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e Cognição
Expondo a variabilidade
Organizado por Hélio José Guilhardi
Noreen Campbell de Aguirre
ESETec
Editores Associados
Sobre
Comportamento e
Cognição
Associação Brasileira de Psicoterapia c
Medicina Comportamental
Volume 16
Hélio J. Guilhardi • Almir Del Prette • Aretusa dos Passos Baechtold • Celso Goyos • Elione
Moreira Curado • Elvira Aparecida Simões de Araujo • Emmanuel Zagury Tourinho • Eneida
Maria Leone de Souza • lima A Goulart de Souza Britto • Jáima Pinheiro de Oliveira • Janine
Julieta Inocente • Laércia Abreu Vasconcelos • Lidia Natalia Dobrianskyj Weber • Lúcia
Cavalcanti de Albuquerque Williams • Makilim Nunes Baptista • Makilim Nunes Baptista •
Marcela Leal Calais • Marcos Rogério Costa • Maria Júlia Ferreira Xavier Ribeiro • Maria
Teresa Araujo Silva • Marília da Costa Arruda • Marilza Mestre • Miriam Garcia-Mijares •
Miriam Marinotti • Mônica Geraldi Valentim • Nancy Julieta Inocente • Olavo de Faria
Galvão • Oriana Leitis • Patricia Cristina Novaki • Patricia Guillon Ribeiro • Paula Virgínia
Oliveira Elias • Rachel de Faria Brino • Rachel Rodrigues Kerbauy • Regina Christina
Wielenska • Renata Rolim Sakiyama • Renato M. Caminha • Rosana A. S. Rossit •
Rubens Reimão • Russell M. Church • Sandra Leal Calais • Sérgio Dias Cirino • Silvia S.
Groberman • Simone Roesch Schreiner • Sônia dos Santos Castanheira • Sônia Regina
Fiorirn Enumo • Suzane Schmidlin Lòhr • Tania Moron Saes Braga • Vanessa Marmentini
• Vera Regina Lignelli Otero • Vivian Marchezini-Cunha • Zilda A. P. Del Prette
ESETec
Editores Associados
2005
Copyright <D desta edição:
ESETec Editores Associados, Santo André, 2005.
Todos os direitos reservados
369 p. 1 7 x 24cm
CDD 155.2
CDU 159.9.019.4
ISBN 85-88303-63-9
Sobre Comportamento c C o ^ n l^ o 9
esclareçam a efetiva contribuição dos vários modelos conceituais que nela coexistem. Em
estudo recente (Rios, Del Prette & Del Prette, 2002) procurou-se analisar a contribuição da
teoria da aprendizagem social de Bandura na constituição da área do THS, podendo-se
afirmar a sua importância, om especial porque ela representa uma integração entre abordagens
cognitivistas e comportamentais. Olhando-se o passado é possíveis localizar dois modelos,
o operante (Estados Unidos) e o de desempenho de papeis (Inglaterra), com uma influência
que ainda persiste na área. No entanto, enquanto as análises sobre os diversos modelos na
constituição da área não forem realizadas, a resposta a essa pergunta deverá ser postergada.
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A asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas cuja principal dificuldade
é de passagem de ar pelos brônquios, o que pode levar a um insuficiente desempenho da
função pulmonar e conseqüentemente à redução do aporte de oxigênio no organismo
(National Institute of Allergy and Infectious diseases/ National Institute of Health, 2003;
Silva & Hetzel, 1998). Tosse, falta de ar, opressão e chiado no peito constituem sintomas
característicos e podem ocorrer isoladamente ou em conjunto, desencadeando crises.
Doenças crônicas requerem acompanhamento profissional por período prolongado,
para identificar e intervir quando a doença está em atividade, além de prevenir ocorrência
de seqüelas e reduzir o ônus dos custos adicionais (Arruda & Zannon, 2002). Destaca-se
a importância de que o tratamento do asmático se realize por equipe multiprofissional
(médicos, fisioterapeutas, psicólogos...), tendo em vista a necessidade de controle
ambiental e medicamentoso para a reabilitação da função respiratória e conseqüente
diminuição dos sintomas.
Assim sendo, o tratamento leva a alterações na rotina de vida do paciente, bem
como dos familiares que estiverem trabalhando no cuidado direto do paciente (LaGreca &
Bearman, 2001; Lemaneck, Kamps & Chump, 2001). Os cuidados envolvem gastos
financeiros (e, portanto, necessidade de trabalhar para garantir situação financeira para
sobrevivência e para o tratamento), manutenção de rotinas no ambiente doméstico,
preservação das atividades escolares da criança e realização de atividades de lazer, o que
gera, portanto, implicações sociais para os cuidadores e toda a família do doente crônico.
O tratamento da asma requer cuidados especiais no dia-a-dia, visando afastar os
fatores desencadeantes das crises. Fazem parte destes cuidados desde algumas "regras
’ Graduadada em Psicologia pela UFPR, mestre em Psicologia da Infância e Adolescência pela UFPR. E- rnail:
eneída 13@brturbo.com.br
2 Doutora em Psicologia pela USP, coordenadora do Curso do Psicologia do UnlcenP, professora da UFPR.
E- mail: lohi@supeng.com.br
Relato de pesquisa
Durante o ano de 2004, realizou-se uma pesquisa com crianças asmáticas com
idade entre 7 e 12 anos, na cidade de Paranaguá- Pr (Leone de Souza, 2004). O objetivo da
pesquisa era investigar a existência de relação entre condutas de adesão das mães ao
tratamento recomendado e padrões de manejo delas na educação dos filhos. O estudo foi
delineado em duas fases. Participaram da primeira fase 31 mães do crianças asmáticas
que estavam em tratamento em instituição especializada em asma ou que residiam em
bairro com alta incidência da enfermidade. Nesta fase aplicou-se um instrumento criado
para a pesquisa, denominado Inventário de Adesão ao tratamento da asma (IATA). A aplicação
do instrumento buscou conhecer como as mães da pesquisa se comportavam em reíação
às condutas de adesão ao tratamento da asma. Os escores do IATA permitiram selecionar
três mães que apresentaram maior número de condutas de adesão ao tratamento da asma
do filho e três que apresentaram menor número de condutas de adesão ao tratamento.
Os resultados da primeira fase da pesquisa mostraram maior adesão ao tratamento
da asma dos filhos em mães que participam de um programa assistencial de controle que
monitora o tratamento. Foram considerados dois tipos de controle necessários à adesão ao
tratamento: controle ambiental e controle medicamentoso. Dentre os participantes do grupo
em tratamento na instituição especializada3, dezoito, dos vinte e seis participantes (18/26),
3 A escolha do número de participantes se deu de forma aleatória, Já que durante 3 semanas um funcionário
da Instituição foi orientado a entregar a todas as mães de crianças de 7 a 12 anos que viessem á instituição
para tratamento, o "Inventário de Adesão ao tratamento da Asma" e no que se refere ao bairro com alta
incidAncia da enfermidade, o questionário foi entregue a todas as mães de crianças com asma com Idade
entre 7 e 12 anos
Conclusões
Um profissional de Psicologia pode atuar com pacientes asmáticos trazendo
contribuições bastante significativas, nos vários âmbitos inerentes à enfermidade crônica,
desde o recebimento do diagnóstico, até a aquisição de conhecimento sobre os sintomas
e comportamentos de adesão ao tratamento.
Referências
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Santo André, SP: ESETec Editores Associados.
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"É muito complicado discorrer sobre problemas éticos: seus limites sáo difusos
e seus fundamentos controvertidos. A moral evolui, retrocede, avança, se esconde
e reaparece em direção a um universo de valores. Tudo ó permitido’ parece ser
um limite. 'Nada ó permitido’ seria outro. Entre ambos, um continuo dificilmente
independente das situações concretas. Os pontos de referência tanto podem ter
uma conotação teológica (códigos éticos milenares) como uma razão ontológica
(a sobrevivência)." (Dorna e Móndez, 1979, p.95).
Não se pretende, neste texto, abranger uma gama tão ampla de aspectos. Nosso
objetivo se restringe a apresentar alguns pontos para reflexão, que emergem a partir de
elaborações teóricas do behaviorismo radical e de aplicações de tal modelo. O crescente
conhecimento conceituai e a ampliação da tecnologia comportamental têm suscitado
uma permanente preocupação com a relação entre a ideologia pessoal dos analistas de
comportamento e a ideologia profissional de uma área de investigação científica % a
*A primeira versão do presente texto foi apresentada na mesa redonda do evento Psicologia Clínica em
Dehfíto, promovido pelo CRP-06 em 10/junho/95.
# Agradeço a Maria Eloisa B. Soares, Mariana Menezes e Noreen Campbell de Aguirre pelas valiosas
sugestões durante a elaboração do texto.
“ Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento e Instituto de Análise de Comportamento Campinas - SP
"O conhecimento das leis que regem o comportamento humano pode permitir
uma melhor utilização dos recursos humanos e ao mesmo tempo compreender
melhor os eventos que limitam seu desenvolvimento. Deixar ao acaso as
mudanças da sociedade tem gerado mais conseqüências negativas do que
positivas " (p. 13). Os mesmos autores afirmam mais adiante "a pergunta que (o
behavlorismo) formula através de seus ôxitos tecnológicos afeta diretamente
uma das esferas mais formidáveis da atividade humana: o poder. E, mesmo que
não se expresse de maneira categórica, não deixa de ser evidente que constitui
uma retomada do problema do poder - controle e contracontrole - a panir de
uma questão até o momento pouco explorada: as leis empíricas que regem o
comportamento dos homens e cujo produto ó fazer história: ao invés de fazô-la a
partir das leis que regem a história dos homens." (pp.14 e 15).
"A palavra controle tem sido confundida com repressão. A idontiflcaçào de controlo
como uma privação do liberdade constitui um grave equivoco... Na linguagem ciontífica,
a noção de controle faz referência a uma premissa estritamente de ordem
epistemológica: evoca aceitação do princípio determinista. Nesse contexto, o vocábulo
controle expressa um fato empírico: a relação funcional entre os eventos naturais,
entre os quais se inclui o comportamento humano." (Doma e Méndez, 1979, p, 110).
“Uma distinção ética mais fundamental pode ser feita questionando se o poder
de influenciar outros é utilizado para vantagens do controlador ou para o benefício
do controlado, e não em termos do critério Ilusório do consentimento voluntário."
(p. 82). Ou, mais adiante: “Os princípios comportamentais não ditam a maneira
pela qual são aplicados." (p 84). Ou: "Ao discutir temas práticos e morais do
controle comportamental é essencial reconhecer que a influência social não
consiste em impor controles onde antes não existia nenhum. Todo
comportamento ó inevitavelmente controlado, e a operação das teis
psicológicas nào pode ser Interrompida por concepções românticas sobre o
comportamento humano, assim como, qualquer rejoição indignada da lei da
gravidade como anti-humana não vai fazer com que as pessoas deixem de cair.
O processo de mudança comportamental, portanto, envolve a substituição das
condições controladoras que têm regulado o comportamento da pessoa por
novas condições. A questão moral básica n&o está em discutir se o
“Todos somos controlados pelo mundo em que vivemos e parte do tal mundo tem
sido e continuará sendo constituído por seres humanos. A questão ó esta: devemos
ser controlados por acidente, por tiranos ou por nós próprios num planejamento
cultural eficaz?... O primeiro passo na defosa contra a tirania ó a definição mais
completa possível das técnicas de controle... (outro) ó o contracontrole - uma
condição em que aos humanos não é permitido controlarem-se uns aos outros
através da força. Em outras palavras, o próprio controle tem que ser controlado."
(pp. 10 e 11). (Inclusive o controle positivo, como se verá).
"O homem não se desenvolveu como animal ético ou moral. Difere dos outros
animais não por possuir um senso ético ou moral, mas por ter sido capaz do
gerar um ambiente social moral e ético.’’ (p. 131).
A literatura da liberdade tem dado grande ênfase ao controle aversivo, mas não é
apenas a este tipo de contingência que devemos estar atentos. O controle aversivo pode
ser mais facilmente identificado e, se o for, induz, ele próprio, ao contra-controle.
É fácil discriminar o castigo, a opressão, a coerção. Sob este tipo de relação com
seu meio social ou físico, a pessoa se rebela, se organiza, produz uma alteração na ordem
de poder. As revoluções sociais são exemplos de que, em um momento ou outro, o opressor
é deposto. No nfvel individual, o mesmo processo ocorre. Há inúmeros exemplos de padrões
de fuga-esquiva em que o subjugado se liberta: o filho se livra do controle econômico do pai,
indo trabalhar; das chantagens da mãe hiponcondríaca, morando fora; da repressão sexual,
fazendo amor longe do controle repressor, e assim por diante. Equivocadamente, confunde-
se comportamento de fuga-esquiva, no sentido tócnico, com seu significado popular (que
atribui à fuga-esquiva um sinal de fraqueza, medo, falta de maturidade etc.). A fuga-esquiva
é um padrão comportamental que surge diante de uma situação aversiva (ou ameaça de) e
que tem como resultado eliminar ou evitar essa condição adversa. O padrão comportamental
bem sucedido se fortalece. Assim, definido funcionalmente, não cabem avaliações valorativas
ao comportamento de fuga-esquiva, uma vez que pode ser um padrão de desempenho
altamente desejável: o escravo que se liberta do opressor foge (no sentido técnico) dele; o
parceiro que se afasta de uma relação amorosa do tipo sado-masoquista e passa a viver
mais harmoniosamente, também. O padrão de fuga é "neurótico" quando a pessoa atribui
aversividade a situações que não são tipicamente aversivas, mas ás quais ela, devido a uma
história de contingências particular, atribui essa função. É o caso do comportamento fóbico,
para sugerir um exemplo. Na clínica ocorre uma amostra enorme de contracontrole do tipo
"neurótico", aquele em que o indivíduo se liberta do controle aversivo (neste caso é um
exemplo de comportamento de fuga-esquiva), mas, em seguida, se engaja em outro
relacionamento que produz novas e diferentes conseqüências, porém também aversivas.
Às vezes, as condições em que isso ocorre são inevitáveis: o prisioneiro de guerra que foge
do campo de concentração, ainda que para correr o risco de ser alvo dos guardas que o
perseguem, permite ilustrar este aspecto. Neste caso não caberia chamar tal fuga de
"neurótica". Porém, na maioria das vezes, há possibilidades de se esquivar de uma situação
aversiva e se envolver numa relação gratificante e realizadora, mas isso não ocorre. A pessoa
que foge do ambiente hostil do lar, no qual vive relações aversivas com os pais, casando-se,
sem plena consciência dos reais vínculos afetivos que a fazem se aproximar do parceiro,
pode exemplificar um comportamento de fuga indesejável. Não adianta, porém, lamentar a
escolha infeliz. Há que se avaliar as contingências que determinaram tal escolha: o que, na
história de contingências desta pessoa e nas condições atuais, a levou uma escolha
específica. O processo psicoterapêutico, neste sentido, pode ser libertador, pois contribui
para que a pessoa identifique a que aspecto de sua realidade responde e que determina os
Tal comunidade verbal vem a constituir aquilo que Skinner (1974) chama de cultura:
"0 que está errado com a vida (no Ocidente) não é que ela tem reforçadores
demais, mas é que os reforçadores não sâo contingentes aos tipos de
comportamento que desenvolvem o indivíduo ou promovem a sobrevivência da
cultura ou da espécie.” (p.24).
O discurso de Unamuno
Em 1936, no início da Guerra Civil Espanhola, Miguel do Unamuno ora roitor vitalício
da Universidade de Salamanca. No dia 12 de outubro daquele ano, durante uma sessão
pública no campus universitário, o general Millán Astray fez um discurso criticando veemente
os adversários do franquismo, sobretudo a ação dos intelectuais. Foi nesse discurso que o
general proferiu o famoso grito: "Abaixo a inteligência! Viva a morte!’’ Fez-se um silêncio
gelado na assembléia. Ninguém ousara até então desafiar os militares e todos aguardavam,
com expectativa, a palavra do reitor. Desafiar o general seria o mesmo que desafiar o
franquismo. A palavra de Unamuno não se fez esperar. Sua célebre resposta está aqui:
" Estais esperando minhas palavras. Me conheceis bem e sabeis quo sou incapaz
de permanecer em silêncio. As vezes, permanecer calado equivale a mentir. Porque
o silêncio pode ser interpretado como concordância. Quero fazer alguns comentários
sobro o discurso % já que tenho que chamá-lo de algum modo % do general Millán
Astray. que se encontra entre nós... Acabo de ouvir o necrófllo e insensato grito:
“Viva a morte". E eu, que tenho passado minha vida compondo paradoxos que
despertavam a ira de alguns que não os compreendiam, quero dizer, como
especialista no assunto, que este paradoxo mo parece repelente. O general Millán
Astray ó um inválido. Não ó preciso que digamos isto em um tom mais baixo. É um
inválido de guerra. Também o foi Cervantes. Porém, desgraçadamente, na Espanha
há atualmente mutilados em excesso. E, se Deus não nos ajudar, rapidamente
haverá muitíssimos mais. Atormenta-me pensar que o general Millán Atray possa
ditar as normas da psicologia da massa. De um mutilado, que não tenha a grandeza
espiritual de Cervantes, pode-se esperar que encontre um terrível alivio vendo
como se multiplicam os mutilados ao seu redor.”
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40 lim a A Q o u ld tl do S o u a i Brlllo*
Os analistas do comportamento, tal como apontou Cbiesa (1994), buscam relações
causais na interação entre comportamento e ambiente. Esta postura não exclui
contribuições de fatores genéticos, biológicos, bioquímicos, neurológicos, entre outros.
Assim, explica-se a esquizofrenia seguindo o princípio da múltipla e complexa rede de
determinação do comportamento, representada pala ação de três tipos de seleção:
filogônese, ontogônese e cultura. Tais contingências modelam topografias complexas de
comportamentos a partir de material indiferenciado (Skinner, 1984).
Deve-se buscar na história de aprendizagem do indivíduo os antecedentes que
expliquem um repertório comportamental inadequado, é necessária definição empírica de
como se aprendem os conteúdos do repertório comportamental inadequado e como estes
exercem seus efeitos sobre o comportamento. Staats (1996) afirma que os repertórios
comportamentais podem ser ricos ou escassos, adaptados ou inapropriados. Repertórios
inapropriados e deficitários produzem problemas. Contingências ambientais inadequadas
podem produzir, também, repertórios inadequados ou dóficits comportamentais.
Neste sentido, Dougher e Hackbert (2003) ao relatar casos de clientes depressivos
que cresceram em ambientes não responsivos afirmam que uma redução do comportamento
pode ser resultado da extinção. Os autores chamam atenção para os repertórios sócio-
verbais que podem fazer falta para o desenvolvimento em certos contextos e como este
repertório empobrecido pode resultar em taxas baixas de reforço social. Diante de tais
considerações, pode-se falar sobre as deficiências nos tipos de ambientes, inclusive
ambientes hospitalares para 'internos mentais'.
A pessoa esquizofrênica apresenta déficits e inadequações na aprendizagem de
seus repertórios comportamentais. Tais déficits e inadequações podem ser o resultado de
uma experiência ambiental complexa, de modo interativo também complexo. É necessário
avançar na análise e entendimento da esquizofrenia, na tentativa de esclarecer como a
pessoa esquizofrênica se diferencia de outras que não são, e como se pode prevenir e
controlar o fenômeno. Para isso exige-se um programa de estudo que objetive um
entendimento profundo do comportamento humano complexo (Staats, 1996).
De acordo com Ferster, Culbertson e Boren (1979) muitos dos sintomas que
trazem uma pessoa à terapia são repertórios inadequados positivamente reforçados; a
disposição em empenhar-se em comportamentos problema parece forte quando comparada
com os repertórios fracos existentes; mas que poderiam desaparecer assim que gerassem
formas alternativas e eficazes em ambientes acessíveis.
Staats e Staats (1963/1973) propõem que os comportamentos psicóticos devem
ser considerados como operantes que competem com outros comportamentos operantes.
Dependendo do meio, se comportamentos operantes adaptados forem fortes então,
comportamentos bizarros poderão ser substituídos. Entretanto, sugere os autores, quando
comportamentos adaptados não são fortes, então os psicóticos são emitidos. Assim,
pode-se afirmar, tal como Ferster, Culbertson e Boren (1979), que grande parte do repertório
do esquizofrênico representa comportamentos fracos, que parecem fortes simplesmente
porque a maior parte do comportamento normal mantido, é fraca. Com efeito, determinados
comportamentos verbais psicóticos resultam de uma deficiência no repertório
comportamental da pessoa.
Skinner (1957/1978) afirmou que comportamento verbal é comportamento operante.
Hayes, Barnes-Holmes e Roche, (2001) propõem o conceito de operante relacional
complexo numa descrição pós-skinneriana da linguagem e cognição. Os autores afirmam
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de Terapia Comportamental e Cognitiva, 5 (2), 167-184.
Interpretações analítico-
comportamentaís de histórias
infantis:
N o Reino das Águas Claras, de
Monteiro Lobato'.
Liérvú Abreu Viisconcclos?
Uma história infantil pode tornar-se uma ocasiào para discussão de diferentes
temas que contribuem para o desenvolvimento do repertório comportamental de uma criança.
Educadores, pais e professores, e terapeutas podem utilizar uma história infantil em um
contexto lúdico, no qual comportamentos pró-sociais, por exemplo, podem ser uma classe
de comportamentos adquirida ou fortalecida. Ao brincar com estímulos naturais como
água, argila, areia; com sucata ou com brinquedos - diferentes miniaturas e bonecos -
trechos de uma história infantil poderão ser apresentados como estímulos discriminativos
que sinalizarão uma ocasião para emissão de diferentes comportamentos, os quais, por
sua vez, poderão receber feedback imediato em forma de reforço social. Ao ser elogiada
por um determinado comportamento emitido, a criança poderá também ouvir, por parte do
educador, a descrição de toda a contingência que envolveu o seu comportamento reforçado.
' Projeto parcialmente financiado pela FINATEC e pelo Decanato de Pesquisa e Pós-graduaçâo da Universidade
de Brasilia (FUNPE)
3 Departamento de Processos Psicológicos Básicos, Instituto de Psicologia, Universidade de Brasilia
laerc(a@unb br
“ Alunas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica - IBIC/Universidada de Brasilia
46 I aerda A b reu Vasconcelos, I liene M o reira Curado, M .irlll.i il.i Costa A rruda,
afetivos. A criança deve aprender a expressar seus pensamentos, suas opiniões, bem como
suas emoções (Ver a utopia social de Ardila, 1992/2003).
O presente capítulo apresenta uma história infantil da obra de Monteiro Lobato, o pai
da literatura infantil brasileira. Lobato apresenta um conceito de criança e temas de importância
em nosso mundo contemporâneo. A adaptação de suas histórias pela Rede Globo de Televisão,
em 2001, foi utilizada no presente estudo devido ao seu amplo acesso a crianças de diferentes
níveis socioeconômicos em todo o país. O mundo do faz-de-conta, expressão criada por
Lobato, encanta pelos seus aspectos didáticos e recreativos, pela ênfase na cultura brasileira,
pelo brincar com a língua portuguesa, pela integração racial e social observados no Sítio do
Picapau Amarelo. Personagens estáveis e secundários enriquecem as histórias e introduzem
temas novos ás crianças do cenário nacional e internacional. Sua crítica aos clássicos infantis
surge com humor - todos os personagens querem fugir das histórias emboloradas de Dona
Carochinha para viverem no Sítio do Picapau Amarelo. Lobato não subestima a capacidade de
compreensão da criança, apresentando temas sérios e contraditórios, despertando uma visão
crítica da realidade (e.g., Ribeiro, 2002; Távola, 1998/2002).
A história No Reino das Águas Claras faz parte do livro Reinações de Narizinho,
de Lobato (1993/20034) , e apresenta contingências que envolvem os seguintes temas: (1)
o planejamento de férias escolares, (2) a construção de brinquedos, (3) o seguimento de
instruções e as práticas educativas voltadas para esse comportamento, (4) a preservação
da saúde e o contato com a natureza, (5) uma visão não-androcêntrica na educação de
meninos e meninas, (6) comportamentos pró-sociais, (7) a alta disponibilidade de doces
às crianças, o comer várias vezes ao dia, e (8) a busca por um casamento com um
homem nobre. As discussões, envolvendo adultos e crianças, podem aprofundar esses
temas em meio a atividades lúdicas. Um grande conjunto de contingências pode ser
analisado a partir da história No Reino das Aguas Claras. Entretanto, vale ressaltar que os
educadores e terapeutas deverão selecionar as contingências relacionadas aos interesses
de cada criança ou de cada grupo em atendimento. A transcrição da história e uma análise
completa de todas as contingências é apresenta em Vasconcelos (2005).
