Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Resumo:
Há um século foi justificado que nem todos cabiam na escola que devia ser igual para
todos. Surgiu a discussão entre uma educação uniforme, igual para todos, mas não
universal, e uma Escola Nova, com educação inclusiva, adaptada a cada um. O diretor
do Bureau Internacional das Escolas Novas reconheceu que a obra Uma escola nova
na Bélgica de A. Faria de Vasconcellos - que considerou «pioneiro da educação do
futuro» - era o modelo de “escola nova”. No livro, traduzido para português no centenário
da sua publicação original, dá-se a conhecer a “boa prática” desta escola, baseada na
diversidade e com a missão de desenvolver competências para a cidadania autónoma,
responsável, produtiva, holística, inclusiva e participativa.
Abstract:
A century ago, it was justified that not all would fit in the school that should be equal for
all. A discussion has emerged between a uniform education, equal for all, but not univer-
sal, and a New School, based on inclusive education, adapted to each one. The Director
of the International Bureau of New Schools recognised A New School in Belgium, by A.
Faria de Vasconcellos – whom he considered “pioneer in the education of the future” –
as the New School model. In the celebration of the 100th anniversary of its publication,
it is shown the “good practices” of this school, based on diversity and with a mission of
developing competences for an autonomous, responsible, productive, holistic, inclusive
and participatory citizenship.
Key Words: new school / new education, diversity in education, best practices
1
Professora do Agrupamento de Escolas de Oliveira de Azeméis (Portugal)
2 Professora do Agrupamento de Escolas de Soure (Portugal)
3 Professor associado aposentado do Departamento de Educação da Universidade de Aveiro (Portugal)
DIVERSITÉ DE L'APPRENTISSAGE DANS L’ÉCOLE NOUVELLE DE
FARIA DE VASCONCELLOS, PIONNIER DE L'ÉDUCATION DE l’AVENIR
Résumé:
Introdução
4
Binet, A.; Simon, T. (1905). La mesure du développement de l’intelligence chez les jeunes enfants. Paris :
F. Alcan.
2
crianças e desresponsabilizando a escola pelos resultados da aplicação de um currículo
igual para todos.
João Amós Coménio (1592-1670) divulgara a escola de tudo para todos, mas defendia
que «tudo o que deve aprender-se deve dispor-se segundo a idade, de modo a não dar
a aprender senão as coisas que os alunos sejam capazes de entender» (Comenius,
2001, cap. XVI-10-III) e que «não se ensinem nem se aprendam as palavras senão
juntamente com as coisas… mostrem-se-lhes as coisas que devem ser significadas com
as palavras; e, inversamente, ensine-se-lhes a exprimir, por meio de palavras, tudo o
que veem, ouvem, apalpam e saboreiam… não se permita a ninguém recitar aquilo que
não entende… formamos homens, e desejamos formá-los com economia de tempo e
de fadiga, o que acontecerá se, em toda a aprendizagem, andarem juntamente as
palavras com as coisas, e as coisas com as palavras» (Comenius, 2001, cap. XIX-44).
Na sequência desta posição, muitos autores foram passando do ensino uniformista para
as aprendizagens diversificadas centradas nos alunos e da memorização de palavras
para a construção do conhecimento a partir da experiência e da ação: Rousseau (1712-
1778), Pestalozzi (1746-1827), William James (1842-1910), Charles Sanders Peirce
(1839-1914), Decroly (1871-1932), Faria de Vasconcellos (1880-1939), Claparède
(1873-1940), Bovet (1878-1944), Dewey (1859-1952), Montessori (1870-1952), Ferrière
(1879-1960), Wallon (1879-1962), Freinet (1896-1966), Ellen Parkhurst (1887-1973),
Piaget (1896-1980), Dottrens (1893-1984) … (Meireles-Coelho, 2013b).
Dewey (1915) com o «learning by doing» defendia que a ação precede o conhecimento,
ou seja, cada aluno aprende fazendo e enriquece-se com as suas próprias experiências
e participando nas dos outros. Em contraponto à escola tradicional centrada no
professor, seletiva, elitista e reprodutora, Dewey propunha educar os jovens para os
dotar de conhecimentos e competências que permitissem a sua participação na
transformação da sociedade, dando, assim, utilidade a tudo aquilo que se deve
aprender.
