Vous êtes sur la page 1sur 38

Ano Letivo: 2017/2018

Curso: História
Cadeira: História Moderna Economia e Sociedade
Docente: Doutora Maria Leonor García Da Cruz

A Liga Hanseática

Trabalho realizado por: Francisco Mutumbua


Número 148603
Turma: TP2
Maio de 2018
Introdução
A Liga Hanseática o que é? Ao longo deste trabalho vou tentar responder a esta questão
analisando o seu legado na Europa do Norte a nível social e a nível comercial, a sua
constituição, organização, e sobretudo o aspeto comercial. Vou analisar a sua
constituição e as problemáticas que advêm com a mesma, de forma a dar um
entendimento melhor desta liga que perdurou desde a Idade Média até ao início da Idade
Moderna.
Antecedentes

Para percebermos as razões e a forma de como é que esta liga nasceu, temos de recuar
até à Idade Media, mais propriamente ao seculo X. Este século é escolhido por uma
razão muito simples, as trocas comerciais que os teutões efetuavam neste mesmo século.
Estas trocas eram deveras frequentes e estenderam-se até à Inglaterra, que em 9781,
durante o reinado de Etelredo II de Inglaterra, encontramos no seu livro de leis uma
referência aos mercadores do império, em que é dito que se alguma afronta contra os
estrangeiros fosse cometida por um nativo, o estrangeiro deveria usufruir da proteção
das leis dos nativos como se ele mesmo fosse um cidadão ao invés de ser tratado como
um estrangeiro. Os teutões estabeleceram-se em Londres, que constitui-o o seu primeiro
povoado estrangeiro, os seus navios quando entravam nos portos ingleses, desfrutavam
dos mesmos direitos, que os navios possuídos pelos ingleses, em troca de um
pagamento que era efetuado na Páscoa e no Natal de dois pedaços de tecido cinzento e
um de cor marrom, cinco quilos de pimenta, cinco pares de luvas masculinas e dois
barris de vinagre.2 Aquando esta menção dos mercadores teutões “descobrimos que ano
a ano os privilégios dos alemães foram estendidos na Inglaterra. Os reis desejavam que
eles fossem tratados como súditos e amigos, e depois de Henrique, o Leão, ter casado
com uma filha de Henrique II. da Inglaterra, a aliança cresceu ainda mais. Privilégios
especiais foram-lhes concedidos no que diz respeito à venda do vinho do Reno.” 3

Estes mercadores alemães tanto podiam ser de Tiel, Colónia e Bremen. 4 Em 1130 é
dada aos mercadores de Colónia o direito de residirem na Inglaterra, o mesmo não
acontece com os mercadores de Tiel e Bremen. Estes alemães naturais de colónia
adquirem na Inglaterra uma casa, a Steelyard, que mais tarde será um dos pontos

1
ZIMMERN Helen, The Hansa Towns pp 16
2
ZIMMERN Helen, The Hansa Towns, pp 16
3
ZIMMERN Helen, The Hansa Towns, pp 16,” we find that year by year the privileges of the German

were extended in England. The kings desired that they should be treated as subjects and friends, and

after Henry the Lion had married a daughter of Henry II. of England, the alliance grew yet closer. Thus

special privileges were accorded to them with regard to the sale of Rhine wine”

4
DOLLINGER, Philippe. The German Hansa. Translated by D. S. Ault and S. H. Steinberg, pp 6
nevrálgicos da liga. Em 1175 adquirem o direito de comerciar livremente pelo reino. No
seculo XIII, vindos de este, os mercadores denominados de “easterlings”5, começam a
entrar na Inglaterra, o que leva à indignação dos mercadores de Colónia, o
descontentamento era tanto que o soberano inglês teve de intervir, concedendo aos
mercadores de Lübeck os mesmos privilégios que os mercadores de Colónia. Em 1237
Henrique III concede aos mercadores da comunidade da Gotlândia isenções
alfandegárias em todos os produtos comprados e vendidos dentro do reino. Em 1266 e
1267 os mercadores de Hamburgo e Lübeck obtêm o privilégio de formar uma Hansa,
são nestes dois documentos em que a palavra hansa é aplicada a um grupo de
mercadores do norte da Alemanha. Apesar de todas estas conceções, paz entre naturais
de Lübeck e naturais de Colónia não era alcançada, foi então em 1281, por intermédio
dos mercadores de Vestefália, que houve uma reconciliação, existindo agora em
Londres uma hansa germânica, sob a autoridade de um vereador que era eleito pelos
mercadores e confirmado pela cidade. Em troca dos privilégios os hanseáticos tinham
de pagar uma renda anual pela sua guilda e partilhar tarefas de guarda e manutenção de
uma das portas da cidade. Com esta reconciliação alcançada houve de facto a criação de
uma federação e de um “kontor” hanseático em Londres

Os mercadores alemães aproveitam e tomam a posição dos frísios, que estava em


decadência, relativamente ao comércio do Norte. As viagens comerciais dos mercadores
de Colónia leva-os para oeste, mas também para o nordeste para a Dinamarca, “havendo
um aumento de interesse destes mercadores que é mostrado pela participação de
Colónia nas cruzadas do século XII.”6 .

As cidades predecessoras da liga eram cidades em que houve um notável aumento


populacional desde o século 11 até ao 13, tinham desenvolvido um código de leis
comum, a existência de burgueses, a preponderante influência dos mercadores na
comunidade, a independência crescente que a cidade detinha em relação ao senhor
feudal, a anexação do governo pelos mais ricos e o desenvolvimento das instituições
administrativas controladas pela burguesia. Um exemplo é a já citada cidade de Colónia
que foi uma cidade importante para o espaço aqui tratado do nordeste alemão e teve um
papel preponderante na elevação das outras cidades deste mesmo espaço. Esta cidade

5
ZIMMERN Helen, The Hansa Towns , pp 39
6
DOLLINGER, Philippe. The German Hansa. Translated by D. S. Ault and S. H. Steinberg, pp 6
desenvolveu-se cedo e tinha uma grande importância económica tal como ser um ponto
intenso de comércio.

Outro aspeto a destacar é o da intensificação na metade do século XII das migrações


que tinham começado há cinquenta anos atrás. Relativamente a estes fluxos migratórios,
Adolfo II de Schauenburg, vassalo do duque da Saxónia Henrique o Leão, deseja que as
suas terras de Holstein sejam povoadas, fazendo assim um apelo às populações com
esse mesmo fim. Este apelo prova-se um sucesso e este monarca decide criar um
estabelecimento comercial na costa do Báltico. Após a investigação para se edificar a
nova cidade foi feita, fundou-se na confluência dos rios Trave e Wakenits a cidade de
Lübeck. A localização desta cidade permitia que fosse fácil a sua defesa, com riscos
mínimos de ataques surpresas de piratas e era favorável para o comércio. A
prosperidade desta foi de tal ordem que se diz que o duque da Saxónia ficou com tanta
inveja da cidade que tentou arruiná-la com várias táticas como construir uma cidade que
a rivalizasse, mas eventualmente a única solução foi forçar o seu vassalo a ceder os
direitos da cidade7. A partir de 1158 a cidade continuou a crescer e a prosperar com
grande fulgor devido aos mais variados privilégios que lhe era atribuído. Com este
grande fulgor de crescimento é possível compreender o aumento rápido da população.
Sendo esta uma cidade comercial, Henrique o Leão concedeu proteção aos mercadores
russos e estrangeiros que por lá passavam, tal como isenções aos mercadores nativos
por todo o ducado da Saxónia. Apesar do bem-estar e evolução da cidade houve várias
querelas e conflitos, como as ambições do duque da Saxónia que eram uma constante
ameaça para a cidade, ou a invasão por parte de Valdemar I da Dinamarca, ou mais
especificamente os seus dois filhos Cnute IV e Valdemar II. Ambos os descendentes
fizeram com que Lübeck se rendesse, em troca da cidade ter os seus privilégios
confirmados, Valdemar II era reconhecido como seu senhor. Apesar dos vários avanços
e conquistas dinamarquesas8, o seu poder foi repelido devido a conflitos perdidos como
a batalha de Bornhöved de 1227, em que os cidadãos de Lübeck tiveram um papel
fundamental. Em 1226 por carta de Frederico II é atribuída à cidade o estatuto de
“civitas imperii” e a extensão de privilégios. Este escalão de cidade imperial que só
tinha sido atribuído a uma cidade, concedeu a Lübeck uma estirpe, que combinada com
a sua prosperidade material, assegurou a liderança nesta parte do mundo.

7
DOLLINGER, Philippe. The German Hansa. Translated by D. S. Ault and S. H. Steinberg, pp 20
8
DOLLINGER, Philippe. The German Hansa. Translated by D. S. Ault and S. H. Steinberg, pp 23
Outro ponto importante a destacar é ilha da Gotlândia. Visto que todos os que queriam
fazer comércio no Báltico teriam de ser entender com os naturais desta ilha não é
surpresa nenhuma que Henrique o Leão, se tenha apercebido disto, reconciliando e
mantendo a paz entre os povos gutas e os alemães em 1161, o duque confirmou também
os privilégios que os povos gutas tinham no ducado da Saxónia. Desde de esta paz os
mercadores alemães tinham autorização para viajar para a ilha, beneficiando muito a
cidade de Lübeck que tinha sido fundada com o comércio do mar no Báltico em vista.
Uma aliança entre Lübeck e a Gotlândia é formada, denominada “universi mercatores
imperii Romani Gotlandiam frequentantes” a comunidade dos mercadores alemães a
visitarem a Gotlândia. Esta comunidade continha mercadores não só de Lübeck, mas
também de cidades de Vestefália e da Saxónia, os mercadores elegiam uma espécie de
vereador que era o chefe da comunidade e juravam um juramento de obediência e
socorro mútuo. Esta comunidade tinha o seu próprio selo adornado com flor de lis. Com
o apoio das cidades interessadas a comunidade cresceu e prosperou rapidamente,
ganhando grande importância comercial. Importância essa que levou os mercadores
alemães a estabelecerem-se na ilha ao invés de a visitar periodicamente. Os mercadores
constroem as suas casas na cidade de Visby na costa oeste da ilha, formando assim uma
cidade. Visby era um centro de trocas ativo, estimulado por feiras, fazendo com que o
seu desenvolvimento fosse rápido e por consequência a sua influência política também,
sendo o processo e rapidez de desenvolvimento comparável ao de Lübeck.

