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CAPÍTULO XI

CARACTERIZAÇÃO E GÊNESE DOS DEPÓSITOS


DE BAUXITA DA PROVÍNCIA BAUXITÍFERA DE
PARAGOMINAS, NOROESTE DA BACIA DO GRAJAÚ,
NORDESTE DO PARÁ/OESTE DO MARANHÃO

BASILE KOTSCHOUBEY
JOSÉ MARIA CALAF CALAF
AUGUSTO CÉLIO COSTA LOBATO
ALESSANDRO SABÁ LEITE
CARLOS HENRIQUE DUARTE AZEVEDO
SUMÁRIO

CAPÍTULO XI
CARACTERIZAÇÃO E GÊNESE DOS DEPÓSITOS DE BAUXITA DA
PROVÍNCIA BAUXITÍFERA DE PARAGOMINAS, NOROESTE DA BACIA DO
GRAJAÚ, NORDESTE DO PARÁ/OESTE DO MARANHÃO

RESUMO ............................................................................................................................................................................. 691


ABSTRACT ............................................................................................................................................................................. 691

I. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 692

II. BAUXITA SOBRE ROCHAS SILICLÁSTICAS DO CRETÁCEO NA AMAZÔNIA: ESTADO


DE CONHECIMENTO ................................................................................................................ 693

III. METODOLOGIA ......................................................................................................................... 695

IV. LOCALIZAÇÃO E ACESSO À ÁREA DO SUB-PROJETO ..................................................... 695

V. ASPECTOS FISIOGRÁFICOS .................................................................................................... 696


Clima ............................................................................................................................................................ 696
Geomorfologia .............................................................................................................................................. 696
Hidrologia ..................................................................................................................................................... 698
Vegetação ..................................................................................................................................................... 698
Solos ............................................................................................................................................................. 698

VI. QUADRO GEOLÓGICO REGIONAL: BACIA DO GRAJAÚ E PLATAFORMA


BRAGANTINA ............................................................................................................................. 699
Bacia do Grajaú ............................................................................................................................................ 700
Formação Grajaú .................................................................................................................................................. 700
Formação Codó .................................................................................................................................................... 700
Grupo Itapecuru ................................................................................................................................................... 700
Formação Ipixuna ................................................................................................................................................. 700
Plataforma Bragantina ................................................................................................................................. 701
Formação Pirabas ................................................................................................................................................. 701
Formação Barreiras............................................................................................................................................... 701
Sedimentos Pós-Barreiras .................................................................................................................................... 702

VII. QUADRO GEOLÓGICO DA PROVÍNCIA BAUXITÍFERA DE PARAGOMINAS .............. 702

VIII. QUADRO SUPERGÊNICO REGIONAL ................................................................................... 702


Manto ferro-aluminoso do Paleógeno .......................................................................................................... 704
Crosta ferruginosa intermediária (Final do Oligoceno-Início do Mioceno?) ................................................ 704
Cobertura ferruginosa do Neógeno (Mioceno Superior) ............................................................................. 704

IX. EVOLUÇÃO GEOLÓGICA ......................................................................................................... 705


X. COBERTURA BAUXÍTICA NA PROVÍNCIA BAUXITÍFERA DE PARAGOMINAS ........ 706
Domínio Meridional (zonas 1, 2, 3 e 4) ....................................................................................................... 707
Perfil tipo e suas variações ................................................................................................................................. 707
Horizonte saprolítico ........................................................................................................................................... 707
Horizonte bauxítico inferior ................................................................................................................................. 708
Horizonte ferruginoso ......................................................................................................................................... 712
Horizonte bauxítico superior ............................................................................................................................... 716
Cascalho superior ............................................................................................................................................... 719
Capeamento argiloso ........................................................................................................................................... 722
Zoneamento regional .......................................................................................................................................... 725
Cobertura ferruginosa da zona 1 ................................................................................................................. 726
Cobertura ferro-aluminosa da zona 2 .......................................................................................................... 726
Cobertura predominantemente ferruginosa da zona 3 ................................................................................ 728
Cobertura bauxítica da zona 4 ..................................................................................................................... 729
Domínio setentrional (zona 5) ...................................................................................................................... 731
Generalidades ...................................................................................................................................................... 731
Exemplo 1 ............................................................................................................................................................ 732
Exemplo 2 ............................................................................................................................................................ 736
Exemplo 3 ............................................................................................................................................................ 736
Capeamento argiloso ........................................................................................................................................... 738

XI. QUIMISMO .................................................................................................................................. 738


Domínio Meridional ..................................................................................................................................... 739
Elementos maiores .............................................................................................................................................. 739
Elementos-traço .................................................................................................................................................. 743
Grupo 1 ................................................................................................................................................................ 744
Grupo 2 ................................................................................................................................................................ 746
Grupo 3 ................................................................................................................................................................ 746
Grupo 4 ................................................................................................................................................................ 747
Elementos Terras Raras ....................................................................................................................................... 749
Domínio setentrional .................................................................................................................................... 751
Elementos maiores .............................................................................................................................................. 752
Elementos-traço .................................................................................................................................................. 754
Grupo 1 ................................................................................................................................................................ 754
Grupo 2 ................................................................................................................................................................ 757
Grupo 3 ................................................................................................................................................................ 758
Grupo 4 ................................................................................................................................................................ 758
Elementos Terras Raras ....................................................................................................................................... 760
Comentários finais ....................................................................................................................................... 761

XII. DISCUSSÃO ................................................................................................................................. 761


Domínio meridional ...................................................................................................................................... 763
Relações de contato entre os diferentes horizontes .................................................................................... 765
Domínio setentrional .................................................................................................................................... 767

XIII. EVOLUÇÃO DA COBERTURA LATERÍTICA/SEDIMENTAR ............................................. 768

XIV. CONCLUSÕES ............................................................................................................................. 772

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................................. 773

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 773

ANEXOS ................................................................................................................................................................ 777


Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

CARACTERIZAÇÃO E GÊNESE DOS DEPÓSITOS DE BAUXITA DA


PROVÍNCIA BAUXITÍFERA DE PARAGOMINAS, NOROESTE DA BACIA DO
GRAJAÚ, NORDESTE DO PARÁ/OESTE DO MARANHÃO

BASILE KOTSCHOUBEY1, JOSÉ MARIA CALAF CALAF2, AUGUSTO CÉLIO COSTA LOBATO3,
ALESSANDRO SABÁ LEITE4, CARLOS HENRIQUE DUARTE AZEVEDO5.

1
Departamento de Geoquímica e Petrologia, Centro de Geociências, Universidade Federal do Pará, CEP: 66075-110.
e-mail: basile@ufpa.br
2
Curso de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica do Centro de Geociências, Universidade Federal do Pará, CEP: 66075-110.
3
Curso de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica do Centro de Geociências, Universidade Federal do Pará, CEP: 66075-110.
e-mail: augustolobato@yahoo.com.br
4
Geologo pelo Curso de Graduação em Geologia da Universidade Federal do Pará, bolsista DTI do CNPq
5
Curso de Graduação em Geologia da Universidade Federal do Pará, CEP: 66075-110, e-mail: carloshenriq@oi.com.br

RESUMO parcial de espessa couraça ferruginosa, fato demonstrado pela


presença de seus restos nos horizontes bauxíticos. Na zona 5, após
A Província Bauxitífera de Paragominas, situada na Amazônia desmantelamento parcial do manto residual, um novo período de
Oriental, ocupa área de aproximadamente 50.000 km2. Caracteriza-se intenso intemperismo permitiu a formação de uma cobertura bauxítica
por relevo tabular fortemente dissecado, cuja altitude decresce de superimposta a vestígios da primeira. Considerando que o manto
cerca de 400 m até menos de 100 m, numa distância de mais de 300 residual mais recente, formado no Mioceno Superior sobre sedimentos
km, entre a Serra do Gurupi, que marca sua borda meridional, e os areno-argilosos cronocorrelatos com as Formações Pirabas e Barreiras
morros baixos e aplainados dos arredores da cidade de Ipixuna, e sua (Mioceno Inferior e Médio), é exclusivamente ferruginoso, acredita-
extremidade norte. Como as demais bauxitas da bacia do Amazonas, se que a bauxitização se restringiu aos períodos Paleógeno até o início
as bauxitas de Paragominas se formaram por alteração laterítica de do Oligoceno? (1° ciclo) e final do Oligoceno-início do Mioceno (2°
depósitos siliciclásticos do Cretáceo (no caso, dos sedimentos do ciclo), não tendo havido condições favoráveis para o desenvolvimento
Grupo Itapecuru e da Formação Ipixuna) durante o Paleógeno. Sobre de tal processo em tempos mais recentes. Embora a natureza, alóctone
o manto residual repousa, em contato sempre brusco, um pacote ou autóctone, do capeamento argiloso não tenha sido, até agora,
argiloso essencialmente caulinítico de até 20 m de espessura (Argila claramente definida, considera-se como mais provável uma origem
de Belterra), que constitui o capeamento de vastos platôs. O manto sedimentar (com transformações pedogenéticas posteriores) para este
laterítico/bauxítico exibe estrutura acamada, devida à presença de pacote argiloso. A presença de pequenos fragmentos bauxíticos e
horizontes ricos em Al ou Fe alternados. À escala regional, foram lateríticos, de raros blocos argilosos densos e de discretas linhas de
distinguidas cinco zonas orientadas aproximadamente segundo a pedras lateríticas neste capeamento sustenta tal suposição. Nesse
direção ENE-WSW. Na zona mais meridional (zona 1), o manto é caso, os sedimentos originais teriam sido depositados no Oligoceno e,
fundamentalmente ferruginoso, embora, em raros casos, poros de na porção norte da província bauxitífera, após a bauxitização tardia,
dissolução se encontrem preenchidos por gibbsita. Na zona 2, situada no final do Oligoceno/início do Mioceno.
logo a norte da anterior, observa-se a individualização progressiva,
de sul para norte, de dois horizontes bauxíticos. Embora o manto ABSTRACT – The Paragominas Bauxite Province.
residual da zona seguinte (zona 3) seja essencialmente ferruginoso,
discretos sinais de bauxitização podem ser observados tanto no seu The Paragominas Bauxite Province is located in Eastern Amazonia
topo como na base. Na zona 4 estão situados os principais depósitos and occupies an area of approximately 50,000.00 km 2. The
de interesse econômico (platôs Miltônia e Gurupi, entre outros) e morphology of the region is characterised by a dissected tableland
as camadas bauxíticas predominam no perfil, alcançando espessuras reaching an altitude of 400 m sloping gently to less than 100 m along
métricas em diversos setores. Na zona 5, a estrutura acamada a distance of more than 300 km. A extends between the Serra do
desaparece e apenas vestígios do manto laterítica/bauxítica Gurupi, that marks its southern border, and the town of Ipixuna,
encontram-se envoltos em bauxita mais tardia. Na extremidade norte situated close to its northern margin. As most bauxites from the Amazon
da província qualquer vestígio de estruturação pretérita some por basin, the Paragominas bauxites were formed by lateritic alteration of
completo, enquanto a bauxita passa para lateríta altamente caulinítica. Cretaceous siliciclastic deposits (particularly of the Itapecuru and
A evolução do manto laterítico/bauxítico e o zoneamento regional Ipixuna sediments) during the Paleogene. The residual mantle is
foram controlados tanto por variações climáticas no tempo e no overlain, always in sharp contact, by a clayey, essentially kaolinitic
espaço, como por fatores geomorfológicos, geotectônicos e layer up to 20 m thick, which caps large plateaus. The lateritic/bauxitic
sedimentológicos. A redistribuição de Fe e Al a diferentes escalas e mantle normally displays a layered structure, due to the presence of
o enriquecimento absoluto nestes elementos nos diferentes alternated Fe- and Al-rich horizons of variable thickness and facies.
horizontes desempenharam papel importante na formação do quadro Five zones, oriented approximately ENE-WSW, were distinguished
residual. Assim, nas zonas 1 e 3 as condições nunca foram realmente on a regional scale and occur as follows: in the southernmost zone 1,
favoráveis à bauxitização, enquanto nas zonas 2 e 4 este processo the residual mantle is basically ferruginous, though, in rare cases,
pôde se desenvolver com intensidade variável. A bauxitização, dissolution pores can be filled by gibbsite; in zone 2, to the north of
provavelmente polifásica, ocorreu após a formação e degradação zone 1, there is an increasing individualization, from south to north,

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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

of two bauxitic horizons; although the residual mantle of the following new bauxitization period. Bauxitization was probably polyphasic
zone 3 is essentially ferruginous, evidence of bauxitization can be and occurred after a thick ferruginous duricrust was formed, which is
seen at the top as well as at its base; zone 4 hosts the most important shown by the presence of ferruginous relicts within the bauxitic
bauxite deposits of economic interest (Miltônia and Gurupi plateaus, horizons. Since more recent laterites, formed during Late Miocene/
among others) and the bauxitic layers, which can be several meters Pliocene upon Barreiras sediments (Miocene), are represented by an
thick in certain sectors, predominate in the residual profile; in the exclusively ferruginous duricrust, the different bauxitization phases
northernmost zone 5, the layered structure gradually disappears and were likely restricted to Paleogene time until early Oligocene? (1st
only vestiges of the lateritic/bauxitic mantle can be seen within a later cycle) and to the end of Oligocene-beginning of Miocene (2nd cycle).
bauxitic duricrust.In the extreme north of the province any evidence Although the nature, allochtonous or autochtonous, of the clayey
of previous structures disappears completely, while bauxite grades overburden was not clearly determined so far, a sedimentary origin
to a highly kaolinitic laterite. The evolution of the lateritic/bauxitic (with later pedogenetic transformations) is thought to be the most
mantle and the regional zonality were controlled by climatic variations probable. The presence of small bauxite and laterite fragments, dense
in time and space, as well as by geomorphological, geotectonic and clayey blocks and discreet lateritic stone-lines in this overburden
sedimentological factors. Thus, in zones 1 and 3, very favorable support such assumption. In this case, the original sediments would
conditions for extensive bauxitization never were reached, while in have been deposited during Oligocene time, and, in the northern part
zones 2 and 4 this process could develop with variable intensity. In of the bauxite province, after the later bauxitization, in Late Oligocene/
zone 5, partial dismantling of residual duricrust was followed by a Early Miocene.

I. INTRODUÇÃO

A Província Bauxitífera de Paragominas ocupa área


da ordem de 50.000 km2, localizada nas porções leste do
estado do Pará e oeste do estado do Maranhão, na
Amazônia Oriental (Figura 1). Trata-se do mais extenso
e denso agrupamento de depósitos de bauxita da Amazônia
e do Brasil e possui cerca de 300 km de extensão norte-
sul por até 200 km na direção leste-oeste. Comporta, a
sul de Paragominas, os distritos de Miltônia, Gurupi,
Tiracambu, Camoai, e a norte da citada localidade, os
distritos de Futuro e Jabuti. As reservas de minério
metalúrgico aproveitável estão avaliadas atualmente em
cerca de 2000 Mt, o que constitui aproximadamente 60%
das reservas brasileiras de bauxita. O potencial individual
dos maiores depósitos pode alcançar 150-170 Mt, caso
do platô Miltônia, situado a cerca de 50 km a sudoeste de
Paragominas.
Devido à sua grande extensão na direção norte-sul e
a sua relativa continuidade, a Província Bauxitífera de
Paragominas é de excepcional interesse para o estudo
dos depósitos de bauxita formados sobre rochas sedimen-
tares siliciclásticas do Cretáceo na Amazônia.
Da segunda metade dos anos 1960 até meados dos
anos 1980 foram realizados amplos trabalhos de
exploração em diversos setores da província bauxitífera.
Após ter iniciado as investigações na região, a companhia
americana Kaiser suspendeu suas pesquisas no início dos
anos 1970 e deixou o Brasil, sendo substituída pela
companhia Mineração Vera Cruz (filial da empresa
multinacional Rio Tinto Zinc) que desenvolveu suas
atividades de prospecção nos setores mais promissores Figura 1 – Localização da Província Bauxitífera de
da província, em particular nos platôs Miltônia. No final Paragominas e da área do Projeto.
dos anos 1970 – início dos anos 1980, os trabalhos da
RTZ foram, por sua vez, suspensos, e a Companhia Vale
do Rio Doce (CVRD) abriu várias frentes de exploração

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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

na região. Foram investigados nesse período, em descreveu igualmente o capeamento argiloso do manto
particular, os platôs dos setores Jabuti e Futuro, assim laterítico, assemelhando-no à cobertura argilosa
como os setores Camoai, próximo a cidade de Ulianópolis, identificada por ele mesmo na região do Baixo Amazonas
e Tiracambu, na zona de divisa entre Pará e Maranhão, como Argila de Belterra.
mais a sudeste. Na segunda metade dos anos 1980 e A publicação de artigos de cunho científico sobre as
durante toda a década de 1990, a exploração de bauxita bauxitas na Amazônia iniciou-se, no entanto, somente na
ficou praticamente suspensa na região. Nesse período, década de 1970, acompanhando os trabalhos de
apenas a bauxita refratária do setor Camoai atraiu exploração, particularmente intensivos naquele período.
investidores, sendo durante vários anos lavrada e Estudando as ocorrências de bauxita nas regiões do
beneficiada in loco pela empresa CBB (Companhia rio Trombetas e de Paragominas Wolf (1972) e Wolf &
Brasileira de Bauxita). A explotação foi, entretanto, Silva (1973), interpretaram as seqüências bauxíticas como
paralisada e a mina fechada em 2001 devido à forte queda formações residuais geradas in situ a partir de sedimentos
da cotação de bauxita refratária no mercado mundial. da Formação Barreiras do Terciário Superior. Tal origem
Nessa mesma época, devido à procura crescente de também foi sustentada por Dennen & Norton (1977),
alumínio no mercado mundial dos metais não ferrosos, a Grubb (1979) e Aleva (1981). Greig (1977) notou
prospecção de bauxita metalúrgica conheceu vigorosa igualmente estreita relação entre as lateritas aluminosas
reativação no Brasil e a Companhia Vale do Rio Doce e sedimentos terciários da Bacia do Amazonas. Nesses
retomou seus trabalhos exploratórios na região de trabalhos foram definidos os perfís-tipos dos principais
Paragominas. Assim, nos últimos quatro anos foram objeto distritos bauxitíferos quanto aos seus aspectos
de exploração sistemática, reavaliação e cubagem os platôs mineralógicos, estruturais e texturais. A caracterização
dos setores Miltônia, Gurupi, Tiracambu, entre outros. geoquímica para elementos-traço foi principalmente obra
Atualmente, está sendo implantado vasto projeto de de Dennen & Norton (1977) e Kronberg et al. (1979,
mineração no setor Miltônia, com início da lavra previsto 1982), que constataram enriquecimento em V, P, Ga, Mn
para 2006, sendo planejada, numa primeira fase, uma nas lateritas e empobrecimento em Pb, Sr, e Ba em relação
produção anual de 5 Mt de minério. ao saprólito. Estes autores ressaltaram também que os
O presente estudo enfoca o que é entendido como citados elementos mostravam afinidade com os óxidos de
Província Bauxitífera de Paragominas, ou seja, uma vasta ferro e a caulinita e não com a gibbsita.
região comportando importantes vestígios de manto As bauxitas sobre rochas siliciclásticas da Bacia do
laterítico antigo, hospedeiro de depósitos de bauxita e Amazonas foram consideradas como resultantes de
apresentando características composicionais e estruturais processo monofásico até que Dennen & Norton (1977),
comparáveis em toda a sua extensão. De fato, neste baseando-se na existência, em muitos perfis, de dois
contexto geral, os depósitos de bauxita de valor econômico horizontes gibbsíticos separados por horizonte ferruginoso,
constituem apenas uma parte relativamente modesta e mostraram que a evolução do manto residual tinha sido
localizada desses vestígios do manto residual. Haja vista mais complexa. Prosseguindo nesta linha de raciocínio,
a extensão deste último fica claro que o estudo da bauxita Grubb (1979) ressaltou a importância da migração de Fe
na Província de Paragominas deve ultrapassar os limites e Al, da dissolução da caulinita e dos processos físicos na
da simples análise de depósito específico, pois se trata de formulação de modelo genético polifásico para as bauxitas
bem mineral cuja gênese se inscreve no quadro evolutivo da Bacia Amazônica e da planície costeira das Guianas.
supergênico e, de modo mais geral, no contexto geológico, De acordo com o modelo, ocorreram dois períodos de
como um todo, da Amazônia Oriental durante o Cenozóico. gibbsitização separados, no tempo, por uma fase de
deposição de material arenoso que sofreu ferruginização
II. BAUXITA SOBRE ROCHAS SILICI- em ambiente podzólico. Kronberg et al. (1979, 1982), por
CLÁSTICAS DO CRETÁCEO NA AMAZÔ- sua vez, propuseram igualmente modelo genético
NIA: ESTADO DE CONHECIMENTO envolvendo transporte lateral de alumina e sua acumu-
lação abaixo de espesso pacote argiloso sob a forma de
bauxita.
O primeiro reconhecimento de lateritas aluminosas nos
Kotschoubey & Truckenbrodt (1981), retomando a
platôs terciários da Amazônia é devido a Towse & Vinson
idéia da complexidade genética e da evolução polifásica
(1959), geólogos da companhia Kaiser. A presença de
da cobertura bauxítica de Dennen & Norton (1977) e de
importantes formações lateríticas no nordeste do Pará foi
Grubb (1979), investigaram em mais detalhe essas
registrada por Sombroek (1966), que classificou os
formações entre Paragominas e Açailândia, e propuseram
produtos residuais em várias categorias, porém não
modelo poligenético em 5 fases, ou seja: 1) lateritização
observou, na ocasião, a ocorrência de bauxita. Este autor
inicial do saprólito, 2) formação da crosta ferro-aluminosa

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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

e seu retrabalhamento parcial, 3) primeira e principal fase evolução em três fases, distinguindo uma ferruginização
de gibbsitização da crosta: formação do horizonte bauxítico inicial de sedimentos siliciclásticos, uma fase de
inferior, 4) segunda fase de retrabalhamento da crosta e bauxitização mais ou menos acentuada da couraça
formação do cascalho ferruginoso do topo do perfil, 5) resultante e, finalmente, uma fase atual de desenvolvimento
segunda fase de gibbsitização e bauxitização da parte de um novo perfil às custas do perfil antigo. Esta última
superior da crosta. etapa seria marcada, sobretudo, pela ressilicificação, tanto
Nesse mesmo trabalho, além de ressaltar a origem por cima como por baixo, do perfil original e levaria à
complexa dos perfís lateríticos/bauxíticos, Kotschoubey individualização do capeamento argiloso. Por sua vez,
& Truckenbrodt (1981) mostraram que o manto ferro- Boulangé & Carvalho (1989, 1997) e Bardossy & Aleva
aluminoso formou-se sobre e a partir de sedimentos (1989), abordaram a questão com visão verticalista,
siliciclásticos das formações Itapecuru e Ipixuna do segundo a qual um perfil laterítico evolui in situ por meio
Cretáceo Superior (Góes 1981). Com base nesses fatos da redistribuição de Fe e Al pelas águas percolantes, sem
e outras considerações, Truckenbrodt et al. (1982) aporte lateral desses elementos. Estes autores propuseram
concluiram que as bauxitas não se formaram no Terciário modelos implicando a progressiva transformação de manto
Superior ou Quaternário como tinha sido proposto bauxítico original e a individualização de horizontes
anteriormente (Wolf & Silva 1973; Assad 1973; 1978; composicional, textural e estruturalmente distintos. Em
Dennen & Norton 1977; Grubb 1979; Aleva 1981) e sim ambos os casos o capeamento argiloso foi interpretado
no Terciário Inferior, provavelmente no mesmo período como produto desta mesma diferenciação.
da formação das bauxitas da Guyana e do Suriname Procurando sintetizar melhor as observações efetuadas
(Krook 1979). nos últimos 20 anos, Kotschoubey et al. (1997)
Prosseguindo as investigações sobre as formações propuseram uma divisão da província bauxitífera em
bauxíticas na região de Paragominas, Kotschoubey et al. quatro zonas com base no grau de bauxitização da
(1984) evidenciaram uma terceira fase de gibbsitização cobertura laterítica e no progressivo enriquecimento em
no setor Jabuti-Ipixuna. Esta teria resultado na formação alumínio de sul para norte. Em termos regionais, a evolução
de gibbsita criptocristalina e na obliteração da estruturação teria sido polifásica, envolvendo tanto retrabalhamento
acamada preexistente no manto ferro-aluminoso. físico como remobilização e redistribuição de elementos
Ainda de acordo com Kotschoubey & Truckenbrodt em solução. De início, teria havido acumulação de
(1981), a gibbsitização ter-se-ia intensificado de sul para depósitos pisolíticos resultantes do desmantelamento de
norte na Província Bauxitífera de Paragominas. Com base crosta laterítica pretérita e, abaixo desses depósitos, a
nessa constatação, um zoneamento regional foi proposto formação de crosta ferruginosa por ferruginização de
por Kotschoubey et al. (1987), sendo definidas, numa sedimentos siliciclásticos. Em seguida, os depósitos
extensão de mais de 300 km na direção sul-norte, sete pisolíticos mais superficiais teriam sido afetados por uma
zonas, cada uma apresentando uma fácies específica da bauxitização de intensidade variável. Com o rebaixamento
cobertura laterítica/bauxítica. Segundo este primeiro do nível de base, a parte inferior da crosta ferruginosa e o
modelo, a zona meridional comporta apenas uma espessa topo do saprólito teriam sido bauxitizados, sendo a
crosta ferruginosa, que nas zonas mais setentrionais cede aluminização um mecanismo fundamental no processo
espaço à bauxita, a expressão máxima da qual se observa (Truckenbrodt et al. 1995). Finalmente, sedimentos argilo-
próximo de Paragominas. A norte dessa localidade o manto arenosos ter-se-iam depositado, sofrendo posteriormente
laterítico/bauxítico sofre drástica mudança de fácies. alterações pedogenéticas para espesso latossolo,
No final dos anos 1980/início dos anos 1990 foram designado regionalmente como Argila de Belterra. Segundo
apresentados vários modelos genéticos, resultando os mesmos autores, na porção setentrional da província a
principalmente de estudos desenvolvidos na região do cobertura bauxítica/laterítica teria sofrido forte degradação
Baixo Amazonas. Aleva (1989) propôs uma evolução da e uma fase adicional de bauxitização (Kotschoubey et al.
cobertura residual, implicando em uma fase principal de 1989, 1997).
bauxitização no Eomioceno, o retrabalhamento físico da Em todos os modelos genéticos propostos por
parte superior da cobertura bauxítica, a deposição do Kotschoubey & Truckenbrodt (1981) e Kotschoubey et
capeamento argiloso no final do Mioceno/Plioceno e, al. (1987 e 1997), a evolução da cobertura laterítico/
finalmente, a formação de nódulos gibbsíticos e bauxítica foi principalmente controlada por fenômenos
ferruginosos na base do capeamento. Entretanto, uma químicos e secundariamente por retrabalhamento físico.
evolução essencialmente in situ, sem migração lateral Variações climáticas teriam tido grande influência na
física ou química dos produtos do intemperismo, foi na formação dos diversos horizontes do perfil laterítico,
mesma época defendida por outros modelos. Assim Lucas enquanto a influência de movimentos tectônicos teria sido
(1988, 1997) e Lucas et al. (1989) apresentaram uma relevante apenas nos últimos estágios. O fator biológico

694
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

(ação das raízes, acúmulo e transformação da matéria logístico da Companhia Vale do Rio Doce. Em termos de
orgânica, ação de cupins, etc...) teria também tido, métodos analíticos, foram utilizados a microscopia óptica,
segundo esses autores, papel relevante. O zoneamento microscopia eletrônica de varredura (MEV) e o
faciológico regional, observado hoje em uma extensão de difratometria de raios-X para a descrição, em diferentes
mais de 300 km, refletiria, portanto, zoneamento climático, escalas, dos produtos de alteração, as rochas matrizes e
marcado por notável encurtamento das zonas, como pode o capeamento. O grau de substituição de FeOOH por
ser constatado, no presente, em várias regiões intertropicais AlOOH em goethita foi avaliado por meio do método semi-
e, notadamente, na África Ocidental. Neste contexto, na quantitativo de Solymar (1969). Todas as análises foram
parte meridional da região considerada (fácies I) não teria realizadas nos laboratórios do Centro de Geociências da
havido condições propícias para bauxitização Universidade Federal do Pará. Análises químicas para
(Kotschoubey et al. 1987 e 1997), enquanto nas porções elementos maiores, traço e terras raras foram efetuadas
mais setentrionais o regime climático teria permitido o em laboratório comercial (ACME, Vancouver, Canada)
desenvolvimento de manto bauxítico, com intensidade num total de 199 amostras. Enfim, contou-se com o apoio
crescente de sul para norte, do Laboratório de Análise de Imagens do Trópico Úmido
Apesar dos inegáveis progressos efetuados nos últimos (LAIT) do Centro de Geociências/UFPA, no qual foram
25 anos quanto ao conhecimento dos depósitos de bauxita tratadas as imagens SRTM (Rabus et al. 2003) da região
do NE do Pará-W do Maranhão e ao entendimento do estudada.
seu significado geológico e geoquímico, os diferentes
modelos genéticos propostos merecem profunda e IV. LOCALIZAÇÃO E ACESSO À ÁREA
rigorosa reavaliação. Acredita-se que o presente trabalho, DO SUBPROJETO
aliando estudo mais detalhado a uma abordagem mais
ampla da questão, fornece novas informações e permite
A Província Bauxitífera de Paragominas (Kotschoubey
compreender melhor os processos envolvidos na formação
& Truckenbrodt, 1981), que se estende na direção norte-
do manto bauxítico da Província Bauxitífera de
sul por cerca de 300 km, entre Açailândia (MA) e Ipixuna
Paragominas e, de modo mais geral, a evolução do quadro
(PA), e tem quase 200 km de extensão leste-oeste em
supergênico na Amazônia Oriental, durante o Cenozóico.
sua porção meridional (Figura 1), é delimitada pelos
paralelos 2º e 5° Sul e é cortada ao meio pela rodovia BR
III. METODOLOGIA 010 (Belém-Brasília) que segue aproximadamente o
meridiano 47° 30’ oeste.
Em vista da natureza supergênica dos depósitos de O acesso à província bauxitífera é facilitado pela
bauxita e o caráter regional do estudo, o presente trabalho existência da rodovia supracitada, ao longo da qual estão
foi desenvolvido principalmente com base em observações situadas as principais cidades do leste do Pará/oeste do
de campo. No entanto, sendo raríssimos os afloramentos Maranhão. Assim, a partir de Belém, capital do estado do
naturais do manto laterítico/bauxítico na região, os Pará, encontram-se, de norte para sul: Ipixuna – 240 km;
levantamentos de campo foram efetuados, sobretudo, ao Paragominas – 310 km, Ulianópolis – 395 km, Ligação do
longo de rodovias e estradas vicinais, bem como em Pará – 440 km; Dom Eliseu – 460 km e, já no estado do
piçarreiras, apresentando exposições artificiais bem Maranhão, Itinga – 475 km e Açailândia – 540 km. O
preservadas. Não tendo sido autorizado o acesso a acesso à porção sudoeste da província é facilitado pela
depósitos em fase de exploração, foi impossível efetuar rodovia pavimentada PA-222, Dom Eliseu-Rondon do
um estudo de depósito/alvo específico. No entanto, os Pará-Marabá. Paralelamente à rodovia BR 010 e a uma
testemunhos de dez furos de sondagem, todos provenientes distância média de cerca de 20 km a leste desta, a antiga
de um setor limitado situado na porção centro-sul do platô rodovia Belém-Brasília, não pavimentada, permite o
Gurupi Norte, situado cerca de 40 km a leste de acesso a zonas pouco habitadas entre Paragominas e
Paragominas, foram cedidos pela Companhia Vale do Rio Ulianópolis.
Doce para investigações de detalhe. Assim, no total, foram Existem igualmente estradas secundárias e vicinais
estudadas 65 exposições da cobertura laterítica/bauxítica permitindo o acesso a fazendas e povoados, bem como a
e do seu capeamento, algumas delas com mais de 200 m diversos setores de eventual interesse econômico. Tais
de extensão lateral, sendo descritos em detalhe e são as estradas Paragominas-Jurupari-Tomé Açu e as
amostrados 48 perfis. Cerca de 310 amostras foram estradas de acesso aos platôs Jabuti, Miltônia, Gurupi,
coletadas para análises diversas. As excursões ao campo Tiracambu, Camoai, entre outras.
foram realizadas em veículos do Centro de Geociências
da UFPA. Uma visita de reconhecimento na região de V. ASPECTOS FISIOGRÁFICOS
Paragominas, efetuada no final de 2002, teve apoio

695
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

A temperatura média anual na região varia entre


Clima 23,5°C e 26,9°C e a umidade relativa do ar é elevada,
acima de 80 % (IBGE 1977).
O clima na região de Paragominas é de tipo Am, con-
forme a classificação de Köppen, tendendo para o tipo Geomorfologia
Aw em sua porção meridional. Trata-se de clima úmido e
quente com uma estação seca marcante, porém compor- A região enfocada situa-se na unidade morfoestrutu-
tando ainda chuvas episódicas. ral denominada Planalto Setentrional Pará – Maranhão
As precipitações na região variam entre 1.750 mm por Barbosa et al. (1973). Em toda a extensão da provín-
(nos arredores de Açailândia) e 2.000-2.250 mm (nas pro- cia as feições geomorfológicas dominantes são vastas
ximidades de Ipixuna). Elas se concentram entre os me- chapadas interligadas, mais raramente isoladas, separa-
ses de janeiro e maio e a estação seca se estende entre das por zonas mais baixas topograficamente e apresen-
junho e dezembro (IBGE 1977). tando maior diversidade geomorfológica (Figura 2).

Figura 2 – Perfil topográfico regional ao longo da rodovia BR 010 (Belém-Brasília) entre Açailândia e Ipixuna (segundo
Sombroek 1966, modificado)

696
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Nas porções sul e central da província, as chapadas


são bem individualizadas, fortemente dissecadas e
possuem encostas bastante íngremes, podendo,
principalmente na parte meridional, alcançar dimensões
decaquilométricas (Figura 3). No entanto, na porção norte
de província o relevo tabular torna-se mais suave e menos
contrastado. Próximo de Ipixuna os platôs são baixos e
se destacam fracamente na topografia regional (Figura
4). Os topos aplainados dos platôs bem individualizados
situados a sul de Paragominas correspondem a uma
superfície ligeiramente inclinada de sul para norte (Figura
2). Na Serra de Gurupi, no extremo sul da província, esta
superfície tem altitude entre 360 e 400 m, alcançando um
máximo de cerca de 420 m a leste da rodovia BR 010.
No Platô Chapadão, situado à cerca de 45 km a norte da Figura 3 – Platô bauxítico típico da região de Paragominas.
Serra de Gurupi, e mais a norte, nas proximidades de Em primeiro plano, a superfície neógena.
Ligação do Pará, a superfície se encontra a apenas 280
m e aproximadamente 220 m acima do nível do mar,
respectivamente, chegando a 160-190 m nos arredores
de Paragominas. Na porção setentrional da província, o
rebaixamento da superfície prossegue e esta atinge altitude
de apenas 90-100 m próximo de Ipixuna e nos platôs Jabuti,
que marcam a borda norte da província. Ademais, cabe
notar que o declive da superfície regional, muito fraco
entre Ligação do Pará e cerca de 20-25 km a sul de
Paragominas, se acentua sensivelmente a partir desta
última localidade e prossegue para norte com
aproximadamente a mesma inclinação até o limite
setentrional da província, cerca de 25 km a norte de
Ipixuna (Figura 2). Via de regra, os platôs dominantes
são sustentados por cobertura residual ferro-aluminosa e
seu capeamento argiloso. Pelo menos na porção da Figura 4 – Platô baixo da porção setentrional da província
província bauxitífera situada a sul de Paragominas, o topo bauxitífera, próximo de Ipixuna. Em primeiro plano, a super-
dos platôs corresponderia à Superfície Sul Americana fície neógena fortemente dissecada.
(IBGE 1977, Truckenbrodt et al., 1982) (Figura 5). Esta
questão será de novo abordada mais adiante.

Figura 5 – Esquema
geral da relação
entre as superfícies
Sul-Americana e
Velhas II.

