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CARREIRAS
JURÍDICAS
Rogério Sanches
Renato Brasileiro
Fábio Roque
CERS
2014
1. CRIMES HEDIONDOS – LEI 8.072/90
1.1 Introdução
Crítica: Esse sistema ignora a gravidade do caso concreto. Esse sistema trabalha
somente com a gravidade em abstrato.
Crítica: Nesse sistema são reunidas as duas criticas descritas no sistema legal e no
sistema judicial.
Isso significa que o legislador deve apresentar uma lei com um rol taxativo dos crimes
hediondos. Porem o juiz deve confirmar a hediondez do crime ao analisar o caso
concreto.
Com o advento da Lei 12.720/12 acrescentou o §6º no art. 121 do CP, criando o
homicídio majorando, quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio ou
quando for praticado por milícia privada.
Art. 121, § 6º do CP “A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou
por grupo de extermínio”.
C- Latrocínio:
Art. 157, §3º do CP “Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de
reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a
trinta anos, sem prejuízo da multa”.
Atenção: a morte pode decorrer de dolo ou culpa, mesmo no caso de morte culposa, o
que caracteriza um crime preterdoloso o crime será considerado hediondo.
O crime de roubo pode ser praticado mediante violência, grave ameaça ou por qualquer
outro meio. No entanto para a caracterização do latrocínio a morte deve ser decorrente
da violência empregada. Portanto não caracteriza latrocínio se a morte decorrer da
ameaça ou de qualquer outro meio diverso da violência própria.
É imprescindível que a violência deva ser empregada durante ou depois (fator tempo) e
em razão do assalto (fator nexo).
Observação: Quando um assaltante mata seu parceiro para ficar como o proveito do
crime não caracteriza latrocínio. O Assaltante, no entanto deve responder por homicídio
qualificado pela torpeza em concurso com roubo.
Quando um assaltante por erro na execução mata o seu comparsa ele deve responder por
latrocínio, com fundamento no instituto da “aberratio ictus”, art. 73 do CP.
Art. 73 do CP “Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente,
ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde
como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do
art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia
ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código”.
Se a intenção inicial do agente era apenas a morte da vítima, resolvendo após a morte
subtrair os pertences no falecido, não caracteriza latrocínio. Mas sim homicídio em
concurso com furto.
E- Estupro:
Art. 213 do CP “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter
conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.§ 1o Se da conduta resulta lesão
corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14
(catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.§ 2o Se da conduta resulta
morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos”.
F- Estupro de vulnerável:
Art. 217-A do CP “Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor
de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 1o Incorre na
mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática
do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. § 3o Se da
conduta resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20
(vinte) anos. § 4o Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30
(trinta) anos”.
Existe algum crime hediondo previsto fora do Código Penal (legislação penal
especial)?
Art. 2º, inciso I da Lei de Crimes Hediondos “Os crimes hediondos, a prática da
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis
de: anistia, graça e indulto”.
Art. 2º, inciso II da Lei de Crimes Hediondos “Os crimes hediondos, a prática da
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis
de: fiança”.
Súmula 719 STF: “A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena
aplicada permitir exige motivação idônea”.
Súmula 471 STJ: “Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos
antes da vigência da Lei n. 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei n.
7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão de regime prisional”.
Réu processado preso pode recorrer preso, salvo se estiverem ausentes os requisitos da
preventiva.
Réu processado solto pode recorrer solto, salvo se estiverem presentes os requisitos da
preventiva.
F- Prisão temporária:
Art. 2, § 4o da Lei 8.072/90 “A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960,
de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30
(trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada
necessidade”.
Súmula 192 do STJ “Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução
das penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando
recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual”.
Neste caso deve ser aplicado o mesmo raciocínio. Compete ao juízo das Execuções
Penais da Justiça Federal.
H- Livramento condicional:
Art. 83, inciso V do CP “cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de
condenação por crime hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa
natureza”.
