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A MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA
COMO POLÍTICA PÚBLICA
DEMOCRATIZADORA DE
ACESSO À JUSTIÇA: DESCRIÇÃO
E ANÁLISE DO PROJETO
JUSTIÇA COMUNITÁRIA EM
PASSO FUNDO (RS)
COMITÊ EDITORIAL
Profª. Drª. Fabiana Marion Spengler – Direito – UNISC e UNIJUI/Brasil
Prof. Me. Theobaldo Spengler Neto – Direito – UNISC/Brasil
A MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA
COMO POLÍTICA PÚBLICA
DEMOCRATIZADORA DE
ACESSO À JUSTIÇA: DESCRIÇÃO
E ANÁLISE DO PROJETO
JUSTIÇA COMUNITÁRIA EM
PASSO FUNDO (RS)
1ª edição
4
2014
Dhieimy Quelem Waltrich
“Uma comunidade mundial só pode existir com comunicação
mundial que significa algo mais que extensas instalações de
software espalhadas sobre o globo. Significa compreensão “co-
mum, uma tradição comum, idéias comuns e ideais comuns.”
(Robert Hutchins)
INTRODUÇÃO.................................................................................................................12
CONCLUSÃO................................................................................................................125
REFERÊNCIAS.............................................................................................................129
1 STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica Jurídica e(m) crise. 3 ed. rev. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2001, p. 21-22.
2 A justificativa no uso da expressão “Estado Contemporâneo” em letras maiúsculas, é em vir-
tude de seu nascimento, que teve origem com a crise do modelo político liberal, a eclosão da
sociedade industrial de massas e as grandes transformações socioeconômicas ocorridas no fim
do século 19 e início do século 20. (SPENGLER, Fabiana. Da jurisdição à mediação: por uma
outra cultura no tratamento de conflitos. Ijuí: Ed: Unijuí, 2010, p. 42).
3 Ibidem.
4 Ibidem, p. 42.
5 Note-se que a cultura jurídica brasileira é marcada por uma tradição monista de forte influxo
kelseniano, ordenada num sistema lógico-formal de raiz liberal-burguesa, cuja produção trans-
forma o Direito e a Justiça em manifestações estatais exclusivas. Esta mesma legalidade, quer
enquanto fundamento e valor normativo hegemônico, quer enquanto aparato técnico oficial de
controle e regulamentação, vive uma profunda crise paradigmática, pois vê-se diante de novos
e contraditórios problemas, não conseguindo absorver determinados conflitos coletivos específi-
cos do final do século XX. Assim, o centralismo jurídico estatal montado para administrar confli-
tos de natureza individual e civil torna-se incapaz de apreciar devidamente os conflitos coletivos
de dimensão social, ou seja, conflitos configurados por mais de um indivíduo, grupo ou camadas
sociais (WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo Jurídico: Fundamentos de uma nova cultura no
Direito, 2001, p. 97).
6 Na medida em que a vida social é concebida como evolução, rupturas e mudanças, os confli-
tos são componentes essenciais de toda e qualquer sociedade humana. Os conflitos nascem de
ações sociais conscientes expressadas pela limitação, colisão e disputa entre interesses opostos
e divergentes, envolvendo indivíduos, grupos, organizações e coletividades (Ibidem, p. 93).
7 Ibidem, p.46.
Agra visa definir que o Estado está inserido em uma crise que atinge por
completo as mais variadas sociedades11, e como consequência, a estrutura12 po-
lítica que regulamentava a polis torna-se obsoleta, porque não serve mais para
fazer frente às dificuldades que se avolumam a cada dia.13
14 BOLZAN DE MORAIS, José de Luis. Crise(s) da jurisdição e acesso à justiça: uma questão
recorrente. IN: SPENGLER, F; CESAR LUCAS, D. Conflito, jurisdição e direitos humanos: (Des)
apontamentos sobre o novo cenário social. Ijuí: Ed. Edunisc, 2008, p. 62.
15 Com efeito, as crises estatais hoje estão definidas como crise conceitual, cujo cenário é
o Estado da modernidade e que tem como aspectos principais de debate o território, o povo,
o poder (soberania) e os direitos humanos, com reflexos no público/privado (discutindo o na-
cional, o local, o supranacional e o “extranacional”). Todas as demais crises ocorrem no Es-
tado contemporâneo, e são: crise estrutural, em que os aspectos principais são o financeiro,
o ideológico, (burocracia x democracia) e o filosófico (individualismo/solidarismo), cujas con-
sequências são a desconstitucionalização, a flexibilização e o desprestígio prático; a crise
política, que atinge a democracia representativa com reflexos na participação, representação
política, nos sistemas partidários e eleitorais, na apatia política e em suas novas fórmulas de
democracia, e por último a crise funcional que aborda as funções do Estado que passa por
uma crise, cujos aspectos são refletidos no Legislativo (lexmercatoria, Direito inoficial e mar-
ginal), no Executivo (assistencialismo) e no judiciário (fórmulas alternativas). (SPENGLER,
Fabiana Marion. Da jurisdição à mediação: por uma outra cultura no tratamento de conflitos,
2010, p. 40.)
16 [...] desde os finais dos anos 1980, o sistema judicial adquiriu uma forte proeminên-
cia em muitos países não só latino-americanos, como europeus, africanos e asiáticos.
Concomitantemente, as agências de ajuda internacional passaram a dar prioridade aos
programas de reforma judicial e de construção do Estado de direito em muitos países em
desenvolvimento. Nunca, como hoje, tanto dinheiro foi investido no sistema judicial, tradi-
cionalmente, uma das áreas de cooperação internacional que não tinha expressão finan-
ceira. (SANTOS, Boaventura de Souza. Para uma revolução democrática da justiça. São
Paulo: Cortez, 2007, p. 12).
17 AGRA, Walber de Moura. Republicanismo, 2005, p. 11.
Os princípios e valores pertinentes ao Republicanismo, atualizados por uma leitura que os torne
adequados aos problemas enfrentados no cotidiano, configuram-se como um instrumento de
grande valia para se tentar minimizar os efeitos perniciosos das crises apontadas. Os ideais re-
publicanos podem trazer novo alento à estrutura política da sociedade, contribuindo para aprimo-
rar o regime democrático e incentivar a cidadania ativa por parte dos cidadãos. Ao se dinamizar
os procedimentos democráticos, buscam-se soluções para as crises enfrentadas, de modo que
a alternativa encontrada possa auferir respaldo na população. (Ibidem, p. 12).
18 Na maior parte do século XX, nos países latino-americanos, o judiciário não figurou como
tema importante em matéria de reforma, cabendo ao juiz a figura inanimada de aplicador da
letra da lei emprestada do modelo europeu. A construção do Estado latino-americano ocupou-
se mais com o crescimento do executivo e da sua burocracia, procurando converter o judiciário
em uma parte dos aparatos burocráticos do Estado – um órgão para o poder político controlar
– de facto, uma instituição sem poderes para deter a expansão do Estado e seus mecanismos
reguladores. (SANTOS, Boaventura de Souza. Para uma revolução democrática da justiça,
2007, p. 11).
19 Ibidem, p. 62.
20 Não é possível discorrer sobre o Estado Contemporâneo sem, necessariamente,
questionar suas crises, sua supressão e sua reinvenção cotidiana que o acompanham
até o Estado Contemporâneo. O Estado enquanto gênero é uma realidade criada pela
própria sociedade civil para desenvolver determinadas tarefas, dentre elas representá-la
e tomar decisões que atendam a seus interesses. Por conseguinte, é uma organização
política investida de poder e coerção que, em razão da legitimidade social, administra os
interesses de todos os cidadãos, delimitando sua área de atuação em determinado espaço
físico. Justamente a crise do modelo político liberal, a eclosão da sociedade industrial de
massas e as grandes transformações socioeconômicas ocorridas no fim do século 19 e
início do século 20, é que dão ensejo ao nascimento do estado contemporâneo. (SPEN-
GLER, Fabiana. Da jurisdição à mediação: por uma outra cultura no tratamento de confli-
tos, 2010, p. 42.)
21 SPENGLER, Fabiana Marion. BRANDÃO, Paulo de Tarso. Os (des) Caminhos da Jurisdição.
Florianópolis: Conceito Editorial, 2009, p. 64.
22 SPENGLER, Fabiana. Da jurisdição à mediação: por uma outra cultura no tratamento de
conflitos, 2010, p. 42.
23 Ibidem, p. 43-46.
24 [...] o direito, para ser exercido democraticamente, ter de assentar numa cultura democrática,
e de esta ser tanto mais preciosa quanto mais difíceis são as condições em que ela se constrói.
(SANTOS, Boaventura de Souza. Para uma revolução democrática da justiça, 2007, p.09).
25 Ibidem, p. 64-65.
26 Ao tornar para si o monopólio da jurisdição, determinando o Direito ao caso concreto de
forma impositiva, o Estado pretende tratar o conflito através da aplicação do Direito positivo.
Por conseguinte, a jurisdição aparece como uma atividade na qual o Estado substitui as partes
num modelo baseado em princípios expressos na própria lei e universalmente reconhecidos.
No entanto, o monopólio da jurisdição deixa gradativamente de pertencer ao Estado, principal-
mente em função da crescente e complexa litigiosidade fomentada pelas contradições sociais,
das quais a marginalização e a exclusão são consequências. Além do aumento considerável
da litigiosidade, a burocracia estatal se agiganta, a produção legislativa acontece de modo
desenfreado e, como consequência, as faculdades discricionárias dos juízes. (SPENGLER,
Fabiana Marion. BRANDÃO, Paulo de Tarso. Os (des) Caminhos da Jurisdição, 2009, p. 67).
27 Além da razão instrumental, haveria uma razão comunicativa, fundada na linguagem,
que se expressaria na busca do consenso entre os indivíduos, por intermédio do diálogo.
Essa razão comunicativa se encontra na esfera cotidiana no “mundo da vida” constituída
pelos elementos da cultura, da sociedade e personalidade. Habermas tenta resgatar o
potencial emancipatório da razão ao afirmar que a modernidade é um projeto inacabado.
Recusa a redução da idéia de racionalidade a racionalidade prático-moral (direito) e da
racionalidade estético-expressiva (arte). Para ele é necessário fazer cessar a “reificação”
e a “colonização” exercida pelo “sistema” sobre o “mundo da vida” mediante a lógica dialo-
gal da ação comunicativa. (VIEIRA, Liszt. Cidadania e globalização. 6 a ed. Rio de Janeiro:
Record, 2002, p. 36-37).
35 Ibidem, p. 51.
36 A ineficiência do Poder Judiciário no exercício da função a ele atribuída decorre também da
incompatibilidade estrutural entre sua arquitetura e a realidade socioeconômica a partir da qual e
sobre a qual tem de atuar. Com seu intrincado sistema de prazos, instâncias e recursos, o Judi-
ciário está organizado como um burocrático sistema de procedimentos escritos, concebido para
solucionar as lides existentes em uma sociedade estável, com níveis equitativos de distribuição
de renda e um sistema legal integrado por normas padronizadoras, unívocas e hierarquizadas em
termos lógicos- formais. (FARIA José Eduardo. O Poder Judiciário no Brasil: paradoxos, desafios
e alternativas. Brasília: Conselho da Justiça Federal, Centro de Estudos Judiciários, 1996, p. 102).
37 Ibidem, p. 51.
38 LEAL, Rogério Gesta. O Estado-Juiz na democracia contemporânea: uma perspectiva proce-
dimentalista. Porto Alegre: Livraria do Advogado Ed., 2007, p. 36.
39 Ibidem, p. 33-34.
40 SANTOS, Boaventura de Souza. Para uma revolução democrática da justiça, 2007, p.09.
41 É sabido que o conflito foi uma das chaves da história cidades-estado. Contudo, e esse é um
ponto fundamental, ele não se resumia às frequentes guerras externas, ou às lutas com a po-
pulação dominada e não integrada. Isso porque a própria comunidade cidadã não era, e nunca
foi, igualitária ou harmônica. O sentimento e a prática da unidade não impediram que as próprias
comunidades fossem crivadas por disputas internas, por suas próprias regras de exclusão e in-
clusão no espaço público que as definia. (PINSKY, Jaime. PINSK, Carla Bassanezi, História da
cidadania. São Paulo: Contexto, 2003, p. 36-37).
42 A cidadania enquanto vivência dos direitos humanos é uma conquista da burguesia: direitos
de cidadania são os direitos humanos, que passam a constituir-se em conquista da própria hu-
manidade. A cidadania, pois, significa a realização democrática de uma sociedade, compartilha-
da por todos os indivíduos ao ponto de garantir a todos o acesso ao espaço público e condições
de sobrevivência digna, tendo como valor-fonte a plenitude de vida. Isso exige organização e
articulação política da população voltada para a superação da exclusão existente. (CÔRREA,
Darcísio. A construção da cidadania: reflexos histórico- políticas. Ijuí: Ed. Unijuí, 2000, p. 217).
