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Cirúrgica
Cabeça e
pescoço
15ª edição
Equipe SJT Editora
Clínica Cirúrgica – Cabeça e pescoço. São Paulo: SJT Editora, 2015.
ISBN 978-85-8444-047-4
http://www.sjteducacaomedica.com.br
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sUMÁRIO
1 Distúrbios da tireoide 9
2 Tireoidites 35
3 Hipertireoidismo 42
4 Bócio 51
5 Nódulos Tireoidianos (NT) 55
6 Câncer da tireoide 72
7 As glândulas paratireoides 86
8 Massas cervicais congênitas 99
9 Torcicolo congênito 106
10 Glândulas salivares 118
11 Tumores da cabeça e pescoço 127
12 Traqueostomias 135
13 Questões para treinamento –
Cirurgia da cabeça e pescoço 153
13 Gabarito comentado 185
Distúrbios da Tireoide
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Anatomia e fisiologia
da tireoide
O principal primórdio da glândula tireoide desen-
volve-se sob a forma de crescimento endodérmico me-
diano, a partir da primeira e da segunda bolsas farínge-
as. Quando atinge a posição que ocupa no adulto, logo
abaixo da cartilagem cricoide, a tireoide divide-se em
dois lobos ligados por um istmo. O caminho percorrido
pela glândula, durante a sua migração, pode deixar re-
manescentes tireoglossos (tireoide lingual). A presença
de lobo piramidal é documentada em cerca de 40% das
pessoas e representa uma porção persistente da extre-
midade inferior do ducto tireoglosso (figura 1.1).
A glândula tireoide localiza-se profundamente
nos músculos esternotireoideo e esternoioideo, alta-
mente vascularizada, com peso aproximado de 20 a
25 g, tendo como unidade funcional o folículo (figura
1.2). É relativamente maior e mais pesada em mu-
lheres, nas quais se torna um pouco maior durante a
menstruação e a gravidez.
Figura 1.1 Desenho de uma glândula tireoide com um processo del-
O suprimento arterial de glândula se faz por gado e alongado conhecido como lobo piramidal, estendendo-se do ist-
meio de duas artérias relativamente grandes: as arté- mo da glândula ao osso hioide. Nesse caso, ele contém tecido tireoideo
rias tireoideas superior e inferior. A artéria tireoi- acessório (em cinza). Em outros casos, o lobo piramidal é composto de
dea superior, o primeiro ramo da carótida externa, tecido fibroso e/ou muscular.
desce para a extremidade superior da glândula, per-
fura a lâmina pré-traqueal da fáscia cervical e então
se divide em dois ou três ramos. A artéria tireoidea Forame cego
inferior, ramo do tronco tireocervical, segue supe- da língua
romedialmente atrás da bainha carótida para atingir
a face posterior da glândula. Ela se divide em vários Língua
ramos que perfuram a lâmina pré-traqueal da fáscia
para suprir a extremidade inferior da glândula tireoi-
de (figura 1.3). Às vezes, um terceiro vaso, a artéria
tireoidea ínfima única, supre a glândula tireoide;
esta pequena artéria pode originar-se do arco da Osso
aorta, do tronco braquiocefálico (mais comumen- hioide
te) ou da artéria carótida comum esquerda. Ele
ascende na frente da traqueia e supre o istmo da
glândula. A artéria tireoidea ínfima normalmente
Ducto tireogiosso
está presente no embrião e persiste em cerca aproxi-
madamente 10% dos adultos. Numerosos outros pe-
quenos vasos dirigem-se para a glândula tireoidea a Lobo piramidal
partir das artérias que suprem a faringe e a traqueia.
Todas as artérias tireoideas anastomosam-se entre si Glândula tireoide
sobre e na substância da glândula, mas há pouca anas-
tomose através do plano mediano, exceto nos ramos
da artéria tireoidea superior.
A drenagem venosa se faz por meio de três pa-
res de veias. As veias tireoideas superiores drenam as Figura 1.2 Desenho mostrando o percurso da glândula tireoide à
extremidades superiores da glândula tireoide e as veias medida que ela se desenvolve e desce através do pescoço. O ducto ti-
tireoideas médias, suas partes laterais. As veias tireoi- reoglosso geralmente degenera, mas às vezes persiste e forma um lobo
deas superiores e médias desembocam nas veias jugu- piramidal. Remanescentes dele também podem dar origem a cistos ou
lares internas. As veias tireoideas inferiores drenam as a uma fístula.
extremidades inferiores da glândula e desembocam nas
veias braquiocefálicas. Os vasos linfáticos acompanham as artérias e se-
guem para os linfonodos cervicais profundos inferio-
Como cobrem a face anterior da traqueia, abaixo
res e paratraqueais.
do istmo da glândula tireoide, as veias tireoideas infe-
riores são fontes em potencial de hemorragia durante A inervação da glândula é derivada dos gânglios
uma traqueostomia (figura 1.3) simpáticos cervicais superior, médio e inferior.
a. tireoide m. omoioideo
superior
tireoide
Nervo laringe recorrente
v. tireoidea
média m. esternotireoideo Os nervos laríngeos recorrentes ascendem de
cada lado da traqueia, e cada um se localiza lateral-
mente ao ligamento de Berry quando entra na tra-
v. tireoideas
inferiores
m. esternoioideo queia. Existe certo número de importantes variações.
traqueia Em aproximadamente 25% dos pacientes, o nervo
laríngeo recorrente está contido no ligamento quan-
Figura 1.3 Secção longitudinal do pescoço, aspecto e forma da tireoi-
de. A face medial dos lobos e a face posterior do istmo relacionam-se do entra na laringe. No lado direito, o nervo laríngeo
com a laringe (músculos cricotireoideos) a traqueia, com a faringe (mús- recorrente separa-se do vago quando cruza com a
culo constritor inferior) e o esôfago, com os nervos laríngeos externo
e recorrente, este último ocasionalmente lesado durante as tireoidecto-
artéria subclávia, passando posteriormente e ascen-
mias, causa de graves sequelas como a rouquidão por paralisia das cor- dendo na posição lateral à traqueia ao longo do sulco
das vocais. A superfície posterior está relacionada com a bainha carotí- traqueoesofágico. O nevo laríngeo recorrente direito
dea, os músculos pré-vertebrados, o tronco simpático e, medialmente,
com as glândulas paratireoides. pode quase sempre ser encontrado a não mais de 1
cm lateralmente, ou dentro do sulco traqueoesofági-
co, no nível da borda inferior da tireoide. Entretanto,
ao passo que o nervo ascende para a porção média da
tireoide, assume sua posição dentro do sulco traqueo-
esofágico. Nessa localização, o nervo poderá dividir-
-se em um, dois ou mais ramos quando entra no pri-
meiro ou no segundo anel da traqueia. O ramo mais
m. esternocleidomastoideo importante desaparece por baixo da borda inferior do
m. estiloioideo
n. vago músculo cricotireoideo. O nervo pode ser encontrado,
osso hioide
carótida
normalmente nesse nível, em posição imediatamente
glômus carotídeo
anterior ou posterior a um tronco arterial principal da
v. jugular m. omoiodeo
artéria tireoidea inferior. Raramente o nervo laríngeo
tireoide
direito não recorrente poderá originar-se diretamente
Figura 1.4 Vista lateral da tireoide e estruturas adjacentes. A artéria no vago e seguir medialmente para dentro da larin-
tireoidea superior é o primeiro ramo da carótida externa, logo em sua
origem junto à comum. A artéria tireoidea inferior é ramo do tronco ti- ge. Essa anatomia não recorrente é encontrada entre
rocervical, originado da artéria subclávia após a emergência da vértebra. 0,5% e 1,5% dos pacientes. Ainda mais infrequente-
Pode haver ramo inconstante, chamado de artéria tireoide ínfima, as- mente, pacientes poderão ter à direita um nervo larín-
cendente para a borda inferior ístmica, bifurcando-se em vários ramos.
A drenagem venosa é variável, porém geralmente há um plexo venoso geo recorrente e um não recorrente. Esses dois nervos,
pré-tireoideo que drena para as veias jugulares internas. A drenagem em geral, se unem em uma posição abaixo da borda
linfática dá-se para os gânglios linfáticos profundos e paratraqueais.
inferior da tireoide.
fáscia Do lado esquerdo, o nervo laríngeo recorrente se-
m. plastisma pré-traqueal tireoide
para-se do vago quando aquele nervo ultrapassa o arco
m. esternocleidomastoideo traqueia da aorta. O nervo laríngeo recorrente esquerdo pas-
esôfago
sa, então, inferior e medialmente pela aorta e começa
a ascender para a laringe, encontrando seu caminho
fáscia a. carótida para o sulco traqueoesofágico à medida que ascende
pré-traqueal comum até o nível do lobo inferior da tireoide. Ambos os ner-
v. jugular vos laríngeos recorrentes são encontrados consisten-
comum
n. vago temente dentro do sulco traqueoesofágico quando es-
corpo
vertebral tão dentro de 2,5 cm da sua entrada na laringe. Esses
nervos passam inferior ou posteriormente a um ramo
da artéria tireoide inferior e, finalmente, entram na
laringe ao nível da articulação cricotireoidea sobre a
Figura 1.5 Secção transversal do pescoço na altura de C-7. O pesco-
borda caudal do músculo cricotireoideo. Neste ponto,
ço apresenta os planos anatômicos delimitados pelas fáscias cervicais o nervo está imediatamente adjacente glândula para-
superficial e profunda. A fáscia superficial inclui o tecido subcutâneo e tireoide superior, à artéria tireoidea inferior e à par-
11
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Membrana plasmática
Transportador membranal
Extracelular (fosfolipídico) Intracelular
Membrana basal
I- I- I- I-
13
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
I I
2- Fenitoína, diazepan Tiroxina (T4)
3,5,3’,5’- tetraiodotironina
3- Mitotano, furosemida
Deiodinases 1 ou 2 Deiodinase 3 > 2
4- Heparina* (5’-deiodinação) (5-deiodinação)
Tabela 1.1 (*) Estimula a lipase lipoproteica, liberando ácidos graxos I I NH2
I I NH2
livres que deslocam os HT das proteínas de ligação. HO O CH2 CH COOH HO O CH2 CH COOH
I I
O hormônio livre é o metabolicamente ativo,
Triiodotironina (T3) T3 reversa (rT3)
sendo que o T3 possui uma atividade biológica 4 3,5,3’- triiodotironina 3,3’,5’- triiodotironina
vezes superior à do T4 (o T3 é o hormônio ativo,
e o T4, um “pró-hormônio”). A maior parte do Figura 1.9 Estrutura dos hormônios tireoidianos. A tiroxina (T4)
contém quatro átomos de iodo. A desionização (deionização) resulta
T3 nos indivíduos eutireoideos é produzida por na produção do potente hormônio triiodotironina (T3) ou o hormônio
conversão extratireoidea de T4 em T3, principal- T3 reverso inativo.
mente no fígado e nos rins. Apenas 20% provêm
da tireoide. O T4 é o principal hormônio secretado A função da glândula tireoide é regulada por um
pela tireoide, em proporção de aproximadamente 10 mecanismo de retroalimentação que envolve o eixo
vezes maior que o T3. Sua produção diária varia de hipotálamo-hipófise-tireoide. O T4 tireoidiano e a
80 µg a 100 µg/dia, sendo proveniente com exclusivi-
síntese e secreção de T3 são estimulados pelo TSH
dade da secreção tireoidiana. Os níveis de estoque de
(tireotrofina), glicoproteína composta de duas subu-
T4 são de aproximadamente 1.000 µg, estando assim
disponível por vários dias sem que haja produção ti- nidades (alfa e beta), que, na de tireoide estimula a
reoidiana. Cerca de 80% do T4 é metabolizado por captação de iodo, biossíntese e secreção dos hormô-
deiodinação (40% são convertidos em T3 e 40% em nios da tireoide. O TSH tem vida média de 54 mi-
T3R – figura 1.9). Os 20% restantes sofrem metabo- nutos e obedece a um ritmo circadiano, com pico
lização por meio da conjugação com sulfato e glicuro- pouco antes do sono (pico entre as 22 h às 4 h). A
nídeo, deaminação oxidativa e descarboxilação para dopamina inibe a secreção do TSH e possivelmente
formar ácido tetraiodotiroacético. contribui para sua flutuação durante o dia. Noradre-
nalina, ao contrário da dopamina, estimula a secre- Fármacos e drogas que interferem tanto no metabolismo,
ção do TRH-TSH. O efeito da serotonina é discutível. na ação e na secreção dos hormônios tireoidianos (HT)
Os hormônios da tireoide, por sua vez, no nível da quanto na secreção do TSH
hipófise, inibem a secreção do TSH. 1. Efeito sobre metabolismo extratireoideo dos HT
Nos primeiros quatro meses de gravidez há um (a) Inibição da conversão periférica do T4 em T3: glicocorti-
coides, amiodarona, propranolol, agentes iodados
aumento dos níveis de T4 e T3 em cerca de 30 a 50%. (b) Aumento da depuração do T4 e T3: hidantoína, rifampi-
Esse aumento se dá pela elevação sérica da TBG (thyro- cina, carbamazepina, fenobarbital, sertralina
xine binding globulin). No feto, os níveis de T4 e T3 são (c) Diminuição da absorção do T4 ingerido: hidróxido de alu-
baixos. Ao nascimento, atingem valores semelhantes mínio, sucralfate, sulfato ferroso, colestiramina, raloxifeno
ao soro materno, e a concentração sérica de TSH au- 2. Efeito sobre as proteínas transportadoras dos HT
menta rapidamente algumas horas após o parto, po- (a) Competição na ligação dos HT à TBG: salicilatos, hepari-
rém tende a normalizar até o quarto dia de vida. na, furosemida, sulfonfureias, fenilbutazona
(b) Aumento da TBG: estrogênio, heroína, clofibrato, 5-fluorou-
Hipotálamo T3 T4
racil
TSH-R (c) Diminuição da TBG: androgênios, glicocorticoides, ácido
Basal nicotínico, L-asparaginase
NIS
I-
3. Efeito sobre síntese e secreção dos HT
I- (a) Inibição da secreção: iodo, lítio, glicocorticoides, hepari-
TRH cAMP na, furosemida, sulfonilureias, fenilbutazona
(b) Alteração na síntese: tionamidas, sulfonfureias, sulfona-
Tg
midas, cetoconazol
Hipófise Apical (c) Bloqueio do transporte do iodo: lítio, minerais, ânions
monovalentes, etionamida
DIT
\ Célula
Tg-MIT folicular 4. Efeito sobre a ação dos HT
Tg + I -
Ac
ag Iodação
em
5. Agentes que inibem a secreção de TSH
Tireoide
(a) Dopamina, glicocorticoides, dobutamina, L-tiroxina,
Folículo tireoidiano triiodotironina e ácido triiodotiroacético
6. Agentes que modificam a função imunológica
T3 T4
(a) Terapia com anticorpos monoclonais, interleucina-1 e
interferon α e β
Ações
Tabela 1.4
periféricas
15
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
RXR TR
CoA 3
Avaliação laboratorial da
Citoplasma
TRE Gene tireoide
4
Expressão gênica 1. Testes relacionados à ação periférica dos hor-
mônios da tireoide;
2. Testes para estabelecer o nível da função ti-
Figura 1.11 Mecanismo de ação dos receptores dos hormônios tireoi-
dianos. O receptor do hormônio tireoidiano (TR) e o receptor X do ácido reoidiana;
retinoico (RXR) formam heterodímeros que se unem especificamente 3. Outros testes:
aos elementos de resposta do hormônio tireoidiano (TRE) nas regiões
promotoras dos genes-alvo. Na ausência de hormônio, TR se une às pro- dosagem de tireoglobulina;
teínas correpressoras (CoR) que silenciam a expressão gênica. Os núme-
ros se referem a uma série de reações ordenadas que ocorrem em respos-
testes imunológicos;
ta ao hormônio tireoidiano: (1) T4 ou T3 penetra no núcleo; (2) a ligação punção aspirativa por agulha fina (PAAF);
de T3 dissocia CoR de TR; (3) os coativadores (CoA) são recrutados para
o receptor ligado à T3; (4) a expressão gênica é alterada. diagnóstico por imagem.
Testes para estabelecer nível de Fatores que levam à diminuição dos níveis
séricos de T3 total
função da tireoide Jejum de 24 a 48 horas
A investigação inicial de um paciente com dis- Doenças crônicas
função tireoidiana deve ser feita com o emprego da Glicocorticoides
dosagem do T4-livre (T4-L) e do TSH ultrassensível. A Amiodarona
dosagem do T4-livre é mais específica no diagnós- Tabela 1.8
tico do hipertireoidismo, enquanto o TSH é mais
específico para o hipotireoidismo (atenção!). Embora sofra muito menos as variações dos níveis
de TBG, a dosagem sérica de T3 total é tecnicamente
Além de o TSH ser o melhor teste para o diag- mais difícil e seus níveis variam muito com a idade, sen-
nóstico de hipotireoidismo, detectando uma falência do mais elevados nos primeiros anos de vida. A dosagem
precoce - hipotireoidismo subclínico - é também útil sérica isolada de T3 total não é um teste aconselhável
na diferenciação de uma falência primária da tireoide para ser usado isoladamente quando se deseja afastar o
ou de uma secundária (hipofisária) ou terciária (hipo- diagnóstico de hipotireoidismo. A triiodotironina (T3)
talâmica), quando então se faz necessário o teste de é cerca de 3 vezes mais ativa metabolicamente que a T4
estimulação com TRH (atualmente esta é a única in- e é intermediária da maioria das ações dos hormônios
dicação deste teste). Os ensaios ultrassensíveis (imu- tireoideos no nível molecular.
nométricos) alcançam uma sensibilidade em torno de
0,05-0,01 µm/L. De um modo geral, o TSH é o mais As dosagens de T4 e T3 livres são potencialmen-
te muito mais sensíveis do ponto de vista diagnóstico.
sensível indicador da função tireoidiana. A elevação
É importante lembrar, mais uma vez, que a dosagem
do TSH é a primeira anormalidade vista no hipotireoi-
do T4 livre é mais específica no diagnóstico do hiper-
dismo primário (valores acima do limite superior de
tireoidismo. A concentração do T4 livre é aproximada-
6 µU/mL) e de maneira análoga, o TSH suprimido ou
mente mil vezes menor que o T4 total. A dosagem do
indetectável é o mais sensível indicador de hipertireoi-
T3 reverso (isômero do T3, com concentração sérica
dismo primário (valores abaixo do limite normal infe-
de 20-40 ng/dL) e seu nível sérico dependem prima-
rior de 0,3 µU/mL).
riamente dos níveis de T4, uma vez que todo o T3R
Níveis moderadamente elevados no TSH têm do soro é produzido a partir do T4 fora da tireoide. Al-
sido observados em pacientes aparentemente euti- terações no TBG sérico têm pouco efeito sobre o T3R
reoideos em recuperação de doenças graves e mesmo sérico devido à baixa afinidade dessas proteínas com o
em pacientes hipertireoideos (síndrome da secreção T3R. Seus níveis plasmáticos não têm grande signifi-
inadequada de TSH). cado clínico, pois fornecem poucas informações sobre
O TSH é o indicador mais sensível do estado tireoideo a secreção da tireoide, uma vez que podem apresentar
O LT4 é o segundo teste principal na avaliação do estado ti-
grandes variações em doenças extratireoidianas. Cli-
reoideo (T4 livre) nicamente, sua dosagem está indicada nos casos de
doenças sistêmicas graves, “síndrome do doente euti-
reoideo”, ou no uso de algumas drogas pelos pacientes.
Devido aos níveis diminuídos de T4 e T4 livre, assim
Dosagem de T4 e T3 como de T3 em alguns desses pacientes, sua determi-
Sendo a tiroxina (T4) a principal forma de hor- nação pode ajudar a distinguir a síndrome do doente
mônio circulante de produção exclusivamente tireoi- eutireoideo do hipotireoidismo. Nestes últimos, os ní-
diana, a dosagem sérica de T4 total seria, em princí- veis de T3 reversa encontram-se diminuídos.
pio, o melhor teste de função da tireoide; no entanto, Níveis séricos do hormônio tireoide em indivíduos
o fato de circular quase totalmente ligada à proteína a normais e em pacientes com doença tireoidiana
torna suscetível a alterações em função da presença de Normal Hipertireoidis- Hipotireoi-
certas condições clínicas e do uso de algumas drogas. mo dismo
T4 (µg/dL) 4,5- > 12,5 < 4,5
12,5
Fatores que interferem na determinação
T4 livre (µg/ 0,9-2 >2 < 0,9
dos níveis de T4 total
dL)
Aumentam a TBG Diminuem a TBG
T3 (ng/dL) 80-220 > 220 < 80
Contraceptivos Testosterona
TSH (µU/mL) 0,3-6 < 0,3 >6
Gestação Corticosteroides
Estrógenos Doença de Graves Tabela 1.9
Hepatite viral Cirrose
Hepatite crônica ativa Síndrome nefrótica TSH e T4L normais constituem, por sua vez, confirmação
Porfiria Síndromes hereditárias segura de eutireoidismo.
17
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
te em aproximadamente 50% e 90% dos pacien- RAIU de 24 horas suprimido é o teste mais sensível no diag-
tes portadores de doenças autoimunes da tireoide nóstico da tireoidite subaguda.
como tireoidite de Hashimoto, e menos frequente-
mente na doença de Graves.
Anticorpos antitireoglobulinas são mais especí-
Uma vez que os carcinomas diferenciados da tireoi-
ficos, no entanto menos sensíveis (presentes em cer- de não concentram iodo tão bem quanto o resto da glân-
ca de 50% dos casos). Anticorpos antitireoglobulina dula normal, deve-se considerar a possibilidade de os
positivos somados ao achado clínico de um bócio ou nódulos não funcionantes (frios) serem malignos. A
de hipotireoidismo são compatíveis com diagnóstico presença de um nódulo frio é significativa, porém não é
de tireoidite de Hashimoto. Níveis acima de 1:100 são específica de malignidade. Cerca de 10% dos nódulos
considerados elevados, sendo taxados de positivos. não captantes são malignos, mostrando a baixa especi-
ficidade do método no diagnóstico de carcinoma.
