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LUCAS ANTUNES WENDHAUSEN

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC


Departamento de Arquitetura e Urbanismo ArqUFSC
Orientador: Roberto Gonçalves da Silva
Co-Orientador: Wilson Jesuz da Cunha Silveira

Florianópolis, 2007.
Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

Índice

Introdução....................................................................................................................................02

Até Séc Xv – Paisagens Singulares ..........................................................................................03

Séc Xv- 1808 – Expansão do Mundo Europeu ......................................................................05

1808-1914 – Missão Francesa..................................................................................................07

1914 – 1950 – Início do Moderno ...........................................................................................09

1950-1970 – Modernismo.........................................................................................................11

Pós 1970 – Globalização ...........................................................................................................13

Nesse Rumo... ..............................................................................................................................15

Outra Perspectiva .......................................................................................................................20

A pesquisa....................................................................................................................................23

Materiais ........................................................................................................................24

Técnicas .........................................................................................................................26

Formas ...........................................................................................................................29

Outras Informações ....................................................................................................29

Interpretação dos dados obtidos.............................................................................31

Conclusão.....................................................................................................................................33

Referências ..................................................................................................................................34

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Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

Introdução

Este estudo tem como objetivo principal identificar as alternativas formais, as


técnicas construtivas e os materiais de construção presentes na Arquitetura da Região de
Florianópolis, privilegiando seu patrimônio imaterial.
Parte da construção de uma interpretação teórica da História do lugar, re-
situando a ligação entre natureza e cultura dentro do fazer de Arquitetura. Observa-se
uma maior homogeneização das paisagens em todo mundo desde a década de 1970,
quando se instaura uma perspectiva de desenvolvimento global. Tal lógica é a
responsável pelos problemas ambientais vivenciados pelo Homem com maior intensidade
nas últimas décadas, ameaçando a continuidade da vida no Planeta.
Entende Arquitetura como a síntese perceptível, simbólica e material, resultante
do uso de materiais, através de técnicas específicas que se estruturam em formas
espaciais, assegurando a estabilidade e duração, com a finalidade de adaptar a vida
humana à natureza, através da cultura, em um determinado tempo e lugar, expressando-
se na paisagem.
Efetuou-se uma pesquisa que teve como foco o patrimônio imaterial de
Arquitetura na região de Florianópolis, presente nos operários mais experientes que
puderam ser contatados. A investigação situa-se dentro do campo das pesquisas
qualitativas em ciências sociais, através de entrevistas segundo o referencial da história
oral.
Num segundo momento, faz-se uma breve análise da estruturação da lógica
moderna de se fazer Arquitetura na região, tentando avaliar o impacto de tais mudanças
nas formas de construção e no seu imaginário.
Parte do pressuposto de haver sempre a oposição entre duas perspectivas de
construção dos referenciais de Arquitetura no local: a importação de modelos externos e
a adaptação de formas tradicionais.

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Até Séc Xv – Paisagens Singulares

O Homem vem ocupando a superfície da Terra, em diferentes lugares, desde


tempos imemoriais. Para assegurar a manutenção e a continuidade da espécie, ele se
adaptou continuamente, tanto aos fatores físicos e químicos presentes no ambiente,
quanto a fatores decorrentes da interação com outras espécies e outros homens. Ele se
tornou bípede e descobriu o fogo, desenvolveu a fala, a escrita, desenvolveu suas
articulações motoras, permitindo a invenção de ferramentas e instrumentos que
facilitaram a execução de diversas atividades, a capacidade de imaginar, refletir, entre
outras mudanças que podem ser expressas:

(...) em termos socioculturais e fisiológicos. Respostas


socioculturais, como vestimenta, abrigo, e várias formas de
organização social, ajudam a adequar os ajustes de nossa espécie
ao ambiente. Respostas fisiológicas requerem mudanças na
estrutura orgânica e em seu funcionamento, necessitando,
portanto, mais tempo para entrarem em operação do que as
respostas socioculturais. Ambos os tipos de respostas
proporcionam um mecanismo mais rápido para aumentar as
chances de sobrevivência do que as mudanças genéticas, que se
acumulam ao longo de várias gerações. (MORAN, 1994, p.14)

O compartilhamento e o cultivo de soluções para as demandas da vida cotidiana


fizeram com que o homem superasse os limites impostos pelo meio ambiente e se
apropriasse de elementos naturais coletivamente, em um processo constante de
conservação, alteração e substituição das respostas, conservando as que melhor
funcionavam. O resultado é a constituição de um sistema de crenças, instituições sociais
e bens materiais diversos, que denominamos por cultura. É a cultura que orienta cada
novo ato, ação, tenha ela fins simbólicos ou utilitários.
Para se abrigar das intempéries e dos predadores, o homem começou imitando
outros seres vivos. Assim, ele se cobriu com folhas, ocupou cavernas e copas de árvores,
cavou buracos na base de montes, até construir as primeiras soluções mais complexas
com estruturas semelhantes aos ninhos dos pássaros: cabanas feitas com gravetos de
madeira e lodo (VITRUVIO, 1993, p. 28).
Em um segundo momento, com engenho e criatividade, o homem introduziu
modificações, que passaram a ser transmitidas aos demais membros do grupo cultural e,
de geração em geração, através da comunicação; estes por sua vez aprenderam e
introduziram novas alterações e melhorias (SAUER apud CORREA; ROSENDHAL, 1998, p.
59).
As descobertas e inovações só são possíveis porque:

Os seres humanos experienciam e transformam o mundo


natural em mundo humano, através de seu engajamento direto
enquanto seres pensantes, com sua realidade sensorial e material.
A produção e reprodução da vida material são, necessariamente,
uma arte coletiva, mediada na consciência e sustentada através de
códigos de comunicação. Esta última é produção simbólica. Tais
códigos incluem não apenas a linguagem em seu sentido formal,

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mas também o gesto, o vestuário, a conduta pessoal e social, a


música, pintura, a dança, o ritual, a cerimônia e a construção.
Mesmo essa lista não esgota a série de produções simbólicas
através das quais mantemos o nosso mundo vivido, porque toda
atividade humana é, ao mesmo tempo, material e simbólica,
produção e comunicação. Essa apropriação simbólica do mundo
produz estilos de vida (genres de vie) distintos e paisagens
distintas, que são histórica e geograficamente específicos.
(COSGROVE, apud CORREA; ROSENDHAL, 2003, p. 103)

A paisagem é, ao mesmo tempo, marca e matriz da ação humana. Marca por ser a
expressão física e simbólica passível de apreensão pelo homem, dessa relação
indissolúvel entre natureza e cultura. Matriz, porque condiciona e limita o campo de
possibilidades de uma formação cultural naquela natureza (BERQUE, apud CORREA;
ROSENDHAL, 1998).

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Séc Xv- 1808 – Expansão do Mundo Europeu

No início do séc. XV, os europeus expandem os limites do mundo conhecido por


eles, em busca de metais preciosos, usado nas transações comerciais, e tentando
aumentar o contato com Oriente, fonte de especiarias, como gengibre, noz-moscada,
cravo, canela, pimenta. Foram além dos caminhos por terra e pelo mar Mediterrâneo,
lançaram-se ao desconhecido, contornaram a África e, ao tentar chegar à Ásia pelo oeste,
descobriram um novo mundo: a América. O que justificava tal empreitada eram os
ganhos financeiros, pois:

uma única bolsa de pimenta valia, na Idade Média, mais do que a


vida de um homem, mas o ouro e a prata eram as chaves que o
Renascimento empregava para abrir as portas do paraíso no céu e
as portas do mercantilismo capitalista na terra. A epopéia dos
espanhóis e portugueses na América combinou a propagação da fé
cristã com a usurpação e o saqueio das riquezas nativas. O poder
europeu estendia-se para abarcar o mundo. As terras virgens,
densas de selvas e perigos, inflamavam a cobiça dos capitães, dos
cavaleiros fidalgos e dos soldados em trapos, lançados à conquista
dos espetaculares despojos de guerra (...) (GALEANO, 1978, p. 12)

O Novo Mundo acabou transformando-se no paraíso, com ouro e prata em


quantidades jamais imaginadas pelos europeus. Fauna e flora belíssimas e era ocupada
por um povo amistoso, de diversas nações e culturas. Apesar da enorme diferença
quantitativa, o europeu dominou a América facilmente: seu poderio militar era mais
desenvolvido, com armas de fogo; foram confundidos pelos índios como sendo deuses ou
heróis míticos que retornavam do leste; atacavam montados em cavalos, que aos olhos
dos indígenas davam forças mágicas; aplicavam técnicas de traição e intrigas; trouxeram
bactérias e vírus que dizimaram muitos índios. (GALEANO, 1978, p. 13-15)
Em pouco tempo, os europeus tornaram-se a hegemonia cultural do continente,
subjugando os índios e transformando a América em diversas colônias, extensões do
continente europeu, fonte de recursos infinitos. Aqui, estabeleceram núcleos de
ocupação a fim de assegurar posse, descobrir, cultivar e explorar as riquezas (minerais,
naturais e humanas) e enviar seus dividendos para a Metrópole na Europa. Os índios eram
sistematicamente dominados ou expulsos à medida que a expansão européia conquistava
o “novo” território.
A reprodução do mundo europeu fica expressa nos modelos de implantação dos
núcleos de ocupação e na aparência das edificações construídas, que refletiam a cultura
original. Contudo, algumas adaptações tiveram que ser feitas para se adequar aos novos
fatores naturais, obrigando o colonizador a se apropriar de características culturais dos
nativos, extremamente adaptadas ao lugar por gerações:

todos os depoimentos e crônicas antigas falam do uso da técnica


construtiva dos índios nas primeiras construções reinóis no solo
da colônia recém-descoberta. De fato, foi primordial a ajuda
indígena nos primeiros dias. Os aglomerados urbanos portugueses
iniciais eram (...) cidades de palha cujas casas procuravam atender
os programas de necessidades europeus (...) (LEMOS, 1979, p. 18)

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Houve, contudo, variações no nível dos elementos incorporados. As edificações


oficiais (administrativa, militar e religiosa) e da elite (européia ou descendente)
importavam mais materiais, técnicas e linguagem, resultando em um conjunto com
menos características indígenas do que as casas dos pobres e mestiços da colônia. As
oficiais importavam o Estilo e os materiais para expressar a dominação.
Apesar dessas diferenças, há uma homogeneidade nos tipos de habitação. No
Brasil, por exemplo:

os principais tipos de habitação eram o sobrado e a casa térrea.


