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Advogada. Especialista em Direito Civil e Processo Civil pelo Centro Universitário Curitiba.
Especialista em Direito Empresarial pela Universidade Estadual de Londrina. Graduada em Direito
pela Faculdade do Norte Novo de Apucarana. Economista. Especialista em Projetos Empresariais
pela Universidade Federal do Paraná. Graduada em Ciências Econômicas pela Faculdade Estadual de
Ciências Econômicas de Apucarana.
250 Doutrina Nacional
activities of enterprises. The economic model introduced in art. 170 enshrines the principle of
free enterprise as the foundation of building the economic order, however, that Article limits
the business activity to instruct the implementation of mandatory social goals. The proposed
research is to analyze the implications of the impact of the principle of social function on
the performance of business activities in the primary role of generating wealth, production
and circulation of goods and services in the democratic state of law. Unfavorable conditions
are observed in the performance of national firms to compete with other economies from
protectionist or uncommitted to the dictates of social justice. Reflects on politics of incentives
to promote the consolidate and sustainability of businesses, in actual globalized environment,
they are so essential to achieve the fundamental goals of building more just society with
economic development.
SUMMARY: Introduction; 1 State of the liberal democratic state; 2 The free enterprise in
economic order; 3 The economic development; 4 The free enterprise and economic development;
5 The free enterprise and business activities; 6 Limitations to freedom initiative; 7 The
impact of social function in corporate activities; 8 Globalization and business activities;
9 Strengthening and sustainability of business; Conclusion; References.
INTRODUÇÃO
A
atuação das empresas gera a principal fonte econômica do País,
tem papel preponderante na criação de postos de trabalho e no
fortalecimento do poder do Estado, tanto no prover recursos para
suas funções, por meio do recolhimento dos tributos, quanto na autonomia
produtiva.
A livre iniciativa e os valores sociais estão definidos no Texto Constitucional
como princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito. A livre
iniciativa expressa o direito de explorar as atividades econômicas, sendo que,
as empresas são as principais responsáveis pelo ciclo de desenvolvimento
econômico do País.
Revista da AJURIS – v. 40 – n. 129 – Março 2013
A LIVRE INICIATIVA E O PRINCÍPIO... 251
ilustres filósofos políticos como Quesnay, Adam Smith, David Ricardo, entre
outros.
A teoria econômica liberal fundamentava-se no entendimento de que
haveria eficiência no equilíbrio das forças do mercado em propiciar o pleno
desenvolvimento das atividades econômicas tornando inócua a participação do
Estado. Ao Estado caberia a função de promover a justiça, a saúde e segurança,
e ao mercado, as decisões sobre as questões essenciais da economia.
No âmbito do pensamento político de John Locke, Montesquieu,
Rousseau, tiveram contribuições na teoria tripartida dos poderes que tentava
evitar a concentração de poderes nas mãos de uma só autoridade. O poder não
se concentrava nas pessoas, e sim nas leis.
Os liberalismos econômico e político possibilitaram o surgimento do
Estado Constitucional, e, com as Constituições escritas, o povo passou a ser
titular do poder político. A ação do poder foi limitada pela lei, fruto da vontade
geral, os direitos fundamentais para todos os indivíduos foram reconhecidos e
o princípio da separação do poder serviu como limitador do poder político que
deixou de ser absoluto.
O Estado Liberal produziu desigualdades e contradições sociais, na
opinião de alguns autores, por assentar-se nos valores do individualismo egoísta.
Como consequência, viu surgir teorias sociais que influenciaram a superação
do modelo liberal, e buscava uma nova compreensão de um dos pilares do
liberalismo capitalista.
As desigualdades e o descontentamento levaram o Estado a intervir, a
conduzir no âmbito econômico e social com novos instrumentos adaptados à
nova realidade. Com a Primeira Guerra Mundial o Estado foi chamado a tomar
providência para garantir a coesão econômica e social.
A Revolução Russa e as influências do socialismo utópico e científico,
do comunismo e anarquismo diminuíram a resistência da transição do Estado
Liberal para o Social.
O Estado Social de Direito não pode ser confundindo com o Estado
Socialista, que é baseado na coletividade dos meios de produção e na centralização
das decisões sobre as atividades econômicas, em uma economia planificada.
