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DECISÃO
a) art 469 do CPC, porquanto não houve afronta à coisa julgada já que "nem a
'cessão de contrato' e nem a responsabilidade da ré, apelante, como incorporadora, pelo prazo de
entrega dos apartamentos, foram objeto dessa decisão interlocutória confirmada pela decisão
monocrática que indeferiu o agravo de instrumento" e que transitou em julgado;
b) arts. 515 e 516 do CPC porquanto não foi observado o princípio da devolutividade
dos recursos ao se considerar como julgada antecipadamente matéria que não fora objeto do
referido agravo de instrumento;
c) arts. 334 e 348 a 350 do CPC visto que foram desprezados os efeitos da confissão
judicial;
d) arts. 49, 50 e 58 da Lei n. 4.591/64 por terem sido negados "os efeitos da
responsabilidade dos condôminos pelos custos da obra no regime de execução adotado para a
construção do prédio em condomínio, definido como 'a preço de custo'" e ter-se admitido que a
construtota agira como incorporadora.
É o relatório. Decido.
II - Coisa julgada
A Corte de origem fundou-se na ocorrência de coisa julgada quanto à
responsabilidade da construtora recorrente nos seguintes termos:
"No mérito, esclarece-se, primeiramente, que os autores firmaram, com a
Construtora Espaço Aberto, contrato de "compromisso de compra e venda",
entregando, por permuta, um terreno para nele erigir-se um edifício, localizado na
avenida Trompowski, 40, no centro de Florianópolis, pelo que receberiam quatro
apartamentos no edifício, a ser construído pela própria Construtora Espaço Aberto,
entre os quais figurava a unidade correspondente à cobertura, no prazo de 24 meses
depois da obtenção do alvará de construção (fls. 13-14, v. 1).
Sendo certo que o contrato não previra a forma de construção do edifício,
tampouco data-limite para a obtenção do alvará, a construtora não se empenhou como
devia na conquista de referenciado alvará, vindo a obtê-lo somente depois de um ano
e dois meses da assinatura do contrato, quando conseguiu reunir pessoas interessadas
nas unidades condominiais, vindo a formalizar, com elas, 'contrato de construção e
administração' (fls. 145-149, v. II), ao qual os autores anuíram.
A nova avença previa a assunção, pelos condôminos, 'a par da contribuição
estipulada para a construção de sua unidade residencial, do pagamento, proporcional a
sua unidade, das despesas para a edificação das unidades pertencentes aos antigos
proprietários dos terrenos [autores]'. E o prazo para a entrega da obra passou a
depender do capital empregado pelos condôminos. Entretanto, quando os autores
contrataram com a construtora, acreditavam que receberiam os apartamentos nos
termos do memorial descritivo e na data aprazada, sem que nada precisassem fazer e,
de repente, viram-se compelidos a assinar novo ajuste com as pessoas arregimentadas
pela construtora para que a obra tivesse início. Portanto, o juiz de direito não podia
afastar a responsabilidade da construtora, fundado na ocorrência de 'cessão de
contrato em favor dos condôminos que se tornaram responsáveis pela viabilização
financeira da obra', mormente porque essa alegação já houvera sido rechaçada na
decisão interlocutória lavrada pelo eminente Juiz Ronaldo Moritz Martins da Silva, às
fis. 240-242, v. li, mantida por este Tribunal, consoante consta do Agravo de
Instrumento n. 2000.00067-1.
[...]
Desconsiderou-se, portanto, a existência de decisão transitada em julgado na
qual, além de afastar a ilegitimidade passiva declarou-se que a ré havia agido como
incorporadora em relação aos autores. Assim, é evidente a ofensa à coisa julgada
material. Aliás, nesse sentido, colhe-se da jurisprudência desta Corte:
[...]
Não é possível tecer, aqui, maiores considerações acerca da substituição do
contrato de promessa de compra e venda firmado entre os proprietários do terreno e a
construtora (fls. 13-14, v. 1) e o contrato firmado entre os condôminos e ela, já que a
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Superior Tribunal de Justiça
decisão interlocutória transitada em julgado lançou pá de cal em relação ao tema, ao
declarar que a ré comportou-se na operação de compra e venda como incorporadora
responsável pela construção do edifício, devendo ser observado, pelos litigantes, o
primeiro contrato realizado."
Todavia, o único fundamento utilizado pela Corte a quo para rechaçar a ocorrência
de tais contrariedades foi o da não aplicação da referida norma ao caso sub judice porquanto "a
natureza jurídica do negócio existente entre a construtora e os autores era de permuta: o terreno
em troca dos apartamentos prontos após vinte e quatro meses, de modo que não é aplicável à
hipótese a Lei n. 4.591/1964" (fl. 897).
IV - Confissão judicial
Quanto a este tópico, assim decidiu a Corte local:
"Para além disso, igualmente, não houve ofensa aos artigos 328 a 350 do
Código de Processo Civil. É que, ao imputarem responsabilidade também ao
condomínio pelo atraso na entrega da obra, em demandas de cobrança das taxas
condominiais, os autores não excluíram a responsabilidade da embargante, e não
pode, tal fato, ser tido como confissão."
Nesse contexto, para aferir se houve confissão judicial, seria necessário proceder ao
reexame do conjunto fático-probatório dos autos, o que é vedado em recurso especial (Súmula n.
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7/STJ).
V - Conclusão
Ante o exposto, não conheço do recurso especial.
Publique-se.
Brasília (DF), 16 de dezembro de 2014.