inciso VII da CLT.
NR-26 — Sinalização de Segurança: Estabelece a padronização
das cores a serem utilizadas como sinalização de se-
gurança nos ambientes de trabalho, de modo a pro-
teger a saúde e a integridade física dos trabalhado-
res. A fundamentação legal, ordinária e específica,
que dá embasamento jurídico à existência desta NR,
é o artigo 200, inciso VIII da CLT.
NR-27 — Registro Profissional do Técnico de Segurança do Tra-
balho no Ministério do Trabalho e Emprego: Estabe-
lece os requisitos a serem satisfeitos pelo profissional
que desejar exercer as funções de técnico de seguran-
ça do trabalho, em especial no que diz respeito ao seu
registro profissional como tal, junto ao Ministério do
Trabalho e Emprego. A fundamentação legal, ordiná-
ria e específica, tem seu embasamento jurídico asse-
gurado através do artigo 3º da Lei nº 7.410, de 27 de
78
novembro de 1985, regulamentado pelo artigo 7º do
Decreto nº 92.530, de 9 de abril de 1986.
NR-28 — Fiscalização e Penalidades: Estabelece os procedi-
mentos a serem adotados pela fiscalização trabalhis-
ta de Segurança e Medicina do Trabalho, tanto no
que diz respeito à concessão de prazos às empresas,
como no que se refere à concessão de prazos às em-
presas para a correção das irregularidades técnicas,
como também, no que concerne ao procedimento de
autuação por infração às Normas Regulamentado-
ras de Segurança e Medicina do Trabalho.
A fundamentação legal, ordinária e específica,
tem a sua existência jurídica assegurada, a nível de
legislação ordinária, através do artigo 201 da CLT,
com as alterações que lhe foram introduzidas pelo
artigo 2º da Lei nº 7.855, de 24 de outubro de 1989,
que institui o Bônus do Tesouro Nacional — BTN,
como valor monetário a ser utilizado na cobrança de
multas, e posteriormente, pelo artigo 1º da Lei nº
8.383, de 30 de dezembro de 1991, especificamente
no tocante à instituição da Unidade Fiscal de Refe-
rência — UFIR, como valor monetário a ser utiliza-
do na cobrança de multas em substituição ao BTN.
Com a extinção da UFIR (em decorrência do § 3º
do art. 29 da Medida Provisória nº 2.095, posterior-
mente convertida na Lei nº 10.522, de 19.07.2002) os
valores das multas foram congelados no último valor
vigente (1 UFIR = R$ 1,0641).
NR-29 — Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no
Trabalho Portuário: Tem por objetivo regular a pro-
teção obrigatória contra acidentes e doenças profis-
sionais, facilitar os primeiros socorros a acidentados
e alcançar as melhores condições possíveis de segu-
rança e saúde aos trabalhadores portuários. As dis-
posições contidas nesta NR aplicam-se aos trabalha-
dores portuários em operações tanto a bordo como
em terra, assim como aos demais trabalhadores que
exerçam atividades nos portos organizados e insta-
lações portuárias de uso privativo e retroportuárias,
79
situadas dentro ou fora da área do porto organiza-
do. A sua existência jurídica está assegurada a nível
de legislação ordinária, através do artigo 200 da CLT
e do Decreto nº 99.534, de 19.09.1990 que promul-
gou a Convenção nº 152 da OIT.
NR-30 — Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no
Trabalho Aquaviário: Tem por objetivo a proteção e a
regulamentação das condições de segurança e saúde
dos trabalhadores aquaviários. Esta norma aplica-se
aos trabalhadores das embarcações comerciais, de
bandeira nacional, bem como às de bandeiras estran-
geiras, no limite do disposto na Convenção da OIT nº
147 — Normas Mínimas para Marinha Mercante, uti-
lizadas no transporte de mercadorias ou de passagei-
ros, inclusive naquelas utilizadas na prestação de ser-
viços, seja na navegação marítima de longo curso, na
de cabotagem, na navegação interior, de apoio marí-
timo e portuário, bem como em plataformas maríti-
mas e fluviais, quando em deslocamento.
NR-31 — Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no
Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Ex-
ploração Florestal e Aqüicultura — estabelece os pre-
ceitos a serem observados na organização e no ambi-
ente de trabalho, de forma a tornar compatível o pla-
nejamento e o desenvolvimento das atividades da
agricultura, pecuária, silvicultura, exploração flores-
tal e aqüicultura com a segurança e saúde e meio
ambiente do trabalho. Esta Norma Regulamentado-
ra se aplica a quaisquer atividades da agricultura,
pecuária, silvicultura, exploração florestal e aqüicul-
tura, verificadas as formas de relações de trabalho e
emprego e o local das atividades. Esta Norma Regu-
lamentadora também se aplica às atividades de ex-
ploração industrial desenvolvidas em estabelecimen-
tos agrários.
NRR-1 — Disposições Gerais: Estabelece os deveres dos em-
pregados e empregadores rurais no tocante à pre-
venção de acidentes do trabalho e doenças ocupacio-
80
nais. A sua existência jurídica é assegurada por meio
do artigo 13 da Lei nº 5.889, de 8 de junho de 1973.
NRR-2 — Serviço Especializado em Prevenção de Acidentes do
Trabalho Rural — SEPATR: Estabelece a obrigato-
riedade para que as empresas rurais, em função do
número de empregados que possuam, organizem e
mantenham em funcionamento serviços especializa-
dos em Segurança e Medicina do Trabalho, visando
à prevenção de acidentes do trabalho e doenças ocupa-
cionais no meio rural. A sua existência jurídica é as-
segurada por meio do artigo 13 da Lei nº 5.889, de 8
de junho de 1973.
NRR-3 — Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Tra-
balho Rural — CIPATR: Estabelece para o emprega-
dor rural, a obrigatoriedade de organizar e manter
em funcionamento uma Comissão Interna de Preven-
ção de Acidentes. A sua existência jurídica é assegu-
rada por meio do artigo 13 da Lei nº 5.889, de 8 de
junho de 1973.
NRR-4 — Equipamento de Proteção Individual — EPI: Estabe-
lece a obrigatoriedade para que os empregadores
rurais forneçam, gratuitamente, a seus empregados
Equipamentos de Proteção Individual adequados ao
risco e em perfeito estado de conservação, a fim de
protegê-los dos infortúnios laborais. A sua existên-
cia jurídica é assegurada por meio do artigo 13 da
Lei nº 5.889, de 8 de junho de 1973.
NRR-5 — Produtos Químicos: Estabelece os preceitos de Se-
gurança e Medicina do Trabalho Rural a serem ob-
servados no manuseio de produtos químicos, visan-
do à prevenção de acidentes do trabalho e doenças
ocupacionais. A sua existência jurídica é assegurada
por meio do artigo 13 da Lei nº 5.889, de 8 de junho
de 1973.
A INSPEÇÃO DO TRABALHO
A inspeção do trabalho desenvolveu-se com a evolução do Di-
reito do Trabalho, primeiramente visando a proteção do trabalho das
mulheres e dos menores, e mais tarde, ganharam destaque os riscos
81
gerados pelos acidentes do trabalho, e finalmente o enfoque na higie-
ne, a proteção da saúde, do bem-estar físico e social do trabalhador.
A empresa deve, para o fiel cumprimento das Normas Regula-
mentadoras (NR’s) implementar diversos programas (PPRA, PCMSO,
PCMAT e outros), bem como elaborar ordens de serviço, adaptar o
lay out e mobiliário, proporcionar um ambiente de trabalho hígido e
tantas outras exigências legais, que a organização acaba descumprin-
do por não conhecer integralmente os requisitos da lei.
A inspeção do trabalho conjuga regras provenientes da Admi-
nistração Pública, com os preceitos de legislação trabalhista e com
legislação técnica de segurança e medicina do trabalho.
A Constituição Federal referiu-se ao tema no artigo 21, XXIV,
atribuindo à União a competência para organizar, manter e executar
a inspeção do trabalho. A CLT trata nos artigos 154 a 201 sobre as
normas e medicina do trabalho. A fiscalização e inspeção de multas
são tratadas nos artigos 626 a 642.
O Delegado Regional do Trabalho pode interditar o estabelecimen-
to, como medida extrema de proteção da segurança e saúde dos traba-
lhadores. Ocorre a interdição quando o ato da inspeção do trabalho im-
porta na paralisação total ou parcial do estabelecimento. Este ato só po-
derá ser efetivado nos casos em que ficar demonstrado, mediante laudo
técnico elaborado por engenheiro de segurança ou médico do trabalho
integrantes da inspeção do Trabalho. Segundo Gabriel Saad (2000):
perigo iminente tem estreita sinonímia com risco iminente a que alude o
caput do artigo 161, ambas as expressões designam situação de fato, que
gera temor, faz nascer ameaça à vida ou à saúde do trabalhador que, com
certeza, se consumará se providências não forem tomadas, a tempo e a
hora, para que as condições ambientais do local de trabalho se modifi-
quem, durante o período da paralisação dos serviços, por interdição ou
embargos, o contrato de trabalho fica interrompido, tendo os trabalhado-
res direito aos salários como se estivessem em efetivo serviço.
De acordo com o disposto no artigo 3º da Convenção nº 81 da
OIT, ratificada pelo Brasil, são três as funções atribuídas à Inspeção
do Trabalho:
• fiscalização;
• orientação;
• assessoramento dos parceiros sociais mediante informação.
82
A Inspeção do Trabalho está dotada de alguns poderes, dentre eles
o poder de visita, previsto no artigo 12 da Convenção nº 81 da OIT:
83
• apreender, para fins de análise, amostras de materiais ou
substâncias utilizadas, mediante termo de apreensão (artigo
8º do RIT, c e art. 12 da Convenção da OIT, c, IV);
• proceder a inspeções nos locais de trabalho e ao controle de
máquinas e da utilização de equipamentos (artigo 8º do RIT, d);
• Verificar registros em carteira, bem como recolhimento do FGTS
(artigo 11, II e III, da Lei nº 10.593, de 06.12.2002).
84
ção. Ainda, de acordo com a mesma Lei retrocitada, as microempre-
sas e empresas de pequeno porte estão desobrigadas ao cumprimen-
to de algumas obrigações acessórias:
85
Os fiscais são distribuídos por zona, dentro do território de atua-
ção da Delegacia, em sistema de rodízio, onde a distribuição é feita por
sorteio público para período não superior a três meses, sendo vedado
ao fiscal permanecer na mesma zona por dois períodos consecutivos.
O processo de multas trabalhistas, até a promulgação da Lei nº
9.784/99, era regulado somente pelos artigos 626 a 642 da CLT. No
artigo 2º da Lei nº 9.784/99 são enumerados os princípios que devem
ser obedecidos pela Administração Pública para com os administra-
dos, tais como os princípios:
• legalidade;
• finalidade;
• motivação;
• razoabilidade;
• proporcionalidade;
• moralidade;
• ampla defesa;
• contraditório;
• segurança jurídica;
• interesse público;
• eficiência.
86
caracterizador da autuação, capitulação do fato com menção do disposi-
tivo legal infringido, elementos de convicção, ciência do prazo para
apresentação de defesa, bem como local para protocolo, local, data e
hora da lavratura, carimbo e assinatura do AFT.
As multas trabalhistas são divididas em dois grupos:
87
• os motivos de fato e de direito em que se fundamentar;
• as diligências que requer o autuado;
• o instrumento de procuração, quando for o caso;
• a autenticação das provas documentais.
88
Nos casos de recurso imposto, este deverá ser interposto peran-
te a autoridade que houver aplicado a multa (Delegado Regional do
Trabalho), porém, endereçado à autoridade competente de instância
superior (Secretário de Inspeção do Trabalho). O recurso deverá ser
interposto em até 10 dias contados do recebimento da notificação,
observando os mesmos requisitos formais da defesa. A apreciação do
recurso dependerá de prova do depósito integral da multa imposta,
nos termos do artigo 636, § 1º da CLT e artigo 34, parágrafo único, da
Portaria nº 148/96; no entanto, tal exigência tem sido questionada
nas esferas administrativa e judicial.
Os recursos administrativos, via de regra, contudo, não logram
êxito, eis que aquele que julga é colega de trabalho de quem autuou
... Não resta outra saída senão a via judicial para anular um débito
resultante de multa com vício ou ilegalidade.
E, não é excesso advertir mais uma vez: a empresa não é obriga-
da a produzir provas contra si mesma ... Ressalte-se que a legislação
trabalhista prescreve a autuação da empresa com base em seus pró-
prios documentos, nos termos do item 28.1.5 da NR-28, in verbis:
89
No entanto, lembre-se de que o fiscal apenas cumpre ordens de um
superior e está fiscalizando a empresa porque este é seu trabalho, não
trate a questão como pessoal, acreditando que o fiscal é inimigo da
empresa. Os trabalhos da fiscalização devem ser realizados no horá-
rio comercial e em sala segregada dos demais funcionários, com vis-
tas a evitar-se o vínculo de amizade.
A fiscalização propriamente dita inicia-se com o Termo de Início
de Fiscalização. O fiscal deve ser “bem recebido” pela empresa a fim
de que não se crie um clima de inamistosidade, pois, o fiscal como
ser humano que é, é passível de subjetividades. Somente devem ser
apresentados documentos pertinentes ao objeto da fiscalização; para
os demais documentos, a empresa deve avaliar a conveniência, ou
não de apresentá-los.
O fiscal não tem autonomia para coletar pessoalmente os docu-
mentos, tão pouco acessar a rede de computadores da empresa; ele
deve solicitar à empresa, que avaliando a pertinência, entregará ou
não tais papéis. A fiscalização deve preservar o sigilo bancário e de
correspondência. Para revistar o escritório e abrir gavetas ou cofres,
em busca de documentos, o fiscal necessita de mandado de busca e
apreensão. Na recusa de apresentação dos documentos, o fiscal pode
lacrar gavetas e cofres, na presença de testemunhas.
Os documentos, para facilitar o processo de fiscalização, neces-
sitam ser catalogados de forma a que sejam prontamente localizados.
Os expurgos de documentos devem ser rigorosos e preservar aqueles
com prazo de guarda. A fiscalização é concluída com o Termo de En-
cerramento de Fiscalização. No caso de autuação, se esta for injusta,
há duas instâncias de recursos. A primeira instância, a administrati-
va, via de regra ratifica a autuação, pois o recurso é julgado interna-
mente, às vezes pelo próprio superior do fiscal. Todavia, em segunda
instância, no Conselho de Contribuintes, a possibilidade de sucesso
aumenta, uma vez que a composição paritária é de representantes
dos contribuintes e agentes fiscais.