4 14* reimpressão da 4fí* ediçào O Sitio do Picapau Amarelo foi criado em 1921 Reinações de Narizinho è
uma obra de 1931, na qual Lobato reuniu vários de seus textos infantis (Ribeiro, 2002)
48 I <i£rihi A b reu V .iscoiueloí, f llene M o rvlr.i Curtido, M .irlli.i d.i C\»sí«i A rru d .i,
Ao comparar as histórias infantis de Lobato com alguns clássicos infantis como
Branca de Neve e os Sete Anões, Pinóquio e Peter Pan, observa-se na obra de Lobato
uma menor freqüência de comportamentos inapropriados apresentados às crianças leitoras
ou espectadoras, além de um maior número de temas potencialmente educativos tratados
na história. Ademais, grande parte dos comportamentos inapropriados sào emitidos pela
irreverente boneca Emllia. A franqueza, a recombinação de palavras e idéias de forma
original, a liberdade para ousar são permitidos no estatuto de boneca (Pereira, 2002), a
qual nunca viveu em sociedade e ainda não sabe mentir (Távola, 1998/2002). Emília
surpreende a todos com suas intervenções nào-usuais. Emília usa também de forma
descontraída a í/ngua portuguesa. Lobato enfatiza que a gramática é a criada da lingua e
o povo é o seu verdadeiro dono. Em sua obra de 1934 - Emília no País da Gramática -
Lobato encontra formas lúdicas de ensinar a língua portuguesa (Pereira, 2002).
Narizinho admira as criações inesperadas de sua Emllia em uma diversidade de
situações, embora, em alguns momentos, a menina ordene que a boneca se cale - "Emília,
feche sua torneirinha de asneiras". Observações casuais mostram a não-confirmação da
hipótese de alguns autores de que os comportamentos de personagens não-humanos não
se tornarão modelos para as crianças.
' Psicóloga pela Unesp - Bauru; pós-graduada em Psicologia do Desenvolvimento pela Unesp- Bauru.
Coordenadora de RH. Endereço: R João Andreolll, 2-103 Jd Samambaia -B auru-S P cep 17018-090., e-mail:
maüalaisffl?hQtmail.cüm
2 Doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PucCampinas); Docente da
Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Bauru/SP Endereço - Av. Edmundo Carrljo Coube s/n° - Vargem
Limpa -Bauru - CEP 17 083-300, e.mail: scalaisfd)fc.uneso.br
Referências
M .iriit Júllti I errcin i X .iv le r R lb d ro ,M iirv o s K o tftrio (.‘o sl.i, I Ivlra A p .im )< l.i S im d c* tk* A r.u ijo
(procedimentos do tipo ensaio de comportamento), modelagem e fortalecimento de resposta
(como retroalimentação, ensino por parte do terapeuta ou reforço pelo grupo), reestruturação
cognitiva (manipulação de cognições desadaptativas) e transferência da resposta (como
as tarefas de casa).
Quanto a capacidade de generalização refere-se a possibilidade de execução de
respostas efetivas em contextos de vida real e pode ser considerado em relação ao tempo
(período posterior a aprendizagem), ao contexto (das condições reais a que o sujeito é submetido
fora da situação de treinamento), às situações interpessoais (ao conjunto de situações de interação
sujeito - sujeito ou sujeito - grupo que extrapolem as situações experimentadas em treinamento),
às respostas (como o treinamento afeta as habilidades similares a aquelas aprendidas) e a
pessoas (ao conjunto de outras pessoas diferentes daquelas que participaram do treinamento).
Quanto ao emprego pode ser individual ou grupai, dependendo dos objetivos
esperados e ainda dos recursos e espaços disponíveis para sua realização.
Objetivo
O presente trabalho teve como objetivo analisar, do ponto de vista das Habilidades
Sociais, as interações entre professor e alunos observadas durante a etapa inicial de um
contexto de estágio de Psicologia Escolar, através das falas dos professores e estagiários
e dos desenhos dos alunos. Buscou-se também mostrar como a descrição da topografia
do desempenho social, separada da análise de contingências, constitui obstáculo para a
formação de repertório social competente.
Método
A queixa
Durante o estágio supervisionado do Curso de Formação de Psicólogos, três
estagiárias da área de Psicologia Escolar foram solicitadas a desenvolver um trabalho em
uma turma de sexta série de uma escola estadual, apontada como "a mais problemática"
da escola. A queixa era que nesta classe estavam concentrados os alunos mais agressivos
e desinteressados pelo processo escolar.
6 2 Júlid fcrroir.i Xiivier Ribeiro,M.ircos Rogério Cosl.i, Hvim A|xirecid,i SirmVs de Ar«iu)o
Nos desenhos dessa turma, coexistem repertórios verbais bastante diferenciados.
<.^Uy,vr
^ j ~ ^Z J
Figura 1
O contexto escolar não fica evidente no desenho da fig.2, embora se saiba que o
comportamento sobre o qual o aluno escreve (mascar chiclete) seja geralmente criticado
pelos professores.
A agressão - verbal ou fisica - e a ameaça contidas em oito dos trinta e trôs
desenhos constituiu outro aspecto saliente.
Um dos alunos desenhou uma discussão, com uma professora que, ao dar uma
ordem, dirige-se ao aluno com uma expressão pejorativa (‘Senta no seu lugar, bicudo’), à
qual o aluno reage também agressivamente (‘É a mãe') (Fig.3). Este ó o único caso em
que o professor faz um comportamento classificável como agressivo.
Figura 4
64 M a ria lúltii Ferreira X a vier Ri beiro, M arcos Rogtrio Costa, H vira Aparecida SlnuVs de A raú jo
Os pares não colocam limites, nem há quem os coloque.
Comportamentos do professor classificáveis como agressão ffsica não aparecem.
Atribuídos ao professor, são verbais (Fig.3) ou ainda sinalizam potencial aversivo do repertório
do professor, diante do qual aparecem comportamentos de esquiva do aluno: na Fig.6, a
súplica verbal e na Fig.7, o comportamento "angelical'’.
66 M a ria lúlia Frrreira X avier Rlbclro, Marcos Rogério Costa, H vir.i Aparecida Simücs de A raú jo
A percepção dos processos interacionais como fundamentais para a constituição
do ambiente escolar é infreqüente, embora seja mais vívida para os alunos que para os
professores. Ás estagiárias, os processos interacionais são mais nítidos, detendo-se, no
entanto, em sua relevância no plano interpessoal, sem evidenciar seu valor para a vida
acadêmica. Ao retratarem um professor deficiente, assumem a defesa dos alunos e assim
reproduzem a concepção do professor sobre os alunos.
As estagiárias inicialmente também não reconheceram as forças interacionais,
esperando do professor uma formação anterior que os habilitasse. Não identificaram que
aí poderia estar o seu papel: prover oportunidades para o desenvolvimento da habilidade do
professor.
Coube, então, remeter os estagiários a uma compreensão dialética, que possibilitasse
a eles interferir nas relações escolares, partilhando com os outros atores esta nova
compreensão, alicerçada na análise de variáveis das quais o comportamento é função.
Bernal (1998), em estudo sobre habilidades sociais no contexto escolar critica a
posição da escola em valorizar o desenvolvimento de habilidades cognitivas e técnicas em
detrimento das habilidades sociais, considerando-as fundamentais para o bom rendimento
acadêmico e para uma boa adaptação social.
Na identificação da falta de habilidades do professor ao rol de análises aqui
requeridas é que se insere a intervenção do psicólogo - neste trabalho, das estagiárias de
Psicologia Escolar; na direção de capacitar o professor para a efetivação de uma análise
que compreenda a dinâmica de interações da qual também é parto e dai intervir eficazmente
na mudança de comportamento de seus alunos.
Compreende-se aqui o professor como gestor das interações que ocorrem em
classe, planejando suas interações com os alunos, com a classe e entre os alunos,
atuando como modelo de condutas sociais e controlando os reforçadores sociais.
Compete ao professor fortalecer os comportamentos mais socialmente habilidosos.
Isto implica reconhecer nos demais, formas de comportamento que podem ser relevantes
para outras situações que não as escolares, e criar condições para que se façam as
discriminações necessárias. Implica também em reconhecer quando os comportamentos
emitidos são formas menos elaboradas, que podem ser modeladas em direção ao
comportamento socialmente competente, cooperando assim para a construção de um
sujeito modificado, com novas possibilidades de experimentar e atuar futuramente.
Contempla-se aqui a identificação da situação social específica na qual a resposta
é requerida, as próprias respostas dos sujeitos, os fatores antecedentes e conseqüentes
às respostas sociais. Este conjunto corresponde aos passos de uma análise funcional do
comportamento social, e sua aplicação em diversos contextos, como na escola, tem valor
preventivo na ocorrência de problemas futuros.
Postas as condições de avaliação, a intervenção deve, então, incidir no
gerenciamento dos eventos antecedentes e conseqüentes da situação escolar e em sua
contínua análise.
Moraleda (1995) propõe um procedimento que prevê intervenções sobre os fatores
antecedentes e conseqüentes às respostas sociais, eficaz tanto para controle educativo
adequado quanto para aprendizagem de respostas sociais hábeis.
A intervenção sobre os fatores antecedentes inclui trabalhar sobre aspectos da
situação escolar como: clima educativo estável e seguro, comunicação positiva, modelo
de comportamentos adequados, trabalho com pares e revisão de metas.
Referências
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Brasilia.
Skinner, B.F. (1957/1992) Verbal Behavior. Acton: Copley Publishing Group.
1. Introdução
Skinner (1984) ensina que a compreensão sobre os seres humanos só ó possível
quando se tem acesso à história que selecionou seu repertório comportamental: filogenética,
ontogenética e culturalmente. E acreditando nisso que a autora buscou em um doutorado
em história, um conhecimento que a psicologia apenas apontava. Portanto, o presente
trabalho trata de uma análise - sob a ótica da psicologia comportamental - de sua tese,
intitulada Mulheres do sóculo XX: memórias de trajetórias de vida, suas representações
(1936-2000). A pesquisadora buscou investigar como os sentimentos e as vivências de
modo geral, foram representados, ao longo de parte do século XX, apostando que mesmo
em um período tão curto - 64 anos - seria possível encontrar mudanças significativas no
modo de ser e ou se representar como pessoas. Como método de estudo optou-se por
realizar uma pesquisa ancorada em entrevistas com mulheres, de diversas idades e
1. CPPAM - Centro Psl: tratamento o pesquisa sobre o pânico, ansiedade e medos; FEPAR - Faculdade
Evangélica do Paraná , curso de Psicologia; UTP - Universidade Tuluti do Paraná, curso de Psicologia
Psicóloga clinica (UFPR-1980); Mestre em psicologia (USPSP-199b); Doutora em história (UFPR-2004);
professora de psicologia na UTP e FEPAR. Pesquisa parcialmente subvencionada pela UTP. Fone: (41) 222
3017; (41) 84160984, e-mail: cpuamrllza@vahoo.cQm.br
70 M d rilA i M e s tr e
categorias sociais, e, assim, utilizou-se como fio condutor a trajetória de vida de 18 delas,
nascidas entre 1920 a 1980.
Para tanto, tomou-se a forma como essas depoentes resgataram lembranças,
ativaram reminiscências e rememoraram suas experiências, como objeto de trabalho. Além
dos depoimentos utilizou-se, como fonte de análise, fotos e artigos obtidos em periódicos
da época e ou retratos cedidos pelas entrevistadas.
A cronologia das trajetórias de vida dessas mulheres, variou de 83 a 23 anos, tendo
sido considerada a idade no momento da entrevista e mantidos intervalos de cinco a dois
anos, entre cada depoente. A amostra global abrangeu ampla diversificação social e profissional
das depoentes, com dezoito diferentes ocupações, declaradas por elas como sendo as
suas profissões, quer estivessem exercendo-as no momento da entrevista, quer as tivessem
exercido no passado, tais como faxineira, operária, dona de casa, empresária, professora e
estudante. Evidentemente que, ao denominarem-se como sendo ou desempenhando
determinada função, elas não deixaram de estar incluídas numa multiplicidade de outras
atividades simultâneas.
A análise concentrou-se no relato de suas vidas a partir do período adulto,
considerando-se como marco de início os vinte anos, ou por volta disso, ou ainda a ocasião
do casamento, independente da idade com que casaram.
Foi considerado, também, o estado civil declarado no momento da entrevista
(cinco casadas; cinco viúvas; três solteiras; três divorciadas; uma separada e uma vivendo
união estável) Quanto à religião, apesar de não ter sido uma exigência de inclusão ou não
na amostra, foi considerada para análise e observou-se uma ampla variação professional,
além das que diziam crer em Deus, mas não seguirem religião formal. No que tange á
questão de escolaridade, apresentaram-se os cursos (completos ou não): superior, pós-
módio, médio e o fundamental, havendo uma depoente analfabeta.
Foi estabelecido como parâmetro, para estudo, a divisão da amostra global em
três subgrupos geracionais (cada qual com seis entrevistadas), denominados como
primeira, segunda e terceira geração, por data de nascimento em períodos compreendidos
de vinte em vinte anos. O critério de entendimento do que corresponderia a cada uma
dessas gerações seguiu o proposto por Ariés, 1997, (p. 353) que estabelece o período de
25 a 20 anos para uma nova gênese.
O pesquisar com um grupo tão heterogêneo, longe de prejudicar a análise, permitiu
vislumbrar uma série de possibilidades de compreensão destes grupos, que se constituíram
assim por viés metodológico. O que significa que uma jovem do terceiro grupo, por exemplo,
poderia perfeitamente estar mais alinhada em valores com uma mulher do primeiro ou do
segundo grupo em determinada área do comportamento humano e com outra faixa etária,
para outro tipo de valor. Sabendo-se, é claro, que não se está lidando com amostra,
quantitativa e estatisticamente representativa de uma época, mas com mulheres que viveram
um mesmo tempo: o século XX.
Foi usado como fio condutor a trajetória de vida de três mulheres, uma de cada
subgrupo (Branca - 83 anos, Raquel - 49 anos e, Áurea - 37 anos, respectivamente).
Com base nos depoimentos, transcritos, foi colhida a ênfase nos momentos em que os
sentimentos e valores, adquiridos ao longo de suas vivências, mais afloravam reconstruídos
pela memória que surgia durante as entrevistas.
Mas também, utilizou-se retalho das vidas de outras cinco depoentes, de cada
grupo geracional, que somaram suas vozes às da narradora e serviram como "guia" da
7 2 M .ir il/.i M e * f r r
governo Vargas. Alóm disso, era uma fase de intensa política de povoamento do território
paranaense (bem como no sul do Brasil, como um todo), o que facilitava o processo
migratório e o surgimento de novos municípios, onde a indústria e o comércio abriam
campo aos que desejassem estabelecer-se. Foi o caso do pai de Branca com suas lojas
e fábricas de calçados. A política de migração para o Paraná veio a ter uma importância
crucial na vida das depoentes desse grupo geracional e, concomitantemente, para suas
descendentes. Na fala de muitas delas vai ser observado relato disso: Socorro (75 anos,
faxineira) migrou do Rio Grande do Sul; Sara (65 anos, professora de história que veio de
Santa Catarina; Lina (79 anos, tricoteira curitibana) traz informações sobre a migração
polonesa no período entre e pós segunda guerra. Fátima (68 anos, dona de casa do
interior do Paraná) foi ela mesma uma desbravadora do norte e oeste paranaense em
busca de novos espaços de trabalho para o marido. Heide (71 anos, escriturária curitibana)
relata sobre um dos irmãos ter ido buscar trabalho no norte paranaense. Ou seja, a totalidade
dessa amostra viveu ou observou em seus familiares tal experiência. Até ao final da década
de 1950 sendo especialmente maior esse movimento.
Dentro do Estado paternalista e autoritário de Vargas, com suas reformas
trabalhistas e sociais, as mulheres brasileiras haviam aberto um espaço que possibilitou,
entre outros ganhos, os direitos ao voto (Linhares, 1990) e ao trabalho regulamentado
legalmente. Pollak (1992) alerta, no entanto, que apesar de afirmações tácitas que as
fontes (escritas ou orais) façam, o pesquisador precisa estar atento à leitura de subliminares
que possam estar acrescentando informações que podem corroborar ou confrontar os
dados. No presente caso, o relato da entrevistadas contrapõe-se à proposta do governo,
quanto aos direitos trabalhistas iguais para homens e mulheres, uma vez que algumas
relataram que trabalharam fora, sim, mas nem mencionaram questões sobre amparo
legal, quanto mais reconhecerem-nos como seu direito.
Se as mulheres (das décadas de 1936-1950) vinham, teoricamente, conquistando
igualdade de direitos sociais, era-lhes cobrada, na prática, uma série de comportamentos
bem pouco condizentes com as aspirações do feminismo. Em revista da época, textos
acompanhados de ilustrações sugestivas evidenciam quais eram as representações do
que se entendia como papel e função das mulheres na família: ser dócil ao que delas
esperava a sociedade e responsáveis pela constituição, manutenção e aderência dos
membros ao seu núcleo central: pai-mãe, como cuidadores da prole. Isto para uma camada
social média (Trindade, 1996).
2.1.b. BRANCA (83 anos) e suas contemporâneas: Lina (79); Socorro (75); Heide
(71); Fátima (68) e Sara (65)
No Paraná, algumas variáveis parecem ter colaborado com alterações nesses
modelos de ser mulher. Entre elas as políticas sociais, de migração intensa, aliada às
propostas trabalhistas - de Vargas - favorecendo “trocas” sociais, de valores culturais
(Cardoso, 1986). Um exemplo foi o ocorrido com Branca. Criada em colégios de cultura
francesa e filha de empresário - mesmo que falido , ela confraternizava com a cunhada,
uma operária pobre e sem instrução formal, mas dona de "saberes" vivenciais que faltavam
à Branca. Para ambas uma forma de ascensão social: para a jovem burguesa o
conhecimento político permitido às operárias, que ouviam “pregações" dos sindicatos pró-
reformas trabalhistas que emergiam no governo de Getúlio Vargas (Liinhares, 1990), para
74 M .ir il/ d M « l r c
pessoas que exerciam controle sobre suas vidas. Uma vez que “...as emoções permitem
ao indivíduo atribuir valor bom ou mau às situações, aos objetos e a suas ações”, (Lobrot,
1997) e as que sentiam - como culpa, raiva e vergonha - tinham cunho social negativo,
então deveriam ser escondidas, negadas até para elas mesmas (Sídman, 1995). São, no
entanto, trazidas e (re)vividas, com intensidade, no ato de lembrar, tanto quanto as de
cunho positivo como a saudade, amizade e orgulho (Pollak, 1989).
As relações com o sexo oposto não parecem ter tido a mesma importância que
os contatos com a família de origem; o casamento era, simplesmente, uma das etapas de
suas vidas. Aqui, também, não havia questionamentos, pelo menos não de modo consciente
ou explicito, apenas obedeciam ou pareciam fazê-lo quando isso lhes favoreciam. Para
esse grupo geracional, a união ocorria dentro do que era esperado pela sociedade
(Andreazza, 1995). Para muitas, casar apresentava-se como saída para situações difíceis,
trazendo consigo a crença em uma felicidade futura. O cônjuge, muitas vezes, assumia o
papel daquele que as libertaria do jugo parental; daí o mito romântico. As mulheres dessa
geração acreditavam, ou se convenceram disto, que o fato de estarem apaixonadas seria
suficiente para resolver qualquer problema.
Contudo, o amor experimentado no início, ao longo das decepções ia, por vezes,
se acabando ou mudando de forma: raiva, frustração, tristeza. Mas, a crença na
indissolubilidade do matrimônio manteve-as casadas, para a maioria delas; para outras,
ficar na relação era apenas um arranjo que evitava a solidão ou a desaprovação social.
Mas, na narrativa das cinco que foram casadas, permanecia a saudade ou nostalgia de
um tempo que julgaram felizes. Claro, isto poderia ser efeito das construções que a
passagem do tempo pode fazer com as lembranças (Pollak, 1989). Para a solteira sobrou
a mágoa de não ter casado, daquilo que ela só pôde conhecer pelo imaginário. A julgar por
suas falas, elas realmente incorporaram a imagem de felicidade como sinônimo de
casamento - uma vez que este era o que lhes permitia ampliar laços de pertencimento, e
ao modo delas, conseguiram construí-la.
A união carnal, pelo discurso oficial, deveria ser parte das obrigações matrimoniais,
e para muitas, existia apenas para reprodução e/ou dar prazer aos maridos (Ribeiro, 1989)
, pois a religião católica (professada pela maioria das mulheres da amostra e também da
população brasileira, desse período, 1936/1950) pregava o sexo como algo escuso e oculto.
Porém, a sociedade que vedava a sexualidade e mesmo a sensualidade, para as mulheres,
ao mesmo tempo induzia a submeterem-se aos desejos do cônjuge (Corbin, 1991). De
modo geral, fazer sexo, para elas, continuou sendo um tabu - pois o amor seria "um
sentimento grosseiro reservado aos homens e que as mulheres decentes não devem
conhecer" (Beauvoir, 1980).
Apesar dessas restrições, algumas conseguiram vivenciar plenamente sua vida
sexual. Para as mulheres da amostra em questão, o sexo foi vivido com prazer. Este foi o
caso de Branca, Fátima, Lina, Socorro e Sara; no que tocou a Heide sobrou o desejo do
que nunca experimentou, mas relata adivinhar ter perdido tal vivência.
As diretrizes do código social vigente colocavam outras interdições, como, por
exemplo, trabalhar fora de casa. As jovens da primeira geração (1936/1950), embora tendo
vivido no mesmo período em que as feministas estavam pleiteando por direitos à liberdade
de pelo menos serem reconhecidas como cidadãs (Roncaglio, 1994), não conseguiram
perceber que isso era um direito e que podia ser exercido, remunerado e respeitado, do
mesmo modo que o dos homens. A realidade mostrada por estudos, como o realizado por
2.2. SEGUNDA GERAÇAO : mulheres nascidas entre 1941 a 1960, adultas entre
1960 a 1970.
2.2. a.contexto histórico
Vinte anos depois do anterior, esse grupo geracional retrata a conjuntura de
um mundo globalizado por um neocolonialismo tecnológico e financeiro, e fruto de uma
educação voltada ao consumismo de bens perecíveis, que davam a ilusão de conforto e
igualdade de direitos; a juventude delas foi orquestrada pelo rock'n rolldos Beatles e dos
Rolling Stonese pelo uso de b lue jea ns-calça L e e -o u das minissaias que, divulgados
pelo cinema e pela televisão, as uniformizava (Thèbaud, 1991).
A grande maioria parecia inconsciente do momento vivido pela nação, ou seja,
era como se as dissensões sociopollticas que culminaram numa ditadura militar (Linhares,
1990), que perdurou por mais vinte anos, não lhes dissesse respeito ou como se tais
fatos fossem naturais ao processo da vida.
Ao som do iê-iê-iê ou de MPB, as jovens dessa geração freqüentavam festinhas
de garagem e, enquanto bebiam coca-cola, cogitavam sobre o rumo de vida que iriam
seguir. Já era comum mulher estudar em faculdade; o que não significava, necessariamente,
seguir uma carreira. O feminismo (Martins, 1992), estava em expansão e as ativistas
acadêmicas transformavam suas teses de conclusão de curso em bandeiras, em "defesa"
das mulheres. Porém, como suas mães, continuavam a casar e cuidar do lar e dos filhos.
Vivia-se um mundo ambivalente: de um lado a igualdade de direitos entre os
gêneros, de outro o tradicionalismo machista. Não estaria fora de propósito afirmar que a
maioria que dizia estar lendo Simone de Beauvoir (1980), muitas vezes - escondida -
sonhava em ser Miss Brasil e encontrar um "bom rapaz".
O movimento feminista já tinha conseguido mudar algumas antigas noções,
tornando-as mulheres divididas entre "quereres e deveres"; mas nem sempre o que elas
desejavam para si eram entendidos por elas ou por sua comunidade como um direito seu
(Tronto, 1997). São pessoas que viveram num tempo específico, debaixo de uma
organização sóciopolítico repressora (a ditadura Militar de 1964), contraposta por
movimentos - no mundo todo - de libertação contra instituições controladoras. E, é
nesse tempo de contradições, que elas se dividiram entre aquilo que a sociedade lhe
dizia estar correto para o "ser mulher" e aquilo que percebiam estar mudando e que vinha
ao encontro dos seus anseios como indivíduos.
Tendo vivido seu amadurecimento como pessoas adultas, cronologicamente,
entre as décadas de 1960 e 1970, esta é uma geração que oscila entre novos conceitos
e velhas posturas. É um grupo de mulheres que experimentou a extrema velocidade e a
complexidade de mutações que as transportaram da condição de indivíduos tutelados
para seres independentes ou quase isto (Thèbaud, 1991).
78 M .ir il/ d M e s tr e
De todo modo, o que a memória pôde (re)construir o foi trazido em seus relatos ó
que puderam fazer escolhas e as fizeram; mesmo que no relato contem - e, aparentemente,
acreditem nisto - que “obedeceram” aos pais e ou maridos, elas foram e são donas da
própria vida. Ao pensarem-se como “obedientes", elas integraram uma representação do
que acreditaram ser seu papel “feminino" e sentem-se inclusas, deste modo, em um grupo
com “papóis" predefinidos (Scott, 1990).
Ainda que voltadas para suas relações afetivas, para a busca do parceiro perfeito,
estas mulheres guardavam respeito ao que foi o mote da geração anterior; a dependência
das figuras paternas (Durham, 1983). Esse tipo de controle estabelecia um conflito baseado
em sentimentos concorrentes: autonomia e subserviência (Tronto, 1997). De qualquer forma,
tal dubiedade teve seu saldo positivo, pois produziu o questionamento dos valores sociais
e dos próprios conceitos sobre a vida, e isto possibilitou autoconhecimento.
