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ALTERAÇÕES DE COMPORTAMENTO NA PERTURBAÇÃO BIPOLAR

E NA PERTURBAÇÃO DE HIPERACTIVIDADE E DÉFICE DE

ATENÇÃO: CONTRIBUTO PARA O DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Lia Vitória Ribeiro Moreira

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM MEDICINA LEGAL

2009
Lia Vitória Ribeiro Moreira

ALTERAÇÕES DE COMPORTAMENTO NA PERTURBAÇÃO BIPOLAR E NA


PERTURBAÇÃO DE HIPERACTIVIDADE E DÉFICE DE ATENÇÃO:

CONTRIBUTO PARA O DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Dissertação de Candidatura ao grau de


Mestre em Medicina Legal submetida ao
Instituto de Ciências Biomédicas de Abel
Salazar da Universidade do Porto.

Orientador – Prof. Doutor Fernando Almeida

Categoria – Assistente Hospitalar Graduado


de Psiquiatria. Director de Departamento do
Instituto Superior da Maia (ISMAI) e
Professor Auxiliar de Psicologia do ISMAI.

Afiliação – Hospital de Magalhães Lemos

Co-orientador – Dr.ª Zulmira Correia

Categoria – Assistente Hospitalar Graduada


de Psiquiatria da Infância e Adolescência

Afiliação – Centro Hospitalar do Porto –


Unidade Maria Pia
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

AGRADECIMENTOS

O projecto que decidi abraçar nesta fase da minha vida profissional só foi
conseguido dada a incomensurável cooperação e apoio de um grande número de
pessoas, sem os quais todo o meu esforço se tornaria infrutífero.
Devo começar por agradecer ao Departamento de Psiquiatria da Infância e
Adolescência do Centro Hospitalar do Porto, nas pessoas da Dr.ª Graça
Fernandes, Dr. Pedro Monteiro, Dr.ª Joana Saraiva, Dr.ª Otília Queirós e Dr.ª Luísa
Confraria, que comigo colaboraram na recolha da amostra clínica. Um
agradecimento muito especial à Dr.ª Zulmira Correia, minha orientadora de
Especialidade e impulsionadora na escolha do tema e sua execução.
Agradeço também às colegas Dr.ª Patrícia Macho, Dr.ª Lígia Barros e Dr.ª
Cristina Rodrigues que também se disponibilizaram a colaborar na recolha da
amostra.
Um apreço especial ao Dr. António Calçada Bastos e à Dr.ª Filipa Machado
Vaz, pelo seu apoio na aplicação e interpretação dos questionários e escalas de
avaliação.
Agradeço também ao Instituto Superior da Maia, na pessoa do Professor
Dr. Amadeu Fernandes, pela colaboração na análise estatística.
Agradeço ao Conselho Directivo da Escola Carolina Michaëlis e
particularmente à Dr.ª Maria Graça Cruz, pela pronta colaboração na recolha do
grupo controlo.
Por fim, uma palavra de especial estima e reconhecimento ao meu
orientador Professor Dr. Fernando Almeida, por todo o seu apoio, disponibilidade
e suporte durante todo o projecto.
Não posso concluir este preâmbulo, sem referir os pilares da minha vida
pessoal, a minha família, sem os quais a minha vida profissional não se
desenvolveria.

3
ÍNDICE

Resumo........................................................................................................................................... 7

Abstract .......................................................................................................................................... 9

Résumé ......................................................................................................................................... 11

Capítulo I – Enquadramento Teórico e Empírico da Pertubação Psiquiátrica na Psiquiatria da


Infância e Adolescência................................................................................................................ 13
1. Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção ............................................................. 13
1.1 Introdução...................................................................................................................... 13
1.2 Apresentação Clínica e Diagnóstico ................................................................................ 14
1.3 Perspectiva Histórica ...................................................................................................... 16
1.4 Etiologia ......................................................................................................................... 18
1.4.1 Perspectiva Neurobiológica.......................................................................................... 18
1.4.1.1 Contribuição Genética .......................................................................................... 18
1.4.1.2 Neuroimagem Estrutural ...................................................................................... 20
1.4.1.3 Imagens Funcionais.............................................................................................. 22
1.4.1.4 Conclusão ............................................................................................................ 25
1.5 Epidemiologia................................................................................................................. 26
1.6 Comorbilidade Psiquiátrica ............................................................................................. 27
1.7 Evolução e Prognóstico ................................................................................................... 29
1.7.1 PHDA e Abuso físico................................................................................................ 31
1.7.2 PHDA na Idade Adulta ............................................................................................. 32
1.8 Tratamento .................................................................................................................... 33
1.9 Implicações Médico-Legais.............................................................................................. 35
1.10 Conclusão .................................................................................................................... 39

2. Perturbação Bipolar .............................................................................................................. 40


2.1 Introdução...................................................................................................................... 40
2.2 Apresentação Clínica ...................................................................................................... 41
2.3 Diagnóstico .................................................................................................................... 43
2.4 Perspectiva Neurobiológica............................................................................................. 44
2.4.1 Contribuição Genética ............................................................................................. 44
2.4.2 Neuroimagem Estrutural ......................................................................................... 46
2.4.3 Função Neurocognitiva ............................................................................................ 49
2.4.4 Conclusão ............................................................................................................... 50
2.5 Epidemiologia................................................................................................................. 50
2.6 Comorbilidade e Diagnóstico Diferencial ........................................................................ 51
2.7 Evolução e Prognóstico ................................................................................................... 53
2.8 Tratamento .................................................................................................................... 54
2.9 Implicações Médico-Legais.............................................................................................. 54
2.9.1 Perturbação Bipolar e Envolvimento Criminal ........................................................... 54
2.9.2 Perturbação Bipolar e Abuso de Substâncias............................................................ 56
2.9.3 Questões éticas no julgamento do comportamento criminal.................................... 57
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

2.9.4 Conclusão ............................................................................................................... 58

Capítulo II – Investigação sobre o contributo das alterações comportamentais no Diagnóstico


Diferencial de Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção e Perturbação Bipolar ...... 59
1. Enquadramento do Estudo Prático ........................................................................................ 59

2. Metodologia ......................................................................................................................... 60
2.1 Amostra ......................................................................................................................... 60
2.2 Procedimentos................................................................................................................ 60
2.3 Instrumentos de avaliação .............................................................................................. 61
2.3.1 Escala Revista de Conners para Pais ........................................................................ 61
2.3.2 Matrizes Progressivas de Raven ............................................................................... 62
2.3.3 Child Behavior Checklist (CBCL) e Youth Self Report (YSR)........................................ 62
2.4 Análise de Dados............................................................................................................ 65

3. Resultados............................................................................................................................ 66

4. Discussão ............................................................................................................................. 80

5. Conclusões ........................................................................................................................... 84

6. Limitações ............................................................................................................................ 86

Anexo 1 ........................................................................................................................................ 93
Critérios Diagnósticos DSM-IV-TR.............................................................................................. 93

Anexo 2 ...................................................................................................................................... 101


Guidelines de tratamento para crianças e adolescentes com Perturbação Bipolar .................... 101

Anexo 3 ...................................................................................................................................... 109


Artigo a aguardar publicação .................................................................................................. 109

Anexo 4 ...................................................................................................................................... 111


Questionários CBCL, YSR; Consentimento informado; Autorização do autor ............................ 111

Anexo 5 ...................................................................................................................................... 131


Estatística descritiva das escalas sindromáticas ...................................................................... 131

Anexo 6 ...................................................................................................................................... 137


Análise de Dados .................................................................................................................... 137

Anexo 7 ...................................................................................................................................... 141


Estatística descritiva das escalas dos sujeitos com alterações de comportamento ................... 141

5
ABREVIATURAS UTILIZADAS NESTE TRABALHO

CBCL - Child Behavior Checklist


COF – Córtex Orbito-Frontal
CPF – Córtex Pré-Frontal
CPFVL – Córtex Pré-Frontal Ventro-Lateral
CPFDL – Córtex Pré-Frontal Dorso-Lateral
DSM-III; DSM-IIIR; DSM-IV; DSM-IV-TR – Manual de Diagnóstico e Estatística das
Perturbações Mentais (3ªe 4ª edições; revisão de texto)
ERC – Escala Revista de Conners (Conners´ Rating Scale-Revised)
FDA – Food and Drug Administatrion
IRM – Ressonância Magnética
IRMf – Ressonância Magnética Funcional
MW – Memória de Trabalho
PB – Perturbação Bipolar
PBP – Perturbação Bipolar Pediátrica
PCS – Perturbações de Consumo de Substâncias
PDC – Perturbações Disruptivas do Comportamento
PGD – Perturbações Globais do Desenvolvimento
PHDA – Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção
POC – Perturbação Obsessiva Compulsiva
YSR - Youth Self Report
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

RESUMO

A Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma das


perturbações neuropsiquiátricas mais comuns da infância. Adultos com história
pregressa de PHDA, nomeadamente quando concomitantemente padeceram de
perturbação do comportamento da infância, apresentam taxas mais elevadas de
comportamento anti-social e criminal, acidentes e lesões, gravidezes na
adolescência, problemas laborais e conjugais.
Apesar de actualmente ser largamente reconhecida, a Perturbação Bipolar
(PB) na infância e adolescência ainda levanta algumas considerações etiológicas e
nosológicas. Existe evidência que a PB com início da infância e adolescência
precoce pode representar uma forma distinta e possivelmente mais grave da PB
com início na adolescência tardia e idade adulta. Do ponto de vista clínico, ainda
não foram estabelecidos critérios diagnósticos específicos para esta faixa etária
e, os que são utilizados actualmente, não estão adaptados para estas fases
desenvolvimentais.
A PB e a PHDA são entidades clínicas graves, de evolução crónica e com
grande impacto social, familiar e educacional. Por partilharem sintomas comuns e
frequentemente se apresentarem em comorbilidade, o seu diagnóstico diferencial
torna-se difícil, porém imprescindível, visto que as suas abordagens terapêuticas
são distintas e podem até, agravar os quadros clínicos, quando erroneamente
utilizados.
Crianças com ambas as patologias apresentam habitualmente pior
evolução e prognóstico. São indivíduos com maior frequência de sintomas
psicóticos, depressivos, de ansiedade, problemas escolares e laborais, maior
número de hospitalizações e comportamentos disruptivos. A elevada taxa de
comorbilidade de PHDA na PB pode ser uma manifestação dependente da idade,
que irá decrescer gradualmente.
Os autores pretenderam estudar as alterações de comportamento em dois
grupos de adolescentes, um com diagnóstico de PB e outro com diagnóstico de
PHDA e compará-los a um grupo controlo, com vista a determinar o seu
contributo no diagnóstico diferencial. Com efeito, seleccionam dois grupos de
adolescentes entre os 12 e os 18 anos, que frequentavam a consulta de
Psiquiatria da Infância e Adolescência com diagnóstico de Perturbação Bipolar e
Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção. O grupo controlo foi
seleccionado de uma Escola Secundária do Grande Porto, de acordo com os

7
géneros e média etária da amostra clínica. Ao grupo de estudo foram aplicadas
as Matrizes Progressivas de Raven e, após serem excluídos os indivíduos com um
nível intelectual inferior à média, os sujeitos responderam ao questionário YSR
(Youth Self Report). Paralelamente, os pais ou seus representantes legais
responderam ao questionário CBCL (Child Behavior Checklist). Quando necessário, o
entrevistador permitiu o esclarecimento de dúvidas. Outras informações foram
recolhidas por revisão do processo clínico.
Obtivemos uma amostra de 62 adolescentes – 14 indivíduos com PB; 23
com PHDA e 25 do grupo controlo. Devido ao tamanho da amostra, utilizamos
testes não paramétricos para a análise dos dados.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

ABSTRACT

Attention-deficit/Hyperactivity Disorder (ADHD) is one of the most common


childhood neuropsychiatric conditions. Adults with a previous history of ADHD
have higher than expected rates of antisocial and criminal behaviour, injuries and
accidents, teen pregnancies, employment and marital difficulties.
In spite of being largely recognized nowadays, Bipolar Disorder (BD) in
childhood and adolescence still rises some etiological and nosological questions.
There is evidence that BD appearing in childhood and precocious adolescence
may represent a different and probably worse form of BD than the one which
appears later in adolescence or adulthood.
From the clinical point of view, specific diagnostic criteria haven’t been
established for these early stages yet. The ones which have been used today are
not well adapted for these development phases.
Bipolar Disorder and Attention-Deficit/Hyperactivity disorder are serious
maladies with chronic course and strong social, familial and educational impact.
Since both of them may present similar symptomatology and may also occur as
comorbidity, the differential diagnosis can be considered difficult. However, the
medication used for the treatment of ADHD can aggravate BD in children who are
not treated.
Children who present both disorders have a more serious course and
present higher rates of psychotic symptoms, depression, anxiety, learning and
employment problems, greater hospitalization and disruptive behaviour.
The higher comorbidity of ADHD in Bipolar Disorder may be age-
dependent and will probably decrease gradually.
The authors propose to study behaviour problems in two adolescent
groups, one with Bipolar Disorder diagnosis and other with ADHD diagnosis, and
compare them with a control group, in order to determine its contribution in the
differential diagnostic.
In fact, they have selected two groups of adolescents between twelve and
eighteen who attended regularly Child and Adolescence Psychiatry clinical
sessions and who had been diagnosed with BD and ADHD. The control group was
chosen in a Secondary School from Porto according to the same genre and age
group of the clinical sample.
To this study group were applied Raven's Progressive Matrices and after
being excluded all individuals who presented an inferior intellectual level than the

9
average, they responded to Youth Self Report (YSR). Simultaneously Parents or
their Legal Representant answered to Child Behavior Checklist (CBCL). When
necessary the interviewer allowed clarification of doubts. Other important
informations were collected when clinical processes were being revised.
We obtained a sample of 62 adolescents – 14 individuals with BD, 23 with
ADHD and 25 of control group. Due to the size of the sample we used Non
Parametric Tests to analyze data.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

RÉSUMÉ

Le Trouble du Déficit d’Attention et Hyperactivité (TDAH) c’est une des


perturbations neuropsychiatriques les plus communs dans l’enfance. Les adultes
avec une histoire de TDAH, notamment quand concomitante ment souffrent
d’une perturbation du comportement d’enfance, ont des taux plus élevés de
comportement antisociaux et criminel, accidents et blessures, enceintasses dans
l’adolescence, problèmes de labeur et relationnelles.
Malgré être vachement reconnu actuellement, le Trouble Bipolaire (TB)
dans l’enfance et dans l’adolescence lève encore quelques considérations
étiologiques et nosologiques. Il a une évidence que la TB avec un début dans
l’enfance et adolescence précoce peut représenter une forme distincte e
possiblement plus grave de la TB avec un début dans l’adolescence tardif et l’âge
adulte. D’un point de vu clinique, des critères diagnostique n’ont était pas encore
établi pour ce groupe d’âge et, celui que sont utilisés en ce moment, ne sont pas
adaptés pour ces étapes de développement.
La TB et la TDAH sont des entités cliniques graves, d’évolution chronique
et avec un grand impact social, familier et éducationnel. Parce qu’ils partagent de
syntones communs et parce qu’ils présentent avec fréquence en comorbidité,
sont diagnostique différentiel c’est difficile, mais au même instant indispensable,
vu que ces abordages thérapeutiques sont distinctes et elles peuvent même
aggraver les cadres cliniques quand elles sont erronément utilisés.
Les enfants avec les deux pathologies présentent habituellement une
évolution et un pronostique pire. Ce sont des personnes avec une fréquence de
syntones psychotiques, dépressives, anxiété, problèmes scolaires et dans le
travaille plus élevés, avec un numéro d’hospitalisations plus élevés et des
comportements disruptifs. La élevée taux de comorbidité de TDAH dans la TB
peut être une manifestation dépendent de l’âge, qui va décroitre graduellement.
Les autours voulait étudier les altérations de comportement en deux
groupes d’adolescents, un avec un diagnostique de TB et l’autre avec un
diagnostique de TDAH e les comparer à un group de contrôle, envisagent la
détermination de sa contribution dans le diagnostique différentiel. Au fait, ils on
sélectionné deux groupes d’adolescents entre les 12 et les 18 ans, qui fréquent
la consultation de Psychiatrie d’Enfance et Adolescence avec un diagnostique de
Trouble Bipolaire et Trouble du Déficit d’Attention et Hyperactivité. Le groupe
contrôle à été sélectionné d’une École Secondaire de Porto, d’accord avec le

11
genre et âge moyenne d’échantillon de Raven et, après l’exclusion des gens avec
un niveau intellectuel inférieur à la moyen, les personnes on répondu au
questionnaire YSR (Youth Self Report). En parallèle, les parents ou les
responsables légaux on répondu au questionnaire CBCL (Child Behavior
Checklist). Quand nécessaire, l’interviewer à permit l’éclaircissement de doutes.
Autres infos on été recueillis par révision du procès clinique.´
On a obtenu un échantillon de 62 adolescents – 14 individus avec TB ; 23
avec TDAH et 25 du groupe de contrôle. Du à la taille de l’échantillon, on à utilisé
des testes non paramétriques pour l’analyse des donnés.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

Capítulo I – Enquadramento Teórico e Empírico da Pertubação Psiquiátrica na


Psiquiatria da Infância e Adolescência

1. PERTURBAÇÃO DE HIPERACTIVIDADE E DÉFICE DE ATENÇÃO


1.1 Introdução

A Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma das


perturbações neuropsiquiátricas mais comuns da infância, afectando
aproximadamente 5 a 12% das crianças em idade escolar (1). Estas taxas variam
consoante a natureza da amostra e os métodos de avaliação utilizados.
A evolução temporal na terminologia da PHDA, de reacção hipercinética na
infância no DSM-II para distúrbio de défice de atenção no DSM-III, até PHDA no
DSM-IIIR, DSM-IV e DSM-IV-TR, reflectem as modificações na conceptualização das
características fundamentais da doença.
Dado o seu quase exclusivo enfoque pelos Psiquiatras de Infância e
Adolescência, as repercussões psicossociais a longo prazo destes pacientes têm
sido, de certa forma, negligenciadas.
A tríade sintomática – desatenção, impulsividade e hiperactividade – aplica-
se a crianças e adultos, quando se apresenta de forma estável e crónica. A
eventual redução dos sintomas com o avanço da idade poderá ser explicada pela
aquisição de estratégias cognitivas que atenuem estas características.
Na população adulta, ao contrário da hiperactividade, a desatenção e a
impulsividade parecem ser os marcadores mais estáveis da PHDA. Pouca
concentração no trabalho – e mesmo durante actividades de lazer,
distractibilidade e esquecimento sugerem desatenção, enquanto baixa tolerância
à frustração, comportamentos intempestivos e impaciência excepcional sugerem
impulsividade (2). Manifestações de hiperactividade como inquietação e agitação
também podem estar presentes. Estas características podem levar a dificuldades
na relação interpares, na manutenção de um registo laboral satisfatório e na
satisfação da vida em geral. Estudos indicam que 10 a 67% dos casos
diagnosticados na infância persistem até à idade adulta (os resultados variam
com os critérios utilizados para o estabelecimento do diagnóstico) (3).

13
1.2 Apresentação Clínica e Diagnóstico

A característica principal da PHDA é um padrão persistente de falta de


atenção e/ou impulsividade – hiperactividade de intensidade desadaptativa e
inconsistente relativamente ao nível de desenvolvimento. Os sintomas devem
manifestar-se antes dos sete anos de idade, em pelo menos duas situações – na
escola, em casa ou no trabalho – e provocar um défice clinicamente significativo
do funcionamento social, académico ou laboral (4).
O défice de atenção é evidenciado pela frequente dificuldade em manter a
atenção em tarefas ou actividades, seguir instruções e regras, iniciar tarefas sem
concluir as antecedentes, atentar em pormenores ou evitar erros por descuido,
entre outros. Demonstram estar alheados quando interpelados, necessitam
repetição frequente de directrizes ou parecem não compreender as nuances das
instruções. O trabalho escolar caracteriza-se por erros de distracção,
desorganização e esquecimento. Perdem frequentemente material escolar e
pessoal. Tipicamente são os últimos a iniciar e terminar as tarefas solicitadas. Os
sintomas de hiperactividade – impulsividade manifestam-se por movimentação
excessiva de mãos e pés, mesmo quando sentado, levantar frequentemente da
sala de aula; correr e saltar excessivamente (em adolescentes e adultos pode
limitar-se a sentimentos subjectivos de impaciência); falar em excesso; ter
dificuldade em esperar pela sua vez; interromper ou interferir nas actividades dos
outros, entre vários (4).
Relativamente aos pares estes jovens apresentam-se inquietos, agitados e
ruidosos quando lhes é solicitado calma e tranquilidade, verificando-se quer em
situações estruturadas como a sala de aula, como no recreio. O comportamento
das crianças hiperactivas é dependente do contexto; uma criança pode
apresentar elevada distractribilidade na sala de aula e ser inquieta e impulsiva em
casa. Além disso, a gravidade do comportamento varia com as exigências
contextuais; uma criança claramente sintomática na sala de aula pode ser
descrita como tendo um comportamento dentro da média pelos pais, ou uma
criança com evidente défice de atenção enquanto realiza uma tarefa estruturada
na sala de aula, pode não evidenciar qualquer alteração da atenção enquanto
joga no computador, interage com pares ou durante uma tarefa não estruturada.
Frequentemente os pais verificam como característica mais saliente a elevada
variabilidade diária, hora-a-hora e minuto-a-minuto destes jovens. As
características da PHDA são variáveis entre si e entre os jovens. É raro encontrar
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

um indivíduo com todas as características de hiperactividade e/ou de défice de


atenção (5)
. Nesse sentido, existem três subtipos de PHDA, consoante o padrão
sintomático predominante nos últimos seis meses. O tipo desatento, se há
predomínio de sintomas de desatenção; o tipo hiperactivo – impulsivo e o tipo
misto ou combinado.
O diagnóstico de PHDA na infância é estabelecido com base numa
avaliação multidisciplinar que envolve uma história desenvolvimental e
comportamental detalhada, relatos dos pais, professores e irmãos. Raramente,
uma primeira avaliação em contexto clínico é suficiente para a detecção dos
sintomas, pelo facto da criança se encontrar em um contexto novo e na presença
de um estranho. As escalas de avaliação estandardizadas são um excelente
complemento da história clínica colhida com os cuidadores. As melhores são
provavelmente as que utilizam os critérios DSM-IV cotados numa escala métrica,
habitualmente do 0 a 3, que corresponde a ausência de sintomas a grave. Como
exemplo, o instrumento de avaliação mais utilizado é a Conners Rating Scale
(Conners, 1973). A escala da cotação varia de 0 a 3, sendo a pontuação 2 ou 3
sinónimos da presença de determinado sintoma (1, 5)
.
A história clínica deverá atentar a existência de outras patologias
psiquiátricas e orgânicas na criança e na família que poderiam explicar a
presença destes sintomas. Paralelamente, o exame do estado mental visa excluir
outras perturbações mentais que poderiam mimetizar esta doença,
nomeadamente, perturbações psicóticas, perturbação bipolar, perturbação
depressiva, perturbação global do desenvolvimento, perturbação de stress pós
traumático, debilidade intelectual ou ansiedade grave.
Pese não existirem sinais físicos diagnósticos de PHDA, o exame físico
permite fazer diagnósticos diferenciais, assim como confirmar perturbação da
coordenação motora, uma comorbilidade frequente. Acresce ainda a detecção de
sinais neurológicos minor que, embora não apresentem uma relação linear,
encontram-se amiúde na PHDA. A saber, défices motores não focais no equilíbrio,
no planeamento e controlo motor e na integração sensorial (1)
[Anexo 1 - Critérios
diagnósticos segundo DSM-IV-TR].

15
1.3 Perspectiva Histórica

As primeiras referências a indivíduos com problemas de desatenção,


hiperactividade e impulsividade datam da Renascença, quando Shakespeare fez
referência ao “défice de atenção” numa das suas personagens em Henrique VIII;
em um poema intitulado “Fidget Phil”, de Heinrich Hoffman, médico alemão, e
por William James em “Princípios da Psicologia” (6).
Na literatura científica, em 1902, pela primeira vez, o pediatra britânico
George Still publicou uma descrição de 20 crianças que mostravam défice no
auto-controlo e na atenção. Descreveu-as como agressivas, passionais,
desatentas, “sem lei”, impulsivas e hiperactivas. Ele distinguiu-as das crianças
com debilidade intelectual e observou que as crianças do sexo masculino eram
mais afectadas, evidenciando a co-ocorrência de problemas de aprendizagem e
comportamentos agressivos/desafiadores. A história familiar era pautada de
alcoolismo, conduta criminal e depressão, levantando a hipótese de se tratar de
uma lesão do sistema nervoso. Em 1918, houve uma epidemia mundial de
encefalite (encefalite de Von Economo). As crianças que contraíram esta infecção
desenvolveram – depois de recuperarem da fase aguda da doença – um síndrome
de hiperactividade e grave impulsividade muito semelhante ao que Still
descrevera.
Em 1937, o psiquiatra Charles Bradley trabalhava no Emma Pendleton
Bradley Home for Children, um complexo residencial para crianças com lesões
cerebrais. Como prática padrão na época, todas as crianças eram submetidas a
um pneumoencefalograma como parte do procedimento diagnóstico. Neste
estudo era injectada uma pequena quantidade de ar no fluído espinal que
flutuava até ao cérebro, sendo então realizado o Raio X. O ar delineava os
ventrículos cerebrais, permitindo identificar qualquer lesão ocupando espaço.
Este procedimento causava fortes cefaleias, pelo que Bradley decidiu utilizar a
anfetamina benzedrina na tentativa de amenizar a dor. Verificou que, quando
recebiam a anfetamina, havia melhorias imediatas no comportamento. Constatou
melhorias no desempenho escolar, no auto-controlo e maior atenção nas tarefas.
Bradley utilizou anfetaminas em crianças com perturbações do comportamento
por mais duas décadas.
No início da década de 1960, foram realizados os primeiros ensaios
duplamente cegos, controlados com placebo da dextroanfetamina e
metilfenidato, confirmando a observação de Bradley. Contudo, ainda persistia a
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

questão de qual o diagnóstico que deveriam receber. Em 1962, Sam Clements e


John Peters referiram-se ao síndrome como “disfunção cerebral mínima” (DCM),
com base nos conhecimento adquiridos com a encefalite de Von Economo.
Lesões cerebrais graves perinatais poderiam também produzir este síndrome.
Contudo, a maioria das crianças com problemas de comportamento não
evidenciava claras disfunções no Sistema Nervoso Central (SNC), pelo que
concluíram que as dificuldades comportamentais resultariam de uma lesão
cerebral “mínima”, não visível no exame neurológico.
Nos finais dos anos 60, sob a influência do movimento psicodinâmico, o
DSM-II descreveu todas as perturbações da infância como “reactivas” e o
síndrome de hiperactividade transformou-se em “reacção hipercinética da
infância”. Definido como uma perturbação de hiperactividade, agitação,
distractibilidade e desatenção, cujo comportamento diminuía progressivamente
até à adolescência, onde se extinguia. O DSM-II incluiu pela primeira vez
sintomas de desatenção, posteriormente enfatizados, juntamente com a
dificuldade no controlo dos impulsos (anos 70). Na década de 70, Virgínia
Douglas e colaboradores na McGill University, Canadá, estudaram extensamente
crianças hiperactivas e descobriram que elas exibiam uma variedade de défices
cognitivos e aumento da actividade motora. Douglas propôs quatro aspectos do
síndrome de “hiperactividade”: 1) dificuldade em manter a atenção e o esforço; 2)
fracasso em inibir respostas impulsivas; 3) incapacidade de modular a excitação
para níveis apropriados para a situação e 4) forte inclinação para procurar
recompensa imediata (incapacidade em adiar a gratificação). No modelo de
Douglas, a hiperactividade é vista como secundária em relação a estes défices.
Este trabalho de Douglas influenciou fortemente a Associação Americana de
Psiquiatria que, em 1980, introduziu a “Perturbação de Défice de Atenção” DSM-
III. Esta concepção via a perturbação com três sintomas chave: desatenção,
impulsividade e hiperactividade. Era exigido que os indivíduos fossem
anormalmente desatentos e impulsivos, mas ser hiperactivo era opcional.
Entretanto, novos estudos concluíam que muitas crianças apresentavam
desatenção sem serem impulsivas, assim como, era raro que fossem
anormalmente hiperactivas sem serem impulsivas.
Assim, em 1994, o DSM-IV criou duas listas de sintomas: uma de
desatenção e outra de hiperactividade – impulsividade. Os doentes podem
satisfazer os critérios para três subtipos: predominantemente desatento,
predominantemente hiperactivo-impulsivo e o combinado. As crianças com PHDA

17
de subtipo combinado são provavelmente mais semelhantes à longa fila de
crianças tratadas desde os tempos de Bradley (1, 6)
.