Uma distinta linha de expansão dos mercadores alemães durante a sua expansão para
Lübeck foi a sua deslocação para a os mercados da Rússia, com destaque para
Novgorod, um mercado importante para artigos orientais. Em 1189 o príncipe Jaroslau
sob a forma de um tratado comercial concede aos alemães e aos gutas proteção aos
artigos e a pessoa deles, tal como garantias legais. A medida que os alemães ficaram
mais numerosos, eles adquiriram, perto do mercado o seu próprio estabelecimento, o
Peterhof. Este estabelecimento funcionava como uma espécie de fábrica ou kontor
próprio dos alemães.

Avançado agora para riga, esta cidade foi conquistada na sequência de uma cruzada que
contou com o apoio do papa Inocêncio III, Filipe da Suábia, o rei da Dinamarca, o
arcebispo de Lund, a cidade de Lübeck e a comunidade da Gotlândia, esta cruzada
protagonizada pelo bispo Alberto, adveio de um movimento expansionista em direção a
este aos países do Báltico pagãos como a Lituânia ou a Letónia. A fundação de Riga
deu-se em 1201 pelo bispo Alberto, que no ano seguinte cria os “Frates Militae Christi”
ou a Irmandade da Espada, esta ordem militar aberta a nobre e a mercadores foi criada
com o intuito de defender o território conquistado aos pagãos. A todo o território
conquistado juntava-se a ele a criação de postos de troca.

Enquanto que esta colonização e expansão comercial alemã se estendia pela Gotlândia e
pela Rússia, o mesmo sucedeu-se no leste alemão, apesar deste processo ter sido mais
lento foi em contrapartida mais rigoroso. A conquista militar, a conversão religiosa e a
penetração comercial foram acompanhadas por um fluxo de camponeses numerosos, o
resultado de todo este processo foi a germanização do país para alem do rio Oder. As
cidades, devido a esta colonização alemã, eram concebidas como fortaleza, mercados
regionais e centros de troca e mantimentos, apesar de haver variações locais o processo
de formação destas cidades era o mesmo. Este processo começava com um convite do
senhor local, em que um povoado era formado a volta de um mercado retangular, perto
deste espaço uma igreja paroquial e a câmara municipal eram construídos. Este povoado
no principio ou após uns anos era-lhe reconhecido o estatuto de cidade, recebendo uma
constituição e um código de leis, código este que mudava consoante a localização
geográfica da cidade, por exemplo se a cidade estivesse situada na costa receberia o
código de leis de Lübeck, por sua vez se a cidade estivesse situada no interior receberia
o código de leis de Magdeburg ou de um dos seus derivados no interior.9 Nos primeiros
tempos da sua governação a cidade estava sujeita a um “Vogt”10, ficando mais tarde
sujeita a um conselho, que era composto por membros das famílias mais influentes da
burguesia, o”Rat”. Se a fundação destas cidades prosperava uma segunda ou até terceira
cidade era constituída junto dela. A estas cidades “novas” eram-lhes atribuídas também
uma constituição e um conselho separado. A fusão da cidade “velha” e da cidade
“nova” em uma instituição acontecia geralmente muito mais tarde.

Aquando esta colonização, no século XIII, emergiram várias cidades que iriam ganhar
grande prosperidade comercial na costa do Báltico, tendo Lübeck um papel vital na
preparação e planificação destas novas cidades emergentes. Estas novas cidades que
emergiram serão futuramente cidades constituintes da liga Hanseática, por isso vou
destacar algumas cidades e alguns aspetos fundamentais que as mesmas possuíam. A

9
DOLLINGER, Philippe. The German Hansa. Translated by D. S. Ault and S. H. Steinberg, pp 31
10
BUSK M,Mediaeval Popes, Emperors, Kings, and Crusaders, Or, Germany, Italy, and Palestine, from
A.D. 1125 to A.D. 1268: Volume 1, Pp 46, 49
primeira a ser destacada é Rostock, cidade fundada num lugar em que houve uma
prosperidade comercial no século anterior, foi fundada por mercadores e reconhecida
como cidade em 1218. Wismar apesar de ter um crescimento mais lento, faz parte deste
grupo de cidades costeiras, foi reconhecida como cidade em 1228. Stralsund e Stettin,
duas cidades com importantes portos marítimos, integrantes deste grupo. O ponto
comum na formação destas cidades é sem dúvida a sua potencialidade económica que
elas possuíam, outros aspetos não menos importante englobam a atribuição de um
código de leis a cada uma destas cidades e a fusão de povoados que originam cidades (o
caso de Stralsund). Danzig é outra das cidades fundadas nesta altura que se vai tornar
proeminente no contexto hanseático.

Esta expansão germânica de grande fulgor, continuou a desenvolver-se com a conquista


da Prússia por parte dos cavaleiros teutónicos, a esta ordem foi dado o distrito de Kulm,
e a conquista de todos os territórios dos prussianos como propriedade autónoma e
independente. A estes territórios foram concedidos um certo grau de autonomia
administrativa, extensa propriedade agrária e a lei urbana de Magdeburg. Com a
conquista da Livónia e da Estónia por parte da ordem teutónica, o território alemão
aumentou consideravelmente.

Não podemos falar desta expansão sem mencionarmos a expansão dos mercadores para
a Escandinávia, este espaço do ponto de vista económico estava vazio pronto para o
investimento para aqueles dispostos para tal. Logo depois da fundação de Lübeck
relações comerciais foram postas em prática com a Suécia, com um tratado em 1173
que garantia isenções aos suecos na cidade alemã, nasceu daqui uma relação comercial
próspera para ambos os países. A partir deste momento os alemães começam a
estabelecer-se na Suécia e têm um papel muito importante no desenvolvimento urbano,
como por exemplo, estes mercadores começam a modelar alguns aspetos funcionais na
cidade como a instituição de um conselho que era normal nas cidades alemãs. A realeza
sueca, como era costume muito soberanos fazerem, concedeu privilégios aos
mercadores alemães, mas ao contrário das outras terras, os soberanos suecos atribuíram
estes privilégios de forma a não prejudicar a economia e população sueca.11

A expansão para Bruges, é um caso curioso, visto que ambos os mercadores de Colónia
e Lübeck penetraram pelos portos aqui existentes, nenhum conflito entre eles se

11
DOLLINGER, Philippe. The German Hansa. Translated by D. S. Ault and S. H. Steinberg pp 37
desencadeou, a semelhança do que tinha acontecido em londres. Entre 1252 e 1253 a
condessa da Flandres concede vários privilégios aos mercadores alemães, que entre eles
incluía a segurança dos mercadores e a redução das taxas alfandegárias

Os mercadores alemães nos finais do século XII alcançam a noruega e chegam a


Bergen, o porto mais movimentado do país.

Em finais do século XIII, a Gotlândia entra em declínio e consequentemente a


comunidade de mercadores da Gotlândia é extinta em 1298.

Após esta grande expansão alemã que originou um grande número de cidades deu-se
um fenómeno, fenómeno esse que veio da necessidade de as cidades defenderem a sua
segurança e os seus privilégios, ambos ameaçados devido ao estado de anarquia gerado
pela falha do poder imperial. Este fenómeno conhecido como liga das cidades é talvez
um protótipo da liga hanseática, mas não propriamente predecessora visto que estas
ligas, como a liga do Reno criada em 1254, o foco era mais na luta política do que no
comércio. Em 1246 aparecem duas outras ligas, uma em Vestefália e outra na Baixa
Saxónia. A primeira liga tinha como objetivo assegurar acesso livre aos mercados das
cidades constituintes da liga e combater todos os agressores. As cidades que constituíam
a liga de Vestefália eram: Múnster, Osnabruck, Minden, Hersford, Coesfeld e outras
cidades afiliadas. Sete anos mais tarde foi formada outra liga que ligava Múnster,
Dortmund, Soest e Lippstadt.

Uma das ligas de cidades mais importantes, era a das cidades wendicas, esta liga teve a
sua origem em 1230, quando as cidades de Lübeck e Hamburgo, concedem direitos aos
seus habitantes que passavam pelas respetivas cidades, ao longo do tempo medidas
como proteger as estradas que passassem pelas duas cidades de banditismo e banir
criminosos que eram banidos numa cidade e por consequência banidos da outra. Com o
passar do tempo esta aliança cresceu e ficou cada vez mais forte. Em 1259 as cidades de
Wismar, Stralsund e Rostock juntam-se as duas cidades acima referidas e formam uma
aliança para o combate contra a pirataria e assistência mútua no caso de guerra contra
um príncipe territorial. Apesar destas três ligas serem entidades separadas, elas agiam
em conjunto em decisões importantes, por meio de consulta, fortalecendo a ligação
entre estas ligas.

Avançado um pouco na cronologia, no terceiro quartel do século XIII houve dois


acontecimentos fulcrais que iriam desenvolver e moldar estas ligas de cidades para uma
instituição maior que estava em preparação há muito tempo. O conflito económico com
a Flandres e a guerra com a Dinamarca foram os episódios que marcaram o início da
liga Hanseática.

Comecemos pela Flandres sua querela económica, as relações entre a Hansa (conjunto
das três ligas de cidades) tinham-se deteriorado, isto devido à guerra entre a França e a
Inglaterra que causava perdas enormes por terra e por mar aos mercadores, que exigiam
à cidade de Bruges e ao conde da Flandres indemnizações, devido também ao privilégio
de salvo conduto e ao fato de terem de pagar taxas a que antes estavam isentos. Boas
relações com Bruges eram essenciais para todas as cidades hanseáticas, com o acidente
de 135112, que veio a azedar ainda mais a relação entre estas duas entidades, sentia-se
que importante a intervenção na defesa dos privilégios que estavam a ser ameaçados.
Em 1356 Lübeck convoca uma assembleia para tratar desta situação. Esta assembleia ou
dieta, foi decidido o envio de uma embaixada a Bruges e estabeleceu em nome das
cidades a constituição que o “Kontor” de Bruges tinha usado em 1347, mas também
definiu em grande detalhe o poder e as competências que os seis vereadores tinham, esta
intervenção serviu para estabelecer a subordinação a que o “Kontor”, antes
independente, estava agora sujeito ao grupo de cidades hanseáticas, mais as decisões do
“Kontor” agora só seriam válidas se concordadas pelas cidades. Através das decisões
desta dieta as cidades estavam agora a impor a sua autoridade sobre os seus mercadores
no estrangeiro, este mesmo controlo foi mais tarde aplicado três outros “Kontor”, sendo
estas medidas extremamente importantes para a estrutura final da hansa. O envio da
embaixada de nada resolveu os problemas pendentes com Flandres, e a transgressão de
privilégios hanseáticos levou a um maior azedar nas relações, daí ser convocada em
1358 outra dieta para resolver esta infração de privilégios e também para decidir a
transferência do “Kontor” de Bruges. Assim um bloqueio comercial foi efetuado
abrangendo todo a Flandres. Este bloqueio estipulava que ninguém podia navegar para
lá do rio Mosa, que ninguém podia comprar mercadoria proveniente da Flandres, quem
desobedecesse estas ordens era punido com a exclusão perpétua da Hansa. Em 1360 o
bloqueio foi levantado e as condições da Hansa foram aceites, estas englobam a
confirmação tal como a extensão só seus privilégios, e a confirmação do pagamento das
indemnizações.