A determinação desses anticorpos pode ser de uti-
lidade no diagnóstico diferencial do hipertireoidismo
e no seguimento de pacientes com doença de Graves. Captação de iodo radioativo (123I, 131I – RAIU)
O TRAb é um anticorpo contra o receptor de TSH que
Captação aumentada
estimula a formação do hormônio tireoideo, ocorrendo
• Doença de Graves
em mais de 90% dos casos de doença de Graves. Pacien-
• Bócio multinodular tóxico
tes com doença de Graves em tratamento clínico em
longo prazo e mantendo títulos elevados de TRAb não • Nódulo autônomo tóxico (Plummer)
terão provavelmente um estágio eutireoideo contínuo • Adenoma hipofisário produtor de TSH
após interrupção da medicação antitireoidea. • Tumor trofoblástico
Captação diminuída
19
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Tomografia computadorizada
(TC) e ressonância magnética Figura 1.21 Técnica da PAAF, evidenciando o procedimento de rota-
ção para a aspiração. Note que o dedo indicador da mão direita mantém
(RM) a sucção, enquanto a mão esquerda pratica a rotação da seringa.
A TC e a RM são úteis na identificação das lesões Achados citológicos mais importantes na PAAF
recorrentes ou metastáticas do câncer de tireoide. Elas
também são úteis na avaliação do bócio subesternal Bócio coloide
ou “mergulhante” e para avaliar alterações em linfono- Coloide abundante; células foliculares pequenas; material
cístico; macrófagos
dos ou massas tireoideas residuais ao longo do tempo.
Deve-se preferir a RM à TC uma vez que há a possibi- Carcinoma anaplásico
lidade do uso de contraste na realização da TC, pois o Granulócitos; células bizarras sem componente folicular; mi-
contraste da tomografia contém iodo em sua compo- toses frequentes; fragmentos necróticos
sição. Esse fato pode prejudicar posteriormente a ca- Tumor folicular
pacidade de utilizar a cintilografia e o tratamento com Grupos de células foliculares de tamanho igual; pouco coloi-
isótopo radioativo, durante semanas ou meses. de; sangue abundante
Tireoidite subaguda
Punção aspirativa por agulha Células foliculares pequenas; células histiocitárias gigantes;
linfócitos e macrófagos, células epitelioides
21
2
Capítulo
ROTEIRO
PROPEDÊUTICO
Tireoidites
BÁSICO eM
GINECOLOGIA
2 Tireoidites
23
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
25
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Tireoidite silenciosa
Diagnóstico laboratorial
Classificação Os níveis séricos de T4 e T3 estão aumentados (a
não ser na TIPP com hipotireoidismo) e, como acon-
Esporádica tece com a TGSA, há uma elevação desproporcional
Pós-parto (provavelmente autoimune) de T4 em relação a T3, devido à ruptura folicular e à
liberação do hormônio pré-formado para a circulação.
Os autoanticorpos tireoideos, especialmente os AMA
Etiologia e patogenia (microssomial), quase sempre são positivos. Títulos de
Mecanismo autoimune. Há uma elevada prevalên- anticorpos antimicrossomiais acima de 1:100 são en-
cia de Ac antimicrossomiais (AMA), assim como sinais de contrados entre 10% e 13% das mulheres e em 3% dos
infiltração linfocítica, ambas características da tireoidite homens; somente 1% possui títulos acima de 1:6.400.
de Hashimoto. Além disso, tem-se descrito associação de Ao contrário da TGSA, a velocidade de hemossedimen-
TI com outros distúrbios autoimunes. Acredita-se que a tação é normal ou ligeiramente elevada. A RAIU está
TI tenha duas etiologias prováveis: autoimune e outra suprimida e, a menos que haja uma contraindicação
possivelmente infecciosa, visto que em 50% dos casos para a realização do teste, deve-se efetuá-lo a fim de
não há evidência sorológica de autoanticorpos. excluir a possibilidade da doença de Graves. É preciso
A TI pós-parto está mais intimamente asso- enfatizar que é essencial diferenciar entre a doença de
ciada à etiologia autoimune, havendo nesta maior Graves e a TI, já que o primeiro distúrbio requer trata-
prevalência de Ac antimicrossomiais (80%); além mento específico, enquanto o último não.
Se não houver exoftalmia infiltrativa no pa- inicialmente teste positivo para anticorpos antitireoi-
ciente com doença de Graves, o médico pode não dianos, TSH acima de 6 mU/L e T4 livre normal, o
conseguir diferenciar clinicamente essas duas con- ritmo de progressão para hipotireoidismo franco é de
dições. O quadro a seguir relaciona aspectos clínicos e 4,3% por ano.
laboratoriais que ajudam a diferenciar a TI da doença
A evolução clínica da TI (incluindo a TIPP) cor-
de Graves.
relaciona-se diretamente com as fases observadas na
Diferenças entre tireoidite TSA, a não ser pela ausência do bócio doloroso com a
silenciosa e doença de Graves
TI. Por exemplo, a recuperação pode ocorrer depois da
Tireoidite Doença de fase hipertireoidea, pulando o hipotireoidismo. Como
silenciosa Graves
na TSA, quanto mais grave a tireotoxicose no início da
Início Abrupto Gradual doença, maior a probabilidade de progredir para as fa-
Gravidade da Fraca-moderada Moderada- ses subsequentes do distúrbio. Em virtude das várias
tireotoxicose marcante semelhanças clínicas, tem sido sugerida uma etiologia
Duração dos sintomas Menos de 3 meses Mais de 4 comum a essas duas condições, embora isso pareça
meses improvável.
Oftalmopatia e Ausentes Quase sem- A recidiva de TI pós-parto em gravidezes subse-
dermopatia pre presentes
quentes parece ser comum (50% a 70% dos casos).
Razão T3 (ng/mL)/ Menor de 20/L Maior de
T4 (ng/mL) 20/L Características laboratoriais durante as fases da
tireoidite subaguda
Captação de Iodeto-131 Muito baixa Elevada
Fases da Valores de Concentração de Valores
TRAb Negativo Positivo Doença T3 e T4 no TSH no soro de cap-
Tireotoxicose clínica Transitória Persistente soro tação de
Tabela 2.6 T3: tri-iodotironina; T4: tiroxina; TRAb: anticorpo antir- Iode-
receptor de TSH. to-131
Tireotóxica Elevados Baixa Suprimi-
Diferenciação entre tireoidite indolor e tireoidite da
granulomatosa subaguda (TGSA)
Hipotireói- Baixos Baixa, normal ou Normal
Característica Tireoidite TGSA dica elevada ou ele-
Indolor vada
Etiologia Autoimune Viral Recuperação Normal Elevada ou normal Elevada
Dor cervical anterior Ausente Presente ou nor-
mal
Evolução com 4 fases Presente Presente
Tabela 2.8
Disfunção tireoidiana permanente Comum Rara
VHS > 50 mm/h Raro Frequente
Anticorpos antitireoidianos Frequentes Pouco co-
muns
Tireoidite linfocítica crônica
Relação T3/T4 < 20:1 < 20:1 (Hashimoto - TH)
RAIU Suprimida Suprimida
Tabela 2.7
Sinônimos
Tratamento e evolução clínica Estruma linfomatoso
O tratamento da TI é orientado para o alívio dos Tireoidite crônica linfocítica
sintomas de hipertireoidismo, com a administração de Tireoidite crônica autoimune
bloqueadores beta-adrenérgicos como o propranolol.
Noventa e cinco por cento dos casos acometem
Os medicamentos antitireoideos não estão indicados,
o sexo feminino. A ocorrência familiar de TH sugere
e são inúteis. Quando a TIPP se apresentar com hipo-
a existência de uma predisposição genética para essa
tireoidismo, haverá indicação para reposição da tiro-
doença. Maior incidência em torno dos 30-50 anos.
xina. Somente uma pequena proporção de pacientes
torna-se hipotireóidica definitiva; o risco, no entanto, A tireoidite linfocítica crônica foi relatada pela
do desenvolvimento de disfunção tireoidiana perma- primeira vez em 1912 por Hakaru Hashimoto, que
nente é maior na TI do que na TGSA. Nos pacientes descreveu infiltração linfocítica, fibrose, atrofia das
com títulos de anticorpos antimicrossomiais (antipe- células epiteliais e alterações eosinofílicas em algumas
roxidase) de 1:100.000, o hipotireoidismo se instala células parenquimatosas das glândulas tireoides de
em 25% dos pacientes por ano. Nos pacientes que têm quatro pacientes.
27
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Corresponde à principal causa de hipotireoidis- rara caracterizada por mioclonias e uma atividade
mo com bócio em adultos (atenção). de ondas lentas no EEG, que pode evoluir para con-
fusão, coma e morte, sendo responsiva aos corti-
coides (96% de melhora) e pode ocorrer na presen-
Etiologia e patogenia ça da tireoidite sem evidência de hipotireoidismo.
Esta condição foi descrita recentemente, tendo preva-
A tireoidite de Hashimoto tem etiologia autoi-
lência estimada de 2,1:100.000.
mune.
Caracteristicamente, o exame físico revela um
Predisposição genética: tem sido encontrada a
bócio difuso, muito duro e até pétreo, muitas ve-
associação com genes HLA da classe II. Em caucasoi-
zes bocelado ou lobulado. O lobo piramidal também
des, a TH bociogênica tem sido relacionada com HLA-
pode estar aumentado. Raramente há um nódulo
-DR3 e HLA-DR5, e a forma atrófica, com HLA-DR3 e duro ou firme isolado. O crescimento dos gânglios
B8. Genes reguladores das citocinas também têm sido linfáticos regionais tem sido descrito, embora pare-
implicados. ça ser raro, e quando presente é diminuto. A presen-
ça de bócio diminui com a idade e a prevalência de
Associação com diversas doenças autoimunes
hipotireoidismo.
Doença de Graves LES; Artrite reumatoide
Doença de Addison Síndrome de Sjögren Diagnóstico laboratorial
Diabetes mellitus tipo I Miastenia grave A tireoidite de Hashimoto quase sempre está asso-
Vitiligo Cirrose biliar primária ciada aos autoanticorpos tireóideos positivos, e os an-
Anemia Perniciosa Síndrome de Schimidt (síndrome ticorpos antiperoxidases podem ser detectados no soro
de deficiência poliglandular tipo II de aproximadamente 90% ou mais dos casos. Os anti-
de ocorrência no adulto, envolven- corpos antitireoglobulina (ATA) são menos frequentes
do o córtex adrenal, tireoide e ilho-
e estão presentes entre 20% e 50% dos casos, no entanto
tas pancreáticas induzindo diabetes
mellitus) são mais específicos. Sob o aspecto clínico, a realização
do teste antiperoxidase é suficiente para confirmar o
Atenção: Há relatos de associação com prolapso de
válvula mitral e síndrome do pânico em pacientes com diagnóstico de TH. Embora o teste antiperoxidase seja
tireoidite de Hashimoto. A associação mais comum é menos específico que para o ATA, ele é significativa-
com a doença de Addison. mente mais sensível. Se ambos os anticorpos forem soli-
Tabela 2.9 citados, a taxa de positividade chega a 97%. Os níveis sé-
ricos T4, T3 e TSH dependem do estado metabólico do
paciente. A RAIU da tireoide varia de baixa a elevada
Quadro clínico e possui pouca utilidade, como auxiliar para o estabe-
A tireoidite de Hashimoto é muito mais co- lecimento ou confirmação do diagnóstico. Em geral, a
mum nas mulheres (95% dos casos) e, na maioria cintilografia da tireoide com iodo-123 demonstra cap-
dos casos, é diagnosticada entre 30 e 50 anos. Em tação difusa e variada e costuma proporcionar pouca
geral, é detectada com a descoberta acidental do informação adicional. Clinicamente, os únicos exames
bócio durante um exame físico de rotina. A maioria necessários nos pacientes sob suspeita de TH são T4 se-
das pacientes está assintomática e, quando há sinto- rico livre, nível de TSH e teste para antiperoxidase (em
mas, pode haver uma sensação de plenitude cervical títulos elevados, ≥ 1/1600, enquanto títulos ≥ 1/102.400
anterior indolor. Ocasionalmente, alguns pacientes são quase patognomônicos).
apresentam desconforto cervical e disfagia leve, es- Se o paciente apresentar um nódulo tireoideo
pecialmente se a glândula tireoide estiver crescendo simples, pode-se realizar uma biópsia por aspiração
rapidamente. Se a tireoide for suficientemente volu- com agulha fina, a fim de excluir o carcinoma da ti-
mosa para deslocar ou comprimir o nervo laríngeo re- reoide. Nesse aspecto, deve-se assinalar que o linfoma
corrente, pode haver rouquidão. O desconforto local tireoideo primário parece estar associado ao TH, es-
ou a modificação da voz são raros. A dor associada pecialmente nos indivíduos idosos. A existência de um
à TH é raríssima. Os sintomas de hipotireoidismo bócio volumoso, firme ou duro no paciente idoso, com
ocorrem como manifestação inicial em aproxima- autoanticorpos positivos, deve alertar o médico para a
damente 20% dos pacientes. Por outro lado, quan- possibilidade de linfoma e, nesses casos, deve-se consi-
do os pacientes se apresentarem com queixas rela- derar a realização de biópsia, especialmente se o bócio
cionadas ao hipotireoidismo, a TH quase sempre aumentar durante um período de observação, ou se
é a causa. Menos de 5% dos pacientes apresentam houver sintomas de compressão (atenção!). Lembrar
hipertireoidismo como primeira manifestação da que a TH representa a principal causa de resultados
TH. A encefalopatia de Hashimoto é uma síndrome falso-positivos para neoplasias à PAAF.
Avaliação diagnóstica da tireoidite autoimune pressivos, entretanto tal apresentação é bastante in-
frequente.
Dosagem laboratorial
Anticorpos antitireoperoxidase (anti-TPO) A cirurgia pode ser necessária para atenuar os
Anticorpos antitireoglobulina (anti-Tg) sintomas compressivos, ainda que raramente haja
TSH compressão significativa ou do refratário ao tratamen-
T4 livre to medicamentoso.
Ultrassonografia
Cintilografia
Punção aspirativa com agulha fina (PAAF) Tireoidite fibrótica invasiva
Tabela 2.10
(Tireoidite de Riedel, estroma de Riedel, tireoidi-
Critérios utilizados no diagnóstico citológico de te esclerosante)
tireoidite de Hashimoto (PAAF)
A tireoidite de Riedel, a mais rara das tireoidites,
Critério Morfológico % caracteriza-se pela substituição de parênquima tireoi-
1. Infiltração linfo-histoplasmática 100 deo por tecido fibroso denso. Esse distúrbio atinge
2. Esboço de folículo linfoide 100 principalmente mulheres (relação homem:mulher é de
3. Coloide 100 3:1), entre os 30 e 60 anos, e apresenta-se com histó-
4. Hiperplasia folicular com atividade cromatínica 89,4
5. Células oxifílicas 80,0
ria de crescimento cervical anterior indolor, há várias
6. Células gigantes multinucleadas 72,9 semanas ou anos, que pode progredir gradativamente
7. Granulomas epitelioides 65,8 e acarretar sintomas de compressão, incluindo disfa-
8. Células foliculares modificadas com atipias nucleares 49,4 gia ou, ocasionalmente, obstrução respiratória.
(Askanazy)
O exame físico revela uma massa tireóidea ex-
Tabela 2.11 Guarde esta tabela.
tremamente dura, ou mesmo “lenhosa”, que pode en-
volver um lobo apenas, embora o comprometimento
difuso seja encontrado em mais de 50% dos casos. A
Tratamento invasão e a fixação nos tecidos adjacentes são carac-
Quando houver hipotireoidismo, há indica- terísticas, assim como sua associação a outras sín-
ção para o tratamento de reposição crônica com dromes esclerosantes localizadas, incluindo fibrose
L-tiroxina (L-T4). Alguns autores questionam se os retroperitoneal e mediastínica, fibrose periorbitária e
pacientes assintomáticos com T4 sérica normal e con- retro-orbitária e colangite ascendente.
centrações séricas elevadas de TSH (denominado hi- Os pacientes com tireoidite de Riedel costu-
potireoidismo subclínico) devem receber L-T4. Reco- meiramente são eutireóideos, a menos que tenha
menda-se que eles devam ser tratados, especialmente ocorrido a substituição total da glândula, resultando
quando houver crescimento significativo da tireoide, em hipotireoidismo. Não existem exames labora-
já que o tratamento crônico com L-T4, nesses casos, toriais típicos desse distúrbio, embora os autoan-
pode resultar em uma redução na dimensão do bócio. ticorpos tireóideos tenham sido descritos em alguns
Se não forem tratados, os pacientes com níveis eleva- pacientes. Não parece haver uma relação direta entre a
dos de TSH desenvolvem hipotireoidismo clínico com tireoidite de Riedel e as doenças autoimunes da tireoi-
frequência de 5% ao ano. O objetivo do tratamento de; as sugestões prévias de que ela poderia ser um tipo
com L-T4 é a normalização da T4 e do TSH séricos. de tireoidite autoimune não são mais aceitáveis.
A disponibilidade de ensaios altamente sensíveis
para TSH possibilita ao médico administrar hor- O diagnóstico da tireoidite de Riedel preci-
mônio tireoide, sem produzir supressão excessiva sa ser estabelecido pela biópsia aberta, que revela
do TSH. as alterações histológicas típicas da fibrose densa. A
biópsia por agulha não é adequada devido à extre-
O tratamento com hormônio tireoide, quando ma rigidez da glândula. O diagnóstico histológico é
houver um bócio pequeno e níveis normais de T4 e essencial, a fim de excluir o carcinoma, que também
TSH, não parece estar justificado. A dose recomenda- costuma ser pétreo à palpação. Os critérios histoló-
da é aquela suficiente para reduzir o TSH para níveis gicos são: destruição completa do tecido tireoidiano
entre 0,3 e 1 µU/mL (75-125 µg/dia em mulheres e com ausência de lobulação normal; ausência de reação
125-200 µg/dia em homens). Uma vez iniciada, a re- granulomatosa; extensão da fibrose além da tireoide,
posição de tiroxina, em geral, se faz necessária indefi- comprometendo estruturas adjacentes.
nidamente (cerca de 20% dos pacientes posteriormen-
O tratamento da tireoidite de Riedel é cirúr-
te passam a ter função tireoidiana normal).
gico; o objetivo é aliviar os sintomas compressivos.
O uso de corticoide é raramente recomendado A ressecção cuneiforme da tireoide sobre o istmo
e fica restrito aos casos que apresentarem dor e cres- é efetuada (istmectomia), a fim de atenuar a com-
cimento rápido da glândula, gerando sintomas com- pressão traqueal. Cirurgias mais extensas são perigo-
29
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sas, devido ao obscurecimento das marcas anatômicas reoidismo, ou simplesmente positivar os anticorpos
normais pelo processo fibrótico infiltrativo. Curiosa- antitireoidianos. Se o paciente já tinha anticorpos
mente, apesar da natureza invasiva do distúrbio, as antitireoidianos previamente positivos, a probabili-
recidivas após a ressecção são raras, e o prognósti- dade de desenvolver alguma tireopatia é maior. As al-
co em geral é favorável. O tratamento com hormônio terações ocorrem, em média, após três meses de uso,
tireoideo não está indicado, a menos que haja hipoti- e geralmente as alterações laboratoriais são mais evi-
reoidismo concomitante. dentes que os aspectos clínicos. Recomenda-se que,
Mais recentemente, o uso de tamoxifeno foi des- em vigência do uso de interferon alfa, a função tireoi-
diana seja avaliada antes e após a interrupção desse
crito como eficaz em um número limitado de pacien-
medicamento.
tes, podendo ser, no futuro, uma droga promissora no
tratamento desta tireoidite. O uso de metotrexato, Em torno de 2% dos pacientes que usam inter-
assim como glicocorticoides, também já foi relatado. leucina-2 para o tratamento de leucemia ou outras
malignidades desenvolvem tireoidite não dolorosa e
10% desenvolvem hipotireoidismo.
Tireoidite medicamentosa Pacientes em uso de 200 mg/dia de amiodaro-
na ingerem mais de 200 vezes a dose diária de iodo
As evidências etiopatogênicas são mais convin- (35% da amiodarona é iodo). Esta droga pode causar
centes na tireopatia induzida por interferon alfa, in- hipertireoidismo induzido por iodo, principalmente
terleucina-2 e amiodarona. em pacientes com bócio multinodular ou tireoidite su-
Cerca de 1% a 5% dos pacientes com hepatite B baguda, como o hipotireoidismo. Após a suspensão da
ou C que utilizam interferon-alfa desenvolvem tireoi- amiodarona, os efeitos tireoidianos podem ser dura-
dite. Podem desencadear tanto hipo quanto hiperti- douros, evoluindo por muitos meses.
ROTEIRO
PROPEDÊUTICO
Hipertireoidismo
BÁSICO eM
GINECOLOGIA
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
33
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Alterações observadas na exoftalmia endócrina (cont.) mento imunossupressor com corticoide em altas doses
8. Paralisia da musculatura extrínseca do globo ocular. Di- (prednisona 40-80 mg/dia), associada ou não com ci-
plopia closporina; em quadros mais agressivos, pode-se lançar
9. Lid-lag (atraso palpebral). Falta de sincronismo entre a ro- mão da pulsoterapia com metilprednisolona (1 g em
tação do globo ocular e a queda palpebral 250 mL de solução salina em infusão de 2 h/dia durante
10. Edema palpebral, conjuntivite, quermose uma semana) com posterior uso de corticoide oral. A
11. Necrose corneal – infecção purulenta associação com a radioterapia pode ser necessária. Nas
12. Diminuição da acuidade visual progressiva formas não responsivas ao tratamento exposto, uma ci-
13. Pressão intraocular aumentada verificada à palpação rurgia corretiva pode ser necessária.
Tabela 3.6
35
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Anticorpos antitireoidianos
Anticorpos antitireoglobulina (anti-Tg) e, so-
bretudo, os antitireoperoxidase (anti-TPO) estão
presentes em muitos pacientes com DG. Seus títu-
los geralmente são mais baixos que na tireoidite de
Hashimoto.
Em pacientes hipertireóidicos, a presença dos
anticorpos antirreceptor do TSH (TRAb) é específi-
ca para a DG, indicando doença ativa (presente entre
70% e 100% dos casos). A determinação dos TRAb é
importante em algumas situações específicas, tais
como:
no diagnóstico da doença de Graves eutireóidea;
Figura 3.7 Formas de mixedema pré-tibial. no diagnóstico do hipertireoidismo apatético;
na distinção entre doença de Graves e tireoidite
pós-parto;
Onicólise e acropaquia na avaliação do risco de recidiva do hipertireoi-
Caracteriza-se pela separação da unha do leito dismo após a suspensão do tratamento com as
ungueal dando um aspecto de envelhecimento à porção tionamidas.
distal da unha (sinal de Plummer), costuma reverter es-
pontaneamente com a melhora do hipertireoidismo. O
Captação do iodo radioativo (RAIU)
termo acropaquia refere-se ao espessamento das falan-
nas 24 horas
ges distais (este achado é bem mais raro).
