Vous êtes sur la page 1sur 25
A oe do trabalho filoséfico Come vinos no Capitulo 7, na filosotie, a0 contrério da Matematica, nao dispamos de métodos formais de prova. - E porque a filosofia no se ocupe de problemas empit ‘208, nao pociemos tambiim recorrer a métodos empiticos para testar as nossas respastas aos problemas filosdficos. Por estes motivos, damos uma grande atengéo a um con. Junto de instrumentos Iégicos cu finguisticos, que nos per- 2 mitem discutir ¢ avaliar com rigor os problemas, teorias & argumentos da filosofia. Chama-se por vezes «dimensa . discursiva do trabalho filoséficon @ esses instrumentos, ¢ 5 ina proposes, 6 isso que irernos estudar neste capitulo. _ 8 Sabot ideriaticar spfesider 0 qua 4. Argumentos Os argumentos séo instrumentes muito importantes para a cescoberta das coisas, pois ratamente podemos conhecé-las directamenta: 6 praciso raciociner. Iseu80, arguments, cones promeeg ‘aciocihio, interpratacéo, entimeins, wie ee © PoRrguimanto sdlida. arquimento bom, falécia, #2) Um raciocinio ou argumento é um conjunto de pro- posigSes em que se pretends justificar ou defender uma delas, a conclusaio, com base na outra ou nas outras, a qua se chamam as premissas. Ou soja, argumentar é justificar, tundamenter ou dar ra- i : 2808 a favor do que pensamos. « Propdsicéo univaizal, con Mais tarde, veremos melhor o que & ums proposi¢ao. 18 Contreargumenio, contra-sxeinps. Fara ja, basta dizer que uma proposicéo a icigia ou pen- Fecucao ao absurco, . samento que as frases exprimem literalmente, Por exem= Consistndiatneansistencs A plo, tanto a frase portuguesa «Plutao néo é um planeta» Condigae hcessétia, cordicso cuficiante. come a frase inglesa «Pluto is not a planet» exprimem a ‘A Breonatclonet z » mesma proposigao: que Plutao néo 6 un planeta RRR aA SRE Miro Ses FOPIADORA _ Prof. Diseipti Estamos perante um argumento sempre que alguém oferace um canjunta ce raz6es, ou justificagdes a favor de ume ideia. Se nos limitarmos @ afirmar ideias, sem as razdes Gus as apoiamn, ndo estamos a apresentar argumentos 2 favor das nossas ideias. Se naa apresentarmos argumentos, as outras pessoas poderga nBa ter qualquer razdo para ace * tar as nossas ideias. E por isso que argumentar é entrar em didlogo com os outros: a0 apresentar raz6es, estamos a explicar 20s outros por que fazSo pensamos o que pensa- MoS. e estamos a convidé-los a discutir essas raz0es. Se as razdes que temos para pensar ‘© que pensamos no resistam & discusséo, é tempo de mudar de idelas. Dat que a aber- {ura 8 argumentagao se ononha ao dogmatismo, Nem todos os conjuntos de proposigées sao argumentos. Sé séo arcumentos os con juntos de proposigoes em que se pretende justificar ou defender uma delas com base nas outras. Considere-se 0 seguinie exempla: © aborto devia ser proibido. Nunca devemos fazer um aborto, seja qual for a Gircunstancia. Penso que quem faz um aborto ndo esta a ver bem o cue estd a fazer, ‘do tem consciéncia de que esta na prética a assassinar um ser humano. Neste caso, tamos um conjunto de proposigdes. Mas para que seja um argumento & preciso que 0 autor pretende defender,ou fundamentar uma das proposigdes usando as outras. Talvez 0 autor pretendesse dizer o sequinte: © aborto devia ser praibido porque 6 um assassinio, Neste caso, ja temos um argumento, ois o autor estd a dar uma razéo para proibir 0 aborto. A concluséo 6 «O aborte devia ser proibido» e 2 premissa 6 «O aborto é um io», E por isso que os argumentos néo séo meros conjuntos de proposig6es; os argumentos so conjuntes de proposi¢Ses com uma estrutura: pretende-se que ume das proposicbes seja sustentada pela outra ou pelas outtas. Para clatificar, formulemos © argumento antetior do seguinte mado: O aborto 6 um assassinio. Logo, 0 aborto devia ser proibido, Neste argumento, temos uma premisse @ uma conclusdo. Um argumento pode ter vérias premissas; mes s6 pode ter uma conclusdo. Revisao en SEES PERERA ALO: ‘quai eum ‘igumento? De. exemplos «2-0 cus ¢ uma conciuséo?. Recorra 208) ‘exemple datos 08 ‘espoata sea ee or que e-uma premise? Recorra 208 ‘exemplos: ‘dados na, rasposta A 2 & Sere ‘que qualquer’ ‘conjunto de. proposicoes é um argumento?. Poigu 2 —f— G. {dentifiaue as premissss.¢ as. conclu: S dos sequintes argumentos: 1) «No podemos permitir 0 aborto porque & c assassinio da um inocente.» 2) «Os artistas podem fazer 0 que muito bem entendarem. E por isso que é imposstvel definic arte.» é 9) «Consideraride que sem Deus tudo & permitido, 6 nacesséria a existéncia do Deus pere funcamentar a moral © dar sentido a vida.» 4) sS@ Socrates fosse um deus, sefie imortal. Mas dado que Socrates no era mortal, rigo-era um daus.» 6. Aprésente quatro argumentos curtes. %, Considere as seguintes frases: «Os Cavalos alados nunca axistiram. Nem cos douses miticos gregas. Sé Buca é real». Sera que as proposicdes expresses por estas frases constituem um.argumento? Porque?’ 8. As propesicbes expressas poles frases seguintes séo verdadoias ou falsas? Justifique a ‘sua resposta. Bo |) Tedos os argumentos tm concluséo. : 2) Ha argumentos sern premissas. : : 3) Todos os argumentos tom duas premissas. ee 4) Nenhum arcumente tem mais de uma conclueao. 5) Neo 8 possivel discutiideies sem ciseutir arguinentos, Nem tode o discurso & argumentativo A argumentacéo 6 uma fungao importante da Iinguegem, Mas a linguagem tem outras fungéas; nem todo o ciscurso cu texto apresenta argumentos. Um texto pocle ser mera ments informative, caso em que se limita a transmitir informagao: A.NASA anunciow que vai enviar quatro astronautas 4 Lua dentro de 13 anos, a bordo de uma cépsutla que seguir para o satélite da Terta numa nova nave espacial, Uma semana ever’ ser a duracio da missio.dos quatro astronautas que 2 agéncia espacial norte- americana vai enviar & Lua em 2018, A viagem, segundo o administrador da Nasa Michael Griffin, duraré quatro vezes mais do que as missdes de Apollo & Lua entre 1969 © 1972. i, 20 de Stem de 2405 3 Um texto pode também ser poétice, ou literario, caso em que procura produzir efeitos antisticos: Aht, que ninguém me dé piedosas inten Ninguém me peca definigoes! Ninguém me diga: «Vem por aquio! A minha vida 6 um vendaval que se sotou, uma onda que se alevantou, um étomo a mais que se animou... 