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Metodologia de Pesquisa, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra,

dezembro 2017

Cláudio Valério Oliveira (2012140835)

Repúblicas de Coimbra e as Lutas Estudantis -


do passado ao presente

INTRODUÇÃO
O presente trabalho pretende ser uma incursão inicial pela metodologia de
investigar em ciências sociais, com um plano de projeto que contemple as fases fulcrais
de apresentação da problemática ou pergunta de partida para depois prosseguir para a
proposição de hipóteses que respondam a esta mesma pergunta que serão estudadas
com exaustividade suficiente para, no final, alcançar uma justificação metodológica para
a tese/hipótese que se apresenta como a aparentemente mais válida.
O tema escolhido incide na politização nas Repúblicas de Coimbra, encarando
politização como a consciencialização da realidade política envolvente e eventuais
ações levadas a cabo em resposta a esta realidade. É uma politização fortemente
associativa (aglomeração de pessoas com uma vivência comum com vista a lograr um
objetivo comum, sem fins lucrativos), mais ou menos organizada, que tenta responder
aos problemas vividos pelos estudantes que habitam nestes espaços, pela restante
comunidade estudantil e académico e, por vezes, ao longo da história, também da
sociedade no geral.
Uma República deve ser entendida, acima de tudo, como uma casa onde
coabitam estudantes com algum grau de vivência comunitária. Traçar uma definição
específica de República apresenta-se como um desafio, sendo divergentes as respostas
que a literatura tem dado. A que se apresenta como mais genérica, quer para o presente,
quer para o passado, mas que, ao mesmo tempo, especifica pontos vitais e centrais é:

“A República é a comunidade de estudantes que vivem em regime de


autogestão e por conta própria, comungando da mesma casa, da
mesma mesa, do mesmo espirito e estilo de vida.”1
Importa salientar que não será a autogestão ou a maneira de viver numa
república o foco principal desta pesquisa, nas sim como este ambiente evoluiu para uma
comum politização associativa. Traçando comparação com a história, será tentado
verificar se este cunho associativo, presente nas lutas da sociedade estudantil ou da
população geral, ainda se verifica hoje e, se sim, em que grau de intensidade e com que
sucesso ou insucesso.
As repúblicas de estudantes são um fenómeno intimamente ligado à
Universidade de Coimbra, vulga “cidade dos estudantes”. Nunca noutra cidade do país
tiveram número ou impacto semelhante ao de Coimbra, sendo poucas as
autodenominadas Repúblicas que ainda hoje existem e que são vistas como um
verdadeiro espaço de autogestão, não passando de uma residência universitária. Esta
é, pelo menos, a opinião vigente em Coimbra para com as demais autoassumidas
repúblicas do país 2 . ee isso tem algum cunho elitista e fechado são considerações

1
Carreiro, Teresa (2004). Viver numa República de Estudantes de Coimbra: Real República Palácio da
Loucura, 1960-1970
2
Uma das poucas, se não a única exceção, é a Real República dos Lysos, no Porto, que funciona com
componentes transversais às repúblicas de Coimbra como o regime de autogestão (mais ou menos associado
às instituições do Ensino Superior, mas sempre independente as mesmas) e a celebração anual do
Cláudio Valério Oliveira

subjetivas sobre as quais este trabalho não se pretende debruçar. O que esta pesquisa
pretende realmente tratar são os fenómenos já referidos de politização em
associativismo que se verifica nas Repúblicas de Coimbra, relacionando o passado com
o presente e procurando responder a quão intensos são estes fenómenos nos dias de
hoje, volvidos que estão os seus tempos áureos e que perdurarão na história no papel
tido na luta pela democracia durante a ditadura portuguesa do séc. XX. Ocupam ainda
as repúblicas um espaço de relevo na sociedade académica coimbrã ou estão reduzidos
a pouco mais que uma história cada vez mais moribunda?

DA ORIGEM AO SÉC. XX
O estabelecimento da Universidade de Coimbra (UC) na cidade do rio Mondego
em 1308, após a sua criação dezoito anos antes em Lisboa 3 , resultou na fixação
temporária de uma massa estudantil (e docente) em Coimbra o que, desde logo,
resultou numa problemática em conseguir oferecer um alojamento a esta massa, à
semelhança do que outras cidades universitárias europeias também experienciaram
durante a Idade Média.
O desafio era exponenciado pela oferta reduzida de alojamento na cidade, na
altura bem pequena. Para além disso, os poucos detentores de habitações dispostos a
arrendar, olhavam com desdém a comunidade estudantil e preferiam ter classes
trabalhadores como inquilinas. A resposta deu-se com a criação das primeiras formas
de vivência comunitária4, algo que aconteceu ainda no tempo do rei D. Dinis, o fundador
da instituição.
O rei dedicou fundos e esforços à construção (e reconstrução) de casas para
uso exclusivo de estudantes na Alta de Coimbra. A autogestão ficou também aqui
demarcada, pois, a par da disponibilização de alojamento, foi criada uma comissão,
onde se incluíam estudantes, com poder deliberativo, para controlar o valor das rendas
e evitar o despejo injustificado 5. A estas benesses, somava-se a garantia de recursos
básicos para sobrevivência, nomeadamente na alimentação 6 , algo que tem ainda
paralelismo com um papel assumido pela UC no presente.
Começava a tomar forma o paradigma de Coimbra como cidade de estudantes
com capacidade organizacional e poder perante a sociedade, algo que não se
desvaneceu completamente com o avançar dos séculos e que, durante alguns períodos,
até assumiu proporções bem mais significativas e impactantes em todo o país e o seu
império colonial. A cidade, ainda assim, continuou, em grande parte, a ser um bastião
do conservadorismo, algo que se traduziu à universidade cuja história demonstra a
simultaneidade de formas rígidas de tradição e hierarquia com um espírito insurgente 7,
especialmente demarcado nas Repúblicas que mais tarde surgiram.
Mas antes de serem locais de contestação, os fatores económicos eram o
determinante máximo para dar início a uma nova casa comunitária 8 . Viver em
comunidade significava repartir despesas, com fatias do bolo tanto mais pequenas
quanto por quantos mais estudantes ele fosse repartido. O afastamento da família era
outro fator que levava os estudantes a procurar constituir um novo grupo social de
partilha, não sendo por isso de estranhar que muitas repúblicas, alguns séculos depois,

aniversário, como “centenário” e ao qual são convidados os antigos moradores e as demais repúblicas
3
Portal da Universidade de Coimbra. Obtido de http://visit.uc.pt/sobre/, consultado a 2017, 25 de
Dezembro
4
Ribeiro, Artur (2004). Republicas de Coimbra, Ed. Diário Coimbra
5
Vinterovà, Jana (2007). Repúblicas de Coimbra
6
Ribeiro, Artur (2004). Op. cit
7
Estanque, Elísio (2008). Jovens estudantes e repúblicos: Culturas estudantis e crises do associativismo em
Coimbra in Revista Crítica de Ciências Sociais #81
8
Vinterovà, Jana (2007). Op. cit

2
Repúblicas de Coimbra e as Lutas Estudantis - do passado ao presente

tenham surgido com cunho de regionalidade 9


Da partilha comum, nasce, como é lógico, uma identidade comum, tanto maior
quanto maior for a proximidade sociocultural dos seus membros. A condição de
estudante, quase sempre deslocado, com os mesmos interesses intelectuais e desafios
na construção de um futuro que fosse mais do que uma posição de trabalho braçal
indiferenciado, conferia uma elevada proximidade. Mas as casas comunitárias
permitiram também que origens e pensamentos bens diferentes trocassem ideias e
viessem a ter um papel muito importante na definição do país, como mais à frente iremos
notar.
A cultura boémia, tantas vezes associada às repúblicas, foi algo transversal ao
meio estudantil nas diversas cidades universitárias da Europa ao longo da história,
sobretudo na viragem para a Idade Contemporânea. Ora, os valores liberais da
Revolução Francesa 10 tiveram especial relevo nas casas comunitárias e, no final do
século XIX, surge o nome de República em algumas destas casas 11, transpondo os
ideais de democracia internos de gestão da casa para a forma de sociedade defendida
por estes estudantes, já claramente politizados em regime de associativismo. A
monarquia, ainda em poder mas sem querer ser oposta por uma classe jovem e
intelectualizada, não bane o termo, mas obriga a que ele se adapte ao paradoxal 'Real
República12, designação ainda vigente na maioria das casas nos dias de hoje.
Não se sabe contudo quando ou qual foi a primeira casa a adotar a designação.
Os registos são escassos, mas há uma certeza, foram muitas as repúblicas que
surgiram, o que se deveu também ao facto das casas comunitárias terem tido forte
crescimento em número (e impacto) ao longo do século, algo fortemente motivado após
as políticas de Joaquim António de Aguiar (um natural de Coimbra ainda hoje
homenageado com grande destaque com uma estátua no centro da cidade, no Largo
da Portagem), que, enquanto Ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça, em 1834,
decreta o fim de "todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios, e quaisquer outras
casas das ordens religiosas regulares".13
Ora, estes espaços albergavam muitos estudantes e nenhuma alternativa foi
pensada 14 , pelo que os mesmos se viram assim privados de alojamento. Uma das
soluções foi, obviamente, seguir o que já vinha sendo praticado desde a Idade Média,
criar ou integrar uma casa comunitárias, uma República a partir de certa altura, como já
vimos.
Pela já falada falta de registos, é impossível saber quantos foram criadas no total,
mas, até 2007, havia registo de 135, já entretanto extintas 15. Atualmente, há 25 no ativo16,
sendo a mais antiga a República dos Kágados, fundada em 1933, ainda no edifício que,
de 1911 a 1926, tinha visto existir a República Porvir17

