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UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO AMERICANA

Disciplina: Antropologia Visual


Docente: Francielle Rabellato
Discente: Lucas Henrique de Souza

Análise sobre Mato Eles?(1983) de Sergio Bianchi

O cineasta curitibano Sergio Bianchi no filme “Mato Eles?”(1983) mescla


ficção e documentário, numa mistura ambígua de entrevistas documentadas e
encenadas, para construir sua denúncia irônica sobre a reserva indígena de
Mangueirinha, no Paraná, onde vivem remanescentes de três tribos: Kaigang, Guarani e
Xetá. Segundo, dados apresentados no filme, boa parte da reserva foi desmatada o que
sobrou foi cedido a uma indústria madeireira, além da madeira, a mão-de-obra servil
indígena proveniente da reserva. E tudo isso sobre os olhos da FUNAI e/ou do governo
do Estado. Desta maneira, o filme mostra a crueldade contra os índios, a violação de
suas terras, os assassinatos dos líderes, a destruição da floresta.
Embora nenhum filme possa ser rotulado com uma única fórmula narrativa ou
estética,“Mato Eles”(1983) traz em sua composição traços do documentário expositivo,
participativo, reflexivo, entre outros. Além disso, o filme também participa das
inquietações propostas pelo Cinema Moderno, principalmente no que se refere ao
questionamento quanto ao fazer cinema, ou a construção de simulacros no cinema
documentário.
O documentário também traz caracteristicas do gênero Épico, utilizando um
narrador em off e letreiros. Muitos dos letreiros fogem a normalidade, pois são
perguntas como as de uma prova de vestibular. Existem algumas vozes, para esse
narrador em off, a do próprio diretor do filme, Sergio Bianchi, como também a de
Arnaldo Jabor, entre outros.
Nesse sentido, a primeira cena do filme nos remete ao passado colonial
brasileiro, com uma narração de Bianchi em relação ao tratamento das autoriadades ao
encontrarem os povos originários no novo mundo. O Bispo está enquadrado em contra-
picado, sobre escadas, parecendo estar em um altar, mostrando sua superioridade pelo
olho da câmera, como também por suas palavras e expressão facial. Embora a cena seja
quase teatral, visivelmente encenada, principalmente pela singela “olhadinha” que o
Bispo Don Albano Cavallin dá para câmera, depois de seu discurso humanista, ninguém
há de esquecer as atrocidades cometidas neste período da história.
A próxima cena se inicia com um plano geral todo escuro, com apenas um
homem iluminado no meio, com uma espingarda na mão, a banda sonora é composta
por sons de sapos e grilos. Após alguns segundos se inicia um zoom e uma narração em
off, traz a situação de conflito vivênciada pelos índios Kaigang, através da morte de seu
cacique. Há um corte e vemos uma índia, idosa, Bianchi pergunta: por que você acha
que ele morreu?
As perguntas incisivas de Bianchi permeiam todo o filme. Percebe-se uma
tentativa do diretor de dar mais visão, para as perguntas do que para as respostas de seu
entrevistado, pois elas são tão importantes quanto a fala de seus entrevistados. O
objetivo aqui, não é somente dar voz aos índios, mas somar seu discurso com a proposta
do diretor.
O encontro entre a Antropologia e a Fotografia, logo depois o Cinema, surge da
necessidade de se capiturar, preservar e conhecer o que estava fadado a se extinguir
graças ao “progresso”. Quando Malinovisky escreve “Argonautas do
Pacífico Ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos
arquipélagos da Nova Guiné” e fotografa os rituais das tribos daquela região, ou Jean
Rouch filma “Os mestres Loucos”(1955), a necessidade de se documentar o exótico era
o que os moviam, salvo por questões ideológicas de cada realizador, era necessário
“catalogar”. Desta maneira, criam-se métodos, como a Etnografia, na ansia de se
aproximar ao máximo do que seria está cultura tanto visual quanto sensorial. “Mato
Eles?”(1983), embora ironicamente participa da composição deste catalogo, em meio
aos remanescentes dessas tribos está “o último Xetá”. No entanto, não há abordagem
Etnografica,uma vez que, o tempo de Bianchi para a filmagem era bem limitado, cerca
de uma semana, além do que, um dos seus objetivos era mostrar sua opinião sobre a
questão.
O “ultimo Xetá” é introduzido pela música “O Guarani” de Carlos Gomes,
eternizada como a vinheta do programa A Hora do Brasil, o que nos remete a dois
imaginários: um institucional, como um pronunciamento do Estado, outro do “bom
selvagem” de José de Alencar. A composição da ancestralidade do Xetá é construída
através de imagens de um filme pseudo-etinográfico, realizado em uma expedição
científica feita em 1957 a região da Serra dos Dourados no Paraná com o apoio do
Comitê do Filme Etnográfico – Museu do Homem de París e do Centro Nacional de
Pesquisa dirigido pelo professor José Loureiro Fernandes.
Logo depois temos um letreiro anunciando a seguna fase da pesquisa em 1982.
Após o letreiro vemos a imagem do último Xetá, em diferentes enquadramentos: plano
médio frontal, de costas, lateral, depois primeiro plano lateral, frontal seguido de
primeiríssimo plano frontal com somente nariz e boca em quadro, neste momento
Bianchi saí detrás das câmeras para mostrar o enquadramento ao câmera. O Xetá se
sente constrangido posando para a câmera como se fosse um animal em extinção.
Ao mostrar como ele quer o quadro, Bianchi discute a natureza ficcional do
cinema, mesmo se tratando de um documentário, pois coloca em cena seu método e
também mostra que é o seu discurso sobre os indígenas. Assim se Robert Flahert nos
primordios da antropologia visual, lutava por esconder a adequação da vida ao cinema
em Nanook (1922), Bianchi as escâncara em todo o filme para refletir não só a questão
indígena como também o fazer cinematográfico.
Assim sendo, “Mato Eles”(1983) não propõe um documentário etnográfico ou
um relato ficcional da condição indígina deste pedaço do Brasil, mas através de recursos
utilizados na composição de documentários e de filmes ficcionais constrói uma obra
inquietante, reflexiva e irônica, com o intuito não só de expor a condição de
desumanidade vivenciada pelo indígena, mas também de críticar o próprio papel do
realizador. Nem mesmo o próprio Bianchi escapa de sua crítica, como vemos na fala do
último índio entrevistado: “E tô falando…é que o senhor precisou de dinheiro… agora
o senhor correu prá ver se ganha algum dinheiro pra tomar café nas costas do índio…”.

Referências

ANDRADE, Rosane. “Fotografia e Antropologia: olhares de fora-dentro”. São Paulo,


EDUC, 2002.
Ferraz, ALMC. A noção de duração no cinema de Jean Rouch. Doc On line. Portugal,
2010
COLOMBRES, Adolfo (org) .“La descolonización de la Mirada: una introducción a la
antropologia visual”. Cuba. ICAIC, 2012.
Nichols, Bill. “Introdução ao documentário”. Campinas. SP: papyrus, 2005.

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