Encontra-se elevada em praticamente 100%
dos casos de DG, o que permite facilmente sua dife-
renciação com os casos de tireotoxicose secundária à
tireoidite subaguda linfocítica e tireoidite pós-parto,
situações em que a RAIU está caracteristicamente
muito baixa ou ausente. RAIU somente deve ser soli-
citada, portanto, quando houver dúvida diagnóstica
entre a doença de Graves e as doenças mencionadas.
37
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Fatores associados à maior chance Possui modesta redução nos níveis do T3 sérico,
de remissão definitiva por bloqueio na conversão periférica de T4 em T3. A
Bócio pequeno
dose recomendada é de 80-120 mg/dia.
Idade > 40 anos
Relação T3-T4 < 20 Diltiazem
TRAb em títulos baixos (< 30 U/L) ao final do tratamento 240-360 mg/dia, nos pacientes que não podem
Uso das drogas por 12-24 meses usar betabloqueador.
Supressão normal da tireoide ao T3
Terapia combinada (?)
Iodo
Tabela 3.15
O iodo é empregado raramente como droga
Fatores associados à maior chance de recidiva isolada no tratamento do hipertireoidismo, pois sua
resposta terapêutica é frequentemente incompleta
Bócio volumoso; crianças e adolescentes
ou temporária. Seu principal mecanismo de ação é
História familiar de doença da tireoide
Oftalmopatia; rinite alérgica; tabagismo a inibição da secreção de hormônio previamente ar-
Relação T3-T4 > 20 mazenado na tireoide. Hoje em dia, suas aplicações
Presença de HLA B8 ou DR3, alelos DQA2U terapêuticas estão restritas ao preparo de pacientes
Títulos de TRAb (> 30 U/L) ao final do tratamento candidatos à cirurgia (em associação com as tireou-
Persistência do volume do bócio durante o tratamento reias) ou em doentes com “crise tireotóxica” (também
Uso de DAT por menos de 1 ano em associação com as tireoureias). O iodo pode ser ad-
Tabela 3.16 ministrado na forma de solução saturada de iodeto de
potássio ou de solução de lugol (5 gramas de iodo e
10 gramas de iodeto de potássio em cada 100 mL), na
Alternativas terapêuticas com outras dose de 5 a 10 gotas diárias.
drogas antitireoidianas
Iodo radioativo
Reservado para os pacientes sem resposta tera-
Indicações:
pêutica favorável aos antitireoidianos, ou nas reci-
paciente com resposta insatisfatória às tionami- divas pós-tratamento e aos pacientes idosos. Em al-
das e aos betabloqueadores; guns centros, corresponde ao tratamento de escolha.
nas formas graves; Dose: o cálculo da dose administrada envolve a
no preparo cirúrgico. determinação do tamanho da glândula, por cintilo-
grafia ou palpação, e a captação de 131I na 24ª hora.
Drogas
Emprega-se habitualmente entre 70 e 100 µCi/grama
Iodeto de potássio: o iodo possui múltiplos efei- de tecido tireoidiano; doses menores estão ligadas à
tos inibitórios sobre a função da tireoide, diminuindo o incidência diminuída de hipotireoidismo, porém a in-
transporte e a organificação do iodo (efeito Wolff-Chai- cidência elevada da persistência de hipertireoidismo
koff ) e a secreção dos hormônios tireoidianos. Está con- faz necessária uma segunda dose. As doses maiores
traindicado aos pacientes com bócio multinodular, por- são mais efetivas no tratamento do hipertireoidismo,
que pode exacerbar o hipertireoidismo. porém aumentam a incidência de hipotireoidismo
Ácido iopanoico: inibe a síntese e a liberação dos pós-tratamento. As recomendações abaixo devem ser
hormônios tireoidianos, bem como a conversão perifé- seguidas rigorosamente:
rica de T4 em T3. As reações adversas podem ser graves,
incluindo hipertireoidismo devido ao efeito Jod-Base-
dow (hipertireoidismo induzido pela ingestão de iodo). Revisão laboratorial: após 1 mês e, posteriormente,
Glicocorticoide: inibe a conversão periférica de T4 de forma regular
em T3, a captação do iodo e a liberação dos hormônios es- Contraindicações ao uso de iodo:
tocados na glândula. Gravidez, amamentação
Lítio: efeitos similares aos observados com o uso Bócios muito volumosos (risco de tempestade tireoidia-
de iodeto. na)
Colestiramina: reduz os níveis de T4 por ligação Recusa do paciente
com este no intestino. Oftalmopatia infiltrativa importante (há piora da oftal-
Barbitúricos: aceleram o metabolismo do T4, mopatia)
reduzindo assim os seus níveis séricos. Complicações:
Hipotireoidismo (secundário à ablação química)
Betabloqueador
Tireoidite actínica
Seu objetivo é frear as manifestações adrenérgi-
cas na periferia. Essa droga é contraindicada aos pa- Crise tireotóxica (liberação de hormônio pré-fabricado)
cientes com ICC. Tabela 3.17
39
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Em virtude do risco de crise tireotóxica após o uso das decisões adequadas e enérgicas frente às compli-
de radioiodo, recomenda-se, no pré-tratamento, drogas cações, o paciente poderá chegar até ao óbito. Nunca
antitireoidianas durante o mínimo de um mês, especial- é demais lembrar que, também aqui, é muito melhor
mente nos pacientes idosos e naqueles com problemas prevenir que tratar. É esperado, nos bons serviços,
cardíacos. Os antitireoidianos devem ser suspensos de 3 que aproximadamente 0,1% dos pacientes tireoidec-
a 5 dias (metimazol) a dois meses, PTU antes da admi- tomizados faleça em consequência das complicações
nistração de radioiodo, para que se possa assim atingir cirúrgicas. Estas podem ser comuns a qualquer ato
a captação ideal de iodo (essa recomendação não é con- cirúrgico ou específicas, e ocorrem no per ou no pós-
senso e, portanto, é motivo de controvérsias). -operatório (tabela 3.19).
Abrasão da córnea
Complicações pós-operatórias
Apesar de todos os procedimentos preventi- A abrasão da córnea constitui uma grande pre-
vos, as complicações das tireoidectomias ocorrem, ocupação em pacientes com exoftalmia. A prevenção
aumentando a morbidade. Grande ênfase é colocada é feita por meio da proteção das pálpebras com fitas
nas seguintes medidas preventivas: suspensão do uso adesivas e uso de compressas úmidas oculares. O tra-
de cigarro por 4 semanas antes da operação, tubagem tamento compete ao oftalmologista e consiste no uso
orotraqueal atraumática, adequada monitorização de antibióticos tópicos e proteção ocular. Em condi-
peroperatória e rigorosa observação clínica durante ções normais, os sintomas desaparecem em 48 horas e
o primeiro dia pós-operatório. Se não forem toma- a cura sem sequela é a regra.
41
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
O hipoparatireoidismo pode ser transitório ou intolerância ao frio, queda de cabelo e fraqueza, ocorrem
definitivo. Pode atingir até 50% dos pacientes sub- também no hipotireoidismo, dificultando o raciocínio
metidos à tireoidectomia total, quando não se tenta clínico. Qualquer que seja a causa do hipotireoidismo, o
preservar as paratireoides ou não se faz o autotrans- tratamento com hormônio tireóideo é necessário.
plante de paratireoide. O hipoparatireoidismo, após
tireoidectomia subtotal para tratamento de doen-
ça de Basedow-Graves, é quase sempre transitório, Exoftalmia
ocorre mais precocemente – dentro de 24 horas – e
o laboratório mostra hipocalcemia e hipofosfate- Pacientes com doença de Graves submetidos à ti-
mia. É causado pela rápida deposição de cálcio nos os- reoidectomia subtotal, e aqueles tratados com drogas
sos, após a exérese glandular. O hipoparatireoidismo antitireóideas ou iodo radioativo, podem apresentar
por distúrbios tireoideos diferentes da doença de Ba- piora da exoftalmia, por causa do estado de hipoti-
sedow-Graves é consequência da exérese ou isquemia reoidismo pós-tratamento. Por isso, é importante
das glândulas paratireoides. A manifestação ocorre 2 a manter esses pacientes em esquemas terapêuticos
3 dias após a cirurgia e se caracteriza por hipocalcemia que impeçam a ocorrência de hipofunção tireóidea no
e hiperfosfatemia. pós-operatório. Em pacientes tratados com tireoidec-
As manifestações clínicas da hipocalcemia va- tomia subtotal, a oftalmopatia permanece inalterada
riam desde ansiedade, fraqueza, cefaleia, nervosismo, em 77,8%, piora em 5,6% e melhora em 16,7%.
dormências, parestesias periorais e das extremidades
digitais, cãibras musculares, sinais de Chevostek e
Trousseau positivos, até estridor laríngeo, convulsões
e coma, podendo ocorrer o óbito se a terapêutica ade-
Avaliação da função tireoidea
quada não for instituída. após tireoidectomia por bócio
O tratamento deve ser ditado pelas manifesta- simples ou tóxico
ções clínicas e não pelo laboratório. O hipoparatireoi- Após a tireoidectomia total, pode haver neces-
dismo leve responde bem ao suplemento dietético de sidade de reposição hormonal exógena (levotiroxina
cálcio na forma de leite, comprimidos de carbonato de sódica), e a função tireóidea deve ser avaliada, inde-
cálcio, gluconato de cálcio a 10% por via oral ou gel de pendentemente de sua extensão. Cerca de 50% dos
hidróxido de alumínio, que fixa o fosfato inorgânico
pacientes submetidos à tireoidectomia parcial ou
no trato gastrointestinal. Eventualmente, poderá ser
unilateral necessitam de reposição hormonal. A dose
administrada vitamina D. Esta acelera a absorção de
recomendada é de 1,5 a 2 microgramas por quilo de
cálcio pelo aparelho digestivo. No hipoparatireoidis-
peso, sempre introduzindo a medicação de forma gra-
mo grave, além da vitamina D, o paciente deve receber
dual, com aumento a cada semana, até alcançar a dose
infusão venosa de gluconato de cálcio a 10%.
máxima em 3 ou 4 semanas. Após 40 dias de uso da
A incidência de hipoparatireoidismo após as dose máxima pretendida, devem ser dosados TSH e T4
tireoidectomias foi reduzida para menos de 2%, livre, e o reajuste da dose deve ser feito conforme a
por refinamento nas técnicas e pelo autotransplan- necessidade. Nos casos de tireoidectomia parcial, de-
te de paratireoide. Este é bastante simples e deve vem-se dosar os hormônios após 40 dias da cirurgia,
ser adotado de rotina. Os implantes criarão um novo e, somente após a identificação do hipotireoidismo,
suprimento sanguíneo e a função paratireoidea geral- iniciar a reposição.
mente retornará ao normal dentro de 3 meses.
Hipotireoidismo
O hipotireoidismo é normal quando se segue à ti-
reoidectomia total, e esta é sua principal causa. Embora
não desejável, também ocorre em uma pequena porcen-
tagem de pacientes submetidos à tireoidectomia subto-
tal, para tratamento da doença de Graves e de outras
afecções. Uma causa evitável, porém nem sempre, de
hipotireoidismo, é a retirada excessiva de tecido tireói-
deo para tratamento de distúrbios benignos da tireoide.
O diagnóstico de hipotireoidismo costuma ser difí-
cil no paciente idoso. Muitos dos sintomas do envelheci-
mento, como cansaço, fadiga, dificuldade de concentra-
ção, pele seca, constipação intestinal, cãibras nas pernas, Figura 3.9 Tireoidectomia. Local da incisão cirúrgica.
43
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
45
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
47
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Fatores relevantes na escolha entre as tionamidas e o radioiodo como terapia inicial da doença de Graves
Fator Tionamidas lodo Radioativo
Tempo usual para melhora inicial 2 a 4 semanas em mais de 90% dos pacientes 4 a 8 semanas entre 70% e 80% dos
pacientes
Possibilidade de recidiva após o 50% (em média) 5% a 20%
tratamento
Possibilidade de hipotireoidismo 10% a 15%, 15 anos após o tratamento 10% a 30% nos primeiros 2 anos;
5%/ano a partir de então
Possibilidade de efeitos colaterais Sim (raramente) Não
graves (agranulocitose, hepatite etc.)
Possibilidade de reações adversas leves Em 5% dos pacientes Em até 3% dos pacientes*
Bócio muito grande Alta possibilidade de recidiva do hipertireoidismo Doses elevadas são necessárias para
evitar a recidiva
Gravidez ou amamentação Com riscos mínimos para o feto (PTU em doses Contraindicação para o 131I
baixas)
Mulheres planejando engravidar PTU (em doses baixas) Gravidez deve ser evitada por, ao
menos, 4 meses após o tratamento
Presença de oftalmopatia grave Sem efeitos adversos Pode ser agravada, sobretudo em
fumantes; piora pode ser preveni-
da pelo uso de glicocorticoides
Crianças Tratamento prolongado frequentemente é neces- Aparentemente seguro; inconve-
sário; menor eficácia que em adultos niente de hipotireoidismo precoce
Interferência nas atividades Nenhuma Contato íntimo com crianças ou
cotidianas gestantes deve ser evitado nos pri-
meiros dias após o tratamento
Tabela 3.23 (*) Tireoidite actínica.
49
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Hoje, com a adequação do preparo cirúrgico e a Outro fator complicador na patogênese da tempes-
liberação para procedimento cirúrgico eletivo apenas tade tireoidiana é que a resposta ao estímulo catecola-
de pacientes eutireoidianos, a incidência diminuiu. minérgico parece ser particularmente exagerada nestes
Anteriormente, as crises eram classicamente precipi- pacientes. Os níveis de catecolaminas, apesar de não es-
tadas por procedimento cirúrgico, aparecendo poucas tarem aumentados em relação a outros pacientes critica-
horas após o procedimento em pacientes preparados mente doentes, apresentam dramática resposta terapêu-
com iodeto de potássio sem antitireoidianos. tica ao uso de betabloqueadores sugerindo este efeito.
Os pacientes costumam referir história prévia de Fatores precipitantes da tempestade tireotóxica
hipertireoidismo (tratado ou não), apresentam outros Infecção
sintomas como exoftalmia e apresentam os sintomas al- Parto
gum tempo antes de procurar o serviço de emergência. Radioiodoterapia
Oferta de iodo (constante iodato, amiodarona)
Algumas condições precipitam o desenvolvimen- Acidente vascular cerebral
to de tempestade tireoidiana, cujas causas principais Traumas
são as infecções. Outras causas são traumas, pro- Cirurgias
cedimentos cirúrgicos, toxemia gravídica, parto, Retirada de medicações antitireoidianas
irradiação de tireoide com tireoidite secundária, Tabela 5.1
eventos cardiovasculares ou cerebrovasculares, au-
mento de oferta de iodo para a glândula (uso de ra-
diocontrastes ionizados e amiodarona) e retirada
Manifestações clínicas e
abrupta de drogas para o controle da doença. laboratoriais
Os achados clínicos são de aparecimento usual-
Fisiopatologia mente abrupto, embora a maioria dos pacientes relate
sintomas de hipertireoidismo leves a moderados, dias
Os mecanismos específicos que levam à crise ti- a semanas antes de a crise ser precipitada.
reotóxica permanecem incertos. É interessante obser-
Os pacientes apresentam-se com uma grave sín-
var que a tempestade tireoidiana raramente ocorre em drome hipermetabólica. Febre é quase que invariavel-
pacientes com concentrações séricas extremamente ele- mente presente, a temperatura média de apresentação é
vadas de hormônios tireoidianos após ingestão acidental de 39,3° C (90% dos pacientes apresentam temperatura
de tiroxina exógena. Assim, apesar de os níveis de T4 e maior que 38,5° C). A sudorese costuma ser profusa. Sin-
T3 serem usualmente maiores que na tireotoxicose não tomas cardiovasculares com taquicardia sinusal e ar-
complicada, esses níveis não permitem a diferenciação ritmias cardíacas, assim como congestão pulmonar,
entre ela e a tempestade tireoidiana. Por esta razão, não podem evoluir para edema agudo de pulmão e insufi-
podemos caracterizar que o aumento agudo na liberação ciência cardíaca congestiva franca. Sintomas do trato
de hormônios tireoidianos pela glândula represente o gastrointestinal também podem ocorrer com náuseas,
único mecanismo fisiopatológico explicando a crise tire- vômitos, dor abdominal e diarreia. Alguns pacientes
apresentam icterícia, sendo esse sinal de prognóstico
otóxica, embora a liberação aguda de hormônios tireoi-
ruim. Conforme o quadro clínico se deteriora, os pa-
dianos após radioiodoterapia e descontinuação de drogas cientes começam a apresentar sintomas de alterações
antitireoidianas possam precipitar crise tireotóxica. do sistema nervoso central, com manifestações va-
De importância maior que as concentrações séri- riadas como agitação, labilidade emocional, confusão
cas de T3 e T4 é a concentração de hormônios tireoidia- mental e quadros de delirium, caracterizando o que é
nos livres. A concentração de T4 livre sérico relaciona-se denominado de encefalopatia tireotóxica. Alguns pa-
diretamente com a capacidade de união com proteínas cientes, durante a evolução, podem entrar em estado de
coma. Tremores e incapacidade de permanecer parado
ligadoras, como a proteína ligadora da tiroxina (TBG),
são outros sintomas característicos.
albumina e a transtirretina. Assim, condições que inter-
firam na ligação proteica hormonal podem aumentar As manifestações podem ser variadas e dramáti-
níveis de hormônios tireoidianos livres. cas, já sendo descrito caso de apresentação como sín-
drome de disfunção de múltiplos órgãos. Os achados
Doenças agudas, infecções e procedimentos cirúr- laboratoriais mais comuns são TSH indetectável,
gicos podem diminuir a afinidade destas proteínas pe- T3 e T4 livre aumentados, elevação de cálcio e fosfa-
los hormônios tireoidianos, aumentando sua fração li- tase alcalina (aumento de atividade osteoclástica),
vre, a qual apresenta atividade biológica; a acidose tam- hiperglicemia, leucocitose (mesmo sem evidência de
bém apresenta esses efeitos nas proteínas carreadoras. infecção) e, ocasionalmente, os pacientes com reserva
adrenal inadequada podem precipitar o aparecimen-
Uma segunda hipótese é que efeitos da acidose to de crise addisoniana e seus achados laboratoriais
ou da liberação de mediadores inflamatórios durante característicos (mais comum nos casos de doença de
o estresse metabólico podem agir em receptores de Graves). Deve-se salientar que os achados destes pa-
hormônios tireoidianos em tecidos-alvo, aumentando cientes não são diferentes daqueles com tireotoxicose
a ação de hormônios tireoidianos. sem tempestade, conforme já comentado.
51
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
O carbonato de lítio representa uma alternativa recomendada nestes casos; doses um pouco menores,
como agente para inibir a liberação hormonal, princi- como 50 mg a cada 6 horas, são provavelmente de efi-
palmente em pacientes com alergia ao iodo. A dose ini- cácia comparável.
cial é de 300 mg a cada 6 horas, devendo ser usado com O suporte clínico é extremamente importante.
cuidado, devido a seus efeitos colaterais e ao fato de ain- Estes pacientes encontram-se em estado hipermeta-
da não ser bem estudado. A dose deve ser ajustada para bólico, febris, diaforéticos, muitas vezes com vômitos
manter litemia sérica em torno de 1 mg/dL. e diarreia. A reposição volêmica deve ser agressiva e,
O bloqueio dos efeitos periféricos do hormônio caso a hipotensão não seja corrigida pela hidratação,
tireoidiano é o próximo passo terapêutico. Conside- deve-se prescrever vasopressores e corticosteroides.
rando-se que a meia-vida dos hormônios tireoidianos Deve-se ficar atento à glicemia capilar; eles podem
é de 3 a 6 dias, fica claro que não ocorrerá melhora apresentar hipoglicemia. Alguns autores recomendam
rápida dos sintomas; a não ser que sejam bloqueados a adição de dextrose a 10% na solução de hidratação
os efeitos periféricos destes, o PTU e o ácido iopanoi- para restaurar o glicogênio hepático depletado. Re-
co, bloqueando a conversão de T4 em T3, conseguem posição vitamínica poderia corrigir deficiências coe-
parcialmente neutralizar estes efeitos. Para esse fim, xistentes, mas não representa indicação consensual.
deve-se associar o propranolol (teoricamente, todos Alguns pacientes apresentam hipercalcemia na apre-
os betabloqueadores são capazes de melhorar os sinto- sentação, mas facilmente corrigível com a hidratação
mas de uma crise tireotóxica, porém o propranolol é a parenteral.
primeira escolha devido à inibição da conversão perifé- A hipertermia deve ser tratada prontamente,
rica de T4 em T3). A dose inicial é de 20 a 40 mg a cada 6 de preferência com dipirona sódica ou paracetamol.
horas, com aumento progressivo, de acordo com pulso O uso de salicilatos nestes pacientes deve ser evitado
e pressão arterial. por causa de sua propriedade de deslocar os hormô-
Dependendo da gravidade, pode-se prescrever o nios tireoidianos para forma livre, piorando assim a
betabloqueador por via IV: propranolol na dose de 0,5 tireotoxicose. Medidas externas para diminuição de
a 1 mg a cada 15 minutos, até se conseguir o contro- temperatura podem ser usadas e existe relato de caso
le da frequência cardíaca do paciente. Alguns autores com resposta importante ao dantrolene, porém, con-
preferem o uso de esmolol, devido a sua ação mais rá- siderando seus efeitos colaterais, essa medicação só
pida, sendo usado em bomba de infusão intravenosa deve ser usada em casos de exceção.
contínua em dose de 0,05 a 1 mg/kg/min. Em nosso Em todos os pacientes, deve-se procurar algum
meio, encontramos disponível o metoprolol que pode fator desencadeante e tratá-lo imediatamente. Por-
ser usado em dose de 5 mg a cada 10 a 15 minutos, até tanto, culturas de sangue e urina tipo 1, radiografia de
conseguir o controle da frequência cardíaca. tórax, hemograma e eletrocardiograma são exames de
Os corticosteroides em doses altas também rotina nestes pacientes. Antibioticoterapia empírica
diminuem a conversão periférica de T4 em T3; normalmente não é necessária, reservando-se o uso
deve-se considerar ainda, que, ocasionalmente, esses de antibióticos para casos com evidência clínica ou la-
pacientes apresentam insuficiência adrenal associada, boratorial de infecção.
principalmente aqueles com doença de Graves. Deve- A melhora do paciente com tempestade tireoi-
-se considerar, também, que a tempestade tireoidiana diana costuma ser rápida, ocorrendo nas primeiras 12
pode precipitar o quadro de insuficiência adrenal re- a 24 horas. A falha em controlar o quadro clínico neste
lativa em pacientes com reserva adrenal diminuída. A período indica a necessidade de condutas agressivas
hidrocortisona em dose de 100 mg a cada oito horas é como hemoperfusão e plasmaférese.