1.4 Etiologia

Não existe etiologia única para A PHDA e a evidência é crescente para a


hipótese multifactorial. De facto, todas as condições neuropsiquiátricas parecem
ser resultado de uma complexa combinação de factores ambientais, genéticos e
biológicos.
Mick e col.(2002) verificaram que, independentemente da presença de
história parental de PHDA, a exposição a tabaco e álcool in utero é teratogénea
para PHDA e, tal como o baixo peso ao nascer e prematuridade, aumenta em 2 a
3 vezes o risco de desenvolvimento da doença (cit. em 7).
A presença de PHDA parental
aumenta o risco em oito vezes. Lesões cerebrais in utero contribuem também
para o risco de desenvolvimento de PHDA (7, 8).

1.4.1 Perspectiva Neurobiológica


1.4.1.1 Contribuição Genética

A PHDA é uma perturbação predisposta geneticamente que não segue os


padrões de hereditariedade Mendelianos (9)
. Estudos com família, gémeos e
adoptados demonstraram que os genes desempenham um papel substancial na
etiologia da PHDA, com elevadas taxas de hereditariedade (85-95%) (10)
. O
desenvolvimento de estudos genéticos moleculares permitiram identificar
polimorfismos relacionados com a patologia, em particular nos reguladores
dopaminérgicos, uma vez que o desequilíbrio entre os sistemas de
neurotransmissores dopaminérgicos e noradrenérgicos parece desempenhar um
papel central na patofisiologia da PHDA (11)
. Dos genes estudados, 7 evidenciaram
uma relação estatisticamente significativa com a PHDA (12)
. O receptor
dopaminérgico D4 encontra-se em grande concentração nas redes frontais-
subcorticais. O polimorfismo do gene que o codifica, presente no cromossoma
11 (DRD4 exão III-7R – repetição de sete vezes do exão III) apresenta uma relação
estatisticamente significativa, corroborada por meta-análise (12,13,14)
. Parece ser
particularmente relevante para o sintoma de desatenção embora com resultados
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

divergentes. A variante genética do receptor dopaminérgico D5 (DRD5 repetição


CA, 148 pb – repetição do segmento CA, com 148 pares de bases) – cromossoma
4 – tem uma relação positiva com a PHDA também confirmada por meta-análise,
sobretudo associada aos subtipos combinado e desatenção .
(9,12,14,15)
Os
polimorfismos do gene do transportador da Dopamina (DAT1 40 pb; 9R e 10R –
nove e dez repetições de 40 pares de bases) – cromossoma 5 – apresentam
resultados divergentes . Crianças com o polimorfismo 9/10 (heterozigotia
(16,17)

para os alelos, isto é, um alelo com uma repetição de nove vezes e outro alelo de
dez vezes) apresentam sintomatologia mais grave, maior tendência à
externalização, mais perturbações de comportamento, pior relação filio-parental
e pior rendimento escolar e laboral, tanto na infância, como na adolescência,
relativamente ao genótipo homozigótico (10/10) (16)
. Pior sintomatologia da PHDA
e problemas de externalização são igualmente evidentes na idade adulta,
apoiando assim a convicção da continuidade dos efeitos fenotípicos. Esta variante
genética é compatível com a hipótese da clearence excessiva de Dopamina na
PHDA . O polimorfismo Taq1 da D H (alelos A1 e A2), enzima Dopamina
(9,17)

Hidroxilase, responsável pela conversão da Dopamina em Noradrenalina, é


responsável pela diminuição da actividade plasmática da enzima originando
níveis diminuídos da proteína na circulação sanguínea. Estudos constataram
diminuição da actividade enzimática no soro e na urina dos indivíduos com
Síndrome Hipercinético e Perturbações da Conduta . O Alelo A2 está
(14,18)

particularmente associado ao subtipo combinado e à presença de história


paternal de PHDA. Faraone e col. (2006) detectaram uma sobretransmissão de
uma região polimórfica associada ao braço longo do gene do transportador da 5-
HT (HTTLPR) e do haplótipo G/A da variante genética HTR1B do gene do receptor
serotoninérgico (13)
. Estes resultados solidificam o papel serotoninérgico na
patogénese da PHDA. Apesar dos resultados divergentes verificados nos vários
estudos, a relação mantém-se positiva. No que concerne ao gene da Proteína 25
associada a sinaptossoma, do cromossoma 20 (SNAP25), vários estudos em
modelos animais demonstraram uma relação positiva. Trata-se de um gene
candidato funcional altamente provável, pela sua localização e função na fenda
sináptica .
(12, 19)

19
1.4.1.2 Neuroimagem Estrutural

As alterações nosológicas de hiperactividade nos primórdios do século 20,


para PHDA por volta dos anos 80, acompanharam a evolução no entendimento
desta patologia, na medida em que se acreditava ser resultado primário de mau
comportamento para a hipótese de resultar de um problema cerebral cognitivo
com comportamento desadaptativo associado (5).
A ressonância magnética (IRM) proporcionou um importante
desenvolvimento na investigação das perturbações mentais, ao permitir estudar
com maior precisão o volume das estruturas cerebrais, sem o envolvimento de
radiação, possibilitando assim a utilização de grupos controlo.
Estudos neuropsicológicos têm implicado as regiões corticais frontais e
suas conexões aos gânglios da base nos processos de função executiva, atenção
e resposta inibitória. Estudos de neuroimagem têm consistentemente sugerido o
envolvimento do córtex pré-frontal dorsal e os gânglios da base na patofisiologia
da PHDA .
(8, 20, 21)

Estudos recentes sugerem que, indivíduos com PHDA apresentam volumes


cerebrais totais menores, volumes menores do córtex pré-frontal dorsolateral,
dos núcleos caudados, palidum, corpo caloso e cerebelo, assim como perda da
normal simetria na dimensão dos núcleos caudados (9, 22). Existe evidência que as
diferenças volumétricas da substância branca cortical e do cerebelo são
independentes da instituição da terapêutica (23)
. Contudo, até à data os estudos
existentes apresentam algumas limitações como escassez da amostra, critérios
de selecção e de exclusão distintos (nomeadamente género, comorbilidades,
terapêutica, complicações perinatais e subtipo) (9).
Um estudo desenvolvido pelo National Institute of Mental Health (NIMH) de
1991 a 2001 constatou que os indivíduos com PHDA não medicados apresentam
redução do volume cerebral em todas as regiões – cérebro total, cerebelo,
substâncias branca e cinzenta dos quatro lobos principais. Estas alterações
persistem com a idade, à excepção do núcleo caudado cuja diferença diagnóstica
se esbate na adolescência (cit. em 1).

O córtex pré-frontal integra e gere o funcionamento da maioria das


estruturas cerebrais. Enquanto outras áreas desempenham o processamento
primário da informação e dos estímulos recebidos, os lobos frontais interpretam
e atribuem significado à experiência; é o cerne do pensamento, do planeamento
voluntário e consciente. O córtex pré-frontal é o centro executivo principal por
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

onde ocorre a percepção do ambiente que nos rodeia, onde se tomam decisões,
onde temos a primeira experiência do Eu (20)
.
Enquanto as crianças do sexo masculino com PHDA apresentam
diminuição do volume da região frontal direita, um estudo de Castellanos e col.
(2001) concluiu que as raparigas com PHDA apresentam diminuição bilateral do
volume do lobo frontal em relação ao grupo controlo (21)
.
O núcleo caudado participa na iniciação do comportamento motor (20)
. Os
estudos concluem que há diferenças significativas nos caudados das crianças
com PHDA, contudo discordam na natureza das diferenças (5)
. Os gânglios da
base, caudado e putámen são críticos para a motivação, regulação da intensidade
afectiva e motora. Lesão bilateral dos núcleos caudados pode produzir sintomas
de impulsividade, e afectar aspectos cognitivos e motores do discurso (9)
.
Castellanos e col. (2001) verificaram que as alterações nos núcleos caudados são
mais proeminentes no final da infância e parecem normalizar durante a
adolescência, coincidindo com a atenuação de sintomas de hiperactividade,
frequentemente verificada (21)
.
No que concerne ao cerebelo, Castellanos e col. (2001) descobriram
volumes cerebelares menores nas crianças com PHDA, sendo o vermis reduzido
na sua porção postero-inferior. Estas alterações permanecem estáveis durante a
adolescência, levantando a hipótese do seu envolvimento na persistência da
doença (21)
. O cerebelo é responsável pela coordenação motora e temporal e
funciona como sistema integrador e de ligação a muitas actividades iniciadas
corticalmente (9)
. A integração temporal engloba domínios motores, cognitivos e
afectivos. O vermis, estrutura que parece desempenhar um papel importante no
processo de atenção, é a única parte do cerebelo que recebe input de dopamina
(DA). Como todo o cerebelo, ele também recebe input de noradrenalina (NA).
Apresenta output para ambas as áreas tegmentais ventrais e para o locus
ceruleus, desempenhando assim um papel central no comando do output dos
sistemas DA e NA (7).
Durston e col. (2004) verificaram que as reduções volumétricas das
substâncias corticais branca e cinzenta presentes nos indivíduos com PHDA
existem também nos seus irmãos saudáveis, sugerindo a sua relação com o
maior risco familiar da patologia. Contrariamente, o cerebelo não apresenta
alterações, sugerindo que a redução volumétrica verificada nos doentes com
PHDA poderá estar mais directamente relacionada com a patofisiologia da doença
(22)
.

21
1.4.1.3 Imagens Funcionais

A RM funcional (IRMf) é uma técnica que avalia a oxigenação cerebral


enquanto o sujeito desempenha uma tarefa. Nos lobos frontais, o nível de
actividade depende do ritmo de execução da tarefa. Assim, a interpretação dos
resultados dos estudos de imagens funcionais depende do tipo de tarefa
desempenhada, bem como do uso de medicação. Apesar de persistirem
problemas metodológicos, há uma concordância crescente do papel do circuito
pré-frontal-estriado-tálamocortical na PHDA, sobretudo o circuito direito, ao nível
dos gânglios da base (7, 21, 22). Os circuitos que controlam a atenção são menores e
menos activos nos indivíduos com PHDA. Estes circuitos incluem o córtex pré-
frontal e são rico em receptores catecolaminérgicos, daí a hipótese de
envolvimento da Noradrenalina e Dopamina na PHDA resultar não só dos
resultados de estudos farmacológicos e de estudos com neurotransmissores, mas
também de estudos funcionais (7).
A rede neuronal frontoestriatocerebelar direita é responsável pelo
processamento do tempo e pela coordenação motora. O cerebelo e os gânglios
da base desempenham um papel central na percepção do tempo e rapidez
motora. Estudos de neuroimagem têm repetidamente demonstrado alterações
funcionais e morfológicas nestas duas regiões cerebrais (7, 22, 24, 25)
. Van Meel e col.
(2005) verificaram um défice marcado na percepção do tempo em crianças com
PHDA, apesar das limitações clínicas do estudo, nomeadamente nível cognitivo e
presença de comorbilidades. Contudo, concluíram que alterações na rapidez
motora não são resultado de um défice motivacional mas de disfunções das
redes cerebrais envolvidas (25).

Vários estudos têm constatado alterações na activação do núcleo caudado


nos jovens com PHDA independentemente da utilização de metilfenidato. Em
1990, Alan Zametkin e col. mostraram por PET (Tomografia Emissora de
Positrões) que o metabolismo total da glicose no cérebro era menor nos adultos
com PHDA (cit. em 9). Posteriormente constatou-se que jovens do sexo feminino com
esta patologia apresentavam menor metabolismo cerebral da glicose, o que não
sucedia nos rapazes. Há portanto diferenças de género nos mecanismos
neurobiológicos da PHDA (23)
. Segundo Yeo e col. (2003) existem diferenças
neurobiológicas específicas de género na activação do lobo frontal dos sujeitos
com PHDA. As raparigas mostram alterações no lobo frontal esquerdo enquanto
os rapazes apresentam alterações à direita (26)
.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

Barkley e col. (1997) propuseram um modelo de disfunções executivas


localizadas no córtex pré-frontal explicativo dos défices cognitivos e
comportamentais associados à PHDA(27). O seu modelo compreende cinco funções
executivas major que permitem ao indivíduo reconhecer e controlar as suas
acções para atingir um determinado objectivo: resposta inibitória, auto-regulação
das emoções e motivação, memória de trabalho (MW) não verbal, memória de
trabalho (MW) verbal e reconstituição. A resposta inibitória atrasa, interrompe
respostas e controla interferências para permitir ao indivíduo o controlo dos
impulsos verbais e motores. A MW não verbal permite ter a noção de passado e
futuro e a consciência cognitiva de Si. A MW verbal dá a capacidade de
internalizar linguagem receptiva e expressiva para se auto-questionar, auto-
descrever e estabelecer regras de comportamento. Juntas, permitem a capacidade
de compreensão da leitura, auto-regulação das emoções e motivações,
perseverança para aquisição de objectivos e estabelecer um código de conduta
moral. Por fim, a reconstituição permite ao indivíduo analisar as experiências nas
suas memórias de trabalho e sintetizar novas respostas com vista a atingir os
seus objectivos. Os autores defendem que das cinco funções executivas, a
resposta inibitória se encontra claramente deficitária nos jovens com PHDA, com
repercussões nas capacidades sociais e psicológicas, associadas às restantes
funções. A ausência de uma inibição apropriada está associada a uma
incapacidade em manter a atenção, distractibilidade marcada e descontrolo
comportamental .
(27, 28)

No que concerne à MW, apesar das várias perspectivas teóricas, o modelo


mais influente é o modelo multicomponente de Baddeley (1986), onde a MW é
composta por dois sistemas de armazenamento verbal e visuoespacial e uma
central executiva que regula e controla os dois sistemas (29)
.
A MW pensa-se ser altamente dependente das regiões frontoestriadas e
cerebelares, pelo que se levanta a hipótese dos seus défices serem resultado de
disfunções destes circuitos e/ou de desregulações dopaminérgicas (dada a
eficácia farmacológica). O estudo de Martinussen e col. apoia a hipótese da
disfunção da MW na PHDA, com base no modelo de Baddeley. Verificaram
reduções significativas no componente de armazenamento espacial e na
executiva central (CE) espacial; e défices ligeiros no armazenamento verbal e CE
verbal. Sugerem também que as dificuldades motoras frequentemente
observadas nas crianças com PHDA podem estar associadas a défices no
processamento visuoespacial (29)
.

23
Em 1999, Katya Rubia e col. estudaram um grupo de adolescentes com
PHDA, comparando-os a um grupo controlo. Utilizou a IRMf enquanto os sujeitos
desempenhavam o Stop Signal Test – o sujeito pressiona um de dois botões
consoante a letra que aparece no ecrã (por exemplo A ou B). Em cerca de um
quarto das vezes aparece uma letra S, tendo o participante de inibir o impulso.
Esta tarefa é muito útil para avaliar a resposta inibitória. Verificaram que o grupo
clínico activava menos intensamente os lobos frontais inferiores direitos bem
como o núcleo caudado esquerdo, em comparação ao grupo controlo. Estes
resultados têm sido corroborados por outros estudos (cit. em 9, 30)
.
Existe evidência crescente que os lobos frontais direitos modelam a
resposta inibitória e o afecto negativo, havendo um prejuízo do sistema de
atenção executiva nas pessoas com PHDA (9).
Na sequência dos resultados da PET – menor perfusão dos gânglios basais
em doentes com PHDA – estudos com IRMf demonstram anormal activação do
estriado, córtex pré-frontal e cingulado anterior (7,23)
. Szobot e col. (2005)
verificaram que os indivíduos com PHDA apresentam maior perfusão sanguínea
no Giro Temporal Médio Direito, sugerindo uma relação com a atenção selectiva e
a memória de trabalho (11)
.
Estudos que comparam adultos com PHDA e controlos saudáveis durante
uma tarefa de conflito, verificaram que o grupo de estudo activa redes neuronais
distintas do grupo controlo, isto é, enquanto o grupo controlo activa o córtex
cingulado anterior, os doentes com PHDA activam a ínsula anterior – uma região
cerebral associada a tarefas rotineiras que não envolvem conflito. Avaliando o
tempo de resposta, os indivíduos com PHDA demoram mais tempo a concluir a
tarefa que o grupo controlo. Contudo, estudos de follow-up parecem indicar que
após instituída terapêutica com metilfenidato nos indivíduos com PHDA, a
activação do córtex cingulado anterior aumenta para níveis semelhantes ao grupo
controlo, enquanto decresce a activação da ínsula (7,23)
.
Tamm e col. (2004) verificaram também que os sujeitos com PHDA
apresentam alterações na execução de tarefas associadas à resposta inibitória,
com activação de zonas cerebrais distintas. Neste estudo, os sujeitos com PHDA,
em comparação com o grupo controlo, activaram bilateralmente o giro frontal
inferior, o córtex temporal e o córtex cingulado anterior esquerdo até à área
motora suplementar (28)
. O facto deste grupo apresentar geralmente um padrão de
activação mais generalizado e bilateral sugere que podem estar a recrutar mais
recursos para realizar uma tarefa, tornando-a mais árdua. A activação do lobo
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

temporal aqui verificada pode reflectir a utilização de estratégias mediadas


verbalmente, que é consistente com o papel da MW verbal (29)
. Comparando os
grupos, os sujeitos com PHDA apresentam menor activação do hemisfério direito,
nomeadamente do córtex cingulado anterior e médio e área motora suplementar,
que estão directamente relacionadas com a performance comportamental. Este
estudo sugere que os défices na resposta inibitória, habitualmente relatados em
sujeitos com PHDA, são na realidade sintomáticos de um défice mais
generalizado de troca de tarefas ou de resposta, em vez de uma deficiente
resposta inibitória per se (28)
.
Shultz e col. (2005) constataram que, entre adolescentes diagnosticados
com PHDA durante a infância, a activação do córtex pré-frontal ventrolateral
(CPFVL) durante a resposta inibitória diferia entre aqueles cujos sintomas
persistiam ou remetiam; e entre ambos e o grupo controlo. A activação desta
região foi máxima no grupo com persistência de sintomas; seguindo-se o grupo
cujos sintomas remetiam e a menor activação verificada no grupo controlo. O
CPFVL tem sido implicado na resposta inibitória da cognição e do
comportamento. A aparente redução na activação desta região nos adolescentes
com remissão dos sintomas sugere que a actividade neuronal normaliza
paralelamente com a sintomatologia, dentro de um contexto desenvolvimental (24)
.
Slaats-Willemse e col. (2005) concluíram que a resposta inibitória, o
funcionamento visuomotor fino e o controlo da atenção parecem agrupar-se nos
irmãos dos sujeitos com PHDA. Estes resultados sugerem que a disfunção
executiva pode reflectir um endofenótipo cognitivo da PHDA, isto é, “traços
latentes que transportam carga genética e estão indirectamente relacionados
com os sintomas comportamentais clássicos definidos pelo DSM-IV ou CID-10”.
Os autores defendem que, dada a presença de problemas cognitivos similares, os
irmãos saudáveis dos sujeitos com PHDA beneficiariam igualmente dos mesmos
programas de intervenção terapêutica (31)
.

1.4.1.4 Conclusão

A investigação etiológica da PHDA é uma área em franca expansão e


desenvolvimento. As divergências nos resultados encontrados demonstram a
complexa arquitectura genética desta entidade. A vulnerabilidade genética parece
resultar de um efeito aditivo de vários genes, com pequenas contribuições de

25
cada um (16)
. Existe uma relação directamente proporcional entre o número de
polimorfismos nos genes do Sistema Noradrenérgico e os distúrbios da
aprendizagem associados a PHDA (18)
. Nesta área de investigação, os genes do
transportador da Noradrenalina (NET) e -adrenérgicos parecem ser promissores
(13)
.
Os objectivos do estudo genético na PHDA estão a evoluir da descoberta
genética para a funcionalidade do gene, ao nível dos mecanismos moleculares e
processos cerebrais, focando na interacção com patogénios ambientais (12).
Os estudos de neuroimagem têm consistentemente sugerido o
envolvimento do córtex pré-frontal dorsal, cerebelo e os gânglios da base na
patofisiologia da PHDA. É crescente a evidência do papel do córtex pré-frontal e
regiões parietais inferiores, particularmente do hemisfério direito, na resposta
inibitória. No que concerne à MW e sua implicação na patofisiologia, os défices
verificados nestes sujeitos comprometem as suas aquisições académicas,
nomeadamente resolução de problemas aritméticos, compreensão de leitura e
elaboração de um texto. Então, é possível que o fraco progresso académico nas
crianças com PHDA possa ser resultado de défices na MW em vez de uma
consequência directa de sintomas comportamentais de desatenção e/ou
hiperactividade-impulsividade. De acordo com Rosenshine (1997), estratégias
educacionais efectivas, como informação por pequenas etapas seguidas de
exercícios práticos supervisonados e a utilização de material de suporte como
cartões-pista, podem ser profícuos pois reduzem a carga na MW (29).
Por último, a utilização de áreas primitivas na execução de tarefas por
indivíduos com PHDA – rede fronto-estriato-insular-talámica – demonstra que,
embora o cérebro tente compensar os seus défices, possivelmente resulta num
processamento ineficaz.

1.5 Epidemiologia

A PHDA é uma das patologias psiquiátricas mais comuns com início na


infância. Estima-se uma prevalência mundial de 5 a 12%, de predominância
masculina na ordem de 3:1 (1)
. Estudos indicam que 50-80% das crianças com
PHDA apresentam distúrbios comórbidos, como perturbação da conduta, de
oposição, abuso de drogas/álcool, perturbação de ansiedade, perturbação de
humor e dificuldades na aprendizagem . As raparigas apresentam mais
(18)
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

frequentemente sintomas menos disruptivos, mais sintomas de desatenção e


problemas de internalização como depressão e ansiedade, ao passo que os
rapazes manifestam-se com sintomas mais disruptivos levando a maior referência
clínica.
Em idades pré-escolares, o subtipo hiperactivo é mais comum com uma
prevalência que oscila entre os 2% nos cuidados primários e 59% em clínicas de
psiquiatria da infância. Os sintomas de hiperactividade tendem a decrescer com a
idade. Estudos indicam que 35-80% dos casos diagnosticados persistem na
adolescência e 49-66% terão sintomatologia significativa, ou preencherão os
critérios diagnósticos na idade adulta (10)
.

1.6 Comorbilidade Psiquiátrica

Palacio e col. (2004) estudaram 18 famílias multigeracionais de uma


comunidade colombiana geneticamente isolada, Paisa, para conduzir estudos
sobre PHDA. Obtiveram uma amostra de 433 indivíduos, onde 33% apresentava o
diagnóstico de PHDA. Verificaram uma elevada comorbilidade com Perturbação
da Conduta (50%) ou Perturbação de Oposição (25%), categorias mutuamente
exclusivas segundo DSM-IV (32)
. Esta amostra é primariamente representativa do
subtipo combinado comórbido com Perturbação da Conduta, entidade já
anteriormente proposta por Biederman e Faraone, ser considerada clínica e
nosologicamente distinta. Este padrão nosográfico representa um alvo
privilegiado de análise genética molecular, dado o elevado risco de recorrência
em irmãos (33)
.
O estudo de Levy e col. (2005), indica que o perfil de comorbilidade difere
consoante o subtipo de PHDA. Parece existir diferenças significativas de género
na associação da Perturbação de Ansiedade de Separação e o subtipo desatenção,
com um claro predomínio do sexo feminino (34)
. Esta diferença pode predizer uma
maior vulnerabilidade a problemas de internalização futuros, tal como descrito
por Dalsgaard em 2002 (cit. em 34)
. Por outro lado, a frequência de sintomas de
Perturbação de Ansiedade de Separação é superior em rapazes com PHDA dos
subtipos desatenção e combinado relativamente ao grupo controlo, sugerindo
que estes sintomas possam estar relacionados com a gravidade da PHDA (35)
.
Dada a elevada co-ocorrência de PHDA e Perturbações Depressivas, alguns
autores sugerem que haverá factores de risco genético comuns a ambas as

27
patologias (36)
. Existe alguma evidência da relação entre PHDA e Perturbação
Depressiva Breve Recorrente, uma entidade etiologicamente distinta de
Perturbação Depressiva clássica (36)
.
Vários estudos corroboram a elevada comorbilidade de Perturbação da
Conduta e PHDA, sendo portanto expectável que adolescentes com PHDA tendam
a apresentar traços de personalidade anti-social, reflectindo crescentes taxas de
envolvimento criminal nos adultos jovens (36,37,38)
. Estudos longitudinais de crianças
com PHDA encontraram elevadas taxas de comportamento anti-social na
adolescência (38,39)
e na idade adulta (39)
. Em crianças com PHDA, a taxa de
comorbilidade com Perturbação da Conduta tem sido cerca de 50% em amostras
clínicas e entre 30-50% em amostras da comunidade (37)
.
No que concerne a problemas de externalização, existe evidência que a
comorbilidade com Perturbação da Conduta e Perturbação de Oposição são
similares entre rapazes e raparigas (34)
. Quanto à Perturbação de Consumo, a taxa
de abuso de substâncias em pacientes com PHDA parece ser crescente (1,40,41)
.
Alguns autores verificaram esta relação apenas em adultos que mantiveram
sintomas centrais de PHDA. Vários estudos concluíram que um terço dos adultos
com PHDA abusam do álcool, tendo um quinto história de abuso de drogas (41)
.
Cerca de 40% dos abusadores de cocaína e opiáceos preenchem critérios para
PHDA. Comparando com outros abusadores de opiáceos e cocaína, os que têm
história de PHDA, começam os consumos precocemente, apresentam hábitos de
consumo mais severos e maior frequência de comportamento criminal e anti-
social (40)
. O consumo de álcool durante a gravidez parece ser um factor de risco
para PHDA, surgindo a discussão se uma patologia predispõe a outra ou se são
interdependentes (6).
Um estudo realizado por Abram e col. (2003) num centro de detenção
norte-americano verificou que, após excluir as Perturbação da Conduta (sintomas
que incluem comportamentos delinquentes), cerca de 60% dos rapazes e 70% das
raparigas detidos apresentavam perturbações psiquiátricas (42)
. As taxas de
comorbilidade psiquiátrica nos adolescentes detidos pode ser ainda mais elevada
que nos adultos (43)
. A patologia psiquiátrica mais frequente entre adolescentes
detidos é o abuso de substâncias com PHDA ou Perturbação da Conduta. Metade
destes jovens apresenta também Perturbação Ansiedade ou de Humor . A
(35,42)

correlação entre PHDA e comorbilidade psiquiátrica na idade adulta é superior no


sexo feminino – apresentam maior taxa de admissão hospitalar na idade adulta,
sendo particularmente elevada se existir história de problemas da conduta (42)
.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

Biederman e col. (2008) sugerem que a comorbilidade psiquiátrica prediz não só


um pior prognóstico, mas também a persistência da PHDA ao longo do tempo (41)
.

