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A educação desenha o futuro – Ensino Médio – Ética: filosofia moral – Prof.

Ulisses Vasconcelos

CAPÍTULO 1 portanto, ao senso moral e à consciência ética


* ATENÇÃO: Copiar é CRIME. Art. 184 do código Penal e Lei n° 5998/73

individuais.
A DIFERENÇA ENTRE MORAL E ÉTICA
Moral é o conjunto das regras ou normas
de conduta admitidas por uma sociedade ou por
Os conceitos de Moral e Ética, embora um grupo de homens em determinada época.
sejam diferentes, são com freqüência usados Assim, o homem moral é aquele que age bem ou
como sinônimos. Moral vem do latim mos ou mal na medida em que acata ou transgride as
moris, que significa “maneira de se comportar regras do grupo.
regulada pelo uso”; daí relacionarmos o termo
“moral” com “costume”, e de moralis, morale, 60 A Moral, ao mesmo tempo que é o
adjetivo referente ao que é “relativo aos conjunto de regras que determina como deve ser o
costumes”. Ética vem do grego ethos, que tem o comportamento dos indivíduos do grupo, é
mesmo significado de “caráter”, “costume”. O também a livre e consciente aceitação das normas.
sentido que os antigos gregos atribuíam ao Isso significa que o ato só é propriamente moral
homem de bons costumes era o mesmo do homem se passar pelo crivo da aceitação pessoal da
de boa índole, de bom caráter. Por isso, os termos norma. A exterioridade da moral contrapõe-se à
Moral e Ética se confundem, mas guardam entre necessidade da interioridade, da adesão mais
si certas diferenças. íntima.
Os costumes, porque são anteriores ao Portanto, o homem, ao mesmo tempo que
nosso nascimento e formam o tecido da sociedade é herdeiro, é criador de cultura, e só terá vida
em que vivemos, são considerados autenticamente moral se, diante da moral
inquestionáveis e quase sagrados (as religiões constituída, for capaz de propor a moral
tendem a mostrá-los como tendo sido ordenados constituinte; aquela que é feita dolorosamente por
pelos deuses, na origem dos tempos). Ora, a meio das experiências vividas. Mesmo quando
palavra costume se diz, em grego, ethos – donde, queremos manter as antigas normas, há situações
ética – e, em latim, moris – donde, moral. Em críticas enfrentadas devido à especificidade de
outras palavras, ética e moral referem-se ao cada acontecimento. Por isso a cisão também
30 conjunto de costumes tradicionais de uma pode ocorrer a partir do enredo de cada drama
sociedade e que, como tais, são considerados pessoal: a singularidade do ato moral nos coloca
valores e obrigações para a conduta de seus em situações originais em que só o indivíduo livre
membros. e responsável é capaz de decidir.
A língua grega possui uma outra palavra Ética ou filosofia moral, é a disciplina
que precisa ser escrita em português com as filosófica que se ocupa com a reflexão a respeito
mesmas letras que a palavra que significa das noções e princípios que fundamentam a vida
costume: ethos. Em grego, existem duas vogais moral. Essa reflexão pode seguir as mais diversas
para pronunciar e grafar nossa vogal e: uma vogal direções, dependendo da concepção de homem
breve, chamada epsilon, e uma vogal longa, que se toma como ponto de partida.
chamada eta. Ethos, escrita com a vogal longa, Assim, à pergunta “o que é o bem e o
significa costume; porém, escrita com a vogal mal”, respondemos diferentemente, caso o
breve, significa caráter, índole natural, 90 fundamento da moral esteja na ordem cósmica, na
temperamento, conjunto das disposições físicas e vontade de Deus ou em nenhuma ordem exterior à
psíquicas de uma pessoa. Nesse segundo sentido, própria consciência humana. Podemos perguntar
ethos se refere às características pessoais de cada ainda: Há uma hierarquia de valores ? Se houver,
um que determina quais virtudes e quais vícios o bem supremo é a felicidade? É o prazer ? É a
cada um é capaz de praticar. Referem-se, atividade ? É o dever ?
Por outro lado, é possível questionar: Os
valores são essências ? Têm conteúdo
determinado, universal, válido em todos os
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A educação desenha o futuro – Ensino Médio – Ética: filosofia moral – Prof. Ulisses Vasconcelos

tempos e lugares ? Ou, ao contrário, são relativos? do incorreto. Os juízos éticos de valor nos dizem
Ou, ainda, haveria possibilidade de superação das o que são o bem, o mal, a felicidade. Os juízos
duas posições contraditórias do universalismo e éticos normativos nos dizem que sentimentos,
do relativismo ? As respostas a essas e outras intenções, atos e comportamentos devemos ter ou
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questões nos darão as diversas concepções de vida fazer para alcançarmos o bem e a felicidade.
moral elaboradas pelos filósofos através dos Enunciam também que atos, sentimentos,
tempos. intenções e comportamentos são condenáveis ou
incorretos do ponto de vista moral.

 PARA FIXAR
 SENSO OU CONSCIÊNCIA MORAL:
referem-se a valores éticos (justiça, honradez,
 MORAL: conjunto dos costumes e juízos 60 espírito de sacrifício, integridade, generosidade) e
morais de um indivíduo ou de uma sociedade que as decisões que conduzem a ações com
possui caráter normativo (regras do conseqüências para nós e para os outros. Os
comportamento das pessoas no grupo). Conjunto sentimentos e as ações, nascidos de uma opção
de regras que visa orientar a ação humana, entre o bem e o mal se referem a algo mais
submetendo-a ao dever, tendo em vista o bem e o profundo e subentendido: nosso desejo de afastar
mal. Conjunto de normas livre e conscientemente a dor e o sofrimento e de alcançar a felicidade,
aceitas que visam organizar as relações dos seja por ficarmos contentes conosco mesmo, seja
indivíduos na sociedade. para recebermos a aprovação dos outros.

 ÉTICA: parte da filosofia que se ocupa com a  ATO MORAL E ATO IMORAL: o ato moral
reflexão a respeito das noções e dos princípios é constituído de dois aspectos: o normativo e o
que fundamentam a vida moral. A ética é uma fatual. O normativo são as normas ou regras de
disciplina teórica sobre a prática humana, que é o ação e os imperativos que enunciam o dever ser.
costume ou o comportamento humano. No O fatual são os atos humanos enquanto se
entanto, as reflexões éticas não se restringem realizam efetivamente. Pertencem ao âmbito do
apenas à busca de conhecimento teórico sobre normativo regras como: “Cumpra a sua obrigação
valores humanos, cuja origem e desenvolvimento de estudar”; “Não minta”; “Não roube”; “Não
levantam questões de caráter sociológico, mate”. O campo do fatual é a efetivação ou não da
antropológico, biológico, religioso etc. A ética é norma na experiência vivida. Os dois pólos são
uma filosofia prática, ou seja, uma reflexão sobre distintos, mas inseparáveis. A norma só tem
a práxis (ação prática) em todos os setores da vida sentido se orientada para a prática, e o fatual só
30 humana. adquire contorno moral quando se refere à norma.
O ato efetivo será moral ou imoral, conforme
 VALOR: algo possui valor quando não permite esteja de acordo ou não com a norma
que permaneçamos indiferentes (a não-indiferença estabelecida. Por exemplo, diante da norma “Não
é a essência do valor). Frequentemente emitimos minta”, o ato de mentir será considerado imoral.
juízos de valor quando os fatos (juízos de fatos – O ato só pode ser moral ou imoral se o indivíduo
a existência efetiva – que dizem como são as introjetou a norma e a tornou sua, livre e
coisas, como são e por que são) nos provoca um conscientemente.
sentimento de atração ou de repulsa (juízos de
valor – avaliações sobre coisas, pessoas, situações  ATO AMORAL: considera-se amoral o ato
que são proferidos na moral, nas artes, na política, 90 realizado à margem de qualquer consideração a
na religião etc.). Juízos de valor avaliam coisas, respeito das normas. Trata-se da redução ao
pessoas, ações, experiências, acontecimentos, fatual, negando o normativo. O homem “sem
sentimentos, estados de espírito, intenções e princípios” quer pautar sua conduta a partir de
decisões como bons ou maus, desejáveis ou situações do presente e ao sabor das decisões
indesejáveis. Os juízos éticos de valor são momentâneas, sem nenhuma referência a valores.
normativos, isto é, enunciam normas que É a negação da moral.
determinam o dever ser de nossos sentimentos,
nossos atos, nossos comportamentos. São juízos
que enunciam obrigações, dever, e avaliam
intenções e ações segundo o critério do correto e
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que exige que seja desonesto e cometa irregularidades que

 PARA REFLETIR ou FILOSOFAR


beneficiem seu patrão. Sabe que o trabalho lhe permitirá sustentar
os filhos e pagar o tratamento da esposa. Pode aceitar o emprego,
mesmo sabendo o que será exigido dele ? Ou deve recusá-lo e ver
os filhos com fome e a mulher morrendo ?
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Um rapaz namora, há tempos, uma moça de quem gosta


SENSO MORAL E CONSCIÊNCIA MORAL muito e é por ela correspondido. Conhece uma outra. Apaixona-se
perdidamente e é também correspondido. Ama duas mulheres e
ambas o amam. Pode ter dois amores simultâneos, ou estará
Por Marilena Chaui * traindo a ambos e a si mesmo ? Deve magoar uma delas e a si
mesmo, rompendo com uma para ficar com a outra ? O amor exige
uma única pessoa amada ou pode ser múltiplo ? Que sentirão as
duas mulheres, se ele lhes contar o que se passa ? Ou deverá
Muitas vezes, tomamos conhecimento de movimentos
mentir para ambas ? Que fazer ? Se, enquanto está atormentado
nacionais e internacionais de luta contra a fome. Ficamos sabendo
pela indecisão, um conhecido o vê ora com uma das mulheres, ora
que, em outros países e no nosso, milhares de pessoas, sobretudo
com a outra e, conhecendo uma delas, deverá contar a ela o que
crianças e velhos, morrem de penúria e inanição. Sentimos
piedade. Sentimos indignação diante de tamanha injustiça viu? Em nome da amizade, deve falar ou calar ?
Uma mulher vê um roubo. Vê uma criança maltrapilha e
(especialmente quando vemos o desperdício dos que não têm fome
esfomeada roubar frutas e pães numa mercearia. Sabe que o dono
e vivem na abundância). Sentimos responsabilidade. Movidos pela
da mercearia está passando por muitas dificuldades e que o roubo
solidariedade, participamos de campanhas contra a fome. Nossos
fará diferença para ele. Mas também vê a miséria e a fome da
sentimentos e nossas ações exprimem nosso senso moral.
criança. Deve denunciá-la, julgando que com isso a criança não se
Quantas vezes, levados por algum impulso incontrolável
tornará um adulto ladrão e o proprietário da mercearia não terá
ou por alguma emoção forte (medo, orgulho, ambição, vaidade,
prejuízo ? Ou deverá silenciar, pois a criança corre o risco de
covardia), fazemos alguma coisa de que, depois, sentimos
receber punição excessiva, ser levada para a polícia, ser jogada
vergonha, remorso, culpa. Gostaríamos de voltar atrás no tempo e
agir de modo diferente. Esses sentimentos também exprimem
90 novamente às ruas e, agora, revoltada, passar do furto ao
homicídio ? Que fazer ?
nosso senso moral.
Situações como essas – mais dramáticas ou menos
Em muitas ocasiões, ficamos contente e emocionados
diante de uma pessoa cujas palavras e ações manifestam dramáticas – surgem sempre em nossas vidas. Nossas dúvidas
quanto a decisão a tomar não manifestam nosso senso moral, mas
honestidade, honradez, espírito de justiça, altruísmo, mesmo
põem à prova nossa consciência moral, pois exigem que
quando tudo isso lhe custa sacrifício. Sentimos que há grandeza e
decidamos o que fazer, que justifiquemos para nós mesmos e para
dignidade nessa pessoa. Temos admiração por ela e desejamos
os outros as razões de nossas decisões e que assumamos todas as
imitá-la. Tais sentimentos e admiração também exprimem nosso
conseqüências delas, porque somos responsáveis por nossas
senso moral.
opções.
Não raras vezes somos tomados pelo horror diante da
Todos os exemplos mencionados indicam que o senso
30 violência: chacina de seres humanos e animais, linchamentos,
moral e a consciência moral referem-se a valores (justiça,
assassinatos brutais, estupros, genocídio, torturas e suplícios. Com
honradez, espírito de sacrifício, integridade, generosidade), a
freqüência, ficamos indignados ao saber que um inocente foi
sentimentos provocados pelos valores (admiração, vergonha,
injustamente acusado e condenado, enquanto o verdadeiro culpado
culpa, remorso, contentamento), que conduzem a ações com
permanece impune. Sentimos cólera diante do cinismo dos
mentirosos, dos que usam outras pessoas como instrumento para consequências para nós e para os outros. Embora os conteúdos dos
valores variem, podemos notar que estão referidos a um valor mais
seus interesses e para conseguir vantagens às custas da boa-fé de
profundo, mesmo que apenas subentendido: o bom ou o bem. Os
outros. Todos esses sentimentos também manifestam nossos senso
sentimentos e as ações, nascidos de uma opção entre o bom e o
moral.
mau ou entre o bem e o mal, também estão referidos a algo mais
Vivemos certas situações, ou sabemos que foram vividas
profundo e subentendido: nosso desejo de afastar a dor e o
por outros, como situações de extrema aflição e angústia. Assim,
sofrimento e de alcançar a felicidade, seja por ficarmos contentes
por exemplo, uma pessoa querida, com uma doença terminal, está
conosco mesmos, seja por recebermos a aprovação dos outros.
viva apenas porque seu corpo está ligado a máquinas que a
O senso e a consciência moral dizem respeito a valores,
conservam. Suas dores são intoleráveis. Inconsciente, geme no
sentimentos, intenções, decisões e ações referidos ao bem e ao mal
sofrimento. Não seria melhor que descansasse em paz ? Não seria
e ao desejo de felicidade. Dizem respeito as relações que
preferível deixá-la morrer ? Podemos desligar os aparelhos ? Ou
mantemos com os outros e, portanto, nascem e existem como parte
não temos o direito de fazê-lo ? Que fazer ? Qual a ação correta ?
Uma jovem descobre que está grávida. Sente que seu de nossa vida intersubjetiva, isto é, de nossas relações com outros
corpo e seu espírito ainda não estão preparados para a gravidez. sujeitos morais. ©
Sabe que seu parceiro, mesmo que deseje apoiá-la, e tão jovem e
despreparado quanto ela e que ambos não terão como 120
* MARILENA CHAUI. Professora na Universidade de São Paulo (USP)
responsabilizar-se plenamente pela gestação, pelo parto e pela
criação de um filho. Ambos são desorientados. Não sabem se
poderão contar como o auxílio de suas famílias (se as tiverem).
Se ela for apenas estudante, terá que deixar a escola para
trabalhar, a fim de pagar o parto e arcar com as despesas da
criança. Sua vida e seu futuro mudarão para sempre. Se trabalha,
sabe que perderá o emprego, porque vive numa sociedade onde os
padrões discriminam as mulheres grávidas, sobretudo as solteiras.
Receia não contar com os amigos. Ao mesmo tempo, porém,
60 deseja a criança, sonha com ela, mas teme dar-lhe uma vida de
miséria e ser injusta com quem não pediu para nascer. Pode fazer
um aborto ? Deve fazê-lo ?
Um pai de família desempregado, com vários filhos
pequenos e a esposa doente, recebe uma oferta de emprego, mas
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alterando-a através do trabalho e da técnica,