12
DOLLINGER, Philippe. The German Hansa. Translated by D. S. Ault and S. H. Steinberg, pp 62
Quanto ao conflito bélico com a Dinamarca, o inicio é marcado pela captura e o saque
de Visby por parte do rei Valdemar IV. Em 1362 uma frota de hanseática dirigida a
Copenhaga foi atacada pelo soberano dinamarquês, sendo capturados doze barcos
hanseáticos. Valdemar IV confiante do seu sucesso capturas barcos prussianos e
assedeia também mercadores prussianos. Devido a esta ação o grão-mestre da Ordem
Teutónica propõe uma aliança militar. Com a dieta de 1367 foram tomadas as finais
decisões, que foram aceites por todas as cidades, e nela participaram, além das cidades
hanseáticas, as cidades não hanseáticas de Kampen, Elburg, Harderwijk, Amesterdão e
Briel. Como forma de aumentar o esforço de guerra as cidades decidiram formar uma
aliança mais unida, uma real liga que tomou o nome de Confederação de Colónia, sendo
prolongada até 1385. Nesta dieta foi também acordado as medidas militares e
financeiras que foram tomadas. Enquanto que esta coligação detinha grande apoio e
poderio devido a alianças com a Suécia, Holsácia, Meclemburgo e a nobreza
dinamarquesa o rei da Dinamarca não conseguiu encontrar aliados. Em 1370 foi feita a
paz com a Dinamarca (paz de Stralsund). No rescaldo deste conflito a hansa recebeu
várias vantagens13 que possibilitaram o seu domínio sobre o rio sonda, foi acordado que
depois da morte de Valdemar IV um sucessor não seria eleito sem o consenso da
Confederação.

A paz de Stralsund marcou a emergência no norte da europa de um novo poder, não era
um poder soberano devido a sujeição a governador de que as cidades que o compunham
estavam submetidas. Entregues os castelos dinamarqueses acordados com a paz de
Stralsund, em 1385 surge a questão se a confederação deve ou não continuar, o
consenso era a falta de fundamento para continuar com a confederação, dai o seu
término.

Introduzidos e explorados estes elementos, podemos ver que a Liga Hanseática não foi
algo que surgiu de forma repentina, mas sim algo que teve um processo de formação
demorado, necessário e um pouco complexo para que se atingisse o clímax desta
organização. Aspetos como a fundação e evolução das cidades viradas para o comércio
e cidades normais, assumir as rotas comerciais utilizadas pelos Vikings e os primeiros
comerciantes da Gotlândia superando os seus predecessores em eficiência e capacidade,
a sua posição entre os mercados consumidores do ocidente e as vastas regiões
produtoras de matéria prima da Europa oriental, a ajuda dos cavaleiros teutónicos na

13
DOLLINGER, Philippe. The German Hansa. Translated by D. S. Ault and S. H. Steinberg pp 71
expansão pela Alemanha adentro, conseguirem apoderar-se do comércio escandinavo e
superar os concorrentes, uma rede de feitorias e entrepostos comerciais em países
estrangeiros distantes que complementava a atividade comercial das cidades hanseáticas
(Bergen, Novgorod, Londres, Bruges), ligas de cidades que se protegiam mutuamente,
mercadores e a sua grande influência, antigas tradições comerciais que vieram a ser
reforçadas com o passar dos séculos, são de longe os mais sonantes e importantes para a
constituição do que viria a ser a liga hanseática.

A liga Hanseática e a sua formação

Será que é possível determinar um ano exato da formação da liga Hanseática? E se sim
qual era o seu objetivo? Porque é que se formaram neste momento e não noutro? O que
é levou a sua formação, será que era urgente, será que foi um meio para atingir um fim?
São estas as perguntas que tentarei responder e explicitar da forma mais clara possível.

Primeiramente e talvez uma das perguntas mais difíceis é a definição do ano de


fundação da “Liga Hanseática”. Várias fontes estão em discordância relação a esta
temática, com os anos de 1358 e 1370 serem geralmente os anos escolhidos para a
fundação da Liga. Apesar de não haver nenhum documento que confirme a criação da
Liga estes anos são escolhidos devido aos acontecimentos que se sucederam. Em 1358
como já foi referido foi convocada a Hansetag com o objetivo de “resolver os problemas
pendentes com Flandres, e a transgressão de privilégios hanseáticos”. Pode-se perceber
o porquê de se considerar este um dos anos de fundação da Liga, visto que com esta
dieta houve um maior controlo sob os mercadores que estavam no estrangeiro, mas
também grande sentimento de unidade para com os constituintes da dieta. Quanto ao
ano de 1370, foi neste ano que o conflito com Valdemar IV da Dinamarca acabou e a
Liga Hanseática chegou ao seu pico de poder, o que poderia indicar uma estrutura mais
consolidada, daí a atribuição deste ano à sua fundação. Neste caso prefiro utilizar o ano
de 1356, criação do Hansetag, como o ano da “fundação” visto que foi este órgão, na
minha opinião, que dá à Liga Hanseática (ao longo dos anos) um caráter mais sério, ou
profissional se assim se pode dizer, é com este órgão que vai haver uma maior
organização, coesão e uma passagem de várias organizações “soltas” para uma
organização com poderes subordinativos mas não soberanos, poder militar e económico,
uma organização de aliança mais firme para o apoio mútuo contra reivindicações de
governo aristocrático, uma organização para enfrentar os problemas causados pela
crescente concorrência, uma organização com as suas próprias leis e estatutos.

A Liga Hanseática resulta assim da fusão entre uma associação de cidades comerciais e
uma comunidade de mercadores alemães ligados por interesses comerciais comuns
abrangidos por um direito mercantil comum, sendo atribuídos a esta liga privilégios
devido ao seu interesse no tráfico por toda a Europa, com o objetivo de manter o lugar
do comércio comum que tinha sido conseguido previamente. Esta Liga vai agora
defender afincadamente as posições conquistadas sob um sistema de proteção coletiva,
que envolve as suas próprias leis, este sistema vai perdurar em toda a política
económica das cidades alemãs. A criação desta Liga é apresentada como um modelo de
integração regional, um sistema econômico que cruzou fronteiras políticas unindo a
Alemanha, Inglaterra, Flandres, Noruega, Suécia, a Rússia e outros estados bálticos. A
Liga Hanseática, criou e organizou um sistema de leis marítimas e comerciais que
influenciaram diretamente o sistema econômico europeu da época. Os membros da Liga
Hanseática, estavam pautados no sistema de monopólio comercial, da mesma forma que
compartilhavam interesses em comum, além de todos os privilégios mercantis, desde
direitos de entradas e saída de mercadorias e segurança.

É de notar que “protótipos” da Liga Hanseática foram criados e que ajudaram a moldar
a organização que se sucedeu, um exemplo disto são as ligas das cidades do século XIII.
O comércio hanseático
O comércio hanseático que teve a sua génese com os mercadores alemães do século X,
pode ser caraterizado essencialmente como uma atividade comercial ampla e muita
heterogénea com grande diversificação de produtos, que era levada a cabo pelos
mercadores das cidades do norte da Alemanha, “transportando produtos do Leste para o
ocidente e vice-versa”. Do século XIII a meados do século XV, a Liga Hanseática
dominou amplamente a troca de mercadorias entre o nordeste e o noroeste da Europa,
cobrindo a matéria-prima e o acréscimo de alimentos do Ocidente a partir do Oriente,
que tinha ficado disponível pela colonização alemã. Foi toda esta atividade comercial
que deu à Hansa todo o seu poder e ascensão. O início do comércio hanseático estava
organizado em função do eixo Novgorod-Reval-Lübeck-Hamburgo-Bruges-Londres,
havendo desvios crescentes para a Dinamarca. A prosperidade deste eixo era vital para a
vida da Liga, uma vez que, este eixo ficava enfraquecido era um prelúdio para o
declínio da Liga, quer seja pela rivalidade de outras potências ou pelo desenvolvimento
de novas rotas. Os principais produtos comerciados eram a troca de peles por cera e
pano, mais tarde sal. Esta prática comercial era mais tarde complementada pelos
produtos dos países vizinhos como o ferro e o cobre provenientes da Suécia, o peixe da
Islândia, Noruega e da Escânia, os cereais, o âmbar, o ouro, pérolas, prata e a madeira
vindos da Prússia e da Polónia, da Inglaterra vieram matérias-primas como lãs, chumbo,
estanho, ferro, carvão e madeira, de Riga e Novgorod, os mercadores transpuseram os
limites do norte da Rússia e da Sibéria em busca de peles e até trouxeram especiarias da
China, os minerais da Hungria e o vinho da Alemanha do sul, os cavalos, as gorduras, a
manteiga e mel da Pomerânia e da Escandinávia. Outro complemento importante que
aumentava o comércio eram os próprios produtos da zona hanseáticas que incluíam a
cerveja, o sal, o linho e os cereais. Outra rota mais antiga que o eixo Novgorod-Londres,
e que era de extrema importância era a rota da Renânia que ligava a Itália, e Frankfurt,
aos Países Baixos e à Inglaterra, apesar de terem “ações” nesta rota os hanseáticos aqui
não tinham nenhum monopólio a não ser a exportação de vinho para o noroeste. Os
hanseáticos tinham também participação no envio de lã da Inglaterra para os Países
Baixos e mantinham contatos regulares com a Inglaterra e a Noruega. Os mercadores de
Colónia efetuavam trocas comerciais entre Frankfurt, Lyon, Milão e Génova. O desejo
da formação das rotas e trocas comerciais frequentes foi definido pelo desejo de
comprar do que vender, visto que os mercadores viajavam com o intuito de encontrar os
produtos que os clientes desejavam do que vender as mercadorias que eles tinham
trazido. Foi esta demanda (e não só) que levou os mercadores alemães em busca do
peixe, do sal e das peles.

Um dos aspetos fundamentais das trocas comerciais hanseáticas era existência de rotas
comerciais bem definidas em que regra geral, os mesmos barcos executavam a viagem
de ida e volta nos mesmo portos.

