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Legislação Penal

Especial

CARREIRAS
JURÍDICAS
Rogério Sanches
Renato Brasileiro
Fábio Roque

CERS
2014
1. CRIMES HEDIONDOS – LEI 8.072/90

1.1 Introdução

A) Sistema legal: compete ao legislador em num rol taxativo, anunciar quais os


delitos são considerados hediondos.

 Crítica: Esse sistema ignora a gravidade do caso concreto. Esse sistema trabalha
somente com a gravidade em abstrato.

B) Sistema judicial: o juiz apreciação no caso concreto, diante do crime e da forma


como foi praticado, e decide se é ou não hediondo.

 Crítica: esse sistema fere o princípio da taxatividade ou da determinação, pois trás


uma insegurança.

C) Sistema misto: o legislador apresenta um rol exemplificativo dos crimes


hediondos, permitindo ao juiz, na análise do caso concreto, encontrar outras hipóteses
(interpretação analógica).

Em um primeiro momento o legislador apresenta um rol exemplificativo, e, em um


segundo momento o juiz analisa o caso concreto, podendo complementar esse rol com
situações semelhantes.

 Crítica: Nesse sistema são reunidas as duas criticas descritas no sistema legal e no
sistema judicial.

No entanto, o Brasil adotou o sistema legal, em decorrência de previsão constitucional


(Art. 5º, XLIII da CF).

Art. 5º, XLIII da CF “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou


anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes,
os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”.

Isso significa que o legislador deve apresentar uma lei com um rol taxativo dos crimes
hediondos. Porem o juiz deve confirmar a hediondez do crime ao analisar o caso
concreto.

1.2 Mandado de Criminalização

O Art. 5º, XLIII da CF é um mandado de criminalização. As Constituições modernas,


não se limitam a especificar restrições ao poder do Estado, e passam a conter
preocupações com a defesa ativa do indivíduo e da sociedade em geral. A própria
Constituição impõe a criminalização visando à proteção de bem e valores
constitucionais, pois do Estado, espera-se mais de uma atividade defensiva. Requer-se
torne eficaz a Constituição, dando vida aos valores que ela contemplou.
A CF/88 não cria crime e também não comina pena, mas pode e deve segundo alguns
estabelecer patamares mínimos ao legislador penal. Esse patamar mínimo é denominado
de mandado de criminalização.

Portanto a Lei 8.072/90 define crimes hediondos e suas consequências em decorrência


do mandado de criminalização.

1.3 Rol taxativo de crimes hediondos

Art. 1o da Lei 8.072/90 “São considerados hediondos os seguintes crimes, todos


tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal,
consumados ou tentados: I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica
de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado
(art. 121, § 2o, I, II, III, IV e V); II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); III - extorsão
qualificada pela morte (art. 158, § 2o); IV - extorsão mediante seqüestro e na forma
qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o); V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e
2o); VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o); VII - epidemia
com resultado morte (art. 267, § 1o). VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou
alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1o,
§ 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de
1998). Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto
nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei no 2.889, de 1o de outubro de 1956, tentado ou consumado”.

A- Homicídio simples quando praticado em atividade típica de grupo de


extermínio, ainda que cometido por um só agente: esse crime é denominado pela
doutrina de homicídio condicionado.

Com o advento da Lei 12.720/12 acrescentou o §6º no art. 121 do CP, criando o
homicídio majorando, quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio ou
quando for praticado por milícia privada.

Art. 121, § 6º do CP “A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou
por grupo de extermínio”.

Observação: Na pratica dificilmente um homicídio praticado por atividade típica de


grupo de extermínio ou por milícia privada não será qualificado, sendo portando
considerado hediondo.

B- Homicídio qualificado: O STF entende que é perfeitamente possível a prática de um


crime de homicídio qualificado privilegiado, porem o privilegio é uma qualificadora
subjetiva que prepondera sobre as qualificadoras objetivas, o que retira o caráter
hediondo do crime.

C- Latrocínio:

Art. 157, §3º do CP “Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de
reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a
trinta anos, sem prejuízo da multa”.
Atenção: a morte pode decorrer de dolo ou culpa, mesmo no caso de morte culposa, o
que caracteriza um crime preterdoloso o crime será considerado hediondo.

O crime de roubo pode ser praticado mediante violência, grave ameaça ou por qualquer
outro meio. No entanto para a caracterização do latrocínio a morte deve ser decorrente
da violência empregada. Portanto não caracteriza latrocínio se a morte decorrer da
ameaça ou de qualquer outro meio diverso da violência própria.

É imprescindível que a violência deva ser empregada durante ou depois (fator tempo) e
em razão do assalto (fator nexo).

Observação: Quando um assaltante mata seu parceiro para ficar como o proveito do
crime não caracteriza latrocínio. O Assaltante, no entanto deve responder por homicídio
qualificado pela torpeza em concurso com roubo.

Quando um assaltante por erro na execução mata o seu comparsa ele deve responder por
latrocínio, com fundamento no instituto da “aberratio ictus”, art. 73 do CP.

Art. 73 do CP “Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente,
ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde
como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do
art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia
ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código”.

Se a intenção inicial do agente era apenas a morte da vítima, resolvendo após a morte
subtrair os pertences no falecido, não caracteriza latrocínio. Mas sim homicídio em
concurso com furto.

D- Extorsão qualificada pela morte:

 Extorsão simples não é considerada hedionda: não é considerada hedionda.

Art. 158 do CP “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o


intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar
que se faça ou deixar fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e
multa”.

 Extorsão qualificada pela morte: crime hediondo.

Art. 158, § 2º do CP “Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no


§ 3º do artigo anterior”.

Art. 157, § 3º do CP “Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de


reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a
trinta anos, sem prejuízo da multa”.

E- Estupro:
Art. 213 do CP “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter
conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.§ 1o Se da conduta resulta lesão
corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14
(catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.§ 2o Se da conduta resulta
morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos”.

F- Estupro de vulnerável:

Art. 217-A do CP “Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor
de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 1o Incorre na
mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática
do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. § 3o Se da
conduta resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20
(vinte) anos. § 4o Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30
(trinta) anos”.

Observação: Todas as formas de estupro de vulnerável são consideradas hediondas.

F- Epidemia com resultado morte:

Art. 267, §1º do CP “Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos:


Pena - reclusão, de dez a quinze anos. Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em
dobro”.

Observação: Somente a propagação de doenças humanas configura o crime, não


abrangendo as enfermidades de plantas ou animais.

G- Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins


terapêuticos ou medicinais.

Existe algum crime hediondo previsto fora do Código Penal (legislação penal
especial)?

Art. 1, Parágrafo único da Lei 8.072/90 “Considera-se também hediondo o crime de


genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei no 2.889, de 1o de outubro de 1956,
tentado ou consumado”.

Atenção: Tráfico de Drogas, Terrorismo e Tortura não considerados equiparado a


hediondo.

Observação: Os crimes previsto no Código Penal Militar, equiparados aos crimes


previsto no Código Penal (considerados hediondos) não são considerados hediondos por
falta de previsão legal.

1.4 Consequências da pratica dos crimes hediondos e equiparados aos hediondos


A- Vedação da anistia, graça e indulto:

Art. 2º, inciso I da Lei de Crimes Hediondos “Os crimes hediondos, a prática da
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis
de: anistia, graça e indulto”.

1ª Corrente: A ampliação do rol de vedações realizadas pelo legislador


infraconstitucional é considerada inconstitucional. Pois o art. 5, inciso XLIII da CF/88
somente proíbe a concessão de graça e anistia.

Art. 5, inciso XLIII da CF/88 “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de


graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes,
os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”.

2ª Corrente: A ampliação do rol de vedações realizadas pelo legislador


infraconstitucional é considerada constitucional, pois as vedações estabelecidas no art.
5, inciso XLIII da CF/88 são consideradas mínimas, proporcionando a possibilidade do
legislador infraconstitucional ampliar o rol. Pois a doutrina entende que o indulto é um
beneficio coletivo, que em regra produz os mesmo efeitos para a graça. O STF
atualmente tem adotado essa corrente.

B- Vedação da concessão de fiança:

Art. 2º, inciso II da Lei de Crimes Hediondos “Os crimes hediondos, a prática da
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis
de: fiança”.

Existe a possibilidade da concessão de liberdade provisória?

1ª Corrente: A liberdade provisória está proibida (implicitamente na vedação da


fiança);

2ª Corrente: Prevalece o entendimento que o instituto da fiança e o da liberdade


provisória não se confunde. Portanto não é proibida a concessão da liberdade provisória
(não existe proibição implícita), entende-se cabível.

O STF entendeu no HC 104.339 que a vedação de liberdade provisória pelo legislador


com base na gravidade em abstrato e inconstitucional, o juiz e que deve analisar o caso
concreto.

C- Regime de Cumprimento de pena inicial fechado:

A Lei 11.464/07 fixou o regime inicial fechado abstratamente. No HC 111.840 o STF


entendeu que cabe ao juiz analisar o caso concreto e fixar o regime inicial de
cumprimento de acordo com a gravidade do caso concreto.
Súmula 718 STF: “A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não
constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido
segundo a pena aplicada”.

Súmula 719 STF: “A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena
aplicada permitir exige motivação idônea”.

D- Progressão do regime de cumprimento de pena:

Art. 2, § 2o da Lei 8.072/90 “A progressão de regime, no caso dos condenados aos


crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da
pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente”.

