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ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM
TALUDE DA CAVA DE ALEGRIA
UTILIZANDO ABORDAGEM
PROBABILÍSTICA
CDU: 624.136
Catalogação: www.sisbin.ufop.br
iii
Dedico este trabalho
a meus bens mais preciosos,
meu filho Heitor!
E a minha mãe e meu pai, sempre...
iv
AGRADECIMENTOS
A Deus, por eu ter chegado até aqui... Por eu ter tido forças diante dos obstáculos, para
continuar e finalizar mais esta etapa!
Aos meus queridos pais, José do Carmo e Cláudia, e meu irmão Cleisom, que sempre
estiveram do meu lado em todos os momentos, e que neste trabalho não foi diferente.
Agradeço a Vale pelo apoio financeiro, por estar sempre contribuindo para o
aprimoramento do conhecimento técnico de seus profissionais. Em especial ao meu ex-
gestor Ricardo Leão, pela disponibilidade de tempo e pela confiança em que me foi
dada para a realização deste curso.
Ao professor André Pacheco de Assis, por aceitar me orientar neste trabalho, por ser
sempre solícito em minhas dúvidas e questionamentos, pela sua educação admirável.
Continue disseminando conhecimentos. Grande profissional!
Aos colegas de curso, pela troca de experiências, estudos, força de vontade... Valeu!
Enfim, aos meus colegas de trabalho, que durante os dias de minha ausência, sempre se
disponibilizaram em ajudar e contribuir no que fosse necessário.
v
RESUMO
vi
ABSTRACT
This study presents the results of stability analysis of a slope of Alegria Mine using the
probabilistic approach. It aims to show the advantages of stability analysis using the
probabilistic approach complementing the traditional deterministic analysis, through the
main probabilistic methods. Among the advantages, there is the possibility of working
with the variability of input parameters, instead of using only the averages of these
parameters. It also allows to calculate the probability of failure (PF) of a region and
analyze the risk associated with a project, allowing risk management. The study also
presents the specifics of Slide software (by Rocscience) for this type of analysis. The
slope was evaluated by three probabilistic methods: Monte Carlo Method, FOSM
Method and Method of punctual estimates. For each method, the probability of failure
was calculated. It was observed that for all three methods, there weren’t very significant
differences in the values of PF, but the Monte Carlo method enables a much larger
number of simulations, and evaluation of other rupture surface beyond the deterministic
critical surface through Slide software. The analyzed section presented FS considered
satisfactory (FS ≥ 1.30) in the deterministic analysis and low PF by probabilistic
methods. It can be said that the consequences of a possible break of the slope are
summarized in damage inside the pit because there’s no nearby outside interference.
Hence, small relatively consequences combined with a low PF, it’s concluded that the
risk is low, since it’s the PF versus consequences. Thus, it’s possible to say that the
geometry proposal ensures the stability of the final pit of the study area that will be
executed in a few years without the need for adjustments / interventions in the project.
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 3.1: Processo de um projeto de taludes de mina a céu aberto (modificado Stacey
e Read, 2009). ................................................................................................................. 12
viii
Figura 6.1: Fotografia aérea da Mina de Alegria (Arquivo Vale) ................................. 56
Figura 6.3: Mapa geológico esquemático dos arredores da Mina de Alegria (Alkmim,
2003). .............................................................................................................................. 58
Figura 6.5: Localização das seções geomecânicas na geometria de cava final da mina
de Alegria ........................................................................................................................ 63
ix
Figura 7.11: Distribuição de probabilidade da coesão, enfatizando valores que geraram
FS < 1 em vermelho, para o IGO-HGO classe V ........................................................... 90
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 5.3: Interpretação de Priest e Brown (1983) para as orientações de FS e PF. ... 49
Tabela 7.3: Cálculo do desvio padrão dos parâmetros analisados na seção a partir da
covariância padrão .......................................................................................................... 73
Tabela 7.4: Cálculo da variação da média das variáveis aleatórias em estudo .............. 75
Tabela 7.5: Simulações considerando a variação da média das variáveis em estudo com
seus respectivos fatores de segurança calculados ........................................................... 76
Tabela 7.6: Cálculo da variância do Fator de Segurança pelo método FOSM .............. 77
xi
Tabela 7.7: Dados estatísticos utilizados na análise probabilística pelo Método Monte
Carlo................................................................................................................................ 80
Tabela 7.10: Combinações dos valores das variáveis utilizados em cada análise de
estabilidade ..................................................................................................................... 94
xii
LISTA DE SÍMBOLOS, NOMENCLATURA E ABREVIAÇÕES
FS Fator de Segurança
PF Probabilidade de Falha
fo Fator empírico
F Força
M Momento
Resistência ao cisalhamento
s2 Variância amostral
s Desvio padrão
CV Coeficiente de variação
Desvio padrão
β Índice de Confiabilidade
xiii
m Número de variáveis aleatórias
simulações)
médios
xiv
Y Variável dependente do Método de Rosenblueth
RI Reliability Index
R Risco
poropressão
IC Itabirito compacto
CG Canga
c’ Coesão efetiva
xv
LISTA DE ANEXOS
ANEXO I
RESULTADO DAS ANÁLISES DE ESTABILIDADE PELO MÉTODO FOSM ............................ I. 1
ANEXO II
RESULTADO DAS ANÁLISES DE ESTABILIDADE PELO MÉTODO DAS ESTIMATIVAS
PONTUAIS .................................................................................................................... II.1
xvi
ÍNDICE
CAPÍTULO 1-INTRODUÇÃO
1.1- CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................. 1
1.2- OBJETIVOS .............................................................................................................. 2
1.3- ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO...................................................................... 3
xvii
4.2.2.5- Variância .................................................................................................... 27
4.2.2.6- Desvio Padrão ............................................................................................ 27
4.2.2.7- Coeficiente de Variação ............................................................................. 27
4.2.3- PROBABILIDADE ................................................................................................. 28
4.2.3.1- Cálculo da Probabilidade ........................................................................... 28
4.2.3.2- Variáveis Aleatórias ................................................................................... 29
4.2.4- DISTRIBUIÇÃO DE PROBABILIDADE .................................................................... 29
4.2.4.1- Distribuições de Probabilidade Contínuas ................................................. 29
4.2.4.1.1- Distribuição Normal ............................................................................ 29
4.2.4.1.2- Distribuição Log-Normal .................................................................... 30
4.3- TIPOS DE INCERTEZA ........................................................................................ 32
4.4- MÉTODOS PROBABILÍSTICOS .......................................................................... 33
4.4.1- MÉTODO DE MONTE CARLO .............................................................................. 33
4.4.2- MÉTODO FOSM, SÉRIE DE TAYLOR OU ÍNDICE DE CONFIABILIDADE ................ 37
4.4.3- MÉTODO ROSENBLUETH OU ESTIMATIVAS PONTUAIS ....................................... 43
xviii
CAPÍTULO 7- ESTUDO DE CASO: ANÁLISE PROBABILÍSTICA DE UMA
SEÇÃO DA CAVA FINAL DA MINA DE ALEGRIA UTILIZANDO O
PROGRAMA SLIDE
7.1- INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 66
7.1.1- PARÂMETROS DE PROJETO ................................................................................. 67
7.1.2- ANÁLISE DETERMINÍSTICA DA SEÇÃO DE ANÁLISE ............................................. 69
7.1.3- DADOS ESTATÍSTICOS DOS PARÂMETROS GEOTÉCNICOS DE PROJETO
CONSIDERADOS VARIÁVEIS ALEATÓRIAS ...................................................................... 72
CAPÍTULO 8
CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ......................... 96
8.1- CONCLUSÕES ..................................................................................................... 956
8.2- SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ................................................... 100
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 101
xix
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
Os projetos de escavação a céu aberto estão, atualmente, cada vez maiores em extensão
e em profundidade. Isto se explica pelo fato do avanço tecnológico da pesquisa mineral
e também novas tecnologias e investimentos no beneficiamento do minério, que, aliados
à questão econômica, vêm aumentando as reservas destas cavas como também
permitindo o aproveitamento do minério mais pobre. Diante disso, as cavas de
exploração de minério de ferro, no Quadrilátero Ferrífero, por exemplo, estão
finalizando os seus projetos de escavação nas rochas encaixantes do minério, que por
sua vez, possuem um comportamento geomecânico pior, apresentando parâmetros de
resistência menores, e, ao mesmo tempo, estão exigindo projetos geotécnicos de taludes
de cavas cada vez mais íngremes e mais altos, a serem explorados nas condições
econômicas mais favoráveis, desde que os mesmos satisfaçam as condições de
segurança aceitáveis. Portanto, a estabilidade de taludes é um dos fatores
preponderantes e determinantes das geometrias de cavas operacionais e finais de
projeto. Logo, é fundamental que estes projetos sejam baseados em modelos geológico-
geomecânicos muito bem elaborados, para que os mesmos possam subsidiar as análises
de estabilidade tanto para garantir a estabilidade de cavas finais quanto à estabilidade
das cavas operacionais, garantindo a segurança de operação das mesmas.