Juízo de fato e Juízo de valor dando-lhe valores. Dizer que a chuva é boa para
Se dissermos, “Está chovendo”, estaremos as plantas pressupõe a relação cultural dos
humanos com a Natureza, através da agricultura.
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enunciando um acontecimento constatado por nós


e o juízo proferido é um juízo de fato. Se, porém, Considerar a chuva bela pressupõe uma relação
falarmos, “A chuva é boa para as plantas” ou “A valorativa dos humanos com a Natureza,
chuva é bela”, estaremos interpretando e 60 percebida como objeto de contemplação.
avaliando o acontecimento; nesse caso, Frequentemente, não notamos a origem
proferimos um juízo de valor. cultural dos valores éticos, do senso moral e da
Juízos de fato são aqueles que dizem o que as consciência moral, porque somos educados
coisas são, como são e por que são. Em nossa (cultivados) para eles e neles, como se fossem
vida cotidiana, mas também na metafísica e nas naturais ou fáticos, existentes em si e por si
ciências, os juízos de fato estão presentes. mesmos. Para garantir a manutenção dos padrões
Diferentemente deles, os juízos de valor, são morais através do tempo e sua continuidade de
avaliações sobre coisas, pessoas, situações e são geração a geração, as sociedades tendem a
proferidos na moral, nas artes, na política, na naturalizá-los. A naturalização da existência
religião. moral esconde, portanto, o mais importante da
Juízo de valor avaliam coisas, pessoas, ética: o fato de ela ser criação histórico-cultural.
ações, experiências, acontecimentos, sentimentos,
estados de espírito, intenções e decisões como Os valores
bons ou maus, desejáveis ou indesejáveis.
Mas o que são valores ? Embora a
Os juízos éticos de valor são também
preocupação com os valores seja tão antiga como
normativos, isto é, enunciam normas que
a humanidade, só no século XIX surge uma
determinam o dever ser de nossos sentimentos,
disciplina específica, a teoria dos valores ou
nossos atos, nossos comportamentos. São juízos
Axiologia (do grego axios, “valor”). A Axiologia
que enunciam obrigações e avaliam intenções e
não se ocupa dos seres, mas das relações que se
ações segundo o critério do correto e do incorreto.
estabelecem entre os seres e o sujeito que os
Os juízos éticos de valor nos dizem o que
aprecia.
30 são o bem, o mal, a felicidade. Os juízos éticos
Diante dos seres (sejam eles coisas inertes,
normativos nos dizem que sentimentos,
ou seres vivos, ou idéias etc.) somos mobilizados
intenções, atos e comportamentos devemos ter ou
pela afetividade, somos afetados de alguma forma
fazer para alcançarmos o bem e a felicidade.
por eles, porque nos atraem ou provocam nossas
Enunciam também que atos, sentimentos,
repulsa. Portanto, algo possui valor quando não
intenções e comportamentos são condenáveis ou
permite que permaneçamos indiferentes. É nesse
incorretos do ponto de vista moral.
sentido que García Morente diz: “Os valores não
Como se pode observar, senso moral e
90 são, mas valem. Uma coisa é valor e outra coisa é
consciência moral são inseparáveis da vida
ser. Quando dizemos de algo que vale, não
cultural, uma vez que esta define para seus
dizemos nada do seu ser, mas dizemos que não é
membros os valores positivos e negativos que
indiferente. A não-indiferença constitui esta
devem respeitar ou detestar.
variedade ontológica que contrapõe o valor ao
Qual a origem da diferença entre os dois
ser. A não-indiferença é a essência do valer”1.
tipos de juízos ? A diferença entre a Natureza e a
Os valores são, num primeiro momento,
Cultura. A primeira, como vimos, é constituída
herdados por nós.
por estruturas e processos necessários que existem
O mundo cultural é um sistema de
em si e por si mesmos, independentemente de
significados já estabelecidos por outros, de tal
nós: a chuva é um fenômeno meteorológico, cujas
modo que aprendemos desde cedo como nos
causas e efeitos necessários podemos constatar e
comportar à mesa, na rua, diante de estranhos,
explicar.
como, quando e quanto falar em determinadas
Por sua vez, a Cultura nasce da maneira
circunstâncias; como andar, correr, brincar; como
como os seres humanos interpretam-se a si
cobrir o corpo e quando desnudá-lo; qual o padrão
mesmos e as suas relações com a Natureza,
de beleza; que direitos e deveres temos. Conforme
acrescentando-lhe sentidos novos, intervindo nela,
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atendemos ou transgredimos os padrões, os assunção está diretamente relacionado à psique de cada um e,


também, à sua personalidade e até mesmo ao que chamaríamos de
comportamentos são avaliados bons ou maus. suas idiossincrasias (do grego Tidios, “próprio de si” + Sun-
A partir da valoração, as pessoas nos krasis, “mistura”), termo grego que diz respeito à capacidade de
recriminam por não termos seguido as formas da cada indivíduo de enxergar o universo de uma maneira própria.
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Moral tem a ver com o que o indivíduo faz ou deixa de fazer


boa educação ao não ter cedido lugar à pessoa quanto a situações que a sociedade determina como particulares;
mais velha; ou nos elogiam por sabermos escolher abarca relações de um indivíduo consigo mesmo e com as pessoas
as cores mais bonitas para a decoração de um mais queridas, mais próximas. Caso o advogado dos Nardoni
tivesse cedido aos agressores e desistido do caso, talvez estes
ambiente; ou nos admoestam por termos faltado mesmos viessem a dizer que ele agiu como um “homem de moral
com a verdade. Nós próprios nos alegramos ou fraca”. Ele seria, então, caracterizado como alguém que não
nos arrependemos ou até sentimos remorsos honrou o nosso mores.
Ética e moral não são a mesma coisa. Aliás, suas origens
dependendo da ação praticada. Isso quer dizer que etimológicas assim dizem: ética vem do grego ethos e moral
o resultado de nossos atos está sujeito à sanção, origina-se do latim mores. Delimitam, respectivamente,
ou seja, ao elogio ou à reprimenda, à recompensa comportamentos sociais universais e comportamentos sociais
particulares. Em sociedades ocidentais modernas e liberais, em que
ou à punição, nas mais diversas intensidades, há um recorte claro e razoavelmente bem definido da esfera
desde “aquele” olhar da mãe, a crítica de um pública e da esfera particular, a ética cai no primeiro campo e
amigo, a indignação ou até a coerção física (isto é, moral no segundo.
Com isso, não se quer dizer que, em uma sociedade
a repressão pelo uso da força). moderna, ocidental e liberal como a nossa, que faz recortes
razoavelmente delimitados entre o que é a esfera pública e o que é
1 a esfera privada, o que é do âmbito moral não possa vir a público,
García Morente, M. Fundamentos de filosofia; lições preliminares.p.296.
ou seja, não possa ser exposto a um público. Em várias situações
____________________________________________________________
notáveis, isto é, em casos polêmicos, o que ocorre é exatamente
essa transposição do que é privado para o âmbito público. Não
raro, é justamente nessa hora que percebemos a diferença entre um

 PARA REFLETIR ou FILOSOFAR


90 caso e outro, entre situação moral e situação ética.
O caso de Ronaldinho com os travestis foi um episódio
moral, não propriamente ético. Que Ronaldinho tenha preferência
sexual rotineira ou não por travestis é algo da sua psique. É um
gosto dele, uma idiossincrasia sua, digamos assim. Nesse sentido,
A boa e velha ética em nossa sociedade, é algo do âmbito moral. Em nossa sociedade
– ocidental, moderna e liberal – o gosto sexual tende a ser tomado
Por Paulo Ghiraldelli Jr.* como algo da personalidade de cada um e, portanto, deve pertencer
ao campo privado. Dessa forma, a moral que, enfim, encontra-se
Durante os dias do julgamento dos acusados da morte de na particularidade, adentra uma esfera afinada com a
30 Isabela Nardoni, um grupo de pessoas atacou fisicamente o particularidade, a esfera da privacidade. O gosto por travestis do
advogado do casal Nardoni, então responsabilizados pelo Ronaldinho diz respeito a ele e tão-somente a ele. Por isso mesmo,
assassinato da garota. O grupo pôs de lado o “direito de defesa”, ele foi para um motel, para o divertimento privado. Quando o caso
pertencente aos nossos costumes e vigente em nossa legislação. chegou à imprensa, ainda assim ele permaneceu um caso moral. ©
Tudo ocorreu como se quisessem que o advogado abandonasse o
caso. Ora, se o advogado abandonasse os Nardoni, mediante
pressão popular, com este defensor deveria ser entendido ? * Paulo Ghiraldelli Jr.: é filósofo, escritor e professor da UFRRJ.
Caso o advogado largasse os Nardoni, eticamente ele
teria cometido uma falta grave. Tomada como um todo, nossa ____________________________________________________________
sociedade espera que um advogado acredite na inocência (ou parte


dela) do seu cliente e vá até o fim na defesa. Em termos mais
gerais, nossa idéia básica é que o advogado, mais do que qualquer
outro cidadão, leve a sério o preceito “todos são inocentes até que AGORA É COM VOCÊ !
se prove o contrário”, vigente como valor, regra e lei em nossa
sociedade. Caso tivesse desistido, moralmente ele também ficaria Exercícios Propostos
em dívida, ao menos consigo mesmo, pois agiria segundo uma
qualidade moral pouco louvável entre nós, a covardia.
Esse assunto nos conduz à seguinte pergunta: qual a 1) Quais os significados dos termos Moral e Ética ?
diferença entre ética e moral ?
Ética diz respeito a costumes, hábitos e valores 2) Estabeleça a diferença fundamental entre os conceitos de
relativamente coletivos, assumidos por indivíduos de um grupo Moral e Ética.
social, uma sociedade ou uma nação. No caso, pode-se comentar o
seguinte: os indivíduos que queriam que nenhum advogado 3) Por que Ética é filosofia prática ?
defendesse os Nardoni se mostraram hostis ao nosso costume
social e jogaram pela janela valores caros ao Ocidente. Eles
4) Estabeleça a diferença entre ato moral, imoral e amoral.
estavam em dissonância com o ethos de nossa nação, 5) O que é senso moral e consciência moral ?
especialmente porque queriam que o próprio advogado também
atravessasse o comportamento ético. 6) Estabeleça a diferença entre juízo de fato e juízo de valor.
Moral diz respeito a hábitos, costumes e valores
assumidos por indivíduos de um grupo social, uma sociedade ou 120 7) O que são valores éticos morais ? Cite exemplos.
60 uma nação; todavia, o comportamento desenvolvido por tal

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8) Leia o texto de Paulo Ghiraldelli Jr e responda: qual a valor estabelecida por David Hume (1711-
diferença entre Ética e Moral levando em consideração as 1776).
esferas pública e privada de nossa sociedade ?

“A parede da sala é branca” é uma frase factual,


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CAPÍTULO 2 enquanto que “A parede da sala é horrível” é uma


frase valorativa. Sendo um fato da natureza
A MORAL EM QUESTÃO 60 humana pode, então, ser tido como normal e
indicado como o que deve ser aceito – afinal,
quem estaria autorizado a mudar a natureza
Ética e Metaética humana ?
Por Paulo Ghiraldelli Jr.

A investigação da ética remonta aos


primórdios da atividade filosófica. Sócrates se
caracterizou por fazer perguntas ético-morais.
Todavia, foi Platão quem inventou a discussão
ética, o que denominamos hoje de metaética.
Enquanto campo de estudo e investigação, a ética
se responsabiliza pela discussão das normas e
regras de conduta e, portanto, tem como objeto as
morais vigentes. A metaética, por sua vez, é um
discurso de segunda ordem que se põe
filosoficamente para validar ou não preceitos
ético-morais vigentes. A metaética diz respeito a
David Hume. Filósofo e historiador escocês (1711-1776), considerado
fundamentos e/ou justificativas da moral. fundador da escola cética, o chamado Empirismo.
Em termos acadêmicos atuais, as posições
metaéticas formam três grandes guarda-chuvas: o Um exemplo. Recentemente houve estupro
naturalismo, o relativismo e o emotivismo. No de garotas (inclusive com mortes) e a explicação
30 âmbito propriamente ético, a tendência é dividir a dada ao ocorrido foi que elas estavam usando a
normatividade a partir de éticas do dever e éticas “pulseira do sexo”.
consequencialistas. A ética judaico-cristã e a A pulseira marca uma atividade de
Kantiana são do primeiro tipo, o utilitarismo é do paquera – nela está escrito “beijo”, “abraço” etc.
segundo tipo. A garota que a usa estaria, em princípio,
permitindo uma brincadeira junto aos colegas ou
pretendentes; se eles arrancam a pulseira estão
Naturalismo aptos a realizar o que está gravado no objeto.
A noção de “natureza humana” já Nada além de uma brincadeira pré-adolescente,
desfrutou de muito mais prestígio do que hoje como era o “correio elegante”, o bilhete que
possui entre os filósofos. Todavia, no âmbito do meninos e meninas trocavam em festas escolares
senso comum, ainda é utilizada como um porto há alguns anos passados e que, talvez, ainda
seguro. Uma boa parte das pessoas se tranqüiliza troquem hoje em dia.
quando, diante do relato de uma situação vivida Nos Estados em que ocorreu o caso, as
por outros ou por si mesma, a avaliação moral autoridades se preocuparam antes em proibir o
recebida vem junto à frase “ah, isso é normal, é uso da “pulseira do sexo” que condenar veemente
próprio da natureza”. O que é um fato que pode o estupro e nele ficar. Assim, mais uma vez, a
ser classificado como “da natureza humana” mulher foi punida duplamente. Nessa situação,
serve, então, de fundamento ético para o 90 ocorreu a conhecida posição que imputa culpa à
comportamento moral – por mais esquisito que vítima. No limite, as mulheres que usam um
este possa parecer em um primeiro momento. adorno, no caso a “pulseira do sexo”, são
A ideia básica nesse caso está lá no século responsabilizadas pelos ataques que vierem a
XVII, especialmente na distinção entre fato e sofrer de malfeitores. Elas não deveriam estar
usando aquilo, pois, como concluíram as
autoridades de modo completamente irracional, a
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pulseira seria o chamariz para o ataque. Em suma, Pode-se afirmar legitimamente que há
as autoridades que assim pensaram não disseram, posições melhores e piores em moral, que somos
mas, certamente, estavam com a seguinte diretriz capazes de decidir sob quais não viveríamos de
na cabeça: “É um fato da natureza humana que o modo algum e sob quais poderíamos, ainda que
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homem se sinta excitado por mulheres que descontentes, optar por continuar vivendo. Na
colocam a pulseira chamando para o sexo”. maioria das vezes, temos argumentação suficiente
Alguns endossariam até mais: “É um fato da para dizer isso e convencer outros de nossa
natureza humana que homens que são chamados 60 razoabilidade, mesmo que não tenhamos nada de
para o sexo, uma vez rejeitados, ataquem”. universal e menos ainda de absoluto para invocar
Assim, a valoração moral da situação que em favor de nossa opção.
terminou em estupro e, em alguns casos, em O filósofo britânico Bertrand Russel
morte, é tomada de modo bem menos negativo (1872-1970) criticou os pragmatistas americanos
que a princípio poderia parecer. Há um crime e, é de sua época, em especial William James e John
certo, trata-se de um crime que as autoridades Dewey, acusando-os de relativistas. Ele entendia
adoram chamar de “hediondo”, mas que, no caso, os relativistas de uma maneira um pouco injusta,
cai sob as graças da avaliação moral, pois, afinal, como os que podiam dar guarida a toda e qualquer
a atitude dos criminosos não fugiu do que pode ação ou enunciado.
ser derivado de um “fato da natureza humana”. Nas discussões filosóficas sobre o
Esta posição metaética é base para a relativismo, ele cai na berlinda, em geral, diante
fundamentação de avaliações morais. O filósofo de Hitler. O genocídio dos judeus é a pedra de
George Moore (1873-1958) fez a melhor crítica toque. Há para o relativista um modo de condenar
dessa posição. Essa crítica apareceu como uma o nazismo pelo Holocausto ? Ou o relativista é
denúncia ao qual ele chamou de “falácia obrigado a confessar que entre a posição dos que
naturalista”. estiveram no Tribunal de Nuremberg (ocorrido
Ele não contestou a existência de uma após a Segunda Guerra Mundial), acusando os
“natureza humana”. Ele foi mais decisivo, pois nazistas ali julgados, e os próprios nazistas, não
questionou a legitimidade da derivação do “dever poderia haver diferença? Segundo alguns
ser” a partir do “ser”. O que se pode tomar como ultradireitistas, ainda hoje, os promotores de
algo que deveria ocorrer (ou não) não é algo que Nuremberg não tinham nenhum elemento nas
30 legitimamente se aponte a partir do que se mostra mãos além daquele devolvido pelos nazistas a
como o que é. Um fato não está autorizado a gerar cada acusação, a saber, que eles estavam ali sendo
um dever. Um fato dito “da natureza humana” não julgados única e exclusivamente por terem
está logicamente autorizado a dizer “o homem perdido a guerra – não eram nem mais e nem
deveria ou poderia agir de um modo ou de outro”. menos criminosos que qualquer outro participante
Norma e valor não podem ser obtidos do fato. A do conflito.
linha entre norma (ou valor) e fato não traz a A posição relativista é boa quando tem de
implicação legítima, traz uma relação que conduz justificar o que parece a uma cultura apenas
a uma falácia (falso raciocínio). Não é difícil ver, 90 idiossincracia de outra, e que, na verdade, tem lá
no caso da “pulseira do sexo”, a falácia em que as seu valor perante um bom contingente de pessoas
autoridades dos lugares que proibiram o uso do cultas. O relativismo tem menos sorte quando é
objeto caíram. cobrado diante de ter de avaliar genocidas.
O relativismo se complica mais, também,
Relativismo quando se coloca como base para as avaliações
ético-morais a respeito de atitudes de grupos que
A posição relativista, em uma formulação colocam seus semelhantes, os mais desprotegidos,
simplificada, diz que todos os enunciados que em situação de sofrer dor ou mesmo de morte.
afirmam o certo e o errado não estão sob o crivo Acontecimentos recentes nas tribos brasileiras
que deriva de uma autoridade universal e lembram bem isso. Há tribos que enterram vivas
absoluta. É claro que uma posição como esta crianças com algum defeito físico ou mental. Não
precisa ser discutida, pois ela não é o que se pode são tão diminutos os grupos de antropólogos ou
pensar dela inicialmente, uma posição de indigenistas que, utilizando o argumento da
autorrefutação. importância do respeito à cultura dos povos,
defendem tal prática.
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Mas o relativista sério sabe que o Emotivismo


relativismo não se presta à legitimação de toda e
qualquer prática. O relativismo implica em dizer O filósofo britânico Alfred J. Ayer, da
que valores, práticas e enunciados não podem ser linha dos positivistas lógicos, foi um dos
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colocados, em princípio, fora do contexto da principais defensores do emotivismo. Ele afirmou


discussão racional por conta de qualquer lei que todo e qualquer enunciado ético é sem
“escrita nas estrelas”. Ou seja, tudo merece sentido, não possui nenhum literalidade – é
discussão. Até a barbárie merece ser discutida. No alguma coisa que expressa emoção e não fatos.
caso de barbáries horríveis – o Holocausto é a Expressões de emoção, mesmo que sejam
pedra de toque aqui –, nós não deixamos de sentenças, foram tomadas por Ayer como
discuti-la. Aliás, no Tribunal de Nuremberg foi equivalentes a grunhidos ou sorrisos e, por isso
dado aos nazistas o direito de defesa. Em mesmo, não poderiam receber os adjetivos “falso”
determinado momento do julgamento, eles ou “verdadeiro”. Não estando no campo do que é
chegaram a levar vantagem diante da opinião literal, não pertenceriam ao âmbito do que pode
pública. Só quando os filmes que eles próprios ser verificado.
fizeram da morte de judeus chegaram a ser 60 Ora, sendo assim, mesmo que se coloque
encontrados e exibidos durante o período de um enunciado do tipo “a tortura é algo errado” em
julgamento, para todos que formavam ali o júri, é um documento solene como, por exemplo, a
que o promotor efetivamente ganhou força no citada Carta da Defesa dos Direitos do Homem,
caso. Muitos que viram as cenas não precisaram há de se ter em mente que se trata de um
evocar nenhum princípio universal para ter enunciado não verificável. “A tortura é algo
argumentos contra eles. Aliás, depois da Segunda errado” equivale a um grito de emoção, algo
Guerra Mundial se elaborou uma nova Carta de como um “buuu” ou “iahhhaa”.
defesa dos Direitos do Homem exatamente para Os filósofos norte-americano e britânicos
se ter um parâmetro para uma futura que, entre toda a comunidade filosófica, são os
jurisprudência, o que foi tomado por decisão mais familiarizados com essa doutrina, a
histórica e, portanto, sem qualquer legitimidade denominaram de teoria ética do Boo/Hooray,
outra que não a do desejo dos que a elaboraram de lembrando que se alguém está dizendo algo a
não ver a barbárie repetida sem que se pudesse respeito de sentimentos está, efetivamente,
30 dizer: “Isso nós não queremos”. grunhindo de modo a incentivar ou reprovar algo,
com o único objetivo de mobilizar ou
desmobilizar ações e conversas.
Poder-se-ia aqui, no caso, também chamar
Hitler ? Sim, claro ! Mas novamente há saídas.
Dizer “buuu” para alguém pode não ser pouca
coisa. Um grito de reprovação é um grito de
reprovação e, uma vez no ar, identifica seu
emissor. Ora, seu emissor pode, por si próprio, ter
status moral suficiente para que outros digam
“ele é uma pessoa razoável, não está aplaudindo
tal enunciado e, então, vou considerar o que ele
tem a argumentar sobre isso”. Podemos conversar
horas, nesse caso, sem encontrarmos leis “escritas
nas estrelas” para justificar o “buuu”, mas, na
discussão, pode-se encontrar uma série de bons
90 argumentos, sentimentais ou pragmáticos, que
Tribunal de Nuremberg. Ocorrido após a Segunda Guerra Mundial, em indicam muito bem que não é razoável e nada
Nuremberg, na Alemanha, julgou os nazistas que cometeram crimes
durante a guerra, desde irregularidades contra o direito internacional até bom ficar do lado do vaiado. Por exemplo, talvez
assassinatos em massa. De 1945 a 1949, 199 pessoas foram julgadas, sendo possamos mesmo convencer um nazista, que não
que, desse total, 21 eram líderes nazistas. Um dos réus mais famosos foi o
braço direito de Adolf Hitler, Hermann Goering, que foi condenado à seja o próprio Hitler, que a democracia é melhor
morte. No entanto, antes de a pena ser aplicada, ele cometeu suicídio na para a família dele e de seus filhos que o regime
prisão.
de força que ele adotou.

