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Capiruto I A“consciéncia” existe?* “Pensamentos” e “coisas” so nomes de duas espécies de objetos que o senso comum sempre julgara serem opostos ¢ sempre na pratica opora um ao outro. A filosofia, refletindo acerca dessa oposigdo, divergiu, no passado, em suas explicagdes dessa oposicao e pode-se esperar que divitja no futuro, Em primeiro lugar, “espirito ¢ matéria”, “alma e corpo” representavam um par de substancias cailipotentes quase iguais em importancia e interesse. Mas um dia Kant indeter. minou a alma e incluiu o ego transcendental e, desde entdo, a relacio bipolar este. ve muito além de seu equilibrio. Em nossos dias, 0 ego transcendental parece, entre os racionalistas, representar tudo; entre os empiristas, quase nada, Entec seritores como Schuppe, Rehmke, Natorp, Miinsterberg — de qualquer forma, em seus primeiros escritos, Schubert Soldern e outros —, 0 principio espiritual € levado a uma condigio inteiramente fantasmagorica, sendo somente um nome para o fato de que o “contetido” da experiéncia é conhecido, Perde forma pessoal © atividade — passando estas para 0 contedido — e se torna um vazio Bewuss- theit ou Bewusstsein iberhaupt, do qual, de seu proprio direito, absolutamente nada pode ser dito, Acredito que a “consciéncia”, uma vez que se tenha evaporado nesse estado de pura diafanidade, esta a ponto de desaparecer completamente, Ela é 0 nome de uma nio-entidade, e nio tem direito a um lugar entre os primeiros principios. Aqueles que ainda aderem a ela esto aderindo a um mero eco, o fraco rumor dei. xado pela “alma” desaparecida no ar da filosofia, Durante o ano passado, Ii ind eros artigos cujos autores pareciam estar a ponto de abandonar a nogio de “consciéncia”,? substituindo-a pela nogo de uma experiéncia absoluta no devi. da_a dois fatores. Mas eles no foram suficientemente radicais, ndo foram suficientemente ousados em suas negagdes. Nos iltimos vinte anos suspeitei da “conseiéncia” enquanto uma entidade. Nos iltimos sete ou oito anos, suger! sua niio existéncia aos meus alunos e tentei dar-thes seu equivalente pragmatico em realidades da experiéncia, Parece-me que a hora é oportuna para descarti ia aber. tae universalmente. 4 Tilo d orginal: Does “Consciousness” Exist? in Essays In Race! Empiicom: New York: Long. ‘mans, Green and Co,,1983.(N.doT) * Artigos de Baldwin, Ward, Bawden, King, Alexander e outeos, (N.do A.) WILLIAM JAMES Negar abruptamente que a “consciéncia” existe parece tio absurdo, & pri- meira vista — pois inegavelmente existem “pensamentos” —, que temo que al- ‘guns leitores se recusem a me seguir. Seja-me permitido, entdo, explicar imediata- mente que 0 que quero dizer & negar que a palavra representa uma entidade, ¢ insistir mais enfaticamente que ela representa uma fungao. Quero dizer que no existe estofo (stuf) primitivo ou qualidade de ser, oposto aquele de que objetos materiais so constituidos, a partir do qual nossos pensamentos dos objetos mate- riais sio constituidos, mas existe uma fungio na experiéncia que os pensamentos desempenham e para cuja realizacdo essa qualidade do ser é invocada. Esta fun- io & conhecer. Supde-se a “consciéncia” necesséria para explicar nao s6 0 fato de que as coisas sfio, mas também o fato de que so referidas, sio conhecidas. Quem quer que retire a nogdo de “consciéncia” de sua lista de primeiros princ’- ios deve, contudo, providenciar, de alguma maneira, para que aquele ser da fun- ‘do continue. I Minha tese & que se comegamos com a suposigéo de que existe uma tinica matéria-prima ou um tinico estofo no mundo, um estofo do qual todas as coisas sio compostas, € se chamamos tal estofo “experiéneia pura”, entio 0 conhecer pode facilmente ser explicado como uma espécie particular de relago mitua entre estofos, relagdo esta em que partes da experiéncia pura podem entrar. A propria relagdo uma parte da experiéncia pura; um de seus “termos” torna-se 0 sujeito ou portador do conhecimento, 0 que conhece;? 0 outro torna-se 0 objeto conhecido. Isto precisaré de muita explicagio antes que possa ser entendido. A melhor maneira de entendé-lo é pé-lo em posigao alternativa e para tanto pode- mos tomar a mais recente alternativa, aguela em que a evaporagio da substin- cia-alma definida foi processada até onde o pode ser, sem estar ainda completa. Se 0 neokantismo eliminou as primeiras formas de dualismo, eliminaremos todas as formas de dualismo se formos capazes de eliminar 0 neokantismo por sua vez. Para os pensadores que chamo neokantianos, a palavra consciéneia atual- mente no faz mais do que assinalar 0 fato de que a experiéncia é indestruti- velmente dualista em sua estrutura, Significa que nao 6 0 sujeito, nem 36 0 obje~ to, mas 0 objeto-mais-o-sujeito € o minimo que pode realmente ser. Entrementes, a distingdo sujeito-objeto é inteiramente diferente daquela entre mente e matéria, daquela entre corpo e alma. As almas so separdveis, possuem destinos distintos; as coisas podem Ihes acontecer. Para a consciéncia, enquanto tal, nada pode acontecer, pois, sendo em si desprovida de tempo, ela € somente uma testemunha dos acontecimentos no tempo, no qual ela nao toma parte. Ela é, numa palavra, simplesmente 0 correlativo légico de “contetido” em uma Experiéncia, cuja pecu- liaridade € que 0 fato vem d luz nela, que a conscientizagdo do contetido toma lugar. A consciéncia como tal é inteiramente impessoal — 0 “eu” e suas ativida- > Em meu Prychology tenet mostrar que no precisamos de nenhum sujeto que eonhese aim do “pense mento que passa (Prinepios de Psicologia, vol. 1.