3
interesses e reforçou-se a liberdade dos alunos. Na Alemanha5 desenvolveu-se e
aprofundou-se o conceito de escola de trabalho de Kerschensteiner. Na França optou-
se pela interpretação deste paradigma pela via dos métodos ativos e da «escola
moderna» de Célestin Freinet. A França, numa crença de que os direitos existem não
se sabe muito bem assegurados por quem, afasta-se do conceito de trabalho produtivo,
enquanto a Alemanha se aproxima dele, considerando que só gerando riqueza a
poderemos distribuir. A França tende a centralizar a definição de um currículo nacional
enquanto na Alemanha os currículos são geridos de acordo com os Länder (estados)
onde são ministrados. Por seu turno, na América, a escola assume um compromisso
com a aprendizagem e negoceia com os pais comprometendo-se ensinar a cada criança
aquilo que estes querem que ela aprenda. Ellen Parkhurst, pondo em prática o Plano
Dalton, transforma a escola em laboratórios de aprendizagem da vida. Assim, cada
aluno podia programar o seu próprio plano de estudos, indo ao encontro das suas
necessidades, interesses e capacidades para promover a sua independência e a
autoconfiança, e melhorar as competências sociais e o sentido de responsabilidade para
com os outros. (Meireles-Coelho, 2013b)
5Max Weber chama a atenção para as diferenças na atitude em relação ao estudo e ao trabalho no norte
da Europa protestante e no sul católico (Weber, 2004, orig. 1905).
4
doing», e o ponto de partida era a problematização de situações e a resolução de
problemas em contexto real e não apenas aprender de cor ou raciocinar abstratamente
sobre o que se ouve e lê na escola. A diversidade de tarefas e de ações, a que cada um
era sujeito, permitia desenvolver as suas potencialidades e ajudar a desenvolver as dos
outros, em ambiente real, produtivo e solidário. Rompia-se, aqui, com os modelos
tradicionais de ensino que privilegiavam a memória e a erudição, pois a criança é
considerada uma pessoa com corpo, afetividade e emoção e precisa de se movimentar,
de experienciar para, de seguida, elaborar as suas sínteses de pensamento e construir
conhecimento. Só se aprende a sério a partir de contextos reais de vida e trabalho que
levem o aluno a questionar-se enquanto ser eminentemente social que é. Como diz
Delors et al. (1996: 83), «convém… definir uma educação que saiba, desde a mais tenra
idade, por meios por vezes muito simples como a tradicional ‘lição das coisas’, despertar
a curiosidade das crianças, desenvolver o seu sentido de observação e iniciá-las na
atitude de tipo experimental.»
6
Para a UNESCO (2005: 21) «Literacy is the ability to identify, understand, interpret, create, communicate
and compute, using printed and written materials associated with varying contexts. Literacy involves a con-
tinuum of learning in enabling individuals to achieve his or her goals, develop his or her knowledge and
potential and participate fully in community and wider society».
5
de transformação pessoal e social, muito para além da simples aprendizagem e domínio
das técnicas de leitura e de escrita:
Havia e há a escola baseada no ensino dos professores, com estrutura formal mais ou
menos estática e fechada, imbuída em rotinas repetitivas, em consonância com os
objetivos e metas definidos pela organização, a uniformidade curricular, metodologias
comuns orientadas para o ensino coletivo, a departamentalização ou a constituição de
grupos-turma tendencialmente homogéneos (por idade, níveis de instrução,
aproveitamento). E há ou haverá a escola que é as pessoas, baseada na aprendizagem
dos alunos, a escola pluralista, com diversidade de interesses, quer individuais, quer
dos grupos, com diferentes personalidades oriundas de meios socioeconómicos e
culturas diferentes, com capacidades, aptidões, objetivos e sonhos diferentes, onde
todos e cada um aspiram a aprender a ser pessoas felizes. Na Escola nova de Faria de
Vasconcellos o importante não é adquirir conhecimentos veiculados pelo professor, mas
levar o aluno a fazer, a resolver problemas práticos, a refletir sobre eles, a usar e a
construir o conhecimento. O compromisso e a responsabilidade desta escola
centravam-se na aprendizagem. O equilíbrio desta escola era encontrado na
diversidade das suas forças vivas: os interesses, as influências, os conflitos…
assumidos pelos próprios alunos.