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Ética do Dever
Um religioso guiado pelos Mandamentos
é, antes de tudo, uma pessoa que segue um código
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ético-moral por dever. O nome já diz tudo: não se


trata de sugestões para a vida e, sim, de ordens –
mandamentos. O deus judaico-cristão não pede,
ele manda. Ele pode mandar “por justiça”, como
no Velho Testamento, ou por amor, como no
Novo, mas que ele manda, ele manda.
Sua autoridade para mandar vem, no
Velho Testamento, dele próprio – ele falou o que
era o correto para o povo judeu e, enfim, depois,
por meio deste, para o homem em geral. No Novo
Testamento, Deus se transformou em pai e, então,
reordenou alguns princípios, repostos pelo
discurso de Jesus. Nesse, ele falou o que era o
correto para os judeus e sua autoridade passou a Immanuel Kant (1724-1804). Filósofo alemão autor de uma importante
obra sobre ética intitulada Crítica da Razão Prática.
vir da ideia de que “o amor é a única lei”. Nos
dois casos, o código moral a ser seguido é, antes
de tudo, um conjunto normativo que seguimos 60 Ética Consequencialista
porque devemos seguir.
Com os modernos, em especial com o Diferentemente da ética do dever, John
filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), Stuart Mill (1806-1873) advogou uma ética das
uma norma deveria ganhar valor moral caso conseqüências a partir de seu projeto denominado
pudesse ser identificada como um imperativo – o de utilitarismo. Sua idéia básica foi a de tornar
chamado “imperativo categórico”, assim posto: indistintos felicidade e prazer, aceitando para tal
“Atue somente de acordo com aquela máxima um cálculo a respeito do prazer. O que causa dor e
que pode ser tomada como que deveria ser o que causa prazer foram postos em uma régua de
30 uma lei universal, ao mesmo tempo que se está máximos em pólos opostos, e o que é bom e,
agindo”. Essa lei depende de um “fato da razão”: portanto, um valor ético-moral, é o que não traz
a liberdade. O homem não está preso a agir assim, dor alguma. Dessa forma, inicia-se no ponto não
ele age porque sua condição é a de ser livre. Ele zero, positivo, do prazer. O mal é exatamente o
se determina (autodetermina) a agir assim, que se inicia em sentido contrário. Uma régua
segundo o imperativo, para poder agir desse tipo pode avaliar cada enunciado e cada ato,
moralmente, e isso não por sentimento (interesse em suas conseqüências, como útil ou não para o
ou inclinação) e, sim, por entender que a regra do homem.
imperativo categórico, uma vez não seguida, Indagados se isso não traria uma
resultaria em uma contradição que gritaria ao seu arbitrariedade muito grande no campo das
ouvido racional. Que mundo pouco confortável decisões éticas, os utilitaristas responderam que
(racionalmente) não seria aquele no qual o que essa régua não deveria ser posta em uso sem que
não pode ser tomado como lei universal fosse a se considerasse a humanidade, o coletivo.
regra seguida por todos e aceita como correta ? Todavia, ainda assim, a pergunta retornaria, pois
O exemplo aqui é do próprio Kant: mentir os conflitos ético-morais aparecem não só entre
por amor à humanidade não é um ato moral, pois indivíduos, mas, como já mostrei aqui, também a
a mentira como lei universal inviabilizaria nossa respeito de culturas – o que é o coletivo para o
sociedade e a própria humanidade. Caso todos indivíduo.
pudessem mentir e, ainda assim, ter respaldo Apesar dessa objeção, o utilitarismo tem
moral para a mentira, isso institucionalizaria uma uma vantagem sobre os dois outros sistemas. Ele
sociedade que, no limite, já não teria parâmetro é menos rígido e, por isso mesmo, permite o que é
para separar – moralmente, o que não é pouco – o 90 essencial à Filosofia, ou seja, a discussão racional
que é o testemunho falso e o que é o verdadeiro. e não apenas a decisão racional.

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Por exemplo, no caso dos índios que CAPÍTULO 3


enterram crianças, um utilitarista iria fazer o que
realmente foi feito por alguns estudiosos: saber se CONCEPÇÕES ÉTICAS
a dor criada por aquela situação seria
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exclusivamente da criança ou de outros também.


O que se descobriu é que alguns irmãos e mesmo ÉTICA CLÁSSICA
algumas mães preferiam fugir a enterrar seus Segundo Sócrates, Platão e Aristóteles
filhos, pois a dor que sentiam era insuportável,
mesmo diante do costume arraigado em séculos.
Nesse caso, a régua moral utilitária diz que a
própria tribo tenta sobreviver também por meio
dos que não concordam com o costume, e estes
fogem e sobrevivem, e não deixam de se
considerar daquela tribo por terem optado pelo
exílio nas mais duras condições da floresta. Dessa
observação, a discussão racional reaparece
exatamente porque as conseqüências não foram
pré-julgadas, elas são repostas na mesa de
conservação para os que estão observando o
quadro. 

PLATÃO E ARISTÓTELES conviveram por 20 anos na Academia

O pensamento de Sócrates (470-399 a.C.)


marca o nascimento da filosofia clássica e, foi,
posteriormente desenvolvido por Platão e
Aristóteles. Sócrates não estava mais preocupado
60 com a origem do cosmo (como as pessoas no
tempo da mitologia) nem com o elemento que
seria a essência de tudo (como os pré-socráticos).
J.S.Mill (1806-173). Filósofo e economista inglês, e um dos pensadores Para ele, o fundamental era a reflexão sobre a vida
liberais mais influentes do século XIX. Foi um defensor do utilitarismo, a
teoria ética proposta inicialmente por seu padrinho Jeremy Bentham. da pólis (cidade-estado), os costumes e
comportamentos. Juntos, esses fatores formam o
que os gregos chamavam de ethos (estilo de vida).
 Referência: Sócrates é, então, o inventor da ética, pois foi o
30
GHIRALDELLI JR., Paulo. A boa e velha ética. O conceito primeiro filósofo a questionar as ações humanas e
e suas derivações aplicados aos mais recentes casos os valores subjacentes a elas.
noticiados pela mídia. Conhecimento Prático Filosofia. p. Na mesma época de Sócrates, existiam os
54-60. São Paulo: escala educacional, 2010. sofistas (mestres de retórica e oratória) que
(Adaptado por Ulisses Vasconcelos) rejeitavam a tradição mítica ao considerar que os
________________________________________ princípios morais resultam de convenções
humanas. Embora na mesma linha de oposição
aos fundamentos religiosos, Sócrates se contrapõe
aos sofistas acreditando que aqueles princípios
não se originam nas convenções, mas na natureza

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humana, ou seja, é natural do homem guiado pela desse entendimento e aponta para a necessidade e
razão. a possibilidade de aperfeiçoá-lo através da
A concepção filosófica de Sócrates pode reflexão. Ou seja, partindo de um entendimento já
ser caracterizada como um método de análise existente, ir além dele em busca de algo mais
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conceitual. Isso pode ser ilustrado pela célebre perfeito, mais completo: um conceito.
questão socrática “O que é ...?”, através da qual se 60 Os sofistas, segundo Sócrates, não
busca a definição de uma determinada coisa, ensinavam o caminho (o método) para o
geralmente uma virtude ou qualidade moral. conhecimento, para a verdade única que resultaria
Inúmeros são os diálogos de Platão (427- desse conhecimento, mas para a obtenção de uma
347 a.C.) em que são descritas as discussões “verdade consensual” (convenção), resultado da
socráticas a respeito das virtudes e da natureza do persuasão da oratória.
bem. Resulta daí a convicção de que a virtude se Sócrates descobriu o problema do conceito
identifica com o conhecimento (com a sabedoria) buscando definições corretas para valores morais,
e o vício com a ignorância. Para Sócrates, o como amizade e coragem; Platão considerou o
homem só é mau porque ignora (desconhece) o conceito como o conhecimento de uma ideia
bem. Portanto, a virtude pode ser aprendida. eterna e inata por parte da mente humana;
No diálogo Ménon, cujo tema é o Aristóteles reduziu-o ao conhecimento da
ensinamento da virtude, encontramos uma célebre essência.
passagem a esse respeito (70a-72b): Na célebre passagem de A República, em
que Platão descreve o mito da caverna, reaparece
Ménon: Você pode me dizer, Sócrates, se a a ideia de Sócrates de que a virtude se identifica
virtude é algo que pode ser ensinado ou que só com a sabedoria: o sábio é o único capaz de se
adquirimos pela prática ? Ou não é nem o soltar das amarras que o obrigam a ver apenas
ensinamento nem a prática que tornam o homem sombras e, dirigindo-se para fora, contempla o
virtuoso, mas algum tipo de aptidão natural ou sol, que representa a ideia do Bem.
algo assim ? Portanto, “alcançar o bem” se relaciona
Sócrates: (...) Você deve considerar-me com a capacidade de “compreender bem”. Só o
especialmente privilegiado para saber se a filósofo atinge o nível mais alto de sabedoria, só a
30 virtude pode ser ensinada ou como pode ser ele cabe a virtude maior da justiça e portanto lhe é
adquirida. O fato é que estou longe de saber se reservada a função de governar. Outras virtudes
ela pode ser ensinada, pois sequer tenho idéia do menores, mas também importantes para a cidade,
que seja a virtude (...). E como poderia saber se caberão aos soldados defensores da pólis e aos
uma coisa tem uma determinada propriedade se trabalhadores comuns, artesãos e comerciantes.
sequer sei o que ela é (...). Diga-me você próprio Herdeiro do pensamento de Platão,
o que é a virtude. Aristóteles (384-322 a.C.) aprofunda a discussão
90 a respeito das questões éticas. Mas, para ele, o
Este diálogo se desenrola quando Ménon homem busca a felicidade, que consiste não nos
oferece várias definições de virtude, recusadas prazeres nem na riqueza, mas na vida teórica e
entretanto por Sócrates, dizendo ele que mesmo as contemplativa cuja realização coincide com o
virtudes sejam muitas e de vários tipos, terão pelo desenvolvimento da racionalidade.
menos algo em comum que faz de todas elas O que há de comum no pensamento dos
virtudes. filósofos gregos é a concepção de que a virtude
O método socrático envolve um resulta do trabalho reflexivo, da sabedoria, do
questionamento do senso comum, das crenças e controle racional dos desejos e paixões.
opiniões que temos, consideradas vagas, Além disso, o sujeito moral não pode ser
imprecisas, derivadas de nossa experiência, e compreendido ainda, como nos tempos atuais, na
portanto parciais e incompletas. Nesse sentido a sua completa individualidade. Os homens gregos
reflexão filosófica vai mostrar que, com são antes de tudo cidadãos, membros integrantes
freqüência, não sabemos aquilo que pensamos de uma comunidade, de modo que a ética se acha
saber. Temos talvez um entendimento prático, intrinsecamente ligada à política.
intuitivo, imediato, que contudo se revela
inadequado no momento em que deve ser tornado
explícito. O método socrático revela a fragilidade
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Sócrates: conhecimento e felicidade


Por Ulisses da Silva Vasconcelos e Ricardo Eugênio Lima*  AGORA É COM VOCÊ !
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“Conhece-te a ti mesmo” estava escrito no


pórtico do templo do deus Apolo. Esse enigma serviu 60 EXERCÍCIOS PROPOSTOS
como máxima para a vida de Sócrates. O pensador
grego julgava que a felicidade não poderia estar ligada 1) Destaca-se no texto “Sócrates: conhecimento e
a coisas exteriores, mas residia no próprio homem que, felicidade” o conceito de racionalidade introduzido por
guiado pela razão, viveria virtuosamente, e desse Sócrates e difundido por Platão na cultura ocidental. Para
modo seria feliz. Assim, a felicidade seria a harmonia Sócrates, o homem guiado pela razão é aquele que:
interior ou ordem espiritual. Sendo interior, ninguém a) valoriza os instintos humanos e reflete sobre eles
racionalmente;
ou nenhuma situação poderiam removê-la, tal como
b) valoriza a interioridade da razão que domina e imputa
explica Platão, discípulo de Sócrates, no Fédon: “(...) e ordens às forças externas – e controla tudo o que lhe é
os mais felizes são aqueles cujas almas vão para os contrário, principalmente os instintos;
lugares mais agradáveis, os que sempre exerceram c) deixa perder a lucidez racional em oposição aos desejos;
essa virtude social e civil que se chama temperança e d) julga o valor da vida, separando o conhecimento sobre a
justiça, que se formaram pelo costume e pelo exercício aparência e o conhecimento sobre a essência, dando
(...)”. preferência ao primeiro;
Em outro texto, Apologia de Sócrates, Platão, e) julga ser verdade a vida dos sentidos, e não a vida
ao escrever um diálogo em que critica a sociedade contemplativa por meio da interiorização.
ateniense pela condenação de seu mestre, o apresenta
2) Se, como entende Nietzsche (severo crítico da
como personagem. No diálogo, Sócrates pede àqueles
racionalidade socrática), Sócrates foi conivente como o
que o julgavam: “Quando os meus filhinhos ficarem veredicto de sua morte, e, como relata Platão na Apologia,
adultos, puni-os, ó cidadãos, atormentai-os do mesmo ele não quis tentar uma fuga enquanto esperava a cicuta,
modo que eu os vos atormentei, quando vos parecer então caminhou conscientemente à sua morte “para
que eles cuidam mais das riquezas ou de outras começar um novo dia”; uma outra fase da vida: a da
coisas do que da virtude”. liberdade da alma para encontro com a verdade. Com isto,
30 Como pai, Sócrates também desejava a surgiu na Grécia Antiga, ao assassinar o tipo trágico, o
felicidade aos seus filhos e sabia que eles só poderiam novo tipo de homem: o socrático – sistematizado e
encontrá-la dentro de si mesmos. Porém, qual caminho difundido na obra de Platão.
(COSTA, Victor. Sócrates: o problema para Nietzsche. Ciência  Vida
seguir ? A resposta para essa questão se encontra em 90 FILOSOFIA. n. 47. São Paulo: escala, 2010.p.46)
outro texto platônico, Críton, no qual Sócrates, como
personagem do diálogo, fala a seu amigo Críton, Para o filósofo Nietzsche, o exemplo da vida de Sócrates
quando este tenta convencê-lo a fugir: “Temos, pois, mostra:
de examinar se devemos proceder como queres ou a) o fim da tragédia grega pelo domínio da razão sobre os
instintos;
não. Quanto a mim, não é de agora, sempre fui deste
b) o início da tragédia grega pelo domínio dos instintos
feitio: não cedo a nenhuma outra de minhas razões, sobre a razão;
senão à que minhas reflexões demonstram ser a c) “tornou-se o novo ideal, nunca antes contemplado, da
melhor”. nobre juventude grega: e o típico jovem heleno, Platão, foi o
Você pode não concordar com a concepção primeiro a lançar-se, com toda a ardente devoção de sua
socrática da felicidade, mas de qualquer modo, ao alma arrebatada, aos pés dessa imagem”.
discordar, é preciso pensar e encontrar argumentos d) a prática da Filosofia socrático-platônica de valorar a
para construir a própria compreensão do que seja a vida.
felicidade e suas implicações, vivendo e) as alternativas a e c estão corretas.
conscientemente e não passando pela vida sem saber o
3) Qual é o tema (central) conceitual correspondente ao
caminho percorrido. ©
socratismo e à moral ?
a) a ética.
*ULISSES VASCONCELOS. Graduado em Filosofia (Licenciatura e
Bacharelado) e mestrando em Filosofia pela UFPA; b) o conhecimento sensitivo.
RICARDO LIMA. Pedagogo, professor da Rede Estadual de Ensino do c) a virtude.
Ceará e aluno do 2º período de Filosofia da UERN. d) a alma.
e) a justiça .
_______________________________________________
4) Segundo Nietzsche, tal como a eticidade socrática, a
moral cristã nega o mundo sensorial, para, a partir de um
mundo inteligível, poder afirmar a felicidade da alma
humana. Esta felicidade, ou melhor, essa ética é orientada
por uma dimensão teleológica (do grego telos = fim). A
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finalidade da alma, para a noção socrático-platônica, é Aristóteles dedicou boa parte de sua obra
libertar-se da matéria (do conhecimento através dos ao estudo de como o ser humano pode ser feliz
sentidos), e para a noção da moral cristã é libertar-se do
pecado (da fruição dos instintos). Em ambas as noções não vivendo em sociedade. Assim como Platão,
esboçou um projeto político para solucionar esse
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há afirmação de um tipo de homem que comporte a batalha