Porém, estar consciente não ó pré-requisito suficiente para alterar comportamentos.
Para operar mudanças, elas teriam de romper com valores que lhes haviam dito serem
legítimos, e elas ainda não estavam preparadas para tanto, pelo menos não de forma
explícita. Talvez por isso educaram os seus filhos, homens e mulheres, tal como o fizeram
suas mães. Na falta de vivências que as guiassem, ainda se apegavam aos Sdôs que os
antigos valores lhes mostravam com sendo os mais “certos". (Skinner, 1984)
Por outro lado, trabalhando por opção ou por necessidade de sustentar seus
filhos - como mães separadas (Marta, policial militar) ou solteiras (Marisa, operária) -
novo conflito surgia: a necessidade de contar com a ajuda de outros para cuidar deles e a
aversão de escutar reclamações dos familiares ou vizinhos, criando nelas, a incorporação
da necessidade de que teriam que fazer tudo de modo perfeito.
Essa geração sofreu a construção de uma nova identidade para o gênero feminino.
Teve que tomar contato com questões antes não experimentadas pelas suas mães e
avós, que já não podiam servir de modelos ou dar pistas para seus problemas. Tiveram
que criar soluções, que nem sempre foram bem-sucedidas, mas ao serem testadas as
fizeram vivendaruma nova imagem de si e do mundo (Amorim, 2000).
Se até a década de 1950, apenas uma minoria teve noção de sofrer controle
e nenhuma ousou romper, abertamente, com o que se desejava para si. Estas mulheres -
de 1960/1970, embora se adaptando aos ditames paternos, foram capazes de driblar a
autoridade e até puderam empreender a busca de suas aspirações. Seus relatos foram
plenos de emoções que revelaram, ás vezes de modo subliminar, que já havia um principio
de consciência de estarem sendo feridas na sua individualidade. E aí, os sentimentos
predominantes foram os de revolta e frustração; embora, na maior parte do tempo,
aparecessem comportamentos passivos.
Elias explicita que muitas vezes o civilizar-se exige adaptação das pessoas ao
seu meio:
...vocé podo imaginar o desastre que foi minha ‘lua de mel’? Achei muito sem
graça esso tal de sexo. (...) eu nào achava ruim transar, mas eu achava que
estava faltando algo. (...) Faltava conversa,..
Prazeres que podiam sim ser sexuais, mas iam além deste. Como Raquel descobriu
anos depois: “...Pude ver que mulher eu podia ser junto com outros homens. Muita conversa,
muito bate-papo, muita sedução pela palavra. Descobri esse talento de seduzir pela
mente...”. O que Raquel parece não perceber que os homens com quem ela" bateu-papo"
alem de transar foram - todos - mais novos do que ela.
Assim são estas mulheres desta segunda amostra. Mais livres em atitudes, mas
com sentimentos oscilantes entre os que suas mães tinham vivido e novas experiências,
e Dolores (que tornou-se empresária ao enviuvar) diz: “...foi um grande desafio, saber
tomar conta da minha vida".
Aparentemente, mais conscientes das transformações sociais, estas mulheres
descobriram que são ou estão, finalmente, responsáveis por suas próprias vidas e, portanto,
é sua a tarefa de se manter na velhice. E foram mulheres como estas depoentes que
criaram aquelas que fariam parte da terceira geração.
8 0 M « íril/a M e s tr e
Esta geração aprendeu nas escolas a calcular juros melhor do que suas
antecessoras, para poder entender as trocas de moeda, incessantes, que ocorreram neste
período. E viram os pais aliviarem-se com o surgimento do Real, que permitiu um esboço
de estabilidade social ao país (Linhares, 1991).
A década de 1980 presenciou, também, a consolidação de grupos feministas no
país, quer pelo regresso ao Brasil, de algumas mulheres que haviam sido exiladas pela
ditadura, quer pela afirmação na academia de algumas das que permaneceram no país.
Os anos de 90, porém, observaram a fragmentação de tais grupos, (alguns transformados
em ONGs), mas o mercado editorial presenciou a explosão de publicações ligadas ao
tema gênero (Sarti, 2001).
As mães destas moças - pertencentes à segunda geração estudada, (1960/
1970) - eram advindas de uma “liberação" conquistada pela pílula anticoncepcional e pelo
alcance às instâncias do ensino universitário e ou do trabalho de dia inteiro, e, assim,
muitas nem sempre estiveram presentes no processo de suas criações. E, por serem
filhas dessas mulheres, elas participaram de novos tipos de relações.
Esta geração recebeu o apelido de superwoman, (Thèbaud, 1991), pois as mulheres
são emancipadas, responsáveis pelo próprio “destino", no que diz respeito à independência
financeira, que acaba por ocupar o maior tempo de suas vidas. Entre os vários sentimentos
e valores, os que mais aparecem em seus relatos, os que tomam maior alcance, são
aqueles que dizem respeito à preparação ou escolha profissional, quando não ao próprio
exercício de suas carreiras.
2.3.b. ÁUREA (37 anos) e suas contemporâneas: Lia (35); Simone (32); Magali (29);
Helena (26) e Dulce (23).
0
Sobre (.'omportiim enlo e (* Rniç<lo 83
"o poder não passa, na verdade, de uma expressão um tanto rígida e indiferenciada
para designar (..) influenciar a auto-regulação e o destino de outras pessoas. (...)
mas o que quer que [alguém] decida o alia a alguns e o afastam de outros. Tanto
nas grandes questões como nas pequenas." (1994, p. 51).
E, estas moças buscam, aparentemente, na investigação pela leitura ou pelo
seguimento de várias doutrinas religiosas, um conceito de eu que lhes certifique quem
são, não só como mulheres, mas antes como indivíduos.
Este grupo trouxe como característica a mesma garra do primeiro, para fazer e
não desistir daquilo que desejavam. Mas diferente daquelas mulhereo - que eram de certo
modo, ingênuas - esta moças têm consciência de suas limitações e de suas qualidades.
3. Considerações finais
A experiência constrói formas de viver e de contar o vivido (Skinner, 1989). Então, se
as depoentes selecionaram - conscientes ou inconscientemente - o que relatar, assim também
o pesquisador o fez. Há aqui, portanto, uma construção conjunta, operada pela memória das
entrevistadas, por seus imaginários e desejos, por aquilo que conheciam e puderam usar
como código narrativo, sem dúvida, mas também pelos da autora que fez igualmente uma
seleção do que trazer para a análise e narrativa deste trabalho. (Zeldin, 1999). De acordo com
Michaliszyn e Tomasini (2004), o processo, assim, toma-se infinito, “Porque cada um consegue
ler aquilo que compreende e sua interpretação será a partir do mundo que habita".
Pollak (1992),discute a ligação existente entre a memória e a identidade social, e
alerta para que o pesquisador fique atento a isto pois pode-se com isso, ao mesmo tempo
que se estuda um individuo, apreender as experiências do contexto em que a pessoa
viveu. Elias (1990) pressupõe que ao conhecer as pessoas estaremos conhecendo a
sociedade e, vive-versa; portanto, é importante ao pesquisador, dar atenção às diferentes
configurações dos grupos.
A identidade de gênero, que a sociedade propiciou adquirir, apresentou-se na fala das
mulheres entrevistadas. Esta organização, porém, não compôs padrões rígidos e prontamente
identificáveis. Ao se reconstruir as representações do que a sociedade percebia e das práticas
sociais - que são indissociáveis do cultural -, pode-se observar a experiência dos indivíduos
(Pollak, 1989; Elias, 1990). As “marcas", ou signos, que são capazes de identificar períodos
vividos, não ficam apenas nas almas das pessoas, mas se refletem no seu modo de pensar,
sentir e, portanto, de agir. Assim, a memória conta história, de lugares e de pessoas, de
grupos e de culturas, que podem assumir inúmeras configurações (Neves, 2000).
Das representações e seus signos, Sutil diz:
84
2) como jovem adulta, assumiu uma identidade diversa da de sua mãe que ela culpava por
não seguir o padrão vigente; 3) depois como mulher adulta, assumiu a identidade "proposta"
pelo novo marido, este até lhe deu um novo nome, (com o qual ela viveu por mais de
cinqüenta anos) e pôde "esquecer" o passado dolorido e ser feliz; 4) no ato de contar, ela
diz estar retomando sua identidade e já não ter mais o que esconder e declara: “O meu
nome ó Branca!”.
Parece haver nessas moças, aqui simbolizadas pela vida dessa depoente, uma
maleabilidade para se adaptarem aos seus ambientes e, simultaneamente, conseguirem
que estes se transformassem. O que significa que não “somos, mas assumimos um eu",
no sentido de que a identidade ó continuamente forjada, construída e (re)elaborada pelas
contingências da vida (Skinner, 1990).
O que ficou da primeira geração é que a representação, ou idéia, que a sociedade
lhes passava de felicidade compreendia: ser mãe e, portanto, esposa (Thèbaud, 1991).
A segunda geração (1960/1970), representada por Raquel, mostra jovens, que
não questionavam - declaradamente - o seu modo de viver, mas se ressentiam de não ter
liberdade. A imagem que tinham de si, naquela época, é dada por Ângela, sua
contemporânea, ao falar de abdicar de seus sonhos, por imposição paterna: "...me sentia,
assim... frustrada."
Esta foi a geração que mais sofreu a influência dos movimentos feministas e
passou a se considerar, realmente, uma vítima. A "pobre rainha triste", confinada a estar
em casa, “desperdiçando seus talentos". Esta geração havia perdido algumas "marcas"
sociais do que era ou não permitido, o que era ou não desejável para as mocinhas. Já não
sabiam se deviam ganhar independência profissional ou casar. E, também devido a isso,
estabeleceu-se um conflito entre os gêneros (Martins, 1996).
Pollak (1992), diz que se a memória produz identidade, como foi demonstrado no
relato de Branca e Heide, do primeiro grupo. Mas, há outros fatores de construção de
identidade. Os signos - documentos, fotos, lembranças palpáveis de um passado, que
não se vão com o tempo, que se pode tocar, ver, cheirar. Poróm, da mesma maneira que
uma identidade pode ser construída, ela pode perder suas características. Ângela
testemunha a falta, quase física, que tem de sua “identidade" levada pelo fogo, quando sua
casa (em solteira) queimou:
...como a mãe dizia, acho que se ela tivesse morrido, talvez ola não tivesso
perdido tanta identidade como ela perdeu, com a queima a da casa. (...) você vai
procurar um documento, vocô vai procurar uma foto, você vai procurar uma roupa
quo você não acha, porque... porque não tem. Então ó uma porda de identidade...
Este grupo trouxe mulheres angustiadas com a própria história e só agora, na
maturidade, elas conseguem ou tentam se encontrar. Porém, de todo modo, estas mulheres
acabaram por se descobrir mais resolvidas, à medida que o tempo passou. Raquel
expressou um pensamento que de certo modo passou pela fala das outras de sua geração:
"...não invejo o homem em nada. Descobri os poderes que eu tenho como mulher...".
Essa frase revela como todas foram se construindo ao longo das contingências e
revendo suas regras, seus valores. Mas, também, aquilo que permaneceu como o rumo
de suas vidas, os homens. A relação com o "príncipe encantado", que elas continuaram a
achar que existe. Apesar dessa crença irracional, esse grupo foi o que mais mudanças
86 M .irll/«! M es tre
No entanto, permanece, ainda, para estas jovens, a necessidade de unir procriação
a casamento.(Silva, J., 1992). Uma permanência que desde o tempo de Branca aparece
como questionamento. No grupo de Raquel não deveria haver desculpas para engravidar
sem querer. A geração da “pílula" (os anticoncepcionais em pílulas, foram industrializados
a partir da década de 1950), porém, se viu grávida, muitas vezes contra sua vontade.
Raquel traz sua versão do que elas pensavam: “Mas eu não sabia que eu podia não ter
filhos. Eu nunca soube que eu podia ter essa opção de não ser mãe." Continuava a imagem
de que à mulher sobrava ser mãe. Mas, ó nesta geração que surgem alguns "pães",
(Papousek e Papousek, 1989) isto é, pais com função de mãe. Ou seja, aqueles que,
excepcionalmente, puderam participar mais ativamente da educação dos filhos, apoiados,
ou incentivados, ou ainda "cobrados" por suas parceiras.
Um signo que foi importante para as duas gerações mais velhas, parece ter perdido
seu significado para o grupo mais jovem. Três delas contaram que, ao casar, não fizeram
questão do “vestido branco". Por certo há uma ruptura, neste aspecto. Elas não esclarecem
por que pensam assim. De qualquer modo, este discurso fala de mudanças sociais e,
portanto, culturais, no contexto, em que elas se inserem. Da mesma forma que em outros
campos do conhecimento e da experiência humana, há que se prestar atenção à forma
como se obedece ou desobedece às leis, à linguagem usada, aos símbolos empregados e
nos quais se acredita: tem valor descritivo e elucidativo das relações sociais (Pollak, 1989).
A interligação das categorias de construção identitária perfez um leque de
personalidades que tanto podem ter semelhanças e diferenças de grupo para grupo ou
intragrupos. Não se pode esquecer que o Brasil é um país com muitas culturas, diversas
etnias e religiões, portanto, valores diferentes constituíram a sua população.
A necessidade que o humano tem de dar sentido aos problemas de sua existência
ó analisado por Prost e Vincent, (1992) e poderia ser aplicada a como aconteceram os
fechos das entrevistas. Com as seis senhoras, do primeiro grupo, cujos depoimentos
foram feitos nas suas residências, ficava difícil terminar a entrevista. Todas, literalmente,
"prendiam" a entrevistadora à porta por mais uns dez minutos. A maior parte oferecendo
fotos ou outros documentos que pudessem ajudar na pesquisa e trazendo assuntos os
mais diversos. Algumas se dizendo honradas com a oportunidade, e, todas elas declararam
que era bom falar de si. A solidão, como afirma Duby (2000) e também Zeldin, (1999) esta
grande vilã, parecia estar assustando a elas todas. Como diz Branca:
Mas sempre pensei que ele sondo mais novo quo ou, ia ter ole ató o fim, não ia
tor ficado assim tão sozinha. Eu já estou pronta para ir, não ó quo ou quoira
morror, ninguém quer. Mas eu não tenho medo, só tenho do ficar assim, som ter
com quem falar. Venha mais vozes.
Aqui caberia uma análise a respeito daquilo que Michaliszyn e Tomasini (2004)
discutem sobre uma das características essenciais dos seres humanos - sua capacidade
de consciência de si e sua temporalidade. Como seres históricos que são, os humanos
sabem de sua finitude e se declarações" a fazer e que já “não tem medo de ir" e Socorro
afirmou que tem que "transmitir" seus conhecimentos de "benzedeira". É como se elas
"adivinhassem" que seu tempo está acabando.
Com o segundo grupo, a finalização da entrevista se deu de forma um pouco
diferente. Algumas foram entrevistadas em casa, outras no trabalho delas. Mas, de modo
geral, também se demoravam nas despedidas, agradecendo a oportunidade de falar. Nos
Tenha paciôncia com as coisas mal rosolvidas no seu coração. Tenha paciência
com as questões que existem na sua vida. Procure amar estas quostões, como
livros fechados, escritos numa língua que você não entendo. Porque na vida, ó
importante viver tudo. Viva hojo as questões, porque vocô não está proparado
ainda para viver as rospostas.
As mais jovens obedeceram ao projeto de tempo proposto. Ao finalizar a entrevista
já estavam saindo para alguma outra atividade. A exceção foi Áurea, que alongou a entrevista
e também se disse honrada em dá-la, porém estava em vésperas de sair de férias. Áurea,
a moça que simbolizou essa geração, lembra que a garra de viver produz alegria, a mesma
que suas contemporâneas demonstraram, e deixa esta mensagem:
A alegria de viver vocô não pode porder nunca. Isso eu acho primordial pra mim
e pra qualquer ser humano. Acroditar sempre, ter energia sempre, pra não desistir.
Que isso to leva para frente...
Quanto às questões iniciais, que se colocaram à medida que o trabalho foi sendo
construído, percebe-se mediante a análise que a memória trouxe de suas vivências aquilo
que ficou de suas representações acerca de si e do mundo: o que permaneceu, ou foi
transformado ao longo do tempo, ou sofreu influência daquilo que estão experimentando
no tempo presente, pelas contingências atuais e do passado Pollak, (1992) e Scott (1992),
recomendam que o pesquisador esteja atento aos signos expressos de muitas formas e
descritivos de relações sociais, símbolos de representações. Talvez uma mulher como a
Major Iracema, uma oficial militar que cedeu fotos e documentos para análise, seja parecida
com aquelas descritas por Martins (1996). Uma foto de seu casamento, suas colegas
militares aparecem uniformizadas ao seu lado. Elas tanto poderiam simbolizar as
tradicionais "damas de honra", quanto uma "guarda de honra" de vanguarda. Ela veste tule
“branco", (que traz, ainda hoje, o significado da feminilidade expressa pela fragilidade do
tecido), traz na cabeça o "quepe" militar e nas mãos contrastam o buquê e a espada.
Estos simbolos evidenciam, com certeza, um novo momento na história. Um rompimento
com estereótipos de como e o que é ser mulher, para um novo conceito: uma multiplicidade
de funções e de valores, tantos quantas mulheres houver.
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Na origem deste trabalho está o fato de que estudamos drogas psicoativas com
animais de laboratório. Ao lidar com drogas, nos deparamos com um problema: uma
variável que afeta a fisiologia do organismo - a droga - modifica a relação desse organismo
com estímulos do ambiente. Um caso particular dessa modificação é o indivíduo que se
mostrar desinteressado por coisas que normalmente o engajariam, como quando alguém
fuma maconha: ou interessado por coisas que de outra forma desprezaria, como quando
alguém toma um estimulante. Como estudar essa mudança dentro do quadro conceituai
do behaviorismo? Por inclinação teórica, sentimo-nos afinados com os pesquisadores
que usam o conceito de valor do reforço para analisar essas mudanças, e este trabalho se
originou da necessidade de aprofundar esse conceito.
Mas não só no nosso mundo restrito do laboratório o conceito de valor reforçador
é importante. Pois ele tem a ver com o problema da motivação, que nos afeta a todos
pois, como já notava Skinner, na "lida com os amigos na vida diária, e na clínica e no
laboratório, precisamos saber o quão reforçador um determinado evento é", e a "aplicação
prática do condicionamento operante requer freqüentemente um levantamento dos eventos
que reforçam um dado indivíduo." (Skinner, 1953/1978, p. 80-81). Seria fácil falar em drive,
impulso ou motivo, mas o uso do conceito de valor reforçador desloca o foco da mente
para o ambiente. Estuda-se a mudança quantitativa da função reforçadora em sua relação
com o comportamento.
' Para uma revisáo das limitações do método "viesado" revisar Swerdlow et al (1989)
«I _ *,
Equação 1
« .+ « 1
Equação 2
M ír ia m C /a rc ia -M IJ a rc s, M a r i a le rc sa A r a ú jo S ilv a
onde B é a taxa de respostas do comportamento observado, R é a taxa de reforços para
esse comportamento e k é uma constante derivada da relação resposta-reforço que
representa o número de respostas na ausência de reforçadores competitivos, isto é, qual
seria a taxa de respostas, se nào existissem outras fontes de reforço no meio. R, é o
reforço agregado desconhecido para as outras alternativas.
Na Figura 1 é representada uma distribuição hipotética da relação resposta-reforço
tal como é predita pela equação hiperbólica. Empiricamente, utilizam-se para chegar a
essa função vários valores de freqüência de reforço, tipicamente em esquemas múltiplos
de intervalo variável. Observa-se que, no início da curva, o aumento na taxa de reforço é
acompanhado do aumento na taxa de resposta de forma aproximadamente linear. Com
maiores aumentos da taxa de reforços o aumento do número de respostas vai desacelerando
até chegar um ponto (assíntota) no qual, por mais reforço que seja administrado, a taxa de
respostas não varia. A partir desse ponto a taxa de respostas ó constante porque, entre
outras coisas, o organismo tem limites biológicos que o impedem de dar um número
infinito de respostas em um determinado lapso de tempo. Esse limite, representado pela
assíntota, é k e geralmente interpretado como um índice de "capacidade motora”. Esse
parâmetro é medido em respostas por minuto.
A informação relacionada ao valor reforçador é obtida da análise da inclinação da
curva hiperbólica, e informa quanto reforço é preciso administrar para manter determinada
quantidade de respostas. Na função desenvolvida por Hermstein, o valor do reforço ó representado
por R(i e refere-se à quantidade de reforço (medida em reforços por hora) que mantém a taxa de
respostas em metade da assíntota. Dessa forma, aumentos em Rb indicam diminuição do
vaíor do reforço, enquanto que a diminuição de taí parâmetro significa o contrário.
Através da análise dos parâmetros k e Rft derivados da hipérbole, é possível obter
medidas diretas e relativamente
independentes de desempenho motor
e do valor reforçador. Diferentes
pesquisas já mostraram que essas
medidas são sensíveis a mudanças
na topogratia, na qualidade do reforço,
ou no estado do organismo. Por
exemplo, várias pesquisas mostraram
que o valor de k, mas não o de R(l, é
afetado por manipulações na
exigência motora da resposta, mas
quando variáveis relacionadas com o
valor do reforço, como privação,
qualidade ou quantidade do reforçador
etc., são manipuladas, R, é alterado Haura 1. Curva hipotética da distribuição de respostas
enquanto que k permanece constante. em uma situação de esquema nào concorrente, tal como
pmdlto pela lei de Igualação (hipérbole do Hermstein)
Re (Bradshaw, Szabadi e Ruddle,
k re p rese n ta a a s s ín to ta da d istrib u içã o e R0 a
1983, Bradshaw, Szabadi, Ruddle e quantidade de reforço associado à metade da assíntota.
Pears, 1983; Heyman e Monaghan
1994; Willner, Sampson, Phillips e
Muscat, 1990).
Um exemplo de como a
função hiperbólica pode ser usada para
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Atendimento psicopedagógico de
crianças que apresentam déficit de
atenção
M m d n i M itrin o U i
1 A utilização do rótulo psiquiátrico cumpre aqui a única função de facilitar a identificação da população referida
com base em aspectos topográficos do comportamento. A análise que se segue, entretanto, nâo depende da
atribuição ou nâo de um rótulo às crianças, nom tampouco do fato de estas estarem ou nAo medicadas. A
elaboração ou adaptação dos procedimentos a serem utilizados com a criança deverá sempre ser derivada da
análise funcional do caso e, em especial, do repertório apresentado pelo cliente. Para uma análise mais
especifica relativa aos usos e limitações de rótulos diagnósticos ver Hübner, M.M. e Marinotti, M,, 2004.
2Adicionalmente, multas crianças têm outros tratamentos ou atividades, além dos psicológicos: como por exemplo:
acompanhamento médico (com neurologista ou psiquiatra), acompanhamento fonoaudlológlco, fisloterápico,
aulas de apoio na própria escola e/ou aulas particulares. Não nos dedicaremos à questão da artificialidade
envolvida em tal fragmentação, mas nos concentraremos em algumas implicações práticas dela oriundas.
1 Evidentemente, este não é o único recurso com que o psicólogo pode contar. No que tange ao trabalho com
a criança, o profissional deverá lançar mão do arsenal de recursos de que dispõe para lidar com as dificuldades
emocionais apresentadas pela criança. Alóm disso, a atuação do profissional junto à família e à escola deverá
ocorrer de tal forma que facilite / propicie mudanças nas contingências vigentes nestes ambientes que sejam
coerentes com a superação das dificuldades observadas (ex.: agressividade, dispersão) e promoção dos
repertórios desejáveis (ex.: elevação da resistência à frustração; maior segurança por parte da criança etc).
Todavia, estes aspectos da intervenção não serão abordados aqui, dado o tema que nos foi proposto.
* A fim de evitar que ao termo “raciocínio'’ seja atribuído qualquer caráter mentalista, cumpre esclarecer que
seu uso aqui é mantido por facilitar a redação do texto, tornando-a mais económica. Assim, no presente
trabalho este vocábulo deve ser entendido como um termo que se refere a comportamentos (abertos ou
encobertos: verbais ou não), e nâo pressupõe a existência de quaisquer estruturas ou entidades “mentais".
O mesmo vale para outros termos como, por exemplo: "conhecimento" ou habilidades "lingüísticas".
* Caso o leitor se interesse, outros exemplos de atividades sôo fornecidos em trabalhos anteriores: Marinottl,
M. 2002; Miriam, M. ,2001.
Considerações finais
Conforme exposto no início do texto, as atividades aqui descritas constituem
meros exemplos decorrentes da análise feita do repertório e necessidades da criança
com quem estamos trabalhando. Dito de outra forma, o leitor não deve se prender às
atividades em si, mas atentar para os critérios que foram utilizados em seu planejamento.
