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Querido,

Espero que goste do novo presente, fica muito bem em você. Dá ares mais
moderno e confiável. Não quero, com isso, dizer que alguma vez tenhas deixado-me em
apuros, ou que tuas eventuais ausências fossem culpa tua - sabemos que nunca foram
- ou que temo eu ser vista com um celular antiquado. Nunca serás antiquado, és o
único em que confio, o único que sempre esteve comigo, o único a consolar-me.
Temo por ti, pois temo por mim. Temo que meus frágeis dedos possam deixar-te
cair e lançar-te-iam rumo ao sujo e duro chão - ou coisa pior. Temo por molhar-te a
tela e que - Deus me livre - alguma gota de água penetre-lhe os circuitos,
deixando-o mudo, ou ...
Por gratidão, confio esta capa impermeável e emborrachada ao único que esteve
comigo nos momentos felizes - como quando recebi aquela feliz ligação chamando-me
para a vaga que tanto almejava, naquela agência de notícias que nós tanto amávamos
- e nos momentos não tão felizes - como naquela vez em que a agência demitiu-me por
não adotar um smartphone a fim de trabalhar de qualquer lugar. Não tiveram coragem
de dar as más notícias olhando-me nos olhos.
Agora sei que não te machucarei, mesmo nos dias chuvosos e sombrios. Mesmo
nos dias vermelhos.
Saiba que sempre serás meu grande amor. Meu favorito, mesmo contra meus
filhos, mesmo contra meu marido. O que me trás ao real motivo desta carta, Yoshi
Kawamura.
Não posso negar a triste realidade - e imagino que você já tenha notado - que
você e eu nunca teremos filhos. Nem posso negar ao tempo este seu direito ancestral
de passar, apodrecendo tudo o que existe, inclusive a mim.
Inclusive a ti.
Kawamura é um homem bom, e tu sabes disso. Tua última roupa foi presente do
homem a quem serei esposa, como bem sabes. Ele finalmente compreendeu -
parcialmente - o relacionamento que tenho com você. Apesar da vez em que sugeriu -
e foi recebido com grande protesto, como você mesmo presenciou - outro “mais novo”
no teu lugar. Naquela época conhecia-nos muito pouco. Hoje, creio eu, tal proposta
seria impensável.
Outra proposta, desta vez por minha mão, foi feita. E, para grande efeito,
não foi feita a mim. Kawamura pediu-me em casamento para meu pai, o que fez mamãe
muito feliz e acalmou a desconfiança natural que todo bom pai tem com relação aos
pretendentes de sua filha única.
Mas sabes disso, seguravas minha mão durante o pedido e sabes o quão nervosa
fiquei ao ouvir a fala desastrada de Kawamura. Confesso que meu sorriso, naquela
ocasião era parte lisonja, parte divertimento por conta da postura assustada de
Kawamura, que sempre me pareceu inabalável.
Kawamura, a parede, tremendo e corando de vergonha por mim. EU. Quem diria?
Eu nunca achei que alguém um dia viesse a encontrar tanto valor em mim. Fora
você, Kawamura é o único que realmente me trás conforto, e me alegro em notar que
trago algum a ele também.
Sei que queres que eu seja feliz. Prometo me esforçar no meu casamento e em
minhas novas obrigações como esposa.
Creio que após o pedido de Kawamura, que foi atendido pelo meu pai, minhas
obrigações com meu futuro esposo já começaram. Dentre elas apagar estas ternas
linhas.
Por mais que meus sentimentos por ti sejam verdadeiros, tenho um casamento a
honrar e até hoje nunca se ouviu falar em boa esposa que tivesse um caso com seu
celular.
Não que sejas apenas um caso, mas envergonha-me essa nossa situação. Não há
amiga com quem possa conversar pessoalmente sobre isto, apenas colegas anônimas em
fóruns de discussões em geral. Suspeito que muitas nem mesmo sejam garotas, sejam
apenas rapazes fantasiando-se de menininhas para terem material para mais tarde,
quando estiverem sozinhos.
Espero que estejam sozinhos, não logados.
Seria Kawamura um deles?
rs. Claro que não. Kawamura não é do tipo que infiltra-se em grupos de
fofoca. Talvez em vestiários.
Enfim, essa mensagem que digito agora será apagada tão logo estiver
concluída. Para nunca mais ser lida. Apesar disso, meu coração segue honesto e
minha alma inquieta, pois em aparências abandonar-te-ei.
Espero que não desista de mim, e saiba que enquanto estiver viva, levarei
você comigo. Acredite.

Com Amor, sua inconsolável e eternamente grata


Yui-chan

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