9
São exemplos as Repúblicas Corsários das Ilhas, Farol das Ilhas e a já extinta Kimbo dos Sobas, fundada
por angolanos
10
Revolução Francesa foi um período de agitação sociopolítica no final do séc. XVIII, na França, e que
resultou na abolição da monarquia e estabelecimento de uma república. Os valores democráticas e liberais
desta revolução repercutiram-se globalmente e marcaram o fim da Idade Moderna e início da Idade
Contemporânea, o período de história da humanidade no qual ainda vivemos hoje em dia
11
Estanque, Elísio (2007). Cultura académica e movimento estudantil em Coimbra
12
Silva, Maria e Madeira, Sérgio (2009). Repúblicas Universitárias de Coimbra
13
Marchi, Riccardo (2015) As Direitas na Democracia Portuguesa
14
Silva, Maria e Madeira, Sérgio (2009). Op. cit
15
Vinterovà, Jana (2007). Repúblicas de Coimbra
16
Silva, Maria e Madeira, Sérgio (2009). Op. cit
17
Vinterovà, Jana (2007). Op. cit

3
Cláudio Valério Oliveira

NO ESTADO NOVO
O Estado Novo corresponde ao período político português que, em
consequência do gole militar de 1926, instituiu uma ditadura (também militar). Levou a
uma mudança na conceção de estado e governação, a partir de 1933, com a entrada
de uma nova Constituição, elaborada pelo Presidente do Conselho de Ministros, António
de Oliveira ealazar, que se tornou, na prática, a figura central de um regime autocrático,
autoritário e corporativista, bebendo muito do fascismo italiano. 18 19 A ditadura militar deu
assim origem ao chamado Estado Novo, regime que se prolongou por mais de quatro
décadas.
ealazar, que deixou a docência de Economia Política, Ciência das Finanças e
Economia eocial na UC 20 para assumir funções governativas, procurava criar uma nova
sociedade, marcadamente tradicional e conservadora. As universidades foram,
naturalmente, instrumentalizadas na construção dos valores salazaristas 21
A Imprensa da Universidade é extinta em 1934, medida que foi de encontro com
a política de censura fortemente veiculada pelo regime. Um ano depois, por decreto,
passa a ser possível demitir ou aposentar funcionários públicos, incluindo professores
universitários, por alegações pouco claras de falta de lealdade para com o Estado 22
Em 1936, a Associação Académica de Coimbra 23 (AAC), vê limitada a sua
autonomia com o regime a impor uma Comissão Administrativa composta de defensores
da ditadura e dos seus valores. As eleições para os órgãos associativos ficam proibidas
até 1947.24
Foi neste contexto de rutura com os ideias de uma república, apoiados no
liberalismo socialmente progressista que as homónimas Repúblicas de Coimbra
constituíram um órgão independente e autónomo que as unificar e passou a representar.
A 11 de Dezembro de 1948 cria-se então o Conselho de Repúblicas (CR), após a
entrada em vigor de um “Pacto de Amizade e Aliança”, assinado nos Kágados por eles
mesmos e cinco outras repúblicas: as já extintas Jástá e Pagode Chinês e as ainda
atuais e significativas Rás-Te-Parta, Baco e Palácio da Loucura25.
O nome do Pacto é provavelmente uma alusão aos vários Tratados com igual
designação que os Reinos de Portugal e Inglaterra foram assinando, sobretudo ao longo
do século XVII 26 . É a ironia mordaz que sempre esteve presente na história das
Repúblicas. O que é certo é que, ao contrário de Portugal e Inglaterra, a aliança e
amizade foram um facto incontestável e que não precisou de um segundo, muito menos
terceiro tratado para rever as suas posições.
Todas as assembleias do CR, vulgarmente chamadas por precisamente CRs,

18
O Estado Novo: 1926-1974. Obtido de https://www.parlamento.pt/Parlamento/Paginas/OEstadoNovo,
consultado a 2017, 23 de Dezembro
19
Luís Reis Torgal: “Estado Novo teve origem fascista” (2009) in TVI. Obtido de
http://www.tvi24.iol.pt/politica/salazar/estado-novo-teve-origem-fascista, consultado a 2017, 22 de
Dezembro.
20
Corpo Docente da FDUC. Obtido de
https://www.uc.pt/fduc/corpo_docente/galeria_retratos/oliveira_salazar, consultado a 2017, 22 de
Dezembro.
21
Codinha, Miguel (2004). A Politização do Meio Estudantil Coimbrão durante o Marcelismo
22
Decreto Lei nº 25 317 (1935). Obtido de http://app.parlamento.pt/comunicar/Artigo.aspx?ID=562,
consultado a 2017, 22 de Dezembro.
23
A AAC é a mais antiga associação de estudantes do país fundada em 1887. Qualquer estudante
matriculado na UC, (da qual a AAC funciona com estreita relação mas lhe é independente, tal como as
repúblicas), é automaticamente associado e representado pela mesma, cabendo-lhe defender os interesses
estudantis. Alberga vários organismos, secções (de cultura e desporto) e todos os núcleos de estudantes dos
vários cursos.
24
Campos, João (2009). AAC: os rostos do poder
25
Vinterovà, Jana (2007). Repúblicas de Coimbra
26
Gazeta de Lisboa (1826). Edições 152-307

4
Repúblicas de Coimbra e as Lutas Estudantis - do passado ao presente

podiam ser convocados por qualquer casa. Nelas, todas as decisões tinham de ser
tomadas por unanimidade (e não por maioria, como indica alguma literatura). Estes dois
factos são ainda hoje verificados, com o último a resultar em algumas dificuldades para
tomar posições, como seria de esperar numa situação em que basta um não entre vinte
e cinco opiniões para impedir o sim, algo que pode ser um motivo para um eventual
imobilismo associativo que hoje se vive nas Repúblicas e que este texto pretende
averiguar se corresponde ou não a um facto.
O contexto político da ditadura pode, contudo, em nada ter influenciado a criação
do CR. Até meados da década seguinte, não há registo de estudantes, repúblicos ou
não, em formas organizadas de contestação ao regime27. O que é certo é que o CR
lançou as bases para as lutas das duas décadas seguintes, nomeadamente com a
criação do jornal O Badalo, futuramente utilizado como meio de contestação e cujo
primeiro número saiu ainda no ano de assinatura do pacto. No imediato, o CR conseguiu
aumentar o número de estudantes repúblicos, fomentar convívios e tertúlias e repensar
a relação com a AAC, que se viria a revelar fulcral nos movimentos académicos de luta
ao Estado Novo28.
Ao longo dos anos 50, o CR tinha já alargado largamente o número de repúblicas
que representava. Chegado ao ano de 1956, dá-se aquela que é considerada a primeira
das Crises Académicas do Estado Novo. O Governo emite um decreto que visava novas
ingerências na autonomia das instituições de ensino superior que culminariam na total
subordinação centralizada ao Ministério da Educação Nacional 29. A reação não se fez
esperar com os estudantes, representados pela AAC onde o CR mantinha uma forte
presença, a emitir múltiplos comunicados e pareceres 30 de repúdio ao decreto. Há
manifestações em Lisboa e em Coimbra e os próprios reitores das universidades
posicionam-se ao lado dos estudantes. O sucesso é imediato e o decreto não chega a
entrar em vigor. 31
Embora parte das medidas sejam promulgados em decretos subsequentes, que
sempre tiveram a oposição dos estudantes 32, o sucesso de 56-57 prova a capacidade
do associativismo em influenciar decisões políticas, mesmo perante um regime opressor
e autocrático, facto que alavancou as lutas estudantis que se lhe seguiram. As
academias do país começaram a coordenar-se conjuntamente, com a AAC sempre a
assumir um papel de especial relevo, o que deu início a um processo de politização
radicalizada com especial enfoque nas Repúblicas de Coimbra que se tornam o local
ideal para assembleias, debates e trocas de ideias de foro político 33.
1958 marca o ano de mobilização popular à candidatura presidencial do general
Humberto Delgado34 que, na sua visita a Coimbra, conseguiu uma arruada de centenas
de pessoas, maioritariamente estudantes.35