O que é então uma lição em Bierges? Como é que a preparamos?…− 1.º uma aula dá-
se em qualquer lugar, porque a sala de aula está em toda a parte; − 2.º uma aula
não é uma mera exposição que o aluno tem de aprender de cor, mas uma construção:
pouco a pouco, documento após documento, deve ser o próprio aluno a organizar todos
os dados em colaboração com o professor e os colegas. De uma maneira geral, é assim
que fazemos (Faria de Vasconcellos, 2015: p. 88-89).
6
Assim, qualquer que seja a área a estudar deve ser trabalhada no meio mais real e
contextualizado possível. A aprendizagem em contexto real era global, não se fechava
em disciplinas, era interdisciplinar. Fazia-se a integração de diferentes áreas para
resolver problemas reais.
7
explicação das ações, esforços, lutas, progressos do homem na sua evolução
ascendente.… Esforçamo-nos, com certeza, para situar os heróis, para os colocar face
às necessidades e às realidades sociais que os viram nascer e que os fizeram tal como
se apresentam aos nossos olhos… Os trabalhos manuais contribuem da forma mais
feliz para o ensino da história. O desenho e a modelagem servem para representar
monumentos, igrejas, casas, armas, utensílios, tudo o que lembra, simboliza e
concretiza o poder material e espiritual das épocas passadas (Faria de Vasconcellos,
2015: p. 187-188).
Num tempo em que a escola ensinava o mesmo a todos, com um currículo uniforme,
na Escola nova de Faria de Vasconcellos partia-se do conhecimento de cada criança,
dos seus interesses, aptidões, necessidades para estabelecer os seus próprios
objetivos e o seu próprio currículo. Nesta escola potenciava-se o desenvolvimento
integral de cada aluno, através da aprendizagem de um núcleo de áreas de estudo
comuns, com vista ao desenvolvimento de todas as faculdades intelectuais da criança,
primeiro com base na espontaneidade, satisfazendo os gostos e interesses de cada um
e, progressivamente, sistematizada de modo a desenvolver os interesses e aptidões de
cada adolescente com vista à sua inclusão na sociedade e na vida ativa. Ensinava-se
tudo a todos, como diz Coménio, mas respeitando os interesses e o ritmo de cada um.
8
aluno… O aluno diz o que pensa do seu esforço e atribui-se ele próprio uma nota de
classificação de valores, seja 12 ou 13 ou 7 ou 8, que ele acredita expressar o valor do
seu esforço. ─ Os colegas são de seguida convidados, um de cada vez, a
pronunciarem-se sobre o trabalho desse colega e a dar-lhe uma nota que devem
justificar. ─ O professor é o último a intervir. Ele faz a crítica da discussão encetada, dá
o seu ponto de vista e justifica-o atribuindo uma nota. De todas as notas é feita a média.
─ E, como disse, são apreciados não só os trabalhos da sala de aula mas também
todas as manifestações da vida da criança: ordem, asseio, camaradagem,
sociabilidade, lealdade. ─ Apercebemo-nos assim das vantagens que este sistema
oferece. Torna a criança atenta aos seus progressos e falhas, ajuda-a a indagar os
seus pontos fracos, a medir as suas forças e meios de que dispõe; habitua-a a refletir
sobre si própria, a fazer um exame de consciência. O aluno é levado a avaliar o seu
trabalho não em relação ao dos seus colegas, mas em relação a si próprio. Ao
convidarmos os colegas a pronunciarem-se, procuramos despertar neles o sentido de
justiça, o sentido da equidade e a exercer o pensamento crítico, habituando-os a usar
este instrumento de controlo com tacto, prudência e deferência, mas também com
franqueza e lealdade. (Faria de Vasconcellos, 2015: p. 105-107).
