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Campinas
1997
C817m
30275/BC
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA
BIBLIOTECA IEL - UNICAMP
li
BANCA EXAMINADORA
IIl
AGRADECIMENTOS
Sirio Possenti
A todos os amigos.
IV
AGRADECIMENTO ESPECIAL:
À BERNADETE,
pelas contribuições,
v
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1
L A ESCRITA COMO OBJETO DE PESQUISA ..................................................................... I
2. A REDAÇÃO NO EVENTO VESTIBULAR ........................................................................... 3
A seleção do corpus ................................................................................................... 8
VI
Capítulo 4: O ESCREVENTE E A REPRESENTAÇÃO DO CÓDIGO ESCRITO
INSTITUCIONALIZADO .................................................................................................... 270
I. IMPLICAÇÕES TEÕRICAS DA CONSIDERAÇÃO DO IMAGINÁRIO SOBRE O
CÓDIGO ESCRITO INSTITUCIONALIZADO ................................................................. 273
2. O CÓDIGO INSTITUCIONALIZADO NO CONJUNTO DE TEXTOS ANALISADOS ...... 287
Marcos sintáticos .................................................................................................. 289
Marcas lexícais ..................................................................................................... 305
Marcas organizacionais do texto ...................................................................... 310
Recursos argumentativos .................................................................................... 320
Marcas ortográficas ............................................................................................... 329
Considerações finais ............................................................................................... 332
VII
RESUMO
VIII
pistas, regularidades e propriedades lingüísticas dos textos analisados. Abordando
institucionalizados.
IX
INTRODUÇÃO
modos de comunicação, sobram, ao lado dessa, muitas outras razões para o seu
conhecer seus segredos para contribuir com esse conhecimento tanto para o
trabalho didático com o texto, como para as mais diversas áreas científicas em
do texto escrito.
tipo alfabético, impera sobre as mais variadas formos de registro. Três razões se
Mas não só por essa razão. Também quanto ao caráter simbólico da escrita
visão. Uma última razão, também ligado a seu registro espacial, é que, ao olhar
simbólico próprio e seu produto invariante no tempo são, portanto, três aspectos
registro!.
sua sempre dada e, ao mesmo tempo, sempre inédita relação com a oralidade.
a língua que se sobrepõe aos dialetos- "nenhum dos quaiS', segundo o que
entôo se acreditava, "se impõe aos demaiS' - para tornar-se a língua oficial e
comum de um povo -sentido que ainda aparece em Saussure ( 1975, p. 226-7). Tai
1 A título de exemplificação, um dos mitos que mantêm a força desse império e que é
tomado como efeito direto do registro escrito é o da permanência do sentido por ela
registrado. O tato de que a "visibilidade invariante" do registro gráfico freqüentemente seja
confundido com uma suposta invoríôncia do sentido do texto não é nenhuma novidade, mas
ainda persiste no fabricação de numerosos equívocos. Expressões populares como "Valeu o
escrito" mostram o espaço assertivo aberto pela escrita e sua suposta força de preservação
de um sentido único para o texto.
2
escrevente a partir da imagem que ele próprio faz {aspecto do ineditismo da
1992, que é o foco de interesse deste trabalho, apresenta duas fases: na primeira,
uma prova de redação e doze questões gerais sobre História, Geografia, Biologia,
ensino secundário, mas também- do ponto de visto do aluno- pelo risco que um
3
universitário, a provo de redação tem sido objeto de muito atenção por porte dos
correção das provas; e, de outro, escolas secundárias- talvez com mais destaque
uma idéia da atenção requerida, basta observar que, no cômputo dos provas da
candidato. Cada uma das três opções deve adequar-se ainda à "modalidade
4
exercício de leitura e de produção do texto. Desse modo, embora o candidato
esteja diante de uma solicitação que vai avaliá-lo quanto a suo capacidade de
a escrita como eixo organizador, uma vez que, no processo de sua realização, o
dos textos da coletânea - e de sua relação com outros textos lidos ou não pelo
aluno- e {c) acerca de um certo tipo de texto- e de sua relação com os mais
variados tipos de texto que o aluno já produziu durante sua vida escolar
pregressa. É, pois, num sentido amplo de leitura que o evento de linguagem que
5
Esquematicamente, teríamos, pob, um evento que, segundo a proposta
de Himes {apud Brown & Yule, 1985, pp. 37-46), contaria com um remetente
assunto a ser tratado; o local de tomado do exame [setting]: sala com dezenas
segundo Brown & Yule, não é senão uma parte do conhecimento sobre o mundo
6
particular- seja na recepção, seja na produção lingüística-, impor, como objetos
o solicita: a universitária.
impõe um inevitável jogo de imagens {Pêcheux, 1990 a), que é o que põe o
mediada, acima de tudo, por um imaginário sobre uma dada região do código
2Vale lembrar. com Veyne {1971), que "um ocontecimento [no caso. o "evento" vestlbu!arj
não é um ser [um indivíduo::: "un être"J, mas um cruzamento de itineródos posslveis" (op. clt..
p. 38).
7
verbal ao que supõe ser o registro discursivo esperado pela Universidade, como
A seleção do corpus
pelas narrativas ou pelas cartas. Vários são os motivos para essa escolha.
que será melhor definido no capítulo 1 tem, pode-se adiantar, uma propriedade
constituído que- dado o material a ser onalisado- será apreendido por meio da
atividade escrita.
procuram definir um modo "letrado" e um modo "oral" de narrar; por suo vez, e
também bem conhecidas, as pesquisas feitas por Chafe {1982 e 1985) procuram
destinatário são, nas produções menos formais, muito fortes, podendo, nesses
casos. ser esse gênero textual localizado, numa gradação, em pontos de mínima
8
textos escritos. de um modo heterogêneo de constituição da escrita a partir
uma opção teórica. Como a narratividode está presente sempre que o homem
enquanto princípio enunciativo e não enquanto tipo {ou gênero) de texto- como
uma opção compulsória qualquer que seja o texto estudado. Não se trata, pois,
nas dissertações.
Por outro lado, não será levado em conta o estudo das cartas em razão
conversação face a face {embora não exclusivo dela), qual seja, o do diálogo,
fortes, poderiam ficar muito restritas a esses dois elementos as conclusões sobre o
dissertação, ao contrário das cartas, é um tipo de texto que, em suas formas orais
9
conferências), aparece em manifestações mais formais. Por sua vez, esse modo
registro mais formal, bastaria atermo-nos ao tipo de destinatário que esse tipo de
Podemos mesmo dizer que a dissertação fala com uma instituição, fato que
parecem ater-se a solicitações típicas dos gêneros mais formais da escrita, tais
como envolvimento moderado quanto c1o assunto e quanto ao futuro leitor bem
10
para um destinatário difuso, tais propriedades desempenham o papel de fatores
li
freqüência ou não de curso pré-vestibular) e nota obtida na prova de redação.
escreventes lidam com esse imaginário não foram, porém, desprezadas, uma vez
vestibulandos.
12
Não se trata de insistir, é bom que se esclareça, no erro de julgar um
lingüística que não traduz apenas o imaginário que ele, individualmente, foz do
escrita, mas um imaginário que é adquirido do grupo de que faz parte, da escola
que freqüenta, do vestibular que presta ... E não há opção metodológica possível
para se tratar desse tipo de relação entre oralidade e escrita, isto é, do ponto de
consistisse em afirmar que não se pode falar do imaginário sobre a escrita que
pessoas que chega a se candidatar a ter uma provo analisada não impede que
!3
ligações do tipo escrita/ascensão social, mas especialmente as marcas
escrita na sociedade atuaL como também para melhor interferir em seu ensino.
coletânea informa: "os textos foram tirados de fontes diversas e apresentam tatos,
informação trazida pelo próprio candidato é bem-vinda desde que ele obedeça
sobre o grupo de rock Gun's N'Roses {publicado na revista Top Metal Band} e dois
14
fragmentos de textos extraídos de livros compõem um material para leitura cuja
também, que os gêneros postos para leitura são bastante acessíveis, com
exceção talvez dos fragmentos extraídos dos livros, que poderiam criar alguma
surpreendido grande parte dos candidatos, que, àquela allura, não contava com
urbanas".
* • •
sobre a escrita.
15
No capítulo 3, abordaremos o primeiro desses eixos - o da representação
de recursos mais típicos de gêneros dc1 expressão oraL Essa investigação será
enunciação. Para tanto, serão utilizadas também as reflexões sobre o modo oral
a circulação que ele foz pelo imaginário sobre a escrita possa ser detectada não
16
escrevente pelos três eixos aqui estabelecidos para análise. Para esse tipo de
17
Capítulo 1
L A TÍTULO DE INTENÇÕES
problematizar, nos discussões teóricas que se seguem, duas oposições que têm
relação entre falos lingüísticos (relação fala x escdfaj e enquanto relação entre
íntima relação entre um fato lingüístico e uma prática sociaL Desse modo, nem o
presente trabalho, nem- acreditamos- o próprio Marcuschi negam que todo fato
18
matéria, em diferentes graus, a existência histórico-social do letramento. É, po1s,
que defendem, quanto a essas práticaJ e quanto a esses fatos, uma dicotomia
radical [Goody {1979); Olson {1977), por exemplo]; há os que defendem uma
típico escrito, de outro[{Tannen {1982); Chafe {1982, 1985); Biber (1988); Marcuschi
{1994 b, 1995), por exemplo]. Há, ainda, oque!es que fazem referências explícitas
3
A formo como convivem os "práticos sociais" do or-al e o do letrado aparece na falto de
limites Precisos entre elas, já que têm em comum o fato de não se confundirem com o ensino
formaL Por exemplo: toda pessoa que se orienta pelos sinais de trânsito (o exemplo é de
Gratt, apud Street, 1984, p. l lO) mesmo sem dominar a escrito alfabética, é- no sentido que
estornos dando ao termo - uma pessoa letrada. Esse fato mostro que o saber que vem da
chamado tradição ora! - o modo de acesso a ele, seu conteúdo menos suscetível à
institucionolização formal, suo transmissão mois vinculada às práticos cotidianas - pode
confundír·se com certos saberes letrados que, embora convencionalizodos em signos
gráficos, caracterizam-se por um modo de acesso, um conteúdo e uma transmissão
desligados de instituições formalmente instituídas, como os escolas, por exemplo. Os limites
entre o oral e o letrado ficam ainda menos nítidos se atentarmos para m formos orais
rituolizadas. Pense-se, por exemplo, nos provérbios, É sabido que eles dividem com as formas
letradas tidas como puras - aquelas provenientes da prática da escrita - tanto o aspecto da
permanência no tempo, como o aspecto- talvez menos óbvio no que se refere à escrita - do
suscetibilidode às variações. Sobre o partilha deste último aspecto, vale sempre lembrar que
também a permanência da escrito não a exime das várias possibilidades de leitura a que o
texto escrito estó sujeito, dado que o sentido não pertence nem ao produtor nem ao leitor,
mas à relação que entre eles se estabelece a partir do que fico registrado no texto.
Por sua vez, o exemplo mais claro da convivência entre os "fotos lingüísticos" do falado e
do escrito é o reclamação de muitos professores de que o texto de seus alunos sofre muito
"interferência" do oralidade. Uma tal afirmação é. segundo o que pensamos, um tipo de
percepção da convivência entre o falado e o escrito, portanto não exata ou
necessariamente a percepção de um proble.ma do texto. t freqüente também, entre os
falantes, a percepção inversa, ou seja, a percepção de traços do escrito - certas
construções, certo vocabulário - no falado. É o que cotidianamente ocorre. por exemplo,
quando as pessoas rejeitam aqueles interlocutores de fala muito rebuscado, tachando-os de
"quererem folor difícil".
19
há os que procuram conceber a escrita no processo de sua produção (Luria
(1988), Vygotsky (1987, 1988), Abaurre (1989, 1990 a, 1990 b,l994) e Abaurre et ai.
(s/d, 1995) sobre ritmo da escrita e sobre a aquisição da linguagem escrita; Silva
{1991} sobre alfabetização; Chacon {1996) sobre o ritmo da escrita como uma
faz sobre o que imagina ser a gênese4 da {sua) escrita; o da representação que o
primeiro eíxo que propusemos. Temos consciência do perigo dessa escolha. Não há,
naturalmente. um ponto de origem localízáveL nem imaginariamente. Nosso objetivo foi
referir à expectativa de completude mantida pelo escrevente quanto a evidenciar
integralmente uma prática em seu produto, no caso, a prática do registro gráfico do falado
em relação ao produto escrito. t nesse sentido que, em determinados momentos, nos
sentimos autorizados a descrever o prática do escrevente como uma tentativa de plasmar o
falado no escrito, foto que inclui a tentativa de tradução fiel também de fatores
pragmáticos envolvidos no ato de enunciação. Em termos dm reloç6es escrito/mundo e
escrito/falado, a atuação desse eixo de representação impõe uma tentativa de tomar o
escrito como representação fiel, seja como símbolo de primeira ordem {relação
escrita/mundo), seja como símbolo de segundo O!dem (relação escrito/falado). Voltaremos
a esse temo no capítulo 3, p. 188-194.
20
escrevente faz sobre o que imagina ser o código escrito institucionalizado e o da
com o já ouvido/lido.
partir desses três eixos de circulação ima~~inária seja localizável em qualquer tipo
todos os textos.
observar marcas deixadas pela conjunção dessas práticass, marcas que, como
vimos nas abordagens intuitivas exemp!ificadas acima {cf. nota 3}, permitem
21
No presente trabalho, não nos preocuparemos em resolver a
modo, as relações que o escrito mantém com o mundo e com o falado serão
escrita/falo.
conceituação.
22
{l) Breve revisão sobre letramento e oralidade
coisa além da alfabetização e que era mais ampla, e até determinante desta"
posições teóricas adotadas, a autora procura, então, dar contornos mais precisos
ao conceito:
23
colocação, opor-me o outros concepções de
leframenfo atualmente em uso, que não sôo nem
processuais, nem históricas, ou então adotam uma
posição 'fraca' quanto à sua opção processual e
histónCa. Refiro~me a trabalhos nos quais,. muitos vezes,.
encontra-se a palavra lelrarnento usado como
sinônimo de alfabe#zação." (idem, ib., destaques no
original).
{op. dt., p. 2), Por sua vez, a escolarização é definida como uma "prói!Co formal e
conceito de oralidade.
única forma de linguagem "da qual nunca abdicamos pela vida afora" (idem, p.
14).
24
Contudo, há, como sabemos, outros modos de se produzir comunicação
oral, cada um dos quais ligado a determinadas práticas culturais. Bakhtin (1992}
enunciados como genéricos?. Para se te~r uma idéia da importância que Bakhtin
podemos pensar a comunicação ora! de acordo com uma gama muito diversa
conferências.
particular desses modos de comunicação oral à distância, uma vez que o modo
7Como bem observo Barros ( 1994), "Bokhfin concebe o enunciado como matéria lingüística e
como contexto enunciativo e afirma ser o enunciado. assim entendido, o objeto dos estudos
da linguagem"(op. cit., p. l ).
25
de modos de comunicação oral que fogem aos critérios da interação face a
texto oraL
falado/escrito.
26
{2) Das dicotomias radicais à dicotomiza~~ão metodológica
verbal a partir da uso dos primeiros ref~istros escritos {Goody, 1979)9, como na
1977].
"outros mudanças" w (op. cit, p. 71). Com destaque, também Olson, este mais
'
propenso a assimilar o letramento ao papel da escola, se alinha nessa
produção verba!. Pode-se dizer que é a partir da criação dessa dimensão entre
original em inglês, "The domeslicolion of the sovage mihd': datado de 1977, foi a tradução
francesa. datado de 1979. a versão bóslco utiliwda.
1o Todas as traduções de obras em língua estrangeira são de nosso responsabilidade.
27
Goody afirma que a palavra escrita "acrescento uma importante
dimensão às ações sociais': Ela não substitui, portanto, a fala, assim como esta
não substitui o gesto (cf. op. cit., p. 55). Particularizemos nossa observação à
escrita, que nos parecem argumentos incontestáveis. Vale notar, a esse respeito,
escrito·: afirma que o próprio "gesto rítmico com o qual o texto foi produzido se
'congela' em signos gráficos sobre uma página em bronco" (op. cit., p. 77-8). Essa
produção da escrita e que pode ser estendida para o papel do ritmo da escrita
circulação a atividade do sujeito que produz linguagem e, por essa via, não só
28
considerasse apenas como aparente o C!pagamento do processo da escrita no
produto escrito.
menos como particularizadora dos processos de escrita nos quais se insere como
escrito, mas a relação entre sujeito e linguagem {cf. Abourre et ai., 1995, p. 40). O
já-dado dessa relação é que seriam, pois, em conjunto, o fator transformador das
práticas da linguagem, uma vez que estão ligados aos usos {tanto da falo quanto
da escrita), os quais- é uma das hipóteses que pretendemos levantar aqui- não
escrito feita por Olson. Optamos por diE.cutir sua posição por um viés que nos
11 Preocupado com o ensino de redação, Câmara Jr. (1972) assume posição semelhante à
de Goody quanto à mudança no modo de pensar pela fala e pela escrita. O autor se refere,
por exemplo. a saber "pensar em termos cfe língua escnla" {op. cit., p. 76). A própria
metodologia que sugere para a produção do texto escrito. caracterizado por procedimentos
essencialmente gráficos, mereceria maior atenção no momento de sua aplicação. Embora
nem professores nem alunos se apercebam do foto. estes últimos são orientados o se
utilizarem de recursos gráficos apenas como reprodução técnica. Desse modo. o escrevente
pouco pode explorar as propriedades específicos desses recursos. como, por exemplo, seu
caráter prospectivo. pressuposto na elaboraçôo do plano de redação, ou seu caráter de
reversão. pressuposto no idéia de rascunho.
12 Ineditismo não significa aqui originalidade ou criatividade. Defendemos apenas que
marcas da ''individuação" histórico do sujeito podem ser vistas como dados de ineditismo. A
noção de "individuação". tomada de Veyne (1983), será discutida no capitulo 2.
29
permita mostrar como essa assunção está presente nos estudos lingüísticos por
meio de uma inversão entre a proposta teórica de partida (preferência pelo oral)
escrito}. A referência à dicotomia radical entre fala e escrita que escolhemos foi
teoria de Chomsky se aplicaria apenas à "prosa escn'fa explicito", uma vez que
dicotomia radical entre o escrito e o falado ou. nos termos do autor, entre "texto"
observar que, sabendo ser baseada essa teoria em princípios tidos como
30
partir do qual- para retomarmos a quesfôo do sentido- pode-se pensar em tipos
primeiro momento, em "nível grafêmiCo ': pois, dispondo de "um signo dísfínti'vo
o autor, "no n/vel semântico, ao permitk que uma dado sentença tivesse uma
alfabético pelos gregos. Estes desenvolvem o "estilo escrito" que vai - pela
31
opacidade do sentido por conta dos "significados dos falantes". Por esse artifício,
positivistas lógicos': ou, mais precisamente, para "a estn;fura da prosa escdta
texto, bem como à universalidade pretendida por esse tipo de teoria. No que se
1~ Biber (1988}. ao comentar que o lingüística estrutural (no qual inclui o teoria gerotivo-
tronsformocionol) tem sido inconsistente quanto a considerar a primazia da fala sobre a
escrita, mostra que há um hiato entre teoria e prática na pesquisa sintática. De acordo com
o autor, embora a escrita seja desconsiderada na teoria, no prático é a fala que é
desconsiderado como não-sistemática e não--represenlatívo da verdadeíra estrutura da
32
O questionamento de Aba urre aponto, basicamente, para a possibilidade
Gerativo)" poderia ser posta em que~.tão, uma vez que "esses consfructos
o elo associado. Em primeiro lugar, é preciso entender que se. em sua relação semiótico, o
linguagem verbal dó formo ao mundo bio-sociol e às relações entre os homens. no sentido
de discreti:zá·los e tornar possível sua discursivizoção, bem diferente. porque metolingüístfca.
é o atitude analítico do lingüista, que busco quebrar a continuidade por meio do qual
percebemos a próprio linguagem.
A referência feita à noção de segmento, proveniente da digitalização próprio da escrita
alfabética. é ilustrativo dessa atitude anolíticct Como sabemos. embora essa herança do
escrito não tenha sido sempre percebida pelos lingüistas. ela tem gerado. nos lingüistas, uma
espécie de obsessão pela discretização. O relativo abandono o que, por um bom tempo,
foram relegados, por exemplo, os chamados troços supro-segmentais. revelo - pelo
dificuldade imposta à segmentação- um tipo de atitude em relação ao material lingüístico.
Na sua próprio denominação, pode-se observar o imputação de um caráter de acréscimo
em relação ao que realmente seria passível de discretização e, portanto. de interesse
analítico- os segmentos. Esse questionamento, jó um tanto antigo. pode iluminar. porém, a
mesma obsessão discretízonte em outros dimensões do llnguogem, mesmo em perspectivas
talvez menos marcadamente estruturolistos. como, por exemplo, a classificação
socíolingüística das variedades de uma língua. em que, de acordo com o número de fatores
sociais escolhidos. podemos chegar a um n(imero determinado {às vezes. excessivo) de
variedades discretas. A atitude discretizante e o limite que o próprio analista dó ao
procedimento de discretização revelam um tipo de investigação marcado por uma visão
globa!izante e homogeneizadora do material de análise. cuja positividade, assim construído.
permitiria ao analista ter acesso às partes constituintes. No caso da língua, essa relação com
o material de análise. se não levou sempre a excluir de consideração os fatos particulares
marcados pela relação histórica sujeito/!inguo•;;Jem, pelo menos deixou que se reintroduzisse,
no método adotado, esse procedimento de exclu~ão do foto particulaL
Num tom diferente e tratando especificam.ente da escrita, Marcuschi também critica a
"formo globolizante de ver o escn'fo": próprio dos que defendem a autonomia da escrito,
esse modo de ver se equivoco ao afirmar o existência de fenômenos sociais homogênos e
globais como o dos supostas "sociedades letradas", em vez de atentar poro a exístência de
"grupos letrados': representados por "e!des que detém o poder social" (J995, p. 5).
33
Essa recusa à universalização pela recusa à espontaneidade na
l« Ver a respeito Marcuschi {1995, p. l) e o retomada que fazemos desse autor na seçõo
seguinte {ct.. aqui mesmo. p. 50-1 ).
34
comunicativo se refere "à formo e ao uso de toda a li"nguo- incluindo a fala e a
várias culturas e, mais particularmente, nos suas práticas faladas ou escritos. Nesse
representações que o sujeito faz sobre a {sua) escrita estão marcadas em seu
texto:
"Nossa Cdação
"Os fovens por não terem formação intelectual por
desinterece de ambos os lados tanto de si própdo quanto por parte
de seus governantes no coso do Brosíl.
"Não conseguem expressor suo revolta de formo criativa,.
convincente e globoi"(Texto 04-199,).
35
conversaclona! expresso numa unidade que pode ser diferente da unidade
pela junção dos dois parágrafos é inegável para qualquer falante da língua
portuguesa. Daí, a facllidade com que qualquer leitor poderia rejeitar a divisão
proposta. Essa divisão em parágrafos, portanto, não tem a ver com uma
escola, de que o texto escrito deve ser separado em parágrafos parece ser. nessa
o sujeito e o verbo [" {1°) por não terem fonnoçõo infelectval {2°} por desinterece
de ambos os lodos (3°) tanto de si próprio quanto por parte de seus governantes
poro ser lido e utlllzodo no momento do prova), a tripla subordinação a que nos referimos
poderia ser visto como uma inserção tópica característica do texto oral, ligada à exigência
de utllizoçào do coletânea. O escrevente procura cumprir essa exigência por meio desse
tlpo de inserção na tentativa de estabelecer o diálogo com o interlocutor que constrói poro
seu texto. Com efeito, em seu estudo sobre a inserção em discurso dialogado, Jubron (1993}
afirma que "o tola díalogodo (... ) tende o apresentar caracteres de discurso não previamente
plonejóvel e, portanto, muitas vezes rupfor de estruturas conónicos" (op. cít., p. 71 ). No coso,
a unidade tópica é o produto da redefinlção do segmento gramatical "sentença
complexo"< transformando uma causo em um tópico à porle. Pode-se, então, observar dois
tópicos concorrentes: (o) "os jovem não sobem expressar suo revolto". que começa no
primeiro parágrafo e termina no segundo, porém tomado este último como independenfe;
/b} "o culpa é o desinteresse pela formação intelectual por porte dos próprios jovens e do
governo"< que é a "inserção, responsável pelo divisão do tópico em segmentos nõo-
contlguos" (idem, p. 64). Em termos orgumentativos. a inserção feita pelo escrevente pode
ser visto, ao mesmo tempo, como uma formo de trazer, coloborotlvamente, a posição que
julgo ser a de seu interlocutor e como uma tentativa de olçomento para essa posição. Por
suo vez, o separação em parágrafos proposta pelo escrevente, tomada do ponto de pista
dos procedimentos de articulação do discurso dialogado, pode ser vista como uma tentativa
de reprodução gráfica de um modo de processamento característico do texto oraL
36
que supõe como necessária a complexidade da escrita, não muda, porém. o
texto.
metodológico. Tais fatos lingüíSticos p·::~ssam assim a ser tratados por esses
19 A propósito, Berruto {1974} afirmo que o contraposição entre escrito e falado é multo
menos dicotômica do que parece. Segundo o autor. se a oposição entre escrito e oral
freqüentemente corresponde à oposição formal-informal, no sentido de que o escrito é
formal {cuidado e elaborado) e o falado é informai, podem ocorrer, porém, ainda com
bastante freqüência, uma escrita informal e uma fala formal {cf., op. cit., p. 78).
