A consignação em pagamento é a medida judicial cabível, prevista em lei, para
casos em que o devedor encontra-se impedido de satisfazer a obrigação e que poderá pleitear em juízo a sua extinção. É prevista no Código Civil no Capítulo II, artigos 334 a 345, sendo regulada pelo Código de Processo Civil, nos artigos 890 a 900. Sobre recolhimento da importância consignada judicialmente, vide Lei n. 1.869, de 27 de maio de 1953.
Assim, realizando a pesquisa por meio do Código Civil Comentado da autora Maria Helena Diniz, 2005, 11a. edição, fls. 341 a 348:
Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial
ou estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e formas legais. Código de Processo Civil, arts. 890, §§ 1° a 4°, a 900. Código Civil, arts. 304 e 634 a 636. Pagamento em consignação. O pagamento em consignação é o meio indireto de o devedor exonerar-se do liame obrigacional, consistente no depósito judicial (consignação judicial), ou em estabelecimento bancário (consignação extrajudicial), da coisa devida, nos casos e formas legais (…) Art. 335. A consignação tem lugar: Vide arts. 635 e 641 do Código Civil I – se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber, ou dar quitação na devida forma. Vide arts. 304, 319, 506, 635, 641 e 320 do Código Civil. II – se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condições devidos;
III – se o credor for incapaz de receber, se for desconhecido, declarado ausente, ou
residir em lugar incerto ou de acesso perigoso;
IV – se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do
pagamento;
V – se pender litígio sobre o objeto de pagamento.
Casos legais de consignação. Poder-se-á propor ação de consignação se: a)
houver mora accipiendi, seja a dívida portável ou quesível, oriunda de impossibilidade e recusa infundada de receber ou de dar quitação e do fato de o credor não ir nem mandar receber a prestação no local, tempo e condições devidos; b) o credor for incapaz de receber, por estar, p. ex., acometido de uma doença mental e não ter havido nomeação de curador, for desconhecido (p. ex., em virtude de sucessão causa mortis do credor originário), se estiver declarado ausente (CC, art. 22), ou residir em local incerto (p. ex., se se mudou para outra cidade sem deixar endereço), ou de acesso perigoso (p. ex., por estar dizimado por uma peste) ou difícil (p. ex., se houver barreiras intransponíveis pelos meios de transporte), pois nessas hipóteses o devedor, sendo a dívida portable, apenas poderá liberar-se da obrigação e receber a quitação por meio da consignação em pagamento; c) ocorrer dívida sobre quem seja o legítimo credor; e d) pender litígio sobre o objeto de pagamento entre credor e terceiro(…). Art. 336. Para que a consignação tenha força de pagamento, será mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido o pagamento. Código Civil, arts. 304 a 333. Súmula 449 do STF. Requisitos da consignação como forma de pagamento indireto. Será imprescindível para que a consignação tenha força de pagamento que se apresentem as condições subjetivas, arroladas nos arts. 304 a 312 do Código Civil, e as objetivas, constantes dos arts. 233, 244, 313, 314, 315, 318, 319 e 320 deste mesmo Código. A consignação deverá ser: livre, não estando sujeita a condição que continha restrição injusta ao direito do credor; completa, abrangendo a prestação devida, juros, frutos e despesas; e real, ou seja, efetiva, mediante exibição da coisa móvel ou imóvel (mediante entrega das chaves), que é o objeto da prestação. Modo. Será preciso a observância de todas as cláusulas estipuladas no ato negocial para que o depósito judicial seja considerado pagamento indireto. Tempo. O devedor poderá consignar assim que a dívida estiver vencida, ou seja, quando expirar o termo convencionado contratualmente em favor do credor e, em qualquer tempo, se tal prazo se convencionou a seu favor, ou quando se verificar a condição a que o débito estava subordinado. Art. 337. O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, tanto que se efetue, para o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se for