Suspeita clínica:
• Febre
• Taquicardia (sinusal, supraventricular, fibrilação atrial), ICC
• Disfunção de SNC
• Sintomas gastrintestinais (náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal, icterícia)
Fatores precipitantes:
• Infecção, cirurgia, radioiodoterapia (I131), sobrecarga de iodo, interrupção de antitireoidianos, uso de
amiodarona, excesso de hormônios tireoidianos exógenos, cetoacidose diabética, IC, toxemia gravídica,
parto, embolia pulmonar, acidente vascular cerebral, isquemia mesentérica, trauma
TRATAMENTO
53
42
Capítulo
ROTEIRO
PROPEDÊUTICO
Bócio
BÁSICO eM
GINECOLOGIA
4 Bócio
55
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
desenvolvimento neurológico, resultando na “for- com doença autoimune. Os exames de imagem são ne-
ma neurológica de cretinismo, com retardo mental, cessários quando houver, ao exame físico, a suspeita
marcha espástica, distúrbios auditivos, estrabismo de nódulo palpável.
e atraso no crescimento”. O cretino mixedematoso
apresenta sintomas de hipotireoidismo grave. Es-
sas alterações são preveníveis pela profilaxia com iodo. Tratamento
Problemas associados aos bócios nodulares
Sintomas obstrutivos
Bócio endêmico
Hipotireoidismo
Hipertireoidismo Reposição de iodo ou hormônio tireóideo como
Malignidade indutores de regressão do bócio (se crônicos e com fi-
Tabela 4.1 brose, a regressão é variável).
57
52
Capítulo
ROTEIRO
Nódulos
PROPEDÊUTICO
Tireoidianos
BÁSICO eM (NT)
GINECOLOGIA
5 Nódulos tireoidianos (NT)
Fisiopatologia (multifatorial) •
•
Nódulo fixo às estruturas vizinhas
Adenopatia cervical
• Paralisia de corda vocal
Ainda não está bem esclarecida, porém alguns fa-
Achados de laboratório
tores são descritos como importantes na sua formação:
• PAAF positiva para câncer (99% de chance)
Estimulação crônica de TSH. • PAAF suspeita para câncer (33% de chance de carcino-
Fatores como mutações de oncogenes. ma folicular)
Fatores estimuladores do crescimento (imuno- • Nódulo “frio” solitário (10% a 20% de chance)
globulinas estimuladoras do crescimento, fator • Nódulo que avança sobre estruturas extratireoidianas à
de crescimento insulina like). ultrassonografia
• Calcitonina e CEA elevados em pacientes com risco de
câncer medular
Avaliação clínica Tabela 5.3
Critérios sugestivos de benignidade
• História familiar de bócio benigno
• Bócio multinodular
• Tamanho nodular constante Quadro clínico
• Cisto simples à ultrassonografia
Critérios de moderada suspeita de malignidade Os nódulos tireoidianos, em sua maioria, são
• Idade superior a 60 anos e inferior a 20 anos descobertos em exame físico de rotina. A ocorrência
• Sexo masculino
de sangramento no interior do nódulo pode resultar
•
em dor aguda e aumento de volume. A grande maio-
História de irradiação prévia
ria dos pacientes é eutireoidea, visto que 85% a
• Diâmetro nodular maior que 4 cm
95% dos nódulos concentram muito pouco iodo e
• Nódulos parcialmente císticos (sistemas compressivos) não sintetizam ativamente o hormônio tireoideo.
59
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Elastografia
Exame não invasivo para avaliação da elasticida-
de dos tecidos, diferenciando tecido de consistência
normal daquele de consistência aumentada, rígida.
A sua principal indicação reside na diferenciação
dos nódulos benignos e cancerígenos da glândula
tireoide e das mamas. A avaliação do fígado é outra
grande indicação, permitindo o estadiamento não in-
vasivo da hepatite crônica, importante na orientação
Figura 5.1 Nódulo no lobo direito (setas), hipocaptante à cintilogra-
do tratamento.
fia (A) e sólido à ultrassonografia (B). Não mais de 15% dos nódulos A Elastografia Shear-Wave é um exame que iden-
com essas características são malignos.
tifica muitos dos nódulos benignos, evitando assim a
Características de US e Doppler colorido do nódulo punção biópsia dos mesmos. Por outro lado, o elevado
tireoidiano benigno e maligno grau de rigidez dos nódulos malignos tem sido corre-
Ecogenicidade Benigno lesão Maligno lesão tamente identificado pelo método, elevando a especi-
anecoica (cística) hipoecogênica ficidade no diagnóstico dos nódulos cancerígenos.
ou hiperecogênica
Em comparação com a US convencional, a elasto-
Margens regulares irregulares
grafia mostrou-se menos sensível porém mais especí-
Microcalcificação ausente presente fica na distinção entre nódulos benignos e malignos.
Halo hipoecogê- presente ausente
nico
Vascularização intra- Chammas I-III Chammas IV-V
nodular (Doppler) Punção aspirativa
A presença de microcalcificação apresenta maior especifici-
dade para malignidade (95%) que o achado de margem irre-
com agulha fina (PAAF)
gular (85%) e vascularização intranodular (80%), porém sua Padrão-ouro na avaliação de um nódulo tireoidiano.
sensibilidade é inferior. Já o achado de margens imprecisas é
o que tem melhor acurácia para malignidade (melhor combi- A PAAF é indiscutivelmente o melhor método
nação de sensibilidade e especificidade). para diferenciar entre lesões benignas e malignas da
Tabela 5.5 tireoide, sendo tecnicamente simples e de fácil exe-
61
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
cução ambulatorial. É o método mais sensível e es- Achados citológicos mais importantes na PAAF
pecífico para o diagnóstico etiológico dos nódulos (cont.)
tireoidianos, com sensibilidade de 68% a 98% e Tumor folicular Tireoidite aguda
especificidade de 72%a 100% (média de 92%). A Grupos de células foliculares
PAAF tem como principal limitação diagnóstica a Granulócitos; necrose, ma-
de tamanho igual; pouco coloi-
terial proteico
distinção das neoplasias foliculares e as de células de; sangue abundante
de Hurthle quanto à sua natureza benigna ou ma- Tireoidite subaguda Linfoma
ligna. Essa limitação também ocorre com frequência Grande quantidade de cé-
Células foliculares pequenas;
pelo exame de congelação. Para atestar a segurança lulas linfoides monomór-
células histiocitárias gigantes;
diagnóstica da PAAF, é fundamental a experiência do ficas; núcleos redondos e
linfócitos e macrófagos, células
uniformes com inclusão
citologista em patologias da tireoide, reduzindo os epitelioides
citoplasmática
percentuais de falso-positivos e falso-negativos por
Tireoidite crônica Carcinoma medular
falhas de interpretação. Em grande parte dos serviços,
costuma-se repetir a PAAF após 6 a 12 meses, se o re- Células parafoliculares em
Células foliculares grandes e
blocos ou isoladas; ami-
sultado da primeira punção for benigno. oncocíticas; numerosos linfó-
loide, necrose e células
citos; raras células histiocitá-
A imuno-histoquímica para a peroxidase tireoi- inflamatórias; componentes
rias gigantes
papilares
diana com um anticorpo monoclonal (MoAb 47) pa-
rece promissora para melhorar a acurácia da PAAF nas Tabela 5.8
lesões foliculares. Na experiência de alguns autores,
sensibilidade de 100% e especificidade de quase 70%
foram obtidas com essa técnica.
Da mesma forma, um número de marcadires
Sistematização do diagnóstico na PAAF segundo Kini
imuno-histoquímicos e genéticos foi recentemente
Categoria Diagnósticos ou observações
desenvolvido para melhorar a acurácia da PAAF nos
casos em que o diagnóstico citológico é indetermina- Inadequado 16% (15% a I – Amostra acelular
20%) II – Amostra mal fixada
do ou suspeito, particularmente quando se está em
III – Amostra hemorrágica
dúvida na indicação cirúrgica. Nesse contexto, as mu- IV – Esfregaço espesso
tações no gene BRAF, a galectina-3 e o HBME-1 têm Benigno 70% (53% a 90%) I – Bócio nodular, bócio co-
sido os mais avaliados. Outros marcadores são RAS, loide
PAX8-PPARγ, microRNA, citoqueratina 19 e perda de II – Adenoma macrofolicular
heterozigosidade. III – Tireoidite linfocítica - cé-
lulas de Hurthle e linfócitos*
Atenção: todos os nódulos palpáveis devem ser IV – Tireoidite granulomatosa
investigados. O grande problema recai sobre os cha- – células linfoides e numero-
mados incidentalomas: nódulos não palpáveis, detec- sas células gigantes multinu-
cleadas
tados ao acaso por exames de imagem da região cer-
vical. Quando prosseguir a investigação? Alguns cen- Indeterminado (tumor foli- I – Lesões de padrão folicular
cular) 10% (5% a 23%) II – Lesões de células de Hur-
tros só investigam nódulos não palpáveis quando
thle
maiores que 1,5 cm, mas a maioria considera hoje
Maligno 4% (1% a 10%) I – Carcinoma papilífero
1 cm, já que tem sido demonstrado que as taxas de II – Carcinoma medular
câncer, invasão e mortalidade são semelhantes em III – Carcinoma indiferen-
nódulos de 1 cm e de 1,5 cm. ciado
IV – Carcinoma pouco diferen-
Achados citológicos mais importantes na PAAF
ciado
(ATENÇÃO!)
V – Linfoma
Bócio coloide Bócio tóxico VI – Metástase
Coloide abundante, células Pouco coloide; sangue (*) Quando há disponibilidade de informações clínicas como
foliculares pequenas; material abundante; células foli- dados de imagem e laboratoriais é possível fazer o diagnóstico
cístico; macrófagos culares grandes; vacúolos de tireoidite de Hashimoto.
marginais Citologia indeterminada frequentemente reportada como “ne-
Carcinoma anaplásico Carcinoma papilífero oplasia folicular”, “tumor folicular” ou “lesão suspeita” é encon-
trada em 15% a 30% dos resultados de PAAF. Nesta situação,
Células foliculares em pa- alguns dados podem ser considerados para auxiliar na decisão
Granulócitos; células bizar-
pilas; inclusões intranucle-
ras sem componente folicular; quanto à indicação da cirurgia como sexo, idade, tamanho do
ares; macrófagos; coloide
mitoses frequentes; fragmentos nódulo, grau de atipia, porém o valor preditivo é baixo.
viscoso; corpos psamoma-
necróticos
tosos.
Tabela 5.9
Sistema Bethesda para classificar a Entre 80% e 85% dos nódulos são frios, 10%
citopatologia tiroidiana mornos e 5% quentes. Cerca de 5% a 15% dos nó-
Insatisfatório ou não diagnóstico (líquido císti-
dulos frios são malignos. O nódulo quente raramen-
Classe I te está associado à malignidade. Um carcinoma pode
co, espécime acelular, sangue)
aparecer “quente” com 99Tc e “frio” com 131I, motivo
Benigno (nódulo coloide, bócio adenomatoso, pelo qual pacientes com nódulos quentes, detectados
Classe II
tiroidite de Hashimoto, tiroidite subaguda)
pelo 99Tc, devem repetir a cintilografia com 131I.
Atipia de significado indeterminado ou lesão
folicular de significado indeterminado (grupo
Classe III
heterogêneo: microfolículos sem critérios para
NF (7%)
Neoplasia folicular ou suspeita para neoplasia
Classe IV folicular (citoarquitetura alterada com células
em arranjos microfoliculares ou trabeculares)
Suspeita para malignidade (citoarquitetura para
Classe V PTC, difícil o diagnóstico diferencial entre PTC
e FTC)
Classe VI Maligno
Tabela 5.10 PTC: carcinoma papilífero da tireoide; FTC: carcinoma
folicular da tireoide.
63
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
nódulo cístico, repetir a PAAF-US. Persiste indefinição? Se sim, leve em consideração os achados ultrassonográfi-
cos e a recidiva do cisto para definir a conduta cirúrgica. A solicitação de marcadores imuno-histoquímicos é uma
perspectiva promissora para amostras insatisfatórias, já que podem orientar para o diagnóstico de malignidade
nas lesões cujo resultado da PAAF foi inicialmente insatisfatório.
Mutações do oncogene BAAF apontam para carcinoma papilífero. Galectina-3 ou HBME-1 para carcinoma folicular.
Uma modalidade terapêutica mais recente e promissora é a injeção percutânea com etanol (IPE) já utilizada
no tratamento do nódulo quente autônomo (doença de Plummer). Sua aplicação prática se estendeu para os nó-
dulos císticos e sólidos considerados benignos pela PAAF. Em quem aplicar? Naqueles com sintomas compressivos
e/ou por decisão estética.
PAAF
T3, T4 Livre ↑ T3 e T4 livre e TSH ↓
e TSH
Normais Cintilografia
Benigno Maligno Suspeito Amostra
insatisfatória
Observação Funcionante
Observação Cirurgia
Repetir PAAF,
Iodo/cirurgia
guiada por US
PEI
Paciente Paciente
Cintilografia Observação*
de alto risco de baixo risco
Nódulo Nódulo
“frio” “quente” Tireoidectomia Observação
total ou quase total US periódica
Figura 5.3 Algoritmo para conduta em pacientes com um ou mais nódulos da tireoide. Se a ultrassonografia cervical mostrar nódulo menor que 1
cm e não houver qualquer fator de suspeita, seja na história e exame físico, seja na ultrassonografia, o paciente poderá ser seguido apenas clinicamen-
te. Nódulos acima de 1 cm ou suspeitos à clínica e/ou ultrassonografia devem ser sempre puncionados. Pacientes com TSH diminuído ou suprimido e
nódulo hipercaptante não precisam ser puncionados. *Na maioria dos serviços, costuma-se não repetir a PAAF; se a lesão inicial for benigna, somente
se durante o seguimento ocorrer crescimento nodular > 20% ou surjam alterações ultrassonográficas sugestivas de malignidades.
ROTEIRO
PROPEDÊUTICO
Câncer da Tireoide
BÁSICO eM
GINECOLOGIA
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Fatores ambientais
Classificação simplificada dos tumores da tireoide
Deficiência de iodo (Ca folicular).
Benignos Malignos
Irradiação cabeça e pescoço (Ca papilar e foli-
1- Bócio endêmico 1- Carcinoma papilífero cular).
2- Bócio esporádico 2- Carcinoma folicular
Atenção:
3- Adenoma folicular 3- Carcinoma medular
Síndrome de Gardner (herança autossômica
4- Outros 4- Carcinoma indiferenciado dominante) caracteriza-se por polipose adeno-
5- Outros matosa, osteomas, tumores de partes moles, tu-
Tabela 6.1 mores desmoides, fibromatose mesentérica e alto
risco para câncer de cólon; há relato de maior
Tipos e frequência relativa dos tumores tireoidianos incidência de câncer papilífero de tireoide nesta
malignos população.
Classificação % A síndrome de Cowden (síndrome de múltiplos
Papilífero 80 hamartomas) se caracteriza por pólipos hamar-
Puro tomatosos, tricolemomas faciais, ceratose das
Misto (papilífero-folicular) mãos e pés e alta taxa de malignidade sistêmica.
Variante folicular
Folicular 10
Fatores de risco para carcinoma tireoideo em
Células de Hurthle 3 pacientes com nódulo tireoideo
Medular 5 História de irradiação História familiar de câncer tireoi-
Anaplásico 1 da cabeça e do pescoço deo ou NEM-2
Outros 1 Idade < 20 ou > 60 anos Paralisia das cordas vocais, voz
Linfoma rouca
Teratoma Nódulo de tamanho Nódulo fixado a estruturas adja-
Carcinoma metastático maior (> 4 cm) centes
Células escamosas
Massa cervical nova ou Suspeita de acometimentos de
Tabela 6.2 crescente linfonodos
Sexo masculino Deficiência de iodo (câncer foli-
Classificação histológica e comportamento biológico
cular)
Tumor Idade Crescimento Metástase
Tabela 6.4 NEM 2A (síndrome de Sipple): carcinoma medular, fe-
Papilífero Todas Lento Linfonodos ocromocitoma e hiperparatireoidismo; NEM 2B (síndrome dos neu-
romas mucosos): carcinoma medular, feocromocitoma e neuromas
Folicular Acima de Lento Distantes
mucosos e por vezes aspecto marfanoide, neurofibromatose e síndro-
40 anos
me de Von Hipel Lindau (angiomatose retiniana e cerebelar).
67
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Patologia
É um tumor bem encapsulado, e nesse estágio
é difícil fazer o diagnóstico diferencial entre o ade-
noma folicular benigno e o carcinoma folicular bem
diferenciado. A principal característica para firmar
Figura 6.1 Carcinoma papilífero. Células arranjadas em padrão
o diagnóstico é a invasão da cápsula e/ou dos vasos.
papilífero bem delineado, notando-se uma célula gigante. Coloide (Atenção!)
presente. Os núcleos geralmente são grandes, irregulares, com
inclusões intranucleares “orphan Anne eye change”. Coloração de
Leishman, x1900.
Carcinoma folicular
A patogênese do carcinoma folicular (CF) não
é tão bem esclarecida como a descrita no papilífero.
Algumas alterações genéticas, entretanto, têm sido
evidenciadas, como o gene decorrente da fusão en-
tre PAX8 e PPARg e mutações no gene RAS, além da
expressão ou perda de uma série de genes demonstra-
dos por técnicas de expressão diferencial de genes. Figura 6.2 Carcinoma folicular. Células arranjadas em padrão foli-
cular com núcleos irregulares e polimórficos. Neste caso o diagnóstico
citológico de carcinoma folicular pode ser feito. Coloração de Leish-
Quadro clínico man, x1200.
O carcinoma folicular ocorre em um grupo etá-
rio mais avançado que o papilífero, tendo seu pico de
incidência na quinta década de vida, sendo também
três vezes mais frequente em mulheres. Corresponde
a cerca de 20% de todos os carcinomas tireoidianos,
Carcinoma de células
apresentando maior prevalência em áreas deficien- de Hurthle
tes de ingestão de iodo. Da mesma maneira que o pa-
pilífero, o carcinoma folicular é geralmente diagnos- Cerca de 3% dos casos de câncer de tireoide.
ticado pela presença de nódulo único na tireoide. Variante do câncer folicular, com comportamento
Outras vezes, porém, apresenta-se com crescimento mais agressivo. Comportamento multifocal e bila-
recente de um nódulo, em bócio, de longa data ou pela teral, ao contrário do folicular.
presença de metástases a distância (15% a 20% dos
casos), principalmente para pulmão e ossos. Me- Cerca de 90% de suas metástases não captam
tástases cerebrais são menos comuns. Vale ressaltar 131
I (ao contrário do que se observa no câncer folicu-
que o CF mesmo com tamanho < 1 cm pode se mani- lar), portanto não está associado à tireotoxicose.
69
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Figura 6.3 Carcinoma medular. Células ovais ou poligonais, com nú- Figura 6.5 Carcinoma indiferenciado. Células grandes, isoladas ou
cleo redondo ou oval situado excentricamente. O citoplasma contém agregadas, de formato fusiforme, associadas a outras, ovais, com núcle-
grânulos azurrófilos, característica de tumores tipo APUD; observa-se os excêntricos. Vê-se também um bloco de células com características
depósito de amiloide (seta). Coloração de Leishman, x1900. normais. Coloração de Leishman, x1900.
71
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Uma Tg sérica < 10 ng/mL, por ocasião da histológico associado ao comportamento mais agres-
ablação do tumor, geralmente indica prognóstico sivo ao exame histológico. Além disso, a tireoidecto-
favorável. Valores elevados podem estar relacionados mia total possibilita o seguimento do paciente por
à persistência da doença. Em estudo, foi observado meio da dosagem sérica da Tg, como veremos adiante.
que a presença de Tg > 70 ng/mL no pós-operatório,
antes da dose terapêutica de ¹3¹I, indicava a presença Metástases linfonodais ao diagnóstico ocor-
de metástases em mais de 90% dos casos. rem em aproximadamente 20% a 90% dos pacien-
tes com câncer papilífero, sendo ligeiramente me-
CEA possui pouca sensibilidade e nenhuma es-
nor nos outros tipos histológicos. Como na maioria
pecificidade, estando associado ao carcinoma
dos casos, o exame físico não revela anormalidades e
medular.
deve ser solicitada a US cervical. Se a US sugerir aco-
metimento linfonodal, o paciente deverá ser subme-
Causas de Tireoglobulina (Tg)Elevada e PCI Negativa tido à tireoidectomia total e à exploração linfonodal,
Contaminação com iodo mesmo que o tumor tenha menos de 1 cm de diâme-
tro, pois a ressecção total melhora o prognóstico.
Níveis de TSH suficientes para induzir síntese de Tg, mas não
suficientes para estimular captação do 131I Em casos de carcinoma papilífero com evidência
Presença de tecido tireoidiano remanescente clínica de envolvimento de linfonodos centrais, ou de
Elevação falso-positiva da Tg (anticorpos, efeito hook)
suspeita de carcinoma de Hurthle, a ressecção profilá-
tica/terapêutica de linfonodos do compartimento cen-
Metástases difusas e muito pequenas para serem detectadas,
tral (nível VI) é recomendada; linfonodos pré-larínge-
porém capazes de produzir Tg
os, pré-traqueais e peritraqueais deve ser considerada,
Transformação para uma forma mais indiferenciada de cân-
pois eles são frequentemente acometidos. A ressecção
cer, levando à menor captação do 131I
profilática pode ser dispensada se não houver linfono-
Tabela 6.7 PCI: cintilografia de corpo inteiro.
dos suspeitos detectados na US, em casos de carcino-
ma papilífero de baixo risco (T1 ou T2, não invasivo);
se ART estiver sendo planejada; e também na maioria
dos tumores foliculares. Quando realizada em tumo-
Tratamento do carcinoma res de baixo risco, a ressecção profilática pode tornar
a ART (ablação do remanescente tireoidiano) desne-
diferenciado cessária. Recomenda-se a dissecção dos linfonodos
laterais (II-IV) e do triângulo posterior em pacientes
A tireoidectomia total, ou quase total, é o trata- com metástases diagnosticadas por exame citológico,
mento recomendado para todos os tipos de tumores Tg detectável no aspirado, ou com alta suspeita na US.
tireoidianos. Entretanto, a American Thyroid Asso-
Os linfonodos do compartimento lateral (II–IV)
ciation, assim como a European Thyroid Cancer Task
e do triângulo posterior também podem ser sítios de
Force, admite apenas lobectomia para pacientes com
tumores papilíferos menores que 1 cm, únicos e iso-
metástases no câncer diferenciado de tireoide. A dis-
lados, sem acometimento linfonodal e sem prévia secção dos linfonodos laterais (II–IV) e do triângulo
irradiação sobre a cabeça e pescoço, considerados posterior é recomendada em pacientes com metásta-
pacientes de muito baixo risco. Embora o risco au- ses diagnosticadas por exame citológico, Tg no aspira-
mente estatisticamente em tumores papilíferos acima do ou com alta suspeita na ultrassonografia.
de 1 cm e em foliculares acima de 4 cm, pequenos tu-
mores também podem produzir metástases, e o risco
atribuído a cada fator preditivo é relativamente pe-
queno quando considerado isoladamente.
