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Denise Durante
University of São Paulo
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São Paulo
2017
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS
São Paulo
2017
DEDICATÓRIA
The main purpose of the postdoctoral research addressed in this report was the
development of a theoretical review on Koch and Oesterreicher's model for language
of communicative immediacy and language of communicative distance (1985; 1990).
The aim was to compare this theoretical model with the works of other researchers
who considered that there is a continuum between speech and writing, such as
Tannen (1985) and Biber (1988). The research was also focused on the works of
Marcuschi (2004) and Urbano (2006; 2011; 2013) insofar as these authors
approached in their research the theoretical model by the aforementioned German
researchers. We analyzed the communicative parameters of the conception
continuum described by Koch and Öesterreicher and possible limits imposed by the
medium (phonic or graphic) on textual conception which are indicated by
Maingueneau (2002) from the perspective of Discourse Analysis. Koch and
Öesterreicher identify ten communicative conditions or parameters, which are
compared in our research with the ideas presented by Parisi and Castelfranchi
(1977). Our work is based on theoretical and qualitative research methods. We
developed a descriptive and explanatory analysis, based on bibliographic research.
The theoretical bases of our research are the Conversational Analysis concepts
about the relations between speech and writing. We focused on the book Lengua
hablada en la Romania: español, francés, italiano (2007), in which Koch and
Öesterreicher exposed their theoretical model about communicative immediacy and
communicative distance. As a main result of this research, we observed that one
limitation of the communicative immediacy and distance theoretical model may the
disregard of influences between the medium and/or media on the conception of
messages.
1. Introdução e justificativas
1
O artigo já havia sido publicado em inglês com o título “Language of Immediacy – language of
distance: orality and literacy from the perspective of language theory and linguistic history”, no livro
Communicative Spaces: Variation, Contact, and Change. Papers in Honour of Ursula Schaefer
(Francoforte do Meno: Peter Lang, 2012, pp. 441-473).
13
2
Todas as citações em língua estrangeira incluídas neste trabalho foram por nós traduzidas,
conforme a primeira citação que a seguir apresentamos: “Em síntese, este autor [Öesterreicher] nos
proporciona a evidência de que alguns pesquisadores europeus já haviam se interessado pelas
relações entre o oral e o escrito, haviam percebido a existência do continuum e os casos de
transferência, por exemplo, Nencioni, em 1976, Ochs, em 1979, Tannen, em 1980, Koch e Chafe, em
1985, Biber, em 1988 (todos citados por Öesterreicher, 1998: 318 e seguintes). Isso indica que os
estudos da oralidade versus a escrituralidade não são tão recentes na Europa, ainda que suas
contribuições mais relevantes tenham sido conhecidas tardiamente, na língua espanhola. E na
Espanha as contribuições mais importantes se devem ao grupo VaLesCo, da Universidade de
Valência, dirigido por Antonio Briz (cf. Briz 1995, 1997 e 1998)” (MOSTACERO, 2004, p. 72).
14
3
“Este livro possui apenas um defeito: por estar escrito em alemão, ele não será lido nem pelos
franceses, nem pelos italianos, nem pelos espanhóis (SERENA, 1992, p. 261).” Tradução nossa.
15
4
Sobre o estudo do português falado, Koch e Öesterreicher fazem referência ao trabalho de Brauer-
Figueiredo, intitulado Gesprochenes Portugiesisch (Frankfurt a.M.: Teo Ferrer de Mesquita, 1999).
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3. Metodologia
4. Discussão e resultados
Saussure aponta como uma das causas do predomínio da escrita sobre a fala
o fato de as impressões visuais serem “mais nítidas e mais duradouras” do que as
impressões acústicas para os indivíduos: “[...] a imagem gráfica acaba por impor-se
à custa do som” (op. cit., p. 35). Além disso, o prestígio da linguagem literária e as
diferenças entre a língua e a ortografia contribuíram, no entender do fundador da
Linguística moderna, para uma equivocada importância atribuída à escrita. Sendo
assim, no Curso de Linguística Geral se reitera a necessidade do estudo direto de
registros da fala:
21
Ong aponta para o fato de que pode haver sociedades de cultura oral, sem
manifestação da escrita. Entretanto, não há escrita sem oralidade: “A escrita nunca
pode prescindir da oralidade” (1998, p. 16), afirma o autor. Por conseguinte, o
próprio conhecimento sobre a escrita decorre do conhecimento sobre a fala. Esse
22
aspecto, por sua vez, nos conduz à questão: quais podem ser as interferências da
escrita nos processos de mudança da comunicação oral? Sobre esse tema, Ong
explica: “O pensamento e a fala parcimoniosamente lineares constituem uma criação
artificial, construída pela tecnologia da escrita” (1998, p. 51). Questões como essa
colocam em evidência a limitação de se abordar a linguagem verbal considerando-
se exclusivamente a escrita como objeto de análise.
Biber (1988, p. 6) reflete sobre a valorização social da escrita em relação à
fala e explica que as crianças estudam inglês nas escolas norte-americanas, com a
exigência da produção de composições escritas e o conhecimento sobre as regras
da gramática prescritiva para a escrita, mas não aprendem sobre o discurso oral.
