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BASILE KOTSCHOUBEY
JOSÉ MARIA CALAF CALAF
AUGUSTO CÉLIO COSTA LOBATO
ALESSANDRO SABÁ LEITE
CARLOS HENRIQUE DUARTE AZEVEDO
SUMÁRIO
CAPÍTULO XI
CARACTERIZAÇÃO E GÊNESE DOS DEPÓSITOS DE BAUXITA DA
PROVÍNCIA BAUXITÍFERA DE PARAGOMINAS, NOROESTE DA BACIA DO
GRAJAÚ, NORDESTE DO PARÁ/OESTE DO MARANHÃO
BASILE KOTSCHOUBEY1, JOSÉ MARIA CALAF CALAF2, AUGUSTO CÉLIO COSTA LOBATO3,
ALESSANDRO SABÁ LEITE4, CARLOS HENRIQUE DUARTE AZEVEDO5.
1
Departamento de Geoquímica e Petrologia, Centro de Geociências, Universidade Federal do Pará, CEP: 66075-110.
e-mail: basile@ufpa.br
2
Curso de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica do Centro de Geociências, Universidade Federal do Pará, CEP: 66075-110.
3
Curso de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica do Centro de Geociências, Universidade Federal do Pará, CEP: 66075-110.
e-mail: augustolobato@yahoo.com.br
4
Geologo pelo Curso de Graduação em Geologia da Universidade Federal do Pará, bolsista DTI do CNPq
5
Curso de Graduação em Geologia da Universidade Federal do Pará, CEP: 66075-110, e-mail: carloshenriq@oi.com.br
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
of two bauxitic horizons; although the residual mantle of the following new bauxitization period. Bauxitization was probably polyphasic
zone 3 is essentially ferruginous, evidence of bauxitization can be and occurred after a thick ferruginous duricrust was formed, which is
seen at the top as well as at its base; zone 4 hosts the most important shown by the presence of ferruginous relicts within the bauxitic
bauxite deposits of economic interest (Miltônia and Gurupi plateaus, horizons. Since more recent laterites, formed during Late Miocene/
among others) and the bauxitic layers, which can be several meters Pliocene upon Barreiras sediments (Miocene), are represented by an
thick in certain sectors, predominate in the residual profile; in the exclusively ferruginous duricrust, the different bauxitization phases
northernmost zone 5, the layered structure gradually disappears and were likely restricted to Paleogene time until early Oligocene? (1st
only vestiges of the lateritic/bauxitic mantle can be seen within a later cycle) and to the end of Oligocene-beginning of Miocene (2nd cycle).
bauxitic duricrust.In the extreme north of the province any evidence Although the nature, allochtonous or autochtonous, of the clayey
of previous structures disappears completely, while bauxite grades overburden was not clearly determined so far, a sedimentary origin
to a highly kaolinitic laterite. The evolution of the lateritic/bauxitic (with later pedogenetic transformations) is thought to be the most
mantle and the regional zonality were controlled by climatic variations probable. The presence of small bauxite and laterite fragments, dense
in time and space, as well as by geomorphological, geotectonic and clayey blocks and discreet lateritic stone-lines in this overburden
sedimentological factors. Thus, in zones 1 and 3, very favorable support such assumption. In this case, the original sediments would
conditions for extensive bauxitization never were reached, while in have been deposited during Oligocene time, and, in the northern part
zones 2 and 4 this process could develop with variable intensity. In of the bauxite province, after the later bauxitization, in Late Oligocene/
zone 5, partial dismantling of residual duricrust was followed by a Early Miocene.
I. INTRODUÇÃO
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
na região. Foram investigados nesse período, em descreveu igualmente o capeamento argiloso do manto
particular, os platôs dos setores Jabuti e Futuro, assim laterítico, assemelhando-no à cobertura argilosa
como os setores Camoai, próximo a cidade de Ulianópolis, identificada por ele mesmo na região do Baixo Amazonas
e Tiracambu, na zona de divisa entre Pará e Maranhão, como Argila de Belterra.
mais a sudeste. Na segunda metade dos anos 1980 e A publicação de artigos de cunho científico sobre as
durante toda a década de 1990, a exploração de bauxita bauxitas na Amazônia iniciou-se, no entanto, somente na
ficou praticamente suspensa na região. Nesse período, década de 1970, acompanhando os trabalhos de
apenas a bauxita refratária do setor Camoai atraiu exploração, particularmente intensivos naquele período.
investidores, sendo durante vários anos lavrada e Estudando as ocorrências de bauxita nas regiões do
beneficiada in loco pela empresa CBB (Companhia rio Trombetas e de Paragominas Wolf (1972) e Wolf &
Brasileira de Bauxita). A explotação foi, entretanto, Silva (1973), interpretaram as seqüências bauxíticas como
paralisada e a mina fechada em 2001 devido à forte queda formações residuais geradas in situ a partir de sedimentos
da cotação de bauxita refratária no mercado mundial. da Formação Barreiras do Terciário Superior. Tal origem
Nessa mesma época, devido à procura crescente de também foi sustentada por Dennen & Norton (1977),
alumínio no mercado mundial dos metais não ferrosos, a Grubb (1979) e Aleva (1981). Greig (1977) notou
prospecção de bauxita metalúrgica conheceu vigorosa igualmente estreita relação entre as lateritas aluminosas
reativação no Brasil e a Companhia Vale do Rio Doce e sedimentos terciários da Bacia do Amazonas. Nesses
retomou seus trabalhos exploratórios na região de trabalhos foram definidos os perfís-tipos dos principais
Paragominas. Assim, nos últimos quatro anos foram objeto distritos bauxitíferos quanto aos seus aspectos
de exploração sistemática, reavaliação e cubagem os platôs mineralógicos, estruturais e texturais. A caracterização
dos setores Miltônia, Gurupi, Tiracambu, entre outros. geoquímica para elementos-traço foi principalmente obra
Atualmente, está sendo implantado vasto projeto de de Dennen & Norton (1977) e Kronberg et al. (1979,
mineração no setor Miltônia, com início da lavra previsto 1982), que constataram enriquecimento em V, P, Ga, Mn
para 2006, sendo planejada, numa primeira fase, uma nas lateritas e empobrecimento em Pb, Sr, e Ba em relação
produção anual de 5 Mt de minério. ao saprólito. Estes autores ressaltaram também que os
O presente estudo enfoca o que é entendido como citados elementos mostravam afinidade com os óxidos de
Província Bauxitífera de Paragominas, ou seja, uma vasta ferro e a caulinita e não com a gibbsita.
região comportando importantes vestígios de manto As bauxitas sobre rochas siliciclásticas da Bacia do
laterítico antigo, hospedeiro de depósitos de bauxita e Amazonas foram consideradas como resultantes de
apresentando características composicionais e estruturais processo monofásico até que Dennen & Norton (1977),
comparáveis em toda a sua extensão. De fato, neste baseando-se na existência, em muitos perfis, de dois
contexto geral, os depósitos de bauxita de valor econômico horizontes gibbsíticos separados por horizonte ferruginoso,
constituem apenas uma parte relativamente modesta e mostraram que a evolução do manto residual tinha sido
localizada desses vestígios do manto residual. Haja vista mais complexa. Prosseguindo nesta linha de raciocínio,
a extensão deste último fica claro que o estudo da bauxita Grubb (1979) ressaltou a importância da migração de Fe
na Província de Paragominas deve ultrapassar os limites e Al, da dissolução da caulinita e dos processos físicos na
da simples análise de depósito específico, pois se trata de formulação de modelo genético polifásico para as bauxitas
bem mineral cuja gênese se inscreve no quadro evolutivo da Bacia Amazônica e da planície costeira das Guianas.
supergênico e, de modo mais geral, no contexto geológico, De acordo com o modelo, ocorreram dois períodos de
como um todo, da Amazônia Oriental durante o Cenozóico. gibbsitização separados, no tempo, por uma fase de
deposição de material arenoso que sofreu ferruginização
II. BAUXITA SOBRE ROCHAS SILICI- em ambiente podzólico. Kronberg et al. (1979, 1982), por
CLÁSTICAS DO CRETÁCEO NA AMAZÔ- sua vez, propuseram igualmente modelo genético
NIA: ESTADO DE CONHECIMENTO envolvendo transporte lateral de alumina e sua acumu-
lação abaixo de espesso pacote argiloso sob a forma de
bauxita.
O primeiro reconhecimento de lateritas aluminosas nos
Kotschoubey & Truckenbrodt (1981), retomando a
platôs terciários da Amazônia é devido a Towse & Vinson
idéia da complexidade genética e da evolução polifásica
(1959), geólogos da companhia Kaiser. A presença de
da cobertura bauxítica de Dennen & Norton (1977) e de
importantes formações lateríticas no nordeste do Pará foi
Grubb (1979), investigaram em mais detalhe essas
registrada por Sombroek (1966), que classificou os
formações entre Paragominas e Açailândia, e propuseram
produtos residuais em várias categorias, porém não
modelo poligenético em 5 fases, ou seja: 1) lateritização
observou, na ocasião, a ocorrência de bauxita. Este autor
inicial do saprólito, 2) formação da crosta ferro-aluminosa
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
e seu retrabalhamento parcial, 3) primeira e principal fase evolução em três fases, distinguindo uma ferruginização
de gibbsitização da crosta: formação do horizonte bauxítico inicial de sedimentos siliciclásticos, uma fase de
inferior, 4) segunda fase de retrabalhamento da crosta e bauxitização mais ou menos acentuada da couraça
formação do cascalho ferruginoso do topo do perfil, 5) resultante e, finalmente, uma fase atual de desenvolvimento
segunda fase de gibbsitização e bauxitização da parte de um novo perfil às custas do perfil antigo. Esta última
superior da crosta. etapa seria marcada, sobretudo, pela ressilicificação, tanto
Nesse mesmo trabalho, além de ressaltar a origem por cima como por baixo, do perfil original e levaria à
complexa dos perfís lateríticos/bauxíticos, Kotschoubey individualização do capeamento argiloso. Por sua vez,
& Truckenbrodt (1981) mostraram que o manto ferro- Boulangé & Carvalho (1989, 1997) e Bardossy & Aleva
aluminoso formou-se sobre e a partir de sedimentos (1989), abordaram a questão com visão verticalista,
siliciclásticos das formações Itapecuru e Ipixuna do segundo a qual um perfil laterítico evolui in situ por meio
Cretáceo Superior (Góes 1981). Com base nesses fatos da redistribuição de Fe e Al pelas águas percolantes, sem
e outras considerações, Truckenbrodt et al. (1982) aporte lateral desses elementos. Estes autores propuseram
concluiram que as bauxitas não se formaram no Terciário modelos implicando a progressiva transformação de manto
Superior ou Quaternário como tinha sido proposto bauxítico original e a individualização de horizontes
anteriormente (Wolf & Silva 1973; Assad 1973; 1978; composicional, textural e estruturalmente distintos. Em
Dennen & Norton 1977; Grubb 1979; Aleva 1981) e sim ambos os casos o capeamento argiloso foi interpretado
no Terciário Inferior, provavelmente no mesmo período como produto desta mesma diferenciação.
da formação das bauxitas da Guyana e do Suriname Procurando sintetizar melhor as observações efetuadas
(Krook 1979). nos últimos 20 anos, Kotschoubey et al. (1997)
Prosseguindo as investigações sobre as formações propuseram uma divisão da província bauxitífera em
bauxíticas na região de Paragominas, Kotschoubey et al. quatro zonas com base no grau de bauxitização da
(1984) evidenciaram uma terceira fase de gibbsitização cobertura laterítica e no progressivo enriquecimento em
no setor Jabuti-Ipixuna. Esta teria resultado na formação alumínio de sul para norte. Em termos regionais, a evolução
de gibbsita criptocristalina e na obliteração da estruturação teria sido polifásica, envolvendo tanto retrabalhamento
acamada preexistente no manto ferro-aluminoso. físico como remobilização e redistribuição de elementos
Ainda de acordo com Kotschoubey & Truckenbrodt em solução. De início, teria havido acumulação de
(1981), a gibbsitização ter-se-ia intensificado de sul para depósitos pisolíticos resultantes do desmantelamento de
norte na Província Bauxitífera de Paragominas. Com base crosta laterítica pretérita e, abaixo desses depósitos, a
nessa constatação, um zoneamento regional foi proposto formação de crosta ferruginosa por ferruginização de
por Kotschoubey et al. (1987), sendo definidas, numa sedimentos siliciclásticos. Em seguida, os depósitos
extensão de mais de 300 km na direção sul-norte, sete pisolíticos mais superficiais teriam sido afetados por uma
zonas, cada uma apresentando uma fácies específica da bauxitização de intensidade variável. Com o rebaixamento
cobertura laterítica/bauxítica. Segundo este primeiro do nível de base, a parte inferior da crosta ferruginosa e o
modelo, a zona meridional comporta apenas uma espessa topo do saprólito teriam sido bauxitizados, sendo a
crosta ferruginosa, que nas zonas mais setentrionais cede aluminização um mecanismo fundamental no processo
espaço à bauxita, a expressão máxima da qual se observa (Truckenbrodt et al. 1995). Finalmente, sedimentos argilo-
próximo de Paragominas. A norte dessa localidade o manto arenosos ter-se-iam depositado, sofrendo posteriormente
laterítico/bauxítico sofre drástica mudança de fácies. alterações pedogenéticas para espesso latossolo,
No final dos anos 1980/início dos anos 1990 foram designado regionalmente como Argila de Belterra. Segundo
apresentados vários modelos genéticos, resultando os mesmos autores, na porção setentrional da província a
principalmente de estudos desenvolvidos na região do cobertura bauxítica/laterítica teria sofrido forte degradação
Baixo Amazonas. Aleva (1989) propôs uma evolução da e uma fase adicional de bauxitização (Kotschoubey et al.
cobertura residual, implicando em uma fase principal de 1989, 1997).
bauxitização no Eomioceno, o retrabalhamento físico da Em todos os modelos genéticos propostos por
parte superior da cobertura bauxítica, a deposição do Kotschoubey & Truckenbrodt (1981) e Kotschoubey et
capeamento argiloso no final do Mioceno/Plioceno e, al. (1987 e 1997), a evolução da cobertura laterítico/
finalmente, a formação de nódulos gibbsíticos e bauxítica foi principalmente controlada por fenômenos
ferruginosos na base do capeamento. Entretanto, uma químicos e secundariamente por retrabalhamento físico.
evolução essencialmente in situ, sem migração lateral Variações climáticas teriam tido grande influência na
física ou química dos produtos do intemperismo, foi na formação dos diversos horizontes do perfil laterítico,
mesma época defendida por outros modelos. Assim Lucas enquanto a influência de movimentos tectônicos teria sido
(1988, 1997) e Lucas et al. (1989) apresentaram uma relevante apenas nos últimos estágios. O fator biológico
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
(ação das raízes, acúmulo e transformação da matéria logístico da Companhia Vale do Rio Doce. Em termos de
orgânica, ação de cupins, etc...) teria também tido, métodos analíticos, foram utilizados a microscopia óptica,
segundo esses autores, papel relevante. O zoneamento microscopia eletrônica de varredura (MEV) e o
faciológico regional, observado hoje em uma extensão de difratometria de raios-X para a descrição, em diferentes
mais de 300 km, refletiria, portanto, zoneamento climático, escalas, dos produtos de alteração, as rochas matrizes e
marcado por notável encurtamento das zonas, como pode o capeamento. O grau de substituição de FeOOH por
ser constatado, no presente, em várias regiões intertropicais AlOOH em goethita foi avaliado por meio do método semi-
e, notadamente, na África Ocidental. Neste contexto, na quantitativo de Solymar (1969). Todas as análises foram
parte meridional da região considerada (fácies I) não teria realizadas nos laboratórios do Centro de Geociências da
havido condições propícias para bauxitização Universidade Federal do Pará. Análises químicas para
(Kotschoubey et al. 1987 e 1997), enquanto nas porções elementos maiores, traço e terras raras foram efetuadas
mais setentrionais o regime climático teria permitido o em laboratório comercial (ACME, Vancouver, Canada)
desenvolvimento de manto bauxítico, com intensidade num total de 199 amostras. Enfim, contou-se com o apoio
crescente de sul para norte, do Laboratório de Análise de Imagens do Trópico Úmido
Apesar dos inegáveis progressos efetuados nos últimos (LAIT) do Centro de Geociências/UFPA, no qual foram
25 anos quanto ao conhecimento dos depósitos de bauxita tratadas as imagens SRTM (Rabus et al. 2003) da região
do NE do Pará-W do Maranhão e ao entendimento do estudada.
seu significado geológico e geoquímico, os diferentes
modelos genéticos propostos merecem profunda e IV. LOCALIZAÇÃO E ACESSO À ÁREA
rigorosa reavaliação. Acredita-se que o presente trabalho, DO SUBPROJETO
aliando estudo mais detalhado a uma abordagem mais
ampla da questão, fornece novas informações e permite
A Província Bauxitífera de Paragominas (Kotschoubey
compreender melhor os processos envolvidos na formação
& Truckenbrodt, 1981), que se estende na direção norte-
do manto bauxítico da Província Bauxitífera de
sul por cerca de 300 km, entre Açailândia (MA) e Ipixuna
Paragominas e, de modo mais geral, a evolução do quadro
(PA), e tem quase 200 km de extensão leste-oeste em
supergênico na Amazônia Oriental, durante o Cenozóico.
sua porção meridional (Figura 1), é delimitada pelos
paralelos 2º e 5° Sul e é cortada ao meio pela rodovia BR
III. METODOLOGIA 010 (Belém-Brasília) que segue aproximadamente o
meridiano 47° 30 oeste.
Em vista da natureza supergênica dos depósitos de O acesso à província bauxitífera é facilitado pela
bauxita e o caráter regional do estudo, o presente trabalho existência da rodovia supracitada, ao longo da qual estão
foi desenvolvido principalmente com base em observações situadas as principais cidades do leste do Pará/oeste do
de campo. No entanto, sendo raríssimos os afloramentos Maranhão. Assim, a partir de Belém, capital do estado do
naturais do manto laterítico/bauxítico na região, os Pará, encontram-se, de norte para sul: Ipixuna 240 km;
levantamentos de campo foram efetuados, sobretudo, ao Paragominas 310 km, Ulianópolis 395 km, Ligação do
longo de rodovias e estradas vicinais, bem como em Pará 440 km; Dom Eliseu 460 km e, já no estado do
piçarreiras, apresentando exposições artificiais bem Maranhão, Itinga 475 km e Açailândia 540 km. O
preservadas. Não tendo sido autorizado o acesso a acesso à porção sudoeste da província é facilitado pela
depósitos em fase de exploração, foi impossível efetuar rodovia pavimentada PA-222, Dom Eliseu-Rondon do
um estudo de depósito/alvo específico. No entanto, os Pará-Marabá. Paralelamente à rodovia BR 010 e a uma
testemunhos de dez furos de sondagem, todos provenientes distância média de cerca de 20 km a leste desta, a antiga
de um setor limitado situado na porção centro-sul do platô rodovia Belém-Brasília, não pavimentada, permite o
Gurupi Norte, situado cerca de 40 km a leste de acesso a zonas pouco habitadas entre Paragominas e
Paragominas, foram cedidos pela Companhia Vale do Rio Ulianópolis.
Doce para investigações de detalhe. Assim, no total, foram Existem igualmente estradas secundárias e vicinais
estudadas 65 exposições da cobertura laterítica/bauxítica permitindo o acesso a fazendas e povoados, bem como a
e do seu capeamento, algumas delas com mais de 200 m diversos setores de eventual interesse econômico. Tais
de extensão lateral, sendo descritos em detalhe e são as estradas Paragominas-Jurupari-Tomé Açu e as
amostrados 48 perfis. Cerca de 310 amostras foram estradas de acesso aos platôs Jabuti, Miltônia, Gurupi,
coletadas para análises diversas. As excursões ao campo Tiracambu, Camoai, entre outras.
foram realizadas em veículos do Centro de Geociências
da UFPA. Uma visita de reconhecimento na região de V. ASPECTOS FISIOGRÁFICOS
Paragominas, efetuada no final de 2002, teve apoio
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
Figura 2 Perfil topográfico regional ao longo da rodovia BR 010 (Belém-Brasília) entre Açailândia e Ipixuna (segundo
Sombroek 1966, modificado)
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
Figura 5 Esquema
geral da relação
entre as superfícies
Sul-Americana e
Velhas II.
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
Além dos platôs bem preservados ocorrem, localmente, cantins pela Serra do Gurupi (Barbosa et al. 1973). Os
morros com topos abaulados de altitude levemente menor. vales da parte meridional da região são, via de regra, mais
Tratam-se de morros testemunhos, derivados do relêvo encaixados do que os da parte setentrional.
tabular regional em processo de rápido rebaixamento após
a remoção da cobertura laterítica/bauxítica e do Vegetação
capeamento argiloso protetores. As chapadas são
separadas por vales de largura quilométrica, que hospedam Hoje em dia, a vegetação predominante na região é
a atual rede de drenagem. A disposição destes amplos de tipo pastagem artificial que, com a instalação de
vales parece ser controlada por estruturas da bacia do inúmeras fazendas de criação de gado, veio ao longo das
Grajaú, embora a rede de drenagem não apresente padrão últimas décadas substituir a vegetação nativa de tipo
claramente definido. No entanto, entre os cursos d´água floresta tropical densa. Algumas grandes plantações de
atuais e os platôs, ocorrem, embutidos nas encostas destes eucaliptos e de pimenta do reino ocorrem igualmente na
últimos, terrenos mais baixos, de feições tabulares, região. Enfim, nos últimos anos, foi introduzida a
formando patamares ou rampas levemente inclinadas em agricultura, em particular a cultura da soja, que está
direção às drenagens. Mais raramente, estes relevos experimentando notável desenvolvimento.
intermediários constituem chapadas baixas, isoladas, Resquícios de floresta primária densa, em geral
evoluindo para relevo colinoso. afetados pelo corte seletivo das espécies de alto valor
Os topos das formas tabulares mais baixas corres- comercial e, portanto, acusando alto grau de degradação,
pondem a uma segunda superfície regional sustentada por ocorrem principalmente nos platôs. No entanto, podem
cobertura laterítica ferruginosa e/ou por seu capeamento ainda ser encontrados vestígios de espécies arbóreas
argilo-arenoso. Trata-se de superfície neógena, designa- típicas, como maçaranduba, faveira, angelim, entre outras.
da geralmente como Superfície Velhas II ou Velhas Re- Babaçú ocorre em quantidade na porção meridional da
cente (King 1967, Kotschoubey et al. 2005) De mesmo província bauxitífera e preferencialmente nos vales,
modo que a superfície superior, esta mostra leve declive marcando a passagem progressiva para a zona de transição
de sul para norte (Figura 2). A alguns quilômetros a norte floresta-cerrado (Nunes et al. 1973). Vastas zonas são
de Açailândia, a altitude desta superfície é de aproxima- cobertas por floresta secundária, resultando do
damente 210 m, caindo para 150 m próximo de Dom Eli- desmatamento da floresta nativa e posterior abandono.
seu. Mais a norte, a altitude da superfície inferior conti- Trata-se de vegetação de tipo capoeira, caracterizada
nua diminuindo progressivamente porém menos que a da por árvores delgadas de pequeno a médio porte e
superfície superior. A cerca de 20 km a norte de Ipixuna, abundância de cipós.
onde o manto laterítico/bauxítico encontra-se já fortemente
degradado e em maior parte erodido, a superfície inferior Solos
acaba cortando a superfície superior (Kotschoubey et al.