27
Vinterovà, Jana (2007). Repúblicas de Coimbra
28
Silva, Maria e Madeira, Sérgio (2009). Repúblicas Universitárias de Coimbra
29
Decreto-Lei 40.900 (1956). Obtido de https://dre.pt/application/file/299709, consultado a 2017, 23 de
Dezembro
30
Luta contra o Dec.-Lei 40.900. Obtido de http://casacomum.org/cc/arquivos?set=e_7492, consultado a
2017, 23 de Dezembro
31
Cardina, Miguel (2008). Movimentos estudantis na crise do Estado Novo: mitos e realidades
32
Luta contra o Dec.-Lei 40.900. Op. cit
33
Vinterovà, Jana (2007). Op. cit
34
Humberto Delgado foi um general das forças armadas portuguesas que participou no Golpe Militar de
1926 e que ocupou vários cargos públicos relevantes, mas cujos ideiais se modificam depois de cinco anos
a representar o exército português em Washington (Portugal foi um dos doze fundadores da aliança militar
NATO), assumindo-se como candidato à Presidência da República Portuguesa, em 1958, contra o candidato
do regime Américo Tomás e demonstrando o seu interesse em depor Salazar. Cria uma forte mobilização
de apoio popular, mas é esmagado por fraude eleitoral, tendo de se exilar do país, vindo mais tarde a ser
assassinado pela polícia política do regime a PIDE.
35
Tavares, José (2008). Humberto Delgado no Porto e em Coimbra in Revista Rua Larga #22

5
Cláudio Valério Oliveira

Entre 1960 e 1965, as listas do CR à eleição anual da Direção-Geral da AAC


saem vencedoras. A 1965, para reprimir a força politicamente mobilizada do CR, pois
as repúblicas em si continuavam a ser protegidas pelas leis e tradição que ainda vinham
de D. Dinis, são expulsos os dirigentes eleitos à AAC com algumas das suas instalações
a serem mesmo encerradas. A ditadura impede também os estudantes de participar no
eenado e na Assembleia da UC, órgãos máximos de decisão e cuja norma sempre foi
ter representatividade deliberativa estudantil. 36
Em resposta, as repúblicas, já bastante politizadas com ideologia de esquerda,
em alguns níveis inclusivamente partidária, intensificam a sua contrapropaganda. O
Badalo é retomado como jornal contestatário 37 , e muitas repúblicas começam ou
intensificam de ações co mo a impressão de comunicados pró-liberdade, sendo exemplo
uma máquina de impressão que alternava, nas noites escuras, entre o Palácio da
Loucura e o Ninho dos Matulões para divulgação, às centenas, de panfletos nos locais
mais frequentados pelos estudantes, como as cantinas. O modus operandi dos
repúblicos era o de marcar previamente uma hora exata, em diversos locais, para a
partilha simultânea e massiva no menor espaço de tempo possível, diminuindo a
capacidade de reação das autoridades 38.
Em 1968, o CR cria um abaixo-assinado a exigir a retoma de eleições para os
órgãos da AAC que é massivamente subscrito pelos. Na onda da Primavera Marcelista39,
o regime acede e, em Fevereiro de 1969, a lista apoiada (e preenchida) pelo CR sai
vencedora por larga margem, tornando-se presidente da Direção-Geral Alberto Martins,
não repúblico, mas frequentador regular das casas, nomeadamente as supracitadas
Palácio da Loucura e Ninho dos Matulões 40. Ele que vem a desempenhar um papel
fulcral na mais intensa das crises académicas, apenas dois meses volvidos.
A crise académica de 69 teve início aquando da inauguração do Departamento
de Matemática da UC (DMUC). Esta obra inseriu-se na política de ordenamento do
Estado Novo das décadas de 50 e 60 que, para além deste departamento, erigiu os de
Química, Física, a nova Faculdade de Letras, as Escadas Monumentais e outras obras
maciças e austeras, à boa moda do fascismo italiano. Estas construções levaram à
gentrificação de muitos moradores, há gerações na Alta Universitária, para novos
bairros, sobretudo os de Celas, da Conchada, da Arregaça e o Bairro Norton de Matos 41.
Voltando à inauguração do DMUC, a 17 de Abril de 1969 42 , a cerimónia foi
presidida pelo eterno Presidente da República do Estado Novo, Américo Tomás, que se
recusa a dar a palavra a Alberto Martins depois deste se ter levantado e pedido a fala
em nome de todos os estudantes. Os muitos políticos presentes são fortemente vaiados
à saída do DMUC pelos estudantes que fazem depois a sua própria inauguração do
edifício. O presidente da AAC é preso nessa noite, sendo realizada uma Assembleia
Magna 43 no dia seguinte, após a sua libertação e uma outra alguns dias depois na
sequência da suspensão da frequência na UC aos principais dirigentes da AAC. Põe-se
o debate público sobre o regime na ordem do dia de todos os estudantes e decreta-se
a suspensão da praxe, naquele que ficou conhecido como o ‘luto académico de 69’ e
que englobou também o crescente desuso de capa e batina, o que serviu também para
demarcar visualmente os estudantes não revolucionários pela sua escolha de

36
Vinterovà, Jana (2007). Repúblicas de Coimbra
37
Vinterovà, Jana (2007). Op. cit
38
Relato oral presenciado pelo autor num almoço com antigos repúblicos do final da década de 60 e início
da de 70, na República Ninho dos Matulões, em Outubro de 2017
39
Primavera Marcelista designa o primeiro período de Marcello Caetano como sucessor de Salazar a
Presidente do Conselho, entre 1968 e 1970, marcado pela introdução de uma política com algum condão
de modernidade e liberalismo, sobretudo económico mas também social. Foi introduzido para serenar a
contestação social ao regime
40
Igual à nota de rodapé 38
41
Rosmaninho, Nuno (2006). O poder da arte: o Estado Novo e a cidade universitária de Coimbra
42
Cardina, Miguel (2011). Crises, História e Memória in Revista Vírus #12
43
Assembleia Magna é o órgão máximo de decisão da AAC, onde todos os estudantes podem participar.

6
Repúblicas de Coimbra e as Lutas Estudantis - do passado ao presente

indumentária. O luto é ainda hoje uma divisão fraturante entre polos opostos das lutas
académicas do presente, onde as repúblicas assume uma posição central. Um exemplo
relevante da importância do luto para as repúblicas é a expulsão do Solar dos Symbas
do CR, por não quererem aderir ao luto académico44, algo que não foi revisto até aos
dias de hoje.
O clima de agitação leva o regime a encerrar a UC no início de Maio, mantendo-
se, no entanto, o calendário de exames. A AAC, por seu turno, desconvoca a mais antiga
festa académica do país, que se realizava ininterruptamente desde 191945, a Queima
das Fitas, certame que marca o final do ano letivo e cuja edição de 69 estava prevista
para o mesmo mês de Maio. Para além disto, a associação publica a Carta à Nação,
onde expressa declaradamente o seu desejo num novo sistema académico, social e
político.

“A nossa luta só poderá fazer tréguas quando tivermos atingido uma


Universidade Nova num Portugal Novo”46
O passo seguinte é a declaração de greve aos exames, aderida pela
esmagadora maioria dos estudantes (86,8% 47 ), que assim sacrificaram um ano de
estudos em troca da emissão de uma mensagem clara da nova sociedade que
pretendiam ver nascer. O regime responde com o forte policiamento da Universidade
procurando reprimir qualquer foco de associativismo politizado. O ano seguinte não
veria o regresso de 49 novos estudantes, recambiados para a Guerra Colonial 48, o que
aumenta a contestação a este conflito, já em forte crescimento em todos os setores da
sociedade. Não conseguir o normal funcionamento na UC, que tinha papel de ponta na
veiculação dos ideias do regime, foi, para alguns historiadores, o maior motivo que levou
ao recuo da Primavera Marcelista e ao retorno e intensificação da repressão intensa,
sobretudo académica e em Coimbra49, até para impedir focos de contágio para outras
cidades. Mas o contágio acontece mesmo e os estudantes de Coimbra são não só
responsáveis indiretos, mas também direitos com o seu papel de contestação na final
da Taça de Portugal de futebol, em 22 de Junho de 1969, em Lisboa. A partida opôs a
Académica de Coimbra ao clube com mais adeptos no país, o Benfica. A censura não
permite que o jogo seja televisionado, não marcando sequer presença o Presidente da
República Américo Tomás.50 Lisboa, que já tinha sido o foco da crise de 62 51, assume-
se como um bastião da luta estudantil, cada vez mais apoiada no Partido Comunista
Português52, do qual muitos repúblicas faziam parte53
O Marcelismo intensifica a opressão, esvaziando a AAC de poder e chegando
mesmo a encerrar a sua atividade em Fevereiro de 1971 54 , algo que, a nível de