6 — FISCALIZAÇÃO PREVIDENCIÁRIA
A fiscalização previdenciária, com o advento do PPP — Perfil
Profissiográfico Previdenciário, passou também a fiscalizar o segmento
de segurança e saúde do trabalhador na empresa. Importante ressaltar
90
que por força da legislação vigente, além dos documentos previden-
ciários, o AFPS — Auditor Fiscal da Previdência Social — também po-
derá exigir documentos trabalhistas, tais como PPRA — Programa de
Prevenção de Riscos Ambientais, comprovantes de entrega dos equi-
pamentos de proteção individual, notas fiscais de aquisição dos EPI´s,
comprovante de treinamento e fiscalização do uso dos EPI’s e outros.
A falta de manutenção do PPP atualizado ou o não fornecimento
deste ao segurado, por ocasião do encerramento do contrato de tra-
balho, ensejará aplicação de multa prevista no art. 283, I, h do Decre-
to nº 4.862/2003, que atualmente importa em R$ 1.035,92 (valor cor-
rigido pela Portaria MPS nº 479, de 10.05.2004). A mesma multa é
aplicada no caso da empresa não manter LTCAT — Laudo Técnico das
Condições Ambientais de Trabalho — atualizado, ou seu documento
substituto, com referência aos agentes nocivos existentes no ambiente
de trabalho de seus trabalhadores.
A atualização do LTCAT e PPP deve ocorrer, quando houver mu-
danças significativas nos métodos e processos do trabalho, que alte-
rem a exposição do segurado. Da mesma forma, a empresa não pode
emitir o PPP em desacordo com o DIRBEN-8030 ou LTCAT, princi-
palmente com relação aos aspectos técnicos.
No caso das características no ambiente de trabalho da empresa
divergirem do Laudo Técnico, o AFPS deverá oficiar o fato ao setor
de Segurança e Saúde do Trabalho da Delegacia Regional do Traba-
lho, e solicitar assessoramento técnico da perícia médica do INSS,
com a emissão de parecer. No ofício, deverá ser solicitada a ciência ao
INSS do parecer conclusivo da inspeção efetuada.
91
Eventualmente quando em fiscalização, a Previdência poderá ou-
vir trabalhadores para apurar se houve acidentes sem a emissão de
CAT, ou ainda, as atas do Livro da CIPA poderão denunciar tal cir-
cunstância, inclusive pela análise do acidente. O PCMSO também
servirá como poderoso instrumento para denunciar quais as doenças
não foram devidamente notificadas pela CAT. Desta forma, de pouca
valia será a sonegação da notificação do acidente, vez que há formas
indiretas da Previdência checar estes dados.
A Previdência poderá solicitar o PPP ou DIRBEN-8030 dos segura-
dos já desligados, bem como o protocolo de entrega de tais documentos.
Cabe à empresa diligenciar no sentido de não só manter o PPP ou
DIRBEN-8030 de segurados desligados, como também obter a assinatu-
ra do trabalhador, no encerramento do contrato de trabalho, pela entre-
ga do documento. Indispensável acrescentar que a Previdência analisa-
rá o conteúdo formal do PPP, especialmente se contém informações ad-
ministrativas, registros ambientais e monitoração biológica.
As informações contidas no PPP também serão checadas com os
registros de folha de pagamento e LRE — Livro de Registro de Empre-
gados. Deverá haver coerência entre PPP e LTCAT, ou seja, as informa-
ções lançadas no PPP devem obrigatoriamente ser retiradas do LTCAT.
Não devemos nos esquecer de que o PPP é transcrição do LTCAT.
Pior ainda é a eventual contradição entre PPP e GFIP. Os escritó-
rios de contabilidade, de uma forma geral, estão escriturando GFIP
com isenção da alíquota adicional do SAT, indistintamente, para to-
dos os seus clientes, sem prévia consulta se há ou não segurados
expostos aos agentes nocivos. Ao ser implantado o PPP e LTCAT na
empresa, deve-se proceder a uma análise para constatar se há segu-
rados em exposição aos agentes nocivos e que, por conseqüência fa-
rão jus à aposentadoria especial, quando então deverão ser alterados
os códigos de enquadramento.
Numa eventual fiscalização da Previdência, deverão ser dispo-
nibilizados os LTCAT’s de todos os segurados. Devemos recordar que
o LTCAT é individual para cada trabalhador e para ser considerado
atualizado deve corresponder às condições ambientais do período a
que se refere. A rigor, o LTCAT deveria ser atualizado com periodici-
dade mínima anual, juntamente com o PPRA e PCMSO ou quando
houver qualquer alteração que implique em alteração na exposição
do segurado. Assim, o LTCAT, em hipótese alguma poderá ter sido
elaborado há mais de um ano.
92
Anexos ao LTCAT, se for o caso, deverão estar os relatórios de
dosimetria, laudos de análise do laboratório químico, ficha toxicológica
dos produtos químicos, recibos de fornecimento dos equipamentos de
proteção individual, CA — Certificado de Aprovação — dos EPI’s etc.
Os profissionais que assinam o LTCAT (Engenheiro de Seguran-
ça do Trabalho ou Médico do Trabalho) devem estar habilitados pelo
respectivo órgão de registro profissional (CREA e CRM, respectiva-
mente).
Também, deve se ressaltar que o reconhecimento da aposenta-
doria especial para determinado segurado implica na remuneração
do adicional de insalubridade para este mesmo trabalhador.
A empresa deve comprovar a realização dos exames admissional,
periódico, de retorno ao trabalho, de mudança de função e demissio-
nal, com emissão de ASO — Atestado de Saúde Ocupacional — em
duas vias, com protocolo do segurado numa das vias.
Considerando-se que a Previdência fiscalizará documentos da
alçada trabalhista é indispensável que tais documentos sejam elabo-
rados de forma coerente entre si, especialmente a compatibilidade
entre o PPRA e PCMSO. Todos os riscos identificados no PPRA de-
vem estar contemplados no PCMSO. Foi-se o tempo em que o PPRA
e PCMSO eram elaborados por profissionais distintos, que sequer se
conversavam e guardados em gavetas diferentes a fim de que nunca
se encontrassem, pois fatalmente continham incoerências.
Jamais devemos subestimar a capacidade de informação da Pre-
vidência. Toda e qualquer ocorrência existente na empresa, princi-
palmente CAT, é alimentada no sistema de dados para posterior es-
tatística. A empresa pode ser triada para fiscalização quando possuir
elevado índice de benefícios acidentários, de benefícios com tempo es-
pecial ou de benefícios previdenciários.
Aquelas empresas que no passado utilizaram o benefício da apo-
sentadoria especial para presentear graciosamente segurados que não
faziam jus a tal benefício, podem ter diversos dissabores. Por óbvio
que se tal situação ocorreu anteriormente à instituição da Lei nº 9.732/
98; não há qualquer recolhimento quanto ao SAT adicional. No en-
tanto, a emissão daqueles documentos será confrontada com a emis-
são atual e, vai ser difícil explicar à Previdência porque determinado
trabalhador teve direito à aposentadoria especial e outro que, ocupan-
do a mesma função, atualmente não terá o mesmo direito.
93
O enquadramento em aposentadoria especial deve ser realizado
com todo o rigor, uma vez que no futuro o setor de concessões de
benefícios da Previdência poderá conceder a aposentadoria especial,
mesmo que não tenha sido recolhido o SAT adicional, quando então
a empresa terá de recolher tal contribuição com juros, correção mone-
tária e multa. Ao contrário, se a empresa recolher a contribuição e, o
setor de benefícios negar a aposentadoria, ainda não há previsão para
devolução dos valores pagos.
Ademais, os enquadramentos realizados pela empresa devem
estar coerentes com as atividades nela desenvolvidas, inclusive com
o CNAE — Código Nacional de Atividade Econômica. Finalmente,
em hipótese alguma, a empresa deve permitir que o segurado apo-
sentado de forma especial retorne às mesmas atividades, podendo,
contudo laborar em atividades que não estejam sujeitas a quaisquer
agentes nocivos.
94
A Lei nº 8.212/91 define as alíquotas do SAT, conforme uma pre-
determinada graduação de riscos. A legislação em referência estabe-
leceu o recolhimento com base em alíquotas fixadas em razão do grau
de risco da atividade preponderante do contribuinte. De 1%, para
risco leve, de 2%, para risco médio, e de 3% de risco grave. No entan-
to, não definiu o que seria risco leve, médio ou grave.
Tais lacunas foram preenchidas pelo Decreto nº 612/92 que deter-
minou o grau de risco de cada atividade e considerou preponderante a
atividade econômica que ocupa o maior número de empregados da
empresa. Aquele Decreto, que regulamentou a Lei nº 8.212/91 pres-
crevia como responsabilidade da empresa, o enquadramento de seus
estabelecimentos nos correspondentes graus de risco, segundo a ativi-
dade preponderante de cada um deles, ficando o Instituto Nacional do
Seguro Social — INSS com a faculdade de rever essa classificação.
Assim, de acordo com o Decreto nº 612/92, o contribuinte, com
vários estabelecimentos matriz e filiais, deveria buscar o enquadra-
mento, para efeito de recolhimento ao SAT. Cada estabelecimento da
mesma empresa poderia ser considerado de forma individualizada
e, portanto, classificado de forma diferenciada para efeitos de Seguro
Acidente do Trabalho — SAT, observada a natureza das atividades e
peculiaridades.
Ocorre que, a Lei nº 8.212/91 recebeu nova redação por força da
Medida Provisória nº 1.523-9/1997. A MP manteve as alíquotas ante-
riores e determinou que o recolhimento da Contribuição ao SAT seria
feito “... em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decor-
rente dos riscos de trabalho, conforme dispuser o regulamento ...”
O § 1º do artigo 26, com a entrada em vigor do Decreto nº 2.193/
97, foi alterado. Tal dispositivo, com a modificação, passou a consi-
derar como atividade preponderante aquela que, na empresa, ocupa
o maior número de segurados empregados, trabalhadores avulsos
ou médicos residentes. O SAT deveria ser recolhido pela graduação
de risco da empresa como um todo, não obstante a mesma possuir
diversos estabelecimentos, com diferentes atividades e, portanto, com
efetiva e real graduação de riscos não uniformes.
O Decreto nº 2.173/97, que aprovou o Regulamento de Custeio
da Seguridade Social, obriga as empresas pagarem a alíquota de 3%
(risco grave) sem que se leve em consideração o percentual de em-
95
pregados que realmente exercem funções de risco. É o caso, por exem-
plo, de empresas que têm escritórios onde está lotado o pessoal de
função eminentemente administrativa. Mesmo assim, pagam a alíquota
máxima. Fica instaurado o nivelamento por cima, elevando os custos
das empresas.
Assim, a partir desse último Decreto, deixou de existir a possibi-
lidade de enquadramento de cada estabelecimento com grau de risco
e taxa do Seguro Acidente do Trabalho compatíveis. Os estabeleci-
mentos ficaram obrigados a enquadrar-se de acordo com a atividade
preponderante da empresa como um todo. Logo, o enquadramento
passou a ser por empresa e não mais por estabelecimento. Além de
alterar a forma de enquadramento do Seguro Acidente do Trabalho,
o Decreto nº 2.173/97 trouxe, anexo, uma nova relação de atividades
preponderantes e correspondentes graus de risco, conforme a Classi-
ficação Nacional de Atividades Econômicas — CNAE. Essa nova re-
lação aumentou ou reduziu alguns graus de risco de determinadas
atividades econômicas, sendo certo afirmar que a aplicação desses
novos graus de risco vigoram a partir de julho de 1997.
Sucede que, como o dispositivo instituidor do SAT não estabele-
ceu o conceito de atividade preponderante, nem de risco de acidente
do trabalho leve, médio ou grave, elementos essenciais e necessários
para a cobrança da contribuição. Dessa forma, enquanto não houver
lei determinando a abrangência de aludidas expressões, em tese, não
é possível a exigência da Contribuição Social para o SAT.
A Contribuição Previdenciária para o Seguro Acidente Trabalho
— SAT, teve sua sistemática de recolhimento modificada pelo art. 22
da Lei nº 8.212/91, alterado posteriormente pela Lei nº 9.732/98, que
assim dispõe:
96
a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade prepon-
derante o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve;
...
97
§ 3º O enquadramento no correspondente grau de risco é de res-
ponsabilidade da empresa, observada a sua atividade econômica preponde-
rante e será feito mensalmente, cabendo ao Instituto Nacional do Seguro
Social — INSS rever o auto-enquadramento em qualquer tempo.
§ 4º Verificado erro no auto-enquadramento, o Instituto Nacional
do Seguro Social — INSS adotará as medidas necessárias à sua corre-
ção, orientando o responsável pela empresa em caso de recolhimento
indevido e procedendo à notificação de valores devidos.
98
de contribuição, respectivamente. Na prática, as empresas terão um
impacto de 6% a mais em suas folhas de pagamento, o que, supõe-se,
fará com que estas invistam na melhoria de suas condições ambien-
tais, eliminando ou reduzindo fatores que conduzam à aposentado-
ria especial.
A fiscalização do recolhimento de tais contribuições será feita atra-
vés da GFIP — Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previ-
dência Social, assinalando-se no campo 33 — Ocorrências, os seguintes
códigos, para os trabalhadores com apenas um vínculo empregatício:
(em branco) — sem exposição a agente nocivo. Trabalhador nunca
esteve exposto.
99
É interessante ressaltar que não consta na legislação qualquer
forma de reembolso para aquelas empresas que tenham contribuído
com alíquota majorada e, posteriormente, implementem as medidas
de controle.
100
Através da Resolução nº 1.236, de 28.04.2004, o Conselho Nacional
de Previdência Social aprovou a Metodologia para Avaliação e Controle
dos Acidentes de Trabalho. Foram definidos três indicadores:
• imune à sonegação;
• não declaratório;
• independe do desejo/poder do empregador;
• intrinsecamente relacionado à incapacidade laboral.
101
As Leis nos 8.212 e 8.213, de 24.07.1991 que estabelecem a res-
ponsabilidade civil do empregador pelo acidente do trabalho e a co-
responsabilidade dos diretores, sócios, gerentes e administradores por
crimes contra a Previdência Social, também autoriza esta promover
ação regressiva contra a empresa ou terceiros causadores do acidente
do trabalho, garantindo a estabilidade de emprego ao acidentado por
12 meses após a cessação do auxílio-doença da Previdência Social.
As Ações Regressivas do INSS contra o empregador estão ampa-
radas legalmente pelos artigos 120 e 121 da Lei de Benefícios da Pre-
vidência Social (Lei nº 8.213/91) permitindo ao INSS ser ressarcido,
caso o dano ocorra pela omissão ao cumprimento dos dispositivos
legais de segurança e higiene ocupacional.