Um ensino adaptado a cada criança não significa que nesta escola se praticasse um
ensino individualizado isolado para cada um. Cada aluno tinha o seu plano de trabalho
individual no grupo-turma, onde cada um não aprendia sozinho, mas em interação com
os outros, dando o seu contributo pessoal de acordo com os seus interesses e aptidões.
Tudo era planeado, preparado e organizado em conjunto na aula, de modo a que todos
tivessem conhecimento do trabalho a desenvolver por todos e em que cada um tinha a
sua tarefa específica, da qual se responsabilizava particularmente. Praticava-se a
unidade na diversidade de forma interativa, fazendo-se a síntese entre o individual e o
coletivo.
9
desenvolvimento intelectual e moral (Faria de Vasconcellos, 2015: p. 74).
A aprendizagem em grupo nesta escola implicava que o número de alunos por turma
não fosse nem demasiado grande nem demasiado pequeno. O objetivo não era ensinar
o mesmo a todos, ao mesmo ritmo, mas levar cada criança a aprender com os outros
de acordo com o seu grau de desenvolvimento e o seu ritmo de aprendizagem. O
número excessivo de alunos por turma cria obstáculo a que cada um desenvolva ao
máximo as suas capacidades. O objetivo é que o aluno aprenda e não que o professor
ensine o mesmo a todos, da mesma forma, sem ter em conta a especificidade de cada
um. O centro da aprendizagem não está no currículo, nem no ritmo do professor, mas
nas aquisições do próprio aluno.
10
permitia que cada aluno progredisse na aprendizagem segundo os seus interesses,
nível de desenvolvimento e capacidades, de modo a que cada um pudesse desenvolver
ao máximo as suas potencialidades no seu próprio ritmo. Os alunos aprendiam com
outros diferentes e a avaliação não se limitava a comparar os alunos entre si, mas
sobretudo cada um consigo próprio no processo de desenvolvimento de cada um no
seu grupo.
O currículo desta escola tinha, a todos os níveis, um tronco comum de cultura geral e
componentes optativas, de acordo com os interesses de cada um, de modo a
desenvolverem a criatividade e a irem descobrindo as suas aptidões.
11
alunos mais fracos para um ensino profissional. Na Escola nova de Faria de
Vasconcellos integrava-se trabalho e estudo. É em verdadeiro contexto de trabalho, na
escola, na natureza, em visitas de estudo que o aluno aprende a fazer e executa ele
próprio as tarefas trabalhando. Na Escola nova de Faria de Vasconcellos o trabalho
manual está intimamente ligado ao estudo: um não exclui o outro como ainda hoje
acontece.
Em que sentido orientamos o nosso ensino secundário? Para uma cultura geral ou para
uma especialização profissional? O nosso ensino faz a síntese destas duas tendências
que, consideradas isoladamente, não podem responder à verdadeira missão da
educação. Já dissemos que a nossa escola prepara mesmo a criança para a vida
ativa real. Isto implica o desenvolvimento de todas as potencialidades do seu ser,
através de métodos de educação integral, visando tanto a formação do homem
como a do profissional… Se não temêssemos as fórmulas, se não soubéssemos que
elas são sempre demasiado vagas e limitadas, diríamos deliberadamente que a escola
de Bierges tende a realizar o seguinte: uma instrução geral adaptada às
capacidades e necessidades individuais e, a partir de uma certa idade, com uma
tendência profissional (p. 84-87). ─ Os trabalhos manuais são muito variados…trata-
se, com efeito, de multiplicar para as crianças as ocasiões de agir, criar, aplicar e de
se revelar. Porque se todos os trabalhos manuais apelam a atividades comuns, há no
entanto neles, na influência que exercem, ações distintas que despertam tendências e
aptidões individuais. Assim, quanto mais os trabalhos manuais forem em grande
número e variados, mais provável será satisfazermos as necessidades manuais da
criança e descobrirmos nela os gostos, as tendências, as aptidões específicas que nos
permitirão conhecê-la melhor para melhor a orientar. Um caso típico é-nos dado por
um dos nossos alunos que, destinado inicialmente ao comércio, manifestou nas
oficinas de carpintaria e de serralharia tais aptidões manuais e capacidades intelectuais
que o levaram a concluir que estava no caminho errado e que devia mudar para a
carreira de engenheiro mecânico, mais adequada para ele. Este caso não é único
(Faria de Vasconcellos, 2015: p. 44-45).