Ainda no contexto norte-americano da década de 1980, Biber aponta as críticas
recebidas por crianças imigrantes por não saberem “inglês”, ainda que possuíssem
fluência para desenvolver uma conversação. Não saber “inglês”, nesse caso,
significa o fato de essas crianças não serem “letradas” em língua inglesa. Observa-
se, portanto, que, nas culturas letradas, é possível dizer, no âmbito do senso
comum, que um indivíduo não conhece a língua na medida em que não conhece as
estratégias discursivas específicas da comunicação escrita, ainda que esse mesmo
indivíduo domine com eficiência as estratégias discursivas da comunicação oral.
Conforme afirma Biber: “[...] although speech is claimed to have linguistic primacy,
writing is given social priority by most adults in Western cultures” (1988, p. 7)5.
Parisi e Castelfranchi, em artigo de 1977, afirmavam que as teorias da
linguagem e as gramáticas são fundamentalmente teorias da língua escrita,
desenvolvidas sem a consciência dessa limitação e cujos conceitos são aplicados
com distorções à língua falada. Isso nos remete à ideia de que, até hoje, os usos da
língua escrita que seguem o padrão da gramática prescritiva tendem a ser
considerados por muitos como um modelo ideal e de “correção” para os usos da
expressão oral, ignorando-se, portanto, as especificidades de cada modalidade de
emprego da língua.
Ao abordar o chamado “escritismo”, Sieberg afirma que a “cultura da escrita”
conduziu à desvalorização da fala como objeto de estudo:
5
“[...] embora se considere a primazia linguística da fala, muitos adultos nas culturas ocidentais dão
prioridade social à escrita” (1988, p. 7). Tradução nossa.
23
6
“A língua escrita se baseia certamente em um sistema de transcrição da língua falada e isso é
inevitável, na medida em que a língua falada, como capacidade, é adquirida antes da língua escrita,
mas limitar-se a considerar essa relação e, portanto, a simples diferença do meio físico usado,
significa ignorar a natureza efetiva da língua escrita e, sobretudo, como veremos adiante, da língua
falada. Na verdade, a maneira correta de considerar língua falada e língua escrita é vê-las como dois
diferentes modos de comunicar em sentido global, isto é, como dois diferentes modos de vida
individual e social” (PARISI; CASTELFRANCHI, 1977, p. 170). Tradução nossa.
25
7
“Considerando o escrever como uma simples transcrição do falar, o professor se assusta com o fato
de que os estudantes ‘não saibam escrever’. Eles não sabem escrever porque se limitam a
transcrever no papel a sua língua falada, ou porque procuram de modo desajeitado imitar modelos de
língua escrita que ninguém analisou ou explicou-lhes. Na realidade, ninguém os ensinou a escrever;
com certeza não o professor que, ignorando as profundas diferenças entre o falar e o escrever e, em
particular, as características específicas do escrever, nunca pôde voltar sua atenção e sua ação
pedagógica para essas características específicas” (1977, p. 171). Tradução nossa.
26
8
“Gostaríamos de concluir compartilhando com o leitor a convicção – que acreditamos poder ser
inferida com o que foi exposto ao longo do livro – que o indivíduo adulto, consciente de si mesmo, só
pode ser concebido como um sujeito capaz de explorar o caudal da riqueza expressiva oferecido a
ele por meio do conjunto de possibilidades linguísticas que se abrem ao longo do continuum entre a
imediatez e a distância (KOCH; ÖESTERREICHER, 2007 [1990], p. 379).” Tradução nossa.
27
9
Sobre a comunicação via Internet, vale citarmos o que afirma Urbano: “[...] na Internet, o usuário
tecnologicamente ‘escreve’, mas conceitualmente ‘fala’, o que implica dois tipos de atividade, que
naturalmente se embaralham, com as naturais consequências de um baralhamento” (2002, p. 74).
10
“Estudos anteriores sobre as linguagens falada e escrita normalmente compararam a conversação
com a prosa expositiva (ou ‘letramento ensaístico’ [Olson]). Esses gêneros não foram o foco desse
tipo de pesquisa por acaso. Há algo de tipicamente falado na conversação e algo de tipicamente
escrito na prosa expositiva. Mas, ao limitarmos nossa análise a esses gêneros, tendemos a obter
conclusões incorretas sobre as linguagens falada e escrita. Por exemplo, contrariamente ao que a
comparação entre esses gêneros sugere, estratégias normalmente associadas com o discurso falado
podem ser e são utilizadas na escrita, assim como estratégias normalmente associadas com a
linguagem escrita são igualmente utilizadas na fala” (TANNEN, 1983, p. 80). Tradução nossa.
29
11
“Um ponto importantíssimo, que precisa ser esclarecido em relação à figura 1, é o fato de que a
linha divisória contínua entre o meio fônico e gráfico representa uma disjunção, ou seja, uma
DICOTOMIA estrita. A linha divisória descontínua indica, pelo contrário, que a relação entre o falado e
o escrito só pode ser concebida como um CONTÍNUO entre as manifestações extremas da
concepção (cf. 2.3 e a figura 2)” (KOCH; ÖESTERREICHER, 2007 [1990], p. 21). Tradução nossa.
12
Como explicamos inicialmente, o artigo “Linguagem da imediatez – linguagem da distância:
oralidade e escrituralidade entre a teoria da linguagem e a história da língua” foi traduzido por Urbano
e Caldas. A tradução do artigo foi parte da monografia de final de curso do mestrando Raoni Caldas
na disciplina “A oralidade na escrita”, ministrada pelo Professor Doutor Hudinilson Urbano, na
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo, em 2011.