1
podendo apresentar incertezas nestes parâmetros utilizados devido à variabilidade
existente nos mesmos. Nesta abordagem, o fator de segurança estimado não pode
quantificar a probabilidade de ruptura ou o nível de risco associado a um projeto. Já os
métodos probabilísticos quantificam estas incertezas das variáveis de entrada
(parâmetros de resistência, principalmente ângulo de atrito e coesão) das análises
determinísticas, além de verificar qual a variável afeta mais o resultado, finalizando
com a probabilidade de ruptura e a possibilidade de cálculo do risco do projeto. Estes
métodos não são novos, mas ainda são pouco usuais, porém podem aperfeiçoar o
processo de tomada de decisão da empresa, pois a experiência dos geotécnicos, aliada a
estas informações estatísticas e a um critério de risco admissível, podem contribuir para
a verificação da necessidade de adaptação de um projeto muito antes da sua
implantação, atribuindo maior segurança e diminuição de custos para a empresa.
Neste contexto, será utilizado como estudo de caso um talude da cava de Alegria,
pertencente ao Complexo Minerador de Mariana, no município de Mariana, MG, de
propriedade da empresa Vale, para apresentar a metodologia de análise de estabilidade
através da abordagem probabilística, que leva em consideração a variabilidade dos
dados existentes.
1.2- OBJETIVOS
2
análises podem vir a ser realizadas nas geometrias de cavas finais das minas, ou em
taludes que, diante da análise do geotécnico responsável, sempre necessitarem de uma
reavaliação mais detalhada.
O estudo foi dividido em oito capítulos e abaixo será apresentado sucintamente o conteúdo
de cada um deles:
O segundo capítulo deu ênfase à caracterização e classificação geomecânica dos
maciços rochosos, apresentando o sistema de classificação RMR (Bieniawski 1989),
que é o sistema de classificação utilizado nas minas da Vale com algumas adequações.
3
O sexto capítulo fala sobre a Mina de Alegria, alvo do estudo de caso, enfatizando a
geologia regional e local, e apresentando o modelo geomecânico da cava, bem como a
metodologia de trabalho utilizada para a geração deste modelo, além de mapas e seções
típicas.
4
CAPÍTULO 2
2.1- INTRODUÇÃO
De acordo com Brady & Brown (1999), a Mecânica das Rochas é a ciência teórica e
aplicada do comportamento mecânico das rochas e maciços rochosos; é o ramo da
mecânica que estuda a resposta das rochas e maciços rochosos perante os campos de
forças a que estão sujeitos no seu ambiente físico.
A mecânica das rochas possui uma interface muito grande com a engenharia civil,
engenharia de minas e a geologia. Quando aplicada na prática da mineração, por
exemplo, a mesma, juntamente com a engenharia de minas e engenharia geológica,
define o desenho das estruturas em rochas geradas por esta atividade, como em minas a
céu aberto. Para isso, é necessário um conhecimento das propriedades do maciço
rochoso e de suas descontinuidades e propriedades hidrogeológicas através de um
esquema de classificação, denominado de classificação geomecânica.
5
interferência somente da rocha intacta, ou de uma a duas descontinuidades ou de várias,
conforme a Figura 2.1.
Figura 2.1: Efeito escala entre tamanho da obra e intensidade de fraturamento do maciço rochoso e
consequente propriedade relevante da rocha (modificado - Hoek & Brown, 1997).
6
Os dois sistemas de classificação de maciços rochosos mais utilizados são o Sistema
RMR (Bieniawski 1989) e Q (Barton et al.., 1974). Pode-se dizer que estes sistemas são
bem similares, pois os parâmetros utilizados para o cálculo da qualidade do maciço são
muito parecidos, diferenciando apenas os pesos atribuídos a estes, e também o uso de
parâmetros para avaliar uma mesma característica. A maior diferença entre os sistemas
é que o sistema RMR não possui um parâmetro de tensões e o sistema Q não leva em
consideração a orientação das descontinuidades. O sistema de classificação de maciços
rochosos mais utilizado para taludes de cava é o Sistema RMR, que foi o sistema
utilizado para a cava da Mina de Alegria, sendo apresentado resumidamente a seguir.
O sistema RMR utiliza seis parâmetros para classificar o maciço rochoso (Tabelas 2.1 e
2.2):
1- Resistência à compressão uniaxial do material rochoso
2- RQD- Designação da qualidade da rocha
3- Espaçamento das descontinuidades
4- Condição das descontinuidades
5- Condições da água subterrânea
6- Orientação das descontinuidades
7
dos seis parâmetros recebe um valor de acordo com a classificação. Estes valores são
somados para darem um valor ao RMR.
O Sistema RMR foi baseado em registros de casos da engenharia civil, e foi criado,
mais especificamente, para a aplicação de construção de túneis. Portanto, a indústria da
mineração vem propondo várias modificações, com o objetivo de tornar a classificação
menos conservadora e mais relevante para a aplicação na mineração. Bieniawski (1989),
por exemplo, sugere uma adaptação à Classificação do Maciço Rochoso em que um
ajuste é feito no valor RMR levando em consideração as tensões in situ e induzidas, os
efeitos da detonação e o intemperismo.
8
Tabela 2.1: Sistema de classificação geomecânica RMR (modificado - Bieniawski 1989)
9
Tabela 2.2: Correções e guias auxiliares para o sistema de classificação RMR (modificado - Bieniawski, 1989)
B CORREÇÃO POR DIREÇÃO E ORIENTAÇÃO DAS DESCONTINUIDADES (ver Tabela F)
Direção e orientação do mergulho Muito Favorável Favorável Moderado Desfavorável Muito Desfavorável
Túneis e minas 0 -2 -5 -10 -12
Pesos Fundações 0 -2 -7 -15 -25
Taludes 0 -5 -25 -50 -60
C DETERMINAÇÃO DAS CLASSES DO MACIÇO ROCHOSO EM FUNÇÃO DO PESO TOTAL
Peso 100 81 80 61 60 41 40 21 <21
Número da classe I II III IV V
Descrição Excelente Bom Regular Ruim Péssimo
D COMPORTAMENTO DO MACIÇO ROCHOSO POR CLASSE
Número da classe I II III IV V
Tempo médio de auto-sustentação / tamanho do vão 20 anos / 15 m 1 ano / 10 m 1 semana /5 m 10 h / 2,5 m 30 min /1 m
Coesão do maciço rochoso (kPa) >400 300-400 200-300 100-200 <100
Ângulo de atrito do maciço rochoso (o) >45 35-45 25-35 15-25 <15
E GUIA PARA A CLASSIFICAÇÃO DAS DESCONTINUIDADES
Persistência / Comprimento (m) <1 1-3 3-10 10-20 >20
Peso 6 4 2 1 0
Abertura / Espessura (mm) Nula <0,1 0,1-1,0 1-5 >5
Peso 6 5 4 1 0
Rugosidade Muito rugosa Rugosa Pouco rugosa Lisa Superfície estriada
Peso 6 5 3 1 0
Preenchimento (característica) / Espessura (mm) Nulo duro / <5 duro / >5 mole / <5 mole / >5
Peso 6 4 2 2 0
Grau de Alteração (Intemperismo) Inalterada Levemente alterada Moderada. alterada Fortemente alterada Decomposta
Peso 6 5 3 1 0
F EFEITOS DA DIREÇÃO E ORIENTAÇÃO DAS DESCONTINUIDADES, EM TÚNEIS*
Direção Perpendicular ao eixo do Túnel Direção Paralela ao eixo do Túnel
Ângulo de mergulho 45-90o Ângulo de mergulho 20-45o Mergulho 45-90o Mergulho 20-45o
Muito Favorável Favorável Muito Favorável Desfavorável
Ângulo de mergulho contrário 45-90o Ângulo de mergulho contrário 20-45o Mergulho de 0-20o sem relação a direção
Desfavorável Muito Desfavorável Desfavorável
10
CAPÍTULO 3
3.1- INTRODUÇÃO
Para Stacey e Read (2009) um projeto de escavação de taludes ideal de uma mina a céu
aberto deve seguir o fluxograma conforme a Figura 3.1.