697
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

Além dos platôs bem preservados ocorrem, localmente, cantins pela Serra do Gurupi (Barbosa et al. 1973). Os
morros com topos abaulados de altitude levemente menor. vales da parte meridional da região são, via de regra, mais
Tratam-se de morros testemunhos, derivados do relêvo encaixados do que os da parte setentrional.
tabular regional em processo de rápido rebaixamento após
a remoção da cobertura laterítica/bauxítica e do Vegetação
capeamento argiloso protetores. As chapadas são
separadas por vales de largura quilométrica, que hospedam Hoje em dia, a vegetação predominante na região é
a atual rede de drenagem. A disposição destes amplos de tipo pastagem artificial que, com a instalação de
vales parece ser controlada por estruturas da bacia do inúmeras fazendas de criação de gado, veio ao longo das
Grajaú, embora a rede de drenagem não apresente padrão últimas décadas substituir a vegetação nativa de tipo
claramente definido. No entanto, entre os cursos d´água floresta tropical densa. Algumas grandes plantações de
atuais e os platôs, ocorrem, embutidos nas encostas destes eucaliptos e de pimenta do reino ocorrem igualmente na
últimos, terrenos mais baixos, de feições tabulares, região. Enfim, nos últimos anos, foi introduzida a
formando patamares ou rampas levemente inclinadas em agricultura, em particular a cultura da soja, que está
direção às drenagens. Mais raramente, estes relevos experimentando notável desenvolvimento.
intermediários constituem chapadas baixas, isoladas, Resquícios de floresta primária densa, em geral
evoluindo para relevo colinoso. afetados pelo corte seletivo das espécies de alto valor
Os topos das formas tabulares mais baixas corres- comercial e, portanto, acusando alto grau de degradação,
pondem a uma segunda superfície regional sustentada por ocorrem principalmente nos platôs. No entanto, podem
cobertura laterítica ferruginosa e/ou por seu capeamento ainda ser encontrados vestígios de espécies arbóreas
argilo-arenoso. Trata-se de superfície neógena, designa- típicas, como maçaranduba, faveira, angelim, entre outras.
da geralmente como Superfície Velhas II ou Velhas Re- Babaçú ocorre em quantidade na porção meridional da
cente (King 1967, Kotschoubey et al. 2005) De mesmo província bauxitífera e preferencialmente nos vales,
modo que a superfície superior, esta mostra leve declive marcando a passagem progressiva para a zona de transição
de sul para norte (Figura 2). A alguns quilômetros a norte floresta-cerrado (Nunes et al. 1973). Vastas zonas são
de Açailândia, a altitude desta superfície é de aproxima- cobertas por floresta secundária, resultando do
damente 210 m, caindo para 150 m próximo de Dom Eli- desmatamento da floresta nativa e posterior abandono.
seu. Mais a norte, a altitude da superfície inferior conti- Trata-se de vegetação de tipo “capoeira”, caracterizada
nua diminuindo progressivamente porém menos que a da por árvores delgadas de pequeno a médio porte e
superfície superior. A cerca de 20 km a norte de Ipixuna, abundância de cipós.
onde o manto laterítico/bauxítico encontra-se já fortemente
degradado e em maior parte erodido, a superfície inferior Solos
acaba cortando a superfície superior (Kotschoubey et al.
1996). Portanto, o desnível de mais de 100 m observado Segundo Sombroek (1966) a área comporta latossolos
entre as duas superfícies na porção sul da região em es- amarelos cauliníticos em quase toda a sua extensão, exceto
tudo vai diminuindo progressivamente para norte, ocor- no extremo sul onde predominam latossolos vermelhos
rendo a interseção das duas superfícies e a inversão das cauliníticos. Os latossolos amarelos são divididos em duas
suas posições na borda setentrional da província (Figura fácies (Sommer et al. 1973) conforme a sua textura: a
3 e 4). Em toda a região, a rede de drenagem recente fácies argilosa e a fácies muito argilosa. Enquanto esta
disseca a superfície inferior, sendo responsável pelo des- cobre o topo dos platôs, a primeira ocupa as vertentes
taque das feições tabulares mais baixas. dos vales e está associada a solos lateríticos
concrecionados. De fato, a natureza do solo, na região,
Hidrografia varia em função da composição e do tempo de exposição
aos agentes de intemperismo do depósito original, com o
A rede de drenagem na Província Bauxitífera de Pa- qual ele geralmente se confunde devido à intensidade da
ragominas é densa e exibe padrão ortogonal, sendo as alteração. Assim, o espesso latossolo amarelo do topo dos
direções preferenciais NE-SW e NW-SE, o que sugere platôs dominantes – a Argila de Belterra – é
controle estrutural à escala regional. Em sua porção nor- provavelmente derivado de sedimentos pretéritos, dos
te a região é drenada pelos tributários dos rios Guamá e quais não existem mais testemunhos inquestionáveis. A
Capim (norte), enquanto os tributários dos rios Gurupi, mesma situação se verifica nas encostas dos platôs, nas
Capim (sul) e Pindaré drenam a sua parte meridional. A zonas de relevo tabular mais baixo e nos vales. A
bacia do Rio Gurupi está separada da bacia do Rio To- abundância de quartzo e de fragmentos lateríticos nos solos

698
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

– basicamente latossolos - desses diferentes setores (Petri & Fúlfaro 1983), os depósitos estuarino-lagunares
depende diretamente da composição do subsolo e da do Grupo Itapecuru (Albiano – Senoniano) (Góes 1995,
eventual redistribuição física dos produtos de alteração Anaisse Jr. 1999, Rossetti & Truckenbrodt 1999, Anaisse
ao longo dos declives. Os latossolos não são estruturados. Jr et al. 2001) e os sedimentos flúvio-estuarinos da
Observa-se, apenas, em superfície, leve enriquecimento Formação Ipixuna do Cretáceo Superior?-Terciário inferior
em matéria orgânica ou, nas áreas expostas pelo desma- (Góes 1981, Rossetti &Truckenbrodt 1999, Santos Jr. &
tamento e mais severamente lixiviadas, branqueamento Rossetti 2003). Na porção noroeste da bacia as duas
do solo e enriquecimento relativo em grãos de quartzo últimas formações sustentam vestígios de extensa
fortemente corroídos . cobertura laterítica/bauxítica e seu capeamento argiloso
(Kotschoubey & Truckenbrodt 1981, 1994, Kotschoubey
VI. QUADRO GEOLÓGICO REGIONAL: et al. 1987, 1997).
BACIA DO GRAJAÚ E PLATAFORMA Para sul, a Bacia do Grajaú se estende
BRAGANTINA aproximadamente até o paralelo 6o, onde faz contato com
a Bacia das Alpercatas, que consiste em rochas
sedimentares das Formações Pastos Bons e Corda do
A Província Bauxitífera de Paragominas se inscreve
Triássico bem como em derrames basálticos e intrusões
num quadro geológico meso-cenozóico constituído pela
de diabásio das formações Mosquito e Sardinha, do
porção noroeste da Bacia do Grajaú e a parte meridional
Jurássico (Góes 1995). A sudoeste a bacia faz contato
da Plataforma Bragantina (Tabela 1). com as rochas pré-cambrianas, sobretudo neopro-
A Bacia do Grajaú comporta os sedimentos aptianos terozóicas do Cinturão Araguaia, enquanto que a norte
de natureza eólica e lagunar das Formações Grajaú e Codó está limitada pelas formações predominantemente

Tabela 1 – Coluna litoestratigráfica integrada da Bacia do Grajaú e da Plataforma Bragantina.

Superior

Médio

Inferior

699
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

paleoproterozóicas do Craáton São Luis e da Faixa Gurupi. Bacia do Grajaú


A leste passa para a Bacia do Parnaíba formada por
sedimentos silurianos a triássicos. A noroeste a Bacia do Formação Grajaú
Grajaú passa para a Plataforma Bragantina (Urdinínea
1977) que se estende até o rio Pará/baía de Marajó, braço Esta unidade é constituída na sua base por conglome-
meridional do delta do rio Amazonas. No domínio da rados oligomíticos com seixos de quartzo. Acima, ocor-
Plataforma Bragantina, cujo substrato/embasamento é, na rem arenitos amarelados a brancos, essencialmente quart-
sua parte setentrional, constituído por unidades pré- zosos exibindo abundante estratificação cruzada. Essa
cambrianas do domínio Cráton São Luis/Faixa Gurupi formação recobre discordantemente todas as unidades
geralmente não aflorantes e, mais a sul, pelos sedimentos mais antigas (Petri & Fúlfaro 1983).
Ipixuna da Bacia do Grajaú, ocorrem as formações da
bacia Pirabas. Trata-se, na base, dos sedimentos químicos Formação Codó
da Formação Pirabas do final do Oligoceno-Mioceno
Inferior e na parte superior dos sedimentos litorâneos e Esta unidade superpõe-se à anterior, com a qual tem
continentais da Formação Barreiras do Mioceno Médio contato concordante e gradacional. É composta de folhe-
(Góes 1981, Ferreira et al. 1984, Costa & Hasui 1997, lhos cinza a pretos, betuminosos e calcíferos, intercala-
Rossetti, 2001). A esses sedimentos está sobreposta uma dos por calcários, níveis de anidrita e arenitos (Petri &
cobertura laterítica, considerada como formada durante Fúlfaro 1983).
o Mioceno Superior (Rossetti 2001, Kotschoubey et al.
2005). Finalmente, sedimentos areno-argilosos a argilo- Grupo Itapecurú
arenosos quaternários (Sá 1969, Rossetti et al. 1989) ou,
mais provavelmente, pliocênicos a pleistocênicos (Rossetti Este espesso pacote sedimentar, essencialmente
2001) denominados sedimentos Pós-Barreiras repousam siliciclástico na porção ocidental da Bacia de Grajaú, é
sobre a couraça laterítica do Mioceno Superior, formado sobretudo por arenitos cauliníticos finos com
constituindo a unidade estratigráfica mais recente na níveis argilosos e conglomeráticos, depositados em
região. Em sua parte meridional, nos arredores de São ambiente fluvial, sob condições climáticas semi-áridas
Miguel do Guamá, a plataforma é cortada na direção leste- (Figura 6A e Figura 7). Trata-se provavelmente de
arenitos arcoseanos que, posteriormente, sofreram intenso
oeste por um alto estrutural, o Arco do Guamá, no domínio
intemperismo. Os arenitos exibem, via de regra, abundante
do qual aflora amplamente o Arenito Guamá do
estratificação cruzada (Figura 6b). Ocorrem igualmente
Eopaleozóico (Truckenbrodt & Alves 1982, Truckenbrodt
siltitos e argilitos vermelhos subordinados contendo
et al. 2005)
brechas intraformacionais e estruturas de corte e
Trabalhos recentes desenvolvidos na porção meridional
preenchimento (Góes 1981). Esta unidade foi durante
da Província Bauxitífera de Paragominas (Calaf, 2000,
muito tempo considerada como formação (Góes 1981).
Kotschoubey et al. 2005) e levantamentos realizados nos
No entanto, em estudo recente, Anaisse Jr. (1999) mudou
últimos anos nas porções central e setentrional da
a denominação para “Depósitos Itapecuru”. Atualmente,
província, mostraram que o mesmo quadro estratigráfico
a unidade é vista como grupo, sendo a Formação Ipixuna,
persiste pelo menos por 400 km para sul, embora
descrita a seguir, considerada como sua subdivisão superior
substanciais diferenças faciológicas se observem nos
(Santos Jr. & Rossetti 2003).
sedimentos do Neógeno.
Os dois mantos de alteração regionais mencionados Formação Ipixuna
acima e seus respectivos capeamentos se inserem na
coluna estratigráfica da porção noroeste da Bacia do Esta formação compõe-se de sedimentos areno-
Grajaú e da Plataforma Bragantina e marcam períodos argilosos cauliníticos, finos e bem selecionados com siltitos
geológicos bem definidos (Kotschoubey et al. 1996, 1997, e argilitos vermelhos intercalados (Figura 8a). Exibem
Rossetti 2001). As questões relativas à sua natureza, abundante estratificação cruzada e contém brechas
composição, gênese e idade serão abordadas mais adiante, intraformacionais (Figura 8b). Como no caso anterior,
no capítulo dedicado ao quadro supergênico. trata-se provavelmente de arenitos arcoseanos fortemente
Segue uma descrição sucinta das principais unidades alterados. Foram depositados em ambiente flúvio-lacustre,
lito-estratigráficas presentes na Bacia do Grajaú e na podendo representar uma fácies da Formação Itapecurú
Plataforma Bragantina, de acordo com os estudos (Góes 1981). Recentemente, estes sedimentos foram
sedimentológicos e estratigráficos mais recentes: classificados como Formação Ipixuna e considerados
como parte superior do Grupo Itapecuru (Santos Jr &

700
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

(a)

(b)

Figura 6 – Afloramento do Grupo Itapecuru, rodovia BR 010, Figura 8 – Afloramento da Formação Ipixuna na rodovia BR
10 km a norte de Ulianópolis (PA). (a) Vista geral. (b) Detalhe. 010, 8 km a sul da cidade de Ipixuna. (a) Vista geral. (b)
Notar a estratificação cruzada bem desenvolvida. Detalhe, mostrando marcante estratificação cruzada.

Plataforma Bragantina

Formação Pirabas

Esta formação, constituída por calcários e margas


altamente fossilíferos com intercalações de folhelhos e
de arenitos calcíferos, encontra-se amplamente distribuída
na parte norte da Plataforma Bragantina (Ferreira 1982).
Mais a sul foi apenas detectada por meio de sondagens
realizadas no município de Mãe do Rio (Pará), que reve-
laram a presença de arenitos argilosos e níveis de argila
cinza com margas e fósseis indicativos de ambiente
marinho pouco profundo, sob clima quente. A Formação
Figura 7 – Difratograma de amostra representativa do arenito Pirabas repousa sobre a Formação Ipixuna, sendo
Itapecuru alterado. recoberta pelo Grupo Barreiras.

Formação Barreiras
Rossetti 2003). Segundo Rossetti & Truckenbrodt (1999),
esta unidade litoestratigráfica seria correlacionável com Esta unidade consiste em sedimentos litorâneos a
a Formação Cujupe da Bacia de São Luís. continentais de coloração mosqueada, cuja parte inferior
finamente litada caracteriza-se pela alternância de

701
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

delgadas camadas argilosas e arenosas contendo pequenos Em termos de estratigrafia do Neógeno, nota-se a ausên-
fragmentos de argila semi-flint, enquanto sua parte cia dos depósitos marinhos da Formação Pirabas e dos
superior é constituída por areias argilosas maciças, que sedimentos litorâneos da Formação Barreiras, no lugar
exibem estruturas sedimentares difusas e contém dos quais ocorrem arenitos argilosos, avermelhados, mal
pequenos seixos de quartzo disseminados. De acordo com selecionados e inconsolidados, contendo fragmentos de
trabalhos recentes, após breve fase regressiva, esta laterita dispersos, finos níveis argilosos, notadamente de
unidade ter-se-ia depositado em inconformidade sobre os argila semi-flint, e stone-lines (Figura 9 e 10). Estes se-
sedimentos Pirabas (Rossetti et al. 1989, Rossetti 2001). dimentos foram recentemente interpretados como depó-
A exposição mais meridional dos sedimentos Barreiras sitos continentais derivados de fluxos de lama e de detri-
por ora reconhecida ao longo da rodovia BR 010 encontra- tos (Calaf 2000, Kotschoubey et al. 2005). A mudança
se a cerca de 26 Km a norte de Ipixuna (Kotschoubey et na natureza dos sedimentos neógenos sugere que a trans-
al. 1996). gressão máxima para sul do mar Pirabas não ultrapassou
um limite situado cerca de 20 km a norte de Ipixuna e
Sedimentos Pós-Barreiras próximo das encostas setentrionais dos platôs Jabuti. A
província bauxitífera evoluiu, portanto, durante todo o
Trata-se de sedimentos areno-argilosos, de coloração Cenozóico, em condições exclusivamente continentais.
amarelada e granulometria fina a grossa, não exibindo Sobre os arenitos argilosos do Mioceno repousa uma cros-
estruturas sedimentares perceptíveis. Contêm, em alguns ta laterítica ferruginosa exibindo grau variável de degra-
locais, na sua base, lentes ou finos leitos ferruginosos de dação (Calaf 2000, Kotschoubey et al. 2005). Esta cou-
tipo ortstein. Estes sedimentos repousam em discordân- raça ferruginosa corresponde à crosta laterítica desen-
cia erosiva sobre a Formação Barreiras. volvida sobre os sedimentos Barreiras mais a norte, no
domínio da Plataforma Bragantina. A esta crosta ferrugi-
VII. QUADRO GEOLÓGICO DA PROVÍN- nosa e em contato brusco se sobrepõem depósitos argilo-
CIA BAUXITÍFERA DE PARAGOMINAS arenosos a areno-argilosos amarelados, de espessura
métrica, sem estruturas sedimentares perceptíveis e con-
No contexto geral descrito acima, o quadro lito-estra- tendo, além de diminutos fragmentos de laterita, eventu-
tigráfico da província bauxitífera apresenta algumas par- ais stone-lines (Figura 11). Tratar-se-ia de sedimentos
ticularidades (Tebela 2). cronocorrelatos com os sedimentos Pós-Barreiras defini-
As rochas mais antigas pertencem ao Grupo Itapecu- dos na Plataforma Bragantina e depositados durante o
ru (nas porções sul e central da região em apreço) e à Plioceno (Calaf 2000, Kotschoubey et al. 2005).
Formação Ipixuna (na porção norte) e estão expostas em
inúmeros afloramentos ao longo da rodovia federal BR VIII. QUADRO SUPERGÊNICO REGIONAL
010 e demais rodovias, bem como nas margens das dre-
nagens de maior porte. Estas formações sedimentares No domínio da Província Bauxitífera de Paragominas
sustentam os platôs dominantes na região, portadores da as duas coberturas lateríticas de expressão regional se
cobertura laterítica/bauxítica e do seu capeamento argi- distinguem pela composição e estrutura, como também,
loso, as duas unidades enfocadas no presente trabalho. indiretamente, pela natureza da rocha-matriz/substrato,

Tabela 2 – Coluna litoestratigráfica da Província Bauxitífera de Paragominas.

702
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Figura 9 – Afloramento de arenito argiloso avermelhado do Figura 11 – Sedimentos argilo-arenosos inconsolidados Pós-
Mioceno Inferior/Médio com abundantes indícios de Barreiras sobrepostos à crosta ferruginosa do Mioceno
bioturbação. Km 30 da estrada Paragominas-Cáipi. Superior fortemente degradada. Piçarreira abandonada,
rodovia BR 010, 10 km a sul de Itinga/Maranhão.

pela natureza do capeamento e pela posição topográfica.


Os resultados obtidos durante a última década na área da
sedimentologia, estratigrafia, paleoclimatologia e paleo-
magnetismo, permitem agora situar no tempo, com razo-
ável precisão, os períodos de formação desses dois man-
tos de alteração. As duas coberturas residuais podem,
portanto, ser consideradas como verdadeiros níveis es-
tratigráficos, testemunhos de períodos, durante os quais
as formações aflorantes foram submetidas a condições
climáticas e fisico-químicas propícias à lateritização ou
bauxitização. Cada período de lateritização/bauxitização
foi seguido por mudanças ambientais e pela formação
Figura10 – Topo do arenito argiloso do Mioceno Inferior/ sobre o manto residual de capeamento argiloso a areno-
Médio. Observar a delgada lente de argila caulinítica de argiloso, constituindo ciclo claramente definido (Kotschou-
tipo semi-flint. Rodovia BR 010, 5 km a norte de Açailândia. bey & Truckenbrodt 2003).

703
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

Manto ferro-aluminoso do Paleógeno exposta ao longo da rodovia BR 010 (Belém-Brasília),


devido à sua posição topográfica baixa e à abundância,
Sustentando os topos dos platôs e chapadas dominantes nas encostas e nos sopés dos platôs, de colúvios que a
em toda a região, a cobertura laterítica/bauxítica repousa mascaram. Com base em observações feitas na rodovia
sobre os sedimentos siliciclásticos do Grupo Itapecuru e Dom Eliseu – Rondon do Pará, acredita-se também que
da Formação Ipixuna. No entanto, a cobertura residual parte importante desta crosta foi desmantelada e erodida
não se limita à atual província bauxitífera e se estende no início do Neógeno, antes dos sedimentos se
para norte sobre outros terrenos, incluindo os domínios depositarem. A crosta, que no total pode alcançar 2 m de
pré-cambrianos do Cráton São Luis e da Faixa Gurupi espessura, comporta na sua parte inferior depósitos
(Serra do Piriá, Morro de Cansa Perna, Morros de cretáceos com a estruturação sedimentar (laminação, fina
Sapucaia e Boa Vista, entre outras ocorrências) (Costa estratificação) perfeitamente preservada, porém
1984, 1991, Oliveira & Costa 1984, Gonçalves & fortemente a quase totalmente dessilicificados e altamente
Kotschoubey 2001, 2002, Gonçalves et al. 2001). Na ferruginizados. A total dissolução dos grãos de quartzo
Província Bauxitífera de Paragominas o manto ferro- juntamente com a preservação da textura e do volume
aluminoso apresenta, ao longo dos seus 300 km de extensão original lhe conferem, localmente, textura esponjosa e
norte-sul reconhecida, significativas variações baixíssima densidade. A parte superior da crosta compõe-
faciológicas, composicionais e de espessura, a diferentes se de nódulos lateríticos densamente empacotados
escalas. Assim, enquanto nas imediações de Açailândia a sobrepostos por cascalho ferruginoso com pouquíssima
cobertura é exclusivamente ferruginosa e exibe matriz argilosa, que poderiam corresponder a um
estruturação simples, mais a norte, o manto intempérico paleopavimento. Depósitos argilo-arenosos avermelhados
torna-se mais complexo devido à progressiva a variegados do Neógeno Inferior repousam, em contato
individualização de espessos horizontes bauxíticos, brusco, sobre a crosta. Tratar-se-ia, portanto, de manto
adquirindo estruturação acamada. O caráter bauxítico e laterítico desenvolvido concomitantemente com a
a espessura alcançam a sua expressão máxima na região superfície (Superfície Velhas I ou Velhas Antiga)
situada imediatamente a sul de Paragominas (Serras de resultante da retomada dos processos erosivos no final
Miltônia, Serras de Gurupi Norte e Sul, entre outros do Oligoceno e da intensa dissecação da Superfície Sul-
setores). No entanto, próximo desta cidade, observam-se Americana. Condições climáticas mais úmidas teriam
modificações faciológicas marcantes e bastante bruscas permitido, no início do Mioceno, a formação de couraça
no manto bauxítico. Qualquer que seja a sua natureza, ferruginosa, a seguir parcialmente desmantelada e, com
exclusivamente ferruginosa ou principalmente bauxítica, a diminuição da taxa de erosão, recoberta por sedimentos
o manto residual está sobreposto por pacote argiloso de areno-argilosos derivados dos depósitos mais antigos.
até 20 m de espessura, com características de latossolo
argiloso, denominado genericamente Argila de Belterra Cobertura Ferruginosa do Neógeno (Mioceno Su-
(Sombroek 1966, Truckenbrodt & Kotschoubey 1981; perior)
Truckenbrodt et al. 1991). Este manto laterítico/bauxítico
é o objeto específico do presente trabalho. Embora a cobertura laterítica do Neógeno ocorra
amplamente na região do sub-projeto, poucos estudos fo-
Crosta laterítica intermediária (Final do Oligoceno- ram por ora publicados sobre o assunto. Costa (1988, 1990
Início do Mioceno?) e 1991), mencionando esta formação em diversos traba-
lhos sobre as coberturas e mineralizações residuais na
Os levantamentos geológicos sistemáticos realizados Amazônia, definiu-a como imatura, em função da sua
recentemente ao longo das rodovias BR 010 e BR 222 composição mineralógica. O mesmo autor chamou igual-
(Dom Eliseu-Rondon do Pará-Marabá) permitiram mente a atenção para a existência na região, além das
individualizar, dentro do quadro laterítico do nordeste do formações lateríticas in situ, de lateritas alóctones ou sto-
Pará, uma crosta residual, até então desconhecida, ne-lines (Costa 1991). Para a região situada entre Ipixu-
desenvolvida sobre os sedimentos Itapecuru porém distinta na e São Miguel do Guamá, Kotschoubey et al. (1996)
da cobertura laterítica/bauxítica do Paleógeno. Com efeito apresentaram coluna estratigráfica, incluindo uma crosta
ela marca claramente uma paleosuperfície situada entre ferruginosa mais recente que o manto residual hospedei-
os sedimentos do Cretáceo e os depósitos areno-argilosos ro dos depósitos de bauxita. Mais recentemente, origem,
continentais, referidos acima como arenitos avermelhados natureza, posição estratigráfica e evolução dessa coura-
cronocorrelatos com os sedimentos das formações ça ferruginosa foram estudadas em mais detalhe na por-
Pirabas e Barreiras (Kotschoubey et al. 2005). Esta ção meridional da Província Bauxitífera de Paragominas
crosta, exclusivamente ferruginosa, está escassamente (Calaf 2000, Kotschoubey et al. 2005).

704
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Descrita na região entre Ipixuna e São Miguel do por enriquecimento relativo in situ de Fe (Calaf 2000,
Guamá (Kotschoubey et al. 1996), esta cobertura distri- Kotschoubey et al. 2005).
bui-se amplamente tanto a norte desta cidade (Costa
1990), como a sul de Ipixuna, até os limites meridionais IX. EVOLUÇÃO GEOLÓGICA
da província bauxitífera, sustentando a superfície mais
baixa, embutida na Superfície Sul Americana. É mais del- Conforme Góes (1995), a Bacia do Grajaú forma uma
gada que a cobertura antiga e consiste fundamentalmen- unidade geotectônica independente no contexto mais amplo
te em couraça ferruginosa, de até 3m de espessura. No da Província Sedimentar do Meio Norte. Nela se
domínio da Plataforma Bragantina o manto ferruginoso depositaram aproximadamente 800 m de sedimentos,
repousa sobre os sedimentos Barreiras, enquanto mais a começando com as formações Grajaú e Codó (Aptiano) e
sul se sobrepõe aos arenitos mal selecionados e não terminando com o Grupo Itapecurú (Albiano – Senoniano).
estruturados considerados cronocorrelatos com as for- Urdinínea (1977) e Kotschoubey et al. (1996) supõem
mações Pirabas e Barreiras (Calaf 2000, Kotschoubey et ter ocorrido basculamento regional devido ao qual a parte
al. 2005). Como já assinalado acima, a couraça ferruginosa meridional da Bacia do Grajaú sofreu subsidência duran-
é recoberta por pacote argilo-arenoso a areno-argiloso
te o Cretáceo, o que possibilitou a deposição dos sedi-
cronocorrelato como os sedimentos Pós-Barreiras (Sá
mentos do Grupo Itapecurú e, um pouco mais a norte, os
1969, Kotschoubey et al. 1996, Rossetti 2001). Original-
da Formação Ipixuna.
mente maciça, a couraça apresenta hoje grau variável de
Durante o Paleógeno, a região meridional da Bacia do
degradação. Normalmente exibe estrutura colunar, às
Grajaú permaneceu livre de sedimentação (Góes 1995)
vezes inclinada por efeito de rastejamento, porém pode
e, à custa dos sedimentos continentais do Grupo Itapecurú
também ser parcial ou totalmente nodular (Kotschoubey
e da Formação Ipixuna, formou-se ampla cobertura
et al. 2005) (Figura 12a) .Em certos locais a couraça
laterítica ferruginosa e bauxítica, da qual a atual Província
mostra grau de degradação máximo, apresentando-se na
Bauxitífera de Paragominas é apenas testemunho (Grubb
forma de stone-layer (Figura 12b). Neste caso e, sobre-
tudo quando está presente abundante matriz argilosa, não 1979; Truckenbrodt et al. 1982; Kotschoubey et al. 1996;
pode ser descartada a possibilidade de terem ocorrido 1997).
retrabalhamento físico e redistribuição dos fragmentos A região correspondente à atual Plataforma Bragan-
ferruginosos por rastejamento ou solifluxão, em ambiente tina (Urdinínea 1977) constituia o prolongamento para nor-
controlado essencialmente pela ação dos agentes te da Bacia do Grajaú e deve ter sofrido evolução seme-
intempéricos e pela topografia. Cabe, enfim, ressaltar que lhante, embora a taxa de sedimentação deva ter sido bai-
nesta cobertura laterítica não existe horizonte saprolítico xa durante o Cretáceo. Durante o Paleógeno, a maior
individualizado e o contato da couraça ferruginosa com o parte da região também permaneceu emersa, sendo pro-
arenito subjacente é, via de regra, brusco. Aliados à pre- fundamente afetada pelo intemperismo, nas mesmas con-
servação parcial da textura arenítica original, tais fatos dições que as regiões mais meridionais. O resultado foi a
sugerem que se trata mais provavelmente de laterita de formação de manto laterítico sobre todas as unidades aflo-
lençol, ou seja, de formação residual gerada pela rantes, tanto pré-cambrianas como fanerozóicas. As pou-
ferruginização resultando em grande parte de aporte de cas ocorrências lateríticas bauxíticas ou fosfáticas da Pla-
Fe alóctone e não de crosta laterítica clássica, formada taforma Bragantina são testemunhos desta cobertura.

Figura 12 – Laterita neógena. A. Couraça colunar, mesma localidade que a Figura 11 . B. Couraça fortemente degradada,
transformada em stone-layer. Rodovia BR 010, 6 km a norte de Itinga (PA).

705
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

A formação do manto residual foi seguida por período Velhas I ou Velhas Antiga de King (1967). Restabelecen-
de fortes mudanças climáticas para regime mais seco. A do-se um novo equilíbrio entre o nível do mar e o nível de
ruptura do equilíbrio mantido pelo menos durante o Pale- base nas zonas continentais, depósitos siliciclásticos, mal
oceno e o Eoceno levou à formação de capeamento, de selecionados, provenientes do solapamento e progressivo
origem por enquanto controversa e apresentando hoje recuo das margens dos vales, foram, em seguida, preen-
características certamente muito diferentes das originais. chendo progressivamente estes últimos. Com a diminui-
A mudança climática global que marcou o Oligoceno Su- ção gradativa dos efeitos da erosão e, finalmente, a para-
perior causou importante regressão marinha e forte re- da da sedimentação, a volta para clima quente e úmido e
baixamento do nível do mar, o que desencadeou vigoroso notável estabilidade tectônica, os depósitos siliciclásticos
processo erosivo. Durante este período, a cobertura late- foram submetidos a intemperismo laterítico durante pelo
rítica da porção setentrional da Bacia do Grajaú (futura menos grande parte do Mioceno Superior. Desta fase de
Plataforma Bragantina) foi quase totalmente erodida, en- alteração resultou a formação de crosta ferruginosa regi-
quanto nos setores mais meridionais e mais continentais, onal, cuja presença foi reconhecida em múltiplos locais
ou seja na Província Bauxitífera de Paragominas, ela so- da província (Calaf 2000, Kotschoubey et al. 2005). Após
freu apenas erosão parcial, que resultou em formação de sofrer grau variável de degradação química e física, esta
complexa rede de drenagem e individualização de vastas crosta ferruginosa foi recoberta no Plioceno / início do
chapadas. Pleistoceno? por sedimentos argilo-arenosos, produtos da
No final do Oligoceno e no Mioceno Inferior, a trans- alteração e desmantelamento de todas as formações aflo-
gressão Pirabas causada por subsidência regional relaci- rantes na época. Uma superfície regional (Velhas II ou
onada a eventuais movimentos epirogenéticos e/ou por Velhas Recente) marca o topo destes depósitos. Mais re-
reaquecimento climático global resultou na deposição dos centemente, um novo rebaixamento do nível do mar cau-
sedimentos marinhos (calcários) da Formação Pirabas sado por mudanças climáticas (glaciações ?) e/ou movi-
(Urdinínea 1977) e, em seguida, dos sedimentos siliciclás- mentos tectônicos levou à formação da rede de drena-
ticos litorâneos da Formação Barreiras (Mioceno Mé- gem atual e à individualização dos relevos tabulares mais
dio). Após a formação de uma crosta laterítica à custa baixos.
dos sedimentos Barreiras, no Mioceno Superior, foram
depositados, no Plioceno?-Pleistoceno, os sedimentos Pós- X. COBERTURA BAUXÍTICA NA PROVÍN-
Barreiras. CIA BAUXITÍFERA DE PARAGOMINAS
Segundo Costa & Hasui (1997), os sedimentos das
formações Ipixuna, Pirabas e Barreiras, bem como a Embora as variações laterais de espessura e de fácies
cobertura laterítica recente, foram afetados por falhamen- no manto laterítico/bauxítico tenham chamado muito cedo
tos normais e transcorrentes durante o Quaternário. a atenção dos geólogos de exploração, pouca atenção foi
No domínio da Província Bauxitífera de Paragominas, dada, de início, a estas variações nos estudos de caráter
tanto as flutuações do nível do mar como os movimentos mais acadêmico, desenvolvidos, na maioria dos casos, com
tectônicos tiveram também repercussões acentuadas. No base em perfis-tipos, escolhidos como representativos da
entanto, em vez de sofrer, além de erosão, uma subsidên- cobertura residual à escala regional. No entanto, investi-
cia relativa, propícia para o avanço do mar no interior do gações mais abrangentes e sistemáticas na região de
continente, essa região foi marcada por amplo soergui- Paragominas mostraram que, longe de serem fortuitas,
mento, fato reconhecido igualmente em outras regiões da estas variações faciológicas obedeciam a certa ordem e
Amazônia Oriental como as regiões da Serra dos Carajás definiam zoneamento, reflexo da evolução complexa do
e do Baixo Tocantins (Serra do Trucará). Neste contexto manto ferro-aluminoso e, em termos mais gerais, das mu-
geotectônico se impôs intenso processo erosivo que mar- danças geológicas ocorridas, no tempo e no espaço, na
cou a passagem do Paleógeno para o Neógeno, a qual se região em apreço ao longo do Cenozóico. Levando-se
expressou pela formação em largos e profundos vales e em consideração as variações faciológicas na cobertura
individualização de extensas chapadas sustentadas pelas residual e para dar maior clareza à caracterização desta,
formações residuais ferro-aluminosas e o seu capeamen- a província bauxitífera foi dividida em dois domínios. O
to (Calaf 2000, Kotschoubey et al. 2005). No entanto, domínio meridional abrange as porções sul e central da
um clima sensivelmente mais úmido que o clima reconhe- província e estende-se entre a Serra do Gurupi e os arre-
cidamente seco, à escala global, do Oligoceno (Frakes dores de Paragominas, numa distância de aproximada-
1994), parece ter marcado a região amazônica no início mente 250 km. O domínio setentrional possui extensão
do Mioceno e levado à formação de crosta residual con- norte-sul de cerca de 80 km e se localiza entre
comitantemente com o desenvolvimento da superfície de Paragominas e o limite norte da província, (a) cerca de
erosão, interpretada como correspondente à Superfície 20 km a norte de Ipixuna. No entanto, a existência de

706
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

algumas ocorrências limitadas e fortemente degradadas


de bauxita mais a norte, notadamente a norte de Mãe do
Rio e entre Esperança do Piriá e Garrafão do Norte, su-
gere que o domínio setentrional estendia-se originalmen-
te, em grande parte se não na totalidade da atual Região
Bragantina. Os testemunhos de cobertura laterítica
aluminosa, fosfática ou não, desenvovida sobre forma-
ções pré-cambrianas nas adjacências da bacia sedimentar,
apoiam tal suposição. Embora o limite entre os dois domí-
nios não possa ser estabelecido com total precisão, acre-
dita-se que ele se situa, a leste, a norte do platô Gurupi
Norte, na sua parte cent Sral, próximo da cidade de
Paragominas e, a oeste, corta a rodovia PA 256
(Paragominas-Tomé Açu), a aproximadamente 16 km da
rodovia BR 010.

Domínio Meridional (zonas 1, 2, 3, e 4)

Perfil tipo e suas variações Figura 13 – Perfil laterítico/bauxítico esquemático do


domínio meridional da Província Bauxitífera de
No domínio meridional, hospedeiro dos mais importantes Paragominas.
depósitos de bauxita da província, a cobertura laterítica/
bauxítica exibe normalmente estuturação acamada e com-
porta até 6 horizontes distintos, alguns dos quais podem
ainda ser subdivididos. Trata-se, da base ao topo, de: 1)
um horizonte saprolítico, 2) um horizonte bauxítico inferi-
or, 3) um horizonte ferruginoso, 4) um horizonte bauxítico
superior, 5) um horizonte de cascalho ou pisolítico e 6) o
capeamento argiloso (Figura 13).
Os levantamentos de campo mostraram, no entanto,
que somente em algumas áreas todos os horizontes estão
presentes. Na maioria dos casos observa-se a predomi-
nância seja dos horizontes ricos em oxi-hidróxidos de Fe,
seja, ao contrário, dos horizontes aluminosos, ricos em
gibbsita. Certos horizontes podem desaparecer ou ser
reduzidos a vestígios pouco expressivos, como também
constituir, sozinhos, todo ou quase todo o perfil.
Figura 14 – Afloramento da crosta laterítica/bauxítica,
destacando-se, na base, o saprólito argiloso esbranquiçado.
Horizonte saprolítico
Rodovia BR 010, 12 km a sul de Ulianópolis.

Este horizonte apresenta, em toda a extensão do do-


mínio meridional, características semelhantes. Trata-se de bletes (Figura 15a). No entanto, o grau de cristalinidade
material argiloso, caulinítico, contendo quantidade variá- da caulinita ainda é semelhante ao da caulinita da rocha
vel porém sempre fortemente subordinada de grãos de matriz alterada. O Goethita e hematita apresentam igual-
quartzo corroídos e fragmentados, além de oxi-hidróxidos mente grau de cristalinidade igualmente baixo. Quando
de Fe, que lhe conferem geralmente coloração averme- sotoposto a perfil francamente bauxítico, o saprólito con-
lhada uniforme ou aspecto variegado com manchas es- tém normalmente certa quantidade de gibbsita, de grau
branquiçadas de desferrificação. Para baixo, a coloração de cristalinidade bastante elevado.
passa rapidamente para tonalidades mais claras, rosada Na sua parte superior o horizonte saprolítico exibe ra-
pálida, creme ou arroxeada (Figura 14). ramente vestígios de estruturas sedimentares, porém a
O grau de cristalinidade da caulinita é mediano, fato maior profundidade observa-se a passagem progressiva
indicado, nos difratogramas, pela fraca definição dos tri- para a rocha matriz ainda estruturada embora totalmente
pletes característicos ou sua substituição parcial por du- alterada para associação de caulinita predominante e apre-

707
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

(a) (b)

Figura 15 – Difratogramas do saprólito. (a) Perfil 1, zona 1. (b) Perfil 4, zona 2.