Suas diferenças fundamentais consistiam no tipo de piso:
assoalhado no sobrado e de ‘chão batido’ na casa térrea.
Definiam-se com isso as relações entre os tipos de habitação e os
estratos sociais: habitar um sobrado significava riqueza e habitar
casa de ‘chão batido’ caracterizava pobreza. (...) No mais, as
diferenças eram pequenas. Os planos maiores correspondiam,
quase sempre, apenas a mais um rebatimento ou sobreposição dos
esquemas de plantas mais simples.” (REIS FILHO, 1970, p. 28)

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1808-1914 – Missão Francesa

No Brasil, ocorre um fato que o diferencia das demais colônias da América: em


1808, escapando da invasão napoleônica que dominava a Europa, a família real
portuguesa transfere-se para a colônia. Além da família real, instala-se no país a corte,
com os fidalgos, profissionais de diversas áreas e intelectuais em um novo ciclo de
europeização da América, introduzindo novos hábitos e modificações na paisagem.

Em 1816, para auxiliar a realeza na adaptação à nova realidade, o Rei D. João VI


contrata uma série de artistas e artífices franceses (Missão Francesa) para estudar o
Brasil, consolidando a criação da primeira Academia de Ciências, Artes e Ofícios. A
capital é transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, porto de saída do ouro e das
riquezas de Minas Gerais. A cidade passa por obras de saneamento urbano (serviços de
água e esgoto) e a arquitetura sofre modificações.

Até a chegada da Missão Artística Francesa, o ensino de


arquitetura não ultrapassava o formalismo prático que visava
apenas atender as necessidades de uma sociedade que não se
preocupava em buscar soluções para os problemas urbanos,
considerando-se que estava acomodada no sistema servil.
O ensino de arquitetura desse período correspondia ao hábito de
transplantar ou recriar em nosso País, através da adaptação e
reprodução de modelos, o mesmo ambiente europeu. Uma
arquitetura tecnicamente ultrapassada e totalmente inadequada
ao nosso clima e que, esteticamente, não apresentava uma solução
de integração harmônica com a nossa paisagem, preocupava-se
apenas com a utilização sistemática de um modelo arquitetônico
de caráter formalista. Um esquema arcaico que visava a
preservação das tradições culturais portuguesas através da
arquitetura, como instrumento de afirmação de poder da
Metrópole Portuguesa sobre a Colônia. (SANTOS, 1995, p.1)

Os arquitetos formados pela academia, sob a tutela do arquiteto e construtor


Grandjean Montigny, passaram a atuar no país, diminuindo o prestígio dos demais
construtores militares e os profissionais de arquitetura formados na Europa e já
presentes no Brasil, generalizando o estilo oficial do Império, o NeoClássico.

O Rei autoriza a abertura dos portos brasileiros, permitindo o comércio com as


nações amigas, o que se traduziu, principalmente, na importação de diversos
equipamentos e artigos da Inglaterra, que passava pela industrialização movida a carvão
e a vapor

O país cresce, os núcleos se interligam, há a formação de novas elites econômicas


nas principais cidades. Suas edificações adotam o Estilo Eclético, com o uso de artigos
industrializados nacionais e importados: as platibandas substituem os beirais por
condutores e calhas; as paredes passam a ser de tijolos maciços ao invés de taipa de pilão
ou de estuque; tubulações permitem o emprego da água encanada e de outras medidas

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higiênicas. As diferenças entre as residências ricas e as pobres começam a ser


qualitativas, principalmente com relação ao saneamento.

Após a Independência do Brasil, em 1822, e antes da Primeira Guerra Mundial, a


elite cafeeira financia um novo ciclo de importações de materiais, técnicas, mestres-de-
obras, pedreiros e arquitetos.

Os arquitetos daqui, formados na única academia de belas artes


brasileira, a do Rio de Janeiro, inicialmente muito apegados ao
neoclássico ensinado pelos seus mestres franceses, logo uniram-se
aos arquitetos de fora. Estes vieram a chamados dos novos
milionários – já conhecedores do esplendor europeu através de
viagens nas entressafras, - e todos copiavam projetos publicados
em álbuns e revistas de divulgação. (LEMOS, 1979, p. 51)

Da mesma forma que as demais cidades brasileiras, as elites econômicas da


antiga Desterro, atual Florianópolis, irão promover o estabelecimento de chácaras,
complementos “suburbanos” da abastança dos senhores do sobrado. Nelas, as casas são
maiores em dimensão e em número de cômodos, seus terrenos são maiores e situam-se
fora dos limites do centro da cidade. São usadas para o refúgio contra as epidemias de
cólera e febre amarela, lugar para festas, férias e finais de semana, e para os períodos
quentes do ano. (CABRAL, 19--, p. 34)

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1914 – 1950 – Início do Moderno

Em 1914, com o início da Primeira Guerra Mundial, há uma alteração na


conjuntura mundial. A Europa, palco principal da guerra, fica arrasada e transforma-se
em um grande importador de produtos. Os Estados Unidos da América, por sua vez,
configura-se como um país industrializado e rico, expandindo a sua cultura pelo mundo.
No Brasil, os investimentos maiores em infra-estrutura possibilitam que a
indústria nacional, incipiente até então, passe por um surto de expansão e
desenvolvimento tecnológico, com a formação de uma indústria de base e o esboço de
um mercado interno próprio. O uso de estruturas metálicas e o surgimento dos primeiros
elevadores permitem a verticalização e o surgimento dos primeiros arranha-céus. Pode-
se afirmar que o país passa por uma modernização:

(...) um processo cultural, e que se reveste por um comportamento


caracterizador da comunidade que aspira substituir um quadro
de referência de todo um complexo vivencial composto de um
modelo ‘antigo’ por outro considerado ‘novo’, moderno.
(PEREIRA, 19--, p. 67)

Em Florianópolis, observam-se reflexos dessa modernização cujo emblema é a


Ponte Hercílio Luz. O rodoviarismo demanda o alargamento da caixa das ruas e também
faz surgir a garagem como um novo cômodo.
No período entre guerras, a arquitetura da elite passa por um momento
contraditório: afirmar uma nacionalidade através do Movimento Neocolonial, retomando
elementos da arquitetura desenvolvida nos séculos anteriores; ou romper com o passado
e integrar-se ao Estilo Internacional, que começa a dar os seus primeiros passos no
mundo:

Em outubro de 1920, Le Corbusier e Ozenfant lançam o primeiro


número da revista L’Esprit Noveau, publicada até 1925, que
trazia artigos sobre a nova arquitetura. Até 1922, onze
brasileiros constavam na lista de assinantes da revista. Em 1929,
Le Corbusier fez conferências em Buenos Aires, Rio de Janeiro e
São Paulo, fundamentais para a disseminação das idéias
corbusianas na América do Sul. (ALBERTON, 2006, p. 25)

O Estilo Internacional está vinculado a uma corrente político-filosófica


(positivismo) que afirma estarem ultrapassadas as formas tradicionais da cultura humana
frente aos problemas da nova sociedade industrial. O progresso deveria ser o foco da
humanidade, alcançado através da razão, da ciência e do primor técnico.
Na década de 1930, sob a presidência de Getúlio Vargas, a modernidade começa
a refletir-se na arquitetura do Estado Novo, que generaliza a sua presença em todos os
municípios do país, inicialmente utilizando-se do Estilo Art Déco. Suas linhas racionais,
geométricas e desprovidas de ornamentação expressam-se, sobretudo nas escolas, nas
agências dos Correios, nas agências do Banco do Brasil, nas Coletorias Federais e nas sede
das grandes empresas da época. Esse é o primeiro Estilo que rompe definitivamente com
as estruturas autoportantes e passa a adotar sistemas independentes, em aço ou em
concreto-armado.
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É somente após a ampla divulgação da “Carta de Atenas”, documento político-


ideológico que sintetiza os conceitos e princípios do Movimento Moderno, e contando:

Com o patrocínio estatal, a partir da década de 1930, [que] a


Arquitetura Moderna tem um maior reconhecimento nacional e
internacional, de modo que são fundadas duas faculdades
dedicadas de forma exclusiva à Arquitetura e ao Urbanismo: a do
Mackenzie, em 1947 e a FAU-USP, em 1948. (GITAHY, in USP,
1996. p. 25)

Nesse período Florianópolis, que tinha o funcionalismo público como principal


motor econômico, passa por um momento de crise. A sua elite, que se opôs à Vargas
durante a revolta de 1930, vê uma redução drástica nos investimentos do Estado.

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1950-1970 – Modernismo

Iniciada em 1936 e inaugurada em 1942, a sede do Ministério da Educação e


Saúde (MES), constituiu-se no primeiro grande exemplar do Movimento Internacional de
Arquitetura Moderna no Brasil. Participaram do projeto dessa edificação, profissionais
importantes no cenário nacional da arquitetura e artes plásticas, contando com o auxílio
direto de Le Corbusier, o principal expoente internacional desse estilo.

É na década seguinte que o modernismo passa a ser adotado como linguagem


principal da elite e do Estado. É o período do governo de Juscelino Kubitschek, que
implanta um projeto desenvolvimentista no país, responsável por investimentos maciços
na formação de uma indústria nacional ampla, no rodoviarismo, modernizando o país e
recuperando o atraso frente aos países industrializados.

A arquitetura moderna rompe definitivamente os laços com a tradição


construtiva brasileira. Faz uso dos materiais e das técnicas industrializadas de
construção, principalmente o concreto armado, introduz novos conceitos como a planta
livre, o teto jardim, o térreo em pilotis e procura estabelecer uma solução universal dos
problemas de habitação do homem através da superação técnica dos condicionantes
naturais.