1.7 Evolução e Prognóstico

O diagnóstico na idade adulta é habitualmente mais problemático,


sobretudo num contexto forense, onde estamos perante um conjunto de
condições potencialmente perturbadores e/ou comórbidas – como perturbações
da personalidade e abuso de substâncias – que impedem o normal processo
diagnóstico (44)
.
Um estudo realizado por Jim Stevenson e Robert Goodman evidenciou a
existência de uma continuidade no comportamento que conduz à associação
entre o comportamento na idade pré-escolar (cerca dos 3 anos) e a criminalidade
na idade adulta (45)
. Comportamentos de externalização, como temperamento
explosivo e dificuldades de auto-controlo, que reflectem défices na auto-
regulação emocional e nível de actividade parecem ser preditores precoces de um
estilo de comportamento que se mantém até à idade adulta, mesmo após
controlar situações externas adversas como depressão materna, desvantagem
social e disfunção familiar.
No estudo longitundinal de Dunedin, Nova Zelândia, o temperamento
descontrolado (inquietação, impulsividade e défice de atenção) aos três anos de
idade prediz comportamentos auto-relatados de delinquência e condenações
entre os 18 e 21 anos (46)
.
Whittinger e col. (2007) concluíram que o diagnóstico de Perturbação de
Oposição e a pontuação total de sintomas de oposição predizem
significativamente o diagnóstico de Perturbação da Conduta (PC) na adolescência,
mesmo após controlar comportamentos de PC e PHDA da infância. Crianças com
diagnóstico de Perturbação de Oposição apresentam o triplo da probabilidade de
desenvolver PC na adolescência. Existe também uma relação entre a gravidade da
Perturbação de Oposição na infância e a pontuação de PC na adolescência,
independentemente da PHDA e PC. Este estudo é consistente com a hipótese da
Perturbação de Oposição como um importante factor de risco no
desenvolvimento de futura PC em crianças com PHDA. É possível que actue como
um processo mediador pela sua contribuição no desenvolvimento de más

29
relações interpares e disfunção escolar, factores que influenciam o
funcionamento intelectual ou a resposta ao tratamento .
(36, 37)

Loeber e col. (2000) propuseram que a Perturbação de Oposição era um


precursor do desenvolvimento de PC e, a presença da PHDA comórbida predizia
uma Perturbação da Conduta de início mais precoce e de maior gravidade. Apesar
de não haver estudos que orientem quais os mecanismos de interacção, existem
fortes evidências para a presença da Perturbação de Oposição em crianças com
PHDA ser significativa no desenvolvimento de PC. Existe alguma evidência para
sugerir uma partilha genética entre estas entidades enquadrada num conjunto de
factores de risco ambientais. Logo, é de capital importância atentar aos sintomas
de oposição no tratamento das crianças com PHDA (47)
.
A evidência sugere que a PHDA associada a PC é um distúrbio grave e
persistente, onde o prognóstico é francamente pior comparativamente às
crianças com apenas um diagnóstico. As crianças com duplo diagnóstico
apresentam maior agressividade e delinquência, piores aquisições académicas,
maior desajuste social e auto-estima inferior (36,37,46)
. A baixa escolaridade prediz
ofensas a propriedades, tráfico e violência. Analisando as escalas de avaliação
aplicadas, os registos dos professores sobre os problemas da criança estão mais
fortemente relacionados com a criminalidade futura do que os resultados obtidos
pelos pais ou pela própria criança (46)
.
Lahey e col., em 1999 defenderam que as vias para o desenvolvimento de
um comportamento anti-social são influenciadas por uma constelação de
características de temperamento desenvolvidas precocemente, que por sua vez
afectam directamente o comportamento no futuro pela acção contínua de
factores genéticos, ou indirectamente pela interacção gene-ambiente .
(cit. em 46)

Vários estudos assumem que aspectos específicos das relações familiares,


a saúde mental dos pais e, particularmente, a criminalidade parental, contribuem
para a criminalidade futura (48)
.
As intervenções precoces baseadas na família podem ser profícuas para
prevenir que a criança entre no ciclo de comportamentos disruptivos e
consequentes experiências adversas que posteriormente contribuirão para o
desenvolvimento de um comportamento anti-social persistente. Estas
intervenções não deverão ser transversais mas integrar uma estratégia
continuada de intervenções multidisciplinares nas várias etapas da vida da
criança.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

1.7.1 PHDA e Abuso físico

As repercussões comportamentais de uma história de abuso na infância e


a sintomatologia da PHDA partilham inúmeras características, nomeadamente,
agressividade, comportamento externalizador, depressão, rejeição de pares e
dificuldades cognitivas. Entende-se por abuso as reacções inapropriadas por
parte dos adultos – habitualmente os pais – contra a criança.
A PHDA é uma condição com elevadas taxas de hereditariedade e as
evidências neurobiológicas sugerem fortemente uma origem
neurodesenvolvimental (1, 5)
. Esta afirmação não implica que os ambientes familiar
e escolar sejam insignificantes para o desenvolvimento e manutenção do quadro
clínico; por seu turno, indica que os cuidados parentais não são a causa primária
de PHDA. Dada a sustentabilidade genética da patologia, os pais de crianças com
PHDA podem também apresentar dificuldades no controlo de impulsos e défices
de atenção, aumentando a probabilidade de comportamento abusivo.
Existe evidência que os pais de crianças com PHDA experimentam mais
stress e estilos de interacção pais/criança disfuncionais do que os pais de
crianças sem PHDA. Além disso, os pais das crianças com PHDA relatam mais
sentimentos de culpabilização, incompetência, depressão e isolamento. As mães
de crianças hiperactivas são mais frequentemente divorciadas ou separadas que
as mães de crianças sem PHDA (49)
.
Um estudo de Ford e col. (2000) demonstrou que 45-73% da amostra com
diagnóstico de Perturbação de Oposição tinha sido exposta a abuso físico e 18-
31% tinha sido abusada sexualmente. Em contraste, 25% das crianças com PHDA
tinham sido expostas a abuso físico e 11% a abuso sexual. Notavelmente, 91%
das crianças com PHDA e Perturbação de Oposição tinham história de trauma (50)
.
Assim, a comorbilidade da PHDA e Perturbações do Comportamento Disruptivo
pode apresentar uma forte correlação com história de abuso.
Um estudo de Briscoe-Smith e col. (2006) verificou que raparigas com
PHDA apresentavam maior risco de abuso. Por outro lado, raparigas com PHDA e
história de abuso apresentavam diferenças significativas nos níveis de
comportamento externalizador e rejeição dos pares, relativamente ao grupo de
raparigas com apenas PHDA (49)
. É possível que a associação de abuso físico e
PHDA resulte em comportamento agressivo, como função aditiva e perturbadora
de ambos os factores de risco.

31
Em suma, a combinação de stress parental associado ao temperamento
difícil da criança pode proporcionar um cenário propício às rupturas do cuidado
parental, levando a cuidadores abusivos que acentuam as tendências agressivas
da criança. Consequentemente, é expectável que trauma precoce possa predispor
a agressividade futura, com risco acentuado se a rapariga apresentar igualmente
desatenção e impulsividade, incluídas no espectro da PHDA.
Os padrões de desenvolvimento apresentam importantes implicações no
diagnóstico e tratamento tanto para as crianças com PHDA como para as crianças
abusadas. Certamente, existem crianças com PHDA cuja história de abuso está
sub-diagnosticada, quer como factor etiológico como perpetuante. Se a presença
de trauma não for avaliada, os sintomas associados irão permanecer e
provavelmente agravar-se-ão à medida que a criança se desenvolve.

1.7.2 PHDA na Idade Adulta

Os sintomas de PHDA habitualmente remitem com a idade e, embora já


não seja evidente a globalidade sindromática que define o diagnóstico, muitos
indivíduos mantêm alguns dos sintomas centrais. A impulsividade, característica
cognitiva e clínica chave das crianças e adultos, é preponderante quando se
considera A PHDA e o comportamento ofensivo. Estudos prospectivos norte
americanos sugerem que aproximadamente 40 a 43% dos indivíduos com PHDA
na infância serão igualmente diagnosticáveis na idade adulta com base nos
critérios DSM-IV e num estudo britânico, 23% serão diagnosticáveis entre os 16-
18 anos (51)
.
Wender e col. em 1998, desenvolveu uma lista de sintomas e
comportamentos, incluindo alguns de relevância forense, que podem sugerir a
presença de SDHA no adulto: hiperactividade motora; desatenção; labilidade
afectiva; hiperreactividade emocional; desorganização; impulsividade . Foi
(cit. em 51)

desenvolvida recentemente uma escala de avaliação da PHDA para maiores de 18


anos, Conners Adult ADHD Rating Scales (CAARS). Encontra-se em
desenvolvimento uma versão da CAARS para utilização em contexto prisional (40)
.
Os défices funcionais e cognitivos associados à PHDA na idade adulta têm
como consequência disfunções marcadas a nível académico, ocupacional e social.
No âmbito ocupacional, estes jovens apresentam pior rendimento escolar, maior
risco de suspensão e expulsão. Na idade adulta, as metas ocupacionais são
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

menores em relação aos pares. Contudo, possivelmente o aspecto mais


incapacitante na PHDA no adulto é a disrupção no relacionamento interpares,
com maior risco de conflitos recorrentes com colegas de trabalho,
comportamentos socialmente inapropriados, rivalidade com parceiros e
problemas legais (3). Do ponto de vista familiar, evidenciam grande dificuldade em
manter uma relação familiar estável como demonstra o estudo prospectivo de
Weiss e Hechtman. As dificuldades surgem não só pelo esforço pessoal por
manter o relacionamento, mas também pelas dificuldades em lidar com crianças
que apresentam características semelhantes às suas (52)
.

1.8 Tratamento

O plano terapêutico deve ser individualizado, tendo em conta as


preferências da família.
Existem duas modalidades terapêuticas aprovadas pela Academia
Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência e pela Academia Americana
de Pediatria: tratamento comportamental e agentes simpaticomiméticos
aprovados pela FDA (estimulantes e atomoxetina). Estudos de avaliação
evidenciam melhor resultado na abordagem combinada, sobretudo na presença
de condições comórbidas (1, 5, 6).
Os tratamentos comportamentais assentam na teoria da aprendizagem
social, particularmente no princípio que, comportamentos reforçados aumentam
de frequência e os que não são reforçados ou são punidos tendem a extinguir-se.
Um conjunto de práticas comportamentais podem ser aplicadas desde a primeira
consulta, como um sistema de estrelas para comportamentos alvo, regras claras
em casa, instruções gráficas ou escritas para a utilização dos canais visuais.
Gradualmente pode utilizar-se intervenções mais específicas. Existem vários
programas disponíveis para instruir os pais a lidar com os comportamentos,
actualmente denominados por programa de treino de competências parentais (1, 5,

6)
.
Vários fármacos podem ser benéficos na PHDA, mas apenas os
estimulantes (metilfenidato) e a atomoxetina são aprovados pela FDA.
Apesar do seu reconhecimento no tratamento da PHDA, o mecanismo de
acção dos estimulantes ainda é desconhecido. O Metilfenidato promove a
libertação da Dopamina armazenada e bloqueia a recaptação nos receptores pré-

33
sinápticos. As anfetaminas bloqueiam a recaptação no transportador, mas
parecem também promover a libertação da Dopamina sintetizada de novo. Este
efeito combinado aumenta a função dopaminérgica no estriado e, pelo menos
indirectamente, no córtex pré-frontal. Os estimulantes também têm um efeito no
sistema noradrenérgico. O Metilfenidato e as anfetaminas são metabolizados no
fígado, mas por vias distintas. Os metabolitos das formulações de libertação
imediata são excretados pela urina em 24 horas.
Como com todos os fármacos, deve-se iniciar a terapêutica com doses
baixas, titulando semanalmente até ser atingido o ponto óptimo. Existe uma
elevada variabilidade na sensibilidade de cada indivíduo e não é estabelecida a
dose mínima eficaz por kg de peso. Actualmente, as formulações de libertação
prolongada permitem à criança uma toma única diária, com menores efeitos
laterais e risco de estigmatização, na medida em que lhe permite tomar a
medicação em casa. Os principais efeitos laterais são insónia, perda de peso e de
apetite, cefaleias, espasmos musculares, subida da Tensão Arterial e da
frequência cardíaca, “evening crash” (agravamento da hiperactividade à noite),
abrandamento do crescimento nos primeiros 2 anos, alucinações, depressão e
tiques e mais raramente uma aparência “zoombie” (aspecto de anfetamina) –
embotamento afectivo e ausência de espontaneidade. Outras opções eficazes na
hiperactividade são os fármacos antipsicóticos e os antidepressivos. Pelos seus
efeitos laterais e dúbios benefícios, devem apenas ser usados quando os
estimulantes agravam os sintomas. Dos antidepressivos, à excepção dos
Inibidores da Recaptação da Serotonina, os Tricíclicos, os Inibidores da
Monoamina Oxidase e o Buproprion podem ser benéficos, particularmente na
presença de perturbação depressiva ou ansiosa comórbida. Outros fármacos são
os agonistas , os anti-histamínicos e os anti-epilépticos.
A par com a farmacologia, a psicoeducação da doença à criança e à família
e o estabelecimento de uma plano educacional são vitais para o bom prognóstico
da perturbação. Grande parte das crianças com PHDA apresenta algumas
limitações académicas. Se a maioria é capaz de se adaptar a uma classe regular
com suporte e tratamento adequados, alguns irão necessitar um plano educativo
específico ou até uma classe especial.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

1.9 Implicações Médico-Legais

Apesar dos estudos evidenciarem elevadas taxas de comportamento anti-


social na PHDA, há diferenças significativas relativamente à taxa de criminalidade
. Mannuzza e col., em 1989, verificaram que jovens com PHDA eram mais
(37, 38, 43, 53)

vezes presos, cometiam mais felonias e eram mais vezes condenados e


encarcerados pelos seus crimes. Anos mais tarde, os mesmos autores
entrevistaram 98% dos sujeitos da amostra prévia e verificaram que os adultos
com PHDA apresentavam mais frequentemente o diagnóstico de perturbação anti-
social de personalidade .
(cit. em 43)

Barkley e col., em 2004 concluíram que, jovens com PHDA estão em maior
risco de encetar actividades anti-sociais e de apresentar maior número de
detenções quando adulto jovens. Estes comportamentos parecem estar
principalmente associados a posse, venda e uso de drogas ilícitas (cit. em
.
43)

Sourander e col. (2006), concluíram que rapazes com défice de atenção


apresentam maior risco de comportamento criminal futuro e a hiperactividade na
infância era um factor preditor independente de acidentes de tráfico. Estes
resultados foram corroborados por outros estudos (46)
. Contudo, a investigação
também demonstrou que a PHDA na idade adulta não é por si só um factor
contribuinte significativo do comportamento delinquente (43, 53)
. A PHDA na
infância representa um factor de risco para criminalidade futura, mas esta relação
é mediada pela presença de agressividade com o início da adolescência, podendo
conduzir ao desenvolvimento de Perturbação Anti-Social de Personalidade na
idade adulta precoce (40)
.
Satterfield e col. (2007) desenvolveram um estudo prospectivo de 30 anos
com crianças com PHDA com tratamento farmacológico, comparando-os com o
grupo controlo. Apesar da maioria não ter encetado comportamento criminal,
verificaram que um subgrupo de jovens com PHDA eram mais vezes detidos,
apresentavam maior número de detenções repetidas, eram mais vezes julgados e
encarcerados. Segundo os autores a percentagem de agressores diminui
gradualmente com a idade. Neste estudo, foram detectados factores preditores
positivos para a recidiva, nomeadamente o nível socio-económico e o nível
cognitivo. O nível socioeconómico (SE) mais baixo está associado ao dobro de
detidos relativamente ao nível SE mais alto. Quanto mais baixo o nível cognitivo
(QI) e o nível SE, maior a percentagem de presos. Para cada nível SE, quanto

35
maior o QI, menor o número de presos, assim como, para cada QI, o número de
presos diminui com a subida do nível SE (43)
.
Há uma ampla aceitação da conclusão que o comportamento anti-social é o
comportamento mais estável de todos os comportamentos e problemas
psicológicos da infância. Mentir prediz o comportamento criminal da
adolescência e adulto jovens (53)
. Satterfield e col. (2007) defendem que este
comportamento prediz igualmente a criminalidade em idades superiores, daí que
deverá ser uma variável importante a avaliar em crianças com PHDA (43)
. Para
outros autores, jovens que não apresentam perturbação da conduta na infância
não terão maior percentagem de delinquência e criminalidade que a população
geral (38)
. No estudo Pittsburg Youth Study, as características da infância mais
fortemente relacionadas com delinquência precoce na adolescência eram
agressão física, diagnóstico de Perturbação de Oposição, PHDA, delinquência dos
pares e má supervisão parental . Farrington e col. (1990) concluíram que os
(cit. em 46)

preditores de delinquência na adolescência são PHDA (independentemente de


problemas de conduta), baixo nível cognitivo, fraca escolaridade, parca
supervisão parental, disciplina inconsistente, negligência na infância, disciplina
punitiva e rigorosa, divórcio parental, família numerosa, delinquência em
membros da família, nível socio-económico baixo, rejeição dos pares, bullying,
frequentar escola com elevada taxa de delinquência e viver em meio de elevada
criminalidade .
(cit. em 48)

O estudo realizado por Satterfield and Schell (1997) sugere a existência de


pelo menos dois importantes subgrupos de crianças hiperactivas: os que
apresentam e os que não apresentam Perturbação da Conduta. A presença de um
comportamento disruptivo na infância está associado a um incremento do risco
de comportamento anti-social na adolescência e na idade adulta. Os autores
alertam para o facto do limiar diagnóstico de Perturbação da Conduta segundo o
DSM-IV (requer a presença de 3 ou mais comportamentos disruptivos) poder ser
demasiado elevado para este grupo etário de rapazes hiperactivos. Para além
disso, a gravidade dos comportamentos necessários para o diagnóstico são mais
apropriados para adolescentes e não correspondem aos apresentados pelas
crianças mais jovens com hiperactividade. Dado que os comportamentos mais
ligeiros ocorrem numa primeira fase do desenvolvimento, estes devem ser alvo
de intervenção precoce para prevenir futuros comportamentos anti-sociais mais
graves (53)
.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

Existe evidência que os comportamentos anti-sociais se “cristalizam” e


tornam-se mais estáveis à medida que a criança cresce . Contudo, este
(cit. em 36)

comportamento é também modificável, especialmente durante a pré-


adolescência, de modo que, as intervenções terapêuticas deverão ser levadas a
cabo neste período. O grande objectivo será a intervenção precoce e preventiva
uma vez que à medida que os factores de risco se vão acumulando, a
probabilidade de sucesso irá decrescer (36)
.
Satterfield e col. em 1981, concluíram que uma intervenção
multidisciplinar em rapazes hiperactivos resultou em menor comportamento anti-
social, melhor performance académica, melhor enquadramento social, familiar e
escolar após 3 anos de tratamento. Seis anos depois, estes jovens apresentavam
uma redução de 50% na percentagem de detenções juvenis, quando comparados
com um grupo de rapazes hiperactivos tratados apenas farmacologicamente (cit. em
43)
.
A gravidade dos sintomas de PHDA na adolescência e idade adulta
aparentemente coincidem com um aumento dos problemas relacionados com
agressividade e conduta. Por isso, quanto maior a gravidade dos sintomas de
PHDA, maior a probabilidade do indivíduo progredir para um comportamentos
criminal. Além disso, a percentagem de Perturbações Anti-social e Borderline de
Personalidade revela-se muito superior em indivíduos com história de PHDA (48).
Estudos prospectivos bem controlados com crianças com PHDA concluíram
que 70% mantêm os critérios diagnósticos na adolescência. Pela idade adulta,
esta população apresenta mais problemas académicos e mais comportamentos
opositivos e delinquência que o grupo de pares. Comparados com outros jovens
adultos, eles envolvem-se em actividades que resultam em mais suspensão
escolar, mais contactos com sistemas judicial e maior probabilidade de ser
admitido em instituições judiciais juvenis (40)
.
O desenvolvimento do comportamento agressivo durante a infância e
adolescência é consistentemente identificado como um elo de ligação entre a
PHDA, o abuso de substâncias e o comportamento criminal. Embora a
agressividade não seja um critério diagnóstico da PHDA, cerca de 50% dos
indivíduos com PHDA avaliados em clínicas, evoluem para um padrão de
comportamento agressivo, como a delinquência. Vários estudos sugerem que
indivíduos com PHDA apresentam uma probabilidade sete vezes superior de
desenvolver personalidade anti-social ou abuso de drogas na idade adulta;

37
apresentam maior probabilidade de envolvimentos em acidentes de viação e
sofrer penalizações, particularmente por conduzir com excesso de velocidade (46)
.
Durante a adolescência, estes jovens apresentam maior risco de conduzir
um veículo antes de possuir a autorização legal para o fazer e têm mais
penalizações, com suspensão da licença de condução. Nesta sub-população,
problemas com comportamento anti-social são a norma e não a excepção (51)
.
Um crescente número de advogados tem levantado a questão da PHDA
como uma potencial defesa para uma vasta gama de crimes. Até à data, os
tribunais não se têm mostrado receptivos a esta argumentação. A PHDA não
escusa a conduta criminal e nem os torna inimputáveis. Contudo, levanta-se a
questão se, perante um crime requerendo prova de desatenção, um indivíduo
com comportamento imprudente e impulsivo poderá ver a sua pena reduzida se a
PHDA contribuir como factor atenuante.
Geralmente, as motivações e explicações para um determinado tipo de
comportamento assumem um papel preponderante na fase de inquérito de um
crime. A PHDA, combinado com outras variáveis pessoais e ecológicas,
representa um factor de risco agravado para o comportamento criminal repetido.
O diagnóstico precoce e tratamento destes jovens pode, a longo prazo, reduzir o
número de contactos com o sistema judicial. A curto prazo, o tribunal poderá
solicitar a colaboração de profissionais de saúde mental na presença de um
indivíduo com sintomas de PHDA. Esta intervenção positiva poderá reduzir a
população prisional e permitirá que os indivíduos recebam um tratamento
ajustado e adequado, fechando assim o ciclo de criminalidade.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

1.10 Conclusão

Até à data, a literatura, embora não conclusiva, aponta para uma ligação
entre PHDA e um largo espectro de patologias psiquiátricas – nomeadamente
Perturbações Afectivas, Abuso de Substâncias e Perturbação Anti-social de
Personalidade. Provavelmente, a maioria dos adultos com PHDA procuram
cuidados primários ou os serviços psiquiátricos em algum momento das suas
vidas, e em doentes com dependência alcoólica ou perturbação da personalidade,
o diagnóstico de PHDA facilmente passa despercebido. Contudo, do ponto de
vista clínico, é importante estabelecer o diagnóstico pelas suas implicações no
tratamento e prognóstico.
Há uma elevada comorbilidade entre PHDA e Perturbação Anti-social da
Personalidade. Apesar de haver resultados divergentes, alguns autores defendem
a presença necessária de comportamentos anti-sociais no adulto jovem para
existir história de criminalidade, isto é, os sujeitos com PHDA sem perturbação
anti-social da personalidade não diferem do grupo controlo no que concerne a
história de criminalidade. A comorbilidade não difere significativamente entre
géneros mas com a gravidade dos sintomas de PHDA, assumindo-os mais graves
no subtipo combinado. O subtipo combinado é portanto, o que apresenta maior
comorbilidade devendo ser alvo de especial atenção na selecção terapêutica.
No envolvimento com o sistema judicial, alguns autores defendem que
crianças com PHDA apresentam maior risco de actividade criminais levando a
detenções, condenações e encarceramento na adolescência tardia ou adulto
jovem. Os rapazes com PHDA têm maior risco de delitos ligeiros e de felonia. O
comportamento que caracteriza a criança com perturbação da conduta é um
potente preditor de subsequentes ofensas criminais. O QI e o nível SE também
devem ser incluídos na avaliação de crianças hiperactivas na tentativa de definir o
risco de criminalidade futura. A Perturbação de Oposição na infância, em crianças
estudadas em contexto clínico com PHDA apresenta um elevado significado
prognóstico para futura Perturbação da Conduta. Dado a pontuação total de
sintomas de Perturbação de Oposição ser um forte preditor diagnóstico de
Perturbação da Conduta na adolescência nos jovens com PHDA, os clínicos
deverão considerá-los quando planeiam estratégias de intervenção e
monitorização.

39
2. PERTURBAÇÃO BIPOLAR
2.1 Introdução

De acordo com as descrições iniciais de Kraepelin (1921), actualmente é


reconhecida a existência do diagnóstico de Perturbação Bipolar em crianças e
adolescentes (cit. em 54)
. Contudo, muitas das crianças apresentam episódios curtos e
frequentes de mania sub-sindrómica, hipomania ou depressão, tornando o seu
diagnóstico particularmente difícil.
A Perturbação Bipolar (PB) afecta gravemente o funcionamento psicossocial
e o normal desenvolvimento da criança e está associada a maior risco de suicídio,
abuso de substâncias, problemas comportamentais, académicos, sociais e legais.
Todavia, estudos retrospectivos concluem que há uma espera média de dez anos
entre o início da doença e o tratamento (54)
.
Do ponto de vista clínico, algumas crianças e adolescentes apresentam os
critérios plenos de PB segundo DSM-IV, apesar do facto de não estarem
especificamente adaptados à população pediátrica. É fundamental avaliar se o
comportamento e humor são diferentes do seu padrão habitual para um
determinado contexto e nível de desenvolvimento. Ter em conta a forma como os
sintomas maníacos se podem manifestar numa determinada etapa do
desenvolvimento pode facilitar o estabelecimento do diagnóstico. Por exemplo,
ao contrário de um adulto com episódio maníaco, uma criança em idade escolar
não vai apresentar comportamentos como envolver-se em negócios arriscados,
conduzir de forma imprudente, ter gastos financeiros excessivos ou ter relações
sexuais com múltiplos parceiros. Contudo, eles podem exibir um comportamento
sexual inapropriado (tocar noutras pessoas inapropriadamente, masturbar-se em
público, desenhar figuras sexualmente provocadoras) ou envolver-se em jogos
perigosos como saltar de locais elevados ou fazer corridas de bicicletas (55)
.
A distinção entre um episódio maníaco ou hipomaníaco pode ser difícil,
devendo ter em atenção o contexto desenvolvimental. Para além das diferenças
na duração mínima, os episódios maníacos requerem uma disfunção marcada de
acordo com o esperado para o seu nível de funcionamento, consoante a idade
cronológica e capacidades cognitivas, nos domínios psicossociais relevantes para
a idade – escola, família e pares. Um episódio hipomaníaco não requer este nível
de disfuncionalidade, apesar de ser inequívoca uma alteração positiva ou
negativa do seu funcionamento habitual e do humor, observável pelos outros.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

Um estudo recente comparando a fenomenologia da PB e da PHDA


verificou que não existe diferenças significativas entre os sujeitos no que
concerne à irritabilidade, aceleração do discurso, distractibilidade e energia
excessiva (cit. em 55)
. De facto, a falta de especificidade torna o diagnóstico de mania
particularmente difícil se apenas tivermos em conta a presença ou ausência de
sintomas.
Na prática clínica diária, a PHDA e as perturbações graves de
comportamento são as condições mais frequentemente confundidas com PB.
Existem alguns sintomas que ocorrem preferencialmente na PB e podem auxiliar
no diagnóstico diferencial, nomeadamente a euforia clinicamente significativa,
sentimentos de grandiosidade, diminuição da necessidade de dormir,
hipersexualidade (sem história de abuso sexual ou exposição a sexo) e
alucinações. Sintomas como irritabilidade e agressividade, partilhados pelas três
patologias, habitualmente apresentam-se com maior gravidade na PB. A evolução
clínica e a presença de história familiar de PB podem também auxiliar no
diagnóstico diferencial.