Além disso, se admitimos, como analistas do comportamento que o mais relevante
é a função das respostas e não sua topografia, torna*se evidente que a utilidade das
atividades a serem empregadas com a criança depende da forma como são conduzidas e
dos controles de estímulos presentes durante sua realização, bem como de uma análise
detalhada do repertório disponível e dos resultados que se pretende obter. Ou seja, nenhum
procedimento ou estratégia ó "bom por si mesmo", nem de utilidade universal; portanto,
nenhum procedimento ou estratégia deverá ser seguido como se fosso uma receita que,
infalivelmente, levará ao resultado desejado.
De fato, grande parte o trabalho daqueles que atuam junto a crianças que
apresentam dificuldades acadêmicas e/ou déficit de atenção consiste na criação e
elaboração de novas atividades e procedimentos que constituam condições efetivas para
a aprendizagem: envolvam habilidades relevantes, maximizem a chance de acerto e
obedeçam a uma cuidadosa progressão em seus níveis de dificuldade de forma que o
repertório da criança vá sendo, paulatinamente, ampliado e refinado.
Atividades
Nas atividades 1. e 2. a criança deverá chegar à resposta a partir das pistas
fornecidas. A quantidade de pistas e de aspectos a serem relacionados deverá ser compatível
com o repertório da criança. De um modo geral, quanto mais pistas e maior a quantidade
de relações possíveis, maior a dificuldade da tarefa. Nas atividades que se seguem as
I
a) A criança cujo nome tem menos letras mora na casa de
número maior.
b) As meninas não são vizinhas.
c) A criança da casa 2 é aquela cujo nome vem em terceiro lugar, se você colocar os
nomes delas em ordem alfabética.
a) Posso voar.
Sou um diminutivo.
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Uma pessoa quo foi punida, por essa razão, não estará menos inclinada
simplesmente a agir de outro modo; na molhor das hipóteses, aprendo como
evitar a punição. Algumas formas de fazer isso são inadequadas ou neuróticas,
como se diz nos denominados 'dinamismos freudianos’. Outros meios Incluem
evitar situações nas quais comportamentos sujeitos a punição têm possibilidade
de ocorrer ou fazer coisas que são incompatíveis com o comportamento passível
de punição (Skinner, 1983, p 63).
(...) a fim de manter a posição de que todo controle ó ruim, foi necessário dissimular
ou ocultar a natureza de práticas vantajosas, dar preferência a práticas inadequadas,
exatamente por poderem ser dissimuladas ou encobertas, e - o resultado realmente
mais extraordinário! - para perpetuar medidas punitivas (p.35)
Além disso, as práticas educativas demandam tempo e dedicação. Mas, somente
a ampliação do repertório de respostas competitivas pode promover a mudança que
desejamos. Práticas que visem ao desenvolvimento de comportamentos voltados para o
bem-estar do grupo podem ser alternativas mais eficazes no combate á violência.
Comportamentos de solidariedade, por exemplo, são passíveis de aprendizagem, tanto
quanto qualquer outro comportamento. Ao nos acomodarmos diante da incapacidade de
alguns sujeitos em emitir comportamentos desse tipo, creditando ao seu caráter esse
déficit comportamental, deixamos de vislumbrar as possibilidades de se modelar respostas
fundamentais à sobrevivência da espécie.
Outra questão que talvez esteja associada à aceitação e incentivo de práticas
punitivas em nossa sociedade pode ter origens culturais bastante antigas. Na Bíblia, Jonas
é enviado a Nínive para anunciar que essa cidade será destruída em razão de sua iniqüidade.
Depois de muito relutar, acaba cumprindo sua missão e percorre um longo trajeto levando
É mai9 provável que uma pessoa roube quando pouco ou nada possui; so sua
educação nflo a preparou para conseguir e manter um emprego, para que possa
comprar o que precisa; ou se nào há empregos disponíveis e se não lhe foi
O mal existe porque as regras e o reforço social talvez sejam ineficiontes, quando
nào totalmente ausentes no ambiente do indivíduo. Na medida em que as
pessoas se comportam bem, entretanto, o treinamento social funciona (Baum,
1999, p. 236)
Ratons RdmJo'
Estudos atuais apontam para uma denominada Síndrome de Burnout que consiste
em um estresse laborai crônico específico de algumas profissões, cujos principais sintomas
são: exaustão emocional, despersonalização e reduzida realização profissional (Guimarães
e Cardoso, 2004; Campos, Inocente, Guimarães e Areias, 2004; Baptista, Morais, Calais
e Inocente, 2004; Morais,Baptista, Calais e Inocente, 2004; Inocente, 2005).
A ansiedade ó uma preocupação excessiva acompanhada de pelo menos três
sintomas adicionais de uma lista que inclui inquietação, fadiga, dificuldade em concentrar-
1 Doutora em Saúde Mental pela Faculdade de Ciências Médicas (UNICAMP) Docente na Universidade de
Taubatè e Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Avançada em Medicina do Sono do Hospital das Clinicas da
USP(HCFMUSP).
2.Cirurgià-Dentlsta Master Recherche Psycologie de la Santé pela Unlverslté Victor Segalon - Bordeaux 2-
França. Doutoranda em Psychologie de la Santé -U niversitè Victor Segalen • Bordeaux (France) Pesquisadora
do Grupo de Pesquisa Avançada em Medicina do Sono do Hospital das Clinicas da ÜSP (HCFMUSP)
3.Livre-Docente da Divisão de Clinica Neurológica do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da IJSP.
Presidente do Departamento de Neurologia da Associação Paulista de Medicina Pesquisador (Llder) do
Grupo de Pesquisa Avançada em Medicina do Sono do Hospital das Clínicas da USP (HCFMUSP)
4 Doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCampinas), Docente da
Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Bauru/SP e.mail: scalais@fc unesp br
'5 Doutor pelo Departamento de Psiquiatria e Psicologia da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP); Docente
e Pesquisador do Programa de Pós-Graduaçáo Stricto-Sensu em Psicologia da Universidade Srio Francisco
(USF) - ilatlba/SP e.mail: makilim baptista@saofrancisco edu.br
N .im y J. Inocente, l.m lne I. Inocente, Rubens Keim Jo, S.imlr.i I.. C.ilals, M .ik ilim N . H.i|)lisl.i
se, irritabilidade, tensão muscular e perturbação do sono (DSM-IV, APA, 2002). É
caracterizada por alterações do comportamento interno como sentimentos de mal-estar,
preocupação, hipervigilância, tensão, temor, insegurança, sensação de perda de controle,
fortes mudanças fisiológicas (cardiológicas, respiratórias). Ainda, ocorre a ativação de
diferentes sistemas, principalmente o Sistema Nervoso Autônomo e o Sistema Nervoso
Motor e também, o Sistema Nervoso Central, o Sistema Endócrino e o Sistema Imune. A
persistência das mudanças fisiológicas podem acarretar uma série de desordens
psicofisiológicas transitórias como dores de cabeça, disfunção sexual, disfunção gástrica,
dores musculares e insônia. No comportamento externo observa-se hiperatividade,
dificuldades verbais, evitação de situações ansiógenas, maior consumo de substâncias
(comida, bebida e cigarros).
Estudos epidemiológicos recentes têm estabelecido o nexo entre ansiedade e a
síndrome de Burnout (Beaton, 1998; Sociedade Espanhola para o Estudo da Ansiedade e
Estresse, 2005) com a elaboração das seguintes conclusões a respeito da influência da
ansiedade:
1. Os transtornos de ansiedade se consolidam como o transtorno de maior incidência
mundial, estimando-se que uma de cada sete pessoas desenvolverá ao longo de sua
vida um transtorno deste tipo, existindo grandes diferenças devido a idade e sexo,
em função do transtorno.
2. Os problemas derivados da ansiedade e estresse mostram um notável avanço nas
sociedades desenvolvidas.
3. A ansiedade e o estresse aparecem cada vez mais claramente associados aos
transtornos psicofisiológico ou psicossomático, destacando os transtornos
cardiovasculares e digestivos, afetando praticamente todos os sistemas orgânicos.
4. Os tratamentos psicológicos e farmacológicos para abordar estes transtornos
aumentaram sua eficácia nos últimos anos, sendo cada vez mais freqüente a
combinação de ambos tipos de tratamento naqueles casos que o requerem e
considerando-se menos recomendável a opção exclusiva de tratamento farmacológico.
5. Os problemas derivados da ansiedade mostram uma grande repercussão no âmbito
educativo, podendo produzir uma diminuição do rendimento acadêmico em torno de
15-20% dos estudantes, afetando igualmente uma boa parte do professorado,
especialmente as professoras do grau primário e secundário. Em casos mais severos
a ansiedade pode ser a causa do fracasso escolar e abandono dos estudos com
sérios problemas no desenvolvimento pessoal e desajustes no âmbito familiar.
6. Os programas terapêuticos de base psicológica desenvolvidos nos últimos anos
mostram uma (grande) eficácia ao redor de 85 a 90% na redução da ansiedade ante
os exames e na melhora do rendimento acadêmico.
7. O estresse laborai é a causa de importantes perdas econômicas nos países
desenvolvidos, ocasionadas pelo aumento da propensão a contrair enfermidades,
absentismo laborai, diminuição do rendimento no trabalho, aumento de conflitos
interpessoais e a diminuição da qualidade de vida dos afetados.
8. Os trabalhadores dedicados à atenção e cuidado de outras pessoas se mostram
especialmente propensos a desenvolver a síndrome de Burnout.
9. Os transtornos de ansiedade e problemas derivados constituem a primeira causa
das consultas psicológicas e psiquiátricas, convertendo-se em um problema crescente
N .in c y I. Inocente, J.mine J. Inocente, Rubens Reiniilo, Sdiidr.i L. C'.il«ils, M .ik lllm N , H.iptlst.i
com o trabalho e os pessoais, e que esta interação determina a aparição, progressão e
evolução destes transtornos.
A expressão ansiedade relacionada com o trabalho implica em que há situações,
tarefas e demandas laborais ou fatores estressantes profissionais relacionados que se associam
no desencadear ou na cronicidade da ansiedade Estes fatores podem ser: sobrecarga de
trabalho, ritmo de trabalho, os prazos e uma falta percebida de controle pessoal.
Turnipseed (1998) avaliou Burnout e ansiedade em enfermeiros e concluiu que o
estado de ansiedade foi uma variável significativa em cada uma das três dimensões do
Burnout, apresentando uma ligação mais forte com a Exaustão Emocional.
Souza e Silva (2002) investigaram a relação de fatores de personalidade e de
fatores ligados à organização do trabalho no Burnout em profissionais de saúde e a
síndrome se correlacionou com a insônia, aumento do uso de álcool e drogas.
Morafes et al. (2004), pesquisando o Burnout em Assistentes Sociais, afirmam
que esses profissionais estão expostos a fatores intimamente relacionados às experiências
de estresse, o que provoca respostas fisiológicas, cognitivo-afetivas e comportamentais,
as quais se mantêm ao longo do tempo, ocasionando alterações em sua adaptação laborai
e pessoal, com altos níveis de ansiedade e sentimento de não saber obter alívio.
Santi e Oliveira (2004) estudaram a qualidade de sono, índice de ansiedade e a
qualidade de vida em 150 professores universitários de uma universidade da cidade de São
Paulo. Os resultados obtidos indicaram a prevalência de transtorno de sono em 67% da
amostra: quanto ao transtorno de ansiedade, apareceu em 73% da amostra; e, insatisfação
com a qualidade de vida. Os autores concluíram que os transtornos de sono e de ansiedade
comprometem a qualidade de vida, trazendo conseqüências graves para a vida pessoal,
familiar, profissional e social.
Inocente (2004) avaliou 96 cirurgiões-dentistas franceses e detectou que 37,14%
apresentavam ansiedade. Inocente, Rascle, Inocente e Reimão (2004) estudaram a
qualidade de sono em cirurgiões-dentistas franceses. Os resultados encontrados foram
que 20% relataram má qualidade de sono (roncos fortes = 43%; pausas respiratórias =
11%; agitação = 16%; puxão no joelho = 45%). Os autores concluíram que a variável
ansiedade e distúrbios do sono poderão interferir na síndrome de Burnout.
O melhor método de investigar o campo e a causa de um possível problema em
uma organização depende em parte do tamanho da organização e dos recursos disponíveis.
Discussões entre diretores e representantes de trabalhadores podem ser ricas fontes de
informações sobre as condições estressantes. Recomendam-se medidas de prevenção
como: a melhora do posto de trabalho, por meio de intervenções e um novo desenho dos
locais de trabalho. Além da mudança da organização, existe a responsabilidade pessoal
do trabalhador em manejar seu próprio estresse e ansiedade, separando atividades laborais
das não laborais, ter um repouso suficiente, praticar exercícios, utilizar (de) técnicas de
relaxamento.
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IÍÊ Ô N .im y J. Irtoccnle, J.inme I. Inocente, Rubens Reim .lo, S,imlr.i L. M .ik ilim N . Hapfist.i
Capítulo 13
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Objetivo
Esta pesquisa teve como objetivo verificar a relação entre a incidência de stress
e o nível de qualidade de vida na obesidade. Surgiu da necessidade de responder questões
referentes ao stress e a qualidade de vida em seus quatro quadrantes, segundo
classificação de Lipp & Rocha (1996), e como os aspectos sociais, afetivos, profissionais
e saúde podem influenciar, ou não, no desenvolvimento da obesidade, e nas suas vidas
em âmbito geral.
Método
Participantes: 38 pessoas com idades entre 21 à 58 anos, ambos os sexos, estado civis
variados, residentes em Rio do Sul - SC e cidades circunvizinhas, participantes de
Resultados
A amostra constituída de 38 pacientes participantes apresentou a média geral
referente à classificação da obesidade da seguinte forma: Normal (18%), Sobrepeso com
(50%), Obesidade grau I com (30%) e Obesidade grau II com (2%) entre os participantes,
considerando-se a categoria do IMC como: normal, sobrepeso, obesidade de grau I,
obesidade de grau II, e obesidade de grau III, o que demonstra a Figura n 1.
De acordo com os dados obtidos, a
O B E S II amostra apresentou incidência de stress em
« 0/ , NORMAL (66%) dos participantes que distribuídos
3/0 1 18% globalmente demonstraram que: (58%)
encontravam-se na fase de resistência; (5%)
OBES
na fase de quase-exaustão e (3%) na fase de
29% exaustão. Deve-se registrar que a fase de alerta
não apresentou indicador e (34%) da amostra
não apresentou reação ao stress. Levando-se
em conta as fases patológicas do stress a
0 incidência modificou vertiginosamente para o
SOBREP
percentual de (8%) da amostra.
50% Numa análise detalhada das
respostas dadas aos vários itens do ISSL, a
Figura 1. Distribuição conforme classificação da
Obesidade. amostra demonstrou que os dois sintomas
físicos mais predominantes foram: mudança
de apetite (60%) da amostra selecionada, e o percentual de (53%) para tensão muscular.
Quanto aos sintomas psicológicos, (66%) da amostra tem perda do senso de humor e
(55%) pensa constantemente em um só assunto, e tem angustia / ansiedade diária.
No que se refere ao nível de qualidade de vida da amostra pesquisada detectou-se
que apenas três participantes obtiveram qualidade nos quatro quadrantes, isto é, 8% de
qualidade de vida global. O quadrante afetivo foi o que obteve mais sucesso, 89%; seguido
do quadrante social com 84%; em terceiro está o quadrante profissional com sucesso em
66% da amostra e por último está o quadrante que se refere á saúde com apenas 8% de
sucesso, estes dados podem ser verificados na Tabela 1.
Discussão
A distribuição da amostra referente ao stress, apontou-nos, encontrar-se
diretamente relacionada com a qualidade de vida à que o indivíduo está exposto, segundo
descrição das participantes no ISSL e no inventário de qualidade de vida, expondo que o
indivíduo quando sob efeitos do stress pode ter a sua qualidade de vida nos quadrantes
afetivo, profissional e saúde diminuída, reafirmando o que se verificou anteriormente de
que o indivíduo tem seu processo de atividades cognitivas, interpretação de eventos
ambientais e características da personalidade influenciando nas reações frente aos eventos
da vida (Lipp, 2003).
Observou-se que no quadrante afetivo da qualidade de vida, os dados indicaram
que quanto maior o stress é menor o desempenho no quadrante profissional, fatores que
devem ser considerados uma vez que, o indivíduo quando não está bem consigo mesmo,
ou com suas relações acaba comprometendo-se em seu trabalho, sua produtividade e
obrigações. Dependendo do nível de stress ao qual está sujeito, variará sua condição
física e psíquica podendo sofrer conseqüências mais graves com o desenvolvimento de
patologias ou doenças como ansiedade excessiva ou obesidade. (Lark, 1996)
Pode-se dizer que como esta amostra aponta (66%) dos participantes afetados
com sentimentos de ansiedade e (58%) estressados, prejudicando sua qualidade de vida
e predispondo-se a desenvolver outras doenças como a obesidade, a qual, apresentou-se
com percentual de (82%) da amostra, indicando que os participantes por sentirem-se
ansiosos, estressados, auto gratificam-se, para compensar seus fracassos e frustrações,
juntamente com sentimentos de diminuição da auto-estima, processo de vida descontrolado,
Considerações finais
Verificou-se que o questionamento referente á obesidade inter-relacionar-se com
o stress e a qualidade de vida conduziu a respostas afirmativas, reafirmando a preocupação
quanto as causas de doenças ou patologias em pacientes que trazem esta queixa, para o
atendimento em Clínica que visa o tratamento para obesidade.
Considerando-se que os resultados obtidos nesta pesquisa, efetuam, um pequeno
início para fundamentar cientificamente uma questão tão diversa e ampla como ó o caso
da influência da obesidade na vida das pessoas e sua inter-relação com outros sintomas,
pode-se apontar através desta pesquisa, índices em níveis e graus de afetação, importantes,
comprovando a realidade de que mesmo morando-se em uma cidade de pequeno porte,
com qualidade de vida e pouca violência, os vários aspectos, culturais, biológicos, sociais
e psicológicos exercem diferenciação, considerando-os fatores influenciadores na produção
de stress, ansiedade e obesidade, conseqüentemente afetando e diminuindo a qualidade
de vida das pessoas.
Sabe-se que a obesidade atinge milhões de pessoas em todo o mundo e repercute
em seu aspecto mais agravante que é a saúde, mediante, quadros de hipertensão arterial e
diabetes desenvolvidos pós-obesidade, para tanto, cabe aqui ressaltara importância de suscitar
ações e programas sociais e de saúde com a finalidade de prevenção e informação ao público
em parceria com instituições de saúde, secretarias municipais e estaduais da saúde e afins.
Concluindo, esta pesquisa, procurou demonstrar um campo de abordagem aberto
a novos questionamentos que surgirão em outros segmentos da população, e para qual,
não se têm respostas conclusivas, considerando-se o aspecto multifatorial que influencia
na resposta ao tratamento. Desta forma, a informação e prevenção demonstram
efetivamente serem uma das soluções a serem tomadas como urgência na questão social.
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Patrida Cristina N o v a k f
SobreComfwrlamenloeCoRnifSo 141
planejamento de uma intervenção mais abrangente e que traga resultados positivos
o mais cedo possível.
Seja qual for à condição que a criança enfrenta, a terapia comportamental infantil,
tem o objetivo de diminuir o padrão de comportamento desadaptalivo da mesma e o aumento
de seu bem-estar e de padrões mais adequados de comportamento em seu ambiente. A
terapia tem como finalidade contribuir não apenas para a redução do transtorno, de
comportamento que a criança apresenta a família ou demais instituições, mas também do
impacto quo o transtorno familiar gera sobre a criança. Aspectos importantes merecem
consideração neste sentido e refere-se à participação dos pais no processo da criança.
Quanto à temática da cliente à que este trabalho se refere, faz-se necessário
conceituar os termos aos quais o comportamento-queixa da mesma se remete;
comportamentos de enurese e encoprese.
Descrição do caso
Identificação
A cliente ó uma menina, Nadia3com seis anos de idade, esta na 1a. série de uma
escola municipal da cidade no oeste do Paraná. É filha de um casal que não mora junto.
A cliente mora com o pai I., e com a madrasta E. sendo que quem procurou atendimento
foi à madrasta da menina, devido os comportamentos de enurese e encoprese apresentados
pela criança.
QUEIXA
A queixa inicial apresentada por E., madrasta de Nadia, foi de que a criança
regredia, apresentando comportamentos de enurese e encoprese, sempre que conversa
por telefone com a mãe G., que hoje mora em outro estado. Porém, mais tarde através dos
3 Todos os dados pessoais da cliente e dos familiares foram alterados para sua Identidade ser preservada.
V.mcss .1
M .irm rn fín i, P.itrici.i C m tiiw N o vd ki
Mesmo o pai brincando com a filha, ole não brinca do que ela gosta e também é
apenas o pai quem ganha nos jogos, então para ela isto não é brincadeira, nem
interação- Ex: ficar sentada ao lado do paj vendo o mesmo jogar game no computador.
O comportamonto-problema poderia estar associado a situações de mudanças, como
por exemplo, o casamento do pai, com a E; saída da casa da avó; ganhar um
irmáozinho.
Sentimento de baixa auto-estima, de inferioridade, por sentir falta da mãe (abandonada
pela mãe) e por ser ridicularizada pelos familiares quando não consegue ter o controle
do xixi e/ou do cocô.
O fato de não conseguir chegar ao banheiro a tempo, e de talvez ter vergonha devido
aos comentários pejorativos que o pai fazia a respeito do ato de evacuar.
Com base nos dados obtidos e das hipóteses levantadas, realizou-se a intervenção
clínica com a cliente, com o objetivo de enfatizar formas mais adequadas se sinalizar as
pessoas que ela necessitava de carinho, afeto e atenção. Fez se isso, trabalhando com
comportamentos encobertos por meio de jogos, família de bonecos e de animais, estórias,
modelagem em massinha, utilizou-se ainda o registro no calendário de xixi e cocô4, aonde
a cliente, com supervisão dos responsáveis, marcava, com um X, na nuvem, quando
apresentava comportamento de enurese, no sol triste comportamento de encoprese, e no
sol feliz quando fazia cocô no vazo sanitário.
Os atendimentos aconteciam duas vezes por semana, uma sessão com a cliente
e outra sessão com sua responsável, no caso E.. Durante as intervenções clínicas,
percebeu-se outros comportamentos que necessitavam ser trabalhados com a cliente,
como comportamentos de agressividade, de mentira, orientação sexual e expressão de
sentimentos, pois a cliente apresentava estes comportamentos (mentir, agressão) com
os outros em função de não saber expressar que queria atenção, de forma mais adequada.
Abaixo segue a relação detalhada dos conteúdos mais significativos que foram
trabalhados com a cliente e sua família, visto que o comportamento-problema envolvia
toda a interação familiar. Para Silvares (2000) trabalhar com os pais para alterar os
comportamentos dos filhos ó o esperado quando se acredita que as contingências
ambientais, ou seja, familiares são o que mantém o comportamento-problema. E peio fato
dos pais estarem a maior parte do tempo com os filhos, são eles que têm maiores condições
de alterar as contingências controladoras de tais comportamentos. Assim percebe-se que
a participação dos pais no processo terapêutico e fundamental para a eficácia do tratamento.
Quanto ao quadro seguinte, é importante ressaltar que em todas as sessões
(mesmo nas que enfocavam outros comportamentos, como a mentira, agressividade...) o
comportamento-problema era relembrado e se conversava com a cliente fazendo as
intervenções pertinentes, e verificando as anotações nos calendários controle.
Segundo a analise funcional, verificou-se que a variável que mantinha este
comportamento era a atenção que a cliente recebe do pai e das outras pessoas significativas
a ela, ou seja, Nadia apresentava o comportamento-problema pois era reforçada com a atenção,
do pai em especial, e das outras pessoas também, como, por exemplo, a E. e a sua avó,
incluindo também a mãe, que ligava para saber como estava a filha. E ainda, o comportamento-
problema ocorria também associado a situações de mudanças diversas, e não apenas quando
a mãe ligava, sendo por tanto uma forma da cliente sinalizar para o ambiente que não estava
bem frente estas contingências, uma vez que sua história de vida é marcada por mudanças
que foram acompanhadas de estímulos aversivos, sendo assim reforçada negativamente.
Verificou-se que o pai, e as demais pessoas nunca brincavam com a criança e
quase nunca lhe dirigia atenção particular. Assim a cliente apresentava o comportamento
problema, pois, recebia atenção do pai mesmo sendo por meio de broncas ou palmadas,
ou seja, punindo*a.
Para a abordagem comportamental, o reforço positivo consiste na apresentação de
um reforçador positivo, ou seja, qualquer, recompensa, ganho ou acréscimo de algo que seja
considerado bom para o sujeito, fornecido logo após este apresentar um comportamento
determinado. Ou seja, após apresentar um comportamento qualquer, a pessoa tem como
conseqüência algo que considera bom para si. Neste caso a cliente era reforçada positivamente
com a atenção que recebia do pai e das pessoas que se relacionavam com ela obtendo
atençào logo após apresentar o comportamento problema (enurese e/ou encoprese).
Canaan-Oliveira, et al (2002) afirmam que a punição é entendida, dentro da abordagem
comportamental como o acréscimo de um estímulo aversivo, como um castigo corporal com
beliscão, palmadas, puxões de cabelo ou de orelha, ou a retirada de um estímulo reforçador
corno por exemplo a sobremesa, a mesada, o carinho e afeto dos pais.
