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Capitulo 3 ORGAOS E AGENTES PUBLICOS 1. ORGAOS PUBLICOS 1.1. Teorias sobre a natureza juridica da relagao entre o Estado e os agentes por meio dos quais atua As teorias que descreveremos sucintamente a seguir tém, ou tiveram, 0 intuito de explicar ou de justificar a atribuigéo ao Estado, e ds pessoas ju- ridicas de direito publico em geral, dos atos das pessoas naturais que agem em nome deles, uma vez que pessoas juridicas nao possuem vontade propria. E fundamental essa atribuigdo para que se estabeleca a presungdo de que o ato foi praticado em nome do Estado. Assim, embora o ato tenha sido efeti- vamente executado por uma pessoa fisica (0 agente publico), a legitimidade de tal ato e a responsabilidade pelas conseqiiéncias dele decorrentes sio do Estado, o qual responde pela atuagdo de seus agentes (quando estes atuam na qualidade de agentes publicos). 111. Teoria do mandato Por esta teoria, que toma por base um instituto tipico do Direito Privado, a relagio entre o Estado e seus agentes publicos teria por base 0 contrato de mandato. Mandato, para o Direito Privado, é 0 contrato mediante o qual uma pessoa, 0 mandante, outorga poderes a outra, o mandatario, para que este execute determinados atos em nome do mandante e sob a responsabilidade deste. O instrumento do contrato de mandato é a procuragao. 116 DIREITO ADMINISTRATIVO DESCOMPLICADO + Marcelo Alexandrino & Vicente Paulo Assim, 0 agente, pessoa fisica, seria 0 mandatdrio da pessoa juridica, agindo em seu nome e sob a responsabilidade dela, em razio de outorga especifica de poderes. A principal critica a esta teoria decorre da impossibilidade légica de o Estado, que nao possui vontade prépria, outorgar o mandato, Nao se responde, assim, 4 questdo: quem outorgou 0 mandato ao agente piblico? Outro ponto extremamente importante e nao solucionado pela teoria diz respeito a responsabilizagdo do Estado quando 0 mandatario exorbitasse dos limites da procurag4o. Se fosse adotada a disciplina juridica delineada para 0 instituto do mandato no Direito Privado, o Estado nao responderia perante terceiros quando o mandatario agisse com excesso de poderes, ou seja, além das atribuigdes a ele conferidas. 1.1.2, Teoria da representacdo Pela teoria da representagiio, 0 agente publico seria equiparado ao re- presentante das pessoas incapazes (incapacidade civil, como a do menor de idade). O agente seria uma espécie de tutor ou curador do Estado, que o representaria nos atos que necessitasse praticar. Como enfatiza Hely Lopes Meirelles, entretanto, é inconcebivel que o incapaz outorgue validamente a sua propria representagao. Maria Sylvia Di Pietro cita como principais criticas a esta teoria: a) equiparar a pes soa juridica ao incapaz; b) implicar a idéia de que o Estado confere representantes a si mesmo; c) quando 0 representante ultrapassasse os poderes da representagdo o Estado nao responderia por esses atos perante terceiros prejudicados. 1.1.3. Teoria do 6rgao Por esta teoria, amplamente adotada por nossa doutrina ¢ jurisprudén- cia, presume-se que a pessoa juridica manifesta sua vontade por meio dos Orgdos, que sdo partes integrantes da propria estrutura da pessoa juridica, de tal modo que, quando os agentes que atuam nestes Orgaos manifestam sua vontade, considera-se que esta foi manifestada pelo proprio Estado. Fala-se cm imputacao (e nao representagio) da atuagao do agente, pessoa natural, a pessoa juridica. Cap. 3: ORGAOS E AGENTES PUBLICOS 17 Maria Sylvia Di Pietro explica que essa teoria é utilizada para justificar a validade dos atos praticados por funcionario de fato, pois considera que 0 ato por ele praticado é ato do érgao, imputavel, portanto, 4 Administracao.' _ Deve-se notar que no é qualquer ato que seré imputado ao Estado E necessario que © ato revista-se, ao menos, de aparéncia de ato juridico legitimo e seja