37
estudiosos2o não unicamente em termos do sistema, mas, sobretudo, em termos
de seu uso. Em uma dos principais verientes desse tipo de reflexão, a noção
central passa a ser a de gênero textuaL fato que se justifica não só em termos da
vez que a língua guarda nos enuncíodos genéricos a memória das esferas de
opostos paro propor entre eles uma série de relações que podem terminar por
contínuo. Sugerido em Olson -autor que, como adiantamos, se tornou uma das
outros estudiosos, por Marcuschi {cf. 1994 b, 1995). Curiosamente, essa idéia tem se
{escrito) em relação ao "enunciado" (ora!) proposto pelo próprio Olson {op. cit.).
38
não aparece propriamente em função da dícotomia entre oral/letrado, mas em
críticas que fazem a uma suposta autonomia entre o oral e o escrito. Com efeito,
letramento per se que é a distinção chave·: Ela adota outros critérios paro a
definição de uma oposição e condu i que a distinção chave está ligada à ênfase
fundamental para a expressão escrita. a IJUtora procura recusar dois mitos quanto
39
contrariamente ao que, de fato, ocorre na língua falada, em que a atitude em
afirmação de Olson, por exemplo, de que, na fala. "o sentido está no contexto"
(apud Tannen, Idem, p. 39). A outra face desse mesmo preconceito, subdividido
pela autora nos dois mitos acima expostos, corresponde, como se adiantou, ao
fato de que, na escrita, a ênfase 'no conteúdo tem sido entendida como uma
sendo visto "como produto ou artefato a ser dissecado" e não como processo
pode caracterizar apenas uma única modalidade do uso da língua, uma vez
(idem, p. 10),
40
Ainda no que se refere à retificação encaminhada por Tannen a respeito
ser uma questão de ênfase no conteúdo, maior na escrita porque tal ênfase está
desta feita, de opor, por meio do grau de atenção dado ao conteúdo, ênfase no
texto (suposta como típica da escrita) a ênfase no contexto (suposta como típica
122). É importante lembrar que, nesse tmbalho, o autor utiliza também exemplos
detalhado desses estilos mais formais de fala {caso das conferências, por
exemplo), bem como com o exame de estilos mais descuidados de escrita (caso
41
dependência contextual do enunciado. Ela está manifestada nas próprias
escreventes não o fazem com seus leitores. Dessa distinção, Chefe conclui sobre
envolvimento, próprio da fala. A esse respeito, mais uma vez o autor evidencia a
apresentar certas características que ele entende como mais próprios à escrita,
críticas à dicotomia oral versus letrado, o autor divide os estudos sobre a escrita
qual liga, entre outros, mos de um modo especiaL O!son e Goody - e o modelo
historiador social que teve publicado, em 1979, o livro "O mito do letramenlo"
42
[The !iterocy mythj sobre o estudo de diferentes grupos profissionais e étnicos do
século XIX em cidades do Canadá. A partir desse estudo, Graff concluiu que o
Street, idem, p. 105] desmitifícando a idéia, que Street atribui também- mas não
facilitada, segundo C!anchy, "pela con/inuoda misturo [ "mtX"] dos modos oral e
prática oral" mais do que a imporem a ela uma mudança radical {apud Street,
ligado ao modelo que Sfreet chama "idj:Jológico': Trata-se de Parry, cujo trabalho
lndio foí composto de uma formo e com uma redundância que foi claramente
p. 99).
O autor procura mostrar que, na aldeia do Irã em que realizou seu trabalho de
43
oral e o letrado, com claro aproveitamento do letramento adquirido junto à
sente autorizado a colocar, no centro da dicotomia oral versus letrado, não uma
adquirirem o que elas dizem que querem e não o que os professores, os [teóricos
da alfabetização] radicais {... ) acham que elos querem" {idem, p. 226}. Mas,
próprios instituições" e que "um posso nessa direção seda dado pela
{idem, P- 227-8).
tematlzação crítica da dicotomia, tomada, desse modo, pelo autor mais como
44
como "uma função [psicológica} que se realiza, culturalmente, por mediação"
(op. cít., p. 144) e interpretada por Marcuschi em termos da relação entre práticos
entre o oral e o letrado com uma reflexão mais voltada paro o campo do
em uma fonte de equívocos "à medida que mistura distinções situadas em planos
e que. se o "literário" é também oral. entõo o oral também pode ser mediatizado
45
Como adiantamos, na dicotomização metodológica, tomam-se os pólos como
opostos paro propor entre eles uma série de relações que podem terminar por
"Nosso Criação
"Os jovens por não terem formação intelectual por
desínterece de ambos os lados tanto de si próprio quanto por porte
de seus governantes no coso do BrostZ
"Não conseguem expressar sua revolta de fom1o criativa,
convincente e globa/"'Texto 04-199).
jogo entre uma percepção típica do oral/falado {a de que existe oí uma ú-nica
dessa unidade em dois blocos, como busca de uma forma sintática adequada
46
modo de constituição da escrita. Esse espaço de observação será comentado
las e alertando para o fato de que elas sôo, sobretudo: "fruto de uma observação
Tannen e Chofe são também autores que defendem essa nova visão da
11988).
Tonnen (... ),uso o lermo 'oral' poro reftHir à falo f/pica e 'letrado' para refedr à
escrita t/pico"(op. cít., p. 44). Contudo, essa decisão. por ser apenas de natureza
perspectiva que ele próprio avalia como sendo, ao mesmo tempo, quantitativa e
47
discretos" {ldem, p. 38), em cujas ordenadas os gêneros textuais se localizam de
distinção fundamenta! entre "os tipos de discurso orais e letrados': Aleria, porém,
o falado e o escrito é uma questão "não central poro as relações entre textos
texto {op. cit., p. 25): define dimensão como "um contlnuo de variações mais que
a definição de discurso oral e letrado (idem, p. 161, destaque nosso); afirma que
48
"mesmo os noções de textos 'orais' e '/eirados', tomados para representar o falo
absolutas as que definem as várias dimensões. Nesse sentido, podemos dizer que
que conta como resultado da análise não são as dimensões isoladas, mas os
num contínuo.
{"[é matéria paro pesquisas de interesse} definir até que ponto se podem vincular
49
TfounL preocupada com um dos pólos da dicotomia, mais precisamente
que "o letramento pode atuar indiretamente, e influenciar até mesmo culturas e
individuas que não dominam a escrita" {op. cit., p, 54). Para a autora, embora o
com função operatória, desta feita visando a uma maior precisão das noções -
texto escrito, a contextualização está !ig_ada aos gêneros textuais, os quais, sujeitos
relações dinâmicas e evitar a dicotomia estanque" {idem, ib.). Numa outra alusão
50
Nesse trabalho de 1995, o autor volta ainda ao temo para dizer que "tonto
por ver as diferenças entre fala e escrita na perspectiva de seu uso e "não do
sistemo"2 4 {idem, p. 15. destaque no original). Conclui dizendo que "centro!" é "o
escalor"{idem. ib.).
diferenças entre fala e escrita na perspectiva do sistema. Vale mais lembrar, que,
51
perspectivas, voltadas para o uso e não para o sistema, a fixação exclusiva de
falados (cf, Biber, op. cit., p. 36). Desse modo, segundo Biber (idem, p. 37-42),
como:
externa·
c} integração e distanciamento;
d) fragmentação e envolvimento;
falado/escrito.
52
Para justificar sua posição, Biber, negando diferentes generalizações
verdadeira para todos os gêneros escritos e falados" e alerta que, se "a moioda
válida para a llngua como um todo) pode ser feita no sentido de determinar
"que todos os textos falados devam ser agrupados juntos como opostos o todos
especial ao nosso trabalho, uma vez que nos obre a possibilidade de obsetvar o
nosso caso, nas dissertações). Se, como vimos, fatores situacionals, funcionais e
' .
diferença entre o falado e o escrito. Montida, uma vez mais, a distinção entre o
53
questionar a aparente independência na atuação desses dois materiais
percepção, menos óbvia, talvez, de que a base semiótica do letrado pode variar
por Street (op. cit., p. 110)- indica que existem diferentes formas de utílização da
acústico.
ao falado e ao escrito.
Biber (1988), por exemplo, inclui o canal físico {auditivo ou visual) e o que
freqüentemente foi exerCido por meio do controle dos materiais associados {às
54
tecnologias, estas, por sua vez, associadas às diferentes formas de !etramento] ·:
ressalto, porém, que o letramento "é mois que apenas a 'tecnologia' na qual ele
Biber, embora por caminhos muito diferentes, mostram que elas são uma ficção
ou, como procuramos classificar, dão pistas de que elas podem funcionar apenas
daquelas diferenças que parecem ser os mais óbvias, como é o caso da base
semiótica.
Para tanto, será abordado a base semiótica em observações feitas por Cafiizal &
pelo odgem social dos discursos'; Caf'iizal & Lopes lembram que, paro Verón, o
55
texto "não se restringe à escn'ta, nem a uma matéda significante homogênea". E
textos, afirmando que os textos com que temos contato diariamente apresentam-
cit, p, 4),
matérias significantes heterogêneas': os quats, por sua vez, são descritas por
início:
56
tornando-se uma "moténO significante" jidem, p. 65-6). O investimento semiótico
(idem, p. 66).
útil observar como, mesmo dentro dos si:stemos gráficos, o material que se investe
57
Desse modo, podemos, a partir da caracterização dos traços genéricos
dos sistemas gráficos dada por Verón, especificar que, dentro dos sistemas
gráficos, há variações dessa matriz globalmente proposta. Esse talvez seja o caso
maneira global não dá conta dos modos concretos de sua utilização. Que fique
ressalvado, portanto, que, mesmo que essa mafr!z de traços possa ser tomada
como válida para o sistema alfabético de uma maneira globo!, não pode sêr
sujeitos concretos. Exemplos mais claros dessas variações são a pré-escrita infantil,
representaria um modo ainda mais sofisticado de exercer a abstração intelectual) [op. cit,
p.l01].
1e. Note-se que, se se pode afirmar que a escrito alfabética é descontínua sob o aspecto da
correspondência fonemo/grofema ou sob o aspecto da segmentaçOo palavra/grupo de
forço e/ou grupo tonaL elo pode ser considerado contínuo quanto a seu papel de consirvir
textos. Chocon {1996), ao associar esses traços com o ritmo da escrita, fala no jogo
continuidade/descontinuidade como característico da escrito.
z9 Vejo-se. a esse respeito, lurio {1988} e Abourre (199\b, sobre o escrito icônica).
w Conferir Abourre (J991a e 199lb) sobre ritmo do escrita e Chacon (1996J, sobre o papel
dos sinais de pontuação na caracterização do ritmo da escrita.
58
afirmo: "a transmissão do texto não vem depois de suo produção, a maneira pela
qual ele se insfftui matedalmente faz pa11e integrante de seu sentido" {op. cit., p.
84, destaque no original). É útil reter, portanto, com Maíngueneau, que "as
que pode vir registrada no enunciado impresso por seu "aspecto material" .
tamanho dos tipos utilizados [1989 {1979), p. 50]. A esse respeito, Vachek faz uma
59
falados, "só pode ser induzida por meios secundádos (por exemplo, através de
frases como 'Por meio de nota de rodapé, poderia ser acrescentado... ', ou 'Em
conexão com o que acabou de ser dito, poucos detalhes podem ser de
"zeros gráficos, isto é,. espaços vazios entre palavras escnTos (ou impressos) no
contexto gráfico" [1989 (1987e), p. 152)]. Vochek descreve esse recurso como
branco, é dada por Silva {1991), desta feita de um ponto de vista lingüístico.
criança pode não dominar, portanto, "que os criténOs para a colocação dos
espaços em bronco entre palavras são baseados nas classses morfológicas, o que
requer uma reflexão metalingüística que ela ainda não está opta a fazer" (op. cít.,
J2 Na mesma linha da facilitação. Câmara Jr. {J 972) destaca que "o dislnbuição do texto no
papel concorre poro tomar o leitura moís fácil e mais atraente" e descreve as 'pousas visuais'
dos espaços em branco como fatores de atração do texto. onde os olhos podem "deter-se e
repousor"(op, cit.. 86).
60
mostram que a criança ora representa "unidades e cortes semelhantes aos do
escrevente faz por certos eixos de suo representação da escrita que dão a
comunicações verbais é ele próprio uma das "mensagens de outro tipo" que
O próprio autor afirma: "o corporeidade das mensagens verbais está em seus
61
veículos sígnicos: indispensáveis, mos relevantes apenas na medida em que
seria "uma forma (... ) de naturalismo: uma porção do social seria considerado
mensagens 33.
negocioção34 {em seu "valor de troco" } que a enunciação {no caso, pelo
62
motenóis"j seriam, sob esse aspecto, consideradas como insuficientes, à medido
Mencionamos, por exemplo, que há ocosiões- como na escrita infantil, com Silva
( 1991 ), ou no uso dos sinais de pontuação, com Chacon ( 1996) - em que a escrita
gesto na escrita. Para tanto serão citados Householder (apud Vachek}, Vygofsky,
feito por Vachek: " ... há pacientes que só são capazes de pronunciar uma palavra
63
depois de terem indicado no ar sua forma gráfica pelo gesto da mão" [1989
(1974), p. 31].
palavra finalmente pronunciada, uma vez que é ela que vai, definitivamente,
como bem lembra Rossi-Landi (cf. acima), com a "naturalidade" do gesto físico
em sL Como taL ele pÔde ter uma gamo de movimentos tão diversificado que
da escrita infantil, esse autor inclui também o gesto como matéria significante a
que "essa história começa com o aparecimento do gesto como um signo visual
paro o criança" (op. cit., p. 121 ). A importância dessa primeira tarefa está ligada
ao papel que o autor atribui ao gesto, tido como "o signo visual que contém a
os "signos escritos{ ... ) simples gestos que foram fixados" {idem, ib.).
64
De nos-sa parte, no pres-ente trabalho, nossa hipótese é que na escrita
espacial lingüística mente marcada no texto escrito. Há, em nosso corpus, casos
texto, contando não só com o conhecimento que supõe partilhado com o seu
leitor. mas também com a projeção espacial (no espaço gráfico) do gesto
Esse tipo de recurso está, ainda uma vez, ligado ao que Vygotsky chama
se ligam à origem dos signos escritos tanto no domínio dos "rabiscos das crianças"
como na esfera de atividade dos 'Jogos dos cn'anços". Nos rabiscos, os troços
dramatizar por gestos o que deveria ser mostrado por desenhos. Nos jogos, é "o
eles, um gesto representativo" que permite atribuir "a função de signo ao objeto"
65
"signo auxiliar': isto é, um signo "cujo percepção leva a cnOnça o recordar o
idéia{ ... ) a qual ele se refere" {1988. p. 144). O tema do material significante volta,
processo de escrita: "o escrever pressupõe {... } a habilidade paro usar alguma
insinuação (por exemplo, uma linho, uma mancha, um ponto} como signo
"um sinal ou um grupo de sinais visa sugerir( ... ) toda uma frase': tratando-se,
segundo Martins, de uma "escrita de idéias'' [1957, p. 26). Desse modo, poder-se-
na escrita {no sentido de mostrar que esse material pode aproximar o falado do
escrito e levar à recusa de uma dicotomia entre essas duas modaHdades), Luria
rítmico, Luria chamo "escrita ritmicamente reprodutivo". Vemos, desta feita, que,
66
ao contrário da hipótese levantada acerca da "escnfo sintética'; em que o
material gráfico.
Esse conceito de ''ritmo da escrito" proposto por Aba urre foi desenvolvido
por Chacon {1996) ao analisar textos de vestibulandos. Para tanto, o autor toma
3S Sobre a ênfase no plano da expressão. Chacon (1996) mostra que "no escrito ritmicamente
reprodutivo" a criança estaria refletindo ''propríedades da substância do expressão que lhe
começam a ser significativos e que serão incorporados a suo produção gráfico noutro
domínio que não o do dimensão segmento/ do esctito alfabética. Em outros palavras. esse
tipo de escrita caracterizaria "o fentofívo da criança de refletir, em seus rabiscos reflexivos,
tõo somente alguma; propríedodes da configuração iônica das palavras e sentenças que
ouve" {op. cit, p. 77).
67
Essa observação não vai sem que, previamente, o autor destaque a presença do
esse papel, uma vez que "revela tentativas de reprodução do língua falada" e
se processo. Por suo vez, o caráter integrador do ritmo da escrita, que, vimos
retomando Lurio {1988) - "se a escrito se caracteriza por ser rítmico é porque, em
suo gênese, está 'um reflexo do nfmo do frase pronunciada no nlmo do signo
68
dimensões da linguagem corresponderia, no que se refere à base semiótica, a
• • •
Procuramos mostrar, neste percurso, que a consideração da base
semiótica como fator de distinção entre o falado e o escrito não pode ser nem
parte das formulações trazidas para discussão não foi feita, como pudemos ver,
diretamente para mostrar nem uma coisa nem outra. De qualquer modo,
escrita. Dado que o mo teria! a ser tomado poro análise é o produção escrita de
entre dois materiais significantes independentes, nem, por essa via, a dicotomia
69
uma mixagem entre o ora! e o letrado; em seguida, essa idéia será buscada na
produção escrita.
e o letrado como típico escrito, fica clara a percepção que elo tem de outras
ainda uma palavra. Quando esse autor trata do que entende como paradoxal
processo da escrita.
entre os tais usos literários da oralidade comentados por Chafe - o autor destaca
oral"- e certos usos literários da escrita. Ou seja, em termos culturais mais amplos,
essa fala escriturizada (aquela que, rituallzada, permanece no tempo) que Chafe
70
mostrada por Manuel Rui, escritor e po1~ta angolano contemporâneo, quanto à
como no uso literário da linguagem escrita discutido por Manuel Rui (em que o
uso da palavra "misto" { "mix" J para designar a relação entre práticas orais e
práticas letradas. Como vimos. para Clanchy (apud Street, 1984, cf., aqui mesmo,
p 43) esse misto significa, em especial, o modo pelo qual qs fOrmas escritas foram
'
adaptadas à prática oraL Nessas adoptações das formas escritas às práticas
escrita.
J6 Há, no entanto. no que se refere a esse modo heterogêneo de constituição da escrita. uma
diferença de atitude institucional com relação a modos de expressão como o exemplificado
por Manuel Rui e como o que se pode encontrar em textos escritos de vestibulandos, por
exemplo. No caso de Rui, o espaço do literário parece acomodar sem problemas uma
escrita heterogêneo. Essa diferença de atitudes institucionais coloca, na verdade, um outro
problema: o de se saber em que medido a emergência dessa heterogeneidade é tida como
adequado aos contextos pelos interlocutores. No vestibular, por exemplo, como foi visto no
Introdução deste trabalho, o candidato se confronta com um conjunto de solicitações
institucionais entre os quais se situam os exigências de adequação de seu registro de
linguagem à modalidade escrita do língua padrão, portanto o um imaginário sobre uma
dada região do língua. Já no coso de uma reportagem radiofônico. o exemplo do texto
literário, a emergência de seu modo heterogéneo de constituição parece ser admitida sem
problemas.
71
Com efeito, o propósito do afirmação de Clanchy, Street afirma que as
pessoas que hoje seriam consideradas como não-letradas não podiam ser assim
regularmente da prática letrada seja por "ouvír I 'ler' " seja por "compor 1
'escrever' ". Portanto, lia quem ouvia a leitura e escrevia quem compunha e
ditava, práticas que, ao manterem a persistência dos modos orais ao lado dos
apresenta, tanto quanto à leitura como quanto a Certos tipos de uso da escrita na
vida diária. No que se refere aos tipos de uso da escrita na vida diária, Street
mostra que, em certos casos, a escola não cobre as habilidades letradas que os
mesmo autor. Ilustrando o primeiro caso, pode-se cítor, com Street, o exemplo de
um folheto de instruções aos professores, feito pelo ALBSU (Adu!t Literacy and
Basic Ski!ls Unit - instituição do Reino Unido), para orientá-los quanto a certas
72
aspecto explícito no prático de /etramento" {idem, p. 222-3). Nesse caso, somos
dos saberes informais da oralidade, uma vez que, na verdade, a escola trabalha,
adultos fora da escola (op. cit., p. 121-5 e p. 157). Neste últlmo caso, somos
levados a reconsiderar o extensão do que se chama tradição oral, uma vez que
Já comentados aqui {cf. p. 43-4}. os relatos que Street faz de seu próprio
estudada por Street na década de 70, no lrã, se enraíza culturalmente num tipo
do leiaute como recurso para a recitação. Por sua vez, Parry mostra que, além de
73
literatura sagrada da Índia - lugar de sua pesquisa - foi composta de ta! forma
Por outro lado, há conjeturas sobre o fato de que, mesmo em línguas sem
escrita, existe um estilo falado dotado de prestígio que serviria como um tipo de
Segundo relato feito por Vachek, esse estllo funciona "em algumas comunidades
(1974), p. 32].
e Halle, ao qual Vachek chama de "estilo lento de fala': tomado como ''padrão
74
percepção de que, a exemp!o das práticas letradas, as práticas orais apresentam
traços, ora mais próximos do que opera1oriamente propõem como o falado, ora
desse modo, com a idéia de um contínuo. Como adiantamos {cf., aqui mesmo,
p. 38), numa tal perspectiva, a noção de gênero- que não é apenas um recurso
falado e o escrito; por outro lado, são contemplados os traços funcionais que
75
como a que se pode encontrar em Rebou! (1980) referindo-se ao que seria "o
puro escrito e a pura fofa" {op. cit., p. 145) tornam-se difíceis de sustentar.
evitar o falso problema que consiste em optar por uma de duas relações possíveis
da escrito: sua relação com o mundo {ou seja, a escrita tomada como símbolo
de primeira ordem) ou sua relação com o falado {ou seja, o escrita como símbolo
de segunda ordem). Evitar esse falso problema é, para nós, tratar a escrito como
76
entre as articulações-alvo, isto é, ficariam fora todas aquelas transições presentes
Esse tipo de apreensão a que todo escrevente está sujeito - e que deve ser
38 Pode-se dlzec com base no aspecto segmenta! da escrita. que ela apanha apenas o que é
"sentido" como divisível na oralidade, incluir.do apenas os padrões ritll')ico-entonacionais
assinalados por pontuaÇão específica, como, por exemplo, as declarações, as interrogações
e m exclamações. Mas. como se sabe, a prosódia de maneiro geral não é passível de
apreensão termo a termo, mesmo porque não pode ser fixada como um segmento. Vale,
pois, o peno insistir nesse problema. que tem provocado, entre os próprios lingüistas,
importantes críticas ao modo pelo qual - segundo o que defendemos, em virtude de uma
visão do escrito como "representação" do falado - os sons do linguagem têm sido
abordados: "Sons do linguagem não são letras do escdto ortográfico (nem do tronscn'çõo
fonético), sons da linguagem não são apencrs os segmentos fonéticos dos itens lexicais, o
correspondente aos fonemas. Os sons do linguagem são todos aqueles elementos fonétícos
presentes no fala e que a moldam poro correo.~ os sigmficodos" {Cagliari, 1992, p. 50).
3~ Ainda sobre a questão do prosódia. pode-se dizer que. se hó uma tendência de
substituição do prosódia pelo léxico no escrita, é ilustrativo observar o movimento em sentido
contrário que acontece nos enunciados falados. Como mostra Cagliari (1992). há, no falado,
a possibilidade de se substituir a lexicalizaçõo pela prosódia. produzindo-se. por meio desta
última. efeitos de adjetivação ou de adverbiolização ou fazendo-o ocupar, por exemplo, o
lugar de certos conjunções. É curloso observar que esse recurso à prosódia é mais comum no
"linguagem oral mais espontânea'' -o autor cita a linguagem das crianças- do que na "fala
mais formal", uma vez que, segundo o autor. "nosso cultura exige [queJ o prosódia [reduza-
se] ao essencialmente indispensável" (op. cit., p. 55). A menor ênfase na prósodio em
ocorrências de "falo mais formal" indica um::J presença - também cultural - do escrito no
falado, presença mais sensível nos registros formais. A propósito, o mesmo autor nos lembra
de que "as pessoas aprendem o ler no escola 'dominando suas emoções', lendo o mais
'neutramente' possível[ ... ) ". E conclui: "o nosso fradiçõo escolar foi tão longe que as pessoas
na nosso cu/furo sentír-se-iom incomodados se alguém lesse como se dissesse, de verdade, o
que o leitura transmite·· (idem, p. 60).
77
Para o que interessa no momento é suficiente destacar que há, tanto no
falado como no escrito, uma realização menos evidente da linguagem, que não
ou escrito), nem pela consideração de seus recursos tidos como mais típicos
Chefe {1982) sobre o fator velocidade, por ele proposto como uma das
4D Abaurre ( 1990 b) mostra que foi indevido - mesmo com relação à organização do próprio
falado - o abandono da análise dos estruturas lingüísticos em outros níveis que não o
fonológico. privilegiado pelo "evidente vínculo do fónico com o oroltdode" (op. cit.. p. 4).
41 Embora a prosódia só apareça na escrita através da articulação com outros planos, por
exemplo, o próprio léxico, mas também a sintaxe, ela é, em alguma medido, recuperável nos
enunciados escritos e não pode ser visto. portanto. como exclusivo dos enunciados falados.
78
coligados, as sédes (enumerações), os seqüências de sintogmos preposicionois, os
texto (não só no caso estudado dos textos escritos, mas também nos textos
falados).