102
Também enseja ação regressiva da Previdência Social contra as
empresas que, mesmo sendo notificadas para não recolocar o segura-
do em função incompatível, agravam a situação de saúde do traba-
lhador, nos termos do artigo 341 do Decreto nº 3.048/99.
Adicionalmente, o descumprimento das normas de segurança e
higiene do trabalho, nos termos do artigo 186 da IN nº 99 obriga o
médico perito a oficiar ao Ministério Público do Trabalho, enviando
cópia do PPP e LTCAT; isto posto, fica claro que o descumprimento
das normas de segurança e medicina do trabalho não geram reflexos
somente a nível previdenciário, mas também trabalhista.
103
não são privativas do Ministério Público. Eventualmente, o inquérito
civil pode desencadear o ajustamento de conduta do inquirido. O
Termo de Ajustamento de Conduta, sem dúvida alguma, é o ventu-
roso resultado do inquérito civil, eis que imediatamente é obtida a
tutela jurisdicional que seria oferecida pelo Judiciário.
É comum a apresentação de denúncias ao Ministério Público por
juízes do trabalho e auditores fiscais do trabalho de atos que lesem
os direitos trabalhistas por empresas que estão sendo processadas ou
fiscalizadas. A instauração do inquérito é feita por representação de
qualquer pessoa, que indicará os elementos de convicção, tendo o
Ministério Público o dever de agir.
O Ministério Público possui, na fase de instrução do inquérito
civil, uma poderosa arma: o artigo 10 da Lei nº 7.347/85 que prescre-
ve como crime, com pena de 1 a 3 anos, além de multa de 10 a 1.000
ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados indispensá-
veis à propositura da ação civil. Adicionalmente, o Ministério Públi-
co pode requerer a condução coercitiva de depoentes, mediante força
policial.
A conclusão do inquérito civil pode ser de três formas:
104
No Termo de Ajustamento de Conduta, o inquirido comprome-
te-se a dar, fazer ou deixar de fazer alguma coisa com respeito à or-
dem jurídica vigente, mediante cominação de multa estipulada pelo
Ministério Público ou outros legitimados.
A ação civil pública tem por objetivo proteger os direitos e inte-
resses metaindividuais — difusos, coletivos e individuais homogêne-
os — de ameaças e lesões, tendo por objeto a condenação em dinheiro
ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.
Assim, o Ministério Público, na defesa dos direitos difusos e co-
letivos, com vistas a evitar o dano, antecipa-se ao Judiciário, adequan-
do a conduta dos infratores à lei, evitando, dessa forma, o litígio. A
força de título executivo extrajudicial atribuído ao TAC, reduz sensi-
velmente a duração e o ônus da demanda.
O alto valor da cominação fixada no TAC visa desencorajar o
descumprimento da legislação; no entanto, não substitui a obrigação
principal que é adequação de conduta. Os legitimados não podem
dispor ou aceitar redução, em qualquer hipótese, dos valores fixados
no TAC, visto que são indisponíveis. O valor das astreintes são rever-
tidos ao FAT.
Eventualmente, por meio de liminar, pode-se obter a interdição
de obras, local de trabalho ou mesmo da empresa, quando ausentes
requisitos mínimos de segurança do trabalho.
10 — RESPONSABILIDADE PENAL
Ao contrário da responsabilidade civil que é satisfeita por inde-
nização financeira, na responsabilidade penal está implícita a pena,
inclusive restritiva de liberdade. A responsabilidade civil é restrita à
pessoa jurídica; a responsabilidade penal alcança a pessoa física dos
sócios, diretores e seus prepostos, cuja pena encontra-se no artigo
132 do Código Penal, in verbis:
105
cuja pena, obviamente, não é de restrição de liberdade, mas sim de
natureza pecuniária. Desnecessário complementar que, a condena-
ção criminal gera o reconhecimento da responsabilidade civil, já que
a sentença penal condenatória é título executivo no civil.
106
I — omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de
informações previsto pela legislação previdenciária segurados empre-
gado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo, ou a
este equiparado que lhe prestem serviços;
II — deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da conta-
bilidade da empresa as quantias descontadas dos segurados ou as devi-
das pelo empregador ou pelo tomador de serviços;
III — omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos,
remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contri-
buições sociais previdenciárias:
Pena — reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa.
107
Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que
resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provo-
quem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora:
Pena — reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º — Se o crime é culposo:
Pena — detenção, de seis meses a um ano, e multa.
§ 2º — Se o crime:
I — tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação
humana;
II — causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda
que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause da-
nos diretos à saúde da população.
III — causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção
do abastecimento público de água de uma comunidade;
IV — dificultar ou impedir o uso público das praias;
V — ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou ga-
sosos. ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as
exigências estabelecidas em leis ou regulamentos:
Pena — reclusão, de um a cinco anos.
§ 3º — Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior
quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competen-
te, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou
irreversível.
Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos mine-
rais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou
em desacordo com a obtida:
Pena — detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem deixa de recu-
perar a área pesquisada ou explorada, nos termos da autorização, per-
missão, licença, concessão ou determinação do órgão competente.
Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar,
comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depó-
108
sito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde
humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabele-
cidas em leis ou nos seus regulamentos:
Pena — reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º — Nas mesmas penas incorre quem abandona os produtos ou
substâncias referidos no caput, ou os utiliza em desacordo com as nor-
mas de segurança.
§ 2º — Se o produto ou a substância for nuclear ou radioativa, a
pena é aumentada de um sexto a um terço.
§ 3º — Se o crime é culposo:
Pena — detenção, de seis meses a um ano, e multa.
109
Documentos legais
— você não deve produzir
provas contra si mesmo
PRINCIPAIS DOCUMENTOS EM
SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO
Tratando-se de documentos em segurança e medicina do traba-
lho, é o excesso e não a falta de informações que pode custar caro à
empresa. As informações devem ser corretas, verdadeiras e na medi-
da exata da necessidade para o fim a que se destina (Pereira, s/d.).
A maioria dos documentos em segurança e saúde do trabalha-
dor começou a ser emitida na década de 90, particularmente com a
instituição do PPRA e PCMSO pelo Ministério do Trabalho e Empre-
go. Anteriormente, sobretudo as grandes empresas já possuíam pro-
gramas similares, implantados por conservadorismo ou por imposi-
ção de suas matrizes no exterior.
Infelizmente ainda são recentes em nosso país os registros de segu-
rança e saúde do trabalhador das empresas, impossibilitando montar-se
um panorama estatístico, inclusive para a tomada de decisão no futuro.
Manter tal registro é imperativo também sob o ponto de vista legal nas
demandas de indenização por acidente ou doença do trabalho. No entan-
to, pior que não ter uma prova, é possuir uma prova contrária aos
próprios interesses. É o que de fato vem ocorrendo na área de segu-
rança e saúde do trabalhador. A formação acadêmica dos profissionais
não contempla outro enfoque senão a intransigente condenação da
empresa, por conta de uma falsa proteção da saúde do trabalhador.
111
Esta postura equivocada tem encontrado vários adversários den-
tro da empresa, mesmo porque, todas as outras áreas preocupam-se
em proteger o patrimônio da corporação, passando então a existir
um conflito de interesses inconciliável.
Os setores de uma organização, via de regra, primam por prote-
ger os interesses próprios, em detrimento dos interesses de terceiros.
A principal área incumbida de proteger a empresa é a jurídica, cujo
enfoque é defender seu cliente sem qualquer constrangimento, atitu-
de que nasce nos profissionais já nos bancos da graduação. O mesmo
acontece, invariavelmente, com outros setores, tais como Comercial,
Marketing, Suprimentos, Logística etc.
Mesmo sabendo que para cada agente insalubre ou nocivo há
uma forma de neutralização, seja pelos equipamentos de proteção
individual, seja por medidas administrativas (no caso do calor), a maio-
ria dos documentos em segurança e saúde do trabalhador somente
contempla a existência do agente, fatalmente com intensidade ou con-
centração acima dos limites de tolerância, constituindo-se em prova
contra a empresa, sem a correspondente neutralização, quando en-
tão a prova seria desfavorável.
Ocorre que na maioria dos casos, como acontece em outros ra-
mos do conhecimento, a orientação política acaba por interferir na
ciência, distorcendo seu resultado, tornando suas opiniões extrema-
mente tendenciosas, fazendo imperar o maniqueísmo, que acredita
serem inconciliáveis os interesses do trabalhador e do empregador.
Como se já não bastasse que tal postura reine no governo, atra-
vés da fiscalização, da Justiça, do Ministério Público e sindicatos, não
pode a empresa tolerar a síndrome do “dormindo com o inimigo”,
permitindo que seus próprios colaboradores assumam esta mesma
posição.
Ao elaborar documentos deve ser seguida à risca uma regra: in-
serir somente os dados necessários e nem uma palavra a mais! Diz o
adágio popular: quem fala demais, dá bom-dia a cavalo. Assim, os
dados devem ser colocados na medida certa. Um bom exemplo é a
elaboração do PPRA onde os profissionais ainda insistem em fazer
menção aos riscos ergonômicos e mecânicos, ainda que a legislação
somente contemple os riscos físicos, químicos e biológicos. Ocorre
que, ao lançar no PPRA os riscos ergonômicos, a profissional está
112
abrindo a guarda para a fiscalização em determinado momento re-
querer a análise ergonômica, ainda que a falta de tal documento não
seja apenada por multa em nossa legislação.
A elaboração ou preenchimento de qualquer documento em se-
gurança e saúde do trabalhador deve sofrer o crivo jurídico, com fi-
nalidade de analisar o conteúdo do papel, sob pena deste tornar-se
uma prova contra a própria empresa que o emitiu.
Diz o adágio: o papel aceita tudo o que nele se escreve. Assim, um
documento deve ser elaborado tendo por princípio escrever somente
o necessário e, nem uma palavra a mais. O português deve ser per-
feito, a fim de que o que foi escrito, reflita exatamente aquilo que foi
pensado. Infelizmente, é vício entre os profissionais que redigem,
não lerem seus próprios escritos, deixando para que outros apreciem
seus erros. Só escreve bem, quem lê o que os outros escrevem; só
escreve muito bem, quem lê aquilo que escreve.
Não se faz necessário escrever inverdades para sonegar uma pro-
va desfavorável, aprenda apenas a escrever informações que são con-
venientes, ou seja, ressalte apenas os pontos que são interessantes. A
semântica é uma forte aliada para produzir documentos eficazes.
A elaboração dos documentos em segurança e saúde no trabalho
deve seguir metodologia prevista na legislação, primando para que,
mesmo sendo uma peça técnica, não deixe de ser clara. O tecnicismo
não deve ser excessivo a ponto de impedir que o seu destinatário
compreenda seu conteúdo, nem tampouco, carregado no juridiquês,
empobrecendo o conteúdo técnico.
O conteúdo deve ser preciso, devendo-se, por todos os meios,
evitar expressões dúbias ou que possam originar ambigüidade, que
se tornam presa fácil para os questionamentos. Devem ser evitadas
expressões do tipo: mais ou menos, eu acho, creio que ... as quais
devem ser substituídas por: aproximadamente, temos convicção, acre-
dito que ... O documento deve possuir coerência e clareza entre os
parágrafos; o primeiro parágrafo e os seguintes devem seguir a se-
qüência lógica do raciocínio, isto é, um parágrafo deve continuar ri-
gorosamente a idéia do outro. Se a redação do documento for leve,
exata e direta, superará qualquer recurso virtual; porém, é importan-
te lembrar que parágrafos bem definidos, letra/fonte legíveis e a di-
visão em tópicos favorecem bastante.
113
Dispensável enfatizar que os documentos não devem trazer opi-
niões subjetivas, mas somente fatos verificáveis e com consistência téc-
nica, não ferindo, assim, a imparcialidade do seu executante. A reda-
ção dos documentos deve ser sempre em tom de impessoalidade.
114
O que vem ratificar nosso entendimento de que a empresa que
está admitindo o empregado não é responsável pelo acidente ou do-
ença ocorrida anteriormente, tampouco pela emissão da correspon-
dente CAT.
Interessante ressaltar que, nos casos de perda auditiva, o
audiograma somente constata tal perda; no entanto, a classificação
como ocupacional ou não, implica no estabelecimento de nexo causal
entre a doença e o agente causador.
A legislação aplicável somente determina a emissão de CAT para
doenças ocupacionais, a exemplo da alínea a do item 7.4.8 da NR-7, a
alínea IV do artigo 3º da Resolução nº 1.488 do CFM e a Ordem de
Serviço nº 621 do INSS.
Quanto ao acidente de trajeto, nos termos do item 3.41 da OS nº
154 do INSS, de 1º.09.1992, havendo tal acidente, a responsabilidade
pela emissão da CAT é do sindicato da categoria, vez que o emprega-
dor não possui elementos para emiti-la. A empresa será notificada
pelo INSS sobre a emissão daquela CAT, inclusive para efeitos de
estabilidade no emprego por 12 meses oriunda do artigo 118 da Lei nº
8.213/91.
É oportuno alertar o médico assistente quanto ao preenchimen-
to da CAT: atenção à declaração do paciente quanto ao fato de haver
sofrido um acidente de trabalho típico, pois é necessário que o médi-
co esteja convencido de que houve realmente um acidente de traba-
lho, sob pena de subscritar documento que não corresponda à verda-
de, podendo ser enquadrado em crime de falsidade ideológica.
As empresas devem estar atentas à simulação de acidente de
trajeto pelo empregado, especialmente quando da demissão do tra-
balhador, criando provas do exato momento da comunicação do des-
ligamento. Desnecessário informar que o empregado demitido, ao
ser vítima de acidente de trabalho, pode requerer judicialmente tute-
la antecipada para sua reintegração no emprego.
A CAT de reabertura é aquela emitida quando o segurado goza-
va do benefício Auxílio-Doença Acidentário, retornou ao trabalho e,
novamente foi afastado pela mesma causa, com agravamento.
No caso das doenças ocupacionais é impossível precisar a data
de início da doença, para fins de emissão de CAT. Nos termos do
artigo 23 da Lei nº 8.213/91 considera-se como dia do acidente a data
115
de início da incapacidade laborativa, ou o dia da segregação compul-
sória, ou o dia em que for diagnosticada a doença, valendo a data que
ocorrer primeiro. Ressalte-se que, inexistindo diagnóstico formal ou
incapacidade laborativa, a CAT não necessita ser emitida, eis que au-
sentes os pressupostos básicos exigidos pela lei para emiti-la.