2.2 Apresentação Clínica

Tem havido um reconhecimento crescente da PB pediátrica (PBP) nos


últimos dez anos. Apesar do dramático aumento no conhecimento acerca da
patologia, mantêm-se grandes dúvidas sobre a apresentação clínica,
particularmente os seus sintomas chave e prevalência.
A apresentação clínica durante a pré-adolescência e adolescência precoce é
largamente debatida, enquanto que a PBP com início na adolescência tardia, é
considerada semelhante aos adultos.
Em 2001, a mesa-redonda do National Institute of Mental Research
acordou que a PBP pode apresentar-se com dois fenótipos distintos: “largo” e
“estreito” (56)
.
Crianças e adolescentes com PB de fenótipo estreito apresentam períodos
recorrentes de depressão major e mania ou hipomania, cumprindo a definição
clássica de PB tipo I ou II, segundo DSM-IV-TR (American Psychiatric Association,
1994). A maioria destas crianças apresenta episódios múltiplos de ciclos rápidos,
com sintomatologia pautada pelo seu estadio de desenvolvimento. Apesar de
apresentarem os sintomas clássicos de mania ou hipomania, uma grande

41
percentagem destas crianças não preenche o critério da duração do episódio (4-7
dias) e são habitualmente diagnosticadas com PB SOE (sem outra especificação)
(57)
(critérios diagnósticos de PB no anexo 1).
Em contraste, crianças com PB de fenótipo “largo”, apresentam-se com
irritabilidade marcada, “tempestades afectivas”, labilidade emocional, graves
explosões temperamentais, sintomas de depressão, ansiedade, hiperactividade,
dificuldades na concentração e impulsividade com ou sem clara periodicidade (57)
.
Leibenluft e col. (2003) sugeriram uma caracterização da PBP em fenótipos
“estreito”, “intermédio” e “largo”:
 Estreito – preenchem os critérios diagnósticos DSM-IV para mania ou
hipomania, incluindo a duração do episódio – 7 ou 4 dias, respectivamente – com
elação do humor e grandiosidade.
 Intermédio – inclui 2 subcategorias: os que apresentam os sintomas chave
por curta duração (1-3 dias); e os que apresentam episódios de mania irritável ou
hipomania, cumprindo o critério da duração, sem elação do humor.
 Largo – sintomas não episódicos de irritabilidade grave e hipervigilância,
sem os sintomas característicos de elação de humor e grandiosidade
Esta fenotipagem é crítica para determinar variáveis biológicas
relacionadas com a psicofarmacologia, genética, neurofisiologia, resposta ao
tratamento e prognóstico (58)
.
Geller e col. (2000) compararam as características clínicas de uma amostra
de crianças entre os 7-16 anos com PB e PHDA e compararam com grupo controle
de jovens saudáveis. Os autores concluíram que elação de humor, grandiosidade,
hipersexualidade, fuga de ideias e diminuição da necessidade de dormir
diferenciava o grupo com PB dos restantes. Os autores enfatizam a centralidade
da irritabilidade no estabelecimento do diagnóstico de PB se a criança cumprir os
critérios DSM-IV com irritabilidade como sintoma principal, mesmo na ausência
de elação de humor, grandiosidade e evolução por episódios .
(cit. em 55)

Outro ponto divergente no diagnóstico da PBP centra-se na definição de


ciclo. Geller e col. (1995) definiu ciclos complexos como ciclos curtos integrados
dentro de um episódio ou ciclo mais longo. Os termos ciclo ultra rápido (5-364
ciclos por ano) e ciclo ultradiano (> 365 ciclos por ano) são utilizados para
descrever a rápida flutuação de humor. Nos ciclos ultradianos, o episódio
maníaco dura 4 ou mais horas por dia (59)
. Estes ciclos ultradianos são
considerados por outros autores como variações de humor, labilidade emocional
e desregulação afectiva (56)
.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

Os sintomas de PB numa criança em desenvolvimento que ainda não


atingiu a sua maturidade física, neurocognitiva e emocional, e frequentemente
com outros distúrbios comórbidos pode apresentar-se como um quadro clínico
complicado e variável (57)
.
Acresce ainda o facto dos sintomas de mania ainda não se encontrarem no
repertório comportamental da criança, como gastos excessivos e
comportamentos sexuais indiscretos. A expressão de sintomas com auto-estima
inflada e aumento de actividades são melhores avaliadas no contexto da história
da criança.
McElroy e col. (1997) concluíram que a prevalência de sintomas psicóticos
é menor na mania dos adolescentes em comparação com a idade adulta (60)
.
Não obstante as discussões presentes sobre o que constitui a PB
pediátrica, existem várias características clínicas que reúnem consenso e são
típicas desta patologia:
1. Cronicidade com episódios longos
2. Predominantemente episódios mistos
3. Ciclos rápidos
4. Irritabilidade predominante
5. Elevada comorbilidade com PHDA e perturbação de ansiedade

2.3 Diagnóstico

O diagnóstico de PB é clínico, podendo ser sustentado por checklist de


sintomas baseados nos critérios DSM. Há várias entrevistas estruturadas e
semiestruturadas que podem ser úteis no diagnóstico. As mais utilizadas em
estudos de investigação são: a Kiddie Schedule for Affective Disorders and
Schizophrenia for School Age Children – Present and Lifetime version (K-SADS-PL)
e a Washington University KSADS (WASH-U-KSADS) (54)
[Anexo 1 - Critérios
diagnósticos segundo DSM-IV-TR].
Quando se avaliam os episódios de humor, deveremos ter em conta a
Frequência, a Intensidade, o Número e a Duração (FIND) (55)
.
Actualmente são utilizadas duas escalas baseadas na clínica para avaliação
de sintomas maníacos e sua gravidade nos jovens: a Young Mania Rating Scale
(YMRS) e a KSADS Mania Rating Scale. Contudo, são necessários mais estudos
para avaliar a validade destas escalas.

43
Os relatos dos pais parecem ser mais efectivos na identificação de mania,
do que os relatos dos jovens ou dos professores. A General Behavior Inventory
(GBI), a parent version of the YMRS (P-YMRS) e a Child Mania Rating Scale for
Parents mostraram ter boas propriedades psicométricas e serem úteis no rastreio
de sintomas de PB nos jovens.
A CBCL tem sido utilizada para identificar um padrão psicopatológico
associado à mania. É consistente a presença de um padrão de pontuações
elevadas no Comportamento Agressivo, Problemas de Atenção, Comportamento
Delinquente e Perfil Ansioso/Depressivo (55)
.

2.4 Perspectiva Neurobiológica


2.4.1 Contribuição Genética

A PB é uma doença psiquiátrica grave, com forte componente hereditária,


cujos factores ambientais desempenham um papel precipitante (61)
. Caracteriza-se
por um distúrbio patológico do humor que varia da elação extrema ou mania, a
depressão grave, frequentemente associado a distúrbios do pensamento, do
comportamento e sintomatologia psicótica.
Grande parte da evidência genética da PB de início precoce surge a partir
de estudos familiares. Vários estudos mostram uma forte associação entre o
início precoce e maior carga familiar de PB (57)
. Crianças e adolescente com PB de
início precoce têm maior percentagem de parentes de 1º grau com história de
depressão, perturbações da ansiedade, PHDA, perturbações da conduta, abuso de
substâncias e comportamentos suicidas (62)
.
Parentes de crianças com comorbilidade PB e PHDA apresentam cinco
vezes maior taxa de PB do que os parentes dos jovens com apenas PHDA.
Um marcador fenomenológico da PB pediátrica (PBP) parece ser a
combinação de perturbação do humor e problemas de comportamento (63)
. Uma
meta-análise de Lapalme (1997) verificou que os descendentes de doentes
bipolares apresentam 2.7 vezes maior risco de desenvolver qualquer perturbação
psiquiátrica e 4 vezes maior risco de desenvolver perturbação de humor, em
relação às crianças com pais sem patologia psiquiátrica (64)
. Alguns estudos
concluíram que, filhos de pais bipolares apresentam mais psicopatologia, em
particular, depressão e problemas de comportamento. Contudo, apesar de
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

parecer consensual a presença de risco familiar, até à data, os resultados


percentuais têm sido discrepantes, talvez por diferenças metodológicas (57)
.
Não existe nenhuma alteração genética major responsável pela PB mas
várias regiões genéticas têm sido consecutivamente implicadas em estudos
independentes (54,55,65)
. Todavia, escasseiam meta-análises que destaquem a
importância de determinada região na susceptibilidade para a doença. O gene
DAO-A/Locus G30 – cromossoma 13 – que activa a D-aminoácido oxidase foi
originalmente envolvida na susceptibilidade para a Esquizofrenia. Actualmente
está significativamente associada à PB (65)
. O BDNF (Brain Derived Neurotrophic
Factor) – cromossoma 11 – é importante na promoção, desenvolvimento e
sobrevivência das populações neuronais. No SNC plenamente formado, está
envolvido na plasticidade neuronal dependente da actividade. A variante genética
Val66Met BDNF está associada a característica específica do fenótipo ciclos
rápidos (65)
. A implicação deste gene na PB apoia a hipótese das alterações na
plasticidade sináptica nas Perturbações do Humor. O gene DISC1 – cromossoma 1
– está associado a Esquizofrenia, PB e Perturbação Esquizoafectiva (66)
. A
Neuregulina – cromossoma 8 – está implicada na etiologia do Carcinoma da
Mama, Esclerose Múltipla, doença cardíaca e Esquizofrenia. Existe também uma
relação positiva na PB, especialmente em alguns subtipos clínicos (PB com
sintomas psicóticos incongruentes com o humor e Esquizofrenia com episódio
maníaco) (67). A COMT – cromossoma 22 – apresenta uma relação positiva com a
Esquizofrenia e a PB, com potencial influência na susceptibilidade para o espectro
psicótico. Porém, não é claro que seja a COMT, o principal gene de
susceptibilidade neste locus. (66)
. Os genes da 5-HTT/ MAO-A apresentam efeitos
positivos mas modestos, sendo necessários mais estudos para avaliar a sua
contribuição na PB (65)
. O GPR 48 – cromossoma 4 – codifica o receptor órfão
ligado à Proteína G-78, existente na Hipófise e na Placenta, com potencial relação
com o Eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal (HHA) e a gravidez. A desregulação do
eixo HHA foi implicada na doença afectiva Major (68)
. O cromossoma 6 não está
implicado em nenhuma meta-análise mas tem sido identificado em vários estudos
“genome-wide” (65)
. Uma mutação rara do gene do transportador da Dopamina
DAT – cromossoma 5 – identificada num estudo com duas famílias indica a
possibilidade de ser uma causa específica na etiologia da PB (69)
. O Ubiquitin cycle
(gene USP14) encontra-se desregulado na PB. É importante na marcação de
proteínas para degradação e na formação e função sináptica (61)
. Os genes PJA2;
SYT1; CREB1 e PREPL estão relacionados com a plasticidade e transmissão

45
sináptica e encontram-se diminuídos na PB (61)
. A diminuição consistente dos
genes relacionados com o ubiquitin cycle e com as sinapses indicam potenciais
distúrbios na função sináptica na PB.
Do sistema Monoaminérgico, importante na regulação do humor,
detectaram-se variantes nos genes OPRM1 e SSTR5 com receptores
hiperactivados. Ryan e col. (2006) detectaram níveis de Somatostatina alterados
no LCR (que modela a excitabilidade neuronal e a actividade dos
neurotransmissores) (61)
.

2.4.2 Neuroimagem Estrutural

Apesar da etiologia da PB permanecer desconhecida, a investigação de


regiões cerebrais associadas à regulação do humor poderá clarificar a
neuropatologia da doença. Vários estudos têm implicado as regiões cortico-
límbicas na PBP (70, 71, 72)
. Estudos recentes têm envolvido o vérmis cerebelar na
regulação do humor. A projecção de neurónios para as regiões límbicas apoia o
seu papel na rede neuroanatómica que modela o humor (73)
.
Ryan e col. (2006) identificaram uma diminuição significativa do Córtex
Orbitofrontal (COF) nos doentes com PB, associado a uma diminuição da sua
actividade tanto na remissão como nos episódios de descompensação. O COF é
importante na regulação emocional e social, controlo de impulsos e humor (61)
.
Estudos efectuados na população adulta têm relatado diminuição da substância
cinzenta (SC) pré-frontal, incluindo diminuição da densidade glial e neuronal no
córtex pré-frontal dorsolateral (CPFDL). No entanto, estes resultados não têm sido
tão robustos na população pediátrica, sugerindo que a densidade neuronal pré-
frontal estará sensivelmente intacta na infância, mas gradualmente decrescerá
com a progressão da doença. Esta hipótese sugere a instalação de um processo
neurodegenerativo (71)
.
Estudos realizados com Ressonância Magnética Encefálica (IRM) têm
verificado áreas de hipersinal na substância branca nas regiões corticais e
subcorticais cerebrais e amígdalas de menores dimensões na PBP em comparação
com a população adulta (57)
. No entanto, estas alterações não são específicas e
estão associadas a várias outras condições, como isquemia, inflamação e
desmielinização. Estudos comparativos entre adolescentes com PB, esquizofrenia
e grupo controlo verificaram que os sujeitos com PB apresentavam as alterações
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

de sinal referidas no córtex frontal; os sulcos temporais e frontais estavam


aumentados, os tálamos diminuídos bilateralmente e o volume intracraneano
diminuído (57, 74)
. Além disso, constataram uma diminuição da substância cinzenta
nas áreas corticais parietal, temporal e CPFDL. Dickstein e col. (2005) verificaram
uma diminuição significativa da substância cinzenta no CPFDL esquerdo (em
especial na área 9 de Broadmann), sugerindo ainda alterações na amígdala e
núcleo accumbens (75)
. Em 2004, Wilke e col. verificaram um alargamento bilateral
dos gânglios da base, em especial do putámen (76)
. El-Bradi S. e col. (2006)
constataram uma redução bilateral do volume dos lobos temporais (77).
Semelhantes alterações neurobiológicas encontradas na população adulta
e pediátrica suportam a hipótese da continuidade da perturbação. Ambas as
populações sobreactivam a amígdala durante tarefas emocionais (71, 78)
. A amígdala
desempenha um papel central na modelação do comportamento social/emocional
e regula os aspectos emocionais do comportamento, memória e aprendizagem.
No entanto, esta característica não é específica da PB, podendo igualmente
ocorrer na Perturbação Bordeline de Personalidade e nas Perturbações de
Ansiedade (78).
Estudos recentes verificaram amígdalas e hipocampos menores
bilateralmente na PBP . O hipocampo é central na aprendizagem e na
(57,71,74)

memória (74)
. Em contraste, os resultados dos estudos realizados com a população
adulta tem sido divergente (volumes normais, diminuídos e até alargados),
levantando várias hipóteses explicativas como, o efeito da duração da doença, a
acção de fármacos ou possivelmente uma outra patofisiologia subjacente à PBP.
Chang KD e col. (2005) concluíram que crianças e adolescentes com PB
familiar apresentavam amígdalas significativamente menores que o grupo
controlo, predominantemente à direita e à custa de uma redução da substância
cinzenta. Este estudo concluiu também que fármacos como Lítio ou Valproato
podem ter um papel neuroprotector, com benefícios biológicos a longo prazo
que poderão superar os potenciais efeitos adversos a longo prazo (79)
.
Os estudos com IRM funcional verificaram maior activação do tálamo
esquerdo e putámen na prova Stroop em vez do sistema frontoestriado activado
no grupo controlo (72)
. O tálamo processa a informação sensorial e integra a
actividade do prosencéfalo (córtex cerebral, tálamo, hipotálamo e sistema
límbico) (74)
. Crianças e adolescentes com PB familiar mostram maior activação do
CPFDL esquerdo, cingulado anterior bilateral, tálamo esquerdo e giro frontal
inferior direito durante tarefas que estimulam a memória de trabalho

47
visuoespacial, ao passo que o grupo controlo activa o vermis cerebelar (73)
. Nos
doentes bipolares, os estímulos negativos activam o CPFDL bilateral, giro frontal
inferior e a ínsula direita em vez do giro cingulado posterior. Por seu turno, os
estímulos positivos activam os tálamos, putámen e caudados bilaterais, giros
frontal esquerdo e cingulado anterior direito na PB, sem áreas específicas de
activação no grupo controlo (57)
. A maior activação das áreas frontais e giro
cingulado anterior pode estar associada a uma anormal densidade neuronal
(particularmente CPFDL) ou a um recrutamento compensatório das áreas frontais
(córtex orbitofrontal e CPFDL) na tentativa de modelar a hiperactividade das
estruturas subcorticais (57)
. Estudos anteriores demonstraram que o CPFDL regula
a emoção, desviando a atenção do contexto emocional do estímulo. Os estudos
que verificaram reduções volumétricas desta área corroboram a sua potencial
implicação na patofisiologia da PB (54)
.
Estudos realizados na população adulta demonstraram uma subactivação
do córtex pré-frontal nos PB, incluindo CPFDL, CPF medial e ventral. Estas
alterações enquadram-se no modelo de anormal funcionamento do sistema pré-
frontal – límbico na PB: nas fases precoces da doença, a integridade neuronal do
CPF está preservada e é hiperactivada perante mudanças emocionais, na tentativa
de regular a hiperactivação límbica; contudo, com a progressão da doença e
neurodegeneração pré-frontal, a activação do CPF decresce apesar da
manutenção da hiperactividade límbica (71).
A Espectroscopia de Ressonância Magnética de Protões (ERM-P) é um
procedimento não invasivo que permite avaliar detalhes sobre os substratos
neuronais, tal como N-acetil-aspartato (NAA), colina, mioinositol e
creatina/fosfocreatina (Cr). O NAA encontra-se em altas concentrações nos
neurónios ao contrário das células gliais e pode servir de marcador da
integridade neuronal; a Cr está presente tanto na substância branca como
cinzenta e serve como ponto de referência para a quantificação de tecido
cerebral; o mioinositol está envolvido na homeostasia neuronal; a glutamina é o
substrato para a síntese de glutamato, o neurotransmissor excitatório mais
abundante e encontra-se primariamente armazenada nas células gliais (70)
.
Castillo e col. (2000) verificaram valores elevados na relação
glutamato/glutamina nas áreas frontoestriadas. Outros estudos verificaram uma
tendência à diminuição da relação NAA/Cr no CPFDL durante a evolução da
doença nos jovens bipolares com história familiar positiva, levantando a hipótese
deste resultado ser específico da PB familiar (80)
. O tratamento com Lítio na PB
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

pediátrica mostrou reduzir a relação basal elevada de mioinositol/Cr na mania


aguda (81)
. Outros resultados têm sido encontrados, carecendo contudo
investigação suplementar.
Estudos post mortem em adultos com PBP demonstraram reduções do
número total de células gliais sobretudo nos córtex pré-frontal e cingulado
anterior (CCA). Moore C. e col. (2007) verificaram que crianças com PBP não
medicadas apresentam níveis significativamente inferiores de glutamina que o
grupo controlo ou que os sujeitos com PBP medicados. A medicação nas crianças
com PBP parece aumentar as concentrações de glutamina no córtex cingulado
anterior. Estes resultados são consistentes com a hipótese das alterações gliais
no CCA de jovens com PBP (70)
.
Esta área de investigação em franco desenvolvimento, poderá
potencialmente permitir o diagnóstico precoce e facilitar o diagnóstico
diferencial.

2.4.3 Função Neurocognitiva

Jovens com PB apresentam frequentemente défices cognitivos


significativos, afectando adversamente o funcionamento académico. Existe
evidência crescente que varias áreas cognitivas se deterioram durante as fases
agudas da PB, persistindo mesmo nas fases eutímicas (82)
. Um estudo realizado em
2004, utilizando a Cambridge Neuropsychological Test Automated Battery
verificou défices na memória espacial e na modulação da atenção nos doentes
bipolares pediátricos. Contudo, dada a metodologia utilizada – estudo
naturalístico – fica por definir se estas alterações são específicas desta patologia
(57)
.
Para além de tarefas cognitivas é também crucial a avaliação da cognição
social. McClure e col (2003) constataram que as crianças bipolares
percepcionavam mais frequentemente expressão de fúria entre pares, podendo
estar relacionado com as suas dificuldades sociais. Em 2005, apesar de
semelhantes limitações metodológicas (por exemplo, comorbilidade psiquiátrica,
polifarmacologia, amostra reduzida), o mesmo autor verificou que os sujeitos
com PB apresentavam maiores dificuldades na memória e aprendizagem verbais
(83)
. Estes resultados já tinham previamente sido encontrados na população adulta
(82)
.

49
Por último, alguns autores defendem que os doentes bipolares apresentam
alterações na flexibilidade cognitiva, isto é, a capacidade de adaptar o
pensamento e a acção em resposta a diferentes condições ambientais, tal como
recompensas. Acresce ainda o facto da flexibilidade cognitiva ser mediada por
áreas cerebrais que têm sido implicadas na PB, como o córtex pré-frontal ventral,
a amígdala e o estriado ventral (84).

2.4.4 Conclusão

A PB é uma doença de padrão de hereditariedade complexo. Vários loci


genéticos têm sido implicados na susceptibilidade para a PB, mas nenhum ainda
corroborado por meta-análise de estudos.
Estudos preliminares com Espectroscopia de Ressonância Magnética e
resultados morfométricos sugerem a presença de alterações nas áreas frontais,
estriadas e talâmicas na PBP. Alterações no tálamo e estriado têm sido implicadas
noutras patologias, como PHDA, POC e S. de Tourette, onde a patofisiologia
parece envolver os circuitos da motivação e auto-controlo. Estas condições
partilham inúmeras características diagnósticas com a PBP, pelo que é
especulável ser resultado da disfunção comum dos circuitos subcorticais.

2.5 Epidemiologia

Dadas as dificuldades no estabelecimento do diagnóstico clínico de PBP, a


sua prevalência real é dúbia. Estudos retrospectivos em adultos com PB
evidenciaram que cerca de 60% iniciaram os seus sintomas afectivos antes dos 20
anos; além disso, a PB e a depressão unipolar apresentam uma forte herança
genética, com idade de início da doença progressivamente mais precoce à
medida que se evolui na árvore genealógica, isto é, os descendentes com PB irão
desenvolver a patologia em idades progressivamente mais precoces. Alguns
estudos epidemiológicos apontam para uma prevalência de 1 a 2%, apesar dos
dados serem inconsistentes .
(54, 55, 57)

A prevalência de PB em parentes de 1º grau de adultos com PB é cerca de 8


a 10 vezes superior à esperada em amostras da comunidade, tornando a PB uma
das perturbações psiquiátricas com maior carga familiar. Contudo, é importante
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

notar que crianças de pais com PB apresentam maior risco, não só de PB, mas
também de depressão, ansiedade, PHDA e problemas de comportamento (55, 57, 62)
.

2.6 Comorbilidade e Diagnóstico Diferencial

A PBP associa-se frequentemente a outras patologias psiquiátricas.


Dependendo da população alvo, entre 50-80% apresentam PHDA, 20-60%
Perturbações Disruptivas do Comportamento (PDC) e 30-70% Perturbações de
Ansiedade (55,57)
. Com início na adolescência, a percentagem de abuso
concomitante de substâncias aumenta gradualmente. Em menor grau, outras
patologias como POC ou outras condições médicas podem igualmente
acompanhar a PB (57)
.
A presença de comorbilidade afecta negativamente a resposta ao
tratamento e o prognóstico, pelo que é fundamental o seu diagnóstico e
intervenção precoces.
Como anteriormente já referido, o diagnóstico de PBP é particularmente
difícil dada a grande mutabilidade da apresentação clínica – gravidade, subtipo
de PB e fase da doença; a elevada comorbilidade e sobreposição de sintomas com
outras doenças psiquiátricas mais prevalentes; os efeitos do desenvolvimento na
expressão dos sintomas; a dificuldade das crianças em expressar os seus
sintomas e, em crianças já medicadas, os seus potenciais efeitos no humor da
criança.
Este quadro clínico poderá igualmente ser resultante de outras patologias
psiquiátricas, patologias orgânicas e até factores ambientais – conflitos
familiares, ambiente caótico, abuso físico e sexual . As principais condições
(54, 55)

psiquiátricas que carecem diagnóstico diferencial são PHDA, PDC, Depressão


unipolar, Perturbações Globais do Desenvolvimento, Esquizofrenia, Perturbação
de Abuso de Substâncias e Perturbação Borderline de Personalidade.
Algumas condições médicas e neurológicas (TCE, tumores cerebrais,
hipertiroidismo) e o efeito lateral de alguns fármacos (corticoesteróides,
antidepressivos e estimulantes) podem estar associados a flutuações de humor e
mimetizar a PB. A normal variabilidade do humor pode por vezes ser erradamente
interpretada como sintoma de hipomania.
Na prática clínica, A PHDA e PDC são as condições mais frequentemente
confundidas com PB. Habitualmente, deveremos pensar em PB numa criança com

51
diagnóstico de PHDA se os sintomas surgirem tardiamente (após os 10 anos, por
exemplo); se aparecerem de uma forma abrupta numa criança previamente
saudável; se os sintomas deixarem de responder a estimulantes; se surgirem por
episódios com alternância do estado de humor; se a criança começar a ter
períodos de elação do humor, grandiosidade, depressão, diminuição da
necessidade de dormir ou comportamentos sexuais inapropriados; se a criança
apresentar frequentes flutuações do humor, explosividade temperamental; na
presença de actividade delirante ou alucinatória; se existir uma história familiar
pesada de PB, sobretudo se a criança não responder devidamente ao tratamento
da PHDA. A criança poderá apresentar simultaneamente PHDA e PB (54)
.
Outra condição que frequentemente levanta dúvidas diagnósticas é a PDC.
Se os problemas de comportamento ocorrerem apenas durante um episódio
maníaco ou depressivo, e melhorarem com a estabilização do sintoma afectivo, o
diagnóstico de perturbação da conduta ou de oposição não deverá ser feito; se a
criança apresentar sintomas comportamentais episódicos ou apenas com
sintomas do humor, devemos considerar o diagnóstico de PB; se a criança
apresentar comportamento opositivo antes do início de perturbações do humor,
ambos os diagnósticos devem ser considerados; se apresentar graves problema
de comportamento que não respondem ao tratamento, podemos considerar a
possibilidade de uma perturbação do humor (depressão uni ou bipolar) ou outras
patologias psiquiátricas como PHDA ou abuso de substâncias e/ou exposição a
agentes stressores; se apresentar problemas comportamentais e história familiar
de PB devemos considerar a possibilidade de uma perturbação do humor (PB,
depressão major); se apresentar problemas de comportamento e actividade
delirante e alucinatória devemos considerar a possibilidade de PB ou de outras
patologias como perturbação esquizofrénica, abuso de substâncias ou condições
médicas/neurológicas (54)
.
Crianças com quadros depressivos poderão desenvolver futuramente PB,
mas até à data, é quase impossível saber, numa primeira avaliação, quais serão
estes sujeitos. É então fundamental fazer uma cuidadosa avaliação de sintomas
hipomaníacos/maníacos, sintomas psicóticos, aferir a presença de história
familiar de PB e atentar que sintomas maníacos/hipomaníacos induzidos
farmacologicamente podem indicar maior susceptibilidade para desenvolver PB
(54)
.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

A perturbação esquizofrénica é rara na infância e por vezes a PB pode


manifestar-se por psicose e comportamentos bizarros, pelo que perturbações de
humor devem ser excluídas em qualquer criança com psicose.
Crianças com PGD podem apresentar labilidade do humor, agressão e
agitação que poderão ser confundidas com PB. Abuso de substâncias pode
também induzir alterações graves de humor, dificultando o diagnóstico
diferencial. Acresce ainda que, jovens com perturbações de humor apresentam
maior risco de consumo de substâncias ilícitas e álcool. A utilização de fármacos
como antidepressivos pode desmascarar ou despoletar um episódio maníaco em
indivíduos susceptíveis. Contudo, nem todas as crianças que ficam agitadas e
excitadas com estes ou outro tipo de fármacos têm PB. A história familiar, a
gravidade, a duração e a qualidade da sintomatologia maníaca poderão ajudar a
diferenciar os quadros clínicos.
Por fim, pese a controvérsia acerca da validade diagnóstica de Perturbação
de Personalidade Borderline na adolescência, alguns jovens com BD, sobretudo
de subtipo II, podem ser erradamente diagnosticados com esta condição (54, 57)
.