11
Métodos observacionais: baseiam-se na experiência de análises de rupturas
anteriores através de retroanálises, ábacos de projetos, etc.
Figura 3.1: Processo de um projeto de taludes de mina a céu aberto (modificado Stacey e Read,
2009).
12
De acordo com Abramson et al. (2001), para as superfícies de ruptura composta, os
métodos de equilíbrio limite para análise de estabilidade de taludes dividem a potencial
superfície de ruptura em pequenas fatias, como pode ser observado na Figura 3.2. Cada
fatia é afetada por um sistema de forças.
Figura 3.2: Processo de divisão da massa rompida em fatias (modificado Abramson et al., 2001).
13
Método de Janbu Simplificado - considera uma superfície de ruptura qualquer, a
resultante das forças interlamelares é horizontal e um fator empírico (fo) é utilizado para
considerar as forças cisalhantes interlamelares.
O método a ser escolhido vai depender das características do maciço que compõem o
talude, do tipo de superfície de ruptura e de eventuais esforços aplicados.
14
3.2- ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES
-Equilíbrio de Forças:
(3.1)
- Equilíbrio de momentos:
(3.2)
- Resistência ao cisalhamento:
(3.3)
15
Na abordagem determinística para análise de estabilidade utiliza-se uma estimativa para
cada parâmetro de entrada. Esta abordagem teve ampla aceitação nas últimas décadas,
porém sabe-se que na natureza, as propriedades dos materiais tendem a ser muito
variáveis, contradizendo a teoria de que o erro estimado tende a ser igual a zero. Logo,
não é raro casos de taludes considerados seguros, romperem.
De acordo com Ang & Tang (1975), sabe-se há bastante tempo que as propriedades
geotécnicas dos materiais do solo e da rocha são variáveis, pois os depósitos naturais
são formados por camadas irregulares de vários tipos de materiais, de diferentes
combinações mineralógicas, e com presença de descontinuidades (no caso de maciços
rochosos), resultantes dos processos deformacionais e do intemperismo químico e físico
que os mesmos sofrem. Consequentemente apresentam diferentes propriedades de
resistência, deformabilidade e permeabilidade do depósito.
16
carregamentos no projeto, através de distribuições estatísticas, levando em consideração
a frequência de ocorrência dos dados, possibilitando calcular o risco de falha ou a
confiabilidade das estruturas. Pode-se dizer que a análise probabilística é uma
complementação da análise determinística, onde é possível obter uma distribuição
probabilística dos valores, fornecendo, por exemplo, a probabilidade de ruptura de
taludes com Fator de Segurança menores ou maiores que 1.
17
3.3.1- RUPTURA DO TIPO PLANAR
Para que este deslizamento ocorra, as estruturas devem ser aflorantes e inclinadas na
direção da face livre do talude a um ângulo superior ao ângulo de atrito interno e a um
ângulo menor que o da inclinação da superfície livre do talude. Além disso, devem
existir outros planos de descontinuidades perpendiculares à face do talude com
resistência desprezível, formando junto com a descontinuidade principal, um bloco
distinto, permitindo assim seu livre escorregamento.
Hoek & Bray (1981) assumem que, para a análise deste método, as forças geradas pelo
peso do bloco deslizante, pela distribuição de pressão hidráulica na fenda de tração e
pela sub-pressão de água na superfície de escorregamento atuam diretamente no
centróide do bloco de rocha deslizante, não mobilizando momentos. Embora isto
acarrete erros quando da análise de taludes reais, estes podem ser ignorados em termos
práticos.
As rupturas do tipo plano-circular são mais comuns nas minas de minério de ferro do
Quadrilátero Ferrífero. As mesmas seguem o mesmo mecanismo da ruptura planar,
porém só o início da mesma é mobilizada pela foliação da rocha. A saída da ruptura
ocorre na face ou no pé do talude cortando obliquamente a estruturação geral do maciço
imposta pela foliação.
18
3.3.3- RUPTURA CIRCULAR
A ruptura circular ocorre quando o maciço rochoso é muito fraturado e não apresenta
um padrão estrutural regular (Figura 3.3.a). Neste caso, a ruptura é definida por várias
superfícies de diversas descontinuidades, que tende a ter uma forma circular. Da mesma
forma, quando o maciço é homogêneo e isotrópico, a superfície de ruptura aproxima-se
deste modo de ruptura, que pode ocorrer também em rochas brandas, quando a
anisotropia gerada pelas descontinuidades não mais influencia na superfície de ruptura,
devido ao elevado estado de intemperismo.
3.3.5- TOMBAMENTO
19
Figura 3.3: Principais tipos de ruptura com os respectivos estereogramas
representativos (modificado Hoek and Bray, 1981).
20
CAPÍTULO 4
4.1- INTRODUÇÃO
De acordo com Farrokh Nadim in Griffiths, 2007, uma vez que a incerteza dos
parâmetros são quantificados, para resolver um problema particular, o engenheiro tem
uma variedade de ferramentas à sua disposição para avaliar esta incerteza no resultado.
A maioria dos parâmetros utilizados nas análises geotécnicas é incerta. Trabalhar com a
incerteza é algo comum na engenharia geotécnica, porém o engenheiro tenta lidar com
estas incertezas, escolhendo parâmetros razoavelmente conservadores para a avaliação
da estabilidade determinística, que muitas vezes, não resolve o problema de forma
adequada. Os métodos probabilísticos conseguem aperfeiçoar estas análises, sendo uma
complementação das análises determinísticas, contabilizando o grau de incerteza destas
variáveis, tendo como resultado final uma probabilidade de falha. A partir destes
métodos, é possível avaliar a distribuição probabilística de uma variável dependente
através do conhecimento da distribuição de probabilidade das variáveis independentes
que geram esta variável dependente.
21
Um baixo fator de segurança não corresponde necessariamente a uma alta probabilidade
de ruptura e vice versa. A relação entre o fator de segurança e probabilidade de falha/
ruptura depende do grau de incerteza.
A caracterização e a redução das incertezas ainda é uma área pouco abordada e pouco
estudada pelos pesquisadores. Os engenheiros de fundações, barragens e estabilidade de
taludes estão confortáveis com os métodos tradicionais, pois em geral, foram bem
sucedidos na resolução destes problemas com estes métodos. Já os profissionais de
geotecnia ambiental, profissionais que tratam de terremotos, por exemplo, requerem
uma avaliação mais detalhada e dados de confiabilidade mais rigorosos, adotando cada
vez mais a teoria da probabilidade para atuarem com estas questões. O fato também de
se ter poucos estudos de casos aplicados aos problemas geotécnicos tradicionais pode
ser um fator inibidor do uso dos métodos estatísticos.
O uso dos métodos probabilísticos também é inibido pelo fato de que a maioria dos
engenheiros geotécnicos não foram instruídos e não têm conhecimento na utilização
destes métodos. Para NRC (1995), muitos engenheiros geotécnicos têm a percepção
errada com relação à quantidade de dados necessária para a aplicação de métodos
probabilísticos. A teoria da probabilidade pode ser usada para avaliar as incertezas
envolvidas no trabalho mesmo com informações escassas. Além disso, o método pode
ajudar a identificar o tipo ideal de informação para a redução das incertezas, e não deve
de forma alguma substituir os métodos determinísticos, e sim, complementá-los na
resolução de problemas geotécnicos.
Griffths (2007) sugere um esquema típico que deve ser seguido para realização de
análises determinísticas com a complementação por métodos probabilísticos, conforme
Figura 4.1.
22
Figura 4.1: Esquema típico de análises determinísticas com extensões probabilísticas (adaptado
Griffths, 2007).
23
Tabela 4.1: Vantagens da análise probabilística para estabilidade de taludes
24
4.2.1- ESTATÍSTICA DESCRITIVA
25
4.2.2.1- Média aritmética
X1 X 2 X3 . . X n
X (4.1)
n
ou
(4.2)
4.2.2.2- Mediana
4.2.2.3- Moda
26
4.2.2.4- Medidas de Variação
4.2.2.5- Variância
Pode-se dizer que a variância amostral é a média das diferenças ao quadrado entre cada
uma das observações de um conjunto de dados e a média aritmética do conjunto. Para
uma amostra contendo n observações X1 , .X2 , .X3 , ....,.Xn , a variância pode ser calculada
de acordo com a equação abaixo:
(X i X) 2
(4.3)
s2 i 1
n 1
(X i X) 2
(4.4)
s i 1
n 1
27
Ele é expresso como uma percentagem em vez de utilizar termos de unidades dos dados
específicos, conforme expressão abaixo:
s
CV 100% (4.5)
X
4.2.3- PROBABILIDADE
n(A)
P(A) (4.6)
n(S)
onde:
P(A) – Probabilidade de ocorrência do evento A;
n(A) – Número de elementos do evento A;
n(S) – Número de elementos do espaço amostral.