Tivemos acesso a essa monografia por meio de Urbano e nela constam comentários de Caldas à
tradução do texto em língua alemã. São apresentadas explicações sobre as escolhas dos termos
utilizados na versão em português, com a indicação das palavras e expressões correspondentes em
alemão. Sendo assim, inserimos, neste trabalho, algumas informações sobre os termos alemães com
base nos dados oferecidos por Caldas na referida monografia.
13
“Naturalmente, com este esquema quadripartido (fig. 1) não se postula em absoluto a plena
equivalência das quatro possibilidades que oferece a combinação meio e concepção. Obviamente,
são indiscutíveis as afinidades, ou seja, as relações de preferência que se dão, respectivamnete,
entre falado e fônico, de um lado (por ex., uma conversação privada) assim como entre escrito e
gráfico (por ex., um artigo de jornal), de outro lado. Não obstante, existem, assim mesmo, como é
evidente, as combinações escrito + fônico (por ex., um discurso de abertura) e falado + gráfico (por
ex., uma carta privada). Sendo assim, o princípio imperante é que todas as formas de expressão
independentemente de sua concepção, podem ser transferidas desde sua realização medial típica ao
outro meio” (KOCH; ÖESTERREICHER, 1990, p. 21). Tradução nossa.
31
14
O termo latino origo (“origem”), utilizado em Lengua hablada en la Romania: español, francés,
italiano (1997), se refere às dêixis pessoal, espacial e temporal. Conforme explica Suadoni (2016, p.
27), o termo origo foi introduzido na linguística por Bühler (1934) e, conforme comenta a autora, se
pode resumir com a fórmula ego, hic, nunc (eu, aqui, agora). Koch e Öesterreicher incluem uma
referência a Bühler logo após utilizarem a expressão “origo del hablante” (origo do falante), no seu
texto em espanhol.
33
15
Consideramos útil apresentar, a seguir, os parâmetros conforme constam no texto original em
alemão: “a) der Grad der Öffentlichkeit, für den die Zahl der Rezipienten (vom Zweiergespräch bis
hin zur Massenkommunikation) sowie die Existenz und Größe eines Publikums relevant ist; b) der
Grad der Vertrautheit der Partner, der von der vorgängigen gemeinsamen
Kommunikationserfahrung, dem gemeinsamen Wissen, dem Ausmaß an Institutionalisierung der
Kommunikation etc. abhängt.; c) der Grad der emotionalen Beteiligung, die sich auf den/die Partner
(Affektivität) und/oder auf den Kommunikationsgegenstand (Expressivität) richten kann; d) der Grad
der Situations- und Handlungseinbindung von Kommunikationsakten; e) der Referenzbezug, bei
dem entscheidend ist, wie nahe die bezeichneten Gegenstände und Personen der Sprecher-origo
(ego-hic-nunc) sind (cf. Bühler 1965, 102ss.); f) die physische Nähe der Kommunikationspartner
(face-to-face- Kommunikation) vs. physische Distanz in räumlicher und zeitlicher Hinsicht; g) der Grad
der Kooperation, der sich nach den direkten Mitwirkungsmöglichkeiten des/der Rezipienten bei der
Produktion des Diskurses bemisst; h) der Grad der Dialogizität, für den in erster Linie die Möglichkeit
und Häufigkeit einer spontanen Übernahme der Produzentenrolle bestimmend ist; der Dialogizität in
einem weiteren Sinne können Phänomene wie ‘Partnerzuwendung’ etc. subsumiert werden (s. auch c)
und e)); i) der Grad der Spontaneität der Kommunikation; j) der Grad der Themenfixierung” (KOCH;
ÖESTERREICHER, 2011 [1990], p. 7).
34
16
“A reprodução de diferentes tipos de conhecimentos (legal-racional, científico, atuarial) é submetida
a formatos escritos destacados ou impessoais que procuram minimizar o envolvimento pessoal
daqueles que produzem o conhecimento organizacional em contextos burocráticos. A linguagem
escrita burocraticamente filtrada e usada para descrever o conhecimento objetivo a conduz a uma
análise histórica fragmentada e factual. As circunstâncias cotidianas, contingentes e frequentemente
vagas que caracterizam a pesquisa de campo e de laboratório, bem como as repetitivas práticas de
35
Tendo em vista o que afirma Tannen, podemos dizer que a ideia de que as
mensagens da máxima distância comunicativa manifestam baixo grau de implicação
emocional enquanto as mensagens da máxima imediatez comunicativa apresentam
alto grau de implicação emocional pode conduzir a idealizações, permitindo a
edição, falsos começos, resultados inesperados e erros da pesquisa científica são removidos na
construção do conhecimento objetivo” (CICOUREL, 1985, p.183). Tradução nossa.
17
“No sentido mais amplo, as estratégias associadas com a tradição oral enfatizam o conhecimento
partilhado e a relação interpessoal entre o comunicador e o público. Nesse aspecto, ela se estrutura
com base no que Bateson (1972) chama de função metacomunicativa da linguagem. O uso de
palavras para transmitir algo sobre o relacionamento dos interlocutores. A tradição escrita se
estrutura com o que Bateson chama de função comunicativa da linguagem: o uso de palavras para
transmitir informação ou conteúdo. Isso dá origem à idealização de que a linguagem pode ser
autônoma (Kay, 1977), ou seja, de que as palavras podem conduzir o significado por elas mesmas e
que é esta a principal função delas. Na prática, a linguagem provavelmente nunca é totalmente
autônoma, nem totalmente metacomunicativa. Pelo contrário, ela é relativamente mais forte em favor
de uma ou de outra idealização – ou seja, o contínuo oral/escrito” (TANNEN, 1980, pp. 213-14).