2.7 Evolução e Prognóstico

Actualmente, parece consensual que cerca de 70 a 100% dos jovens com


PB recuperam do episódio agudo (isto é, apresentam-se sem sintomas durante
pelo menos 2 meses). Contudo, cerca de 80% terá um ou mais episódios
recorrentes no período de 2 a 5 anos (57)
.
O prognóstico destes jovens é reservado tendo em conta os resultados
obtidos por estudos prospectivos e retrospectivos, com elevadas taxas de
hospitalização, utilização dos serviços de saúde, sintomas psicóticos, tentativas
de suicídio e suicídio consumado, abuso de substâncias, mau funcionamento
académico e psicossocial, desemprego e problemas legais (54).
Os sintomas da PB apresentam também um impacto negativo nas relações
familiares, com os pares e na economia familiar.
Estudos recentes verificaram que a PBP se manifesta por alterações
repetidas na polaridade de sintomas, de forma mais acentuada que na população
adulta, dificultando assim o diagnóstico e tratamento (54, 55, 57)
.
Factores como idade precoce de início da doença, longa duração, baixo
estatuto socio-económico, episódios mistos ou de ciclos rápidos, psicose,

53
sintomas subsindrómicos, doenças comórbidas, exposição a life-events negativos
e psicopatologia familiar estão associados a pior prognóstico (57)
.

2.8 Tratamento

O tratamento é dividido em três fases: aguda, continuação e manutenção.


A fase aguda visa controlar sintomatologia aguda; a fase de continuação visa
consolidar a resposta obtida durante a fase aguda e evitar recidivas e a fase de
manutenção para evitar recorrências. Existem estratégias farmacológicas e
psicossociais para cada fase, que serão escolhidas de acordo com a gravidade,
fase e subtipo da doença, cronicidade, patologia comórbida, idade do sujeito,
preferências e expectativas familiares, disponibilidade de recursos, circunstâncias
familiares e ambientais e psicopatologia familiar.
A psicoeducação é um componente comum à maioria das abordagens
psicossociais e parece melhorar a adesão ao tratamento e reduzir os sintomas de
humor. Rotinas e higiene do sono são importantes, uma vez que a privação do
sono pode levar a um agravamento clínico.
No tratamento agudo, utilizam-se fármacos denominados estabilizadores
do humor (lítio e anti-convulsivantes, como valproato de sódio, carbamazepina,
topiramato e lamotrigina) e antipsicóticos atípicos (risperidona, olanzapina, entre
outros). Em anexo, encontram-se as guidelines de tratamento da PB, com base no
artigo “Practice Parameter for the Assessment and Treatment of Children and
Adolescents With Bipolar Disorder” publicado em Janeiro de 2007 no Journal of
American Academy of Child and Adolescent Psychiatry (85) [Anexo 2].

2.9 Implicações Médico-Legais


2.9.1 Perturbação Bipolar e Envolvimento Criminal

A condenação criminal e o envolvimento com o sistema judicial complicam


a evolução da Perturbação Bipolar tipo I numa proporção substancial de
pacientes. O estudo ECA (Epidemiological Catchment Área Study) verificou que a
prevalência de PB tipo I é cerca de seis vezes superior na população prisional em
comparação com a comunidade (55)
. Nos EUA, o número de indivíduos com doença
mental crónica grave nos estabelecimentos prisionais tem crescido drasticamente
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

nos últimos trinta anos. McGlashen em 1988, conclui que a PB de início na


adolescência predizia um maior conflito com a lei, em comparação com a PB com
início na idade adulta .
(cit. em 54)

A fase maníaca da doença é a que provavelmente acarreta mais riscos de


envolvimento com actividades criminais. O perfil sintomático da mania – isto é,
grandiosidade, ausência de insight, impulsividade, hiperactividade e psicose –
podem contribuir ou predispor um doente a encetar comportamentos anti-
sociais, aumentando o risco de ofensas criminais. Vários estudos apontam o
número de episódios maníacos ao longo da vida e a frequência de
hospitalizações psiquiátricas como os dois factores sócio-demográficos mais
significativos associados ao número de detenções (86)
.
Um estudo realizado por Quanbeck e col. (2004), de 66 indivíduos com PB
detidos no Estabelecimento Prisional de Los Angeles, verificou que a maioria
apresentava sintomas maníacos ou mistos e psicose na altura da detenção. Além
disso, 60% dos indivíduos tinham estado hospitalizados por episódio maníaco no
mês precedente à detenção, tendo a maioria abandonado o tratamento médico
em ambulatório após a alta (87). Constata-se então, que o sistema de saúde mental
na comunidade possui a oportunidade de intervir após o período de
hospitalização por mania, podendo prevenir futuros encarceramentos dos
indivíduos com PB.
Existe evidência que os indivíduos bipolares envolvidos com a justiça
apresentam um padrão de hospitalização tipo “porta giratória” que se caracteriza
por múltiplos internamentos de curta duração, com abandono frequente do
acompanhamento em ambulatório. Os pacientes bipolares e com consumo de
substâncias apresentam o dobro das hospitalizações dos indivíduos bipolares
sem consumos (86)
.
Dois estudos avaliaram especificamente quais os tipos de crimes pelos
quais os pacientes bipolares eram habitualmente condenados, tendo concluído:
crimes contra pessoas e crimes a propriedades, predominantemente vandalismo,
roubo e fogo posto. Durante a actividade criminal, a maioria dos indivíduos
apresentava humor eufórico e sentimento de grandiosidade (87). Os tipos de crimes
perpetrados indicam que a impulsividade é o principal factor motivador do
comportamento criminal. Habitualmente as ofensas criminais iniciam-se com
ameaças verbais, não planeadas e espontâneas em resposta a uma ameaça
percebida. As agressões são então associadas a grande fúria e agitação. A
presença de sintomas psicóticos é também um importante factor motivador para

55
actos agressivos. Usualmente, as agressões são cometidas durante a influência
de actividade delirante – sobretudo de teor paranóide – ou alucinatória. Não
existe diferença de géneros na probabilidade de serem julgados por um crime
violento. Ao contrário da população na comunidade, entre os indivíduos com
perturbação mental, homens e mulheres são igualmente violentos, pelo que não
se deve subestimar a perigosidade de uma mulher com patologia mental (88)
.
A actividade criminal aumenta dramaticamente quando associada a
consumo de substâncias. Estudos indicam que indivíduos em fase maníaca e com
abuso de álcool apresentam taxas mais elevadas de comportamento violento,
impulsividade e labilidade de humor (87). O aumento da impulsividade parece estar
associado ao maior risco de suicídio e agressividade dos pacientes bipolares com
abuso de substâncias.
Cerca de 50% dos pacientes bipolares não têm insight face à sua doença. O
insight é compreendido numa esfera multidimensional, que inclui a realização
que se é doente mental; a atribuição de determinado sintoma a uma doença e o
reconhecimento da necessidade de tratamento. A ausência de insight está
fortemente associada à não adesão ao tratamento na comunidade, à necessidade
de tratamento involuntário, às admissões psiquiátricas em “porta giratória” e a
pior prognóstico. Nos pacientes bipolares, o insight não é estável e pode variar
com o tempo. Apesar da ausência de insight durante a fase maníaca, este pode
melhorar quando os pacientes iniciam tratamento, predizendo melhores
resultados.

2.9.2 Perturbação Bipolar e Abuso de Substâncias

A PB nos jovens apresenta elevada comorbilidade com psicopatologia


externalizadora e internalizadora. O estudo ECA (Epidemiological Catchment Área
Study) conclui que a PB é a perturbação mental do Eixo 1 no diagnóstico
multiaxial do DSM-IV com maior prevalência de abuso e dependência de
substâncias comórbido ao longo da vida (86)
. A comorbilidade com Perturbações
de Consumo de Substâncias (PCS) é particularmente maior entre os indivíduos
com PB que se envolvem com o sistema de justiça criminal, revelando-se um
factor de risco significativo para detenção em pacientes bipolares (89)
.
Vários estudos indicam que o consumo de substâncias tem mais impacto
no envolvimento criminal das mulheres relativamente aos homens. Os doentes
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

bipolares do sexo masculino apresentam taxas mais elevadas de consumo de


substâncias. Contudo, estudos realizados em pacientes hospitalizados por
episódios mistos ou maníacos verificaram que as doentes do sexo feminino
apresentavam seis vezes mais risco de consumo de substâncias comórbido em
relação aos homens. Na presença de diagnóstico duplo, o risco de envolvimento
criminal é significativamente superior nas mulheres, quando comparadas com a
população geral. A concomitância de PCS e PB, aumenta a tendência da mulher a
encetar comportamentos violentos, possivelmente pela desinibição e
impulsividade (88)
.
Na realidade, a prevalência de comportamento ilegal em mulheres com
duplo diagnóstico é mais parecido aos homens nas mesmas circunstâncias do
que às mulheres na população geral. Isto sugere um efeito equalizador da
perturbação de consumo de substâncias, mais especificamente nas mulheres com
abusos de cocaína (88)
.
Estudos indicam que a PB com início na infância pode ser um factor de
risco para PCS (89)
. A intervenção precoce no diagnóstico e tratamento desta
patologia poderá reduzir o risco de abuso de substâncias no futuro e minorar as
suas implicações no funcionamento do indivíduo.

2.9.3 Questões éticas no julgamento do comportamento criminal

Um estudo realizado por Dorothy Lewis (2004) com 18 sujeitos que


aguardam execução no Texas verificou que 83% dos sujeitos apresentava
sintomas de perturbação do espectro bipolar precoces, do espectro
esquizoafectivo e todos eles tinham crescido em famílias disfuncionais e
violentas. Além disso, 83% apresentavam igualmente disfunções executivas
características da lesão do córtex pré-frontal orbitomedial (90)
.
A avaliação diagnóstica de um indivíduo violento é de elevada
responsabilidade, assim como a intenção de determinar culpa, inocência ou de
factores atenuantes em casos de homicídio. A maioria dos adolescentes
saudáveis não é violenta. Contudo, grande parte das perturbações psiquiátricas
em crianças e adolescentes cursam com comportamentos violentos e anti-sociais.
A agitação psicomotora, má performance académica, agressividade e
comportamento sexual inapropriado é habitualmente observado em crianças e
adolescentes em fase maníaca. Mesmo o consumo de álcool e drogas, sobretudo

57
de início precoce, são característicos da PB pediátrica. Infelizmente, estas
crianças são habitualmente descritas com perturbações da conduta. A ausência
ou erro diagnóstico de PB de início precoce prediz um prognóstico sombrio, com
a inadaptação social, o abuso de substâncias, o para-suicídio e suicídio
consumados como resultados frequentes.
É virtualmente impossível para pais que experimentam igualmente
variações graves de humor, prestar os cuidados parentais apropriados que as
crianças psiquiatricamente vulneráveis necessitam para se adaptar normalmente.
Estudos indicam que a exposição a violência, não só fornece um modelo de
comportamento mas também, resulta na lesão do Sistema Nervoso Central,
especialmente nos lobos frontais, que são particularmente importantes no
julgamento racional e no auto-controlo (90)
.

2.9.4 Conclusão

No que concerne à Perturbação Bipolar, actualmente reconhecida na


infância e adolescência, o diagnóstico e intervenção terapêutica precoces
poderão ter um impacto benéfico no prognóstico a longo prazo, na sua
adaptabilidade social, no envolvimento com consumos de substâncias e
comportamento criminal. Os indivíduos com Perturbação Bipolar não são
intrinsecamente violentos ou anti-sociais, pelo que intervenções clínicas e legais
apropriadas podem reduzir significativamente o risco de envolvimento em actos
violentos, igualando-os à população geral.
O consumo de substâncias pode alterar enormemente a apresentação da
doença, pelo que em contexto comunitário, o rastreio do consumo em pacientes
bipolares e a sua inclusão no plano terapêutico podem atenuar o risco de
envolvimento criminal. No sexo feminino, é especialmente importante o duplo
diagnóstico pelo maior envolvimento com o sistema judicial em comparação com
as pacientes bipolares sem consumos de substâncias. Os efeitos do duplo
diagnóstico na criminalidade é mais exuberante nas mulheres que nos homens. O
início precoce destas perturbações prediz piores resultados, logo a intervenção
precoce é fundamental. Os sectores educativos e saúde escolar são de vital
importância na detecção precoce de jovens em risco de criminalidade.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

Capítulo II – Investigação sobre o contributo das alterações comportamentais


no Diagnóstico Diferencial de Perturbação de Hiperactividade e Défice de
Atenção e Perturbação Bipolar

1. Enquadramento do Estudo Prático

As perturbações de humor juvenis são habitualmente classificadas como


uni ou bipolares consoante a ausência ou presença de mania, respectivamente.
Mania e depressão podem coexistir (mania disfórica) e podem flutuar entre a
expressão sub-sindrómica e fulminante. As perturbações de humor juvenis
tendem a ser contínuas quando comparadas com a natureza episódica típica das
perturbações de humor na idade adulta (91)
.
É frequentemente difícil diferenciar a mania juvenil da PHDA, das
Perturbações da Conduta ou até de Perturbações Psicóticas, dada a sobreposição
de sinais e sintomas clínicos manifestados. Acresce ainda, amiúde, a co-
ocorrência destes quadros clínicos na Perturbação Bipolar juvenil. A mania, com
início na adolescência, apresenta um quadro clínico mais distintivo das entidades
que se iniciam na infância como a PHDA, cujos sintomas podem preceder o
primeiro episódio maníaco em muitos anos. Do ponto de vista clínico, a mania
em crianças raramente se caracteriza por humor eufórico; a perturbação do
humor mais frequente é a irritabilidade severa com crises de agressividade e
fúria. Entre estes episódios, as crianças são frequentemente descritas como
persistentemente irritáveis ou aborrecidas. As crianças em fase maníaca
apresentam habitualmente menor necessidade de dormir (não insónia), sem
revelar fatigabilidade acrescida.
Pese o crescente interesse na Perturbação Bipolar na infância, é
habitualmente difícil estabelecer um diagnóstico clínico preciso, sobretudo pela
elevada sobreposição de sintomas com a PHDA. Distractibilidade, impulsividade,
hiperactividade e labilidade emocional são características tanto da mania como
da PHDA. Jovens em fase maníaca apresentam-se usualmente com irritabilidade
extrema, “tempestades afectivas” ou episódios de agressividade, em vez do
patognomónico humor eufórico. Apesar dos episódios de cólera serem comuns
em crianças com PHDA, o tipo de irritabilidade observada nas crianças maníacas
pré-púberes é frequentemente severo, com reacções explosivas e violência
dirigida a pessoas e propriedades. Na ausência de humor eufórico, os clínicos

59
podem incorrectamente atribuir a irritabilidade da criança a factores psicológicos
ou a perturbação da conduta em vez de o enquadrar numa fase maníaca.

2. Metodologia

2.1 Amostra

A nossa amostra é constituída por 62 adolescentes oriundos do distrito do


Porto. A amostra compreende dois subgrupos clínicos da consulta de Psiquiatria
da Infância e Adolescência dos Centro Hospitalar do Porto – Unidade Maria Pia,
Centro Hospitalar do Alto Minho – Unidade Hospitalar de Viana do Castelo e
Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa – Unidade Hospitalar S. Gonçalo de
Amarante. Um subgrupo é constituído por 14 adolescentes com diagnóstico de
Perturbação Bipolar e o segundo subgrupo contém 23 adolescentes com
diagnóstico de PHDA.
Para a amostra foram incluídos os adolescentes com idades
compreendidas entre os 12 e os 18 anos, com nível intelectual médio ou
superior.
Foram incluídos no subgrupo de doentes bipolares, os adolescentes que já
apresentaram, pelo menos, um episódio maníaco. À data do estudo encontravam-
se em fase eutímica. Este subgrupo é constituído por duas adolescentes do
Centro Hospitalar do Alto Minho – Unidade de Viana do Castelo, uma adolescente
do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa – Unidade S. Gonçalo de Amarante e
treze adolescentes do Centro Hospitalar do Porto – Unidade Maria Pia.
O subgrupo de adolescentes com PHDA é oriundo do Centro Hospitalar do
Porto – Unidade Maria Pia, estando incluídos os jovens com diagnóstico clínico de
PHDA e cotação positiva na Escala Revista de Conners para Pais e Professores.
O grupo controlo é constituído por 25 adolescentes, que frequentam o
ensino regular numa escola secundária da cidade do Porto (após autorização
superior do Conselho Directivo). Excluíram-se indivíduos a frequentar Ensino
Adaptado ou com acompanhamento prévio/actual em Pedopsiquiatria. A selecção
do grupo controlo atendeu à proporção entre géneros e a média de idades da
amostra clínica. Foram distribuídos 40 questionários. Após preenchimento pelo
aluno e pelos pais, foram devolvidos 25.
2.2 Procedimentos
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

Os elementos da amostra assinaram o Consentimento Informado de


acordo com a Declaração de Helsínquia da Associação Médica Mundial (Adoptada
na 18ª Assembleia Geral da World Medical Association e rectificada pela última
vez em Outubro de 2000, Helsínquia) [anexo 4].
Após a consulta, os jovens foram observados pela autora, respondendo às
Matrizes Progressivas de Raven. Seguia-se o preenchimento individual do
questionário YSR. Simultaneamente, os pais ou seus representantes legais
respondiam à CBCL. Quando necessário, o entrevistador permitiu o
esclarecimento de dúvidas. Outras informações foram recolhidas por revisão do
processo clínico.
A autora teve a colaboração de duas Assistentes Hospitalares e uma
Interna Complementar de Psiquiatria da Infância e Adolescência para a recolha da
amostra nos Centro Hospitalares do Alto Minho e Tâmega e Sousa.

2.3 Instrumentos de avaliação

2.3.1 Escala Revista de Conners para Pais

Para diagnóstico de PHDA utilizamos a versão reduzida da Escala Revista


de Conners (Conners´ Rating Scale-Revised) (ERC), desenvolvida para avaliar
crianças e adolescentes entre os 3 e os 17 anos. É um questionário de avaliação
constituído por 27 itens divididos em 4 sub-escalas: oposição; problemas
cognitivos – desatenção; excesso de actividade motora e índice de PHDA (92)
.
O índice de hiperactividade permite despistar crianças e adolescentes que
estejam em risco de apresentar PHDA. Ainda que a escala por si mesma não
permita o estabelecimento do diagnóstico, os vários anos de investigação neste
campo permitiram aos autores dizer que é uma das melhores medidas da
avaliação da psicopatologia e monitorização as alterações decorrentes da
intervenção.
A principal utilização das ERC é a avaliação da PHDA. Contudo, tem sido
utilizada como instrumento de despiste de outras patologias comórbidas,
monitorização de tratamento/intervenção; instrumento de investigação e
pesquisa.

61
2.3.2 Matrizes Progressivas de Raven

As Matrizes Progressivas de Raven (1938) permitem avaliar a capacidade


de um indivíduo compreender as figuras sem significado, perceber a relação que
existe entre elas e captar a estrutura das figuras para completar cada sistema de
relações, desenvolvendo um modelo sistemático de raciocínio. Não se trata de
um teste de inteligência geral, mas permite definir um índice de capacidade
intelectual.
Para estudo, seleccionamos os indivíduos com resultados nos grupos I
(superior), II (médio-superior) e III (médio).

2.3.3 Child Behavior Checklist (CBCL) e Youth Self Report (YSR)

Das várias escalas de avaliação disponíveis, uma das opções melhores


estudadas é a Child Behavior Checklist (CBCL) (93)
. A vasta literatura demonstra a
sua validade e fiabilidade nas populações clínicas e não clínicas. A CBCL regista
de forma estandardizada, os problemas comportamentais e competências das
crianças dos 4 aos 18 anos, com base na percepção dos pais ou seus cuidadores.
Além disso, apresenta escalas de avaliação correspondentes para as crianças – a
Youth Self Report (idade entre 11 e 18 anos) – e para os professores – Teacher
Report Form – úteis na obtenção de informações adicionais. São instrumentos
que contêm descrições simples de comportamentos problemáticos da criança
(e.g., "discute muito") e que os informadores devem cotar com 0 (a afirmação não
é verdadeira), 1 (a afirmação é algumas vezes verdadeira) ou 2 (a afirmação é
muito verdadeira), para os últimos 6 meses. Estes comportamentos
problemáticos permitem a construção de um perfil, em que existe um ponto de
corte discriminativo (percentil 98), estando os itens agrupados em síndromes.
Os síndromes identificados empiricamente na CBCL e YSR são: Isolamento,
Queixas Somáticas, Ansiedade/Depressão, Problemas Sociais, Problemas de
Pensamento, Problemas de Atenção, Comportamento Delinquente e
Comportamento Agressivo. Permite também a identificação de perturbações de
sono, de linguagem, alimentares entre outras. Relativamente a estes oito
síndromes centrais, o autor efectuou uma distinção entre problemas de
externalização e internalização. O factor de ‘externalização’ compreende
síndromes cujos problemas estão maioritariamente centrados na relação com os
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

outros (pe. agressão), enquanto o de ‘internalização’ se refere a síndromes em


que os problemas estão centrados na própria criança (pe. depressão). Estes dois
agrupamentos reflectem associações empíricas entre escalas que envolvem tipos
de problemas contrastantes, mas não são mutuamente exclusivas, podendo um
sujeito ter estes dois tipos de problemas. Os três primeiros síndromes pertencem
ao agrupamento de Internalização e os dois últimos pertencem ao de
Externalização. Os de Problemas Sociais e de Pensamento não têm valores
consistentemente altos em nenhuma das duas áreas; o de Problemas de Atenção
está clinicamente mais próximo do agrupamento de Externalização, mas os
valores obtidos não permitem aí a sua inclusão.
A partir das escalas de síndromes, Achenbach efectuou perfis das escalas
de competência e de problemas para cada um destes instrumentos e em seguida
normalizou-os com amostras de crianças seleccionados aleatoriamente da
população não-clínica. Foram elaboradas normas separadas para cada sexo nas
idades 4-11 e 12-18 na CBCL e 11-18 na YSR (Achenbach, 1992). Nas escalas
sindromáticas, pontuações inferiores ao Percentil 95 são consideradas normais,
entre 95-98 limítrofe e acima do Percentil 98 são valores clínicos (os valores
absolutos diferem para cada escala, para cada faixa etário e com o sexo). Na
pontuação Total, nas escalas de Externalização e de Internalização, as
pontuações T inferiores a 60 são normais e acima de 63 são valores clínicos.
Os estudos empíricos realizados em Portugal verificaram uma fiabilidade
teste-reteste da CBCL satisfatória (0.55) e validade concorrente entre 0,93 e 0,96.
Os coeficientes alpha de Cronbach são bastante positivos quando se considera o
resultado total na CBCL (0.92). Nas subescalas, os valores alpha de Cronbach
variam entre 0.52 e 0.88 (92)
.
A correlação entre os resultados totais na CBCL e os resultados totais na
Escala Revista de Conners para Professores varia entre 0,59 e 0,86 (92)
.
A YSR é um auto-questionário para avaliação com comportamentos e
competências em paralelo com a CBCL. Os jovens autoavaliam-se sobre a
veracidade de cada item no momento ou nos últimos 6 meses, utilizando a
mesma escala de pontuação da CBCL. O estudo teste-reteste varia de 0,28 a 0,91
consoante as subescalas, amplitude idêntica à encontrada na investigação
americana. Os valores da consistência interna do YSR e das várias subescalas que
o constituem são satisfatórios (oscilam entre 0,70 e 0,80). Na YSR, as correlações
entre as subescalas portuguesas e americanas é elevada, variando entre 0.65 a
1.00 (92)
.