julgado improcedente. Código Civil, art. 327 a 330 Código de Processo Civil, arts. 890 a 891. Local do depósito judicial. A oferta do depósito deverá proceder-se no local convencionado para o pagamento. Efeito da consignação. Feito o depósito, liberado estará o devedor, cessando, com o desaparecimento do débito, os juros e os riscos, exceto se for a ação de consignação julgada improcedente, porque, nessa hipótese, pagamento não houve. Se julgado improcedente o depósito, a cessação dos juros do débitos dos riscos será pendente, visto que aquele depósito não terá, como diz Judith Martins-Costa, força de pagamento e, por essa razão, os juros e riscos da dívida reestabelecer-se- ão com eficácia ex tunc, declarando a decisão que o depósito não fora bem feito. Art. 338. Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as consequências de direito. Código de Processo Civil, art. 890, §§ 1°, 3° e 4°. Levantamento do depósito. Se a consignação for extrajudicial, o credor será notificado do depósito bancário para, dentro de dez dias, impugná-la, sob pena de o devedor ficar exonerado. Se a aceitar tácita ou expressamente, a quantia não poderá mais levantada pelo devedor. O devedor só poderá levantar o depósito se houver recusa expressa do credor. Se o depósito for judicial, o depositante, no curso da ação consignatória, poderá requerer o levantamento da coisa depositada, antes da aceitação ou impugnação do depósito, desde que pague as despesas processuais decorrentes daquela ação. Com o levantamento do quantum depositado, extrajudicial ou judicialmente, a dívida subsistirá com todos os seus efeitos, ou seja, juros, multa, cobrança judicial, etc. Com a retirada da coisa do depósito pelo próprio devedor-depositante, a consignação será tida como não efetivada (eficácia ex tunc), ressurgindo a obrigação. O direito de levantamento do depósito poderá ser exercido não só pelo devedor, mas também, como observam Gustavo Tepedino, Heloísa Helena Barboza e Maria Celina Bodin de Moraes, por terceiro nas hipóteses em que estiver legitimado a consignar, somente até que o credor aceite ou impugne o depósito. Art. 339. Julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá levantá-lo, embora o credor consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores. Proibição de levantamento do depósito e sua execução. Se o depósito judicial for julgado procedente, o devedor não mais poderá levantá-lo, mesmo que haja consentimento do seu credor, exceto se houver acordo com outros devedores, sendo obrigação solidária ou indivisível, e fiadores para resguardarem seus direitos. O credor só poderá consentir no levantamento do depósito pelo devedor-autor, vencedor da demanda, se houver anuência dos co-obrigados e fiadores, acatando o restabelecimento do débito. Hipótese em que se terá o retorno ao statu quo ante, atendendo-se ao princípio da autonomia da vontade. Mas, se mesmo havendo oposição dos co-devedores e fiadores ocorrer o levantamento do depósito, ter-se-á uma nova dívida entre o credor e o devedor, “sem o caráter de novação, porque não há o que extinguir”, como pondera Judith Martins-Costa, desonerando-se aqueles co-devedores e fiadores da nova obrigação. Art. 340. O credor que, depois de constestar a lide ou aceitar o depósito, aquiescer no levantamento, perderá a preferência e a garantia que lhe competiam com respeito à coisa consignada, ficando para logo desobrigados os co-devedores e fiadores que não tenham anuído. Renúncia do credor ao depósito. O depositante levantará o depósito, no curso da consignatória, depois da aceitação do depósito ou da contestação da lide pelo credor, desde que com a anuência deste, que, então, perderá a preferência e garantia que tiver relativamente ao bem consignado, ficando logo desobrigados os co-devedores e fiadores que não concordaram com o levantamento, tendo-se em vista que a renúncia do credor não poderá lesá-los. As partes (credor, que anuiu o levantamento, e devedor, que o fez) substituem o débito primitivo por um novo, fato este que deverá ser homologado judicialmente, produzindo a consequente extinção do processo