44
Frias, Aníbal (2003). Praxe académica e culturas universitárias em Coimbra. Lógica das tradições e
dinâmicas identitárias
45
Queima das Fitas: é urgente repensar (2017) in Jornal O Tornado. Obtido de
http://www.jornaltornado.pt/queima-das-fitas-coimbra-urgente-repensar, consultado a 2017, 25 de
Dezembro
46
Cardina, Miguel (2011). Crises, História e Memória in Revista Vírus #12
47
Cardina, Miguel (2011). Op. cit
48
Guerra Colonial ou do Ultramar engloba os conflitos armados encabeçadas pelo estado português contra
movimentos independentistas nas colónias de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau que decorreram entre
1961 e 1974
49
Cordeiro, José (2011). Radicalismo político e ativismo estudantil nos últimos anos do fascismo (1969-
1974) in Revista Vírus #12
50
Cardina, Miguel (2011). Op. cit
51
A crise de 1962 teve especial enfoque em Lisboa, na sequência da prisão de manifestantes contra a Guerra
Colonial e foi a primeira grande demonstração de associativismo estudantil extremada
52
Cardina, Miguel (2011). Op. cit
53
Vinterovà, Jana (2007). Repúblicas de Coimbra
54
Comissão Pró-reabertura da A.A.C. (1971). Obtido de https://www.amigoscoimbra70.pt/ download/
Documentos%20de%201973/1973_04_17_A_Com_Constitui%C3%A7%C3%A3o_CPRAAC.pdf,

7
Cláudio Valério Oliveira

existência de direção, só seria mudado após a Revolução de 1974 55. Em 1973, é criada
uma força de vigilância para controlar os estudantes, os chamados ‘gorilas’. Assim,
enquanto a contestação aumentava em Lisboa, ia sendo reprimida no meio mais
pequeno e mais afastado do poder central que era Coimbra, onde difícil era ser um
ativista que passava despercebido às autoridades. 56
Prosseguem contudo os debates e colóquios, com especial incidência no seio
repúblico que se mantinha como centro onde confluía a troca de ideias 57. A cultura de
rutura com os ditames da censura 58 era pródiga nas casas, nomeadamente com
literatura de ideologias socialista ou anarquista. A maior parte das repúblicas mantém,
até hoje, uma extensa biblioteca 59 onde se encontram volumes bastantes raros.
Foi neste clima já menos politizado, face ao triénio 68-70, que Coimbra viria a
abraçar a restituição da democracia, com a Revolução de 25 de Abril de 1974. Um dos
motivos para o abrandar da contestação foi também as divergências ideológicas entre
o pensamento sindical-associativo, dominante numa AAC (fantasma a nível de direção)
e o pensamento revolucionário e radicalizado, comum nos grupos que frequentavam as
repúblicas. Estas divergências viria a marcar definitivamente os anos seguintes. 60

DEPOIS DE ABRIL E ATÉ HOJE

O Conselho de Repúblicas, que tinha perdido algum fulgor com a forte opressão
do Marcelismo pós-Primavera, em resposta aos eventos de 1969, acaba mesmo por ser
desativado aquando da retoma da Liberdade e fim do Estado novo, em 197461, sendo
restabelecido apenas doze anos depois 62.
Afirma-se que “as repúblicas jamais conseguiram recuperar a sua importância
dos anos 60 assim como ser centro de atividades académicas 63 e que, em todo o
associativismo académico “se perdeu a dimensão criativa e espontânea dos órgãos
associativos estudantis, assistindo-se a uma simples reprodução dos esquemas
políticos e culturais dominantes 64 . Perceber até que ponto são verdade estas teses,
sobretudo a nível das repúblicas, é o objetivo final deste trabalho.
Ao longo das década de 80, as repúblicas estavam numa situação que em pouco
difere do que se passa agora, trinta anos depois. A procura por parte dos estudantes
das repúblicas como espaços a habitar decresceu. Isto deve-se em parte ao avançado
estado de degradação físico de muitas das casas65, ao mesmo tempo que a cidade e a
oferta de alojamento cresciam.
A UC deixa também de ter a quase total exclusividade de captação de estudantes
por parte de outras instituições de ensino superior de Coimbra que não a UC 66, longe

consultado a 2017, 26 de Dezembro


55
Campos, João (2009). AAC: os rostos do poder
56
Cordeiro, José (2011). Radicalismo político e ativismo estudantil nos últimos anos do fascismo (1969-
1974) in Revista Vírus #12
57
Vinterovà, Jana (2007). Repúblicas de Coimbra
58
Silva, Alexandra (2009). Movimento Estudantil e Resistência Cultural em Coimbra na Década de 1980
59
Vinterovà, Jana (2007). Op. cit
60
Silva, Alexandra (2009). Op. cit
61
Carreiro, Teresa (2004). Viver numa República de Estudantes de Coimbra: Real República Palácio da
Loucura, 1960-1970
62
Vinterovà, Jana (2007). Op. cit
63
Vinterovà, Jana (2007). Op. cit
64
Silva, Alexandra (2011). Do biénio revolucionário à luta “anti-propinas” – movimentos estudantis em
Portugal (1976-1992) in Revista Vírus #12
65
Silva, Alexandra (2009). Op. cit
66
São exemplos a criação do ISCAC em 1976 e da ESEC em 1979. Estes e outros institutos superiores
foram agregados no Instituo Politécnico de Coimbra durante a década de 80, aumentado a sua oferta

8
Repúblicas de Coimbra e as Lutas Estudantis - do passado ao presente

do centro da cidade onde se localizam as repúblicas. Ao mesmo tempo, surgem muitas


novas universidades, um pouco por todo o país 67. Embora, isto não tenha significado
uma diminuição do número de estudantes a frequentar a UC, tendo até aumentado em
virtude do crescimento exponencial de matrículas no ensino superior no pós-ditadura,
significou que a percentagem de estudantes deslocados era agora menor, pois
potenciais estudantes de regiões antes desprovidas de instituições de ensino superior,
como as Ilhas (que tinham dado origem a várias repúblicas), tinham agora opções de
prosseguir os estudos bem mais perto. 68 Ora, um estudante de Coimbra ou seus
arredores não precisa de um novo alojamento e, portanto, dificilmente vai viver numa
república.
Diminuiu a diversidade regional nas universidades, mas não a social. As
universidades deixaram de ser procuradas apenas quase pelas classes menos
desafogadas (nas quais se inseria o liberalismo intelectual de descendência pequeno-
burguesa que tanto repúblico, mais ou menos radicalizado, originou), com uma presença
crescente de filhos de classes trabalhadoras 69 . Pode-se pensar que os
constrangimentos económicas, intensificados com a austeridade imposta pelo FMI 70, e
que tinham sido um dos motivos da criação e procura das repúblicas, não faria reduzir
o interesse por viver numa república, no entanto importa notar que, estas classes são
ainda mais pobres, e pretendem obter um diploma no menor espaço de tempo para,
rapidamente, entrar no mercado de trabalho. O Processo de Bolonha, introduzido na
viragem do século, e que reduziu as licenciaturas de 5 para 3 anos agravou ainda amais
este paradigma. Ora, as repúblicas continuavam a ser vistas como “antros nos quais a
única filosofia é a sagração da festa até de madrugada e boémia sem limites” 71. Ainda
hoje estão associadas a este clima de falta de responsabilidade com consequente falta
de aproveitamento escolar 72 Para além disso, entrar numa república pelo desejo de
participar em associativismo politizado, tornou-se um sentimento em decréscimo,
sobretudo nas camadas mais jovens que tinham já poucas ou nenhumas memórias do
Estado Novo. Este período insere-se também num amansamento de contestação social,
sobretudo estudantil, que se vivia (e ainda vive) à escala global, como Estanque bem
ilustra:

“Assistiu-se na fase final da “guerra fria”, a processos de


institucionalização, individualização, crise e fragmentação do Estado
social e das economias nacionais, ao triunfo da globalização
neoliberal, ao desmoronamento do modelo socialista e à implosão
das utopias que, nos anos 60, animaram os movimentos sociais e
estudantis””73

Já na viragem do século, a deslocação de muitos estudantes para novas


instalações, no Pólo II ou Pólo das Engenharias, no Pinhal de Marrocos, bem longe do

formativa e consequentes vagas.


