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Livro_Ayumi.

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Este texto fará parte do
livro “Ayumi”, que será lançado
em 2008, em comemoração ao
centenário da imigração japonesa.
Trata-se de uma obra de jornalismo
literário, sobre a história da imigração até
os dias atuais, sob o ponto de vista de
mulheres japonesas e descendentes.
Autores: Maristela Harada, Rodrigo
Rezende e Frederico Pimenta.

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Capítulo I

A chegada

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8 de junho de 1908. Aporta em Santos o navio a va-
por ‘Kasato Maru’. Nele, 781 imigrantes japoneses
trazem na bagagem poucos pertences e muita espe-
rança. Seu objetivo? Trabalhar, fazer fortuna e voltar ao
seu país natal. Seu destino? As fazendas de café do Estado
de São Paulo.
Duas décadas depois, no dia 29 de maio de 1930, Yasuko
Matsumoto – na época, Moriya – chega neste porto junto
com sua família: pai, mãe, uma irmã e dois irmãos. “Nos-
sa, a terra é vermelha”, se espantou a sra. Matsumoto.
Cheia de entusiasmo, ela não sabia que esta seria a menor
das diferenças que encontraria por aqui.
Seu pai, técnico de shoyu, não precisava vir ao nosso País.
Seu trabalho e a roça que tinham no Japão garantiam o
sustento da família. O que despertou o interesse do sr.
Takaiti Moriya foi a intensa propaganda a favor da imigra-
ção, veiculada pelo governo japonês.
“Lá todos diziam que havia no Brasil melancia e ovo em
tamanha abundância que todos podiam pegar. Nos cine-
mas, passava um anúncio que mostrava a fartura das man-
diocas”, conta a sra. Matsumoto. Seu pai, assim como to-
dos os outros imigrantes, acreditou que poderia ficar rico
vindo para cá.
A viagem de navio – um tormento para os adultos – era

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novidade para as crianças. A sra. Matsumoto, na época
com 10 anos, aproveitava para brincar e participar do Un-
dokai (espécie de gincana japonesa). Ela e os irmãos en-
cararam a viagem como algo muito divertido. “Mas minha
mãe não saia da cama por causa dos enjôos”, relembra.
Para quem adoecia, os cuidados eram precários. Quem fa-
lecia tinha como destino o mar. Os mortos eram embrulha-
dos e jogados sobre as ondas numa cerimônia budista.
Depois de todos os acontecimentos da longa viagem, os
imigrantes ainda mantinham vivas as chamas da esperan-
ça. Ao chegar ao nosso País, viram seus sonhos se transfor-
marem em frustração.

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Capítulo II

A sobrevivência

A
o aportar em Santos, Yasuko e sua família passa-
ram uma semana na casa para imigrantes, aguar-
dando o transporte para a fazenda. Após este pe-
ríodo, levou dois dias para chegar à fazenda Santa Rita,
próximo a Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, onde
permaneceu por mais três anos.
Trabalhava com enxada no cafezal, assim como seus ir-
mãos e seus pais. Eles tinham direito a casa, água e luz.
As roupas eram lavadas em local coletivo. Arroz e feijão
compunham suas refeições. Yasuko percebeu que para
comer as famosas mandiocas brasileiras, promovidas nos
cinemas japoneses, teria que cultivá-las.
“Me senti muito triste quando vi que não dava para ir à
escola, pois no Japão eu ia todos os dias. Também não
tinha brinquedo e a comida era muito diferente”, diz a
sra. Matsumoto.
A desilusão toma conta de todos os imigrantes. As pro-
messas do governo japonês de riquezas rápidas e trabalho
com fartura começam a se desintegrar. Na prática, o que
encontraram foi um trabalho semi-escravo, que os obriga-
va a se manterem nas fazendas que os acolheram.
Com um pagamento anual e familiar, os novos trabalha-
dores rurais – que substituíram os escravos negros nos ca-
fezais – eram obrigados a comprar fiado nas vendas das

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fazendas. Com uma dívida maior que o rendimento, não
havia saída senão trabalhar de graça.
A venda era a fiado e anotado em caderneta. Os preços
eram muito altos e abatidos do salário das famílias. O que
ganhavam quase não dava para pagar as compras, por isso
muitos imigrantes fugiam.
“A gente ajudava quem tinha que fugir. Eles se escondiam
no mato durante o dia para sair da fazenda à noite. Eu fazia
oniguiri (bolinho de arroz japonês) e levava escondido para
eles comerem”, conta a sra. Matsumoto.
Apesar das intempéries, os imigrantes se uniam e construí-
am fortes laços de amizade e cumplicidade. Foi na Fazenda
Santa Rita que Yasuko conheceu seu marido Kazumi Matsu-
moto, com quem ficou casada por 67 anos.
A família Matsumoto já estava há mais tempo na fazenda
Santa Rita e, dois anos após a chegada da família Moriya, foi
plantar algodão em Macuco, distrito de Sertãozinho, tam-
bém no interior de São Paulo. Com, o sucesso da cotonicul-
tura convidaram a família amiga para se juntar a eles. Yasuko
e sua família se mudaram, então, para Macuco, em 1933.
Quatro anos depois, os patriarcas das famílias Matsumoto e Mo-
riya acertaram o casamento entre Kazumi e Yasuko. Ele tinha 22
e ela 17. “Eu já o conhecia bem, pois estava acostumada a brin-
car e conviver com ele, mas não sentia nada. Como meu pai
falou que era para eu casar, eu casei”, conta a sra. Matsumoto.
Depois do casamento, eles foram morar na casa da fa-
mília Matsumoto. “Minha sogra era como mãe, ensinava
a cozinhar, costurar, fazer pão e lavar roupa”, diz a sra.
Matsumoto. A vida era boa, mas dura.