43 O regime democrático é a forma de vida política que dá maior liberdade ao maior número
de pessoas, que protege e reconhece a maior diversidade possível. (TOURAINE, Alain. O que é
democracia? Tradução: Guilherme João de Freitas Teixeira. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996, p. 25).
44 BATISTA, Keila Rodrigues. Acesso à justiça: instrumentos viabilizadores. São Paulo: Letras
Jurídicas, 2010,p. 43.
45 TOURAINE, Alain. O que é democracia? Tradução: Guilherme João de Freitas Teixeira. Pe-
trópolis, RJ: Vozes, 1996, p, 46.
46 Ibidem, p. 46-47.
47 TOURAINE, Alain. O que é democracia? Tradução: Guilherme João de Freitas Teixeira. Pe-
trópolis, RJ: Vozes, 1996, p. 47.
48 DAHL, Robert. A. Sobre a democracia. Tradução de Beatriz Sidou. Brasília: Editora Universi-
dade de Brasília, 2001, p. 17.
49 Ibidem, p. 19.
50 Ibidem.
51 DAHL, Robert. A. Sobre a democracia. Tradução de Beatriz Sidou. Brasília: Editora Universi-
dade de Brasília, 2001, p. 19.
52 Ibidem.
53 TOURAINE, Alain. O que é democracia?Tradução: Guilherme João de Freitas Teixeira. Pe-
trópolis, RJ: Vozes, 1996, p.17.
54 Ibidem, p. 24.
55 Dados trazidos pelo Relatório Justiça em Números, do Conselho Nacional de Justiça, objeto
de análise no próximo item.
56 Os novos métodos consensuais de resolução dos conflitos são modelos de interação social
que foge daquele modelo impositivo, antagônico e dá espaço para o vínculo participativo, dialó-
gico e cooperativo.
57 ETZIONI, Amitai. La terceravíahacia uma buenasociedad. Propuestas desde elcomunitaris-
mo. Prólogo de José Pérez Adán. Madri: Editorial Trotta, 2001, p. 15.
58 A mediação comunitária como um meio de resolução de conflitos apresenta plausíveis van-
tagens envolvendo essas comunidades de baixa renda, devolvendo à autonomia desenvolvida
nas partes conflitantes que agora passam a praticar a análise de seus próprios conflitos e as
soluções possíveis para seus próprios problemas.
59 A pobreza é o maior dos flagelos que a humanidade enfrenta no início do novo milênio. Fla-
gelo de enorme magnitude e complexidade, associada à exclusão e a desigualdade social. A
desigualdade entre os ricos e os pobres é expressa na estimativa de que os 10% mais abastados
usufruem 54% da renda mundial, enquanto os 40% mais pobres ficam com apenas 5%. Como
consequência desta realidade desenvolvem-se conflitos que são peculiares e constantes nas
comunidade mais carentes, dentre eles percebem-se problemas com ameaça de morte, conflitos
conjugais, violência doméstica e dificuldade com a disciplina dos filhos. (SCHMIDT, João P. Ex-
clusão, inclusão, e capital social: o capital social nas ações de inclusão. IN: LEAL, R; REIS, J.R.
Direitos Sociais e Políticas Públicas 6. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2006, p. 1755)
60 DEMO, Pedro. Participação e conquista. São Paulo: Editora Cortez, 2001, p. 33-34.
61 AMARAL, Márcia Terezinha Gomes. O direito de acesso à justiça e a mediação. Rio de Ja-
neiro: Editora Lumen Juris, 2009, p, 49.
62 CAPELLETTI, Mauro. GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleet.
Porto Alegre; Fabris, 1988, p. 15.
63 BEZERRA, Paulo Cesar Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da
realização do direito. 2 a ed. Rio de janeiro: Renovar, 2008, p. 94.
64 Ibidem, p. 96.
65 O que se quer dizer é que a norma deve estar em conexão com a realidade do mundo dos
fatos sociais, sob pena de simplesmente existir um despótico direito, apenas positivado, mas
sem o respaldo da necessária aceitação e compreensão por parte da sociedade. (Ibidem).
de ser mais “social”, que proporcione mais acesso à justiça, já que a lei que
vai ser aplicada no seio social deve ser o principal veículo de efetiva demo-
cratização social, de eliminação das desigualdades e injustiças sociais. O
que é necessário é uma mudança na legislação e na própria postura dos
operadores do direito; mudança na postura ética para se alcançar mudança
no aspecto social, já que
66 Ibidem, p. 95.
67 Nesta etapa evolutiva, tem-se hodiernamente o problema do controle jurisdicional in-
dispensável como regra no direito pátrio. Com efeito, a regra do controle jurisdicional é in-
dispensável, quando se trata de direitos indisponíveis. Assim, em certos litígios que versam
sobre tais direitos, não há que se falar em soluções sem que seja submetido o conflito ao
conhecimento do Poder Judiciário. Em outras espécies de direitos, tidas como disponíveis, o
próprio ordenamento jurídico em vigor estabelece regras claras para uma solução alternativa,
muitas vezes assegurando até mesmo a autocomposição, sem necessidade de se adentrar o
campo judicial. (ARAÚJO, José Henrique Mouta. Acesso á justiça e efetividade do processo:
a ação monitória é um meio de superação dos obstáculos?. 1 a ed. Curitiba:Juruá, 2011, p.
33-34).
68 BEZERRA, Paulo Cesar Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da
realização do direito. 2 a ed. Rio de janeiro: Renovar, 2008, p. 98.
69 Ibidem, p. 98.
70 Em termos de legislação constitucional, o que vai pelo mundo, relativo a acesso à justiça,
quase que se resume a estabelecer assistência judiciária gratuita. (Ibidem, p. 100).
Acesso à justiça não pode mais ser relacionando com a mera admissão de
uma demanda em juízo. Para que haja o efetivo acesso à justiça é indispensável
que o maior número de pessoas seja admitido a demandar ou a defender-se
adequadamente, nos casos de escolha de via judicial, e que haja segurança de
suas próprias soluções, nos casos de via extrajudicial.72
71 Ibidem, p. 102.
72 BEZERRA, Paulo Cesar Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da
realização do direito. 2 a ed. Rio de janeiro: Renovar, 2008, p. 103-104.
73 Ibidem, p. 107.
74 O princípio do acesso á justiça e a garantia do devido processo legal, por se entrelaçarem
nessa proteção constitucional, inserem princípios, sendo que alguns são importantes de serem
citados: princípio da ação, da autonomia da ação, congruência, imparcialidade do juiz, juiz natu-
ral, promotor natural, inafastabilidade da jurisdição, efetividade, duração razoável do processo,
adequação, contraditório, ampla defesa, igualdade das partes, cooperação, instrumentalidade,
economia processual, preclusão, eventualidade e duplo grau de jurisdição. (BATISTA, Keila Ro-
drigues. Acesso à justiça: instrumentos viabilizadores. São Paulo: Letras Jurídicas, 2010, p. 51).
75 BEZERRA, Paulo Cesar Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da
realização do direito. 2 a ed. Rio de janeiro: Renovar, 2008, p. 111-112.
87 Valores deflacionados à data base de 31/12/2011 pelo Índice Nacional de Preços ao Consu-
midor Amplo (IPCA).
88 Número de habitantes segundo estimativa do IBGE. Fonte: www.ibge.gov.br.
A despesa total dos tribunais superiores foi de R$ 2,3 bilhões, o que equi-
vale a aproximadamente 0,06% do PIB e a 0,15% das despesas da União. Des-
se total, 895 milhões foram gastos pelo STJ, 661 milhões pelo TST, 459 milhões
pelo TSE e 323 milhões pelo STM. Grande parte dessa despesa foi realizada
com recursos humanos, atingindo os percentuais de 99,7% no TST, 98% no STM
e 90% no STJ. A grande exceção, não só entre os tribunais superiores, mas de
todo o Poder Judiciário brasileiro, é o TSE, que apresentou somente 41% de sua
despesa total em recursos humanos.
Os tribunais superiores contam com 82 magistrados e 6.458 servi-
dores (efetivos, requisitados e comissionados sem vínculo), além de 4.815
terceirizados e estagiários (43% do total de servidores). O percentual de
servidores na área judiciária é de 55% no TST, 53% no STJ, 18% no TSE e
9% no STM.
No decorrer de 2011, tramitaram cerca de 371 mil processos no TST (54%
desse percentual referente a processos pendentes de anos anteriores), 5,8 mil
no TSE (37% de pendentes) e 1,2 mil no STM (35% de pendentes). Não foi pos-
sível determinar o quantitativo de processos em tramitação no âmbito do STJ,
uma vez que este tribunal não informou o quantitativo de processos pendentes
de anos anteriores. Verifica-se, entretanto, que este tribunal baixou um total de
processos equivalente a 69% de seus processos. Para os demais tribunais su-
periores, essa relação equivale a mais de 90%.
Os processos do STJ e TSE foram subdivididos em criminais e não crimi-
nais, sendo o percentual de processos de natureza criminal ingressados no STJ
equivalente a 18% do total. Já no TSE esse percentual foi de 2%. Cada magis-
trado julgou, em média, 6.955 processos no STJ, 6.299 processos no TST, 1.160
processos no TSE e 54 processos no STM.
Os tribunais superiores apresentam grandes diversidades entre si, com
volume e natureza processuais completamente distintas. Portanto, os dados
aqui expostos são apenas informativos e devem ser evitadas comparações en-
tre eles.91
95 Para cada situação existencial surgem sistemas estruturantes que servem para garantir certa inde-
pendência e experimentação a fatos novos, estabilizando-se as relações, frente a desapontamentos.
Por estes comportamentos, é possível a criação de expectativas em relação ao mundo circundante,
fazendo-se com que a experimentação, a complexidade e a contingência se apresentem como situações
estruturalmente imobilizadas, dando ao homem a sensação de imunidade aos desapontamentos. Além
desta estrutura imobilizada, têm-se as experiências vivenciadas por outros homens, que para nós, ser-
vem como situações já enfrentadas e livres, portanto, de experimentação. O preço desta experimentação
compartilhada pode ser a potenciação do risco, e a elevação da contingência simples do campo de per-
cepção, para o campo do nível da dupla contingência. Sob as condições da dupla contingência pode-se
afirmar que toda experimentação e todo agir social possuem dupla relevância: uma tem haver com o nível
de percepção das atitudes imediatas de comportamento, e a outra, em termos de avaliação do compor-
tamento próprio em relação às expectativas do outro. (LUHMANN, Niklas. Sociologia do Direito I, 1983).
96 Na visão geral, as instituições representam uma seqüência de problematização, o que é típico
para todas as instituições sociais. Logo, quanto mais uma sociedade se desenvolve, mais necessi-
dades e problemáticas iram afetar a prática da normativização. Nesse contexto, necessário situar o
direito através de sua função e suas ações específicas. Evidentemente que nem todas as normas,
instituições e princípios possuem relevância, caso em que se faz necessária certa seletividade em
sua discussão. O direito pode ser concebido de forma funcional e seleta, por tratar de situações
práticas e distintas, precipuamente quando trata de direitos pessoais. Não obstante, o direito não
pode ser considerado um elemento meramente coativo, mas também um alívio para as expecta-
tivas. A coação relevante para o direito, pousa na obrigatoriedade de selecionarmos expectativas,
enquanto que o alívio consiste na disponibilidade de caminhos coerentes e generalizados para as
expectativas. Nesse sentido, o direito é essencial para a evolução social. (Ibidem1983).
97 SPENGLER, Fabiana. Da jurisdição à mediação: por uma outra cultura no tratamento de
conflitos, 2010, p. 102.
98 A divergência empírica sobre o direito quase nada tem de misteriosa. As pessoas podem divergir a
propósito de quais palavras estão nos códigos da mesma maneira que divergem sobre quaisquer outras
questões de fato. Mas a divergência teórica no direito, a divergência quanto aos fundamentos do direito, é
mais problemática. Num sentido trivial, é inquestionável que os juízes “criam novo direito” toda vez que de-
cidem um caso importante. Anunciam uma regra, um princípio, uma ressalva a uma disposição - por exem-
plo, de que a segregação é inconstitucional, ou que os operários não podem obter indenização em juízo
por danos provocados por companheiros de trabalho - nunca antes oficialmente declarados. Em geral,
porém, apresentam essas “novas” formulações jurídicas como relatos aperfeiçoados daquilo que o direito
já é, se devidamente compreendido. Alegam, em outras palavras, que a nova formulação se faz necessária
em função da correta percepção dos verdadeiros fundamentos do direito, ainda que isso não tenha sido
previamente reconhecido, ou tenha sido, inclusive, negado. Portanto, o debate público sobre a questão de
se os juízes “descobrem” ou “inventam” o direito constitui, na verdade, um debate sobre se e quando essa
ambiciosa pretensão é verdadeira. Se alguém diz que os juízes descobriram a ilegalidade da segregação
nas escolas, é porque já acreditava que a segregação era de fato ilegal, mesmo antes da decisão que a
declarou como tal e ainda que nenhum tribunal tivesse afirmado isso anteriormente (DWORKIN, Ronald. O
Império do Direito: tradução Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 08-09).