O socialismo é oposição frontal ao liberalismo, para tanto, propõe a
supressão da iniciativa privada baseada na liberdade, em uma intervenção estatal
direta buscando alcançar o maior número de questões possíveis. O socialismo
2
TAVARES, André Ramos. Direito constitucional econômico. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Método, 2006.
p. 41.
3
MATIAS, João Luis Nogueira (Coord.). Neoconstitucionalismo e direitos fundamentais. São Paulo: Atlas,
2009. p. 145.
4
LOPES, Ana Frazão de Azevedo. Empresa e propriedade: função social e abuso de poder econômico. São
Paulo: Quartier Latin, 2006. p. 223.
5
MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zélia Maria Neves. Antropologia: uma introdução. 5. ed.
São Paulo: Atlas, 2001. p. 50.
6
HORTA, Raul Machado. Direito constitucional. 4. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 252.
7
PETTER, Lafayete Josué. Princípios constitucionais da ordem econômica. O significado e o alcance do art.
170 da constituição federal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 164.
8
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 39.
3 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
O desenvolvimento do Estado passa prioritariamente pelo desenvolvimento
do homem, de seu cidadão, de seus direitos fundamentais, que concorrem com
o desenvolvimento das liberdades fundamentais. O desenvolvimento nacional é
um dos importantes valores contidos na Constituição Federal, especialmente, o
desenvolvimento econômico e social.
O preâmbulo do texto constitucional, que faz referência à instituição
de um Estado Democrático de Direito, é destinado a assegurar, dentre outras
questões o desenvolvimento. Nesse sentido, o art. 3º, estabelece como objetivos
da República Federativa do Brasil, o desenvolvimento nacional, a construção
de uma sociedade livre, justa e solidária, a erradicação da pobreza, da
marginalização, redução das desigualdades sociais e regionais, bem como a
promoção do bem de todos sem quaisquer formas de discriminação.
A construção de uma sociedade livre, justa, solidária, com a erradicação
da pobreza e marginalização, oportunidades para todos sem discriminação
pode se traduzir em desenvolvimento. Desenvolvimento econômico nacional,
um dos objetivos fundamentais, distingue-se de crescimento econômico.
Crescimento econômico constitui um processo por meio do qual a produção de
uma determinada sociedade se eleva, refere-se à expansão da produção do País,
à crescente quantidade de bens e serviços produzidos e colocados no mercado à
disposição da sociedade.
Por sua vez, desenvolvimento econômico implica no aumento quantitativo
e qualitativo da produção, na participação harmônica dos fatores produtivos,
9
SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Cia. das Letras, 2000. p. 37.
direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da
segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei”.
15
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 13.
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18
COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 16. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 27.
19
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Constitucionalismo do direito civil. Jus Navigandi, Terezinha, n. 33, jul. 1999.
p. 3. Disponível em: <http//www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=507>. Acesso em: 29 jul. 2010.
criam riquezas e utilidades, são disciplinadas pelo direito e pela economia. São
criações de iniciativa econômica reguladas pelo direito25.
As atividades empresariais são reguladas por normas jurídicas do direito
empresarial, civil, econômico, trabalhista, tributário, para exercer o papel de
produzir bens e serviços, gerar empregos e contribuir com a arrecadação de
tributos. A liberdade de iniciativa exerce função limitadora na complexa textura
negocial, influencia e orienta o desempenho das atividades empresariais no
ambiente econômico, jurídico e social.
Os princípios gerais da atividade econômica, contidos nos arts. 170 e
seguintes da Constituição brasileira de 1988, demonstram que o conteúdo
conceitual, a natureza, as finalidades dos institutos básicos do direito civil,
como a propriedade, o contrato e a empresa devem observar a existência digna,
conforme os ditames da justiça social.
Ao tratar de matéria de direito civil, a Constituição de 1988, pela
superveniência hierárquica do Texto Constitucional às outras normas, reflete
como um facho de luz, fonte de iluminação para todo o sistema26.
