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RELATOS DE CASOS DE TERAPIA REPARATIVA

Joseph Nicolosi
Traduzido do Original: SANAR LA HOMOSEXUALIDAD -HISTORIAS DE CASOS DE LA
TERAPIA REPARATIVA, Joseph Nicolosi

Tradução: Hugo Dracena

Edição: Equipe Closet Full

Divulgação em língua portuguesa: Closet Full e Courage Brasil

Disponibilizamos o arquivo gratuitamente na internet pois entendemos sua


importância no momento em que vivemos no Brasil.

Pedimos gentilmente a todos que divulguem esse material, em blogs, sites e


redes sociais.

Assim, estaremos empenhados em lutar contra toda mentira e manipulação


sobre o assunto.

Unam-se a nós nessa batalha!

Maiores informações: contato@closetfull.com.br

Para conhecer mais materiais: www.closetfull.com.br

É PROIBIDO COMERCIALIZAR OU ALTERAR ESSE ARQUIVO


SUMÁRIO

SUMÁRIO .......................................................................................................................................... 3

INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 4

CAPÍTULO 1
ALBERT, O MENINO INTERIOR .................................................................................................... 6

CAPÍTULO 2
TOM, UM HOMEM CASADO ....................................................................................................... 21

CAPÍTULO 3
PADRE JOHN, A VIDA DUPLA ..................................................................................................... 37

CAPÍTULO 4
CHARLIE, A BUSCA PELA IDENTIDADE MASCULINA ......................................................... 51

CAPÍTULO 5
DAN, UM HOMEM COM IRA ....................................................................................................... 67

CAPÍTULO 6
STEVE, À PROCURA DE SÍMBOLOS MASCULINOS ............................................................... 78

CAPÍTULO 7
EDWARD, A AGONIA DE UM JOVEM ........................................................................................ 88

CAPÍTULO 8
ROGER: “REALMENTE QUERO ISSO?”................................................................................... 107

CAPÍTULO 9
COMO FUNCIONA A TERAPIA EM GRUPO ............................................................................ 129

CAPÍTULO 10
RECAPITULAÇÃO ....................................................................................................................... 153
INTRODUÇÃO
Utilizando transcrições reais de sessões gravadas em fitas-cassete, este livro utiliza os princípios
básicos de meu trabalho anterior, mais técnico, Terapia Reparativa da Homossexualidade
Masculina. Nesse livro, é possível encontrar exemplos claros da forma como trabalho com meus
pacientes enquanto enfrentam as distorções que escurecem suas verdadeiras identidades masculinas.

Foram necessárias algumas restrições nas expressões verbais e uma simplificação dos termos
clínicos para destacar os temas do processo de reparação. Além disso, para preservar a privacidade
dos pacientes, cada caso aqui apresentado é um misto de experiências de diversos indivíduos com
problemas similares. Nenhum caso se adapta detalhadamente a um único paciente. Qualquer fato
que aponte para uma pessoa concreta é pura coincidência.

O Movimento de Libertação Gay tem alcançado grande êxito por meio do drama dos testemunhos
pessoais. Quando todos os argumentos teóricos, tanto os que eram a favor quanto os contrários à
ideia da homossexualidade como patologia, foram apresentados à Associação Psiquiátrica
Americana (APA) em 1973, foi a perspectiva sociopolítica que teve maior influência. Ouvindo
algumas histórias pessoais de frustração no tratamento de alguns gays, a associação psiquiátrica
suprimiu a homossexualidade como categoria de diagnóstico.

Agora, exatamente 20 anos depois, oferecemos o lado oposto do testemunho pessoal, o dos
homossexuais que tentaram aceitar uma identidade gay, mas que não se sentiram satisfeitos e logo
se beneficiaram da psicoterapia para ajudá-los a libertar-se do conflito de identidade de gênero que
reside por detrás da maioria dos casos de homossexualidade.

Ainda que a história de cada paciente seja única, escolhi oito homens como representantes das
personalidades que encontrei ao longo dos doze anos em que tratei a mais de 200 pacientes
homossexuais. Cada paciente possui algum dos aspectos presentes nesses oito homens – como a
fragilidade de Albert, a integridade de Charlie, a ira de Dan, o narcisismo de Steve e a ambivalência
de Roger.

Alguns leitores podem surpreender-se com o estilo direto de minha intervenção terapêutica. Em
parte, essa impressão pode dever-se à síntese editorial da transcrição. Por questões de brevidade e
clareza, algumas das sutilezas podem ter sido supridas.

Por outra parte, a terapia reparativa requer um terapeuta mais aplicado – um “provocador
benevolente”, que saia da tradição de analista não aplicado e opaco para converter-se em uma
presença masculina relevante.

O terapeuta deve equilibrar espírito ativo com o ânimo vigoroso para seguir o modelo pai-filho e
mentor-aluno. Esse é um princípio essencial para a terapia reparativa.

A terapia reparativa não explica todas as formas de homossexualidade, senão somente a síndrome
predominante que encontrei em minha consulta. Essa terapia não é para todos os homossexuais.
Alguns podem preferir a Terapia da Afirmação Gay. Muitos homossexuais preferem pensar: “eu
nasci desta forma”, evitando, assim, trabalhar os problemas dos quais tratamos aqui.
Além disso, não foi encontrada nenhuma evidência conclusiva para qualquer base biológica da
homossexualidade. Ainda que alguns homens possam estar predispostos à passividade e à
sensibilidade por causa de seus temperamentos (e, portanto, à ferida de identidade de gênero que
ode conduzir à homossexualidade), sempre me pareceu que o “nasci dessa forma” não é senão outra
forma de dizer: “não quero ver os problemas de desenvolvimento que me fizeram homossexual”.

Este livro foi escrito em um momento de debate público sem precedentes sobre as inquietudes
políticas, legislativas e psicoterapêuticas sobre a homossexualidade. No momento em que o
publicamos, debate-se agora questões como os gays no exército, os gays nos Boy Scouts e as
emendas de direitos dos gays de Óregon. Entre todos os ramos de profissionais da saúde mental,
fazem-se tentativas de qualificar a terapia reparativa como ilegal e carente de ética, sobre o pretexto
de que não produz mudanças e que, ao paciente, faz mais mal que bem.

Qualquer terapia psicológica que tente tratar da homossexualidade provavelmente provoque


ceticismo. Compreende-se uma reação assim, considerada a história do tratamento. As hostilidades
que se faziam no passado em nome do tratamento incluem terapia de eletrochoque, castração e
cirurgia de cérebro. Foram cometidas muitas injustiças sociais sobre os homossexuais pelos que
utilizam como justificativa o fato de que a homossexualidade é uma desordem de desenvolvimento.

Não é nossa intenção contribuir com a hostilidade reacionária. Ademais, existe uma distinção entre
ciência e política, e a ciência não deveria render-se à pressão da política gay.

A NARTH – National Association for Research and Therapy of Homosexuality (Associação


Nacional para a Investigação e Terapia de Homossexualidade) foi formada recentemente para
combater a politização de assuntos científicos e de tratamento. A NARTH defenderá os direitos dos
terapeutas de tratar os homossexuais insatisfeitos. Somente poucos meses depois de seu início, mais
de cem psiquiatras titulados, psicólogos, orientadores sociais e trabalhadores sociais se haviam
unido a essa organização. A NARTH defenderá os direitos dos terapeutas de seguirem estudando e
aperfeiçoando técnicas terapêuticas para homens e mulheres que lutam contra pensamentos,
sentimentos e condutas homossexuais e que não a querem aceitar como parte de suas identidades
mais profundas.

Gostaria de apresentar meu apreço aos investigadores psicanalíticos mais precoces na tradição da
etapa do pré-Édipo, do impulso reparador, que moldaram minha compreensão de meus pacientes,
especialmente a Sandor Rado, M.D., Irving Bieber, M.D., e Charles W. Socarides, M.D.
CAPÍTULO 1

ALBERT, O MENINO INTERIOR


Albert entrou caminhando com cautela em meu consultório. Parecia inseguro, como se não
soubesse por que viera ver-me. Olhou-me rápida e timidamente e logo se pôs a observar o
Boulevard Ventura que aparecia por trás da janela.

“Alegro-me em conhecê-lo, Senhor O’Connor”, disse a ele, convidando-o para que sentasse em
uma poltrona, na qual ele se sentou com certa dúvida.

Sentei-me na cadeira de frente para Albert e olhei o rosto pálido de um jovem vestido com gosto e,
de certa forma, meio atarracado. Albert olhou ao redor da sala e logo comentou: “Gostei de suas
plantas. Seu consultório parece um jardim botânico”.

Sempre gostei muito da cor verde. Nas paredes de bosque verde estavam penduradas pinturas
clássicas italianas da época do Alto Renascimento. Em cima do sofá, há um quadro delicado, de cor
âmbar suave, de A Virgem e o Menino, de Da Vinci. Há plantas verdes exuberantes em macetas
terracota italianas, que se elevam sobre as cristaleiras do quadro até o teto. Duas estantes maciças de
livros arqueadas de nogueira escura dominam as paredes opostas, carregadas celestialmente com
livros e com samambaias postas em macetas e heras que fazem cascatas. Sabia que Albert apreciaria
o ambiente. Havia dito, por telefone, que trabalhava em um viveiro.

Suas palavras seguintes foram: “Parece muito com meu quarto em casa, todo esse verdor”, sorriu
ligeiramente. “Onde quer que eu esteja, gosto de estar rodeado por plantas e flores”. Albert falava
em um tom ligeiramente afeminado, com a qualidade triste de um menino perdido.

“Uma senhora veio hoje ao viveiro com uma samambaia doente”, ele dizia. “‘Não está lhe dando
luz suficiente’, foi o que disse a ela, ‘as samambaias amam muita luz, assim como a luz indireta do
sol’. Ela era muito sensível. Gosto muito de ajudar gente assim”. Um sorriso satisfeito cruzou seu
rosto: “Ultimamente, tenho me sentido como essa samambaia doente, que não foi cuidada
corretamente”.

Senti uma fragilidade, quase uma delicadeza, em Albert, que parecia ter ficado distante em seu
mundo de fantasia da infância. Albert vivia ainda com seus pais no mesmo rancho de distribuição
irregular de Malibu em que havia crescido. Seu único irmão, um meio-irmão mais velho, já havia,
há muito tempo, adquirido independência e se casado.

Durante suas primeiras sessões, Albert estava tranquilo, às vezes olhando-me com seus olhos
sinceros como se não soubesse o que dizer. Assim foi até algumas semanas mais tarde quando se
sentiu cômodo o bastante para revelar seus intensos sentimentos sexuais. Albert se sentia como um
menino pequeno preso em um corpo de homem, atormentado demais por desejos que não queria
reconhecer. Enquanto me contava sua história, a imagem do bom menino se rompeu e suas palavras
passaram a ser mais enfáticas. Logo sua voz se punha mais estridente, quase histérica.
Em um dia de chuva, Albert começou a falar sobre um aspecto comum da experiência homossexual,
que chamo de alienação do corpo. A maioria dos homossexuais descobre uma fascinação excluída
de seus corpos, mais que a cômoda familiaridade que com frequência se percebe nos homens
heterossexuais. De fato, é esse conforto natural com o próprio corpo que em geral faz com que os
heterossexuais sejam tão atrativos para os gays. A exclusão de Albert de seu corpo era extrema. Ele
havia sido educado em um lar em que o corpo masculino era considerado vergonhoso e sujo.

Neste dia, ele se sentou em sua poltrona de forma quase desafiante, contando em sua voz infantil:
“Foi uma semana ruim e andei tendo sentimentos estranhos. Ainda não fui capaz de superá-los”. E
acrescentou com um tom de culpa na voz: “Tenho me sentido excitado”.

“Tem sido uma semana ruim porque andou se sentindo excitado?”, perguntei.

“Sim. Não tenho conseguido dormir. Tenho me sentido cansado sem saber por quê”. Continuou:
“Agora me dou conta de que minha reação a qualquer sentimento sexual é sempre o medo e depois
a ira”.

“Sua ira é uma defesa contra o medo. Mas medo de quê? Por que seus sentimentos sexuais te
assustam?”

“Não sei.” Respondeu inutilmente. E então: “Sinto muitos conflitos, vergonha sobre algo físico,
sobre mim”.

Assenti, escutando.

“Minha mãe sempre dava uma grande importância a tudo o que tivesse a ver com meu corpo”.

“Verdade?”

“Sim. Quando era pequeno, ela tinha um ataque do coração toda vez que eu urinava na cama ou
algo do tipo. Se eu ficava doente, chamava todas as tias e tios, quase tendo um ataque de nervos.
Até que um dia realmente enlouqueceu quando me pegou em uma espécie de brincadeira sexual
com meu primo”.

“O que aconteceu?”

“Foi meu primo quem começou. Fez isso comigo durante vários anos. Nunca considerei o sexo
como algo ruim. Nunca me dei conta do que me estava passando. De fato, pensava que era meu
melhor amigo”.

“Quantos anos você tinha quando começou?” Perguntei.

“Cerca de 9, e meu primo 15. Era muito agressivo sexualmente. Sempre queria dominar. E eu me
sentia solitário, não tinha ninguém. E...”, admitiu, “terei que dizer que estava desesperado para que
alguém me quisesse. Agora tenho que perdoar a mim mesmo por ter aceitado sexo como amor. Eu
permiti que meu primo fizesse comigo coisas que eu sabia que estavam mal e que eu odiava.
Chorava em meu interior, mas seguia com o ato e lhe permitia que fizesse qualquer coisa que
quisesse”.

Perguntei: “Com que frequência acontecia isso?”

“Muitas vezes. Cada vez que eu ia à sua casa, durante uns quatro anos”.
“E quanto a seus pais? Onde estavam?”

“Não sei onde estavam. Não tenho nem ideia. Só me sentia desamparado todo o tempo. Se não
fizesse o que meu primo queria, não o teria como amigo. É um manipulador nato. Desde que era
pequeno me manipulava para conseguir o que queria. Durante um longo tempo continuava com ele
externamente, mas em meu interior nunca o quis. Inclusive, quando pensava que estava
conseguindo amor, o que me fazia me produzia ódio”.

Albert continuou: “finalmente, meu primo me deixou de lado. Uma ou duas vezes entrei no mesmo
tipo de servidão sexual com outro garoto na escola, agradando-lhe para que fosse meu amigo. Não
sei por que deixei que os homens me manipulassem. Creio que porque pareciam aventureiros e
emocionantes e nos divertíamos depois”. Albert estava falando de uma espécie de aventura
masculina ou de diversão que se perde ao se assumir o papel de um “bom menino”.

“E o que sua mãe fez quando te pegou aquela vez com seu primo?”

“Me castigou.... me bateu com uma cinta e me trancou por muitas horas no banheiro. Creio que seja
por isso que sou claustrofóbico. Ela dizia que Deus havia destruído uma cidade inteira devido a
gente que fazia coisas como as que eu fizera”.

Albert continuou: “Como dizia, só tenho feito sexo algumas vezes desde esses incidentes com meu
primo. Cada vez, estava de acordo externamente com ele, mas por dentro o odiava. Pensava: ‘não
quero, isso é muito humilhante’. Mas logo no momento seguinte pensava: ‘Vamos, não é tão mal
assim. Só era humilhante quando era molestado, na infância’. Entretanto, me sentia exatamente
como um menino na hora do sexo”.

Expliquei a Albert a teoria do impulso reparador – que seu jogo de sexo, quando era criança, era
uma tentativa de explorar e assegurar sua própria masculinidade por meio do contato com outros
homens. Como a maioria dos homens que entram na terapia reparativa, Albert experimentou um
alívio e voltou a sentir segurança para compreender que sua conduta homossexual era uma tentativa
de reparar a alienação que sentia de sua própria masculinidade.

Albert me havia descrito uma infância muito isolada. Havia experimentado muito pouco contato
com outros meninos e nenhuma afirmação de sua masculinidade por parte de sua mãe e de seu pai.
Sentindo-se inadequado como homem, tentou encontrar atenção, afeto e aprovação masculinos (os
três “As”, como explicava) por meio do contato homossexual. A vergonha à qual sua mãe o expôs
só aprofundou seu sentido de alienação do masculino.

“Você precisa se sentir mais relaxado e com mais aceitação em relação a seu corpo”, disse a ele.

“Eu sei,” disse Albert. “Sinto que estou atrás do volante de um enorme caminhão, mas não tenho
habilitação para conduzir. Sinto-me como um menino pequeno no corpo de um homem”, então sua
voz infantil se alterou e subiu de volume, “é realmente duro para mim, muito duro. Sempre me senti
tão culpado pela condenação de Deus quando não podia me controlar”.

“Você sentia que seu corpo masculino nunca foi aceito por seus pais”.

“Sempre odiei fazer a barba”, dizia, “e odiava sentir-me excitado. De fato, ainda o faço”.

Como se estivesse sendo escutado e compreendido pela primeira vez em sua vida, Albert
expressava livremente suas frustrações profundas e enterradas durante tanto tempo. “Qualquer
função corporal parece um problema”. Suas palavras caiam como num repique. “Em momentos
simples, em que tenho de fazer alguma coisa, meu corpo se esquenta, sinto-me muito tenso. Sei que
vou acabar perdendo o controle e me masturbando. Logo me dá medo de que alguém perceba.
Sempre tento forçar-me a ter um orgasmo antes de sair de viagem. Tenho medo de que, ficando na
casa de um amigo ou acampando com alguém, tenha uma polução noturna. Me dá pânico imaginar
que alguém veja que minha cama está molhada”.

“Quando vou ao banheiro masculino, rezo para que esteja vazio. Então, vou até ao vaso e tento
urinar”

“Você tem vergonha de urinar?”, disse eu.

“Quê?”, exclamou ele, olhando-me surpreso.

“‘Vergonha de urinar’... Quando um homem tem problemas para urinar em um banheiro público. É
uma afirmação relacionada com ser homossexual”.

Ele manteve-se em silêncio e logo depois disse: “acho horrível ser uma pessoa sexuada que pode
sentir-se excitado e ter uma ereção. Pior ainda, penso em ter relações com homens”.

Logo perguntou tremendo: “por que mereço essa humilhação, Dr. Nicolosi? Que crime cometi?”

“Seu crime”, respondi, “foi ter nascido homem”.

“Sinto-me humilhado por meus sentimentos sexuais”, confessou. Logo depois, um lamento: “Estou
totalmente, totalmente, totalmente envergonhado deles”.

“A masturbação”, disse, “é a minha forma de castigar aos meus pais por não falarem comigo sobre
sexo. Minha forma de afrontar à minha mãe, ao meu pai e à minha igreja por não me permitirem ser
sexuado”.

“É uma rebelião contra o fato de ter sido tratado como um ser neutro”, acrescentei. “Sua
masturbação é, na verdade, uma autoafirmação”.

“Sim”, disse Albert, com orgulho em sua voz, “é basicamente como dizer ‘que se fodam’ para todos
os que me magoaram em minha vida. Faz quinze anos que estou nessa batalha. É uma forma de
dizer aos meus pais: ‘vocês não me quiseram homem, assim tive de encontrar uma forma de me
permitir sair!’”

“Sabemos que os homossexuais tendem a masturbar-se mai que os heterossexuais”, disse- lhe, “é
uma forma de fazer contato ritual como pênis... para conectar-se com a masculinidade perdida”.

Albert assentiu, considerando isso. “Tenho tanto medo aqui dentro”, confessou, “Tenho medo de ser
masculino, de ser um homem. É este o pensamento que me acusa: ‘Você realmente não pode ser
assim!’”

Seus ombros se levantaram em um profundo suspiro de desânimo. “Por que digo todas essas coisas
a mim mesmo?”

“É um guia que você segue”, disse.

“Por que a sexualidade é agradável para os outros, mas não é para mim?”, queixou-se, “por que não
posso crescer como os demais?”

Ele se respondeu de forma tão precisa como eu poderia ter feito, dizendo: “Ainda não posso
relacionar-me com minha mãe e meu pai como um adulto. Ainda me sinto como uma criança ao
lado deles”.

Já havia ouvido essas palavras muitas vezes de meus pacientes homossexuais. “Sei como ser um
bom menino com minha mãe e meu pai, mas não sei como ser um homem perto deles”. Conforme
passavam os meses, Albert progredia de forma lenta, mas significativa. Estava dando passos na
autoafirmação e não se torturava tanto com a culpa por seus sentimentos sexuais.

O caso de Albert é um dramático exemplo de um homem que não podia aceitar seus esforços
masculinos naturais. Além dele, muitos homossexuais descrevem uma base similar de serem
tratados como o puro e bom menino desprovido de sentimentos sexuais. Geralmente quem dá essa
falsa identidade ao menino é sua mãe. O pai – que seria a única fonte válida de identificação
masculina – permanece emocionalmente ausente, fracassando em intervir ou até mesmo em dar-se
conta da influência excessiva de sua esposa.

É bastante comum encontrar mães angustiadas na base do desenvolvimento de homens


homossexuais. Essas mães intrusas e que estão em tudo buscam o melhor para seus filhos, mas são
incapazes de reconhecer e responder às suas necessidades autênticas.

“Recordo que minha mãe me dizia coisas positivas, mas eu sabia que não eram verdadeiras. Uma
vez meus sentimentos foram feridos por outros garotos quando jogava kickball. Devia ter uns 8
anos e era muito descuidado. Lembro que minha mãe me disse: ‘’Oh, você não precisa desses
meninos. Você é muito melhor que eles, em todos os aspectos’.”

Riu-se com pesar. “Seu consolo me fez sentir bem, mas mesmo então suspeitei que estava
mentindo. Segui com ele por que me sentia bem”.

“E qual era a mentira?”

“Que de alguma maneira eu era melhor que os outros meninos, que não precisava jogar com eles”.

Ainda que a mãe de Albert fosse ansiosa e demasiadamente aplicada, paradoxalmente era também
descuidada. Albert me disse que, quando era menino, havia tido infecções crônicas de ouvido. Em
sua ansiedade para fazer as coisas corretamente, sua mãe lhe havia medicado exageradamente com
uma ministração contínua de antibióticos. Como consequência, ele desenvolveu uma alergia severa
à penicilina, que ainda hoje lhe causa problemas.

Albert refletia: “Percebo agora quanta dignidade meus pais tiraram de mim”, continuou com a voz
triste. “Só com o senhor me sinto livre para expor esse lado feio que tenho”. Calou-se e logo
acrescentou em um tom desconcertante: “É estranho. Recentemente tenho começado a me sentir
cada vez mais distante dos meus pais. Esse distanciamento é muito pequeno porque, apesar de tudo,
ainda os amo”.

“Não, não é pequeno”, assegurei. “Você está enfrentando inquietações importantes e que estavam
enterradas durante muito tempo. Finalmente está conseguindo olhar honestamente para seus pais e
para a forma como te afetaram. Você tem de voltar atrás para fazer isso”.

Suspirando, com aparência de frustração: “Gostaria de poder te ver todos os dias durante um mês
para poder me livrar do peso dessas lutas. Gostaria de ter um mês inteiro livre do meu trabalho para
terminar com essa merda”.

“Não pode ter pressa com o processo de autoaceitação,” disse-lhe. “Não é fácil mudar a forma como
nos vemos. Requer trabalho, baseado em um processo gradual de pequenos êxitos”.

Albert parecia não estar de acordo. “Bem, pelo menos tenho conseguido controlar a masturbação
compulsiva. A batalha não é tão grande como era”.

“Houve uma época em que estive mais de um ano sem me masturbar. Rezava, caminhava, fazia
qualquer coisa que podia para tirar da mente os impulsos do meu corpo. Senti que a experiência era
muito humilhante. Mas então comecei a perder o controle do meu corpo outra vez. Constantemente
tinha fantasias homossexuais. Pensava em sexo o tempo todo. Sexualizava qualquer palavra que
podia ser sexualizada. Por exemplo, cada vez que ouvia a palavra ‘vai’, pensava em orgasmo.
Sentia-me muito assustado. E foi aí que te procurei”.

Interrompi: “Mesmo que não a praticasse durante um ano, a masturbação ainda te controlava. Se
quiser conseguir controlar isso, você terá de relaxar e ser mais tolerante consigo mesmo”.

Ele resumiu sua confissão: “Quando me encontrava fora de controle, costumava falar coisas sujas.
Podia escrever as histórias pornô mais asquerosas que você pode imaginar”. Riu-se totalmente:
“Pornografia total”. Então acrescentou: “Era uma sensação de ódio. Uma reação de ira. Não era eu.
Eu era sempre o pio são Francisco”. Sorriu cinicamente, “o que cuidava das árvores e das flores”.

Albert padecia claramente de uma tendência obsessivo-compulsiva. Permitir expressar na terapia


esses angustiosos “segredos sujos”, especialmente a outro homem, serviu para dissipar sua
intensidade.

Dizia, deixando-se apoderar novamente pela histeria: “como posso mudar o estado de confusão em
que me encontro quando se supões que essa é a forma como devo ser? Um bom menino é o que
meus pais querem. Entretanto, meu corpo me leva a uma direção diferente. Isso parece uma
contradição”.

“Certamente você está vivendo essa contradição,” indiquei “Está tentando ser tanto o bom menino
como alguém que se masturba compulsivamente.” Prossegui: “e está tentando se excluir do seu
próprio gênero, como se fosse um esquizofrênico”.

Albert disse pensativamente: “Acho que minha conduta é uma resposta a todo o abuso que sofri
quando era criança. Só por ser um menino. Lembro-me de pensar: ‘Deus meu, pode ser que, se
fosse uma menina, meus pais me amassem’”.

“Por que iriam te amar mais se fosse menina?” Perguntei.

“Não sei”. Desconcertou a voz. “Mas minha mãe não podia ter controle sobre o fato de eu ser um
menino. Quanto a meu pai, na verdade, não me amaria mais, de qualquer forma. Tinha muito pouco
que fazer comigo. Quando ele resolvia ser um pai aplicado, fazia isso com David, seu filho do
primeiro casamento”.

Albert manteve-se em silêncio. Logo, trouxe à tona outra barreira de sua infância: “Minha mãe era
quem mandava em casa. Estava em cima de mim e de meu pai o tempo todo, vinte e quatro horas
por dia. Meu pai, como eu, estava totalmente esgotado por sua dominação. Duvido de que aquilo
que ele me dissesse produzisse algum efeito sobre mim”.
Sua voz se elevou outra vez ao nível da histeria enquanto dizia: “Por que não me lembro de coisas
que meu pai e eu fizemos juntos? Por que essas lembranças estão tão enterradas, tão distantes?” Ele
mesmo respondeu: “Porque qualquer recordação do meu pai é eclipsada por minha mãe. Tudo era
dominado por ela... Completamente em seu poder”.

Depois, quase um grito: “Por que acha que me sinto sem forças? Ainda estou debaixo de seu poder.
Ela me vigia todos os dias, está no comando de tudo”.

“Você tem toda a razão”, disse eu.

De alguma maneira conseguiu acalmar-se. Logo seguiu com uma voz mais normal: “Não é a minha
vida, é a sua vida que estou levando. Não é brincadeira. Todos os dias, surge alguma situação na
qual é baseado nas palavras da mamãe que eu decido o que tenho que fazer. Quando estou de pé na
cozinha comendo uma bolacha, sei que não deveria deixar as migalhas caírem no tapete de linóleo.
‘As migalhas atraem formigas, Albert’. Os cabelos que estão na pia do banheiro têm de ser limpos
com um lenço de papel. ‘Os bons meninos deixam o banheiro exatamente como o encontraram,
Albert’. Essas coisas da mamãe me vêm constantemente”.

Era por isso que Albert se identificava com as plantas que cuidava. Tratava suas plantas da mesma
forma que desejava ser tratado – gentil e amavelmente.

“Dou-me conta de que tenho de fazer uma escolha”, disse Albert. “Posso escolher ser muito
agradável e superficial enquanto estou com você aqui ou posso ser extremamente honesto e usar
esse tempo para minha recuperação.”

“Está certo,” disse-lhe. “A essência da terapia é recordar lentamente a ferida. Logo, recuperar
lentamente o verdadeiro eu do qual sua ferida fez com que se excluísse”.

“Desde que venho aqui”, disse ele, quase com ira, “Tenho me sentido mais como um menino
pequeno, mais fora de controle e emocional. Tenho chorado mais nas últimas semanas que nos
últimos cinco anos”.

Expliquei a ele que a terapia traz para fora os sentimentos enterrados, e que tudo estava se passando
como deveria.

“Ultimamente tenho estado em um ponto no qual deixo que as emoções me dominem... Graças a
você”, disse Albert repentinamente.

Não estava certo se aquilo fora um sarcasmo, mas decidi não perguntar. “Como você se sente
quando chora?”, perguntei.

“Envergonhado, é claro. Quando era um menino pequeno, fiz uma promessa de não chorar e que
sempre a cumpriria”. Sua voz soava com orgulho. “Mas este choro vem na verdade do profundo do
interior. Vem de uma ferida real... Uma ferida profunda, como se eu tivesse sido arrancado de algo
pelo qual ainda sinto um anseio profundo”.

“Você ainda pode voltar a esse algo pelo qual sente um anseio profundo”, disse-lhe.

“Como farei isso?”

“Por meio da introspecção, e depois por meio das novas relações”.


“Novas relações?”

“Sim, porque somente a compreensão intelectual não é capaz de nos transformar realmente”.

“E o que devo fazer?”, perguntou Albert de forma pensativa.

“As novas experiências é que nos transformam. Você ainda não está experimentando intimidade
não-sexual com um homem. Esse é o próximo desafio sobre o qual deve trabalhar”.

Albert sempre aparecia regularmente em seu horário. Nunca chegava um segundo atrasado, como se
considerasse precioso cada momento. Um dia me disse – no que estava se convertendo em um tom
mais firme, mais assertivo – “Comecei a realizar progressos maiores aqui. Grandes raios de
iluminação, choques de consciência. Posso ver que estive progredindo”.

Um dia anunciou algo do qual não havia me falado. Disse: “foi minha mãe que, na verdade, me
incentivou a buscar a terapia. Ela via que estava só e que não era feliz, por isso pensou que poderia
me ajudar a falar com alguém. Não ganho muito dinheiro no viveiro, por isso ela e meu pai me dão
dinheiro para poder vir”.

Estava surpreso. Ela não parecia uma mulher que quisesse que seu filho conhecesse mais acerca de
seu verdadeiro eu. Com certeza, ela não sabia os temas reais dos quais estávamos tratando.

“Isso é muito compreensível da parte de seus pais”, disse.

“Na verdade, da minha mãe”, corrigiu. “Meu pai só segue sua decisão”.

Aquilo me pareceu delicado. Como dizem em Hollywood: “não há coisa igual a um almoço grátis”.
Entretanto, minha preocupação era que Albert pudesse se sentir comprometido pela generosidade
deles. Perguntei: “como se sente quanto ao fato de seus pais pagarem sua terapia?”.

“Bem!”, disse enfaticamente. “Eles me meteram nesse saco, agora que me tirem!”

Isso tinha sentido, dadas as circunstâncias de Albert. Aceitando sua resposta pelo momento, fiz uma
nota para estar atento a qualquer intrusão dos pais.

“Recentemente tenho me visto olhando mais para os homens”, disse-me Albert.

“Mentalmente, vejo muitos homens, como em uma vitrine, o que só me faz sentir pior. Saí em uma
noite dessas e me senti atraído por um cara que vi, deve ter a minha idade – mas, ao mesmo tempo
em que sentia essa atração magnética por ele, sentia também uma necessidade de me afastar”.

“Creio que a razão pela qual você se encontra olhando para outros homens”, disse, “é que você
ainda não tem uma imagem masculina apropriada dentro de você, e assim busca essa imagem
masculina no exterior”.

Albert assentiu: “boa parte da atração se baseia na curiosidade, em querer saber como são os outros
rapazes!”, havia som de desespero em sua voz.

“Mas que parte de você se manifesta bruscamente nessas situações?”

“A parte que sente medo dos homens”. Ouvi a ambivalência do mesmo sexo de Albert, tão
característica da condição homossexual. Mesmo quando erotizava os homens, sentia-se incômodo
em sua presença.

Logo Albert parecia sentir necessidade de fugir de uma confrontação com sua ambivalência
dolorosa. Em vez disso, voltou a uma discussão sobre sua infância feliz. Decidi ir com ele.

“Gostaria de poder esquecer todos os conflitos de sexo e maturidade”, dizia. “Gostaria de voltar ao
amor que sentia tão livremente quando era um bebê e era feliz somente por existir.

Depois disso, as realidades da vida transformaram tudo em um pesadelo”.

“O que foi, exatamente, que fez com que uma existência tão feliz se tornasse tão amarga?”
Perguntei.

Seguindo outro curto silêncio de Albert: “Creio que quando perdi esse sentido profundo de
vinculação com minha mãe, começou o medo. Quando me emancipei de minha mãe, não havia
identidade adulta na qual me encaixasse. Tinha esse sentimento de estar suspenso, abandonado”.

“E, de alguma forma, estava. Em um período crítico do seu desenvolvimento – a fase de identidade
de gênero – você tinha que se individualizar de sua mãe e desenvolver uma identificação com seu
pai. Era seu pai que personificava as petições do mundo exterior. Como dizia Freud, o pai
personifica o Princípio da Realidade. Mas você nunca recebeu o apoio necessário dele e de qualquer
outra figura masculina”.

De repente, Albert mudou de tema, voltando a retratar o tema mais agradável de sua infância dos
sonhos. “Costumava desenhar muito. Era um bom artista. Todos os desenhos eram de coisas
femininas – rosas, pássaros de cores, bailarinas... Nenhum soldado ou carro, só imagens de beleza.
Nunca desenhava homens. Não tinha boa imagem dos homens na minha cabeça. Na verdade, não
estava seguro de como deveria parecer um homem.

Se tentava desenhar a Sagrada Família, o menino parecia normal – com uma cara de bebê genérica.
Mas passava a maior parte do tempo criando a Virgem Maria. As pregas e dobras de sua capa, seu
cabelo, seu nariz, seus lábios. Tentava criar, com empenho, a última e mais bonita Virgem. Quando
chegava são José, não tinha ideia. Simplesmente não podia desenhar seu rosto.

Então, quando tinha 11 ou 12 anos, lembro-me de tentar desenhar quadros pornográficos e me sentir
muito insatisfeito porque não podia desenhar um homem. Sentia raiva porque fazia homens que
pareciam femininos. Tentava desenhar um quadro pornográfico masculino, mas sempre terminava
parecendo a Virgem.”

Fingindo um tom pio, disse-lhe: “Certamente Deus se agradava mais da Virgem que da
pornografia”.

“Provavelmente.” Albert riu. “Mas sabe, talvez seja essa a razão pela qual alguns gays tornem- se
desenhistas de moda feminina... Ainda olham suas mães como a Virgem.” Acrescentou: “Minha
mãe sempre costumava me confundir para decidir onde começava ou terminava”.

“Até mesmo agora, quando falo com uma cliente no viveiro, conecto-me com ela... Sinto-me como
ela, igual a ela. É como se fossem duas mulheres conversando. E eu não quero isso. Lembro-me de
quando era adolescente e levei uma amiga à Dairy Queen. Por fora, parecíamos noivos, mas,
internamente, sentia que éramos iguais. Ugh! Odeio isso! Quando volto a pensar naquilo, fico cheio
de desgosto!”
Estava contente de ouvir Albert descrever seu desencanto, sabendo que sua individuação do
feminino estava agora no caminho certo.

“Sabe”, disse Albert, “Tem vezes que você quer ser por você mesmo. Por sua masculinidade”.

“Tenho tentado definir meu corpo, por isso coloquei alguns pesos na garagem, onde me exercito.
Quando estou suado, fico somente com roupa de baixo. Assim, quando minha mãe entra em casa,
ela percebe que eu estava malhando e diz: ‘Oh, que bom! Vamos nos exercitar juntos!’.

Mas eu não quero fazer exercício com ela! Ali estou, suado e só de samba-canção, mas nada disso
parece desconcertá-la...”

“Minha mãe e eu pertencemos ao mesmo clube de saúde e ela quer que eu continue indo com ela.
Ela cresceu em uma família que estava sempre junta,” disse Albert. “E essa é sua interpretação da
forma como as coisas deveriam ser: sempre juntas”.

“Talvez você mesmo devesse explicar isso a ela. Ela nunca foi um rapaz, não sabe como se sente”.

A queixa de Albert sobre seus pais era bastante típica dos homossexuais: quando era criança, nunca
conseguiu bastante de seu pai, mas tinha em excesso de sua mãe. Enquanto ressentia-se da ausência
do pai em sua vida, ressentia também a intrusão e interferência da mãe. O pai nunca teve autoridade
e a mãe esgotava o poder que tinha. Eu o exortei: “Explique a sua mãe que está tentando seguir seu
próprio caminho”.

Em um tom de desânimo, Albert disse: “O problema é que não sei como dizer”. Parecia
desconcertado. “Não creio que me entenda. Sempre terminamos discutindo”.

“Ela tira sua energia”, comentei.

“Exatamente. Ninguém tira minha energia como minha mãe”.

Repeti: “Ninguém pode tirar sua energia masculina como sua mãe”.

Albert exalou um forte suspiro, com tristeza em seu rosto, enquanto se permitia explorar seus
pensamentos mais ocultos.

Decidi conduzi-lo para uma ideia relacionada: “E essa é a razão pela qual você tem medo de ter
intimidade com mulheres”.

“É mesmo?” Disse com a voz de um menino surpreendido.

“Sim. Porque não confia nas mulheres. Tem amigas platônicas, mas quando começa a se sentir mais
íntimo de uma mulher, tem medo de perder o controle para ela. Tem medo de que ela tire seu poder
pessoal como faz sua mãe”.

Logo perguntei: “Você consegue falar com sua mãe e dizer-lhe como se sente quando está com
ela?”

“Ela não me entende”, disse de forma tranquila, mas firme, “se tento explicar a ela minha
necessidade de independência, ela se sente rejeitada e insultada”.

“Tem alguma coisa que você sente que está preparado para dizer a ela?”
“Sobre os déficits, as necessidades”.

“Bem,” assenti. “Essa é a essência do problema homossexual, de todas as formas. Fale com ela em
termos de querer desenvolver um sentido mais sólido de sua masculinidade”.

Albert seguiu falando: “Durante as últimas duas semanas tenho estado andando de bicicleta com
Jack, um garoto que conheci no clube de bicicletas que frequento. Fazemos dez milhas na estrada da
Costa antes de ir ao viveiro”.

“Muito bem. E você desfruta de sua companhia?”

“Sim. Levanto-me pela manhã, e não é como esse sentimento fraco de arrancar-se da cama. Gosto
de levantar cedo, justo quando começa a amanhecer e a brisa da costa ainda está fresca”.

“Jack e eu nos damos verdadeiramente bem, e em grande parte porque não me preocupo quanto ao
que pensa de mim. Mas ainda sou sempre um pouco tímido quando ando de bicicleta. Preocupa-me
que alguém possa estar me olhando e pense: ‘Oh, esse cara é marica’. Às vezes me dá certo medo
de esbarrar em uma pedra e cair de bunda no chão. Mas tão rápido quanto entro no calor, o
pensamento se desvanece. Digo a mim mesmo: ‘pense somente no que está fazendo’. E quando
deixo de olhar para mim mesmo e paro de pensar no que pareço, me encho desse sentimento de
poder”.

“Está fazendo um bom progresso. Tem um fogo em seu interior e o desafio agora é mantê-lo aceso.
Depois de conseguir uma boa chama acesa, começa ela começará a se extinguir se não puser outro
tronco sobre ele.”

“A chama é o seu momento de desenvolvimento e os troncos são novos desafios. Um tronco será o
desafio de falar com sua mãe. Ainda outro pode ser esses passeios a longa distância de bicicleta.
Mas outro tronco será manter essas amizades masculinas. Essas são as coisas que deixam o fogo
aceso”.

Poucos meses depois, Albert entrou em meu consultório e falou emocionado: “Na última vez que te
vi aconteceu algo absolutamente incrível”. Sua voz era muito mais forte agora. Inclusive sem toda
aquela emoção histérica, havia perdido esse timbre. Já não evitava encontrar meu olhar, dirigindo-se
a mim diretamente.

“Na última sessão me senti fraco e sozinho. Creio que sentia pena de mim mesmo. Mas você me
deixou inquieto. Você me desafiou e tenho que dizer que doeu. Assim, quatro noites depois, Steve,
do nosso grupo, me chamou e também me deixou inquieto”.

“Sério?”. Estava gratamente surpreendido de que Steve pudesse ter uma intervenção tão decisiva.

“É como se ele tivesse me iluminado. Aquela sensação que ocorre uma vez ou outra. Disse: ‘Você
realmente tem de sair dessa e lutar’. Disse-me para deixar de me queixar e crescer. Senti-me
insultado e disse: ‘o que você quer dizer? Não posso acreditar em você, Steve’. Mas ele continuou:
‘está fazendo um grande festival pena por Albert O’Connor. Não lembra desse livro de Van den
Aardweg? Deixe de levar isso tão a sério! Se quer sair dessa autocompaixão, pode exagerá-la por
um tempo, mas depois tem de rir dela’. O que Steve me disse doeu muito”.

Suspirou. “Depois disso, me senti bastante deprimido, como se tivesse sido traído. Havia recebido
uma maldição dupla. Primeiro você, depois ele. Pensei: ‘Que merda! ’. Mas logo comecei a
raciocinar: ‘Steve tinha razão. Os dois têm. Vocês estão dizendo a mesma coisa’”.
“E, desde então, quando sinto que vem a autocompaixão, procuro apagá-la a uma proporção quase
ridícula de propósito para depois rir de mim mesmo”.

Continuou: “Disse que tenho tido muito poucas tentações recentemente para entrar nessas
maratonas de masturbação compulsiva. Realmente estou começando a compreender as coisas
agora”.

“Estão acontecendo coisas”. Estava encantado com seu progresso. “É incrível, tão libertador!
Sinto-me vivo pela primeira vez na vida!”

Albert continuou, depois, falando de seu clube de bicicletas. Disse: “Senti-me um pouco fraco o
princípio ao lado daqueles ciclistas de longa distância, mas segui participando. Na semana passada
notei uma garota que encontrava em um desses clubes de ciclistas. Não é uma beleza extraordinária,
de forma alguma – tem espinhas no rosto. Mas havia algo em sua personalidade que me atraía. Não
era sexual, mas pela primeira vez não me senti como uma das garotas. Senti-me como eu mesmo, da
minha forma”.

Recordar seus sentimentos sobre a moça o levou a associações sobre seu corpo e continuou:
“Inclusive agora, sentado aqui, não sinto timidez por causa do meu corpo”.

“Por quê?” Perguntei.

“Neste momento sinto-me a vontade fazendo qualquer coisa com minhas mãos”. Agitou sua mão
direita no ar, depois perguntou: “O movimento da minha mão é um movimento amaneirado... Sabe
afeminado? De qualquer forma, não me incomoda, como quer que chame”.

“É só algo que se move – uma mão,” disse. Logo acrescentei: “Estão acontecendo muitas coisas
boas a você”.

Pela primeira vez na sessão, pareceu preocupado. Disse: “Mas você já me viu animado assim antes,
para logo depois me ver cair”.

“Sim,” disse. “Você caiu, sim, mas e daí? Você pode ter muitas quedas, mas isso não é importante.
O que é importante é aprender com suas quedar e reduzir seu tempo de recuperação”.

“O que você quer dizer com ‘tempo de recuperação’?”

Expliquei: “É o tempo entre a queda e sua volta ao ímpeto. Recusar-se a afundar na auto derrota é
essencial”.

“Quando estou nesse ímpeto, sinto como se tivesse sido libertado”. Parecia mais feliz. “Só de estar
aqui, sinto que sou meu verdadeiro eu”.

“Este é seu verdadeiro eu,” disse. “O eu que é espontâneo, igual, que fala francamente, diretamente
e em intimidade com outro homem. O eu que não precisa romantizar ou invejar aos demais
homens”.

Pensei: “Pouco a pouco, Albert está-se libertando”.

Na sessão seguinte, Albert pôs em questão um tema importante. Logo que sentou, me disse:
“Recordo que minha mãe sempre estava realmente tensa, nervosa, ansiosa – especialmente com
minha saúde. Na verdade, estava obcecada. Em parte porque quando ela era menina sua própria
saúde era bastante frágil”.

“Minha mãe tinha dores de cabeça muito fortes quando era criança. Creio que me transmitiu o
pânico que sentia por essas dores. Quando era pequeno, eu tinha muitas dores de estômago. Ela
entrava em pânico. Era o fim do mundo quando tinha essas dores de estômago. Sempre me servia
chá de gengibre e me deixava em casa, sem aula, durante uma semana”.

“Qualquer resfriado era desproporcionalmente exagerado com horror. Minha mãe nunca via as
doenças e as dores como naturais. Era como se nossa família tivesse cometido algum crime
espantoso e estivesse sendo castigada por isso por meio das doenças. Creio que por isso andar de
bicicleta era tão importante para mim. Quero apagar essa imagem de corpo frágil”.

“Quando experimentava o êxito era como caminhar em uma corda bamba. Sabia que podia cair a
qualquer minuto, por isso não desfrutava da situação. Minha mãe sempre me recordava que poderia
acabar me ferrando, por isso nunca me sentia bem, nem feliz, nem emocionado”.

A fala de Albert me lembrou o significado do conceito de poder intrínseco da Dra. Althea Horner,
que o define com o lema: “Sou”, “Posso” e “Consigo fazer”. O valor desse poder intrínseco é
transmitido pelos pais. O sentido de poder do menino está essencialmente unido à sua
masculinidade. É por meio de sua masculinidade que se descobre esse poder intrínseco. Assim, se
não se sente completamente masculino, sempre se sentirá, de alguma forma, sem poder.

Albert disse: “Não só estive levantando cedo para andar de bicicleta, como também tive, hoje, o
desejo de sair para jogar basquete. Nunca havia feito isso quando era criança. Depois de todos esses
anos, ainda queria ter a sensação de ter uma bola em minha mão e saber o que se sente ao metê-la
em uma cesta. Não me importava se parecia um amador”.

Comentei: “Sabemos que uma transformação genuína tem lugar quando descobrimos muitas
manifestações pequenas de mudança. Todas juntas representam que algo está mudando
verdadeiramente. Realmente há algo se passando em seu interior.”

“Ouço as pessoas dizerem que os homossexuais não devem tentar mudar”, disse Albert com
irritação em sua voz, “que um homossexual deve seguir seus sentimentos, quer goste deles ou não”.
Seu tom de voz se fez inflexível. “Mas quem são eles para dizerem que não se deve buscar
mudança? Nunca me senti bem vivendo como vivia. Pouco a pouco estou me convertendo em uma
pessoa diferente. Finalmente estou conseguindo ser eu mesmo”.

O dia em que Albert deixou a terapia foi quase três anos depois do dia em que entrou pela primeira
vez em uma consulta. Seu discurso era muito mais seguro. O ataque de histeria ocasional havia
desaparecido. Sorria com mais frequência e falava que um dia possuiria seu próprio viveiro.

Algumas mães, como a de Albert, chegam a exigir tanto que seus filhos estejam disponíveis para
elas que isso tem, como preço, a individuação masculina do menino. Estão tão presas em suas
próprias necessidades narcisistas que nunca veem as necessidades de seus filhos. Como disse
Robert Bly: “As mulheres podem fazer meninos, mas só os homens fazem homens”. Não havia
homem que fizesse a Albert porque seu pai não fora forte o bastante para interromper a relação
insana entre mãe e filho. Albert tivera que sobreviver emocionalmente com um pai que não sabia
como relacionar-se com ele. Para fazê-lo, havia desenvolvido uma exclusão auto protetora em
relação aos homens. Criado pelo psicanalista britânico John Bowlby, o termo exclusão defensiva foi
adaptado à homossexualidade pela psicóloga Elizabeth Moberly. Descreve a manobra auto protetora
infantil de um menino contra a ferida emocional.
A relação dolorosa de Albert com seu pai teve, como consequência, uma exclusão defensiva. O
trauma (que pode ser causado pelo abandono, pelo abuso ou pela hostilidade) produz medo, que é a
base da alienação. Quando estamos impressionados pelo medo, permanecemos alienados daquilo
que o produz. A exclusão defensiva de Albert foi transferida para sua relação com outros homens.
Distanciado emocionalmente dos homens e da masculinidade, os romantizava.

Representavam a parte de si mesmo que não havia desenvolvido.

Ainda que se apaixone por outros homens e tenha intimidade sexual com eles, o homossexual nunca
se permite identificar-se com a masculinidade. Admira-a, romantiza e até pode viver o papel
masculino de forma superficial, mas mantém uma resistência interna em reivindicar sua identidade
masculina plena. Essa resistência da exclusão defensiva emerge nas relações masculinas em forma
de crítica, de encontro de culpas e de promiscuidade. O homossexual pode amar a outros homens,
mas existe também a hostilidade e o medo deles. Assim, suas relações com os homens são
invariavelmente ambivalentes.

Somente em relações masculinas de longa duração, íntimas, de aceitação, honestas e não sexuais, o
homossexual pode começar a resolver a exclusão defensiva que produz a ambivalência do mesmo
sexo. Albert havia começado a solucionar essa exclusão através de relações com muitos homens: eu
mesmo, os homens do trabalho e os de seu grupo.

Cada um de nós, homem ou mulher, é conduzido pelo poder do amor romântico. É uma das formas
pelas quais a natureza assegura a perduração da espécie humana. As relações amorosas ganham seu
poder de nosso impulso inconsciente para chegar a ser um ser humano pleno. Nos heterossexuais,
essa fonte de impulso une ao homem e à mulher por meio do desejo mútuo. Mas nos homossexuais
o impulso é uma tentativa de satisfazer um déficit na totalidade do gênero original. Assim, dois
homens nunca podem compreender-se mutuamente de maneira plena e aberta. Não só existe uma
inadaptação anatômica natural como também uma insuficiência psicológica inerente. Os dois
amantes chegam à relação com o mesmo déficit, buscando simbolicamente completar seu gênero
original.

Por volta de um ano depois, Albert me chamou por telefone para uma atualização de pontos, como a
chamamos. Desde o fim de sua terapia, havia se unido a um grupo de apoio a ex-gays que, disse-
me, havia-lhe sido de grande ajuda. Com esse grupo, havia continuado explorando as relações
passadas com seus pais para compreender o impacto que permanecia em sua vida.

Albert me falou de uma amiga, Helene, que havia conhecido no viveiro. “Ela ama as violetas
africanas”, disse-me com entusiasmo. Haviam saído continuamente durante meses.

Antes que pudesse perguntar, Albert disse: “Sim, ela sabe de tudo”. Descreveu Helene como “a
melhor amiga que já tive em minha vida. Posso dizer a ela tudo o que se passa em minha mente ela
me apoia”. Ele disse que sua relação era “física, mas ainda não sexual”.

A descrição de Albert de seus sentimentos por Helene não era incomum para um homem com uma
base homossexual. É comum para esses homens proceder lentamente em direção à intimidade
sexual com uma mulher. Seus relacionamentos com frequência se desenvolvem em três artes:
amizade, depois afeto e, posteriormente, a expressão desse afeto por meio da sexualidade.

Isso está em contraste com o homem heterossexual, que primeiro se sente atraído sexualmente pela
mulher para depois conhecê-la como amiga.

Muitos homens com base homossexual esperam encontrar-se atraídos pelas mulheres da mesma
forma que os heterossexuais. Entretanto, as formas de aproximar-se das mulheres podem ser
diferentes para cada um. Os homens ex-gays necessitam estar seguros disso por sua história.

Podem tomar um caminho diferente – amizade primeiro, sexo depois – para o mesmo objetivo.
Sobre suas atrações homossexuais, Albert disse: “É muito diferente do que foi no passado.

Agora, graças a Helene, meu objetivo é reivindicar completamente a heterossexualidade que nunca
desenvolvi. E me sinto responsável em nossa relação... Já não sou só eu, somos Helene e eu. E,
portanto, quando aparecem essas velhas atrações, digo: ‘o que se passa aqui? ’, logo posso perceber
que esses sentimentos por outros homens têm a ver com sentimentos por mim mesmo, como medo,
estresse etc.”

Continuando, Albert me disse: “Compreendo essas atrações como algo que não recebi quando era
pequeno – algo que merecia. E estou conseguindo cada vez mais o que necessito com meu grupo de
apoio e abrindo-me aos demais homens, algo maravilhoso para mim”.

Perguntei então: “Isso significa que suas atrações não desapareceram por completo?”

Em um tom inusitadamente decisivo, respondeu Albert: “Creio que sempre podem voltar, agora ou
depois, dependendo da profundidade da carência. Vejo meu crescimento como um processo
contínuo. Conseguir amor e apoio de Helene e dos homens de meu grupo de apoio faz toda a
diferença”.

Enquanto falava, Albert parecia compreender, por fim, o conceito de falso eu – a estrutura de
identidade que jaz por trás da etiqueta do eu gay. “Sigo compreendendo minha educação e seus
efeitos sobre mim no presente. As mensagens que recebia quando era pequeno eram: ‘você é fraco,
não é macho, não é nada’. Na adolescência mudou para ‘deve ser gay’. Agora estou buscando
refutar essa falsa identidade que os outros tentaram me impor – uma identidade que me fizeram crer
que era minha. Não. Não sou gay. Agora estou determinado a ser o homem que quero ser, e não a
apaixonar-me por ele”.
CAPÍTULO 2

TOM, UM HOMEM CASADO


Thomas James entrou em meu consultório de Encino – um homem surpreendentemente atraente,
cerca de 1,80m de altura. Seu rosto era liso, bronzeado e limpo. Seus olhos eram de um azul intenso
que combinavam com a cor pastel de sua pólo. Usava calças chino grossas e mocassins marrons.

Ofereci a mão e sorri. Tom devolveu a saudação com um rápido e forçado aperto de mãos. Logo,
deixou cair seu corpo magro na cadeira estofada que lhe indiquei.

Enquanto se sentava em seu lugar, seus olhos percorreram a sala como se estivesse avaliando.
Depois, estando satisfeita sua curiosidade, inclinou-se para frente e começou a falar:

“Primeiro, Dr. Nicolosi, deixe-me apresentar os fatos. Tenho 40 anos. Fui casado por 15 e tenho
dois filhos: um menino de 10 anos e uma menina de 7. Sou dono do West Valley Sporting Goods e,
para dizer sem rodeios, tenho me dado muito bem nestes dez anos em que tenho esse negócio”
.
Acendeu um cigarro, tragou-o impacientemente e o depositou no cinzeiro.

“Minha esposa, Cynthia, e eu nos separamos há poucos meses. Eu tive uma aventura com um
garoto jovem, Andy, que trabalhava para mim na loja. Tem 24 anos”. Ele riu. “Eu poderia ser seu
pai”.

“Quando Cynthia ficou sabendo, ficou furiosa. Disse: ‘quero que pegue suas coisas e vá embora
dessa casa hoje mesmo’”.

“Quanto tempo faz isso?” Perguntei.

“Seis meses. Saí de casa deixando minha esposa e meus dois filhos para viver essa terrível vida
solitária”.

Houve um silêncio. Depois, ele disse: “Doutor, realmente não gosto da minha esposa. É uma boa
mãe para meus filhos, mas muito negativa comigo e com tudo o que me diz respeito. Somos muito
diferentes... Sou ambicioso e gosto de sair, enquanto ela está sempre ocupada com a casa e com as
crianças. E controla tudo em casa. Sinto-me como um anão de enfeite de jardim dentro de casa”.

Assenti: “Bom, diga-me, como ela ficou sabendo de sua relação com Andy?”

“Foi em um sábado à noite. Senti que tinha que sair de casa. Não havia descansado – como me
acontece com frequência – de forma que chamei Andy e combinamos de nos encontrar em um bar
gay que costumávamos frequentar”.

“Em meu caminho para a porta, Cynthia me deteve e quis saber aonde eu ia. Pela primeira vez, não
sei o porquê, soltei impulsivamente toda a história. Disse-lhe que era gay e que iria ver meu
amante”.

“Ela ficou pasma. Disse: ‘em todos esses anos que vivemos juntos, por que nunca me contou?’. A
princípio não sabia o que dizer. Depois, confessei: acho que é porque pensava que poderia viver
ambas as formas de vida”.

“Disse, então, que Andy era meu amante. O rapaz era um amigo da família. Como sua família vive
fora da cidade, havia estado conosco nas últimas festas de Ação de Graças e Natal”.

“Quando ouviu que Andy era meu amante, Cynthia ficou realmente furiosa. Disse: ‘quer dizer que
andava fazendo sexo com esse garoto pelas minhas costas enquanto o recebia em minha casa?’”

Tom fez uma pausa durante um tempo, pegou seu cigarro e se tombou no sofá. Olhando ao redor da
sala, soprando sobre seu cigarro e exalando profundamente, parecia a caminho de um complacente
momento de tranquilidade.

Depois, chegou ao núcleo do que o estava inquietando: “Na verdade, pensava que seria mais feliz
fora de casa. Nenhuma exigência de nada... só responder por mim mesmo. Mas desde que deixei
minha família tenho me sentido sem valor, vazio”.

Moveu a cabeça com tristeza. “Fazer sexo com um homem é uma situação solitária. As relações
entre homens não duram, e em parte se deve à desonestidade dessas relações. Há muito engano.
Esse é o meu maior medo de ser gay. Terminar sozinho, não ter ninguém comigo em casa”.

Suas seguintes palavras foram súbitas e mordazes, como se fossem cheias de repressão: “Não sei
por que estou aqui, Dr. Nicolosi. Tudo o que sei é que não gosto do que fiz com minha vida.

Enganei minha esposa, enganei minha mãe. Os últimos três homens que vieram se foram. Até
mesmo Andy me deixou e agora estou completamente sozinho. Perdi meus filhos... Agora, nem
sequer me sinto bem indo vê-los. Não tenho um verdadeiro lar. Quando vou para casa ver meus
filhos, me pergunto: ‘será que minha esposa falou para eles de mim, de minha homossexualidade?’.
Sinto-me terrivelmente deprimido e não sei para onde está me conduzindo essa nova vida”.

Mais silêncio. Depois, encolhendo os ombros amplamente, disse: “Tenho vivido uma mentira
durante tanto tempo que não sei se posso ser restaurado. Pode ser que eu sequer queira ser curado.
Um passo para trás e outro para frente, um para trás e outro para frente. Às vezes penso que não
existe uma resposta”.

“Então deve ter ouvido que ajudo homossexuais e transformarem sua sexualidade”.

Assentiu. “Ouvi que seu trabalho está muito distante do politicamente correto. Que há muitos
terapeutas gays que não gostam de você pelo que faz. Mas eu gosto do que ouvi falar de você e esse
é o motivo pelo qual estou aqui”.