10 sei por onde vou, Nao sei para onde vou, — Sei, que ndo vou por ai! Fost Rego, «Canton Megron, 1925 Geraimente, o mesmo texto contém diferentes partes que tém diferentes funcdes. Assim, um romance ou um poema pode conter importantes informacées hist6ricas Ou bio- gréficas; e pode também apresentar argumentos. E vice-versa: Bertrand Russell foi um dos maiores légicos do séc. xx @ escrevia com muita elegancia (ganhou até o Prémio No- bel da Literetura}; um texto argumentative pode ter efeitos literdrios © user dispositivos posticos, além de ser informativo. Identificago e reconstrucdo de argumentos” Para discutir ideias em filosofia termos de concentrar a atengéo nos aspactos argumen- tativos dos textos ¢ discursos. Pare clatilicar e faciltar a discussao de arguments, é cos- lume escrevé-los do seguinte modo: Se Dous nao existe, a vida née faz sentide, Mas a vida faz sentido, Logo, Deus oxiste, Ou tudo esté causatmente determinade ou nao. Se tudo estd causalmente determinado, a respansabilidade moral néo 6 possivel, Mas so nem tudo esté causalmente determinado, a responsabilidade moral tam- bém néo ¢ possivel. Logo, em qualquer caso, a responsabilidade moral nda é posstvel. Ou seja, comecames com-uma premissa em cada parégrafore depois @ concluséo outro paragrafo, antecedida da palavra «logo», Fazemos isto quando queremtos clarificar um argumento que depois passamas a discutir. Mas é claro que, normaimente, as pes- 5088 nc apresentam os argumentos desta maneita. Considere-se 0 seguinte exemplo: —$- Coma pode aiguém imaginar sequer que hé responsabilidade moral? A responsabilidade moral nae passa de uma ficgao dos filésofos ¢ juizes! Na verdade, esta tudo determinadio, E come tudo esta detarminads, 3 respensahilidade moral nao & possi vel. IVias mesmo que nem tudo estivesse determinado, come seria possivel a responsabilidade moral? Mesmo neste caso, a responsabilidade moral seria uma ilusdo. Esta é 2 manoira mais natural de apresentar argumentos, ¢ 6 assim qué 05 encontramas nos textos dos filésofos, ou a falar com outras pessoas, no diaa-cia. Além disso, num dado texto ou discurso argumentativo, surgem varios argumentos diferentes misturacos e encadeados. Um livro ou um ensaio de um filésofo, por exemplo, 6 em geral um encadeamento de varios argumentos parcelares, misturades com varios aspectos naa argumentativos. Precisamos, por isso, de saber interpretar correctamente os tex- Aristételes 124.322 2 C}.Um aos tos fioséticos, de modo a identificar ¢ reccnstruir os argumentas pale soko da aan at neles presentes. ing fol eran urn centeta esters Fol 0 primer ftosoo a esta set ih iterpretar um texto & comprecnder seu significado © 2 Coun re ore es ae articulagao entre os seus diferentes aspectos. 4 Para identificar ¢ reconstruir os argumentos presentes nos textos filoséficos, faz-se 0 seguinte’ : Identifica-se a conclusao: O que quer o autor defender? Isso & a conclusao. Identifica-se as premissas: Que razdes apresenta o autor para defender essa conclu: sS0? Essas raz6es so as premissas. » Completa-se © argumento: Se 0 autor omitiu premissas, temos de as acrascentar. &. Explicite-se 0 argumento: Finalmente, formulamas © argumento explicitamente, Comecemos com um exemplo simples: Dado que Platéo era grego, no era egiocio. A conclusao dbvia deste argumento 6 «Platéa nao era egipcion. A unica razao apresen- tade a favor desta ideia é que Plato era grego. Se reescrevermos o argumento de me neira completamente explicita, obtemes 0 seguinte: aldo era grego. Logo, nao era egincio, a Tal como esta, nao se apresenta qualquer ligacdo exolicita entra a conclusao & a pre. missa; ou Seja, a premissa néo d qualquer razao explicita para aceitar a conclusio, Mas se perguntassemos ao autor do argumento qual é a ligagéo, ele diria muito provavelmente que nenhum grego é egipcio. Assim, falta a este argumento uma premissa: «Nenhum grego é eaipcion. Com esta premissa, podamns reescraver 0 argumento: Nenhum grego é egipcio, Platéo era grego. Logo, nao era egipcio. Agora as premissas ligam-sa da tal mado que fornecem boas razOes pera sustentar a conclusao. © ergumenta original, tal como {ci formulado, era um entimema. Ef Um entimema 6 um argumento em que uma cu mais premissas nao foram explici- tamente apresentadas. Ao contratio deste exemplo simples, nem sempre ¢ facil descobrir premissas ccultas. ‘Tentar encontrar as premissas acultas do nosso pensamento é uma parte importante da discusséo filosdfica. Mas podemos comagar por pequenas passos. Hé outro:aspecto que cificulta a identificagae de argumentos. Num texto ou discurso argumentative nem todas as frases cesempenham um papel argumentative. Muitas fra- ses 880 apenas explicacdes, exemplos, perguntas @ repetigdes de retérica e muitas outras coisas. Bi Num texto argumentative, chama-se ruido a todos os aspoctos do texto que nao tém relevancia ergumentativa \Vejamos urn exemplo: Mario ~ Este quacro 6 horrivell E sé tregos e cores! Até eu fazia isto! ‘Ana ~ Concordo que néo é muito bonito, mas nem toda a arte tem de ser bela Mario - Nao sei... por que razao dizes isso? Ana — Porque nem tudo 0 que os artistas fazem & belo. Mario ~ E depois? E claro que nem tudo © que os artistas fazom 6 belo, mas dat no se segue nada. ‘Ana = Claro que se segua! Dada que tudo © que 0s artistas fazem é arte, segue- -se que nem toda @ arte tem de ser bela. Ha muito suido neste dilogo, como & normal em qualquer texto ou conversa. O rido do € negativo, pois ajude-nos a compreender varios aspectos importantes. Apenas ndo directamente relevante para a argumentagao. Assim, ao