99 Quando se faz uma análise mais demorada das origens, dos princípios e implementações de
nosso Direito Estatal, quase sempre identificado com a estrutura de poder e desvinculado das
práticas sociais comunitárias, compreende-se com mais facilidade as raízes de seu exaurimento.
Essa estrutura periférica e dependente é profundamente atingida por violentas contradições e
incontidos conflitos de natureza social, econômica e política. Trata-se da falência de uma ordem
jurídica herdada do século XVIII, por demais ritualizada, dogmática e desatualizada, que, em
suas raízes nunca traduziu as verdadeiras condições e intentos do todo social.(WOLKMER,
Antonio Carlos. Pluralismo Jurídico: Fundamentos de uma nova cultura no Direito, 2001, p. 90).
100 Ibidem, p. 90
101 A importância da discussão sobre o pluralismo jurídico enquanto expressão de um “novo” Direito
é plenamente justificada, porquanto o modelo de cientificidade que sustenta o aparato de regulamen-
tação estatal liberal-positivista e a cultura normativista lógico-formal já não desempenha a sua função
primordial, qual seja a de recuperar institucionalmente os conflitos do sistema, dando-lhe respostas
que restaurem a estabilidade da ordem estabelecida. Na medida em que o aparato de modelos insti-
tucionais desta ordem apresenta-se insuficiente para dar conta de suas funções, tornando as relações
sociais previsíveis e regulares, a série de sintomas disfuncionais deflagra a crise desse aparato, daí
emergindo formas alternativas que todavia carecem de um conhecimento adequado (WOLKMER,
Antonio Carlos. Pluralismo Jurídico: Fundamentos de uma nova cultura no Direito, 2001, p. XVII).
102 SPENGLER, Fabiana. Da jurisdição à mediação: por uma outra cultura no tratamento de
conflitos, 2010, p. 76.
103 WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo Jurídico: Fundamentos de uma nova cultura no
Direito, 2001, p. 90-91.
A esse respeito, pode-se dizer que a íntima conexão entre a suprema racionali-
zação do poder soberano e a positividade106 formal do Direito conduz à coesa e predo-
minante doutrina do monismo107. Tal concepção atribui ao Estado Moderno o monopó-
108 Todo o cidadão, cuja ideia política alinha-se as suas decisões, passa por estágios procedi-
mentais, tais estágios têm estreita ligação com a teoria de justiça, que se funde com o seu lugar
na sociedade, e a partir daí julga suas pretensões, em relação ao sistema social. De forma que
não é possível assegurar que as regras seguidas serão de acordo com a legislação justa, sendo
que o esquema da perfeita justiça processual é inatingível. É sabido também, que as normas são
feitas com o objetivo de serem seguidas pela forma justa, tendendo a se alinhar aos princípios
da justiça, do que, propriamente, a utilidade. A melhor Constituição é aquela em que quando de
sua elaboração os critérios de resultados desejados já são vistos e o estágio legislativo vem a
lhe dar sustentação, valendo-se dos ajustes sociais e efetivos. Logo, a discussão se a Consti-
tuição é justa ou não está comumente ligada à divergência de opiniões. Neste contexto, Rawl
traça uma divisão de trabalho para a convenção constitucional, sendo que a primeira divisão
abrange o preenchimento dos requisitos formais, que basicamente se resumem às liberdades
fundamentais da pessoa, a liberdade de consciência e de pensamento e que o processo político
seja um processo justo, haja vista o status que a Constituição passa de equitativa igualdade de
oportunidade, sujeita, portanto, à manutenção das liberdades. A segunda parte traça o paralelo
hierárquico presente nas formas organizacionais, para que se fixem os padrões da cooperação
social, haja vista que o primeiro princípio de justiça se reflete na convenção constitucional le-
gislativa. A última fase do estágio se verifica quando da aplicabilidade das regras pelos juízes e
administradores, bem como pelo cumprimento pelos cidadãos. Patamar em que todos possuem
acesso a todos os fatos. Nesta etapa, cada aplicador possui a propensão a valer-se de todos os
conhecimentos disponíveis, aplicando-os ou não, dando, portanto, surgimento à teoria do cum-
primento parcial e a teoria ideal. (RAWL, John. Uma teoria da Justiça. Trad. De Vamireh Chacon.
Brasília. Editora Universidade de Brasília, 1981).
109 WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo Jurídico: Fundamentos de uma nova cultura no
Direito, 2001, p. 46.
110 As teorias semânticas pressupõem que os advogados e juízes usam basicamente os mesmos
critérios (embora estes sejam ocultos e passem despercebidos) para decidir quando as proposições
jurídicas são falsas ou verdadeiras; elas pressupõem que os advogados realmente estejam de acordo
quanto aos fundamentos do direito. Essas teorias divergem sobre quais critérios os advogados de fato
compartilham e sobre os fundamentos que esses critérios na verdade estipulam. (...). Essas teorias
positivistas, como são chamadas, sustentam o ponto de vista do direito como simples questão de fato,
aquele segundo o qual a verdadeira divergência sobre a natureza do direito deve ser uma divergência
empírica sobre a história das instituições jurídicas. As teorias positivistas, contudo, diferem entre si so-
bre quais fatos históricos são cruciais, e duas versões têm sido particularmente importantes na doutrina
britânica (DWORKIN, Ronald. O Império do Direito, 1999, p. 41).
111 SPENGLER, Fabiana. Da jurisdição à mediação: por uma outra cultura no tratamento de
conflitos, 2010, p. 78.
112 Ibidem.
113 Ibidem.
114 WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo Jurídico: Fundamentos de uma nova cultura no
Direito, 2001, p. 91.
115 A luta por esses “novos” direitos por parte dos setores comunitários intermediários represen-
tados, sobretudo, pelos movimentos sociais organizados, efetiva-se em duas fases:
a) A exigência para tornar eficazes os direitos já alcançados e proclamados formalmente pela
legislação oficial estatal;
b) A reivindicação e o reconhecimento dos direitos que emergem de novas necessidades que a
própria população cria e se autoatribui. Na verdade, toda a causalidade da interação coletiva de edifi-
cação desses “novos” direitos comunitários deve-se à ineficácia de uma legislação estatal importada
da Metrópole colonizadora e inteiramente desvinculada dos reais interesses dos segmentos majori-
tários de nossa sociedade. Consequentemente, vive-se um “processo de construção coletiva de uma
nova cidadania”, pressuposto básico para implementar uma nova legitimidade de poder. (WOLKMER,
Antonio Carlos. Pluralismo Jurídico: Fundamentos de uma nova cultura no Direito, 2001, p. 92-93).
116 Ibidem, p. 92.
Logo, é possível conceber que a crise vivenciada pela justiça Oficial, re-
fletida na sua inoperacionalidade, lentidão, ritualização burocrática, comprome-
timento com os “donos do poder” e a falta de meios materiais e humanos, não
deixa de ser sintoma indiscutível de um fenômeno mais abrangente, que é a pró-
pria falência da ordem jurídica estatal. O que importa é ter consciência de que “a
grande questão (...) é aquilo que muitos parecem não ver: o estar formado numa
cultura jurídica incapaz de entender a sociedade e seus conflitos e a má vontade
em discutir a democratização efetiva deste ramo do Estado”. 119
Entretanto, enfatizar a proposição de que o Judiciário como locus de ne-
gociação está defasado no Brasil contemporâneo não implica sua rejeição como
instância futura de absorção dos conflitos coletivos,
É sabido que, desde que o ser humano surgiu na Terra, ele se organizou
em sociedades imperfeitas e insuficientes que, de qualquer forma, garantiram a
sobrevivência dessa espécie tão frágil. Não sendo os mais fortes, os humanos
provaram ser os mais inteligentes dos animais (por mais que as vezes se esfor-
cem por negar tal atributo). A inteligência nos tornou seres inquietos, rebeldes,
curiosos, permanentemente insatisfeitos. O homem é o bicho que mais se adap-
ta e, ao mesmo tempo, que mais ousa! “Ser homem é ser descontente”, afirmou
Fernando Pessoa, poeta, pesquisador dos caminhos misteriosos da alma.124
122 SPENGLER, Fabiana. Da jurisdição à mediação: por uma outra cultura no tratamento de
conflitos, 2010, p. 14-15.
123 Na teoria da ação comunicativa, a sociedade está articulada em dois níveis: os paradigmas
do mundo da vida e o sistema. O “mundo da vida” é onde os atores sociais atuam e que pode ser
diferenciado como: um mundo objetivo, enquanto conjunto de entidades sobre as quais se produ-
zem enunciados verdadeiros; já o mundo social é tido como um conjunto de relações interpessoais
legitimamente reguladas. Desta forma, nesse mundo de vida compartilhado, os sujeitos possuem
a capacidade da linguagem e ação, e devem, portanto, “se relacionar com algo” no mundo objetivo
quando quiserem se entender entre si “sobre algo”, nas relações práticas. Essa possibilidade de se
relacionar, com si e com outros, é um pressuposto pragmático. Desse modo, os pressupostos de
uma ação comunicativa, enquanto condições de acesso ao mundo da vida e, como meio de forma-
ção do consenso, é a necessidade dos participantes de terem mútua capacidade de responder e
de se responsabilizarem por seus atos, estarem dispostos mutuamente ao entendimento e “atuar
sobre um consenso, ou seja, buscando um acordo. (HABERMAS, Jürgen. Teoria de laAccion Co-
municativa: complementos y estúdios prévios Madrid: Taurus, 2001, p. 144).
124 MARX, Karl, Engels, Friedrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Cortez, 1998, p. 11.
125 MARX, Karl, Engels, Friedrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Cortez, 1998.
126 O mundo europeu do meio do século passado era marcado, por um lado, pela consolidação
da Revolução Industrial, e, por outro pelo agravamento da crise do Antigo Regime, que tentava
restaurar velhas dinastias por meio da reação antiliberal. Isto se traduzia em poder da burguesia,
expansão imperialista dos mercados e fortalecimento da ideologia liberal-capitalista, baseada na
não intervenção do Estado na economia e na livre concorrência ao lado dos violentos estertores
do absolutismo, que resistia de todas as maneiras às revoluções liberais. (MARX, Karl, Engels,
Friedrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Cortez, 1998, p. 14).
127 O Manifesto corta com a afiada faca da ironia três tipos de socialismo da época: “o socia-
lismo reacionário” (subdividido em socialismo feudal, socialismo pequeno-burguês e socialismo
alemão ou verdadeiro), “o socialismo conservador e burguês” e o “socialismo e comunismo críti-
co-utópico. (MARX, Karl, Engels, Friedrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Cortez,
1998, p. 26).
128 Admitir democraticamente que não constituíam o único grupo a defender o proletariado
não significou para os comunistas do Manifesto a negação de sua identidade. Aliás, o manual
revolucionário foi escrito exatamente para afirmá-la. E a identidade própria dos comunistas está,
por um lado, no internacionalismo, que parte do entendimento de que os interesses da classe
trabalhadora são os mesmos em todo o mundo, e por outro lado, na defesa dos interesses gerais
do proletariado, o que não deixa de ser, aliás, um tanto genérico. (MARX, Karl, Engels, Friedrich.
Manifesto do partido comunista. São Paulo: Cortez, 1998, p. 23).
O medo é traiçoeiro e pode criar uma bravura ao redor de si; uma bravu-
ra indeterminada contra o mundo131 que é um simulacro de enfrentamento do
conflito. Uma bravura sem endereço: uma bravura que, unicamente, serve para
129 SALES, Lilia Maia de Morais. Transformação de conflitos, construção do consenso e a me-
diação- complexidade dos conflitos. In: SPENGLER, Fabiana Marion. SPENGLER, Theobaldo
Neto. Mediação enquanto política público. (recurso eletrônico): a teoria, a prática e o projeto de
lei. 1 ed. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2000, p. 88).
130 WARAT, Luis Alberto. Surfando na pororoca: ofício do mediador. Coordenadores: Orides
Mezzaroba, Arno Dal Ri Júnior, Aires José Rover, Cláudia Servilha Monteiro. Florianópolis: Fun-
dação Boiteux, 2004, p. 23.
131 Os problemas da sociologia reduzem-se a um fato tão acessível à nossa experiência ingê-
nua, como os fatos naturais do nosso mundo. Este é o fenômeno sociedade que, advertindo-nos
tão seguida e intensivamente, por fundadas razões também pode ser descrito como um fato
“irritante”. A mera probabilidade ocasional dificilmente poderá explicar nosso comportamento em
relação aos outros e a nós mesmos. Obedecemos leis, votamos em eleições, casamos, frequen-
tamos escolas e universidades, temos uma profissão e somos membros de uma igreja. Cuida-
mos de nossos filhos, tiramos o chapéu ante nossos superiores, damos preferência aos mais
velhos, falamos com diversas pessoas em diversas línguas, sentimo-nos aqui em casa, acolá
forasteiros. Não conseguimos andar um passo, não conseguimos proferir uma sentença, sem
que entre nós e o mundo se interponha um terceiro que nos vincula ao mundo e que relaciona as
duas abstrações tão concretas: a sociedade. E existe uma explicação para o tardio surgimento
da consciência da sociedade, esta só pode ser procurada na onipresença de seu objeto, que
está inserido em sua própria descrição e análise. O objeto da sociologia gira em torno do homem
confrontado com o “fato irritante da sociedade”. O homem, todo o homem, defronta-se com
este fato; é este fato que, mesmo imaginável independe de determinados indivíduos, torna-se
mera ficção sem a participação de determinados indivíduos. No espaço em que se entrecortam
homem e sociedade, é que se devem procurar os elementos de uma ciência que tem por objetivo
o homem em sociedade. (DAHRENDORF, Ralf. Homo sociologicus: ensaio sobre a história, o
significado e a crítica da categoria social. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1991, p. 39-40).