“Ótimo”, estava feliz por ele ter compreendido meu enfoque desde o princípio. “Porque se você
quer ajuda para divorciar-se de sua esposa para ter uma vida com seu parceiro gay, não me dedico a
isso. Por outro lado, se quer compreender por que é homossexual e o que pode fazer para mudá-lo,
podemos começar agora mesmo”.

Tom olhou-me com apreço e riu. “Gosto do seu enfoque. Não perde tempo, não é?”. Tragou
profundamente o cigarro e o pôs no cinzeiro. “Por onde começo?”
“Diga o que preciso saber para te ajudar”.

Quando, na semana seguinte, Tom entrou no consultório, parecia sério e preocupado. Fazendo
apenas uma pausa para me cumprimentar, continuou com o relato de sua história.

Enquanto me falava de si mesmo, se fez aparente que Tom era, de alguma forma, diferente da
maioria dos homossexuais que me procuravam. Como a maioria dos clientes, Tom descreveu uma
queixa enorme contra seu pai. Como eles, tinha um sentimento interno de inadequação como
homem. Por outro lado, Tom não mostrava evidência externa de déficit de inadequação de gênero.

Não tinha problemas de asserção com os demais homens e tratava energicamente aos demais ao
dirigir o negócio. Era geralmente enérgico ao perseguir o que queria. Parecia divertido e confidente.
Entretanto, debaixo disso, tinha a fragilidade emocional típica de muitos clientes homossexuais.
Tom, além disso, não dirigia suas relações pessoais da forma como dirigia suas relações de
negócios. Com as relações de amor, tinha a tendência de ser passivo, como fez com Cynthia, com
Andy e com seus filhos. Essa obediência era parte de um modelo de relação que começou em tenra
infância.

Tom me falou de seus problemas nas relações com os homens: “Já houve alguns homens
magníficos que tentaram aproximar-se de mim e serem meus amigos, mas uma vez que se
aproximaram, eu dizia: ‘Fora!’. Gosto mais de quando posso sustentá-los em meus braços, quando
são mais jovens ou menos poderosos e posso controlá-los”. Com uma risada irônica: “Talvez seja
por isso que me sinta tão livre no trabalho: ali sou o chefe”.

“Mas não sei,” continuou “Da mesma forma que necessito desse sentimento de ter o controle, há
vezes em que pareço perder o controle tão rápido que deixo o sexo dominar as coisas.”

“Você sabe,” acrescentou. “Uma vez que se sexualiza os sentimentos por um homem, não há como
ser seu amigo. É uma vida de ame-os ou deixe-os”. Sua voz ficou séria. “Acho que a terapia é a
única relação íntima que terei com um homem sem sexualizar a relação”.

“Essa é uma introspecção excelente,” disse eu. “Com efeito, essa é a essência da terapia reparativa –
aprender a estabelecer relações íntimas e não sexuais com outros homens. Porque, como a maioria
dos homossexuais, você tem muito mais que um simples problema sexual. Você necessita de algo
dos outros homens. Quais são essas necessidades básicas que você busca suprir em uma relação
com um homem?”

Pensou durante um minuto e logo respondeu abruptamente: “Preciso de emoção”. Sua voz era
sincera, querendo que eu compreendesse a intensidade de sua necessidade. “Consigo um sentimento
especial de excitação com essa atenção masculina. Tem algo que se aviva dentro de mim quando
faço sexo com um homem”. Buscando palavras, continuou: “Há uma eletricidade, um poder que
essa carga de masculinidade que me dá”.

Pensava que era hora de explicar a Tom como a conduta homossexual é evidência do impulso
reparador para satisfazer três necessidades emocionais, necessidades nunca satisfeitas na relação
com o pai: afeto, atenção e aprovação.

Como a maioria dos homens extrovertidos, Tom reclamava a atenção na maioria das vezes.
“Quando era menino, nunca tive amigos homens, por razões que bem podem ser circunstanciais. Os
meninos da minha idade pareciam distanciar-se e eu sempre terminava sozinho com minhas irmãs.
De alguma forma sempre me senti enganado pelos amigos homens”.
Incentivei-o para que me contasse mais de sua infância.

“Muito da minha infância é um vapor. Sequer lembro muito bem da relação dos meus pais comigo
ou de muito do que se passou em meus primeiros anos. A maior parte é como um vazio”.

“Pode recordar de alguma coisa?” Perguntei.

Fez uma pausa e logo disse bruscamente: “Meu pai me prometeu que me daria um coelho uma vez,
mas nunca me deu. Minha irmã prometeu que me levaria a uma festa de carnaval uma vez, mas logo
se esqueceu. Nunca senti muita alegria enquanto crescia”.

“O que mais?”

Pensou um momento e logo recordou: “Quando tinha 10 anos, me senti realmente entusiasmado
quando um garoto mais velho que morava ao lado da minha casa me pediu para que fosse com ele
jogar beisebol. Mais tarde, implicou-me em jogos e práticas sexuais”.

“Isso é interessante.” Comentei.

“O que é interessante?”

“Que as únicas recordações que você trouxe à luz são de enganos”.

Tom riu amargamente. “Deve ser meu estado de ânimo, devido à minha ruptura com Andy”.

Ele tentou minimizar a importância da minha interpretação e eu lhe disse que não concordava que
somente o estado de ânimo estivesse por trás da coleção particular de recordações apresentada.

Com efeito, o desencanto e a traição na infância é um tema repetido na vida de meus clientes. Na
idade adulta, permanece o medo de que se sintam vulneráveis.

Perguntei: “Você sentiu, enquanto crescia, que de alguma forma tinha que comprometer sua
identidade? Sua mãe ou seu pai te expressaram de alguma forma que, para receber seu amor e
atenção, você tinha de ser diferente do que era?”

Uma expressão de questionamento cruzou seus penetrantes olhos azuis: “Na verdade, não posso
responder isso. Não me lembro de sua relação comigo nem do que se passou em minha infância. A
maioria está em branco”.

Não me surpreendi. As crianças geralmente têm vagas recordações da infância devido ao fato de
suas identidades verdadeiras terem sido enterradas há muito tempo em favor das falsas que
aprenderam a adotar. Eu sabia que, quando Tom começasse a confiar mais em mim, as recordações
fluiriam. Mas estava claro que, por hora, simplesmente necessitava continuar falando, de forma que
decidi não seguir nesse tema em particular. Mudando de tema, perguntei: “Você tem estado muito
exposto ao mundo gay?”

“Bem pouco,” disse ele. “Experimentei tantas facetas dele quanto pude – os bares da moda, as
viagens de fim de semana à Rua Castro de San Francisco. Cheguei a passar uma semana em um
cruzeiro gay uma vez – disse a Cynthia que tinha de viajar a negócios. Tinha curiosidade. Queria
provar de tudo”.

“E o que você viu? Como se sentiu?”


“Bem, pelas minhas experiências, percebi que há muita infelicidade. No mundo heterossexual, há
mais do que parece para manter a gente com fé. O mundo gay tem muitas oportunidades sociais e
sexuais. E os gays não têm o apoio social do matrimônio”.

Perguntei: “Você vê algum problema real nas relações entre homens? Ou acha é um estigma social
que faz com que as relações monogâmicas gays sejam tão difíceis de se sustentar?”

Pressionei Tom para que fizesse essa distinção. Um homem que crê que a infelicidade das relações
homossexuais deve-se somente ao estigma social não será candidato à terapia reparativa. Deve ser
dirigido por uma insatisfação com a vida gay.

“Há algo realmente difícil nas relações gays”, disse Tom, concedendo, “Provavelmente é mais que o
juízo da sociedade”. Depois admitiu: “É o fato de estarem dois homens juntos”.

Tom começou a compartilhar algumas ideias que somente um homem que havia levado uma vida
dupla poderia dizer: “Os homens têm uma tendência a entregar-se menos, a não se dar tão
voluntária e espontaneamente como as mulheres. As mulheres parecem bastante seguras em
colocar-se em segundo lugar. Com frequência, veem em seus maridos uma continuação de si
mesmas. Parecem menos cheias de seus egos”.

Continuou: “Os homens têm uma tendência a ter medo da intimidade”.

“Você crê que a intimidade entre dois homens pode ser tão profunda quanto a que há entre um
homem e uma mulher?” Perguntei.

Sua resposta foi direta: “Não creio. Porque a mulher traz algo que complementa a relação.
Equilibra-se com as qualidades que do homem”.

Disse a ele que estava em boas condições de saber devido ao fato de ter experimentado as duas
relações. Então perguntei: “Você pode me descrever em que se diferencia o sexo entre dois homens
do sexo entre um homem e uma mulher?”

“A experiência sexual com os homens é mais...” Buscava a palavra. “Mais sexual. Parece estranho
dizer isso, mas o sexo com as mulheres é mais doméstico, mais inibido. Há uma excitação animal
mais crua com os homens enquanto que com uma mulher é mais emocional, uma experiência mais
global”.

Continuou: “Há outra grande diferença. Muitas vezes, senão na maioria das experiências gays, o
sexo vem antes de tudo. Dois homens juntos tendem a querer sexo imediatamente”.

“E depois, o que sucede?” Perguntei.

“Vendo por minha experiência, o aspecto sexual da relação geralmente não se mantém. Na maioria
dos casos, a relação fracassa rapidamente”.

“Isso parece apoiar a investigação sobre as relações gays,” respondi. Depois perguntei: “Até que
ponto você esteve implicado sexualmente com homens?”

“O sexo com homens dominava bastante meus pensamentos quando era mais jovem. Começou
quando meu irmão mais velho fez sexo comigo quando tinha 8 anos. Então veio o garoto da casa ao
lado, era constantemente, por volta de um ano. Depois disso, houve dois garotos no colégio e mais
dois na universidade. Então me apaixonei por Cynthia, e fui fiel a ela durante cinco nos, até que
nasceu nossa filha. Foi um pouco depois que Andy entrou em minha vida”.

É significativo que Tom permanecesse fiel à sua esposa até o nascimento de sua primeira filha. É
um padrão comum que a conduta homossexual de um marido saia à superfície como problema
quando a esposa fica grávida de seu primeiro filho. Isso tem a ver com a necessidade de fugir das
responsabilidades e, neste exemplo, da responsabilidade iminente da paternidade. O homem que
luta com impulsos sexuais se sente sobrecarregado pelas exigências de seu papel de marido e pai.
Esses sentimentos parecem ser parte de uma tendência mais geral de evitar a responsabilidade
relacional, que é um problema encontrado frequentemente entre os homens que lutam contra a
homossexualidade.

O que Tom disse depois confirmava minha opinião: “No transcurso de minha relação com Andy,
também tive aventuras com outros homens. Às vezes, quando Andy e eu não estávamos bem, a
sexualidade se convertia em uma obsessão”.

“Como podia fazer sexo com homens estranhos enquanto mantinha uma relação com Andy?” Ele
encolheu os ombros. “Não sei”, disse com tristeza, “da mesma forma que não sei por que fazia sexo
com Andy enquanto estava casado com Cynthia”.

“Mas já sabe,” reconsiderou. “Apesar de tudo, ainda confio em Cynthia. Depois que me expulsou
de casa, Andy e eu dividimos um apartamento. Depois Andy se foi, e eu não podia controlar minhas
emoções, minhas mudanças de humor. Estava tão deprimido que chamei Cynthia para chorar em
seu ombro”.

“Só um minuto,” interrompi. “Deixe-me ver se entendi: você esperava que Cynthia te consolasse
quando Andy te deixou?”

Assentiu como um menino pequeno.

“Isso não seria um pouco... surrealista?” Perguntei. “Estava tendo uma aventura com um rapaz do
trabalho – um amigo da família – pelas costas de sua mulher. Ele te deixa e depois espera que ela te
console?”

“Não sabia o que fazer, a quem acudir”, disse. “Acho que estava muito atormentado, em crise”.
Pensou por um momento. “Agora que você diz, não posso acreditar que pude fazer tanto mal a ela.
Porque a amo. Há uma razão pela qual me casei com ela. Fomos bons amigos durante dezoito
anos”.

O narcisismo de Tom me era óbvio, mas havia uma possibilidade mais remota. “Você crê que sua
insensibilidade margeava a hostilidade?”

Tom me olhou desconcertado. Ficou calado durante um longo momento e depois disse: “Quando
penso, acho que é bastante óbvio”.

“Por que você acha que a fez mal – além de sua absorção em si mesmo e em sua própria angústia?”

“Bem, como você sabe, simplesmente não posso ser eu mesmo com Cynthia. Quando pus os pés em
sua casa, tornei-me um Sr. Nada. É sua casa, seu lar. Portanto, sim, pode ser que a tenha feito sofrer
por meio de minha relação com Andy”.

Na resposta de Tom percebi uma queixa comum de muitos homossexuais casados: sentimentos da
perda do controle de suas esposas, com um inevitável ressentimento contra elas.

Ele ficou tranquilo de novo e permaneceu em silêncio. Depois disse, em um tom orgulhoso: “Eu a
fiz bastante feliz até que conheci Andy. Quero dizer, até que me virou de ponta-cabeça. Tirou o
melhor de mim – fez com que o velho se parecesse com um tonto”.

Podia ver que Tom havia sido propulsado à terapia por essa profunda dor. Sua vida dupla já não
funcionava. Foi esse trauma que o levou a refletir sobre a vida que andava levando.

Quis voltar ao que Tom estava dizendo anteriormente: “Fale-me de como se sentia em casa com
Cynthia”.

“Simplesmente nunca me senti apreciado por ela”, disse. “Eu sempre sentia que estava ali a
descanso. Como quem tinha de sair. Fazer alguma loucura. Encontrar algo excitante”.

“Por que,” continuou. “Em toda a minha vida me senti tão dirigido? Tão cansado e ansioso? Nunca
estou satisfeito com nada por muito tempo”.

Isso é algo que escuto com frequência dos homossexuais. Sentem que estão fora do controle, que
suas necessidades não são reconhecidas pelos demais e se encontram aprisionados por trás de uma
fachada queixosa e cooperadora. Sua forma de conseguir alívio desse falso eu do qual se queixa é
tendo relações sexuais. O aborrecimento, a ansiedade e a depressão são os estados de ânimo
identificados com mais frequência como incitadores da conduta homossexual. Quando termina a
aventura, voltam ao que o psiquiatra Harry Gershman chama de “padrões petrificadores da
existência”.

Os apologistas defendem que as insatisfações desses homens surgem do estilo de vida do


matrimônio não natural ao qual se forçam a adaptar. Mas eu estou convencido de que os problemas
se devem a algo muito mais profundo que a forçada conformidade social. Os homossexuais que
estão casados não são os únicos atribulados por essa montanha russa de sentimentos. Tenho
observado esse mesmo modelo de flutuação – insatisfação desamparada alternada com euforia
homoerótica – também na vida dos homossexuais dentro de relações gays.

O estado de ânimo de Tom mudou subitamente e sua voz se tornou aguda: “Eu vivi uma mentira
durante tanto tempo. Não sei se posso mudar. Tudo parece um modelo sem esperança. Às vezes
penso em me matar, quando chego ao fundo do ciclo”.

Depois disso, permaneceu calado e, então, encolhendo os ombros, disse: “Pode ser que Deus tenha
me feito dessa forma. Se sou gay, Deus me fez gay, mas, Deus Santo, por que tinha que dar uma boa
esposa e filhos?”

Aqui ouvi o fluir de um verdadeiro desespero misturado com super dramatização. Decidi não
comentar esse último para não ser mal interpretado como antipático como anteriormente. Sabia que
a frase “nasci gay” era uma taquigrafia de “não quero olhar para minhas experiências da primeira
infância que causaram minha tendência homossexual”.

“Não há um gene gay”, disse eu. “Isso é um assunto de identidade”.

Um dia, poucos meses depois, Tom entrou dando saltos no consultório e se largou pesadamente na
poltrona. Tinha um estado de ânimo falante e parecia estar contente por estar comigo.

“Há poucos anos fiz terapia com um psicólogo gay. Estava lutando com minha homossexualidade,
minha autoimagem e meu casamento. Cynthia e eu não íamos muito bem.

Havia saído de casa várias vezes. Queria deixá-la. Estava aborrecido. A única coisa que me
mantinha ali era o fato de amar aos meus filhos. Estava tendo aventuras escandalosas com Andy e
outros homens e estava ficando louco.

Ainda que o psicólogo não tenha me conduzido ativamente ao mundo gay, na verdade, tampouco
me disse nada contra. Ficava calado e comentava muito pouco”. Tom refletiu um sorriso rápido:
“Não como você”.

“Honestamente, teria gostado que ele tivesse me orientado um pouco melhor. Dizer algo do tipo:
‘ei, vamos pôr sua vida em ordem, pôr as mãos na obra para que deixe esses loucos casos
amorosos’. Creio que pensava que eu poderia fazer isso sozinho. Não fiz”.

“Como terminou sua terapia?” Perguntei.

“Terminou abruptamente no sexto aniversário de minha filha, durante uma de minhas separações de
Cynthia. Estava triste e frustrado por perder minha família porque meu terapeuta disse: ‘você não
está perdendo sua família. Se escolher ficar com seu amante, ainda poderá ver seus filhos’. Fiquei
pensando: ‘mas não estarei ali às três da manhã quando as crianças acordarem chorando chamando
pelo pai’”.

“Você estava perdendo sua família”, coincidi.

“Falam de ‘tempo de qualidade’” prosseguiu. “Entretanto, eu digo: ‘também existe um tempo de


quantidade’. No aniversário de minha filha, finalmente voltei a esse estado de desânimo e disse a
ele: ‘provavelmente você não sabe pelo que estou passando. Sou um homem casado, tenho um caso
com outro homem e minha filha faz seis anos hoje. Sabe o que isso significa realmente? Pode
compreender os sentimentos que estão no meu interior?’. Disse a ele que deixaria de ser gay se era
o preço que tinha de pagar”.

“Sentia que ele não podia se relacionar com você?”

“Sim, creio que me frustrei. Não podia me compreender”.

Nesse momento, Tom se incorporou, olhou-me diretamente e disse: “Vou ter de encontrar a melhor
forma de trabalhar dentro da situação. Provavelmente sempre terei tendências homossexuais, você
me disse. Mas também sou consciente de que existe uma opção, um ato de vontade implicado.
Ainda gostaria de fazer sexo com homens, mas o custo simplesmente é alto demais. Meu casamento
e meus filhos são mais importantes”.

No final, Tom estava comprometendo-se seriamente em superar sua atração pelos homens. Sabia
que era uma decisão que o Movimento dos Direitos Gay reprovaria. Diriam que era desonestidade
com seu verdadeiro eu, hipocrisia – esse tipo de retórica. Eu, entretanto, sentia grande respeito por
Tom James. Havia escolhido o caminho difícil, mas creio que o correto.

Tom vinha regularmente duas vezes por semana. Lutando contra o tráfego da rodovia de Los
Angeles por toda a tarde, de alguma forma conseguia aparecer com pontualidade a suas sessões.

Costumava chegar com impaciência para falar, mas um dia se sentou desconsolado e colapsado em
sua poltrona.
“Tenho que fazer alguma coisa com minha vida. Ainda não tenho um lar real e estou ficando em um
hotel qualquer. Estou sozinho e deprimido”.

Evidentemente, Tom tinha que tomar uma decisão clara. Perguntei: “Alguma vez, você teve algum
amigo íntimo homem?”

“Acho que sim”, disse. Mas enquanto Tom contava de novo seus amigos, ficava claro que tinha
muitos conhecidos, mas não verdadeiros amigos. Ainda que gostasse de sair, fosse amistoso e
extrovertido, na verdade, ninguém o conhecia. Tendia a ocultar-se atrás de uma fachada gregária.

Disse eu: “Você nunca teve uma amizade cômoda e de confiança com um homem com quem
pudesse ser você mesmo. Mais ainda, o elemento sexual sempre produziu um curto-circuito com as
amizades ao ter contatos rápidos e impessoais”.

“Realmente acreditava que Andy era meu melhor amigo”, continuou. “Mas, olhando para trás, está
claro que era só uma ilusão. Tivemos uma relação desequilibrada – eu era seu chefe e muito mais
velho... Poderia ser seu pai. Quanto mais penso nisso, mais me dou conta de que ele utilizava isso
como vantagem” Tom se manteve em silêncio durante um momento. Depois, falou com um suspiro:
“acho que ambos nos usamos mutuamente”.

“E sabe o que mais, Joe? Estive pensando. Estive usando minha homossexualidade como desculpa,
como escapatória”.

“O que quer dizer?” Perguntei.

“Quando não utilizo a etiqueta gay, tenho que afrontar a vida, afrontar a mim mesmo. Estive
utilizando meu problema como uma forma de não crescer”.

Esperei que seguisse: “Não tenho que cumprir minhas responsabilidades! Não tenho que pensar em
minha família ou nos demais! Sou gay!”. Seu tom era de auto ridicularização.

Não é incomum que os homens descubram, ao longo do tratamento, que encontram uma sensação
de segurança ou de caminhada para trás justificável ante os desafios das responsabilidades adultas
quando reivindicam a etiqueta “gay” para si mesmos. Para alguns homens, essa identidade serve
como defesa contra as ansiedades da intimidade homem-mulher e outros desafios adultos. Tom
também utilizava a etiqueta “gay” para libertar-se de um sentido pesado de responsabilidades.

Disse Tom: “Sempre me pus esse título enfeitado de força e bravura. Mas agora me dou conta de
que nunca me senti verdadeiramente bravo ou de que afrontei a verdade da qual estava fugindo”.

Não disse nada, esperando que ele continuasse.

“Me sentia deprimido e cheio de ansiedade. Posso ver que só estava brincando de ser um homem
real. Não creio que possa sê-lo, não da forma que andei vivento. Não sei se serei capaz algum dia de
estabelecer-me e de levar as responsabilidades de minha família”.

Seguiu um enorme silêncio. Por fim, pensativamente, disse: “Pergunto-me se quero ser um homem,
nos termos que requereria de mim”.

Havia um tom de sabedoria em sua voz enquanto dizia, depois: “Não há nada mais triste que um
mariquinha velho. Esse é um ditado antigo”.
Parecia-me que estava ouvindo algo de auto dramatização nisso pelo que o conduzi a alguma
responsabilidade.

“Você disse muitas vezes que se sente um estranho em sua própria casa, que parece ‘a casa de
Cynthia’. Queixa-se de sentir-se como um estranho... Que tem de ir trabalhar para se sentir
respeitado. O que está mal em sua casa que não te permite ser forte... Que te impede de assumir
alguma autoridade?”

“Não sei”, encolheu-se Tom, concedendo. “Mas é algo do qual seria melhor começar a falar.
Cynthia me chamou na semana passada e perguntou se gostaria de tentar voltar a viver com ela”.

“E o que você disse?”

“Bem, admito que me alegrou ouvir sua voz. Realmente gostaria de fazer o possível para ir bem
com ela. Disse que o faria”.

“Que bom”.

“Ela está querendo te chamar para ver o que se pode fazer para salvar nosso casamento”.

Falei com Cynthia naquela noite e ela perguntou se poderia me ver pelo bem de Tom, ainda que eu
não duvidasse de que ela tivesse, igualmente, preocupações consigo mesma. Eu estava prestes a sair
de férias de verão, de forma que marcamos um horário para setembro quando Cynthia viria sozinha
para se consultar comigo.

Depois de ouvir Tom descrever sua vida no lar como aborrecida e tediosa, fiquei surpreso quando
descobri que Cynthia era uma loira encantadora, extrovertida e bem vestida. Depois, uma vez mais,
sabendo da importância que Tom dava às aparências, deveria ter esperado que sua esposa fosse
surpreendentemente atraente.

Mesmo que Cynthia e eu nunca nos houvéssemos visto antes, saudamo-nos para a sessão como se
fôssemos velhos amigos. Esse sentido de familiaridade imediata não me deixou dúvida do fato de
que nós dois conhecíamos o mesmo homem intimamente. Além disso, ela viu em mim um aliado.

Eu não era simplesmente um terapeuta neutro. Estava a favor do casamento e da diminuição da


homossexualidade de Tom. Alguns psicoterapeutas sugerem aos clientes que uma esposa deve
aceitar as aventuras homossexuais do marido. Racionalizam esse conselho absurdo falando de
“respeitar a natureza verdadeira e bissexual do esposo”. Nunca cri na existência da bissexualidade.
Para mim, o chamado bissexual é alguém que não resolveu sua homossexualidade.

Cynthia começou assegurando-me de que havia vindo para ajudar Tom. Encorajei-a a falar de si
mesma e contar sua própria história. Seu pai era alcoólatra e sua mãe, inadequada e frágil
emocionalmente. Pude entender por que se havia visto arrastada pela energia e auto possessão que
irradiava de Tom.

Cynthia me falou da noite em que soube da verdade sobre a sexualidade de Tom. “Em uma
explosão de histeria, ele me contou tudo sobre sua vida. Foi a coisa mais horrível que aconteceu em
minha vida”, admitiu. Sua voz se acalmou enquanto prosseguia. “Por um momento, não podia
acreditar”.

Perguntei: “Como você lidou com o que ele disse?”


“Fiquei aborrecida... Era mais fácil que lidar com meu horror. Quero dizer, simplesmente não podia
assimilar a verdade. Pedi a ele que fosse embora imediatamente. Estava tão desgostosa que não
podia olhar para sua cara. Depois, senti tristeza por ele, pelas crianças e por mim mesma”.

“Você já tinha alguma suspeita de que ele tivesse esse problema?”

“Só suspeitava vagamente.” Disse ela. “Antes de nos casarmos, Tom havia me falado que tivera
algumas experiências homossexuais. Acho que eu não sabia o que fazer com isso. Durante anos ele
saía à noite e chegava em casa muito tarde. A ideia passava por minha mente mas, na verdade,
nunca quis pensar nisso”.

“Tom é um bom homem e eu o amo muito. Mas o que Tom quer, ele consegue. Realmente é muito
egocêntrico”, disse com uma risada ligeira. “Com frequência sentia que tinha três filhos em vez de
dois. Como um menino, Tom sempre espera atenção especial. Pode ser muito generoso com as
pessoas, mas tem sempre de estar em cena. Por exemplo, sei que ele ama muito nossos filhos, mas
às vezes parece que os quer pelo amor que podem dar a ele. Ele fala: ‘o que houve? Por que não
vêm e beijam o papai? ’. Se estão ocupados fazendo outra coisa e não lhe prestam atenção, ele logo
se sente ofendido”.

A descrição de Cynthia me era familiar. Havia ouvido relatos similares de esposas de homens como
Tom. Um homem assim está, com frequência, casado e funciona bem bissexualmente. Tende a ser
exibicionista e narcisista e ter – ao menos superficialmente – um sentido muito inflado de sua
própria importância. Está determinado a ter tudo – quer dizer, casamento e família junto com as
relações gay. É bastante diferente do cliente mais típico que tende a sentir-se inferior, auto
dubitativo e sem poder.

Perguntei a Cynthia: “Que futuro você vê aqui?”

“Bem, amo muito a Tom”, disse. “Ele acredita em você, Joe, e espero que consiga superar seu
problema”.

“Você crê que pode perdoá-lo pelo que se passou?”

“Toda a vida eu tive de fazer compromissos” disse. “Cremos que se seguirmos na direção que
tomamos, podemos ser felizes. Realmente estive muito mais conectada à minha família desde que
voltamos a viver juntos. Mas sempre terei minhas dúvidas, se sai à noite...”

Revelando a força da psique feminina, acrescentou: “Sei quando Tom e eu nos conectamos. Posso
sentir a diferença. Quando Tom se afasta de mim é que me preocupa”.

“Conhece a diferença?”

“Claro. Durante os anos que Tom estava com Andy, sentia que sua energia estava de alguma forma
em outro lugar – fora da família”.

A intuição de Cynthia tinha razão. Muitos maridos homossexuais disseram que, quando têm
aventuras com outros homens, se encontram evitando suas esposas e famílias. Como dizia um
homem casado: “o grande obstáculo é a culpa. Depois de fazer sexo, chego em casa e me encontro
fugindo de minha família. Durante dias, não me sinto digno de participar com nada junto de minha
esposa e das crianças”.

A atitude de Cynthia era típica da maioria das esposas com as quais trabalhei. Uma esposa se sentia
profundamente traída, ferida e enfadada por muitos meses, mas o mais comum é que se
comprometa a fim de salvar seu casamento. O que parece mais importante é a sinceridade e
honestidade do marido ao tratar do problema. Uma esposa estará disposta a tratar qualquer coisa
sempre que seu marido for honesto. O marido que pode explicar a sua esposa com paciência e
honestidade as necessidades emocionais insatisfeitas que jazem por trás de sua conduta
homossexual geralmente perceberá que tem uma aliada poderosa. Sua esposa demonstrará sua
compreensão se lhe for dada a oportunidade de compreender as motivações que residem por trás
de sua conduta.

Considerando o nível prévio de desonestidade por parte de muitos maridos, sempre me senti
surpreendido pela flexibilidade e resistência das esposas que decidem manter o compromisso
matrimonial. Uma esposa que ama seu marido descerá aos infernos e voltará com ele se for tratada
como uma companheira amada e respeitada.

Existem aspectos terapêuticos particulares para homens casados que, como Tom, tenham base
homossexual. Esses homens têm o dever não só de resolver sua atração pelo mesmo sexo como
também de permanecer em consonância com suas esposas. Esses homens oferecem, geralmente,
muitas razões para evitar suas esposas: ‘está sobrecarregada’, ‘é crítica’, ‘é mesquinha’, ‘negativa’,
‘uma puta’, ‘não presta atenção em nada’, ‘não é compreensiva’...

Certamente que uma esposa que não se sente amada terá suas próprias reações defensivas e de fato
pode ser culpada de todas as críticas. Pode ser que haja muitos motivos para que o marido evite
intimidade com ela, não sendo a culpa a menor delas. Mas esses obstáculos para a intimidade
devem ser tratados na terapia.

Em nossa seguinte sessão, Tom falou de sua preocupação com o problema que sofria há muito
tempo de sentir-se excluído e sem descanso quando estava em casa com sua família.

Costumava assumir uma atitude passiva e de exclusão quando se sentia aborrecido, desconectado e
com ressentimento. O aborrecimento é, com efeito, um sentimento expressado com frequência por
clientes homossexuais. Considero que esse estado de ânimo faz parte de uma condição
homossexual.

Perguntei: “Você sabe por que se aborrece em sua própria casa?”

“Não sei,” disse. “No meio de toda a atividade familiar simplesmente perco o interesse e sinto que
quero sair correndo”.

Expliquei: “O aborrecimento surge quando você está em uma situação que não permite que você se
expresse”.

Tom pareceu confuso. Continuei: “A maioria das pessoas crê que o aborrecimento é consequência
de ‘não fazer nada, de não me ocorrer nada’. Com efeito, no interior há sempre algo para fazer, se
somente o respeitarmos”.

“Da próxima vez que se sentir aborrecido, pergunte-se: ‘como eu gostaria de me expressar neste
momento? O que não estou me permitindo dizer ou fazer? ’. Creio que você se sente inibido e
golpeado e que debaixo disso existe um elemento de ira. Tente sentir os sentimentos reais que jazem
debaixo do aborrecimento. Se realmente se permitir fazê-lo, creio que já não se aborrecerá mais”.

Nas semanas seguintes, Tom e Cynthia progrediram em seu trabalho de alcançar honestidade e
igualdade mútua em sua relação. Enquanto que no trabalho anterior ambos haviam sido vítimas,
agora estavam muito mais seguros no casamento. Uma parte importante do tratamento consistia em
conseguir que Tom se conectasse com sua esposa e sentisse sua presença. Durante muitos anos,
havia estado tão preocupado consigo mesmo que a havia retirado virtualmente de sua consciência.
Agora, em vez de se excluir, seu esforço era para identificar seus sentimentos e expressá-los. Esse
processo lhe faria voltar a conectar-se com Cynthia de forma invariável.

“Como eu quero que funcione com ela!” Dizia. “Cortar definitivamente com o mundo gay e estar só
com homens heterossexuais. Gostaria muito de ter agora um amigo homem real, não um amante.
Talvez algum homem casado, com família. Necessito desse tipo de amizade se vou ter uma vida de
homem de família”.

Por esse tempo, Tom havia chegado a compreender muito mais de si mesmo e de suas prioridades
mais profundas e havia começado a crer que podia ter um casamento monogâmico.

Disse-me: “O mais importante de tudo é manter minha família unida. Meus filhos necessitam de um
pai. Minha esposa necessita de um marido. E eu necessito de uma família”. Estava começando a ver
o quão carente de sentido e irrelevante era a sequência de aventuras que havia tido.

“Tinha ressentimento contra Cynthia por reger minha vida mas, olhando para trás, não lhe deixei
opção”, disse. “Simplesmente abdiquei das responsabilidades de minha família”.

“Assim é”, disse a ele. “Você mantinha um papel de passividade e evitação em casa. Mostrava seu
ressentimento por estar ocupado com as responsabilidades da família com uma rejeição passiva e
implicante. Criou um vazio que lguém tinha de preencher. E, é claro, Cynthia tentou preenchê-lo.
Então, você a acusava – injustamente – de ser controladora”.

“Tenho me dado muito bem com Cynthia”, disse ele. “Às vezes, ela se queixa da casa e das
crianças, não parando de falar, mas eu logo falo com ela e explico como aquilo me afeta, então ela
se cala e me apoia em silêncio. Tem se adaptado muito à forma como me sinto”.

“As pequenas lutas que temos agora não são nada comparadas com as que costumávamos ter”.
Acrescentou: “Porque há algo, em algum lugar, que”

“Onde?”, desafiei.

Tom pareceu confuso por um momento, e depois respondeu: “Em mim. Sinto-me mais centrado,
mais aterrissado em meu lugar em casa. Sempre tive a sensação de querer flutuar para longe, de sair
dali, de escapar para outro lugar. Já não sinto isso. E quando sinto, sei de onde vem”.

“De onde vem?”

“Vem de não me deixar pertencer”. Tom falava lenta e pensativamente, escolhendo cada palavra
com cuidado. “Vem de não ser honesto com meus sentimentos. E de não me conectar com as
pessoas mais importantes para mim. Por muito tempo, senti-me isolado e distante de Cynthia”.

“Simplesmente evitando”, disse a ele.

“Sim. Ficava metido em minha casca e mantinha a todos fora dela”. Houve uma grande pausa.

“Mas então,” disse. “Existiam esses pequenos momentos em que a graça abria caminho e me
golpeava com algo bonito – algo sobre meus filhos ou alguma qualidade de Cynthia – e de repente
via o quão delicada era essa casca”.
“Um desses momentos aconteceu quando Cynthia e eu fazíamos amor e depois ela começou a
chorar. Minha primeira reação foi perguntar: ‘o que fiz de mal? ’, as lágrimas eram um pouco
inquietantes. Mas ela disse: ‘simplesmente sustenha-me’, de forma que soube que estava tudo bem.
Depois, ela disse: ‘quando me sinto assim com você, abro meu coração e jazo aqui completamente
desnuda para você. Realmente quero set totalmente sua, totalmente aberta para você. Mas quando
você está distante, ausente para nós, então tenho que manter a família unida e tenho que ser a pessoa
forte. Tenho que fazer o trabalho da família, tenho que endurecer a mim mesma, endurecer-me para
cuidar do negócio e preparar as coisas para nós. Na verdade, não quero ocupar o papel masculino ou
essas qualidades masculinas’.”

“Nesses momentos de aproximação”, continuou Tom. “Quando a verdade de nossas vidas se


atravessa, abro-me para ela e ela se torna suave e feminina”.

Suspirou: “Se ela se abria para mim, era bom, mas também me dava medo, porque a deixava mais
vulnerável para ser ferida, e com mais profundidade. Assim, tenho que trabalhar para não causar-lhe
mais mal”. Olhou-me gravemente: “É uma responsabilidade pesada”.

“Outro dia,” continuou. “Estávamos na cozinha e ela me perguntou: ‘se alguma vez você voltasse a
cair, você me diria? ’. Pensei nisso durante um minuto e depois disse que sim. Queria dizer: ‘não
acontecerá’, mas um homem nunca pode dizer nunca. Mas estou trabalhando para não voltar a cair
mais, pelo que pude prometer-lhe honestamente que lhe diria. Todo o trabalho que fiz me fez
progredir. Já não sinto esse desespero. Sei exatamente o que há por trás dos lapsos momentâneos.
Quando não estou bem, sei por que não estou bem e sei o que tenho que fazer para voltar ao
caminho outra vez”.

“Compreendo a dinâmica subjacente, as necessidades reais, vejo que não é a mesma atração pelos
homens senão algo de que careço em meu interior o que causa as atrações por homens com esse
poder. Não se trata de quem é esse homem atrativo ali. Se trata de quem sou eu aqui”.

“Direi a mim mesmo (levantou a voz em um tom afeminado dramático): ‘Oh, possivelmente não
posso resistir a essa tentação... Nasci assim! Mas isso é realmente melancolia da minha parte... não
quero passar pelos processos de pensamento necessários e não quero recordar a verdade sobre mim
mesmo. Permito que a fantasia me sobrecarregue’”. Uma vez que Tom viu a verdade sobre si
mesmo, só podia esquecer se quisesse.

A fórmula terapêutica de Tom dependia de três coisas: confrontar as necessidades emocionais


insatisfeitas que jaziam por trás de sua conduta homossexual; desenvolver amizades masculinas não
eróticas e abrir caminho à exclusão social de Cynthia. A pedido de Cynthia, Tom pediu a seu antigo
amante, Andy, que deixasse a loja e o ajudou a encontrar emprego em outro lugar. Tom estava
decidido a vê-lo como uma pessoa do passado e a pôr-se a caminho do futuro com sua esposa e seus
filhos.

Quando Tom se aproximava dos últimos dias de seu terceiro ano de terapia, falamos do fim.

“O que você acha, doutor?” Perguntou. “Estou preparado para me graduar?”

“Creio que sim.” Assegurei.

“Gostaria de sentir total confiança de que não voltarei a cair nas velhas coisas que me fizeram vir
até aqui”.
Disse eu, então: “Você já se comprometeu com a honestidade. É mais honesto com você mesmo
hoje do que em qualquer momento anterior de sua vida. Pode ser que tenha uma queda, pode ser
que experimente alguns reveses, mas isso não me preocupa porque as ideias estão aí.

Você as compreende. Simplesmente seja honesto com você mesmo e com Cynthia”.

Tom assentiu com gravidade.

“As ideias genuínas não se podem perder ou esquecer,” disse a ele. “Não pode voltar nunca ao lugar
em que estava, psicologicamente, quando veio aqui pela primeira vez”.

Falando em voz baixa e lenta, Tom disse: “Desfrutei muito do que aprendi com você, Joe. Você me
ajudou muito e isso é muito importante. Vou sentir muita falta, na verdade, de dar e compartilhar, o
que veio de você”.

Dei-me conta de que Tom se sentia intensamente ambivalente sobre o fim de nossa relação.

Quando chegaram os momentos finais de sua última sessão, disse a ele: “Quando precisar, pode
voltar, é claro – mesmo que seja só para uma simples sessão”.

“Obrigado.” Disse de pé e dando-me a mão com brio. “Sentirei sua falta, e dos companheiros do
grupo também. Aprendi muito com você”. Havia algo diferente em sua voz, mas enquanto nos
aproximávamos da porta, voltou a olhar para trás uma vez mais, com melancolia.

Dois anos depois do fim de sua terapia comigo, Tom soube que era soropositivo. Permaneci em
contato tanto com Tom quanto com Cynthia, recebendo ligações deles com frequência durante os
três anos seguintes. De vez em quando, discutíamos uma variedade de problemas – a comunicação
entre eles, assuntos de pais, especialmente sobre seu filho, Sean, que estava agora na adolescência.

Tom começou a mostrar, cada vez mais, os sintomas da AIDS e, quando se fez evidente que
morreria rápido, Cynthia me pediu para que prestasse assessoria familiar. Era o momento de
preparar os meninos para o final. Tom e Cynthia me pediram que os ajudasse a dizê-lo a eles. Pude
ver sua força incrível quando os quatro estavam sentados no sofá do salão. Durante duas horas,
houve perguntas, lágrimas e compartilhamento de amor.

Fui ver Tom em sua casa nas semanas finais enquanto se punha cada vez mais fraco. Havia cinco
anos que terminara a terapia. Um dia, quando estava prestes a ir embora, me chamou ao seu lado.

Com a voz surpreendentemente forte, me disse: “Se não fosse por você, agora não estaria com
minha família. Terei a bênção de morrer com minha esposa e meus filhos ao meu lado. Estou muito
agradecido por isso”.

“E doutor,” – tossiu – “Estará contente em saber que mantive minha promessa a Cynthia”.

Uma semana depois, Cynthia me ligou em uma tarde. Sua voz era baixa e triste. Disse que Tom
havia falecido naquela manhã.

Depois da morte de Tom, continuei tendo contato com Cynthia e seus filhos, e fiz o melhor que
pude para ajudá-los em seu período de dor. Ela me disse como suas relações com Tom se haviam
aprofundado e sua vida familiar era melhor do que jamais havia sido. Tom havia desenvolvido uma
relação profunda com seus filhos, que ajudaram a cuidar dele em sua casa enquanto piorava.
Cynthia também havia cuidado dele fielmente. Morreu em seu próprio quarto em companhia de sua
família e de uma freira de sua paróquia que havia ido levar-lhe a comunhão.

A terapia reparativa ajudou Tom a deixar de lado sua vida dupla. Produziu nele a ideia de que podia
chegar até o fim e viver de acordo com suas convicções. Sinto-me satisfeito em poder ajudá-lo a
encontrar o que estava buscando.
CAPÍTULO 3

PADRE JOHN, A VIDA DUPLA


O padre John era um sacerdote católico de 52 anos que tinha uma voz extremamente rica, profunda
e elegante. Era um homem eloquente, talvez o homem mais eloquente que já havia conhecido.
Podia imaginá-lo dando um sermão estrondoso com seu encantador acento no púlpito de uma
catedral. Procedia de uma família irlandesa inquebrantável e possuía um sentido de humor agridoce
ao qual apelava, com frequência, para rir de si mesmo.

Entretanto, apesar dos risos de todos os absurdos selvagens da vida, era um homem profundamente
espiritual que se viu envolto em uma terrível batalha com o que chamava de seu “lado obscuro”. Em
sua primeira sessão, contou que era arrastado compulsivamente a saunas e livrarias gay. Em uma
ansiosa pressa para confessar tudo, apenas podia escolher as palavras suficientemente rápido.

“Meu vício pela pornografia funciona como um ímã que me tira da reitoria todos os fins de semana.
Todas as sextas-feiras pela noite, saio de carro em direção à West Hollywood e vou à minha fonte
favorita”. Riu cinicamente: “o Circo dos Livros”.

“O que é isso?” Perguntei.

“É... um marco cultural gay de Santa Mônica, e é um circo”, informou. “É como um supermercado
de material para todos os gostos e inclinações”.

Prosseguiu: “De todas as formas, costumo retirar dois ou três filmes de homens e os levo a um
quarto alugado em um pequeno motel barato, em sala exclusiva”, pronunciou o nome com um tom
fingido e arrogante: “Motel Peaks Tropicana. Levo meu vídeo e subo para o quarto”. Olhou para
mim e continuou de uma forma um pouco tímida: “Então, organizo para mim sozinho o que chamo
de ‘festa-maratona de masturbação’”.

Precipitou-se: “Ás vezes chamo o serviço de companhia para que me mande um jovem em meu
quarto. Já sabe, para sexo”. Olhou-me, suspirou profundamente e confessou: “Mas me sinto
profundamente culpado depois”.

O Padre John seguiu com uma descrição incisiva da psicologia da pornografia: “A pornografia é
uma anestesia: entorpece minha dor, proporciona-me uma situação de excitação”.

Esse sacerdote, tal e como aprendi, era um homem com muitas facetas. Não seguia o caminho de
um homem típico do clero. Era crítico com a Igreja Católica porque não se sentia apoiado em sua
luta pessoal contra a conduta homossexual. Também era crítico com Deus e com frequência
expressava essa crítica em nossas sessões.

O caso do Padre John não era só mais um escândalo de um padre que descumpriu seus votos. Não
era simplesmente um caso de um sacerdote que era “só um homem, como todos os demais
homens”. O que é significativo na luta do Padre John contra sua homossexualidade é como isso o
empurrou a um ciclo de frustração de pecado, culpa, arrependimento e mais pecado para chegar a
conseguir uma relação íntima com Deus. Paradoxalmente, foi através de sua luta contra a
homossexualidade que o Padre John chegou a conhecer realmente a Deus.

Durante os três primeiros meses de terapia, o Padre John parecia estar dando grandes passos para
frente. De fato, estava desempenhando o papel do bom paciente. Então, um dia, veio e me disse a
verdade: “Não tenho sido honesto com você. Na verdade, estou indo de mal a pior”. Então, admitiu
com sua voz encantadora cheia de ironia: “Simulava estar levando uma vida nova através de você”.

Depois de um silêncio curto e tenso, continuou: “Estive tentando fazer com você o que fiz com
meus superiores: cumprir com suas expectativas. Não estive enfrentando meus sentimentos
interiores. A verdade é que estou quase seguro de que não terei êxito nessa luta”. Encolheu os
ombros como sinal de desespero. “Em algum nível profundo penso que não quero melhorar. Quero
arrancar todos esses pensamentos da minha vida. Esquecê-los. Penso: ‘Não posso dominar isso. Sou
muito fraco, mereço pena, que me tratem gentilmente’. Quero que até mesmo Deus se retire”.

“Não sei”, havia tristeza nessa voz elegante. “Durante tantos anos julguei ser um homem real, mas
tudo não passou de simulação. Em algum nível profundo, não creio que possa sê-lo. Pode ser que eu
sequer queira ser um homem. De alguma forma, não posso imaginar a mim mesmo levando uma
vida normal.”

“Em toda a grande literatura e mitologia,” disse eu. “O herói, em primeiro momento, recusa a
oportunidade de uma consciência maior, Até mesmo Jesus orou pedindo para ser liberado de sua
cruz: ‘aparta de mim esse cálice’.”

O Padre John seguiu com a voz triste: “Grande parte da minha vida está presa ainda nesses fetiches
pervertidos e juvenis. Não sei por que tenho essa grande preocupação em olhar pênis. Sei que é
ridículo, mas é tão irresistível...”

Ficou em silêncio por tanto tempo que, por fim, falei eu: “Tente ir mais além da fixação para
concentrar-se na intenção do pênis... Sua compatibilidade anatômica com a vagina, seu propósito
natural de procriação”.

“É uma preocupação infantil, isso é o que devo recordar a mim mesmo”, disse com vergonha.

“Absolutamente. A maioria dos homossexuais se centra de forma obsessiva no pênis. A maior parte
da conduta homossexual é comparável a dois meninos pequenos que brincam de ‘mostre o seu que
eu mostro o meu’. É uma conduta fetichista. O pênis tem um poder simbólico importante.

É um símbolo da masculinidade que você sente que necessita mas que não tem. Algum trauma,
alguma lacuna em seu desenvolvimento busca satisfação em uma fixação fálica. Isso é parte da
homossexualidade.”

O Padre John disse pensativo: “A maioria dos gays que conheço está obcecada por seu próprio
pênis. Estão fascinados por sua própria anatomia. ‘Meu pênis é meu melhor amigo’, disse-me um
cara gay. É triste”.

“Exatamente. O homossexual não integrou a masculinidade à sua própria identidade. Está alienado
de sua própria anatomia masculina. Vê seu pênis como algo mais que uma parte de si mesmo”.

“Mas por que fazem isso? Por que todas essas ‘obsessões’ no mundo gay? Por que essa preocupação
com o pênis?”

“Pode ser que, em sua infância, o papel de menino na família dependia da negação de sua
masculinidade. Seu lugar especial com a mãe provavelmente requeria o constante abandono de seus
esforços masculinos. Assim que agora quer proteger sua frágil masculinidade. Sempre tem medo de
que a arrebatem”.

Continuei: “A orientação de gênero do menino depende de seu lugar na família. A forma como a
mãe o trata. A forma como o pai o trata. A forma como ambos os progenitores mostram estima por
sua masculinidade”.

O Padre John assentiu. Podia ver que havia estado escutando com atenção: “Penso na minha pobre
mãe, descanse em paz. Tentou fazer o melhor que pôde. Porque, se meu pai não satisfez minhas
necessidades emocionais, provavelmente tampouco estava satisfazendo as suas. Ele era só um zero
a esquerda em nossa casa. Eu necessitava de alguém e minha mãe parecia um pai feminino com o
qual podia me relacionar”.

Silêncio de novo, e então: “Suponho que ela se sentia frustrada em seu casamento. Sei que se sentia
sozinha e tentou preencher esse vazio comigo.”

Um sorriso e um olhar ausente apareceram em seu rosto. “Com certa frequência, tirava uns poucos
dólares que havia juntado. Nós dois nos arrumávamos e ela falava para meu pai: ‘Johnnie e eu
vamos aproveitar’. Utilizava a palavra aproveitar para dizer que íamos à parte baixa da cidade para
ver um filme. Eu ia vestido de padre e ela colocava seu pequeno chapéu e. Depois nos dirigíamos a
um restaurante e jantávamos juntos de forma muito agradável, falando de tudo o que passava pela
nossa cabeça. Quando voltávamos para casa, meu pai estava na frente da televisão e apenas notava
que havíamos entrado. Minha mãe e eu estávamos tão contentes como duas pessoas que haviam
saído”.

Mais uma vez ensimesmou-se em seus pensamentos. Então, os divulgou brevemente: “Pergunto-me
se meu pai ou meu avô foram homossexuais”. Ouço frequentemente essas questões de meus
clientes. Apesar de esses familiares provavelmente nunca terem sido homossexuais, a questão surge
pela percepção de certa debilidade masculina em seus pais. “Sei que meu pai nunca teve muito
amor para dar porque seu próprio pai sempre estava fora de casa quando ele era pequeno. Era um
carpinteiro. E meu pai só falou de seu avô uma vez”.

Pensei sobre o pouco que os pais de homossexuais falam de seus próprios pais. Com frequência, a
relação inadequada entre pai e filho se remonta desde o avô e o bisavô. O Padre John não só tinha
um pai inadequado como também uma mãe possessora. Como resultado, esse menino
particularmente sensível e vulnerável cresceu homossexual.

O Padre John agitou a cabeça tristemente. “Sempre vi meu pai como uma pessoa perdida. Não havia
um sentido de presença masculina em casa. Minha mãe era quem sempre intervinha para preencher
o vazio. Tinha que entrar e ocupar o lugar dele, além de manter o seu”.

Acrescentou: “Cresci sentindo que ela era tanto minha mãe quanto meu pai”. Havia ira em sua voz,
como se sentisse que aquilo não fora justo para ela.

Comentei: “A mãe nunca pode ser o pai. Processos emocionais completamente diferentes se dão
entre mãe e filho e entre pai e filho. É um homem que faz um homem”.

“Já sabia, eu acho”, suspirou, mas o som da ira ainda tremia em sua voz. Mudando de tema, disse:
“Meu sentimento mais forte da infância sempre foi o medo”.

Ouvi essas palavras de quase todos os clientes que procuraram por mim com um problema de
homossexualidade. O sentimento principal da infância de quase todos os homens era a
vulnerabilidade e a incerteza, mesmo antes que a sexualidade chegasse a ser um assunto consciente.

A consulta do Padre John estava prestes a terminar quando lhe perguntei: “agora que está vindo há
três meses, está satisfeito de estarmos fazendo todo o possível por você?”

Ele admitiu com honestidade: “Bem, devo admitir que não estou fazendo tudo o que posso. Tenho
estado como que esperando”.

“Esperando pelo quê?”

“Só esperando. Simplesmente que venha a mim todo o bem que possa me acontecer”.

O Padre John estava descrevendo uma das resistências fundamentais da condição homossexual
chamada evitação das mudanças dolorosas de vida. Era a hora de afrontar uma dimensão essencial
de sua terapia: a reivindicação de seu poder intrínseco.

“Espero que não me julgue por minha passividade”, disse o Padre John gravemente.

Movi a cabeça: “Não me concerne te julgar. Mas me concerne significado dessa atitude em termos
de sua capacidade e vontade para se responsabilizar por sua vida. Essa passividade é uma parte de
sua identidade que terá que mudar”.

Parecia desconcertado: “Preciso de uma imagem mais clara do que você quer dizer”.

“A terapia reparativa não é só sobre sexo, sexo e sexo. Estamos aqui para entender o quadro total da
formação de sua identidade. Para restaurar sua sexualidade, é essencial mudar essa percepção que
você tem de si mesmo de vítima passiva e desamparada. Uma mudança real requer muito mais que
reprimir o comportamento sexual. Estamos atrás de uma transformação maior”.

“Bom, estou pronto”, disse seriamente. “Essa obsessão homossexual está consumindo minha vida.
Quero ser restaurado de uma vez e para sempre. Ao menos uma vez em minha vida, quero sentir-me
uma pessoa plena”.

“Mas isso é algo com o qual você terá de lutar. Para sempre. Não estou falando de uma semana.
Alguns dias serão grandes batalhas; outros, batalhas pequenas. Mas todos os dias haverá uma
batalha de algum tipo”, adverti.

Os críticos da terapia reparativa creem que a técnica utiliza a culpabilidade como ferramenta para
manipular a supressão do comportamento homossexual. Paradoxalmente, muitos homens, como o
Padre John, passam logo por uma fase necessária da terapia na qual, em vez da supressão, há um
incremento da conduta homossexual. Ainda que isso possa parecer contraditório com o objetivo da
terapia, oferece ao cliente a oportunidade de avaliar por si mesmo os efeitos subjetivos de sua
conduta. Enquanto que alguns homens não necessitam dessa conduta para saber que não é para eles,
outros necessitam ver as consequências pessoais. Para eles, a conduta homossexual serve como
expressão da autocompreensão e da faculdade pessoal que descobriram nas primeiras etapas da
terapia. O sexo e a asserção se inter-relacionam no homem e quando a terapia começa primeiro a
facultar ao cliente, ele pode dirigir mal esse poder de forma sexual. Mais ainda, dentro da relação de
transferência com o terapeuta, o aumento da atividade homossexual pode ser uma forma de o cliente
por à prova a aceitação que o terapeuta tenha dele.

Durante seus primeiros três meses de terapia, o Padre John teve estados de ânimo mesclados. Às
vezes, enfrentava as verdades de sua vida e, em outras, evadia-se em negação passiva.

Em uma manhã, ele me disse: “No sábado passado, pela noite, não tinha nada para fazer, pelo que
pensei em dar um passeio. Fiz algo que há muitos meses não fazia: fui a um bar gay. Senti-me um
pouco incômodo no princípio, mas depois fui ficando mais a vontade. Tomei uma cerveja e, depois
de um tempo, aproximou-se de mim um homem de minha idade, mais ou menos. Estava bem e
começamos a falar”.

Interrompi: “O que estava bem?”

“Bom, que alguém... algum cara... fizesse o primeiro movimento sobre mim em um lugar no qual
homens de meia-idade como eu não costumam chamar a atenção”. Continuou: “De qualquer forma,
ficamos ali conversando durante quase uma hora. Disse-me que era casado. Realmente nos demos
muito bem e nos dirigimos para meu quatro no Tropicana Peaks. Sentamo-nos ali no sofá e falamos
durante outras três horas. Conversamos durante mais três horas. Falamos de todo tipo de coisas.
Tínhamos muito em comum, muitas experiências iguais. Realmente nos compreendíamos.

Senti que o homem... era alguém gentil e doce”.

“Parece que realmente se conectaram”, disse. “E depois?”

“Depois nada”, disse o Padre John. “Bem, depois fomos para o dormitório e fizemos sexo.

Sexo seguro”, acrescentou. “Masturbação mútua”.

“Você vai vê-lo outra vez?”

“Não. Creio que não.”

“Mas parecia que vocês tinham compatibilidade. Ou a base para uma compatibilidade. Tinham
muito em comum.”

“Não sei. Foi agradável durante aquele momento, mas não creio que queira seguir com isso”.
Suspirou. “Para ser honesto com Deus, Joe, realmente não me importa se termino fazendo sexo com
outros homens. Às vezes, a totalidade parece requerer esforço demais”.

“Por que você fez sexo com esse homem?”

“Não sei”.

Sua indiferença estava chegando a ser irritante. Esperei.

Finalmente: “Parecia que era o que tinha de fazer. Já sabe, o fato de estarmos ali o implicava”.

“Estar ali?”

“Sim. Você sabe, no sofá, no Peaks”.

“Você tinha o desejo de fazer sexo com ele?”


“Realmente, não. Creio que só aconteceu”.

“Ele fez alguma pressão?”

“Na verdade, não. Provavelmente ele estava tão indiferente quanto eu”.

Enquanto explorávamos as motivações do Padre John, ambos estávamos encantados em perceber


uma diminuição em sua compulsão. Mas, evidentemente, ele ainda era incapaz de formar de formar
a convicção de traçar a linha entre a amizade masculina e a sexualidade. Debaixo dessa dificuldade
para manter os limites jazia o assunto mais profundo da identidade. Recordava do que me havia dito
em uma sessão anterior: “Não me sinto um homem real e não creio que possa sê-lo. Pode ser que eu
sequer queira ser um homem”. Poderia o Padre John, alguma vez, ver-se como um homem que
recebe atenção e aprovação masculina e tolerar a ausência de sexo?”

Como muitos de meus clientes homossexuais, o Padre John levava uma vida de isolamento
emocional. Desejava relações de aproximação e afeto masculino, mas só encontrava sexo de curta
duração.

“Seus déficits em relação ao mesmo sexo serão satisfeitos por meio de vínculo masculino, não com
sexualidade masculina. Veja o que você fez no sábado. Vai e se senta em um sofá com um estranho
e fala durante três ou quatro horas, algo que você gosta muito; depois vão fazer sexo.

Mas... O que é isso? Não quer voltar a ver o cara de novo? Tem alguma contradição aí. Qual é sua
atitude com relação a essa conduta? Está bem ou não está bem?”

O Padre John respondeu: “Não tenho certeza sobre qual conduta me faz mal. Não tenho certeza se
vou para o inferno por ter intimidade com um homem durante uma noite. Não tenho certeza de
nada...”

“Olhe”, disse-lhe abruptamente. “Deixemos os eufemismos ilusórios. Não vamos chamar de


intimidade quando se trata simplesmente de sexo. Como pode ser intimidade se não quer mais
voltar a vê-lo?”

Ele falou mais alto agora, parecendo enfadado: “Não vou te dar uma resposta sobre mim mesmo
nesse ponto porque não sei qual é a resposta”.

“Sente que estou sendo duro demais agora?”

Pareceu aliviado com minha pergunta. “Não”, respondeu. “Está bem, Joe”.

