EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3 ª VARA
CÍVEL DA COMARCA DE CARATINGA/MG
Processo n.º 134000000000-0
FRANCISCO FERNANDES e sua esposa MARGARIDA SOUZA
FERNANDES, já qualificados nos autos em epígrafe, por seu advogado (...), OAB/MG (...), procuração anexa, com escritório estabelecido na Rua dos Juristas, nº. 7, Bairro dos Causídicos, Caratinga/MG (local onde receberá as intimações), vêm, respeitosamente, perante V. Exa., apresentar CONTESTAÇÃO ao pedido inicial contra eles ajuizado por GERARSINO DIAS e sua esposa FILOMENA SANTOS DIAS, também qualificados nestes autos, nos seguintes termos:
I – Do mérito
I – Das alegações do autor
Pleiteiam os autores, que desde o mês de novembro de 2010, mantêm a posse
manda, pacífica e ininterrupta de um imóvel de propriedade dos réus, localizado no Córrego Tristão, zona rural de Caratinga/MG, no qual, alegam que construíram uma casa e vêm explorando a terra com plantio de hortaliças, além da criação de animais que lhe promovem a subsistência. Argumentam ainda, que têm pago regularmente os impostos incidentes sobre a referida propriedade. Diante do exposto, pretendem os autores, o julgamento procedente da presente ação de usucapião, para que lhes seja declarado o domínio do imóvel usucapiendo, condenando os réus ao pagamento das custas processuais, bem como dos honorários advocatícios no importe de 20% sobre a causa, à qual atribuem o valor de R$ 55.000,00 (cinquenta e cinco mil reais).
I.I – Da inexistência de animus domini
Em que pesem os argumentos apontados pelos autores, a demanda de usucapião demonstra-se descabida, portanto, não há o que se falar, por parte dos requerentes, o legitimo exercício de posse do imóvel, mas sim uma metra detenção daquele. Conforme o artigo 1239 do Código Civil: “Art. 1239 Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade”. Assim, é evidente na disposição legal que, para a ocorrência da usucapião rural, o possuidor deve possuir como seu terreno em imóvel rural, por cinco anos ininterruptos, o que, de fato não ocorreu na hipótese, pois os autores não possuíam o imóvel como se dono fossem, ou seja, não gozavam do animus domini, mas apenas ali residiam sob a qualidade de “caseiros”, isto é, prestadores de serviços aos réus. Conforme a doutrina prevalente, aquele que possui sem intenção de ter a coisa como se fosse o dono, ou seja, desprovido de animus domini, não pode exercer sobre a res pretensão de usucapião. Nesse
Isso porque, conforme a doutrina prevalente, aquele que
possui sem a intenção de ter a coisa como se fosse o dono, ou seja, desprovido de animus domini, tal como exemplo o empregado (como é o caso na presente lide), não pode exercer sobre a res pretensão de usucapião. Nesse sentido:
“(...) A intenção de possuir o imóvel como um proprietário
(animus domini) é (...) requisito indispensável à configuração da posse ad usucapionem. Por ele objetiva a lei (...) descartar a hipótese de usucapião pelo detentor (empregado ou preposto do possuidor) ou por quem tem o uso ou a fruição do imóvel em razão de negócio jurídico celebrado com o proprietário (locatário, usufrutuário, comodatário etc.) (...) O possuidor desprovido de animus domini, que não age como dono da coisa, está disposto a entregá-la ao proprietário tão logo instado a fazê-lo. A situação de fato em que se encontra não se incompatibiliza com o exercício, pelo titular do domínio, do direito de propriedade. (...)” (COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, volume 3: direito das coisas, direito autoral – 4. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2012, versão digital, pp. 194/195) – grifei. A cognição acima também é aplicável àquele que possui a coisa em virtude de contrato de parceria agrícola, como é o caso dos autores, pois tal pacto, objetivamente, obsta o reconhecimento da usucapião, porquanto não subsiste, em tal hipótese, animus domini do possuidor que se vale do imóvel por tal título. Nesse prisma, também é o entendimento jurisprudencial predominante no egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais:
“AÇÃO DE USUCAPIÃO DE BEM IMÓVEL - AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DO ANIMUS DOMINI (...) O exercício de posse em razão de contrato de parceria agrícola impede o reconhecimento da usucapião, pois inexistente animus domini por parte do possuidor que utiliza do imóvel a este título (...)” (TJMG - proc. Nº 1.0009.06.007287-4/001, Rel. Des. Corrêa Camargo, DJ de 17/06/2013).
“AÇÃO DE USUCAPIÃO (...) AUSÊNCIA DE 'ANIMUS
DOMINI' - REQUISITO INDISPENSÁVEL AO RECONHECIMENTO DA PRETENSÃO - EXISTÊNCIA DE CONTRATO DE PARCERIA AGRÍCOLA - ART. 1.208 DO CÓDIGO CIVIL. (...) A aquisição do imóvel através da usucapião exige ânimo de dono, que é incompatível com o contrato de parceria agrícola” (TJMG, proc. Nº 1.0428.09.015267-2/001, Rel. Des. Valdez Leite Machado, DJ de 12/04/2013).