interpretar umn texto como este. temos de comegar por I6-lo todo, para encontrar 2 ideia principal que o autor esté a de- fender. —o- Quando a Ana diz «Concorde gue née é muito boniton esta apenas a responder ao Mirio. Esta informagao é importante para 0 didlago, mas nao desempenha qualquer papel argumentative directo. Importante é o que ela.diz loga a seguir: «Nem toda a arte tem de ser bela. Esta frase exprime a ideia principal da Ana, ou seja, a conclusao que ela quer defender. Quanclo o Mério Ihe pergunta por que raza9 ela pensa isso, a resposta 6 2 ori- meira premissa do seu argumente: «Nem tudo 0 que os artistas fazom 6 belo». E quando © Mario diz que essa premissa ndo sustenta a conclusdo da Ana, ela acrescenta uma seguncia premissa: «ude a que os artistas fazem é atten. Reescrevendo 0 argumenic, obtemos 0 saguinte: Nam tudo © que os artistas fazem 6 tale. ‘Tudo © que os artistas fazem 6 arte, Loge, nem toda ¢ arte 6 bela. Por vezes, usamos certas palavias com o objective de indicar que 2 frase sequinte 6 uma conclusdo ou uma premissa. A palavra «logo», por exemplo, é um indicador de con- clusdo: significa que a frase seguinte é uma concluséo, Assim, os indicadores de premissa 2 Ge concluséo ajudam-nos a identificar argumentos. Contuco, nem sempre se usam es- tas tormos, @ nem sempre estes termos indicarn premissas @ conclusdes. © INDICADORES DE PREMISSA + INDICADORES DE CONCLUSAO, porque logo } pois j portanto i dado que : por isso ! visto que | devide a » os a razio 6 que admitindo que segue-se que sabendo-se que pode-se inferir que supondo que consequentemente Exemplos Exemplos [Nao tomes livre-arbvio porque tudo & deter- Tudo € determinado; logo, no temos livre- rminado, -steivio. Porque tude 6 doterminedo, ado temoslive. De tudo ser determinado segue-se que nfo 7 -ait témos fve-tbitrio. Supendo que tudo determinad, nfo temas Tude € determinado; cansequenterente, livre-arbitio. temos inneerbivie — 3 4. Para cada um dos indicadores de premissa ©. concluséo do quacro anterior, apresente urn argumento que nao seja disparataco. 2. Identifique as remissas e's conclusdes das seguintes argumentos, reescre vondo-0s de mangira explicita: 3) Se nao houve: 1) Dado que tanto os homens como a mulheies contibuem de. igual modo para a sociedad, ndo deve haver qualquer discriminagao ontre os sexos. 2) Nunca devemos feltar a0 orometido. $¢ fellarmos ao prometide, denais nin guiém conta om nds. nesse case teremes muitos problemas. Se vida alam da morte, a vida néo faria sentido. Dado que vida faz sentido, 18m de havar vide além da morte, 4) A prova de que ou 136 nosso ser uma ilusso 6 0 préprio facto de eu estar agora 0 penser Q 8] Claro que Deus existe! Ainda se a vida nao fizesse sentico, eu poderia admi- tir que Deus néo existe. Mas s6 um tole poderd pensar que a vida ndo faz ‘sentido, como 6 evidente. 6) Corio pode alguém imaginar sequer que hé responsabilidade moral? & res- ponsabilidace moral no passa de.uma ficgao. dos ésofos e juizes! Na verdade, esta tudo determinado. & como tudo est detetminado, @ resnon- sabilidade moral ndo € possivel. Mas mesmo que nem tude estivesse detar- _minado, come seria possivel a responsabilidade moral? Miesmo neste caso, a tesponsabllidade moral seria uma ills. : . Descubra as premissas ccultas dos seguintes arqumentos WA droga devia sor proibida poroue piovoca e morte. 2) A homossexualidade devia ser prolbida porque no 6 natura 9) A vide néo tem sentido porque no fim acabamos todos por morrer 4) Se Deus ndo existisse, a vida nde (aria sentido. Portanto, Deus existe. 5) Se a misica 6 bela, 6 arte. Logd, € are. 4, Procure determinar s@ os seguintes textos s80 argumentos. Se forém, identifi. que 2s premiséas © as conclustes e reescreve-os de maneira expiicita 11.0 Nada nao’ pods existir. © Nada é a manifestacéo do que néo existe, 0 qua'nao existe ndo pode manifestarse. 2) A atte 6 indizivel. E um salto no vazio dé existéncia pure. Um arrémedo do ‘génio que se faz coisa. 3] Se 6 mundo exterior 8 percepedo 180 existisse, onde exstiern os seres hu- manos? 4) Jd Plalao dizia qué a alma ¢ imorial. 5. Procure encontra’ prémissas que possam apoiar as propesicdes expresses pe- las Frege soquintes @ oscreva de maneirs explicta os argumentos resultantes: 1) A tourada devia ser proibida 2) A vida néo faz sentido. 2. Vatidade Os ergumentos servem para descobrir verdacies desconhecidas com base em vercades conhecidas. Contudo, no basta que as premissas @ a conclusdo de um argumento sejam verdadeiras pata que o argumento seja bom, como se ade ver no seguinte exemplo: Aristételes era grego. Porto 6 uma cidade. Logo, a relva 6 verde, Apesar de as premissas € @ conclusée serem verdacleiras, este argumento é mau. Também néo basta que um argumenta seja coerente para ser bom, pois este argue mento é perfeitamente coerente, Pare que umn argumento seja incoerente é necessério ue contenha contradigees (coma «A relva 6 @ néo é verde>!. Para urn argumento ser born, € preciso que as premissas se relacionem de tal manera com @ concluséo que tome impossivel, ou improvavel, que as premissas sejam verda: deiras @ a concluséo falsa. Esta 6, precisamiente, a definicaa de argumento valido: © Um argumento ¢ valide quando é impossivel, ou muitissimo improvavel, que as suas premissas sejam verdadeiras e @ sua conclusao falsa, Assim, a validade € ums relagao entre a verdad ou falsidade das premissas e da con- clusio, Nao se devs por isso pensar que a validade e a verdade néo tm qualquer relaceo entre-si Eis dois exemplos de argumentas validas muita simples: Se a vida @ sagrada, 0 aborto é imoral Avida é sagrada. Logo, o aborto é imoral, © Se Deus‘existe, 0 sofrimento 6 uma iluséo, © sofrimento no é uma ilusée. Loge, Deus nao existe. Em filosofia, @ palavra evalidaden tem um sentido especializada. Muitas vezes, usa-se a palavra «valideden para dizer que algo tem valor, ou que € interessante. Por isso, dizemos qua uma propesicao ¢ valida, mas querernas apenas dizer que é interessante. Em termos fitoséficas, cantude, uma proposi¢io néo pode ser valida nem invélida: s6 os argumentos podem ser valides ou invalides. E as proposicbes 530 verdadeiras ou falsas, Os argumentos, mas nao 3s oroposicdes, podem ser validos ou invalids. As pronesicdes, mas nao os argumentos, padem ser verdedeiras ou falsas. —$ 6 SBORRAGEM ReTROTaRIA A MLOSUrA s AO LOSO% 20 que é um argumento valido? Dé um exempio. 