praticado por alguém que se deva presumir ser um agente piblico (teoria da aparéncia). Fora desses casos, 0 ato n&o sera considerado ato do Estado. Assim, para que possa haver a imputag&o, a pessoa que pratica 0 ato administrativo deve fazé-lo em uma situacao tal que leve 0 cidadao comum a presumir regular sua atuagao. O cidadao comum nao tem como verificar se 0 agente publico est atuando dentro de sua esfera de competéncia, ou mesmo se aquela pessoa que se apresenta a ele, com toda aparéneia de um servidor publico, foi regularmente investida em seu cargo. Além disso, o destinatario do ato deve estar de boa-fé, ou seja, deve desconhecer a irregularidade que inquina a atuagao do agente funciondrio de fato. E oportuno transcrever a ligGo da Professora Maria Sylvia (destaques no original): “Essa teoria é utilizada por muitos autores para justificar a va- lidade dos atos praticados por funcionario de fato; considera-se que 0 ato do funciondrio ¢ ato do érgdo ¢, portanto, imputivel & Administragdo. A mesma solugdo nao é aplicével & pessoa que assuma 0 exercicio de fungdo piblica por sua propria conta, quer dolosamente (como o usurpador de fungdo), quer de boa-fé, para desempenhar func&io em momentos de emergéncia, porque nesses casos é evidente a inexisténcia de investidura do agente no cargo ou fungdo. Vale dizer que existem limites a teoria da imputabilidade ao Estado de todas as atividades exercidas pelos érgdos publicos; para que se reconhega essa imputabilidade, & necessario que 0 agente esteja investido de poder juridico, ou seja, de poder reco- nhecido pela lei ou que, pelo menos, tenha aparéneia de poder juridico, como ocorre no caso da fungio de fato, Fora dessas hipéteses, a atuagéo do érgdo nao é imputavel ao Estado.” +A expresso “funcionario de fato’ @ usualmente empregada para descrever a situagao do agente quando ha vicio ou irregularidade na sua investidura em cargo ou fungdo publica, a exemplo da nulidade do concurso publico, da nomeagao efetuada por servidor incompetente, do descumprimento de requisito essencial para a posse. Segundo liao de Celso Antonio Bandeira de Mello, “funcionario de fato' é aquele cuja investidura foi irregular, mas cuja sityagao tem aparéncia de legalidade. Em nome do principio da aparéncia, da boa-fé dos administrados, da seguranga juridica e do principio da presunc&o de legalidade dos atos administrativos reputam-se validos os atos por ele praticados, se por outra raz4o nao forem viciados.” 18 DIREITO ADMINISTRATIVO DESCOMPLICADO + Marcelo Alexandrino & Vicente Paulo 1.2. Conceito de érgao publico Podemos conceituar 6rgaos piiblicos como unidades integrantes da estrutura de uma mesma pessoa juridica nas quais sio agrupadas competéncias a serem exercidas por meio de agentes piiblicos. Como se vé, érgaos so meros conjuntos de competéncias, sem personalidade juridica propria; sao resultado da técnica de organizag4o administrativa conhecida como “desconcentragao”. Na classica definigao de Hely Lopes Meirelles, 6rgaos publicos sao “centros de competéncia instituidos para o desempenho de fungées estatais, através de seus agentes, cuja atuacio é imputada A pessoa juridica a que pertencem”. Prossegue © autor afirmando que os Orgios, necessariamente, possuem fungdes, cargos e agentes, sendo, entretanto, distintos desses elementos. Os Orgiaos sao partes da pessoa juridica. Somente a pessoa juridica possui personalidade juridica. Os érgdos, suas partes, sio centros de competéncia despersonalizados, cuja atuagéo ¢ imputada a pessoa que integram. Assim, na Administragao Direta federal, somente a Unido possui per- sonalidade juridica. Os Ministérios, por exemplo, érgéos da Administragao Direta federal, so centros de competéncia despersonalizados, cuja atuacao é imputada 4 Unido. O mesmo vale para as Administragdes Diretas dos Estados, em que somente o Estado-membro possui personalidade