Geralmente falando, o Leste oferecia matérias primas de baixo custo, enquanto que o
ocidente devolvia mercadorias de luxo em troca. Com isto havia um desequilíbrio na
troca comercial, constatado pela discrepância do valor das mercadorias, por exemplo as
matérias primas que para o ocidente eram mais valiosas do que os produtos trazidos do
oriente devido principalmente à quantidade dos produtos trazidos.

Relativamente ao comércio do peixe, um dos pilares da prosperidade de 1100 a 1600 foi


o comércio florescente de arenque nos mercados de Skanör e Falsterbo, na província de
Escânia, que na época pertencia à Dinamarca. Para a preservação dos arenques, eram
necessárias grandes quantidades de sal, compradas de Luneburgo ou da França. Este
peixe possuía um lugar fundamental na dieta dos cristãos europeus: quando a Quaresma
chegava, ele fornecia o substituto perfeito para a carne proibida. As grandes quantias de
arenque deram um grande impulso à feira realizada nas margens da Escânia, que lidava
famosa pelo seu mercado de arenque, mas nada disso poderia ter acontecido sem a
disponibilidade de sal para preservar este produto. Aqui estava a grande vantagem de
Lübeck. Na Noruega, o desenvolvimento da secagem ao vento em pequenos portos ao
longo da costa da Noruega, onde os ventos do Atlântico transformaram a carne macia
dos bacalhaus em postas triangulares, criaram um artigo de comércio que durou anos
sem apodrecer e que satisfez o aumento da demanda por alimentos ricos em proteína
que a menor população pós-Peste Negra se viu capaz de suportar.

Quanto ao comércio dos têxteis, este comércio nos últimos 300 anos da Idade Média
ocupou o primeiro lugar em termos de riqueza das transações comerciais dos
hanseáticos. Era a mercadoria mais importante e importada para as cidades alemãs. Em
Lübeck em 1368 os têxteis representavam mais de um terço mais de todas as
importações e mais de um quarto de todas as trocas, fatores como a grande procura, a
variedade de escolha em termos de qualidade e preço e as garantias de lucro explicavam
o seu papel preponderante. Nos seculos XIII e XIV os hanseáticos negociavam
principalmente com os tecidos flamencos. No século XV dá-se uma mudança e os
tecidos holandeses e ingleses começam a ter mais relevância e ser comerciados mais
regularmente.

O comércio das peles e das ceras, ambos produtos do Leste, constituía uma espécie de
equilíbrio para com o comércio dos tecidos, um produto ocidental. A demanda pelas
peles nos países do Mediterrâneo era considerável, o grande espectro em termos de
preço e variedades fez com que fosse possível os mercadores adaptarem estes produtos
as suas trocas comerciais para as mais diferentes necessidades. As peles eram
importadas de Novgorod, da Livónia, Polónia, Prússia e Suécia. O comércio de peles foi
sempre considerado como uma atividade altamente rentável. A cera era produzida nos
mesmos países acima referidos, o comércio da cera era menos especulativo do que o das
peles, uma vez que a cera era usada como fonte de iluminação, com uma margem de
lucro de 10 a 15%. No século XIII os hanseáticos estabeleceram um monopólio sobre a
importação da cera do Leste.

Estes três produtos tiveram uma função principal no precoce desenvolvimento da Liga
Hanseática.
Organização da Liga Hanseática

Nos primeiros tempos até metade do seculo XIV, não havia dificuldade em escolher
quem era membro da comunidade, assumia-se que todos os mercadores alemães que
desfrutavam de privilégios hanseáticos no estrangeiro eram membros, parece que havia
uma aceitação plena de aplicantes desde de que fossem do norte da Alemanha ou de
uma cidade báltica que possuísse um grupo de mercadores hanseáticos. Após a
formação da Hansa das cidades, depois da metade do século XIV, possuir os privilégios
hanseáticos estava agora condicionado pela cidadania de uma cidade membro. Em 1366
na dieta de Lübeck foi decretado que só os cidadãos das cidades da Hansa poderiam
usufruir dos privilégios. Este decreto tornou-se inadequado quando se notou que uma
quantidade considerável de estrangeiros se estavam a tornar cidadãos apenas para terem
direito aos privilégios. Como forma de travar estes abusos decidiu-se na dieta de 1434
que apenas pertenciam à Hansa aqueles que tinham nascido em cidades da Hansa. Aqui
a dificuldade latente é perceber quais eram as cidades hanseáticas, ou que cidades eram
membros da Hansa, para tal iria ser preciso uma lista de cidades atualizada, algo
inexistente por várias razões como: os membros da época não terem necessidade de
terem uma lista das cidades, devido a relutância que a Hansa tinha em redigir a lista que
era pedida pelos governos estrangeiros e que podia servir como base para compensação
e a exigência de indemnizações. Apesar desta falta por listas, elas encontram-se
inseridas em documentos oficiais do século XV e XVI, em que o número de cidades
varia entre os 55 e os 80, mas é impossível saber com exatidão o número certo de
cidades, visto que esta estimativa está influenciada por vários critérios.14

Havia três formas de como a uma cidade podia ser membro da Hansa: ao ser aceite
desde o inicio, ser oficialmente admitida por pedido, sendo este pedido analisado e
depois aceite ou rejeitado na dieta, ou “meter-se” oficiosamente. Da mesma forma que
havia três maneiras de uma cidade ser membro da Hansa, havia também três formas
para a cidade deixar de o ser, por exclusão, a cidade retirar-se e a renúncia tácita dos
direitos e deveres de uma cidade da Hansa. É decidido em 1494 que só as cidades líder
é que podiam emitir certificados de adesão aos mercadores. Fazendo parte dos membros
da Hansa, a Ordem Teutónica conferia à Hansa um prestígio, tal como força naval e

14
Dollinger, Philippe. The German Hansa. Translated by D. S. Ault and S. H. Steinberg pp 88
militar, sendo a ordem muito valiosa para a Hansa. A Ordem tinha os seus próprios
objetivos, por vezes envolvendo a Hansa em empresas que danificavam os seus
interesses comerciais e em querelas com poderes estrangeiro, apesar da prosperidade
que a Ordem dava, vai mais tarde ser um dos fatores para o seu declínio.

Quanto à organização administrativa, desde 1356, que o principal órgão que controlava
a Hansa era a sua assembleia geral, o “Hansetag”, esta assembleia era a suprema
autoridade dentro da comunidade. Ela decidia em princípio sem possibilidade de
recurso, todos os assuntos importantes que estivessem ligados à comunidade, tal como:
a ratificação de tratados ou cartas comerciais, as negociações com cidades estrangeiras e
governadores estrangeiros, as questões de paz, guerra ou os bloqueios, medidas
económicas ou militares etc. esta responsabilidade constituía uma tarefa pesada, o que
leva talvez a pensar que este órgão reunia frequentemente, mas na verdade as reuniões
nunca eram em intervalos regulares, a baixa regularidade da convocação deste órgão,
contrasta com o número mais elevado das reuniões das dietas regionais. Devido a sua
imponência e situação geográfica o lugar onde estas dietas aconteceram foi na cidade
proeminente de Lübeck que em 1418 foi oficialmente reconhecida como a cidade líder,
era esta a cidade que geralmente convocava a dieta. Após as discussões os resultados
eram votados por regra de maioria simples, sendo as medidas propostas por Lübeck as
que geralmente eram eleitas. Apesar do “Hansetag” ser uma instituição impressionante,
sofria de fraquezas internas, fraquezas essa que incluíam a abstenção devido aos custos
de enviar um representante ou estar envolvido em uma decisão pouco popular e as
indecisões.

A dificuldade de fazer com que os delegados das diferentes cidades hanseáticas


concordassem no mesmo assunto explica a criação das assembleias dos terços ou
terceiros. Mencionado pela primeira vez em 1347 nos estatutos do Kontor de Bruges,
esta organização consistia no agrupamento de mercadores dependendo do seu país de
origem, sendo eles Lubeck-Saxónia, Vestefália-Prussia, Gotlândia-Livonia.
Geograficamente falando este agrupamento era anómalo visto que não havia interesses
comunais comuns, levando à conclusão que foi estabelecido para contrabalançar o poder
do primeiro terço de Lübeck. Este argumento apenas é encontrado no Kontor de Bruges,
visto que os outros tinham uma organização diferente.

Relativamente às dietas regionais acima referidas, estas tinham um grande papel no


trabalho preparatório para o Hansetag, tal como nas decisões que aí eram tomadas. O
aspeto mais importante nestas dietas eram as decisões de natureza política em relação à
manutenção do estatuto legal das cidades e a sua relação com o governante. Destas
dietas regionais, as das cidades wendicas é que tinham maior influência na política
hanseática.

A comunidade hanseática era baseada nos conselhos individuais das cidades membros,
sabendo-se que estes tinham um papel vital. Estes conselhos convocavam as reuniões
das dietas gerais, discutiam as questões que iriam ser levadas perante a dieta geral.

Assim consegue-se perceber a razão desta organização e importância que cada um dos
órgãos da comunidade hanseática, possuía, estando o funcionamento político e
administrativo da Hansa assegurado pelos três tipos de assembleias acima referidos, na
base estavam os conselhos das cidades, depois vinham as dietas regionais e por fim o
Hansetag com o conselho de Lübeck como seu representante permanente.

Vou agora abordar o modo de organização das cidades e as suas especificidades.