Nas edificações da elite, passam a se fazer presente com mais freqüência


equipamentos tecnológicos e eletrodomésticos visando o conforto e as facilidades
propagadas pela modernidade. Há um sensível aumento no custo de construção,
manutenção e uso das edificações, exacerbando as diferenças qualitativas entre a
arquitetura dos ricos e a dos pobres. Aquelas passam a ser denominadas de
autoconstrução, uma cópia incompleta e mal acabada da referência.

Em 1960, ainda no governo JK, é inaugurada Brasília, obra símbolo do Movimento


Moderno de Arquitetura mundial projetada por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Niemeyer
já havia trabalhado anteriormente no projeto da Pampulha quando Juscelino era
Governador de Minas Gerais e é o grande responsável pelo êxito da arquitetura
moderna nacional (COSTA, 1962).

Em Florianópolis, a elite começa a construir as primeiras residências modernas,


projetadas e executadas principalmente por jovens arquitetos formados em grandes
centros como São Paulo e Porto Alegre, na década de 1950:

em entrevista (dezembro de 2005) o arquiteto Ademar José Cassol,


relatou que as influências modernas chegavam através dos
concursos de arquitetura que aconteciam por todo país; das
revistas especializadas como ACROPOLE, MÓDULO, DOMUS e
L’Architecture d’Aujourd’hui; e de obras como a Pampulha e do
Ministério da Educação no Rio de Janeiro. O Brutalismo Paulista,
de Artigas e Paulo Mendes da Rocha, estavam despontando como
escola arquitetônica e arquitetos como Mies Van der Rhoe, eram
referências da época (ALBERTON, 2006, p. 53-54)
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O desenvolvimento e a modernização passam a estar expressos também em


Florianópolis através da construção dos primeiros ‘arranha-céus’ de seis a dez andares,
que seguem os conceitos, as técnicas, os materiais e o paradigma industrial. Pode-se citar
(CASTRO, 2002):
1950 – Edifício Santa Tereza – na rua João Pinto;
1950 – Instituto de Aposentados e Pensionistas do Comércio - IAPC
1950 – Edifício das Diretorias
1951 – Lux Hotel
1951-1954 – Instituto Estadual de Educação
1954 – Clube Penhasco
1957 – Edifício Nereu Ramos
1959 – Banco Nacional do Comércio

A verticalização faz-se principalmente no centro, demolindo sobrados e as


casas tradicionais. Ao aumentar o perímetro urbano, as chácaras do interior foram sendo
divididas e subdivididas para darem lugar a novas construções. A casa colonial antiga
perde espaço para o novo padrão social do prédio de apartamentos.

Na década de 1960, Florianópolis atrai um contingente muito grande de


profissionais com a criação e instalação da Universidade Federal de Santa Catarina e
outros órgãos governamentais. Aquela possui nos seus primeiros anos uma renda
superior à do município e:

toda a renda então injetada na comunidade florianopolitana,


pelo orçamento da UFSC, passa a alimentar a construção civil e
esta, segundo novos padrões, revela o emergir do processo de
modernização (PEREIRA, 19--, p. 104)

No campo da construção, a UFSC passa a formar profissionais com a


perspectiva moderna, porque o seu corpo docente era composto principalmente por
profissionais oriundos das escolas modernas dos grandes centros: Universidade de São
Paulo (USP) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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Pós 1970 – Globalização

Os avanços tecnológicos nas áreas de telecomunicações e transportes, a partir da


década de 1970, dão início à expansão mundial das indústrias, enfraquecendo as
fronteiras comerciais dos países, difundindo as tecnologias, alterando a noção de tempo
envolvida nos processos de realização da mais-valia e tornando a cadeia de produção e
consumo global e interdependente. O controle, ao contrário, passa a se unificar e
centralizar nos países centrais, ricos, afluentes, ditos de Primeiro Mundo (SANTOS, 1988,
p. 79-80-81).

Os padrões de consumo exportados pelos países afluentes e


impostos aos do Terceiro Mundo sujeitam estes últimos a relações
de troca que tornam a dependência mais aguda, perpetuam seus
desequilíbrios internos e ameaçam sua identidade cultural. São
os países industrializados que controlam uma parte substancial da
produção industrial global, assim como produzem e comercializam
as tecnologias de ponta. Eles também são responsáveis por
propagar a mensagem de que tais tecnologias, juntamente com
os produtos que as acompanham, são absolutamente essenciais a
qualquer sociedade que procure melhorar o bem-estar de seus
membros. (MAX-NEEF, 1986, p. 56)

Há a transposição de um modelo hegemônico de desenvolvimento econômico e


cultural, baseado na busca permanente pelo progresso, que instaura um ciclo vicioso de
dependência nos países pobres. No setor da indústria da construção de edifícios, esse
modelo está associado à desvalorização dos materiais, das técnicas e das formas locais,
nas novas obras, sejam elas oficiais, da elite ou populares. O resultado é a tendência para
a homogeneização das paisagens em todo o mundo.
Os países periféricos que sempre sofreram com a baixa valorização da sua
produção predominantemente agrícola, passam nesse período por uma “valorização” em
direção ao desenvolvimento tecnológico. Há a transferência e a instalação de setores da
produção mundial, porém, são somente as partes produtivas mais poluidoras, geradoras
de menor valor agregado, consumidoras de grandes volumes de energia e recursos
naturais que se instalam no Terceiro Mundo.
Após o ingresso no processo de globalização (pós-1970), afastando-se de toda a
tradição:

(...) a sociedade industrial entrou numa fase de modernização


reflexiva, na qual ela tornou-se tema para si mesma. O próprio
processo de modernização transformou-se em um problema por
causa das instabilidades e riscos que as novidades tecnológicas e
organizacionais, introduzidas na sociedade de forma não refletida,
provocam. (...) Em suma, estamos assistindo ao surgimento de uma
sociedade que produz e distribui, de forma desigual, os riscos
ambientais e sociais. (BRÜSEKE, 2001, p.30-31)

Parte da arquitetura incorpora no Estilo denominado Regionalismo Crítico, da


década de 1980, as questões da modernização reflexiva. Tenta estabelecer um diálogo
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produtivo entre os dois mundos: o moderno e o tradicional. No moderno, considerar os


ganhos decorrentes do progresso técnico em alguns pontos. No tradicional, reconhecer
valores fundamentais para uma independência cultural, econômica e política, impondo
limites à importação da modernidade (ARANTES, 2000, p. 148-149).

Apesar de surgirem diversos movimentos críticos à modernização a partir de


então, há uma aceleração no processo de internacionalização da perspectiva do
progresso. As identidades locais são dissolvidas e a cultura de massa passa a transformar
a maior parte do mundo em consumidores acríticos dos benefícios tecnológicos. O
aumento no consumo de recursos naturais e energéticos, associados ao aumento da
poluição ambiental, passam a colocar em risco a sobrevivência humana na Terra.

Florianópolis, na década de 1970, não tem favelas, pois conservava as formas


tradicionais de construção, resultado de sucessivas adaptações ao local e cuja tecnologia
era de domínio público, como as casas de madeira. Apesar disso, o crescimento
imobiliário continua a destruir o patrimônio construído da cidade em nome do progresso.
(SILVEIRA, 1994, p. 23)

A modernização é requisitada e financiada pela elite, local ou estrangeira. A


primeira, procura superar o atraso cultural com relação às demais capitais do país e do
mundo. A segunda, não possui vínculos com o local, cultivando outras tradições. Os
estrangeiros são os que possuem maior poder sobre as mudanças econômicas da época,
pois são constituídos por profissionais que vieram ocupar os cargos das diversas
instituições que se instalaram na cidade desde a implantação da UFSC.

A partir de 1970, Florianópolis passa a ter seu desenvolvimento focado na


economia com base em alta tecnologia e na sua “vocação” turística como principais
fontes de renda. Essa forma característica do desenvolvimento da cidade possibilitou um
movimento contraditório e, de certa forma, insustentável. Por um lado valorizou e
preservou o patrimônio natural e cultural local. E, por outro, utilizou esses mesmos
recursos para financiar o progresso e a integração na economia mundial, refletido em
crescimento econômico, expansão comercial e imobiliária, que destroem e consomem
mais e mais os recursos patrimoniais locais (CASTRO, 2002, p. 72).

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Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

Nesse Rumo...

Em fevereiro deste ano, foi apresentado o Relatório do Painel Intergovernamental


de Mudanças Climáticas Globais (IPCC) das Organizações das Nações Unidas (ONU), que
atribuiu ao homem e sua forma de desenvolvimento a responsabilidade pelas
alterações e impactos ambientais causados ao planeta Terra. (FERNANDES, in BBC
Brasil, 2007).

O filme ‘Uma verdade inconveniente: um alerta global’ (2006), aborda tais


problemas ambientais e proporciona uma interpretação. Enumera os reflexos mais
negativos, tais como:

 derretimento das geleiras do Pólo Norte e dos Alpes em todo mundo;


 aumento na temperatura da Terra acima do normal, com recordes de
temperatura máxima sendo quebrados a cada ano em diferentes locais;
 fenômenos meteorológicos com maior intensidade e freqüência, como
furações e tornados, secas e enchentes;
 alterações bruscas em diversos ecossistemas ameaçando diversas espécies
da fauna e flora;
 aumento no nível do mar, ameaçando uma parte significativa da ocupação
humana que é litorânea.

A principal causa de tais conseqüências nocivas ao planeta e aos seres vivos é o


aumento acelerado na concentração de CO2 nos últimos cinqüenta anos, que alterou a
composição da atmosfera e potencializou o Efeito Estufa. O documentário refere-se a ser
o homem e sua forma de desenvolvimento, iniciada com a industrialização, como
responsáveis diretos pela causa do problema, devido a três fatores:

1. aumento acelerado da população em um curto espaço de tempo


(prolongamento da expectativa de vida demandando mais recursos naturais);
2. revolução científica e tecnológica (instrumentos e técnicas cada vez mais
eficientes e com maior poder de alteração da paisagem, elevando os riscos e
aumentando a escala de intervenção, além de tornar imprevisíveis as
conseqüências de algumas ações humanas);
3. a falta da devida atenção às mudanças que, por serem graduais, não
tiveram impacto suficiente para alterar a ação do homem.