2. As pioposicdes expressas polas frases seguintas sao vordadoiras ou falsas? ustifique a sua tesposta, = 4} Nenhum argumento valida tem uma conciusao falsa. 2) Alguns argumentos validos tm premissas falsas. 3) Totos os argumentos com premissas falsas'tém conclusdo falsa. 4} Todos os ergumentos validos corn prernissas falsas ter conclusoes falsas. 5) Todes os argumentos com premissas ¢ conclusio verdadeiras 380 vals. 8) A validade 6 uma questao de coeréncia. : wi . Héalguma citcunstancia ‘em que se gossa.récusar a conclusao de um argu: mento valida? Se sim, qual? Porque? Argumentos sélidos e cogentes A validade sé garante que é impossivel partir de verdades ¢ chegar a falsidacies. Mes um argumento pode ser valido e ter concluséo falsa ~ desde que também tenha uma pre- missa falsa. E 0 caso dos seguintes argumentos: Kant @ Aristételes eram gregos. Logo, Kant era grego. Todos 05 gatos sao caes, Todos 0s caes ladramn. Logo, todos os gatos ladiam. Para garantir que chegarnos a conclusbes verdadeiras, temos de fazer duas coisas: par- tir de premissas verdadeiras © usar ergumentas vélidos. Se os nossos argumentos néo forem valides ou se as nossas premissas nao forem verdadeiras, nao teremos qualquer garantia de chegar a conclusoes verdadeiras. Um argumento sélida ¢ um argumento valido com premissas verdadeiras, Também nao basta que um argumente seja sélide para ser bom, pois 0 seguinte argu- mento € sélido e mau: Plato € Aristételes eram gregos. Logo, Piatéo era grego. A dhinensso discorsiva ge trabelho fivsdites Este argumento mau porque nfo 6 persuasive; € née é persuasive porque quem duvida da conclusée nao aceita a premissa, Isto acontece porque a premissa néo é mais plausivel de que a conciusao. Um argumento cagente ou bom é um argumente sélicio com premissas mais plau- siveis do que a conclusio, Argamentos ‘cogentes | Assirn, um argumento bom ou cagante retine tés condigdes: é vélido, tem premissas verdadeiras e tem premissas mais plausiveis do que a concluséo. Vejarmos outro exemplo: Sea vida 6 sagrada, 0 aborte é imeral. Avida 6 sagrada, Logo, © aborto ¢ imoral. Este argumento 6 vélido: nao hé circunsténcias nas quais 2s premissas sejam verds- deiras e a conclusia falsa. Contudo, 0 argumento & mau porque as premissas no so mais plausiveis co que 2 conciusdo. O caracter sagrado da vida nao ¢ mais plausivel ou mais evidente do que a imoraliiade do aborto. Na verdade, muitas pessoas acham que o aborto é imoral, mas nao sao religiosas e partanto nao acham que a vida seja sagrada. Para ue 0 argumento fosse bom, além de sélido, teria de’partir de premissas mais obviamente verdadeires, para chegar ume conclusde disputével; no pode partir de premissas to isputdveis quanto @ propria concluséo. Assim, ao avaliar argumentos, fazemos as seguintes perguntas: +, Ser impossivel ou improvével que as premissas ssjam vardadeiras € a conclisao falsa? 2, Sero todas as premissas verdadeiras? ‘S010 as promissas mais plausiveis do que a concluséa? —>- ASORAGEIA IeTRBADTONIAA FLLO% ad Funsorad Se o argurnento parecia cagente, inas jaiha uma destas condigces, 6 falacioso. ©) Uma faléeia 6 urn argumento que parece cogente mas néo é. Um argumento é falacioso quando parece valido mas 4 invélide; ou quande tem pre- rissas falsas que parecem verdadeiras; ou quando parece ter premissas mais aceitéveis, do que a conclusda, mas nao tem, 4 © que é um argumento sétido? D4 um sxemple. 2, As propasigées Sxpressas pslas frases sequintes s#o verdadeltas ou falses? Justifique a sua resposta. : 1) Alouns ergumentos sdlidos t8m conclus6es felsas. 2) Nenhum araumento sdiido 6 invalido. 3) Alguns argumentos sélides sq Maus. AV Todos 08 argumentos validos s80 solides. Concordar corn urna proposieao & achat que € vertadelra ¢ discordar ¢ achar que ¢ falsa. Sera que podemes discordar da conclusdo de um arpumerio ve lido e concordat corn as premnissas? Porque? 4, Ha aloume circunstancia em que Se posse-recuisar conclusao de um argu mente sdlida? Se sim, qual? Porque? Considere de novo 0 argumento da Ana: Nefh tudo 0 que os artistas fazem 6 beld. : Judo que os artistes fazern 6 arto. - Logo, niem toda a arte ¢ bela. 5 2 Serd este argumento sélide? Justifique. Avaliacdo de argumentos : No 11.2 ano iremos estudar alguns instrumentos para determinar a validade ou a inveli- dade de alguns tipos de argumentos. Mas podemos desde jé usar um instrumente sim- _ ples mas poderoso para avaliar argumentos: 2 imaginagao. Para determinar a validade de um argumento, temos de tentar imaginar urna circuns- jancia possivel na qual as premissas sejam todas verdadeiras e a conclusao faisa. Se con soguitmos imaginar essa circunstancia, 0 argumanto née é valde. Vejamos urn exemplo: ‘So 8 Ana vive no Porto, vive em Portugal Ana vive em Portugal. Logo, vive no Porto. Pocieremos imaginar uma circunstancia possivel na qual as pre missas 20 verdaciairas € conclusao falsa? Claro que sim. imagine- se que a Ana vive em Braga, € gue tudo 0 resto é igual a0 mundo gue conhecemas. Nasta citcunstancia, 6 verdade que, se 2 Ana vivesse no Porto, viveria em Portugal (porque o Porto é uma cidade portuguessl; © é verdade que 2 Ana vive em Portugal, dado que vive ein Braga. Mes 6 falso qué vive no Porto. Logo, © argumento é invalid. Evidentemente, os argumentos usados em filosofia ndo serso sobre a Ana, nem sobre cidades e paises. Os argumentos usados em filosofia s80 mais dificeis; sao argumentos sobre a natureza da acco, sobre a