entre princípios racionais e desejante. Há contudo, repulsa problema, que conheceremos a seguir:
aos desejos humanos em favor da racionalidade, em favor “O homem”, afirma Aristóteles em A
da lógica de negação do mundo sensorial; em última Política, “é naturalmente um animal político”.
instância: da negação da vida.
(COSTA, Victor. Sócrates: o problema para Nietzsche. Ciência  Vida Político deve ser entendido como “participante da
FILOSOFIA. n. 47. São Paulo: escala, 2010.p.49) pólis”: uma das condições essenciais do ser
Em que ponto você concorda ou discorda da posição de
humano é o fato de viver agregado a outros
Nietzsche ? Faça um breve comentário. 60 homens. Em outras palavras, para esse filósofo
________________________________________________ um indivíduo vivendo sozinho é inconcebível: um
________________________________________________ homem absolutamente solitário ou auto-suficiente
________________________________________________ deixaria de ser homem – seria um “deus” ou uma
________________________________________________
________________________________________________
“fera” – ou simplesmente não sobreviveria.
________________________________________________ Além disso, a pólis era para Aristóteles a
________________________________________________ melhor organização social possível, desde que
________________________________________________ fosse regida por critérios justos, que visassem ao
________________________________________________ bem comum. No mais, as Ciências práticas (a
________________________________________________
ética e a política) tinham a finalidade de buscar o
5) Sobre a racionalidade moral de Sócrates, assinale a única aperfeiçoamento do seu agente, isto é, do homem.
alternativa incorreta: A aplicação dessas ciências, segundo Aristóteles,
a) os princípios morais resultam do consenso entre os leva o desenvolvimento do ser humano na direção
homens, e não da natureza humana. de uma existência melhor.
30 b) a tranqüilidade interior do homem honesto é superior à
morte.
Aristóteles definia a ética como a ciência
c) a finalidade da vida é a felicidade, que está na capacidade que trata do caráter e da conduta dos indivíduos, e
do homem de estabelecer para si mesmo, por meio do saber, a política como os estudos que regem a existência
suas próprias leis e regras de conduta. dos homens vivendo numa comunidade auto-
d) a sabedoria só pode ser resultado da percepção que temos suficiente, no caso, a pólis. A doutrina aristotélica
da própria ignorância.
e) é a dimensão biológico-cultural o maior obstáculo no
afirma que as duas são inseparáveis. Assim, a
caminho da perfeita realização espiritual. perfeição da personalidade individual (que se
mostra através da honestidade, da honra, do
________________________________________ respeito ao próximo, em suma, da virtude) é a
finalidade almejada pela vida comunitária e pelas
leis – e estas seriam os meios pelos quais se
ARISTÓTELES: A ÉTICA DA FELICIDADE obtém aquele fim.
Para Aristóteles, de fato, a felicidade não
era apenas um estado emocional e passivo, mas
sim uma atividade: o homem feliz era aquele que
praticava incessantemente a virtude, sempre
90 aperfeiçoando seu caráter. Esse seria o campo
específico da ética. No entanto, a conduta justa do
indivíduo só teria sentido dentro da vida em
sociedade.
A política seria tão importante: para que o
indivíduo possa ser virtuoso (ético e, portanto,
feliz), é necessário haver uma organização
política favorável para essa finalidade seja
atingida. Qual é ela ? Para Aristóteles, é a pólis
ARISTÓTELES (384-322 a.C.). Filósofo grego, discípulo de Platão, e governada democraticamente, na qual todos os
autor de uma grande obra intitulada Ética a Nicômaco
cidadãos se conheçam pessoalmente e façam parte
de uma grande assembléia que governa a cidade,
determinando seus destinos e redigindo leis que
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garantam uma existência digna para seus perseverar no bem. Ou seja, a verdadeira vida
habitantes. moral se condensa na vida virtuosa.
Ser feliz é possível, mas dá bastante Para Aristóteles, as necessidades fazem
trabalho, segundo Aristóteles, que definiu 60 com que o homem sempre adapte uma virtude a
* ATENÇÃO: Copiar é CRIME. Art. 184 do código Penal e Lei n° 5998/73

felicidade como uma “certa atividade da alma sua respectiva ação. Esse processo era chamado
realizada em conformidade com a virtude”. Em de variação entre ato e potência, ou seja, o homem
sua obra, Ética a Nicômaco, o filósofo garante é em ato algo no tempo presente, mas tem
que a eudaimonia (a palavra que designa potencialidade para ser outro homem distinto. E
felicidade, em grego) depende de nós mesmos e assim por diante, até a morte.
precisa ser buscada sempre; o meio para atingi-la A busca pela felicidade, na visão de
seria a virtude que o homem possui naturalmente. Aristóteles, seria uma eterna corrida, com vários
Para Aristóteles, o homem busca a obstáculos a serem superados, riscos a serem
felicidade (o sumo bem), que consiste não nos enfrentados e árduo trabalho, porém, sem
prazeres nem na riqueza, mas na vida teórica e garantias de que no final o objetivo máximo fosse
contemplativa, cuja plena realização coincide com alcançado.
o desenvolvimento da racionalidade. Para ser Para o filósofo grego, a felicidade é uma
feliz, portanto, o homem deve viver de acordo satisfação das necessidades e das aspirações
com a sua essência, isto é, de acordo com a sua mundanas e, ao atingi-la, outras necessidades
razão, a sua consciência reflexiva. E, orientando surgirão para o homem; então, ele sempre estará
os seus atos para uma conduta ética, a razão o nessa constante busca.
conduzirá à prática da virtude. Os filósofos, em toda a tradição da
Filosofia Ocidental, aproximam a felicidade da
(...) o que é próprio de cada coisa é, por natureza, o que há
de melhor e de aprazível para ela. (...) para o homem a vida sabedoria, afirmando sua ligação com a reflexão e
conforme a razão é a melhor e a mais aprazível, já que a a dependência da razão, da virtude, da moderação,
razão, mais que qualquer outra coisa, é o homem. Donde se em última análise, o elo íntimo da felicidade com
conclui que essa vida é também a mais feliz. (ARISTÓTELES. a própria Filosofia. É o caso do filósofo grego
Ética a Nicômaco)
Epicuro (341-270 a.C.), para quem o prazer
30 Para Aristóteles, a virtude representa o contínuo seria a chave para uma vida feliz. Sua
meio-termo, a justa medida de equilíbrio entre o filosofia tinha uma finalidade prática, ajudando
excesso e a falta de um atributo qualquer. seus seguidores a encontrar o caminho para a
felicidade através do prazer, que poderia ser
(...) a virtude deve ter a qualidade de visar ao meio-termo. traduzido não por uma indulgência sensual, mas
Falo da virtude moral, pois é ela que se relaciona com as
paixões e ações, e nestas existe excesso, carência e um pelo processo de moderação, leitura e
meio-termo. (...) A virtude é, então, uma disposição de 90 introspecção da vida – o prazer do sábio, que tem
caráter relacionada com a escolha de ações e paixões, e controle de si mesmo. Desta maneira, os temores
consistente numa mediania, isto é, a mediania relativa a seriam eliminados e os homens encontrariam o
nós, que é determinada por um princípio racional próprio sossego necessário para uma vida alegre e
do homem dotado de sabedoria prática. (ARISTÓTELES. Ética
a Nicômaco) aprazível.
________________________________________
Por exemplo, a virtude da prudência é o
meio-termo entre a precipitação e a negligência; a
virtude da coragem é o meio-termo entre a
covardia e a valentia insana; a perseverança é o
meio-termo termo entre a fraqueza de vontade e a
vontade obsessiva.
Uma vida autenticamente moral não se
resume a um ato moral, mas é a repetição e
continuidade do agir moral. Aristóteles afirmava
que “uma andorinha, só, não faz verão” para
dizer que o agir virtuoso não é ocasional e
fortuito, mas deve se tornar um hábito, fundado
no desejo de continuidade e na capacidade de

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Diferentemente de Platão (427-347 a. C.), que considera

 PARA REFLETIR ou FILOSOFAR


a virtude como inata, ou seja, como uma qualidade que o indivíduo
já traz consigo ao nascer, Aristóteles entende que ela somente pode
ser adquirida como pode ser adquirida como um hábito (ethos).
* ATENÇÃO: Copiar é CRIME. Art. 184 do código Penal e Lei n° 5998/73

“(...) quanto à excelência moral, ela é o produto do hábito, razão


VIRTUDE: pela qual seu nome é derivado, com uma ligeira variação, da
A EXCELÊNCIA EM PROL DA palavra ‘hábito’. É evidente, portanto, que nenhuma das várias
formas de excelência moral se constitui em nós por natureza, pois
FELICIDADE nada que existe por natureza pode ser alterado por hábito”.
(ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco)
A cada momento que utilizamos o melhor de nós, em justa
medida, ficamos mais próximo do ápice do bem-estar O saber da virtude não é um saber discursivo, conceitual.
É um saber prático:
Por Rita Foelker*
“As coisas que temos de aprender antes de fazer, aprendemo-las
fazendo-as – por exemplo, os homens se tornam construtores
A virtude é um dos temas da Ética a Nicômaco – construindo, e se tornam citaristas tocando cítara; da mesma
principal tratado de ética escrito por Aristóteles (384 – 322 a.C.) e forma, tornamo-nos justos praticando atos justos, moderados
supostamente dirigido a seu filho –, de onde foram extraídos os agindo moderamente, e corajosos agindo corajosamente”
fragmentos abaixo. (ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco)
A palavra “virtude”, em um sentido ético, pode ser
entendida como uma qualidade moral ou intelectual positiva do ser Disso se pode deduzir que tal peculiaridade da virtude
humano, que o leva a agir visando ao bem. Tal virtude em 90 moral, certamente, reflete-se no modo de “ensiná-la”, que não
Aristóteles (areté) costuma ser traduzida como excelência moral e consiste em falar ou escrever sobre a excelência moral, mas em
assim ele a define: agir eticamente e, assim, influenciar o educando. A convivência
com um agente virtuoso constitui o melhor meio de aprendizado.
“A excelência moral, então, é uma disposição da alma relacionada Considerando-se que, para Aristóteles, a virtude não é
com a escolha de ações e emoções, disposição esta consistente um bem do sujeito, ninguém nasce bom ou ruim. A virtude se
num meio-termo (relativo a nós) determinado pela razão (a razão relaciona diretamente a uma práxis (ação prática), e aquele que
graças à qual um homem dotado de discernimento/prudência o deixa de praticá-la também deixa de ser virtuoso. ©
determinaria). Trata-se de um estado intermediário, porque nas
várias formas de deficiência moral há falta ou excesso do que é
conveniente tanto nas emoções quanto nas ações, enquanto a * RITA FOELKER. É escritora e aluna da graduação em filosofia da
30 excelência moral encontra e prefere o meio-termo (mesotés). Universidade São Judas Tadeu, SP.
Logo, a respeito do que ela é, ou seja, a definição que expressa a
sua essência, a excelência moral é um meio-termo, mas com _____________________________________________________
referência ao que é melhor e conforme ao bem ela é um extremo”.
(ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco)

Duas formas de virtude estão presentes na Ética a


Nicômaco: a virtude intelectual e a virtude moral.
A virtude intelectual (dianóia) é representada
 PARA FIXAR
 VIRTUDE: Virtude vem da palavra latina vir, que
principalmente pela sabedoria e pela prudência (phrónesis),
designa o homem, o varão. Virtus é “poder”,
adquiridas pela instrução e que trazem calma e tranqüilidade ao
homem. A virtude moral é uma disposição de espírito ou hábito de
“potência” (ou possibilidade de passar ao ato).
escolher em todas as situações a justa medida que convém à nossa
Virilidade está ligada à ideia de força, de poder.
natureza. As pessoas que têm essa virtude desenvolvem a
Virtuoso é aquele capaz de exercer uma atividade em
moderação e o bom-senso (sophrosýne).
nível de excelência (virtude se refere a idéia de força,
A felicidade é o fim último da virtude, não como
objetivo do indivíduo, mas da polis, razão pela qual se pode dizer
de capacidade). Em moral, a virtude do homem é a
que, para Aristóteles, a ética está subordinada à política. Segundo
força com a qual ele se aplica ao dever e o realiza. A
David Ross (filósofo americano contemporâneo), “a virtude do
virtude é a permanente disposição para querer o bem,
Estado está conforme a virtude de seus cidadãos”. Não se trata,
o que supõe a coragem de assumir os valores
portanto, de um objetivo religioso nem divino, relacionado à
escolhidos e enfrentar os obstáculos que dificultam a
vontade dos deuses, mas de construir uma vida social feliz e
harmoniosa.
ação. Uma vida autenticamente moral não se resume a
A plenitude do ser humano
um ato moral, mas é a repetição e continuidade do agir
moral. Aristóteles afirmava que “uma andorinha, só,
A busca da ética é a busca do fim do próprio homem 120 não faz verão” para dizer que o agir virtuoso não é
(Ética Teleológica). E este fim (télos), não se refere apenas a uma ocasional e fortuito, mas deve se tornar um hábito,
“finalidade” – como se costuma traduzir em português –, mas fundado no desejo de continuidade e na capacidade de
também a uma espécie de “plenitude”, o que reforça a idéia de que
60 a excelência moral e a conduta ética constituem a realização do perseverar no bem. Ou seja, a verdadeira vida moral se
grande e verdadeiro propósito de nossas vidas, nosso ponto condensa na vida virtuosa.
máximo, nossa plenitude enquanto seres.
O tratamento que Aristóteles confere ao tema da virtude
moral nos permite perceber duas idéias em destaque: 1) as virtudes
se transmitem pelo exemplo e 2) as virtudes são disposições de
espírito que se concretizam em ações.
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ÉTICA MODERNA Summum bonum (bem supremo) como


Segundo Kant efetivamente o é para Aristóteles.

 A LEI MORAL NÃO PODE TER SUA


* ATENÇÃO: Copiar é CRIME. Art. 184 do código Penal e Lei n° 5998/73

ORIGEM NA EXPERIÊNCIA – PRAZER,


UTILIDADE, FELICIDADE ETC. –, MAS É
CONDIÇÃO A PRIORI DA VONTADE.
O agir moralmente se funda
exclusivamente na razão. A lei moral que a razão
descobre é universal, pois não se trata de
descoberta subjetiva (mas do homem enquanto ser
racional), e é necessária, pois é ela que preserva a
dignidade dos homens. Isso pode ser sintetizado
nas seguintes afirmações do próprio Kant:

“Age de tal modo que a máxima de tua


ação possa sempre valer como princípio
universal de conduta”
Immanuel Kant (1724-1804). Filósofo alemão autor de uma importante 60
obra sobre ética intitulada Crítica da Razão Prática (1788), que exporá a
moralidade a partir da função prática da razão.  OBEDECE A LEI PELA PRÓPRIA LEI. E
NÃO POR OUTRO MOTIVO.
KANT: A ÉTICA DO DEVER MORAL  EXIGE VONTADE LIVRE.
Analisando os princípios da consciência  AGINDO SOB O COMANDO DO
moral, Immanuel Kant (1724-1804) em suas obras IMPERATIVO CATEGÓRICO, UM
intituladas Fundamentação da Metafísica dos INDIVÍDUO AGE SOB UM COMANDO
Costumes (1785) e Crítica da Razão Prática LIVREMENTE AUTO-IMPOSTO SEM
(1788), concluiu que a vontade humana é EXPERIMENTAR NENHUMA FORMA DE
verdadeiramente moral quando regida por COERÇÃO EXTERNA.
imperativos categóricos. O imperativo categórico
é assim chamado por ser incondicionado,
absoluto, voltado para a realização da ação tendo “Age sempre de tal modo que trates a
em vista o dever. Por razão prática, Kant entende humanidade, tanto na tua pessoa como
a razão na função de ditar à vontade a lei moral. na do outro, como fim e não apenas como
Kant fundamentou a moral na autonomia
meio”
da razão humana. Dessa forma ele recusou todas
as éticas anteriores, fundamentadas em normas e
valores de origens diversas (éticas heterônomas,
 EXIGE QUE SEJAMOS BENEVOLENTES.
ou seja, vindas de fora do sujeito, imposta por  PRINCÍPIO DO RESPEITO PELAS
outras fontes que não a razão). Assim, para
PESSOAS, COMO FORMULAÇÃO
30 impedir que os indivíduos se deixem levar pelos
ALTERNATIVA DO IMPERATIVO
seus desejos, paixões ou motivos particulares, é a
CATEGÓRICO.
razão que deve indicar quais são os deveres e
normas a serem seguidos de uma forma universal.
A autonomia da razão para legislar supõe a
Kant rejeita a concepção ética que norteia
liberdade (“independência da vontade com
a ação moral a partir de condicionantes como a
respeito à coação dos impulsos da sensibilidade”)
felicidade ou o interesse. Por exemplo, não faz
e o dever (“necessidade de cumprir uma ação por
sentido agir bem com o objetivo de ser feliz ou
respeito à lei”) . A noção do dever prende-se ao
evitar a dor ou punição. A felicidade para Kant é
90 caráter inteligível (interno; da razão) e não
um bem , mesmo que não seja considerada o
empírico (externo; da experiência sensível) do