As aulas são dadas de manhã, sendo a tarde reservada geralmente para os trabalhos
manuais, as visitas de estudo em grupo e o trabalho e estudo individuais (p. 77). No
12
final da tarde, das 16 às 18 horas, durante o tempo dedicado ao estudo, o aluno
passará a limpo, em cadernos próprios, a lição preparada na sala de aula por ele
próprio, pelos colegas e pelo professor. A redação é a última fase do trabalho (p.
91-92). A aula é não só a realização e o desenvolvimento de uma série de esforços
individuais mas também o resultado de um trabalho coletivo (Faria de Vasconcellos,
2015: p. 92).
12. Diversidade tolerante para a unidade participativa com três eixos: autonomia,
responsabilidade e solidariedade
13
cor)… Sob a orientação do nosso pedreiro ─ funcionário da escola ─ que nos mostrava
como devíamos fazer, aprendemos a trabalhar com colher e talocha. Não faltavam nem
operários nem serventes, todos começaram a trabalhar com afinco, especialmente
durante o tempo livre. Durante a construção foi sugerido que constituíssemos uma
sociedade para explorar a quinta e os produtos. Os membros da sociedade comprariam
ações que seriam cotadas e os lucros seriam distribuídos proporcionalmente, segundo
o número de ações de cada sócio... Era preciso saber que tipo de sociedade iríamos
adotar… Fomos a Bruxelas ver o nosso advogado. A nossa consulta durou uma hora,
durante a qual aprendemos o funcionamento das sociedades, o que caracteriza cada
uma e a que mais nos conviria. Numa reunião no dia seguinte, repetimos o que ouvimos
e adotámos por unanimidade a sociedade cooperativa. O professor Faria, todos os
mais velhos e até mesmo alguns mais novos, são sócios… (p. 60-62). São também
eles que cuidam dos animais… Nada mais belo moral e socialmente do que esta
grandeza do trabalho… Não concebo nenhuma lição de solidariedade mais eficaz,
ativa, intensa e, ao mesmo tempo calorosa e cordial do que esta vida afetuosa de
trabalho de todos e de cada um em benefício da nossa pequena comunidade
(Faria de Vasconcellos, 2015: p. 65-67.
CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS
Uma educação de qualidade, inclusiva e equitativa, pode constituir o alicerce que nos
permite combater todas as formas de exclusão e marginalização, bem como as
disparidades e desigualdades no acesso, na participação e nos resultados de
aprendizagem e desenvolver «habilidades, valores e atitudes que permitem aos
cidadãos levar vidas saudáveis e plenas, tomar decisões conscientes e responder a
desafios locais e globais por meio da educação para o desenvolvimento sustentável e
da educação para a cidadania global» (UNESCO, 2015). Assim, parece importante
redefinir hoje a missão da escola, reorientando-a no ponto de vista das aprendizagens.
A escola é apenas uma de entre as muitas instituições da sociedade que promovem a
educação (EU, 2000), mas continua a ser a referência de formação para as camadas
mais jovens da população e, portanto, com responsabilidades acrescidas na garantia de
convivência «harmoniosa entre pessoas e grupos com identidades culturais a um só
tempo plurais, variadas e dinâmicas, pois esta diversidade cultural amplia as
possibilidades de escolha que se oferecem a todos; é uma das fontes do
14
desenvolvimento, entendido não somente em termos de crescimento económico, mas
também como meio de acesso a uma existência intelectual, afetiva, moral e espiritual
satisfatória» (UNESCO, 2002).
A educação inclusiva não poderá ser uniformista tratando a todos de igual modo, mas
deverá ajudar cada um a percorrer o seu caminho até ao mais longe que seja possível.