Entretanto a punição é concebida como um procedimento no qual uma conseqüência
ruim segue determinado comportamento, fazendo com que este desapareça ou reduza de
freqüência. Assim qualquer evento que faz com que o comportamento diminua é considerado
um evento punitivo e o procedimento geral chamado de punição requer a ocorrência de um
comportamento seguido de uma conseqüência que diminua esse comportamento.
Porém no caso relatado, o uso da punição pelo pai da cliente não fez a freqüência
deste comportamento diminuir, pelo contrário, aumentou confirmando que o uso muito
freqüente e indeterminado da punição pode acabar com a sua eficácia, podendo até aumentar
o comportamento indesejado, ao invés de elimina-lo. Pois para Canaan-Oliveira, et al
(2002) seria como se a criança se acostumasse com aquela conseqüência e assim, ela
Resultados
Na avaliação observou-se através dos procedimentos de coleta de dados, pelo
calendário controle, e intervenção, que o comportamento-problema, apresentado pela criança
surgia como forma de obter atenção dos pais (reforçamento positivo), uma vez que esses
demonstraram ter pouca interação com a criança em outros momentos que não aqueles
relacionados aos episódios de xixi/cocô e reforço negativo, evitando a sensação de abandono.
Através do calendário controle notou-se que as ocorrências do comportamento
problema diminuíram muito, pois no início do tratamento, por volta da segunda semana do
mês de Abril a cliente apresentou 21 vezes o comportamento-problema durante uma
semana, já nos meses de Agosto, Setembro e Outubro, foram poucas às vezes que o
comportamento-problema surgiu, passando várias semanas sem nenhuma ocorrência.
Os resultados podem ser visualizados no seguinte gráfico:
Frequência do Comportamento-
problema Apresentado pela Cliente no
Período do Atendimento Terapeutico
50
!* m s sM Pt t rs & T '
40
30
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Referências
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Guilhardi (et al) Sobre Comportamento e Cognição: Contribuições para a construção da
Teoria do Comportamento, Vo1.10. (1* ed) Santo André: ESETEC.
“Os homens agem sobre o mundo modificam-no e, por sua vez sâo modificados
pelas conseqüências de sua ação.” (Skinner, 1957/1978, p. 15)
Skinner aponta para a influência reciproca entre o meio e o indivíduo. Assim como
o contexto exerce forte influência na determinação das condutas da pessoa, esta ao
comportar-se modifica o meio ao seu redor. A doença grave e crônica na infância é uma
variável importante que incide sobre a criança podendo estender sua ação aos familiares
e pessoas do círculo de relacionamento da mesma e interferir nas relações e
comportamentos dos envolvidos. Ao agir sobre a criança doente e seus familiares, a
doença provoca respostas destes, os quais modificam novamente o ambiente. A doença
e o seu tratamento exigem novo conjunto de habilidades, que interferem no ajustamento
familiar anterior e quando a criança e a família não sabem administrá-la com propriedade,
podem gerar o que Starling (2001) denomina enfermidade, que é o componente psicológico
muitas vezes associado a doenças físicas.
Rlbes (1990) delineia um modelo psicológico da saúde. Mostra, com tal modelo,
que os comportamentos que favorecem a saúde ou que dificultam a cura e impossibilitam
a construção de ações preventivas são, em grande parte, fruto do aprendizado. A
constatação de que podemos aprender a administrar situações complexas, como uma
doença grave, desenvolvendo novas habilidades apropriadas ao momento e evitando a
instalação de um quadro de enfermidade além da doença física, justifica a realização de
estudos psicológicos dirigidos à interação da criança doente com seus familiares.
*(UFPR)
**(UFPR/UnlcenP)
O Diabetes
O diabetes é causado por uma deficiência no pâncreas que é o órgão que produz
insulina, um hormônio responsável pelo metabolismo da glicose. Esta é absorvida pelo
organismo através da ingestão de alimentos ricos em carboidratos e açúcar e é essencial
para a nutrição das células (Zagury & Zagury, 1998).
Quando a insulina do organismo é insuficiente ou a ingestão de alimentos ricos
em carboidratos foi exagerada, o nível de glicose no sangue pode ultrapassar o índice
adequado de 120mg gerando o que se chama de hiperglicemia. Entretanto, se a
concentração de açúcar no sangue for pequena, abaixo de 70mg, tem-se o quadro oposto,
o de hipoglicemia (Zagury & Zagury,1998).
As duas formas mais comuns de manifestação do diabetes são conhecidas como
tipo 1 (DM1) e tipo 2 (DM2). O diagnóstico de DM1 ocorre, habitualmente, em crianças em
idade escolar ou adolescentes. Nesse caso, não há produção de insulina pelo pâncreas e a
O estudo
Seis díades formadas por crianças diabéticas e suas respectivas mães após uma
seleção prévia participaram do estudo. As crianças foram selecionadas a partir da avaliação
dos prontuários de uma clínica particular de Curitiba especializada no tratamento do
Diabetes. Os critérios adotados para seleção foram: a) idade entre 7 e 11 anos, b) tempo
de diagnóstico superior a um ano e c) os exames de Hemoglobina Glicosilada estavam
registrados no prontuário. As três crianças com os maiores índices de Hemoglobina, e as
três com os menores índices, indicando controle glicêmico ruim e bom controle glicêmico
respectivamente, compuseram o grupo a ser estudado.
Para a realização do estudo foram utilizados três instrumentos:
a) o JAT (Jogo de Adesão ao Tratamento), um jogo de blocos ilustrados construído
pelas pesquisadoras para ser trabalhado com as crianças e que tinha como objetivo
possibilitar a identificação dos comportamentos infantis relacionados com o
tratamento da doença. Caracterizou-se a classe de comportamentos relatados pelas
crianças entrevistadas como adesão, adesão parcial e não adesão, conforme o relato
de seguimento das regras impostas pelo tratamento.
b) o QPM (Questionário de Práticas educativas Maternas), um questionário dirigido às
mães com o objetivo de identificar as práticas educativas utilizadas por elas no
manejo dos cuidados com o tratamento do Diabetes e com as crianças. O
comportamento materno foi caracterizado conforme o grau de controle que a mesma
relatava em relação ao comportamento do filho.
c) Lição de Casa (Leone de Souza, 2004), atividade composta por uma historia em
quadrinhos e foi utilizada para observar a interação entre as mães e as crianças em
uma situação que não envolvesse o manejo do Diabetes.
Discussão
Dentre as relações que têm sua origem no interior do sistema familiar, talvez a
mais estudada seja a interação entre pais e filhos e suas conseqüências na vida de
ambos (Reppold, Pacheco, Bardagi e Hutz, 2002). Cabe aos pais a função de educar e
160 Pcilrkl .1
C/uillon Ribeiro, Suzdnr Schmiillin l.òlu
indicam as respostas ao JAT, a partir da observação do comportamento materno (Catania,
1999). Entretanto, o comportamento de controle do Diabetes não se mantém porque ela
não ó reforçada pela mãe. No lugar de reforço dessa resposta operante, a mãe age no
lugar da criança o que pode estar fornecendo à criança o indicativo de que o que ela faz
não está correto e, portanto, mantém a dependência das condutas maternas.
Provavelmente, a expectativa das mães do grupo de controle glicêmico ruim
quanto ao comportamento infantil no controle do Diabetes é muito alta. As màes não
permitem a participação das crianças no manejo do Diabetes, possivelmente, por receio
de que essas expectativas não sejam correspondidas e acarretem o descontrole da
glicemia. Entretanto, ó recomendado que a criança participe ativamente das atividades do
tratamento já que isso possibilita o alcance do bom controle das glicemias (Zimmerman &
Walker, 2002).
No caso das mães do grupo de bom controle glicêmico, as respostas ao QPM
associadas aos resultados do exame de Hemoglobina Glícosílada indicam que,
provavelmente, elas estabelecem as regras e limites necessários ao tratamento e atendem
tanto às suas próprias necessidades, quanto às necessidades da criança. Além disso,
deve haver disponibilidade de reforço para as condutas infantis já que o controle das
glicemias é mantido.
Traçando-se uma comparação entre os resultados obtidos pelo JAT nos dois
grupos, observa-se que o comportamento da maioria das crianças está sob controle das
regras impostas pelo tratamento. Quando o controle glicêmico é bom, as crianças
apresentam respostas que não correspondem com o que é indicado pelo exame de
Hemoglobina e quando o controle glicêmico é ruim, as respostas infantis indicam o
conhecimento das regras, mas não o cumprimento das mesmas. Este paradoxo leva ao
questionamento se a educação em Diabetes está sendo focada nos pais ou nas crianças.
Talvez fosse necessário que os pais ficassem mais atentos em esclarecer as regras do
tratamento para a criança e disponibilizar com mais freqüência reforços que possam
estimular o desenvolvimento da autonomia e do autocontrole infantil.
Para que um comportamento seja aprendido ó necessário que as condutas
próximas do resultado final sejam reforçadas até que se obtenha o objetivo esperado. É
assim que uma criança desenvolve os repertórios desde os mais simples como andar,
segurar objetos e mais tarde, falar, cantar, jogar, etc (Skinner, 1953). Em se tratando de
comportamentos que têm início a partir da descrição das regras, é importante que o
organismo possa ter contato com os reforçadores do ambiente para que o comportamento
possa ser estabelecido e mantido (Castanheira, 2001), conforme já mencionado. Se o
operante não tem a possibilidade de entrar em contato com o reforço do ambiente, ele não
se mantém. É importante, portanto, que as mães estejam atentas às condutas das crianças
em relação ao tratamento para que possam reforçá-las e corrigi-las, ajudando-as a buscar
um controle glicêmico cada vez mais estável.
Referências
Arruda, P.M., & Zannon, C.M.L.C (2002) Adesão ao tratamento pediátrico da doença crônica:
evidenciando o dosaíio enfrentado polo cuidador Santo André, SP: Esetoc Editores
Associados
Fonte: Brownell & Wadden (1992, citados por Brownell & O'Neil, 1999).
Caso Clinico
A cliente atendida ó do sexo feminino, 39 anos de idade, casada, mãe de duas
filhas, terceiro grau completo, professora, 1,55cm de altura, 75 kg, IMC 31, que significa
obesidade em primeiro grau, A cliente relatou à terapeuta freqüentes sensações corporais
alteradas, compatíveis com estados ansiogênicos; perda do auto-controle, a ponto de se
irritar freqüentemente com pessoas com as quais convive; sentir-se gorda e feia e sem
motivação para cuidar de si mesma. Relatou ainda problemas conjugais, cansar-se
facilmente após realizar pequenas tarefas diárias e, ultimamente, o agravamento de suas
sensações corporais a ponto de perder o controle sobre si, apresentando ataques de
ataques de pânico esporádicos1.
Apresentava o problema desde a adolescência, enfrentando críticas e comentários
de familiares e amigos em função do peso. Foi observado que toda a família possuía hábitos
alimentares inadequados. Antes do tratamento terapêutico houve cinco tentativas de
emagrecimento e manutenção do peso, desde a adolescência, por meio de tratamentos
com medicamentos. Entretanto, todos os tratamentos foram interrompidos por dificuldades
para manutenção do peso.
Para iniciar a intervenção comportamental foi realizada uma avaliação clínica, incluído
a entrevista para coleta de dados sobre o problema e formulação do caso, bem como
identificação das variáveis das quais o comportamento alimentar estava sob função. Para
complementação dos dados da entrevista a cliente foi solicitada a responder, como tarefa de
casa, o Questionário de História Vital (Lázarus, 1980). Durante esta fase inicial do atendimento
foi realizado, também, o processo educacional incluindo informações sobre a terapia.
' Os procedimentos necessários para o tratamento dos Ataques de Pânico, como Hiperventílação e Exposição
Sistemática Gradual ao Vivo, foram utilizados, de Inicio, paralelamente ao processo de intervenção relacionado
á obesidade A partir da décima sessão a cliente já apresentava melhoras consideráveis com relação a
este problema.
1 6 8 Pciiila V lrflín i .1
O live ira Llidt
conseqüentemente, da manutenção do peso. Isto foi feito levando a cliente a perceber que
o registro diário favorece o aprendizado sobre calorias, o conhecimento do que é ingerido,
o aumento do controle sobre a alimentação, a discriminação dos padrões de alimentação,
auxiliando na "economia" da quantidade de calorias ingeridas diariamente.
Os dados da Linha de Base demonstraram que os hábitos alimentares
apresentavam-se irregulares, no que se refere à quantidade de alimentos ingeridos, qualidade
dos alimentos habituais, horários de consumo, locais para alimentação e atividades durante
a ingestão. Esta contingência alimentar estava presente em sua vida cotidiana a anos,
desde a infância. Após o casamento o quadro havia se agravado bastante devido ao
sedentarismo, programações sociais e fatores associados à gravidez.
A cliente consumia cerca de 3500 Kcal diárias, quando, considerando sua estatura,
deveriam ser consumidas, aproximadamente, 2000 Kcal. Por meio das Folhas de Registro
Alimentar preenchidas por ela diariamente, tornou-se visível que em situações de estresse
com o marido, os filhos e a família - a cliente tinha descontentamentos com o
comportamento de alguns dos familiares - a ingestão de alimentos era maior, ou seja, na
falta de reforçadores sociais ela buscava a compensação por meio de reforçadores
alimentares.
10:00^
12:30
15:30
18:30
Resultados
O peso atual da cliente é de 59 kg, ou seja, 16 kg a menos do que o inicial, e o
IMC é 24, que significa peso saudável. Ela realiza cinco refeições diárias na quantidade
estabelecida e com a qualidade adequada, diferentemente do início do processo, onde
fazia duas ou três refeições maiores e “beliscava" durante o dia todo, principalmente à
noite. Alterou os locais impróprios para alimentação substituindo-os por ambientes mais
apropriados, eliminando atividades inadequadas e distrações durante ingestão dos
alimentos. Adquiriu habilidades para lidar com situações de estresse familiar sem
necessidade de recorrer ao alimento como fonte de reforço momentâneo. O tempo gasto
com refeições e mastigação aumentou, pois antes utilizava menos que 10 minutos para
almoçar e atualmente utiliza entre 20 e 25 minutos para tal atividade.
O gráfico abaixo apresenta o peso, o nível de ansiedade e o IMC da cliente durante
o período de Linha de Base, Intervenção e Follou-up, isto é, nove meses após as
H Peso
B Nivel de Ansiedade
□ IMC
h u b
INT Follow-up
Relato da Cliente:
"Antes de passar por este tratamento eu não via saída. Achava que nunca
conseguiria emagrecer. Não sabia que o psicólogo trabalhava com este tipo de problema.
Eu vim para o tratamento dos ataques de pânico e acabei descobrindo outro benefício
enorme. Por que é que vocês não divulgam isto para as pessoas? Eu, por exemplo, passei
por tantos tratamentos antes... sem saber que poderia ter, aqui, estes resultados!!! Como
isso é importante!
Nesta semana estava conversando com um amigo do meu marido que está
insatisfeito com o peso e inclusive tendo problemas de saúde. Tentei ensinar o que estou
aprendendo. Disse pra que ele procurasse ajuda terapêutica e ele comentou que não tinha
Conclusões
Observa-se que as funções dos comportamentos problemáticos devem ser
corretamente avaliadas, caso contrário, os métodos de tratamento apenas diminuem o
comportamento-problema temporariamente e podem precipitar novos padrões problemáticos.
A Terapia Comportamental eficaz depende claramente da especificação precisa
das variáveis funcionais de desenvolvimento e manutenção dos comportamentos em questão,
sendo o procedimento de modificação ditado por elas. E, a habilidade do clínico em conduzir
a análise e modificação comportamental depende do conhecimento profissional, da coleta
de dados suficientes, para que não haja intervenções aleatórias e arbitrárias, bem como
da relação terapêutica estabelecida com o cliente.
É perceptível, por meio da análise do contexto alimentar e comportamentos habituais
da sociedade atual, que a obesidade é um problema complexo, apesar de estar relacionado
a fatores claramente definidos. Assim, são necessárias intervenções de diferentes
profissionais, concomitantemente, para a obtenção dos resultados desejados. Considerando
as diferenças individuais, familiares e culturais, bem como os objetivos de cada pessoa que
busca o tratamento. Em muitos momentos o trabalho deve ser direcionado a auto-aceitação.
O apoio da terapia para a mudança comportamental e estilo de vida - que em
alguns tratamentos é fator dificultador da adesão do cliente - mostra-se relevante e, em
alguns casos, determinante para a perda e controle de peso. Várias ações, decorrentes
de mudanças ambientais propostas em terapia, protegem a pessoa contra o
desencadeamento do comer em excesso, evitando assim, o sobrepeso.
Referências
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1
Sobrc ‘omportcimeulo c Coflnlv'ilo
social pelo interesse sexual em crianças, sanções criminais fracas para o agressor
sexual, ideologia da família “sagrada", tolerância social para o comportamento
desviante cometido quando sob efeito de álcool/drogas, pornografia infantil).
3) Inibição externa: Individuais (mãe que está ausente ou doente, mãe que não está
perto para proteger a criança, mãe que é dominada ou sofre agressões do pai da
criança, isolamento social da família, oportunidades não usuais para estar a sós
com a criança, falta de supervisão da criança); Sócio-culturais (falta de suporte social
à mãe, barreiras para a igualdade das mulheres, erosão das redes sociais, ideologia
da santidade da família).
4) Resistência da criança; Individuais (criança emocionalmente insegura ou em privação,
criança com falta de conhecimento sobre abuso sexual; situação de confiança não
usual entre criança e o agressor, coerção); Sócio-culturais (indisponibilidade de
educação sexual para crianças, desenpoderamento social da criança).
Segundo tal modelo, se todas as pré-condições estiverem presentes, na forma de
um ou mais fenômenos descritos, possivelmente o abuso sexual ocorrerá. O modelo
apresentado por Finkelhor (1984a) possibilita planejar diferentes formas de atuação que
se concretizariam em ações de prevenção primária, secundária e/ou terciária.
Levando-se em conta os avanços mencionados em relação ao declínio dos casos
de abuso sexual em diversos países, declínio possivelmente atribuído aos programas de
prevenção de abuso sexual, pode-se questionar quais as formas mais adequadas de se
intervir preventivamente junto às crianças.
Atuando-se juntamente aos responsáveis pela criança e/ou à própria criança,
pode-se planejar intervenções que visem à prevenção primária e/ou secundária. A efetividade
dos programas que envolvem pais como instrutores depende da inclusão de estratégias
como exposição comportamental e demonstração de modelos de autoproteção, A
apresentação aos pais de modelos de autoproteção por profissionais treinados parece
garantir maior efetividade aos programas (Wurtele, Gillispie, Currier & Franklin, 1992;
Wurtele, Kast& Melzer, 1992; Wurtele, Currier, Gillispie & Franklin, 1991;).
As mães, por exemplo, parecem ter um papel crucial na proteção das crianças do
abuso sexual. Quando essas são incapazes de reconhecer a ocorrência de abuso sexual e
de proteção, a criança pode se tornar mais vulnerável ao abuso. Sendo assim, pode-se
perguntar que formas de se informar mães acerca de abuso sexual são mais eficazes em
torná-las capazes de reconhecer e de proteger a criança da ocorrência desse tipo de abuso.
As crianças podem sucumbir ao abuso sexual por serem jovens, ingênuas e por
falta de informação (Finkelhor, 1984a). Que informações seriam importantes de serem
passadas às crianças para protegê-las? Pode-se pensar em informar as crianças a respeito
de comportamentos sexuais relacionados à possibilidade de aproximação do agressor, ou
seja, habilitá-las a se autoprotegerem de uma possível ocorrência de abuso sexual.
Estudos demonstraram que quando são usadas aproximações comportamentais
tais como modelos, exposição e reforçamento social, as crianças pró-escolares podem
aprender habilidades de defesa pessoal (Harvey, Forehand, Brown & Holmes, 1988; Stiwell,
Lutzker & Greene, 1988; Kraizer, S., Witte & Fryer, 1989; Wurtele, Kast, Miller-Perrin &
Kondrick, 1989; Wurtele, 1990).
O que se questiona a partir disso ó como planejar meios adequados de se promover
aprendizado eficaz de autoproteção. Agindo em algum dos fatores citados no modelo de
Referências
184 Rtuhcl i/c h i rid Brino, l. úcid C d vdkdnfi de Albuquerque W ill idms
Capítulo 19
•Pesquisadora e Palestrante
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Para o cliente, até o momento em que escolhe fazer terapia, a principal fonte de
aversividade reside no relacionamento insatisfatório estabelecido com seu ambiente físico
e social. E, para o terapeuta, o sofrimento apresentado pelo cliente é um estímulo aversivo,
‘ consultório particular
Cliente (C): Sabe, meu marido parece um santo, mas eu fico doida com ele. Se não fosse
pelo mou esforço, não teríamos nossa casa e nem as coisas que eu coloquei lá
dentro. Tem TV, som, microondas, video, tudo. Ele diz que ganha pouco e não se
esforça para melhorar, conta com meu dinheiro para tudo. Outro dia pediu dinheiro
para a condução, disse que foi comprar peça para um freguês e que o dinheiro tinha
acabado.
Terapeuta (T): E o que v. já fez a este respeito?
(a conversa evolui, até que alguns minutos depois ela é conduzida por T, através de
perguntas, a descrever melhor os dois lados da briga, revelando que os problemas
no casamento eram mais complexos, e que marido e mulher contribuíam para os
desacertos, com conseqüências graves)
C: Eu desisti de tentar, gastei saliva, fiquei nervosa um monte de vezes... Um dia, só de
raiva, eu não segurei a língua e falei que até para ter o nosso filho (o mais moço) eu
precisei de outro homem, que nem prá isso ele prestava mais.
T: Você está me dizendo que seu filho não foi gerado com teu marido, e que v. se relacionou
com alguém mais naquela época do casamento, é isso?
C: (parece desconcertada por ter feito a auto-revelação para T, e apenas acena com a
cabeça).
190 Rcnln .1
C liristin.i W ie lr n s k i
T: Devia estar tudo muito difícil para vocês já naquela fase em que v. ficou grávida. E
depois desta briga imagino que a coisa só piorou. Isto acontece com muitas famílias,
o relacionamento desanda, as pessoas buscam apoio fora de casa, com alguém
que as compreenda. Depois, ou mesmo hoje, a gente pode conversar sobre este
caso que v. teve, tá bom? Mas vamos falar dos conflitos de agora... na hora que v.
falou da paternidade para ele, qual a reação?
A cliente, ao apresentar suas queixas, e ser extensivamente questionada pela
terapeuta sobre vários aspectos do relato, foi íevada a abordar temas que mostravam que C
contribuia para a formação e crescimento dos conflitos, tanto quanto seu marido. Desse
modo, C vivenciou, na sessão, algum desconforto: saiu do papel de vítima passiva e foi posta
por T como participante do problema. Tal revelação, induzida pelo questionamento de T,
tornaria mais provável que C emitisse respostas de esquiva ou fuga da terapia. Certas
formas de esquiva, como ir embora mais cedo da sessão, faltar na sessão seguinte, ficar
calada ou reticente, mudar de tema e comentar sobre banalidades, sugerem ao terapeuta a
hipótese de que na vida da cliente haveria uma história de reforçamento da esquiva ou fuga
de problemas: para a cliente, problemas seriam apenas tangenciados, ocasionalmente sob
a forma de reclamações, sem que se buscasse formas de resolvê-los efetivamente. Neste
caso específico, a terapeuta precisou atenuar o eventual peso social da infidelidade
"acidentalmente confessada na sessão", sugerindo a explicação de que a traição é fruto de
contingências em vigor na vida do casal, e que isso ocorre com muitas famílias. A terapeuta,
então, retoma o episódio da briga e continua a analisar o ocorrido. Em sessão posterior, C.
conseguiu trazer outro dado importante, desta vez sem maior questionamento de T. A cliente
relatou ter perfurado o olho direito do marido durante uma briga no passado (com perda total
da visão), explicou que ele não brigava, apenas tentava se explicar quando ela se exaltava.
Mesmo quando agredido com as palavras da esposa e ferido no olho, não retribuiu o ataque.
Essa revelação parece sugerir que T conseguiu atenuar a aversividade da revelação inicial e
propiciou o surgimento de verbalizações adicionais acerca do comportamento belicoso de
C, ocorrido especialmente em fases de humor maníaco e irritável. Uma das funções da
relação terapêutica é facilitar ao cliente a auto-revelaçáo, por meio de uma postura de
aceitação e não-julgamento do terapeuta frente às verbalizações do cliente. Explicar, numa
linguagem acessível, que o comportamento ó um fenômeno multideterminado por variáveis
(de natureza biológica e sócio-cultural) também ajuda o cliente a se sentir mais confortável
para falar sobre seus problemas.