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sujeito, vale dizer, à sua liberdade. Pois todo dificuldades. Poder-se-ia dizer até que a boa
imperativo se impõe como dever, mas a exigência vontade é a vontade de agir por dever, mas não
não é heterônoma – exterior e cega – e sim o agir conforme o dever por qualquer interesse ou
livremente assumida pelo sujeito que se inclinação sensível.
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autodetermina. Por exemplo, o comerciante que atende


Vamos exemplificar: Suponhamos a lealmente aos fregueses, age em conformidade
norma moral “não roubar”. Para Kant, a norma se 60 com o dever, mas não por dever, se não tem em
enraíza na própria natureza da razão; ao aceitar o vista senão o seu interesse bem compreendido. Do
roubo e consequentemente o enriquecimento mesmo modo, a pessoa que leva uma vida feliz e
ilícito, elevando a máxima (pessoal) ao nível se esforça em conservar a vida, age
universal, haverá uma contradição: se todos conformemente ao dever, pois a conservação da
podem roubar, não há como manter a posse do vida é um dever; mas não age por dever. Ao
que foi furtado. invés, quem se esforça por conservar uma vida a
Agir de acordo com o dever é, em última quem já não tem amor, este sim, age por dever.
análise, agir de acordo com os princípios Ser benfazejo por prazer é, igualmente, agir
racionais. A formação da vontade conforme a conformemente ao dever, mas não por dever. Por
razão é que produz a qualidade moral das ações outro lado, quem pratica a beneficiência, mesmo
humanas. sem sentir-se inclinado a isso, possui um valor
Mas não basta, para uma ação ser moral maior do que aquele que é benevolente por
considerada moralmente boa, que ela esteja de temperamento; e isto, no sentir de todos. Este
acordo com o dever. É preciso mais do que isso: é valor maior lhe vem precisamente do fato de que
necessário que ela seja feita por dever. Ou seja, é “ele faz o bem, não por inclinação, mas por
necessário não apenas que a ação se conforme ao dever”.
dever, mas também que o indivíduo reconheça Para ter verdadeiro valor moral, não basta
naquele dever o princípio racional que o sustenta para Kant que a ação seja conforme ao dever; é
como tal. mister, além disso, seja executada por dever. Agir
Essa intenção bem determinada em relação sob a influência da sensibilidade, ainda que a ação
à aceitação e ao cumprimento do dever é o que ele seja concorde ao dever, é algo de patológico.
designa boa vontade. Para Kant, a boa vontade é o Prático, ou moral, é só o que depende direta e
30 que caracteriza a ação moralmente correta. exclusivamente da razão.
“Assim devem, sem dúvida, ser compreendidos
A boa vontade e o dever
também os passos da Escritura, onde se ordena
A inteligência, a faculdade de julgar, a amar o próximo e até os inimigos. Com efeito, o
coragem etc., não são coisas boas absolutamente; amor, como inclinação, não pode ser comandado;
seu valor depende do uso que delas se faça. Cabe mas praticar o bem por dever, quando nenhuma
dizer o mesmo quanto à felicidade: não é um bem 90 inclinação a isso nos incita, ou quando uma
em si; pode mesmo ser uma fonte de corrupção aversão natural e invencível se opõe, eis um amor
para quem não dispõe de uma boa vontade. Até prático e não patológico, que reside na vontade, e
mesmo certas qualidades superiores, como o não na tendência da sensibilidade, nos princípios
domínio de si ou a reflexão, não podem da ação e não uma compaixão emoliente. Ora, é
considerar-se verdadeiramente boas, salvo se este o único amor que pode ser comandado”.
estiverem ao serviço de uma boa vontade. (KANT. Fundamentação da Metafísica dos Costumes)
Mas o que, afinal, torna uma vontade boa
? Não certamente, os seus êxitos, nem a aptidão Evidencia-se assim a oposição entre o
para levar a bom termo os seus propósitos; é a ponto de vista da legalidade, ou da conformidade
própria natureza do querer. com a lei, e o ponto de vista da moralidade
Qual é o conteúdo dessa boa vontade que verdadeira, que reside na pureza da intenção. Eis,
seria boa em si mesma ? É o conceito de dever. pois, um primeiro princípio: o valor moral de um
Este, com efeito, contém em si o da boa vontade, ato reside na intenção. Um segundo princípio é o
mas acrescenta-lhe certos entraves subjetivos, seguinte:
provindos de nossa sensibilidade, os quais põem
em relevo a boa vontade às voltas com certas
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“Uma ação cumprida por dever tira seu valor


moral não do fim por ela deve ser alcançado, mas
da máxima que a determina. Este valor não
 PARA REFLETIR ou FILOSOFAR
depende, portanto, da realidade do objeto da
* ATENÇÃO: Copiar é CRIME. Art. 184 do código Penal e Lei n° 5998/73

ação, mas unicamente do princípio do querer, UMA ÉTICA ABAIXO DO CÉU


segundo o qual a ação é produzida, sem tomar em 60
Por Valerio Rohden*
conta nenhum dos objetos da faculdade apetitiva
(de desejar). Kant escreveu diversas obras de filosofia prática, entre as
quais Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785), A
(KANT. Fundamentação da Metafísica dos Costumes)
Metafísica dos Costumes (1797) e Crítica da Razão Prática
(1788).
Não é o objeto que desejo atingir que faz o (...) Aqui só poderemos abordar sinteticamente alguns
valor moral do meu ato, mas a razão pela qual eu dos temas principais da Crítica da Razão Prática, a começar pelo
título. “Prático” significa tudo o que se faz com base na liberdade e
quero atingi-lo. O mercador honesto é moral se é por obra dela. Ela chama-se igualmente de “crítica”, porque
honesto por dever; carece de valor moral se é constitui a crítica a uma forma de razão que impede a prática da
honesto por interesse. Por outras palavras, o valor liberdade, ou seja, uma razão empírica.
Uma razão pragmática e empírica é uma razão
moral do ato está na intenção, mas é preciso calculadora de interesses, com base em inclinações. A inclinação é
considerar a intenção prescindindo do fim visado, o hábito de seguir o prazer. A propensão a elevar o prazer ou a
ou seja, unicamente como intenção de fazer o que inclinação a um princípio assume a denominação de princípio do
amor de si ou da felicidade própria.
se deve fazer.
Desses dois princípios decorre a seguintes Ética formal da liberdade
definição do dever: “O dever é a necessidade de
A ética kantiana de maneira nenhuma é adversa à
cumprir uma ação por respeito à lei”. inclinação, ao prazer ou à felicidade – que constituem a matéria
O homem necessita de móveis para poder empírica de leis práticas. Nem tampouco existe forma sem matéria.
agir; e como nenhuma ação procedende de um Mas no momento em que é dada prioridade à matéria e não à
forma, a razão torna-se heterônoma, isto é, determinada desde fora
móvel tirado da sensibilidade merece ser e não por si própria. Então, que fique marcado: o mal não reside
qualificada por moral, não resta outro móvel para nas inclinações, no prazer, na matéria, mas na própria máxima ou
a ação de quem queira agir por dever senão o na própria razão que, contraditoriamente eleva a matéria ou a
inclinação a princípio de si mesma. j
respeito à lei que lhe ordena cumprir o dever. É 90 A filosofia moral kantiana não se restringe – como
30 pois somente a representação da lei, num ser acontecia entre os antigos até a tradição racionalista anterior a
racional, que pode determinar a boa vontade. Kant – a uma ética material da felicidade, mas se constitui como
uma ética formal da liberdade. Enquanto tal, ela se apresenta como
Nesta altura surge, naturalmente, o uma ética de princípios, fundada, com a exclusão de uma razão
problema de saber em que consiste essa lei: determinante empírica, em uma razão pura. Pura é uma razão que,
sem mescla de interesses, se constitui como razão prática. Trata-se,
“cuja representação, sem qualquer espécie de pois, de uma razão livre ou, melhor, autônoma. Liberdade
significa, negativamente, independência de determinações
consideração pelo efeito que dela se espera, deve estranhas e, positivamente, autodeterminação. ©
determinar a vontade, para que esta possa ser
denominada boa absolutamente e sem restrição” * VALÉRIO ROHDEN é professor de filosofia da Universidade Luterana
do Brasil (Ulbra) e pesquisador do CNPq.
(KANT. Fundamentação da Metafísica dos costumes)
________________________________________
Em toda lei pode-se considerar a forma,
isto é, a universalidade do preceito, e o conteúdo, A CONSCIÊNCIA MORAL OU RAZÃO PRÁTICA
isto é, o objeto a ser colimado. Mas, como vimos, Por M. García Morente*
a ação moral não tira o seu valor do fim que se lhe
propõe; vale dizer que a obediência à lei deve
independer do conteúdo da lei. Portanto, para a Existe uma forma de atividade espiritual que podemos
condensar no nome de “consciência moral”. A consciência moral
vontade contém dentro de si um certo número de princípios em virtude dos
quais os homens regem sua vida. Ajustam sua conduta a esses
“nada mais resta do que a conformidade princípios, e, de outra parte, tem neles uma base para formular
universal das ações a uma lei em geral que deva juízos morais acerca de si mesmos e de quanto os rodeia. Essa
consciência moral é um fato, um fato da vida humana, tão real, tão
servi-lhe de princípio; noutros termos, devo efetivo, tão inabalável como o fato do conhecimento.
portar-me de modo que eu possa também querer Nesse conjunto de princípios que constituem a
que minha máxima se torne em lei universal”. consciência moral, encontra Kant a base que pode conduzir o
120 homem à apreensão dos objetos metafísicos. A esse conjunto de
(KANT. Fundamentação da Metafísica dos costumes) princípios de consciência moral dá Kant um nome. Ressuscita,
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para denominá-lo os termos de que se valeu para isso mesmo o remédio” é, pois, válido somente sob a condição de que “queiras
Aristóteles. Aristóteles chama a consciência moral e seus sarar”.
princípios “razão prática” (nous practikós). Kant ressuscita essa Pelo contrário, outros imperativos são categóricos:
denominação, e ao ressuscitá-la e aplicá-la à consciência moral o justamente aqueles em que a imperatividade, o mandamento, o
nome de razão prática, faz precisamente para mostrar, para fazer mandado, não está colocado sob condição nenhuma. O imperativo
* ATENÇÃO: Copiar é CRIME. Art. 184 do código Penal e Lei n° 5998/73

patente e manifesto que na consciência moral atua algo que, sem então impera, comanda, como diz Kant, incondicionalmente,
ser a razão especulativa, se assemelha à razão. São também absolutamente; não relativa e condicionalmente, mas de um modo
princípios racionais, princípios evidentes, dos quais podemos total, absoluto e sem limitações. Por exemplo: os imperativos da
julgar por meio da apreensão interna de sua evidência. Portanto, moral costumam formular-se desta maneira, sem condições:
pode chamá-lo legitimamente razão. Porém, não é a razão “Honra teus pais”, “Não mates outro homem”, enfim, todos os
enquanto se aplica ao conhecimento (especulativa); não é a razão mandamentos morais bem conhecidos.
encaminhada a determinar a essência das coisas, aquilo que as A qual desses dois imperativos corresponde o que
coisas são, mas é a razão aplicada à ação, à prática, aplicada à chamamos moralidade ? Evidentemente, a moralidade não é o
moral. mesmo que a legalidade. A legalidade de um ato voluntário
Pois bem. Uma análise desses princípios da consciência consiste em que a ação seja conforme e esteja ajustada à lei.
moral conduz Kant aos qualificativos morais; por exemplo, bom, Porém, não basta que uma ação seja conforme e esteja ajustada à
mau, moral, imoral, meritório, pecaminoso etc. Estes qualificativos lei para que seja moral; não basta que uma ação seja legal para que
morais, estes predicados morais que nós muitas vezes costumamos seja moral. Para que uma ação seja moral é mister que aconteça
estender às coisas, não convêm todavia as coisas. Dizemos que algo não na ação mesma e na sua concordância com a lei, mas no
esta coisas ou aquela coisa é boa ou má; mas, em rigor, as coisas instante que antecede à ação, no ânimo ou vontade daquele
não são boas nem más, porque nas coisas não há mérito nem 90 daquele que a executa. Se uma pessoa ajusta perfeitamente seus
demérito. Por conseguinte, os qualificativos morais não podem atos à lei, porém os ajusta à lei porque teme o castigo,
predicar-se das coisas, que são indiferente ao bem e ao mal; só consequentemente ou apetece a recompensa conseguinte, então
podem predicar-se do homem, da pessoa humana. Somente o dizemos que a conduta íntima, a vontade íntima dessa pessoa não é
homem, a pessoa humana é verdadeiramente digno de ser chamado moral. Para nós, para a consciência moral, uma vontade que se
bom ou mau.s As demais coisas que não são o homem, como os resolve a fazer o que faz por esperança de recompensa ou por
animais, os objetos, são aquilo que são, porém não são bons nem temor de castigo, perde todo o valor moral. A esperança de
maus. recompensa e o temor do castigo menoscabam a pureza do mérito
Por que é o homem o único ser do qual pode, em rigor, moral. Pelo contrário, dizemos que um ato moral tem pleno mérito
30 predicar-se a bondade e a maldade moral ? Pois é porque o moral quando a pessoa que o realiza determinou-se a realizá-lo
homem realiza atos e na realização desses atos o homem faz algo, unicamente porque esse é o ato moral devido.
estatui uma ação, e nessa ação podemos distinguir dois elementos: Se agora traduzimos isto à formulação, que antes
aquilo que o homem faz efetivamente e aquilo que quer fazer. explicávamos, do imperativo hipotético e do imperativo
Feita esta distinção entre aquilo que faz e aquilo que quer fazer, categórico, advertimos desde já que os atos em que não há a
notamos imediatamente que os predicados bom, mau, os pureza moral exigida, os atos em que a lei foi cumprida por temor
predicados morais, não correspondem tampouco àquilo que o do castigo ou por esperança de recompensa, são atos nos quais, na
homem faz efetivamente, mas corresponde estritamente àquilo que interioridade do sujeito, o imperativo categórico tornou-se
quer fazer. Se uma pessoa comete um homicídio involuntário, por habilmente imperativo hipotético. Em lugar de escutar a voz da
exemplo, este ato evidentemente é uma grande desgraça, porém consciência moral, que diz “Obedece a teus pais”, “Não mates teu
não pode qualificar-se de bom nem de mau aquele que o cometeu. próximo”, este imperativo categórico converte-se neste outro
Não, pois, ao conteúdo efetivo; não, pois à matéria do ato que hipotético: “se queres que não te aconteça nenhuma coisa
convêm os qualificativos morais de bom ou mau, mas à vontade desagradável, se queres não ir ao cárcere, não mates teu próximo”.
mesma do homem. Então o determinante aqui foi o temor; e esta determinação de
Esta análise conduz à conclusão de que a única coisa que temor tornou o imperativo (que na consciência moral é categórico)
verdadeiramente pode ser boa ou má é a vontade humana. Uma um imperativo hipotético; e o tornou hipotético ao colocá-lo sob
vontade boa ou uma vontade má. essa condição e transformar a ação num meio para evitar tal ou
qual castigo ou para obter tal ou qual recompensa.
IMPERATIVO HIPOTÉTICO E IMPERATIVO Então diremos que para Kant uma vontade é plena e
CATEGÓRICO realmente pura, moral, valiosa, quando suas ações estão regidas
por imperativos autenticamente categóricos.
Então o problema que se apresenta é o seguinte: que é, 120 Se agora quisermos formular isto em termos tirados da
em que consiste a vontade boa ? Que chamamos uma vontade boa lógica, diremos que em toda ação há uma matéria, que é aquilo que
? Aprofundando-se nesta direção, Kant adverte que todo ato seser faz ou aquilo que se omite, e há uma forma, que é o por que
voluntário se apresenta à razão, à reflexão, na forma de um se faz ou o por que se omite. E então a formulação será: uma ação
imperativo. Com efeito, todo ato, no momento de iniciar-se, de denota uma vontade pura e moral quando é feita não por
começar a realizar-se, aparece à consciência sob a forma de consideração ao seu conteúdo empírico, mas simplesmente por
mandamento: há que se fazer isto, isto tem que ser feito, isto deve respeito ao dever, quer dizer, como imperativo categórico e não
ser feito, faz isto. Essa forma de imperativo, que é a rubrica geral como imperativo hipotético. Mas este respeito ao dever é
em que se contém todo ato imediatamente possível, especifica-se simplesmente a consideração à forma do “dever”, seja qual for o
60 segundo Kant em duas classes de imperativos; os que ele chama conteúdo ordenado nesse dever. E essa consideração à forma pura
imperativos hipotéticos e os imperativos categóricos. proporciona a Kant a fórmula conhecidíssima do imperativo
A forma lógica, a forma racional, a estrutura interna do categórico, ou seja, a lei moral "universal, que é a seguinte: “Age
imperativo hipotético, é aquela que consiste em sujeitar o de maneira que possas querer que o motivo que te levou a agir
mandamento, ou imperativo mesmo, a uma condição. Por seja uma lei universal”. Esta exigência de que a motivação seja lei
exemplo: “Se queres sarar de tua doença, toma o remédio”. O universal vincula inteiramente a moralidade à pura forma da
imperativo é “toma o remédio”; porém esse imperativo está vontade, não ao seu conteúdo. ©
limitado, não é absoluto, não é incondicional, antes está colocado
sob a condição “de que queiras sarar”. Se me respondes, “Não * García Morente, M. Fundamentos de filosofia; lições preliminares.
quero sarar”, então não é válido o imperativo. O imperativo “Toma p.252-255.