Súmula vinculante 26 STF : “Para efeito de progressão de regime no cumprimento de


pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a
inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de
avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do
benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de
exame criminológico”.

Súmula 471 STJ: “Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos
antes da vigência da Lei n. 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei n.
7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão de regime prisional”.

E- Direito de Apelar em liberdade:

Art. 2, § 3o da Lei 8.072/90 “Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá


fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade”.

Réu processado preso pode recorrer preso, salvo se estiverem ausentes os requisitos da
preventiva.

Réu processado solto pode recorrer solto, salvo se estiverem presentes os requisitos da
preventiva.

F- Prisão temporária:

Art. 2, § 4o da Lei 8.072/90 “A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960,
de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30
(trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada
necessidade”.

Art. 1° da Lei 7960/89 “Caberá prisão temporária: I - quando imprescindível para as


investigações do inquérito policial; II - quando o indicado não tiver residência fixa ou
não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade; III - quando
houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal,
de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes: a) homicídio doloso (art.
121, caput, e seu § 2°); b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e
2°); c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); d) extorsão (art. 158, caput, e seus
§§ 1° e 2°); e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); f)
estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único);
g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com o art. 223, caput,
e parágrafo único); h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput,
e parágrafo único); i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°); j)
envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado
pela morte (art. 270, caput, combinado com art. 285); l) quadrilha ou bando (art. 288),
todos do Código Penal; m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de
outubro de 1956), em qualquer de sua formas típicas; n) tráfico de drogas (art. 12 da
Lei n° 6.368, de 21 de outubro de 1976); o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n°
7.492, de 16 de junho de 1986)”.

Observação: Atualmente se tem o entendimento que a lei de crimes hediondos dilatou


o o rol de crimes que cabem a prisão temporária, além de acrescentar o prazo para a
realização dessa prisão cautelar.

G- Estabelecimento prisionais para presos de alta periculosidade:

Art. 3º da Lei de Crimes Hediondos “A União manterá estabelecimentos penais, de


segurança máxima, destinados ao cumprimento de penas impostas a condenados de
alta periculosidade, cuja permanência em presídios estaduais ponha em risco a ordem
ou incolumidade pública”.

 Condenado pela justiça federal cumprindo pena em estabelecimentos estadual:

Súmula 192 do STJ “Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução
das penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando
recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual”.

 Condenado pela justiça estadual cumprindo pena em estabelecimentos federal:

Neste caso deve ser aplicado o mesmo raciocínio. Compete ao juízo das Execuções
Penais da Justiça Federal.

H- Livramento condicional:

O Art. 5 da Lei de Crimes Hediondos acrescentou no Art. 83, inciso V do CP requisitos


mais rigorosos para que o autor de crime hediondo ou equiparado consiga a liberdade
antecipada.

Art. 83, inciso V do CP “cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de
condenação por crime hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa
natureza”.

O que significa reincidente especifico?

1ª Corrente: são os reincidentes em crimes previstos no mesmo tipo penal;

2ª Corrente: são os reincidentes em crimes que violam o mesmo bem jurídico, mesmo
que em tipos diversos;
3ª Corrente: são os reincidentes em crimes hediondos e equiparados, não importando o
bem jurídico violado ou se estão no mesmo tipo.

I- Associação para pratica de crimes hediondos ou equiparados:

Art. 8º da Lei de Crimes Hediondos ”Será de três a seis anos de reclusão a pena
prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da
tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. Parágrafo único.
O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha,
possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços”.

Art. 288 do CP do CP “Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico


de cometer crimes: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. Parágrafo único. A pena
aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de
criança ou adolescente”.

Atenção: Se a associação tiver como finalidade a pratica de tráfico de drogas, o crime


será o previsto no art. 35 da Lei de Drogas.

Art. 35 Lei nº 11.343/06 “Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar,
reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34
desta Lei: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos)
a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste
artigo incorre quem se associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36
desta Lei”.

J- Delação Premiada:

Parágrafo único do Art. 8º da Lei de Crimes Hediondos “O participante e o associado


que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento,
terá a pena reduzida de um a dois terços”.

L- Benefícios diversos:

Cabe sursis ou restritiva de direitos para crimes hediondos ou equiparados? Sim,


pois a lei de crimes hediondos não veda. Deve o juiz analisar o caso concreto.

É possível remição (trabalho ou estudo como forma de resgatar pena) para crimes
hediondos ou equiparados? Sim, pois a lei de crimes hediondos não veda, pois se trata
de um importante instrumento de ressocialização.

M- Inelegibilidade eleitoral:

Art. 1º, LC 64/90, inciso I, alínea “e” item 7- “São inelegíveis: para qualquer cargo: os
que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão
judicial colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após
o cumprimento da pena, pelos crimes: de tráfico de entorpecentes e drogas afins,
racismo, tortura, terrorismo e hediondos”.
N- Identificação do perfil genético em caso de crime hediondo ou equiparado:

Art. 9o-A da Lei de Execução Penal “Os condenados por crime praticado, dolosamente,
com violência de natureza grave contra pessoa, ou por qualquer dos crimes previstos
no art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, serão submetidos, obrigatoriamente,
à identificação do perfil genético, mediante extração de DNA - ácido
desoxirribonucleico, por técnica adequada e indolor. § 1o A identificação do perfil
genético será armazenada em banco de dados sigiloso, conforme regulamento a ser
expedido pelo Poder Executivo. § 2o A autoridade policial, federal ou estadual, poderá
requerer ao juiz competente, no caso de inquérito instaurado, o acesso ao banco de
dados de identificação de perfil genético”.

O art. 9º da Lei de Execução Penal só abrange os crimes previstos no art. 1º Lei 8072/90
(não abrange os equiparados). No entanto se o crime equiparado a hediondo por
praticado com violência de natureza grave contra a pessoa, pode ser realizado a
identificação do perfil genético.

Observação: Não cabe a Identificação genética para tráfico de drogas – não cabe.

Observação: Identificação genética para tortura – é cabível (apesar de não estar no art.
1º lei 8072/90, é cometido com violência grave contra a pessoa).

Importante! A expressão “obrigatoriamente” do art. 9º-A da LEP, não significa que o


preso está obrigado a fornecer material genético (no entanto ninguém é obrigado a
produzir provas contra si mesmo), mas a autoridade pode valer-se de qualquer meio
legítimo para colher o material, em especial aproveitando-se de matéria desprendida do
corpo (caso Pedrinho – cigarro dispensado pela investigada).
2. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

2.1 Introdução

A Lei 9.296/96 regulamentou o inciso XII, parte final, do art. 5° da Constituição


Federal. Segundo o STF, as interceptações realizadas antes da edição da lei 9296/96 são
ilícitas.

Art. 5, inciso XII da CF/88 “é inviolável o sigilo da correspondência e das


comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal”.

O STF entendeu que o art. 5, inciso XII da CF/88 é uma norma de eficácia condita, pois
necessitava que uma lei regulamentasse e estabelece a forma que a interceptação deveria
ser realizada, o que ocorreu somente com a Lei 9.296/96.

2.2 Natureza jurídica

Art. 1º da Lei de Interceptações Telefônicas “A interceptação de comunicações


telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução
processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz
competente da ação principal, sob segredo de justiça. Parágrafo único. O disposto
nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de
informática e telemática”.

As interceptações telefônicas de qualquer natureza de prova cautelares irrepetíveis nas


investigações criminais e nas instruções processuais.

O STF entendeu no HC 102293 que “os elementos informativos de uma investigação


criminal, ou as provas colhidas no bojo de instrução processual penal, desde que
obtidos mediante interceptação telefônica devidamente autorizada por Juízo
competente, admitem compartilhamento para fins de instruir procedimento criminal ou
mesmo procedimento administrativo disciplinar contra os investigados”.

O STJ entendeu no HC HC33553-CE que é lícita a prova de crime diverso, obtida por
meio de interceptação de ligações telefônicas de terceiro não mencionado na
autorização judicial de escuta, desde que relacionada com o fato criminoso objeto de
investigação.

Parte da doutrina entende que é possível transplantar prova colhida numa interceptação
para fins não-criminais (prova emprestada), uma vez que a intimidade já teria sido
anteriormente violada de forma lícita numa investigação criminal.

2.3 Extensão

No que tange a interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e


telemática existe duas correntes a respeito da constitucionalidade:
1ª Corrente: Para Vicente Greco Filho, o parágrafo único do artigo 1º, da lei 9296/96, é
inconstitucional, porque a lei não poderia estender a possibilidade de interceptação do
fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática.

2ª Corrente: Para Guilherme de Souza Nucci e outros autores, entendem que a


extensão do objeto não seria inconstitucional, considerando que nenhum direito é
absoluto.

2.4 Conceitos

A- Interceptação: é a intromissão realizada por um terceiro, sem o conhecimento dos


interlocutores.

Observação: A interceptação telefônica é hipótese regulada pela lei 9.296/96 e pode


configurar o crime previsto no art. 10 da referida lei, se não observadas às
determinações legais.

Exemplo: “A” e “B” estão conversando. Sendo que “C” agente policial intercepta a
conversa de “A” e “B” sem que eles tenham conhecimento.

B- Escuta telefônica: Um terceiro ouve (podendo gravar) a conversa telefônica entre


duas pessoas, com a ciência e autorização de uma delas, sem que o outro interlocutor
saiba.

Exemplo: “A” e “B” estão conversando. Sendo que “C” escutar a conversa com
autorização de “A” sem que “B” tenha conhecimento.