2ª Corrente: são os reincidentes em crimes que violam o mesmo bem jurídico, mesmo
que em tipos diversos;
3ª Corrente: são os reincidentes em crimes hediondos e equiparados, não importando o
bem jurídico violado ou se estão no mesmo tipo.
Art. 8º da Lei de Crimes Hediondos ”Será de três a seis anos de reclusão a pena
prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da
tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. Parágrafo único.
O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha,
possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços”.
Art. 35 Lei nº 11.343/06 “Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar,
reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34
desta Lei: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos)
a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste
artigo incorre quem se associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36
desta Lei”.
J- Delação Premiada:
L- Benefícios diversos:
É possível remição (trabalho ou estudo como forma de resgatar pena) para crimes
hediondos ou equiparados? Sim, pois a lei de crimes hediondos não veda, pois se trata
de um importante instrumento de ressocialização.
M- Inelegibilidade eleitoral:
Art. 1º, LC 64/90, inciso I, alínea “e” item 7- “São inelegíveis: para qualquer cargo: os
que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão
judicial colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após
o cumprimento da pena, pelos crimes: de tráfico de entorpecentes e drogas afins,
racismo, tortura, terrorismo e hediondos”.
N- Identificação do perfil genético em caso de crime hediondo ou equiparado:
Art. 9o-A da Lei de Execução Penal “Os condenados por crime praticado, dolosamente,
com violência de natureza grave contra pessoa, ou por qualquer dos crimes previstos
no art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, serão submetidos, obrigatoriamente,
à identificação do perfil genético, mediante extração de DNA - ácido
desoxirribonucleico, por técnica adequada e indolor. § 1o A identificação do perfil
genético será armazenada em banco de dados sigiloso, conforme regulamento a ser
expedido pelo Poder Executivo. § 2o A autoridade policial, federal ou estadual, poderá
requerer ao juiz competente, no caso de inquérito instaurado, o acesso ao banco de
dados de identificação de perfil genético”.
O art. 9º da Lei de Execução Penal só abrange os crimes previstos no art. 1º Lei 8072/90
(não abrange os equiparados). No entanto se o crime equiparado a hediondo por
praticado com violência de natureza grave contra a pessoa, pode ser realizado a
identificação do perfil genético.
Observação: Não cabe a Identificação genética para tráfico de drogas – não cabe.
Observação: Identificação genética para tortura – é cabível (apesar de não estar no art.
1º lei 8072/90, é cometido com violência grave contra a pessoa).
2.1 Introdução
O STF entendeu que o art. 5, inciso XII da CF/88 é uma norma de eficácia condita, pois
necessitava que uma lei regulamentasse e estabelece a forma que a interceptação deveria
ser realizada, o que ocorreu somente com a Lei 9.296/96.
O STJ entendeu no HC HC33553-CE que é lícita a prova de crime diverso, obtida por
meio de interceptação de ligações telefônicas de terceiro não mencionado na
autorização judicial de escuta, desde que relacionada com o fato criminoso objeto de
investigação.
Parte da doutrina entende que é possível transplantar prova colhida numa interceptação
para fins não-criminais (prova emprestada), uma vez que a intimidade já teria sido
anteriormente violada de forma lícita numa investigação criminal.
2.3 Extensão
2.4 Conceitos
Exemplo: “A” e “B” estão conversando. Sendo que “C” agente policial intercepta a
conversa de “A” e “B” sem que eles tenham conhecimento.
Exemplo: “A” e “B” estão conversando. Sendo que “C” escutar a conversa com
autorização de “A” sem que “B” tenha conhecimento.
C- Escuta Ambiental: Um terceiro ouve (podendo gravar) a conversa mantida por duas
pessoas em um recinto qualquer, com a ciência e autorização de uma delas sem que o
outro interlocutor saiba.