O documentário afirma que o homem começou a ter consciência dos impactos


deste estilo de desenvolvimento somente quando os efeitos começaram a se tornar
evidentes na segunda metade do século XX. Contudo, por serem graduais, não afetaram
diretamente a cultura humana dominante, que é fundamentada na crença absoluta na
tecnologia como sendo capaz de substituir por completo os ciclos químicos e físicos
de manutenção da natureza.

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Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

O paradigma atual de desenvolvimento está estruturado no progresso:


crescimento econômico contínuo; na produção de bens materiais; consumo ascendente
de recursos naturais e energéticos; e inovação tecnológica ininterrupta. Os países
hegemônicos, industrializados, afirmam que esta cultura traz inúmeros benefícios ao
homem nos locais onde se instaura.
Ao tentarem sair do atraso e alcançar o progresso, os demais países se tornaram
cada vez mais dependentes, entrando em um círculo vicioso de desarticulação das formas
de desenvolvimento autóctones, agravando e perpetuando a pobreza. A partir da entrada
de setores da produção nesses países após a articulação global da economia, os
processos estão se intensificando.
A mesma lógica de desenvolvimento global está presente na arquitetura desde o
surgimento do Movimento Moderno, promotor das alterações significativas na forma de
se abordar os problemas das edificações e das cidades. Assim, com base em estudos
científicos que estabeleciam as necessidades humanas primordiais, foi formulada a
solução universal para a habitação, seja a edificação ou a cidade, com base na supremacia
técnica (MIRANDA, 2007).
Tal solução de arquitetura implicou, e implica, no uso da racionalidade associada
aos materiais, formas e técnicas industrializadas, principalmente o vidro, o aço e o
concreto. O ambiente interno passou a ser extremamente controlado, auxiliado em
grande parte, por sistemas artificiais de refrigeração, iluminação e ventilação específicos.
Tudo em busca da eficiência. Em muitos casos, tais equipamentos só são utilizados para
resolver problemas criados pela própria lógica construtiva inadaptada a diversos lugares,
como edifícios com grandes painéis de vidro sem aberturas nos trópicos.
Esta perspectiva parece ser a principal responsável por transformar a indústria
da construção de edificações em uma das principais fontes dos problemas ambientais do
planeta. Um artigo recente expõe os resultados dos trabalhos do Grupo de Estudos de
Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade do Estado de São Paulo (Poli-USP),
que evidenciam os impactos gerados pelo setor (JOHN, 2000):

1. é o maior consumidor de recursos naturais;


2. consome grandes quantidades de energia, na produção e principalmente no
uso das edificações;
3. é, também, grande gerador de poluição ambiental, tanto na fabricação dos
insumos utilizados, na construção da obra e durante a vida-útil da edificação;
4. é o maior gerador de resíduos, sendo o volume total duas vezes maior que o
lixo urbano.

A busca incessante pelo progresso, difundida pelo modernismo, altera a


formação acadêmica em Arquitetura, principalmente na sua relação com a História:

Do vasto campo constituído por tal tradição admitiu-se, a partir


daí, apenas o estudo do período da assim chamada ‘arquitetura
moderna’ e daqueles considerados como seus precursores mais
diretos. Disseminou-se, assim, a noção de que toda a tradição
anterior a tal período havia perdido qualquer validade como
fonte de ensinamentos aplicáveis na realidade do século XX.
(DORFMAN, 2007, p. 1)

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Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

No caso dos países não europeus, com parcos exemplos relevantes de


arquitetura, a análise e crítica passam a se limitar a parâmetros de composição visual,
através da análise de fotos e outras formas de divulgação bi-dimensionais das grandes
obras dos arquitetos. A prática decorrente dessa restrição resulta em um formalismo
vazio, caro e às vezes irrealizável (NERVI, apud GUIDONI, 1977, prefácio)

Escapa da formação moderna a compreensão da tradição envolvida na resolução


do problema de abrigo: a escolha, apropriação e uso dos diferentes recursos naturais
disponíveis são singulares em cada cultura e depende do local de implantação, da
finalidade, e da época em que a obra é realizada.

O arquiteto moderno não estuda as principais variações na utilização dos


materiais tradicionais na história, tais como: argila, cal, cimento madeiras, metais e pedra;
como parte da cultura local e que tiveram seu uso aprimorado por gerações sucessivas;
por isso não distingue qual o material mais adequado a cada situação, resumindo sua
resposta àqueles que fazem parte do repertório moderno, causando um considerável
aumento no consumo de energia para a fabricação e transporte dos materiais, a
construção e, principalmente, o uso e a manutenção das edificações.

Além disso, nas escolas privilegiam-se os estudos de edificações cuja finalidade é


menos requisitada, mas com maior caráter simbólico ou monumental, como museus,
centros culturais, templos religiosos, grandes complexos de negócio e serviço, grandes
intervenções urbanas. O paradigma dos profissionais de arquitetura é o de criador genial,
alheio às limitações de custo, demandas funcionais ou culturais. O recém-formado, se não
teve a iniciativa de ter atuado profissionalmente como estagiário ou aprendiz, está
totalmente alienado do mercado de trabalho na cadeia industrial da construção de
edificações.

Foi esta concepção de ensino que se difundiu internacionalmente


na esteira do Movimento Moderno, separando os conhecimentos
teóricos das práticas de atelier, transmitido um corpo teórico
advindo das artes plásticas e confundindo categorias sociais e
estéticas. Com este tipo de reflexão, desaparece a especificidade da
Arquitetura, enquanto linguagem, construção e atividade
econômica dialeticamente relacionadas. O projeto arquitetônico
fica restrito ao problema de desenho industrial de um objeto de
grandes dimensões; a construção só aparece como estética
construtivista desvinculada de sua materialização; e a divisão
técnica do trabalho é escamoteada por um discurso utópico que
relega para um futuro mítico a resolução das contradições sociais.
(FICHER, 1983).

No Brasil, desde que foram instituídas as primeiras escolas de Arquitetura e


Urbanismo, como a FAU-USP e o Mackenzie, elas se constituíram como centros de
transmissão direta da cultura do movimento moderno, locais onde estuda-se e reproduz-
se as soluções da moda a partir de fotografias e outras representações bi-dimensionais
das obras consideradas importantes. Com isto, a arquitetura enquanto meio de adaptação
da vida cotidiana ao lugar ao qual ela se desenvolve limita-se, não tem o corpo
transpondo o seu umbral como instrumento mais adequado para qualificá-la, restringe-
se às imagens que são vistas e reproduzidas “ad nausean”.

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Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

Apreciar as principais obras por inteiro, com todos os sentidos, é difícil e caro,
acessível somente aos que dispõem de meios para ir até os grandes centros em outros
continentes nos locais onde cada uma delas está implantada. A arquitetura local,
próxima, disponível, não é estudada, nem considerada como referência para o mundo
industrializado e, particularmente, para a sua arquitetura. A experiência e o repertório de
soluções ficam, assim, restritos à reflexão crítica do aspecto visual e das relações formais
das obras de arquitetura.

Desta forma, não ocorre durante a formação do arquiteto, a construção de um


referencial teórico local, com base nos instrumentos de observação, análise e reflexão a
partir da experiência adquirida através do contato com as obras tradicionais, como
afirmou o Hassan Fathy:

É curioso que numa excursão curta eu tivesse tido provas


concretas de que o elemento mais usado ao longo da história do
Egito fossem as abóbadas, e no entanto, pelo que tínhamos
aprendido na Escola de Arquitetura, eu poderia não ter suspeitado
que alguém, antes dos romanos, pudesse saber como construir um
arco. (1982, p. 21)

Os três efeitos combinados: perda da relação corpórea com o lugar;


desconsideração da sua especificidade histórica e retirada da esfera econômica do
fazer de Arquitetura, resultam em edificações cada vez mais caras e pouco eficientes,
que deixam até de cumprir sua finalidade primordial: “o abrigo da vida cotidiana - ou
partes dela - adaptando-a ao lugar em que ela acontece” (SILVA, Roberto. Arquitetura: o
abrigo da vida. s/d).

Essa diminuição significativa na qualidade da construção tem maior impacto nas


camadas mais pobres da sociedade, que, historicamente, dependem do
autofinanciamento e da autoconstrução, apoiados no patrimônio local que é substituído
gradualmente pelo mercado por outras opções. Essa troca ocorre porque as soluções
tradicionais são pouco solicitadas após o modernismo, transformando-as em artigos
raros ou de luxo, caros, inacessíveis para a maior parte da população que é pobre.

Conseqüentemente, o pobre vê-se coagido, pelas alterações do mercado e pela


ideologia, a adotar a solução moderna que é mais cara numa análise global e
desqualificada, em relação à antiga solução tradicional. A diferença da construção dos
ricos e dos pobres deixa de ser apenas quantitativa, na casas do rico há uma menor
sobreposição de atividades em um mesmo ambiente; e passa a ser também qualitativa, a
casa do pobre passa a ser a cópia inacabada e com pouca qualidade da casa dos ricos.

Ao mesmo tempo este processo diminui a possibilidade de acesso dos mais


pobres a uma edificação de qualidade por causa do aumento dos custos de aquisição do
material, de produção, de manutenção e de uso do objeto construído, assim como uma
diminuição das alternativas oferecidas pelo mercado tanto em materiais e técnicas locais
passíveis de utilização.

A partir da transposição do mundo europeu para a América, essa parte da


população mudava a sua forma de resolver o problema do abrigo sempre apoiados no
patrimônio material e imaterial locais. A cada nova realidade ambiental e social fazia uso

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Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

de diferentes estratégias para superar a escassez. Inicialmente, incorporou elementos da


cultura nativa, o patrimônio dos índios, antigos donos de cada um desses lugares;
posteriormente, adotou os elementos da arquitetura oficial (e dos ricos) através da
miniaturização dos diversos modelos e estilos coloniais; mas foi com a modernidade que
se deu a grande perda em qualidade causada pela elevação do custo de aquisição dos
materiais, de execução da obra, de uso e de manutenção do imóvel.