C- Escuta Ambiental: Um terceiro ouve (podendo gravar) a conversa mantida por duas
pessoas em um recinto qualquer, com a ciência e autorização de uma delas sem que o
outro interlocutor saiba.

Atenção: Está hipótese não caracteriza interceptação, pois existe autorização de um dos
interlocutores para que o terceiro tome conhecimento do que se fala.

C- Captação direta: Um dos interlocutores grava a conversa mantida por telefone ou


em um recinto qualquer.

Na hipótese de uma pessoa gravar uma conversa telefônica sem autorização do outro
interlocutor caracteriza gravação clandestina, pois o outro interlocutor não sabe que a
conversação está sendo registrada.

Atenção: De acordo com a doutrina e a jurisprudência, a análise da licitude ou não da


gravação de conversa por um dos interlocutores sem a ciência do outro deve ser
verificada de caso a caso. No entanto a princípio é prova licita.

O STJ entende ainda, que quando a gravação se refere a fato pretérito, consumado e sem
exaurimento ou desdobramento, danoso e futuro ou concomitante, tem-se, normalmente
e em princípio, a hipótese de violação à privacidade.
O STF entendeu no RE 583937 que é lícita a prova consistente em gravação ambiental
realizada por um dos interlocutores sem conhecimento do outro.

A gravação clandestina de "conversa informal" do indiciado com policiais caracteriza o


interrogatório sub-reptício e realizado sem as formalidades previstas no CCP caracteriza
prova ilegal quando o interrogado não for advertido do seu direito de permanecer em
silêncio.

2.5 Requisitos

Art. 2° da Lei de Interceptações Telefônicas “Não será admitida a interceptação de


comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: I - não
houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; II - a prova
puder ser feita por outros meios disponíveis; III - o fato investigado constituir infração
penal punida, no máximo, com pena de detenção. Parágrafo único. Em qualquer
hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, inclusive com
a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta,
devidamente justificada”.

 “Fumus comissi delictj” - Indícios suficientes de autoria/participação em crime;

 Cometimento de crime punido com reclusão;

 “Periculum in mora” inexistência de outro meio de prova para obtenção de prova.

O STF entendeu no HC 83515/RS que as informações colhidas numa interceptação


podem subsidiar denúncia com base em crime punido com detenção, desde que conexos
com os primeiros que dariam ensejo à diligência.

O STJ entendeu no RHC 13274/RS que no curso da escuta telefônica – deferida para a
apuração de crimes punidos com reclusão – são descobertos outros crimes conexos com
aqueles, punidos com detenção, não há porque excluí-los da denúncia, diante da
possibilidade de existirem outras provas hábeis a embasar eventual condenação.

 Deve-se especificar o objeto da interceptação, de modo a evitar-se escuta de


conversa alheia completamente dissociada da investigação.

2.6 Legitimidade

Art. 3° da Lei de Interceptações Telefônicas “A interceptação das comunicações


telefônicas poderá ser determinada pelo juiz, de ofício ou a requerimento: I - da
autoridade policial, na investigação criminal; II - do representante do Ministério
Público, na investigação criminal e na instrução processual penal”.

Observação:

O juiz, na busca da verdade real, no curso da ação penal, pode determinar de ofício a
realização de uma interceptação, observados os requisitos do art. 2º da lei.
O STF entendeu no HC 81.260 que “não é ilícita a prova obtida mediante
interceptação telefônica autorizada por juízo competente. O posterior reconhecimento
da incompetência do juízo que deferiu a diligência não implica, necessariamente, a
invalidação da prova legalmente produzida. a não ser que “o motivo da incompetência
declarada [fosse] contemporâneo da decisão judicial de que se cuida”.

Entende-se que o querelante pode, na ação penal de iniciativa privada, observados os


requisitos legais, requerer a interceptação.

Em homenagem à ampla defesa, permite-se que o defensor também possa requerer


interceptação.

Exemplo: conversas mantidas com corréu delator apontando o acusado como comparsa.
Permite-se, ainda, que o assistente de acusação requeira interceptação.

O STF no MS 23652/DF entendeu em homenagem ao princípio constitucional da


reserva de jurisdição que incide sobre as hipóteses de busca domiciliar, interceptação
telefônica e de decretação da prisão somente podem ser decretados/autorizados por juiz
competente, não se estendendo tais poderes as CPIs. O que não se confunde com quebra
de sigilo de dados cadastrais por ato motivado e fundamentado.

2.7 Pedido

Art. 4° da Lei de Interceptação Telefônica “O pedido de interceptação de comunicação


telefônica conterá a demonstração de que a sua realização é necessária à apuração de
infração penal, com indicação dos meios a serem empregados. § 1° Excepcionalmente,
o juiz poderá admitir que o pedido seja formulado verbalmente, desde que estejam
presentes os pressupostos que autorizem a interceptação, caso em que a concessão será
condicionada à sua redução a termo. § 2° O juiz, no prazo máximo de vinte e quatro
horas, decidirá sobre o pedido”.

A lei reforça a necessidade de demonstração da existência dos requisitos autorizadores


da medida cautelar, atrelados à necessidade imperiosa da mesma para apuração de
infração penal.

Dada a urgência da medida, permite-se que o pedido seja feito de forma verbal, porém
se exige sua redução a termo, o que esvazia completamente o dispositivo.

Trata-se de prazo especial previsto na lei 9296/96, impondo ao juiz decidir em 24 horas,
dada a urgência da medida.

Art. 5° da Lei de Interceptação Telefônica “A decisão será fundamentada, sob pena de


nulidade, indicando também a forma de execução da diligência, que não poderá
exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual tempo uma vez comprovada a
indispensabilidade do meio de prova”.

A exigência de fundamentação da decisão é mera redundância, uma vez que tal


imposição já decorre de mandamento constitucional (art. 93, IX, da CR/1988).
Embora estabelecido o prazo de 15 dias, a doutrina majoritária e a jurisprudência
praticamente sepultaram essa limitação, entendendo que é possível renovação sucessiva
da diligência enquanto for necessária à colheita da prova.

2.8 Execução

Art. 6° da Lei de Interceptação Telefônica “Deferido o pedido, a autoridade policial


conduzirá os procedimentos de interceptação, dando ciência ao Ministério Público, que
poderá acompanhar a sua realização. § 1° No caso de a diligência possibilitar a
gravação da comunicação interceptada, será determinada a sua transcrição. § 2°
Cumprida a diligência, a autoridade policial encaminhará o resultado da interceptação
ao juiz, acompanhado de auto circunstanciado, que deverá conter o resumo das
operações realizadas. § 3° Recebidos esses elementos, o juiz determinará a providência
do art. 8° , ciente o Ministério Público”.

O Ministério Público é o titular da ação penal pública e fiscal da atuação Policial –


controle externo da polícia judiciária (art. 129, VII da CF/88).

O STF entendeu no HC-MC 91207/RJ e HC 83515/RJ que não há necessidade de


degravação integral do conteúdo, bastando os trechos suficientes para lastrear a
denúncia, não havendo que se falar em violação ao contraditório e à ampla defesa.

O relatório da interceptação é uma providência necessária ao controle da diligência,


devendo a autoridade policial prestar contas ao juiz que deferiu a medida, relatando o
resultado da interceptação. Sendo que o STF entendeu no HC 87859/DF eventuais
vícios formais do auto, geram nulidade apenas relativa.

Assim que recebe a prova colhida, o juiz determina o apensamento dos autos da medida
cautelar aos autos do inquérito ou da ação penal, cientificando-o ao membro do
Ministério Público. O STF entende que não há nulidade na falta de ciência do
Ministério Público, quando a denúncia não sugere surpresa do promotor.

Art. 7° da Lei de Interceptação Telefônica “Para os procedimentos de interceptação de


que trata esta Lei, a autoridade policial poderá requisitar serviços e técnicos
especializados às concessionárias de serviço público”.

Art. 8° da Lei de Interceptação Telefônica “A interceptação de comunicação telefônica,


de qualquer natureza, ocorrerá em autos apartados, apensados aos autos do inquérito
policial ou do processo criminal, preservando-se o sigilo das diligências, gravações e
transcrições respectivas. Parágrafo único. A apensação somente poderá ser realizada
imediatamente antes do relatório da autoridade, quando se tratar de inquérito
policial (Código de Processo Penal, art.10, § 1°) ou na conclusão do processo ao juiz
para o despacho decorrente do disposto nos arts. 407, 502 ou 538 do Código de
Processo Penal”.

No que tange ao sigilo o juiz é o responsável pela ponderação e harmonização dos


princípios constitucionais (proporcionalidade e razoabilidade), confrontando o direito à
informação ao interesse público, bem como ao direito à intimidade.
O sigilo do material colhido não é automático, devendo o juiz proceder à sua validação
de maneira fundamentada, decretando também o sigilo do resultado da medida.

O advogado do indiciado pode ter acesso às peças documentadas após as diligências,


nos termos da Súmula Vinculante 14 do STF.

Súmula Vinculante 14 do STF “É direito do defensor, no interesse do representado, ter


acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento
investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam
respeito ao exercício do direito de defesa”.

2.9 Inutilização de material

Art. 9° da Lei de Interceptação Telefônica “A gravação que não interessar à prova será
inutilizada por decisão judicial, durante o inquérito, a instrução processual ou após
esta, em virtude de requerimento do Ministério Público ou da parte interessada.
Parágrafo único. O incidente de inutilização será assistido pelo Ministério Público,
sendo facultada a presença do acusado ou de seu representante legal”.