132 WARAT, Luis Alberto. Surfando na pororoca: ofício do mediador. Coordenadores: Orides
Mezzaroba, Arno Dal Ri Júnior, Aires José Rover, Cláudia Servilha Monteiro. Florianópolis: Fun-
dação Boiteux, 2004, p. 23.
133 MULLER, Jean- Marie. O princípio da não violência. Percurso filosófico Tradução de Maria
Fernanda Oliveira. Lisboa. Instituto Piaget: 1995, p. 16.
134 MULLER, Jean- Marie. O princípio da não violência. Percurso filosófico Tradução de Maria
Fernanda Oliveira. Lisboa. Instituto Piaget: 1995, p. 16-17.
135 MULLER, Jean- Marie. O princípio da não violência. Percurso filosófico Tradução de Maria
Fernanda Oliveira. Lisboa. Instituto Piaget: 1995. Apud René Girard. Des caché es depuis La
fondation du monde, investigações conjuntas com J.D. Oughourlian e Guy Lefort, Paris, Grasset,
1983, p. 15-16.
136 Ibidem.
137 Ibidem.
138 MULLER, Jean- Marie. O princípio da não violência. Percurso filosófico Tradução de Maria
Fernanda Oliveira. Lisboa. Instituto Piaget: 1995, p. 17-18.
139 ENRIQUEZ, EUGENÈ. As figuras do poder. Tradução de Nina Melo. São Paulo: Via Lettera
Editora e Livraria, 2007, p. 68.
140 Os conflitos daí resultantes são sutis em alguns lugares e ostensivos em outros, mas são
quase que onipresentes. Pode ter parecido estranho para observadores distantes, quando o
prefeito eleito da parte flamenga da Bélgica foi deposto pelo governo porque falava somente
francês, mas não é engraçado. Os suíços tiveram afinal que aceitar a separação de um cantão
do Jura do velho cantão de Berna. Na Califórnia, um referendo correu em favor do inglês como
única língua oficial, mas é óbvio que muitos californianos continuaram a falar espanhol e que,
provavelmente, esses últimos irão vencer numa outra oportunidade. A guerra civil irlandesa tem
uma longa história, mas evoluiu para o pior nos anos recentes, o que faz com que a perspectiva
de uma divisão do poder seja muito improvável. (DAHRENDORF, Ralf. O conflito social moderno:
um ensaio sobre a política da liberdade. Tradução: Renato de Aguiar e Marco Antonio Esteves da
Rocha. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed. São Paulo: Edusp, 1992, p. 164).
141 Refletir sobre as formas da vida humana e analisá-las cientificamente é seguir rota
oposta a do seu verdadeiro desenvolvimento histórico. Começa-se depois do fato consuma-
do, quando estão concluídos os resultados do processo de desenvolvimento. As formas que
convertem os produtos do trabalho em mercadorias, constituindo pressupostos da circula-
ção das mercadorias, já possuem a consistência de formas naturais da vida social, antes de
os homens se empenharem em aprender, não o caráter histórico dessas formas, que eles,
ao contrário, consideram imutáveis, mas o seu significado. (MARX, Karl. O capital: crítica
da economia política. Tradução: Reginaldo Sant’Anna. 23ª ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2006, p. 97).
142 ENRIQUEZ, EUGENÈ. As figuras do poder. Tradução de Nina Melo. São Paulo: Via Lettera
Editora e Livraria, 2007, p. 69.
143 MULLER, Jean- Marie. O princípio da não violência. Percurso filosófico Tradução de Maria
Fernanda Oliveira. Lisboa. Instituto Piaget: 1995, p. 18.
144 Os conflitos têm de ser vistos para serem reais. Não faz muito sentido imputar profun-
das clivagens às estruturas sociais e políticas se choques não acontecem dentro delas. Con-
sequentemente, está claro que nas sociedades contemporâneas da OCDE não há conflitos
de classe no sentido clássico do termo. A maioria dos observadores não consegue detectar
batalhas políticas entre grupos sociais que estejam divididos por barreiras generalizadas de
poder e de prerrogativas. Há sobras do velho conflito. A classe da maioria continua suas es-
caramuças por redistribuição. Em alguns lugares, a linguagem de conflito de classe ainda é
empregada, e se olhamos para a divisão Norte-Sul na Itália, ou a Sul-Norte na Grã-Bretanha,
podemos apreciar as razões. Mas, mesmo nesses países, a classe no velho sentido não é a
base predominante do conflito, e quaisquer que sejam as novas linhas de divisão e antago-
nismo que estejam emergindo, não conduzem a lutas organizadas entre novos ricos e novos
despossuídos. (DAHRENDORF, Ralf. O conflito social moderno: um ensaio sobre a política
da liberdade. Tradução: Renato de Aguiar e Marco Antonio Esteves da Rocha. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar. Ed. São Paulo: Edusp, 1992, p. 167).
145 MULLER, Jean- Marie. O princípio da não violência. Percurso filosófico. Tradução de Maria
Fernanda Oliveira. Lisboa. Instituto Piaget: 1995, p. 18.
146 Ora, quando se trata de um conflito, não devemos entendê-lo, pois não podemos. Muitas
coisas nele são ocultas, mas podemos senti-las. Se tentarmos entendê-las, não encontrare-
mos nada, corremos o risco de agravar o problema. Para mediar, como para viver, é preciso
sentir o sentimento. O mediador não pode se preocupar por intervir no conflito, transformá-lo.
Ele tem que intervir sobre o sentimento das pessoas, ajudá-las a sentir seus sentimentos,
renunciando à interpretação. Os conflitos nunca desaparecem, se transformam, isso porque
geralmente tentamos intervir sobre o conflito e não sobre o sentimento das pessoas. Por isso
é recomendável, na presença de um conflito pessoal, intervir sobre si mesmo, transformar-se
internamente, então, o conflito se dissolverá (se todas as partes comprometidas fizeram a
mesma coisa). WARAT, Luis Alberto. Surfando na pororoca: ofício do mediador. Coordena-
dores: Orides Mezzaroba, Arno Dal Ri Júnior, Aires José Rover, Cláudia Servilha Monteiro.
Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004, p. 26).
a justiça por si só, isto o é, simples respeito pelos direitos de cada um,
não basta para criar uma relação de homem para homem. Ela mantém
ainda os próximos separados um do outro. Fazer-se respeitar é ain-
147 A ciência social até o momento nos apresentou dois tipos novos de homens, altamente
problemáticos, que, na realidade, de nossa experiência diária, dificilmente podem ser encontrados.
Um é o muito discutido “homo oeconomicus” da moderna ciência econômica: o consumidor, que
antes de qualquer compra, decide cuidadosamente sobre utilidade e custo, comparando cen-
tenas de preços antes de tomar uma decisão; o empresário que reúne mentalmente todos os
mercados e bolsas de valores, orientando todas as tomadas de decisão a partir deste conheci-
mento; o homem bem informado, completamente racionalizado. Para a nossa experiência ingê-
nua, trata-se de uma criatura singular. Mesmo assim trata-se de uma criatura singular. [...] muito
mais ameaçador é o paradoxo das nossas relações com o segundo homem da ciência social.
O “psychologicalman”, é aquele homem que, mesmo fazendo sempre o bem, possivelmente
sempre queira o mal, o homem dos motivos sub-reptícios, que não se torna mais conhecido pelo
fato de termos aformoseado em sua espécie de divertimento social. Por isso, em nenhum caso
a necessidade se apresenta tão nítida de, se não reconciliar, pelo menos tornar compreensível
e viável o dilema da duplicidade do mundo. (DAHRENDORF, Ralf. Homo sociologicus: ensaio
sobre a história, o significado e a crítica da categoria social. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
1991, p, 37-38).
148 O maior dos problemas enfrentados pelo direito na sociedade contemporânea decorre da
ausência de um conjunto de valores válidos como padrão de comportamento em todas as esfe-
ras da vida social. Desta ausência decorre a exigência do surgimento de uma sociedade pluralis-
ta caracterizada por diversas visões de mundo, retirando a possibilidade de uma fundamentação
inquestionável do direito, trazendo, como consequência, de um lado, o problema de sua redução
à mera facticidade da imposição coercitiva e, de outro, da pretensão de legitimidade que agora
não pode mais estar fundada em pressupostos legitimadores dados. Interessante o resgate feito
pelo autor no que tange à autocomposição dos conflitos, a partir de procedimentos com poten-
cialidade normativa universal. Tais observações contribuem com a pretensão consensualista do
modelo habermasiano, que impõe ao horizonte dos agentes comunicativos. No que tange à in-
dicação de um racionalismo idealista incompatível com a complexidade da sociedade, caso con-
cebido o consenso como um ideal regulativo, discordo da opinião exarada pelo autor, haja vista
que é possível sim uma releitura do modelo habermasiano à luz de sua teoria, na hipótese em
que o conceito de “mundo da vida” seja considerado uma esfera social na qual a comunicação é
reproduzida por meio da linguagem natural cotidiana e não a partir da especialização que pauta
a linguagem dos sistemas funcionais. (NEVES, Marcelo. Entre Têmis e o Leviatã: uma relação
difícil: o Estado democrático de direito a partir e além de Luhmann e Habermas. E ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2008).
149 MULLER, Jean- Marie. O princípio da não violência. Percurso filosófico. Tradução de Maria
Fernanda Oliveira. Lisboa. Instituto Piaget: 1995, p. 19.
150 MULLER, Jean- Marie. O princípio da não violência. Percurso filosófico. Tradução de Maria
Fernanda Oliveira. Lisboa. Instituto Piaget: 1995, p. 20.
151 A relação entre o mando e a obediência faz com que todo o domínio seja exercido por um
pequeno número, minoria que impõe, desta ou daquela maneira, seus pontos de vista à maioria.
Não existe governo de todos sobre todos, nem mesmo de maior número sobre o menor. O regime
democrático pode eventualmente facultar o revezamento graças às eleições ou a outras formas
de consulta à maioria, mas de fato é sempre uma minoria que decide e orienta segundo suas
diretrizes a atividade política geral do agrupamento. Disso resulta uma segunda consequência:
desde que o aparelho de domínio consiga assegurar sua continuidade, tende inevitavelmente a
cercar de segredo suas intenções e algumas de suas gestões e decisões. Aí está uma condição
indispensável de toda atividade coerentemente eficaz. A natureza e o número dos atos que os
governos dissimulam podem variar de um regime para o outro, ou ainda de um Estado para o
outro, mas não existe absolutamente domínio que não mantenha segredo em torno de alguns
pontos essenciais. (FREUND, Julien. Sociologia de Max Weber. Tradução: Luiz Claudio e Castro
e Costa, revisão de Paulo Guimarães do Couto. 5ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2003, p, 162).
152 MULLER, Jean- Marie. O princípio da não violência. Percurso filosófico. Tradução de Maria
Fernanda Oliveira. Lisboa. Instituto Piaget: 1995, p. 18-19.
153 BATISTA, Keila Rodrigues. Acesso à justiça: instrumentos viabilizadores. São Paulo: Letras
Jurídicas, 2010, p. 12.
154 MORAIS, José Luis Bolzan. SPENGLER, Fabiana Marion. Mediação e arbitragem: alterna-
tiva à jurisdição. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012, p. 105.
155 Ibidem, 105.
156 Ibidem, p. 106.
157 Ibidem, p. 106.
158 BACELLAR, Roberto Portugal. O Poder Judiciário e o paradigma da guerra na solução dos
conflitos. . In: RICHA, Morgana de Almeida; PELUSO, Antonio Cezar; (Coord). GRINOVER, Ada
Pellegrini...[et.al.]. Conciliação e mediação: estruturação da política judiciária nacional. Rio de
Janeiro: Forense, 2011, p. 32.