A aversividade não se manifesta na relação terapeuta-cliente apenas durante a coleta
de dados. Não é raro, por exemplo, que algum procedimento, proposto pelo terapeuta ao
cliente, transforme-se, inadvertidamente, em um estímulo aversivo, mesmo que o objetivo
primordial fosse, a médio ou longo prazo, minorar o sofrimento. Por exemplo, como parte do
tratamento de transtorno obsessivo-compulsivo, pode-se utilizar uma técnica de exposição
a estímulos ansíogônícos (geralmente acompanhada da prevenção de respostas rítualístícas
e de neutralização). O cliente geralmente expressa relutância, há o risco da recusa tornar-
se irreversível. Nos casos mais extremos, aos olhos do cliente, o terapeuta vira um inimigo,
capaz de "forçar a barra e se mostrar insensível ao sofrimento alheio". Algo parecido ocorre
quando o terapeuta sugere ser conveniente que determinada tarefa fosse realizada no intervalo
entre as sessões (algo como a observação de eventos públicos ou privados, a prática de um
ensaio comportamental, etc.). Algumas das atividades eliciam medo ("se eu conseguisse
fazer a lição, não precisava de terapia", “por que tenho que sofrer tanto para ficar bom?", "se
eu não conseguir, ele vai se decepcionar comigo, vou levar bronca") ou raiva ("eu não sou
Referências
Wielonska, R.C. (2002) Tese de Doutorado "Adesào e Mudança do Comportamento, efeitos das
interações verbais terapauta-diente nas primeiras sessões", defendida no Instituto de
Psicologia da Universidade de Sào Paulo, sob orientação da Prof, Dra. Rachel Rodrigues
Kerbauy.
Apego
A teoria do apego foi inicialmente formulada pelo psiquiatra britânico Jonh BowJby,
o qual tinha o intuito de estudar e explicar o desenvolvimento dos vínculos afetivos no ser
humano. Bowlby (1990) inicia seus estudos a partir da observação e registro sobre o modo
como crianças pequenas reagem à experiência de separação e subseqüente reencontro
Auto-estima
A auto-estima é definida como a avaliação que um indivíduo faz de si mesmo ou,
como Bee (1996) coloca: “ (...) avaliação global do próprio valor" (Bee, 19$6, p. 295). Expressa
um sentimento ou atitude de aprovação ou repulsa de si, indicando até que ponto o sujeito se
considera capaz, valioso, significativo e bem-sucedido. É um juízo de valor que se expressa
através das atitudes que o indivíduo mantém consigo mesmo. É uma experiência subjetiva
que o indivíduo expõe aos outros por relatos verbais e comportamentos observáveis
(Coopersmith, 1967; Assis; Avanci, Silva, Malaquias, Santos e Oliveira, 2003).
Segundo Rosenberg (2003) a auto-estima é uma orientação positiva ou negativa em
direção a si, uma avaliação global de seu próprio valor. Rosenberg (2003) coloca que as
pessoas motivadas a terem uma alta auto-estima possuem indícios de uma autoconsideração
positiva,o que não é egotismo. A auto-estima é considerada como um componente do
autoconceito, o qual o autor define como totalidade de pensamentos e sentimentos individuais
tendo como referência a própria pessoa como um objeto. Ao lado da auto-estima, a auto-
eficácia ou autodomínio e a auto-identidade também são partes importantes do autoconceito.
Oliveira (1994) citado em Costa (2002) diferencia autoconceito, auto-imagem e auto-
estima, dizendo que o primeiro apresenta-se como uma atitude que a pessoa tem de si
mesmo decorrente da maneira como ela se percebe, a auto-imagem é considerada como um
sinônimo do autoconceito só que possui uma ênfase no social e a auto-estima se refere a uma
atitude valorativa do indivíduo com relação a si mesmo.
Dessa maneira, a auto-estima é um fator importante na relação do indivíduo consigo
mesmo e com os outros, exercendo influência na percepção dos acontecimentos e das pessoas
e, conseqüentemente, no comportamento e nas vivências do índívíduo. Portanto, apesar do
tema da auto-estima estar popularizado na mídia, pelos livros de auto-ajuda, e estar tão
psicologizado, a auto-estima é um tema importante dentro da comunidade científica, e como
defendem >4ss/s e cols. (2003) a auto-estima, como base da representação social de si, se
coloca no campo da saúde pública, pois envolve o bem-estar individual e social.
Acrescentando-se a isso, Coopersmith (1967) citado por Gobitta e Guzzo (2002)
considera que crianças com auto-estima rebaixada possuem menor probabilidade de serem
Método
Participantes: 129 estudantes universitários de diversos cursos de graduação da cidade
de Curitiba - PR, sendo 93 pessoas (72,1 %) do sexo feminino e 36 pessoas do sexo masculino
(27,9%). A idade média foi de 21,09 anos com desvio padrão de 2,933. As idades dos participantes
variaram de 17 anos (2,3%) a 43 anos (0,8%), sendo que a maioria das pessoas têm idade de
22 anos (23,3%). Com relação à opção sexual, verificou-se que 96,8% da amostra são
Instrumentos:
Os instrumentos utilizados foram (anexo):
1. Escala de Auto-Estima de Rosenberg (Rosenberg Self-Esteem Scale), que contêm
10 questões avaliadas pelo sistema Likert de 5 pontos, que varia de ‘Discordo
totalmente" a "Concordo totalmente";
2. Questionário de Relações Amorosas e Apego (Relationship Scales Questionnaire -
Griffin e Bartholomew, 1994), que contém 30 questões retiradas da medida de apego
de Hazan e Shaver (1987), do Questionário de Relações Amorosas (Relationship
Questionnaire) de Bartholomew e Horowitz (1991), e da Escala de Apego Adulto de
Collins e Read (1990) citados por Rosenberg (2003). As questões são apresentadas
de forma que os participantes escolhem o que melhor descreve seu estilo de apego
em uma escala Likert de 5 pontos, que varia entre ‘‘Nada a ver comigo" a "Tudo a ver
comigo". Cinco questões são relativas aos estilos de apego seguro e evitativo e
quatro questões aos estilos preocupado e receoso;
3. Inventário Assertivo Alberto & Emmons, 1987), que possui 35 questões avaliadas
pelo escore total do sujeito.
baixa auto estima média auto estlmn alta auto etitima 1OtHl
pouco assertivo % assertividade HO, 9% 30,4% 8,7% 100,0%
% auto estima 35,9% 12,1% 6.3% 17,8%
% Total 10,9% 5,4% 1,6% 17,8%
rtièdio assertivo % assertividade 31,2% 41,6% 27,37o 100,0%
% auto-estlma 61,5% 55,2% 65,6% 59,7%
% Total 18,6% 24,8% 16,3% 59,7%
assertivo % asHortivIdad« 3.4% 65,5% 31,0% 100,0%
% auto-estlma 2.6% 32, B% 28,1% 22,6%
% Total ,tt% 14,7% 7,0% 22,5%
Total % assortivldade 30,2% 45,0% 24,8% 100,0%
% auto-estima 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
% Total 30,2% 45,0% 24,8% 100,0%
Referências
Alborti, R.E. & Emmons, M.L. (1978). Comportamento Assertivo: um guia de auto-expressào.
Belo Horizonte: Interlivros.
Assis, S.G.; Avanci, J.Q.; Silva, C.M.F.P.; Malaquias, J.V.; Santos, N.C. & Oliveira, R.V.C. (2003). A
representação social do ser adolescente: um passo decisivo na promoção da saúde.
Ciônc. saúdo coletiva, 8(3), 669-679. Obtido em 10 de janeiro de 2003 do World Wide
Web: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttoxt&pid*S 1413-81232003000300002
&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1413-8123.
Bachman, G. & Zakahi, W R. (2000). Adult Attachment and Strategic Relational Comrnunication:
Love Schomas and Affinity-Seoking. Comrnunication Roports, 13( 1).
Bartholomew, K. (1990). Avoidance of intimacy: An attachment perspectivo. Journal of Social &
Personal Relationships, 7(2), 147-178. Obtido em 20 de outubro do 2003 do World Wide
Web: http:// www.psycinfo.br
Bee, H. (1996/ A Criança em Desenvolvimento. (7" ed.). Porto Alegro: Artes Módicas.
Bowlby, J. (1990). Trilogia Apego e Perda. v. 1. (2- ed.). São Paulo: Martins Fontes.
Bowlby, J. (1990). Formação e Rompimento dos laços afetivos. Sào Paulo: Martins Fontes.
Dia e hora Situação 0 que estou 0 que estou 0 que fiz a 0 que senti em
sentindo? pensando seguir? meu corpo?
agora?
Domingo a Conversando Angústia Que droga de Chorei muito Taquicardia
noite com minha intensa nota 9 vida, não
mãe sobre o gosto de viver I
que ocorreu aqui nesta I
comigo cidade
Quinta a tarde Olhando a Pavor nota 9 Pode ser que Chorei Pressão no
novela numa aconteça tudo peito
cena de de novo
agressão de comigo
I um homem
contra uma
mulher í
Sábado a Saindo do Medo 8 Lembrei do t Fui depressa Enjôo
tarde supermercado estupro e do i para casa e
quando quase estuprador não sai mais
esbarrei num naquele dia
homem de
bicicleta
Segunda de Estava com Medo 10 Tenho medo Sai mais cedo Vômitos e
tarde no pouca tarefa de me atirar ' e fui para casa diarréia
trabalho quando me pela janela do chorando
deparei 10° andar
1
sozinha no
escritório
Sábado a Passei de Terror 9 Minha vida Controlei o Mãos geladas
tarde carro com uma ficou choro mas e trêmulas
colega pelo tal estragada quase não
viaduto conseguia falar
Domingo noite Lendo no Tristeza 10 Por que Chorei e fui Cansaço
jornal uma comigo? dormir enorme
matéria sobre Nunca mais
mulheres serei a!
violentadas mesma.
Sexta ao meio Passando por Medo 7 e raiva Os homens Apressei o Taquicardia e
dia uma obra 10 são todos | passo enrijecimento
quando os iguais, muscular
peões insensíveis e
mexeram violentos
comigo
Referências Bibliográficas
American Psychiatric Association. (1994). Diagnostic and Statistic Manual of Mental Disorders.
(3a. Edição) (DSM-III). Washington, D.C.: APA.
Calhoun, K. S., Rosick, P.A. Transtorno de estresse pós-traumático. In D.H. Barlow (org). Manual
Clínico dos Transtornos Mentais. Porto Alegre: artes Módicas, 1999.
Caminha, R.M. (2002). Grupoterapia Cognitivo-Comportamental em Abuso Sexual Infantil. In
Sobre Cognição e Comportamento. São Paulo: ESETec.
Caminha, R. (2004). Transtorno de estresse pós-traumático. In P. Knapp (2004) Terapia cognitivo-
comportamental na prática psiquiátrica. Porto Alegre: Artmod.
Caminha, R.M., & Lessinger (2003). Torapia cognitiva do transtorno de estresse pós-traumático
(TEPT). In R.M. Caminha, R. Wainer, M. Oliveira, & N. Piccoloto (2003). Psicoterapia
Cogmtivo-Comportamental; teoria e prática. São Paulo: Casa do Psicólogo.
' Versflo preliminar deste trabalho foi apresentada no Simpósio "Aplicações educacionais do resultados de
pesquisas sobre equivalência de estímulos" no XIII Encontro da Associação Brasileira de Psicoterapia e
Medicina Comportamental e II Conferência Internacional da Association for Behavior Analysis, Campinas - 2004.
Apoio-FAPESP
1 Terapeuta Ocupacional, Mestre e Doutora em Educação Especial pela UFSCar.
1 Professor do Departamento de Psicologia e da Pós-graduaçôo em Educaçao Especial da UFSCar, bolsista
produtividade CNPq.
* UNICEP - Centro Universitário Central Paulista - SP, UFSCar - Universidade Federal do São Carlos - SP
4 Entende-se por "treinos" as etapas do procedimento de ensino que antecedem a aplicação dos testes para
verificaçôo das relações emergentes de acordo com o paradigma de equivalência de estímulos.
Método
Participantes
Participaram desta pesquisa 11 pessoas com deficiência mental, entre nove e 32 anos de
idade, de ambos os sexos, estudantes de uma escola de educação especial e sem
experiência anterior conhecida em pesquisas que utilizavam procedimentos de escolha de
acordo com o modelo. A Tabela 1 apresenta os dados de caracterização dos participantes
no início da pesquisa.
* Ano», menos
** Escala Wochsler de Intoligôncia para Crianças aplicado em Agouto de 2000
D A. ■ Deficiência Auditiva
D M. • Deficiência Montai
Q.I. - Quoeficiente do Inteligência
I Montai • Idnde Montai
Estimulos Experimentais
Foram utilizados como estímulos visuais os algarismos ‘‘1", "5”, "10”, “25", ‘‘50" e
“100", formatados em fonte Times, cor preta, cujos tamanhos variavam conforme a cor de
fundo da tela: tamanho 110, algarismos apresentados contra um fundo branco ou tamanho
48 contra o tundo azul. Os preços impressos em valores decimais (“0,01"; "0,05"; "0,10";
"0,25"; "0,50"; "1,00"; “5,00"; "10,00"; "50,00" e "100,00") foram formatados no tamanho 48.
Esses estímulos foram preparados no programa Photoshop, salvos no formato ".pic" e
colocados na pasta de imagens do Mestre*. Esses valores foram escolhidos por
Procodimento de Ensino
O procedimento de ensino de comportamentos matemáticos - especificamente o
manusear dinheiro - foi planejado através de quatro estudos, explicitados a seguir.
No Estudo 1 treinou-se simultânea e funcionalmente as relações entre numerais e
moedas, com o objetivo de ensinar as relações entre numeral ditado e numeral impresso e entre
valor monetário ditado e figura de moeda. A questão permeou o estudo foi se as relações entre
numeral impresso e figura de moeda e sua simétrica, alvos do estudo, poderiam emergir em
função deste treino. A hipótese é que o controle no uso de dinheiro é estabelecido pelo numeral
impresso na unidade monetária. Uma outra questão investigada foi se o ensino da relação entre
componentes numéricos, por exemplo “1+1+1+1+1" e numeral impresso "5" faria emergir a
relação inversa de escolha de acordo com o modelo com construção de respostas (CRMTS),
utilizando moedas verdadeiras. A emergência dessas relações poderia apontar uma economia
de ensino, aspecto de extrema importância quando se planeja instalar repertórios extensos em
populações com deficiência mental. A Figura 1 ilustra a sequência de treino e testes.
Resultados e discussão
No Estudo 1, constatou-se o insucesso dos participantes em tarefas de CRMTS,
que pode ser explicado pela ausência, em seu repertório inicial, da habilidade de contar ou
adicionar moedas para compor um valor monetário específico e pela falta de familiaridade
com a tarefa de CRMTS. Além disso, o treino com os componentes numéricos intercalados
( illA 16 12 64/30
ROA 17.1 14.5 75/40
Referências Bibliográficas
KuasclIM, Church*, *
Estou muito contente por ter sido convidado para falar com vocês sobre a história
da pesquisa sobre punição. Como estudante de doutorado no início da década de 50, eu
li quase todos os experimentos em aprendizagem aversiva que foram realizados na primeira
metade do século 20. Logo após, estive engajado em pesquisa sobre aprendizagem aversiva
por aproximadamente 20 anos. No entanto, isto foi há muito tempo atrás - de meados dos
anos 50 até meados dos anos 70.
Já não mais me considero um especialista nesta área, mas posso lhes falar
algumas coisas sobre sua história. Espero que vocês não se importem que esta palestra
seja um depoimento pessoal no qual eu lhes falarei sobre minha própria investigação
sobre punição e aprendizagem aversiva. Considerem esta descrição como um estudo de
caso - ela é representativa do trabalho de muitos outros pesquisadores que são muito
bem conhecidos por muitos de vocês.
Comecei a pesquisar sobre comportamento aversivo durante o programa de
doutorado, devido ao carisma de meu mentor, Richard L. Solomon. A Figura 1 mostra uma
foto do Professor Solomon á direita, comigo como seu anfitrião, na ocasião em que ele
recebeu o título honorário de doutor em ciências pela Brown University em junho de 1990.
•Brown University
1 Traduzido por Paulo Guilhardl
2 N A O aulor expressa seu agradecimento a Paulo Gullhardi que nâo apenas traduziu esta apresentação,
como também preparou as figuras e, mais importunte, fez comentários criteriosos sobre o estilo e conteúdo
deste artigo. A maioria das pesquisas descritas neste trabalho foi financiada pelo National Institute of Mental
Health de 1964 a 1974 (MH-08123 e MH-19794)
Figura 2. Atraso do roforço se refere ao intervalo entro uma rosposta e um reforço, como
a apresentação de comida. Há um atraso do reforço no procedimento da direita, mas
não há atraso no procedimento da esquerda.
Russell M . Church
Solomon me falou da existência de um vasto conhecimento sobre o efeito do
atraso do reforço em aprendizagem utilizando comida como reforço, mas que havia muito
pouco conhecimento sobre seu efeito em esquiva. Ele me disse ainda que eu, facilmente,
poderia me tornar um especialista mundial nos efeitos do atraso do reforço em aprendizagem
de esquiva. Eu fiquei entusiasmado para seguir esta linha. Mas quando eu sal de sua sala,
senti uma forte pontada de medo - o que é "atraso de reforçamento" em aprendizagem de
esquiva? Eu achava que o reforçamento da esquiva teria de ser a não ocorrência do choque,
mas como alguém pode atrasar o que não ocorre? Felizmente, não precisei revelar minha
ignorância para o meu mentor. Expliquei meu problema para um estudante de doutorado
mais experiente (Leo Kamin), que me alertou para a presença de dois reforçadores na
aprendizagem da esquiva (o término do choque e o término do estímulo) e que, tanto um
deles como ambos, poderiam ocorrer no momento da resposta ou após um atraso. Isto
culminou num artigo sobre o atraso do término do choque em aprendizagem de esquiva,
meu primeiro artigo publicado (Church & Solomon, 1956).
Tabela 1 Alguns dos psicólogos mala conhecidos no corpo docente da dois dos departamentos da
Harvard University em 1952.
Harvard (1952)
Devo falar alguma coisa a respeito da relação entre a pesquisa do Dick Solomon
e Fred Skinner. Ambos estavam na Harvard enquanto eu estava no progama de
doutoramento, mas no entanto, em departamentos diferentes. O Departamento de Relações
Sociais foi desenvolvido para ser uma unidade multidisciplinar que integraria psicologia
social e da personalidade, antropologia cultural e sociologia. Dick Solomon era um membro
deste departamento e Fred Skinner era um membro do Departamento de Psicologia, cujo
foco era em psicologia experimental. Alguns membros do corpo docente dos dois
departamentos estão listados na Tabela 1. Enquanto estudante de doutoramento, fiz
disciplinas com todos os psicólogos vinculados ao Departamento de Relações Sociais, e
com nenhum dos psicólogos vinculados ao Departamento de Psicologia.
Como vocês sabem, B. F. Skinner exerceu uma enorme influência nos psicólogos
em diversas áreas; a influência de R. L. Solomon foi focada no estudo do comportamento
aversivo. Embora ambos, assim como seus alunos, trabalharem de forma bem
independente, em retrospecto parece-me que as maiores diferenças estavam no estilo de
pesquisa. (Ver Tabela 2).
Russell M . Church
Catania e outros, as contribuições de Skinner para a psicologia são muito bem conhecidas
e muito bem apreciadas no Brasil.
Agora ó hora de deixar de lado pessoas e instituições e começar a comentar
sobre a história de algumas idéias referentes ao comportamento aversivo e punição. Um
livro editado, intitulado "Punishment and aversive behavioi” (Campbell & Church, 1969)
baseado em um congresso em 1967, fornece uma maneira conveniente de acessar o
status da área em meados de 1960. Por meados de 1970, os métodos de pesquisa em
comportamento aversivo estavam bem desenvolvidos. Entre eles, procedimento de fuga,
de esquiva (que em algumas ocasiões era chamado de esquiva ativa), de punição (que em
algumas ocasiões era chamado de esquiva passiva), contingente à resposta (que em
algumas ocasiões era chamado de instrumental), independente da resposta (que em
algumas ocasiões era chamado de clássico) e de escolha. Muitas relações funcionais
entre um nível quantitativo de uma variável independente e um nível quantitativo de uma
variável dependente foram bem estabelecidas. Esta pesquisa estabeleceu uma base para
a integração dos estudos entre fuga, esquiva e punição e uma integração entre tais tópicos
e condicionamento aversivo clássico. Ela também estabeleceu maneiras de integrar o
estudo de condicionamento aversivo, com condicionamento que usava comida como reforço
e discriminação temporal. A deficiência principal desta pesquisa foi que ela não gerou uma
teoria quantitativa de condicionamento aversivo simples, geral e bem desenvolvida. Somente
posso fazer uma especulação agora do porquê após, aproximadamente 20 anos, eu parei
de fazer pesquisa sobe comportamento aversivo: pode ter sido por razões científicas e
políticas. Cientificamente, acreditei que os problemas que gostaria de estudar poderiam
ser investigados sem o uso de estimulação aversiva; e politicamente, eu acreditei que
esta decisão reduziria o conflito com o movimento de direitos dos animais.
C lá s s ic o N e n h u m e le ito
( 'l á t l i c n
lujlil Ic rm in u o c h o q u e c
te rm in n o e s tím u lo
Lsquiva Atr.iNH u c Ih h | uc e
tc n n in n o e s tim u lo
Punição P ro d u z o c h o q u e
Russell M . Church
Fuga C n i c e ly & C lm r c li (1976)
Aprendizagem de esquiva
C hurch, Hrush, & Solomon (1956)
1
u
©
s
£
Figura 6. Esquiva Painel da esquerda: tentativa média do último choque, uma medida de taxa de aprendizagem, em
tunçào do intervalo CS-US, em um procedimento de condicionamento atrasado e traço Painel da direita' latência
média do critério de 5 respostas, em função do intervalo CS-US, em um procedimento de condicionamento
atrasado e traço (Extraído de Church, Brush & Solomon, 1956.)
Russell M . Church
Libby & < lin rc li (t<>74>
Figura 7 Esquiva Probabilidade condicional de uma resposta (por segundo) dada uma
oportunidade para resposta, em função do tempo desde a resposta anterior Os dados são
mostrados para cada um dos trés sujeitos e para a média dos trôs sujeitos nos intervalos de 10,
20 e 40 seg entre a resposta e o choque (Extraído de Libby 8. Church, 1974 )
Figura 8 Esquiva. Taxa de respostas relativa á taxa de respostas máxima dos sujeitos, em
funçáo da proporçáo do intervalo desde a emissão da resposta até o choque. Os pontos
Indicam a média e as linhas indicam a dispersão dos três sujeitos. (Extraído de Libby & Church,
1974.)
Russell M . Church
H w St C liiir r h (1 % ? )
A maioria dos estudos sobre punição diz respeito ao seu efeito no comportamento
mantido por reforço positivo enquanto a administração do reforço está em vigor (em vez de
seus efeitos durante a extinção). Por exemplo, a taxa relativa de respostas é afetada pelo
atraso da punição - o intervalo entre uma resposta e o choque. A Figura 11 mostra os
efeitos dos intervalos de atraso variando entre 0 e 30 seg e um grupo de controle não
contingente, no qual o choque ocorreu independente das respostas (Camp, Raymond &
Church, 1967).
Russell M . Church
( liurcli & Raymoml (1%7)
£
í
i_
a
O.
■r.
Figura 16. Punição e condicionamento
clássico. Razão de supressão média
em função das sessões nas
condições de punição discriminativa
s
.£
Raapoata do
Sujalto
Experimental
Caao Experimental Control»
Eficaz Eflcu
Raapoata do
Sujalto Eflcai
Control« Ineficaz Eflcu
to
Condicionamento Clássico
Três ratos foram treinados a pressionar a barra em um esquema de reforçamento
com intervalo randomizado de 1-min (LaBarbera & Church, 1974). Em seguida, choques
foram administrados em intervalos fixos de 1 min ou 2 min. Observamos que a taxa de
respostas média foi reduzida em função da proporção do intervalo e que esta função foi a
TcittativM»
Escolha
Dclul) & Church (1978)
Procedimento: Três ratos foram introduzidos em uma caixa na qual uma pressão à
barra alternava o estado de um som entre ligado e desligado. Uma taxa randomizada de choques
nos dois estados poderia ser de 0,0.25,0.50 ou 2 por minuto (Deluty & Church, 1978).
Resultados: A Figura 22 mostra o tempo gasto em cada um dos estados em
função da proporção de choques recebidos em cada estado. Este fato é bem caracterizado
por uma função linear com uma inclinação de aproximadamente 1.0.
Explicação: Os resultados deste experimento podem ser descritos pelo princípio
da lei do emparelhamento (matching law) em condicionamento instrumental e pode ser
explicado pela escolha da alternativa que minimiza o período de expectativa para a
ocorrência do choque.
Concluirei com uma breve revisão do que se sabia a respeito dos efeitos da punição
sobre o comportamento em meados de 1970. Todos os procedimentos padrões para o
estudo da punição e de condicionamento aversivo haviam sido desenvolvidos. Os
procedimentos de fuga, esquiva, punição e condicionamento clássico haviam todos sido
reconhecidos com sendo variações das contingências entre estímulos, resposta e choques.