Durante toda a existência da Liga Hanseática, cerca de 180 a 200 cidades foram
membros, agrupados por grupos respetivos, numa área compreendida pelo Zuiderzee, o
rio Mosa, Turíngia, Brandemburgo, Polónia e o golfo da Finlândia. Todas as cidades
ocupavam lugares diferentes de importância dependendo da sua posição geográfica, o
seu tamanho, os seus interesses e a sua fortuna ou a inexistência da mesma. Algumas
cidades foram membros do início até ao fim, outras juntaram-se mais tarde em
diferentes e por vezes por curtos períodos, outras retiraram-se mais cedo ou mais tarde.
As cidades podiam ser agrupadas por regiões geográficas, o núcleo da Hansa era
composto pelas cidades wendicas, este grupo incluía só cidades importantes como as de
Lübeck, Wismar, Rostock e Hamburgo, Stralsund, Luneburgo e a única cidade que não
era importante, Kiel. Outras duas concentrações de cidades, que com a primeira
formava um triângulo hanseático eram: a concentração dos Países Baixos e a das
cidades prussianas e livónicas. Havia ainda um quarto grupo que era mais distante do
mar, era economicamente autónomo, e desempenhava um papel relevante no mundo
hanseático constituído pelas cidades de Colónia, Dortmund, Múnster, Osnabruck e
Wesel. Existiam também outras cidades que não fazendo parte do núcleo hanseático, o
seu papel no quadro das relações comerciais hanseáticas era relevante, sendo essas as
cidades de Visby na ilha de Gotlândia, Breslávia e a Cracóvia. Apesar de haver
divergências devido aos interesses que as próprias cidades tinham, os interesses comuns
a todas as cidades eram tão fortes que estas estas crises acabavam rapidamente e a união
era preservada. Do século XIII ao XV Lübeck era a maior cidade no norte da Alemanha
logo após Colónia, o seu papel excecional deve-se sobretudo à sua posição no istmo de
Holstein, a meio das cidades do Reno e da Prússia. A sua liderança e prosperidade
devia-se sobretudo a atividade dos mercadores e às relações que mantinha com as
cidades vizinhas que complementavam a sua economia. Lübeck embutiu na Hansa a sua
própria energia, mas também, o seu espírito conservador de cautela e rigidez dos
princípios tradicionais em que a prosperidade tinha sido estabelecida em detrimento das
tendências inovativas. No caso de Hamburgo existe uma mentalidade mais aberta
quanto à inovação, devido à sua diferente estrutura económica mais complexa que era
baseada no comércio de longa distância. As manufaturas eram também um aspeto
importante e esta diversificação de funções é o que confere a esta cidade uma
mentalidade mais solta aberta a novas ideias, o que explica a razão da sua economia não
ter sido afetada com o declínio da Hansa.

No Sul, Luneburgo era membro de ambos os grupos das cidades wendicas e saxónicas,
funcionando como uma espécie de intermediário entre as cidades do interior e os portos.
As salinas desta cidade foram a sua fonte de riqueza e prosperidade, dando a Lübeck, a
possibilidade de possuir o monopólio da troca do sal no Báltico. O sal de Luneburgo
também foi decisivo no processo de desenvolvimento do comércio do arenque na
Escânia.

O desenvolvimento dos portos Bálticos de Rostock e Wismar acontecia em paralelo


com o desenvolvimento de Lübeck, sendo a sua prosperidade baseada no comércio
marítimo, particularmente com a Escandinávia. No início do século XV podem ser
vistos sinais de decadência como a diminuição do tamanho do contingente militar. o
mesmo caminho é trilhado pela cidade de Stralsund, onde as relações comerciais por via
marítima eram ainda mais importantes chegando a alcançar a Inglaterra e a Flandres.

No que toca à estrutura social das sociedades hanseáticas e a história da mesma, houve
sempre conflitos recorrentes entre as grandes famílias e as guildas. Como já foi dito a
diferença e distinção social das cidades da Hansa, residia na riqueza. Por exemplo em
Hamburgo existiam cinco grupos sociais de acordo com a sua riqueza: em primeiro
lugar estavam os ricos que possuíam mais de 5000 marcos de Lübeck, este grupo
envolvia os grandes mercadores e os rendeiros, o segundo grupo consistia em donos de
navios, vendedores de panos e os mais ricos cervejeiros, e tinham de ter na sua posse
entre 2000 a 5000 marcos, o terceiro grupo incluía a maioria dos cervejeiros, talhantes e
ourives com um poderio económico que variava entre os 600 e os 2000 marcos. Por fim
o último e mais pobre grupo tinha na sua constituição pequenos artesãos, homens que
trabalhavam a jorna e empregados domésticos tendo estes na sua posse entre 150 a 600
marcos. Obviamente esta classificação não pode ser aplicada a outras cidades devido às
disparidades e caraterísticas económicas que existiam entre si.

As grandes ou o patriciado era constituído pelas famílias mais ricas e influentes da


cidade. Mas no caso de Lübeck o patriciado era composto por mercadores e rendeiros,
havendo em 1408 um decreto que estipulava que no futuro os mercadores e rendeiros
apenas deviam ter direito a metade dos lugares no conselho da cidade. A riqueza dos
mercadores e dos rendeiros baseava-se sobretudo na propriedade urbana e rural, na
participação comercial, nas empresas de manufaturas, “ações” que detinham sobre os
barcos e bens móveis. É possível observar a preponderância do elemento mercantil nas
cidades hanseáticas. Em quase todas as cidades o patriciado possuía as suas próprias
associações que permitiam estender a influência que eles detinham sobre a cidade, como
por exemplo em Colónia uma associação deste género era a guilda de mercadores que
pode ser identificada até ao século XI, sendo mais tarde substituída pelo “Richerzeche”
que continha grandes mercadores e proprietários rurais na sua formação. Esta
associação executava controlo absoluto sobre o governo da cidade até ao fim do século
XIV. Em todas as cidades a solidariedade do patriciado era reforçada pelos casamentos
mistos. O patriciado era continuamente incentivado a receber novos membros devido ao
rápido desaparecimento das suas famílias devido as migrações, epidemias e
degeneração.

No caso das guildas artesanais ou corporações de ofício, eram nestas associações que a
maioria da população urbana estava agrupada, aqui todas as trocas eram representadas
como os têxteis, a madeira, o couro, os metais e a comida. Até ao século XVI foram
concedidas cartas que garantiam o monopólio e explicitavam a organização profissional
das guildas. As guildas mais influentes geralmente formavam um grupo privilegiado
que poderia adquirir direitos políticos e representação no conselho da cidade. A
organização interna das guildas hanseáticas no seculo XIV, como era norma tinham dois
a três aprendizes por mestre, o número de companheiros aumentava tal como a
dificuldade de se tornarem um mestre, o preço de entrada para a guilda era alto e
produção de uma obra prima era necessária. Estas medidas tiveram o efeito de reduzir o
número de membros das guildas enquanto que o número de mercadores continuava
estável ou por vezes aumentava, devido a esta diferença podemos perceber o porquê do
falhanço das pretensões políticas que as guildas desejavam ou propunham. O controlo e
organização destas guildas estava subordinado ao conselho da cidade. No século XIV as
dietas regionais enunciavam as regulações para lidar com as guildas. Disputas
relativamente à posse de direitos políticos e representam no governo por parte das
guildas surgiram, de disputas esporádicas passaram a ter um cunho mais sério e uma
dispersão maior, tendo adquirido uma dimensão mais aguerrida no século XVI com
disseminação da Reforma. Fatores importantes como a exclusividade do patriciado,
descontentamento com os impostos e pobre gestão financeira foram fatores que estavam
no cerne das disputas e lutas das guildas. É importante notar que nestas revoltas não
houve uma clara luta de pobres contra ricos, havendo instâncias em que as guildas e o
patriciado se uniam numa causa comum.15

Um dos exemplos da vida de um mercador hanseático pode ser visto com os irmãos
Veckinchusen. “No início do século XV, dois irmãos, Hildebrand e Sivert von
Veckinchusen, trabalharam com membros e agentes da família em Londres, Bruges,
Danzig, Riga, Tallinn e Tartu (também conhecido como Dorpat), bem como em Colônia
e na distante Veneza, compartilhando a mesma ética laboral, métodos de negócios e
preferências culturais. Os Veckinchusens são de interesse precisamente porque nem
sempre tiveram sucesso, e suas carreiras mostram claramente os riscos que precisavam
ser tomados para as rotas comerciais manterem-se vivas no momento em que a pirataria
permanecesse uma ameaça constante, quando os dinamarqueses ainda estavam a exibir
o seu poderio no Báltico, quando os marinheiros ingleses tentavam criar seu próprio
nicho no mercado, e quando as tensões internas nas cidades da Hansa ameaçavam
perturbar o comércio. Os irmãos Veckinchusen originaram-se em Tartu no que hoje é a
Estônia, embora se tenham tornado cidadãos de Lübeck. Eles são conhecidos por terem
estado em Bruges nos anos 1380. Operavam, portanto, entre os dois centros comerciais
mais importantes do norte da Europa, ligados pela rota marítima hanseática através do
Øresund. Os Veckinchusens não estavam ligados a Bruges, de facto, quando Hildebrand
encontrou uma noiva, ela era uma jovem de uma próspera família de Riga. Indo a Riga
para o seu casamento, que foi organizado por um dos seus irmãos, deu-lhe a
oportunidade de experienciar a rota para Novgorod, onde o Kontor continuou a

15
Dollinger, Philippe. The German Hansa. Translated by D. S. Ault and S. H. Steinberg, pp 138
florescer, e onde trouxe para venda treze parafusos de tecido de Ypres , cujo
comprimento total teria sido cerca de 300 metros, ou seja, uma quantidade considerável
de alguns dos melhores teares de lã que a Flandres então produzia, vendendo mais tarde
por 6.500 peles, o que dá alguma ideia não apenas do alto valor do tecido flamengo,
mas da fácil disponibilidade de esquilos, coelhos e peles mais finas na Rússia do século
XV. O seu irmão Sivert, agora a morar em Lübeck, avisou-o de que estava a cometer
muitos riscos financeiros. Essa obstinação nos seus negócios custar-lhe-ia caro nos
próximos anos. Hildebrand retornou a Bruges e tentou se manter-se à tona com
empréstimos italianos, mas começou a perceber que não poderia pagá-los e fugiu para
Antuérpia na esperança de escapar aos seus credores. Atraído de volta a Bruges por
promessas de que os seus amigos o ajudariam a resolver os seus problemas, ele logo
viu-se na prisão do devedor, onde permaneceu na miséria por três ou quatro anos,
quando foi libertado, em 1426. Ele partiu para Lübeck, mas ele morreu anos depois,
sem dúvida desgastado pela sua jornada. As suas ambições nunca foram correspondidas
pelo seu sucesso. No final de sua vida, Hildebrand tinha sido dececionado pela sua
família, mas a solidariedade familiar era a chave para o sucesso destas famílias
comerciais hanseáticas. Não há razão para supor que sua ascensão e queda fosse
incomum, o comércio era sobre riscos e numa era de pirataria e guerras navais, as
probabilidades de sempre lucrar eram pequenas. Curiosamente, os lugares que atraíam o
maior interesse do clã Veckinchusen eram cidades próximas do mar, com a exceção de
Colônia e seus empreendimentos equivocados por terra através das cidades do sul da
Alemanha até Veneza. Isto sugere que as rotas através do mar carregavam a força vital
do Hansa, e que muitas cidades do norte da Alemanha que se tornaram membros
estavam principalmente interessadas nos bens que atravessavam o Mar Báltico e o Mar
do Norte.”