67
São exemplos as Universidades de Aveiro, Minho, Évora, Nova de Lisboa, Algarve e Açores na década
de 70 e as da Beira Interior, Trás-os-Montes e Madeira na década seguinte.
68
Peixoto, João (1989). Alguns dados sobre o Ensino Superior em Portugal in Revista Crítica de Ciências
Sociais nº 27/28
69
Estanque, Elísio (2011). Movimentos e culturas estudantis in Revista Vírus #12
70
FMI é a sigla de Fundo Monetário Internacional, instituição global que intervém nos países quando eles
não conseguem, por si, inverter a significativo derrapagem da economia. Em Portugal, interveio em 1977,
1983 e 2011, com tudo o que isso tem de o bom e de mau (sugerindo-se a escuta da faixa homónima de
José Mário Branco para a parte negativa, ele que foi residente nos Kágados)
71
Vinterovà, Jana (2007). Repúblicas de Coimbra
72
Estanque, Elísio (2008). Jovens estudantes e repúblicos: Culturas estudantis e crises do associativismo
em Coimbra in Revista Crítica de Ciências Sociais #81
73 Estanque, Elísio (2008). Op. cit

9
Cláudio Valério Oliveira

centro da cidade, reduziu a franja de potenciais repúblicos, nomeadamente do sexo


masculino que é o que mais procura estes cursos 74 e era a que mais procurava as
repúblicas, praticamente todas tendo sido exclusivamente masculinas durante décadas.
Por tudo isto, a procura por chamar a uma república casa diminuiu drasticamente.
Importa contudo realçar que, seguindo o papel central que assumiu a mulher na
sociedade e, sobretudo, no contexto universitário onde, globalmente, são agora o sexo
mais representado, resultou na criação da mais recente república, a exclusivamente
feminina Marias do Loureiro75, em 1993, ao mesmo tempo que praticamente todas as
repúblicas já existentes se tornaram mistas ao longo da década de 80. 76 Hoje em dia, a
distribuição roça a igualdade em termos de sexos (e o antissexismo tornou-se uma das
bandeiras principais da identidade ideológica de muitas casas), ficando a experiência
pessoal como fonte à falta de números que o comprovem, mas que sugere uma possível
investigação de campo a efetuar.
No entanto, desde a década de 80, há um evidente distanciamento entre as
repúblicas e o resto da comunidade académica. Muito disto se deve à posição das
repúblicas nas questões praxísticas.

“O imaginário das gerações que nos últimos anos passaram pela UC


é, sem dúvida, povoado por valores e preocupações que nada têm a
ver com as lutas dos anos 60. Se estas experiências de ativismo
político já podem hoje ser incorporadas na própria “tradição” da
academia local, dir-se-ia que elas foram nas últimas décadas
remetidas para segundo plano, enquanto a tradição ritualista e
festiva, cujas raízes se situam num passado bem mais longínquo,
ressurgiram com novo vigor após o interregno que lhes foi imposto na
sequencia das lutas académicas daquele período.”77
Enquanto a maioria das repúblicas continua a honrar afincadamente o luto
académico decretado em 1969, embora seja verdade que algumas delas se tenham
tornado neutras e outras até retomado algumas tradições78, Coimbra viu ressurgir em
força a praxe desde o gozo ao caloiro aos rituais de transição. Isto acontece após a
eleição de António Alberto Maló de Abreu para a presidência da Direção-Geral da AAC
de 1979/1980, após o fado, entretanto substituído pelo canto de intervenção, ter
retornado em 1978 79. Ligado aos setores políticos de direita mais conservadora80, Maló
de Abreu (que teve o apoio pessoal do fundador do Partido eocial-Democrata, PeD e,
na altura, Primeiro-Ministro do país, Carlos Mota Pinto) e a sua equipa retomaram
também a Queima das Fitas a qual presidiram, orgulhosamente, de capa e batina. 81 Foi
também o início da influência clara das Jotas, o ramo partidário juvenil dos partidos, na

74
Resultados de acesso ao Ensino Superior na Faculdade de Ciências da UC. Obtido de
http://www.dges.mctes.pt/guias/indest.asp?estab=0501, consultado a 2017, 25 de Dezembro
75
Juntou-se à República Rosa Luxemburgo, fundada em 1972 e que foi exclusivamente feminina até 2015,
mas mantém o cunho fortemente feminista e antissexista, coimo é exemplo a organização do Festival
TransFeminista Coimbra na casa neste mês de dezembro
76
Frias, Aníbal (2003). Praxe académica e culturas universitárias em Coimbra. Lógica das tradições e
dinâmicas identitárias
77
Estanque, Elísio (2008). Jovens estudantes e repúblicos: Culturas estudantis e crises do associativismo
em Coimbra in Revista Crítica de Ciências Sociais #81
78
Estanque, Elísio (2008). Op. cit
79
Frias, Aníbal (2003). Praxe académica e culturas universitárias em Coimbra. Lógica das tradições e
dinâmicas identitárias
80
Silva, Alexandra (2009). Movimento Estudantil e Resistência Cultural em Coimbra na Década de 1980
81
Maló de Abreu: “O meu sonho foi o de restaurar as tradições” (2011) in Diário As Beiras. Obtido de
www.asbeiras.pt/2011/05/malo-de-abreu-o-meu-sonho-foi-o-de-restaurar-as-tradicoes/, consultado a 2017,
26 de Dezembro

10
Repúblicas de Coimbra e as Lutas Estudantis - do passado ao presente

AAC82, primeiro com a JeD (jota do PeD) e, desde aí, com a Je (jota do Pe, Partido
eocialista) a ser praticamente hegemónica 83. O associativismo menos revolucionário e
mais revisionista e de consensos, lado a lado com o capital, tradicional da social-
democracia, tornava-se a ideologia dominante, até com a gradual deslocação política
do Pe para o centro (e até centro-direita), à medida que se assumia como partido a
tutelar governos de democracia parlamentar no Portugal pós-revolução, em alternância
com o PeD.
A praxe e as festas académicas (surge, entretanto, também a Festa das Latas
inspirada nos certames festivos de início de ano letivo de outras cidades), apoiadas no
fado e no uso de capa e batina, tornaram-se assim o foco central de agregação
estudantil, cavando uma profunda cisão ideológica com o espírito revolucionário das
Repúblicas que perdura até hoje, e que a retoma do CR não resolveu.
A contestação ao fim do luto, foi imediata e, durante o cortejo da Queima das
Fitas de 1980, ocorrem tumultos que, alegadamente, chegaram a agressões a
estudantes que aderiam à festa e cuja responsabilidade é imputada às Repúblicas,
nomeadamente a uma fundadora do CR, a Prá-Kys-Tão, embora vários organismos
autónomos e seções culturais da AAC, independentes da Direção-Geral, tenham
também manifestado o seu desacordo com o fim do luto.84 O que é certo é que, ainda
hoje, praxar nas imediações da Prá e de algumas outras repúblicas, não resulta em
trajes académicos secos e limpos.
A cidade, por seu turno, agradeceu o dinheiro que isto permitiu injetar no
comércio local, enquanto os pais de estudantes vão ficando muito mais orgulhosos em
ver os seus filhos a envergar o traje do que a pertencer a uma casa que tem imagem,
a priori, de ser um elemento puramente boémio85 e radicalizador.
O que é certo é que foi claro o divórcio entre as repúblicas e a AAC, a grande
aliada durante o Estado Novo, mas que, ao contrário das repúblicas teve um
renascimento associativo impactante com Abril. A República Ninho dos Matulões, ainda
hoje, exibe orgulhosamente a bandeira da AAC roubada durante a presidência de Maló
de Abreu. O Solar dos Kapangas espalha os recortes de notícias do início de século
quando encheram as urnas de votações para a AAC com sacos de lixo acumulados
durante semanas. O CR não mais esteve representado nos órgãos da associação, e as
listas significativamente originárias a partir da moldura humana república têm logrado
votações vestigiais86, embora muitas das casas se afastem, de todo, deste processo
como a investigação de Estanque 87 bem demonstra, com a baixa percentagem de
repúblicas que integram listas candidatas.
Mas terão as repúblicas mesmo deixado de ser um centro politizado? Ou,
simplesmente, o seu impacto tornou-se menos óbvio nas menos óbvias lutas estudantis
pós-ditadura? Para tentar responder à hipótese que se assume como mais válida,
importa primeiro analisar em concreto estas lutas.
Recordando a contextualização temporal, estamos agora na década de 80, que
foi então pautada pelo crescimento exponencial de estudantes na cidade, cada vez
menos politizados e interessados em frequentar as mal vistas repúblicas, e mais em se
envolverem nas tradições praxísticas. As repúblicas entram assim num "efeito bola de
neve” em que o contexto sociopolítico não favorece o seu impacto e a adesão à

82
Bebiano, Rui (2011). Estudantes em movimento: uma tipologia localizada da reivindicação in Revista
Vírus #12
83
Silva, Alexandra (2009). Movimento Estudantil e Resistência Cultural em Coimbra na Década de 1980
84
Silva, Alexandra (2009). Op. cit
85
Criando-se o paradoxo de se entender as festas académicas como o único momento boémio que é vivido
pelos estudantes da praxe ao longo do ano.
86
São exemplos os 2,91% em Novembro de 2017 da Lista E. Obtido de
http://www.ruc.pt/2017/11/22/alexandre-amado-vence-a-primeira-volta-eleicoes-para-a-dg-aac/,
consultado a 2017, 26 de Dezembro
87
Estanque, Elísio (2008). Jovens estudantes e repúblicos: Culturas estudantis e crises do associativismo
em Coimbra in Revista Crítica de Ciências Sociais #81