juridica, mas nao seus Orgaos, como as Secretarias estaduais, e para a Administragao Direta dos Municipios (somente 0 Municipio possui personalidade juridica, sendo despersonalizadas as Secretarias Municipais e todos os outros érgaos integrantes da estrutura da Administracao Direta). Deve-se atentar que a distribuigao de competéncias em unidades desperso- nalizadas nao ocorre exclusivamente na Administracao Direta. A rigor, sempre que, dentro de uma mesma pessoa juridica, houver unidades as quais sao atribuidas competéncias determinadas, essas unidades, resultado do processo de desconcentrac&o, serao drgaos. Portanto, dentro de uma mesma autar- quia, podemos ter diversos 6rgaos, como suas diretorias, superintendéncias, delegacias e outros departamentos quaisquer, néo importa a denominagdo utilizada. O mesmo vale para as fundagdes publicas, as empresas publicas e as sociedades de economia mista. A Lei n® 9.784/1999, que regula os processos administrativos na esfera federal, deixa bastante claro esse fato — existéncia de érgdos tanto no ambito da Administragéo Dircta quanto no da Indireta -, além de haver positivado a distingao, ha muito adotada pela doutrina, entre érgao — centro de com- peténcias despersonalizado — ¢ entidade — expressdo usada para designar pessoas juridicas em geral. Com efeito, os incisos I ¢ II do § 22 do art. 1% da Lei n° 9.784/1999 assim definem: Cap. 3s ORGAOS E AGENTES PUBLICOS 119 “L— drgdo — a unidade de atuag3o integrante da estrutura da Administracao direta ¢ da estrutura da Administragao indireta; II ~ entidade ~ a unidade de atuagdo dotada de personalidade juridica;” 1.3. Caracteristicas dos érgéos publicos Veremos, ao estudar as classificagdes propostas para os diferentes orgaos publicos, que hé caracteristicas presentes em todas as espécies de drgados e outras que somente se apresentam em alguns. De modo geral, os autores apon- tam como caracteristicas dos orgaos (algumas nao presentes em todos): a) integram a estrutura de uma pessoa juridica; b) nao possuem personalidade juridica; ©) siio resultado da desconcentragao; 4) alguns possuem autonomia gerencial, orgamentiria ¢ financeira; e) podem firmar, por meio de scus administradores, contratos de gestio com outros drgiios ou com pessoas juridicas (CF, art. 37, § 8%); f) no tém capacidade para representar em juizo a pessoa juridica que inte- gram; g) alguns tém capacidade processual para defesa em juizo de suas prerrogativas funcionais; h) nao possuem patriménio proprio 1.4. Capacidade processual 6rgao, como ente despersonalizado, constitui um mero centro de poder integrante da pessoa juridica a que pertence. A capacidade processual, para estar em juizo, é atribuida pelo Codigo de Processo Civil a pessoa fisica ou juridica (CPC, art. 72). Como regra geral, portanto, 0 6rgdo nao pode ter capacidade processual, isto ¢, no possui idoneidade para figurar em qualquer dos pélos de uma relagao processual. Entretanto, a capacidade processual de certos érgios publicos para de- fesa de suas prerrogativas esta hoje pacificamente sustentada pela doutrina e aceita pela jurisprudéncia. A capacidade processual do orgao publico para a impetragdo de mandado de seguranga, na defesa de sua competéncia, quando violada por outro 6rgao, é hoje matéria incontroversa. Cabe ressaltar, porém, que essa excepcional capacidade processual s6 € aceita em relacdo aos Orgados mais elevados do Poder Publico, de natureza 120 DIREITO ADMINISTRATIVO DESCOMPLICADO + Marcelo Alexandrino & Vicente Paulo constitucional, quando defendem suas prerrogativas e competéncias. Beneficia os chamados érgdos independentes e autdnomos, nao alcangando os demais Orgios hierarquizados (superiores e subalternos). A capacidade processual do érgao piblico foi expressamente reconhecida pelo Cédigo de Defesa do Consumidor, que dispde que sao legitimados para promover a liquidagdo e execugdo de indenizagao as autoridades e érgéos da Administragdo Publica, Direta ¢ Indireta, ainda que sem personalidade juridica (Lei n° 8.078, de 1990, art. 82, Il). Classificagao Adotaremos a classificago consagrada por Hely Lopes Meirelles, por entendermos ser cla a mais utilizada, nao s6 em concursos publicos como também por outros autores patrios. 