Atenção: Está hipótese não caracteriza interceptação, pois existe autorização de um dos
interlocutores para que o terceiro tome conhecimento do que se fala.
Na hipótese de uma pessoa gravar uma conversa telefônica sem autorização do outro
interlocutor caracteriza gravação clandestina, pois o outro interlocutor não sabe que a
conversação está sendo registrada.
O STJ entende ainda, que quando a gravação se refere a fato pretérito, consumado e sem
exaurimento ou desdobramento, danoso e futuro ou concomitante, tem-se, normalmente
e em princípio, a hipótese de violação à privacidade.
O STF entendeu no RE 583937 que é lícita a prova consistente em gravação ambiental
realizada por um dos interlocutores sem conhecimento do outro.
2.5 Requisitos
O STJ entendeu no RHC 13274/RS que no curso da escuta telefônica – deferida para a
apuração de crimes punidos com reclusão – são descobertos outros crimes conexos com
aqueles, punidos com detenção, não há porque excluí-los da denúncia, diante da
possibilidade de existirem outras provas hábeis a embasar eventual condenação.
2.6 Legitimidade
Observação:
O juiz, na busca da verdade real, no curso da ação penal, pode determinar de ofício a
realização de uma interceptação, observados os requisitos do art. 2º da lei.
O STF entendeu no HC 81.260 que “não é ilícita a prova obtida mediante
interceptação telefônica autorizada por juízo competente. O posterior reconhecimento
da incompetência do juízo que deferiu a diligência não implica, necessariamente, a
invalidação da prova legalmente produzida. a não ser que “o motivo da incompetência
declarada [fosse] contemporâneo da decisão judicial de que se cuida”.
Exemplo: conversas mantidas com corréu delator apontando o acusado como comparsa.
Permite-se, ainda, que o assistente de acusação requeira interceptação.
2.7 Pedido
Dada a urgência da medida, permite-se que o pedido seja feito de forma verbal, porém
se exige sua redução a termo, o que esvazia completamente o dispositivo.
Trata-se de prazo especial previsto na lei 9296/96, impondo ao juiz decidir em 24 horas,
dada a urgência da medida.
2.8 Execução
Assim que recebe a prova colhida, o juiz determina o apensamento dos autos da medida
cautelar aos autos do inquérito ou da ação penal, cientificando-o ao membro do
Ministério Público. O STF entende que não há nulidade na falta de ciência do
Ministério Público, quando a denúncia não sugere surpresa do promotor.
Art. 9° da Lei de Interceptação Telefônica “A gravação que não interessar à prova será
inutilizada por decisão judicial, durante o inquérito, a instrução processual ou após
esta, em virtude de requerimento do Ministério Público ou da parte interessada.
Parágrafo único. O incidente de inutilização será assistido pelo Ministério Público,
sendo facultada a presença do acusado ou de seu representante legal”.
Objeto material:
Art. 1o da Lei 12.850/13 “Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a
investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o
procedimento criminal a ser aplicado”.
No ano de 1995 o Brasil editou a Lei 9.034/95, disciplinava sobre a utilização de meios
operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações
criminosas.
Art. 1º, §2º da Lei 12.850/13 “Esta Lei se aplica também: I - às infrações penais
previstas em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a execução no País,
o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; II - às
organizações terroristas internacionais, reconhecidas segundo as normas de direito
internacional, por foro do qual o Brasil faça parte, cujos atos de suporte ao terrorismo,
bem como os atos preparatórios ou de execução de atos terroristas, ocorram ou possam
ocorrer em território nacional”.
Com a nova lei a figura da Organização Criminosa deixou de ser forma de se praticar
crimes para se tornar um delito autônomo punido com reclusão.
Por se tratar de uma lei incriminadora somente alcança os fatos esgotados antes de sua
vigência.
Bem jurídico tutelado: Como em toda associação criminosa, tutela-se a paz
pública. De acordo com a maioria doutrinaria trata-se de crime de perigo abstrato
(ou presumido).