11
Cláudio Valério Oliveira

habitação ou frequentação das mesmas o que, por seu turno, diminui a sua capacidade
em influenciar o contexto e garantir novas entradas. As repúblicas e o seu espírito
revolucionário passam a sentir-se desenquadrados da extensa moldura universitária, tal
como, no país, a morte do PREC 88 e a ausência de um governo de ideologia
declaradamente de esquerda, desenquadra o marxismo e apaga quase completamente
o anarquismo. As lutas académicas globais são quase nulas nesta década, sobretudo
na ponta final, em que a saída da intervenção do FMI em Portugal, aliada à entrada da
nação na União Europeia, em 1985 (ainda CEE, na altura), parecia gritar prosperidade
(e falta de necessidade de contestação ou revolução) por todo o lado. As casas passam
a ter como maior foco a sua própria sobrevivência, ameaçada quer pelo já referido
estado de degradação dos seus edifícios (quase inalterados desde antes da fundação
das mesmas, somando-se assim múltiplas décadas de intenso uso sem intervenções
de base) , quer pela preservação da sua história, cultura e “benesses” que daí advinham
e se assumiam como garantidas. É exemplo um episódio de Outubro de 1983, em que
a Rádio Livre Internacional, rádio pirata a funcionar na República Trunfé-Kopos, é
invadida pelas autoridades, o que motiva cerca de 50 estudantes a manifestarem-se na
Reitoria da UC contra a violação da tradição, legalmente pouco bem definida, das
instalações das repúblicas (consideradas parauniversitárias) não poderem ser violadas
sem expressa autorização da Reitoria (o que quase nunca acontecia, numa espécie de
mútuo pacto de não-agressão, vigente já antes do 25 de Abril). 89 A Rádio Livre
Internacional regressa e perdura como última rádio pirata da cidade por algum tempo
mais, sendo este episódio catalisador da nova lei que define legalmente as rádios, um
projeto de dois deputados de Coimbra de diferentes partidos (Pe e PeD). Mesmo com
capacidade reduzida de politização, as repúblicas continuarem a conseguir impactar a
política nacional, é um ponto curioso.
A maior vitória da década para as repúblicas acaba mesmo por ser ver o Estado
reconhecer o seu valor histórico e patrimonial, financiando obras de restauro e
introduzindo proteção legal 90 mesmo mediante a sua ausência de personalidade jurídica.
Isto acontece com a Lei nº 2/82 de 1982 91 que garantiu alguma segurança imobiliária,
pelo menos até 2012 e a nova lei do arrendamento.
Por outro lado, o associativismo promovido pelas direções da AAC torna-se
definitivamente na senda das festas académicas, que entretanto voltara a organizar,
sendo também um parceiro das políticas educacionais governamentativas, fomentada
pela sua índole de viveiro das jotas. Já o associativismo cultural (e também desportivo)
da AAC, nas secções, alarga-se e chega a muitos mais estudantes (e população, no
geral) com o teatro, o cinema, a fotografia, a música, o folclore e tantos outros meios de
expressão 92 . Muito do espírito revolucionário é canalizado para aqui, tornando-se o
associativismo pouco politizado. A contestação e a resistência, que a sociedade via
agora como desnecessária, perde assim o seu condão de intervenção direta, com a
ideologia a transacionar mais para a componente intelectual 93
Começa também um clima de desunião, sobretudo entre as repúblicas,
alavancada pela ausência de uma causa comum externa como tinha sido a luta contra
a ditadura. O associativismo e a politização, quer nas repúblicas quer nas outras
instâncias estudantis, para os estudantes sem cargos em direções, parecia definhar

88
PREC ou Processo Revolucionário em Curso designa o conjunto de atividades revolucionárias radicais
de esquerda que decorreram no país após a Revolução de Abril. Termina com um golpe militar fracassado
em Novembro de 1975 que vê o contragolpe instituir a política de democracia parlamentar constitucional
numa economia de mercado típica da social-democracia e do liberalismo.
89
Silva, Alexandra (2009). Movimento Estudantil e Resistência Cultural em Coimbra na Década de 1980
90
Frias, Aníbal (2003). Praxe académica e culturas universitárias em Coimbra. Lógica das tradições e
dinâmicas identitárias
91
Silva, Maria e Madeira, Sérgio (2009). Repúblicas Universitárias de Coimbra
92
Silva, Alexandra (2009). Op. cit
93
Silva, Alexndra (2011). Do biénio revolucionário à luta “anti-propinas” – movimentos estudantis em
Portugal (1976-1992) in Revista Vírus #12

12
Repúblicas de Coimbra e as Lutas Estudantis - do passado ao presente

cada vez mais, sendo mesmo o feminismo, especialmente intenso nas repúblicas, uma
das poucas exceções. Era tempo de recolher os louros dos triunfos da década anterior,
de valorizar a cultura e a generalização do acesso ao ensino superior para todos os
estratos económicos, não de radicalizações e utopias comunistas às quais se se
associavam as repúblicas. O associativismo da comunidade decresce largamento. No
entanto, ele navega sempre a onda dos desafios comuns da sociedade e, com mais ou
menos impacto, ressurge sempre quando há uma óbvia necessidade para tal, uma nova
causa comum de (quase) todos os estudantes (como a opinião quanto à praxe não era).
Ora, o idealismo de prosperidade sem limites depara-se com a realidade de um país
ainda muito subdesenvolvido e pouco modernizado, que a simples saída de ditadura e
entrada na CEE não resolve, agravando-se até em alguns pontos sobretudo pela
abertura ao mercado estrangeiro mais eficiente. O final da década e início dos anos 90
é marcado por significativos constrangimentos financeiros94.
Neste contexto, um governo que queira equilibrar as suas contas, sobretudo um
de direita mais ligado à liberalização económica e desinvestimento público, vai,
naturalmente, tentar diminuir as despesas públicas que veja que a generalidade da
sociedade mais facilmente considera como descartáveis (e que não atingem toda a
população). A gratuitidade do ensino superior, entretanto tão massificado que se tinha
tornado, é então atacada pelo governo PeD de Cavaco eilva, em 1992 95, ele que se
tornou o primeiro chefe de executivo legislativo no pós-ditadura a governar por mais de
dois anos consecutivos (e fê-lo durante uma década, alicerçando uma nova política que
matou o espírito revolucionário de Abril em definitivo). Após 50 anos de uma propina
meramente simbólica de 1200 escudos anuais 96 (6,5 euros). Inicialmente, anunciado
como uma pequena contribuição, a realidade depara-se com a subida gigante a poder
chegar, para o valor máximo se as universidades assim desejassem optar, a 150 mil
escudos (750 euros), quando o salário mínimo nacional pouco passava dos 40 mil 97.
Ajustando aos descontos de impostos, a propina podia assim chegar a 4 salários
mínimos para pagar um ano de propinas, o que era só uma das várias despesas de um
estudante universitário, sobretudo para o mais deslocado. Famílias de rendimentos
baixos, sobretudo as monoparentais e/ou com mais que um filho na universidade
monoparentais foram especialmente atacadas. O impacto foi enorme, embora as
instituições se tenham decidido preferencialmente pelo valor mínimo, situado a cerca de
metade deste valor, até porque os estudantes se mobilizaram ativamente, quer em
manifestações, quer em greves, quer em ações políticas específicas como, por exemplo,
a promover a ausência de quórum para impedir a subida do valor mínimo (situação que
foi recorrente no eenado da UC98).
Em 2003, e com novo governo de direita, na coligação PeD/CDe (embora o
governo do Pe que aconteceu no meio, de António Guterres tenha validado a fixação
da propina), a propina é aumentada em 30%; o que motiva novas greves e
manifestações. Em 2004, acontece uma carga policial (e detenções) sobre estudantes
manifestantes no Pólo II da UC, momento que se tornou icónico, e cujas fotografias
marcam a memória coletiva das paredes de muitas repúblicas, por ter sido a primeira
vez, após o Estado Novo, em que aconteceu uma repressão direta das autoridades aos
estudantes. A política de propina, contrária ao princípio constitucional de escolaridade
gratuita, mantém-se, no entanto, inalterada, ultrapassando agora já os 1000 euros, aos
quais se somam taxas e emolumentos, sem limites definidos por lei (ao contrário da

94
Silva, Alexndra (2011). Do biénio revolucionário à luta “anti-propinas” – movimentos estudantis em
Portugal (1976-1992) in Revista Vírus #12
95
Ferreira, Hugo (2011). A contra-revolução no Ensino Superior in Revista Vírus #12
96
Vaz, António (2009). Acção Social Escolar na Universidade de Coimbra: evolução histórica e princípios
orientadores: 1980-2009
97
Salário Mínimo Nacional. Obtido de https://www.pordata.pt/Subtema/Portugal/Salários-11, consultado
a 2017, 27 de Dezembro
98
Ferreira, Hugo (2011). Op. cit