O equipamento padrão para o estudo da punição e de outros procedimentos de
condicionamento aversivo havia sido desenvolvido. Havia dois tipos, a caixa com barras
para pressão e a caixa com compartimentos e barreiras. Muitos dos determinantes
importantes dos efeitos da punição e outros procedimentos de condicionamento aversivo
eram conhecidos. Entre estes, a intensidade e duração do choque, o esquema de
reforçamento positivo, as relações temporais entre o estímulo e o choque e a contingência
da resposta e o choque.
As relações funcionais entre os níveis destes fatores e o comportamento foram
descritas e duas conclusões gerais emergiram: os resultados de punição, fuga, esquiva e
condicionamento clássico foram relacionados, e o condicionamento aversivo afeta tanto o
comportamento que é emitido, como quando o comportamento é emitido. Isto sugere que
existem importantes interrelações entre condicionamento e discriminação de quando
responder (timing).
As explicações dos efeitos da punição e outros procedimentos de condicionamento
aversivo, não foram bem desenvolvidas em meados de 1970. Os quatro tipos mais influentes
de explicação foram (a) a teoria de dois processos de aprendizagem aversiva, (b) modelos
com operador linear (Bush & Mosteller, 1955), (c) princípios gerais de aprendizagem e (d)
uma re-descrição dos resultados em termos mais abstratos. O valor explicativo de cada
uma delas foi limitado e não houve nenhuma teoria de processo quantitativo em punição.
Escrevi um capítulo sobre comportamento aversivo (Church, 1971) que terminou
com uma sessão final de alguns pré-requisitos para uma teoria geral sobre o comportamento
aversivo e algumas especulações de como tal teoria poderia evoluir. Estava claro naquela
época que haveria uma crescente integração entre estudos de aprendizagem clássica e
instrumental; entre estudos de esquiva, punição e fuga; e entre estudos de reforçamento
positivo e negativo. Tudo isso ocorreu.
As predições de que uma teoria biológica da aprendizagem aversiva seria
desenvolvida ainda não foi realizada. No entanto, baseado nos grandes avanços do
conhecimento das bases biológicas do comportamento aversivo (neuroanatomia,
neurofisiologia, psicofarmacologia e genética comportamental), os alicerces para o
desenvolvimento de uma teoria biológica da aprendizagem aversiva estão presentes para
tal empreendimento.
As predições de que teorias quantitativas da aprendizagem aversiva seriam
desenvolvidas também não foram ainda realizadas, mas há fortes razões para acreditar que
as mesmas teorias quantitativas que estão sendo desenvolvidas para o condicionamento
usando comida como reforço também se aplicariam. Uma rigorosa aplicação de modelos,
tais como teoria de condicionamento e de discriminação temporal baseados no responder
em pacotes (packet theory of timing and conditioning) exigirá que os investigadores coletem
e arquivem os dados originais contendo dados sobre quando os estímulos, as respostas e
os reforços ocorrem.
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O suicídio costuma ser definido como o ato de por termo à própria vida e está
presente em toda a sociedade humana. Banaco (2001) alerta para as funções que uma
resposta suicida pode ter: desde a busca de reforçadores ou esquiva de punições quando
da tentativa simulada, passando pela ideação suicida que pode fazer parte de alguns
transtornos psiquiátricos até as respostas que efetivamente podem promover a morte do
indivíduo. Sidman (1995) considera que o suicídio pode ser uma resposta de esquiva ou
fuga de situações aversivas. É um fenômeno que possui inúmeras interpretações e suas
causas podem estar relacionadas a fatores genéticos, sociais, psicológicos, culturais
podendo estar associado à depressão ou outros transtornos mentais graves, combinados
com o abuso de drogas ou álcool (Baptista, 2004). No entanto, não é adequado pensar
que o suicídio sempre estará associado a um transtorno mental, já que tal fenômeno,
como visto anteriormente pode ser considerado como fuga de uma situação insuportável
para o indivíduo. É muitas vezes uma solução para um problema que a pessoa considera
3 Doutor pelo Departamento de Psiquiatria e Psicologia da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP); Docente e
Pesquisador do Programa de Pós-Graduaçào Stricto-Sensu em Psicologia da Universidade sào Francisco
(USF) — Itatiba/SP Endereço -R u a D r MiguelPlerro,61 - CidadeUniversitáriaII- Campinas-C E P 13083-300,
e.mail makilim baptlsta@saofrancisco edu.br.
3Doutora em Saúde Mental pela Unicamp, docente da UNITAU, e-mail: nancyinnocente@dlrect.net corn br
Agradecemos a colaboração dos alunos Nabil Sleimnn Almeida Ali e Rafael Silva Martins Silveira (Unesp- Bauru)
Resultados
As porcentagens expressas nos próximos parágrafos referem-se à freqüência de
respostas, pois os participantes podiam responder a mais de um item da questão.
Quanto às causas do suic/dio (questão 1) 47% atribuíam à injustiça social,
problemas de relacionamento, dificuldades pessoais, falta de dinheiro, desequilíbrio
orgânico/emocional; 17%, só a desequilíbrio.
A forma como encaravam o suicida (questão 2): 31% alguém com problemas
financeiros, que quer chamar a atenção, que precisa de ajuda espiritual, que é doente, que
está decepcionado com o mundo; 20%, um doente e 20%, problemas com falta de dinheiro.
Quanto ao seu comportamento na ocorrência (questão 3), 49% relatavam fazer o
que sentiam ser importante; 39% procuravam não se envolver e 11 % se preocupavam em
seguir o POP.
Ao se encaminharem para a ocorrência (questão 4), 49% relatavam tranqüilidade
e 32% pensavam na atuação. Enquanto que durante a ocorrência (questão 5), 48%
relatavam que procuravam entender a vítima para agir e 32% ficavam calmos.
Ao serem questionados sobre seu sentimento (questão 6) quando havia fracasso
na ocorrência (a vítima conseguia seu intento) 47% pensavam se poderiam ter atuado de
outra forma. No caso de sucesso da ocorrência (questão 7) 53% sentiam-se bem e 35%
analisavam seu desempenho.
Quanto às questões 8,9 e 10,70% acreditavam que necessitam de orientação ou
a presença de psicólogo na ocorrência, 22% achavam não possuir habilidade/instrumento
para lidar com a situação e 52% acusavam prejuízos emocionais como frustração, desgaste,
tristeza, perda de sono, revolta e stress.
Nestes resultados, o que chamou a atenção foi o fato de somente 11 % do grupo
reportarem-se ao manual como instrução para atuação. O POP de atuação dos bombeiros
em suicídio ó um manual de consulta rápida pois resume passo a passo a execução de
procedimentos ou atividades, frente a uma emergência, uma vez que há outros textos bem
mais amplos que são ministrados nos cursos (protocolos, que são uma coletânea de
POPs). No entanto, a ocorrência de suicídio, além de bastante complexa, está sujeita a
muitas variáveis que não estão sob controle dos policiais. Além do mais, o fato de se
tentar negociar com um suicida e este não responder à negociação pode trazer grande
inquietação para o profissional, que passa a julgar que seu conhecimento não é o suficiente
para a atuação, mesmo que a estatística de resultados negativos seja baixa.
Desta forma, programa-se uma nova etapa a partir desses resultados quando,
então, serão feitas palestras e discussões sobre o tema com o grupo e será montado um
folder com informações sobre suicídio, dicas sobre atuação na ocorrência, enfrentamento
das frustrações e manejo da situação de crise. Esse folheto será distribuído e discutido
com os vários grupos.
O objetivo será oferecer informações mais científicas da atuação junto a suicidas
para que esses profissionais que atuam diretamente com a problemática do suicídio se
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Charles C. Thomas, Publisher.
O autor agradece aos colegas Carlos Cançado, Paulo Guerra e Ernandes Guimarães pela leitura atenta de
uma versílo preliminar do presente texto
* Faculdade de Educação da UFMG
N A ; O presente texto foi escrito a partir da fala proferida pelo autor em 2004 no Simpósio Educação efetiva:
formação de professores no XIII Encontro Brasileiro de Psicoterapia e Medicina Comportamental e II International
Conférence of the Association for Behavior Analysis, Campinas/Sâo Paulo-Brasil
Os alunos têm em média sete anos e são de uma escola pública municipal de
Bolo Horizonte. O tema das aulas na época das observações era "encontros
consonantais”. A professora já havia trabalhado em aulas anteriores encontros
“rr", "ss" e outros. Naquele dia o objetivo era identificar o encontro consonantal
"br. As atividades foram planejadas e executadas da seguinte forma: pediu que
os alunos abrissem seus cadernos o escrevessem palavras com o encontro
"bl". Depois de alguns minutos ela pediu que os alunos falassem as palavras
escritas. O primeiro aluno falou “blusa" e o segundo, "bloco". A professora pediu
a vários outros alunos para falarem, mas todos repetiram as mesmas palavras,
blusa ou bloco. A sala começou ficar agitada até que uma aluna falou "blasfêmia".
A professora - surpresa - logo disse "parabéns" e pergunlou quem sabia o
significado da palavra blasfêmia. Ninguém se apresentou... Ela, então, pediu à
aluna que explicasse para os colegas o significado daquela palavra
' Beyblade ó um brinquedo infantil que pode ser considerado uma versflo moderna do tradicional Peâo. O
leitor interessado pode acessar o seguinte site da Internet para ver uma reprodução do referido brinquedo.
h»tp://www.mujweb.cz/www/beyblader/’zele 2nej% 20beyblade.jpg
2 Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), estabelecidos em 1997, sào referências para os Ensinos
Fundamental e Módio de todo o Brasil. O objetivo principal dos PCN é garantir a todas as crianças e jovens
brasileiros, mesmo em locais com condições socioeconômlcas desfavoráveis, o direito de usufruir do
conjunto de conhecimentos reconhecidos como necessários para o exercido da cidadania. Os PCN de 1.*
a 4." série estão divididos em 10 volumes e, dentre eles, o de Língua portuguesa.
Sérgio DidsCirino
de reforçamento em uma outra sltuaçào, por exemplo, numa aula de língua inglesa. Entretanto,
no caso da recusa da referida palavra, a professora correrá o risco de colocar em extinção
vários comportamentos do aluno, dentre eles, o de dar exemplos em sala de aula.
No caso de aceitar a palavra a professora terá a oportunidade de reforçar uma outra
gama de comportamentos que envolvem respostas sofisticadas corno a de ler palavras em
linguas diferentes, o de comparar o que está aprendendo na escola com o que já aprendeu em
outros espaços, estabelecer relações, formular perguntas etc. É interessante observar que
estes comportamentos estão listados como objetivos dos PCN (como apontado anteriormente)
e estavam em acordo com os objetivos da professora nos seus planejamentos educacionais.
Na prática, a professora tinha que tomar uma decisão. Uma decisão difícil. Uma
decisão que não é meramente técnica. Do ponto de vista semântico ou fonético, é evidente
que as palavras “blusa" e "bloco" estão mais coerentes com o planejamento educacional
feito do que beyblade. Mas e do ponto de vista do valor reforçador para os alunos? Ainda
segundo os PCN "A aprendizagem se dá pela ação do aprendiz sobre o que é objeto de
seu conhecimento e é potencializada por ambientes favoráveis"(Brasil, 1997). Assim, de
uma perspectiva comportamental, podemos argumentar que a palavra beyblade pode ter
uma função muito mais reforçadora que as palavras blusa ou bloco. É muito provável que
os alunos, ainda hoje, se lembrem daquela aula em função da palavra beyblade. Aqui, faço
referência ao termo lembrança como um comportamento de lembrar que é indicativo de
aprendizagem, como nos aponta Skinner.
A professora arranjou contingências de ensino, mas os alunos, inadvertidamente,
dispuseram outras contingências. Seria ingênuo pensarmos que a saída, então, seria
abandonar o arranjo das contingências planejado cuidadosamente e ficar à mercê das
contingências dispostas pelos alunos. Contudo, também é ingênuo pensar que a professora
seria capaz de arranjar as contingências mais propícias para que apenas palavras da
lingua portuguesa fossem emitidas.
Numa possível avaliação comportamental, a professora foi eficiente não apenas
por ter sido capaz de arranjar contingências adequadas de ensino do ponto de vista dos
objetivos educacionais, ou seja, do ponto de vista da emissão de palavras com o encontro
"bl". Ela também foi eficiente por ter arranjado tais contingências e, concomitantemente,
ter dado voz aos alunos. Ou seja, um bom planejamento de ensino deve contemplar a
dimensão do aluno ativo que tem voz, que fala, que escreve.
Não há dúvida quanto à validade do estabelecimento de objetivos e do arranjo das
contingências de ensino para uma educação eficaz. Para tanto, é preciso que formemos os
nossos professores para que sejam capazes de tais tarefas. Contudo, este professor será
tanto mais eficaz se também lhe for ensinado a lidar com o inusitado não com o objetivo de
eliminá-lo, mas antes, de iricorporá-ios como parte integrante do seu arranjo de contingências.
Ê importante salientar que a questão do estabelecimento de objetivos educacionais
e o arranjo de contingências devem ser analisados na perspectiva do processo de formação
docente. Se pretendermos uma educação eficaz é necessário que tenhamos professores
eficazes. Para que tenhamos tais professores ô imprescindível que nos ocupemos mais da
sua formação.
A fo rm a ç ã o do p ro fe s s o r
Apesar dos esforços dos analistas do comportamento em discutir questões relativas
á Educação de uma maneira gerai e o Ensino de uma maneira mais específica, observa-
Sórçio DúisCirino
reflexiva (ao refletir sobre sua açáo e adaptar as contingências náo programadas ás novas
contingências).
Considerações finais
A análise do Comportamento, por mais que tenha produzido conhecimento sobre
o ensinar e o educar, pouco produziu sobre o tema da formação do professor. Contudo, as
reflexões de Skinner podem nos dar pistas para que sejam desenvolvidos modelos de
atuação coerentes com os princípios do Behaviorismo Radical. A análise aqui apresentada
pode, por um lado corroborar a legitimidade das descobertas behavioristas e, ao mesmo
tempo, apontar para aproximações com outras abordagens que permitam um avanço para
a Educação e para o Ensino. Em lugar de fazermos proselitismo desta ou daquela
abordagem, talvez seja mais sensato e produtivo nos apropriarmos de avanços já
alcançados em outras áreas. Desta forma é possível que o efeito final sobre o fenômeno
educacional, objeto de nossa atenção, seja melhor investigado. Se for assim, podemos
vislumbrar intervenções mais eficientes que sejam capazes de atacar problemáticas
complexas como, por exemplo, a da formação do professor.
Verifica-se, recentemente, uma tendência a abandonar os dogmatismos
disciplinares em prol de abordagens transdisciplinares (Morin, 1999). Para tanto é preciso
que continuem sendo feitos esforços no interior das disciplinas para que se conheça,
cada vez mais profundamente, os mecanismos que regulam os fenômenos pesquisados.
Ao mesmo tempo também é preciso que sejam feitos esforços para que os resultados
obtidos pelas disciplinas sejam cotejados com outros obtidos por outras disciplinas. Assim
é possível que resultados de pesquisas realizadas a partir do referencial da Análise do
Comportamento sejam contrapostos a resultados obtidos ern pesquisas a partir de outros
referenciais teóricos e vice-versa. Em última instância, se tal esforço for implementado de
forma colaborativa e não dogmática, poderemos continuar avançando na compreensão
dos assuntos humanos, no caso específico do presente trabalho, da Educação e do Ensino.
Os analistas do comportamento brasileiros têm dado provas contundentes de
promissores intercâmbios disciplinares. Por exemplo, Medeiros e Rocha (2003) apontam
que Skinner"(...) em muitas passagens endossa a pertinência das análises feitas por
Freud da conduta humana" (p. 187). Fazzi e Cirino (2003) apontam para semelhanças
metodológicas e conceituais entre a Análise do Comportamento e a proposta pedagógica
de Paulo Freire. Trabalho seminal foi feito por Pereira (2000) ao investigar aproximações e
distanciamentos no estudo da Linguagem nas propostas Skinneriana e Bakhtiniana. A
construção social do conhecimento nas perspectivas da Psicologia Social e da Análise do
Comportamento é objeto de análise de Souza, Ruas e Cirino (2004). No campo da
Administração, Horta (2004) aproxima Schein, importante teórico da área de cultura
organizacional, com determinados aspectos da perspectiva Skinneriana. Todos esses
diálogos entre a Análise do comportamento e outras áreas podem ser encaradas como
tentativas transdiciplinares de avançar na produção do conhecimento sobre o fazer humano.
O campo da Educação e, mais especificamente, o da formação de professores são
complexos e demandam grande esforço de pesquisa, análise, observação, registro e reflexão.
Acredito que teremos mais sucesso na empreita educativa e na formaçào docente se
tomarmos posições colaborativas cada vez menos dogmáticas e cada vez mais direcionadas
para a solução dos problemas dispostos pelas contingências presentes no nosso cotidiano.
No início do texto afirmei que o objetivo do presente trabalho era o de refletir sobre
o processo de formação do professor na perspectiva Skinneriana de educação. Assim,
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1 Este trabalho está relacionado com a Dissertação de Mestrado da autora, desenvolvida sob a orientação
da Profa. Dra, Melania Moroz, no Programa de Estudos Pós Graduados em Educaçáo: Psicologia da Educação
da PUC/SP.
2 Psicóloga; Mestre em Educaçao: Psicologia da Educação,
3 B. F. Skinner propõe um modelo de ciência, cujo objeto de estudo é o comportamento. Por comportamento,
compreende-se a relação entre o organismo que se comporta e o ambiente. Esta ciência denomina-se
Análise Experimental do Comportamento, e tem como embasamento filosófico o Behavlorismo Radical.
O Behaviorismo Radical tem como proposta, a construção de uma psicologia cientifica, Isto é, uma Psicologia
como uma ciência do comportamento
4 Sempre que na referência aparecerem duas datas, a primeira indicará a data do publicação o a segunda,
a data da publicação consultada.
" Em 1937, Skinner formula o conceito de operunte, afirmando que, neste tipo de comportamento, o Indivíduo
uge (opera) sobre o meio, mudando-o e sendo por ele modificado. Em outras palavras, a pessoa age
produzindo estímulos conseqüentes (posteriores à emissão da resposta), quo por sua vez determinam a
probabilidade futura de comportamento similar voltar a ocorrer. O comportamento operante ó multidetermlnado,
o que implica dizer que na interação do sujeito com o ambiente, múltiplas variáveis estôo presentes nesta
relação. Cabe ao analista do comportamento realizar a análise funcional, para saber quais as variáveis que
estflo controlando o comportamento em questflo. Assim, a análise funcional mostra a quais aspectos do
ambiente uma pessoa está sensível em determinado momento. Consisto, portanto, na principal ferramenta
que um analista comportamental dove utilizar para explicar o comportamento em termos de relações funcionais.
Elaboração do Instrumento
1. Compreensão
A seleção dos comportamentos que compõem o repertório de leitura foi feita a
partir da proposta do SAEB, conforme o quadro a seguir:
O QUE É ESPERADO DO
ALUNO
(COMPORTAMENTO)
PRETENDE VERIFICAR r.
PRIORIDADE
j Sa o aluno è capa?
, de retornar au pon-
Localizar informaçfle» . |Q ÓQ
explicita» em um tuxtom encontra a infor
mação procurada
Se o aluno conatrói a
temática (mgniflcado
Identiflcar o núcleo
global) a partir da
temático do texto
tínleaa de fatos
principais
Se o aluno 6 capa/ da
Estabelecer relação entre organizai fatoa,
acontecimento»,
informações num taxto ou
em diferente» taxto» represantaçflas de
acordo com um cnténo
j único
S* o aluno é capaz de
Inferir informação implícita a partir de Informaçõas
conhecida», chegar a
num texto
nova», nAo explicita» no
texto
Silvúi S. C/robcrm<in
Do acordo com o SAEB, os comportamentos têm diferentes níveis de prioridade,
sendo localizar informações e identificar o núcleo temático os que têm prioridade máxima
(P1), diferentemente dos itens estabelecer relações e inferir informação cujo domínio não
se supõe como primeira prioridade para alunos que terminaram a 4" série do ensino
fundamental. Ao estabelecer dois níveis de prioridade, o SAEB deixa transparecer a noção
de que há diferentes níveis de compreensão de leitura, o que não é incompatível com o
discutido sobre leitura no presente trabalho.
Tomando como base estas informações, diagramamos novamente o que é leitura,
acrescentando, desta vez, o que entendemos ser o repertório de compreensão de texto,
com as suas respectivas prioridades.
2. Instrumento
O instrumento ó composto por textos de diferentes géneros literários (literário,
publicitário, humorístico, jornalístico e epistolar). Em sua maioria, os textos foram retirados
do SARESP de 1998 e 2000, aplicados para a 4* série, e de livros de Língua Portuguesa*
indicados pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo para alunos de 4" série7.
• Os livros utilizados sAo: CÔCCO, M.F. e HAILEK, M.A. (1999). ALPnovo: análise, linguagem epensamento,
FTD; OLIVEIRA, T.A. et al (2001). Linguagem e vivência, IBEP; PONTES, E.M. (1999). Linguagem e interação,
Módulo.
'Apenas um dos textos foi retirado da Internet. O site consultado foi www.turmadamonica.cüm.br. O texto
utilizado (humorístico) faz parte de uma campanha educativa sobre higiene bucal, voltada para crianças do
ciclo I do ensino fundamental. O texto sofreu diminuição de tamanho, por declsôo da pesquisadora.
Participantes
Participaram deste estudo 45 alunos da 5* série do ensino fundamental de uma
escola da rede pública de São Paulo.
Procedimento
Pelo fato do instrumento ser formado por um conjunto amplo de textos e questões,
optamos por fazer a aplicação em duas sessões, cujo intervalo foi de 10 dias. Desta
forma, organizamos dois tipos de cadernos de questões - tipo X e Y. O tipo X era formado
pelos gêneros jornalístico, humorístico e literário (poema). No tipo Y estavam presentes
os gêneros epistolar, humorístico e publicitário. Conforme podemos notar, o gênero
humorístico foi comum a ambos os cadernos.
Na primeira sessão, os alunos pares responderam o caderno X, enquanto os
ímpares responderam o caderno Y. Na segunda sessão, houve uma inversão: os alunos
pares responderam o caderno Y e os ímpares responderam o X. Nesta segunda sessão, o
gênero humorístico, que era comum a ambos os cadernos, foi substituído pelo conto
(gênero literário), também comum a ambos os cadernos.
Em ambas as sessões, com duração cada de 90 minutos, a aplicação do instrumento
ocorreu de forma coletiva, em sala de aula, sem nenhuma interferência da pesquisadora.
Resultados e Discussão
Consideramos duas vertentes de análise: desempenho dos alunos e análise do
instrumento.
No que diz respeito ao instrumento, as questões de múltipla escolha foram
analisadas por um programa estatístico denominado ITEMAN8.
O programa revelou que o instrumento obteve um bom índice de discriminação
(somente 6 questões apresentaram índices em intervalos considerados menos satisfatórios,
de um total de 26 questões), índice de fidedignidade satisfatório e seu grau de dificuldade4
foi mediano, tendendo a fácil.
HEste programa fornece dados estatísticos como a média, mediana, desvio padrão, etc., alóm de informações
sobre a fldedlgnldade dos itens do instrumento. O programa também fornece o índice de dificuldade de cada
questão, bem como o seu índice de discriminação.
"Utilizamos a dassificaçõo do nivel de dificuldade adotada peio SARESP, que tem a seguinte distribuição, muito difiai:
menos de 15% de acertos, difícil: 16% - 35%, mediano; 36% - 65%, fácil: 66% • 85%, muito fácil: 86% -100%.
Silvia S. Qrobermdn
No que diz respeito ao desempenho dos alunos, organizamos a análise em dois
conjuntos: os alunos como um todo e o aluno individualmente.
Com relação ao desempenho global dos alunos, constatamos que os gêneros
epistolar e humorístico foram os que tiveram o melhor desempenho por parte dos alunos,
enquanto que os gêneros literário e jornalístico foram considerados os mais difíceis em
relação aos comportamentos avaliados.
No tocante ao desempenho global dos alunos por comportamento, identificar o núcleo
temático foi o que apresentou melhor desempenho por parte dos alunos, enquanto que o pior
desempenho obtido foi em localizar informação grifando o próprio texto e relacionar informação.
Um destaque deve ser feito. Como dito anteriormente, dois tipos de questões
foram feitas para avaliar a localização de informação: escolher entre as alternativas e grifar
a informação no texto. Embora as questões avaliassem o mesmo comportamento, exigiram
respostas diferentes dos alunos: no caso das questões de múltipla escolha, a resposta do
aluno foi escolher a alternativa correta dentre as fornecidas polo examinador; já no outro
caso, o aiuno deveria localizar a resposta no conjunto de informações do texto. O que
podemos supor é que, no segundo caso, a complexidade é maior que no primeiro,
aumentando o nível de dificuldade.
Uma outra hipótese para o desempenho ruim em localizar a informação grifando o
próprio texto, está relacionada á disposição das instruções no instrumento, bem como ao
seu conteúdo. Tal hipótese foi considerada uma vez que um número elevado de alunos não
respondeu às questões que avaliavam esto comportamento, ou fizeram-no circulando a
informação, ao invés de grifa-la.