Tradução nossa.
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um texto jurídico que se refira a sujeitos abstratos, a delitos não cometidos ou até
“irreais”.
Ainda em Pragmatica del discurso oral (1997), Öesterreicher identifica o
parâmetro “e” como o tipo de referência, definido pelo grau de proximidade ou
distância das pessoas ou dos objetos citados no discurso, tendo-se sempre em vista
o ego-hic-nunc do locutor. Em seguida, o autor comenta o parâmetro “f” e diz que a
posição local e temporal dos interlocutores é o que determina o tipo de contato.
Sendo assim, devem-se distinguir as interações face a face em relação a todos os
outros tipos e graus de separação local e temporal nos âmbitos tanto da produção
quanto da recepção dos discursos.
Sobre o grau de cooperação, Öesterreicher (1997, p. 89) afirma que esse
parâmetro se refere ao receptor e sua interferência na produção dos enunciados. A
cooperação envolve não somente aspectos verbais (perguntas, propostas,
correções, informações suplementares), mas inclui igualmente o nível de atenção e
de reação do receptor ao expressar-se com olhares, expressões mímicas, posição
corporal, risadas e cliques, por exemplo. Sobre o parâmetro relacionado ao grau de
cooperação na interação, podemos lembrar, mais uma vez, o que diz McLuhan: “A
palavra escrita desafia em sequência, o que é imediato e implícito na palavra falada”
(1995, p. 97). Ou seja, a necessidade de reação imediata é um dos componentes
essenciais que diferenciam a comunicação de concepção oral e de concepção
escrita, assim como muitos elementos podem permanecer implícitos na fala e
precisam ser verbalizados na escrita. É curioso notarmos, nesse trecho de McLuhan,
o uso de “reação imediata” que nos remete à escolha de “linguagem da imediatez”,
feita por Koch e Öesterreicher para designar as mensagens de concepção falada.
Ao comentar o parâmetro “h”, Öesterreicher salienta que a dialogicidade e a
cooperação devem ser diferenciadas. Segundo ele:
18
“A dialogicidade se define pela possibilidade e a frequência com que os interlocutores assumem
espontaneamente o papel de locutor; compare-se uma conversação entre amigos com a leitura da
sentença em um tribunal: no primeiro caso, a comunicação é simétrica, dialogada; no segundo, fica
claro, assimétrica, monologada” (ÖESTERREICHER, 1997, p. 89). Tradução nossa.
38
Se puede decir, por tanto, que los dos polos extremos del
continuo hablado/escrito delineados anteriormente se corresponden
con formas de comunicación que encarnan, en todos los parámetros,
en un caso, la máxima inmediatez comunicativa (hablado) y, en el
otro, la máxima distancia comunicativa (escrito). En el espacio
multidimensional que delimitan ambas formas extremas de la
comunicación lingüistica, se pueden ubicar todas las posibilidades
concepcionales entre la oralidad y la escrituralidad (KOCH;
ÖESTERREICHER, 2007 [1990], p. 31)23.
23
“Pode-se dizer, portanto, que os dois polos extremos do contínuo falado/escrito delineados
anteriormente, correspondem a formas de comunicação que encarnam, em todos os parâmetros, em
um caso, a máxima imediatez comunicativa (falado) e, do outro, a máxima distância comunicativa
(escrito). No espaço multidimensional delimitado por ambas as formas extremas da comunicação
linguística, podem-se localizar as possibilidades concepcionais entre a oralidade e a escrituralidade”
(KOCH; ÖESTERREICHER, 2007 [1990], p. 31). Tradução nossa.
40
24
No capítulo 3, de Lengua hablada en la Romania (2007 [1990], p. 53), Koch e Öesterreicher
explicam que não se utilizam do conceito de texto adotado pela Linguística Textual. Segundo eles,
essa abordagem reduz “texto” a uma ‘sequência oracional’ (transfrástica) e apresentam regras de
coerência e coesão que, para eles, só têm validade para os discursos escritos, ou seja, o que eles
designam como “discurso da distância”.
25
É relevante observar que, em dicionários da língua portuguesa, encontra-se a definição da lexia
“texto” relacionada frequentemente a expressão por meio gráfico e à escrita. No dicionário Novíssimo
Aulete (GEIGER, 2012), a primeira acepção de “texto” é: “Encadeamento de palavras ou de frases
escritas”. No Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001), “texto” é definido como:
“conjunto das palavras de um autor, em livro, folheto, documento etc. (p. opos. a comentários,
42
aditamentos, sumário, tradução etc.); redação original de qualquer obra escrita”. Essas definições
podem ser relacionadas com as ideias expostas inicialmente neste trabalho sobre a valorização da
escrita em relação à fala. Não são mencionadas nos dois dicionários citados expressões como “texto
falado” ou “texto oral”, empregadas nos estudos da Análise da Conversação, por exemplo. É curioso
notar também que frequentemente, ao nos referirmos a um romance ou até mesmo a um artigo
científico, por exemplo, dizemos que o autor “fala”: “o autor fala que...” quando poderíamos dizer
também “o autor escreve que”. “Falar” pode ser, portanto, utilizado com o sentido de “expressar” ou
“comunicar”, mesmo que o suporte da mensagem seja o meio gráfico.