Sujeitos do crime:
Observações:
Observações:
O agente pode ser preso em flagrante enquanto não desfeita ou abandonar a associação;
B- Embaraço de investigações:
O art. 2, §1º da Lei de Organizações Criminosas pune nas mesmas penas a formação de
organização criminosa a obstrução da persecução penal de infração que envolva
organização criminosa.
Art. 2, §1º da Lei de Organizações Criminosas “Nas mesmas penas incorre quem
impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva
organização criminosa”.
Sujeitos:
Observação: O agente não pode estar envolvido ou ter concorrido, de qualquer modo
para a formação ou funcionamento da organização criminosa.
1ª Corrente: Entende que a omissão não pode ser suprida, pois caracterizaria analogia
incriminadora, o violaria o princípio da legalidade.
2ª Corrente: Entende que a omissão pode ser suprida abrange a fase do processo
através da interpretação teleológica ou extensiva.
O crime é de execução livre, podendo ser praticado com violência, grave ameaça, fraude
etc. Aliás, usando o agente, na obstrução, de violência ou grave ameaça contra
autoridade ou qualquer outra personagem atuante na persecução penal, não há que se
cogitar do crime de coação no curso do processo, tipificado no art. 344 do CP, punido
com 1 a 4 anos de reclusão. Prevalece, na hipótese, o princípio da especialidade.
Conclusão outra gera um absurdo inaceitável, desafiando a proporcionalidade e a
razoabilidade.
Consumação:
Organização Arma:
Exercício de comando:
Participação de criança:
Observação: Esta hipótese caracteriza medida cautelar prevista no Art. 319, inciso VI
do CPP, pressupondo o binômio: “perriculum in mora” e o “fumus boni iuris”.
Podendo ser decretada em qualquer fase da persecução penal.
O art. 2, § 4º, inciso III da Lei de Organizações Criminosas “se o produto ou proveito
da infração penal destinar-se, no todo ou em parte, ao exterior”.
O art. 2, § 4º, inciso IV – “se a organização criminosa mantém conexão com outras
organizações criminosas independentes”.
Organização transnacional:
Observação: Nesta hipótese de aumento de pena o aumento ficara sem aplicação, pois
essa circunstância aparece como elementar do tipo do art. 2 da Lei de Organização
Criminosas sob pena de “bis in idem”.
Sujeitos:
Sujeito ativo: trata-se de crime comum que pode ser praticado por qualquer pessoa.
Atenção: Nas três formas de execução e imprescindível que o autor do crime aja sem
previa autorização escrita do agente colaborador.
Voluntariedade: Pune-se somente a forma dolosa da conduta, leia-se, vontade
consciente de revelar identidade, fotografar ou filmar pessoa que sabe ser agente
colaborador, dispensando finalidade especial animando a conduta do agente.
B- Colaboração caluniosa:
Sujeitos:
Observação: A lei orienta que sejam registrados os atoa da colaboração sempre que for
possível, até para que tenha materialidade do crime em analise.
Observações:
Sujeitos:
Sujeito ativo: somente aquele sujeito que atua na persecução penal de organização
criminosa. Portanto, trata-se de crime próprio.
Observações:
Sujeitos:
Sujeito ativo: cuida-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa
a quem se dirige a requisição (e que tenha poder-dever de obedecê-la).
Observação: Servidor público não pratica este crime, mas sim o de prevaricação.
Conduta: Pune-se o agente que recusar (não aceitar) ou omitir (deixar de fazer)
dados cadastrais, registros, documentos e informações requisitadas pelo juiz,
ministério público ou delegado de polícia, no curso de investigação ou do processo.
Observação: O parágrafo único do art. 21 da Lei 12.850/13 pune com a mesma pena
quem, de forma indevida, se apossa, propala, divulga ou faz uso dos dados cadastrais de
que trata esta Lei. Apesar do silêncio da redação típica, parece evidente que os cadastros
contenham informações sigilosas.