Nesse sentido, o diploma do direito civil, sob a égide da Constituição
Federal de 1988, tem uma elaboração mais voltada à realidade social: é a
socialização do direito privado, representado pela prevalência dos valores
coletivos sobre os individuais, considerando a pessoa humana como o valor
supremo. Assim, as atividades empresariais devem ser norteadas pela incidência
do princípio constitucional da justiça social nas relações jurídicas empresariais
em que decorrem múltiplos direitos e obrigações.
O art. 170 da Constituição Federal, segundo Jussara Suzi Assis Borges
Nasser Ferreira, estabelece uma ordem econômica e financeira socializada,
alcançando três das vigas estruturais que fazem a sustentação do direito
privado, nessa perspectiva: o contrato, a empresa e a propriedade27. O princípio
da função social determina que os interesses individuais devem ser exercidos
em conformidade com os interesses sociais.
25
FERREIRA, Jussara Suzi Assis Borges Nasser. Funcionalização do direito privado e função social. In:
Direito empresarial contemporâneo. São Paulo: Arte e Ciência, 2007. p. 96.
26
FILOMENO, José Geraldo Brito; WAGNER JUNIOR, Luiz Guilherme da Costa; GONÇALVES, Renato
Afonso (Coord.). O código civil e sua interdisciplinaridade: os reflexos do código civil nos demais ramos
do direito. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p. 352.
27
FERREIRA, Jussara Suzi Assis Borges Nasser. Funcionalização do direito privado e função social. In:
Op. cit., p. 94.
28
FONSECA, Rodrigo Garcia da. A função social do contrato e o alcance do artigo 421 do código civil. Rio de
Janeiro: Renovar, 2007, p.79.
29
FERREIRA, Jussara Suzi Assis Borges Nasser. Funcionalização do direito privado e função social. In:
Op. cit., p. 93.
30
LOPES, Ana Frazão de Azevedo. Op. cit., p. 121-123.
37
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Op. cit., p. 1.
Revista da AJURIS – v. 40 – n. 129 – Março 2013
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40
LACERDA, Antônio Correa de (Org.). O impacto da globalização na economia brasileira. São Paulo:
Contexto, 2000. p. 54.
41
STIGLITZ, Joseph. Globalização: como dar certo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 133.
CONCLUSÃO
A dimensão econômica produtiva da cidadania encontra, na livre
iniciativa, o meio para participar da economia, respeitando os valores sociais do
trabalho e compatibilizando fatores produtivos com a justiça social.
A iniciativa privada propicia a disponibilidade no mercado dos bens e
serviços indispensáveis à satisfação das necessidades da sociedade, se não
houvesse um regime jurídico específico para a exploração econômica, a liberdade
de iniciativa, toda a cadeia produtiva estaria prejudicada.
A livre iniciativa e a função social são princípios instituídos pela ordem
econômica, influenciam o desempenho das atividades empresariais, interferindo
nos fatos que revelam um novo modo de ser econômico da sociedade. A função
social delineia a iniciativa do empreendedor no sentido de nortear as ações
para o bem de todos, nunca no sentido de cercear a força interna que move
as atividades econômicas no desempenho da função própria do empresário
empreendedor.
A valorização do trabalho humano, por meio de melhores remunerações,
com ambiente de trabalho adequado e permitindo o crescimento e realização
pessoal, em curto prazo, sob a incidência da função social, da funcionalidade nas
atividades empresariais, onera o custo de transação, mas, a médio e longo prazo,
reverte em resultado para o empreendedor e para toda a sociedade. Assim sendo,
com o decorrer do tempo, haverá a concretização da melhoria na qualidade de
vida em sociedade. Assim, a função social incidindo na propriedade, em contratos
e na empresa, eleva os custos de transação, que devem ser compensados não
somente na harmonia de uma sociedade mais justa e solidária, mas no próprio
desenvolvimento.
43
GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988: interpretação e crítica. 9. ed. rev. e
atual. São Paulo: Malheiros, 2004. p. 30.
REFERÊNCIAS
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constitucional. 6. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2002.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva,
2003.
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Paulo: Companhia das Letras, 2006.
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FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 29. ed. rev. e atual.
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do código civil nos demais ramos do direito. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.
FONSECA, Rodrigo Garcia da. A função social do contrato e o alcance do art. 421 do código
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código civil. Barueri/SP: Manole, 2003.
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