A empresa não deve intimidar-se por pressões dos trabalhado-
res, sindicatos ou fiscais do trabalho para a emissão da CAT quando
não se dispuser de diagnóstico firmado ou inexistir incapacidade la-
borativa. A CAT é documento previdenciário, não cabendo sua fisca-
lização pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Segundo o artigo 22 da Lei nº 8.213/91, todo acidente do traba-
lho ou doença profissional deverá ser comunicado pela empresa ao
INSS, sob pena de multa em caso de omissão. Da mesma forma, nos
termos do item 1.9 do Manual de Instruções para Preenchimento da
Comunicação de Acidente do Trabalho — CAT, contida na Ordem de
Serviço INSS/DSS nº 621/99, também é obrigatória a emissão de CAT
relativa ao acidente ou doença profissional ou do trabalho ocorrido
com aposentado por tempo de serviço ou idade, que esteja traba-
lhando, ainda que não tenha direito a benefícios pelo INSS em razão
do acidente, exceto a reabilitação profissional.
Na falta de comunicação pela empresa, poderão formalizá-la o
próprio acidentado, seus dependentes, o sindicato da categoria,
o médico que o assistiu ou qualquer autoridade pública, quais se-
jam, os magistrados em geral, os membros do Ministério Público e
dos Serviços Jurídicos da União e dos Estados, os comandantes de
unidades militares do Exército, Marinha, Aeronáutica e Forças Auxi-
liares (Corpo de Bombeiros e Polícia Militar).
Todos os casos com diagnóstico firmado de doença profissional
ou do trabalho deverão ser objeto de emissão de CAT, que deve ser
emitida após a conclusão do diagnóstico.
É importante ressaltar, finalmente, que a CAT deve ser emitida
ainda que não haja afastamento ou incapacidade.
ORDEM DE SERVIÇO
116
possíveis riscos que possam existir na realização de determinadas
tarefas. Traduz-se numa poderosa ferramenta para a empresa, ser-
vindo como prova documental das ações em segurança e saúde no
trabalho.
Diga-se de passagem, que a OS deve estar acompanhada de trei-
namento, ainda que de pequena duração.
De uma forma geral a OS é dividida em duas seções. A primeira
parte cuida de enunciar os riscos comuns a qualquer atividade e a
segunda dedica-se aos riscos específicos da função. Não existe um
modelo de OS, que deve ser elaborada de forma personalizada e in-
dividualizada para cada empresa.
A necessidade de ministrar corretamente as instruções relativas
ao trabalho a todos os empregados, como prova documental, visando
a prevenção dos acidentes do trabalho, está contida na Lei nº 6.514/
77, que alterou o Capítulo V Título II da CLT, relativo à Segurança e
Medicina do Trabalho. Tal dispositivo prevê em seu artigo 157, inciso
II que:
Cabe às empresas:
II — instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto
às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes de trabalho ou
doenças profissionais.
Cabe ao empregador:
Elaborar ordens de serviço sobre segurança e medicina do trabalho,
dando ciência aos empregados, com os seguintes objetivos:
1 — Prevenir atos inseguros no desempenho do trabalho;
2 — Divulgar as obrigações e proibições que os empregados devam
conhecer e cumprir;
3 — Dar conhecimento aos empregados de que serão passíveis de
punição, pelo descumprimento das ordens de serviço expedidas;
4 — Determinar os procedimentos que deverão ser adotados em
caso de acidentes do trabalho e doenças profissionais ou de trabalho;
117
5 — Adotar medidas determinadas pelo Ministério do Trabalho;
6 — Adotar medidas para eliminar ou neutralizar a insalubrida-
de, e as condições inseguras de trabalho.
118
MAPA DE RISCOS
119
O processo é bem mais complexo e deve ser suportado por um
Programa de Proteção Respiratória — PPR, nos termos da Instrução
Normativa nº 1 de 11.04.1994 do Ministério do Trabalho e Emprego.
O PPR é peça indispensável àquelas empresas que utilizam pro-
teção respiratória como neutralizadora dos agentes químicos exis-
tentes no ambiente de trabalho. Para que seja feita a seleção do respi-
rador e filtro é necessário que se avalie quantitativamente o ambien-
te, para se obter a concentração do agente.
Somente após a avaliação ambiental é possível a seleção do respi-
rador e filtro de forma apropriada. Depois de tomadas tais providências
os trabalhadores devem ser formalmente treinados sobre o correto uso
dos respiradores, bem como a implantação do programa deve ser forma-
lizada em documento, constituindo em comprovação escrita.
Pouco, ou quase nenhum valor possuem ações de simples for-
necimento da proteção respiratória não atreladas ao PPR.
120
Há vários fatores que conduzem à perda na audição. As PAIR
nem sempre são oriundas da exposição ao ruído ocupacional, além
do que, não somente o ruído é agente causador da perda auditiva. A
perda auditiva pode ser resultado da:
121
LAUDOS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE
LAUDO DE PÁRA-RAIOS
ANÁLISE ERGONÔMICA
122
trabalho e movimento, risco de acidente, conteúdo do trabalho,
restritividade do trabalho; comunicação do trabalhador e contatos pes-
soais; nível de complexidade do processo decisório; repetitividade do
trabalho e grau de atenção.
A análise em questão deve propor medidas de prevenção contra
os riscos ergonômicos, especialmente das LER/DORT.
Interessante ressaltar que desde 1990, com base na Portaria nº
3.751 do MTE, o agente iluminação foi retirado da lista dos agentes
insalubres, passando a integrar o rol da ergonomia.
Uma questão que sempre surge é sobre um certo modelo de re-
latório que contenha as exigências requeridas pela fiscalização. Um
tal modelo não existe pronto para todas as situações. O que se deve
ter em mente são alguns passos que devem ser seguidos para melhor
exposição dos resultados da análise (Ministério do Trabalho e Em-
prego, 2002).
123
LAUDO ELÉTRICO
124
Com a instituição do PPP extingue-se a triplicidade de documen-
tos (PPP, LTCAT e DIRBEN-8030) em favor da duplicidade (somente
PPP e LTCAT) e, atualmente em favor da unicidade, através do PPP.
Assim, a rigor desde 14.10.1996, todas as empresas estão obriga-
das a manter, bem como fornecer, uma cópia do perfil profissiográfi-
co a cada empregado, no ato de seu desligamento. A partir de 1º de
janeiro de 2004, a Previdência Social passará a exigir das empresas o
Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), que embora já estivesse
previsto na legislação, somente através da Instrução Normativa nº 78
teve sua instituição regulamentada.
As empresas que ainda não mantinham implantado o PPP, alter-
nativamente, até 31.12.2003, podem emitir o LTCAT e formulário
DIRBEN-8030, uma vez que a Lei não pode criar obrigação pretérita,
mas tão-somente a partir de sua promulgação.
Devemos observar que a legislação usa o termo alternativamen-
te, exatamente porque não é vedado realizar o PPP anterior a
31.12.2003; aliás, é até preferível, caso a empresa possua todos os da-
dos do PPP disponíveis anteriores àquele data.
Interessante esclarecer que nos termos do artigo 153 da IN nº 96,
o LTCAT é exigido somente a partir de 14.10.1996 (anteriormente o
prazo era 29.04.1995), exceto para o ruído ou qualquer outro agente
não previsto legalmente. Isto posto, a Previdência abre o precedente
para o enquadramento em outros agentes não previstos na legisla-
ção; no entanto, exige o LTCAT para tais situações.
O PPP deve ser elaborado, num primeiro momento somente para
os segurados expostos aos agentes nocivos. Neste aspecto a Previ-
dência cometeu um deslize de redação, eis que o correto seria expos-
tos aos agentes nocivos acima dos limites de tolerância. Expostos ao
ruído todos estamos (exceto se alguém laborar no interior de uma
câmara anecóica); porém, estamos expostos a níveis abaixo ou bem
abaixo do limite de tolerância. Além do que, o PPP não se presta
unicamente à requisição da aposentadoria especial, mas também de-
verá ser entregue ao trabalhador quando da rescisão contratual, bem
como para a perícia médica nos casos de solicitação de benefício por
incapacidade. Será que o atendente do sindicato que estiver realizan-
do a homologação dar-se-á por satisfeito pela falta de entrega do PPP
ao empregado com a simples alegação de que este não estaria expos-
to aos riscos?
125
O PPP alcançará, posteriormente, quando já disponível em meio
eletrônico, todo e qualquer segurado de qualquer empresa.
O PPP nasceu, primariamente, da necessidade do segurado com-
provar seu trabalho sob condições que ensejassem a aposentadoria
especial, uma vez que, ao longo do tempo, fatalmente tais condições
seriam descaracterizadas ou alteradas, inclusive devido ao encerra-
mento de atividades da empresa.
O PPP substitui o formulário DIRBEN-8030, com preenchimen-
to mais complexo em função das detalhadas informações que possui,
tais como a conclusão do laudo técnico e a descrição minuciosa das
atividades desenvolvidas pelo segurado, bem como a existência de
agentes prejudiciais à sua saúde ou integridade física e o caráter per-
manente ou não da exposição aos riscos, inclusive com informações
extraídas do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais do Traba-
lho (PPRA), do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) e do
Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO). As
empresas são responsáveis por manter atualizado o PPP, seja em pa-
pel ou meio magnético.
Tal documento reveste-se de declaração histórica, que contem-
pla as diversas atividades do segurado dentro da empresa, desde sua
admissão até a demissão. Cada alteração de posto de trabalho ou car-
go ocorrida ao longo do contrato de trabalho deverá ser alvo de lan-
çamento no perfil profissiográfico, de maneira analítica e seqüencial.
Além do que, consiste em mapeamento atualizado das circunstâncias
laborais frente aos agentes nocivos, com relato da presença, identifi-
cação e intensidade dos riscos, referência à periodicidade da execu-
ção do trabalho, compondo o cenário de trabalho.
Considerando-se que a falta de manutenção do perfil profissio-
gráfico enseja multa, é recomendável que as empresas promovam a
implantação do documento, bem como sua revisão periódica ou a cada
alteração das condições ambientais de trabalho.
126
a que foi exposto, durante seu contrato de trabalho, especialmente
nas situações em que houver descaracterização do ambiente laboral,
por encerramento de atividades, falência ou transferência de local.
A nosso ver a Previdência Social criou um poderoso instrumento
de fiscalização pontual a distância, cujo interesse é unicamente tribu-
tário. Ao contrário do que se tem divulgado, o PPP não representa
instrumento de prevenção da saúde do trabalhador, eis que não con-
templa obrigatoriedade de ações para a eliminação ou neutralização
dos agentes nocivos, como por exemplo, o PPRA — Programa de Pre-
venção de Riscos Ambientais — do Ministério do Trabalho e Emprego.
No âmbito previdenciário, a única sanção pelo labor em condições de
exposição aos agentes nocivos é o pagamento da alíquota suplementar
do SAT. Se o empregador recolher corretamente os tributos, ao menos
sob o plano previdenciário, estará quites, inexistindo qualquer obriga-
ção legal de prevenir doenças ocupacionais. Porém, a empresa não deve
olvidar que ao deixar de prevenir as doenças, estará sujeita a diversos
outros reflexos no campo trabalhista, civil e criminal, bem como de se
tornar visada pelo Ministério Público e Sindicato.
É bem verdade que o PPP não traz qualquer novidade em termos
de conteúdo de informação em segurança e saúde do trabalhador, eis
que, simplesmente, consolida informações contidas em outros progra-
mas já existentes, como o PPRA, PGR (no caso de mineração), PCMAT
(no caso das empresas da construção civil), e PCMSO — Programa de
Controle Médico da Saúde Ocupacional. Porém, tais informações sem-
pre foram tratadas individualmente em seus programas, cujos documen-
tos eram guardados em gavetas distintas a fim de que nunca se encon-
trassem e, na maioria das vezes, inexistindo coerência entre os dados;
com o advento do PPP, tais informações estarão juntas, numa mesma
página, revelando imediatamente tais incongruências.
Como já acontecia com os formulários SB-40, DSS-8030 e
DIRBEN-8030, o PPP servirá como prova documental contra a em-
presa que o emitiu, particularmente nos pedidos de indenização por
doença e adicionais de risco. E mesmo constituindo-se em documen-
to previdenciário jamais será recusado pelos Juízes. Ademais, o arti-
go 189 da IN nº 84 traz que a presunção da efetiva exposição do tra-
balhador aos agentes nocivos será baseada, em princípio, no PPRA,
no PGR, na GFIP ou na GRFP, no PPP e no LTCAT.
127
O PPP poderia também ser utilizado, de forma, análoga, em pre-
juízo do empregado, especialmente se adquirir conotação de documento
pessoal do trabalhador, quando então as empresas eventualmente po-
deriam solicitá-lo, por exemplo, no exame admissional, “descartan-
do” candidatos com qualquer indício de doença ocupacional, ainda
que vedado em lei tal solicitação. Assim, é necessário que se tenha
em mente não só os benefícios que a nova sistemática trará, mas tam-
bém, os riscos que o uso indevido do PPP poderá trazer tanto ao
empregador, quanto ao empregado.
As empresas, cuja responsabilidade recairá o preenchimento do
PPP, devem estar atentas às conseqüências da manutenção de em-
pregados em condições de fazer jus à aposentadoria especial, espe-
cialmente os reflexos criados em outros campos. Considerando-se que
o enquadramento da aposentadoria especial é feito com base nos ane-
xos da NR-15 da Portaria nº 3.214/78, admitir que o trabalhador faz
jus à aposentadoria especial é aceitar que este também tem direito de
percepção ao adicional de insalubridade, bem como criar condições
satisfatórias para a ação trabalhista de reintegração, ação civil inde-
nizatória por acidente do trabalho, ação civil pública promovida pelo
Ministério Público, fiscalizações trabalhistas e previdenciárias etc.
Há, no PPP, uma série de armadilhas nas informações de preen-
chimento, que podem ser sintetizadas em quatro itens:
128
exposição dos segurados a quaisquer agentes, a empresa estará isen-
ta da alíquota suplementar do SAT. Caso contrário, sujeitar-se-á a
custear a aposentadoria especial dos segurados que estiverem sub-
metidos aos agentes nocivos. Nos termos da legislação aplicável, os
agentes nocivos podem ser neutralizados mediante implementação
do uso dos equipamentos de proteção coletiva ou individual ou me-
didas administrativas (rodízio, particularmente no caso de calor). No
entanto, é preciso que se assegure de forma técnica e, não somente
legal, que tais EPI’s ou medidas estão realmente neutralizando os
agentes nocivos.
A terceira cilada do PPP refere-se ao confronto entre as informa-
ções médicas e as CAT´s emitidas. Todo acidente, ou mesmo doença
relacionada ao trabalho, deve ser notificado por CAT. Se o campo
informações médicas detectar desencadeamento ou agravamento de
moléstia relacionada ao trabalho, deverá haver a correspondente no-
tificação no campo CAT’s emitidas.