42 t importante ressalvar, porém, que Biber. como foi visto acima {cf. p. 51-3), coloca
problemas quanto às marcas lingüísticas que, com base nos critérios da integração e da
fragmentação, poderiam ser propostas para caracterizar o falado e o escrito. Ao testar a
dimensão da "elaboração informacional on-line •; mostra que vários padrões de
''subordinação que são tipicamente associados com elaboração informociono/" co-ocorrem
com marcas normalmente associadas com "tipos de discurso não-planejados e informais"
(op. ciL p. 113). A despeito das descobertas de Biber, inclinadas o mostrar mais
aproximações do que distanciamentos entre o falado e o escrito, é interessante manter,
porém, os critérios da integração e da fragmentação como referenciais poro tipos de textos
determinados.
4.J Esta sugestão, feita pelo professora Maria Bernadete Marques Abourre em uma das sessões
de orientação, foi particularmente significativo e merece crédito explícito.
79
mencionar como esse modo de constituição é percebido no ens1no de língua
Lopes (1993).
A percepção de Vanoye pode ser detectada na crítica que esse autor faz
como "orais no emissão e escdtos no estrutura sintática e lexical" (op. dt., p. 43).
direções opostas da lexica!izoção (no escrito) e' do prosódia (no falado) -, há,
80
ensinada na escola, lembra que, apesar de essas oito variedades coexistirem em
ainda, que o "texto de massa"- o "português médio"- vem sendo utilizado, nas
aulas de língua. não como objeto de e~;tudo, mas como o substituto do "discurso
Acreditamos poder dizer que o percurso seguido até este ponto mostra a
entender por esse sujeito que escreve. Como definição provisória, será utilizada a
caracterização do escrevente proposto por Borthes {1970}. Para esse autor, "o
81
sua mensagem se volte e se feche sobre si mesma e que se possa ler nela, de
modo diacrítico, outro coisa além do que elo querdizer"(op. cit., p. 36).
Se, por um lado, será assumido, neste trabalho, que o escrevente não
chega a atingir a dimensão diacrítica de sua escrita, por outro, enquanto objeto
de estudo, seu texto será tomado justamente como sintomático de uma relação
taL Ou, para continuar com Barthes, seu texto escrito será tomado como um texto
que fala e que se fala {idem, p. 28}. No entanto, só o faz porque esse trabalho
tem o natureza de uma prática social, cujo exercício se dá por meio de sua
"como" diz}; {b} de seu{s} interlocutor(es} ["para quem" diz}; e {c) do processo
em nado a sua relação histórica com o texto, Uma carta criminosamente interceptada. por
exemplo, encontrará, no próprio acontecimento desse crime, alguma razão histórica paro
uma inédito - casual e inesperado, do ponto de visto do missivisto - relação de sentido. A
respeito da relação entre aspectos homogêneos e variações possíveis no leitura do texto,
conferir, aqui mesmo, p. 62, nota 34.
82
Acreditamos que, ass1m concebido, nem o texto poderá ser visto como
Marcuschi (1994, p. 5) -nem poderá ser visto como um produto acabado desde
o suo produção -observação feita por E,eaugrande {apud Marcuschi. idem, p. 4).
como o sujeito que escreve, será trazidn à discussão a relação entre fala social
O estudo que Vygotsky faz do que chama "fala inten'or" mostro como, da
autor, "uma 'comunicação' praticamente sem palavras, até mesmo no caso dos
nem sempre explicitas, como se viu com Heath a partir de Street (cL, aqui
mesmo, p. 73)- e o falado e o escrito com que se toma contato numa sociedade
83
A própria hipótese de Vygotsky, contudo, dá margem a pensar que, a se
essa possibilidade, tanto a "tolo oral" quanto "a escnfo" manteriam relação
meio da fala egocêntrica': que é "uma fala vocalizodo e oud!vel iSto é, extema
estrvfura"{idem, p. 114). Porém, dado que, ainda seguhdo o autor, a fala interior
"funciona como rascunho {menta!] não apenas na escdta, mas também na fala
se desloca da falo interior paro os enunciados escriios. Não é, pois, a própria fato
47 A apreensão lingüística dessa atividade do sujeito é tratada por Abaurre [1992) por meio do
conceito de "saliência", Segundo a autora. na escriia infantil, a criança pode marcar um
fragmento como saliente tomando por referência seu caráter conceitual, fônico ou
conceituo! e Iônico ao mesmo tempo. Em Silvo. a apreensão da atividade do sujeito é feita
especialmente por meío da saliência tônica. O autor mostra que as hipo-segmentações na
84
formulada propriamente nesses termos, vem de Silva a partir do análise de textos
preciso:
85
importa "a direção do movimento (. ..)se da oralidade para a escrita ou de 1das e
vindas do oral para o escrito" (idem, ib.}. O importante é poder constatar que
{6) Conceiiuoção
desse modo heterogêneo pode ser útil como uma contraposição ao preconceito
integradas a um padrão tido como legítimo. É bom lembrar que mesmo este
último deve também ser concebido, em seu grau próprio, como produto do
86
mantém com a linguagem, ou seja, levcmdo em conta as representações que o
87
determinados momentos do processo de escrita e de acordo com as
letrado/escrito. mos, ao contrário. é captar, por meio das marcas desse modo
88
Capítulo 2
dos três eixos apontados no capítulo anterior e a análise detalhada de cada uma
89
questão de simplificação, salvo em ocasiões em que pretendermos destacar o
seqüência deste trabalho, esse mesmo jogo será referido apenas como a
escrevente.
termo a termo da oralidade, situação em que tende a igualar esses dois modos
90
estatuto de código institucionalizado. Inversamente à concepção da escrita em
sua suposta gênese , o escrevente toma, nesse caso, como ponto de partida, o
relação que seu texto mantém com o já falado e com o já ouvido bem como
com o já escrito e com o já lido. Por meio dessa relação, o escrevente põe~se em
contato não só com tudo quanto teve de experiência oralso, como também com
coletânea de textos {ou de fragmentos de textos) que deve ler durante a prova.
SD Faz porte do Manual do Candidato um questionário no qual o candidato deve indicar suas
fontes de informação. Uma das alternativos que comtom como possibilidade de resposta é
a informação via TV.
91
da escrita do "lugar mais ingênuo" da "relação orolidode/escdto" paro o da
imagem que o escrevente faz da (sua) escrita, não podemos esperar que haja,
várias limitações simultâneas ligadas ós hipóteses que ele faz sobre essa sua
recusa: (a) o escrevente aceita a escrito como convenção exaustiva, mas ela se
estabilizados52 das instituições, mas ela se recusa a sê~lo, no sentido em que joga
histórica; e {c) o escrevente tende a aceitá-la como ato inauguraL ma.s eia se
'
recusa a sê-lo, no sentido em que é ligada ao já escrito{falado)/!ido(ouvido) e,
92
Dados esses três eixos e as !imitações a eles ligadas, podemos observar o
atuação desse primeiro eixo em relação aos dois outros, nos atos de apropriação
alçar aos discursos estabilizados das instituições, suo atuação em relação aos dois
do ato da escrita, a atuação desse terceiro eixo em relação aos dois outros
escrita não é uma apreciação negativa nem tem nada a ver com avaliações
93
estereotipadas sobre a escrita, especialmente com aquelas avaliações que
{cf., aqui mesmo, p. 83). Ainda no cruzamento com uma psicologia social, seria
94
cuja formulação mais pertinente ao que estamos discutindo é a que Authier-
não por serem essas pistas e esse sujeito singulares, no simples sentido de serem
sujeito, recusamos também uma concepção que pretenda ser uma média das
95
utilizando, dão pistas da divisão enunciativo do sujeito e das formas discursivas
"específico" quer dizer ao mesmo tempo "geral" e "particular"} (op. cit., p. 48).
96
Já podemos perceber pelo exposto uma certa direção metodológica
adotada neste trabalho. Explicitando-a, ainda mais, podemos dizer que, no que
constituição histórica.
teórico em lingüística que dá base à busca dos pistas lingüísticas, o item abaixo
tratará de explicitar - ainda que resumidamente - dois dos enfoques que estarão
mais presentes nesta etapa do trabalho. Em seguida a esse item, será abordado o
O enfoque lingüístico
próprio modo de o escrevente constituir-se como tal na escrita, bem como a seu
interlocutor.
97
Portanto, o tratamento dado ao modo heterogêneo de constituição da
escrita parte de uma descrição empírico dos textos, tomados como produtos da
faz sobre esse seu papel, sobre a oralidade e sobre a escrita, bem como a
assunção de sua circulação dialógica pela imagem que faz sobre o seu papel
98
escrevente procura estabelecer com a instituição à qual está se dirigindo termina
usuário do código escrito- código a que teve acesso especialmente por meio da
constituição de sua escrita. Esse trânsito. embora fique bastante evidente para o
99
vestibular - vê sua apropriação da escrita se situar entre o que lhe foi dado
conhecer sobre ela e o que acredita trazer de inédito na intervenção que faz a
exercício, mas sem produção vocal na linearidade do tempo. Esse dizer sem falar
traduzir sua voz para as articulações !ÓJ;Jicas do pensamento, tal como mais ou
100
Possenti {1995), "a históda [no presente caso, a história da emergência do modo
fofos, pequenos atos que produzem pequenas alterações do que há, de usos
diversos e eventualmente não previstos dos mesmos coisas" (op. cit., p. 53-4).
Entre optar por uma análise que quantificasse as ocorrências das marcas
pela imagem que ele foz dos relações entre oral/falado e letrado/escrito no
tanto foram propostos os três eixos de circulação acima expostos - e olhar para
suas ocorrências particulares não como fugas a um padrão único, mas como o
101
textuais específicos da escrita. No sentido de Foucau!t {1971), essa {re-)produção
pelo "desacordo entre texto primeiro e texto segundo" e que, se, por um lado,
''permite construir (e indefinidamente) discursos novos·: por outro lado, tem por
baixo", ou, em outra formulação do autor, traz o "novo" não "no que e dito,
mos no acontecimento de seu retomo" {op. cit., p. 27-8). A {re-)produção- como
102
portanto, um modo particular de estudar o processo da escrita. Partindo de
procura dar uma configuração mals precisa a esse método milenar ao mostrar a
53 Morel!i foi um historiador de arte italiano que utilizou. pelo primeiro vez , o método indiciário
poro a atribuição correto de obras não-assinadas ou repintados. Segundo Wind, os livros de
Morel!i "estão salpicados de ilustrações de dedos e orelhas, cuidadosos registros das minúcias
características que traem o presença de um determinado artista, como um criminoso é traído
pelos suas impressões digitais" (apud Ginzburg. 1989. p. 144-5).
s.< Da dupla Holmes-Wotson, ficçõo de Conan Doyle que "representa o desdobramento de
uma figura real' um dos professores do jovem Conon Doy/e, famoso pelas suas exfraordinónOs
capacidadesdiognóstícas" (Ginzburg, op. cit .. p. 151) .
.s> Segundo Ginzburg, a leitura feita por Freud dos ensaios de Morem, representaram poro o
jovem Freud "a proposta de um método interpretativo centrado sobre os res1duos, sobre os
dados marginais, considerados reveladores" (op. cit.. p. 149). Enfre outros razões. porque
"esses dados marginais, poro More/li. eram reveladores porque constituíam os momentos em
103
"Nos três casos,. pistas talvez infinitesimais permitem
captor uma realidade mais profundo de outro
formo inatingível. Pistas/ mais precisamente. .
sintomas (no coso de Freudj, indícios (no coso de
Sherlock Holmes)r signos pictódcos (no coso de
More!Jij"(l989, p, 150),
exposição, embora não explicitados como tais. Três desses passos, ao mesmo
três eixos para obseNação da circulação que o escrevente faz pelo (seu)
retomados, desta feita a fim de serem defrontados com o método indiciário que
que o controle do artista, ligado à tradição cultural, distendio-se poro dar lugar a traços
puramente individuais. 'que lhe escapam sem que efe se dê conto' [Morelli]. Ainda mais do
que a alusão, não excepcional naquela époco, o uma atividade inconsciente, impressiono a
identificação do núcleo lntima do individualidade orttstico com os elementos subtroldos ao
controle da consciência" (idem, p.l50).
104
-em sua heterogeneidade- como práticas sociais intimamente ligadas entre si e
práticas sociais, adiantamos apenas que a jusiificativa para essa opção estava
escolarização da língua. Para evitar esse risco, as práticos sociais orais e letrados
estarão sendo captadas pelas marcos que elas imprimem no material lingüístico
oral no falado e no escrito), Dito de outra maneira, defendemos que, nesse modo
105
que tecnologias particulares, socialmente
construídos, são usados no interior de siStemas
ínsfifucionois porliculares para propósitos sociais
específicos" {op. cit., 97).
do discurso:
Tai postulação, embora proponha o texto como objeto empírico, não o isola de
sua exterioridade:
sua circulação dialógica pelo imaginário sobre a escrita. Nessas marcas textuais
que não foz mais do que denunciar a relação entre !ingua e história.
106
A relação desse passo metodológico com a assunção de um paradigma
{idem, p. 119). Esse "processo de reconhecimento" pode ser localizado, num uso
escrita. Procuramos, desse modo, tomar como ponto de partida poro a reflexão a
pós-escrita. Mos, afora essa visão prospectiva e a efetivo exposição das pessoas à
107
escrita que ela denota, bastaria lembrar que a atividade de escrita que resultou
que o ''saber escrever a próprio 1/ngua" ainda é tomado por alguns gramáticos
como ''porte dos deveres cívicos" (Almeida, apud Suassuna, idem, ib.) e como
não é apenas o ensino forma! que lida com processos de letramento e a esses
108
É bastante provável, portanto, que os textos analisados sejam
extremamente ricos no que se refere a essas histórias- não apenas lineares, mas
método indiciário.
o que parece ser mais visíveL E está dito o que "parece ser mais visível" porque,
"Você não sabia para onde olhar e, assim, você perdeu o que havia de mais
importonte"(idem, ib.).
109
É saber "paro onde olhar" uma das questões fundamentais quando se
mode!os lingüísticos. A autora afirma que estes, ainda que na época já fossem,
11 o
em sua maioria, de caráter processual, conceptualizam os "processos lingüísticos
tema passa a ser feito não mais a partir da "criança que começo o falar, [mas a
partir doJ infante e até mesmo [a partir do] recém-nascido" (idem, ib.). A
111
possível explicar diferenças e semelhanças entre
produtos lingüísticos orois e escnlos simplesmente
ao comporá-los em lermos de segmentos, unidades
e categorias tomadas como lingüislk:omenle
significantes" (op. cit., p. 28, destaque no original).
postulados com base nas categorias que o lingüista propõe e utiliza em sua
112
aptos a descrevem os produtos da linguagem, não são explicativos da relação
entre sujeito e linguagem. Ora. "o uso [que as crianças] fazem de suo percepção
p. 13). Apreender as pistas lingüísticas que denu~nciam essas hipóteses deve ser o
de que "os prddutos são opa c os com respedo aos processos que subjozem
113
Entendemos que o idéa o pensamento paira
acima desses inuteis n'goros dos scientislos" {op. dt ..
p. 8, destaques no original).
virtuais de segmentação. para Abaurre e franjas, para Ribeiro mostram bem que
dia lógica do escrevente pelo imaginário sobre a {sua) escrita. Na prática, essas
(sua) escrita. Dado esse estatuto metodológico, esses três eixos -a escrita como
114
fa!odo{ouvido e do já escrito/lido - passam a ser considerados como lugares
metodológica acima descrita, três outras intervenções pontuais foram feitas: (a) o
análise do materiaL
a seguir.
115
três atos de apropriação da escrita e de suas marcas, será proposta a
abordagem dos pistas lingüísticas como regulondades num nível mais geral de
observação.
A proposta de Redação
I
Nesta prova, você deverá fazer uma redação e responder a doze
questões sobre Histón'c{ Geografia, Biologia, Química, Flsi'ca e
Matemática.
2
A redação vale 50 pontos e cada uma dos questões, 2,5. Logo, o
prova completo vale 80 pontos.
3
Você receberá dois cadernos de respostas. No caderno azul você
deverá fazer sua redação. As queslões deverão ser respondidas no
caderno vermelho, nos espaços com os números correspondentes.
(ATENÇÃO: não se esqueça de entregar os dois cadernos de
respostas!)
4
A prova deve ser feita com caneta azul ou preto.
5
A duração total da prova é de quatro horas. Ao terminar, você
poderá levar este caderno de questões.
BOM TRABALHO!
116
Na página 2 da proposta, aparecem as orientações referentes à
REDAÇÃO
ORIENTAÇÀO GERAL
Coletânea de textos:
7EI4A A
3. O Guns N'Roses, hoje com certeza a banda mais popular do mundo, entro
em cena ao vivo e o cores no maior esftlo rock-rebelde: polovr6es cabeludos,
sexo. drogas, quebro-quebra atrasos enormes e até interrupções nos shows
117
comprovam que os ''bad boys" continuam fazendo o estilo "inimigos públicos
n" f". Com voz rasgada, eles 'descem o verbo' no disciplina, no pol/tico, nos
amantes, nos vizinhos. nos cn'licos e na imprensa.
(Edição especial de Top Metal Band sobre os Guns N'Rosesj
4.
Policiais e pretos é isso af
Mensagem não-verbal
saiam do meu cominho (. .j
composta por uma
Imigrantes e bichos
caveira com o nome
Não fazem nenhum sentido para mirn (. .. }
Radicais e racistas
do grupo cte roék ao
centro:
não apontem o dedo poro mim
Guns N'Roses
sou um garoto branco, vindo de uma c1dade
pequeno
apenas tentando acertaras pontos
(Guns N'Roses. One in o míllion/
5.
Pergunta.· O tipo de som produzido por bandos como a sua não incita O violência?
Resposta: Acho que sim. Mas é uma violência que não faz mal. É um lance de
rebeldia libero do aí no show_ sem precisar agredir ninguêm.
P: Se é assim, por que então um garoto mon·eu baleado no concerto que os senhores
deram, em maio. no praça Chorles Müller, em São Paulo?
R: Não foi o primeiro vez que morreu alguém em um show de rock. Quando multo
gente se reúne, pode haver alguma confusão, principalmente no Brasil. Fiquei
sabendo que o garoto que mo«eu estava com uma machadinha. Ele, então, não foi
ao show com boas intenções. Ele não estava ali para ouvir música. mos paro
brigar{. .. ). Culpar o rcck por uma morte e
mais lôcil do que achar o verdadeiro
culpado.
!!8
fatores - aquelas exigências referentes ao modo de apresentação do texto: sua
ll9
texto para a atenção dirigida ao seu produtor ou, em outras palavras, um
palavras, interessa perceber que as fontes que impõem ao sujeito "regras de uso
texto e seu produto. Trata-se- a exemplo do que de Lemos {1986) sugere para a
120
(op. cit., p. 244), isto é, na história da atividade interpretativa que se traduz por
meio do processo dialógico do interação adulto/criança (no caso dos textos dos
escrevente). Desse modo, parece não haver lugar para uma oposição rígida
tal postura estão ligadas também a uma concepção de linguagem que toma o
próprio texto. Com essa digressõo, pretendemos, portanto, firmar a idéia de que
numa troca sihlbó!ica também de tipo particular. Ela impõe, como objetos de
121
{"produção" do texto) que termina por caracterizar a proposta do vestibular.
que impõem muito mais do que uma simples {de-)codificação. Ou seja, esse jogo
da (sua) escrito.
122
Um exemplo de textualização praticada por um vestibulando
circulação imaginária que o escrevente faz pelos três eixos que estabelecemos
texto 0-{)5
VIOLÊNCIA
A VIOLÊNCIA NÃO ESTÁ SE INICIANDO, NO PAÍS, NESSES
TEMPOS, JÁ VEM DE MUITO ANTES, DESDE O DESCOBRIMENTO DA
AMÉRICA, ONDE EXTERMINAVAM TRIBOS INTEIRAS PARA LEVAR SEUS
METAIS E PEDRAS PRECIOSAS, COMO O OURO E O RUBI; OU ATÉ
'
MESMO ELES PRÓPRIOS COMO ESCRAVOS.
ELA ESTÁ EM QUALQUER LUGAR, DESDE UM BOM DIA
AGRESSIVO ATÉ AOS CAMPOS DE FUTEBOL. ONDE SEMPRE NO FINAL
DA PARTIDA OCORRE BRIGAS ENTRE AS TORCIDAS. NÃO
PRECISAMOS IR MUITO LONGE PARA OBSERVARMOS MAIS EXEMPLOS
DE VIOLÊNCIA; NAS FAMfLIAS ONDE HÁ IRMÃOS; SEMPRE
ACONTECERÁ BRIGAS, GERALMENTE POR MOTIVOS SEM
IMPORTÂNCIA OU ATÉ MESMO PATÉTICAS COMO O LUGAR NA SALA,
OU QUE UM RECEBA MAIS ATENÇÃO.
POR OUTRO LADO AS PESSOAS NÃO TEM CULPA, POIS DESDE
O GOLPE DE 64, ONDE MUITOS FORAM EXILADOS, OU TORTURADOS. E
ALGUMAS DESAPARECERAM POR SEREM PREJUDICIAIS AO
GOVERNO DITADOR DA ÉPOCA. COM ISSO A VIOLÉNCIA FICAVA
MANTIDA EM CADA UM DE NÓS. ATÉ QUE COM O FIM DA DITADURA,
ELA EXPLODE MAIS FORTE. E EM QUALQUER FORMA, DESDE GRUPOS
DE RUAS, OS FAMOSOS TROMBADINHAS. ATÉ A BANDAS DE ROCK.
ANTES DE MAIS NADA É NECESSÁRIO QUE A POPULAÇÃO
SEJA MAIS AMÁVEL E QUE TOME CONCIÊNCIA DISSO, MAS É MUITO
DIFICIL POIS A VIOLÉNCIA JÁ FAZ PARTE DAS PESSOAS. PORTANTO
SEMPRE A EXISTIRÁ. POIS PARA CONTÉ·LA NECESSITAMOS DELA.
123
Para não reproduzirmos, numCI análise parágrafo a parágrafo, a
parágrafo;
5;
dotado): 3° parágrafo;
parográfos.
em situação formal de ensino. Nos textos analisados, a freqüência com que vem
124
qual o vestibulando se dirige, como ao contato prévio com tlpos de textos que
o tipo de texto- o dissertativo -,é bastante provável que a própria opção por esse
tema/tipo de texto tenha sido feita em função do que o escrevente supõe como
o tipo de texto mais fáciL Provavelmente. aquele com que teve maior contato
treino. Mas não só por razões escolares. A opção pode ter-se dado também por !
ser a dissertação um tipo de texto com que o escrevente tem contato em textos
fonte necessária de informação e. por essa via-, como modelo de boa escrita.
texto- réplica mais direta à instituição58 -, ela está presente também no jogo de
perspectivas posto pelo texto. Nele. há não mais que duas grandes perspectivas,
restrita, no texto do exemplo, a um único par dia!ógico, pode ser atribuída, por
desses textos. Contudo, mais uma vez, o diálogo com o instituição parece se
<>e Nesse sentido, o escrevente "está devolvendo, por escrito, o que o escola lhe disse, no
forma como a escola lhe disse. Anula-se, pois, o sujeJ!o. Nasce o aluno-função. Efs a redação."
{Geraldi. 1984, p. 123). À "redação" o autor opõe o "texto", aquele tipo de produção escrito
que denota que "o ou for não aprendeu o jogo da escola: insíste em diz-er a sua palavra"
{idem, ib.j.
125
sobrepor a todos esses fatores. Não é exagero supor que o escrevente, ao
escolher aquele par dia lógico, tenha dado por atendida a necessidade de frisar
circulação d1a!óg1ca que o. escrevente foz pelo três eixos estabelecidos para
palavras de Geraldi {1996), "a questão central é tomar visfve/ este processo" {op.
cit.. p. 147).
eixo, referente à escrita vista sob o efeito do imaginário sobre sua gênese;
126
segundo eixo, referente à escrita vista como código institucionalizado; e terceiro
para uma observação de caráter prático. Nos análises a serem efetuadas nos
indícios particulares, a exemplo do que irá ocorrer nos itens seguintes desta
exposição.
produz o texto sejam supostos pelo escrevente como projetados na escrita sem,
texto 0.()5
VIOltNCIA
127
ELA ESTÁ EM QUALQUER LUGAR, DESDE UM BOM DIA
AGRESSIVO ATÉ AOS CAMPOS DE FUTEBOL, ONDE SEMPRE NO FINAL
DA PARTIDA OCORRE BRIGAS ENTRE AS TORCIDAS. NÃO
PRECISAMOS IR MUITO LONGE PARA OBSERVARMOS MAIS EXEMPLOS
DE VIOLt'NC/A; NAS FAMfLIAS ONDE HÁ IRMÃ OS; SEMPRE
ACONTECERÁ BRIGAS. GERALMENTE POR MOTIVOS SEM
IMPORTÃNCIA OU ATÉ MESMO PATI'TICAS COMO O LUGAR NA SALA.
OU QUE UM RECEBA MAIS ATENÇÃO.
POR OUTRO LADO AS PESSOAS NÃO TEM CULPA. POIS DESDE
O GOLPE DE 64, ONDE MUITOS FORAM EXILADOS. OU TORTURADOS.
E ALGUMAS DESAPARECERAM POR SEREM PREJUDICIAIS AO
GOVERNO DITADOR DA ÉPOCA. COM ISSO A VIOLt'NCIA FICAVA
MANTIDA EM CADA UM DE N6S, ATÉ QUE COM O FIM DA DITADURA.