2.10 Realização de interceptação ou quebra do sigilo sem autorização judicial

Art. 10 da Lei de Interceptações Telefônicas “Constitui crime realizar interceptação de


comunicações telefônicas, de informática ou telemática, ou quebrar segredo da Justiça,
sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei. Pena: reclusão, de
dois a quatro anos, e multa”.

1ª Conduta: “Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de


informática ou telemática”.

Trata-se de crime permanente, cuja consumação se protrai no tempo.

É crime plurissubsistente, admitindo a tentativa.

 Objeto material:

 Comunicações Telefônicas: conversação mantida por telefone.

 Comunicações Telefônicas: Informática - conversação mantida por meio de


computador, através de sites específicos para a comunicação, desvinculando-se o
mecanismo de transmissão de dados da linha telefônica.

 Comunicações Telefônicas Telemáticas: comunicação de grandes quantidades de


dados (nos formatos texto, imagem e som), em curto prazo de tempo, entre usuários
localizados em qualquer ponto do Planeta, através de um conjunto de tecnologias de
transmissão de dados resultante da junção entre os recursos das telecomunicações
(telefonia, satélite, cabo, fibras ópticas etc.) e da informática (computadores,
periféricos, softwares e sistemas de redes.

2ª Conduta: “Constitui crime quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou


com objetivos não autorizados em lei”.
 Objeto material: o segredo da justiça, ou seja, a situação sigilosa concernente à
justiça (em sentido amplo: investigação criminal ou processo penal).

É crime instantâneo, ocorrendo a consumação no momento determinado em que o


ocorre a violação do sigilo.

Crime plurissubsistente, admite a tentativa, mas comporta a modalidade unissubsistente


(não cabendo a tentativa), conforme o meio empregado (ex.: divulgação verbal).

 Elementos Normativos Especiais que se ligam às duas condutas: “sem


autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei”.

Conclui-se que é atípica a conduta daquele que realiza a interceptação em decorrência


de autorização judicial e a concretiza com o objetivo de investigar um crime ou de
instruir um processo penal.
3. ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS

3.1 Objeto da Lei de Combate as Organizações Criminosas

Art. 1o da Lei 12.850/13 “Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a
investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o
procedimento criminal a ser aplicado”.

No ano de 1995 o Brasil editou a Lei 9.034/95, disciplinava sobre a utilização de meios
operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações
criminosas.

Apesar de louvável, a iniciativa veio acompanhada de falhas, chamando à atenção a


ausência de definição do próprio objeto da Lei “organização criminosa”.

A omissão legislativa incentivava parcela da doutrina a emprestar a definição dada pela


Convenção de Palermo (sobre criminalidade transnacional).

No entanto a utilização da Convenção de Palavrar para definir o conceito de


organizações foi muito questionada e deu origem aos seguintes posicionamentos:

1ª Corrente: A definição dada pela Convenção de Palermo é muito ampla e genérica,


violando o princípio da taxatividade;

2ª Corrente: A definição dada pela Convenção de Palermo vale para as relações


internacionais (é não para o direito interno).

3ª Corrente: A definições dadas pelas convenções ou tratados internacionais jamais


valem para reger as relações com o direito penal interno.

Esse controvérsia somente foi solucionada com o advento da Lei 12.694/12,


oportunidade em que o legislador, finalmente, definiu organização criminosa para o
Direito Penal interno, anunciando no seu art. 2º que “Para os efeitos desta Lei,
considera-se organização criminosa a associação, de 3 (três) ou mais pessoas,
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer
natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4
(quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional”.

As Leis 12.694/12 e 12.850/13 coexistem, tendo sido revogada a primeira somente no


que se refere ao conceito de organização criminosa.

Art. 1, § 1o da Lei 12.850/13 “Considera-se organização criminosa a associação de 4


(quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de
tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente,
vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas
máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional”.
Requisitos
Lei 12.694/12 Lei 12.850/13

Associação, de 3 (três) ou mais pessoas; Associação de 4 (quatro) ou mais


pessoas;
Estruturalmente ordenada e caracterizada
pela divisão de tarefas, ainda que Estruturalmente ordenada e caracterizada
informalmente; pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente;
Com objetivo de obter, direta ou
indiretamente, vantagem de qualquer Com objetivo de obter, direta ou
natureza; indiretamente, vantagem de qualquer
natureza;
Mediante a prática de crimes cuja pena
máxima seja igual ou superior a 4 Mediante a prática de infrações penais
(quatro) anos ou que sejam de caráter cujas penas máximas sejam superiores a
transnacional. 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter
transnacional.

Podem serem utilizados os meios de obtenção de provas previstos na Lei 12.850/13,


mesmo que ausente organização criminosa? O Art. 1º, §2º da Lei 12.850 autoriza,
desde que estiverem presentes alguns requisitos.

Art. 1º, §2º da Lei 12.850/13 “Esta Lei se aplica também: I - às infrações penais
previstas em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a execução no País,
o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; II - às
organizações terroristas internacionais, reconhecidas segundo as normas de direito
internacional, por foro do qual o Brasil faça parte, cujos atos de suporte ao terrorismo,
bem como os atos preparatórios ou de execução de atos terroristas, ocorram ou possam
ocorrer em território nacional”.

Exemplo: Tráfico Internacional de Pessoas.

3.2 Aspectos Criminais da Lei de Organizações Criminosas

3.2.1 Crimes tipificados na Lei 12.850/13

Com a nova lei a figura da Organização Criminosa deixou de ser forma de se praticar
crimes para se tornar um delito autônomo punido com reclusão.

A- Formação de organização criminosa:

Art. 2o da Lei 12.850/13 “Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou


por interposta pessoa, organização criminosa: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito)
anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais
praticadas”.

Por se tratar de uma lei incriminadora somente alcança os fatos esgotados antes de sua
vigência.
 Bem jurídico tutelado: Como em toda associação criminosa, tutela-se a paz
pública. De acordo com a maioria doutrinaria trata-se de crime de perigo abstrato
(ou presumido).

 Sujeitos do crime:

 Sujeito ativo: crime comum, plurissubjetivo (exige número plural de agente) de


condutas paralelas (uma ajudando as outras) que pode ser praticado por qualquer
pessoa.

Atenção: Na quantidade mínimas de associados (quatro quatro participantes)


computam-se eventuais inimputáveis e não identificados. Não se computa os agentes
infiltrados.

 Sujeito passivo: a sociedade.

 Condutas: A conduta punida consiste em promover (trabalhar a favor), constituir


(formar), financiar (custear despesas) ou integrar (fazer parte), pessoalmente (forma
direta) ou por interposta pessoa (indireta), organização criminosa.

Observações:

o Partindo da definição de organização criminosa (art. 1, §1º da Lei 12.850/13) fica


claro, que além da pluralidade de agentes, demanda estabilidade e permanência com
estrutura ordenada e divisão de tarefas. Faltando qualquer destes requisitos fica
descaracterizado o crime, podendo caracterizar o crime de associação criminosa
prevista no art. 288 do CP.

o É imprescindível que a reunião seja efetiva antes da deliberação dos delitos.

 Consumação: Consuma-se o delito com a societas criminis, sendo indispensável


estrutura ordenada com divisão de tarefas.

Atenção: A formação de organização criminosa constitui infração permanente, onde a


sua consumação se protrai enquanto não cessada a permanência. Isso significa que a
formação de organização criminosa é um crime para ser caracterizado deve ser
praticado dolosamente, e com a finalidade de obter vantagem de qualquer natureza.

Observações:

O agente pode ser preso em flagrante enquanto não desfeita ou abandonar a associação;

O termo inicial da prescrição se da com o fim da permanência;

Atenção: Tratando-se de delito autônomo, a punição da organização independe da


prática de qualquer crime pela associação, o qual, ocorrendo, gera o concurso material
(art. 69 do CP), cumulando as penas. O que já era tranquilo na doutrina (seguida pela
jurisprudência), agora está expresso no preceito secundário do artigo em comento
(reclusão, de 3 a 8 anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais
infrações penais praticadas).
 Tentativa: De acordo com maioria doutrinaria não é possível a caracterização da
tentativa.

B- Embaraço de investigações:

O art. 2, §1º da Lei de Organizações Criminosas pune nas mesmas penas a formação de
organização criminosa a obstrução da persecução penal de infração que envolva
organização criminosa.

Art. 2, §1º da Lei de Organizações Criminosas “Nas mesmas penas incorre quem
impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva
organização criminosa”.

 Bem jurídico tutelado: nesta hipótese o bem jurídico é a administração da justiça

 Sujeitos:

 Sujeito ativo: é crime comum monossubjetivo (de concurso de pessoas eventual)


que pode ser praticado por qualquer pessoa.

Observação: O agente não pode estar envolvido ou ter concorrido, de qualquer modo
para a formação ou funcionamento da organização criminosa.

 Sujeito passivo: Estado/Administração.

 Conduta: A conduta punida consiste em impedir ou, de qualquer forma, embaraçar


a investigação de infração penal que envolva organização criminosa.

O legislador omitiu a obstrução do processo judicial correspondente. Essa omissão


pode ser suprida pelo intérprete?

1ª Corrente: Entende que a omissão não pode ser suprida, pois caracterizaria analogia
incriminadora, o violaria o princípio da legalidade.

2ª Corrente: Entende que a omissão pode ser suprida abrange a fase do processo
através da interpretação teleológica ou extensiva.