Finalmente, o campo informações médicas denunciará os dados
ambientais como inverdadeiros, à medida que existe a exposição a
determinado agente; tal exposição é neutralizada pelo uso dos equipa-
mentos de proteção individual; conseqüentemente, a empresa está isen-
ta do pagamento do SAT adicional; no entanto, as informações médi-
cas evidenciam que há agravamento ou desencadeamento de doença.
Diga-se, de passagem, que o PPP poderia ser elaborado com os
programas preexistentes; porém, estes documentos deveriam ser ela-
borados com o mínimo de rigor técnico, o que nem sempre acontece,
transformando os programas em meros papéis sem qualquer outra
ação posterior. Além do que, as exigências contidas na legislação pre-
videnciária para a elaboração do PPP são muito mais rigorosas do
que aquelas da legislação trabalhista.
O PPP será uma poderosa fonte de informações da Previdência,
inclusive para efeito de políticas públicas, conseguindo visualizar, a
distância, as condições a que estão expostos os trabalhadores. A GFIP,
que anteriormente já continha informações do empregado, tais como
o nome do segurado, sua remuneração e a contribuição devida, ago-
ra possui um código indicador de quantas fontes empregatícias tem
o segurado, bem como se ele está exposto a quaisquer agentes noci-
vos, constituindo-se em lançamento da contabilidade ambiental.
129
Caso seja bem elaborado, sob o ponto de vista da defesa empre-
sarial, outra finalidade do PPP é servir como um meio de prova favo-
rável para a empresa. Certamente, o PPP não pode ser visto simples-
mente como uma burocracia, mas inteligentemente utilizado como
instrumento de gestão do ambiente de trabalho.
Em algumas situações, o trabalhador, inclusive movido por seu
advogado, requer a documentação para efeitos de comprovação da
aposentadoria especial, mesmo quando não laborou em condições de
exposição aos agentes nocivos. Diante da insistência do trabalhador
em obter a declaração aparentemente inócua, a empresa deverá emitir
documento declarando as reais condições de trabalho, tanto para evi-
tar multa pela não entrega do papel, quanto para não permitir que o
trabalhador busque via transversa para obter tal comprovação, por
exemplo, o ingresso de ação pleiteando insalubridade para comprovar
à autarquia a exposição aos agentes nocivos. Assim, a empresa deve
tirar de sua responsabilidade o não atendimento do pleito do trabalha-
dor referente à aposentadoria, emitindo documento que não dará di-
reito ao benefício, o qual será negado pela Previdência Social.
130
Tanto o PPP como o LTCAT devem ser elaborados de forma indi-
vidual, para cada segurado e, devem ser atualizados permanentemen-
te, juntamente com o PPRA e PCMSO, ou nas situações em que ocor-
rerem alterações na exposição do segurado. Temos advertido as em-
presas de que a dificuldade não está em elaborar o primeiro PPP, mas
sim, em mantê-lo atualizado, especialmente nas empresas onde os
trabalhadores freqüentemente rodiziam atividades.
No tocante aos rodízios, temos duas formas: o rodízio intrajor-
nada e o rodízio interjornada. No rodízio intrajornada, todas as ativi-
dades são rodiziadas durante a mesma jornada; por exemplo, por
questões ergonômicas, um segurado realiza várias atividades para
que não incida em movimentos repetitivos por um longo período.
Por seu turno, no rodízio interjornada, o segurado tem atividades
diferentes ao longo dos dias. No caso do rodízio intrajornada é muito
fácil elaborar o LTCAT e PPP, pois todas as atividades já estariam
sendo consideradas durante a avaliação ambiental, principalmente
porque a dosimetria de ruído é feita durante toda a jornada. No en-
tanto, para o rodízio interjornada é necessário que se estabeleça, se-
gundo o julgamento técnico, uma exposição média, já que a cada dia
o segurado estará submetido a uma exposição distinta.
Anteriormente, a fiscalização considerava como atualizados os
documentos que refletirem as condições no momento presente da ação
fiscal. Nos termos da legislação vigente, considera-se o LTCAT atua-
lizado aquele que corresponde às condições ambientais do período a
que se refere, nos termos do artigo 179 da IN nº 99. O que temos
recomendado às empresas é que antes de trocar o segurado de posto
de trabalho, preparem a alteração do LTCAT e PPP, com vistas a evi-
tar futuras aplicações de penalidades.
De acordo com o artigo 178 da IN nº 99, o LTCAT deve conter os
seguintes elementos:
I — reconhecimento dos fatores de riscos ambientais;
II — estabelecimento de prioridades e metas de avaliação e con-
trole;
III — avaliação dos riscos e da exposição dos trabalhadores;
IV — especificação e implantação de medidas de controle e ava-
liação de sua eficácia;
131
V — monitoramento da exposição aos riscos;
VI — registro e divulgação dos dados;
VII — avaliação global do seu desenvolvimento, pelo menos uma
vez ao ano ou sempre que ocorrer qualquer alteração no ambiente de
trabalho ou em sua organização, contemplando a realização dos ajus-
tes necessários e estabelecimento de novas metas e prioridades.
Para o cumprimento do inciso I, deve-se contemplar:
a) a identificação do fator de risco;
b) a determinação e localização das possíveis fontes geradoras;
c) a identificação das possíveis trajetórias e dos meios de propa-
gação dos agentes no ambiente de trabalho;
d) a identificação das funções e determinação do número de tra-
balhadores expostos;
e) a caracterização das atividades e do tipo da exposição;
f) a obtenção de dados existentes na empresa, indicativos de pos-
sível comprometimento da saúde decorrente do trabalho;
g) os possíveis danos à saúde, relacionados aos riscos identifica-
dos, disponíveis na literatura técnica;
h) a descrição das medidas de controle já existentes.
O LTCAT, quando não forem identificados fatores de riscos do
inciso I, poderá resumir-se aos incisos I, VI e VII, declarando a au-
sência desses.
Poderão ser aceitos, em substituição ao LTCAT, ou ainda de for-
ma complementar a este, os seguintes documentos (§ 2º, artigo 155
da IN nº 99):
I — laudos técnico-periciais emitidos por determinação da Justi-
ça do Trabalho, em ações trabalhistas, acordos ou dissídios coletivos;
II — laudos emitidos pela Fundação Jorge Duprat Figueiredo de
Segurança e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO);
III — laudos emitidos pelo MTE ou, ainda, pelas DRT;
IV — laudos individuais;
V — os programas PPRA, PGR, PCMAT e PCMSO.
132
Não será aceito (§ 3º, artigo 155 da IN nº 99):
I — laudo elaborado por solicitação do próprio segurado;
II — laudo relativo à atividade diversa, salvo quando efetuada
no mesmo setor;
III — laudo relativo a equipamento ou setor similar;
IV — laudo realizado em localidade diversa daquela em que hou-
ve o exercício da atividade;
V — laudo de empresa diversa.
133
A CIPA, nos casos de acidente do trabalho grave ou fatal deve
reunir-se o mais rápido possível, uma vez que, com o passar do tempo
os fatos naturalmente vão se apagando da memória, principalmente
daqueles que eventualmente presenciaram a ocorrência do acidente.
Incumbe à Delegacia de Polícia de Investigações sobre Infrações
contra a Organização Sindical e Acidentes do Trabalho, dentre ou-
tras, exercer atenta vigilância aos inquéritos policiais que versarem a
respeito de acidentes de trabalho.
134
para agentes químicos. Desta forma, a empresa pode estar fornecendo
protetores auriculares, para prevenção, atendendo requisito da NR-9,
ou mesmo, indicação do PCA — Programa de Conservação Auditiva.
O CERTIFICADO DE APROVAÇÃO — CA
Estamos experimentando uma nova fase na segurança do traba-
lho, com a crescente disseminação dos EPI’s, atualmente encontrando
alguns deles até mesmo em supermercados. Por outro lado, o consumi-
dor ou usuário desconhece os requisitos que um EPI deve possuir, espe-
cialmente o CA — Certificado de Aprovação. A expansão da indústria
do EPI não é um fenômeno que se restringe ao Brasil. Temos notado em
todos os congressos internacionais o demasiado número de expositores
de EPI’s, com representantes espalhados por todo o planeta.
A aquisição do EPI deve estar condicionada à apresentação do
CA — Certificado de Aprovação e CRF — Certificado de Registro de
Fabricante ou CRI — Certificado de Registro de Importador, ambos
documentos emitidos pelo DNSST — Departamento Nacional de Se-
gurança e Saúde no Trabalho.
Entendemos que o governo não deve ceder à pressão de alguns
fabricantes de EPI’s pelo protecionismo do equipamento nacional. Por
outro lado, permitir que o importado ingresse no País ilegalmente e
sem preencher os requisitos da legislação, além de promover concor-
rência desleal, é expor os trabalhadores brasileiros a sério risco. Ainda
existe no País uma demanda reprimida de EPI’s, e temos plena convic-
ção de que se todas as empresas resolvessem adotar o equipamento
conforme preceitua a lei, nem mesmo as importações, no nível em que
se encontram, seriam suficientes para suprir o mercado.
A NR-6
A NR-6 — Norma Regulamentadora nº 6 — que trata dos usos e
aplicações dos EPI´s, elenca as hipóteses em que um EPI é considera-
do como instrumento neutralizador da insalubridade e o primeiro
destes é o fator adequabilidade ao risco. O equipamento deve ser
especificado por profissional com os devidos conhecimentos3, não se
permitindo que o mero “achismo” faça a escolha. Na prática, quem
acaba especificando os EPI’s é o comprador, cujo único critério de
seleção é o menor preço.
3
Segundo a NR-6 o EPI tem de ser recomendado pelo SESMT ou pela CIPA, na falta daquele.
135
Não é recomendável o superdimensionamento, pois no caso das
máscaras, quanto maior a eficiência do filtro, maior é seu tamanho,
causando desconforto ao trabalhador. Quanto aos protetores auricula-
res, estes não devem interferir na comunicação, sob pena de risco de
acidentes por não se ouvir aviso sonoro.
Quanto às luvas, existe no Brasil grande oferta de tais produtos,
havendo inclusive bom nível de desenvolvimento, comparado aos paí-
ses de primeiro mundo. As luvas prestam-se às mais diversas situações:
136
De acordo com os preceitos da NR-6, item 6.6.1., são obrigações
do empregador:
137
empregador — é obrigação da empresa promover imediatamente a
sua substituição. Legalmente, o empregado está sujeito a responsabi-
lizar-se por sua guarda, não agindo dessa forma, estará sujeito a in-
denizar a empresa o valor do EPI perdido.
As empresas ainda não estão atentas ao fornecimento de EPI,
que deve estar cercado de cuidados, havendo a necessidade de trei-
nar o trabalhador; a eficiência dos equipamentos também depende
de sua correta utilização. Desnecessário alertar que a empresa deve
documentar o treinamento do trabalhador, para o correto uso do EPI,
seja por meio de termo na própria ficha de entrega, seja por meio de
emissão de certificado de treinamento.
Finalmente, de nada adiantaria o rigoroso cumprimento de todos
os requisitos da legislação, se for esquecida a principal exigência: a
obrigatoriedade do uso do EPI. A empresa tem, legalmente, que obri-
gar o uso do equipamento, e nos casos de recusa injustificada, recorrer
à rescisão do contrato de trabalho por justa causa pelo empregado (ar-
tigo 482 da CLT e itens 1.8.b e 1.8.1 da NR-1). A adoção de comporta-
mento paternalista, deixando o empregado à vontade no uso do EPI,
traz sérias conseqüências à empresa, inclusive descaracterizando o for-
necimento por força do Enunciado nº 289. Assim, deve a empresa ini-
ciar um trabalho de conscientização de todos os trabalhadores, por meio
de palestras, cursos e vídeos, além da SIPAT, para o uso do equipa-
mento, ao invés de criar um clima policialesco, em que o departamen-
to de segurança gasta grande parte de seu tempo monitorando o uso
do equipamento pelos trabalhadores. A resistência do empregado ao
uso do equipamento é motivada, em grande parte, pelo desconforto
proporcionado e pela falta de conscientização.
138
• um protetor auricular com atenuação de 25 dB, se não usado
por apenas 10 minutos, tem sua atenuação oferecida reduzida
para 18 dB; e se o tempo de não uso for de 50%, passa a ofere-
cer atenuação de somente 5 dB.
. . . .
139
Os exemplos apresentados são para jornadas de 8 horas, mas o
importante é a constatação de que o tempo de não uso não é propor-
cional ao decréscimo da atenuação.
OS PROTETORES AURICULARES
140
A ÓTICA DO PERITO
141
PPRA
142
O programa visa a preservação da saúde e da integridade dos
trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e
conseqüente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes
ou que venham a existir no ambiente de trabalho.
São considerados como riscos ambientais os físicos, químicos e
biológicos. Consideram-se como riscos físicos: ruídos, vibrações, pres-
sões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radia-
ções não-ionizantes, bem como o infra-som e o ultra-som.
Consideram-se como riscos químicos: substâncias, compostos ou
produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória,
nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases e vapores, ou
que, pela natureza da atividade ou exposição, possam ter contato ou ser
absorvidos pelo organismo através da pele ou por ingestão.
Consideram-se como agentes biológicos: bactérias, fungos,
bacilos, parasitas, protozoários, vírus etc.
A estrutura do PPRA deverá contemplar, no mínimo, os seguin-
tes aspectos:
143
O reconhecimento dos riscos deverá contemplar os seguintes itens:
• a sua identificação;
• a determinação e a localização das possíveis fontes geradoras;
• a identificação das possíveis trajetórias e dos meios de propa-
gação dos agentes no ambiente de trabalho;
• a identificação das funções e determinação do número de tra-
balhadores expostos;
• a caracterização das atividades e dos tipos de exposição;
• a obtenção de dados existentes na empresa, indicativos de pos-
sível comprometimento da saúde decorrente do trabalho;
• os possíveis danos à saúde relacionados aos riscos identificados,
disponíveis na literatura técnica;
• a descrição das medidas de controle já existentes.
144
Como o programa não estabelece qualquer forma de registro, a
empresa pode eleger aquela da sua conveniência, desde o documento
impresso até o sistema informatizado, desde que sejam preservados
por um período de 20 anos. O programa deve ser reavaliado sempre
que houver algum fato que modifique as condições iniciais, sob as quais
o programa foi realizado. Deve haver um monitoramento constante
para se detectar o eventual momento em que se alcança o nível de
ação. Quanto à divulgação, inicialmente o programa deve ser apresen-
tado um uma reunião ordinária da CIPA, posteriormente, ficará à dis-
posição do trabalhador, seu representante legal (sindicato) e autorida-
des competentes (AFT’s — Auditores Fiscais do Trabalho).