13
Cláudio Valério Oliveira

propina).
Embora esta realidade tenha feito ressurgir o associativismo académico em
questões da condição de estudante levando à queda de ministros e divergências no
poder político entre governo e presidência da república99 tenham sido vitórias, assim
como o estabelecimento da propina mínima durante alguns anos, nomeadamente na
UC, a inconstitucionalidade da propina não foi reconhecida judicialmente e ela tornou-
se uma realidade incontornável e, com o tempo passou a ser tabelada quase sempre
ao valor máximo, que, para algumas associações ultrapassa até o permitido por lei. 100
A questão está certamente ainda no discurso de praticamente todas as
associações académicas em 2017, sobretudo na AAC101, mas pouca luta efetiva tem
ocorrido nos últimos anos, com a repressão física de 2004 a marcar a irredutibilidade
das instâncias de poder na questão. A anormalidade torna-se normal com o avançar
tempo e já lá vão 25 anos da lei de um Cavaco eilva, na altura jovial. Em todo este
tempo, as repúblicas multiplicaram-se em manifestações, mais ou menos ligadas à AAC,
mas a própria incapacidade de gerar um plano de luta unido, em seio de CR, tal como
a diminuição global de repúblicas e repúblicos, não consegue levar a sucessos similares
aos das décadas de 1960 e 1970. A falta de solidariedade do resto da sociedade, por
seu turno, contribui também decisivamente para que esta luta seja facilmente engolida
pelos ditames de uma política capitalista. A massificação da condição de estuante, que
deixa de ser visto como um futuro senhor doutor para passar a ser um futuro precário,
contribui-lhe decisivamente.
As repúblicas não deixaram, contudo, de desenvolver ações de manifestação
contra a propina, como é exemplo o caso de encerramento da Porta Férrea na UC em
2011, a entrada para a mais antiga secção da velha universidade, ainda hoje o local
onde se situa a Reitoria e a Faculdade de Direito 102 . No entanto, à medida que se
massifica a perceção de que o ensino superior é algo necessário, até pelo crescente
entupir do mercado de trabalho, nem que o endividamento se torne a solução 103 104 , o
número de entradas na universidade não teve nenhum abaixamento significativo, pelo
que o problemas se torna menos óbvio. Já o abandono dos estudos é que aumentou105,
aliado também ao contexto atual financeiro na sequência da crise mundial de 2008, da
qual ainda se recupera. O abandono aumentou sobretudo depois da diminuição dos
apoios por bolsa de estudos que se fizeram sentir e que nem a inversão da austeridade
levada a cabo pelo atual governo de esquerda reverteu 106
De um modo geral, o tratamento governativo às universidades continuou, até
hoje, a pautar-se pelo ataque declarado à instituição pública, como é exemplo o Regime

99
Quatro leis e muita polémica entre os 1200 escudos e a propina actual (2003) in Jornal Público. Obtido
de https://www.publico.pt/2003/10/21/jornal/quatro-leis-e-muita-polemica-entre-os-1200-escudos-e-a-
propina-actual-206720, consultado a 2017, 27 de Dezembro.
100
Propinas estão a ser mal calculadas há 14 anos, queixam-se estudantes do Porto in Jornal Público (2017).
Obtido de https://www.publico.pt/2017/03/10/sociedade/noticia/propinas-estao-a-ser-mal-calculadas-ha-
14-anos-queixamse-estudantes-do-porto-1764680, consultado a 2017, 27 de Dezembro.
101
Alexandre Amado reflete sobre o que já foi feito e traça o que se propõe a fazer (2017) in Jornal A Cabra.
Obtido de http://www.acabra.pt/index.php/2017/10/27/alexandre-amado-reflete-ja-feito-traca-propoe,
consultado a 2017, 26 de Dezembro
102
Coimbra. Estudantes em protesto fecham porta férrea (2011) in TVI. Obtido de
http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/conselho-das-republicas/coimbra-estudantes-em-protesto-fecham-
porta-ferrea, consultado a 2017, 27 de Dezembro.
103
Orghlan, Diana (2011). “Ou tens pais ricos ou vais ao banco” - Financiar consumos presentes com
rendimentos futuros
104
Roquette, Inês et al. (2014) Conhecimento financeiro de estudantes universitários na vertente do crédito
105
Álvares, Maria e Estêvão, Pedro (2013). A medição e intervenção do abandono escolar precoce. Desafios
na investigação de um objeto esquivo
106
Mais dinheiro para as universidades, menos dinheiro para bolsas (2017) in TVI. Obtido de
http://www.tvi24.iol.pt/economia/oe2018/mais-dinheiro-para-as-universidades-menos-dinheiro-para-
bolsas, consultado a 2017, 27 de Dezembro.

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Repúblicas de Coimbra e as Lutas Estudantis - do passado ao presente

Jurídico das Instituições de Ensino euperior (RJIEe), diploma que entra na lei em
2007 107 e que prevê alterações fulcrais na organização das universidades como 108 a
introdução de “personalidades de reconhecido mérito externas à instituição” que
revertem a colegialidade para um Conselho Geral (CG), até aqui exclusivamente
composto por alunos, investigadores, docentes e não-docentes. O CG passa também a
ser o responsável único pela nomeação do Reitor. O diploma introduz ainda a
possibilidade da transformação do Ensino euperior Público em Fundação, onde as
decisões de gestão passam a ser decididas por um Conselho de Curadores, puramente
externo e nomeado pelo governo.
Este regime passa a ser o vigente na Universidade do Porto, logo em 2009,
seguido da Universidade de Aveiro e do IeCTE. Em 2015, soma-se a Universidade do
Minho e, no ano seguinte, pela da Nova de Lisboa. 109
As críticas ao RJIEe passam pela constatação de que introduz lógica
vocacionada puramente para o lucro e crescente influência do setor privado, algo
acentuado particularmente no regime fundacional que elimina a colegialidade e obriga
as universidades a obter 50% de financiamento por si mesma, o que se verifica já em
na UC, ainda não fundação. Esta lógica do lucro sente-se já há alguns anos em Coimbra,
quer pelos grandes protocolos com instituições bancárias que levam à existência de
balcões do eantander Totta nas instalações da universidade, quer pela pequena venda
de gelados feita por estudantes apoiados pelos eerviços de Ação eocial como
complemento à bolsa, onde a Universidade nem tem contrapartidas financeira,
compensando com redução no valor das propinas ou senhas de cantinas que o
estudante pode depois transacionar.
. Alavancado nos exemplos do resto do país e nos saudáveis resultados
financeiros da UC desde o crescimento do turismo com a atribuição de selo de
Património Mundial pela UNEeCO em 2013110 (assim como o aumento da propina de
estudantes estrangeiros fora de programas de mobilidade, não protegida por lei, para
sete vezes o valor da propina normal), a equipa do atual reitor João Gabriel eilva
começou a estudar, no ano passado, a passagem da Universidade de Coimbra ao
regime fundacional previsto pelo RJIEe. Ao longo do presente ano civil, o tema esteve
constantemente na ordem do dia, esforço que foi sobretudo conseguido pelo Conselho
de Repúblicas que, desde o primeiro momento 111 , se mostrou contra esta opção. A
unanimidade dentro do CR (embora nem todas as casas tenham participado ativamente
na luta) e as suas diversas ideologias políticas foi conseguida, provando mais uma vez
que, o associativismo politizado emerge nestas casas sempre que surge um assunto
que afeta não apenas a sua existência, mas também toda a comunidade académica. As
repúblicas reuniram em CRs a uma frequência que não se via há alguns anos, dos quais
nasceram múltiplos comunicados112, demonstrações nas fachadas 113 e manifestações,
com especial incidência na semana de 13 a 20 de Fevereiro114. Criou-se a Plataforma

107
Lei nº 62/2007 in Diário da República nº174(2007). Obtido de https://dre.pt/pesquisa/-
/search/640339/details/maximized, consultado a 2017, 27 de Dezembro
108
Ferreira, Hugo (2011). A contra-revolução no Ensino Superior in Revista Vírus #12
109
Mais quatro instituições de ensino devem passar a fundação (2017) in Jornal Público. Obtido de
http://www.ubi.pt/Ficheiros/Eventos/2017/10/7794/Regime%20fundacional%20Univ%20e%20Polit_Publ
ico-20171027.pdf, consultado a 2017, 27 de Dezembro
110
Universidade de Coimbra é património da humanidade (2013) in Jornal de Notícias. Obtido de
https://www.jn.pt/artes/interior/universidade-de-coimbra-e-patrimonio-da-humanidade-3284914.html,
consultado a 2017, 27 de Dezembro
111
Repúblicas de Coimbra contestam e debatem passagem da Universidade a fundação (2007) in RTP.
Obtido de https://www.rtp.pt/noticias/pais/republicas-de-coimbra-contestam-e-debatem-passagem-da-
universidade-a-fundacao_n979919, consultado a 2017, 27 de Dezembro
112
Consultar https://www.facebook.com/realrepublica.dobotaabaixo/posts/1742634669095896
113
Consultar https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2017/01/23/universidade-de-coimbra-
republicas-contra-fundacao/
114
Coimbra: luta anti-fundação (2017) in Jornal O Mapa. Obtido de