O crime é de execução livre, podendo ser praticado com violência, grave ameaça, fraude
etc. Aliás, usando o agente, na obstrução, de violência ou grave ameaça contra
autoridade ou qualquer outra personagem atuante na persecução penal, não há que se
cogitar do crime de coação no curso do processo, tipificado no art. 344 do CP, punido
com 1 a 4 anos de reclusão. Prevalece, na hipótese, o princípio da especialidade.
Conclusão outra gera um absurdo inaceitável, desafiando a proporcionalidade e a
razoabilidade.

Exemplo: Fulano embaraça investigação de organização criminosa da qual não faz


parte, ameaçando pessoas não ligadas à persecução penal.
Observação: Nesta hipótese configura o crime previsto no art. 2, §1º da Lei de
Organizações Criminosas.

Exemplo: Fulano embaraça investigação de organização criminosa da qual não faz


parte, ameaçando o delegado que conduz a investigação ou testemunhas.

Observação: Nesta hipótese configura o crime previsto no art. 2, §1º da Lei de


Organizações Criminosas.

 Consumação:

 Impedir: a consumação se da com a obstrução da investigação.

Observação: Nesta hipótese a tentativa é perfeitamente possível de se caracterizar.

 Embaraçar: o resultado naturalístico é dispensado, consumando-se o crime com


qualquer conduta indicativa de empecilho.

Observação: Nesta hipótese a tentativa é perfeitamente possível de se caracterizar.

3.2.2 Causas de aumento e agravamento de pena

 Organização Arma:

O art. 2, § 2o da Lei de Organizações Criminosas “As penas aumentam-se até a metade


se na atuação da organização criminosa houver emprego de arma de fogo”.

Observação: Nesta hipótese somente a utilização de arma de fogo caracteriza causa de


aumento de pena. Segundo a jurisprudência majoritária a incidência da causa de
aumento de pena dispensa a apreensão da arma utilizada no crime, admitindo qualquer
prova.

 Exercício de comando:

O art. 2, § 3o da Lei de Organizações Criminosas “A pena é agravada para quem


exerce o comando, individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que não
pratique pessoalmente atos de execução”.

Observação: Esta hipótese caracteriza agravante semelhante a do art. 62, inciso I do


CP, a ser considerada pelo magistrado na 2ª fase do calculo da pena.

 Participação de criança:

O art. 2, § 4º, inciso I da Lei de Organizações Criminosas “A pena é aumentada de


1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços): se há participação de criança ou adolescente”.

 Participação de funcionário público:


O art. 2, § 4º, inciso II “A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços): se há
concurso de funcionário público, valendo-se a organização criminosa dessa condição
para a prática de infração penal”.

O art. 2, § 5o da Lei de Organizações Criminosas “Se houver indícios suficientes de que


o funcionário público integra organização criminosa, poderá o juiz determinar seu
afastamento cautelar do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração,
quando a medida se fizer necessária à investigação ou instrução processual”.

Observação: Esta hipótese caracteriza medida cautelar prevista no Art. 319, inciso VI
do CPP, pressupondo o binômio: “perriculum in mora” e o “fumus boni iuris”.
Podendo ser decretada em qualquer fase da persecução penal.

O art. 2, § 6o da Lei de Organizações Criminosas “A condenação com trânsito em


julgado acarretará ao funcionário público a perda do cargo, função, emprego ou
mandato eletivo e a interdição para o exercício de função ou cargo público pelo prazo
de 8 (oito) anos subsequentes ao cumprimento da pena”.

Observação: Está hipótese caracteriza efeito extrapenal da sentença condenatória


definitiva. Como já ocorre na Lei de Tortura, o efeito da perda no cargo e automático
(dispensado decisão motivada do magistrado).

Atenção: No que tange ao mandato eletivo a doutrina e a jurisprudência entendem que a


discussão e uma matéria interna do Congresso Nacional ou não.

 Proveito do crime destinado ao exterior:

O art. 2, § 4º, inciso III da Lei de Organizações Criminosas “se o produto ou proveito
da infração penal destinar-se, no todo ou em parte, ao exterior”.

 Conexão com outras organizações:

O art. 2, § 4º, inciso IV – “se a organização criminosa mantém conexão com outras
organizações criminosas independentes”.

 Organização transnacional:

O art. 2, § 4º, inciso V da Lei de Organizações Criminosas “se as circunstâncias do


fato evidenciarem a transnacionalidade da organização”.

Observação: Nesta hipótese de aumento de pena o aumento ficara sem aplicação, pois
essa circunstância aparece como elementar do tipo do art. 2 da Lei de Organização
Criminosas sob pena de “bis in idem”.

 Indícios de participação de policiais:

O art. 2, § 7o da Lei de Organizações Criminosas “Se houver indícios de


participação de policial nos crimes de que trata esta Lei, a Corregedoria de Polícia
instaurará inquérito policial e comunicará ao Ministério Público, que designará
membro para acompanhar o feito até a sua conclusão”.
Observação: Esse dispositivo tem como finalidade garantir a eficiência da investigação
policial, impedindo omissões decorrentes de corporativismo. Em outras palavras esse
dispositivo é um desdobramento lógico do Controle da Polícia. Deve ser observar ainda
que a atuação da corregedoria da polícia obviamente não impediu que o promotor ou
procurador conduzisse uma investigação.

3.2.3 Dos Crimes Ocorridos na Investigação e na Obtenção da Prova

A Lei 12.850/13 anunciou importante meio de obtenção de provas: colaboração


premiada, agente infiltrado, quebra de sigilo de dados e ação controlada. O legislador
criou crimes para inibir comportamentos que prejudiquem esses meios extraordinários
de obtenção de provas.

A- Revelar identidade do colaborador sem prévia autorização:

Art. 18 da Lei 12.850/13 “Revelar a identidade, fotografar ou filmar o colaborador,


sem sua prévia autorização por escrito: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e
multa”.

Observação: Esse dispositivo tem a finalidade de assegurar o sigilo da identidade do


colaborador, em outras palavras e um direito do agente colaborador não ter sua
identidade revelada sem sua prévia autorização. Portanto a finalidade desse dispositivo
além de assegurar o meio de obtenção de prova tem o objetivo de assegurar a segurança
do colaborador.

 Bem jurídico tutelado: eficácia do meio de obtenção de prova e a segurança do


colaborador.

 Sujeitos:

 Sujeito ativo: trata-se de crime comum que pode ser praticado por qualquer pessoa.

 Sujeito passivo: Estado (periclitado na sua tarefa de obtenção de provas) e o


próprio agente colaborador (art. 4 da Lei de Organizações Criminosas).

 Conduta: O crime é de ação múltipla, punindo os seguintes comportamentos


(alternativos):

a) revelar (dar conhecimento), de qualquer modo, a identidade do agente colaborador;

b) fotografar o agente colaborador;

c) filmar o agente colaborador.

Atenção: Nas três formas de execução e imprescindível que o autor do crime aja sem
previa autorização escrita do agente colaborador.
 Voluntariedade: Pune-se somente a forma dolosa da conduta, leia-se, vontade
consciente de revelar identidade, fotografar ou filmar pessoa que sabe ser agente
colaborador, dispensando finalidade especial animando a conduta do agente.

Atenção: A duvida pode caracterizar dolo eventual.

 Consumação: consuma-se com a pratica de qualquer dos núcleos, sendo


perfeitamente cabível a tentativa, pois trata-se de um crime plurissubsistente.

B- Colaboração caluniosa:

Art. 19 da Lei 12.850/13 “Imputar falsamente, sob pretexto de colaboração com a


Justiça, a prática de infração penal a pessoa que sabe ser inocente, ou revelar
informações sobre a estrutura de organização criminosa que sabe inverídicas: Pena -
reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa”.

 Bem jurídico tutelado: junto com a administração da justiça e tutelado de forma


mediata a honra na pessoa inocente a quem o colaborador imputou a pratica da
infração penal.

 Sujeitos:

 Sujeito ativo: é caracterizado na figura do colaborador (art. 4 da Lei de


Organizações Criminosas).

 Atenção: O agente colaborador renuncia na presença de seu defensor o direito ao


silencio, e presta o compromisso de dizer a verdade (art. 4º, §14º da Lei de
Organizações Criminosas).

 Sujeito passivo: é o Estado (vítima imediata) e a pessoa objeto da falta imputação


(vítima mediata).

 Condutas: o tipo incrimina dois comportamentos alternativos:

 Colaboração caluniosa: a primeira conduta típica consiste em imputar falsamente,


sob pretexto de colaboração com a Justiça, a prática de infração penal a pessoa que
sabe ser inocente.

Observação: O agente durante a negociação da colaboração premiada atribui a alguém


(pessoa certa e determinada) infração penal sabidamente falsa. Haverá o crime quando o
fato imputado jamais ocorreu (falsidade que recai sobre o fato), ou então o fato até
ocorreu, mas o autor apontado não foi realmente o que cometeu o delito (falsidade que
recai sobre a autoria do fato).

Atenção: Diferentemente da denunciação caluniosa (art. 339 do CP), dispensa que da


falsa imputação ocorra à instauração de procedimento oficial em face do inocente
imputado.

 Colaboração fraudulenta: na segunda conduta típica, o colaborar revela


informações sobre a estrutura de organização criminosa que sabe inverídicas,
podendo confundir as autoridades na difícil investigação que busca desmantelar o
grupo criminoso.