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Capítulo III

A integração

A
comunicação não tinha um centésimo da agilidade
que tem hoje. O acesso precário à informação, em
tempo real ou tardio, fez com que os nikkeis se di-
vidissem entre os que acreditavam na vitória do Japão na
Segunda Guerra Mundial e os que aceitaram a derrota.
O racha trouxe também uma divisão de desejos e objeti-
vos. Os “vitoriosos” almejavam o retorno à terra natal, e
os que se conformaram com a derrota passaram a buscar
uma integração com o país onde moravam.
Em 1941, Yasuko e Kazumi Matsumoto foram para a cida-
de de Álvares Machado, no interior de São Paulo, cultivar
café num sítio que conseguiram comprar. Por três anos,
eles moraram numa casa de madeira com os filhos Alberto
Sadao e Célia Midori, na época com 7 e 3 anos, respecti-
vamente, além do recém-nascido Fernando Massumi.
Enquanto isso, os irmãos e pais de Kazumi Matsumoto se
estabeleciam em Presidente Bernardes, também no inte-
rior paulista, próximo à fronteira com o Mato Grosso do
Sul, tocando uma loja de secos e molhados. O bom an-
damento dos negócios levou Yasuko e Kazumi a viverem
novamente no seio da grande família.
Quatro casais e nove crianças viviam na mesma casa. As
tarefas eram divididas. Enquanto alguns cuidavam da loja,
outros deveriam manter a casa. “Eu lavava roupa e cozi-

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nhava para todos. Essa era minha função na divisão de
tarefas”, diz a sra. Matsumoto.
Uma oportunidade de progredir separou a grande família
novamente. O caçula dos Matsumoto partiu para Adaman-
tina com sua família a fim de beneficiar café e arroz. Foi a
época da “Máquina”, como eles denominavam o negócio
em alusão à máquina de beneficiamento. A sra. e o sr. Ka-
zumi Matsumoto permaneceram em Presidente Bernardes
com os filhos e abriram um “bar-sorveteria” no quintal da
casa alugada onde moravam.
Lá nasceu sua segunda filha, Felícia Ayako, em 1946. Três
anos depois, a terceira, Neuza Itsue. Nesta gravidez, Ya-
suko sofreu com a separação do marido, que foi a São
Paulo realizar uma cirurgia no estômago, no Hospital São
Paulo. Sem poder acompanhá-lo, ela esperava ansiosa
com esperança e orando pelo seu retorno. Foi neste pe-
ríodo que o casal vendeu o bar e conseguiu sua primeira
casa própria. Tudo à custa de muito trabalho.
A sra. Matsumoto conta que quando ficava grávida, tinha
muitos enjôos, mas não podia descansar. Após os partos,
logo ia trabalhar, além de cuidar dos outros filhos, ainda
pequenos. Os bebês não eram estimulados como hoje.
Eram deixados quietinhos o maior tempo possível, pois
não havia tempo para cuidar deles com exclusividade.
“Meus sete filhos nasceram em casa, de parteira. Nunca
fui ao médico”, afirma.
Na frente da casa própria, abriram um negócio de secos e
molhados. Atrás seria a moradia da família. Porém, a de-
mora do antigo morador em desocupar o imóvel obrigou
Yasuko e Kazumi a buscarem um novo lar.

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A nova casa era pequena e de madeira. Com apenas dois
quartos e afastada da cidade. O casal e seus cinco filhos
viveram lá por dois anos. As crianças não sentiram as difi-
culdades. O riozinho próximo à casa já era suficiente para
garantir a diversão.
Depois de finalmente conseguirem se mudar para a casa nos
fundos da loja, Kazumi se desfez do imóvel e adquiriu a casa
onde tinham o “bar-sorveteria”, abrindo-o novamente.
Foi lá que nasceu a quarta filha, Líria Yuri, em 1953. O
dinheiro que ganhavam não era muito, mas dava para o
sustento. A oportunidade de melhorar essa receita levou o
casal e seus filhos novamente para a grande família.
O progresso da “Máquina”, fez com que Matian (irmão
mais novo de Kazumi) convidasse ele e sua família a
abrirem, em sociedade, uma filial em Irapuru, no interior
de São Paulo. Lá nasceu seu último filho, Newton Kiochi,
em 1960.