3.3 Aspectos processuais da Lei de Organizações Criminosas
3.3.1 Introdução
Meios de provas: são os instrumentos por meios dos quais as fontes de prova são
introduzidas nos processos. Nos meios de prova para a sua caracterização é
necessário a observância do princípio do contraditório e da ampla defesa. Os meios
de provas são atividades endoprocessuais, ou seja, é uma atividade exercida perante
a presença de um juiz.
Art. 3o da Lei 12.850/13 “Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos,
sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova: I -
colaboração premiada; II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou
acústicos; III - ação controlada; IV - acesso a registros de ligações telefônicas e
telemáticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou privados e a
informações eleitorais ou comerciais; V - interceptação de comunicações telefônicas e
telemáticas, nos termos da legislação específica; VI - afastamento dos sigilos
financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação específica; VII - infiltração, por
policiais, em atividade de investigação, na forma do art. 11; VIII - cooperação entre
instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na busca de provas e
informações de interesse da investigação ou da instrução criminal”.
A- Colaboração premiada:
Origem e conceito:
Deve ser compreendida como gênero, do qual a delação premiada é uma espécie. Pois a
delação pressupõe que o um dos coautores ou participes incrimine os seus comparsas,
ou seja, existe uma confissão da pratica delituosa e a incriminação dos demais autores
do crime.
No tocante a motivação do colaborador, para fins de persecução penal ela não tem
relevância, o que importa são as informações obtidas que serão utilizadas no
desmantelamento da Organização Criminosa.
Direito ao silêncio:
O Direito ao silêncio está previsto no art. 5, inciso LXII da CF/88 “o preso será
informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado”.
Previsão Legal:
Crimes Hediondos:
Art. 8º, § único da Lei de Crimes Hediondos “O participante e o associado que
denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento,
terá a pena reduzida de um a dois terços”.
Código Penal:
Art. 159, § 4º do CP “Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o
denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida
de um a dois terços”.
Crimes Tributários:
Art. 16, § único da Lei 8.137/90 “Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em
quadrilha ou coautoria, o coautor ou partícipe que através de confissão espontânea
revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena
reduzida de um a dois terços”.
Lei de Drogas:
Art. 4o da Lei 12.850/13 “O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão
judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la
por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a
investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou
mais dos seguintes resultados: I - a identificação dos demais coautores e partícipes da
organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas; II - a revelação da
estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa; III - a
prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais
praticadas pela organização criminosa; V - a localização de eventual vítima com a sua
integridade física preservada”.
Art. 4o, §1º da Lei 12.850/13 “Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em
conta a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a
repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração”.
Art. 4o, §3º da Lei 12.850/13 “O prazo para oferecimento de denúncia ou o processo,
relativos ao colaborador, poderá ser suspenso por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por
igual período, até que sejam cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o
respectivo prazo prescricional”.
Art. 4o, §4º da Lei 12.850/13 “Nas mesmas hipóteses do caput, o Ministério Público
poderá deixar de oferecer denúncia se o colaborador: I - não for o líder da
organização criminosa; II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos
deste artigo”.
Art. 4o, §5º da Lei 12.850/13 “Se a colaboração for posterior à sentença, a pena
poderá ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão de regime ainda que
ausentes os requisitos objetivos”.
Atenção: Em relação ao art. 6, inciso II da Lei 12.850/13 deve ser tomado um certo
cuidado, pois o sistema processual penal adotado pela CF/88 estabelece que o titular da
ação penal é o Ministério Público. Sendo assim a autoridade policial pode até
intermediar a realização de um acordo de colaboração premiada, mas nunca realizar o
acordo.
Art. 4o, §10º da Lei 12.850/13 “As partes podem retratar-se da proposta, caso em que
as provas autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas
exclusivamente em seu desfavor”.