Acredita-se que a tireoidectomia total é, neste
momento, a melhor opção para todos os pacientes,
IB IIB
independentemente do tamanho inicial do tumor, IA IIA
pois, atualmente, nenhum fator clínico, cirúrgico,
anatomopatológico, laboratorial ou molecular é III
capaz de predizer com segurança o comportamento VA
do tumor. Embora o microcarcinoma papilífero tenha VI
um excelente prognóstico (mortalidade ≈ 1%), a chan- IV
VB
ce de metástases a distância alcança 2,5%, e a recor-
rência linfonodal, 5%. A tireoidectomia total no mo-
mento do diagnóstico elimina a necessidade de even-
tual reintervenção cirúrgica (para totalização) no caso Figura 6.7 Desenho representativo dos diferentes níveis e subníveis
de identificação de linfonodos comprometidos ou tipo dos linfonodos cervicais.
73
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
75
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
em banco apropriado.
Baixo risco Alto risco/intermediário
(TSH 0.1-0.5 mUl/L) (TSH < 0.1 mUl/L)
77
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Metástases a distância: 131I em tumores captan- conduta para os pacientes portadores de mutação. Na
tes de iodo ou radioterapia externa em tumores última reunião de consenso, estratificou-se o risco e
não captantes. uma série de decisões foi recomendado de acordo com
as mutações conhecidas.
A ATA (Associação Americana de Tireoide) criou
Pacientes de risco intermediário: um sistema de categorias de risco para a tireoidectomia
profilática, com base na mutação identificada. O nível
Abordagem terapêutica individualizada.
D inclui pacientes com mutação nos códons 883 e 918
Cada paciente deverá ser tratado de acordo com do RET, cuja doença se manifesta em uma idade mais
o grupo de risco a que mais se aproxime (baixo jovem, tem alto risco de metástases, e o seu fenótipo
risco ou alto risco). é a MEN-2B. Quando identificada de modo precoce, a
indicação de tireoidectomia profilática deve ser fei-
ta no primeiro ano de vida. O nível C é um pouco
menos agressivo e inclui a mutação mais frequente da
Tratamento do MEN-2A, no códon 634. Nessa situação, a tireoidec-
carcinoma medular tomia profilática deve ser feita antes dos cinco anos
de vida. O nível B inclui mutações com caráter menos
Por tratar-se de tumor agressivo, multifocal, bi- agressivo, localizadas nos códons 609, 611, 618, 620 e
lateral e que não responde a radioiodo, a recomenda- 630. Para esses casos, deve-se considerar a cirurgia an-
tes dos 5 anos, porém ela pode ser realizada algum
ção é tireoidectomia total. Isto inclui os pacientes
tempo depois, conforme algumas condições, como
com a forma esporádica e familiar. A retirada de todo
uma CT estimulada anual normal, US anual normal,
o tecido tireroidiano deve ser meticulosa, sem lesar as história familiar de doença menos agressiva e pre-
paratireoides. Além disso, recomenda-se a dissecção ferência familiar. O nível A é considerado a mutação
profilática dos linfonodos da região central do pes-
de menor risco, o CMT se manifesta com níveis mais
coço. Uma vez que o feocromocitoma é uma possibili-
baixos de CT, estágios tumorais mais leves e taxas mais
dade naqueles pacientes com doença familiar (MEN2), elevadas de cura após a tireoidectomia profilática.
deve-se afastá-lo antes de se decidir pela cirurgia.
Como o iodo não é captado pelos tumores medulares,
o seu emprego é inútil. A terapêutica supressiva tam-
bém não é efetiva, em termos de diminuir ou retardar
a evolução do tumor, mas deve ser empregada como
Tratamento do
terapêutica substitutiva. O seguimento deve ser fei- carcinoma anaplásico
to por meio de dosagens periódicas de CEA e cal-
citonina (após 3 meses e, depois, a cada 6 meses). A melhor perspectiva de cura para esses pacien-
Se os níveis de CT forem indetectáveis, o paciente tes é o diagnóstico precoce e a ressecção completa da
está em remissão bioquímica, e o seguimento será rea- lesão. Entretanto, somente em uma minoria (< 10%)
lizado com dosagens semestrais ou anuais de CT. Com dos casos conseguem-se resultados satisfatórios, de
CT < 150 pg/mL, recomenda-se US cervical e, se ne- modo que a sobrevida média não ultrapassa, na maio-
cessário, outros exames de imagem. Diante de valores ria das vezes, 4 a 6 meses do diagnóstico. Hoje em dia,
de CT > 150 pg/ML, estão recomendadas US cervical e o tratamento para o CAT é principalmente cirúrgico,
imagens adicionais, como TAC de tórax, pescoço e abdo- combinado com quimioterapia e radioterapia. Em uma
me, RNM de abdome, coluna e pelve, cintigrafia óssea e análise multivariada, não foi possível isolar nem a R x
F-FDG PET. Sempre que a doença residual estiver loca- T e/ou Q x T como fatores que tenham influenciado a
lizada no pescoço, existe a orpotunidade e indicação de sobrevida dos pacientes. Em contrapartida, nesse es-
uma cirurgia cervical. tudo, sexo feminino, idade < 60 anos, tumor < 7 cm
e tumor ainda restrito à tireoide foram fatores de
bom prognóstico.
79
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Prognóstico
Classificação do risco prognóstico em pacientes com
cânceres bem diferenciados da tireoide
(AMES ou AGES)
Baixo risco Alto risco
Idade < 40 anos > 40 anos
Sexo Feminino Masculino
Extensão Sem extensão local, Invasão escapular,
intratideoide, extensão
sem invasão escapular intratideoide
Metástase Nenhuma Local ou distante
Tamanho < 2 cm > 4 cm
Grau Bem diferenciado Pouco diferenciado
Tabela 6.12 AGES: idade, grau de diferenciação patológica do tumor,
extensão e tamanho do tumor primário; AMES: idade, metástases a
distância, extensão do tumor primário e tamanho do tumor primário.
Carcinoma medular
Prognóstico reservado.
As metástases não respondem a iodo radioativo
e geralmente se fazem para:
– linfonodos regionais; pulmão; fígado; ossos.
A forma esporádica é mais agressiva que a forma
familiar (aqueles associados às síndromes endócrinas
múltiplas).
Carcinoma anaplásico
prognóstico bastante sombrio;
sobrevida média 6 a 8 meses.
81
72
Capítulo
ROTEIRO
As Glândulas
PROPEDÊUTICO
Paratireoides
BÁSICO eM
GINECOLOGIA
7 As glândulas paratireoides
83
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
st
ina
NEM 2A (Síndrome Sipple), quando se associa a um
l
1,25(OH)2D3 carcinoma medular e/ou ao feocromocitoma, além de
estimula poder se apresentar como forma familiar isolada.
Hiperparatireoidismo secundário ocorre nos
casos de insuficiência renal crônica, raquitismo e
osteomalácia, sendo, nestes pacientes, uma resposta
Aumento do nível
sérico de cálcio
apropriada à hipocalcemia. A persistência por muito
tempo nestes quadros induz o hiperparatireoidismo
terciário, quando as paratireoides se tornam autôno-
Figura 7.2 Homeostasia do cálcio e paratormônio (PTH). 1,25
(OH)2D3, 1,25-diidroxicolecalciferol. mas. Tiazídicos aumentam a reabsorção renal de
cálcio e o lítio aumenta a secreção de PTH. Deve-
-se, então, repetir dosagens de cálcio e PTH após pe-
ríodo sem uso destas medicações. (Atenção!)
Pacientes com hiperparatireoidismo são mais pro- Hipomagnesemia pode eventualmente estar pre-
pensos a apresentar úlcera péptica (presente em 15% dos sente, já que a reabsorção tubular de magnésio, ainda
pacientes), hipertensão, insuficiência cardíaca e pancrea- que estimulada pelo PTH, é inibida pela hipercalce-
tite (hipercalcemia e hipertrigliceridemia são duas causas mia. A magnitude de elevação do PTH e das demais
metabólicas de pancreatite aguda). O uso de antiácidos e alterações bioquímicas é mais pronunciada em pacien-
de diuréticos tiazídicos pode piorar a hipercalcemia. tes com envolvimento esquelético que naqueles com a
Hipercalcemia grave: calcemia > 14 mg/dL ou iô- forma assintomática.
nico > 7 mg/dL exige atendimento imediato e agressivo.
Exames de imagem
Manifestações clínicas no HPT primário
Nos estágios iniciais, a radiografia simples é de
Indivíduos assintomáticos valor limitado, pois as alterações só aparecerão após
Elevação da calcemia e/ou do nível de PTH, sem sintomas re- algum tempo de evolução. Osteoclastomas ou tumores
lacionados ao HPT marrons são lesões semelhantes àquelas da malignida-
Indivíduos sintomáticos de e ocorrem nos casos avançados de osteíte fibrosa cís-
tica. O PTH age preferencialmente no osso cortical
Aparelho Dor óssea Fratura
(isto ocorre em função de o PTH ter ação catabólica
locomotor Dor articular Tumor marrom
no esqueleto apendicular – sobretudo nos terços mé-
Osteopenia Osteoporose
dio e distal do rádio – e anabólica no esqueleto axial
Sistema Nefrolitíase Nefrocalcinose e insufici- [vértebras]), de modo que o estudo densitométrico
urinário Polidipsia ência renal crônica deve incluir sítios com predominância de osso cortical,
Poliúria com hipercalci-
como o terço medial do rádio, no qual se demonstrará
úria
osteoporose. Devido ao elevado turnover ósseo, a cinti-
Aparelho Dor articular Pancreatite lografia óssea mostrará hipercaptação focal ou difusa.
digestivo Anorexia Úlcera péptica
Náusea Obstipação A densitometria óssea pode mostrar osteopenia e/
ou osteosporose. A cintilografia com 99Tc-sestamibi é clas-
Neuropsí- Depressão Perda de memória sicamente considerada o exame mais sensível. Na presen-
quicos Astenia Fraqueza muscular
ça de doença óssea importante, devido ao maior volume
Irritabilidade Coma
do adenoma, o exame tende a ser sempre positivo.
Outros Hipertensão Risco aumentado de cân-
Gota e pseudogota cer?
Risco aumentado para
óbito?
Tabela 7.4
Diagnóstico
A rotina diagnóstica do HPTP inclui a dosagem sé-
rica do cálcio, fósforo, albumina, fosfatase alcalina, PTH
intacto (de preferência, com ensaios multissítios por
quimioluminescência ou imunorradiometria), 25(OH)-
-vitamina D (25-OHD) e creatinina. A urina de 24 h
deve ser coletada para dosagem de cálcio. A maioria dos
pacientes com HPTP têm níveis de PTH elevados, mas
em até 20% a 25% dos casos, eles se encontram nor- Figura 7.3 Hiperparatireoidismo primário. Reabsorção subperiostal
mais (em geral, no limite superior da normalidade). (alteração radiológica mais precoce e comum). As áreas de insuflação
correspondem ao tumor marrom.
Outras alterações bioquímicas do HPTP, com me-
nor valor diagnóstico, incluem hipofosfatemia (detecta-
da em aproximadamente 25% dos pacientes), hipercalci-
úria (em cerca de 40% e em 100% quando há nefrolitía-
se), aumento da 1,25(OH)2 vitamina D (em um terço dos
casos), elevação do AMP cíclico urinário e, com menos
frequência, acidose metabólica hiperclorêmica. Esta últi-
ma é vista nos casos com níveis muito altos de PTH, com
consequente inibição da reabsorção tubular de fosfato.
Portanto, hipercloremia e diminuição do bicarbonato
sérico são achados úteis na diferenciação entre HPTP e
outras causas de hipercalcemia. No HPTP, os marcado-
res bioquímicos da formação óssea (exemplo: fosfatase
alcalina e osteocalcina séricas) e reabsorção óssea, como Figura 7.4 Hiperparatireoidismo primário. Raio X de crânio. Aspecto
o C-telopeptídio, com frequência estão aumentados. em “sal e pimenta”.
85
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Diagnóstico diferencial
As neoplasias podem causar hipercalcemia
por dois mecanismos: a) produção de PTH-rp (PTH-
related peptide) pelo tumor (pulmão, rim, ovário, esô-
fago), que se liga ao mesmo receptor do PTH e aumen-
ta calcemia; b) destruição direta do osso adjacente ao
tumor (mieloma, linfoma, carcinoma metastático de
mama). A dosagem de PTH intacto não sofre inter-
ferência do PTH-rp, de modo que estará suprimida
nestes casos.
Na hipercalcemia hipocalciúrica familiar, um de-
feito ativador no receptor do cálcio faz com que haja um
estímulo na liberação de PTH independentemente dos
níveis de cálcio sérico. O PTH está normal alto ou alto,
existe história familiar e a calciúria é < 100 mg/dL.
Como os sintomas de hipercalcemia são muitas
vezes inespecíficos, o hiperparatireoidismo deve sem-
pre ser considerado no diagnóstico diferencial de ou-
tras patologias como depressão e fibromialgia.
Figura 7.6 Cintilografia com sestamibi marcada com 99Tc, eviden-
Localização do adenoma
Em 75% dos casos é possível localizar o tumor
com ultrassonografia cervical e em 80% dos casos
com a cintilografia com sestamibi.
A sestamibi é uma proteína de baixo peso mo-
lecular marcada com tecnécio-99. Após a adminstra-
ção via endovenosa, é captada somente pelo tecido da
paratireoide hiperprodutora de PTH. Como as para-
tireoides normais estão suprimidas, elas não captam
o radiofármaco. No caso de hiperparatireoidismo se-
cundário, que cursa com hiperplasia das glândulas, a
ultrassonografia e a cintilografia com sestamibi iden- Figura 7.7 Cintilografia com sestamibi marcada com 99Tc, eviden-
tificam corretamente as lesões em somente 35% dos ciando um adenoma de paratireoide inferior esquerda (seta).
Figura 7.8 Ultrassonografia evidenciando imagem hipoecoica parati- Figura 7.9 MRI mostrando um hipersinal no lado esquerdo da região
reoidiana compatível com adenoma de paratireoide esquerda. cervical consistente com adenoma de paratireoide (seta).
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Em cerca de 24% dos casos a recidiva ocorre O Hipoparatioreoidismo pode ocorrer após
devido a uma glândula supranumerária e sua de- a realização de paratireoitomias, quando há des-
tecção na primeira operação evitaria a recidiva. Há vascularização ou trauma das glândulas ou, mais
opinião de que o ioPTH pode auxiliar na suspeita de comumente, após a realização de tireoidectomia
glândula supranumerária. Também no HPT secun- total, quando as paratireoides são removidas inad-
dário não há unanimidade quanto à confiabilidade vertidamente.
no ioPTH. A reoperação não relacionada ao autoim- Hipoparatireoidismo transitório pode ser obser-
plante deve ser precedida por exames de localização. vado após a remoção de adenoma em razão de supres-
Esses exames devem analisar adequadamente o pes- são das paratireoides remanescentes. Também ocorre
coço e o mediastino. após paratireoidectomia subtotal ou autotransplan-
Outra modalidade de reoperação em HPT secun- te de paratireoide para o tratamento de hiperplasia,
dário é no tratamento do hipoparatireoidismo, com a quando ocorre interferência com o suprimento san-
utilização de paratireoide criopreservada. A utilização guíneo do tecido remanescente.
de material criopreservado pode reverter o quadro de O hipoparatireoidismo deve ser diferenciado
hipoparatireoidismo, mesmo após longo tempo de da “fome óssea”. Essa situação ocorre quando existe
criopreservação. desmineralização óssea intensa consequente ao hiper-
paratireoidismo e o paciente é tratado com paratireoi-
dectomia. No pós-operatório ocorre deposição intensa
do cálcio no osso, causando hipocalcemia. Podem-se
Hiperparatireoidismo diferenciar as duas situações pelo nível sérico de fós-
terciário foro. No hipoparatireoidismo ocorre diminuição do
nível sérico de cálcio e elevação do nível sérico de fós-
O hiperparatireoidismo terciário ocorre nas foro. Na fome óssea ocorre diminuição tanto do nível
situações de hiperparatireoidisrno secundário em sérico de cálcio quanto do nível sérico de fósforo.
que a hiperplasia glandular torna-se autônoma, ou A hipocalcemia aguda resulta em diminuição do
seja, independente do nível sérico de cálcio. nível sérico de cálcio ionizado e excitabilidade neuro-
O hiperparatireoidismo terciário geralmente muscular. A manifestação clínica inclui a presença de
ocorre em pacientes submetidos a transplante renal. parestesia, ansiedade, confusão mental e depressão. O
Normalmente observa-se controle adequado do hi- exame físico demonstra o sinal de Chvostek e o sinal
perparatireodismo secundário após o transplante. No de Trousseau. O sinal de Chvostek é a contração dos
entanto, em alguns casos as paratireoides tornam-se músculos faciais após a estimulação do nervo facial
autônomas e não ocorre diminuição do nível sérico de através de percussão na região anterior à orelha. O si-
cálcio e o nível sérico de fósforo permanece diminuí- nal de Trousseau é o espasmo do carpo desencadeado
do. Isso pode levar a nefrocalcinose e litíase renal no pela oclusão do fluxo sanguíneo decorrente da insufla-
rim transplantado, além de manifestação clínica seme- ção de um manguito de esfigmomanômetro durante
lhante ao hiperparatireoidismo primário. A paratireoi- dois a três minutos. Na grande maioria dos casos o
dectomia subtotal ou a paratireoidectomia total com tratamento é realizado com administração via oral de
autoimplante estão indicadas nos casos sintomáticos cálcio e suplementos com vitamina D.
ou quando o quadro persiste por período superior a
um ano. Na grande maioria dos casos não se trata de Manifestações do hipoparatireoidismo
uma real autonomia das glândulas paratireoides, mas
Neuromusculares: cãibras, tetania, mialgias (inclusive
sim de demora para involução da hiperplasia. Com o dor torácica) e fraqueza muscular; sinais de Trousseau e de
decorrer do tempo, ocorre diminuição progressiva da Chvostek
produção de PTH e o nível sérico de cálcio e fósforo Pele e fâneros: pele seca, queda de cabelo, alopecia
retorna ao normal.
Neurológicas: parkinsonismo, disartria; alterações da mar-
cha, instabilidade postural
Oculares: pseudopapiledema; catarata
Cardiovasculares: prolongamento do segmento ST e in-
Hipoparatireoidismo tervalo QT; alterações no ECG sugestivas de IAM; arritmias,
insuficiência cardíaca etc.
O hipoparatoreoidismo é definido como a di- Dentárias: hipoplasia do esmalte, defeitos da dentina, re-
minuição total ou parcial da secreção de PTH pelas tardo na erupção dentária, cáries, encurtamento das raízes
glândulas paratireoides. A causa mais comum é ia- dos molares e, eventualmente, perda de todos os dentes
trogênica. Tabela 7.9
paratireoides
Neoplasia endócrina múltipla tipo 2
A NEM 2A (síndrome de Sipple) é caracteriza-
Neoplasia endócrina múltipla tipo I
da por achados de câncer medular de tireoide (95%),
A síndrome NEM 1 (síndrome de Werner) con- feocromocitoma (30% a 50%) e HPT primário (10% a
siste em HPT primário resultante de hiperplasia das 20%). Outras associações raras com NEM 2A incluem
paratireoides, associado a lesões do pâncreas (40%) e a presença de líquen amiloide cutâneo e doença de
da hipófise (30%). Hirschsprung.
93
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
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Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Tratamento farmacológico: quando a doença torna-se disseminada e não é mais possível a ressecção cirúr-
gica, o prognóstico é desfavorável. Nessa situação, deve-se controlar a hipercalcemia com hidratação, utilização
de diuréticos de alça e outros agentes, como pamidronato (90 mg IV em 90 minutos), zoledronato (4 mg IV em 15
minutos), plicamicina, nitrato de gálio e octreotide.
Quimioterapia: estudos isolados mostram curto período de remissão. O uso de dacarbazina (250 mg/m2 IV
nos dias 1 a 5) apresenta resposta curta, porém com significativa diminuição do cálcio sérico.
Acompanhamento pós-cirúrgico
Determinar cálcio e PTH a cada 3 meses.
ROTEIRO
Massas Cervicais
PROPEDÊUTICO
Congênitas
BÁSICO eM
GINECOLOGIA
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
WENGLOWSKI (1912) entendia que o ducto ti- ramente descrito por PONCET, em 1967, tendo como
mofaríngeo (3ª bolsa faríngea) era a origem dos cistos, limites o conduto auditivo externo superiormente, a
e alguns investigadores a partir do século XIX, a co- região mentoniana anteriormente e o osso hioide in-
meçar por LUSCHKA (1848), notaram a relação dos feriormente.
cistos com tecido linfoide sofrendo degeneração císti- Uma segunda característica notável da entidade
ca. Modernamente, KING (1949), a partir de grande é a chamada trave timpânica.
número de casos, confirmou essa teoria que vem sen-
do bastante debatida até os dias de hoje, sem grande É uma prega epidérmica que se estende do asso-
conclusão de parte a parte. alho do conduto até o umbigo do martelo. Foi citada
por diversos autores, sendo considerada por alguns
uma continuação do trato fistuloso e patognomônico
As anomalias branquiais têm sido tradicionalmente defini- da doença.
das como:
Um terceiro sinal que pode ser sugestivo desse
Cistos: estruturas circundadas por epitélio sem abertura externa
Trajeto: trato de fundo cego que se abre externamente para a tipo de fístula é a imagem de tomografia computado-
pele ou internamente para uma cavidade. rizada apresentando uma lesão cística com um halo de
Fístula: é um trato que comunica uma cavidade internamente características cartilaginosas ao seu redor.