26
“O último aspecto mencionado é útil para compreender as afinidades que existem, de um lado,
entre o meio gráfico – já por si mesmo reificador – e a escrituralidade concepcional (distância
comunicativa) e, por outro, entre o meio fônico – que materialmente propicia o passageiro – e a
oralidade concepcional (imediatez comunicativa).” Tradução nossa.
43
27
Observe-se que, no lado direito da figura, entre as estratégias de verbalização da distância
comunicativa se incluiu a “escasa planificación”, ou seja, “escasso planejamento”. Como descrevem
os autores, esse é um aspecto da imediatez comunicativa e não da distância comunicativa, de modo
que deveria constar na figura, portanto, o amplo planejamento entre as estratégias de verbalização da
distância comunicativa.
44
28
“Tradicionalmente, os problemas da oralidade e da escrituralidade concepcionais foram tratados
somente no nível histórico-idiomático. Até agora, mostramos a importância crucial do nível universal
para essa questão. Porém, sucessivamente, também é indispensável ocupar-se da língua da
imediatez e da distância comunicativa no nível histórico-idiomático, o que implica a consideração de
sua relação com o diassistema variacional (KOCH; ÖESTERREICHER, 2007 [1990], p. 36). Tradução
nossa.
45
29
Entre os trabalhos de Peter Koch consta a comunicação “Parlato / scritto quale dimensione centrale
della variazione linguistica”, ou seja, “Falado / escrito como dimensão central da variação linguística”,
publicada em: Elfriede Burr (Hrsg.), Tradizione & Innovazione. Il parlato: teoria –corpora –linguistica
dei corpora. Atti del VI Convegno Internazionale della SILFI, Duisburg, Giugno 2000, Florenz: Franco
Cesati 2005, 41-56.
30
“Deveria ter ficado claro em qual sentido o contínuo entre imediatez e distância comunicativas
constitui inclusive uma peça central do espaço variacional idiomático (2007 [1990], p. 373).” Tradução
nossa.
46
31
Sobre esse aspecto, talvez se possa colocar uma discussão sobre construções do português, em
sua variedade brasileira, como: “O menino que o pai dele telefonou”, específica da imediatez
comunicativa, em lugar de “O menino cujo pai telefonou”, específica da distância comunicativa.
Tratar-se-ia de variação situada na dimensão falado/escrito do diassistema variacional?
47
32
“[…] essas variações podem ser descritas em relação a dois polos, proximidade e distância (Koch &
Oesterreicher, 1990, 2001). A proximidade é definida como privacidade, familiaridade, implicação
emocional, ancoragem à situação e à ação, dialogicidade e espontaneidade. A distância, por outro
lado, é definida pela publicidade, não-familiaridade, falta de implicação emocional, não-ancoragem à
situação e à ação, monologicidade e reflexão. Esses polos estão ligados aos diassistemas em que o
polo da proximidade, em princípio, corresponde ao registro baixo ou à linguagem informal, ou seja,
esse polo indica a inovação, enquanto o polo da distância corresponde ao registro alto ou à
linguagem formal, representando assim um estágio anterior de uso (KRAGH; LINDSCHOW, 2013, p.
8).” Tradução nossa.
33
“Este é, sem dúvida alguma, o ponto mais polêmico da proposta teórica defendida pelos nossos
autores e o que tem menor adesão por parte de outros linguistas, que consideram o pertencimento ou
a redução da dimensão ‘falado/escrito’ à já conhecida dimensão diafásica, tendo em vista que ambos
os tipos de variação linguística se relacionam com as condições variáveis da situação de
comunicação (SERENA, 2002, p. 261)”. Tradução nossa.
49
34
A obra de Coveri, Benucci e Diadori (1998) também está incluída na bibliografia de Lengua hablada
en la Romania: español, francés, italiano.
50
35
“Neste livro, os textos falados e escritos são comparados como “dimensões” da variação linguística.
Pesquisadores consideraram as relações entre os textos com parâmetros situacionais ou funcionais,
tais como formal/informal, interativo/não-interativo, literário/coloquial, restrito/elaborado. Esses
parâmetros podem ser considerados como dimensões porque eles definem contínuos de variação em
vez de polos discretos. Por exemplo, embora seja possível descrever um texto como simplesmente
formal ou informal, é mais adequado descrevê-lo como mais ou menos formal; formal/informal podem
ser considerados como uma dimensão contínua de variação (BIBER, 1988, p. 9).” Tradução nossa.
51
36
“[...] limitar-se a considerar essa relação e, portanto, à simples diferença do meio físico usado,
significa ignorar a natureza efetiva da língua escrita e, sobretudo, como veremos adiante, da língua
falada (PARISI; CASTELFRANCHI, 1977, p. 170).” Tradução nossa.
53
37
“De fato, há modos de comunicar os quais parecem carecer de características típicas do falado e
do escrito e, portanto, tornam-se de difícil classificação, quando se aceita uma distinção entre apenas
dois termos. Quando se fala ao telefone, falta o acesso aos canais comunicativos não verbais
(olhares, gestos, expressões etc.) que são tão característicos e importantes quando se fala. Quando
se escreve uma carta a um amigo, falta o caráter anônimo e público do destinatário que é tão típico
do escrever. E como classificar o que ocorre quando se faz um discurso em público, baseando-se em
um rascunho, por vezes detalhado? E quando um ator interpreta? Devemos concluir que se trata de
distinguir e analisar diferentes modos de comunicar no interior seja do falado ou do escrito,
abandonando a ideia de que se trata de dois modos monolíticos e contrapostos (PARISI;
CASTELFRANCHI, 1977, p. 175).” Tradução nossa.