1996). Portanto, o desnível de mais de 100 m observado Segundo Sombroek (1966) a área comporta latossolos
entre as duas superfícies na porção sul da região em es- amarelos cauliníticos em quase toda a sua extensão, exceto
tudo vai diminuindo progressivamente para norte, ocor- no extremo sul onde predominam latossolos vermelhos
rendo a interseção das duas superfícies e a inversão das cauliníticos. Os latossolos amarelos são divididos em duas
suas posições na borda setentrional da província (Figura fácies (Sommer et al. 1973) conforme a sua textura: a
3 e 4). Em toda a região, a rede de drenagem recente fácies argilosa e a fácies muito argilosa. Enquanto esta
disseca a superfície inferior, sendo responsável pelo des- cobre o topo dos platôs, a primeira ocupa as vertentes
taque das feições tabulares mais baixas. dos vales e está associada a solos lateríticos
concrecionados. De fato, a natureza do solo, na região,
Hidrografia varia em função da composição e do tempo de exposição
aos agentes de intemperismo do depósito original, com o
A rede de drenagem na Província Bauxitífera de Pa- qual ele geralmente se confunde devido à intensidade da
ragominas é densa e exibe padrão ortogonal, sendo as alteração. Assim, o espesso latossolo amarelo do topo dos
direções preferenciais NE-SW e NW-SE, o que sugere platôs dominantes a Argila de Belterra é
controle estrutural à escala regional. Em sua porção nor- provavelmente derivado de sedimentos pretéritos, dos
te a região é drenada pelos tributários dos rios Guamá e quais não existem mais testemunhos inquestionáveis. A
Capim (norte), enquanto os tributários dos rios Gurupi, mesma situação se verifica nas encostas dos platôs, nas
Capim (sul) e Pindaré drenam a sua parte meridional. A zonas de relevo tabular mais baixo e nos vales. A
bacia do Rio Gurupi está separada da bacia do Rio To- abundância de quartzo e de fragmentos lateríticos nos solos
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
basicamente latossolos - desses diferentes setores (Petri & Fúlfaro 1983), os depósitos estuarino-lagunares
depende diretamente da composição do subsolo e da do Grupo Itapecuru (Albiano Senoniano) (Góes 1995,
eventual redistribuição física dos produtos de alteração Anaisse Jr. 1999, Rossetti & Truckenbrodt 1999, Anaisse
ao longo dos declives. Os latossolos não são estruturados. Jr et al. 2001) e os sedimentos flúvio-estuarinos da
Observa-se, apenas, em superfície, leve enriquecimento Formação Ipixuna do Cretáceo Superior?-Terciário inferior
em matéria orgânica ou, nas áreas expostas pelo desma- (Góes 1981, Rossetti &Truckenbrodt 1999, Santos Jr. &
tamento e mais severamente lixiviadas, branqueamento Rossetti 2003). Na porção noroeste da bacia as duas
do solo e enriquecimento relativo em grãos de quartzo últimas formações sustentam vestígios de extensa
fortemente corroídos . cobertura laterítica/bauxítica e seu capeamento argiloso
(Kotschoubey & Truckenbrodt 1981, 1994, Kotschoubey
VI. QUADRO GEOLÓGICO REGIONAL: et al. 1987, 1997).
BACIA DO GRAJAÚ E PLATAFORMA Para sul, a Bacia do Grajaú se estende
BRAGANTINA aproximadamente até o paralelo 6o, onde faz contato com
a Bacia das Alpercatas, que consiste em rochas
sedimentares das Formações Pastos Bons e Corda do
A Província Bauxitífera de Paragominas se inscreve
Triássico bem como em derrames basálticos e intrusões
num quadro geológico meso-cenozóico constituído pela
de diabásio das formações Mosquito e Sardinha, do
porção noroeste da Bacia do Grajaú e a parte meridional
Jurássico (Góes 1995). A sudoeste a bacia faz contato
da Plataforma Bragantina (Tabela 1). com as rochas pré-cambrianas, sobretudo neopro-
A Bacia do Grajaú comporta os sedimentos aptianos terozóicas do Cinturão Araguaia, enquanto que a norte
de natureza eólica e lagunar das Formações Grajaú e Codó está limitada pelas formações predominantemente
Superior
Médio
Inferior
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
(a)
(b)
Figura 6 Afloramento do Grupo Itapecuru, rodovia BR 010, Figura 8 Afloramento da Formação Ipixuna na rodovia BR
10 km a norte de Ulianópolis (PA). (a) Vista geral. (b) Detalhe. 010, 8 km a sul da cidade de Ipixuna. (a) Vista geral. (b)
Notar a estratificação cruzada bem desenvolvida. Detalhe, mostrando marcante estratificação cruzada.
Plataforma Bragantina
Formação Pirabas
Formação Barreiras
Rossetti 2003). Segundo Rossetti & Truckenbrodt (1999),
esta unidade litoestratigráfica seria correlacionável com Esta unidade consiste em sedimentos litorâneos a
a Formação Cujupe da Bacia de São Luís. continentais de coloração mosqueada, cuja parte inferior
finamente litada caracteriza-se pela alternância de
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
delgadas camadas argilosas e arenosas contendo pequenos Em termos de estratigrafia do Neógeno, nota-se a ausên-
fragmentos de argila semi-flint, enquanto sua parte cia dos depósitos marinhos da Formação Pirabas e dos
superior é constituída por areias argilosas maciças, que sedimentos litorâneos da Formação Barreiras, no lugar
exibem estruturas sedimentares difusas e contém dos quais ocorrem arenitos argilosos, avermelhados, mal
pequenos seixos de quartzo disseminados. De acordo com selecionados e inconsolidados, contendo fragmentos de
trabalhos recentes, após breve fase regressiva, esta laterita dispersos, finos níveis argilosos, notadamente de
unidade ter-se-ia depositado em inconformidade sobre os argila semi-flint, e stone-lines (Figura 9 e 10). Estes se-
sedimentos Pirabas (Rossetti et al. 1989, Rossetti 2001). dimentos foram recentemente interpretados como depó-
A exposição mais meridional dos sedimentos Barreiras sitos continentais derivados de fluxos de lama e de detri-
por ora reconhecida ao longo da rodovia BR 010 encontra- tos (Calaf 2000, Kotschoubey et al. 2005). A mudança
se a cerca de 26 Km a norte de Ipixuna (Kotschoubey et na natureza dos sedimentos neógenos sugere que a trans-
al. 1996). gressão máxima para sul do mar Pirabas não ultrapassou
um limite situado cerca de 20 km a norte de Ipixuna e
Sedimentos Pós-Barreiras próximo das encostas setentrionais dos platôs Jabuti. A
província bauxitífera evoluiu, portanto, durante todo o
Trata-se de sedimentos areno-argilosos, de coloração Cenozóico, em condições exclusivamente continentais.
amarelada e granulometria fina a grossa, não exibindo Sobre os arenitos argilosos do Mioceno repousa uma cros-
estruturas sedimentares perceptíveis. Contêm, em alguns ta laterítica ferruginosa exibindo grau variável de degra-
locais, na sua base, lentes ou finos leitos ferruginosos de dação (Calaf 2000, Kotschoubey et al. 2005). Esta cou-
tipo ortstein. Estes sedimentos repousam em discordân- raça ferruginosa corresponde à crosta laterítica desen-
cia erosiva sobre a Formação Barreiras. volvida sobre os sedimentos Barreiras mais a norte, no
domínio da Plataforma Bragantina. A esta crosta ferrugi-
VII. QUADRO GEOLÓGICO DA PROVÍN- nosa e em contato brusco se sobrepõem depósitos argilo-
CIA BAUXITÍFERA DE PARAGOMINAS arenosos a areno-argilosos amarelados, de espessura
métrica, sem estruturas sedimentares perceptíveis e con-
No contexto geral descrito acima, o quadro lito-estra- tendo, além de diminutos fragmentos de laterita, eventu-
tigráfico da província bauxitífera apresenta algumas par- ais stone-lines (Figura 11). Tratar-se-ia de sedimentos
ticularidades (Tebela 2). cronocorrelatos com os sedimentos Pós-Barreiras defini-
As rochas mais antigas pertencem ao Grupo Itapecu- dos na Plataforma Bragantina e depositados durante o
ru (nas porções sul e central da região em apreço) e à Plioceno (Calaf 2000, Kotschoubey et al. 2005).
Formação Ipixuna (na porção norte) e estão expostas em
inúmeros afloramentos ao longo da rodovia federal BR VIII. QUADRO SUPERGÊNICO REGIONAL
010 e demais rodovias, bem como nas margens das dre-
nagens de maior porte. Estas formações sedimentares No domínio da Província Bauxitífera de Paragominas
sustentam os platôs dominantes na região, portadores da as duas coberturas lateríticas de expressão regional se
cobertura laterítica/bauxítica e do seu capeamento argi- distinguem pela composição e estrutura, como também,
loso, as duas unidades enfocadas no presente trabalho. indiretamente, pela natureza da rocha-matriz/substrato,
702
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
Figura 9 Afloramento de arenito argiloso avermelhado do Figura 11 Sedimentos argilo-arenosos inconsolidados Pós-
Mioceno Inferior/Médio com abundantes indícios de Barreiras sobrepostos à crosta ferruginosa do Mioceno
bioturbação. Km 30 da estrada Paragominas-Cáipi. Superior fortemente degradada. Piçarreira abandonada,
rodovia BR 010, 10 km a sul de Itinga/Maranhão.
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
Descrita na região entre Ipixuna e São Miguel do por enriquecimento relativo in situ de Fe (Calaf 2000,
Guamá (Kotschoubey et al. 1996), esta cobertura distri- Kotschoubey et al. 2005).
bui-se amplamente tanto a norte desta cidade (Costa
1990), como a sul de Ipixuna, até os limites meridionais IX. EVOLUÇÃO GEOLÓGICA
da província bauxitífera, sustentando a superfície mais
baixa, embutida na Superfície Sul Americana. É mais del- Conforme Góes (1995), a Bacia do Grajaú forma uma
gada que a cobertura antiga e consiste fundamentalmen- unidade geotectônica independente no contexto mais amplo
te em couraça ferruginosa, de até 3m de espessura. No da Província Sedimentar do Meio Norte. Nela se
domínio da Plataforma Bragantina o manto ferruginoso depositaram aproximadamente 800 m de sedimentos,
repousa sobre os sedimentos Barreiras, enquanto mais a começando com as formações Grajaú e Codó (Aptiano) e
sul se sobrepõe aos arenitos mal selecionados e não terminando com o Grupo Itapecurú (Albiano Senoniano).
estruturados considerados cronocorrelatos com as for- Urdinínea (1977) e Kotschoubey et al. (1996) supõem
mações Pirabas e Barreiras (Calaf 2000, Kotschoubey et ter ocorrido basculamento regional devido ao qual a parte
al. 2005). Como já assinalado acima, a couraça ferruginosa meridional da Bacia do Grajaú sofreu subsidência duran-
é recoberta por pacote argilo-arenoso a areno-argiloso
te o Cretáceo, o que possibilitou a deposição dos sedi-
cronocorrelato como os sedimentos Pós-Barreiras (Sá
mentos do Grupo Itapecurú e, um pouco mais a norte, os
1969, Kotschoubey et al. 1996, Rossetti 2001). Original-
da Formação Ipixuna.
mente maciça, a couraça apresenta hoje grau variável de
Durante o Paleógeno, a região meridional da Bacia do
degradação. Normalmente exibe estrutura colunar, às
Grajaú permaneceu livre de sedimentação (Góes 1995)
vezes inclinada por efeito de rastejamento, porém pode
e, à custa dos sedimentos continentais do Grupo Itapecurú
também ser parcial ou totalmente nodular (Kotschoubey
e da Formação Ipixuna, formou-se ampla cobertura
et al. 2005) (Figura 12a) .Em certos locais a couraça
laterítica ferruginosa e bauxítica, da qual a atual Província
mostra grau de degradação máximo, apresentando-se na
Bauxitífera de Paragominas é apenas testemunho (Grubb
forma de stone-layer (Figura 12b). Neste caso e, sobre-
tudo quando está presente abundante matriz argilosa, não 1979; Truckenbrodt et al. 1982; Kotschoubey et al. 1996;
pode ser descartada a possibilidade de terem ocorrido 1997).
retrabalhamento físico e redistribuição dos fragmentos A região correspondente à atual Plataforma Bragan-
ferruginosos por rastejamento ou solifluxão, em ambiente tina (Urdinínea 1977) constituia o prolongamento para nor-
controlado essencialmente pela ação dos agentes te da Bacia do Grajaú e deve ter sofrido evolução seme-
intempéricos e pela topografia. Cabe, enfim, ressaltar que lhante, embora a taxa de sedimentação deva ter sido bai-
nesta cobertura laterítica não existe horizonte saprolítico xa durante o Cretáceo. Durante o Paleógeno, a maior
individualizado e o contato da couraça ferruginosa com o parte da região também permaneceu emersa, sendo pro-
arenito subjacente é, via de regra, brusco. Aliados à pre- fundamente afetada pelo intemperismo, nas mesmas con-
servação parcial da textura arenítica original, tais fatos dições que as regiões mais meridionais. O resultado foi a
sugerem que se trata mais provavelmente de laterita de formação de manto laterítico sobre todas as unidades aflo-
lençol, ou seja, de formação residual gerada pela rantes, tanto pré-cambrianas como fanerozóicas. As pou-
ferruginização resultando em grande parte de aporte de cas ocorrências lateríticas bauxíticas ou fosfáticas da Pla-
Fe alóctone e não de crosta laterítica clássica, formada taforma Bragantina são testemunhos desta cobertura.
Figura 12 Laterita neógena. A. Couraça colunar, mesma localidade que a Figura 11 . B. Couraça fortemente degradada,
transformada em stone-layer. Rodovia BR 010, 6 km a norte de Itinga (PA).
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
A formação do manto residual foi seguida por período Velhas I ou Velhas Antiga de King (1967). Restabelecen-
de fortes mudanças climáticas para regime mais seco. A do-se um novo equilíbrio entre o nível do mar e o nível de
ruptura do equilíbrio mantido pelo menos durante o Pale- base nas zonas continentais, depósitos siliciclásticos, mal
oceno e o Eoceno levou à formação de capeamento, de selecionados, provenientes do solapamento e progressivo
origem por enquanto controversa e apresentando hoje recuo das margens dos vales, foram, em seguida, preen-
características certamente muito diferentes das originais. chendo progressivamente estes últimos. Com a diminui-
A mudança climática global que marcou o Oligoceno Su- ção gradativa dos efeitos da erosão e, finalmente, a para-
perior causou importante regressão marinha e forte re- da da sedimentação, a volta para clima quente e úmido e
baixamento do nível do mar, o que desencadeou vigoroso notável estabilidade tectônica, os depósitos siliciclásticos
processo erosivo. Durante este período, a cobertura late- foram submetidos a intemperismo laterítico durante pelo
rítica da porção setentrional da Bacia do Grajaú (futura menos grande parte do Mioceno Superior. Desta fase de
Plataforma Bragantina) foi quase totalmente erodida, en- alteração resultou a formação de crosta ferruginosa regi-
quanto nos setores mais meridionais e mais continentais, onal, cuja presença foi reconhecida em múltiplos locais
ou seja na Província Bauxitífera de Paragominas, ela so- da província (Calaf 2000, Kotschoubey et al. 2005). Após
freu apenas erosão parcial, que resultou em formação de sofrer grau variável de degradação química e física, esta
complexa rede de drenagem e individualização de vastas crosta ferruginosa foi recoberta no Plioceno / início do
chapadas. Pleistoceno? por sedimentos argilo-arenosos, produtos da
No final do Oligoceno e no Mioceno Inferior, a trans- alteração e desmantelamento de todas as formações aflo-
gressão Pirabas causada por subsidência regional relaci- rantes na época. Uma superfície regional (Velhas II ou
onada a eventuais movimentos epirogenéticos e/ou por Velhas Recente) marca o topo destes depósitos. Mais re-
reaquecimento climático global resultou na deposição dos centemente, um novo rebaixamento do nível do mar cau-
sedimentos marinhos (calcários) da Formação Pirabas sado por mudanças climáticas (glaciações ?) e/ou movi-
(Urdinínea 1977) e, em seguida, dos sedimentos siliciclás- mentos tectônicos levou à formação da rede de drena-
ticos litorâneos da Formação Barreiras (Mioceno Mé- gem atual e à individualização dos relevos tabulares mais
dio). Após a formação de uma crosta laterítica à custa baixos.
dos sedimentos Barreiras, no Mioceno Superior, foram
depositados, no Plioceno?-Pleistoceno, os sedimentos Pós- X. COBERTURA BAUXÍTICA NA PROVÍN-
Barreiras. CIA BAUXITÍFERA DE PARAGOMINAS
Segundo Costa & Hasui (1997), os sedimentos das
formações Ipixuna, Pirabas e Barreiras, bem como a Embora as variações laterais de espessura e de fácies
cobertura laterítica recente, foram afetados por falhamen- no manto laterítico/bauxítico tenham chamado muito cedo
tos normais e transcorrentes durante o Quaternário. a atenção dos geólogos de exploração, pouca atenção foi
No domínio da Província Bauxitífera de Paragominas, dada, de início, a estas variações nos estudos de caráter
tanto as flutuações do nível do mar como os movimentos mais acadêmico, desenvolvidos, na maioria dos casos, com
tectônicos tiveram também repercussões acentuadas. No base em perfis-tipos, escolhidos como representativos da
entanto, em vez de sofrer, além de erosão, uma subsidên- cobertura residual à escala regional. No entanto, investi-
cia relativa, propícia para o avanço do mar no interior do gações mais abrangentes e sistemáticas na região de
continente, essa região foi marcada por amplo soergui- Paragominas mostraram que, longe de serem fortuitas,
mento, fato reconhecido igualmente em outras regiões da estas variações faciológicas obedeciam a certa ordem e
Amazônia Oriental como as regiões da Serra dos Carajás definiam zoneamento, reflexo da evolução complexa do
e do Baixo Tocantins (Serra do Trucará). Neste contexto manto ferro-aluminoso e, em termos mais gerais, das mu-
geotectônico se impôs intenso processo erosivo que mar- danças geológicas ocorridas, no tempo e no espaço, na
cou a passagem do Paleógeno para o Neógeno, a qual se região em apreço ao longo do Cenozóico. Levando-se
expressou pela formação em largos e profundos vales e em consideração as variações faciológicas na cobertura
individualização de extensas chapadas sustentadas pelas residual e para dar maior clareza à caracterização desta,
formações residuais ferro-aluminosas e o seu capeamen- a província bauxitífera foi dividida em dois domínios. O
to (Calaf 2000, Kotschoubey et al. 2005). No entanto, domínio meridional abrange as porções sul e central da
um clima sensivelmente mais úmido que o clima reconhe- província e estende-se entre a Serra do Gurupi e os arre-
cidamente seco, à escala global, do Oligoceno (Frakes dores de Paragominas, numa distância de aproximada-
1994), parece ter marcado a região amazônica no início mente 250 km. O domínio setentrional possui extensão
do Mioceno e levado à formação de crosta residual con- norte-sul de cerca de 80 km e se localiza entre
comitantemente com o desenvolvimento da superfície de Paragominas e o limite norte da província, (a) cerca de
erosão, interpretada como correspondente à Superfície 20 km a norte de Ipixuna. No entanto, a existência de
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
707
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
(a) (b)
Figura 16 Imagens de MEV do saprólito. (a) e (b) Saprólito essencialmente composto de cristais tabulares subédricos a
euédricos de caulinita.
sentando elevado grau de cristalinidade, pouco quartzo, re apenas parte desses sub-horizontes e a espessura total
traços de goethita e eventuais restos de mica degradada não ultrapassa 2 m. Na base, encontra-se um sub-hori-
(Figura 15b). A análise por MEV revelou que caulinita se zonte bem individualizado de até 1 m de espessura, cons-
apresenta em cristais tabulares subédricos a euédricos tituído por leitos de bauxita rosada a lilás, exibindo uma
de menos de 1µm a 4 µm de diâmetro, distribuídos desor- textura arenítica fina a grossa, e, comumente, uma lami-
denadamente, eventualmente intercrescidos ou forman- nação ou uma estratificação plano-paralela ou cruzada,
do pequenas sanfonas (Figura 16a e b). por vezes bem expressa (Figura 17a e b, e Figura 18a).
Localmente, sobretudo na parte meridional da região Normalmente, os leitos bauxíticos não ultrapassam,
em apreço, encontram-se, com freqüência, dispersas em individualmente, 15-20 cm de espessura e se degradam
espessura de vários metros, concreções bauxíticas centi- por fragmentação em blocos ou plaquetas (Figura 17a e
métricas, riziformes, por vezes ramificadas, em posição b). Raramente, este subhorizonte consiste em bauxita
subvertical e, mais raramente, massas bauxíticas subes- maciça não estruturada. A bauxita da base do perfil
féricas, geralmente ocas em sua parte central. Em am- compõe-se predominantemente de gibbsita meso- a
bos os casos, a bauxita apresenta textura fina e ocasio- macrocristalina, havendo igualmente gibbsita
nalmente vestígios de estruturação sedimentar, principal- microcristalina muito subordinada, sob a forma de
mente fina laminação. agregados disformes dispersos aleatoriamente na matriz
de granulação mais grossa. Gibbsita meso- e
Horizonte bauxítico inferior macrocristalina ocorre em cristais subédricos e exibe
maclamento polissintético típico e, por vezes, zoneamento
Este horizonte, cuja espessura pode atingir 5 m, com- concêntrico. Os cristais apresentam geralmente um
porta, nos perfis mais evoluidos, três subhorizontes. Nos arranjo em mosaico e contatos retos (Figura 19d e Figura
perfis menos desenvolvidos e de modo mais geral , ocor- 20b e d). O grau de cristalinidade da gibbsita é, via de
708
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
Figura17 Afloramentos do horizonte bauxítico inferior. (a) e (b). Bauxita estruturada da base do manto residual, próximo
do contato com o saprólito, perfis 17 e 24, respectivamente, ambos da zona 4. (c) Bauxita inferior maciça, perfil 26, zona 4. (d)
Bauxita inferior englobando porções da crosta ferruginosa, perfil 20, zona 4.
Figura 18 Amostras de mão da bauxita inferior. (a) Bauxita estruturada com textura arenítica da base do perfil. (b) e (c)
Bauxita maciça, levemente porosa. (d) Bauxita nodular englobando vestígios de crosta ferruginosa.
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
Figura 19 Fotomicrografias da bauxita inferior. (a) e (b) Matriz gibbsítica microcristalina com impregnação de oxi-
hidróxido de Fe e preenchimento de poros e fissuras por gibbsita mesocristalina. Nicóis x. (c) Abundantes fraturas preenchidas
por gibbsita mesocristalina em matriz gibbsítica fina rica em oxi-hidróxido de Fe. Nicóis x. (d) Mica degradada em matriz
gibbsítica meso a macrocristalina da base do horizonte bauxítico inferior. Nicóis x.
(a) (b)
Figura 20 Imagens de MEV da bauxita inferior. (a) Cristais de gibbsita mesocristalina preenchendo poros em matriz
gibbsítica microcristalina. (b) Agregado de cristais de gibbsita macrocristalina na base do horizonte bauxítico. (c) Mica
degradada na base do horizonte bauxítico inferior. (d) Cristais macrocristalinos exibindo estrutura foliada. (e) Grão de
quartzo corroído em matriz gibbsítica macrocristalina. (f) Detalhe do grão de quartzo da Figura E. Notar as feições de
corrosão.