Figura 16 – Imagens de MEV do saprólito. (a) e (b) Saprólito essencialmente composto de cristais tabulares subédricos a
euédricos de caulinita.

sentando elevado grau de cristalinidade, pouco quartzo, re apenas parte desses sub-horizontes e a espessura total
traços de goethita e eventuais restos de mica degradada não ultrapassa 2 m. Na base, encontra-se um sub-hori-
(Figura 15b). A análise por MEV revelou que caulinita se zonte bem individualizado de até 1 m de espessura, cons-
apresenta em cristais tabulares subédricos a euédricos tituído por leitos de bauxita rosada a lilás, exibindo uma
de menos de 1µm a 4 µm de diâmetro, distribuídos desor- textura arenítica fina a grossa, e, comumente, uma lami-
denadamente, eventualmente intercrescidos ou forman- nação ou uma estratificação plano-paralela ou cruzada,
do pequenas “sanfonas” (Figura 16a e b). por vezes bem expressa (Figura 17a e b, e Figura 18a).
Localmente, sobretudo na parte meridional da região Normalmente, os leitos bauxíticos não ultrapassam,
em apreço, encontram-se, com freqüência, dispersas em individualmente, 15-20 cm de espessura e se degradam
espessura de vários metros, concreções bauxíticas centi- por fragmentação em blocos ou plaquetas (Figura 17a e
métricas, riziformes, por vezes ramificadas, em posição b). Raramente, este subhorizonte consiste em bauxita
subvertical e, mais raramente, massas bauxíticas subes- maciça não estruturada. A bauxita da base do perfil
féricas, geralmente ocas em sua parte central. Em am- compõe-se predominantemente de gibbsita meso- a
bos os casos, a bauxita apresenta textura fina e ocasio- macrocristalina, havendo igualmente gibbsita
nalmente vestígios de estruturação sedimentar, principal- microcristalina muito subordinada, sob a forma de
mente fina laminação. agregados disformes dispersos aleatoriamente na matriz
de granulação mais grossa. Gibbsita meso- e
Horizonte bauxítico inferior macrocristalina ocorre em cristais subédricos e exibe
maclamento polissintético típico e, por vezes, zoneamento
Este horizonte, cuja espessura pode atingir 5 m, com- concêntrico. Os cristais apresentam geralmente um
porta, nos perfis mais evoluidos, três subhorizontes. Nos arranjo em mosaico e contatos retos (Figura 19d e Figura
perfis menos desenvolvidos e de modo mais geral , ocor- 20b e d). O grau de cristalinidade da gibbsita é, via de

708
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Figura17 – Afloramentos do horizonte bauxítico inferior. (a) e (b). Bauxita estruturada da base do manto residual, próximo
do contato com o saprólito, perfis 17 e 24, respectivamente, ambos da zona 4. (c) Bauxita inferior maciça, perfil 26, zona 4. (d)
Bauxita inferior englobando porções da crosta ferruginosa, perfil 20, zona 4.

Figura 18 – Amostras de mão da bauxita inferior. (a) Bauxita estruturada com textura arenítica da base do perfil. (b) e (c)
Bauxita maciça, levemente porosa. (d) Bauxita nodular englobando vestígios de crosta ferruginosa.

709
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

Figura 19 – Fotomicrografias da bauxita inferior. (a) e (b) Matriz gibbsítica microcristalina com impregnação de oxi-
hidróxido de Fe e preenchimento de poros e fissuras por gibbsita mesocristalina. Nicóis x. (c) Abundantes fraturas preenchidas
por gibbsita mesocristalina em matriz gibbsítica fina rica em oxi-hidróxido de Fe. Nicóis x. (d) Mica degradada em matriz
gibbsítica meso a macrocristalina da base do horizonte bauxítico inferior. Nicóis x.

(a) (b)

Figura 20 – Imagens de MEV da bauxita inferior. (a) Cristais de gibbsita mesocristalina preenchendo poros em matriz
gibbsítica microcristalina. (b) Agregado de cristais de gibbsita macrocristalina na base do horizonte bauxítico. (c) Mica
degradada na base do horizonte bauxítico inferior. (d) Cristais macrocristalinos exibindo estrutura foliada. (e) Grão de
quartzo corroído em matriz gibbsítica macrocristalina. (f) Detalhe do grão de quartzo da Figura E. Notar as feições de
corrosão.

710
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

regra, elevado (Figura 21a). Palhetas de mica fortemente


degradada, apresentando geralmente forma de leque ou
feixe, encontram-se com freqüência inclusas na bauxita
basal (Figura 19d e Figura 20c). As palhetas reliquiares,
altamente hidratadas e empobrecidas em elementos mais
solúveis mostram ocasionalmente alteração parcial para
caulinita. A gibbsita apresenta grau de cristalinidade
elevado. O conteúdo de caulinita é geralmente modesto.
Este mineral mostra, grau muito baixo de cristalinidade,
porém, com alguma freqüência, os picos principais (001 e
002) aparecem como a associação de um pico largo e
pouco desenvolvido com um pico mais agudo e melhor
definido (Figura 21a). Tais feições poderiam indicar a
coexistência de dois tipos de caulinita, uma muito mal
cristalizada e outra com grau de cristalinidade mais
elevado, e resultar da alteração de caulinita bem
cristalizada, cujos vestígios ainda estão presentes na
bauxita, para um produto fortemente degradado. No
entanto, não se pode descartar a possibilidade de tratar-
se, ao contrário, de indícios de neoformação de caulinita
a partir de produtos sílico-aluminosos mal cristalizados ou
amorfos. Os oxi-hidróxidos de Fe, pouco abundantes,
formam filmes no contato entre os cristais de gibbsita e
apresentam baixo grau de cristalinidade (Figura 21a).
Anatásio, sempre presente, encontra-se em quantidades
discretas. Nesta bauxita está inclusa quantidade variável
de grãos de quartzo, ocasionalmente visíveis a olho
desarmado. Trata-se, geralmente, de grãos fortemente
corroídos, comportando golfos de dissolução e exibindo
formas esqueletais (Figura 20e e f).
Ocorrem, igualmente, agrupamentos de fragmentos de
grãos de quartzo mostrando, pela extinção simultânea,
terem pertencido, originalmente, ao mesmo grão. A matriz
argilosa é normalmente pouco abundante. Em certos
perfis, entretanto, a bauxita de textura “arenítica” não
existe e, em seu lugar, ocorre produto sacaroidal, Figura 21 – Difratogramas da bauxita inferior. A. Bauxita
esbranquiçado, muito poroso e friável, formando bolsões sacaroidal laminada da base do perfil 17, zona 4. B. Bauxita
disformes, lentes ou leitos difusos, distribuídos de modo maciça, mesmo perfil que anterior. C. Nódulo bauxítico infe-
aleatório em abundante matriz argilosa. Estes bolsões rior, perfil 4, zona 2.
apresentam indícios de estratificação/laminação, que, no
entanto, não se percebem na matriz argilosa que os tura fina a média e coloração rosada, avermelhada ou
envolve. O produto sacaroidal é basicamente composto amarronzada clara (Figura 18b e c). Os nódulos englo-
de macrocristais de gibbsita de elevado grau de bam, com freqüência, fragmentos ferruginosos, semelhan-
cristalinidade, dispostos em arranjo esqueletal. A matriz tes em composição e textura ao horizonte ferruginoso si-
argilosa, pelo seu aspecto e composição, é semelhante ao tuado acima (Figura 18d). A matriz gibbsítica é via de
saprólito superior. regra microcristalina com impregnações criptocristalinas
Ao sub-horizonte basal está sobreposto um sub-hori- de oxi-hidróxidos de Fe (Figura 19a, b e c). Neste crista-
zonte nodular. Os nódulos bauxíticos, centimétricos a de- liplasma fino, abundantes poros e fissuras encontram-se
cimétricos, têm forma irregular e superfície rugosa e es- preenchidos por gibbsita mesocristalina (Figura 19a, b e
tão envoltos em matriz argilosa pouco a muito abundante. c, Figura 20a). Gibbsita apresenta elevado grau de crista-
Em direção ao topo do horizonte, os nódulos tornam-se linidade, enquanto caulinita, geralmente presente em quan-
mais volumosos e a quantidade de matriz diminui. A bau- tidades muito subordinadas, e os oxi-hidróxidos de Fe exi-
xita nodular é bastante porosa e/ou cavernosa, possui tex- bem grau baixo de cristalinidade (Figura 21c).

711
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

Anatásio tem presença modesta. A matriz consiste feições extremamente irregulares, marcadas por depres-
fundamentalmente em caulinita de baixo grau de cristali- sões e ressaltos acentuados (Figura 22a). Em outros aflo-
nidade e contém quantidades fortemente subordinadas e ramentos o contato com o horizonte bauxítico ou o casca-
variáveis de oxi-hidróxidos de Fe e gibbsita. lho sobrejacente apresenta feições mais suaves, geral-
Acima do sub-horizonte nodular ocorre sub-horizonte mente onduladas, algo irregulares. A passagem brusca do
maciço de bauxita exibindo textura fina a média, menos horizonte ferruginoso ao material sobreposto e as formas
porosa e cavernosa que a bauxita nodular sotoposta dissecadas sugerem que, em algum momento da evolu-
(Figura 17c). Neste sub-horizonte não há mais vestígios ção do manto residual, a crosta ferruginosa original ficou
de estruturas sedimentares. De coloração predo- exposta e sofreu erosão.
minantemente rosada, esta bauxita exibe com freqüência O horizonte ferruginoso pode se apresentar na forma
estruturação grosseiramente colunar. Fragmentos de crosta maciça, porém, mais freqüentemente possui
arredondados a irregulares de crosta ferruginosa inclusos feições colunares (Figura 22b), cavernosas ou nodulares
na bauxita são ainda mais comuns que no sub-horizonte (Figura 22c). Exibe coloração marrom escura, por vezes
sotoposto. Observa-se, entretanto, um quadro diferente, algo arroxeada ou amarelada. Acentuada porosidade é
quando a bauxita não chega a constituir um horizonte também uma característica constante deste horizonte.
totalmente individualizado e preenche apenas cavidades Estão comumente presentes vênulas e cutãs amareladas
ou espaços internodulares em horizonte ferruginoso a avermelhadas.
parcialmente preservado (Figura 17d). Em qualquer um A fácies colunar caracteriza-se pela presença de tú-
destes casos a matriz gibbsítica permanece microcristalina bulos subverticais revestidos por córtex amarelado de hi-
e mostra íntima associação com oxi-hidróxidos de Fe. dróxido de Fe e preenchidos por argila, proveniente dos
Abundantes poros de dissolução e gretas de contração horizontes superiores do perfil por iluviação (Figura 22b).
do gel ferro-aluminoso original são preenchidos por A crosta cavernosa representa estágio de degradação
gibbsita meso a macrocristalina. Gibbsita exibe elevado intermediário, caracterizado por interligação ainda notá-
grau de cristalinidade, enquanto a caulinita, que ocorre vel dos nódulos em processo de individualização. O ma-
em quantidade pequena a incipiente mostra baixo grau de terial ferruginoso constitui arcabouço nas cavidades do
cristalinidade com todas as particularidades já assinaladas qual se acumulou argila. Nas áreas afetadas por bauxiti-
acima. Os oxi-hidróxidos de Fe são igualmente pouco zação, no entanto, as cavidades estão parcial ou total-
abundantes e exibem sempre baixo grau de cristalinidade mente preenchidas por bauxita rosada ou marrom clara
(Figura 21b). Como no resto do horizonte, anatásio de textura fina com agregados de gibbsita cristalina dis-
encontra-se em quantidades discretas. seminados. A matriz argilosa encontra-se em quanti-
dades variáveis preenchendo os espaços restantes. Na
Horizonte ferruginoso fácies nodular observa-se o mesmo quadro. O espaço
internodular pode ser preenchido por matriz argilosa ou
A espessura deste horizonte é muito variável à escala parcial a totalmente cimentado por bauxita. Em qualquer
tanto regional como local (Figura 22a). Nos perfis bauxí- uma dessas situações envolvendo bauxita e a crosta fer-
ticos normalmente desenvolvidos este horizonte possui ruginosa degradada, a crosta residual adquire feições pseu-
espessura da ordem de 1 m. No entanto, pode igualmente do-conglomeráticas ou pseudo-brechóides (Figura 23c e
predominar no perfil residual (Figura 22b) ou constituir a d). Normalmente, não se observam estruturas sedimen-
totalidade deste, alcançando até 5 m de espessura Em tares herdadas, por elas terem sofrido dissipação durante
outros setores, ele se reduz a uma modesta camada, às alteração e desagregação dos sedimentos parentais, an-
vezes descontínua, de espessura decimétrica a centimé- tes da formação da crosta ferruginosa.
trica. Enfim, nas situações extremas o horizonte pode Em alguns setores entretanto, a crosta ferruginosa
desaparecer completamente como tal, sendo representa- apresenta textura realmente brechóide. Nestes casos,
do apenas por escassos vestígios envoltos em matriz bau- fragmentos milimétricos a centimétricos, angulosos ou
xítica (Figura 22d). arredondados, de textura pelítica e baixa porosidade, exi-
A espessura deste horizonte sofre fortes variações à bindo freqüentemente discreta estratificação ou lamina-
escala local. Em diversas exposições da cobertura resi- ção, encontram-se envoltos em matriz altamente porosa,
dual, numa extensão de poucas dezenas de metros (p.ex. semelhante à da crosta comum descrita acima (Figura
nos perfil Serra do Gurupi, 6, 8, 9, 12, 13, entre outros), 23a). Os fragmentos de textura fina podem se destacar
observam-se mudanças drásticas de espessura. Enquan- por sua coloração avermelhada, porém na maioria dos
to o contato com o horizonte bauxítico sotoposto é nor- casos somente uma análise mais detalhada permite dis-
malmente subhorizontal e gradativo, o contato com o ho- tingui-los da matriz porosa. Acredita-se que a formação
rizonte sobreposto é muito brusco e mostra, comumente, da crosta de fácies brechóide iniciou-se com a fragmen-

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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

(b)

Figura 22 – Afloramentos do horizonte ferruginoso. A. Variação de espessura do horizonte ferruginoso, perfil 8, zona 2. B.
Crosta ferruginosa colunar, próximo do perfil 18, zona 4. C. Crosta ferruginosa nodular, perfil 12, zona 3. D. Vestígios
esqueletais de crosta ferruginosa englobados por bauxita porcelanada, maciça. Cascalheira na zona urbana de Paragominas,
perfil 31, zona 4.

tação de leitos pelíticos (argilitos ou siltitos) intercalados lado núcleos arredondados, sublinhados por córtex e, por
nos arenitos arcoseanos durante a desagregação dos se- outro, uma pseudomatriz de coloração levemente mais
dimentos parentais. Os fragmentos mais coesos e mais escura. Localmente, porções friáveis, pulverulentas, exi-
resistentes à degradação que os sedimentos psamíticos bindo acentuada coloração amarela, indicam locais de
ficaram imersos na matriz arenosa resultante da altera- extrema hidratação.
çãoção desses últimos. A posterior evolução da crosta Na crosta colunar observa-se, localmente, das partes
ferruginosa levou a ferruginização e litificação do con- mais internas das colunas para os túbulos, evolução cen-
junto. A fácies brechóide desenvolveu-se portanto ape- trífuga da fácies maciça para fácies pisolítica, com pro-
nas nas áreas onde os leitos pelíticos eram suficiente- gressiva individualização de pequenos corpos subesféri-
mente expressivas para permitir a preservação de frag- cos ferruginosos, de textura fina, geralmente com delga-
mentos de textura fina e baixa porosidade num meio for- do córtex goethítico. Fracamente interligados na interfa-
mado predominantemente por produtos arenosos. ce com as cavidades tubulares, os pisólitos acabam se
Internamente, a crosta ferruginosa pode igualmente soltando e se misturando com a argila. Neste meio, no
exibir feições pseudo-conglomeráticas resultando da in- entanto, a relativa estagnação das soluções e o conse-
dividualização de proto-pisólitos bem definidos, ovalados qüente rebaixamento do Eh, levam a progressiva desfer-
a sub-esféricos, margeados por córtex amarelado, geral- rificação e rápida degradação desses pisólitos.
mente delgado porém, ocasionalmente, espesso e zona- O horizonte ferruginoso é constituido por plasma crip-
do. (Figura 23b). Tais feições são atribuídas a intensa mi- tocristalino ferro-caulinítico, distinguindo-se, localmente,
gração de soluções e a concrecionamentos internos na franjas por vezes zonadas de goethita micro a mesocris-
crosta ferruginosa muito permeável, dois meios tendo-se talina preenchendo fissuras e revestindo pequenas cavi-
diferenciado a partir do mesmo material original: por um dades. Sua notável porosidade é resultado da distribuição

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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

Figura 23 – Amostras de mão do horizonte ferruginoso. (a) Crosta ferruginosa: fragmentos pelíticos (avermelhados) em matriz
porosa de coloração castanha. (b) Crosta ferruginosa de textura pisolítica com abundantes córtex e cutãs goethíticos e
túbulos preenchidos por argila rosada. (c) e (d) Crosta ferruginosa degradada com cavidades preenchidas por bauxita clara,
porosa.

Figura 24 – Fotomicrografias do horizonte ferruginoso. (a) e (b) Textura celular: os poros de dissolução são peenchidos por
gibbsita mesocristalina exibindo maclamento polissintético. A. Nicóis //, B. Nicóis x. (c) e (d) Contatos da crosta ferruginosa
porosa com matriz bauxítica cripto a microcristalina. Nicóis //.

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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

bastante regular de inúmeros poros de dissolução de grãos poros de diversos tipos) são freqüentemente preenchidas
de quartzo originalmente aprisionados na matriz argilo- por um plasma gibbsítico, cripto ou microcristalino, pro-
ferruginosa durante a formação da crosta (Figura 24a, b, duto da bauxitização posterior (Figura 24c e d).
c e d, e Figura 25a). Ocasionalmente, pode ser observada Qualquer que seja a estruturação interna da crosta,
textura esponjosa com predominância dos vazios sobre a sua matriz compõe-se essencialmente de goethita e he-
malha ferruginosa (Figura 24a e b). Em tais casos a den- matita, esta última sendo, com freqüência, amplamente
sidade do material ferruginoso torna-se surpreendente- dominante (Figura 26a). Em imagens de MEV estes mi-
mente baixa. Os poros, arredondados a angulosos, con- nerais revelam formas cristalinas variadas, disciformes
têm, por vezes, vestígios de grãos de quartzo fraturados e intercrescidas, tabulares, vermiformes, aciculares em fei-
corroídos, parcialmente substituídos por gibbsita meso ou xes ou leques, em rosetas, etc...(Figura 25c e d). Goethi-
macrocristalina maclada. Pode igualmente haver preen- ta apresenta grau de cristalinidade mediano e substitui-
chimento parcial dos poros por gibbsita, na forma de del- ção de FeOOH por AlOOH entre 10 e 15%, enquanto a
gada franja revestindo a superfície dessas pequenas ca- hematita se mostra melhor cristalizada que o hidróxido.
vidades. Eventualmente, gibbsita preenche totalmente os Acredita-se que ocorre igualmente alguma substituição
poros, o que chega a conferir composição altamente alu- de Fe2O3 por Al2O3 na hematita, porém o grau de substi-
minosa à crosta aparentemente ferruginosa (Figura 24b). tuição não pôde ser avaliado pelo método usado. Embora
Nos córtex goethíticos desenvolvidos nas zonas de mais existam cutãs e vênulas hematíticas, a maioria delas e os
intenso concrecionamento os poros são geralmente de- córtex são goethíticos (Figura 25b). As zonas amarelas
formados, achatados e em parte colmatados por oxi-hi- pulverulentas são, por sua vez, exclusivamente compos-
dróxidos de ferro. Embora menos acentuadas, as mes- tas de goethita. A goethita formando as cutãs, os córtex e
mas transformações ocorrem nos protopisólitos. Nos lo- essas zonas amarelas friáveis, apresenta grau de cristali-
cais onde a crosta ferruginosa sofreu maior degradação nidade mais baixo que o da goethita que compõe a matriz
e fragmentação química as cavidades (fissuras, fraturas, e substituição de FeOOH por AlOOH igual ou superior a

Figura 25 – Imagens de MEV do horizonte ferruginoso. (a) Textura porosa devida a abundantes cavidades de dissolução. (b)
Córtex goethítico em matriz ferruginosa porosa. (c) Matriz ferruginosa composta de cristais tabulares intercrescidos de
goethita. (d) Agregados hematíticos em rosetas revestindo cavidade.

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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

20%. Exceto nas zonas totalmente poupadas pela bauxi-


tização, gibbsita está geralmente presente no horizonte
ferruginoso, podendo ser um constituinte notável deste (a)
horizonte nas áreas afetadas por bauxitização particular-
mente expressiva (Figura 26a, b e c). Trata-se basica-
mente de gibbsita meso a macrocristalina de grau de cris-
talinidade elevado, que, como já visto acima, preen-
che parcial ou totalmente os poros da crosta ferruginosa
ou constitui vênulas. Caulinita de baixíssimo grau de cris-
talinidade está sempre associada aos oxi-hidróxidos de
Fe (Figura 26a, b e c). Entretanto, como no horizonte bau-
xítico inferior, uma caulinita de grau de cristalinidade mais
elevado pode, ocasionalmente, estar associada aos pro-
dutos sílico-aluminosos mal cristalizados. Nas áreas não
afetadas pela bauxitização, caulinita encontra-se em mai-
ores proporções no plasma criptocristalino ferruginoso e (b)
apresenta grau de cristalinidade mais elevado. Traços de
anatásio foram igualmente detectados.
Em seu topo, o horizonte ferruginoso é normalmente
nodular, com progressiva diminuição, para cima, do tama-
nho dos nódulos. Estes podem acabar constituindo um
cascalho denso com pouca matriz argilosa. A composi-
ção e textura, de início semelhantes às do resto do hori-
zonte, mostram tendência a modificações para cima, fato
melhor observado nos perfis que não comportando hori-
zonte bauxítico superior. A porosidade diminui progressi-
vamente e a textura torna-se mais fina. A coloração mar-
rom escura adquire tonalidades mais avermelhadas, o que
traduz aumento relativo do conteúdo de hematita, fato (c)
verificado por difratometria de raios-X.
A matriz argilosa associada às diferentes formas de
crosta ferruginosa possui coloração avermelhada tijolo e
compõe-se fundamentalmente de caulinita exibindo grau
de cristalinidade mais elevado que a caulinita contida nas
porções ferruginosas e litificadas do horizonte e de oxi-
hidroxidos de Fe subordinados. Gibbsita está geralmente
presente, por vezes em quantidades apreciáveis nas áre-
as submetidas à bauxitização, porém não foi detectada na
matriz nos setores que não foram afetados por este pro- Figura 26 – Difratogramas do horizonte ferruginoso. (a)
cesso. Crosta ferruginosa colunar, perfil 8, zona 2. (b) Crosta
O quadro descrito acima sugere que a crosta ferrugi- ferruginosa maciça, perfil 7, zona 2. (c) Nódulo ferruginoso,
nosa se formou primeiro e que após ou concomitante- perfil 4, zona 2.
mente à sua degradação, houve acumulação de produtos
ricos em alumínio, permitindo que, mais tarde e em condi- de 2 m. O contato com o horizonte ferruginoso sotoposto
ções físico-químicas adequadas, ocorresse a bauxitiza- é geralmente brusco e, por vezes, sublinhado por camada
ção. As fontes de alumínio não podem ter sido outras que de cascalho ferruginoso de alguns centímetros até, ao
depósitos siliciclásticos argilosos ou, eventualmente sedi- máximo, 20-25 cm de espessura (Figura 27a). Embora
mentos ricos em feldspatos. seja normalmente composto de concreções (Figura 27b),
o horizonte pode eventualmente ser mais maciço a colu-
Horizonte bauxítico superior nar e englobar vestígios da porção superior do horizonte
ferruginoso. Em casos extremos chega a constituir, junto
Este horizonte está presente somente em algumas áre- com o horizonte bauxítico inferior, um horizonte bauxítico
as e a sua espessura, muito variável, pode alcançar cerca único de espessura métrica (cf. perfil 26).

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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

As concreções bauxíticas têm até 10 cm de compri- de textura fina, ricos em hematita (Figura 28a e b). As
mento, raramente mais, e possuem forma irregular alon- diversas inclusões mostram grau variável de assimilação
gada, exibindo por vezes feições escoriáceas. Seu tama- pela bauxita hospedeira e, em direção ao topo, perdem
nho e abundância diminuem em direção ao topo. A bauxi- progressivamente seu caráter original. O contato entre
ta superior possui textura fina, é bastante porosa e apre- as inclusões ferruginosas e a matriz bauxítica torna-se
senta coloração amarronzada clara a bege rosada. No difuso a medida que os oxi-hidróxidos de Fe são removi-
topo do horizonte a bauxita adquire aspecto porcelanado. dos e substituídos por gibbsita. Chega-se, finalmente, ao
Concrecionada ou maciça, ela hospeda, com freqüência, desaparecimento quase total das inclusões ferruginosas e
fragmentos reliquiares de crosta ferruginosa porosa e, à homogeneização da bauxita. Apenas pequenas man-
mais acima no horizonte, grânulos e pisólitos ferruginosos chas avermelhadas ou rosadas, dispersas na matriz bau-

Figura 27 – Afloramentos do horizonte bauxítico superior. (a) Contato da bauxita superior com o horizonte ferruginoso, perfil
8, zona 2. (b) Concreções bauxíticas do topo do perfil 30, zona 4.

Figura 28 – Amostras de mão do horizonte bauxítico superior. (a) Matriz bauxítica de textura fina, porosa, envolvendo
pisólitos ferruginosos. (b) Fragmentos da crosta ferruginosa englobados por bauxita rosada, porosa. (c) e (d) Concreções
bauxíticas porcelanadas do topo, contendo vestígios de pisólitos gibbsitizados.

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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

xítica clara, marcam os locais de algumas dessas inclu- de contração, bem como fissuras estão preenchidos por
sões. (Figura 28c e d). gibbsita meso a macrocristalina em cristais euédricos, que,
As concreções comportam matriz microcristalina a eventualmente, pode chegar a predominar na rocha (Fi-
criptocristalina essencialmente gibbsítica, à qual estão gura 30a, b e d). Nas concentrações de gibbsita de gra-
associadas discretas impregnações de oxi-hidóxidos de nulação grossa foram detectados pequenos agregados
Fe criptocristalinos e de baixo grau de cristalinidade (Fi- ferro-titaníferos, provavelmente óxidos gerados por alte-
gura 29a). Neste cristaliplasma, inúmeros poros e gretas ração de ilmenita ou titano-magnetita (Figura 30c). Os

Figura 29 – Fotomicrografia do horizonte bauxítico superior. A. Matriz gibbsítica criptocristalina rica em ferro, com fissuras
encurvadas (gretas de contração?) e poros preenchidos por gibbsita mesocristalina. Nicóis //. B. Pisólito ferruginoso
parcialmente “digerido” por matriz gibbsítica cripto a microcristalina contendo inúmeros filonetes de gibbsita mesocristalina.

Figura 30 – Imagens de MEV do horizonte bauxítico superior. a e b. Cristais de gibbsita meso a macrocristalina preenchendo
poros e fissuras em matriz gibbsítica cripto a microcristalina. C. Agregado ferro-titanífero associado a cristais euédricos de
gibbsita meso a macrocristalina. D. Matriz gibbsítica mesocristalina com agregados disformes de oxi-hidróxidos de Fe
subordinados.

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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

grânulos e pisólitos ferruginosos se transformam em bau- te ou ser de pouca expressão, quando a parte superior do
xita por meio do desenvolvimento de ínfimas vênulas gi- perfil residual consiste em cascalho ou nódulos ferrugi-
bbsíticas, que os invadem progressivamente (Figura 29b). nosos com pouca matriz argilosa.
Gibbsita apresenta sempre elevado grau de cristalini-
dade, enquanto caulinita é fortemente subordinada e de Cascalho superior
muito baixo grau de cristalinidade, fato que se traduz pela
presença, nos difratogramas, de picos principais (001 e Este horizonte superior do manto residual possui uma
002) largos e curtos (Figura 31a). No entanto, como na espessura de 20-30 cm até 1,5 m, apresenta passagem
bauxita inferior e no horizonte ferruginoso, picos melhor gradativa para o horizonte bauxítico sotoposto e um con-
definidos e mais estreitos estão comumente associados tato sempre brusco com o capeamento argiloso (Figura
aos primeiros. Anatásio ocorre em traços. A matriz argi- 32a). Discreta seleção gradativa é observa em certas ex-
losa é semelhante composicionalmente à do horizonte posições, havendo na base do horizonte cascalho de gra-
sotoposto, porém sempre contém gibbsita em proporções nulometria mais grossa e, no topo material mais fino, com-
bastante elevadas (Figura 31b). posto em sua maior parte por pisólitos de comprimento
A existência deste horizonte e sua espessura parecem inferior a 2 cm. Em alguns locais, percebe-se discreta
depender, por um lado, do grau de bauxitização do perfil estratificação, devida à alternância de leitos de granulo-
como um todo, e por outro, da presença, sobre a crosta metrias diferentes pobremente definidos.
ferruginosa, de depósitos argilosos pretéritos, cujos res- Este horizonte compõe-se de grânulos e pisólitos fer-
tos constituem hoje a matriz das concreções. Assim, o ruginosos de até 4 cm de comprimento, associados ou
horizonte bauxítico superior, formado por concreções imer- não a quantidade variável de bauxita fina de aspecto por-
sas em matriz argilosa relativamente abundante, pode ter celanado (Figura 33a). Embora os grânulos maiores exi-
espessura considerável em setores onde o horizonte bau- bam geralmente forma algo irregular, os menores (< 2
xítico inferior é, ao contrário, pouco espesso, enquanto cm) são normalmente subesféricos a ovalados, por vezes
que nos perfis que comportam horizonte bauxítico inferi- fusiformes, sendo referidos neste trabalho como pisóli-
or bem desenvolvido a bauxita superior pode estar ausen- tos. Em toda a espessura do horizonte os pisólitos encon-

Figura 31 – Difratogramas do horizonte bauxítico superior. A. Concreção bauxítica, perfil 8, zona 2. B. Matriz argilosa
envolvendo concreções bauxíticas, perfil 7, zona 2.

Figura 32 – Afloramentos de cascalho superior. A. Cascalho superior em contato brusco com o capeamento argiloso, perfil 20,
zona 4. B. Pisólitos ferruginosos densamente empacotados, parcialmente bauxitizados, perfil 29, zona 4.

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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

tram-se densamente empacotados e a matriz argilosa é (Figura 35b). Nos setores onde a bauxitização teve efei-
pouco abundante (Figura 32b). Estes pisólitos não possu- tos fracos os pisólitos contêm muita caulinita, hematita e
em córtex e sua superfície tem normalmente coloração goethita bastante abundante revelando um alto grau de
arroxeada-azulada escura e brilho semelhante ao do “ver- substituição de FeOOH por AlOOH. Nos córtex e cutãs
niz do deserto”. goethita exibe hábitos variados (Figura 35c e d). Junto
Internamente, os pisólitos apresentam textura fina, com os pisólitos encontram-se igualmente grânulos de
notável dureza e coloração vermelha arroxeada a verme- material essencialmente goethítico e altamente porosos.
lho tijolo, distinta da coloração predominantemente amar- Embora consista principalmente em pisólitos
ronzada escura da crosta sotoposta. A porosidade é baixa ferruginosos, este horizonte mostra com freqüência certo
em relação à da crosta ferruginosa e raramente pode ser grau de bauxitização. Esta se expressa pela presença de
percebida a olho desarmado. Junto com estes pisólitos de bauxita concrecionada, de textura fina e aspecto
textura fina, ocorrem porém, em quantidades subordina- porcelanado, que cimenta e substitui os pisólitos (Figura
das, grânulos argilosos, friáveis de coloração arroxeada, 33b). A cimentação se traduz pela presença de leitos sub-
fragmentos arredondados de crosta ferruginosa porosa e horizontais irregulares e descontínuos, e bolsões difusos
pisólitos desferrificados, de aspecto porcelanado. Ao mi- de bauxita porcelanada, altamente cavernosa e escoriácea,
croscópio óptico, a matriz dos pisólitos é opaca devido ao de coloração creme, que envolve os pisólitos. As cavidades
seu elevado conteúdo de oxi-hidróxidos de Fe e a porosi- restantes são preenchidas por argila avermelhada. Com
dade varia de elevada a praticamente nula (Figura 34A e a intensificação do processo de assimilação, o cimento
c). Em MEV, parte dos pisólitos revela notável porosida- gibbsítico torna-se mais abundante e engloba totalmente
de (Figura 35a). Contudo, na maioria dos casos a matriz os pisólitos, substituindo-os em grau variável. Este
é densa e apresenta apenas microporosidade discreta. processo é causado pela progressiva desferrificação dos
A mesóstase dos pisólitos compõe-se de hematita, pisólitos e pelo preenchimento por gibbsita cripto a
goethita, caulinita e gibbsita em proporções variadas. microcristalina de gretas, fissuras e microfraturas. No
Hematita e gibbsita são bem cristalizadas, enquanto goe- estágio intermediário os pisólitos são reduzidos a pequenos
thita e caulinita apresentam grau de cristalinidade nitida- núcleos avermelhados ou amarronzados dispersos na
mente mais baixo (Figura 36a e b). Estes minerais ocor- bauxita clara. No estágio final ocorre sua total assimilação
rem em proporções variadas. O grau de substituição de pela matriz gibbsítica e seu desaparecimento. A cimentação
FeOOH por AlOOH em goethita alcança 20%, e a he- e substituição, embora intensas, podem se limitar ao topo
matita contém igualmente Al em quantidades subordina- do horizonte pisolítico. Observa-se, nestes casos, franja de
das. Nos setores onde a bauxitização foi significativa, gi- coloração clara, de 10 a 25 cm de espessura, raramente
bbsita e hematita predominam. O hidróxido de Al ocorre mais, marcando o topo do manto residual e o contato com
em pequenos cristais euédricos a subédricos de gibbsita, o capeamento argiloso. Esta franja apresenta uma coesão
enquanto hematita, geralmente subordinada, apresenta- e litificação notáveis e é composta de pisólitos densamente
se com hábito fibroso ou acicular em leques irregulares empacotados com pouquíssima matriz argilosa. Os pisólitos

Figura 33 – Amostras de mão de cascalho superior. A. Pisólitos ferruginosos e pequenas concreções de bauxita porcelanada
de tipo “pipoca” altamente desferrificada. B. Concreções de bauxita porcelanada contendo vestígios fortemente gibbsitizados
de pisólitos ferruginosos.

720
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Figura 34 – Fotomicrografias de pisólitos e de bauxita porcelanada. (a) Resquícios de pisólitos ferruginosos bastante
porosos, imersos em plasma gibbsítico criptocristalino exibindo textura coloforme. Nicóis //. (b) Bauxita porcelanada de tipo
pipoca: plasma gibbsítico criptocristalino, mostrando texturas coloforme e fluidal. Nicóis //. (c) Contato entre pisólito
ferruginoso e a matriz gibbsítica microcristalina exibindo textura coloforme, com inúmeras gretas de contração encurvadas
preenchidas por gibbsita mesocristalina límpida. Nicóis. (d) Bauxita porcelanada: mesóstase ferro-gibbsítica criptocristalina
exibindo textura vermicular devida à presença de fissuras retas e encurvadas, por vezes circulares, preenchidas por gibbsita
mesocristalina. Nicóis x.

Figura 35 – Imagens de MEV de pisólitos ferruginosos. A. Matriz ferro-aluminosa, microporosa, contendo numerosos moldes
negativos de grãos de quartzo dissolvidos. B. Matriz ferro-aluminosa fina, composta essencialmente de cristais euédricos a
subédricos de gibbsita e cristais fibrosos/aciculares (?) de hematita dispostos em leques. C. Córtex zonado exibindo várias
fácies de goethita: botroidal, tabular com intercrescimento dos cristais, fibrosa. D. Revestimento de cavidade composto de
diminutos cristais tabulares, discóides, de goethita.

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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

não possuem córtex, são quase inteiramente constituídos caulinita, gibbsita subordinada, goethita dominante em
por bauxita porcelanada e contém, comumente, pequeno relação a hematita e traços de anatásio (Figura 36d).
núcleo mais ferruginoso.
A matriz da bauxita porcelanada consiste em plasma Capeamento argiloso
criptocristalino homogêneo, mais raramente em cristali-
plasma microcristalino, essencialmente gibbsítico, que O capeamento argiloso é parte integrante da seqüên-
contém quantidades muito subordinadas de oxi-hidróxi- cia laterítica-sedimentar em toda a porção meridional da
dos de Fe igualmente criptocristalinos (Figura 34a, b, c e Província Bauxitífera de Paragominas. Com espessura
d). Finas fissuras formando malha irregular e gretas de média da ordem de 10 m desde a Serra do Gurupi até
contração encurvadas ou circulares preenchidas por gi- próximo de Paragominas, o capeamento pode alcançar
bbsita micro a mesocristalina límpida são relativamente mais de 15 m como ser reduzido a poucos metros ou sim-
comuns (Figura 34a, c e d). A textura muito fina e a notá- plesmente não existir mais (Figura 38a). De coloração
vel homogeneidade da matriz da bauxita porcelanada são vermelha tijolo passando para amarelada ocre na sua parte
confirmadas pela MEV (Figura 37a). As variações na superior, o capeamento apresenta características de la-
distribuição dos oxi-hidróxidos de Fe sublinham estrutu- tossolo argiloso e possui consistência terrosa e alta poro-
ras colomorfas e textura fluidal típicas de produtos deri- sidade (Figura 38b).
vados de colóides (Figura 34b). Raros pequenos poros de A matriz é muito homogênea e constituída por cristais
dissolução e fissuras encontram-se preenchidos por gibb- cujo tamanho não ultrapassa 500 ηm (Figura 39a). Estes
sita mesocristalina (Figura 37b). Apesar do ínfimo tama- cristais estão agrupados em microagregados que confe-
nho dos seus cristais, gibbsita mostra elevado grau de rem ao horizonte marcante porosidade e elevada perme-
cristalinidade (Figura 36c). A matriz argilosa associada abilidade (Figura 39b). Trata-se essencialmente de cauli-
ao cascalho ferro-aluminoso possui consistência terrosa nita e os oxi-hidróxidos de Fe, sobretudo goethita que
e coloração vermelha tijolo. Compõe-se, sobretudo de ocorre em quantidades subordinadas. Todos os minerais

Figura 36 – Difratogramas do cascalho superior. (a) Pisólito ferruginoso caulinítico, perfil 4, zona 2. (b) Pisólito ferruginoso
rico em gibbsita, perfil 14, zona 4. (c) Bauxita porcelanada de tipo “pipoca”, mesmo local que a amostra anterior. (d) Matriz
argilosa envolvendo a bauxita de tipo “pipoca”, perfil 8, zona 2.