54
como em cartas pessoais ou diários, e também pode ser falada e planejada, como
em uma conferência formal. Sobre esse aspecto é pertinente observar, entretanto,
que todo texto, falado ou escrito é, em alguma medida, planejado. O texto da
conversação íntima cotidiana, por exemplo, no contexto da imediatez comunicativa,
é planejado localmente ou quase “imediatamente”, quase em concomitância com a
sua realização, enquanto o texto da distância comunicativa, como um artigo
acadêmico ou um poema, por exemplo, permite a reflexão “distanciada” e ampla,
com possibilidades abrangentes de reformulação e ocultação dos processos de
construção processual da mensagem.
Ainda sobre textos em que há a intersecção de elementos da oralidade e da
escrita, podemos nos reportar também às ideias de Maingueneau (2002, p. 78), que
considera a oposição oral e escrito como “excessivamente simples”. Maingueneau
identifica a existência de enunciados escritos de estilo falado e enunciados orais de
estilo escrito, de modo que os primeiros são enunciados dependentes do ambiente e
os segundos são enunciados independentes do ambiente ou da “situação de
enunciação”. Para exemplificar os enunciados escritos de “estilo falado”, o autor
apresenta um texto publicitário veiculado em uma revista feminina e, como exemplo
de enunciado falado de “estilo escrito” é mencionada uma comunicação científica.
Segundo o autor, nesses enunciados, “[...] o efeito visado resulta justamente da
tensão que se estabelece entre o mídium e o enunciado que lhe é associado” (2002,
p. 78). Enfatiza-se, portanto, nessa perspectiva, a relação entre o “mídium” e o modo
como as mensagens são produzidas e veiculadas.
Na obra Da fala para a escrita, publicada em 2004 (portanto mais
recentemente em relação ao trabalhos acima citados), Marcuschi retoma o tema da
conceituação da fala e da escrita e afirma:
Por meio dessa figura, baseada, como dissemos, nas referidas formulações
de Koch e Öesterreicher sobre o meio e a concepção textual, Marcuschi explica que
a fala prototípica tem concepção oral e meio sonoro (como é o caso, por exemplo,
da conversação espontânea, situada no domínio “a” do gráfico acima). Já a escrita
prototípica apresenta concepção escrita e meio gráfico (como ocorre, por exemplo,
em um artigo científico, localizado no domíno “d” do gráfico apresentado). Há,
entretanto, domínios mistos em que se mesclam as modalidades: meio sonoro e
concepção escrita (como uma notícia de TV, que está no domínio “c” do gráfico
reproduzido) ou meio gráfico e concepção oral (entrevista publicada na revista Veja,
por exemplo, conforme exemplifica o autor, no domínio “b” do gráfico exposto).
Os domínios mistos indicados por Marcuschi se referem à questão inicial
colocada por Koch e Öesterreicher ao distinguirem o meio físico e a concepção
56
Urbano considera que o meio constitui uma condição significativa dos polos
da distância e da imediatez comunicativas, porém não um elemento decisivo para
classificarmos um texto como oral ou escrito, se considerarmos o aspecto da
concepção. Segundo essa perspectiva, embasada pela teoria dos citados estudiosos
alemães, a interação realizada pelo meio escrito se caracteriza por ser “não face a
face” e a interação que ocorre pelo meio fônico corresponde a uma interação “face a
face”. Porém, nos dois casos, verificam-se variações graduais: há nítidas diferenças
entre uma conversação face a face entre amigos e a interação face a face que se
desenvolve em uma conferência, por exemplo. Ambas se distinguem em relação ao
envolvimento entre os interlocutores, ao feedback, aos gestos e à entonação, entre
outros aspectos.
Urbano interpreta o conceito de imediatez empregado por Koch e
Öesterreicher como referente “à comunicação imediata no tempo e no espaço”,
enquanto a distância “compreende a comunicação cuja recepção é independente do
momento e do lugar de sua produção” (2006, p. 36). Com a descrição dos textos
falados e escritos prototípicos, considerando os polos da imediatez e da distância,
59
entre esses dois planos, de modo a se buscar uma conceituação ampliada sobre o
que se entende por texto falado e texto escrito.
38
Emprega-se aqui o termo “mídia” com o sentido de suporte para transmissão e armazenamento de
informações, conforme definição sobre esse vocábulo apresentada no Grande Dicionário Houaiss da
Língua Portuguesa: “1. COMN todo suporte de difusão da informação que constitui um meio
intermediário de expressão capaz de transmitir mensagens; meios de comunicação social de massas
não diretamente interpessoais (como p.ex. as conversas, diálogos públicos e privados) [Abrangem
esses meios o rádio, o cinema, a televisão, a escrita impressa (ou manuscrita, no passado) em livros,
revistas, boletins, jornais, o computador, o videocassete, o DVD, os satélites de comunicações e, de
um modo geral, os meios eletrônicos e telemáticos de comunicação em que se incluem tb. as
diversas telefonias.]”. O trecho ora citado pode ser acessado no seguinte endereço eletrônico:
https://houaiss.uol.com.br/pub/apps/www/v3-0/html/index.htm#1> . Acesso em: 03 mai. 2017.