ELA EXPLODE MAIS FORTE E EM QUALQUER FORMA. DESDE GRUPOS
DE RUAS. OS FAMOSOS TROMBADINHAS ATÉ A BANDAS DE ROCK.
do gramático. Para evitar esse recurso sempre muito presente nos leitores
cada eixo analisado, reunir os pistas mais salientes em tipos, ou, como preferimos,
em regularidades lingüísticas mais gerais. No que se refere aos dois primeiros eixos
128
características comuns aos escreventes tanto no que se refere a sua imagem
pelo "ato de leitura de uma formo escrito" {ver, aquí mesmo, p. 59, nota 31 ).
129
gráfico é tomado como um instrumento fiel de gravação da memória sonora do
infantiL Silva (1991) mostra que "os cn"férios poro o colocação dos espaços em
branco entre palavras são baseados nos classses morfológicas, o que requer uma
reflexão meta/ingüistica... " (cf., aqui mesmo, p. 60-1). Na escrita adulta, porém,
vão muito além das classes morfológicos 60, há indícios de que esses critérios se
Para sintetizar, podemos dizer que o texto sob análise mostra a tentativa de
insistir que esses indícios de um modo heterogêneo nada têm a ver com uma
130
A propósito, o próprio escrevente, ao marcar certas saliências por um
em seu uso e o modo particular pelo quo! são empregados no texto, parecem ser
dois bons motivos para que a saliência a eles atribuída pelo escrevente seja
observada. Esses usos podem, nos contextos em que aparecem, ser vistos como
131
lugar argumentativo - um "onde'' 62 que é tempo e lugar concomitantemente -
indica que o escrevente está às voltas com o domínio ativo de certos operadores
operador, e que ora pode ser uma pausa, ora um escalonamento de tessitura.
ora uma maior duração na vogal tônica, por exemplo) registrado apenas
mais do que como um conectar no nível fresai, ser visto como um operarador
gesto gráfico, supor que todos as ocorrências - em outros textos - desse uso de
por exemplo, querer jogar, propositalmente, com um uso de "onde" que explore
132
a geminação das dimensões espaço e tempo. Não parece ser esse o caso no
exemplo dado.
Observemos, porém, que não se trata de classificar esse uso como um erro,
suposta gênese.
argumentotivo para que o discurso volte a fluir. É importante observar que essa
indicam que o tipo de relação com o assunto abordado ora como uma
<13 A memória episódico é aquela que garante o acesso a eventos particulares. Para maiores
determinações, conferir Bruner & Welsser iJ995. p. 149).
133
determinado da política brasileira - parece ser uma das condições de
o instituição à qual está se dirigindo- e qlle exige a "escdto culto forrna/"64 - não o
uma réplica. Embora fique bastante evidente para o analista, tal procedimento é
de constituição.
" ... exterminavam tdbos inteiros poro levar seus metais e pedras
preciosos, como o ouro e o rubL· ou até mesmo eles próprios como
escravos"
M Esta dossificoçõo é de Lopes {1993). Conferir, aqui mesmo. p. 80. nofa 44.
&S A noção é de Ducrot {1981).
M Segundo Ducrot (1981), "é essencial a até mesmo que a proposição em que está insendo
seja ufilizado como 'Jm argumento apresentado como forte, e eventualmente, em certos
contextos, como decísivo" {op. ciL p. 180-1).
134
é uma marca da presença do interlocutor no texto do escrevente. Melhor
que há de peculiar nessa réplica é que, em ambos os exemplos, ela mostra que
evidências, nesses momentos, de que constrói seu texto a partir da imagem que
sua escrita. De todo esse processo de textualização, pode-se, pois, constatar que
135
a expectativa de abarcar todo o universo de argumentação possível projetado
ao interlocutor se repete:
escrita, explorando, nesses fragmentos, ~;ua projeção horizontal. Eis, pois, no coso
interlocutor. A ocorrência repetida da estrutura desde ... atéu é uma pista de que
H
136
Ainda explorando o contexto pragmático em que o diálogo com a
demonstrativo a ser exemplificado a seguir é típico do que Lopes (op. cit.) chama
Observemos as seqüências:
"... as pessoas não tem culpo, pois desde o golpe de 64, onde muitos
foram exilados, ou torturados, e algumas desapareceram por serem
prejudiciais ao governo ditador do época. Com isso a violência
ficava mantida em cada um de nós, até que com o fim da
ditadura ... "
"Antes de mais nada é necessán'o que o população seja
mais amável e que tome concíência disso. .. "
nem sempre desejado em virtude dos efeitos de sentido que uma série
no interior do texto. Esse parentesco com os dêiticos mostra que o recurso pode
ser visto não só como próprio do português médío, como também do modo
séries parafrásticas que levam ao uso do anafórico. Parece muito mais lógico
supor que essa opção esteja ligado, mais uma vez, a um empréstimo do modo
137
de organização da conversação ou- paro nos mantermos na formulação inicial-
modo, o gesto de apontar e o gesto gráfico que o imprime na escrita são, desse
modo, há uma fala presente na escrita do vestibulando quando ele utiliza esse
recurso de coesão. No entanto, é preci~o que não se entenda essa fala como
Diferentemente dessa posição, ,assumimos que a fala que está nesse escrita
infantil, sobre a qual vale a pena retomar um texto já citado de Vygotsky {1988):
138
Não surpreende, portanto, que, num estágio avançado de domínio da
Cag!iari (1992}, como foi discutido {cf. p. 77}, mostra que há, na oralidade,
na "fala mais formal" {op. cif. p. 55}. É importante lembrar também que, embora
nos enunciados escritos e não pode ser vista, portanto, como exclusiva dos
analógica - icõnica - do que digital}. Há, pois, tanto pela articulação entre os
vários planos lingüísticos (por exemplo, entre prosódia, léxico, sintaxe), como pela
portanto, que esse fato não ocorre, obviamente, como na oralidade. Porém, pelo
139
espontaneidade) desse tipo de substituição pode ser pensado como pertinente
da escrita.
afirmação de Catach: "a ruptura do ordem das palavras{ ... } é mais reveladora,
205). A partir dessa afirmação, o autor conclui que "a pontuação, ao mesmo
tempo em que atuo sobre uma sintaxe típica do escdta, imputo à esctito um
nesses tempos, ... "- chegamos à conclusão de que essa inconsistência apanha
140
um momento do processo de aquisição da pontuação, momento que se
Sobre esse modo heterogêneo, seria, pois. lícito dizer, que há momentos que sua
ela só seja recuperada pela possibilidade que, como regra gera!. existe de se
de uma forma escn'fa" {cL aqui mesmo. p. 59, nota 31, e p. 129). O apagamento
141
O escrevente e a representação da escrita como código institucionalizado
institucionalizado.
determinado pelo escolarização da língua, mas não apenas por ela, uma vez
texto 0-05
VIOUNCIA
142
POR OUTRO lADO AS PESSOAS NÃO TEM CULPA POIS DESDE
O GOLPE DE 64, ONDE MUITOS FORAM EXIlADOS, OU TORTURADOS, E
ALGUMAS DESAPARECERAM POR SEREM PREJUDICIAIS AO
GOVERNO DITADOR DA ÉPOCA. COM ISSO A VIOLÉNCIA FICAVA
MANTIDA EM CADA UM DE NÓS, ATÉ QUE COM O FIM DA DITADURA.
ELA EXPLODE MAIS FORTE, E EM QUALQUER FORMA. DESDE GRUPOS
DE RUAS, OS FAMOSOS TROMBADINHAS, ATÉ A BANDAS DE ROCK.
regência. Ou seja, ainda que omitindo esse verbo no segundo sintagma verbal
dos dois coordenados {"está em qualquer lugar, [vaij desde um bom dia
redupHcação que resulta na substituição de "ir de X a Y" por "desde X até a Y".
143
no caso, pela redup!icação. É interessante destacar, ainda, que o escrevente é
desta feita como introdutor de uma subordinação com gerúndio: "em qualquer
"desde ... até" sobre a estruturo "indo de x a y", resultando: "desde x até a y''
O fato de, nos dois exemplos. a reduplicaçâo ser redundante indicio que o
lingüística para a escrita culta formal. Pma mais um indício de sua importância,
simples, como: "explode ... de qualquer forma" (que traz a imprecisão do sentido
de uma formulação talvez mais precisa, como: "explode ... sob qualquer forma".
No contrapasso, o escrevente opta por "em ... qualquer forma". Como podemos
ver. há uma hipótese bastante complexa que pode perfeitamente ter orientado
144
essa escolha do escrevente, embora um olhar mais ligeiro talvez se contentasse
em atribuir não mais que uma inadequação da regência. Trata-se, como vimos,
interessa destacar o ponto nevrálgico que a regência denuncia, pois nela fica
escolha que recusa a locução "ir+ verbo principal" [" ... sempre + IR + acontecer
brigas ... "], típica da fala distensa. Ao lado dessas escolhas mais formais, porém,
145
língua falada: o verbo "ocorrer" e o próprio verbo "acontecer" não concordam6S
outras palavras, o caráter impessoal do verbo "haver", pode ter provocado, por
contigüidade, a opção pela não flexão dos verbos, num movimento local de
Enquanto efeito resultante - visto, portanto, como produto -esse trecho parece
institucionalizado.
146
Uma outra tentativa de alçamento ao padrão mais formal da língua volta
fragmento:
sobre o sintagma adjetivo: "sem importância", tem, nesse caso, o pape! de re-
situar esse sintagma num nível mais alto de uma escalo argumentativa. O
alçar à escdta culta formo/ do que num uso propriamente formal desse item
147
"obsurdo"7o. Em termos !exicois, este sentido, apreensíve! justamente em virtude
de ree!aboração, fato que vem corroborar a hipótese de Aba urre (1994) de que o
à imagem que ele faz sobre a posição que ocupa seu interlocutor em relação à
7° O Dicionário Aurélio Eletrônico {1994) não traz nenhuma deSsas acepções, contemplando
apenas: "que comove a alma, despertando um sentimento de piedade ou tn"steza;
confrangedor; tocante"; ou: "que revela forte emoção; apaixonado'! ou ainda: "trógico,
sinistro, cruel". O Dicionário Escolar das Dificuldades da Lingua Portuguesa {1968) de Cândido
Jucó (filho), também não contempla aquelas acepções. incluindo, porém. outras: "enérgico,
expressivo, tocante, veemente, comovente,· aletuoso, sentimento/".
148
Como ficou dito ao tratarmos do esquema textual (re-)produzido nesse
jogo de perspectivas. Reduzido a não mais que duas perspectivas, esse jogo é
pela escola e pelos alunos como modelos de boa escrita - são bons exemplos
textual suposto como próprio para o bom desempenho no vestibular. Como foi
tem mais contato durante os anos de escolarização por que passa. Não raro,
modelos- Impostos para repetição em série- muito mais do que com os também
próprio uso de "por outro lado" fica prejudicado por essa quase auto-emissão do
esquema textual. Não aparecendo, nos termos já citados de Geraldi {cf. aqui
mesmo, p. 125, nota 58}, a palavra do aluno, e{e próprio se desobriga de construir
149
o paralelismo estrutural que esse operador pressupõe. Por essa razão, esse "outro
espedfico em seu texto, mas com o próprio esquema que deu origem ao uso
desse operador. Mais do que uma estrui"uroção articulada em seu próprio texto,
Há, nesse caso, dois traços fundamentais que marcam a imagem que o
150
No que se refere ao uso do clítico, Duarte {1989) lança e confirma a
supera sua realização fonológica. Por sua vez, quando se tem em vista o
{idem, p. 27, destaque nosso). A autora conclui que "a cotegodo vazia objeto se
estamos diante de um texto de um jovem que não ultrapassa a cosa dos vinte
151
todos esses condicíonamentos mais seu uso corrente também em textos escritos
daquelas pistas consideradas mais salientes. Como ficou dito, o próprio processo
determinação dessas saliências. Com rel<Jção à hipótese que permite reunir essas
de que essas pistas são - para retomar de lemos {cf., aqui mesmo, p. 11 O} -
texto do escrevente mantém com o já falado e com o já ouvido bem como com
coletânea de textos (ou de fragmentos de textos) que deve ler durante a prova.
!52
O escrevente e a dialogia com o já falado/escrito
instruções acima transcritas - não deve haver cópia dos textos como um recurso
detectar essas remissões não-mostradas, optamos por anotar. texto por texto, os
momento, sua escrita como relacionada com o já falado/escrito, fato que, por si,
já é revelodor não só de sua relação com a escrita, mos de suo própria relação
com a linguagem.
153
texto 0-05
VIOLÊNCIA
!54
dizendo, de um fragmento do texto de René Girard. mais propriamente o seu
desse primeiro texto se faz notar não só no título, mas também nos dois últimos
citado) e no último com: para contê-la necessitamos dela (em que o escrevente
não ter que usar a violência quando se quer liqüidó-la e é exatamente por isso
que ela é interminável"). Essas são as duas tentativas mais claras de parafrasear a
distribuídos em cada uma das partes do esquema textual. Embora não seja
isso considere necessário retomar essa palavra~chave por todo o texto, a leitura
de outros textos mostra que essa repetição nem sempre corresponde à desejada
155
continuidade, dispensaria a repetição da palavra por meio de colagem da
coletânea.
diálogo mantido com o material proposto para leitura e o modo pelo qual o
deixa aflorar.
qual o escrevente deve fazer uma ressalva que o coloque em relação direta
com o tema. O texto sob análise não foge, como já adiantamos. à regra. Vale,
156
textual: "Não precisamos ir muito longe poro observarmos mais exemplos de
violência,.· nas fom!lios onde há irmãos: sempre acontecerá brigas, geralmente por
motivos sem importância ou até mesmo patéticas, como o lugar na sala ou que
Contudo, não parece ser esse o trecho em que podemos detectar, com
"tribos urbanas", foto que parece ter criado uma dificuldade adicional para a
levando-o a identificar "grupos de ruas" (ou "tribos urbanas") com "os famosos
!57
Recurso semelhante é utilizado pela referência à história do Brasil:
"... onde exterminam tribos inteiras poro levar seus metais e pedras
preciosas, .""
desse modo. No entanto, parece estar ocorrendo, mais uma vez. uma nova
situar, no seu universo pessoal. um tema - o das "tribos urbanas" - ainda não
prova volta a ocorrer pelo uso da palavra "brigas". Na verdade, essa palavra
que vão aos shows para "bdgar·: Também o texto de n° 6 menciona "combates
aparece, no entanto, é o das brigas entre torcidas de futebol, mais uma clara
!58
A particularização da violência urbana ao Brasil parece ter também uma
violência nos shows de seu grupo de rock ao "País inteiro, o estado em que o País
Essa réplica do escrevente parece ser feita para corrigir a direção do imediatismo
volta um problema já analisado anteriormente. O uso de "desde ... até" feito pelo
aqui (cf. p. 143-4}. Detectamos, quando foi tratada a relação entre o escrevente
e a representação que ele faz da gênese da escrita, a tentativa, por parte dele,
grafismo da estrutura "desde ... até" pode estar a razão para a insistência em seu
!59
uso. Observemos, desta feito, os dois pontos-limite por meio dos quais esse espaço
gtvpo de rock Sepultura. ISTO É SENHOR. 09/10/91}" e no texto de n' 6: "Nos ruas
as favelas agora vogam famintos e agressivos." Por sua vez, a palavra "banda"
aparece também no texto de n° 3: "O Guns N'Roses, hoje com certeza a banda
mais popular do mundo, ... " e o palavra rock aparece também no texto de n° 3 e
É certo que a expressão "grupos de ruas" pode ser vista também como
"grupos de rua" versus "bandas de rock". Como foi visto, a extensão desse
espaço vai "desde grupos de ruas (... ) oté a bandas de rock", pontos-limite que
interesse para o jovem foi frustrada pelo réplica do escrevente, que, ao fazer uso
160
de duas diferentes remissões à coletânea, coloco seu interlocutor justamente na
vivido e o diálogo que, nesse momento, estabelece com uma instituição escolar
denunciam, desta feita no terceiro eixo analisado, que, também no que se refere
161
presença de remissões mais típicas do universo do sujeito (sejam elas
que isso, essa posição o coloca em confronto com o lugar do letrado/escrito que
ele imagina para seu interlocutor. Constitui-se, então, também pelo tipo de
seu interlocutor.
* " *
O objetivo deste item foi tematízm os dois momentos cruciais do evento
vestibulando. Com esse intuito e partindo dos três eixos estabelecidos como lugar
chegado a estabelecer uma direção "para onde olhar". O conceito que permitiu
162
proposição particularizada teve o papel de redefinir, em cada caso, "os molduras
imagem que faz sobre a (sua) escrita , sobre si mesmo e sobre o interlocutor, os
escrita.
do problema. Esta consiste na captação de pistas comuns nos vários textos de ta!
modo que alcancemos um tratamento dos dados que, sem fugir ao método
escreventes.
163
Três atos de apropriação da esaita E> suas marcas
processamento que pode ser indiciado por mais de um tipo de pista lingüística.
bem como certos tipos de marca ortográfica são diferentes pistas lingüísticas que
da (sua) escrita, isto é, são pistas que podem indiciar uma mesma regufan"dade
não só o conjunto dos textos analisados, mas também estender a aplicação dos
164
Desse modo, se a atuação conjunta dos três eixos aqui propostos passo
que o escrevente faz da (sua) escrita. Lidamos, portanto, com o fato de que a
diferentes naturezas ligadas às representações que ele faz sobre essa sua prática.
propostos, modo pelo qual acreditamos dar conta de tipos diferentes de relação
entre o escrevente e a {sua) escrita. Considerar esse tipo de variação e lidar com
165
exemplificadas a partir de pistas lingüísticas muito diferentes entre si. Desse modo,
a escolha das pistas para análise procura reunir tanto as ocorrências mais
166
por meio da língua falada, destacando-se, especialmente, um tipo particular de
da oralidade.
167
em seus limites. A seguir, passaremos a apresentar as marcas dessa atitude do
Marcas :;intáticas
escrevente registra, por meio de certas estruturas sintáticas, suas hipóteses acerca
Marcas: lexicais
Das marcas !exicais que denunciom o mesmo tipo de hipótese por parte
lexicalização:
sem artigo uma adaptação fonética transposta tal e qual para a escrita. Na
168
análise deste primeiro eixo de circulação a ser realizada no capítulo 3,
prosódicos, uma vez que interessa obse/Yar a relação entre uma propriedade
marcas prosódicas).
"Mas será que é assiin que temos que viver? 'Armados até os
dentes' paro nos livrar do mal violência? Teremos que no futuro andar
nas roas com carros blindados? Ou então,. metade da população terá
que pertencer ó polícia? E o outro metade.· aos marginais? {Texto 00-
014)
169
A insistência nesse recurso, parece buscar reproduzir um diálogo real com
Marcas ortográficas
a ortografia".
* * *
170
Como já adiantamos, a variedade de marcas abrange várias dimensões
Tonnen (1982) diz do tipicamente oral]. Desse modo, o que parece orientar o
institucionalizado
texto como um todo, procuramos detectar, nos textos analisados, aquelas marcas
padrão.
171
ortográficas, estritamente ligadas à dimensão escrita da língua, denunciam a
culto formal.
Marcos sintáticas
Marcas lexicais
"perfazer uma quant!a". Ao buscar reproduzir esse contexto, escolhe esse verbo,
que certamente não é de seu vocabulário mais usual. Conta, pois, para essa
172
Marcas da organização textual
escrevente pela imagem que ele faz do código escrito institucionalizado. Um dos
traços que ocorrem com mais freqüência é o de o escrevente tentar impor, com
"conseqüentemente".
no próprio tipo de texto produzido, o escrevente busca alçar sua produção para
173
Esse procedimento é, como se sabe, a tentativa de definição ou de
aos modelos de argumentação que tomo como próprios da escn"to culto formal.
Marcas ortográficas
oral. São, talvez, os marcas que melhor caracterizam o escrevente como situado
padrão:
superestimação do leitor.
* ,, *
uma vez mais, para algumas poucas propriedades da escrita, já descritas por
primeiro eixo.
174
escrevente acredita processar o seu texto baseando-se em modelos que atribui à
falado/escrito
desta feita atentando para a ligação que ele procura estabelecer entre o seu
com o que representa como a gênese do escrito, ora tende a identificar-se com
ser a escrita em sua suposta gênese , tem a ver com o tipo de remissão aos textos
tem a ver com um tipo imperfeito de remissão, por meio do qual fica pressuposto
não só que o leitor conhece os textos comentados mas também, por essa vía,
175
escrita executado pelo escrevente. Ou seja, o texto produzido toma o leitor como
de apropriação da escrita, o escrevente identifica esse ato com o que supõe ser
escrita pode ser considerado íntegra!, uma vez que explora tanto o momento da
espaço comum de sentido entre escrevente e leitor, trazendo o leitor. mesmo que
176
imagem que ele faz dos outros dizeres com que já teve contato via leitura. À
"O desfecho do 'espetáculo' pode ter conseqüências fatais ... " (Texto
04-221)
177
"É neste ponto que seus 1do/os adquirem uma importância maior ao
ditar regras de atitude e postura que serão seguidas como uma 'nova
ordem' contra o sistema e o sociedade que combatem." {Texto 04-
221).
mas, desta feita, em relação à própria língua, indicando talvez um uso tido como
178
As referências a um registro discutsivo
recusa à informalidade:
As referências ao leitor
179
abaixo refere-se à pressuposição de conhecimento da coletânea por parte do
deverá encontrar uma referência poro oJTitãs- grupo dado como conhecido em
mais específico, ou seja, que ele conheça a letra da música que o escrevente
{sua) escrita.
texto solicitado:
180
Observamos, nesse exemplo, a colmatagem - típica do texto dissertativo -
institucionalizado.
dessa coletânea.
escrevente e os textos lidos permite observar quais hipóteses sobre a escrita são
181
A menção a ';lanças encravad::~s em caveiras" tem relação com a
acima, que toda essa seqüência foi construída a partir da leitura do não-verbal,
ficar muito doro o construção desse diálogo em seu texto. Mais uma vez,
da remissão ao próprio texto. Podemos constatar, por esse tipo de remissão, que a
relação com o imaginário sobre a escrita inclui até mesmo o material concreto
182
pretendendo firmar também uma atitude pessoal sobre a sua escrita, insistindo
acima, o escrevente explora o espaço gráfico à maneira dos modelos que toma
explorar o espaço gráfico, mas recaindo numa remissão formal, de ta! modo que
pelo leitor, sobre o referente pretendido pelo escrevente. Esse tipo de remissão
concreta com o interlocutor que está contando, indício de sua circulação pela
' ' .
Este último eixo organizador dos atos de apropriação da escrita tem, como
podemos observar, uma natureza um tanto diferente dos outros. Dado o caráter
aqui que as marcas lingüísticas a que chegamos podem ser vistas em referência
outro, reunidas em regularidades lingüísticas-, são, como foi visto, de várias ordens,
183
ocorrência dessas réplicas. No movimento entre essas duas representações, o
escrita.
grande parte, regula seu sucesso ou seu fracasso. É importante que não nos
* ,, *
que busca captar a circulação dialógica do escrevente pelo imagem que ele
faz da escrita em sua suposta gênese . Após esse breve apanhado teórico, será
184
Capítulo3
Todos esses aspectos são, como podemos ver, diferentes referências ao mesmo
escrita, isto é, de sua suposta gênese, um dos eixos de sua circulação dialógica.
185
No que diz respeito ao modo como o escrevente se representa na escrita,
do gênese da escrita -, por meio das quais o escrevente revela pontos salientes
186
observação de regu/ondodes, que - caracterizando a circulação díalógica do
à relação entre o falado/escrito, o trânsito próprio dos práticas sociaif/4 que ele
réplica. Enquanto tal, tende a atenuar o pape! mediador da escrita, uma vez que
187
o elaboração conjunta do discurso poderiam fornecer. Nesse contorno simbólico,
réplica a partir do qual o texto é construído sôo os suportes a partir dos quais o
escrevente atribui um lugar poro si mesmo, para seu interlocutor e para .a própria
escrita.
gênese do escrito, será lembrada a discussão feita por Verón {1980) a respeito da
indivíduos uns com os outros e com o mundo, essa retomada viso, em particular,
188
No dito contexto da discussão que trata do "prablemáfi'co do ponto de
pode ser datada - ; nem a unidade de um ato - não pode ser vinculada a um
de reconhecimento":
unidade de um lugar (um texto. por exemplo), se tomado, este, como auto-
189
suficiente em suas relações internos. Em outras palavras, dado que a gênese da
escrita não pode ser localizada em uma unidade de origem, podemos dizer que
natureza do ato se este fosse tomado em seu desenrolar dialógico; e, por fim,
escrita não está sendo buscada como um ponto de origem, um começo, mas
75 Nem a matéria corpórea do emissor, nem o matéria corpórea do destinatário, nem a base
material em si de um sistema semiótico tem -poro usar uma expressão de Rossi-Landi fl 985) -
valor de troco no comunicação. É o acontecimento, o incorpóreo das relações de
comunicação, que ganha esse valor de troco {ou seja - nos termos de Rossi-Londi - é a
"mensagem" que pode ser visto em seu funcionamento comunicativo). O conceito de
acontecimento aqui utilizado deve um crédito ao professor Rogério do Costa, em aulas
ministrados no série Seminários em Marília. em que abordou alguns conceitos de Oeleuze. Os
Seminórios foram realizados no período de maio a novembro de 1995, na Faculdade de
Filosofia e Ciências do UNESP-Câmpus de Marília (SP).