722
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Figura 37 – Imagens de MEV da bauxita porcelanada do topo do perfil. (a) Matriz gibbsítica fina, homogênea, com poro
preenchido por cristais euédricos, intercrescidos de gibbsita mesocristalina. (b) Detalhe da imagem anterior focalizando
gibbsita preenchendo o poro.

Figura 38 – Afloramentos do capeamento argiloso. (a) Exposição em corte de estrada, na rodovia BR 010, 10 km a norte de
Dom Eliseu (perfil 6, zona 2). Notar o contato brusco e algo ondulado da crosta ferro-aluminosa com o capeamento. (b)
Detalhe do afloramento localizado na rodovia BR 010, 8 km a norte de Dom Eliseu (perfil 5, zona 2). Notar o aspecto de
latossolo amarelo da matriz argilosa e a diminuta stone-line de pisólitos ferruginosos.

Figura 39 – Imagens de MEV do capeamento argiloso. (a) Matriz caulinítica muito fina e homogênea. O tamanho dos cristais
de caulinita não ultrapassa algumas centenas de ηm. (b) Microagregados de caulinita conferindo extrema porosidade ao
capeamento.

723
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

apresentam baixo grau de cristalinidade da base ao topo dondados (<2 cm de comprimento) de crosta ferruginosa,
do horizonte (Figura 40a e b.). No entanto, traços de gi- de bauxita porcelanada, pisólitos e, mais raramente, de
bbsita bem cristalizada foram detectados em muitos bauxita cristalina. Exceto em raros locais, estes grânulos
perfis (Figura 40b). Restos corroídos e angulosos de grãos são pouco abundantes na base do horizonte e desapare-
de quartzo podem alcançar 7-8% em peso do total, po- cem progressivamente em direção ao topo do perfil. En-
rém permanecem geralmente na faixa de 2 a 5%. Foram fim, fragmentos de argila amarelada de até 10 cm de com-
igualmente identificados minerais pesados transparentes primento, normalmente arredondados, exibindo textura
entre os quais se destacam a turmalina predominante, zir- muito fina, fratura conchoidal e porosidade praticamente
cão, rutilo, estaurolita, cianita e epidoto (Anexo 1). Plota- nula, e contendo diminutos grãos ferruginosos ou de quart-
das nos diagramas ternários Zircão-Turmalina-Estauroli- zo, encontram-se dispersos no capeamento argiloso, mais
ta e Rutilo-Estaurolita-Cianita, 19 amostras do capeamen- freqüentemente próximo à base do pacote (Figura 41).
to e 14 amostras do saprólito mostraram distribuições se- No contato com a crosta laterítica/bauxítica subjacen-
melhantes apesar de forte dispersão, o que poderia indi- te, colunas verticais, fragmentadas de até 30 cm de com-
car origem comum (Figura 43). No entanto, tratando-se primento de argila densa, separadas por canalículos pre-
de minerais ultra-estáveis a muito estáveis, tal interpreta- enchidos por argila terrosa podem ser observadas local-
ção deve ser considerada com reserva. mente. Nem a composição mineralógica, nem o grau de
Na porção inferior do capeamento encontram-se dis- cristalinidade dos minerais constituintes dos diversos pro-
seminados na matriz argilosa pequenos fragmentos arre- dutos argilosos (desde os densos, litificados e de porosi-

(a) (b)

Figura 40 – Difratogramas do capeamento argiloso. (a) Capeamento pobre em gibbsita e quartzo, perfil 6, zona 2. (b)
Capeamento rico em gibbsita e quartzo, perfil 7, zona 2.

dade mínima até os porosos e friáveis, de consistência


terrosa) sofrem qualquer variação significativa (Figura 42a,
b e c). Enfim, muito localmente, foram encontrados del-
gadas stone-lines de extensão lateral métrica, compos-
tas de grânulos ou pisólitos ferruginosos (Figura 38b). No
topo do capeamento argiloso as características de latos-
solo são particularmente nítidas. Em espessura não ul-
trapassando 50 cm a presença de matéria orgânica con-
fere à argila coloração acinzentada.
Embora o capeamento exiba todas as características
de latossolo argiloso, incluindo a ausência de estruturas
sedimentares e inúmeros sinais de bioturbação – canalí-
culos, túbulos, pelotilhas, a presença de argila densa, algo
litificada, sob a forma de fragmentos dispersos na matriz
terrosa e, na base do horizonte, de pequenas colunas, su-
gere que o espesso latossolo observado hoje resultou da
Figura 41 – Amostra de mão do capeamento argiloso. transformação, durante parte importante do Cenozóico,
Fragmentos de argila caulinítica densa, maciça, apresentando de depósitos sedimentares continentais predominantemen-
fratura concoidal. Prováveis resquícios do depósito te argilosos. No entanto, se for considerado o poder da
sedimentar original. lixiviação em clima tropical úmido e a possibildade do

724
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Figura 43 – Diagramas ternários Zircão-Turmalina-


Estaurolita e Rutilo-Estaurolita-Cianita para o saprólito (15
amostras) e o capeamento argiloso (19 amostras). Em cada
amostra foram identificados 100 grãos.
Figura 42 – Difratogramas de três amostras do capeamento
representando diferentes etapas da transformação de material
argiloso compacto (cf. Figura 41) em latossolo amarelo
microagregado, friável, altamente poroso. (a) Argila densa,
caria, neste caso, que os sedimentos depositados sobre a
pouco porosa, exibindo fratura concoidal. (b) Argila densa cobertura ferro-aluminosa, sofreram não só transforma-
mostrando sinais moderados de degradação. (c) Argila ção clássica em latossolo caulinítico, como também os
fortemente degradada, mais porosa e friável que a e b. Para efeitos de alteração algo mais intensa com dissolução in-
comparar com o produto final da evolução do capeamento, congruente de parte da caulinita e neoformação de hidró-
vide Figura 40. xido de alumínio.

Zoneamento regional
quartzo se dissolver com o tempo nestas condições, acre-
dita-se que os vestígios argilosos representam apenas parte No domínio meridional as variações faciológicas são
dos sedimentos originais, a maior parte tendo sido prova- acentuadas e obedecem a zoneamento regional. Assim,
velmente areno-argilosa ou argilo-arenosa. Eficiente ho- foi possível distinguir 4 zonas principais orientadas se-
mogeneização causada pela ação da biota teria levado à gundo a direção geral ENE-WSW (Figura 44). No entan-
formação do pacote argiloso extremamente homogêneo to esta subdivisão em 4 zonas deve ser considerada como
citado tradicionalmente como Argila de Belterra (Som- muito geral e com certa cautela, pois, dentro de cada zona,
broek 1966). A presença de gibbsita no capeamento indi- as variações podem ser marcantes e num mesmo platô

725
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

ou em platôs vizinhos a espessura, tanto dos horizontes


bauxíticos como dos ferruginosos, pode sofrer modifica-
ções consideráveis e bastante bruscas.
O domínio meridional comporta de sul para norte: 1) a
zona 1, exclusivamente ferruginosa; 2) a zona 2, exibindo
sinais de bauxitização crescente em intensidade de sul
para norte; 3) a zona 3, predominantemente ferruginosa
mostrando, ocasionalmente, indícios de bauxitização mui-
to limitada; 4) zona 4, essencialmente bauxítica, abrigan-
do os principais depósitos por ora conhecidos. Embora
exiba grau bastante variável de bauxitização, a cobertura
zona 4, como na zona 2, tende a se tornar mais aluminosa
de sul para norte.

Cobertura ferruginosa da zona 1

Bem representada entre a Serra do Gurupi, os morros


testemunhos situados entre Açailândia e Imperatriz e a
aba sul do platô Chapadão situado a cerca de 30 km a
norte de Açailândia, esta cobertura exclusivamente
ferruginosa (Figura 47 e 48; Anexo 1, perfil 1) pode
igualmente ser observada ao longo da rodovia BR 222
(Dom Eliseu – Marabá) a oeste de Rondon do Pará até
as proximidades da localidade de Abel Figueiredo (Figura
45). O saprólito é argiloso, de coloração avermelhada e
comporta localmente pequenas manchas claras de
desferrificação. A própria crosta é exclusivamente
ferruginosa e alcança 5 m de espessura. Exibindo
normalmente fácies nodular a fragmentada na base, a
crosta assume feições mais maciças, cavernosas a
colunares em parte intermediária, tornando-se de novo
nodular no topo, onde se observa diminuição do tamanho
dos nódulos de baixo para cima (Figura 46A e Figura 47). Figura 44 – Esboço do zoneamento regional.
Sobre a crosta ferruginosa repousa camada pisolítica
delgada (até 20 cm de espessura) e descontínua. Este ção, incipiente na porção meridional da zona, aumenta
depósito alcança sua espessura máxima em pequenas para norte até alcançar a sua expressão máxima entre
depressões (Figura 46b). O capeamento argiloso, de até Dom Eliseu e o limite setentrional da zona, em extensão
10 m de espessura, sobrepõe-se a este cascalho e norte-sul de cerca de 35 km. Mesmo assim, variações
apresenta sempre contato muito brusco com ele ou, em notáveis podem ser observadas na espessura e no grau
sua ausência, com a crosta nodular. de individualização dos diferentes horizontes. O perfil tí-
pico da zona 2 é complexo e comporta dois horizontes
Cobertura ferro-aluminosa da zona 2 bauxíticos e dois horizontes ferruginosos, exceto próximo
à margem meridional, onde apenas o horizonte aluminoso
O limite entre as zonas 1 e 2 passa pelo Platô Chapa- superior, ainda pobremente desenvolvido, está presente
dão e, mais a oeste, corta a rodovia BR 222 (Dom Eliseu de modo constante. O outro horizonte aluminoso é muito
– Marabá) a cerca de 12 km a oeste de Rondon do Pará. difuso, mal individualizado ou simplesmente ausente.
O limite norte desta zona corta a rodovia BR 010 a cerca Como no caso anterior, o saprófito é fundamentalmente
de 10 km a norte da localidade de Ligação do Pará (Figu- argiloso, de coloração avermelhada e exibe, eventualmen-
ra 49). te, fracos vestígios da estratificação pretérita. A crosta
Na zona 2, ao contrário da precedente, a cobertura sobreposta ao saprólito tem com ele contato bastante brus-
residual comporta sinais de bauxitização mais ou menos co. Na borda meridional da zona em apreço trata-se de
acentuada e vários horizontes (Figura 50; Anexo 2, perfis crosta ferruginosa porosa e cavernosa, exibindo com fre-
4, 5 e 6; Anexo 3). À escala regional, o grau de bauxitiza- qüência estrutura colunar, semelhante à da zona 1. Como

726
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Figura 45 – Imagem SRTM da Zona 1 e localização dos perfis.

nesta última, a porção basal e o topo apresentam feições mais possante. Em geral, muito mais delgado que na zona
nodulares. Ocasionalmente, indícios de bauxitização po- 1, este horizonte é predominantemente nodular, sendo
dem ser observados, seja na parte superior nodular, seja as feições colunares apenas ocasionais. É muitas ve-
na base, também nodular, da crosta ferruginosa. Entre- zes recoberto por leito delgado (até 25 cm) e bastante
tanto, não existe ainda horizonte aluminoso claramente regular de pisólitos ferruginosos. Ocorrem, entretanto,
individualizado. Normalmente, uma quantidade discreta locais onde a crosta ferruginosa preserva ainda sua es-
de gibbsita sacaroidal envolve nódulos ferruginosos e subs- pessura métrica embora mostre-se altamente degrada-
titui parcialmente a matriz argilosa internodular. De modo da e cavernosa. Nestes casos a bauxita inferior não cons-
mais geral, esta gibbsita sacaroidal forma, com freqüên- titui horizonte claramente individualizado e preenche par-
cia, leitos descontínuos ou bolsões fracamente definidos cialmente as cavidades do horizonte ferruginoso, confe-
no topo do saprólito. Para norte um horizonte bauxítico se rindo-lhe composição mista ferro-aluminosa e caráter
individualiza progressivamente na porção basal do perfil. pseudo-conglomerático.
Este horizonte consiste, via de regra, em concreções, Sobre o horizonte ferruginoso ou ferro-aluminoso, em
embora, localmente, na parte mais setentrional da zona, contato brusco e ondulado, repousa horizonte de até 2 m
possa ser observada uma “laje” de bauxita maciça, de de espessura apresentando composição e estruturação
espessura decimétrica. As concreções bauxíticas são ir- variadas. Pode tratar-se de cascalho ferruginoso homo-
regulares e o seu tamanho aumenta da base do perfil para gêneo ou exibindo discreta seleção gradativa, envolvido
cima. No topo do horizonte bauxítico inferior observam- parcialmente por bauxita rosada de textura fina, ou pode
se ocasionalmente inclusões milimétricas a centimétricas consistir essencialmente em concreções bauxíticas imer-
de crosta ferruginosa. O horizonte ferruginoso sobrepos- sas em matriz argilosa mais ou menos abundante. No topo
to diminui na medida que o horizonte bauxítico se torna do perfil distingue-se cascalho composto de grânulos e

Figura 46 – Afloramento do perfil Serra do Gurupi. Rodovia BR 010, 6 km a sul de Açailândia (MA), zona 1. (a) Exposição da
parte superior da crosta ferruginosa e do seu contato com o capeamento argiloso. (b) Detalhe da imagem anterior. Vista do
horizonte pisolítico no topo do manto residual ferruginoso e do seu contato com o capeamento.

727
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

Figura 48 – Difratograma da crosta ferruginosa do Perfil


Serra do Gurupi. Notar a presença exclusiva de caulinita e
de oxi-hidróxidos de Fe.
Figura 47 – Perfil tipo da zona 1:
Perfil Serra do Gurupi. Rodovia BR Cobertura predominantemente ferruginosa da zona 3
010, 6 km a sul de Açailândia.
A zona 3 apresenta xtensão de cerca de 20 km ao
longo da rodovia Belém-Brasília e é bem representada
pelos perfis 9, 10, 12 e 13 (Figura 51 e 52; Anexo 4).
Caracteriza-se pela predominância de crosta ferruginosa
e a presença de apenas fracos sinais de bauxitização.
Nesta zona, o limite superior do perfil – o contato com o
pisólitos ferruginosos, muito semelhante ao descrito so- capeamento – é particularmente irregular e marcado por
bre a crosta ferruginosa na zona 1, porém algo mais es- depressões alcançando profundidade métrica, o que su-
pesso (até 30 cm). O horizonte superior exibe geralmente gere intensa erosão e dissecação pretérita à deposição
certo grau de bauxitização, sendo os pisólitos cimentados do capeamento. O perfil comporta normalmente horizon-
e/ou substituidos por bauxita porcelanada clara, denomi- te ferruginoso de 2,5 a 4,0 m de espessura, sobreposto
nada informalmente bauxita “pipoca” devido ao seu as- por horizonte descontinuo e de espessura limitada porém
pecto. O capeamento argiloso, semelhante ao da zona bastante variável (10-20 cm até, ao máximo, 70 cm) e
anterior, pode atingir 15 m de espessura ou até mais. geralmente pobremente definido de bauxita concreciona-
da porcelanada, de tipo “pipoca” (Figura 52).

Figura 49 – Imagem SRTM da zona 2 e localização dos perfis.

728
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

A crosta ferruginosa varia de quase maciça, exibindo


localmente sinais algo difusos de estratificação e/ou la-
minação, a nodular, com quantidade mínima de matriz
argilosa. Nas porções mais maciças observam-se frag-
mentos densos de textura fina – originalmente argilíticos
ou siltíticos – imersos em matriz ferruginosa altamente
porosa. A orientação desordenada da laminação ou da
fina estratificação, comumente bem preservada nesses
fragmentos, indica que sofreram retrabalhamento físico.
A bauxita porcelanada preenche, via de regra, depres-
sões na superfície da crosta ferruginosa e, como na zona
2, envolve e substitui pisólitos ferruginosos previamente
acumulados nesses locais. Localmente, na base do perfil,
ocorrem lentes de bauxita maciça, de extensão lateral
métrica a decamétrica (?) e espessura de até 0,50 m (per-
fil 10). O saprólito e o capeamento argiloso são seme-
lhantes aos observados nas zonas anteriores e o último
apresenta espessura métrica.

Cobertura bauxítica da zona 4

Caracteriza-se, em termos gerais, pelo desenvolvimento


significativo dos horizontes aluminosos e conseqüente di-
minuição dos horizontes ferruginosos até seu quase desa-
parecimento (Figuras 55 e 57; Anexos 5, 6, 7, 8 e 9). Por
este fato, esta zona comporta os depósitos de bauxita eco- Figura 50 – Perfis 2 e 8 da zona 2.
nomicamente mais importantes da província. Com limite
meridional a cerca de 6 km a sul da cidade de Ulianópo- incipiente. Estes dois casos extremos são bem ilustrados,
lis, a zona se estende ao longo da rodovia Belém-Brasília por um lado, pelo perfil 26(Figura 54c e 55) situado a 9 km
até próximo de Paragominas. (Figura 53) Tanto a leste a sul de Paragominas, que comporta um total de 4 a 5 m de
como a oeste desta cidade, o limite parece avançar de alguns bauxita, um horizonte ferruginoso reduzido a colunas reli-
quilômetros para norte. Ainda mediocremente desenvolvi- quiares e cascalho ferruginoso de 40-50 cm no topo, e por
da na borda meridional da zona enfocada (Figura 55, perfil outro, pelo perfil da piçarreira de Paragominas (perfil 31,
14), a cobertura bauxítica torna-se progressivamente mais Figura 54b e 55), situado dentro dos limites da cidade e
espessa para norte (Figura 54a) até alcançar sua espessura exibindo apenas sinais fracos e muito localizados de bauxi-
máxima em faixa de direção geral ENE-WSW de aproxi- tização da crosta ferruginosa fortemente degradada.
madamente 40 km de extensão norte-sul. Cabe, no entan- O perfil característico desta zona comporta 5 horizontes
to, notar que, mesmo nesta faixa, a espessura de bauxita é claramente individualizados ou seja: 1) o saprólito, 2) um
excessivamente irregular e pode variar entre métrica e sub-horizonte bauxítico inferior subdividido em 2a)

Figura 51 – Imagem SRTM da zona 3 e localização dos perfis.

729
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

envoltos ou não por bauxita 4) um horizonte superior,


normalmente nodular, raramente maciço, de bauxita de
textura fina, pouco porosa, hospedando eventualmente, na
base, fragmentos de crosta ferruginosa e, na porção superior
grânulos ferruginosos reliquiares 5) um horizonte de
cascalho composto por pisólitos ferruginosos exibindo
cimentação e/ou substituição de intensidade variável por
bauxita porcelanada de tipo “pipoca”. O capeamento
argiloso possui espessura de 10 a 12 m nas partes internas
dos platôs na zona 4, porém pode eventualmente ser mais
espesso. Nas bordas dos platôs o capeamento torna-se mais
delgado, até desaparecer totalmente. Os perfis descritos
na porção centro-sul do platô Gurupi Norte representam
muito bem a cobertura bauxítica da zona 4 e as suas
variações à escala local (Fig. 56 e 57, Anexos 8 e 9).
Cabe ressaltar que, embora a zona 4 se estenda so-
Figura 52 – Perfil 12 típico da bretudo no domínio da Formação Itapecuru, composta de
zona 3. arenitos e arcóseos com argilitos e siltitos apenas subor-
dinados, a sua porção mais setentrional encontra-se no
domínio da Formação Ipixuna, na qual os argilitos predo-
subhorizonte de bauxita sacaroidal em plaquetas envoltas minam e os leitos psamíticos apresentam geralmente tex-
por matriz argilosa ou em leitos contínuos centimétricos a tura fina. Essas diferenças faciológicas e composicionais
decimétricos, raramente métricos, de bauxita de textura são provavelmente responsáveis pelas variações facioló-
arenítica fina a grossa com vestígios de estratificação, gicas observadas na própria crosta laterítica/bauxítica da
2b) um sub-horizonte de bauxita de textura fina a média, zona 4. Com efeito, as proximidades de Paragominas,
algo cavernosa e porosa, maciça, colunar ou, mais nota-se uma forte predominância de bauxita porcelanada
freqüentemente, nodular e contendo na sua parte superior pobre em ferro em todos os horizontes aluminosos exceto
inclusões irregulares de crosta ferruginosa, 3) um horizonte na parte mais basal do perfil e no topo do saprólito, onde
ferruginoso colunar a nodular, em certos casos reduzido podem ainda ser encontrados finos leitos de bauxita sa-
a discretos vestígios esqueletais ou fragmentos isolados, caroidal com textura arenítica e estruturas sedimentares

Figura 53 – Imagem SRTM da Zona 4 e localização dos perfis.

730
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Figura 55 – Perfis 14, 26 e 31 da zona 4. A presença de bauxita


no perfil 31 é muito localizada e atípica do manto residual
exposto na piçarreira de Paragominas que, em sua maior parte,
é exclusivamente ferruginoso.

preservadas. Mais a sul a bauxita exibe normalmente tex-


tura mais grossa, é mais porosa e algo mais rica em ferro,
enquanto a bauxita porcelanada ocorre exclusivamente
na forma de cimento ou produto de substituição dos pisó-
litos, que constituem normalmente a parte superior da
cobertura residual.

Domínio setentrional (zona 5)

Generalidades

O domínio setentrional da província bauxitífera


Figura 54 – Fotos de afloramentos da zona 4. (a) Perfil 17.
estende-se desde os arredores da cidade de Paragominas
Rodovia BR 010, margem meridional do vale do Rio Piriá até pouco mais de 20 km a norte da cidade de Ipixuna,
Sul. (b) Perfil quase exclusivamente ferruginoso, em piçarreira numa distância norte-sul total de aproximadamente 80 km
localizada dentro do perímetro urbano de Paragominas. (c) (Figura 58). No domínio setentrional, a cobertura
Perfil 26, situado 9 km a sul de Paragominas. bauxítica/laterítica, neste domínio setentrional, adquire
características específicas, diferentes das do domínio
meridional. Embora, a passagem de um domínio ao outro
seja bastante rápida à escala regional, ela é bem ilustrada
por alguns perfis nas proximidades de Paragominas, em

731
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

Figura 56 – Imagem SRTM em 3D do platô Gurupi Norte com localização dos furos descritos.

da cobertura ferro-aluminosa mais antiga. Com o propósito


de ilustrar esta diversidade, três situações são descritas a
seguir (Figura 59) 1) no primeiro caso, a cobertura hospeda
restos expressivos do manto pretérito 2) no segundo caso,
a cobertura contém apenas alguns vestígios de tal manto,
em particular o cascalho superior, aluminoso e/ou
ferruginoso, e 3) a cobertura exibe estruturação
exclusivamente colunar/esqueletal e não comporta
vestígios de qualquer produto de alteração pretérito. Neste
último caso a cobertura pode corresponder tanto às raizes
dos dois tipos anteriores, nos setores onde a erosão atingiu
níveis mais profundos, como manto desenvolvido
diretamente sobre os sedimentos da Formação Ipixuna,
sem presença de quaisquer restos de cobertura antiga.
Figura 57 – Perfis GN - 202, 203, 204, 205 (furos de sondagem
no platô Gurupi Norte, Zona 4). Exemplo 1

particular pelo perfil 32, de caráter misto, situado no km Bem representada ao longo da rodovia Belém-Brasí-
16 da rodovia PA 256 que liga a rodovia BR 010 (Belém- lia, nos perfis Ipixuna I, Ipixuna III e Ipixuna IV entre
Brasília), próximo de Paragominas, a Tomé Açu. Entre outros (Figura 59; Anexo 10), a presença deste tipo de
as características específicas da cobertura no domínio cobertura já foi assinalada, em trabalhos anteriores, nos
setentrional, ressaltam 1) a ausência de estratificação bem platôs Jabuti, a leste de Ipixuna (Kotschoubey et al. 1984,
expressa no manto residual 2) a presença de lateríta 1989, 1997). Acima do horizonte saprolítico argiloso não
aluminosa de textura extremamente fina, porém não estruturado, de coloração rosada pálida com manchas es-
porcelanada, de coloração preferencialmente arroxeada, branquiçadas de desferrificação, ocorre crosta laterítica
lilás ou esbranquiçada, 3) a onipresença de estruturas aluminosa de espessura métrica. A parte inferior desta
esqueletais colunares ou malhadas, resultantes da crosta é friável e fortemente desferrificada. Compõe-se
segregação de Fe no decorrer da degradação da couraça essencialmente de caulinita mal cristalizada, alguma gi-
4) a freqüente presença de vestígios de cobertura bbsita e quantidades muito subordinadas de oxi-hidróxi-
laterítica/bauxítica pretérita, englobados pela laterita dos de Fe. Zonas reliquiares de segregação de Fe, aver-
aluminosa. Neste contexto geral, existe grande diversidade melhadas e alongadas verticalmente, conferem aspecto
de situações quanto à natureza e ao grau de preservação manchado a esta porção do manto residual (Figura 60).

732
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Para cima o padrão manchado passa progressivamente mostra regularidade notável lembrando estrutura celular
para estruturação colunar mais consistente e regular, sus- e é ressaltado pela coloração rosada, lilás ou branca da
tentada por sistema de paredes esqueletais litificadas, ri- parte interna das colunas. (Figura 63)
cas em goethita e hematita, resultante da migração cen- Os espaços intercolunares individualizam-se progres-
trífuga e segregação de Fe, e da quase completa remo- sivamente para cima, adquirindo forma tubular com se-
ção deste elemento no resto da crosta, que se apresenta ção grosseiramente triangular. Geralmente estão preen-
(hoje) como matriz clara, porosa e friável (Figura 61). chidos por argila bege proveniente da iluviação de produ-
Nos afloramentos, o arcabouço esqueletal se destaca ni- tos mais superficiais (capeamento?). As superfícies in-
tidamente, pois a matriz desferrificada, menos resistente terna e externa das paredes ferruginosas de segregação
à ação das águas superficiais, é facilmente removida (nas são revestidas por filme goethítico exibindo brilho ceroso.
exposições). Em geral, o conjunto apresenta aspecto Na porção superior do horizonte as colunas bauxíti-
malhado bastante regular e bem expresso (Figura 62). cas são melhor preservadas, porém apresentam a mes-
Em planta, este sistema malhado/colunar ferruginoso ma composição e textura que as partes inferiores.

Figura 58 – Imagem SRTM do domínio setentrional (zona 5).

Em termos gerais, as colunas esqueletais possuem tex-


tura muito fina e coloração marrom a vermelha arroxea-
da com zonas mais claras, lilás a esbranquiçadas. Ao mi-
croscópio ótico revelam ser formadas por plasma cripto-
cristalino quase opaco a translúcido e avermelhado nas
porções mais ferruginosas, rosado a bege nas zonas des-
ferrificadas, exibindo eventuais micro-estruturas de fluxo
e feições coloformes (Figura 64a e b)
A análise por MEV confirmou a granulação muito fina
e a notável homogeneidade da matriz laterítica alumino-
sa, tanto nas zonas tabulares de enriquecimento em Fe
como nas porções desferrificadas (Figura 65a, b e c). A
monotonia do quadro é rompida apenas pela presença de
ocasionais cutãs e córtex de oxi-hidróxido de Fe, que exi-
bem texturas e estruturas próprias, radiais, tabulares, en-
tre outras. (Figura 65d)
As zonas litificadas são compostas essencialmente de
gibbsita e hematita bem cristalizadas e intimamente mis-
turadas. Goethita, de baixo grau de cristalinidade, é pou-
co abundante e encontra-se sobretudo na forma de cutãs,
vênulas e revestimentos de cavidades. Caulinita, muito
mal cristalizada é sempre subordinada, por vezes reduzi-
Figura 59 – Perfis Ipixuna IV, V, VII. do domínio setentrional da a apenas fracos indícios. As partes internas das colu-
(zona 5). nas possuem coloração lilás pálida, rosada ou branca e

733
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

compõem-se, sobretudo, de gibbsita com alto grau de


cristalinidade (Figura 66b). Caulinita, normalmente subor-
dinada, embora possa ocorrer em quantidades elevadas,
apresenta baixo grau de cristalinidade. Os oxi-hidróxidos
de Fe ocorrem somente em traços (Figura 66b). A argila
intersticial é principalmente caulinítica, porém contém
geralmente quantidade significativa de gibbsita e traços
de goethita.
Acima do horizonte aluminoso encontram-se vestígi-
os, por vezes expressivos de uma cobertura pretérita (Fi-
gura 67a). Trata-se, sobretudo, de blocos decimétricos,
irregulares ou colunares, de crosta ferruginosa apresen-
tando feições e composição mineralógica semlhantes às
do horizonte ferruginoso presente na cobertura laterítica/
bauxítica do domínio meridional da província (Figura 66a). Figura 60 – Amostra de bauxita da parte inferior do perfil
Localmente, os vestígios ferruginosos exibem textura Ipixuna IV. Bauxita altamente desferrificada com zonas
brechóide já descrita no horizonte ferruginoso do domínio reliquiares mais ricas em Fe.
meridional (Figura 67b). Os blocos ferruginosos reliquia-
res estão cimentados por bauxita de textura muito fina,
semelhante à descrita na porção inferior da cobertura.
Os restos de crosta ferruginosa são compostos sobretudo
de hematita bem cristalizada, sendo a presença de goe-
thita e de caulinita, ambas de medíocre a baixo grau de
cristalinidade, geralmente mais discreta (Figura 66a).
A bauxita sobreposta aos vestígios ferruginosos mar-
ca o topo da cobertura. Exibe estrutura colunar com ca-
vidades tubulares sub-verticais, preenchidas por mate-
rial argiloso proveniente de níveis mais superficiais do perfil
residual (capeamento?) (Figura 67a). Esta bauxita tem
textura fina, coloração variegada e é normalmente mais
rica em gibbsita e oxi-hidróxidos de Fe que a bauxita cau-
linítica e fortemente desferrificada da porção inferior do
perfil (Figura 66c). Contém pequenas inclusões subarre-
dondadas a ovais, com bordas irregulares, de até cerca Figura 61 – Zona de segregação de Fe, rica em hematita e
de 1 cm de comprimento de bauxita porcelanada. As in- goethita, em contato brusco com bauxita rosada clara,
fortemente desferrificada.
clusões podem ter coloração avermelhada clara ou cre-
me de acordo com o conteúdo de Fe. De qualquer modo,
as inclusões se distinguem nitidamente da matriz bauxíti-
ca que esta seja enriquecida em oxi-hidróxidos de Fe e
de coloração vermelha arroxeada ou fortemente desfer-
rificada. As inclusões porcelanadas exibem um zonea-
mento concêntrico sublinhado, freqüentemente, por pseu-
docórtex amarelados, essencialmente goethíticos. A es-
truturação concêntrica é devida à mobilização de Fe, sua
lixiviação parcial e à redistribuição da parte restante de
acordo com as condições de hidratação locais, sob a for-
ma de “anéis de Liesegang” em escala milimétrica a sub-
milimétrica (Figura 68a e b).
Algumas dessas inclusões comportam margem des-
ferrificada, esbranquiçada. As cavidades tubulares são
revestidas por córtex goethítico que contorna diminutas
manchas bauxíticas claras, duras, de textura fina, que pa- Figura 62 – Bauxita fortemente diferenciada exibindo padrão
recem brotar nessa superfície (Figura 69a). De fato, tra- malhado/esqueletal na base do perfil Ipixuna IV.

734
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Figura 63 – Vista, em planta, de bauxita fortemente


diferenciada, destacando-se o arranjo em malha ou em células
bastante regulares das zonas de segregação de Fe.

Figura 64 – Fotomicrografias de bauxita da zona 5. (a) e (b).


Figura 65 – Imagens de MEV da bauxita do domínio
Matriz criptocristalina gibbsítica contendo caulinita
setentrional (zona 5).(a), (b) e(c). Matriz muito fina, composta
subordinada e microzonas de segregação de Fe. Notar em A
de cristais anédricos a subédricos intercrescidos ou
a textura coloforme. Nicóis//.
agregados de gibbsita e caulinita dificilmente reconhecíveis.
Em a e b, notar preenchimento de poros por cristais de gibbsita
maiores. (d) Córtex goethítico com cristais em arranjo radial
em contato com matriz de caulinita e gibbsita.

735
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

ta-se das pequenas inclusões de bauxita porcelanada, que, de Fe. Delgado nível de nódulos ferruginosos pode ocasi-
mais resistentes à degradação que a matriz bauxítica fina, onalmente se sobrepor à bauxita nodular, porém, comu-
são ressaltadas nas bordas das cavidades (Figura 69b). mente, os vestígios de horizonte ferruginoso estão ausen-
tes. O topo do perfil é constituído por pisólitos de bauxita
Exemplo 2 porcelanada fortemente desferrificada, densamente em-
pacotados, quase sem matriz. Os pisólitos exibem geral-
Este caso corresponde a grau mais elevado de degra- mente zoneamento difuso, sublinhado por zona periférica
dação e desmantelamento de crosta pretérita, cujos ves- bege ou esbranquiçada e um núcleo mais ferruginoso,
tígios estão englobados em crosta laterítica aluminosa su- amarronzado ou arroxeado, sendo freqüente a distribui-
perimposta, como no caso anterior. É bem representado ção dos oxi-hidróxidos de Fe na forma de microzonas con-
nos perfis Ipixuna III, Ipixuna V e Ipixuna VI (Figura 59; cêntricas (anéis de Liesegang).
Anexo 10). O saprólito é essencialmente caulinítico, cla-
ro, com manchas esbranquiçadas de desferrificação so- Exemplo 3
breposto por horizonte aluminoso malhado de até 2,5 m
de espessura apresentando, em direção ao topo, enrique- Este tipo de manto residual caracteriza-se pela ausên-
cimento progressivo em gibbsita e melhor definição da cia de qualquer sinal reconhecível de cobertura laterítica/
estrutura colunar. Acima do horizonte malhado/colunar bauxítica pretérita, sendo observado somente o sistema
ocorre horizonte bauxítico nodular, de até 1 m de espes- malhado característico da porção inferior da cobertura
sura, pobremente definido devido a superimposição do laterítica (perfis Ipixuna II, km 1700, km 1705, Ipixuna
sistema malhado. Os nódulos de bauxita apresentam co- VII, km 1710) (Figura 59 e 70; Anexo 10).
loração creme a rosada pálida com parte interna algo mais No topo da crosta encontram-se raramente fragmen-
rica em ferro, avermelhada ou amarronzada clara, textu- tos do arcabouço esqueletal rico em ferro contendo pe-
ra fina e aspecto porcelanado. Este horizonte comporta quenas inclusões de bauxita porcelanada, testemunhos de
pouca matriz friável, clara. Compõe-se de gibbsita bem depósitos coluviais ou de pavimentos formados por cas-
cristalizada e apenas traços de caulinita e oxi-hidróxidos calho ou pisólitos ricos em gibbsita e resultantes da de-

(a) (b)

(c) (d)

Figura 66 – Difratogramas de bauxita do domínio setentrional (zona 5). (a) Crosta ferruginosa reliquiar, vestígio de manto
residual pretérito. (b) Bauxita caulinítica fortemente desferrificada da parte inferior do perfil . (c) Bauxita colunar da parte
superior do perfil. (d) Capeamento argiloso rico em gibbsita.

736
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

gradação, fragmentação química e eventual retrabalha- Em toda a extensão do domínio setentrional, em parti-
mento físico de cobertura bauxítica pretérita. Este tercei- cular nos setores livres – por erosão ou por ausência des-
ro caso de figura é considerado como representativo dos de o início – de vestígios lateríticos/bauxíticos e apresen-
efeitos diretos da lateritização tardia sobre as rochas da tanto apenas o padrão malhado característico da região,
Formação Ipixuna. observa-se, no topo do perfil residual, acentuada desfer-

Figura 67 – Afloramentos da cobertura bauxítica da zona 5. (a) Parte superior do perfil Ipixuna IV situado na rodovia BR 010,
8 Km a norte da entrada para Paragominas. (b) Detalhe do mesmo perfil.

Figura 68 – Fotomicrografias de bauxita colunar superior da zona 5. (a) Pisólitos ferruginosos altamente corroídos e
parcialmente “digeridos” pela matriz aluminosa desferrificada. Notar o zoneamento interno devido à redistribuição de Fe.
Nicóis // (b) Pisólitos bauxíticos de bordas corroídas em matriz criptocristalina ferro-aluminosa. Notar o zoneamento resultante
da eliminação parcial e redistribuição de Fe (aneis de Liesegang). Nicóis //

Figura 69 – Parte superior do manto residual, perfil Ipixuna II, zona 5. (a) Bauxita colunar do topo do perfil com pequenas
manchas claras de bauxita porcelanada. (b) Manchas de bauxita porcelanada destacadas na superfície de um fragmento de
bauxita do topo do perfil.

