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Estado de Santa Catarina

Secretaria de Estado da Fazenda


Junta Comercial do Estado de Santa Catarina
Procuradoria Geral

Parecer n.º 78/07.

Processo: 07/005669-2

Cláusula contratual prevendo a


dispensa da realização de reunião periódica dos
sócios, para deliberarem sobre as matérias do
art. 1078 do CC. Irregularidade. Impossibilidade
de que os sócios dispensem a observância das
regras que regulam a instalação dos conclaves e
impõem a obrigatoriedade de realização de
assembléias ou reuniões ordinárias.
“A legislação brasileira, dando extrema
importância – econômica e social – às sociedades
empresárias, impõe aos sócios que controlem
periodicamente a administração da sociedade, de
modo a propiciar maior segurança na condução
dos negócios. Esta ‘segurança’, supõe o
legislador, é de interesse não apenas dos sócios,
mas de todos aqueles que, de algum modo, estão
vinculados à existência desta sociedade. Por isso,
mais do que um direito, é um dever dos sócios
controlar periodicamente a administração da
sociedade; e a instância ante a qual devem fazê-
lo é a assembléia ordinária” (Parecer 139/06).

A assessoria técnica da JUCESC faz consulta sobre


aspectos legais envolvendo a 10a alteração contratual e consolidação do
contrato social da empresa PATRIMONIAL SERVIÇOS EMPRESARIAIS
LTDA. A questão levantada diz respeito à dispensa, prevista na cláusula
primeira da alteração contratual, da realização da reunião anual a que refere o
art. 1078 do CC, assim como à possibilidade de que as matérias mencionadas

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neste dispositivo – entre as quais a aprovação das contas e das demonstrações


financeiras – seja objeto de ato contratual assinado por todos os sócios.

A questão colocada confronta as disposições do art. 1078


com as do art. 1072, § 3o, ambos do Código Civil. A primeira impõe a
obrigatoriedade de assembléia ou reunião anual dos sócios, para que
deliberem ao menos sobre as contas e as demonstrações financeiras da
sociedade; já a segunda disposição, do § 3o do art. 1072, dispensa a
realização de assembléia ou reunião quando a matéria deliberada constar de
documento firmado por todos os sócios.
Portanto, a dúvida é basicamente a seguinte: podem os
sócios, desde que o façam de forma unânime, deliberar sobre as matérias do
art. 1078 na própria alteração contratual, dispensando assim a realização de
reunião ordinária?
A resposta, já entrevista no parecer 139/06 desta
procuradoria, é negativa. A realização de assembléia ou reunião ordinária
para deliberar as matérias previstas no art. 1078 do CC é indispensável, de tal
modo que os sócios não podem deixar de realizá-la, ainda que se pronunciem
de forma unânime sobre tais matérias num documento formal.
Consta do parecer 139/06:
“(...) a realização de assembléia ou reunião
ordinária é também um direito indisponível1 dos sócios, que
têm em tal conclave a oportunidade de conhecer e julgar os
detalhes da administração da sociedade. A legislação
brasileira, dando extrema importância – econômica e social –
às sociedades empresárias, impõe aos sócios que controlem
periodicamente a administração da sociedade, de modo a
propiciar maior segurança na condução dos negócios. Esta
‘segurança’, supõe o legislador, é de interesse não apenas dos
1
A expressão ‘direito indisponível’, no contexto considerado, foi infeliz. Não se trata disso: a realização da
assembléia ordinária é tanto um direito quanto um dever dos sócios (Modesto Carvalhosa chama de “direito-
dever”, conforme passagem a seguir citada); e, enquanto direito, é disponível, já os interesses do sócio em
relação à sociedade são sempre patrimoniais e, portanto, disponíveis. Logo, a razão da obrigatoriedade da
realização da assembléia não está em que se trata de um direito indisponível dos sócios, mas sim no fato de
que, além de um direito (disponível), é um dever que nasce do próprio contrato plurissubjetivo de que a
sociedade se origina.

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sócios, mas de todos aqueles que, de algum modo, estão


vinculados à existência desta sociedade, como os empregados,
os fornecedores, os consumidores, etc. Por isso, mais do que um
direito, é um dever dos sócios controlar periodicamente a
administração da sociedade; e a instância ante a qual devem
fazê-lo é a assembléia ordinária.
Neste contexto, compreende-se
perfeitamente a lição de Modesto Carvalhosa:
‘A assembléia ou reunião dos sócios
constitui a manifestação necessária dos sócios perante os
administradores. Sua realização anual é obrigatória, mesmo
que não haja administradores a serem eleitos ou lucros a serem
distribuídos. Não há exceção ao princípio da obrigatoriedade
desse conclave anual. Não podem os sócios renunciar ao
direito-dever de se manifestar sobre as contas referentes ao
exercício findo e de eleger os administradores não contratuais.
Em conseqüência, o regime legal de competência da assembléia
ou da reunião de sócios é de ordem pública, não sendo limitável
pelo contrato social’ (Comentários ao CC, vol. 13, Saraiva, p.
258).
Note-se que, como está claro na lição citada,
tais conclusões se aplicam tanto às assembléias como às
reuniões de sócios. Embora o art. 1072, § 6o, dê a entender que
os sócios estão dispensados de observar, ao realizarem as
reuniões, as formalidades previstas para as assembléias, é
induvidoso que algumas dessas formalidades são, como disse
Carvalhosa, de ‘ordem pública’. Ou seja: as formalidades aqui
analisadas vinculam, obrigatoriamente, a realização de
qualquer tipo de conclave, já que estabelecem restrições e
imposições que o legislador julgou indispensáveis à
administração justa e correta dos negócios sociais.
Portanto, o contrato social não pode dispensar a
realização periódica de assembléias ou reuniões para deliberar as matérias o
do art. 1078 do CC. Corolário disso, não podem os sócios deliberar sobre
aquelas matérias, ainda que unanimemente, sem que o façam num conclave,

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convocado especialmente para este fim e cercado das formalidades –


principalmente relacionadas à convocação – dispostas na lei.
Novamente, cita-se a lição de Carvalhosa, em
comentário justamente ao §3o do art. 1072 do CC:
“Não pode ser aplicado o preceito contido
o
no § 3 deste artigo quando se tratar da matéria estabelecida
no art. 1078, ou seja, a aprovação das contas e das
demonstrações financeiras do exercício findo. Neste caso a
reunião ou a assembléia de sócios será necessária, não podendo
ser substituída pelo documento previsto no §3o deste artigo.
Isto porque, como reiterado, tal conclave (art. 1078)
transcende os interesses dos sócios, sendo relevante o que sobre
tais deliberações têm os terceiros credores e o próprio Poder
Público” (ob. cit., p. 194).
Portanto, é irregular tanto a cláusula que dispensa a
realização de reunião periódica dos sócios para deliberarem as matérias do
art. 1078 do CC, quanto a aprovação das contas e das demonstrações
financeiras no corpo do instrumento contratual, sem que tenha sido realizada
em regular reunião dos sócios para tal finalidade.

Ante o exposto, opina-se no sentido de que deve ser


mantida a exigência.

Florianópolis, 31 de maio de 2007.

Victor Emendörfer Neto


Procurador da JUCESC

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