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
Anatásio tem presença modesta. A matriz consiste feições extremamente irregulares, marcadas por depres-
fundamentalmente em caulinita de baixo grau de cristali- sões e ressaltos acentuados (Figura 22a). Em outros aflo-
nidade e contém quantidades fortemente subordinadas e ramentos o contato com o horizonte bauxítico ou o casca-
variáveis de oxi-hidróxidos de Fe e gibbsita. lho sobrejacente apresenta feições mais suaves, geral-
Acima do sub-horizonte nodular ocorre sub-horizonte mente onduladas, algo irregulares. A passagem brusca do
maciço de bauxita exibindo textura fina a média, menos horizonte ferruginoso ao material sobreposto e as formas
porosa e cavernosa que a bauxita nodular sotoposta dissecadas sugerem que, em algum momento da evolu-
(Figura 17c). Neste sub-horizonte não há mais vestígios ção do manto residual, a crosta ferruginosa original ficou
de estruturas sedimentares. De coloração predo- exposta e sofreu erosão.
minantemente rosada, esta bauxita exibe com freqüência O horizonte ferruginoso pode se apresentar na forma
estruturação grosseiramente colunar. Fragmentos de crosta maciça, porém, mais freqüentemente possui
arredondados a irregulares de crosta ferruginosa inclusos feições colunares (Figura 22b), cavernosas ou nodulares
na bauxita são ainda mais comuns que no sub-horizonte (Figura 22c). Exibe coloração marrom escura, por vezes
sotoposto. Observa-se, entretanto, um quadro diferente, algo arroxeada ou amarelada. Acentuada porosidade é
quando a bauxita não chega a constituir um horizonte também uma característica constante deste horizonte.
totalmente individualizado e preenche apenas cavidades Estão comumente presentes vênulas e cutãs amareladas
ou espaços internodulares em horizonte ferruginoso a avermelhadas.
parcialmente preservado (Figura 17d). Em qualquer um A fácies colunar caracteriza-se pela presença de tú-
destes casos a matriz gibbsítica permanece microcristalina bulos subverticais revestidos por córtex amarelado de hi-
e mostra íntima associação com oxi-hidróxidos de Fe. dróxido de Fe e preenchidos por argila, proveniente dos
Abundantes poros de dissolução e gretas de contração horizontes superiores do perfil por iluviação (Figura 22b).
do gel ferro-aluminoso original são preenchidos por A crosta cavernosa representa estágio de degradação
gibbsita meso a macrocristalina. Gibbsita exibe elevado intermediário, caracterizado por interligação ainda notá-
grau de cristalinidade, enquanto a caulinita, que ocorre vel dos nódulos em processo de individualização. O ma-
em quantidade pequena a incipiente mostra baixo grau de terial ferruginoso constitui arcabouço nas cavidades do
cristalinidade com todas as particularidades já assinaladas qual se acumulou argila. Nas áreas afetadas por bauxiti-
acima. Os oxi-hidróxidos de Fe são igualmente pouco zação, no entanto, as cavidades estão parcial ou total-
abundantes e exibem sempre baixo grau de cristalinidade mente preenchidas por bauxita rosada ou marrom clara
(Figura 21b). Como no resto do horizonte, anatásio de textura fina com agregados de gibbsita cristalina dis-
encontra-se em quantidades discretas. seminados. A matriz argilosa encontra-se em quanti-
dades variáveis preenchendo os espaços restantes. Na
Horizonte ferruginoso fácies nodular observa-se o mesmo quadro. O espaço
internodular pode ser preenchido por matriz argilosa ou
A espessura deste horizonte é muito variável à escala parcial a totalmente cimentado por bauxita. Em qualquer
tanto regional como local (Figura 22a). Nos perfis bauxí- uma dessas situações envolvendo bauxita e a crosta fer-
ticos normalmente desenvolvidos este horizonte possui ruginosa degradada, a crosta residual adquire feições pseu-
espessura da ordem de 1 m. No entanto, pode igualmente do-conglomeráticas ou pseudo-brechóides (Figura 23c e
predominar no perfil residual (Figura 22b) ou constituir a d). Normalmente, não se observam estruturas sedimen-
totalidade deste, alcançando até 5 m de espessura Em tares herdadas, por elas terem sofrido dissipação durante
outros setores, ele se reduz a uma modesta camada, às alteração e desagregação dos sedimentos parentais, an-
vezes descontínua, de espessura decimétrica a centimé- tes da formação da crosta ferruginosa.
trica. Enfim, nas situações extremas o horizonte pode Em alguns setores entretanto, a crosta ferruginosa
desaparecer completamente como tal, sendo representa- apresenta textura realmente brechóide. Nestes casos,
do apenas por escassos vestígios envoltos em matriz bau- fragmentos milimétricos a centimétricos, angulosos ou
xítica (Figura 22d). arredondados, de textura pelítica e baixa porosidade, exi-
A espessura deste horizonte sofre fortes variações à bindo freqüentemente discreta estratificação ou lamina-
escala local. Em diversas exposições da cobertura resi- ção, encontram-se envoltos em matriz altamente porosa,
dual, numa extensão de poucas dezenas de metros (p.ex. semelhante à da crosta comum descrita acima (Figura
nos perfil Serra do Gurupi, 6, 8, 9, 12, 13, entre outros), 23a). Os fragmentos de textura fina podem se destacar
observam-se mudanças drásticas de espessura. Enquan- por sua coloração avermelhada, porém na maioria dos
to o contato com o horizonte bauxítico sotoposto é nor- casos somente uma análise mais detalhada permite dis-
malmente subhorizontal e gradativo, o contato com o ho- tingui-los da matriz porosa. Acredita-se que a formação
rizonte sobreposto é muito brusco e mostra, comumente, da crosta de fácies brechóide iniciou-se com a fragmen-
712
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
(b)
Figura 22 Afloramentos do horizonte ferruginoso. A. Variação de espessura do horizonte ferruginoso, perfil 8, zona 2. B.
Crosta ferruginosa colunar, próximo do perfil 18, zona 4. C. Crosta ferruginosa nodular, perfil 12, zona 3. D. Vestígios
esqueletais de crosta ferruginosa englobados por bauxita porcelanada, maciça. Cascalheira na zona urbana de Paragominas,
perfil 31, zona 4.
tação de leitos pelíticos (argilitos ou siltitos) intercalados lado núcleos arredondados, sublinhados por córtex e, por
nos arenitos arcoseanos durante a desagregação dos se- outro, uma pseudomatriz de coloração levemente mais
dimentos parentais. Os fragmentos mais coesos e mais escura. Localmente, porções friáveis, pulverulentas, exi-
resistentes à degradação que os sedimentos psamíticos bindo acentuada coloração amarela, indicam locais de
ficaram imersos na matriz arenosa resultante da altera- extrema hidratação.
çãoção desses últimos. A posterior evolução da crosta Na crosta colunar observa-se, localmente, das partes
ferruginosa levou a ferruginização e litificação do con- mais internas das colunas para os túbulos, evolução cen-
junto. A fácies brechóide desenvolveu-se portanto ape- trífuga da fácies maciça para fácies pisolítica, com pro-
nas nas áreas onde os leitos pelíticos eram suficiente- gressiva individualização de pequenos corpos subesféri-
mente expressivas para permitir a preservação de frag- cos ferruginosos, de textura fina, geralmente com delga-
mentos de textura fina e baixa porosidade num meio for- do córtex goethítico. Fracamente interligados na interfa-
mado predominantemente por produtos arenosos. ce com as cavidades tubulares, os pisólitos acabam se
Internamente, a crosta ferruginosa pode igualmente soltando e se misturando com a argila. Neste meio, no
exibir feições pseudo-conglomeráticas resultando da in- entanto, a relativa estagnação das soluções e o conse-
dividualização de proto-pisólitos bem definidos, ovalados qüente rebaixamento do Eh, levam a progressiva desfer-
a sub-esféricos, margeados por córtex amarelado, geral- rificação e rápida degradação desses pisólitos.
mente delgado porém, ocasionalmente, espesso e zona- O horizonte ferruginoso é constituido por plasma crip-
do. (Figura 23b). Tais feições são atribuídas a intensa mi- tocristalino ferro-caulinítico, distinguindo-se, localmente,
gração de soluções e a concrecionamentos internos na franjas por vezes zonadas de goethita micro a mesocris-
crosta ferruginosa muito permeável, dois meios tendo-se talina preenchendo fissuras e revestindo pequenas cavi-
diferenciado a partir do mesmo material original: por um dades. Sua notável porosidade é resultado da distribuição
713
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
Figura 23 Amostras de mão do horizonte ferruginoso. (a) Crosta ferruginosa: fragmentos pelíticos (avermelhados) em matriz
porosa de coloração castanha. (b) Crosta ferruginosa de textura pisolítica com abundantes córtex e cutãs goethíticos e
túbulos preenchidos por argila rosada. (c) e (d) Crosta ferruginosa degradada com cavidades preenchidas por bauxita clara,
porosa.
Figura 24 Fotomicrografias do horizonte ferruginoso. (a) e (b) Textura celular: os poros de dissolução são peenchidos por
gibbsita mesocristalina exibindo maclamento polissintético. A. Nicóis //, B. Nicóis x. (c) e (d) Contatos da crosta ferruginosa
porosa com matriz bauxítica cripto a microcristalina. Nicóis //.
714
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
bastante regular de inúmeros poros de dissolução de grãos poros de diversos tipos) são freqüentemente preenchidas
de quartzo originalmente aprisionados na matriz argilo- por um plasma gibbsítico, cripto ou microcristalino, pro-
ferruginosa durante a formação da crosta (Figura 24a, b, duto da bauxitização posterior (Figura 24c e d).
c e d, e Figura 25a). Ocasionalmente, pode ser observada Qualquer que seja a estruturação interna da crosta,
textura esponjosa com predominância dos vazios sobre a sua matriz compõe-se essencialmente de goethita e he-
malha ferruginosa (Figura 24a e b). Em tais casos a den- matita, esta última sendo, com freqüência, amplamente
sidade do material ferruginoso torna-se surpreendente- dominante (Figura 26a). Em imagens de MEV estes mi-
mente baixa. Os poros, arredondados a angulosos, con- nerais revelam formas cristalinas variadas, disciformes
têm, por vezes, vestígios de grãos de quartzo fraturados e intercrescidas, tabulares, vermiformes, aciculares em fei-
corroídos, parcialmente substituídos por gibbsita meso ou xes ou leques, em rosetas, etc...(Figura 25c e d). Goethi-
macrocristalina maclada. Pode igualmente haver preen- ta apresenta grau de cristalinidade mediano e substitui-
chimento parcial dos poros por gibbsita, na forma de del- ção de FeOOH por AlOOH entre 10 e 15%, enquanto a
gada franja revestindo a superfície dessas pequenas ca- hematita se mostra melhor cristalizada que o hidróxido.
vidades. Eventualmente, gibbsita preenche totalmente os Acredita-se que ocorre igualmente alguma substituição
poros, o que chega a conferir composição altamente alu- de Fe2O3 por Al2O3 na hematita, porém o grau de substi-
minosa à crosta aparentemente ferruginosa (Figura 24b). tuição não pôde ser avaliado pelo método usado. Embora
Nos córtex goethíticos desenvolvidos nas zonas de mais existam cutãs e vênulas hematíticas, a maioria delas e os
intenso concrecionamento os poros são geralmente de- córtex são goethíticos (Figura 25b). As zonas amarelas
formados, achatados e em parte colmatados por oxi-hi- pulverulentas são, por sua vez, exclusivamente compos-
dróxidos de ferro. Embora menos acentuadas, as mes- tas de goethita. A goethita formando as cutãs, os córtex e
mas transformações ocorrem nos protopisólitos. Nos lo- essas zonas amarelas friáveis, apresenta grau de cristali-
cais onde a crosta ferruginosa sofreu maior degradação nidade mais baixo que o da goethita que compõe a matriz
e fragmentação química as cavidades (fissuras, fraturas, e substituição de FeOOH por AlOOH igual ou superior a
Figura 25 Imagens de MEV do horizonte ferruginoso. (a) Textura porosa devida a abundantes cavidades de dissolução. (b)
Córtex goethítico em matriz ferruginosa porosa. (c) Matriz ferruginosa composta de cristais tabulares intercrescidos de
goethita. (d) Agregados hematíticos em rosetas revestindo cavidade.
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
As concreções bauxíticas têm até 10 cm de compri- de textura fina, ricos em hematita (Figura 28a e b). As
mento, raramente mais, e possuem forma irregular alon- diversas inclusões mostram grau variável de assimilação
gada, exibindo por vezes feições escoriáceas. Seu tama- pela bauxita hospedeira e, em direção ao topo, perdem
nho e abundância diminuem em direção ao topo. A bauxi- progressivamente seu caráter original. O contato entre
ta superior possui textura fina, é bastante porosa e apre- as inclusões ferruginosas e a matriz bauxítica torna-se
senta coloração amarronzada clara a bege rosada. No difuso a medida que os oxi-hidróxidos de Fe são removi-
topo do horizonte a bauxita adquire aspecto porcelanado. dos e substituídos por gibbsita. Chega-se, finalmente, ao
Concrecionada ou maciça, ela hospeda, com freqüência, desaparecimento quase total das inclusões ferruginosas e
fragmentos reliquiares de crosta ferruginosa porosa e, à homogeneização da bauxita. Apenas pequenas man-
mais acima no horizonte, grânulos e pisólitos ferruginosos chas avermelhadas ou rosadas, dispersas na matriz bau-
Figura 27 Afloramentos do horizonte bauxítico superior. (a) Contato da bauxita superior com o horizonte ferruginoso, perfil
8, zona 2. (b) Concreções bauxíticas do topo do perfil 30, zona 4.
Figura 28 Amostras de mão do horizonte bauxítico superior. (a) Matriz bauxítica de textura fina, porosa, envolvendo
pisólitos ferruginosos. (b) Fragmentos da crosta ferruginosa englobados por bauxita rosada, porosa. (c) e (d) Concreções
bauxíticas porcelanadas do topo, contendo vestígios de pisólitos gibbsitizados.
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
xítica clara, marcam os locais de algumas dessas inclu- de contração, bem como fissuras estão preenchidos por
sões. (Figura 28c e d). gibbsita meso a macrocristalina em cristais euédricos, que,
As concreções comportam matriz microcristalina a eventualmente, pode chegar a predominar na rocha (Fi-
criptocristalina essencialmente gibbsítica, à qual estão gura 30a, b e d). Nas concentrações de gibbsita de gra-
associadas discretas impregnações de oxi-hidóxidos de nulação grossa foram detectados pequenos agregados
Fe criptocristalinos e de baixo grau de cristalinidade (Fi- ferro-titaníferos, provavelmente óxidos gerados por alte-
gura 29a). Neste cristaliplasma, inúmeros poros e gretas ração de ilmenita ou titano-magnetita (Figura 30c). Os
Figura 29 Fotomicrografia do horizonte bauxítico superior. A. Matriz gibbsítica criptocristalina rica em ferro, com fissuras
encurvadas (gretas de contração?) e poros preenchidos por gibbsita mesocristalina. Nicóis //. B. Pisólito ferruginoso
parcialmente digerido por matriz gibbsítica cripto a microcristalina contendo inúmeros filonetes de gibbsita mesocristalina.
Figura 30 Imagens de MEV do horizonte bauxítico superior. a e b. Cristais de gibbsita meso a macrocristalina preenchendo
poros e fissuras em matriz gibbsítica cripto a microcristalina. C. Agregado ferro-titanífero associado a cristais euédricos de
gibbsita meso a macrocristalina. D. Matriz gibbsítica mesocristalina com agregados disformes de oxi-hidróxidos de Fe
subordinados.
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
grânulos e pisólitos ferruginosos se transformam em bau- te ou ser de pouca expressão, quando a parte superior do
xita por meio do desenvolvimento de ínfimas vênulas gi- perfil residual consiste em cascalho ou nódulos ferrugi-
bbsíticas, que os invadem progressivamente (Figura 29b). nosos com pouca matriz argilosa.
Gibbsita apresenta sempre elevado grau de cristalini-
dade, enquanto caulinita é fortemente subordinada e de Cascalho superior
muito baixo grau de cristalinidade, fato que se traduz pela
presença, nos difratogramas, de picos principais (001 e Este horizonte superior do manto residual possui uma
002) largos e curtos (Figura 31a). No entanto, como na espessura de 20-30 cm até 1,5 m, apresenta passagem
bauxita inferior e no horizonte ferruginoso, picos melhor gradativa para o horizonte bauxítico sotoposto e um con-
definidos e mais estreitos estão comumente associados tato sempre brusco com o capeamento argiloso (Figura
aos primeiros. Anatásio ocorre em traços. A matriz argi- 32a). Discreta seleção gradativa é observa em certas ex-
losa é semelhante composicionalmente à do horizonte posições, havendo na base do horizonte cascalho de gra-
sotoposto, porém sempre contém gibbsita em proporções nulometria mais grossa e, no topo material mais fino, com-
bastante elevadas (Figura 31b). posto em sua maior parte por pisólitos de comprimento
A existência deste horizonte e sua espessura parecem inferior a 2 cm. Em alguns locais, percebe-se discreta
depender, por um lado, do grau de bauxitização do perfil estratificação, devida à alternância de leitos de granulo-
como um todo, e por outro, da presença, sobre a crosta metrias diferentes pobremente definidos.
ferruginosa, de depósitos argilosos pretéritos, cujos res- Este horizonte compõe-se de grânulos e pisólitos fer-
tos constituem hoje a matriz das concreções. Assim, o ruginosos de até 4 cm de comprimento, associados ou
horizonte bauxítico superior, formado por concreções imer- não a quantidade variável de bauxita fina de aspecto por-
sas em matriz argilosa relativamente abundante, pode ter celanado (Figura 33a). Embora os grânulos maiores exi-
espessura considerável em setores onde o horizonte bau- bam geralmente forma algo irregular, os menores (< 2
xítico inferior é, ao contrário, pouco espesso, enquanto cm) são normalmente subesféricos a ovalados, por vezes
que nos perfis que comportam horizonte bauxítico inferi- fusiformes, sendo referidos neste trabalho como pisóli-
or bem desenvolvido a bauxita superior pode estar ausen- tos. Em toda a espessura do horizonte os pisólitos encon-
Figura 31 Difratogramas do horizonte bauxítico superior. A. Concreção bauxítica, perfil 8, zona 2. B. Matriz argilosa
envolvendo concreções bauxíticas, perfil 7, zona 2.
Figura 32 Afloramentos de cascalho superior. A. Cascalho superior em contato brusco com o capeamento argiloso, perfil 20,
zona 4. B. Pisólitos ferruginosos densamente empacotados, parcialmente bauxitizados, perfil 29, zona 4.
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
tram-se densamente empacotados e a matriz argilosa é (Figura 35b). Nos setores onde a bauxitização teve efei-
pouco abundante (Figura 32b). Estes pisólitos não possu- tos fracos os pisólitos contêm muita caulinita, hematita e
em córtex e sua superfície tem normalmente coloração goethita bastante abundante revelando um alto grau de
arroxeada-azulada escura e brilho semelhante ao do ver- substituição de FeOOH por AlOOH. Nos córtex e cutãs
niz do deserto. goethita exibe hábitos variados (Figura 35c e d). Junto
Internamente, os pisólitos apresentam textura fina, com os pisólitos encontram-se igualmente grânulos de
notável dureza e coloração vermelha arroxeada a verme- material essencialmente goethítico e altamente porosos.
lho tijolo, distinta da coloração predominantemente amar- Embora consista principalmente em pisólitos
ronzada escura da crosta sotoposta. A porosidade é baixa ferruginosos, este horizonte mostra com freqüência certo
em relação à da crosta ferruginosa e raramente pode ser grau de bauxitização. Esta se expressa pela presença de
percebida a olho desarmado. Junto com estes pisólitos de bauxita concrecionada, de textura fina e aspecto
textura fina, ocorrem porém, em quantidades subordina- porcelanado, que cimenta e substitui os pisólitos (Figura
das, grânulos argilosos, friáveis de coloração arroxeada, 33b). A cimentação se traduz pela presença de leitos sub-
fragmentos arredondados de crosta ferruginosa porosa e horizontais irregulares e descontínuos, e bolsões difusos
pisólitos desferrificados, de aspecto porcelanado. Ao mi- de bauxita porcelanada, altamente cavernosa e escoriácea,
croscópio óptico, a matriz dos pisólitos é opaca devido ao de coloração creme, que envolve os pisólitos. As cavidades
seu elevado conteúdo de oxi-hidróxidos de Fe e a porosi- restantes são preenchidas por argila avermelhada. Com
dade varia de elevada a praticamente nula (Figura 34A e a intensificação do processo de assimilação, o cimento
c). Em MEV, parte dos pisólitos revela notável porosida- gibbsítico torna-se mais abundante e engloba totalmente
de (Figura 35a). Contudo, na maioria dos casos a matriz os pisólitos, substituindo-os em grau variável. Este
é densa e apresenta apenas microporosidade discreta. processo é causado pela progressiva desferrificação dos
A mesóstase dos pisólitos compõe-se de hematita, pisólitos e pelo preenchimento por gibbsita cripto a
goethita, caulinita e gibbsita em proporções variadas. microcristalina de gretas, fissuras e microfraturas. No
Hematita e gibbsita são bem cristalizadas, enquanto goe- estágio intermediário os pisólitos são reduzidos a pequenos
thita e caulinita apresentam grau de cristalinidade nitida- núcleos avermelhados ou amarronzados dispersos na
mente mais baixo (Figura 36a e b). Estes minerais ocor- bauxita clara. No estágio final ocorre sua total assimilação
rem em proporções variadas. O grau de substituição de pela matriz gibbsítica e seu desaparecimento. A cimentação
FeOOH por AlOOH em goethita alcança 20%, e a he- e substituição, embora intensas, podem se limitar ao topo
matita contém igualmente Al em quantidades subordina- do horizonte pisolítico. Observa-se, nestes casos, franja de
das. Nos setores onde a bauxitização foi significativa, gi- coloração clara, de 10 a 25 cm de espessura, raramente
bbsita e hematita predominam. O hidróxido de Al ocorre mais, marcando o topo do manto residual e o contato com
em pequenos cristais euédricos a subédricos de gibbsita, o capeamento argiloso. Esta franja apresenta uma coesão
enquanto hematita, geralmente subordinada, apresenta- e litificação notáveis e é composta de pisólitos densamente
se com hábito fibroso ou acicular em leques irregulares empacotados com pouquíssima matriz argilosa. Os pisólitos
Figura 33 Amostras de mão de cascalho superior. A. Pisólitos ferruginosos e pequenas concreções de bauxita porcelanada
de tipo pipoca altamente desferrificada. B. Concreções de bauxita porcelanada contendo vestígios fortemente gibbsitizados
de pisólitos ferruginosos.
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
Figura 34 Fotomicrografias de pisólitos e de bauxita porcelanada. (a) Resquícios de pisólitos ferruginosos bastante
porosos, imersos em plasma gibbsítico criptocristalino exibindo textura coloforme. Nicóis //. (b) Bauxita porcelanada de tipo
pipoca: plasma gibbsítico criptocristalino, mostrando texturas coloforme e fluidal. Nicóis //. (c) Contato entre pisólito
ferruginoso e a matriz gibbsítica microcristalina exibindo textura coloforme, com inúmeras gretas de contração encurvadas
preenchidas por gibbsita mesocristalina límpida. Nicóis. (d) Bauxita porcelanada: mesóstase ferro-gibbsítica criptocristalina
exibindo textura vermicular devida à presença de fissuras retas e encurvadas, por vezes circulares, preenchidas por gibbsita
mesocristalina. Nicóis x.
Figura 35 Imagens de MEV de pisólitos ferruginosos. A. Matriz ferro-aluminosa, microporosa, contendo numerosos moldes
negativos de grãos de quartzo dissolvidos. B. Matriz ferro-aluminosa fina, composta essencialmente de cristais euédricos a
subédricos de gibbsita e cristais fibrosos/aciculares (?) de hematita dispostos em leques. C. Córtex zonado exibindo várias
fácies de goethita: botroidal, tabular com intercrescimento dos cristais, fibrosa. D. Revestimento de cavidade composto de
diminutos cristais tabulares, discóides, de goethita.
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
não possuem córtex, são quase inteiramente constituídos caulinita, gibbsita subordinada, goethita dominante em
por bauxita porcelanada e contém, comumente, pequeno relação a hematita e traços de anatásio (Figura 36d).
núcleo mais ferruginoso.
A matriz da bauxita porcelanada consiste em plasma Capeamento argiloso
criptocristalino homogêneo, mais raramente em cristali-
plasma microcristalino, essencialmente gibbsítico, que O capeamento argiloso é parte integrante da seqüên-
contém quantidades muito subordinadas de oxi-hidróxi- cia laterítica-sedimentar em toda a porção meridional da
dos de Fe igualmente criptocristalinos (Figura 34a, b, c e Província Bauxitífera de Paragominas. Com espessura
d). Finas fissuras formando malha irregular e gretas de média da ordem de 10 m desde a Serra do Gurupi até
contração encurvadas ou circulares preenchidas por gi- próximo de Paragominas, o capeamento pode alcançar
bbsita micro a mesocristalina límpida são relativamente mais de 15 m como ser reduzido a poucos metros ou sim-
comuns (Figura 34a, c e d). A textura muito fina e a notá- plesmente não existir mais (Figura 38a). De coloração
vel homogeneidade da matriz da bauxita porcelanada são vermelha tijolo passando para amarelada ocre na sua parte
confirmadas pela MEV (Figura 37a). As variações na superior, o capeamento apresenta características de la-
distribuição dos oxi-hidróxidos de Fe sublinham estrutu- tossolo argiloso e possui consistência terrosa e alta poro-
ras colomorfas e textura fluidal típicas de produtos deri- sidade (Figura 38b).
vados de colóides (Figura 34b). Raros pequenos poros de A matriz é muito homogênea e constituída por cristais
dissolução e fissuras encontram-se preenchidos por gibb- cujo tamanho não ultrapassa 500 ηm (Figura 39a). Estes
sita mesocristalina (Figura 37b). Apesar do ínfimo tama- cristais estão agrupados em microagregados que confe-
nho dos seus cristais, gibbsita mostra elevado grau de rem ao horizonte marcante porosidade e elevada perme-
cristalinidade (Figura 36c). A matriz argilosa associada abilidade (Figura 39b). Trata-se essencialmente de cauli-
ao cascalho ferro-aluminoso possui consistência terrosa nita e os oxi-hidróxidos de Fe, sobretudo goethita que
e coloração vermelha tijolo. Compõe-se, sobretudo de ocorre em quantidades subordinadas. Todos os minerais
Figura 36 Difratogramas do cascalho superior. (a) Pisólito ferruginoso caulinítico, perfil 4, zona 2. (b) Pisólito ferruginoso
rico em gibbsita, perfil 14, zona 4. (c) Bauxita porcelanada de tipo pipoca, mesmo local que a amostra anterior. (d) Matriz
argilosa envolvendo a bauxita de tipo pipoca, perfil 8, zona 2.