737
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

rificação expressa pela individualização de faixa esbran-


quiçada de espessura métrica, na qual as feições esque-
letais encontram-se praticamente apagadas, sobrando
apenas um discreto padrão manchado (Figura 71). O con-
tato entre as duas zonas é bastante brusco (Figura 72).
Sobre esta zona altamente desferrificada repousa freqüen-
temente uma camada de fragmentos de bauxita ferrugi-
nosa de até 1 m de espessura, prováveis restos de porção
superior mais litificada, hoje totalmente desmantelada, da
cobertura aluminosa.

Capeamento argiloso

Na porção setentrional da Província Bauxitífera de


Paragominas o capeamento da crosta bauxítica é bastan-
te delgada e não ultrapassa alguns poucos metros de es-
pessura. De consistência terrosa e muito poroso, exibe
uma coloração pálida, rosada a bege e contém em sua
base fragmentos milimétricos a centimétricos, arredon-
dados ou angulosos, por vezes placóides, de bauxita de
textura fina mais ou menos rica em oxi-hidróxidos de Fe.
A matriz argilosa compõe-se principalmente de caulinita
e gibbsita, que exibem grau de cristalinidade medíocre e
elevado a muito elevado, respectivamente (Figura 66d).
Goethita é pouco abundante e revela substituição de
FeOOH por AlOOH entre 15 e 20%. Quartzo está pre-
sente, porém bastante subordinado. Seu conteúdo, bas-
tante variável, é estimado em 5-6% em média, com máxi-
mo de 10%. Tal fato mostra, no entanto, bastante clara-
Figura 70 – Perfil Ipixuna II. Bauxita fortemente desferrificada
mente que existe certa diferença composicional entre o
e diferenciada exibindo o padrão esqueletal-colunar.
capeamento argiloso a sul de Paragominas e o capea-
mento na porção setentrional da província. O contato en-
tre o horizonte bauxítico superior e o capeamento argilo- de trabalho de caráter regional e predominantemente ge-
so é brusco. No entanto, em diversos locais (platôs Jabu- ológico, não foram abordadas em detalhe questões espe-
ti, km 1703) pequenas lentes ou camadas de até um me- cificamente geoquímicas como transferência de massa,
tro de espessura de cascalho de bauxita ferruginosa fo- interação entre minerais e soluções, substituição de mi-
ram encontradas repousando sobre a bauxita colunar. Este nerais por outros. Tampouco foi efetuado balanço de
horizonte ocasional é composto de fragmentos irregula- massa, por não ser conhecida a composição exata do
res, freqüentemente placóides e alongados, de até 7 cm material parental (não exposto), ser muito heterogêneo e
de comprimento, densamente empacotados, com pouca extremamente intemperizado o produto derivado deste e
matriz argilosa. A forma e posição sub-horizontal dos frag- disponível no campo (arenitos arcoseanos com intercala-
mentos sugerem tratar-se de depósitos coluviais acumu- ções pelíticas totalmente caulinizados citados como ro-
lados em leves depressões no topo da crosta bauxítica. cha matriz alterada muito heterogêneo e extremamente
intemperizado e a evolução da cobertura residual ter sido
XI. QUIMISMO não só polifásica como também ter provavelmente envol-
vido iluviação e aportes de produtos alóctones ou para-
A composição química da cobertura ferro-aluminosa alóctones tanto sólidos como em solução. Os numerosos
da Província Bauxitífera de Paragominas é analisada nos dados químicos foram objeto de tratamento estatístico sim-
seus aspectos gerais em complemento às observações ples, sem cálculos específicos, sobretudo em apoio ao re-
de campo e aos dados petrográficos e mineralógicos apre- conhecimento dos processos responsáveis pela formação
sentados acima, em vista da discussão sobre a evolução da cobertura residual e os depósitos de bauxita associa-
do quadro supergênico na região em apreço e a forma- dos.
ção dos depósitos de bauxita inseridos nele. Tratando-se

738
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Figura 71 – Manto bauxítico fortemente desferrificado.


Rodovia BR 010, 4 km a norte de Ipixuna.

À vista das diferenças composicionais e estruturais


entre o manto laterítico/bauxítico do domínio meridional e
a cobertura residual do domínio setentrional, as 199 amos-
tras analisadas para elementos maiores, traço e terras
raras foram divididas em dois grupos, em tentativa de dar
maior precisão ao tratamento e interpretação dos resul-
tados analíticos. Cada um dos grupos foi, por sua vez,
dividido em subgrupos, em função dos diferentes horizon- Figura 72 – Detalhe da figura anterior. Contato entre a parte
tes ou tipos lateríticos presentes. inferior malhada do manto bauxítico e sua parte superior
totalmente desferrificada.
Domínio Meridional
e minerais pesados de maior resistência nas condições
As 163 amostras analisadas no domínio meridional tropicais úmidas tais como rutilo, turmalina e zircão. A
foram subdivididas em 10 conjuntos, cada um composição química reflete diretamente esta associação
correspondendo a um horizonte ou sub-horizonte do perfil mineral, sendo Si, Al, Fe e, subordinadamente, Ti, os úni-
bauxítico ideal da província de Paragominas. Da base ao cos elementos relevantes (Tebela 4).
topo do perfil foram distinguidos: 1) rocha matriz alterada, Assim, na bauxita inferior e na bauxita porcelanada
2) horizonte saprolítico, 3) sub-horizonte bauxítico nodular, de tipo “pipoca” observam-se teores particularmente
4) sub-horizonte bauxítico maciço, 5) crosta ferruginosa baixos de sílica e de óxido de ferro, e, ao contrário, teores
maciça a colunar (porção inferior mais maciça do horizonte altos de alumina (até 62%). No horizonte ferruginoso e
ferruginoso), 6) sub-horizonte ferruginoso nodular (porção na camada pisolítica do topo do perfil o conteúdo de ferro
superior do horizonte ferruginoso), 7) horizonte de é, ao contrário, elevado (até 75% de Fe2O3), enquanto
concreções bauxíticas, 8) horizonte pisolítico (sem que os de alumina e sílica são mais baixos embora
discriminação dos tipos de pisólitos, entre os quais variáveis, de acordo com a presença ou não de gibbsita
predominam fortemente os densos, de textura fina, ricos (Tabela 3). Em quase total ausência de quartzo exceto
em hematita), 9) bauxita porcelanada de tipo “pipoca” e no saprólito, onde este mineral pode ainda se encontrar
10) capeamento argiloso (Tebela 3). em pequenas quantidades, e no capeamento argiloso, no
qual ocorre em traços, a sílica está fundamentalmente
Elementos maiores ligada a caulinita, o que permite avaliar, com razoável
precisão, a quantidade média de minerais principais em
A cobertura laterítica/bauxítica, produto do intempe- cada horizonte (vide Figura 7, 15, 21, 26, 31, 36, 40, 48).
rismo extremo de rochas sedimentares siliciclásticas, com- Leve excesso de alumina indica, normalmente, a presença
põe-se de minerais resultantes do mais alto grau de alte- de gibbsita, enquanto excesso de sílica assinala a presença
ração ou seja, de caulinita (Al 2Si2O 5(OH) 4, gibbsita de quartzo. A avaliação torna-se mais difícil quando
(Al(OH)3, goethita (FeOOH), hematita (Fe2O3) e anatá- quartzo e gibbsita coexistem num mesmo material residual.
sio (TiO2), aos quais devem ser acrescentados traços de Os teores de Fe se referem diretamente ao conteúdo de
quartzo reliquiar, vestígios de mica fortemente degradada oxi-hidróxidos, não havendo, entretanto, meio simples para

739
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

definir as quantidades relativas de goethita e hematita nos e do capeamento deva ser avaliada com cuidado devido à
produtos residuais. Admitindo-se que na caulinita a razão coexistência de gibbsita e quartzo nestes horizontes, pode-
SiO2/Al2O3 é igual a 1,154, pode-se estimar, em linhas se observar que ambos são essencialmente cauliníticos
gerais a composição mineralógica média dos diferentes (média de cerca de 80% ou pouco mais de caulinita) e
horizontes. A rocha matriz alterada caracteriza-se por contêm quantidade estimada em 4 a 7% de gibbsita. O
conteúdo elevado de quartzo (média de 51%) e caulinita saprólito é levemente mais rico em oxi-hidróxidos de Fe
(46%), sendo os oxi-hidróxidos de Fe fracamente (média de aproximadamente 10%) que o capeamento
representados (< 2%). No horizonte aluminoso inferior (8%). Cabe acrescentar que a distribuição dos minerais
gibbsita predomina fortemente (cerca de 64% na bauxita de Fe é muito mais irregular no saprólito que no
nodular e 72% na bauxita maciça), enquanto caulinita (23 capeamento, que se distingue por notável homogeneidade
e 15%, nos respectivos horizontes) e oxi-hidróxidos de composicional em toda a sua espessura. Referente aos
Fe 11% em ambos os casos) são bem menos abundantes. conteúdos de quartzo, embora qualquer avaliação por meio
No horizonte ferruginoso os oxi-hidróxidos de Fe de simples dados químicos deixe margem a dúvida, tudo
(indiscriminados) prevalecem (68% na crosta ferruginosa leva a crer que este mineral é mais abundante no saprólito
maciça a colunar e 65% nos nódulos ferruginosos). Nestes que no capeamento.
sub-horizontes, a gibbsita constitui apenas 12 e 14% do No entanto, Al não ocorre apenas sob a forma do tri-
total, enquanto caulinita representa 19 e 21%. As hidrato gibbsita ou, associado à sílica, na caulinita, pois
concreções bauxíticas superiores são compostas, em pode também se alojar, em substituição a Fe, na estrutura
média, de 65% de gibbsita, 23,5% de caulinita e 9,5% de cristalina de goethita e hematita. Esta substituição se
oxi-hidróxidos de Fe. Embora sejam bastante ferruginosos verifica em toda a cobertura residual, embora o seu grau
(49% de oxi-hidróxidos de Fe), os pisólitos são ricos em varie sensivelmente, tanto de um horizonte para outro,
caulinita (41%) e contêm quantidade fortemente como dentro de um mesmo horizonte. O grau máximo da
subordinada de gibbsita (7,5%). Na bauxita porcelanada substituição de FeOOH por AlOOH em goethita é de
de tipo “pipoca” que envolve os pisólitos o quadro se cerca de 33%, enquanto em hematita, a substituição de
inverte, havendo muita gibbsita (73,5%, em média), menor Al2O 3 por Fe 2O 3 alcança apenas 16% (Fitzpatrick &
quantidade de caulinita (19%) e baixo conteúdo de oxi- Schwertmann 1982, DeGrave et al. 1982, Kämpf &
hidróxidos de Fe (5%). Embora a composição do saprólito Schwertmann 1983). De início, a associação hematita-

Tabela 3 – Composição (elementos maiores) de amostras representativas dos diversos horizontes do manto laterítico/bauxítico
do domínio meridional.

740
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

caulinita constituinte da couraça ferruginosa permanece horizontes. O campo dos pisólitos, por sua vez, exibe níti-
estável em presença de quartzo. No entanto, se o quartzo do trend indicando significativas variações no teor de Fe,
se dissolver, a caulinita perde sua estabilidade sob efeito ao mesmo tempo em que se mantém bastante constante
das soluções percolantes e a associação hematita-caulinita a relação entre os teores de SiO2 e de Al2O3. Tal fato
tende a ser substituída pela associação goethita-gibbsita indicaria remobilização e lixiviação de Fe particularmen-
Tardy (1993). O alumínio liberado pela dissolução da te importantes nos produtos residuais ferruginosos, mais
caulinita pode, entretanto, em vez de precipitar na forma expostos à ação dos agentes intempéricos e, portanto, mais
de gibbsita, ser admitido na estrutura da hematita e evoluídos do topo do perfil, porém relativamente poucas
sobretudo da goethita de substituição, cujo conteúdo de modificações nos conteúdos de caulinita e gibbsita. Em
AlOOH alcança valores da ordem de 30%. Os efeitos que concerne o saprólito e o capeamento, a superposição
deste processo aparecem com muita clareza nos horizontes dos seus campos no diagrama indica a possibilidade des-
pisolíticos da parte superior do manto residual, tes dois horizontes terem uma estreita ligação genética
praticamente livres de matriz argilosa e não ou muito pouco ou, pelo menos, resultarem de processos intempéricos
bauxitizados. Nestas acumulações pisolíticas do topo do semelhantes (Figura 73b).
perfil, outrora submetidas à ação particularmente eficiente Os teores de TiO2 variam de 0,5 a mais de 3% em
das águas superficiais, a gibbsitização não ocorreu ou foi peso, havendo diferenças sensíveis entre os horizontes.
incipiente, provavelmente por falta de Al disponível devido Assim, a análise química em rocha total revelou teores
à escassez de matriz argilosa. Contudo, Al liberado pela médios de TiO2 mais elevados nos horizontes aluminosos
caulinita aprisionada originalmente na mesóstase (até 1,68%) que nos horizontes ferruginosos (até 0,66%)
ferruginosa acabou sendo introduzido na estrutura de (Tebela 4). No saprólito e no capeamento argiloso o con-
goethita e hematita, por substituição de Fe. teúdo de titânio é ainda maior (acima de 2%), enquanto
Plotadas no diagrama ternário SiO2-Al2O3-Fe2O3, as que na rocha matriz, ao contrário, o teor médio de TiO2
amostras do manto laterítico/bauxítico, com exceção dos (0,63%) é inferior ao de qualquer outro horizonte.
pisólitos, agrupam-se em dois campos limitados, corres- Embora traços de rutilo tenham sido detectados, TiO2
pondendo às composições essencialmente aluminosa ou reflete basicamente a presença de anatásio em todos os
ferruginosa (Figura 73a). A ausência de termos de tran- horizontes. No saprólito não há correlação entre TiO2 e
sição entre estes domínios retrata claramente a estrutu- Fe2O3, nem entre TiO2 e Al2O3. Nos horizontes bauxíti-
ração em horizontes bem individualizados e, em muitos cos o quadro é semelhante. Entretanto, nos horizontes
casos, a passagem brusca de um horizonte a outro. Suge- ricos em Fe, nos quais o conteúdo de Al é geralmente
re, igualmente, que os horizontes não resultaram da dife- baixo, observa-se correlação negativa moderada a exce-
renciação in situ de uma crosta laterítica/bauxítica origi- lente entre TiO2 e Fe2O3, bem como correlação positiva
nal por meio de migrações verticais, nos limites do perfil, entre TiO2 e Al2O3, como reflexo da correlação negativa
de silício, alumínio ou ferro, e sim, que cada um deles com Fe (Figura 74a, b). No capeamento, TiO2 apresenta
resultou de processo próprio ocorrido em determinada fase correlação positiva razoável com Al2O3, porém nenhuma
da evolução do manto, independentemente dos demais correlação com Fe2O3 (Figura 74c).

Tabela 4 – Teores médios de elementos maiores nos diferentes horizontes do manto laterítico/bauxítico do domínio meridional.

741
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

Durante a evolução de um quadro supergênico em (a) (b)


condições tropicais úmidas, a distribuição do anatásio
como mineral secundário estável tende a ser homogênea,
qualquer que seja o padrão de distribuição dos minerais
titaníferos originais. A homogeneização é devida princi-
palmente à bioturbação e favorecida pelo ínfimo tamanho
dos cristais de anatásio. A duração do processo influi igual-
mente muito no grau de homogeneização. Por outro lado,
as modificações composicionais da totalidade ou de par-
tes do manto residual podem ter causas e resultados di-
versos. A decomposição dos minerais do material paren-
tal e a lixiviação dos elementos mais móveis (alcalinos,
alcalino-terrosos e parte da sílica) levam a enriquecimen-
to relativo em anatásio, ou seja, em titânio. No entanto,
aporte de Al ou Fe resulta em enriquecimento absoluto
nestes elementos, o que pode modificar fortemente as Figura 73 – Diagramas SiO2-Al2O3-Fe2O3. (a) Horizontes
relações de massa entre o produto alterítico e seu con- bauxíticos e ferruginosos. (b) Rocha-matriz, saprólito e
teúdo de anatásio, sem que este último sofra qualquer capeamento.
alteração. Aporte de Fe, por exemplo, provoca diminui-
ção do teor de Ti, ou seja, “empobrecimento relativo” de posteriormente o quadro laterítico/bauxítico. As elevadas
Ti devido ao aumento da densidade do meio hospedeiro concentrações de Ti, tanto no horizonte saprolítico como
pela introdução de Fe em substituição de Si e Al, ou seja, no capeamento, pode ser explicadas pelo enriquecimento
de caulinita por oxi-hidróxidos de Fe. Este efeito “dilui- relativo deste elemento, praticamente imóvel sob a forma
dor” é causado também, embora de modo muito mais dis- de anatásio e subordinadamente rutilo, devido à forte
creto, pelo enriquecimento absoluto em Al. Ademais tal dessilicificação que resultou da dissolução do quartzo e
empobrecimento relativo de Ti deve ser ponderado de da decomposição de parte da caulinita, únicos fenômenos
acordo com a porosidade final do meio hospedeiro. Quanto que os afetaram, após terem sido eliminados os elemen-
mais poroso este meio, menor será a “diluição” e maior tos alcalinos e alcalino-terrosos numa fase preliminar.
será o conteúdo de Ti. Estes fatos não são levados em Entretanto, o forte contraste entre os teores de Ti nos
consideração nas análises químicas e as distorções apa- horizontes ferruginosos e nos horizontes bauxíticos não
recem como fortes variações dos teores de Ti, quando, pode ser explicado nem pelo enriquecimento relativo, nem
de fato, a distribuição espacial do anatásio, isto é seu con- por improvável mobilização do titânio e sua concentração
teúdo real, não relativo, não sofre ou sofre poucas modi- preferencial em determinados horizontes devida a hipoté-
ficações em caso de enriquecimento absoluto de Al ou tica afinidade com Al. Acredita-se que o contraste é es-
Fe. sencialmente resultado de modificações significativas na
Assim, o anatásio, resultante da decomposição de mi- composição da matriz hospedeira, sob efeito de aporte de
nerais titaníferos comuns em rochas sedimentares Al e sobretudo de Fe. Após a alteração dos sedimentos
terrígenas como ilmenita e titano-magnetita, provavelmen- originais e remoção dos elementos alcalinos, alcalino-
te já apresentava distribuição bastante homogênea nos terrosos e de parte da sílica, a mobilização e a
sedimentos alterados, a partir dos quais se desenvolveu redistribuição, à escala tanto regional como local de Fe e

(a) (b) (c)

Figura 74 – (a) Diagramas de correlação: TiO2 vs. Fe2O3 nos pisólitos; (b) TiO2 vs. Fe2O3 nos nódulos e crosta ferruginosos; (c)
TiO2 vs. Al2O3 no capeamento.

742
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

de Al, teriam desempenhado papel fundamental na evolu- teria levado à formação do horizonte bauxítico inferior e
ção polifásica do manto residual. ao desaparecimento de qualquer correlação entre TiO2 e
A correlação negativa de TiO2 com Fe2O3 nos hori- Al2O3 ou Fe2O3. Na parte superior do perfil o mesmo
zontes ricos em ferro (horizonte ferruginoso e pisólitos) mecanismo, envolvendo enriquecimento relativo e enri-
sugere, portanto, que após o enriquecimento inicial em quecimento absoluto, teria levado à formação das con-
anatásio, provocado pela alteração dos sedimentos pa- creções bauxíticas superiores e da bauxita porcelanada
rentais, teria havido importante aporte de Fe, responsável (“pipoca”) às custa de nódulos e pisólitos ferruginosos
pela formação de crosta ferruginosa inicial. O aporte de bem como da sua matriz argilosa, sendo apagada, no de-
Fe teria invertido o quadro geoquímico, levando a empo- correr do processo, qualquer correlação entre Ti, Al e
brecimento relativo em Ti. Durante a bauxitização, a re- Fe.
moção de importantes quantidades de Fe (na porção in-
ferior da crosta ferruginosa) e de Si (no topo do hori- Elementos-traço
zonte saprolítico) teria sido compensada pelo enriqueci-
mento absoluto em Al ou aluminização (Truckenbrodt et 163 amostras das zonas 1 a 4, foram analisadas para
al. 1995), cujos produtos teriam sido acrescentados aos 33 elementos-traço incluindo ETR (Tabela 5). Tendo pouco
do enriquecimento relativo neste elemento. Tal processo sentido o estudo, por meio de análises pontuais, das rela-

Tabela 5 – Concentrações médias de elementos-traço e ETR nos diferentes horizontes e sub-horizontes do manto bauxítico, no
domínio meridional.

743
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

ções entre os minerais constituintes do manto residual e tratado aqui, exclusivamente como componente deste
os elementos-traço, optou-se por fazer avaliação do com- mineral. A liberação de Zr por mineral(ais) mais
portamento destes últimos, discutindo da sua distribuição alterável(eis) como descrito por Melfi et al. (1996) em
no perfil, horizonte por horizonte, e da interpretação das coberturas bauxíticas sobre rochas alcalinas no sul do Bra-
correlações destes elementos entre si e com os elemen- sil parece improvável levando em consideração a própria
tos maiores, representativos dos minerais constituintes da natureza e origem detrítica dos sedimentos parentais. As
cobertura laterítica/bauxítica. variações dos teores de Zr, Hf, Y, Yb e Lu nos perfis
Os teores de elementos-traço são muito mais baixos seguem padrão bem definido. As concentrações médias
(Ba, Sr, Cu, Pb, Zn, Ni, Cr, etc...) até mais elevados, por máximas encontram-se no saprólito e no capeamento ar-
vezes muito mais elevados (Zr, Hf, Ga, Nb. Th, etc...) giloso, enquanto que as mais baixas ocorrem nos horizon-
que as médias crustais, o que em si tem pouco significa- tes ferruginosos e nos horizontes aluminosos os valores
do, pois a evolução do manto residual consistiu em múlti- são intermediários (Tabela 5). A distribuição de Zr e dos
plas etapas de mobilização e transferência de elementos elementos associados é, conseqüentemente, semelhante
maiores e traço, além de ocasional retrabalhamento físi- à de Ti. Contidos em zircão, Zr, Hf, Y, Yb e Lu se com-
co dos produtos de alteração. Via de regra, os elemen- portaram, portanto, como elementos imóveis em meio pre-
tos-traço apresentam enriquecimento bastante variável no cocemente homogeneizado, que, mais tarde, sofreu
manto residual em relação a seus teores nos sedimentos modificações composicionais e estruturação em horizon-
parentais alterados. Para melhor compreensão da distri- tes. Como no caso do titânio, houve empobrecimento re-
buição dos elementos-traço neste manto, devem ser con- lativo aparente em Zr (e elementos associados) nos
siderados fatores como composição mineralógica e quí- horizontes ricos em Fe e modificações mais discretas nos
mica dos diversos horizontes, a natureza e abundância horizontes bauxíticos. No capeamento e no saprólito afe-
dos minerais resistentes contidos na cobertura residual e tados apenas pela lixiviação dos elementos mais solúveis
natureza dos processos envolvidos em sua formação. e, em particular, por intensa dessilicificação, houve maior
Embora os teores da maioria dos elementos-traço enriquecimento relativo em Zr e elementos associados
sejam baixos, a análise da sua distribuição permitiu em zircão. A correlação razoável a excelente entre TiO2
distinguir quatro associações de interesse e Zr e elementos associados resultaria, portanto, da ele-
vada estabilidade de anatásio e zircão, apesar do primei-
Grupo 1 ro ser neoformado e o segundo residual, da distribuição
bastante homogênea desses minerais nos sedimentos pa-
Zr, Hf, Y, Nb, Th, U, Sc, Yb e Lu. Neste grupo, zircô- rentais alterados e, provavelmente, da sua ocorrência em
nio se destaca pelos teores sempre altos, embora bastan- proporções relativamente constantes em todo o pacote
te variáveis de um horizonte a outro (Tabela 5), como sedimentar original (Figura 75).
também de um local a outro. Assim, dentro de um mesmo Nb, Th, U e Sc, por sua vez, mostram comportamento
horizonte, o conteúdo de Zr pode variar de poucas cente- algo distinto dos dos demais elementos do grupo. Os teo-
nas de ppm até mais de 2000 ppm. Valores totalmente res de nióbio variam de menos de 10 ppm até 85 ppm, os
anômalos (5263,3 ppm e 4197,5 ppm) foram encontrados mais elevados ocorrendo no capeamento argiloso e os
na bauxita da base do perfil 14 e no saprólito do perfil 17, mais baixos nos horizontes ricos em Fe (Tabela 5). Ape-
ambos da zona 4. Não foi evidenciado trend específico, à sar de ter geralmente boa correlação positiva com Zr,
escala regional, na distribuição de Zr no manto residual. este elemento apresenta correlação ainda mais acentua-
Apenas no saprólito e no capeamento observa-se um sen- da e constante com TiO2. Este fato sugere que Nb está
sível enriquecimento neste elemento na porção setentrio- essencialmente contido em anatásio, mineral de baixa ca-
nal da zona 4 (platô Gurupi Norte e próximo de Parago- pacidade de fixação de elementos estranhos, porém po-
minas). A boa a excelente correlação, em todos os hori- dendo admitir este elemento em sua estrutura cristalina
zontes, de Zr com Hf (até 1,00), Y e ETR pesados Yb e por substituição de Ti (Figura 76)
Lu, sugere que, o zircão é o único mineral portador de Zr O comportamento de Th, U e Sc, é menos claro. Os
(Tabela 6a e b). teores de tório variam de 15 ppm até pouco mais de 100
Ademais, não foram detectados outros minerais por- ppm, sendo que os mais elevados se encontram nos hori-
tadores de Zr. Cabe observar, no entanto, que, embora zontes ricos em Fe e, notadamente nos pisólitos (teor médio
seja geralmente considerado como mineral quimicamen- de 67 ppm). As concentrações médias de Th são algo
te estável (Krook 1979, Brimhall et al. 1991), zircão é, de menores nos horizontes aluminosos, sendo as mais baixas
fato, solúvel em ambiente supergênico (Nahon & Merino na rocha matriz alterada (20 ppm). O saprólito e o cape-
1996, 1997). Contudo, a capacidade de dissolução do zir- amento revelaram teores médios de Th relativamente al-
cão sendo baixa (Tole 1985, Balan et al. 2001), Zr será tos (52 e 56 ppm, respectivamente) (Tabela 5). Em ne-

744
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

nhum horizonte foi detectada qualquer correlação signifi- Tabela 6 – Matrizes de correlação entre TiO2, Zr, Nb, Y, Sc, Th,
cativa entre Th e Fe2O3. Os teores de urânio, por sua U, Hf, Yb e Lu. (a) nos horizontes ferruginosos (crosta e nódu-
vez, são mais modestos, raramente ultrapassam 7 ppm e los ferruginosos + pisólitos); (b) nos horizontes aluminosos
variam menos. Os teores médios mais elevados encon- (bauxita nodular e maciça inferior + concreções bauxíticas
superiores e bauxita porcelanada de tipo “pipoca”).
tram-se no saprólito e no capeamento (5 ppm em ambos
os casos), os mais baixos na rocha matriz (2 ppm). No (a)
entanto, ao contrário do tório, U ocorre nos horizontes
ricos em Fe em teores mais baixos que nos horizontes
bauxíticos (Tabela 5). Tal distribuição explica o fato do
índice de correlação entre estes dois elementos sofrer
fortes variações. A correlação entre Th e U é nula nos
horizontes ferruginoso e pisolítico, porém moderada a boa
nos horizontes bauxíticos inferior e superior (R = + 0,78, (b)

integrando os horizontes aluminosos) (Tabela 6a e b). Por


outro lado, ela é fraquíssima e sem significado no sapró-
lito e na bauxita porcelanada do topo, e razoável no cape-
amento (R = + 0,75).
Apesar das diferenças entre U e Th, estes elementos
apresentam padrões comparáveis de correlação com TiO2,
Zr e Nb comparáveis. Embora os índices difiram sensi-
velmente, nota-se total falta de correlação de ambos com
estes elementos nos horizontes ricos em Fe e, ao contrá-
rio, correlações positivas discretas a marcantes nos hori-
zontes aluminosos, no saprólito e no capeamento. As re-
lações de U e Th entre si, e de ambos com TiO2, Nb e Zr,
como também o enriquecimento em Th dos horizontes
mais ferruginosos, poderiam indicar que estes elementos
tiveram comportamento próprio, além de uma provável
ligação, sobretudo no caso de U, com zircão (Figura 77).
É possível que Th se encontre em algum outro mineral
detrítico resistente ou, após remobilização, tenha sido fi-
xado pelos oxi-hidróxidos de Fe, em maior quantidade nos
horizontes mais ferruginosos. No caso de U, a questão
permanece aberta. De qualquer modo, a presença, no
meio supergênico, de oxi-hidróxidos de Fe capazes de reter Figura 75 – Diagrama TiO2 vs. Zr para todos os horizontes do
Th e U por adsorção ou por coprecipitação é considerada manto residual do domínio meridional.
como um fator de maior importância no comportamento
desses elementos (Middelburg et al. 1988).
Os teores de escândio não ultrapassam 30 ppm e apre-
sentam quadro algo parecido com o do tório (Tabela 5).
O saprólito, os horizontes enriquecidos em Fe e o capea-
mento mostram conteúdos maiores deste elemento que
os horizontes bauxíticos, o que confirmaria a estreita liga-
ção entre Sc e Fe assinalada por Middelburg et al. (1988)
e Temgoua et al. (2002). No entanto, nenhuma correla-
ção positiva de algum significado foi identificada entre Sc
e Fe2O3 e, na crosta ferruginosa, foi evidenciada, ao con-
trário, correlação negativa moderada (R = - 0,62) entre
estes dois elementos. A rocha matriz apresenta os mais
baixos teores (concentração média de 6 ppm). As corre-
lações deste elemento com Zr, Th e U variam. Nos hori-
zontes aluminosos, exceto na bauxita porcelanada onde Figura 76 – Diagrama TiO2 vs. Nb para todos os horizontes
são fracas, as correlações são positivas, moderadas a do manto residual do domínio meridional.

745
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

excelentes, enquanto são fracas a nulas nos horizontes


ricos em Fe e apenas uma medíocre correlação Sc vs. U
pode ainda ser observada. Investigações complementa-
res seriam necessárias para que se possa determinar a
forma sob a qual Th, U e Sc ocorrem na cobertura laterí-
tica/bauxítica e as condições físico-químicas que contro-
laram o comportamento destes elementos no decorrer da
evolução do manto residual.

Grupo 2

P2O5, Ba, Sr, La, Ce. Os teores destes elementos


variam muito dentro de cada horizonte (Tabela 5). Os de
P2O5 se situam na faixa de 0,01 até 0,2%, enquanto que Figura 77 – Diagrama Zr vs. U para todos os horizontes do
os teores de Ba e Sr vão de < 1 ppm até 360 ppm e 120 manto residual do domínio meridional.
ppm, respectivamente. La e Ce, por sua vez, apresentam
teores de até 170 e 370 ppm, respectivamente. A
distribuição de P2O5 não corresponde exatamente ao dos ou dos seus produtos de degradação. Tal interpretação
demais elementos. Os teores médios mais elevados de explicaria, em particular, a falta de correlação entre P2O5
P2O5 situam-se no horizonte ferruginoso e logo abaixo, e os demais elementos do grupo na base do horizonte
na parte superior mais maciça do horizonte bauxítico bauxítico inferior formado provavelmente à custa de sa-
inferior. Os pisólitos mostram igualmente teor médio prólito e não da crosta ferruginosa (Tabela 7c).
relativamente alto. Ba e Sr, por sua vez, apresentam forte
enriquecimento na porção inferior do perfil, desde o Grupo 3
saprólito até a parte inferior do horizonte ferruginoso.
Teores médios mais elevados de La e Ce, se encontram Ga (Al2O3, Fe2O3). Os teores de Ga variam relativa-
no horizonte saprolítico, no horizonte bauxítico inferior, mente pouco, entre 26 e 98 ppm, observando-se apenas
enquanto os pisólitos revelam teores intermediários. O baixos teores na rocha matriz alterada (teor médio de 19
capeamento argiloso apresenta sempre, em relação aos ppm) e teores mais elevados no horizonte pisolítico (teor
horizontes diretamente subjacentes, enriquecimento em médio de 65 ppm) que nos demais horizontes, nos quais
todos os elementos considerados. As correlações entre os teores médios situam-se na faixa de 47 a 56 ppm (Ta-
os cinco elementos enfocados apontam para duas zonas bela 5). No entanto, não se observa qualquer diferença
no perfil. A primeira é constituída pela parte superior mais significativa, em termos de teor de Ga, entre os horizon-
maciça do horizonte bauxítico inferior e a porção inferior tes ferruginosos e os horizontes aluminosos. No ambiente
da crosta ferruginosa que lhe é sobrejacente. Os índices supergênico sob clima tropical, o comportamento deste
de correlação são elevados, em particular no material elemento depende das condições físico-químicas do meio.
ferruginoso (Tabela 7a e b). Assim, estreitamente associado a Al nos minerais primá-
A segunda zona abrange os pisólitos e a bauxita por- rios, Ga permanece ligado a este elemento nos produtos
celanada do topo do perfil. Neste caso também as corre- de alteração intempérica, caulinita e/ou gibbsita na medi-
lações são boas, com valores ligeiramente superiores nos da que houve apenas remoção dos elementos solúveis
pisólitos. Nos demais horizontes do perfil as correlações (alcalinos, alcalino-terrosos e pelo menos parte da sílica)
são fracas a inexistentes. A nítida ligação entre P2O5, Ba, e conseqüente enriquecimento relativo em Fe e Al. No
Sr, La e Ce, mesmo restrita a alguns horizontes específi- entanto, as relações entre Ga e Al mudam radicalmente
cos, sugere a presença no manto laterítico/bauxítico de em caso de dissolução dos produtos de alteração ge-
fosfatos de alumínio do grupo da crandallita, apresentan- rados anteriormente (Hieronymus et al. 2001). Ocorre
do substituição parcial de Ca por Ba, Sr e ETR leves. A separação entre os elementos e Al, menos solúvel, migra,
origem do fósforo foi provavelmente biogênica. A distri- porém permanece no manto intempérico e se acumula
buição desses elementos no perfil poderia indicar que os preferencialmente na base do perfil, na forma de gibbsita
fosfatos se formaram precocemente, sendo incorporados preenchendo poros de dissolução, gretas de contração,
de início na crosta ferruginosa. Mais tarde, a bauxitiza- fissuras e fraturas variadas. O gálio, mais solúvel, tende
ção fez com que os fosfatos de Al, estáveis nas condi- a ser lixiviado, porém pode ainda ser retido pelos oxi-hi-
ções intempéricas, fossem englobados nos horizontes alu- dróxidos de Fe e permanecer no perfil (Hieronymus et
minosos desenvolvidos às custas da crosta ferruginosa al. 2001). No manto laterítico/bauxítico em estudo corre-

746
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

lação positiva de algum significado entre Ga e Al2O3 se Tabela 7 – Matrizes de correlação entre P2O5, Ba, Sr, La, Ce.
observa apenas na rocha matriz alterada (R = + 0,60) e (a) na crosta ferruginosa; (b) na bauxita inferior maciça; (c)
na crosta ferruginosa (e + 0,65) (Figura 78a). No capea- nos nódulos bauxíticos inferiores.
mento argiloso nota-se igualmente correlação positiva mo-
derada (R = + 0,60) entre estes elementos (Figura 78b).
Nos demais horizontes as correlações entre Ga e Al2O3
são muito fracas ou negativas. Assim, embora a correla-
ção positiva entre Ga e Al2O3 tenha sido preservada na
fase inicial do processo de alteração, a remobilização pos-
terior destes elementos resultou em sua separação e em
diminuição ou desaparecimento da correlação positiva en-
tre eles. Após migração limitada, Al reprecipitou na for-
ma de gibbsita meso a macrocristalina límpida nos poros
e fissuras na bauxita. O gálio, mais móvel, foi provavel-
mente parcialmente eliminado do perfil. No entanto, cor-
relações positivas moderadas entre Ga e Fe2O3 no sapró-
lito, na base do horizonte bauxítico inferior e nos pisólitos,
mostram que Ga foi em parte fixado pelos oxi-hidróxidos
de Fe (Figura 78c e d).