abjectividade e fundamentacao ca ética, sobre a existéncia de Deus € a definicao de arte, etc. Contudo, a andlise dos arguments filos6ficos é basicanente a mesm: 0 uso da ima ginagdo. A Unica ciferenca & que precisamos de ter uma imagi- nacéo mais viva porque se trata de temas mais diflesis do que sidades, paises 6 a Ana, Vejamos um exemplo: Se a vida sagrads, 0 aborte é imoral A vida nao é sagrada. Lego, 0 aborto nao ¢ imor. Haverd alguma circunstancie na qual as premisses sejem ver- dadeiras e a concluséo felsa? Imaginemos que era verdade que se. a vide fosse sagrads, 0 aborto seria imoral; ¢ que era tamoém ver- dade que 2 vide nao era sagrada, Sera cue nessa circunstancia 0 aborto n&o seria imoral? Claro que nao. O aborto poderia ser imo- ‘al, 86 que nao seria imoral por causa co carécter sagrado da vida — poderia ser imoral por ovtra razéo qualquer. O importante é que. podemos imaginar perieitamente a seguinte circunstncia possi- vel: 1) 0 cardcter sagrado da vida «conduz» 4 imoralidade do abor- to; 2} a vida néo 6 sagrada; 3) 0 aborto ¢ imoral por outta razéo qualquer {porque viola o direito 4 vida co feto, par exemplo}. Logo, 2 argumento ¢ invaido. 4, Determine sé 0s argumentos soguintes s80 a) valids, ) sélidos © c} cogantes, © exnlique porque. La Pensierosa, c= John. Willer ‘Geeivard (1861-1922), A0 pensar refler ti, faciecinar ou arguments esternos nevitwvelmente a fozélo ber ou ial Para henna: bern # precise set imagin “tho: 1) Se heuvesse vida além da morte, ¢ vida faria sentidc: Dado cue a vida faz sentido, tem Ge haver vida alem da more. 2) Se Platéo € steniense, & grego. Dado'aque nao é Grego, nao é ateniense. 3} Se 0 criminaso foi por este:caminho, tave de deixar pegadas. Dacio que nao ha pegs- dos, el nao foi por aqui 4) A vida faz sentide. Mas se a vida faz sentido, Deus oxiste. Poriante, Deus existe, —o— AOAGEMLIRTROD! 3. Proposicées Como vimos, os argumentas S80 constituides por proposip6es. Por sua vez, exprimimos proposigoes através de frases. Mas 0 que é uma frase? Uma frase 6 uma sequéncia de palavras que pademos usar para fazer uma assercso ‘ou uma pergunta, fazer uma ameaga, dar uma ordem, exprimir um desejo, etc. Assim, as seguintes sequéncias de palavras so frases: Esid a chover, Emprestas-me o teu carro? Se nao me devolveres o livro, fico zangado, Mas as seguintes sequéncias de palavras ndo sio frases: Se vieres comigo, Ou te calas. Verde nao piments ou caderno se ‘Textos e frases diferantes podem exprimir 0 mesmo pensamento. Por exemple, tanto a frase «A capital de Portugal & Lisboa» como a frase «Lisbon is Portugal's capital» exprimem ‘a mesmo pensamento, Além disso, a mesma frase pode exprimir diferentes pensamentos: a frase «O banco € bonito» tanto pode exprimir um pensamento sobre uma pega de mobilidrio como um pensamento sobre uma instituicao financeira. Usamos frases para exprimir pensamentos. Aos pensamentos literalmente expressos pelas frases chamamos «proposicéesm. Séo as proposigdes que realmente nos interessam, @ nao as frases, pois interessa-nos 0 pensamento que as frases oxprimem, @ nda © meio usado para 0 exprimir. EG Uma proposig&o 6 0 pensamento que uma frase daciarativa exprime jiteralmente. ‘ Em vez de «proposigéo», use-se muitas vezes 0 termo «juizo», querendo dizer aproxima- Gamente a mesma coisa. Tanto podemas falar da proposigéo expressa pela frase «Hegel ra alomo», como do juizo expresso pela mesma frase. ‘Nem todas as frases exrimem proposigées. Por exemplo, as perguntas néio exprimem proposigées porque ndo exprimem pensamentos que possam ter valor de verdade. © O valor de verdade de uma proposicao € a verdade au falsidacle dessa proposigao. Uma frase como «0 Mério rlasceu ng Porto» exprime uma proposigao porque tem valor de verdade. € tem valor de verdade porque a frase ou é verdadeira cu ¢ false. Mas uma frase como «Seré que 0 Mério nasceu no Porto?» nao exprime uma proposigio parque nao tem valor de verdade. Nao tem valor de verdade porque as perguntas néo s80 verdadeiras ern falsas. —>— Ume frase tom valor de verdade quance ¢ verdadeira ou falsa, ainda que no salbamos 80 8 frase 6 realmente verdadeira ou falsa. Por exemplo, a frase «Hé vida noutros planetas além da Terran exprime uma proposicéo. Exprime uma proposigao porque esta frase tem um valor de vertiade ~ ¢ verdadeira ou falsa. Todavia, nés nao saberos se a frase 6 ver dadeira ou falsa, Hé frases deciarativas que nao tém valor de verdade. Por exempio, a irase «O nada s6 gosta de pipocas as segundas-feiras» no exprime uma proposicao mas é uma frase decia- rativa, Todavia, n8o exprime uma propasigae porque nao tem valor de verdade. Nao se trata de nés no sabermos qual é 0 seu valor de verdade; o que se passa é que a frase no tem qualquer valor de verdade. “5 Uma frase declarative que no tem quatquer valor de verdace é absurda (ou, como se diz por vezes, nao tem sentido) Isto 6 0 que se diz em certos contextos. Mas noutras contextos diz-se que uma frase & absurda quando é to evidentemente faisa que néo vale 3 pena profert-la. E preciso no con: fundir estas duas nogdes diferentes de wabsurdo», As frases declarativas podem exprimir muitas outras coisas além do seu significads lite Fal. Poder exprimir surprese, deleite, irritacéo, etc. Ndo podomos esquacer que uma frase pode exprimir autras coisas. Teremos é de saber o qué. Tipos de frases | Exprimem proposigdes? Declarativas Aneve é branca. | Algumes, sim. As ideias perieitas sabom cantar. | Outras, néo. Interrogativas Neo. Seré que Deus existe? | Exclamativas » Néo ‘Quem me dera ser imortal! Compromissives Nao. Prometo develverte © livre amanha, | Amanha vou & praia. Prescritivas | Nao. Nao ukrapasses 0 limite de velocidade. Imperativas — Nao. Fecha a portal 8 Wy INTROGUTOHIAA MLUSDEIA E AQ HROSOEAR AG 4, Qual é.a diferencs entre uma frase @ uma proposigéo? Exnlique e dé exemplos, De dois me xemiplos de frases que exprirnam pronosicoes. 