Para isso é necessário valorizar muitas diversidades. As práticas educativas da Escola
nova de Faria de Vasconcellos descritas acima evidenciam isto mesmo e preconizam a
cooperação no quadro de educação para a cidadania: – participativa (as crianças
organizam-se para que tudo seja feito e funcione, de modo que cada uma se vá
especializando num ou noutro aspeto, numa ou noutra tarefa, mas respeitando o lugar
próprio que cada um ocupa no conjunto); – produtiva (cada uma contribui com trabalho,
na medida das suas capacidades, para o bem comum); – holística (privilegia-se um
ensino contextual, interdisciplinar e integrador, sem nunca perder de vista o todo, o
objetivo final, em que o aluno limita o problema, equaciona tudo o que poderá ser
necessário para realizar a tarefa, integrando por isso os conhecimentos adquiridos nas
diversas áreas de estudo/conhecimento e realiza-a devolvendo à comunidade o
resultado do seu esforço, o trabalho realizado, num movimento permanentemente
bidirecional de partilha dando e recebendo); e – inclusiva (toda a ação da escola tem
por missão incluir cada indivíduo na comunidade para que se criem laços de pertença e
identificação na sociedade e esta, por sua vez, tenha a capacidade de acolher e integrar,
não revelando uma atitude de displicência para com alguns mas revelando uma
intrínseca solidariedade compreensiva onde todos têm um papel a desempenhar).
Referências7
7
Consultas em 15/12/2017 disponíveis nas ligações referidas.
15
Gomes. Lisboa: FCG. (http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/didaticamagna.html).
Delors, J. et al. (1996) Learning: the treasure within. Report to UNESCO of the Interna-
tional Commission on Education for the Twenty-first Century. Paris: UNESCO / Educação:
um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre a
Educação para o século XXI. Paris: UNESCO. Rio Tinto: Asa. (http://ftp.info-
europa.eurocid.pt/database/000046001-000047000/000046258.pdf http://dhnet.org.br/
/relatorios/a_pdf/r_unesco_educ_tesouro_descobrir.pdf).
Dewey, J. et al. (1915). Schools of tomorrow. New York: E.P. Dutton & Company.
(http://archive.org/details/schoolsoftomorro005826mbp).
Faria de Vasconcellos, A. (2015). Uma escola nova na Bélgica; pref. A. Ferrière; posf. e
notas C. Meireles-Coelho. Aveiro: UA Editora. (Trad. de: Une école nouvelle en Bel-
gique, 1915) ISBN: 978-972-789-454-3. (http://purl.pt/26930).
Hargreaves, David (2006). Personalising Learning 6 - The final gateway: school design
and organisation. (https://aschofield.files.wordpress.com/2011/02/personalising-lear-
ning-6-the-final-gateway-school-design-and-organisation.pdf).
UNESCO (2000). United Nations Millennium Declaration. Resolution adopted by the Gen-
eral Assembly, Fifty-fifth session. / Declaração do milénio. Cimeira do Milénio, Nova
Iorque, 6-8 de setembro. (http://www.un.org/millennium/declaration/ares552e.htm e
https://www.unric.org/html/portuguese/uninfo/DecdoMil.pdf).
16
Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura na sua 31.ª sessão, a 2 de novembro de 2001. (http://unesdoc.unesco.org/ima-
ges/0012/001271/127160por.pdf).
UNESCO (2004). The plurality of Literacy and implications for Policies and Programmes.
(http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001362/136246e.pdf).
UNESCO (2005). Aspects of Literacy Assessment: Topics and issues from the UNESCO
Expert Meeting, 10-12 June, 2003. (http://unesdoc.unesco.org/images/0014/001401/
140125eo.pdf).
Weber, Max (2004). A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Compa-
nhia das Letras. (orig. Die protestantische Ethik und der 'Geist' des Kapitalismus, 1905).
(http://www.nesua.uac.pt/uploads/uac_documento_plugin/ficheiro/8db98cff48151daf946f
e625988763bfb0737c7e.pdf).
17