com julgamento do mérito (CPC, art. 269, III). Art. 341. Se a coisa devida for imóvel ou corpo que deva ser entregue no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar o credor para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada. Vide arts. 328 e 335, II, do Código Civil. Vde art. 891, parágrafo único, do Código de Processo Civil Citação do credor para receber imóvel ou coisa certa no local da sua situação. Se a coisa devida for imóvel ou coisa certa que deva ser entregue no mesmo local onde está situada (como, p. ex., uma casa, um gado, um barco ancorado no porto), o devedor poderá citar o credor para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada, isentando-se de qualquer responsabilidade. Se o credor, ou seu representante, não comparecer, o devedor deverá providenciar a consignação da prestação devida no foro em que se encontra, para exonerar-se da obrigação. Art. 342. Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor, será ele citado para esse fim, sob cominação de perder o direito e de ser depositada a coisa que o devedor escolher; feita a escolha pelo devedor, proceder-se-á como no artigo antecedente. Vide arts. 244, 245, 252, 255 e 256 do Código Civil. Vide art. 894 do Código de Processo Civil. Pagamento de coisa indeterminada. Se o objeto de pagamento consistir na entrega de coisa indeterminada (p. ex., 150 sacas de arroz), competindo a escolha ao credor, deverá este ser citado para fazê-la, sob pena de perder o direito de escolha e de ver depositada coisa escolhida pelo devedor. Se o credor não atender a citação, o devedor fará, ante a mora creditoris, a escolha, e uma vez feita tal escolha, a obrigação passará a ser de dar coisa certa (CC, art. 244), que deverá ser entregue no mesmo local onde estiver, citando-se, novamente, o credor para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada. Art. 343. As despesas com o depósito, quando julgada procedente, correrão a conta do credor, e, no caso contrário, à conta do devedor. Código Civil, arts. 627 a 652. Vide art. 897 e parágrafo único do Código de Processo Civil. Despesas com o depósito judicial. As despesas com o depósito judicial (guarda, conservação, honorários advocatícios, etc.), quando julgado procedente, correrão por conta do credor, e se improcedente, por conta do devedor. Art. 344. O devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á mediante consignação, mas, se pagar a qualquer dos pretendidos credores, tendo conhecimento do litígio, assumirá o risco do pagamento. Vide art. 672, § 2°, do Código de Processo Civil, sobre consignação de crédito penhorado. Consignação e obrigação litigiosa. Havendo litígio sobre o objeto do pagamento entre credor e terceiro, se o devedor ciente da litigiosidade efetuar o pagamento ao credor, em lugar de efetivar a consignação, a validade desse seu ato dependerá do êxito da demanda, ficando sem efeito se o terceiro for o vencedor, hipótese em que o devedor ficará obrigado a pagar o verdadeiro credor que venceu a demanda, tendo, todavia, o direito de pedir a devolução do que pagou, antes da decisão da ação, ao litigante vencido. Se devedor, ignorando tal litígio, vier a pagar ao credor, será exonerado da obrigação; logo, se terceiro for vencedor da demanda, caber-lhe- á pleitear do credor aquilo a que faz jus, não podendo responsabilizar o devedor que cumpriu a prestação, desconhecendo a controvérsia existente. Art. 345. Se a dívida se vencer, pendente de litígio entre credores que se pretendem mutuamente excluir, poderá qualquer deles requerer a consignação. Possibilidade de o credor ajuizar a consignatória. A ação de consignação é privativa do devedor para liberar-se do débito, mas se a dívida se vencer não tendo havido o depósito pelo devedor, pendendo litígio entre credores que se pretendem mutuamente excluir, qualquer deles estará autorizado a requerer a consignação, garantindo, assim, o direito de receber a satisfação do crédito, exonerando-se o devedor, pouco importando qual dos credores seja reconhecido como detentor legítimo do direito creditório, que irá levantar a prestação depositada.