A periodicidade mínima prevista legalmente, para a reavaliação
do PPRA, é de um ano, podendo a empresa, se entender necessário,
realizá-la em períodos menores. Com relação à forma de avaliação, a
interação com outros programas, a exemplo do PCMSO, é de fun-
damental importância para ter um feedback a respeito da eficácia do
programa, pois de nada adianta um programa muito bem colocado no
papel, com os trabalhadores continuando a apresentar doenças ocupa-
cionais, por exemplo.
A análise global do PPRA deveria elencar as ações que foram
cumpridas, as não cumpridas bem como aquelas que foram altera-
das. O não cumprimento do cronograma implica em autuação pelo
Ministério do Trabalho, eis que a própria empresa estabelece as prio-
ridades, comprometendo-se formalmente a implementar ações de
controle.
Muitas empresas têm contratado consultorias para elaborar o
PPRA. O empregador deve tomar cuidado com o cronograma e ativi-
dades proposto. Ao aceitar o planejamento anual, o empregador as-
sume um “passivo fiscal”, isto é, para fins de fiscalização, o Auditor
Fiscal do Trabalho cobrará do empregador o cumprimento das ativida-
des dentro dos prazos estabelecidos no referido cronograma (Araújo
et al, 2003/2004).
PCMSO
O PCMSO — Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacio-
nal está afeto às questões de saúde individual e coletiva dos traba-
lhadores, priorizando o instrumental clínico-epidemiológico na abor-
dagem da relação entre a saúde e o trabalho, tendo ainda, caráter de
prevenção das doenças profissionais.
145
A NR-7 estipula a elaboração e implementação do PCMSO a to-
das as empresas que possuírem empregados com finalidade de pro-
moção e preservação da saúde dos trabalhadores, de acordo com os
riscos a que estão expostos.
O PCMSO deve estar articulado com outras Normas Regulamen-
tadoras, especialmente a NR-9, que deveria conter a identificação dos
riscos à saúde dos trabalhadores. No entanto, o responsável pelo
PCMSO não poderia furtar-se de visitar os locais de trabalho com
vista ao reconhecimento dos riscos. Por meio deste reconhecimento,
deve ser selecionado conjunto de exames clínicos e complementares
específicos para prevenção ou detecção precoce dos agravos à saúde
dos trabalhadores.
É de responsabilidade do empregador garantir a elaboração e efe-
tiva implementação do PCMSO, arcar com os custos do programa, in-
dicar o médico coordenador responsável pela execução do PCMSO, o
qual deve possuir, obrigatoriamente especialização em medicina do
trabalho, exceto se inexistir médico do trabalho na localidade, quando
o empregador poderá contratar médico de outra especialidade.
Estão desobrigadas de indicar médico coordenador as empresas
de grau de riscos 1 e 2, segundo o Quadro I da NR-4, com até 25
(vinte e cinco) empregados e aquelas de grau de riscos 3 e 4 segundo
o Quadro I da NR-4, com até 10 (dez) empregados.
Ao médico coordenador cabe realizar os exames médicos (podendo
delegar a outro médico), bem como requisitar exames complementares, po-
dendo elaborar e ser responsável pelo PCMSO de várias empresas, filiais,
unidades, frentes de trabalho, inclusive em várias unidades da federação.
No entanto, o médico encarregado de realizar os exames médi-
cos, bem como assinar o ASO, deve estar registrado no CRM do Esta-
do em que atua.
Recomenda-se, embora o PCMSO não possua um modelo previs-
to, que contemple informações, tais como:
146
• programação anual dos exames clínicos e complementares es-
pecíficos aos riscos detectados;
• relatório anual após decorrido um ano da implantação do pro-
grama.
147
O exame médico demissional será obrigatoriamente realizado
até a data da homologação, desde que o último exame médico ocupa-
cional tenha sido feito há mais de 135 dias para as empresas de grau
de riscos 1 e 2 e 90 dias para as empresas de grau de riscos 3 e 4.
Os exames deverão incluir:
148
este trabalhador esteve exposto. Qualquer suspeita de doença ocupa-
cional deve ser confirmada por meio de exames, por exemplo,
audiometria, radiografias ou exames de sangue e urina.
Jamais o empregado deve ser discriminado por apresentar doen-
ça ocupacional. No entanto, o novo patrão não pode agravar sua
condição, sob pena de ser responsabilizado solidariamente. É óbvio
que um portador de perda auditiva não pode ser conduzido a traba-
lhar numa caldeiraria, mas não há qualquer impedimento se este
trabalhador for admitido como vigia. É prudente que o portador de
doença saiba de sua condição, bem como assine termo de responsabi-
lidade, quando de sua admissão.
Outro detalhe que deve ser trazido à baila é que o médico res-
ponsável pelo exame admissional deve ser médico do trabalho, pois
somente este profissional tem habilidade para caracterizar uma doen-
ça ocupacional. Temos presenciado muitos médicos clínicos, aventu-
rando-se em realizar exame admissional, unicamente medindo a pres-
são arterial e auscultando o coração do examinado, sem fazer qualquer
indagação quanto aos empregos anteriores.
Será emitido, para cada exame médico, o ASO — Atestado de
Saúde Ocupacional, em duas vias, uma para arquivo e outra para o
empregado, sendo que tal arquivo será mantido por 20 anos, após
o desligamento do empregado.
A avaliação dos índices biológicos deverá ser implementada a
cada 6 meses.
É responsabilidade do coordenador do PCMSO ao constatar a
ocorrência ou agravamento de doença profissional, solicitar à empresa
a emissão de CAT — Comunicação de Acidente do Trabalho.
Todo estabelecimento deverá, também, estar munido de material
de primeiros socorros.
Os documentos deverão ser mantidos por período mínimo de 20
anos após o desligamento do trabalhador, ainda que as ações de inde-
nização por acidente ou doença do trabalho prescrevam em 3 anos. A
guarda dos prontuários médicos é da responsabilidade do médico co-
ordenador, devendo este zelar pelo sigilo das informações ali contidas.
Verificando-se através da avaliação clínica ou dos exames a ex-
posição excessiva ao risco, o trabalhador deverá ser afastado do local
de trabalho, ou do risco, até que seja normalizado o indicador bioló-
gico de exposição.
149
Sendo constatada a ocorrência ou agravamento de doenças pro-
fissionais, caberá ao médico coordenador ou encarregado:
OS EXAMES MÉDICOS
Nos termos da NR-7 — Programa de Controle Médico de Saúde
Ocupacional — é obrigatória a realização dos seguintes exames mé-
dicos: admissional, periódico, de retorno ao trabalho, de mudança de
função e demissional. Realizar o exame médico no trabalhador, mais
que prevenir a doença ocupacional, é produzir documentos que com-
provem o seu estado de saúde.
O exame médico admissional é o principal instrumento de que
dispõe a empresa para comprovar e/ou verificar se o trabalhador pos-
sui, ou não, qualquer moléstia, anteriormente à sua entrada na empresa.
Em conseqüência, deve ser muitíssimo bem conduzido por especia-
lista em medicina do trabalho, eis que não se trata de exame médico
comum (como por exemplo, medir a temperatura e pressão do pacien-
te com a tradicional pergunta: você tem algum problema?). Numa
oportunidade, presenciamos um clínico geral apontar no ASO — Ates-
tado de Saúde Ocupacional — que uma recepcionista estaria sujeita
aos agentes físicos; questionado sobre quais agentes físicos estaria se
referindo, o profissional foi categórico: a recepcionista possui contato
físico com o público!
O médico do trabalho deve estar preparado para realizar uma
anamnese no trabalhador, particularmente com enfoque em seus em-
pregos anteriores, realizando a questão básica que Ramazzini, em 1700,
150
já havia proposto: qual a sua ocupação? Por óbvio que o médico do
trabalho deverá requisitar um exame audiométrico para um caldei-
reiro, ou exame de urina para medir o ácido hipúrico de um trabalha-
dor que teve exposição ao tolueno, ou mesmo um hemograma com-
pleto e contagem de plaquetas se o trabalhador esteve exposto às ra-
diações ionizantes ou ao benzeno.
O exame médico, entretanto, não deveria possuir caráter discrimi-
natório em relação aos trabalhadores com exames alterados, sob pena
de estarmos criando um exército de “doentes” desempregados, que fa-
talmente buscarão a via judicial para receber indenizações de seus ex-
patrões. A empresa pode admitir trabalhadores com exames alterados,
desde que não agrave sua condição. Não há qualquer problema em se
admitir um ex-caldeireiro, com perda auditiva, para colocá-lo na porta-
ria, no escritório ou em qualquer outro local silencioso. Da mesma for-
ma, não há qualquer risco em se admitir um silicótico para trabalhar
numa linha de montagem, sem exposição aos agentes químicos.
Se a empresa, contudo, não deseja admitir trabalhadores com
exames médicos alterados, deve ser cuidadosa quanto à forma com que
conduz seu processo de seleção. Alguns candidatos aprovados nos tes-
tes e reprovados nos exames médicos, têm recorrido à justiça para ga-
rantir sua admissão. Uma forma inteligente é inverter a ordem do pro-
cesso seletivo, realizando o exame médico antes; desta forma, o candi-
dato não terá certeza se foi reprovado no exame médico ou nos testes.
É desnecessário lembrar, quanto ao exame médico demissional,
que é a última oportunidade em que a empresa poderá produzir uma
prova de que o trabalhador deixou seu emprego em condições nor-
mais, isto é, isento de doença. Para tanto, é preciso que sejam realiza-
dos todos os exames laboratoriais ou outros para retratar este pano-
rama. Cuidado com profissionais que, sendo mais realistas que o rei,
acabam por admitir, na ASO, condição que deixa a empresa vulnerá-
vel contra ações trabalhistas ou civis.
CUIDADOS NA CONTRATAÇÃO DE
SERVIÇOS TERCEIRIZADOS
Com o advento da terceirização, tinha-se em mente a transferên-
cia da responsabilidade trabalhista e cível para uma outra empresa, a
qual estaria sendo devidamente remunerada para tal finalidade. En-
tretanto, não foi o que aconteceu. Para nossa surpresa, deparamos
151
com vários processos onde figuram como rés tanto a terceirizada como
a terceirizadora, solidariamente; aliás, de acordo com a Súmula nº
341 do STF.
A contratante que escolhe mal ocorre em culpa in eligendo, po-
dendo, contudo, exercer o direito regressivo. Entretanto, segundo o
item 1.7.a, da NR-1, cabe ao empregador, cumprir e fazer cumprir as
disposições legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho.
A seguir exemplo de cláusula a ser inserida nos contratos de terceiri-
zação:
152
Considera-se estabelecimento, nos termos da NR-5, em se tratan-
do de empreiteiras ou empresas prestadoras de serviços, o local em
que seus empregados exercem suas atividades. O dimensionamento
da CIPA nestas circunstâncias é calculado com base no número de
seus empregados em cada estabelecimento, separadamente, não po-
dendo ser somados com os empregados do estabelecimento onde pres-
tam seus serviços, ou dos demais estabelecimentos, ou da sede da
empresa, sendo que estabelecimento é o local onde os empregados
desenvolvem suas atividades.
Sempre que duas ou mais empresas atuarem em um mesmo es-
tabelecimento, a CIPA ou designado da empresa contratante deverá,
em conjunto com as das contratadas ou com os designados, definir
mecanismos de integração e de participação de todos os trabalhado-
res em relação às decisões das CIPA existentes no estabelecimento.
A contratante e as contratadas, que atuem num mesmo estabele-
cimento, deverão implementar, de forma integrada, medidas de pre-
venção de acidentes e doenças do trabalho de forma a garantir o mes-
mo nível de proteção em matéria de segurança e saúde a todos os
trabalhadores do estabelecimento.
A empresa contratante adotará medidas necessárias para que as
empresas contratadas, suas CIPA, os designados e os demais traba-
lhadores lotados naquele estabelecimento recebam as informações
sobre os riscos presentes nos ambientes de trabalho, bem como sobre
as medidas de proteção adequadas.
153
Gerenciando o passivo em
segurança e saúde
no trabalho
155
se sentir à vontade para julgar com base na prova emprestada (artigo
427 do CPC), sequer haverá a obrigatoriedade de perícia para a carac-
terização ou não da insalubridade e/ou periculosidade, como deter-
mina o artigo 195 da CLT.
Por outro lado, a única possibilidade real de extinção do proces-
so sem o julgamento do feito é por meio da celebração de acordo en-
tre as partes (estamos excluindo as possibilidades de arquivamento
do processo por ausência do reclamante ou por qualquer incorreção
de seu patrono na condução do processo). No entanto, tais acordos
são mais danosos do que parecem. Ao contrário do que pensam as
empresas, os acordos judiciais não são “cala boca” para o reclamante;
mas sim anúncio para outros empregados de que a empresa é “frou-
xa” e faz acordo muito rápido. Os reflexos são piores, pois os candi-
datos a reclamantes movidos pela celeridade do processo trabalhista
sabem que receberão em breve com o acordo, e não precisarão perse-
verar os longos anos que dura uma demanda trabalhista.
Deixar o assunto ser resolvido pela via judicial não é prudente,
pior ainda é resolvê-lo de forma caseira, por meio de acordo. Inicial-
mente, porque os acordos não homologados pela justiça não possuem
nenhum crédito legal, inclusive sendo imprestáveis para abster um
processo. Ao contrário, um acordo celebrado sob os auspícios da jus-
tiça dá a garantia da extinção do litígio. O acordo entabulado na em-
presa, pela sua ligeireza e pouco constrangimento que rende ao tra-
balhador, é o pior precedente que se pode abrir a outros empregados
oportunistas, que justificarão sua reivindicação com o exemplo da
transação antecedente.
Temos presenciado uma forma efetiva e alternativa de acordo,
realizada sob os auspícios da Lei nº 9.307/96 — Lei de Arbitragem. A
sentença proferida pelo árbitro não fica sujeita a recurso, logo é irre-
corrível. Se é irrecorrível, faz coisa julgada, ou seja, impede a discus-
são do mérito, da matéria em si, conforme o art. 18 da citada Lei:
156
de formas legais, o que se consegue com a contratação de um bom
advogado e, para o caso dos adicionais de insalubridade e periculosi-
dade, a indicação de um assistente técnico, além de providências ine-
rentes à própria administração da empresa.