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Capítulo IV

A miscigenação

I
nfelizmente, na década de 60 a colheita de café dimi-
nuiu consideravelmente e a filial dos Matsumoto em
Irapuru foi fechada. Em 1963 foram todos novamente
para Adamantina, porém cada família em sua casa.
Com muita gente para pouco negócio, a sociedade foi
desfeita. Yasuko, Kazumi e sua família voltaram a sub-
sistir da agricultura, com um pequeno rebanho de gado,
que ficava numa fazenda da região (parte de Kazumi na
desconstituição da sociedade).
Na década de 70, Kazumi viajava para a fazenda para
cuidar de gado e lá precisa permanecer por três ou
quatro dias. No seu retorno à cidade para o reencon-
tro com a família, o destino era sempre o mesmo:
o hospital.
“Desse jeito vai acabar a vida”, a sra. Matsumoto falava
para o marido. Foi então que decidiram vender a fazenda
de 200 alqueres e o gado. Com o dinheiro, comparam
uma casa em São Paulo e se mudaram em 1977.
A esta altura, todos os filhos, exceto os mais novos,
Newton e Liria, estavam casados. O casal já tinha netos,
nove no total. Seus filhos já estavam todos formados.
“Tivemos uma vida muito pobre, mas conseguimos criar e
educar nossos sete filhos, conta a sra. Matsumoto. “Todos
formados”, se orgulha. Os mais velhos foram se formando

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e ajudando os irmãos. O resultado? Um economista, três
engenheiros, duas professoras e uma advogada.
Em 1981, Yasuko e Kazumi Matsumoto voltaram ao Ja-
pão, mas apenas para visitar. “Reencontrei minhas co-
legas de escola quase todas viúvas por causa da guerra.
A casa onde nasci estava com a minha tia e tinha sido
reformada”, relembra.
Vinte dias após o retorno do casal ao Brasil, Sadao, o fi-
lho mais velho, teve um derrame e faleceu. “Nunca mais
quis lembrar do Japão, não quero mais voltar lá”, diz a
sra. Matsumoto.

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Capítulo V

A influência mútua

A
pesar de terem se casado por obrigação, um gran-
de amor foi construído e fundou uma sólida famí-
lia. Yasuko e Kazumi tinham um cotidiano repleto
de trabalho, idas e vindas e muitas brigas. “Nossa, que
vida mais comprida”, exclama a sra. Matsumoto.
Ao contrário da tradicional esposa japonesa, e muito
influenciada pela cultura brasileira (um caldeirão de
valores e atitudes, advindos de diversos povos), Yasuko
sempre batalhou pelo seu ponto de vista. Graças a essa
“rebeldia”, todas as filhas puderam morar sozinhas em
São Paulo e estudar.
Mesmo com as diferenças de ponto de vista, que leva-
vam às características discussões do casal, o casamento
deu certo. Teimosia foi o segredo na visão de Kazumi.
Para Yasuko, a paciência. Até nisso eles discordavam.
A separação veio no dia 19 de agosto de 2002, quando
Kazumi Matsumoto faleceu e deixou menor o coração
de cada um de sua grande família: dois filhos, três noras,
quatro filhas, quatro genros, 21 netos, 11 netos adotivos
(os esposos e esposas dos netos) e 11 bisnetos.
“Fui pega de surpresa apesar de saber que ele não estava
bem e de ver sua doença progredir. Não pensava que ele
iria morrer. Só queria que ele vivesse. Em seus últimos dias
no hospital eu falei para ele ‘– Ditian (avô em japonês),
você tem que ficar bom logo e voltar para casa, aqui no

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hospital não dá para ficar’. Eu não perdia a esperança. De
repente, ele morreu e eu fiquei igual boba, não pensava
nem sentia nada”, conta a sra. Matsumoto.
Yasuko cuidou da passagem de Kazumi de acordo com
os rituais budistas. O apoio de sua enorme família trouxe
força para continuar sua história. “Essa família é muito
importante, o mais importante em minha vida”, afirma.

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Capítulo VI

O futuro

H
oje, com todos os cuidados da sua enorme fa-
mília, a sra. Matsumoto está feliz. Reza todos os
dias pela manhã, faz crochê e tricô, e assiste às
novelas japonesas. Ela mora em Mogi Mirim, em São Pau-
lo, junto com o caçula Newton, sua esposa e seus filhos.
Para não pensar nas coisas tristes – tendência natural dos
idosos, segundo ela –, se dedica ao haiku (poesia japone-
sa). Essa dedicação resultou neste livro (Kan beni – Vaida-
de Feminina). Por ter pouca escolaridade, o haiku exige
muito esforço da sra. Matsumoto.
“Não tenho saudades do passado, prefiro o hoje. Agora
está tudo bem”.

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