“Está bem não ter nenhuma resposta agora”, disse. “Aprecio que responda à minha pergunta
honestamente”.

Houve um comprido silêncio entre nós. Perguntei: “Como se sente perambulando por aí afora?”

“Até certo ponto, eu gosto. Certamente esse par de horas me dá satisfação. E há uma validez para
seguir meus sentimentos. ‘Aí é onde estou em minha vida agora’. Tenho reconhecido esses
sentimentos. Também os aceitei e estou começando a compreendê-los. Pode ser que compreendê-
los seja tudo o que posso pedir a mim mesmo”.

Encolheu os ombros. “Já sabe, ás vezes penso: ‘essa é minha vida. Qualquer que seja a causa de eu
ser assim, estou presa a ela. Deveria deixar de esquentar a cabaça tentando mudar’. Mas, por outro
lado, a terapia me ajudou muito. A maior parte de minha felicidade e autoaceitação recente se
devem à compreensão que adquiri com ela. Posso dizer que a verdade me libertou”.

“Mas você sabe, Joe, o que me preocupa é que, enquanto os conceitos podem estar bem e serem
verdadeiros – o fato de eu estar tentando satisfazer déficits do mesmo sexo – pode ser que haja um
erro no processo terapêutico. Pode ser que não valha a pena tentar mudar”. Olhou-me seriamente.
“Como vai o processo, Joe?”

Antes que pudesse responder, continuou: “Olhando para trás, para esse menino pequeno que fui,
vejo que não vivi senão vergonha, temor e isolamento. Ninguém com quem falar, sem amigos reais,
realizando favores sexuais atrás do estábulo de um primo oito anos mais velho. Não tinha
identidade. Tinha medo da morte. Estava à deriva, vazio, sozinho. Tudo o que tinha de amizade e
aproximação era agradando a esse garoto mais velho”.

“Sempre esse sentido de profunda desconexão”, disse.

“Sim”, respondeu ele. “O sexo me tirou dessa desconexão. E Joe... essa parte de mim pode ser que
não mude. Pode ser que esteja preso para sempre na busca dessa situação rápida. Não quero colocar
um golpe de culpa sobre mim mesmo pelo que faço – caso volte a fazê-lo”.

“Quero ser realista”, continuou. “Se isso vai tão longe que me fará crescer e mudar de vida, quero
aceitá-lo. Quero fazer sexo se sinto que tenho vontade, e não me importa se vou ter de carregar
alguma culpa por isso”.

Depois acrescentou: “Creio que o que estou dizendo é que quero que você me contradiga.

Quero te ouvir dizer: ‘Mas você não pode! ’”

“Mas por quê?” Perguntei.

“Quero que me diga que não é realmente nesse ponto que me encontro em meu desenvolvimento.
Este é o menino que está dentro de mim, o menino que fala agora – o menino que desafia seu pai”.

“E de fato é.” Concordei.

O Padre John fez uma pausa. Depois introduziu-se subitamente em uma profanidade enfadada: “Sei
que não estou transando com mulheres e que não sou uma mulher – mas também não sou um
maldito homem! Que merda eu sou? Um híbrido macho-fêmea? Ou só um menino pequeno no
corpo de um homem de meia-idade que se tornou”

“Há um menino pequeno ferido aí”, assegurei. “Há um menino pequeno ferido”.

“Certamente há”. O Padre John mostrou um ligeiro sinal de prazer em seu rosto. “É algo do qual
você falou muitas vezes em teoria, mas agora posso vê-lo. Você tem razão – esse menino pequeno
tem de ser tratado”. Olhou-me com curiosidade. “Mas quero saber como passei de ser um menino
ferido de 5 anos a ter a conduta sexual atual. Por quê?”

“Para preencher um vazio interior”.

“Pode ser que tenha razão”, admitiu. “Mas se ter uma vida sexual ativa como a que tenho procede
da dor, não é uma dor atual. Hoje não tenho nenhuma causa de dor. Meus pais morreram há muito
tempo, em paz descansem. Tenho vocação religiosa. Devo dizer que nunca havia tido melhor
situação na vida”.

“Um homem que se encontra levando À prática sentimentos inaceitáveis está vivendo com um
vazio que arrasta desde relações antigas”, expliquei.

O Padre John se dirigiu a mim com uma voz cheia de frustração: “Por que estou envolvido nisso?
As tendas pornôs, a atração pelas coisas que odeio, a vida dupla que trai o voto que fiz quando me
tornei sacerdote... Por que tenho tantos conflitos?”

Antes que eu pudesse responder, ele continuou: “Você já sabe, às vezes achava que estas sessões
não passavam de merda. Poderia sentar-me em casa e meditar nisso por mim mesmo, por Deus!
Mas agora vejo que realmente necessito ir ao fundo disso”, sua voz se fez mais tensa, “porque
realmente estou sentindo esse menino pequeno. Estou sentindo o isolamento e o sofrimento que o
menino pequeno suportou”.

Suspirou pesadamente: “Posso ver que, a não ser que nos voltemos a esse menino – curemos esse
menino – não vou nunca ser um homem”.

Levantando-se de sua cadeira, gesticulava de modo suplicante enquanto perguntava: “portanto, o


que eu deveria fazer agora?”

Disse-lhe: “Você necessita de relações masculinas próximas e honestas – intimidade, com tudo o
que a palavra implica. Não estamos falando de sexo. Você necessita de dois ou três homens em sua
vida para que, de fato, possa ter a experiência de conhecê-los – não sexualmente, mas como amigos.
Conhecê-los e compreendê-los de uma forma que nunca compreendeu seu pai.

Nossa relação satisfaz a essas necessidades até um ponto, mas é artificial devido aos limites
terapêuticos necessários”.

“Não é artificial para mim”, protestou o Padre John. “Tenho construído uma enorme confiança em
você. Disse-lhe coisas sobre mim que nunca havia dito antes a ninguém”.

Olhou-me expressando em seus olhos uma mistura de afeto e ira. “Não quero sentar em algum
maldito bar e falar com um estranho, contando-lhe as mesmas coisas que disse para você”.

“É claro que não”, concordei. “Você precisa de uma amizade genuína – um homem do grupo, por
exemplo, que compreenda suas lutas. Mas em algum ponto você se chocará com a exclusão
defensiva do homossexual, pelo que também precisará estar próximo de um homem heterossexual
que posse te dar uma perspectiva diferente”.

Disse o Padre John: “Mas primeiro preciso compreender mais desse menino pequeno ferido”. E
com isso concluímos a sessão.

Passado um tempo, as condutas sexuais do Padre John começaram a diminuir. Falava menos de suas
relações sexuais e mais sobre sua relação com Deus. Ao mesmo tempo em que se fazia mais forte
para manter seu voto de celibato, parecia mais livre para crescer em sua compreensão espiritual.

“Minha atitude para com Deus havia sido muito perversa durante tanto tempo”, disse o Padre John
um dia. “Nunca havia sonhado que estaria dizendo isso, mas... Odiava Deus, na verdade, odiava”.
Ficou em silêncio, depois disse: “desafortunadamente, projetei muito de minha própria merda sobre
este ser que eu chamava de Deus”.
“Com certeza”, disse eu.

Continuou – esse homem que era sempre verbal – “Quando me sinto separado de Deus, entro nesse
modelo de pensamento obscuro e retorcido. Toda a minha vida foi uma classe de auto expiação para
subornar Deus. Durante dez anos de meu presbiterado houve esse ciclo vazio de sucumbir à
tentação e depois correr para a varinha mágica da confissão para estar bem com Deus e limpo de
novo... Depois, os desejos sexuais explodiam outra vez. Era um comportamento doente.

Todo esse enfoque enfermo da religião era para subornar Deus. Estava tentando suborná-lo dizendo:
‘não me condene por viver essa vida dupla e te darei todo o resto da minha vida’. Ao longo de toda
essa relação cíclica e vazia com Deus, não sentia mais que ira e ódio. Tenho até medo de acudir a
Jesus porque Jesus é um homem, e eu estive completamente alienado dos homens e da
masculinidade”.

Respirou profundamente e continuou: “Ainda que esse vício em sexo ainda seja forte em mim, já
não sinto o enorme desamparo que sentia anteriormente. Estou chegando a sentir que Deus pode
tratar desse problema. Que compreenda minha luta”.

Silêncio de novo. Depois: “Freud tinha razão. Deus é uma projeção da figura paterna. As relações
que temos com nossos entes queridos aqui na Terra podem expandir ou estrangular nossa
experiência de Deus. Estava atrofiado na relação com meu pai terreno, por isso sempre foi difícil
conhecer meu pai celestial”.

“Essa relação nova que você tem com Deus é muito heterossexual”, comentei.

“O que quer dizer?”, o Padre John parecia surpreso.

“Um menino homossexual tem medo e desconfia de seu pai e associa esses sentimentos a Deus.
Não só se esconde de seus pais, o terreno e o espiritual, como também dos outros meninos, dos
chefes, dos patrões etc.”.

Continuei: “O menino homossexual foge e se esconde de seu pai – da mesma forma que foge da
relação com Deus, o Pai. Quando o menino heterossexual sente hostilidade por seu pai, ele permite
que essa hostilidade venha à luz – põe ela para fora. Quando você fugiu de Deus e o excluiu de sua
luta, foi a forma de esconder-se do menino homossexual – uma fuga do desafio do pai”.

“O primeiro desafio que o menino pré-homossexual recusou foi o desafio do pai. Enquanto crescia,
continuava fugindo do desafio masculino. Logo, deu-se uma tensão dolorosa entre ele mesmo e
outros homens. Alienando-se do mundo masculino, romantizou aos homens e tentou livrar-se dessa
tensão com o contato erótico”.

O Padre John assentiu. Durante um longo tempo, houve silêncio entre nós. Ao fim, disse: “Daqui
está saindo muito bem. Os santos sejam louvados... Posso sentir a reação dentro de mim.
Finalmente estou alcançando algo real. Tudo em meu coração está se abrindo a esse novo Deus que
está vindo”.

Continuou: “O desafio cristão, creio eu, é restabelecer a harmonia com nosso Criador. Mas, de
algumas formas muito importantes, eu rompi o nexo entre Deus e eu. Havia perdido a alegria de
viver, estava deprimido e amargurado. Se estou alienado, a consequência é a morte”.

“Em plena alienação da homossexualidade, inclusive, desafiei-me a lutar para manter a retidão de
Cristo. Estou começando a ver que, de formas inesperadas, essa maldição da luta homossexual me
trouxe várias bênçãos”.

“De formas surpreendentes”, disse-lhe. “Somos abençoados por nossas lutas. Elas podem
simplesmente terminar com um ciclo neurótico e fútil, ou podem nos redimir”.

O Padre John respondeu: “Creio que meus próprios companheiros, os padres, não sabem como
tratar isso. O conselho tradicional da igreja para a conduta homossexual é arrependimento,
arrependimento e arrependimento, depois tomar banhos frios e criar um hobby. Mas, se você não
soluciona nada, é arrojado de volta ao ciclo sem fim da confissão. Então, há o conselho dos padres
liberais e gays: ‘Deus te ama não importa o que você faça. Se quer se deitar com um homem, Deus
te compreende’. Ambos os extremos perdem a verdade essencial”.

Enquanto escutava suas palavras, sentia-me privilegiado em ouvir o fluir de revelações que vêm
somente da luta pessoal de um homem. O Padre John estava encontrando, enfim, o que havia
buscado durante tanto tempo.

Várias semanas depois, estávamos em uma discussão acerca do sadomasoquismo nas relações entre
o mesmo sexo. O Padre John me havia perguntado por que se sentia tão atraído por esse tipo de
pornografia.

“Existe uma grande quantidade de sadomasoquismo nas relações homossexuais. É um modelo que
começou com a relação com o pai. Quando o menino pequeno quer aproximar-se de seu pai e não
consegue, sente vontade de degradar-se a si mesmo para receber essa atenção. É uma forma hostil e
auto nociva de ganhar pontos com o pai. Essa é a razão pela qual a vida e a pornografia do
homossexual contêm temas de sadomasoquismo. Quer amor e atenção de alguém por quem sente
hostilidade. Não são sempre que você vê senão os maiores temas sutis de controle e domínio tão
característicos da pornografia gay”.

O Padre John respondeu: “Nunca esqueci que meu pai era um homem grande e robusto. Tinha
braços enormes e costumava menosprezar-me por ser esse menino pequeno e anêmico. Dizia: ‘você
acha que algum dia terá grandes músculos como esses? Acha que algum dia será um homem grande
e robusto como eu? ’”

Disse-lhe: “Assim é como se sente o homossexual quando olha para outros homens. Sente-se
estafado e enfadado. O mundo dos homens é um mistério. Os homens heterossexuais parecem
possuir essa qualidade de masculinidade que é tão fácil, tão carente de timidez, tão natural – e o gay
não a tem. Onde existe uma intensa dependência e anseio de algo, o que simplesmente se consegue
é estar enfadado.

Continuei: “A maioria desses homens sente ira em relação a seus pais porque sentem que não
conseguiu afirmação masculina suficiente. Deixados com esse sentimento de dependência e ira
hostil, sentem uma excitação masoquista quando são degradados. Ainda que o estejam tratando
duramente, dá-se uma excitação porque houve o estabelecimento de uma conexão – houve a quebra
de uma barreira. ‘A única forma de estar próximo do masculino é me rebaixando’, ele diz.

Isso explica o prazer que se sente tão frequentemente em relações sadomasoquistas”. Pensei no
primeiro cliente que me ensinou essa introspecção na perda e no sadomasoquismo masculino. Na
escola de graduação, não era politicamente correto discutir a causa ou o tratamento da
homossexualidade, de forma que minha formação como psicólogo não me preparou para meu
trabalho. Entretanto, quando estava de interno em um hospital, deparei-me com o caso de Ryan, um
menino de 8 anos cuja mãe estava preocupada com sua conduta infantil e socialmente inapropriada,
além de sua experimentação com outros meninos.

Minha única chave para o problema de Ryan era sua queixa progressiva e amarga de que seu pai o
ignorava. Faminto por atenção masculina, Ryan ficava encantado em me ver a cada semana e,
enquanto crescia nossa relação, odiava ir embora quando terminava nossa sessão. Sua conduta
chegou a ser cada vez mais agressiva fisicamente em relação a mim e os limites físicos logo se
tornaram um problema. Sua forma de me querer parecia um assalto. Escalava sobre mim
agressivamente, com exigências, quase com enfado, como se não pudesse saciar seu afeto. Sabia
que essa intensa relação de amor e ódio tinha muito a ver com os sentimentos ambivalentes do
menino para com seu pai.

“Já sabe, Joe”, disse o Padre John. “Tive uma introspecção na semana passada. Estive usando a
pornografia para mostrar para mim o que são os homens. Quando estou em uma sessão pornô ou
paquerando outros homens, entro nessa necessidade de saber como é ser ele”.

Suas palavras ressoavam em meus ouvidos. A base da atração homoerótica é a necessidade de


averiguar como é ser o outro.

“De algum modo, em minha mente de menino pequeno, esses caras na tela eram homens reais,
como os que eu queria ser. De algum modo, os atores pornô representavam para mim o que são os
homens de verdade”.

“Depois refleti: ‘a propósito, quem são esses homens? Por que estariam fazendo isso diante de uma
câmera se eram tão normais? ’. Comecei a considerar: ‘têm trabalho das nove às cinco, ou esses
pobres bastardos necessitam desse dinheiro ganhado dessa forma? Têm namorada? ’. A fantasia gay
é que esses atores pornô são homens regulares em todos os sentidos, exceto no fato de fazerem isso
diante de uma câmera. Até parece!”

“Enquanto crescia em minha própria masculinidade, passei a ver esses homens não como imagens
masculinas às quais seguir, senão como homens que só estão tão destruídos quanto eu”.

“Isso não termina nunca, Joe”. O Padre John utilizou essas palavras para iniciar nossa seguinte
sessão. Estava falando da busca por uma coincidência expandida do passado, dizendo que se
fôssemos passar todos os dias nos aprofundando em nossas recordações, nunca nos conheceríamos
totalmente. Nem seríamos libertos totalmente de nossos primeiros conflitos.

“Os desejos que tive ainda são parte de mim. Às vezes, ainda vou de carro ao Circo dos Livros.
Entretanto, tenho uma reação estranha quando entro ali”. O Padre John parecia contente consigo
mesmo. “Depois de um pouco de tempo, tenho um sentimento de aversão. Estou cheio de ódio por
esse lixo e de ira por ter gastado tanto tempo precioso e energia. A pornografia é uma violação
psíquica de minha bondade e de minha pessoa. É nociva tanto emocional quanto espiritualmente.
Esgota-me e depois me custa dois dias para recuperar o sentido de dignidade”.

“Quando sinto esses velhos impulsos de ir ao Circo dos Livros ou de perambular por aí, digo:
‘Senhor Jesus, sinto uma grande dor dentro de mim que se mascara nesse desejo sexual. Ajude-me a
saná-la”.

“E já sabe, Joe, as desordens dos meus pais – descansem em paz – creio que foram perdoadas e que
estão no céu, pelo que rezo todos os dias também, Digo: ‘pai e mãe, agora vocês estão em um lugar
diferente, se Deus quiser, e são totalmente um com sua sexualidade. Deixem que, de alguma
maneira, a bondade que estão experimentando venha a mim agora para que possa ser a pessoa
íntegra que quero ser’”.
“Já não estou agachando-me em uma esquina e sentindo vergonha de mim mesmo. Inclusive,
quando tenho esse impulso compulsivo, falo com Deus e digo: ‘Permita-me utilizar essa experiência
com toda a sua negatividade. Utilize-a para ensinar-me, como diz o escritor Colin Cook, para
fracassar com êxito. Senhor, se alguma vez falhei, devolva-me a vitória’”.

“Isso me ajuda, Joe, rezar e agradecer a Deus. Depois, quando vem um homem atrativo, olho para
ele e depois louvo a Deus por poder somente olhá-lo e depois seguir com minha vida. É um
exercício que faço em minha vida. Imagino o homem como esposo e pai. Desenho sua sexualidade
em um contexto natural”.

“E sabe o que mais? Está passando-me uma coisa bonita recentemente. Estou me dando conta das
mulheres! Não é forçado, nem uma ideia mental que estou pondo em mim mesmo. Estou
descobrindo essa abertura em mim para me dar conta da beleza de uma mulher. Estou aberto às suas
fortalezas e habilidades mentais, inclusive de seus atributos físicos. Quando vejo uma mulher
bonita, bendigo ao Senhor. É só uma coisa normal e natural que começou a acontecer”.

“Não trato de compreender, só bendigo a Deus por haver uma mulher ali e ser bonita. Não há cordas
atadas, não há compulsão sexual. Ela só está ali e bendigo ao Senhor por isso”.

“Houve um momento, há uns quinze anos, no qual comprava uma revista Playboy e olhava as
páginas centrais e tentava me masturbar, tentando ser normal. Mas agora estou conseguindo me
sentir mais cômodo com qualquer nível de atração que eu sinta ou não”.

“Costumava entrar no banheiro masculino e ficar de pé ao lado de outro homem lutando para urinar.
Sempre era como um sentimento de defesa, a pressão que punha em mim mesmo – do tipo ‘isto é
uma prova do sistema de emissão de urgência’ – e se não podia urinar não era um homem de
verdade”.

“Até o final do instituto e até mesmo no seminário passei um inferno sustentando minha – creio que
tinha a maior de Los Angeles por toda essa tensão. Mas agora posso fazê-lo. Creio que é porque
estou mais em paz com quem sou como homem”.

Durante muitos anos, o Padre John esteve em um predicamento comum para muitos padres. Havia
utilizado seu papel de padre como uma forma de se evadir. O presbiterado pode ser um lugar
solitário, com o padre alienado não só dos demais padres como também dos paroquianos.

“Hoje chamei a um dos diáconos e compartilhei com ele algo que aconteceu durante a semana”,
continuou o Padre John. “Suas palavras foram amigáveis e compreensíveis, que podia contar com
ele. Eu disse a mim mesmo: ‘que maravilha. Estava precisando disso’”.

Continuou: “Você pode escutar a mesma sonata um milhão de vezes, até que um dia, de repente, em
um concerto, começa um movimento e você pensa: ‘nunca havia me dado conta de que essa peça
estava aí! ’. Você entra nesse estado que antes não era familiar e tudo parece mais bonito. Poderia
dizer que a melodia encantadora que descobri recentemente são as relações boas com homens
casados como esse diácono”.

O Padre John também havia feito amizade com Tom James, o membro casado de nosso grupo de
psicoterapia. Disse: “estava com Tom outra noite, entrando na dor com a qual estava tratando. Tom
disse: ‘só quero te sustentar’, e me sustentou. Eu estava rígido como um cubo de gelo – com medo
da morte. Tom disse: ‘Você está tremendo! ’. Estava tão determinado a aceitar o calor de sua
amizade mas a não permitir qualquer sentimento mal tratado. Logo relaxei. O que Tom fez foi me
dar uma palmada nas costas, e eu precisava disso. As relações de afeto como essa estão me
liberando para centrar-me em minhas necessidades reais, como fortalecer minha identidade
masculina que busquei nas outras pessoas”.

“Todo esse processo não é só psicológico, mas também espiritual. Voei anos-luz em somente doze
meses de trabalho com você, Joe. Estou estendendo uma mão aos demais e permitindo que me
ajudem. E estou encontrando também a confiança de permitir-me oferecer assessoramento. Na
semana passada, um rapaz jovem entrou no confessionário e falou de suas lutas com sentimentos
homossexuais. Estava triste por causa da culpa que lhe fazia sentir a igreja.

Pude oferecer-lhe compreensão e direção específica devido ao que estou aprendendo de mim
mesmo”.

“Expliquei a esse rapaz que se suas necessidades naturais e genuínas de masculinidade permanecem
insatisfeitas, ele continua experimentando sentimentos homossexuais. Que é possível satisfazer
essas necessidades de forma autêntica por meio de relações sadias com o mesmo sexo, destruindo
esse impulso sexual que busca romper as barreiras de forma erótica. Pode derribar essa tensão de
formas sãs... construtivamente”.

Acrescentou suavemente: “Não estou seguro de que a conduta homossexual seja pecado mortal.
Deus compreende o déficit que nos leva a ela”. Depois, disse pensativamente: “Gostaria que a igreja
fosse mais compreensiva”.

“É tarefa difícil”, concordei. “E você tem razão, isso não termina nunca. Os alcoólicos dificilmente
perdem completamente o impulso de beber. A pessoa que cresce com autoestima baixa não se
transforma em alguém que explode autoconfiança. Nunca chegamos à plenitude nessa vida”.

“Mas já estou fazendo isso muito melhor – louvados sejam os santos! Agora, minhas tentações
sexuais são tentações de fundo. Deixaram de me preocupar”, disse.

“Essa é a essência: ser consciente das atrações, mas crescer em consciência”.

“É justamente o que é”, concordou “É uma consciência desenvolvida. Uma consciência mais plena.
Compreendo esses sentimentos e eles já não me escravizam”.

Em uma manhã ensolarada de primavera, quatro meses depois, veio o Padre John, tomou seu
assento no sofá e sorriu com paz e auto satisfação. Ambos sabíamos que se aproximava o fim de sua
terapia.

“Hoje é três de junho, festa de São Carlos Luanga – patrono dos homossexuais”, disse-me. “Creio
que o espírito de são Carlos me esteve guiando. Estava limpando o armário na semana passada e
encontrei um velho filme pornô que costumava levar comigo ao Tropicana. Para minha surpresa, só
pude ver um pequeno segmento dele antes que algo dissesse em meus ouvidos: ‘Isso é doente! Isso
não é definitivamente são’. Vendo o filme, sentia que diminuía minha integridade.

Enquanto a olhava, dizia a Deus: ‘Isso não vem de ti. Isso é feito pelos homens e não é bom para
mim’”.

“Agora, quando tenho esse impulso de ir ao circo dos livros, sou consciente de que é uma
necessidade mais profunda o que estou sentindo, mascarada de erotismo. Começo a falar
imediatamente com Cristo. Digo: ‘ajude-me com esse vazio que se mascara desse desejo erótico’.
depois de tudo, Joe, como pode um homem preencher o vazio de seu coração com filmes pornô?”
Adverti: “esses vícios podem te levar outra vez à sua vida do passado se você não se cuidar”.

“Sim, eu sei. Mas uma das maiores esperanças de mudança que vejo”, disse-me o Padre John, “é
que agora, quando caio, não passo o tempo me envolvendo na miséria da culpa. Essa foi a história
da minha vida – ir ao confessionário e admitir meu erro – mas depois de tudo cair outra vez”.

Em um tom confessional, disse-me: “Pela primeira vez em minha vida, estive afrontando meus
sentimentos homossexuais de verdade. Não estou só os reprimindo. Realmente estou afrontando o
que estou fazendo. Agora posso dizer a verdade: ‘sou um viciado e estou me tratando’”.

“Estive pensando sobre esse problema global da masturbação. Quero libertar-me dele também –
para manter meu voto de castidade. Creio que só tenho que ser honesto com Cristo.

Digo algo assim: ‘sinto-me como se estivesse masturbando-me nesse momento e não sou feliz por
estar me rendendo a essa prática. Mas Jesus, fique comigo nessa batalha apesar de meus
sentimentos”.

Pensou durante alguns segundos. Depois disse: “Minha forma de tratar Deus no passado era
deixando-o de fora para evitá-lo. Agora, sei que Deus espera que eu o afronte”.

“Não tinha uma relação com Deus Pai porque não tinha um conceito de pai. Posso ver como
algumas feministas que tiveram relações terríveis com seus pais querem um Deus feminino. Não
podem confiar em Deus, o Pai”.

Durante sua última sessão, o Padre John lamentou: “Essa terapia me tirou a diversão de um
encontro homossexual. Ainda que eu saiba que posso cair outra vez em um instante, sei que não vou
me satisfazer. O ato se converteu em uma carga. Já não mantém a excitação – a esperança, a fantasia
– que uma vez o fez atrativo”.

“Agora sei para onde me leva”, disse enfaticamente. “Não me leva a lugar algum”.
CAPÍTULO 4

CHARLIE, A BUSCA PELA


IDENTIDADE MASCULINA
Um dos homens mais inteligentes e introspectivos que já tive o privilégio de conhecer é Charles
Keenan, o Charlie, como me pedia que o chamasse. Charlie tinha uma ligeira estrutura e algumas
maneiras afeminadas, mas isso não indicava debilidade de caráter em absoluto. Charlie era um
homem de uma fortaleza incomum e de uma claridade de propósito.

Com trinta e dois anos, Charlie era o chefe de uma biblioteca biomédica universitária na qual havia
trabalhado durante vários anos. Era culto, educado e falava muito bem.

Na primeira sessão de Charlie, ele cruzou a sala e sentou rapidamente como alguém que sabia
exatamente o que queria. “Nos últimos dez anos tive muito pouco contato com o mundo gay”, disse.
“Durante um ano, tive uma relação com um rapaz chamado Derek. Não é uma má relação – nos
tratamos mutuamente bem – mas quero algo mais em minha vida. Vejo claramente que isso não é
tudo”.

“O que quer dizer com ‘tudo’?” Perguntei.

“Não tenho esposa, não tenho filhos e não tenho o tipo de relação com a qual quero envelhecer”.

“Que tipo de relação você está buscando?”

“Bem, só penso que há falta algo que um homem não pode dar a outro”.

Fez uma pausa e suspirou, tentando encontrar as palavras adequadas para continuar. “Bem, a
maioria dos gays que conheço insistem que os homossexuais já nascem assim. Mas não posso evitar
ver como um insulto à minha dignidade alguém dizer que sou assim devido a algo genético.

Eu pertenci ao mundo gay durante muito tempo para dizer que quando um homem anseia pela
masculinidade dessa forma, a ponto de querer absorver a de outro homem, então existe,
inegavelmente, um grande problema”.

“Não quero ser gay”, continuou com ira. “Nunca crerei que isso me foi determinado pela genética”.

Acendi meu cachimbo e inclinei-me para a frente, impaciente para ouvir mais do que esse homem
dizia.

“Eu li muito sobre a homossexualidade”, disse Charlie. “Trabalhar na biblioteca da Universidade


deu-me a oportunidade de ler dezenas de volumes sobre a matéria”. Riu de forma afogada. “Passo
meu horário de almoço ao redor da sessão WM-16. De fato, um dos livros que li foi o seu Terapia
Reparativa da Homossexualidade Masculina. Ajudou-me muito e decidi te ligar quando averiguei
que estava aqui na área de Los Angeles”.

“Fico feliz que tenha te ajudado”, disse-lhe. “Que tal começarmos com a síndrome de déficit de
identidade masculina que descrevo nele? Reflita sobre sua própria experiência de forma exata”.

Charlie riu. “É a história da minha vida!”

“Bem, então fale de você mesmo. Comecemos pela sua infância”.

Ambos nos sentamos em nossas cadeiras e nos acomodamos. Charlie suspirou e olhou para fora da
janela. “Bem, olhando para minha infância, posso ver que nasci artista, talvez um pouco sem
asserção”.

Pude perceber que estava impaciente para falar, mas encontrar as palavras adequadas era uma luta
evidente. “Creio que não tive os... os porque era... diferente, mais sensível. Passei por uma operação
no joelho quando era jovem que me deixou um pouco fraco e que me impediu de fazer muitas
atividades masculinas, como jogar beisebol. Mas não creio que nada disso, em si mesmo, signifique
que tinha de ser homossexual”.

“Estou de acordo”, disse. “Muitos meninos pré-homossexuais encaixam na imagem que você
descreveu – sensível, sem agressividade, excluído das atividades masculinas. Mas alguns outros
meninos que crescem heterossexuais também se encaixam nessa imagem. É algo mais profundo que
isso que faz com que um menino se torne homossexual”.

“Bem”, continuou Charlie, rindo. “Eu temo que não tenha algo mais – tinha a base homossexual
clássica. Fui educado em uma casa de mulheres, com uma mãe que me mimava, uma avó
dominante e duas irmãs mais velhas. Quando era bem novo, meu pai tomou uma decisão: ‘não
posso manejar essa família. Estarei próximo, pagarei a pensão, mas não vou me implicar com nada
nessa casa’. Assim, não teve nenhuma relação profunda com nenhum de nós. Era basicamente um
homem gentil e agradável, mas um completo estranho”.

Depois de uma breve pausa, Charlie prosseguiu: “Estou certo de que meu pai tinha suas próprias
inferioridades privadas. Algo ia mal nele. Tenha sido gay ou não, tinha algum problema com sua
masculinidade, porque certamente não sabia como dirigir-se como um homem dentro de sua própria
casa. Realmente duvido de que soubesse o que fazer com um filho. Tem esse menino pequeno e
pensa: ‘que demônios faço com este’?”

“Minha mãe e minha avó me converteram em uma bonequinha. Lia, desenhava, ficava em casa –
você sabe, o clássico. Pode-se dizer que, durante muitos anos, minha mãe me absorveu.

Conduziu minha vida para seus próprios fins. Sua relação com seu próprio pai foi horrenda, também
com seu irmão e depois com seu marido. Assim, eu era o novo homem pequeno, o modelável, sobre
o qual ela poderia resolver toda a merda do passado. Ela queria o tipo de relação com um homem
que não tivera antes, pelo que me criou para si mesma e me secou”.

“Imagino que você nunca quis estar nem perto de uma mulher de novo”, comentei.

“Bem, na verdade, tive duas namoradas. Mas todas as mulheres com as quais ficava eram como
minha mãe. Eu não tinha identidade, dignidade, limites com minha mãe. E me recuso a casar com
minha mãe!”. Rindo, ele disse: “Escolho-as perfeitamente. Sempre me encontro preso ao que você
chama de papel de bom menino”.
Continuou: “Eu o odeio. Tiraram-me a vida com essa história de bom menino”. Bateu com o punho
no braço da cadeira, expressando no rosto ira e vergonha.

“Quando você se deu conta de que era homossexual?”

Charlie suspirou e relaxou nas profundas almofadas, fechando os olhos por um momento.

“Tinha ao redor de 13 anos”, disse. “Convidaram-me para uma festa de acampamento com um
grupo de adolescentes. convidaram a mim porque eu estava com as garotas e pensavam que eu
poderia ser um ‘’ para eles. Entretanto, o líder do grupo ficou amigo meu, nós fizemos sexo e...
Bingo! Agora sou aceito pelo líder! Tenho essa relação especial com ele, satisfaço suas necessidades
sexuais e ele me protege”.

Interpretei: “o sexo se tornou sua entrada rápida no mundo dos homens”.

“Sim”, disse ele. “Assim me sinto como um homem, sou um deles. Havia descoberto uma maneira
de me relacionar com esse garoto. Sempre o havia admirado à distância. Não sabia o que se
passaria, mas pensei: ‘não importa... e... tinha que admitir que era bem excitante”.

“Então, você passou a fazer sexo com homens a partir desse momento?”

“Na verdade, não. Passaram alguns anos mais antes de eu entrar no mundo gay. Tive duas relações
com mulheres na universidade mas esse garoto em particular, Andy, ainda estava em minhas
fantasias. De fato, eu gostava de pensar que se unia a nós”.

Eu estava confuso. “Quer dizer que, enquanto fazia amor com sua namorada, imaginava que estava
com Andy?”

“Não. Andy estava ali apoiando o que eu estava fazendo, animando-me”.

“Isso é interessante. Creio que essa fantasia com Andy estava sustentando simbolicamente sua
identidade masculina ferida”, disse-lhe.

“Bem, pode ser que sim. Porque imaginava que ele estava do outro lado da cama me animando e...”,
buscava a palavra, “incentivava para que eu fizesse sexo com minha namorada.

Dizia-me que eu era um , que estava fazendo certo e que me aplaudia enquanto fazíamos”.

Clarifiquei: “Esse homem da fantasia serve de apoio para reparar simbolicamente seu déficit de
atenção masculina”.

“Creio que sim”, concordou Charlie. “Porque eu estava ali para ela e, até certo ponto, desfrutava...
Mas, de alguma forma, necessitava de Andy”.

Charlie podia ter relações heterossexuais, mas necessitava da imagem da masculinidade de outro
homem. Sua utilização da fantasia de Andy revelava uma forma da qual se utiliza a terapia
reparativa para sanar a masculinidade ferida de um homem. Proporcionou-me também uma forma
de expressar o que faríamos nessa terapia.

“Charlie, toda esta terapia será a atualização desse homem fantasioso que está no mais profundo de
sua psique. Assim, você o encontrará dentro de si mesmo e não precisará tomar a masculinidade de
outro homem”.
“Encontrar dentro de mim. Gosto dessa ideia. Trabalhar sobre o que já sou mas não processei
ainda”. Charlie disse que queria pensar sobre esse assunto e, com isso em mente, terminaríamos
nossa sessão.

Na semana seguinte, decidimos trabalhar alguns aspectos de sua infância. “Sabe, Joe, quando eu era
pequeno eu fui enganado”, disse ele. Sentou-se na borda da cadeira. “Pode-se dizer que, sendo o
menino da minha mãe, eu fui enganado”.

“Pensei muito no que você disse na última sessão. De alguma forma”, fez um gesto forçado no ar
com seu cigarro, “de alguma forma, continuei me enganando mantendo-me nas relações
homossexuais e não me desafiando para me tornar um desses homens pelos quais me apaixono”.

“Nasci homem. E minha identidade é algo que quero ser, completamente”. Inclinou-se para frente,
aumentando a voz com frustração. “Não é que eu não gostasse nunca da ideia... Só que me sinto
inseguro em minha masculinidade. Sabe o que quero dizer? Sempre senti que, de alguma forma, era
excluído do grupo dos homens”.

“Realmente quero mudar esse sentimento. Quero afirmar o sentido de masculinidade que invejo nos
demais e deixar de admirar a dos outros homens. Mas sabe o que mais me incomoda?”.

Abaixou o cigarro e falou enfaticamente: “A sociedade, a psicologia, o mundo gay – querem-me


dizer que nasci desejando a outros homens. Eu não nasci assim; isso é uma ferida que me foi
infligida!”

Enquanto escutava, não podia evitar sentir admiração pela aquisição bem merecida de
autocompreensão desse brilhante jovem. Havia lutado e questionado a si mesmo e o que pensava
não era uma opinião que lhe faria ganhar amigos no mundo gay.

“Como eu explicava, meu trabalho me oferece a oportunidade de ler muitos livros sobre
homossexualidade”, disse Charlie. “Muitos dos livros mais velhos de psicanálise encaixam
perfeitamente em minha experiência. A família clássica de pai inadequado e mãe superprotetora. O
menino que não gostava de jogos nem de brigas. Mas se você ler os livros recentes de psicólogos
gays, pensaria que todo mundo está de acordo que a homossexualidade é inata, impossível de mudar
e, em todos os sentidos, tão normal quanto a heterossexualidade. Como pode ser normal?”, sua voz
se elevou e se encheu de profunda ira. “Você sabe, Joe, a Mãe Natureza não fez um pênis para
entrar em um ânus! Isso é anormal! É pervertido! Até mesmo no mundo animal... Quando um
cachorro monta em outro, ele o faz em sinal de domínio, não é o mesmo que faria se fosse uma
cadela no cio, por exemplo”.

Charlie riu e sentou comodamente nas almofadas do sofá. Então suspirou, olhou ao redor e disse de
forma nociva e em voz baixa: “Quer ouvir uma piada de verdade? Sabe por que os cientistas ainda
não encontraram a cura para a AIDS? Porque não podem fazer com que esses pequenos ratinhos
brancos fodam de forma extrema!”. Charlie parecia encantado consigo mesmo pela expressão não
característica de profanidade.

Disse-lhe: “Bem, você sabe que, de fato, às vezes se observa a conduta homossexual em animais.
Mas nenhum animal prefere a homossexualidade. No que se refere à homossexualidade em outras
sociedades, todas as culturas favorecem fortemente a heterossexualidade”.

Agora sentia uma necessidade intensa de expressar minhas convicções como Charlie fizera antes:
“os porta vozes da cultura gay dizem que somos presunçosos em utilizar nossos valores quando
dizemos se algo é normal. Mas então, em que se baseia a sociedade para definir a linha de
normalidade? Não acha que a pedofilia parece normal para o que abusa de crianças?”

“Não sei”, disse Charlie. “É uma pergunta interessante, não é?”

“Houve um artigo em um trabalho de 1990 do Diário da Homossexualidade”, disse a ele.

“Um terço dos pedófilos reclamava que seus desejos sexuais por crianças eram uma parte natural de
sua constituição. Sentiam que era ‘inato’, um ‘feito da natureza’, ‘inerente a eles’, e assim por
diante, o que explicavam dizendo: ‘simplesmente sou assim’. Porque criam que nasceram dessa
forma, sentiam que não podiam mudar. Portanto, afirmavam que tinham o mesmo direito que as
demais pessoas de buscar a expressão de sua sexualidade”.

“Isso é incrível”, disse Charlie.

“Veja bem, não estou pondo a homossexualidade no mesmo nível da pedofilia”, disse. “Os gays
consentem a seus pares adultos. Mas ambas as condutas são justificadas erroneamente pela
reivindicação de que se sentem normais”.

Charlie bateu o punho em seu joelho e olhou-me atentamente. “Não proclamam nossos corpos, com
seu projeto e formas, a sabedoria da natureza? Não se supões que somos chamados a viver a
complementaridade natural entre macho e fêmea? Não deveria isso demonstrar perfeitamente o
sentido evidente para todos?”

“Qualquer homem com essa ideia”, resumi. “Nunca estará satisfeito sendo gay”.

Na semana seguinte, Charlie decidiu falar de seus terapeutas anteriores. Estava impaciente por
expressar suas frustrações.

“Passei por três terapeutas nos últimos cinco anos”, disse. “O primeiro, estou seguro de que era gay,
ainda que nunca me dissesse. Disse-me que eu era gay e que devia aceitá-lo. Manteve-se dizendo
que eu deveria ir ao Centro de Serviços da Comunidade Gay e Lésbica para fazer um círculo de
amigos na comunidade gay. Fui várias vezes e as pessoas que conheci ali eram agradáveis, mas me
davam muita pena. Na verdade, não podia me relacionar com eles nem ir onde iam”.

“Esse psicólogo não tinha ideia de por que eu me sentia atraído por outros homens e não queria me
ajudar a explorar o assunto. Dizia: ‘ninguém quer saber por que um homem é heterossexual, não é?
Então, por que temos que nos preocupar com o motivo de você ser homossexual? ’. Evitou
totalmente discutir como pode ter contribuído a relação com meus pais.

Antes de deixá-lo, disse: ‘Veja, preciso de alguém que me ajude a ir para onde eu quero conduzir
minha vida, não aonde você acha que deveria me levar’. Obviamente, ele achava que eu estava
negando uma parte integral da minha natureza”.

“Meu segundo terapeuta foi um jovem heterossexual. Dizia que eu era afortunado por ser bissexual
porque tinha mais companheiros sexuais para escolher!”, deu uma longa risada.

“Tremenda idiotice! Esqueça! Depois encontrei uma terapeuta, uma mulher cristã de bons
pensamentos. Tentou me ajudar a superar a homossexualidade, mas simplesmente não sabia como.
Gastei meu dinheiro ensinando a ela o que havia lido! Finalmente, descobri seu livro e procurei por
você”.

Disse-lhe: “Charlie, estou assombrado pelo que sabe sobre sua tendência, sobre o que significa e de
onde vem”.

Ele respondeu: “estou assombrado de como os outros que estão em meu lugar não parecem saber ou
não querem saber. Perguntei a muitos gays: ‘por que você acha que é gay? ’. Não querem falar
sobre isso. Têm um medo mortal!”

Pensou durante um momento e depois disse: “Escolher viver o estilo de vida gay é como um último
recurso – uma forma conveniente de ter contato com alguém. Passei muitos anos até descobrir que o
que vivo é um acesso rápido. Pude seguir assim, seguir fazendo isso, mas me dei conta de que não
sou o tipo de gente que se conforma com algo para sempre”.

Então, Charlie verbalizou um assunto nuclear da condição homossexual: “Sempre soube que tinha
um problema de intimidade tanto com homens quanto com mulheres e sei que isso tem relação com
minha homossexualidade, mas não sei exatamente como”.

Continuou: “Meu maior problema é sentir-me sozinho o tempo todo. Desconectado. Ainda que
esteja rodeado de gente o dia inteiro no trabalho, vivo em isolamento emocional. Na semana
passada, me sentia vazio e ansioso. Não tinha a menor ambição de fazer nada e qualquer trabalho
parecia exigir demasiado esforço”.

Ema expressão de desespero assumiu seu rosto atrativo e gentil. Esperei que dissesse algo mais.
Suspirou e continuou: “Tenho tido êxito em evitar contatos homossexuais... Mas... Pode ser que
meu êxito se deva simplesmente à idade à diminuição da libido?” Sorriu arrependido.

“Em sua pequena piada ouvi uma tendência clara em desacreditar-se, a não se dar crédito por suas
conquistas. Muitos homossexuais em tratamento são lentos para se dar crédito pelo que
conseguiram. Não lhes foi ensinado a reconhecer seu poder intrínseco.

Charlie suspirou impacientemente e olhou diretamente em meus olhos: “Estou sem sexo, mas estou
sozinho e... Quero saber como posso deixar de buscar sexo com homens para sempre. É muito
difícil fazer isso por vontade imposta”.

“Alegro-me que se dê conta disso”.

“Sinto-me vazio, muito cansado. Como em um beco sem saída”.

“Esse vazio”, disse eu. “É reflexo de uma energia inexplorada que subjaz abaixo da superfície. Se
não entra em contato com essa energia e a despreza, você cairá em uma depressão a toda escala e,
depois, o que acha que acontecerá?” Avisei: “A depressão é a calma antes da tormenta das relações
sexuais de novo”.

“Isso eu sei bem”, assentiu Charlie. “Posso me imaginar visitando os bares se não fizer algo para
conseguir ser reconectado. Espero que possa me ajudar a acender o fogo adequado e montar no trem
outra vez. Engraçado – ainda que eu saiba muito sobre meu problema emocionalmente, ainda não
me sinto curado emocionalmente”.

“Bem, Charlie, nosso tempo está acabando, mas vamos pensar nesse paradoxo até a próxima sessão.
Há um mundo de diferença entre mudar intelectualmente e mudar emocionalmente”.

Quando nos encontramos outra vez, na terça-feira seguinte, Charlie continuou com a discussão da
semana anterior. “Você tinha razão quando me disse que era muito duro comigo mesmo. É parte do
meu problema. Nunca me dou crédito por nada. Estimulo a mim mesmo com uma ideia nova e logo
deixo a peteca cair, questionando a mim mesmo e acreditando em toda classe de dúvidas e medos
que sei que são desnecessários e irreais. Sinto um constante inferioridade, uma ferida profunda em
meu interior”.

Então confessou: “Uma das coisas que me fazem voltar a me paralisar e a me deprimir é que parece
que não sei como deixar meus pais, emocionalmente falando. Como cortar o cordão umbilical e
continuar...”, buscava as palavras adequadas, “continuar sendo seu amigo”.

“Ter uma relação com eles, mas não como um menino”, clarifiquei.

“Sim. Ter algum tipo de relação de igual para igual com eles”. Pensou durante um momento, depois
acrescentou: “não sei como ser real, como ser eu mesmo ao seu redor. Como me relacionar de
forma genuína. Não estou seguro de quais são meus sentimentos com relação a eles”.

Enquanto começava a afrontar como não havia sido tratado honestamente por seus pais, Charlie
entrou em uma das fases mais dolorosas da terapia reparativa. Fora de suas necessidades narcisistas,
seus pais, especialmente sua mãe, havia-lhe requerido que fosse um bom menino e, dessa forma,
comprometeu seu próprio desenvolvimento autônomo masculino.

“A ferida que tem dentro de você vem de dar-se conta de que não foi reconhecido como indivíduo”,
disse. “Em algumas áreas não foi bem atendido, em outras, demasiadamente mimado.

Seus pais não te deram um sentido forte de verdadeira identidade”. É esse tipo de infância que levou
aos autores Leanne Payne e Colin Cook a descreverem o homossexual como um órfão.

“Talvez seja isso”, disse ele. “Intelectualmente me sinto seguro de mim mesmo, mas
emocionalmente... Sinto que, de alguma forma, não sou nada. Não sou nada e isso me deixa
doente...”

Disse-lhe: “voltar e reclamar sua verdadeira identidade significa começar a trabalhar seu caminho
de volta através da ferida”.

“E quanto à minha ira?” Perguntou. “Também tenho muita ira”.

“Com certeza. A ira é uma defesa contra a ferida, contra a injustiça. Por isso, muitos dos homens
estão assim. Sua ira não é só pela intolerância da sociedade ou com a homossexualidade.

Vem de sua consciência, em algum nível profundo, de que essa parte que essa parte de sua
identidade essencial lhe foi arrebatada em seus primeiros anos de vida”.

“Mas como reconheço esses sentimentos de ira em relação a meus pais? Tenho que repudiá-los
emocionalmente?”

“Não creio que tenha de repudiá-los”, disse. “A tarefa é ser um adulto com eles, não um menino
pequeno manipulado por eles”.

Ele suspirou e disse: “Sinto-me paralisado quando penso no que há diante de mim”.

Respondi: “Essa é uma fase crítica e de transição em sua terapia. Já não é o menino manipulado,
mas ainda não sabe como ser o adulto autônomo”.

“É exatamente aí que estou”, assentiu. “Como posso me tornar um adulto com relação a meus pais?
Sei que não posso mudar meu pai. Quando era pequeno, nunca consegui que me reconhecesse de
forma nenhuma. Pode ser que se eu o tivesse acompanhado para praticas os esportes dos quais
gostava – ele amava descer pelas águas bravas do rio e pescar. Não fui com ele, a não ser umas duas
vezes, porque não gostava de ficar afastando os mosquitos a noite toda e ouvir os coiotes uivando
nos arbustos. Quando comecei a negar-me a acompanhá-lo em suas viagens, creio que sentiu que eu
o rejeitava. De alguma forma, creio que foi culpa minha que me deixasse com minha mãe e minhas
irmãs”.

“Se você centra sua terapia em mudar seu pai, estará sabotando seu tratamento. Provavelmente não
conseguirá mudar seu pai, mas pode mudar a forma como se relaciona com ele. Não vai querer
voltar a se sentir frustrado porque isso te levará...”

“De volta a algum relacionamento homossexual. E isso não é o que quero”, disse ele abruptamente.

“E regressará na semana seguinte com os mesmos problemas”, acrescentei.

“Tem razão”. Então, acrescentou pensativamente: “Tão rápido como deixo de tratar do meu pai,
afronto os problemas de novo. Posso esquecê-lo por um momento, tirar a luta de minha mente, mas
está claro que perco meu tempo, que vou ter de tratar eventualmente desse problema.

Se não posso mudá-lo, posso mudar a forma de me relacionar com ele”.

Sentia a pressão que Charlie punha sobre si mesmo e sentia que necessitava voltar a dar-lhe
segurança: “Não é algo que tenha de resolver instantaneamente. A grande vantagem dessa terapia é
que há muitas formas de progredir – atividade física, desenvolvimento de amizades masculinas
saudáveis, começar um diálogo baseado no respeito com ambos os pais. Há muitos desafios que te
farão progredir”.

“Porque acabo de me sentir golpeado...”

“A natureza ativa e iniciadora da terapia reparativa enfatiza os desafios diários do mundo”,


expliquei. “Mas, quando você está golpeado em um nível consciente, olhe para o inconsciente.
Ponha atenção ao que se apresenta em seus sonhos”. Ainda que Charlie se sentisse estancado, tinha
muito que aprender com a corrente oculta que vinha de seu inconsciente.

Considerando minhas palavras, Charlie disse de repente: “Na noite passada, tive um sonho
diferente, que posso recordar só de forma vaga. Estava passando mal tentando me centrar nele
quando acordei. Foi tão breve...”. Duvidou, depois disse: “Ah, lembro! Estava nu diante de meu
pai”.

Olhou-me e disse: “isso foi tudo”.

“Nenhum sentimento?” Perguntei.

“Não, nenhum em particular”. Encolheu os ombros.

“Havia algum sentimento sexual?”

“Nada. Só uma atitude objetiva de ‘estou aqui’”.

“Como você interpreta esse sonho?”


“Não tenho nem ideia. Nunca havia sonhado algo assim antes”.

“O que poderia estar tentando dizer ficando nu na frente do seu pai?”

Respondeu: “Este sou eu! Quero que olhe para mim!”

“Esse sonho tem um tema reparador”, disse-lhe. “É a tentativa de uma cura de si mesmo.

Seu pai representa a masculinidade que nunca afirmou em você. A afirmação masculina que você
gostaria de ter. Você diz: ‘olhe para mim! Olhe-me pelo que sou! Sou um homem, reconheça-me! ’,
isso é o que você quer. Creio que é um sonho importante que representa exatamente o que quer
alcançar aqui em sua terapia”.

Charlie sorriu: “Precisamente! A imagem é tão simples, mas tão perfeitamente simbólica. Isso é
exatamente o que eu quero”. Um olhar maravilhado cruzou seu rosto. “É assombroso. Em algum
nível de minha psique sei do que necessito e já estou me esforçando para isso”.

Ele riu: “Talvez não esteja tão golpeado como creio que estou”. E, com essa frase, concluiu nossa
sessão”.

Algumas poucas sessões depois, Charlie recordou como, quando era jovenzinho, havia aceitado ter
relações sexuais com um garoto mais velho. Então, com vergonha considerável, admitiu que essa
não foi simplesmente um incidente único senão um padrão regular. Agora tentava entrar no mundo
desse menino pequeno – o que havia buscado?

Perguntou: “O que leva um menino a fazer isso, Joe?” A dor e a vergonha ainda estavam em seu
rosto.

“Você tinha de fazer algo, tinha de satisfazer alguma necessidade”, respondi.

“Mas por que assim?”

Então, Charlie respondeu à sua própria pergunta: “Era uma busca por mim. Era algo que não
encontrava em mim mesmo...”

Charlie havia tocado uma verdade essencial sobre a condição homossexual: ela representa um
esforço para encontrar uma parte perdida da identidade. Quando comecei o trabalho clínico com
homossexuais, a princípio pensava que era simplesmente um problema sexual.

Posteriormente, dei-me conta de que era um problema de identidade de gênero. Hoje, vejo como um
problema de identidade nuclear. A homossexualidade representa a perda de uma identidade
verdadeira e de aspectos do próprio poder masculino.

“A maioria desses meninos com os quais tive contato sexual hoje estão casados”, disse Charlie.
“Não se engancharam à homossexualidade como eu”.

A percepção de Charlie era exata. Para muitos meninos, o homoerotismo satisfaz uma curiosidade
normal. Mas, para outros, como ele, essa conduta expressa um anelo emocional bem mais profundo.
Em Charlie havia uma necessidade de satisfazer sua identidade essencial masculina – uma
necessidade que buscava liberar na intimidade sexual com outros homens.

Perguntei a Charlie: “Você encontrou alguma satisfação durante os anos posteriores, quando
pertencia ao mundo gay?”

“De alguma forma, sim”, disse ele. “Dava-me um sentimento libertador. Passava algumas horas em
um bar gay depois de um dia de trabalho duro na biblioteca. Ao final, estava em um mundo de
homens que estavam na mesma situação que eu e não havia pretexto, nada para esconder. Podia
conhecer um rapaz e ir para casa com ele durante horas – era como o prazer de desfrutar de um bom
prato de comida depois de um dia de trabalho”.

Sua utilização da palavra “comida” me inquietou. Então, o ato homossexual era comparável ao ato
de comer, devorar? Pode representar a felação o mesmo impulso inconsciente para satisfazer uma
necessidade fisiológica, como a alimentação? A “ceia”, nesse caso, pode ser tanto primitiva quanto
prazerosa, incorporando as fantasias relacionadas a outro homem dentro do eu, tornando esse eu
mais forte. Pensei nos ritos de iniciação masculina das tribos primitivas, como a Sambia da Nova
Guiné, onde os jovens são iniciados na masculinidade e na força por meio do ritual de engolir o
sêmen de homens mais velhos.

Também me lembrei da ideia de Carl Jung acerca da condição homossexual. Tal como parafraseado
por seu biógrafo, segundo Jung, a homossexualidade trata-se de “um ser desenvolvido (...) nas
profundezas da própria psique, que se busca no plano biológico por meio da “fusão” com outro
homem (Jacobi, 1969, p. 51).

Charlie e eu seguimos falando dos padrões vistos com tanta frequência nas famílias de
homossexuais. Enquanto insistem que a homossexualidade é estritamente genética, os apologistas
gays têm desestimado as investigações sobre as origens familiares da homossexualidade. Descartam
bruscamente as averiguações psicanalíticas clássicas sobre a homossexualidade como
“desaprovadas” ou “defasadas”. Temem que, caso se consiga demonstrar uma conexão com padrões
familiares abalados, então a sociedade seja menos tolerante com a homossexualidade.

Entretanto, costumo me perguntar se compensa que a tolerância exista à custa da verdade. Por que
não podemos ter a verdade com a tolerância?

Expliquei a Charlie como o menino pré-homossexual é, em termos gerais, o que Alice Miller (1987)
chama de “menino usado”, mas que é usado de forma particular. Pode ser que a mãe utilize o filho
para gratificar suas necessidades emocionais não satisfeitas por seu marido. O “bom menino” é a
criação de uma percepção feminina distorcida do que se supõe que deva ser um homem. O pai, por
outro lado, usa o filho pré-homossexual de forma mais sutil. Pode ser que seja esforçado, mas
inadequado, bem intencionado, mas descuidado. Às vezes o pai sacrifica o filho para atender às
necessidades da mãe. Delega ao filho a responsabilidade de manter a mãe feliz. De qualquer forma,
o uso do menino nessa relação tríade sacrifica sua masculinidade.

Charlie disse lentamente: “em outras palavras, pode ser que o menino tenha sido inaceitável para
sua mãe até que extinguisse sua masculinidade”.

“Nunca a extinguiu”, corrigi. “Simplesmente nunca teve nenhum estímulo para afirmá-la. Para
permanecer nas boas graças da mãe, pode ser que tenha tido de negar seu desejo pela
masculinidade. Pelo amor da mãe teve de submergir o que chamamos de esforços masculinos”.

“Porque ela queria que ele fosse seu bom menino para sempre?” Perguntou Charlie.

“Com frequência. Muitas mães querem que seus filhos sejam bons, puros, que sejam para elas como
uma pequena mascote. O papel de bom menino exclui a masculinidade, uma vez que a
masculinidade traz consigo a independência, a autonomia e o exercício do poder pessoal”,
expliquei. “O que faz ao filho diferente da mãe é precisamente sua masculinidade. Se a expressa,
sua mãe pensa: ‘ele não será como eu’. Algumas mães se sentem ameaçadas por essa diferença de
gênero”.

“Como se ela quisesse que ele fosse seu companheiro”, disse Charlie com uma expressão de
desgosto.

“Sim”, disse eu, acrescentando: “Essas mães não querem, conscientemente, que seus filhos sejam
homossexuais. Quando descobrem, vinte anos depois, que seu filho tem problemas com
homossexualidade, costumam ter um choque e ficam muito tristes. Não se dão conta de que elas
mesmas ajudaram a estabelecer as bases dessa tendência”.

“E quando a mãe está criando esse menino bonzinho e neutralizado, o pai não intervém!”, a voz de
Charlie carregava uma certa ira.

Respondi: “Exatamente. Um papel importante do pai forte e educado é destruir o vínculo simbiótico
cômodo da relação entre mãe e filho. Muitos pais são boas pessoas, mas simplesmente não veem o
que está se passando”.

“Assim, pode ser que haja muitos meninos que tenham o mesmo tipo de mãe que eu tive, mas seus
pais intervieram e detiveram o que estava se passando. Se eu tivesse tido um pais mais implicado,
minha educação poderia ter-se equilibrado de forma diferente”.

“Totalmente. E, quem sabe se você, você mesmo, tivesse sido um pouco mais duro e resistente,
pode ser que tivesse se afastado de sua mãe e aberto caminho à reserva e falta de implicação de seu
pai. Mas era um menino sensível e não do tipo que é apto para tomar desafios emocionais. Por isso,
a homossexualidade costuma ser não um problema de mãe e filho ou de pai e filho”, expliquei. “É
um equilíbrio entre os três. O eminente psiquiatra Irving Bieber se referia a isso como ‘relação
tríade’”.

Charlie recordou: “É divertido, estava olhando recentemente algumas fotos da família e minha irmã
disse que, toda vez que tirávamos uma foto familiar, eu não queria sair. Conseguia escapulir para
fora do alcance da câmera”.

“Uma retirada. Um sentimento de diferença. Ouço isso o tempo todo. O menino pré-homossexual
não se sente parte da família”.