190
ler uma caracterização crítica para a questão da gênese enquanto origem. Essa
"...saber enraizado,( ... ) mos sem origem... ·: No caso da gênese da escrita, como
procuramos mostrar até este ponto, sua detecção também não se dá - como se
que, como mostra Chafe 76, podemos detectar o letrado no oral {basta que
"literatura" oral). Esse mesmo enraizamento pode ser visto, ainda, na "pré-hlsfón'o
aparecimento do gesto como um signo visual para o criança" {op. cit., p. 121) 77 •
!91
Poro dor um tom menos metafórico às formulações relativas a essa
"o teatro dos recomeças"; {c) ao enraizamento {sem origem) do saber sobre o
para o interesse específico deste trabalho, temos: (a} tratar do incorpóreo dos
sobre o interlocutor, sobre o próprio escrevente) que estão postas nos textos; (b)
tratar da gênese da escrito como "o fecrfro dos recomeças" significa acreditar na
Uma segunda e última recusa tem mais diretamente a ver com dois dos
192
de seu aparecimenfo7B, bem como, em alguma medida, até mesmo com uma
porém, que, também sem deixar de considerar suas marcas e os elementos que
escrevente faz dela. Paro tanta, admitimos, com Pêcheux {l990b) que "todo
um caráter mais explicativo do que descritivo, uma vez que se trata de explorar a
exposição a que toda descdção está sujeita, a saber, a exposição ao foto de que
ra Luria {l988), em seus estudos sobre o pré-história da escrita infantil, pode ser considerado
um dos autores que têm como preocupação fundomen tal o estudo da gênese da escrito
tomada em si mesmo. Com efeito, ao caracterizar como rabiscos não-diferenciados, rabiscos
ritmicamente diferenciados e rabiscos pictográficos as marcos desse tipo de escrito, o autor
propõe--se "explícor deta/hodamenfe os círcunstóncios que tomaram a escrita posslvel paro o
críanço e os fatores que proporcíonorom os forças motoras desse desenvolvímento': bem
como "descrever os estágios através dos quais passam os técnicos primitivos de escríta do
criança" {op. dt., p. 144}.
193
"lodo enunciado é intdnsecamente suscetivel de tomar-se outro" (Pêcheux, idem,
ib.). Portanto, no coso da presente análise, que poderia ser vista como um
escrita.
ligada a essa recusa, o olhar dirigido a esse primeiro eixo não se !imitará a
19 A reflexào acima foi baseada em artigo de Scarpa {1995). A autora, ao ligar o fenômeno
do fluência/disfluência -o diferentes relações do sujeito com a língua. reformula sua maneira
de encarar certas marcos de organização do discurso como as hesitações. as pousas. as
inserções ou reduções de fragmentos. as retomadas. as repetições etc. Deixa, então, de vê-
las como "atividades epilingüísticas" (aquelas que o sujeito faz com a linguagem) opostas às
atividades metalingüísticas (aquelas que constroem, pela linguagem. um sistema
representativo~nocional) e às atividades comunicativas e representativas. Baseado no
mesmo texto de Pêcheux (1990b), a autora abandona essa visão tripartite das atividades
lingüísticas e opto por tomar todos os tipos de descrição. mesmo aqueles "em que nos
. prendemos ao foto de que 'não há metalinguagem ": como expostos ao "equívoco do
1/ngua" (opud Scorpo, op, cit., p. 177), isto é, expostos ao foto de que "lodo seqüéncio de
enunciados é (... ) lingüisticamente descritíve/ como uma séde (!éxico-sintoticamente
determinada) de pontos de deriva possfveis.... " (idem, p. 178). Nos palavras da autora, "cada
ponto do enunciado em elaboração (certos oonfos mais previsíveis qve outros, por motivos
lingüísticos. isto é, fatores definidos lingüisficamente) depara-se com a posstbt71dode de
escolha" (idem, 177-8).
ao Embora os resultados aqui obtidos tenham diretamente a ver com a escrita dos
vestibulandos, acreditamos ter aberto a possibilidade de investigação de outros conjuntos de
textos - e de confirmação desses resultados . a partir das hipóteses que estamos buscando
comprovar no corpus analisado.
81
O corpus também inclui textos de vestibulandos com mais de 2! anos.
194
2. A GÊNESE DA ESCRITA NO CONJUNTO DE TEXTOS ANALISADOS
busca um caráter explicativo por meio da captação de pistas comuns nos vários
textos.
tratamento dos dados que, sem fugir ao método proposto, permita estabelecer
É o caráter relacionei do sujeito consigo mesmo, com o outro, com o que diz e
sobretudo sendo instrumentalizado por elas) que interessa destacar pela idéia de
tecnologias que utiliza. Por isso mesmo, individuo-se - embora longe de uma
195
(caráter do que é, ao mesmo tempo . "geral" e "oarticu!ar"} do sujeito, que
como o termo médio paro sua conexão com certas propriedades, ou seja, com
causar) para uma situação globa1e2 (que, se obtida de modo apressado, pode
196
lembramos, num parêntese, que ela não é a da interferência entre formas típicas
aos fatos locais e que precisam ser conhecidas e explicadas para que se chegue
conjunto dos textos e, em função dessa soma, chegamos aos percentuais para
197
Marcas sintáticas da representação do escrevente sobre a gênese da
escrita
maiores reunirá, para facilitação da exposição, duas outras. Desse modo, ·"sintaxe
sintática:
REGULARIDADES LINGÜÍSTICAS %
* Os índices percentuais de 0,8% indicam que o escolha das marcas nõo se oriento por sua
freqüência. De acordo com o metodologia utilizada, procuraremos mostrar, na análise que
faremos a seguir, que essas marcos são indícios importantes '.'do processo geral através do
qual se vai continuamente constituindo e modificando a complexo reloçóo entre o sujeito e a
linguagem" (Abaurre et oL 1995, p. 6). No caso específico dessas marcos,
independentemente de sua maior ou menor freqüência. interesso que sejam evidências
locais do circulação do escrevente pelo imagem que ele foz da gê-nese da (sua) escrito.
Portanto. o espec/fico do representação do escrevente. que atesto a "randode dos
enunciados" !Foucoult, 1971) em termos dos processos de suo constituição pelo escrita. não
implica na reprodução estrito de suas marcas, mas na reprodução do que é repetível da5
propriedades desses processos de constituição.
198
{I) A SINTAXE E O EFEITO DE FRAGMENTAÇÃO
seria o típico ora!/fa!ado. É, pois, importante que se destaque, que não se trata de
moda !idade {a oral) sobre a outra {a escrita). O olhar que buscamos é o dirigido à
deve ser melhor observado como uma marca dia!ógica que o escrevente
199
{A) MODOS FRAGMENTÁRIOS DE INTEGRAÇÃO
convencionou chamar, na construção formal do texto, fato que não será, porém,
"A Violência nos concertos de rock não tem jeito como acabar com
ela, irá sempre existir as pessoas que vão aos concertos de rock, ... "
{Texto01~031)
"acabar com ela" cria, entre esses dois elementos, um contexto lingüístico em
expressão "não tem jeito como", ela própria reduplicada no que se refere a
enfatizar o "modo como". Como lembra Silva (1991) a respeito da "fala escrita"
pois aborda o tema de um modo que parece ser "muito próximo de seu mundo,
200
são tambêm formas previsíveis nos textos dos vestibulandos, uma vez que o
do suíeito.
texto, uma vez que o escrevente os identifica diretamente com frases, as quais,
201
Um caso particular de ocorrência dessa sintaxe, que ainda poderia ser
202
Observamos que, pela ordem das palavras desse exemplo, o foco de
posição que esse tipo de operador ocupa- "a fronteiro dos sínfogmos" {Azeredo,
1990, p. 125} -, o leitor pode recuperar o foco pretendido pelo escrevente para o
seriam melhor indicados pela ordem das palavras. A prosódia gue o escrevente
uma ordem nõo-integrativa das palavras. uma vez que a foco esperada seria
facilmente obtido por meio de uma outra disposição das palavras, desta feita
203
que se impõe uma argumentação que o presentifique, no caso marcada pela
optar pela prosódia e não pelo ordem integrativo dos elementos do enunciado.
meio da sintaxe. No item seguinte, serão tratadas aquelas marcas sintáticas que
novo fragmento. Esse fragmento talvez fosse melhor compreendido nos termos
necessodomente, numa u(!Jdade sinfófica tipo frase" {op. ciL, p. 61-2). Alnda
204
segundo o autor·. as ''unidades de comunicação são, via de regra, marcadas por
pela pontuação, indicando a fronteira dos enunciados. Há, pois, nesse exemplo,
Por suo vez, a reconstrução do fluxo do fala por justaposição vem afetar a
dialoga com a coletânea de textos dada na prova e todo o seu trabalho é criar
toda a sede de vingança que escorre pelos poros do sistema social parece ser
impossível não ler que usar a violência quando se quer líqüidá-la e é exatamente
por isso que ela é interminável" . Depois de sua tentativa de assimilar-se a essa
205
bastar ao escrevente o simples alternância rítmica&5 com o que se atribui como
pela omissão do ponto final - parece, portanto, estar ligada a uma outra forma
pelo leitor. Eis, portanto, uma indiciaÇôo que está a meio caminho da real
freqüentes à recusa das sobras no texto escrito, tais como "limpar" ou "enxugar" o
texto, caminham lado a lado com outras não tão higienizodoras mas
83Segundo Chocon (1996}, "o olfemõncío entre estruturas a serem enfatizados e outros em
funçOo dos quais se determino essa entese se marca (... } no escrito através do jogo nTmico
que os marcos de pontuação promovem entre os estruturas enfatizados e os outros com as
quais elas devem contrastar". (op. dL p. 128). Conferir também. aqui mesmo, p. 67-8.
206
as suas unidades. os textos dos vestibulandos mostram uma forte presença do
dessas subdivisões.
como uma coordenação, mas como uma relação de finalidade entre duas
passar Isso a outros pessoas". O fato dessa relação de finalidade estar atualizado
207
pessoas" que parece ser a asseveração do escrevente. Essa conexão do
a diversão dos jovens não deve ser confundida com consumo de drogas,
violência e tráfico.
(do falado) para o prosódia (no escrito) leva o escrevente a imprimi-la, em seu
escrita}. Por essa razão, o caminho do léxico para a prosódia {o da leitura do texto
(tomada como modelo, ainda que nem sempre graficamente assina!óve!) para
208
(ainda que nem sempre integralmente recuperável) - em que, freqüentemente,
escrita).
dos coordenados" (op. cit., p. 221). Há, porém - ainda segundo o autor -,
209
separar as coordenadas por ponto final (formando dois penOdosl o que nunca
pode ser feito com os correlatas (embora ocorra às vezes com certas
por Camara Jr. (1978}. Para esse autor, correlação é a "construção sintática de
duas partes relaCIOnadas entre s,; de tal sorle que a enunciação de uma (... )
"tonto".
utilizado como exemplo no Capítulo 2 (cf. p. 143-4 e 147-8}. Como vimos, essa
210
de "até mesmo", então comentado) ou na horizonta!idade de pontos-limite de
uma escala (exemplo de "desde ... até ... ", também então comentado). Portanto,
211
comunicação". Como ficou dito, as "umdades de comunicação'; projetadas
desde o falado, podem não se deixar representar pe!a noção de frase, que,
mesmo tempo" resulta numa correlação que poderia ser traduzida como: ".,.que,
se pode matar uma famííia inteira, pode também dar casa e comida para
família de um bandido".
correlação indica que, de fato, ele já está lidando com uma concepção
tipicamente correlativa: "não só ... mas também". Curiosamente, esse jogo é feito
212
no sentido de amenizar a correlação e acentuar a coordenação: "não apenas ...
e sim".
explicar essa sua opção. Não se trata, portanto, de enfatizar a relação interna ao
"várias". Desse modo, não caberia uma formulação como: "nos leva a observar
que não apenas uma pessoa age {... }, mas também várias pessoas". A
que se trata de destacar as ações das tribos como coletivas: "não apenas uma
pessoa ... e sim várias". Nota-se que a orientação argumentotiva proposta pelo
"sociedade moderna", fato que, uma vez mais, está ligado ao modo como o
• • •
Procuramos abordar, até este ponto, as regularidades sintáticas que
indiciam o modo pelo qual a gênese do escrita aparece representada nos vários
gênese da escrita.
213
Inicialmente foi tratada a relação entre a sintaxe e o efeito de
ainda que nem sempre graficamente assinalável - para o que supõe como o
registro integral dessa prosódia no escrito- ainda que nem sempre integralmente
214
recuperável); a tentativa de delimitação do universo argumentativo em que se
constituição da escrita.
na enunciação escrita. A análise dos textos será dividida em duas partes maiores:
215
QUADRO 3: Porcentagem de ocorrência segundo regu/oddades lingüísticas do
DIMENSÃO PROSÓDICA E LEXICAL em relação ao total de
ocorrências das reguladdades das outras dimensões no conjunto
REGULARIDADES %
trabalho: "os sons da linguagem são todos aqueles elementos fonéticos presentes
trabalho já tenham deixado claro que o termo não está sendo usado para
e; O verbete produzido por Camora Jr. (1978) menciona que a prosódia se refere aos
caracteres da emissão vocal "que se acrescentam á articulação propn'omente dita dos sons
da fala. como em português o acento e a entoação". {op. cit.. p. 202).
sa Uma formulação bastante conciso é dado, em nota de rodapé, por Scarpa {1995):"Com
relação à prosódia, basto que nos refiramos {... ) a parâmetros como duração, ·intensidade
(amplitude)- altura (freqüência). velocidade do falo, pouso e alguns outros que constituem
subsistemas suprossegmentois com vonOdos pofencia/idodes distinHvas ou significativas nas
!lnguos naturais. Combinados, estes parômefros tambérm são responsáveis pelos subsistemas
de dtmo e de entonação. Uma caracterfstica reconhecidamente básico do prosódia é suo
não-lineandade, isto é, domíhios prosódicos sobrepõem-se uns aos outros com regras tonto
modulares quanto com abrangência Nerórquica: o caráter não-linear dos elementos
prosódicos compaltbiliza-se com suo natureza não-discreta: isto é, não são redutíveis o
unidades segmenta;$. Além d1Sso, apesar de hierárquicos, os elementos prosódicos n6o têm
relação isomórfico com constituintes gramati'cois ou com reguladdades semânticos." /op. clt..
p. 169).
216
Como foi observado anteriormente, a prosódia só aparece na escrita
através da articulação com outros planos, por exemplo, o próprio léxico ou,
como foi exemplificado na análise acima, a sintaxe. Vale lembrar que, na maior
parte das vezes, a leitura do texto escrito é feita pela imposição- em voz alfa ou
com a hipótese de que a prosódia não é exclusiva dos enunciados falados: por
a prosódia e a ortografia.
.. '
para o discurso oral (cf. aqui mesmo, p, 77} - do léxico pelo prosódia. Vale
e~ Cf. Abaurre, em vários momentos deste trabalho (em especial, p. 59. noto 31. e p. 129).
217
lembrar também o observação feita acima sobre o percurso representado como
lembramos. a propósito, o caso ele "mas não são todas t) 9o pessoas que
tem acesso a educação, ... (Texto 01-031), que citamos no capítulo 2, p. 168.
Como vimos, há, nesse exemplo, uma odaptação fonética marcada pela falta
<-das>.
''.. .isso é normal, acontece todos os dias, morre muito gente, e as vezes
sem ter nado 1/J ver com o história. "{Texto O1-044}.
tomada como base pelo escrevente não lhe permitiu apreender, como seria
fazer corresponder uma atualização gráfica. Esse tipo de omissão pode ser
218
chamado de apagamento prosódico. uma vez que é o dado prosódico da
como informal (caso de "nada a ver"). Esse fato tem paralelo com o que Silva
{1991) mostra na escrita infantiL Segundo o autor, nesse tipo de escrita, a hipo-
da gênese da escrita.
''Apartir dessa falta de instrução cdam-se as 'Gangs' que por suo vez
determinam as normas no base da violência Mas esta por sua vez não
foz parte l/J do jovem, é encontrado (I na infância pelos menores
abandonados que a utilizam com (slc) formo de sobrevivência." (Texto
04-199}.
?1 Adotamos, nesta passagem, a noção de clítico proposto por Silvo: "lodos os monossJ1obos
átonos que dependem. quanto à ocentuoç6o, dos palavras que os seguem ou os precedem"
(op. cít., p. 36).
219
supõe plasmada em seu texto. A seqOência com os marcadores poderio ser:
primeira parte. se nega o posto ("não ... só do jovem") para que seu pressuposto
("inclusive das crianças, adultos, idosos etc.") seja, na segunda parte, recuperado
isto é. nela, mas não exclusivamente). Em que pese a omissão dos marcadores. é
certo que tenho sido esse o sentido tentado pelo escrevente. Desse modo,
caso analisado, substituída pela prosódio. Essa substituição é, pois, uma marca do
saber, como sendo uma projeção gráfica do gesto articulatório de sua emissão
mentalmente ensaiada.
(sua) escrita, são essas as pistas que nos pareceram mais relevantes na
pontuação.
220
Serão abordados, em primeiro lugar, casos em que (A} a prosódia é
seguida, serão tratados exemplos em que (B) a prosódia é marcada pela falta ou
Os três trechos abaixo foram extraídos do mesmo texto e servem bem para
não está jogando, nesse momento, apenas com propriedades da escrita. Uma
argumentação contra a violência tem contornos que podem ser vistos como
221
contra a sociedade e o sistema capitalista"; na seqüência, conclui de tudo isso
que a violência seria "uma maneira de canalizar". Podemos dizer, portanto, que,
até este momento, temos uma escrita muito próxima daquela em que de Lemos
mesmo tipo de monólogo, mas desta feita utilizando por meio de colagem a
"levam", que tem, porém, como sujeito "um tipo de som". Todos esses elementos
222
demonstram que, novamente, o escrevente está buscando superar-se para dar
voz ao seu interlocutor. É nesse ponto que interfere, uma vez mais, o registro
o panorama geral, dado no início do texto, que consiste, nesse caso, em definir e
"E, o mais interessante de tudo isso é que eles alegam que isso é bom,
e que protestam contra socíedade hipócdta e medíocre que anula o
ser humano transformando-o numa mercadoria" (Texto 04-200)
223
Todos esses exemplos evidenciam a presença da prosódia na pontuação
pelo fato de não se adequar ao tipo de texto solicitado. Construído como uma
("Sou pequeneninha perto de tudo que acontece ... ") e a um possível leitor
224
procurando reproduzir passo a passo essa marcação. No momento seguinte,
escrevente.
corpo da redação:
duas vezes, uma delas como encerramento do texto. Estamos diante de um caso
apresentados acima.
225
esquecido depois da coordenação de três sintagmas verbais seguida da
pelo uso do ponto de exclamação. Por ser o título, é possível que tenha
procurado, nesse recurso, uma maior ênfase para se representar como mais
* * *
relevantes quanto à relação entre prosódia e ortografia. Uma vez que buscamos
226
analisar a imagem que o escrevente faz da gênese da {sua) escrita, a ênfase
recairá sobre aquele tipo de escrita que leva a orientação fonética da escrita
mesma etapa.
que vale para os exemplos aqui citados e para muitos outros, pode não ser,
porém, aplicada consistentemente por um mesmo escrevente, uma vez que ele
pode, em certos casos, flutuar. num mesmo texto. entre a escrita convencional e
a escrita não~convendonal.
227
mantém com a linguagem. No pnme1ro caso, observado o produto de sua
cada escrevente pode ser visto no diálogo que estabelece com o que julga ser o
sua escrita. em certos momentos, nada mais seria, portanto, do que um modo de
entre som e letra. Em "impreciona", o uso da letra <c> em lugar de <ss> deve-se
com o fonema /z/, representado pela letra <z> e não pela letra <s>, resultando a
entre som e letra percebida pelo escrevente e não a falta de percepção dessa
que tipo de letra utilizar, joga com o fato genérico de que som e letra se
letras <c> e <z> como representantes, respectivamente, dos fonemas /s/ e /z/.
228
Nem seria necessário acrescentar que a assunção dessa representação termo a
abaixo:
"... as drogas, sejam elas de qualquer tipo, são alucinogenos, uns mais
fortes e outros moís fracos, mas todos deixam as pessoas fora de sl e
essa pessoa drogada não sobe oque está fazendo, podendo ficar
quieta em um canto, num lugar, ou esta pessoa pode vir o agredir
outros pessoos... {Texto 01-009)
229
gênese da escrita. No que se refere à expressividade, poderíamos apenas supor
escrita infantil, os quais, sem uma oportuna atenção que fizesse o escrevente
enunciação escrita, por outro, buscamos constatar, dado o material escrito com
96 Por não ser objeto deste trabalho, será deixado de lado a presença do processo de
lexicalização no enunciado oral. No entanto, o caso da reportagem radiofônica ao vivo
citado acima {cf. p. 26) parece ser um bom exemplo de que procedimentos tidos como mais
típicos da escrito {como a lexicalização} são também empregados no enunciado oral.
Pense-se. por exemplo, na necessidade de se estabelecerem os contornos da situação
concreto to chamado lide) sem o recurso dos gestos ou do câmera de TV. Conferir também
Vochek (1989 {1979). p. 511 e aqui mesmo, p.59-60.
230
Parece claro que o emprego da palavra "coleguismo" tem diretamente a
seres humanos só poderiam ser abarcadas por um tipo de vínculo muito mais
escrevente não usa aspas, nem letras maiúsculos, nem grifo. De qualquer modo,
231
sob esse ángu!o, expressfvidade e espontaneidade estão regradas por uma
tende, nas suas rea!!zações mais informais, a ser bastante marcada. Interessa,
anterior. Pelo contrário, todo o seu trabalho é construir o texto a partir da projeção
para convencer seu interlocutor. Por outro caminho, chegamos, portanto, ao fato
suposta gênese.
232
O mesmo acontece no caso de escolhas de operadores cujo uso é mais
comum no conversação:
situação de interação fica, pois, registrada graficamente por meio dessa escolha
!exica!.
exemplo:
momentos quanto à escolha !exica!. Num primeiro momento, sua escolha recai
233
quanto à adequação da primeiro escolha. Uma hipótese possível para explicar
texto, isto é, dado que o escrevente assimila o ponto de vista das tribos urbanas
daquela explicitação. A "violência corporal" das tais tribos não passaria, desse
como aceitável pelo escrevente. Essa violência não chega, portanto, à agressão
por estupro, por exemplo, uma vez que não se trataria desse tipo de "violência
corporal" a que seria praticada pelas ditas tribos urbanas. Esse segundo domínio
significado desejado.
em seguida, para o que representa como seu domínio próprio. Esse retorno, dada
do escrevente em relação à violência, isto é, aquilo que ele admite como dentro
dos limites aceitáveis e aquilo que exclui desses limites. Portanto, a explicação
feita pelo escrevente - e que muito provavelmente seria objeto de censuro por
escrevente se posiciono com relação ao tema. Ser contra ou a favor das tribos
234
urbanas é o que o esquema textual já prevê como o confronto dicotômico
para os textos.
afirma o branco como referência. como ponto de partida. A escolha poderia ter
..,.., É Importante notar que, embora não empregue o hífen, o uso de "não-" como prefixo foi
adequadamente requisitado pelo escrevente, dado que, segundo Alves (1992}, o recurso da
prefixação com "não-" "nega o sentido expresso pela base de maneira imparcial e neutra"
(op. cit.. p. 106). O que se vê no exemplo, porém, é que o funcionamento discursivo revela
mais do que um recurso adequado de prefixação. Nesse uso, explicito-se a tentativa de
235
seja criticar uma posição da sociedade com relação aos negros e aos
interlocutor de uma certa cor (a branca). Desta feita, é seu envolvimento com o
tido como adequado que o escrevente escolhe "não brancos". Portanto, seu
envolvimento não fica marcado apenas com o assunto, mas também com o
imagem que ele faz da gênese da (sua) escrita, neste caso evidenciada pelo
Esse mesmo a Içamento pode ser observado no último dos exemplos sobre
escolha lexical:
alçomento, por parte do escrevente, a esse modo neutro de expressão que ele localizo em
seu interlocutor.
236
uma ideologia muito fixa nas pessoas. Isto gera a não opimãa para
críticas e uma vidaacqmododa. {Texto 01-015)
opinião para críticas", Ainda que a palavra desejada não fosse alienação,
lexical.
construção lexica! se dá por meio de uma relação dialógica e que é desse modo
um item lexical. Numa associação com o que Jakobson {1975) propõe para os
alto grau de dependência do contexto, de ta! modo que "quanto mais seus
237
[Jakobson se refere ao afásico] enunciados dependam do contexto, melhor se
haverá ele em suo tarefa verbal" (op. cit., p. 42). Esse paralelismo entre a
Pelo que acabamos de expor, podemos concluir que várias são as formos
pelas quais o léxico pode mostrar a imagem que o escrevente faz da gênese da
(sua) escrita . Esse fato vem dar uma outra dimensão à idéia de lexicalização
pelas quais o enunciado se constituti pouco a pouco, "o léxico não pode ser
escolha lexica!. Revela~se, assim. uma interessante defasagem entre duas vozes,
238
por me·lo da qual o escrevente faz irromper no discurso que, de fato, é do outro
um registro que o assinala como s'eu, ainda que esse procedimento não passe de
uma apropriação, que, embora de direito, é validada apenas por uma espécie
de direito costumeiro (isto é, por uma forma rotineira de se instituir a autoria como
ou propositaL a questão não se coloca, uma vez que a relação que o sujeito
dada ao enunciado.