Art. 4o, §13º da Lei 12.850/13 “Sempre que possível, o registro dos atos de
colaboração será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia,
digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinados a obter maior fidelidade
das informações”.
Art. 4o, §14º da Lei 12.850/13 “Nos depoimentos que prestar, o colaborador
renunciará, na presença de seu defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao
compromisso legal de dizer a verdade”.
Art. 4o, §15º da Lei 12.850/13 “Em todos os atos de negociação, confirmação e
execução da colaboração, o colaborador deverá estar assistido por defensor”.
Atuação do juiz:
Art. 4o, §6º da Lei 12.850/13 “O juiz não participará das negociações realizadas entre
as partes para a formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o
delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério
Público, ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e
seu defensor”.
Art. 4o, §7º da Lei 12.850/13 “Realizado o acordo na forma do § 6o, o respectivo termo,
acompanhado das declarações do colaborador e de cópia da investigação, será
remetido ao juiz para homologação, o qual deverá verificar sua regularidade,
legalidade e voluntariedade, podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o
colaborador, na presença de seu defensor”.
Art. 4o, §8º da Lei 12.850/13 “O juiz poderá recusar homologação à proposta que não
atender aos requisitos legais, ou adequá-la ao caso concreto”.
Art. 4o, §9º da Lei 12.850/13 “Depois de homologado o acordo, o colaborador poderá,
sempre acompanhado pelo seu defensor, ser ouvido pelo membro do Ministério Público
ou pelo delegado de polícia responsável pelas investigações”.
Observação: Na Lei de Lavagem de Capitais, com a redação dada pela Lei 12.683/12
ao art. 1º, §5º ficou estabelecido que o acordo de colaboração premiada pode ser
realizado a qualquer momento.
Art. 4, § 16o da Lei 12.850/13 “Nenhuma sentença condenatória será proferida com
fundamento apenas nas declarações de agente colaborador”.
Direitos do colaborador:
B- Ação controlada:
Art. 53, inciso II da Lei 11.343/06 “Em qualquer fase da persecução criminal relativa
aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante
autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos
investigatórios: a não atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores
químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no
território brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número de
integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível”.
Vale observar que o conceito de entrega vigiada foi instituído no ordenamento jurídico
brasileiro por meio da Convenção de Palermo.
Atenção: O ideal é entender que a entrega vigiada é uma espécie de ação controlada.
D- Agente infiltrado:
Previsão Legal:
Lei de Drogas:
Art. 53, inciso I da Lei 11.343/06 “Em qualquer fase da persecução criminal relativa
aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante
autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos
investigatórios: a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação,
constituída pelos órgãos especializados pertinentes”.
Representação:
Requisitos:
Observação: Diante dos riscos inerentes a infiltração do agente policial, ele deverá
manifestar que deseja participar da investigação.
Prazo:
Art. 10, § 3o da Lei 12.850/13 “A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis)
meses, sem prejuízo de eventuais renovações, desde que comprovada sua necessidade”.
Art. 10, § 5o da Lei 12.850/13 “No curso do inquérito policial, o delegado de polícia
poderá determinar aos seus agentes, e o Ministério Público poderá requisitar, a
qualquer tempo, relatório da atividade de infiltração”.
Agente infiltrado: é aquele agente policial que obtém uma autorização judicial que
autorize ele a adentram no seio na organização criminosa com a finalidade de
desmantelar a organização e facilitar a colheita de provas.
Súmula 145 do STF “Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia
torna impossível a sua consumação”.
A autorização judicial para realizar a infiltração deve fazer previsão da abrange de atuação do
agente infiltração, ou seja, deve fazer previsão dos crimes que o agente pode praticar (art. 10 da
Lei 12.850/13).
Pela lógica a atuação do agente deve abranger o crime de organização criminosa (art. 2 da Lei
12.850/13).