8. D8 dois exemplos de frases que nao exprimam proposicoes. 4, 0 abe 6 0 valor de verdade de uma frase? © gue significa dizer cue uma frase 6 absurda? D8 alguns exomplos 5. Indique 0 valor de verdade das proposigbes expressas poles. frases seguintes: e justifique 4 sua resposta: 1) Uma frase necessariatnente falsa é absurda. 2) Se uma frase for false, expriene uma pronosigdo. 3) Uma frase que nao exprime qualquer proposicéo nao quer dizer coisa algu: ma 3 Hees " 4) Ha frases absurdas vordadeiras 5) Uma proposicag nao pode ter palavras. wt . Explique qual € a importancia de saber o que @ uma propasicao. Concreto e abstracto srw A frase «Lisboa 6 a capital de Portugal» & composta por seis palavras. AS frases © 2s palavras so coisas ou entidades concretas, como as arvores, os oceanos € os lépis. AS coisas ou entidades concretas contrastam com as entidades abstractas. As proposigoes 880 eniidades abstractas, Por sabstracton no se quer dizer svagon, «dificil de campreender» ou wgeral». Os nb meros @ as propriedades (como a brencural, por exemplo, so entidades abstractas; mas © numero sete, por exemple, nBo vago, nem dificil Ce compreender, nem geral (0 que 58 opbe 20 geral 6 0 particular, e nao © concrete). BE As entidades concretas esto localizadas no espage e no tempo. 55 As enlidades abstractas nic estao localizadas no espage © no tempo. Por exemple, um lénis ocupa um certo espaco e existe durante um certo periodo de tempo: mas 0 numero cinco no esté em sitio algum, nem comegou a existir num dater- minado momento, desaparecenco depois. O nimero cinco, contudo, nao se pode confun- Gir com os simbolos € palavras que usamos para 0 exprimir; entre esses simbolos palavras. incluem-se os seguintes: «5y,«Vo, «cinco», cine», «fives, «flint (por ordem: nu- moragao rabe, numeracao romana, portugués, francés, inglés e alemao). i 52 mares + conceitos om si sao entidades absiractas. Mas a extensao dos concaitas tanto pode ser eniidades abstractas corno coneretas. Por exemplo, os aimeros pares so entidades abstractas © constituem a extensao do concaito da niimere par; os animais mamiferos $80 entidacies cancretas e constituem a extensac do conceito de mamifera. Mas tanto 0 can ceito de niimero par come © conceito de mamifero s40, em si, entidades abstractes. Quando discutimos ideias, nao estamos preocupades com as frases concretas que usdmos para exprimir essas proposigdes, mas antes com as préprias roposigées. Por exemplo, s@ esiamos a discutir a questo de saber se Deus existe, 0 cue queremos discutir € se 0 que é expresso pela frase «Deus existe» é verdade. Igualmente, quando lamos um texto tiloséfico, 0 que nos interessa no é 0 texto concrete que temos perante gs, ras as proposigdes que o texto exprime; © que ciscutimos em filosafia nao é as pata vias do texto, nem a cor das letras, nem a lingua em que 0 texto foi escrito, nem a dimen- 880 das folhas em que o texto est escrito, mas antes as proposicbes expressas pelo texto +2, Exolique a cistingdo entre conereto e abstracto, recortenda @ exemplos. 2. Um frase é uma entidade abstracta ou concrete? Porque? 3. Uma proposigso ¢ uma entidade abstracta all concreta? Poraue? a Negacdo de proposicées Em qualquer discussao, saber negar ideias ou proposigdes @ muito importante & p2- rece facil. Mas @ negagac de alguns tipos de proposicdes af origem a confusbes € erros, 55 A negago de uma proposicio inverte o seu valor de verdade, Se a proposicao de partida for verdadeira, 2 sua negacio serd falsz; © se 8 proposigao de partida far faisa, a sua negagdo sera verdadisira. Se isto nao acontecer, nfo é uma ne- gacdo. Voja-se 0 caso das proposig6es universais. ! Chama-se proposigdo universal a qualquer propasigao de forma «odo 0 F é G» ou «Nenhum F 6G», ou formas andlogas. OF 0G assinalam os lugares em que devernos inserir nomes de classes de coisas; por exempla, «aregosy, «mortaisy ou slivrasn, Desse modo, forma-se frases como «odes ‘05 gregos S80 mortals», que exprime a mesma propasiczo que «Todo 0 grego 6 mortals. Um erro comum é pensar que a negacde de «Todas as verdades séo relativas» ¢ «Nenu ma verciads ¢ relativa». A, negagao correcta & wAlgumas verdades nao sao relativasr. —>- HOSUFA EAD Veja-se agora 0 caso das praposigbes consicionais, 1 Chama-se proposigao condicional a qualquer proposi¢ao da forma «Se & entéo Q», ou formas anslogas. Muitas vezes, omite-se 0 wentéon, © P 2 0 Q assinalam os lugares om que devemos insetir frases que oxprimam proposi- bes; por exemplo, «Sécrates era gregos, «A vida tem sentido» ou «Deus existen, Desse modo, forma-se frases come «Se Deus existe, a vida tem sentidon. Um erro comum & pansar que a negagao da «Se Deus oxiste, a vida faz sentido» & «Se Deus ndo existe, a vida nao faz sentido». A negago correcta & «Daus existe, mas a vida nao faz sentido» NEGAGAO DE PROPOSICOES Proposigae Todo oF 6G. ‘Todas as obras de arte sao belas. Nenhum Fé G. Nenhuma obra de arte é feia, Sek. Se Deus existe, a vida faz sentido. Se R nao Q. ‘Se Deus existe, a vida ndo é sbsurda Se nao RQ. Se Deus néo existe, a vida 6 absurda. Se nao P nfo Q. So Deus nde existe, a vide nao faz sentido. Revise «Nenhum F @ Ge? wer dizer «Se RQ»? I 4 Sees Sune cist Ucqnetesy @/ Gy que! laet spessonn/ 6 qua Guay dar pc een Negacao Algum F nao 6G. Algumss obras de arte no séo belas. Algum Fé G. Algumas obras de arte sao feias. B mas nao Q. Deus existe, mas a vida nao faz sentido. B mas Q. Deus existe, mas a vida @ sosurda. Nao B mas néo 0. Deus nao existe, mas a vida ndo é absurda. Nao F mas Q. Deus nao existe, mas a vida faz sentido. Se «P» quer dizer +A vida € sagraday © Q-quer dizer «0 aborto € imoraln, oque ‘3. Que tins de exoresséo abreviam as letras af ¢ «Gn om dodo oF 6 Gy? De alguns exempios.. baino Hossain +. Que tipo de expressao abreviam as letras «Pe «Qh. ern «Se P_On? Dé alguns, exemples. i 5. Imagine qué uma proposigac do tipo Modo 0 Fé Gv'é falsa. Qual, 60 valor de vertiade do. «Algum F nao 6 Gi? Imagine que uma proposicae do tino «Se P On € felsa, Qual é-0 valor de verdade de cP mas nao +? 