à pele externamente
Alguns dos casos relatados na literatura apre-
sentavam história de secreção purulenta crônica na
orelha externa, proveniente do trato fistuloso para o
local.
O tratamento das anomalias de 1ª fenda bran-
quial pode variar de expectante, nos casos em que
há apenas uma alteração cosmética da região ma-
lar, cervical ou pré-auricular, até a exérese cirúrgi-
ca do seio, cisto ou trato fistuloso. A opção cirúrgica
A B C D E deve levar em conta o grau de inflamação local, pois a
região é rica em estruturas nobres, e a manipulação
Figura 8.1 Cistos e fístulas da 1ª fenda branquial.
intempestiva pode provocar danos irreversíveis.
As anomalias da 1ª fenda branquial foram clas- A principal preocupação na ressecção é com
sificadas em dois tipos por ARNOT, em 1971, e por o nervo facial, de difícil dissecção na infância, que
WORK, em 1972. Ambas as classificações são seme- pode ter sua identificação prejudicada por quadros
lhantes. Prefere-se a de ARNOT por ser mais próxima infecciosos de repetição ou agudos.
da clínica habitual. Nela, os cistos da 1ª fenda bran- Tem-se por norma aguardar o resfriamento de
quial podem ser do tipo I, de situação pré-auricular, na qualquer processo infeccioso local e o uso de estimu-
região parotídea, e do tipo II, que são seios ou cistos ladores do nervo facial durante os procedimentos na
que partem do triângulo cervical anterior e se esten- região parotídea de crianças.
dem até a região do conduto auricular, com ou sem co-
municação com ele.
É uma anomalia da infância, com cerca de 90%
dos casos descritos abaixo dos 10 anos.
A apresentação clínica de ambas pode ser dife-
rente. No primeiro caso, tem-se um abaulamento da
região parotídea sem sinais flogísticos e sem sintoma-
tologia mais significativa. Já a do tipo II pode ser de
difícil diagnóstico, levando o paciente a apresentar di-
versos episódios de quadros infecto-inflamatórios da
região cervical antes que surja a suspeita diagnóstica.
Estranhamente, esses casos, não raramente, fis- Tipo 1
tulizam para a pele, fato não muito habitual em outros
tipos de infecção cervical, o que deveria alertar o otor-
rinolaringologista para a possibilidade de um cisto de
1ª fenda.
Os casos relatados na literatura apresentam fis- Tipo 2
tulização com predominância nítida para a região do
triângulo submandibular. Esse triângulo foi primei- Figura 8.2 Cistos e fístulas da 2ª fenda branquial.
99
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
A fenda que fornece o maior número de casos O diagnóstico dos cistos é feito pela história
clínicos é a segunda. Aparentemente, isto ocorre pelo característica de uma massa de crescimento relativa-
crescimento assimétrico entre o 2º arco branquial e o 3º mente rápido, de uma a quatro semanas, na região
e 4º arcos que são menos exuberantes e crescem mais cervical lateral, com dor local e sinais flogísticos leves
vagarosamente. Essa diferença pode levar à formação a moderados, associado a um processo infecto-infla-
de uma cavidade composta pelo 2º arco como parede matório de boca e orofaringe.
anterior e o 3º arco como assoalho, ficando a 2ª fenda
enclausurada entre ambos, formando o seio branquial. O principal exame radiográfico é a tomogra-
fia, que pode mostrar uma massa cística, de cápsula
O exame clínico geralmente encontra uma lesão fina, com conteúdo líquido que se cora levemente com
lisa, fibroelástica, com mobilidade lateral, porém com contraste e que pode formar septos. Geralmente, a
redução de sua movimentação vertical. Sua localização massa está circundada por linfonodos inflamatórios.
preferencial é na parte mais alta da região juguloca-
rotídea, abaixo do ângulo da mandíbula e em frente Alguns estudos mostram que o cisto branquial
aos grandes vasos. Essas características podem estar aparece na tomografia computadorizada e na resso-
bastante alteradas se houver histórias de infecções de nância magnética nuclear como massas heterogêneas,
repetição ou infecção recente, pois as linfadenopatias ao passo que as imagens ultrassonográficas são mais
inflamatórias regionais provocam um aglomerado de semelhantes a um cisto, sem septações e com sua cáp-
lesões dolorosas à palpação e de mobilidade bastante sula fina. Quando se punciona a massa, encontra-se
reduzida. Quando há fístula, sua abertura está, em ge- um líquido amarelo citrino, que, ao exame de micros-
ral, localizada anteriormente ao músculo esternoclei- copia, apresenta grânulos de colesterol.
domastóideo, na sua porção médio-inferior.
Outra modalidade de exame diagnóstico é a
Os cistos branquiais (da 2ª fenda), apesar de fistulografia. Pouco utilizada de rotina, pode ser de
congênitos, raramente são visíveis ao nascimento, grande valia na identificação do trato fistuloso em
pois, neste momento, não há líquido no seu inte- seios branquiais. Pode ser feita de maneira retrógrada
rior para distendê-lo. A idade de predileção para o por punção do cisto, retirada de quantidade de mate-
aparecimento clínico desses cistos está entre os 10 rial de seu interior e infiltração de pequena quantida-
e os 20 anos, em geral, após um quadro infeccioso de de Hypaque®, sob radioscopia.
da cavidade oral.
Há algum ceticismo quanto à possibilidade de
Muitas vezes, o cisto aparece e se mantém de as-
transformação neoplásica do epitélio de revestimen-
pecto inalterado por toda a vida, sem infectar ou fistu-
to dos cistos de 2ª fenda branquial. Dos 43 descritos
lizar. Há estudos de séries que mostram cerca de 20%
de fístulas nos cistos branquiais. Entretanto, não se na literatura, apenas 7 satisfaziam o critério de se
sabe se a história natural da doença é assim, uma vez originarem em cisto com epitélio normal, para serem
que poucos são os casos que, ora diagnosticados, não considerados degeneração maligna. A literatura consi-
cheguem à cirurgia. dera que a grande maioria desses casos é composta de
metástases de tumores primários na região e sofreu
Acredita-se que as chances de fistulização ou degeneração cística em evolução.
mesmo fixação em tecido subcutâneo sejam grandes,
e que as sequências operatórias depois que isto ocorre De toda maneira, independentemente da con-
sejam maiores, principalmente do ponto de vista es- trovérsia existente, considera-se que, havendo epitélio
tético. escamoso e estando esse epitélio em situação ectópica,
Os cistos podem ter comunicação com a base da sempre haverá a chance de degeneração maligna, mes-
loja amigdaliana e se estender desde a fossa supracla- mo que remota.
vicular até a base do crânio. No entanto, não é isso o O tratamento de seios e cistos branquiais é
habitual; no geral, os cistos se apoiam na bainha ca- eminentemente cirúrgico. Deve-se extirpar com-
rotídea, sem infiltrá-la ou aderir a ela, e se espraiam pletamente o cisto e suas comunicações, seja com a
anteriormente, diante da borda do músculo esterno- orofaringe ou a pele, após a remissão da resposta in-
cleidomastóideo, na bifurcação da carótida. flamatória. Os cuidados intraoperatórios devem ser
Quanto ao trato fistuloso, pode passar entre as quanto aos possíveis danos aos pares cranianos que
artérias carótidas interna e externa e acima do nervo se espalham pela região. Geralmente, será encontra-
hipoglosso, perfurando a musculatura constritora da do o nervo espinal atrás do cisto na sua porção pos-
faringe e chegando à base 5 da loja amigdaliana. Há terior, dirigindo-se obliquamente na borda posterior
tratos que se estendem por trajetos diferentes, mas do músculo esternocleidomastoide. O nervo hipo-
este é o mais encontrado. glosso pode estar com o cisto em sua profundidade
Raramente, os cistos branquiais podem ter dis- da porção anterossuperior e o nervo mandibular
tribuição parafaríngea ou retrofaríngea, tendo como pode estar na superior da porção mais lateral do
seus primeiros sintomas a disfagia e a odinofagia. Na cisto. A lesão também guarda relações com os gran-
literatura, foram relatados 23 desses cistos, e suas re- des vasos do pescoço. Em geral, empurra a veia jugu-
moções cirúrgicas ocorreram sem dificuldades em to- lar posterolateralmente e se apoia na artéria carótida
dos os casos. em relação íntima com a artéria tireoidea.
Anomalias endodérmicas sc
101
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Linfangiomas cervicais
O linfangioma, também conhecido como higro-
ma cístico, é um tumor benigno infrequente, que se
compõe de formações císticas desenvolvidas a partir
do endotélio linfático e ilhas de linfa e sangue. Em
crianças, essa malformação congênita predomina em
áreas cervicofaciais. O envolvimento das vias respira-
tórias e digestivas altas pode comprometer o prognós-
tico vital. Cada caso exige considerações terapêuticas
individualizadas.
Patogenia
O sistema linfático embrionário origina-se inicial-
mente do endotélio venoso. Existem duas teorias que
explicam a origem dos vasos linfáticos: proliferação
centrífuga a partir dos sacos linfáticos, ou crescimento
centrípeto a partir das células mesenquimatosas.
Figura 8.8 Dissecção do cisto branquial (1) e suas relações com a veia
Existem três teorias que tentam explicar a ori-
jugular interna (2), carótida (3), nervo hipoglosso (4) e músculo digás- gem do linfangioma congênito. Alguns autores acham
trico (5). que provêm de um defeito de comunicação entre os
103
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Tratamento
Uma alta taxa de incidência era inicialmente
observada com a excisão isolada do cisto. Em 1920,
Sistrunk recomendou a retirada de um bloco de tecido
desde a base da língua envolvendo o ducto, o cisto e
parte do osso hioide. Com essa técnica, a taxa de reci-
diva gira em torno de 3%.
A operação é realizada sob anestesia geral em
posição supina. A incisão é feita na linha média do
pescoço sobre uma linha de tensão. Se existe trato
fistuloso para a pele ou se o cisto foi previamente in- Figura 8.11 Exérese de cisto tireoglosso. Aspecto esquemático do
fectado, e a pele está aderida ao cisto, uma incisão cisto (dissecado), da parte anterior do osso hioide (seccionada) e do
restante do ducto tireoglosso (reparado com pinça de Allis e dissecado
elíptica deve ser feita. A incisão é aprofundada até até a base da língua).
que se entre o subcutâneo.
O flap de tecido inferior não precisa ser muito ex-
tenso, ao passo que, superiormente, deve-se expor até
o osso hioide. A musculatura é identificada e separada
do cisto. O cisto é então dissecado e separado da car-
tilagem tireoide, membrana tireo-hióidea, outros te-
cidos, mas permanece aderido ao osso hioide. Em pa-
cientes sem infecção prévia, os planos são facilmente
identificáveis, fazendo a dissecção simples. O contrá-
rio ocorre em pacientes previamente infectados, por
esse motivo a cirurgia deve ser realizada pelo menos
Figura 8.12 Exérese de cisto tireoglosso. Aspecto final, mostrando a
após um mês do último episódio infeccioso. O osso sutura intradérmica.
hioide é então isolado dos tecidos adjacentes e resse-
cado com um osteótomo, aderido ao cisto. Um abridor
de boca deve ser colocado transoralmente, com o final
do retrator na valécula, e a base da língua descolada
na direção da lesão para a correta dissecção da muscu-
latura supra-hióidea, e a porção retro-hióidea do duc- Hemangiomas
to deve ser excisada no nível do forame cécum. Nesse
Os hemangiomas são as neoplasias de cabeça e
momento, deve-se ter cuidado para não adentrar na
pescoço mais comuns na infância. Alguns os conside-
hipofaringe. Realiza-se sutura por planos e deixa-se
um dreno de penrose. A peça cirúrgica deve constar do ram mais como malformações vasculares que como
cisto, a porção média do osso hioide, parte da muscu- neoplasias propriamente ditas, outros como um ha-
latura da base da língua com ou sem mucosa da área martomatoso crescimento de capilares. Embora se-
do forame cécum. A peça deve ser sempre enviada para jam predominantemente localizados em superfícies
exame anatomopatológico. O dreno deve ser deixado cutâneas, podem ser também vistos em mucosas e
por 24 a 48 horas. Complicações são pouco usuais, vísceras. Chegam a acometer 10% das crianças. Meni-
pode haver formação de hematoma, seroma e infecção nas são discretamente mais acometidas que meninos
de ferida. Outros problemas podem ser a recidiva e a (2:1), e esses tumores são mais frequentemente solitá-
descoberta de carcinoma. rios que multifocais.
105
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Cerca de um terço dos hemangiomas já estão T2 e isodensa em T1. Hemangiomas em involução têm
presentes ao nascimento, mas eles tipicamente são áreas de tecido fibrogorduroso e, em T1, têm hipersinal,
notados durante o primeiro mês de vida e progressi- se comparados aos hemangiomas em proliferação.
vamente aumentam durante o primeiro ano, passan-
A TC mostrará uma massa que aumenta pro-
do a involuir com 18 a 24 meses (pico de involução),
fundamente. Angiograficamente, hemangiomas são
continuando a involuir dos 5 aos 7 anos. Depois, pas-
lesões lobulares bem circunscritas, de tecido denso e
sa a haver depósito fibrogorduroso em seu sítio. Em
supridas por múltiplas artérias alargadas. Shunts arte-
quase 90% dos casos, a involução ocorre e não neces-
riovenosos não são comuns. A aparência angiográfica
sitam de tratamento.
reflete o tipo de vaso que compõe o hemangioma.
Do ponto de vista histológico é composto por um
acúmulo de células endoteliais, com um alto índice de Hemangiomas localizados profundamente no te-
canais sanguíneos e sinusoides. Podem ser definidos cido subcutâneo, fáscia e músculos do pescoço tendem
como um processo não reativo, benigno, no qual exis- a ser infiltrativos e difíceis de tratar. Embora essas le-
te um aumento na relação anormal-normal de vasos sões não se tornem malignas, o controle local é difícil
sanguíneos. Além disso, são divididos em duas catego- e frequentemente não adquirido. Os hemangiomas
rias: ativos e inativos hemodinamicamente, de acordo musculares são um exemplo de tais lesões infiltrativas.
com a presença de fístulas arteriovenosas, prolifera- No pescoço, o tipo mais comum é o hemangioma
ção vascular e seu comportamento clínico. capilar, que envolve o esternocleidomastóideo, o esca-
Hemangiomas capilares: formados por capila- leno e o trapézio. Essa lesão está associada com 30%
res compostos de células endoteliais e rodeados por de recorrência a despeito do tratamento correto. He-
pericitos. Nas lesões iniciais, as células endoteliais mangiomas intramusculares cavernosos são o segun-
podem preencher o lúmen dos capilares. O nevus cor do tipo mais comum e apresentam recorrência de 9%.
de morango é considerado uma forma hipertrófica de Tipos mistos são também incomumente encontrados
hemangioma capilar. e apresentam recorrência de 25%. A terapia para essas
Hemangiomas cavernosos: são formados por lesões deve incluir a ligação dos vasos que nutrem a
grandes canais vasculares, tortuosos, compostos por lesão e a excisão da massa.
células endoteliais. Costumam envolver estruturas Em virtude da história natural de involução
mais profundas que o hemangioma capilar e não cos- dos hemangiomas, terapia conservadora é regra para
tumam involuir espontaneamente, principalmente se a sua maioria, mas observação está indicada para o
não estão presentes ao nascimento. Fibrose da adven- possível desenvolvimento de complicações. Cerca de
tícia costuma ocorrer. 10% a 20% dos hemangiomas requerem tratamento
Hemangiomas arteriovenosos: frequentemen- por várias razões. Se a tumoração demonstra rápidos
te ocorrem em partes moles da cabeça e pescoço e são sinais de crescimento, hemorragia, ou infecção recor-
referidas como malformações arteriovenosas. Além das rente, a biópsia está indicada, e outra terapia deve
características dos hemangiomas cavernosos, apresen- ser instituída. Nesse caso, o tratamento deve ser
tam espessamento de veias. Embora os achados histo- individualizado e baseado em vários fatores, como
patológicos sejam característicos, igualmente impor- idade, sítio da lesão, extensão profunda e caracte-
tante para o diagnóstico é a presença clínica de massa rísticas gerais da massa. Glicocorticoides são usual-
pulsátil com manifestações de um shunt arteriovenoso. mente a primeira linha medicamentosa escolhida,
As duas técnicas de imagem mais frequentemen- seja isoladamente ou em associação com o tratamen-
te utilizadas para o exame de anomalias vasculares to cirúrgico. Corticoides sistêmicos ou intralesionais
são a ressonância magnética (RM) e a ultrassonogra- costumam ser efetivos em 30% a 60%. Supõe-se que
fia (US). Outros exames utilizados são a ressonância os corticoides interrompam a proliferação dos he-
magnética angiográfica, a venografia, linfangiografia, mangiomas por bloqueio dos receptores de estradiol,
e a tomografia computadorizada (TC). Os objetivos interferência na liberação de heparina e de fatores
primários nos exames de imagem são caracterizar a angiogênicos liberados pelos mastócitos. Quando os
lesão, determinar a extensão anatômica da lesão e de- esteroides falham, injeções subcutâneas de interfe-
terminar quais tecidos e estruturas adjacentes estão ron alfa-2 A e 2 B podem ajudar. O tratamento deve
envolvidos. Quando o exame suspeita de uma anoma- ser continuado por 6 a 9 meses, se efetivo. Neuro-
lia vascular, o mais crítico elemento a ser caracteriza- toxicidade tem sido reportada. Nos pacientes que
do é a diferenciação de lesões de alto e baixo fluxo, e o falham em responder ao uso de corticoides, devem
Doppler, nesse caso, é frequentemente útil. ser consideradas embolização, terapia com laser e/
Na RM, o hemangioma em proliferação vai se ou cirurgia. O planejamento terapêutico para essas
apresentar como uma massa discretamente lobulada, malformações vasculares deve ser individualizado e
que apresenta um hipersinal em relação ao músculo em abordado por uma equipe multidisciplinar.
107
92
Capítulo
ROTEIRO
PROPEDÊUTICO
Torcicolo Congênito
BÁSICO eM
GINECOLOGIA
9 Torcicolo congênito
109
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Tratamento cirúrgico
Diagnóstico diferencial Insucesso do tratamento clínico.
Torcicolo postural: síndrome de assimetria con- Apresentação em crianças > 1 ano.
gênita que inclui torcicolo e um ou mais dos se-
guintes: plagiocefalia, escoliose infantil e assime-
tria do tórax. Presente ao nascimento, melhora O procedimento cirúrgico
durante os primeiros 6 meses, não acompanhado
por anomalia óssea, sem fibrose muscular e sem Secção da inserção clavicular e esternal no nível
redução da rotação passiva do pescoço. Causa do terço inferior (tenotomia a l cm da inserção
provável: persistência de posição viciosa intrau- clavicular e esternal) ou do terço médio (na al-
terina. tura em que os ramos esternal e clavicular con-
vergem, ou seja, 1 a 1,5 cm abaixo do nervo aces-
Incoordenação neuromuscular: podendo causar
sório), fáscias do pescoço, aponeurose posterior
inclinação da cabeça para um lado em crianças
e tecidos profundos com fibrose residual. Antes
com paralisia cerebral, espasticidade ou atetose.
de completar o procedimento cirúrgico, a cabe-
Hemivértebra cervical e fusão ou subluxação ça é rotada para o lado operado e pesquisada a
atlantooccipital. presença de bandas fibróticas residuais, princi-
Síndrome de Klippel-Feil. palmente junto ao trapézio, escaleno, platisma e
membranas carotídeas.
Torcicolo ocular (estrabismo, nistagmo): dese
quilíbrio dos músculos extrínsecos do olho. Não Outras técnicas pouco utilizadas, mas com ex-
aparece antes dos 6 a 12 meses. celentes resultados estéticos, são aquelas que se
baseiam no alongamento muscular, com teno-
Síndrome de Sandifer: posição viciosa da cabeça
tomia do ramo clavicular e zetaplastia do ramo
para evitar o refluxo intermitente de conteúdo
esternal. Mantêm a coluna do músculo ECM na
gástrico até a faringe.
região cervical baixa, evitando o aparecimento
Tumor (rabdomiossarcoma, neuroblastoma). de um desnível em forma de buraco na área do
Adenite e/ou fascite cervical. músculo seccionada.
Excisões parciais ou totais do músculo não apre-
sentam resultados estéticos bons, pois há perda
da coluna do músculo, limitação dos movimen-
Tratamento tos da cabeça para o lado afetado e maiores riscos
de lesão do nervo espinhal acessório. Outras téc-
Massagens sobre o músculo ECM afetado com
nicas, com incisões mínimas e até endoscópicas,
creme de hialuronidase ou pomada heparinoide.
têm sido descritas para correção dessa doença.
Fisioterapia com movimentação passiva da cabe- Pós-operatório imediato: nas primeiras 48 ho-
ça com o tronco fixo, geralmente efetuada pelos
ras deve ser conservada a posição supina sem
pais, 15 a 20 vezes, 3 a 4 vezes por dia após as travesseiros e a cabeça mantida sem rotação por
massagens. São realizados movimentos de rota- dois sacos grandes de areia. No 10º dia pós-ope-
ção e flexão lateral da cabeça e pescoço. ratório reiniciar fisioterapia. Reeducação dos re-
Estimulação luminosa, alimentar, afetiva pelo lado flexos cervicais para manter o pescoço retificado
em que existe dificuldade de rotação da cabeça. sem rotação no mínimo por três meses.
Clavícula
Estenocleidomastoideo
nervo acessório
Trapézio
Plexo braquial
111
10
2
Capítulo
ROTEIRO
PROPEDÊUTICO
glândulas salivares
BÁSICO eM
GINECOLOGIA
10 Glândulas salivares
113
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
A grande maioria possui um tamanho que varia O prognóstico é considerado excelente quando a
entre 2 e 6 cm, porém, se negligenciada pode crescer a cirurgia é feita de maneira adequada, com um índice
proporções grotescas. de cura de aproximadamente 95%.
115
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Radiografia simples dos seios da face (em tumo- A radioterapia complementar será sempre indi-
res de palato). cada em casos de tumores de alto grau de malignidade,
Estudo radiológico de osso temporal (tumores ou em casos de margens cirúrgicas insuficientes ou em
malignos da parótida). tumores de difícil acesso (lobo profundo).