• • •
Como foi adiantado no início deste tópico, a prosódia só· aparece na
1oo Ainda ao tratar das determinações sucessivas pelas quais o enuncíado se constituiu,
Pêcheux & Fuchs (1990) - cujo texto original foi publicado em 1975 - propõem a distinção
entre o que chamam "esquecimento n" I" e "esquecimento n" 2". Para os autores. além do
esquecimento n" /, caracterizado como o esquecimento ideológico inacessível ao sujeito e.
portanto, inconsciente: os deferminações relativos à formulação lingüística estão também
presentes no enunciado por intermédio do esquecimento no 2 A respeito desfe último, em
reformu!ação posterior- originalmente publicada em 1977 -, Pêcheux. ao reafirmar que ele
se dá no nível pré-consciente, caracteriza-o como "o retomada de uma representação
verbal (conscienfej [uma "palavra': uma "expressão'; um "enunciado'] pelo processo
pn'rnádo (inconscienfej, chegando à formação de uma novo representação, que aparece
conscientemente ligada à pn'rneira, embora suo articulação real com ela seja inconsciente"
(cf. Pêcheux, 1988, p. 175). Segundo o que se defende aqui. esse vínculo entre as duas
representações se refere à defasagem introduzido entre os vozes que participam de um
texto.
239
Merece, pois, destaque a tendência, freqüentemente reafirmada pelo
passagem direta da prosódia do falado (tomada como modelo, ainda que nem
recuperável). Desta feita. este fenômeno se repete tanto nos momentos em que
caso particular.
escrita tem justamente a ver com a recusa de uma reprodução estrita. Mesmo
educador, lançar um novo olhar para o texto, de tal modo que se possam
240
No item seguinte, a questão da imagem que o escrevente faz da gênese
também eles. sejam vistos segundo a representação que o escrevente faz das
contrário. o caminho que seguimos parte da busca, nos textos, dos detalhes
241
salientes da representação, em termos lingüísticos, que o escrevente faz desse
e reunidos no único item desta parte, a saber, a regu/oddade lingüística que inclui
" ... mas poro que tudo isso se acabe, a única solução mais palpável
t
seda usar de vio/enda poro acabar com ela mesma. aí que começa
uma verdadeiro tempestades de dúvidas, preconceitos, e
pdncípo/mente de uma busca que os vezes chego-se em um
determinado ponto onde nos obn[;a praticamente a voltar paro a
estoca zero, é aí também que todos se perguntam, haverá um fim
para tudo isso? Existe solução?
"É aí também o ponto em {sic) podemos concluir- se para
conseguir o solução desejado há um.cominho muito longo e cheio de
242
obstáculos, dúvidas preconceitos, politicagem etc... e nos deixa um
lembrete um tanto que assustador." (Texto 03-180)
Parece bastante claro que o uso repetido de "aí" deve-se a uma tentativa
escrevente da seguinte forma: "a única solução mais palpável seria usar de
violência para acabar com ela mesma". É notório, pelos referências que o
escrevente faz, que o trabalho com essa contradição é bastante diffcH para ele.
Sem saída, volta à "estaca zero''. Retomo, então, a discussão a partir do ponto
zero para incluir seu auditório imaginado: "é aí também que todos se perguntam.
haverá um fim para tudo isso?" No fina! dessa seqüência, após a qual aparece
muito longo e cheio de obstáculos e dúvidas preconceitos, politicagem etc ... ".
espada! feita pelo uso de "aí" não é, na verdade, apenas uma localização
243
voltada para o espaço argumentativo. É também uma marca anafórica de um
lugar no texto, de tal modo que cada um desses lugares fica reservado para
"este" ["Este mundõo"], que pode ser interpretado como anafórico, o uso de "aí"
do texto. É bom lembrar que não se está julgando o efeito estilístico resultante,
uma vez que a necessidade de envolver o leitor deve, sem dúvida, ter.levado.a
mais como tentativa de recriar "a" situação concreta do que como uma
244
Note-se, nesse caso, que a vinculação do tema ao momento de enunciação é
interlocutor produz o que uma leitura desatenta poderia julgar como uma
fato que dirige a leitura para alguma coisa como "união das pessoas entre si". A
escrita.
245
Como se sobe, os marcadores propriamente conversacionais, são, na oralidade,
Esse efeito é também típico de um imaginário sobre o gênese da escrita, uma vez
que, por meio dele, o escrevente supõe projetar direta e integralmente uma
"Tnbo pode ser jsic) definir como um gn.;po de pessoas que executa
uma mesma função estão sob mesmas ordens. Por ser de mesma
ldeologla, os partidos polítícos, cada qual com as suas idéias, formam
uma tnbo.
"Agora o que gera a violência entre essas tnbos? O que levo
um político o agredir sua colega de trabalho? Um metalúrgico a
destruir seu local de serviço? A policia a bater em estudantes de direito
do largo São Francisco porque real/zavom a famosa 'Peruada'?"
{Texto 03-172) _
Para observar como esse uso tem a ver com a imagem que o escrevente
por Schiffrin e parafraseada pela autora como a "relação dêifica entre o período
246
elocução ('speaking time'}" , Risse afirma que "o tempo de referêncía
coesão textual" {op. dt., p. 56}, podemos dizer que seu uso na escrita traz as
momento.
baseado em Parry, afirma estar presente nos usos culturais do letramento: "o
e isto pode continuar a dominar os usos de lefromento" {cf., aqui mesmo, p. 43).
que o escrevente faz uma representação da gênese da {sua) escrita como uma
imediata de enunciação.
247
Um último caso relativo à organização textual é o uso de expressões
seqüência, a expressão "é duro" vem - podemos dizer que com exclusividade -
talvez o senso comum - por onde o escrevente faz uma espécie de contorno
101 Preti (1991), ao tratar do linguagem dos idosos, diz: que os idosos "e, particularmente, os
'idosos velhos' têm fact7idode em conservar em suo memón"o, com absoluta perfeição, frases-
feitas, provérbios, refrões, expressões que, muitos vezes, remontam à suo infância". E continua:
':A melodia e a n"mo que, não raro, as acompanham, favorecem a permanência no
memón"o" (op. cit., p. 65-6). A essas expressões fixas o autor chama "expressões formuloicos':
248
índivíduoção do sujeito (observe-se, por exemplo "bater nele"), a indagação por
do exame- o escrevente numa forte relação com o assunto, razão pela qual sua
índív/duaçõo do sujeito.
ligada ao fato de que o indivíduo que as profere "toma sua asserção como o
--------
102 As expressões formulaicas poderiam ter um tratamento interessante também do ponto de
vista que toma o papel das marcas sin1átícas na organização textuaL Essas expressões
poderiam ser vistas, por esse ângulo. como o que Cosiilho e Castilho {1992) chamam
modalizodores afetivos do tipo subjetivo (op. cit.. p. 223).
249
"Mas nem sempre essa violência moral gero sangue. Estamos com um
exemplo agora. Estamos totalmente amarrados e sendo estuprados
pelo ensino nacional. Uma violêncio que não mata mas nos aleíja aos
poucos, nos seco mentalmenfe. "{Texto 01...022)
expressão idiomática "ter vida de cachorro" que correspoFJde a ter vida difícil; no
terceiro trecho, "não mata, mas aleija" quase que reproduz expressão idiomática
Como esses três casos retomam fórmulas fixas, é importante lembrar o que
Segundo esse autor, "os provérbios são muito numerosos nas culturas de
transmissão oral; constítuem aí a escola sem escola" {op. cit., p. 141). Num outro
pela sua forma, o slogan escapa "às dicotomias que cqraç::(et?.Zam a língua
moderno" como, por exemplo, à "dicotomia entre língua falada e língua escdto"
:?,50
Embora os exemplos citados não se enquadrem perfeitamente nem como
afetam a organização textual, uma vez que {a) procuram provocar uma reação
afetiva no destinatário; (b) dão mais informações sobre o destinador do que sobre
a este último item, fazer ressurgir, como resíduo, a dicotomia "dizer versus
evidenclado, nesse momento, pela circulação dialógica que ele faz em relação
• • •
Conforme antecipamos, a regularidade lingüística no que se refere ao uso
~-------
103 Fica, pois. descartada, pelo menos no caso desse uso das expressões formulaicas. a
distinção proposta por Olson {1977) entre enunciados e textos. Segundo o autor, as
diferenças entre as declarações da língua oral. mais informais {os enunciados ) e os
declarações da prosa escrita explícita {os textos), poderiam ser referidas: (a) às próprias
modalidades lingüísticos {língua escrito vs. língua oral); (b) a suas utilizações mais comuns (o
conversação vs. os ensaios}; {c) às tradições culturais construídas em torno dessas
modalidades {uma tradição oro! vs. uma tradição letrada}; ou, finalmente - e é o que
interessa destacar -, (dj o "suas formos sumadzodos" (provérbios e aforismos para a
modalidade oral vs. premissas para o modo escrito) [op. dt.. p. 257-8]. Pelo que foi exposto
a partir de Reboul e também pelo aspecto da "permanência na memódo" levantado por
Preti (cf., aqui mesmo, p. 248, nota 101), observa-se, portanto, ao contrário do que propõe
Olson, o caráter escriturai dessas formos sumarizadas já presente no própria oralidade.
251
Da análise feita quanto à organização textuaL podemos concluir,
portanto, que a imagem que o escrevente faz da gênese da (sua} escrita vem
marcada: (a} por certos tipos de articuladores textuais; (b) por um tipo de
atuação ao vivo, de que se supõe que o inter!oçutor participe; {c) pela insistência
empregados.
analisados.
252
opiniões e argumentos só pode ter como ponto de referência o interlocutor
vida ou morte) por meio do qual o escrevente se defronta com seu interlocutor.
acreditamos que uma das razões do uso freqüente de enumeraçõeslo4 talvez seja
lO~ A discussão feita. neste ponto, a respeito da enumeração é uma relomada muilo próxima
de uma pesquisa anterior, também sobre redações de vestibulandos, levada o efeito como
uma dos qualificações exigidas pelo programa de pós-graduação (doutorado) do Instituto
de Estudos da Linguagem {UNICAMP). sob a orientação da professora doutora Maria
Bernadete Marques Abaurre. Os resultados dessa pesquisa estão em: CORR~A. M.l.G.
Pontuação: sobre seu ensino e concepção. Leitura: teon"a e prática (Revista semestral da
Associação de Leitura do Brasll- Faculdade de Educação da UNICAMPJ, n° 24 (ano 13), p. 52-
65. 1994.
253
constrói para si uma imagem acerca da própria avaliação a que vai ser
redação.
certo n·cto faciaL Portanto, traços prosódicos e/ou gestuais marcam os matizes de
254
sentido na passagem de um a outro de cada item enumerado, o que garante,
prosódicos e gestuais que supõe imprimirem-se tais e quais no pape! sob a forma
255
pistas lexicais que o escrevente efetivamente deixou no texto, podemos dizer
momento em que ainda se podia ler uma justificativa na ação do assassino, lê-se
benéfica para alguns, mas que nem sempre o é para outros. Do relação entre:
Logo se vê que não fica clara a relação pretendida pelo escrevente com
opor, ao fato de que os benefícios da violência não sôo gerais, um outro fato,
que uma contrajunção. O sentido pretendido parece ter si0o algo como: {Apesar
importante lembrar, porém, que este uso de "mas" não apresentará nenhum
256
os enunciados- não é, como se sabe, exclusividade das chamadas conjunçõesl06
e semântica do texto.
enunciação ora! - entre os. itens enumerados com o que fica efetivamente
lOó Cag!iari {1992). diz que "no linguagem popular ocorrem muitos exemplos onde se nota que
o falante não diz conjunções e pronomes relativos. onde. num discurso escdfo deven'am
aparecer necessanomente. Mos isso não o impede de se fazer entender e de expressar essas
relações, porque e/as, em vez de aparecerem /exicolizadas, vêm realizadas através de
elementos prosôdicos." {op. ciL p. 58). O autor exemplifico com uma função conjuntiva da
tessituro. mos lembw que outros elementos prosódicos podem estar msociodos o essa e a
outras funções.
257
especialmente os aspectos comentados na coletânea - por meio do emprego
posição que atribui a seu interlocutor. Por se tratar de um caso muito semelhante
temático, este recurso tem diretamente a ver com a relação com o interlocutor.
imagem que o escrevente faz da gênese da (sua) escrita. Desta feita, essa
Difuso, ainda que projetado a partir da instituição que propõe o vestibular, esse
258
regulação- instifudona!mente amparada- do irabalho lingüístico do escrevente
que lado estaria ela a respeito de tal ou tal aspecto da vida social? como
imaginário da opinião pública, ocasião em que tende a fazer confluir para seu
senso comum.
259
Ao final da série de questões postas pelo escrevente, noto-se a tentativa
um sistema capaz de salvar todas os crianças que ficam jogadas pelos quatro
política efetiva, ganhando uma forma globalizada ("sistema capaz de salvar ...
Esse exemplo mostra o que parece ser uma tendência no caso do recurso
de sua escrita.
Ataque ao !ndt'o
260
fosse animal selvagem. Para onde irão e como viverão na sociedade
de preconceitos e violência? E como serqo reutilizadas suas fenos? o
Brastl até hoje só opta pelo massacre para conseguir e dispor dos
recursos que necessita( ... )
"Em suma, os pdmitivos colonizadores brasileiros estão sofrendo
ameaças a seus sistemas de valores. Conseqüentemente, a sua própnO
vida está sendo exterminada e não permítirá seu acesso ao ano 2000.
O Brasil terá que 'importar indígenas' novamente!?" (Texto O1-050)
redação. Ao associ<:Jr "tribos urbanas" com "tribos" em geral e, por aí, com
responder às indagações que ele mesmo vai fazendo, ele sente-se desobrigado
última.
parece ter ficado cloro, um típico funcionamento das perguntas nos textos dos
"Aonde está a paz que é tão desejada portados nós?" (Texto 03-161)
261
Também, nesse caso, portanto. a expectativa do escrevente é contar com
nós?". Esse artifício aposta na união dos pólos do remetente {o "eu" que
262
No entanto, se esse é o funcionamento argumentativo da enumeração,
cabe ressaltar que ele está ligado, no tipo de texto estudado, ao modo
construir em seu texto, vem marcadO pela dúvida do escrevente. Essa dúvida
pode vir assinalada tanto nas perguntas com respostas, em que, em geral. se
joga com a obtenção não tanto de uma resposta positiva quanto ao que busca
demonstrados.
263
conceber a polêmica, tida como a relação entre interlocutores que se realizo em
sempre que empregado em sua forma direta, não percebemos, desta feita. a
' ..
Considerações finais
Vistos desse modo, porém, e na medida em que, por essa via, se pressupõe a
que estamos utilizando, apenas à circulação pela imagem que fazem sobre o
264
processo de escolarização forma! da língua {e da prática textual) e do próprio
escrevente.
essas práticas, mesmo naqueles gêneros que se tem classificado como típicos do
outras formas.
265
um dos flancos abertos por essa perspectiva. Embora este trabalho se fixe no
abre espaço para ver a fragmentação- a exemplo do que foz Scarpa {1995)
1oa Scarpa {1995) afirma que "de modo geral (... ) trechos fluentes são os já ajeitados,
conhecidos, analisados ou - na grande maionO dos casos, congelados, vêm em bloco. Os
disf!uentes são aqueles em constroção, instáveis, com tentativas infrutíferas de segmentação
em blocos prosódicos,· supõem passos mais complexos tonto poradigmótica quanto
s/ntagmaticamente no elaboração do enunciado. Autoria vs. não-autoria, discurso próprio vs.
discurso do outro parecem ser também traços que vale a pena levantar enquanto hipótese
de elaboração formal dos enunciados nesta faixa elán"o [sujeitos que abarcam a faixa etária
de aproximadamente 22 meses a 2 anos]" (op. dt., p. 171).
266
O estudo desses pontos de individuação permite, como foi visto no
como a da fragmentação.
por exemplo em que deve aflorar o conhecimento sobre como ler o tema e a
fluxo da escrita. A exemplo do que Vygotsky (1987, p. 17) propõe para a fala
267
circulação que o escrevente faz pela gênese da {sua) escrita incluem-se naquele
da gênese pode ser visto como uma forma de resolver problemas. Sob esse
obtidas, o caráter fragmentário dessa escrita pode ser visto tanto na sintaxe,
268
alguma instância em que o escrevente não teria outro papel a não ser o de
reproduzir modelos. Por outro lado, considerar o dado local foro da dimensão
individuação.
• • •
No capitulo seguinte, será tratado o segundo tipo de circulação diológica
institucionalizado.
269
Capítulo 4
eixo de circulação dialógica serão organizadas do seguinte modo: {a} pelo tipo
pelo modo como o próprio escrevente se representa em sua escrita; e (c) pelas
270
oral/falado que eventualmente nela se pudessem reconhecer seriam vistas
corno desvios do instituído e, nesse sentido, deveriam ser tomadas como lhe
escrevente lida, basicamente, com o que supõe ser - a partir não só do que
aprendeu na escola, mas, em grande parte, do que assimilou fora dela.- o .visão·
porém, tal autonomia, por não ter um modelo puro, nem, de resto, um
oralídade em escrita unicamente pelo fato de esta última poder dar à primeira
imagem que lhe serve de base no que se refere ao modo como represento a
evidenciam sempre que o escrevente leva a extremos uma tal imagem sobre o
çQdigo ?scrito. Ou s~jo, ness? ?ixo çl~ çirçvloçõo diológiçQ, ess~s encontros se
271
mostram pelo excesso, pois esse procedimento pode dar um cunho formal
272
Chefe {19$2, 196-5) chama de integração e distanciamento e Tannen (1982} de
ç ~sçrito ççmç vmo repr~~entoçõo Qe ~nvnçioçiQ$ oroi.s. Poro ~vitor vmo tal
273
genera!izaçâo, vale destacar o que Aba urre { 1987) lembra, em nota, ao tratar das
274
modelo (o mais freqüentemente defimdos pelo grupo dominante) transmit;do
toma freqüentemente como modelo a escrita. Como afirma Vanoye {1986), "a
falados". Mais do que isso - é o que defendemos aqui - parece haver, nesse
aquela que Saussure definia como se sobrepondo aos dialetos para tornar-se a
escolha de uma pronúncia modelo mostra que essa prática não é tão recente
quanto pode parecer: "isto foi claramente visto no Grã-Bretanha onde umo séde
1oç Essa identificação da língua em geral com uma escrita é trotado por Castilho {1988), sob
o viés da variação lingüística. Depois de definir norma como um "fator de coesão sociol''
(em sentido amplo) e como correspondente "aos usos e aspirações do classe social de
prestígio" {em sentido estrito), o autor aponta alguns preconceitos sobre a norma. Entre eles.
aponta aquele que confunde o português culto: com o português escrito, preconceito que
faz esquecer que há também um português culto falado (cf. op. cit., p. 53-55).
275
mostrada por Bazín e Bensa ao citarem a afirmação de Bourdieu sobre a imagem
entre esaito e planificação, modo pelo qual a escrita termina por torna-se o lugar
escrita é dada prioridade social pela maioria dos adultos em culturas octdentois"
276
verbal e não-verbal': Segundo o autor, "a economia é o estudo de algo que
desenvofvírnentos': É nesse sentido que, ainda para o autor, "a economia não
original).
caráter de mercadoria:
entre produção e consumo. Nesse caso, fica eliminado o valor de troca em favor
a relação entre eles. Desse modo, podemos dizer que, do maneira pela qual é
277
planificação, uniformização e homogeneização. Esses três diferentes
emergência do caráter relaciona! dos sujeitos, poder que, ao negar essa relação,
ou sua identificação pela assunção do que se toma como coletivo no- a própria
norma}. O ensino formal tem, a esse respeito, um papel fundamenta!, uma vez
ao trator da alfabetização:
278
"não deixa de ser um tipo de 'dominação' o situação
o que a criança é submeftdo quando entra no escola
e deve adaptar-se ao saber institucional manifestado
no domínio das formas simbólicas" {1994b, p. 7).
Desse modo, a existência da escrita, mesmo num domínio restrito, como por
exemplo, no domínio administrativo, pode, segundo o autor, ter efeito tanto sobre
"o conteúdo da comunicação oral': como sobre a "estrutura das produções orais
279
caracterisficaslll , destacando que "cada lugar do quadro deve ser preenchido,·
o esquema não tolera nenhuma cada branca, a matriz tem hoJTor do vazio"
escrita na oralidade, pode, no contexto das discussões aqui levadas a efeito, ser
lemos (1988) quando a autora afirma que os resultados de sua análise de textos
n1 Quadro, contendo dez nações e dezessete critérios, que figuro numa pintura do início do
século XVII! do austríaco Steiermark {cf. Goody, idem, 155-8).
280
A prática do preenchimento - muito próxima do mecanismo descrito por
ainda mais restrito, quando a autora mostra a associação entre esse tipo de
281
Essa discussão é retomada por Pécora {1989), ao anallsar texios de
caráter mecânico_ que a escr!fa adquire na escola ao dizer que "tudo se passa
como se a escrito não tivesse outra função que não o de ocupar. o duros penas,
o espaço que lhe foi reservado, como se a sua única vocação fosse ser mancha
aquisição da escrita.
282
consideramos como básica - de encarar a escrita ou como produto ou como
Segundo Goody, o advento jpor volta de 1500) dos livros que ensinam a
troca com o mestre, ainda mais intensa se considerarmos que esse saber se
283
transformação do próprio objeto de ensino, podemos detectar também a
Esse fato parece indicar que as vantagens apontadas por Goody para a
!!gado a seu valor de uso {seu modo de consumo} e não a seu valor de troca.
sobra como resíduo sua isenção no que tange ao exercício da troca. Em outras
afírmando - pela negação -suo identidade com o que considera como erro. Em
suma, só se apresenta como sujeito pelo excedente de sua escrita, ou seja, pela
código institucionalizado.
284
No que se refere à escrita infantil, podemos detectar, com Abaurre, a
com a escrita e leitura, pode estar faltando exatamente "aquele contato com a
escrita e leitura que permitiiia o interferência de suo relevância social" (idem, ib.).
Também para Vygotsky (1988}, "o aprendizado humano pressupõe uma natureza
intelectual daqueles que os cercam"{op. dt., p. 99). É nesse mesmo sentido que o
autor afirma ser necessário "fazer com que a escn'ta seja desenvolvimento
285
Longe, portanto, de compreender e participar do processo de escrever, o
aluno tende a lidar com os efeitos que supõe atingir a partir de rituais
bizarro monólogo em que a voz que fala é apenas a do Outro" (de Lemos, idem,
286
A exemplo da abordagem feita sobre representação que o escrevente faz
representado nos vários textos que interessa destacar nesta etapa do trabalho.
representação do oral/falado.
de individuação comuns. Desse modo, aquilo que poderia parecer o seu mais
que concede como "o errado") pela afirmação de uma identificação {tentativa
287
visto como um processo de individuação, em que o caráter relaciona! da
como fonte de seu dizer. Essa especificidade- caráter ao mesmo tempo ''geral"
individuação {no caso deste trabalho, por meio da captação de pistas lingüísticas
como objetivo, garantir, por meio da captação de pístos comuns nos vários
288
comum a característica de manifestar o mesmo modo particular de
de tal forma que pudessem contribuir ~ no caso deste segundo eixo - para a
constituição da escrita.
289
sintaxe. O aspecto que nos interessa mais de perto é a passagem das
acesso a uma das maneiras pelas quais o enunciado caminha por ''pontos de
sintática:
* Conferir sobre a relevância das marcas não ser dada por sua freqüência, aqui mesmo.
capítulo 3, quadro 2, p. 198.
115 A relação entre domínio ativo e domínio passivo tem a ver com a heterogeneidade das
variedades lingüísticas dominadas pelo falante. Berruto (op. cit) fala de "competência
compósda'' poro dar conta não só do domínio de certas variedades da língua ou de setores
diversos de uma variedade, mos também dos aspectos pelos quais essa compelêncla se
apreSento: "competência ativa" (capacidade de produzir mensagens) e "competência
passivo'' (copocidode de identificar e Ji?terpretar mensagens ). Acrescenta. ainda, que,
presumivelmente. a "competência passivo" é mais amplo do que o "competência ativo':
uma vez que podemos identificar e interpretar mensagens que não estamos em condições
de produzir (idem. p. 33-4).
116 Conferir Pêcheux (1990 b) e aqui mesmo, p. 193-4.
290
(1) A POSIÇÃO DO ADJETIVO E A NOMINALIZAÇÃO COMO MARCAS DA
REPRESENTAÇÃO DO CÓDIGO ESCRITO INSTITUCIONALIZADO
tanto pela escolha do adjetivo, como pela sua posição no sintagma, a saber,
totalmente adequado:
Cotidiana Violência
291
A análise estilística mais tradicional diria que tanto em concreta sociedade
destacar, porém, um outro aspecto levant?do por esse mesmo tipo de estilística,
a saber, o de que:
adequação que efetivamente não se dá. Defendemos que essa busca, embora
sentido que a escolha do adjetivo acarreta mostra que, nesses casos, essa
292
representa como o modo de dizer próprio de seu interlocutor que leva o
escrevente ao tipo de escolha dos dois casos citados e também dos casos
todos esses casos, pode ter como modelo um dos textos do coletânea, o de n" 6:
guerras entre os surfistas (... ) Nas !VOS das cidades imundos e perigosas,
acima citado parece ser o caso mais flagrante de tomada da coletânea como
seu texto.
Observemos o exemplo:
293
"É lógico que a educação tombem interfere no estado
nervoso de uma pessoa, quanto maiOr sua capacidade de ser
paciente, menor o nervosismo será gerado.
''A solução de uma possível diminuição na violência senO a
estabilização da economia... " (Texto 01-021)
busca integrar duas afirmações "a solução para {o problema da) violência" ·e "a
que o que está em jógo nessas duas afirmações são duas questões motivadores:
ou, mais propriamente, na história enunciativo que ela carrega. Novamente, esse
294
nominalização. Ou seja, a solução para o problema da violência: "seria a
Dado que uma das esferas de atividade que recorrem a esse tipo de enunciado
código institucionalizado.