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Cláudio Valério Oliveira

Anti-Fundação que passou a funcionar independentemente do CR e em total regime de


abertura à comunidade geral. O 20 de Fevereiro foi marcado por uma participada
concentração humana na Porta Férrea que, com polémica à mistura 115 (acontecem
alegados atos de vandalismo numa sala emblemática da UC, algo que mereceu todo o
foco da discussão da Reitoria, ao contrário da discussão aberta sobre o regime
fundacional), é bem sucedido em pôr o debate na ordem do dia da comunidade
académica e também na campanha autárquica da Câmara Municipal de Coimbra que
aconteceu este Outono. Em Abril, a Plataforma tem já do seu lado organizações como
vários sindicatos e secções culturais da AAC 116 , que integram assim a luta contra o
RJIEe e o regime fundacional.
O alerta associativo chega à organização estudantil mais alargada, a AAC, que
começa a promover plenários e debates sobre a questão, lançando a campanha
“Universidade nas tuas mãos”117. A AAC leva mesmo a discussão a Assembleia Magna,
que se revela a mais participada pelos estudantes na última década, com 300
associados118 (e os estudantes do Conselho Geral da UC) a estarem nos jardins da
associação, local emblemático das lutas contra o Estado Novo. Os estudantes aprovam
a participação da AAC na luta contra a fundação, embora recusem, por alguma margem,
associar-se às repúblicas na manifestação de 27 de Abril, para o qual não contribui a
polémica da manifestação anterior e a opinião negativa generalizada sobre as
repúblicas. Ainda assim, importa ressalvar que, embora não haja uma junção de
esforços entre CR e AAC ou sequer a anulação do divórcio entre as duas organizações,
vigente há quase quatro décadas, a luta pela causa comum tornou-se uma realidade,
revelando o forte espaço que o associativismo deve ter ainda hoje.
Com a comunidade estudantil unida na rejeição deste regime, o assunto
encontra-se agora em suspenso e ainda não foi oficiosamente discutido em seio de
Conselho Geral, algo que dificilmente acontecerá antes deste órgão, com a sua
colegialidade e personalidades externas, elegerem o próximo reitor, algo marcado para
o próximo ano de 2018. eerá aí e na continuidade ou não da luta por parte da
comunidade, onde as repúblicas, apesar da sua reduzida presença, terão muito a dizer.

CONCLUSÃO

Mesmo sendo a literatura existente na análise às lutas académicas


desenvolvidas em seio de república das últimas décadas diminuta, não consigo acordar
em absoluto com a tese que afirma que “as repúblicas jamais conseguiram recuperar a
sua importância dos anos 60 assim como ser centro de atividades académicas 119 .
Embora, a importância das repúblicas e de todo o associativismo se tenha diluído com

http://www.jornalmapa.pt/2017/02/14/coimbra-luta-anti-fundacao/, consultado a 2017, 27 de Dezmebro


115
Reitor acusa atos de vandalismo durante manifestação anti-fundaçãio (2017) in Jornal A Cabra.
Obtido de http://www.acabra.pt/index.php/2017/02/23/uc-vandalizada-manifestacao-regime-
fundacional/, consultado a 2017, 27 de Dezembro
116
Comunicado de Imprensa: Coimbra manifesta-se contra a passagem da Universidade de Coimbra a
Fundação e exige nova discussão em torno do RJIES (2016). Obtido de
http://www.esquerda.net/sites/default/files/comunicado_de_imprensa_27a_0.pdf, consultado a 2017, 27
de Dezembro
117
Estudantes de Coimbra contra regime fundacional na universidade (2017) in Jornal Público. Obtido de
https://www.publico.pt/2017/03/01/sociedade/noticia/estudantes-de-coimbra-lancam-campanha-contra-
regime-fundacional-na-universidade-1763664, consultado a 2017, 27 de Dezembro
118
Assembleia Mgan aprova luta contra regime fundacional (2017) in RUC. Obtido de
http://www.ruc.pt/2017/04/20/assembleia-magna-aprova-luta-contra-regime-fundacional/, consultado a
2017, 27 de Dezembro
119
Vinterovà, Jana (2007). Repúblicas de Coimbra

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Repúblicas de Coimbra e as Lutas Estudantis - do passado ao presente

a evolução da sociedade política democrática portuguesa, creio que a maior mudança


esteve mesmo na sociedade envolvente, menos interessada em dedicar-se a lutas,
sobretudo as dos estudantes (também eles, na sua maioria, alheados e conformados).
As repúblicas, em si, continuam a ser um importante viveiro de ideias e ideais,
sempre atenta aos novos desafios estudantis e sempre fiel aos seus princípios. O papel
que as repúblicas ainda têm como percursora na luta contra a propina e contra o RJIEe
e o regime fundacional ilustram que os repúblicos continuam a estar perfeitamente
alertados para as movimentações políticas ao seu redor, buscando participar ativamente
na sua definição.
Não cairei no erro de negar contudo a afirmação de Estanque:

“Existe uma percepção, que parece estar a insinuar-se entre os


estudantes das casas comunitárias, de que o resultado das lutas
daquela época não correspondeu às expectativas “emancipatórias”
das anteriores gerações e, aparentemente, também não responde às
necessidades da actual geração. Quando os “repúblicos” reconhecem
os impactos dessas lutas na formação da actual “classe política”
estão, porventura, a querer dizer-nos que essa influência não foi tão
relevante quanto seria de esperar, visto que, como sabemos, o seu
ponto de vista sobre os actuais “políticos” se caracteriza pelo
distanciamento crítico. Além disso, como as Repúblicas de hoje estão
longe de possuir a mesma influência das daquela época – ou sequer a
mesma presença física na cidade estudantil –, sendo notória a sua
incapacidade de tocar a massa estudantil mais geral”120
O impacto, na comunidade estudantil, está longe de ser o que foi no passado,
até porque não existe um inimigo tão óbvio, como a ditadura. Embora as lutas de hoje
tenham também transversalidade para as lutas da sociedade, nomeadamente na
oposição ao elitismo e hierarquias das políticas atualmente, não existe uma guerra
colonial ou uma falta de liberdade de expressão para galvanizar oposição unida.
Existe também, de facto, em seio repúblico, um desagrado sentido perante a
evolução da estrutura académica (o próprio herói de 1969, Alberto Martins, tutelou a lei
do RJIEe), da qual são exceções a massificação do acesso ao Ensino euperior a todas
as classe sociais e o papel de igualdade para com mulher, que ainda assim apresentam
desafios (e que, no acesso, já demonstrou menos desigualdade que atualmente). Outros
motivos de desagrado são o distanciamento de vivências culturais e sociais com a
crescente moldura humana global de estudantes (centrada na praxe) face a uma
decrescente nas repúblicas, e também os desafios na própria sobrevivência das
repúblicas a exigir muita da dedicação. Por exemplo, a nova lei de arrendamento de
2012 já vitimou, um ano depois, a República 5 de Outubro121 e, embora, o atual governo
de esquerda mostre vontade em reconhecer o simbolismo histórico de um património
que agora é também da humanidade, o futuro é significativamente incerto.
Ainda assim, mesmo à luz de todos os constrangimentos, os papéis nas lutas
recentes já referidos vêm atestar a investigação de Estanque 122 que aponta para o
sentimento generalizado de politização e associação sociocentrada que ainda hoje
fermenta ativamente nas repúblicas.
Fica difícil traçar uma conclusão definitiva sem um trabalho de campo efetivo,
portanto fica a sugestão de projeto de contactar diretamente com todas as 25 repúblicas,

120
Estanque, Elísio (2008). Jovens estudantes e repúblicos: Culturas estudantis e crises do associativismo
em Coimbra in Revista Crítica de Ciências Sociais #81
121
Aumento da renda leva ao encerramento da República 5 de Outubro em Coimbra (2013) in RTP. Obtido
de https://www.rtp.pt/noticias/pais/aumento-de-rendas-leva-ao-encerramento-da-republica-5-de-outubro-
em-coimbra_v689919, consultado a 2017, 28 de Dezembro
122
Estanque, Elísio (2008). Op. cit

17
Cláudio Valério Oliveira

até antes que este número desça, e fazê-lo para além de um mero questionário, de
forma a averiguar o grau atual de politização e associativismo nestas casas comunitárias
in loco. Não desprezo, claro, o valor estatístico de investigação sociológica com base
em questionários e que Estanque desempenhou com mestria. Os questionário poderiam
ser um complemento a esta sugestão de projeto. No entanto, as repúblicas continuam
a ser um local de fortes vivências cuja transposição para um quadro de sins/nãos ou de
muito/pouco relevante não consegue ir ao fundo de toda a realidade. O espírito livre e
comunitário, com autogestão diária fruto também da herança histórica de várias décadas,
ultrapassa estas fronteiras, e cria um panorama heterogéneo que apenas uma análise
com profundo cunho de experiência pessoal não consegue explicar.
A hipótese que confirmo, mediante a minha pesquisa quase só meramente
bibliográfica e com um pouco de conhecimento de causa, é mesmo a de que as
repúblicas continuam a ser local politizado e associativo. O resto da sociedade, é que
se tornou muito menos politizado.

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Repúblicas de Coimbra e as Lutas Estudantis - do passado ao presente

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20
Repúblicas de Coimbra e as Lutas Estudantis - do passado ao presente

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Propinas estão a ser mal calculadas há 14 anos, queixam-se estudantes do


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2017, 28 de Dezembro

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