Ultrassonografia para diagnóstico diferencial A radioterapia exclusiva é indicação de exceção
entre linfonodo cervical, processos inflamató- ou como tratamento paliativo, em casos considerados
rios, cálculos e tumores. sem indicação para a cirurgia.
Ressonância magnética (exclusivamente quando
a extensão da lesão for de difícil determinação
clínica), principalmente nos tumores de lobo Estádio III
profundo da parótida. Neoplasias de baixo grau ou alto grau de malig-
nidade. O tratamento de escolha é sempre o cirúrgico.
Estadiamento O nervo facial deverá ser preservado quando possível
(ausência de invasão macroscópica).
Os tumores salivares malignos são estadiados de
acordo com o tamanho: T1 é inferior a 2 cm, T2 tem 2 O esvaziamento cervical deve ser associado em
a 4 cm, T3 é maior que 4 cm ou qualquer tumor com casos de invasão cervical por tumores de alto grau de
extensão extraparenquimatosa macroscópica e T4 en- malignidade ou em tumores que apresentem alto ín-
volve invasão de tecidos ao redor. dice de metástase cervical (carcinoma epidermoide,
carcinoma indiferenciado).
O volume de tratamento radioterápico inclui o
Tratamento leito operatório com 2 cm de margem, região nodal
subdigástrica ipsilateral, em caso de carcinoma ade-
noide cístico, sendo que todo o trajeto do nervo facial
Tumores benignos é incluído no volume de tratamento. Lesões profundas
são abordadas com distribuição de campos laterais,
com filtros compensadores para melhoria de isodose,
Parótida
ou feixe de elétrons de 12-17 Mev de forma isolada ou
Tumor do lobo superficial: parotidectomia su- em combinação com feixe de fótons. A dose prescrita é
perficial parcial ou completa, com conservação de 55-60 Gy diárias de 1.8 a 2 Gy.
do nervo facial.
Os linfonodos cervicais ipsilaterais são irradia-
Tumor do lobo profundo: parotidectomia total dos, em caso de doença residual e tumores de alto grau
com conservação do nervo facial. (com exceção de carcinoma adenoide cístico pelo baixo
risco de recidiva cervical), com dose prescrita, de 50
Gy em 25 sessões.
Submandibular
Submandibulectomia.
Estádio IV
Os tumores avançados das glândulas salivares
Outros deverão ser tratados de acordo com a avaliação de ope-
Ressecção da lesão com margem de segurança rabilidade do tumor e do paciente.
podendo incluir partes ósseas, nos casos de tu- Nos casos em que existe possibilidade clínica
mores no palato.
para o paciente se submeter ao tratamento cirúrgico,
este deverá ser realizado sempre com a indicação de
radioterapia complementar.
Tumores malignos
Parótida
Submandibular
Estádios I e II Estádios I e II
Neoplasias de baixo grau ou alto grau de malig- Neoplasias de baixo grau de malignidade
nidade. O tratamento será sempre cirúrgico, buscando Submandibulectomia e esvaziamento da região
preservar o nervo facial. submandibular.
Neoplasias de alto grau de malignidade – esva- anual de raios X de tórax deverá ser efetuada no segui-
ziamento cervical supraomo-hioideo + radioterapia. mento de tumores malignos de alto grau de maligni-
Os critérios para indicação e aplicação de radioterapia dade. A laringoscopia deverá ser realizada em casos de
pós-operatória são os mesmos mencionados para os queixas relativas à laringe ou à hipofaringe.
tumores da parótida.
O seguimento deverá ser feito bimestralmente no
primeiro ano; quadrimensalmente, no segundo ano; se-
Estádio III mestralmente no terceiro ano; e anualmente a partir do
quarto ano. Os doentes tratados de tumores benignos e
Neoplasias de baixo e alto grau de malignidade
de baixo grau de malignidade podem, depois de um ano,
Esvaziamento supraomo-hioideo + radioterapia. receber alta e ser orientados para retorno.
Estádio IV Prognóstico
Os tumores avançados das glândulas salivares O prognóstico, portanto, depende da localização,
deverão ser tratados de acordo com a avaliação de ope- do tipo histológico, do grau de diferenciação e do está-
rabilidade do tumor e do paciente. Nos casos em que dio clínico do tumor.
existe possibilidade clínica para o paciente se subme-
ter ao tratamento cirúrgico, este deverá ser realizado
Estádios Sobrevida em 10 anos (%)
sempre com a indicação de radioterapia complemen-
tar. A radioterapia pré-operatória é indicação de exce- I 90
ção, pois ela deve ser feita como única arma terapêuti- II 65
ca para os tumores neste estádio. Os critérios para in- III / IV 22
dicação e aplicação de radioterapia pós-operatória são Tabela 10.3
os mesmos mencionados para tumores da parótida.
Tumores recidivados
Os tumores recidivados das glândulas salivares
serão tratados conforme o tipo histológico, tratamen-
to prévio, sítio da recidiva e extensão tumoral e “sta-
tus” clínico do paciente.
Seguimento
Figura 10.1 Carcinoma epidermoide da cavidade oral à esquerda –
Os exames clínicos de seguimento incluem o exa- TC. Espessamento e realce do espaço mucoso faríngeo e obliteração do
me da cavidade oral, além da palpação da região pa- espaço parafaríngeo adjacente. Linfonodomegalia heterogênea retrofa-
rotídea ou submandibular e do pescoço. A realização ríngea lateral à esquerda (seta).
117
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Figura 10.2 Carcinoma indiferenciado da rinofaringe. RM mostra lesão infiltrativa na rinofaringe à esquerda, com extensão intracraniana no seio
cavernoso deste lado.
Figura 10.3 Linfoma. RM mostra invasão de faringe com hipersinal em T2 e realce pós-contraste.
ROTEIRO
Tumores da
PROPEDÊUTICO
Cabeça e Pescoço
BÁSICO eM
GINECOLOGIA
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Biologia molecular
De acordo com as pesquisas atuais, o carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço (CECP), apresenta alterações
complexas do ponto de vista molecular, não havendo um mecanismo simples e único de carcinogênese. Entre as al-
terações moleculares encontradas nos CECP, destacamos as alterações em p53, no receptor do fator de crescimento
epidérmico (EGFR), no fator nuclear Kappa B (nFkB) e no fator de crescimento transformante beta (TGF-β).
Todas estas áreas apresentam drenagem linfática para o pescoço, sendo que a primeira estação de drenagem
inclui os linfonodos, jugulodigástricos, jugulo-omo-hioideos, submandibulares e submentonianos. Linfonodos
do segundo escalão de drenagem são os parotídeos, jugulares e cervicais posteriores superior e inferior. A grande
maioria dos tumores malignos da cavidade bucal é constituída pelo carcinoma epidermoide, que se classifi-
ca como: bem diferenciado, moderadamente diferenciado e pouco diferenciado.
IB IB
IA
IB
II B
II A
VI
IA
III VA
IV VB
VII
Figura 11.2 Classificação em níveis segundo a American Joint Committee on Cancer. Na figura à esquerda observamos o diagrama dos níveis I a V
dos linfonodos cervicais. O nível II divide-se em regiões A e B pelo nervo espinhal acessório. Na figura à direita observamos o diagrama dos níveis dos
linfonodos anteriores I, VI, e VII. Embora com área grande, a maioria dos linfonodos níveis VI fica confinada à região paratraqueal.
As bacias ganglionares linfáticas cervicais con- 5. O nível V é posterior à borda posterior do mús-
têm entre 50 e 70 linfonodos por lado e dividem-se culo esternocleidomastóideo, anterior ao músculo tra-
em 7 níveis. pézio, superior à clavícula e inferior à base do crânio.
1. O nível I está subdividido. 6. O nível VI é limitado pelo osso hioide supe-
Nível IA, limitado pelo ventre anterior do mús- riormente, pelas artérias carótidas comuns lateral-
culo digástrico, o osso hioide e a linha média. mente e pelo esterno inferiormente. Embora o nível
VI tenha um aárea grande, os poucos linfonodos que
Nível IB, limitado pelos ventres anterior e poste- contém estão principalmente nas regiões paratraque-
rior do músculo digástrico e a borda inferior da ais, perto da glândula tireoide.
mandíbula. O nível IB contém a glândula sub-
mandibular. 7. O nível VII (mediastino superior) situa-se en-
tre as artérias carótidas comuns e é superior ao arco
2. O nível II é limitado superiormente pela base
aórtico e inferior à borda superior do esterno.
do crânio, anteriormente pelo músculo estilo-hioideo,
inferiormente por um plano horizontal que se estende Os padrões de drenagem linfática, em geral,
ocorrem em direção superior para inferior e se-
posteriormente a partir do osso hioide e, posterior-
guem padrões previsíveis, baseados no sítio pri-
mente, pela borda posterior do músculo esternocleido-
mário. Os tumores primários do lábio e da cavidade
mastóideo. O nível II também se subdivide.
oral, comumente, metastatizam para os linfonodos
Nível IIA, que é anterior ao nervo acessório es- nos níveis I, II e III, embora possam ocorrer metás-
pinhal. tases de pele para níveis mais baixos. O lábio supe-
Nível IIB ou triângulo submuscular, que é poste- rior metastatiza primariamente para o mesmo lado,
rior ao nervo. enquanto o lábio inferior tem drenagem ipsilateral e
contralateral. Os tumores da orofaringe, da hipofa-
3. O nível III começa na borda inferior do nível II
ringe e da laringe metastatizam mais comumente
e é limitado anteriormente pelos músculos pré-larín-
para os níveis II, III e IV. Os tumores da rinofaringe
geos, a borda posterior do músculo esternocleidomas-
propagam-se para os linfonodos retro e parafarínge-
tóideo posteriormente e por um plano horizontal que
os, e para os níveis II a V. Outros locais que metasta-
se estende posteriormente a partir da borda inferior
tizam para os linfonodos da retrofaringe são o palato
da cartilagem cricoide.
mole, a orofaringe posterior e lateral e a hipofaringe.
4. O nível N começa na borda inferior do nível Os tumores da subglote, da tireoide, da hipofaringe
III e é limitado anteriormente por músculos pré- e do esôfago cervical propagam-se para os níveis VI
-laríngeos, posteriormente pela borda posterior do e VII. Além do lábio inferior, a supraglote, o palato
músculo estemocleidomastóideo e inferiormente mole e a base da língua têm altas incidências de me-
pela clavícula. tástases bilaterais.
121
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
linfonodos com diâmetro maior que 1,5 a 2 cm, espe- de patologia.Entretanto, ninhos metastáticos com
cialmente se a consistência for dura, poderão ser de- diâmetro inferior a 3 mm, necessitam de cortes se-
tectados e considerados clinicamente metastáticos. riados para o diagnóstico e auxílio de imunoisto-
Biópsia da lesão: biópsia incisional, dependen- química, sendo conhecidas por micrometástases em
do da facilidade de acesso pode ser feita por pinça de linfonodos e cujo valor preditivo para o prognóstico
saca-bocado sob anestesia local. Não incluir no mate- ainda está controverso.
rial de biópsia áreas com hemorragia, necrose ou in- O emprego de imagens no diagnóstico e de esta-
flamação. Se for indispensável uma biópsia em linfo- diamento de tumores intraorais tem papel relevan-
nodo recorre-se inicialmente à punção aspirativa com te e habitualmente determina um estadiamento su-
agulha fina. perior ao inicial, demonstrando comprometimento
Nos tumores não ulcerados procede-se a exame de estruturas de difícil avaliação pelos métodos
citopatológico com material obtido por punção aspira- de palpação e visualização de lesões. A tomografia
tiva com agulha fina e eventualmente exame histopa- computadorizada helicoidal e a reconstrução tri-
tológico em cell block com o mesmo material. Tratan- dimensional da lesão permite, além de um correto
do-se de carcinomas, as colorações com hematoxilina- estadiamento, um melhor planejamento terapêuti-
-eosina (H-E) são suficientes para o diagnóstico, já em co. A ressonância nuclear magnética equivale-se à
neoplasias indiferenciadas ou sarcomas, os exames tomografia computadorizada, tendo mais precisão
imunoistoquímicos são recomendados. ao demonstrar invasão óssea ou de cartilagem. A
cintilografia óssea pode ser usada para demonstrar
Exames subsidiários: o objetivo destes exames invasão óssea por tumor. A ecografia cervical per-
tem mais o propósito de avaliação pré-operatória do mite melhor avaliação dos linfonodos cervicais e
paciente. Nos pacientes jovens, o hemograma completo está disponível em todos os centros. Quando asso-
e os testes básicos da coagulação (INR e TTPa) bastam. ciada à punção com agulha fina, atinge alto grau de
Para os pacientes acima dos 45 anos, glicemia, ECG e especificidade. A tomografia por emissão de pósi-
avaliação da função renal são necessários. trons – PET – tem indicação para rastrear recorrên-
No que diz respeito à história natural do tumor, cias de tumor, especialmente em áreas irradiadas ou
a pesquisa da presença de HPV por captura híbrida ou com excessiva fibroplasia cicatricial, ou pesquisa de
por PCR (reação em cadeia da polimerase) estão ga- tumor primário em local indeterminado. Atualmen-
nhando adeptos. te, associada por fusão com a imagem de TC, isto
é PET-TC, apresenta imagens reais, tornando mais
A pesquisa do marcador tumoral SSC-A (antí-
acurado o estudo dos pacientes oncológicos.
geno tumoral do carcinoma de células escamosas),
correlaciona-se com carcinomas epidermoides, não
sendo específico para cabeça e pescoço, todavia pode Estadiamento TNM
ser útil para a monitoração de pacientes. Os valores
normais são inferiores a 2,5 ng/dL.
Exames de imagens: os métodos de imagens Tumor primário (T)
permitem melhor acurácia diagnóstica, detectando TX – Tumor primário não pode ser avaliado.
linfonodos em regiões profundas, inacessíveis à pal-
T0 – Sem evidência de tumor primário.
pação. A ultrassonografia com auxílio de Doppler,
a tomo grafia computadorizada e, especialmente a Tis – Carcinoma in situ (intraepitelial)
ressonância nuclear magnética poderão sugerir o T1 – Tumor ≤ 2 cm na sua maior dimensão.
envolvimento de pequenos linfonodos ao ser cons-
T2 – Tumor > 2 cm e ≤ 4 cm na sua maior dimensão.
tatada necrose no linfonodo. Os tratados especiali-
zados informam que linfonodos a partir de 0,5 cm T3 – Tumor > 4 cm na sua maior dimensão.
de diâmetro podem ser detectado por essas ferra- T4a – tumor invade estruturas adjacentes (cor-
mentas, todavia devem ser solicitados com caute- tical óssea, músculos profundos – extrínsecos – mús-
la, pois a relação entre custo e benefício é pequena. culos da língua [genioglosso, hioglosso, palatoglosso e
A punção com agulha fina, guiada por ultrassom e estiloglosso], seio maxilar e pele da face).
seguida de avaliação citopatológica ou inclusão em T4b – tumor invade o espaço mastigatório, a placa
parafina – cell block – é o exame mais específico para pterigoidea ou a base do crânio e/ou engloba a artéria
o diagnóstico. carótida interna.
Metástases não detectadas por palpação e por Nota: Erosão superficial apenas do alvéolo do
métodos de imagem são chamados de metástases osso/ dente devido a primário gengival não é suficien-
ocultas, diagnosticadas apenas no exame rotineiro te para classificar o tumor como T4.
123
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Tumores T3
Tratamento
A cirurgia é o tratamento preferencial e consiste
de ressecção completa da lesão com margens > 1 cm e
Tumores T1
associada ao esvaziamento cervical supraomo-hióideo
O tratamento preferencial é cirúrgico, o que cor- em casos de pescoço clinicamente negativo. Nos casos
responde à ressecção da lesão com margens tridimen- de pacientes com metástase cervical, associar o esva-
sionais satisfatórias (geralmente > 1 cm). Em casos de ziamento cervical radical modificado até sua forma
clássica, dependendo da invasão das estruturas. Estas prognóstico dos pacientes com carcinomas intraorais.
lesões costumam ser mais complexas e requerem aces- Associado à ressecção do tumor primário, procede-se
sos combinados com check-flap ou até mesmo mandi- a um esvaziamento cervical radical ou modificado, se-
bulectomia para garantir maior segurança à ressec- gundo a individualidade de cada paciente. A radiotera-
ção. A radioterapia deve ser usada como tratamento pia pós-operatória está indicada, e é mandatória nos
complementar, em casos de pescoço positivo ou lesão pacientes com extravasamento neoplásico através da
primária T3. A radioterapia como tratamento exclusi- cápsula do linfonodo. A quimioterapia neoadjuvante
vo apresenta resultados inferiores à cirurgia. Alguns ou pós-radioterápica poderá ser considerada para a
autores sugerem quimioterapia antiblástica neoadju- prevenção de metástases a distância.
vante ou pré-operatória.
Pescoço N3 M0
Tumores T4
Neste estádio, como no precedente, enquadram-
O paciente desta categoria apresenta tumor com -se numerosos pacientes e cujo fato comum é a pre-
invasão de estruturas adjacentes, todavia a enfermi- sença do «N3», isto é, metástase cervical > 6 cm, ha-
dade está confinada à cavidade oral, podendo ser pas- bitualmente com ruptura extracapsular, invasão de
sível de ressecção cirúrgica ampliada, associada ao estruturas adjacentes e, até, envolvimento da artéria
esvaziamento cervical, seguida de apropriada e neces- carótida interna, tornando a metástase não ressecá-
sária reparação cirúrgica, a fim de reduzir as sequelas vel. O tratamento é multidisciplinar, associando-se
decorrentes de uma glossectomia total ou pelviglosso- quimioterapia, radioterapia e cirurgia numa sequência
-mandibulectomia ou glossectomia e laringectomia individualizada para cada paciente.
associados, seguida de radioterapia pós-operatória. A
quimioterapia neoadjuvante deve ser considerada em
casos especiais.
Tumor T4B
As ressecções complexas, como as da língua,
segmento mandibular e esvaziamento cervical, são Os pacientes neste estádio apresentam tumor
denominadas operação comando, havendo duas expli- primário irressecável e o tratamento é essencialmente
cações para esta terminologia. Uma delas aponta a ori- paliativo, podendo a cirurgia, a quimioterapia e a ra-
gem como advinda das operações bélicas, denomina- dioterapia desempenhar papel relevante para alívio do
das Comando, onde grupos militares armados navais paciente em determinadas situações.
e aéreos realizavam incursões na Europa continental,
partindo da Inglaterra durante a Segunda Guerra
Mundial, desde 1942, mesma época em que tais pro- Tumor M1
cedimentos cirúrgicos passaram a ser padronizados e
A característica deste grupo infrequente de pa-
executados no Memorial Sloan-Kettering Cancer Cen-
cientes é a presença de metástases a distância, tor-
ter em Nova York; outra explicação informa que Co-
nando-o incurável. O tratamento é individualizado e
mando seria uma abreviatura de Combined Mandibu-
multidisciplinar, como no estádio IVB, no entanto em
lectomy Neck Dissection Operation. Outro procedimen-
muitos casos a lesão intraoral é ressecável, as metás-
to clássico em cirurgia de cabeça e pescoço é a deno-
tases cervicais, se presentes, poderão ser operáveis e
minada operação pull-through (tração através), em que
a ressecção de uma metástase única poderá ser con-
a ressecção dos tecidos e lesões intraorais, combinada
siderada. A quimioterapia representa, em princípio, a
com o esvaziamento cervical, é executada mediante
principal terapêutica.
uma tática cirúrgica de tracionar o espécime cirúrgico
por via submandibular e, assim, em continuidade com Atenção: Para os casos com linfonodos cervicais
o esvaziamento cervical, completar a cirurgia. metastáticos, utiliza-se o esvaziamento cervical radical
ou radical modificado, com remoção de todas as princi-
pais cadeias linfonodais cervicais (níveis de I a V), com
ou sem a preservação de estruturas não linfáticas, como
Pescoço N2a-b-c M0 o nervo acessório (XI par craniano) e veia jugular interna
Neste estádio, situa-se um número expressivo de (quando radical estas estruturas e o músculo esternoclei-
pacientes, com tamanhos variáveis de tumores intra- domastóideo são removidos). Em casos selecionados de
orais ressecáveis associados a um linfonodo cervical > tumores de boca e orofaringe com metástases isoladas,
3 cm e < 6 cm, ou múltiplos linfonodos < 6 cm, ho- de até 3 cm de diâmetro, tem-se utilizado esvaziamento
molaterais, bilaterais ou contralaterais. O tratamento seletivo dos níveis I a III ou I a IV. Em casos de tumores
do pescoço é prioritário, pois o componente «N» do com alto risco de metastatização (risco de falso-negati-
estadiamento constitui o mais importante fator de vos superior a 20%) - mas sem metástases clinicamente
125
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
detectáveis - indica-se tratamento eletivo do pescoço. As respostas completas ou parciais aos agentes
São tumores de alto risco os do andar inferior da boca, quimioterápicos variam de 20% a 80%, obtendo-se
maiores que 2 cm, ou mesmo menores se apresentarem uma significativa melhora clínica do paciente, no en-
espessura superior a 3 mm, todos os tumores de orofa- tanto o ganho na sobrevida não tem sido estatistica-
ringe, hipofaringe e laringe supraglótica. Nesses casos, mente significativo. Os novos tratamentos, combina-
utilizam-se os esvaziamentos cervicais seletivos, em dos com a radioterapia, denominado quimiorradio-
que um ou mais níveis linfonodais cervicais são preser- terapia, acrescentaram um ganho na sobrevida em 5
vados, visando reduzir a morbidade do procedimento, anos em torno de 8%, considerado auspicioso.
sem comprometer o controle de doença: (a) supraomo-
-hióideo (níveis I, II e III) em tumores do andar inferior Seguimento
da boca (com espessura igual ou maior que 3 mm) e da
orofaringe; (b) lateral ou jugular (níveis II, III e IV) para Os pacientes tratados de câncer da boca devem
manter-se sob uma rotina de acompanhamento em
carcinomas supraglóticos, transglóticos e de hipofaringe.
busca da detecção o mais precoce possível de qualquer
recidiva da lesão primária ou metastática.