39
No dicionário Linguee, o substantivo plural alemão “Medien” é traduzido para a língua portuguesa
como “meios de comunicação” ou “mídia”. Esse termo é utilizado em expressões como “elektronische
Medien” (meios eletrônicos) ou “digitale Medien” (meios digitais). Essas informações estão
disponíveis no seguinte endereço eletrônico do referido dicionário Linguee:
< http://www.linguee.com.br/alemao-portugues/traducao/Medien.html> Acesso em: 03 mai. 2017.
61
40
“As formas de comunicação completamente novas, já naturalizadas frente aos nossos olhos, no
contexto dos meios de comunicação baseados no computador (e-mail, chat, SMS etc.), há algum
tempo têm atraído o interesse dos linguistas. Pode-se considerar que o esquema apresentado na
Figura 5, o qual contempla apenas as mídias fônica e gráfica, não é suficiente para abarcar a
complexidade dos desenvolvimentos mais recentes das mídias. Pode-se, no entanto, contradizer
essa avaliação. Deve-se claramente separar a mídia, como manifestação física, das modalidades
sensoriais (fônico > acústico, gráfico > visual), e meios ‘técnicos’ de comunicação para
armazenamento e transmissão das mensagens, tais como o telefone, a Internet etc. (cf. também
Raible, 2006, pp. 11-22). Inclusive, os mais recentes desenvolvimentos para armazenamento e
transmissão eletrônicos envolvem, no aspecto sensorial, em última análise, somente o princípio
acústico do fônico ou os princípios visuais do gráfico. E essas últimas formas de comunicação e de
tradições discursivas podem, certamente, ser detectadas por nossas categorias antropológicas de
som. O chat é um dos melhores exemplos de que uma aproximação com a conversação espontânea
seja possível, ainda que de forma limitada, no meio gráfico. Quanto ao processo absolutamente
inovador, puramente gráfico das abreviaturas e emoticons, tais como hdl (hab dich lieb), em alemão,
ou ☺ são variações linguísticas completamente irrelevantes, concepcionalmente, no entanto, sempre
são importantes na perspectiva da espontaneidade e na velocidade da escrita. (KOCH;
ÖESTERREICHER, 2011 [1990], pp. 14-6).” Tradução nossa.
62
41
Sobre o uso de emoticons, Urbano escreveu o artigo “Uso e abuso da linguagem da internet”
(2002). Neste texto, enfocam-se algumas das características da chamada “linguagem da internet”
com a consideração da distinção entre meio e concepção textual. Urbano explica o uso de emoticons
como uma consequência da falta da copresença física dos interlocutores, o que envolve a falta dos
gestos e expressões fisionômicas, por exemplo, característicos da conversação presencial
espontânea. Para suprir esses elementos na comunicação via internet, utilizam-se os emoticons nos
bate-papos eletrônicos. Atualmente, empregam-se esses elementos ainda mais intensamente
também na comunicação por meio das redes sociais, como Facebook e Twitter. Segundo o autor,
trata-se de elementos que atribuem velocidade e dinamismo à interação via computador.
42
Pistolesi (2004) descreve aspectos da linguagem da Internet por meio da consideração dos
conceitos de imediatez e distância comunicativas, de Koch e Öesterreicher.
63
mídias, podem exercer sobre a concepção textual. Conforme explica Urbano sobre a
teoria da imediatez e distância comunicativas: “Meio e concepção são perspectivas
independentes a tal ponto que se pode – e muitas vezes se deve – fazer abstrações
recíprocas entre elas, considerando-as como duas perspectivas autônomas” (2013,
p. 174).
A distinção do meio (fônico ou gráfico) como uma “dicotomia estrita” e
separada do contínuo concepcional (com os polos da imediatez e distância
comunicativas) constitui uma ferramenta teórica eficaz para se enfocar o papel da
concepção oral ou escrita na produção textual. Entretanto, em uma cultura não
apenas quirográfica, mas tipográfica como aquela em que vivemos, com sofisticados
mecanismos de combinação, nos chamados textos multimodais, de sons, verbais e
não-verbais, e imagens, estáticas ou em movimento, cabe a reflexão sobre em que
medida as mídias interferem na concepção textual e na recepção das mensagens,
de modo a ampliarem as possibilidades de intersecção dos gêneros da oralidade e
da escrita. Deve valer, portanto, distinguirmos “meio” (fônico ou gráfico) e “mídia” ou
“mídium”. Retomemos as palavras de Maingueneau:
Sobre o que afirma o autor, pensemos brevemente nas diferenças que pode
haver entre os mecanismos de elaboração de uma mensagem manuscrita e de uma
mensagem digitada em um processador de textos, no computador. Há, por exemplo,
diferenças que podem se dar em relação à velocidade da produção textual. Pode-se
perceber a diferença em relação à rápida velocidade proporcionada pela digitação43
e as variadas possibilidades de edição do texto digitado: abandonamos o gesto de
apagar cuidadosamente com uma borracha sobre o papel para alterar nosso texto e,
43
A rapidez proporcionada pela digitação se manifesta nos bate-papos on-line, por exemplo, em que
a velocidade da digitação deve frequentemente obedecer à velocidade semelhante de uma
conversação face a face, na qual o planejamento é quase imediato em relação à emissão dos sons
da fala.
64
44
Sobre esse aspecto, remetemo-nos a Fiorin (2008, p. 56): “Apagar uma coisa no computador é
uma atividade diferente de apagar o que foi escrito a lápis, à máquina ou à caneta. Por isso, surge
uma nova palavra para designar essa nova realidade, deletar.”