Observação: A lei orienta que sejam registrados os atoa da colaboração sempre que for
possível, até para que tenha materialidade do crime em analise.

 Voluntariedade: Pune-se somente a conduta dolosa.

Observações:

o É indispensável que o agente tenha consciência de a imputação a pessoa inocente e


falsa. A duvida eventualmente pode caracterizar dolo eventual.

o O agente deve ter conhecimento de que as informações prestadas são inverídicas, de


acordo com a leitura do tipo a duvida parece configurar fato atípico.

o No entanto a boa-fé exclui o dolo.

 Consumação: O crime se consuma com a falsa imputação ou com a revelação de


informações não verdadeiras, dispensando efetivo prejuízo para a administração da
justiça. Tratando-se de crime plurissubsistente, é possível a tentativa.

C-Descumprir determinação de sigilo nas ações controladas:

Art. 20 da Lei 12.850/13 “Descumprir determinação de sigilo das investigações que


envolvam a ação controlada e a infiltração de agentes: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4
(quatro) anos, e multa”.

Observação: Com o objetivo de garantir o êxito da investigação, sem desconsiderar a


necessidade de preservar os protagonistas das diligências o art. 20 da Lei de
Organizações Criminosas incrimina a violação do sigilo envolvendo a ação controlada e
a infiltração de agentes.

 Sujeitos:

 Sujeito ativo: somente aquele sujeito que atua na persecução penal de organização
criminosa. Portanto, trata-se de crime próprio.

 Sujeito passivo: o Estado/Administração.

 Conduta: A conduta punida pelo tipo consiste em descumprir determinação (legal


ou judicial) de sigilo das investigações que envolvam a ação controlada e a
infiltração de agentes.

Observações:

O crime em analise pode ser praticado por ação ou omissão.


Caso detentor das informações sigilosas transmita a informação para outro funcionário
que não destinado a realizar as investigações será responsabilizado.
A violação no processo caracteriza o art. 320 do CP.

No entanto, existindo justa causa para quebrar o sigilo descaracteriza o crime.

 Consumação: com a revelação das informações sigilosas. Quando praticado por


ação admite-se tentativa, que também é caracterizado na hipótese de omissão
própria.

D- Recusa ou omitir na prestação de informações no curso da investigação ou do


processo:

Art. 21 da Lei de Organizações Criminosas “Recusar ou omitir dados cadastrais,


registros, documentos e informações requisitadas pelo juiz, Ministério Público ou
delegado de polícia, no curso de investigação ou do processo: Pena - reclusão, de 6
(seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem,
de forma indevida, se apossa, propala, divulga ou faz uso dos dados cadastrais de que
trata esta Lei”.

 Bem jurídico tutelado: administração da justiça

 Sujeitos:

 Sujeito ativo: cuida-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa
a quem se dirige a requisição (e que tenha poder-dever de obedecê-la).

Observação: Servidor público não pratica este crime, mas sim o de prevaricação.

 Sujeito passivo: Estado/Administração.

 Conduta: Pune-se o agente que recusar (não aceitar) ou omitir (deixar de fazer)
dados cadastrais, registros, documentos e informações requisitadas pelo juiz,
ministério público ou delegado de polícia, no curso de investigação ou do processo.

Observação: De acordo com os artigos 15, 16 e 17 da Lei de Organizações Criminosas


não só o juiz, como também o promotor e o delegado terão acesso direito a dados
cadastrais.

Atenção: As informações requisitadas devem se restringir, única e exclusivamente, aos


dados cadastrais. Isso porque o mero acesso a dados cadastrais não implica em quebra
de sigilo pessoal, quer de ordem fiscal, quer mesmo de comunicação.

 Voluntariedade: é punido a titulo de dolo.

 Consumação: configura com a recusa ou com a omissão (crime omissivo próprio).


Portanto não se admite a figura tentada.

Observação: O parágrafo único do art. 21 da Lei 12.850/13 pune com a mesma pena
quem, de forma indevida, se apossa, propala, divulga ou faz uso dos dados cadastrais de
que trata esta Lei. Apesar do silêncio da redação típica, parece evidente que os cadastros
contenham informações sigilosas.
3.3 Aspectos processuais da Lei de Organizações Criminosas

3.3.1 Introdução

Art. 3o da Lei de Organizações Criminosas “Em qualquer fase da persecução penal,


serão permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de
obtenção da prova: I - colaboração premiada; II - captação ambiental de sinais
eletromagnéticos, ópticos ou acústicos; III - ação controlada; IV - acesso a registros de
ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados
públicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais; V - interceptação de
comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação específica; VI -
afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação
específica; VII - infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do
art. 11; VIII - cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e
municipais na busca de provas e informações de interesse da investigação ou da
instrução criminal”.

3.3.2 Distinção entre meio de obtenção de prova e meio de prova

 Fonte de prova: são as pessoas ou coisas exteriores ao processo que tenham


conhecimento sobre o fato criminoso. Portanto as fontes de prova são colhidas antes
do processo e sua introdução nos autos do processo se da através dos meios de
prova;

 Meio de obtenção de prova (procedimentos investigatórios): é um procedimento


investigatório realizado sem o conhecimento prévio do investigado, cujo objetivo é
obtenção de provas materiais que podem ser buscados sem a presença do juiz;

 Técnicas especiais de investigação (meios extraordinários de obtenção de


provas): são ferramentas sigilosas colocadas à disposição do Estado para a apuração
e persecução de crimes graves, que exijam emprego de estratégias de investigações
distintas das tradicionais que se baseiam em provas documentais e testemunhais. A
utilização destas técnicas é caracterizada pelo sigilo e da dissimulação;

 Meios de provas: são os instrumentos por meios dos quais as fontes de prova são
introduzidas nos processos. Nos meios de prova para a sua caracterização é
necessário a observância do princípio do contraditório e da ampla defesa. Os meios
de provas são atividades endoprocessuais, ou seja, é uma atividade exercida perante
a presença de um juiz.

3.3.3 Meios de obtenção de provas

Art. 3o da Lei 12.850/13 “Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos,
sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova: I -
colaboração premiada; II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou
acústicos; III - ação controlada; IV - acesso a registros de ligações telefônicas e
telemáticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou privados e a
informações eleitorais ou comerciais; V - interceptação de comunicações telefônicas e
telemáticas, nos termos da legislação específica; VI - afastamento dos sigilos
financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação específica; VII - infiltração, por
policiais, em atividade de investigação, na forma do art. 11; VIII - cooperação entre
instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na busca de provas e
informações de interesse da investigação ou da instrução criminal”.

A- Colaboração premiada:

 Origem e conceito:

A colaboração premiada começou a ser utilizada no direito anglo-saxão, principalmente


no Direito Americano, sendo denominada de “crown witness” ou seja, testemunha da
coroa.

A colaboração premiada é um meio de obtenção de prova especial, por meio do qual o


Estado oferece ao coautor ou participe um premio legal em troca de informações para a
persecução penal.

 Distinção entre colaboração premiada e delação premiada:

Deve ser compreendida como gênero, do qual a delação premiada é uma espécie. Pois a
delação pressupõe que o um dos coautores ou participes incrimine os seus comparsas,
ou seja, existe uma confissão da pratica delituosa e a incriminação dos demais autores
do crime.

Observação: A delação premiada também é denominada pela doutrina de chamamento


de corréu. A expressão delação premiada deve ser evitada deve ser evitada por trás a
ideia de traição.

 Ética, moral e motivação do colaborador:

Alguns doutrinadores entendem que a colaboração premiada é incompatível com a ética


e com a moral, pois o estado estaria incentivando que o criminoso pratique um
comportamento contrário à ética e a moral.

No entanto, em síntese a grande maioria doutrinaria entende que a colaboração


premiada não viola os princípios estabelecidos pela ética e pela moral, pois “criminoso
não tem ética”.

No tocante a motivação do colaborador, para fins de persecução penal ela não tem
relevância, o que importa são as informações obtidas que serão utilizadas no
desmantelamento da Organização Criminosa.

 Direito ao silêncio:

O Direito ao silêncio está previsto no art. 5, inciso LXII da CF/88 “o preso será
informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado”.

Na colaboração premiada o colaborador opta por não utilizar o direito de permanecer


em silêncio, pois a colaboração pressupõe a confissão.
Art. 4, §14 da Lei 12.850/13 “Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará,
na presença de seu defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso
legal de dizer a verdade”.

Vale ressaltar que a falsa imputação a pretexto de obter os benefícios da colaboração


premiada caracteriza o crime previsto no art. 19 da Lei 12.850/13.

Observação: O legislador ao estabelecer no art. 4, §14º da Lei 12.850/13 que o


colaborador renunciará o direito ao silêncio praticou uma impropriedade, pois os
direitos e garantias fundamentais não podem ser renunciados, porem o indivíduo pode
abrir mão de fazer uso deles, sendo que a colaboração premiada é realizada de forma
voluntária.

 Previsão Legal:

 Crimes Hediondos:
Art. 8º, § único da Lei de Crimes Hediondos “O participante e o associado que
denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento,
terá a pena reduzida de um a dois terços”.

 Código Penal:
Art. 159, § 4º do CP “Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o
denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida
de um a dois terços”.

 Crimes contra o Sistema Financeiro:


Art. 25, § 2º da Lei n. 7.492/86 “Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em
quadrilha ou coautoria, o coautor ou partícipe que através de confissão espontânea
revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena
reduzida de um a dois terços”.