Quimioterapia no tratamento Exame físico: mensal no primeiro ano; trimes-
dos carcinomas orais tral no segundo; semestral após o terceiro ano; e anual
A quimioterapia vem apresentando uso crescente após o quinto ano. Este exame deve incluir:
no tratamento do câncer oral, especialmente nos está- Exame da cavidade bucal e cadeias linfáticas cer-
dios avançados III e IV. Pode ser neoadjuvante, isto é, pre- vicais
cedendo qualquer tratamento cirúrgico ou radioterápico, Avaliação do estado geral do paciente (qualidade
ou adjuvante, pós-cirúrgico ou pós-radioterápico. Recen- de vida / ganho ponderal)
temente tem sido usada associada e concomitante com Radiografica simples, (raio X) de tórax, realizada
a radioterapia, potencializando-lhe os resultados. Em anualmente.
alguns pacientes, fora de outras possibilidades terapêu-
Esofagoscopia, realizada anualmente, pesquisa
ticas clássicas, a quimioterapia está indicada de forma
de segundo tumor primário no trato aerodiges-
paliativa. Alguns protocolos de quimioterapia estão em tivo superior
uso, associados à radioterapia, com o intuito de preser-
vação de órgãos.
Laringoscopia indireta – pesquisa de segundo
tumor primário no trato aerodigestivo superior
Vários agentes quimioterápicos podem ser uti-
lizados isolados ou associados. Isoladamente, o me-
totrexato é o mais empregado, especialmente na pa- Prognóstico
liação, todavia os derivados da platina (cisplatina ou O prognóstico de pacientes com lesões iniciais
carboplatina) combinados com o 5-fluorouracil apre- pode ser considerado bom. Os índices de sobrevida en-
sentam as melhores respostas. contram-se na tabela a seguir:
Tabela 11.3
127
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Classificação histopatológica
Câncer da nasofaringe
É difícil classificar as lesões que ocupam a cavi-
dade nasal, a nasofaringe e os seios paranasais em um
Tumores malignos
único tópico, pois, à medida que crescem em determi-
nado sítio, invadem regiões limítrofes e no momen- Carcinoma – 85%
to do diagnóstico há dificuldade em se afirmar onde Tipo 1 – carcinoma epidermoide diferenciado
surgiu a lesão primária. Sua classificação, geralmente, Tipo 2 – carcinoma não queratizado
baseia-se nos compartimentos ocupados no momento Tipo 3 – carcinoma linfoepitelioma (+ frequente)
do diagnóstico e, muitas vezes, um tumor é nasossi- Linfomas – 10%
nusal, nasal com extensão nasofaríngea, nasofaríngeo
Outros – 5%
com extensão nasal e/ou paranasal, ou ainda com ex-
tensão para a base do crânio, fossa craniana anterior – Adenocarcinoma
e média. – Sarcomas
129
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
131
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Classificação histopatológica
O tumor maligno mais frequente (90%) da
hipofaringe é o carcinoma epidermoide em seus va-
riados graus de diferenciação. Atentar para a possibili-
dade da ocorrência de adenocarcinomas, linfoepitelio-
mas e tumores mesenquimais variados. Nodos
Nodos
jugulodigástricos
refrofaríngeos
Quadro clínico
Nodos Nodos tireoides
Dentre os sinais e sintomas, sensação de corpo júgulo-omo-hioideos
estranho, dor de garganta, odinofagia, disfagia, otal-
gia e disfonia são os mais frequentes. A disfonia revela
lesão avançada, com invasão da laringe. Pode também
invadir a traqueia e a glândula tireoide. A presença de
metástase cervical oculta chega a 80% dos casos.
Nodos
A área mais comum para propagação linfática é paratraqueais Nodos
a dos linfonodos jugulares superiores, mesmo para paratraqueais
tumores inferiores. Outras regiões incluem os linfo-
nodos paratraqueais e retrofaríngeos. A presença de
metástases cervicais contralaterais ou de envolvimen- Figura 11.4 Drenagem linfática da hipofaringe.
to nível V é um indicador de prognóstico grave.
Os carcinomas de seio piriforme representam
mais de 85% dos tumores desta região, com cresci-
mento rápido, agressivo e metastatização precoce. Diagnóstico
As lesões da parede medial invadem precocemente a
laringe, podendo fixar a prega vocal. Podem também Biópsia: por laringoscopia direta ou indireta, de-
invadir a artéria carótida de forma direta. pendendo da facilidade de acesso.
Os tumores da área pós-cricoidea evoluem de
forma assintomática até invasão da laringe (cartila-
gem cricoidea), quando passam a apresentar disfonia, Confirmação de doença
por fixação da prega vocal ou por infiltração do nervo
laríngeo recorrente. Nas mulheres podem estar asso- História clínica
ciados à síndrome de Plummer-Vinson ou Patterson- Inspeção e palpação externa
-Kelley (anemia ferropriva, membranas esofageanas e
disfagia intermitente a sólidos).
Laringoscopia indireta
Estadiamento
Ápice
piriforme
Seio piriforme
Articulação Hipofaringe
cricoaritenoide
T1 – Limitado a um subsítio da hipofaringe e ≤
2 cm.
Região pós-cricoide
T2 – Tumor > 2 cm e ≤ 4 cm sem fixação ou mais
de um subsítio ou sítio adjacente.
T3 – Tumor > 4 cm ou com fixação da hemila-
Figura 11.3 Seio piriforme. ringe.
Tratamento de câncer da hipofaringe de acordo com o local do tumor primário e o estádio clínico
Local Estádio Tratamento inicial* Tratamento alter-
nativo
Parede pos- I Ressecção ampla por via faringotomia transversa ou mandibulotomia mediana/ Radioterapia
terior paramediana
II-III Ressecção ampla por via faringotomia transversa ou mandibulotomia mediana/ Radioterapia e
paramediana ou faringolaringectomia associada a esvaziamento supraomo-hióideo quimioterapia
bilateral (N0) ou radical (N1)
IV Geralmente irressecáveis. Quando possível, indica-se cirurgia como nos estádios Radioterapia e
II e III, que pode ser faringolaringectomia total. Nos casos irressecáveis indica-se quimioterapia
radioterapia associada a quimioterapia
Área I-II Faringolaringectomia associada a esvaziamento paratraqueal bilateral e esvazia- Radioterapia
retrocricoi- mento
dea lateral bilateral ou radioterapia ou radioterapia e quimioterapia
III-IV Faringolaringectomia ou faringolaringectomia ou faringolaringoesofagectomia Radioterapia e
parcial ou total com reconstrução associada a esvaziamento paratraqueal bilateral quimioterapia
e esvaziamento lateral (N0) ou radical (N1-N3) bilateral ou radioterapia e quimio-
terapia
I-II Faringectomia parcial (parede lateral) ou faringo-laringectomia parcial (parede Radioterapia
medial) associada a esvaziamento paratraqueal e esvaziamento cervical radical mo-
dificado ou radioterapia
Seio III-IV Faringolaringectomia ou faringolaringoesofagectomia parcial ou total com recons- Radioterapia e
piriforme trução associada a esvaziamento paratraqueal e esvaziamento lateral (N0) ou radi- quimioterapia
cal (N1-N3) bilateral ou radioterapia e quimioterapia
Tabela 11.11 (*) Atualmente o tratamento cirúrgico é utilizado somente para tumores extensos (T4). O tratamento combinado com
radioquimioterapia é hoje não mais alternativo, mas de primeira escolha, sempre que possível.
Seguimento
O seguimento após o tratamento de doentes sem evidência de doença deve incluir oroscopia, laringoscopia
indireta, exame do pescoço e radiografia simples (raio X) de tórax.
133
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
A endoscopia digestiva alta deve ser solicitada em Portanto, estes pacientes devem ser aconselha-
casos de suspeita de segundo tumor primário no esôfago. dos, antes do início da radioterapia, a parar de fumar.
No primeiro ano, o seguimento deve ser mensal;
no segundo ano, trimestral; a partir do terceiro ano, Regiões anatômicas
semestral; e anual após o quinto ano; ou alta orientada
para retorno em caso de novos sintomas. A laringe é dividida em três regiões anatômicas:
A laringe supraglótica que inclui epiglote, falsas-
-cordas, ventrículos, pregas epiglóticas e arite-
Prognóstico noides (20% a 40% dos casos de câncer de larin-
ge).
Os percentuais médios de frequência e sobrevida
por estádios são: A glote que inclui as cordas vocais verdadeiras
e as comissuras anterior e posterior (55% a 80%
Sobrevida em dos casos de câncer de laringe) até um plano
Estádios Frequência
imaginário de 0,8 cm abaixo da borda inferior
5 anos (%)
das cordas vocais verdadeiras.
I e II 5 66
A subglote que começa a 0,8 cm abaixo das cor-
III 23 56
das vocais verdadeiras e se estende até a borda
IV 72 32 inferior da cartilagem cricoide ou primeiro anel
Todos os estádios - 40 traqueal.
Tabela 11.12
A drenagem linfática é inicialmente feita para os
linfonodos jugulodigástricos e jugulares médios. De-
pendendo do tamanho do tumor primário, de 25% a
Câncer da laringe 50% dos pacientes apresentam acometimento linfono-
dal, principalmente quando há comprometimento da
O câncer de laringe é um dos mais comuns a tumoral na região supraglótica, região rica em linfáti-
atingir a região da cabeça e do pescoço, representan- cos. As cordas vocais verdadeiras são livres de lin-
do cerca de 25% dos tumores malignos que acometem fáticos, por conta disto, o câncer confinado à corda
esta área, e 2% de todas as doenças malignas. Aproxi- vocal (câncer glótico) raramente ou nunca apresen-
madamente dois terços desses tumores surgem na ta acometimento de linfonodos. A extensão da lesão,
corda vocal verdadeira (tumor glótico) e um terço para cima ou para baixo das cordas vocais, pode cursar
acomete a laringe supraglótica. com invasão linfonodal.
Tumores subglóticos primários, que são muito
Fatores de risco raros, (0,5% a 2%) drenam por meio das membranas
A associação entre o tabagismo, a ingestão de ál- cricotireoidea e cricotraqueal para os linfonodos pré-
cool e o desenvolvimento de carcinoma epidermoide -traqueais, paratraqueais, jugulares inferiores e, oca-
do tubo aerodigestivo superior tem se mostrado muito sionalmente, mediastinais.
clara: mesmo com um tumor já diagnosticado, a persis-
tência do tabagismo e do etilismo diminui o índice de
cura do doente e aumenta a ocorrência de um segundo
Classificação histopatológica
tumor primário. O segundo tumor primário ocorre A grande maioria dos cânceres da laringe é
frequentemente no trato aerodigestivo superior e do tipo carcinoma epidermoide, que se classifica em
tem sido descrito em quase 25% dos pacientes que graus bem, moderadamente e pouco diferenciados.
têm o primeiro câncer controlado. A teoria do campo
de cancerização sobre a existência de toda uma exposi-
ção da mucosa do trato aéreodigestivo superior ao taba- Quadro clínico
gismo, é uma das teorias que explica esta alta incidência O sintoma principal é a disfonia (rouquidão) ge-
de segundos tumores primários ou outros focos de car- ralmente em neoplasias de glóticas. Disfagia, vozes
cionoma epidermoide nestas mucosas. abafadas, odinofagia e otalgia são frequentes em le-
Por causa de problemas clínicos relacionados ao sões supraglóticas. Obstrução de via aérea com disp-
hábito de fumar ou ao etilismo, muitos pacientes mor- neia está relacionada mais comumente com tumores
rem de doenças intercorrentes. Pacientes que perma- subglóticos, em razão de um efeito de massa. Outros
necem fumando durante a radioterapia parecem apre- sintomas como inflamação local, desconforto e he-
sentar menor índice de resposta ao tratamento, assim moptise podem ocorrer. Massas no pescoço podem
como sobrevida menor do que aqueles que pararam ocorrer por direta extensão do tumor ou mais fre-
completamente de fumar. quentemente por metástases linfáticas.
135
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Tratamento Seguimento
Os pacientes, tratados, de câncer da laringe
Supraglote devem manter uma rotina de acompanhamento em
Sempre que possível, o tratamento é cirúrgico. busca da detecção o mais precocemente possível de
qualquer recidiva, da lesão primária ou de metástase
T1-T2 – Laringectomia parcial supraglótica.
cervical.
T3-T4 – Laringectomia near total ou total, de
Oroscopia, laringoscopia indireta ou direta e
acordo com as áreas de invasão pelo tumor.
palpação do pescoço: mensal no primeiro ano; bi-
Esvaziamento cervical eletivo de II a IV bilateral- mestral no segundo ano; semestral no terceiro ano;
mente com pescoço N0 (Wide Field). Se o pescoço for e anual após o quinto ano. Este exame deve incluir
positivo, EC 5 níveis do lado comprometido. a cavidade bucal e cadeias linfáticas e a avaliação do
estado geral do paciente (qualidade de vida/ganho
ponderal).
Glote
Radiografia simples de tórax, realizada anual-
T1a – Laringofissura com cordectomia ou micro- mente.
cirurgia de laringe ou radioterapia exclusiva Esofagoscopia, realizada anualmente (2º tumor
T1b, T2 e alguns casos de T3 – Laringectomia primário).
parcial vertical frontolateral. Avaliação da função tireoidiana logo após o tér-
T3 ou T4 – Laringectomia parcial supracricoidea mino do tratamento cirúrgico e/ou radiográfico
com crico-hioideoepiglotopexia ou apenas crico-hioi- e tratamento do hipotireoidismo pós-radiotera-
deopexia pia ou por tireoidectomia.
137
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Figura 11.5 Diagnóstico diferencial das massas tumorais no pescoço. *Na criança somente 2% a 15% são malignas.
Abordagem diagnóstica
Além do exame de cabeça e pescoço, a TC auxilia na avaliação não apenas de massas, mas de sítios primários
em potencial. É realizada punção aspirativa com agulha fina (< calibre 22) como uma das etapas iniciais na inves-
tigação de massas cervicais, com uma precisão total de 95% para massas cervicais benignas e de 87% para massas
malignas. Como nas crianças, a localização das massas sustenta a probabilidade.
Exame físico:
cavidade oral, orofaringe, nasofaringe, hipofaringe,
laringe, tireoide, glândula salivar, pele
PAAF e imagem:
RX e TC do pescoço
PAAF: CEC positivo PAAF: negativo
Granuloma ou infecção:
cultura, classificar doença
sistêmica e tratar de acordo
Figura 11.6 Organograma de avaliação de massa assintomática, unilateral do pescoço em adultos. TC: tomografia computadorizada; RX: radiogra-
fia do tórax. PAAF: punção aspirativa com agulha fina; CEC: carcinoma epidermoide.
Nota:
O carcinoma escamoso de local primário desconhecido é relativamente raro. A grande maioria dos pacientes
portadores desta síndrome apresenta envolvimento dos linfonodos cervicais, geralmente na região superior ou na
porção mediocervical. Frequentemente, os pacientes com este quadro são de meia-idade ou idosos e apresentam
uma história de uso substancial de tabaco, álcool ou ambos. Devemos suspeitar de um sítio primário na região da
cabeça e pescoço; contudo, a avaliação endoscópica completa deixa de identificar um sítio primário em aproxima-
damente 15% desses pacientes. Ainda que outros testes sejam negativos, a tomografia por emissão de pósitrons
identifica um sítio primário na região de cabeça e pescoço em aproximadamente 25% desses pacientes e deve
fazer parte da avaliação inicial.
Mesmo quando não é identificado nenhum sítio primário, o tratamento desses pacientes deve seguir as
orientações-padrão para o tratamento do carcinoma epidermoide localmente avançado de cabeça e pescoço. Di-
versos relatos documentaram taxas de sobrevida de 30% a 60% após um tratamento local definitivo, que deve
ser feito com radioterapia ou com uma associação de radioterapia com dissecção dos linfonodos cervicais. Nos
pacientes N1 que atingem resposta clínica completa após a radioquimioterapia, a maioria dos autores não preco-
niza o esvaziamento. Para pacientes com pescoço N2-N3, mesmo com resposta clínica completa, existe tendência
a se realizar a ressecção linfonodal. Nos pacientes submetidos a esvaziamento cervical e que apresentam extensão
extracapsular ou pescoço maior que N1, está indicada adjuvância com cisplatina (100 mg/m2 - D1, D22 e D43 ou
30 mg/m2 semanalmente) em concomitância à radioterapia.
139
12
2
Capítulo
ROTEIRO
PROPEDÊUTICO
Traqueostomias
BÁSICO eM
GINECOLOGIA
12 Traqueostomias
Anatomia
A traqueia é um tubo fibrocartilaginoso que se
estende da borda inferior da cartilagem cricoide (na Tireoide
laringe) até a carina (ângulo do esterno), onde se Lâmina da
Proeminência
cartilagem
divide nos brônquios principais direito e esquerdo. tireoidea
laríngea
Ligamento
Esse tubo é sustentado pelos anéis traqueais Lobo direto da cricotireoideo
cartilagíneos (variando entre 18 e 22 anéis) que, glândula tireoide Cartilagem cricoide
Istmo da Anel traqueal
por serem incompletos, promovem uma consistên-
glândula tireoide
cia membranosa na parede posterior da traqueia.
Laterais à traqueia estão as artérias carótidas co-
Figura 12.2 Localização da laringe, glândula tireoide e traqueia na
muns e os lobos da glândula tireoide. Posteriormen- região do pescoço.
te, localiza-se o esôfago.
Ao nível do 2o anel traqueal, situa-se o istmo
da tireoide. Abaixo dele estão o arco venoso jugular
e as veias tireóideas inferiores. Em 10% das pesso-
as, existe a artéria tireóidea ima, a qual se origi- Indicações
na do tronco braquiocefálico, principalmente, e
Historicamente, a traqueostomia foi desenvol-
segue pela face anterior da traqueia em direção
vida para promover a desobstrução das vias aéreas.
ao istmo.
Com os avanços técnicos atuais, como laringoscópio e
A rede anastomótica, que promove a irriga- broncoscópio de fibra ótica, as indicações tradicionais
ção sanguínea da traqueia, penetra na sua margem da traqueostomia (por exemplo, a epiglotite aguda e
lateral, via camada submucosa, sendo, portanto, obstruções tumorais) sofreram uma grande mudança.
necessário evitar a dissecção extensa dessa região Nestas situações, a broncoscopia de fibra ótica pos-
ao se realizar a traqueostomia. O fato de essa irri- sibilita reservar a traqueostomia para uma situação
gação ser predominantemente submucosa explica eletiva, fugindo da maior incidência de morbidade e
também o porquê dos anéis traqueais poderem ser mortalidade da traqueostomia de urgência. A traque-
lesados por isquemia devido à hiperinsuflação de ostomia, portanto, não é o procedimento de escolha
um balonete ou cuff endotraqueal. No sentido ante- no manejo da obstrução aguda das vias aéreas.
roposterior, são esses os tecidos visualizados até se Hoje em dia, a sua principal utilização é no mane-
alcançar a luz da traqueia: pele, subcutâneo, mús- jo de pacientes que necessitam períodos prolongados de
culo platisma, musculatura pré-traqueal e fáscia suporte ventilatório mecânico. Há, ainda, a utilização da
pré-traqueal. A transição da laringe para a traqueia traqueostomia com o intuito de promover uma adequada
ocorre na região cervical. limpeza das vias aéreas, mesmo na ausência de necessi-
dade de ventilação mecânica. A tabela 12.1 resume estas
três principais categorias de indicação da traqueostomia:
Epiglote
Osso hioide Indicações de traqueostomia
Ligamento tireoideo 1. Obstrução das vias aéreas
mediano
Ligamento tireoideo a. Disfunção laríngea
lateral b. Trauma
c. Queimaduras e corrosivos
d. Corpos estranhos
e. Anomalias congênitas
Cartilagem tireoidea
f. Infecções
g. Neoplasias
Ligamento h. Manejo pós-operatório
corticotireoideo i. Apneia do sono
Cartilagem cricoidea
2. Limpeza das vias aéreas
a. Idade avançada
Traqueia b. Fraqueza
c. Doenças neuromusculares
3. Suporte ventilatório
Figura 12.1 Cartilagens da laringe e da traqueia. Tabela 12.1
141
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
143
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Figura 12.5 Afastamento do istmo de tireoide e abertura do anel traqueal. Figura 12.7 Introdução da cânula com mandril.
Complicações
1. Intraoperatórias
a. Sangramento
b. Mau posicionamento do tubo
c. Laceração traqueal e fístula traqueoesofágica
d. Lesão do nervo laríngeo recorrente
e. Pneumotórax e pneumomediastino
f. Parada cardiorrespiratória
2. Complicações precoces
a. Sangramento
b. Infecção da ferida
c. Enfisema subcutâneo
d. Obstrução da cânula
e. Desposicionamento
f. Disfagia
3. Complicações tardias
Figura 12.10 Fixação da cânula ao redor do pescoço.
a. Estenose traqueal e subglótica
b. Fístula traqueoinominada
c. Fístula traqueoesofágica
d. Fístula traqueocutânea
e. Dificuldade de extubação
Cuidados pós-operatórios Tabela 12.3
145
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
147
Clínica cirúrgica | Cabeça e pescoço
Cricotireoidostomia percutânea
(por agulha)
A cricotireoidostomia percutânea consegue ser
um método ainda mais fácil e simples de acesso das vias
aéreas do que a cricotireoidostomia propriamente dita.
Este método nada mais é do que o acesso às vias aéreas,
por meio da membrana cricotireoidea, pela punção des-
ta membrana com um extracat (jelco®) de grosso calibre.
A ventilação pode ser conseguida com um alto fluxo de
O2 (10 L/min.), ou por meio de um reservatório, caso
Figura 12.11 Palpação da membrana cricotireoidea para abertura in- esteja disponível. O inconveniente desta técnica é que
cisional com o bisturi. só se consegue uma oxigenação adequada por um cur-
to espaço de tempo (mas que é suficiente até que outro
método definitivo seja obtido).
O maior uso desta técnica é no manejo de pa-
cientes politraumatizados com urgência de acesso das
vias aéreas, nos quais os métodos translaríngeos e a
cricotireoidostomia são inviáveis ou contraindicados
(por exemplo, em crianças abaixo de 10 anos, já que a
cricotireoidostomia nesta faixa etária é contraindica-
da). Existe também a descrição de sua utilização para
a abordagem de secreções traqueobrônquicas, na lim-
peza traqueobrônquica e microcirurgia de laringe. Nos
casos de suspeita de corpos estranhos em vias aéreas,
a ventilação deve ser feita com um baixo fluxo de O2.
Complicações da cricortireoi-
dostomia por punção
perfuração da parede traqueal posterior;
Figura 12.12 Incisão transversa da membrana cricotireoidea com au-
xílio de uma lâmina de bisturi no espaço cricotireoideo. perfuração esofágica;
aspiração sanguínea;
hematoma;
pefuração da tireoide;
enfisema subcutâneo e/ou mediastinal
ventilação inadequada levando à hipóxia;
estenose subglótica.
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