Pelo raciocínio proposto na presente obra, procura-se deixar para trás aquela
visão de que um sistema só é eficiente quando para cada conflito há uma intervenção
jurisdicional e passa-se a construção da ideia de que um sistema de tratamento de con-
flitos é eficiente quando conta com instituições e procedimentos que procuram prevenir
e resolver controvérsias a partir das necessidades e dos interesses das partes. Afinal,
[...] aquela visão de holofote, restrita aos limites do pedido, poderá não
enxergar os verdadeiros interesses. Muitas vezes, essa visão focada
não alcançará o postulado maior, princípio e finalidade do direito, do
processo e do próprio Poder Judiciário, que é a pacificação social. O
holofote, ao iluminar a lide processual, deixa de iluminar fatos, argu-
mentos, justificativas e razões que na perspectiva do jurisdicionado
representariam a verdadeira justiça (justa composição do conflito).160
2.2.1 A jurisdição
2.2.2 A violência
são experiências que ora são efetivadas em uma esfera não estatal,
muito embora com uma anuência passiva do Estado, ora sob a sua
cumplicidade ativa. Tais práticas têm assento em um pilar regulatório,
na medida em que funcionam por meio de mecanismos de controle,
tutela e coerção.175
172 As promessas da Modernidade foram cumpridas para poucos. O pacto social constituía um
acordo entre aqueles que decidiram submeter-se a um poder superior cedendo parte da liberda-
de individual, a fim de que todos pudessem usufruir das potencialidades de uma vida plena. Na
prática, contudo, o que se verificou para a grande maioria dos indivíduos, foi o pagamento do
tributo do pacto, sem a fruição da contrapartida. Esse processo configurou uma perda do poder
persuasivo do contrato social e a legitimidade, antes dele extraída, entrou também em colapso
(FOLEY, Gláucia Falsarella. Justiça comunitária: por uma justiça de emancipação, 2010, p. 36).
173 SOUSA SANTOS. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. 2000, p. 34.
174 1) Apartheid social: a segregação do espaço urbano, dos excluídos que vivem em zonas
consideradas “selvagens”. Neste espaço, o Estado age de maneira predatória, sem qualquer
observância aos princípios do Estado de Direito. 2) Estado Paralelo: os cidadãos incluídos no
contrato social buscam proteção do constante perigo que emana das zonas segregadas, fechan-
do-se em guetos nos quais se faz presente a ação estatal por meio do fornecimento dos serviços
públicos garantidores do bem-estar social, ainda que muitas vezes de forma insatisfatória. 3) Pa-
raestatal: usurpação das funções regulatórias estatais por agentes privados. 4) Populista: são as
promoções de incentivo ao consumismo e a apologia a um estilo de vida absolutamente inaces-
sível à maior parte da população. Esta busca pela realização dos sonhos pessoais “a qualquer
preço” desintegra as possibilidades de criação de redes de solidariedade e de desenvolvimento
de uma ética da alteridade. 5) Insegurança: é o déficit das expectativas futuras em relação às ex-
periências do presente. Este fenômeno gera uma ansiedade que se resolve no setor privado, que
comercializa a segurança. 6) Financeiro: refratários a uma intervenção democrática, os agentes
controladores do mercado financeiro podem provocar abalos econômicos irreversíveis e definir
rumos políticos de vários países (SANTOS, Boaventura de Sousa. Reinventar a democracia:
entre o pré-contratualismo e o pós-contratualismo. In Os sentidos da democracia: Política do dis-
senso e hegemonia global. Organização: FRANCISCO DE OLIVEIRA e MÁRCIA CÉLIA PAOLI,
Petrópolis, Vozes, 1999, p. 102)
175 FOLEY, Gláucia Falsarella. Justiça comunitária: por uma justiça de emancipação, 2010, p. 75.
2.2.3 A conciliação
Assim, a conciliação pode ser vista como uma zona intermediária de re-
solução de conflitos e já que dispensa o pronunciamento unilateral do juiz
sobre o mérito da causa, a condução da audiência é feita por um terceiro, juiz
leigo ou conciliador privado – com poderes para sugerir, ponderar, aconselhar as
partes quanto à melhor solução para o conflito.
Sem prejuízo de que a conciliação pode ocorrer em uma esfera privada, a
tentativa de conciliação judicial está prevista na legislação brasileira como uma
etapa obrigatória, tanto no procedimento ordinário – art. 331 do Código de Pro-
cesso Civil – quanto no rito previsto na Lei dos Juizados Especiais – art. 21 da
Lei n. 9.099/95 - bem assim, no art. 846 da CLT. Além disso, em geral, o que se
verifica é que o objeto da conciliação judicial encontra seus limites no próprio
objeto da lide. De qualquer sorte, sendo ou não judicial, a atuação do conciliador
é interventiva, na medida em que seu papel é o de estimular as partes para que
178 TORRES, Jasson Ayres. O acesso à justiça e soluções alternativas. 2005, p. 160.
179 Ibidem, p. 161.
180 BUZZI, Marco Aurélio. Movimento pela Conciliação. In: RICHA, Morgana de Almeida; PE-
LUSO, Antonio Cezar; (Coord). GRINOVER, Ada Pellegrini...[et.al.]. Conciliação e mediação: es-
truturação da política judiciária nacional. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 43.
2.2.4 A arbitragem
181 FOLEY, Gláucia Falsarella. Justiça comunitária: por uma justiça de emancipação, 2010, p. 79.
182 MORAES, Germana de Oliveira. A bandeira da paz na justiça brasileira (Nascimento, berço
e vida durante a gestão inicial do CNJ), 2011, p. 79.
183 TORRES, Jasson Ayres. O acesso à justiça e soluções alternativas, 2005, p. 138.
184 FOLEY, Gláucia Falsarella. Justiça comunitária: por uma justiça de emancipação, 2010, p. 80.
189 SPENGLER, Fabiana. Da jurisdição à mediação: por uma outra cultura no tratamento de
conflitos, 2010, p. 316.
190 WARAT, Luis Alberto (org). Em nome do acordo: A mediação no direito. Florianópolis: AL-
MED, 1998, p.05.
uma vez que trabalha com a figura do mediador que, ao invés de se po-
sicionar em local superior às partes, se coloca no meio delas, partilhan-
do de um espaço comum e participativo, voltado para a construção do
consenso num pertencer comum. Isso se dá porque a mediação não é
uma ciência, mas uma arte na qual o mediador não pode se preocupar
em intervir no conflito, oferecendo às partes liberdade para discuti-lo.
A mediação, porém, suscita um paradoxo composto pelo fato de dizer
ao juiz que não desempenhe o papel que disseram ser seu, isto é, dei-
xar de decidir e adjudicar para propô-la. Consequentemente, o que se
pede é que pacifique sem decidir, quando seu papel é tradicionalmente
o de decidir sem, necessariamente, pacificar. 192.
191 MOORE, Christipher W. O processo de Mediação: estratégias práticas para a resolução dos
conflitos. Porto Alegre: ArTmed, 1998, p. 28.
192 RESTA, Eligio. Il Dirittofrateno. Roma-Bari: Laterza, 2005, p. 83-84.
193 SPENGLER, Fabiana. Da jurisdição à mediação: por uma outra cultura no tratamento de
conflitos, 2010, p. 320.
194 Ibidem, p. 319.
195 A última ação legislativa se deu em 09/05/2012, na qual houve o envio à Comissão Especial
destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 6025, de 2005, ao Projeto de Lei nº 8046, de
2010, ambos do Senado Federal, e outros, que tratam do “Código de Processo Civil” (revogam
a Lei nº 5.869, de 1973) (PL602505). Ademais, foi aprovado requerimento do Sr. Paulo Teixeira
que requer a prorrogação do prazo do Relator-Geral, nos termos do art. 211 do RICD. Dispo-
nível em:<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=490267>
Acesso em 13 nov. 2012.
196 O último movimento foi em 20/12/2010, no qual foi remetido À CÂMARA DOS DEPUTADOS,
ocorrendo a remessa do Ofício SF nº 2428 de 21/12/2010, ao Primeiro-Secretário da Câmara
dos Deputados, encaminhando o projeto para revisão, nos termos do art. 65 da Constituição
Federal (fls. 5701). SENADO FEDERAL. Disponível em:<http://www.senado.gov.br/atividade/
materia/detalhes.asp?p_cod_mate=97249&p_sort=DESC&p_sort2=A&p_a=0&cmd=sort> Aces-
so em: 02 set. 2012.
197 Quadro comparativo entre a redação original do projeto de Lei do Senado n.º 166, de 2010,
o Código de Processo Civil em vigor e as alterações apresentadas no substitutivo do Senador
Valter Pereira. SENADO FEDERAL. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/atividade/mate-
ria/getPDF.asp?t=84496> Acesso em: 03 out. 2012.
198 WALTRICH, Dhieimy Quelem. A mediação comunitária como instrumento democratizador
da justiça. In: SPENGLER, Fabiana Marion. SPENGLER, Theobaldo Neto. Mediação enquanto
política pública [recurso eletrônico]: o conflito, a crise da jurisdição e as práticas mediativas /
organizadores: Fabiana Marion Spengler, Theobaldo Spengler Neto - 1.ed. - Santa Cruz do Sul:
EDUNISC, 2012.
199 Ibidem.
200 Informações retiradas do sítio do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Disponível
em: <http://www.tjrs.jus.br/site/imprensa/noticias/#../../system/modules/com.br.workroom.tjrs/
elements/noticias_controller.jsp?acao=ler&idNoticia=185953>. Acesso em: 12 de jul. 2012.
201 VEZZULA, Juan Carlos. A mediação de conflitos com adolescentes autores de ato infracio-
nal. Editora: Habitus, 2006, p. 80.
202 SPENGLER, Fabiana Marion. Fundamentos políticos da mediação comunitária. Editora
Unijuí, 2012, p. 94.
203 Pode-se fazer a primeira distinção a partir da origem dos mediadores: aqueles que estão estabe-
lecidos no alto e aqueles que se colocam embaixo. De um lado os que são “funcionários” do Estado,
do município ou de um organismo; e, de outro lado, aqueles que são propostos por associações
livres, por cidadãos a outros cidadãos. De um lado mediações institucionais, “monárquicas”, se assim
se pode dizer, aquelas que vêm de um poder estabelecido; de outro, as mediações cidadãs. (SIX,
Jean François Dinâmica da mediação. Editora: Del Rey, 2001 p. 29).
208 FOLEY, Glaucia Falsarella. Justiça comunitária: por uma justiça da emancipação. Belo Ho-
rizonte: Fórum, 2010, p. 95.
209 Ibidem, p. 96.
210 Ibidem.
215 SCHMIDT, João Pedro. MENEGAZZI, Piero Rosa. Bases teóricas para o desenvolvimento
de políticas públicas sobre a informação ambiental. In: REIS, J. R.; LEAL, R.G..(org.) Direitos
Sociais e políticas públicas: desafios contemporâneos. Tomo 10. Santa Cruz do Sul: Edunisc,
2010, p. 3123.
216 Ibidem.
217 Ibidem.
218 COSTA, Marli da. A transversalidade das políticas públicas na perspectiva de gênero. In:
REIS, J. R.; LEAL, R.G..(org.) Direitos Sociais e políticas públicas: desafios contemporâneos.
Tomo 11. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2011, p. 199.
219 SCHMIDT, João Pedro. MENEGAZZI, Piero Rosa. Bases teóricas para o desenvolvimento
de políticas públicas sobre a informação ambiental. In: REIS, J. R.; LEAL, R.G..(org.) Direitos
Sociais e políticas públicas: desafios contemporâneos. Tomo 10. Santa Cruz do Sul: Edunisc,
2010, p. 2311.
220 SPENGLER, Fabiana Marion. A mediação comunitária enquanto política pública eficaz no
tratamento dos conflitos. In: REIS, J. R.; LEAL, R.G..(org.) Direitos Sociais e políticas públicas:
desafios contemporâneos. Tomo 11. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2011, p. 182.
221 Ibidem, p. 183.
222 WATANABE, Kazuo. Política Pública do Poder Judiciário Nacional para Tratamento Ade-
quado dos Conflitos de Interesses. In: RICHA, Morgana de Almeida; PELUSO, Antonio Cezar;
(Coord). GRINOVER, Ada Pellegrini...[et.al.]. Conciliação e mediação: estruturação da política
judiciária nacional. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 03.
223 Ibidem, p. 04.
224 MORAIS, José Luis Bolzan. SPENGLER, Fabiana Marion. Mediação e arbitragem: alterna-
tiva à jurisdição. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012, p. 166.
[...] é tempo, pois, de, sem prejuízo doutras medidas, incorporar ao siste-
ma os chamados meios alternativos de resolução dos conflitos, que, como
instrumental próprio, sob rigorosa disciplina, direção e controle do Poder
Judiciário, sejam oferecidos aos cidadãos como mecanismos facultativos
de exercício da função constitucional de resolver conflitos. Noutras pa-
lavras, é preciso institucionalizar, no plano nacional, esses meios como
remédios jurisdicionais facultativos, postos alternativamente à disposição
dos jurisdicionados, e de cuja adoção o desafogo dos órgãos judicantes
e a maior celeridade dos processos, que já serão avanços muito por fes-
tejar, representarão mero subproduto de uma transformação social ainda
mais importante, a qual está na mudança de mentalidade em decorrência
da participação decisiva das próprias partes na construção de resultado
que, pacificando, satisfaça seus interesses.227
225 É sabido que o Conselho Nacional de Justiça foi criado com o objetivo de garantir o contro-
le da atuação administrativa, financeira, o cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, bem
como elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias sobre a situação
do Poder Judiciário no país, bem como as atividades realizadas no decorrer do ano. Ora, estando
o Conselho Nacional de Justiça zelando pela autonomia do Poder Judiciário, bem como tendo
a competência para expedir atos regulamentares e recomendando providências, nos termos do
art. 103- B, § 4o, inciso I, ele também deve elaborar semestralmente relatórios estatísticos sobre
processos e sentenças prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do Poder
Judiciário (art. 103- B, § 4o, inciso VI). A título de esclarecimento, para que seja possível a elabo-
ração de relatórios estatísticos, são necessários números denominados como “metas”, que atual-
mente correspondem às sentenças judiciais, como forma de avaliação dos magistrados. Todos os
magistrados do país estão sujeitos aos regulamentos expedidos pelo Conselho, logo, agindo em
desacordo estarão condicionados ao respectivo julgamento e à consequente penalidade.