 Crimes Tributários:
Art. 16, § único da Lei 8.137/90 “Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em
quadrilha ou coautoria, o coautor ou partícipe que através de confissão espontânea
revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena
reduzida de um a dois terços”.

 Lei de Lavagem de Capitais:


Art. 1, § 5o da Lei 9.613/98 “A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser
cumprida em regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou
substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou
partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos
que conduzam à apuração das infrações penais, à identificação dos autores, coautores
e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime”.
Observação: O texto do Art. 1, § 5o da Lei 9.613/98 foi incluído na referida lei pela
Lei nº 12.683/12.

 Lei Proteção às testemunhas:

Art. 13 da Lei 9.807/99 “Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes,


conceder o perdão judicial e a consequente extinção da punibilidade ao acusado que,
sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o
processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado: I - a identificação dos
demais coautores ou partícipes da ação criminosa; II - a localização da vítima com a
sua integridade física preservada; III - a recuperação total ou parcial do produto do
crime. Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a
personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão
social do fato criminoso”.

Atenção: Alguns doutrinadores entendem que a Lei de Proteção às testemunhas pode


ser aplicada a todo e qualquer crime, pois trata-se de uma regulamentação geral.

 Lei de Drogas:

Art. 41 da Lei 11.343/06 “O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com


a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais coautores ou
partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de
condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços”.

 Lei de Organizações Criminosas:

Art. 4o da Lei 12.850/13 “O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão
judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la
por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a
investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou
mais dos seguintes resultados: I - a identificação dos demais coautores e partícipes da
organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas; II - a revelação da
estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa; III - a
prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais
praticadas pela organização criminosa; V - a localização de eventual vítima com a sua
integridade física preservada”.

 Concessão dos benefícios:

Art. 4o, §1º da Lei 12.850/13 “Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em
conta a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a
repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração”.

Art. 4o, §2º da Lei 12.850/13 “Considerando a relevância da colaboração prestada, o


Ministério Público, a qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos autos do inquérito
policial, com a manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou representar
ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não
tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do
Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal)”.

Art. 4o, §3º da Lei 12.850/13 “O prazo para oferecimento de denúncia ou o processo,
relativos ao colaborador, poderá ser suspenso por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por
igual período, até que sejam cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o
respectivo prazo prescricional”.

Art. 4o, §4º da Lei 12.850/13 “Nas mesmas hipóteses do caput, o Ministério Público
poderá deixar de oferecer denúncia se o colaborador: I - não for o líder da
organização criminosa; II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos
deste artigo”.

Art. 4o, §5º da Lei 12.850/13 “Se a colaboração for posterior à sentença, a pena
poderá ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão de regime ainda que
ausentes os requisitos objetivos”.

 Acordo de colaboração premiada:

Art. 6o da Lei 12.850/13 “O termo de acordo da colaboração premiada deverá ser


feito por escrito e conter: I - o relato da colaboração e seus possíveis resultados; II - as
condições da proposta do Ministério Público ou do delegado de polícia; III - a
declaração de aceitação do colaborador e de seu defensor; IV - as assinaturas do
representante do Ministério Público ou do delegado de polícia, do colaborador e de seu
defensor; V - a especificação das medidas de proteção ao colaborador e à sua família,
quando necessário”.

Atenção: Em relação ao art. 6, inciso II da Lei 12.850/13 deve ser tomado um certo
cuidado, pois o sistema processual penal adotado pela CF/88 estabelece que o titular da
ação penal é o Ministério Público. Sendo assim a autoridade policial pode até
intermediar a realização de um acordo de colaboração premiada, mas nunca realizar o
acordo.

Art. 4o, §10º da Lei 12.850/13 “As partes podem retratar-se da proposta, caso em que
as provas autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas
exclusivamente em seu desfavor”.

Art. 4o, §13º da Lei 12.850/13 “Sempre que possível, o registro dos atos de
colaboração será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia,
digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinados a obter maior fidelidade
das informações”.

Art. 4o, §14º da Lei 12.850/13 “Nos depoimentos que prestar, o colaborador
renunciará, na presença de seu defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao
compromisso legal de dizer a verdade”.

Art. 4o, §15º da Lei 12.850/13 “Em todos os atos de negociação, confirmação e
execução da colaboração, o colaborador deverá estar assistido por defensor”.

 Atuação do juiz:
Art. 4o, §6º da Lei 12.850/13 “O juiz não participará das negociações realizadas entre
as partes para a formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o
delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério
Público, ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e
seu defensor”.

Art. 4o, §7º da Lei 12.850/13 “Realizado o acordo na forma do § 6o, o respectivo termo,
acompanhado das declarações do colaborador e de cópia da investigação, será
remetido ao juiz para homologação, o qual deverá verificar sua regularidade,
legalidade e voluntariedade, podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o
colaborador, na presença de seu defensor”.

Art. 4o, §8º da Lei 12.850/13 “O juiz poderá recusar homologação à proposta que não
atender aos requisitos legais, ou adequá-la ao caso concreto”.

Art. 4o, §9º da Lei 12.850/13 “Depois de homologado o acordo, o colaborador poderá,
sempre acompanhado pelo seu defensor, ser ouvido pelo membro do Ministério Público
ou pelo delegado de polícia responsável pelas investigações”.

 Momento para a realização do acordo: na prática, o melhor momento para


realizar o acorde é durante as investigações. Vale ressaltar que o acordo também
poderá ser realizado durante o curso do processo de conhecimento, ou ainda durante
a execução da penal.

Art. 4, § 5o da Lei 12.850/13 “Se a colaboração for posterior à sentença, a pena


poderá ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão de regime ainda que
ausentes os requisitos objetivos”.

Observação: Na Lei de Lavagem de Capitais, com a redação dada pela Lei 12.683/12
ao art. 1º, §5º ficou estabelecido que o acordo de colaboração premiada pode ser
realizado a qualquer momento.

 Valor probatório da colaboração premiada:

Art. 4, § 16o da Lei 12.850/13 “Nenhuma sentença condenatória será proferida com
fundamento apenas nas declarações de agente colaborador”.

 Regra de corroboração: O colaborador além de confessar a pratica delituosa e


indicar os demais autores, ele também precisa indicar fontes de provas capazes de
confirmar as suas declarações.

 Direitos do colaborador:

Art. 5o da Lei 12.850/13 “São direitos do colaborador: I - usufruir das medidas de


proteção previstas na legislação específica; II - ter nome, qualificação, imagem e
demais informações pessoais preservados; III - ser conduzido, em juízo, separadamente
dos demais coautores e partícipes; IV - participar das audiências sem contato visual
com os outros acusados; V - não ter sua identidade revelada pelos meios de
comunicação, nem ser fotografado ou filmado, sem sua prévia autorização por escrito;
VI - cumprir pena em estabelecimento penal diverso dos demais corréus ou
condenados”.

B- Ação controlada:

 Conceito: consiste no retardamento da intervenção do aparado estatal, para que se


num melhor momento sob o ponto de vista da colheita de provas.

Art. 4º-B da Lei 9.613/98 “A ordem de prisão de pessoas ou as medidas assecuratórias


de bens, direitos ou valores poderão ser suspensas pelo juiz, ouvido o Ministério
Público, quando a sua execução imediata puder comprometer as investigações”.

Art. 53, inciso II da Lei 11.343/06 “Em qualquer fase da persecução criminal relativa
aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante
autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos
investigatórios: a não atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores
químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no
território brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número de
integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível”.

Art. 8º da Lei 12.850/13 “Consiste a ação controlada em retardar a intervenção


policial ou administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a
ela vinculada, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a
medida legal se concretize no momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de
informações. § 1o O retardamento da intervenção policial ou administrativa será
previamente comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus
limites e comunicará ao Ministério Público. § 2o A comunicação será sigilosamente
distribuída de forma a não conter informações que possam indicar a operação a ser
efetuada. § 3o Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao
juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito
das investigações. § 4o Ao término da diligência, elaborar-se-á auto circunstanciado
acerca da ação controlada”.

Observação: O retardamento da ação controlada deve ser comunicado pelo juiz


previamente, não necessitando especificamente de autorização judicial, em virtude de
que se trata de uma medida de urgência (excepcional).

Art. 9o da Lei 12.850/13 “Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras, o


retardamento da intervenção policial ou administrativa somente poderá ocorrer com a
cooperação das autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou
destino do investigado, de modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto,
objeto, instrumento ou proveito do crime”.

Atenção: Vale ressaltar que ação controlada também é sinônimo de flagrante


postergado ou retardado, a ação controlada é uma exceção da obrigatoriedade de
realizar a prisão em flagrante.

C- Entrega vigiada: É a técnica especial de investigação que consiste em permitir que


remessas ilícitas ou suspeitas saiam do território de um ou mais Estados, os atravessem
ou neles entrem, com o conhecimento e sob o controle das suas autoridades
competentes, com a finalidade de investigar infrações e identificar as pessoas
envolvidas na sua prática.

Vale observar que o conceito de entrega vigiada foi instituído no ordenamento jurídico
brasileiro por meio da Convenção de Palermo.

Atenção: O ideal é entender que a entrega vigiada é uma espécie de ação controlada.

 Entrega vigiada limpa: o conteúdo da encomenda é substituído por uma substância


inócua;

 Entrega vigiada suja: o conteúdo da encomenda não é substituído.