1.5.1. OrgGos simples e compostos Quanto a sua estrutura, os érgaos podem ser: a) Orgios Simples Os 6rgaos simples ou unitarios séo constituidos por um s6 centro de competéncia. Estes érg&os nao sao subdivididos em sua estrutura interna, integrando-se em 6rg4os maiores. Nao interessa o ntimero de cargos que tenha 0 Orgao, mas sim a inexisténcia de subdivisdes com atribuigdes especificas em sua estrutura, ou seja, estes 6rgdos exercem suas atribuigdes proprias de forma concentrada. b) Orgaos Compestos Os érgios compostos retinem em sua estrutura diversos érgdos, como resultado da desconcentragaio administrativa. E 0 que ocorre com os Minis- térios e as Secretarias. Citando um exemplo concreto: O Ministério da Fazenda é integrado por varios érgaos, dentre os quais a Secretaria da Receita Federal. Esta é composta por diversos érgios, dentre os quais as suas Superintendéncias Re- gionais. Estas sdo integradas por Delegacias, que sdo integradas por Segdes até chegarmos a um 6rgao que nao seja mais subdividido (este serd o drgdo unitario; todos os demais sao compostos). Cap. 3» ORGAOS E AGENTES PUBLICOS 121 1.5.2. Orgaos singulares e colegiados Quanto a sua atuacado funcional, os 6rgdos podem ser: a) Orgios Singulares Também denominados unipessoais, so os érgfios em que a atuagfo ou as decisdes so atribuigdo de um Unico agente, seu chefe ¢ representante. E exemplo a Presidéncia da Republica. b) Orgios Colegiados Também denominados pluripessoais, sio caracterizados por atuarem e decidirem mediante obrigatéria manifestagao conjunta de seus membros. Os atos e decisdes sdo tomados apés deliberacio © aprovacao pelos membros integrantes do 6rgao, conforme as regras regimentais pertinentes a quorum de instalagao, de deliberagdo, de aprovagao etc. Sao exemplos 0 Congresso Nacional e os tribunais. No ambito do Poder Executivo, os exemplos de érgaos colegiados geralmente correspondem a 6rgdos administrativos especializados em apreciag&o ¢ decisio de impugna- ges ou recursos administrativos. Na estrutura do Ministério da Fazenda, por exemplo, temos os Conselhos de Contribuintes, que apreciam e decidem sobre recursos administrativos julgados em primeira instancia pelas Delegacias da Receita Federal de Julgamento (érgios, atualmente, também colegiados). 15.3. Orgdos independentes, auténomos, superiores e subalternos Quanto a posi¢ao estatal, os orgaos podem ser: a) Orgaos Independentes Os 6rgaos independentes sao os diretamente previstos no texto constitu- cional, representando os trés Poderes (Camara dos Deputados, Senado Federal, STF, STJ e demais tribunais, Presidéncia da Republica, e seus simétricos nas demais esferas da Federacao). Sio érgdos sem qualquer subordinacaio hierarquica ou funcional. As atribuigdes destes Orgios so exercidas por agentes politicos. b) Orgios Auténomos Situam-se na cipula da Administrag4o, hierarquicamente logo abaixo dos 6rgaios independentes. Possuem ampla autonomia administrativa, financeira e técnica, caracterizando-se como orgios diretivos. 