O aumento do valor do espaço urbano decorrente do crescente número de


citadinos e a migração crescente do campo pra cidade contribuíram para uma restrição
ainda maior de acesso à um bom local para construir (Livro I - Capítulo V -Terra Sã,
VITRUVIO, 1993) com uma área mínima.

Conclui-se, portanto, haver uma perda qualitativa na construção de edificações


decorrente da desconsideração do processo sócio-histórico de adaptação do homem ao
lugar, com a formação de um ciclo econômico depreciativo e o aumento da dependência
cultural. A manutenção dessa perspectiva de desenvolvimento irradiada pelos países
hegemônicos ameaça a continuidade da vida humana no planeta por ser a causa dos
problemas ambientais que se agravam.

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Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

Outra Perspectiva

Como intelectual, o arquiteto deveria ter sua atuação pautada pelo


compromisso ético e moral com a melhoria da qualidade de vida da coletividade e
com o desenvolvimento sustentável do quadro cultural e econômico no qual se insere.
Ele deveria saber objetivamente a relação histórica e espacial existente entre a natureza e
a cultura em cada lugar e em cada tempo, para então poder projetar a sua edificação
dentro da sua realidade contemporânea. Isso só é possível se ele inicialmente:

(...) considerar a existência de pelo menos três mundos num só.


O primeiro seria o mundo tal como nos fazem vê-lo: a globalização
como fábula; o segundo seria o mundo tal como ele é: a
globalização como perversidade; e o terceiro, o mundo como ele
pode ser: uma outra globalização. (SANTOS, 2000, p. 18)

O que vemos difundido como modernidade, como globalização, é, na verdade, a


propaganda que foi montada para justificar, apoiar e difundir o sistema econômico
mundial, que é, na realidade, hegemônico, competitivo e excludente que em nome da
liberdade transforma todos os habitantes do mundo em consumidores de seus produtos.
É também uma fábula, pois não atinge a todos, ou seja, não é efetivamente global porque
os benefícios gerados pelo processo não chegam a todas as pessoas e nem a todos os
lugares.

A outra globalização só é possível se o homem passar a fazer uso consciente


dos equipamentos, ferramentas e técnicas criadas para explorar os recursos naturais e
melhorar a qualidade de tudo e a vida de todos. A técnica influencia de forma decisiva
a relação entre o homem e o mundo, sem determinar seu uso, que pode ser tanto para
assegurar a vida quanto para promover a sua extinção.

O intelectual deve compreender que o desenvolvimento hegemônico atual não é a


única realidade em curso, que cada paisagem tem, ao longo do processo histórico, social
e espacial que a engendra, a sua especificidade na transformação da natureza em cultura.
Assim, ele precisa desmontar o presente e buscar sua própria identidade para poder
calcar sua ação na cultura material e simbólica do seu povo.

Deve ser clara para ele a existência da propaganda ideológica incutida no


processo de desenvolvimento, como alertou aos seus iguais o chefe samoano Tuiávii ao
falar sobre o europeu, chamado por ele de Papalagui:

irmãos das muitas ilhas, precisamos velar e ter juízo porque as


palavras do Papalagui são doces como a banana, mas cheias de
dardos escondidos, capazes de nos privar de toda luz e de toda
alegria. Jamais nos esqueçamos de que só precisamos de poucas
coisas além daquelas que são do Grande Espírito. Ele nos deu os
olhos para ver as suas coisas; e para vê-las todas é preciso mais do

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Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

que uma vida de homem. A boca do homem branco nunca disse


maior inverdade do que esta: "As coisas do Grande Espírito não
valem". As coisas deles é que valem muito, é que valem mais. No
entanto, as coisas dele que são tantas e tão relampejantes e
cintilantes,que atraem e seduzem tanto e de tantas formas, até
hoje não fizeram mais bonito o corpo do Papalagui, não lhe deram
mais brilho aos olhos, não lhe fortaleceram o juízo.”
(SHEURMANN, s/d, p. 17)

Por aqui, os ricos e o Estado buscaram as vantagens oferecidas pelo Papalagui,


não só europeu. Mas a grande maioria da população pobre, e que sofre as conseqüências
nefastas da globalização, não foi seduzida por completo. Muito embora, por viverem
dentro da escassez e só conseguirem sobreviver por usar de forma estratégica os
elementos da tradição, a cultura popular. Essa população tem mais presentes como
solução a ajuda mútua, a troca de experiências que possibilita a constituição de diversas
saídas criativas e funcionais para contornar o desaparecimento de recursos locais.

Assim, como os mais pobres, o arquiteto deve pautar sua ação nos elementos
da paisagem local, na tradição, nas soluções diversificadas que outros construtores
usaram ao longo da história no equacionamento dos problemas de abrigo requeridos a
essa mesma cultura, adaptando-a ao lugar.

É estudando obras de referência, bens tombados e outras construções locais,


fazendo uma avaliação fenomenológica completa que ele poderá apropriar-se, com
critério, das boas soluções locais e contribuir para a criação de estilos adaptados. As
referências locais poderão então ser usadas como subsídio para a ação, a escolha, dentro
de um repertório rico e variado de soluções, tipos e regras quanto à escolha dos locais de
implantação, materiais, técnicas e formas.

A partir do critério de adaptação a cada situação e finalidade, aumenta-se a


diversidade de materiais utilizados, diminuindo a exploração excessiva de um único. Ao
mesmo tempo, valoriza-se as pessoas que dominam as técnicas de construção com cada
um desses materiais, contribuindo para a continuidade desse conhecimento, reforçando a
identidade local.

O patrimônio material é a expressão da síntese entre a natureza e a cultura nas


suas diversas etapas temporais, em cada lugar. Mas, sem o patrimônio imaterial, ele, o
material, não se mantém. Essa é, em grande parte, a síntese da visão oriental de
patrimônio:

no mundo oriental, os objetos jamais foram vistos como os


principais depositários da tradição cultural. A permanência no
tempo das expressões materiais dessas tradições não é o aspecto
mais importante, e sim o conhecimento necessário para reproduzi-
las. Nesses países, em suma, mais relevante do que conservar um
objeto como testemunho de um processo histórico e cultural
passado, é preservar e transmitir o saber que o produz, permitindo
a vivência da tradição no presente. De acordo com essa concepção,
as pessoas que detêm o conhecimento, preservam e transmitem as
tradições, tornando-se mais importantes do que as coisas que as
corporificam. (SANT’ANNA apud ABREU, 2003, p. 49)

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Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

O Brasil já considera outras formas de expressão, desde 1930, como demonstram


os registros e estudos do poeta modernista Mário de Andrade. Lúcio Costa também
demonstrou consideração pelo conhecimento adquirido da arquitetura nacional.
Principalmente após a década de 1970, é que o ocidente como um todo percebeu que
manter apenas a parte material de seu patrimônio não preserva e nem valoriza a
identidade cultural, pois a materialidade não permite uma transferência direta de toda a
complexidade da cultura às próximas gerações.

Dessa forma são gerados dividendos para todos os envolvidos na cadeia de


produção e consumo locais, são minimizados os impactos nocivos da globalização, e
se abre a possibilidade de uma outra globalização, mais ampla e multifacetada, onde a
cultural e a identidade local estejam asseguradas. Este efeito em cadeia possibilitará
uma multiplicidade cultural, assunto presente na “Declaração Universal da Diversidade
Cultural”:

Artigo 1 – A diversidade cultural, patrimônio comum da


humanidade

A cultura adquire formas diversas através do tempo e do espaço.


Essa diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade de
identidades que caracterizam os grupos e as sociedades que
compõem a humanidade. Fonte de intercâmbios, de inovação e de
criatividade, a diversidade cultural é, para o gênero humano,
tão necessária como a diversidade biológica para a natureza.
Nesse sentido, constitui o patrimônio comum da humanidade e
deve ser reconhecida e consolidada em beneficio das gerações
presentes e futuras. (UNESCO, 2002, p.3)

Conclui-se, portanto, pela possibilidade de se oferecer diferentes perspectivas


ao desenvolvimento da Arquitetura. Aqui se defende a perspectiva de restabelecer a
Arquitetura como meio essencial para a sobrevivência da humanidade e da Terra,
considerando-a como parte da construção da paisagem local em seus diversos
aspectos:

 a partir da História e da Geografia, entendendo a relação indissolúvel


entre natureza e cultura;
 como fonte para construção de um referencial fenomenológico de
alternativas para cada lugar e finalidade;
 na manutenção desse referencial, em seu aspecto físico, simbólico e
técnico, como elemento de valorização e construção da identidade;
 considerando as várias opções de materiais locais, técnicas construtivas e
soluções formais adequadas à cada finalidade;
 preservando sua identidade e possibilitando uma maior diversidade
cultural em escala global.

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Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

A pesquisa

O objetivo principal deste trabalho é identificar as alternativas formais, as


técnicas construtivas e os materiais de construção presentes na Arquitetura da Região
de Florianópolis, privilegiando seu patrimônio imaterial. Num segundo momento,
analisou-se a implantação da lógica moderna de se construir na região, tentando avaliar o
impacto de tais alterações nas formas de construção e seu imaginário.
Para chegar às referências locais de Arquitetura foi privilegiada a pesquisa
qualitativa em ciências sociais a partir da memória dos construtores mais experientes e
que participaram do processo de construção da arquitetura local (GOLDENBERG, 2000).
Esses constituem a fonte viva da memória coletiva local. Seus depoimentos são
importantes no sentido de tornar visíveis à história os fatos que foram desmontados pela
lógica global da construção de edifícios (HALBWACHS, 1990).
A escolha deste setor da divisão social do trabalho dentro do ramo econômico da
Indústria da Construção de Edifícios fez-se considerando duas hipóteses iniciais:

 as técnicas desenvolvidas e elaboradas tradicionalmente no local estão


mais “vivas” no saber popular, não acadêmico (FATHY, 1980);
 os operários possam ter resolvido suas próprias habitações pelo sistema de
autoconstrução com base na adaptação da cultura patrimonial.