65
[...] the model seemed to provide a solution to the problem that the
new media produce new forms of communication that differ strongly
from the forms we knew before. Nevertheless, some researchers
have found the popular model by Koch and Oesterreicher
inadequate to explain forms of communication produced by new
media properly, because it was developed before the new media
came into use46. [...] (HENNIG, 2011, p. 21).
45
No contexto da Linguística alemã, Mathilde Hennig, juntamente com o pesquisador húngaro Vilmos
Àgel, desenvolveu o modelo da “fala de proximidade e distância”, dando continuidade ao modelo de
Koch e Öesterreicher. Em 2010, os autores publicaram o livro Nähe und Distanz im Kontext
variationslinguistischer Forschung (DE GRUYTER, 2010, p. 421), no qual abordam o tema da
proximidade e distância comunicativas. Nessa obra, incluem-se os artigos “Sprachliche Daten und
linguistische Fakten – Variation und Varietäten – Bemerkungen zu Status und Konstruktion von
Varietäten, Varietätenräumen und Varietätendimension”, de Öesterreicher, e “Sprachegeschichte
zwischen Nähe und Distanz: Latein – Französisch – Deutsch”, de Peter Koch.
46
“[...] o modelo parecia oferecer uma solução para o problema de que as novas mídias produzem
novas formas de comunicação que diferem fortemente das formas que conhecíamos. No entanto,
alguns pesquisadores consideraram o conhecido modelo de Koch e Oesterreicher inadequado para
explicar corretamente formas de comunicação produzidas pelas novas mídias, porque esse modelo
foi criado antes de elas serem adotadas [...] (HENNIG, 2011, p. 21).” Tradução nossa.
67
47
Empregamos a expressão “gênero textual”, conforme o conceito de Bakhtin (2011).
68
48
A aula pode ser acessada no endereço eletrônico a seguir:
<https://www.youtube.com/watch?v=RQzJaFYiqhc&list=PLKWOznL1aFCMgDRY5zFZdovWKfY7ZJH
7H>. Acesso em: 11 mar. 2017
69
neste curso... nós vamos tratar das categorias da enunciação... a pessoa o tempo e o
espaço... no entanto antes de começar a tratar DEssas categorias da enunciação... é
preciso que nós saibamos... o que é enunciação... como surgiu esse conceito de
enunciação? por que é que esse conceito surgiu?... bem observe o seguinte... Saussure...
que é considerado o fundador da linguística moderna... mostra pra gente que a língua a
linguagem humana tem um aspecto social e um aspecto individual... o aspecto social é o
co-nhe-ci-men-to internalizado que nós temos da língua esse conhecimento internalizado
que é social que é partilhado por todos nós e que permite que nós nos entendamos... ele
chamou língua... (escreve na lousa) língua... e... a realização individual da língua é a fala...
bom o que é a língua efetivamente para Saussure? eu acabo de dizer que é o
conhecimento internalizado partilhado por todos os falantes de uma dada comunidade por
exemplo todos os falantes do português partilham um dado conhecimento mas o que é
efetivamente esse conhecimento? bom pra Saussure havia dois elementos que
compunham esse conhecimento... primeiro... Saussure vai dizer que na língua só existem
diferenças... portanto... o que existe em primeiro lugar são diferenças semânticas e
diferenças fônicas que permitem que eu crie os significados e os sons da língua. como é
isso? de fato... veja... em português nós distinguimos entre alguns mamíferos no geral os
mamíferos domesticados... no animal macho nós distinguimos o animal que é o reprodutor
daquele que não é reprodutor... nós temos então uma diferença semântica reprodutor não
reprodutor e essa diferença permite se criar determinados significados... touro é um bovino
reprodutor boi é um bovino não reprodutor... garanhão é o equino reprodutor cavalo é o
equino não reprodutor... cachaço é o suíno reprodutor eh::: porco é o suíno não reprodutor
aquele que é usado pra corte... agora as línguas têm essas diferenças assim como
masculino e feminino que permite distinguir homem e mulher menino menina eh etcetera...
essas diferenças variam de língua pra língua por exemplo uma língua como o inglês em
alguns animais distingue um animal o bicho da comida... então por exemplo nós em
português podemos dizer o porco está no chiqueiro e e... podemos dizer à mesa você me
passa um pedacinho de porco por exemplo a mesma palavra em inglês não no caso o que
está no chiqueiro é pig o o que está no prato é pork e não são o mesmo elemento eu não
posso usar a mesma palavra... essas diferenças que criam conceitos é que estão presentes
na língua e de outro lado as diferenças que criam SOM as diferenças fônicas então por
exemplo em português eu distinguo as vogais pelo lugar da boca em que elas são
pronunciadas eu tenho então as centrais A::: que é com a boca mais aberta e depois eu vou
tendo anteriores e posteriores... que se diferenciam pelo grau de abertura da boca então eu
tenho olha É Ó a mesma abertura da boca mas uma na frente e outra atrás É Ó ê ô i u
agora veja em português nós vamos observar o seguinte que todas as anteriores são feitas
com a boca... estendida e todas as posteriores com a boca arredondada exagerando um
pouco É::: Ê::: I::: as posteriores Ó::: ô::: u::: em francês eu tenho as anteriores
arredondadas e não arredondadas
4.7 Conclusões
http://www.filologia.org.br/xx_cnlf/cnlf/resumos/Cad_CNLF_XX_02_Resumos.pdf>.
Acesso em: 15 nov. 2016.
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Anexos