“Foi o que se passou comigo”, disse Charlie.

“Posso compreender isso, já que você não foi levado a sério por seus pais”.

“Fui tratado como um objeto de posse”, disse. Então, acrescentou: “Quando estava na escola de
gramática, tive um problema de peso e os meninos do colégio costumavam tirar sarro de mim e me
chamar de gordo. Mas minha mãe me olhava com orgulho um dia enquanto comia uma torta de
creme de chocolate inteira. Até esses dias, falava com orgulho sobre o quão lindo que o Charlie
estava enquanto terminava toda a torta de uma vez”.

“Era uma possessão adorável”, disse-lhe.

“Como os três pequenos cachorrinhos que ela pegou para cuidar quando os três filhos cresceram e
saído de casa”. Ele riu. “Esses cachorros ocupam nossos lugares!”
“Fizeram com que você vivesse uma falsa identidade que sacrificou sua autonomia e sua identidade
masculina”, disse-lhe. “A gente não costuma se dar conta de que está vivendo uma falsa identidade
até começar a experimentar uma certa identidade dela. Quando começa a viver seu verdadeiro eu,
terá uma sensação de libertação, de espontaneidade e de poder interior. O falso eu costuma deixar
na pessoa sentimentos de consciência rígida e, de alguma forma, de vazio e morte por dentro”.

“E o sentimento do verdadeiro eu? Ficará comigo, com o tempo?”, perguntou Charlie. Então disse
com uma nota de encanto em sua voz: “estou começando a me sentir mais forte. Estou progredindo
com meus amigos heterossexuais e estou pensando em ir a uma academia”.

“Que bom. Está se movendo na direção correta”.

“Quero me sentir melhor em relação a meu corpo”, disse. “Estou ficando mais velho e mais
flácido”, falou dando palmadas na barriga, “o que é deprimente. Tinha uma boa presença quando
estava na universidade. Havia deixado essa imagem de menino gordo perdendo muito peso e
fazendo exercício, de forma que me sentia mais sexy. Fazia bem me sentir desejado pelos homens
nos bares, esse tipo de vaidade”.

Essa “vaidade” nos conduziu a uma discussão acerca de uma condição homossexual que chamo de
alienação do corpo. Os gays têm a tendência de perceber seu próprio corpo masculino com uma
fascinação excluída, como se fossem objetos. O corpo do homossexual, particularmente o pênis, é
algo que ele carrega, mas que não possui. Esse sentimento de não possuir o próprio corpo pode
tomar a forma de complexo de inferioridade ou superioridade, mas nunca existe uma conexão
tranquila com ele. Muitos clientes expressam um sentido de desconexão de seus corpos que começa
na tenra infância. Existe também uma excessiva modéstia, que costuma continuar até a idade adulta.
Pode ser que descrevam uma falta de vontade de tirar a camiseta, mesmo na praia ou no calor.
Descrevem uma vergonha de se despir na frente de outros meninos, inclusive seus irmãos. A
timidez pode se alternar com o exibicionismo, que é um intento exagerado de compensar a timidez.
Tanto a timidez quanto o exibicionismo são formas de alienação do corpo.

Esse mesmo complexo de inferioridade e de incômodo ressurge nos anos posteriores, quando o
jovem desenvolve certa sobrecarga de preocupação com o tamanho do pênis.

Relacionado com isso está a vergonha de urinar na frente de outros homens nos banheiros públicos.
O que vemos nessa dinâmica de alienação é um fracasso da família (e do pai em particular) em
integrar o menino em sua masculinidade por meio de seu próprio corpo.

Mesmo quando descreve sua participação em esportes, o homossexual experimenta, com


frequência, uma exclusão objetiva. Sua tendência é observar a si mesmo e aos movimentos de seu
corpo, mais que sentir a si mesmo, que está movendo esse corpo. Porque carece dessa confiança em
seus movimentos naturais, é provável que inveje essa qualidade nos heterossexuais. Por essa e por
outras razões, vejo que a homossexualidade não é simplesmente um problema sexual, senão um
problema maior, relacionado ao seu próprio lugar no mundo.

Voltando ao problema da vaidade, disse a Charlie: “Seu interesse em se implicar em seu progresso
físico é grande, mas não deveria ser buscado por vaidade. Não vai querer que seu corpo seja um
objeto. Essa é uma necessidade que procede do falso eu. O objetivo é desenvolver um sentido
interno de propriedade. Você é seu corpo, está centrado em sua masculinidade. Você não o leva, ele
é que te leva. O orgulho que sente por seu corpo deve surgir de sua identificação com outros
homens. Compreende a diferença?”

“Totalmente”, respondeu ele. “Conheço ambas as possibilidades. O prazer em olhar meu corpo,
procedente do narcisismo, e, por outro lado, o sentido de estar centrado em minha masculinidade.
Sei a diferença, mas, às vezes, é difícil alcançar essa outra forma de me perceber”.

“Tem razão”, assegurei. “O que importa é que você sabe a diferença”.

“Durante um longo tempo, depois que perdi peso, sentia-me orgulhoso porque tinha um bom corpo
que chamava a atenção de outros homens. Nos bares, os homens me olhavam e isso me fazia sentir
bem comigo mesmo. Entretanto, de alguma forma, eu o odiava – permanecia buscando encontrar o
que realmente queria”.

“O que era?”

“Um homem”.

Assustado com essa contradição, perguntei: “seu corpo permanecia na busca por outro homem?”

“Assim era”.

“Explique-me isso”.

“Tudo o que queria era estar perto de um homem. Não de um gay, mas sim de um heterossexual –
um homem 100% masculino e natural. Mas esses homens não se apaixonavam por mim – eles
queriam o que não podem ser, isso é, uma mulher. Esse é o paradoxo da condição homossexual”.

Pensando nisso, terminamos nossa sessão.

Charlie logo começou a progredir com suas amizades heterossexuais. Passou a frequentar uma
academia onde estava descobrindo que poderia ter amigos heterossexuais sem estar sobrecarregado
em tensões homossexuais. Agora, falava de um novo amigo, Rich, a quem descrevia como “um
grande homem, muito afirmativo. Heterossexual, e não tem nem ideia do que estou vivendo”.

“Tenho uma pergunta”, disse-lhe. “Alguma atração por ele?”

“Uma ligeira”, admitiu Charlie depois de uma pausa de reflexão. “Sim. Às vezes, comparo-o
comigo mesmo e me encontro pensando: ‘ele tem algo que eu não tenho’. Daí vem uma certa
atração sexual”.

Continuou: “Um dia, na semana passada, Rich entrou caminhando no vestiário. Tinha uma camisa
de corte e seus músculos estavam bem evidentes. Não me sentia bem com meus braços e peitorais
fracos e senti que despertava em mim uma atração. Disse para mim mesmo: ‘se quer o que ele tem,
terá que trabalhar por isso como ele o fez. Se crê que ele conseguiu isso da noite para o dia, está
enganado. Pagou com suor por esse corpo’”.

De todos os homens com os quais trabalhei, Charlie era o melhor em utilizar uma técnica chamada
conversa de auto mentor, a prática de falar consigo mesmo com a voz de um pai forte e benevolente
interiorizado.

Continuou falando de seu novo amigo: “Rich sempre me faz rir. Ajuda-me a ser menos sério. Gosto
desse seu sentido de espontaneidade, esse entusiasmo e humor louco. Não (saca) nada fora de
proporção, diferente de mim”.

Manteve-se calado por um momento, depois disse o seguinte: “Outro dia fui golpeado por uma
verdade que me veio pela graça de Deus. Dei-me conta de que não há ninguém neste mundo que
possa dar a mim a minha identidade masculina. Nenhum outro homem. Reside dentro de mim, só
que está inativa. Ninguém pode oferecê-la. Nem eu posso consegui-la mudando minha imagem
externa. A chave real para mudar é atualizar o que já tenho dentro de mim”.

Charlie parecia impaciente para continuar falando: “Rich e eu saímos há umas duas semanas e
parecia que ia chover antes de voltar ao carro. Rich pareceu não se importar porque não disse nada,
mas eu estava ficando nervoso. Minha mãe sempre dizia ‘Vai chover!’ como se como se me molhar
fosse supor a própria morte, como se fosse morrer de pneumonia. A maioria dos homens não se
importa em se molhar, claro, mas a voz de minha mãe sempre soava como uma velha gravação
dentro de minha cabeça. Assim, pensei: ‘se molhar, molhou, e daí?’. Bem, ficamos ensopados.
Pensei: ‘e agora, o que faremos?’. Rich seguiu caminhando sem dizer nada, como se não fosse
importante”.

Charlie me lançou um tênue sorriso, como se estivesse feliz por haver quebrado um dos maiores
vínculos com os quais sua mãe o havia oprimido.

“Realmente creio que estou progredindo”, continuou Charlie, “senti isso em alguns sonhos que tive
recentemente. Na noite passada, sonhei que estava na base de um caminho em uma montanha com
meu amigo Eric. Levávamos mochilas e botas de excursão e nós tiramos as camisetas debaixo do
sol da tarde. Ambos parecíamos musculosos e eu me sentia bem comigo mesmo. De repente
passaram caminhando duas moças loiras e eu dizia: ‘ei, Eric, não são bonitas? ’.

Ele respondia que sim, e isso parecia uma amizade alegre”.

“Muito interessante. E como interpretaria esse sonho? Lembra-se das regras básicas de
interpretação de sonhos – todo sonho é significativo e cada parte desse sonho representa uma parte
de você”.

Começou: “havia um sentimento, no sonho, de ser feliz simplesmente por ser eu, e isso me
encantava. A sensação de ser despreocupado e forte. Queria apropriar-me desse sentimento e mantê-
lo. Não me sinto dessa forma com frequência e era uma altura real para mim”.

Perguntei: “A pergunta agora é: por que Eric está no sonho?”

“Deixe-me pensar nisso”, disse Charlie. Sentando-se, olhou para cima e meditou. “Bem... pode ser
que veja nele qualidades que gostaria de ter em mim”.

“Certamente”, disse eu. “Sente que vai conseguir essas qualidades?”

“Pouco a pouco, sim”

“Quais qualidades?”

“A espontaneidade, a liberdade. Isso é o que Eric representa – essas são as qualidades que mais
admiro nele”.

“Que parte de você é representada pela montanha?”

Charlie pensou por um momento e depois respondeu: “Suponho que é minha luta. A terapia é como
escalar uma montanha. E pode-se dizer, de certa forma, que Eric é meu companheiro e meu guia”.
Charlie parecia mais seguro com esse sonho. Via nele a satisfação que procede da compreensão de
como seus sonhos, em perfeito simbolismo, refletiam seus esforços conscientes.

Charlie havia percorrido um longo caminho e, por isso, nós dois estávamos contentes.

Muitos homens vieram a mim cronicamente deprimidos e infelizes, passando pelos movimentos da
vida enquanto perdem algum tipo de vitalidade essencial. Os porta vozes gays dizem que esses
homens estão cheios de ódio por si mesmos devido à sua interiorização da homofobia social. Ou
diriam que esses homens se sentem cronicamente vazios porque não se permitem encontrar
satisfação em um amante masculino. Mas essa vitalidade havia desaparecido há tanto tempo como
Charlie podia recordar e sabia que tinha a ver com sua masculinidade perdida.

Durante o transcurso da terapia, cada cliente passa por momentos de desespero durante os quais
tento fazê-lo consciente da nova vida que emergirá do outro lado de sua luta. Estou a seu lado
enquanto suporta a dor que é sempre parte da cura, enquanto pergunta, uma e outra vez, “por que
sou eu quem deve sofrer”. Houve muitas vezes em que Charlie se perguntou se conseguiria subir
essa montanha.

No último ano de tratamento, Charlie entrou na terapia de grupo, onde contribuiu com uma
presença pensativa e de introspecção. O respeito que ganhou do restante do grupo era evidente:
quando Charlie falava, todos escutavam. Sua claridade de expressão e sua visão penetrante deram a
ele a posição de líder admirado. Com frequência, Charlie dirigia a direção do debate de nosso
grupo. Fez muitos amigos íntimos entre os homens, apoiando-os quando perdiam seu rumo.

Quando saía caminhando de meu consultório pela última vez, sabia que não era o único que sentiria
sua falta.

Charlie Keenan mudou em muitos sentidos. O que buscava mais da terapia reparativa era estar
centrado em sua própria identidade masculina. Através desse ganho, esperava encontrar uma
diminuição de suas distrações homossexuais. Depois de dois anos, deixou meu consultório sentindo
que havia conseguido aquilo para o qual havia vindo à terapia.

Ainda tenho em minha mesa um folheto no qual Charlie escreveu algumas reflexões:

Hoje, minha terapia desenreda os enganos que infligiram essa insegurança masculina sobre mim.
Minha terapia tem sido um processo sofisticado de descobrir a verdade, provando-a e vivendo
confidencialmente pela primeira vez em minha vida. Minha terapia me mostra que sou um membro
total do clube de homens porque nasci homem. Minha terapia me põe na companhia de outros
homens com a mesma luta. Nós acreditamos uns nos outros e nos ajudamos mutuamente a viver
essa energia e identidade masculina, mais que a perpetuar a mensagem mítica de que não
merecemos a identidade masculina sã de que desfrutam todos os homens.

Esses dois anos e meio foram uma bênção de liberdade e poder. Meu sentido de satisfação com
minha masculinidade está vivo e crescendo agora:

1. Não anelo mais a masculinidade. Em vez disso, eu a afirmo.

2. Já não supervalorizo (desejo sexualmente) nem menosprezo (exclusão defensiva) os homens de


minha vida. Em vez disso, fico com eles como um igual.

3. Perdi meu antagonismo com meu pai e me encontro identificando-me cada vez mais com ele.
4. Falo com mais frequência e sou mais assertivo.

5. Em espírito, sou menos reprimido.

6. Em ação, tenho mais controle. Tenho mais vontade de me arriscar.

7. Por meio do exercício tenho feito melhores amigos e tenho e tenho menos ódio do meu corpo.
Pode ser que nunca me veja completamente livre desse desajuste que tenho desde que era pequeno
mas estou fazendo o máximo que posso com meu corpo.

8. Posso apreciar melhor o feminino em minhas amigas mulheres porque seu contraste comigo é
agora mais aparente.

9. Busco a energia masculina em todas as coisas e encontro formas de experimentá-la ou expressá-


la genuinamente desde dentro porque fazer isso é viver e sanar.

Só que há homossexuais que aceitam a ideia de que nasceram assim. Vendem-se barato. Recusam
admitir que possam estar carentes (como está todo ser humano). Recusam buscar as raízes de seu
problema porque é repugnante ver como alguém, quem sabe sem querer, disse “não” à
responsabilidade que se coloca sobre nós para vivermos como fomos criados. É um pecado de
orgulho que cega essas pessoas, que as engana na crença de que a abertura é uma vergonha. Não é.
A vergonha real é não aceitar o perdão nem conceder o perdão. Eu perdoei aos homens que me
fizeram dano como perdoei a mim mesmo pelos anos de fuga.

Tenho a esperança de que todo homem que padece de homossexualidade possa abrir-se para receber
a mesma graça que eu recebi. Essa graça foi a que me possibilitou ver que minhas tendências
homossexuais não eram um grito para ter outro homem – era um grito para ter a masculinidade.

Charlie ainda me envia algumas notas e sempre estou contente de saber algo dele. Os homens do
grupo ainda sentem sua falta.
CAPÍTULO 5

DAN, UM HOMEM COM IRA


Jennie, minha secretária, me chamou na porta: “seu paciente das seis está aqui”. A porta estava
entreaberta e Jennie olhava pela fresta. “Esse cara parece um pouco... forte”, sussurrou.

Um minuto depois, Jennie apresentou Dan Prescott a mim. Alto, musculoso, cerca de 40 anos, Dan
entrou pavoneando-se no consultório, dirigindo a mim um inquietante e penetrante olhar com seus
brilhantes olhos castanhos. Parecia um adolescente dos anos cinquenta, com seus jeans azuis
ajustados e sua camiseta branca com as mangas encolhidas sobre os bíceps. Nos demos as mãos e
indiquei a ele um assento enquanto sentava-me de frente para ele.

Quase antes de sentar-se, Dan começou: “Permita-me dar uma informação básica: não desejo perder
tempo. É como diz o ditado, tempo é dinheiro”. Seu sorriso era um tanto cínico.

Inclinou-se para trás e falou com decisão: “Estou cambaleando pelo ambiente gay desde os
dezesseis anos. Já vi de tudo. Envolvi-me com álcool e drogas pesadas, toda classe de merda. Devo
ter tido relações com centenas de rapazes. Realmente, eu fodi com minha vida”.

Suspirou profundamente e baixou os olhos. Sua brusquidão de repente se suavizou.

“Cheguei à conclusão de que não vale a pena”. Sacudiu com tristeza a cabeça. “É tanta dor. A fugaz
esperança de conhecer esse amigo especial, de encontrar essa relação para toda a vida...”, vacilou,
como se buscasse as palavras. “Bom, dei-me conta de que não é possível”.

Deteve-se, esperando de mim uma resposta. Não obtendo, continuou: “Durante os últimos três anos
tenho me esforçado muito para ficar sóbrio e tenho tido bastante êxito”. Apesar de si mesmo, os
olhos de Dan mostravam um indício de orgulho. Obviamente, era difícil para ele se sentir bem a
respeito de qualquer conquista pessoal.

“E por que veio a mim neste momento?”

“Ouvi falar do que você faz aqui”, gesticulava pela sala. “E pensei que poderia me ajudar. Quero
abandonar o sexo com homens como abandonei as drogas e o álcool. Para mim, o sexo com homens
é só outro vício”.

Vacilou, depois acrescentou: “Pensei que poderia me dar conselhos melhores que o ‘simplesmente
diga não’”. Por um momento, escapou-lhe um sorriso.

Pondo-se rapidamente sério outra vez, continuou: “Quero saber mais sobre mim, conseguir mais de
mim mesmo. E quero sair desta contínua... esta... bom, infelicidade”.

Enquanto falava-lhe, dei-me conta de que Dan olhava para mim ardendo de ira. De fato, era um dos
homens mais hostis que haviam entrado em meu consultório. Dan sempre estava irritado e disposto
a sentir-se ofendido. Sua ira estava à flor da pele e parecia pronta a explodir em qualquer momento.
Além disso, por trás da ira descobriria um medo paralisante igualmente intenso que suportava desde
a infância.

Em tom de chacota, Dan disse que trabalhava como “ajudante do ajudante de produção” de um
programa de televisão para crianças. Pouco a pouco, fui escutando a história de sua luta contra o
vício que desenvolvia nas livrarias para adultos ou nas ruas da parte oeste de Hollywood.

Com o tempo, aprendi que a ira de Dan lhe servia de defesa frente à vulnerabilidade necessária para
o contato interpessoal autêntico. Observando seu corpo no assento, descobri que, quando Dan
estabelecia uma conexão emocional comigo, ainda que breve, cessava imediatamente sua
intranquilidade física. Sua expressão verbal tornava-se concentrada, incrivelmente penetrante e
lúcida. Para Dan, a ira era uma forma de exclusão defensiva. Mantinha as pessoas apartadas dele e o
protegia da ferida que ele sempre antecipava.

Disse-me ele: “Estou aborrecido com meus amigos, meus chefes, cada um desses filhos da puta!
Mas ninguém me fode tanto quanto minha mãe! Visitá-la por dois minutos já é o suficiente para me
deixar completamente louco”. Retorceu-se com tensão em seu assento.

“Como outro dia. Está sempre dizendo que não vou lá o suficiente. Tenho as chaves de sua casa,
assim, quando vou, acabo fazendo muito barulho. Ela dá a volta e salta (imitando uma voz
feminina) ‘Meu Deus, é você! ’, põe a mão no peito e fala: ‘por que não disse nada?’. Então,
durante todo o tempo que eu permanecer ali, ela fica falando do que fiz para tratar seu sistema
nervoso!”

“Sinto vontade de ir embora de lá. Aquela mulher sempre foi um caso perdido de histeria!”
Recuperando a compostura, continuou: “Dou-me conta de que é uma mulher mais velha, mas é tão
típico precisamente de minha mãe essa forma de atuar! Tenho a esperança de que algum dia deixe
de pensar tanto em si mesma, de ser tão histérica, e entenda a mensagem”.

“Qual mensagem?” Perguntei.

Atrapalhado com a pergunta, Dan se deteve por um momento e, depois, disse com amargura: “Que
me veja... Que pense em mim... Que...”

“Que te reconheça”, disse assentindo. Falando por ele, continuei: “‘Mãe, sou eu, seu filho! Será que
você pode se esquecer, por um momento, de seus nervos e lembrar que é seu filho que está diante de
você? ’. Seria isso o que você gostaria de dizer a ela?”

Dan assentiu. Sua expressão me dizia que eu o havia compreendido.

Tal como Dan compreendia sua primeira infância, estava claro que sua mãe, com efeito, havia
abandonado a ele emocionalmente. Esse temor do abandono lhe havia deixado um vazio e uma ira
interiores que não pareciam apaziguar com nada em sua vida.

Dan disse: “Há um instrumento musical hindu chamado sitar que toca sempre a mesma nota, a nota
sruti”. Movei a cabeça. “Minha nota sruti é: ‘não consigo o que as demais pessoas conseguem na
vida. As relações não funcionam para mim’.”

“A frustração, a ira, a amargura e a decepção estão sempre presentes”, disse eu. “Você pode se
distrair por um momento, conseguir certo alívio, mas, quando a distração termina, essa nota básica
ainda está aí soando”.

Na semana seguinte, Dan lançou-se no assento e começou logo a falar de seus lamentos.

Ainda que ainda não tivesse estabelecido uma conexão emocional comigo – de fato, parecia ignorar
constantemente o que eu tinha a dizer – não tinha problema em descrever as coisas que o
preocupavam.

“Desde que posso me recordar, sempre houve uma luta poderosa entre meu pai e eu”, disse,
acompanhando sua afirmação com um soco no ar. “A única ocasião que tínhamos para nos
relacionar era quando brigávamos”.

“Com frequência, ocorria em torno da mesa na hora da refeição, e isso remonta à época em que eu
usava fraldas. Como todas as crianças, eu não queria comer tudo. Era uma grande luta de poder
entre nós. Ele queria me obrigar a comer e eu não comia. Eu ficava ali sentado na mesa durante o
que pareciam horas. Tornava-se uma batalha de vontades – continuávamos durante um longo tempo,
ele gritando e eu chorando. E, é claro, minha mãe ficava histérica, totalmente impotente”.

“Para você, qual era o motivo dessa batalha?”

“Tratava-se de algo mais que simplesmente comida, disso eu sei”, moveu a cabeça, incapaz de
especular mais além.

Eu pressionei: “seja o que for, devia ser muito importante. Imagine o grande custo emocional para
um menino pequeno que, seguramente, estava faminto”.

Dan encolheu os ombros com impotência.

“Lutar com seu pai era algo muito importante”.

“Suponho”.

“Porque não estava lutando só por teimosia. Lutava por um aspecto vital de sua identidade: seu
poder e autonomia. Uma atenção negativa era melhor que nenhuma atenção – era melhor ter seu pai
brigando com você do que te ignorando”.

Dan permaneceu em silêncio.

Continuei: “O terrível é que a batalha se tornava uma auto derrota. Você acreditava que conseguiria
autonomia, mas terminava se encerrando em um modelo destrutivo”.

Podia ver claramente que as brigas de Dan com seu pai haviam estabelecido um modelo duradouro
de relações masculinas hostis. Sua auto derrota no modo de relacionar-se com homens era uma
tentativa retorcida de conseguir reconhecimento e atenção masculinas. As mulheres eram
depreciadas como pouco fiáveis, fracas e manipuladoras. Os homens eram vistos por ele como
apaixonantes e fortes, porém desesperadamente inalcançáveis.

“Meu pai, meu pai! Pensar no homem que me faz chorar. Nada mais que um boneco de trapo,
nojento, gordo e grande. Recorda-me o Jackie Gleason, tem um bom coração, mas imbecil.

Não tinha amigos e, na maioria das vezes, sequer queria crianças ao seu redor. Gritava ‘moleques,
calem essas malditas bocas e deem o fora daqui!’. Justo diante de nós. Que ridículo! Era um filho da
puta! Eu o odiava. Acredita que, quando morreu, deram-me um retrato dele? Não quero nenhuma
porra de retrato desse homem na minha casa!”

Em voz baixa, acrescentou: “apesar de tudo, sinto sua falta”.

“Existe ira, mas...”, disse eu.

“Sim”.

“Mas ira e amor”.

“Sim. O que constitui um conflito amor – ódio”.

“Convertido em ódio por si mesmo”, acrescentei.

Houve um longo silêncio.

Repentinamente, Dan falou: “No trabalho, há um travesti chamado Tyrone, e só de olhar para ele
sinto náuseas. Com os amigos, rimos e tiramos sarro dele, sempre fazemos do pobre bastardo bode
expiatório, e digo coisas como ‘Enquanto não encosta em mim, há há há’. Não gosto de me
identificar com Tyrone nem de me sentir atraído por outros homens, ser como ele”.

“Mas eu sou”, acrescentou. “E não gosto de me masturbar pensando em homens. Estou preso a essa
merda e quero sair. Estou frustrado e aborrecido!”

“Recorde do que representam esses sentimentos por outros homens”, disse eu. “São esforços
compreensíveis e naturais para conseguir amor e compreensão masculinas. Claro que você deseja
homens – nunca teve suficiente amor de homens quando era jovem e vulnerável. Esses sentimentos
são uma resposta de uma ferida profunda”.

“Já não aguento mais! ‘Se me chamar de bicha, te quebro os dentes’, já tive muitos aborrecimentos
desse tipo”.

Dan ainda não estava disposto a reconhecer essas necessidades. Ele riu, com seu sorriso cínico,
como se quisesse evitar qualquer simpatia ou sentimentalismo sobre esse assunto.

Um mês mais tarde, Dan relatou uma velha recordação que considerava de grande importância.
“Havia um porão”, falava com nostalgia, “Ainda tenho sonhos com esse porão.

Tínhamos uma casa de campo nos arredores de Sioux City. Uma terra com um escuro solo com
cheiro de umidade. Meu pai escapava de nós e passava horas em sua oficina no porão. Eu era
proibido de ir até lá – poderia quebrar as ferramentas ou me machucar, dizia ele, de modo que eu
tinha de ficar quieto lá em cima olhando para baixo, observando como meu pai trabalhava”.

“O que nunca esquecerei”, disse Dan. “É o sentimento de mistério sobre o que estava acontecendo
ali em baixo. às vezes, meu pai permitia que meus irmãos o ajudassem e eu os ouvia conversando,
trabalhando e rindo. Não era o mistério sobre o que se fazia no porão... Era o mistério total acerca
do meu pai, porque até hoje continuo sem entendê-lo”. Vacilou. “Sequer estou seguro de amá-lo ou
odiá-lo”.

“Ele não te permitia entrar no mundo dos homens”, disse eu. “Nunca te ensinou a desenvolver sua
identidade masculina”.
Voltou a ofegar. “Esse porão está relacionado com meu pai. Se penso nele, penso no porão”.

Dan continuou: “Se tivesse que pintar uma imagem que representasse toda a minha infância,
deveria ser a de espiar, no escuro, o meu pai e meus irmãos. Se me sentia excluído do porão, sentia-
me muito mais excluído em outros sentidos. Recordo de um domingo pela manhã, quando meu
irmão Dick me chamou. ‘Adivinha o que papai está fazendo aqui em baixo? ’.

Respondi: ‘O quê? ’ Mas estava só me provocando. Nunca me respondeu”.

Pensou por um momento, depois acrescentou: “Creio que é assim que me sinto em relação aos
homens”.

Quantas vezes já ouvi meus clientes homossexuais descreverem os homens como mistérios?

Como o pai e os irmãos de Dan trabalhando no porão, os homens são emocionantes e


incognoscíveis. A curiosidade natural de um garoto e sua sã necessidade de conhecer outros
homens, quando frustrada na infância, é erotizada mais tarde.

Com o passar dos meses, comecei a ver um lado vulnerável de Dan que estivera profundamente
escondido no interior daquele homem fanfarrão e enfurecido que a princípio entrou em meu
consultório. Logo chegou a ser normal que Dan chorasse durante as sessões.

Nosso trabalho trouxe à luz muitas recordações dolorosas reprimidas sobre seu pai. Durante uma
sessão, Dan levantou-se de seu assento e, imitando seu pai, encarou-me diretamente: “Não creia que
pode me fazer frente! Você não é nada!”

Baixou a voz outra vez. “Você não é nada!”, fazendo um gesto com o mindinho: “É isso o que você
é. Não creia que poderá me desafiar alguma vez!”

Deixando-se cair sobre o assento, continuou: “Lembro que, não devia ter mais que 4 ou 5 anos,
armei um escândalo por algo e ele gritou: ‘Não gosta de como fazemos as coisas? As coisas não são
boas para você? Vá embora! Saia da minha casa, moleque!”

Olhou para mim, os olhos como pratos, com uma expressão atônita. Por um momento, a ira
desapareceu e ali estava a cara de um menino pequeno, paralisado pelo terror. Pude ver que Dan – o
aborrecido, frio e tenso Dan – havia-se assustado em seu coração.

O pai de Dan pertencia a uma pequena minoria de pais explicitamente punitivos, até mesmo cruéis.
Pais como os de Dan parecem necessitar de um menino mais novo para que seja a figura masculina
fraca À qual possa intimidar para aumentar seu próprio sentido de poder. Os pais de meus clientes,
na maioria, não chegavam a ser tão hostis, apenas inadequados, passivos ou emocionalmente
distantes. Muitas dessas características dos pais foram demonstradas no estudo clássico de casos do
psiquiatra Irving Bieber.

“Às vezes, mau pai tentava me ajudar com a lição de casa. Falava para que eu sentasse à mesa da
cozinha e ficasse lá até que encontrasse a solução para as questões. Eu chorava, mas ele continuava
insistindo. ‘Cale a boca e pense, você vai resolver esse problema!’. Essa era sua forma de me
ajudar”.

Houve uma grande pausa. “Realmente odiava esse homem”. A voz de Dan era surpreendentemente
áspera. Durante um longo tempo esteve sentado em silêncio. “Oh, por que não posso falar sobre
meu pai?”
Junto com os traumáticos ataques ocasionais de seu pai, Dan descrevia um contínuo abandono
cotidiano tanto do pai quanto da mãe. Como muitos de meus clientes, Dan sentia que não o haviam
levado a sério. Em uma sessão, disse: “nunca senti que meu verdadeiro eu importasse. Não creio
que meu pai nem minha mãe me conhecessem de fato. Na verdade, davam voltas em relação a meus
sentimentos e muitas vezes os interpretavam mal”. Nessas últimas palavras, reconheci a causa
última da falta de identidade tantas vezes encontrada na condição homossexual. Essa sensação de
não ser levado a sério é o fundamento do falso eu visto com tanta frequência no homossexual.

“Joe, lembra-se dos anos sessenta, quando todos usavam o cabelo quadrado na nuca, reto e não em
ponta?”

Assenti.

“Quando tinha 13 anos, disse ao barbeiro que me deixasse com a nuca quadrada. Imagino que
estava tentando parecer legal, na moda ou algo assim. Quando cheguei em casa, minha mãe
começou a gritar: ‘Que desgosto! Quem você pensa que é?’. Fez-me voltar ao barbeiro e, diante de
todos, pediu que arrumasse meu cabelo, em forma de ponta”. Suspirou. “Foi uma das experiências
mais humilhantes da minha vida. Nunca mais, Joe, fui capaz de voltar àquele barbeiro de novo”.

Dan continuou: “Nunca senti o que é ser ouvido ou compreendido, e creio que ainda carrego esse
sentimento. Nas reuniões semanais do estúdio, costumo me sentir muito acelerado, melodramático
até certo ponto. Acabo exagerando para conseguir reconhecimento. Sinto-me como se estivesse
lutando para que me escutassem”.

Concordei. “Sempre sentiu que suas opiniões, juízos e decisões eram ignoradas ou desvalorizadas”.

O doutor Van der Aardweg observou que o homossexual costuma ter tendência à dramatização
exacerbada. O medo de ser ignorado pode explicar também as características exageradas e o
comportamento fora do padrão tão frequentemente observadas na cultura gay.

Desfiles, protestos e manifestações pelos direitos gay – organizados como uma defesa contra o fato
de não serem ouvidos – se apresentam, em geral, de um modo carnavalesco, estrambótico e teatral.
Alguém observou: “Os gays são como as demais pessoas, só que o são mais intensamente”.

Como tantos meninos pré-homossexuais, Dan havia desenvolvido, durante sua infância, o falso-eu
estereotipado do menino bonzinho, cômodo e educado. Seu comportamento submisso, entretanto,
alternava-se com suas explosões de ira. Esse lado de sua personalidade, o “menino-problema”, era
tão falso quando a fachada do “bom menino” posto que também era um papel criado a partir da
estrutura familiar disfuncional. Essas hostis explosões alternavam-se com longos períodos de
introversão pacífica sempre que experimentava o mesmo sentido de abandono e de não ser ouvido,
como tantos outros meninos pré-homossexuais.

Esses meninos oscilam entre a ira e o desespero calado, tendo eliminado sua verdadeira natureza
alegre, receptiva e espontânea. Ao considerar essa morte de sua verdadeira natureza, pude sentir a
ira do pequeno Dan em sua cadeira na mesa de jantar e entender sua recusa em comer com a
família.

Conforme avançavam os meses e Dan crescia em paz e autocompreensão, ele conseguiu


compreender alguns fatores que haviam motivado sua conduta. Viu sua ira como uma forma de
ocultar seu medo do profundo abandono que provinha de sua antiga relação com sua mãe.

Preocupada com suas próprias ansiedades e obsessões, havia recusado pateticamente a Dan.
Enquanto o plano de fundo para os profundos problemas de caráter de Dan havia sido criado por
sua mãe, seu pai foi responsável por dispor o cenário para os desejos eróticos pelos homens. As
atrações homossexuais que Dan desenvolveu na idade adulta eram uma tentativa de preencher o
vazio entre ele e os outros homens, simbolizados pelo porão de seu pai.

Dan dizia: “Olho para trás e vejo que minha homossexualidade vem de um desejo de pertencer ao
grupo dos homens, de estar conectado. A princípio, não era sexo em absoluto o que buscava”.

Vacilava, lutando para expressar com palavras uma recordação importante. “Quando ainda estava
no instituto, recordo que quis fazer amizade com um rapaz, Jerry. Mas ele não queria ser meu
amigo”. Sua voz aumentou em um tom de frustração. “Mas foi um inferno! Passei por um incrível
isolamento. Houve um dia em que falei para ele: ‘eu me sinto sexualmente atraído por você’. Eu
estava chorando. Volto àquilo neste momento e vejo que ele era um garoto atrativo com o qual eu
queria fazer amizade, mas não sabia como ser só amigo, sem o aspecto sexual”. Dan tinha os olhos
como pratos enquanto falava, com uma expressão de impotência.

Assenti sem dizer nada.

“Olhando para trás”, disse ele, “dou-me conta de que fazer sexo com homens era uma forma de
preencher um vazio. O sexo era uma catarse emocional. Precisava fazer sexo para expressar um
sentimento por um homem, ainda que durasse só um momento”.

“Preciso me agarrar a isso!”, continuou Dan com desespero na voz. “Anseio tão profundamente por
esse contato! A necessidade continua até hoje em dia. Durante muito tempo não foi sexual. Só
queria, sabe... Atenção”.

Continuou: “Poucos meses depois de deixar o instituto, encontrei um homem em um bar. Eu não
estava bem e, depois de irmos para a cama, comecei a chorar e a falar-lhe de Jerry (riu). Assustei o
cara, que deve ter pensado ‘que cara estranho, esse com o qual fui me envolver’. Não voltei mais a
vê-lo – provavelmente se alegrou por se ver livre de mim – mas saí aliviado, já que finalmente
havia alcançado um sentimento profundo”.

“A ferida, a dor interior...”, continuou Dan. “Sempre estou querendo mostrar a alguém, tirar de
dentro de mim. Mas, quando encontro alguém que possa me ajudar a pôr essa dor para fora”, sua
frustração se acentuava a cada palavra. “Não consigo deixá-la sair!”

“As pessoas sempre me irritam”, continuou, retorcendo-se em seu assento com tensão.

“Sempre me sinto irritado e inquieto em minha vida, desde que era pequeno. Inclusive quando
estava com um homem que me atraía, terminava sentindo esse aborrecimento, como se estivesse
matando o tempo até que o verdadeiro homem da minha vida viesse me preencher”. Deteve-se.

“Mas agora sei que esse homem não existe. Tudo foi um sonho impossível”.

“Sente-se vazio, inquieto”, disse-lhe eu.

“E então fujo disso”.

“Como foge disso?”

“Os vícios usuais – drogas, álcool, sexo”. Pensou por um instante, depois acrescentou: “E, nas
escassas ocasiões em que me mantive em uma relação por umas poucas semanas, acabava metido
em uma relação dependente e destrutiva. Quanto mais tinha, mais desejava – nunca era o
suficiente”.

“Porque se tratava de algo equivocado”.

Dan parecia confuso.

Eu o esclareci: “Se fosse algo correto – uma verdadeira afirmação de você mesmo – você estaria
satisfeito. Mas o que é errado – esse excesso de romantismo, a idealização – nunca satisfaz.

Sente-se bem durante um tempo, faz você esquecer a dor e a solidão”.

Dan assentiu, dando-me razão.

“Junto a isto, está a necessidade de possuir. Não só estar com – também possuir. Começa a vê-lo
como uma parte perdida de você mesmo”.

Dan riu com pesar. “Rapidamente eu me encontrava adquirindo a personalidade do cara com quem
me envolvia. Começava imitando as coisas que ele fazia. Tão desesperadamente necessito de uma
identidade que olho para os outros para que me digam quem eu sou”. Suspirou.

“É tão humilhante que simplesmente deixo de buscar relações”.

O relato de Dan evocou uma vez mais as três necessidades insatisfeitas da infância que subjazem às
atrações homossexuais, ou os três “As”: as necessidades de afeto, atenção e aprovação. Para cada
cliente, essas necessidades podem ter importâncias diferentes. Entretanto, representam o modo
mediante o qual os homens lutam pela identidade masculina.

Em homens como Dan – seriamente rejeitados na primeira infância – sob suas atrações
homoeróticas, jaz não só a identidade masculina, como também a própria identidade pessoal. A
necessidade de identidade era tão desesperadora para Dan que constantemente se encontrava preso a
relações de dependência que o faziam sentir-se vulnerável e ultrajado.

Uma grande proporção de clientes homossexuais encontra-se em relações de dependência e têm


problemas com os limites interpessoais. Com frequência, tenho acreditado que isso acontece porque
a identidade de gênero está intimamente relacionada com a formação do ego. O homem com uma
identidade de gênero debilitada também terá um sentido debilitado de si mesmo e dos limites
pessoais.

O conflito existencial do homossexual é que, até que se identifique completamente com os homens,
os desejará eroticamente. Entretanto, não pode identificar-se com a masculinidade enquanto
continuar a erotizando. Para identificar-se com os homens, deve renunciar a erotização que nutre
por eles. O único modo pelo qual um homem pode assimilar a masculinidade em sua identidade é
arriscando-se a ter amizades masculinas não sexuais caracterizadas pela reciprocidade, a intimidade,
a afirmação e o companheirismo.

Consultando a um psicoterapeuta masculino, o homem homossexual tem a esperança, talvez pela


primeira vez em sua vida, de encontrar outro homem que o entenda e aceite. Através de sua relação
com um terapeuta do mesmo sexo e da compreensão dos membros do grupo de terapia
comprometidos de igual modo, pode trabalhar para restaurar essa relação que seus homens
significativos anteriores foram incapazes de proporcionar.
Em cada caso de homossexualidade, o êxito do tratamento depende, em grande medida, da criação
de relações masculinas íntimas não-sexuais. O cliente deve deixar para trás sua exclusão defensiva
para reconciliar seu amor/ódio ambivalente pelos homens, se quer resolver seu conflito
homossexual. Dan descrevia essa verdadeira ambivalência durante uma sessão:

“Não quero depender de ninguém. Já tenho bastantes “afaste-se de mim!” aqui dentro.

Necessito de amigos mas não quero amigos. Como em outro dia, um cara chamado Brent disse:
‘venha à minha casa depois do trabalho’. Eu disse: ‘sim, eu vou’. Depois de alguns poucos minutos
pensei: ‘Quer saber? Que se foda! Não quero ir! Para que eu iria a essa casa idiota?’. Assim, disse a
ele que havia surgido um compromisso, que estaria ocupado”.

“Assim, voltou à sua casa, a seu pequeno mundo solitário”, recordei.

“Sim. Por que não posso ser normal? Preciso de amigos”, disse Dan. “Preciso de você...”.

Houve um longo e doloroso silêncio. “Dizer isso é duro para mim”.

Um dia, Dan admitiu um estranho padrão de comportamento. “O assunto ‘Jerry’, do qual te falei –
quando chorei diante de um rapaz – foi há quase vinte anos. Desde então, creio que me tornei muito
mais cético em relação ao amor. Durante os últimos anos, tenho me sentido atraído por homens do
tipo que ‘mandam’ – o típico homem mais velho, dominante. Mas, quando se fecha a porta e
estamos sozinhos, gosto de inverter os papeis”. Deu um breve sorriso.

“Como é isso?”

“Gosto de saber que posso derrotar uma pessoa que tenta me controlar. Assim, procuro um homem
que seja a figura dominante, mas torno-me o homem dominante no encontro sexual”.

“Como você toma o controle?”

“Gosto de humilhá-lo. Decidir se nos beijamos, o que faremos na cama. Gosto de convencer meu
companheiro a fazer coisas que não gostaria de fazer, coisas humilhantes”. Vacilou, parecendo
avaliar minha reação. “E, se ele não gosta de ser o passivo, tento convencê-lo a deixar-me penetrá-
lo”. Esboçou um sorriso. “Há muita gratificação emocional na dominação, em conseguir que outro
homem se ponha debaixo de mim. Para mim, essa é uma posição que me satisfaz especialmente. E
nunca permito que ele veja nenhuma emoção minha”.

“Como assim?”

“É que, mesmo durante o sexo, não desejo mostrar nenhum prazer”.

“Por quê?”

“Bom, por causa do controle. Gosto de demonstrar que posso ocultar meus sentimentos”.

Dan começou a reconhecer a ira que sentia precisamente por pessoas nas quais buscava gratificação
sexual. Esse comportamento sadomasoquista, encontrado com frequência na homossexualidade,
remonta-se ao pai inalcançável que o garoto deseja, mas que despreza.

Dan passou muitos meses da terapia trabalhando seus sentimentos por seu pai e sua mãe.
Eram esses profundos sentimentos de amor e de dolorosa dependência que buscava experimentar
outra vez com o fim de saná-los. Desenterrar esses sentimentos em uma relação segura e
compreensiva era a única esperança de alívio para a sensação de vazio com a qual vivia. Como
todas as pessoas cuja estrutura do caráter foi ferida pela rejeição na infância, Dan sustentava uma
dolorosa luta para preencher esse vazio. Agora, era bastante consciente de que o vazio de seu
coração não seria preenchido pelas drogas, pelo álcool ou pelas relações homossexuais. Havia
começado a renunciar o sonho eterno gay – o de encontrar essa pessoa especial, essa solução, esse
complemento idealizado. Logo, deu-se conta de que a cura verdadeira viria a partir de um lento
acúmulo de introspecções positivas, isto é, a assimilação de sentimentos bons a partir de relações
sãs.

Como disse ao grupo em uma sessão de terapia: “participar do ambiente gay é como usar uma droga
– proporciona um prazer momentâneo, mas totalmente destrutivo para o espírito”.

Finalmente, Dan fez as pazes com as lembranças de seu pai. Apesar de ser um processo doloroso,
Dan precisava cumpri-lo para ficar em paz consigo mesmo.

Há uma classe particular de ira que caracteriza as relações do homossexual com seu pai.

Enquanto os homens heterossexuais também possam falar de problemas com os pais, pude notar
uma diferença qualitativa em sua ira. A ira do homem heterossexual está presente dentro de uma
aceitação realista dos defeitos paternos. Mas o homossexual mantém um fortíssimo ressentimento,
um rancor e uma ferida profunda que bloqueia qualquer tipo de compreensão de seu pai como
homem.

Um mal entendido frequente é o de que, para crescer e mudar, deve-se conseguir a aceitação paterna
no presente. Esse erro está embasado na suposição inconsciente de que o pai possui a chave da cura
do filho – mais uma vez, a projeção do pai onipotente. Um passo significativo no desenvolvimento
do cliente é dar-se conta de que é ele – e não o pai – quem agora tem a força que pode proporcionar-
lhe sua identidade masculina. O cliente também precisa lembrar-se de que o dano foi causado não
precisamente por seu pai, mas também por sua própria participação quando era criança, por meio da
exclusão defensiva. De fato, muitos dos pais de meus clientes contemplam seus filhos recusando-
lhes desde a tenra infância.

Dan estava sendo convidado a abandonar sua atitude defensiva em relação a todos os homens –
começando por seu pai. Perdoar ao pai não é uma tarefa fácil. Significa, com frequência, aceitar ao
pai com todas as suas limitações, incluindo a habilidade limitada para demonstrar amor, afeto e
aceitação.

Muitos clientes devem aceitar o fato de que seus pais não podem mudar, como esperavam que
fizessem. Um cliente expressava isso da seguinte forma: “Sei que meu pai nunca será diferente.

Estarei tão próximo dele quanto puder. Mas, o que ele não puder dar, terei de encontrar na
intimidade emocional com outros homens”.

Pode parecer mortal, para um jovem, dar-se conta de que deve renunciar, de uma vez por todas, à
fantasia de receber o amor de seu pai. Compreender, perdoar e amar a seu pai é, ironicamente, ser
pai de seu pai – dar a seu pai o que ele mesmo, o filho, desejou uma vez tão desesperadamente.
Com frequência, a compreensão por parte do filho resulta na compreensão por parte do pai e de
como tratou seu próprio filho.

Quase todos os meus clientes contam que seus pais tinham muito pouco o que dizer acerca de seus
próprios pais. Frequentemente, o pai na sombra – o homem que não se implica e que é ineficaz –
pode ser rastreado no pai, no avô e no bisavô. Deste modo, as bases de um homem homossexual
podem estar assentadas em várias gerações anteriores.

Acho interessante que a ideologia gay continue negando esse importante fator comum na
homossexualidade – os problemas na relação entre pai e filho. De fato, na psicologia gay, há uma
recusa persistente em conceder qualquer importância aos pais.

A autoestima de Dan continuou melhorando ao longo dos três anos em que esteve na terapia.
“Tenho de continuar trabalhando a aceitação de mim mesmo, isso é essencial para meu bem estar.
Sem isso, não tenho esperança de sobreviver”, disse-me ele. Tornou-se mais capaz de desenvolver
relações de confiança, de evitar a antecipação da traição. Pouco a pouco, conseguiu abandonar seus
aborrecimentos defensivos comigo, com os membros do grupo e com os demais homens do mundo.

Sua segunda meta mais importante era a contínua busca por relações íntimas, não sexuais, com
homens. Quando essas necessidades foram sendo satisfeitas, ele me disse: “pela primeira vez em
minha vida posso contemplar a possibilidade de ter uma relação com uma mulher”.

Dan estava livre das drogas e do álcool durante três anos antes de começar a terapia. Como me disse
em nossa primeira sessão, sua meta seguinte era o que ele chamava de “sobriedade sexual”. Depois
do primeiro ano de tratamento, havia alcançado sua meta da sobriedade sexual, com exceção de
algumas masturbações ocasionais com fantasias homossexuais. Em Dan, a implicação sexual ainda
abalava toda a sua estrutura relacional. Não podia manejar essa dimensão das relações. Em seu
caso, a escolha de permanecer em celibato enquanto trabalhava seus problemas foi muito sensata.
Como me dizia sempre: “é uma forma mais simples de viver”.

A meta do celibato foi alcançada por meio do compromisso com um estilo de vida ordenado, com as
sessões individuais semanais e a psicoterapia de grupo semanal, com seu vínculo com o Alcoólicos
Anônimos e cultivando amizades masculinas não sexuais. Manteve também o vínculo com sua
igreja e se comprometeu em praticar jogging1 diariamente.

A ordem foi uma chave essencial para a cura de Dan e, através dessa ordem, aprendeu, pouco a
pouco, a alcançar um nível mais alto de confiança e a penetrar na dor de seu profundo vazio interior.
Aprendeu que, com o tempo, o amadurecimento e a vida ordenada, a dor diminuiria.

Entretanto, ainda que a ordem tenha conduzido Dan a sua meta de abstinência, ela é só um passo
para a cura. O que Dan precisava realmente para ser curado era da lenta absorção de introspecções
positivas. Através da terapia, começou a deixar-se tocar por outros seres humanos e, por sua vez,
começou a ver além de sua própria dor para criar empatia pelos sentimentos das outras pessoas.

A privação de Dan na primeira infância e o dano ao caráter resultante operavam em um nível mais
profundo que suas dificuldades sexuais. De fato, essa ferida de caráter, mais básica que sua
homossexualidade, não seria curada tão rapidamente. Na verdade, há alguns poucos homens com
orientação homossexual na terapia que lutam contra déficits de caráter. Sua dor é profunda e seu
trabalho terapêutico, particularmente difícil.

Quando nossas sessões chegaram a seu fim, Dan compreendeu mais claramente o contraste entre
suas necessidades autênticas e suas buscas falsas.

Como me disse em nossa última sessão: “a abstinência me mantém livre de problemas, mas agora
sei que é na intimidade homem a homem que acontece a verdadeira cura”.

1Jogging: atividade física que consiste em uma corrida em ritmo lento (NT).
CAPÍTULO 6

STEVE, À PROCURA DE SÍMBOLOS


MASCULINOS
Steve Johnson era um homem de boa aparência, colegiado de 24 anos. Chegou à sua primeira
sessão vestindo cáqui e camisa listrada. Entretanto, ainda que Steve fosse tão atraente, parecia ser
pouco estudado e um pouco afeminado. Trabalhava como investigador legal para uma empresa de
de Los Angeles.

Steve tinha um estilo social encantador e gregário, mas, por trás dessa energia externa, ocultava um
lado profundamente depressivo e problemático, além de sua suavidade e de certa passividade, que
ele odiava particularmente.

A busca constante de Steve por atenção masculina e sua atração colegial faziam-no particularmente
desejável nos círculos sociais gays. Disse-me que estivera levando uma vida social frenética de
relações sem compromisso, o que fazia com que se sentisse fora de controle e muito infeliz. “Fora
de controle” é uma queixa que se ouve com frequência na experiência de vida de muitos
homossexuais.

Nesta primeira sessão, Steve descreveu a base familiar clássica – um pai fraco e emocionalmente
distante e uma relação íntima com uma mãe excessivamente protetora. Tinha dois irmãos mais
velhos com os quais ele nunca se dera bem.

Steve era mais manipulador e extrovertido que a maioria dos meus clientes. Sua personalidade
poderia ser classificada como narcisista – ou seja, tendia a valorizar aos demais de acordo com a
forma como o faziam sentir sobre si mesmo. Se alguém o adulava, então ele gostava.

A todos os demais, descartava como pessoas sem importância. Com seu problema de caráter
narcisista, a homossexualidade de Steve representava um problema particular.

Steve sempre tinha a necessidade de ter controle sobre os demais, ainda que constantemente se
sentisse fora de controle em relação a si mesmo e suas relações. Com efeito, frequentemente
encontrava-se na dolorosa posição de ser ele o manipulado. A combinação de passividade e de
anseio por atenção positiva produzia nele um enorme conflito.

Em sua primeira sessão, Steve queixou-se: “Meu interior parece tão fraco. Sou arrastado por um
homem que é forte. Experimentei esse problema durante a maior parte de minha vida. Sinto que
careço de um empurrão para frente.”

“Carece de um empurrão masculino para frente”, disse.

Assentiu pensativamente. “Poderia dizer isso por mim, o sexo com um homem serve...”.
Parou, como se buscasse as palavras. “Ah, demonstra que sou atrativo, que os homens gostam de
mim. O sexo com outros homens é realmente fácil, instantâneo”, cruzando os dedos, “e dá certo
sentido à minha vida”.

“Vida?” Perguntei.

Com um sorriso de vergonha, disse: “Sim. Se tenho relações sexuais, quer dizer que tenho vida
social”. Então, com tristeza: “na verdade, ainda estou isolado”.

Depois disse: “Creio que você possa me ajudar a desenvolver alguma esperança de se sentir um
homem”. Sua voz parecia triste: “estou escandalizado com minha falta de confiança em mim
mesmo como homem”. Acrescentou: “mas pelo menos me sinto melhor agora que tomei a decisão
de vir aqui e afrontar meus problemas”.

O narcisismo é uma inversão emocional aumentada na própria imagem de si mesmo. O narcisista se


defende contra a ferida armando-se com materialismo e as últimas modas e equipamentos, além de
adotar uma preocupação extrema com todos os detalhes de seu corpo.

Essa preocupação estende-se para além de seu próprio corpo para incluir uma preocupação com a
escolha do carro, da casa, da decoração do interior e todos os demais detalhes pessoais. Essa
preocupação obsessiva com a imagem é o modo como o narcisista se protege de uma sensação
interna de vulnerabilidade. A homossexualidade está muito frequentemente relacionada com o
narcisismo pois ambas as condições podem ter origem em uma relação inadequada com os pais na
mais tenra infância. Houve uma ferida no sentido mais profundo do eu – uma ferida narcisista.

Do mesmo modo que o corpo manda sangue para reparar uma ferida física, assim faz também o
centro psíquico para reparar uma ferida psicológica. A pessoa com uma ferida no sentido de seu eu
encontra-se continuamente protegendo essa ferida, e o resultado, como em uma ferida do corpo, é
uma hiper compensação, que, neste caso, tomará forma de um estilo grandioso e narcisista.

A pessoa ferida de forma narcisista se relaciona com os demais de acordo com a forma como
intensificarão sua dor ou a aliviarão. Os que não podem aliviá-la são deixados de lado. Essas
relações não são baseadas no contato entre “eu e você”, mas sim no “eu e um objeto”. Nos homens
com orientação homossexual, isso é visto, às vezes, na busca compulsiva por sexo anônimo.

Enquanto Steve descrevia suas relações com outros homens, falava de chegar a se decepcionar
rapidamente logo que descobria algo não masculino em cada homem.

“Sempre estou buscando essa magia – o homem que possa satisfazer meu ideal”, continuou Steve.

“Fale-me qual é o seu ideal”, pedi.

“Deixe-me ver”, pensou por um momento, depois disse: “A masculinidade. Tem de estar muito
seguro de si mesmo. Muito junto de mim. Muito confidente. Mas há poucos homens assim, de
forma que minha seleção teve de ser, necessariamente, limitada”.

Perguntei: “Por que esses homens são tão atrativos?”

Pensou, depois respondeu: “Bem, não me sinto muito forte nessas áreas. Por isso me atraem.
Sempre me atraíram, desde pequeno”.

“Exatamente”, disse eu. “Você compreende que sua atração por eles é uma projeção dos ideais da
masculinidade”.

Assentiu. “Quero e espero que sejam masculinos, que sejam mais fortes que eu e, quando me dou
conta de que são como eu, é como se isso fosse um enorme defeito. Deixo-os imediatamente”.
Steve continuou, então, falando por muito tempo sobre suas relações infelizes e, antes que tivesse a
oportunidade de dizer-lhe algo como resposta, era hora de terminar nossa sessão. Enquanto se
levantava para ir, Steve admitiu: “Sei que esses padrões no qual estou metidos não são sadios”.
Havia tristeza e derrota em sua voz. “E sei que eles são uma grande parte da razão pela qual estou
sempre sozinho”. Olhou para trás, buscando-me: “Só espero que seja você quem finalmente poderá
me ajudar”.

Depois de vários meses de terapia, Steve conseguir romper o padrão frenético de relações de curta
duração. Ambos estávamos contentes com o progresso que ele havia feito. Entretanto, nem tudo lhe
ia bem. Entrou em meu consultório em uma manhã ensolarada e deixou-se cair desanimado em sua
poltrona usual.

“Estou me controlando muito melhor na área sexual agora”, disse. “Ainda acho bonito quando vejo
um homem masculino e bem formado... Ainda tenho a apreciação estética. Mas agora não tenho de
desejar um homem assim. Não tenho de possuí-lo”.

“No entanto”, disse, “Meu verdadeiro calcanhar de Aquiles ainda é essa sensação de solidão. É o
mais duro de tratar, para mim”.

Steve e eu entramos em uma discussão sobre a importância de estabelecer amizades masculinas não
sexuais. Havia estado progredindo bem durante as semanas por meio de introspecções, inclusive em
mudança de conduta. Entretanto, sua passividade e depressão ainda o preveniam de buscar
amizades masculinas. Sentia-se debilitado.

Falamos de como essas relações seriam diferentes das que teve com seus companheiros.

“Estive pensando nas relações que tive com alguns dos homens com os quais fiquei e lembro que,
quando ficava com alguém que considerava muito masculino e me sentia aceito por ele, sentia um
aumento correspondente em minha própria sensação de masculinidade”.

“Essa é uma motivação subjacente da homossexualidade”, disse-lhe. “Sente que pode absorver a
masculinidade de outro homem. Você obtém de forma vicária a masculinidade do outro”; “Mas o
sentimento nunca dura”, disse Steve. “É só por um momento”.

“Sim, é só isso”, respondi. “Quando se erotiza a masculinidade, ela nunca pode ser interiorizada”.

Steve parecia desconcertado e perguntou: “mas por que isso acontece?”

“Porque seu amante fica como um símbolo erótico, não como uma pessoa real que possa te afetar. A
transformação profunda tem lugar quando você experimenta intimidade autêntica homem a homem.
Isso é o que te transformará. A intimidade honesta com homens é o que o homossexual deseja de
verdade – mas também é o que ele teme. As relações honestas te tirarão desse ciclo mortífero de
solidão. Com efeito, poderíamos passar algum tempo trabalhando a forma como pode conseguir
iniciar essas relações”.

De repente, Steve deixou de lado o tema com um suspiro de frustração. “Bem, de todas as formas...
Devo contar-lhe que tive um dia péssimo”.
Decidi que já havíamos conversado bastante sobre as relações masculinas e perguntei-lhe: “Por que
teve um dia péssimo?”

“Não quero entrar em todos os detalhes. Tudo era muito difícil, tudo contra mim”.

Sentou-se em silêncio durante um minuto e depois disse: “Vi um bonito casal de noivos hoje”. Sua
voz tinha um tom de inveja.

“O que só estimulou o desejo e a solidão”, disse eu.