63
A CBCL e a YSR são os instrumentos mais utilizados de descrição e
caracterização dos comportamentos da criança. Em Portugal, já foram objecto de
estudos empíricos que se encontram publicados. Contudo, apresentam algumas
limitações, como as variações interculturais ou a definição do P98 como ponto de
corte para separar a população normativa da população clínica, ignorando a
prevalência específica das perturbações, podendo introduzir problemas ao nível
da validade. A avaliação dos 6 meses precedentes pode permitir escapar
situações flutuantes ou cíclicas. Apesar destas limitações, existe forte evidência
considerando a CBCL como instrumento de rastreio útil e rápido na identificação
de situações comórbidas de PHDA (91)
.
A escala “Isolamento” está associado a isolamento ou mal-estar
interpessoal e energia reduzida; surge frequentemente em quadros depressivos
ou evitantes. A escala “Queixas Somáticas” está associado a tendência para a
somatização. A escala “Ansiedade/Depressão” associa-se a diagnósticos de
perturbações de ansiedade e depressão. A escala “Problemas Sociais” surge
elevada em várias perturbações, desde ansiedade ou depressão, ou até
hiperactividade e défice de atenção. A escala “Problemas de Atenção” está
associada a diagnóstico de PHDA. A escala “Problemas de Pensamento” pode
surgir elevada e, perturbações psicóticas ou quadros obsessivos-compulsivos. A
escala “Comportamento Delinquente” esta associada a características típicas de
perturbações das conduta e a escala “Comportamento Agressivo” esta associada
a perturbações de desafio ou oposição e de conduta (92).
Um estudo de Biederman e Faraone (1993) verificou uma excelente
convergência entre os resultados da subescala “problemas de atenção” e o
diagnóstico de PHDA, entre “ comportamento delinquente” e o diagnóstico de
Perturbação da Conduta, entre “ansiedade/depressão” e o diagnóstico de
Perturbação de Ansiedade e entre “comportamento agressivo” e a presença de
pelo menos uma comorbilidade psiquiátrica. Valores elevados na subescala
ansiedade/depressão podem igualmente sugerir depressão clínica mas parece ser
menos sensível que para ansiedade (33).
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

2.4 Análise de Dados

Em colaboração com o Departamento de Estatística do Instituto Superior


da Maia, sob a responsabilidade do Prof. Doutor Amadeu Fernandes, foi utilizado
o programa estatístico SPSS versão 16.0.
Cada grupo do estudo é constituído por menos de 30 sujeitos, pelo que
utilizamos testes não paramétricos para a análise dos dados. O teste de Kruskal-
Wallis foi utilizado para comparar as três amostras independentes, analisando os
resultados de todas as escalas de ambos os questionários. Todos os testes foram
realizados para um nível de confiança de 95%. Diferenças significativas foram
observadas para p-valores inferiores a 5%. O teste de Mann-Whitney foi utilizado
para investigar quais os grupos para que a diferença observada era significativa.
Por fim comparamos, dentro de cada grupo clínico, como pontuavam de
acordo com a presença ou ausência de comorbilidade psiquiátrica.
Os sujeitos pontuam nas escalas CBCL – Total, Internalização,
Externalização e YSR – Total, Internalização, Externalização, com valores
superiores a 63 pontos.
Nas escalas sindromáticas, pontuam valores distintos, consoante a faixa
etária e o sexo:

Escala Sindromática CBCL 4-11 12-18 Escala Sindromática YSR M F


I – Isolamento 7 8 I – Isolamento 9 10
II – Queixas Somáticas 5 5 II – Queixas Somáticas 8 11
III – Ansiedade /Depressão 11 12 III – Ansiedade /Depressão 16 19
IV – Problemas Sociais 7 7 IV – Problemas Sociais 8 8
V – Problemas de
V – Problemas de Pensamento 4 4 Pensamento 8 9
VI – Problemas de Atenção 11 11 VI – Problemas de Atenção 11 12
VII – Comportamento VII – Comportamento
Delinquente 6 10 Delinquente 10 9
VIII – Comportamento VIII – Comportamento
Agressivo 22 21 Agressivo 21 20
Figura 1 – Pontuação nas oito escalas sindromáticas de ambos os questionários de acordo com a
faixa etária e sexo.
CBCL - Child Behavior Checklist; YSR - Youth Self Report.

65
3. Resultados

A tabela 1 apresenta as características descritivas dos três grupos que


constituem a nossa amostra.

Variável Amostra Total PB PHDA CTRL


Amostra 62 14 (22,6%) a
23 (37,1%) a
25 (40,3%) a

Sexo 41♂; 21♀ 8♂; 6♀ 20♂; 3♀ 13♂; 12♀


Idade 15,40 (1,68) b
15,71 (1,98) b
14,35 (1,43) b
16,20 (1,19) b

Escolaridade 9,76 (1,69) b


9,57 (1,67) b
8,61 (1,67) b
10,62 (0,70) b

CBCL (mãe) 51 10 19 22
CBCL (outros) 11 4 4 3
Comorbilidade psiquiátrica 8 4 4 si
História familiar 15 9 6 si
Em consulta desde 2003.2 (2.96) b
2004.9 (2.81) b
2002.1(2.56) b
si

Tabela 1 – Características descritivas da amostra.


a - percentagem da amostra; b - desvio padrão (DP); CTRL – grupo controlo; PB – Perturbação
Bipolar; PHDA – Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção; si – sem informação.

A amostra é constituída por 62 jovens cujo intervalo etário se encontra


entre os 12 e os 18 anos, com uma média de 15,40. 66% dos jovens são do sexo
masculino. 61.3% da amostra frequenta o 3º ciclo de escolaridade [10º - 12º Ano],
sendo que a maioria está no ano previsto ou com um ano de atraso de
escolaridade. Apenas um doente bipolar se encontra 2 anos abaixo do previsto
para a idade. O grupo clínico encontra-se em consulta de Psiquiatria da Infância e
Adolescência, em média, desde 2003.
Os questionários CBCL foram maioritariamente respondidos pela mãe
(82%), sendo os restantes preenchidos pelo pai, um pela avó e dois por
Psicólogos das instituições onde residiam os jovens.
Dos 37 indivíduos que compreendem o grupo clínico (PB e PHDA), oito
(21,6%) apresentam comorbilidade psiquiátrica diagnosticada de acordo com os
critérios DSM-IV-TR. Há três sujeitos com mais que um diagnóstico comórbido. Os
diagnósticos apresentados são Perturbação de Tiques (1ind. com PB), Perturbação
Disruptiva de Comportamento (6 ind. – 4 com PB e 2 com PHDA), Abuso de
Cannabis (1ind. com PB), Perturbações da Aprendizagem (1ind. com PHDA),
Perturbação da Adaptação com Humor Depressivo (1 ind. com PHDA) e
Perturbação da Eliminação – Encoprese (1ind. com PHDA). Dois sujeitos da
amostra (1 com PB e outro com PHDA) apresentam história pessoal de abuso
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

sexual. No que concerne à família, 40% apresenta história familiar de patologia


psiquiátrica, sendo a maior referência a Perturbações de Humor ou de Ansiedade
e Abuso de Substâncias. 40% dos jovens da nossa amostra são filhos únicos e
38% são os primogénitos.
A tabela 2 apresenta, dividida pelos três grupos, a estatística descritiva da
cotação na escala CBCL Total, bem como o número de indivíduos que nela
pontuaram (total> 63 pontos). Mostra, igualmente, o número de sujeitos com
comorbilidade psiquiátrica ou com história familiar que cotaram nesta escala.

CBCL TOTAL PB PHDA CTRL


Cotação Média 61,07 61,13 51,52
Mediana 64,00 61,00 53,00
DP 13,45 12,80 10,50
Min 32 26 31
Máx 81 77 71
Cotação Positiva (N) 9 11 3
História familiar 6 2 si
Comorbilidade 4 3 si

Tabela 2 – Estatística descritiva da escala CBCL Total.


CTRL – grupo controlo; DP – Desvio Padrão; N – número de sujeitos; PB – Perturbação Bipolar; PHDA
– Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção; si – sem informação.

Na escala CBCL Total, 37% (N=23) da nossa amostra cotou positivamente:


48% no grupo PHDA, 39% no grupo PB e 13% no grupo controlo. O grupo PB
pontuou no intervalo [32;81], com uma cotação média de 61,07 (DP=13,45); o
grupo PHDA cotou no intervalo [26;77], com média de 61,13 (DP=12,80) e o
grupo controlo pontuou no intervalo [31;71], com média 51,52 (DP=10,50). Nesta
escala, a cotação média de cada grupo é abaixo do ponto de corte (> 63).
Todavia, a mediana do grupo PB está acima do valor clínico. Comparando as três
amostras, verificamos existir uma diferença estatisticamente significativa entre o
grupo clínico e o grupo controlo (Tabela 5). No entanto, não existe diferença
estatística entre os grupos clínicos [Anexo 6 – tabela a].
Dos jovens com história familiar de patologia psiquiátrica (N=15), oito
(53%) pontuaram na escala CBCL: 75% (N=6) são do grupo PB e 25% (N=2) do
grupo PHDA. Dos jovens com comorbilidade psiquiátrica (N=8), sete (87%)
pontuam na CBCL: 57% (N=4) no PB e 43% (N=3) no PHDA. Dentro de cada grupo,

67
todos os jovens com PB e comorbilidade pontuaram na escala, assim como, três
dos quatros jovens com PHDA (75%).
As tabelas seguintes apresentam os resultados das escalas de
Internalização (INT) e de Externalização (EXT), bem como o número total de
indivíduos, com comorbilidade psiquiátrica ou com história familiar que nela
pontuaram (total> 63 pontos). 39% (N=24) da nossa amostra pontuou na escala
de Internalização: 42% são do grupo PHDA, 37% do grupo controlo e 21% do
grupo PB (Tabela 3). Não existe diferença estatística significativa entre os três
grupos na escala de Internalização (Tabela 5). Note-se o elevado número de
indivíduos do grupo controlo que pontuaram nesta escala. Relativamente à escala
de Externalização (EXT), apenas 18% cotou positivamente: 73% são do grupo
PHDA, 18% do grupo PB e 9% do grupo controlo (Tabela 4). Nesta escala, verifica-
se uma diferença estatisticamente significativa entre o grupo clínico e o grupo
controlo, mas não entre os grupos clínicos (Tabela 5) [Anexo 6 – tabela a].
Contudo, em valores absolutos, verifica-se um predomínio claro do grupo PHDA
(Tabela 4).

CBCL INT PB PHDA CTRL


Cotação Média 63,71 62,35 57,08
Mediana 61 62 55
DP 11,74 8,64 10,54
Min 45 45 39
Máx 84 78 74
Cotação Positiva (N) 5 10 9
História familiar 4 2 si
Comorbilidade 3 2 si

Tabela 3 – Estatística descritiva da escala CBCL Internalização.


CTRL – grupo controlo; DP – Desvio Padrão; INT – internalização; N – número de sujeitos; PB –
Perturbação Bipolar; PHDA – Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção; si – sem
informação.

Dos jovens com comorbilidade psiquiátrica (N=8), 62,5% (N=5) pontuou na


escala de internalização: 60% (N=3) são do grupo PB e 40% (N=2) do PHDA. Na
escala de externalização, 37,5% (N=3) destes jovens pontuaram: 66,7% (N=2) do
grupo PB e 33,3% (N=1) do PHDA. Dentro deste subgrupo (jovens com
comorbilidade psiquiátrica), 75% (N=3) dos jovens com PB e 50% (N=2) dos jovens
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

com PHDA pontuaram na escala de Internalização, ao passo que na escala de


Externalização, apenas 50% (N=2) do grupo PB e 25% (N=1) do grupo PHDA
apresentaram valores positivos.
Do grupo com história familiar, 40% (N=6) pontuou na escala de
internalização: 66,7% (N=4) do grupo PB e 33,3% (N=2) do PHDA; 27% (N=4)
pontuou na escala de externalização: 50% de cada grupo (N=2).

CBCL EXT PB PHDA CTRL


Cotação Média 55,36 60,35 48,72
Mediana 57,5 58 49
DP 11,95 9,66 8,02
Min 33 43 33
Máx 77 79 67
Cotação Positiva (N) 2 8 1
História familiar 2 2 si
Comorbilidade 2 1 si

Tabela 4 – Estatística descritiva da escala CBCL Externalização.


CTRL – grupo controlo; DP – Desvio Padrão; EXT – externalização; N – número de sujeitos; PB –
Perturbação Bipolar; PHDA – Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção; si – sem
informação.

Kruskal-Wallis Test CBCL TOTAL CBCL INT CBCL EXT


Chi-Square 12,248 4,027 14,555
df 2 2 2

Asymp. Sig. (p) 0,002 0,133 0,001

Tabela 5 – Teste de Kruskal-Wallis. Comparação dos três grupos nas três escalas.

Na tabela 6 encontra-se discriminado o número de jovens que pontuaram


nas oitos subescalas. Apesar de não existir diferença estatisticamente
significativa entre os grupos clínicos, salientamos o número de jovens com PHDA
que, segundo opinião dos pais, pontuou nas escalas Problemas de Atenção e
Comportamento Agressivo [Anexo 6 – tabela a].

69
Cotação CBCL CBCL CBCL CBCL CBCL CBCL CBCL CBCL
positiva ISOL SOM A/D SOC PENS ATEN DEL AGR
PB 3 3 4 3 6 4 1 1
PHDA 2 4 3 3 3 11 2 6
CTRL 2 1 1 1 0 1 0 0

Tabela 6 – Número de sujeitos que pontuaram nas várias escalas: ISOL – Isolamento; SOM –
Queixas Somáticas; A/D – Ansiedade/Depressão; SOC – Problemas Sociais; PENS – Problemas de
Pensamento; ATEN – Problemas de Atenção; DEL – Comportamento Delinquente; AGR –
Comportamento Agressivo.

A tabela 7 apresenta os resultados da comparação entre os três grupos no


questionário CBCL. Verificamos uma diferença estatisticamente significativa nas
escalas Ansiedade/Depressão, Problemas Sociais, Problemas de Pensamento,
Problemas de Atenção e Comportamento Agressivo entre o grupo clínico e o
grupo controlo, mas não entre os grupos clínicos [Anexo 6 – tabela a]. Não existe
diferença significativa entre os três grupos nas escalas Isolamento e Queixas
Somáticas.

Kruskal-
CBCL CBCL CBCL CBCL CBCL CBCL CBCL CBCL
Wallis
ISOL SOM A/D SOC PENS ATEN DEL AGR
Test

Chi-
Square 1,354 2,981 7,069 13,314 16,991 21,354 10,634 13,242

df 2 2 2 2 2 2 2 2

Asymp.
Sig. (p) 0,508 0,225 0,029 0,001 0,000 0,000 0,005 0,001

Tabela 7 – Teste de Kruskal-Wallis. Comparação dos três grupos nas oito escalas: ISOL –
Isolamento; SOM – Queixas Somáticas; A/D – Ansiedade/Depressão; SOC – Problemas Sociais; PENS
– Problemas de Pensamento; ATEN – Problemas de Atenção; DEL – Comportamento Delinquente;
AGR – Comportamento Agressivo.

Comparando individualmente o grupo PHDA com o grupo controlo


(Tabelas 8 e 9), independentemente do grupo PB, verificamos existir diferenças
estatisticamente significativas nas escalas CBCL Total, Externalização,
Ansiedade/Depressão, Problemas Sociais, Problemas de Pensamento, Problemas
de Atenção, Comportamento Delinquente, Comportamento Agressivo; e nas
escalas YSR Total, Externalização, Problemas Sociais, Problemas de Pensamento,
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

Problemas de Atenção, Comportamento Delinquente e Comportamento


Agressivo.

CBCL Total INT EXT ISOL SOM A/D SOC PENS ATEN DEL AGR
Mann-
128,0 209,5 104,5 242,0 210,0 192,0 118,0 118,5 61,50 133,0 113,5
Whitney U

Wilcoxon W 453,0 534,5 429,5 567,0 535,0 517,0 443,0 443,5 386,5 458,0 438,5

Z -3,29 -1,61 -3,78 -0,95 -1,63 -1,98 -3,53 -3,69 -4,69 -3,24 -3,60

Asymp. Sig.
0,001 0,107 0,000 0,344 0,104 0,048 0,000 0,000 0,000 0,001 0,000
(2-tailed)

Tabela 8 – Teste de Mann-Whitney. Comparação do grupo PHDA com o grupo controlo, no


questionário CBCL.
INT – Internalização; EXT – Externalização; ISOL – Isolamento; SOM – Queixas Somáticas; A/D –
Ansiedade/Depressão; SOC – Problemas Sociais; PENS – Problemas de Pensamento; ATEN –
Problemas de Atenção; DEL – Comportamento Delinquente; AGR – Comportamento Agressivo.

YSR Total INT EXT ISOL SOM A/D SOC PENS ATEN DEL AGR
Mann-
137,5 239,0 109,5 275,5 263,0 245,5 129,0 187,0 153,5 162,5 126,5
Whitney U

Wilcoxon W 462,5 564,0 434,5 551,5 539,0 570,5 454,0 512,0 478,5 487,5 451,5

Z -3,10 -1,00 -3,69 -0,25 -0,52 -0,87 -3,30 -2,17 -2,79 -2,67 -3,35

Asymp. Sig.
0,002 0,316 0,000 0,802 0,605 0,383 0,001 0,030 0,005 0,008 0,001
(2-tailed)

Tabela 9 – Teste de Mann-Whitney. Comparação do grupo PHDA com o grupo controlo, no


questionário YSR.
INT – Internalização; EXT – Externalização; ISOL – Isolamento; SOM – Queixas Somáticas; A/D –
Ansiedade/Depressão; SOC – Problemas Sociais; PENS – Problemas de Pensamento; ATEN –
Problemas de Atenção; DEL – Comportamento Delinquente; AGR – Comportamento Agressivo.

No que concerne ao grupo PB – independentemente do grupo PHDA –


(Tabelas 10 e 11), existem diferenças estatisticamente significativas com o grupo
controlo nas escalas CBCL Total, Externalização, Ansiedade/Depressão,
Problemas Sociais, Problemas de Pensamento, Problemas de Atenção,
Comportamento Agressivo; e nas escalas YSR Total, Internalização,
Externalização, Ansiedade/Depressão, Problemas Sociais, Problemas de
Pensamento, Problemas de Atenção, Comportamento Delinquente,
Comportamento Agressivo.

71
CBCL Total INT EXT ISOL SOM A/D SOC PENS ATEN DEL AGR
Mann-
91,00 114,0 99,00 141,0 134,5 94,00 96,50 70,00 101,0 108,5 103,5
Whitney U

416,0 439,0 424,0 466,0 459,5 419,0 421,5 395,0 426,0 433,5 428,5
Wilcoxon W

-2,46 -1,79 -2,23 -1,00 -1,21 -2,38 -2,34 -3,32 -2,17 -1,99 -2,10
Z
Asymp. Sig.
0,014 0,073 0,026 0,317 0,226 0,017 0,019 0,001 0,030 0,046 0,036
(2-tailed)
Exact Sig.
[2*(1-tailed 0,013 0,076 0,026 0,331 0,239 0,017 0,020 0,002 0,030 0,051 0,035
Sig.)]

Tabela 10 – Teste de Mann-Whitney. Comparação do grupo PB com o grupo controlo, no


questionário CBCL.
INT – Internalização; EXT – Externalização; ISOL – Isolamento; SOM – Queixas Somáticas; A/D –
Ansiedade/Depressão; SOC – Problemas Sociais; PENS – Problemas de Pensamento; ATEN –
Problemas de Atenção; DEL – Comportamento Delinquente; AGR – Comportamento Agressivo.

YSR Total INT EXT ISOL SOM A/D SOC PENS ATEN DEL AGR
Mann-
54,00 86,00 42,00 108,5 121,5 66,50 81,00 49,50 85,00 35,00 66,50
Whitney U

Wilcoxon W 379,0 411,0 367,0 433,5 446,5 391,5 406,0 374,5 410,0 360,0 391,5

Z -3,551 -2,609 -3,914 -1,966 -1,593 -3,189 -2,782 -3,809 -2,648 -4,196 -3,203

Asymp. Sig.
0,000 0,009 0,000 0,049 0,111 0,001 0,005 0,000 0,008 0,000 0,001
(2-tailed)
Exact Sig.
[2*(1-tailed 0,000 0,008 0,000 0,051 0,118 0,001 0,005 0,000 0,008 0,000 0,001
Sig.)]

Tabela 11 – Teste de Mann-Whitney. Comparação do grupo PB com o grupo controlo, no


questionário YSR.
INT – Internalização; EXT – Externalização; ISOL – Isolamento; SOM – Queixas Somáticas; A/D –
Ansiedade/Depressão; SOC – Problemas Sociais; PENS – Problemas de Pensamento; ATEN –
Problemas de Atenção; DEL – Comportamento Delinquente; AGR – Comportamento Agressivo.

A tabela 12 mostra, dividida pelos três grupos, a estatística descritiva da


cotação na escala YSR Total, bem como o número de indivíduos que nela
pontuaram. Indica, igualmente, o número de sujeitos com comorbilidade
psiquiátrica ou com história familiar que aí cotaram.
Nesta escala, apenas 14% (N=9) da nossa amostra cotou positivamente:
67% no grupo PB, 33% no grupo PHDA e zero no grupo controlo.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

Em média, o grupo PB pontuou 60,21, com um desvio padrão de 12,55.


Neste grupo cotaram positivamente 6 indivíduos (43%). Dentro do grupo de
sujeitos com história familiar (N=9), 55,6% pontuou nesta escala, bem como 75%
dos jovens com comorbilidade. No que concerne ao grupo PHDA, cotaram em
média 52,74, com desvio padrão de 8,51. Apenas 3 indivíduos (13%) deste grupo
e um dos seis (17%) com história familiar pontuaram na escala. Nenhum dos
jovens com PHDA e comorbilidade psiquiátrica pontuou. O grupo controlo
pontuou em média 45,76, com um desvio padrão de 5,86 e também nenhum
pontuou.
Note-se que na escala Total de ambos os questionários, a cotação média
nos diferentes grupos é sempre superior na CBCL, inclusivamente no grupo
controlo. Demais, o número total de indivíduos que pontuam na escala é sempre
superior na CBCL, com uma diferença mais evidente no grupo PHDA (Tabelas 2 e
12).

YSR TOTAL PB PHDA CTRL


Cotação Média 60,21 52,74 45,76
Mediana 58,5 54 48
DP 12,55 8,51 5,86
Min 40 35 34
Máx 79 73 56
Cotação Positiva (N) 6 3 0
História familiar 5 1 si
Comorbilidade 3 0 si

Tabela 12 – Estatística descritiva da escala YSR Total.


CTRL – grupo controlo; DP – Desvio Padrão; N – número de sujeitos; PB – Perturbação Bipolar; PHDA
– Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção; si – sem informação.

Na tabela 13, encontra-se o número de indivíduos que pontuaram no


questionário YSR. Em geral, nas várias escalas, constata-se um número superior
de jovens com PB a pontuar, em comparação com o outro grupo clínico. O oposto
se verifica no questionário CBCL, onde, na maioria das escalas constatamos um
maior número de jovens com PHDA a pontuar.
Comparando os questionários apuramos que, no grupo PB, o número de
sujeitos a pontuar em cada escala é aproximado. Em contraste, no grupo PHDA, a

73
diferença no número de indivíduos é evidente. No grupo PHDA constata-se um
número superior de indivíduos a cotar nas várias escalas CBCL em relação à YSR,
com valores notavelmente discrepantes nas escalas Total, Internalização e
Problemas de Atenção. Mesmo no grupo controlo, este comportamento perpetua-
se, com diferenças evidentes sobretudo na escala de Internalização. De resto, o
grupo controlo, não pontua em nenhuma escala YSR, à excepção de um indivíduo
na escala de Internalização.

YSR INT EXT ISOL SOM A/D SOC PENS ATEN DEL AGR
PB 6 5 2 2 5 3 2 5 2 2

PHDA 2 5 0 0 0 2 1 3 1 2

CTRL 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Tabela 13 – Número de sujeitos que pontuaram nas várias escalas: INT – Internalização; EXT –
Externalização; ISOL – Isolamento; SOM – Queixas Somáticas; A/D – Ansiedade/Depressão; SOC –
Problemas Sociais; PENS – Problemas de Pensamento; ATEN – Problemas de Atenção; DEL –
Comportamento Delinquente; AGR – Comportamento Agressivo.

A tabela 14 apresenta a comparação entre os três grupos no YSR,


constatando-se diferenças significativas em várias escalas: Total, Internalização,
Externalização, Ansiedade/Depressão, Problemas Sociais, Problemas de
Pensamento, Problemas de Atenção, Comportamento Delinquente e
Comportamento Agressivo. Não existe diferença significativa nas escalas
Isolamento e Queixas Somáticas. Recorrendo ao teste estatístico Mann-Whitney,
encontramos diferenças estatisticamente significativas nas escalas de
Internalização, Ansiedade/Depressão, Problemas de Pensamento e
Comportamento Delinquente entre os grupos PB e PHDA (Tabela 15). Em todas as
escalas, a média ordinal do grupo PB é sempre muito superior ao grupo PHDA.
Nas restantes escalas, as diferenças encontradas são apenas entre o grupo clínico
e o grupo controlo [Anexo 6 - tabela b].
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

YSR TOTAL INT EXT ISOL SOM A/D SOC PENS ATEN DEL AGR
Chi-
Square 16,752 7,511 20,887 5,168 3,73 11,181 13,416 16,089 10,876 19,675 15,214

df 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2

Asymp.
Sig. (p) 0,000 0,023 0,000 0,075 0,155 0,004 0,001 0,000 0,004 0,000 0,000

Tabela 14 – Teste de Kruskal-Wallis. Comparação dos três grupos nas onze escalas: INT –
Internalização; EXT – Externalização; ISOL – Isolamento; SOM – Queixas Somáticas; A/D –
Ansiedade/Depressão; SOC – Problemas Sociais; PENS – Problemas de Pensamento; ATEN –
Problemas de Atenção; DEL – Comportamento Delinquente; AGR – Comportamento Agressivo.

YSR | PB vs PHDA INT A/D PENS DEL


Mann-Whitney U 97,000 77,500 85,500 89,500
Wilcoxon W 373,000 353,500 361,500 365,500
Z -2,007 -2,622 -2,397 -2,268
Asymp. Sig. (2-
0,045 0,009 0,017 0,023
tailed)
Exact Sig. [2*(1-
0,046 0,008 0,017 0,024
tailed Sig.)]

Tabela 15 – Teste de Mann-Whitney. Comparação dos grupos PB e PHDA, nas escalas com relação
estatisticamente significativa: INT – Internalização; A/D – Ansiedade/Depressão; PENS – Problemas
de Pensamento; DEL – Comportamento Delinquente.

Para analisar o subgrupo de indivíduos com comorbilidade psiquiátrica,


comparamos os sujeitos do grupo PB com comorbilidade (N=4), com o restante
grupo PB (N= 10), assim como os sujeitos do grupo PHDA com comorbilidade
(N=4), com o restante grupo PHDA (N=19). No grupo PB, encontramos diferenças
estatisticamente significativas nas escalas CBCL Total, Externalização, Problemas
de Pensamento, Problemas de Atenção, Comportamento Delinquente e
Comportamento Agressivo [restantes resultados no anexo 6 – tabela c]. A média
ordinal do grupo PB com comorbilidade é muito superior ao grupo com apenas
PB. Não há diferenças estatísticas nas escalas YSR (Tabelas 16 e 17). No que
concerne ao grupo PHDA, não se verificaram diferenças entre os grupos (Tabelas
18 e 19).

75
CBCL TOTAL EXT PENS ATEN DEL AGR
Mann-Whitney U 4,500 1,000 4,500 5,500 5,500 2,000
Wilcoxon W 59,500 56,000 59,500 60,500 60,500 57,000
Z -2,204 -2,693 -2,227 -2,055 -2,067 -2,563
Asymp. Sig. (2-tailed) 0,028 0,007 0,026 0,040 0,039 0,010
Exact Sig. [2*(1-tailed
0,024 0,004 0,024 0,036 0,036 0,008
Sig.)]

Tabela 16 – Teste de Mann-Whitney. Comparação dos sujeitos do grupo PB com comorbilidade


[N=4] e sem comorbilidade [N=10]. EXT – Externalização; PENS – Problemas de Pensamento; ATEN –
Problemas de Atenção; DEL – Comportamento Delinquente; AGR – Comportamento Agressivo.