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
Figura 37 Imagens de MEV da bauxita porcelanada do topo do perfil. (a) Matriz gibbsítica fina, homogênea, com poro
preenchido por cristais euédricos, intercrescidos de gibbsita mesocristalina. (b) Detalhe da imagem anterior focalizando
gibbsita preenchendo o poro.
Figura 38 Afloramentos do capeamento argiloso. (a) Exposição em corte de estrada, na rodovia BR 010, 10 km a norte de
Dom Eliseu (perfil 6, zona 2). Notar o contato brusco e algo ondulado da crosta ferro-aluminosa com o capeamento. (b)
Detalhe do afloramento localizado na rodovia BR 010, 8 km a norte de Dom Eliseu (perfil 5, zona 2). Notar o aspecto de
latossolo amarelo da matriz argilosa e a diminuta stone-line de pisólitos ferruginosos.
Figura 39 Imagens de MEV do capeamento argiloso. (a) Matriz caulinítica muito fina e homogênea. O tamanho dos cristais
de caulinita não ultrapassa algumas centenas de ηm. (b) Microagregados de caulinita conferindo extrema porosidade ao
capeamento.
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
apresentam baixo grau de cristalinidade da base ao topo dondados (<2 cm de comprimento) de crosta ferruginosa,
do horizonte (Figura 40a e b.). No entanto, traços de gi- de bauxita porcelanada, pisólitos e, mais raramente, de
bbsita bem cristalizada foram detectados em muitos bauxita cristalina. Exceto em raros locais, estes grânulos
perfis (Figura 40b). Restos corroídos e angulosos de grãos são pouco abundantes na base do horizonte e desapare-
de quartzo podem alcançar 7-8% em peso do total, po- cem progressivamente em direção ao topo do perfil. En-
rém permanecem geralmente na faixa de 2 a 5%. Foram fim, fragmentos de argila amarelada de até 10 cm de com-
igualmente identificados minerais pesados transparentes primento, normalmente arredondados, exibindo textura
entre os quais se destacam a turmalina predominante, zir- muito fina, fratura conchoidal e porosidade praticamente
cão, rutilo, estaurolita, cianita e epidoto (Anexo 1). Plota- nula, e contendo diminutos grãos ferruginosos ou de quart-
das nos diagramas ternários Zircão-Turmalina-Estauroli- zo, encontram-se dispersos no capeamento argiloso, mais
ta e Rutilo-Estaurolita-Cianita, 19 amostras do capeamen- freqüentemente próximo à base do pacote (Figura 41).
to e 14 amostras do saprólito mostraram distribuições se- No contato com a crosta laterítica/bauxítica subjacen-
melhantes apesar de forte dispersão, o que poderia indi- te, colunas verticais, fragmentadas de até 30 cm de com-
car origem comum (Figura 43). No entanto, tratando-se primento de argila densa, separadas por canalículos pre-
de minerais ultra-estáveis a muito estáveis, tal interpreta- enchidos por argila terrosa podem ser observadas local-
ção deve ser considerada com reserva. mente. Nem a composição mineralógica, nem o grau de
Na porção inferior do capeamento encontram-se dis- cristalinidade dos minerais constituintes dos diversos pro-
seminados na matriz argilosa pequenos fragmentos arre- dutos argilosos (desde os densos, litificados e de porosi-
(a) (b)
Figura 40 Difratogramas do capeamento argiloso. (a) Capeamento pobre em gibbsita e quartzo, perfil 6, zona 2. (b)
Capeamento rico em gibbsita e quartzo, perfil 7, zona 2.
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
Zoneamento regional
quartzo se dissolver com o tempo nestas condições, acre-
dita-se que os vestígios argilosos representam apenas parte No domínio meridional as variações faciológicas são
dos sedimentos originais, a maior parte tendo sido prova- acentuadas e obedecem a zoneamento regional. Assim,
velmente areno-argilosa ou argilo-arenosa. Eficiente ho- foi possível distinguir 4 zonas principais orientadas se-
mogeneização causada pela ação da biota teria levado à gundo a direção geral ENE-WSW (Figura 44). No entan-
formação do pacote argiloso extremamente homogêneo to esta subdivisão em 4 zonas deve ser considerada como
citado tradicionalmente como Argila de Belterra (Som- muito geral e com certa cautela, pois, dentro de cada zona,
broek 1966). A presença de gibbsita no capeamento indi- as variações podem ser marcantes e num mesmo platô
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
nesta última, a porção basal e o topo apresentam feições mais possante. Em geral, muito mais delgado que na zona
nodulares. Ocasionalmente, indícios de bauxitização po- 1, este horizonte é predominantemente nodular, sendo
dem ser observados, seja na parte superior nodular, seja as feições colunares apenas ocasionais. É muitas ve-
na base, também nodular, da crosta ferruginosa. Entre- zes recoberto por leito delgado (até 25 cm) e bastante
tanto, não existe ainda horizonte aluminoso claramente regular de pisólitos ferruginosos. Ocorrem, entretanto,
individualizado. Normalmente, uma quantidade discreta locais onde a crosta ferruginosa preserva ainda sua es-
de gibbsita sacaroidal envolve nódulos ferruginosos e subs- pessura métrica embora mostre-se altamente degrada-
titui parcialmente a matriz argilosa internodular. De modo da e cavernosa. Nestes casos a bauxita inferior não cons-
mais geral, esta gibbsita sacaroidal forma, com freqüên- titui horizonte claramente individualizado e preenche par-
cia, leitos descontínuos ou bolsões fracamente definidos cialmente as cavidades do horizonte ferruginoso, confe-
no topo do saprólito. Para norte um horizonte bauxítico se rindo-lhe composição mista ferro-aluminosa e caráter
individualiza progressivamente na porção basal do perfil. pseudo-conglomerático.
Este horizonte consiste, via de regra, em concreções, Sobre o horizonte ferruginoso ou ferro-aluminoso, em
embora, localmente, na parte mais setentrional da zona, contato brusco e ondulado, repousa horizonte de até 2 m
possa ser observada uma laje de bauxita maciça, de de espessura apresentando composição e estruturação
espessura decimétrica. As concreções bauxíticas são ir- variadas. Pode tratar-se de cascalho ferruginoso homo-
regulares e o seu tamanho aumenta da base do perfil para gêneo ou exibindo discreta seleção gradativa, envolvido
cima. No topo do horizonte bauxítico inferior observam- parcialmente por bauxita rosada de textura fina, ou pode
se ocasionalmente inclusões milimétricas a centimétricas consistir essencialmente em concreções bauxíticas imer-
de crosta ferruginosa. O horizonte ferruginoso sobrepos- sas em matriz argilosa mais ou menos abundante. No topo
to diminui na medida que o horizonte bauxítico se torna do perfil distingue-se cascalho composto de grânulos e
Figura 46 Afloramento do perfil Serra do Gurupi. Rodovia BR 010, 6 km a sul de Açailândia (MA), zona 1. (a) Exposição da
parte superior da crosta ferruginosa e do seu contato com o capeamento argiloso. (b) Detalhe da imagem anterior. Vista do
horizonte pisolítico no topo do manto residual ferruginoso e do seu contato com o capeamento.
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Generalidades
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Figura 56 Imagem SRTM em 3D do platô Gurupi Norte com localização dos furos descritos.
particular pelo perfil 32, de caráter misto, situado no km Bem representada ao longo da rodovia Belém-Brasí-
16 da rodovia PA 256 que liga a rodovia BR 010 (Belém- lia, nos perfis Ipixuna I, Ipixuna III e Ipixuna IV entre
Brasília), próximo de Paragominas, a Tomé Açu. Entre outros (Figura 59; Anexo 10), a presença deste tipo de
as características específicas da cobertura no domínio cobertura já foi assinalada, em trabalhos anteriores, nos
setentrional, ressaltam 1) a ausência de estratificação bem platôs Jabuti, a leste de Ipixuna (Kotschoubey et al. 1984,
expressa no manto residual 2) a presença de lateríta 1989, 1997). Acima do horizonte saprolítico argiloso não
aluminosa de textura extremamente fina, porém não estruturado, de coloração rosada pálida com manchas es-
porcelanada, de coloração preferencialmente arroxeada, branquiçadas de desferrificação, ocorre crosta laterítica
lilás ou esbranquiçada, 3) a onipresença de estruturas aluminosa de espessura métrica. A parte inferior desta
esqueletais colunares ou malhadas, resultantes da crosta é friável e fortemente desferrificada. Compõe-se
segregação de Fe no decorrer da degradação da couraça essencialmente de caulinita mal cristalizada, alguma gi-
4) a freqüente presença de vestígios de cobertura bbsita e quantidades muito subordinadas de oxi-hidróxi-
laterítica/bauxítica pretérita, englobados pela laterita dos de Fe. Zonas reliquiares de segregação de Fe, aver-
aluminosa. Neste contexto geral, existe grande diversidade melhadas e alongadas verticalmente, conferem aspecto
de situações quanto à natureza e ao grau de preservação manchado a esta porção do manto residual (Figura 60).
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
Para cima o padrão manchado passa progressivamente mostra regularidade notável lembrando estrutura celular
para estruturação colunar mais consistente e regular, sus- e é ressaltado pela coloração rosada, lilás ou branca da
tentada por sistema de paredes esqueletais litificadas, ri- parte interna das colunas. (Figura 63)
cas em goethita e hematita, resultante da migração cen- Os espaços intercolunares individualizam-se progres-
trífuga e segregação de Fe, e da quase completa remo- sivamente para cima, adquirindo forma tubular com se-
ção deste elemento no resto da crosta, que se apresenta ção grosseiramente triangular. Geralmente estão preen-
(hoje) como matriz clara, porosa e friável (Figura 61). chidos por argila bege proveniente da iluviação de produ-
Nos afloramentos, o arcabouço esqueletal se destaca ni- tos mais superficiais (capeamento?). As superfícies in-
tidamente, pois a matriz desferrificada, menos resistente terna e externa das paredes ferruginosas de segregação
à ação das águas superficiais, é facilmente removida (nas são revestidas por filme goethítico exibindo brilho ceroso.
exposições). Em geral, o conjunto apresenta aspecto Na porção superior do horizonte as colunas bauxíti-
malhado bastante regular e bem expresso (Figura 62). cas são melhor preservadas, porém apresentam a mes-
Em planta, este sistema malhado/colunar ferruginoso ma composição e textura que as partes inferiores.
733
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
ta-se das pequenas inclusões de bauxita porcelanada, que, de Fe. Delgado nível de nódulos ferruginosos pode ocasi-
mais resistentes à degradação que a matriz bauxítica fina, onalmente se sobrepor à bauxita nodular, porém, comu-
são ressaltadas nas bordas das cavidades (Figura 69b). mente, os vestígios de horizonte ferruginoso estão ausen-
tes. O topo do perfil é constituído por pisólitos de bauxita
Exemplo 2 porcelanada fortemente desferrificada, densamente em-
pacotados, quase sem matriz. Os pisólitos exibem geral-
Este caso corresponde a grau mais elevado de degra- mente zoneamento difuso, sublinhado por zona periférica
dação e desmantelamento de crosta pretérita, cujos ves- bege ou esbranquiçada e um núcleo mais ferruginoso,
tígios estão englobados em crosta laterítica aluminosa su- amarronzado ou arroxeado, sendo freqüente a distribui-
perimposta, como no caso anterior. É bem representado ção dos oxi-hidróxidos de Fe na forma de microzonas con-
nos perfis Ipixuna III, Ipixuna V e Ipixuna VI (Figura 59; cêntricas (anéis de Liesegang).
Anexo 10). O saprólito é essencialmente caulinítico, cla-
ro, com manchas esbranquiçadas de desferrificação so- Exemplo 3
breposto por horizonte aluminoso malhado de até 2,5 m
de espessura apresentando, em direção ao topo, enrique- Este tipo de manto residual caracteriza-se pela ausên-
cimento progressivo em gibbsita e melhor definição da cia de qualquer sinal reconhecível de cobertura laterítica/
estrutura colunar. Acima do horizonte malhado/colunar bauxítica pretérita, sendo observado somente o sistema
ocorre horizonte bauxítico nodular, de até 1 m de espes- malhado característico da porção inferior da cobertura
sura, pobremente definido devido a superimposição do laterítica (perfis Ipixuna II, km 1700, km 1705, Ipixuna
sistema malhado. Os nódulos de bauxita apresentam co- VII, km 1710) (Figura 59 e 70; Anexo 10).
loração creme a rosada pálida com parte interna algo mais No topo da crosta encontram-se raramente fragmen-
rica em ferro, avermelhada ou amarronzada clara, textu- tos do arcabouço esqueletal rico em ferro contendo pe-
ra fina e aspecto porcelanado. Este horizonte comporta quenas inclusões de bauxita porcelanada, testemunhos de
pouca matriz friável, clara. Compõe-se de gibbsita bem depósitos coluviais ou de pavimentos formados por cas-
cristalizada e apenas traços de caulinita e oxi-hidróxidos calho ou pisólitos ricos em gibbsita e resultantes da de-
(a) (b)
(c) (d)
Figura 66 Difratogramas de bauxita do domínio setentrional (zona 5). (a) Crosta ferruginosa reliquiar, vestígio de manto
residual pretérito. (b) Bauxita caulinítica fortemente desferrificada da parte inferior do perfil . (c) Bauxita colunar da parte
superior do perfil. (d) Capeamento argiloso rico em gibbsita.
736
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
gradação, fragmentação química e eventual retrabalha- Em toda a extensão do domínio setentrional, em parti-
mento físico de cobertura bauxítica pretérita. Este tercei- cular nos setores livres por erosão ou por ausência des-
ro caso de figura é considerado como representativo dos de o início de vestígios lateríticos/bauxíticos e apresen-
efeitos diretos da lateritização tardia sobre as rochas da tanto apenas o padrão malhado característico da região,
Formação Ipixuna. observa-se, no topo do perfil residual, acentuada desfer-
Figura 67 Afloramentos da cobertura bauxítica da zona 5. (a) Parte superior do perfil Ipixuna IV situado na rodovia BR 010,
8 Km a norte da entrada para Paragominas. (b) Detalhe do mesmo perfil.
Figura 68 Fotomicrografias de bauxita colunar superior da zona 5. (a) Pisólitos ferruginosos altamente corroídos e
parcialmente digeridos pela matriz aluminosa desferrificada. Notar o zoneamento interno devido à redistribuição de Fe.
Nicóis // (b) Pisólitos bauxíticos de bordas corroídas em matriz criptocristalina ferro-aluminosa. Notar o zoneamento resultante
da eliminação parcial e redistribuição de Fe (aneis de Liesegang). Nicóis //
Figura 69 Parte superior do manto residual, perfil Ipixuna II, zona 5. (a) Bauxita colunar do topo do perfil com pequenas
manchas claras de bauxita porcelanada. (b) Manchas de bauxita porcelanada destacadas na superfície de um fragmento de
bauxita do topo do perfil.
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
Capeamento argiloso
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
definir as quantidades relativas de goethita e hematita nos e do capeamento deva ser avaliada com cuidado devido à
produtos residuais. Admitindo-se que na caulinita a razão coexistência de gibbsita e quartzo nestes horizontes, pode-
SiO2/Al2O3 é igual a 1,154, pode-se estimar, em linhas se observar que ambos são essencialmente cauliníticos
gerais a composição mineralógica média dos diferentes (média de cerca de 80% ou pouco mais de caulinita) e
horizontes. A rocha matriz alterada caracteriza-se por contêm quantidade estimada em 4 a 7% de gibbsita. O
conteúdo elevado de quartzo (média de 51%) e caulinita saprólito é levemente mais rico em oxi-hidróxidos de Fe
(46%), sendo os oxi-hidróxidos de Fe fracamente (média de aproximadamente 10%) que o capeamento
representados (< 2%). No horizonte aluminoso inferior (8%). Cabe acrescentar que a distribuição dos minerais
gibbsita predomina fortemente (cerca de 64% na bauxita de Fe é muito mais irregular no saprólito que no
nodular e 72% na bauxita maciça), enquanto caulinita (23 capeamento, que se distingue por notável homogeneidade
e 15%, nos respectivos horizontes) e oxi-hidróxidos de composicional em toda a sua espessura. Referente aos
Fe 11% em ambos os casos) são bem menos abundantes. conteúdos de quartzo, embora qualquer avaliação por meio
No horizonte ferruginoso os oxi-hidróxidos de Fe de simples dados químicos deixe margem a dúvida, tudo
(indiscriminados) prevalecem (68% na crosta ferruginosa leva a crer que este mineral é mais abundante no saprólito
maciça a colunar e 65% nos nódulos ferruginosos). Nestes que no capeamento.
sub-horizontes, a gibbsita constitui apenas 12 e 14% do No entanto, Al não ocorre apenas sob a forma do tri-
total, enquanto caulinita representa 19 e 21%. As hidrato gibbsita ou, associado à sílica, na caulinita, pois
concreções bauxíticas superiores são compostas, em pode também se alojar, em substituição a Fe, na estrutura
média, de 65% de gibbsita, 23,5% de caulinita e 9,5% de cristalina de goethita e hematita. Esta substituição se
oxi-hidróxidos de Fe. Embora sejam bastante ferruginosos verifica em toda a cobertura residual, embora o seu grau
(49% de oxi-hidróxidos de Fe), os pisólitos são ricos em varie sensivelmente, tanto de um horizonte para outro,
caulinita (41%) e contêm quantidade fortemente como dentro de um mesmo horizonte. O grau máximo da
subordinada de gibbsita (7,5%). Na bauxita porcelanada substituição de FeOOH por AlOOH em goethita é de
de tipo pipoca que envolve os pisólitos o quadro se cerca de 33%, enquanto em hematita, a substituição de
inverte, havendo muita gibbsita (73,5%, em média), menor Al2O 3 por Fe 2O 3 alcança apenas 16% (Fitzpatrick &
quantidade de caulinita (19%) e baixo conteúdo de oxi- Schwertmann 1982, DeGrave et al. 1982, Kämpf &
hidróxidos de Fe (5%). Embora a composição do saprólito Schwertmann 1983). De início, a associação hematita-
Tabela 3 Composição (elementos maiores) de amostras representativas dos diversos horizontes do manto laterítico/bauxítico
do domínio meridional.
740
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
caulinita constituinte da couraça ferruginosa permanece horizontes. O campo dos pisólitos, por sua vez, exibe níti-
estável em presença de quartzo. No entanto, se o quartzo do trend indicando significativas variações no teor de Fe,
se dissolver, a caulinita perde sua estabilidade sob efeito ao mesmo tempo em que se mantém bastante constante
das soluções percolantes e a associação hematita-caulinita a relação entre os teores de SiO2 e de Al2O3. Tal fato
tende a ser substituída pela associação goethita-gibbsita indicaria remobilização e lixiviação de Fe particularmen-
Tardy (1993). O alumínio liberado pela dissolução da te importantes nos produtos residuais ferruginosos, mais
caulinita pode, entretanto, em vez de precipitar na forma expostos à ação dos agentes intempéricos e, portanto, mais
de gibbsita, ser admitido na estrutura da hematita e evoluídos do topo do perfil, porém relativamente poucas
sobretudo da goethita de substituição, cujo conteúdo de modificações nos conteúdos de caulinita e gibbsita. Em
AlOOH alcança valores da ordem de 30%. Os efeitos que concerne o saprólito e o capeamento, a superposição
deste processo aparecem com muita clareza nos horizontes dos seus campos no diagrama indica a possibilidade des-
pisolíticos da parte superior do manto residual, tes dois horizontes terem uma estreita ligação genética
praticamente livres de matriz argilosa e não ou muito pouco ou, pelo menos, resultarem de processos intempéricos
bauxitizados. Nestas acumulações pisolíticas do topo do semelhantes (Figura 73b).
perfil, outrora submetidas à ação particularmente eficiente Os teores de TiO2 variam de 0,5 a mais de 3% em
das águas superficiais, a gibbsitização não ocorreu ou foi peso, havendo diferenças sensíveis entre os horizontes.
incipiente, provavelmente por falta de Al disponível devido Assim, a análise química em rocha total revelou teores
à escassez de matriz argilosa. Contudo, Al liberado pela médios de TiO2 mais elevados nos horizontes aluminosos
caulinita aprisionada originalmente na mesóstase (até 1,68%) que nos horizontes ferruginosos (até 0,66%)
ferruginosa acabou sendo introduzido na estrutura de (Tebela 4). No saprólito e no capeamento argiloso o con-
goethita e hematita, por substituição de Fe. teúdo de titânio é ainda maior (acima de 2%), enquanto
Plotadas no diagrama ternário SiO2-Al2O3-Fe2O3, as que na rocha matriz, ao contrário, o teor médio de TiO2
amostras do manto laterítico/bauxítico, com exceção dos (0,63%) é inferior ao de qualquer outro horizonte.
pisólitos, agrupam-se em dois campos limitados, corres- Embora traços de rutilo tenham sido detectados, TiO2
pondendo às composições essencialmente aluminosa ou reflete basicamente a presença de anatásio em todos os
ferruginosa (Figura 73a). A ausência de termos de tran- horizontes. No saprólito não há correlação entre TiO2 e
sição entre estes domínios retrata claramente a estrutu- Fe2O3, nem entre TiO2 e Al2O3. Nos horizontes bauxíti-
ração em horizontes bem individualizados e, em muitos cos o quadro é semelhante. Entretanto, nos horizontes
casos, a passagem brusca de um horizonte a outro. Suge- ricos em Fe, nos quais o conteúdo de Al é geralmente
re, igualmente, que os horizontes não resultaram da dife- baixo, observa-se correlação negativa moderada a exce-
renciação in situ de uma crosta laterítica/bauxítica origi- lente entre TiO2 e Fe2O3, bem como correlação positiva
nal por meio de migrações verticais, nos limites do perfil, entre TiO2 e Al2O3, como reflexo da correlação negativa
de silício, alumínio ou ferro, e sim, que cada um deles com Fe (Figura 74a, b). No capeamento, TiO2 apresenta
resultou de processo próprio ocorrido em determinada fase correlação positiva razoável com Al2O3, porém nenhuma
da evolução do manto, independentemente dos demais correlação com Fe2O3 (Figura 74c).
Tabela 4 Teores médios de elementos maiores nos diferentes horizontes do manto laterítico/bauxítico do domínio meridional.
741
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
Figura 74 (a) Diagramas de correlação: TiO2 vs. Fe2O3 nos pisólitos; (b) TiO2 vs. Fe2O3 nos nódulos e crosta ferruginosos; (c)
TiO2 vs. Al2O3 no capeamento.
742
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
de Al, teriam desempenhado papel fundamental na evolu- teria levado à formação do horizonte bauxítico inferior e
ção polifásica do manto residual. ao desaparecimento de qualquer correlação entre TiO2 e
A correlação negativa de TiO2 com Fe2O3 nos hori- Al2O3 ou Fe2O3. Na parte superior do perfil o mesmo
zontes ricos em ferro (horizonte ferruginoso e pisólitos) mecanismo, envolvendo enriquecimento relativo e enri-
sugere, portanto, que após o enriquecimento inicial em quecimento absoluto, teria levado à formação das con-
anatásio, provocado pela alteração dos sedimentos pa- creções bauxíticas superiores e da bauxita porcelanada
rentais, teria havido importante aporte de Fe, responsável (pipoca) às custa de nódulos e pisólitos ferruginosos
pela formação de crosta ferruginosa inicial. O aporte de bem como da sua matriz argilosa, sendo apagada, no de-
Fe teria invertido o quadro geoquímico, levando a empo- correr do processo, qualquer correlação entre Ti, Al e
brecimento relativo em Ti. Durante a bauxitização, a re- Fe.
moção de importantes quantidades de Fe (na porção in-
ferior da crosta ferruginosa) e de Si (no topo do hori- Elementos-traço
zonte saprolítico) teria sido compensada pelo enriqueci-
mento absoluto em Al ou aluminização (Truckenbrodt et 163 amostras das zonas 1 a 4, foram analisadas para
al. 1995), cujos produtos teriam sido acrescentados aos 33 elementos-traço incluindo ETR (Tabela 5). Tendo pouco
do enriquecimento relativo neste elemento. Tal processo sentido o estudo, por meio de análises pontuais, das rela-
Tabela 5 Concentrações médias de elementos-traço e ETR nos diferentes horizontes e sub-horizontes do manto bauxítico, no
domínio meridional.