Grupo 4
tes elementos ocorre, no meio supergênico, sob diversas
V, As, Cr, Pb, Cu, Mo, Ni, , Zn. Este grupo compõe- formas cristalinas, cuja capacidade de fixação de elemen-
se de elementos apresentando afinidade variável com Fe, tos-traço depende da estrutura e do grau de cristalinida-
devido à relativa facilidade com a qual os oxi-hidróxidos de, além de outros numerosos fatores.
deste metal os fixam por adsorção e, eventualmente, os Com teor abaixo do limite de detecção (< 0,5 ppm) na
admitem em sua estrutura. Todos estes elementos são rocha matriz alterada, o arsênio ocorre em teores discre-
pouco abundantes, no máximo atingindo poucas dezenas tos, porém mostra clara preferência pelos horizontes fer-
de ppm, exceto V e Cr, cujos teores alcançam pouco mais ruginoso e pisolítico, com teores relativamente eleva-
de 4000 ppm, para o primeiro, e 2000 ppm (expresso em dos, valor máximo de 43 ppm e teores médios entre 8,4 e
óxido) para o segundo (Tabela 5). Nenhum dos elemen- 20,7 ppm. No saprólito, nos horizontes aluminosos e no
tos enfocados apresenta qualquer correlação significati- capeamento se observa uma sistemática escassez de As,
va com Al2O3 (Tabela 8a, b, c, d e e). cujos teores médios situam-se todos abaixo de 2 ppm (Ta-
O teor médio de vanádio varia muito no perfil e passa bela 5). Nenhuma correlação entre As e Fe2O3 foi verifi-
de apenas 25 ppm na rocha matriz alterada para 1444 cada nos horizontes mais ferruginosos, provavelmente
ppm na crosta ferruginosa, sendo também elevado nos pelas razões já citadas acima. No entanto, esta correla-
pisólitos (960 ppm). Nos horizontes aluminosos os teores ção é sempre excelente nos horizontes bauxíticos e inex-
de V são baixos, 95ppm, em média, na bauxita porcelana- pressiva no saprólito e no capeamento (Tabela 8). Pela
da do topo do perfil e pouco mais de 160 ppm nos hori- sua forte ligação com Fe, decorrente sobretudo da sua
zontes bauxíticos inferior e superior (Tabela 5). Dos ele- fácil e rápida adsorção pela goethita e hematita, o arsênio
mentos do grupo, V é o que mostra a mais marcante e apresenta, no meio supergênico, comportamento seme-
constante afinidade com Fe2O3, sendo as correlações lhante ao do vanádio. A capacidade, particularmente
entre estes elementos positivas, boas a excelentes, em marcante dos produtos lateríticos de fixar As é ressalta-
todos os horizontes, exceto no horizonte ferruginoso (Ta- da por diversos autores (Roquin et al. 1990, Bowell 1994,
bela 8). É possível que, neste último caso, o excesso e as Middelburg et al. 1988) e possui aplicações práticas na
fortes variações de teor de Fe tendam a distorcer o qua- filtragem da água.
dro geoquímico (Figura 79). A distribuição de V tendo Embora ocorra em teores mais elevados nos horizon-
sido controlada pela sua fixação pelos oxi-hidróxidos de tes ricos em Fe (teor médio de 500 ppm de Cr2O3 nos
Fe, seja por adsorção seja por coprecipitação e provavel- pisólitos, 400 ppm nos nódulos ferruginosos e 310 ppm na
mente em condições redutoras (Middelburg et al. 1988, crosta ferruginosa) que nos demais (40 ppm na rocha
Temgoua et al. 2002), diferenças entre as capacidades matriz alterada, 120 ppm no saprólito e 130 e 90 ppm na
de retenção dos elementos-traço de goethita e hematita bauxita maciça e na bauxita nodular inferiores, respecti-
poderiam também ser evocadas. Ademais, cada um des- vamente), o cromo mostra com este elemento uma liga-

747
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

(a) (b) (c)

(d)
Figura 78 – Diagramas de correlação: (a) Ga e Al2O3 na crosta ferruginosa maci-
ça; (b) Ga e Al2O3 no capeamento; (c) Ga vs. Fe2O3 nos nódulos bauxíticos; (d) Ga
vs. Fe2O3 nos pisólitos.

ção menos sistemática que V e As (Tabela 5). Exceto no abrangendo os nódulos ferruginosos, a bauxita superior e
saprólito e na bauxita nodular inferior, onde é significativa os pisólitos (Tabela 8). A correlação entre estes elemen-
(R = + 0,70), a correlação entre Cr e Fe2O3 é fraca a tos é, no entanto, fraca no horizonte bauxítico inferior e
inexpressiva (Tabela 8). A ausência de qualquer correla- inexpressiva no saprólito, na crosta ferruginosa mais ma-
ção no horizonte ferruginoso e nos pisólitos talvez se deva ciça e no capeamento. A distribuição de Pb aponta para
à desproporção entre os teores de Cr e o elevadíssimo forte afinidade deste elemento com Fe, fato reconhecido
conteúdo de Fe nesses horizontes. No entanto, um certo em outros locais (Temgoua et al. 2002). No entanto, em-
grau de mobilização do cromo não pode ser descartado bora a maior parte de Pb tenha se fixado nos oxi-hidróxi-
(Schorin 1983). O enriquecimento em Cr dos horizontes dos de Fe, uma porção menor migrou para os horizontes
ricos em oxi-hidróxidos de Fe sugere que, embora ocorra inferiores do perfil pobres em Fe. Tal fato demonstraria
provavelmente, em parte, na forma de minerais detríticos que, apesar da sua baixa mobilidade no meio supergênico
(cromita?) resistentes à alteração, este elemento foi tam- e da sua retenção pelos oxi-hidróxidos de Fe, o chumbo
bém mobilizado na forma iônica ou de complexos solú- pode também ter comportamento algo independente do
veis, fixando-se em goethita e hematita (Roquin et al. meio e sofrer transferência parcial para os horizontes mais
1990, Temgoua et al. 2002). Como no caso do vanádio, a basais do perfil.
fixação teria ocorrido em condições relativamente redu- Os demais elementos do grupo ocorrem geralmente
toras (Middelburg et al. 1988). A razoável correlação en- em teores muito baixos, porém sua afinidade com Fe,
tre Cr e Fe2O3 nos horizontes basais sugere que apesar embora bastante variável, coincide com as observações
de certa mobilidade e, talvez, discreta fixação por caulini- de diversos autores (Roquin et al. 1990, Middelburg et
ta (Wolfenden 1965, Schorin 1983), Cr permanece forte- al. 1988). Cu e Zn mostram enriquecimento mais signifi-
mente ligado aos oxi-hidróxidos de Fe, mesmo nos hori- cativo nos horizontes ferruginosos (11 e 6 ppm, respecti-
zontes predominantemente gibbsíticos ou cauliníticos. vamente, nos nódulos ferruginosos) que nos demais, po-
O chumbo é outro elemento que ocorre em quantida- rém o contraste entre os conteúdos nos horizontes ricos
des relativamente significativas, com teores médios par- em oxi-hidróxidos de Fe e nos horizontes bauxíticos ou
ticularmente elevados nos horizontes ricos em Fe. O teor cauliníticos é bastante diferente. Zn mostra o menor con-
de Pb na rocha matriz alterada é baixo (média de 3 ppm). traste, provavelmente devido ao seu baixo teor e à sua
Os pisólitos apresentam teor médio de Pb de 20 ppm, excepcional mobilidade no ambiente supergênico, que di-
enquanto os nódulos ferruginosos contêm, em média, 28 ficulta sua fixação. Mo mostra a mesma tendência. É
ppm e a crosta ferruginosa, 30 ppm. Nos demais horizon- possível, também, que parte desses elementos tenha-se
tes, incluindo o saprólito e o capeamento, os teores médi- fixado em caulinita (Schorin 1983) que, com a diminuição
os não alcançam 10 ppm (Tabela 5). A correlação entre do grau de cristalinidade, adquire maior poder de reten-
Pb e Fe2O3 é boa apenas na porção superior do perfil ção dos elementos metálicos. Quanto a Ni, o leve enri-

748
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Tabela 8 – Matrizes de correlações entre Al2O3, Fe2O3, V, As, Cr, Pb, Cu, Zn, Mo. (a) nos nódulos bauxíticos inferiores e na
bauxita maciça; (b) na crosta e nos nódulos ferruginosos; (c) nos pisólitos; (d) nas concreções bauxíticas superiores e na
bauxita porcelanada do topo; (e) no capeamento.

quecimento no horizonte saprolítico seria de acordo com


a relativa mobilidade deste elemento no meio supergêni-
co e a sua tendência a se acumular na base dos perfis
lateríticos, provavelmente em caulinita (Wolfenden 1965).

Elementos Terras Raras

Os ETR apresentam, à escala do perfil, concentra-


ções bastante diferenciadas (Tabela 5). Nota-se enrique-
cimento geral em ETR nos horizontes inferiores do perfil
(horizonte bauxítico inferior e saprólito) em relação ao
seu conteúdo na parte superior do perfil. Assim, a média
de ΣETR no horizonte saprolítico é 232 ppm, enquanto
que na bauxita nodular inferior e a bauxita maciça inferior
ela é 205 ppm e 244 ppm, respectivamente. A rocha matriz
revelou conteúdo médio de 116 ppm. Este último valor Figura 79 – Diagrama Fe2O3 vs. V para todos os horizontes
deve, no entanto, ser considerado com cautela devido à do manto residual do domínio meridional.
pequena quantidade de amostras analisadas, as fortes
variações nos teores de ETR nestas amostras e a aparente

749
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

ausência de padrão de distribuição comum. Por outro lado, minosos da parte superior do perfil e da base do perfil
os produtos bauxíticos da parte superior do perfil e os sugere fortemente que durante o (s) período (s) de bauxi-
produtos ricos em ferro mostram valores de ΣETR tização, os ETR sofreram mobilização nos horizontes su-
nítidamente mais baixos. A crosta ferruginosa e os nódulos periores do perfil, sendo transferidos em parte para os
ferruginosos sobrepostos contêm em média 69 e 68 ppm, horizontes inferiores.
respectivamente, enquanto que o conteúdo médio nos Durante a alteração intempérica os ETR podem mi-
pisólitos é 71 ppm, nas concreções bauxíticas superiores grar na forma de complexos orgânicos, bicarbonatos ou
106 ppm e na bauxita porcelanada de tipo “pipoca” 86 íons livres, e tendem a se acumular na base do perfil (Du-
ppm. O capeamento argiloso apresenta conteúdo médio ddy 1980, Humphris 1984, Fleet 1984). A estabilidade dos
intermediário de 147 ppm. Outra característica de interesse complexos solúveis de ETR, que cresce de La a Lu, e a
é o aumento dos valores da razão ΣLa/ΣYb do topo para acidez do meio são os principais fatores controlando a
a base do perfil. Enquanto nos horizontes mais superficiais mobilização e redistribuição de ETR no ambiente super-
do manto a razão La/Yb se situa entre 8 e 9 (bauxita gênico (Nesbitt 1979, Duddy 1980, Humphris 1984). As-
porcelanada 7,75; pisólitos 8,2; e concreções bauxíticas sim, tanto os complexos orgânicos como alcali-carbonáti-
superiores 8,06), no horizonte ferruginoso ela é mais cos de ETR pesados são mais estáveis e, portanto, mais
elevada (nódulos ferruginosos 10,2; crosta ferruginosa solúveis que os complexos de ETR leves, podendo sofrer
12,3), e no horizonte bauxítico inferior ainda maior (na transporte preferencial em solução (Fleet 1984). Por ou-
bauxita maciça inferior19,6; na bauxita nodular inferior tro lado, o enriquecimento em CO2 das águas que perco-
13,3). No saprólito e na rocha matriz (com as reservas já lam solos ricos em matéria orgânica leva a diminuição do
formuladas acima) a razão ΣLa/ΣYb situa-se levemente pH até 4 (Nesbitt 1979). A dissolução de ácidos orgâni-
acima de 12. Quanto ao capeamento, apresenta o mais cos pode aumentar ainda mais a acidez das soluções. Como
baixo valor de todo o perfil (7,5). os argilominerais neoformados e, em particular, caulinita,
Os padrões de distribuição de ETR nos diferentes ho- têm pouca capacidade de neutralização da acidez das
rizontes são muito parecidos. O padrão comum, com águas, os elementos maiores, traço e terras raras mais
normalização a NASC (Gromet et al. 1984), se caracte- solúveis são transportados sem maiores dificuldades pe-
riza por forma em U aberto e assimétrico, devido a mar- las soluções para zonas mais profundas do manto intem-
cante enriquecimento relativo tanto em ETR mais leves périco, onde, com o aumento da alcalinidade e a decom-
(La e Ce), como em ETR pesados (Yb e Lu), e depres- posição dos complexos orgânicos, os ETR são reprecipi-
são acentuada no intervalo Nd, Sm e Eu. No entanto, de tados sob a forma de hidróxidos ou carbonatos, incorpo-
um horizonte a outro, há variações notáveis nos valores rados nos minerais secundários ou adsorvidos na superfí-
de ΣETR, o que se traduz, graficamente, por translação cie desses minerais (Nesbitt 1979). As mudanças de con-
vertical do campo de distribuição, sem modificações subs- dições físico-químicas em direção à base do perfil provo-
tanciais do seu padrão (Figuras 80). cam fracionamento de ETR e diminuição progressiva da
Parte importante de ETR encontra-se provavelmente mobilidade de ETR, de Lu para La (Duddy 1980).
em minerais resistentes, basicamente zircão e fosfatos O único mineral portador de ETR pesados reconheci-
de Al, o que faz com que os teores obtidos refletem mais do hoje no manto residual em estudo é zircão. Por outro
a composição dos diversos horizontes que a própria dis- lado, ETR leves (La e Ce, sobretudo) de origem desco-
tribuição destes elementos. No entanto, tal fato não ex- nhecida, se encontrariam, pelo menos em parte, fixados
plica o valor de até 3,5 da razão ΣETR horizonte bauxíti- em fosfatos de Al. Sendo o zircão e os fosfatos de Al
co inferior (ou saprólito)/ΣETR horizontes ricos em Fe. minerais estáveis, é provável que outros minerais fonte
Ademais, apesar da complexidade composicional e es- de ETR, mais vulneráveis e, portanto, mais rapidamente
trutural do manto intempérico, o conteúdo de ETR maior decompostos, tenham existido originalmente nos sedimen-
na base do perfil que nos horizontes mais superficiais su- tos. Talvez certa quantidade de ETR tenha sido liberada
gere, em termos gerais, que pode ter havido lixiviação de pela dissolução do zircão (Nahon & Merino 1996, 1997),
ETR em zonas mais rasas, tanto nos produtos aluminosos mas, neste caso, tratar-se-ia preferencialmente de ETR
como nos ferruginosos, e acumulação destes elementos pesados. A presença dos demais ETR em bem menores
na porção inferior do manto alterítico. Se os conteúdos quantidades tanto em zircão como nos fosfatos, seria a
de ETR semelhantes nos pisólitos e no horizonte ferrugi- causa da forte depressão nos gráficos no intervalo de ETR
noso podem ser explicados pela origem comum destes intermediários.
produtos (ferruginização dos mesmos sedimentos altera- De qualquer modo, o padrão de distribuição de ETR
dos e previamente homogeneizados, com conteúdos com- sugere que estes elementos se encontram essencialmente
paráveis de minerais pesados resistentes), a acentuada nos minerais resistentes zircão e fosfatos de Al. Por outro
diferença entre os valores de ΣETR nos horizontes alu- lado, a preservação do mesmo padrão, sem modificações

750
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Figura 80 – Diagramas de distribuição


dos ETR nos diferentes horizontes do
perfil do domínio meridional.

substanciais da base ao topo do perfil, mostra que não treita com estes produtos da base do perfil, já sugerida
teria havido mobilização e redistribuição significativas de pelo comportamento bastante semelhante dos elementos-
ETR ao longo da evolução do manto residual ou que os traço nesses horizontes. Por outro lado, a diferença com
ETR teriam sido mobilizados nas mesmas proporções que os conteúdos de ETR na bauxita porcelanada e nos pisó-
os seus conteúdos relativos nos minerais fontes, ou seja, litos não favorece a hipótese de formação do capeamen-
em zircão e em fosfatos. Esta segunda alternativa, que to pela ressilicificação da seqüência bauxítica, pois, neste
permitiria explicar o enriquecimento em ETR na base do caso, esperar-se-ia, ao contrário, diminuição dos teores
perfil, seria condicionada à solubilidade, no ambiente de ETR devida à diluição pelo aporte de sílica.
laterítico/bauxítico, tanto de zircão como de fosfatos.
O quadro observado hoje resultaria, portanto, por um Domínio setentrional
lado, da presença de ETR em minerais detríticos e neo-
formados resistentes e, por outro, da eventual remobiliza- No domínio setentrional (zona 5) da Província Bauxi-
ção e transferência de parte destes elementos para a base tífera de Paragominas um total de 36 amostras foi anali-
dos horizontes aluminosos. O enriquecimento em ETR sado para elementos maiores, traço e terras raras. Em-
leves em relação a ETR pesados na base do manto resi- bora a cobertura residual não apresente a estrutura em
dual seria resultado do fracionamento de ETR durante horizontes bem definidos, foram distinguidos diversos ti-
sua imobilização, conforme descrito por Duddy (1980). pos de alteritas, cada uma sendo representada por, pelo
O valor de ΣETR relativamente elevado no capea- menos, uma amostra. Assim, foram analisadas: 1 amos-
mento argiloso em comparação ao dos horizontes direta- tra da rocha-matriz, 3 do saprólito, 7 da bauxita desferri-
mente sotopostos e a semelhança com os teores obtidos ficada, 11 de bauxita ferruginosa, 3 da crosta ferruginosa
no saprólito e na rocha matriz apontam para relação es- reliquiar, 4 de bauxita colunar do topo do manto, 1 do oca-

751
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

sional horizonte pisolítico porcelanado e 6 do capeamen- nal são raramente atingidos no domínio setentrional, a não
to. Para dar caráter mais geral à discussão sobre o com- ser nos setores onde o manto é, em grande parte, consti-
portamento dos elementos e maior consistência aos tuído por vestígios da cobertura bauxítica pretérita. No
resultados estatísticos, foram distinguidos três conjuntos, entanto, para evitar qualquer equívoco e não ter que in-
ou seja: 1) bauxita desferrificada e saprólito, 2) bauxita troduzir nova nomenclatura, o termo bauxita foi mantido
ferruginosa e bauxita colunar da parte superior do perfil, para designar os produtos lateríticos aluminosos quais-
e 3) capeamento argiloso. O nível pisolítico aluminoso, quer que sejam os seus teores de sílica, isto é de caulinita
observado somente em alguns perfis, e o horizonte dito e de ferro. No saprólito o leve excesso de SiO2 indica
ferruginoso, constituído em maior parte por vestígios de claramente a presença de quartzo subordinado. No cape-
crosta ferruginosa pretérita, embora constem na Tabela amento o excesso de Al2O3 mostra que gibbsita pode es-
9, não são geralmente considerados nas discussões. Cabe tar presente em quantidades significativas junto com cau-
apenas notar que as características químicas destes dois linita. Ademais, em contraste com o que ocorre no domí-
produtos, como as suas características mineralógicas e nio meridional, as proporções de caulinita e gibbsita vari-
texturais, são semelhantes às da bauxita porcelanada de am substancialmente de um setor a outro. Considerando-
tipo “pipoca” e da crosta ferruginosa do domínio meridio- se que o conteúdo de quartzo pode atingir 10% do total
nal (Tabelas 3, 4 e 5). em peso, o conteúdo de caulinita foi estimado em 35 a
80% e o conteúdo de gibbsita em 2-3 a 48%. Assim, pró-
Elementos maiores ximo de Ipixuna (perfil Ipixuna I) o capeamento é essen-
cialmente caulinítico com pouca gibbsita, enquanto que
Os teores de elementos maiores confirmam a nature- setores mais meridionais (perfis Ipixuna II e III), o con-
za ferralítica mediocremente evoluída do manto residual teúdo de gibbsita pode chegar a mais de 40%, equiparan-
e as diferenças com a cobertura bauxítica do domínio do-se ou ultrapassando o de caulinita. Cabe ressaltar que
meridional já observadas anteriormente (Tabelas 9 e 10). proporções semelhantes de caulinita e gibbsita foram iden-
Os teores de SiO2 elevados, em ausência de quartzo, tificadas no capeamento argiloso dos depósitos de caulim
em toda a cobertura residual (concentração média míni- e bauxita da região de Monte Dourado, no baixo rio Jari
ma de 8,61% de SiO2 na bauxita colunar, concentração (Kotschoubey et al. 1999).
média máxima de 26,32% de SiO2 na bauxita desferrifi- Exceto no horizonte ferruginoso reliquiar, Fe apresenta
cada inferior) mostram que caulinita está sempre presen-
distribuição peculiar, resultante da sua segregação segundo
te em quantidades significativas, tornando-se comumente
o padrão bastante regular descrito anteriormente. Esta
o mineral principal. Assim, admitindo a razão SiO2/Al2O3
segregação de Fe faz com que porções ferruginosas (com
= 1,154, para caulinita foi possível estimar os conteúdos
teor médio de 35% de Fe2O3) se encontrem em contato
médios de caulinita e gibbsita. Na bauxita desferrificada
direto e brusco com porções quase totalmente
evidenciou-se, em média, cerca de 56% de caulinita e
desferrificadas (com teor médio de 2,7% de Fe2O3). Uma
36% de gibbsita; na bauxita ferruginosa 35% de caulinita
zona de transição pode existir, porém normalmente não
e 25% de gibbsita e na bauxita colunar 18,5% de caulinita
ultrapassa poucos centímetros. Tal distribuição de Fe
e aproximadamente 60% de gibbsita. Embora a repre-
confere à laterita o seu aspecto variegado. Em direção à
sentatividade desses dados seja algo limitada, fica claro
base do manto, o conteúdo de Fe diminui progressivamente
que tais composições não permitem que se atribua, sem
para se estabilizar em cerca de 4% de Fe 2 O 3 . No
reserva, a denominação de bauxita aos produtos alteríti-
capeamento os teores de Fe são particularmente baixos
cos enfocados. Com efeito trata-se mais de laterita alu-
minosa altamente caulinítica e com conteúdo variável de (≅ 3% de Fe2O3), o que explica a coloração bege a rosada
oxi-hidróxidos de Fe de que de bauxita sensu stricto. pálida deste horizonte. Quando plotadas no gráfico ternário
Apenas localmente, sobretudo na parte superior do perfil, SiO2-Al2O3-Fe2O3, as amostras do domínio setentrional,
na chamada bauxita colunar, o manto residual apresenta como as do domínio meridional, distribuem-se em dois
composição correspondendo realmente à definição de campos distintos, não existindo claramente termos
bauxita. Cabe ressaltar, contudo, que na ocasião de estu- intermediários. A bauxita desferrificada e o saprólito
dos prévios desenvolvidos na porção oriental do domínio ocupam campo restrito, que se estende ao longo da
setentrional (nos platôs Jabuti, notadamente) foi eviden- vertente SiO2-Al2O3, sinal de desferrificação extrema
ciada a presença de crosta residual mais espessa e mais (Figura 81a). As amostras de bauxita ferruginosa e colunar
aluminosa, mais próxima daquilo que se costuma chamar exibem espalhamento muito maior, sinal de redistribuição
de bauxita (Kotschoubey et al. 1989, Kotschoubey & algo desordenada de ferro mobilizado durante a
Truckenbrodt 1994).De qualquer modo, os baixos teores desferrificação. A superposição dos campos do saprólito
de SiO2 e altos de Al2O3 da bauxita do domínio meridio- e do capeamento sugere, como no domínio setentrional,

752
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

ligação genética estreita entre esses horizontes ou modo Tabela 9 – Composição (elementos maiores) de amostras
de formação comum (Figura 81b). representativas dos diferentes tipos de alteritas constituintes
Embora o manto residual não comporte horizontes for- do manto residual ferro-aluminoso no domínio setentrional.
temente individualizados, a distribuição de titânio segue,
em linhas gerais, as mesmas regras que no domínio meri-
dional, ou seja, apresenta os mais baixos teores nas por-
ções ricas em ferro (1,27%) e atinge os mais altos teores
nas porções mais fortemente desferrificadas (2,75%). A
bauxita colunar, menos diferenciada em termos de distri-
buição de Fe, contém teores intermediários de TiO2 (mé-
dia de 2,04%). Os teores de Ti no saprólito são relativa-
mente baixos (1,71% em média), próximos do da rocha
matriz alterada (1,77%). No capeamento os teores de TiO2
atingem valores elevados (média de 2,71%), que contras-
tam com o teor registrado em pisólitos bauxíticos porce-
lanados diretamente sotopostos (1,26%). Por outro lado,
a correlação entre TiO2 e Al2O3 é sempre positiva, mo-
derada a boa, em todos os produtos alteríticos, incluin-
do o capeamento, enquanto a correlação de TiO2 com bação e à redistribuição de partículas sólidas no meio por
Fe2O3 é inexpressiva (Figura 82a e b). Tal fato indica meio da eluviação/iluviação. A distribuição dos ínfimos
claramente que o manto residual formou-se, sobretudo, grãos de anatásio teria, portanto, atingido notável homo-
sob efeito de intemperismo clássico em condições tropi- geneidade. Com o prosseguimento do intemperismo, ocor-
cais úmidas, ou seja, por meio da ferralitização, por lixivi- reram apenas variações relativas do teor de titânio, devi-
ação dos elementos mais solúveis, dissolução de quartzo do às mudanças na composição da bauxita hospedeira.
e enriquecimento relativo em Al, Fe e Ti. Enquanto nas zonas desferrificadas a remoção de Fe le-
No manto residual do domínio setentrional, como no vou a forte diminuição da densidade da bauxita e a subs-
resto da província bauxitífera, Ti encontra-se basicamen- tancial aumento do teor aparente de Ti, nas porções fer-
te na forma de anatásio, mineral secundário de alta resis- ruginosas, ao contrário, o teor relativo de Ti diminuiu.
tência nas condições supergênicas. No decorrer do pro- Apenas no capeamento os teores de TiO2 parecem re-
cesso intempérico, a cobertura de alteração teria sofrido sultar diretamente do enriquecimento relativo, sem a in-
notável homogeneização devida principalmente à biotur- terferência de outros fenômenos.

Tabela 10 – Teores médios de elementos maiores nos diferentes tipos de alteritas do manto residual ferro-aluminoso no
domínio setentrional.

753
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

Elementos-traço

As 36 amostras selecionadas no domínio setentrional


foram analisadas para 33 elementos-traço e ETR. Os
teores muito baixos de parte destes elementos (Bi, Cd,
Sb, Ag, Hg, Tl, Se, Co, entre outros) foram considerados
inadequados para estudo mais aprofundado. Foram,
portanto, considerados nesta análise somente os elementos
apresentando teores suficientemente elevados e
contrastados ao longo do perfil (Tabela 11). Em termos
gerais, os teores dos elementos-traço e de ETR são da
mesma ordem de grandeza que os obtidos no domínio
meridional. Como neste último, foram distinguidos 4
grupos de elementos apresentando algum grau de
afinidade, além dos elementos terras raras considerados
como um grupo a parte.

Grupo 1

Zr, Hf, Y, Nb, Yb, Lu, Th, U e Sc. Este grupo apre-
senta características muito semelhantes às descritas no
domínio meridional (Tabela 11). Zr se destaca pelas con-
centrações muito elevadas em comparação às dos de-
mais elementos, em particular nos horizontes argilosos (no
saprólito até 3150 ppm, com média de 1556 ppm; no ca-
peamento até 4920 ppm, com média de 3759 ppm). Na
própria crosta bauxítica o conteúdo de Zr, embora bas-
tante variável, é menor, observando-se nos produtos enri-
quecidos em Fe teores mais baixos (na bauxita ferrugino-
sa, concentração média de 1353 ppm, na bauxita colunar,
concentração média de 1759 ppm) que na bauxita des-
ferrificada, na qual o teor médio é 2361 ppm. No entanto,
os teores mais baixos de Zn encontram-se nos vestígios
da cobertura laterítica/bauxítica mais antiga (1009 ppm
nos pisólitos de bauxita porcelanada e concentração mé- Figura 81 – Diagramas SiO2-Al2O3-Fe2O3. (a) para os diversos
dia de 631 ppm nos resquícios de crosta ferruginosa) e tipos de bauxita (desferrificada, ferruginosa, colunar) e o
saprólito. (b) para a rocha matriz, o saprólito e o capeamento.
são muito semelhantes aos determinados na bauxita de

Figura 82 – Diagramas de correlação Al2O3 vs. TiO2. (a) para saprólito e bauxita desferrificada, (b) para bauxita ferruginosa
e bauxita coluna, (c) para capeamento.

754
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

tipo “pipoca” e no horizonte ferruginoso do domínio meri- mento e da substituição, nestas zonas enriquecidas em
dional (Tebela 5). A sempre boa a excelente correlação Fe, de caulinita e gibbsita por oxi-hidróxidos de Fe. Por
de Zr com Hf, Y, Yb e Lu confirma, aqui também, que Zr outro lado, nas zonas fortemente desferrificadas o con-
ocorre fundamentalmente na forma de zircão (Tabela 12). teúdo relativo de zircão seria elevado devido à dissolução
A distribuição de Zr dependeria, portanto, da distribui- dos oxi-hidróxidos de Fe e remoção de Fe, ao aumento da
ção deste mineral resistente. Como comentado anterior- porosidade e à diminuição da densidade. Em termos ge-
mente, o zircão devia apresentar distribuição passavel- rais, Zr e TiO2 se comportam de maneira semelhante,
mente homogênea. desde as primeiras etapas da evolu- embora, no detalhe, a relação entre estes elementos va-
ção do manto. As fases tardias do processo teriam então rie bastante (Figura 83).
provocado o enriquecimento ou o empobrecimento relati- Nula no capeamento, a correlação entre Zr e TiO2 é
vo deste mineral estável, por meio da lixiviação ou, ao moderada na bauxita desferrificada mais o saprólito (R =
contrário, do aporte de elementos, causando modificações + 0,65) e boa nas bauxitas ferruginosa e colunar (R = +
na composição e na densidade do material hospedeiro. 0,78) (Tabela 12). Sendo o zircão e o anatásio estáveis
Os baixos teores de Zr nos produtos mais ricos em ferro em condições de clima tropical úmido, a falta de correla-
seriam o resultado direto da segregação tardia deste ele- ção entre Zr e TiO2 no capeamento poderia resultar de

Tabela 11 – Teores médios de elementos-traço nos diferentes tipos de alteritos do manto residual ferro-aluminoso no domínio
setentrional.

755
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

distribuição não homogênea destes minerais residuais, o Tabela 12 – Matrizes de correlação entre TiO2, Zr, Hf, Y, Yb,
que sugeriria que este horizonte não tem relação genética Lu, Th, U e Sc. (a) para o saprólito e a bauxita desferrificada;
direta com a bauxita sotoposta, onde, ao contrário, a cor- (b) para a bauxita ferruginosa e colunar; (c) para o
relação moderada a boa expressaria homogeneidade muito capeamento.
mais acentuada na distribuição desses minerais nos sedi-
mentos degradados, posteriormente bauxitizados.
Os teores de nióbio situam-se entre 11 e 87 ppm, sendo
que os mais elevados se encontram no capeamento e os
mais baixos nos vestígios de horizonte ferruginoso. Por
outro lado, o teor de Nb na bauxita ferruginosa (36 ppm)
é nitidamente inferior ao teor obtido no saprólito (47 ppm),
na bauxita desferrificada (59 ppm) e na bauxita colunar
(50 ppm) (Tabela 11). O nióbio apresenta sempre excelente
correlação com TiO2 (até R = + 0,99 no capeamento),
qualquer que seja a relação entre titânio, zircônio e os
demais elementos contidos em zircão (Figura 84). Este
fato sugere que Nb está essencialmente alojado em
anatásio, substituindo Ti, e que suas variações de teor
expressam principalmente sua localização num mineral
muito estável.
O tório apresenta concentrações de 24 a 80 ppm, os
teores médios mais elevados tendo sido encontrados na
bauxita desferrificada (65 ppm) e no capeamento (67
ppm). Na bauxita ferruginosa o conteúdo de Th é nitida-
mente mais baixo (média de 44 ppm), enquanto que na
bauxita colunar ele é intermediário (56 ppm) (Tabela 11).
No conjunto constituído pelo saprólito, bauxita desferrifi-
cada e as bauxitas mais ferruginosas, a correlação entre
Th e Zr é boa (R = + 0,76) (Figura 85a), porém observa-
se total falta de correlação no capeamento (Tabela 12).
Isto poderia indicar que, neste último horizonte, Th não
está ligado ou não está ligado somente ao zircão. Tal su-
posição se apóia no fato de que as correlações entre Th,
Ti e Nb são excelentes nos três conjuntos considerados
(Figura 85b), existindo, igualmente, boa correlação entre
Th e Fe2O3 na bauxita desferrificada (R = + 0,88) (Figura
86b). No conjunto bauxita ferruginosa mais bauxita colu-
nar a correlação entre Th e Fe2O3 é, por sua vez, forte-
mente negativa (R = - 0,83) (Figura 86a). Este fato e as
razoáveis a boas correlações de Th com Zr na bauxita, Figura 83 – Diagrama Zr vs. TiO2 para todos os produtos
tanto ferruginosa como desferrificada, poderiam indicar alteríticos constituintes do manto residual do domínio seten-
que, no manto residual, Th se encontra seja em zircão, trional.
seja em outro mineral detrítico resistente, sofrendo enri-
quecimento relativo nas porções desferrificadas e empo- mento e os mais baixos teores nos vestígios do manto
brecimento, igualmente relativo, nas ferruginosas. No residual mais antigo (pisólitos bauxíticos porcelanados e
entanto, a fixação parcial de Th por oxi-hidróxidos de Fe horizonte ferruginoso reliquiar). O padrão de distribuição
não pode ser descartada, sendo este o comportamento destes dois elementos não é claro e apenas Sc mostraria
normal do elemento em ambiente supergênico (Middel- leve empobrecimento nas porções mais ferruginosas em
burg et al. 1988). relação à bauxita desferrificada (Tabela 11). Os baixos
Urânio e escândio ocorrem em teores modestos. As teores e poucas variações nos conteúdos médios de U
concentrações do primeiro variam de 3 a 9 ppm, enquan- não permitem ter visão mais precisa da sua distribuição.
to as do segundo se situam entre 9 e 21 ppm. Em ambos As correlações de Th com U e Sc seguem o mesmo pa-
os casos, o maior enriquecimento se observa no capea- drão que as correlações entre Th e Zr (Tabela 12). São,

756
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

geralmente, inexpressivas no capeamento, porém boas a


excelentes na bauxita, qualquer que seja seu conteúdo de
Fe, o que permite diferenciar o comportamento de Th do
dos dois outros elementos. U e Sc mostram sistematica-
mente boa correlação com Zr e demais elementos do gru-
po, o que leva a crer que estes dois elementos se encon-
tram em grande parte em zircão (Tabela 12). No entanto,
as boas correlações entre U e Fe2O3 (R = + 0,90) e Sc e
Fe2O3 (R = + 0,88) na bauxita desferrificada sugerem
que existe também relação entre estes elementos e os
oxi-hidróxidos de Fe (Middelburg et al. 1988) (Figura 87a
e b). Assim os padrões de distribuição mal definidos de U
e Sc resultariam, por um lado, da presença destes ele-
mentos em zircão, e por outro, de uma limitada mobiliza- Figura 84 – Digrama Nb vs. TiO2 para todos os produtos
ção e fixação parcial pelos oxi-hidróxidos de Fe. alteríticos constituintes do manto residual do domínio seten-
trional.
Grupo 2

P2O5, Ba, Sr, La, Ce. P2O5 apresenta teores de 0,01


a 0,07%, enquanto os valores médios dos teores de Ba
variam de 12 a 90 ppm, os de Sr de 12 a 57 ppm, os de La
de 32,6 a 125,7 ppm e os de Ce de 35,2 a 172 ppm. Teo-
res particularmente elevados de todos os elementos em
apreço foram detectados na única amostra de rocha ma-
triz analisada, devendo estes dados ser considerados ape-
nas como indicativos. O saprólito mostra igualmente con-
teúdos bastante elevados desses elementos, porém o en-
riquecimento maior se observa na bauxita desferrificada,
enquanto as bauxitas ferruginosa e colunar apresentam
teores semelhantes e nitidamente mais baixos, chegando
à metade dos teores obtidos nas zonas pobres em Fe. No
capeamento os teores de Ba, Sr, La e Ce são bastante
semelhantes aos do saprólito, nitidamente mais elevados
que os das bauxitas ferruginosa e colunar, porém algo
inferiores aos da bauxita desferrificada (Tabela 11). As
correlações entre P2O5 e os demais elementos são mo-
deradas a boas somente na bauxita desferrificada, sendo
fracas no capeamento e inexpressivas ou nulas nos dois
tipos de bauxita mais ricos em Fe (Tabela 13).
Tal distribuição sugere que os fosfatos presentes no
manto são essencialmente fosfatos de Al, Ba e Sr, capa-
zes de fixar ETR leves. No entanto, a expressão química
da distribuição original destes minerais resistentes, pro-
vavelmente bastante homogênea, foi, durante as fases
tardias da evolução, modificada – atenuada ou, ao con-
trário, exacerbada – ou ainda simplesmente obliterada
pelas transformações sofridas pelo meio hospedeiro.
Nos produtos desferrificados os teores relativos au-
mentaram devido à remoção de Fe, sendo realçadas as
relações dos elementos do grupo entre si. Nos produtos
mais ferruginosos os teores relativos, ao contrário, dimi- Figura 85 – Diagramas de correlação: (a) Th vs. Zr para o
nuiram, desaparecendo qualquer correlação entre os ele- saprólito e em bauxita desferrificada, ferruginosa e colunar;
mentos em apreço devido às variações no grau de ferru- (b) Th vs. TiO2 em todos os horizontes da cobertura residual.

757
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

ginização. As fracas correlações no capeamento poderi-


am indicar certa imaturidade do quadro fosfático em ma-
triz ainda predominantemente caulinítica.