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prazer porque, em relação à faculdade de desejar,


 PARA FIXAR
produz justamente o mesmo sentimento, mas a
partir de fontes diferentes; porém só mediante este
modo de representação se pode alcançar o que se
* ATENÇÃO: Copiar é CRIME. Art. 184 do código Penal e Lei n° 5998/73

procura, a saber, que as ações têm lugar não


DOUTRINAS MORAIS FUNDAMENTAIS:
apenas em conformidade com o dever (em
TELEOLOGIA E DEONTOLOGIA
conseqüência de sentimentos agradáveis), mas por
dever, o que tem de ser o verdadeiro fim de toda
 TELEOLOGIA: Doutrina ética cujos 60 formação moral”.
princípios repousam principalmente na avaliação (KANT. Crítica da Razão Prática).
de modos de agir e condutas que se conformam a
um determinado fim (telos) a ser alcançado e tido
como um bem, seja ele a felicidade (pretende que LEIS NATURAIS E LEIS MORAIS
o motivo central de nossas decisões e ações é a
busca da felicidade) – a excelência humana (o (Instituídas pelos homens para regular suas relações)
sumo bem) –, ou mesmo o prazer. Aqui é
concedida uma prioridade ao conceito de bem.  LEIS NATURAIS: leis nas quais todo o ser
vivo está submetido. Necessariamente nascemos,
Principais representantes: vivemos e morremos, como todos os demais
- Aristóteles (384-322 a.C.): o homem busca a animais. As leis naturais não estão subordinadas à
felicidade, que consiste não nos prazeres nem na nossa vontade. Para o empirista inglês David
riqueza, mas na vida teórica e contemplativa cuja Hume (1711-1776), “a lei natural é resultado de
realização coincide com o desenvolvimento da uma experiência fixa e inalterável”. Assim, todos
racionalidade. nós estamos submetidos a leis naturais invariáveis
cuja descoberta precisa e a redução ao mínimo
- Epicuro (341-270 a.C.): principal representante possível constituem os objetivos dos cientistas.
dos hedonistas (do grego hedoné, “prazer”). O
bem se encontra no prazer. Considera que os  LEIS MORAIS: O reino das leis morais é o
prazeres do corpo são causas de ansiedade e reino da práxis, no qual as ações são realizadas
sofrimento. Para permanecer impertubável, a alma racionalmente não por necessidade causal, mas
precisa desprezar os prazeres materiais, o que leva segundo a nossa vontade. Apesar de existirem
30 Epicuro a privilegiar os prazeres espirituais, milhares de leis ou regras morais que variam de
dentre os quais aqueles referentes à amizade. sociedade para sociedade, segundo Kant (1724-
1804) o dever é uma forma que deve valer para
 DEONTOLOGIA: Doutrina ética que toda e qualquer ação moral. Assim, o dever é o
privilegia, entre as prioridades da interação respeito à lei ou ao imperativo categórico, que
pessoal, a conformidade a certas normas de ordena incondicionalmente a razão (de forma
caráter obrigatório e universal, onde a idéia de 90 absoluta), e vale, sem exceção, para todas as
respeito recíproco assume um valor intrínseco, circunstâncias das ações verdadeiramente morais.
revestindo-se da dignidade de um dever moral a O imperativo categórico é uma lei moral
ser cumprido. Aqui é concedida uma prioridade universal.
ao conceito de justiça.
Principal representante: PRINCIPAIS JUSTIFICAÇÕES PARA
AS NORMAS MORAIS
- Immnuel Kant (1724-104): “O respeito, e não o
prazer ou a fruição da felicidade, é pois algo para  PERSPECTIVA RELIGIOSA: os valores das
o qual nenhum sentimento precedente, posto normas morais são considerados transcendentes,
como fundamento da razão, é possível (porque porque resultam de doação divina, o que
este seria sempre estético e patológico); a determina a identificação do homem moral com o
consciência do constrangimento imediato da homem temente a Deus.
vontade pela lei (imperativo categórico)
dificilmente é um análogo do sentimento de
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 PERSPECTIVA JUSNATURALISTA: a 03) “(...) há duas espécies de virtude, a


norma moral se funda na lei natural (teses intelectual e a moral. A primeira deve, em grande
jusnaturalistas). Para os teóricos jusnaturalistas, parte, sua geração e crescimento ao ensino, e por
como Rousseau, ela se funda no direito natural, isso requer experiência e tempo; ao passo que a
* ATENÇÃO: Copiar é CRIME. Art. 184 do código Penal e Lei n° 5998/73

comum a todos os homens. virtude moral é adquirida em resultado do hábito,


de onde e seu nome se derivou, por uma pequena
 PERSPECTIVA EMPIRISTA: a norma modificação dessa palavra1”.
moral se funda no interesse (teses empiristas, que (ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Livro II)

explicam a ação humana como busca do prazer e 60 1


Do grego: ethos, e sua derivação ethiké.
evitação da dor). Para os empiristas, como Locke
e Condillac, a norma deriva do interesse próprio, Em relação a ética de Aristóteles, podemos
depois o sujeito que a desobedece será submetido afirmar:
ao desprazer, à censura pública ou à prisão. a) trata-se de uma deontologia, pois visa a
felicidade;
 PERSPECTIVA KANTIANA: a norma moral b) é baseada nas virtudes dianoéticas que
se funda na própria razão. Para Kant, a norma se dependem do hábito;
enraíza na própria natureza da razão. Por c) tem por finalidade última o exercício da virtude
exemplo, ao aceitar o roubo e consequentemente o da justiça;
enriquecimento ilícito, elevando a máxima d) considera a instrução e o hábito fundamentais
(pessoal) ao nível universal, haverá uma para a virtude.
contradição: se todos podem roubar, não há como
manter a posse do que foi furtado. 04) Aristóteles, em Ética a Nicômaco, afirma que
a natureza dá ao homem duas armas: a prudência
________________________________________ e a virtude. Acerca da phronesis, que pode ser
traduzida como prudência ou discernimento, o
filósofo afirma que:
 AGORA É COM VOCÊ !
a) é uma qualidade racional que leva à verdade no
tocante às ações relacionadas aos bens humanos;
b) é uma virtude moral que leva ao meio-termo
entre duas formas de deficiência moral;
Exercícios Propostos c) é impossível ser uma virtude intelectual porque
não é conhecimento científico nem arte;
30 01) A palavra “ética” tem origem em dois termos d) é a virtude intelectual que permite contemplar a
gregos que, pela falta de uma letra em língua idéia de bem e aplicá-la às situações humanas.
portuguesa para designar como fonema distinto o
“e” longo e o “e” curto, são referidos como ethos. 05) De acordo com a ética aristotélica, o Bem
Os sentidos que mais bem expressam os supremo é:
significados destes termos são: a) Deus, sumamente bom e poderoso que concede
a) finalidade e dever; 90 a graça da fé aos que poderão encontrá-lo em sua
b) costumes e normas; própria alma.
c) bem e dever; b) a liberdade, característica do eu puro de
d) costumes e caráter. ultrapassar a causalidade da natureza e forjar seu
próprio destino;
02) O que ‘realmente justifica’ a Ética ser c) a boa vontade, regida pela consciência moral,
denominada “Filosofia Prática” é a ocupação que se submete ao dever na obediência aos
desta disciplina filosófica com a reflexão: imperativos;
a) dos costumes e comportamentos humanos; d) a felicidade, buscada por todos os homens, e
b) da razão e sensibilidade humana; que necessita ser conquistado numa atividade
c) das leis naturais que instituem a moral humana; dirigida pela razão;
d) dos valores éticos-morais que fundamentam a e) a vontade de poder, que se realiza no eterno
ação prática (práxis) humana. retorno e na possibilidade de superar os valores do
cristianismo.

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06) Em sua obra Ética a Nicômaco, Aristóteles (dianóia) e a virtude moral. Sobre a virtude moral,
sintetiza as virtudes que constituíam a excelência podemos afirmar:
moral grega. Assinale a alternativa em que a a) é representada principalmente pela sabedoria e
virtude, o vício por excesso e o vício por falta pela prudência (phrónesis), adquiridas pela
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estão corretos: instrução e que trazem calma e tranqüilidade ao


a) amizade – bufonaria – grosseria. homem;
b) coragem – temeridade – covardia . 60 b) é uma disposição de espírito ou hábito de
c) moderação – exagero – insensibilidade. escolher em todas as situações a justa medida que
d) liberalidade – luxúria – insensibilidade. convém à nossa natureza;
c) é considerada como inata, ou seja, como uma
07) “A filosofia de Aristóteles pode parecer uma qualidade que o indivíduo já traz consigo ao
catedral abandonada, uma construção a ser nascer;
visitada aos domingos, a respeito da qual d) é uma disposição de espírito que se concretiza
perguntaria, com certa curiosidade, que pessoas em ações e hábitos, porém não pode ser
a teriam habitado. Um exame mais atento da transmitida pelo exemplo.
filosofia do nosso século, porém, atesta o
contrário. Aristóteles foi continuamente discutido, 09) “(...) quanto à excelência moral, ela é o
analisado, debatido, e isto nas mais diferentes produto do hábito, razão pela qual seu nome é
correntes, em momentos decisivos de suas derivado, com uma ligeira variação, da palavra
elaborações. Em particular, a ética aristotélica ‘hábito’. É evidente, portanto, que nenhuma das
ocupa uma posição privilegiada nos atuais várias formas de excelência moral se constitui em
debates sobre a moral. A razão disso consiste nós por natureza, pois nada que existe por
muito provavelmente no fato de que a ética natureza pode ser alterado por hábito”.
contemporânea buscou atenuar os elementos O texto acima foi extraído da obra de
demasiadamente rígidos que herdou do que Aristóteles Ética a Nicômaco, e pode ser
podemos considerar a ética por excelência da compreendido como este filósofo é contrário:
época moderna – o formalismo kantiano. As a) ao inatismo de Platão;
reflexões de Aristóteles sobre a ação, a moral e a b) a análise conceitual de Sócrates;
razão foram corretamente vistas por um bom c) a ideia de virtude como excelência moral;
30 número de autores como podendo servir de d) a ideia de que a essência da excelência moral é
contrapeso a esta herança”. um meio-termo (mesotés).
(Marco Zincano. Prefácio. In: Hobuss João. Eudaimonia auto-suficiência
em Aristóteles. Pelotas: Ed. Universitária, UFPel, 2002, p. 9 (com 10) “Age de tal modo que a máxima de tua ação
adaptações) possa sempre valer como princípio universal de
A partir do texto acima e de conhecimento acerca conduta”.
(IMPERATIVO CATEGÓRICO. Immanuel Kant, filósofo alemão do
da ética clássica, assinale a opção correta: 90 século XVIII)
a) a ética de Kant é uma atualização da ética
aristotélica. Esta frase de Kant traduz os princípios
b) a ética contemporânea reconhece a necessidade fundamentais da ética kantiana e significa que:
de recorrer à ética de Aristóteles, pois seus Assinale a(s) alternativa(s) correta(s):
conceitos parecem-lhe mais apropriados do que os a) devemos agir sempre pensando em nós
da ética moderna. mesmos, sem nos importar com os outros;
c) a filosofia aristotélica é um edifício em ruína, b) devemos sempre agir pensando nos outros, sem
relevante somente para fins arqueológicos. nos importar com nós mesmos;
d) a ética é o estudo das normas clássicas de c) nossa ação deve sempre estar fundamentada em
convivência social. nossos desejos, exclusivamente;
d) nossa ação deve ser racionalmente decidida, de
08) Aristóteles, em Ética a Nicômaco, afirma que forma que possa valer para todos e não apenas
existem duas formas de virtude (qualidade para nós mesmos.
intelectual ou moral positiva do ser humano, que e) nossa ação deve ser decidida instintivamente,
o leva a agir visando o bem): a virtude intelectual de forma tal que valha tanto para nós mesmos
como também para todos os outros.

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11) O conceito de dever, na ética kantiana, 14) Segundo os estóicos, o mundo era governado
significa: por um determinismo implacável do qual não se
a) a necessidade de realizar uma ação conforme a podia fugir, e a receita da felicidade estava em
lei moral, relacionando-a com um objeto da aceitar o que a vida nos dava. Uma anedota ajuda
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faculdade de desejar; a compreender esse ponto de vista. Dizem que


b) a ação objetivamente prática, isto é, a Zenão (336 – 264 a.C.), criador do estoicismo,
coincidência entre a intenção do agente e os castigava um escravo por sua falta quando
efeitos da ação; 60 argumentou que não tinha culpa, pois, segundo a
c) a ação objetivamente prática, isto é, a filosofia de seu senhor, ele estava condenado, por
coincidência entre a máxima que determina a toda a eternidade, a cometer aquela falta. Zenão
vontade e a lei moral; replicou que, da mesma forma, ele estava
d) a necessidade de realizar uma ação por respeito destinado a bater no escravo. Epicuro (341 – 270
à lei moral, sem relação com a motivação da a.C.) discordaria dessa visão determinística e
vontade. argumentaria que nós mesmos somos guias de
nosso destino, pois podemos formá-lo com nosso
12) Com relação à boa vontade em Kant, raciocínio. Aqui temos a ideia de Epicuro de que
podemos dizer que ela é a única coisa que o homem é livre e responsável sobre seu próprio
podemos considerar como um bem em si mesmo. destino.
Sendo assim, é correto dizer que a boa vontade: A música de Raul Seixas Um Messias
a) é algo que podemos notar através das atitudes e Indeciso poderia exemplificar bem a visão
dos resultados das ações alheias; epicurista sobre o destino: “Quem faz o destino é
b) pode ser resumida na vontade de agirmos por a gente, na mente de quem for capaz”.
dever; (Por Ivan Carlo A. de Oliveira. Mestre em comunicação pela Universidade
c) depende de uma série de circunstâncias Metodista de São Paulo e professor universitário em Macapá)
empíricas que a direcionem;
d) nos impele a escutarmos o que o nosso coração Analise reflexivamente o texto acima e
tem a nos dizer, nos tornando mais sensíveis. faça um breve comentário sobre liberdade e
determinismo, concordando ou discordando
13) A separação entre a ética kantiana e as outras dessas duas posições. Resuma o seu comentário.
30 é claríssima. Enquanto todas as outras concepções ________________________________________
morais – com exceção da estóica (Kant ________________________________________
reapresenta, por meio do imperativo categórico, ________________________________________
os conceitos de autonomia estoicistas, ________________________________________
delimitando a liberdade individual em conexão ________________________________________
com a sua universalidade) – especialmente o ________________________________________
hedonismo (defendia a busca do prazer como o ________________________________________
segredo da felicidade), o utilitarismo e o 90 ________________________________________
eudemonismo, se fundam num imperativo ________________________________________
hipotético (p.ex., se queres ser feliz, bem sucedido ________________________________________
etc., observa esta lei), a moral de Kant funda-se
num imperativo absoluto, categórico: deves 15) “Encontro-me em grave apuro e me pergunto
obedecer sempre à lei, prescindindo de qualquer se posso fazer uma promessa falsa, isto é, uma
preocupação com o útil ou o prejudicial. promessa que não pretendo cumprir. A prudência
De acordo com o texto acima, podemos me aconselha a que não a faça, em vista das
dizer que a concepção ética kantiana é chamada conseqüências desfavoráveis que uma promessa
de: pode me acarretar. Mas, se me abstenho por
a) Teleológica; mera prudência, não se pode dizer que esteja
b) Jusnaturalista; agindo moralmente. Ser sincero por medo de
c) Deontológica; alguma conseqüência desfavorável e ser sincero
d) Empirista; por dever são duas coisas muito diferentes”.
e) Estoicista. (PASCAL, Georges. Compreender Kant. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
2005.p.123)

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Diante das duas situações apresentadas no texto 17) “(...) um hipotético dono de mercearia, ao
acima e com base na concepção ética kantiana, deparar com um comprador inexperiente, uma
assinale a alternativa que contém a máxima criança, por exemplo, não cobra um preço maior
pessoal que corresponde ao imperativo categórico do que o praticado normalmente. Essa ação foi
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(lei da moralidade): realizada por dever ? Kant dirá: depende. Caso o


a) “é lícito, por prudência, tirar-me de uma merceeiro tenha feito isso para não perder outros
dificuldade com promessas mentirosas”. 60 fregueses – já que o fato de cobrar mais caro de
b) “é lícito, por dever, tirar-me de uma dificuldade uma criança poderia chegar ao conhecimento de
com promessas mentirosas”. seus fregueses, e incomodá-los – a ação tem uma
c) “não devo fazer promessas mentirosas para não intenção egoísta, e foi realizada com base em um
perder o crédito quando se descobrir o meu cálculo da relação entre meios e fim (“não vendo
procedimento”. por um preço mais alto para não perder
d) “não fazer promessas mentirosas por dever fregueses”). Caso o dono da mercearia tenha
deve valer como lei universal (tanto para mim agido por dever, ele se comportou de um ponto de
como para os outros)”. vista estritamente racional”.
e) “ tirar-me de uma dificuldade por meio de uma (Por Maurício Keinert. Doutor em Filosofia pela USP).

promessa mentirosa deve valer como lei No exemplo dado, é possível perceber, que
universal”. segundo a ética kantiana, é incorreto afirmar:
a) as ações humanas reguladas por meio de uma
16) “Uma pessoa, por uma série de desgraças, intenção egoísta, não podem se caracterizadas
chegou ao desespero e sente tédio da vida, mas como livres, pois estão ancoradas em inclinações
está ainda bastante em posse da razão para poder (desejos, intenções, impulsos).
perguntar a si mesma se não será talvez contrário b) uma ação por dever não está fundada na
ao dever para consigo mesma atentar contra a conseqüência da ação, no objeto do querer, mas
própria vida. E procura agora saber se a máxima no princípio formal e racional (ligado à intenção)
da sua ação se poderia tornar em lei universal da que a determina.
natureza. A sua máxima, porém, é a seguinte: Por c) para pensar uma ação por dever, é necessário
amor de mim mesmo, admito como princípio que, pensar em um princípio formal da vontade, que
se a vida, prolongando-se, me ameaça mais com deve ser compreendido como uma lei da razão
30 desgraças do que me promete alegrias, devo (“dever é a necessidade de uma ação por respeito
encurtá-la”. à lei”).
(KANT. Fundamentação da Metafísica dos Costumes)
d) o uso prático da razão, na sua relação com a
De acordo com a concepção ética kantiana, e vontade, é dependente de um fator empírico;
supondo que tal maneira de pensar (a máxima sendo assim, a própria lei racional poderá ter um
apresentada no texto) se transforme em lei conteúdo predeterminado.
universal da natureza, assinale a alternativa 90
incorreta: 18) Segundo a ética kantiana, a “ação moral” é
a) não poderia de forma alguma dar-se como lei definida por meio do(a):
universal da natureza. a) virtude somente.
b) é absolutamente contrária ao princípio supremo b) virtude e da felicidade.
de todo o dever. c) interesse e do imperativo hipotético.
c) por amor de si mesmo, é perfeitamente possível d) razão e do imperativo categórico.
que uma lei universal da natureza possa subsistir e) direito natural.
segundo aquela máxima.
d) conservar a vida, não por amor de si mesmo, 19) O imperativo categórico kantiano (“Devo
mas por dever, deve ser a máxima sem proceder sempre de maneira que eu possa querer
contradição com a lei universal da natureza. também que a minha máxima se torne uma lei
e) com o suicídio infringimos a lei moral com a universal”) está vinculado:
ideia de estarmos apenas abrindo uma exceção em a) ao dever, a uma obrigação imposta pela razão.
nosso favor. b) a uma ação possível como um meio de alcançar
um determinado fim.
c) a regras de destreza ou conselhos de prudência.
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d) às conseqüências da ação – do objeto do querer todos eles perpassa a ideia de liberdade ética, que
– e do contexto em que são utilizados. diz respeito ao sujeito moral, capaz de decidir
e) ao arbítrio humano sob a influência de com autonomia em relação a si mesmo e aos
impulsos sensíveis. outros. Sabemos que, assim como somos
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determinados pela natureza, somos submetidos à


