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É a experiência de que a arte de narrar está em Neste ensaio Walter Benjamin analisa as

vias de extinção. São cada vez mais raras as mudanças ocorridas no “fazer história” entre
pessoas que sabem narrar devidamente. P.197 os seus apontamentos está a mudança entre
narração e informação, narração e romance.
Para tanto suas analises se baseará nas obras
do literato russo Leskov, que para ele é o
último narrador na era moderna.
Quando se pede num grupo que alguém narre A maneira de narrar fatos e acontecimentos se
alguma coisa, o embaraço se generaliza. É modificou, aquilo que parecia obvio na prática
como se estivéssemos privados de uma se tornou latente perante a impotência de
faculdade que nos parecia segura e narrar. Uma das evidencias notórias desse
inalienável: a faculdade de intercambiar fenômeno é os jornais. Mas essa mudança não
experiências. § Uma das causas desse é isolada, essa mudança é uma parte do
fenômeno é óbvia: as ações da experiência conjunto de mudanças societárias inauguradas
estão em baixa, e tudo indica que continuarão pela modernidade. Sem se debruçar,
caindo até que seu valor desapareça de todo. Benjamin, cita as mudanças no campo da
Basta olharmos um jornal para percebermos ética.
que seu nível está mais baixo que nunca, e
que da noite para o dia não somente a imagem
do mundo exterior mas também a do mundo
ético sofreram transformações que antes não
julgaríamos possíveis. P. 198
A experiência que passa de pessoa a pessoa é Uma das bases da narração é a experiência
a fonte a que recorreram todos os narradores. que não necessariamente precisa ser do
E, entre as narrativas escritas, as melhores são narrador, mas deve ser mantida pela memória
as que menos se distinguem das histórias orais coletiva. O processo de registro escrito dessas
contadas pelos inúmeros narradores narrativas é possível desde que o escritor não
anônimos. [...]. “Quem viaja tem muito que faça uma interferência desfigurando a
contar”, diz o povo, e com isso imagina o estrutura formada pelos narradores anônimos.
narrador como alguém que vem de longe. Mas O processo de narração é encontrado em dois
também escutamos com prazer o homem que grupos o do viajante e do conhecedor de seu
ganhou honestamente sua vida sem sair do seu país, as figura típica do primeiro grupo é o
país e que conhece suas histórias e tradições. marinheiro e o segundo é o camponês, pois,
[...] Se os camponeses e os marujos foram os além das suas experiências próprias, de sua
primeiros mestres da arte de narrar, foram os condição de migrante e perspicaz atenção aos
artífices que a aperfeiçoaram. No sistema fatos são condições adequadas para narração
corporativo associava-se o saber das terras surgir.
distantes, trazidos para casa pelos migrantes,
com o saber do passado, recolhido pelo
trabalhador sedentário. P.198-9.
Se os camponeses e os marujos foram os Benjamin, percebe que o próprio modo de
primeiros mestres da arte de narrar, foram os narração ele passa por um processo
artífices que aperfeiçoaram. No sistema transformativo, pois como visto no excerto
corporativo associava-se o saber das terras acima o marinheiro e o camponês são os
distantes, trazidos para casa pelos imigrantes, representantes arcaicos da narrativa. O
com o saber do passado, recolhido pelo aperfeiçoamento se dar com os artesões nas
trabalhador sedentário.P.199 relações mantidas dentro das corporações. É
dentro do espaço da corporação que é fundido
saberes distantes com o passado local
possibilitando – no que ele irá dizer a frente –
a narração ser fonte de conselhos e lições
práticas para vida.
[Leskov] O emprego de agente russo de uma firma inglesa, que ocupou durante muito tempo,
foi provavelmente, de todos os empregos possíveis, o mais útil para sua produção literária. [...].
desse modo teve ocasião de conhecer o funcionamento das seitas rurais, o que deixou traços em
suas narrativas. P.199
Tudo isso esclarece a natureza da verdadeira Esse aspecto utilitário da narrativa é na
narrativa. Ela tem sempre em si, às vezes de verdade uma função social para
forma latente, uma dimensão utilitária. Essa encorajamento das pessoas, como se fosse
utilidade pode consistir seja num ensinamento uma terapia. Se a narrativa tinha essa função e
moral, seja numa sugestão prática, seja num o seu declínio vem de outros fatores que não
provérbio ou numa norma de vida – de são o fim dos problemas psicológicos, como
qualquer maneira, o narrador é um homem esse problema é contornado na modernidade
que sabe dar conselhos. P. 200 em âmbito social?
Aconselhar é menos responder a uma O aspecto do conselho que a narrativa propõe
pergunta que fazer uma sugestão sobre a não é responder angústias individuais como se
continuação de uma história que está sendo fosse provocada por uma pergunta. É antes,
narrada. Para obter essa sugestão, é necessário porém, uma sugestão indireta contida na
primeiro saber narrar a história (sem contar narração que o indivíduo lembra e a partir
que um homem só é receptivo a um conselho disso tira lições para si. Entre as causas que
na medida em que verbaliza a sua situação). O tornaram o declínio da narração possível não é
conselho tecido na substância viva da a modernidade enquanto movimento
existência tem nome: sabedoria. A arte de totalizante, as causas são bem antes. Para
narrar está definhando porque a sabedoria – o Benjamin é a “evolução secular das forças
lado épico da verdade – está em extinção. produtivas”, ou seja, o fim das relações que
Porém esse processo vem de longe. Nada aperfeiçoaram a narrativa, mais que isso a
seria mais tolo que ver nele um “sintoma de estruturação do ambiente da corporação ao
decadência” ou uma característica “moderna”. modelo fabril, impossibilitando a fusão do
Na realidade, esse processo, que expulsa conhecimento de longe com a realidade local.
gradualmente a narrativa da esfera do discurso
vivo e ao mesmo tempo dá uma nova beleza
ao que está desaparecendo, tem se
desenvolvido concomitantemente com toda
uma evolução secular das forças produtivas. P.
200-1
§ o primeiro indício da evolução que vai Uma das diferenças marcantes entre narrativa
culminar na morte da narrativa é o surgimento e romance é que o segundo se utiliza da
do romance no início do período moderno. O imprensa para se difundir socialmente, já a
que separa o romance da narrativa (e da narrativa ela é difundida oralmente. Por mais
epopeia no sentido estrito) é que ele está que a narrativa possa ser registrada através da
essencialmente vinculado ao livro. A difusão escrita sua vitalidade tem outras bases que é a
do romance só se torna possível com a experiência e a memória, são essas
invenção da imprensa. P. 201 características que dão vigor e existência para
sua reprodução.