743
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
ções entre os minerais constituintes do manto residual e tratado aqui, exclusivamente como componente deste
os elementos-traço, optou-se por fazer avaliação do com- mineral. A liberação de Zr por mineral(ais) mais
portamento destes últimos, discutindo da sua distribuição alterável(eis) como descrito por Melfi et al. (1996) em
no perfil, horizonte por horizonte, e da interpretação das coberturas bauxíticas sobre rochas alcalinas no sul do Bra-
correlações destes elementos entre si e com os elemen- sil parece improvável levando em consideração a própria
tos maiores, representativos dos minerais constituintes da natureza e origem detrítica dos sedimentos parentais. As
cobertura laterítica/bauxítica. variações dos teores de Zr, Hf, Y, Yb e Lu nos perfis
Os teores de elementos-traço são muito mais baixos seguem padrão bem definido. As concentrações médias
(Ba, Sr, Cu, Pb, Zn, Ni, Cr, etc...) até mais elevados, por máximas encontram-se no saprólito e no capeamento ar-
vezes muito mais elevados (Zr, Hf, Ga, Nb. Th, etc...) giloso, enquanto que as mais baixas ocorrem nos horizon-
que as médias crustais, o que em si tem pouco significa- tes ferruginosos e nos horizontes aluminosos os valores
do, pois a evolução do manto residual consistiu em múlti- são intermediários (Tabela 5). A distribuição de Zr e dos
plas etapas de mobilização e transferência de elementos elementos associados é, conseqüentemente, semelhante
maiores e traço, além de ocasional retrabalhamento físi- à de Ti. Contidos em zircão, Zr, Hf, Y, Yb e Lu se com-
co dos produtos de alteração. Via de regra, os elemen- portaram, portanto, como elementos imóveis em meio pre-
tos-traço apresentam enriquecimento bastante variável no cocemente homogeneizado, que, mais tarde, sofreu
manto residual em relação a seus teores nos sedimentos modificações composicionais e estruturação em horizon-
parentais alterados. Para melhor compreensão da distri- tes. Como no caso do titânio, houve empobrecimento re-
buição dos elementos-traço neste manto, devem ser con- lativo aparente em Zr (e elementos associados) nos
siderados fatores como composição mineralógica e quí- horizontes ricos em Fe e modificações mais discretas nos
mica dos diversos horizontes, a natureza e abundância horizontes bauxíticos. No capeamento e no saprólito afe-
dos minerais resistentes contidos na cobertura residual e tados apenas pela lixiviação dos elementos mais solúveis
natureza dos processos envolvidos em sua formação. e, em particular, por intensa dessilicificação, houve maior
Embora os teores da maioria dos elementos-traço enriquecimento relativo em Zr e elementos associados
sejam baixos, a análise da sua distribuição permitiu em zircão. A correlação razoável a excelente entre TiO2
distinguir quatro associações de interesse e Zr e elementos associados resultaria, portanto, da ele-
vada estabilidade de anatásio e zircão, apesar do primei-
Grupo 1 ro ser neoformado e o segundo residual, da distribuição
bastante homogênea desses minerais nos sedimentos pa-
Zr, Hf, Y, Nb, Th, U, Sc, Yb e Lu. Neste grupo, zircô- rentais alterados e, provavelmente, da sua ocorrência em
nio se destaca pelos teores sempre altos, embora bastan- proporções relativamente constantes em todo o pacote
te variáveis de um horizonte a outro (Tabela 5), como sedimentar original (Figura 75).
também de um local a outro. Assim, dentro de um mesmo Nb, Th, U e Sc, por sua vez, mostram comportamento
horizonte, o conteúdo de Zr pode variar de poucas cente- algo distinto dos dos demais elementos do grupo. Os teo-
nas de ppm até mais de 2000 ppm. Valores totalmente res de nióbio variam de menos de 10 ppm até 85 ppm, os
anômalos (5263,3 ppm e 4197,5 ppm) foram encontrados mais elevados ocorrendo no capeamento argiloso e os
na bauxita da base do perfil 14 e no saprólito do perfil 17, mais baixos nos horizontes ricos em Fe (Tabela 5). Ape-
ambos da zona 4. Não foi evidenciado trend específico, à sar de ter geralmente boa correlação positiva com Zr,
escala regional, na distribuição de Zr no manto residual. este elemento apresenta correlação ainda mais acentua-
Apenas no saprólito e no capeamento observa-se um sen- da e constante com TiO2. Este fato sugere que Nb está
sível enriquecimento neste elemento na porção setentrio- essencialmente contido em anatásio, mineral de baixa ca-
nal da zona 4 (platô Gurupi Norte e próximo de Parago- pacidade de fixação de elementos estranhos, porém po-
minas). A boa a excelente correlação, em todos os hori- dendo admitir este elemento em sua estrutura cristalina
zontes, de Zr com Hf (até 1,00), Y e ETR pesados Yb e por substituição de Ti (Figura 76)
Lu, sugere que, o zircão é o único mineral portador de Zr O comportamento de Th, U e Sc, é menos claro. Os
(Tabela 6a e b). teores de tório variam de 15 ppm até pouco mais de 100
Ademais, não foram detectados outros minerais por- ppm, sendo que os mais elevados se encontram nos hori-
tadores de Zr. Cabe observar, no entanto, que, embora zontes ricos em Fe e, notadamente nos pisólitos (teor médio
seja geralmente considerado como mineral quimicamen- de 67 ppm). As concentrações médias de Th são algo
te estável (Krook 1979, Brimhall et al. 1991), zircão é, de menores nos horizontes aluminosos, sendo as mais baixas
fato, solúvel em ambiente supergênico (Nahon & Merino na rocha matriz alterada (20 ppm). O saprólito e o cape-
1996, 1997). Contudo, a capacidade de dissolução do zir- amento revelaram teores médios de Th relativamente al-
cão sendo baixa (Tole 1985, Balan et al. 2001), Zr será tos (52 e 56 ppm, respectivamente) (Tabela 5). Em ne-
744
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
nhum horizonte foi detectada qualquer correlação signifi- Tabela 6 Matrizes de correlação entre TiO2, Zr, Nb, Y, Sc, Th,
cativa entre Th e Fe2O3. Os teores de urânio, por sua U, Hf, Yb e Lu. (a) nos horizontes ferruginosos (crosta e nódu-
vez, são mais modestos, raramente ultrapassam 7 ppm e los ferruginosos + pisólitos); (b) nos horizontes aluminosos
variam menos. Os teores médios mais elevados encon- (bauxita nodular e maciça inferior + concreções bauxíticas
superiores e bauxita porcelanada de tipo pipoca).
tram-se no saprólito e no capeamento (5 ppm em ambos
os casos), os mais baixos na rocha matriz (2 ppm). No (a)
entanto, ao contrário do tório, U ocorre nos horizontes
ricos em Fe em teores mais baixos que nos horizontes
bauxíticos (Tabela 5). Tal distribuição explica o fato do
índice de correlação entre estes dois elementos sofrer
fortes variações. A correlação entre Th e U é nula nos
horizontes ferruginoso e pisolítico, porém moderada a boa
nos horizontes bauxíticos inferior e superior (R = + 0,78, (b)
745
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
Grupo 2
746
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
lação positiva de algum significado entre Ga e Al2O3 se Tabela 7 Matrizes de correlação entre P2O5, Ba, Sr, La, Ce.
observa apenas na rocha matriz alterada (R = + 0,60) e (a) na crosta ferruginosa; (b) na bauxita inferior maciça; (c)
na crosta ferruginosa (e + 0,65) (Figura 78a). No capea- nos nódulos bauxíticos inferiores.
mento argiloso nota-se igualmente correlação positiva mo-
derada (R = + 0,60) entre estes elementos (Figura 78b).
Nos demais horizontes as correlações entre Ga e Al2O3
são muito fracas ou negativas. Assim, embora a correla-
ção positiva entre Ga e Al2O3 tenha sido preservada na
fase inicial do processo de alteração, a remobilização pos-
terior destes elementos resultou em sua separação e em
diminuição ou desaparecimento da correlação positiva en-
tre eles. Após migração limitada, Al reprecipitou na for-
ma de gibbsita meso a macrocristalina límpida nos poros
e fissuras na bauxita. O gálio, mais móvel, foi provavel-
mente parcialmente eliminado do perfil. No entanto, cor-
relações positivas moderadas entre Ga e Fe2O3 no sapró-
lito, na base do horizonte bauxítico inferior e nos pisólitos,
mostram que Ga foi em parte fixado pelos oxi-hidróxidos
de Fe (Figura 78c e d).
Grupo 4
tes elementos ocorre, no meio supergênico, sob diversas
V, As, Cr, Pb, Cu, Mo, Ni, , Zn. Este grupo compõe- formas cristalinas, cuja capacidade de fixação de elemen-
se de elementos apresentando afinidade variável com Fe, tos-traço depende da estrutura e do grau de cristalinida-
devido à relativa facilidade com a qual os oxi-hidróxidos de, além de outros numerosos fatores.
deste metal os fixam por adsorção e, eventualmente, os Com teor abaixo do limite de detecção (< 0,5 ppm) na
admitem em sua estrutura. Todos estes elementos são rocha matriz alterada, o arsênio ocorre em teores discre-
pouco abundantes, no máximo atingindo poucas dezenas tos, porém mostra clara preferência pelos horizontes fer-
de ppm, exceto V e Cr, cujos teores alcançam pouco mais ruginoso e pisolítico, com teores relativamente eleva-
de 4000 ppm, para o primeiro, e 2000 ppm (expresso em dos, valor máximo de 43 ppm e teores médios entre 8,4 e
óxido) para o segundo (Tabela 5). Nenhum dos elemen- 20,7 ppm. No saprólito, nos horizontes aluminosos e no
tos enfocados apresenta qualquer correlação significati- capeamento se observa uma sistemática escassez de As,
va com Al2O3 (Tabela 8a, b, c, d e e). cujos teores médios situam-se todos abaixo de 2 ppm (Ta-
O teor médio de vanádio varia muito no perfil e passa bela 5). Nenhuma correlação entre As e Fe2O3 foi verifi-
de apenas 25 ppm na rocha matriz alterada para 1444 cada nos horizontes mais ferruginosos, provavelmente
ppm na crosta ferruginosa, sendo também elevado nos pelas razões já citadas acima. No entanto, esta correla-
pisólitos (960 ppm). Nos horizontes aluminosos os teores ção é sempre excelente nos horizontes bauxíticos e inex-
de V são baixos, 95ppm, em média, na bauxita porcelana- pressiva no saprólito e no capeamento (Tabela 8). Pela
da do topo do perfil e pouco mais de 160 ppm nos hori- sua forte ligação com Fe, decorrente sobretudo da sua
zontes bauxíticos inferior e superior (Tabela 5). Dos ele- fácil e rápida adsorção pela goethita e hematita, o arsênio
mentos do grupo, V é o que mostra a mais marcante e apresenta, no meio supergênico, comportamento seme-
constante afinidade com Fe2O3, sendo as correlações lhante ao do vanádio. A capacidade, particularmente
entre estes elementos positivas, boas a excelentes, em marcante dos produtos lateríticos de fixar As é ressalta-
todos os horizontes, exceto no horizonte ferruginoso (Ta- da por diversos autores (Roquin et al. 1990, Bowell 1994,
bela 8). É possível que, neste último caso, o excesso e as Middelburg et al. 1988) e possui aplicações práticas na
fortes variações de teor de Fe tendam a distorcer o qua- filtragem da água.
dro geoquímico (Figura 79). A distribuição de V tendo Embora ocorra em teores mais elevados nos horizon-
sido controlada pela sua fixação pelos oxi-hidróxidos de tes ricos em Fe (teor médio de 500 ppm de Cr2O3 nos
Fe, seja por adsorção seja por coprecipitação e provavel- pisólitos, 400 ppm nos nódulos ferruginosos e 310 ppm na
mente em condições redutoras (Middelburg et al. 1988, crosta ferruginosa) que nos demais (40 ppm na rocha
Temgoua et al. 2002), diferenças entre as capacidades matriz alterada, 120 ppm no saprólito e 130 e 90 ppm na
de retenção dos elementos-traço de goethita e hematita bauxita maciça e na bauxita nodular inferiores, respecti-
poderiam também ser evocadas. Ademais, cada um des- vamente), o cromo mostra com este elemento uma liga-
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
(d)
Figura 78 Diagramas de correlação: (a) Ga e Al2O3 na crosta ferruginosa maci-
ça; (b) Ga e Al2O3 no capeamento; (c) Ga vs. Fe2O3 nos nódulos bauxíticos; (d) Ga
vs. Fe2O3 nos pisólitos.
ção menos sistemática que V e As (Tabela 5). Exceto no abrangendo os nódulos ferruginosos, a bauxita superior e
saprólito e na bauxita nodular inferior, onde é significativa os pisólitos (Tabela 8). A correlação entre estes elemen-
(R = + 0,70), a correlação entre Cr e Fe2O3 é fraca a tos é, no entanto, fraca no horizonte bauxítico inferior e
inexpressiva (Tabela 8). A ausência de qualquer correla- inexpressiva no saprólito, na crosta ferruginosa mais ma-
ção no horizonte ferruginoso e nos pisólitos talvez se deva ciça e no capeamento. A distribuição de Pb aponta para
à desproporção entre os teores de Cr e o elevadíssimo forte afinidade deste elemento com Fe, fato reconhecido
conteúdo de Fe nesses horizontes. No entanto, um certo em outros locais (Temgoua et al. 2002). No entanto, em-
grau de mobilização do cromo não pode ser descartado bora a maior parte de Pb tenha se fixado nos oxi-hidróxi-
(Schorin 1983). O enriquecimento em Cr dos horizontes dos de Fe, uma porção menor migrou para os horizontes
ricos em oxi-hidróxidos de Fe sugere que, embora ocorra inferiores do perfil pobres em Fe. Tal fato demonstraria
provavelmente, em parte, na forma de minerais detríticos que, apesar da sua baixa mobilidade no meio supergênico
(cromita?) resistentes à alteração, este elemento foi tam- e da sua retenção pelos oxi-hidróxidos de Fe, o chumbo
bém mobilizado na forma iônica ou de complexos solú- pode também ter comportamento algo independente do
veis, fixando-se em goethita e hematita (Roquin et al. meio e sofrer transferência parcial para os horizontes mais
1990, Temgoua et al. 2002). Como no caso do vanádio, a basais do perfil.
fixação teria ocorrido em condições relativamente redu- Os demais elementos do grupo ocorrem geralmente
toras (Middelburg et al. 1988). A razoável correlação en- em teores muito baixos, porém sua afinidade com Fe,
tre Cr e Fe2O3 nos horizontes basais sugere que apesar embora bastante variável, coincide com as observações
de certa mobilidade e, talvez, discreta fixação por caulini- de diversos autores (Roquin et al. 1990, Middelburg et
ta (Wolfenden 1965, Schorin 1983), Cr permanece forte- al. 1988). Cu e Zn mostram enriquecimento mais signifi-
mente ligado aos oxi-hidróxidos de Fe, mesmo nos hori- cativo nos horizontes ferruginosos (11 e 6 ppm, respecti-
zontes predominantemente gibbsíticos ou cauliníticos. vamente, nos nódulos ferruginosos) que nos demais, po-
O chumbo é outro elemento que ocorre em quantida- rém o contraste entre os conteúdos nos horizontes ricos
des relativamente significativas, com teores médios par- em oxi-hidróxidos de Fe e nos horizontes bauxíticos ou
ticularmente elevados nos horizontes ricos em Fe. O teor cauliníticos é bastante diferente. Zn mostra o menor con-
de Pb na rocha matriz alterada é baixo (média de 3 ppm). traste, provavelmente devido ao seu baixo teor e à sua
Os pisólitos apresentam teor médio de Pb de 20 ppm, excepcional mobilidade no ambiente supergênico, que di-
enquanto os nódulos ferruginosos contêm, em média, 28 ficulta sua fixação. Mo mostra a mesma tendência. É
ppm e a crosta ferruginosa, 30 ppm. Nos demais horizon- possível, também, que parte desses elementos tenha-se
tes, incluindo o saprólito e o capeamento, os teores médi- fixado em caulinita (Schorin 1983) que, com a diminuição
os não alcançam 10 ppm (Tabela 5). A correlação entre do grau de cristalinidade, adquire maior poder de reten-
Pb e Fe2O3 é boa apenas na porção superior do perfil ção dos elementos metálicos. Quanto a Ni, o leve enri-
748
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
Tabela 8 Matrizes de correlações entre Al2O3, Fe2O3, V, As, Cr, Pb, Cu, Zn, Mo. (a) nos nódulos bauxíticos inferiores e na
bauxita maciça; (b) na crosta e nos nódulos ferruginosos; (c) nos pisólitos; (d) nas concreções bauxíticas superiores e na
bauxita porcelanada do topo; (e) no capeamento.
749
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
ausência de padrão de distribuição comum. Por outro lado, minosos da parte superior do perfil e da base do perfil
os produtos bauxíticos da parte superior do perfil e os sugere fortemente que durante o (s) período (s) de bauxi-
produtos ricos em ferro mostram valores de ΣETR tização, os ETR sofreram mobilização nos horizontes su-
nítidamente mais baixos. A crosta ferruginosa e os nódulos periores do perfil, sendo transferidos em parte para os
ferruginosos sobrepostos contêm em média 69 e 68 ppm, horizontes inferiores.
respectivamente, enquanto que o conteúdo médio nos Durante a alteração intempérica os ETR podem mi-
pisólitos é 71 ppm, nas concreções bauxíticas superiores grar na forma de complexos orgânicos, bicarbonatos ou
106 ppm e na bauxita porcelanada de tipo pipoca 86 íons livres, e tendem a se acumular na base do perfil (Du-
ppm. O capeamento argiloso apresenta conteúdo médio ddy 1980, Humphris 1984, Fleet 1984). A estabilidade dos
intermediário de 147 ppm. Outra característica de interesse complexos solúveis de ETR, que cresce de La a Lu, e a
é o aumento dos valores da razão ΣLa/ΣYb do topo para acidez do meio são os principais fatores controlando a
a base do perfil. Enquanto nos horizontes mais superficiais mobilização e redistribuição de ETR no ambiente super-
do manto a razão La/Yb se situa entre 8 e 9 (bauxita gênico (Nesbitt 1979, Duddy 1980, Humphris 1984). As-
porcelanada 7,75; pisólitos 8,2; e concreções bauxíticas sim, tanto os complexos orgânicos como alcali-carbonáti-
superiores 8,06), no horizonte ferruginoso ela é mais cos de ETR pesados são mais estáveis e, portanto, mais
elevada (nódulos ferruginosos 10,2; crosta ferruginosa solúveis que os complexos de ETR leves, podendo sofrer
12,3), e no horizonte bauxítico inferior ainda maior (na transporte preferencial em solução (Fleet 1984). Por ou-
bauxita maciça inferior19,6; na bauxita nodular inferior tro lado, o enriquecimento em CO2 das águas que perco-
13,3). No saprólito e na rocha matriz (com as reservas já lam solos ricos em matéria orgânica leva a diminuição do
formuladas acima) a razão ΣLa/ΣYb situa-se levemente pH até 4 (Nesbitt 1979). A dissolução de ácidos orgâni-
acima de 12. Quanto ao capeamento, apresenta o mais cos pode aumentar ainda mais a acidez das soluções. Como
baixo valor de todo o perfil (7,5). os argilominerais neoformados e, em particular, caulinita,
Os padrões de distribuição de ETR nos diferentes ho- têm pouca capacidade de neutralização da acidez das
rizontes são muito parecidos. O padrão comum, com águas, os elementos maiores, traço e terras raras mais
normalização a NASC (Gromet et al. 1984), se caracte- solúveis são transportados sem maiores dificuldades pe-
riza por forma em U aberto e assimétrico, devido a mar- las soluções para zonas mais profundas do manto intem-
cante enriquecimento relativo tanto em ETR mais leves périco, onde, com o aumento da alcalinidade e a decom-
(La e Ce), como em ETR pesados (Yb e Lu), e depres- posição dos complexos orgânicos, os ETR são reprecipi-
são acentuada no intervalo Nd, Sm e Eu. No entanto, de tados sob a forma de hidróxidos ou carbonatos, incorpo-
um horizonte a outro, há variações notáveis nos valores rados nos minerais secundários ou adsorvidos na superfí-
de ΣETR, o que se traduz, graficamente, por translação cie desses minerais (Nesbitt 1979). As mudanças de con-
vertical do campo de distribuição, sem modificações subs- dições físico-químicas em direção à base do perfil provo-
tanciais do seu padrão (Figuras 80). cam fracionamento de ETR e diminuição progressiva da
Parte importante de ETR encontra-se provavelmente mobilidade de ETR, de Lu para La (Duddy 1980).
em minerais resistentes, basicamente zircão e fosfatos O único mineral portador de ETR pesados reconheci-
de Al, o que faz com que os teores obtidos refletem mais do hoje no manto residual em estudo é zircão. Por outro
a composição dos diversos horizontes que a própria dis- lado, ETR leves (La e Ce, sobretudo) de origem desco-
tribuição destes elementos. No entanto, tal fato não ex- nhecida, se encontrariam, pelo menos em parte, fixados
plica o valor de até 3,5 da razão ΣETR horizonte bauxíti- em fosfatos de Al. Sendo o zircão e os fosfatos de Al
co inferior (ou saprólito)/ΣETR horizontes ricos em Fe. minerais estáveis, é provável que outros minerais fonte
Ademais, apesar da complexidade composicional e es- de ETR, mais vulneráveis e, portanto, mais rapidamente
trutural do manto intempérico, o conteúdo de ETR maior decompostos, tenham existido originalmente nos sedimen-
na base do perfil que nos horizontes mais superficiais su- tos. Talvez certa quantidade de ETR tenha sido liberada
gere, em termos gerais, que pode ter havido lixiviação de pela dissolução do zircão (Nahon & Merino 1996, 1997),
ETR em zonas mais rasas, tanto nos produtos aluminosos mas, neste caso, tratar-se-ia preferencialmente de ETR
como nos ferruginosos, e acumulação destes elementos pesados. A presença dos demais ETR em bem menores
na porção inferior do manto alterítico. Se os conteúdos quantidades tanto em zircão como nos fosfatos, seria a
de ETR semelhantes nos pisólitos e no horizonte ferrugi- causa da forte depressão nos gráficos no intervalo de ETR
noso podem ser explicados pela origem comum destes intermediários.
produtos (ferruginização dos mesmos sedimentos altera- De qualquer modo, o padrão de distribuição de ETR
dos e previamente homogeneizados, com conteúdos com- sugere que estes elementos se encontram essencialmente
paráveis de minerais pesados resistentes), a acentuada nos minerais resistentes zircão e fosfatos de Al. Por outro
diferença entre os valores de ΣETR nos horizontes alu- lado, a preservação do mesmo padrão, sem modificações
750
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
substanciais da base ao topo do perfil, mostra que não treita com estes produtos da base do perfil, já sugerida
teria havido mobilização e redistribuição significativas de pelo comportamento bastante semelhante dos elementos-
ETR ao longo da evolução do manto residual ou que os traço nesses horizontes. Por outro lado, a diferença com
ETR teriam sido mobilizados nas mesmas proporções que os conteúdos de ETR na bauxita porcelanada e nos pisó-
os seus conteúdos relativos nos minerais fontes, ou seja, litos não favorece a hipótese de formação do capeamen-
em zircão e em fosfatos. Esta segunda alternativa, que to pela ressilicificação da seqüência bauxítica, pois, neste
permitiria explicar o enriquecimento em ETR na base do caso, esperar-se-ia, ao contrário, diminuição dos teores
perfil, seria condicionada à solubilidade, no ambiente de ETR devida à diluição pelo aporte de sílica.
laterítico/bauxítico, tanto de zircão como de fosfatos.