A doutrina entende que diante do silêncio da lei e concluir que o agente possa cometer os crimes
de perigo, como por exemplo, o crime de tráfico de drogas.
No entanto a doutrina entende que o magistrado não pode autorizar o agente a praticar crimes de
dano, como por exemplo, a pratica de um homicídio.
Eventualmente se o agente for obrigado a cometer algum crime ele não deverá responder pelo
crime, pois caracteriza uma causa excludente de culpabilidade ( inexigibilidade de conduta
diversa prevista no art. 13, § único da Referida Lei).
Art. 14 da Lei 12.850/13 “São direitos do agente: I - recusar ou fazer cessar a atuação
infiltrada; II - ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que couber, o disposto
no art. 9o da Lei no 9.807, de 13 de julho de 1999, bem como usufruir das medidas de
proteção a testemunhas; III - ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua voz e
demais informações pessoais preservadas durante a investigação e o processo criminal,
salvo se houver decisão judicial em contrário; IV - não ter sua identidade revelada,
nem ser fotografado ou filmado pelos meios de comunicação, sem sua prévia
autorização por escrito”.
Art. 17 da Lei 12.850/13 “As concessionárias de telefonia fixa ou móvel manterão, pelo
prazo de 5 (cinco) anos, à disposição das autoridades mencionadas no art. 15, registros
de identificação dos números dos terminais de origem e de destino das ligações
telefônicas internacionais, interurbanas e locais”.
Os dados que o art. 15 da Lei 12.850/13 se refere estão relacionados à qualificação do
sujeito e ao endereço residencial, por isso não precisariam de autorização judicial.
Atenção: O juízo colegiado deve como objetivo torna a decisão proferida impessoal.
Juiz sem rosto: é aquele juiz que toma suas decisões de maneira velada, onde o
acusado não toma conhecimento de quem é o juiz.
Juízo colegiado: existe a presença de três juízes, que deverão proferir uma decisão,
sendo que caso um juiz entenda de forma contrária os votos serão “velados”, porem
o acusado tomará conhecimento da identificação dos juízes que participaram do
colegiado.
Art. 1o da Lei n. 12.694/12 “Em processos ou procedimentos que tenham por objeto
crimes praticados por organizações criminosas, o juiz poderá decidir pela formação de
colegiado para a prática de qualquer ato processual, especialmente: I - decretação de
prisão ou de medidas assecuratórias; II - concessão de liberdade provisória ou
revogação de prisão; III - sentença; IV - progressão ou regressão de regime de
cumprimento de pena; V - concessão de liberdade condicional; VI - transferência de
preso para estabelecimento prisional de segurança máxima; e VII - inclusão do preso
no regime disciplinar diferenciado”.
Art. 1º, §1º da Lei n. 12.694/12 “O juiz poderá instaurar o colegiado, indicando os
motivos e as circunstâncias que acarretam risco à sua integridade física em decisão
fundamentada, da qual será dado conhecimento ao órgão correicional”.
Art. 1º, §2º da Lei n. 12.694/12 “O colegiado será formado pelo juiz do processo e por
2 (dois) outros juízes escolhidos por sorteio eletrônico dentre aqueles de competência
criminal em exercício no primeiro grau de jurisdição”.
Art. 1º, §3º da Lei n. 12.694/12 “A competência do colegiado limita-se ao ato para o
qual foi convocado”.
Art. 1º, §4º da Lei n. 12.694/12 “As reuniões poderão ser sigilosas sempre que houver
risco de que a publicidade resulte em prejuízo à eficácia da decisão judicial”.
Art. 1º, §5º da Lei n. 12.694/12 “A reunião do colegiado composto por juízes
domiciliados em cidades diversas poderá ser feita pela via eletrônica”.
Art. 1º, §7º da Lei n. 12.694/12 “Os tribunais, no âmbito de suas competências,
expedirão normas regulamentando a composição do colegiado e os procedimentos a
serem adotados para o seu funcionamento”.