Diferentemente do desempenho geral dos alunos, a análise do desempenho individual
buscou identificar aqueles alunos que apresentaram escores abaixo da média, bem como
em quais comportamentos tiveram maior dificuldade. A Tabela 1 (vide página seguinte) é um
exemplo de análise individual de desempenho dos alunos por comportamento, que poderia
ajudar o professor a atuar com os alunos, incluindo aqueles cujo desempenho se encontra
acima da média do grupo.
Considerando que o nível de dificuldade do instrumento foi mediano tendendo a
fácil, esperávamos que o desempenho do aluno que soubesse ler fosse, no mínimo, por
volta de 70%, principalmente, nos comportamentos ditos de prioridade máxima para a
série em questão (identificar o núcleo temático e localizar informação).
Observando a Tabela 1, podemos verificar que somente 7 alunos (2,14,26,29,31
e 37) apresentaram o desempenho que esperávamos, sendo que deste conjunto, apenas
5 alunos (2,17,26,29 e 31) obtiveram um desempenho satisfatório também nos demais
comportamentos (inferir informação e relacionar informação). Os alunos 14 e 37 apresentaram
um rendimento abaixo dos 60% em pelo menos um comportamento que não era considerado
de prioridade máxima, fazendo destaque para o desempenho do aluno 37 em relacionar
informação, que foi de 20%.
Mesmo os alunos que obtiveram o desempenho acima da média merecem algumas
considerações, uma vez que olhar o rendimento dos alunos somente pela média, significa
não considerar o seu desempenho individualmente, isto é, por comportamento; e por vezes,
este desempenho pode ser insatisfatório em algum comportamento avaliado. Tal fato mostra
que em nada adianta o professor saber que o seu aluno obteve o desempenho em leitura
acima da média, se este aluno apresentar dificuldades em algum comportamento específico,
pois o professor não saberá de onde partir para ensiná-lo a fer melhor.
20
20 6
6 55%
55%
3
3
38%
38%
1
1
20%
20%
2
2
"100%
100%
2
2
22%
22%
~ 2f '
8 73% 5 63% 4 80% 2 100% 2 22%
22 8 73% 3 38% 1 20% 1 50% 0 0%
23 8 73% 5 63% 3 M60% 1 50% 2 22%
24 10 91% 6 75% 3 60% 1 50% 6 67%
25 8 ' 73% ~ 8 100% 4 80% 1 50% 6 67%
‘ 26 9 82% 7 88% 5 100%, 2 100% 6 67%
27 9 82% 5 63% 4 80% 2 100% 4~ 44%
28 5 45% 3 38% 0 0% 1 50% 2 22% '
29 9 82% 6 75% 5 100%" ' 2 100% 6 67%
30 8 73% 3 38% 5 100% 1 50% 2 22%
31 9 82% 7 88% 4 J3 0% 2 100% 8 89%
32 6 55% 4 50% 2 40% 1 50% 0 0%
33 7 64% 6 75% 2 " 40% 0 0% 7 78%
34 8 73% 7 88% 3 60% 2 100% 3 33%
35 10 91% 4 50% 3 60% 0 0% 6 67%
36 6 55% 6 75% 4 80% 0 0% 4 44%
37 8~‘ 73% 8 100% 1 20% 2 100% 7 78%
38 5 45% 3 i 38% 1 20% 1 50% o‘ * 0%
39 8 73% 5 63% 3 60% 1 50% 5 56%
40 5 45% 2 25% 1 20% L 1 50% 3 ' 33%
1 Legenda: NT - idontlflcar o núdeo temático (total de questões no instrumento: 11), localizar informação (total
de questões no instrumento: 11, sendo 2 de múltipla escolha (LI) e 9 de grifar a resposta no texto (LI g); IF
- inferir Informação (total de questões no instrumento: 8); REL
- relacionar informação (total de questões no instrumento: 5). Desta forma, o número máximo do acertos que
um aluno podia obter era 35, distribuídos de acordo com o total de questões por comportamento
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(Professor Titular), Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Psicologia.
1Trabalho apresentado em Mesa Redonda no XIII Encontro da ABPMC e II Congresso Internacional da ABA,
realizado no período de 12 a 15/08/2004, em Campinas, Sâo Paulo.
3 Psicóloga e Supervisora clinica, Mestre em Psicologia, Professora Assistente do Depto de Psicologia da
FAFICH/UFMG - e-mall: soniacst@terra.com.br
3 Ver também: “Projeto Vico’s: Um teste de proposições psicológicas" do mesmo autor, em Psychological
Record, 1986, 36. 451-466
1 - C enário
1.1. Os dados apresentados foram colhidos de registros de biógrafos do padre e compositor
Antonio Vivaldi (1678-1741) e de uma análise histórica da música italiana durante o
século XVIII.
Veneza tinha uma população de 140.000 habitantes em 1700 e muitos orfanatos,
fundados no século XIV e mantidos por particulares. Estas instituições aceitavam
órfãos, crianças abandonadas às suas portas, pela cidade e em igrejas, crianças
caçulas de famílias que não podiam sustentá-las, de mães solteiras da nobreza e de
famílias muito pobres.
1.2. O grupo experimental consistiu dos quatro mais conhecidos orfanatos para meninas
em Veneza: I Mendicanti (Os Mendigos); I Incurabili (Os Incuráveis); I Ospedaletto
(O Hospitalzinho) e o mais famoso, La Pietá (Piedade).
Durante o período histórico estudado, diversas escolas e até conservatórios
desenvolveram-se dentro destas instituições e, mais ou menos em 1710, tornaram-
se conhecidos, principalmente, como centros musicais de excelência - embora sua
função primeira fosse cuidar de órfãs carentes.
III- Sujeitos
A amostra estudada por Kunkel era composta de meninas de até 19 anos de
idade, que viviam nos quatro orfanatos do grupo experimental e especialmente aquelas
que viviam no La Pietá. Na sua maioria, eram crianças abandonadas por desconhecidos e
o segundo maior grupo, formado pelas órfãs.
A indicação das crianças para os grupos de controle e experimental pode ser
considerada aleatória, pois a ida para um ou outro orfanato era determinada pelo lugar de
falecimento dos pais ou de nascimento ilegítimo. A única diferença era o sexo, pois metade
destas instituições da Itália recolhia meninas, e bastante novinhas.
Não havia, portanto, seleção sistemática destas crianças com talentos musicais
especiais. Não há motivo para acreditar que fossem mais talentosas que a população em
geral ou que representassem um segmento especialmente pouco dotado.
Nestes quatro orfanatos dava-se uma ênfase especial àquelas habilidades adicionais
que os seus diretores achavam que tornariam as meninas mais desejáveis como esposas
e mais competentes num mercado de empregos muito limitado.
A música passou a ser vista como um aspecto significativo deste desejo e
competência. Por volta de 1710, já havia um grande coro e orquestra, complementados
por diversos solistas vocais e instrumentais. Há muitas indicações de que as meninas do
coro e orquestra eram jovens alegres, pareciam se divertir muito nos intervalos das audições
e se comportavam como adolescentes normais e despreocupadas do sóc. XVIII.
Aos 18, 19 anos estas meninas tinham que deixar os orfanatos. Algumas se
casavam, outras se tornavam freiras e algumas outras se tornavam professoras de música.
IV- Procedimentos
Matos (1999) considera os seguintes passos para realização de uma análise
funcional do comportamento:
VI- Medidas
"...as meninas cantam como anjos e tocam violino, flauta, órgão, oboó, cello e
fagote . N3o há instrumento (..) que possa amedrontá-las (......). O La Piotá ó
também o melhor na perfeição e precisão de execução orquestral...(
Pincherle,1957:19; Kolneder, 1970:123; em Kunkel, J., 1985).
“Na minha opinião, a música do tipo da dos orfanatos é muito superior à das
óporas g não tem equivalente em toda Itália e talvez o mundo. Todo domingo...
durante os vesperais, motetos para grande coro com uma grande orquestra, que
sõo compostos e conduzidos pelos maiores mestros da Itália, sào executados,
em galerias gradeadas, somente por garotas das quais a mais velha não tom
ainda 20 anos. Não posso conceber algo mais voluptuoso, tão comovente quanto
esta música...." (Pincherle, 1957:20; em Kunkel, J.,1985).
VII- Resultados
Durante o período investigado por este experimento natural, não houve mudanças
sistemáticas no desempenho musical nos orfanatos do grupo de controle. Mas, Kunkel
encontrou mudanças comportamentais nas quatro instituições experimentais.
Só no La Pietá, o número de musicistas aumentou de zero, antes de 1650, para
40 quando Vivaldi chegou para ensinar em 1703 e para 70, por volta de 1740. Além das
meninas que realmente tocavam e cantavam, havia um número igual (70) de jovens
musicistas treinando para substituírem os membros efetivos quando fizessem 20 anos.
Com a retirada do apoio financeiro, nos 50 anos seguintes, o reforçamento do
desempenho musical diminuiu e também o número de artistas. Kunkel afirma que, por volta
de 1790, havia "apenas um punhado delas, e alguns anos depois, nenhuma mais" (p.452).
O mesmo aconteceu em rolação ao número o qualidade dos concertos. A sua
freqüência aumentou chegando a 70-90 audições por ano, sempre com peças inéditas que
os colocava entre os melhores da Europa. Após 1760, e nos anos subseqüentes, "um
número cada vez maior de visitantes passou a expressar seu desapontamento e no início de
1800, havia poucos concertos e estes eram dados apenas em ocasiões especiais" (p.453).
O grupo de controle, formado pelos outros orfanatos de Veneza e de outras cidades
da Itália, não exibiu um padrão tão definido de desenvolvimento e declínio musical. Além
VIII - Discussão
Desde que os grupos, experimental e de controle, eram bastante similares e não
diferiam da população geral em talento ou outras aptidões inatas, segundo Kunkel, a
ascensão e queda de apresentações famosas nos quatro orfanatos do grupo experimental
devem ser atribuídas a outros fatores.
A atmosfera musical de Veneza era conhecida antes de 1650, chegou ao seu
apogeu durante as dócadas de ouro de 1700*1750, mas a música continuou a ser uma
parte importante de sua cultura após 1800.
A principal mudança que ocorreu nos orfanatos durante esses 150 anos (além do
aumento de tamanho) foi o apoio que os diretores das quatro instituições do grupo
experimental deram à educação musical de suas órfãs. Esse apoio teve início em 1660, foi
mantido num alto nível entre 1700-1750 e então retirado, bem rapidamente. Esse esquema
de reforçamento era sistemático e consistente para uma grande variedade de atividades
musicais.
Os programas originais dos dirigentes não incluíam recompensas adicionais como
prestígio, pagamento por aulas e boas oportunidades de casamento, mas se tornaram,
pouco a pouco, conseqüências naturais do sistema de fazer-música que haviam criado.
Pierce (1991) aponta, contudo, algumas limitações percebidas por ele, neste
trabalho de pesquisa retroativa de Kunkel:
(1) a dificuldade para eliminar todas as variáveis estranhas;
(2) a especificação da VI ficou imprecisa pois, segundo ele, Kunkel não investigou qual
das várias contingências estabelecidas pelos administradores controlou realmente o
nível e a qualidade do desempenho musical das alunas (se privilégios, incentivos, ou
imitação, etc);
(3) Kunkel não explora a natureza exata do processo de reforçamento utilizado (se a lei
do efeito, lei de matching, princípio de Premack etc), ou seja, não esclarece os
processos e princípios comportamentais subjacentes à ascensão da performance
musical;
(4) a variabilidade comportamentaJ normalmente cresce durante a extinção experimental
e Kunkel não menciona se houve maior variabilidade na performance musical durante
a retirada dos reforçadores. Para Pierce, é difícil ver a ascensão e queda dos concertos
musicais só como processos de reforçamento/extinção;
(5) uma análise comportamental mais completa deveria incluir, não só a interação entre
comportamento verbal e não-verbal, mas a interação entre esquemas e eventos
reforçadores, o contexto do reforçamento e as inter-relações entre as inúmeras variáveis
de controle de estímulo.
Entretanto, um aspecto importante e que ficou aparente neste trabalho é que as
contingências podem operar dentro de um sistema social e econômico mais amplo, embora
percam algo de sua eficácia quando partes significativas do contexto são alteradas.
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309
Capítulo 29
Avaliação de crianças com
necessidades educativas especiais em
situação de pesquisa-intervenção:
dificuldades e algumas soluções
Sônm Kcffi/M Horim Inumo*
A título de conclusão
A realização deste conjunto de pesquisas voltadas á questão de como avaliar
problemas de desenvolvimento apresentados por crianças com NEE foi possível graças ao
uso concomitante de diferentes modalidades e instrumentos de avaliação psicológica,
compondo, na maioria das vezes, um "mosaico de indicadores" comportamentais. Segundo
Lidz (1991, p xi), a avaliação é um processo cognitivo em si e que os especialistas em
diagnóstico devem responder à pergunta: "O que nós precisamos saber, e o que irá produzir
a informação apropriada?". Nesse sentido, considera que nenhum dos procedimentos
avaliativos é inerentemente melhor do que outro, nem deve ser usada uma única abordagem
para todas as perguntas. E ao se pretender adotar um modelo ecologicamente válido,
procedimentos adicionais devem ser incluídos para avaliar as contribuições ambientais ao
desempenho observado.
Nos trabalhos aqui apresentadas, para responder às questões de pesquisa
colocadas, foi preciso aplicar baterias de testes para “screening”, obter dados normativos
que permitissem comparar com pares, adaptar e experimentar o uso de provas assistidas,
refinar a análise dos dados por meio da análise funcional do comportamento em alguns
casos, e mesmo informatizar algumas provas, tentando responder particularmente ao desafio
metodológico de resolver questões relacionadas à acessibilidade do sujeito. Neste aspecto,
parece que o uso da avaliação assistida para crianças com NEE permite principalmente
verificar os efeitos da mediação sobre o desempenho da criança e identificar técnicas
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Contribuições a programas de intervenção para crianças com necessidades educativas
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Capítulo 30
Considerações Finais
Sem dúvida, a participação da visão, na aquisição, desenvolvimento e
aperfeiçoamento da linguagem, não pode ser negligenciada. Para o deficiente visual, a
linguagem oral ó o principal recurso que viabiliza a comunicação. No caso da criança que
apresenta uma deficiência auditiva associada à visual, as mais valiosas fontes de informação
estão limitadas. É certo que sua habilidade de usar a linguagem de maneira socialmente
adequada estará afetada, o que, por conseqüência, afetará sua socialização, seu
desempenho acadêmico, sua auto-estima e independência.
As estratégias de avaliação utilizadas mostraram-se adequadas para identificar
como a criança se comunica, que uso faz da linguagem para obter e dar informações,
aspectos fundamentais para que o deficiente visual regule e planeje comportamentos.
Esse, sem dúvida, foi um dos principais apontamentos dos estudos realizados, isto é, a
adequação metodológica. Por se tratar de indivíduos com importantes comprometimentos
Referências
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Desde o primeiro encontro com seu cliente, o terapeuta fica exposto a um conjunto
de fatores que o instrumentam a registrar observações e informações que passarão a
controlar o seu atendimento àquele cliente. O aprimoramento da prática clínica requer
constantes reflexões tanto sobre a atuação como sobre as características pessoais do
profissional que a conduz (Otero, 2004). O propósito do presente texto é examinar alguns
dos aspectos que controlam o comportamento do terapeuta durante suas intervenções.
Como estabelece e quais são seus objetivos para cada caso? Quais caminhos ele escolhe
para alcançá-los? Quais são seus ‘filtros’ nas tomadas de decisão quanto às intervenções
de ajuda que serão feitas? Como observa Ló Sónéchal-Machado (2001 ,p. 148), convém
lembrar que “uma ‘relação de ajuda’, delimitada por uma ‘situação psicoterápica', é aquela
em que" pode-se ajudar uma pessoa organizando um ambiente que exerça controle"(...)
“que acentue os interesses da pessoa ajudada” (...) e que leve o terapeuta a "agir de
maneiras que sejam boas para a pessoa a quem está ajudando." (cit. Skinner, 1982,
p.60). Não se pode perder de vista que no processo psicoterapêutico ocorrem, entre cliente
e profissional, controles e contracontroles das mais diferentes ordens, contextos e
naturezas. Enfatizaremos, especialmente, as variáveis ligadas às ações do terapeuta.
1) A escuta terapêutica:
O terapeuta, enquanto ouve as palavras proferidas pelo cliente, observa também
outros comportamentos além da fala. Evidentemente, a fala do cliente informa ao terapeuta,
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as queixas, o porquê buscou ajuda para as dificuldades, para os sofrimentos relatados.
Através das palavras do cliente o terapeuta identifica o conteúdo, a entonação, as ênfases,
a clareza da fala, as 'certezas* sobre suas explicações dadas ao problema, os sentimentos
explícitos e os implícitos. O profissional observa, ainda, a postura física do cliente, como
este se senta, como é o contato visual com o terapeuta e as expressões faciais, enfim,
todos os movimentos corporais: o que náo foi dito mas foi sentido (0tero,2000). É preciso
estar atento, portanto, durante todo o atendimento, ao contexto de vida do cliente, que
transcende a situação de relação terapêutica’ ou dos 'contextos clinicamente relevantes’
Lé Sénéchal-Machado (2001 ).
Os dados, produtos da observação, vão, gradativamente, ’formando' a compreensão
que o terapeuta tem sobre o caso, assim como determinando as intervenções que serão
realizadas. Todas as informações, 'filtradas* pelo terapeuta através dos substratos teóricos
que fundamentam suas ações clínicas passam, também, pelos 'crivos' das suas próprias
histórias de vida profissional e pessoal. Desse modo, todas essas variáveis imprimem um
controle contínuo sobre o comportamento do terapeuta.
A escuta terapêutica é uma escuta diferente. Ela requer o acolhimento especial
de uma pessoa: observação atenta, expressando respeito e compreensão pelo que está
ouvindo e vendo da pessoa do cliente. Essa escuta particular implica a identificação da
dor e do desconforto evidenciados e sentidos pelo outro. Ao terapeuta cabe perceber o
incorporar, ao seu conjunto de conhecimentos imprescindíveis ao desempenho de sua
função, a idéia (ou fato) de que, freqüentemente, a dor maior de uma pessoa não está
presente na descrição das primeiras queixas, e que, independentemente deste fato o
sofrimento existe. Feldman ( 1996, p. 139) enfatiza: "O profissional precisa observar e escutar
muito bem, para ser capaz de 1er as entrelinhas da fala do paciente - muitas vezes, é
nelas que está seu verdadeiro problema.’’
A sistematização e a explicitação das queixas ouvidas, permitem identificar e
revelar ao cliente: 1) os comportamentos encobertos que o terapeuta identificou em seu
discurso; 2) suas regras de vida; 3) as contingências que o ensinaram a se comportar e a
viver como vive. Mesmo como simples hipóteses, a 'devolução' destas informações ao
cliente constitui um trunfo fundamental para o estabelecimento do vínculo terapêutico, que
está alicerçado na compreensão e na aceitação, incondicional, do cliente.
Ao terapeuta cabe, tentar se colocar no lugar do cliente, buscando conhecer o
significado que as queixas ouvidas têm para ele. expressando, genuinamente, o que encontrou
dentro de si próprio. Precisa explicitar, a si mesmo, seu propósito de ajuda àquele outro que
sofre. Estas variáveis são componentes controladores do repertório do cliente de sentir-se
acolhido, o que, por sua vez, é indispensável ao bom andamento do processo psicoterápico.
Este exercício, de se colocar no lugar do outro, facilita ao terapeuta lembrar-se que, quando
o cliente se sente compreendido e respeitado, a despeito de suas queixas, ele não se sente
julgado. A existência dessa condição facilitadora atrai e dirige a atenção do terapeuta, levando-
o a aprimorar a busca de informações que íhe permitam ampliar o processo de acolhimento
e compreensão apurada do sofrimento relatado pelo cliente.
2) O referencial teórico:
O conjunto de conhecimentos que fundamentam, teoricamente, a atuação do
profissional de saúde mental determina sua prática clínica. Todo este embasamento fornece
Critérios de relevância
Os critérios para o estabelecimento do grau de relevância das informações
recolhidas pelo clínico, durante o andamento de uma psicoterapia, são específicos para
cada caso e são estabelecidos considerando-se a fundamentação teórica, as variáveis
ligadas ao terapeuta e as referentes ao cliente.
Estas três fontes de dados favorecem a definição do problema do cliente, assim como
dirigem a escolha das possíveis intervenções. São, ainda, fortes determinantes na busca de
caminhos para se ensinar o cliente a estabelecer metas para a psicoterapia e para a sua vida em
geral. Elas levam o terapeuta a selecionar e eleger procedimentos que ajudarão aquele cliente a
aprender a se observar, a relatar e analisar seus próprios comportamentos e os de outra pessoa.
Estas metas permitem ainda, ao terapeuta, ensinar o seu cliente a identificar a quais controles
ele responde e, como conseqüência, tentar rearranjá-los na direção de seu projeto de vida.
Referências
tmnhinudZd$ury foutinho **
Este trabalho é derivado da dissertação de mestrado da primeira autora, apresentada em 2004 ao Programa
d» Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento da Universidade Federal do Pará, sob orientação
do segundo autor Trabalho parcialmente financiado trabalho parcialmente financiado pelo CNPq (Bolsas de
Mestrado e Produtividade em Pesquisa, Processo 520062/90-1)
* Discente do Programa de Pós-Graduaçâo em Teoria e Pesquisa do Comportamento - Universidade Federal
do Pará - :R. Padre W illiam Silva, 39 B airro P lanalto - Belo Horizonte, MG Cep 31720-060
WYiüMüsitíÃvahQO cum hr
“ Universidade Federal do Pará
1 É bom deixar claro que a população acometida pela "crise dos 25" é composta de jovens de classe média,
que tAm condições de passar por todo o processo de íormaçAo acadêmica sustentados pelos pais, mas
depois precisam arcar com sua própria manutenção.
Referências
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Duby, G. (Org.) (2001b). História da vida privada: Vol. 2. Da Europa feudal à renascença (10“
reimpressão). (M. L. Machado, trad.). São Paulo: Companhia das Letras. (Publicado
originalmente em 1985).
Amor e comportamento
Para começarmos a pensar uma formulação comportamental do amor teríamos
que começar por considerar que o que estamos analisando não é o amor, mas o
comportamento de amar.
Portanto, estamos interessados nas relações de funcionalidade que o
comportamento de amar matem com o ambiente. Apenas lembrando que o ambiente deve
ser entendido de uma forma ampla, como continunn onde as relações comportamentais
se originam e se organizam. Esse contínuo vai além da existência de um organismo,
passando pela história da espécie e pela evolução da cultura.
Uma análise funcional do comportamento de amar, portanto, tem que considerar:
(1) as características herdadas. Predisposições emocionais, padrões fixos e sensibilidades
a estímulos eliciadores; (2) a história de relações com o ambiente passado e presente da
vida de uma pessoa, que resultam em formas particulares de sentir e se comportar dos que
amam. Uma história particular de reforçamento e punições que gera padrões de respostas
(adequadas e inadequadas), operações de motivadoras, sensibilidades a reforços etc.
Além disso, (3) as grandes definições culturais que regulam, valoram as ações dos
indivíduos. Elas entram na análise das causas do comportamento de amar como os mitos, a
literatura, a música, o cinema, a moda, dentre outros. Há um componente verbal forte em toda
forma humana de amar, oriundos de uma história social e verbal. Uma regra, um tipo de descrição,
que funciona como especificador de contingências de reforçamento e operação motivadora.
A interação entre esses níveis de determinantes do comportamento faz com quo
o comportamento de amar possua uma topografia muito vasta. Mas, por mais estranhas
que pareçam certas formas de amar, sempre encontraremos razões para sua existência
nessas contingências selecionadoras filogenéticas, ontogenóticas e culturais.
A análise do comportamento entende que o que a pessoa sente ó um sub-produto
do que ela faz. Se você quiser sentir coisas diferentes comporte-se diferente, essa é a regra.
Conclusões
Defender que uma definição comportamental seria a única a dar conta do que a
cultura nomeia como amor parece-nos pedante demais e perigosamente reducionista. O
papel da ciência, de um modo geral, é descrever as variáveis que se relacionam
funcionalmente com os fenômenos físicos. Uma ciência do comportamento não pode abrir
mão disso. E esta pode ser a grande contribuição da análise do comportamento para a
compreensão do amor. Principalmente, no auxílio àquelas pessoas que sofrem com amor.
Por fim, sobre aquela idéia difundida de que a ciência cessa a beleza e o romantismo
do amor humano, a analogia que nos ocorre ó que restam dúvidas sobre se o céu de Icaro
é realmente mais belo que o de Galileu. Isso vai depender do seu referencial de beleza e
romantismo. Até porque, enquanto estivemos esse tempo todo tentando alçar vôos com
asas de cera, não fomos além de alguns belos tombos.
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la Teogonía de Hesíodo' y la dei 'Papiro Derveni', Madrid: AOr 7.
Saint-Exupóry, A. O (1992). Pequeno príncipe. (41. edição) Rio de Janeiro: A gir.
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