20) Kant trata da questão da caridade no exemplo regras sociais que determinam nosso
a seguir: comportamento desde o nosso nascimento. É
“Se uma pessoa ajuda outra porque se sente bem preciso considerar os dois pólos contraditórios do
com isso, porque isso a torna mais feliz, há uma pessoal e do social como uma relação dialética, ou
intenção egoísta por trás de sua ação”. seja, uma relação em que se estabeleça o tempo
O que denota que esta ação: todo a discussão da implicação recíproca entre
a) não foi realizada por dever. determinismo e liberdade, entre aceitação e recusa
b) é livre e inteiramente de boa vontade. da interdição.
c) é moralmente correta.
d) é determinada pela razão. O QUE É DETERMINISMO ?
e) não se baseia em um fator empírico.
Segundo o determinismo científico, tudo
________________________________________ que existe tem uma causa, ou seja, todo efeito tem
uma causa. O mundo explicado pelo princípio do
CAPÍTULO 5 60 determinismo é o mundo da necessidade, e não o
da liberdade. Necessário significa tudo aquilo que
LIBERDADE E DETERMINISMO tem de ser e não pode deixar de ser. Nesse
sentido, necessidade é o oposto de contigência,
que significa “o que pode ser de um jeito ou de
outro”. Exemplificando: se aqueço uma barra de
ferro (causa), ela se dilata (efeito), pois a dilatação
é necessária, no sentido de que é um efeito
inevitável, que não pode deixar de ocorrer. No
entanto, é contingente que neste momento eu
esteja usando roupa vermelha ou amarela.
Como vimos, do ponto de vista moral,
somos determinados a herdar os valores do grupo
social a que estamos inseridos, mas a dimensão
social da moral passa pelo crivo da dimensão
pessoal. Ou seja, somos livres, e enquanto seres
capazes de agir de forma autônoma, podemos
alterar ou modificar totalmente essas regras, caso
contrário, as regras seriam eternamente válidas.
INTRODUÇÃO No campo moral, é importante refletirmos neste
item: se nossas ações e decisões dependem apenas
Quando nos referimos ao conceito de do nosso querer (da nossa vontade), da nossa
liberdade, podemos fazê-lo a partir de diversas liberdade, ou são definidas e determinadas por
30 perspectivas. No sentido mais comum, uma condições que nos obrigam a agir
pessoa livre é aquela que pensa e age por si independentemente de nossa escolha consciente ?
própria, não é constrangida a fazer o que não
deseja nem é escrava ou prisioneira. Mas
podemos considerar liberdade em outros sentidos CONTINGÊNCIA OU ACASO
mais amplos, por exemplo, no âmbito da política,
da economia, das leis, da sociedade, dos espaços A liberdade é a capacidade para darmos
específicos em que os indivíduos se relacionam um sentido novo ao que parecia fatalidade,
entre si no exercício do poder, dos negócios, do 90 transformando a situação de fato numa realidade
direito, no convívio pessoal. Embora esses nova, criada por nossa ação. Essa ação
campos tenham suas características próprias, em transformadora, que torna real o que era somente
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possível e que se achava apenas latente como necessárias que regem a realidade conhecida e
possibilidade, é o que faz surgir uma obra de arte, controlada pela ciência e, no caso da ética, para
uma obra de pensamento, uma ação heróica, um referir-se ao ser humano como objeto das ciências
movimento anti-racista, uma luta contra a naturais (química e biologia) e das ciências
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discriminação sexual ou de classe social, uma 60 humanas (sociologia e psicologia), portanto, como
resistência à tirania e a vitória contra ela. completamente determinado pelas leis e causas
O possível não é pura contingência ou que condicionam seus pensamentos, sentimentos
acaso. O necessário não é fatalidade bruta. O e ações, tornando a liberdade ilusória.
possível é o que se encontra aberto no coração do
necessário e que nossa liberdade agarra para O par contingência – liberdade também
fazer-se liberdade. Nosso desejo e nossa vontade pode ser formulado pela oposição acaso –
não são incondicionados, mas os liberdade. Contingência ou acaso significam que
condicionamentos não são obstáculos à liberdade a realidade é imprevisível e mutável,
e sim o meio pelo qual ela pode exercer-se. impossibilitando deliberação e decisão racionais,
Se nascemos numa sociedade que nos definidoras da liberdade. Num mundo onde tudo
ensina certos valores morais – justiça, igualdade, acontece por acidente, somos como um frágil
veracidade, generosidade, coragem, amizade, barquinho perdido num mar tempestuoso, levado
direito à felicidade – e, no entanto, impede a em todas as direções, ao sabor das vagas e dos
concretização deles porque está organizada e ventos.
estruturada de modo a impedi-los, o Necessidade, fatalidade, determinismo
reconhecimento da contradição entre o ideal e a significam que não há lugar para a liberdade,
realidade é o primeiro momento da liberdade e da porque o curso das coisas e de nossa vida já está
vida ética como recusa da violência. O segundo fixado, sem que nele possamos intervir.
momento é a busca das brechas pelas quais possa Contingência e acaso significam que não
passar o possível, isto é, uma outra sociedade que há lugar para a liberdade, porque não há curso
concretize no real aquilo que a nossa propõe no algum das coisas e de nossa vida sobre o qual
ideal. pudéssemos intervir.
(Marilena Chauí, do livro Ensino Médio/2ª Série,
(Marilena Chauí, do livro Introdução à Filosofia, editora Ática)
editora SER Abril Cultural)
30
________________________________________

A liberdade como questão filosófica


Filosoficamente, a questão da liberdade se  PARA REFLETIR ou FILOSOFAR
apresenta na forma de dois pares de opostos:  Thomas Hobbes (1588 – 1679): Para este filósofo, o
1 – o par Necessidade – Liberdade. 90 Direito de natureza, direito natural ou jusnaturalismo é o
2 – o par Contingência – Liberdade. conjunto de regras que se supõem existir em decorrência da
própria natureza do homem, ou da natureza em geral, e que,
O par necessidade – liberdade também por isso, independem de qualquer legislação feita pelo
pode ser formulado em termos religiosos, como homem, opondo-se, portanto, ao conceito de direito
fatalidade – liberdade, e em termos científicos, positivo, que é o conjunto de regras estabelecidas pela
sociedade. Hobbes faz, no Leviatã (seu livro mais
como determinismo – liberdade. conhecido), uma distinção interessante entre direito de
natureza e lei da natureza: “embora os que têm tratado
* Necessidade: é o termo empregado para referir- deste assunto costumam confundir jus e lex, o direito e a lei,
se ao todo da realidade, existente em si e por si, é necessário distingui-los um do outro. Pois o direito
que age sem nós e nos insere em sua rede de consiste na liberdade de fazer ou de omitir, ao passo que a
causas e efeitos, condições e conseqüências. lei determina ou obriga a uma dessas duas coisas. De modo
que a lei e o direito se distingue tanto como a obrigação e a
* Fatalidade: é o termo usado quando pensamos liberdade, as quais são incompatíveis quando se referem à
em forças transcendentes superiores às nossas e mesma matéria. A lei natural seria, assim, uma regra
imperativa, mesmo que decorrente da natureza das coisas”.
que nos governam, queiramos ou não.
(CHALITA, Gabriel. Vivendo a filosofia. Volume único. São Paulo: Ática,
2005. p. 210)
* Determinismo: é o termo empregado, a partir
do século XIX, para referir-se às relações causais
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 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778): Este filósofo fatalismo a sua contraparte religiosa. No fatalismo existem
queria uma sociedade em que as pessoas fossem apenas forças transcendentes, superiores às nossas, que nos
livres e iguais, mas também soberanas, isto é, que tivessem governam, quer queiramos ou não. Tanto no fatalismo
um papel ativo dentro do contexto geral. Para isso, além de quanto no determinismo a liberdade é meramente ilusória.
* ATENÇÃO: Copiar é CRIME. Art. 184 do código Penal e Lei n° 5998/73

um contrato justo, seria preciso ensiná-las a ser livres Outro modo de refletir sobre a realidade, que deixa
(realizar o que o coração manda), autênticas (reconhecer e pouca margem para a liberdade, é aquele no qual todos os
mostrar verdadeiros sentimentos) e autônomas (conduzir o acontecimentos são atribuídos ao acaso, isto é, tudo é
próprio destino). E essa tarefa de “civilizar a civilização” imprevisível e mutável, impossibilitando qualquer tipo de
deveria partir da educação das crianças. O filósofo se decisão ou escolha por parte do ser humano. Seremos,
dedicou a ela escrevendo um tratado pedagógico em forma então, todos impotentes e a liberdade humana mera ilusão ?
de romance cujo título é Emílio, o nome da personagem Seremos apenas peças no jogo dos deuses, subjugados à
principal. A tese fundamental de Rousseau é a de que o Moiras e à Fortuna ?
homem é naturalmente bom mas foi corrompido pela
sociedade. A Liberdade para Aristóteles
(CHALITA, Gabriel. Vivendo a filosofia. Volume único.
São Paulo: Ática, 2005. p. 282) É em Aristóteles (384-322 a.C.) que encontramos o
primeiro teórico da liberdade. Para ele, a liberdade se opõe
ao que é condicionado externamente (necessidade) e ao que
acontece sem escolha deliberada (contingência). Aristóteles
____________________________________________________________ distingue as ações voluntárias e involuntárias. As
involuntárias ocorrem por compulsão (força externa) ou
LIBERDADE EM HOBBES, MAQUIAVEL, ignorância , ou seja, aquelas em que o “princípio motor se
LOCKE E ROUSSEAU: encontra fora de nós e para o qual em nada contribui a
pessoa que age e que sente a paixão” . As voluntárias, em
Filósofos apostam no exercício da crítica como contraposição, são todas aquelas ações nas quais o princípio
única forma de ser livre. motor está no próprio agente. Aristóteles vai mais além, de
________________________________________ forma a tornar a análise mais precisa, e distingue as ações
voluntárias entre aquelas em que há escolha e aquelas em
que não há. As ações guiadas unicamente pelas paixões não
HÁ RECOMPENSA POSSÍVEL PARA QUEM 90 são ações orientadas por escolha, pois se assim fossem, os
RENUNCIA À LIBERDADE ? próprios animais escolheriam, o que Aristóteles não pode
aceitar. A escolha, portanto, “envolve um princípio racional
30 Por José Antonio Rodrigues Porto* e o pensamento”. Entretanto, não acaba aí a busca
aristotélica. Há ainda que se pesquisar o que pode ser objeto
Dizer que “renunciar à liberdade é renunciar à de deliberação. Aristóteles nos mostra que só podemos
qualidade de homem” exige que expliquemos o que é deliberar sobre coisas que estão ao nosso alcance e que,
liberdade e de que maneira ela participa da definição de ser efetivamente, podem ser realizadas . Assim, podemos dizer
humano a que Jean Jacques Rousseau (1712-1778) nos que na concepção aristotélica a liberdade é o princípio que
remete quando faz essa afirmação. O problema do rege a escolha voluntária e racional entre alternativas
delineamento do campo da liberdade humana deve-se aos possíveis.
restritos limites impostos à liberdade, tanto pela necessidade
quanto pela contigência. A liberdade para Hobbes e
Na vida cotidiana, o homem é oprimido por o Contrato Social no direito civil
situações adversas, contra as quais nada pode fazer, pois
essas são regidas por regras obrigatórias, tanto naturais
quanto culturais, que independem da vontade humana para
alterar-lhes o rumo ou direção. Essas regras são, assim
sendo, necessárias, e os homens se vêem impotentes para
lutar contra elas. Temos clara amostra delas, tanto nas
ciências quanto nas religiões.
Para a maior parte dos cientistas do final do século
XIX, as leis da natureza eram invariáveis, podendo ser
medidas por instrumentos muito precisos e independendo da
vontade de quem realizava a experiência. Hoje em dia,
podemos até fazer chover, mas as leis que regem a chuva
são próprias da natureza e ao cientista basta apenas saber
aplicá-las. Alguns cientista mais radicais do fim do século
XIX e início do século XX, conhecidos por fisicistas,
acreditavam na inteira determinação dos seres humanos, Thomas Hobbes e o seu leviatã
inclusive dos seus pensamentos, sentimentos e ações de
acordo com a configuração física de seus corpos (genótipo) Thomas Hobbes (1588-1679) acrescentou à
e dos estímulos externos a que eram submetidos. Tal linha definição aristotélica mais uma restrição, qual seja, que
60 de pensamento é conhecida por determinismo e tem no nosso poder de escolha entre possíveis não é incondicional,
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depende do nosso poder para realizá-los. Isso quer dizer que todos contra todos, em que os homens igualmente só podem
nossa escolha é condicionada pelas circunstâncias naturais, ter uma vida solitária, pois não confiam em ninguém; uma
psíquicas, culturais e históricas em que vivemos . Note-se vida pobre, pois não há tempo para se produzir riquezas ;
que isso não é o mesmo que ser guiado pela necessidade, o sórdida e embrutecida, pois só visam a luta; e curta, pois
* ATENÇÃO: Copiar é CRIME. Art. 184 do código Penal e Lei n° 5998/73

que seria novamente perda total da liberdade, ao contrário, o qualquer descuido pode resultar em morte.
possível se encontra no seio da necessidade, mas de alguma Em tal estado não há sociedade, portanto, não há
forma temos o poder de alterar-lhe o curso, sob certas leis comuns que regulem o justo e o injusto, ou, nem
condições. Os limites para a liberdade humana são, desse mesmo, o meu e o teu. Não há lugar para qualquer tipo de
modo, tanto internos quanto externos. Nesse sentido, desenvolvimento material, pois o fruto do trabalho nunca é
podemos dizer que a “a liberdade é a consciência seguro. Um tal estado, segundo Hobbes, só pode ser
simultânea das circunstâncias existentes e das ações que, mediante outras paixões que superem as anteriores, pois não
suscitadas por tais circunstâncias nos permitem é uma faculdade da razão do homem hobbesiano regular as
ultrapassá-las” . paixões. Estas paixões são três: a) medo da morte violenta,
Apesar de nos movermos no mundo da necessidade b) desejo das coisas necessárias a uma vida confortável, e c)
e da contingência – isto é, de não escolhermos as condições esperança de consegui-las através do trabalho. A superação
e circunstâncias materiais que nos cercam, nem mesmo as de um estado tão terrível só pode se dar por meio de um
coisas imprevisíveis que nos podem acontecer – podemos, acordo firmado com base em um contrato entre os homens.
contudo, mudar o rumo de determinados acontecimentos em Mas o que é um contrato ? Contrato é a “transferência
certas condições, surgindo um campo de possibilidades mútua de direitos” Direito é “a liberdade que todo homem
objetivas, dentro do qual a liberdade humana é real. Nicolau possui para utilizar em suas faculdades naturais em
Maquiavel (1469-1527) expressou de forma bem clara essa conformidade com a razão reta”. Logo, devemos saber quais
concepção quando disse: “’Já que nosso livre-arbítrio não direitos o homem possui em seu estado natural e que, ao
desapareceu, julgo possível ser verdade que a fortuna seja firmar um contrato, transferirá para outro.
árbitro de metade de nossas ações, mas que também deixe Todo homem tem o direito natural, jus naturale,
ao nosso governo a outra metade, ou quase”. “Onde não há que é a liberdade que cada homem possui de usar seu
lei não há liberdade” – um paradoxo ? próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação de
Anteriormente, definimos liberdade como sendo o 90 sua própria vida; consequentemente, como “o direito ao fim
princípio que rege a escolha voluntária e racional entre confere o direito aos meios necessários para aquele fim”,
alternativas possíveis. Vimos, também, que sendo a escolha tem também o direito de fazer tudo aquilo que julgar
30 um processo racional, o princípio de liberdade deve ser necessário para alcançá-lo. Logo, todos terão iguais direitos
exclusivamente humano. Como todos os homens só são a todas as coisas, o que é absurdo e inútil, pois ninguém
livres quando agem movidos unicamente por si mesmos, a poderá usufruir coisa alguma, pois não há diferença entre o
dificuldade da conciliação entre liberdade e sociedade reside meu e o teu. O Estado natural hobessiano é, portanto, um
no fato de que nas sociedades os homens estão submetidos estado de tanta igualdade (faculdades e direitos) e liberdade
às leis e, portanto, o motor de suas ações é externo. entre os homens, que as liberdades individuais acabam se
Thomas Hobbes, na introdução do seu Leviatã, diz anulando umas às outras por falta de limites claros que as
claramente que o principal objetivo de qualquer sociedade distingam.
civil é a segurança de seu povo, Salus Populi, e que, para É somente através da cessão desse direito a todas
tanto devem ser adotadas leis que expressem a vontade as coisas, através de um contrato, que o homem natural
artificial do corpo político. Para Hobbes, apesar de poderá superar esse estado em que não tem como usufruir a
pequenas diferenças, a natureza fez os homens tão iguais em liberdade que possui. Entretanto, como a sociedade não
capacidade que nenhum deles pode aspirar a qualquer objetiva a preservação da liberdade, mas a segurança do
benefício que o outro também não possa. Disso segue que povo, o Estado civil hobessiano se caracterizará pela perda
homens que possuam as mesmas esperanças possam, muitas total da liberdade, o que não contraditório, pois como o
vezes, disputar os mesmos objetos, pois esses são os únicos direito a todas as coisas não pode ser exercido de fato, os
meios de alcançarem os seus fins. Quando isso acontece, um indivíduos não perdem nada e ainda ganham, entre outras
homem verá o outro como um inimigo e o tratará como tal. coisas, a segurança necessária à preservação de suas vidas.
Ora, como todos os homens são iguais, basta que algum O Estado civil hobbesiano se caracteriza, portanto, por uma
deles perceba um único outro homem como inimigo para cessão total de direitos que todos os homens contratam entre
que infira todos os demais como igualmente adversários, si em favor de um terceiro – homem ou assembléia –, que
formando assim um estado de desconfiança geral, pois todos por não participar do contrato, deteria todos os seus direitos,
eles são capazes da mesma inferência. “Desta igualdade submetendo todos à sua vontade – que “terá tanto poder
quanto à capacidade deriva quanto à esperança de que, pelo terror que este suscita, poderá conformar as
atingirmos nossos fins. Portanto, se dois homens desejam a vontades dos particulares à unidade e à concórdia”. A
mesma coisa, ao mesmo tempo em que é impossível ela ser vontade do corpo político é a vontade do soberano que,
gozada por ambos, eles tornam-se inimigos”. como tem o poder de fazer as leis, se encontra acima delas.
Um estado de tamanha insegurança levará esses 120 Só o soberano é realmente livre no Estado hobessiano.
homens, que também são igualmente prudentes, a
conceberem que é muito mais sensato atacar antes de ser
60 atacado, o que é, inclusive, justificado como questão de
sobrevivência, pois não se pode manter uma posição
defensiva indefinidamente. Um tal estado não pode ser
descrito de forma mais exata do que um estado de guerra de