“Sim. Era como se tivessem uma relação íntima, ambos pareciam muito satisfeitos. Senti pena de
mim mesmo, como se, de alguma forma, não me encaixasse no quadro. Isso é algo que vivo durante
anos”, admitiu. “Sinto pena de mim mesmo e espero que outras pessoas também sintam. Estive
vagabundeando tanto recentemente por me sentir privado que a tentação piorou como nunca”.

“E essa autocompaixão te dá permissão para abandonar a abstinência pela qual esteve trabalhando
tão duro. ‘Oh, pobre de mim, mereço um descanso. Vou buscar um companheiro e dar renda solta às
minhas fantasias’”. Continuei, tentando ser gentil: “compreende como a autocompaixão pode
compor a base para as regressões?”

“Ainda não tenho amigos homens significativos”, disse com voz queixosa.

“Assim que, de fato, acabou mergulhado nessa solidão”, completei. “Você precisa de amigos, Steve.
Precisa de amigos homens. Tem de dar passos para que essas coisas comecem a acontecer”.

“Creio que sim”. Suspirou e encolheu os ombros com tristeza. Steve podia ver que privar-se de
amizades masculinas íntimas o levava à solidão, À autocompaixão e a contatos sexuais
compulsivos. Podia seguir e seguir com descrições de seus problemas e de seus “pobre de mim”,
mas, quando disse-lhe para que fizesse algo, a conversação fracassou. Ainda que costumasse estar
de acordo com o que eu dizia, suspeitava que minhas palavras não estavam tendo muito impacto.
Steve podia falar de si mesmo em detalhes dramáticos e sem fim – suas memórias, experiências de
vida, roupas, os homens que achava atraentes, as injustiças que havia sofrido. No entanto,
perguntava-me se ele estava-se permitindo mover-se a um nível mais profundo pelo que dizia.

Poucas semanas depois, entrou Steve e, antes que pudesse falar, foi correndo para sua poltrona,
descrevendo um incidente ocorrido em sua infância que falava de seu desejo frustrado em conectar-
se com o masculino.

Disse de forma excitada: “Recordo que, na sexta série, estavam organizando um evento para pais e
filhos patrocinado pelo sistema escolar, para ensinar aos meninos sobre sexualidade. Devia ter uns
doze anos. Era um sábado e estava emocionado. Supunha-se que era um filme em um auditório da
cidade que seria seguido de um debate. Minha mãe empurrou meu pai para que me levasse – não
era fácil tirá-lo da frente da televisão. Lembro que fomos juntos de trem”.

“O que teve de especial nesse evento foi que um dos apresentadores era um professor que eu
particularmente admirava. Creio que estava apaixonado por ele”. Steve parecia meio envergonhado
e continuou: “Estava tão emocionado. Inclusive me vesti de forma sedutora para a ocasião”. Deu
um sorriso ligeiro.

“O que quer dizer com ‘vestido de forma sedutora’?”

“Vestia uma dessas calças curtas e bem ajustadas que eu gostava”. Refletiu uns poucos segundos e
depois disse: “Mesmo então, já gostava de roupa ajustada”.

Estava surpreso em ouvir que um garoto de doze anos pudesse pensar de forma tão sensual.

Continuou: “Mas, quando cheguei lá, quem apresentaria o evento era uma mulher, não meu
professor. Ela era a principal, e era uma mulher!”

Acrescentou com uma risada violenta: “E uma puta também! Todo mundo a odiava! Vai ensinar
sobre sexualidade masculina? Este é o dia dos pais e filhos e ela vai nos dirigir? E pensar que me
vesti para ela!”

Nós dois rimos diante dessa situação absurda. Steve continuou: “Foi horrível!”

Debaixo de seu humor ultrajante, podia sentir a decepção dolorosa do menino que se havia visto
privado da oportunidade de ter uma experiência que necessitava com homens, a da masculinidade.
De repente, Steve se pôs mais sério. Disse: “Realmente estava esperando pela oportunidade de
compartilhar algumas intimidades”.

Essas palavras – compartilhar algumas intimidades – captam muito bem o que o menino pré-
homossexual deseja tão intensamente dos homens.

“De qualquer forma”, continuou Steve. “Debatiam a masturbação, mas ainda não sabia o que era.
Assim, de volta para casa de trem, tentei falar com meu pai sobre o que havíamos visto e ele só me
deu respostas muito curtas. Perguntei se a masturbação era ruim e...”, ele riu e moveu os braços no
ar, “meu pai me deu esta resposta muito bizarra: ‘sim, a masturbação é má, a não ser que faça
quando estiver casado’. Ainda que tivesse doze anos, pensei: ‘cara, isso não faz sentido! Do que
está falando? ’. Não havia como compartilhar intimidades com esse homem”.

Agora, Steve parecia cansado. Suspirando, disse: “sempre estive buscando esses homens e essas
experiências internas com eles”.

“E ainda pode encontrá-las”, assegurei. “Vamos colocá-lo na terapia em grupo. Creio que esteja
preparado”.

Pôr Steve em um grupo era importante porque ele não tomava bastante iniciativa, por conta própria,
para desenvolver um círculo de amigos homens. Entretanto, estava preocupado de que o grupo
pusesse tentações em seu caminho. Steve era atraente, e particularmente vulnerável.

O Padre John era o que me preocupava particularmente. Seguramente, ele veria em Steve alguém
que fizesse seu tipo – o jovem atraente e de boa aparência que ele buscava em suas revistas pornô.
Esperava que o Padre John, vinte anos mais velho que Steve, chegasse a representar o platônico
bom pai que este sempre havia desejado. Sua atração simbólica seria um risco, mas era hora de
tomá-lo.

Steve estava, agora, em seu terceiro mês de tratamento. Estava se dando bem no grupo e nós dois
estávamos animados. Decidi trazer à discussão um problema em nossas sessões individuais ao qual
ele havia se referido anteriormente.

“Faz algumas semanas”, recordei-lhe, “você disse que tinha um problema há muito tempo do qual
queria falar. Algum tipo de problema sexual”.

“Ah, sim. Eu...”, confuso e buscando as palavras, começou a balanças as mãos com exasperação.
“Afronte-o”, animei.

“Bem, como te disse, odeio meu trabalho. Todo mundo pede demais de mim. ‘Steve faça isso,
Steve, faça aquilo! ’. Chego em casa sem energia para nada e a única coisa que me dá um pouco de
luz é pensar nesse... nessa mania louca e repetitiva...”

Calou-se outra vez. Disse gentilmente: “Fale-me dessa mania”.

“Bem, tenho um fetiche por certas roupas de vaqueiro e por dirigir certos tipos de carros e
caminhonetes”.

“Como assim?”

“Bem, às vezes saio de compras, nas quais consigo todas essas roupas de estilo vaqueiro.

Normalmente, visto-me assim”, disse, apontando para sua camisa Calvin Klein. “Conservador, sabe,
semi-colegial. Mas, em casa, às escondidas, tenho essas roupas de vaqueiro – os vaqueiros Levi,
camisa e chapéu de vaqueiro, botas de pele de serpente, coisas assim”. Fez uma pausa e
acrescentou: “talvez, também uma jaqueta marrom”.

Tudo me faz sentir mais masculino. Imagino-me com uma garota vestido dessa forma”.

“E depois?” Perguntei.

“Bem, imagino-me fazendo amor com ela quando estou vestindo essa roupa. Visto-me assim e me
masturbo... Às vezes, faço diante do espelho. É uma mania ridícula... Doente. Eu não a entendo”.

Depois, acrescentou: “Não costumo comprar material do Oeste de alta qualidade porque sei que não
manterei a roupa depois”.

“Por quê?”

“Porque sei que, se a mantiver em casa, voltarei a cair nisso de novo. Se sei que estão lá, então,
quando estiver triste e aborrecido, usarei a roupa como uma saída. E depois me sinto uma merda”.

“E o que você faz com a roupa?”

“Tento devolver o que puder ou dou aos pobres, como se fizesse penitência”.

Continuou: “É tempo perdido. Tenho que ir às grandes lojas, comprar a roupa, ir para casa.

Então, depois de experimentar várias emoções, tenho que passar pela loucura de livrar-me dela. Às
vezes, levo-as de volta à loja e tento devolvê-la. Sinto-me um idiota falando com o mesmo
vendedor”. Um sorriso frustrado. “Todos eles já me devem reconhecer”.

Riu. “Fico contente ao me imaginar fazendo amor com uma garota. Mas a parte estranha é que
tenho de usar essa roupa e estar em um jipe ou algo do tipo”. Disse seriamente: “sinto-me tão
pervertido e tão tonto!”

Ouvindo essa autodepreciação, intervi: “Steve, se você compreender como e por que se passa isso
com você, passará a se condenar menos”.
Continuou, como se não me ouvisse: “Uma vez, ia pela estrada de Los Angeles para alugar um
Land Rover novo com toda essa roupa do Oeste, para me divertir com ele. Metia-me entre as
colinas com toda essa fantasia e me masturbava. Ou, Às vezes, quando saio de viagem, procuro por
algum veículo abandonado”.

“Está bem, vamos ver, quais são suas associações com a roupa e os carros do Oeste?”

Steve olhou para mim com um olhar vazio.

“Símbolos masculinos?” Sugeri.

“Com certeza”.

“Alguma lembrança em particular?”

De novo, pareceu confuso, como se nunca houvesse considerado as origens de sua conduta.

“Lembro que, quando era pequeno, o menino da casa ao lado, Robbie, tinha uma roupa do Oeste.
Exibia-se com elas e menosprezava os outros que não tinham igual, dizia que tinham roupas chatas
e insignificantes. Eu ficava incendiado por aquilo. Robbie era o verdadeiro marca-tendências da
vizinhança”.

“O que mais ele dizia?”

“Bem, mencionou o quanto gostava das partes de metal das calças”.

“As partes de metal?”

“Sim.”

“Sim. Tento conseguir as calças de vaqueiro, mas hoje em dia são difíceis de encontrar. Cooper não
existe mais, já sabe”.

Podia ver que só estávamos desvendando a superfície do mundo da moda. Decidi entrar com a
psicodinâmica. Disse: “de alguma forma, você acredita que os comentários de Bobbie...”

“Robbie”, corrigiu com firmeza.

“Ah, sim, obrigado”, disse. “De alguma forma, foram significativos os comentários de Robbie sobre
as calças de vaqueiro. Fale mais sobre isso”.

“Sempre admirei Robbie. Como disse, ele era um marca-tendências e eu invejava sua família. Seu
pai era advogado e sua mãe era muito elegante”. Acrescentou subitamente: “diferente da minha
família, que estava sempre brigando e gritando”.

“Quantos anos tinham você e Bobbie nessa época?”

“Robbie, Robbie. Eu tinha 13 anos e ele dois anos mais velho, com 15”.

“Você apreciava Robbie? Admirava-o?”


“Ah, sim. Mas Robbie nunca foi afirmativo comigo. Na verdade, acho que não gostava de mim. Sua
atitude era do tipo ‘todo mundo gosta de mim’, sabe”.

“Você crê que seus fetiches pelo Oeste começaram com ele?”

“Pode ser. Mas meu pai também gostava muito dos filmes do Oeste e assistia na televisão o tempo
todo. Sentava-me com ele e via Lee Majors em ‘Big Valley’ e Michael Landon em ‘Bonanza’.

Lembro-me de um sonho que tive uma vez, de alguém que saía de uma caminhonete vestido de
vaqueiro, um homem tipo macho”.

“Estive pensando: e se me casar? Terei de vestir essas roupas para ter relações sexuais? E, se o
fizesse, minha mulher se perguntaria: ‘ele está tendo um orgasmo comigo ou consigo mesmo?’”

“Hmm. Bem, ainda nos ocuparemos do casamento”, assegurei-lhe.

De repente, Steve disse em tom desesperado: “Não sei como parar!”

Esse fetiche era a forma de Steve de compensar sua sensação de impotência. Incapaz de manter
vínculos interpessoais, permitia-se, com frequência, ser usado pelos demais. Isso havia sido um
problema durante um longo tempo no escritório, onde era manipulado por seu chefe e seus
companheiros. Externamente era o garoto agradável, colaborador, congenial, que nunca dizia não ao
trabalho extra. Interiormente, Steve era cheio de ira, que só conseguia expressar de forma indireta.
Seu modelo era voltar para casa ao final do dia sentindo-se manipulado e esgotado emocionalmente,
usando logo seu fetiche do Oeste para dar a si mesmo a sensação de poder que não podia encontrar
internamente.

Expliquei-lhe: “a roupa do Oeste é uma armadura para sustentar seu poder masculino. Você se sente
excitado sexualmente por sua imagem, convertendo-se em seu próprio objeto sexual”.

“Sim”, disse. “Sempre senti que, de alguma forma, era um fetiche, mas nunca compreendi o que se
passava”.

“O que você tem de fazer é interiorizar os símbolos da masculinidade, possuí-los, e não objetivá-
los. Sua masculinidade é uma forma de imitação, como acontece com o menino pequeno que passa
o creme de barbear do pai ou experimenta suas roupas”.

“Então, isso significa que ainda sou um menino pequeno”, disse Steve ruborizando um pouco.

“Nesse sentido, sim. A imitação que você faz é inapropriada porque é um pouco tardia.

Além disso, a energia erótica se uniu a esses símbolos masculinos. Nesse ponto, isso que você faz
se chama fetiche”.

Nas semanas seguintes, Steve começou a entender como Robbie representava sua própria
identidade masculina não atualizada. Steve estava preso a uma falsa identificação masculina que
consistia apenas na imitação. Nunca havia-se identificado totalmente com Robbie (ou com a
masculinidade em geral) e não havia interiorizado nunca, de forma genuína, os atributos
masculinos.

A questão de por que Steve nunca se havia identificado totalmente com os homens não tem uma
resposta simples. Mas podemos suspeitar que a indiferença de seu pai foi um fator chave.
Evidentemente, não encontrou outros homens afirmadores com os quais podia sentir-se seguro o
bastante para compartilhar a identidade masculina que desejava. Os objetos do fetiche são eleitos e
se infundem com energia sexual devido a algum significado pessoal poderoso.

Steve só podia conseguir a falsa identificação – isto é, a imitação – usando símbolos de homens
admirados. Enquanto a imitação oferece gratificação temporária, nunca conduz a uma mudança de
identidade mais profunda. A verdadeira transformação requereria o contato real com homens reais,
não só a apropriação de símbolos masculinos.

Enquanto conduzia um jipe ou usava roupas de vaqueiro, Steve convertia-se na imagem masculina
do vaqueiro. Como era uma imagem, algo externo, excitava-se com ela. Ninguém pode sexualizar o
que é subjetivo – o que se sente que está dentro e faz parte dele mesmo. Só sexualizamos o que
sentimos que não somos.

Conforme progredia, Steve começou a identificar todas as emoções importantes que sempre
precediam sua conduta compulsiva do fetiche. Podia identificar os sentimentos de solidão, estresse
e perda de controle que resultavam no impulso pelo fetiche. Por meio da compreensão do
simbolismo desse fetiche e sabendo quando estava mais vulnerável a ele, conseguiu diminuir muito
seus efeitos.

Um dia, saltava parecendo particularmente alegre. “No fim de semana passado, ia pela estrada da
Costa do Pacífico com um homem que sabe o que se passa comigo. Enquanto dirigia, disse-lhe:
‘pela primeira vez em anos, estou começando a controlar minha sexualidade e meu peso’”. Ele
falava muito contente.

“Seu peso?” Perguntei.

“Sim. Toda a vida eu tive problemas com a dieta”.

“Parece bastante normal”, assegurei.

“Bem, Às vezes entro nessa compulsão por comer demais. Sou viciado nos Almond Joys”.

“Eu gosto dos Mounds”, deixei escapar de forma reflexiva.

“Oh!”, disse ele animado. “Então gosta de coco com chocolate preto!”

Senti que me estava detendo em outra das digressões de Steve. Rapidamente, voltei a orientar a
conversa para seu progresso na terapia.

Enquanto Steve discutia seu problema de dieta, fez-se evidente que tinha uma séria desordem com
comida, que incluía um ciclo de descontrole e purificação. Comida e sexo, as duas paixões
incontroláveis na vida de Steve, ele abusava delas para aliviar o desespero interior.

Enquanto avaliávamos o que se havia realizado até o momento, podíamos ver que Steve havia ido
bastante bem durante nossas vinte sessões. Tinha menos necessidade de utilizar seu fetiche do
Oeste. Ele e o Padre John haviam ficado amigos e se viam fora da terapia.

Afortunadamente, o Padre John podia ver além do atrativo físico de Steve e tinha com ele uma boa
relação, que parecia estar curando-os mutuamente. O Padre John converteu-se em seu mentor e
pôde ajudar Steve a permanecer afastado de sua compulsão pelo fetiche.
Depois de dois ou três meses, o grupo viu que Steve estava ficando mais calado. Um dia, seu
silêncio foi desafiado por Charlie. Forçado a falar ao grupo, disse-lhes o que se estava sucedendo.

Pigarreando com a garganta, Steve começou: “Em verdade, tenho obtido muita força de vocês”,
olhou ao redor para os demais. “Mas, durante os últimos meses, estive sentindo que necessito de um
descanso”. Os membros do grupo olharam com expectativa.

“Ainda tenho fé nesta terapia”, gaguejou Steve.

Depois chegou ao núcleo da questão: “mas não tenho fé em mim. Na verdade... Não creio que possa
continuar levando isso a cabo”. Os homens tentaram racionar com ele, mas não lhe puderam
convencer a permanecer por mais tempo.

Essa foi a última sessão de Steve.

O que havia mantido Steve na terapia durante cinco meses era sua grande necessidade de atenção
masculina sem divisão. A terapia ofereceu-lhe a oportunidade de receber os três As dos homens –
atenção, afeto e aprovação. Não estou seguro do quanto escutou o que eu lhe havia dito.

Muito mais que receber o que tinha a oferecer, creio que estava desfrutando de sua oportunidade de
falar e de ser ouvido.

Entretanto, enquanto Steve desfrutava da atenção que recebia, nunca confiou verdadeiramente em
si. Essa carência de confiança se evidenciou com sua luta secreta com a bulimia, que havia mantido
oculta até quase o final de nossas sessões.

Alguns meses depois, o Padre John se encontrou com Steve para almoçar. Steve disse-lhe que havia
voltado ao estilo de vida gay e que havia mudado de ideia – já não cria na ideia de qualquer tipo de
terapia de mudança.

Ouvindo a mudança de rumo de Steve, senti tristeza. Ele havia conseguido alguma introspecção em
sua conduta e compreendia melhor suas relações masculinas. Mas as pessoas escolhem suas
ideologias para satisfazer suas necessidades. Creio que acabou voltando à ideologia gay porque não
podia satisfazer às demandas da terapia reparativa. Nunca pôde desenvolver a certeza clara de que
podia mudar. Como gostaria de encontrar uma forma de transmitir-lhe a convicção de que a
mudança era possível.
CAPÍTULO 7

EDWARD, A AGONIA DE UM JOVEM


O jovem Edward Peterson foi trazido a meu consultório por sua mãe porque havia encontrado
algumas revistas pornográficas em seu quarto. Essa descoberta levou à confissão dolorosa de
Edward de que era homossexual. Triste e confusa, a Sra. Peterson insistiu em que Edward passasse
em uma consulta com um psicólogo.

Mãe e filho viviam em uma grande casa que passava por cima do oceano nas Paliçadas do Pacífico,
enquanto o irmão e a irmã de Edward viviam com o ex-marido da Sra. Peterson na cidade de Los
Angeles. Seu pai era um famoso advogado criminal.

A Sra. Peterson foi vestida com um traje de linho com bolsa e sapatos correspondentes de crocodilo.
Seu aperto de mãos foi forte e sua forma direta. Apresentou a seu filho com uma expressão severa e
depois voltou-se para deixar-nos. Olhando por cima do ombro, disse com tristeza: “espero que
possa ajudá-lo, Dr. Nicolosi”.

Costuma ser a mãe a que reconhece o problema de homossexualidade de seu filho e muitas mães
foram instrumentais para trazê-los ao tratamento. O pai, com frequência, parece cego ante as
dificuldades e, se as vê, raras vezes é uma força ativa para iniciar o tratamento de seu filho. De fato,
a mãe de Edward havia estado preocupada com sua maneira afeminada e sua carência de amigos
homens durante anos. Com frequência havia suspeitado que isso poderia levá-lo à
homossexualidade. Por outro lado, seu pai havia-se surpreendido completamente quando ouviu
sobre o interesse de Edward pela pornografia gay.

Senti uma dor particular por esse garoto adolescente que tentava fazer a coisa certa enquanto se
sentava de frente para mim meio assustado e meio desafiante. Era um menino ou um homem? Ed
era claramente algo de ambos. Seu cabelo escuro caía sobre seu rosto pálido e sensível. Era magro
e, de alguma forma, ligeiro, mas mostrava um peito e uns braços em desenvolvimento sob a
camiseta volumosa. Quando sua mãe o deixou a sós comigo, estava claramente assustado.

Depois de alguma conversa, fui direto ao ponto: “Falemos francamente do porquê de estar aqui. Sua
mãe não está contente com sua homossexualidade”.

Edward moveu-se em sua cadeira e riu nervoso.

“E você, como se sente em relação a isso? Quer trabalhar para mudá-lo? Ou o que quer é que te
ajude a aceitá-lo?”. Parecia perplexo. Depois, disse em voz baixa, bastante devagar: “é que eu
nunca tinha falado com muita gente sobre isso antes...”. Fez uma pausa e depois acrescentou: “é
óbvio que a homossexualidade não é algo socialmente aceitável. Quero dizer, que só por essa razão,
não quero ser gay”.

“Mas você mesmo não se sente motivado para mudar seus sentimentos?”
“Não, não creio”. Meio que sorriu e pareceu envergonhado.

Esse é o dilema essencial do adolescente – seu desejo de pôr sua vida em um caminho são em
conflito com o forte desejo de satisfazer intensas atrações eróticas. A diferença do adulto que vem a
mim depois de adotar o estilo de vida gay durante anos e que decidiu que não a quer, não se pode
esperar de um adolescente que sublime a gratificação sexual em longo prazo. Especialmente quando
a cultura popular lhe diz que deve abraçar sua homossexualidade.

“A razão pela qual te pergunto”, disse-lhe. “É que não posso ajudá-lo a adquirir uma identidade gay.
Esse não é o tipo de trabalho que realizo. Se for o que quer, deve procurar um psicólogo de
afirmação gay”.

Edward parecia inseguro. “Eu não sei. Temos uma sessão de assessoramento gay na escola. O
assessor me deu muitos conselhos, alguns livros e panfletos gays e procurou me afirmar nessa
área... assim, creio que gostaria de ouvir a versão diferente que você tem”.

Sabia que Edward estava falando do Projeto 10, um serviço das escolas públicas formado por
orientadores gays voluntários. Esses programas, aos quais me oponho fortemente, não fazem com
que os estudantes tomem consciência de que existe qualquer outra alternativa. A mensagem é: “você
nunca mudará. Sua única opção é aceitar e abraçar uma identidade gay”.

Sentia que Edward estava-se confundindo com mensagens contraditórias. Não tinha vindo para
comprar ideologias e estava perdendo o interesse por elas. Decidi centrar-me no que ele mesmo via
como suas necessidades.

“Obviamente, compreendo que sua atração por outros rapazes é muito forte e muito importante para
você agora. Não tentaremos pôr fim a esses sentimentos agora, a menos que você queira. Se quiser,
agora podemos passar algumas sessões compreendendo você, vendo o que está se passando em sua
vida”.

Ele concordou, com aparência de alívio. Disse: “Meu maior problema, agora, é o colégio. Tenho
fobia ao colégio”.

“O que, exatamente, te dá medo no colégio?” Perguntei.

“Tudo,” respondeu ele. “Eu não sei... tudo”. Parecia estancado.

“Mas sua mãe me disse que você tinha um papel importante na peça do colégio e que está na lista
do decano. Como pode ter fobia ao colégio e ser um estudante de honra?”

“Ah, não, não é o trabalho,” corrigiu. “É só que fico nervoso logo que me aproximo do prédio do
colégio”.

“Bem, tentaremos nos concentrar no que faz você ficar tão nervoso no colégio”.

Meu tom preocupado parecia confortá-lo. Pela primeira vez nessa sessão, ele começava a centrar-se.

“Não sei. Existe o medo de estar sob o controle de algo, talvez dos professores ou dos chefes. Posso
manejar outras coisas sociais, como aulas de teatro ou coisas assim...”.

“Para a maioria dos garotos, está tudo bem com o instituto”, continuou, “encaixam-se perfeitamente
nele. Mas, por alguma razão, eu sou diferente”.
“Por que você acha que é diferente?”

“Não sei”, disse ele, perplexo, “não sei a razão. Só sei que sou”. Olhava-me desamparado.

“Muito bem, não nos concentremos nas causas,” disse eu. “Comecemos com a experiência. O que
você sente?”

“É como se estivesse no cárcere e todo mundo me dissesse o que tenho de fazer”.

Suspeitei que o verdadeiro problema era que Ed carecia de apoio social. Sem amigos que o
compreendessem e aos quais pudesse confiar seus conflitos, sentia-se sozinho e alienado, voltando-
se à satisfação no trabalho acadêmico e buscando autoexpressão no teatro.

“Qualquer coisa seria melhor que o colégio”, continuou em tom de autocompaixão.

Desafiei: “qualquer coisa seria melhor que ter de conviver com pessoas de sua idade?”

“Bem, exceto para as aulas de teatro,” corrigiu Ed. “Na realidade, sinto-me cômodo tratando com os
estudos de teatro”.

“Pode ser que não queira encaixar-se aos demais alunos, especialmente com os garotos?”

Ed olhou-me. “Isso é verdade”, disse solenemente. “Não quero encaixar-me aos demais garotos.
Sou diferente”.

Ed estava usando seu interesse teatral para justificar o sentimento de diferença que precedia sua
homossexualidade (“sou muito artístico, muito diferente e muito especial para estar com os demais
garotos do instituto”). Esse modelo de gay-artístico justificava sua exclusão dos “aborrecidos”
garotos heterossexuais. Esse ia ser um tema repetido nos primeiros quatro meses em que estivemos
juntos.

“E esse é o grande problema,” disse-lhe. “A maior bifurcação no caminho de sua vida. Seguirá
confrontando essa bifurcação pelo resto de sua vida – entrar no mundo heterossexual ou permanecer
no mundo gay”.

Os instrutores gays estão em desacordo em como manejar esse assunto. Alguns discutem que o gay
é como o heterossexual exceto em sua “preferência” sexual. Outros mantêm que uma “sensibilidade
gay” separa invariavelmente às pessoas gays da sociedade convencional.

Sentia que Ed não podia manejar essa questão agora – era por demais abstrata e futurista. A
qualquer momento, o relógio nos diria que a sessão havia terminado.

“Bem, Ed”, perguntei, “Já conseguiu o bastante de mim ou quer provar mais uma sessão?”

“Não sei”, encolheu-se com indiferença.

Esperei.

Ele pensou um minuto. “Voltarei mais uma vez, eu acho. Gostaria de falar um pouco mais de minha
fobia escolar”.

Na semana seguinte, Ed entrou lentamente, com a mesma aparência de abatimento com a qual viera
na sessão anterior. Perguntei a mim mesmo o quanto haveria de atuação naquilo. Como ele não
tinha nada a dizer por si mesmo, comecei abordando a relação com sua mãe. “Você e sua mãe
vivem juntos e seu irmão e sua irmã vivem com seu pai. Como é isso?”

“Meu irmão e minha irmã são mais velhos, por isso foram viver com meu pai. Viver com ele é
como viver por si mesmo”.

“Mais liberdade?”

“Sim. Por isso quero ir morar com ele”. Riu amargamente. “Meu pai nunca sabe o que se passa –
está sempre ocupado com seus assuntos na advocacia. Nunca se implicou muito com nossas vidas.
Creio que isso torna mais fácil viver com ele”. Soava como se estivesse desgostoso.

“Há outra razão pela qual quero sair de casa agora,” acrescentou. “Gostaria de fugir de minha mãe”.

“Por quê?”

“Não aguento mais as constantes brigas com ela”. A voz de Ed ainda era baixa, só que mais
determinada.

“O que ela faz para te incomodar?”

“Bem, na verdade nós éramos muito íntimos. Talvez por ser o mais novo, minha mãe me mantinha
próximo de si. Sempre fazia coisas com ela. Creio que nunca tive muitos amigos. Mas agora, às
vezes ela parece um pouco chata”. Ficou em silêncio.

“Como assim chata?”

Encolheu os ombros sem dizer nada.

“Vamos”, insisti. “É importante identificar por que você não se sente bem com ela”. A passividade
de Ed estava começando a me incomodar.

Houve uma longa pausa. “É só que é muito ruidosa. Fazíamos tudo juntos. Quero dizer, nunca
havíamos brigado até o ano passado”.

“Talvez, quando vieram à tona seus sentimentos sexuais, isso criou um conflito e mudou a atitude
de sua mãe?”

Continuou como se eu não tivesse feito a pergunta: “Só sinto isso, não sei, é como se tivesse toda
essa ira contra ela, ainda que não quisesse”.

Esse era o típico conflito de todo adolescente – mas experimentado com maior intensidade por um
adolescente homossexual. Ed queria muito a sua mãe, mas também tinha o impulso para atrasar por
mais tempo sua separação dela. Ainda que inconscientemente, sentia que sua aproximação dela
havia contribuído para sua homossexualidade. Os garotos heterossexuais geralmente alcançam a
autonomia de suas mães muitos anos antes.

“De acordo”, disse eu. “Necessitamos compreender por que está aborrecido com sua mãe.

Porque já sabemos por que está aborrecido com seu pai. Seu pai e não é efetivo”.
“Como assim ‘não é efetivo’?” Perguntou Ed.

“Quer dizer ‘não ter efeito’. Seu pai teve pouco efeito sobre você”.

“Sim, era um fraco”. Havia desprezo manifesto em sua voz. Continuou: “minha mãe tem problemas
para decidir-se. Uma semana diz que ter meu próprio carro seria bom para mim, na seguinte diz que
é ‘perigoso’”.

“Um carro?” Perguntei.

“Eu pensei que um carro me faria sentir melhor sobre o colégio. Promove certa liberdade”.

“Assim, ela te anima e depois te desanima”.

“Sim”. Alívio em sua voz. “Ela me faz sentir culpado por tudo”.

Aqui, ouvi a base de sua sensação de ausência de poder. “Sente que ela te confunde e te frustra?”

“Sim. Nunca sei se posso confiar nela. Na noite passada, ouvi-a ligar para meu pai e dizer: ‘venha e
convide o Ed para jantar ou fazer alguma coisa’. Depois entrou no meu quarto e disse: ‘seu pai
ligou e disse que quer sair com você’. Eu pensei: ‘que estranho! Por que me chamaria? Não
costuma fazê-lo’”.

“Entendi”, disse.

“Assim, peguei o telefone sem fio e ouvi meu pai dizer: ‘mas Beatrice, não quero sair com ele
agora. Já jantei! ’. Coloquei o telefone de volta no gancho e disse: ‘esquece, mãe! Não me sinto
com vontade de sair esta noite!”.

“Mas não disse a ela o porquê”.

“Não, não me incomodei. Para quê?”

“Em vez de expressar sua ira ou dizer-lhes que se sente manipulado, fica de mal humor. Então seus
pais se perguntam: ‘por que o Ed está tão calado? Por que está tão mal humorado?”

“Agora que penso, dou-me conta de que esse tipo de coisa se passava quando eu era pequeno.
Minha mãe dizia: ‘crianças, o papai vai levar vocês à Disneylândia’, ou outro lugar qualquer. E ele
nos levava. Só que ficava de mal humor, como se não quisesse estar ali”.

“Certo”, disse, animando-o a continuar.

“E provavelmente porque ela havia mandado”.

Ouvi o modelo familiar das vidas de muitos de meus pacientes homossexuais – um padrão de
comunicação manipulador que não dá opção ao menino senão a de retirar-se no isolamento auto
protetor.

“Ela sempre tinha de estar no controle”, disse Ed desamparado.

Fez uma pausa. Havia uma triste expressão em seu rosto “Mas, apesar de tudo, sei que ela me ama.
Faz tudo o que supõe que uma boa mãe deve fazer, como jantares deliciosos ou levar-me à igreja e
coisas assim. Mas parece que se importa demais, implica-se demais”, as palavras falhavam.

Pensou durante um minuto. Depois continuou: “nunca tenho vontade de falar com ela sobre algo
pessoal. Ela tenta começar uma conversa e diz: ‘que tipo de carro você quer comprar, Eddie?’, e já
fico suscetível. Mas em outras vezes penso: ‘meu Deus! Só estou sendo um idiota e ela tentando ser
uma boa mãe!’”

O pai não se importa o bastante e a mãe se importa demais. Disse: “esses mesmos sentimentos de
intrusão e perda do poder pessoal serão transferidos às garotas que conhece. Se uma moça consegue
demasiada intimidade, logo tenta afastá-la”.

“Sim”, admitiu. “É interessante que traga isso à questão. Lembro que, no ano passado, era muito
popular e tinha muitas amigas. Entretanto, quando alguma delas começava a demonstrar que
gostava muito de mim, tornava-me muito rude com ela, como faço com minha mãe”.

“Exato. Primeiro, você tem medo de que ela espere uma reação romântica. Mas, mais do que isso,
você não quer se ver preso à mesma situação que tem com sua mãe – sentir-se manipulado por ela e
responsável pelos seus sentimentos”.

Edward estivera olhando para baixo distraído, mas agora me olhava assustado.

Sabia que havia identificado um conflito familiar existente na maioria dos homossexuais.
Continuei: “quando era um menino pequeno e sua mãe não estava contente, sua tarefa era fazê-la
feliz. Essa sensação de responsabilidade pelos sentimentos de sua mãe é transferida para as relações
com outras garotas que conseguem demasiada intimidade com você. Inconscientemente, os
sentimentos e expectativas delas te afetam. Cuidar dela é incomodamente familiar – é uma velha
tarefa, e significa a negação de suas próprias necessidades”.

Edward assentiu lentamente.

“Além disso, você é rude com as meninas porque tem demasiada feminilidade em você mesmo. O
que te atrai no masculino é que sente falta dele dentro de si”.

Mudando de tema, continuou: “Fiz uma audiência para o espetáculo Oklahoma! no teatro de verão.
Aspirava a Curly, o papel principal”.

“Não é coincidência que te encante o teatro”, assinalei. “O teatro é uma forma de fugir de você
mesmo. Quer ser um artista para estar acima dos homens ‘normais’. O teatro é uma perpetuação do
falso eu”.

Olhei para o relógio. “A propósito, está na hora de terminarmos a sessão. Quer ter outra consulta ou
já ouviu mais do que queria ouvir?”

Ed disse: “tenho que ver o programa de ensaios do teatro”.

“Lembre-se: você decide se e quando quer continuar”.

“Eu sei”. Houve um sorriso ligeiro em seu rosto enquanto desfrutava da sensação de ser ele quem
decidia as coisas. Finalmente, disse: “Verei você na próxima semana, na mesma hora, tudo bem,
Doutor?”

Ed não via seu problema de homossexualidade. Com o passar do tempo, tornou-se um assunto
distante, algo que não abordava porque não sabia como começar a tratá-lo. Em vez disso, falava
somente do colégio e de “problemas de relações”.

O caso de Ed serve de exemplo para os desafios típicos de um garoto adolescente com orientação
homossexual: (1) ira com relação a um pai não efetivo e não implicado; (2) ira para com a mãe
intrusa e que o confunde; (3) exclusão de seus semelhantes (especialmente outros garotos); (4)
interesse pelo drama e pelo teatro como forma de compensação de sua identidade e desafios sociais
e (5) uma atitude de superioridade como compensação da sensação de inferioridade masculina.

Ed ressaltava regularmente, pedindo logo duas sessões por semana, que seus pais o estavam
“deixando louco”. Depois de um mês de terapia, em uma tarde, entrou caminhando, sentou-se na
cadeira e olhou-me seriamente. Havia-se libertado de sua atitude de indiferença de antes.

“Tenho estado muito mal com meu pai ultimamente.”

“Creio que sim.” Queria assegurar-lhe de que não havia cometido nenhum crime expressando um
lamento de algo que o incomodava há tanto tempo.

Ele continuou: “Quero dizer que tenho estado realmente irritado nas duas últimas semanas. “

“Creio que sim”. Voltei a assegurar-lhe.

“Parece que é assim”. Ed não conseguia encontrar as palavras.

Esperei, e ele prosseguiu: “É, de novo, aquela história do carro. Meus pais estavam de acordo, mas,
depois, no último minuto, decidiram que não. Meu disse que eu devo 'andar nos eixos até que
decidamos que você está pronto'. Pelo menos minha mãe me disse que ele falou isso.”

“Como você se sentiu em relação a isso?”

“Ele sempre faz isso: diz as coisas e depois nega tudo. Como outra vez, quando encomendei uns
trinta CDs pelo correio, que havia pedido em um catálogo do clube, mas não tinha dinheiro para
pagá-los. E meu pai disse: 'Ah, não pague! Ninguém pode vir atrás de você porque você é menor de
idade'”.

“E aí vem minha mãe, nervosa, e diz: ‘Edward, o que você vai fazer? Essa é a terceira vez que você
extrapola a fatura! ’, e eu digo: ‘Não precisa se preocupar, papai disse para não pagá-los’. E assim
minha mãe fica furiosa e vai brigar com ele, que, é claro, nega tudo. Assim que ele se mete em
problemas com minha mãe, vem me dizer: ‘Por que disse isso a ela? ’, e quando eu respondo:
‘Porque você disse! ’, ele fala: ‘Eu não fiz isso! Nunca disse essas coisas!’.”

“Eu não sinto que...” – interrompeu a si mesmo, depois prosseguiu – “Na metade das vezes que falo
com ele, quero dizer, parece que ele está me escutando, mas é como se no dia seguinte ele não se
lembrasse de nada” – a voz de Edward era chorosa e seus ombros estavam caídos.

“É como se ele não te levasse a sério.” Disse eu.

Deu-me conta claramente de por que Edward vinha regularmente. Mais que por qualquer outra
coisa, era porque eu o levava a sério.

Houve um longo silêncio. “Disse à minha mãe que não vou mais na casa dele porque não vale a
pena. Todas as vezes que estou lá, ele tem de estar no tribunal ou então vai sair com a namorada.”
“Então por que vai?” Perguntei.

“Não sei. Não é tanto um assunto de odiá-lo, mas sim de não querer estar ao seu lado.”

“De acordo mas por que você o evita?” Disse eu.

Sentou-se, encolheu-se e disse de forma simples: “Ele não me compreende. Sou diferente dele.”

Respirei profundamente, como alguém que começa uma longa conferência. Odeio dar sermões,
especialmente a um garoto de 16 anos que admite que odeia – ou teme – que lhe façam isso, mas
queria desafiar sua atitude passiva e complacente.

“Você crê que é tão especial,” pressionei. “Mas a maioria dos homens com problemas de
homossexualidade sente medo e ira para com as figuras de autoridade masculina por pensar que não
o compreendem. Lembre, você esteve desanimado com seus pais, suas primeiras figuras de
autoridade. Eles te feriram e te abandonaram. Não pode confiar em sua autoridade – sua paternidade
– sobre você. “

“Isso é especialmente certo para seu pai, que deveria cuidar de você por meio de sua fortaleza de
adulto. Mas, como pode confiar no poder de seu pai sobre você se ele constantemente te desanima?
É assim que você vê as coisas”. Sabia que estava levando Ed ao limite “Você não é tão diferente
nem único”.

Ed começou a compreender que o sentimento de ser diferente do homossexual é defensivo.


Expliquei-lhe que se retirava nessa fantasia de ser diferente e especial para justificar sua falta de
vontade de conhecer outros garotos em termos iguais. Dessa forma, pode afastar os outros garotos
como afastou a seu pai, voltando ao lugar protegido e privilegiado de sua mãe. Nesse mesmo
momento, guarda rancor contra sua mãe por permitir que você evite o desafio de afirmar sua
masculinidade e seu poder intrínseco e permanecer dependente dela.

Expliquei-lhe que esse sentimento de ser diferente do homossexual origina-se na mais tenra
infância, na fase de identidade de gênero, quando se evita, pela primeira vez, os desafios da
identificação masculina. Foi então que decidiu evitar os desafios de separação e individuação e o
desafio de ser autônomo em relação à mãe. Ao fazer isso, havia abandonado grande parte de seu
poder pessoal que era essencial para o desenvolvimento de sua masculinidade. Em seguida, o
sentimento de ser especial era uma defesa conveniente que lhe permitia evitar os desafios de afirmar
tanto a masculinidade quanto o poder intrínseco.

Ed sentou-se direito em sua cadeira, escutando atentamente. Sentindo-se aliviado da carga do


sentimento de ser especial, disse: - Parece que tudo o que não relacionava necessariamente com a
homossexualidade, como atuar, a autoridade e coisas assim, tudo está relacionado, tudo tem sentido.

“Você tem mantido tudo isso para você, sem compartilhar com ninguém. Agora, pode reforçar essa
ideia de ser diferente ou pode trabalhar no sentido de ser um garoto normal, aprender como
relacionar-se com os garotos de sua idade. Veja, não é coincidência que esteja no teatro, porque é
uma forma de evitar esses desafios diários.”

Ed pareceu perplexo, depois aborrecido. “Se sou como os demais e não tenho problemas especiais,
vale a pena continuar vindo a essas sessões?”

Escutei sua indiferença “se não sou alguém especial, então quem sou?”. Decidi não dirigir isso
mas sim manter vigente a discussão.
“Há dois motivos pelos quais deveria continuar vindo à terapia” disse-lhe. “Primeiro, para diminuir
a ferida e a confusão de sua vida e, segundo, para tentar desenvolver a parte heterossexual que há
em você mesmo. “

Ele suspirou. “É difícil ter certeza do que quero”. Longo silêncio. “ Creio que quero desenvolver a
parte heterossexual de mim mesmo, mas ouço tantas coisas, as pessoas dizem que tenho de ser gay
para ser verdadeiramente eu mesmo... Coisas assim.”

“E você ouvirá muito isso. No mundo gay, haverá um conjunto totalmente diferente de respostas.
Mas lembre-se deste princípio básico, Ed: se não fizer nada, se decidir deixar-se levar e seguir as
pessoas, terminará sendo gay.”

“Está bem, por hora” disse Ed. “Gostaria de começar entendendo como devo tratar com meu pai.”

O pai, pensei, inclinando-me na direção de Edward. Com que frequência ouço essa frase de meus
clientes. com que frequência o assunto em questão é um dos problemas com o pai.

Saí de férias depois dessa sessão com Edward. Quando nos vimos novamente, em uma segunda-
feira chuvosa, três semanas mais tarde, Edward parecia muito triste e desanimado quando chegou.
Tirou o casaco, sacudiu um guarda-chuva ensopado e desabou pesadamente diante de mim.

“Estive pensando que não sou tão feliz tendo essas tendências homossexuais.”

“O que aconteceu?”

“Bem... você sabe o quanto me sentia sozinho por não ter amigos. Assim, há algumas semanas,
estava passeando sozinho no parque quando vi um cara mais velho – da sua idade, mais ou menos –
e começamos a conversar. Pensei que devia ser gay porque era amistoso demais.”

Falamos um pouco, seu nome era Jason, e trocamos os números de telefone. Nessa noite, ele me
ligou e me convidou para sair e ver um filme.

“Logo depois, me chamou para ir a uma festa que, descobri, era de gays, a maioria da sua idade”
ele riu amargamente “e foi a melhor festa que já fui. Eu era o centro da atenção”.

“Você encontrou o que não conseguia encontrar entre os garotos heterossexuais de seu colégio. Por
isso o ambiente gay é tão atrativo, você consegue aceitação imediata.”

Edward riu, mas seu rosto mostrava infelicidade. “Eu sei. É mais difícil com os outros garotos. Com
eles, não sou nada especial.”

“E então, o que se passou?”

“Bem...” parecia com vergonha. “Ainda que, na verdade, não era o que estava procurando, acabei
tendo relações sexuais. Quem dera tivesse sido só afeto, assim poderíamos continuar sendo
amigos.”

“Talvez, se tivesse me acariciado ou algo assim, me abraçado um pouco... Tipo isso...” riu
envergonhado. “ Mas ele me fez uma massagem e, bem... Uma coisa levou a outra.”

“Naturalmente.”
“Assim, acabei me interessando bastante por ele. Mas depois, no dia seguinte, ele me ligou e disse
que seu companheiro formal, Harold, havia pedido que ele fosse viver com ele. Jason me disse para
não me preocupar, que isso não afetaria nossa amizade.”

“Então vocês ainda são amigos?”

“Bem, na sexta-feira de noite, Jason me pediu que o ajudasse a transportar suas coisas à casa de
Harold, e acabou que Harold foi muito agradável comigo, muito amistoso. Saímos para comprar
uma pizza e ele disse que queria que fôssemos amigos. Eu não queria perder Jason, por isso
concordei. Depois voltamos ao seu apartamento e eles puseram um vídeo pornô. Jason e Harold me
desvestiram e...”

“E o quê?”

“E...” ruborizado “ fizeram sexo oral em mim”. Tentando um sotaque francês: -”um ménage à
trois, como chamou Jason”. Edward me sorria com timidez. “Depois, os dois me disseram que me
queriam e que podia ir viver com eles, que nós três nos daríamos muito bem juntos.”

Depois de um longo silêncio, perguntei: “E você conseguiu o que queria?”

A voz de Ed parecia cansada . “Não. Realmente só buscava amizade, afeto. Disse a Harold e a Jason
que não podia fazer parte de sua relação.”

A história de Edward ilustra o falso atrativo de atenção especial oferecido tão frequentemente no
mundo gay. Os jovens como Edward, que necessitam desesperadamente de atenção, afeto e
aprovação masculina, são seduzidos a introduzidos com muita frequência em aventuras sexuais
corrompidas.

“Há muita diversão selvagem e ultrajante, e isso é uma atração para jovens como você.”

“Encontra atenção imediata e sente que é como um sonho que virou realidade. Durante um tempo, é
assim”. Disse-lhe.

“Mas, e os garotos heterossexuais?” continuei. “Conseguiu algum amigo heterossexual?”

“Tenho medo de tentar começar uma amizade. Não posso simplesmente me dirigir a um garoto e
falar com ele... Pensará que estou interessado nele.”

Essa é uma ideia confusa entre os gays, pensei. Essas relações sexuais entre eles não é amizade. Os
gays não podem separar amizade da sexualidade. Edward tampouco tinha muito clara essa
separação. Necessitava fazer, conscientemente, a distinção entre amizade e sexo. Naquele momento,
estava projetando sua própria confusão sobre os heterossexuais dos quais havia tentado tornar-se
amigo.

“Por que um heterossexual ia pensar em sexualizar uma conversação amistosa? Para ele, as
amizades masculinas não implicam a sexualidade.” Antes que Ed pudesse responder, continuei
“Não há nada de errado em buscar atenção, mas você não sabe a forma correta de consegui-la.
Precisa falar com os garotos, por quem você sente atração. Fazê-los reais. Se não falar com eles,
permanecerão sendo objetos, maiores do que realmente são. Se permanecer isolado, seus
sentimentos eróticos se intensificarão. O interesse sexual aumenta quando você está só e isolado.”

Ed assentiu, considerando isso.


“Se você quiser se unir ao meu grupo, nos encontramos às segundas pela noite, pode escutar os
homens que estiveram no mundo gay e o deixaram. Quero que os ouça descreverem suas
experiências.”

Ele concordou. “Gostaria de unir-me ao grupo. Conhecer esses homens. Estou preparado para
trabalhar sobre como tratar minha homossexualidade.”

Nessa primavera, Ed se formou no instituto e começou suas férias de verão. Sua preocupação com a
fobia em relação ao colégio e continuou trabalhando sobre os aspectos de seu pai e sua necessidade
de amizades masculinas.

Logo iniciou amizade com os homens do grupo, em especial com Charlie. Como Ed era uns poucos
anos mais jovem que os demais, tinha muito o que aprender por meio da perspectiva dos homens
que já haviam tido experiências na vida gay. E, pela primeira vez em sua vida, podia ter relações
honestas, íntimas e não sexuais com homens que compreendessem suas tentações.

Nas semanas seguintes, Ed já não voltou mais a experimentar os típicos altos e baixos de um
adolescente com luta homossexual. Depois de tudo, ia melhorando.

Logo, admitiu o quão difícil haviam se tornado as coisas com sua mãe durante o verão. Disse como
havia ido recentemente, de bicicleta, À casa de seu pai, só para fugir dela. Seu ir e vir entre a mãe e
o pai simbolizava algo comum entre os jovens homossexuais que se sentem confusos entre uma
mãe super implicada e intrusa e um pai muito pouco implicado e nada interessado.

“Sábado de noite eu não tinha nada para fazer, por isso fui ver um filme de terror com minha mãe.
Estava aborrecido e não tinha outro lugar para ir. Quando voltei, me sentia realmente chateado.
Acabo passando muitas noites de sábado com minha mãe.”

“Por que não tem bons amigos com quem sair?”

Com seu olhar de menino pequeno perdido, respondeu:

“Porque não posso encontrar nenhum.”

“Não pode fazer nenhum”. Corrigi.

Ed parecia desconcertado.

“Humm... Bem, já ouviu a história do sanduíche de atum?” Perguntei.

“Do sanduíche de atum?” Negou com a cabeça.

“Sim. Todos os dias, dois homens almoçavam juntos. No primeiro dia, o mais velho abre seu
sanduíche: pão de centeio, conserva em lata e salada de batatas. O mais jovem abre o seu e só
encontra atum.”

“No segundo dia, o mais velho tira um sanduíche de queijo suíço importado em um rolo imperador,
mostarda e salada. E o mais jovem tira seu sanduíche de atum”.

“No terceiro dia, o mais velho novamente retira seu almoço: carne, couve e tomate sobre pão de
trigo. O mais jovem tira seu sanduíche e exclama: ‘Atum outra vez?! ’”.
“O mais velho, então, pergunta: ‘Por que você não pede à sua mulher que te prepare outro tipo de
sanduíche?’”

“’Que mulher?’, diz o mais jovem, ‘Eu mesmo faço meus próprios sanduíches.’”

Edward sorriu.

“Você não quer ir ao cinema com sua mãe no próximo sábado, não é verdade?”

“Não, não quero.”

“Você está utilizando sua mãe como uma substituta de um amigo semelhante. Faça algum tipo de
plano e não espere o último momento para chamar um amigo. Você tem feito seu próprio sanduíche
de atum!”

Um pouco irritado, Ed mudou de assunto:

“Ontem, encontrei com uma garota que costumava sentar ao meu lado na escola. Perguntou se eu
queria acompanhá-la, pois ia trocar uns vestidos que comprou.”

“E você foi?”

“De certa forma, dispensei o convite. Não sei se quero voltar a falar com as pessoas que conheci na
escola, gente que me conhecia como um garoto calado... Sabe... Não masculino. E agora, se me
comporto diferente com ela, pode ser que me veja como um farsante”. Ele duvidava, escolhendo as
palavras com cuidado. “O fato é que passei por muitas mudanças recentemente.”

“Tenho me sentido diferente sobre mim mesmo. Agora já não consigo me ver indo com uma garota
trocar o vestido. Não estou seguro de que entenda que me sinto diferente acerca disso.”

Assenti.

“Nossos amigos e familiares têm um certo interesse em que sigamos sendo os mesmos para eles. Os
velhos amigos do instituto resistirão ao ver um Edward diferente, um Edward mais maduro.”

“Agora não tenho tanta paciência com as garotas, seus falatórios e tudo o mais. Já não me sinto
mais tão cômodo com elas quanto me sentia antes.”

Expliquei:

“Você está começando a fazer, agora, o que não fez em sua infância: a necessária rejeição em
relação às garotas pela qual passam os meninos em idade latente. É a fase do 'ódio às meninas'.”

“Sim. A fase em que 'as meninas são ofensivas', já sei. Nunca passei por isso.”

Continuei:

“Toda essa terapia se centra em você superar sua exclusão defensiva dos homens. Lembre, quando
era pequeno, você tomou a decisão de se unir à sua mãe e manter-se longe de seu pai. Você o olhava
e dizia: 'Não preciso de você. Não te quero. Não confio em você'. Não é assim? E acabou dizendo o
mesmo aos garotos com os quais deveria ter se unido. Você os evitou, ficou longe deles, depois
tentou romper essa alienação por meio do contato sexual.”

Na semana seguinte, Ed entrou saltando com um sorriso de vitória.

“Consegui o papel!”

“Que papel?”

“No teatro de verão. Serei Curly em Oklahoma!”

“Meus parabéns!”

“Os ensaios podem interferir em nossas sessões”, disse ele, “ provavelmente serão todos os dias.”

“Realmente estou muito contente em te ver realizando seu sonho, tão feliz. É claro que terá que
tomas suas próprias decisões sobre suas prioridades. Mas lembre-se, quando terminar o espetáculo,
feche as cortinas.”

Ed assentiu.

“Eu sei”, sua voz era grave, “estarei de volta à vida real, com os mesmos problemas.”

Apesar do rigor de seu programa de ensaios, Ed conseguiu encontrar tempo para nossas sessões
semanais. Também continuou vindo com fé a nossas sessões em grupo.

Certa manhã, Edward me surpreendeu ao perguntar se poderia trazer seu pai na sessão seguinte.
Recebi sua sugestão com agrado. Entretanto, expliquei a Ed que não seria bom trazer o pai para
descarregar sobre ele uma lista de críticas. Antes de pedir ao pai que entrasse, deveria estar seguro
de ter segurança do que, exatamente, estava buscando dele. Além disso, expressar queixas contra o
pai só reforçaria em Ed a sensação de ser uma vítima desamparada. Ele concordou e prometeu
tentar ir além das queixas durante a conversa. Também concordou em vir a sessões individuais entre
esses encontros de pai e filho.

Por fim, tive a oportunidade de conhecer a Dennis Petterson. O pai de Ed era um homem alto e bem
apessoado que veio à consulta vestindo um terno de negócios cinza feito sob medida e uma gravata
de seda laranja chamativa. Apertou minha mão com firmeza e falou com o tom valente e direto de
um homem responsável.

Começou deixando claro que havia cancelado uma reunião importante para poder vir à nossa
sessão.

Ed, por sua vez, parecia muito frágil. Sentou rigidamente em uma poltrona de frente para seu pai.
Parecia particularmente inseguro e infantil.

Comecei pedindo a eles que mudassem de assento e fossem para os lados opostos de um enorme
sofá, de forma que um pudesse olhar diretamente para o outro. Queria que se dirigissem
mutuamente. Ambos começaram a rir de nervosos, visivelmente incômodos. Ed abraçava uma
almofada em seu peito, como se fosse um escudo.

Enquanto começavam com algumas conversas superficiais, pude ver que tanto o pai quanto o filho
desejavam aproximar-se, mas tinham medo de demonstrar afeto um pelo outro depois de tantos
anos de frustração mútua. Dennis Petterson queria claramente melhorar a relação, mas sua forma
direta e poderosa só conseguia inibir Edward. Ed tendia a ser vago em suas falas e indireto ao tentar
expressar o que queria. Incômodo com a pressão do pai para que chegassem ao ponto, estava
começando a se sentir nervoso.

Em minha experiência com sessões entre pai e filho, tenho notado que a maioria dos pais se apegam
ao conteúdo, evitando os sentimentos. Desafortunadamente, os filhos, para tentar manter algum tipo
de comunicação, permitem que seus pais fiquem nesse nível superficial. Podias me dar conta de que
Ed teria gostado mais de trocar sentimentos, uma expressão mais emocional por parte de seu pai. O
Sr. Petterson falava frequentemente de suas intermináveis piadas sobre a vida, da carreira e de seu
tema favorito: a autodisciplina, momentos esses em que Ed se desconectava. O pai parecia que
estava argumentando para um corpo de jurados. Atormentado em meio a uma conferência cheia de
velhos clichês, Ed estava claramente decepcionado.

Tentando romper esse ponto morto, interrompi:

“Como você acha que percebe seu pai, Ed?”

Ed encolheu os ombros, como se estivesse estancado entre o medo e a esperança. Não conseguia
responder.

Finalmente, falou com uma voz infantil e cheia de emoção:

“Às vezes, não sei o que quer, pai... Onde quer chegar.”

De forma defensiva, Dennis Petterson respondeu:

“Bem, Eddie... O que você quer de mim?”

“Essa é sua oportunidade, Ed!”, pensei. “A abertura perfeita”.

Eu sabia o que Ed queria. Nas nossas sessões privadas, havíamos ensaiado o que diria, literalmente.
Entretanto, ele não conseguiu responder.

Seguiu-se um longo silêncio, durante o qual o relógio batia “tic-tac” ao longe enquanto a dupla
estava sentada ali, muito tensa.

De sua própria forma, o Sr. Petterson estava tentando conectar-se com seu filho, mas suas conversas
sobre a autodisciplina eram obstáculos para qualquer comunicação real. A defesa de Ed contra as
conversas de seu pai era tomar a posição contrária, dizendo que queria mais liberdade.

Entretanto, a liberdade não tinha nada a ver com o assunto. O que Ed queria, realmente, e que não
havia falado, era o amor e a aceitação de seu pai.

Durante quatro sessões, eles vieram juntos. Cada vez que pai e filho entravam em meu consultório,
faziam aparentemente sem preparação, como se não fizessem ideia do que iam falar.

Na verdade, Ed me disse que vinham de bicicleta ao consultório, em silêncio, como se não tivessem
nada o que conversar. Mesmo nos momentos muito breves da sessão em que se tocavam
emocionalmente, não permaneciam ali muito tempo. Cada um dirigia rapidamente o debate para o
campo fútil da “liberdade” e da “autodisciplina”. Senti medo. Eles sabiam que, debaixo da
superfície, havia dor e ira. Era como se ambos pensassem: “se falarmos com sinceridade, vamos
acabar nos enfurecendo um com o outro”.
A mãe era sempre um fantasma presente nessas sessões. Tanto Ed quanto seu pai diziam
frequentemente o que a “mamãe” ou “ela” dizia. Como é típico da família que produz um filho
homossexual, a mãe sempre assumia o papel de intermediária ou intérprete na comunicação entre
pai e filho. Decidi que era melhor nem sequer tentar ocultar minha impaciência e, finalmente,
simplesmente estabeleci a regra: “não falar mais da mãe”.

“Estamos aqui para tratar da relação entre vocês dois, diretamente.”

Tentei alcançar o que havia sob a superfície, superar a evitação do filho e a tendência do pai em
ficar fazendo perguntas. Não me atrevi a introduzir o tema do homossexualismo porque,
obviamente, não estavam preparados para falar disso. Entretanto, ele estava ali, exercendo um
grande peso sobre nós.