Chegou-se aos construtores através do Sindicato dos Trabalhadores da


Construção Civil e do Mobiliário de Santa Catarina, que referenciou cinco pessoas com
idades entre 61 e 73 anos, cujas experiências profissionais estiveram relacionadas com a
construção de edificações na região de Florianópolis.
Para identificar os materiais, as técnicas e as formas presentes na Arquitetura
feita em Florianópolis foram feitas entrevistas elaboradas segundo a metodologia
adotada pelo historiador oral Paul Thompson, presente no livro “A voz do passado”, do
qual cito:

no sentido mais geral, uma vez que a experiência de vida das


pessoas de todo o tipo possa ser utilizada como matéria-prima, a
história ganha nova dimensão. A história oral oferece, quanto a
sua natureza, uma fonte bastante semelhante à autobiografia
publicada, mas de muito maior alcance. (...) os historiadores orais
podem escolher exatamente a quem entrevistar e a respeito de que
perguntar. A entrevista propiciará, também, um meio de descobrir
documentos escritos e fotografias que, de outro modo, não teriam
sido localizados. A fronteira do mundo acadêmico já não são mais
os volumes tão manuseados do velho catálogo bibliográfico. Os
historiadores orais podem pensar agora como se eles próprios
fossem editores: imaginar qual a evidência de que precisam, ir
procurá-la e obtê-la. (1992, p. 25)

As entrevistas privilegiaram a investigação dos materiais, das formas e das


técnicas utilizadas pelos entrevistados durante o período em que estiveram trabalhando
na construção de edifícios, identificando os objetos e questionando os motivos atribuídos

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Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

por eles para as mudanças ocorridas ao longo da história, assim como uma avaliação
qualitativa dessa mudança.
Dos cinco foram entrevistados dois: um trabalha na manutenção da Ponte
Hercílio Luz a muito tempo; e o outro é especialista em muros de pedra e, durante a sua
carreira, atuou também no referido sindicato. O primeiro indicou mais uma pessoa que
também trabalha na manutenção ponte Hercílio Luz e que, nos longos períodos de
recesso, atua como construtor autônomo. Dos três o mais experiente em construção foi o
terceiro, que domina as técnicas adequadas a vários materiais, tipos de solo e de
edificação.
As entrevistas foram realizadas durante o primeiro semestre de 2007, no local de
trabalho de dois deles, que trabalham na Manutenção da Ponte Hercílio Luz, e na
residência do outro, que já está aposentado. Após cada entrevista foi realizada a
transcrição integral da gravação de áudio, que possibilitaram a prospecção dos trechos
que contêm os dados mais relevantes, e que são apresentados a seguir.
Também foram utilizadas referências extraídas de uma entrevista realizada com
um antigo morador da Lagoa da Conceição e que foram generosamente cedidos por
Marcelo Cabral Vaz. Tal entrevista pertence à sua pesquisa de mestrado em História e
Arquitetura da Cidade, na Universidade Federal de Santa Catarina, e que será defendida
em 2008 e que até o momento se intitula: Metamorfoses da Lagoa da Conceição,
Florianópolis/SC.
É importante explicitar que todos os trabalhadores entrevistados iniciaram sua
atividade profissional por volta dos dezoito anos de idade, no início da década de 1960,
período que se iniciam as verticalizações no centro da cidade, e que mudaram a paisagem
da cidade, inserindo-a definitivamente no caminho do progresso. Um dos entrevistados
sempre trabalhou em outro grande símbolo da modernidade em Florianópolis: a ponte
Hercílio Luz. Os demais trabalharam também na construção de obras de referência, tais
como: o Banco Nacional do Comércio, o Hospital dos Servidores Públicos, o Instituto
Estadual de Educação.
Para análise e exposição, os dados foram agrupados nas três categorias de
pesquisa: materiais, técnicas, formas; acrescida de uma última, denominada de ‘outras
informações’. Em ‘outras informações’ estão contidos os dados que considerados
relevantes por sua avaliação qualitativa da mudança ou por explicitar outros dados
importantes que não faziam parte das demais categorias.

Materiais

Areia: para fazer o reboco em associação com o barro; retirada da beira de rios da região.

Argamassa pronta: rebocar, mas com problemas com a qualidade.

Bambu: para conduzir água nas primeiras décadas de 1900, antes de se ter água
encanada. Usado também em estruturas de telhado de sapê.

Barro (argila): fabricação de tijolos maciços que eram assentados pra fazer paredes; na
fabricação de telhas; se misturado com areia, forma uma liga que assenta tijolos; usados
em casa de estuque, para fazer paredes; e nas casas mais pobres, o piso era somente

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Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

barro batido, estabilizado. Feitas nas olarias, que ficavam em toda a região, como em
Santo Amaro, na década de 1950 não eram muitas. Pode ser retirado mais perto da casa,
quando for usar para assentar tijolos, e também casas de estuque.

Cimento: usado em paredes de alvenaria portante, nos tijolo por cima das abertura.
Usado também pra assentar tijolos. Também pra rebocar paredes. Usado recentemente
também associado ao ferro pra fazer fundações (na verdade é o concreto, mas referiu-se
ao material como cimento).
Concha de berbigão: se queima para fazer a cal, usada pra rebocar. Tirada do solo da
região ou do mar.

Concreto: Usado para fazer estruturas. Começou a ser usado na região depois que veio a
brita. Pode ser preparado com pá ou com betoneira. Pode também ser comprado pronto
de concreteiras.

Ferro [aço]: usado junto com o cimento pra fazer fundações. Era usado também pra fazer
mobiliário, como as banheiras de ferro esmaltado.

Içara: usada pra fazer ripas para casas de estuque. Retirada de palmeira.

Madeira: assoalhos, aberturas, casas. Das seguintes espécies:

Angelim pedra vindos do norte do país, talvez Pará. Seu uso é mais recente e
predomina atualmente, dividindo a maior parte do mercado com o Eucalipto e o
Pinus. Serve pra fazer portas e janelas, aberturas;

Canela, licurana e peroba. Usadas pra fazer aberturas, casas forros e telhados.
Retirada da mata da região. Originárias da região da Grande Florianópolis: Biguaçu,
Paulo Lopes e São Bonifácio. Canela é canela preta, que o cupim não come. Essas são
as madeiras de qualidade encontradas na região;

Eucalipero e Pinus. São as únicas que se pode serrar sem a necessidade de licença do
IBAMA atualmente;

Imbuia vinda de Irati no Paraná. Começou a ser comprada para a Ponte Hercílio Luz
em 1970;

Pinho, do Pinheiro-do-Paraná. Usado para fazer casas e móveis. Retirado do oeste do


estado, de Rancho Queimado pra cima, lá pra onde fica frio, como Bom Retiro, São
Joaquim e Urubici. Transportados de caminhão até Florianópolis. Em sua imensa
maioria foi exportado pra Argentina, de barco via porto de Florianópolis;

Malacacheta: é um das variações do mineral mica, caracterizada pelo empilhamento de


folhas finíssimas que podem facilmente ser destacadas (TOLEDO; IMBERNON) Possuem
um brilho dourado intenso. Durante seu uso na obra tem que se usar óculos de escuro,
devido à brilho dourado intens.

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Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

Pastilhas cerâmicas: revestir paredes. Tem dimensão de três por três ou quatro por
quatro centímetros, chegam à obra já espaçadas corretamente, coladas num papel.

Pedra, pedra-ferro: pilar para fundação de casa de madeira ou alvenaria portante;


também para fazer muros. Usa se blocos cortados como pilarzinhos nas fundação de casa
de madeira. Pode-se comprá-la, medindo 40X40 cm, em folhotes. Eram encomendadas no
Rio Vermelho, para a obra do Instituto Estadual de Educação. De boa qualidade é o
granito miúdo, granito grado não presta.

Piso (revestimento cerâmico) – usado pra revestir o chão da casa. No banheiro e na


cozinha são necessariamente usados no chão e nas paredes, de cima a baixo. É mais frio
do que o de madeira, não dá pra andar com o pé descalço. Antigamente era forte, bom,
lajota grande, podia ser vermelho, cinza, não tinha muitas opções de cor.

Pré-moldados: elementos feitos de concreto, principalmente lajes. Para a obra do Banco


Nacional de Comércio em Florianópolis foram compradas lajes de uma empresa da
Palhoça.

Sapê, palha: usada pra fazer paredes e telhado. É retirado de palmeiras da região.

Telha: se cerâmica, é feita nas olarias da região. Inicialmente eram somente as do tipo
colonial, romana e a de calha (telha de capa e canal), depois vieram as francesas. Pode ser
também de Brasilit (cimento-amianto), mas essa o granizo pode furar, necessitando de
uma laje embaixo para proteger a casa;

Tijolos: feitos de barro e podem ser furados ou maciços. Os furados são maiores e mais
largos. Pode-se comprar na bitola que se quiser. Construir com os tijolos furados é
cinqüenta por cento mais rápido do que com tijolo maciço, porém o furado é mais fraco,
com tijolo maciço a parede fica mais firme.
Tintas: plástica, usada pra pintar casas, mas eram poucas marcas. Óleo, usada pra pintar
casas de madeira e dura mais do que a tinta plástica.

Técnicas

Quem tinha água encanada era quem puxava do rio com roda de madeira, jogava água e
purava [aparava] com bambu, com trava e aí ia pra casa.

A aplicação de malacacheta que chega na obra em folhas encapadas. Tira-se uma folha
com serrote, vai aparelhado a parede e depois descasca a folha já fixada na parede que
fica com um brilho dourado intenso. É preciso usar óculos escuros durante a aplicação,
de tão forte que é o brilho.

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Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

Nas obras que utilizam concreto armado, se faz uma caixaria de madeira, coloca-se a
ferragem, depois se enche de concreto, depois que secar desmancha-se a caixaria. No
caso da laje toda de concreto, faz-se um assoalho de madeira, bota uma camada de ferro,
uma esteira de ferro, e depois se concreta por cima. É uma mão-de-obra danada.

O concreto, quanto mais bem vibrado, mais forte fica. Pra preparar, ele pode ser virado
no muque ou na betoneira. Recentemente, pode ser comprado pronto também, em
concreteiras. É a mistura de cimento, brita e areia, a areia tem que ser a de rio, a boa
mesmo é o arião.