Um hábil advogado não deve ser ávido por acordos já em pri-
meira audiência. Ele saberá conduzir o processo de forma a otimizar
os resultados da procrastinação. Ponderar a viabilidade do recurso é
uma decisão que, de forma alguma, pode estar atrelada ao depósito
recursal. A convicção deve ser um parâmetro que, numa eventuali-
dade, decretará a subida ao TRT.
O assistente técnico, como especialista no assunto insalubridade
e periculosidade, deverá ser selecionado entre profissionais de notá-
vel saber, que seja habilidoso com todos os peritos e, principalmente,
seja respeitado entre os profissionais de seu meio. Profissionais tec-
nicamente consagrados, sem o respaldo e apreciação dos colegas de
sua categoria, fatalmente esbarrarão em questões de relacionamento.
Outro detalhe importante é que o assistente técnico não é aquele
profissional que somente acompanha a vistoria do perito. Este profis-
sional começa seu trabalho desde a inicial, quando subsidia o advoga-
do na elaboração da contestação. Posteriormente, quando da nomea-
ção do perito, prepara os quesitos mais oportunos à situação, bem como
faz os contatos prévios para agendamento conjunto da vistoria.
Na data da vistoria, o assistente técnico se incumbe de selecio-
nar as testemunhas que melhor lhe aprouver, sem, obviamente, distorcer
a verdade dos fatos, nem mascarar o ambiente. Na verdade, o assis-
tente faz a ponte entre o representante da empresa e o perito, evitan-
do-se situações embaraçosas e constrangedoras. Finalmente, caso a
conclusão pericial seja desfavorável, o assistente entrará novamente
em ação, gerando subsídios para o advogado elaborar a impugnação
ao laudo, bem como quesitos suplementares. É óbvio que a discussão
deve restringir-se ao plano técnico. Advogados excessivamente
combativos, que fazem ataques pessoais ao perito, somente cultivam
a indignação e antipatia daquele profissional.
A empresa, principal interessada, também tem seu papel no pro-
cesso. É dela que virão as indispensáveis informações para subvencio-
nar as petições. O preposto da reclamada deve possuir um mínimo de
conhecimento, inclusive quanto às suas prerrogativas. Alguns peritos
157
bradam mais prerrogativas do que obrigações. Dessa maneira, a em-
presa deve estar atenta, falando exatamente o indispensável e ressal-
tando somente o que lhe interessa, porque, afinal de contas, não é reco-
mendável a ninguém produzir provas contra si mesmo!
O CPC E AS PECULIARIDADES DO
PROCESSO TRABALHISTA
INTRODUÇÃO
158
A prova ilícita não pode ser apreciada pelo Juiz, devendo ser
desentranhada dos autos. No entanto, a prova se torna lícita, se o
interessado abrir mão de seus direitos assegurados.
As provas no Direito dividem-se, classicamente, em:
159
nº 8.455, de 24.08.1992, que comentamos a seguir. O Código de Pro-
cesso Civil é aplicável, no que couber, às perícias trabalhistas, nos
termos do artigo 769 da CLT:
160
e, que esta perda não é oriunda da presbiacusia, doença con-
gênita, trauma acústico, uso de substâncias ototóxicas ou
socioacusia, presume-se que a perda auditiva é ocupacional;
• fatos inúteis: são os fatos irrelevantes e que não influenciam
na apuração da verdade, por exemplo, numa perícia de insa-
lubridade não tem qualquer relevância o fato dos paradigmas
serem remunerados com o adicional.
Art. 421. O juiz nomeará o perito, fixando de imediato o prazo
para a entrega do laudo.
§ 1º Incumbe às partes, dentro de 5 (cinco) dias, contados da in-
timação do despacho de nomeação do perito:
I — indicar o Assistente Técnico;
II — apresentar quesitos.
§ 2º Quando a natureza do fato o permitir, a perícia poderá con-
sistir apenas na inquirição do perito e dos assistentes, por ocasião da
audiência de instrução e julgamento a respeito das coisas que houve-
rem informalmente examinado ou avaliado.
161
de boa-fé e com fidelidade à Justiça. Atualmente, está implícito que o
Perito deve agir com todos os requisitos previstos no termo de com-
promisso. Quanto aos impedimentos de suspeição, estes são aplicá-
veis somente ao Perito, não ao Assistente Técnico, já que este é de
confiança da parte que o indicou.
Art. 423. O Perito pode escusar-se (art. 146), ou ser recusado por
impedimento ou suspeição (art. 138, III); ao aceitar a escusa ou julgar
procedente a impugnação, o juiz nomeará novo perito.
162
Art. 426. Compete ao juiz:
I — indeferir quesitos impertinentes;
II — formular os que entender necessários ao esclarecimento da
causa.
163
testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos que este-
jam em poder da parte ou em repartições públicas, bem como instruir o
laudo com plantas, desenhos, fotografias e outras quaisquer peças.
164
Em determinadas situações o objeto da perícia pode ultrapassar
os limites de conhecimento de um único profissional, quando então,
faz-se necessário o consórcio de outros profissionais que opinarão
conjuntamente. Ademais, antes mesmo da reintrodução do artigo 431
pela Lei nº 10.358, de 27.12.2001, nas perícias complexas, a nomeação
de mais de um perito já vinha ocorrendo na prática.
165
laudo pericial. Não há mais a preocupação das partes em saber quan-
do o perito apresentou seu laudo em cartório, em consonância com o
raciocínio de Eduardo Gabriel Saad (CLT Comentada, 32ª ed., LTr):
166
Art. 435. A parte, que desejar esclarecimento do Perito e do As-
sistente Técnico requererá ao juiz que mande intimá-lo a comparecer
em audiência, formulando desde logo as perguntas, sob forma de quesitos.
Parágrafo único. O Perito e o Assistente Técnico só estarão obriga-
dos a prestar os esclarecimentos a que se refere este artigo, quando inti-
mados 5 (cinco) dias antes da audiência.
Art. 436. O Juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar
a sua convicção com outros elementos ou fatos provados nos autos.
Fica claro que o laudo pericial não vincula o Juiz, que pode for-
mar sua opinião a contrario sensu do conteúdo do laudo; porém, con-
siderando-se que o Perito é de confiança do Juiz, julgar contrariando
o laudo equivale à quebra de confiança entre Juiz e Perito. Ressalte-
se também que, em não tendo conhecimentos específicos, o Juiz terá
de manifestar-se de forma circunstanciada sobre a conclusão pericial
para decidir contrariamente àquela.
Art. 438. A segunda perícia tem por objeto os mesmos fatos sobre
que recaiu a primeira e destina-se a corrigir eventual omissão ou ine-
xatidão dos resultados a que esta conduziu.
167
A segunda perícia não pode possuir objeto distinto da primeira,
além do que, a segunda perícia somente destina-se a aclarar eventuais
pontos obscuros da primeira.
Seção II — Do Perito
Art. 145. Quando a prova do fato depender de conhecimento téc-
nico ou científico, o Juiz será assistido por Perito, segundo o disposto
no artigo 421.
§ 1º Os Peritos serão escolhidos entre profissionais de nível uni-
versitário, devidamente inscritos no órgão de classe competente, res-
peitado o disposto no Cap. VI, Seção VII, deste Código.
§ 2º Os peritos comprovarão sua especialidade na matéria sobre
que deverão opinar, mediante certidão do órgão profissional em que
estiverem inscritos.
§ 3º Nas localidades onde não houver profissionais qualificados
que preencham os requisitos dos parágrafos anteriores, a indicação dos
Peritos será de livre escolha do Juiz.
168
Art. 146. O Perito tem o dever de cumprir o ofício, no prazo que
lhe assina a lei, empregando toda a sua diligência; pode, todavia, escu-
sar-se do encargo alegando motivo íntimo.
Parágrafo único. A escusa será apresentada, dentro de cinco
(5) dias contados da intimação, ou do impedimento superveniente
ao compromisso, sob pena de reputar renunciado o direito de alegá-lo
(art. 423).
OS QUESITOS
169
Pode o Juiz, teoricamente, indeferir quesitos imprestáveis, julgan-
do-os como impertinentes, tais como os quesitos que são perguntas con-
dicionais sobre meras hipóteses, além das perguntas sugestivas; entre-
tanto, o acúmulo de processos impede o magistrado de examinar quesi-
to por quesito, passando-os diretamente ao perito para respostas.
170
Pode o Juiz intimar o Perito a prestar esclarecimentos em juízo,
encaminhando-lhe os quesitos para responder em audiência 5 dias
antes do feito; porém, tal procedimento é raro.
Preconizamos ainda que as partes, em suas impugnações ou pe-
didos de esclarecimentos devem se abster de tecer observações à pes-
soa do Perito, já que procedimentos assim, além de constrangedores,
de forma alguma convencerão o Perito a mudar de opinião.
A JURISDIÇÃO
171
OS CRIMES CONTRA A PERÍCIA
172
Art. 344. Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favore-
cer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte ou qualquer
outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir no processo judicial,
policial ou administrativo, ou em juízo arbitral:
173
• Contratar o trabalho do Assistente Técnico desde o início do
processo e não somente na fase da perícia. Este profissional
poderá ser útil na elaboração da contestação, quesitos etc., sen-
do consultor em todas as fases do processo.
• Antes do deferimento da prova pericial, ponderar com o As-
sistente Técnico sobre a possibilidade de sucesso na demanda,
ou da conveniência em se propor acordo ou desistência da ação.
• Comunicar ao Assistente Técnico a nomeação do perito judicial,
indicando nome, endereço e telefone, para futuro contato.
• A eventual impugnação ao laudo pericial deve ser discutida
com o assistente, já que o assunto é técnico e possui nuanças
peculiares à formação deste profissional.
• Dar ciência ao Assistente Técnico de qualquer despacho relati-
vo à perícia.
174
Uma opinião externa e despretensiosa, afirmaria que o Perito,
dado sua posição de árbitro, tem muito mais isenção na condução de
seu trabalho do que o Assistente Técnico, mero consultor da parte
que o contratou, e que por isso deve fidelidade a esta. É fato que se
comenta que o Assistente distorce situações, preparando pareceres
por encomenda.
Esta não é necessariamente a realidade, senão vejamos: o Perito,
na maioria das vezes, não tem honorários garantidos, ficando à mercê
do resultado da perícia para garantir o recebimento de seu trabalho.
Muitos Peritos na contingência de trabalharem sem remuneração, aca-
bam por adotar uma postura extremamente rigorosa e legalista.
O Assistente, por seu turno, tem seus honorários garantidos, e
com recebimento imediato, o que lhe proporciona uma situação cô-
moda em relação ao seu trabalho. É óbvio que existem Assistentes
venais, que acabam vendendo seus pareceres por uns tostões. No
entanto, aqueles cuja postura é profissional acabam realizando tra-
balhos de excelente qualidade. O mesmo se diga com relação ao Peri-
to, aqueles que são profissionais sérios e despreocupados com seus
honorários, servem muito bem à função a que se prestam.
Cumprimento de horário deve ser uma característica marcante
do Assistente Técnico. Nada pior que chegar depois que o Perito.
Ocorrendo atraso do Assistente Técnico, este jamais deve propor o
reinício do inquérito preliminar, a menos que tenha havido má-fé na
colheita de informações. O Assistente Técnico previamente deve in-
teirar-se do panorama da perícia, não para maquiar o ambiente (lem-
bre-se de que Peritos experientes não são enganados), mas para coi-
bir situações que não sejam a realidade de fato. Ouvir testemunhas
antes da perícia também é uma saudável opção, principalmente para
excluir testemunhos inapropriados. Um detalhe: nunca prepare tes-
temunhas, é um desastre!
Seu julgamento técnico será respeitado pelos demais profissio-
nais, desde que você mantenha uniformidade em sua opinião. Peri-
tos que trocam de entendimento quando são Assistentes tendem a
cair no descrédito, tanto pelos colegas, como pelo Judiciário. Para
aqueles que têm o dom de escrever livros ou artigos (escrever é 99%
de transpiração e 1% de inspiração), usem de muito critério, pois suas
convicções estarão para sempre registradas em meio público. Maior
175
cuidado deve ter o assistente na elaboração de artigos, pois suas
convicções estariam sendo divulgadas em meio público, ficando difí-
cil voltar atrás. Em certa oportunidade, em que figurávamos como
Perito e um colega de profissão, Assistente Técnico, apresentou pa-
recer totalmente divergente ao da perícia; bastou que apresentásse-
mos cópia de seu recém-editado livro, para comprovar que o parecer
divergia frontalmente do que lecionava em seu manual.
176
Durante nossa peregrinação pelo ramo das perícias judiciais, te-
mos notado que não é amplamente utilizada a prática de indicação
de assistente técnico pelas partes, particularmente quando se trata
do reclamante. No entanto, em várias oportunidades, o reclamante
contrata os serviços deste profissional após o resultado desfavorável
da perícia, quando já seria inoportuna a sua intervenção.
Os serviços de assistência técnica não visam, como muitos asse-
guram, cercear o trabalho do perito, mas tão-somente, assistir, acom-
panhar e esclarecer os trabalhos periciais, evitando incorreções, às
vezes involuntárias, especialmente na etapa do inquérito preliminar.
É visível que, na condição em que se encontra o Judiciário, com
acúmulo de processos, os juízes não conseguem sequer ler integral-
mente o laudo pericial, quanto mais apreciar o parecer do Assistente.
No entanto, o Juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo julgar
contrariamente, ou então, alternativamente, se utilizar do parecer do
assistente, desde que este não seja imprestável.
Infelizmente, a posição do Perito, na melhor das situações, desa-
grada em 50% dos envolvidos na contenda, já que não existe empate
quando se trata de perícia judicial. Além do que, em nossa Justiça do
Trabalho existe um excessivo número de recursos, que contribui para
a morosidade do desfecho da ação. Adicione-se a isto a punição que
sofre o Expert com quesitos suplementares, refazimento de perícias,
prestação de esclarecimentos, impugnações, comparecimento em au-
diência e tantos outros artifícios de que as partes se utilizam quando
este não faz exatamente aquilo que desejavam. Aliás, colocamos que
não somos contrários ao duplo grau de jurisdição, que é uma forma
sadia de se evitar erros; o que condenamos é o excessivo uso de sub-
terfúgios para se alongar uma ação, que nos casos trabalhistas che-
gam até a uma década.