Já aqui muitas vezes referido, mas fazendo parte das cidades estrangeiras, o “Kontor”,
pode ser definido de uma forma mais fácil como uma associação de mercadores alemães
no estrangeiro, era fundado espontaneamente e era acordado com privilégios especiais
por parte dos soberanos onde a associação se instalava. Quatro Kontores eram
fundamentais para as operações comerciais da Hansa sendo eles o de Londres, o de
Bruges, o de Bergen e o de Novgorod. Para que fosse possível a ascensão e crescimento
desta associação, várias qualidades tinham de ser reunidas como a existência de um
importante centro comercial de uma distância considerável da Hansa, onde os
hanseáticos podiam comprar grandes quantidades de produtos em que havia uma grande
busca por eles, era também fulcral que as autoridades locais estivessem dispostas a
conceder privilégios aos mercadores. A organização do Kontor era tão rigorosa que
tinha os seus próprios líderes, tribunais e tesouraria. Em contraste à Hansa o Kontor
tinha um estatuto legal de corporação e tinha o seu próprio selo. Todos os mercadores
alemães a visitar estas cidades tinham obrigatoriamente de reportar ao Kontor, onde se
submetiam às estritas leis que constavam nos estatutos e passarem a sua estadia no
edifício desta associação. A administração era uma tarefa difícil, visto que implicava
jurisdição sobre os seus membros, administração dos fundos que provinham das multas
e dos impostos, negociação comercial, diplomática ou legal com as autoridades locais e
correspondência com as cidades.
Aspeto Militar

Começarei por abordar este tema do ponto de vista naval, visto que sem este elemento o
comércio e a expansão alemã não se teriam disseminado de modo tão rápido, daí
começar mais especificamente pelas embarcações usadas não só durante o período da
liga, mas também durante o período anterior da expansão. As preocupações marítimas
estavam no coração dos assuntos hanseáticos, sendo os armadores entre os homens mais
influentes da Liga. Na verdade, a propriedade dos navios tendia a ser compartilhada
(pelo menos uma embarcação tinha nada menos que 64 proprietários). Tais homens
eram retirados de praticamente todos os grupos sociais, por isso toda a população de
uma cidade marítima tinha um interesse próximo na manutenção de uma frota
substancial.

A expansão comercial alemã do seculo XII estava lado-a-lado com o desenvolvimento


das embarcações hanseáticas. Por pelos menos duzentos anos as embarcações alemãs
tinham sido adaptadas para as novas condições de comércio, isto dava em relação aos
seus adversários uma notável vantagem e pode ser também o principal motivo para a
proeminência hanseática até ao século XV. Quando Lübeck foi fundada havia dois tipos
navios que navegavam no mar do Norte, o dracar viking e o veleiro ocidental ambos
tinham capacidade limitada de carga. Eventos como a colonização e as cruzadas de leste
exigiam navios maiores e com mais capacidade de carga, dai nos finais do século XII,
aparece uma embarcação maior denominada coca, este navio possuía uma capacidade
de carga de 200 toneladas, uma alta popa, a partir da qual os piratas poderiam ser
combatidos de melhor forma, e um mastro, mas, mais tarde foi equipada com dois ou
três mastros, possuindo também uma vela quadrada e tendo grande velocidade em
ventos favoráveis, cerca de 4 a 5 nós. No século XIV apareceu na área hanseática outro
tipo de navio o “hulk ship” de dimensões modestas e com um mastro maior que o da
coca. Este navio cresceu gradualmente até ultrapassar a coca em termos de capacidade
de carga e em termos de dimensão conseguido transportar 300 toneladas. Nos finais do
século XV temos a introdução da caravela, caraterizada por ter três mastro e um casco
suave, a caravela conciliava velocidade com a grande capacidade de carga que chegava
às 400 toneladas. Apesar destas introduções, foi “hulk ship” que permaneceu como
embarcação principal hanseática. A frota hanseática, constituída por cerca de 1000
navios e cerca de 60 000 toneladas é sobretudo caraterizada por um número excecional
de grandes navios, apesar de incluir embarcações mais reduzidas como os veleiros de
tonelagem média, variável entre as 25 e as 50 toneladas, encontram-se os “Kraier” e os
“Ewer.” Mais numerosos eram os pequenos veleiros costeiros que ao longo do tempo
foram remetidos para tarefas mais modestas. O “Schute” e o Schnigge eram barcos
rápidos e pequenos, que em caso de perigo podiam ser utilizados como navios de
reconhecimento à frente dos navios maiores, mais pequenos ainda do que estas
embarcações eram o “Balinger” e o “Busse” usados para o transporte de sal e madeira.
Em tempo de guerra a cidade contratava dum cidadão privado a sua embarcação e
armava-a à sua própria custa. Com estes números a Hansa era uma grande, rica, e a
dominante potência naval do período. Devido a expansão comercial marítima, foi
necessário um incremento na construção de navio em todos os portos, não só por este
motivo, mas também devido ao desgaste rápido e as perdas das embarcações por
naufrágio e pirataria, substituições eram necessárias. Foi feito um esforço considerável
para aumentar o número de navios e a qualidade dos mesmo na sua construção. Todas
as cidades da Hansa que afirmavam ser portos marítimos tinham indústrias locais de
construção naval desde cedo, juntamente com os negócios associados. Estes se refletem
nos nomes das ruas em muitas cidades outrora pertencentes à liga: Ankerschmiedegasse,
onde foram feitas as âncoras, Reepschlägerstrasse e Reeperbahn, onde foram feitas as
cordas, Lastadie ou cais, Brakbank, onde os navios foram transportados para conserto.

Quanto à navegação, não é de surpreender que simples faróis estivessem a ser


construídos pelo menos desde o início do século XIII. Os canais entre as costas e os
portos principais eram similarmente marcados por boias, enquanto os pilotos marítimos
experientes ofereciam os seus serviços para navegar em águas difíceis. Em 1447, a Liga
tornou obrigatório o uso de pilotos credenciados, isto não era apenas para a segurança
imediata dos navios envolvidos, mas também para garantir que canais vitais não fossem
bloqueados por destroços. Ao longo dos anos, o transporte marítimo da Hansa operou
dentro de um quadro de regras cada vez mais disciplinado e estruturado, supervisionado
pelo “Schiffsrat”, um órgão que regia os marinheiros e armadores, por exemplo havia
regulações que garantiam a segurança dos navios da Hansa, como em 1403 em que foi
decretado que a navegação era proibida entre 11 de Novembro e 22 de Fevereiro. Esta
medida tinha em vista acabar com os acidentes que aconteciam devido as viagens de
inverno. Outros regulamentos incidiam sobre o tamanho máximo dos navios que eram
usados. As cidades por vezes emitiam regulamentos individuais como em 1440, quando
Hamburgo especificou o equipamento militar a bordo de seus navios. A disciplina a
bordo era regulada de maneira similar por oficiais do almirantado de Hamburgo, e
outras cidades hanseáticas tinham suas próprias regras. O fato de que todos os navios,
exceto os menores, deveriam ter a aptidão de se defenderem contra os piratas
significava que suas modificações para o serviço de guerra pareceriam simples,
enquanto uma aceitação disciplinada de tais regulamentos provou ser útil durante as
campanhas navais hanseáticas. A organização e a disciplina que suavizaram o comércio
hanseático também sustentaram o poder naval hanseático. Como resultado, a Liga
poderia reunir esquadrões navais substanciais em horários e locais acordados, obtendo
uma vantagem estratégica e vencendo os confrontos navais resultantes. No entanto,
havia limitações severas às capacidades navais da Hansa, e só conseguiu, na verdade,
enfrentar inimigos que não possuíam uma frota considerável e estruturada
organizacionalmente como a da Hansa. Mesmo a pirataria não pôde ser totalmente
superada, permanecendo o principal problema para as cidades marítimas do norte da
Alemanha, especialmente durante o século XIV. A estrutura de comando dos navios
hanseáticos era bastante simples. O capitão em comando era geralmente o proprietário
ou um dos proprietários do navio, estes homens eram chamados de “schiffer” ou
“schipper” (capitão). Tais homens poderiam comandar um esquadrão, e, como grupo
social, ganhavam status social significativo dentro das cidades mercantis. Outro posto
marítimo era o “setzschiffer” ou “schiffsführer” (navio-mestre), que assumia o controlo
quando o capitão não estava em serviço, mas permaneceu pago e raramente tinha
participação na propriedade da embarcação. O comando de uma frota era uma
nomeação temporária que exigia uma experiência considerável. As operações navais
hanseáticas testemunharam o desenvolvimento de uma verdadeira arte marítima de
guerra com táticas e estratégias associadas, de modo que aqueles que eram capazes de
comandar eram avidamente procurados pelas cidades hanseáticas. Os comandantes dos
comboios eram geralmente nomeados pelos vereadores da cidade, assim como os
capitães de guerra, enquanto esses vereadores também decidiam sobre a compra de
navios, o pessoal que iria compor e a formação de frotas. No mar, um almirante tinha
autoridade absoluta sobre marinheiros, soldados, mercenários e civis, bem como sobre
as ações da frota. A partir do final do século XIV, a estrutura de classificação a bordo
dos navios hanseáticos comandados e modificados para o serviço militar tornou-se mais
formalizada. Pode-se presumir, no entanto, que quando as autoridades municipais
fretavam navios para fins militares, muitas vezes também contratavam as suas
tripulações. Embora a Hansa nunca exigisse que os navios hanseáticos fossem
tripulados apenas por cidadãos da Liga, o emprego de marinheiros estrangeiros era raro.
Enquanto isso, a Hansa tomou um cuidado especial para regular as relações entre
capitães e tripulações, com regras detalhadas sobre os deveres e direitos de ambos. Os
marinheiros eram na sua maioria provenientes de pescadores, trabalhadores diários e
camponeses rurais. O seu bem-estar e suas vidas estavam nas mãos dos mercadores e
das autoridades municipais, mas seus salários eram previsíveis e eles também podiam
participar das negociações, o que, com sorte, poderia elevar as famílias a algum nível de
prosperidade. Os salários eram conceituados de acordo com as habilidades e deveres a
bordo do navio, por exemplo, o carpinteiro de um navio era altamente pago, assim como
artilheiros e tripulantes experientes com autoridade sobre outros. Mesmo os marinheiros
comuns gozavam de respeito, pois eram reconhecidos como vitais para a prosperidade e
segurança das cidades hanseáticas. Em muitos aspetos, este sistema militar parece
notavelmente moderno, mas a guerra naval medieval tendeu a ser excecionalmente
implacável e brutal. A derrota em combate com piratas quase sempre significava morte,
já que os cativos raramente eram levados. Todos a bordo, portanto, lutavam para
defender o navio, incluindo passageiros e comerciantes, pois uma demonstração eficaz
de determinação poderia fazer com que os piratas se retirassem. Do outro lado, os
próprios piratas não poderiam esperar misericórdia. Cada navio hanseático foi
supostamente munido de munições suficientes para se defender contra a persistente
ameaça da pirataria. Um cuidado ainda maior foi tomado em tempo de guerra, quando
as regras sobre o porte de armas por aqueles que não eram membros da elite militar
tradicional estavam mais relaxadas. Por exemplo, durante a fase final da guerra com a
Dinamarca de 1368, as cidades marítimas alemãs continuaram a operar normalmente,
mas ordenaram que seus cidadãos viajassem totalmente armados. Antes da introdução
das armas, o armamento a bordo desses navios era essencialmente o mesmo que era
usado em terra. Quando se tratava de lidar com frotas substanciais, as cidades
hanseáticas eram extraordinariamente eficazes e superavam os seus rivais. Quando os
navios foram reunidos, as suas capacidades e manobrabilidade eram avaliadas antes que
a frota partisse. Os de Lübeck, por exemplo, foram às vezes testados em Travemünde,
no estuário onde o Trave entra no Mar Báltico. Na falta de navios de guerra dedicados
ou especialmente construídos, as cidades da Liga "prenderiam" ou comandariam
embarcações adequadas que poderiam então ser modificadas para a tarefa em mãos.
Uma característica da história mercantil e militar hanseática que às vezes é
negligenciada diz respeito ao comércio fluvial, mas era tão importante que a segurança
das principais rotas fluviais se destacava nas preocupações hanseáticas. Muitos
membros da Hansa estavam localizados em rios, ou perto de seus estuários ou ainda
mais para o interior. Na verdade, a navegação fluvial era quase tão importante quanto a
liberdade dos mares abertos e resultava em alguns regulamentos modernos. Estes
pretendiam proibir o arremesso de lastro ou lixo dos navios e, assim, asfixiar canais já
estreitos, especialmente em estuários pouco profundos. Esses principais cursos de água
também foram usados em tempos de guerra e não apenas para o transporte de exércitos.