122 DIREITO ADMINISTRATIVO DESCOMPLICADO * Marcelo Alexandrino & Vicente Paulo. Sao exemplos: os Ministérios, as Secretarias de Estado, a Advocacia- Geral da Unido etc. c) Orgios Superiores Sio Orgdos que possuem atribuigdes de diregdo, controle e decisio, mas que sempre esto sujeitos ao controle hierdrquico de uma chefia mais alta. Nao tém autonomia administrativa nem financeira. Incluem-se nessa categoria 6rgaos com denominagdes muito heterogéneas, como Procuradorias, Coordenadorias, Gabinetes etc. d) Orgios Subalternos Sao todos os 6rgaos que exercem atribuigdes de mera execugdo, sempre subordinados a varios niveis hierarquicos superiores. Tém reduzido poder decisério. Sao exemplos as segdes de expediente, de pessoal, de material, de portaria etc. 2. AGENTES PUBLICOS Considera-se agente piblico toda pessoa fisica que exerga, ainda que transitoriamente ou sem remuneracdo, por eleig&o, nomeacao, designacao, contratago ou qualquer forma de investidura ou vinculo, mandato, cargo, emprego ou fungao publica. Conforme se constata, a expressio “agente piblico” tem sentido amplo, englobando todos os individuos que, a qualquer titulo, exercem uma fungao publica, remunerada ou gratuita, permanente ou transit6ria, politica ou me- ramente administrativa, como prepostos do Estado. © agente piblico é a pessoa natural mediante a qual o Estado se faz presente. O agente manifesta uma vontade que, afinal, é imputada ao préprio Estado. Agentes publicos sao, portanto, todas as pessoas fisicas que mani- festam, por algum tipo de vinculo, a vontade do Estado, nas trés esferas de Governo (Unido, Estados, Distrito Federal e Municipios), nos trés Poderes do Estado (Executivo, Legislativo ¢ Judiciario). Sdo agentes do Estado des- de as mais altas autoridades da Repiblica, como os Chefes do Executivo e os membros do Legislativo e do Judiciario, até os servidores piiblicos que exercem fungdes subalternas. A expresso “agente piblico” ¢ utilizada em sentido amplo e genérico. Engloba, como vimos, todos aqueles que possuem atribuigao de manifestar parcela da vontade do Estado, sendo a ele ligados por variados vinculos juridicos. Nao se deve confundir 0 género “agentes publicos” com algumas Cap. 3 « ORGAOS E AGENTES PUBLICOS 123 de sua mais conhecidas espécies no 4mbito do direito administrativo: “ser- vidor puiblico” ¢ “empregado piblico”. Outro conceito, no mais utilizado no direito administrativo, mas sim no direito penal, é o de “funcionario Publico” conforme veremos adiante. Servidor publico, em seu sentido estrito, é expressdo utilizada para identificar aqueles agentes que mantém relagao funcional com o Estado em regime estatutdrio (legal). Sao titulares de cargos pitblicos, efetivos ou em comissdo, sempre sujeitos a regime juridico de direito piblico. A expressio empregado publico designa os agentes ptiblicos que, sob regime contratual trabalhista (celetista), mantém vinculo funcional permanente com a Administragdo Publica. Sdo os ocupantes de empregos publicos, su- jeitos, predominantemente, a regime juridico de direito privado. Enquanto vigeu a redagao do art. 39, caput, dada pela EC n® 19/1998 — que extinguiu a exigéncia de adogdo do denominado regime juridico tiico -, foi possivel a contratacdo, concomitante, de servidores publicos e de em- pregados piblicos pela Administragao Direta, autarquias e fundagdes publicas de qualquer ente federado. E muito relevante registrar, entretanto, que a modificag’o do caput do art. 39, introduzida pela EC n® 19/1998, teve sua eficdcia suspensa, pelo Supremo Tribunal Federal, a partir de agosto de 2007, porque a Camara dos Deputados nao observou, quanto a esse dispositivo, a exigéncia de aprovagdo em dois turnos (CF, art. 60, § 2°). Por essa razdo, no julgamento da ADI 2.135/DF, em 2 de agosto de 2007, nossa Corte Suprema deferiu medida cautelar para suspender a eficdcia do artigo 39, caput, da Constituigao Federal, com a redagio da EC n® 19/1998, esclarecendo, expressamente, que a decisdo tera efeitos prospectivos (ex nunc), isto é, toda a legislagio editada durante a vigéncia do artigo 39, caput, com a redagaio da EC n® 19/1998, continua valida, assim como as respectivas contratagdes de pessoal. Nao obstante, deve ficar claro que, a partir dessa decisio, ¢ até que seja decidido 0 mérito da causa, voltou a vigorar a redagdo original do caput do art. 39 da Constituigao, que exige a adogao, por parte de cada ente da Federacéio, de