7. Imagine que a Ana defende que tedos 08 abortos sao imorais. Quem nega esta posigdo, ‘que proposicad tem de aceitar? 2. Imagine que a Joana defende que se a vidé € sagrada, © aborto é imoral. Quem nega esta posicse, que progosicéo tem de aceitar? Refutacao de proposicées os - Saber negar proposicées universais ¢ condicionais permite-nos saber como se refuta ideias. 5 Refutar uma ideia 6 mostrar que essa idsia 6 falsa, Um contra-argumento é um argumento que pretends refutar a conelusio de outro argumento, imagine-se que a Ana afirma «Se Deus existe, 0 aborte é imoraly. Uma maneira de refutar esta ideia ¢ mostrar que a sua negagao é verdadeira ou pelo menos plausivel. A ne- gagaa é: «Deus existe, mas 0 aborto nao é imaral», Esta 6 uma maneira muito simples de refutacéo. Outra maneira muito simples de refutacae recorrer a contra-exemplos. imagine-se que @ Ana afirma o seguinte: «Todas as obras de arte s40 belas». Uma vez mais, pode-se refutar esta proposigao mostrando que a sua negagao 6 verdadeira. Mas, neste caso, 2 negagao é «Algumas obras de arte nao sac belas». Por isso, basta indicar uma obra de arta ue nao seja bela para refutar o que a Ana afimou, Chama-se a isto «refutagao por contra- -exemplon: a obra de arte ingicada 6 um contra-exemplo ao que a Ana afirrnou. Sé hé contra-exempios a proposigoes universais. Se a Ang afirmnar Algumas obras de arte so belas», néo é possivel refutéla recorrendo @ contra-exemples. 4 reduce ao absurdo é uma maneita de refuter ideias muito usada em filosofia e até ‘no dia-a-dia. E por vezes conhecida pelo seu name latina: seductio ad absurcum. Vejemos come a Ana usa 8 reducae ac absurdo: Mario ~ As vezes até duvide de que © prépric universo exista, ‘Ana - Claro que 0 universo existe! Mario - Como sabes isso? OROAGES INiOBUTORIAA MLOSOMa E hal sLasorAe Ana — Ora! Supde que nao existia. Nesse caso, nao podiamos estar aqui a dis- cutir a existéncia do universo, Mas isso 6 absurdo, dado que estamos abviarnente aqui. Logo, 0 universe existe. Na redugo ao absurdo, partitnos do contrario do que queremos defender e mostramos que isso dé origem a um absurdo: 4. Para defender uma proposigdo P por redugaa ao absurd partimas de nao P (hiné- tese absurd). 2. Mostramos que de nao P se segue uma falsidade éovia (um absurdo) ou uma con- tradigao. 2. Podemos entao concluir quea hipdtese absurd, nao P é falsa — logo, P é vercadeira. 0 passo 2 deste proceso € 0 mais importante. E preciso mostrar que a hiogtese do passa I conduz realmente a um absurdo ou 3 uma contradicao. Quando isso nao se consegue fazer, a redugao 20 absurdo falha, {8 Uma contradlig&o 6 uma proposiggo com @ forma soguinte: P © nao P. Por exemplo, afirmar que Sécrates era grego € nao era grego é uma contradicéo. eee = pormeio de um nee Poraus? a circutes qua- Argumente pot redugso ao.abeurd 9 fovor caideta de que Ubon) ol es Ge ; |. Corisidere 0 seguinie arguinento: «om de haver um Criador do Universo. Se nao. houvesse um Criador, nada poderia existir. Mas isso é absurdo, dado que 0 Uni: verso snisien. Sera que 6 argumiente & bom? Porqué? : |B. Explique o que’é uma contradicso ¢ dé erpie G.-As contradigoes sa0 verdadsiras ou falsas? Justifique... Oo 4. Teorias As teorias filosdficas podem ser avaliadas de muitos pontos de viste. Do ponta de vista hist6rico, por exemplo, procura-se determinar as relagdes que as teorias dos filésofos tém com as idvias do seu tempo e com as teorias dos seus antecessores. Do ponto de vista estético, avalia-se @ apracia.se as teorias dos filésofos como se fossem criagdes artisticas, um pouco como quem aprecia uma pintura ou urna sinfonia. Mas também se pode aprectar as teorias filoséilicas filosoficamente. Para 0 fazor, 6 necessério responder as sequintes per- guntas: ®. Come se articulam os diferentes aspectos da teoria? . Come responde a teoria 2c problems filasdfice que se propde resolver? A teoria ¢ plausivel? Que argumentos ha a seu favor? 4A teotia & mais plausivel do que as teorias alternativas? Ao longo deste manual, iremos aprender a fazer este trabalho, As teorias 680 conjuntos articulades de proposigbes. E5sas proposicbes tem relagdes légicas enire si. Uma das relagdes mais importantes é @ consisténcia © a sua negacdo, a in- consisténcia, Chama-se por vezes «cooréncia & cansisténcia © winoosréncian & inconsis- téncia, Um conjunto de proposigées 6 consistente quando todas as proposigoes de con- junto podem ser verdadairas simultaneamente, 5 Um conjunto de propesicdes é ineonsistente quando as proposigdes do conjunto nao podem ser todas verciadeiras simultaneamente. Por exemplo, 0 seguinte conjunto de proposigées 6 consistente: Deus existe. ‘Avida sem Deus nfo tem sentido, ‘A tnica religibo verdaceira & a islimice, Os cristéos estao anganadis. ‘As diferentes partes de uma teoria formam geralmente um todo relativnente harmo- nioso. O que isto quer dizer 6 que as diversas proposighes das teorias costumam ter uma estrutura lOgica entre si. A relacéo principal que existe entre as proposigées de uma teoria 6 8 de implicagao ou consequéncie. Uma proposigéo implica outra quando é impossivel a primeira ser verdaceira e @ se- gund fals@. Diz-se também que a segunda proposicae € eonsequéncia da primeira. —$— Sem InTRODUToE LELOSGFIA FRO ALASOFAR Por exeinplo, 2 orimeirs das seguintes proposigdes implica a segunda: A tini¢a religido verdadeira é a islémica, Os cristéos esto enganados. Corno as proposigées que constituem as teorias tém relagbes iégicas entre si, uma dada proposieo de uma teoris pode implicar outra proposigao da mesma teoria Isto 08 2 teoria uma certa unidade ou coeréncia, pois se a primeira for verdadeira, a segunda no pode ser falsa, Contudo, se a primeira for falsa, a segunda pode ser falsa também. Por isso, ume teo- Tia pode ter «coeréncia intemas, ou Seja, Ser consistente, mas ser falsa A relagao de implicacéo nao existe apenas no interior de uma teoria. Existe iguaimente entre as proposicées da teoria € outras proposicbes exteriores 8 teoria, Assim, acontece. muitas vezes que uma teoria é consistente, mas implica proposigdes que temos boes raz6es para pensar que séo falsas. Por isso, a0 avaliar tecrias, no basta perguntar se resol- vem os problemas que pretendiam resolver. Nem basta perguntar se sao coerentes. & pre- ciso perguntar também se ndo entram em conflito com outras vardades que conhecemos. Efectivamente, muitas vezes uma teoria consegue resolver um determinado probleme, mas acabs por levantar outros problemas piores, pois entsa em conflito com outros conhe- cimentos que j4 temos. Quando uma teoria term consequéncias false, temos de procurer outra methor. as Explique dé exemplos. 