Como forma de demonstrar o poderio naval e militar da Hansa, alguns conflitos com
certos países que vão ser explicitados podem ajudar a perceber melhor o poder que esta
liga detinha. Comecemos pelos holandeses. os mercadores holandeses haviam sofrido
perdas notáveis na batalha de La Rochelle, mas inicialmente tentaram mediar entre os
flamengos e os hanseáticos. No entanto, os próprios holandeses tiveram disputas tanto
com a Liga quanto com os flamengos, o que levou a uma grande divisão na qual a
monarquia dinamarquesa apoiou os holandeses, talvez com o intuito de enfraquecer os
seus rivais hanseáticos. Os dilemas surgiram quando as cidades hanseáticas de Lübeck,
Wismar, Rostock, Stralsund, Hamburgo e Luneburgo se encontraram em conflito com
Eric de Holstein, rei dos três estados escandinavos da União de Kalmar. As cidades
hanseáticas prosseguiram sua estratégia tradicional de bloquear os mares estreitos que
separavam a Dinamarca dos reinos do norte da União; isso prejudicou o comércio de
interesses não-hanseáticos, especialmente os holandeses, entre os quais o sentimento
anti hanseático havia inflamado desde 1418. Eventualmente, uma frota holandesa
rompeu o bloqueio hanseático e navegou para o Báltico, onde suas atividades
interromperam o comércio hanseático. Isso, por sua vez, causou um sentimento anti
holandês, especialmente em Hamburgo, que enviou corsários contra os navios
holandeses em 1430. A disputa tornou-se tão prejudicial para todos os lados que a paz
foi pactuada em maio de 1435, com um tratado que favoreceu fortemente a Hansa. No
entanto, a disputa entre as cidades wendicas e os holandeses arrastou-se para o Báltico,
apesar das tentativas do Grão-Mestre dos Cavaleiros Teutônicos de mediar.
Infelizmente, este sucesso hanseático sobre os holandeses resultou em excesso de
confiança por parte da Liga, que ainda tendia a ser vista como a maior potência
marítima do norte da Europa, isso levou-a a ignorar, entre outras ameaças potenciais, o
poder económico e militar em rápido crescimento dos duques da Borgonha. A luta
contra a União de Kalmar de 1426 a 1435, entretanto, expôs profundas diferenças
dentro da Liga Hanseática, principalmente entre as cidades do Leste e do Oeste, e várias
cidades hanseáticas já mostravam tendências separatistas. Os holandeses podem ter
perdido o recente confronto, mas a competição com a Liga ficou cada vez mais forte.
No final do século XV, os holandeses estavam avançando não apenas no comércio e no
número de navios, mas, significativamente, na tecnologia marítima e na reputação de
seus marinheiros.

No que toca à cooperação militar naval, os membros viam-se envolvidos em conflitos


que não eram corsários ou piratas. Apesar dos consideráveis esforços e gastos, a Liga
Hanseática nunca teve o seu próprio exército ou marinha, estando as forças militares sob
responsabilidade das cidades individuais. De fato, a Liga sempre preferiu colocar em
prática a diplomacia, alianças e pressão econômica contra os adversários do que o
próprio confronto bélico. A maioria dos confrontos foram travados para manter os
privilégios comerciais existentes, embora em casos como o confronto com Bruges, em
1282, a defesa desses direitos pudesse envolver embargos comerciais em vez de conflito
bélico. Dois anos depois, deu-se a primeira verdadeira campanha militar envolvendo as
forças hanseáticas para manter os privilégios comerciais na Noruega, apesar de ainda
ser de teor essencialmente económico apoiada pela força naval. A Liga Hanseática
convocava um grande número de marinheiros para manejar sua frota, especialmente das
comunidades pesqueiras e também mercenários navais.

No que toca à defesa das cidades e à organização militar terrestre temos de recuar até ao
século XIII para entendermos como é que estas cidades se defendiam. No século XIII,
uma estrutura militar feudal estava em vigor ao longo das fronteiras orientais do
Império Alemão, mas seus vínculos eram mais soltos do que em outras porções da
Alemanha. No norte da Alemanha, como em outras partes da Europa, as forças de
combate urbanas eram frequentemente baseadas em bairros urbanos e estruturas de
guildas. Este último variou das guildas abastadas de comerciantes politicamente
poderosos para aqueles de artesãos bastante humildes. Lübeck não era a única cidade a
ter uma administração militar efetiva. Cada paróquia dentro das fortificações organizava
uma unidade de milícia de cidadãos locais, sob um quartel-mestre nomeado pelo
conselho da cidade, que governava e tinha como obrigação defesa da cidade. Os campos
de treino e de tiro onde os milicianos podiam praticar as suas habilidades eram mantidos
por impostos. A partir do século XIII, os principais elementos dentro das milícias
urbanas alemãs eram os homens couraçados equipados e treinados para o combate corpo
a corpo, tanto a cavalaria como a infantaria, sem esquecer os besteiros que formavam
uma força separada. Mais tarde as bestas tornam-se características dos exércitos
hanseáticos. Os contingentes da milícia urbana vestiam as cores da cidade e marchavam
atrás de seus próprios estandartes. Este sistema não funcionava sempre perfeitamente.
As tensões políticas persistiram, e algumas vezes teve de ser feita uma escolha entre
segurança externa e estabilidade interna. Se grupos divergentes dentro de uma cidade
fossem desarmados, a cidade perderia tropas vitais, mas se permanecessem armados
representavam um risco de segurança. Assim, algumas cidades hanseáticas, como a
Colônia no século XIV, tomaram medidas drásticas ao retirarem das suas milícias
homens de combate úteis. “Militarmente mais importante para as emergentes cidades
hanseáticas eram os mercenários. De modo geral, os príncipes autônomos do norte da
Alemanha confiavam menos nos mercenários, com a notável exceção dos Cavaleiros
Teutônicos. Para as cidades de Hansa, a maioria da infantaria mercenária foi recrutada
em Hanôver, Westfália, Turíngia e Saxônia. Os besteiros mercenários substituiriam os
besteiros da milícia local no final do século XIV, e até o final do período medieval as
cidades hanseáticas recrutavam mercenários para o dever de guarnição, mesmo em
tempos de paz. Os "funcionários da cidade" regularmente pagos das cidades hanseáticas
mantinham a lei e a ordem, em vez de servir como um exército. Os besteiros não eram,
é claro, os únicos soldados a pé - milicianos ou mercenários - criados por membros da
Liga Hanseática. De fato, tem sido sugerido que as cidades hanseáticas desempenharam
um papel de liderança na ascensão e desenvolvimento de formações de infantaria coesas
e bem treinadas no norte da Alemanha.”16

O Declínio da Liga

A Liga Hanseática começou a declinar gradualmente no seculo XVI, apesar ter


sobrevivido por quase 500 anos, devido sobretudo à situação geográfica que as cidades
hanseáticas se encontravam, existem vários fatores que contribuíram para o declínio
desta Liga, sendo um dos principais a emergência dos estados-nação com o tratado de

16
NICOLLE David, Forces of the Hanseatic League 13th–15th Centuries., pp 15
Vestefália. Outros fatores como um declínio econômico devido ao desaparecimento dos
enormes cardumes de arenque, confrontos com os reinos da Dinamarca e da Suécia, que
agora se tornaram muito mais fortes, o facto de a Liga ter-se se tornado política e
guerreira, em vez de permanecer comercial e pacífica, a Reforma, a emergência de
economias nacionais e territoriais que não deixavam espaço para a Liga, A Guerra dos
Trinta Anos que destrói a área de comércio dos mercadores hanseáticos, a incapacidade
de união entre as cidades hanseáticas e o constante conflito interno, a falta de apoio de
um estado poderoso, competição com os holandeses, o seu conservadorismo desde o
século 15 a dentro que instituía uma proibição dos seus próprios mercadores de estarem
em parcerias com estrangeiros ou efetuar trocas com crédito, isto aumentava a
inferioridade em relação aos seus adversários, a heterogeneidade da liga na sua
composição que não poderia ser mantida em conjunto diante o crescente sentimento de
nacionalismo europeu e a passagem e transformação política e económica da europa.