28
4.2.3.2- Variáveis Aleatórias
Uma variável aleatória pode ser entendida como uma variável quantitativa, cujo
resultado (valor) depende de fatores aleatórios. Matematicamente, variável aleatória é
uma função que associa elementos do espaço amostral a valores numéricos.
29
1 x 2
1
f x
2
e (4.7)
2
Onde:
Desvio padrão;
x- Variável aleatória associada: x ;
Média da distribuição.
0,30
0,20
f(x)
0,10
0,00
0 2 4 6 8 10 12
x
A distribuição log-normal é uma função cujo logaritmo tem a distribuição normal com
parâmetros e . Assim, a função de distribuição de probabilidade para y ln x é dada
por:
30
1
ln x
2
1
f x e 2 2
(4.8)
x 2
onde:
- Desvio padrão, restrito a 0 ;
x - Variável aleatória, restrita a x 0 ;
- Média.
0,80
A
0,60 B
C
f(x) 0,40
0,20
0,00
0 1 2 3 4 5
x
31
4.3- TIPOS DE INCERTEZA
Conforme Farrokh Nadim apud Griffiths, 2007, as incertezas existentes podem ser
divididas em incertezas aleatórias e incertezas sistêmicas, sem levar em consideração os
erros humanos, que seria uma terceira categoria.
32
Tabela 4.2: Valores típicos do coeficiente de variação dos principais parâmetros geotécnicos (Assis
et al., 2012)
Valores típicos do coeficiente de variação.
Parâmetro Coeficiente de Variação
Peso específico 03 (02 a 08)
Coesão 40 (20 a 80)
Ângulo efetivo de resistência 10 (04 a 20)
Coesão não-drenada 30 (20 a 50)
Para Farrokh Nadim apud Griffiths, 2007, é uma técnica poderosa que é aplicável tanto
para problemas lineares quanto para não lineares, porém exige um grande número de
simulações para proporcionar uma distribuição confiável. Quando a probabilidade de
33
falha é muito pequena, o número de simulações para obtenção de um resultado preciso é
muito grande, tornando a aplicação impraticável.
De acordo com Usace (1999), as vantagens do uso do método de Monte Carlo são:
- A estimativa da função de distribuição, permitindo uma estimativa dos valores de
probabilidade mais precisa;
- É possível programar a simulação do software com o Excel para o cálculo do Risco.
No entanto, este mesmo autor cita as desvantagens:
- É necessário conhecer a distribuição de probabilidade das variáveis aleatórias;
- A precisão dos valores estimados é proporcional à raiz quadrada do número de
iterações, logo se a precisão for dobrada, o número de iterações será o quádruplo.
Com o método de Monte Carlo, a partir das distribuições estatísticas das variáveis
independentes, valores dessas variáveis são obtidos através de um gerador de números
aleatórios, e os valores da variável dependente podem ser calculados. A partir de N
repetições deste processo, a distribuição de probabilidade da variável dependente é
obtida (Figura 4.4). Caso esta distribuição se estabilize, o método de Monte Carlo é
considerado um método exato.
34
f(x)
1,0
0,8
1 2
0,4
0,2
3
0
0 x x=r
x
(a) (b)
Figura 4.4: Procedimento para obtenção de números aleatórios através de distribuição normal.
Monte Carlo for correta), tendo uma distribuição normal. O símbolo x~ / 2 representa o
número das N tentativas, de forma que a probabilidade de ter valores menores não serão
(4.9)
R(1 R) h~2 / 2
N (4.10)
2
Onde:
35
Nesta expressão, é o máximo erro permitido na estimativa de R. O que se tem é que
R(1 – R) é máximo quando R = 1/2. Desde já, de forma conservadora, tem-se com R(1
– R) = 1/4:
h~2 / 2
N (4.11)
4 2
Tabela 4.3- Coeficientes de Confiança para a distribuição normal (modificado de Harr, 1987).
Para cada simulação de Monte Carlo e para cada variável se tem N tentativas.
~ constante:
Consequentemente para duas variáveis com
2
h~2 / 2
N 2 (4.12)
4
m
h~2
N / 22 (4.13)
4
36
4.4.2- MÉTODO FOSM, SÉRIE DE TAYLOR OU ÍNDICE DE
CONFIABILIDADE
Segundo Griffith 2007, este método fornece aproximações analíticas para a média e o
desvio padrão de um parâmetro de interesse, como uma função da média e desvio
padrão dos vários fatores de entrada, e suas correlações.
Considere F(x) uma função de variáveis aleatórias x1, x2,..., xN. Obviamente, para
avaliar a média e o desvio padrão das variáveis aleatórias, a função densidade de
probabilidade conjunta de x1, x2,..., xN é necessária. No entanto, em muitas aplicações
práticas, a informação disponível sobre as variáveis aleatórias sobre a sua média e
variância é limitada. A média aproximada e a variância da função F(x) podem ser
estimadas por uma expansão da função da série de Taylor sobre os valores médios das
variáveis aleatórias.
Segundo Harr (1987), a fórmula de Taylor para a expansão da função F(x) sobre o
ponto x = , é:
37
(4.14)
Onde:
- É o n-ésimo derivado avaliado para x = .
- É o resto, o qual pode ou não ser zero.
A expansão da Série de Taylor de uma função de duas variáveis F(x,y) nos pontos ,
conservando somente termos de 1a ordem (lineares), produz a Equação 4.15:
(4.15)
(4.16)
(4.17)
Onde novamente todas as derivadas são estimadas para os valores esperados das
variáveis.
Para N variáveis aleatórias não correlacionadas, F(x1, x2, ....., xN), conservando somente
os termos lineares na Série de Taylor, tem-se as seguintes equações:
38
) (4.18)
(4.19)
Onde:
E[F]- Valor médio esperado para F
V[F]- Variância de F, igual ao desvio padrão ao quadrado
δFi- Variância de F que ocorre quando se varia δxi para cada um dos N parâmetros xi
δxi- Taxa de variação das variáveis envolvidas
V[xi]- Variância de cada um dos parâmetros xi.
(4.20)
Onde:
E[FS] é o valor do fator de segurança determinístico calculado com os parâmetros
médios;
39
[FS] é o desvio-padrão do coeficiente de segurança.
Figura 4.5: Probabilidade de ruptura versus Índice de Confiabilidade para várias distribuições
(Baecher, 2003).
40
consequentemente uma maior probabilidade de ruptura em comparação à curva que
apresenta um menor FS (Figura 4.7).
NOTA
A ÁREA SOB AS CURVAS DISTRIBUIÇÃO "A"
É UNITÁRIA
E[FS] = 1,20
4
2 P[R]=1;50
=[FS]=0,1
FREQUÊNCIA RELATIVA
P[R]
PROBABILIDADE DE FS
2 IGUAL A ESTA ÁREA DISTRIBUIÇÃO "B"
E[FS] = 1,50
P[R]=1;7
FS
1
COEFICIENTE DE SEGURANÇA
Figura 4.7: Distribuição de probabilidade do Fator de Segurança para FS diferentes (Assis, A.P., et
al. 2012-Apostila do curso de Pós-Graduação em Geotecnia, UNB).
41
Os procedimentos computacionais utilizados para avaliar o índice de confiabilidade
revelam também quais os parâmetros que mais contribuem para a incerteza no FS,
através do cálculo da variância do coeficiente de segurança, V[FS], onde se obtém as
parcelas de variância do FS causadas por cada um dos parâmetros (, c, , piezometria,
etc.) envolvidos no cálculo do mesmo. Dessa forma, os parâmetros que mais contribuem
para a incerteza e os que mais influenciam no cálculo do FS são identificados.
Vale ressaltar que os taludes da mina estudada por Whitman (1984), são taludes de cava
simples, sem infraestrutura a seu redor, por isso uma probabilidade de ruptura de 1:50 é
aceitável, pois sabe-se que as consequências são pequenas, somente no interior da cava.