Grupo 3

Ga (Al2O3 e Fe2O3). Os teores de gálio apresentam


poucas variações e os valores extremos encontram-se
nos vestígios de cobertura laterítica/bauxítica pretérita
(mínimo de 24 ppm – média de 39 ppm – em restos de
crosta ferruginosa e máximo de 75 ppm nos pisólitos de
bauxita porcelanada). Na matriz bauxítica ferruginosa ou
desferrificada que engloba esses vestígios os teores situ-
am-se na faixa de 40 a 62 ppm, sendo algo mais elevados
nas bauxitas colunar e desferrificada que na bauxita fer-
ruginosa. Por sua vez, a rocha matriz, o saprólito e o
capeamento revelaram valores de 36 ppm, entre 41 e 46
ppm (teor médio de 44 ppm) e entre 43 e 63 ppm (teor
médio de 55 ppm), respectivamente (Tabela 11). A corre-
lação inexpressiva entre Ga e Fe2O3 e boa entre Ga e
Al2O3, tanto na bauxita desferrificada e o saprólito (Figu-
ra 88a) como na bauxita ferruginosa e a bauxita colunar
(Figura 88b), sugere que durante a formação do manto
residual Al e Ga permaneceram estreitamente associa-
dos. O mesmo fato se observa no capeamento (Figura
88c).
Teria ocorrido, portanto, apenas enriquecimento rela-
tivo em Al na forma de caulinita e gibbsita de “primeira
geração”, sem degradação posterior destes minerais, nem
remobilização (e conseqüente separação) de Al e Ga
(Hieronymus et al. 2001). Este fato é corroborado pela
ausência de qualquer sinal de gibbsita tardia precipitada
em poros ou fissuras na matriz criptocristalina.
Figura 86 – Diagramas de correlação: (a) Th vs. Fe2O3 para
Grupo 4 bauxita ferruginosa e bauxita colunar; (b) Th vs. Fe2O3 para
bauxita desferrificada.
V, As, Pb, Cr, Cu, Mo, Zn, Ni. De mesmo modo que
no domínio meridional, vanádio é o elemento traço mais burg et al. 1988, Roquin et al. 1990, Temgoua et al. 2002)
relevante. Seus teores variam de 36 a 2041 ppm, tratan- (Figura 89).
do-se de valores extremos obtidos nos produtos herdados Nas alteritas mais ferruginosas a correlação é menos
da cobertura laterítica/bauxítica pretérita, ou seja, nos pi- marcante devido ao excesso de Fe em relação à quantidade
sólitos bauxíticos e na crosta ferruginosa, respectivamente. de vanádio presente e, provavelmente, a variações na
A própria bauxita hospedeira desses vestígios apresenta capacidade dos oxi-hidróxidos de Fe de fixar elementos-
concentrações de 41 a 679 ppm, ou seja, valores nitida- traço. Deste ponto de vista, as proporções de goethita e
mente inferiores aos obtidos no domínio meridional. Con- hematita, bem como o grau de cristalinidade destes minerais
tudo, a distribuição de vanádio é também contrastada, ha- podem ter sua importância. O grau de oxidação do meio
vendo claro enriquecimento neste elemento na bauxita pode também ser fator determinante (Middelburg et al.
ferruginosa (teor médio de 275 ppm) e na bauxita colunar 1988).
(teor médio de 250 ppm) em relação ao saprólito, à bauxi- Embora ocorra em quantidades discretas (teor máxi-
ta desferrificada e ao capeamento (Tabela 11). Estreita mo de 24 ppm, mínimo < 0,5 ppm), arsênio exibe compor-
relação de V com Fe2O3 se verifica em todo o manto tamento semelhante ao do vanádio, ou seja, forte afinida-
residual e aponta para sua fixação do vanádio pelos oxi- de com Fe (Middelburg et al. 1988, Bowell 1994) (Tabe-
hidróxidos de Fe, que o adsorvem facilmente (Middel- las 11 e 14). Com teores geralmente inferiores ao limite

758
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

de detecção nas porções desferrificadas e muito baixos


(< 1 ppm) no capeamento, As está presente na bauxita
ferruginosa e na bauxita colunar em concentrações mé-
dias de 8 e 6 ppm, respectivamente. Os teores mais ele-
vados encontram-se, no entanto, na crosta ferruginosa
reliquiar (teor médio de 9 ppm). A correlação com Fe2O3
é ótima na bauxita desferrificada, porém totalmente inex-
pressiva na bauxita mais rica em Fe e no capeamento
(Tabela 14).
Se não forem considerados os teores anômalos de 800
e 450 ppm obtidos nos pisólitos e na crosta ferruginosa
reliquiar, respectivamente, as concentrações de Cr vari-
am de 40 a 250 ppm de Cr2O3, sendo extremamente bai-
xas na rocha matriz e no saprólito e algo mais elevadas
nas bauxitas ferruginosa e colunar que na bauxita desfer-
rificada, embora a diferença seja pouca. No capeamento
as concentrações são baixas (Tabela 11). Cromo é o úni-
co elemento do grupo a apresentar nítida correlação posi-
tiva com Al2O3, principalmente na bauxita desferrificada
e no saprólito (R = + 0,76) e no capeamento (R = + 0,85),
enquanto a correlação com Fe2O3 é, via de regra, franca-
mente negativa a nula (Tabela 14a, b e c). Cr exibe igual-
mente correlação negativa mais ou menos acentuada com
os demais elementos do grupo. Este comportamento pe-
culiar poderia significar que além de ocorrer na forma de
cromita, o cromo sofreu mobilização, possivelmente na
forma de complexos organometálicos, e acompanhou Fe
no processo de segregação, confirmando sua ligação com
este elemento (Middelburg et al. 1988, Roquin et al. 1990,
Temgoua et al. 2002). No entanto, outra parte de Cr não
seguiu Fe, sendo retida nos minerais aluminosos, mais Figura 87 – Diagramas de correlação: (b) U vs. Fe2O3 para a
provavelmente em caulinita, embora este mineral não bauxita desferrificada; (b) Sc vs. Fe 2O 3 para a bauxita
apresente normalmente alta capacidade de fixação de ions desferrificada.
metálicos (Wolfenden 1965). Entretanto, o baixo grau de
cristalinidade da caulinita contida na bauxita deve aumen- Tabela 13 – Matrizes de correlação P2O5, Ba, Sr, La e Ce: (a)
tar o poder de adsorção deste mineral. É possível tam- para o saprólito e a bauxita desferrificada; (b) para a bauxita
bém que a formação tanto de gibbsita como de caulinita a ferruginosa e colunar; (c) para o capeamento.
partir de produtos coloidais, fato sugerido pela textura (a)
criptocristalina da bauxita, tenha favorecido tal retenção.
Chumbo apresenta teores médios de 1 ppm nos pisóli-
tos bauxíticos até 17 ppm nos vestígios de crosta ferrugi-
nosa. No entanto, com raríssimas exceções, todas as con-
centrações se situam abaixo de 5 ppm, sendo fraco o con-
traste entre a bauxita rica em oxi-hidróxidos de Fe e a (b)
bauxita desferrificada (Tabela 11). O padrão de distribui-
ção deste elemento e a correlação moderada com Fe2O3
sugerem fixação limitada de Pb pelos oxi-hidróxidos de
Fe.
Os demais elementos (Cu, Mo, Ni, Zn) ocorrem em (c)
quantidades muito baixas e pouco contrastadas. Os tipos
mais ferruginosos de bauxita exibem leve enriquecimento
em cobre e molibdênio em relação aos teores detectados
na bauxita desferrificada e no saprólito, o que traduz a

759
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

Figura 88 – Diagramas de correlação Ga vs. Al2O3. (a) para o saprólito e a bauxita desferrificada; (b) para a bauxita
ferruginosa e colunar; (c) para o capeamento.

fixação preferencial destes elementos nos oxi-hidróxidos


de Fe (Tabela 11). A distribuição do zinco e mais ainda a
do niquel aponta para maior mobilidade destes elementos
e ligeira acumulação de ambos na base do perfil. No ca-
peamento as concentrações destes quatro elementos são
relativamente elevadas, normalmente superiores aos teo-
res detectados tanto nos pisólitos bauxíticos reliquiares
como na bauxita colunar superior. Considerando o con-
junto da cobertura residual, as correlações destes elementos
entre si e com Fe2O3 são bastante variáveis, desde fra-
cas até boas.

Elementos Terras Raras Figura 89 – Diagrama V vs. Fe2O3 para todos os produtos
alteríticos constituintes da cobertura residual do domínio
As concentrações de ETR no manto residual do do- setentrional.
mínio setentrional são nitidamente superiores às do man-
to do domínio meridional (Tabela 11). A única amostra de
Tabela 14 – Matrizes de correlação entre Al2O3, Fe2O3, V, As,
rocha matriz alterada analisada contém um total de 411
Cr, Pb, Cu, Zn: (a) para o saprólito e a bauxita desferrificada;
ppm, valor a ser considerado com muita cautela. No en- (b) para a bauxita ferruginosa e colunar; (c). para o
tanto, o saprólito e a bauxita desferrificada apresentam capeamento.
teores médios elevados, 256 e 340 ppm, respectivamen-
te. Nas alteritas mais ferruginosas os conteúdos médios
de ETR são algo menores, 189 ppm na bauxita ferrugino-
sa e 197 ppm na bauxita colunar. Os mais baixos teores
foram evidenciados nos produtos reliquiares, 96 ppm nos
vestígios de crosta ferruginosa e 110 ppm nos pisólitos
aluminosos. O capeamento mostra conteúdo médio se-
melhante ao do saprólito, 259 ppm. Os padrões de dis-
tribuição de ETR com normalização a NASC (Gromet et
al. 1984) são semelhantes aos de ETR nos diversos hori-
zontes do manto do domínio meridional e exibem as mes-
mas formas em U levemente assimétrico devidas às ele-
vadas concentrações relativas tanto de ETRL (La, Ce e
Nd) como de ETRP (Er, Yb e Lu). Os diagramas de dis-
tribuição não são apresentados neste relatório. Embora o
teor total de ETR na amostra de rocha matriz alterada
sugira perda geral destes elementos na cobertura super-
gênica, a escassez de informação sobre o material paren-
tal torna altamente discutível qualquer especulação sobre

760
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

enriquecimento ou empobrecimento em ETR no manto (Zr, Hf, Y, Nb, Yb, Lu, La, Ce entre outros) mostram
residual. Observa-se, contudo, que, apesar das diferen- empobrecimento relativo nos horizontes ricos em Fe,
ças estruturais, texturais e composicionais entre as co- interpretado como indicativo da aloctonia deste elemento,
berturas residuais dos domínios norte e sul, a distribui- cujo aporte modificou substancialmente a composição e
ção de ETR obedece às mesmas regras, ou seja, mostra densidade do material hospedeiro. O enriquecimento
um relativo empobrecimento nestes elementos nas por- absoluto em Al ou aluminização (Truckenbrodt et al. 1995)
ções mais ferruginosas do perfil. No entanto, o valor da é também assinalado pela distribuição desses elementos,
razão ΣETR nas bauxitas mais ferruginosas/ΣETR na embora de modo menos acentuado. Outros elementos-
bauxita desferrificada não alcança 2, o que provavelmen- traço (V, As, Cu, Zn, Mo, etc.) apresentando nítido
te reflete apenas a diferenciação do manto bauxítico ori- enriquecimento nos horizontes ferruginosos em relação
ginal em zonas pobres e ricas em Fe. O empobrecimento aos horizontes aluminosos revela afinidade com Fe
relativo em ETR nas zonas mais ferruginosas resultaria variável em intensidade. Enfim, um terceiro grupo é
da redistribuição de Fe à escala local e segregação deste constituído por elementos de comportamento mais
elemento na forma de oxi-hidróxidos, substituição parcial complexo, apresentando aparente afinidade com Al (Cr)
de caulinita e gibbsita por esses minerais e preenchimen- ou ligação não totalmente convincente com Fe ou os
to, também por eles, de eventuais vazios. Parte dos ETR, minerais resistentes (Th, U, Sc). Estudos complementares
tanto leves como pesados, componentes de minerais es- seriam necessários para entender-se melhor estes últimos
táveis, não teriam sofrido redistribuição. Entretanto, as casos.
variações nos valores da razão ΣLa/ΣYb no perfil suge-
rem que, dentro deste contexto geral, houve, à escala lo- XII. DISCUSSÃO
cal, mobilização e fracionamento de ETR. Assim a bau-
xita ferruginosa apresentaria enriquecimento relativo em Os depósitos de bauxita da Província Bauxitífera de
ETRL (ΣLa/ΣYb = 17,4) em comparação à bauxita des- Paragominas estão inseridos no manto residual que cons-
ferrificada e à bauxita colunar (ΣLa/ΣYb = 12,8 e 12,5, titui a parte inferior da seqüência laterítica-sedimentar,
respectivamente). Tal quadro seria devido à migração e desenvolvida durante o Paleógeno em toda a Amazônia
redeposição junto com Fe de ETRL e conseqüente enri- Oriental (Kotschoubey & Truckenbrodt 2003). Posteri-
quecimento relativo em ETRP nas zonas desferrificadas. ormente, esta seqüência sofreu intensa erosão e disseca-
Nos vestígios de crosta ferruginosa e nos pisólitos bauxí- ção, sendo representada hoje apenas por vestígios de ex-
ticos os valores de ΣLa/ΣYb (18,1 e 10,6, respectiva- tensão variável de uma região a outra. Embora modifica-
mente) são coerente com as razões obtidas nos mesmos ções substanciais tenham sido introduzidas na paisagem
produtos no domínio meridional. Enfim, observa-se dife- durante o Neógeno e o Quaternário, esses vestígios são
rença marcante entre as razões ΣLa/ΣYb no saprólito ainda expressivos e mostram uma notável continuidade
(14,9) e no capeamento (6,8). No primeiro caso, talvez geográfica na província em apreço, o que faz desta uma
tenha havido leve enriquecimento absoluto em ETRL, região particularmente interessante para o estudo da evo-
enquanto no segundo, a lixiviação preferencial de ETRL lução geológica da Amazônia Oriental durante o Ceno-
levou ao enriquecimento relativo de ETRP. zóico, dos depósitos de bauxita e da cobertura residual
hospedeira. Estes resquícios da seqüência lateritica-sedi-
Comentários finais mentar sustentam os platôs dominantes na região nordes-
te do Pará – oeste do Maranhão.
Os dados obtidos mostram que praticamente todos os Embora recoberto por capeamento argiloso bastante
elementos, com exceção da sílica, encontram-se, de algum homogêneo em termos composicionais e texturais, o manto
modo, enriquecidos no manto residual em relação à rocha residual ferro-aluminoso exibe, de um setor a outro, notá-
matriz altamente intemperizada, única e nem sempre veis variações faciológicas e de espessura. Tais fatos in-
confiável referência para considerações geoquímicas. O dicam que, embora os fatores responsáveis pela evolu-
comportamento dos elementos maiores confirma ção do quadro supergênico tenham sido os mesmos em
basicamente os processos identificados pelos demais toda a região, os resultados foram muito diferentes em
métodos de investigação, ou seja, eliminação da sílica e natureza e intensidade. O desenvolvimento deste quadro
enriquecimento relativo e/ou absoluto de alumínio e ferro, residual complexo e irregular acompanhou no tempo a
dependendo do horizonte considerado. A distribuição de formação, ao longo do Paleógeno, da superfície generi-
TiO2, de elementos-traço e de ETR, por sua vez, pode ser camente referida como Superfície Sul-Americana (King
indicativa de alguns desses processos. Assim os elementos 1967). No entanto, devido à complexidade estrutural do
associados aos minerais estáveis em condições manto residual, a natureza desta superfície ainda não está
intempéricas como zircão, anatásio e fosfatos de alumínio clara, podendo tratar-se de várias superfícies superpos-

761
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

tas ou embutidas uma na outra. Assim, na Amazônia Ori- avaliação dos efeitos, no tempo e no espaço, dos proces-
ental a Superfície Sul-Americana seria, de fato, o resulta- sos supergênicos que atuaram na região. Embora sae te-
do da superposição, durante o Paleógeno, de superfícies nha desenvolvido sobre formações sedimentares
correspondendo hoje a certos contatos entre horizontes siliciclásticas mostrando lateralmente poucas variações
na cobertura residual. A superfície dos platôs dominantes em termos de composição mineralógica, a cobertura
na Amazônia Oriental, sustentada pelo capeamento argi- laterítica/bauxítica mostra variações faciológicas
loso da couraça laterítica/bauxítica, seria o resultado da marcantes. Os levantamentos de campo permitiram evi-
última etapa de longo e descontínuo processo de aplaina- denciar claramente, nesta cobertura, setores com predo-
mento, envolvendo variações climáticas, discretos reajus- minância marcante ou até presença exclusiva de couraça
tes tectônicos, modificações geomorfológicas e movimen- ferruginosa e setores apresentando, ao contrário, nítida
tos do regolito. A evolução dos depósitos bauxíticos se predominância da bauxita, com eventual redução do hori-
confunde, portanto, com a da vasta cobertura laterítica zonte ferruginoso a fragmentos reliquiares inclusos na
na qual estes estão inseridos. O manto residual, por sua massa gibbsítica. Entre estes termos extremos, todas as
vez, registrou as modificações geológicas ocorridas na fácies intermediárias podem ser observadas. Além das
região amazônica durante importante parte do Cenozói- variações faciológicas, notam-se igualmente fortes vari-
co. Apesar de varias tentativas de integração, à escala ações de espessura, tanto de cada horizonte individual-
regional, dos dados disponíveis sobre os ocorrências de mente quanto da crosta residual como um todo. Ao con-
bauxita, estas foram, até agora, estudadas sobretudo por trário, o capeamento da cobertura laterítica/bauxita, em-
meio da análise de perfis verticais isolados, considerados bora repouse tanto sobre a couraça ferrginosa como so-
representativos de parte ou de todo a cobertura laterítica/ bre a bauxita, mostra, em sua composição, pouquíssimas
bauxítica. A teoria verticalista, adotada por diversos au- variações, limitadas a leves diferenças nos conteúdos de
tores em seus estudos das bauxitas da Amazônia Orien- oxi-hidróxidos de Fe e de caulinita, bem como à presença
tal (Boulangé & Carvalho 1989, Bardossy & Aleva 1989, ou não de gibbsita muito subordinada (exceto no domínio
Boulangé & Carvalho 1997, Boulangé et al. 1997) res- setentrional – zona 5 – onde, ao contrário, se observa
tringiu as investigações a abordagem exclusivamente geo- forte enriquecimento neste mineral). Recentemente, le-
química, limitando-as ao estudo da mobilização, transfe- vantamentos de detalhe permitiram detectar, nesse es-
rência e reprecipitação in situ, ou seja, nos limites desses pesso latossolo, fragmentos argilosos densos e finas li-
perfis, dos elementos envolvidos (Si, Al, Fe, Ti) e das con- nhas de pedras (stone lines) lateríticas, interpretados
como vestígios de depósitos pretéritos ao desenvolvimen-
seqüentes transformações e neoformações minerais.
to do capeamento, ou seja, de pacote sedimentar a partir
Embora as variações climáticas tenham sido admitidas
do qual este último se formou. Este quadro complexo ne-
por todos os autores como fator fundamental na evolução
cessita de análise criteriosa de todos os seus elementos e
do manto intempérico, a abordagem predominantemente
de clara e objetiva definição das relações existentes en-
geoquímica/mineralógica da questão fez com que os fa-
tre estes últimos.
tores geomorfológicos, sedimentológicos e tectônicos fos-
O perfil laterítico/bauxítico sintético, considerado como
sem até agora negligenciados pela maioria dos pesquisa-
típico da região e consistindo, da base ao topo, em cinco
dores. No entanto, o estudo de formações supergênicas
horizontes fundamentais – saprólito, bauxita inferior,
de extensão regional ou até continental, representativas
horizonte ferruginoso, bauxita concrecionada superior e
de parte importante do quadro geológico do Cenozóico,
cascalho ferruginoso mais ou menos bauxitizado, além do
não pode se reduzir à análise de alguns perfis seleciona- capeamento argiloso, é conhecido, nos seus aspectos
dos, convenientes para a demonstração de tal ou outra gerais, desde os anos 70 (Wolf 1972, Wolf & Silva 1973,
teoria evolutiva. Acredita-se que somente abordagem mais Assad 1973, 1978). No entanto, fora do seu contexto
ampla, envolvendo observações à escala regional da co- regional, este perfil não revela muitas informações sobre
bertura laterítica/bauxítica e levando em consideração os a origem e a evolução da cobertura residual da qual faz
mais diversos aspectos do contexto geológico, pode levar parte e pode apenas ser utilizado para caracterização
a entender melhor os fenômenos que controlaram a evo- genérica da bauxita formada sobre as rochas sedimentares
lução das formações lateríticas antigas e, ainda hoje, par- siliciclásticas das bacias cretáceas da Amazônia Oriental.
ticipam na evolução do quadro supergênico. As variações sofridas pelo manto laterítico/bauxítico à
A Província Bauxitífera de Paragominas constitui o escala regional são, por sua vez, muito mais indicativas
mais denso e extenso agrupamento de platôs portadores dos fatores e processos responsáveis pelo seu
de formações residuais ferro-aluminosas na Amazônia desenvolvimento ao longo do tempo geológico. Estas
Oriental, o que lhe confere um interesse particular e per- variações não são fortuitas e provêm de modificações
mite seguir de mais perto as variações de fácies no man- que afetaram o ambiente geológico em seus mais
to residual em vista da reconstituição da paisagem e da diferentes aspectos.

762
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Domínio meridional entanto, na zona 3 (perfil 12), em crosta ferruginosa qua-


se maciça, restos algo apagados de estratificação herda-
Por si só, a complexidade dos perfis lateríticos/bauxí- da da rocha matriz. Mais freqüente é a fácies colunar,
ticos deste domínio sugere fortemente gênese polifásica que expressa estágio mais adiantado de degradação por
para a cobertura residual. As relações de contato entre meio do desenvolvimento de túbulos sub-verticais, mais
os diversos horizontes bem como as relações entre os ou menos interligados e preenchidos por argila de iluvia-
diferentes materiais constituintes em cada horizonte apon- ção. No entanto, à escala regional, predomina a fácies
tam claramente para seqüência de eventos e de situa- nodular, geralmente associada à anterior e particularmente
ções controladas por condições específicas. Da base ao bem desenvolvida nas porções inferior e superior da cou-
topo dos perfis estudados os seguintes fatos merecem raça. Neste caso, o tamanho dos nódulos diminui pro-
destaque: gressivamente em direção ao topo e à base do horizonte
1) O horizonte bauxítico inferior – tanto em sua fácies ferruginoso. A couraça ferruginosa possui, via de regra,
nodular como em sua fácies maciça – exibe, em porção textura porosa, por vezes parcialmente obliterada por con-
basal, textura e estruturas sedimentares originais da rocha- crecionamentos internos. Localmente, no entanto, a tex-
matriz. Essas, no entanto, não se observam mais na tura é francamente esponjosa. Os poucos grãos de quart-
porção superior não estruturada do horizonte saprolítico zo ainda presentes neste horizonte são corroídos e fratu-
sotoposto. A textura fina a grossa confere comumente à rados, porém mostram claramente que a notável porosi-
bauxita feições “areníticas”. As estruturas mais freqüen- dade de horizonte tem sua origem no elevado conteúdo
temente observadas são fina laminação e discreta de quartzo do sedimento pretérito. Os grãos de quartzo,
estratificação cruzada. Em lâmina delgada a bauxita da presentes durante o desenvolvimento da couraça por fer-
base do perfil revela a presença de vestígios corroídos de ruginização da matriz argilosa foram posteriormente dis-
grãos de quartzo envoltos em matriz composta sobretudo solvidos na sua quase totalidade. A dissolução de quartzo
de gibbsita meso a macrocristalina, de substituição dos sendo muito lenta, quaisquer que sejam as condições na-
minerais pretéritos – principalmente grãos de quartzo. turais, a eliminação deste mineral na crosta exigiu certa-
2) Na porção superior do horizonte bauxítico inferior mente longo tempo de exposição – provavelmente mi-
a textura e as estruturas originais somem e a bauxita ad- lhões de anos – aos efeitos das águas percolantes. As-
quire textura e estruturas de caráter pedogenético. Tra- sim, a muito lenta mobilização da sílica foi incapaz de
ta-se de material de granulação fina composto de gibbsi- impedir a formação de gibbsita bem cristalizada nos po-
ta microcristalina, pouco a muito poroso, comumente ca- ros. Tal fato é mostrado pela presença de cristais bem
vernoso. Os poros de dissolução e outras cavidades como formados e maclados de gibbsita em contato direto com
fraturas e fissuras são preenchidos por gibbsita meso a vestígios de quartzo, sem que exista zona de transição
macrocristalina, que pode dar, quando abundante, aspec- caulinítica. Apenas um filme de óxido de ferro pode even-
to sacaroidal mais ou menos acentuado à bauxita. A ma- tualmente ocorrer no contato dos dois minerais. No en-
triz argilosa diminui em abundância de baixo para cima tanto, é pouco provável que esta fina película tenha cons-
3) À bauxita acima descrita se sobrepõe normalmen- tituído barreira eficaz entre eles.
te horizonte ferruginoso, maciço ou nodular de espessura Abundantes córtex e cutãs apontam para remobilização
muito variável. No entanto, com freqüência, ocorre zona e redistribuição de Fe. Em alguns setores, a presença de
de transição na qual a bauxita envolve “fragmentos” de fragmentos angulosos a arredondados de textura fina e
crosta ferruginosa e preenche cavidades de degradação exibindo uma fina laminação, envoltos na matriz
e túbulos no material ferruginoso. O contato entre os pro- ferruginosa porosa sugere que antes da ferruginização os
dutos ferruginosos e a bauxita “invasora” é muito brusco, sedimentos já tinham sofrido alguma degradação e
observando-se, por vezes figuras de fluxo no material alu- bioturbação, que levaram à fragmentação e ao
minoso. retrabalhamente muito localizado de leitos argilosos. No
4) O horizonte ferruginoso pode ser o horizonte prin- contato dos fragmentos densos com a matriz porosa
cipal ou até exclusivo do perfil, como também pode ser podem ocorrer sinais de concrecionamento e córtex,
reduzido ao mínimo, sob a forma de lentes de espessura marcando a interface de dois meios de permeabilidades
centimétrica ou de fragmentos reliquiares milimétricos a distintas.A ferruginização teria, portanto, sido precedida
centimétricos inclusos numa única espessa camada de por fase de alteração que apagou em sua maior parte as
bauxíta, que corresponde à coalescência dos horizontes estruturas sedimentares pretéritas.
bauxíticos inferior e superior. A estruturação da couraça 5) Filonetes e bolsões de bauxita de granulação fina
ferruginosa varia de acordo com o seu grau de degrada- decorrente do preenchimento de túbulos, fraturas e demais
ção. A fácies maciça, representativa de grau de degra- cavidades na matriz ferruginosa são freqüentes em
dação nulo a incipiente, é rara. Foram observados, no particular na porção superior do horizonte. Isto ocorre,

763
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

no entanto, somente quando o horizonte bauxítico superior que tal retrabalhamento pode ter sido responsável pelo
é bem desenvolvido. Em caso de degradação mais contato muito brusco entre o nível pisolítico e a crosta
acentuada da crosta ferruginosa, a bauxita pode ferruginosa sotoposta, observado em certos locais.
preencher, parcial ou totalmente, grande parte das 8) Quando bem expresso, o horizonte bauxítico
cavidades. superior repousa em contato brusco sobre a crosta
6) O horizonte dito “bauxítico superior” deve sua de- ferruginosa. Raramente este horizonte é maciço, embora
nominação à sua natureza bauxítica em diversos setores tal fato possa ser observado em perfis bauxíticos
explorados pelas empresas de mineração. No entanto, à evoluídos, próximo de Paragominas (perfil 26).
escala regional, trata-se de horizonte de espessura e de Normalmente é constituído por concreções centimétricas,
composição muito variáveis, mostrando em certos locais mais raramente decimétricas, de bauxita de granulação
grau de bauxitização apenas incipiente ou nulo. Nestes fina com poros preenchidos por gibbsita meso a
locais aparecem claramente os produtos pretéritos, argi- macrocristalina, que engloba certa quantidade de
losos e ferruginosos, enquanto que nas áreas que sofre- fragmentos ferruginosos ou pisólitos, reduzidos na base
ram bauxitização mais acentuada, estes produtos já não do horizonte a pequenas inclusões ferruginosas. O
aparecem com tanta clareza, tendo sido em grande parte tamanho dos nódulos diminui progressivamente para cima,
“consumidos” durante o processo. Os produtos pretéritos enquanto o das inclusões ferruginosas aumenta. Nos locais
à bauxita superior são variados. Pode tratar-se de pacote onde a bauxitização ocorreu porém não se individualizaram
de argila caulinítica de até 2,5 m de espessura, contendo concreções bauxíticas bem desenvolvidas, o horizonte, na
ou não pisólitos e/ou pequenos nódulos ferruginosos ou sua totalidade, consiste em bauxita porcelanada contendo
cascalho ferruginoso formando arcabouço denso e com- pisólitos ferruginosos, como descrito a seguir.
portando matriz argilosa fortemente subordinada. O pri- 9) O horizonte superior tem espessura de 15-20 cm
meiro caso se observa sobretudo na zona 2 (perfil 2), en- até cerca de 2 m e é essencialmente composto de grânu-
quanto o segundo é mais freqüente na zona 4. Este hori- los ou pisólitos lateríticos, densamente empacotados, com
zonte não existe na zona 1, nem na zona 3. pouca matriz argilosa constituída por caulinita, hidróxido
7) Nos perfis com porção superior fracamente bauxi- de Fe e gibbsita fortemente subordinada. De tamanho
tizada o contato entre o cascalho e a crosta ferruginosa milimétrico a centimétrico (comprimento máximo de 3-4
sotoposta pode ser brusco ou gradual. Embora ocorram cm) e forma subesférica a fusiforme, os grânulos apre-
pisólitos porosos, semelhantes texturalmente ao horizon- sentam quase exclusivamente textura fina, porosidade
te sotoposto, ou cauliníticos e friáveis, a maioria dos pisó- incipiente a nula e coloração avermelhada, arroxeada ou
litos exibe textura fina, marcante dureza, coloração aver- marrom escura. Compõem-se principalmente de hemati-
melhada a arroxeada e composição distinta da crosta fer- ta e caulinita, sendo o conteúdo de goethita baixo. Nos
ruginosa porosa. Pelas suas feições peculiares, o casca- perfis que comportam algum sinal de bauxitização, os pi-
lho de textura fina não parece ter ligação genética direta sólitos contêm geralmente quantidade variável porém su-
com a crosta ferruginosa subjacente e sim ser produto bordinada de gibbsita. Embora os grânulos sejam pobre-
alóctone resultante da degradação de alterita de textura mente selecionados, seu tamanho médio diminui geral-
pelítica de origem e localização indeterminadas ou produ- mente em direção ao topo do perfil. Localmente, este
to residual autóctone ou para-autóctone, derivado de por- horizonte chega a exibir estratificação incipiente (perfil
ções mais finas e mais resistentes da crosta ferruginosa. 17). Pode igualmente tratar-se de camada muito bem in-
Embora estas hipóteses sejam bastante atraentes, acre- dividualizada, repousando em contato brusco sobre outra
dita-se que o cascalho superior se formou, de fato, in camada constituída por fragmentos bem maiores e irre-
situ, por degradação da crosta, por meio de processo po- gulares de crosta ferruginosa predominantemente goethí-
lifásico envolvendo dissolução e reprecipitação pratica- tica (Platô Miltônia). Nos setores meridionais (perfis 2, 8,
mente in situ de oxi-hidróxidos de Fe e levando progres- 9 sobretudo), o cascalho ferruginoso constitui camada de
sivamente a modificações texturais e à diminuição da po- 15 a 30 cm e acompanha a superfície da crosta ferrugi-
rosidade, que, por sua vez, favorece a precipitação de nosa sotoposta, mesmo quando esta é irregular e exibe
hematita (Tardy 1993). Contudo, a formação dos pisólitos sinais de erosão. Quando, sobre esta camada repousa um
a partir de produtos lateríticos finos e mais resistentes à horizonte argiloso contendo concreções bauxíticas (per-
degradação não pode ser totalmente descartada, embora fis 2, 6, 7), uma segunda camada de cascalho laterítico de
seja de difícil comprovação. O fato da formação dos pi- 20 a 40 cm se sobrepõe ao horizonte argiloso. Com exce-
sólitos ter sido um processo fundamentalmente químico, ção dos perfis exclusivamente ferruginosos de porção me-
não impede que tenham também ocorrido, localmente, ridional da província bauxitífera, o cascalho laterítico
retrabalhamento mecânico e redistribuição do cascalho mostra fraca a forte cimentação e substituição por bauxi-
ferruginoso dentro de determinados limites. Acredita-se ta de granulação muito fina, comumente designada bau-

764
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

xita porcelanada. Em caso de substituição acentuada, os dade. A passagem destes fragmentos argilosos para o
grânulos ferruginosos são literalmente “digeridos” pela latossolo é gradativa embora rápida. Contudo, nenhuma
bauxita porcelanada e somem, deixando apenas peque- diferença composicional foi observada entre os dois pro-
nas manchas avermelhadas como indícios da sua exis- dutos. Em alguns perfis na base do capeamento, esta
tência pretérita. O horizonte exibe, então, feições de tipo mesma argila densa constitui pequenas colunas verticais
“pipoca”. Em certos perfis (perfis 4, 5, 6, 20) no topo do separadas por túbulos preenchidos pelo latossolo friável
horizonte de cascalho e fazendo contato com o capea- e altamente poroso. Enfim, em raros casos, foram encon-
mento argiloso destaca-se pela sua coloração esbranqui- trados pequenas linhas de pedras (stone lines) lateríti-
çada, uma “franja” bem individualizada de até 25 cm de cas. Embora estruturas sedimentares inequívocas não
espessura de bauxita “pipoca” formada à custa do cas- tenham sido, por ora, encontradas no capeamento argilo-
calho ferruginoso, por cimentação e, em seguida, por as- so, opta-se, preferencialmente, pela orígem para-autóc-
similação ou “digestão” dos pisólitos. tone deste, ou seja, pela deposição de fluxos de lama e
10) O capeamento argiloso, cuja espessura pode ul- por sua transformação posterior em latossolo. Conside-
trapassar 15 m, exibe, em sua maior parte, feições de rando a espessura, a composição e a homogeneidade do
espesso latossolo vermelho-tijolo, passando para tonali- capeamento, uma origem por degradação da cobertura
dade ocre-amarelada na sua porção superior e colorção bauxítica/laterítica sob efeito da ressilicificação por ação
acinzentada nos últimos 20-30 cm. Com exceção dos lo- biogênica (Lucas 1989) parece improvável. Tampouco é
cais onde obviamente foi erodido, o capeamento argiloso plausível a idéia da formação do capeamento por diferen-
repousa sobre a cobertura laterítica/bauxítica, tanto nos ciação de manto bauxítico inicial por meio da migração
setores tipicamente bauxíticos como nas zonas onde pre- per descensum de Fe e Al (Boulangé & Carvalho 1989,
domina ou ocorre exclusivamente a couraça ferruginosa. Boulangé & Carvalho 1997, Bardossy & Aleva 1989).
O contato com o manto residual subjacente é sempre brus-
co e apresenta ondulações de amplitude métrica a deca- Relações de contato entre os diferentes horizontes
métrica, muitas vezes altamente irregulares, bem visíveis
nos extensos cortes de estrada. Estas feições são muito No manto residual em estudo as relações de contato
parecidas com as do contato entre a crosta ferruginosa entre os diferentes horizontes apresentam interesse par-
do Mioceno Superior ou a camada de pedras (stone layer) ticular para a reconstituição da seqüência de eventos que
decorrente da degradação desta (Kotschoubey et al. 2005) levou à formação dos depósitos de bauxita. De baixo para
e os sedimentos Pós-Barreiras (ou depósitos cronocorre- cima observa-se no perfil que:
latos) sobrepostos, e sugerem tratar-se de vestígios de 1) A passagem da rocha-matriz alterada para o sa-
superfície. De consistência terrosa e altamente bioturba- prólito não estruturado é, via de regra, gradativa. Além
do, o latossolo mostra porosidade elevada devida à pre- de algumas modificações composicionais como intensa
sença de inúmeros túbulos e microgalerias. Compõe-se dissolução de quartzo e diminuição do grau de cristalini-
basicamente de caulinita e de hidróxido de Fe (6 a 10% dade de caulinita, esta passagem se traduz pelo desapa-
de Fe2O3). Gibbsita é freqüente porém muito subordina- recimento progressivo das estruturas e homogeneização
da. Anatásio tem presença notável e o teor de TiO2 varia do material alterado. Estas modificações estruturais su-
normalmente entre 2 e 3% em peso do total do material gerem a intervenção de processos pedogenéticos. Ade-
argiloso. Em sua base, numa espessura de até 3 a 4 m, mais, em alguns setores se encontram concreções bauxí-
pequenos fragmentos arredondados de couraça ferrugi- ticas riziformes ramificadas em quantidade no saprólito,
nosa, principalmente de fácies fina, e de bauxita porcela- interpretadas como testemunhos de atividade da biota
nada ou, ocasionalmente, cristalina encontram-se disper- (ação das raizes?). Por outro lado, em lugar algum foi
sos na matriz argilosa. A abundância destes fragmentos observada qualquer inconformidade ou discordância que
varia sensivelmente de um local a outro, não havendo na possa sugerir episódio erosivo e deposição de sedimentos
sua distribuição padrão perceptível. Acima de 3 - 4 me- alóctones. Pode-se considerar, portanto, que o saprólito é
tros do contato com a crosta ferro-aluminosa, os frag- autóctone, mesmo se houve, localmente, algum desloca-
mentos tornam-se raros, menores, podendo praticamente mento do rególito.
desaparecer por completo. Independentemente desses 2) No topo do saprólito, envoltos em matriz argilosa
fragmentos, encontram-se ocasionalmente, sobretudo nas não estruturada, ocorrem leitos compostos de bauxita fi-
porções mais basais do capeamento, fragmentos centi- namente estratificada ou laminada, exibindo textura “are-
métricos a decimétricos de argila densa, exibindo fratura nítica” fina a grossa. Tais feições indicam claramente que,
conchoidal e coloração ocre-amarelada. Estes fragmen- na base do perfil, a bauxita se formou por substituição de
tos distinguem-se do latossolo circunvizinho pela ausên- sedimentos ainda estruturados. Este processo consistiu
cia de sinais de bioturbação e por sua baixíssima porosi- em precipitação de gibbsita meso a macrocristalina a partir