O quadro observado hoje resultaria, portanto, por um Domínio setentrional
lado, da presença de ETR em minerais detríticos e neo-
formados resistentes e, por outro, da eventual remobiliza- No domínio setentrional (zona 5) da Província Bauxi-
ção e transferência de parte destes elementos para a base tífera de Paragominas um total de 36 amostras foi anali-
dos horizontes aluminosos. O enriquecimento em ETR sado para elementos maiores, traço e terras raras. Em-
leves em relação a ETR pesados na base do manto resi- bora a cobertura residual não apresente a estrutura em
dual seria resultado do fracionamento de ETR durante horizontes bem definidos, foram distinguidos diversos ti-
sua imobilização, conforme descrito por Duddy (1980). pos de alteritas, cada uma sendo representada por, pelo
O valor de ΣETR relativamente elevado no capea- menos, uma amostra. Assim, foram analisadas: 1 amos-
mento argiloso em comparação ao dos horizontes direta- tra da rocha-matriz, 3 do saprólito, 7 da bauxita desferri-
mente sotopostos e a semelhança com os teores obtidos ficada, 11 de bauxita ferruginosa, 3 da crosta ferruginosa
no saprólito e na rocha matriz apontam para relação es- reliquiar, 4 de bauxita colunar do topo do manto, 1 do oca-
751
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
sional horizonte pisolítico porcelanado e 6 do capeamen- nal são raramente atingidos no domínio setentrional, a não
to. Para dar caráter mais geral à discussão sobre o com- ser nos setores onde o manto é, em grande parte, consti-
portamento dos elementos e maior consistência aos tuído por vestígios da cobertura bauxítica pretérita. No
resultados estatísticos, foram distinguidos três conjuntos, entanto, para evitar qualquer equívoco e não ter que in-
ou seja: 1) bauxita desferrificada e saprólito, 2) bauxita troduzir nova nomenclatura, o termo bauxita foi mantido
ferruginosa e bauxita colunar da parte superior do perfil, para designar os produtos lateríticos aluminosos quais-
e 3) capeamento argiloso. O nível pisolítico aluminoso, quer que sejam os seus teores de sílica, isto é de caulinita
observado somente em alguns perfis, e o horizonte dito e de ferro. No saprólito o leve excesso de SiO2 indica
ferruginoso, constituído em maior parte por vestígios de claramente a presença de quartzo subordinado. No cape-
crosta ferruginosa pretérita, embora constem na Tabela amento o excesso de Al2O3 mostra que gibbsita pode es-
9, não são geralmente considerados nas discussões. Cabe tar presente em quantidades significativas junto com cau-
apenas notar que as características químicas destes dois linita. Ademais, em contraste com o que ocorre no domí-
produtos, como as suas características mineralógicas e nio meridional, as proporções de caulinita e gibbsita vari-
texturais, são semelhantes às da bauxita porcelanada de am substancialmente de um setor a outro. Considerando-
tipo pipoca e da crosta ferruginosa do domínio meridio- se que o conteúdo de quartzo pode atingir 10% do total
nal (Tabelas 3, 4 e 5). em peso, o conteúdo de caulinita foi estimado em 35 a
80% e o conteúdo de gibbsita em 2-3 a 48%. Assim, pró-
Elementos maiores ximo de Ipixuna (perfil Ipixuna I) o capeamento é essen-
cialmente caulinítico com pouca gibbsita, enquanto que
Os teores de elementos maiores confirmam a nature- setores mais meridionais (perfis Ipixuna II e III), o con-
za ferralítica mediocremente evoluída do manto residual teúdo de gibbsita pode chegar a mais de 40%, equiparan-
e as diferenças com a cobertura bauxítica do domínio do-se ou ultrapassando o de caulinita. Cabe ressaltar que
meridional já observadas anteriormente (Tabelas 9 e 10). proporções semelhantes de caulinita e gibbsita foram iden-
Os teores de SiO2 elevados, em ausência de quartzo, tificadas no capeamento argiloso dos depósitos de caulim
em toda a cobertura residual (concentração média míni- e bauxita da região de Monte Dourado, no baixo rio Jari
ma de 8,61% de SiO2 na bauxita colunar, concentração (Kotschoubey et al. 1999).
média máxima de 26,32% de SiO2 na bauxita desferrifi- Exceto no horizonte ferruginoso reliquiar, Fe apresenta
cada inferior) mostram que caulinita está sempre presen-
distribuição peculiar, resultante da sua segregação segundo
te em quantidades significativas, tornando-se comumente
o padrão bastante regular descrito anteriormente. Esta
o mineral principal. Assim, admitindo a razão SiO2/Al2O3
segregação de Fe faz com que porções ferruginosas (com
= 1,154, para caulinita foi possível estimar os conteúdos
teor médio de 35% de Fe2O3) se encontrem em contato
médios de caulinita e gibbsita. Na bauxita desferrificada
direto e brusco com porções quase totalmente
evidenciou-se, em média, cerca de 56% de caulinita e
desferrificadas (com teor médio de 2,7% de Fe2O3). Uma
36% de gibbsita; na bauxita ferruginosa 35% de caulinita
zona de transição pode existir, porém normalmente não
e 25% de gibbsita e na bauxita colunar 18,5% de caulinita
ultrapassa poucos centímetros. Tal distribuição de Fe
e aproximadamente 60% de gibbsita. Embora a repre-
confere à laterita o seu aspecto variegado. Em direção à
sentatividade desses dados seja algo limitada, fica claro
base do manto, o conteúdo de Fe diminui progressivamente
que tais composições não permitem que se atribua, sem
para se estabilizar em cerca de 4% de Fe 2 O 3 . No
reserva, a denominação de bauxita aos produtos alteríti-
capeamento os teores de Fe são particularmente baixos
cos enfocados. Com efeito trata-se mais de laterita alu-
minosa altamente caulinítica e com conteúdo variável de (≅ 3% de Fe2O3), o que explica a coloração bege a rosada
oxi-hidróxidos de Fe de que de bauxita sensu stricto. pálida deste horizonte. Quando plotadas no gráfico ternário
Apenas localmente, sobretudo na parte superior do perfil, SiO2-Al2O3-Fe2O3, as amostras do domínio setentrional,
na chamada bauxita colunar, o manto residual apresenta como as do domínio meridional, distribuem-se em dois
composição correspondendo realmente à definição de campos distintos, não existindo claramente termos
bauxita. Cabe ressaltar, contudo, que na ocasião de estu- intermediários. A bauxita desferrificada e o saprólito
dos prévios desenvolvidos na porção oriental do domínio ocupam campo restrito, que se estende ao longo da
setentrional (nos platôs Jabuti, notadamente) foi eviden- vertente SiO2-Al2O3, sinal de desferrificação extrema
ciada a presença de crosta residual mais espessa e mais (Figura 81a). As amostras de bauxita ferruginosa e colunar
aluminosa, mais próxima daquilo que se costuma chamar exibem espalhamento muito maior, sinal de redistribuição
de bauxita (Kotschoubey et al. 1989, Kotschoubey & algo desordenada de ferro mobilizado durante a
Truckenbrodt 1994).De qualquer modo, os baixos teores desferrificação. A superposição dos campos do saprólito
de SiO2 e altos de Al2O3 da bauxita do domínio meridio- e do capeamento sugere, como no domínio setentrional,
752
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
ligação genética estreita entre esses horizontes ou modo Tabela 9 Composição (elementos maiores) de amostras
de formação comum (Figura 81b). representativas dos diferentes tipos de alteritas constituintes
Embora o manto residual não comporte horizontes for- do manto residual ferro-aluminoso no domínio setentrional.
temente individualizados, a distribuição de titânio segue,
em linhas gerais, as mesmas regras que no domínio meri-
dional, ou seja, apresenta os mais baixos teores nas por-
ções ricas em ferro (1,27%) e atinge os mais altos teores
nas porções mais fortemente desferrificadas (2,75%). A
bauxita colunar, menos diferenciada em termos de distri-
buição de Fe, contém teores intermediários de TiO2 (mé-
dia de 2,04%). Os teores de Ti no saprólito são relativa-
mente baixos (1,71% em média), próximos do da rocha
matriz alterada (1,77%). No capeamento os teores de TiO2
atingem valores elevados (média de 2,71%), que contras-
tam com o teor registrado em pisólitos bauxíticos porce-
lanados diretamente sotopostos (1,26%). Por outro lado,
a correlação entre TiO2 e Al2O3 é sempre positiva, mo-
derada a boa, em todos os produtos alteríticos, incluin-
do o capeamento, enquanto a correlação de TiO2 com bação e à redistribuição de partículas sólidas no meio por
Fe2O3 é inexpressiva (Figura 82a e b). Tal fato indica meio da eluviação/iluviação. A distribuição dos ínfimos
claramente que o manto residual formou-se, sobretudo, grãos de anatásio teria, portanto, atingido notável homo-
sob efeito de intemperismo clássico em condições tropi- geneidade. Com o prosseguimento do intemperismo, ocor-
cais úmidas, ou seja, por meio da ferralitização, por lixivi- reram apenas variações relativas do teor de titânio, devi-
ação dos elementos mais solúveis, dissolução de quartzo do às mudanças na composição da bauxita hospedeira.
e enriquecimento relativo em Al, Fe e Ti. Enquanto nas zonas desferrificadas a remoção de Fe le-
No manto residual do domínio setentrional, como no vou a forte diminuição da densidade da bauxita e a subs-
resto da província bauxitífera, Ti encontra-se basicamen- tancial aumento do teor aparente de Ti, nas porções fer-
te na forma de anatásio, mineral secundário de alta resis- ruginosas, ao contrário, o teor relativo de Ti diminuiu.
tência nas condições supergênicas. No decorrer do pro- Apenas no capeamento os teores de TiO2 parecem re-
cesso intempérico, a cobertura de alteração teria sofrido sultar diretamente do enriquecimento relativo, sem a in-
notável homogeneização devida principalmente à biotur- terferência de outros fenômenos.
Tabela 10 Teores médios de elementos maiores nos diferentes tipos de alteritas do manto residual ferro-aluminoso no
domínio setentrional.
753
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
Elementos-traço
Grupo 1
Zr, Hf, Y, Nb, Yb, Lu, Th, U e Sc. Este grupo apre-
senta características muito semelhantes às descritas no
domínio meridional (Tabela 11). Zr se destaca pelas con-
centrações muito elevadas em comparação às dos de-
mais elementos, em particular nos horizontes argilosos (no
saprólito até 3150 ppm, com média de 1556 ppm; no ca-
peamento até 4920 ppm, com média de 3759 ppm). Na
própria crosta bauxítica o conteúdo de Zr, embora bas-
tante variável, é menor, observando-se nos produtos enri-
quecidos em Fe teores mais baixos (na bauxita ferrugino-
sa, concentração média de 1353 ppm, na bauxita colunar,
concentração média de 1759 ppm) que na bauxita des-
ferrificada, na qual o teor médio é 2361 ppm. No entanto,
os teores mais baixos de Zn encontram-se nos vestígios
da cobertura laterítica/bauxítica mais antiga (1009 ppm
nos pisólitos de bauxita porcelanada e concentração mé- Figura 81 Diagramas SiO2-Al2O3-Fe2O3. (a) para os diversos
dia de 631 ppm nos resquícios de crosta ferruginosa) e tipos de bauxita (desferrificada, ferruginosa, colunar) e o
saprólito. (b) para a rocha matriz, o saprólito e o capeamento.
são muito semelhantes aos determinados na bauxita de
Figura 82 Diagramas de correlação Al2O3 vs. TiO2. (a) para saprólito e bauxita desferrificada, (b) para bauxita ferruginosa
e bauxita coluna, (c) para capeamento.
754
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
tipo pipoca e no horizonte ferruginoso do domínio meri- mento e da substituição, nestas zonas enriquecidas em
dional (Tebela 5). A sempre boa a excelente correlação Fe, de caulinita e gibbsita por oxi-hidróxidos de Fe. Por
de Zr com Hf, Y, Yb e Lu confirma, aqui também, que Zr outro lado, nas zonas fortemente desferrificadas o con-
ocorre fundamentalmente na forma de zircão (Tabela 12). teúdo relativo de zircão seria elevado devido à dissolução
A distribuição de Zr dependeria, portanto, da distribui- dos oxi-hidróxidos de Fe e remoção de Fe, ao aumento da
ção deste mineral resistente. Como comentado anterior- porosidade e à diminuição da densidade. Em termos ge-
mente, o zircão devia apresentar distribuição passavel- rais, Zr e TiO2 se comportam de maneira semelhante,
mente homogênea. desde as primeiras etapas da evolu- embora, no detalhe, a relação entre estes elementos va-
ção do manto. As fases tardias do processo teriam então rie bastante (Figura 83).
provocado o enriquecimento ou o empobrecimento relati- Nula no capeamento, a correlação entre Zr e TiO2 é
vo deste mineral estável, por meio da lixiviação ou, ao moderada na bauxita desferrificada mais o saprólito (R =
contrário, do aporte de elementos, causando modificações + 0,65) e boa nas bauxitas ferruginosa e colunar (R = +
na composição e na densidade do material hospedeiro. 0,78) (Tabela 12). Sendo o zircão e o anatásio estáveis
Os baixos teores de Zr nos produtos mais ricos em ferro em condições de clima tropical úmido, a falta de correla-
seriam o resultado direto da segregação tardia deste ele- ção entre Zr e TiO2 no capeamento poderia resultar de
Tabela 11 Teores médios de elementos-traço nos diferentes tipos de alteritos do manto residual ferro-aluminoso no domínio
setentrional.
755
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
distribuição não homogênea destes minerais residuais, o Tabela 12 Matrizes de correlação entre TiO2, Zr, Hf, Y, Yb,
que sugeriria que este horizonte não tem relação genética Lu, Th, U e Sc. (a) para o saprólito e a bauxita desferrificada;
direta com a bauxita sotoposta, onde, ao contrário, a cor- (b) para a bauxita ferruginosa e colunar; (c) para o
relação moderada a boa expressaria homogeneidade muito capeamento.
mais acentuada na distribuição desses minerais nos sedi-
mentos degradados, posteriormente bauxitizados.
Os teores de nióbio situam-se entre 11 e 87 ppm, sendo
que os mais elevados se encontram no capeamento e os
mais baixos nos vestígios de horizonte ferruginoso. Por
outro lado, o teor de Nb na bauxita ferruginosa (36 ppm)
é nitidamente inferior ao teor obtido no saprólito (47 ppm),
na bauxita desferrificada (59 ppm) e na bauxita colunar
(50 ppm) (Tabela 11). O nióbio apresenta sempre excelente
correlação com TiO2 (até R = + 0,99 no capeamento),
qualquer que seja a relação entre titânio, zircônio e os
demais elementos contidos em zircão (Figura 84). Este
fato sugere que Nb está essencialmente alojado em
anatásio, substituindo Ti, e que suas variações de teor
expressam principalmente sua localização num mineral
muito estável.
O tório apresenta concentrações de 24 a 80 ppm, os
teores médios mais elevados tendo sido encontrados na
bauxita desferrificada (65 ppm) e no capeamento (67
ppm). Na bauxita ferruginosa o conteúdo de Th é nitida-
mente mais baixo (média de 44 ppm), enquanto que na
bauxita colunar ele é intermediário (56 ppm) (Tabela 11).
No conjunto constituído pelo saprólito, bauxita desferrifi-
cada e as bauxitas mais ferruginosas, a correlação entre
Th e Zr é boa (R = + 0,76) (Figura 85a), porém observa-
se total falta de correlação no capeamento (Tabela 12).
Isto poderia indicar que, neste último horizonte, Th não
está ligado ou não está ligado somente ao zircão. Tal su-
posição se apóia no fato de que as correlações entre Th,
Ti e Nb são excelentes nos três conjuntos considerados
(Figura 85b), existindo, igualmente, boa correlação entre
Th e Fe2O3 na bauxita desferrificada (R = + 0,88) (Figura
86b). No conjunto bauxita ferruginosa mais bauxita colu-
nar a correlação entre Th e Fe2O3 é, por sua vez, forte-
mente negativa (R = - 0,83) (Figura 86a). Este fato e as
razoáveis a boas correlações de Th com Zr na bauxita, Figura 83 Diagrama Zr vs. TiO2 para todos os produtos
tanto ferruginosa como desferrificada, poderiam indicar alteríticos constituintes do manto residual do domínio seten-
que, no manto residual, Th se encontra seja em zircão, trional.
seja em outro mineral detrítico resistente, sofrendo enri-
quecimento relativo nas porções desferrificadas e empo- mento e os mais baixos teores nos vestígios do manto
brecimento, igualmente relativo, nas ferruginosas. No residual mais antigo (pisólitos bauxíticos porcelanados e
entanto, a fixação parcial de Th por oxi-hidróxidos de Fe horizonte ferruginoso reliquiar). O padrão de distribuição
não pode ser descartada, sendo este o comportamento destes dois elementos não é claro e apenas Sc mostraria
normal do elemento em ambiente supergênico (Middel- leve empobrecimento nas porções mais ferruginosas em
burg et al. 1988). relação à bauxita desferrificada (Tabela 11). Os baixos
Urânio e escândio ocorrem em teores modestos. As teores e poucas variações nos conteúdos médios de U
concentrações do primeiro variam de 3 a 9 ppm, enquan- não permitem ter visão mais precisa da sua distribuição.
to as do segundo se situam entre 9 e 21 ppm. Em ambos As correlações de Th com U e Sc seguem o mesmo pa-
os casos, o maior enriquecimento se observa no capea- drão que as correlações entre Th e Zr (Tabela 12). São,
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Grupo 3
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
Figura 88 Diagramas de correlação Ga vs. Al2O3. (a) para o saprólito e a bauxita desferrificada; (b) para a bauxita
ferruginosa e colunar; (c) para o capeamento.
Elementos Terras Raras Figura 89 Diagrama V vs. Fe2O3 para todos os produtos
alteríticos constituintes da cobertura residual do domínio
As concentrações de ETR no manto residual do do- setentrional.
mínio setentrional são nitidamente superiores às do man-
to do domínio meridional (Tabela 11). A única amostra de
Tabela 14 Matrizes de correlação entre Al2O3, Fe2O3, V, As,
rocha matriz alterada analisada contém um total de 411
Cr, Pb, Cu, Zn: (a) para o saprólito e a bauxita desferrificada;
ppm, valor a ser considerado com muita cautela. No en- (b) para a bauxita ferruginosa e colunar; (c). para o
tanto, o saprólito e a bauxita desferrificada apresentam capeamento.
teores médios elevados, 256 e 340 ppm, respectivamen-
te. Nas alteritas mais ferruginosas os conteúdos médios
de ETR são algo menores, 189 ppm na bauxita ferrugino-
sa e 197 ppm na bauxita colunar. Os mais baixos teores
foram evidenciados nos produtos reliquiares, 96 ppm nos
vestígios de crosta ferruginosa e 110 ppm nos pisólitos
aluminosos. O capeamento mostra conteúdo médio se-
melhante ao do saprólito, 259 ppm. Os padrões de dis-
tribuição de ETR com normalização a NASC (Gromet et
al. 1984) são semelhantes aos de ETR nos diversos hori-
zontes do manto do domínio meridional e exibem as mes-
mas formas em U levemente assimétrico devidas às ele-
vadas concentrações relativas tanto de ETRL (La, Ce e
Nd) como de ETRP (Er, Yb e Lu). Os diagramas de dis-
tribuição não são apresentados neste relatório. Embora o
teor total de ETR na amostra de rocha matriz alterada
sugira perda geral destes elementos na cobertura super-
gênica, a escassez de informação sobre o material paren-
tal torna altamente discutível qualquer especulação sobre
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
enriquecimento ou empobrecimento em ETR no manto (Zr, Hf, Y, Nb, Yb, Lu, La, Ce entre outros) mostram
residual. Observa-se, contudo, que, apesar das diferen- empobrecimento relativo nos horizontes ricos em Fe,
ças estruturais, texturais e composicionais entre as co- interpretado como indicativo da aloctonia deste elemento,
berturas residuais dos domínios norte e sul, a distribui- cujo aporte modificou substancialmente a composição e
ção de ETR obedece às mesmas regras, ou seja, mostra densidade do material hospedeiro. O enriquecimento
um relativo empobrecimento nestes elementos nas por- absoluto em Al ou aluminização (Truckenbrodt et al. 1995)
ções mais ferruginosas do perfil. No entanto, o valor da é também assinalado pela distribuição desses elementos,
razão ΣETR nas bauxitas mais ferruginosas/ΣETR na embora de modo menos acentuado. Outros elementos-
bauxita desferrificada não alcança 2, o que provavelmen- traço (V, As, Cu, Zn, Mo, etc.) apresentando nítido
te reflete apenas a diferenciação do manto bauxítico ori- enriquecimento nos horizontes ferruginosos em relação
ginal em zonas pobres e ricas em Fe. O empobrecimento aos horizontes aluminosos revela afinidade com Fe
relativo em ETR nas zonas mais ferruginosas resultaria variável em intensidade. Enfim, um terceiro grupo é
da redistribuição de Fe à escala local e segregação deste constituído por elementos de comportamento mais
elemento na forma de oxi-hidróxidos, substituição parcial complexo, apresentando aparente afinidade com Al (Cr)
de caulinita e gibbsita por esses minerais e preenchimen- ou ligação não totalmente convincente com Fe ou os
to, também por eles, de eventuais vazios. Parte dos ETR, minerais resistentes (Th, U, Sc). Estudos complementares
tanto leves como pesados, componentes de minerais es- seriam necessários para entender-se melhor estes últimos
táveis, não teriam sofrido redistribuição. Entretanto, as casos.
variações nos valores da razão ΣLa/ΣYb no perfil suge-
rem que, dentro deste contexto geral, houve, à escala lo- XII. DISCUSSÃO
cal, mobilização e fracionamento de ETR. Assim a bau-
xita ferruginosa apresentaria enriquecimento relativo em Os depósitos de bauxita da Província Bauxitífera de
ETRL (ΣLa/ΣYb = 17,4) em comparação à bauxita des- Paragominas estão inseridos no manto residual que cons-
ferrificada e à bauxita colunar (ΣLa/ΣYb = 12,8 e 12,5, titui a parte inferior da seqüência laterítica-sedimentar,
respectivamente). Tal quadro seria devido à migração e desenvolvida durante o Paleógeno em toda a Amazônia
redeposição junto com Fe de ETRL e conseqüente enri- Oriental (Kotschoubey & Truckenbrodt 2003). Posteri-
quecimento relativo em ETRP nas zonas desferrificadas. ormente, esta seqüência sofreu intensa erosão e disseca-
Nos vestígios de crosta ferruginosa e nos pisólitos bauxí- ção, sendo representada hoje apenas por vestígios de ex-
ticos os valores de ΣLa/ΣYb (18,1 e 10,6, respectiva- tensão variável de uma região a outra. Embora modifica-
mente) são coerente com as razões obtidas nos mesmos ções substanciais tenham sido introduzidas na paisagem
produtos no domínio meridional. Enfim, observa-se dife- durante o Neógeno e o Quaternário, esses vestígios são
rença marcante entre as razões ΣLa/ΣYb no saprólito ainda expressivos e mostram uma notável continuidade
(14,9) e no capeamento (6,8). No primeiro caso, talvez geográfica na província em apreço, o que faz desta uma
tenha havido leve enriquecimento absoluto em ETRL, região particularmente interessante para o estudo da evo-
enquanto no segundo, a lixiviação preferencial de ETRL lução geológica da Amazônia Oriental durante o Ceno-
levou ao enriquecimento relativo de ETRP. zóico, dos depósitos de bauxita e da cobertura residual
hospedeira. Estes resquícios da seqüência lateritica-sedi-
Comentários finais mentar sustentam os platôs dominantes na região nordes-
te do Pará oeste do Maranhão.