Assim muito resumidamente podemos ver que os fatores mais sonantes foram sem
dúvida a incapacidade de conciliar todos os interesses das diferentes cidades (o que era
impossível), a nova realidade política europeia que se instaurou, ou pelos menos os
antecedentes e medidas dos soberanos com traços de modernidade que condenaram a
Liga. Abaixo vou mostrar alguns exemplos e contextualizar o que acima foi referido,
como por exemplo a guerra entre a Holanda e as cidades wendicas, em que Lübeck já
tinha sido forçada a desistir do direito de comércio ao longo do estreito de Øresund ao
condado da Holanda, o que contribuiu muito para o crescimento do comércio holandês.
O equilíbrio das rotas de comércio mudou para cidades como Amsterdão, Antuérpia e
Londres, deixando o comércio hanseático cada vez mais confinado à região do Báltico.
Isto fez com que as cidades do Báltico, Prússia e Wendicas, que se atuavam nos
mesmos mercados de comércio do Báltico, rivalizassem em vez de serem aliados.

Em 1669, o último dia hanseático da Liga Hanseática ocorreu em Lübeck, evento


marcado pela convocação do último Hansetag.

Em 1510 navios de todas as partes da Europa estavam a negociar no Báltico; e a cidade


de Lübeck atacou imprudentemente o rei da Dinamarca e incendiou vários lugares da
costa dinamarquesa, o monarca pressionou a seu serviço os navios da Inglaterra, da
Escócia e da França. A Suécia juntou-se aos hanseáticos; e a Dinamarca contratou a
grande custo navio dos três países que abraçaram sua causa e obteve uma frota maior
que seus oponentes. O porto de Lübeck, com todos os navios que possuía, foi queimado;
como o de Wismar, junto com os subúrbios da cidade. Warnemunde foi destruído, e os
subúrbios de Travemunde, juntamente com muitas aldeias pertencentes a Stralsund e
Rostock. Esses eventos constituíram outro golpe sério para a Liga; e outros estavam
prestes a seguir. O rápido aumento da importância comercial de Copenhaga é
considerado outro golpe para a Liga. As cidades de Hansa estavam há muito tempo a
oprimir os mercadores dinamarqueses que iam aos seus portos com mercadorias: eram
fixadas a um preço arbitrário em suas mercadorias e se recusavam a pagar. A única
solução, portanto, para armazenar seus bens seria mais favorável. Para vingar e
remediar isso, foi ordenado pelo rei da Dinamarca que todas essas mercadorias fossem
publicadas em Copenhague, para onde convidou comerciantes estrangeiros; de modo
que se tornou um empório para todas as mercadorias dinamarquesas, em grande
detrimento de todas as cidades da Hansa no Báltico. No ano de 1516 terminou um
período de seis anos entre a Dinamarca e os mercadores de Lübeck, o que afetou
seriamente o comércio de uma parte das cidades de Hansa; cidades vandálicas que se
juntaram. Aqui, então, vemos interesses divididos surgindo nas várias seções das quais a
Liga foi composta. O comércio de Hamburgo com a Holanda e com a Inglaterra
aumentou muito durante esse período. Em l553, havia nessa mesma época problemas
em outros dois kontores da Liga em Novgorod, que "por causa dos procedimentos
arbitrários e tirânicos do czar (que, sem justas razões, assumiam o poder de aprisionar
os mercadores alemães, e aproveitar esses efeitos) foi agora bastante abandonada; " e
em Bergen, onde as marcas do antes importante comércio da Liga são mais claramente
vistas do que em outros lugares, que também haviam se tornado desertas pelos
hanseáticos por causa de procedimentos arbitrários semelhantes por parte do rei da
Dinamarca. Em I578 tinha sido a política manifesta da Rainha manter os hanseáticos em
suspenso em relação à renovação de seus privilégios, até que seus próprios súditos
sentissem um aumento de respeito relativamente ao seu comércio exterior e navegação.
A Liga, tendo visto que não podia abalar sua firmeza, solicitou ao imperador Rodolfo II,
como seu soberano, insistindo na necessidade de obrigá-la a restabelecer as suas
imunidades, e particularmente a pagar apenas o antigo costume de 1%. A rainha
respondeu aos protestos do imperador, que ela não fizera nenhum tipo de erro aos
hanseáticos, tendo-os tratado no mesmo pé em que ela os encontrara em na sua ascensão
à coroa. Foi sua irmã que aboliu o antigo dever e aplicou aquele que estava em vigor.
Esta resposta foi considerada longe de ser satisfatória e levou a medidas de retaliação de
cada lado. Os hanseáticos, cada vez mais indignados e reclamando por toda a
Alemanha, acabaram por proibir os mercadores ingleses de residirem em Hamburgo;
depois disso, a rainha publicou uma declaração, anulando todas as antigas imunidades
da Liga na Inglaterra, e apenas permitindo-lhes os mesmos privilégios comerciais que
outros estrangeiros desfrutavam. Foi um grande golpe para os hanseáticos. Em 1579
uma assembleia geral dos delegados da Hansa reunidos em Luneburgo, estabeleceu um
dever de 7%. em todos os bens importados para os seus territórios por ingleses, ou
exportados por eles; então a rainha Elizabeth estabeleceu um dever semelhante de 7%.
em todas as mercadorias importadas ou exportadas pelos comerciantes alemães. Assim,
as questões ficaram cada vez mais tensas entre a Inglaterra e as cidades hanseáticas
alemãs. A rainha magnânima estava firmemente determinada a nunca ceder às
exigências irracionais dos hanseáticos. Em 1597 os mercadores da Liga ainda
perseguiam a sua política de se opor às operações dos mercadores ingleses na
Alemanha, na esperança de que a rainha de bom grado restaurasse os antigos privilégios
dos mercadores hanseáticos na Inglaterra. Nisto eles grandemente erraram, pois tal não
era a política da Coroa. A rainha, por uma questão de decoro, exigiu a revogação do
decreto imperial, pelo qual o posto de troca da companhia inglesa seria excluído de
Staden e os mercadores de outras partes seriam excluídos da Alemanha. Ela então, sem
mais demoras, dirigiu uma comissão aos presidentes e aos xerifes de Londres para
encerrar a casa habitada pelos mercadores das cidades da Hansa, a Steelyard, Londres.
E, além disso, ordenou que todos os alemães ali e em toda a parte da Inglaterra
abandonassem seus domínios no mesmo dia em que os ingleses eram obrigados a deixar
Staden. No ano de I604 uma Assembleia de Deputados Hanseáticos nomeou uma
embaixada solene para nações estrangeiras para a renovação de seus privilégios
mercantis, em nome das cidades de Lübeck, Dantzic, Colônia, Hamburgo e Bremen.
Eles se dirigiram primeiro ao monarca inglês, o Rei James, que por não trazer cartas do
Imperador da Alemanha, logo os dispensou. Os hanseáticos foram dali para a corte da
França, onde se depararam com abundância de palavras boas, mas nada mais, e então
foram para a corte da Espanha, onde, provavelmente pelo imperador, tiveram algum
sucesso, em 1612 as cidades hanseáticas do Báltico foram muito oprimidas no seu
comércio pelas dívidas adicionais que a Dinamarca (novamente em guerra com a
Suécia) impusera a todos os navios que passavam pelo rio Sonda. Os habitantes de
Lübeck formaram uma liga com a Holanda para a proteção mútua de seu comércio e
determinação de navegação para enviar uma força armada ao rio Sonda. Outras cidades
hanseáticas mais tarde entraram no acordo. O rei da Dinamarca agora alegou que ele era
o Senhor do Mar Báltico. Essa circunstância (que afetava o comércio crescente da
Inglaterra) provavelmente induziu o rei Jaime a unir-se à Holanda e às cidades da
Hansa, como resultado as foram reduzidas à mesma taxa anterior à guerra atual.
Certamente foi um incidente notável encontrar a Inglaterra tão cedo a operar em
conjunto com a Liga; mas como já dissemos antes, é impossível prever a forma ou
direção que os interesses políticos ou comerciais podem assumir. Com o objetivo de
protegerem-se contra futuras invasões da Dinamarca, em 1613 os holandeses contraíram
uma aliança com as cidades da Hansa em geral - e uma mais especial com Lübeck dois
anos depois (I615), em que concordavam em apoiar-se um ao outro contra todas as
imposições. Em 1630 Gustavo Adolfo, rei da Suécia, entrou na Alemanha com um
exército, causando muito dano ao comércio das cidades da Hansa pelas devastações
cometidas pelas suas tropas.

Conclusão

Após esta extensa pesquisa, consegui perceber o quão complexa é a história desta
organização, que no início eu achava ser mais simples. Desde as suas especificidades
quer seja no modo de vida e na forma como as cidades se organizavam, a Hansa no seu
todo é tema intrincado, mas também interessante que dá gosto ser aprofundado. Com a
realização desta pesquisa consegui aprender mais sobre um tema que sempre despertou
interesse e curiosidade, de facto é impressionante como uma associação conseguiu
dominar o comércio feito no Báltico, estender a sua rede de relações até ao
Mediterrâneo e aguentar-se durante séculos. É claro que durante este período não foi
tudo favorável, com o notável declínio da Hansa no século XVI. Nesta altura a outrora
dominante Hansa apenas era uma sombra de si mesma onde não havia solução possível
para o destino irreversível que tinha tomado.
Bibliografia
DOLLINGER, Philippe, Dennis Salway Ault, and S. H. Steinberg, The German Hansa,
Translated and Edited by D. S. Ault and S. H. Steinberg, London: Macmillan, 1970.
ZIMMERN, Helen, The Hansa Towns. In UNWIN,Thomas Fisher – Story Of The
Nations, London, Paternoster Square, 1935, [Consult. 6 de Maio de 2018]. Disponível
na http://www.gutenberg.org/files/39664/39664-h/39664-h.htm
ABULAFIA David - Lubeck and the Hanseatic League: The Birthplace of the Common
Market with David Abulafia [registo vídeo] Legatum Institute, 2016. Vídeo do
YouTube (47 minutos)
NICOLLE David, Forces of the Hanseatic League 13th–15th Centuries. In Men-at-
Arms Grã-Bretanha, Osprey Publishing, 2014, Pt. 494
SCHUT Pieter-Jan, Marketing the Hanse experience: Hanseatic cultural heritage in the
marketing of German towns, 2014, tese de mestrado
WALFORD Cornelius, An Outline History of the Hanseatic League, More Particularly
in Its Bearings upon English Commerce, In Transactions of the Royal Historical
Society, Vol. 9 [PDF], Royal Historical Society, 1881, pp. 82-136, [Consult. 6 maio
2018], Disponivel em http://www.jstor.org/stable/3677937
BUSK, M. Mediaeval Popes, Emperors, Kings, and Crusaders, Or, Germany, Italy, and
Palestine, from A.D. 1125 to A.D. 1268: Volume 1,KESSINGER PUBLISHING CO,
2007

Vous aimerez peut-être aussi