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Liberdade para Locke: ou restringir a liberdade, mas, ao contrário, conservá-la e


liberdade natural e civil ampliá-la.
Locke não chega a discutir o assunto das paixões,
mas implicitamente admite ser provável que algum homem
* ATENÇÃO: Copiar é CRIME. Art. 184 do código Penal e Lei n° 5998/73

talvez queira ultrapassar os limites da sua liberdade, quer


isso seja resultado de paixões ou ignorância. De qualquer
modo, como sua própria razão lhe dita uma regra e este
homem age de maneira diferente, obviamente não pode ser
a razão que o move, tornando-o, à vista dos demais, um ser
irracional, que deve ser impedido ou destruído para a
segurança de todos. É a própria razão que, mais uma vez,
dita a regra pela qual todos devem agir, e, nesse caso,
quando um homem ameaça aos demais, ela fundamenta o
direito que os homens têm de serem os executores da lei da
natureza, podendo punir o agressor proporcionalmente à
infração cometida. Há uma jurisdição recíproca entre todos
os homens, que são igualmente interpretadores e executores
da lei da natureza, entretanto, por terem a tendência de
JOHN LOCKE (1632-1704)
interpretar a lei natural em seu próprio benefício, os homens
Muito embora a doutrina hobessiana tenha são levados a unirem-se em sociedade, onde haveria leis
influenciado sobremaneira os pensadores de sua época, escritas e um juiz para dirimir eventuais dúvidas. Para tanto,
felizmente não atingiu o mesmo êxito na prática. Nesse cederão somente os seus direitos de interpretadores e
sentido, se faz necessário a análise da liberdade nos escritos executores da lei natural, mantendo intacta a sua pessoa, no
de John Locke (1632-1704), outro pensador do século XVII, que se refere à sua vida, liberdade e bens. O que Locke quer
que influenciou e fundamentou a política de seu tempo, dizer exatamente é que os homens são levados a abandonar
tendo seguidores até os dias de hoje. Encontramos a melhor o Estado de natureza para estabelecer uma fonte de poder
exposição sobre liberdade na sua obra Dois tratados sobre o comum de forma a regular, proteger e conservar as suas
governo, no capítulo referente à escravidão. Nele, Locke propriedades.
define as liberdades natural e civil: liberdade natural 90 Ora, vimos, anteriormente, que a igualdade entre os
“consiste em estar livre de qualquer poder superior sobre a homens é imprescindível para a sua liberdade. Dessa forma,
Terra e em não estar submetido à vontade ou à autoridade em sociedade, ou a igualdade é mantida ou um homem
30 legislativa do homem, mas ter por regra apenas a lei da poderá, arbitrariamente, submeter outro a sua vontade.
natureza”, e liberdade civil “consiste em não estar Como o que garante a igualdade no estado de natureza é a
submetido a nenhum outro poder legislativo senão àquele submissão de todos à lei natural, em sociedade, todos, da
estabelecido no corpo político mediante consentimento, nem mesma maneira, devem estar submetidos a um mesmo
sob o domínio de qualquer vontade ou sob a restrição de conjunto de leis. Desse modo, se algum homem detiver o
qualquer lei afora as que promulgar o legislativo, segundo poder de fazer as leis, terá poder supremo sobre os demais,
o encargo a este confiado”. eliminando a igualdade e a liberdade. A solução sugerida
Analisando a definição de liberdade natural, nota- por Locke é o estabelecimento de um poder legislativo,
se que como todos os homens estão somente submetidos à escolhido e nomeado pelos cidadãos, de tal forma que só as
lei da natureza, o Estado de natureza lockiano é um Estado leis que forem sancionadas por esse poder teriam força de
onde há igualdade. Essa igualdade se dá porque todos os obrigação para os indivíduos. Todavia, como o corpo
seres humanos adultos e sadios têm na razão a faculdade legislativo sempre será constituído por homens, para que o
que permite o acesso a lei natural, que em parte alguma se capricho dos mesmos não exerça influência na elaboração
encontra escrita. Parece, pois, que a lei natural impõe ao das leis, deve haver “limites para o poder legislativo”. São
homem que viva segundo a regra da razão e da equidade, eles: o governo deve ser exercido através de leis que não
donde podemos concluir que todos os homens nascem poderão variar nos casos particulares, mas segundo uma
iguais e livres, tal qual em Hobbes, mas de maneira muito mesma regra para ricos e pobres, para o favorito na corte e o
diversa, pois, para Locke, a razão “ensina a todos aqueles camponês no arado; as leis devem sempre visar o bem do
que a consultam que, sendo todos iguais e independentes, povo; não deve ser imposto tributos sobre a propriedade do
ninguém deveria prejudicar a outrem em sua vida, saúde, povo sem o seu consentimento; não transferir o poder de
liberdade ou posses”. fazer leis para quem quer que seja.
O ponto mais importante aqui é que a liberdade do De Hobbes a Locke, vimos como é possível
homem já se encontra, mesmo no estado de natureza, entender e superar o aparente paradoxo habilmente expresso
limitada pela razão. Muito embora os limites possam não por Locke na frase “onde não há lei não há liberdade”. É
ser claros para todos os homens, todos os homens sabem estranho pensar que para que haja liberdade é preciso que
que existem limites impostos pela pessoa do outro. A haja também limites, mas se tratarmos os termos de forma
liberdade não consiste em poder fazer tudo que se queira, dialética ou sob o prisma da teoria das formas, talvez tudo
mas estar livre de restrições e violências por parte dos 120 se torne mais claro. A liberdade humana sempre é limitada
outros homens, o que não pode existir onde não existe lei. e, à luz do prisma proposto, dar claros contornos a esse
Em Hobbes, vimos que uma liberdade ilimitada era o limite torna também a liberdade mais clara. A lei, quando
60 mesmo que liberdade alguma. Agora, em Locke, já é bem estabelecida, é que dá os limites para a liberdade, é o
possível compreender que a finalidade da lei não seja abolir fundo sobre o qual a liberdade se destaca e, desta forma, em

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vez das leis contribuírem para a aniquilação da liberdade, na Na sociedade rousseauniana, o poder legislativo é
verdade elas fazem, ao lhe dar contornos nítidos, com que a exercido por todo o corpo de cidadãos, de forma muito
liberdade adquira toda a sua amplidão. Será, então, que semelhante aos comícios romanos, pois não há
simplesmente basta a elaboração de um perfeito conjunto de representação. Cada cidadão participa do processo de
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leis para promover uma sociedade perfeita ? votação a diretamente, contribuindo tão estreitamente na
formação das leis, que podemos dizer que as leis que ele
Liberdade para Rousseau: segue foram feitas por ele mesmo, de tal forma que, ao
“Liberdade é não estar submetido à vontade de um outro homem” obedecer às leis, obedece a si mesmo, sendo, portanto, livre.
O que torna todos iguais, além da igual participação
política, é o fato das leis sempre serem gerais, atingindo a
todos igualmente, sem diferenciação, de tal forma que se,
individualmente, cada particular possa tender para a
desigualdade, a legislação o faz tender novamente para a
igualdade e, consequentemente, para a liberdade.
A autoridade soberana é exercida por todo corpo
político, e o governo, quer seja monárquico, aristocrático ou
democrático, está sempre submetido a ela. A manutenção da
liberdade, por isso, depende da atuação de todos os
cidadãos. Seria tudo muito simples em uma sociedade de
deuses, mas uma sociedade de homens fatalmente degenera,
pois os seus integrantes já se encontram degenerados. O
bom selvagem se encontra escondido debaixo de uma
espessa crosta de cobiça, ou seja, de aspiração “por todas as
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
coisas que, uma vez adquiridas, os tornariam felizes e
contentes”; de ilusão, porque uma vez nascidos sob um
Rousseau diz que a liberdade e a igualdade são os 90 governo, adotam a postura servil como natural,
maiores bens e finalidades de uma legislação. Isso se dá principalmente movidos pelos costumes que a preservam
principalmente por que na sociedade civil de Rousseau através do seu ensino; e de covardia, pois “o povo nem
30 todos os súditos alienam todos os seus direitos em prol da sequer admite que se toque em seus males para destruí-los,
comunidade, tornam-se membros de um todo indivisível, de como aqueles doentes, tolos e sem coragem, que tremem em
tal forma que, não se alienando a ninguém em particular, presença do médico”. Tal qual o corcel que uma vez
não se submetem a ninguém; por isso, podem ser livres, domado se curva às ordens do seu dono e que, quando por
pois, para Rousseau, liberdade é não estar submetido à este é ornamentado com belas vestimentas, desfila
vontade de um outro homem. orgulhoso com os sinais do seu jugo.
O contrato social que vigorava seria, de acordo Rousseau percebe que “não é aos escravos que
com a visão de Rousseau, uma burla, uma enganação. Como compete raciocinar sobre a liberdade”, mas aos homens
legitimar, isto é, tornar direito e justo aquilo que um dia não livre. Uma vez perdida a liberdade, ela não pode ser
passou de uma armadilha ? A resposta de Rousseau a essa recuperada, pois tal qual os senhores precisam de escravos,
questão é formulada na obra Do contrato social. Dada a os próprios escravos precisam de senhores e é da vontade
impossibilidade de o homem voltar a seu estado primordial, de servir que o senhor se alimenta. Pobres tolos, que cegos
o filósofo se empenha em conceber um contrato social, ou de cobiça caem de joelhos voluntariamente diante de um
forma de associação, “que defenda e proteja a pessoa e os senhor que lhes tira tudo. Vemos, assim, que a manutenção
bens de cada associado com toda a força comum, e pela da liberdade requer prontidão. Não basta ser cidadão apenas
qual cada um, unindo-se a todos, só obedece contudo a si elegendo deputados ou votando em leis sob influência de
mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes”. algum grupo. Há necessidade de se ter consciência de que a
Para que isso ocorra, o pacto social deve nascer da liberdade deve ser defendida em cada ato e que tudo que
entrega total de cada indivíduo à comunidade, com o que ele temos depende disso. Com a perda da liberdade tudo se
não perde nada, pois, diz Rousseau, “cada um dando-se a perde e “não há recompensa possível para quem a tudo
todos não se dá a ninguém”. E ainda sai ganhando, porque, renuncia”. A eleição de representantes, nesse sentido,
como todos fazem o mesmo, ele recebe de volta todos os colabora para o afastamento do povo na elaboração das leis,
direitos que cedeu e “maior força para conservar o que se tornando-o vítima da sua própria indolência. Dessa maneira,
tem”. Assim todos se mantêm livres e iguais ao ingressar na é possível entender por que a religião civil de Rousseau
sociedade civil, isto é, o corpo político. Rousseau concebe, inclui a aceitação de alguns dogmas, tais quais: a felicidade
pois, o corpo político como um todo, uma unidade orgânica, dos justos, o castigo dos maus e a santidade do contrato
com vida e vontade próprias. E o que dá vida ao corpo social e das leis.
político é a própria união de seus membros, ou seja, a 120 É nesse espírito de fé, e tendo em vista o bem
coletividade. As leis desse corpo político devem ser, desse comum, que os cidadão devem participar ativamente da vida
modo, o reflexo da vontade geral, que é aquela que busca o política. Não flertando com a servidão, por melhor que ela
60 melhor para a sociedade como um todo, ou seja, deve ser esteja vestida. O ato de obedecer deve, portanto, sempre ser
aquela que satisfaz o interesse público, e não o de uma decisão crítica. ©
particulares. E todo cidadão deve se subordinar a essa ____________________________
vontade geral, mesmo que, como indivíduo (e não como
cidadão), entenda que ela contraria seu interesse particular.
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AS CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS DA LIBERDADE Em sua obra O ser e o nada, Sartre levou essa
DE ARISTÓTELES E DE SARTRE concepção ao ponto limite. Para ele, a liberdade é a escolha
incondicionada que o próprio homem faz de seu ser e de seu
A primeira grande teoria filosófica da liberdade é mundo. Quando julgamos estar sob o poder de forças
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exposta por Aristóteles em sua obra Ética a Nicômaco e, externas mais poderosas do que nossa vontade, esse
com variantes, permanece através dos séculos chegando até julgamento é uma decisão livre, pois outros homens, nas
o século XX, quando foi retomada pelo filósofo francês mesmas circunstâncias, não se curvaram nem se resignaram.
Jean-Paul Sartre (1905-1980). Em outros termos, conformar-se ou resignar-se é
Nessa concepção, a liberdade se opõe ao que é uma decisão livre, tanto quanto não se resignar nem
condicionado externamente (necessidade) e ao que acontece conformar, lutando contra as circunstâncias. Quando
sem escolha deliberada (contingência). Diz Aristóteles que é dizemos que não podemos fazer alguma coisa porque
livre aquele que tem em si mesmo o princípio para agir ou estamos fatigados, a fadiga é uma decisão nossa, tanto assim
não agir. 60 que uma outra pessoa, nas mesmas circunstâncias, poderia
A liberdade é concebida como o poder pleno e decidir não se sentir cansada e agir. Da mesma maneira,
incondicionado da vontade para determinar a si mesma, isto quando dizemos estar enfraquecidos e por isso não temos
é, para autodeterminar-se. É pensada, também, como uma força para fazer alguma coisa, a fraqueza é uma decisão
capacidade que não encontra obstáculos para se realizar nossa, pois um outro poderia, nas mesmas circunstâncias,
nem é forçada por coisa alguma para agir. Trata-se da não se considerar fraco e agir.
espontaneidade plena do agente. Por isso Sartre faz uma afirmação aparentemente
Além de distinguir entre o necessário e o paradoxal, dizendo que estamos condenados à liberdade.
contingente, Aristóteles também distingue entre o Qual o paradoxo ? Identificar liberdade e condenação, isto
contingente e o possível: o primeiro é o puro acaso; o é, dois termos incompatíveis, pois é livre quem não está
segundo é o que pode acontecer desde que um ser humano condenado.
delibere e decida realizar uma ação. Assim, na concepção O que Sartre pretende dizer ? Que, para os
aristotélica, a liberdade é o princípio para escolher entre humanos, a liberdade é como a necessidade e a fatalidade,
alternativas possíveis, realizando-se como decisão e ato não podemos escapar dela. É ela que define a humanidade
voluntário. dos humanos, sem escapatória. ©
Contrariamente ao necessário ou à necessidade e à
contingência, sob as quais o agente sofre a ação de uma ___________________________
30 causa externa que o obriga a agir de determinada maneira,
no ato voluntário livre o agente é causa de si, isto é, causa Um só pensamento
integral de sua ação. Sem dúvida, poder-se-ia dizer que a
vontade livre é determinada pela razão ou pela inteligência
Nos meus cadernos de escola
e, nesse caso, seria preciso admitir que não é causa de si ou Minha carteira e nas árvores
incondicionada, mas é causada pelo raciocínio ou pelo Nas areias e na neve
pensamento. Gravo o teu nome
No entanto, como disseram os filósofos posteriores
a Aristóteles, a inteligência inclina a vontade para certa Em cada página lida
direção, mas não a obriga nem a constrange, tanto assim que Em cada página em branco
podemos agir na direção contrária à indicada pela Papel pedra sangue ou cinza
inteligência ou razão. É por ser livre e incondicionada que a Gravo o teu nome
vontade pode seguir ou não os conselhos da consciência. A 90 [...]
liberdade será ética quando o exercício da vontade estiver
em harmonia com a direção apontada pela razão. Na ausência sem mais desejos
Na solidão toda nua
Em cada degrau da morte
Gravo o teu nome

Na saúde que voltou


No perigo que passou
Na esperança sem saudade
Gravo teu nome

Graças a uma só palavra


Reconheço a minha vida
Nasci para conhecer-te
E chamar-te

Liberdade.

Paul Éluard (trad. Guilherme de Almeida)

In: ALMEIDA, Guilherme de. Poetas de França. 4. Ed. São Paulo:


Nacional, 1965.

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