Antigamente a fundação, alicerce, era de pedra ser de pedra e as paredes eram de tijolo
maciço. Casas com grande durabilidade e qualidade, pois tem casa que até hoje não tem
nada trincado. Hoje as fundações são feitas com cimento e ferro. Se não bater estaca, se
fura de trado, faz sapata. Em alguns locais se aterra o terreno e faz uma esteira, depois se
faz uma viga em cima da esteira que ela não abaixa. Em casas de madeira, se usa
pilarzinhos de pedra como fundação.

O reboco era feito com a cal oriunda de conchas de berbigão, misturado com areia e
barro; ou com cal, areia e cimento. Para não cair a parede tem que estar bem úmida.
Atualmente pode-se comprar argamassa pronta pra usar no reboco.

O telhado era feito de madeira, todo em canela. Era composto por caibro, ripas, linha. A
telha pode ser cerâmica, ou se for usada telha Brasilit (cimento-amianto) deve ser feita
uma estrutura em pinho por cima de uma laje, pois o granizo (chuva) fura a telha,
inundando a casa.

O forro era feito de madeira e podia ficar abaixo ou acima da estrutura do telhado.
Quando acima, dava a possibilidade de se criar um sótão pra guardar as coisas.

A madeira era laminada pra ser transformada em compensado, era usada também de
forma natural, cortada em pranchas que podiam ter entre seis e oito metros de
comprimento. A madeira vinha em tábuas da mata, na indústria ela era beneficiada,
aplainada ou cortada em tamanhos menores.

Paredes de tijolos maciços e com cimento por cima das aberturas, podem ser ou não
dobradas - com tijolos nos sentidos longitudinal e transversal do plano da parede. Podem
ser de tijolos furados, são duas vezes mais rápidas de levantar, porém ficam mais frágeis.

A pedra pode ser a vista, com amarração perdida, [onde] você tem que usar quatro linha.
Você encomenda os folhote, porque duma pedra se faz duas. As utilizadas na confecção
do muro do prédio do Instituto Estadual de Educação eram pedra ferro e foram
encomendadas no Rio Vermelho, lá tinha um broquete que cortava uma pedra que era um
espetáculo, pedras de vinte por vinte [centímetros] feitas a partir de folhotes de quarenta.
Vai uma pedra de quarenta em pé e duas de vinte deitada, pra fazer amarração perdida.
O muro do Instituto possui duas camadas, uma interna e uma externa. Podem vir do Rio
Tavares também.

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Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

Os rodapés antigamente eram somente de madeira, hoje podem ser de mármore, de piso
(revestimento cerâmico).

Sequências de execução descritas:

Casa de estuque – ripado de içara, bambu com barro amassado. Distribui-se


madeira na longitudinal e na transversal, amarrada, depois barra de um lado, barra
de outro, ao mesmo tempo, deixa secar e reboca. É uma construção feita com no
mínimo duas pessoa pra prensar o barro, porque tem que ter um de um lado e outro
do outro da parede. Fica bom, só não é tão forte como o tijolo. Naquele tempo tinha
muito. Qualquer tipo de barro dá pra fazer, material é retirado no terreno da própria
obra.

Casa de madeira era feita com a espécie Pinho. Usa-se sapata de pedra, pilarzinhos
de pedra como fundação. Acima vai uma viga e depois é feita a casa. Fica um vão
entre a casa e o chão, embaixo, que se usa como despensa. Em comparação com as
outras formas de se construir, a de uma casa de madeira é mais simples, mais
ligeiro. A tábua num instante levanta toda uma parede. Levantou a parede já ta
pronta pra pintura. (...) Não precisa fazer aquela fundação enorme pra botar
matéria. [Se a fundação não for boa], ela pode dar uma tombadinha só, mas nem se
nota. É pintada com tinta a óleo. Pode durar mais de cinqüenta anos. Nas casas de
madeira o banheiro é de material [alvenaria].

Casa de material (alvenaria) – faz-se fundação de pedra, se não for boa a parede
trinca ou racha. São assentados os tijolos, deve-se ter a atenção para que a liga feita
de areia e barro ficasse resistente (quando não soltasse da colher). A proporção
depende do tipo de barro, barro liguento vai mais areia. Pode ser de tijolo maciço,
simples ou dobrada, com tijolos assentados na transversal e na longitudinal; pode
também ser feita com tijolos furados, mais rápidas na construção, mas são mais
frágeis. Rebocavam-se as paredes com barro, cal (de concha de berbigão) e areia (do
rio, peneirada). O assoalho era de madeira, precisando de uma ventilação por baixo
para não apodrecer, chamada de gateira.

Telhado de sapê: faz-se uma estrutura com caibros e ripas finas de madeira; Corta-
se bambu, corta em dois (ao meio), coloca palha de sapê entre eles e amarra, forma
uma espécie de esteira, com várias fiadas amarradas com arame e sobrepostas umas
às outras. Muito barata, mas exige manutenção constante e a qualidade não é muito
boa, pois fica fria dentro. Em casos de pobreza extrema, pode-se fazer paredes com
a mesma técnica.

A fabricação do tijolo maciço é feita da seguinte forma: retira-se do chão; deixa


descansar por três meses, se não descansar fica fraco e quebra; o barro amassa a
cavalo; passa água na forma; joga barro e passa uma tábua pra retirar o excesso;
retira a argila da forma; acerta-se as bordas; bota pra secar em prateleiras; quando
ficar duro, seco, faz um forno e queima.

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Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

Formas

Muitas pessoas forravam o telhado por cima pra usar como sótão pra colocar coisas. O
telhado ficava com uns quatro metros de altura.

Antigamente o banheiro era uma peça específica pro banho, tinha banheira, grande,
branca, de ferro de esmalte com pé. As necessidades fisiológicas eram feitas numa
pequena construção longe da casa, chamada de privada ou patente.

A cozinha e a área de serviço ficam nos fundos da casa, podendo até ser numa edícula,
em uma parte separada da casa nos fundos do terreno.

Outras Informações

A profissionalização era feita diretamente na obra, com um profissional mais


experiente, como afirma um dos entrevistados: (...) eu comecei ajudando, aí na hora da
folga eu fazia. Em obras de maior porte, se iniciava como servente, um ajudante de
pedreiro. O servente começa rebocando a parte de baixo do vão das janelas, depois de
terminado a massa pros pedreiro, aí eu ia pra colher trabalhar, aprender a profissão. O
pedreiro antigo conhecia e dominava todas as técnicas de construção tradicional. A
pessoa dizia: quero uma casa assim, assim, e a gente fazia um desenho e fazia, (...) fosse
dois andar, fosse baixa. Era feita de acordo com a necessidade do cliente. Antes de
começar a obra, fazia-se um desenho.

A pedra pode ser a vista, com amarração perdida, [onde] você tem que usar quatro linha.
Você encomenda os folhote, porque duma pedra se faz duas. As utilizadas na confecção
do muro do prédio do Instituto Estadual de Educação foram encomendadas no Rio
Vermelho, lá tinha um broquete que cortava uma pedra que era um espetáculo, pedras de
vinte por vinte (centímetros) feitas a partir de folhotes de quarenta. Vai uma pedra de
quarenta em pé e duas de vinte deitada, pra fazer amarração perdida. O muro do
Instituto possui duas camadas, uma interna e uma externa. Se aprende a trabalhar com
pedra auxiliando um pedreiro bom e mais experiente.

A melhor madeira catarinense, o Pinho, era cortada no oeste, transportada de caminhão


(dia e noite, por estradas ruins) para ser beneficiada nas serralherias da região (como em
Santo Amaro), lá era transformada em tabuas, compensados e nos amarradinhos,
exportada em grande quantidade pra Argentina através do porto de Florianópolis,
situado abaixo da Ponte Hercílio Luz.

A madeira foi usada também no estrado da ponte Hercílio Luz na década de 1950. As
espécies eram a licurana, a peroba e a canela, cortadas em Paulo Lopes, São Bonifácio e
Biguaçu. Eram também as madeiras mais vendidas e usadas. Usava-se em pranchões,
pedaços grandes e largos.

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Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

As aberturas feitas de canela e peroba vinham prontas da fábrica de esquadrias, com


uma grande variedade de modelos e tamanhos. As fábricas ficavam na região de
Florianópolis. Hoje em dia, contudo, a madeira usada é o Angelim pedra, que vem do
norte do país (Pará), mas a qualidade é menor do que a da madeira local, pois o Angelim
puxa tudo, entorta.

Antigamente se podia cortar a madeira nativa, canela e peroba, hoje só com licença do
IBAMA pro cara derrubar e serrar. A madeireira só pode serrar a madeira se o corte for
licenciado/autorizado. Podem ser cortadas hoje só eucalipeiro e pinus.

Agora é bom de trabalhar, rende mais. Esse tijolo furado é uma beleza. Antigamente as
casas eram de tijolo maciço, não tinha tijolo furado. Alguns faziam parede dobrada, com
tijolo na longitudinal e na transversal, vai material à beça. Com tijolo furado é cinqüenta
por cento mais rápido de levantar uma parede. Tijolo maciço fica mais firme, fica melhor.
Tijolo furado é fraco. Numa parede de tijolo furado se o cara meter uma marreta aí
derruba ela, agora, numa de tijolo maciço o cara não consegue derrubar não, ia levar um
tempinho pra derrubar ela.

Hoje o cara faz uma casa tem tudo que o cara qué fazer, [tem] a ferrage tem tudo. Faz
uma casa num banhado que nem a minha. A minha eu fiz num banhado! Eu furei de
trado, deu cinco metro e pouco o tubo de trado no banhado até encontrar o chão bom. Aí
enchi o tubo de concreto, com ferragem, depois fiz as sapata em cima, aterrei e fiz laje. (...)
Antigamente só se escolhia o lugar bom pra construir, as lomba, lugar firme, onde não
era mole. Hoje em dia se constrói em tudo, não tem mais problema. Se não bate estaca,
pode furar de trado. Alguns tipos de trado se faz uma esteira, com vigas em cima pra
ficar firme.