226 BRASIL. Constituição Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti-
tuicao/ConstituicaoCompilado.htm> Acesso em: 04 out. 2012.
[...]
§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário
e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições
que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura:
[...]
II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade
dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo des-
constituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato
cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União.
227 WATANABE, Kazuo. Política Pública do Poder Judiciário Nacional para Tratamento Ade-
quado dos Conflitos de Interesses. In: RICHA, Morgana de Almeida; PELUSO, Antonio Cezar;
(Coord). GRINOVER, Ada Pellegrini...[et.al.]. Conciliação e mediação: estruturação da política
judiciária nacional. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 08.
228 Resolvendo:
CAPÍTULO I- DO PLANEJAMENTO E DA GESTÃO ESTRATÉGICA
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1° Fica instituído o Planejamento Estratégico do Poder Judiciário, consolidado no Plano Estra-
tégico Nacional consoante do Anexo I desta Resolução, sintetizado nos seguintes componentes:
I - Missão: realizar justiça.
II - Visão: ser reconhecido pela Sociedade como instrumento efetivo de justiça, equidade e paz social.
III - Atributos de Valor Judiciário para a Sociedade:
a) credibilidade;
b) acessibilidade;
c) celeridade;
d) ética;
e) imparcialidade;
f) modernidade;
g) probidade:
h) responsabilidade Social e Ambiental;
i) transparência.
IV - 15 (quinze) objetivos estratégicos, distribuídos em 8 (oito) temas:
a) Eficiência Operacional:
Objetivo 1. Garantir a agilidade nos trâmites judiciais e administrativos;
Objetivo 2. Buscar a excelência na gestão de custos operacionais;
b) Acesso ao Sistema de Justiça:
Objetivo 3. Facilitar o acesso à Justiça;
Objetivo 4. Promover a efetividade no cumprimento das decisões;
c) Responsabilidade Social:
Objetivo 5. Promover a cidadania;
d) Alinhamento e Integração:
Objetivo 6. Garantir o alinhamento estratégico em todas as unidades do Judiciário;
Objetivo 7. Fomentar a interação e a troca de experiências entre Tribunais nos planos nacional
e internacional;
e) Atuação Institucional:
Objetivo 8. Fortalecer e harmonizar as relações entre os Poderes, setores e instituições;
Objetivo 9. Disseminar valores éticos e morais por meio de atuação institucional efetiva;
Objetivo 10. Aprimorar a comunicação com públicos externos;
f) Gestão de Pessoas:
Objetivo 11. Desenvolver conhecimentos, habilidades e atitudes dos magistrados e servidores;
Objetivo 12. Motivar e comprometer magistrados e servidores com a execução da Estratégia;
g) Infraestrutura e Tecnologia:
Objetivo 13. Garantir a infraestrutura apropriada às atividades administrativas e judiciais;
Objetivo 14. Garantir a disponibilidade de sistemas essenciais de tecnologia de informação;
h) Orçamento:
Objetivo 15. Assegurar recursos orçamentários necessários à execução da estratégia (BRASIL.
Resolução n. 70, do Conselho Nacional de Justiça. Disponível em:<http://www.cnj.jus.br/gestao
-e-planejamento/gestao-e-planejamento-do-judiciario/resolucao-n-70> Acesso em: 03 out. 2012).
229 MORAIS, José Luis Bolzan. SPENGLER, Fabiana Marion. Mediação e arbitragem: alterna-
tiva à jurisdição. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012, p.168.
230 BUZZI, Marco Aurélio Gastaldi. Movimento pela conciliação – um breve histórico. In: RICHA,
Morgana de Almeida; PELUSO, Antonio Cezar; (Coord). GRINOVER, Ada Pellegrini...[et.al.]. Conci-
liação e mediação: estruturação da política judiciária nacional. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 47.
231 A técnica habermasianasomente pode se efetivar num dado contexto social, manifestando-
se na prática quotidiana, sob a forma de “ação comunicativa”, que permite uma relação crítica
com os três mundos simultaneamente (mundo dos objetos, mundo social e mundo subjetivo).
Para validação desse conceito, parte-se da elucidação de três vias possíveis. A primeira consisti-
ria na elaboração formal-pragmática desse conceito, a segunda optaria pela validação empírica,
e a terceira, a reelaboração, com intenções sistemáticas, da história da teoria.
232 O artigo 6o da Resolução nº 125, diga-se de passagem, traça toda a metodologia de trabalho
a ser instituída no Poder Judiciário. Tendo em vista que engloba: a) as diretrizes para implementa-
ção da política pública de tratamento adequado de conflitos a serem observadas pelos Tribunais;
b) conteúdo programático mínimo e ações voltadas à capacitação dos mediadores, conciliadores,
servidores e demais facilitadores; c) cooperação dos órgãos públicos; d) interlocução com a Ordem
dos Advogados do Brasil, Defensorias Públicas, Procuradorias e Ministério Público, estimulando
a participação junto aos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania; e) gestão junto
às empresas e às agências reguladoras de serviços públicos. No entanto, a aplicabilidade de tais
competências merece um minucioso acompanhamento, por parte dos próprios Tribunais, já que
atualmente se encontram em situação de disparidade frente à proposta primeiramente ventilada.
Tal disparidade é no sentido de não reconhecer os cursos de capacitação não vinculados ao CNJ.
233 WATANABE, Kazuo. Política Pública do Poder Judiciário Nacional para Tratamento Ade-
quado dos Conflitos de Interesses. In: RICHA, Morgana de Almeida; PELUSO, Antonio Cezar;
(Coord). GRINOVER, Ada Pellegrini...[et.al.]. Conciliação e mediação: estruturação da política
judiciária nacional. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 09.
Neste ponto, como bem exposto por Nalini,235“nada impede que se persiga a
utopia. As utopias continuam com seu lugar no século XXI. A convenção cronológica
não elimina a substância humana, cujo principal componente é o sonho. Tirem tudo
do homem e ele sobreviverá. Só não subsistirá sem a capacidade de sonhar”.
Ao instituir a proposta de uma nova cultura dos “juízes”, a da solução
pacífica dos conflitos, o que se pretende é proporcionar ao magistrado um exer-
cício estimulante; já que ele é considerado individualmente como integrante do
Poder Judiciário, por óbvio, este órgão é suscetível de constante aperfeiçoamen-
to. Para tanto, cada juiz pode influir nas estratégias de alteração da estrutura e
atividade de seu universo profissional.
Logo, a cooperação dos órgãos públicos competentes e das instituições
públicas e privadas da área de ensino contribuirá diretamente para a aceleração
no movimento de revitalização da justiça, tanto que a Resolução prevê, inclusive,
que nas Escolas da Magistraturahaja módulo voltado aos métodos consensuais
de solução de conflitos, no curso de iniciação funcional e no curso de aperfei-
çoamento.
Desta forma, tudo quanto foi dito se mostra altamente eficiente para a ace-
leração da proposta, já que oferece contributo para aperfeiçoar a justiça.
Todas essas observações vêm dar respaldo à interlocução proposta com
a Ordem dos Advogados do Brasil, Defensorias Públicas, Procuradorias e Minis-
tério Público, estimulando suas participações nos Centros Judiciários de Solu-
ção de Conflitos e Cidadania236, bem como valorizando a atuação na prevenção
dos litígios.
Como se pode observar, o sucesso dos “Centros” somente se verificará
com a efetiva participação dos advogados, que poderão tanto auxiliar na escolha
do melhor método de solução de conflito, quanto na atuação de terceiro facilita-
dor (conciliação ou mediação). Ademais, essa atuação confere maior segurança
234 Ibidem.
235 NALINI, Jose Renato. A rebelião da Toga. Campinas, SP: Millennium Editora, 2008, p. XXI.
236 Os Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (“Centros”) são unidades do
Poder Judiciário às quais cabe, preferencialmente, a realização das sessões e audiências de
conciliação e mediação a cargo de conciliadores e mediadores, no âmbito de determinado
território definido pela organização judiciária do Estado, e o atendimento e orientação aos
portadores de dúvidas e problemas jurídicos (art. 8o). Os parâmetros utilizados para a criação
dos “Centros” foram o gerenciamento do processo e os Setores de Conciliação e Mediação do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, e o fórum de Múltiplas Portas ou Tribunal Multi-
portas (MultidoorCourthouse) do direito norte-americano. (LUCHIARI, Valéria Ferioli Lagrasta.
A Resolução n.125 do Conselho Nacional de Justiça: Origem, objetivos, Parâmetros e Diretri-
zes para Implantação Concreta. In: RICHA, Morgana de Almeida; PELUSO, Antonio Cezar;
(Coord). GRINOVER, Ada Pellegrini...[et.al.]. Conciliação e mediação: estruturação da política
judiciária nacional. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 239).
237 NALINI, Jose Renato. A rebelião da Toga. Campinas, SP: Millennium Editora, 2008, p. 198).
238 No entanto, há algumas dificuldades a serem suplantadas, por ora, pela boa vontade e
pelo voluntarismo dos conciliadores e mediadores, qual seja, a falta de indicação de fonte de
custeio para o pagamento das respectivas atividades profissionais. De todo o modo, é de meri-
diana clareza que conciliadores e mediadores profissionalmente capacitados não poderão per-
manecer sem retribuição ou ao alvedrio dos tribunais, no exercício de função voluntária e ho-
norífica. Acresce que as dificuldades de implantação, a cargo dos tribunais estaduais, através
de Provimentos ou Resoluções, e desde que não suplantadas as dificuldades orçamentárias,
capacitação de profissionais e sua remuneração, poderão conduzir a novo fracasso. (NETO,
Caetano Lagrasta. A conciliação judicial- avanços, retrocessos e esperança. In: RICHA, Morgana
de Almeida; PELUSO, Antonio Cezar; (Coord). GRINOVER, Ada Pellegrini...[et.al.]. Conciliação
e mediação: estruturação da política judiciária nacional. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 104).
239 MORAIS, José Luis Bolzan. SPENGLER, Fabiana Marion. Mediação e arbitragem: alterna-
tiva à jurisdição. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012, p.166.
240 Cumpre esclarecer que, com exceção das informações referenciadas, todas as demais
constantes neste capítulo foram retiradas Blog Justiça Comunitária. Disponível em:<http://justi-
cacomunitariapf.blogspot.com.br/> Acesso em 02 out. de 2012.
241 SALES, Lilia Maia de Morais. MIRANDA, Ana Karine P.C. COLARES, Elisabeth Fialho. Casa
de mediação comunitária – um instrumento eficaz na solução participativa e pacífica dos confli-
tos. In: MIRANDA, Ana Karine Pessoa Cavalcante...[et al]. Estudos sobre a efetivação do direito
na atualidade: a cidadania em debate. Lilia Maia de Morais Sales, organizadora. Fortaleza: Uni-
versidade de Fortaleza, 2005, p. 180.
Deve-se, pois, antes de tudo, recordar que até o término da era industrial,
o homem tinha que se adaptar aos produtos oferecidos e se contentar com uma
demanda maior que a oferta. Hoje, na era do conhecimento, o foco deixa de ser
o produto e passa a ser a necessidade do homem. Dentre as suas necessidades
contemporâneas está o aprendizado e a prática do diálogo produtivo na compo-
sição de diferenças. São imprescindíveis nesse momento os métodos que facili-
tam e favorecem esse diálogo e buscam co-autoria responsável pelo que se vive
e se proporciona ao outro viver. É nesse cenário que os métodos extrajudiciais
de tratamento de conflitos, como a mediação243 comunitária, surgem em nossa
cultura, afinal, 244
242 SPENGLER, Fabiana Marion. Fundamentos políticos da mediação comunitária. Ijuí: Ed.
Unijuí, 2012, p. 197.