765
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

de soluções ricas em Al, concomitantemente com a dis- passagem do horizonte ferruginoso para a bauxita inferi-
solução dos minerais do sedimento alterado, de quartzo or. Embora o material bauxítico fino possa “invadir” por
em particular, assemelhando-se a processo metassomáti- vezes a couraça ferruginosa, o contato entre os dois hori-
co “a frio”. A ausência de estruturas sedimentares no zontes é brusco e marcado por forte diminuição do tama-
saprólito superior sugere, por sua vez, que a “saprolitiza- nho dos nódulos no topo da couraça. Cascalho rico em
ção” ocorreu após a formação da bauxita sobreposta, Fe, de textura fina, densamente empacotado e com pou-
apontando para o papel fundamental dos fluxos laterais ca matriz argilosa repousa com freqüência diretamente
na distribuição do alumínio. sobre a crosta ferruginosa. Em muitos casos, no entanto,
No entanto, as estruturas e textura sedimentares de- o cascalho ferruginoso encontra-se cimentado ou parcial
saparecem rapidamente para cima e a bauxita adquire a totalmente substituído por bauxita (perfil 8). O contato
feições pedogenéticas, textura mais fina e maior porosi- não se observa mais somente quando a couraça ferrugi-
dade. Localmente, na base do perfil, restos de crosta fer- nosa se encontra quase totalmente substituída por bauxi-
ruginosa substituída parcialmente por gibbsita sacaroidal ta e reduzida apenas a inclusões esparsas.
e exibindo ainda a estrutura laminada herdada mostra-se O contato em questão se observa claramente nos ex-
altamente desferrificados, conferindo a este intervalo do tensos afloramentos da rodovia Belém-Brasília (perfis 5,
perfil aspecto variegado. Este quadro sublinha a predo- 6, 7, 17, 20) e exibe, via de regra, feições onduladas. As
minância das condições redutoras em ambiente saturado ondulações de amplitude métrica a decamétrica apresen-
na interface saprólito pouco permeável/impermeável. Em tam variável regularidade.
tal ambiente propício à mobilização de Fe ocorre bran- Cabe ressaltar como fato de suma importância no con-
queamento e individualização de zona de transição. Nos texto regional, as feições erosivas inequívocas que, co-
setores bauxíticos, a alta concentração de sílica nas águas mumente, marcam o contato entre a crosta ferruginosa e
no contato entre a bauxita inferior e saprólito resultou em a bauxita superior, ou em ausência desta, o capeamento
desestabilização de gibbsita e ressilicificação ou caulini- (perfis da zona 3). Trata-se de incisões irregulares de
zação da bauxita. Assim, a bauxita inicialmente maciça amplitude vertical métrica afetando a couraça ferrugino-
sofreu progressiva degradação e fragmentação química, sa, cuja espessura pode sofrer variações drásticas em
transformando-se em bauxita nodular mais caulinítica. Os espaço limitado. Excelente exemplo de tais feições en-
nódulos bauxíticos observados hoje na base do perfil são, contra-se na rodovia BR 010, 3 km a norte de Ligação do
portanto, feições de degradação do horizonte originalmente Pará (perfil 8) (Figura 90). Os fortes indícios de erosão e
mais maciço e não concreções primárias. retrabalhamento físico apoiam o modelo evolutivo polifá-
A passagem da bauxita inferior à couraça ferruginosa sico envolvendo, além dos processos pedogenéticos, mo-
é brusca ou progressiva, de acordo com a intensidade da dificações na paisagem, retrabalhamentos mecânicos e
bauxitização. Zona de transição ocorre com freqüência, transporte de massa.
entre os dois horizontes, na qual nódulos ferruginosos 3) A parte superior do manto laterítico/bauxítico é
encontram-se envoltos em bauxita de textura fina com constituída, via de regra, por cascalho derivado da crosta
poros preenchidos por gibbsita mais grossa. A bauxita ferruginosa já citado acima. Como no horizonte subja-
“invade” a base da couraça ferruginosa, preenchendo ca- cente, o cascalho compõe-se de grânulos arredondados,
vidades e, em estágio mais avançado, substituindo a pró- fusiformes a subesféricos e apresenta empacotamento
pria crosta. A substituição foi certamente facilitada pela denso em presença de pouca matriz argilosa. No entanto,
remoção progressiva de ferro no ambiente mais redutor seu grau de bauxitização é geralmente menor que no ho-
gerado pela estagnação das águas em meio altamente rizonte de concreções bauxíticas. Observa-se, contudo,
poroso. As fontes de alumínio foram argila residual, libe- franja de bauxita porcelanada altamente desferrificada
rada pela degradação e desferrificação da crosta e argila (“pipoca”) bem como, logo abaixo, níveis sub-horizontais
de iluviação, proveniente de horizontes mais superficiais. difusos exibindo grau variável de cimentação e substitui-
Acredita-se que a iluviação teve papel particularmente ção do cascalho pela mesma bauxita. A presença de tal
relevante e contínuo no processo e foi o principal meca- franja mostra que, em diversos setores, instalou-se no topo
nismo fornecedor de alumínio ao meio. As relações entre do perfil um ambiente redutor e relativamente ácido, fa-
a crosta ferruginosa e o horizonte bauxítico inferior mos- vorável, por um lado, à desferrificação dos pisólitos, e
tram claramente que a formação da primeira precedeu a por outro, ao enriquecimento relativo em alumina do meio
do segundo. As feições impressas na bauxita indicam que por dessilicificação da matriz argilosa e dos resíduos argi-
esta foi gerada por enriquecimento tanto relativo como losos da degradação dos pisólitos. Tais características
absoluto em alumina. ambientais corresponderiam mais provavelmente a ambi-
A passagem da couraça ferruginosa para o horizonte ente pantanoso, propício à acumulação de matéria orgâ-
bauxítico superior tem características distintas das da nica, preservação de condições redutoras e produção de

766
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

ácidos orgânicos. Em tais condições, parte substancial de de um domínio ao outro marcada por faixa mal definida
Fe3+ teria sofrido redução e complexos organometálicos de alguns quilômetros de extensão norte-sul. O perfil 32,
ter-se-iam formado, permitindo a mobilização de Fe e a situado na rodovia PA 256 é um bom exemplo desta zona
desferrificação na zona mais superficial do manto residu- de transição.
al tanto do cascalho ferruginoso como da matriz argilosa. O manto residual do domínio setentrional consiste em
A acidez do meio, mantida pela geração de ácido carbô- crosta ferro-aluminosa, com conteúdo variável porém
nico e de ácidos orgânicos diversos, teria intensificado os geralmente apreciável de caulinita, não estruturada em
efeitos da hidrólise e acelerado a dissolução de caulinita. horizontes claramente definidos que, de acordo com o lo-
O elevado conteúdo de gibbsita na bauxita porcelanada cal, engloba ou não restos mais ou menos bem preserva-
mostra, no entanto, que o ambiente não era confinado e dos de cobertura residual pretérita. Os vestígios lateríti-
permitia remoção eficiente da sílica. Considerando que o cos/bauxíticos mais freqüentes são blocos de crosta fer-
ambiente pantanoso implica em paisagem plana ou fei- ruginosa de textura porosa, por vezes conglomerática
ções topográficas negativas bem como em bloqueio da (perfil Ipixuna IV) e camadas centimétricas a decimétri-
infiltração das águas superficiais e da percolação para cas de cascalho composto de pisólitos bauxíticos, de tex-
zonas mais profundas, é possível que a remoção da sílica tura fina e aspecto porcelanado, densamente empacota-
tenha ocorrido por diálise, por meio de escoamento su- dos. Mais raramente, encontram-se, na parte superior do
perficial de soluções enriquecidas em sílica. Enfim, a tex- perfil, nódulos bauxíticos reliquiares maiores ou, na parte
tura cripto a microcristalina de gibbsita mostra que sua mais basal, restos de bauxita de textura “arenítica” exi-
formação ocorreu sobretudo por dessilicificação de ma- bindo ainda sinais de laminação ou fina estratificação
terial argiloso. Ademais, as feições deste horizonte suge- herdada da rocha matriz. Os diferentes materiais reliqui-
rem que houve também migração lateral de soluções. A ares sofreram cimentação/substituição de intensidade
formação da bauxita porcelanada no topo do perfil laterí- variável pela bauxita hospedeira. Em particular, os pisóli-
tico/bauxítico durante ou após o desenvolvimente da co- tos gibbsíticos porcelanados do topo do perfil mostram,
bertura argilosa (Lucas 1989, Bardossy & Aleva 1989, com freqüência, alto grau de assimilação, sobrando ape-
Carvalho & Boulangé 1989, Horbe & Costa 1999) é pou- nas pequenos núcleos zonados com bordas corroídas dis-
co provável. Este horizonte superior, muito enriquecido persos na matriz bauxítica fina. As porções de crosta fer-
em alumina e em contato muito brusco com o capeamen- ruginosa, devido ao seu elevado conteúdo de Fe, exibem
to, não tem características de frente de silicificação que, geralmente grau menor de substituição pela bauxita, em-
ao contrário, deveria ser marcada por aumento gradativo bora a presença de abundantes filonetes e bolsões de
do conteúdo de sílica e caulinitização do meio. Também, bauxita fortemente desferrificada nesses vestígios ferru-
não pode ser evocada a permeabilidade da zona de con- ginosos sugira intensa cimentação. A própria bauxita hos-
tato manto residual-capeamento como fator propício ao pedeira desses produtos reliquiares, embora não apresente
desenvolvimento do quadro observado. Admitindo que a estrutura acamada, exibe acentuada diferenciação que
permeabilidade nesta interface é realmente elevada, a li- se traduz por feições esqueletais subverticais, caracterís-
xiviação vertical e lateral da sílica poderia efetivamente ticas do manto residual do domínio norte em toda a sua
ser considerada. No entanto, neste caso, não se explica- extensão. Esta diferenciação consiste basicamente em
ria a desferrificação dos produtos alteríticos em zona mais marcante individualização de porções altamente desferri-
drenada e, consequentemente, favorável à precipitação ficadas, brancas a lilás claro, porosas e friáveis, e de por-
de oxi-hidróxidos de Fe e à eventual formação de cara- ções tabulares, densas, litificadas, de coloração marrom
paça ferruginosa. Ao contrário, admitindo certa satura- avermelhada a vermelha arroxeada. Estas últimas, devi-
ção nesta interface, poderia ser explicada a desferrifica- do à sua maior resistência química e física ao intemperis-
ção, porém não a dessilicificação. Enfim, o modelo de mo e erosão, sustentam a estrutura colunar compartimen-
formação tardia da bauxita porcelanada não explica a tada, fortemente dissecada em afloramento. A segrega-
presença de fragmentos arredondados a angulosos deste ção de Fe e sua concentração na forma de “paredes”
mesmo material, junto com fragmentos de crosta ferrugi- tabulares, ricas em hematita e revestimentos e cutãs go-
nosa e de bauxita sacaroidal, no capeamento. ethíticos, seriam resultado de sua mobilização no manto
original sob efeito de ambiente altamente redutor e ácido,
Domínio setentrional instalado regionalmente após a bauxitização. Como no
caso da bauxita porcelanada do domínio meridional, acre-
A parte norte da Província Bauxitífera de Paragomi- dita-se que, após a formação da crosta ferro-aluminosa,
nas caracteriza-se pela presença de manto residual de um meio pantanoso de grande extensão, porém ainda mais
feições, na sua essência, distintas das da cobertura laterí- persistente, tomou conta da região. A geração de com-
tica/bauxítica das zonas meridionais, sendo a passagem plexos organometálicos e o aumento da acidez desestabi-

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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

Figura 90. Perfil lateral 8 (3 km a norte de Ligação do Pará). Notar as feições pseudocársticas e as variações de espessura na
crosta ferruginosa e no horizonte de concreções bauxíticas sobreposto, sugerindo erosão da primeira e seu recobrimento por
depósitos argilosos proto-bauxíticos.

lizaram o manto residual em toda a sua espessura. A con- XIII. EVOLUÇÃO DA COBERTURA
seqüente mobilização de Fe resultou em sua migração LATERÍTICA/SEDIMENTAR
centrífuga em espaços limitados e sua segregação nas
bordas de volumes grosseiramente colunares, praticamen- Os dados apresentados neste trabalho permitiram iden-
te esvaziados do seu conteúdo original de Fe. Com a lixi- tificar os principais processos envolvidos na formação da
viação do ferro, o material caulinita-gibbsítico desferrifi- cobertura ferro-aluminosa da Província Bauxitífera de
cado das porções internas dessas colunas tornou-se po- Paragominas e ordená-los numa seqüência lógica. Mo-
roso e friável, sendo facilmente removido em afloramen- delo evolutivo, integrando estes dados e elaborado com
to pelas águas de escoamento superficial. As zonas de visão tanto geomorfológica/sedimentológica como
concentração de ferro, ao contrário tornaram-se mais geoquímica, é apresentado a seguir (Figura 91-1 e 3). Um
densas, mais litificadas e resistentes aos ataques dos agen- modelo alternativo para o primeiro ciclo da evolução é
tes intempéricos, ressaltando-se em afloramento na for- igualmente proposto na Figura 91-2. O primeiro, mais sim-
ma do arcabouço esqueletal-ruiniforme ferruginoso já ples, tem a preferência dos autores. Não se pretende abor-
descrito. Nos setores onde a lixiviação de Fe alcançou dar aqui a questão da idade das diferentes fases da evo-
seu grau máximo, formou-se uma zona de espessura lução do manto laterítico/bauxítico em apreço. Apenas
métrica, quase totalmente desferrificada, esbranquiçada algumas sugestões são apresentadas, apoiadas nas
com discretas manchas rosadas como testemunhos das datações efetuadas por Vasconcelos et al. (1994) nas
antigas zonas de acumulação de oxi-hidróxidos de Fe (per- lateritas manganesíferas da região de Carajás, bem como
fil Ipixuna VII).

768
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

nos trabalhos de King (1967) e Frakes (1994) sobre a bordinadamente, na forma de ions simples ou complexos,
evolução climática e geomorfológica global. Fe migrou para áreas baixas e aplainadas que se expan-
1) Alteração dos sedimentos cretáceos. Numa diam à custa dos platôs submetidos à constante erosão
primeira etapa, sob efeito de clima quente e úmido, os por recuo das suas encostas. A reprecipitação de Fe na
sedimentos Itapecuru e Ipixuna sofreram forte intempe- forma de oxi-hidróxidos amorfos ou mal cristalizados foi
rismo, com dissipação parcial das estruturas sedimenta- provavelmente causada pelo encontro das soluções per-
res e desenvolvimento, em grande parte da região, de colantes com o lençol d´água raso e suficientemente oxi-
espesso rególito. Em muitos setores, próximo à superfí- dante para desestabilizar os complexos organometálicos.
cie, os arenitos arcoseanos foram totalmente desagrega- Esta fase de evolução ocorreu provavelmente como a
dos e seus produtos de alteração homogeneizadas por pro- anterior, no final do Cretáceo ou no Paleoceno.
cessos pedogenéticos, em particular, da bioturbação. Os 3) Degradação da crosta ferruginosa e modifica-
leitos argilíticos intercalados nos arenitos, por serem mais ções geomorfológicas. A degradação da couraça fer-
coesos, sofreram fragmentação. Envolvidos no processo ruginosa foi provavelmente provocada por mudanças cli-
de homogeneização decorrente da ação da microfauna e máticas para regime algo mais úmido e iniciou-se com a
das raizes, fragmentos dos produtos pelíticos foram en- individualização de estruturas colunares, seguida por frag-
globados no material areno-argiloso não consolidado mentação mais acentuada e a formação de nódulos fer-
resultante da desagregação dos arenitos. Neste estágio ruginosos e, finalmente, pelo desenvolvimento de camada
preliminar ocorreram marcantes mudanças composicio- de pisólitos no topo, seguindo o esquema clássico da de-
nais, tanto mineralógicas como químicas. A decomposi- gradação química das crostas lateríticas (Nahon 1991,
ção ou forte degradação dos minerais de menor resistên- Tardy 1993, Calaf 2000, Kotschoubey et al. 2005). A
cia ao intemperismo (feldspatos, micas, minerais pesados degradação da couraça ferruginosa foi, pelo menos em
mais vulneráveis (p. ex. ilmenita, apatita) resultou em for- alguns setores, controlada pela natureza e estruturação
mação de associação mineral secundária consistindo ba- dos sedimentos parentais. Um excelente exemplo de tal
sicamente em quartzo residual, caulinita, oxi-hidróxidos controle encontra-se na piçarreira de Paragominas (per-
de Fe muito subordinados, vestígios de mica, anatásio, fil 31). Neste local, numa extensão de várias centenas de
fosfatos de Al, além dos minerais pesados de maior resis- metros, pode ser vista a crosta ferruginosa formada so-
tência ao intemperismo. Esta primeira fase ocorreu, pro- bre sedimentos da Formação Ipixuna apresentando ape-
vavelmente no início do Paleógeno (no Paleoceno) ou nas fracos sinais de bauxitização, porém estratificação
no final do Cretáceo. bem expressa. A estratificação é sublinhada pela alter-
2) Formação da couraça ferruginosa. Com o ad- nância de horizontes nodulares e de leitos delgados mais
vento de clima quente e úmido contrastado, houve ferru- maciços, exibindo uma laminação sedimentar reliquiar. A
ginização dos sedimentos alterados por sua impregnação análise mais detalhada mostra que, nos horizontes nodu-
destes por oxi-hidróxidos de Fe e substituição de caulinita lares, a crosta possui textura mais fina, enquanto os leitos
por hematita (Ambrosi et al. 1986, Nahon D. 1991, Tardy estruturados são derivados de camadas areníticas de tex-
Y. 1993), formando-se então espessa couraça ferrugino- tura grossa. Em contraste com o exemplo citado, a crosta
sa. Considerando-se o baixo conteúdo de Fe no material ferruginosa na zona 1 apresenta uma notável homogenei-
parental (arenitos arcoseanos alterados) e a limitada re- dade. A predominância de arenitos maciços na Forma-
dução da espessura dos sedimentos nesta primeira fase ção Itapecuru, deve ser a causa da ausência de qualquer
de evolução (a textura arenítica parece ter sido bem pre- diferenciação. Embora o assunto precise ser aprofunda-
servada na couraça ferruginosa), a acumulação de Fe in do, uma relação poderia existir entre o grau de bauxitiza-
situ, deve ter desempenhado papel muito secundário na ção e o padrão de degradação do horizonte ferruginoso,
geração da crosta de espessura métrica e teor de Fe2O3 por sua vez controlado pela natureza dos sedimentos pa-
de até 75% em peso. A migração lateral de soluções ri- rentais.
cas em Fe foi provavelmente o principal mecanismo no A degradação afetou a couraça ferruginosa em toda
desenvolvimento desta crosta. Supõe-se, conseqüente- a sua extensão, porém com intensidade muito variável, o
mente, que os sedimentos cretáceos não foram a única que resultou em diversificação da paisagem. A erosão
fonte do ferro. Acredita-se que este foi em grande parte teve atuação notável, expressa por feições pseudo-cárs-
herdado de formação pretérita enriquecida neste elemento, ticas e prováveis canais esculpidos na couraça ferrugino-
mais provavelmente uma couraça ferruginosa mais anti- sa, entre outros indícios. O retrabalhamento dos produ-
ga capeando platôs dominantes na época e sustentando tos de alteração foi outro processo relevante neste perío-
vestígios de superfície anterior à Superfície Sul-Ameri- do. Tanto os produtos de desmantelamento e degradação
cana. Mobilizado sobretudo na forma de complexos or- da couraça ferruginosa como os materiais regolíticos mais
ganometálicos relativamente estáveis e talvez, porém su- finos sofreram redistribuição, principalmente à escala lo-

769
Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

Figura 91(1) Evolução do quadro supergênico. Primeira


alternativa. A. Formação da couraça ferruginosa por meio Figura 91(2). Evolução do quadro supergênico. Segunda
de enriquecimento absoluto em Fe de sedimentos previamente alternativa. a e b. Fases preliminares iguais às da Figura
alterados e homogeneizados. B. Início da degradação da 91(1). C. Exposição da couraça ferruginosa, leves reajustes
crosta ferruginosa. C. Degradação química da crosta tectônicos e primeira fase de bauxitização. Formação do
ferruginosa e eventual redistribuição física dos seus produtos horizonte bauxítico inferior. D. Recobrimento do manto
de alteração. Acumulação sobre estes de depósitos argilo- residual por depósitos argilosos derivados do rególito e
arenosos (rególito retrabalhado). D. Bauxitização do manto produtos de degradação do próprio manto. E. Segunda fase
ferruginoso. E. Instalação de ambiente pantanoso/podzólico de bauxitização às custas dos depósitos argilosos e lateríticos
sobre o manto laterítico/bauxítico e formação de bauxita tardíos. F. Instalação de ambiente pantanoso/podzólico? e
porcelanada no topo do perfil. formação de bauxita porcelanada no topo do perfil.

cal, sob a forma de fluxos de detritos, fluxos de lama e velmente devida à irregularidade das feições paleogeo-
outras formas de fluxos gravitacionais. A redistribuição gráficas. Em termos gerais, as zonas 1 e 3 correspondi-
foi aparentemente irregular, favorecendo sobretudo as am possivelmente a altos geomorfológicos, sustentados
zonas 2 e 4. Enquanto nas zonas 1 e 3 a deposição de pela couraça ferruginosa exposta, impróprios para trans-
produtos regolíticos sobre a crosta ferruginosa foi nula a porte e deposição de rególito, enquanto as zonas 2 e 4, ao
fraca, nas zonas 2 e 4 depósitos areno-argilosos ou argi- contrário, ligeiramente deprimidas, ofereciam boas con-
lo-arenosos, contendo ou não fragmentos de crosta fer- dições para acumulação de material detrítico. De qual-
ruginosas e pisólitos, ter-se-iam acumulado em função do quer modo, os contrastes topográficos não deviam ser
quadro geomorfológico local. Assim, na zona 2, tais acu- muito acentuados à escala da província. A degradação
mulações seriam na origem do horizonte bauxítico superi- da cobertura ferro-aluminosa, precursora do longo perío-
or, ainda bastante argiloso nos setores mais meridionais do de bauxitização, estendeu-se, possivelmente, do Pale-
(perfil 2). Na zona 4 estes produtos teriam contido maior oceno até o início do Eoceno.
quantidade de fragmentos ferruginosos e pisólitos retra- 4) Bauxitização. Com a mudança para clima mais
balhados, mesmo assim havendo abundante matriz argi- chuvoso, a hidrólise e a lixiviação dos elementos mobili-
losa constituindo reserva de alumínio para a futura bauxi- zados tornaram-se mais intensas e eficientes. Caulinita
tização. A irregularidade com a qual se distribuem os pro- sofreu desestabilização e dissolução incongruente em
dutos argilo-arenosos sobre a crosta ferruginosa é prova- todos os horizontes afetados pelas soluções percolantes,

770
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

desde os sedimentos alterados da base do perfil até os


depósitos argilo-arenosos com fragmentos da couraça
ferruginosa e pisólitos do topo. Na própria crosta os pro-
dutos argilosos que preenchiam túbulos, fissuras e outras
cavidades, sofreram dessilicificação. Ademais, o aumen-
to da pluviosidade levou ao aparecimento, durante os pe-
ríodos mais chuvosos, de zonas saturadas, sítios propícios
à remoção de Fe e à abertura de novos espaços para
iluviação e posterior bauxitização. A remoção da sílica da
massa caulinítica resultou em enriquecimento relativo em
alumínio, expresso pela formação de matriz gibbsítica
microcristalina, e, mais próximo do topo, criptocristalina,
típica da bauxita derivada de colóides aluminosos. Tardi-
amente, a gibbsita meso a macrocristalina precipitou nos
poros de dissolução, gretas de contração, fissuras e ou-
Figura 91(3). Evolução do quadro supergênico. Últimas fases,
tras cavidades da matriz, a partir de soluções verdadei- sendo B. e C., reconhecidas somente no domínio setentrional.
ras, ricas em alumínio remobilizado da matriz fina, carac- A. Recobrimento do manto laterítico/bauxítico por depósitos
terizando enriquecimento absoluto em Al à escala local. argilo-arenosos derivados do rególito e transportados sob a
Na base do perfil, na rocha matriz alterada ainda parcial- forma de fluxos gravitacionais (capeamento I) . B. Erosão da
mente estruturada e provavelmente já parcialmente gibb- seqüência laterítica-sedimentar com preservação de vestígios
sitizada, aportes laterais de alumínio sobretudo na forma do manto residual ferro-aluminoso. Deposição de produtos
de complexos organometálicos (Huang & Keller 1972), argilosos sobre os resquícios lateríticos/bauxíticos. C.
Bauxitização. Instalação de ambiente redutor, desferrificação
levaram à progressiva substituição dos grãos de quartzo
e degradação da cobertura residual. Deposição de um último
por gibbsita meso a macrocristalina, gerando, por meio
pacote argilo-arenoso (capeamento II) sobre a crosta
de processo metassomático “a frio”, um quadro de enri- bauxítica degradada.
quecimento absoluto de Al (Truckenbrodt & Kotschou-
bey 1995). A bauxitização foi certamente um processo
longo e polifásico, atuando durante os períodos de mais movimentos do rególito foram provavelmente provoca-
alta pluviosidade porém somente nos setores que ofere- dos ou pelo menos facilitados por forte redução da co-
ciam condições máximas de drenagem. O controle da dre- bertura vegetal e reajustes tectônicos (falhamentos, mo-
nagem pela geomorfologia e talvez pela tectônica fez com vimentos de blocos?) de amplitude limitada porém capa-
que, mesmo na zona 4, hospedeira dos mais importantes zes de desestabilizar o frágil equilíbrio da cobertura de
depósitos de bauxita, tenham sobrado extensas áreas es- alteração exposta. O rególito se deslocou na forma de
téreis (perfil 31 e, em geral, a área da piçarreira de Para- fluxos gravitacionais sucessivos. Nos intervalos entre as
gominas) ou pobres em minério (perfis 19 e 20, entre ou- fases de transporte de massa houve aparentemente con-
tros). As várias fases de bauxitização se distribuíram, pro- dições suficientemente calmas para a sedimentação de
vavelmente, ao longo do Eoceno até o início do Oligoce- material argiloso em poças ou lagoas. Os fragmentos de
no. argila densa encontrados no capeamento seriam teste-
5) Fase final da bauxitização. A fase final da bau- munhos destes depósitos. O processo resultou em forma-
xitização foi marcada pela instalação, em grande parte ção de espesso pacote argilo-arenoso sobreposto ao manto
da região, de ambiente controlado pela acumulação de residual ferro-aluminoso, cuja evolução até o presente,
matéria orgânica, podzólico ou pantanoso. Nas novas con- sob efeito dos agentes intempéricos, consistiu em lenta
dições redutoras e ácidas houve, próximo à superfície, porém quase total dissolução de quartzo, decomposição
desferrificação dos pisólitos e dessilicificação da caulini- parcial da caulinita e formação de gibbsita, bem como em
ta, resultando em formação de bauxita porcelanada de intensa homogeneização, por bioturbação, em toda a sua
tipo “pipoca”, assimilação por esta dos pisólitos e forte espessura. As características de latossolo observadas hoje
branqueamento do topo do perfil. no capeamento seriam o resultado dessas modificações.
6) Movimentos do rególito e deposição do (pro- O retrabalhamento e redistribuição dos produtos regolíti-
to) capeamento. Durante a transição do clima tropical cos tiveram lugar, provavelmente, no Oligoceno Inferior,
muito chuvoso para clima mais seco, grandes quantida- quando se iniciou um período de acentuado resfriamento
des de rególito foram deslocadas e redistribuidas na su- à escala mundial.
perfície sustentada pelo manto laterítico/bauxítico. Os

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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

7) Fase erosiva maior. Com o resfriamento cli- ao conceito de bauxita. Produtos aluminosos formaram-
mático no Oligoceno, ocorreu sensível regressão. O re- se, no entanto, em maior quantidade, em setores mais ori-
baixamento do nível do mar provocou abatimento do nível entais do domínio setentrional (zona 5) (platôs Jabuti). A
de base, o que desencadeou intenso processo erosivo na bauxitização II deve ter ocorrido após a fase erosiva prin-
região em apreço. Este processo rompeu o equilíbrio ge- cipal, porém antes do início do ciclo neógeno, no final do
omorfológico mantido sem modificações significativas du- Oligoceno ou no início do Mioceno. Formações residuais
rante quase todo o Paleógeno e provocou profundas inci- ferruginosas, aparentemente desta mesma idade e cor-
sões na cobertura residual laterítica/bauxítica, seu cape- respondendo à Superfície Velhas Antiga ou Velhas I, fo-
amento argiloso e as formações cretáceas sotopostas já ram recentemente identificadas na própria província bau-
bastante intemperizadas. Formaram-se amplos vales, in- xitífera Kotschoubey 2005)
dividualizando-se vastas chapadas sustentadas pela se- 10) Desferrificação e degradação do manto resi-
qüência laterítica-sedimentar. O rebaixamento do nível dual II. Após a bauxitização, instalou-se sobre a crosta
freático provocou um notável aprofundamento do perfil residual II, um ambiente altamente redutor, provavelmen-
de alteração e espessamento do horizonte saprolítico. Esta te pantanoso, cuja influência se faz sentir numa espessu-
fase erosiva se estendeu provavelmente até o Oligoceno ra de vários metros e, comumente, em todo o perfil. Os
Superior. principais efeitos deste ambiente superficial foram forte
Com a fase 7 encerra-se a evolução do manto residu- mobilização de Fe e sua segregação segundo padrão es-
al no domínio meridional. Seguem-se as descrições das queletal-malhado, a intensa desferrificação de toda a
fases subseqüentes que foram identificadas somente no cobertura residual, que poupou apenas os vestígios de
domínio setentrional. couraça ferruginosa pretérita e, em alguns setores, total
8) Movimentos do rególito II. Enquanto nas por- desferrificação dos 2 a 3 m mais superficiais. Esta etapa
ções mediana e meridional da futura Província Bauxitífe- da evolução teve provavelmente lugar logo após a bauxi-
ra de Paragominas os processos erosivos estavam enfra- tização no Mioceno Inferior.
quecendo e se iniciava o assoreamento dos vales (Kots- 11) Deposição do capeamento II. Após a desferri-
choubey et al. 2005), mais a norte, a Plataforma Bragan- ficação do manto residual e a segregação de ferro, hou-
tina se individualizava com a erosão do manto ferro-alu- ve, mais uma vez, deslocamento maciço de rególito, pro-
minoso que originalmente se estendia a toda a bacia do vavelmente em condições climáticas relativamente secas,
rio Amazonas. Entre os platôs da região de Paragominas, porém com períodos de elevada pluviosidade. Após sua
extensos e bem preservados com cobertura residual e deposição, o pacote argilo-arenoso de vários metros de
capeamento espessos, e a costa do mar Pirabas, em trans- espessura sofreu os efeitos dos agentes intempéricos.
gressão de norte para sul, individualizou-se uma zona de Parte da caulinita foi dessilicificada, o que levou à forma-
transição de cerca de 100 km de extensão norte-sul, mais ção de gibbsita localmente abundante. Em casos extre-
severamente afetada pela erosão e comportando apenas mos, a proporção de gibbsita chegou a ultrapassar a de
vestígios do manto residual laterítico/bauxítico, mais fre-
caulinita. Esta derradeira fase ocorreu possivelmente no
qüentemente do horizonte ferruginoso e da bauxita por-
Mioceno Inferior-Médio.
celanada na forma de acumulações pisolíticas superfici-
ais, talvez depósitos de glacis. Os produtos alteríticos au-
tóctones ou deslocados foram recobertos por depósitos XIV. CONCLUSÕES
de origem regolítica, sobretudo argilosos, conforme a com-
posição mais pelítica da Formação Ipixuna subjacente. Os depósitos de bauxita da Província Bauxitífera de
Os movimentos do rególito ocorreram provavelmente no Paragominas se inscrevem no quadro mais amplo da se-
Oligoceno Superior ou na transição do Oligoceno para o qüência laterítica-sedimentar formada durante o Paleó-
Mioceno. geno no NE do Pará-W do Maranhão, e representam a
9) Bauxitização II. O conjunto constituído pelos res- forma mais complexa e mais evoluída do manto residual
quícios do manto laterítico/bauxítico do Paleógeno e os que constitui a parte basal da seqüência. Os levantamen-
depósitos argilo-arenosos tardios foi submetido à ferrali- tos de campo e os dados analíticos mostraram que o manto
tização, ou seja, à lixiviação in situ dos elementos mais residual teve evolução polifásica controlada por variações
solúveis, no caso basicamente sílica. Enquanto os vestígi- climáticas no tempo, como também por fatores geomor-
os acima citados sofreram poucas modificações e pre- fológicos, morfogenéticos e provavelmente geotectônicos.
servaram até suas características texturais e químicas, a As variações climáticas no espaço parecem ter tido influ-
matriz argilo-arenosa foi alterada para laterita aluminosa ência menos relevante. Após a formação de couraça fer-
bastante rica em caulinita e oxi-hidróxidos de Fe, não di- ruginosa regional sob clima tropical contrastado, sua
ferenciada em horizontes nem sempre correspondendo degradação parcial em condições mais úmidas e a redis-

772
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

tribuição, em alguns setores, do material regolítico, ocor- de exploração desenvolvidos nas últimas décadas. No
reu, sob efeito de alta pluviosidade, longo período de bau- entanto, não deve ser descartada a possibildade de áreas
xitização, cujos resultados dependeram, por um lado, de interesse existirem nas demais zonas, onde investiga-
da disponibilidade de alumínio no meio, e por outro, da ções mais detalhadas são recomendadas.
qualidade da drenagem. Apesar da relativa estabilidade
geotectônica durante a maior parte do Paleógeno, a hete- Agradecimentos
rogeneidade do meio supergênico fez com que a bauxiti-
zação tivesse efeitos variados, definindo-se não só um Ao DNPM e à FINEP pelo apoio financeiro que per-
zoneamento regional, como também variações acentua- mitiu a realização do projeto nas melhores condições; ao
das à escala local. A evolução do manto laterítico/bauxí- CNPq pelo incentivo na forma de uma bolsa de Produti-
tico iniciou-se no início do Paleógeno (talvez no final do vidade em Pesquisa para o primeiro autor e uma bolsa de
Cretáceo) e a bauxitização ocorreu mais provavelmente DTI para o quarto; à ADIMB nas pessoas do Prof. O. J.
no Eoceno até, possivelmente, o Oligoceno Inferior, quan- Marini e do Sr. B. W. Ramos pela oportunidade de de-
do espesso pacote argilo-arenoso derivado do rególito foi senvolver a presente pesquisa, pela atenção e pela infini-
depositado sobre o manto residual. Na porção setentrio- ta paciência, sobretudo na fase final de elaboração deste
nal da província, a evolução prosseguiu até o Mioceno relatório; à Companhia do Vale do Rio Doce (CVRD)
Inferior-Médio, por meio de movimentos de massa e de pela sessão de testemunhos de sondagem para estudos
fases de intemperismo sob clima quente e úmido que, no de laboratório e pelo apoio no campo no início do projeto.
entanto, não chegaram a gerar bauxita da qualidade do Enfim, por terem, de alguma forma e em algum momen-
minério formado durante o período principal de bauxitiza- to, contribuido na realização do presente estudo, agrade-
ção. Apesar de toda a complexidade da Província Bauxi- cemos aos professores Werner Truckenbrodt e Thomas
tífera de Paragominas, as zonas 2 e 4 definidas neste tra- Scheller, aos geólogos Érica Cristina Acácio Viana, Ki-
balho aparecem como as mais promissoras em termos de rkpatrik Moreira Monteiro, Marcos Soares de Oliveira e
potencial bauxitífero, fato já evidenciado pelos trabalhos Wagner Linhares da Silva.

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776
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

ANEXOS

Anexo 1 – Conteúdos de minerais pesados em 15 amostras de saprólito e 19 amostras de capeamento argiloso


(marcadas por asteriscos) do domínio meridional da Província Bauxitífera de Paragominas. Em cada amostra
foram identificados 100 grãos.

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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

Anexo 2 – Perfis 1 das zonas 1 e 4; 5 e 6 da zona 2. Simbologia nas Figuras 47 e 50.

Anexo 3 – Perfis 7, 21, 22 e 23 da zona 2. Simbologia na Figura 50.

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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Anexo 4 – Perfis 9, 10 e 13 da zona 3. Simbologia na Figura 52.

Anexo 5 – Perfis 15, 16, 17, 18 e 19 da zona 4. Simbologia na Figura 55.

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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

Anexo 6 – Perfis 20, 24, 25 e 27 da zona 4. Simbologia na Figura 55.

Anexo 7 – Perfis 28, 29, 30 e 32 da zona 4. O perfil 32 representa a transição da zona 4 para a zona 5.
Simbologia nas figuras 55 e 56.

780
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Anexo 8 – Perfis GN-199, GN-190, GN-201 e GN-200 do Platô Gurupi Norte. Simbologia na Figura 55.

Anexo 9 – Perfis GN-206 e GN-207 do Platô Gurupi Norte. Simbologia na Figura 55.

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Caracterização e Gênese dos Depósitos de Bauxita da Província Bauxitífera de Paragominas, Noroeste da Bacia do Grajaú, Nordeste do Pará/Oeste do Maranhão

Anexo 10 – Perfis Ipixuna I, Ipixuna II, Ipixuna III e Ipixuna IV da zona 5 (domínio setentrional). Simbologia
na Figura 59.

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