295
como um caso particular de regência; quanto à concordância - nominal ou
"e seus preceitos ... "}, dá indícios de que esse investimento é uma tentativa de
especificação pretendida.
296
"Não encontramos violência apenas no Rock, porém, há um enfoque
maíor neste pelo foto de que este não consegue acobertar seus
problemas como fazem siStemas políticos e uma classe elitízada A
reunião de milhares de pessoas num mesmo local leva a um
infercambio magnético de ondas cerebrais que se atraem e se
confrontam com os mesmos problemas. A tensão vai aumentando e os
ondas chocam-se cada vez mais até que a situação fíca insuportável
provocando mortes, brigas, conflitos, tumultos." (Texto 04-214)
domínio de saber ao qual está ligada a metáfora e5colhida. Buscando dar uma
escrevente parece pretender f111ar seu enunciado ao saber formal sobre os efeitos
torna-se um movimento de "ondas" que "se atraem", porém que também "se
temático a e!a ligado têm claramente a ver com o aprendizado formal de Física.
297
interlocutor. Evidencia-se, uma vez mais, a forte presença do interlocutor
que, em outros pontos do texto, ele mesmo pode atribuir à gênese da escrita -,
298
evidenciando a distância relativa do escrevente, por um lado, e do que ele
atribuição ao próprio interlocutor que ele representa em seu texto. Nesse sentido,
podemos dizer que, do ponto de vista do vestibulando, o crédito que ele atribui
representado,
"... a tele visão é o pdncipal veneno a que todos ingerem" (Texto O1-ü 15)
preposição "a" para a expressão "prática ao aborto", suo .expectàtiva 'POde ter
para si mesmo. Este último - contra o que indicam suas próprias expectativas -
299
evidencia-se como sendo o lugar do erro {talvez das estratégias que ele atribui à
que tem notícia pela escolarização da língua e que ele representa como as do
código institucionalizado).
deveria estar ligado ·ao uso pronominal do verbo "sobrepor", também omitido no
exemplo. A forma desejada parece ter sido, portanto, "que se sobrepõem a ela".
usar um verbo do qual não tem domínio ativo e ao combinar esse uso com o
que imagina ser a sintaxe da escrita culta formal. Talvez por localizar na
próclise119.
300
É o coso da flexão inadequada do nome no exemplo abaixo:
nominal:
vagam famintos e agressivos." (cf., aqui mesmo, p. 118). Podemos dizer que a
expressão "cheio de gente" cabe bem num registro informal da fala popUlar. O
gente". Com esse procedimento -embora mais uma vez contra o que indicam
suas próprias expectativas- fica evidenciado que o lugar que o escrevente atribui
a si mesmo é o !ugar do erro (novamente o lugar das estratégias que ele atribui à
to.Ja popular informal) e que, a partir desse lugar, procura alcançar o lugar da
301
correção (no caso, o do modelo que a própria coletânea representa para ele).
escrevente.
. tempo verba!:
constatar que "nada tem sido feito até hoje" no que tange à conscientização
parece ter sido, portanto, indicar um estado que: se produziu em algum momento
do passado: "Com jovens tão donos de si, agindo desta forma [atualmente], o
expressão "desta forma" . Parece Ser essa referência à enunciação que leva o
situação passada.
302
E importante destacar, porém, que o escrevente busca, então, dissipar
essa possível ambigüidade não pela representação que poderia fazer da gênese
assumiria que uma certa prosódia ficaria plasmada no escrito- mas, ao contrário,
por meio de um recurso que ele atribui à escdtd culta formal: "éom jovens tão
donos de si, agindo desta forma, o passado sem dúvida fora bem melhor".
• • •
Procuramos abordar, até este ponto, as marcas sintáticas que indiciam o
vários textos.
303
fatores condicionantes do aparecimento de certos tipos de estruturas sintáticas,
que o escrevente toma, pelo mediação da escdta culta formal que atribuí ao
de um esquema textual (cf., aqui mesmo, p. 124), seja {b) pelo alçamento a uma
para o próprio escrevente em relação à linguagem, fato que se verifica pela sua
circulação também por outros pontos da imagem que faz da escrita, revelando,
já escrito/lido.
304
Marcas lexicais da representação do escrevente sobre a (sua) escrita
como código institucionalizado
DO TEXTO
305
Nos dois casos, a integração ao texto das escolhas lexicals (do adjetivo, no
escrevente. ~ pois, sua relação com a linguagem que está contando. Esse indício
as palavras pelas quais imagina transitar o diálogo que busca com seu
escrevente parece contar com a história que "ocupa'~ as palavras [cf. Authier-
ocorre no texto que, dentre os de nosso corpus, recebeu nota máxima nessa
306
Aulete, mas o Aurélio registra que a palavra "antípoda", em português, pode ser
saber letrado especifico paro esse texto. Essa escolha é, pois, em qualquer das
Vale observar, num parêntese, que a seleção dos exemplos citados neste
a representação que ele faz da escrita, ou seja, com algo que, localizado em
escritas particulares, não pode ser visto como uma extravagâncla individual, mas
interpretação;
122O Aurélio traz como sentido próprio: "5. m. !. Habitante que. em relação o outro do globo,
se encontro em lugar diametralmente oposto; antíctone." /Us. quase só no p/. ...}. Uma outra
acepção é a utilizada em Botânica, em que o substantivo feminino mantém o traço çle
"oposto" . Como vimos no exemplo analisado, essa escolha nõo só se filio a um campo de
saber específico, como busca sustentar o texto por meio da autoridade do especialista.
307
''... o governo envolveu a população de tal forma, que em plena
ditadura, !Qdo o povo saiu as ruas comemorando uma vitória e
deixando de lado as faucatrvas governamentais.
':4s manifestações populacionais deveriam ser combatidas
através de melhores condições de vida ... " {Texto 01-003}
feita, como mostra a seqüência acima citada, a opção está ligada a um dos
Além disso, aplicam tranqi);fizante nos surfistas que freqüentemente piram com a
olçamento do escrevente.
308
Finalmente, no terceiro desses exemplos, temos uma escolha enviesado
• • •
Foram trotados neste tópico dois tipos básicos de escolha !exical: o da
ao próprio registro tomado como modelo - para marcar seu domínio do que
309
projeta como o esperado por seu interlocutor. explica também o segundo caso
(l) a das marcas do caráter estritamente gráfico do texto escrito: (2) a das marcas
REGULARIDADES %
310
No que se refere à regularidade que têm a ver com o caráter gráfico do
"Violência nas tnbos urbanas. Deve-se pnineiro definir o que sôo tnbos
e qual as suas funções no contexto urbano moderno." (Texto 03-1 72)
sua utilização revela que o escrevente tem mah contato com certos gêneros
Diferentemente do pós-escrito, que -mais freqüente nas cartas- não tem a ver
com o assunto principal desenvolvido ou que tem a ver com ele, mas deve, por
311
alguma razão, permanecer isolado; a nofa de rodapé, embora separada do
uso desse recurso denota que o escrevente não só sentiu necessidade de dar um
mostrar seu domínio sobre esse recurso tipicamente gráfico. O próprio uso desse
'aP~nas a projetar-se para a posição do interlocutor, mas, mais do que isso, busca
que atribui a este último. Ao mesmo tempo em que se evidencia uma busca de
busca fazer referência. No exemplo dado, o escrevente traz para seu texto a
tenha feito destacar, de seu campo de conhecímento, uma voz que sustentasse
grupo de rock está inteiramente avalizado pela coletânea de textos, que está
repleta desse tipo de fonte. Vale destacar que a própria coletânea pode ser
312
fonte para a escolha de epígrafes. Este fato acontece, por exemplo, numa quase
"ViCtO inconciente
"'.. parece ser impossível não ter que usar a violência quando se quer
liqüidá-la... '
"Esse penOdo mostra bem a situação que vi~emos." {... ) "
(Texto 03-173)
tema. Há, pois, para ele. um modelo exterior que lhe pode auxiliar nessa tarefa.
gráfico do texto, é preciso lembrar que esse é também um recurso muito presente
313
prestigiados. Como vemos, o fato de se evidenciar a referência ao espaço
gráfico pode ser também indício de a Içamento, por parte do escrevente, ao que
toda a produção escrita. Sabe lidar com o espaço gráfico quem tem algum
domínio da leitura do texto graficamente registrado. Lidar com ele, como ficou
dito, é também lidar com os sentidos que se distribuem e ocupam esse espaço.
124 Conferir, sobre o assunto, a posição de Marcuschl (1994 a) e aqui mesmo, p. 40.
314
temos em vista, neste momento, a relação da escrita com a situação imediata.
315
funcionam como delimitadores, Começaremos pelas marcas que explicitam o
ou
"Deus cdou o homem e o homem cdou o violência e esta só
vai acabar quando o homem se for, esta é a conclusão que
chegamos." (Texto OH! lO)
{ou pelo menos um deles) poderia ser visto simplesmente como um mecanismo
316
de edição explícita, por meio do qual o sujeito iria revelando os passos do
um modelo. Vale observar que os exemplos citados a este respeito têm íntima
3!7
epistêmicos que "estabelecem os limites dentro dos quais se deve encarar o
delimitadores deve-se, porém, ao critério que adotamos para a busca, nos textos
exemplos:
propondo, portanto, os termos do diálogo. Embora Chafe (1985) lembre que "a
llngua falado faz uso freqüente"desses delimitadores (op. cit., p. 121) e ainda que
saliência de_ certos delimitadores nos textos dos vestibulandos parece ser fruto de
diz o próprio Chafe, "a 1/ngua escrita {... ) mostra mais consciência de que a
verdade não é categórico, mas uma questão de grau" (idem, ib.). No exemplo
evitar as afirmações categóricos, buscando. por três vezes seguidas. tomar uma
318
certa distância em relação ao que afirmava. Esse distanciamento não se
envolvê-lo com modalizoções fortemente afetivas (como: "passar fome nem pró
..·
cachonv'J já tratadas aqui como expressões formulaicas12S:
código institucionalizado.
• • •
Foram destacadas neste tópico três regularidades lingüísticas que
caráter estritamente gráfico do texto escrito; {2) os que indicam uma tendência à
seu domínio sobre o código escrito no que se refere à exploração de seu caráter
319
no terceiro tipo, o escrevente procura estabelecer o diálogo com seu interlocutor
desenvolver o fema. Esta negociação não deixa de ser também um diálogo com
320
recursos mais específicos que acreditamos pertinentes à caracterização da
conteúdo.
• polifonia" ou "de monotonia': Como ficou difo12a, o caráter dia lógico dO.têxto é
porque resultam do embote de muitos vozes sociais" {op. clt., p. 6). O tipo de
efeito produzido por esse embate pode ser, porém, o da polifonia - "quando
o diálogo é mascarado e uma voz, apenas, faz-se ouvir" {idem, ib.}. Os recursos
321
mgumentativos: que vamos comentar caracterizam-se, portanto, por
dimensão argumentativa:
REGULARIDADE
m Esse efeito de polifonia também poderia ser descrito a partir da teoria pollfônico da
enunciação de Oucrot {1987) em termos dos conceitos de locutor (L) e de enunciodor (E).
322
"Dentre os mumeras faces da violência, uma tem deixado
perplexas mtlhares de pessoas... (... )
"Argumentam alguns que isso se deve a fatores SOCIOIS, à
condição de miséria e fome a que são submetidos os menos
prívtlegiados. Por outro todo, tem-se constatado o presença cada vez
maior de elementos dos classes mais abastadas nessas bdgas - o que
evklencía que podem haver outros motivos paro tais confrontos."
(Texto 04-201)
que podem ter essas marcas. Após reconhecer a existência de "várias faces da
um lado, como "argumentam alguns ... " e explicito, por meio da própria
expressão, o "outro lado", no qual- mais uma vez sinaliza o escrevente- "tem-se
constatado ... " . Ao final, conclui, a partir dessa contraposição, com um outro
dizer que é raro que essa consistência seja integralmente mantida. No entanto,
323
mos o descompasso entre o que o escrevente teria efetivamente a dizer (nem
de escrito que atribui à instituição que o avalia. Dito de outro modo, esse
e a do interlocutor que, para esse mesmo fim, ele representa em seu texto, que se
previsível ou estereotipado {e que, por isso, vem para o texto por melo de um
simples jogo mnemotécnico) e o que deve ser construído pelo escrevente (e que,
324
Vemos, nessa seqüência, a relação de causa e efeito marcada por "como
Por fim, a forma mais marcada de todas "a partir do momento que"
expressão "a partir do momento que a violência ressurge", mas sofre do que
representa como sendo seu pode determinar seu desempenho. No caso acima,
lJo Conferir Scarpa (1995) e aqui mesmo {p. 194. Nota 79. e p. 266, Nota 108).
325
a forma estereotipada - atribuída ao outro - é um momento em que a
citado.
Para encerrar 'este tópico, será citado o caso, único (mas não menos
326
parece, portanto, ter sido apenas a sensibilidade quanto à forço de um
argumento como esse o ter levado o escrevente a jogar com ele. Foi. preferimos
tipo de argumerifo. Desse modo, pod.ení;s observar uma vez mais os vozes que
da autoridade legitimadora permite que uma outra voz se taça ouvir, a saber, a
escrita.
• • •
327
freqüente, nesse tipo de decalque, que o escrevente não permaneça
328
representações, efeitos polifônicos específicos (que resultam, em geral, num
REGULARIDADE LINGÜÍSTICA %
.
Ao contrário do que acontece quando da circulação do ~screvente pela
'
imagem que faz da gênese da (sua) escrita, neste caso, a regulandade que se
perceber o não necessária identificação entre som e letra, mas atualiza essa
329
a tendência apresentada no primeiro eixo analisado. Observemos, no caso
que Silva /1991} descreve como "uma convivência entre a percepção da escrita
para a criança" (op. cit., p. 75). Ainda baseados em Silva, podemos dizer que
fatos como esse. mostram ·como podem ficar preservadas as marcas do contato
enunciado escrito.
JJJ No sentido dado por Silva (cL aqui mesmo, p. 218. noto 91 }.
330
segmentação do escrevente. Vachek {1989 (l987d)], ao criticar o caráter purista
moderno, o <h> é "um sinal diacrítico que informo o leitor sobre o implementação
cit, p. 145). Como sabemos, o!ém desse uso no interior Po. vocábulo, um outro
essa tradição que está sendo buscada nesse caso especial de hipo-
• • •
O estudo da reguladdade que congrega as marcas ortográficas da
analisado, mas que, como vimos, se faz presente também quando o escrevente
331
significa apenas seguir a representação que o escrevente faz desse modelo,
.
produzindo, assim, um modo heterogêneo de constituiçôo da escrita.
• • •
Considerações finais
Neste capítulo, estudamos o segundo dos três modos pelos quais a escrita
observarmos esse retcção, cabe destacar que esse segundo eixo é norma! mente
marcas da flutuação do escrevente em sua relação com esses modelos, fato que
.. · ..
nos. tem permitido apreender a relação que o escrevente mantém com a
332
Como parece ter ficado claro, são variações na representação que o escrevente
que ele estabelece com a linguagem. Não bastasse esse fato, vale lembrar que
íntegração e a do distanciamento.
333
código escrito institucionalizado que orienta as formas de integração presentes na
escrevente.
334
que o escrevente prevê por meto de processos interiores de antecipar ~ sem
sentido daquilo q\Je "!re"' depositou e q"Ve, uma vez instq!ado, nele permanece em
que separa a escdto do falo". Segundo a autora, por não saber onde estão
335
provocar. Não se trota, pois, naturalmente, de uma representação unívoco e de
-
uma expectativa única, mas do jogo entre representações e expectativas que
...
organização do texto e nos recursos orgumentativos. Pudemos verificar, ainda,
técnico" (op. cit., p. 180). Por outro lado, como ficou dito, a consideração do
"
papel do sujeito está intimamente ligada à consideração metodológica do
caráter local - e dialógico - dos dados lingüísticos, uma vez que só faz sentido
336
sujeito. Esses pontos de J!7dividuação permitem observar o modo heterogêneo de
' ' .
No capítulo seguinte, será tratado o terceiro tipo de circulação dialógica
337
CapítuloS
fato de que a circulação pela imagem que o escrevente foz da (suo) escrita se
338
caracteriza como uma extensão da necessária dialogia estabelecida com outros
o sujeito e seu discurso se constituem pela relação com outros sujeitos e discursos,
modo particular,
Uma tal consideração está, pois, intimamente ligada a uma visão "do discurJo
ta! concepção que são buscadas- no diálogo que o escrevente mantém com o
133 Esse foto pode ser exemplicodo tambêm do ponto de vista do história do aparecimento
da escrito e de sua relação com o "tradição oral". Hovelock (1996), ao defender que "a
verdadeiro pai da hi'sfónO não foi' um 'escritor' como Heródoto, mas o própdo alfabeto", liga
a historiografia de Heródoto e de Tucídides, mostrando que a "concepção da história como
gesta militar e heróica" desses pioneiros "foi herdado de Homero': primeira transcrição
alfabética a produzir~se. Hovelock destaco os estilos característicos de um e de outro:
Heródoto (cerca de 480 a.C.} "mais próximo da forma de composição oral" - segundo o
autor, "por trás da prosa de Heródofo, de sua descrição do conflito épico entre gregos e
persas no continente, ouve~se os hexômetros épicos, tal como eram recitados (quer
dizer, ele os estava a recordar)"-; Tucídides {471 a.C.) "mais próximo (e quiçá consciente
dessa proximidade}, da formo letrada"~ ern quem, segundo Hovelock, "vemos um leitor de
Homero numa perquirição cuidadosa de pormenores, a fim de com'gi-lo". Conclui. então,
que esse fato é decorrente "de suas posições relativos no transição cultural" que o autor
caracteriza "como a revolução do escn"-ta'; ou seja, de "sua posição infermedión"a num ponto
de transição da cambiante tecnologia da comunicação" (op. cit., p. 30~32). Interessa
destacar dessas observações o foto de que, apesar de Havelock dar um grande peso à
tecnologia do sistema alfabético ("o verdadeiro pai da Nstón'a'), a escrita não se mostra
como um dado absoluto, uma vez que o uso que se pode fazei- dela é sempre função de
uma posição relativa quanto ao jâ falado/ouvido e o já escrito/lido.
339
que representa como sua exterioridade - as pistas134 destacadas pela
com alto domínio técnico que fazem uma relação direta: escrita ----t mundo) e
escrita ----t fa!ado ~ mundo}. É certo que esses autores, ao fazerem ta! hipótese,
"bons motívos paro supor que a representação de escríta que o individuo já traz
para a escola sej'a mais complexa, por mais limitado que tenha sido o seu contato
com a escnlo e seus usos ,,ss. Vale lembrar, no que toca às opções teóricas de
340
nosso trabalhol36, que não reconhecemos nenhuma dessas duas opções como
escrevente pode localizá-la mais como uma relação com o processo do vivido
lembrando Bakhtin {1979}, podemos dizer que, na relação com esses dois
semiótico (op, cit., p. 98). Mas lembra ainda o mesmo autor que "o centro
Desse modo, a expressão escrita, que é o assunto que interessa a este trabalho,
341
individuas socialmente organizados e, mesmo que não haja um interlocutor real,
este pode ser substituído pelo representante médio do grvpo social ao qual
localizar sua escrita mais como uma relação com o processo do vivido {o
falado}. de acordo com o papel que atribui a seu ínter!ocutor. É preciso recorrer
ainda uma vez a Bakhtin para que possamos compreender esse papel do
flutuante entre esses dois processos. Segundo Bakhtin, "o mundo interior e a
apreciações, etc.". Mas ressa1va: "quanto mais acu/turodo for o indivíduo, mais o
criação ideológica" (este último, responsável pelo que se tem chamado, neste
com o falado).
342
trabalho. Evitando a concepção do escrito como produto de uma representação
inaugural - isto é, reconhecimento de que esse ato faz parte de uma prática
várias formas pelas quais o escrevente aproveita a coletânea têm a ver também
com o modo pelo qual ele procura enquadrar o material dado para leitura no
343
pressuposição de que o leitor conhece os textos da coletânea são muito comuns
que buscam atender o esse jogo de expectativas, mais até do que aquelas que
réplica do diálogo, ao qual estão referidas todas as marcas até aqui detectadas
l37 Essa clrcu!açõo tem paralelo nas mudanças de "modos de falar" durante um "evento
lingüístico". Segundo Berruto, um dos crítérios paro segmentação de um "evento lingü/stico"
nos "atos lingülsficos" que o compõem consiste em operar a segmentação quando advém -
no interior dos segmentos individuados pela tomada de palavra (intervenções sucessivas dos
interlocutores) -, uma mudança significativa: do variedade de língua empregada pelo
falante, de temo do discurso, de destinatário (quando foz seu discurso voltar-se para alguém
que não é o seu ouvinte) ou do própria situação comunicativa !op. cit.. p. 90).
344
No que diz respeito ao eixo da dialogia com o já falado/escrito, esse
língua, para os leitores, para o próprio texto, para um registro discursivo e para o
essas referências servirão como ponto de partida paro que implicações teóricas
falado/escrito.
345
de estruturas típicos da escrito, de modelos escritos'138 poderia ser vista como
346
autonomia. Parece claro que o que é "interferente" está fora do que seria o
que seria uma convenção fixa para ela. Em ambos os casos, portanto, a
com o já falado/escrito que tem a ver diretamente com o modo como estamos
definindo a escrita neste trabalho e, portanto, que tem a ver ainda com sua·
347
contato {ou se se preferir, fronteiras entre eles) e o de ser ele mesmo um pólo de
circulação.
localizar esse eixo como sendo ele mesmo um pólo de circulação díalógica.
anallsados), como de casos (muito mais raros nesses textos) em que as remissões
escrita e o grau de negociação com o que representa como sendo o seu exterior
revela nitidamente sua relação não só com a leitura de textos de natureza vária,
quanto a não considerarmos sua atuação isolada como reccbridoro dos demais
eixos. Do mesmo modo que se mostrou ser útil a distinção dos dois outros eixos
permite localizar uma outra posição discutível, mos muito corrente, sobre a
348
Seria recomendável, ao contrário, começar o questionamento dessa
unívocos entre som e letra, mas talvez fosse recomendável também questionar
e falta de leitura podem, pois, ao invés de categorias de análise, ser vistos como
1979, p. 38).
349
estudos que tomam como objeto a materialização lingüística desse princípio da
da linguagem, fato que leva Stam ( 1992) a constatar naquele autor a preferência
"oito van'edades discursivas de base do Português do Brasil': Como foi visto, ao-
propor essas variedades, o autor recorre a uma certa noção de língua que ele
portuguesa" (op. cit., p 27). Ao mesmo tempo- e esta consideração é a que mais
discursivas de base só se sustenta por meio de fronteiras fluidas e pelo seu caráter
de coexistência (não só entre si, mas também em relação a uma extensa série de
350
como "vago e parcial" pelo próprio autor. Trata-se da unicidade embutida nessa
menos definidas no interior da língua. Dito de outro modo, para não ficarmos na
língua portuguesa é feita por Castilho (1988). Segundo esse autor, com a
351
do português" {op. cit., p. 57). Diante da insensibilidade para essas mudanças de
Castilho, "a di'spaddade lingüíStico entre a classe baixo e o classe média e alta
ib.). Por fim, e é o que se deseja sobretudo destacar aqui o autor específica o
lingüística que se enraíza nos anos 20 e 30, lembram a abordagem dos camadas
352
como Jakobson, utilizam ''paro caroctenZor siStemas que coexistem no mesma
comumdade" {op. cit., p. 160). Lembram os autores que Jakobson declarou que
opproach") foi desenvolvida por Fries e Pike nos Estados Unidos e que, nos anos
uma descrição n"gorosa dos condições que governam o oltemâncío dos dois
sistemas [caso de dois dialetos regionais, por exemplo] {idem, p. 162} ': Dos
1 1
~ Cadiot (1989) cita Gumperz como um dos lingüistas que, ao tratar do code-swftching,
rompeu com a "lingüística estruturalista do contato" e construiu seu objeto opondo-o ao
dessa lingüística: " assim JJ.Gumperz disf{ngue o code-switching conversacional do code-
swifching que ele chama de sifuacional: no sifuacional, a a!temáncia é regulada pelos tipos
de atividade, meio social dos falantes... No conversaciona!, ao contrádo, a a/temância não é
nem regida nem regulada pela sociedade ou organização social; (... ) o allemôncia, apenas
suscetível de aflorar 6 consciência, é simplesmente uma das formas concretas das trocas
verbais, um regime - um modo - do falo" (op. cit., p. 1 44).
353
comunidade de falo; o dom!nio nativo da
linguagem_ inclui o controle de tais estruturas
heterogêneos:
central.
observação de Vermes e Boutet {1989): "os !inguos não são{ ... ) somente objetos
354
lingüísticos e a tenitórios distintos." (op. cit., p. 9). Nesse contexto de reflexão, as
organização social).
milênio de nossa era" a instauração da idéia de que, "ao lodo dos línguas de
355
necessóda à constituição de fronteiras" (idem, p. 20}. Desse modo, Oecrosse
autora termina por mostrar como uma política lingüística nacional estabelecida
na França no século XIV terminou por levar o francês "a um lugar cada vez mais
centrar: ao ponto de, no século XV!I, o "poder real" atingir "o ideal monolíngue ·:
(idem, p. 27).