Total INT EXT ISOL SOM A/D SOC PENS ATEN DEL AGR
YSR
Mann-
7,000 12,00 6,000 20,00 10,50 6,500 11,50 12,50 8,000 8,000 7,000
Whitney U

Wilcoxon W 62,00 67,00 61,00 30,0 65,50 61,50 66,50 67,50 63,00 63,00 62,00

Z -1,84 -1,13 -1,98 0,000 -1,35 -1,92 -1,21 -1,07 -1,70 -1,72 -1,84

Asymp. Sig.
0,066 0,258 0,047 1,000 0,176 0,055 0,227 0,283 0,088 0,086 0,066
(2-tailed)
Exact Sig.
[2*(1-tailed 0,076 0,304 0,054 1,000 0,188 0,054 0,240 0,304 0,106 0,106 0,076
Sig.)]

Tabela 17 – Teste de Mann-Whitney. Comparação dos resultados das onze escalas do questionário
YSR dos sujeitos do grupo PB com comorbilidade [N=4] e sem comorbilidade [N=10].
INT – Internalização; EXT – Externalização; ISOL – Isolamento; SOM – Queixas Somáticas; A/D –
Ansiedade/Depressão; SOC – Problemas Sociais; PENS – Problemas de Pensamento; ATEN –
Problemas de Atenção; DEL – Comportamento Delinquente; AGR – Comportamento Agressivo.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

CBCL Total INT EXT ISOL SOM A/D SOC PENS ATEN DEL AGR
Mann-
35,50 25,50 32,00 33,50 29,00 27,00 31,50 21,00 35,50 37,50 36,00
Whitney U

Wilcoxon W 225,5 215,5 222,0 223,5 219,0 217,0 221,5 211,0 225,5 47,50 46,00

Z -0,204 -1,171 -0,489 -0,365 -0,737 -0,904 -0,530 -1,386 -0,208 -0,041 -0,164

Asymp. Sig.
0,838 0,242 0,625 0,715 0,461 0,366 0,596 0,166 0,835 0,967 0,870
(2-tailed)
Exact Sig.
[2*(1-tailed 0,845 0,324 0,667 0,725 0,505 0,409 0,611 0,188 0,845 0,969 0,907
Sig.)]

Tabela 18 – Teste de Mann-Whitney. Comparação dos resultados das onze escalas do questionário
CBCL dos sujeitos do grupo PHDA com comorbilidade [N=4] e sem comorbilidade [N= 19].
INT – Internalização; EXT – Externalização; ISOL – Isolamento; SOM – Queixas Somáticas; A/D –
Ansiedade/Depressão; SOC – Problemas Sociais; PENS – Problemas de Pensamento; ATEN –
Problemas de Atenção; DEL – Comportamento Delinquente; AGR – Comportamento Agressivo.

YSR Total INT EXT ISOL SOM A/D SOC PENS ATEN DEL AGR
Mann-
27,00 27,00 31,00 28,50 31,50 27,50 36,00 18,50 35,00 22,50 21,00
Whitney U

Wilcoxon W 217,0 217,0 41,00 218,5 41,50 37,50 46,00 208,5 45,00 212,5 211,0

Z -0,896 -0,897 -0,571 -0,772 -0,533 -0,884 -0,163 -1,594 -0,253 -1,268 -1,407

Asymp. Sig.
0,370 0,370 0,568 0,440 0,594 0,377 0,870 0,111 0,800 0,205 0,159
(2-tailed)
Exact Sig.
[2*(1-tailed 0,409 0,409 0,611 0,456 0,611 0,409 0,907 0,116 0,845 0,218 0,188
Sig.)]

Tabela 19 – Teste de Mann-Whitney. Comparação dos resultados das onze escalas do questionário
YSR dos sujeitos do grupo PHDA com comorbilidade [N=4] e sem comorbilidade [N= 19].
INT – Internalização; EXT – Externalização; ISOL – Isolamento; SOM – Queixas Somáticas; A/D –
Ansiedade/Depressão; SOC – Problemas Sociais; PENS – Problemas de Pensamento; ATEN –
Problemas de Atenção; DEL – Comportamento Delinquente; AGR – Comportamento Agressivo.

Seguidamente, seleccionamos os indivíduos da amostra com


comorbilidade e comparámo-los por grupo. Esta selecção compreende quatro
sujeitos com PHDA e quatro com PB. A tabela 20 apresenta os resultados da
comparação dos grupos. Verificamos uma diferença significativa na escala
Problemas de Pensamento do questionário YSR, onde o grupo PB apresenta uma
média ordinal muito superior ao grupo PHDA. Não existe diferença significativa
no questionário CBCL ou nas restantes escalas YSR (tabelas 20 e 21).

77
YSR Total INT EXT ISOL SOM A/D SOC PENS ATEN DEL AGR
Mann-
2,000 2,000 3,000 3,000 2,000 1,000 7,000 0,000 3,500 3,500 5,500
Whitney U
Wilcoxon W 12,00 12,00 13,00 13,00 12,00 11,00 17,00 10,00 13,50 13,50 15,50

Z -1,73 -1,73 -1,48 -1,45 -1,74 -2,02 -0,30 -2,38 -1,31 -1,32 -0,73

Asymp. Sig.
0,083 0,083 0,139 0,146 0,081 0,043 0,767 0,017 0,191 0,186 0,468
(2-tailed)
Exact Sig.
[2*(1-tailed 0,114 0,114 0,200 0,200 0,114 0,057 0,886 0,029 0,200 0,200 0,486
Sig.)]

Tabela 20 – Teste de Mann-Whitney. Comparação dos resultados das onze escalas do questionário
YSR dos sujeitos com comorbilidade, do grupo PHDA [N=4] e do grupo PB [N=4].
INT – Internalização; EXT – Externalização; ISOL – Isolamento; SOM – Queixas Somáticas; A/D –
Ansiedade/Depressão; SOC – Problemas Sociais; PENS – Problemas de Pensamento; ATEN –
Problemas de Atenção; DEL – Comportamento Delinquente; AGR – Comportamento Agressivo.

CBCL Total INT EXT ISOL SOM A/D SOC PENS ATEN DEL AGR

Mann-
5,500 7,000 3,000 7,000 8,000 4,500 6,000 2,000 4,500 2,000 5,000
Whitney U

Wilcoxon W 15,50 17,00 13,00 17,00 18,00 14,50 16,00 12,00 14,50 12,00 15,00

Z -0,726 -0,290 -1,443 -0,290 0,000 -1,016 -0,581 -1,786 -1,042 -1,742 -0,923

Asymp. Sig.
0,468 0,772 0,149 0,772 1,000 0,309 0,561 0,074 0,297 0,081 0,356
(2-tailed)
Exact Sig.
[2*(1-tailed 0,486 0,886 0,200 0,886 1,000 0,343 0,686 0,114 0,343 0,114 0,486
Sig.)]

Tabela 21 – Teste de Mann-Whitney. Comparação dos resultados das onze escalas do questionário
CBCL dos sujeitos com comorbilidade, do grupo PHDA [N=4] e do grupo PB [N=4].
INT – Internalização; EXT – Externalização; ISOL – Isolamento; SOM – Queixas Somáticas; A/D –
Ansiedade/Depressão; SOC – Problemas Sociais; PENS – Problemas de Pensamento; ATEN –
Problemas de Atenção; DEL – Comportamento Delinquente; AGR – Comportamento Agressivo.

Por fim, a tabela 22 apresenta as características descritivas dos dois


adolescentes com PHDA e Perturbação Disruptiva do Comportamento. São ambos
do sexo masculino e têm 14 anos de idade. Na tabela destacamos os resultados
positivos nas várias escalas de ambos os questionários. Note-se que, ambos os
jovens pontuam em mais escalas CBCL, em comparação com seu auto-relato
(YSR).
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

PHDA |
ALT SEXO IDADE ESC ISOL SOM A/D SOC PENS ATEN DEL AGR TOTAL INT EXT
COMP

CBCL M 14 9º 11 8 13 6 2 14 3 7 69 78 55

YSR 1 0 0 5 0 8 3 6 43 26 48

CBCL M 14 6º 4 2 5 8 2 9 6 22 67 60 70

YSR 2 0 6 6 2 15 5 28 63 48 74

Tabela 22 – Características descritivas de dois adolescentes com PHDA e Perturbação Disruptiva do


Comportamento. ALT COMP – Alterações do comportamento; ESC – escolaridade; ISOL – Isolamento;
SOM – Queixas Somáticas; A/D – Ansiedade/Depressão; SOC – Problemas Sociais; PENS – Problemas
de Pensamento; ATEN – Problemas de Atenção; DEL – Comportamento Delinquente; AGR –
Comportamento Agressivo; INT – Internalização; EXT – Externalização.

79
4. Discussão

No contexto clínico actual e para esta faixa etária, a PHDA é largamente


mais prevalente que a PB. De acordo com a literatura, a nossa amostra é
constituída maioritariamente por rapazes – pela maior prevalência da PHDA no
sexo masculino e pela sua maior referenciação a cuidados de saúde
especializados – dado o quadro clínico apresentar-se, habitualmente, com
características mais externalizadoras, comparativamente ao sexo feminino. Por
características externalizadoras entendem-se comportamentos maioritariamente
centrados na relação com os outros (como por exemplo, agressão). Nesta
amostra, o grupo de jovens com PHDA apresenta uma proporção de rapazes na
ordem de 6:1, valor superior ao descrito na literatura, que é da ordem de 3:1.
Existe evidência que 50 a 80% das crianças com PHDA apresentam
distúrbios comórbidos, como perturbação da conduta, de oposição, abuso de
drogas/álcool, perturbação de ansiedade, perturbação de humor e dificuldades
na aprendizagem. Enquanto as raparigas apresentam mais frequentemente
sintomas de desatenção e problemas de internalização, ou seja, síndromes em
que os problemas estão centrados na própria criança como depressão e
ansiedade, os rapazes manifestam-se com sintomas mais disruptivos e
externalizadores, levando à maior referência clínica. Apenas 21,6% da nossa
amostra apresentam comorbilidade psiquiátrica clinicamente diagnosticada. No
entanto e de acordo com a literatura, verifica-se um predomínio de
comportamentos externalizadores.
Neste estudo, 37% da amostra pontuou no questionário CBCL (avaliado
pela escala CBCL Total), com um predomínio ligeiro do grupo PHDA (48% no
grupo PHDA; 39% no grupo PB). Em contraste, apenas 14% da amostra pontuou
no questionário YSR (avaliado pela escala YSR Total), com um predomínio mais
evidente do grupo PB (67% no grupo PB; 33% no grupo PHDA). Comparando os
questionários, sobressai a divergência de resultados, sobretudo no grupo PHDA.
Isto é, 48% dos adolescentes com PHDA pontuaram na CBCL Total em contraste
com apenas 13% na correspondente YSR.
No que concerne à escala de Externalização, verificamos novamente um
padrão discrepante de pontuação. Isto é, apenas 18% da amostra pontuou na
escala CBCL Externalização (total de 11 indivíduos), mas existe uma visível
disparidade na sua distribuição por grupos, com predomínio claro do grupo
PHDA – nesta escala pontuaram 8 sujeitos com PHDA, apenas 2 com PB e 1 do
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

grupo controlo. No entanto, nesta mesma escala no questionário YSR, que avalia
a percepção do jovem através do seu autorelato, esta diferença esbate-se, com
um número total de 10 indivíduos a pontuar, distribuídos equitativamente pelos
dois grupos clínicos. Observando cada grupo clínico, 35% dos sujeitos com PHDA
e 14% com PB pontuaram na CBCL Externalização, ao passo que 36% dos jovens
com PB e 22% com PHDA pontuaram na respectiva YSR.
Os resultados encontrados quer nas escalas totais quer nas de
externalização parecem traduzir a menor consciência mórbida ou maior
desvalorização do adolescente com PHDA face aos seus comportamentos. Por
outro lado, os adolescentes com PB, durante a fase eutímica, revelam capacidade
autocrítica adequada.
O relato dos pais avaliado pelo questionário CBCL, e de acordo com a
literatura, é útil na avaliação da sintomatologia psicopatológica nos adolescentes,
mas, neste estudo, não contribui para a distinção dos quadros clínicos. De facto,
em um grande número de escalas (excepto na escala de Internalização,
Isolamento e Problemas Socais), o relato dos pais parece ser consistente e
auxiliador na elaboração do perfil psicopatológico de um adolescente.
Comparando os resultados dos dois questionários, mormente no grupo
PHDA, constatamos resultados discrepantes entre o relato dos pais e do jovem.
Em todas as escalas, mas em particular, nas escalas Total, Internalização e
Problemas de Atenção, um número significativo de pais pontuaram na CBCL, em
contraste com a reduzida percentagem de jovens. Estes resultados corroboram a
literatura na medida em que, habitualmente, as crianças mais pequenas não têm
consciência crítica dos seus sintomas, ao passo que, crianças mais velhas e
adolescentes, apesar de os reconhecer, minimizam a sua importância (94)
. Por
outro lado, os pais, pela sua experiência de vida e capacidades discriminativa e
comparativa, poderão reconhecer mais facilmente alterações no comportamento
dos seus filhos.
Parece-nos importante realçar o número elevado de jovens com PHDA que
pontuaram na escala Problemas de Atenção, segundo relato dos pais. Apesar de
não existir diferença estatística com o grupo de indivíduos com PB, este resultado
parece estar de acordo com a literatura, na medida em que esta escala apresenta
boa convergência com o diagnóstico PHDA. (33)
O facto de não existir diferença
significativa entre os grupos reforça a dificuldade no diagnóstico diferencial dada
a sobreposição de sintomas clínicos entre as patologias.

81
Relativamente ao questionário YSR, as escalas de Internalização,
Isolamento, Ansiedade/Depressão, Problemas de Pensamento e Comportamento
Delinquente podem contribuir para o diagnóstico diferencial entre os grupos
clínicos. Na totalidade das escalas, os jovens com PB apresentam uma média
ordinal muito superior aos jovens com PHDA. Tal como a CBCL, este questionário
é igualmente útil na avaliação de psicopatologia nos adolescentes.
O facto dos jovens com PB pontuarem em maior número nas escalas YSR e
de forma mais concordante com a CBCL poderá ser explicado pela natureza
semiológica da própria patologia. Durante a fase eutímica, onde se encontravam
estes jovens, o insight para a doença e seus comportamentos, previamente
perdido nas fases maníaca ou depressiva, é recuperado, reconhecendo com mais
facilidade as mudanças no humor e comportamento.
No que concerne à presença de história familiar, constatamos um
predomínio na pontuação dos jovens com PB, no questionário CBCL – 67% dos
jovens com PB e 33% dos jovens com PHDA pontuaram na CBCL Total. O mesmo
padrão se verifica na escala YSR Total. Estes resultados são consonantes com o
perfil familiar da PB. A elevada hereditariedade da doença, poderá facilitar o seu
reconhecimento ou eventualmente, os pais estarão mais atentos à sintomatologia
clínica.
Estudando, em particular, o grupo de jovens com comorbilidade
psiquiátrica, concluímos haver diferenças significativas nos jovens com PB, nas
escalas CBCL Total, Externalização, Problemas de Pensamento, Problemas de
Atenção, Comportamento Delinquente e Comportamento Agressivo. A média
ordinal nas várias escalas dos adolescentes com PB e comorbilidade psiquiátrica é
sempre muito superior aos pares com apenas PB. Possivelmente, a presença de
comorbilidade agrava as manifestações clínicas, facilitando o seu reconhecimento
por parte dos pais e/ou seus conviventes. Apenas 3 dos 8 adolescentes com
comorbilidade pontuaram na escala YSR Total, pertencendo exclusivamente ao
grupo PB. Comparando os grupos clínicos, verificamos existir diferença
estatisticamente significativa na escala YSR Problemas de Pensamento. Nesta
escala, os jovens com PB e comorbilidade psiquiátrica apresentam uma
pontuação média ordinal muito superior aos adolescentes com PHDA e
comorbilidade. Este resultado poderá ser consequência do número reduzido da
nossa amostra (total de 8 adolescentes com comorbilidade psiquiátrica) e não
traduzir um particular contributo da comorbilidade, já que esta diferença já
estava presente nos grupos clínicos base. Aliás, a pontuação na escala de
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

Problemas de Pensamento seria já espectável pelos autores, nos adolescentes


com Perturbação Bipolar, dado o quadro clínico patente.
Por fim, um especial enfoque aos dois adolescentes com PHDA e PDC dado
o seu reconhecido impacto na evolução e prognóstico da PHDA. Ambos
pontuaram no questionário CBCL, mas apenas um na escala CBCL Externalização.
Pese não pontuar no questionário YSR, o mesmo jovem pontua igualmente na
YSR Externalização. O predomínio de um padrão de comportamento
eminentemente externalizador poderá ser um factor de mau prognóstico neste
adolescente.
Pela percepção dos pais, e apesar do diagnóstico clínico de PDC, o outro
adolescente não pontua em qualquer escala de externalização, cotando em
diversas escalas de padrão predominantemente internalizador. Este adolescente
pontua nas escalas CBCL Internalização, Ansiedade/Depressão, Isolamento,
Queixas Somáticas e Problemas de Atenção. No entanto, estes resultados não
têm tradução nas escalas similares do YSR. O padrão encontrado poderá traduzir
características de personalidade potencialmente protectoras de comportamentos
de risco futuros ou a base de uma patologia comórbida com sintomatologia
afectiva, ainda não diagnosticada.
Dado o número reduzido da amostra não nos é possível retirar qualquer
elação. Contudo, poderão ser o ponto de partida para futuras investigações.

83
5. Conclusões

Este estudo permitiu concluir que o autorelato dos jovens pode contribuir
para o diagnóstico diferencial das duas entidades clínicas estudadas,
nomeadamente com as escalas de Internalização, Ansiedade/Depressão,
Problemas de Pensamento e Comportamento Delinquente. Contudo, os
resultados encontrados nas restantes escalas e a ausência de diferenças
estatísticas entre os grupos clínicos corroboram a dificuldade na sua distinção.
De facto, ambos os diagnósticos assentam primordialmente na sensibilidade
clínica e continuam a ser exclusivamente diagnosticados com base em critérios
clínicos. Como tal, o clínico deverá atentar que a elação do humor e a
grandiosidade são os sintomas que melhor distinguem estas patologias. Por
outro lado, na PB, a hiperactividade pode ser mais episódica, pese embora a
PHDA possa ser a primeira manifestação de mania. Evidencia-se ainda que a
ausência de resposta à terapêutica estimulante não é útil para o diagnóstico.
O padrão de pontuação dos jovens de ambos os grupos clínicos foi-se
mantendo constante nas várias escalas de ambos os questionários. Isto é, no
grupo PHDA, verificamos diferenças sistemáticas no número de indivíduos a
pontuar nas várias escalas, com valores sempre superiores nas escalas CBCL. As
discrepâncias encontradas podem traduzir a dificuldade destes jovens no
reconhecimento dos seus comportamentos ou sua desvalorização. Por seu turno,
os jovens com PB apresentam nas várias escalas, resultados similares aos
verificados pelos pais e/ou seus conviventes. De facto, a consciência mórbida
deste jovens face ao seu comportamento revela-se adequado durante a fase
eutímica da doença.
Apesar do reduzido número de jovens com comorbilidade psiquiátrica, em
particular com Perturbação Disruptiva do Comportamento, foi possível constatar
o impacto da sua presença na apresentação do quadro clínico. 87% dos jovens da
amostra com comorbilidade pontuaram no questionário CBCL (avaliado pela
escala CBCL Total), o que reforça a hipótese do seu contributo no agravamento
da sintomatologia apresentada, facilitando o reconhecimento por parte dos pais
e/ou seus conviventes. Os resultados encontrados no grupo de jovens com PB e
comorbiliadde psiquiátrica, em particular na escala de Problemas de Atenção,
evidenciam a elevada sobreposição de sintomas das duas entidades clínicas,
sobretudo neste indivíduos, dificultando o seu diagnóstico diferencial. Também o
facto de pontuarem significativamente mais, nas escalas de comportamento
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

predominantemente externalizador, poderá traduzir um maior risco potencial


destes jovens.
Os resultados deste estudo poderão ser ponto de partida para futuras
investigações, na medida em que parecem esboçar um padrão distinto de
resultados entre os grupos clínicos. Desenvolvendo e ampliando a amostra
poderão ser encontrados resultados mais específicos, contribuindo para o
diagnóstico diferencial e assim melhorar a evolução e prognóstico destes jovens.

85
6. Limitações

Dada a limitação temporal e as dificuldades diagnósticas actuais, a nossa


amostra apresenta um número reduzido. As dificuldades no diagnóstico
inequívoco de Perturbação Bipolar nesta faixa etária limitaram o número total da
amostra. Os resultados encontrados, ora positivos ora negativos, podem estar
associados a limitações do estudo como escassez da amostra e viés de selecção,
na medida em que, pelo facto da amostra ser recolhida em consulta de
Psiquiatria pode, potencialmente seleccionar os jovens que apresentam mais
comorbilidade psiquiátrica e maior gravidade do quadro clínico.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

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occurring Substance Abuse. J Am Acad Psychiatry Law, 33; 188 – 95.
89. Wilens T. et al. (2004) Risk of substance use disorders in adolescents with bipolar
disorder. J. Am. Acad. Child Adolesc. Psychiatry; 43:11.
90. Lewis D. et al (2004) Ethics Questions Raised by the Neuropsychiatric,
Neuropsychological, Educational, Developmental, and Family Characteristics of 18
Juveniles Awaiting Execution in Texas. J Am Acad Psychiatry Law 32; 408–29.
91. Mercugliano M. (1999) Attention-Deficit/ Hiperactivity Disorder. Pediatrics Clinics
of North America. Vol 46: 5; 915-925.
92. Soares I. et al. (2000). Psicopatologia do Desenvolvimento: trajectórias
(in)adaptativas ao longo da vida; “O modelo multiaxial de Achenbach (ASEBA) na
avaliação clínica de crianças e adolescentes”. Quarteto Editora; 44-87.
93. Achenbach TM (1991) Manual for the Child Behavior Checklist/ 4-18 and 1991
Profile. Burlington, VT, University of Vermont Department of Psychiatry.
94. Practice Parameter for the Assessment and Treatment of Children and Adolescents
with Attention Deficit/Hyperactivity Disorder (2007) J. Am. Acad. Child Adolesc.
Psychiatry, 46:7; 894-918.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

ANEXO 1
Critérios Diagnósticos DSM-IV-TR

93
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

I. Critérios diagnósticos para PHDA

A. 1) OU 2):

1) 6 (ou mais) dos seguintes sintomas de falta de atenção devem persistir pelo menos
durante 6 meses com uma intensidade que é desadaptativa e inconsistente em relação ao
nível de desenvolvimento:

Falta de atenção

a) com frequência não presta atenção suficiente ao pormenores ou comete erros


por descuido nas tarefas escolares, no trabalho ou noutras actividades;
b) com frequência tem dificuldade em manter a atenção em tarefas ou
actividades;
c) com frequência parece não ouvir quando se lhe fala directamente;
d) com frequência não segue as instruções e não termina os trabalhos escolares ,
encargos ou deveres no local de trabalho (sem ser por comportamento de
oposição ou por incompreensão das instruções);
e) com frequência tem dificuldade em organizar tarefas ou actividades
f) com frequência evita, sente repugnância ou esta relutante em envolver-se em
tarefas que requeiram um esforço mental mantido (tais com trabalhos
escolares ou de índole administrativa);
g) com frequência perde objectos necessários a tarefas ou actividades (por
exemplo, brinquedos, exercícios escolares, lápis, livros ou ferramentas);
h) com frequência distrai-se facilmente com estímulos irrelevantes;
i) esquece-se com frequência das actividades quotidianas.

2) 6 (ou mais) dos seguintes sintomas de hiperactividade-impulsividade persistiram


pelo menos durante 6 meses com uma intensidade que é desadaptativa e inconsistente
em relação ao nível de desenvolvimento:

Hiperactividade

a) com frequência movimenta excessivamente as mãos e os pés, move-se quando


está sentado;
b) com frequência levanta-se na sala de aula ou noutras situações em que se
espera que esteja sentado;
c) com frequência corre ou salta excessivamente em situações em que é
inadequado fazê-lo (em adolescentes ou adultos pode limitar-se a sentimentos
subjectivos de impaciência);

95
d) com frequência tem dificuldade em jogar ou dedicar-se tranquilamente a
actividades de ócio;
e) com frequência “anda” ou só actua come se estivesse “ligado a um motor”;
f) com frequência fala em excesso.

Impulsividade

a) com frequência precipita as respostas antes que as perguntas tenham


acabado;
b) com frequência tem dificuldade em esperar pela sua vez;
c) com frequência interrompe ou interfere nas actividades dos outros (por
exemplo, intromete-se nas conversa ou jogos).

B. Alguns sintomas de hiperactividade-impulsividade ou de falta de atenção que causam


défices surgem antes dos 7 anos de idade.

C. Alguns défices provocados pelos sintomas estão presentes em 2 ou mais contextos


(por exemplo, escola (ou trabalho) e em casa)

D. Devem existir provas claras de um défice clinicamente significativo do funcionamento


social, académico ou laboral.

E. Os sintomas não ocorrem exclusivamente durante uma perturbação global do


desenvolvimento, Esquizofrenia ou outra perturbação psicótica e não são melhor
explicadas por outras perturbação mental (por exemplo, perturbação do humor,
perturbação de ansiedade, perturbação dissociativa ou perturbação de personalidade).

II. Critérios diagnósticos para Perturbação Bipolar

PERTURBAÇÃO BIPOLAR TIPO I – Presença de um ou mais Episódios Maníacos ou Mistos,


habitualmente acompanhados por Episódios Depressivos Major.

PERTURBAÇÃO BIPOLAR TIPO II – Presença de um ou mais Episódios Depressivos Major


acompanhados pelo menos por um Episódio Hipomaníaco.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

Critérios diagnósticos para Episódio Depressivo Major

A. Estão presentes 5 ou mais dos seguintes sintomas durante um período de 2 semanas e


representam uma alteração do funcionamento prévio; pelo menos um dos sintomas é 1)
humor depressivo ou 2) perda de prazer ou do interesse:

Nota: não incluir os sintomas que são claramente provocados por um estado físico geral,
ou ideias delirantes ou alucinações que são incongruentes com o humor.

1) Humor depressivo durante a maior parte do dia, quase todos os dias, indicados
ou pelo relato subjectivo (por exemplo, sente-se triste ou vazio) ou pela observação de
outros (por exemplo, parece choroso). Nota: Em crianças e adolescentes o humor pode
ser irritável;

2) Diminuição clara do interesse ou prazer em todas, ou quase todas, as


actividades, durante a maior parte do dia, quase todos os dias (indicado pelo relato
subjectivo ou pela descrição de outros);

3) Perda de peso, quando não está a fazer dieta, ou aumento de peso significativo
(por exemplo, uma alteração de mais de 5% do peso corporal num mês), ou diminuição
ou aumento do apetite quase todos os dias. Nota: Em crianças, deve-se considerar o não
atingimento dos aumentos esperados de peso;

4) Insónia ou hipersónia quase todos os dias;

5) Agitação ou lentificação psicomotora quase todos os dias (observável pelos


outros, e não meramente pelo relato subjectivo de se sentir agitado ou lento);

6) Fadiga ou perda de energia quase todos os dias;

7) Sentimentos de desvalorização ou culpa excessiva ou inapropriada (que pode


ser delirante) quase todos os dias (não meramente autocensura ou sentimentos de culpa
por estar doente);

8) Diminuição da capacidade de pensamento ou da concentração, ou indecisão,


quase todos os dias (indicado pelo relato subjectivo ou pela descrição de outros);

9) Pensamentos recorrentes acerca da morte (não somente acerca do medo de


morrer), ideacção suicida recorrente sem planos específicos ou uma tentativa de suicídio
ou um plano específico para cometer suicídio.