243 O termo mediação procede do latim mediare que significa mediar, dividir ao meio ou
intervir. Estas expressões sugestionam o entendimento do vocábulo mediação, que se des-
vela um método pacífico de solução de conflitos. Numa acepção moderna, mediação é um
processo voluntário de ajuste de conflitos, no qual uma terceira pessoa atua no sentido de
encorajar e facilitar a resolução de uma disputa sem determinar qual a solução. Dessa for-
ma, a mediação é um meio consensual e não adversarial de resolução de conflitos, no qual
as partes escolhem um terceiro imparcial e capacitado, no caso o mediador, que servirá de
canal de diálogo e pacificador entre as partes, não interferindo no mérito das decisões. Na
mediação, as partes são protagonistas, tendo em vista que elas [ ] conhecem desde a ori-
gem aquela controvérsia e que terão corresponsabilidade de decidir o que será melhor para
ambas às partes. Contudo, sempre deverá se priorizar a boa-fé das partes envolvidas, a
possibilidade e igualdade no diálogo, a autonomia das partes no processo e a visão positiva
do conflito. Além disso, a utilização da mediação, normalmente, é mais adequada aos confli-
tos familiares, de vizinhança e entre empresas. (MIRANDA, Ana Karine Pessoa Cavalcante.
A mediação de conflitos como instrumento de acesso à justiça, inclusão social e pacificação
social. In: MIRANDA, Ana Karine Pessoa Cavalcante...[et al]. Estudos sobre a efetivação do
direito na atualidade: a cidadania em debate. Lilia Maia de Morais Sales, organizadora. For-
taleza: Universidade de Fortaleza, 2005, p. 08).
244 Ibidem, p. 07.
245 SPENGLER, Fabiana Marion. Fundamentos políticos da mediação comunitária. Ijuí: Ed.
Unijuí, 2012, p. 197.
246 SPENGLER, Fabiana Marion. Fundamentos políticos da mediação comunitária. Ijuí: Ed.
Unijuí, 2012, p. 198-199.
247 MIRANDA, Ana Karine Pessoa Cavalcante. A mediação de conflitos como instrumento
de acesso à justiça, inclusão social e pacificação social. In: MIRANDA, Ana Karine Pessoa
Cavalcante...[et al]. Estudos sobre a efetivação do direito na atualidade: a cidadania em de-
bate. Lilia Maia de Morais Sales, organizadora. Fortaleza: Universidade de Fortaleza, 2005,
p. 17-18.
248 SALES, Lilia Maia de Morais. Justiça e mediação de conflitos. Editora Belo Horizonte: Del
Rey, 2003, p. 135.
249 COSTA, Andreia da Silva. ANDRADE, Denise Almeida de. Mediação de conflitos: outras
possibilidades. In: MIRANDA, Ana Karine Pessoa Cavalcante...[et al]. Estudos sobre a efetiva-
ção do direito na atualidade: a cidadania em debate. Lilia Maia de Morais Sales, organizadora.
Fortaleza: Universidade de Fortaleza, 2005, p. 37.
250 SPENGLER, Fabiana Marion. Fundamentos políticos da mediação comunitária. Ijuí: Ed.
Unijuí, 2012, p. 199.
251 Ibidem, p. 200.
252 SPENGLER, Fabiana Marion. Fundamentos políticos da mediação comunitária. Ijuí: Ed.
Unijuí, 2012, 227- 228.
253 Ibidem, p. 228.
É sabido que a humanidade aspira a uma sociedade que não seja unica-
mente uma sociedade civil, senão que chegue a ser uma boa sociedade. Diante
disso, deve-se reconhecer que em uma sociedade onde nada é desrespeitado,
e se trata todos com idêntico respeito, todos somos capazes de alcançar o mais
completo potencial humano.254
Diz-se com frequência que o conceito de comunidade é vago e equívoco. Ocor-
re que as comunidades têm sido frequentemente menosprezadas como fator social
de importância, mas pendente de conseguir um equilíbrio entre o estado e o mercado.
Se buscarmos seu sentido etimológico, o vocábulo “comunidade” expres-
sa a associação de pessoas que têm os mesmos objetivos [...] 255
Assim, é possível conceber que o locusfavorece a convivência, bem como
a comunhão de esforços, já que todos estarão voltados ao mesmo objetivo, fa-
zendo da união a condução ao entendimento, à confiança e à segurança.
Spengler, ao tecer considerações acerca dos efeitos da vivência em co-
munidade, diz que “independentemente e não obstante as alterações/interpreta-
tivas do significado da palavra “comunidade”, sem sombra de dúvida, é bom “ter
uma comunidade” ou “estar numa comunidade”.256
Cultivar as comunidades onde já existem e ajudar a formar as novas onde
foram esquecidas, é essencial para a formação de um futuro que preserve os
bens sociais. Para promover as comunidades, os chefes de governo devem pe-
dir aos seus ministros que lhes facilitem informes anuais sobre como comprome-
ter mais as comunidades em seus trabalhos.
Uma boa sociedade se sustenta melhor em base de organização de ser-
viços mútuos e a renovação comunitária pode ser facilitada se for proporcionado
o intercâmbio social.
Ademais, para o florescimento das comunidades, as políticas públicas de-
vem ter em conta muitas vezes, que os limites geográficos das comunidades não
correspondem aos limites administrativos.257
254 Entendiendo que una buenasociedad es aquellaenla que las personas se tratan mutua-
mente como fines ensímismas y no como meros instrumentos; corno totalidades Iersonales
y no como fragmentos; como miembros de una comunidad, unidos por lazos de afecto y
compromiso mutuo, y no sólo como empleados, comerciantes, consumidores o, incluso, con-
ciudadanos. (ETZIONI, Amitai. La terceravíahacia uma buenasociedad. Propuestas desde
elcomunitarismo. Prólogo de José Pérez Adán. Madri: Editorial Trotta, 2001, p. 15.)
255 BUENO, Francisco da Silveira. Minidicionário da Língua Portuguesa. Editora FTD S.A.: São
Paulo, 2010.
256 SPENGLER, Fabiana Marion. A mediação comunitária enquanto política pública eficaz no
tratamento dos conflitos. IN: LEAL, R; REIS, J.R. Direitos Sociais e Políticas Públicas 11. Santa
Cruz do Sul: Edunisc, 2011, p. 178.
257 ETZIONI, Amitai. La terceravíahacia uma buenasociedad. Propuestas desde elcomunitaris-
mo. Prólogo de José Pérez Adán. Madri: Editorial Trotta, 2001, p. 38.
258 FOLEY, Glaucia Falsarella. Justiça Comunitária: por uma justiça da emancipação. Belo Ho-
rizonte: Fórum, 2010, p. 139-140.
259 A Secretaria de Segurança Pública de Passo Fundo foi criada em outubro de 2010. É uma
conquista bastante importante para o desenvolvimento de nosso município, pois permite que
mais benefícios sejam levados à população na área de segurança e prevenção à violência e
criminalidade. O projeto Justiça Comunitária, realizado em parceria com a Escola de Direito da
IMED (com o apoio e participação das outras Escolas da faculdade), já está entrando em funcionamento,
e com certeza representará um grande avanço na segurança pública passo-fundense. Márcio Patussi é
o secretário municipal responsável pela Secretaria de Segurança Pública. Em matéria publicada pelo
Jornal Diário da Manhã, ele comenta: “O nosso momento inicial é trabalhar com a violência, com rela-
ção às causas e a prevenção da violência. Já temos os recursos do Pronasci (Programa Nacional de
Segurança com Cidadania) que são oriundos do Ministério da Justiça, através do governo federal, onde
se incentiva um novo olhar no tratamento da violência. Os municípios brasileiros não podem trabalhar
com policiamento ostensivo, com aquela repressão, que é típica, das polícias constituídas, sejam elas
as polícias militares, ou as polícias civis que são de obrigação dos estados, sejam elas da polícia fede-
ral, ou até mesmo do exército brasileiro que tenham o seu comando na união. O município tem que fa-
zer uma atividade diferente, e o município de Passo Fundo que foi habilitado com recursos, vem a ser o
nosso carro chefe. Nós temos inicialmente aprovado no Pronasci R$ 2 milhões e 600 mil, ainda no ano
de 2009, estes recursos já estão disponíveis para a prefeitura. Temos três projetos importantíssimos,
no tratamento a prevenção das causas de violência, um deles é “Mulheres da Paz”, outro deles é “Pro-
tejo”, e outra “Justiça Comunitária”, onde estaremos inserindo nas comunidades mais carentes, onde
haja um determinado índice de violência estaremos inserindo uma cultura de paz, formando pessoas,
ajudando aquele adolescentes que cometem atos infracionais a mudar um pouco a sua visão, e se
tornarem pessoas de bem.” A Justiça Comunitária é um modelo que vem sendo adotado com sucesso
em vários lugares do Brasil. Agora, Passo Fundo também irá adotar projetos inovadores de prevenção
da violência. (Disponível em: <http://justicacomunitariapf.blogspot.com.br>. Acesso em 05 nov. 2012.
260 As redes sociais são a expressão dos contornos da contemporaneidade. O padrão de organi-
zação em rede caracteriza-se pela multiplicidade dos elementos interligados de maneira horizontal.
Os elos de uma rede se comunicam voluntariamente sob um acordo intrínseco que revela os traços
de seu modus operandi. A animação das redes sociais tem por objetivo promover o capital social,
cujo grau, embora não possa ser mensurado, pode ser avaliado a partir da presença dos seguintes
elementos na comunidade: sentimento de pertença, cooperação, confiança mútua, elaboração de
respostas locais, emergência de um projeto comum, repertório compartilhado de símbolos, ações,
conceitos, rotinas, ferramentas, estórias e gestos, relacionamento, comunicação, realização de coi-
sas em conjunto. Nesse sentido, é fundamental que os Agentes Comunitários e equipe multidiscipli-
nar mantenham em suas agendas permanentes contatos com a comunidade, por meio de reuniões
previamente organizadas. Essas reuniões devem propiciar que o tema que as ensejaram seja objeto
de reflexão, abordagem e troca de saberes diferenciados, incluídos os técnicos que eventualmente
participem e daqueles produzidos localmente. Também deve haver um espaço para falar do futuro
que é sempre um norteador dos esforços comunitários. Ao propiciar esses encontros e promover
esses diálogos, os Agentes Comunitários agem como tecelões contribuindo para que essa teia social
se fortaleça e integre a construção de uma comunidade coesa. (FOLEY, Glaucia Falsarella. Justiça
Comunitária: por uma justiça da emancipação. Belo Horizonte: Fórum, 2010, p. 143-144).
261 Obs.: O projeto envolveu professores que atuam em diferentes Escolas na IMED.
262 Mesmo após o término do convênio com o Ministério da Justiça, a PMPF subsidiou a conti-
nuidade do projeto até o mês de Junho de 2012.
263 Equipe executora: Professor Doutor Mauro Gaglietti Coordenação do Projeto de Pesquisa,
Prof. Ms. Marcelino Meleu, Coordenação e Execução, Profa. Ms. Sabrina Francio – Coordena-
ção do Grupo de Estudo- Desenvolvimento Humano e Formação de Líderes Mediadores.
264 Projeto de Extensão vinculado ao Projeto: Cartografia dos conflitos nos Bairros Zachia e
Valinhos em Passo Fundo (RS) e mapeamento das organizações existentes na área pesquisa-
da: sustentando ações de democratização do acesso à justiça. Objetivos: O projeto pretende
em linhas gerais identificar e mapear os tipos de conflitos que afetam os moradores dos bairros
Zachia e Valinhos e, especificamente, identificar as pessoas envolvidas. Ao mesmo tempo, visa
constituir uma equipe composta de voluntários, e das entidades que compõe a rede de atuação
junto às comunidades pesquisadas, bem como, encaminhar proposta de resolução destes
conflitos tendo em vista as práticas de resolução de conflitos tais como a mediação e a justiça
restaurativa dentro de um projeto maior denominado de Justiça Comunitária.