Tentei desafiar o Sr. Petterson a deixar os discursos e falar de sua relação com Ed., mas ele me
interrompia constantemente. Parecia claro que não fazia ideia de como chegar a seu filho.

Enquanto os escutava falar, sentia muito pelo que não se falava. Pela primeira vez, pude sentir a dor
e o sentimento de fracasso de Dennis Petterson como pai.

Sabia que meus dias com o Sr. Petterson estavam contados. Não continuaria ajustando o horário de
suas reuniões legais por muito mais tempo. Além disso, sentia que aumentava sua frustração.

Minha experiência com pais e seus filhos homossexuais me ensinou a não esperar uma brecha
muito grande. Assim, quando Ed e seu pai chegaram à quinta sessão, decidi que deveria empurrá-los
com alguma intervenção forte antes que o pai de Ed parasse com a terapia para sempre. Queria que,
pelo menos, saísse com algo a mais.

Enquanto Ed era claro e eloquente em nossas sessões privadas, não conseguia se expressar com
efeito diante do pai. Decidi começar dizendo o que cada um devia estar sentindo com toda a
franqueza.

“Não estou seguro do que vocês estão sentindo, mas eu estou me sentindo aborrecido e frustrado
com o que tem se passado nestas sessões. Vamos direto ao ponto: Senhor Peterson, o que o senhor
quer do Ed?”

Ele respondeu:

“Eu disse a Ed o que espero. Quero que se torne um adulto responsável.”

“Certo”, respondi, “mas você sabe o que o Ed quer?”

“Falando francamente, não. Não sei.” Disse ele.

“Na semana passada, você começou a se conectar com seu filho”. Disse ao Sr. Petterson. “Quando
se conectou com ele, percebi que ele se tranquilizou. Ele se centrou completamente no senhor,
porque estava dando o que ele quer. Mas você tem de acompanhá-lo. Ed tem problemas para
comunicar-se com o senhor. Precisa que estenda a mão para ele, que se conecte a ele. Tem de
consegui-lo. Vejo que tenta fazer isso, mas parece que sempre se deteriora com um discurso. Não dê
sermões. Quero que torne claro para seu filho que ele é importante para você. Ed quer te alcançar,
mas não sabe como fazê-lo.”
O Sr. Petterson escutava pensativo. Depois, voltou-se para seu filho:

“Bem, Ed. Creio que o Dr. Joe tem razão. Na semana passada, eu falei demais do que quero de
você. Talvez agora seja o momento de que me fale você.”

Ed estava em silêncio, olhando para baixo.

Seu pai continuou, expressando agora uma necessidade mais profunda:

“Acho que deveria ouvir se tem planos de longo prazo de como quer se relacionar comigo.”

Ed sorriu nervoso, mas sem dizer nada.

“Você quer falar com seu pai?” Incentivei.

Voltou a sorrir de nervoso e continuou sem nada dizer. Seu pai seguiu:

“Praticamente aos 18 anos de idade, você está me dizendo adeus, que vai fazer o que quiser da
vida? Ou quer que tenhamos uma relação duradoura?”
'
Sim, quero isso”. Ainda rindo de nervoso.

“O que você quer?”

“Que tenhamos uma relação duradoura.”

“Perguntei isso”, continuou seu pai, “porque te ouvia dizer à sua mãe com tanta frequência que,
quando se formasse no instituto, iria embora para sempre. Não foi assim?”

Estava claro para mim, agora, que Dennis Petterson sentia que havia sido rejeitado por seu filho e,
por isso, tratava-o como se não fosse importante.

“A razão pela qual fez essa pergunta é que seu filho é muito importante para você”. Sugeri.

“Claro! Ele sempre foi!” Respondeu o pai.

Voltei-me para Ed e perguntei:

“O que seu pai está te dizendo, Ed?”

“Que quer que tenhamos uma boa relação”, respondeu.

“Exatamente. Mas seu pai não sabe como sustentá-la. Ele precisa da sua ajuda”, assinalei.

Depois, voltando-me para o pai, disse:

“Dennis, essa é a primeira vez que você conseguiu chegar até seu filho em uma sessão. Viu o que
acontece quando expressa um sentimento?”

Animado, ele continuou:

“O que estou dizendo é que nossa relação não vai bem. Está crescendo e vai nos deixar, e seria
melhor que melhorássemos agora, antes que eu o perca.”

“Certo”, disse eu, assentindo.

“Vão acontecer muitas coisas rapidamente.”, continuou o pai, “Daqui a algumas semanas, Ed, você
estará deixando a casa para ir à Universidade. Se não estabelecermos uma maior confiança entre
nós, então prevejo que você irá para sempre. Deveríamos ir exatamente à causa do problema. Por
que essa alienação?”

Ed permaneceu em silêncio. Sugeri suavemente:

“Responda a seu pai.”

“Não sei quem sou, o que sou... Qual a minha identidade”, disse Ed queixosamente. “Por isso não
consigo dizer nada.”

Em uma mostra de sensibilidade surpreendente, Dennis parecia resgatar seu filho do assunto
doloroso de sua homossexualidade.

“Olha, filho, qualquer coisa que possa dizer sobre você, sobre sua identidade, está em segundo
plano agora. Se tenho uma boa relação com você, isso é o que importa.”

“Realmente não sei o que dizer”, gaguejou Ed, distanciando-se.

“Tem medo de que seu pai te julgue?”, sugeri.

“Eu não sou crítico com você, pai”, deixou escapar Ed. “Na verdade, não sei por que é tão crítico
comigo.”

“Pode ser que... eu deva te conhecer melhor”, disse Dennis Petterson.

Voltei-me para Ed:

“Que coisas você faz que te fazem sentir bem consigo mesmo, que constroem mais confiança dentro
de você?”

“Sinto-me confiante quando estou atuando nas aulas de teatro. Também escrevendo poesia.”
Virando-se para olhar seu pai pela primeira vez na sessão, disse: “Há muitas coisas que não te disse
sobre mim, pai.” Sua voz era de reprovação, ainda que seus olhos fossem amplos, esperançosos até.

Dennis Petterson assentiu:

“Também escrevia poesia quando tinha sua idade, filho.”

“Inclusive, escrevi um poema que estou tentando publicar.” Ed riu.

“Gostaria que me falasse disso. Quero que se sinta orgulhoso de si mesmo.”, disse seu pai.” Se vai
se dedicar à arte, terá de ser muito, mas muito dedicado, pois é um campo competitivo, assim como
o direito.”

Depois acrescentou com um tom simpático:


“Você tem dificuldades em muitas coisas, filho”, vacilando um pouco enquanto falava, “se não tiver
êxito, você não se sentirá bem com o que faz. Quero te ajudar a obter êxito em alguma coisa. Não
posso te ensinar poesia ou a ser ator. Só posso te ensinar o que sei.”

Perguntei a Ed:

“O que você quer de seu pai agora?”

Ed encolheu os ombros, como se essa fosse a pergunta do século.

Aqui, dei-me conta de que Ed estava encerrado em um modelo muito óbvio em todas as sessões
entre pai e filho: quando um se estende, o outro se rende. Ed buscava desesperadamente a afirmação
de seu pai e, agora, cara a cara com ela, parecia rendido, indiferente. Aqui estavam os indícios vivos
da exclusão defensiva da infância. Podia compreender a frustração dos pais de homossexuais.

Vendo a dívida de Ed, seu pai se mexeu para poder olhá-lo no rosto:

“Quando você tinha dois anos e sua mãe estava fora da cidade, Ed, você pegou catapora, e eu te
levei ao médico. A sala de espera estava cheia de gente e havia muito barulho, e você começou a
chorar.”

Pela primeira vez, a voz de Dennis Petterson demonstrava emoção. “Eu te segurei nos braços e não
me importava mais com nada ao nosso redor, só olhava para você e cantava canções de ninar.
Mesmo chorando, você sorriu para mim... E, pela primeira vez, compreendi o que significava ser
pai. Você me ensinou isso naquele momento, filho, deixando-me te acomodar.'

Dessa vez, o sorriso de Ed era profundo e genuíno. Olhou para seu pai com afeto.

Seu pai continuou:

“Naquele momento, pensei: 'eu amo esse menino. Nada nunca vai nos separar'. Estava determinado
a manter esse momento em minha memória. Sei que, de alguma forma, eu o esqueci durante esses
anos. Mas você me ensinou isso, filho, um dia, quando era pequeno.”

Na semana seguinte, Ed chegou sozinho. Como acontecia com frequência, seu pai estava fora da
cidade por motivos de trabalho. Ed e eu concordamos em retomar nossas sessões individuais. Seu
pai viria só em caso de necessidade. Por outro lado, Ed apenas podia ocultar um sorriso jubiloso
porque seu pai o havia oferecido um trabalho de verão em seu escritório de advogado.

“Tivemos uma longa conversa no carro quando voltávamos para casa depois daquela sessão.”, disse
ele. “Eu o pedi que me ensinasse o que pudesse do trabalho de advogado, para o caso de a carreira
nas artes não desse resultado. Ele disse que podia me ensinar muitas coisas – sua voz estava cheia
de orgulho e confiança.”

Resumimos como as personalidades de seus pais o haviam influenciado.

“Sua mãe é muito expressiva emocionalmente, talvez até demais, com você. Sempre esteve
demasiadamente implicado com ela no nível emocional.” Ed concordou. Eu continuei. “Seu pai, por
outro lado, era exatamente o contrário: forte, direto e com opinião em assuntos de trabalho, mas
emocionalmente distante dentro da família.”

Falei para Ed sobre sua evidente exclusão defensiva em relação a seu pai. Disse-lhe como procurava
uma forma de desconectar-se de seu pai, um modelo de conduta segundo o qual teria que ser
responsável por si mesmo. Estava claramente em oposição à relação que Ed buscava com ele.

Os pais de homossexuais tendem a revelar uma sensação de desamparo, incomodidade e


entorpecimento quando se requer deles que interajam diretamente com seus filhos. Costumam ter
poucos, se têm algum, amigos homens, e frequentemente tiveram relacionamentos pobres com seus
próprios pais. Parecem ser particularmente dependentes de suas esposas como guias, intérpretes e
porta vozes, especialmente para se relacionarem com seus filhos. No curso do tratamento, vejo,
geralmente, uma antipatia mútua, uma resistência e um profundo lamento em ambas as partes.
Aproximadamente a metade desses pais diz que seus filhos parecem os ter rejeitado desde a
infância. Vendo a rejeição de Ed aos esforços de seu pai para se aproximar dele, podia entender
como esses pais – assim como seus filhos – se sentiam rejeitados.

A característica mais comum entre esses pais é que parecem incapazes de resumir o esforço
requerido para corrigir os problemas relacionados com seus filhos. Esses pais se sentem abalados e
impotentes diante da cara de indiferença e hostilidade de seus filhos. Em vez de afrontar os
problemas com seus filhos, tendem a retirar-se e evitá-los, protegendo-se da vulnerabilidade. Sua
responsabilidade emocional é bloqueada de alguma forma e, geralmente, são incapazes de tomar a
liderança para conduzir a relação a uma direção positiva. Alguns são frágeis e rígidos, outros
severos e críticos, mas outros são suaves, fracos e passivos. Seus filhos constantemente chamam
essa falta de disponibilidade emocional de “fraqueza”, ainda que possam ser bastante fortes e ter
êxito fora da família.

Edward fez um progresso substancial desde então. Está em seu segundo ano na Universidade,
formando-se em teatro, e trabalhando aos sábados no escritório de advocacia de seu pai. Pela
primeira vez em anos, fez vários amigos heterossexuais. Unindo-se a uma fraternidade, passou por
um rito de passagem contemporâneo e relatou ter sido uma experiência poderosa. Deu-se conta de
que podia sobreviver ao risco da rejeição para ganhar aceitação entre seus amigos.

Vivendo com seus irmãos de fraternidade, encontrou também uma oportunidade de praticar a
separação da sexualidade de suas autênticas necessidades de atenção, afeto e aprovação do mesmo
sexo. Sente-se feliz na faculdade e crê que sua vida se move na direção correta.

Ed se distanciou da relação demasiadamente próxima de sua mãe e, agora, se dá muito melhor com
seu pai. Entretanto, enquanto se rompiam algumas barreiras significativas entre Ed e seu pai, minha
experiência sugere uma capacidade limitada para a aproximação entre homossexuais e seus pais. A
cura da ferida do pai parece ser menos o resultado de uma mudança substancial do pai do que do
crescimento do filho em compreender e aceitar as limitações de seu pai.

Ainda é muito cedo para ter certeza de que direção tomará a vida de Ed. Como homem de 20 anos,
provavelmente terá de passar por muitas mudanças, mas existem muitos indícios de que esse jovem
sincero e de bom senso continuará com seu progresso bem merecido em direção à
heterossexualidade.
CAPÍTULO 8

ROGER: “REALMENTE QUERO


ISSO?”
Desde o momento em que me procurou, Roger Schulte, de 27 anos, deixou clara sua ambivalência
em relação à terapia. Professor de química em um instituto, Roger me disse por telefone, enquanto
marcávamos uma consulta: “Normalmente, gosto de compreender as coisas por mim mesmo. Só
estou te procurando porque já não posso mais com esse problema.”

Quando apareceu na porta, deparei-me com um homem muito pálido e aparentemente sério, com
um rosto magro e com um enorme par de óculos. A forma de se vestir de Roger era única, algo que
poderia ser chamado de “estranhamente estudado”, Levava uma gravata de seda larga e de
decoração brilhante sobre uma camisa de algodão de cor cáqui. As calças justas terminavam em um
par de botas de pele de lagarto. Como aquela combinação, Roger demonstraria ser um estudo em
ambiguidade.

Sentou-se um pouco nervoso na poltrona com as mãos dobradas sobre o colo. Enquanto olhava para
ele, lembrei-me do estereótipo do professor distraído. Seu cabelo castanho, comprido e bastante
rebelde, havia-se esticado para trás com vários golpes duros de uma escova úmida. Suas botas
pontiagudas e pisoteadas, algum dia de luxo, estavam empoeiradas.

Logo se submergiu na sua própria história e seu único companheiro de longa duração, um homem
chamado Perry. Os dois haviam buscado a psicoterapia na esperança de deixar a homossexualidade.
Agora, seu ex-companheiro havia mudado de opinião.

“Perry decidiu que a terapia não lhe ajuda muito e, agora, passa três ou quatro noites por semana
tentando pescar alguém no Rage” disse Roger, expressando ira e dor em sua voz.

Havia ouvido falar do Rage dos meus outros clientes. Esse bar era, para os clubnights gays, o que o
Circo dos Livros era para a pornografia: o maior, o melhor e o mais popular em seu gênero em Los
Angeles.

Roger falou de sua dor em ver Perry beber, flertar e dançar com outros homens. Ao mesmo tempo
em que haviam terminado oficialmente depois de nove meses juntos, ainda permaneciam em uma
dolorosa co dependência.

“Decidi que deveria buscar um terapeuta masculino para trabalhar sobre esse problema” disse ele
com uma risada torpe “mas, agora que estou aqui, não sei do que falar.” encolheu-se e olhou para
fora, abalado, de repente, pela autoconsciência.

Dei-me conta de que, por baixo da forma chamativa de se vestir, havia um homem tímido, com
medo de expressar sua verdadeira personalidade.
“Talvez não esteja acostumado a verbalizar seus sentimentos,” disse-lhe, “ou talvez não esteja
acostumado a que te levem a sério. “

Roger assentiu lentamente.

“É verdade. Inclusive, me pergunto se meus alunos me levam a sério.” Desde o princípio, pude ver
esse traço comum, que pode remeter à infância, quando os pais do menino homossexual não
souberam levá-lo a sério.

Roger começou a falar sobre sua vida desde cedo com seus pais que trabalhavam muitas horas por
dia como encarregados nas montanhas de Catskill, em Nova York.

“Eu não os via muito, exceto quando estavam de folga, mas sempre cansados demais para diversões
ou para falarem comigo. Quando íamos a algum lugar juntos, me sentia como preso.”

Disse com tristeza: “Sempre me senti paralisado em minha relação com meu pai. Conforme eu ia
crescendo, ele se convertia no advogado do diabo, sempre contrário a qualquer coisa que eu
quisesse.”

“Devo admitir, entretanto, que tenho de agradecer a meu pai por ter me tornado professor.” riu
ironicamente. “Ele procedia de uma família alemã na qual todos os integrantes eram muito
estudados. A forma como se comunicava comigo era a palavra escrita. Ele mantinha a mão no jornal
e sinalava um editorial, dizendo: ‘Você realmente deveria ler isso, Roger’. Fora isso, raras vezes nos
falávamos”.

Roger estava claramente limitado em sua expressão emocional. Podia ver a privação emocional em
sua base familiar. E, assim como os adolescentes aos quais ensinava, Roger usava as roupas para
expressar uma identidade que não conseguia afirmar de outras maneiras.

Olhou para mim e admitiu: “Lembro dos ciúmes que tinha do meu irmão, desde muito cedo, porque
achava que meu pai só dava atenção para ele. Meu irmão tinha uma personalidade dura. Era o
valentão do pátio da escola, enquanto eu era o menino calado com óculos que sempre levava uma
mochila cheia de livros. Sempre parecia diferente. Me sentia como um órfão que, de alguma
maneira, foi adotado, por erro, por uma família de soldados nazistas.” ele ria disso, mas seus olhos
mostravam-se amargos. Depois, mexeu a cabeça com tristeza. “Estão lembrando muitas recordações
das minhas relações da infância, e a maioria delas são dolorosas. Dão medo. Minha reação
instantânea é deixá-las outra vez, voltar a esquecê-las.”

Roger me falou de suas tentativas de lidar com o medo.

“Sei que preciso desesperadamente sair de mim mesmo e começar a conhecer gente nova, mas
ainda tenho medo de fazer isso. Tenho medo das pessoas, medo de encará-las, medo da rejeição.”
riu, movendo a cabeça com desgosto. “Tenho medo de tentar fazer amigos porque sequer sei o que é
uma boa e íntima amizade.”

“Esse não é um medo recente. É um medo que sempre tive, desde que me entendo por gente...
Talvez até de nascimento. Quando olho para trás, percebo que a maioria das minhas amizades foram
iniciadas pelos outros. Às vezes, conheço alguém em um passeio no Serra Club, ao qual pertenço, e
trocamos os números de telefone. Eu nunca sou o primeiro a ligar. Espero que o outro faça isso
primeiro”.
“Pelo medo da rejeição” disse-lhe.

“Pelo medo da rejeição” repetiu ele “esse é o medo que sempre senti. Ao menos, parte dele.
Também tenho medo tudo o que possa pensar depois: ‘Pode ser que tenha me enganado ao pensar
que poderíamos nos dar bem. Pode ser que não volte a me chamar depois disso’, e assim por diante.
Isso me dá medo.”

“Tem medo de seu próprio êxito.”

“Sim” admitiu.

Expliquei:

“Isso é um assunto de poder. Você tem medo da responsabilidade do êxito. Não consegue acreditar
que tenha força para manter o êxito que já obteve.”

“Tem razão. E pior, não consigo controlar os desejos homossexuais quando eles aparecem. É isso o
que, na verdade, me deprime.”

“Você não tem de controlar seus desejos homossexuais para trabalhá-los e fazer com que eles
diminuam” disse eu. Roger pareceu surpreso. Continuei: “Não é no controle que mora a cura.”

Roger estava caindo no erro que, com frequência, aparece nos primeiros passos da terapia:
concentrar-se mais em controlar os sintomas superficiais do que em resolver as necessidades mais
profundas. De fato, concentrar-se somente em controlar os próprios desejos – uma batalha de auto
engano, sem dúvida – só é uma forma de evitar o desafio mais profundo de estabelecer amizades
masculinas íntimas e não sexuais.

“Suas tentações homossexuais não devem te distrair nem te desanimar diante da tarefa essencial
envolvida no processo. Sua primeira tarefa é superar o medo e a solidão para desenvolver relações
masculinas íntimas. Em vez de olhar para os homens sexualmente, precisa afrontar os sentimentos
que jazem abaixo do desejo. Seus sentimentos sexuais escondem muita dor e alienação, e você
precisa tratar essa dor de uma forma mais apropriada e mais satisfatória.”

“Você tem razão sobre a dor” disse ele.

“Diga-me”, disse eu, de que tipo de dor, exatamente, se trata a sua?

Ele suspirou.

“A dor de ter medo sempre. A dor da solidão. A dor de sentir que não pertenço a nenhum lugar.”

Movia a cabeça com desalento. Nosso tempo havia acabado e perguntei a Roger se queria continuar
na semana seguinte. Respondeu que pensaria. No dia seguinte, mandou uma mensagem dizendo que
havia mudado de opinião em relação à terapia.

Três meses depois, Roger telefonou para pedir outra sessão. Na hora combinada, entrou no
consultório triste e desgostoso.

Falou durante um momento sobre generalidades, dando só vagas razões para sua volta ao
consultório.
“Mas por que você voltou agora, Roger? O que te fez mudar de opinião?”

Com um pouco de dúvida e de vergonha, começou sua história:

“Na semana passada, tive uma experiência bastante desagradável. É humilhante até falar sobre
isso...”

“Não se preocupe, Roger” assegurei. “Já não creio que haja algo que possa me surpreender ou
escandalizar.”

“Bem... Eu fui à casa de um homem que nunca tinha visto antes. Consegui o nome dele na
contracapa de um periódico gay, esses anúncios gratuitos que se encontram em bares. Ele estava 'em
busca de uma relação'. De qualquer forma, fui à casa dele e ele me disse que gostava que os garotos
mais jovens ficassem 'em cima' e ele 'em baixo'. Foi assim que fizemos. Eu estava usando um
preservativo, mas logo prendi minha atenção em uma sensação estranha e...”, suavizou a voz. “Foi
difícil continuar...”

“Ao que foi que você prendeu a atenção?” Interrompi.

“Merda!” respondeu ele, buscando não olhar para mim. Houve longo silêncio antes que ele
conseguisse continuar. “Eu fui ao banheiro e... Tinha merda no meu pênis. Foi uma porcaria só!
Graças a Deus eu estava usando preservativo. Fui embora dali o mais rápido possível. De repente,
fiquei chocado com o quão aquilo era perverso. Pensei: 'Quão fundo eu tive que cair! É assim que
um gay tem que conseguir gratificação sexual?'. Percebi que o sexo entre homens não é algo
natural.”

Roger se comprometeu em vir a uma sessão por semana. Quando já haviam se passado algumas
semanas, parecia muito mais feliz em estar na terapia. Um dia, lançou-se em uma análise a respeito
da dificuldade que tinha de afrontar o que ele chamava de seus “pequenos medos”, sua sensação de
inferioridade e sua ansiedade.

“Gasto muito dinheiro com minhas roupas,” disse Roger. “Não posso resistir quando vejo um bom
par de botas ou algo assim. Entretanto, quando vou comprar, tenho medo do vendedor. Não consigo
olhá-lo nos olhos. Me sinto como um menino pequeno onde quer que eu vá. Como um menino
pequeno em um mundo de adultos. O que é bastante irônico, visto que sou professor.”

“Mas, ultimamente, decidi que tenho de superar isso, de forma que fui à avenida e, durante um
tempo, só caminhei. Tentava olhar as pessoas nos olhos, não me sentir tão inferior”.

“Outra vez, os pequenos êxitos que fazem a diferença” assinalei. “Você deve prosseguir com essas
pequenas mudanças de conduta.”

“E, além disso, apesar de estar melhorando ao aumentar minha vida social, ainda sinto medo por as
pessoas serem tão intensas. Ainda me sinto falso quando enfrento situações sociais.”

“Você está superando a timidez em sua conduta, mas o medo ainda está aí”. Resumi.

“Sinto que sempre tenho de me projetar, de me empurrar em direção às pessoas, senão nunca
conseguirei dizer algo a ninguém”. Parecia severo.

Enquanto Roger falava de sua inferioridade, do isolamento auto protetor, não conseguia evitar
pensar que era assim que ele se sentia quando era criança na presença de uma mãe e de um pai que
nunca estimularam sua espontaneidade.

Ele passou a falar, então, de seu antigo companheiro, Perry:

“No fim de semana, estava me sentindo muito sozinho e decidi ligar para ele. Não consegui falar
com ele, caiu na caixa postal. Assim que ouvi sua voz na gravação, perdi todo o desejo de falar com
ele. Senti ira e uma tristeza intensa. Também uma profunda sensação de perda. Quero resolver essa
relação, pois nós nunca o fizemos, deixamos tudo sem conclusão. Sempre me encontro tratando a
ele como se fosse um cara mal, mas sei que isso não é verdade.”

“Não é realista”, disse eu.

'Sei que não. Mas é o que tenho feito com todas as relações. Sempre acabo aborrecido e desgostoso
com os homens que pensava que queria. Depois de tudo, acabo dizendo que eles não prestam. É
assim que me sentia em relação a meu pai.”

“Exatamente”, disse eu.

“Entendo tudo isso em certo nível, mas isso não me tira a tristeza. Os momentos em que fico mais
triste são aqueles em que penso em Perry ou escuto sua voz em minha mente. Dou-me conta de que
não lembro dele como era de verdade, mas sim de uma forma idealizada. Eu o amava porque era
livre, louco e extrovertido, a imagem do homem que sempre quis ser e que sentia que necessitava.”

O eu idealizado, pensei comigo. Exatamente o que Roger queria ser, se pudesse se sentir menos
inibido.

“Entretanto, há aspectos dessa relação das quais realmente sinto falta. Apesar de todas as brigas e
confusões, havia momentos em que parecia que tínhamos sido feitos um para o outro. Creio que
isso se passe com qualquer casal, mesmo que seja momentâneo.”

“Sei que havia aspectos bons na relação” continuou. “Mas, por outro lado, permanecia a ira por me
permitir sucumbir À sua manipulação ostensiva. Tenho esse sentimento de ira que me permite ser
manipulado”.

“Isso já havia se passado antes?”

“Depois de uma aventura desmoralizante com um rapaz durante o último ano no colégio, jurei a
mim mesmo que nunca mais permitiria que outro homem me manipulasse. E então acabei com
Perry.”

Depois de um longo silêncio, disse:

“Durante muitos anos, estive buscando o homem perfeito, mas todas as vezes experimentei feridas e
decepções. Agora sei que nunca virá o amigo perfeito. E entendo o porquê. Entretanto, mesmo
agora que te expresso essa convicção, me sinto totalmente perdido. Não posso suportar o fato de
estar perseguindo uma ilusão. “

Roger havia-se deparado com um dos passos mais dolorosos da terapia reparativa. Eu disse a ele:

“Creio que você deva sentir tristeza por essa perda. Tem de abandonar o sonho gay de que um
homem vai ser seu amigo eterno, companheiro sexual, amante fiel, confidente, irmão, amigo da
alma, tudo isso em uma só pessoa. Creio que você realmente tenha de se afligir pela perda desse
sonho.”

“No nosso último encontro no Rage,” disse Roger. “Estava triste por alguns dos insultos que Perry
dirigiu contra mim. Senti que estava tentando me diminuir por alguma razão.”

“Talvez ele tenha a mesma ambivalência que você.”

“O que quer dizer?”

“Ele também sonha em ter algo especial com você e, quando se sentiu decepcionado, decidiu
diminuí-lo”, expliquei.

Roger disse lentamente:

“O mesmo sentimento de odiar aquilo que se ama por saber que não se pode tê-lo.” E acrescentou,
como que estudando atentamente, “Ouvir isso me faz sentir melhor.”

“Porque agora compreende o que acontece. As relações homossexuais tendem a ser tão voláteis
porque o homossexual odeia o que ama. Ele se dá conta, em algum nível, de que nenhum homem
pode satisfazer suas expectativas irreais.”

Roger respondeu com tristeza:

“Isso acaba com o brilho romântico, eu acho.” E então: “Não é fácil ter um homem como par, isso
eu posso dizer.”

“Não, a não ser que queira viver com as limitações inerentes as relações homossexuais.”

A relação homossexual está cheia de paradoxos irreconciliáveis: medo e, ao mesmo tempo, atração
pelos homens. Os casais do mesmo sexo costumam começar com uma percepção irreal da outra
pessoa, uma imagem. Essa imagem representa aspectos da própria masculinidade perdida do
homem. Geralmente baseada em características superficiais da personalidade do outro, essas
projeções estão destinadas a conduzir ao fracasso. E, devido a essas relações serem baseadas em
projeções e desejos, o casal tem dificuldade em mover-se além do estado de romantismo para a
formação do compromisso monógamo estável.

Quando busca contato erótico com outro homem, o homossexual tenta ganhar uma parte perdida de
si mesmo. Mas, como essa atração procede de um déficit pessoal, não é completamente livre para
amar o outro.

O Dr. Herman Nunberg (1938) falou do tipo de cliente homossexual que parecia crer que “por meio
do mero contato físico com um homem forte, ou por meio de um abraço ou um beijo, absorveria
essa força e chegaria a ser tão forte quanto o homem que desejava” (p. 5). Essa busca pelo ideal
masculino é característica das relações gays. Essa é uma das razões pelas quais vemos que, nessas
relações, o ciclo frustrante de atração e contato sexual é seguido, pouco depois, pelo desinteresse. É
um ciclo de desejo de intimidade frustrado que, com frequência, dura toda a vida.

O homem heterossexual não é psicologicamente tão dependente de encontrar o ideal feminino. O


ideal feminino é menos importante porque seu par não precisará satisfazer um déficit de gênero
original. Em vez de encontrar um par igual a ele, esse par será complementário.

O gay, com frequência, põe a esperança no sonho de um amante futuro. De fato, vemos que os pares
homossexuais quase nunca permanecem monógamos e fiéis. Entretanto, a relação madura significa
aceitar as limitações inevitáveis impostas pela eleição de um companheiro para toda a vida e
criando o que se pode criar a partir da relação.

Os casais gays mostram, com frequência, uma intensidade de dependência, ciúmes e suspeitas. As
relações domésticas mais voláteis com as quais trabalhei foram as de casais gays.

Geralmente, queixam-se de ambivalência intensa, às vezes conflitos violentos e até mesmo


agressões físicas. Como a relação está forçada a suportar a excessiva bagagem das necessidades
insatisfeitas de amor da infância, tem lugar uma grande quantidade de dependência hostil.

Não posso crer que o homem tenha sido criado para viver sua vida com um par do mesmo sexo.
Sem a influência feminina em uma relação de amor, sempre será esquecida uma força de base
essencial.

Alguns meses depois, Roger entrou na sala com uma pergunta imediata:

“Para que uma pessoa tenha boa autoestima, é verdade que seus pais têm de dar-lhe reconhecimento
positivo durante a infância?”

Antes que eu pudesse dizer uma palavra, acrescentou: “Porque meus pais nunca fizeram isso.”

“Respondendo sua pergunta, claro que sim.” admiti. “Mas, mais importante que o reconhecimento
positivo é o reconhecimento de segurança. Para desenvolver uma verdadeira identidade, a criança
precisa ter associado com clareza quem é como indivíduo.”

“Esse é o meu problema”, afirmou Roger com tristeza. “Era ignorado e manipulado.” Pensou
durante um minuto, depois corrigiu. “Era ignorado por meu pai e manipulado por minha mãe.” Seu
rosto demonstrava certa satisfação.

Então, Roger voltou ao presente “Na noite passada, fui à casa dos meus pais para jantar. Cada vez
que volto lá, me sinto angustiado. Tudo o que dizem me incomoda. Depois de voltar ao meu
apartamento, 'me senti muito tenso e senti uma grande necessidade de me masturbar assim que
fechei a porta.

Seguiu-se um grande silêncio, como se ele não soubesse onde chegar com essa observação.

Como muitos homens com orientação homossexual, uma vez que Roger expressou uma queixa
fortemente sentida, tinha uma enorme quantidade de problemas para seguir analisando. Com
frequência, sentia-se satisfeito simplesmente expressando a queixa, mas carecia da motivação para
prosseguir para a autocompreensão.

“Por quê?” incentivei. “Você tem de perguntar 'por quê?'”.

Olhou ao redor da sala, respirando profundamente. Depois, olhou para mim e disse: “Porque,
quando estou com meus pais, não sou ouvido.”

“Está certo. Se é assim, qual é a conexão entre a angústia na casa de seus pais e a masturbação?”
Perguntei.

Ele ficou em branco.


Então, eu lhe disse: “Esses sentimentos angústia, aborrecimento, ansiedade ou depressão são sinais
dados pelos nossos corpos de que estamos fora de contato conosco mesmos. Se você estava fora de
contato com você mesmo, a masturbação foi uma forma de voltar a ter esse contato, de sentir seu
corpo. A mente se dispersa enquanto o corpo se concentra no orgasmo. A masturbação, como comer
muito ou outras condutas viciosas, têm uma função unificadora.”

Inclinei-me para frente e olhei para ele seriamente. “Lembra quando te perguntei o que você estava
sentindo e não conseguia expressar? A maioria das vezes é a ira que não te permite expressar-se e...”

Roger interrompeu com impaciência. “Como vou expressar minha ira aos meus pais? Começo a
gritar com eles?”

Sentia sua frustração, mas continuei com calma: “Se seus sentimentos correspondem com sua
conduta não significa que tenha dar um chilique. Tente falar mais diretamente sobre o que você está
sentindo. Só sendo honesto consigo mesmo a respeito do que está te aborrecendo você conseguirá
uma mudança no sentimento. Você só terá mais controle etiquetando o sentimento. De repente,
começará a se sentir com mais domínio de si mesmo. Então, poderá decidir como expressar a ira
apropriadamente, que pode ser simplesmente indo embora da casa de seus pais.”

“Que foi o que fiz”, disse Roger, esperando evidentemente conseguir algum crédito.

“Sim”, disse eu “porque não teve outra escolha. Não ia falar com franqueza com seus pais. Em vez
disso, transformou sua ira em expressão sexual. Essa é uma dinâmica comum, diria característica,
dos homossexuais: seu poder intrínseco é desviado para uma conduta sexual.”

Depois de alguns segundos de reflexão, Roger riu, depois sua voz voltou mais séria enquanto dizia:

“Isso parece uma doença.” Repetiu: “uma função unificadora.”

Concluí:

“Mas, depois de tudo, a função última do orgasmo é a procriação.”

Roger me olhou, deu de ombros de forma não comprometida e, depois, começou a me contar sobre
sua primeira experiência sexual, uma situação de abuso sexual ocorrida há muito tempo com um
vizinho mais velho.

“Começou quando eu tinha cinco anos e ele treze. Era 4 de julho e Larry e eu estávamos brincando
de esconde-esconde. Eu me escondi no quarto dos meus pais, já que estavam viajando. Me escondi
debaixo da cama e Larry me encontrou ali e pediu que eu lhe fizesse uma felação.

Por minha parte, não tinha ideia de que isso era o que se chama de abuso sexual. Desfrutava do que
fazíamos e, na verdade, gostava da atenção especial que ele me dava. Sempre havia sido inseguro e
tímido, e agora tinha esse garoto mais velho e mais forte me protegendo e dando atenção. Creio que
poderia dizer que me prendi rapidamente. Era excitante. Durante muitos anos, minhas fantasias na
masturbação se centravam em Larry”.

“Você se sentia bem com Larry, então?”

“Eu era especial para ele. Era aceito. Conseguia dele a aprovação que não conseguia de ninguém
mais, em nenhum lugar. Meu pai não me dava nada, eu era um assunto de total indiferença para ele.
E meu irmão mais velho não me estimulava. Era um garoto divertido e de personalidade, e perto
dele eu me sentia miserável.”

“Você acredita que essa experiência tem alguma coisa a ver com suas tendências homossexuais?”

Roger pensou por um momento.

“Realmente havia mais de uma causa, creio... Ter uma mãe mais que possessiva, um pai que não se
implicava e minha relação com Larry: todas essas coisas devem ter me empurrado nessa direção.”

“Quando terminou a relação com Larry?”

“A última vez foi quando eu tinha 13 anos. Nessa época, me sentia péssimo, pois estava muito
confuso com o que se passava. Também tinha alguns sentimentos heterossexuais – tive uma espécie
de paixão por uma garota no colégio – e estava confuso em relação ao que fazia com Larry, se isso
significava que eu era homossexual ou heterossexual. Desde então, não tive mais relações com
homens, até o último ano do colégio.”

Enquanto terminávamos nossa sessão, sugeri a Roger que fizesse um diário para que pusesse
qualquer pensamento, ideia, sentimento ou experiência que pensasse ser importante. Escrever o
diário facilita a classificação consciente dos processos interiores. Como a maioria de meus clientes,
Roger era facilmente afetado pelos acontecimentos externos. Minha esperança era que, por meio do
diário, ele olhasse com mais frequência para seu interior para encontrar respostas.

Na semana seguinte, Roger veio com um estado de ânimo muito alegre. Se bem que descrever seu
estado de ânimo como feliz ou alegre era demasiado forte para Roger, que era sempre muito
inexpressivo emocionalmente.

“Bem... Fiz o que você disse e funcionou”, disse ele.

“Sério? E o que eu te disse?” Brinquei.

“Ia passando pela avenida no sábado passado e me sentia triste... Outra vez, a sensação de angústia.
Tenho consciência do que pareço. ‘Pareço gay?’, pergunto a mim mesmo. Então penso: ‘Espere, o
que está acontecendo?’. Então percebo que, na verdade, estou me sentindo mal porque minha mãe
me pediu o favor de comprar uma pulseira para o relógio do meu pai. Não fico aborrecido pelo meu
pai, mas porque minha mãe fica me mandando fazer isso e, aproveitando, fazer mais um monte de
coisas. E eu, como um idiota, sempre vou. Ela pensa que tenho 16 anos e não tenho nada mais para
fazer. Mas, se falo isso, acabamos discutindo ou ferindo seus sentimentos.

Expliquei:

“Essa classificação de seus sentimentos é o processo que foi sufocado em sua infância. Você
terminou assumindo o papel de bom menino, que não tem a chave do que sente.”

Roger acrescentou: “Que não tem poder...”

“E que, em determinado momento, passou a admirar outros garotos que eram espontâneos, livres e
autoconfiantes. – disse eu – Por isso, se apaixonou pela imagem projetada de Perry, por ele ser tão
aberto e extrovertido. Mas você tem de manter a consciência de como se sente e reagir a esses
sentimentos de ansiedade, aborrecimento e depressão.”

“E irritabilidade e angústia”, acrescentou ele.


Em seguida, Roger falou sobre uma experiência interessante que havia tido ao ver uma foto na
semana anterior. Por meio desse relato, pudemos encontrar muitas das necessidades que jaziam sob
sua atração erótica pelos homens.

“Eu estava em uma livraria, na sessão de arte, até que encontrei um livro de fotos artísticas de nus
masculinos. Nada de pornográfico. Entretanto, eu me senti meio que arrastado por uma foto de três
homens de pé, em círculo, em uma piscina. Podia ver somente suas costas e estavam com a água até
o peito, de forma que não havia nenhum conteúdo sexual explícito. Entretanto, havia algo
terrivelmente atrativo nessa foto.”

“Pense nessa imagem”, animei . “O que, exatamente, é tão atrativo nessa foto?”

“De certa forma, eu gostaria de estar ali com eles. Estavam rindo, desfrutando, nus, livres e ao ar
livre. Teria gostado de estar ali com eles.” Em um tom de triste reflexão, Roger continuou: “Na
verdade, nunca tive esse tipo de experiência natural com outros homens, sabe, como nadar em uma
piscina com outros garotos. Nunca tive isso.”

“Você identificou um desejo profundo pela conexão natural e física que, enquanto você crescia, foi
sendo erotizada.”

“Sim. Quando vejo um vídeo pornô de homens fazendo sexo, minha fantasia é que estou naquela
cena com eles. Tenho 13 anos outra vez, no meio daquele círculo.”

“Você passou por essa experiência aos 13 anos?”

“Não. Mas, de forma divertida, teria gostado de fazê-lo. Talvez não estivesse necessitando disso
agora.”

A ideia de Roger me fez recordar a fala do famoso psiquiatra Harry Stack Sullivan, também
homossexual. Ele tinha a ideia sem par – certamente não compreendida na época – de que a conduta
homossexual entre jovens ajuda a estabelecer a base para a heterossexualidade adulta.

Creio que Sullivan tinha razão sobre o princípio básico: de que o jovem necessita de intimidade
masculina (ainda que de natureza não sexual) para direcionar-se à atração pelo sexo oposto.

Roger, então, lançou uma pergunta: “Perry e seus amigos estiveram, recentemente, em uma
manifestação pelos direitos da mulher. Pensando sobre isso, percebi que os gays quase sempre são
feministas. Por quê?”

“Os gays e as feministas compartilham uma desconfiança com relação ao poder masculino. Não
confiam que uma autoridade masculina possa ser benevolente.”

“Sim, creio que isso seja verdade”, assentiu Roger.

“É uma coalizão que esses grupos criaram contra a estrutura política 'masculina branca'.”

Roger trouxe, então, um problema que o angustiava: “Na semana passada, passei pela minha
avaliação anual de emprego. Meu supervisor disse que sou demasiadamente sensível – apertou as
mãos com tensão – e sei que isso é verdade. Quando os caras fazem comentários bobos atrás de
mim, finjo que não escuto, mas suas palavras ficam em minha cabeça durante dias. Fico pensando
sobre o que estão falando, se é sobre mim, coisas do tipo. Sempre fui assim, sensível, a vida toda.”
“Você é vulnerável, pois a imagem que tem de si mesmo não é real,” expliquei. “É por isso que se
sente tão frágil.”

“Por outro lado, há dias em que me sinto tão forte e positivo. Sinto que nada do que as pessoas
digam possa me causar dano.”

“Certo. Agora você sabe a diferença entre o seu falso e o seu verdadeiro eu,” disse. “Você deve se
dar conta de que, quando está perdido em uma falsa identidade, pode demorar a metade de um dia
ou mais para identificar o que te levou a isso e voltar ao seu verdadeiro eu. Mas esse tempo de
recuperação, que você levará para voltar à sua verdadeira identidade, será cada vez mais curto
conforme você for praticando.”

“Mas que diabo tem isso a ver com a homossexualidade?” Indagou Roger.

“Tudo.” Respondi. “A homossexualidade é só um sintoma, uma manifestação de um problema


maior, o poder masculino perdido na infância e que você nunca atualizou.”

Enquanto Roger demorava-se um instante para assimilar essas ideias, eu pensava na abordagem da
homossexualidade pelo filósofo Eli Siegel como essencialmente um problema para viver. O
Realismo Estético de Siegel desafia o homossexual a romper com sua passividade para que tenha
um contato autêntico com os elementos opostos do mundo, incluindo a polaridade dos homens e
mulheres.

Roger resumia: “Tenho vivido essa atitude passiva durante tantos anos de minha vida, que parece
que ela já faz parte de mim. É como se fosse... – buscou uma palavra – normal.”

“Mas agora você já sabe que não é,” assegurei-lhe. “E poderá mudar a direção quando quiser
regressar à sua identidade autêntica.”

Na semana seguinte, Roger me disse que havia encontrado com Perry enquanto saía de um cinema.

“Fui vê-lo no sábado à noite em seu apartamento. Ele me falou de todas as suas proezas e eu não
pude deixar de sentir ciúmes. Falou-me do novo amigo que ele conhecera no Bunkhouse, um novo
bar gay com ambiente do oeste.”

“Onde todos são cowboys. “

“Sim, isso mesmo.” Ele riu. “Assim... parece que esse cara é o amigo perfeito, segundo Perry. De
qualquer forma, Perry concluiu que está totalmente em paz com sua homossexualidade, dizendo, em
tom de piada, que é um dom de Deus.”

“Entretanto, no meio de tudo isso, Perry me faz a seguinte pergunta: ‘Você já saiu de uma
experiência sexual se sentindo totalmente satisfeito? ’. Eu pensei e disse: ‘não, nunca’, e ele
respondeu: ‘Eu tampouco’. E então acrescentou: ‘não acho que seja homofobia admitir isso’”.

“Ainda vai aos bares, sai para dar voltas ou distrair-se. Mas creio que, na verdade, não está feliz e
que está passando pelo mesmo conflito que eu. E isso dói muito em mim”.

“Por que a dor dele dói tanto em você?”

“Sinto-me tão conectado a ele que torna-se doloroso.”


Roger havia identificado um problema frequente nas relações homossexuais: o reflexo narcisista.

“O que você está sentindo tem a ver com os gêmeos,” expliquei. “Por serem iguais, sentem igual.
Este é um termo usado por psicólogos para descrever o que acontece com os gays na fase romântica
da relação. É uma identificação narcisista com a outra pessoa. O outro homem se torna uma
projeção de seu eu masculino ideal.”

Roger disse: “É como se nossos sentimentos se correspondessem, e isso deveria nos fazer sentir
bem. Mas há uma dor que não nos deixa em paz,” lutando para superar sua exclusão defensiva,
continuou: “Não sei. Tem algo errado, é muito doloroso para ser natural.”

“Você está certo” assegurei.

“Me sinto tão desesperado!” Disse Roger: “O escritor do livro Straight disse algo com o qual me
identifiquei totalmente. Falava de 'dotar o outro de uma personalidade que não tem'. E sinto que é a
mesma coisa dessa história dos gêmeos. Ainda que Perry seja um outro homem comum, eu o vejo
como a imagem selvagem e livre do homem que gostaria de ser.”

“Assim como Narciso, você pode se afogar enquanto persegue sua imagem ideal” disse-lhe.

“Nem me fale! Sinto-me exatamente assim, como se estivesse me afogando!” Disse Roger. Depois,
acalmando-se, voltou à noite de sábado: “Nós estávamos falando e Perry estava perturbado de que
eu estivesse continuando com a terapia. Eu falei do diário que estou escrevendo. Houve certa
competitividade entre nós. Entramos num jogo de 'Bom, de certo disse algo sobre mim' e coisas do
tipo.

Ele suspirou, continuando: “Depois, voltamos para minha casa. Devo te dizer que não aconteceu
nada. Entretanto, ele disse: 'Posso ler seu diário?'. Me surpreendi por ele ter se lembrado. Eu, então,
lhe dei o diário e ele começou a ler em silêncio. Se movia muito enquanto lia e quase começou a
chorar. Houve um longo momento de silêncio, depois ele me olhou e disse: 'Esse diário tem muito
sentimento. Tem muito valor. Você está fazendo a coisa certa.'”

Roger, então, deteve-se e, depois, disse: “Mas Joe, não creio que ele estivesse falando de mim. Era
dele. Era o narcisismo. O que eu estava fazendo – indo à terapia e tentando mudar – afetou a ele
nem tanto porque estivesse contente comigo, mas porque desejava ele poder fazê-lo.

Depois de um longo silêncio, perguntei: “Como você se sentiu depois que ele foi embora nessa
noite?”

“Me fez bem vê-lo. Os incentivos que ele me deu sobre o diário me deram poder. Mas vê-lo
também me esgotou, me entristeceu, porque ainda estou sentindo a ambivalência de saber se devo
continuar ou não nessa luta contra a homossexualidade.”

“Perry e eu nos detivemos nos bares por um momento. Os homens que estavam ali pareciam felizes
e não tenho razões para duvidar deles. Depois, por outro lado, olho os homens que conheci na
Conferência Êxodus que estavam saindo da homossexualidade e pareciam felizes. Não se importam
se mudarão algum dia ou não, caminham em direção a um objetivo e se encontram em paz para ir à
direção que creem que é correta. Estão em paz com isso”.

Logo, pôs-se agitado: “Mas o problema que insiste em voltar é: por que ainda estou perdido no
meio? Parece que os outros conseguem encontrar paz em um dos sois lugares, mas eu não posso
encontrar.

“Que você ainda não encontrou”, corrigi.

“Certo,” repetiu. “Que eu ainda não encontrei.”

“Nem tanto porque não tenha analisado bem as opções, mas porque precisa se conhecer melhor”,
disse-lhe.

“É muito difícil, às vezes, não é?” Repetiu. “É muito difícil. Às vezes, ainda me pergunto: por que
venho aqui?”

Na semana seguinte, Roger entrou caminhando no consultório com uma aparência especialmente
excêntrica: usava um jaleco de couro negro sobre uma camiseta branca, calças jeans desbotadas
com rasgos sobre os joelhos. Esse era Roger: tímido, mas com necessidade de se expressar de
alguma forma.

Nessa semana, havia introduzido um sonho que havia tido. Esse sonho nos levaria a descobrir algo
importante sobre como os homens com orientação homossexual se aproximam das mulheres.

Roger contou assim: “Eu estou nu. Olho para minha esquerda e vejo uma mulher bela, de pele
negra, deitada no solo. Quero fazer amor com ela. De repente, aparece um homem muito musculoso
e olho para ele. Parece muito atraente. Em seguida, ele faz sexo com ela e eu começo a querer estar
com ele também. Então, mudo de opinião e, em vez disso, tiro ele de cima dela. Começo a
conversar com ela, mas tenho sentimentos ambivalentes em relação a ele. Depois, acordo.

“Muito bem,” disse-lhe. “Há duas regras para interpretar os sonhos. Primeira: cada parte dele tem
um significado, como já vimos. Segundo: cada uma dessas partes representa um aspecto de nós
mesmos.

Roger disse com cautela: “Bem... O homem sou eu, e quero fazer sexo com ela. Talvez signifique
que estou me esforçando.”

Eu o aclarei: “Sim, mas não está preparado para fazê-lo diretamente, por isso faz por intermédio de
seu ideal masculino. Você disse que ele é musculoso e atraente. Isso representa sua masculinidade
perdida. Esse sonho traz um tema reparador: aproximar-se de uma mulher pela primeira vez,
assumindo sua masculinidade por meio de outro homem. E perceba que você estava olhando para a
esquerda: a mulher se aproxima de você pelo lado inconsciente, ainda não assimilado.

Perguntei, então: “Mas diga-me: por que a mulher tem a pele negra?”

“Bem...” Parecia envergonhado. “É que acho as mulheres negras mais atraentes... Você acha isso
estranho?

“De maneira nenhuma!” Respondi. “Só me dei conta de que um grande número de homens brancos
com problemas de homossexualidade acham as mulheres afrodescendentes ou orientais mais
atraentes. Os homens que tiveram problemas com sua mãe parecem sentir-se atraídos por mulheres
que sejam “diferentes da mãe”.

Ele riu: “Está brincando?”

Roger estava contente e surpreso ao descobrir que algo que temia ser estranho nele mesmo tinha
sentido e era comum a outros homens. Os homens com orientação homossexual parecem se sentir
reafirmados ao descobrir qualidades em si mesmos que são comuns a outros homens. É como se
eles precisassem reafirmar-se: “aqui há outra característica na qual sou igual aos outros”.

“Sabe, isso é o que eu suspeito,” disse ele. “Pode ser que eu goste das mulheres negras porque são
diferentes...”

Depois de uma pausa, com um sorriso, disse: “Me atraem! Me atraem as mulheres negras.” rindo
alto. “Estupendo!”

Roger, então, começou a falar sobre sua relação com Tim, um amigo professor. Explicou: “Tenho
jogado tênis com ele na hora do almoço, e gosto muito disso. Na semana passada, as duas
secretárias da administração queriam fazer duplas conosco. Tim aceitou, mas eu me senti
incomodado.

“Por quê?” Desafiei.

“Não sei”, disse ele, perplexo.

“Competição? Atuação?” Perguntei.

Depois de refletir um pouco, ele disse: “Não, não creio que fosse nada disso. Parece uma teoria,
mas... Queria o Tim só para mim.” Ele riu com dificuldade. “Não sexualmente, mas queria que
fôssemos só nós dois, um ambiente masculino.” Então, sua voz pareceu irritada. “Não gosto que as
mulheres se metam no meio. Elas me deixaram mal quando pediram para jogar e eu não sabia como
sair dessa situação sem ferir seus sentimentos.”

Roger estava identificando uma dimensão importante de sua identificação masculina: a necessidade
de implicação total e completa com os homens, sem intrusão feminina.

“Isso te parece familiar?” Perguntei.

Roger parecia totalmente confuso. Repeti: “Parece familiar? Sente que as mulheres se
intrometeram, mas teve medo de ser franco e acabar ferindo seus sentimentos.

Ele reconheceu o que eu estava falando e disse num instante: “Mamãe! Ela outra vez.”

“Sim, mamãe,” disse eu. “Ainda não sabe como ficar de pé em frente a uma mulher intrusa. Não
sabe como falar-lhe porque sempre se sente como se estivesse diante de sua mãe.

“Não tenho desejo de estar com elas.” Disse aborrecido. “Não tinha muitos amigos homens quando
estava crescendo. Agora, quero jogar com eles. Os homens me sustêm – me mantêm em marcha.”

Nossa cultura andrógina perdeu a apreciação pela necessidade de os meninos serem apoiados pelo
próprio sexo. Os clubes e equipes de garotos agora são obrigados a integrar as meninas,
descuidando da necessidade real do menino de ganhar masculinidade. Os meninos têm uma
necessidade natural de querer afastar-se das meninas, pelo menos durante um certo período ao longo
de seu desenvolvimento – para prepararem-se para aproximar-se das mulheres na idade adulta.

Roger parecia animado e feliz: “Sabe, agora estou começando a ver meus sentimentos sexuais como
distorções daquilo que realmente necessito dos homens.” Fez uma pausa durante algum tempo,
refletindo: “Como em outro dia... Estava pensando em Mark, um homem que conheci em meu
grupo na igreja. Estava tendo algum sentimento sexual por ele, pelo que tive de deter-me e dizer:
'isso é mentira! Não é o que está se passando de verdade. O que se passa é que estou sozinho e estou
buscando uma carga emocional em vez de uma amizade honesta. O sexo é o meio imediato e
conveniente com o qual satisfiz esse sentimento no passado, mas agora já não posso fazer isso'”.
Acrescentou rapidamente: “Não quero dizer que nunca vai passar um homem em meu caminho que
me cause um momento de debilidade. Mas, na maioria das vezes que vejo um homem que acho
atraente, digo a mim mesmo: 'ele realmente é bonito, mas não preciso dele sexualmente'. Pouco a
pouco, fui me sentindo melhor comigo mesmo... Mais forte. Pela primeira vez em meses, posso
dizer que sei por que estou vindo aqui.

Agora, Roger tinha de enfrentar as ansiedades e desafios de entrar na terapia de grupo. Enquanto
entrava na sala para sua sessão comigo, em certo dia, parecia irritado e agitado. Podia ver que esse
novo desafio havia criado um retrocesso em seu interior. Sentando-se em sua poltrona com tensão,
soltou seus medos e apreensões a respeito de revelar-se a outros homens.

Começou descrevendo um vínculo típico dos gays. Esse vínculo os obriga a escolher entre a solidão
e uma relação codependente baseada na “loucura”. Roger confessou: “Quando não estou em
nenhuma relação íntima, posso viver muito bem. Estou sozinho, mas pelo menos posso controlar
minha vida. Mas, logo que estabeleço intimidade com alguém, toda a loucura surge outra vez. E vou
seguindo assim: para frente, para trás, para frente, para trás...” Uma risada irônica e dolorosa: Além
disso, quando o outro vai para trás, eu vou seguindo ele.”

Depois de uma pausa, acrescentou lentamente: “Sempre estou nessa busca pelo amigo íntimo mas,
mesmo quando estou em uma relação, ainda me sinto sozinho,” acrescentou pensativamente. “Isso é
coisa de louco.”

“Mas muito típico das relações de mesmo sexo”, disse eu.

“Isso não acontece nas relações heterossexuais?”

“As relações heterossexuais não costumam ser tão ambivalentes ou frustrantes. Isso se passa porque
as necessidades de identificação não satisfeitas no homossexual criam uma relação de co
dependência.”

Roger continuou: “Vejo os gays repetirem esse modelo sem examinar por que suas relações não
funcionam. Só aprendem a adaptar-se a esse modelo. Além disso, sei, por mim mesmo, que tentar
mudar assusta... Porque não faço nem ideia do quê posso mudar! Sei que só tenho que começar a
tomar iniciativa para ver aonde a mudança vai me conduzir. Sim... Tenho que sentir o medo, mas
fazer o que tem que ser feito de qualquer forma.”

As preocupações de Roger voltavam-se, agora, para o grupo e seus planos de participar da próxima
reunião.

“Estive pensando na próxima semana e em conhecer aos outros homens do grupo pela primeira
vez.” Fez uma longa pausa: “Conheço todas as razões pelas quais deveria me unir ao grupo...”
Duvidava. “Entretanto, me pergunto se isso me fará bem, afinal de contas. Quero dizer, e se eu não
me der bem com eles? E se não me compreenderem?”

Dando-me conta de que Roger precisava de apoio, eu disse: “Assim que entrar no grupo, vai vencer
todos esses medos. Lembre, quanto mais honesto você for consigo mesmo, quanto mais identificar
seus sentimentos quando surgirem e se arriscar a verbalizá-los prontamente, seja a mim ou ao
grupo, mais rapidamente se sentirá bem.”
Roger insistiu: “É que isso me assusta muito.”

“Eu sei,” respondi. “Mas, ainda que tenha medo, deve fazer isso.”

“Certo, vou tentar, mas isso não me faz sentir bem. É algo tão...” Buscava uma forma de descrever:
“Tão desestabilizador.”

“Você vai fazer algo novo, vai se expor a possíveis relações íntimas com outros homens”,assinalei.

Então, pude ver em Roger uma reação de auto engano demonstrada com muita frequência por
clientes que se expõem a um desafio pessoal. Ele disse: “Pensando no que tenho de fazer, sinto que
minha autoestima vai diminuindo. Me vejo quase buscando motivos para me sentir mal comigo
mesmo. Inclusive na escola, se alguém diz algo ligeiramente negativo sobre minhas aulas, utilizo
isso contra mim mesmo. Se o dono do meu apartamento parece frio comigo: bam!, mais uma
evidência contra mim. E se um telefonista parece sarcástico: bang!, mais um para a coleção.”

“E por que isso?”

“Não sei,” disse ele. “Me sinto como uma merda, mas não sei por quê.”

Tentando iluminar seu julgamento sobre si mesmo, sugeri: “Tome uma conjetura selvagem.”

Roger correu seus dedos pelos cabelos rebeldes antes de responder: “Suponho que esteja afundando
a mim mesmo para não ser decepcionado pelo grupo.” Assentiu levemente consigo mesmo: “É
isso... Sei que faço isso a mim mesmo. Me sentirei como um nada quando entrar para o grupo.”

“Por que faria isso consigo mesmo?”

“Assim, terá de ser um completo desastre.”

“Bem, por outro lado, pode ser que exista também uma fantasia distante de que esses homens sejam
tão bons que te resgatem de você mesmo.”

Roger tentou rir, mas apenas admitiu suavemente: “Pode ser que seja isso...”