Já para cavas que possuem ferrovias, pátios de carregamento, plantas industriais nas
vizinhanças, as consequências são enormes caso a ruptura ocorra, logo, a probabilidade
de falha para estas cavas deve ser menor que esta. Portanto, quanto maiores as
consequências, menores serão as probabilidades de rupturas aceitas.
42
Figura 4.8 - Valores usuais de probabilidade e consequências de ruptura em projetos de engenharia
(modificado - Whitman, 1984).
43
Dada uma função bem definida que una a variável dependente às independentes, pode-
se trabalhar com a variabilidade na análise determinística, sem muitas complexidades
nos cálculos envolvidos. Pondera-se a participação de cada variável, calculando dois
valores da função densidade de probabilidade arbitrariamente escolhida para cada
variável independente (Xi), o que resultará em concentrações Pi onde se terão pontos de
estimativa da variável dependente (Y), que servirão para o cálculo dos momentos de Y.
(4.21)
(4.22)
(4.23)
(4.24)
(4.25)
Para a variável X que apresenta uma distribuição simétrica, ou seja, x = 0, tem-se que
p+ = p- = ½ e consequentemente:
44
(4.26)
(4.27)
Quando Y é função de duas variáveis aleatórias simétricas, considera-se neste caso que
as coordenadas e grandezas das concentrações são independentes da função f. A relação
entre as concentrações pode ser generalizada, sendo proporcional a 2n, onde n é o
número de variáveis independentes.
(4.28)
(4.29)
(4.30)
(4.31)
De acordo com Rosenblueth (1975), estas condições podem ser generalizadas para o
caso multivariado, onde Y depende de n variáveis aleatórias. Para o caso das n variáveis
poderem ser consideradas não correlacionadas entre si, pode-se obter as estimativas da
média e do desvio padrão de Y pelas fórmulas seguintes:
45
(4.32)
(4.33)
Os valores de yi são obtidos com a aplicação da função que define a dependência entre
Y e as variáveis independentes, substituindo alternadamente os valores dessas variáveis
por j j, j = 1, 2, ..., n, obtendo-se dessa maneira os 2n valores de yi.
46
CAPÍTULO 5
Em uma mina a céu aberto, o objetivo é fornecer uma configuração de escavação ideal
levando em consideração a segurança, recuperação do minério e retorno financeiro.
Neste sentido, todas as instabilidades devem ser gerenciáveis, desde a escala de talude
de bancada a taludes globais. Conforme já apresentado, os taludes de mina são
tradicionalmente avaliados pelo fator de segurança (FS), onde o equilíbrio limite ocorre
quando o FS é igual a 1. Na prática, as incertezas do projeto não permitem uma
avaliação concreta do provável desempenho do sistema durante um período de tempo
especificado, resultando na maioria das vezes na fixação de um valor mínimo para o
fator de segurança de um projeto, adquirido com a experiência. De acordo com esta
experiência inclui o método analítico utilizado nos cálculos de projeto, o grau de
confiança nos parâmetros de entrada, e as conseqüências das falhas. A maioria dos
projetos para taludes de mina a céu aberto de minério de ferro utiliza como ideal um
valor de FS ≥1.3.
A probabilidade de falha (PF) tem sido cada vez mais utilizada como critério de
aceitação de projeto, principalmente nos últimos 25 anos. Stacey e Read (2009)
sugerem um critério de aceitação de projeto levando em consideração o FS, a PF, bem
como as consequências caso a ruptura ocorra e a escala do talude (Tabela 5.1). Existem
outras recomendações na literatura para valores toleráveis de PF, correlacionados com o
FS, como as Tabelas 5.2 e 5.3 (Priest e Brown, 1983 apud Stacey e Read, 2009). Outros
critérios de projeto para PF também podem ser consultados em (Kirsten, 1983), (SRK
consulting, 2006) e (Swan e Sepulveda, 2001) apud Stacey e Read, 2009.
47
Tabela 5.1: Valores típicos de critério de aceitação de FS e PF (Stacey e Read, 2009).
Tabela 5.2: Orientações de Fator de Segurança e Probabilidade de Falha (Priest e Brown, 1983).
48
Tabela 5.3: Interpretação de Priest e Brown (1983) para as orientações de FS e PF.
Neste sentido, é importante salientar que somente o valor da PF não deve ser utilizado
como subsídio para decisão de projeto, visto que este gerenciamento deve ser feito após
o cálculo das consequências das falhas envolvidas, a partir das estimativas das análises
de risco.
49
R = PF x Consequências (5.1)
50
5.2.1- CLASSIFICAÇÃO DOS RISCOS
51
mais sobrecarregada nos primeiros meses, apesar de não ser o caso do exemplo abaixo.
Os riscos não identificados de imediato precisam de informações complementares no
seu devido prazo, com um nível de confiabilidade maior.
SRK Consulting apud Stacey e Read, 2009 apresenta um histórico de vários países,
incluindo os Estados Unidos (Figura 5.3), que compara os critérios de aceitação ao risco
com estatísticas de fatalidades (as fatalidades são consideradas geralmente pelas
empresas como a principal consequência), classificadas como voluntárias ou
involuntárias.
52
e abaixo de 1:10.000 são desprezíveis. Na Figura 5.3, é apresentada também a estatística
para fatalidades em taludes de mina considerando a probabilidade de falha anual.
Figura 5.3: Comparação do critério de aceitação ao risco com estatísticas (modificado de SRK
Consulting apud Stacey e Read, 2009).
53
Os riscos apresentados para taludes de mina e barragens do histórico são os mesmos,
estando entre 1:100 e 1:1000, pois as consequências nos dois casos são inversamente
proporcionais às PFs. A PF anual para taludes de mina é cerca de mil vezes maior que a
PF das barragens, enquanto que o índice de mortes esperadas é cerca de mil vezes
menor.
Stacey e Read (2009) sugerem que minas a céu aberto sejam projetadas para um nível
de risco de fatalidade entre 1: 1000 a 1: 10000.
54
CAPÍTULO 6
55
Figura 6.1: Fotografia aérea da Mina de Alegria (Arquivo Vale)
Os minérios de ferro são representados por itabiritos (entre 30 e 60% Fe) e hematitas
(> 60% Fe) pertencentes à Formação Cauê, porção intermediária do Grupo Itabira.
56
Figura 6.2: Coluna estratigráfica do Quadrilátero Ferrífero (adaptada de
Marshak & Alkmin, 1998).
Estruturalmente, em quase toda a área da cava, a foliação exibe direção geral E-W com
mergulhos moderados a íngremes para Sul.
57
persistência, não comprometendo os taludes em termos globais. As falhas ocorrem ao
longo do contato dos diques máficos com a formação ferrífera.
Figura 6.3: Mapa geológico esquemático dos arredores da Mina de Alegria (Alkmim, 2003).
58
6.2.2- ESTRATIGRAFIA E GEOLOGIA LOCAL
Figura 6.4: Mapa geológico da Mina de Alegria disponibilizado pelo planejamento de curto prazo
(abril de 2015).
59
A Formação Moeda ocorre nas encostas da Serra do Caraça vizinhas à mina, sendo
representada por uma grande massa de quartzito micáceo a puro. A camada quartzítica
formadora da serra possui uma grande espessura, da ordem de várias centenas de metros
(talvez uma das maiores do Quadrilátero Ferrífero) e encontra-se em contato brusco
com a Formação Batatal. Os contatos mostram um forte caráter tectônico, exibindo uma
intensa milonitização.
A Formação Cauê apresenta três horizontes distintos e contínuos, que são mapeáveis em
quase toda área de lavra. Da base para o topo, tem-se: uma camada de formação
ferrífera ocre; uma camada de itabirito; e um horizonte de itabiritos anfibolíticos. É
representada principalmente pelo minério constituído por itabiritos de fácies óxido,
laminados e metamorfizados, em que a banda original de chert ou jaspe foi
recristalizada em quartzo granular e os minerais de ferro foram transformados em
hematita, especularita, magnetita ou martita.
60
6.3- MODELO GEOMECÂNICO DA MINA DE ALEGRIA
Neste item, será apresentado o modelo geomecânico da Mina de Alegria. Em 2013, foi
realizada uma atualização deste modelo, tendo como base os modelos geomecânicos
anteriores, modelo geológico atual da mina, informações de sondagens geológico-
geotécnicas e novas informações do modelo hidrogeológico. O objetivo foi
redimensionar os taludes de cava final para a mina em questão considerando as novas
informações obtidas e obtenção de um modelo geomecânico atualizado para
atendimento às demandas da rotina.