(N. de A.) ENSAIOS EM EMPIRISMO RADICAL vs des pertencem ao conteiido. Dizer que sou autoconsciente ou consciente do desenvolvimento de voligdo significa somente dizer que certos contetidos, para os quais 0 “eu” € “esforgo de vontade” so os nomes, niio ocorrem sem testemunha, Assim, para estes bebedores atrasados da fonte kantiana, deverfamos admi- tir a consciéneia como uma necessidade “epistemoldgica”, mesmo que nao tivés- semos evidéncia direta de ela estar la. Mas, além disso, quase todas as pessoas supdem que somos possuidores de uma consciéncia imediata da propria consciéncia. Quando 0 mundo dos fatos exteriores cessa de ser apresentado materialmente © nés meramente o relem. bramos na meméria ou o fantasiamos, acredita-se que a consciéncia se coloca fora e & sentida como uma espécie de fluxo interior ¢ impalpavel que, uma vez conhecido nesta espécie de experigncia, pode igualmente ser detectado em apresentagdes do mundo exterior. “No momento em que tentamos fixar nossa atengao na consciéncia e ver 0 que, claramente, ela &”, diz um escritor recente, “ela parece sumir. £ como se tivéssemos diante de nés um mero vazio. Quando tentamos captar introspectivamente a sensagio de azul, tudo que podemos ver © azul; 0 outro elemento é como se fosse didfano. Entretanto, ele pode ser distin, guido, se observarmos com a suficiente atengio e soubermos que existe algo a procurar.”* “A Consciéncia” (Bewusstheit), diz outro filésofo, “é inexplicével © dificilmente descritivel, contudo todas as experiéncias conscientes tém isto de comum: 0 que chamamos seu contetido tem essa referencia peculiar a um centro cujo nome é ‘eu’ e unicamente em virtude dessa referéncia o conteiido é subjetiva- mente dado ou aparece... Enquanto desse modo a consciéncia ou a referéncia a um ‘eu’ é a inica coisa que distingue um conteddo consciente de qualquer outro tipo de ser que deveria estar 14 sem que ninguém esteja consciente dele, ainda assim esse nico fundamento da distingao desafia todas as explicagdes mais pro- fundas. A existéncia da consciéncia, apesar de ser o fato fundamental da psicolo- Bia, pode, com efeito, ser dada como certa, pode ser evidenciada pela andlise, mas no pode nem ser definida, nem deduzida de algo que nao seja ela mesma.” * “Pode ser evidenciada pela andlise”, diz este autor. Isto supSe que a cons- iéncia é um elemento, momento, fator — chame-se como quiser — de uma expe- iéncia de constituigao interna essencialmente dualista, da qual, se se abstrai 0 contetido, a consciéncia ficard revelada aos seus préprios olhos. A experiéncia, desta forma, seria muito parecida a uma tinta com a qual as pinturas do mundo seriam feitas. A tinta tem uma constituigdo dualista, envolvendo um ménstruo® (leo, espessura, etc.) ¢ uma massa de contedido na forma de pigmento em suspen- sio dentro dela. Podemos obter 0 ménstruo puro, permitindo que o pigmento se deposite; € 0 pigmento puro, depurando a espessura ou 0 dleo. Operamos aqui £ G.E. Moore: Mind, vol. XHL,NS., 1903, pig. 450.(N. do A.) {Paul Natorp: Eien indie Peychologie, 1888, pas 14, 112.(N-do A.) scEalande Haurativamente, a consciéncia pode ser dita serum solvente universal ou ménstruo, no qual lerenesespéciesconertas de sts fsiosefatos esto contdas, tanto de uma forma oeulta como dora bri.” G.T. Lada: Prychology, Deseriptive and Explanatory, 1894. pg. 30.(N. do A) "76 WILLIAM JAMES. Por subtragio fisica; ¢ a opinido corrente é que por subtrac3o mental podemos Separar 0s dois fatores da experiéncia de uma maneira aniloga — no isolando os intciramente, mas distinguindo-os o suficiente para saber que eles sao dois n Ora, meu ponto de vista € exatamente o oposto deste. A experiéncia, acre sor ndo tem tal duplicidade interna; e a separagdo dela em conteldo ¢ consitrag nndo se efetua por meio de subtragdo mas por meio de adieao adigdo a uma Pao con stett dada da experiéncia de outros conjuntos de experigncias em cone xdo com os quais rigorosamente seu uso ou fungio pode ser de dole tipos diferen- tes, A tinta, também aqui, serviré como ilustragao, Num Pote numa loja de tintas, juntamente com outras tntas, ela serve em Sta loralidade como algo vendével. Espalhada numa tela, com outras tintgs

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