“De qualquer forma, essa dinâmica de auto engano é importante para que você compreenda. O
grupo te oferece tanto a esperança emocionante de uma nova forma de se relacionar com os homens
quanto a ameaça da rejeição e do desastre. Carlos Castaneda disse: 'O guerreiro caminha entre o
terror e a maravilha'. Você também sente terror e maravilha, mas não se permite saborear a
esperança e...”

“Tem razão” interrompeu ele. “Eu sequer me permito sentir a emoção ou a esperança. Só o medo.”

“Então, por que está de acordo quanto a entrar no grupo?” Perguntei.

“Porque você está dizendo que é hora de fazer isso, e eu confio em você.”

“Muito bem,” disse. Aqui também havia uma lição. Roger queria confiar em uma figura de
autoridade masculina que o levasse a novos desafios. Não foi por intimidação nem pelo medo da
desaprovação, mas simplesmente graças à confiança cega estabelecida em relação a um mentor.

“O modo que vem tratando o medo do fracasso tem sido fracassando você primeiro. De uma forma
estranha, meter-se em um fracasso para evitar o seguinte te proporciona uma sensação de controle.”

“Soa estranho.” Roger riu.

“Sim, mas é um jogo mental aprendido na infância. 'Fracassarei primeiro antes que outra
pessoa me frustre'”.

Com um olhar de alívio, como se sentisse que compreendia o que estava se passando, Roger
continuou: “Superar o medo é o que significa, para mim, unir-me ao grupo. Estou vendo novas
formas pelas quais esse problema do medo já me paralisou. Como quando algum homem entra na
sala da faculdade e começamos a conversar.”

“Percebo como, instantaneamente, eu me fecho, e esse é um costume que tenho desde o colégio, ou
até antes. Sempre me senti abandonado, mas sempre sabia o que estava fazendo. Eu mesmo me
isolava. A batalha para fazer amigos me aterroriza. Eu o vejo, me animo, mas logo volto atrás”.

Depois disse, sem se dar conta da importância de sua própria ideia: “Mas, desta vez, já sinto o medo
mesmo antes de contemplar a situação. Sinto o medo. Sinto vontade de ficar sozinho. Com todo o
estresse que supõem essas relações, preferiria ficar sozinho. Não sei, Joe, pode ser que começar a
participar do grupo seja pedir demais de mim.”

Roger participava das sessões em grupo de forma cautelosa e auto protetora. Mostrava-se
interessado no que diziam os outros membros, mas oferecia muito pouco de si mesmo. Além disso,
esse interesse crescente nos outros homens fez com que ele reavaliasse sua compreensão a respeito
das relações masculinas, particularmente em relação ao que eles poderiam lhe oferecer.

Ele disse, em nossa sessão seguinte: “O que me assusta é que meu conceito de amizade masculina é
totalmente errado. Eu não sei o que é uma amizade masculina real. Não sei o que se sente, como se
parece. Como ter uma amizade íntima com um homem que não é meu namorado?”

“Eu vejo homens heterossexuais juntos e penso: como será que fazem isso? Não sei como eles se
sentem quando estão juntos”. Ele riu, como se fosse uma ideia absurda, e continuou: “Tenho medo
de me ver implicado com as pessoas, digo, os homens, porque não sei o que deveriam esperar de
mim. O que devo fazer? Quero dizer, não posso imaginar uma amizade íntima sem estar
apaixonado. Sem essa paixão. Como quando você tem sete anos e está obcecado com seu amigo
mais forte no pátio da escola”. Roger estava expressando uma queixa comum.

Depois, continuou falando de seu medo mais profundo, um medo compartilhado por todos os
homossexuais da terapia reparativa. Ele disse: “Tenho medo de que as relações maduras e de apoio
mútuo não sexuais das quais você sempre fala não tragam nenhuma satisfação emocional. Tenho
medo de ter esses sentimentos intensos e não poder fazer nada com eles.”

Roger falava de “estar preso entre a ausência de sentido em uma amizade vazia e a paixão intensa e
romântica”. Confessou: “Tenho medo desses dois extremos: ou me tornar dependente ou ter só uma
relação de blá-blá-blá.” Depois, desesperadamente. “Não sei como me conectar intimamente com
um homem sem esses antigos e intensos sentimentos.”

Ouvi um grito de angústia pedindo uma direção prática. Então lhe assegurei: “Você descobrirá um
lugar equilibrado entre esses dois extremos. Se, às vezes, você acabar escorregando em uma
dependência ou atração erótica, investigaremos esses sentimentos para ver de onde eles vêm.”

Roger moveu a cabeça: “Pedir que mantenha esse equilíbrio é como pedir que eu entre nas
preliminares mas sem ir para a cama com o sujeito. Como desenvolver um sabor para o que é
insoso. Não soa a mudança positiva, mas sim a limites arbitrários.”

“Como dizer a alguém que está de dieta: 'veja a comida, sinta seu cheiro, mastigue-a... Mas
depois cuspa fora em vez de engolir.'”

“Exatamente!” Ele riu.

“Compreendo,” eu lhe assegurei. Entretanto, será que eu conseguia realmente sentir o que ele dizia?
Senti os limites impostos por minha heterossexualidade. Neste ponto, somente outro homem ex-gay
poderia dar-lhe essa empatia especial. E isso era algo que eu esperava que lhe desse o grupo.

“Se é daí que vem a homossexualidade,” continuou Roger. “Posso ver por que os gays se queimam
antes dos 40. Ficam cínicos em sua relação. Uma paixão atrás da outra e, depois de um tempo, já
está feito. Passe por esse ciclo várias vezes e você não se importa mais. Esses homens sabem que
suas relações terminarão em poucos anos e que terão de voltar à montanha russa outra vez. Ou, ao
menos, se permanecerem juntos pela amizade, sabem que não permanecerão fiéis. Sabem disso sem
precisar nem analisar a situação. Por isso dizem: 'que demônios, chegarei na marca dos dois ou três
anos e, depois, eu o deixarei antes que ele me deixe'”.

Suspirou e, depois, acrescentou: “Não sei a resposta, Joe.”

Nossa hora acabou e, com esse pensamento inacabado, concluímos a sessão. Sabia que Roger tiraria
melhor benefício, nesse ponto, na terapia em grupo, com outros homens que compartilhavam sua
luta. Confiava que o Padre John e o Charlie pudessem me ajudar.

Na semana seguinte, Roger entrou, sentou e não disse nenhuma palavra. Eu perguntei: “Como vão
as coisas?”

Rompeu em um sorriso: “Não vão mal. O grupo de ontem à noite não foi nem a metade do ruim que
eu imaginava que seria. Ninguém me menosprezou.”

“Bem, então eu tinha razão?”

Sorriu abertamente: “Você tinha razão. Sobrevivi.”

Então, a voz de Roger ficou séria: “Entretanto, por outro lado, tenho enfrentado algumas lutas
ultimamente. Como na segunda-feira de manhã, eu me levantei me sentindo muito ansioso e
deprimido. Várias coisas estavam me consumindo. Uma delas era o banco, que cometeu um erro
com minha declaração. Sabia que ia ficar triste ao arrumar isso, com o contador discutindo
comigo.”

De repente, ficou mais intenso e perguntou: “E é tão estranho... Por que tenho tanto interesse pelo
meu trabalho? Creio que não sirvo para ser professor. Sempre consegui resultados decentes e as
pessoas dizem que estou fazendo um bom trabalho, mas no mais profundo ainda sinto que não sou
bom o bastante para fazer isso.”

Percebi que a incapacidade de pedir crédito para a aproximação pessoal é um problema comum do
homossexual. Os clientes se queixam, geralmente, de se sentirem fracos e inadequados, e isso me
levou a compreender a condição homossexual como déficit de poder pessoal. O menino pré-
homossexual não só não costumava ter apoio em seu desenvolvimento de identidade de gênero
masculino como também, com frequência, não era sustentado em seu sentido de poder pessoal. No
desenvolvimento, o gênero e o poder intrínseco estão relacionados.

A terapia reparativa é um tratamento do tipo iniciador, que desafia o cliente a integrar novas
condutas e atitudes. Roger necessitava, agora, que o desafiassem a sair de sua autocompaixão.
Perguntei a ele: “O que está fazendo para se fortalecer?”

“Bem, não muito. Mas surgirá algo para fazer, estou certo.”

“Isso parece muito passivo, 'surgirá algo'. Você precisa ter um programa.”

Como se estivesse antecipando outra de minhas piadas anteriores, ele disse: “Bem, tenho
combinado várias vezes com meu amigo Tim e estamos planejando nos ver uma vez por semana.”

“Isso é bom!” Reforcei.

A terapia reparativa tem sido criticada pelo uso das técnicas às quais chamam manipuladoras,
inclusive coercivas. Se dar aprovação ou fazer sugestões pode ser considerado manipulação ou
coerção, então, em minha opinião, essas técnicas estão justificadas.

Roger mudou de tema: “Estava outro dia no mercado e lembrei de quando Perry e eu costumávamos
fazer compras juntos. Íamos sempre buscar o jantar no mercado ou na padaria do Gelson. E senti
melancolia e tristeza recordando o agradável que era ter outro homem com quem compartilhar as
pequenas tarefas da vida. Quando saía do mercado, entrou um homem bem atraente e eu me senti na
esperança de que me reparasse.”

“Então fui golpeado, de repente, por perceber que ainda me sinto como um menino pequeno que,
quando vê um ‘homem’” – fez as aspas no ar – “ainda precisa correr para ele e conseguir sua
atenção. Ainda sou esse menino pequeno. Não é algo tão sexual, acredite. É só a necessidade de
reconhecimento e atenção de um homem”.

“Isso é verdade,” eu disse: “A necessidade de atenção, se não é satisfeita na infância, conduz


eventualmente a sentimentos homoeróticos.

Roger continuou, voltando a seu tom melancólico: “E ainda tenho um desejo, um sonho, de ser
abraçado, pôr minha cabeça e meu rosto no peito de um homem mais grande e mais forte.”

“Exatamente, e isso não é necessariamente algo sexual, só esse carinho, essa segurança, esse
relaxamento,” assegurei.

Ele assentiu.

Ouvindo a dor de Roger, pensei em quantos homens me haviam dito que era só um abraço o que
queriam quando eram pequenos mas, conforme iam crescendo e ficavam mais expostos ao meio
gay, essa busca original por ternura e aceitação era enterrada de forma progressiva em encontros
impessoais e sexuais.

Muitos estudos documentam a promiscuidade homossexual masculina. Em um grande estudo


realizado em 1978, o instituto Kinsey afirmava que 43% dos entrevistados havia feito sexo com 500
ou mais homens enquanto que 28% havia feito sexo com mais de 1000 homens. Por mais que a
epidemia de AIDS tenha mudado esse contexto nos tempos atuais, ainda penso que esses resultados
revelam muito da natureza da condição homossexual.
Recordei a Roger de onde vinha esse sonho seu: “Esses sentimentos de carinho e de aceitação foram
negados a você pelo seu pai.”

“Sim, agora, quando vejo meu pai...”

“Espere,” interrompi. “Antes de ir ao pai, regressemos ao mercado. Em que estado emocional você
estava antes de ver esse homem atraente?”

“Me sentia sozinho,” respondeu Roger. “Pensando em Perry e sentindo falta dele.”

“Sim. E creio que esses sentimentos te fizeram suscetível à atração por esse homem. Tenho dúvidas
de que teria estado assim se não estivesse se sentindo tão sozinho.”

Roger fez uma pausa, depois disse com uma voz cheia de dúvida: “Não estou certo de que isso seja
tão simples.”

“Está bem,” continuei: “Como teria se sentido em relação a esse homem atraente se seu amigo
heterossexual, Tim, estivesse com você no mercado? Se vocês estivessem desfrutando da
companhia mútua e se sentisse conectado?

Roger considerou minha pergunta: “Bem,” respondeu finalmente. “Ainda teria achado ele atraente.
Quero dizer, ainda teria reparado nele.”

“Bem,” continuei. “Mas teria tido esses sentimentos desesperados?'

“Entendo o que você quer dizer.” Concordou. “Acho que não teria tido esse desejo.

“Poderia ter sentido a atração ou mesmo um sentimento sexual passageiro. Mas a necessidade teria
sido menos intensa com Tim ao seu lado.”

“A cura para esse anelo,” continuei. “Vem por meio de suas relações com amigos homens. Quando
interioriza o afeto masculino, diminui a compulsão erótica. Dessa forma, lentamente, diminuirá sua
atração homossexual, será mais manejável e menos angustiante.

“Sim, creio que tem razão,” repetiu suavemente.

Com essa experiência, compreendi a tristeza que Roger estava sentindo. Ele já sentia saudade da
emoção romântica e sexual. Havia tido esse lamento desde a infância e era uma parte sua muito
profunda. Agora, havia vislumbrado o preço que devia pagar para sair da homossexualidade.

Seu tom mudou de forma abrupta: “Estou fazendo o melhor que posso para planejar coisas para
fazer com Tim, como jogar tênis, sair. Mas tenho que sustentar isso.”

“Exatamente,” concordei. “Isso é o que quero dizer quando digo que tem de manter o fogo aceso.
Quando experimenta um revés como esse sentimento de desejo no mercado, não fique parado, siga
movendo-se, vá adiante.”

Roger riu. “Eu sei. Como primeira impressão, o que você diz soa simples, mas...” Seu tom voltou a
ser triste e pensativo. “Fazer isso me faz sentir que não sou eu.” Riu ironicamente. “Quando
costumava jogar beisebol quando era pequeno, se era atingido pela bola ou algo assim, dizia: 'esse
esporte é horrível, vou deixá-lo'. Via aqueles treinadores da Pequena Liga gritando aos garotos para
que se levantassem e voltassem ao jogo. Odiava esses treinadores, achava eles uns idiotas.”
“Você os evitou e fugiu de seus desafios. Agora tem de pagar um psiquiatra para te treinar.”

Roger ainda movia a cabeça por algo que eu dizia ou expressava ambivalência sobre a terapia
reparativa. Apesar disso, era claro que estava aprendendo muito e obtendo mais consciência do que
tinha de fazer para diminuir sua homossexualidade.

O amadurecimento por meio da terapia reparativa é um processo em curso. Alguns desejos


homossexuais costumam voltar a aparecer em momentos de estresse e solidão. Mais que de cura,
portanto, falo do objetivo de mudança, no qual há um movimento de identificação do eu. Ao mesmo
tempo que pode continuar tendo desejos homossexuais, o homem já não costuma identificar-se com
esses sentimentos. Dentro dessa transformação de significado essencial, o cliente consegue novas
formas de compreender a natureza de seus anelos em relação ao mesmo sexo. Começa a ver seu
problema de forma diferente. Como descrevia um ex-gay: “Durante muitos anos, pensei que era
gay. Finalmente me dei conta de que não era um homossexual, mas sim um heterossexual com
problema de homossexualidade”.

Se o uso da palavra mudança, mais que cura, parece pessimista, devemos considerar a cura da
forma como se aplica a outras condições psiquiátricas. Nenhum tratamento psicológico pode
conceitualizar-se em termos de cura absoluta. A baixa autoestima nunca se supera completamente
fazendo com que um cliente esteja completamente livre da insegurança. Os alcoólatras nunca se
curam, de forma que nos referimos ao seu estado de transição como recuperação. Mais que centrar-
se na ideia de cura, devemos pensar em termos de redução das necessidades homossexuais por meio
de relações sãs e não eróticas com homens. A cura passará de liberdade parcial a liberdade
significativa e completa das atrações homossexuais não desejadas. Para alguns homens, será
possível o matrimônio heterossexual.

A validade de qualquer terapia, não importa o método de tratamento ou o objetivo, se encontra em


seu efeito geral na vida do cliente. A boa terapia deve fazer mais que aliviar um sintoma específico
pelo qual o cliente busca o tratamento a princípio. A boa terapia deve ter efeitos positivos que
radiem por todos os aspectos da personalidade do cliente, todos os aspectos de sua situação de vida.
Se o tratamento vai bem para essa pessoa, ela receberá uma sensação geral de liberdade e bem estar.
Além de reduzir a angústia, alcançar a saúde trará maior consciência do poder intrínseco.

A parte mais crítica da psicoterapia, e com frequência mais dolorosa para o paciente, é olhar
honestamente os sentimentos que transferiu para o terapeuta de suas relações anteriores. Essa
explosão emocional de sentimentos do passado se chama transferência e é, talvez, o fator mais
poderoso da cura da psique. O cliente vai ao terapeuta com os olhos do menino que foi uma vez, e
que ainda é até certo ponto. Os sentimentos transferidos incluem medo, ira, reações agressivo-
defensivas e desejos sexuais.

Durante um longo tempo, Roger reagiu comigo com suspeita e até mesmo com hostilidade. Ao
mesmo tempo em que essas reações de transferência podem ter lugar em qualquer relação, a relação
terapeuta – paciente estimula as reações de transferência particularmente fortes devido à sua
natureza dependente, intensa e íntima.

O terapeuta deve ser capaz de tolerar esses sentimentos transferidos e não deve cortar
prematuramente a expressão do cliente de reação de transferência porque o faria se sentir
incomodado, e envergonhado. Assegurei-me de não fazê-lo com Roger. Por meio de minha
interpretação gentil e tolerante da transferência, Roger atreveu-se a separar-se de seus modelos de
conduta e de percepção que tinha desde muito tempo.

O medo e a hostilidade são os outros lados da transferência erotizada. Ainda que, com frequência,
Roger se burlava do que eu tinha para dizer, ele temia minha crítica. Com frequência, tentava
proteger-se dos sentimentos positivos que tinha por mim ocultando-se atrás de comentários
sarcásticos e expressões de desafio.

As transferências negativas devem ser interpretadas sempre na psicoterapia. Pelo que vi em minha
experiência, as relações mais antigas e traumáticas com o pai produzem a ira reprimida mais intensa
na psicoterapia. Quando era criança, Roger não obteve satisfação com seu pai impessoal.

Como tantos homens com orientação homossexual, manteve a impressão de que “nunca posso
ganhar com esse homem” e, com frequência, bancava o advogado do diabo em nossa própria
sessão.

Por essa razão, os clientes homossexuais nunca trabalham bem com terapeutas distantes.

Os terapeutas adestrados com o método psicanalítico tradicional e ensinados a permanecer, como


aconselhava Freud, “opacos”, não são tolerados pelo cliente homossexual. Ele deseja e requer
contato pessoal e autêntico com um homem emocionalmente presente. O terapeuta nunca deve ser
austero, distante ou autoritário.

Em minha relação com Roger, havia tentado ser o bom pai – presente emocionalmente, ativo e
desafiante, mas sempre receptivo.

Enquanto passavam os meses, Roger experimentou um modelo gradual de mudanças. como o


pêndulo que se balança e diminui lentamente seu arco e se detém finalmente no centro, Roger
encontrou finalmente sua própria perspectiva sobre a questão da homossexualidade. Como dizia:
“Me encontro deixando a identidade gay não por meio de nenhum tipo de convicção moral,
senão por experiência.”

Depois de dois anos de tratamento individual e em grupo, se sentia bastante seguro para terminar a
terapia.

Durante os anos seguintes, voltaria para revisões ocasionais. Agora, tinha um forte círculo de
amigos heterossexuais e ex-gays, e havia superado sua velha dependência de Perry. Quando tinha
uma queda, compreendia o porquê de sua conduta. Traçava uma queda de sentimentos negativos
sobre si mesmo e sentia progressivamente que essa conduta não representava sua verdadeira
identidade. Como me disse: “Mesmo quando caio, sei exatamente por que estou fazendo. Não é por
sexo ou amor. Na verdade, é por me esquecer de cuidar de minhas necessidades emocionais
corretamente.”
CAPÍTULO 9

COMO FUNCIONA A TERAPIA EM


GRUPO
As sessões em grupo são uma parte importante da terapia reparativa. Não só oferecem apoio e troca
de informações como também, e o mais importante, proporciona uma fonte de relações masculinas
sãs. Todos os oito homens descritos neste livro participaram da terapia em grupo durante o tempo
em que vieram para as sessões individuais.

Eu insisto para que eles assumam a responsabilidade pelo rendimento de seu tempo no grupo.
“Façam com que alguma coisa aconteça. Vocês têm desafios em sua mente que precisam ser
trabalhados. Tirem-nos para fora, permitam que o grupo conheça até onde vocês chegaram com os
outros”.

“Permitam que o grupo conheça as questões com as quais estão lidando e assumam sua
responsabilidade sobre elas”, eu digo. “Esses desafios são como degraus de uma escada, algo no
qual se apoiar, algo pelo qual vocês podem subir por conta própria. Se não tiverem em mente
nenhuma dessas metas, vão estar flutuando – não subirão a lugar nenhum”.

“Em nossos diálogos, vamos nos lembrar de equilibrar nossa necessidade de apoio masculino com a
necessidade de desafios terapêuticos. Mas, enquanto estamos nos desafiando mutuamente”, eu os
advirto, “não vamos permitir que haja hostilidade, para seu próprio bem. Estamos aqui para
compartilhar nossos sentimentos e experiências e para nos apoiar uns aos outros”.

Também digo: “Lembrem-se: somos responsáveis por nós mesmos, mas também somos
responsáveis pelo outro indivíduo. Um modo de ajudar o outro é sendo suficientemente profundo,
suficientemente assertivo, para não correr o risco de que alguém se sinta molestado por nós. Apesar
do desejo de vocês de serem homens simpáticos, às vezes temos que ser provocativos”.

“Certo, rapazes”, disse a eles, “O que os preocupa?”

Steve foi o primeiro a falar: “Na semana passada, tive que fazer umas compras em Hollywood.
Quando acabei, passei em uma livraria pornô perto dali”.

“Disse a mim mesmo ‘tenho que ver o último número de Playgirl’”(risos). “Quando entrei, alguns
dos presentes viraram as cabeças em minha direção e um rapaz jovem se levantou e ficou de pé
perto de mim. Ele olhou para o meio das minhas pernas, e isso me deixou excitado. ‘Hummm. Seria
divertido’, imaginei, mas depois pensei: ‘Bom, se fizer alguma coisa, terei que contar ao Dr. Joe e
não quero fazer isso’. Mas depois disse a mim mesmo: ‘E daí de tenho que contar?”

Mais risos.
“Então, outro pensamento cruzou minha mente. ‘Se vai fazer isso, pelo menos seja um pouco mais
exigente’. Aquele cara não era precisamente o meu tipo. Assim, deixei a loja depois de pegar o
Playgirl e dirigi de volta ao vale”.

Ninguém falou nada. Esperei. Finalmente, Charlie o desafiou: “Playgirl soa um pouco... como
posso dizer... insoso para uma livraria pornô. Tem certeza de que foi só para isso que você entrou
ali?”

Steve parecia estar em um aperto. “Imagino que não. Estava me sentindo um pouco confuso. Talvez
fosse uma solução passageira”.

“Distrações”, murmurou Dan.

Então, Steve continuou, como que se redimindo: “Mas, no final, rejeitei o cara. Me senti bem por
isso”.

Charlie insistiu: “Sim, é fácil quando não é o seu tipo” (risos do grupo).

Eu disse então a Steve: “Você rejeitou o cara mas a excitação já estava dentro de você. Quero que se
dê conta de que, uma vez que entra em um lugar como esse, o ciclo já foi iniciado. Mesmo que diga
não a uma tentação em particular, você estimulou o sistema e desejará completar o círculo vicioso –
alugar um vídeo pornô, ler uma revista, seja o que for – precisa dar continuidade ao ciclo”.

“Por exemplo...” fiz a pergunta inevitável: “vou te perguntar se você foi em seguida para casa
dormir”.

Steve vacilou. Depois admitiu: “Não. Fui me masturbar assistindo ao Playgirl”.

“Claro. Tinha que completar o ciclo, se não era com um homem real, então com uma revista”.

“Bem, graças a Deus pelos pequenos milagres”, disse Charlie para si. Os outros riram.

Cruzei a sala até Ed. Ele parecia sobressaltado pelas revelações explícitas. Pensei: “Bom, pelo
menos ele está escutando por este lado da ideologia”.

Steve parecia ferido e Roger veio em sua ajuda. “Creio que Steve conseguiu algo ao qual não
estamos dando mérito”, disse Roger. “Eu podia passar cinco horas no Rage dizendo ‘não, não, não”,
então deixava o bar me sentindo bem, entrava no carro e me via obrigado a fazer sexo no caminho
para casa, parando em alguma livraria pornô. como disse você, Joe, teria de completar o círculo”.

Roger continuou: “Costumava viajar muitas vezes por Santa Mônica Boullevard. Já sabem, onde
ficam os garotos de programa. Podia parar, chamar um cara e fazer sexo com ele por vinte dólares.
Para mim, acredito eu, isso é mais que um círculo vicioso. Se trata de uma vozinha em minha
cabeça que parecia me dizer que esse tipo de merda era o que eu realmente merecia”.

Muitos homens do grupo moveram as cabeças em sinal de assentimento e se fez um silêncio


momentâneo.

“Gostaria de discutir algo no qual tenho pensado, se já terminou, Roger”, disse Albert.

“Sim, está bem”.


Muitas vezes em nossas sessões individuais, Albert havia se queixado da imagem que tinha de si
mesmo como fraco e necessitado. Disse-me que esperava ter o valor de falar com o grupo sobre
suas frustrações e necessidades.

“Na semana passada”, começou Albert. “alguém trouxe à discussão algo sobre seu irmão que me
tocou em um ponto sensível do meu interior. Me dei conta de que a razão pela qual tenho um
sentimento tão horrível sobre quem sou é que sempre representei o papel de vítima em minha
família”, sua voz adquiria agora um tom agudo e preocupado.

“Sinto que, desde o dia em que nasci, fui fraco e incapaz de me controlar. Imagino que isso não
deveria surpreender. Quero dizer, vendo os modelos que eu tinha em casa. Primeiro, meu meio-
irmão David. Minhas primeiras lembranças dele são de seu punho esmagando minha mandíbula, de
sua patada em minha espinha e de seu cotovelo em meu estômago. Isso é o que eu lembro de
receber dele. Tinha de desafogar sua agressão e agir como um valentão de alguma forma, e essa
forma era me batendo”.

Enquanto Albert falava todos percebíamos seu sentimento de frustração. O grupo escutava com
atenção e Albert continuou.

“O outro modelo que eu tinha era o do meu pai. Um pai que emocionalmente não estava ali. Não
me afirmava em nada. Lembro que me levou para nadar umas poucas vezes em seu clube de campo.
Podia nadar como um peixe e me sentia feliz por isso, mas depois, no vestiário, de repente me
sentia inútil e inadequado. Tantos homens nus... Tinha que ficar nu diante deles? Tinha que tomar
banho? Não sabia o que fazer. Ele nunca me tutelou, ensinando-me o que fazer. Só esperava que eu
encontrasse a solução por mim mesmo”. Olhou para nós. “Haveria significado tanto para mim se ele
tivesse feito eu sentir que cuidava de mim”.

Albert se endireitou, sua voz tinha agora um tom de determinação. “Mas recentemente tenho dito a
mim mesmo: ‘Não, isso é passado e estou farto de chorar por ele. Isso tem de acabar. É hora de eu
começar a tomar o controle das coisas’. Pela primeira vez em minha vida, posso dizer que não odeio
mais a mim mesmo”.

Deteve-se, levantou a cabeça para olhar para todos e depois continuou: “Tem sido um inferno, mas
me vejo começando a estar vivo, e digo: ‘Graças a Deus! Já era hora!’. No mês passado, em uma
conferência de ex-gays, um senhor veio e me disse: ‘Você tem muita sorte. Está começando a
refazer sua vida enquanto ainda é jovem. Fique feliz por isso!”

Às vezes o grupo não se usa para dialogar, mas simplesmente para ter a oportunidade de ser ouvido.
Algumas vezes se tem a necessidade de expressar sentimentos sem interrupções, reações ou
comentários, somente para ser escutado. Albert experimentava agora essa necessidade.

Então, expôs uma difícil questão: “Mesmo assim, apesar de me sentir bem com meu progresso, me
assusta o fato de que, se tenho êxito na direção que tomei, acabarei castrado. Vocês sabem, nunca
mais ter nenhuma relação sentimental com um ser humano. Não me apaixonar por ninguém, homem
ou mulher. A quem amarei – essa é minha pergunta não respondida”.

O grupo permaneceu em silêncio durante um momento. Então, Charlie deu sua opinião. Seu ritmo
lento porém enérgico contrastava com a voz entrecortada e nervosa de Albert. “Gostaria de dizer
onde me encontro pessoalmente em relação a esse tema, Albert”.

Todos aguardamos enquanto Charlie fez uma longa pausa, observando Albert com ar pensativo
através de seus óculos de moldura fina. “Tenho me preocupado com as mesmas coisas: ‘acabarei
sendo um castrado, uma nulidade sexual, se eliminar minhas atrações homossexuais? Mas, em meu
ponto de vista, não há nada mais importante em minha vida agora que diminuir essas atrações.
Talvez algum dia esteja aberto para um relacionamento com uma mulher, talvez não. Mas, por hora,
estou agradecido por ter algum controle sobre uma parte de minha vida que estava fora de controle
e era terrivelmente estressante. E posso dizer que, por hora, essas atrações se tornaram mais
distrações”.

Interrompi: “Quase a metade dos homens com os quais trabalhei desenvolvem uma atração pelas
mulheres. Alguns chegaram a se casar. A outra metade não experimenta fortes atrações
heterossexuais, mas se libertaram ao alcançar o controle sobre os sentimentos que consideravam
prejudiciais e angustiantes ao extremo”.

Albert disse: “Imagino que, para mim, se trata de uma preocupação momentânea. Farei melhor
confiando em minha felicidade presente sem me preocupar com o futuro”.

Fez-se um silêncio meditativo.

Então Edward, nosso membro mais jovem, interveio para mudar de tema: “Fiquei incomodado com
alguns rumores que ouvi recentemente de algumas pessoas gays no teatro. Dizem que devo ser gay
e acreditam que eu esteja tendo um caso com um dos armadores de palco”. Parecia indignado.
“Posso ter esses sentimentos, mas não etiquetaria a mim mesmo como gay!”

“Essa é uma questão muito relevante em termos de como definimos a pessoa”, disse eu.

“De fato, a triste realidade é que no mundo gay os sentimentos sexuais da pessoa são considerados o
selo da própria identidade essencial. Então, o estilo de vida global normalmente gira em torno dessa
identidade gay contracultural”.

Charlie resumiu minha exposição: “A arte gay é uma arte erótica, a poesia gay é poesia erótica e o
cinema gay é cinema erótico. Na verdade, é uma cultura centrada no sexo”.

Steve acrescentou: “Lembro quando tinha aproximadamente a idade de Ed, tinha acabado de
começar o ensino médio, e conheci um homem mais velho que tinha uma loja de antiguidades.
Certa vez, deixei que ele me mostrasse as coisas. Havia um pênis de cerâmica exposto e outras
mercadorias sexuais por toda a loja. Havia outro cara mais velho com quem ele dormia, e eles me
mostraram fotos de garotos nus com chicotes e correntes de uma revista gay”.

Ed falava com entusiasmo: “Você tinha que ver a sessão de contatos na parte de trás dessas revistas
gay. Toda uma revelação”.

No começo da reunião seguinte, o Padre John começou manifestando uma frustração de toda a sua
vida.

“Tenho pedido a Deus que me permita conhecer o homem que sou verdadeiramente. Porque
cheguei a dar-me conta de que me ensinaram a ser um falso eu. Primeiro, fui o filho obediente.
Depois, me encontro no papel de sacerdote obediente. Durante muitos anos estive enterrado sob
essa imbecilidade do bom menino. E ainda não sei se este sou eu”.

“Agora, parece que tenho problemas com o pastor. Estive aprendendo a enfrentar os conflitos de
forma mais assertiva. Isso significa me desfazer do falso eu submisso e o monsenhor não está
acostumado com isso. De fato, não creio que “eu” lhe agrade. Na noite passada, no jantar,
finalmente o afrontei. Disse-lhe que estava cansado de ser sempre eu quem tinha de realizar a missa
das seis da manhã. Ele quase derrubou o copo de vinho ao ouvir isso”.

O grupo riu.

“E você o culpa?” Perguntei.

“Bom, na verdade, ele não deveria beber tanto”. Mais risadas.

“Você o culpa por te deixar responsável pela missa da manhã, mesmo que nunca tenha se queixado
disso?”

“Creio que não. Talvez só tenha pensado que eu seja um galo matutino”. Ele riu. “O que eu não sou.
Com minha vida noturna, não tem sido fácil sair da cama tão cedo”.

“Conte-me mais sobre esse eu autêntico que você está descobrindo”, disse a ele.

“Quando vivo meu eu autêntico eu... bom, sou honesto comigo mesmo e com os demais. Levanto
diretamente a voz – nada do papel de bom menino. Não temo que as pessoas me chamem de
imbecil – se mereço – porque sigo tendo a convicção de que sou normal... de que sou encantador”.

“Creio que isso é o que todo mundo quer nessa sala”, disse Dan.

Dentre todas as pessoas, pensei, é o mal-humorado Dan que compreende a necessidade de expressar
ira sentindo-se encantador.

O Padre John observou a cara de Dan, depois assentiu com a cabeça. “Francamente, sempre
representei o papel do bom moço. Sempre passo a impressão de sorridente e magnânimo. Sou
complacente a maior parte do tempo e acho isso fácil. Mas há muito poucas pessoas com as quais
sou honesto”.

O Padre John estava descrevendo um traço comum a muitos clientes homossexuais – uma
preocupação excessiva com a autoproteção. “Há muitas coisas que eu gostaria de expressar, mas
nunca o faço. Inclusive calculo aquilo que vou dizer aqui no grupo. Revelo as coisas um pouquinho
de cada vez e me pergunto se com isso não corto o ritmo dos outros. Apesar disso, me pergunto se
se preocupam comigo”.

Então Dan interveio para descrever sua própria experiência: “Fico paranoico imaginando coisas
estúpidas sobre o que as pessoas podem pensar de mim, super dramatizando a situação”.

Ainda: “Sou capaz de telefonar do estúdio para outras pessoas quando estou preocupado com elas.
Mas telefonar por mim mesmo para pedir ajuda a alguém quando estou ferido, isso é quase
impossível. Não fomento as amizades porque odeio esse sentimento de vulnerabilidade”.

“É a questão de arriscar-se totalmente, não querendo ser ferido mais uma vez”, disse o Padre John.

Dan o interrompeu. “Você disse ‘mais uma vez’? Quando foi ferido pela primeira vez?”

“A primeira ferida real que posso recordar foi a preferência óbvia de meu pai pelo meu irmão mais
velho”, disse o sacerdote. “Tinha aproximadamente uns três anos e senti que devia haver algo
inadequado em mim. E lembro-me de uma relação intensa entre minha mãe e eu, mas não um
carinho físico. Não consigo me lembrar de minha mãe abraçando a mim ou a meus irmãos e irmãs”.
Continuou: “A única vez da qual recordo de ser tocado foi anos mais tarde, quando sofri abuso
sexual. Provavelmente respondi a isso porque... Era melhor que nada. E, como sei que é normal
nesse tipo de relação homem-menino, quando se desfez a novidade, fui deixado de lado. Foi assim
que me senti. Nunca pude entendê-lo”.

Enquanto escutava, me sentia contente por ver esses homens se escutando e se compreendendo
mutuamente. Sabia que era difícil para cada um deles travar esse tipo de diálogo auto revelador.

Nessas sessões, tive o privilégio de ver a evolução do processo terapêutico de cada homem. Esse
grupo continuou durante oito anos, com alguns homens o deixando e outros incorporando-se a ele.
A maioria dos homens permanecia um ou dois anos. Outros, três ou quatro, dependendo de seus
problemas pessoais e o grau de melhoria. Senti-me orgulhoso por ver o progresso de cada um, mas
sabia que o trabalho continuaria muito depois de cada um nos deixasse.

Dois meses depois, Steve descreveu sua lenta desconexão de uma dolorosa relação com Randy, seu
amante de ora sim ora não. Conforme falava, escutei os típicos problemas gays de luta de poder e
competitividade narcisista.

“Nossa relação havia dado um giro de 180 graus, completamente diferente do dia em que nos
conhecemos”, disse Steve ao grupo. “Nessa época eu estava por cima e desfrutava das pessoas.
Tinha muitos amigos. Sempre estava saindo, sempre feliz. Se tinha uma briga com Randy, não me
preocupava. Não gastava minhas energias com ele. Me sentia forte e isso me dava o controle de
nossa relação”.

“Mas agora, é Randy quem está por cima. Está indo bem no trabalho como sócio de um restaurante.
Vai a lugares, conhece gente nova. É o centro da atenção. Nossas posições mudaram. Agora, ele me
trata da mesma forma que eu o tratava: como lixo. Não posso culpá-lo”. Então, perguntou
lastimosamente: “Sempre há uma pessoa que está por cima na relação?”

Eu respondi: “Há uma competitividade natural entre companheiros do mesmo sexo, especialmente
homens... de modo que essa situação é muito comum em casais masculinos”.

Steve acrescentou com voz tremulante, inusitada para ele: “Desde que nos conhecemos, foi uma
relação competitiva: nos tratávamos como merda mutuamente. Supostamente eu era o mais bonito.
Quando saíamos, era em mim que as pessoas reparavam. Então ele começou a treinar na academia,
como eu costumava fazer. Eu receava me tornar a parte feminina da relação, a parte mais frágil, o
cara que tem de ser carregado. Quando as pessoas nos veem agora passeando pela rua, acaba que
olham primeiro para ele. Parece egoísta, mas isso me faz sentir penoso”.

Steve se deteve. Todos esperávamos que continuasse, mas não disse uma palavra. Pudemos captar a
ansiedade e o sentimento de impotência conforme falava. Finalmente, Charlie disse: “Se sente fora
de controle nessa relação?”

Steve fez que sim com a cabeça.

“A questão é, Steve: como você quer que seja essa relação para você?”

Essa é uma pergunta que faço com frequência para os rapazes e da qual eles se apropriaram para
ajudarem-se mutuamente.

“Estou farto de me compadecer de mim mesmo nas relações”, disse Steve. “Desejava uma relação
que fosse boa, mas era como um vício. Não podia romper com ela. Meu maior problema tem sido
sempre meu isolamento. Sempre tive muitos amigos, mas não me pareciam homens de confiança.
Não posso aceitar sua amabilidade. Não quero que ninguém invada meu espaço, que se intrometa na
minha vida. Em qualquer caso, nunca levo ao nível íntimo. Mas, quando me apaixono por alguém,
perco completamente o controle e tudo isso vai por água abaixo”.

“Não quer se tornar íntimo porque isso seria como ficar preso”, disse eu.

Steve admitiu: “Na semana passada me veio esse pensamento: ‘desejaria nunca ter começado a
terapia com o Joe. A ignorância era a felicidade’. Então me veio: ‘Não, isso não é certo.

Eu não era feliz’. Teria que continuar com a miserável escalada de relações na qual estava. Não
haveria entendido porque o fazia”.

A descrição que Steve fez de sua luta de poder com seu amante me fez recordar da extensa literatura
que descreve as relações homossexuais como ambivalentes em grande medida. Em meu trabalho
com muitos casais, homossexuais e heterossexuais, as discussões domésticas mais violentas tiveram
lugar em relações masculinas.

Conforme avançavam os meses, Steve foi se desprendendo, lentamente e com muitas recaídas, de
sua desgraçada relação com Randy. O grupo proporcionou apoio firme e ânimo para a ruptura. A
intensidade da ambivalência de Steve me mostrava claramente o poder persistente da co
dependência entre Randy e ele.

Uma semana começamos nosso diálogo com o relato de Roger de sua recente viagem a São
Francisco. Simulando a voz de um apresentador, disse: “A última moda entre os frequentadores do
Clube J.O. de São Francisco, para aqueles de vocês que não estão a par dessas coisas, é que, em vez
de usar piercings nas orelhas, eles usam em seus pênis”.

Albert replicou simulando dor: “Agh! Nada de detalhes, por favor!”

“Fazem isso de verdade?”, sussurrou o Padre John para Dan, fazendo uma expressão de dor”.

“Fazem, fazem!”, respondeu Roger animadamente. “Estão entrando definitivamente no da


mutilação sexual. Realizam o ato sexual com seus pênis perfurados”.

Albert repetiu a expressão de dor: “Oh, não!”

“Para quê isso?”, perguntou Ed.

Charlie sacudiu a cabeça: “As criaturas da noite. Que loucura”.

“Mas o que é o Clube J.O.?”

Roger explicou: “O Clube Palha, há um em cada cidade importante. Basicamente, você paga o
preço da entrada, tira toda a roupa e guarda em uma espécie de tanquinho. Só se permite o calçado –
a única maneira que você tem de mostrar que está na moda. Te dão um copo de papel de brinde não
sei do quê e os caras passeiam tocando aos demais e se masturbando em rodas. É uma orgia de sexo
seguro”.

Eu perguntei ao grupo: “O que se passa com esses pênis perfurados? Compreendem o aspecto
sadomasoquista da automutilação? Sabem o que representa?”

“Claro. É o autêntico lado obscuro da homossexualidade”, disse Roger.


“Lembrem-se do que sempre falamos sobre a ambivalência em relação ao mesmo sexo”, disse-lhes.
“Há um ressentimento inerente a toda atração homoerótica, ressentimento que tem sua raiz na
relação com o pai que rejeita. A atração homoerótica começa com o pai que rejeita e a sexualização
dessa rejeição. Em consequência, há uma hostilidade em relação a qualquer objeto sexual
masculino. Por isso vocês veem tanto sadomasoquismo na homossexualidade”.

“Mas como pode haver amos e hostilidade ao mesmo tempo?”, perguntou Ed.

“Bom... pode-se dizer que o homossexual é, de alguma forma, um menino pequeno tentando
conseguir a atenção do pai, mas não se percebe como merecedor dessa atenção. ao mesmo tempo,
está cheio de rancor contra o pai por essa situação frustrante e injusta de ter que buscá-lo”.

Descrevi a eles uma pesquisa recente que mostrava que 20% dos anúncios pessoais em um
periódico gay, The Advocate, explorava a violência entre homens – isto é, flagelação, açoites nas
nádegas, micção mútua, escravidão, penetração anal com o punho ou com objetos, humilhação
verbal e assim sucessivamente.

Roger perguntou: “Sim, mas não se vê sadomasoquismo em relações heterossexuais?”

“Sim, mas é muito menos característico. Por outro lado, é típico das revistas gays publicar fotos
sobre o tema do controle e da dominação”.

“Homens com uniforme de polícia, correntes, chicotes e botas de couro – tipos masculinos super
duros”, acrescentou Roger.

Tom interveio: “Posso me identificar com o que você diz, Joe. Às vezes, quando olho para um
homem, posso sentir a ira em meu interior e vejo que o sexo é uma expressão genital dessa ira.
Antes que Cynthia e eu nos casássemos, lembro de uma vez em que me vi acusado em uma festa,
impaciente e doloroso, com um cara que de repente se voltou contra mim, exigindo-me que pagasse
pelo que me havia feito. Dava a impressão de que eu não merecia sua atenção a menos que pagasse
por isso antes. Todo o desejo se foi na hora”.

O Padre John ficou nervoso: “Primeiro vem uma fascinação total pela juventude e pela beleza. É
algo como ‘ele está bem porque é jovem, atraente, bem dotado’, e coisas do tipo, mas ‘eu não estou
bem porque sou velho, não tão atraente, estou ficando calvo e tenho uma barriga proeminente’.
Enquanto termina o orgasmo, aparece a culpa, a vergonha, o medo, o aborrecimento comigo mesmo
e o desejo de por o garoto para fora antes que veja o que realmente sou. Então abro caminho para a
saída...”

Ed interrompeu: “Caminho para quem?”. Parecia crer que havia ouvido uma perversão nova.

Detendo-se em seco, o Padre John sorriu e fez as vezes de mestre: “Isso significa loucura, uma
mania neurótica”.

Com um assentimento agradecido por parte de Ed, o Padre John voltou a seu frenético ritmo:
“Assim que ponho o cara para fora, penso: ‘Oh, meu Deus, posso ter contraído a AIDS, e mereço
por ser um merda’. No final, fica essa auto decepção”. Acrescentou: “É bom estar longe de toda
essa loucura. Dá a impressão de que tudo o que vi no mundo gay é uma loucura”.

Esses três homens, Charlie, o Padre John e Tom, eram os membros mais racionais e prudentes do
grupo, ainda que não revelassem sempre os detalhes íntimos de suas vidas, exceto nas sessões
privadas comigo. Em certo sentido, eram líderes desejando ajudar aos membros mais jovens.
“De alguma forma, creio que me senti atraído por essa aventura, por essa loucura”, disse Albert.

Charlie esteve de acordo: “O sexo nos atrai não precisamente pelo sentimento de aceitação, mas por
esse tipo especial de diversão, excitação e aventura que têm os homens um com o outro. Creio que
há uma energia masculina da qual o homossexual quer participar”.

“Isso é o que faz dos bares gay tão interessantes. Há uma condição selvagem que não conseguimos
quando meninos”, admitiu Albert.

Eu disse: “Os homens homossexuais foram reprimidos frequentemente, bons pequenos meninos, Na
infância, foram inibidos, assim, na fase adulta, querem estar juntos para fazer guerra”.

O Padre John brincou: “Agora há uma nova organização ex-gay, se chama Tornar-se Adulto”.

“Mas creio que estou aprendendo o preço que se paga por essa condição selvagem”, continuou
Albert. “Há poucos meses, conheci um homem que começou trabalhando na creche. Era muito
amável. Pensei: ‘ele poderia ser o amigo do qual falamos na terapia. Poderia ter uma boa amizade
masculina sã, sem sexo’. Então, depois de havermos nos visto várias vezes, fui divertir-me com ele
e sua namorada. Entretanto, de alguma forma, eles me convidaram para participar de um ménage à
trois. Foi um desastre emocional. Cortei imediatamente minha relação com ele. Lembrei dos
sentimentos de ter sido usado e de estar totalmente fora de controle, como quando era um menino e
abusaram de mim”.

“Me senti inseguro. Todas as velhas feridas voltaram como se revivesse a experiência com meu
primo. Também me senti totalmente envergonhado. Eu não era um homem, não era respeitável. Fui
essa pequena criatura fraca e necessitada que se vê arrastada a algo vergonhoso. Perdi meu respeito
próprio, minha identidade”.

Acrescentou: “Foi então que comecei a vir ao grupo e pude ter algumas relações autênticas”.

Ninguém falou durante um tempo.

“Estamos muito contentes pelo que fez, Albert”, o Padre John rompeu o silêncio.

Poucas semanas depois, começamos um debate sobre a passividade, a falta de asserção e o medo de
“fazer errado”, tudo isso parte da condição homossexual. Os homens falaram de seu medo da
mudança de emprego e de suas tentativas de serem mais assertivos.

Dan havia deixado recentemente seu emprego na emissora de televisão. Para economizar dinheiro,
voltou temporariamente para sua casa para viver com sua mãe. Era óbvio que havia experimentado
um regresso em sua terapia, já que suas tentações homossexuais haviam reaparecido com
agravantes.

“Nessas semanas eu tenho me sentido desconectado de mim mesmo”, explicou Dan. “Me sinto fora
de controle outra vez, como sempre tinha sido antes”.

“Por que razão você se sente fora de controle?” Perguntei.

“Imagino que o fato de ter saído de meu trabalho no estúdio”, disse Dan, “e de ter voltado para a
casa da minha mãe”.

“Fora de controle”, quantas vezes ouvi essa queixa! É uma expressão usada uma ou outra vez pelos
homens para descrever a sensação que impregna suas vidas. Sentem-se impotentes e necessitados.
Conseguir uma sensação de possessão sobre si mesmo é essencial para diminuir as atrações pelo
próprio sexo.

Dan estava dizendo: “Senti que regredi rapidamente, abandonando todo o meu progresso”. “Por que
você acha que está passando por isso?”, perguntei.

“Imagino que seja porque tenho de viver outra vez com minha mãe. Aqui estou, com quase 40 anos.
Estive fora de casa desde que terminei a escola. agora, me sinto incômodo com minha mãe me
ajudando. Me sinto minguado... extremamente necessitado”.

Inspirando profundamente, continuou: “Uma das metas À qual me havia proposto neste grupo era
ser mais ativo e comprometido, mas agora me sinto fraco e distante de todos”.

“Fale-nos mais disso”, animei.

“Me sinto distante. Mesmo em relação ao grupo. Não consigo mais expressar meus pensamentos.
Me sinto encolhido como um novelo, asfixiado por minhas próprias emoções e não sei como sair de
mim mesmo”.

Dei-me conta de que Dan estava no que eu chamo de buraco negro, uma sensação caracterizada
pela falta de vida interior – uma incapacidade de expressar sentimentos – e um humilhante
sentimento de fraqueza. É um estado que pode durar horas ou dias. Esse sentimento aparece pela
primeira vez ainda na antiga infância, quando os pais emitem mensagens contraditórias que
confundem o menino até o ponto da paralisia emocional. Quando o primeiro entorno não reflete
nem apoia a expressão do verdadeiro ser da criança, quando os pais reconhecem com frequência a
falsa expressão de si mesmo, não se ensina a criança a confiar na expressão autêntica. Mais tarde,
na idade adulta, especialmente em momentos de estresse e desafio, ele se sentirá tentado a se retirar
para uma desconexão passiva de sua corrente emocional, enquanto se distrai com fantasias que o
autogratificam, como a autocompaixão.

só há um modo de sair do buraco negro e é combinar os sentimentos internos com sua expressão ao
exterior. Quando um homem combina corretamente sentimento e conduta, conecta sua corrente
natural de energia.

Um modo falso de por em marcha os sentimentos e conectar-se com o eu masculino é a conduta


homossexual. Durante um breve tempo, a excitação emocional associada ao arrebatamento parece
oferecer uma conexão imediata com a própria masculinidade não realizada.

Mas isso não consegue oferecer uma conexão prolongada. Uma maneira autêntica de reconectar
com o masculino deve consistir em expressar sentimentos a um amigo masculino. Essa opção não
satisfaz à urgência do vicio, mas proporciona uma gratificação mais profunda e prolongada, uma
conexão muito mais genuína.

Para ajudar Dan a sair do buraco negro, utilizo a técnica terapêutica do Focusing, de Eugene
Gendling, que combina sentimento e palavra. Considero esse método muito útil para homens que se
encontram bloqueados. Com o tempo, aprendem a utilizar o método por si mesmos.

“O que você está sentindo agora?”, perguntei, enquanto o grupo escutava em silêncio.

De maneira monótona, Dan disse: “Não estou sentindo nada”.


“Com o quê se parece não sentir nada?”

“Como?” Parecia perplexo.

“Com o quê se parece não sentir nada?”, repeti.

“Confusão”, ele respondeu.

“Bom. Agora fique com esse sentimento de confusão. Sinta-se com esse sentimento.

Observe se esse sentimento muda para outro. Veja se lhe vem outra palavra melhor que confusão”.

Sentou-se em silêncio, olhando em volta para os outros membros do grupo. Finalmente, olhou para
baixo, para seu próprio corpo. Isso era um bom sinal. Quando alguém olha para os lados na altura
dos olhos, está pensando. Quando olha para cima, está recordando. Mas quando se olha para baixo,
como Dan estava fazendo agora, está buscando um sentimento em seu interior.

Por fim, disse: “O sentimento é que estou frustrado, eu acho”.

Pensei: “Quando dizem ‘frustrado’, normalmente querem dizer ‘aborrecido’”. Eu o animei: “Bem,
permaneça com esse ‘frustrado’. Essa palavra realmente descreve como você se sente agora?”

Franziu a testa: “Acho que estou aborrecido. Aborrecido por me sentir terrivelmente fora de
controle. Tenho de me masturbar três vezes por dia para manter meu ânimo”.

Os sentimentos são agora conscientes. Todos pudemos ver que Dan estava realmente presente
agora. Esperamos mais coisas.

“Não é pela mina mãe”, disse. “É por mim”. Alguns assentiram, compreendendo com simpatia. “Se
trata de pôr minha vida em ordem, fazer alguma coisa. Tomar o controle das coisas”.

Agora Dan sentia completamente seus sentimentos. Primeiro, aborrecimento consigo mesmo;
depois, com ajuda do grupo, percebeu o que deveria fazer para ajudar a si mesmo. Vendo a
satisfação de Dan, Roger interveio: “Tenho me preocupado com as mesmas coisas ultimamente”,
disse. “Também devo estar bloqueado na passividade e no fracasso ao fazer as coisas. Agora mesmo
tenho que fazer frente a dez ou quinze tarefas cotidianas, como ir ao dentista, renovar a carteira de
motorista e arrumar os óculos. Parece que quanto mais me condeno por não fazer essas pequenas
coisas, mais passivo eu fico. Posso ficar preso nesse buraco negro ou então começar a tomar
pequenas decisões para fazer algumas dessas coisas que preciso”.

Edward disse: “Tenho estado bloqueado também com uma decisão. Um amigo meu tem me
pressionado para que aceitasse um trabalho de garçom no Hamburger Hamlet para preencher um
tempo em que não temos ensaios. Mas, sinceramente, morro de medo de servir mesas. É estupendo
poder atuar em uma peça de teatro, mas creio que me sentirei como um tonto em um restaurante –
quebrando pratos, confundindo-me com as pedidos... – que fracassarei, me sentirei incompetente ou
que riam de mim. Não me parece agradável ter um encarregado gritando comigo”.

Acrescentou: “Mas também sinto que devo fazer isso para superar meu medo e minha passividade”.
Então, Ed tentou meter o grupo em um debate animado porém improdutivo sobre os prós e contras
de se servir mesas.

Finalmente, Charlie interveio: “Mas Ed, o verdadeiro problema é ‘ser ou não ser um garçom: eis a
questão’”.

Steve sussurrou: “Não é magnífica a forma como ele faz a analogia com Shakespeare?” O grupo
riu. Tom olhou para Steve: “Tão engenhoso quanto esquivo”.

Voltando ao assunto principal, Charlie continuou: “Todos temos que superar o medo de tomar
decisões. Todos sentimos que qualquer decisão que tomemos pode ser potencialmente terrível”.

Ed disse: “Eu realmente preciso do dinheiro extra que esse trabalho me proporcionaria. De modo
que se eu não aproveitar essa oportunidade, me sentirei um fracassado. Serei capaz de fazer isso.
Vou vencer esse medo. Vou aceitar isso, ainda que não faça o trabalho com perfeição”.

“É disso que se trata: perfeccionismo”, Charlie continuou. “O perfeccionismo é parte da falsa


imagem. Libertar-se da defesa do perfeccionismo remove todas as ansiedades anteriores e os
sentimentos de inadequação”.

Ed estava de acordo: “Eu supunha que crescer era ser perfeito, não cometer nenhum erro. Tinha o
cuidado de não me sobressair nem ser criticado. Por outro lado, podia subir em um palco e não me
sentir incômodo, não é estranho?”

“Não tão estranho”, disse-lhe eu. “Esse é um falso papel. Enquanto você está no palco, está
representando alguém que não é você. É mais fácil enfrentar-se com uma plateia impessoal que
ficar cara a cara com alguém”.

Steve acrescentou: “Algumas de minhas recordações mais dolorosas são sobre o fracasso diante dos
meus colegas e deles rindo de mim. São tão dolorosas que tento evitar coisas que poderiam fazer
com que alguém ria de mim”.

“Todos os meninos temem que os colegas riam deles”, disse-lhes, “Mas, enquanto a maioria se
recupera, alguns se sentem tão humilhados que se afastam de qualquer futuro desafio. Para o
menino pré-homossexual, a resposta aprendida é a retirada. Se retrai ao seu pequeno mundo de
fantasia, ocupando-se em atividades solitárias como o desenho ou a música. Consola-se a si mesmo
crendo que, de alguma forma, é melhor que os outros meninos, que é especial. Com frequência, sua
mãe o apoia nessa ideia de sua condição especial”.

Nesse momento, o Padre John comentou: “Eu mesmo me retirava na música e tocando piano”.

Muitos estudos mostram que os meninos pré-homossexuais se interessam pelo teatro e a


representação. Muitos dos meus clientes também tocavam piano desde a infância. Considero essa
como a maior retirada ao interior do falso eu frente aos desafios da vida.

Albert disse: “Meu escape era para a natureza. Lembro-me de que fugia de casa com frequência
para um bosque de árvores altas. Subia em uma árvore e sentava em um galho, imaginando que era
um passarinho. Pensava: ‘ninguém me encontrará aqui em cima’”.

Como é habitual na terapia reparativa, muito poucas discussões tratavam de sexo. Na maioria das
vezes, os homens falavam de sua luta pelo sentido de identidade.

O Padre John continuou: “Uma das coisas que aprendi aqui é a lutar contra a passividade e os
sentimentos de desespero. Antes, me via tentado a cair em meu vício em pornografia. Mesmo agora,
quando estou vendo um filme pornô em meu quarto na reitoria, com as portas e persianas fechadas,
digo a mim mesmo: ‘Sei que isso é uma compulsão. Trata-se de querer entrar no clube dos homens’.
É assim que me senti em toda a minha vida”.

Charlie estava de acordo: “Entendo essa tentação de voltar a cair nesses estados baixos de ânimo tão
familiares – preso na escuridão da alma. Sente-se desolado, mas ao menos familiar”.

O Padre John parecia pensativo, refletindo sobre essas últimas palavras, “na escuridão da alma”.
“Essas experiências que costumo considerar um peso”, continuou, “vejo-as agora como
oportunidades de transformação. É a isso que se refere meu herói, Colin cook, quando diz ‘fracassar
com êxito’”.

Ed perguntou: “Como se pode fracassar com êxito?”

“Meus fracassos são alugar material pornô e me masturbar obsessivamente durante dias –
normalmente semanas”, disse o Padre John. “Mas fracassar com êxito significa que, se vou cair,
converto esses momentos em ocasiões para buscar a Deus, apesar de tudo”.

Albert parecia duvidar e seus olhos demonstravam suspeita: “Soa a espiritualidade gay”, disse.

“Com certeza”, assegurou o Padre John. “Mas assumo a responsabilidade por meus pecados. Não
desejo essa merda de vida. Mas meu erro era expulsar Deus de minha vida nessas ocasiões de
pecado. Colin Cook diz: ‘Mantenha Deus em cena’”.

Acrescentou: “Os primeiros teólogos cristãos falavam da felix culpa (o ‘feliz pecado’). Isso soa
contraditório, entretanto, o fracasso pode converter-se em uma oportunidade de transformação”.

Chegou a hora de terminar a sessão. Ao levantar, os homens deixaram lentamente meu consultório,
falando tranquilamente.