B. Os sintomas não preenchem os critérios para Episódio Misto.

97
C. Os sintomas causam mal-estar clinicamente significativo ou deficiência no
funcionamento social, ocupacional ou em qualquer outra área importante.

D. Os sintomas não são devidos aos efeitos fisiológicos directos de uma substância (por
exemplo, droga de abuso, medicação ou outro tratamento) ou a um estado físico geral
(por exemplo, hipotiroidismo).

E. Os sintomas não são melhor explicados por Luto, isto é, depois da perda de um ente
querido, os sintomas persistem por mais de 2 meses ou são caracterizados por uma
marcada deficiência funcional, preocupação mórbida com sentimentos de desvalorização
pessoal, ideação suicida, sintomas psicóticos ou lentificação psicomotora.

Critérios diagnósticos para Episódio Maníaco

A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou


irritável, com duração de pelo menos 1 semana (ou qualquer duração se for necessária
hospitalização.

B. Durante o período de perturbação de humor, 3 ou mais dos seguintes sintomas


persistiram (4 se o humor é somente irritável) e estiveram presentes num grau
significativo:

1) auto-estima aumentada ou grandiosidade;

2) Diminuição da necessidade de dormir (por exemplo, sente-se descansado


depois de somente 3 horas de sono);

3) Mais falador que o habitual e pressão para continuar a falar;

4) Fuga de ideais ou experiência subjectiva de aceleração do pensamento;

5) Distractibilidade (isto é, a atenção é facilmente desviada para estímulos


externos irrelevantes);

6) Aumento da actividade dirigida para objectivos determinados (quer sociais, no


emprego ou na escoa, quer sexuais) ou agitação psicomotora;

7) Envolvimento excessivo em actividades agradáveis que potencialmente podem


ter consequências desagradáveis (isto é, envolve-se em gastos extravagantes,
comportamentos sexuais indiscretos ou investe em negócios sem valor).
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

C. Os sintomas não preenchem os critérios para Episódio Misto.

D. O episódio é suficientemente intenso para provocar uma deficiência marcada no


funcionamento ocupacional ou qualquer outra actividade social ou relacionamento com
os outros, ou necessitar de hospitalização para prevenir danos para o próprio ou outros,
ou existem características psicóticas.

F. Os sintomas não são devidos aos efeitos fisiológicos directos de uma substância (por
exemplo, droga de abuso, medicação ou outro tratamento) ou a um estado físico geral
(por exemplo, hipertiroidismo).

Critérios diagnósticos para Episódio Hipomaníaco

A. Um período distinto de humor persistentemente elevado, expansivo ou irritável, com


duração de pelo menos 4 dias, claramente diferente do humor depressivo habitual.

B. Durante o período de perturbação de humor, 3 ou mais dos seguintes sintomas


persistiram (4 se o humor é somente irritável) e estiveram presentes num grau
significativo:

1) auto-estima aumentada ou grandiosidade;

2) Diminuição da necessidade de dormir (por exemplo, sente-se descansado


depois de somente 3 horas de sono);

3) Mais falador que o habitual e pressão para continuar a falar;

4) Fuga de ideais ou experiência subjectiva de aceleração do pensamento;

5) Distractibilidade (isto é, a atenção é facilmente desviada para estímulos


externos irrelevantes);

6) Aumento da actividade dirigida para objectivos determinados (quer sociais, no


emprego ou na escoa, quer sexuais) ou agitação psicomotora;

7) Envolvimento excessivo em actividades agradáveis que potencialmente podem


ter consequências desagradáveis (isto é, envolve-se em gastos extravagantes,
comportamentos sexuais indiscretos ou investe em negócios sem valor).

99
C. O episódio está associado com uma mudança inequívoca no funcionamento que não é
característica da pessoa quando não está sintomática.

D. A perturbação de humor e a mudança de funcionamento são observáveis pelos outros.

E. O episódio não é suficientemente intenso para provocar uma deficiência marcada no


funcionamento social ou ocupacional ou necessitar de hospitalização, e não existem
características psicóticas.

F. Os sintomas não são devidos aos efeitos fisiológicos directos de uma substância (por
exemplo, droga de abuso, medicação ou outro tratamento) ou a um estado físico geral
(por exemplo, hipertiroidismo).

Critérios diagnósticos para Episódio Misto

A. São preenchidos os critérios para Episódio Maníaco e para Episódio Depressivo Major
(excepto quanto à duração) quase todos os dias, pelo menos durante o período de uma
semana.

B. O episódio é suficientemente intenso para provocar uma deficiência marcada no


funcionamento ocupacional ou qualquer outra actividade social ou relacionamento com
os outros, ou necessitar de hospitalização para prevenir danos para o próprio ou outros,
ou existem características psicóticas.

C. Os sintomas não são devidos aos efeitos fisiológicos directos de uma substância (por
exemplo, droga de abuso, medicação ou outro tratamento) ou a um estado físico geral
(por exemplo, hipertiroidismo).
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

ANEXO 2
Guidelines de tratamento para crianças e adolescentes com Perturbação
Bipolar

101
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

GUIDELINES DE TRATAMENTO PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM PERTURBAÇÃO


BIPOLAR

Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência


Am. Acad. Child Adolesc. Psychiatry, 44-3; 2005

As orientações terapêuticas apresentam 4 níveis de evidência, classificados de A a


D (o nível A teve prioridade sobre B, B sobre C…):

A – estudos clínicos controlados e aleatórios, em crianças

B – estudos clínicos aleatórios em adultos

C – estudos abertos e analises retrospectivas

D – relatos de casos e consenso dos especialistas reunidos, baseados na pratica


clínica

103
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

105
O estudo publicado em Janeiro de 2007 “Practice Parameter for the
Assessment and Treatment of Children and Adolescents With Bipolar Disorder” na
revista da Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência conclui
que:
 Nenhum agente foi aprovado para tratamento único de todas as fases da
perturbação bipolar
 O tratamento nesta faixa etária baseia-se no tratamento dos adultos
 A eficácia e segurança dos estabilizadores do humor para os casos de
mania juvenil de início precoce ainda não foram estabelecidas
 Os jovens com desregulação emocional e de comportamento mais grave
necessitam de intervenções comportamentais e familiares, em associação ao
tratamento farmacológico
 O objectivo do tratamento é, para além de melhorar os sintomas, promover
adesão à terapêutica, educar acerca da doença, prevenir a recorrência, diminuir a
morbilidade a longo prazo e promover um crescimento e desenvolvimento
normal, destes jovens.
 O único agente aprovado pela FDA para tratamento da PB nos jovens> 12
anos é o LÍTIO – na mania e como tratamento de manutenção.
 Aripiprazole, valproato, risperidona, olanzapina, quetiapina, ziprazidona
estão aprovadas para a mania no adulto
 Cloropromazina está aprovada para mania, no adulto, mas geralmente não
é 1ª linha
 Lamotrigina, olanzapina estão aprovadas para tratamento de manutenção
no adulto
 Olanzapina + fluoxetina estão aprovadas para tratamento da depressão
bipolar no adulto
 Clozapina é reservada para casos refractários ao tratamento inicial
 Benzodiazepinas são usadas no tratamento da agitação e perturbação de
sono associada à mania
 Antidepressivos ISRS (Inibidores Selectivos da Recaptação da Serotonina)
são úteis no tratamento da depressão bipolar, desde que em combinação com
um estabilizador do humor
 Nos jovens:
O lítio parece apresentar altas taxas de recidiva mas um estudo
demonstrou baixas taxas de recidiva quando se associa um anti-psicótico
durante, pelo menos, 4 semanas.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

 Os estudos têm demonstrado a eficácia de:


Valproato, carbamazepina e topiramato (em associação) no tratamento da
mania em jovens
Lamotrigina na depressão bipolar nos adolescentes
Valproato, lítio, carbamazepina em episódios mistos
Olanzapina, risperidona, quetiapina e aripiprazole na PBP
Valproato+quetiapina parece ser mais eficaz que valproato isolado

107
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

ANEXO 3
Artigo a aguardar publicação

1. Neurobiologia do Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção


(Lia Moreira, Zulmira Correia, Fernando Almeida)
Revista de Psiquiatria Clínica

109
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

ANEXO 4
Questionários CBCL, YSR; Consentimento informado; Autorização do autor

111
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________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

113
ASEBA
Research Center for Children, Youth & Families, Inc.
A Non-Profit Corporation
1 South Prospect Street, St Joseph’s Wing (Room #3207), Burlington, VT 05401
Telephone: (802)656-5130 / Fax: (802)656-5131
Email: mail@aseba.org / Website: http://www.aseba.org

Site License Agreement to Permit Lia Vitoria Ribeiro Moreira to Reproduce the Portuguese Translations of
the Child Behavior Checklist for Ages 6-18 (CBCL/6-18), and Youth Self-Report for Ages 11-18 (YSR)
This Site License Agreement (the “Agreement”) is entered into by and between Thomas M. Achenbach (Professor at
the University of Vermont), at 1 South Prospect Street, Burlington, Vermont (“Licensor”), and Lia Vitoria Ribeiro
Moreira (“Licensee”), and shall be effective on the date (“Effective Date”) when signed by Licensor. The parties agree
to the following terms and conditions:

1. License #299-7-14-08
In accordance with the terms herein, Licensor grants to Licensee a non-exclusive and non-transferable license to
produce 90 copies each of the CBCL/6-18 and YSR. The Licensed Forms will be used solely for the “Behavior
problems in adolescents with ADHD diagnosis or bipolar disorder – what is the contribution to differential diagnosis”
study beginning August 1, 2008 and ending October 31, 2008.
2. Price

The Site License is provided at no cost to the Licensee. The license rights expire on October 31, 2008.

3. Scoring Data Acquired with Licensed Forms

Licensee assumes responsibility for scoring all data acquired using the Licensed Forms. Licensor strongly recommends
that all data acquired be entered into Assessment Data Manager (ADM) software and be scored within its rigorously
tested environment. Licensor is not obligated to provide support to Licensee for scoring data outside of ADM. Any
support needed by Licensee for scoring data outside of ADM will incur additional fees.

4. Licensee Obligations

Licensee acknowledges that in addition to its other obligations under this Agreement, Lia Moreira shall serve as
Licensed Site Manager who shall be responsible, directly or by designee, for:

(a) Ensuring the Licensed Forms are used only with the “Behavior problems in adolescents with ADHD
diagnosis or bipolar disorder – what is the contribution to differential diagnosis” study.

(b) Ensuring the Licensed Forms are used in accordance with professional psychological assessment
standards.

(c) Ensuring that all copies of the Licensed Forms bear the following statement:

Copyright T.M. Achenbach. Reproduced under License #299-7-14-08.

Address is: R.S. João de Brito, 103 3o dto, Porto, Portugal 4100-454; e-mail: liaribeiromoreira@gmail.com;
telephone: 00351-93205656.
2

5. Title to Licensed Forms and Confidentiality

The Licensed materials, and all copies thereof, are proprietary to Licensor and title thereto remains in Licensor. All
applicable rights to patents, copyrights, trademarks and trade secrets in the Licensed Forms or any modifications
thereto made at Licensee’s request, are and shall remain in Licensor. Licensee shall not sell, transfer, publish, disclose,
display or otherwise make available the Licensed materials, or copies thereof, to anyone other than employees,
consultants and contractors of Licensee.

Licensee agrees to secure and protect the Licensed materials, and copies thereof, in a manner that ensures they are used
only in accordance with the rights licensed herein. Licensee also agrees to take appropriate action by instruction or
agreement with its employees, consultants and contractors who are permitted access to the Licensed materials to ensure
they are only used in accordance with the rights licensed herein.

6. Use and Training

Licensee shall limit the use of the Licensed materials to its employees and to the employees of its subcontractors who
have been appropriately trained.

7. Warranty

(a) Licensor warrants that the Licensed materials will conform, as to all substantial features, to the
documentation provided in the 2001 Manual for the ASEBA School-Age Forms & Profiles.

(b) The Licensee must notify Licensor in writing, within ninety (90) days of the effective date of this
Agreement, of its claim of any defect. If the Licensed materials are found defective by Licensor, Licensor’s sole
obligation under this warranty is to remedy such defect in a manner consistent with Licensor’s regular business
practices.

(c) THE ABOVE IS A LIMITED WARRANTY AND IT IS THE ONLY WARRANTY MADE BY
LICENSOR. LICENSOR MAKES AND LICENSEE RECEIVES NO WARRANTY EXPRESS OR IMPLIED AND
THERE ARE EXPRESSLY EXCLUDED ALL WARRANTIES OF MERCHANTABILITY AND FITNESS FOR A
PARTICULAR PURPOSE. LICENSOR SHALL HAVE NO LIABILITY WITH RESPECT TO ITS OBLIGATIONS
UNDER THIS AGREEMENT FOR CONSEQUENTIAL, EXEMPLARY, OR INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF
IT HAS BEEN ADVISED OF THE POSSIBILITY OF SUCH DAMAGES. THE STATED EXPRESS WARRANTY
IS IN LIEU OF ALL LIABILITIES OR OBLIGATIONS OF LICENSOR FOR DAMAGES ARISING OUT OF OR
IN CONNECTION WITH THE DELIVERY, USE, OR PERFORMANCE OF THE LICENSED FORMS.

(d) Licensee agrees that Licensor’s liability arising out of contract, negligence, strict liability in tort or
warranty shall not exceed any amount payable by Licensee for the Licensed materials identified above.

8. Termination

Licensor shall have the right to terminate this agreement and license granted herein:

(a) Upon thirty (30) days’ written notice in the event that Licensee, its officers or employees, violate any
material provision of this License Agreement, including but not limited to, the confidentiality provisions and use
restrictions in the license grant, and is unable to cure such breach during such thirty (30) day period; or

(b) In the event Licensee (i) terminates or suspends business; (ii) becomes subject to any bankruptcy or
insolvency proceeding under Federal or state statute or (iii) becomes insolvent or becomes subject to direct control by a
trustee, receiver or similar authority.
3

9. General

(a) Each party acknowledges that it has read this Agreement, it understands it, and agrees to be bound by its
terms, and further agrees that this is the complete and exclusive statement of the Agreement between the parties, which
supersedes and merges all prior proposals, understandings and all other agreements, oral and written, between the
parties relating to this Agreement. This Agreement may not be modified or altered except by written instrument duly
executed by both parties.

(b) Dates or times by which Licensor is required to make performance under this license shall be postponed
automatically to the extent that Licensor is prevented from meeting them by causes beyond its reasonable control.

(c) This Agreement and performance hereunder shall be governed by the laws of the State of Vermont.

(d) No action, regardless of form, arising out of this Agreement may be brought by Licensee more than two
years after the cause of action has arisen.

(e) If any provision of this Agreement is invalid under any applicable statute or rule of law, it is to the extent to
be deemed omitted.

(f) The Licensee may not assign or sub-license, without the prior written consent of Licensor, its rights, duties
or obligations under this Agreement to any person or entity, in whole or in part.

(g) Licensor shall have the right to collect from Licensee its reasonable expenses incurred in enforcing this
agreement, including attorney’s fees.

(h) The waiver or failure of Licensor to exercise in any respect any right provided for herein shall not be
deemed a waiver of any further right hereunder.

Accepted and Agreed to: Accepted and Agreed to:

LICENSOR: LICENSEE:
Thomas M. Achenbach, Ph.D. Lia Vitoria Ribeiro Moreira, M.D.

Signature: Signature:
Title: Professor Print name: Lia Moreira

Date: Title: MD
Address:R.S.JoãoBrito-403-3ºdto
For License # 299-7-14-08

Date: 15-07-08
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

ANEXO 5
Estatística descritiva das escalas sindromáticas

131
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

CBCL Isolamento PB PHDA CTRL


Cotação Média 5,36 4,7 3,84
Mediana 4,5 5 4
DP 3,93 3,02 3,06
Min 1 0 0
Máx 14 11 10

CBCL Somáticas PB PHDA CTRL


Cotação Média 3,07 2,87 1,84
Mediana 4 2 1
DP 3,02 2,54 2,03
Min 0 0 0
Máx 9 9 7

CBCL A/D PB PHDA CTRL


Cotação Média 9,28 7,39 5,2
Mediana 8 7 4
DP 5,51 3,8 3,88
Min 2 2 0
Máx 20 15 14

CBCL Social PB PHDA CTRL


Cotação Média 4,28 4,7 1,84
Mediana 3 4 1
DP 3,51 2,88 2,25
Min 0 0 0
Máx 11 11 8

133
CBCL Pensamento PB PHDA CTRL
Cotação Média 3,14 2,17 0,48
Mediana 2 1 0
DP 2,93 2,06 0,82
Min 0 0 0
Máx 9 7 3

CBCL Atenção PB PHDA CTRL


Cotação Média 8,64 10,91 4,76
Mediana 9 11 4
DP 5,89 3,01 3,63
Min 0 6 0
Max 21 16 13

CBCL Delinquente PB PHDA CTRL


Cotação Média 4,21 4,1 1,64
Mediana 2,5 3 1
DP 4,39 3,41 1,32
Min 0 0 0
Máx 16 14 5

CBCL Agressivo PB PHDA CTRL


Cotação Média 9,79 13,01 5,48
Mediana 9,5 12 5
DP 6,71 8,26 4,52
Min 0 0 0
Máx 23 30 19
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

YSR Isolamento PB PHDA CTRL


Cotação Média 6,07 3,74 3,96
Mediana 5,5 4 4
DP 3,34 2,16 2,19
Min 2 0 0
Máx 13 9 9

YSR Somáticas PB PHDA CTRL


Cotação Média 3,857142857 1,913043478 1,92
Mediana 3 1 2
DP 3,759237706 2,043015674 1,605199884
Min 0 0 0
Máx 12 7 6

YSR A/D PB PHDA CTRL


Cotação Média 14,14285714 7,565217391 6,52
Mediana 13 7 7
DP 7,862835101 4,165072159 4,114203041
Min 3 0 1
Máx 27 16 19

YSR Social PB PHDA CTRL


Cotação Média 5,071428571 4,565217391 2,12
Mediana 5 4 2
DP 3,315796359 2,65990579 1,615549442
Min 0 0 0
Máx 10 10 5

135
YSR Pensamento PB PHDA CTRL
Cotação Média 4,642857143 2,173913043 0,8
Mediana 4 1 0
DP 3,586451918 2,870732784 1,040833
Min 0 0 0
Máx 12 12 4

YSR Atenção PB PHDA CTRL


Cotação Média 9,285714286 7,826086957 5,32
Mediana 9,5 7 5
DP 4,427685129 3,171638147 2,286190427
Min 3 2 1
Máx 16 15 9

YSR Delinquente PB PHDA CTRL


Cotação Média 5,857142857 3,739130435 2,04
Mediana 5,5 3 2
DP 3,231030863 2,83191858 1,098483804
Min 2 0 0
Máx 12 14 4

YSR Agressivo PB PHDA CTRL


Cotação Média 12,78571429 12,08695652 5,76
Mediana 11,5 11 6
DP 7,443929602 7,409533438 2,696911814
Min 3 2 0
Máx 27 31 13

Tabela a – Características descritivas da amostra nas onze escalas dos questionários CBCL e YSR.
CTRL – grupo controlo; DP – desvio padrão; PB – Perturbação Bipolar; PHDA – Perturbação de
Hiperactividade e Défice de Atenção.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

ANEXO 6
Análise de Dados
[Referidos na apresentação de resultados]

137
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

CBCL Total EXT A/D SOC PENS ATEN DEL AGR

Mann-Whitney U 160,0 138,5 134,0 142,0 138,0 114,5 148,5 135,5

Wilcoxon W 436,0 243,5 410,0 247,0 414,0 219,5 253,5 240,5

Z -0,031 -0,705 -0,849 -0,599 -0,735 -1,470 -0,395 -0,801

Asymp. Sig. (2-


0,975 0,481 0,396 0,549 0,462 0,142 0,693 0,423
tailed)
Exact Sig. [2*(1-
0,988 0,486 0,411 0,567 0,486 0,147 0,699 0,429
tailed Sig.)]

Tabela a – Teste de Mann-Whitney. Comparação dos resultados das escalas do questionário CBCL
dos sujeitos do grupo PHDA [N=23] e do grupo PB [N=14].
EXT – Externalização; A/D – Ansiedade/Depressão; SOC – Problemas Sociais; PENS – Problemas de
Pensamento; ATEN – Problemas de Atenção; DEL – Comportamento Delinquente; AGR –
Comportamento Agressivo.

YSR Total INT EXT A/D SOC PENS ATEN DEL AGR

Mann-Whitney
105,5 97,00 126,5 77,50 144,5 85,50 131,0 89,50 149,5
U

Wilcoxon W 381,5 373,0 402,5 353,5 420,5 361,5 407,0 365,5 425,5

Z -1,74 -2,01 -1,08 -2,62 -0,52 -2,397 -0,944 -2,27 -0,361

Asymp. Sig. (2-


0,082 0,045 0,279 0,009 0,603 0,017 0,345 0,023 0,718
tailed)
Exact Sig. [2*(1-
0,082 0,046 0,284 0,008 0,610 0,017 0,360 0,024 0,722
tailed Sig.)]

Tabela b – Teste de Mann-Whitney. Comparação dos resultados das escalas do questionário YSR
dos sujeitos do grupo PHDA [N=23] e do grupo PB [N=14].
INT – Internalização; EXT – Externalização; A/D – Ansiedade/Depressão; SOC – Problemas Sociais;
PENS – Problemas de Pensamento; ATEN – Problemas de Atenção; DEL – Comportamento
Delinquente; AGR – Comportamento Agressivo.

139
CBCL Total INT EXT ISOL SOM A/D SOC PENS ATEN DEL AGR

Mann-
4,500 10,50 1,000 11,00 12,50 9,500 15,50 4,500 5,500 5,500 2,000
Whitney U

Wilcoxon W 59,50 65,50 56,00 66,00 67,50 64,50 70,50 59,50 60,50 60,50 57,00

Z -2,20 -1,35 -2,69 -1,27 -1,07 -1,49 -0,646 -2,227 -2,055 -2,067 -2,563

Asymp. Sig.
0,028 0,176 0,007 0,199 0,283 0,136 0,518 0,026 0,040 0,039 0,010
(2-tailed)
Exact Sig.
[2*(1-tailed 0,024 0,188 0,004 0,240 0,304 0,142 0,539 0,024 0,036 0,036 0,008
Sig.)]

Tabela c – Teste de Mann-Whitney. Comparação dos resultados das onze escalas do questionário
CBCL dos sujeitos do grupo PB com comorbilidade [N=4] e sem comorbilidade [N=10].
INT – Internalização; EXT – Externalização; ISOL – Isolamento; SOM – Queixas Somáticas; A/D –
Ansiedade/Depressão; SOC – Problemas Sociais; PENS – Problemas de Pensamento; ATEN –
Problemas de Atenção; DEL – Comportamento Delinquente; AGR – Comportamento Agressivo.
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

ANEXO 7
Estatística descritiva das escalas dos sujeitos com alterações de
comportamento

141
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

CBCL Total PB PHDA


Cotação Média 71,75 68
Mediana 70,5 68
DP 7,274 1,414
Min 65 67
Máx 81 69

CBCL INT PB PHDA


Cotação Média 71 69
Mediana 73,5 69
DP 9,274 12,728
Min 58 60
Máx 79 78

CBCL EXT PB PHDA


Cotação Média 67 62,5
Mediana 65 62,5
DP 7,118 10,607
Min 61 55
Máx 77 70

CBCL Isolamento PB PHDA


Cotação Média 7,75 7,5
Mediana 7,5 7,5
DP 5,058 4,95
Min 2 4
Máx 14 11

CBCL Somáticas PB PHDA


Cotação Média 425 5
Mediana 4,5 5
DP 3,202 4,243
Min 1 2
Máx 7 8

143
CBCL A/D PB PHDA
Cotação Média 12,5 9
Mediana 13,5 9
DP 3,873 5,657
Min 7 5
Máx 16 13

CBCL Social PB PHDA


Cotação Média 5,25 7
Mediana 5 7
DP 4,5 1,414
Min 0 6
Máx 11 8

CBCL Pensamento PB PHDA


Cotação Média 5,75 2
Mediana 6 2
DP 2,872 0
Min 2 2
Máx 9 2

CBCL Atenção PB PHDA


Cotação Média 14,25 11,5
Mediana 13,5 11,5
DP 5,38 3,53
Min 9 9
Máx 21 14

CBCL Delinquente PB PHDA


Cotação Média 8 4,5
Mediana 6 4,5
DP 5,477 2,12
Min 4 3
Máx 16 6
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

CBCL Agressivo PB PHDA


Cotação Média 16,5 14,5
Mediana 15,5 14,5
DP 5,447 10,607
Min 12 7
Máx 23 22

YSR Total PB PHDA


Cotação Média 69,5 53
Mediana 71,5 53
DP 9,883 14,142
Min 56 43
Máx 79 63

YSR INT PB PHDA


Cotação Média 71,25 37
Mediana 72,5 37
DP 14,175 15,556
Min 54 26
Máx 86 48

YSR EXT PB PHDA


Cotação Média 69,25 61
Mediana 71,5 61
DP 8,302 18,385
Min 58 48
Máx 76 74

YSR Isolamento PB PHDA


Cotação Média 6,25 1,5
Mediana 4,5 1,5
DP 3,862 0,707
Min 4 1
Máx 12 2

145
YSR Somáticas PB PHDA
Cotação Média 6 0
Mediana 5 0
DP 4,546 0
Min 2 0
Máx 12 0

YSR A/D PB PHDA


Cotação Média 20 3
Mediana 21,5 3
DP 8,042 4,243
Min 10 0
Máx 27 6

YSR Social PB PHDA


Cotação Média 7 5,5
Mediana 7 5,5
DP 2,944 0,707
Min 4 5
Máx 10 6

YSR Pensamento PB PHDA


Cotação Média 5,5 1
Mediana 6 1
DP 1 1,41
Min 4 0
Máx 6 2

YSR Atenção PB PHDA


Cotação Média 12,5 11,5
Mediana 12,5 11,5
DP 2,38 4,95
Min 10 8
Máx 15 15
________________________________________________________________________Lia Vitória Ribeiro Moreira

YSR Delinquente PB PHDA


Cotação Média 9 4
Mediana 10,5 4
DP 4,24 1,41
Min 3 3
Máx 12 5

YSR Agressivo PB PHDA


Cotação Média 18,25 17
Mediana 19 17
DP 4,646 15,556
Min 12 6
Máx 23 28

Tabela d – Estatística descritiva da cotação das escalas dos sujeitos com alteração de
comportamento, de acordo com o grupo clínico: grupo PB (Perturbação Bipolar) [N= 4]; grupo PHDA
(Perturbação Hiperactividade e Défice de Atenção) [N= 2]. INT – Internalização; EXT – Externalização;
DP – Desvio Padrão.

147

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