Os dados obtidos mostram que praticamente todos os Embora recoberto por capeamento argiloso bastante
elementos, com exceção da sílica, encontram-se, de algum homogêneo em termos composicionais e texturais, o manto
modo, enriquecidos no manto residual em relação à rocha residual ferro-aluminoso exibe, de um setor a outro, notá-
matriz altamente intemperizada, única e nem sempre veis variações faciológicas e de espessura. Tais fatos in-
confiável referência para considerações geoquímicas. O dicam que, embora os fatores responsáveis pela evolu-
comportamento dos elementos maiores confirma ção do quadro supergênico tenham sido os mesmos em
basicamente os processos identificados pelos demais toda a região, os resultados foram muito diferentes em
métodos de investigação, ou seja, eliminação da sílica e natureza e intensidade. O desenvolvimento deste quadro
enriquecimento relativo e/ou absoluto de alumínio e ferro, residual complexo e irregular acompanhou no tempo a
dependendo do horizonte considerado. A distribuição de formação, ao longo do Paleógeno, da superfície generi-
TiO2, de elementos-traço e de ETR, por sua vez, pode ser camente referida como Superfície Sul-Americana (King
indicativa de alguns desses processos. Assim os elementos 1967). No entanto, devido à complexidade estrutural do
associados aos minerais estáveis em condições manto residual, a natureza desta superfície ainda não está
intempéricas como zircão, anatásio e fosfatos de alumínio clara, podendo tratar-se de várias superfícies superpos-
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
tas ou embutidas uma na outra. Assim, na Amazônia Ori- avaliação dos efeitos, no tempo e no espaço, dos proces-
ental a Superfície Sul-Americana seria, de fato, o resulta- sos supergênicos que atuaram na região. Embora sae te-
do da superposição, durante o Paleógeno, de superfícies nha desenvolvido sobre formações sedimentares
correspondendo hoje a certos contatos entre horizontes siliciclásticas mostrando lateralmente poucas variações
na cobertura residual. A superfície dos platôs dominantes em termos de composição mineralógica, a cobertura
na Amazônia Oriental, sustentada pelo capeamento argi- laterítica/bauxítica mostra variações faciológicas
loso da couraça laterítica/bauxítica, seria o resultado da marcantes. Os levantamentos de campo permitiram evi-
última etapa de longo e descontínuo processo de aplaina- denciar claramente, nesta cobertura, setores com predo-
mento, envolvendo variações climáticas, discretos reajus- minância marcante ou até presença exclusiva de couraça
tes tectônicos, modificações geomorfológicas e movimen- ferruginosa e setores apresentando, ao contrário, nítida
tos do regolito. A evolução dos depósitos bauxíticos se predominância da bauxita, com eventual redução do hori-
confunde, portanto, com a da vasta cobertura laterítica zonte ferruginoso a fragmentos reliquiares inclusos na
na qual estes estão inseridos. O manto residual, por sua massa gibbsítica. Entre estes termos extremos, todas as
vez, registrou as modificações geológicas ocorridas na fácies intermediárias podem ser observadas. Além das
região amazônica durante importante parte do Cenozói- variações faciológicas, notam-se igualmente fortes vari-
co. Apesar de varias tentativas de integração, à escala ações de espessura, tanto de cada horizonte individual-
regional, dos dados disponíveis sobre os ocorrências de mente quanto da crosta residual como um todo. Ao con-
bauxita, estas foram, até agora, estudadas sobretudo por trário, o capeamento da cobertura laterítica/bauxita, em-
meio da análise de perfis verticais isolados, considerados bora repouse tanto sobre a couraça ferrginosa como so-
representativos de parte ou de todo a cobertura laterítica/ bre a bauxita, mostra, em sua composição, pouquíssimas
bauxítica. A teoria verticalista, adotada por diversos au- variações, limitadas a leves diferenças nos conteúdos de
tores em seus estudos das bauxitas da Amazônia Orien- oxi-hidróxidos de Fe e de caulinita, bem como à presença
tal (Boulangé & Carvalho 1989, Bardossy & Aleva 1989, ou não de gibbsita muito subordinada (exceto no domínio
Boulangé & Carvalho 1997, Boulangé et al. 1997) res- setentrional zona 5 onde, ao contrário, se observa
tringiu as investigações a abordagem exclusivamente geo- forte enriquecimento neste mineral). Recentemente, le-
química, limitando-as ao estudo da mobilização, transfe- vantamentos de detalhe permitiram detectar, nesse es-
rência e reprecipitação in situ, ou seja, nos limites desses pesso latossolo, fragmentos argilosos densos e finas li-
perfis, dos elementos envolvidos (Si, Al, Fe, Ti) e das con- nhas de pedras (stone lines) lateríticas, interpretados
como vestígios de depósitos pretéritos ao desenvolvimen-
seqüentes transformações e neoformações minerais.
to do capeamento, ou seja, de pacote sedimentar a partir
Embora as variações climáticas tenham sido admitidas
do qual este último se formou. Este quadro complexo ne-
por todos os autores como fator fundamental na evolução
cessita de análise criteriosa de todos os seus elementos e
do manto intempérico, a abordagem predominantemente
de clara e objetiva definição das relações existentes en-
geoquímica/mineralógica da questão fez com que os fa-
tre estes últimos.
tores geomorfológicos, sedimentológicos e tectônicos fos-
O perfil laterítico/bauxítico sintético, considerado como
sem até agora negligenciados pela maioria dos pesquisa-
típico da região e consistindo, da base ao topo, em cinco
dores. No entanto, o estudo de formações supergênicas
horizontes fundamentais saprólito, bauxita inferior,
de extensão regional ou até continental, representativas
horizonte ferruginoso, bauxita concrecionada superior e
de parte importante do quadro geológico do Cenozóico,
cascalho ferruginoso mais ou menos bauxitizado, além do
não pode se reduzir à análise de alguns perfis seleciona- capeamento argiloso, é conhecido, nos seus aspectos
dos, convenientes para a demonstração de tal ou outra gerais, desde os anos 70 (Wolf 1972, Wolf & Silva 1973,
teoria evolutiva. Acredita-se que somente abordagem mais Assad 1973, 1978). No entanto, fora do seu contexto
ampla, envolvendo observações à escala regional da co- regional, este perfil não revela muitas informações sobre
bertura laterítica/bauxítica e levando em consideração os a origem e a evolução da cobertura residual da qual faz
mais diversos aspectos do contexto geológico, pode levar parte e pode apenas ser utilizado para caracterização
a entender melhor os fenômenos que controlaram a evo- genérica da bauxita formada sobre as rochas sedimentares
lução das formações lateríticas antigas e, ainda hoje, par- siliciclásticas das bacias cretáceas da Amazônia Oriental.
ticipam na evolução do quadro supergênico. As variações sofridas pelo manto laterítico/bauxítico à
A Província Bauxitífera de Paragominas constitui o escala regional são, por sua vez, muito mais indicativas
mais denso e extenso agrupamento de platôs portadores dos fatores e processos responsáveis pelo seu
de formações residuais ferro-aluminosas na Amazônia desenvolvimento ao longo do tempo geológico. Estas
Oriental, o que lhe confere um interesse particular e per- variações não são fortuitas e provêm de modificações
mite seguir de mais perto as variações de fácies no man- que afetaram o ambiente geológico em seus mais
to residual em vista da reconstituição da paisagem e da diferentes aspectos.
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
no entanto, somente quando o horizonte bauxítico superior que tal retrabalhamento pode ter sido responsável pelo
é bem desenvolvido. Em caso de degradação mais contato muito brusco entre o nível pisolítico e a crosta
acentuada da crosta ferruginosa, a bauxita pode ferruginosa sotoposta, observado em certos locais.
preencher, parcial ou totalmente, grande parte das 8) Quando bem expresso, o horizonte bauxítico
cavidades. superior repousa em contato brusco sobre a crosta
6) O horizonte dito bauxítico superior deve sua de- ferruginosa. Raramente este horizonte é maciço, embora
nominação à sua natureza bauxítica em diversos setores tal fato possa ser observado em perfis bauxíticos
explorados pelas empresas de mineração. No entanto, à evoluídos, próximo de Paragominas (perfil 26).
escala regional, trata-se de horizonte de espessura e de Normalmente é constituído por concreções centimétricas,
composição muito variáveis, mostrando em certos locais mais raramente decimétricas, de bauxita de granulação
grau de bauxitização apenas incipiente ou nulo. Nestes fina com poros preenchidos por gibbsita meso a
locais aparecem claramente os produtos pretéritos, argi- macrocristalina, que engloba certa quantidade de
losos e ferruginosos, enquanto que nas áreas que sofre- fragmentos ferruginosos ou pisólitos, reduzidos na base
ram bauxitização mais acentuada, estes produtos já não do horizonte a pequenas inclusões ferruginosas. O
aparecem com tanta clareza, tendo sido em grande parte tamanho dos nódulos diminui progressivamente para cima,
consumidos durante o processo. Os produtos pretéritos enquanto o das inclusões ferruginosas aumenta. Nos locais
à bauxita superior são variados. Pode tratar-se de pacote onde a bauxitização ocorreu porém não se individualizaram
de argila caulinítica de até 2,5 m de espessura, contendo concreções bauxíticas bem desenvolvidas, o horizonte, na
ou não pisólitos e/ou pequenos nódulos ferruginosos ou sua totalidade, consiste em bauxita porcelanada contendo
cascalho ferruginoso formando arcabouço denso e com- pisólitos ferruginosos, como descrito a seguir.
portando matriz argilosa fortemente subordinada. O pri- 9) O horizonte superior tem espessura de 15-20 cm
meiro caso se observa sobretudo na zona 2 (perfil 2), en- até cerca de 2 m e é essencialmente composto de grânu-
quanto o segundo é mais freqüente na zona 4. Este hori- los ou pisólitos lateríticos, densamente empacotados, com
zonte não existe na zona 1, nem na zona 3. pouca matriz argilosa constituída por caulinita, hidróxido
7) Nos perfis com porção superior fracamente bauxi- de Fe e gibbsita fortemente subordinada. De tamanho
tizada o contato entre o cascalho e a crosta ferruginosa milimétrico a centimétrico (comprimento máximo de 3-4
sotoposta pode ser brusco ou gradual. Embora ocorram cm) e forma subesférica a fusiforme, os grânulos apre-
pisólitos porosos, semelhantes texturalmente ao horizon- sentam quase exclusivamente textura fina, porosidade
te sotoposto, ou cauliníticos e friáveis, a maioria dos pisó- incipiente a nula e coloração avermelhada, arroxeada ou
litos exibe textura fina, marcante dureza, coloração aver- marrom escura. Compõem-se principalmente de hemati-
melhada a arroxeada e composição distinta da crosta fer- ta e caulinita, sendo o conteúdo de goethita baixo. Nos
ruginosa porosa. Pelas suas feições peculiares, o casca- perfis que comportam algum sinal de bauxitização, os pi-
lho de textura fina não parece ter ligação genética direta sólitos contêm geralmente quantidade variável porém su-
com a crosta ferruginosa subjacente e sim ser produto bordinada de gibbsita. Embora os grânulos sejam pobre-
alóctone resultante da degradação de alterita de textura mente selecionados, seu tamanho médio diminui geral-
pelítica de origem e localização indeterminadas ou produ- mente em direção ao topo do perfil. Localmente, este
to residual autóctone ou para-autóctone, derivado de por- horizonte chega a exibir estratificação incipiente (perfil
ções mais finas e mais resistentes da crosta ferruginosa. 17). Pode igualmente tratar-se de camada muito bem in-
Embora estas hipóteses sejam bastante atraentes, acre- dividualizada, repousando em contato brusco sobre outra
dita-se que o cascalho superior se formou, de fato, in camada constituída por fragmentos bem maiores e irre-
situ, por degradação da crosta, por meio de processo po- gulares de crosta ferruginosa predominantemente goethí-
lifásico envolvendo dissolução e reprecipitação pratica- tica (Platô Miltônia). Nos setores meridionais (perfis 2, 8,
mente in situ de oxi-hidróxidos de Fe e levando progres- 9 sobretudo), o cascalho ferruginoso constitui camada de
sivamente a modificações texturais e à diminuição da po- 15 a 30 cm e acompanha a superfície da crosta ferrugi-
rosidade, que, por sua vez, favorece a precipitação de nosa sotoposta, mesmo quando esta é irregular e exibe
hematita (Tardy 1993). Contudo, a formação dos pisólitos sinais de erosão. Quando, sobre esta camada repousa um
a partir de produtos lateríticos finos e mais resistentes à horizonte argiloso contendo concreções bauxíticas (per-
degradação não pode ser totalmente descartada, embora fis 2, 6, 7), uma segunda camada de cascalho laterítico de
seja de difícil comprovação. O fato da formação dos pi- 20 a 40 cm se sobrepõe ao horizonte argiloso. Com exce-
sólitos ter sido um processo fundamentalmente químico, ção dos perfis exclusivamente ferruginosos de porção me-
não impede que tenham também ocorrido, localmente, ridional da província bauxitífera, o cascalho laterítico
retrabalhamento mecânico e redistribuição do cascalho mostra fraca a forte cimentação e substituição por bauxi-
ferruginoso dentro de determinados limites. Acredita-se ta de granulação muito fina, comumente designada bau-
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
xita porcelanada. Em caso de substituição acentuada, os dade. A passagem destes fragmentos argilosos para o
grânulos ferruginosos são literalmente digeridos pela latossolo é gradativa embora rápida. Contudo, nenhuma
bauxita porcelanada e somem, deixando apenas peque- diferença composicional foi observada entre os dois pro-
nas manchas avermelhadas como indícios da sua exis- dutos. Em alguns perfis na base do capeamento, esta
tência pretérita. O horizonte exibe, então, feições de tipo mesma argila densa constitui pequenas colunas verticais
pipoca. Em certos perfis (perfis 4, 5, 6, 20) no topo do separadas por túbulos preenchidos pelo latossolo friável
horizonte de cascalho e fazendo contato com o capea- e altamente poroso. Enfim, em raros casos, foram encon-
mento argiloso destaca-se pela sua coloração esbranqui- trados pequenas linhas de pedras (stone lines) lateríti-
çada, uma franja bem individualizada de até 25 cm de cas. Embora estruturas sedimentares inequívocas não
espessura de bauxita pipoca formada à custa do cas- tenham sido, por ora, encontradas no capeamento argilo-
calho ferruginoso, por cimentação e, em seguida, por as- so, opta-se, preferencialmente, pela orígem para-autóc-
similação ou digestão dos pisólitos. tone deste, ou seja, pela deposição de fluxos de lama e
10) O capeamento argiloso, cuja espessura pode ul- por sua transformação posterior em latossolo. Conside-
trapassar 15 m, exibe, em sua maior parte, feições de rando a espessura, a composição e a homogeneidade do
espesso latossolo vermelho-tijolo, passando para tonali- capeamento, uma origem por degradação da cobertura
dade ocre-amarelada na sua porção superior e colorção bauxítica/laterítica sob efeito da ressilicificação por ação
acinzentada nos últimos 20-30 cm. Com exceção dos lo- biogênica (Lucas 1989) parece improvável. Tampouco é
cais onde obviamente foi erodido, o capeamento argiloso plausível a idéia da formação do capeamento por diferen-
repousa sobre a cobertura laterítica/bauxítica, tanto nos ciação de manto bauxítico inicial por meio da migração
setores tipicamente bauxíticos como nas zonas onde pre- per descensum de Fe e Al (Boulangé & Carvalho 1989,
domina ou ocorre exclusivamente a couraça ferruginosa. Boulangé & Carvalho 1997, Bardossy & Aleva 1989).
O contato com o manto residual subjacente é sempre brus-
co e apresenta ondulações de amplitude métrica a deca- Relações de contato entre os diferentes horizontes
métrica, muitas vezes altamente irregulares, bem visíveis
nos extensos cortes de estrada. Estas feições são muito No manto residual em estudo as relações de contato
parecidas com as do contato entre a crosta ferruginosa entre os diferentes horizontes apresentam interesse par-
do Mioceno Superior ou a camada de pedras (stone layer) ticular para a reconstituição da seqüência de eventos que
decorrente da degradação desta (Kotschoubey et al. 2005) levou à formação dos depósitos de bauxita. De baixo para
e os sedimentos Pós-Barreiras (ou depósitos cronocorre- cima observa-se no perfil que:
latos) sobrepostos, e sugerem tratar-se de vestígios de 1) A passagem da rocha-matriz alterada para o sa-
superfície. De consistência terrosa e altamente bioturba- prólito não estruturado é, via de regra, gradativa. Além
do, o latossolo mostra porosidade elevada devida à pre- de algumas modificações composicionais como intensa
sença de inúmeros túbulos e microgalerias. Compõe-se dissolução de quartzo e diminuição do grau de cristalini-
basicamente de caulinita e de hidróxido de Fe (6 a 10% dade de caulinita, esta passagem se traduz pelo desapa-
de Fe2O3). Gibbsita é freqüente porém muito subordina- recimento progressivo das estruturas e homogeneização
da. Anatásio tem presença notável e o teor de TiO2 varia do material alterado. Estas modificações estruturais su-
normalmente entre 2 e 3% em peso do total do material gerem a intervenção de processos pedogenéticos. Ade-
argiloso. Em sua base, numa espessura de até 3 a 4 m, mais, em alguns setores se encontram concreções bauxí-
pequenos fragmentos arredondados de couraça ferrugi- ticas riziformes ramificadas em quantidade no saprólito,
nosa, principalmente de fácies fina, e de bauxita porcela- interpretadas como testemunhos de atividade da biota
nada ou, ocasionalmente, cristalina encontram-se disper- (ação das raizes?). Por outro lado, em lugar algum foi
sos na matriz argilosa. A abundância destes fragmentos observada qualquer inconformidade ou discordância que
varia sensivelmente de um local a outro, não havendo na possa sugerir episódio erosivo e deposição de sedimentos
sua distribuição padrão perceptível. Acima de 3 - 4 me- alóctones. Pode-se considerar, portanto, que o saprólito é
tros do contato com a crosta ferro-aluminosa, os frag- autóctone, mesmo se houve, localmente, algum desloca-
mentos tornam-se raros, menores, podendo praticamente mento do rególito.
desaparecer por completo. Independentemente desses 2) No topo do saprólito, envoltos em matriz argilosa
fragmentos, encontram-se ocasionalmente, sobretudo nas não estruturada, ocorrem leitos compostos de bauxita fi-
porções mais basais do capeamento, fragmentos centi- namente estratificada ou laminada, exibindo textura are-
métricos a decimétricos de argila densa, exibindo fratura nítica fina a grossa. Tais feições indicam claramente que,
conchoidal e coloração ocre-amarelada. Estes fragmen- na base do perfil, a bauxita se formou por substituição de
tos distinguem-se do latossolo circunvizinho pela ausên- sedimentos ainda estruturados. Este processo consistiu
cia de sinais de bioturbação e por sua baixíssima porosi- em precipitação de gibbsita meso a macrocristalina a partir
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
de soluções ricas em Al, concomitantemente com a dis- passagem do horizonte ferruginoso para a bauxita inferi-
solução dos minerais do sedimento alterado, de quartzo or. Embora o material bauxítico fino possa invadir por
em particular, assemelhando-se a processo metassomáti- vezes a couraça ferruginosa, o contato entre os dois hori-
co a frio. A ausência de estruturas sedimentares no zontes é brusco e marcado por forte diminuição do tama-
saprólito superior sugere, por sua vez, que a saprolitiza- nho dos nódulos no topo da couraça. Cascalho rico em
ção ocorreu após a formação da bauxita sobreposta, Fe, de textura fina, densamente empacotado e com pou-
apontando para o papel fundamental dos fluxos laterais ca matriz argilosa repousa com freqüência diretamente
na distribuição do alumínio. sobre a crosta ferruginosa. Em muitos casos, no entanto,
No entanto, as estruturas e textura sedimentares de- o cascalho ferruginoso encontra-se cimentado ou parcial
saparecem rapidamente para cima e a bauxita adquire a totalmente substituído por bauxita (perfil 8). O contato
feições pedogenéticas, textura mais fina e maior porosi- não se observa mais somente quando a couraça ferrugi-
dade. Localmente, na base do perfil, restos de crosta fer- nosa se encontra quase totalmente substituída por bauxi-
ruginosa substituída parcialmente por gibbsita sacaroidal ta e reduzida apenas a inclusões esparsas.
e exibindo ainda a estrutura laminada herdada mostra-se O contato em questão se observa claramente nos ex-
altamente desferrificados, conferindo a este intervalo do tensos afloramentos da rodovia Belém-Brasília (perfis 5,
perfil aspecto variegado. Este quadro sublinha a predo- 6, 7, 17, 20) e exibe, via de regra, feições onduladas. As
minância das condições redutoras em ambiente saturado ondulações de amplitude métrica a decamétrica apresen-
na interface saprólito pouco permeável/impermeável. Em tam variável regularidade.
tal ambiente propício à mobilização de Fe ocorre bran- Cabe ressaltar como fato de suma importância no con-
queamento e individualização de zona de transição. Nos texto regional, as feições erosivas inequívocas que, co-
setores bauxíticos, a alta concentração de sílica nas águas mumente, marcam o contato entre a crosta ferruginosa e
no contato entre a bauxita inferior e saprólito resultou em a bauxita superior, ou em ausência desta, o capeamento
desestabilização de gibbsita e ressilicificação ou caulini- (perfis da zona 3). Trata-se de incisões irregulares de
zação da bauxita. Assim, a bauxita inicialmente maciça amplitude vertical métrica afetando a couraça ferrugino-
sofreu progressiva degradação e fragmentação química, sa, cuja espessura pode sofrer variações drásticas em
transformando-se em bauxita nodular mais caulinítica. Os espaço limitado. Excelente exemplo de tais feições en-
nódulos bauxíticos observados hoje na base do perfil são, contra-se na rodovia BR 010, 3 km a norte de Ligação do
portanto, feições de degradação do horizonte originalmente Pará (perfil 8) (Figura 90). Os fortes indícios de erosão e
mais maciço e não concreções primárias. retrabalhamento físico apoiam o modelo evolutivo polifá-
A passagem da bauxita inferior à couraça ferruginosa sico envolvendo, além dos processos pedogenéticos, mo-
é brusca ou progressiva, de acordo com a intensidade da dificações na paisagem, retrabalhamentos mecânicos e
bauxitização. Zona de transição ocorre com freqüência, transporte de massa.
entre os dois horizontes, na qual nódulos ferruginosos 3) A parte superior do manto laterítico/bauxítico é
encontram-se envoltos em bauxita de textura fina com constituída, via de regra, por cascalho derivado da crosta
poros preenchidos por gibbsita mais grossa. A bauxita ferruginosa já citado acima. Como no horizonte subja-
invade a base da couraça ferruginosa, preenchendo ca- cente, o cascalho compõe-se de grânulos arredondados,
vidades e, em estágio mais avançado, substituindo a pró- fusiformes a subesféricos e apresenta empacotamento
pria crosta. A substituição foi certamente facilitada pela denso em presença de pouca matriz argilosa. No entanto,
remoção progressiva de ferro no ambiente mais redutor seu grau de bauxitização é geralmente menor que no ho-
gerado pela estagnação das águas em meio altamente rizonte de concreções bauxíticas. Observa-se, contudo,
poroso. As fontes de alumínio foram argila residual, libe- franja de bauxita porcelanada altamente desferrificada
rada pela degradação e desferrificação da crosta e argila (pipoca) bem como, logo abaixo, níveis sub-horizontais
de iluviação, proveniente de horizontes mais superficiais. difusos exibindo grau variável de cimentação e substitui-
Acredita-se que a iluviação teve papel particularmente ção do cascalho pela mesma bauxita. A presença de tal
relevante e contínuo no processo e foi o principal meca- franja mostra que, em diversos setores, instalou-se no topo
nismo fornecedor de alumínio ao meio. As relações entre do perfil um ambiente redutor e relativamente ácido, fa-
a crosta ferruginosa e o horizonte bauxítico inferior mos- vorável, por um lado, à desferrificação dos pisólitos, e
tram claramente que a formação da primeira precedeu a por outro, ao enriquecimento relativo em alumina do meio
do segundo. As feições impressas na bauxita indicam que por dessilicificação da matriz argilosa e dos resíduos argi-
esta foi gerada por enriquecimento tanto relativo como losos da degradação dos pisólitos. Tais características
absoluto em alumina. ambientais corresponderiam mais provavelmente a ambi-
A passagem da couraça ferruginosa para o horizonte ente pantanoso, propício à acumulação de matéria orgâ-
bauxítico superior tem características distintas das da nica, preservação de condições redutoras e produção de
766
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
ácidos orgânicos. Em tais condições, parte substancial de de um domínio ao outro marcada por faixa mal definida
Fe3+ teria sofrido redução e complexos organometálicos de alguns quilômetros de extensão norte-sul. O perfil 32,
ter-se-iam formado, permitindo a mobilização de Fe e a situado na rodovia PA 256 é um bom exemplo desta zona
desferrificação na zona mais superficial do manto residu- de transição.