Colin Cook, orientador e autor ex-gay, foi uma figura nacional no movimento ex-gay, com um
ministério bem provido de fundos. Levantou-se um escândalo quando Colin se viu sexualmente
implicado com um dos homens que orientava. O escândalo foi um choque para o então frágil
movimento ex-gay. Os detratores e críticos gays da terapia reparativa utilizaram a história de Colin
como evidência de que os gays não podem mudar. Uma vez que Colin foi restabelecendo
lentamente a confiança, continuou fazendo grandes contribuições à causa dos homens que desejam
ser livres da homossexualidade.

Em nossa seguinte sessão, Tom começou com um debate sobre suas experiências anteriores em
psicoterapia.

“Os outros terapeutas me diziam que eu deveria aceitar minha orientação sexual. Mas em que
situação me deixava esse conselho? Ter relações com homens por aí era incompatível com meu
casamento. Durante anos, eu tentei viver em dois mundos. Esse terapeuta me deixou sentado em
cima de uma cerca, e com as estacas enfiadas no meu rabo!”

Steve começou a gargalhar. Depois, disse em tom de desculpas: “Sinto muito, Tom, mas achei
engraçada a forma como disse”.

“Essa cerca pertence ao demônio”, sussurrou o Padre John.

Charlie disse: “Tive o mesmo problema que Tom quando visitei um psicólogo pela primeira vez.
Ele me disse: ‘Você tem de viver com isso. Outros já viveram, então você também pode’. Eu
respondi: ‘Mas não posso’, e ele disse: ‘Deve aceitar, porque não pode mudar o que sente. Este é
você e tem que ser honesto consigo mesmo’”.

Eu disse-lhes: “Muitos membros da profissão têm dado uma solução politicamente correta para um
problema existencial. Se renderam à pressão dos psicólogos gays que querem que sua orientação
seja vista como equivalente à heterossexualidade”.

“Isso me lembra uma velha piada”, continuei. “Um homem vai ao consultório médico e diz:
‘Doutor, cada vez que dobro meu braço, sinto uma dor pulsante’. O médico diz: ‘Então não dobre
mais o braço’. É assim que a psicoterapia responde aos homossexuais insatisfeitos. Um homem vai
ao terapeuta porque está insatisfeito com sua homossexualidade e o terapeuta diz: ‘Não fique
insatisfeito’”.

Durante muitos anos, homens como meus clientes – aos quais chamo de homossexuais não gays –
têm sido ignorados pelos profissionais da saúde mental. São vítimas da politização da psicologia.

Charlie abriu uma sessão voltando a velhos problemas relacionados a seu pai.

“Quando eu não ia jogar futebol, parecia uma afronta pessoal para meu pai. Quando não queria
jogar, ele tomava como uma rejeição a ele, ao seu amor pelo futebol. Tenho o mesmo sentimento
quando ele quer que, em casa, as tarefas sejam feitas de certa maneira. Se eu resisto, estou o
recusando pessoalmente. Tem um ego tremendo”.

“Como se só existisse para ele”, eu disse.

Nesse momento, Dan, que normalmente não falava muito no grupo, interveio: “Isso acontece
comigo também. Quando disse ao meu pai que não era fã de esportes de equipe nem de armas, ele
não gostou”.

“Sim, como se fosse uma afronta pessoal”, acrescentou Charlie.

Dan continuou: “Para meu pai, o futebol é como seu primeiro amos. O time vem antes da família –
é mais importante. E também tem as armas. Tinha uma oficina de três mil dólares no porão
dedicado às armas”.

Os homens continuaram compartilhando suas recordações da decepção de um pai com expectativas


estereotipadas e sua profunda sensação de fracasso ao não haver cumprido essas expectativas.

Então Roger falou extensamente acerca de seu primeiro amante, Perry. Ainda que a relação tivesse
terminado, estava claro que ainda existia uma co dependência com a perda de limites pessoais entre
eles.

Durante os tumultuosos nove meses juntos, Roger e Perry haviam tentado sair da
homossexualidade. Enquanto se comprometiam verbalmente a resolver seus conflitos,
frequentemente recaíam, obtendo como resultado sentimentos contraditórios sobre seu processo de
restauração e sobre o outro. Quando a relação terminou, Perry abandonou repentinamente seu
compromisso com a mudança e encontrou um novo amante. Segundo minha experiência clínica,
nada transtorna tanto a terapia quanto o fato de um primeiro amante encontrar uma nova relação
amorosa de êxito similar. As notícias elogiosas acerca da nova relação servem como recordação das
próprias necessidades emocionais insatisfeitas do cliente.

Agora, Roger se armava de valor para ser mais direto, dizendo-nos que tinha dúvidas sobre
continuar na terapia. Seus sentimentos eram, entretanto, contraditórios. Invejava a nova vida
amorosa de Perry, mas sabia que essas relações nunca tinham lhe feito bem. Por um instante,
parecia desejar voltar ao mundo gay. No minuto seguinte, se arrependia e criticava essa posição
considerando-a uma forma de escape. Dizia: “Estou no meu carro escutando o rádio, um desses
programas de entrevista, e aparece um cara dizendo o quão feliz é sendo gay e o miserável que era
nos anos em que tentava mudar. Já sabem, essa velha história de sair do armário. Do ponto de vista
intelectual, sei que tem algo mais nessa história, mas tenho de admitir que soa realmente tentadora.
Esse é o tipo de rolo com o qual me topo toda vez que leio o jornal ou ligo a televisão”.

Pensei que Roger tinha razão. O homem que tenta mudar sua sexualidade trava uma guerra em dois
campos diferentes: o interno, contra seus próprios sentimentos, e outro externo, contra uma
sociedade que não valoriza nem entende sua luta.

Então Roger disse ao grupo: “Cada vez que me sinto atraído por um homem, minha voz interna
pergunta: ‘Qual será o resultado disso? Terminará como minhas outras relações?’. Mas chega uma
hora que me canso de calcular isso, me sinto fraco e cansado”.

Pude ver que Roger estava interessado que eu não entendesse nem aceitasse sua decisão de
abandonar a terapia. Voltando-se a mim, perguntou: “O que eu devo fazer?”. Sua voz soava, agora,
aguda e enfraquecida.

Dos anos de experiência, aprendi a não tentar defender a terapia reparativa em caso de uma postura
contrária. Melhor, deixo para o cliente determinar se encontra algum valor pessoal no tratamento.
Ao adotar a postura neutra, decepciono suas expectativas de que o livrarei da dor de decidir seu
próprio caminho.

Roger continuou em sua angustiada ambivalência, tentando seduzir-me para que decidisse por ele.

Finalmente, eu disse, ligeiramente aborrecido: “Olha, Roger, você conhece minha postura.

Mas terá de decidir por você mesmo se isso é bom para você. Eu estou aqui – todos estamos aqui –
para te ajudar a fazer o trabalho, se assim desejar”.

Em um tom amável, o Padre John lhe disse: “Não crescemos somente resistindo o negativo, mas
também movendo-nos em direção ao positivo. O caminho correto para todos nós, Roger, é encontrar
Deus em tudo isso”.

“Não sei o que quero, Padre John. E não sei onde está Deus em tudo isso. Me parece impossível
tomar decisões por mim mesmo. Sempre acabo deixando isso para outras pessoas. Pergunto sua
opinião, quero que me digam o que fazer”.

Charlie sussurrou: “O que precisamos prestar atenção é que fazemos a pergunta quando, na
realidade, conhecemos a resposta, mas desejamos não pô-la em prática”. continuou: “Não creio que
suas dúvidas venham do fato de seu antigo namorado estar agora feliz e apaixonado. Creio que o
que faz é estimular sua ambivalência acerca de seu processo de cura”.

Roger disse: “Me sinto como um rato branco que segue todas as direções em um labirinto e se
encontra voltando ao começo. Não importa os desvios que tome, sempre acabo enfrentando as
coisas que queria evitar”.

Quando Roger teve claro que não lhe diríamos que decisão tomar, não esteve aborrecido por mais
tempo conosco. Perguntou: “Quero fazer o trabalho, afrontar os problemas? Realmente quero
mudar?”

Charlie pressionou um pouco mais: “Esse ‘deveria’, de quem é? Tem certeza de que é o seu
‘deveria’, Roger, de ninguém mais? De outro modo, é bem possível que acabe ressentido com essa
terapia”.

Roger voltou a dirigir-se a mim: “Tem ideia do que estou sentindo?”. Antes que pudesse responder,
ele disse: “Só faço aquilo que me ensinaram a fazer: ser o menino obediente, tomar a direção dos
outros”.

“Absolutamente”, repliquei. “Alguns homens lutam mais do que outros na terapia reparativa. Para
alguns, não se trata de uma decisão tomada de uma vez. Vão para trás e para frente antes de
encontrar a direção correta”.

Charlie disse: “A ambivalência é a natureza da besta. E a homossexualidade é a besta”.

Tom dirigiu-se a Roger, dizendo suavemente: “Não fique ressentido por estar nessa luta,você não
tem de estar aqui”.

“Eu sei”, Roger falou lentamente, com tristeza.

A reciprocidade é um conceito importante na terapia reparativa. Os homens com problemas de


homossexualidade têm dificuldade para estabelecer um sentimento de reciprocidade e igualdade em
suas relações masculinas. Tendem a desenvolver relações com desequilíbrio de poder, nas quais ou
desvalorizam o outro homem ou o colocam em um pedestal.

Diferente da psicoterapia convencional, que proíbe encontros externos entre os membros do grupo,
a terapia reparativa anima a amizade para diminuir o isolamento característico da condição. Albert e
Steve estiveram mantendo uma relação social fora do grupo e eu apoiei sua relação porque a via
como uma oportunidade para a reciprocidade saudável.

Em uma sessão, Albert começou queixando-se de Steve, que estava ausente. Disse: “Acho Steve
muito estimulante em muitos aspectos, mas há algum problema”.

“Qual?”, perguntou Charlie.

“Não tenho muita certeza”, disse titubeando.

Estava claro que Albert tinha dificuldade para identificar o que ia mal nessa amizade. Para homens
homossexuais, é um constante desafio ajustar a tendência a supervalorizar ou desvalorizar outros
homens. Pode existir uma inclinação para tornar-se passivo nas relações, deixando que os
problemas de poder e de limites se descontrolem.

Albert continuou: “Steve está sendo um modelo positivo para mim – está onde eu quero chegar em
meu próprio desenvolvimento. Ele me passa muita segurança. Mas, nas últimas semanas, me fez
sentir incomodado”. Cravando um olhar duvidoso ao redor da sala, Albert se apressou em
completar: “Não há nada sexual entre nós”. Depois continuou: “Assistimos a um filme em que um
dos atores era realmente bonito, e Steve fez algumas brincadeiras, ele sempre faz isso”.

“Bem, e então?”. Sentia-me impaciente com o modo dubitativo e cheio de rodeios com que Albert
falava.
“Steve sempre repara nos caras pela rua, faz comentários sexuais e...” duvidando, “tenho que ser
sincero, ele me deixa excitado. Tem uma sensação de humor selvagem. Com frequência tiramos
sarro um do outro”.

Deteve-se e depois disse: “Não sei o que fazer. Talvez esteja sendo demasiado sensível.

Quero ser sincero com Steve, mas não quero perder sua amizade”.

As relações homossexuais se caracterizam com frequência pela co dependência. As necessidades


dos homens acabam enredando-se, as de um cedendo demasiadamente e confundindo-se com as do
outro. Decidi que o desemaranhar das necessidades sobrepostas deveria começar com os
sentimentos de Albert.

“Certo, comecemos com uma simples questão: que sentimentos os comentários dele provocam em
você?”

“Humm... Que apuro!”

“Vamos, pode dizer”, pedi.

Então ouvi o verdadeiro conflito: “Hmm, tenho de admitir que suas piadas e comentários me
excitam. Fazem com que eu comece a pensar em homens e retroceder”. ele ria de nervoso.

Esperamos em silêncio.

“Mas não é isso o que desejo de nossa relação”.

Tom disse: “Então, Steve cria um conflito em você. Desfruta dos sentimentos mas não os deseja
realmente”.

A reflexão de Tom sobre os sentimentos de Albert colocou uma validação implícita que estimulou a
conversação. Animadamente e com certo ar santarrão, Albert replicou: “Sim, quer dizer, realmente
não preciso disso. Ele não me ajuda atraindo minha atenção para essas coisas.

Quero substituir os prazeres que estou tentando deixar por outros prazeres, e isso que ele faz não me
apoia nessa minha intenção”.

“Ótimo!”, disse eu.

Agora Albert parecia seguro de si mesmo. Havia-se dado permissão para identificar um motivo de
queixa. Isso não era exatamente uma queixa, como descreve Van der Aardweg, mas a expressão de
uma necessidade válida. Demos o passo seguinte: “Muito bem, e o que você acha que pode dizer a
Steve quanto a isso?”, perguntei.

Fez um gesto de descaimento. Uma longa pausa, um olhar vazio. Depois disse: “Não quero ferir a
Steve, e ele tampouco tem a intenção de...”

“Prevendo um novo enredo, interrompi: “Não mencione a intenção dele. Só Steve pode falar sobre
isso. A pergunta que você deve responder é: o que pode dizer a Steve?”

“Suponho que poderia dizer-lhe: ‘Olha, sei que não é sua intenção, mas seus comentários e piadas
sexuais sobre outros homens não me ajudam. Nem ajudam a nós dois’”.

“Muito bem”. Senti-me satisfeito por Albert ter sido capaz de dar os dois passos necessários para
resolver a dependência hostil tão característica das relações homossexuais: (1) identificar as
próprias necessidades, diferentes das do outro e (2) expressar efetivamente essas necessidades.
Esses dois passos parecem mais simples do que são, e são necessários para restabelecer a
reciprocidade.

Albert perguntou: “Mas como posso dizer a ele como me sinto?”

Uma típica questão a respeito da conduta do outro que os homens com orientação homossexual se
esquecem de fazer a si mesmos é: “Como esse homem me faz sentir?”. Em vez disso, a tendência é
centrar-se na outra pessoa, que não deve ser posta em dúvida ou desafiada por medo de perdê-lo
como amigo.

“O que te impede de falar com Steve? Já tem claro o que deve falar para ele. Então, por que é tão
difícil estabelecer uma reciprocidade?”

“Explique-me isso”.

“Steve e você são iguais. Assim, têm de estabelecer uma igualdade entre vocês. Nenhum é melhor
ou pior que o outro”.

“Creio que tenho estado colocando ele em um pedestal”, admitiu Albert.

Eu expliquei: “Seu desafio, que é o mesmo desafio de todos os homens com problemas
homossexuais, é ajustar constantemente a tendência a supervalorizar ou desvalorizar aos outros
homens. Não tenha medo do que Steve possa pensar de você se lhe disser algo. Expresse seus
sentimentos e não o coloque em um pedestal”.

Pensei no quão forte é o desejo do homem homossexual de ser capaz de verbalizar suas
necessidades, desejos e medos. Entretanto, tende a deixar a direção nas mãos do outro homem e as
questões de poder e limites ficam fora de controle.

“Tem razão”, disse Albert, “tenho medo de dizer aos outros o que penso”.

Tom interveio: “Noto que você trouxe esse problema quando Steve não está no grupo. Vejo que,
para você, é muito mais fácil expressar seus sentimentos porque ele não está aqui essa noite.

Creio que seria melhor para você dirigir seus sentimentos diretamente a ele”.

As sessões em grupo levavam-se com um progresso lento porém regular. Os homens estavam
assimilando lentamente as técnicas de comunicação que lhes ajudariam a relacionar-se com outros
homens mais eficazmente.

Duas semanas depois, o grupo tratou de um assunto aparentemente insignificante, que estava
relacionado com Steve. Tratava-se de ele ter reservado um assento para um amigo.

Mais que nenhum outro membro do grupo, Steve era capaz de provocar sentimentos intensos nos
outros homens. Seu modo de ser aberto e extrovertido chamava a atenção, provocando inclusive
algumas reações negativas.
Nessa reunião, Dan estava muito calado, como era habitual. Então, falou durante os últimos vinte
minutos mais francamente do que nunca havia feito antes. Dirigindo-se a Steve, disse-lhe: “Não sei
onde isso nos vai levar, mas quero falar com você, Steve”. Então se dirigiu ao grupo: “No sábado
passado, combinei de me encontrar com Steve e seus amigos em um concerto. Cheguei tarde e
Steve tinha um assento vazio junto ao dele. Não tinha certeza se estava reservado para mim, de
modo que perguntei se alguém estava ali. Ele me disse: ‘Sim, está ocupado’, o que verdadeiramente
me magoou, pois pensei que estávamos juntos”.

“Ao ouvir isso, fiquei ali de pé. Então saí totalmente surpreso. Steve não disse nada durante um
longo tempo. Quando voltei, ele disse: ‘Era brincadeira’, mas, na verdade, nesse momento, eu
estava magoado e irritado”;

Dan voltou-se a Steve e lhe disse muito suave e seriamente: “A forma como me disse isso, Steve,
parecia maldosa”.

A natureza das brincadeiras entre amigos – o que é divertido e o que é maldoso – torna-se um
problema doloroso para nossos homens. Um simples incidente, com frequência pequeno, pode
provocar uma luta pela compreensão. “Eu sou tão sensível? Por que me dói tanto quando riem de
mim? O que há em mim que provoca um humor tão hostil?”

Devido À ferida causada pela hostilidade ou rejeição do pai, o homem de orientação homossexual é
sensível a qualquer alusão de rejeição por parte de outros homens. A dúvida causada por uma
brincadeira – “isso é divertido ou hostil?” – retoma ao velho problema que começou com o pai:
“Não posso ganhá-lo”. Então surge a questão: “Se sou sincero com meus sentimentos e me defendo
da injustiça, estou me arriscando a que os homens me achem inaceitável?”. Aqui há problemas
profundos de aceitação e de sentimento de pertencimento.

Dan guardou silêncio por um momento enquanto o grupo o olhava. Então continuou: “O motivo
pelo qual estou lhe dizendo isso é esta”, muito suavemente, mas com determinação: “realmente não
quero que me trate assim. Isso é tudo o que tenho a dizer”.

Ninguém do grupo interveio. Então, Steve disse: “Estou de acordo. Ninguém deseja ser ferido. Peço
desculpas. Sinto muito por ter te tratado desse modo”. Depois, como que se defendendo: “Se
perguntar por mim às pessoas, lhe dirão que sou um sarrista. Mas você dizia que esperava que eu te
guardasse um assento, e eu guardei”. Em um tom de argumentação: “Me alegro que tenha esperado
isso, mas por que não confiou que eu o faria?”

“Não tinha certeza. Queria me sentir parte do seu grupo de amigos. Esperava que me reservasse um
assento”.

Roger o interrompeu: “Toda a noite você dava a impressão de que algo estava te incomodando,
Dan. Por que não disse nada antes?”

“Quando estou ferido, me calo”, disse Dan.

“Não brincarei mais com você, Dan”, disse Steve, “parece que é isso o que você está me pedindo”.

“Deixe-me esclarecer. Não quero que brinque comigo desse jeito”, seu tom era muito sério.

“Então você decide como devo brincar”. Havia irritação na voz de Steve.

“Bom...”
Steve o interrompeu: “Preciso pedir permissão? Algo assim como ‘Dan, posso brincar com você
agora?’”

Voltando a falar de como se sentia, Dan perguntou: “Você pode se dar conta de quão dolorosa foi a
sua brincadeira?”

“Claro! Totalmente! Estava ali”. Defendendo-se, continuou: “Mas em qualquer brincadeira o tiro
pode sair pela culatra, toda brincadeira pode ser mal interpretada”.

“Se você acha que toda brincadeira permite uma interpretação maldosa, não desejo seu sentido de
humor”.

“Essa é precisamente a natureza de uma brincadeira”, insistiu Steve. “Brincar com a fraqueza de
outra pessoa sem enaltecê-la. É...”

Dan o interrompeu iradamente: “Oh, então você está dizendo que a finalidade de uma brincadeira é
brincar com a fraqueza de uma pessoa. Você achou divertida alguma fraqueza que viu em mim?”

“Não, eu não faria isso”, disse Steve defensivamente.

Tom interveio: “Ei, Dan, não dê importância”.

Dan cravou os olhos em Steve: “Não. Você achou excepcionalmente divertido brincar com a minha
fraqueza”.

Steve suspirou com frustração: “Parte da brincadeira era ficar calado durante um momento,
deixando ela fazer efeito. Se eu tivesse...”, interrompeu a si mesmo. “Olha, é necessário um tempo
para que funcione. Se eu tivesse rido em seguida, não teria funcionado”. Acrescentou, mostrando-
se agora desesperado: “Deve-se contar com o elemento do tempo para que seja divertido”.

“Sim, e você acha isso divertido? Considera que toda a experiência foi divertida?”. Dan o olhou
quase com desprezo.

Albert interveio com voz baixa: “Ele só estava brincando, Dan”.

“Me sinto embaraçado vendo que você se magoou”, disse Steve. “Mas uma vez você disse...”

Dan o interrompeu: “Você sabia que isso me feria? Via que isso me magoava?”

“A princípio, não. Não. Não até você dizer isso agora”. Steve parecia sincero.

“E então? ainda acha engraçado?”

Steve parecia confuso. “Que isso te magoe? não. De qualquer forma, te peço desculpas”.

Dan seguiu: “E então, quando viu que isso me magoava, ainda achou engraçado?”

Steve estava desconcertado. “Não. Teria sido engraçado se você tivesse rido. Eu teria achado
divertido se você achasse divertido”.

Os outros homens permaneciam em silêncio, sentindo-se impotentes como testemunhas dessa


discussão.
Dan continuou sem trégua: “Ah, então uma brincadeira só é engraçada se eu rio dela”.

“Exatamente”, disse Steve. “Só quando o outro ri é realmente divertido”.

O silêncio continuou.

Steve parecia desesperado, tratando outra vez de fazer uma trégua.

“Bem, você não riu, então a brincadeira não deu certo, fracassou. Não foi divertido, sinto muito”.
Esperou uma resposta. Todos a esperamos, inclusive Dan.

Finalmente, Steve respirou fundo, tentando falar outra vez: “Não sabia que você tina essa
insegurança. Agora posso compreender que uma brincadeira sobre um assento reservado pode
provocar esses sentimentos. Mas não quero pensar que não posso provocar umas risadas quando
estou com você. Mas, ainda que seja assim, eu respeitarei”.

Depois de uma breve pausa, Steve continuou: “Sabe, tenho de admitir que estou tentando te deixar
completamente em paz, mas na realidade não quero fazê-lo. Talvez você precise entender suas
inseguranças”. Deu um suspiro de alívio e olhou diretamente para Dan. “De fato, estou contente,
muito contente, de que tenha trazido isso à tona”.

Em um tom lento, deliberado, Dan disse: “Mas você sabia o que estava fazendo”. “Que ia te
magoar?”. Steve parecia não dar crédito. “Que eu podia querer te ferir?”

Dan assentiu com calma: “Sim”.

“Me magoa que realmente pense isso”, disse Steve. “Que poderia te ferir de propósito.

Você acredita que eu poderia te ferir de propósito?”. Suspirou. “Rapaz, você realmente me põe em
uma situação difícil com você”.

Charlie o interrompeu: “Eu não creio que seja assim”. Voltando-se a Dan: “Creio que faria melhor
começando a fazer-se responsável por sua própria mágoa. Você pode culpá-lo em parte e ele pode
pedir desculpas, mas você tem de fazer-se responsável e não descarregar tudo sobre Steve”.

Dan disse em voz baixa: “O que quer dizer com isso?”

Charlie se explicou: “Quero dizer que deve confiar em Steve. Você o conhece, sabe como é sua
personalidade, deve considerar essas coisas – precisamente superando-as. Quando Steve disse que o
assento estava ocupado, você podia ter dito: ‘Você sabia que queria me sentar com seus amigos, por
que não reservou o assento?’. Em vez disso, ficou calado e permanecer incomodado”.

“Porque me magoou”, disse Dan lastimosamente.

A voz de Charlie era contundente: “Responsabilize-se por essa ferida e diga isso a ele”.

“Não gosto que implique comigo também, Charlie, não gosto nada”, disse Dan suave, mas
firmemente.

“Foda-se!”, contestou Charlie abruptamente.

Dan disse: “Tudo bem, só estou te dizendo”.


“Sei que não gosta de ouvir isso”, disse Charlie, “Preferiria descarregar tudo sobre Steve”.

“Uma merda!”, Dan parecia agora realmente irritado. “Não estou dizendo que não queira aceitar a
responsabilidade. Estou dizendo que isso me magoa”.

“Você está pedindo a todos nós que tenhamos cuidado com você”, disse Charlie.

“Não me julgue”, replicou Dan.

“Faço uma observação”.

“Bem, não gosto da forma como está implicando comigo, como se houvesse feito algo mal”.

Charlie disse com calma: “Conheço sua luta. Estou pedindo somente que se responsabilize mais”.

Charlie estava chegando ao centro do problema.

“Não podemos ter sempre cuidado com a forma como nos comportamos com você”, disse

Charlie. “Simplesmente tem que deixar que sejamos nós mesmos e decidir que não vai se sentir
ferido nunca mais quando estivermos sendo”.

Dan disse com calma: “Eu não teria me ferido se tivessem sido desde o princípio”.

Charlie levantou a voz: “Certo! Não sou perfeito, Dan”. Depois, disse mais amavelmente:

“Temos que trabalhar nessa direção. Todos nós levamos muito tempo para chegar nesse ponto”.

“Tem de confiar em Steve, em mim, em todos nós, que estamos lutando com isso e estamos
conseguindo. Não pode ensimesmar-se em sua ferida e em sua culpa, porque senão estará colocando
os outros à margem”.

Todo mundo permanecia sentado em silêncio. Então, Dan disse: “Certo, não confio em Steve. Não o
faço”.

Charlie disse: “Essa é uma debilidade muito séria em seu caso. Se não pode confiar nos homens
dessa sala, não pode confiar em nenhum homem”.

Dan disse tranquilamente: “Confio em Steve o suficiente para dizer-lhe o que disse”.

“Me parece que não, nesse caso teria falado individualmente com ele”, respondeu Charlie.

“Você tocou no assunto porque todos estamos aqui. É mais seguro”.

“Uf!”. Dan fez uma pausa.

“Relaxe um pouco e aceite a forma como somos. De outra forma, não contribuirá muito conosco
nem conseguirá muito de si mesmo”, disse Charlie, dessa vez amavelmente.

“Tudo é responsabilidade minha?”, perguntou Dan.

“O mundo não vai inclinar-se diante de você, Dan”, disse Tom. “Nós podemos nos inclinar um
pouco diante de você, mas os caras aí fora não vão fazer isso. O que pode fazer aqui não poderia
nunca fazer lá fora”.

Roger interveio: “Dan, eu faço o mesmo. Como sou muito sensível, espero que a outra pessoa
mude. Isso nunca funciona. Ao contrário, tenho de mudar meu ponto de vista”.

“Mas tenho de dizer que nossos motivos para querer mudar os demais homens vem de nossa falta
de identificação com eles”, continuou Roger. “Queremos mudá-los porque não entendemos aos
homens tal como são”.

O Padre John resumiu: “Esse tipo de brincadeira aperta um botão vermelho: FERIDO OUTRA VEZ
POR OUTRO HOMEM! Você sabe que isso poderia acontecer em qualquer lugar, mas não
imaginava que pudesse acontecer aqui, entre nós”.

Steve voltou-se para Dan, dizendo em tom sincero: “Sinto ter te magoado. Se eu fizer algo que te
fira, poderia trazer isso mais rápido da próxima vez”.

Essa sessão havia tratado de um assunto fundamental para a terapia reparativa: a necessidade de
trabalhar através da ira e das desconfiança para desenvolver um sentido de aceitação por parte de
outros homens. Como aconteceu com Dan, cada um dos homens, confortando-lhe, teve de
consolidar também essa lição, essencial para eles.

Os problemas relacionados com a ira aparecem inevitavelmente no curso da terapia em grupo.


Experimentar a ira contra outro homem é particularmente doloroso, posto que estimula velhas
feridas infligidas originalmente pelo pai.

Quando eram meninos, a muitos desses homens não foi permitida nenhuma expressão de
hostilidade. Sua única defesa era retirar-se e fechar-se. Quando a hostilidade se dirigia contra eles,
era experimentada com uma ferida profunda, uma devastação emocional de sua frágil imagem
própria. Portanto, duas lições foram profundamente interiorizadas na infância: (1) não estou
autorizado a expressar minha ira, não é uma expressão adequada e (2) a hostilidade masculina,
dirigida contra mim, equivale à aniquilação.

Os efeitos a longo prazo dessas duas lições se mostram óbvios em uma sessão de grupo quando dois
membros entram em conflito. A expressão de ira é uma prova tanto para o que se expressa quanto
para o que a recebe. O homem que reprime sua ira pode necessitar dessa nova oportunidade para
perceber que sua ira é ouvida e respeitada. Por outro lado, o que acaba recebendo pode sentir-se
assaltado e rejeitado como pessoa. Pode ter grandes problemas para voltar a adquirir a posição de si
mesmo e a confiança em que o outro homem continuará estando ali como amigo.

A confiança na terapia em grupo é uma questão essencial. Os homens devem aprender que há um
sentido inato da imparcialidade no grupo e que todos caminham juntos com benevolência.

Devem aprender a confiar na habilidade dos homens para conciliar suas diferenças individuais. Em
sua hipersensibilidade, vulnerabilidade e tendência a cair na defensiva, devem recordar que estão
unidos em uma luta comum.

Gradualmente, o cliente se sobrepõe ao velho sentimento de estar excluído, ofendido e desprezado.


Em vez de esperar passivamente ou manipular para captar a atenção, começa a afirmar-se a si
mesmo e a dirigir-se a outros homens. dirigindo-se aos outros e desafiando a si mesmo, ele superará
gradualmente a velha sensação de que está ferido e indefeso.
Nesse momento, me dirigi a Roger: “Não faz muito tempo, você tinha sérias dúvidas sobre seu
compromisso de continuar na terapia. Como estão essas dúvidas?”

“Agora que entendo muito melhor o que estive buscando nos homens, sinto que a ansiedade
diminuiu muito”, ele disse. “Quando comecei a terapia, estava como louco e sabia que tinha de
conseguir o controle de mim mesmo. Minhas relações, como a que tinha com Perry, eram coisa de
louco e eu um caso perdido do ponto de vista emocional. E aqui estava eu com esses dolorosos
desejos, esses anelos. Eles ainda estão aqui, em certo grau, mas agora tenho o controle sobre eles.
Porque os vejo como o que são, de uma perspectiva melhor. Agora sei que nunca os verei
cumpridos, são inalcançáveis”.

“Você conseguiu”, disse o Padre John em tom de felicitação.

Roger sorriu dizendo: “Estou começando a compreender que essa realização é parte de minha
aceitação de mim mesmo”.

“Isso é a aceitação de si mesmo”, disse eu. “A recusa dessa parte homossexual não desejada é,
paradoxalmente, uma aceitação de si mesmo”.

“A que você se refere?”, Edward interveio com aspecto desconcertado. “Ao dizer não à
homossexualidade, você está dizendo sim a algo mais profundo. Sua decisão de estar aqui significa
dizer sim a algo que é mais o que vocês são do que sua homossexualidade”.

Roger assentiu pensativo: “Estou começando a compreender algo que você me disse uma vez:
‘Você já sabe demais para voltar atrás, Roger’”.

“Realmente sabe demais, não pode esquecer-se de tudo”, recordei-lhe.

Como se falasse a si mesmo, Roger disse: “Essa luta é dura, mas tenho que lembrar a mim mesmo
que sou eu quem a escolheu. Faço isso por mim”.

“Faço isso por mim”, repeti. “Uma afirmação poderosa. Sobre o poder pessoal, tomar o controle de
sua vida, sentir-se forte. No que pensava quando disse ‘Faço isso por mim’?”

Roger disse lentamente: “Tenho uma sensação completamente diferente. A sensação de ser
responsável por mim”.

“É disso que trata a terapia: experimentar um sentido mais forte de si mesmo, sendo responsável por
sua vida”.

Estava contente de que Roger tivesse se convencido a continuar na terapia. Durante muitos meses,
havia duvidado abertamente de seu valor. Então, encontrou um bom apoio em sua amizade com
Charlie, a quem via uma vez por semana em uma cafeteria em Venice Beach. Charlie levou Roger a
examinar mais de perto seu medo da intimidade masculina e o animou a analisar o que havia de
equivocado em sua relação com Perry.

Estava satisfeito com o progresso que os membros haviam realizado nessas sessões. Todos os
homens cresceram nessa dimensão da terapia, compartilhando mutuamente suas lutas. A terapia de
grupo estava lhes oferecendo uma oportunidade de apoio, auto comparação e identificação que as
sessões individuais, com todo o seu valor, não podiam oferecer.
CAPÍTULO 10

RECAPITULAÇÃO
Com frequência me perguntam: “Como funciona a terapia reparativa?”. Como todas as formas de
tratamento baseadas na psicanálise, a terapia reparativa tem como pressuposto o fato de algumas
áreas que deveriam ter se desenvolvido na infância não ocorreram plenamente.

Entende-se que, quando o paciente era criança, sentiu que seus pais não o ajudaram nessas fases de
desenvolvimento.

Uma das melhores definições de psicoterapia é “a oportunidade de darmos a nós mesmos o que
nossos pais não nos deram”. Entretanto, ainda precisamos da ajuda de outras pessoas. A Terapia
reparativa requer a implicação ativa de terapeutas homens, amigos homens e membros do grupo de
terapia homens.

A premissa básica da Terapia Reparativa é que a maioria dos pacientes (aproximadamente 90%, em
minha experiência) padece de uma síndrome de déficit de identidade de gênero masculino. É esse
sentido interno de carência de sua própria masculinidade a base essencial para a atração
homoerótica. A regra causal da terapia reparativa é: a identidade de gênero determina a orientação
sexual. Erotizamos aquilo com o qual não nos sentimos identificados. O foco do tratamento,
portanto, é o desenvolvimento completo da identidade de gênero masculino.

A terapia reparativa trabalha sobre assuntos do passado e do presente. O trabalho sobre o passado
implica a compreensão das relações com os pais na infância. O paciente, com frequência, dá-se
conta de que, enquanto sua mãe pode ter sido muito amável, provavelmente fracassou em ajudá-lo a
refletir de forma precisa sua autêntica identidade masculina. A mãe, com frequência, fomentou em
seu filho uma falsa identidade, denominada a do “bom menino”, com uma intimidade exagerada e
irrealista na qual a mãe é confidente e melhor amiga. O paciente pode ter se identificado, também,
com a avó, tias ou irmãs mais velhas.

Ainda que a mãe tenha se implicado mais e com mais frequência, o pai é, frequentemente, de baixa
implicação e ausente emocionalmente. Geralmente fracassou em reconhecer ao menino tanto como
um indivíduo autônomo quanto como um ser masculino. Foi emocionalmente incapaz de dar a mão
ao seu filho para que a relação prosseguisse em seu curso apropriado. O pai ou não era consciente
do que estava acontecendo na relação ou era incapaz de fazer alguma coisa para retificá-la. Era,
provavelmente, o que eu chamo de “pai condescendente”. A desatenção emocional do pai é uma
recordação particularmente dolorosa que se trata na terapia.

Outra área sobre o passado inclui a compreensão das relações dolorosas da infância com seus
companheiros do sexo masculino ou com um irmão mais velho dominante. Qualquer experiência
homossexual precoce com amigos ou homens mais velhos precisa ser examinada ou interpretada.
Não é raro descobrir um caso de abuso sexual na infância do paciente.
O trabalho sobre o presente inclui a compreensão de como o paciente abandonou seu sentido de
poder intrínseco. O poder intrínseco é a visão do eu como separado e independente. O fracasso em
obter completamente a identidade de gênero sempre tem como consequência uma perda do poder
intrínseco. Como dizia um paciente:

“Quando eu era pequeno, não costumava pedir o que queria. Esperava que os outros soubessem o
que queria, de forma que somente esperava”.

“E se não conseguisse?” Perguntei a ele.

“Mantinha tudo em segredo. Tenho guardado segredos toda a minha vida. Mantive meu poder
secreto”.

“Que poder?”

“Meu poder de conseguir o que queria de forma indireta... Sabe, manipulando”.

Na terapia reparativa, é essencial que o paciente compreenda como seu déficit de masculinidade faz
com que ele a projete sobre homens idealizados – “o outro homem tem algo de que careço, portanto
preciso estar perto dele (sexualmente)”.

A terapia reparativa desafia o paciente a superar as tarefas relacionadas com o gênero perdidas na
infância. Seu caminho de desenvolvimento requer a superação dessas tarefas durante a idade adulta.

Ele é chamado para “adquirir” o que o heterossexual alcançou anos antes. Assim, pode chegar
eventualmente a ser um heterossexual, mas por um caminho diferente.

Muitos sentimentos precoces pelo pai e outras figuras masculinas significativas serão transferidos
sobre os terapeutas homens. A terapia oferecerá uma oportunidade valiosa para trabalhar por meio
dessas reações. Os sentimentos projetados sobre o terapeuta podem incluir a antecipação da rejeição
e da crítica, uma tendência à dependência – incluindo dependência hostil – e também sentimentos
sexuais ou de ira.

Como todas as psicoterapias, a terapia reparativa cria uma transformação de sentido. Essa
transformação de sentido é resultado dos benefícios do paciente em introspecção. Quando consegue
ver as verdadeiras necessidades que estão por trás de sua conduta não desejada, consegue uma nova
compreensão dessa conduta. Suas atrações românticas indesejadas são desmistificadas. Começa a
percebê-las como expressões de necessidades legítimas de amor, atenção afeto e aprovação dos
homens que não foram satisfeitas na infância. Aprende que essas necessidades podem ser satisfeitas,
mas não de forma erótica.

Quando isso é compreendido, tem lugar uma transformação de sentido – “Na verdade, não quero
fazer sexo com um homem. Mais que isso, o que realmente desejo é curar minha masculinidade”.
Essa cura terá lugar quando forem satisfeitas as necessidades legítimas de amor, atenção, afeto e
aprovação dos homens.

A transformação de significado inclui não somente uma compreensão intelectual (introspecção),


como também a experiência do eu ao produzir novas condutas.

A experiência encarnada – ou seja, a experiência do corpo no mundo de uma nova forma –


transforma a identidade pessoal. A transformação da identidade pessoal acontece quando se sente
diferente sobre si mesmo de forma repetida em relação com os demais. No caso do déficit de gênero
e homossexualidade, o aumento da possessão de sua masculinidade faz com que diminua a atração
por outros homens. A interiorização gradual do sentido da “masculinidade em mim” afasta as
tentações angustiantes antigas.

Faz poucos anos que apareceu a Terapia de Afirmação Gay (GAT) para ajudar os homossexuais a
aceitar e afirmar suas orientações sexuais. A GAT presume que os homossexuais que se sentem
frustrados seriam felizes se somente pudessem sentir-se livres dos prejuízos interiorizados da
sociedade. A GAT vê a terapia reparativa como algo que leva à auto decepção, à culpa e à baixa
autoestima. Assume de forma arbitrária que “assumir-se” é a solução dos problemas de todo
homossexual.

A terapia reparativa, por outro lado, vê a homossexualidade como um déficit de desenvolvimento.


Segundo a teoria reparativa, a Terapia de Afirmação Gay espera que o paciente se identifique com
sua patologia, sob o nome de saúde.

William Aaron, em seu livro autobiográfico, Straight, diz: “Persuadir alguém de que haverá uma
adaptação factual à sociedade e a si mesmo baixando seu olhar e desenvolvendo algo que despreza
interiormente (a homossexualidade) não é a resposta”.

A GAT presume que a homossexualidade é uma variação sexual saudável e natural. Então, procede
a atribuir todo o problema pessoal e interpessoal do gay à homofobia social interiorizada.

Seu modelo teorético enquadra as experiências da vida do paciente no contexto da vitimização,


colocando-o, inevitavelmente, contra a sociedade convencional.

Alguém não poderia evitar perguntar-se como poderia a GAT explicar os benefícios óbvios da
terapia reparativa – aumento da autoestima, com diminuição de angústia, ansiedade e depressão.
Melhores relações com os demais e liberdade frente às distrações angustiantes são afirmadas de
forma geral pelos homens que realizam a terapia reparativa.

De forma interessante, a GAT e a terapia reparativa estão de acordo em relação ao que o


homossexual necessita: dar-se permissão a si mesmo para amar outros homens. Mas a GAT trabalha
dentro da ideologia gay de erotização dessas relações, enquanto que a terapia reparativa vê o sexo
entre homens como sabotador da mutualidade necessária para o crescimento em direção à
maturidade. A terapia reparativa libera o homossexual para amar a outros homens – não como
companheiros sexuais, mas como iguais, como irmãos.

A terapia de grupo representa um especial desafio para cada homem. O grupo deve decidir quem
falará, durante quanto tempo, sobre o quê e com que objetivo. Cada homem deve decidir por si
mesmo como utilizará a assistência do grupo. Espera-se que cada membro tome a responsabilidade
para falar e encontrar um lugar para si mesmo no fluir da expressão verbal.

A terapia de grupo desafia os homens a deixar o velho hábito da escuta passiva. Essa é uma forma
eliminada, autocentrada de ouvir que estimula as associações privadas mais que uma resposta ativa
à expressão do falante. O hábito da escuta passiva – consequência da exclusão defensiva – perpetua
o isolamento emocional.

A escuta ativa, pelo contrário, significa esquecer de si mesmo para manter uma conexão com o
falante. O ouvinte ativo sente uma reação interna ao que o outro diz. Pode, então, escolher expressar
sua reação em forma de perguntas, comentários ou conselhos.

A terapia de grupo oferece aos homens a possibilidade de relacionar-se com outros homens – uma
lição nunca aprendida completamente na adolescência. Como me dizia um novo paciente: “Quando
era adolescente, não sabia como ser amigo. Se gostava de um garoto, era de forma demasiadamente
forte, demasiadamente intensa, de forma possessiva. Hoje, se me encontrasse com um amigo
potencial, ainda acabaria fazendo o mesmo. Começo com um ‘vamos jantar, vamos ao cinema
(risos), vamos tomar um café...”

A maioria dos pacientes nunca falou abertamente sobre sua sexualidade com outros homens que
compartilham sua luta. Essa é uma aventura nova e ameaçadora, mas emocionante.

Portanto, todos os pacientes são cautelosos, inclusive temerosos, em sua primeira sessão de grupo.
Existe uma sensação de emoção e até mesmo a fantasia de conhecer um homem atraente com quem
pudesse manter uma relação íntima, inclusive sexual.

Ainda que as primeiras sessões de grupo se caracterizem por uma curiosidade intensa de um pelos
outros, existe também uma grande ansiedade quanto a revelar problemas pessoais. Esses homens
não estão orgulhosos de sua orientação sexual e existe uma sensação de vergonha que devem
afrontar. Costumam pensar: “queira Deus que não haja ninguém conhecido”, mas, geralmente, essas
inquietações retrocedem quando começam a se formar as amizades.

Uma vez parte do grupo, cada homem descobre que este é um lugar para se sentir aceito e
compreendido. O grupo é um lugar em que os homens compartilham problemas comuns, ideias
difíceis de superar e inspiração.

Como me explicava um homem certa vez: “para mim, participar do grupo foi como pôr um par de
óculos quando era míope. Antes, só podia ver imagens e padrões vagos”.

Disse-me outro paciente: “Percebi que padecia desse déficit masculino antes de vir aqui.

Vim porque sabia que necessitava de ajuda para resolver o que fazer com isso. A razão pela qual
não progredi muito antes era que trabalhava em um vazio, sozinho e sem falar com ninguém”. O
modelo básico de nossas discussões em grupo semanais se divide em três níveis de comunicação:

Nível Um: “Sem”.

Nível Dois: “Dentro”.

Nível Três: “Entre”.

O nível Um é típico da primeira parte de cada sessão de grupo. Tanto na terapia individual quanto
na de grupo, serve de conversação segura para entrar no calor. Geralmente, implica em conversa
sobre o que aconteceu durante a semana e é uma narração de fatos externos, sem nenhuma
consideração de motivações interiores.

O nível 2, “Dentro”, tem lugar quando duas ou mais pessoas começam a investigar e clarificar as
motivações de um membro por trás dos fatos que conta. Existe uma tentativa compartilhada de
compreender como se participou ao produzir os fatos que ocorreram.

O nível 3, “Entre”, é o nível mais terapêutico. É o mais desafiante e arriscado pessoalmente, mas
oferece a maior oportunidade para criar a confiança. Ocorre quando pelo menos dois membros do
grupo falam sobre suas relações mútuas, enquanto estão acontecendo. Fixar o tempo é algo central
para este terceiro nível e os membros devem falar no presente. Quando expressam seus sentimentos
positivos e negativos por cada um no momento, descrevem o que estão experimentando.
Pode-se necessitar de um tempo considerável para passar ao nível 3 de diálogo direto. Os membros
do grupo podem ser feridos facilmente neste nível, evita-se muito a aproximação e ocorrem muitos
encontros de culpas. Quando um membro se sente ferido, com frequência toma referências ocultas a
suas dúvidas sobre se o grupo o beneficia realmente. Pode ameaçar não voltar na semana seguinte.

Para todos os grupos, o Nível Três é o que mais recompensa. Proporciona a oportunidade de
experimentar a reciprocidade, com seu equilíbrio de desafio (“protestos ofegantes”) e apoio
(“palmadas nas costas”).

Nas primeiras sessões de um grupo novo, existe uma fase inicial de “encontro de defeitos”.

Ocorre certa resistência em identificar-se com o grupo e surgem muitas queixas. “Não são do meu
estilo, são velhos demais” ou “jovens demais”, “são muito promíscuos” ou “muito inexperientes”,
“muito religiosos” ou “não religiosos o bastante”. Esse encontro de defeitos é um sintoma de
exclusão defensiva, perpetuando o que Brad Sargent chama de “unicidade extrema” – por exemplo,
a ideia de que “o fato de ser especial torna impossível que os outros homens me compreendam”.
Essa fantasia mantém cada homem isolado emocionalmente enquanto está fechado no padrão
frustrante de separar os homens em duas categorias diferentes em todas as relações masculinas
significativas. Ou menospreza, minimiza, descarta e delega os demais homens a uma posição
inferior, ou os eleva, admira e coloca em um pedestal.

O enquadramento dos outros homens nessa escala está determinado pelo “tipo”, a representação
simbólica do atributo masculino valorizado que, de forma inconsciente, ele sente que não tem e que
o outro homem supostamente possui. Essas qualidades costumam ter pouco a ver com o caráter da
pessoa. Uma vez que se desenvolve a familiaridade realista, a pessoa perde seu atrativo erótico.

Em nosso processo de grupo, frequentemente voltamos à distinção entre dois tipos de homens
criada por nossos pacientes: ordinários e misteriosos. Os homens misteriosos são os que possuem
qualidades masculinas enigmáticas que deixam o paciente perplexo e seduzido. Esses homens são
supervalorizados e mesmo idealizados, porque são a encarnação de qualidades que o paciente deseja
ter.

Esse padrão de importância da escala, emocionalmente paralisante, sempre se reconstitui no


processo do grupo. A obsessão pelo “tipo” é a fonte de muita da ira e do desencanto nas relações
homossexuais e explica muita da volatilidade e instabilidade da relação gay.

Além de desvalorizar ou supervalorizar aos demais homens, existe uma terceira forma possível de
reação: a reciprocidade. E é nesse sentido que nos esforçamos. Uma relação caracterizada pela
reciprocidade tem as qualidades da honestidade, abertura e igualdade. Mesmo onde existe um
desequilíbrio de idade, status ou experiência de vida, o compartilhar em profundidade com outro
homem serve de igualador. A reciprocidade nas relações é o objetivo da psicoterapia de grupo,
porque é nesse nível de interação humana que tem lugar a cura. A reciprocidade cria a abertura pela
qual passa a identificação masculina. É o passo pelo qual todo homem encontra a cura.

Um membro do grupo dizia: “Se viesse à terapia com a ideia de que só teria de abster-me do sexo
sem nenhuma outra forma nova e positiva de intimidade com outros homens, não creio que tivesse
esperança de uma mudança real. Agora aceito minhas necessidades de intimidade real, não de
expressão sexual”.

Outro membro do grupo descrevia sua experiência com as palavras: “Meu grupo é a energia
masculina de que necessito todos os dias. Tem sido uma experiência poderosa, intensa e
enriquecedora. Nosso grupo transformou-se no pai de que todos necessitamos e perdemos em nosso
primeiros anos. Existe um poder, uma presença entre nós que nos mantém dando, curando e
amando”.

Todo o tratamento deve superar alguma forma de resistência ao crescimento. Podemos dizer, de
forma muito simples, que o tratamento da homossexualidade é o desfazer da resistência e da
exclusão defensiva dos homens. A terapia de grupo é uma oportunidade poderosa para trabalhar
essa exclusão, que é a recusa em identificar-se com a masculinidade.

Há vezes em que parece que todos os membros de nosso grupo estão carregados de energia
negativa, como ímãs que se repelem mutuamente. Da mesma forma que existe uma sensibilidade e
interesse genuíno mútuos, também há uma precaução crítica que pode paralisar por completo o
processo de todo o grupo.

A exclusão defensiva foi descrita anteriormente como o processo bloqueador que impede o vínculo
e identificação masculina. ainda que, originalmente, seja uma proteção contra uma ferida infligida
pelos homens em sua infância, na idade adulta é uma barreira para a intimidade e reciprocidade
honesta com outros homens. O homossexual se atormenta entre dois impulsos que competem: a
necessidade natural de satisfazer suas necessidades afetivas com os homens e sua exclusão
defensiva, que perpetua o medo e a ira em relação a eles.

As manifestações de exclusão defensiva no grupo aparecem como hostilidade, competitividade,


desconfiança e ansiedade sobre a aceitação. Vemos medo, vulnerabilidade, atitude defensiva,
fragilidade nas relações e confiança frágil, destruída facilmente pela mais leve incompreensão.

Por outra parte, existe certa resistência a desenvolver uma amizade com homens familiares, não
misteriosos – aqueles que não possuem essas qualidades. Os homens ordinários são desvalorizados,
às vezes descartados de forma depreciativa. Um paciente descrevia sua percepção dos homens da
seguinte forma: “A não ser que me sentisse atraído por um homem concreto, enxergava os homens
como esses machos monolíticos, insensíveis, tipos de Neandertal, com os quais não podia me
relacionar e aos quais desprezava”. Como consequência desse tipo de percepção errônea, a maioria
dos pacientes teve pouca ou nenhuma relação com homens caracterizada pela reciprocidade.
Colocando os homens em uma dessas categorias, um paciente justifica sua exclusão. Ou se sente
muito inferior ou muito superior para estabelecer a reciprocidade necessária para a amizade.

Essa resistência à amizade com homens não misteriosos é uma razão pela qual, depois do interesse
e emoção inicial em conhecer aos demais membros do grupo, o paciente os percebe como “tão
fracos quanto eu” e chega a sentir desprezo por eles. Pode sentir-se particularmente desgostoso com
os membros “mais fracos” do grupo, ou mais afeminados, mais emocionais, que mostram rasgos de
personalidade vulneráveis. É importante que essa resistência seja tratada em uma terapia individual.

A experiência terapêutica essencial é a desmistificação dos homens de objeto sexual para pessoas
reais (de Eros a ágape). Separando sua experiência dessas percepções distintas, um paciente de vinte
e oito anos dizia:

“Imediatamente depois de cada experiência homossexual, eu sentia como se tivesse perdido alguma
coisa. A intimidade afetiva que buscava em outro homem não tinha lugar. Fico com o sentimento de
que é unicamente sexo o que buscava”.

“Isso está em contraste com minha relação com meu amigo heterossexual, Bob. Não sinto a
necessidade de ter relações sexuais com ele. Estar tão perto dele, obter tudo o que quero de nossa
amizade, mas sem sequer pensar em sexo... Quando me permito ter esses amigos, é muito
fortalecedor”.
Quando os membros do grupo se encontram socialmente, existe sempre a possibilidade de que
caiam em uma relação sexual. Em raras ocasiões, já houve “quedas” assim. O contato sexual
danifica de forma inevitável a amizade e pode destruí-la completamente ou proporcionar a
oportunidade para um maior crescimento por meio da honestidade mais profunda. As implicações
de uma queda assim são grandes, tanto para os indivíduos implicados como para a totalidade do
grupo. Portanto, desafio aos homens implicados a refletir e dialogar.

Depois da queda, costumo pedir aos homens que falem mutuamente em resposta Às seguintes
perguntas:

1. Quando me ocorreu pela primeira vez a possibilidade de uma experiência sexual?

2. Que coisas fiz para criar essa situação diante de você?

3. Que efeito emocional teve esse incidente sexual sobre nós dois? Violei seu limite pessoal?

4. Sinto ira contra você?

5. Fui manipulador? Fui egoísta? Pus minhas necessidades antes das suas?

6. Quais eram as autênticas necessidades emocionais que buscava satisfazer com você?
Comodidade, atenção, segurança, afeto, poder, alívio sexual?

7. Consegui o que buscava? Se não, o que consegui em vez disso?

8. Como a conduta sexual mudou a qualidade de nossa relação?

Com respeito ao futuro:


1. Que necessidades emocionais autênticas tenho com relação a você agora?

2. O que você quer de mim agora?

3. Como posso facilitar seu desenvolvimento?

4. O que quer aprender de mim sobre a amizade masculina?

5. Para que tipo de experiências você ainda necessita de mim?

6. Preciso te pedir perdão?

7. Agora, como seremos mutuamente?

Se essas perguntas se respondem em honestidade dolorosa, então esses dois homens encontrarão
novas formas não eróticas de ajudarem-se a si mesmos e mutuamente.

A fantasia gay perene é que o sexo é possível em uma amizade masculina. Mas o grupo chega a
tomar consciência de um fato inevitável: que um encontro sexual entre dois homens altera
permanentemente a qualidade de sua relação. Os que se encontram implicados em uma relação
podem negar que ocorreu algo destrutivo. Ou podem admitir que passou “algo”, mas insistem que
foi sem consequências. Agora, devemos concentrar-nos no fato de que o sexo nunca toma parte em
amizades masculinas sadias.
Passados os meses, o grupo trabalha muitos problemas. Muitos destes estão relacionados com a auto
asserção. Com frequência, os homens contam uma tendência a “perder” o comprometimento com a
aprovação masculina. Ocorre uma sensação de vitimização e de ira pelo que tinham de fazer para
obter a aceitação dos demais. Os homens veem com que rapidez podem ver-se presos em
dependências hostis.

A psicoterapia é um processo que nos permite crescer em direção à integridade. Eu digo ao grupo
que, ainda que supostamente o tema principal seja a homossexualidade, o processo subjacente é
realmente o universal de iniciação, de crescimento e de mudança.

Os homens se dão conta de que estão destinados a crescer para uma maturidade mais completa, e
cada um – heterossexual ou homossexual, paciente ou terapeuta – tem seus próprios obstáculos
pessoais a superar, baseados em erros do passado no desenvolvimento emocional.

Essas habilidades distintivamente humanas de refletir e de escolher a mudança positiva são


verdadeiros milagres da natureza humana.

Perguntam-me com frequência: “Pode um homossexual chegar a ser alguma vez, de verdade, um
heterossexual?”

Discutindo sua própria cura, Alan Medinger, um líder proeminente do movimento ex-gay, descrevia
a seguinte inquietação: “Anos depois de haver deixado para trás virtualmente todas as atrações
homossexuais e anos depois de uma maravilhosa e prazerosa vida de relação sexual em meu
casamento, um fator continuava me atormentando: se entram em uma sala um homem e uma mulher
atraentes, é para o homem que olho primeiro”.

De fato, os críticos da terapia reparativa creem que a fantasia determina a orientação sexual de um
homem. Então, se um homem heterossexual tem uma fantasia homossexual, isso faz dele um
homossexual? Se alguém tem a fantasia de roubar alguma coisa, isso faz dele um ladrão?

Poderíamos encontrar uma resposta para esta questão da cura no livro do Dr. Salmon Akhtar,
Estruturas Abaladas, onde descreve a “parábola dos dois vasos”.

O Dr. Akhtar descreve que ensina um curso sobre a patologia de caráter a uma classe de internos de
psicologia clínica. Foi perguntado por um estudante se um paciente perturbado severamente poderia
ser curado de forma tão completa pela psicoterapia que se tornasse indistinguível de uma pessoa
que sempre esteve bem. Ele respondeu da seguinte forma:

“Em silêncio por um momento e depois impulsionado por uma voz interior, alcancei
espontaneamente a seguinte resposta. Disse-lhe: bem, suponhamos que existem dois vasos feitos da
mais bela porcelana chinesa. Ambos são completamente talhados e de valor, elegância e beleza
incomparáveis. Então, sopra um vento e um deles cai de seu lugar e se quebra em pedaços. É
chamado, então, um experiente restaurador de uma terra longínqua”.

“Cuidadosamente, passo a passo, o restaurador pega as peças. Logo, o vaso quebrado está intacto,
novo, pode manter água sem vazar, está intacto para todos os que o veem. Mas este vaso é agora
diferente do outro. As linhas que mostram que esteve quebrado, uma sutil recordação do passado,
ficarão sempre discerníveis para um olhar experiente. Entretanto, terá certa sabedoria, já que sabe
algo que o vaso que não se quebrou não sabe. Sabe o que é quebrar-se e ser consertado”.

Em meu último encontro com um grande investigador, o Dr. Irving Bieber,poucos meses antes de
sua morte aos oitenta e dois anos, perguntei a ele: “Os pacientes homossexuais que o senhor tratou
mudaram realmente ou simplesmente obtiveram o controle de sua conduta?”

Rapidamente, de forma segura, ele respondeu: “Claro que mudaram! Muitos dos meus pacientes
chegaram a ser completamente heterossexuais”.

Continuei: “Mas, com frequência, parece que ficam alguns pensamentos ou ideias homoeróticas”.

Com a mesma certeza instantânea, ele disse: “Certeza que sim. Pode ser que sempre fiquem”, e deu
de ombros.

Desejando não discutir com um velho sábio, mantive-me em silêncio, mas depois pensei: “Como
poderia Irving Bieber descrever tão afirmativamente uma contradição tão óbvia?”

Os vasos de Akhtar oferecem uma resposta: o vaso quebrado está intacto, pode manter água sem
vazar, está sem rachaduras para todos os que o veem, mas as linhas que mostram que esteve
quebrado deixam uma sutil recordação do passado.

Posso concluir da parábola de Akhtar que os homens heterossexuais, vasos formados de argila
suave, não conhecem o trauma de cair de seus pedestais nem a sabedoria que procede de saber o
que é quebrar-se e ser consertado.

Para muitos homens, a terapia reparativa é o meio de serem “consertados”.

Para mais informações, visite o site da NARTH, em inglês: www.narth.com.

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