Finalmente, já é uma realidade a parceria de advogados com os
Assistentes Técnicos, o que chega a ser animador; e exatamente para
estes colegas, passamos um roteiro simplificado de sugestões, que
pode auxiliar o relacionamento advogado x assistente técnico:
177
• Facultar ao assistente técnico, antes da nomeação do Perito
oficial, conhecimento do processo, e, principalmente, elaborar
quesitos;
• Cientificar o assistente da nomeação do Perito oficial, forne-
cendo seu nome e localização, a fim de que ele possa contatá-
lo com rapidez, para agendamento dos trabalhos periciais;
• Não se manifestar com relação ao laudo pericial sem previa-
mente discutir o assunto com o Assistente Técnico, pois, mui-
tas vezes, o que parece óbvio para o leigo, não é tecnicamente
aceitável;
• Informar o assistente técnico de qualquer publicação sobre des-
pacho atinente à perícia, direta ou indiretamente;
• Nos casos em que o Assistente Técnico possui prazo de 10
dias a partir da entrega do laudo pericial, para protocolar seu
parecer, informá-lo, imediatamente, da publicação relativa à
entrega do laudo pericial por parte do perito oficial;
• Discutir com o Assistente Técnico o conteúdo de seu parecer,
com a finalidade de concatenar as ações já empreendidas nos
autos, compatibilizando com a estratégia adotada pelo advo-
gado na construção da lide;
• Eventual impugnação ou pedido de esclarecimentos do laudo
pericial devem ser feitos com a prévia aquiescência do Assis-
tente.
178
As partes, através de seus Assistentes Técnicos, devem diligenciar
juntamente ao Perito, com finalidade de agendamento dos trabalhos pe-
riciais, para que aqueles possam acompanhar o Expert em sua vistoria;
O Perito que chega na empresa de surpresa ou fora de hora cor-
re o risco de ter sua vistoria frustrada, já que não pode ingressar nas
instalações da reclamada coercitivamente, por não possuir prerroga-
tivas de Oficial de Justiça, o qual portando mandado judicial, pode-
ria requisitar reforço policial;
Quando da chegada do Perito à reclamada, se este não for co-
nhecido, deve, como procedimento de identificação, ser solicitado do-
cumento, para confrontar se o nomeado é o mesmo que estará reali-
zando a vistoria, já que alguns Peritos, indevidamente, têm delegado
o trabalho pericial a terceiros;
O trabalho pericial é indelegável, desta forma não pode o Perito
ser substituído por qualquer outro profissional, a não ser que seja
nomeado pelo Juiz. A empresa também não é obrigada a permitir a
entrada de acompanhantes do Expert, sob o pretexto de serem assis-
tentes, já que, os únicos assistentes contemplados no Código Civil,
devem ser indicados pelas partes e aceitos pelo Juiz;
Em caso de acompanhamento da perícia pelo reclamante, este,
imediatamente à sua chegada na empresa, deve ser conduzido ao
local onde serão realizados os trabalhos periciais, com vistas a se coi-
bir que este fique aguardando o Perito na portaria, proporcionando
um diálogo pré-perícia, que pode ser prejudicial à reclamada;
Durante o inquérito preliminar, caso o Perito conduza os traba-
lhos somente com base no testemunho do reclamante, o Assistente
Técnico deve fazer sua parte ser ouvida, a partir de questões às teste-
munhas, como por exemplo, se o reclamante utilizava os equipamen-
tos de proteção individual;
O Assistente Técnico pode e deve acompanhar as medições fei-
tas pelo Expert, anotando todos os valores obtidos, bem como, even-
tualmente, contestar o instrumental utilizado pelo Perito, além de
exigir que seja feita a calibração do instrumental;
Apesar da faculdade prevista no artigo 429 do CPC, a empresa
deve ter reserva ao apresentar determinados documentos ao Perito,
especialmente o PPRA e PCMSO. Diga-se de passagem que o PCMSO,
por se tratar de documento restrito à área médica, somente deve ser
179
apresentado ao Perito que seja médico do trabalho. Quanto ao PPRA,
alguns Experts estão caracterizando a insalubridade por intermédio
deste documento, sem ao menos, qualquer medição do local de tra-
balho do reclamante, o que destoa dos critérios técnicos do trabalho
pericial, posto que este é personalíssimo, e a propósito, para a reali-
zação de uma perícia com base no PPRA, não haveria necessidade de
nomeação de Perito, pois o próprio Magistrado poderia realizar, uti-
lizando-se desta prova.
180
É importante que durante o inquérito o Perito não permita que
quaisquer dos participantes da perícia interrompam o testemunho,
sob qualquer alegação, pois é muito comum que a parte prejudicada,
com determinadas revelações, atravesse as afirmativas das testemu-
nhas e com isso iniba a pessoa a continuar seu relato. Portanto, ao
menor indício de tentativa de interrupção de um testemunho, o Peri-
to deve imediatamente tomar as rédeas da situação, vetando qual-
quer corte ao depoimento. Tal providência em absoluto se constitui
em cerceamento à defesa, mas sim, em preservação da verdade, mes-
mo porque, todos terão o direito de se manifestar durante o inquérito
na sua hora oportuna.
O reclamante, normalmente, indica empregados da reclamada
que devem ser chamados a testemunhar, pois durante o seu pacto
laboral, tiveram relacionamento profissional mais próximo, e com isso
conhecem de sobejo as atividades do reclamante; ou ainda, porque
conhecem determinadas ocorrências ou situações que podem aclarar
as dúvidas do Perito. É comum a reclamada, para evitar que o empre-
gado venha a testemunhar, alegar que o mesmo não pertence mais ao
quadro da empresa, ou que está em férias, ou foi transferido. Vale a
pena verificar se tal situação é verdadeira, pois em muitas oportuni-
dades o empregado é encontrado trabalhando normalmente.
O Perito deve tomar cuidado, especialmente quando o emprega-
do é relutante a prestar testemunho. Foram flagradas oportunidades
em que a reclamada, ao chamar o empregado a testemunhar, cons-
trange-o ou o alerta para determinados detalhes. Assim, é importan-
te que o Perito tenha sensibilidade o suficiente para intuir se a teste-
munha está ou não preparada; aliás, o ideal seria que as pessoas que
estão participando da perícia não deixassem o recinto para buscar
novas testemunhas, mas sim, que tal atividade fosse feita por tercei-
ros, ou mesmo por telefone ou outro meio de comunicação que não
permita privacidade.
Todas as alegações das partes deverão ser checadas, ou se hou-
ver condição, comprovadas. No caso da reclamada, é um tanto fácil,
pois suas alegações quanto à segurança serão acompanhadas de do-
cumentação, já que se a reclamada alega que implantou PPRA deve
apresentar o documento; se entregou EPI ao reclamante deve apre-
sentar a ficha de entrega dos equipamentos; e assim por diante. Quanto
ao reclamante, por sua própria condição, na maioria das vezes, alega
sem poder comprovar, exceto por testemunho.
181
Muita sutileza deve ter também o Perito, quando os trabalhos são
acompanhados por Assistente Técnico. Em algumas oportunidades o
Assistente possui vasta experiência como Perito, conhecendo todas as
técnicas utilizadas. Mas, como consultor da parte que o contratou, o
Assistente vai realçar os pontos que mais lhe interessam na perícia, e
nunca, “entregar o ouro ao bandido”, como diz o jargão popular. No en-
tanto, o acompanhamento do Assistente não pode, de forma alguma,
cercear os trabalhos periciais, e muito menos o Perito deve permitir
que o Assistente direcione os rumos da perícia. Assim, se necessário
for, e com toda a ética, deve o Perito deixar claro ao Assistente que
quem coordena a perícia é o Perito, e que o Assistente, como o próprio
nome diz, lá está para auxiliar o Perito em seu trabalho.
O LAUDO PERICIAL
182
no laudo pericial o profissional que o elaborou dá o seu pronunciamen-
to técnico sobre determinado fato ou ocorrência, manifestando suas con-
clusões a respeito do assunto controvertido que foi submetido à apreci-
ação.
• Elo de ligação.
• Acabamento final.
• Certeza absoluta.
• Juntamente com.
• Em duas metades iguais.
• Destaque excepcional.
183
• Há anos atrás.
• Relações bilaterais entre dois países.
• Anexar junto.
• Superávit positivo.
• Todos foram unânimes.
• Fato real.
• Multidão de pessoas.
• Amanhecer o dia.
• Compartilhar conosco.
• Surpresa inesperada.
• Repetir outra vez / de novo.
• Comparecer pessoalmente.
184
Quanto à patologia do laudo em si, este não deve trazer informa-
ções confidenciais prestadas durante a perícia, já que, sendo o processo
público, pessoas com interesses difusos podem ter informações privile-
giadas. O laudo, também, não deve conter informações que não forem
prestadas durante os trabalhos periciais, ou mesmo obtidas informal-
mente, a exemplo de informes trazidos pelas partes antes de iniciados
ou depois de findados os trabalhos. E, finalmente, o laudo não deve
trazer opiniões subjetivas, mas somente fatos verificáveis e com consis-
tência técnica, não ferindo, assim, a imparcialidade do Perito.
A redação do laudo pericial deve ser sempre em tom de impes-
soalidade. Ao referir-se a si mesmo, utilize a terceira pessoa do sin-
gular. Ao se referir à pessoa do Juiz deve-se utilizar o pronome de
tratamento adequado e corretamente grafado, por exemplo: Exmo.
Sr. Dr. Juiz da 1ª Vara do Trabalho de São Paulo (SP). As partes do
processo são identificados por autor e réu, e na Justiça do Trabalho,
comumente por reclamante e reclamada. Os advogados são tratados
por causídicos, patronos e outros equivalentes.
Ao responder os quesitos, o Perito deve estar ciente de que está
fazendo-o diretamente ao Juiz, apesar de terem sido formulados pe-
las partes. Assim, muita cautela ao respondê-los, especialmente aque-
les tendenciosos, onde o vigor das palavras na resposta pode ferir o
magistrado. Outra recomendação, nas respostas aos quesitos, é a de
que, o Perito não deve, simplesmente, fazer referência ao local da
resposta, como por exemplo: “vide item 2 do laudo pericial”; é mais
razoável transcrever (hoje temos um poderoso instrumento para co-
piar textos quantas vezes forem necessárias, o computador) a parte
do texto para a resposta do quesito, inclusive facilitando o exame
pelo Juiz e pelas partes. Esta é também a sugestão de Maia Neto (1999):
185
dade, não há por que responder a quesitos sobre equiparação salarial,
horas extras, ou mesmo acidente de trabalho; tampouco o Perito
deverá entrar no mérito do assunto sob o ponto de vista jurídico.
Nada impede, entretanto, que o perito cite e faça uso da legislação, já
que a técnica tem que estar aliada ao Direito. Desta forma, de nada
adianta uma excelente caracterização técnica sem a previsão legal.
4 — ANÁLISE QUALITATIVA
4.1 — da função do trabalhador — esclarecer, com os verbos
no infinitivo, todos os tipos de tarefa que compõem a função.
P. Ex.: Auxiliar Administrativo — a) datilografar textos — b) ano-
tar recados — c) atender telefone etc. ...;
4.2 — das etapas do processo operacional — observando o de-
senrolar das atividades e/ou do movimento do maquinário, espe-
cificar as fases do método de trabalho, inclusive questionando o
supervisor de turma e, sempre, um ou mais empregados;
186
4.3 — dos possíveis riscos ocupacionais — o técnico especializa-
do deve ser capaz de perceber e avaliar a intensidade dos elemen-
tos de risco presentes no ambiente de trabalho ou nas etapas do
processo laborativo, ou, ainda, como decorrentes deste processo.
Este item pressupõe o levantamento, em qualidade, dos riscos a
que se submete o trabalhador durante a jornada de trabalho.
4.4 — do tempo de exposição ao risco — a análise do tempo de
exposição traduz a quantidade de exposições em tempo (horas, mi-
nutos e segundos) a determinado risco operacional sem proteção,
multiplicado pelo número de vezes que esta exposição ocorre ao longo
da jornada de trabalho. Assim, se o trabalhador ficar exposto duran-
te 5 minutos, por exemplo, a vapores de amônia, e esta exposição se
repetir-se por 5 ou 6 vezes durante a jornada de trabalho, então seu
tempo de exposição é de 25 a 30 min./dia, o que traduz a eventuali-
dade do fenômeno. Se, entretanto, ele se expõe ao mesmo agente
durante 20 minutos e o ciclo se repete por 15 ou 20 vezes, a exposi-
ção total passa a contar com 300 a 400 min./dia de trabalho, o que
caracteriza uma situação de intermitência. Se, ainda, a exposição se
processa durante todo ou quase todo o dia de trabalho, sem inter-
rupção, diz-se que a exposição é de natureza contínua.
5 — ANÁLISE QUANTITATIVA
É a fase que compreende a medição do risco imediatamente
após as considerações qualitativas, guardando atenção especial à
essência do risco e ao tempo de exposição. Esta etapa ou fase peri-
cial só pode ser realizada quando o técnico tem convicção firmada
de que os tempos de exposição, se somados, configuram uma situa-
ção intermitente ou contínua. A eventualidade não ampara a con-
cessão do adicional, resguardados os limites de tolerância estipu-
lados para o risco grave e iminente.
Tanto o instrumental quanto a técnica adotados, e até mesmo
o método de amostragem, devem constar por extenso, de forma
clara e definida no corpo do laudo. Idêntica atenção deve ser em-
pregada na declaração dos valores, especificando-se, inclusive, os
187
tempos horários inicial e final de cada aferição. Já a interpretação e
a conseqüente análise dos resultados necessitam estar de acordo
com o prescrito no texto legal, no caso, a Norma Regulamentado-
ra. Caso o contrarie, será nula de pleno direito.
6 — CONCLUSÃO
6.1 — Fundamento científico — se os institutos de insalubri-
dade e da periculosidade pressupõem o risco de adquirir doença
ou de sofrer um acidente a partir da exposição a elementos
agressores oriundos do processo operacional ou dele resultantes, o
técnico tem que demonstrar, obrigatoriamente, toda a cadeia de
relação causa e efeito existente entre o exercício do trabalho
periciado com a doença ou o acidente. O fundamento científico
compreende, então, as vias de absorção e excreção do agente insa-
lubre, o processo orgânico de metabolização, o mecanismo de
patogenia do agente no organismo humano e as possíveis lesões.
6.2 — Fundamento legal — é tudo aquilo estritamente previsto
nas Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Traba-
lho, Portaria MTE nº 3.214/78 e Lei nº 6.514/77. As “Atividades e
operações insalubres” — acham-se listadas na NR-15 e Anexos, ao
passo que as “Atividades e operações perigosas” são aquelas en-
quadradas nas delimitações impostas pela NR-16 e Anexos, sem
contar com os textos da Lei nº 6.514/77, artigos 189 e 196, e do De-
creto nº 93.412/86, este último específico para os riscos com energia
elétrica.
As situações laborativas não previstas na legislação, e, por-
tanto, omissas, não podem ser objeto de conclusão pericial, quer
em juízo, quer a serviço da fiscalização do MTE, sob pena de nuli-
dade jurídica.
188
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