A classificação geomecânica do maciço da área em estudo foi elaborada com base nos
dados das descrições geomecânicas dos testemunhos de sondagem e com base no
modelo geomecânico elaborado pela Geoestrutural em janeiro de 2005, além de
considerar informações das descrições geológicas realizadas pela Vale, que incluem
compacidade do maciço, litologia, entre outras informações, que foram úteis no
momento da classificação do maciço rochoso.
61
completamente intemperizadas na condição de solo residual rijo e saprólitos), não se
aplicou o Sistema RMR, e os mesmos foram classificados como CLASSE VI (o sistema
RMR não é aplicado). Poderia neste caso, utilizar qualquer outra nomenclatura para
designar estes materiais, porém hoje, CLASSE VI é o nome usualmente utilizado pela
Vale. Para estes maciços, foi dada uma atenção especial para a caracterização da
anisotropia de resistência dos materiais em função da estrutura herdada da rocha sã.
O Sistema RMR também não foi aplicado aos colúvios e sedimentos (depósitos
Quaternários e Terciários).
62
Figura 6.5: Localização das seções geomecânicas na geometria de cava final da mina de Alegria
Na área da cava, o maciço é constituído por quatro classes, conforme descritas abaixo:
63
Classe de maciço V – Maciço muito pobre com baixa resistência,
completamente alterado e fraturado. Ocorre ao longo de toda cava, com variações de
profundidades e espessuras, predominantemente nas porções centrais, centro-sul e
sudeste da cava. Sua espessura varia entre 50 m e 200 m. Observa-se uma cunha de
grandes proporções de classe V composta de itabirito argiloso (IAG) e filito (FL) na
porção centro sul da cava final. Ocorre em todos litotipos presentes.
Nos taludes da cava final estudada foram observadas todas as classes mencionadas
acima (Figura 6.6). De acordo com o relatório VogBr (2013), espera-se que na cava
final, as Classes V e VI ocorram com até 150 m de espessura cada uma, nos litotipos
itabirito goetítico (classes VI e V) e itabirito compacto (classe V). A classe IV apresenta
espessura de até 200 m em cava final, ocorrendo principalmente nos litotipos itabirito
goetítico (IGO) e itabirito compacto (IC). A classe III ocorre nas bancadas próximas ao
pé do talude e no fundo da cava em itabirito compacto.
64
Figura 6.6: Mapa geomecânico em cava final da Mina de Alegria
65
CAPÍTULO 7
7.1- INTRODUÇÃO
O software utilizado para o estudo foi o Slide, versão 5.0 (Rocscience, 2004) que se
baseia na teoria do Equilíbrio Limite. Este software é muito utilizado para analisar
rupturas do tipo circular e também plano-circulares, que são os modos de ruptura mais
comumente associados às características dos maciços rochosos intemperizados, que por
ora preservam as estruturas reliquiares da rocha sã, predominantes na Mina Alegria em
até grandes profundidades, onde as classes de maciço V e VI, predominam até mesmo
em cava final, conforme descrito no Capítulo 6. Em casos de maciços rochosos menos
intemperizados, como maciços de classe I, II, III e IV (conforme classificação
Bieniawski, 1989), também descritos no Capítulo 6, sugere-se que as análises
66
probabilísticas sejam realizadas para possíveis outros modos de falha, com a ajuda de
outros softwares de análise de estabilidade de taludes.
Para que uma análise probabilística possa ser realizada, é necessário conhecer os dados
estatísticos dos parâmetros de projeto das litologias envolvidas na análise e dos
eventuais carregamentos. Os parâmetros de projeto são apresentados a seguir.
Os ensaios mais antigos na Mina de Alegria foram realizados no ano de 2003, pela
empresa Geolabor, atualmente nomeada como Chammas Engenharia. Os resultados
destes ensaios podem ser verificados no relatório Geolabor TLF – 2708/03 de Setembro
de 2003. Além destes, foram consultados também os ensaios realizados na Mina de
Fazendão, realizados pela mesma empresa (relatório de ensaios geolabor TLF 2922/
03), bem como os ensaios executados na Mina de Timbopeba (realizados pela empresa
Furnas Centrais Elétricas S.A em 2001) em litologias homônimas, pertencentes à
mesma formação geológica.
67
Tabela 7.1: Parâmetros geotécnicos considerados nas análises de estabilidade (VOGBR, 2013).
68
cisalhamento direto conforme especificação acima. Cada ensaio foi constituído por uma
série de quatro corpos de prova, com tensões confinantes de 50, 150, 300 e 600 kPa.
Levando em consideração o talude estudado (um talude de cava final com 160 m de
altura), estas tensões aplicadas são muito baixas, não sendo representativas para as
dimensões do talude.
Para os ensaios em amostras de rocha pouco alterada extremamente resistente (W2, R6)
a medianamente alterada muito resistente (W3, R5), interpretadas como Classe III, a
Geolabor subcontratou o Laboratório de Tecnologia de Rochas do Departamento de
Engenharia de Minas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Nestas rochas,
foram realizados ensaios de compressão simples, axial e diametral.
69
descontinuidades não influencia na superfície de ruptura, neste exemplo, devido à
direção do mergulho da rocha ser perpendicular ao corte do talude.
O nível do lençol freático considerado neste trabalho foi determinado com base nas
informações do modelo hidrogeológico existente. A análise da estabilidade com
abordagem probabilística realizada é válida para esta condição de nível d’água. Caso
haja alteração nas informações hidrogeológicas na região da seção analisada, é
necessário reavaliar a seção.
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
70
Critério de ruptura: Mohr-Coulomb;
Modo de ruptura: Ruptura Circular;
Número de superfícies de ruptura: 1000.
Após rodar o programa com os critérios acima definidos, a superfície de ruptura crítica
da seção de análise foi então identificada, conforme Figura 7.2.
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
Figura 7.2: Investigação do círculo de ruptura crítico da seção de análise pela abordagem
determinística
71
litotipos envolvidos nos círculos críticos de ruptura nas duas abordagens sempre deverá
ser feita para que todos os materiais que realmente influenciam na estabilidade do talude
sejam incorporados na avaliação probabilística.
Neste estudo de caso, foram considerados os parâmetros que apresentam uma maior
variabilidade dos dados, que são os parâmetros de resistência (coesão e ângulo de atrito)
em maior grau, e o peso específico, em menor grau. O nível d’água não será
considerado como variável aleatória, pois a superfície de ruptura crítica não passa pela
linha. Quando se tem mais de um ensaio laboratorial para determinação destes
parâmetros para cada litologia e classe de maciço, é possível calcular diretamente a
média e desvio padrão destes parâmetros. O ideal seria um número suficiente de
amostras por litotipo e classe de maciço que representasse a variabilidade dos
parâmetros. Porém, sabe-se que esta variabilidade é muito grande, não sendo viável, até
mesmo economicamente, a realização de muitos ensaios laboratoriais, além do
dinamismo do processo da lavra, que acaba inviabilizando um número maior de ensaios.
Diante disso, neste estudo, os dados existentes das variáveis (coesão, ângulo de atrito e
peso específico) são assumidos como a média, e a partir destes valores, que no caso, são
os parâmetros de projeto, faz-se o uso da variância padrão universal para estimar os
valores do desvio padrão dos parâmetros geotécnicos em questão. A partir destes dados,
é possível definir uma distribuição de probabilidade das variáveis em estudo, que serão
utilizadas para estimar a distribuição de probabilidade do fator de segurança. A
72
probabilidade de falha corresponde à probabilidade do fator de segurança ser menor que
1 (FS crítico que indica ruptura).
Covariância Faixa
Parâmetro
Padrão (%) Covariância (%)
Ângulo de atrito efetivo 10 04 a 20
Coesão 40 20 a 80
Peso específico 03 02 a 08
Resistência à Compressão Uniaxial 40 6 a 100
Tabela 7.3: Cálculo do desvio padrão dos parâmetros analisados na seção a partir da covariância
padrão
Média Desvio
Material Parâmetro
(X ) Padrão (s)
Coesão (kpa) 40 16
IGO_VI Ângulo de atrito efetivo 32 3,2
Peso específico (kN/m3) 30 0,9
Coesão (kpa) 60 24
IGO_V Ângulo de atrito efetivo 34 3,4
Peso específico (kN/m3) 30 0,9
73
O desvio padrão foi calculado considerando a fórmula do coeficiente de variação, dada
por:
s
CV 100% (7.1)
X
Segundo Farias e Assis (1998), a simulação da variação da média destas variáveis deve
ficar entre 5% a 10% do valor real. Neste estudo foi adotada a variação de 10%. Os
valores resultantes e usados nas simulações podem ser verificados na Tabela 7.4.