um so regime juridico (regime juridico tmico) aplicdvel a todos os servidores integrantes de sua Administracao Direta, autarquias e fundagées piiblicas. Dessa forma, atualmente, ndo mais é possivel a contratagao, concomitante, de servidores publicos e de empregados publicos pela Administragao Direta, autarquias ¢ fundages puiblicas de nossas pessoas politicas, uma vez que voltou a vigorar a exigéncia de adogdo de um regime juridico ‘nico para 0 pessoal desses érgaos e entidades administrativas. A Constituigao vigente abandonou a antes consagrada expressao funcio- nario piiblico. Na seara do direito penal, todavia, ela ainda é empregada, abarcando todos os agentes que, embora transitoriamente ou sem remunera- ¢40, pratiquem crime contra a administragao publica, no exercicio de cargo, emprego ou fungdo publicos (CP, art. 327). Como se vé, para fins penais, a abrangéncia do conceito de funcionario publico é a mais ampla possivel, correspondendo a da expresso “agente piblico”, consagrada no ambito do direito administrative. O agente puiblico, pessoa fisica, nto deve ser confundido com a figura do 6rgao administrativo, centro de competéncia despersonalizado. O agente desempenha suas atribuigdes num dado 6rga4o, ocupando um cargo publico ou mesmo uma mera fun¢ao (sem cargo publico). O agente atua em nome do 6rgdo e sua atuactio ¢ imputada 4 pessoa juridica a que ele, orgo, pertenca (Unido, Estados, DF, Municipios). Agente e orgdo sdo figuras distintas, tanto que o Estado pode suprimir o cargo, a fungdo ou o proprio Orgaio sem ne- nhuma ofensa aos direitos de seus agentes. Pode, ainda, ocorrer 0 contrario, © desaparecimento do agente sem nenhuma interferéncia na existéncia do érgao (0 falecimento do agente, por exemplo). 2.1, Classificagao dos agentes publicos Adotaremos a classificagdo proposta por Hely Lopes Meirelles. Para 0 eminente autor, os agentes piblicos sao classificados em cinco grandes gru- pos, a saber: agentes politicos; agentes administrativos; agentes honorificos; agentes delegados; agentes credenciados. 2.1.1, Agentes politicos Os agentes politicos sdo os integrantes dos mais altos escalées do Poder Publico, aos quais incumbe a elaboracao das diretrizes de atuagio governamental, e as fungdes de diregao, orientagao e supervisio geral da Administragao Publica. As principais caracteristicas dos agentes politicos sao: a) sua competéncia é haurida da propria Constitui¢’io; b) no se sujeitam as regras comuns aplicdveis aos servidores pablicos em geral: c) normalmente sdo investidos em seus cargos por meio de eleigdo, nomeagaio ou designagao; d) no sio hierarquizados (com excegao dos auxiliares imediatos dos Chefes dos Executivos), sujeitando-se, tio-somente, as regras constitucionais. Sao agentes politicos os chefes do Executivo (Presidente da Republica, governadores e prefeitos), seus auxiliares imediatos (ministros, secretarios Cap. 3 ORGAOS E AGENTES PUBLICOS 125 estaduais e municipais) e os membros do Poder Legislativo (senadores, deputados e vereadores). Alguns autores enquadram, também, como agentes politicos os membros da magistratura (juizes, desembargadores e ministros de tribunais superiores) e os membros do Ministério Publico (promotores de justica e procuradores da Republica). Os agentes politicos possuem certas prerrogativas, hauridas diretamente da Constituigao, que os distinguem dos demais agentes publicos. Essas prer- rogativas nao s%o privilégios pessoais, mas sim garantias necessérias para o regular exercicio de suas relevantes fungdes. Sem tais prerrogativas, os agentes politicos nao teriam plena liberdade para a tomada de suas decisdes governamentais, em face do temor de serem responsabilizados segundo as regras comuns da culpa civil, aplicdveis aos demais agentes publicos. Consideramos oportuno registrar que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Rcl n® 2138/DF, rel. orig. Min. Nelson