Hoje em dia tá tudo bom né, porque pra construir, o cara hoje em dia [que deseja] fazer
uma casinha não ta muito difícil, não precisa ganhar muito, eles vendem tudo a
prestação. O cara vai na loja e compra. Pode fazer força né. (...) Antigamente não. Não
existia (compra a prestação), pra poder comprar [tinha que ser] a vista. Era no dinheiro.

Construir uma casa hoje é mais ligeiro, com ferro aí e uma beleza. Contudo é mais caro.
Antigamente, as pessoas não tinham muito luxo. Hoje em dia é muito luxo. Quero isso, vou
fazer aquilo, não vou fazer aquilo. Aí vai aumentando o custo. Pode ver que essas casinha
que eles faze pra vender, pra compra... que a COHAB faz, que é da Caixa, é simplesinha.
Contudo, se fosse fazer que nem era naquele tempo saia baratinho. Fazer um forrinho
simples, um PVC, essas coisas. (...) A mão-de-obra já vai sair mais rápida, pra fazer. Não
vai demorar tanto quanto naquele tempo. Só que naquele tempo a mão-de-obra era
barata.

Questionado se a COHAB (Companhia de Habitação, órgão público que lida com as


questões de déficit habitacional) fizesse casas com as técnicas de antigamente o
interlocutor afirmou: Só na areia e no barro (...) até podia ser, ficava bom, mas não
melhor do que as de hoje, porque hoje eles botam cimento... [com] cimento é melhor
ainda. Se for fazer de tijolo maciço era bom, mas eles não vão, eles não vão fazer uma
casa de tijolo maciço. Tijolo maciço também ta muito caro, esses que fabricam hoje é mais
pra lareira, pra tijolo à vista, essas coisa. O cara não encontra mais esse de antigamente.

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Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

Pra construir hoje em dia tá tudo mais fácil, o servente não vira o concreto a mão, é tudo
na base da betoneira. As concreteiras levam o concreto com aquela bomba, bota até no
último pavimento. O pedreiro só espalha o concreto. Betoneira é só pra obra pequena, que
não tem grana pra pagar a concreteira pra concretar a laje. Dois toque ela enche uma
laje, não perde tempo. Material também, hoje tem de tudo. Se quiser comprar uma bolsa
[sacos de cimento] de cinqüenta [quilos] tem, de vinte tem. Tudo mais fácil. Se vai numa
serralheria, se quiser fazer uma janela de alumínio é dois toques, vai lá, encomenda, eles
já traze. (...) Antigamente era tudo na base do muque. O cara tomava um suador pra virar
uma mistura de concreto. (...) Na época o serviço era mais bem feito que hoje, não resta
dúvida. Naquele tempo a pessoa se dedicava mais naquilo. Agora hoje, a areia que você
compra aí pra fazer um serviço, ela ta vindo com barro misturado, não é mais a areia
pura. E [com] o barro na mistura aí trinca.”

A construção do Banco Nacional de Comércio, as paredes eram com tijolo furado,


rebocadas com uma massa feita de cimento, areia e cal. Sua estrutura era de concreto
armado. A obra já tinha elevador, betoneira pra fazer concreto. Suas lajes eram todas de
concreto feita na obra [laje maciça]. Bota-se uma esteira de ferro e o concreto vai por
cima, mas é uma mão-de-obra danada.

Hospital dos Servidores Públicos, de Florianópolis, na década de 1950, já possuíam lajes


pré-moldadas, compradas de uma empresa da Palhoça. Foi usada malacacheta que tem
um brilho dourado intenso, tão intenso que tinha que se usar óculos escuros durante a
obra, chegava a maltratar a vista da gente [operários]. Gastaram uma barbaridade de
serrote, sem o cabo, só a folha. Também foi usada pastilhas cerâmicas pra revestira as
paredes.

Interpretação dos dados obtidos

Elementos importantes foram obtidas sobre a avaliação qualitativa dos


materiais e da durabilidade das construções, explicitadas ao afirmar que muitas casas
feitas de tijolos maciços a partir do sistema da alvenaria estrutural com fundação de
pedra ainda estão até hoje de pé e sem nenhuma rachadura. Outro momento é quando se
refere à madeira, da espécie canela preta dizendo que cupim não come; ou sobre a
licurana, peroba e a canela, que são as melhores madeiras da região.

Sobre a identificação dos materiais locais fica evidente existir ainda no


patrimônio imaterial o domínio técnico de diversos materiais e formas diferentes de
se construir. O processo de aprendizado é dado em obra, por transmissão direta do
saber, da experiência, da tradição.

Pode-se também avaliar a sua substituição gradual por outros materiais vindos
de fora da região, como a imbuia que vinha do Paraná. Bem como a gradativa restrição da
escolha dos mesmos a partir da loja de material de construção, considerado como grande
facilidade, pois “o cara vai na loja e compra.”, incentivado pela facilidade de pagamento
através da oferta de crédito e parcelamento da compra.

Outro dado importante é que a proibição de corte da madeira nativa,


impossibilita o uso das mesmas para fins comerciais e seu uso corrente, que é

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tradicional, incentivando o cultivo de outras espécies exóticas, principalmente o Eucalipto


e o Pinus, que, segundo um dos entrevistados, são as únicas espécies que pode-se cortar
sem a necessidade de uma licença do IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis.

As alterações técnicas também interferiram na localização e no tipo de


implantação. Antigamente, só se construía em lugar bom, nas lomba [encostas] onde é
lugar firme. Atualmente com as técnicas advindas do uso do concreto armado, se
constrói em qualquer tipo de terreno, até no mangue, ecossistema frágil que por questões
de preservação ambiental não deveria ser ocupado. Pode-se interpretar esse dado
associado com o crescimento acelerado das últimas décadas que gera uma valorização
crescente do espaço ‘urbanizável’ e induz a ocupação de outros locais menos adequados.

Quando questionado sobre o uso de soluções tradicionais de construção para


resolver o problema da habitação de interesse social, o entrevistado achou que sairia
mais barato e disse que ficaria bom, só que descartou essa hipótese afirmando que eles
iriam botar cimento, pois com cimento é melhor ainda; bem como, se fosse ser feita com
tijolo maciço sairia muito caro, porque o material fabricado hoje em dia é diferente do de
antigamente, utilizado para fins especiais, o que influi no custo final.

Ficaram expressos também fatores decorrentes do processo de modernização do


setor da construção em Florianópolis, como o aumento no custo da mão-de-obra
intensiva, quase artesanal, que tem associada uma mudança na percepção e remuneração
do tempo, hoje em dia é tudo ligeiro, os equipamentos (como a betoneira) agilizaram e
facilitaram o trabalho. Também se passou a ter acesso aos materiais e à produção pré-
fabricada, como as lajes e o concreto usinado, que aceleraram de sobremaneira o
processo de construção. Outro dado a se considerar é a oferta de crédito, que estava
presente antigamente associado à construção de casas de madeira e que hoje se estende a
todos os materiais de construção que se compre no mercado.

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Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

Conclusão

O Homem desde tempos imemoriais se adapta ao lugar criando paisagens


singulares. Com a expansão do mundo europeu, a cultura nativa da América ou foi
dominada ou dizimada.
Contudo, a transposição da Matriz aqui necessitou de ajustes ao lugar,
incorporando elementos da cultura indígena. O nível de adaptação variou de acordo com
as possibilidades de renda que o europeu tinha para importar materiais e técnicas da
Europa para a América.
Com o surgimento do modernismo, há uma alteração nesse desenvolvimento que
estava em curso, instaurando a lógica do progresso: a História e suas adaptações
sucessivas deveriam ser desconsideradas, pois o ‘antigo’ precisava dar lugar ao ‘novo’,
moderno. Para superar o atraso, abandona-se o patrimônio local.
Com a globalização, são acentuadas as distâncias entre os países pobres e os
países ricos. Além disso, há uma homogeneização crescente, em escala mundial,
resultado da hegemonia dos países de Primeiro Mundo.
Essa perspectiva de desenvolvimento ameaça a continuidade da vida na Terra,
pois é a responsável pelo aumento dos impactos ambientais observados nos últimos
anos.
A arquitetura contribui significativamente com a manutenção dessa forma de
desenvolvimento desde o seu surgimento enquanto colônia, agravada pela incorporação
do modernismo. Há com ele uma ruptura com as tradições locais, tanto no ensino quanto
na prática, reduzida ao culto das formas, desvinculada do lugar e da economia (prática)
da qual é parte constituinte.
O Brasil e, particularmente Florianópolis, estão inseridos nesse contexto.
Florianópolis, contudo, guarda uma particularidade: por ter seu desenvolvimento pautado
pelo turismo e pela indústria de tecnologia não poluente desde a década de 1970,
preserva “viva” tanto nos seus aspectos naturais ou culturais, materiais e imateriais.
Este estudo teve como objetivo identificar e interpretar as alterações, no âmbito
da geografia cultural, da pesquisa qualitativa em ciência social e também considerando a
memória dos operários mais experientes que foram possíveis de se acessar, considerando
quadro do patrimônio imaterial referente à Arquitetura da região de Florianópolis.
Foram prospectados e expostos aqui, dados referentes à memória do patrimônio
construtivo local, analisados dentro de três categorias fundamentais que são: materiais,
técnicas e formas presentes no saber construtivo
Para tanto, investigou-se a memória, a partir de entrevistas com os operários mai
experientes que foram possíveis de serem contatados, enumerando aspectos importantes
dentro das três categorias de análise; bem como inferir sobre alguns impactos
decorrentes dessas mudanças.
Este campo de investigação se torna emergencial considerando a idade atual das
pessoas que testemunharam as mudanças mais significativas desse processo, nas
décadas de 1950 e 1960.
É também imprescindível a construção de uma outra perspectiva diversa da
hegemônica atual, recolocando a arquitetura dentro dos saberes tradicionais, calcada no
patrimônio cultural local e seu processo de desenvolvimento singular, reforçando e
valorizando a identidade do lugar.

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Lucas Antunes Wendhausen –- Arquitetura Sustentável em Florianópolis

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