4, 0 Gue 6 a consistaiicia? E inconsisténci - 2. O.que ¢ a implicacaa? Exolique e dé exemplos. . ao 3. Explique quais 40 88. duas razdes pelas quais uma teorla ogerente pode ser falsa. meee on Condigées necessarias e suficientes «0» Uma importante fungdo de muitas teorias é definir conceites, propriedades ou coisas. Por exemplo, um problema central da estética é defini a nogao de obra de arte. Ora, quan- do se apresenta definigdes explicitas muito precisas, tanto na filosofia como noutras disci- plinas, use-se condigées necessérias e suficientes. Mas 0 que so exactamente condi¢oes, necessétias e suficientes? Ester em Portugal é uma condigao necessétia para estar no Porto. Isto significa que néo 6 possivel estar no Porto sem estar em Portugal. Mas estar em Portugal nao é uma condi céo suficiente para estar no Porto. isto significa que possivel estar em Portugal sem estar no Porto — uma pessoa pode estar em Braga, por exemplo. —$— F 6 ums condigao necessaria pera G quando todos os G so F. F 6 uma condiedo suficiente pare G quando todos os F sao Assim, toda a proposicao universal exprime condigbes necessérias © suficientes. Sempre que dizomos «oda © F é G», estamos a dizer que F ¢ uma condigao suliciente para G, © que G é uma condigao necessaria para F Também as proposicdes condicionais exprimem condigbes necessirias ¢ suficientes: ‘OP 6 ums condicao necessaria pare Q quando use O, entao P» 6 verdadcira ©: P-€ uma eondig&o suficionte para O quando wse F enti Ow é verdadeira, Por exemplo, dizer que estar em Portugal & uma condigao necesséria para estar no Forto ¢ dizer que se alguém estd nc Porto, esta em Portugal, Por sua vez, isto é o mesmo que dizer que estar no Porto é uma condicao suficiente para estar em Portugal. Quando queremos definir explicitamente algo ndo basta apre- sentar condigdes necessérias ou apresentar condig6es suficien: tes. Temos de apresentar condi¢ées que sejam simultsneamente necessarias e suficientes. Por exemplo, podemos dafinir correcta- mente gua como HzO porque uma condi¢ao necesséria e sufi- ciente para algo ser dgua é ser H2O (ou seja, ser constitulde por dois étomos de hidrogénio ¢ um étomo de oxigénia}. Isto significa que tudo 0 que é gue é HzO € tudo o que 6 N20 ¢ gue; ou s9j se algo ¢ dua, 6 H»O, se 6 Hs0, € gua Dizer «Se P entao Q, e se 0, entéo P» é omesmo que dizer «P Se, 8 56 se, O», Chama-se bicondicional a este tipo de proposicso 2 " Uma bicondicional é uma proposigao da forma «P se, @ 36 se, Qn, Ume bicondicional € verdadsira quando apresenta condigies necesséries ¢ suficientes, Assim, basta que uma das proposicses 1néo seja uma condicéo necessaria ou suficiente da outre para que @ bicondicional seja false. Por exempio, a bicondicional «Um ser tom direitos 60, ¢ 86 se, tom deveres» ¢ false porque ha seres que 1ém direitos (08 bebés, por exernplo}, que no tém doveres. es colas Uma dofinigéc explicita pode ser incorrecta por ser sirmultanea- mente demasiado lata (ou abrangente) © demasiado restrita. Por exemplo: «Um ser 6 uma ave se, © 86 Se, voor, Esta definigéo 6 demasiado lata porque inclui seres que veam mas no sé0 aves ~ a8 moscas, por exemplo. E & demasiado restrite porque no inclui sores que sd aves mas néo voam ~ 0s pinguins, por exemplo, Por isso, ests defini¢éo é incor recta Por vezes, a8 definigées explicitas séo expressas usando apenas @ palavra «é», como quando se diz que o Homom 6 um animal racional, O que se quer realmente dizer & que tum sar é um Homam se, ¢ 56 se, é um animal racicnal —p— 58 60 ‘t, efodas as obras de arte imitam a natureza.» Identifique @ condigéio necesséria © condigéo suficiente expresses neste frase, “@. «Se tudo esta determinado, no ha livte-arbitrio.» !dentifique a condigao neces- séria e a condicéc suficiente exoressas nesia frase. 8. O que & uma condigao necesséria? Dé exémplos. 4. O que é uma condicao sificiente? Dé exempios. 35, Ser racional seré uma condigdo suficiente para ser um ser huriano? Porque? 5. Ser-racional sera ume condicéo necessérie para ser um ser humano? Porque? ‘Que tipo de proposicge se usa nas definicdes explicitas? Dé exemplos @: 0 que 6 uma bicondicional? D& exemplos, 'S. Ha trés mansiras de uma definicao explicita sor incorrecta, Explique queis 280 dé exemplos. Ducane. do'trabalho filasofico “é suficientes E> Estudo complementar SRARESANIS Je Weston, Anthony (1996) A Arte de Argumentar. Trad. de Desidério Murcho. Lisboa: Gradiva, 1996. 1S Almeida, Aires (s/a) «Légica Informal, in Critica, http:/www.criticanarede.com! tmbfilos_ Joginformal him 18 Cornman, Lehrer € Pappas (1992) «Os Instrumentos do Oficio», in Critica, hito:/Amwew-criticanarede.comvhtmiffil_instrumentosdooficio htm, trad. de Avera Nunes. EZ Downes, Stenhen (s/d) «Guia das Falécias», in Critica, httpiwww.citicanarede, ‘com/falacias.htr. FB Padr8o, Anténio Anibal {2004} «Algumas Nogbes de Légican, in Critica, htioyww.riticanarede.com/lag_nocoes. him 15 Polénio, Artur (2008) «Como Escraver umn Ensaio Filoséfico», in Centro para 0 En- sino da Filosofia, http:liwwew.cet-spf.org/docs/ensaio. pal. 61

Vous aimerez peut-être aussi