266 Essa técnica coloca o pesquisador numa tensão permanente entre a necessidade de se adequar
às características do grupo e a necessidade de manter o necessário espírito crítico e a isenção cien-
tífica. Assim, a observação participante é uma técnica de investigação social em que o observador
partilha, na medida em que as circunstâncias o permitam, as atividades, as ocasiões, os interesses
e os afetos de um grupo de pessoas ou de uma comunidade. É, no fundo, uma técnica composta, à
medida que o observador não só observa como também tem de se socorrer de técnicas de entrevista
com graus de formalidade diferentes. O objetivo fundamental que subjaz à utilização desta técnica é a
captação das significações e das experiências subjetivas dos próprios intervenientes no processo de
interação social. Como o observador tem de se integrar num grupo ou comunidade que, em princípio,
lhe é estranho, ele sofrerá um processo de “ressocialização”, tendo, frequentemente, de aprender no-
vas normas e linguagens ou gírias e de representar novos papéis, o que coloca problemas particulares
relativos à objetividade científica. A técnica possibilita graus diversos de integração no grupo observado
e de sistematização dos procedimentos de recolha de informação, de acordo com os objetivos que o
investigador estabelece para a investigação, e adequa-se particularmente a fenômenos ou grupos de
reduzida dimensão, pouco conhecidos e/ou pouco visíveis, como é o caso, por exemplo, de atividades
que uma sociedade define como ilícitas e às quais dificilmente se poderia aceder de outro modo. Toda-
via, pelas suas próprias características, a observação participante apresenta algumas vantagens, como
o risco, sempre presente, do investigador resvalar para a subjetividade, devido ao seu envolvimento
pessoal com o objeto, e a possibilidade da sua presença perturbar o normal decurso da interação social
267 A Análise de Conteúdo se define como um “conjunto de técnicas de análise das comunicações”
que aposta grandemente no rigor do método como forma de não se perder na heterogeneidade de
seu objeto. Nesses termos, como em qualquer outro procedimento de investigação, também neste
o investigador deve assegurar-se e deve assegurar os seus leitores “que mediu o que pretendia me-
dir”.O método das entrevistas está sempre relacionado com um método de análise de conteúdo. Os
métodos de entrevista são uma aplicação dos processos fundamentais de comunicação que quando
são corretamente utilizados permitem ao investigador retirar das suas entrevistas elementos de reflexão
muito ricos. Nos métodos de entrevista, contrariamente ao inquérito por questionário, há um contato
direto entre o investigador e os seus interlocutores. Esta troca permite o interlocutor do investigador
exprimir as suas ideias, enquanto que o investigador, por meio das suas perguntas, facilita essa ex-
pressão e não deixa fugir dos objetivos de investigação. No âmbito da análise de histórias de vida, o
método de entrevista é extremamente aprofundado e detalhado com muito poucos interlocutores, o que
leva a que as entrevistas sejam divididas em várias sessões. O método de entrevista é especialmente
adequado na análise que os atores dão às suas práticas, na análise de problemas específicos e na
reconstituição de um processo de ação, de experiências ou acontecimentos do passado. Tem como
principais vantagens o grau de profundidade dos elementos de análise recolhidos, a flexibilidade e a
fraca ação do dispositivo que permite recolher testemunhos dos interlocutores. Quanto às desvanta-
gens, a questão de flexibilidade também pode contribuir. Isto porque o entrevistador tem que saber
jogar com este fator, de forma a estar à vontade, mas também de forma a não intimidar o interlocutor, o
que poderia ocorrer caso por exemplo a linguagem ou a postura do entrevistador fossem de tal forma
flexíveis. Outra desvantagem comparativamente ao método de inquérito por questionário é o fato de os
elementos recolhidos não se apresentarem imediatamente sob uma forma de análise particular.
268 Parte-se da premissa de que não existe separação entre o universo externo e o universo interno do
sujeito: em sua atividade representativa, ele não reproduz passivamente um objeto dado, mas, de certa
forma, o reconstrói e, ao fazê-lo, se constitui como sujeito, pois, ao apreendê-lo de uma dada maneira,
ele próprio se situa no universo social e material. Além disso, afirma que as representações sociais, tal
como as opiniões e as atitudes, são “uma preparação para a ação”, mas, ao contrário dessas, não o
são apenas porque orientam o comportamento do sujeito, mas principalmente porque reconstituem os
elementos do ambiente no qual o comportamento terá lugar, integrando-o a uma rede de relações às
quais está vinculado o seu objeto. Finalmente, observa que os conceitos de opinião, atitude e imagem
não levam em conta o papel das relações e interações entre as pessoas: os grupos são considerados
a posteriori e de maneira estática, apenas enquanto selecionam e utilizam as informações que circulam
na sociedade e não como as instâncias que as criam e as comunicam. Os contextos, bem como os
critérios, as intenções e as propensões dos atores sociais não são considerados.
269 Cumpre salientar que a equipe executora captou recursos externos para a execução do
projeto, cerca de R$270.000,00, desdobrados em dois projetos: “Pacificar e Justiça Comunitá-
ria”. Saliente-se que a IMED ganhou o edital do Projeto Pacificar junto ao Ministério da Justiça,
ficando em quarto lugar no âmbito nacional. Essa verba está na PMPF desde janeiro de 2010 e
foi liberada para a utilização em meados do ano de 2011. Além disso, a IMED atingiu a primeira
colocação junto ao edital da PMPF no que se refere a implementação do Centro de Mediação
Comunitária nos Bairros Zachia e Valinhos em Passo Fundo. A PMPF repassou para a IMED, no
primeiro caso, cerca de R$100.000,00 e no segundo R$170.000,00.
270 ZANTEDESCHI, Jader Mateus. Mediação de conflitos extrajudiciais: O caso do Projeto Jus-
tiça Comunitária em Passo Fundo (RS). (Monografia do curso de Direito) - Faculdade Meridional-
IMED, Passo Fundo, 2012.
271 Mauro Gaglietti, Cientista Político e Doutor em História. Professor e Pesquisador do Mestrado
em Direito da URI (Santo Ângelo, RS); Professor do Curso de Direito da IMED (Passo Fundo, RS);
Professor do Curso de Direito da FAI/UCEFF (Itapiranga, SC) e Coordenador do Projeto Justiça
Comunitária em Passo Fundo. O evento, que fez parte da programação do Mês do Advogado, foi
promovido pela Comissão de Mediação e Práticas Restaurativas. A secretária-geral da OAB/RS,
Sulamita Santos Cabral, fez a abertura do Seminário Os Caminhos da Mediação no RS, em 16 de
agosto de 2011, no Auditório Guilherme Schültz Filho. O evento, que faz parte da programação do
Mês do Advogado, foi promovido pela Comissão de Mediação e Práticas Restaurativas. Em sua
fala, o presidente da Comissão, conselheiro seccional Ricardo Dornelles, destacou que a media
ção é muito mais do que um modelo teórico. “Temos a Casa de Mediação, um projeto pioneiro, que
visa auxiliar a população em situação de vulnerabilidade social”, afirmou. Durante o evento, houve
a abordagem da experiência vivenciada em Passo Fundo, pelo seu Coordenador.
272 Disponível para download no sítio do Ministério da Justiça:
http://portal.mj.gov.br/main.asp?View={597BC4FE-7844-402D-BC4B-06C93AF009F0}
273 No viés de promover a paz e a cidadania, a IMED e a Prefeitura Municipal de Passo Fundo,
desenvolvem o projeto da Justiça Comunitária, vinculado ao PRONASCI (Programa Nacional de
Segurança Pública com Cidadania). O projeto é uma ação que visa contribuir para a democrati-
zação do acesso à justiça por meio da mobilização e capacitação de agentes comunitários pre-
parados na gestão de conflitos. O Núcleo de Justiça Comunitária está inserido no bairro Zachia.
274 RS na Paz, programa de segurança pública com cidadania do Estado do Rio Grande do Sul,
inaugura uma nova fase na consolidação do princípio de que segurança pública não é sinônimo
de polícia. “É um conjunto de políticas públicas baseadas no diálogo entre ações sociais e poli-
ciais, fundamental para a redução dos índices de violência e criminalidade e da vulnerabilidade
das pessoas”, apontou Carlos Sant`Ana. Os Territórios da Paz possibilitam, além do controle
preventivo da violência, a convivência pacífica nas comunidades. As atividades do RS na Paz
começam com o diagnóstico das áreas de maior concentração de violência e criminalidade. A
etapa seguinte é a ação policial intensa e qualificada contra o crime. A partir daí, a permanência
da polícia nos locais críticos garante a ordem pública e possibilita a implantação de ações sociais
que materializem a presença do Estado nessas áreas. O RS na Paz atua prioritariamente com
jovens entre 12 e 24 anos, faixa etária em que é possível trabalhar com a prevenção do uso e
dependência de drogas e também do envolvimento com o tráfico de entorpecentes.
276 Levantamento aponta que Vera Cruz é o bairro mais violento. Disponível em: <http://www.
onacional.com.br/policia/2552/levantamento+aponta+que+vera+cruz+e+o+bairro+mais+violen-
to>. Acesso em 12 nov. 2012.
278 Formados por orientadores vindos de Brasília. A equipe foi formada por profissionais que
têm grande experiência e atuação fora do Brasil, em outros países onde já se desenvolve proje-
tos semelhantes.
PRÉ – MEDIAÇÃO 1:
-Acolhimento;
-Explicação do que é mediação e como é o processo;
-Tomada de conhecimento da situação que levou a pessoa a procurar a
mediação e se a mesma pode ser objeto de mediação;
-Diagnóstico (verificar se no caso existe algum tipo de violência, doença,
etc., sendo que, se constatado algo, deve ser comunicado ao mediador);
-Constatação se a pessoa tem o efetivo interesse em participar da media-
ção;
-Avaliação da conveniência da mediação, do mediador que conduzirá
(perguntar se pode ser um agente comunitário, ou terceiro de outro bairro ou,
ainda alguém da equipe técnica) e das possíveis datas das sessões (ainda, se
serão individuais ou conjuntas).
Documentos: termo de confidencialidade e carta convite (com horário
marcado).
PRÉ-MEDIAÇÃO 2
-Acolhimento;
-Explicação do que é mediação e como é o processo;
-Tomada de conhecimento da situação que levou a pessoa a procurar a
mediação e se a mesma pode ser objeto de mediação;
-Diagnóstico (verificar se no caso existe algum tipo de violência, doença,
etc., sendo que, se constatado algo, deve ser comunicado ao mediador);
- Constatação se a pessoa tem o efetivo interesse em participar da me-
diação;
-Avaliação da conveniência da mediação, do mediador que conduzirá
(perguntar se pode ser um agente comunitário, ou terceiro de outro bairro ou,
ainda alguém da equipe técnica) e das possíveis datas das sessões (ainda, se
serão individuais ou conjuntas).
Documentos: termo de confidencialidade.
Antes da sessão de mediação, quando os participantes chegam ao Nú-
cleo, serão recebidos pelo mediador que fez a pré-mediação, e neste momento
deverá ser lido e explicado o Termo de Compromisso de Mediação. Com a as-
sinatura, o mediador (que realizou a pré-mediação) os conduz à sala onde será
realizada a sessão de mediação (onde já deverão estar os mediadores e ob-
ciliadores e Mediadores das Casas da Cidadania.Autor de diversos artigos de livros editados
no Brasil, na Argentina, na Itália, no México e em Portugal. Instituto de Mediação e Arbitragem
de Portugal- IMAP. Disponível em: <http://imap.pt/oimap/membros/juan-carlos-vezzulla/> Acesso
em 01 out. 2012.
MEDIAÇÃO
- Dar boas-vindas. Deixar os participantes à vontade para sentar onde
quiserem.
- Uma vez acomodados:
- Apresentar-se;
- Perguntar seus nomes e como gostariam de ser chamados;
- Cumprimentar pela escolha da mediação, bem como agradecer a opor-
tunidade de mediar;
- Explicar o funcionamento e as regras que permitirão o diálogo na sessão;
- Esclarecer, detalhadamente, a função do mediador e das partes;
- Perguntar se existe alguma dúvida acerca da mediação e do que foi ex-
plicado.
- Entregar o Termo de Compromisso de Mediação ao mediador;
- Convidar as partes a falarem, sendo que a escolha de quem fala primeiro
é feita livremente pelos participantes.
- NECESSIDADE DE CAUCUS: Ouvir as partes em separado. E depois
voltar à sessão conjunta.
- Após a exposição das partes, tendo sido apresentada a situação objeti-
va, parcial e pontual, iniciar a investigação;
- Investigação (conhecer a inter-relação):
Perguntas: Abertas, fechadas, circulares, de cadeira vazia, de responsabi-
lização, a futuro (de responsabilização), do milagre.
Resumos: Linear e cooperativo.
Técnicas: Reformulação positiva e legitimação.
DEFINIR: estrutura da relação e do conflito, controvérsias, posições, mo-
tivações, expectativas, interesses, intenções, dificuldades e diferenças de per-
cepções.
• Uma vez definidos os fatores acima, passa-se à agenda.
• AGENDA (objetivação):
Colaboração do mediador para identificar os temas (sendo-lhes atribuídos
valores, prioridades);
Estabelecer o consenso com base na motivação das partes;
Criar opções para cada um dos temas (simplesmente gerar ideias de so-
lução/soluções);
- Levantar o compromisso de somente criar ideias e não avaliá-las, nem
criticá-las/julgá-las (por enquanto);
- Usar e abusar da criatividade do mediador e das partes;
Cumprida a tarefa, passa-se à análise das opções;
280 FOLEY, Glaucia Falsarella. Justiça Comunitária: por uma justiça da emancipação. Belo
Horizonte: Fórum, 2010, p. 154.
281 Mais um Núcleo da Justiça Comunitária entregue à comunidade. Disponível em: http://
rdplanalto.com/mais-um-nucleo-da-justica-comunitaria-entregue-a-comunidade/> Acesso em 02
out. 2012.
282 COSTA, Marli da. A transversalidade das políticas públicas na perspectiva de gênero. In:
REIS, J. R.; LEAL, R.G..(org.) Direitos Sociais e políticas públicas: desafios contemporâneos.
Tomo 11. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2011, p. 199.
285 ZANTEDESCHI, Jader Mateus. Mediação de conflitos extrajudiciais: O caso do Projeto Jus-
tiça Comunitária em Passo Fundo (RS). (Monografia do curso de Direito) - Faculdade Meridional-
IMED, Passo Fundo, 2012.
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