al tanto do cascalho ferruginoso como da matriz argilosa. O manto residual do domínio setentrional consiste em
A acidez do meio, mantida pela geração de ácido carbô- crosta ferro-aluminosa, com conteúdo variável porém
nico e de ácidos orgânicos diversos, teria intensificado os geralmente apreciável de caulinita, não estruturada em
efeitos da hidrólise e acelerado a dissolução de caulinita. horizontes claramente definidos que, de acordo com o lo-
O elevado conteúdo de gibbsita na bauxita porcelanada cal, engloba ou não restos mais ou menos bem preserva-
mostra, no entanto, que o ambiente não era confinado e dos de cobertura residual pretérita. Os vestígios lateríti-
permitia remoção eficiente da sílica. Considerando que o cos/bauxíticos mais freqüentes são blocos de crosta fer-
ambiente pantanoso implica em paisagem plana ou fei- ruginosa de textura porosa, por vezes conglomerática
ções topográficas negativas bem como em bloqueio da (perfil Ipixuna IV) e camadas centimétricas a decimétri-
infiltração das águas superficiais e da percolação para cas de cascalho composto de pisólitos bauxíticos, de tex-
zonas mais profundas, é possível que a remoção da sílica tura fina e aspecto porcelanado, densamente empacota-
tenha ocorrido por diálise, por meio de escoamento su- dos. Mais raramente, encontram-se, na parte superior do
perficial de soluções enriquecidas em sílica. Enfim, a tex- perfil, nódulos bauxíticos reliquiares maiores ou, na parte
tura cripto a microcristalina de gibbsita mostra que sua mais basal, restos de bauxita de textura arenítica exi-
formação ocorreu sobretudo por dessilicificação de ma- bindo ainda sinais de laminação ou fina estratificação
terial argiloso. Ademais, as feições deste horizonte suge- herdada da rocha matriz. Os diferentes materiais reliqui-
rem que houve também migração lateral de soluções. A ares sofreram cimentação/substituição de intensidade
formação da bauxita porcelanada no topo do perfil laterí- variável pela bauxita hospedeira. Em particular, os pisóli-
tico/bauxítico durante ou após o desenvolvimente da co- tos gibbsíticos porcelanados do topo do perfil mostram,
bertura argilosa (Lucas 1989, Bardossy & Aleva 1989, com freqüência, alto grau de assimilação, sobrando ape-
Carvalho & Boulangé 1989, Horbe & Costa 1999) é pou- nas pequenos núcleos zonados com bordas corroídas dis-
co provável. Este horizonte superior, muito enriquecido persos na matriz bauxítica fina. As porções de crosta fer-
em alumina e em contato muito brusco com o capeamen- ruginosa, devido ao seu elevado conteúdo de Fe, exibem
to, não tem características de frente de silicificação que, geralmente grau menor de substituição pela bauxita, em-
ao contrário, deveria ser marcada por aumento gradativo bora a presença de abundantes filonetes e bolsões de
do conteúdo de sílica e caulinitização do meio. Também, bauxita fortemente desferrificada nesses vestígios ferru-
não pode ser evocada a permeabilidade da zona de con- ginosos sugira intensa cimentação. A própria bauxita hos-
tato manto residual-capeamento como fator propício ao pedeira desses produtos reliquiares, embora não apresente
desenvolvimento do quadro observado. Admitindo que a estrutura acamada, exibe acentuada diferenciação que
permeabilidade nesta interface é realmente elevada, a li- se traduz por feições esqueletais subverticais, caracterís-
xiviação vertical e lateral da sílica poderia efetivamente ticas do manto residual do domínio norte em toda a sua
ser considerada. No entanto, neste caso, não se explica- extensão. Esta diferenciação consiste basicamente em
ria a desferrificação dos produtos alteríticos em zona mais marcante individualização de porções altamente desferri-
drenada e, consequentemente, favorável à precipitação ficadas, brancas a lilás claro, porosas e friáveis, e de por-
de oxi-hidróxidos de Fe e à eventual formação de cara- ções tabulares, densas, litificadas, de coloração marrom
paça ferruginosa. Ao contrário, admitindo certa satura- avermelhada a vermelha arroxeada. Estas últimas, devi-
ção nesta interface, poderia ser explicada a desferrifica- do à sua maior resistência química e física ao intemperis-
ção, porém não a dessilicificação. Enfim, o modelo de mo e erosão, sustentam a estrutura colunar compartimen-
formação tardia da bauxita porcelanada não explica a tada, fortemente dissecada em afloramento. A segrega-
presença de fragmentos arredondados a angulosos deste ção de Fe e sua concentração na forma de paredes
mesmo material, junto com fragmentos de crosta ferrugi- tabulares, ricas em hematita e revestimentos e cutãs go-
nosa e de bauxita sacaroidal, no capeamento. ethíticos, seriam resultado de sua mobilização no manto
original sob efeito de ambiente altamente redutor e ácido,
Domínio setentrional instalado regionalmente após a bauxitização. Como no
caso da bauxita porcelanada do domínio meridional, acre-
A parte norte da Província Bauxitífera de Paragomi- dita-se que, após a formação da crosta ferro-aluminosa,
nas caracteriza-se pela presença de manto residual de um meio pantanoso de grande extensão, porém ainda mais
feições, na sua essência, distintas das da cobertura laterí- persistente, tomou conta da região. A geração de com-
tica/bauxítica das zonas meridionais, sendo a passagem plexos organometálicos e o aumento da acidez desestabi-
767
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
Figura 90. Perfil lateral 8 (3 km a norte de Ligação do Pará). Notar as feições pseudocársticas e as variações de espessura na
crosta ferruginosa e no horizonte de concreções bauxíticas sobreposto, sugerindo erosão da primeira e seu recobrimento por
depósitos argilosos proto-bauxíticos.
lizaram o manto residual em toda a sua espessura. A con- XIII. EVOLUÇÃO DA COBERTURA
seqüente mobilização de Fe resultou em sua migração LATERÍTICA/SEDIMENTAR
centrífuga em espaços limitados e sua segregação nas
bordas de volumes grosseiramente colunares, praticamen- Os dados apresentados neste trabalho permitiram iden-
te esvaziados do seu conteúdo original de Fe. Com a lixi- tificar os principais processos envolvidos na formação da
viação do ferro, o material caulinita-gibbsítico desferrifi- cobertura ferro-aluminosa da Província Bauxitífera de
cado das porções internas dessas colunas tornou-se po- Paragominas e ordená-los numa seqüência lógica. Mo-
roso e friável, sendo facilmente removido em afloramen- delo evolutivo, integrando estes dados e elaborado com
to pelas águas de escoamento superficial. As zonas de visão tanto geomorfológica/sedimentológica como
concentração de ferro, ao contrário tornaram-se mais geoquímica, é apresentado a seguir (Figura 91-1 e 3). Um
densas, mais litificadas e resistentes aos ataques dos agen- modelo alternativo para o primeiro ciclo da evolução é
tes intempéricos, ressaltando-se em afloramento na for- igualmente proposto na Figura 91-2. O primeiro, mais sim-
ma do arcabouço esqueletal-ruiniforme ferruginoso já ples, tem a preferência dos autores. Não se pretende abor-
descrito. Nos setores onde a lixiviação de Fe alcançou dar aqui a questão da idade das diferentes fases da evo-
seu grau máximo, formou-se uma zona de espessura lução do manto laterítico/bauxítico em apreço. Apenas
métrica, quase totalmente desferrificada, esbranquiçada algumas sugestões são apresentadas, apoiadas nas
com discretas manchas rosadas como testemunhos das datações efetuadas por Vasconcelos et al. (1994) nas
antigas zonas de acumulação de oxi-hidróxidos de Fe (per- lateritas manganesíferas da região de Carajás, bem como
fil Ipixuna VII).
768
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
nos trabalhos de King (1967) e Frakes (1994) sobre a bordinadamente, na forma de ions simples ou complexos,
evolução climática e geomorfológica global. Fe migrou para áreas baixas e aplainadas que se expan-
1) Alteração dos sedimentos cretáceos. Numa diam à custa dos platôs submetidos à constante erosão
primeira etapa, sob efeito de clima quente e úmido, os por recuo das suas encostas. A reprecipitação de Fe na
sedimentos Itapecuru e Ipixuna sofreram forte intempe- forma de oxi-hidróxidos amorfos ou mal cristalizados foi
rismo, com dissipação parcial das estruturas sedimenta- provavelmente causada pelo encontro das soluções per-
res e desenvolvimento, em grande parte da região, de colantes com o lençol d´água raso e suficientemente oxi-
espesso rególito. Em muitos setores, próximo à superfí- dante para desestabilizar os complexos organometálicos.
cie, os arenitos arcoseanos foram totalmente desagrega- Esta fase de evolução ocorreu provavelmente como a
dos e seus produtos de alteração homogeneizadas por pro- anterior, no final do Cretáceo ou no Paleoceno.
cessos pedogenéticos, em particular, da bioturbação. Os 3) Degradação da crosta ferruginosa e modifica-
leitos argilíticos intercalados nos arenitos, por serem mais ções geomorfológicas. A degradação da couraça fer-
coesos, sofreram fragmentação. Envolvidos no processo ruginosa foi provavelmente provocada por mudanças cli-
de homogeneização decorrente da ação da microfauna e máticas para regime algo mais úmido e iniciou-se com a
das raizes, fragmentos dos produtos pelíticos foram en- individualização de estruturas colunares, seguida por frag-
globados no material areno-argiloso não consolidado mentação mais acentuada e a formação de nódulos fer-
resultante da desagregação dos arenitos. Neste estágio ruginosos e, finalmente, pelo desenvolvimento de camada
preliminar ocorreram marcantes mudanças composicio- de pisólitos no topo, seguindo o esquema clássico da de-
nais, tanto mineralógicas como químicas. A decomposi- gradação química das crostas lateríticas (Nahon 1991,
ção ou forte degradação dos minerais de menor resistên- Tardy 1993, Calaf 2000, Kotschoubey et al. 2005). A
cia ao intemperismo (feldspatos, micas, minerais pesados degradação da couraça ferruginosa foi, pelo menos em
mais vulneráveis (p. ex. ilmenita, apatita) resultou em for- alguns setores, controlada pela natureza e estruturação
mação de associação mineral secundária consistindo ba- dos sedimentos parentais. Um excelente exemplo de tal
sicamente em quartzo residual, caulinita, oxi-hidróxidos controle encontra-se na piçarreira de Paragominas (per-
de Fe muito subordinados, vestígios de mica, anatásio, fil 31). Neste local, numa extensão de várias centenas de
fosfatos de Al, além dos minerais pesados de maior resis- metros, pode ser vista a crosta ferruginosa formada so-
tência ao intemperismo. Esta primeira fase ocorreu, pro- bre sedimentos da Formação Ipixuna apresentando ape-
vavelmente no início do Paleógeno (no Paleoceno) ou nas fracos sinais de bauxitização, porém estratificação
no final do Cretáceo. bem expressa. A estratificação é sublinhada pela alter-
2) Formação da couraça ferruginosa. Com o ad- nância de horizontes nodulares e de leitos delgados mais
vento de clima quente e úmido contrastado, houve ferru- maciços, exibindo uma laminação sedimentar reliquiar. A
ginização dos sedimentos alterados por sua impregnação análise mais detalhada mostra que, nos horizontes nodu-
destes por oxi-hidróxidos de Fe e substituição de caulinita lares, a crosta possui textura mais fina, enquanto os leitos
por hematita (Ambrosi et al. 1986, Nahon D. 1991, Tardy estruturados são derivados de camadas areníticas de tex-
Y. 1993), formando-se então espessa couraça ferrugino- tura grossa. Em contraste com o exemplo citado, a crosta
sa. Considerando-se o baixo conteúdo de Fe no material ferruginosa na zona 1 apresenta uma notável homogenei-
parental (arenitos arcoseanos alterados) e a limitada re- dade. A predominância de arenitos maciços na Forma-
dução da espessura dos sedimentos nesta primeira fase ção Itapecuru, deve ser a causa da ausência de qualquer
de evolução (a textura arenítica parece ter sido bem pre- diferenciação. Embora o assunto precise ser aprofunda-
servada na couraça ferruginosa), a acumulação de Fe in do, uma relação poderia existir entre o grau de bauxitiza-
situ, deve ter desempenhado papel muito secundário na ção e o padrão de degradação do horizonte ferruginoso,
geração da crosta de espessura métrica e teor de Fe2O3 por sua vez controlado pela natureza dos sedimentos pa-
de até 75% em peso. A migração lateral de soluções ri- rentais.
cas em Fe foi provavelmente o principal mecanismo no A degradação afetou a couraça ferruginosa em toda
desenvolvimento desta crosta. Supõe-se, conseqüente- a sua extensão, porém com intensidade muito variável, o
mente, que os sedimentos cretáceos não foram a única que resultou em diversificação da paisagem. A erosão
fonte do ferro. Acredita-se que este foi em grande parte teve atuação notável, expressa por feições pseudo-cárs-
herdado de formação pretérita enriquecida neste elemento, ticas e prováveis canais esculpidos na couraça ferrugino-
mais provavelmente uma couraça ferruginosa mais anti- sa, entre outros indícios. O retrabalhamento dos produ-
ga capeando platôs dominantes na época e sustentando tos de alteração foi outro processo relevante neste perío-
vestígios de superfície anterior à Superfície Sul-Ameri- do. Tanto os produtos de desmantelamento e degradação
cana. Mobilizado sobretudo na forma de complexos or- da couraça ferruginosa como os materiais regolíticos mais
ganometálicos relativamente estáveis e talvez, porém su- finos sofreram redistribuição, principalmente à escala lo-
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
cal, sob a forma de fluxos de detritos, fluxos de lama e velmente devida à irregularidade das feições paleogeo-
outras formas de fluxos gravitacionais. A redistribuição gráficas. Em termos gerais, as zonas 1 e 3 correspondi-
foi aparentemente irregular, favorecendo sobretudo as am possivelmente a altos geomorfológicos, sustentados
zonas 2 e 4. Enquanto nas zonas 1 e 3 a deposição de pela couraça ferruginosa exposta, impróprios para trans-
produtos regolíticos sobre a crosta ferruginosa foi nula a porte e deposição de rególito, enquanto as zonas 2 e 4, ao
fraca, nas zonas 2 e 4 depósitos areno-argilosos ou argi- contrário, ligeiramente deprimidas, ofereciam boas con-
lo-arenosos, contendo ou não fragmentos de crosta fer- dições para acumulação de material detrítico. De qual-
ruginosas e pisólitos, ter-se-iam acumulado em função do quer modo, os contrastes topográficos não deviam ser
quadro geomorfológico local. Assim, na zona 2, tais acu- muito acentuados à escala da província. A degradação
mulações seriam na origem do horizonte bauxítico superi- da cobertura ferro-aluminosa, precursora do longo perío-
or, ainda bastante argiloso nos setores mais meridionais do de bauxitização, estendeu-se, possivelmente, do Pale-
(perfil 2). Na zona 4 estes produtos teriam contido maior oceno até o início do Eoceno.
quantidade de fragmentos ferruginosos e pisólitos retra- 4) Bauxitização. Com a mudança para clima mais
balhados, mesmo assim havendo abundante matriz argi- chuvoso, a hidrólise e a lixiviação dos elementos mobili-
losa constituindo reserva de alumínio para a futura bauxi- zados tornaram-se mais intensas e eficientes. Caulinita
tização. A irregularidade com a qual se distribuem os pro- sofreu desestabilização e dissolução incongruente em
dutos argilo-arenosos sobre a crosta ferruginosa é prova- todos os horizontes afetados pelas soluções percolantes,
770
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
7) Fase erosiva maior. Com o resfriamento cli- ao conceito de bauxita. Produtos aluminosos formaram-
mático no Oligoceno, ocorreu sensível regressão. O re- se, no entanto, em maior quantidade, em setores mais ori-
baixamento do nível do mar provocou abatimento do nível entais do domínio setentrional (zona 5) (platôs Jabuti). A
de base, o que desencadeou intenso processo erosivo na bauxitização II deve ter ocorrido após a fase erosiva prin-
região em apreço. Este processo rompeu o equilíbrio ge- cipal, porém antes do início do ciclo neógeno, no final do
omorfológico mantido sem modificações significativas du- Oligoceno ou no início do Mioceno. Formações residuais
rante quase todo o Paleógeno e provocou profundas inci- ferruginosas, aparentemente desta mesma idade e cor-
sões na cobertura residual laterítica/bauxítica, seu cape- respondendo à Superfície Velhas Antiga ou Velhas I, fo-
amento argiloso e as formações cretáceas sotopostas já ram recentemente identificadas na própria província bau-
bastante intemperizadas. Formaram-se amplos vales, in- xitífera Kotschoubey 2005)
dividualizando-se vastas chapadas sustentadas pela se- 10) Desferrificação e degradação do manto resi-
qüência laterítica-sedimentar. O rebaixamento do nível dual II. Após a bauxitização, instalou-se sobre a crosta
freático provocou um notável aprofundamento do perfil residual II, um ambiente altamente redutor, provavelmen-
de alteração e espessamento do horizonte saprolítico. Esta te pantanoso, cuja influência se faz sentir numa espessu-
fase erosiva se estendeu provavelmente até o Oligoceno ra de vários metros e, comumente, em todo o perfil. Os
Superior. principais efeitos deste ambiente superficial foram forte
Com a fase 7 encerra-se a evolução do manto residu- mobilização de Fe e sua segregação segundo padrão es-
al no domínio meridional. Seguem-se as descrições das queletal-malhado, a intensa desferrificação de toda a
fases subseqüentes que foram identificadas somente no cobertura residual, que poupou apenas os vestígios de
domínio setentrional. couraça ferruginosa pretérita e, em alguns setores, total
8) Movimentos do rególito II. Enquanto nas por- desferrificação dos 2 a 3 m mais superficiais. Esta etapa
ções mediana e meridional da futura Província Bauxitífe- da evolução teve provavelmente lugar logo após a bauxi-
ra de Paragominas os processos erosivos estavam enfra- tização no Mioceno Inferior.
quecendo e se iniciava o assoreamento dos vales (Kots- 11) Deposição do capeamento II. Após a desferri-
choubey et al. 2005), mais a norte, a Plataforma Bragan- ficação do manto residual e a segregação de ferro, hou-
tina se individualizava com a erosão do manto ferro-alu- ve, mais uma vez, deslocamento maciço de rególito, pro-
minoso que originalmente se estendia a toda a bacia do vavelmente em condições climáticas relativamente secas,
rio Amazonas. Entre os platôs da região de Paragominas, porém com períodos de elevada pluviosidade. Após sua
extensos e bem preservados com cobertura residual e deposição, o pacote argilo-arenoso de vários metros de
capeamento espessos, e a costa do mar Pirabas, em trans- espessura sofreu os efeitos dos agentes intempéricos.
gressão de norte para sul, individualizou-se uma zona de Parte da caulinita foi dessilicificada, o que levou à forma-
transição de cerca de 100 km de extensão norte-sul, mais ção de gibbsita localmente abundante. Em casos extre-
severamente afetada pela erosão e comportando apenas mos, a proporção de gibbsita chegou a ultrapassar a de
vestígios do manto residual laterítico/bauxítico, mais fre-
caulinita. Esta derradeira fase ocorreu possivelmente no
qüentemente do horizonte ferruginoso e da bauxita por-
Mioceno Inferior-Médio.
celanada na forma de acumulações pisolíticas superfici-
ais, talvez depósitos de glacis. Os produtos alteríticos au-
tóctones ou deslocados foram recobertos por depósitos XIV. CONCLUSÕES
de origem regolítica, sobretudo argilosos, conforme a com-
posição mais pelítica da Formação Ipixuna subjacente. Os depósitos de bauxita da Província Bauxitífera de
Os movimentos do rególito ocorreram provavelmente no Paragominas se inscrevem no quadro mais amplo da se-
Oligoceno Superior ou na transição do Oligoceno para o qüência laterítica-sedimentar formada durante o Paleó-
Mioceno. geno no NE do Pará-W do Maranhão, e representam a
9) Bauxitização II. O conjunto constituído pelos res- forma mais complexa e mais evoluída do manto residual
quícios do manto laterítico/bauxítico do Paleógeno e os que constitui a parte basal da seqüência. Os levantamen-
depósitos argilo-arenosos tardios foi submetido à ferrali- tos de campo e os dados analíticos mostraram que o manto
tização, ou seja, à lixiviação in situ dos elementos mais residual teve evolução polifásica controlada por variações
solúveis, no caso basicamente sílica. Enquanto os vestígi- climáticas no tempo, como também por fatores geomor-
os acima citados sofreram poucas modificações e pre- fológicos, morfogenéticos e provavelmente geotectônicos.
servaram até suas características texturais e químicas, a As variações climáticas no espaço parecem ter tido influ-
matriz argilo-arenosa foi alterada para laterita aluminosa ência menos relevante. Após a formação de couraça fer-
bastante rica em caulinita e oxi-hidróxidos de Fe, não di- ruginosa regional sob clima tropical contrastado, sua
ferenciada em horizontes nem sempre correspondendo degradação parcial em condições mais úmidas e a redis-
772
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
tribuição, em alguns setores, do material regolítico, ocor- de exploração desenvolvidos nas últimas décadas. No
reu, sob efeito de alta pluviosidade, longo período de bau- entanto, não deve ser descartada a possibildade de áreas
xitização, cujos resultados dependeram, por um lado, de interesse existirem nas demais zonas, onde investiga-
da disponibilidade de alumínio no meio, e por outro, da ções mais detalhadas são recomendadas.
qualidade da drenagem. Apesar da relativa estabilidade
geotectônica durante a maior parte do Paleógeno, a hete- Agradecimentos
rogeneidade do meio supergênico fez com que a bauxiti-
zação tivesse efeitos variados, definindo-se não só um Ao DNPM e à FINEP pelo apoio financeiro que per-
zoneamento regional, como também variações acentua- mitiu a realização do projeto nas melhores condições; ao
das à escala local. A evolução do manto laterítico/bauxí- CNPq pelo incentivo na forma de uma bolsa de Produti-
tico iniciou-se no início do Paleógeno (talvez no final do vidade em Pesquisa para o primeiro autor e uma bolsa de
Cretáceo) e a bauxitização ocorreu mais provavelmente DTI para o quarto; à ADIMB nas pessoas do Prof. O. J.
no Eoceno até, possivelmente, o Oligoceno Inferior, quan- Marini e do Sr. B. W. Ramos pela oportunidade de de-
do espesso pacote argilo-arenoso derivado do rególito foi senvolver a presente pesquisa, pela atenção e pela infini-
depositado sobre o manto residual. Na porção setentrio- ta paciência, sobretudo na fase final de elaboração deste
nal da província, a evolução prosseguiu até o Mioceno relatório; à Companhia do Vale do Rio Doce (CVRD)
Inferior-Médio, por meio de movimentos de massa e de pela sessão de testemunhos de sondagem para estudos
fases de intemperismo sob clima quente e úmido que, no de laboratório e pelo apoio no campo no início do projeto.
entanto, não chegaram a gerar bauxita da qualidade do Enfim, por terem, de alguma forma e em algum momen-
minério formado durante o período principal de bauxitiza- to, contribuido na realização do presente estudo, agrade-
ção. Apesar de toda a complexidade da Província Bauxi- cemos aos professores Werner Truckenbrodt e Thomas
tífera de Paragominas, as zonas 2 e 4 definidas neste tra- Scheller, aos geólogos Érica Cristina Acácio Viana, Ki-
balho aparecem como as mais promissoras em termos de rkpatrik Moreira Monteiro, Marcos Soares de Oliveira e
potencial bauxitífero, fato já evidenciado pelos trabalhos Wagner Linhares da Silva.
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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
ANEXOS
777
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
778
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
779
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
Anexo 7 Perfis 28, 29, 30 e 32 da zona 4. O perfil 32 representa a transição da zona 4 para a zona 5.
Simbologia nas figuras 55 e 56.
780
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia
Anexo 8 Perfis GN-199, GN-190, GN-201 e GN-200 do Platô Gurupi Norte. Simbologia na Figura 55.
Anexo 9 Perfis GN-206 e GN-207 do Platô Gurupi Norte. Simbologia na Figura 55.
781
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão
Anexo 10 Perfis Ipixuna I, Ipixuna II, Ipixuna III e Ipixuna IV da zona 5 (domínio setentrional). Simbologia
na Figura 59.
782