74
Tabela 7.4: Cálculo da variação da média das variáveis aleatórias em estudo
Média
Variável Desvio Padrão (s) Média + variação 10%
(X )
IGO_VI_coesão (kpa) 40 16 44
IGO_VI_atrito 32 3,2 35,2
3
IGO_VI_peso específico (kN/m ) 30 0,9 33
IGO_V_coesão (kpa) 60 24 66
IGO_V_atrito 34 3,4 37,4
3
IGO_V_peso específico (kN/m ) 30 0,9 33
A Tabela 7.5 mostra o valor do Fator de Segurança calculado para cada simulação
realizada. As análises realizadas estão apresentadas no Anexo I desta dissertação.
75
Tabela 7.5: Simulações considerando a variação da média das variáveis em estudo com seus
respectivos fatores de segurança calculados
Simulação
Análise
Material 1 2 3 4 5 6
Determinística
IGO_VI_coesão
40 44 40 40 40 40 40
(kpa)
IGO_VI_atrito 32 32 35,2 32 32 32 32
IGO_VI_peso
específico 30 30 30 33 30 30 30
(kN/m3)
IGO_V_coesão
60 60 60 60 66 60 60
(kpa)
IGO_V_atrito 34 34 34 34 34 37,4 34
IGO_V_peso
específico 30 30 30 30 30 30 33
(kN/m3)
Tabela 7.6.
76
Tabela 7.6: Cálculo da variância do Fator de Segurança pelo método FOSM
Onde:
Xi = Variação da média das variáveis em estudo (que neste caso representa 10% do
valor da média)
FSi = Variação do FS (Diferença entre o FS determinístico e o FS das simulações)
V[Xi] = Variância da média das variáveis (desvio padrão ao quadrado)
V[FS] = Variância total do Fator de Segurança. (Calculada pela razão entre a variância
de cada variável sobre a variância total do FS).
Como base nos resultados acima, a variância total do Fator de Segurança é a soma das
variâncias para cada variável aleatória, que corresponde a V[FS] = 0,009. Logo, neste
caso, seu desvio padrão será 0,095.
77
verificar que as variáveis que mais influenciam na variação do FS são os ângulos de
atrito e, em menor relevância, a coesão.
O peso específico praticamente não tem influência na variância, logo não será
considerado como variável aleatória nos Métodos de Monte Carlo e Estimativa Pontual.
Figura 7.3: Relevância das variáveis aleatórias em estudo na seção de análise, calculadas pelo
método FOSM
78
7.2.3- CÁLCULO DA PROBABILIDADE DE FALHA
A probabilidade de falha foi pequena, mas sua análise não pode ser feita pelo seu valor
em si, e sim, dentro do contexto de risco que considera as eventuais consequências, caso
esta ruptura ocorresse.
A análise probabilística pelo Método de Monte Carlo foi feita via programa Slide
utilizando a aba estatística. Como apresentado anteriormente, foram consideradas as
quatro variáveis aleatórias que mais contribuíram na variância do fator de segurança.
Para estas variáveis adotou-se a distribuição normal, pois estes parâmetros tendem a ter
uma distribuição estatística normal ou lognormal na natureza. Os dados estatísticos
necessários para a realização da análise são a média, desvio padrão, e os valores
mínimos e máximos para cada variável, para que se possa definir a distribuição
79
estatística de cada variável aleatória (Tabela 7.7). Estes valores mínimo e máximo são
especificados como valores relativos, ou seja, são as distâncias dos valores médios e
dependem de quantos desvios padrão são considerados.
Tabela 7.7: Dados estatísticos utilizados na análise probabilística pelo Método Monte Carlo
m
h~2
N / 22 (7.3)
4
80
Para um nível de confiança de 85%:
1,44 (Conforme a Tabela 4.3)
ε = 0,15
m = 4 (Nesta análise, há quatro variáveis aleatórias em estudo).
81
probabilidade de falha para todas as superfícies probabilísticas geradas, obtém-se a
superfície probabilística crítica e a confiabilidade geral do talude. A superfície crítica
probabilística apresenta a superfície que tem o menor índice de confiabilidade e a maior
probabilidade de falha. Já o índice de confiabilidade geral do talude define a
probabilidade de falha geral do talude, baseada na distribuição do fator de segurança de
todas as demais superfícies de ruptura analisadas. Dessa forma, a confiabilidade do
talude não está somente associada a uma superfície de ruptura, e sim, a todas as
superfícies probabilísticas geradas.
A análise probabilística do talude geral mostra ser interessante quando não se tem uma
superfície de ruptura definida. Quando este não for o caso, ou seja, quando já se
conhece a superfície de ruptura e a mesma já esteja bem definida (por avaliações em
campo, como trincas, e/ou através de monitoramento), e deseja conhecer a
probabilidade de falha dela, deve-se definir a superfície na análise determinística e optar
pela opção Global Minimum, no método de Monte Carlo.
82
7.3.2.1- Probabilidade de Falha
(7.4)
(7.5)
Onde:
= Índice de Confiabilidade
FS = Média do fator de segurança
FS = Desvio padrão do fator de segurança
83
Para a distribuição lognormal, a equação é a seguinte:
(7.6)
Onde:
= Índice de Confiabilidade
FS = Média do fator de segurança
V(FS) = Coeficiente de variação do fator de segurança
84
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
Figura 7.5: Análise probabilística para o talude geral, mostrando a superfície probabilística crítica
para uma distribuição normal do F.S.
85
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
Figura 7.6: Análise probabilística para o talude geral, mostrando a superfície probabilística crítica
para uma distribuição lognormal do F.S.
PF RI RI FS
(%) (normal) (lognormal) (média)
Superfície
probabilística crítica 1,94 1,97 1,84
(normal)
Superfície
probabilística crítica 1,24 2,51 1,49
(lognormal)
Superfície
0,002 3,34 3,85 1,35
determinística crítica
86
A análise para o talude global apresentou a maior PF, um menor RI e um menor FS em
comparação às superfícies críticas. Já a superfície crítica determinística apresentou
PF=0,002% e RI maior que 3. Este resultado ilustra como a análise do círculo crítico
fixo (através da opção Global minimum) pode ser perigosa na análise de PF, devendo
ser utilizada com cautela.
Diante de todos os resultados, o que deve ser levado em consideração é a superfície que
possui maior representatividade na análise. Quando uma superfície global mínima
possui um número de superfícies correspondentes consideráveis, esta superfície deverá
ser levada em consideração no projeto de talude. Por outro lado, superfícies globais
mínimas que possuem poucas superfícies correspondentes, a probabilidade de ocorrer
uma potencial ruptura nesta superfície é muito pequena, logo a mesma não deve ser
levada em consideração, mesmo possuindo uma PF maior que as demais superfícies.
Portanto, apesar das superfícies probabilísticas críticas apresentarem uma PF maior que
a superfície determinística, elas têm uma menor representatividade nas análises, pois
dentre as combinações aleatórias que geraram possíveis superfícies de ruptura, o
número de superfícies geradas correspondentes à superfície crítica determinística é
maior que o número de superfícies geradas correspondentes às superfícies
probabilísticas críticas. Além disso, a superfície determinística crítica representa uma
possível ruptura inter-rampa, enquanto as superfícies probabilísticas críticas
representam rupturas menores, de menor volume de massa, consequentemente, menores
impactos.
Dessa maneira, para esta análise, a superfície determinística crítica é a que deve ser
levada em consideração, sendo, dessa forma, uma superfície com maior potencial de
87
ruptura e que deverá ser considerada no momento de avaliar o projeto de taludes. Para
este exemplo, a PF é de 0,002%, considerada pequena.
Figura 7.7: Histograma FS x frequência relativa para a análise com abordagem probabilística para
281000 interações.
Porém, quando se considera o fator de segurança aceitável como limite (FS =1.3), pode-
se verificar na Figura 7.8 que 31% das interações apresentaram FS<1.3, representadas
pela parte em vermelho no histograma.
88
Figura 7.8: Histograma do resultado da análise com abordagem probabilística considerando
F.S<1.3 em vermelho.