D- Agente infiltrado:

 Conceito: É mais um técnica especial de investigação criminal, por meio da qual


um agente policial é inserido dissimuladamente no seio de uma organização
criminosa, com o objetivo de colher elementos de prova que permitam a
desarticulação da organização criminosa.

Atenção: Em inglês a expressão “Undercover agent” significa agente infiltrado.

 Previsão Legal:

 Lei de Drogas:

Art. 53, inciso I da Lei 11.343/06 “Em qualquer fase da persecução criminal relativa
aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante
autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos
investigatórios: a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação,
constituída pelos órgãos especializados pertinentes”.

 Lei de organização criminosa:

Art. 10 da Lei 12.850/13 “A infiltração de agentes de polícia em tarefas de


investigação, representada pelo delegado de polícia ou requerida pelo Ministério
Público, após manifestação técnica do delegado de polícia quando solicitada no curso
de inquérito policial, será precedida de circunstanciada, motivada e sigilosa
autorização judicial, que estabelecerá seus limites”.

 Representação:

Art. 10, § 1o da Lei 12.850/13 “Na hipótese de representação do delegado de polícia, o


juiz competente, antes de decidir, ouvirá o Ministério Público”.

 Requisitos:

Art. 10 da Lei 12.850/13 “A infiltração de agentes de polícia em tarefas de


investigação, representada pelo delegado de polícia ou requerida pelo Ministério
Público, após manifestação técnica do delegado de polícia quando solicitada no curso
de inquérito policial, será precedida de circunstanciada, motivada e sigilosa
autorização judicial, que estabelecerá seus limites”.

Art. 10, § 2o da Lei 12.850/13 “Será admitida a infiltração se houver indícios de


infração penal de que trata o art. 1o e se a prova não puder ser produzida por outros
meios disponíveis”.

 Portanto a infiltração de agente somente poderá ser realizada quando o juízo


competente autorizar, por meio de uma decisão circunstanciada, motiva e sigilosa; A
qual deverá estabelecer os limites impostos ao agente;

 Presença do “fumus comissi delicti” e “periculim libertatis”;

 Impossibilidade de obter provas pelas vias comuns.

Observação: Diante dos riscos inerentes a infiltração do agente policial, ele deverá
manifestar que deseja participar da investigação.

 Prazo:

Art. 10, § 3o da Lei 12.850/13 “A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis)
meses, sem prejuízo de eventuais renovações, desde que comprovada sua necessidade”.

 Relatório da infiltração do agente:

Art. 10, § 4o da Lei 12.850/13 “Findo o prazo previsto no § 3o, o relatório


circunstanciado será apresentado ao juiz competente, que imediatamente cientificará o
Ministério Público”.

Art. 10, § 5o da Lei 12.850/13 “No curso do inquérito policial, o delegado de polícia
poderá determinar aos seus agentes, e o Ministério Público poderá requisitar, a
qualquer tempo, relatório da atividade de infiltração”.

 Distinção entre agente infiltrado e agente provocador:

 Agente infiltrado: é aquele agente policial que obtém uma autorização judicial que
autorize ele a adentram no seio na organização criminosa com a finalidade de
desmantelar a organização e facilitar a colheita de provas.

 Agente provocador: é aquele agente sujeito que induz um sujeito a praticar o


crime. A figura do agente provocador pode ocasionar a existência do flagrante
preparado, que se trata de uma hipótese de flagrante ilegal (que ocasiona o
relaxamento de prisão).

Súmula 145 do STF “Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia
torna impossível a sua consumação”.

 Responsabilidade criminal do agente infiltrado:


Art. 13 da Lei 12.850/13 “O agente que não guardar, em sua atuação, a devida
proporcionalidade com a finalidade da investigação, responderá pelos excessos
praticados. Parágrafo único. Não é punível, no âmbito da infiltração, a prática de
crime pelo agente infiltrado no curso da investigação, quando inexigível conduta
diversa”.

A autorização judicial para realizar a infiltração deve fazer previsão da abrange de atuação do
agente infiltração, ou seja, deve fazer previsão dos crimes que o agente pode praticar (art. 10 da
Lei 12.850/13).

Pela lógica a atuação do agente deve abranger o crime de organização criminosa (art. 2 da Lei
12.850/13).

A doutrina entende que diante do silêncio da lei e concluir que o agente possa cometer os crimes
de perigo, como por exemplo, o crime de tráfico de drogas.

No entanto a doutrina entende que o magistrado não pode autorizar o agente a praticar crimes de
dano, como por exemplo, a pratica de um homicídio.

Eventualmente se o agente for obrigado a cometer algum crime ele não deverá responder pelo
crime, pois caracteriza uma causa excludente de culpabilidade ( inexigibilidade de conduta
diversa prevista no art. 13, § único da Referida Lei).

 Mecanismos de proteção do agente infiltrado:

Art. 14 da Lei 12.850/13 “São direitos do agente: I - recusar ou fazer cessar a atuação
infiltrada; II - ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que couber, o disposto
no art. 9o da Lei no 9.807, de 13 de julho de 1999, bem como usufruir das medidas de
proteção a testemunhas; III - ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua voz e
demais informações pessoais preservadas durante a investigação e o processo criminal,
salvo se houver decisão judicial em contrário; IV - não ter sua identidade revelada,
nem ser fotografado ou filmado pelos meios de comunicação, sem sua prévia
autorização por escrito”.

E- Obtenção de dados cadastrais:

Art. 15 da Lei 12.850/13 “O delegado de polícia e o Ministério Público terão acesso,


independentemente de autorização judicial, apenas aos dados cadastrais do investigado
que informem exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e o endereço mantidos
pela Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financeiras, provedores de
internet e administradoras de cartão de crédito”.

Art. 16 da Lei 12.850/13 “As empresas de transporte possibilitarão, pelo prazo de 5


(cinco) anos, acesso direto e permanente do juiz, do Ministério Público ou do delegado
de polícia aos bancos de dados de reservas e registro de viagens”.

Art. 17 da Lei 12.850/13 “As concessionárias de telefonia fixa ou móvel manterão, pelo
prazo de 5 (cinco) anos, à disposição das autoridades mencionadas no art. 15, registros
de identificação dos números dos terminais de origem e de destino das ligações
telefônicas internacionais, interurbanas e locais”.
Os dados que o art. 15 da Lei 12.850/13 se refere estão relacionados à qualificação do
sujeito e ao endereço residencial, por isso não precisariam de autorização judicial.

3.3.4 Formação do juízo colegiado para o julgamento de crime praticados por


organizações criminosas

Atenção: O juízo colegiado deve como objetivo torna a decisão proferida impessoal.

 Distinção entre juízo colegiado e juiz sem rosto/secreto:

 Juiz sem rosto: é aquele juiz que toma suas decisões de maneira velada, onde o
acusado não toma conhecimento de quem é o juiz.

 Juízo colegiado: existe a presença de três juízes, que deverão proferir uma decisão,
sendo que caso um juiz entenda de forma contrária os votos serão “velados”, porem
o acusado tomará conhecimento da identificação dos juízes que participaram do
colegiado.

Art. 12, §6º da Lei n. 12.694/12 “As decisões do colegiado, devidamente


fundamentadas e firmadas, sem exceção, por todos os seus integrantes, serão
publicadas sem qualquer referência a voto divergente de qualquer membro”.

 Requisitos para formação do juízo colegiado:

Art. 1o da Lei n. 12.694/12 “Em processos ou procedimentos que tenham por objeto
crimes praticados por organizações criminosas, o juiz poderá decidir pela formação de
colegiado para a prática de qualquer ato processual, especialmente: I - decretação de
prisão ou de medidas assecuratórias; II - concessão de liberdade provisória ou
revogação de prisão; III - sentença; IV - progressão ou regressão de regime de
cumprimento de pena; V - concessão de liberdade condicional; VI - transferência de
preso para estabelecimento prisional de segurança máxima; e VII - inclusão do preso
no regime disciplinar diferenciado”.

 Instauração e competência do juízo colegiado:

Art. 1º, §1º da Lei n. 12.694/12 “O juiz poderá instaurar o colegiado, indicando os
motivos e as circunstâncias que acarretam risco à sua integridade física em decisão
fundamentada, da qual será dado conhecimento ao órgão correicional”.

Art. 1º, §2º da Lei n. 12.694/12 “O colegiado será formado pelo juiz do processo e por
2 (dois) outros juízes escolhidos por sorteio eletrônico dentre aqueles de competência
criminal em exercício no primeiro grau de jurisdição”.

Art. 1º, §3º da Lei n. 12.694/12 “A competência do colegiado limita-se ao ato para o
qual foi convocado”.

 Reunião do juiz do colegiado:

Art. 1º, §4º da Lei n. 12.694/12 “As reuniões poderão ser sigilosas sempre que houver
risco de que a publicidade resulte em prejuízo à eficácia da decisão judicial”.
Art. 1º, §5º da Lei n. 12.694/12 “A reunião do colegiado composto por juízes
domiciliados em cidades diversas poderá ser feita pela via eletrônica”.

 Decisões proferidas pelo Colegiado:

Art. 1º, §6º da Lei n. 12.694/12 “As decisões do colegiado, devidamente


fundamentadas e firmadas, sem exceção, por todos os seus integrantes, serão
publicadas sem qualquer referência a voto divergente de qualquer membro”.

Art. 1º, §7º da Lei n. 12.694/12 “Os tribunais, no âmbito de suas competências,
expedirão normas regulamentando a composição do colegiado e os procedimentos a
serem adotados para o seu funcionamento”.

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