O que distingue o romance de todas as outras Esse excerto torna claro o caráter de vitalidade
formas de prosa – contos de fada, lendas e motriz do romance que é a individualidade por
mesmo novelas – é que ele nem procede da mais que possa conter elementos coletivos. Os
tradição oral nem a alimenta. 201 outros tipos são intrinsecamente coletivo e sua
vitalidade é a coletividade é esta esfera que a
cria, que renova, que muda.
O narrador retira da experiência o que ele É interessante que esse apontamento sobre o
conta: sua própria experiência ou a relatada narrador é parecido com os apontamentos de
pelos outros. E incorpora as coisas narradas à Halbawachs quando este último associa que a
experiência dos seus ouvintes. O romancista memória coletiva tem pontos comuns de
segrega-se. A origem do romance é o referência, mas que são manipulados
indivíduo isolado, que não pode mais falar conforme o indivíduo, podendo a mesma
exemplarmente sobre suas preocupações mais lembrança ser contado de maneiras diferentes,
importantes e que não recebe conselhos nem mas sempre baseada em referências comuns
sabe dá-los. P. 201 ao grupo. Mas algo se mantém como fronteira
entre a definição de Benjamin sobre o
narrador e Halbawachs sobre memória
coletiva. O primeiro faz uma separação entre
o narrar e o romance, no segundo pelo
contrário os exemplos que ele tira para
comprovar a memória coletiva são os vários
romances.

O romance, cujos primórdios remontam à O romance ele se apropria de elementos da


Antiguidade, precisou de centenas de anos narrativa, mas esses elementos não são
para encontrar, na burguesia ascendente, os determinantes para influenciá-lo. O período
elementos favoráveis a seu florescimento. [...] burguês e a evolução nos meios de produção
Por outro lado, verificamos que com a potencializa uma forma de comunicação
consolidação da burguesia – da qual a presente na sociedade, que é a informação.
imprensa, no alto capitalismo, é um dos Paulatinamente a informação ganha espaço e
instrumentos mais importantes – destacou-se ao mesmo tempo torna uma ameaça ao
uma forma de comunicação que, por mais próprio romance. O aspecto negativo da
antigas que fossem suas origens, nunca havia informação é sua subversão aos saberes de
influenciado decisivamente a forma épica. longe, fincando interesse em acontecimentos
Agora ela exerce essa influência. Ela é tão próximos, e baseia sua legitimidade “no
estranha á narrativa como o romance, mas é plausível”, num coerente lógico, por mais que
mais ameaçadora e, de resto, provoca uma não precise ser exata.
crise no próprio romance. Essa nova forma de
comunicação é a informação. [...] Essa
fórmula lapidar mostra claramente que o saber
que vem de longe encontra hoje menos
ouvinte que a informação sobre
acontecimentos próximos. O saber, que vinha
de longe – do longe espacial das terras
estranhas, ou do longe temporal contido na
tradição –, dispunha de uma autoridade que
era válida mesmo que não fosse controlável
pela experiência. Mas a informação aspira a
uma verificação imediata. Antes de mais nada,
ela precisa ser compreensível “em si e para
si”. Muitas vezes não é mais exata que os
relatos antigos. Porém, enquanto esses relatos
recorriam frequentemente ao miraculoso, é
indispensável que a informação seja plausível.
Nisso ela é incompatível com o espírito da
narrativa. Se a arte da narrativa é hoje rara, a
difusão da informação é decisivamente
responsável por esse declínio. P. 202-3
A razão é que os fatos já nos chegam
acompanhados de explicações. Em outras
palavras: quase nada do que acontece está a
serviço da narrativa, e quase tudo está a
serviço da informação. Metade da arte
narrativa está em evitar explicações. Nisso
Leskov é magistral. (pensemos em textos
como a Fraude, ou A águia branca.) O
extraordinário é o miraculoso são narrados
com a maior exatidão, mas o contexto
psicológico da ação é imposto ao leitor. Ele é
livre para interpretar a história como quiser, e
com isso o episódio narrado atinge uma
amplitude que não existe na informação. P.
203

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