Por sua vez, Achord {1989}, ao afirmar que o ideal monolíngue não é
óbvio, uma vez que "muitos impérios existiram e se perpetuaram sem querer impor
o seus súditos o uso de uma !Jí?gua portlcular" {op. cit., p. 32), mostra que "o
no espaço do pol/fico, tal como é atualmente estruturado" (idem, ib.). Por fim,
conclui: "para ser legitimo, o particular deve proceder do gera! não o contrário"
142 Berruto, atento à variação dialeto! no !tótio, defende que a manutenção, em uma
comunidade, de grupos cultura! e !1ngüisticamente diversos, que desenvolvem valores e
conteúdos próprios, é freqüentemente a único garantio de que se realize naquela
comunidade "uma 'verdadeiro' comunicação e um real progresso sociocultural" {op, clt., p.
102).
356
(idem, ib.). Vemos, pois, a promoção da língua a um "cdfério de tdentidade';
na escola, 1/ngua regional ou dialeto em caso"), Cadiot (1989) afirma que "uma
357
que e!e próprio chama "heterogeneídade constitutiva da língua': mas também
que orienta o recorte dos pistas lingüísticos feito na análise aqui empreendida
'
tem correspondente no que o autor chama de "controle por ajustamento'; que,
na linguagem: "os relações diológicas (... ) são um fenômeno quase universal, que
358
quer se trate de um ato de fala determinado pelo
sítuoção imediata ou pelo contexto mais amplo que
consi!Jui o conjunto das condições de vida de uma
determinado comunidade lingüística" (op. dt., p. 107,
destaque no original).
que "o enunciado está voltado não só paro o seu objeto, mos também para o
discurso do outro acerco desse objeto" (op. cit., p. 320). E completa: "o mais leve
! 1991) afirma que a criança, paro resolver os diversos problemas que o escn"to lhe
..
apresenta, ''se utilizo de cdtén'os próprios que lhe porece'm móis adequados para
cit., p. 15).
linguagem, relação que aparece sempre mediada por um outro. É o que afirma
359
presente ou representado [um] ponto de referência necessódo para esse sujeito
visa dar conta, como adiantamos1 4 3, das regu!an'dades lingüísticas que marcam
etc.
A opção teóríca que essa consideração implica tem a ver, portanto, com
{1979) afirma:
360
articulação, o discurso inferior, a mímico, o reação aos
est/mu/os exteriores (por exemplo, o luz} (... ) tudo que
ocorre no organismo pode tomar-se matelial paro a
expressão da atividade psíquica, posto que tudo pode
adquirir um valor semióh"co, tudo pode tomar-se
expressívo"(op. cit., p. 38, destaque no on'ginal).
exteriorl 44: "não existe atividade mental sem expressão semiótica" {idem, p. 98).
autores aqui citados, RossHandi diz que "muitas vezes {... ) não se percebe que
comunicação verbal.
impressão gráfica são fatores (entre outros) que, já discutidos aquJ146, marcam a
(1991):
144 É interessante observar também que, segundo Brait {1994) -retomando a análise de
Bokhtin sobre o discurso verbal flagrado num momento de conversação cotidiano - "a
situação extroverbal não é meramente a causa mecânico do enunciado, mas se integro ao
enunciado como uma parte const/tutivo essencial à esfmturo de sua significação': E a autora
continua: "poro Bokhtin o enunciado concreto, como um todo significativo, compreende
duas portes: o parte percebido e realízocio em palavras e a parte presumida" (op. cit.. p. 19-
20).
H~ Conferir, aqui mesmo. p. 55-63.
146 Conferir, aqui mesmo, p. 63-69.
361
"Quando um fato singular é tomado como hipótese
exp/onatória de outro fato singular, o primeiro
funciona (em um dado universo textual} como o lei
geral que explica o segundo, {... ) Atualmente, um
médico busca tanto leis gerais quanto causas
específicos e idiossincróficas, e um historiador frobalho
para identificar tanto leis hlstódcas quanto causas
particulares de eventos particulares.{ ...) histonOdores e
médicos estão conjecturando acerca da quo!Jdade
textual de uma série de elementos aparentemente
desconexos. Eles estão operando um reductio ad
unum de uma pluralidade" {op. cit. p. 227, destaque
no original).
Por certo, o ensino de língua matemo ganharia muito com ele. É possível que
inaptidão do escrevente.
produto textual final e sob rótulos que os classificam apenas em relação a certas
362
Seria recomendável substituir o preconceito em gera! apegado à
discursiva'1 4 1 dessa escrita. Essa nova atitude consiste apenas em fazer valer para
que permite o movimento entre os três eixos, marcando fronteiras entre eles,
. . e o
escrita.
363
outros interlocutores, outros registros discursivos, outras modalidades de sentido,
texto.
seja, não· se analísará texto por texto, mas buscaremos exemplificar os pontos de
Pretendemos ainda mostrar, por meio das pistas locais deixadas pelo
Vale ressaltar que nosso objetivo é captar, nos "'ários textos, pístds comuns
364
explicativo a respeito desse tipo de circulação dia lógica. A exemplo do que foi
O modo pelo qual escolhemos lidar com essa leitura é o da captação das
365
atribui ao interlocutor, uma leitura pouco convincente, uma percepção de que
simulação de um outro; {c) remissão, por meio de discurso direto, a autor citado
texto do escrevente.
1 I como lentotivo ao
* Conferir sobre a relevância das marcas não ser dada por sua freqüência, aqui mesmo,
capítulo 3, quadro 2, p. 198.
366
A primeira forma de emergência de outro enunciador consiste na
Como vemos, não há, nesse exemplo, uma remissão explícita, marcada, a
esperado pela instituição: sensível aos problemas sociais e pronto a assumir sua
367.
Essa é uma forma de ironia por meio da qual um outro enunciador (o
desejado pela instituição, mais uma vez indici_(J.Ildo sua circulação pelo que
•
imagina como o código escrito insfituciona!izado. Um exemplo semelhante é o
seguinte:
'~
chave para a paz esta cada dia menor para entrar na
enorme fechadura que separa os 'índios de esquinas' dos
'moderninhos de sanfona 2.CKXJ"' {Texto O1-055}.
de uma atribuição negativa, fato que parece ser um outro aspecto que está
interlocutor representado.
368
Essa tentativa de alçamento fica ainda mais clara quando o escrevente
marcar uma especificação de sentido por meio da simulação de uma outra voz,
posições sucessivas que o escrevente testa poro seu interlocutor. O texto bíblico,
Portanto. embora não se possa dizer que a citação do texto bíblico seja produto
369
discussão do tema para o domínio do discurso religioso. cujo tipo de
Outro exemplo de discurso direto, desta feita com atribuição explícita, mas
imperfeita, é o seguinte:
religiosa, mas para o qve o escrevente lmagína ser a voz de uma autoridade
intelectual, sobre cujo respaldo procura se alçar para onde supõe estar seu
aqueles o que você está exposto na sua vida diária de leitor de jOmais, revistas ou
livros, e que você deve saber ler e comentar". Fica patente, portanto, a tentativa
370
A quarta forma de emergência de outro enunciador consiste na indecisão
"O maior problema é dos pessoas que não têm uma vida
digna, quanto maiores as preocupações e problemas, como por
exemplo: 'o que dar de comer a sua famt7ia', maior o seu desânimo
com o vida e rebeldia com todO[, se tornando cada vez mais
agressivo" (Texto O1-021 ) .
terceiro pessoa, o uso de dois pontos como introdutor não de uma fala, mas de
que a seqüência aparece) e de um discurso indireto livre (efeito çosual, mas que
dizer, com quase absoluta segurança, que o escrevente usa uma pontuação que
estava servindo para introduzir um exemplo (usa dois pontos} para, em seguida,
que se resolve pelo uso também das aspas. Essa indecisão em relação à estrutura
que ... 'j revela que a alusão ao outro enuncia dor vem marcada também pela
que, como vimos. indicio a imagem que o escrevente faz da gênese da {sua)
escrita.
371
"Como o povo diz.. 'O exemplo vem de cima'. Mos o que vêm
de cima sõc: policiais mofando a torto e a direito, são deputados
brigando... "(Texto 03-127).
redundo na atividade reprodutiva" {op. cit., p. 85). E continua: "a fonte dessa
Portanto, não podemos dizer, nesse caso, que é o peso da instituição que está
contando para essa escolha. Parece, ao contrário, ser o peso das trocas
Poder-se-ia alegar que mesmo a escnfa cu/la freqüentemente se utiliza desse tipo
falando nessa escrita. São muito freqüentes essas ocorrências, mas é importante
"O livro de 'Genesis ', em seu capítulo seis, conta-nos que o Senhor
todo-Poderoso prvmetera não mais destro/r o homem, porque 'a
imaginação' deste 'é má desde a sua meninice'. Siin o Deus
372
onisciente sabia que o maldade é infn'nseca à roça humano, sabia
que o homem já nasce com um germe de perversidade dentro de si.
'A Lei MosaiCa, sabidamente um código penal escrito por
Moisés sob inspiração divina, procurava coibir a violência com severas
penas,.." (Texto 03-138)
fato de o escrevente estar procurando dar o seu dizer um tom analítico {"não
373
podemos isentar esta de qualquer culpo, mos há de se analisar que... " ),
' ..
Procuramos observar, quanto à primeira regularidade atinente às remissões
importante destacar que não se pretende aqui recair na critica fácil da fa!ta de
374
que evidencia o processo em que estão na sua relação dialógica com o já
pertinência da relação que ele está propondo, bem col"tlo o grau desejável de
ao mesmo tempo, o território de seu próprio dizer e o valor relativo a ele atribuído
por parte do interlocutor são fatores que não aparecem todos de uma só vez no
processo de escrita. Eles têm a ver com a discrepância entre dispor de um saber
por meio do que foi lido/ouvido e ainda não dispor de seu domínio ativo no
que representa como o gênese da escrita, ora vinculando-a ao que toma como
sentido': uma "outra palavra': uma "outra língua': propostos por Authier-Revuz
{1990, p. 30). Essa simplificação mantém, porém- a exemplo do que faz a própria
375
autora -, a preocupação em observar o modo como - nas palavras de Barthes
{s.d.)- "a li'ngua aflui no discurso" e "o discurso reflui na língua': uma vez que
território de seu discurso, tomando-so como o espaço comum que divide com o
interlocutor, modo pe!o quo! acredita alçar-se ao que toma como código escrito
376
"Grandes empresónOs são os alvos pretendas de gente (se
assim podemos chamar) que quer trocar vida por dinheiro. Os
sequestradores estão sempre bem equipados... "(Texto 00-014)
Nos dois casos, os escreventes procuram ler o modo pelo qual as palavras
urbana"= "grupo isolado") como forma de opor o que sociedade faz (lugar da
377
A saliência dada à palavra "segurança" indica que o escrevente busca
interlocutor.
polissem ia:
serve para recusar a palavra "tribo" e propor uma leitura para a palavra "grupo".
Assim procedendo, contorna um dos efeitos de sentido com o qual a maioria dos
378
entre o representação que o escrevente atribui à instituição e aquela que ele se
adequação à instituição é tão nítida que fica difícil não pensar numa auto-
dos chamadas Ciências Sociais para que se detecte o grau de simetria proposto
Não fossem os critérios que utílizo para a correção dos textos, o agente
preciso estar atento para o fato de que essa representação ligada a uma área
heterogeneidade destacado:
outras línguas. A ilha gráficaJ52 que ele constrói com as aspas marca o
152 A expressão é de Vochek [!989 (1979). p. 46) ao referir-·se ao uso do itólico no texto
impresso. Conferlr também, aqui mesmo, p. 231.
379
escrevente reconhece outras línguas- fator considerado de prestígio por falantes
• • •
Não é preciso lembrar que esses tipos de remissão também registram tipos
* Conferir sobre a relevância das marcos não ser dada por sua freqüência. aqui mesmo,
capítulo 3, quadro 2, p. 198.
380
A ocorrência mais comum deste ponto de heterogeneidade mostrada,
381
Notamos que o escrevente aspeia a palavra "xenofobia" provavelmente
escrevente delimita, neste caso, tem a ver com a sua sensibilidade em relação
representar sua capacidade de leitura e seu domínio ativo do que toma como o
no seu processo de escrita. Mais uma vez, estamos diante de uma forma de
o já falado/escrito.
As referências ao leitor
382
mostrado em que o outro é o leitor, destacam-se a co!matagem do espaço
* Conferir sobre a relevância dos marcos não ser dada por suo freqüência, aqui mesmo.
capítulo 3, quadro 2. p. 198.
argumentativo do outro:
evidencia que o escrevente já mostra domínio sobre esse aspecto desse tipo de
delinear uma abordagem pessoal. Essa clara construção dialógica revela, por
383
em mostrar seu conhecimento sobre o modo de construção desse tipo de texto.
co!mafagem efetuada não atua como uma referência direta ao leitor concreto
que vai corrigir o texto. Mais sofisticado, esse recurso argumentativo faz parte,
lugares para o leitor, que, por sua vez, pode aceitar instanciá-los ou não.
outra que atribui ao interlocutor - toma por base a representação que faz do
384
menos duas leituras, sob a forma de lugares previstos para o leitor, se sobrepõem
colmafagem.
ou de outros tex~os, por parte do leitor. Trata-se de uma relação com a coletânea
dia lógica do escrevente pela imagem que ele faz da gênese da {sua) escrita:
coletânea dada na prova: "a letra dos Titãs"). O escrevente mostra-se, portanto,
A propósito, Vai {1991) afirma que, em certas situações, "o contexto e a imagem
153 O termo é de Beougrande e Dressler {apud VaL 1991) Baseada nesses autores. Vai
trabalho com dois tipos de fatores responsóvels pela textualtdade: os que tem a ver com o
motedal conceitual e lingüíStico do texto (coesão e coerência) e os. que sõo propriamente
fatores pragmáticos (intencionolidade. aceitabllidode, sítuaciona!idade, informatividade e
intedextualidade) envolvidos no processo sociocomunicotivo" (op. cit., p. 5 e segs.).
385
circunstância em que as lacunas causam problemas locais de textualidade
escrito institucionalizado, uma vez que esse tipo de recurso argumentativo pode
esÍ~r presente também em textos falados. Mais propriamente, podemos dizer que
representa o tipo de texto requisitado. Esse fato não significa, porém, que o
tipo de texto.
386
O segundo modo ma1s freqüente de integração do leitor como
textos trazidos por conta própria pelo escrevente. Neste caso, localizamos a
uma característica da escrita em geraL mos uma exigência do tipo de escrita sob
análise.
modos de referência aos textos da coletânea: {a) no título; (b) colagem- com ou
387
QUADRO 6: Porcentagem de ocorrência de aspectos particulares da
regularidade lingüística REMISSÕES À COLETÂNEA em relação ae>
total de ocorrências das outras regulandodes no conjunto dos
textos
* Conferir sobre a relevância das marcas não ser dada por sua freqüência, aqui mesmo,
capítulo 3, quadro 2, p. 198.
próprio tema proposto: "Violência nas tnbos urbanas modernos". Quando esse
ou da coletânea:
parte do tema e marca, desde o início, sua posição, assumida esta última a partir
Max Cava!ero, líder do grupo de rock Sepultura, em que o músico afirma que o
desta feito no leitura da coletânea, podem revelar com mais clareza o processo
388
leituras prévias e as condições históricas particulares determinantes dos
a partir do texto de René Girard: "'...parece ser imposslve/ não ter que usar a
vio/éncio quando se quer 1/quidó-Ja: .. ": O restante.do texto também mostro que
"vício", que a questão das "drogas", não tematizado por Girard, foi mobilizada
Esses títulos dôo uma idéia da leitura e d? modo pelo qual o escrevente se
consegue manter seu texto numa 11nha argumentativa muito clara. Isto é, a
imagem que foz de seu interlocutor por vezes flutua de acordo com o que lhe
parece mais saliente dos textos da coletânea, ocasião em que, por falta de uma
leitura que determine uma hierarquização mais clara de pontos de vista, fica
389
evidenciado um aspecto dialógico importante do modo heterogêneo de
constituição da escrita.
Nos dois casos, a referência é por colagem sem nenhum recurso gráfico
origem, um lugar-comum- atua para que ele venha para o texto como simples
que se situam esses dois escreventes parece, pois, pouco aberto à explicitação
390
um curioso efetfo de monofonia15 4 pelo empréstimo da palavra de outrem, fato
pois, que estar dito por escrito {e na coletânea) é o critério, que, para o
institucionalizado.
textos da coletânea.
temática. Por seu turno, o aproveitamento da coletânea- nesses casos, não indo
fragmentos da coletânea.
154 Conferir Barros (1994) e, aqui mesmo {p. 87. Nota 49).
155 Conferir de lemos ( 1988) e, aqui mesmo, p. 281.
391
aproveitamento nem sempre se dê a contento, mais importante do que esse fato
escrevente tende a m~no!ogi~ar as vozes que constituem seu discurso. Estar díto
um Outro presente na coletânea) o que, de fato, faz na fala, eis uma forma de
392
Uma outra utilização da coletânea se dá por tentativa de paráfrase,
enunciado que, nos textos analisados, se tornou quase um slogan: "violência gera
393
instituição. Desse modo, podemos dizer que o próprio tema da crítica social
desta feita em discurso direto, marcado por aspas. Após a citação, temos uma
vingança qve escon-e pelos poros do sistema socioí parece ser impossível não ter
que usar a violêncío quando se quer liqüidó-la e é exatamente por isso que ela é
interminável': Como vemos, o recorte feito pelo escrevente parece ter sido o que
ele melhor compreendeu do texto lido. Feita essa citação em discurso direto,
discrepância entre essas vozes, fato que permite flagrar o modo heterogêneo de
constituição da escrita.
394
Nos dois casos, uma vez mais, o texto objeto de citação e, no caso, de
autoridade.
• • •
Destacamos, neste item, os tipos de utilização da coletânea levados a
lugar, uma exigência do próprio vestibular. Temos, por essa razão, um momento
Rosemberg). Os demais foram· mencionados mais pela via da colagem, uma vez
dois, que era uma letra de música de Arnaldo Antunes; o de número três, que era
uma nota da edição especial da revista Top Metal Bond sobre o grupo Guns
395
N'Roses; e o de número quatro, que era a tradução de uma letra de música do
mesmo grupo.
crítico.
e-ria entre os empréstimos feitos à coletânea e o que represento como seu. Nesse
heterogeneidade vem registrada ora pela-s fontes orais (o já falado}, ora pelas
fontes escritas (o já escrito} trazidas e pe!o tipo de discurso (em geraL o científico)
casos que comentaremos a seguir já foram discutidos quanto a sua ligação com
396
Em termos da freqüência com que ocorrem essas remissões, retomamos,
REGULARIDADE
gráfico ou, ainda, pelas referências à situação específica de sua prática textuaL
397
texto. No segundo exemplo, refere-se a essa verlica!idade ("acima"} enquanto
parte, e!a própria, da natureza (escrita) de seu texto. Fato semelhante ocorre no
pelo próprio evento que a circunda, fato que evidencia o modo pelo qual ele se
rodopé1.% , presença que mestra também uma formo de dí61ogo com o que o
rnoterio! do te.x:to, indiqve tombém o diológo com modelos: qve tomo como
• • •
Considerações finais
eixos pe!os quais a escrita do vestibulando pode ser observada do ponto de vlsta
156 Conferir comentário ~Ob!e es$e texto, aqui mesmo (p. 306-7: p. 378-9 e p. 394-5).
398
tempo, por guardar a dimensão dia!ógica que permite o movimento entre os três
eixos - marcando fronteiras entre eles - e por ser ele mesmo um pólo de
circulação.
circulação dos escreventes pelos três eixos analisados. Eis, portanto, o quadro do
indiciativos da circulação do escrevente por esse eixo devem ser vistos como
marcas sirvam como simples argumento para denunciar a falta de leitura dos
que elas têm o ver com a exigência, feita pela instituição, de ad?quação ao
399
tema e de uso da coletânea, sob pena de anulação da prova. Mas, mesmo
se refere o avaliador.
escrevente por esse eixo são marcas do processo de leitura em que esse
concreta de ler livros e jornais, por exemplo. Significa sobretudo que, por meio
desses pontos de individuação, o sujeito negocia com o que marca como a sua
de como o escrevente lida com o que lê- no sentido mais amplo da palavra -,
letrado/escrito.
400
Nos capítulos 3 e 4, os pistas lingüísticas que indiciam a circulação do
escrevente pela imagem que ele faz do gênese da {sua) escrita e aquelas que
por dois pontos, por ironia, por discurso direto ou por simples colagem foram
apontam: para outro enundador, para a língua, para um registro discursivo, para
mais geral em que poderíamos reunir todas essas remissões, podemos. dizer que o
heterogeneidade, fato que, por estar ligado ao princípio dia lógico da linguagem,
torna mais clara a possibilidade de, em certas ocasiões, várias vozes se fazerem
escutar. Esses efeitos específicos de polifonia podem ser assim tratados, uma vez
que se dão no hiato entre uma voz representada como de fora e outra
estudando.
401
Vejamos, a propósito, como a propriedade da heterogeneidade, que
do escrevente pela imagem que ele faz da (sua) escrita, de seu interlocutor e de
primeiros eixos estudados. Se lá, essas propriedades têm mais a ver com o arranjo
do texto e das estrutufOs que o sustentam, aqui, têm o ver com o modo pelo qual
!eirado/escrito.
por esse eixo produz: determinação do território de seu próprio dizer em relação a
402
com a linguagem) ao delimitar espaços para outros discursos, outras
Todos esses efeitos podem estar ligados a mais de um dos três eixos de
403
CONCLUSÃO
foi a nossa principal meta. Não retomaremos aqui o longo percurso que fizemos.
Dito dessa forma, porém, pode-se ter uma falsa idéia sobre esses
404
mas apreendê-las pelas marcas que o sujeito assim constituído imprime em seu
texto.
representação do sujeito sobre a (sua) escrita. Além desse aspecto dia!ógico, que
são, portanto, modos pelos quais o escrevente representa a escrita: ora como
portanto, do falado {encontro com o que imagina ser sua gênese), ora
405
observação da relação sujeito/linguagem, mostraram que o modo heterogêneo
do escrevente pelo imaginário sobre a escrita, constatamos que elas são tão
pelo dado de ineditismo de que foda prática se potencializa, não está exposta,
falado/ouvido e escrito/lido).
406
especificamente, ao julgamento de seu texto segundo o critério pragmático de
primeiro lugar, para que não nos espantemos tanto com a heterogeneidade
presente nos vários textos com que nos deparamos cotidianamente. Se, por
407
analítico, de julgar este último fofo como uma interferência do falado no escrito,
uma vez que já não podemos pressupor uma ta! pureza do escrito em relação ao
falado.
legíiimo pode ser concebido, em seu gfau próprio, como produto do mesmo
conseqüências pedagógicas.
da língua não tem ido muito além de noções multo gerais sobre as variedades
lingüísticas. Tem sido enfatizado, com mais força para a escrita, o argumento
contato com a norma culta da língua. No entanto, a partír desse álibi, parece
que vivemos mesmo uma fase de recrudescimento normativo, seja nos manuais
da redação dos grandes jornais, seja nos programas educativos sobre língua
se refere à escrita.
408
Reintroduzir, no ensino de língua portuguesa, uma visão lingüística sobre a
que constitui a língua. Mas não apenas isso. Em termos da prática pedagógica,
tona práticas lingüísticas que, presentes no amplo espectro dos usos "da escrita,
não restando senão meia dúzia de regras a partir dos quais supostamente se
gêneros e para outras situações de uso da língua. Isso, naturalmente. sem contar
409
circulação burocrática pode ser vista como um aparente silenc1omento de uma
caracteriza por uma representação da escrita fixada apenas num dos três eixos
uma pista sobre a representação que o escrevente faz da escrita tanto no que
tange ao eixo excluído como no que tange aos eixos privilegiados. Além desse
zero não seria, por isso, necessariamente melhor ou pior que qualquer outro. É
pode ser a seguinte: há uma fala nessa escrita? Uma ta! pergunta pressupõe,
a toma como objeto pronto e acabado, foro dos sujeitos" {1996, p. 123}. No
410
presente trabalho, procuramos, por meio dessa perspectiva, evitar não só a
na escrita (fato que levaria a pressupor a pureza de cada uma dessas práticas),
Essas idéias, por sua vez, deram as pistas lingüísticos do divisão enunciativo do
dos vestibulandos.
formulação pouco clara, mos sugestiva, um texto escrito para ser falado. Esse '
novo tratamento do texto escrito, que inclui uma atenção especial às marcas do
processo de sua produção, pode ser útil também para as mais diversas áreas
411
tecnológicas que estão ocorrendo no campo da comunicação, caracterizadas
via INTERNET não deixam dúvidas quanto o fala que há naquela escrita estar
de constituição da escrita.
412
ABSTRACT
woy of writing organization. Taken the imaginary about .~riting which circu!ates
among society info account, the question approached is the one whích concerns
the image performance which the "writer" makes of the writing in the text
perception of severa! authors that there are texts produced ín the mean points
between the typica!ly considered peles of spoken and written !anguages and, on
from two bosic polnt of view discussion about writing: the autonomist view which
dea!s with the radical dichotomy betvveen spoken and written !anguage and the
view that makes this autonomy re!ative by proposing a continu'um between these
peles. The second step of it is the estab!ishment of a work methodo!ogy from the
"writer" through three axís of writing representation: the one of the image whích
the "writer" mokes of the genesis of his writing. the one thot the "writer" mokes of
instituted written code and the one o f the representation which the "writer" makes
of the writing in its {and in his) dialogy with what has been already spoken/written.
analyzing the texts; namely the due paradigm, taken as basis for investigations of
413
seporately each of the three axis for observotion, in o third step, the analysis of a
How this heterogeneous way of writing organization works shows the specific
feature {at the some time, general and particular) of the re!ation
"writer"/language, allowing the questioning of either the view which considers this
heterogeneous way as an interference of the oral into the written language or the
one whlch considers only the product of the reproduction of the instituted writing
models.
414
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