Nas Figuras 7.9 a 7.12 são apresentados os histogramas de frequência dos valores de
coesão e ângulo de atrito para os litotipos IGO-HGO classe VI e V. Dentre as 281000
combinações destas variáveis, 8173 combinações geraram superfícies com FS < 1,
considerando todas as 1000 superfícies estudadas. Por este motivo, a PF total da seção
analisada é de 2,9%. Verifica-se que tanto para os litotipos classe VI quanto para os de
classe V, as superfícies de ruptura com FS < 1 foram geradas predominantemente por
valores de coesão baixos, menores que 20. Já para o ângulo de atrito não se observa
uma predominância de valores para superfícies com FS < 1, pois são bem variáveis.
Figura 7.9: Distribuição de probabilidade da coesão, enfatizando valores que geraram FS < 1 em
vermelho, para o IGO-HGO classe VI
89
Figura 7.10: Distribuição de probabilidade do ângulo de atrito, enfatizando valores que geraram
FS < 1 em vermelho, para o IGO-HGO classe VI
Figura 7.11: Distribuição de probabilidade da coesão, enfatizando valores que geraram FS < 1 em
vermelho, para o IGO-HGO classe V
Em geral, a coesão e o ângulo atrito dos materiais são correlacionados, de modo que os
materiais com baixa coesão muitas vezes têm altos valores de ângulo de atrito, e vice-
versa.
90
optar pela aleatoriedade da geração das amostras e verificar se havia uma correlação
natural dos dados. Nas Figuras 7.13 e 7.14, verifica-se que existe uma correlação destas
variáveis quando a coesão é menor que 20 Kpa, que são os valores que predominam em
superfícies com FS < 1.
Figura 7.12: Distribuição de probabilidade do ângulo de atrito, enfatizando valores que geraram
FS < 1 em vermelho, para o IGO-HGO classe V
Figura 7.13: Gráfico de correlação de valores de ângulo de atrito e de coesão que geraram F.S.<1
em vermelho, para o IGO-HGO classe V
91
Figura 7.14: Gráfico de correlação de valores de ângulo de atrito e de coesão que geraram F.S.<1
em vermelho, para o IGO-HGO classe VI
Por último, a probabilidade de falha (PF) para a seção de referência da mina de Alegria
será calculada pelo método das estimativas pontuais. Conforme já apresentado no
Capítulo 4, os pontos de estimativa de cada variável de entrada neste método podem ser
representados por:
onde:
92
Dessa forma, para quatro variáveis de entrada, tem-se N= 24, ou seja, dezesseis
combinações de cálculos entre a coesão e atrito do IGO-HGO classe VI e a coesão e o
atrito do IGO-HGO classe V a serem utilizados nas análises de estabilidade para
calcular o Fator de Segurança. Neste caso, as análises foram realizadas pelo programa
Slide, versão 5.0, por análises determinísticas.
Na Tabela 7.9, são apresentados os valores das variáveis que foram utilizados nas
análises e na Tabela 7.10, as respectivas combinações destes valores em cada análise de
estabilidade realizada, tendo como resultado a geração de um FS para cada análise. As
análises de estabilidade estão apresentadas no Anexo II desta dissertação.
Da mesma maneira como foi realizado para o método FOSM, a probabilidade de falha
para o método das Estimativas Pontuais foi calculada por um comando do Excel,
assumindo uma distribuição normal probabilística para a variável dependente fator de
segurança. O fator de segurança médio e a variância do fator de segurança foram
calculados conforme as equações abaixo, já apresentadas no Capítulo 4.
Desvio padrão do FS =
93
PF = DIST.NORM.N(1; FS médio; desviopadrão; VERDADEIRO) =
PF = 0.4%
Tabela 7.10: Combinações dos valores das variáveis utilizados em cada análise de estabilidade
Variáveis
Fator de
Combinações IGO_VI_
IGO_VI_atrito IGO_V_coesão IGO_V_atrito Segurança
coesão
1 56 35.2 84 37.4 1.503
2 24 35.2 84 37.4 1.364
3 56 28.8 84 37.4 1.389
4 24 28.8 84 37.4 1.14
5 56 35.2 36 37.4 1.458
6 24 35.2 36 37.4 1.364
7 56 28.8 36 37.4 1.321
8 24 28.8 36 37.4 1.14
9 56 35.2 84 30.6 1.387
10 24 35.2 84 30.6 1.356
11 56 28.8 84 30.6 1.294
12 24 28.8 84 30.6 1.14
13 56 35.2 36 30.6 1.341
14 24 35.2 36 30.6 1.31
15 56 28.8 36 30.6 1.223
16 24 28.8 36 30.6 1.136
94
Tabela 7.11: Resultados dos métodos com abordagem probabilística
Neste sentido, no Item seguinte, será mostrado como se realiza a Análise de Risco do
projeto, em que a probabilidade de falha é avaliada juntamente com as suas
consequências.
R=PF x Consequências
Onde:
R= Risco
PF= Probabilidade de falha
95
A probabilidade de falha já foi calculada por três métodos probabilísticos distintos
conforme apresentado nos itens 7.2, 7.3 e 7.4 deste capítulo.
As consequências de uma ruptura de talude de uma mina a céu aberto envolvem vários
fatores que devem ser levados em consideração, como por exemplo, a infraestrutura ao
redor do talude, que já é considerada na análise determinística. Uma baixa PF, não
significa um baixo risco, é preciso verificar as consequências para defini-lo. É viável
criar um critério de aceitação de projeto que deverá ser estudado para cada situação,
e/ou estrutura geotécnica, levando em consideração o FS, PF e as consequências,
conforme o exemplo das tabelas 5.1, 5.2 e 5.3, apresentadas no Capítulo 5.
96
CAPÍTULO 8
8.1- CONCLUSÕES
97
Neste estudo, foram apresentados três métodos probabilísticos: FOSM, Monte
Carlo e Método das Estimativas Pontuais, que foram utilizados para o cálculo da
probabilidade de falha. Como resultado, obteve-se uma PF considerada pequena por
qualquer um dos métodos, o que implica um risco tolerável.
O método de Monte Carlo pelo programa Slide permite avaliar uma única
superfície de ruptura (dita como superfície mínima global e correspondente à superfície
crítica determinística), ou todas as superfícies probabilísticas de ruptura possíveis. No
talude em questão, as superfícies probabilísticas críticas apresentaram uma PF maior
que a superfície determinística, porém elas têm uma menor representatividade nas
análises, pois o número de superfícies geradas correspondentes à superfície crítica
determinística é maior que o número de superfícies geradas correspondentes às
superfícies probabilísticas críticas. Além disso, a superfície determinística crítica
representa uma possível ruptura inter-rampa, enquanto as superfícies probabilísticas
críticas representam rupturas menores, de menor impacto. Ademais, para fins de cálculo
de consequência, a superfície crítica assumida é aquela obtida com as variáveis médias,
pois é a mais provável, independentemente do método probabilístico. Portanto, a PF
pelo Método de Monte Carlo é a obtida pela superfície crítica determinística,
correspondente a 0,002%.
98
A sequência de estudos, bem como os softwares utilizados para aplicação da
abordagem probabilística realizada neste trabalho, aplica-se para taludes de ruptura do
tipo circular. Para taludes que apresentem outros modos de ruptura, a abordagem
probabilística também deve ser aplicada, porém utilizando, quando necessário, outros
programas de análise de estabilidade de taludes.
99
8.2- SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS
Outra sugestão seria criar um critério de aceitabilidade ao risco para a cava, levando em
consideração os exemplos citados nesta dissertação e outros existentes na literatura,
permitindo dessa forma gerenciar os riscos.
100
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Design: Basic Principles. John Wiley & Sons, New York, NY, USA, vol. 1, 422 p.
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101
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Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica – XI COBRAMSEG. ABMS, Brasília,
DF, 2: 1305–1313.
102
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Risco Devido a Deslizamento em Estradas. Tese de Doutorado, Publicação G.TD-
081/13, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília,
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HOEK, E. & BROWN, E.T. (1997). Practical Estimates of Rock Mass Strength.
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103
VOGBR (2013). Estudos de atualização e validação dos modelos geológico-
geomecânicos da Mina de Alegria. Vale n° RL-1000LL-W-13188. Relatório interno
Vale.
104
ANEXO I
I.1
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
I.2
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
I.3
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
I.4
ANEXO II
II.1
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
II.2
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
II.3
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
II.4
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
II.5
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
II.6
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
II.7
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
II.8
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
CG classe VI
IGO-HGO classe VI
IGO-HGO classe V
IC classe V
II.9