Jobim, rel. p/ 0 acér- dao Min, Gilmar Mendes, em 13.06.2007, decidiu que a Lei n® 8.429/1992, que tipifica e sanciona os atos de improbidade administrativa, de que trata o art. 37, § 4%, da Constituigo, nfo se aplica a todos os agentes politicos. Segundo entendimento da Corte Suprema, ela nao se aplica aos agentes politicos sujeitos ao “regime de crime de responsabilidade”’ 21.2. Agentes administrativos Os agentes administrativos sio todos aqueles que exercem uma ativi- dade ptblica de natureza profissional e remunerada, sujeitos 4 hierarquia funcional e ao regime juridico estabelecido pelo ente federado ao qual per- tencem. Sao os ocupantes de cargos ptiblicos, de empregos piiblicos ¢ de fangdes piiblicas nas Administragdes Direta e Indireta das diversas unidades da Federac&o, nos trés Poderes. Podem ser assim clasificados: a) servidores piblicos: sio os agentes administrativos sujeitos a regime juridico estatutario (isto é, de natureza legal, ¢ nao contratual), titulares de cargos piblicos de provimento efetivo e de provimento em comissio; b) _empregados pablicos: so os ocupantes de empregos publicos, sujeitos a regime juridico contratual (em regra, so regidos pela Consolidagao das Leis do Trabalho - CLT, chamados, por isso, de “celetistas”); ©) tempordrios: sio os contratados por tempo determinado para atender a necessidade temporaria de excepcional interesse publico, nos termos do art. 37, IX, da Constituigdo; seu regime & contratual, mas eles sao meros exercedores de fungdes piblicas as quais ndo corresponde nem cargo nem emprego publico 126 DIREITO ADMINISTRATIVO DESCOMPLICADO + Marcelo Alexandrino & Vicente Paulo Julgamos oportuno registrar que alguns autores utilizam a expressao “servidores publicos” em sentido amplo, englobando os servidores puiblicos em sentido estrito (estatutarios) e os empregados publicos. 2.1.3. Agentes honorificos Os agentes honorificos so cidadios requisitados ou designados para, transitoriamente, colaborarem com o Estado mediante a prestagao de servigos especificos, em raz&o de sua condig&o civica, de sua honorabilidade ou de sua notdria capacidade profissional. Nao possuem qualquer vinculo profis- sional com a Administragao Publica (sio apenas considerados “funcionarios publicos” para fins penais) e usualmente atuam sem remuneracao. Sdo os jurados, os mesarios eleitorais, os membros dos Conselhos Tutelares criados pelo Estatuto da Crianga e do Adolescente e outros dessa natureza. 2.1.4. Agentes delegados Os agentes delegados sao particulares que recebem a incumbéncia de exercer determinada atividade, obra ou servigo publico e o fazem em nome proprio, por sua conta e risco, sob a permanente fiscalizagao do poder de- legante. Evidentemente, nao sao servidores publicos, ndo atuam em nome do Estado, mas apenas colaboram com o Poder Puiblico (descentralizagao por colaborag4o). Sujeitam-se, porém, no exercicio da atividade delegada, a responsabilidade civil objetiva (CF, art. 37, § 6°) e ao mandado de seguranga (CF, art. 5°, LXIX). Enquadram-se como “funciondrios publicos” para fins penais (CP, art. 327). Sdo os concessiondrios ¢ permissiondrios de servicos publicos, 0 leiloeiros, os tradutores piiblicos, entre outros. 2.1.5. Agentes credenciados Os agentes credenciados, na defini¢ao do Prof. Hely Lopes Meirelles, “sZo os que recebem a incumbéncia da Administragao para representa-la em determinado ato ou praticar certa atividade especifica, mediante remuneragao do Poder Publico credenciante”. Seria exemplo a atribuigao a alguma pessoa da tarefa de representar 0 Brasil em determinado evento internacional (um artista consagrado que fosse incumbido de oficialmente representar o Brasil em um congresso intemacional sobre protecdo da propriedade intelectual). Também sao considerados “funcionérios publicos” para fins penais.

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